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Universidade Candido Mendes Instituto A Vez do Mestre Pós-Graduação “Lato Sensu” A vida do portador de deficiência mental, sua família e eterna busca por um lugar na sociedade. Aluna: Hilda Roberta Lucas de Oliveira Professor Orientador: Carlos Alberto Cereja Rio de Janeiro Janeiro 2008

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Universidade Candido Mendes

Instituto A Vez do Mestre

Pós-Graduação “Lato Sensu”

A vida do portador de deficiência mental, sua

família e eterna busca por um lugar na sociedade.

Aluna: Hilda Roberta Lucas de Oliveira

Professor Orientador: Carlos Alberto Cereja

Rio de Janeiro

Janeiro 2008

2

Universidade Candido Mendes

Instituto A Vez do Mestre

Pós-Graduação “Lato Sensu”

A vida do portador de deficiência mental, sua

família e eterna busca por um lugar na sociedade.

Objetivos:

Este trabalho monográfico foi uma pesquisa

bibliográfica com o intuito de conhecer a

vida da criança e do adolescente portador

da deficiência mental.

Pela aluna Hilda Roberta Lucas de Oliveira

3

AGRADECIMENTOS

Aos docentes do curso Lato Sensus em

psicopedagogia do Instituto “A vez do Mestre” e

ao professor orientador Carlos Alberto Cereja.

4

Dedicatória

Dedico este trabalho monográfico a

minha mãe Maria de Lourdes Lucas de

Oliveira, ao meu marido César Augusto

Pais Cabral que sempre me incentivaram

na busca de conhecimentos por meio de

instituições de ensino e a todos os meus

alunos especiais que dão razão de ser ao

meu trabalho em sala de recursos.

5

Resumo

A deficiência mental refere-se a toda pessoa que teve ou tem o

desenvolvimento das funções mentais imperfeitas e que, portanto, carece de

capacidade para se cuidar, guiar-se com prudência e competir com os

chamados normais. A criança portadora de deficiência mental, geralmente

apresenta algumas características como a dificuldade de entender ordens

complexas, pouca iniciativa, pouca criatividade, dificuldade de expressão, de

controle de emoção, aprendizagem lenta, dificuldade de abstrair, generalizar e

dificuldade de se adaptar às novas situações. Sabe-se da fundamental

importância que a família exerce no desenvolvimento global de um indivíduo,

como da influencia da terapia de ação com objetivos definidos utilizados a partir

de uma avaliação de cada caso. Mas, alguns pais ainda desconhecem a

contribuição que podem dar para minimizar as seqüelas de um filho portador de

deficiência. Portanto, esta pesquisa monográfica teve como um dos seus

objetivos, levantar respostas para a conduta das famílias de portadores de

deficiência mental. Constatou-se que a conduta mais freqüente diante da

suspeita de deficiência passa por um processo de reorganização no intuito de

atender a seus filhos. As famílias necessitam agregarem conhecimentos acerca

da deficiência de seus entes. Após o primeiro momento, que é a descoberta do

filho com deficiência mental e o tratamento do mesmo, surge o sentimento de

tristeza, culpa, pena e até mesmo de raiva, chegando a alguns casos, na busca

de especialistas em saúde mental, para aprenderem a lidar com o seu

problema e de seu filho. Neste sentido, sugere-se que as políticas de atenção

básica possam incorporar novas tecnologias para a práxis dos profissionais

acerca do cuidado de pessoas com deficiência mental.

6

Metodologia

A metodologia utilizada destina-se ao estudo acerca da vida tanto em

família quanto em sociedade da criança e do adolescente portador da

deficiência mental.

Sendo assim, para atingir este objetivo, foram estudadas e analisadas

publicações a respeito do deficiente mental, não só em testemunhos, como

também em bibliografia médica e pedagógica.

Partindo das publicações já mencionadas, procuramos obter

informações sobre: o que é a doença mental, o comportamento do deficiente,

os conflitos de seus pais, a problemática escolar envolvendo a inclusão e o

deficiente mental enquanto adolescente.

Enfim, este trabalho monográfico tem como intuito principal responder

algumas questões, de maneira geral, a respeito da deficiência mental, visto que

ainda existem muitas outras a serem aprofundadas, pois esse é um tema onde

encontramos muitas questões, tanto médicas quanto pedagógicas ou sociais.

7

Sumário

Introdução ............................................................................................. 8

Capítulo I

Estudos científicos acerca do portador de deficiência mental.............. 10

Capítulo II

Deficiência mental e doença mental: conceito, diagnóstico e

características .................................................................................................. 12

Capítulo III

Reações familiares, com o nascimento de uma criança com deficiência

mental .............................................................................................................. 16

Capítulo IV

A criança especial no ensino regular .................................................... 25

Capítulo V

O adolescente com deficiência mental e sua família ........................... 35

Conclusão ............................................................................................ 37

8

Introdução

No âmbito da sociedade é importante destacar a necessidade de se

rever a concepção sobre o portador de deficiência e a conduta da família ao

perceber que o seu filho é deficiente mental, seja pela pessoa individualmente,

pela família, pelos serviços estruturados, como a escola, por exemplo, e ainda,

pelos investimentos das políticas públicas.

A idéia em realizar esse trabalho monográfico nasceu de situações

vividas no cotidiano de uma escola pública, relacionadas à aceitação no meio

escolar e trabalho pedagógico com crianças portadoras de deficiência mental,

entre seis e quinze anos de idade, matriculadas no ensino fundamental.

A partir das observações diárias e leituras de obras publicadas a

respeito da inclusão, das características da deficiência mental e do cotidiano da

família do deficiente em nossa sociedade, que ainda está impregnada de

preconceito e falta de esclarecimento. Serviram como meio de responder

questões a cerca do aluno especial e de como devemos realizar um trabalho

onde o objetivo primordial seja a orientação da família e comunidade desses

educandos, bem como o seu desenvolvimento: cognitivo, psicológico e social.

No primeiro capítulo, encontramos um breve histórico a respeito dos

estudos científicos e trato com o deficiente mental desde a Idade Média até a

época contemporânea.

O segundo capítulo expõe uma conceitualização e diferenciação entre o

portador de deficiência mental e o doente mental, segundo a Associação de

Deficiência Mental (AAMD). Com o intuito de informar ao leitor as

características da deficiência mental, que é o objeto principal de nosso estudo.

Evitando as confusões que algumas pessoas fazem entre o deficiente mental e

o doente mental, que é um estado psíquico momentâneo de um indivíduo.

