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S/S ‘18
queremos saber como as coisas são feitas, queremos fazer parte do processo. para mostrar a nova coleção de verão, entramos na fábrica
da melissa, trazendo uma moda utilitária, mas superfeminina
FOTOS HICK DUARTE
MODA MAURÍCIO IANÊS
DIREÇÃO CRIATIVA ERIKA PALOMINO
DIREÇÃO DE ARTE KLEBER MATHEUS
BELEZA AMANDA SCHÖN
com produtos Lee Stafford e Kryolan
I N D U S T R I A LF E E L I N G S
M E L I S S A S A U C E S A N D A L 3
M E L I S S A K A Z A K O V A
M E L I S S A D A I K A N Y A M A M E L I S S A D U B R O V K A
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M E L I S S A S H I B U Y AM E L I S S A D U B R O V K A
M E L I S S A S O H O
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Macacão ANOTHER PLACE
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Camiseta e macacão GUSTAVO SILVESTRE para MELISSA Vestido HERCHCOVITCH;ALEXANDRE
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SPECIAL THANKSÀ La Garçonne; Alexandrine; Amapô; Another Place; Beira; Brechó Minha Avó Tinha; Cacete Company; Carol Funke; Coca-Cola Jeans; Gloria Coelho; Herchcovitch;Alexandre; João Pimenta; Ken-gá; Lygia & Nanny; Natalia Pessoa; Också; Okan; PHSD; Vitorino Campos
Macacão CAROLINE FUNKE
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Macacão ANOTHER PLACE
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Vestido HERCHCOVITCH;ALEXANDRESobretudo BRECHÓ MINHA AVÓ TINHA Camiseta GUSTAVO SILVESTRE para MELISSA Calça COCA-COLA JEANS
M E L I S S A K A Z A K O V A M E L I S S A S O H O
Macacão GUSTAVO SILVESTRE para MELISSA
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Macacão e boné GUSTAVO SILVESTRE para MELISSA Biquíni NEON por LYGIA & NANNY
M E L I S S A L A D Y L E S S
TRATAMENTO DE IMAGEM BRUNO REZENDE
ASSIST. FOTOGRAFIA EDU MALTA E WESLEY ALLEN
ASSIST. ARTE RENATA TELES
ASSIST. BELEZA CAMILA DE ALEXANDRE E PAULA KADIJA
COORDENAÇÃO GERAL RODOLFO BELTRÃO
PRODUÇÃO EXECUTIVA NELBA CARDOSO
CASTING BILL MACINTYRE
MODELOS ANITA POZZO (JOY), BERNARDO BRANCO E DANIELE MOIRANÇA (ALLURE),
BRUNA GRANDINI (BRM), FELIPE ROCHA (PRIME)
Blusa e calça VITORINO CAMPOS Saia PHSDCamisa GUSTAVO SILVESTRE para MELISSA
M E L I S S A M E L R O S E
Macacão GUSTAVO SILVESTRE para MELISSA Maiô LYGIA & NANNY
M E L I S S A S H I B U Y A
Alguns produtos podem sofrer distorção na cor ou não estarem disponíveis para venda.
TEXTO ERIKA PALOMINO
PARA DESENVOLVER O TEMA MAPPING, a equipe
da Melissa tomou como ponto de partida o papel que as cidades exer-
cem em nosso dia a dia. Metrópoles, megalópoles, bairros, ruas e vielas
determinam não apenas nossas escolhas e modos, mas também a nossa
identidade e a forma como nos relacionamos. Impulsionadas pela cultura
jovem, queremos novas formas de ocupação do espaço urbano. Como
reflexo dessa ação, e influenciados por paisagens pessoais, criadores de
distintas mídias (do Instagram à performance), de todas as partes do glo-
bo, registram esse olhar. Eles podem também transformar culturas locais
em linguagens universais: a tendência agora é o glocal (global + local).
A moda, claro, é desenhada também por seus entornos, e as peculia-
ridades de cada lugar proporcionam diferentes formatos de criação
e também de uso de uma peça ou produto, por exemplo, reforçando
a importância do onde, nesse mundo complexo e interconectado, em
que transporte e mobilidade são vistos como questões sociais e até
mesmo culturais. Fala-se cada vez mais de fronteiras, com os cenários
políticos, suas crises e esperanças ocupando espaço na agenda do
planeta – do México à cracolândia paulistana.
O sonho de uma cidade inclusiva passa pela arquitetura. A partir das
pranchetas e maquetes se desenha uma partitura sobre a qual, sem que
a gente perceba, se escrevem as emoções. Foi o filósofo Alain de Botton
quem cunhou o termo “arquitetura da felicidade”, em que a beleza,
a adequação e o conforto de um espaço nos afetam diretamente.
A coleção Mapping se divide então em três moods: Arquitetura,
Orgânico e Industrial, desdobrados nos três ensaios de moda desta
edição da revista. Se antes a casa era o nosso porto seguro, agora
buscamos desesperadamente a rede de wi-fi mais próxima. Na
supermodernidade, o não lugar já nos é familiar – aeroporto, metrô,
hotel, mercado, shopping ou mesmo uma loja são tão físicos em
nossas vidas quanto o quarto em que dormimos. Como diz a letra de
um velho samba: “Para se perder, tem que se achar” e, mais uma vez,
a tecnologia nos acode: Onde estou? Para onde vou? É o que nos
respondem diariamente Googles, Wazes e aplicativos de geolocalização
em geral (o app Swap da Melissa também). Tudo pode ser mapeado.
Para colocar mais poesia na selva urbana, Melissa convidou a artista
visual Verena Smit para idealizar o logotipo da nova coleção, a partir
do mapa de endereços fictícios. No solado de todos os modelos apa-
rece a geolocalização de Farroupilha, no Rio Grande do Sul, onde
fica o núcleo de criação da marca, e padrões que, juntos, formam o
mapa da cidade gaúcha. Oito dos principais produtos foram batiza-
dos com nomes de lugares e dois de não lugares (Ulitsa – “rua”, em
russo), e Dubrovka (que quer dizer “lugar desabitado”). Mais do que
falar de um determinado ambiente, entretanto, o tema do verão da
Melissa aborda uma pergunta ancestral: “Quem sou eu?”.
