universidade de sÃo paulo escola de ... - tcc.sc.usp.br · a poluição sonora, diferentemente dos...

58
1 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS DEPARTAMENTO DE HIDRÁULICA E SANEAMENTO Curso de Graduação em Engenharia Ambiental AVALIAÇÃO DA POLUIÇÃO SONORA NO CENTRO COMERCIAL DO MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS Monografia apresentada à Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo como pré-requisito à obtenção do título de Engenheiro Ambiental. Juliana Taguti Pinto Graduanda Prof. Dr. Francisco Arthur Silva Vecchia Orientador São Carlos, SP 2009

Upload: ledan

Post on 18-Jan-2019

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS

DEPARTAMENTO DE HIDRÁULICA E SANEAMENTO

Curso de Graduação em Engenharia Ambiental

AVALIAÇÃO DA POLUIÇÃO SONORA NO CENTRO COMERCIAL DO

MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS

Monografia apresentada à Escola de Engenharia

de São Carlos, da Universidade de São Paulo

como pré-requisito à obtenção do título de

Engenheiro Ambiental.

Juliana Taguti Pinto

Graduanda

Prof. Dr. Francisco Arthur Silva Vecchia

Orientador

São Carlos, SP

2009

2

3

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Francisco Vecchia, pela orientação, atenção e oportunidade.

Aos meus pais, José Gil e Carmen, e à minha irmã Mariana pelo esforço constante que

fizeram para minha formação pessoal e acadêmica, amor, carinho, paciência, conforto e por

acreditarem sempre que eu seria capaz. Sem vocês nada teria sido possível.

Às amigas Ana Cristina Lobo (Poia) e Luciana Marrara pela amizade, paciência, compreensão

e apoio nos momentos difíceis, tanto emocionalmente como academicamente. Sem vocês tudo

teria sido muito mais difícil de ser realizado.

Ao departamento de Arquitetura e Urbanismo pelo empréstimo do decibelímetro.

À todos que de alguma forma participaram da elaboração desse trabalho, através de

orientação, apoio e amizade.

4

RESUMO

PINTO, J. T. (2009) Avaliação da Poluição Sonora no Centro Comercial do Município de

São Carlos. 58p. Monografia de Graduação. Escola de Engenharia de São Carlos,

Universidade de São Paulo, São Carlos, 2009.

O crescimento da população e o aumento da concentração em ambientes urbanos vêm

aumentando a cada ano e em conjunto com o crescente desenvolvimento de tecnologias

desperta uma preocupação ainda maior com as questões ambientais. O progresso implica no

aumento do ruído, o que resulta a poluição sonora, que diferentemente dos outros tipos de

poluição, não deixa traços visíveis de sua influencia no ambiente, e é impossivel o tratamento

depois de poluído.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2003), a poluição sonora é, depois

da poluição do ar e da água, o problema ambiental que afeta o maior numero de pessoas. Ela é

capaz de produzir incômodos e danos específicos ao organismo humano. A poluição acústica

é considerada pela maioria da população das grandes cidades como um fator importante, que

incide de forma principal na sua qualidade de vida

Devido à esses fatores, o presente estudo tem como objetivo avaliar o nível de

poluição acústica no centro comercial do município de São Carlos, a fim de identificar,

através de comparação de níveis equivalentes de pressão sonora medidas em locais

específicos desse centro com as recomendações existentes na literatura (NBR e outras

indicações), o quanto esse ruído ambiental está de fato afetando o conforto ambiental da

população que freqüentam a região do centro comercial do município.

Palavras-chave: poluição sonora; conforto ambiental; ruído urbano.

5

ABSTRACT

PINTO, J. T. (2009) Evaluation of the Sonorous Pollution in the Commercial Center of

the city of São Carlos. 58p. Monograph for graduation. Escola de Engenharia de São Carlos,

Universidade de São Paulo, São Carlos, 2009.

The growth of the population and the increase of the concentration in urban

environments come increasing to each year and in set with the increasing development of

technologies awaken a still bigger concern with environmental issues. The progress implies in

the increase of the noise, what results sonorous pollution, that differently of the other types of

pollution, does not leave visible traces of its influences in the environment, and is impossible

the treatment after polluted.

According to World Health Organization (WHO, 2003), the sonorous pollution is,

after the pollution of air and of the water, the environmental problem that affects the largest

number of people. It is able to produce disturbances and specific damages to the human

organisms. The sonorous pollution is considered by most of the population of large cities as

an important factor, that happens of main form on their quality of life.

Due to these factors, this study aims to assess the level of noise in the commercial

center of the city of São Carlos, to identify, through comparison of levels of sound pressure

measures in specific locations of the center with the existing recommendations in the

literature (NBR and other information), how much the noise is in fact affecting the

environmental comfort of the population that frequent the region of the commercial center of

the city.

Keywords: sonorous pollution, environmental comfort, urban noise.

6

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa da região urbana do município de São Carlos................................................43

Figura 2 - Localização dos pontos de medição.........................................................................44

Figura 3 - Região do Mercado Municipal.................................................................................45

Figura 4 - Avenida São Carlos..................................................................................................46

Figura 5 - Rua General Osório..................................................................................................47

Figura 6 - Decibelímetro Quest Technologies modelo 2700, utilizado para medições............48

7

LISTA DE TABELAS

Tabela 4.1 – Velocidade de propagação para variados meios..................................................17

Tabela 4.2 – Comprimento de onda..........................................................................................19

Tabela 4.3 – Potencias acústicas diversas.................................................................................20

Tabela 4.4 – Nível sonoro das atividades humanas..................................................................21

Tabela 4.5 – Nível de critério de avaliação (NCA) para ambientes externos, em dB(A).........31

Tabela 4.6 – Limites de tolerância para ruídos contínuos ou intermitentes..............................34

Tabela 6.1 – Medições do nível de pressão sonora em dB(A) em 21/06/2008 e 03/06/2009...51

Tabela 6.2 – Níveis equivalentes de pressão sonora em dB(A) obtidos em 21/06/2008..........52

Tabela 6.3 – Níveis equivalentes de pressão sonora em dB(A) obtidos em 03/06/2009..........52

8

SUMÁRIO

RESUMO....................................................................................................................................4

ABSTRACT................................................................................................................................5

LISTA DE FIGURAS.................................................................................................................6

LISTA DE TABELAS................................................................................................................7

1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................11

2. OBJETIVOS.........................................................................................................................13

2.1. Objetivos gerais..............................................................................................................13

2.2. Objetivos específicos.....................................................................................................13

3. JUSTIFICATIVA..................................................................................................................14

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.............................................................................................15

4.1. Conceitos em acústica....................................................................................................15

4.1.1. Som.........................................................................................................................15

4.1.2. Sensação auditiva....................................................................................................15

4.1.3. Fontes sonoras.........................................................................................................16

4.1.4. Propagação..............................................................................................................16

4.1.5. Pressão acústica.......................................................................................................18

9

4.1.6. Freqüência...............................................................................................................18

4.1.7. Período....................................................................................................................18

4.1.8. Intensidade..............................................................................................................19

4.1.9. Potência acústica.....................................................................................................20

4.1.10. Nível em dB..........................................................................................................21

4.1.11. Reverberação.........................................................................................................22

4.1.12. Percepção..............................................................................................................22

4.1.13. Curvas de igual sensação......................................................................................23

4.2. Ruído..............................................................................................................................23

4.2.1. Definição de ruído...................................................................................................23

4.2.2. Efeitos do ruído.......................................................................................................26

4.2.3. Fontes de ruído........................................................................................................27

4.2.3.1. Ruído nas ruas..................................................................................................27

4.2.3.2. Ruído nas habitações........................................................................................27

4.2.3.3. Ruído nas indústrias.........................................................................................27

4.2.3.4. Ruído dos aviões..............................................................................................28

4.3. Poluição sonora..............................................................................................................28