Já o terceiro capítulo tem como objetivo, analisar a família e a

sociedade, quando se deparam com o deficiente mental. Não deixando de lado,

questões: sociais, emocionais, terapêuticas, cotidianas e psicológicas.

9 E, refletindo também acerca das reações e mecanismos de

enfrentamento da família diante de um filho com deficiência mental tomando

em consideração o modo como esta busca preservar a organicidade e

coerência que caracterizam um sistema familiar equilibrado junto ao filho

deficiente.

Normalmente, as famílias apresentam dificuldades em conviverem com

a situação, chegando a desenvolver posturas e atitudes inadequadas e que

pouco contribuem para o desenvolvimento do seu filho e ao equilíbrio na

dinâmica familiar.

E, no quarto capítulo tem como intuito, avaliar a inclusão do aluno

especial, principalmente, o deficiente mental, no ensino regular, que atualmente

é um direito assegurado pela Constituição Federal Brasileira e pela Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).

No capítulo em questão, há uma discussão que parte do direito a

educação, passa pela importância da aprendizagem na família e chega a

aprendizagem nas instituições escolares, que devem garantir a esses alunos,

meios pedagógicos e professores capacitados e habilitados a lidarem com essa

clientela.

E, finalmente, o quinto capítulo, faz-se necessário a reflexão do

desenvolvimento do adolescente portador de deficiência mental e o seu

relacionamento com sua família e ao grupo social ao qual pertence, analisando

seu comportamento frente às mudanças da puberdade (físicas e

comportamentais), as quais devem evitar a infantilização desse indivíduo, tanto

por parte da família quanto da sociedade.

10

Capítulo I

Estudos Científicos acerca do portador de deficiência

mental

Iniciaram-se no Século XIX os primeiros estudos científicos a respeito da

deficiência, mais especificamente relacionados à deficiência mental. Essas

teorias foram construídas inteiramente dentro do saber médico, ao sabor dos

fatores sócio – culturais e históricos que reagiram a evolução desse saber na

época.

Embora diversas pesquisas e estudos já fossem desenvolvidos sobre a

deficiência mental, nesse período da história, os portadores de deficiência

ainda viviam enclausurados em instituições, uns verdadeiros depósitos de

segregados, sem tratamento especializado, nem programas educacionais que

propiciassem condições de aprendizagem.

Por sua vez, de acordo com Isaacs (1998) a sociedade do Século XX

procurou sanar as suas próprias deficiências sociais, buscando tratamento e

assistência às pessoas portadoras de deficiência, sendo que outros estudos a

respeito do campo teológico, depois do metafísico e do científico foram

determinados para ser objeto de estudo interdisciplinar de interesse das áreas

médicas, social, psicológica, pedagógica, econômica e política.

O progresso da medicina e o desenvolvimento da filosofia humanística

construíram para uma nova visão de homem, que reconheceu a conveniência

de vida do deficiente.

Atualmente, essa definição está sendo agregada às instituições que

cuidam de pessoas portadoras de necessidades especiais, no sentido de

conscientizar a sociedade, para integrar o deficiente mental no meio social,

modificando barreiras e promovendo a integração destes na sociedade, através

da determinação da Constituição do Brasil (1998).

É relevante elucidar que as terminologias utilizadas para definir essa

clientela sempre estiveram, em épocas distintas, atreladas a conceitos sociais.

11 Na Antiguidade, as pessoas com deficiência eram consideradas como

degeneração da raça humana. Na Idade Média, eram tidas como bobos da

corte, crianças de Deus ou portadoras de possessas diabólicas. Na sociedade

contemporânea, foi dado um novo enfoque em relação a esses indivíduos, os

quais foram aclarados por excepcionais, pessoas portadoras de deficiência e,

por um bom tempo, pessoas com necessidades especiais, retornando

novamente ao termo pessoas portadoras de deficiência.

Assegurar direitos e oportunidades iguais, no entanto, não significa

garantir tratamento idêntico a todos, mas sim, oferecer a cada indivíduo, meios

para que ele desenvolva, tanto quanto possível, o máximo de suas

potencialidades. Assim, para que o princípio da igualdade de oportunidade

(direito formal) se torne um fato real, sendo indispensável que sejam oferecidas

oportunidades educacionais diversificadas.

12

Capítulo II

Deficiência mental e doença mental: Conceito,

diagnóstico e características.

Durante a década de 70, quando se referia ao conceito e identificação

da pessoa com deficiência mental, predominava a visão médico-organicista,

onde se centrava nos déficits da pessoa frente às possibilidades de vivência e

atitudes no dia a dia.

Hoje, a deficiência passa a ser analisada a partir da relação do indivíduo

com o meio. Dessa forma, a limitação deixa de ser vista somente como uma

dificuldade exclusiva da pessoa, passando a ser observada como limitação da

sociedade em oferecer condições para a superação dos obstáculos: físicos,

econômicos e sociais.

E, devemos perceber que, os principais obstáculos enfrentados pelo

deficiente mental, decorrem do preconceito e estereótipos socialmente

construídos.

Atualmente, segundo a Associação da Deficiência Mental / AAMD (1992), essa

deficiência:

“(...) caracteriza-se por registrar um

funcionamento intelectual geral

significativamente abaixo da média, oriundo do

período de desenvolvimento, concomitante

com limitações associadas a duas ou mais

áreas da conduta adaptativa ou da capacidade

do indivíduo em responder adequadamente às

demandas da sociedade, nos seguintes

aspectos: comunicação, cuidados pessoais,

habilidades sociais, desempenho na família e

comunidade, independência na locomoção,

saúde e segurança, desempenho escolar,

lazer e trabalho”. (1994, p.15)

13

As condutas adaptativas da Associação de Deficiência Mental / AAMD

mencionadas anteriormente podem ser entendidas como: habilidades de

comunicação que estão expressas no inter-relacionamento entre as pessoas,

onde objetiva a compreensão das informações, através da fala, escrita, gesto e

expressão corporal. Essa habilidade é importante, pois através dela que se

realiza a interação social, essencial no convívio entre as pessoas;

O auto - cuidado está relacionado a higiene, a alimentação e a

aparência;

A vida doméstica se reporta à atividade do indivíduo quando no lar, tais como:

cuidado com vestimentas, com os afazeres domésticos, com a manutenção e

com os bens pessoais (agendamento de compromissos, planejamento de lista

de compras, preparação de alimentos);

As habilidades sociais / Interpessoais referem-se à interação e

intercomunicação com as demais pessoas, reconhecendo os sentimentos e

fornecendo retorno, sendo ele positivo (sorrir em situação agradável) ou

negativa (zanga quando desagradado). Nela também realçamos a importância

de ter amigos e ser aceito por estes. Esta habilidade também faz menção à

flexibilidade adaptativa, ao cumprimento das leis, ao controle dos impulsos, ao

comportamento sexual e social adequado:

