série sword of truth 01 - dívida de ossos - terry goodkind

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  • 8/3/2019 Srie Sword of Truth 01 - Dvida de Ossos - Terry Goodkind

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    ESPADA DA VERDADE

    Dvida de Ossos

    Debit of Bones

    Terry Goodkind

    Traduo No Oficial:

    Eduardo A. Chagas Jr

    [email protected]

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    "Com eventos que acontecem antes do livro A Primeira Regra do Mago, essa umahistria sobre Zedd, o Primeiro Mago de Midlands..."

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    O que voc tem a nesse saco, querida?Abby estava observando um distante grupo de cisnes, graciosas formas brancas

    contra as altivas paredes escuras do Castelo, enquanto eles faziam sua interminvel jornadapassando por fortificaes, basties, torres e pontes sob o sol baixo. O espectro sinistro do

    Castelo havia parecido estar observando-a o dia todo enquanto Abby estivera esperando. Ela sevirou para a velha curvada diante dela.Desculpe, voc perguntou alguma coisa?Perguntei o que voc tem a nesse saco. Enquanto a mulher observava, ela enfiou a

    ponta da lngua em um buraco onde faltava um dente. Alguma coisa preciosa?Abby agarrou com fora o saco de tecido grosseiro enquanto se encolhia um pouco

    perante a mulher sorridente. S algumas coisas minhas, s isso.Um oficial, seguido por uma tropa de assistentes, ajudantes, e guardas, marchou

    saindo por baixo da enorme porta levadia que ficava perto dali. Abby e os outros suplicantesque esperavam na cabea da ponte de pedra se espremeram para o lado, mesmo que os soldadostivessem um amplo espao para passar. O oficial, seu olhar cruel no podia ser visto enquanto

    passava, no respondeu a saudao quando os guardas da ponte bateram com os punhos em cimados coraes nas suas armaduras.

    O dia todo soldados de terras diferentes, assim como os da Guarda de Defesa davasta cidade de Aydindril logo abaixo, estiveram entrando e saindo do Castelo. Alguns pareciamviajantes cansados. Alguns vestiam uniformes ainda sujos de terra, ferrugem, e sangue debatalhas recentes. Abby tinha visto at dois oficiais de sua terra natal de Pendisan Reach. Elespareciam ser pouco mais do que garotos para ela, mas garotos com a fina camada de juventudedescascando cedo demais, como uma cobra soltando sua pele antes da hora, deixando amaturidade emergente marcada.

    Abby tambm tinha visto um grupo de pessoas importantes que mal podia acreditar:feiticeiras, conselheiros, e at mesmo uma Confessora apareceu vindo do Palcio dasConfessoras na cidade. Em seu caminho at o Castelo, raramente houve uma curva na estradasinuosa que no tivesse oferecido a Abby uma viso do esplendor do Palcio das Confessorasque se espalhava em rocha branca. A Aliana de Midlands, encabeada pela prpria MadreConfessora, realizava conselho no Palcio, e ali, tambm, moravam as Confessoras.

    Em toda sua vida, Abby s tinha visto uma vez uma Confessora. A mulher fora ver ame de Abby e Abby, que ainda no tinha dez anos naquela poca, tinha sido incapaz de parar deobservar os longos cabelos da Confessora. A no ser a me dela, nenhuma mulher na pequenacidade de Coney Crossing de Abby era suficientemente importante para ter cabelo longo obastante para tocar os ombros. O prprio cabelo castanho escuro de Abby cobria no mais do quesuas orelhas.

    Passando pela cidade em seu caminho at o Castelo, tinha sido difcil para ela noolhar boquiaberta para a nobre mulher com cabelos at os ombros e at mesmo um pouco alm.Mas a Confessora que seguia para o Castelo, usando o simples vestido negro acetinado de umaConfessora, tinha cabelo que chegava at o meio de sua costa.

    Ela gostaria de poder ter observado melhor a rara viso de cabelo to longo eluxuriante e a mulher importante o bastante para possu-lo, mas Abby tinha se ajoelhado com oresto da companhia na ponte e, como o restante deles, temia erguer sua cabea para olharprocurando assim evitar encontrar o olhar da outra. Diziam que encontrar o olhar de umaConfessora poderia custar sua mente se voc tivesse sorte, e a sua alma se no tivesse. Muitoembora a me de Abby houvesse dito que isso era mentira, que apenas o toque proposital de talmulher poderia causar essa proeza, Abby tinha medo, nesse dia mais do que nos outros, de

    comprovar a histrias.A velha na frente dela, vestida com diversas camadas de saias cobertas com umatintura de hena e com uma manta escura enrolada, observou os soldados passarem e ento

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    inclinou-se chegando mais perto. Melhor levar um osso, querida. Ouvi dizer que tem aqueles nacidade que vendero um osso do jeito que voc precisa pelo preo certo. Magos no aceitamcarne de porco salgada em troca de um pedido. Eles possuem carne de porco salgada. O olhardela passou por Abby at os outros para v-los ocupados com seus prprios interesses. Melhorvender suas coisas e rezar para ter o bastante para comprar um osso. Magos no querem o que

    algumas garotas do campo trazem para eles. Favores de magos no se conquistam facilmente.Ela olhou para as costas dos soldados quando eles alcanavam o lado mais distante da ponte,Nem para aqueles que executam suas ordens, o que parece.

    S quero falar com eles. S isso.Carne de porco salgada tambm no vai conseguir uma conversa, como ouvi dizer.

    Ela notou a mo de Abby tentando cobrir a forma arredondada debaixo do pano. Ou umavasilha que tenha feito. isso que essa coisa , querida? Os olhos castanhos dela, em umamscara de couro enrugada, levantaram, observando com sbita e sria ateno. Uma vasilha?

    Sim, disse Abby. Uma vasilha que eu fiz.A mulher deu um sorriso mostrando ceticismo e enfiou um punhado de cabelo

    cinzento curto de volta para baixo da l que cobria sua cabea. Os dedos retorcidos dela

    fecharam-se ao redor do tecido no antebrao do vestido carmesim de Abby, puxando o braopara cima um pouco para dar uma olhada.

    Talvez voc pudesse conseguir o preo de um osso adequado por seu bracelete.Abby olhou para o bracelete feito de dois fios de metal enrolados em crculos que se

    entrelaavam. Minha me deu para mim. No tem valor algum a no ser para mim.Um lento sorriso apareceu nos lbios rachados da mulher. Os espritos acreditam

    que no existe poder mais forte do que o de uma me querendo proteger sua criana.Abby afastou o brao dela gentilmente. Os espritos sabem a verdade disso.Desconfortvel com o olhar examinador da mulher tagarela, Abby procurou um lugar

    seguro para o qual direcionar seu olhar. Olhar para o terrvel abismo debaixo da ponte fazia comque ficasse tonta, e ela estava cansada de olhar para o Castelo do mago, ento fingiu que suaateno tinha sido atrada como uma desculpa para virar na direo do aglomerado de pessoas,em sua maioria homens, esperando com ela na cabeceira da ponte. Ela ocupou-se em beliscar oltimo pedao de po que havia trazido do mercado antes de vir at o Castelo.

    Abby sentia-se esquisita ao conversar com estranhos. Em toda sua vida nunca tinhavisto tanta gente, muito menos gente que no conhecia. Ela conhecia cada uma das pessoas emConey Crossing. A cidade a deixava apreensiva, mas no to apreensiva quanto o Casteloerguendo-se na montanha acima, e isso, no tanto quanto a prpria razo dela estar ali.

    Ela s queria ir para casa. Mas no haveria casa alguma, pelo menos nada pelo que irpara casa, se ela no fizesse isso.

    Todos os olhos se voltaram para o som de cascos passando sob a porta corredia do

    castelo. Cavalos enormes, todos castanho escuros ou negros e maiores do que qualquer um queAbby j tinha visto, surgiram trovejando na direo deles. Homens usando armaduras polidas,cota de malha de ferro, e couro, e a maioria carregando lanas ou bastes com longas bandeirasde alta patente e posio na ponta, incitavam suas montarias a seguir em frente. Eles levantavampoeira e cascalhos enquanto ganhavam velocidade cruzando a ponte, uma veloz confuso decores e centelhas de luz do metal brilhando passou. Lanceiros Sanderianos, de acordo com asdescries de que Abby tinha ouvido. Era difcil para ela imaginar o inimigo com coragem paraenfrentar homens como esses.

    Seu estmago fez um turbilho. Ela percebeu que no tinha necessidade alguma deimaginar e nenhuma razo para colocar suas esperanas em bravos homens como aqueleslanceiros. Sua nica esperana era o mago, e essa esperana estava escapulindo enquanto ela

    ficava esperando. No havia nada a fazer a no ser esperar.Abby virou-se para o Castelo novamente bem a tempo de ver uma mulher estatuescavestida com uma tnica simples caminhar atravs da abertura na massiva parede rochosa. Sua

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    pele clara destacava-se mais ainda contra o liso cabelo negro partido ao meio e praticamentechegando ao ombros. Alguns dos homens estiveram sussurrando a respeito da viso dos oficiaisSanderianos, mas ao avistarem a mulher todos ficaram em silncio. Os quatro soldados nacabea da ponte de pedra abriram caminho para a mulher enquanto ela se aproximava dossuplicantes.

    Feiticeira, a velha sussurrou para Abby. Dificilmente Abby precisava do conselhoda velha para saber que aquela era uma feiticeira. Abby reconheceu a tnica de linho, decoradano pescoo com faixas amarelas e vermelhas costuradas nos smbolos antigos da profisso.Algumas de suas primeiras lembranas eram de ser carregada nos braos de sua me e tocarfaixas como aquelas que via agora.

    A feiticeira inclinou sua cabea para o povo e ento ofereceu um sorriso. Por favor,perdoem-nos por faz-los esperar aqui fora o dia todo. No por falta de respeito nem algo quecostumamos fazer, mas com a guerra em nossas mos tais precaues so lamentavelmenteinevitveis. Esperamos que ningum tenha se ofendido com a demora.

    A multido murmurou que no. Abby duvidava que houvesse algum entre elesousado o bastante para dizer o contrrio.

    Como vai a guerra? um homem l atrs perguntou.O olhar vago da feiticeira virou para ele. Com as bnos dos bons espritos,

    terminar em breve.Que os espritos garantam que D'Hara seja esmagada, rogou o homem.Sem responder, a feiticeira avaliou os rostos que a observavam, esperando para ver

    se algum mais falaria ou faria uma pergunta. Ningum o fez.Ento, por favor, venham comigo. A reunio do conselho terminou, e um par de

    magos aproveitar o tempo para ver todos vocs.Quando a feiticeira se virou para voltar ao Castelo e comeou a andar, trs homens

    seguiram entre os suplicantes e colocaram-se na cabea da fila, bem na frente da velha. A mulherpuxou uma manga de veludo.

    Quem vocs pensam que so, ela disparou, pegando um lugar na minha frente,quando estive aqui o dia todo?

    O mais velho dos trs, vestido em rica tnica prpura escura com costura vermelhacontrastante no comprimento dentro das aberturas nas mangas, parecia ser um nobre com seusdois conselheiros, ou talvez guardas. Ele lanou um olhar para a mulher. Voc no se importa,no ?

    Para Abby aquilo no pareceu uma pergunta de modo algum.A velha recolheu sua mo e ficou muda.O homem, as pontas de seu cabelo cinzento sobre os ombros, olhou para Abby. Seus

    olhos debaixo do capuz cintilaram em desafio. Ela engoliu em seco e permaneceu em silncio.