10

4.3.1. Conceito de poluição sonora...................................................................................28

4.3.2. Limites legais para a poluição sonora.....................................................................29

4.4. Efeitos da poluição sonora no organismo humano........................................................35

4.4.1. Efeitos auditivos......................................................................................................36

4.4.2. Efeitos extra-auditivos............................................................................................37

4.5. Efeitos da poluição sonora em plantas e animais...........................................................40

4.6. Formas de prevenção contra os danos causados pela poluição sonora..........................40

5. MATERIAIS E MÉTODOS.................................................................................................42

5.1. Área de estudo................................................................................................................42

5.2. Coleta de dados..............................................................................................................43

5.2.1. Mercado Municipal.................................................................................................44

5.2.2. Rua General Osório (“Calçadão”)...........................................................................46

5.3. Equipamentos utilizados................................................................................................47

5.4. Procedimento para coleta de dados................................................................................48

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO..........................................................................................50

7. CONCLUSÃO......................................................................................................................54

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................56

11

1. INTRODUÇÃO

A poluição sonora, diferentemente dos outros tipos de poluição, não deixa traços

visíveis de sua influencia no ambiente, e é impossivel o tratamento depois de poluído.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2003), a poluição sonora é, depois da

poluição do ar e da água, o problema ambiental que afeta o maior numero de pessoas. Ela é

capaz de produzir incômodos e danos específicos ao organismo humano. A poluição acústica

é considerada pela maioria da população das grandes cidades como um fator importante, que

incide de forma principal na sua qualidade de vida. Na poluição ambiental urbana, o ruído

ambiental é uma conseqüência direta não desejada das próprias atividades que ocorrem nas

cidades.

Os ruídos podem causar diferentes níveis de danos ao aparelho auditivo humano e ao

próprio organismo humano, dependendo do nível de intensidade do ruído, tempo de exposição

ao ruído, condições gerais de saúde do individuo, idade do individuo, acústica do ambiente

entre outros fatores. Quando combinados e ao longo do tempo de exposição, estes fatores

podem acarretar ao homem efeitos como surdez (temporária ou permanente), desequilíbrios

psíquicos (como insônia ou ate mesmo perda de capacidade intelectual) e até complicações

físicas no organismo (como trauma acústico) (SOUZA, 2006).

Em São Paulo, a poluição sonora e o estresse auditivo são a terceira causa de maior

incidência de doenças do trabalho, só atrás das devido a agrotóxicos e doenças articulares.

Inúmeros trabalhadores vêm-se prejudicados no sono e às voltas com fadiga, redução de

produtividade, aumento dos acidentes e de consultas médicas, falta ao trabalho e problemas de

relacionamento social e familiar.

12

Contudo, os ruídos responsáveis pela maior parte dos problemas auditivos são os

níveis moderados de ruído. Esse tipo de ruído, embora possam ser percebidos, são toleráveis e

aparentemente adaptáveis pela audição humana. Portanto, os indivíduos expostos

continuamente a esse ruído não percebem o ruído de maneira consciente ou incomoda. Porém,

os efeitos desta exposição continuam a atuar danosamente contra a saúde destes indivíduos.

Não há duvidas de que os ruídos urbanos proporcionam grandes danos à saúde física e mental

dos seres humanos.

Os centros urbanos, principalmente os centros comerciais urbanos é um ambiente com

muitas fontes de ruído, tal como veículos de passeio, ônibus circulares, fluxo de pessoas,

veículos de som para propaganda e os próprios comércios produzem ruído através de

vendedores e musicas para atrair a atenção dos consumidores. É bastante preocupante o ruído

nesse ambiente, pois um grande numero de pessoas estão expostas a esse ruído por 8 horas

por dia durante pelo menos 5 dias da semana. Com o crescimento do município de São

Carlos, o centro comercial também teve uma expansão, e com isso, a preocupação com a

poluição acústica também é crescente.

Através desse trabalho, foram realizadas leituras do nível de ruído no centro do

município de São Carlos e analisado, comparando com parâmetros da NBR 10.151 e normas

regulamentadoras do ministério do trabalho (NR15) para verificar o conforto acústico das

pessoas que trabalham ou que freqüentam o centro da cidade.

13

2. OBJETIVOS

2.1. Objetivos gerais

O presente trabalho tem como objetivo principal avaliar o conforto ambiental no que

diz respeito à poluição acústica do centro urbano do município de São Carlos.

2.2. Objetivos específicos

• Realizar a coleta de dados através de medições de nível de pressão sonora em locais

estratégicos;

• Determinar os níveis equivalentes de pressão sonora para cada medição;

Comparar o nível equivalente de pressão sonora obtido com normas, legislação e

recomendações da literatura.

14

3. JUSTIFICATIVA

Com o desenvolvimento mundial, tecnológico e industrial, a preocupação com o

conforto ambiental vem aumentando, e têm surgido estudos específicos sobre os efeitos dessa

evolução na população. Um dos grandes vilões dessa revolução é o ruído. Esse agente físico

pode causar danos ao organismo humano com efeitos de curto e médio prazo. A exposição

prolongada em ambientes que apresentam um nível de pressão sonora elevado pode levar o

usuário ao esgotamento físico e às alterações químicas, metabólicas e mecânicas do órgão

sensorial auditivo, segundo SELIGMAN (1997).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a poluição sonora é uma das mais

nocivas poluições a que estamos expostos, ficando atrás apenas da poluição de águas e do ar.

Mas apesar de sua nocividade e da crescente preocupação da população, ainda há poucos

estudos a respeito da poluição sonora, principalmente na cidade de São Carlos.

Em pesquisas realizadas também pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil

é apontado como possível nação dos surdos, já que 15 milhões de pessoas no país apresentam

algum problema de audição.

O centro comercial de São Carlos é uma região de grande concentração de ruídos,

como veículos de passeio, ônibus circular, fluxo de pessoas e ruídos provenientes do próprio

comércio. As pessoas que trabalham nesse centro comercial, ou mesmo aquelas que

freqüentam apenas, estão expostos a um nível alto de ruído contínuo.

Com esse estudo, através do levantamento de dados, espera-se identificar o conforto

acústico da população da cidade de São Carlos que freqüenta ou que trabalha na área de

estudo.

15

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.1. Conceitos em acústica

4.1.1. Som

É um fenômeno físico que consiste de uma rápida variação de uma onda de pressão

num meio. Ele é causado pelos mais diversos objetos e se propaga através dos diferentes

estados físicos da matéria. A percepção do som se dá através da sensação auditiva, detectada

pelos nossos ouvidos. Fisicamente o som é uma variação muito pequena e rápida na pressão

atmosférica, acima e abaixo de um valor fixo (estático), tal como uma senoidal. Existe um

valor de referencia em relação à pressão atmosférica em que a partir desse valor tudo o que se

percebe é na forma sonora, este valor é cerca de 100.000 Pa. Quanto ao fator diferenciado

entre um som audível – que se pode perceber pelo ouvido humano – e o que não se pode

perceber ocorrem dentro de uma variação de pressão entre cerca de 20 a 20.000 vezes por

segundo (o que se convencionou chamar Hertz ou Hz).

4.1.2. Sensação auditiva

É função da percepção, portanto engloba aspectos fisiológicos e sociológicos.

Exemplificando, podemos dizer que duas pessoas reagem diferentemente a um mesmo ruído

em função de diversos fatores, como idade, cultura, sexo, atividade, sensibilidade, etc.

Envolvendo aspectos fisiológicos e sociológicos, o som influi direta e indiretamente no

comportamento humano. Algumas mudanças constatadas são: fadiga, perda de sono, lazer,

atenuação, perda de audição, agressividade, etc.

