uab mod2 aula 05

Upload: eduardo-santana-medeiros-alexandre

Post on 10-Oct-2015

38 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • Conversao e discusses instrucionais

    Diego Vaz BevilaquaCristine Barreto

    5Aula

  • MetaApresentar os componentes de conversaes face-a-face

    e virtuais e promover habilidades para melhor insero

    nas mesmas.

    ObjetivosEsperamos que, ao fi nal desta aula, voc seja capaz de:

    1. Identifi car a estrutura geral de uma conversao

    face-a-face;

    2. Identifi car as vrias fases por que passam tipicamente

    as discusses instrucionais;

    3. Reconhecer as mximas da conversao,

    relacionando-as a contextos ligados EAD;

    4. Desenvolver noes e prticas de polidez lingstica,

    relacionando-a mais especialmente a um refi namento

    das intervenes de mediadores de fruns virtuais.

  • 87

    Aula 5 Conversao e discusses instrucionais

    conversando que a gente se entende...Certamente, se voc j deu aula, est acostumado ao uso da linguagem oral como

    instrumento de ensino. Afinal, desde a pr-escola, a figura de nosso professor ou

    professora est geralmente associada a conversas e/ou pequenas palestras, no ?

    Lembrando um pouco a Histria, sabe-se que era

    caminhando e conversando pelos jardins do Liceu que

    Aristteles ensinava aos seus discpulos, os Peripatticos, h

    uns 2400 anos atrs seguindo um estilo conversacional que

    j estava presente, antes, em filsofos como Scrates e Plato.

    E, ao longo dos muitos sculos que se passaram desde ento,

    no s as conversas com fins educacionais continuaram, como

    a prpria educao liberal foi freqentemente entendida como

    uma grande conversao entre os mestres do passado e do

    presente, que estariam ligados no s pela tradio oral, mas

    pelas melhores obras que deixaram.

    A conversa, assim, pode ser considerada a tecnologia

    instrucional mais antiga e mais usada de que se tem

    conhecimento. E, mesmo com o uso de tecnologias cada vez mais modernas, ela at

    hoje no est obsoleta e provavelmente continua a ser o recurso mais utilizado no

    ensino. Assim, em vez de ser substituda, o que ocorre que ela tem sido cada vez mais

    incrementada com as novas formas de instruo inclusive na EAD.

    Tecnologia (do grego /ofcio e /estudo) o conjunto de conhe-cimentos e/ou princpios cientfi cos que se aplicam a determinado ramo ou atividade.

    Dependendo do contexto, a tecnologia pode ser:

    as ferramentas e as mquinas que ajudam a resolver problemas;

    as tcnicas, conhecimentos, mtodos, materiais, ferramentas, e processos usados

    para resolver problemas ou ao menos facilitar a soluo dos mesmos;

    um mtodo ou processo de construo e trabalho (tal como a tecnologia de

    manufatura, a tecnologia de infra-estrutura ou a tecnologia espacial);

    a aplicao de recursos para a resoluo de problemas.

    Mai

    s

    Peripattico

    (em grego, ), a palavra grega para ambulante ou itinerante. Peripatticos (ou os que passeiam) eram discpulos de Aristteles, em razo do hbito do fi lsofo de ensinar ao ar livre, caminhando enquanto lia e dava prelees.

  • 88

    Capacitao de Docentes em Educao a Distncia Mdulo II

    Mas a boa conversa no usada apenas em sala de aula, mas tambm no botequim,

    em reunies de trabalho ou na mesa de casa com a famlia. E, apesar do objetivo de uma

    conversa informal ser bem diferente do objetivo de uma aula expositiva, sua estruturao

    bem similar. No caso de aulas com alto grau de interao entre instrutor e aprendiz,

    essas semelhanas so ainda bem mais bvias. Isso acontece porque existe uma mesma

    tecnologia da conversao que pode ser utilizada em diferentes contextos. Alm disso,

    estudos que se dedicam anlise da conversao,

    vindos basicamente de reas da Lingsticag , tm

    sido utilizados como ferramenta para compreender

    e aumentar o grau de interatividade em uma aula. E

    apesar dos estudos sobre a conversao em ambientes

    virtuais serem ainda bem recentes, eles mostram que

    sua estrutura no varia to radicalmente. Por isso

    podemos us-los para melhorar nossa mediao

    em ambientes virtuais, buscando promover maior

    interao entre alunos.

    Figura 1 Em qualquer reunio de famlia podemos encontrar a velha e boa conversa informal.