    Ela tambm no tinha objeo alguma, pelo menos nenhuma que estivesse disposta a falar. Portudo que ela sabia, o nobre era importante o bastante para garantir que lhe fosse negada umaaudincia. Ela no poderia correr o risco agora que estava to perto.

    Abby foi distrada por uma sensao de formigamento no bracelete. Cegamente, osdedos dela deslizaram sobre o pulso da mo que segurava o saco. O bracelete pareceu estarquente. Ele no tinha feito aquilo desde que sua me morreu. Na presena de tanta magia quehavia em um lugar como esse, isso realmente no lhe causou surpresa. A multido moveu-seadiante para seguir a feiticeira.

    Maus, eles so, a mulher sussurrou por cima do ombro. Maus como uma noite deinverno, e to frios quanto.

    Aqueles homens? Abby sussurrou de volta.

    No. A mulher balanou a cabea. Feiticeiras. Magos tambm. So esses. Todosaqueles nascidos com o dom da magia. melhor ter alguma coisa importante nesse saco, ou os

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    magos podem transform-la em p por nenhuma outra razo a no ser a de que eles gostem defaz-lo.

    Abby apertou o saco com fora em seus braos. A pior coisa que sua me tinha feitoem toda vida dela foi morrer antes que pudesse ver sua neta.

    Abby conteve a vontade de chorar e rezou aos queridos espritos que a velha

    estivesse enganada a respeito dos magos, e que eles fossem to compreensivos quanto feiticeiras.Ela rezou fervorosamente que esse mago lhe ajudasse. Ela rezou por perdo, tambm que osbons espritos entenderiam.

    Abby se esforou para manter um semblante calmo muito embora suas entranhasestivessem como um turbilho. Ela apertou um punho em seu estmago. Rezou por fora.Mesmo nisso, ela rezou por fora.

    A feiticeira, os trs homens, a velha, Abby, e ento o restante dos suplicantes,passaram por baixo da grande porta de metal corredia e entraram no terreno do Castelo. Dentroda massiva parede exterior Abby ficou surpresa ao descobrir que o ar era quente. Do lado de foraera um frio dia de outono, mas do lado de dentro o ar era fresco e quente.

    A estrada subindo at a montanha, a ponte de pedra sobre o abismo, e ento a

    abertura sob a porta corredia pareciam ser o nico caminho para entrar no Castelo, a no ser quevoc fosse um pssaro. Altivas paredes de pedra negra com altas janelas cercavam o ptio decascalhos no interior. Havia portas ao redor do ptio, e em frente, uma estrada em forma de tnelindo fundo dentro do Castelo.

    Apesar do ar quente, Abby sentia frio at os ossos naquele lugar. Ela no tinhacerteza se a mulher no estava certa a respeito dos magos. A vida em Coney Crossing havia seafastado muito das questes sobre magos.

    Abby nunca tinha visto um mago, nem conhecia algum que tivesse visto, exceto suame, e sua me nunca falou sobre eles a no ser para avisar que onde magos estavam envolvidos,no se poderia confiar nem no que voc via com os prprios olhos.

    A feiticeira os conduziu subindo quatro degraus de granito desgastados pelo tempodepois de incontveis pisadas, atravs de um portal sob um lintel de granito negro, e dentro doprprio Castelo. A feiticeira ergueu um brao dentro da escurido, girando-o para o lado.Lamparinas ao longo da parede acenderam.

    Isso tinha sido magia simples no uma exibio muito impressionante do dom mas muitas das pessoas atrs comearam a sussurrar preocupadas enquanto passavam pelo largocorredor. Para Abby, ocorreu que se essa pequena conjurao os assustava, ento eles nodeveriam tratar assunto algum com magos.

    Eles caminharam atravs do cho baixo de uma imponente ante-sala do tipo queAbby jamais poderia ao menos ter imaginado. Colunas de mrmore vermelho ao redorsuportavam arcos abaixo de sacadas. No centro da sala uma fonte espirrava gua bem alto logo

    adiante. A gua caa para descer em cascata por uma sucesso de canais largos. Oficiais,feiticeiras, e uma variedade de outros sentavam ali perto em bancos de mrmore branco oureuniam-se em pequenos grupos, todos engajados no que parecia uma sria conversa abafadapelo som da gua.

    Em uma sala menor mais adiante, a feiticeira gesticulou para que eles sentassem emuma fileira de assentos de carvalho perto de uma parede. Abby estava cansada e ficou aliviadaem sentar finalmente.

    A luz de janelas acima dos assentos iluminava trs tapearias penduradas na paredealta mais distante. As trs juntas cobriam quase a parede toda e mostravam uma cena de umagrande procisso atravs de uma cidade. Abby nunca tinha visto nada assim, mas devido aomodo como seus temores fluam em seus pensamentos, ela podia obter pouco prazer em ver

    mesmo uma imagem to majestosa como essa.No centro do cho de mrmore cor de creme, inserido em linhas de metal, estava umcrculo com um quadrado em seu interior, seus cantos tocando o crculo. Dentro do quadrado

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    havia outro crculo grande o bastante para tocar as partes internas do quadrado. O crculo centraltinha uma estrela de oito pontas. Linhas brilhavam saindo das pontas da estrela, percorrendo todoo caminho atravs dos dois crculos, cada uma das linhas cortando um canto do quadrado.

    O design, chamado Graa, era desenhado com frequncia por aqueles com o dom. Ocrculo exterior representava o incio da infinidade do mundo espiritual alm. O quadrado

    representava a fronteira separando o mundo espiritual o submundo, o mundo dos mortos docrculo interior, que representava os limites do mundo dos vivos. No centro disso tudo estava aestrela, representando a Luzo Criador.

    Era uma descrio do continuum do dom: do Criador, atravs da vida, e a mortecruzando a fronteira para a eternidade com os espritos no reino do Guardio do submundo. Mastambm representava uma esperana uma esperana de permanecer na Luz do Criador donascimento, atravs da vida, e alm, no submundo.

    Diziam que a Luz do Criador no submundo seria negada apenas para os espritosdaqueles que fizeram grandes perversidades durante a vida. Abby sabia que seria condenada auma eternidade com o Guardio da escurido no submundo. Ela no tinha escolha.

    A feiticeira juntou as mos. Um assistente vir chamar cada um de vocs por vez.

    Um mago ver cada um. A guerra arde acirrada; por favor faam seus pedidos brevemente. Elaolhou a fila de pessoas. com sincera obrigao daqueles aos quais servimos que os magosvejam suplicantes, mas por favor tentem entender que os desejos individuais geralmente sodanosos ao bem maior. Ao parar para ajudar um, ento para muitos negada ajuda. Sendo assim,a negao de um pedido no uma negao de sua necessidade, mas aceitao de umanecessidade maior. Em tempos de paz raro para os magos conceder os menores pedidos aossuplicantes. Em um tempo como esse, um tempo de grande guerra, um pedido quase nem ouvido. Por favor entendam que isso no tem a ver com o que ns desejaramos, mas umaquesto de necessidade.

    Ela observou a fila de suplicantes, mas no viu nenhum que desejasse abandonar seuobjetivo. Abby certamente no. Ento muito bem.

    Temos dois magos capazes de atender suplicantes nesse momento . Levaremos cadaum de vocs a um deles.

    A feiticeira se virou para partir. Abby se levantou.Por favor, minha Senhora, posso falar, se me permite?A feiticeira virou e lanou um olhar perturbador para Abby. Fale.Abby deu um passo em frente. Eu tenho que ver o Primeiro Mago. Mago Zorander.Uma sobrancelha se elevou. O Primeiro Mago um homem muito ocupado.Abby enfiou a mo no saco e tirou o colarinho da tnica de sua me. Ela pisou no

    centro da Graa e beijou os adornos vermelho e amarelo no colarinho.Eu sou Abigail, nascida de Helsa. Pela Graa e pela alma de minha me, eu tenho

    que ver o Mago Zorander. Por favor. No foi nenhuma viagem trivial que eu fiz. Vidas esto emrisco.A feiticeira observou o colarinho adornado ser colocado de volta no saco.Abigail, nascida de Helsa. O olhar dela se ergueu para encontrar com o de Abby.

    Levarei suas palavras ao Primeiro Mago.Minha Senhora. Abby se virou para ver a velha de p. Eu ficaria muito agradecida

    em ver o Primeiro Mago tambm.Os trs homens se levantaram. O mais velho, aquele dos trs que aparentemente

    estava no comando, lanou um olhar para a feiticeira to desprovido de timidez que quasepareceu desprezo. Seus longos cabelos cinzentos projetaram-se para frente sobre sua tnica develudo quando ele olhou para a fila de pessoas sentadas, parecendo desafi-las a levantar.

    Quando ningum o fez, ele voltou sua ateno para a feiticeira.Eu verei o Mago Zorander.

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    A feiticeira avaliou aqueles que estavam de p e ento olhou para a fila desuplicantes nos assentos. O Primeiro Mago ganhou um nome: O Vento da Morte. Ele no menos temido por muitos de ns do que por nossos inimigos. Algum mais vai forar odestino?

    Nenhum daqueles nos assentos tiveram a coragem de encarar o olhar feroz dela. No

    final todos balanaram suas cabeas silenciosamente. Por favor esperem, ela falou para os queestavam sentados. Algum em breve ir lev-los at um mago. Ela olhou mais uma vez para ascinco pessoas de p. Todos vocs esto muito, muito certos disso?

    Abby assentiu. A velha assentiu. O nobre olhou com seriedade.Ento muito bem. Venham comigo.O nobre e seus dois homens andaram na frente de Abby. A velha pareceu contente

    em pegar um lugar no fim da fila. Eles foram levados mais fundo dentro do Castelo, atravs desalas estreitas e corredores largos, alguns escuros e austeros e alguns de surpreendente esplendor.Por toda parte havia soldados da Guarda de Defesa, suas armaduras ou cotas de malha cobertaspor tnicas vermelhas com faixas negras em suas extremidades. Todos estavam fortementearmados com espadas e machados de batalha, todos tinham facas, e muitos adicionalmente

    carregavam lanas com pontas de ao.No topo de uma larga escadaria de mrmore branco os corrimes de pedra

    espiralavam nas pontas para se abrirem em uma sala com painis de carvalho. Muitos dos painisguardavam lamparinas com refletores prateados polidos. Em cima de uma mesa de trs pernasestava uma lamparina de ponta dupla, suas chamas somando-se suave luz das lamparinasrefletoras. Um espesso carpete ornamentado por desenhos azuis cobria quase todo o cho demadeira.

    Em cada lado de uma porta dupla ficava um dos meticulosamente vestidos soldadosda Guarda de Defesa. Os dois homens eram igualmente enormes. Eles pareciam ser homens maisdo que capazes de lidar com qualquer problema que pudesse subir as escadas.

    A feiticeira acenou na direo das doze cadeiras estofadas em couro dispostas emquatro grupos. Abby esperou at que os outros tivessem sentado em dois dos grupos e entosentou-se em outro. Ela colocou o saco no colo e descansou as mos sobre o seu contedo.

    A feiticeira esticou as costas. Irei dizer ao Primeiro Mago que ele tem suplicantesque desejam v-lo.

    Um guarda abriu uma das duas portas para ela. Quando ela entrou na grande salaalm, Abby conseguiu dar uma rpida espiada. Conseguiu ver que era bem iluminada porclarabias envidraadas. Havia outras portas nas paredes de pedra cinzenta. Antes que a portafechasse, Abby tambm conseguiu ver algumas pessoas, homens e mulheres, todas seguindoapressadas para c e para l.