16

• Aspectos fisiológicos – Uma pessoa pode ouvir um som ou um barulho o qual não lhe

causará nenhum dano, pois seu sistema auditivo é resistente; porém, outra pessoa, por

ter um sistema auditivo menos resistente, poderá ficar surda com o mesmo som;

• Aspectos psicológicos – Se uma pessoa gostar de barulho, tipo discoteca, barulho de

prensa ou barulho de moto, pelo fato de gostar desse barulho não sofrerá grande dano

auditivo; porém se a pessoa não gostar do barulho, ela poderá perder a audição;

• Aspectos sociológicos – Se um grupo de pessoas gosta de barulho, ou acha que está na

moda, uma pessoa que entrar nesse grupo, se gostar desse barulho, poderá ser pouco

afetada, porém se outra pessoa que não gostar e se o barulho for acima do nível

normal, 85 dB(A), sofrerá grande dano.

4.1.3. Fontes sonoras

São os instrumentos que geram as ondas sonoras. Muitos corpos podem servir como

fontes sonoras, todavia, há um pré-requisito indispensável para que ele funcione como tal:

precisa ser capaz de vibrar. Para que um corpo seja posto em movimento vibratório, é

imprescindível que exista uma relação bem definida entre duas características importantes da

matéria que o compõe: densidade e rigidez.

4.1.4. Propagação

O movimento de corpos vibrantes faz com que eles transmitam energia aos meios

vizinhos. Essa energia não passa de condensações e rarefações desses meios. Estas

condensações e rarefações se manifestam sob a forma de variações de pressão, velocidade de

partícula, amplitude, deslocamento, etc. O fenômeno se caracteriza ainda pela velocidade de

propagação de energia, pela freqüência e pela duração. Para determinadas freqüências,

durações e amplitudes, tais fenômenos são capazes de impressionar os ouvidos humanos.

17

Como a origem do som é um movimento vibratório da matéria, é interessante analisar

o comportamento da propagação do som em diversos meios. No vácuo, onde não existe o

indispensável meio material que o transporte, o som não se propaga. A tabela 4.1 demonstra a

velocidade de propagação para alguns meios materiais.

Tabela 4.1 – Velocidade de propagação para variados meios Meio Velocidade (m/s)

Dióxido de Carbono 259

Oxigênio à 0 ºC 316

Ar seco a 0 ºC 331

Ar seco à 20 ºC 343

Hélio a 0 ºC 965

Clorofórmio a 20 ºC 1004

Etanol a 20ºC 1162

Chumbo 1230

Água doce a 8 ºC 1435

Mercúrio à 20 ºC 1450

Água doce a 20 ºC 1482

Água do mar 1522

Chumbo 1960

Cobre 5010

Vidro (Pyrex) 5640

Aço 5960

Granito 6000

18

4.1.5. Pressão acústica

A pressão acústica p(t) resulta da variação da pressão atmosférica P0. Para um ponto A

num instante t, a pressão total resultante P nos dá:

p = p(t) + P0 ou p(t) = P - P0

Esta pressão p(t) varia de instante a instante em função do tempo. Muitas vezes a

variação da pressão não tem interesse. Então usamos o valor eficaz e o valor máximo.

4.1.6. Freqüência

É o que caracteriza o número de vibrações por unidade de tempo. A unidade de

freqüência é o Hertz (Hz) que, por definição, é igual a um ciclo por segundo. As freqüências

de sons audíveis estão no intervalo de 20 a 20.000 Hz.

Abaixo de 20 Hz temos os infra-sons, e acima de 20.000 Hz os ultra-sons, que apesar

de não serem audíveis, influem sobre o ser humano.

No intervalo dos sons audíveis, chamamos de graves aos sons de intervalo de 20 a 200

Hz, médios, de 200 a 2.000 Hz e agudos de 2.000 a 20.000 Hz.

4.1.7. Período

Período (T) de um fenômeno vibratório é o tempo necessário para que, num dado

ponto, o fenômeno se repita em amplitude e fase.

Existe ema relação entre a velocidade, o comprimento de onda e a freqüência de um

som, que vemos abaixo, exemplificada na tabela 4.2.

c = λ.f

19

Tabela 4.2 – Comprimento de onda f (Hz) T = 1/f (seg) λλλλ (m)

20 5x10-2 17

50 2x10-2 68

100 1x10-2 3,4

200 5x10-3 1,7

500 2x10-3 0,7

1.000 1x10-3 0,3

2.000 5x10-4 0,2

5.000 2x10-4 0,07

10.000 1x10-4 0,03

20.000 5x10-5 0,02

4.1.8. Intensidade

É a uma noção ligada ao conceito de densidade de energia, sendo definida como a

quantidade de energia que atravessa uma unidade de superfície perpendicular à direção de

propagação. A relação entre a intensidade e a pressão eficaz é dada pela fórmula:

I = P2

ef/Pc0

O conceito de intensidade é importante, pois está ligada à percepção do ouvido, que

necessita uma quantidade mínima de energia para ser excitado. Para um ouvido normal, essa

energia é da ordem de 10-12 W/m2.

20

Existe ainda uma energia a partir da qual a sensação é de dor. Ela é da ordem de 10

W/m2. Como vemos,, as intensidades que sensibilizam o ouvido estão dentro de uma gama de

variação de 1012.

Para uma onda esférica onidirecional, quando aplicamos a definição de intensidade

obtemos a relação a seguir, onde D é a distância do ponto considerado à fonte, e W a potência

da mesma, e I a intensidade:

I = W/(4πD2)

4.1.9. Potência acústica

Nas potências acústicas que interessa à percepção do ouvido humano, encontramos

valores desde 10-9 watt, até ruídos de reatores de avião com potência de 104 watt. A potência

acústica de algumas fontes encontra-se na tabela 4.3.

Tabela 4.3 – Potencias acústicas diversas Valor máximo Valor médio

Cochicho Suave 1 x 10-3 µ W

Relógio Elétrico 2 x 10-2 µ W

Conversa de Homem 4 x 10-3 W 5 a 10 µ W

Conversa de Mulher 2 x 10-2 W 5 a 10 µ W

Orador 4 x 10-2 W 20 a 50 µ W

Automóvel a 70 km/h 1 x 10-1 W

Martelo Pneumático 1 W

Avião a Jato 1 x 104 W

21

4.1.10. Nível em dB

Os técnicos acham conveniente exprimir as grandezas sob a forma logarítmica: obtêm-

se, assim, níveis em relação a certos valores de referência, arbitrariamente escolhidos, os

quais são expressos em decibéis (dB).

O meio urbano possui diversas fontes de som, que pode variar de 30 a 120 dB. Na

tabela 4.4 pode-se observar o nível sonoro de algumas atividades humanas.

Tabela 4.4 – Nível sonoro das atividades humanas Atividade Nível (dB)

Limiar auditivo 0

Estúdio de gravação 20

Biblioteca forrada 30

Sala de descanso 40

Escritório 50

Conversação 60

Datilografia 70

Tráfego 80

Serra circular 90

Prensas excêntricas 100

Marteletes 110

Aeronaves 130

Limiar da dor 140

22

4.1.11. Reverberação

A reverberação é um fenômeno característico de ambientes fechados. Quando um som

é emitido em um ambiente fechado, ele se propaga em todas as direções devido aos

obstáculos e duraria indefinidamente se não houver absorção no ambiente.

O tempo de reverberação é definido como o tempo necessário para a energia sonora

decair de um milhão de vezes em relação à sua energia inicial, isto é, o tempo necessário para

o nível de decibéis decair em 60 dB e expressa a capacidade de absorção do ambiente.

4.1.12. Percepção

Se, num local onde as vibrações do ar forem imperceptíveis, emitirmos sons simples

com intensidade crescente até um valor perceptível, dizemos que para esta freqüência

atingirmos o limiar da percepção. Se o procedimento for repetido para todas as freqüências,

obteremos uma curva num gráfico intensidade x freqüência.