O uso dos recursos comunitários faz menção a utilização adequada dos

recursos da comunidade, como: comércio, transporte, igreja, posto de saúde,

biblioteca, parques, clubes, teatros, enfim, todos os lugares públicos. Essa

habilidade refere-se à adequação comportamental na comunidade;

A auto – suficiência diz respeito, a saber, priorizar, a fazer escolhas,

planejar horários, iniciar e finalizar adequadamente tarefas solicitadas, pedir

auxílio quando necessário, solucionar problemas, tanto em situações cotidianas

como em novas situações e capacidade de defender opiniões e interesses;

A habilidade adaptativa para o trabalho refere-se à obtenção e

manutenção de uma ocupação na comunidade. Nela, dá-se importância a

maneira como a pessoa lida com questões pertinentes às atribuições

profissionais, tendo consciência que a tarefa deve ser executada até o término;

14 O lazer está ligado ao entretenimento como: saber utilizar o tempo livre

de forma individual ou em grupo, objetivando o divertimento e a distração;

E, a saúde e segurança estão relacionadas a manutenção da própria

saúde.

A partir do conhecimento e entendimento das capacidades adaptativas,

melhor e rapidamente, identificamos e diagnosticamos a pessoa com

deficiência mental, e prestamos apoio e suporte na sua relação com o meio

social.

O diagnóstico da deficiência mental é feito pelo psicólogo e uma equipe

multidisciplinar (médico, assistente social e pedagogo). Contudo, essa equipe,

deve também, conversar com o professor da criança ou adolescente

diagnosticado, porque o educador, na maioria das vezes, é o primeiro a notar

quando o aluno passa a apresentar mudanças bruscas de comportamento ou

dificuldade de aprendizado.

Na deficiência mental, observamos uma expressiva limitação na

capacidade de aprendizagem do indivíduo e de suas habilidades relativas a

vida diária. Porém, é importante ressaltar que o nível de desenvolvimento a ser

alcançado pelo portador de deficiência mental, não depende apenas do grau de

comprometimento, mas da sua história de vida, do apoio da família e das

oportunidades e experiências vivenciadas na sociedade.

Atualmente, é muito comum confundir o doente mental com o deficiente

mental. Na verdade, a deficiência mental é uma situação e não uma doença.

Na deficiência mental existe um desequilíbrio das funções psíquicas, que é

percebido, logo nos primeiros anos de vida. Isto é, a pessoa demora a andar ou

falar, por exemplo. Contudo, ela não apresenta visão alterada de si mesma ou

da realidade; geralmente são amistosas, cooperativas, gostam de se comunicar

e são capazes de tomar decisões, atendendo às responsabilidades que lhes

são dadas de acordo com sua potencialidade.

Já, a doença mental, apresenta um desequilíbrio, que causa prejuízos

psíquicos decorrentes de distúrbios afetivos, na percepção e no pensamento.

E, na maioria das vezes, a inteligência não é afetada; contudo a percepção de

si mesma e da realidade ficam comprometidas. Temos como exemplos de

15 doença mental: esquizofrenia, psicose, paranóia e psicose maníaca

depressiva.

Pelo que foi exposto acima, percebemos o quanto é importante o

diagnóstico bem fundamentado, visto que, não só apontará o prognóstico,

como o tipo de tratamento mais adequado a cada caso.

E, o diagnóstico bem fundamentado não possui validade, se a partir

dele, não for estabelecido um plano de atendimento para a criança. Ele

também, não deve ser uma espécie de desculpa para o professor, no que faz

menção ao fracasso do desenvolvimento cognitivo do aluno, porque como já

vimos, o deficiente mental, mesmo que de forma mais lenta, é capaz de

desenvolver-se tanto socialmente quanto cognitivamente.

16

Capítulo III

Reações familiares, com o nascimento de uma criança

com deficiência mental

As histórias familiares a respeito do nascimento de uma criança

deficiente são muito parecidas, pois, na sua grande maioria sempre

apresentam: diferentes emoções (raiva, revolta, auto - piedade, medo), poucas

informações e muitas dúvidas e insegurança diante desse acontecimento

inesperado e indesejado.

Visto que, nenhuma pessoa se prepara para a chegada de um filho fora

dos padrões da “normalidade” física ou mental. Todos esperam ansiosos os

nascimentos de uma criança linda, saudável e perfeita, que trará muitas

alegrias e realizará os sonhos de seus pais.

Essa situação é brilhantemente explicada por Buscaglia:

“Uma deficiência não é uma coisa desejável, e

não há razões para se crer no contrário. Quase

sempre causará sofrimento, desconforto,

embaraço, lágrimas, confusão, muito tempo e

dinheiro. E no entanto, a cada minuto que

passa, pessoas nascem deficientes ou adquirem

essa condição (...)” (1993,p. 20)

Existem várias maneiras de um bebê adquirir alguma deficiência durante

sua gestação, pois a mãe pode sofrer algum processo infeccioso, como a

rubéola ou a toxoplasmose, que causam má formação, acarretando alguma

deficiência física ou mental.

Logo após o nascimento ou através o exame de ultrassonografia, pode

ser diagnosticada a Síndrome de Down ou erro inato do metabolismo, como a

fenilcetonúria e a galactosemia.

17 Há também, os traumas durante o parto, como a demora na nascimento,

que favorece o aparecimento de lesões ao recém – nascido, como a paralisia

cerebral.

E, finalmente, existem os casos em que a criança nasce saudável e por

motivo de infecções (meningite, encefalite), carências nutricionais, acidentes

ou traumatismos e tornar-se deficiente.

A maioria dos pais, principalmente as mães, menciona que a maneira

como receberam a notícia de que seu filho possui algum problema, foi crucial.

Onde, para algumas, o modo de anunciar o fato agravou mais ainda a situação

e, para outras, serviu de apoio, graças à postura daquele que informou acerca

da deficiência de seu filho.

Na realidade, após a análise de algumas memórias publicadas a

respeito do convívio com filhos que adquiriram a deficiência física ou mental,

foi percebido que em relação aos sentimentos dos pais, que a maior parte das

dores vividas, são temporárias e oscilantes, pois elas vão e voltam. Sendo

muito difícil, os pais sofrerem toda a vida, visto que a dor e a alegria andam

juntas. O que não diferencia em nada, na criação de um filho dito “normal”.