    Lingstica

    Para Margarida Salomo, uma das mais conceituadas lingistas brasileiras, (Xavier: 2003), a Lingstica esse campo discursivo que trata da linguagem de uma forma no normativa e que procura entend-lo sob o aspecto social, sob o aspecto cognitivo e sob o aspecto gramatical.[...]. Eu diria para um aluno da graduao que o estudo da linguagem que procura ser cientfi co, mas defi nitivamente no normativo.

  • 89

    Aula 5 Conversao e discusses instrucionais

    Estrutura da Conversao face-a-faceVoc provavelmente est to habituado atividade da conversa que nem pensa

    nela como uma tcnica. No entanto, se prestar ateno s situaes do dia-a-dia em

    que voc usa a conversa como meio de comunicao, poder perceber suas estratgias

    de conversao. Pesquisadores que j estudam h muitos anos a conversa face-a-

    face notaram que, em geral, h quatro componentes que esto sempre presentes na

    estrutura conversacional: tomada de turno, sobreposio, reparo e reformulao.

    Agora, ento, vamos buscar caracterizar cada um deles, pensando em algumas

    conversas dentro de um contexto que todos vocs podero reconhecer: o do filme que

    j foi objeto de uma atividade da aula sobre Motivao, Ateno e Memria!

    Figura 2 Voc se lembra do fi lme Vem danar? Pois vamos nos inspirar nele de novo paraapresentar a voc a estrutura bsica da conversao face-a-face!

    1 Tomada de turno

    Toda conversa tem uma estrutura de tomada de turno, ou seja, os participantes

    organizam-se para falar cada um de uma vez. Mesmo que haja sobreposio (como

    vamos descrever no prximo componente), em geral isto no ocorre na maior parte da

    conversa. Fatores sociais e comportamentais ajudam a determinar quem deve falar e

    quem deve ficar quieto e aguardar sua vez. comum o falante dar deixas de que est

    cedendo o turno, ou ento seu interlocutor roubar o turno, utilizando-se de uma

    sobreposio.

    santanaHighlightPesquisadores que j estudam h muitos anos a conversa face-a- face notaram que, em geral, h quatro componentes que esto sempre presentes na estrutura conversacional: tomada de turno, sobreposio, reparo e reformulao.

  • 90

    Capacitao de Docentes em Educao a Distncia Mdulo II

    Tipicamente, em uma sala de aula, o professor quem controla as tomadas de

    turno. Em geral ele utiliza perguntas como deixas de que o turno foi cedido aos

    alunos e, desta maneira, organiza os turnos dentro da sala de aula, dando ou tirando a

    palavra dos integrantes da turma. Assim, procura estruturar melhor a conversao de

    modo que, ao mesmo tempo, sua fala seja receptiva s intervenes dos alunos, todos

    tenham chances equivalentes, e a seqncia tenha, ainda, um mnimo de lgica pra

    quem est tentando acompanhar o conjunto das contribuies.

    Exemplo de tomada de turno em uma conversao:

    Professor: Agora que vocs j viram a demonstrao do que um tango bemdanado, ser que gostariam de aprender a conduzir uma mulher desse jeito?Aluno 1: Eu quero, professor! Com certeza...

    Aluno 2: Eu tambm to dentro!

    Professor: E vocs, garotas? No acreditam que possam aprender a danar desse

    jeito?

    (0.3s)

    Aluna 1: Danar daquele jeito deve ser fcil para aquele tipo de branquela, que tem

    todo o tempo e o dinheiro que precisar pra fazer as aulas que quiser! Mas pra ns a

    coisa bem diferente! Alm do mais...

    Mai

    s2. Sobreposio

    Ocorre quando duas ou mais pessoas de uma conversa falam ao mesmo tempo,

    no respeitando estritamente a estrutura de turnos descrita no componente

    anterior. As sobreposies so comuns quando um dos participantes julga de forma

    errada que o outro cedeu o turno ou quando se deseja mesmo roubar o turno,

    quer dizer, interromper o turno do outro participante e tom-lo para si. Em geral,

    essas sobreposies so bem curtas, pois a partir desse tipo de ocorrncia um dos

    participantes costuma se calar e deixar o turno para o outro.

    Exemplo de sobreposio conversacional:

  • 91

    Aula 5 Conversao e discusses instrucionais

    3. Reparo

    Um reparo aparece em uma conversa quando preciso esclarecer algo, acrescentar

    uma informao a um comentrio recm-feito, etc. Embora existam diferentes

    estratgias de correes, elas sempre cumprem o mesmo propsito: realinhar os

    participantes de uma conversa com o ponto de vista do falante.