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conheça os fundamentos do tema mapping, que conecta arquitetura, urbanismo e moda, inventando uma cartografia das emoções em plena era digital
V O C Ê E S TÁ A Q U I !
a arte contribui para que a liberdade deixe de ser zona proibida no mundo
dentro de tubos de concreto. Uma ácida ironia, naturalmente. Para a
Bienal de Veneza de 2015, ele havia feito um vídeo documentando a
manufatura de um sino com material descartado de armas de guerra.
“The Bell Project” está em exibição no importante KW Institute for
Contemporary Art, em Berlim, até agosto.
Mas a campanha pela liberdade não é exclusividade da Documenta 14,
da Bienal de Veneza ou de São Paulo. Está pulverizada em eventos e
ações de muito menor penetração midiática, espalhadas pelo mapa.
Diásporas e migrações povoam discursos desde que a arte é arte.
Estavam na Paris do começo do século 20, nas pesquisas de artistas
imigrantes como Picasso, Modigliani, Gris, Kertész. E estão nos
manifestos de artistas ativistas contemporâneos como a cubana Tania
Bruguera, que no projeto “To The Unknown Migrant” (2012) convidou
artistas e ativistas a desenvolver monumentos efêmeros em locais onde
o papel histórico dos migrantes foi apagado ou severamente agredido.
Assumindo a forma de objetos estéticos ou de prática social, a arte
atua sobre consciências, contribuindo para que a liberdade deixe de
ser uma zona proibida – como coloca um cidadão curdo num dos
vídeos de Hiwa K.
QUANDO GOVERNOS de países ocidentais respondem
à maior crise migratória da história construindo e fortificando
muros, recusando-se a receber e dar passagem a refugiados da
Síria, do Afeganistão, do Iraque, do Marrocos ou do México, a arte
contemporânea é um lúcido e decisivo canal de resistência.
O mesmo arame metálico que estabelece as cercas militares
que proliferam em fronteiras dá forma a trabalhos em exibição na
14ª edição da Documenta, uma das maiores exposições do planeta,
que acontece a cada cinco anos em Kassel, na Alemanha. O
material bélico está presente, especialmente entre as produções
de artistas residentes em Atenas – principal porto de chegada de
refugiados e epicentro da crise humanitária europeia hoje.
Num mundo em que se multiplicam símbolos da intolerância,
artistas da D14 chamam a atenção para dramas individuais
entre populações banidas e esquecidas, buscando
devolver-lhes condições básicas de orgulho, esperança e
autoconfiança. Caso de Hiwa K, curdo nascido no Iraque
e residente em Berlim, onde é exilado político. Ele fugiu
de seu país antes da Guerra do Iraque, cruzando a pé
as montanhas até a fronteira iraniana com a Turquia
chegando, por fim, à Alemanha.
Hiwa K realizou para a D14 a instalação pública
“When We Were Exhaling Images” (2017),
edificando 20 apartamentos provisórios
F O R Ç A S Q U E M U R O S N Ã O
P O D E M C O N T E RTEXTO PAULA ALZUGARAY
ILUSTRAÇÕES LAURA TEIXEIRA
Paula Alzugaray é curadora, crítica de arte, editora e jornalista especializada em artes visuais. Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e mestre em Ciências da Comunicação pela ECA-USP. É diretora de redação da revista cultural seLecT e editora da seção quinzenal de artes visuais da revista Isto É.
a moda praia sai para dançar e volta para a areia
de novo, de manhã. nesse mood da coleção mapping,
fotografado nas dunas mágicas do ceará,
uma elegância fresh e sensual, em looks de tons
quentes e inspirados na natureza
FOTOS CECILIA DUARTE
MODA GI MACEDO
DIREÇÃO CRIATIVA ERIKA PALOMINO
DIREÇÃO DE ARTE KLEBER MATHEUS
BELEZA AMANDA SCHÖN
com produtos Lee Stafford e Kryolan
PA R A Í S OO R G Â N I C O
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Top VON TRAPPLenço GUCCIMaiô KIMONO
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Maxicardigan ROOMColete ISABEL MARANT Calça JOÃO PIMENTA
MELISSA COSMIC + SALINAS
Maiô ROSA CHÁ Veste OCKSÅ
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Vestido JUISI BY LICQUOR sob Vestido OSKLEN
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Blusa MAREU NITSCHKE Calça GAL Maiô GUCCI
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Conjunto YVES SAINT LAURENT
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Vestido MARTINS.TOM
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Blusa JOÃO PIMENTASaia GIVENCHY
MELISSA COSMIC SANDAL + SALINAS
Chapéu ACNE STUDIOTop SALGA BEACHCalça CASA JUISI
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Look GILDA MIDANI
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Colete MODEM para CARTEL 011Lenço ALCAÇUZ Calça STELLA MCCARTNEY
M E L I S S A M E L R O S E
COORDENAÇÃO DE MODA CLESSI CARDOSO
TRATAMENTO DE IMAGEM BRUNO REZENDE
ASSIST. FOTOGRAFIA EDU MALTA E RENATO TOSO
ASSIST. ARTE RENATA TELES
ASSIST. BELEZA CAMILA DE ALEXANDRE E RENATA BRAZIL
COORDENAÇÃO GERAL RODOLFO BELTRÃO
PRODUÇÃO EXECUTIVA NELBA CARDOSO
CASTING BILL MACINTYRE
MODELOS EVE MORAES (MEGA) E MARIANE CALAZAN (WAY)
M E L I S S A M E L R O S E
Alguns produtos podem sofrer distorção na cor ou não estarem disponíveis para venda.