Embora, os pais do deficiente, tendem a mudar seu cotidiano e sua

percepção acerca da vida, com o intuito de resolverem ou amenizarem seus

problemas, no entanto, eles estarão sempre presentes e não se pode escapar

deles.

E, para ilustrar melhor essa questão, referente a notícia do nascimento

de um filho com deficiência mental e seu convívio, Krynski, criou três fases

vivenciadas pela família, onde cada uma, possui um aspecto específico.

A primeira fase, que se inicia logo após a constatação do problema

(notícia) é constituída por intenso: alarme, angústia, rejeição, estresse e

revolta. Onde a reação, vai depender da personalidade de cada indivíduo.

Na segunda fase, é evidenciada a adaptação atingida a partir das

mudanças no cotidiano das famílias.

E a terceira e última, diz respeito a luta dos familiares em criar seus

filhos o melhor possível, a nível de tratamentos, terapias, aprendizagem; com o

18 objetivo de dar uma boa condição de vida e amenizar os problemas do dia a

dia.

A partir das memórias do professor universitário Sérgio Carvalho,

publicadas em Thanise: Um sorriso muito especial, nitidamente evidenciamos

as fases de Krynski, mencionadas anteriormente:

Primeira Fase: “A notícia “científica” nos deixou

aturdidos. Racionalmente, tínhamos a resposta

que há muito buscávamos. Emocionalmente, no

entanto; negava-me a assumir as dimensões

deste fato. Procurava me convencer de que

haveria uma solução mais ou menos fácil, mais

ou menos breve, ao alcance de nossas mãos

(...)” (1996, p.36)

Segunda Fase: “A realidade nos pegou de modo

tão desprevenido e imprevisto quanto demolidor,

ao mesmo tempo em que fez com que

fizéssemos importantes mudanças na estrutura

familiar (...) A divisão de tarefas entre todos os

familiares é uma boa solução. A desculpa de

“não ter tempo”, neste caso, jamais será aceita.”

(1996, p.38)

Terceira Fase: “Passados alguns anos, depois

de uma reflexão profunda e extremamente

dolorosa, pude perceber que a solução para o

desenvolvimento das potencialidades de

Thanise não cairia do céu. Estava em mim

mesmo. Ou melhor, estava em nós mesmo”.

(1996, p.45)

Sendo assim, podemos concluir que a notícia de um filho com problema,

físico ou mental, faz desmoronar os sonhos e expectativas dos pais para com

19 àquela criança. E, lidar com a inesperada e indesejada revelação, trás a tona,

muitos sentimentos que desestruturam a dinâmica familiar ou até rompem o

vínculo com a criança, nos casos mais graves. Contudo, sobreviver a esse

conflito, deve ser o objetivo primordial de cada dia.

3.1 - Família, cotidiano e vida social.

Vivemos dentro de uma família, que faz parte de uma imensa teia de

relações, incluindo pessoas, instituições, ideologias, sistemas físicos e

biológicos. O cuidado familiar com o deficiente se dará de acordo com a época

em que a deficiência se instalou. Quando o problema é precoce, a

comunicação com os membros da família fica muito prejudicada. Nestes casos

a família deverá ser orientada por especialistas quanto à convivência e o

cuidado com o filho.

Facilitando a compreensão da ação terapêutica em relação ao

deficiente, o terapeuta ocupacional tem forte influência no que concerne às

diversas formas de ajudar, planejar, orientar, analisar ou buscar ajuda externa,

gerando possibilidades de pensar e procurar em conjunto, estratégias,

métodos e instrumentos facilitadores que poderão contribuir com o

desenvolvimento do deficiente partindo, no caso, do enfoque teórico da nível

da deficiência, constituindo caminhos para que esse deficiente consiga

encaminhar-se e adaptar-se ao ritmo da vivência familiar.

Os familiares das pessoas com deficiência mental, necessitam de ajuda

e esclarecimento para lidar com a complexidade e os conflitos frente aos

preconceitos e as dificuldades sociais.

Em muitos casos, os parentes parecem desistir de viver a sua própria

vida em função da vida do indivíduo com problemas mentais.

Sendo assim, a família acaba abrindo mão de seus sonhos ou projetos

de vida, colocando toda a sua energia e desejo a serviço da pessoa “mais

necessitada”.

20 Dessa forma, os terapeutas de família devem conduzir seu trabalho para

auxiliar esses familiares a resgatar um sentimento próprio de vida, uma

intencionalidade, retomando a determinação e a coragem de reconstruir um

projeto de vida mais feliz, em sintonia com seus valores e princípios. E está aí,

a importância da terapia para essas pessoas.

A terapia familiar oferece um leque diversificado de tecnologia referente

ao apoio emocional e de elaboração de vivências, a fim de tornar mais fácil

para cada pessoa falar de suas questões e conflitos, tomando um maior

contato consigo mesmo e com os demais companheiros.

E, uma dessas técnicas é a troca de experiências, pois amplia a

capacidade de lidar com os problemas e encontrar soluções.

Ouvindo o relato de outra pessoa, pressupõe-se uma disponibilidade

para acolher o sofrimento e a angústia do outro, assim como perceber as

vivências semelhantes as suas próprias narrativas.

Portanto, o processo de identificação facilita aos participantes, ver no

outro o reflexo de sua própria realidade, aliviando a sensação de isolamento e

solidão, além de contribuir no grupo familiar a construção de um espaço de

referência e de experimentação.

E, através do testemunho publicado pelo professor universitário Sérgio

Carvalho, percebemos a importância da terapia familiar:

“Neste tempo, pude conhecer muitas

pessoas e aprender um pouco de tudo com

todas. Todas elas também tinham tomado

consciência e começaram a se posicionar

diferentemente sobre o tema da “deficiência”

depois de terem passado por uma experiência

negativa. No entanto, apesar de conscientes ou

de se dizerem conscientes, encontrei muitas

pessoas inertes diante de sua problemática.

Algumas lutavam heroicamente para

compreender e ter forças para seguir adiante.

Outras pouco se importavam para o que estava

21 acontecendo. Estas conversas me animaram a

mergulhar um pouco mais fundo nas questões

durante estes encontros, pude testemunhar,

observando suas reações, o alto grau de

desenvolvimento de um dos sentimentos que

mais admiro no ser humano, que é o da

solidariedade. Eram pessoas que tinham

aprendido a compartir. Não sei se por

necessidade ou opção, mais em maior ou menor

escala, tinham aprendido a compartir e a

repartir”. (1996, p.49)

A criação dos grupos de pais tem sido uma ação bastante positiva no

sentido de fortalecer as relações da família e de produzir famílias participantes

e cooperativas no processo de desenvolvimento das crianças deficientes.