    Abby sentava virada para longe da velha e dos trs homens enquanto esfregava o

    saco em seu colo distraidamente com uma das mos. Ela estava com pouco medo de que oshomens falassem com ela, mas no queria conversar com a mulher; era uma distrao. Elapassou o tempo repassando em sua mente o que tinha planejado dizer ao Mago Zorander.

    Pelo menos ela tentava repassar em sua mente. A maior parte do tempo, tudo em queconseguia pensar era o que a feiticeira havia dito, que o Primeiro Mago era chamado O Vento da

    Morte, no apenas pelos D'Harans, mas tambm por seu povo de Midlands. Abby sabia que issoera uma histria de um homem ocupado para assustar suplicantes. A prpria Abby tinha ouvidopessoas sussurrarem a respeito de seu grande mago, O Vento da Morte. Aquelas palavrassussurradas foram ditas com temor.

    As terras de D'Hara tinham profundas razes para temer esse homem como inimigo;ele tinha destrudo incontvel nmero de seus exrcitos, pelo que Abby tinha escutado. claro

    que se eles no tivessem invadido Midlands, buscando a conquista, eles no teriam sentido oquente vento da morte.

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    Se eles no tivessem invadido, Abby no estaria sentada ali no Castelo do Mago ela estaria em casa, e todos que ela amava estariam seguros.

    Abby sentiu novamente a estranha sensao de formigamento no bracelete. Elapassou os dedos sobre ele, testando seu calor incomum. To perto de uma pessoa com tal poderno lhe causava surpresa que o bracelete estivesse aquecendo. Sua me havia dito a ela que

    usasse ele sempre, e que algum dia ele seria de valor. Abby no sabia como, e sua me tinhamorrido sem jamais explicar.Feiticeiras eram conhecidas pelo modo como guardavam segredos, at mesmo de

    suas prprias filhas. Talvez se Abby tivesse nascido com o dom...Ela deu uma espiada nos outros por cima do ombro. A velha estava encostada na sua

    cadeira, olhando para as portas. Os acompanhantes do nobre estavam sentados com suas moscruzadas enquanto olhavam a sala casualmente.

    O nobre estava fazendo a coisa mais estranha. Ele tinha um tufo de cabelo cor deareia enrolado em um dedo. Ele esfregava o polegar no tufo de cabelo enquanto observava asportas.

    Abby queria que o mago se apressasse e encontrasse logo com ela, mas o tempo

    rastejava com teimosia. De certo modo, ela queria que ele negasse. No, ela disse para si mesma,isso era inaceitvel. No importava o seu medo, no importava a sua repulsa, ela precisava fazerisso. Subitamente, a porta abriu. A feiticeira caminhou na direo de Abby.

    O nobre levantou-se com um salto. Eu o verei primeiro. Sua voz era uma ameaafria. Isso no um pedido.

    nosso direito v-lo primeiro, Abby falou sem pensar. Quando a feiticeira cruzouas mos, Abby decidiu que era melhor continuar. Estive esperando desde a madrugada. Essamulher era a nica esperando antes de mim. Esses homens vieram ao fim do dia.

    Abby tomou um susto quando os dedos retorcidos da velha agarraram seu antebrao.Por que no deixamos esses homens irem primeiro, querida? No importa quem chegouprimeiro, mas quem tem o assunto mais importante.

    Abby queria gritar que seu assunto era importante, mas percebeu que a velha deveriaestar salvando-a de srios problemas em concluir seus assuntos. Relutantemente, ela acenoubalanando a cabea para a feiticeira. Enquanto a feiticeira conduzia os trs homens pela porta,Abby podia sentir os olhos da mulher em suas costas. Abby apertou o saco contra a ansiedadeardente em seu abdmen e disse a si mesma que no iria demorar, e ento ela o veria.

    Enquanto elas esperavam, a velha ficou em silncio, e Abby estava contente comisso. Ocasionalmente, ela olhava para a porta, implorando aos bons espritos que lhe ajudassem.Mas percebeu que isso era ftil; os bons espritos no estariam to dispostos a ajud-la nisso.

    Um rugido veio da sala alm das portas. Foi como o som de uma flecha disparadaatravs do ar, ou um longo chicote estalando, s que mais alto, aumentando rapidamente.

    Terminou com um som agudo acompanhado de um claro de luz por baixo das portas e pelassuas bordas. As portas tremeram em suas dobradias.De repente o silncio ecoou nos ouvidos de Abby. Ela percebeu que estava agarrando

    com fora os braos da cadeira.As duas portas abriram. Os acompanhantes do nobre saram marchando, seguidos

    pela feiticeira. Os trs pararam na sala de espera. Abby prendeu a respirao.Um dos dois homens estava carregando a cabea do nobre presa em um dos braos.

    As feies lvidas do rosto estavam congeladas em um grito mudo. Espessas linhas de sanguepingavam no carpete.

    Mostre a eles, a feiticeira sibilou atravs dos dentes cerrados para um dos doisguardas na porta.

    O guarda baixou sua lana na direo das escadas, ordenando que eles seguissem nafrente, e ento seguiu os dois homens. Pingos vermelhos espalhavam-se no mrmore branco dosdegraus enquanto eles desciam. Abby ficou sentada rgida, de olhos arregalados com o choque.

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    A feiticeira virou para Abby e a velha. A mulher se levantou. Acredito que seriamelhor no incomodar o Primeiro Mago hoje. Voltarei outro dia, se for necessrio.

    Ela se encolheu na direo de Abby. Sou chamada de Mariska. A sobrancelha delaabaixou. Que os bons espritos lhe forneam sucesso.

    Ela se arrastou at as escadas, pousou uma das mos no corrimo de mrmore, e

    comeou a descer. A feiticeira estalou os dedos e fez um gesto. O guarda que restava se apressoupara acompanhar a mulher, enquanto a feiticeira virava para Abby.Agora o Primeiro Mago receber voc.Abby engoliu ar, tentando recuperar o flego enquanto se levantava.O que aconteceu? Por que o Primeiro Mago fez aquilo?O homem foi enviado em nome de outro para fazer uma pergunta ao Primeiro

    Mago. O Primeiro Mago deu sua resposta.Abby apertou o saco contra si temendo pela vida quando olhou para o sangue no

    cho. Aquela pode ser a resposta para minha pergunta , se eu a fizer?No sei a pergunta que voc faria. Pela primeira vez, a expresso da feiticeira

    suavizou um pouco. Voc gostaria que eu a levasse para a sada ? Voc poderia ver outro mago

    ou, talvez, depois de pensar melhor em sua solicitao, voltasse outro dia, se ainda desejasse.Abby lutou para no soltar lgrimas de desespero. No havia escolha. Ela balanou a

    cabea. Eu tenho que v-lo.A feiticeira soltou um profundo suspiro. Muito bem. Ela colocou uma das mos

    sob o brao de Abby como que para mant-la de p. O Primeiro Mago receber voc agora.Abby apertou o contedo do saco enquanto era conduzida para dentro da cmara

    onde o Primeiro Mago aguardava. Tochas em castiais de ferro ainda no estavam queimando. Aluz do entardecer das janelas envidraadas no teto ainda era forte o bastante para iluminar a sala.Cheirava a piche, leo de lamparina, carne tostada, pedra molhada, e suor.

    L dentro, confuso e comoo reinavam. Havia pessoas em toda parte, e todaspareciam estar falando ao mesmo tempo. Mesas robustas espalhadas pela sala sem nenhumpadro discernvel estavam cobertas de livros, pergaminhos, mapas, giz, lamparinas a leoapagadas, velas queimando, refeies comidas parcialmente, cra para selar, canetas, e umamontoado de todo tipo de objetos estranhos, de bolas com amarrados a sacos de areia meioderramados. Pessoas estavam perto das mesas, engajadas em conversas ou discusses enquantooutras dedilhavam passagens em livros, concentradas sobre pergaminhos, ou moviam pequenospesos pintados sobre mapas. Outras giravam pedaos de carne assada tiradas de bandejas emordiscavam enquanto observavam ou ofereciam opinies e engoliam.

    A feiticeira, ainda segurando Abby pelo brao, se aproximou enquanto elascontinuavam andando. Voc ter a ateno do Primeiro Mago dividida. Haver outras pessoasfalando com ele ao mesmo tempo. No fique distrada. Ele estar escutando assim como escutar

    ou falar com outros. Apenas ignore os outros que esto falando e pergunte o que veio perguntar.Ele vai te escutar.Abby estava surpresa. Enquanto est falando com outras pessoas?Sim. Abby sentiu a mo apertar o seu brao com mais suavidade. Tente ficar

    calma, e no julgar pelo que estiver diante de voc.A matana. Era isso que ela queria dizer. Que um homem veio falar com o Primeiro

    Mago, e tinha sido morto por causa disso. Esperava-se que ela simplesmente tirasse isso do seupensamento? Quando olhou para baixo, percebeu que estava caminhando atravs de uma trilhade sangue. No viu o corpo sem cabea em lugar algum.

    O bracelete formigou tanto que ela olhou para ele. A mo debaixo do seu brao a fezparar. Quando Abby levantou o olhar, viu um confuso amontoado de pessoas diante dela. Alguns

    entravam apressados pelos lados enquanto outros se afastavam. Alguns balanavam os braosenquanto falavam com grande convico. Tantos estavam falando que Abby mal podia entender

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    uma palavra. Ao mesmo tempo, outros estavam se inclinando, enquanto sussurravam. Ela sentiucomo se estivesse diante de uma colmia humana.

    A ateno de Abby foi atrada por uma forma de branco ao lado. No instante em queela viu o cabelo longo e os olhos violeta olhando diretamente para ela, Abby ficou rgida. Umpequeno grito escapou de sua garganta quando ela caiu de joelhos e se inclinou at que suas

    costas protestassem. Ela estremeceu, temendo pelo pior.No momento pouco antes dela cair de joelhos, viu que o elegante vestido branco decetim era cortado em forma de quadrado no pescoo, do mesmo jeito que os vestidos negros. Olongo cabelo era inconfundvel. Abby nunca tinha visto a mulher antes, mas sem dvida sabiaquem era ela. No havia como se enganar com essa mulher. Apenas uma delas usava o vestidobranco.

    Era a Madre Confessora em pessoa.Ela ouviu murmrios acima dela, mas teve medo de escutar, poderia ser a morte

    sendo invocada.Levante, minha criana, surgiu uma voz clara.Abby a reconheceu como a resposta formal da Madre Confessora para um dos seus

    cidades. Levou um momento para Abby perceber que ela no representava ameaa alguma, massimplesmente reconhecimento. Olhou para uma mancha de sangue no cho enquanto pensava noque fazer a seguir. Sua me nunca havia lhe instrudo em como se comportar caso alguma vezencontrasse a Madre Confessora. Tanto quanto ela sabia, ningum de Coney Crossing tinha vistoa Madre Confessora, muito menos encontrado com ela. Assim como mais uma vez, nenhumdeles tambm tinha visto um mago.

    Ali perto, a feiticeira sussurrou um rosnado. Levante. Abby levantou-se depressa,mas manteve os olhos no cho, mesmo que a mancha de sangue estivesse deixando-a doente. Elapodia sentir o cheiro, como o do corte fresco de um dos animais deles. Pela longa trilha, pareciaque o corpo tinha sido arrastado para longe at uma das portas nos fundos da sala.

    A feiticeira falou tranquilamente em meio ao caos. Mago Zorander, esta Abigail,nascida de Helsa. Ela deseja ter uma palavra com voc. Abigail, esse o Primeiro MagoZeddicus Zu'l Zorander.