Se aumentarmos a intensidade para as mesmas freqüências até sentirmos dor,

chamaremos a esta curva de limiar da dor.

• Limiar da percepção: é a intensidade sonora mínima perceptível; varia conforma a

freqüência própria das vibrações;

• Limiar da dor: é a intensidade sonora máxima que o aparelho auditivo suporta sem

sofrimentos; onde o limiar da dor varia com a freqüência, porém menos do que a

limiar da percepção.

23

4.1.13. Curvas de igual sensação

Quando comparamos um som audível, de freqüência f, e uma certa intensidade I, com

sons de freqüências audíveis e intensidade variando até encontrarmos igual sensação, então

encontramos uma curva de igual sensação.

4.2. Ruído

4.2.1. Definição de ruído

O ruído, é de forma geral é qualquer som que seja desagradável, ou seja, é uma

questão subjetiva, por isso vários autores definem o ruído de diversas formas. Segundo

FIORILLO, “som é qualquer variação de pressão (no ar, na água, ...) que o ouvido humano

possa captar, enquanto ruído é o som ou um conjunto de sons indesejáveis, desagradáveis,

perturbadores. O critério de distinção é o agente perturbador, que pode ser variável,

envolvendo o fator psicológico de tolerância de cada individuo”.

SALIBA (2000) descreve, o ruído sob o ponto de vista da Higiene do Trabalho, como

“fenômeno físico vibratório com características indefinidas de variações de pressão (no caso

do ar) em função da freqüência, isto é, para uma dada freqüência podem existir, em forma

aleatória através do tempo, variações de diferentes pressões”.

Segundo RUSSO (1999), o ruído é um “sinal acústico, originado da superposição de

vários movimentos de vibração com diferentes freqüências as quais não apresentam relação

entre si”.

O ruído pode ser classificado quantitativa e qualitativamente. Quantitativamente, o

ruído é definido pelos atributos físicos indispensáveis para o processo de determinação de sua

nocividade – sua duração no tempo, espectro e de freqüência e os níveis de pressão sonora,

24

em dB. A classificação dos ruídos qualitativamente pode se dar de acordo com a variação de

seu nível de intensidade com o tempo. De acordo com a Norma ISO 2204/1973, a

classificação se dá da seguinte forma:

• Contínuos estacionários: ruído com variações de níveis desprezíveis durante o período

de observação;

• Contínuos não estacionários: ruídos cujo nível varia significativamente durante o

período de observação;

• Contínuo flutuante: ruído onde o nível varia continuamente de um valor apreciável

durante o período de observação;

• Ruído intermitente: ruído cujo nível, ao variar, cai ao valor do nível do ruído de fundo

várias vezes durante o período de observação;

• Ruído de impacto ou impulso: ruído que se apresenta em picos de energia acústica de

duração inferior a um segundo. É um fenômeno acústico associado a explosões ou

tiros de revolver, sendo mais nocivo à audição.

Foi realizada uma pesquisa para avaliar a sensação auditiva ao ruído, confrontando-se

a audibilidade de um tom de 1.000Hz, comparada a outras freqüências, à medida que a

intensidade sonora crescia. Foi traçada uma curva com base nesses dados, formada por todos

os sons que produzem igual sensação auditiva, a uma determinada intensidade, sempre com

referencia a freqüência de 1.000Hz. Com a zona de maior sensibilidade auditiva entre 3.000 e

4.000Hz, essas curvas foram denominadas de curvas de igual audibilidade ou curvas

isofônicas. Segundo GERGES (1992), para se obter uma curva que correspondesse bem à

resposta ao comportamento do ouvido humano, foram estabelecidas as curvas de

compensação “A”, “B”, “C” e “D”. O circuito “A” aproxima-se das curvas de igual

audibilidade para baixos níveis sonoros; os circuitos “B” e “C” são análogos ao circuito “A”,

25

porém respectivamente para médios e altos níveis sonoros. Somente o circuito “A” é

amplamente usado, uma vez que os circuitos “B” e “C” não fornecem boa correlação com

testes subjetivos. Quando os valores são ponderados segundo a curva “A”, os resultados das

medidas de nível de pressão sonora são descritos em dB(A). o circuito “D”, por sua vez foi

padronizado para as medições em aeroportos.

De acordo com GERGES (1992), o potencial de danos à audição de um determinado

ruído depende do seu nível e de sua duração. É possível estabelecer um valor único, Leq, ou

seja, o nível sonoro médio integrado durante uma faixa de tempo especificada. O calculo

matemático é baseado na energia do ruído (ou pressão sonora quadrática), segundo a equação

01:

Onde: Li – nível de pressão sonora em dB(A), lido em resposta rápida (fast) a cada 10

segundos, durante pelo menos 5 minutos;

n – numero total de leituras;

Leq – nível equivalente de pressão sonora (dBA).

O tempo de exposição ao ruído também pode influenciar de forma nociva à saúde

humana. Assim, é de grande preocupação a saúde dos trabalhadores que ficam expostos

durante um grande período de tempo ao ruído do ambiente de trabalho. Esse tipo de ruído é

chamado de ruído ocupacional ou profissional. Em muitos paises do mundo, esse tipo de

ruído já se tornou um dos maiores problemas para a saúde do trabalhador.

26

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estabelece três limites de ruído, para

os quais se devem tomar algumas providencias: limite de alerta para ruído de 85 dB (A);

limite de perigo para 90 dB (A); e acima de 115 dB (A) recomenda-se a utilização de

protetores auriculares individuais.

4.2.2. Efeitos do ruído

Na maior parte dos casos, os ruídos a que um homem é submetido podem ser

decompostos em um ruído de fundo, resultante de diversas fontes e de ruídos de fontes bem

definidas que sobressaem em meio aos outros.

O homem tem a tendência a aceitar bem os ruídos de fundo, quando estes apresentam

características estáveis em freqüência e duração, e níveis relativamente baixos.

A intensidade de ruídos estáveis suportáveis por um individuo é função direta de sua

atividade. Exemplificando: uma atividade intelectual requer maior silencio que uma atividade

manual, que não requer grande concentração. Podemos dizer que para uma atividade, quanto

maior o nível de ruído e a freqüência, maior é a perturbação.

O ouvido é o único sentido que jamais descansa, sequer durante o sono. Com isso, os

ruídos urbanos são motivos a que, durante o sono, o cérebro não descanse devidamente. Desta

forma, o problema dos ruídos excessivos não é apenas de gostar ou não, é, nos dias que

correm, uma questão de saúde.

27

4.2.3. Fontes de ruído

4.2.3.1. Ruído nas ruas

O trânsito é o grande causador do ruído na vida das grandes cidades. As características

dos veículos barulhentos são o escapamento furado ou enferrujado, as alterações no silencioso

ou no cano de descarga, as alterações no motor e os maus hábitos ao dirigir - acelerações e

freadas bruscas e o uso excessivo de buzina.

4.2.3.2. Ruído nas habitações

Condicionadores de ar, batedeiras, liquidificadores, enceradeiras, aspiradores,

maquinas de lavar, geladeiras, aparelhos de som e de massagem, televisores, secadores de

cabelo e tantos outros eletrodomésticos que podem estar presentes numa mesma residência,

funcionando simultaneamente.

4.2.3.3. Ruído nas indústrias

É dos mais importantes o papel da indústria na poluição sonora. Depois da primeira

grande guerra, foi que se verificou o aumento das doenças profissionais, notadamente a

surdez, além do aparecimento de outras moléstias, devidas ao desenvolvimento espantoso

trazido pelo surto industrial.

Em alguns países europeus, como a Suécia e a Alemanha, onde os dados estatísticos

retratam fielmente a realidade, é impressionante o numero de operários que, nas indústrias,

devido ao ruído, vêm sofrendo perda de audição.