QUANDO A MODA COMEÇOU a falar de hi-lo, mal imagi-
nava o que estaria por vir. A ideia de misturar peças de labels de marca
com outras bacanas e acessíveis parecia só mais um desses momentos
em que um pouco de bom senso torna tudo mais divertido no mundo
fashionista. Foi um erro de avaliação. O hi-lo trouxe na bagagem ques-
tionamentos muito mais profundos e importantes. Todo modaholic manja
os códigos do high, ou ao menos sabe lidar com eles. Já o que se chama
de low é mais complexo de definir. O low pode ser uma peça de fast-
-fashion, uma bijoux diferentona da rua 25 de Março (região central de
São Paulo), mas também pode ser um acessório com design inteligente
e preço competitivo, pode ser uma pulseirinha ou uma sandália de couro
que você comprou em uma viagem ao Nordeste, um enfeite de cabeça
vendido numa banquinha no México.
Algumas coisas entram para a categoria do low não só pelo preço ou pela
falta de design caprichado, mas por serem populares, por não estarem
conectadas a uma certa ideia antiquada de sofisticação. A verdade é que
muitas vezes elas são desvalorizadas pelo preconceito estético.
Outro erro grave de avaliação que a reflexão ajuda a corrigir. O mix, a
união, a convergência são os grandes motores da moda do futuro. Motor
que está sendo projetado aqui e agora. E que só pode ser alimentado
pela valorização estética das mais diferentes culturas e origens. O arte-
sanal é um tipo de high fashion presente em toda parte. As rendas e os
tressês brasileiros, a pintura em tecido de diversos países da África, os
bordados do Leste Europeu, os tingimentos indianos, as pinturas japone-
sas, a lista é longa: tem o tamanho da história da humanidade. O legado
de populações e países com maioria negra deve ser especialmente ob-
servado. A moda, por muito tempo, silenciou essas vozes e se aproveitou
de seus códigos sem dar os devidos créditos.
Movimentos como o afropunk, que usa a estética africana com elemen-
tos da vestimenta e da contestação popular dos punks, e o afrofuturis-
mo, que projeta um futuro com a presença marcante dos negros em
lugares de destaque, estão diretamente conectados com a questão da
valorização dessas culturas.
Aos poucos, o hi-lo vai dando espaço para o all together, uma visão
mais ampla e capaz de desenhar novas harmonias, de aprender com
as diferenças, de entender que o valor de uma peça pode ser medido
de diversas maneiras e de criar outra compreensão do luxo. Quando a
valorização das pessoas e de suas trajetórias encontra espaço na moda,
coisas bonitas acontecem.
Vivian Whiteman é editora de moda e colunista da revista Elle Brasil. Foi editora da Folha de S.Paulo, para a qual fez as primeiras de muitas coberturas das fashion weeks ao redor do mundo. Pesquisa as relações entre a moda e mudanças sociais de comportamento, já entrevistou um robô, é fã dos desfiles de Miuccia Prada e mãe coruja de uma menina incrível que adora rabiscar paredes.
uma visão menos previsível do estilo hi-lo propõe novas formas de harmonia ao superar o preconceito estético sobre códigos do vestir
O F U T U R O D A M O D A É A L L T O G E T H E R
TEXTO VIVIAN WHITEMAN
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CORPOS D ISS IDENTESpolíticas globais endurecidas impõem aos refugiados outras identidades culturais – grave crise e um dos principais paradigmas dos nossos tempos
TEXTO BRUNO MENDONÇA
FOTO CASSIA TABATINI
PODERÍAMOS CULPAR OS ASTROS pelo momento atual,
Saturno ou os trânsitos retrógrados de Mercúrio, mas o fato é que de
nada adianta. O presente tem exigido de todos um repensar sobre as
questões micro e macropolíticas da vida. Vemos, dia após dia, que
diversas estruturas, sistemas e formatos criados por nós mesmos, en-
quanto sociedade, não funcionaram. O agora mostra, infelizmente, que
embora tenhamos conquistado muito, também fracassamos. Podemos
olhar para isso de maneira fatalista ou como potencial de mudança. Se
por um lado vemos grupos se movimentando nessa direção, por outro
também assistimos, em escala global, nações inteiras, instituições,
organizações e outros grupos sociais tomarem a direção oposta, justa-
mente não se ressignificando, mas tropeçando em velhos preconceitos.
Uma onda reacionária assola o planeta, tendo como protagonistas
líderes de extrema direita e a manutenção de um sistema econômico
cada vez mais opressor, um verdadeiro pós-capitalismo selvagem.
Dentro dessa complexa equação sociopolítica e econômica, talvez um
dos sintomas mais evidentes seja a retomada massiva de movimentos
migratórios, gerando, a partir da problemática dos refugiados e imi-
grantes ilegais, um verdadeiro paradigma para o campo das relações
internacionais. A artista e pesquisadora brasileira Giselle Beiguelman
discorre no artigo “A Era dos Muros”, sobre a dramática realidade de
um mundo que, na contramão da dissolução das fronteiras criadas no
passado, as tem fortalecido, por meio de atitudes protecionistas e xe-
nófobas. Em seu texto, Beiguelman revela dados alarmantes: se com o
fim da Guerra Fria, após a derrubada do Muro de Berlim, o número de
barreiras políticas caiu de 15 para 13, depois da histórica data de 11 de
setembro de 2001, a política de construção de obstáculos saltou para
50. Tais números apontam para a movimentação retrógrada diante dos
movimentos progressistas e de expansão. A questão dos refugiados
nos coloca em contato com feridas mais profundas, tanto de práticas
colonialistas que resultaram em processos catastróficos, quanto de
políticas escravocratas que geraram problemas de ordem racial e de
classe. Se atualmente se discute cada vez mais essas questões pós-
coloniais, vê-se na verdade um choque entre passado, presente e
futuro, a partir de uma sobreposição de cortes nunca estancados,
um misto entre sangue vivo e pisado, fruto de séculos de agressões e
violências contra o outro. Refugiados são um reflexo triste desse corpo
que virou commodity de uma forma irreversível, desse corpo que virou
vítima de sua própria civilização e humanidade. Um corpo que reve-
la toda a nossa intolerância, seja ela religiosa ou de outra ordem. O
corpo dessas pessoas é mais uma dessas questões que o contemporâ-
neo apresenta – o problema vivo que a filosofia pós-estruturalista tem
como objeto ou que campos intelectuais distintos tentam entender
e/ou resolver. Corpos que resultaram de uma política que não foi a do
afeto, política essa que a fotógrafa Cassia Tabatini imprime em suas
imagens, que ilustram este texto. De forma sutil e poética, ela realiza
retratos de jovens refugiados e de imigrantes ilegais residentes na
cidade de São Paulo, principalmente vindos de países do continente
africano. Não vemos vítimas aí, mas sujeitos que querem ser vistos e
que trazem essa potência de mudança e estão interessados em uma
sociedade mais humanizada. Nesse contexto de pós-verdades em
que vivemos, refugiados criam ou são o que o teórico José Miguel
G. Cortés, professor de Teoria da Arte da Faculdade de Belas Artes
de Valência (Espanha), chama de “cartografias dissidentes”, ou seja,
desestabilizam, pois trazem à tona comunidades que passaram por
longos processos de invisibilidade a partir de um recorte histórico de
mundo de caráter eurocêntrico, criando uma espécie de hegemonia
narrativa. Tais “cartografias dissidentes” são emergentes, desterritoria-
lizam, forçam as fronteiras, nos propondo a criação de novos mapas.