    Abby ousou erguer o olhar cautelosamente. Olhos castanhos olhavam de volta. Decada um dos lados dela havia grupos de pessoas: grandes oficiais ameaadores alguns delespareciam ser generais; muitos homens idosos usando tnicas, algumas simples e outras ornadas;muitos homens de meia idade, alguns vestindo tnicas e alguns de uniformes; trs mulheres todas feiticeiras; uma variedade de outros homens e mulheres; e a Madre Confessora.

    O homem no centro do turbilho, o homem com os olhos castanhos, no era o queAbby esperava. Ela estava esperando algum homem idoso grisalho grosseiro. Esse homem era

    jovemtalvez to jovem quanto ela. Magro mas vigoroso, ele vestia a mais simples das tnicas,

    de um tecido malmente melhor do que o do saco de Abbya marca de sua alta posio.Abby no havia antecipado esse tipo de homem em uma posio como a de PrimeiroMago. Ela lembrou do que sua me tinha faladopara no confiar no que os seus olhos diziamonde magos estavam envolvidos.

    Por todos os lados, pessoas falavam com ele, argumentavam com ele, alguns poucosat gritavam, mas o mago estava em silncio enquanto olhava dentro dos olhos dela. Seu rostoestava amvel o bastante para se olhar, gentil em aparncia, mesmo que seu ondulante cabelocastanho parecesse indomvel, mas seus olhos... Abby nunca tinha visto aquele tipo de olhos.Pareciam ver tudo, conhecer tudo, entender tudo. Ao mesmo tempo eles eram injetados e deaparncia severa, como se o sono o dominasse. Eles tambm possuam um leve cintilar deaflio. Mesmo assim, ele estava calmo no meio da tempestade. Naquele momento em que sua

    ateno estava sobre ela, foi como se ningum mais estivesse na sala.O tufo de cabelo que Abby tinha visto em volta do dedo do nobre agora estavaenrolado em volta do dedo do Primeiro Mago. Ele o esfregou nos lbios antes de baixar o brao.

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    Fui informado que voc filha de uma feiticeira. Sua voz era como gua plcidafluindo atravs do tumulto que estourava ao redor. Voc tem o dom, criana?No, senhor...

    Mesmo enquanto ela respondia, ele estava virando para outro que tinha acabado defalar. Eu falei, se voc fizer isso, arriscamos perd-los. Mande avisar que eu quero que ele cortepelo sul.

    O alto oficial com quem o mago falou jogou suas mos para cima. Mas ele disseque eles tinham informaes confiveis de que os D'Harans foram para oeste.Esse no o ponto, o mago falou. Quero aquela passagem para o sul fechada. Foi

    para l que as foras principais seguiram; eles possuem pessoas dotadas entre eles. Eles so osque ns devemos matar.

    O alto oficial estava fazendo uma saudao com um dos punhos sobre o coraoquando o mago virou para uma velha feiticeira. Sim, est certo, trs invocaes antes de tentar atransposio. Encontrei a referncia ontem noite.

    A velha feiticeira partiu para ser substituda por um homem tagarelando em umalngua estrangeira enquanto abria um pergaminho e o mantinha levantado para que o mago visse.O mago deu uma olhada na direo dele, lendo por um momento antes de fazer sinal mandando

    o homem embora, enquanto dava ordens na mesma lngua estrangeira. O mago virou para Abby.Voc foi pulada? Abby sentiu seu rosto esquentar e os ouvidos queimarem. Sim, MagoZorander. No nada do qual deva se envergonhar, criana, ele disse enquanto a prpriaMadre Confessora estava sussurrando confidencialmente em seu ouvido.

    Mas isso era algo do qual se envergonhar. O dom no havia passado de sua me paraelaele tinha pulado por ela.

    O povo de Coney Crossing dependeu da me de Abby. Ela ajudou aqueles queestavam doentes ou feridos. Aconselhava pessoas em questes da comunidade e nas familiares.Para alguns ela arranjava casamentos. Para alguns distribuiu disciplina. Para alguns concedeufavores disponveis apenas atravs de magia. Era uma feiticeira; protegia o povo de ConeyCrossing.

    Ela era reverenciada abertamente. Por alguns, era temida e odiada em segredo. Elafoi reverenciada pelo bem que fez ao povo de Coney Crossing. Por alguns, ela havia sido temidae detestada porque tinha o dom porque era habilidosa com magia. Outros no queriam nadamais do que viver suas vidas sem magia alguma por perto.

    Abby no possua magia alguma e no podia ajudar com doenas, ferimentos oumedos sem forma. Ela desejava encarecidamente ter essa capacidade, mas no tinha. QuandoAbby tinha perguntado para sua me porque ela iria tolerar todo o ressentimento ingrato, suame disse que ajudar era a prpria recompensa e no deveria esperar gratido por isso. Ela disseque se voc seguisse pela vida esperando gratido pela ajuda fornecida, voc terminaria levandouma vida miservel.

    Quando a me dela estava viva, Abby estivera afastando-se de modos sutis; depoisque sua me morreu, o afastamento havia se tornado mais aparente. O povo de Coney Crossingestivera esperando que ela os servisse como sua me havia servido. As pessoas no entendiam arespeito do dom, sobre como isso frequentemente no era passado a um descendente; ao invsdisso eles pensaram que Abby fosse egosta.

    O mago estava explicando alguma coisa para uma feiticeira sobre lanar um feitio.Quando ele acabou, seu olhar desviou passando por Abby em seu caminho at outra pessoa. Elaprecisava da ajuda dele, agora.

    O que voc quer me perguntar, Abigail?Os dedos de Abby apertaram o saco com fora. sobre minha casa em Coney

    Crossing. Ela fez uma pausa enquanto o mago apontava para um livro que estava estendido para

    ele. Ele girou sua mo para ela, gesticulando para que ela continuasse enquanto um homemestava explicando uma coisa complicada sobre inverter um feitio duplo. Tem um problematerrvel l, Abby falou. Tropas D'Haran surgiram atravs de uma Passagem...

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    O Primeiro Mago virou-se para um homem mais velho com uma comprida barbabranca. Por suas tnicas simples, Abby sups que ele tambm era um mago.

    Estou lhe dizendo, Thomas, isso pode ser feito. O Mago Zorander insistiu. Noestou dizendo que concordo com o conselho, s estou dizendo o que descobri e a decisounnime deles de que isso seja feito. No tenho a pretenso de entender os detalhes de como

    funciona, mas eu estudei isso; pode ser feito. Como eu disse ao conselho, eu posso ativar. Aindatenho que decidir se concordo com eles se eu deveria.O homem, Thomas, passou uma das mos pelo rosto. Ento voc quer dizer que o

    que eu ouvi verdade? Que voc realmente acha que isso possvel? Voc est ficando maluco,Zorander?

    Encontrei isso em um livro no enclave particular do Primeiro Mago. Um livroanterior guerra com o Velho Mundo. Eu vi com meus prprios olhos. Lancei toda uma srie deteias de verificao para testar. Ele virou sua ateno para Abby. Sim, aquela seria a legio deAnargo. Coney Crossing fica em Pendisan Reach.

    Isso mesmo, Abby disse. E ento esse exrcito D'Haranpassou por ali e...Pendisan Reach recusou-se a se juntar ao resto de Midlands sob o comando central

    para resistir invaso de D'Hara. Permanecendo em sua soberania, eles escolheram combater oinimigo do seu prprio jeito. Eles devem viver com as consequncias de suas aes.

    O velho estava puxando sua barba, Mesmo assim, voc sabe se isso verdadeiro?Tudo comprovado? Quer dizer, aquele livro precisaria ter milhares de anos. Pode ter sidoconjectura. Teias de verificao nem sempre confirmam toda a estrutura de uma coisa dessetipo.

    Eu sei disso to bem quanto voc, Thomas, mas estou dizendo, de verdade, disseo Mago Zorander. Sua voz baixou para um sussurro. Que os espritos nos guardem, genuno.

    O corao de Abby estava acelerado. Ela queria contar a ele sua histria, mas noparecia estar conseguindo. Ele tinha que ajud-la. Era o nico jeito.

    Um oficial do exrcito entrou apressado por uma das portas traseiras. Ele abriucaminho pela multido at o Primeiro Mago.

    Mago Zorander! Acabei de receber notcia! Quando tocamos os chifres que vocenviou, eles funcionaram! A fora de Urdland deu meia volta!

    Muitas vozes silenciaram. Outras no.Pelo menos trs mil anos, o Primeiro Mago falou para o homem de barba. Ele

    colocou uma das mos no ombro do oficial recm chegado e se inclinou chegando mais perto.Diga ao General Brainard para manter posio no Rio Kern. No queimar as pontes, e simguard-las. Diga a ele para espalhar seus homens. Deixar metade para impedir que a fora deUrdland mude de idia; com esperana eles no conseguiro substituir o mago de campo deles.Fazer com que Brainard leve o restante de seus homens ao norte para ajudar a cortar a rota de

    fuga de Anargo; ali que est nossa preocupao, mas ainda poderemos precisar das pontes parair atrs de Urdland.Um dos outros oficiais, um homem mais velho parecendo ele mesmo possivelmente

    ser um general, ficou com o rosto vermelho. Parar no rio? Quando os chifres fizeram o trabalhodeles, e temos eles em retirada? Mas porque! Podemos acabar com eles antes que tenham chancede se reagrupar e se unir com outra fora para voltar contra ns!

    Olhos castanhos viraram na direo do homem. E voc sabe o que espera alm dafronteira? Quantos homens morrero se Panis Rahl tiver alguma coisa que os chifres noconsigam afugentar esperando? Quantas vidas inocentes isso j nos custou? Quantos de nossoshomens morrero para sangr-los na prpria terra deles terra que no conhecemos como elesconhecem?

    E quantos de nosso povo morrero se ns no eliminarmos sua habilidade de voltaratrs de ns outro dia! Devemos persegui-los. Panis Rahl nunca descansar. Ele estar

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    trabalhando para conjurar mais alguma outra coisa para nos estripar durante o sono. Devemosca-los e matar cada um deles!

    Estou trabalhando nisso, o Primeiro Mago falou de modo misterioso. O velhotorceu a barba e fez um rosto sarcstico. Sim, ele acha que pode lanar o prprio submundosobre eles.

    Muitos oficiais, duas das feiticeiras, e um par dos homens usando tnicas pararampara observar com aberta descrena.A feiticeira que havia trazido Abby at a audincia se aproximou. Voc queria falar

    com o Primeiro Mago. Fale. Se voc perdeu a coragem, ento a levarei para fora.Abby umedeceu os lbios. Ela no sabia como poderia falar no meio de tal

    conversao indireta, mas sabia que precisava, ento simplesmente comeou a falar de novo.Senhor, no sei nada sobre o que minha terra natal de Pendisan Reach fez. Sei

    pouco a respeito do rei. No sei nada sobre o conselho, ou a guerra, ou qualquer coisa disso. Soude um lugar pequeno, e s sei que as pessoas ali esto com graves problemas. Nossos defensoresforam derrotados pelo inimigo. Tem um exrcito de homens de Midlands que segue em direoaos D'Harans.

    Ela sentiu-se tola falando com um homem que estava conduzindo meia dzia deconversas de uma s vez. Na maior parte, porm, ela sentia raiva e frustrao. Aquelas pessoasmorreriam se ela no conseguisse convenc-lo a ajudar.

    Quantos D'Harans? o mago perguntou.Abby abriu a boca, mas um oficial falou no lugar dela. No temos certeza de

    quantos homens restaram na legio de Anargo. Eles podem estar feridos, mas eles so como umtouro ferido furioso. Agora que eles avistam a terra natal deles. S podem voltar para cima dens, ou escapar. Ns temos Sanderson fazendo varredura descendo do norte e Mardale cortandopelo sudoeste. Anargo cometeu um erro ao entrar na Passagem; ali dentro ele deve lutar ou correrpara casa. Temos que acabar com eles. Essa pode ser a nossa nica chance.