    Em conversas informais, bastante comum a prpria pessoa corrigir seu erro (auto-

    correo). Em situaes instrucionais, porm, o professor/tutor quem, em geral,

    realiza as correes.

    Aluna 1: Danar daquele jeito deve ser fcil para aquele tipo de branquela, que tem todo o tempo e o dinheiro que precisar pra fazer as aulas que quiser! Mas pra ns a coisa bem diferente! Alm do mais...

    Professor: No se trata disso! Voc est tendo a oportunidade de que precisa! Ser que

    est com medo de tentar?

    Obs.: a seta est indicando o momento da sobreposio.

    Mai

    s

    Exemplo de reparo conversacional:

    Professor: J que vocs fi caram interessados, vamos comear j a aprender adanar daquele jeito... Ouam a msica...Aluno 1: Mas a msica era outra!

    Professor: Eu no quis dizer que comearamos a danar tango hoje! Vocs vo

    precisar aprender ritmos mais fceis primeiro!

    Aluno 1: Ah... Entendido! Vamos l!

    Obs.: a seta est indicando o ponto da reparo.

    Mai

    s

  • 92

    Capacitao de Docentes em Educao a Distncia Mdulo II

    4. Reformulao

    Em alguns momentos de uma conversao necessrio reformular uma ou mais

    falas anteriores com o objetivo de sintetizar, unificar ou extrair a essncia de um

    bloco de falas. Uma reformulao, assim, pode servir para clarificar um determinado

    contedo e diminuir a necessidade de correes, esclarecer contedos implcitos ou,

    ainda, oferecer uma interpretao de uma fala e esperar por uma validao ou correo.

    Embora as reformulaes sejam pouco comuns em ambientes informais, elas so

    bastante freqentes nos discursos instrucionais.

    Exemplo de reformulao conversacional:

    Professor: Agora que vocs realmente se interessaram pelas aulas, acho que valeriaa pena contar a respeito de um campeonato. (0.4s) Trata-se um uma competioanual para indicar os melhores danarinos de salo da regio, e h um bom prmio em

    dinheiro envolvido. (0.3s) Engraado que nunca ningum daqui j tenha competido...

    no sei se porque vocs no estavam sendo informados a respeito ou porque no

    haviam tido aulas de dana direito... Mas agora, me parece, as coisas podem ser

    diferentes. E imagino que um prmio em dinheiro no parea uma coisa de se jogar

    fora... mas claro que no haveria garantias de que vocs ganhariam, vocs teriam

    que trabalhar duro pra isso e ainda contar, talvez, com um pouco de sorte. (0.3s) Mas,

    afi nal, vocs j gostavam de se reunir pra danar, mesmo sem ganhar nada por isso...

    (0.3s)

    Aluno 1: Ento voc est dizendo que a gente teria chance de descolar um bom

    dinheiro danando?

    Obs.: a seta est indicando o ponto em que h uma reformulao.

    Mai

    s

  • 93

    Aula 5 Conversao e discusses instrucionais

    Atividade 1

    (atende ao objetivo 1)j

    Que tal reconhecer, na prtica, os elementos de uma conversa?

    Pra isso, voc dever gravar um conversa informal com pelo menos 4 participantes e transcrever

    um trecho de 3 a 4 minutos que contenha pelo menos 2 elementos de conversao (tomada

    de turno, sobreposio, reparo, reformulao), e voc deve apont-los na sua transcrio.

    Alternativamente, ao invs de uma conversa sua, voc pode transcrever a conversa de um

    fi lme ou livro, desde que tenha a mesma durao e que voc possa encontrar os mesmos

    elementos.

    Resposta comentada:

    Esta tarefa no tem um gabarito nico, e por isso seu tutor vai coment-la mais

    individualmente. Mesmo assim, voc dever fi car atento pra identifi car os elementos

    em questo. Provavelmente reconhecer com mais facilidade as tomadas de turno, mas

    as sobreposies, embora comuns, s vezes no so ouvidas to bem nas gravaes, ou

    produzem palavras cortadas... J quanto aos reparos e reformulaes, voc ter que

    contar com uma pitada de sorte, j que eles costumam aparecer com menor freqncia

    nas conversas. De qualquer maneira, o fato de voc se deter sobre um trecho de conversa

    com um enfoque de estudioso desse objeto dever aumentar sua percepo prtica sobre

    a estrutura da mesma, e ento voc vai precisar disso quando comear a comparar a

    estrutura da conversao face-a-face com a de uma conversao instrucional em EAD

    por exemplo, em fruns virtuais...