Bruno Mendonça é artista e pesquisador, formado em Comunicação Social pela Universidade Mackenzie e com extensão em Artes Visuais pela FAAP. É mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, e seus trabalhos desdobram-se basicamente em publicações, performances na qual explora a linguagem do spoken word, instalações e ações de caráter colaborativo. Nos últimos anos foi membro do Grupo de Crítica e Curadoria do Centro Cultural São Paulo, e participou como crítico convidado na 32ª Bienal de São Paulo.
M E L I S S A S A U C E S A N D A L 3
L INHASPARALELAS
na tendência mais conceitual, que olha para a arquitetura
como ponto de partida, uma pegada cool na forma de
editar as roupas e usar sua melissa. brinque com silhuetas,
diferentes proporções e desconstruções inesperadas
FOTOS CASSIA TABATINI
MODA GEORGE KRAKOWIAK
DIREÇÃO CRIATIVA ERIKA PALOMINO
DIREÇÃO DE ARTE KLEBER MATHEUS
BELEZA AMANDA SCHÖN
com produtos Lee Stafford e Kryolan
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TRATAMENTO DE IMAGEM BRUNO REZENDE
PRODUÇÃO DE MODA CAROL PEREOLI E BIA AMARAL
ASSIST. FOTOGRAFIA EDU MALTA
ASSIST. ARTE RENATA TELES
ASSIST. BELEZA RENATA BRAZIL
COORDENAÇÃO GERAL RODOLFO BELTRÃO
PRODUÇÃO EXECUTIVA NELBA CARDOSO
CASTING BILL MACINTYRE
MODELOS DAIRA (ALLURE), BRENDA PIVATTO (WAY),
SWEIA HARTMANN (WAY), JOÃO ZANELLA (FORD)
Camisa de seda MAX MARASaia de couro sintético LADO BASIC Calça jeans DIESEL
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Casaco RALPH LAUREN para FROU FROU BRECHÓ Camiseta de algodão LEVI’S
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Jaqueta jeans LEVI’SCalça jeans AMP
VIVIENNE WESTWOOD ANGLOMANIA+ MELISSA CHARLIE
Camisa de seda MAX MARAShort de cetim MAX MARA
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Calça jeans LEVI’S
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Calça jeans LEVI’SCamiseta de algodão B.LUXO
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Blusa de moletom AMPSaia de couro INFINITI
MELISSA MAR WEDGE
Blusa PIERRE CARDINSaia de algodão CRUISE
MELISSA ULITSA
Saia jeans LEVI’SCamisa de algodão LEVI’S
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Casaco TOMMY HILFIGER Calça MAX MARABlusa PELICAN AND PARROTS
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Vestido de algodão LACOSTE
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Camisa de algodão LEVI’STop LASERCalça de couro CRUISE
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Alguns produtos podem sofrer distorção na cor ou não estarem disponíveis para venda.
UM PROJETO DE ARQUITETURA de um espaço (ou a
falta dele) influencia profundamente as nossas sensações. A incidên-
cia de luz natural e o número de divisórias de uma casa, por exem-
plo, são elementos definitivos para o tipo de relação que construímos
com as pessoas com quem convivemos.
A “Casinha” (1942), primeira casa que meu avô, o arquiteto Vilanova
Artigas, projetou como morada, e onde brinquei na infância, tem apenas
as portas de entrada e um único banheiro. Para os estudiosos, é um de-
leite formal. Para mim, sempre foi o lar que ele fez para a namorada (a
vovó). A vivência neste espaço livre foi determinante para solidificar a
relação de confiança e cumplicidade como um casal longevo. Ao cami-
nhar pelos ambientes fascinantes do MASP, em São Paulo, dificilmente
pensamos sobre o gênero do seu idealizador. Lina Bo Bardi, a autora
do projeto, se autointitulava “arquiteto”. Ela escreveu seu nome na
história da cidade – feito até hoje raro para as mulheres desse meio. Em
38 anos do Prêmio Pritzker (espécie de Oscar da arquitetura), apenas
duas mulheres foram laureadas: a iraniana Zaha Hadid (1950-2016) e a
japonesa Kazuyo Sejima, cujo título foi dividido com seu sócio no es-
critório SANAA. Por aqui, mais da metade dos registros profissionais
feitos no Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) são de mulhe-
res. Paradoxalmente, poucos nomes femininos reverberam com força
no mercado e na mídia.