    O Primeiro Mago passou os dedos em sua mandbula lisa. Ainda assim, no temoscerteza dos nmeros deles. Os batedores eram confiveis, mas eles jamais retornaram. Spodemos assumir que estejam mortos. E porque Anargo faria tal coisa?

    Bem, o oficial disse, a rota de fuga mais curta de volta para D'Hara.O Primeiro Mago virou para a feiticeira para responder uma pergunta que ela acabara

    de fazer. No consigo ver como podemos arcar com isso. Diga a eles que eu falei no. Nolanarei aquele tipo de teia para eles e no darei a eles os meios para isso por nada maisoferecido do que um talvez.

    A feiticeira assentiu antes de se afastar.Abby sabia que uma teia era o feitio lanado por uma feiticeira. Aparentemente o

    feitio lanado por um feiticeiro era chamado da mesma forma.

    Bem, se tal coisa possvel, o homem barbado estava dizendo, ento eu gostariade ver a sua interpretao do texto. Um livro de trs mil anos um bocado de risco. No temosnenhuma pista de como os magos daquela poca podiam fazer a maioria das coisas que faziam.

    O Primeiro Mago, pela primeira vez, lanou um olhar ardente na direo do homem.Thomas, voc quer ver exatamente sobre o que estou falando? A forma do feitio? Algumasdas pessoas ficaram em silncio com o tom de sua voz. O Primeiro Mago abriu os braos,incitando todos a se afastarem do seu caminho. A Madre Confessora ficou bem perto atrs doombro esquerdo dele. A feiticeira ao lado de Abby puxou-a um passo para trs.

    O Primeiro Mago fez um sinal. Um homem pegou um pequeno saco da mesa e lheentregou. Abby notou que parte da areia sobre as mesas no estava simplesmente derramada,mas tinha sido usada para desenhar smbolos. A me de Abby ocasionalmente havia desenhado

    feitios com areia, mas a maioria usava uma variedade de outras coisas, de ossos da terra a ervassecas. A me de Abby tinha usado areia para praticar; feitios, verdadeiros feitios, tinham queser desenhados na ordem correta e sem erro.

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    O Primeiro Mago se agachou e encheu uma das mos com areia do saco. Eledesenhou no cho deixando a areia escorrer pelo lado de seu punho.

    A mo do Mago Zorander moveu-se com habilidosa preciso. Seu brao fez um giro,desenhando um crculo. Ele pegou mais areia e desenhou um crculo interno. Parecia que eleestava desenhando uma Graa.

    A me de Abby sempre desenhava o quadrado em segundo lugar; tudo em ordem naparte interna e ento os raios saindo. O Mago Zorander desenhou a estrela de oito pontas dentrodo crculo menor. Ele desenhou as linhas fazendo radial para fora, atravs dos dois crculos, masdeixou algo faltando.

    Ainda faltava desenhar o quadrado, representando a fronteira entre mundos. Ele era oPrimeiro Mago, ento Abby imaginou que no era inadequado fazer isso em uma ordemdiferente daquela usada por uma feiticeira em um pequeno lugar como Coney Crossing. Masmuitos dos homens que Abby tinha considerado como sendo magos, e as duas feiticeiras atrsdele, estavam trocando olhares preocupados.

    O Mago Zorander desenhou as linhas de areia para dois lados do quadrado. Eleretirou mais areia do saco e comeou os dois ltimos lados.

    Ao invs de uma linha reta, ele desenhou um arco que mergulhava dentro da bordado crculo interior aquele que representava o mundo da vida. O arco, ao invs de terminar nooutro crculo, atravessava-o. Ele desenhou o ltimo lado, igualmente arqueado, de modo que eletambm cruzava dentro do crculo interno. Ele fez a linha encontrar com a outra onde estavafaltando o raio da Luz. De forma diferente das outras trs pontas do quadrado, essa ltima pontaterminava do lado de fora do crculo maiorno mundo dos mortos.

    Pessoas arfaram. Uma agitao tomou conta da sala por um momento antes quesussurros preocupados se espalhassem entre aqueles que eram dotados.

    O Mago Zorander levantou. Satisfeito, Thomas?O rosto de Thomas tinha ficado to branco quanto sua barba. Que o Criador nos

    guarde. Seus olhos viraram para o Mago Zorander. O conselho no entende isso de verdade.Seria loucura fazer isso.

    O Mago Zorander o ignorou e virou-se na direo de Abby. Quantos D'Harans vocviu?

    Trs anos atrs, vieram os enxames de gafanhotos. Os vales de Crossing ficarammarroms por causa deles. Acho que vi mais D'Harans do que os gafanhotos que vi.

    O Mago Zorander soltou um grunhido de descontentamento. Olhou para a Graa quehavia desenhado. Panis Rahl no vai desistir. Quanto tempo, Thomas? Quanto tempo at queele encontre alguma coisa nova para conjurar e enviar Anargo atrs de ns? Seu olhar girouentre as pessoas ao redor dele. Em quantos anos pensamos que seramos aniquilados pela hordainvasora de D'Hara? Quantos de nosso povo foram mortos pela magia de Rahl? Quantos

    milhares morreram com as febres que ele enviou? Quantos milhares tiveram feridas e sangraramat a morte com o toque do povo da sombra que ele conjurou? Quantas vilas, vilarejos e cidadesele varreu da existncia?

    Quando ningum falou, o Mago Zorander continuou.Levou anos para que ns voltssemos da periferia. A guerra finalmente virou; o

    inimigo est correndo. Agora temos trs opes. A primeira opo deix-lo correr para casa eesperar que ele jamais volte para nos visitar com sua brutalidade. Acredito que seria apenas umaquesto de tempo at que ele tentasse novamente. Isso nos deixa com duas opes realsticas.Podemos persegui-lo dentro do seu covil e mat-lo de verdade ao custo de dezenas, talvezcentenas de milhares de nossos homensou posso colocar um fim nisso.

    Aqueles dotados entre a multido lanaram olhares inquietos para a Graa desenhada

    no cho. Ns ainda temos outra magia, outro mago disse. Podemos us-la para obter omesmo efeito sem liberar tal cataclisma.

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    O Mago Zorander est certo, outro falou, e o conselho tambm. O inimigo fez pormerecer esse destino. Devemos lan-lo sobre eles.

    A sala entrou em discusso novamente. Quando isso aconteceu, o Mago Zoranderolhou dentro dos olhos de Abby. Era uma clara instruo para que ela conclusse a sua splica.Meu povoo povo em Coney Crossing foi tomado pelos D'Harans. Eles tambm possuem

    outros, que eles capturaram. Eles deixaram uma feiticeira guardando os cativos com um feitio.Por favor, Mago Zorander, voc tem que me ajudar.Quando eu estava escondida, ouvi a feiticeira conversar com os oficiais deles. Os

    D'Harans planejam usar os cativos como escudos. Eles usaro os cativos para enfraquecer amagia mortal que voc enviar contra eles, ou para receber as lanas e flechas que o exrcito deMidlands atirar contra eles. Se decidirem fazer meia volta e atacar, planejam levar os cativos nafrente. Eles chamam isso de usar as armas dos inimigos contra suas prprias mulheres ecrianas.

    Ningum olhou para ela. Todos estavam mais uma vez engajados em sua discusso econversa em massa. Foi como se as vidas de todas aquelas pessoas estivessem abaixo de suaconsiderao.

    Lgrimas brotaram nos olhos de Abby. De qualquer jeito todas aquelas pessoasinocentes vo morrer. Por favor, Mago Zorander, temos que conseguir sua ajuda, de outro modotodos eles morrero.

    Ele olhou na direo dela por um momento. No h nada que possamos fazer poreles.

    Abby ofegou, tentando segurar as lgrimas. Meu pai foi capturado, junto com outrosde minha famlia. Meu marido est entre os cativos. Minha filha est entre eles. Ela ainda notem cinco anos. Se voc enviar a magia, eles sero mortos. Se voc atacar, eles sero mortos.Voc tem que resgatar eles, ou segurar o ataque.

    Ele pareceu genuinamente entristecido. Sinto muito. No posso ajud-los. Que osbons espritos tomem conta deles e levem suas almas para a Luz. Ele comeou a se afastar.

    No! Abby gritou. Algumas das pessoas ficaram em silncio. Outras apenasolharam para ela enquanto continuavam. Minha criana! Voc no pode! Ela enfiou uma dasmos dentro do saco. Eu tenho um osso...

    Todo mundo no tem? ele resmungou, cortando-a. No posso ajud-la.Mas voc deve!Ns teramos que abandonar nossa causa. Temos que derrubar a fora D'Harande

    um jeito ou de outro. Embora aquelas pessoas sejam inocentes, elas esto no caminho. No possopermitir que os D'Harans obtenham sucesso em tal esquema ou isso iria encorajar o seu uso comfrequncia, e ento mais inocentes morreriam. Devemos mostrar ao inimigo que isso no ir nostirar de nosso curso.

    NO! Abby choramingou. Ela apenas uma criana! Voc est condenando meubeb morte! Tem outras crianas! Que tipo de monstro voc ?Ningum a no ser o mago estava ao menos escutando mais enquanto continuavam

    com as conversas deles.A voz do Primeiro Mago rasgou atravs do barulho e caiu nos ouvidos dela to

    claramente quanto os sinos da morte. Eu sou um homem que deve fazer escolhas como essa .Tenho que negar seu pedido.

    Abby gritou com a agonia do fracasso. No lhe foi nem permitido mostrar a ele.Mas uma dvida! ela gritou. Uma dvida solene!E ela no pode ser paga agora.Abby gritou histericamente. A feiticeira comeou a pux-la para longe. Abby soltou-

    se da mulher e correu para fora da sala. Ela desceu abalada os degraus de pedra, incapaz de veratravs das lgrimas.

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    No final dos degraus ela se encolheu no cho chorando descontroladamente. Ele noiria ajudar. Ele no ajudaria uma criana indefesa. A filha dela morreria.

    Abby, gemendo em convulses, sentiu uma mo no seu ombro. Braos gentis lhepuxaram mais perto. Dedos suaves esfregaram seu cabelo enquanto ela chorava no colo de umamulher. A mo de outra pessoa tocou sua costa e ela sentiu o caloroso conforto da magia fluindo

    dentro dela.Ele est matando minha filha, ela gritou. Eu odeio ele.Est tudo bem, Abigail, a voz acima disse. Est tudo bem chorar por uma dor

    como essa.Abby esfregou os olhos, mas no conseguia deter as lgrimas. A feiticeira estava ali,

    ao lado dela, no final dos degraus.Abby olhou para cima, para a mulher nos braos de quem ela estava. Era a prpria

    Madre Confessora. Pelo que Abby sabia, no se importava. Ela poderia fazer o pior que fossecapaz. Que importncia teria, que importncia qualquer coisa teria agora?

    Ele um monstro, ela gemeu. Ele chamado pelo nome certo. Ele o terrvelVento da Morte. Dessa vez o meu beb que ele est matando, no o inimigo.

    Eu entendo porque voc est sentindo-se assim, Abigail, a Madre Confessoradisse, mas isso no verdade.

    Como pode dizer isso! Minha filha ainda no teve uma chance de viver, e ele vaimat-la! Meu marido vai morrer. Meu pai tambm, mas ele teve uma chance de viver uma vida.Meu beb no teve!

    Ela caiu em pranto histrico novamente, e a Madre Confessora mais uma vez asegurou com braos confortantes. Consolo no era o que Abby queria.