28

4.2.3.4. Ruído dos aviões

A partida e a chegada de aviões a jato são acompanhadas de ruídos de grande

intensidade que perturbam sobremaneira os moradores das imediações

4.3. Poluição sonora

É importante destacar que a poluição sonora não é, ao contrário do que pode parecer

numa primeira análise, um mero problema de desconforto acústico. O ruído passou a

constituir atualmente um dos principais problemas ambientais dos grandes centros urbanos e,

eminentemente, uma preocupação com a saúde pública.

4.3.1. Conceito de poluição sonora

Segundo o inciso III do art. 3° da Lei n° 6.938/81, a poluição é:

"a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos".

Portanto, a poluição é qualquer alteração das propriedades biológicas, físicas, químicas

e sociais que possa interferir negativamente ao meio ambiente e à qualidade de vida da

população. Cada uma das espécies de poluição representa um tipo específico de alteração

negativa que um poluente pode produzir em um determinado ecossistema. Sendo assim, a

poluição sonora é uma grave forma de poluição do meio ambiente.

No entendimento de Luís Paulo Sirvinskas, a poluição sonora é a emissão de ruídos

indesejáveis de forma continuada e em desrespeito aos níveis legais que, dentro de um

determinado período de tempo, ameaçam a saúde humana e o bem-estar da coletividade.

29

É importante destacar que se o ser humano apreende o meio ambiente e a própria

realidade através de seus sentidos, é também por meio desses sentidos que a poluição se faz

perceber. De modo que é por meio da audição, do olfato, do paladar, do tato e da visão que

todo e qualquer tipo de poluição chega ao ser humano, seja de forma mais direta ou menos

direta, o que obviamente também ocorre com a poluição sonora em relação à audição.

Ao contrario de outros modos de poluição, nos quais os residuos das atividades

humanas são gerados e descartados na forma de matéria, podendo causar danos aos

ecossistemas, os resíduos da poluição sonora estão na forma de energia e geralmente

permanecem por curtos períodos de tempo nos ecossistemas.

4.3.2. Limites legais para a poluição sonora

Por se tratar de problema social difuso, a poluição sonora deve ser combatida pelo

poder público e pela sociedade, individualmente, com ações judiciais de cada prejudicado, ou

coletivamente, através da ação civil pública (Lei 7.347/85), para garantia do direito ao

sossego público, o qual está resguardado pelo artigo 225 da Constituição Federal.

Segundo MEIRELES, H. L. (1981),

“Embora seja certo que quem elege cidade grande para viver deve suportar o ônus que isso apresenta, todavia é dever do Poder Público amenizar o quanto possível a propagação de ruídos incômodos aos habitantes, principalmente em horário de repouso. O rumor das indústrias, a agitação do comércio se impõem aos cidadãos como ônus normais da vida urbana, em contraprestação das múltiplas vantagens que essas atividades proporcionam, mas o ruído anormal, excessivo, insuportável, principalmente à noite, apresenta-se como antijurídico”.

Como já foi citada, a questão da poluição é definida no art. 3, III, da Lei 6.938/81. A

Lei 9.605/98, que trata dos crimes ambientais, em seu artigo 54, configura crime “causar

30

poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar danos à saúde

humana...”, o que inclui aqui, a poluição sonora pelas conseqüências que produz.

Em seguida, estão listadas as principais leis vigentes no pais a respeito de poluição

acústica:

• Lei 8.078/90 do Código do Consumidor: proíbe o fornecimento de produtos e serviços

potencialmente nocivos ou prejudiciais à saúde (artigo 10), podendo-se considerar

como tais os que produzem poluição sonora.

• Resolução CONAMA 008/93: estabelece limites máximos de ruídos para vários tipos

de veículos automotores.

• Lei 6.938/81: de acordo com o inciso II do artigo 6°, a normatização e estabelecimento

de padrões compatíveis com o meio ambiente equilibrado e necessário à sadia

qualidade de vida, é atribuído ao CONAMA.

A identificação entre som e ruído é feita através da utilização de unidades de medição

do nível de ruído. Com isso, definem-se, também, os padrões de emissão aceitáveis e

inaceitáveis, criando-se e permitindo-se a verificação do ponto limítrofe com o ruído. O nível

de intensidade sonora se expressa habitualmente em decibéis (dB) e é apurada com a

utilização de um aparelho chamado decibelímetro.

No que diz respeito à ruído, a tutela jurídica do meio ambiente e da saúde humana é

regulada pela Resolução do CONAMA 001, de 08 de março de 1990, que considera um

problema os níveis excessivos de ruídos bem como a deterioração da qualidade de vida

causada pela poluição.

31

Esta Resolução adota os padrões estabelecidos pela Associação Brasileira de Normas

Técnicas – ABNT e pela Norma Brasileira Regulamentar – NBR 10.151, de junho de 2000,

reedição.

A Resolução 001/90 do CONAMA, nos seus itens I e II, dispõe:

I – A emissão de ruídos, em decorrência de quaisquer atividades industriais, comerciais, sociais ou recreativas, inclusive as de propaganda política. Obedecerá, no interesse da saúde, do sossego público, aos padrões, critérios e diretrizes estabelecidos nesta Resolução. II – São prejudiciais à saúde e ao sossego público, para os fins do item anterior as ruídos com níveis superiores aos considerados aceitáveis pela norma NBR 10.151 - Avaliação do Ruído em Áreas Habitadas visando o conforto da comunidade, da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.

A NBR 10.151 dispõe sobre a avaliação do ruído em áreas habitadas, visando o

conforto da comunidade. Esta Norma fixa as condições exigíveis para a avaliação da

aceitabilidade do ruído em comunidades, independentemente da existência de reclamações,

conforme mostra a tabela 4.5.

Tabela 4.5 – Nível de critério de avaliação (NCA) para ambientes externos, em dB(A) Tipos de áreas Diurno Noturno

Áreas de sítios e fazendas 40 35

Áreas estritamente residencial urbana ou de hospitais ou

de escolas 50 45

Área mista, predominantemente residencial 55 50

Área mista, com vocação comercial e administrativa 60 55

Área mista, com vocação recreacional 65 55

Área predominantemente industrial 70 60

32

Além da NBR 10.151, tem-se a NBR 10.152, que trata dos níveis de ruídos para

conforto acústico, estabelecendo os limites máximos em decibéis a serem adotados em

determinados locais fechados.

O CONAMA considerando que o crescimento demográfico descontrolado ocorrido

nos centros urbanos acarretam uma concentração de diversos tipos de fontes de poluição

sonora, sendo fundamental o estabelecimento de normas, métodos e ações para controlar o

ruído excessivo que possa interferir na saúde e bem-estar da população, estabeleceu a

Resolução 002, de 08 de março de 1990, que veio a instituir o Programa Nacional de

Educação e Controle da Poluição Sonora – Silêncio, com o seguinte objetivo:

a) Promover cursos técnicos para capacitar pessoal e controlar os problemas de poluição

sonora nos órgãos de meio ambiente estaduais e municipais em todo o país;

b) Divulgar junto à população, através dos meios de comunicação disponíveis, matéria

educativa e conscientizadora dos efeitos prejudiciais causados pelo excesso de ruído;

c) Introduzir o tema "poluição sonora" nos cursos secundários da rede oficial e privada

de ensino, através de um Programa de Educação Nacional;

d) Incentivar a fabricação e uso de máquinas, motores, equipamentos e dispositivos com

menor intensidade de ruído quando de sua utilização na indústria, veículos em geral,

construção civil, utilidades domésticas, etc.

e) Incentivar a capacitação de recursos humanos e apoio técnico e logístico dentro da

política civil e militar para receber denúncias e tomar providências de combate para

receber denúncias e tomar providências de combate a poluição sonora urbana em todo

o Território Nacional;

f) Estabelecer convênios, contratos e atividades afins com órgãos e entidades que, direta

ou indiretamente, possa contribuir para o desenvolvimento do Programa SILÊNCIO.