A carioca Carla Juaçaba quebra a regra e vem ganhando notoriedade
neste grupo ainda restrito. Ela levou o Prêmio Arcvision, dedicado às
mulheres, em sua primeira edição (2013). Sua obra transita entre a
arquitetura e a expografia. Nas casas que desenha, sua preocupação é
respeitar o entorno e a história do lugar. “A arquitetura pode ser encanta-
dora de maneira imperceptível. Sentir-se feliz em um espaço não passa
por teorizar sobre suas formas”, diz.
Ela criou a megaestrutura de andaimes da exposição “Humanidade”, du-
rante a conferência sobre meio ambiente Rio+20, em 2012. “A proposta foi
reverenciar a geografia de Copacabana”, relembra. A opção pelo material
efêmero se relacionava com o contexto do período e com a responsa-
bilidade ambiental demandada pelo evento. “O Rio de Janeiro vivia
em obras em função dos eventos que viriam (Copa do Mundo e Jogos
Olímpicos), e o material pôde ser reaproveitado em outras construções”,
complementa. Como Lina Bo Bardi, Carla também prefere dispensar
atribuições femininas ao seu trabalho. Contudo, ela observa:
“Lendo os poemas da polonesa Wisława Szymborska (vencedora do
Nobel de Literatura em 1996) penso que dificilmente um homem escre-
veria daquele jeito”. Certamente meu avô adiria que a boa arquitetura
não precisa ser definida por gênero e, sim, por amor.
A PELE QUEHABITOum bom projeto arquitetônico ésutil aos olhos e intenso ao coração
Laura Artigas é jornalista, roteirista e diretora. Estudou cinema em Buenos Aires, e escreveu e dirigiu o documentário “Vilanova Artigas: O Arquiteto e a Luz”. É diretora de conteúdo do programa Desengaveta, GNT/Globosat. Paralelamente, atua como jornalista de moda e de comportamento, e cuida do blog Moda pra Ler (modapraler.com).
TEXTO LAURA ARTIGAS
ILUSTRAÇÃO FABIO GURJÃO
Estar no meio de uma ponte não é confortável como estar à margem dela,
ainda dentro do espaço que tão bem conhecemos. A ponte não é coberta,
não é segura, nem familiar. Tem muita chuva, muito vento, muito sol. É um
terceiro universo que se ergue quando duas naturezas se encontram. Um
terceiro universo que contém um pouco de cada um, um terceiro universo
que acaba se tornando extensão do seu próprio.
Percebemos, ao longo de nossos quase cinco anos de namoro, que o mais
difícil de uma relação é fazer essas travessias, e que não há como não as
fazer. Pessoas são diferentes, inquestionavelmente diferentes. Quando
se escolhe estar do lado de alguém não se pode querer transformar, nem
querer se anular para que algo se construa. Atravessar a ponte com a outra
pessoa não é abandonar quem você é, não é ignorar os seus desejos, as
suas individualidades: é estar ligada a elas e ainda conseguir compreender
as do parceiro. Perdemos muito tempo nos forçando, anulando o outro,
achando que ao nos abrirmos para os desejos alheios, estaríamos anulan-
do o nosso próprio eu, anulando a nossa vida pela pessoa amada – e, atu-
almente, não há nada menos feminista do que isso. Achávamos que cons-
truir essas pontes e atravessá-las nos diminuiria enquanto seres completos,
nos inferiorizaria. Ceder parecia sinônimo de fraqueza. Ter saído de mim
até onde senti que podia e ter buscado ver a vida pela ótica do Jonas abriu
os meus olhos, expandiu as minhas ideias, me fez crescer, me desenvolveu,
me transformou em alguém um pouco melhor do que eu era antes.
Esse terceiro espaço que casais constroem ao se relacionar só é ruim se não
houver respeito de seus próprios limites. Só é ruim se não houver diálogo, só
é ruim se ambos não estiverem igualmente dispostos. “Até aqui eu posso ir,
daqui para frente não mais, tudo bem para você?”, “Tudo bem”. Se estiver
bem seguimos juntos, se não, o que foi construído não terá sido em vão.
Jonas e eu aprendemos a lidar com as distâncias ao longo do nosso namoro.
A distância mais fácil foi a geográfica: oito horas de viagem e tudo estava
resolvido. Ao contrário do que muitos pensam, a nossa maior dificuldade
nunca foi o fato de namorarmos à distância e só conseguirmos nos encontrar
duas vezes ao ano. A saudade, a vontade de tocar, estar perto, conversar,
sempre existiu! Sempre foi muito latente! Mas ao longo de nossa caminha-
da entendemos que as idas e vindas necessárias para que o relacionamen-
to se mantivesse estava em nós, não nas rodovias do Brasil.
Aqui falo de barreiras naturais entre seres humanos. Falo de esforços
necessários para construir qualquer relação, sejam elas sexualmente
amorosas ou não. Temos que atravessar pontes todos os dias: com nossos
amigos, famílias etc. São elas que nos colocam de pé, são elas que nos
mostram outras formas de existirmos e que alteram universos enquanto
desenvolvem os nossos próprios.
MEU RELACIONAMENTO COM o Jonas sempre foi uma
viagem, não só no sentido literal, por estarmos realmente distantes geo-
graficamente – ele em Minas Gerais, eu em São Paulo: entre nós há uma
ponte, uma ponte que liga dois mundos diferentes, dois universos distintos,
duas pessoas contrárias por essência – e não é porque gosto de cebola e
o Jonas não, porque ele é reservado e eu mais sociável, nem porque ele
gosta de dormir de barriga para cima e eu de lado. Mas, simplesmente,
porque pessoas não se parecem, por mais que existam pontos em comum.
Ali está, enfim, a ponte, longa, e que durante esses anos todos tentamos
atravessar de mil maneiras.
Comecei sozinha, peguei minhas malinhas e fui à luta. Tão cansada, tão
solitária. Jonas ao longe, à margem de seu universo, sentado em uma ca-
deira de balanço me esperando chegar, dizia: “Vem amor”, e eu, “Já estou
indo”, e quanto mais me aproximava, mais raiva me dava – afinal, quem
estava andando era somente eu.