    Voc s tem uma criana? a feiticeira perguntou.Abby assentiu enquanto tomava flego. Eu tive outra, um garoto, mas ele morreu ao

    nascer. A parteira disse que no terei mais nenhuma. Minha pequena Jana tudo que terei. Alouca agonia disso irrompeu atravs dela. E ele vai mat-la. Do mesmo jeito que matou aquelehomem antes de mim. O Mago Zorander um monstro. Que os bons espritos o matem!

    Com uma expresso penetrante, a feiticeira afastou o cabelo de Abby da testa delaVoc no entende. Voc v apenas um lado. Voc no fala srio quando diz isso.

    Mas ela falava. Se voc tivesse...Delora entende, a Madre Confessora falou, gesticulando na direo da feiticeira.

    Ela tem uma filha de dez anos, e um filho tambm.Abby olhou para a feiticeira. Ela lanou um simptico sorriso para Abby e balanou

    a cabea para confirmar a verdade disso.Eu, tambm, tenho uma filha, a Madre Confessora disse. Ela tem doze. Delora e

    eu entendemos sua dor. O Primeiro Mago tambm.

    Os punhos de Abby se apertaram. Ele no poderia! Ele mesmo no mais do queum garoto, e quer matar meu beb. Ele o Vento da Morte e isso tudo com que ele se importamatar pessoas!

    A Madre Confessora deu um tapinha no degrau ao lado dela. Abigail, sente-se aquiao meu lado. Deixe que eu fale sobre o homem ali dentro. Ainda soluando, Abby se levantou edeslizou para o degrau. A Madre Confessora era mais velha cerca de doze ou quatorze anos, etinha uma aparncia bela, com aqueles olhos violeta. A sua massa de longo cabelo chegava at asua cintura. Tinha um sorriso caloroso. Para Abby, nunca havia ocorrido pensar em umaConfessora como uma mulher, mas isso era o que ela via agora. No temia essa mulher comotemera antes; nada que ela pudesse fazer poderia ser pior do que o que j tinha sido feito.

    s vezes eu imagino Zeddicus quando ele ainda no era mais do que um beb e eu

    ainda estava me tornando mulher. A Madre Confessora lanou um olhar com um sorrisomelanclico. Eu batia no bum bum dele quando se comportava mal, e mais tarde puxava suas

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    orelhas para que ele prestasse ateno em uma lio. Ele era a travessura sobre duas pernas,movido no pela maldade mas sim pela curiosidade. Ele cresceu tornando-se um homem bom.

    Por muito tempo, quando a guerra com D'Hara comeou, o Mago Zorander no nosajudaria. Ele no queria lutar, machucar pessoas. Mas no final, quando Panis Rahl, o lder deD'Hara, comeou a usar magia para massacrar nosso povo, Zedd soube que no final, o nico

    modo de salvar mais vidas era lutar.Zeddicus Zu'l Zorander pode lhe parecer jovem, como pareceu para muitos de ns,mas ele um mago especial, nascido de um mago e uma feiticeira. Zedd era um prodgio. Atmesmo aqueles outros magos ali dentro, alguns deles seus professores, no entendem semprecomo ele capaz de solucionar alguns dos enigmas nos livros ou como ele usa seu dom paragerar tanto poder para carregar, mas ns entendemos que ele tem corao. Ele usa o coraodele, to bem como sua cabea. Ele foi nomeado Primeiro Mago por todas essas coisas e mais.

    Sim, Abby disse, ele muito talentoso sendo o Vento da Morte.A Madre Confessora abriu um pequeno sorriso. Ela bateu no peito. Entre ns,

    aqueles de ns que realmente o conhecem chamam-no de O Enganador. O Enganador o nomeque ele ganhou de verdade. Ns o chamamos de vento da morte para que os outros escutem,

    assim como para espalhar o terror dentro dos coraes do inimigo. Algumas pessoas do nossolado levam aquele nome no corao. Talvez, uma vez que sua me era dotada, voc possaentender como as pessoas s vezes temem irracionalmente aqueles que possuem magia?

    E s vezes, Abby argumentou, aqueles que possuem magia realmente somonstros que no se importam nem um pouco com as vidas que destroem.

    A Madre Confessora avaliou os olhos de Abby por um momento, e ento levantouum dedo em forma de aviso. Em confidncia, vou falar a voc sobre Zeddicus Zu'l Zorander. Sevoc alguma vez repetir essa histria, jamais a perdoarei por trair minha confiana.No trairei,mas no vejo...

    Apenas escute.Depois que Abby ficou em silncio a Madre Confessora comeou.Zedd casou-se com Erilyn. Ela foi uma linda mulher. Todos ns a amvamos muito,

    mas no tanto quanto ele. Eles tiveram uma filha.A curiosidade de Abby a dominou. Quantos anos ela tem?Aproximadamente a idade de sua filha, falou Delora.Abby suspirou. Entendo.Quando Zedd tornou-se Primeiro Mago, as coisas estavam ruins. Panis Rahl tinha

    conjurado o povo das sombras.Eu sou de Coney Crossing, nunca ouvi falar de tal coisa.Bem, a guerra tinha sido

    ruim o bastante, mas ento Panis Rahl ensinou aos seus magos como conjurar o povo dassombras. A Madre Confessora suspirou com a angstia de recontar a histria. Eles so

    chamados assim porque so como sombras no ar. Eles no possuem nenhum aspecto ou formaprecisa. No so seres vivos, mas criados pela magia. Armas no possuem mais efeito sobre elesdo que teriam em fumaa.

    Voc no pode se esconder do povo das sombras. Eles seguem na sua direoatravs de campos, ou florestas. Eles o encontram.

    Quando tocam algum, todo o corpo da pessoa fica cheio de feridas e inchaos atque sua carne se rasga. Eles morrem gritando de agonia. Nem mesmo os dotados podem curaralgum tocado por uma pessoa sombra.

    Quando o inimigo atacava, seus magos enviavam o povo da sombra na frente. Noincio, batalhes inteiros de nossos bravos jovens soldados foram encontrados mortos. Novimos esperana alguma. Era nossa hora mais sombria.

    E o Mago Zorander conseguiu deter eles? Abby perguntou.A Madre Confessora confirmou balanando a cabea. Ele estudou o problema eento conjurou chifres de batalha. A magia deles varreu o povo das sombras como fumaa ao

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    vento. A magia que vinha dos chifres tambm traou seu caminho de volta atravs do feitio,para procurar aqueles que o tinham lanado, e mat-los. Porm, os chifres no so prova defalhas, e Zedd deve alterar constantemente a magia deles para adapt-la ao modo como o inimigomuda sua conjurao.

    Panis Rahl tambm invocou outras magias: febres e doenas, espalhando

    enfermidades, nevoeiros que causavam cegeiratodos os tipos de horrores. Zedd trabalhou dia enoite, e conseguiu acabar com todos. Enquanto a magia de Panis Rahl estava sendo contida,nossas tropas eram capazes mais uma vez de lutar em termos iguais. Por causa do MagoZorander, a mar da guerra virou.

    Bem, tudo isso muito bom, mas...A Madre Confessora levantou seu dedo novamente, exigindo silncio. Abby segurou

    sua lngua enquanto a mulher baixava a mo e continuava.Panis Rahl estava enfurecido com o que Zedd tinha feito. Ele tentou mat-lo e

    falhou, ento ao invs disso ele enviou um Quad para matar Erilyn.Um Quad? O que um Quad?Um Quad, a feiticeira respondeu, uma unidade de quatro assassinos especiais

    enviados com a proteo de um feitio daquele que os enviou: Panis Rahl. Sua misso no apenas de matar a vtima, mas de fazer isso de um modo inimaginavelmente torturante e brutal.

    Abby engoliu em seco. E eles... mataram a esposa dele?A Madre Confessora chegou mais perto. Pior. Eles a deixaram, com suas pernas e

    braos todos quebrados, para ser encontrada ainda vida.Viva? Abby sussurrou. Porque eles a deixariam viva, se era a misso deles mat-

    la?Assim Zedd a encontraria toda quebrada, sangrando e em inconcebvel agonia. Ela

    s era capaz de sussurrar o nome dele. A Madre Confessora aproximou-se mais ainda. Abbypodia sentir as palavras sussurradas da mulher contra o seu rosto. Quando ele usou o dom paratentar cur-la, isso ativou um feitio verme.

    Abby teve que fazer um esforo para piscar. Feitio verme... ?Nenhum mago seria capaz de detect-lo. A Madre Confessora colocou os dedos

    em forma de garra e, na frente do estmago de Abby, moveu sua mo em um gesto como o derasgar. O feitio dilacerou as entranhas dela. Por ele ter usado o seu amado toque mgico, elamorreu gritando de dor enquanto ele se ajoelhava impotente ao lado dela.

    Encolhendo-se, Abby tocou o seu prprio estmago, quase sentindo o ferimento.Isso terrvel.

    Os olhos violeta da Madre Confessora mantiveram um olhar de ferro. O Quadtambm pegou a filha deles. A filha deles, que tinha visto tudo que aqueles homens fizeram coma me dela.

    Abby sentiu de novo as lgrimas queimando seus olhos. Eles fizeram aquilo com afilha dele tambm?No, a Madre Confessora falou. Eles a mantiveram cativa.Ento ela ainda est viva? Ainda h esperana?O vestido branco de cetim da Madre Confessora esvoaou suavemente quando ela se

    inclinou para trs contra a balaustrada de mrmore branco e repousou as mos no colo. Zedd foiatrs do Quad. Ele os encontrou, mas a filha dele tinha sido entregue para outros, e eles ainda apassaram para outros, e assim por diante, ento eles no tinham idia alguma de quem estavacom ela, ou onde ela poderia estar.

    Abby olhou para a feiticeira e depois novamente para a Madre Confessora. O que oMago Zorander fez com o Quad?

    Nada menos do que eu mesmo teria feito. A Madre Confessora olhava atravs deuma mscara fria de fria. Ele fez com que eles se arrependessem at mesmo de terem nascido.Por um longo tempo ele os fez se arrependerem.

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    Abby se encolheu. Entendo.Quando a Madre Confessora soltou um leve suspiro, a feiticeira continuou a histria.

    Enquanto falamos, o Mago Zorander usa um feitio que nenhum de ns entende; ele mantmPanis Rahl em seu palcio em D'Hara. Ele ajuda a enfraquecer a magia que Rahl capaz deconjurar contra ns, e permite que nossos homens conduzam as tropas dele de volta para o lugar

    de onde vieram.Mas Panis Rahl est consumido pelo dio do homem que tem frustrado suaconquista de Midlands. Dificilmente uma semana passa em que uma tentativa contra a vida doMago Zorander no seja feita. Rahl envia pessoas perigosas e vis de todos os tipos. At as Mord-Sith.

    A respirao de Abby ficou presa. Essa era uma palavra que tinha escutado. O queso Mord-Sith?

    A feiticeira passou uma das mos em seu lustroso cabelo negro enquanto olhava comuma expresso terrvel. Mord-Sith so mulheres que, juntamente com seus uniformes de courovermelho, usam apenas uma longa trana como a marca de sua profisso. Elas so treinadas natortura e assassinato daqueles que possuem o dom. Se uma pessoa dotada tenta usar sua magia

    contra uma Mord-Sith, ela capaz de capturar a magia e us-la contra eles. No h como escaparde uma Mord-Sith.

    Mas com certeza, uma pessoa com o dom to forte como o Mago Zorander...At mesmo ele estaria perdido se tentasse usar magia contra uma Mord-Sith, a

    Madre Confessora falou. Uma Mord-Sith pode ser derrotada com armas comuns mas no commagia. Apenas a magia de uma Confessora funciona contra elas. Eu matei duas.