Infelizmente, na maioria das narrativas do cotidiano familiar, estão

carregadas de culpa, inconformidade ou isolamento afetivo e social. Onde,

pais, mães, irmãs ou irmãos tentam estabelecer um nexo de trocas e

reciprocidade onde só existe medo e inquietação.

Outro conflito enfrentado por essas famílias está ligado a sobrecarga de

demanda que diz respeito a acompanhamento e cuidado de seus membros

com distúrbios mentais.

Visto que, em geral, essas pessoas com deficiência apresentam

dificuldade em se manter economicamente, que implica numa situação de

dependência da família.

Pois, são altos os custos com medicação, tratamento, alimentação,

vestuário, transporte, mesmo quando fazem uso do serviço público de saúde

ou assistência social.

E, também, freqüentemente, um membro da família necessita ficar

cuidando da pessoa com problema mental, onde fica impossibilitado o seu

acesso ao trabalho.

22 No que diz respeito as relações sociais, a maioria dos familiares passam

a apresentar: vergonha, cansaço ou frustração; a partir daí, é comum observar

o afastamento de festas ou eventos culturais, e restringindo-se a visitas a casa

de amigos próximos e parentes.

Ou então, esse processo de rejeição social é estendido aos amigos ou

parentes que deixa de convidar a família do deficiente para eventos, pois se

presume que o filho “especial” não terá comportamento adequado ao

ambiente.

E, somente através da cooperação em família, onde não só um fica

sobrecarregado que se atingirá a melhoria da qualidade de vida de todas as

pessoas envolvidas.

3.2 – O relacionamento afetivo e emocional entre filho

e pais frente à deficiência mental

Vivemos em uma cultura que valoriza mais as questões econômicas que

as sociais. Essa verdade, tão conhecida por todos nós, vem explicar a

desvalorização que, em nossa sociedade, se dá aos portadores de deficiência,

que não fazem parte da população economicamente ativa, que são

considerados “um peso” para o sistema. A ausência da reflexão faz com que

se passe a reproduzir, sem perceber, tais valores, sem ao menos questionar a

respeito.

Com o desenvolvimento da psicologia, da psiquiatria, da pediatria, da

sociologia, da antropologia cultural, serviço social, economia doméstica e da

educação, os fatores ambientais tomaram maior importância etiológica dos

distúrbios emocionais e mentais do indivíduo. Neste contexto é necessário

falar dos mecanismos de enfrentamento, das atitudes familiares, pois, elas

representam todo o ambiente em que se desenvolve uma criança com

deficiência mental.

23 No dia a dia, pode-se observar que freqüentemente, surgem casos de

rejeição ou de superproteção afetiva ou intelectual em famílias que têm

crianças especiais. Psicologicamente, a mãe sente pena do filho, inclusive pela

rejeição dos amigos, dos vizinhos ou passa a superproteger o “coitado”. A

atitude aparente nestes casos pode ser até mais tranqüila e menos

dominadora.

A maioria dos casos, quando a mãe é superprotetora, o pai tem pouca

importância no trabalho de buscar o desenvolvimento da criança, ficando,

apenas, para a mãe as ações dos cuidados com a reabilitação do filho

deficiente. Em muitos casos, os avós, os irmãos, a mãe, o pai, passam com

muita freqüência, a rejeitar seus filhos que apresentam deficiência, acreditando

que eles não são capazes de aprender nada ou quase nada.

Mães de filho deficiente, freqüentemente, têm atitudes de ansiedade.

Estas atitudes podem estar acompanhadas de superproteção. Existem

também atitudes de abandono, chamada negligência. É a indiferença dos pais

para com os filhos, expressas em atitudes de falta de demonstração afetiva no

dia a dia.

Muitas vezes, a mãe demonstra ansiedade em relação ao seu filho

especial e, antecipadamente estabelece em sua vida que este não irá

“escravizá-la”, levando a praticar o abandono do filho.

Muitas crianças deficientes mentais menos acompanhadas, menos

orientadas, são geralmente, crianças mais agressivas ou dominadoras, com o

hábito de destruição, de revolta, descarregando a tensão através de motivos

conflitantes e são lançadas no mundo do abandono.

Porém, esse abandono é comum no caso de mães que não aceitam o

problema mental do filho, e que chega a causar, a dificuldade em relação à

adaptação ao seu entorno.

Na realidade, a mãe não deve parar a sua vida em prol da criança

deficiente, o correto é que os pais dividam as responsabilidades para com seu

filho; fazendo com que ninguém da família fique sobrecarregado.

Entendemos que a relação mãe e filho são de grande importância para

a saúde da criança, pois o bom relacionamento só proporcionará condições de

24 experiências ricas e, conseqüentemente, uma vida melhor. Esse fato vem

comprovar a possibilidade das alterações comportamentais do indivíduo

especialmente ocorridas no ambiente familiar.

Sendo assim, o amor dos pais é o principal caminho para o ajustamento

de uma criança especial, visto que, as relações familiares insuficientes ou

inadequadas geram crianças emocionalmente carentes, sendo elas deficientes

ou não.

25

Capítulo IV

A criança especial no ensino regular

No censo populacional realizado junto ao Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística no ano de 2000, constatou que cerca de 1,6 milhões de

pessoas, que em porcentagens chega a 5,8%, são estudantes do ensino

regular entre sete e quatorze anos e que têm algum tipo de deficiência. E

esses dados são conseqüências do aumento em 179% do número de escolas

inclusivas, que subiu de 13.592 em 2000 para 38.019 em 2005.

Hoje, é constatado que o número de alunos especiais matriculado tenha

triplicado, segundo o Inep, contudo o preconceito e o desconhecimento das

leis e a de preparo ou apoio dos professores, ainda deixam um grande número

de alunos especiais fora da escola.

Existem as pessoas que acreditam que a inclusão tem como objetivo

principal a recreação e a socialização, essa idéia perde seu valor quando

encontramos alunos especiais mostrando além da socialização,

desenvolvimento cognitivo, independente de sua deficiência.

Cada deficiência requer estratégias e materiais específicos e

diversificados. Contudo, devemos ter em mente que cada indivíduo carrega

consigo um ritmo próprio de aprendizagem, e respeitar isso, é dar

oportunidade para que todos aprendam o mesmo conteúdo; o que não significa

realizar atividades mais fáceis ou sem complexidade com os alunos incluídos.

Outro fator importante que toda escola inclusiva deve respeitar, é avaliar

o aluno a partir do que ele é capaz de fazer e suas superações e não super

valorizar o que ele ainda não consegue alcançar. Dessa forma, a avaliação

será formativa e qualitativa, respeitando a Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (LDB).