Ao chegar perto do mundo de Jonas, permaneci por pouco tempo, o
mau-humor e o esgotamento da viagem não me deixaram aproveitar. Quan-
to mais perto dele estava, mais longe de casa eu ficava. Irritei-me e fui em-
bora – abatida e furiosa. Com tanta ira, que meus passos fortes abalaram
as estruturas de madeira daquela ponte que se construiu provisoriamente
para ligar esses dois universos. Entrei em casa e reencontrei-me, e de longe
gritei: “Agora você é que vem!”. E ele veio. Largou o seu mundo e veio ao
encontro do meu. A segunda travessia foi ainda mais complicada, a ponte já
não estava mais em boas condições. Jonas se machucou ainda mais, torceu
o pé, sujou-se, cortou-se, parou para descansar, pensou em voltar enquanto
eu dizia: “Se eu fui, agora é a sua vez de vir”. E ele veio.
Ao chegar, ele estava pior do que eu já estive. A ponte ainda mais des-
truída, Jonas triste, exausto, com raiva e absolutamente longe do seu
universo. A gente sempre sente saudade de casa. Ele não estava disposto
a ficar, e eu não voltaria. Foi sozinho, e seus passos fortes de raiva destru-
íram nossa travessia de vez. Passamos muito tempo na margem de nossos
próprios mundos, gritando um com o outro. Não tínhamos como não
gritar, não havia mais como se aproximar para que o outro pudesse ouvir.
Gritamos por muitos meses, não nos entendíamos, não nos ouvíamos, não
existiam mais pontes. Cansados de gritar decidimos reconstruí-la, dessa
vez com estruturas permanentes, para que esta não caísse com nossos
passos fortes, que sempre existirão.
Jonas e eu sabíamos que demoraria, não se constrói uma boa carcaça do
dia para a noite. Cada um teria que fazer a sua parte, cada um teria que
dar um passo de cada vez, pregar um prego, apertar alguns parafusos
e, assim, nos encontraríamos no meio. Quando nos encontramos, tudo
fez sentido. Os dois precisavam sair. O caminho seria mais rápido, mais
simples, nos enxergaríamos mais, nos ouviríamos mais e nem estaríamos
tão longe de casa.
para nátaly neri, quando o assunto é amor, dar o primeiro passo na direção certa se faz fundamental
ATRAVESSANDO PONTES
Nátaly Neri é estudante de Ciências Sociais da Unifesp, e dona de um canal bombado no YouTube chamado Afros e Afins, que aborda questões que vão da beleza negra ao empoderamento feminino.
TEXTO NÁTALY NERI
ILUSTRAÇÃO CATARINA BESSELL
Integração social e financeira dos refugiados
Projeto: Abraço Cultural
Uma escola de idiomas, que ensina francês, inglês, espanhol e árabe
tendo como professores os refugiados. O projeto potencializa a geração
de renda e a troca de experiências culturais entre a comunidade e os
refugiados. www.facebook.com/abcultural
O preconceito em relação aos refugiados
Projeto: RefugeesAre.US
Com o olhar totalmente empático, um grupo internacional de publicitá-
rios criou uma campanha que tem o objetivo de confrontar o preconceito
estereotipado em relação aos refugiados. refugeesare.us
Situações de guerra e vulnerabilidade em fronteiras
Projeto: Clowns Without Borders
Alguns artistas profissionais e circenses levam a arte, o bom humor e a
diversão para lugares onde crianças e famílias estão vivendo uma situa-
ção de conflito crítica, como desastres naturais e guerras.
clownswithoutborders.org.uk
SEMPRE ACOMPANHADO DAS redes sociais, autoriza-
mos a onipresença da multidão (dos conhecidos às celebridades)
em nossas vidas; no entanto, nos sentimos cada vez mais solitários.
O paradoxo de se sentir sozinho em meio à multidão já se cristalizou
como sensação. Inclusive, é nas supercidades onde nos sentimos
mais sós, mas a metrópole, que parecia ser o próprio antídoto para a
solidão – uma população densa, inúmeras possibilidades de cultura
e comércio –, revela justamente o contrário. Com tantos estímulos,
os habitantes das megalópoles tornam-se mais distraídos e centra-
dos em si mesmos, despreocupados com o estado de sua percep-
ção. No cotidiano, essa desatenção tem como consequência momen-
tos de absoluta falta de empatia.
É sabido que os níveis de depressão, ansiedade e solidão são mais
altos em ambientes urbanos em comparação às áreas rurais. Uma
pesquisa realizada pela ComRes, conforme divulgou o site do jornal
britânico The Guardian, em 2013, revelou que 52% dos londrinos
se sentem sozinhos, o que torna a cidade a mais solitária do Reino
Unido. A boa notícia é que a empatia é uma habilidade humana:
como tocar um instrumento, praticar esportes ou dançar, ela pode
ser exercitada. O primeiro passo é mostrar-se atento à existência do
outro, que pode ser um indivíduo ou uma situação a que não esta-
mos acostumados a presenciar.
Finalmente, para apurar o olhar e aprimorar a forma como percebemos
os acontecimentos ao nosso redor, selecionamos pessoas e projetos
que, com sensibilidade e criatividade, combatem a invisibilidade.
INVISIBILIDADE / SUPERCIDADEIniciativas que trabalham questões ocultas nas grandes cidades.