  • 94

    Capacitao de Docentes em Educao a Distncia Mdulo II

    Fases das Discusses InstrucionaisPensando agora ainda mais especificamente sobre as conversas que acontecem

    em ambientes planejados para EAD, convido voc a conhecer o trabalho de Wilen

    (1990), que estudou a discusso instrucional em termos de suas FASES. Essas

    se organizariam segundo o esquema a seguir, alternando tipicamente momentos

    divergentes e convergentes dentro de uma estrutura elstica que se abre para as vrias

    contribuies dos integrantes da conversao e, em outros momentos, se afunila por

    razes estratgicas... Vejamos:

    FASES DAS DISCUSSES INSTRUCIONAIS EM EAD

    1. Entrada: corresponde fase em que o conhecimento anterior revisto e associado

    ao novo tpico a ser apresentado.

    2. Esclarecimento do assunto: o condutor da discusso apresenta um modelo do

    tpico a ser analisado,

    3. Investigao colaborativa: dados e pontos de vistas so levantados e classifi cados.

    4. Fechamento ou sntese: o condutor da discusso deve auxiliar os outros participantes

    a realizar uma sntese do que foi levantado.

    Mai

    sMximas conversacionais

    Agora que j vimos rapidamente como se estrutura a conversao, vamos procurar

    entender como ela funciona, na prtica, e o que levamos em conta pra interpretar os

    enunciados. Isso, certamente, ser muito til pra voc pensar, por exemplo, at mesmo

    em como avaliar a produo de alunos de EAD em espaos como fruns e chats.

    Segundo inmeros estudos da rea da Pragmtica (ramo da Lingstica que estuda,

    justamente, o uso da linguagem), toda conversao regida pelo chamado PRINCPIO

    DA COOPERAO, que exige que cada enunciado tenha um objetivo ou uma

    finalidade. Pelo princpio da cooperao, o falante deve sempre levar em conta, em suas

    intervenes, o desenrolar da conversa e a direo que ela toma.

    Esse princpio geral pode ser desdobrado, ainda, em quatro princpios mais

    pontuais que passamos a expor logo a seguir:

    santanaHighlightPRINCPIO DA COOPERAO:toda conversao regida pelo chamado PRINCPIO DA COOPERAO, que exige que cada enunciado tenha um objetivo ou uma finalidade. Pelo princpio da cooperao, o falante deve sempre levar em conta, em suas intervenes, o desenrolar da conversa e a direo que ela toma.

  • 95

    Aula 5 Conversao e discusses instrucionais

    Devemos saber, neste ponto, que algumas crticas j foram feitas a essas mximas de

    Grice porque elas guardariam uma concepo idealista da comunicao humana, ou

    ento porque pareceriam muito normativas. O trabalho em questo, no entanto, no

    se voltou exatamente para o estabelecimento de regras a serem seguidas, mas para uma

    teoria que descrevesse como os enunciados so interpretados. Por exemplo: quando

    algum informa que um mdulo deste curso ter sete tarefas, devemos entender que

    ele tem exatamente sete, e no duas ou trs. Viola-se essa mxima da quantidade, no

    entanto, quando se diz banalidades dispensveis ou no se d a informao mais forte

    que se tem (por exemplo, quando uma criana conta pra me que o telefone caiu,

    e no que, por isso, parou de funcionar). Por outro lado, tambm se viola a mxima

    de relao quando um comentrio simplesmente no se liga claramente s questes

    que esto sendo discutidas. Mesmo assim, quando pensamos em como entendemos

    os enunciados, constatamos que a nossa tendncia natural buscar a relao de

    comentrios aparentemente soltos com o que est sendo falado.

    MXIMAS CONVERSACIONAIS

    Mximas de quantidade:

    . D a informao exigida;

    . No d mais informao do que exigido.

    Mximas da qualidade:

    . No afi rme o que voc pensa que falso;

    . No afi rme coisas sobre as quais no tenha provas.

    Mxima da relao:

    . Concentre-se em falar o que for pertinente ao assunto tratado.

    Mximas da maneira:

    . Seja claro.

    . Evite ser ambguo.

    . Fale de maneira ordenada.