33

A coordenação do Programa Silêncio é de responsabilidade do IBAMA – Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis que deverá contar com a

participação de Ministérios do Poder Executivo, órgãos estaduais e municipais do Meio

Ambiente.

No Brasil, a exposição do trabalhador a níveis de ruídos elevados é regulamentada

pelas Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho. A norma NR15 define um

critério de insalubridade que visa a proteção da saúde do trabalhador e estabelece os limites

máximos de exposição ao ruído e às condições de avaliação e condutas que devem ser

seguidas para a constatação do grau de insalubridade no trabalhador, conforme apresenta a

tabela 4.6.

34

Tabela 4.6 – Limites de tolerância para ruídos contínuos ou intermitentes Nível de ruído (dBA) Máxima exposição diária permissível

85 8 horas

86 7 horas

87 6 horas

88 5 horas

89 4 horas e 30 minutos

90 4 horas

91 3 horas e 30 minutos

92 3 horas

93 2 horas e 40 minutos

94 2 horas e 15 minutos

95 2 horas

96 1 hora e 45 minutos

98 1 hora e 15 minutos

100 1 hora

102 45 minutos

104 35 minutos

105 30 minutos

106 25 minutos

108 20 minutos

110 15 minutos

112 10 minutos

114 8 minutos

115 7 minutos

35

4.4. Efeitos da poluição sonora no organismo humano

De acordo com GERGES (1992), o ouvido humano é o mais sofisticado sensor do

som, porém quando exposto ao ruído por tempo prolongado pode haver deterioração do

sistema auditivo. O mesmo autor enfatiza a necessidade de se manter os dois ouvidos sem

perda de sensibilidade, pois a percepção da direção do som ocorre através do processo de

correlação cruzada entre os dois ouvidos.

RUSSO (1999) diz que o ouvido humano é dotado de mecanismos protetores que, ao

serem expostos ao ruído, alteram a sensibilidade auditiva durante e após a estimulação

acústica, sofrendo a ação do fenômeno descrito como mascaramento. A percepção do som,

então, é diminuída na presença de um ruído de maior intensidade que encobre o som inicial.

Quando a sensibilidade auditiva é reduzida durante um estímulo sonoro intenso e

duradouro, diz-se que houve adaptação auditiva. Quando, porém, isso ocorre somente após

cessar o estímulo, diz-se que houve fadiga auditiva, também chamada de mudança temporária

no limiar.

O ruído de até Leq 50 dB(A) no homem em vigília pode ser perturbador, mas ele se

adapta. A partir de 55 dB(A) começa a provocar estresse leve. O estresse degradativo do

organismo começa a cerca de 65 dB(A) com desequilíbrio bioquímico, aumentando o risco de

enfarte, derrame cerebral, infecções, osteoporose etc. Provavelmente a 80 dB(A) já libera

morfinas biológicas no corpo, provocando prazer e completando o quadro de dependência,

conforme PIMENTEL- SOUZA (2002).

Segundo CARMO (1999), o ruído afeta o organismo humano de várias maneiras,

causando prejuízos ao funcionamento auditivo, bem como o comprometimento da atividade

36

física, fisiológica e mental do indivíduo a ele exposto. Os efeitos nocivos do ruído ao ser

humano podem ocasionar a ação direta no sistema auditivo e também extra auditivo .

4.4.1. Efeitos auditivos

Segundo SALIBA (2000), a perda auditiva induzida pelo ruído (PAIR) é causada

devido à exposição continuada e prolongada dos trabalhadores a níveis elevados de ruído e

pode ser classificada em três tipos: trauma acústico, perda auditiva temporária e perda

auditiva permanente.

• Trauma Acústico – consiste na perda auditiva de instalação súbita, provocada

por ruído repentino e de grande intensidade, como uma explosão ou uma

detonação. Em alguns casos, a audição pode ser recuperada total ou

parcialmente com tratamento (antiinflamatórios, expansores do plasma e

ativadores da microcirculação). Eventualmente, o trauma acústico pode

acompanhar-se de ruptura da membrana timpânica e/ou desarticulação da

cadeia ossicular, o que pode exigir tratamento cirúrgico;

• Perda Auditiva Temporária – conhecida, também, como mudança temporária

do limiar de audição, ocorre após a exposição a ruído intenso, por um curto

período de tempo. Um ruído capaz de provocar uma perda temporária será

capaz de provocar uma perda permanente, após longa exposição. A

recomendação internacional é de que haja 14 horas de repouso acústico antes

da realização do exame audiométrico;

• Perda Auditiva Permanente – A exposição repetida ao ruído excessivo pode

levar, em alguns anos, à perda auditiva irreversível – permanente, conhecida

como “PAIR”, ocorrendo devido à exposição ao ruído em altas freqüências,

entre 3000 e 6000 Hz.

37

4.4.2. Efeitos extra-auditivos

Os efeitos extra-auditivos podem ser mais prejudiciais e complexos dos que os efeitos

provocados por outra estimulação sensorial, segundo RUSSO et al (1993).

OKAMOTO et al (1997), relatam pesquisas de Laid, cujo resultado evidenciou que a

exposição a ruído contínuo diminui a habilidade e o rendimento do indivíduo, acarretando um

provável aumento de acidentes de trabalho.

O ruído age diretamente sobre o calibre vascular, podendo desencadear hipertensão

arterial leve à moderada, taquicardia, aumento da viscosidade sangüínea, influenciando,

assim, a oxigenação das células e levando a possíveis alterações teciduais, de acordo com

ANDRADE et al. (1998). A reação visual à exposição ao ruído é a dilatação da pupila.

Se o ruído é excessivo, o corpo ativa o sistema nervoso, que o prepara contra o ataque

de um inimigo invisível, sem pegadas, que invade todo o meio ambiente pelas menores frestas

por onde passa o ar ou por toda ligação rígida à fonte ruidosa. O cérebro acelera-se e os

músculos consomem-se sem motivo. Sintomas secundários aparecem: aumento de pressão

arterial, paralisação do estômago e intestino, má irrigação da pele e até mesmo impotência

sexual.

A ativação permanente do sistema nervoso simpático do morador de uma região

ruidosa pode condicionar negativamente a sua atuação com as agressões. A falta de irrigação

muscular pode levar a gangrena nos membros. O corpo cai na pior contradição: atacado sem

saber bem por que e como se defender, devido ao bloqueio das reações naturais do organismo.

É um conflito, gerador de ansiedade, já que o nível de ruído em nosso ambiente urbano está

38

quase sempre acima dos limites do equilíbrio, e abre caminho para estresses crônicos. Certas

áreas do cérebro acabam perdendo a sensibilidade a neurotransmissores, rompendo o delicado

mecanismo de controle hormonal. Esse processo aparece também no envelhecimento normal

e ataca os mais jovens, que se tornam prematuramente velhos num ambiente estressante. Os

efeitos no sono não são menos importantes pela sua nobre função.

As alterações neuropsíquicas mais freqüentes que podem decorrer da exposição ao

ruído são: ansiedade, inquietude, desconfiança, insegurança, pessimismo, depressão, alteração

de sono/vigília, irritabilidade e agitação, falta de memória e atenção. As pessoas expostas por

um período longo de tempo são as mais afetadas. Tal exposição, também, pode ser

responsável por altas taxas de absenteísmo, cefaléia e acidentes de trabalho ou acidentes de

trânsito.