Vulnerabilidade de moradores de rua
Projeto: SP Invisível
Amigos se juntam para mostrar o que era invisível em São Paulo. Com a
criação de um perfil cuidadoso e carinhoso dos moradores de rua, é pos-
sível compartilhar suas histórias de vida. www.instagram.com/spinvisivel
Vulnerabilidade da comunidade LGBT
Projeto: Casa 1
Situada no centro da capital paulista, a Casa 1 é o resultado de um
crowdfunding para a criação de um centro cultural e de apoio à comuni-
dade LGBT. Liderado pelo jornalista Iran Giusti, o espaço (a ideia é que
no futuro existam 150 residências iguais) abriu as portas em janeiro de
2017. Das 10h às 22h, o endereço oferece moradia para pessoas que es-
tão em situação de risco, programação de cursos, debates e atividades
para a comunidade. www.facebook.com/casaum
Visibilidade da mulher no mercado editorial
Projeto: Leia Mulheres
Para trazer a visibilidade da mulher na literatura, três amigas criaram o
Leia Mulheres, um grupo literário que funciona em quase todo o Brasil, e
que tem como objetivo estimular a leitura de textos literários e de livros
de escritoras. leiamulheres.com.br
escute, enxergue & reflita: exercitar a empatia é a melhor dinâmica para não se perder em meio à multidão
INVISIBILIDADEURBANA
Luiza Futuro é pesquisadora cultural. Com mestrado na Goldsmiths, University of London, onde aprofundou seu conhecimento em sociedade e cultura por meio de uma abordagem interdisciplinar, combinando principalmente estudos de afeto e feminismo. Seu objetivo é desafiar as possibilidades de criação de conhecimento, em relação aos estudos culturais.
Anonimato nas grandes cidades
Projeto: Talk to me
Um movimento que promove a conversa entre estranhos nas cidades.
Uma plataforma que ajuda a criar diálogos e por meio dessa troca,
combater o excesso de anonimato e a indiferença, nas metrópoles.
talktomeday.org
Guerra contra as drogas: Cracolândia
Projeto liderado por José Carlos Matos
O grito mais conhecido e esperado na Cracolândia é: “Olha o pão, meus
irmãos!”. Esse é o anúncio de que o gari José Carlos Matos, de 47 anos –
que todos os dias sai do Embu da Artes (Grande SP) e pega mais de três
ônibus até o terminal Princesa Isabel (na região central) – está na área
para distribuir pão e água aos usuários de drogas em situação de rua.
INVISIBILIDADE / FRONTEIRASConheça as iniciativas que trabalham questões ocultas em destinos
ermos, como as fronteiras entre países.
Crise mundial dos refugiados
Filme: Human Flow
Um longa-metragem produzido durante a jornada pessoal do artista chi-
nês Ai Weiwei por 22 países, visitando campos e fronteiras de refugiados.
www.youtube.com/watch?v=rWgC5pCR1AE
TEXTO LUIZA FUTURO
ILUSTRAÇÃO LAURA TEIXEIRA
NO DIA 17 DE MAIO, lançamos a coleção Mapping com um desfile
em Fortaleza. Foi uma grande surpresa para todos os 600 convidados,
que se reuniram no hotel Marina Park para um brunch, e de lá foram
embarcados em ônibus que os levariam para um destino desconheci-
do. Era a fábrica da Melissa na cidade: “a fábrica de sonhos”, como a
batizou Edson Matsuo. Os visitantes entravam em grupos para conhecer
as principais etapas da produção, desde a seleção da matéria-prima e a
escolha da matriz até a Melissa estar pronta para ganhar o mundo. “É um
sonho que estamos realizando. Há muito tempo queríamos proporcionar
uma experiência para mostrar o nosso processo produtivo, como nasce
uma Melissa”, conta Raquel Scherer. “Por questões de logística a gente
não tinha conseguido ainda. Ao trazer os convidados para cá, queríamos
mostrar não as máquinas, mas as pessoas que fazem a Melissa”, diz
Paulo Pedó. O projeto contou com direção criativa de Erika Palomino,
integrando o tema da coleção ao universo da própria indústria.
O staff de cada setor explicava os processos para os visitantes, que
saíam encantados do galpão principal da gigantesca estrutura, que
funciona 24 horas e tem mais de 2 mil funcionários. Para construir
essa experiência, foram necessários sete meses de planejamento,
entre muitas reuniões e visitas da equipe a Fortaleza.
Num galpão anexo foi montado uma espécie de lounge, com drin-
ques e comidinhas, onde os Zabumbeiros Cariris fizeram um show no
término da visitação. Assim que o último grupo finalizou o circuito,
uma pilha de caixas foi removida e todos puderam entrar na “sala de
desfile”, cuidadosamente escondida até então. Nesse espaço,
recém-repaginado, foi criada uma passarela pelo meio das esteiras de
produção, que ficaram operantes até entrarem as primeiras modelos.
Os assentos foram montados com caixas e sacos de PVC reaproveita-
dos, configurando duas grandes “ruas” de 70 metros de comprimento,
no projeto de cenografia de Roni Hirsch. O espaço ganhou iluminação
de cinema, desenhada pelo premiado diretor Caetano Vilela. A trilha
sonora misturou elementos industriais com timbres étnicos e sofisti-
cada tessitura comandada pelo DJ Felipe Venancio. Maurício Ianês
idealizou as roupas (inspiradas em uniformes e na própria fábrica) e a
performance do desfile, que tinha quatro entradas diferentes, buscan-
do refletir a sensação de uma grande calçada, com pessoas vindas de
todos os lados. Ao casting de 50 modelos, composto por profissionais
de Fortaleza, São Paulo e Rio de Janeiro, somaram-se 130 funcioná-
rios da fábrica local e da situada em Sobral, que customizaram seus
looks com mensagens e palavras fofas nos jeans e nas camisetas.
A cada entrada deles na passarela, ouviam-se muitos aplausos.
Um dos momentos mais marcantes foi o áudio do depoimento de
Neillyana Rodrigues, que contou a sua inspiradora história de vida e
de amor pela Melissa. Ela desfilou cheia de orgulho – e muita gente ali
derrubou lágrimas de emoção.