    Mai

    s

  • 96

    Capacitao de Docentes em Educao a Distncia Mdulo II

    Chamo a ateno, ainda, para o fato de que h um tipo de comunicao, chamada

    ftica, na qual o que importa apenas manter o canal de comunicao ativado. Isso

    acontece muitas vezes quando, em situaes de encontro social, parece indelicado ficar

    calado e, ento, buscamos frmulas mais neutras s pra sinalizar que estamos atentos

    presena dos outros e abertos comunicao.

    Falando com jeito... a polidez lingsticaCada vez mais se percebe que os atos de fala tm um efeito muito grande nas relaes

    interpessoais, e tanto que isso acabou abrindo um campo importante, na Lingstica,

    para se estudar a chamada polidez lingstica. Destacamos, dentre os trabalhos mais

    conhecidos dessa rea, a TEORIA DAS FACES, desenvolvida por Brown e Levinson.

    Voc ver, com certeza, que ela muito til quando pensamos nas interaes face-a-

    face, mas ganha ainda mais importncia quando lidamos com discusses instrucionais

    a distncia, j que nessas situaes usamos a palavra escrita para registrar nossas

    intervenes que assim ganham um peso ainda maior para quem as recebe!

    Na perspectiva da teoria mencionada, face palavra usada para se referir ao

    amor-prprio do sujeito. A face positiva liga-se necessidade que cada um tem de ser

    apreciado e reconhecido pelo outro, enquanto que a face negativa liga-se necessidade

    que cada um tem de se preservar e se defender de ataques externos.

    Na interao social, devemos notar que os indivduos procuram sempre manterou salvar a prpria face, e pra mantermos a conversao precisamos, portanto, buscar preservar a face do outro.

    Aten

    o

    Dentre os ATOS AMEAADORES da face do INTERLOCUTOR, destacamos:

    . os que ameaam a sua face positiva, porque parecem querer invadir seu territrio

    (por exemplo: ordens, conselhos, ameaas);

    . os que ameaam a sua face negativa, porque podem ser vistos como tentativas de

    destruir a imagem do outro (por exemplo: reprimendas, refutaes, crtica);

    santanaHighlightNa interao social, devemos notar que os indivduos procuram sempre manter ou salvar a prpria face, e pra mantermos a conversao precisamos, portanto, buscar preservar a face do outro.

  • 97

    Aula 5 Conversao e discusses instrucionais

    A polidez lingstica, ento, nesse cenrio cheio de ameaas potenciais, tem o

    objetivo de diminuir os efeitos negativos dos atos ameaadores da face, atenu-los ou

    ado-los. Para isso recorremos, por exemplo, a atos de fala indiretos... e em vez

    de dar ordens diretas, preferimos exprimir esse contedo atravs de um desejo, uma

    sugesto ou uma solicitao. Outra estratgia interessante de polidez lingstica , por

    exemplo, no criticar o trabalho de algum antes de fazer uma srie de preliminares

    mostrando os pontos de acerto, ou valorizando as tentativas empreendidas. Assim, os

    atos ameaadores da face podem ser atenuados. Por outro lado, os atos que valorizam a

    face, como elogios ou cumprimentos, devem ser reforados sempre que possvel.

    Atividade 2

    (atende aos objetivos 3 e 4)j

    Imagine que, num frum onde voc o tutor, todos os alunos tenham sido chamados a

    responder seguinte questo:

    Que tipo de coisa mantm voc atento a uma aula na modalidade de EAD?

    (limite: 20 palavras)

    Nesse contexto, um aluno seu publica o seguinte post:

    Oi! Achei a discusso da semana passada super bacana, e queria dizer que

    adorei o fi lme que vocs recomendaram. Muito bom mesmo! S vimos pela

    metade, mas mesmo assim foi super interessante. S no consegui ver de

    quem era a trilha sonora, que achei bem original. Mas fi quei pensando na

    atividade ligada ao fi lme durante o fi m de semana inteiro! Cansou, mas

    valeu a pena. Afi nal, estamos aqui pra aprender, no ? E acho que podemos

    aprender uns com os outros, alm do esforo prprio que, claro, cada um

    precisa fazer... Enfi m, valeu! E vocs, colegas? Tambm gostaram do fi lme? Se

    no, de que tipo de fi lme vocs gostam mais?

    Perguntamos, ento: e agora? o que voc, como tutor, deveria fazer? como? e por qu?

    Considere, pra responder a essa questo, tanto as mximas conversacionais quanto a

    Teoria das Faces, apresentadas nas sees anteriores desta aula.