Assim, em sentido geral, os efeitos do ruído sobre o homem podem englobar-se nas

seguintes categorias que evidentemente não são independentes, ocorrendo, muitas vezes,

largas zonas de sobreposição:

• Afetação da audição, alterando a gama de percepção do som audível,

provocando dor e podendo mesmo danificar de forma irreversível o mecanismo

fisiológico da audição;

• Perturbações fisiológicas diversas, tais como flutuações das pulsações

cardíacas, da tensão arterial e de vaso dilatação dos vasos periféricos e, ainda,

contração dos músculos das vísceras e modificações do funcionamento das

glândulas endócrinas;

• Perturbações do sono, dificuldade em adormecer e menor duração de certas

fases do sono;

39

• Perturbações de atividades várias; os efeitos do ruído sobre as atividades

dependem do tipo de atividade e das características dos indivíduos, mas, em

geral, o ruído provoca uma diminuição do rendimento do trabalho e um

aumento do número de erros ou de acidentes;

• Interferência na comunicação oral.

Em geral, o ruído incomoda quando, por exemplo, sobrepõe-se e mascara uma

informação desejada, evoca coisas desagradáveis, implica demasiadas informações inúteis ou

é incompreensível. Situações incômodas provocadas pelo ruído podem originar no receptor

reações várias, dentre as quais de irritabilidade, medo e violência.

A perda da audição em conseqüência da exposição a ambientes acusticamente

agressivos caracteriza-se pelo fato da banda de freqüência, onde se detecta em primeiro lugar

o desvio do limiar de audição, localizar-se na vizinhança de 4000 Hz. Com a continuação da

exposição, dar-se-á o alastramento da afetação para outras bandas de freqüência.

Também foi observado que em certos tipos de atividades, como as de longa duração e

que requerem contínua e muita atenção, um nível acima de 90 dB afeta desfavoravelmente a

produtividade, bem como a qualidade do produto. Calcula-se que um indivíduo normal

precisa gastar aproximadamente 20% de energia extra para realizar uma tarefa, sob efeito de

um ruído perturbador intenso.

Assim, sempre que for possível, com o objetivo de se proteger, deve-se evitar a

exposição a um nível de pressão sonora acima de 100 dB(A), pois os danos à audição devido

à exposição permanente a ambientes ruidosos são cumulativos e irreversíveis.

40

4.5. Efeitos da poluição sonora em plantas e animais

Segundo os zoólogos, as maiores dificuldades de adaptação dos animais ao cativeiro,

decorrem principalmente do barulho artificial das grandes cidades. Tal ruído também pode

causar nos animais domésticos, problemas de saúde semelhante ou até mais acentuado ao

causado no organismo humano, uma vez que cada espécie animal tem o seu limiar auditivo.

Cabe citar aqui, que as vibrações sonoras produzidas por motores de avião provocam a

mudança de postura das aves e diminuição de sua produtividade.

Pesquisadores dos EUA, estudando os efeitos do ruído sobre as plantas, fizeram uma

experiência com as do gênero Coleus, possuidoras de grandes folhas coloridas e flores azuis.

Doze dessas plantas, submetidas continuamente ao ruído de 100 dB, após seis dias

apresentaram a redução de 47% em seu crescimento por causa, segundo os cientistas, da

estridência persistente, que as fez perder grande quantidade de água através das folhas.

4.6. Formas de prevenção contra os danos causados pela poluição sonora

Como já foi dito anteriormente, a poluição acústica é muito difícil de ser eliminada.

Porém, existem algumas medidas que podem ser tomadas para se prevenir dos efeitos da

poluição sonora, ou mitigá-las, como:

• Redução do ruído e demais sons poluentes na fonte emissora;

• Redução do período de exposição (principalmente para pessoas expostas

continuamente a processos que geram muito ruído), quando não for possível a

neutralização do risco pelo uso de proteção adequada;

• Educação da população;

• Uso de proteção nos ouvidos adequada ao risco auditivo;

41

• Ao ouvir música colocar o som com volume adequado ao "Ambiente", evitando-se o

volume alto. Não sendo possível, não permanecer por tempo prolongado em ambientes

onde se tenha que gritar para ser ouvido pelo interlocutor à distância de um metro;

• Criar barreira contra o ruído: barreiras de vegetação, paredes ou muros de diferentes

alturas e materiais, instalados entre uma fonte de ruído (indústria, máquinas,

rolamento de automóveis em uma estrada etc.) e os receptores (habitantes).

42

5. MATERIAIS E MÉTODOS

5.1. Área de estudo

O Município de São Carlos está localizado na região centro-norte do Estado de São

Paulo, entre as coordenadas geográficas de 21º35’45” e 22º09’30” de latitude sul e 47º43’04”

e 48º05’26” de longitude oeste

O município possui hoje 197,187 mil habitantes que estão distribuídos numa área total

de 1140,9 km2.

Na figura 5.1 pode-se ter uma noção da distribuição do perímetro urbano e do centro

comercial do município de São Carlos.

43

Figura 1. Mapa da região urbana do município de São Carlos

5.2. Local de coleta de dados

Para a coleta de dados foram escolhidos pontos críticos de ruídos, levando em

consideração o fluxo de pessoas, de carros e de ônibus, o número de pessoas que ficam

expostas ao ruído continuamente por longos períodos de tempo e a disponibilidade de espaço

necessário para realização da coleta de dados. Através de uma pré-analise, considerando os

aspectos mencionados, foram escolhidos o pátio do mercado municipal e a rua General Osório

(“calçadão”1), representados na figura 5.2. Todos os pontos escolhidos estão localizados no

1 “Calçadão “ é o que se convencionou chamar as ruas destinadas somente aos pedestres. Neste caso, a Rua General Osório, onde está concentrado o comércio e os consumidores podem circular a pé, sem a intervenção de automóveis.

44

centro comercial de São Carlos, que concentra um grande número de lojas, bancos e barracas

(“camelódromo”2), o que faz com que possua um grande fluxo de pessoas e de veículos.

Figura 2. Localização dos pontos de medição

5.2.1. Mercado Municipal

O mercado municipal de São Carlos está localizado entre duas ruas importantes,

Avenida São Carlos e Rua Episcopal, com grande fluxo de veículos e de pessoas. Todos os

quarteirões que rodeiam o mercado possuem uma grande concentração de lojas, dentre elas,

até uma escola de informática.

Na parte frontal ao pátio, existem alguns bancos de praça, onde muitos idosos passam

o dia conversando e normalmente freqüentam diariamente o local. Também ocorrem no pátio

do mercado, eventos voltados para os cidadãos.

2 “Camelódromo” é o nome utilizado para o recinto onde se concentram diversos vendedores ambulantes. No município de São Carlos, existe uma região que foi dividida em pontos para a regularização de tais vendedores.

45

Figura 3. Região do Mercado Municipal

A Avenida São Carlos está inclusa na rota de todas as linhas de ônibus circulares da

cidade, e a maioria dessas linhas passam pela região do mercado municipal. Além do grande

fluxo de ônibus fretado e de veículos que nela circulam, pois a avenida praticamente atravessa

o município.

46

Figura 4. Avenida São Carlos

5.2.2. Rua General Osório (“calçadão”)

A Rua General Osório, popularmente conhecida como “calçadão” é uma rua onde não

é permitida a passagem de veículos, apenas os pedestres circulam nela. A rua tem extensão de

dois quarteirões, e ao longo dela situam se lojas populares variadas. Algumas dessas lojas

utilizam som com microfone ou musica para chamar a atenção dos consumidores. As três ruas

que cortam o “calçadão” perpendicularmente são a Avenida São Carlos, Rua Episcopal e Rua

Nove de Julho. A Rua Episcopal também comporta um grande fluxo de veículos, porém,

menor que a Avenida São Carlos.

47

Figura 5. Rua General Osório

5.3. Equipamentos utilizados

O equipamento utilizado para as medições foi o medidor de nível de pressão sonora da

marca Quest Technologies, modelo 2700, com as seguintes características:

• Escala de medição para medidas rápidas e exatas do nível de som em escalas

de pesagens “A”, “B” e “C”;

• 4 escalas selecionáveis, 20 a 80, 40 a 100, 60 a 120 e 80 a 140 dB(A);

• Precisão conforme ANSI S1.4 tipo 2;

• Calibrador QC-10 de 114 dB, 1000 Hz;

• Microfone com condensador elétrico de 12,7mm de Ø.