    Em parte por causa da natureza brutal do treinamento de uma Mord-Sith, elas foramdeclaradas como foras-da-lei tanto quanto qualquer um sabe, mas em D'Hara a terrvel tradiode pegar mulheres jovens para serem doutrinadas como Mord-Sith continua at o dia de hoje.D'Hara uma terra distante e cheia de segredos. No sabemos muito a respeito dela, a no ser oque aprendemos com desafortunada experincia.

    Mord-Sith tm capturado muitos de nossos magos e feiticeiras. Uma vezcapturados, eles no podem matar a si mesmos, nem podem escapar. Antes que morram, elesentregam tudo que sabem. Panis Rahl sabe de nossos planos.

    Ns, tambm, conseguimos colocar nossas mos em muitos D'Harans de altaposio, e atravs do toque das Confessoras, sabemos a extenso do quanto estivemos sendocomprometidos. O tempo trabalha contra ns.

    Abby esfregou as palmas das mos nas coxas. E aquele homem que foi morto poucoantes que eu fosse ver o Primeiro Mago, ele no poderia ser um assassino; os dois com ele foramliberados para ir embora.

    No, ele no era um assassino. A Madre Confessora cruzou as mos. Acredito

    que Panis Rahl sabe do feitio que o Mago Zorander descobriu, que ele tem o poder de obliterartodos em D'Hara. Panis Rahl est desesperado para se livrar do Mago Zorander.Os olhos violeta da Madre Confessora pareceram cintilar com afiada inteligncia.

    Abby desviou o olhar e pegou em um fio solto do saco. Mas no consigo ver o que isso tem aver com negar ajuda para salvar minha filha. Ele tem uma filha. Ele no faria qualquer coisa parat-la de volta? Ele no faria o que fosse preciso para ter sua filha de volta e segura?

    A cabea da Madre Confessora baixou e ela passou os dedos pela testa, como setentasse tocar em um local onde houvesse dor. O homem que veio antes de voc era ummensageiro. Sua mensagem foi passada atravs de muitas mos para que no pudesse serrastreada at sua origem.

    Abby sentiu arrepios de frio subindo pelos braos. Qual era a mensagem?

    O tufo de cabelo que ele trouxe era da filha de Zedd. Panis Rah ofereceu a vida dafilha de Zedd se Zedd concordasse em se entregar a Panis Rahl para ser executado.

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    Abby agarrou o saco com fora. Mas um pai que amasse sua filha no faria atmesmo isso para salvar a vida dela?

    A que custo? a Madre Confessora sussurrou. Ao custo das vidas de todos aquelesque morreriam sem a ajuda dele?

    Ele no poderia fazer uma coisa to egosta, nem mesmo para salvar a vida de uma

    pessoa que ama mais do que qualquer outra. Antes de negar ajuda para sua filha, ele tinhaacabado de recusar a oferta, sentenciando assim sua prpria filha inocente morte.Abby sentiu novamente suas esperanas lanadas na escurido. O pensamento no

    terror de Jana, de ela ser ferida, deixou Abby tonta e doente. Lgrimas comearam a descer denovo pelo seu rosto.

    Mas no estou pedindo que ele sacrifique todos os outros para salv-la.A feiticeira tocou o ombro de Abby gentilmente. Ele acredita que poupar aquelas

    pessoas do sofrimento significaria deixar os D'Harans escaparem para matar mais pessoas nofinal.

    Abby procurou desesperadamente por uma soluo. Mas eu tenho um osso.A feiticeira suspirou. Abigail, metade das pessoas que aparecem para ver um mago

    carregam um osso. Vendedores ambulantes convencem os suplicantes de que eles so ossosverdadeiros. Pessoas desesperadas, assim como voc, os compram.

    A maioria deles procuram um mago para que ele, de algum modo, lhes d uma vidalivre da magia, a Madre Confessora disse. A maioria das pessoas tem medo da magia, mas eutemo que pelo modo como ela est sendo usada por D'Hara, agora eles no querem mais nadatanto quanto nunca mais ver magia novamente. Uma razo irnica para comprar um osso, e duplamente irnico que eles comprem ossos falsos, pensando que eles possuem magia, com oobjetivo de pedir para ficarem livres da magia.

    Abby piscou. Mas eu no comprei nenhum osso. Essa uma dvida verdadeira. Emseu leito de morte minha me falou isso. Ela disse que era o prprio Mago Zorander quem estavacomprometido.

    A feiticeira olhou de lado mostrando descrena. Abigail, dvidas verdadeiras dessanatureza so extremamente raras. Talvez fosse um osso que ela tivesse e voc apenas imaginouisso.

    Abby segurou o saco aberto para que a feiticeira visse. A feiticeira olhou dentro delee ficou em silncio. A prpria Madre Confessora olhou dentro do saco.

    Eu sei o que a minha me falou, Abby insistiu. Ela tambm disse que se houvessequalquer dvida, ele teria que test-lo, ento ele saberia que era verdadeiro, pois a dvida lhe foipassada pelo pai dele.

    A feiticeira tocou nos colares em sua garganta. Ele poderia test-lo. Se forverdadeiro, ele saberia. Mesmo assim, to solene quanto a dvida possa ser, isso no significa

    que a dvida teria que ser paga agora.Abby se inclinou na direo da feiticeira. Minha me disse que uma dvidaverdadeira, e que ela deve ser paga. Por favor, Delora, voc conhece a natureza dessas coisas. Euestava to confusa quando encontrei com ele, com todas aquelas pessoas gritando. Eu falheitolamente em fazer presso no meu caso pedindo a ele para test-lo. Ela virou e agarrou o braoda Madre Confessora. Por favor, me ajude? Diga a ele o que tenho e pea que ele teste?

    A Madre Confessora considerou por trs de uma expresso vazia. Finalmente elafalou. Isso envolve uma dvida selada por magia. Tal coisa deve ser considerada seriamente. Eufalarei com o Mago Zorander em seu nome e pedirei que voc seja recebida em uma audinciaparticular.

    Abby fechou os olhos bem apertado enquanto lgrimas caam outra vez. Obrigada.

    Ela colocou o rosto nas mos e comeou a chorar de alvio com a chama da esperana reacesa.A Madre Confessora agarrou os ombros de Abby. Eu falei que vou tentar. Ele podenegar meu pedido.

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    A feiticeira disparou uma risada desprovida de humor. Talvez no. Eu tambm voupuxar as orelhas dele. Mas Abigail, isso no quer dizer que podemos convenc-lo a lhe ajudarcom ou sem osso.

    Abby enxugou o rosto. Eu entendo. Obrigada, a vocs duas. Obrigada a vocs duaspor entenderem.

    Com um polegar, a feiticeira enxugou uma lgrima do queixo de Abby. Dizem quea filha de uma feiticeira uma filha para todas as feiticeiras.A Madre Confessora ficou de p e alisou seu vestido branco. Delora, talvez voc

    possa levar Abigail para um alojamento para mulheres viajantes. Ela deve descansar um pouco.Voc tem dinheiro, criana?

    Sim, Madre Confessora.Bom. Delora vai lev-la at um quarto para voc passar a noite. Retorne ao Castelo

    um pouco antes do nascer-do-sol. Encontraremos com voc e avisaremos se conseguimosconvencer Zedd a testar o seu osso.

    Vou rezar para os bons espritos que o Mago Zorander me receba e ajude minhafilha. De repente Abby sentiu vergonha de suas prprias palavras. E vou rezar tambm, pela

    filha dele.A Madre Confessora colocou as mos nas bochechas de Abby. Reze por todos ns,

    criana. Reze para que o Mago Zorander libere a magia contra D'Hara, antes que seja tardedemais para todas as crianas de Midlandssejam elas jovens ou no.

    Durante a caminhada delas at a cidade, Delora continuou a conversa sobre aspreocupaes e esperanas de Abby, e sobre como a magia poderia contribuir em ambas. Dealguns modos, conversar com a feiticeira lembrava as conversas com a me dela. Feiticeirasevitavam conversar sobre magia com uma pessoa no dotada, filha ou no. Abby tinha asensao de que era to desconfortvel para elas quanto foi para Abby quando Jana perguntou oque acontecia para uma me ter uma filha em sua barriga.

    Embora fosse tarde, as ruas estavam cheias de pessoas. Conversas preocupadas sobrea guerra flutuavam at os ouvidos de Abby de todas as direes. Em um canto um grupo demulheres murmurava chorosamente sobre homens que partiram por messes sem dar notciaalguma.

    Delora levou Abby descendo por uma rua com mercados para que ela comprasse umpequeno pedao de po assado com carne e azeitonas dentro, Abby no estava realmente comfome. A feiticeira a fez prometer que comeria. No querendo fazer nada que causassedesaprovao, Abby prometeu.

    O alojamento ficava subindo por uma estrada lateral entre construes bem prximasumas das outras. A barulheira do mercado subia pela rua estreita e ecoava em volta das casas epelos ptios com a facilidade do canto de um pssaro atravs de uma densa floresta. Abby ficou

    imaginando como as pessoas conseguiam suportar viver to prximas e sem nada para ver a noser outras casas e pessoas. Ela tambm imaginou como seria capaz de dormir com todos os sonsestranhos e o barulho, mas de qualquer jeito, o sono raramente chegava desde que havia sado decasa, apesar das noites tranquilas no campo.

    A feiticeira desejou boa noite para Abby, colocando-a nas mos de uma mulher deaparncia mal-humorada de poucas palavras que a conduziu at um quarto no final de um longocorredor e a deixou para seu descanso noturno, depois de receber uma moeda de prata. Abbysentou na ponta da cama e, sob a luz de uma simples lamparina colocada em uma prateleira pertoda cama, olhou o pequeno quarto enquanto beliscava o pedao de po. A carne dentro deleestava dura e fibrosa, mas tinha um sabor agradvel, com pimenta, sal e alho.

    Sem uma janela, o quarto no era to barulhento quanto Abby havia temido que

    deveria ser. A porta no tinha trinco, mas a mulher que mantinha a casa havia dito com umresmungo que ela no precisava se preocupar, que no era permitido ter homem algum no

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    estabelecimento. Abby colocou o po de lado e, em uma bacia em cima de um suporte a doispassos cruzando o quarto, lavou o rosto. Ela estava surpresa como isso deixou a gua to suja.

    Girou a pequena chave na lamparina, baixando o pavio to longe quanto ele poderiair sem apagar a chama; ela no gostava de dormir no escuro em um lugar estranho. Deitando nacama, observando o teto manchado de gua, rezou ardentemente aos bons espritos, apesar de

    saber que eles iriam ignorar um pedido do tipo que ela fez. Fechou os olhos e tambm rezou pelafilha do Mago Zorander. Suas preces foram fragmentadas por medos que pareciam enfiar suasgarras em suas entranhas.

    Ela no sabia quanto tempo tinha ficado deitada na cama, desejando que o sonotomasse conta dela, desejando que o amanhecer chegasse, quando a porta chiou abrindo-selentamente. Uma sombra subiu na parede mais afastada.

    Abby congelou, olhos arregalados, respirao presa com fora, enquanto elaobservava a figura agachada mover-se na direo da cama. No era a mulher da casa. Ela seriamais alta. Os dedos de Abby apertaram o cobertor esfarrapado, pensando que talvez ela pudesse

    jog-lo em cima do intruso e ento correr at a porta.No fique alarmada, querida. Eu vim apenas para ver se voc teve sucesso l no

    Castelo.Abby engoliu ar e sentou na cama. Mariska? Era a velha que estivera esperando

    com ela na fila o dia todo. Voc me deu um grande susto!A pequena chama da lamparina refletiu em um brilho assustador nos olhos da mulher

    enquanto ela analisava o rosto de Abby. H coisas piores para temer do que a sua prpriasegurana.