FOTOS HICK DUARTE E NICOLAS GONDIM
ALEX DIAS, UM DOS DESTAQUES DO ELENCO DO DESFILE
FÁBRICA DE SONHOSum dia mágico, em que 600 convidados puderam conhecer o local onde a melissa é produzida, e depois presenciar in loco o lançamento da nova coleção. quem esteve lá nunca vai esquecer. confira um pouco da emoção que rolou
os looks das modelos foram inspirados nas roupas e uniformes dos próprios funcionários, arrematados por bandeiras, como a do ceará e a do méxico. no styling, pitadas de moda praia e elementos da linha de produção. já o elenco da fábrica usou camisetas e coletes customizados. na maquiagem, toques de cor e alegria
o artista plástico maurício ianês assinou a performance da passarela, com 50 modelos e 130 funcionários, num casting que priorizou a diversidade, em ação inédita que rolou com a fábrica em funcionamento
BRUNA
BERNARDO BRANCO
BRUNA GRANDINI
O MAQUIADOR FELIPE RAMIREZ COM A MODELO ANA HERRERA
MAURÍCIO IANÊS ORIENTANDO OS FUNCIONÁRIOS DA FÁBRICA
ALINA DORZBACHER
MALU BORTOLINI
Gabi Farias (@gabsfarias) tem 23 anos e é uma geminiana típica – “dessas inconstantes e que nunca estão satisfeitas”. Graduanda em psicologia, ela confessa que participar ativamente do mundo das melisseiras é uma forma de se realizar: “Na minha vida, as únicas coisas nos eixos são o meu casamento com o Arthur e a Melissa”.
ÉRAMOS CINCO INSIDERS presentes no desfile
da Melissa – negros, brancos, pardos, héteros, gays, homens,
mulheres, cis e trans. Um grupo diversificado, assim como a
grife, dentro de um lugar plural.
O Mateus (@mattkeus) traduziu bem o nosso sentimento:
“Sempre foi o meu desejo assistir ao desfile da Melissa. Os
funcionários, a emoção de estar do lado de toda a equipe, com
pessoas bacanas, caso do Edson Matsuo, foi absolutamente
mágico”. Já o Guilherme (@ufano_) visivelmente emocionado,
emendou: “Quando o desfile estava acontecendo, me senti
numa verdadeira imersão – parecia um sonho do qual não
queria mais acordar. Aí a música tocou, as modelos entraram
na passarela, e o meu coração acelerou! Depois foi a vez de os
funcionários da fábrica desfilarem, e o depoimento incrível que
todos nós ouvimos foi o máximo. Tive que segurar o choro para
não borrar a maquiagem”.
Para mim, foram recordações de um dia fascinante. Coloquei os
pés na fábrica e senti aquele cheiro característico que tanto amo.
Não consegui segurar as lágrimas, pois foi difícil acreditar que
estava vivendo aquela experiência. Mas era verdade – eu estava
ali, fazendo parte da história! A coleção, as pessoas, os sorrisos,
tudo na Melissa lembra alegria e espontaneidade. E nós nos
sentíamos muito especiais por cada momento. Minhas palavras
e impressões se fundem com a própria viagem, o calor e o mar
de Fortaleza; o brilho cristalino das águas e a suavidade da brisa
descrevem com perfeição o nosso verão tropical. A Adriana
(@drikgoncalves) disse que adorou ver os funcionários fazendo
o papel de tops. E, claro, testemunhar o depoimento de uma pes-
soa realizada por trabalhar naquele lugar nos fez pensar sobre
como é importante realizar sonhos. Além disso, tivemos a chance
de descobrir como funciona a linha de produção que dá forma
aos pares de Melissa que amamos.
Concentro-me nessas imagens enquanto escuto o disco do
Leonard Cohen tocar na vitrola. A voz grave e calma do cantor
canadense contrasta com as imagens vivas, as cores e as
batidas do meu coração. Assim como a voz dele cantando
Dance me to the End of Love me envolve, o desfile da Melissa
foi um festival de acolhimento e de abraços. Abraços da equipe,
abraços de estranhos, mas todos abraços capazes de contagiar
exclusivamente pelo carinho.
Saí de lá perdida em meus pensamentos. Eles não sabiam onde
se fixar. Eram tantos os modelos novos, tanta gente interessan-
te e tantas histórias incríveis, que os desejos me escapam e me
deixam surpresa por caberem dentro de mim.
melissa convida time de apaixonados para conhecer a fábrica em fortaleza e assistir de pertinho ao desfile da nova coleção
TEXTO GABI FARIAS
FOTOS HICK DUARTE E NICOLAS GONDIM
RICK WANDERLEY
LUCIANO SANTOS
GABRIELLA NUNES
ANA BEATRIZ
PLASTICLOVERS
numa apresentação de 30 minutos, os modelos vinham de quatro entradas diferentes, desfilando entre as esteiras de produção, refletindo também o efeito randômico das ruas; os convidados aplaudiram de pé
NEILLYANA RODRIGUES
FELIPE ROCHA
CIBELE RAMM
LUCAS DE ASSIS
PHELIPE SEVERIANO
SABRINA VIEIRA
PLASTIC DREAMS #18
DIREÇÃO ERIKA PALOMINO
EDITORA PATRÍCIA FAVALLE
COORDENAÇÃO RODOLFO BELTRÃO
PROJETO GRÁFICO E DIREÇÃO DE ARTE KLEBER MATHEUS
IDENTIDADE VISUAL VERENA SMIT
DESIGN GRÁFICO RENATA TELES
REVISÃO CÍCERO OLIVEIRA
TRADUÇÃO MARIO VILELA
COLABORADORES AMANDA SCHÖN, BILL MACINTYRE, BRUNO MENDONÇA,
CASSIA TABATINI, CATARINA BESSELL, CECÍLIA DUARTE, CLESSI CARDOSO,
FABIO GURJÃO, GABI FARIAS, GEORGE KRAKOWIAK, GI MACEDO, HICK DUARTE,
JULIANA AZEVEDO, LAURA ARTIGAS, LAURA TEIXEIRA, LUIZA FUTURO,
MAURÍCIO IANÊS, NÁTALY NERI, PAULA ALZUGARAY, VIVIAN WHITEMANELLE FADANI