Segundo Windyz: “A Educação Inclusiva é um movimento social que

desafia a escola a ser mais representativa da diversidade que existe na

sociedade, tornando-se assim mais democrática e justa”. (2006)

Atualmente, o argumento de que a escola não está preparada para

aceitar um portador de necessidades especiais, não pode ser aceito; visto que,

26 não há respaldo legal para a recusa da matrícula desses alunos. E as leis que

garantem a inclusão já existem desde 1988, na Constituição Federal que

garante o direito à escola a todos.

Desta forma, convenhamos que desde 1988, as unidades escolares

tiveram muito tempo para capacitar professores e ter adaptado sua estrutura

física e sua proposta pedagógica. A partir daí, recusar a matrícula do aluno

portador de deficiência, seja ela qual for, é crime e fere a Constituição Federal

lei nº 7.853/89, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a Declaração

de Salamanca e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).

O aluno incluído no ensino regular tem o direito de ser atendido no

contra turno em uma classe especial ou instituição, onde o objetivo principal é

a busca de recursos, terapias ou matérias para auxiliar o estudante na classe

comum. Sendo assim, a educação especial serve como complemento e apoio

ao ensino regular.

4.1 - O deficiente mental no âmbito familiar e escolar

A família possui grande relevância na vida de todas as pessoas, e no

caso da pessoa com deficiência mental, isso é ainda mais marcante. E, não

podemos falar sobre o desenvolvimento, o aprendizado ou a escola, sem antes

especificarmos como a família contemporânea é definida.

Sendo assim, tomemos como referência, o conceito sobre família de

Rudolf Steiner:

“(...) família entende-se o grupo social primário

formado tanto por laços consangüíneos quanto

afetivos. Classicamente, o núcleo da família é

composto por pai, mãe e filhos. No modelo

patriarcal, a figura do pai provedor representava a

autoridade máxima e incontestável, enquanto a

figura feminina era da “rainha do lar”, disponível

para criar e educar os filhos. Com a inserção da

27 mulher no mercado de trabalho, as relações

familiares sofreram profundas transformações. O

pátrio poder passou a ser compartilhado, e a

função de educar foi sendo cada vez mais

transferida à escola”. (2006, p. 64)

A partir da citação anterior, podemos constatar as mudanças da

concepção de família e dos papéis sociais que cada um desempenha dentro

desta instituição, com o passar dos anos.

Essas mudanças sociais, com a mulher no mercado de trabalho

parecem ter impacto maior nas famílias que possuem uma criança com

deficiência mental. Visto que, além do desequilíbrio emocional, provocado pela

chegada de um bebê diferente do idealizado, a mãe que se preparava para

voltar ao mercado de trabalho, em poucos meses após o nascimento de seu

filho, se vê diante da problemática de um filho que demanda mais cuidados do

que previa. Além da necessidade de dedicação exclusiva, há de se pensar no

aspecto financeiro.

E, frente ao problema apresentado no parágrafo anterior, que a melhor

saída é a divisão de tarefas, com o intuito de não sobrecarregar apenas um

membro da família; contudo, não é o que acontece na maioria dos casos.

Toda essa situação, certamente levará a problemas emocionais, onde os

responsáveis pela criança deficiente ficam sem saber o que fazer. Alguns

procuram informações para conhecer e estimular o desenvolvimento de seus

filhos, outros não estimulam, já antevendo que ele não corresponderá as

expectativas de desenvolvimento cognitivo, emocional e social, e com certeza,

esses pais estão influenciados pelo preconceito.

A partir daí, quando se trata do desenvolvimento integral da criança com

deficiência mental, devemos ter como ponto de partida, a maneira de como a

família dessa pessoa a recebe em seu meio, e isso, com certeza, fará a

diferença.

Sendo assim, no processo de convivência com a pessoa com deficiência

mental, cada família terá sua peculiaridade em lidar com a situação,

28 considerando: valores, preconceitos e aceitação. E, essa peculiaridade

(positiva ou negativa) que influenciará o desenvolvimento pessoal e a vida do

deficiente.

Dessa forma, sendo a família, o primeiro núcleo social, a maneira como

o deficiente age ali, poderá interferir nas relações interpessoais futuras. E, na

comunidade escolar, onde há maior possibilidade de relacionamento, refletirá

nas interações sociais.

Portanto, nas relações familiares que essa criança recebe a base para

as relações com a sociedade. Base essa que forma um modelo de atitudes

dela para consigo mesma e para com os outros.

E, quando encontramos um deficiente que não age, mesmo que

mimicamente, segundo a conduta de atitudes sociais, como por exemplo, se

portar em lugares públicos, é porque não lhe foi ensinado, como agir, nem pela

família, e muito menos pela escola. E, essa aprendizagem deve ser

persistente, pois é demorada.

Um outro fator que muito prejudica o desenvolvimento da aprendizagem

do portador de deficiência, é a superproteção exercida pela família, pois isso,

dificulta a colocação de limites claros da integração social.

A partir daí, quando Rudolf Steine afirma:

“Os próprios pais relatam saber que, em

muitos momentos, se contradizem no papel de

educadores, e o “não” ante uma ação dos

filhos acaba por virar um “sim”, ou seja,

reclamam constantemente de não conseguir

colocar os devidos limites”. (2006, p.67)

A super – proteção é conseqüência da incerteza sobre a capacidade

dos filhos sobreviverem independente, onde acarreta problemas de

desenvolvimento individual.

29 E, incluir o deficiente no processo educacional e na vida profissional,

exigirá dele um comportamento independente e autônomo, que o levará a

vivenciar situações do cotidiano imprescindível para o seu desenvolvimento.

Sendo assim, através da vivência, experimentações e tentativas de erro

ou acerto que o deficiente mental aprenderá, mesmo que lentamente, e se

desenvolverá como um cidadão independente, mesmo com algumas

restrições. E, com certeza, essas aprendizagens adquiridas, possibilitarão uma

melhor qualidade de vida e acesso às mesmas oportunidades das pessoas

ditas normais.

A família e a escola devem estabelecer parcerias, quando o objetivo

principal, visa o desenvolvimento e crescimento do indivíduo portador da

deficiência mental. Somente, através dessa união, que será promovido e

facilitará situações de aprendizagem, tanto na área cognitiva quanto afetiva e

social.

Portanto, as relações entre família e escola deverão ser harmoniosas e

de colaboração mútua, que resultarão ações relevantes para o aprendizado do

aluno especial. E, nesse processo de interação família e escola, estarão sendo

beneficiados: alunos, responsáveis e escola.