    O que voc quer dizer?Mariska sorriu. No foi um sorriso confortador. Conseguiu o que queria?Eu vi o Primeiro Mago, se isso que est querendo dizer.E o que ele disse, querida?Abby virou os ps para fora da cama. Isso assunto meu.O sorriso dissimulado cresceu. Oh, no, querida, assunto nosso.O que voc quer dizer com isso?Responda a pergunta. Voc no tem muito tempo. Sua famlia no tem muito

    tempo.Abby levantou rapidamente. Como voc...A velha agarrou o pulso de Abby e torceu at que Abby foi forada a sentar. O que

    disse o Primeiro Mago?Ele disse que no poderia me ajudar. Por favor, isso di. Me larga.Oh, querida, isso ruim demais, mesmo. Ruim demais para sua pequena Jana.Como... como sabe sobre ela? Eu nunca...

    Ento, o Mago Zorander negou seu pedido. Que notcia triste. Ela estalou a lngua.Pobre, desafortunada, pequena Jana. Voc foi avisada. Sabia o preo do fracasso.Ela soltou o pulso de Abby e se virou. A mente de Abby explodiu em pnico

    enquanto a mulher se arrastou na direo da porta. No! Por favor! Eu falarei com ele de novo,amanh. Ao nascer-do-sol. Mariska olhou para trs por cima do ombro. Por que? Por que eleconcordaria em v-la novamente, depois que negou a voc? Mentir no vai ganhar nem mais umpouco de tempo para sua filha. Isso no vair dar a ela nada.

    verdade. Eu juro pela alma de minha me. Eu conversei com a feiticeira, aquelaque nos levou l dentro. Conversei com ela e a Madre Confessora, depois que o Mago Zorandernegou meu pedido. Elas concordaram em convenc-lo a me fornecer uma audincia particular.

    A sobrancelha dela se inclinou. Por que elas fariam isso?

    Abby apontou para o saco na ponta da cama. Eu mostrei para elas o que eu trouxe.Com um dedo retorcido, Mariska abriu o saco. Ela olhou por um momento e entochegou mais perto de Abby. Voc ainda tem que mostrar isso para o Mago Zorander?

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    Isso mesmo. Elas vo conseguir uma audincia com ele. Tenho certeza. Amanh,ele vai me receber.

    Do seu largo cinto, Mariska tirou uma faca. Ela balanou-a para frente e para trsdiante do rosto de Abby. Estamos ficando cansados de esperar por voc. Abby lambeu oslbios. Mas eu...

    De manh eu partirei para Coney Crossing. Partirei para ver sua assustada pequenaJana. A mo dela deslizou por trs do pescoo de Abby. Dedos parecidos com razes decarvalho agarraram o cabelo de Abby, mantendo a cabea dela imvel. Se voc levar ele logoatrs de mim, ela ficar livre, como lhe foi prometido.

    Abby no podia balanar a cabea. Levarei. Eu juro. Convencerei ele. Ele estcomprometido por uma dvida. Mariska colocou a ponta da faca to perto do olho de Abby quetocou nos clios dela. Abby teve medo de piscar.

    Chegue tarde, e eu enfiarei minha faca no olho da pequena Jana. Atravessarei ele.Deixarei o outro para que ela possa ver enquanto eu cortarei fora o corao do pai dela,

    justamente para que ela saiba o quanto vai doer quando eu cortar o dela. Voc entendeu,querida?

    Abby s conseguiu gemer que havia entendido, enquanto lgrimas desciam pelassuas bochechas.

    uma boa garota. Mariska sussurrou to perto que Abby foi forada a respirar ocheiro de lingia do jantar da mulher. Se ns ao menos suspeitarmos de qualquer truque, todoseles morrero.

    Sem truques. Vou me apressar. Levarei ele.Mariska beijou a testa de Abby. Voc uma boa me. Ela soltou o cabelo de

    Abby. Jana ama voc. Ela chora por voc dia e noite.Depois que Mariska fechou a porta, Abby se enrolou em uma bola tremendo na cama

    e chorou encostada nos seus dedos.Delora se aproximou enquanto elas marchavam pela larga plataforma. Tem certeza

    que voc est bem, Abigail?O vento batia no cabelo dela, lanando-o contra o seu rosto. Afastando-o dos olhos,

    Abby olhou para a cidade que se espalhava logo abaixo comeando a sair da obscuridade. Elaestivera fazendo uma prece silenciosa para o esprito de sua me.

    Sim. Eu s tive uma noite ruim. No consegui dormir.O ombro da Madre Confessora encostou em Abby pelo outro lado. Ns

    entendemos. Pelo menos ele concordou em receb-la. Ganhe conforto com isso. Ele umhomem bom, realmente .

    Obrigada, Abby sussurrou envergonhada. Obrigada a vocs duas por me ajudar.As pessoas que esperavam pela plataforma magos, feiticeiras, oficiais, e outros

    todos ficaram em silncio por um momento e se curvaram na direo da Madre Confessoraquando as trs mulheres passaram. Entre muitas pessoas que ela reconheceu do dia anterior,Abby viu o mago Thomas, resmungando consigo mesmo e parecendo bastante impaciente eirritado enquanto remexia em um monte de papis cobertos com o que Abby reconheceu comosmbolos mgicos.

    No final da plataforma elas chegaram at o rosto de pedra de uma torre arredondada.Um pequeno telhado logo adiante se projetava descendo baixo por cima de uma porta com aparte superior redonda. A feiticeira bateu na porta e abriu-a sem esperar por uma resposta. Elapercebeu o levantar de sobrancelha de Abby.

    Ele raramente ouve a batida, ela explicou em um tom apressado.A sala de pedra era pequena, mas guardava uma sensao aconchegante. Uma janela

    redonda do lado direito fornecia uma viso ampla da cidade abaixo e outra do lado opostomostrava altivas paredes do Castelo, as maiores que ficavam mais afastadas brilhavam rosadas

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    sob os primeiros raios fracos do amanhecer. Um elaborado candelabro de ferro continha umpequeno exrcito de velas que geravam um brilho caloroso na sala.

    O Mago Zorander, seu cabelo castanho ondulado rebelde pendurado ao redor de seurosto enquanto ele se inclinava sobre as mos, estava absorvido em estudar um livro que jaziaaberto sobre a mesa. As trs mulheres pararam.

    Mago Zorander, a feiticeira anunciou, ns trouxemos Abigail, nascida de Helsa.Danao, mulher, o mago queixou-se sem levantar o olhar, Escutei voc bater,como sempre escuto.

    No pragueje comigo, Zeddicus Zu'l Zorander, Delora resmungou de volta.Ele ignorou a feiticeira, esfregando seu queixo liso enquanto analisava o livro diante

    dele. Bem-vinda, Abigail.Os dedos de Abby vasculharam no saco. Mas ento ela se lembrou e fez uma

    reverncia. Obrigada por me receber, Mago Zorander. de vital importncia que eu tenha suaajuda. Como j lhe falei, as vidas de crianas inocentes esto em risco.

    O Mago Zorander finalmente olhou para cima. Depois de observ-la por um longomomento ele ficou ereto. Onde fica a linha?

    Abby olhou para a feiticeira que estava de um lado dela e ento para a MadreConfessora do outro lado. Nenhuma delas olhou de volta.

    Me desculpe, Mago Zorander? A linha? A sobrancelha do mago desceu. Vocimplica um alto valor para uma vida por causa de uma idade jovem. A linha, minha queridacriana, atravs da qual o valor da vida torna-se insignificante. Onde fica a linha?

    Mas uma criana...Ele levantou um dedo como aviso. No pense em jogar com minhas emoes ao

    jogar comigo com o valor da vida de uma criana, como se um valor pudesse ser colado na vidapor causa da idade. Quando que a vida vale menos? Onde fica a linha? Em que idade? Quemdecide?

    Todas as vidas possuem valor. Um morto est morto, no importa a idade. Nopense em produzir uma suspenso de minha razo com um rgido, distorcer calculado daemoo, como alguns dissimulados que possuem um cargo privilegiado mexendo com as paixesde uma multido desmiolada.

    Abby ficou sem palavras com tal advertncia. O mago virou sua ateno para aMadre Confessora.

    Falando em burocratas, o que o conselho tem a dizer?A Madre Confessora juntou as mos e suspirou. Eu disse a eles suas palavras.

    Colocando de modo simples, eles no se importam. Eles querem que isso seja feito.Ele grunhiu descontente. Eles querem, agora? Seus olhos castanhos viraram para

    Abby. Parece que o conselho no se importa nem mesmo com as vidas de crianas , quando as

    crianas so D'Haran. Ele passou uma das mos pelos seus olhos de aparncia cansada. Noposso dizer que no entendo o raciocnio deles, ou que discordo deles, mas, queridos espritos,no so eles que faro isso. No ser pelas mos deles. Sero as minhas.

    Eu entendo, Zedd, a Madre Confessora murmurou.Mais uma vez ele pareceu notar Abby parada diante dele. Ele a estudou como que

    ponderando algum pensamento profundo. Isso a deixou inquieta. Ele estendeu sua mo e sacudiuos dedos. Ento, deixe-me ver.

    Abby deu um passo se aproximando da mesa enquanto enfiava a mo no saco.Se voc no puder ser convencido a ajudar pessoas inocentes , ento talvez isso

    signifique alguma coisa mais para voc.Ela tirou o crnio de sua me do saco e o colocou na palma da mo virada para cima

    do mago. Essa uma dvida de ossos. Eu a declaro cobrada.Ele ergueu uma sobrancelha. costumeiro trazer apenas um pequeno fragmento deosso, criana.

  • 8/3/2019 Srie Sword of Truth 01 - Dvida de Ossos - Terry Goodkind

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    Abby sentiu seu rosto ficar vermelho. Eu no sabia, ela gaguejou. Queria tercerteza de que havia o bastante para testar... ter certeza de que voc acreditaria em mim.

    Ele passou suavemente uma das mos sobre a parte superior do crnio. Um pedaomenor do que um gro de areia suficiente. Ele observou os olhos de Abby. A sua me nolhe disse?

    Abby balanou a cabea. Ela s falou que essa era uma dvida passada de seu paipara voc. Ela disse que a dvida deveria ser paga se ela fosse declarada cobrada.Realmente ela deve, ele sussurrou.Mesmo enquanto falava, as mos dele estavam deslizando para frente e para trs

    sobre o crnio. O osso estava embotado e manchado pela sujeira da qual Abby o tinha retirado,no tinha de modo algum o branco puro que ela imaginou que ele teria. Ela ficou horrorizada emter que desenterrar os ossos de sua me, mas a alternativa lhe causava mais horror ainda.

    Sob os dedos do mago, o osso do crnio comeou a brilhar com uma suave luzmbar. A respirao de Abby quase parou quando o ar zuniu, como se os prprios espritossussurrassem para o mago. A feiticeira remexeu os colares no pescoo dela. A Madre Confessoramordeu o lbio inferior. Abby rezou.

    O Mago Zorander colocou o crnio sobre a mesa e virou suas costas para elas. Obrilho mbar desapareceu.

    Quando ele no falou nada, Abby falou em meio ao pesado silncio. Bem? Vocest satisfeito? O seu teste provou que essa uma dvida verdadeira?

    Oh, sim, ele disse tranquilamente sem virar para elas. Essa uma dvida de ossosverdadeira, ligada pela magia invocada at que a dvida seja paga.

    Os dedos de Abby fi