    ___________________________________________________________________

    ___________________________________________________________________

  • 98

    Capacitao de Docentes em Educao a Distncia Mdulo II

    ___________________________________________________________________

    ___________________________________________________________________

    ___________________________________________________________________

    ___________________________________________________________________

    ___________________________________________________________________

    Resposta comentada

    Voc deveria perceber, na situao apresentada, que a sua interveno seria necessria

    para reorientar o aluno para o foco da questo proposta, evitando ainda, desta maneira,

    que outros alunos acabassem embarcando no mesmo estilo de conversa. Afi nal, vrias

    mximas conversacionais foram violadas pelo post do aluno em questo, em especial as

    duas mximas de quantidade e a mxima de relao: o aluno no respondeu diretamente

    questo proposta, e ao mesmo tempo falou vrias coisas que no tinham sido perguntadas

    e outras mais bvias, extrapolando em muito o limite de palavras fi xado. Por outro lado,

    para agir dentro dos preceitos da polidez lingstica, no seria boa idia escrever,

    simplesmente, algo assim:

    Refaa seu comentrio. Voc no respondeu questo, e ainda falou muita bobagem.

    E por que voc no deveria fazer isso? Ora, porque estaria violando claramente os princpios

    da polidez lingstica, ameaando a face positiva do aluno (atravs de uma ordem direta)

    e tambm a sua face negativa (criticando-o abertamente diante da turma toda)! Uma

    soluo melhor, nesse sentido, seria buscar sinalizar os problemas do post sem, no entanto,

    provocar situaes que pudessem gerar constrangimentos desnecessrios, dando chance

    pro aluno acertar o rumo sem tantos danos sua auto-estima. Pra isso, voc teria que se

    manter muito receptivo e, ao mesmo tempo, bem atento para identifi car onde esto os

    problemas e o que poderia ser aproveitado. Assim, estaria apto para valorizar os acertos e

    apontar os equvocos do post de uma forma mais cuidadosa. Voc poderia, por exemplo,

    fazer um comentrio nesta linha:

    Oi! Foi bom saber que voc gostou do fi lme e que tem pensado no que est aprendendo

    aqui. Agora, sugiro que voc reveja com mais ateno a questo formulada para este

    frum, e procure pensar no qu, exatamente, tem feito voc fi car to ligado s aulas...

    Vamos l? Seus colegas tambm devem estar curiosos!

    Um abrao, ento, e bom trabalho!

  • 99

    Aula 5 Conversao e discusses instrucionais

    Por fim, fique atento: os assuntos tratados nesta aula se desdobraro, em alguns

    aspectos importantes, na prxima. Ento, no perca!

    Referncias bibliogrfi cas

    D. J. WINIECKI. Instructional Discussions in Online Education: Practical and

    Research-Oriented Perspectives. In: M. G. Moore e W. Anderson (Eds.) Handbook of

    Distance Learnig, New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates, 2003.

    GRICE, H. Paul. Lgica e Conversao. In: DASCAL, Marcelo (org.). Fundamentos

    metodolgicos da Lingstica: Pragmtica. v. IV. Campinas: Unicamp, 1982.

    BROWN e LEVINSON. Politeness: some universals in language usage. Cambridge:

    Cambridge University Press, 1987.

    H. SACKS, E. SCHEGLOFF e G. JEFFERSON. A Simplest Systematics for the

    Organization of Turn Taking for Conversation. In:: J. SCHENKEIN (Ed.), Studies

    in the Organization of Conversational Interaction, Nova Iorque: Academic Press,

    1978.

    E. SCHEGLOFF. Conversation Analysis and Socially Shared Cognition. In: L. B.

    RESNICK, J. M. LEVINE e S. D. TEASLLY (Eds.), Perspectives on Socially Shared

    Cognition, Washington, DC: American Psychological Association, 1991.

    I. HUTCHBY e R. WOOFFITT. Conversation Analysis: Principles, Practices, and

    Applications. Cambridge: Cambridge University Press, 1998.

    W. W. WILEN. Forms and phases of discussion. In: W. W. WILEN (Ed.), Teaching

    and learning through discussion: the theory, research, and practice of the

    discussion method, Springfield, IL: Charles C Thomas: 1990.

    XAVIER, Antonio Carlos; Cortez, Suzana (orgs.). Conversas com lingistas: virtudes e

    controvrsias da Lingstica. So Paulo: Parbola, 2003.

    Estrutura da Conversao face-a-faceFases das Discusses InstrucionaisMximas conversacionaisFalando com jeito... a polidez lingstica