4.2 - Educação inclusiva da pessoa com deficiência

mental

A educação inclusiva surgiu com o objetivo de promover a igualdade,

baseada nos princípios elementares dos Direitos Humanos. Onde oportunizou

a educação para todos, tal qual o relatório da Declaração de Salamanca, que

considera a educação inclusiva um dos seus principais marcos legais, e que foi

ratificado por diversos países, dentre eles, o Brasil.

O governo brasileiro se comprometeu em elaborar políticas públicas que

visem promover processos inclusivos das crianças com necessidades

educacionais especiais nas classes regulares. Mesmo assim, infelizmente, a

30 efetivação dessas práticas inclusivas tem sofrido inúmeras resistências, sobre

tudo, no modo de como a inclusão tem sido implantada na escola.

Sabemos que a própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996

garante as crianças especiais a sua freqüência nas escolas regulares;

entretanto, a maneira como esse direito é validado causou inúmeras

controvérsias entre educadores. Essa situação é conseqüência da falta de

preparo e sensibilização prévia, que tende a provocar transtornos na

comunidade escolar. E esses problemas, na maioria das vezes, são dados

como causa, a criança deficiente e raramente às inadequações do processo e

sistema educacional.

Dessa forma, faz-se necessário o preparo, tanto da escola quanto dos

educadores para acolher as crianças, que sempre foram excluídas da

educação regular, por serem acusadas de incapazes de adquirirem conteúdos

escolares.

Por isso, que a educação inclusiva deve ser um movimento que busque

corrigir essa tradição excludente, onde sua principal proposta deve ser a

reestruturação escolar nos aspectos: arquitetônico (espaço útil), conceitual,

curricular e de atitude. Sendo assim, não se espera que a criança se ajuste

aos padrões escolares, mas que estes sejam reformulados segundo os

educandos atendidos.

Infelizmente, atualmente, a inclusão da criança com deficiência mental

na rede regular de ensino, tem sido alvo de grande resistência dos

professores; visto que, se comparada com outros tipos de deficiência, a mental

é a que mais se confronta com os objetivos tradicionais da escola.

A falta de expectativa da aquisição da leitura e da escrita para esses

alunos, faz com que muitos professores não compreendam o sentido dessas

crianças serem incluídas nas classes comuns. Por isso, que erroneamente,

vários educadores acreditam que a inclusão deveria ser realizada somente

com o objetivo social, deixando de lado o pedagógico.

Sendo assim, o professor não percebe que cada indivíduo, dito normal

ou anormal, possuem seu próprio ritmo de aprendizagem, e o aluno especial,

31

mesmo diante de suas dificuldades e precisando de mais tempo, ou práticas

educativas diferenciadas, são capazes de aprender.

Além das queixas relacionadas à leitura, escrita e cálculos, é comum

também, o educador referir-se ao comportamento das alunos com deficiência

mental, como um agravante ao processo de inclusão. Visto que, existe a

crença de que esses alunos podem ser agressivos. Esse estereótipo só

contribuiu para dificultar a criação de laços verdadeiros entre professores e

alunos, e precisa ser visto com cautela.

Como qualquer pessoa, a criança deficiente mental possui

personalidade própria. E claro, existem aquelas que encontram maior

dificuldade em compreender as regras sociais, onde necessitam de auxílio

para ajustar-se aos ambientes sociais aos quais participa. Portanto, há

crianças agressivas, mas também, dóceis e sociáveis, capazes de estabelecer

vínculos afetivos com o grupo escolar ou social.

Então, não devemos avaliar se determinada criança tem ou não

condição de ser incluída, mas se a comunidade educacional está disposta a se

estruturar para recebê-la. E, quando mencionamos estrutura, não falamos

apenas dos aspectos materiais, mas principalmente, das pessoas que

trabalham ou usam o espaço escolar.

Não basta que se levante a bandeira da educação inclusiva como um

imperativo para a comunidade escolar. Não basta que as leis sejam

promulgadas se as pessoas que têm possibilidade de efetivá-las não se

sensibilizem e estejam dispostas a encontrar soluções, frente aos impasses

que se descortinam no dia a dia do aluno especial, principalmente, do

deficiente mental, que é o nosso objeto de estudo, no momento.

32

4.3 - O professor e a escola, frente à inclusão da

criança deficiente mental

Construir uma escola inclusiva é um desafio para seus gestores, sendo

eles do setor público ou privado, mas acima de tudo, de seus professores, que

necessitam reestruturar-se segundo novos paradigmas da inclusão no meio

educacional.

Apesar do crescimento nos últimos anos, de cursos e capacitações na

área da educação especial, os educadores ainda reclamam do despreparo

para trabalhar com crianças incluídas, pois muitas vezes, estão impregnados

pela cultura da escola tradicional, que é pouco acolhedora das diferenças, isto

é do que foge do padrão por ela estabelecido como o normal.

Além disso, não podemos falar de preparo do professor sem pensar na

estrutura organizacional escolar, tão necessária à efetivação de políticas

públicas inclusivas.

É claro, que se tanto a escola quanto o professor mantiverem-se presos

a crenças e estereótipos, dificilmente o processo inclusivo será bem sucedido.

E, quando o professor se prepara, mesmo que a estrutura

organizacional escolar não seja condizente com a educação inclusiva, as

chances de sucesso são maiores.

O preparo do professor em lidar com as peculiaridades de cada aluno,

não é uma questão de vocação ou boa vontade; visto que, a idéia de

habilidade inata tende a anular as possibilidades de aprendizagem e

desenvolvimento para aqueles que teoricamente não se vêem vocacionados.

Além do mais, esse pensamento pode ser uma desculpa para os profissionais

já desanimados com a carreira.

No que diz respeito ao pensamento da boa vontade do educador é um

argumento que tende a centralizar tudo na figura do docente, deixando de lado

o contexto histórico, cultural e organizacional no qual a educação inclusiva está

inserida.

Na realidade, não existe um perfil ideal de educador para trabalhar com

alunos deficientes mentais, mas sim o professor bem preparado e apto para

33 lidar com esses alunos. E, a mudança de atitude, a sensibilização para aceitar

as diferenças pessoais, são pontos fundamentais do processo.

4.4 – O processo de ensino – aprendizagem do

deficiente mental

A maioria dos professores que possuem alunos portadores de

deficiência mental em classes regulares querem saber, além de como ensiná-

los, mas também o quanto e o que serão capazes de aprender, e sobre tudo,

se irão aprender a ler e a escrever.

Na realidade, no âmbito da deficiência mental, as garantias a cerca da

aprendizagem são quase sempre incertas. Por isso, existe a busca por laudos

psicológicos que, freqüentemente, atuam como apaziguador de incertezas, o

que delimita o tipo de ação dirigida ao aluno.

E claro, que a baixa expectativa dos professores para com os alunos,

sejam portadores de diagnóstico de deficiência mental ou não, interfere

significativamente no desenvolvimento do educando.

A crença de que a criança com deficiência mental seria incapaz de

aprender a ler e a escrever, induz o professor a trabalhar com esse aluno

apenas o aspecto social, que muitas vezes, é restrito ao “estar” entre os

demais alunos “normais”. A idéia vem de uma visão reducionista da

aprendizagem, restringindo-se a aquisição da leitura, da escrita e das

habilidades aritméticas.

Na realidade, tanto as expectativas dos familiares quanto dos

professores são determinantes no desenvolvimento da criança.

É importante que os professores não se restrinjam ao que os laudos

dizem a respeito dessas crianças, visto que, qualquer avaliação que busque

circunscrever o desenvolvimento do sujeito é limitado.

O aluno portador de deficiência mental, embora revelando

aprendizagem abaixo da média, poderá executar atividades com outros alunos,

chegando a realizá-las, em alguns casos, perfeitamente.

34 A partir daí, podemos concluir que, mediante: suporte, apoio e

considerando também as oportunidades que lhes serão oferecidas, o aluno

portador de deficiência mental poderá vir a apresentar potencialidade, aptidão,

capacidade e possibilidade de desempenho.

35

Capítulo V

O adolescente com deficiência mental e sua família

A adolescência brasileira apresenta muitos desafios no que se refere a

educação, saúde e formação enquanto cidadãos e respeito as suas

peculiaridades.

E, o desafio torna-se maior quando relacionado ao adolescente com

deficiência, em especial, com deficiente mental, devendo objetivar a

construção e o fortalecimento de sua identidade como “sujeito em pleno

desenvolvimento e de direitos”.

Dessa forma, faz-se necessário, conhecer a importância da família e da

sociedade para o adequado desenvolvimento, o desabrochar da sexualidade

genital (como atributo de todo ser humano), os sentimentos, a compreensão

destas transformações pelo adolescente com deficiência mental, contrapondo

com o preconceito, infantilização, exclusão e estigmatização.

Sendo assim, entender o conhecimento das famílias com esse

adolescente acerca das transformações da puberdade, onde se deve verificar

os limites de compreensão e aceitabilidade destas mudanças, propondo

sugestões aos profissionais, sociedade e família sobre a melhor maneira de

abordar o adolescente com deficiência mental e sua família, com o objetivo

principal de evitar a “eterna” infantilização desse indivíduo, o que acontece na

maioria dos casos, tanto na família quanto em sociedade.

As atitudes dos pais se situam em perspectativas diferentes de seus

filhos com dificuldades significativas em enxergá-los como um ser sexual,

dotado de desejos, de dúvidas e medos relativos ao mundo da sexualidade,

procurando negar a expressão desses desejos e reforçando o isolamento que

já é vivido pelos adolescentes com deficiência na sociedade como um todo.

Contudo, percebe-se a necessidade de acolher esses pais em suas

ansiedades e angústias relativas ao tema. Sendo necessária a preparação

social em lidar com questões de saúde, sexualidade, ética, cidadania e

desenvolvimento humano, uma vez que, a invisibilidade que fomenta a

36 vulnerabilidade destes adolescentes, é relevante e deve ser tema de

preocupação e reflexão.

A partir do que foi exposto, ressalta-se a responsabilidade da sociedade,

dos profissionais e famílias, de tornarem os adolescentes plenamente

conscientes das transformações pubertárias, da sexualidade auxiliando na

busca de autonomia requerendo persistência, vontade, conhecimento e

mudança de comportamento.

Enfim, entender o deficiente mental na sua fase crítica de

desenvolvimento, a adolescência, se faz necessário para desenvolver

habilidades saudáveis de proteção à saúde integral, além de estimular a

autonomia e o relacionamento ético – profissional.

37

Conclusão

A deficiência mental é definida como uma desvantagem, resultante de

um comprometimento ou de uma desvantagem que limita ou impede o

desempenho de raciocínio, de pensamento, ou seja, de habilidades

adaptativas de determinada pessoa.

E, quando surgem os primeiro sintomas da deficiência mental, os pais,

sobretudo a mãe, perdem toda a ênfase que era posta inicialmente na

interação comunicativa e passa a acreditar, no primeiro momento, que aquela

criança é incapaz de desenvolver atividades complexas.

Porém, alguns desses indivíduos excepcionais, devido a estímulos que

objetivam seu desenvolvimento, tanto no meio familiar quanto institucionais,

escola, por exemplo, conseguem atingir níveis de aprendizagem igual ao das

pessoas ditas normais, ainda que com certo atraso referente a idade, pois

possuem ritmos mais lentos na aquisição do conhecimento.

As inovações no nível da educação do deficiente mental visam

essencialmente, o desenvolvimento dessa criança ou adolescente, utilizando

os meios educacionais e lingüísticos mais apropriados com o objetivo de fazê-

la sentir-se mais humana, mais gente, capaz de viver igual as demais crianças

e integrando-se na vida familiar e social.

A família e a escola deverão ser orientadas por profissionais

especializados (terapeutas, psicopedagogos, psiquiatras, psicólogos,

fonoudiólogos), quanto à educação de seu filho, buscando evitar a exclusão.

O psicopedagogo, o terapeuta ocupacional, o psiquiatra, o psicólogo,

têm forte influencia no que diz respeito às diversas formas de auxiliar, planejar

e orientar o deficiente mental e sua família, na busca de estratégias, métodos e

instrumentos facilitadores, que contribuirão com o desenvolvimento da criança

ou do adolescente especial, partindo do enfoque teórico, construindo caminhos

para que ele consiga viver com autonomia em sociedade.

Conclui-se, enfim, que o olhar teraupeuta – psicopedagógico deverá se

colocar à frente deste processo, ou seja, se voltar para aquilo que a família,

precisa saber fazer, para entender que a criança ou adolescente portador da

38 deficiência mental precisa aprender para ser um sujeito ativo em sua

sociedade.

É importante que este olhar se volte também para o futuro dessas

pessoas especiais, com o objetivo de que elas não vivam mais em constantes

fracassos.

Na realidade, o portador de deficiência mental deveria ser mais

privilegiado pelo sistema brasileiro, por meio de atendimentos mais adaptados

às suas necessidades gerais e específicas. Assim, elas poderiam ser

capacitadas, tornando-se cidadãos produtivos e felizes.

39

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Atividades Culturais