O aparelho utilizado foi fornecido pelo Departamento de Arquitetura e Urbanismo da

EESC-USP.

48

Figura 6. Decibelímetro Quest Technologies modelo 2700, utilizado para medições

5.4. Procedimentos para a coleta de dados

A área foi escolhida de modo que fosse possível atender as especificações da NBR

10151 item 5:

5 Procedimento de medição 5.1 Condições gerais No levantamento de níveis de ruído deve-se medir externamente aos limites da propriedade que contém a fonte, de acordo com 5.2.1. Na ocorrência de reclamações, as medições devem ser efetuadas nas condições locais indicadas pelo reclamante, de acordo com 5.2.2 e 5.3, devendo ser atendidas as demais condições gerais. Em alguns casos, para se obter uma melhor avaliação do incômodo à comunidade são necessárias correções nos valores medidos dos níveis de pressão sonora, se o ruído apresentar características especiais. A aplicação dessas correções, conforme 5.4, fornece o nível de pressão sonora corrigido ou simplesmente nível corrigido (Lc).

49

Todos os valores medidos do nível de pressão sonora devem ser aproximados ao valor inteiro mais próximo. Não devem ser efetuadas medições na existência de interferências audíveis advindas de fenômenos da natureza (por exemplo: trovões, chuvas fortes etc.). O tempo de medição deve ser escolhido de forma a permitir a caracterização do ruído em questão. A medição pode envolver uma única amostra ou uma seqüência delas. 5.2 Medições no exterior de edificações Deve-se previnir o efeito de ventos sobre o microfone com o uso de protetor, conforme instruções do fabricante: 5.2.1 No exterior das edificações que contêm a fonte, as medições devem ser efetuadas em pontos afastados aproximadamente 1,2m do piso e pelo menos 2m do limite da propriedade e de quaisquer outras superfícies refletoras, como muros, paredes etc. Na impossibilidade de atender alguma destas recomendações, a descrição da situação medida deve constar no relatório. 5.2.2 No exterior da habitação do reclamante, as medições devem ser efetuadas em pontos afastados aproximadamente 1,2m do piso e pelo menos 2m de quaisquer outras superfícies refletoras, como muros, paredes etc. Caso o reclamante indique algum ponto de medição que não atenda as condições de 5.2.1 e 5.2.2, o valor medido neste ponto também deve constar no relatório.

Foram feitas 30 medições, registradas em resposta rápida (fast) a cada dez segundos

durante cinco minutos a cada ponto em escala de ponderação “A”. Para, posteriormente,

calcular o nível de pressão sonora equivalente, Leq em dB(A) a cada ponto determinado,

através da expressão matemática (01)3.

Foram realizadas medições dos níveis de pressão sonora em dois dias, e cada dia dois

horários. Os dias de medição foram 21/06/2008 (sábado) e 03/06/2009 (quarta-feira). O

sábado foi escolhido por ser o dia de maior movimento no comércio e a quarta-feira para que

se pudesse ter uma comparativa com um dia de rotina normal do centro comercial de São

Carlos. A primeira medição foi realizada entre 8h 00min até 8h 30min, ainda antes da abertura

do comércio e das 11h 30min às 12 horas, horário de maior movimento no centro comercial

em ambos os dias.

3 Equação (1):

50

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

No total, foram feitos para dois pontos 30 medições com intervalo de 10 segundos

durante um intervalo de 5 minutos, em dois horários (8:00 e 11:30) e dois dias (21/06/2008 e

03/06/2009). O ponto 1 está localizado no pátio do Mercado Municipal e o ponto 2 na Rua

General Osório. Na tabela - 6.1 constam todas as medições realizadas.

51

Tabela 6.1 – Medições do nível de pressão sonora em dB(A) em 21/06/2008 e 03/06/2009

Ponto 1 Ponto 2

21/6/2008 3/6/2009 21/6/2008 3/6/2009 Número

de Medições 8:00 11:30 8:00 11:30 8:15 11:45 8:15 11:45

1 44 74 57 62 48 70 59 68 2 47 76 53 72 47 72 59 64 3 55 73 61 74 51 71 57 58 4 48 71 60 69 48 66 56 59 5 53 70 53 70 48 67 58 62 6 49 74 57 67 57 73 52 65 7 53 71 59 70 51 68 55 62 8 46 67 52 72 44 67 51 64 9 62 64 55 70 49 64 58 65

10 57 72 55 65 43 68 52 69 11 58 77 52 68 47 70 50 67 12 55 80 46 71 51 67 44 62 13 53 69 49 73 54 70 45 65 14 50 76 48 73 48 72 50 66 15 54 73 54 74 43 71 49 68 16 51 77 53 74 47 68 50 71 17 53 76 50 69 52 69 56 71 18 48 81 44 69 48 72 52 76 19 58 77 47 65 58 73 51 68 20 71 75 46 67 54 75 58 62 21 59 75 50 69 54 75 54 64 22 55 75 50 68 55 75 54 67 23 48 73 55 72 47 73 57 69 24 46 72 53 71 53 72 51 65 25 46 74 50 71 47 74 46 68 26 57 74 58 68 42 74 48 65 27 52 68 58 69 47 73 47 63 28 65 68 57 66 45 74 45 72 29 59 71 56 68 48 71 50 72 30 59 72 52 71 43 71 52 72

52

Por meio do calculo da equação (01)4 e dos dados obtidos, foi calculado o nível

equivalente de pressão sonora (Leq) para as oito medições efetuadas. A tabela 6.2 (refernede

ao dia 21/06/2008) e 6.3 (referente ao dia 03/06/2009) dispõe os resultados obtidos.

Tabela 6.2 – Níveis equivalentes de pressão sonora em dB(A) obtidos em 21/06/2008

Medições Local e Horário

LAeq LAmin LAmáx

M1 P1 - 8:00 59 44 71 M2 P2 - 8:15 51 42 58 M3 P1 - 11:30 75 68 81 M4 P2 - 11:45 71 66 75

Tabela 6.3 – Níveis equivalentes de pressão sonora em dB(A) obtidos em 03/06/2009

Medições Local e Horário

LAeq LAmin LAmáx

M5 P1 - 8:00 55 44 61 M6 P2 - 8:15 54 44 58 M7 P1 - 11:30 70 62 74 M8 P2 - 11:45 68 58 76

De acordo com a NBR 10151, a área de estudo se enquadraria na modalidade de “área

mista, com vocação comercial e administrativa, ou seja, o NCA para essa área é de 60 dB(A)

durante o dia e 55 dB(A) para o período noturno. Como uma das medições foi realizada num

sábado, a norma estipula que o período noturno não deve acabar antes das 9 hora da manhã.

Levando em consideração as especificações, pode-se observar que apenas M2 e M6

estão dentro do limite estipulado. Porem, como o centro comercial de São Carlos possui

atividade aos sábados (exceto bancos), pode-se considerar que o valor obtido em M1 também

é aceitável.

4 Equação (1):

53

Já os níveis equivalentes de pressão sonora obtidos em M3, M4, M7 e M8 estão bem

acima do nível recomendado. Porem, o mais preocupante nesse resultado é que existem

inúmeras pessoas que ficam expostas continuamente, por um período de ate 8 horas diárias,

ou por um curto período de tempo, mas com uma freqüência alta. O risco à saúde devido a

essa exposição é alto, pois longas exposições à ruídos intensos podem causar surdez

(temporária ou permanente), desequilíbrios psíquicos (como insônia ou ate mesmo perda de

capacidade intelectual) e até complicações físicas no organismo (como trauma acústico),

como cita SOUZA (2006) em seu estudo.

54

7. CONCLUSÃO

Quando andamos no centro comercial de São Carlos não percebemos quão ruidoso o

ambiente está, pois já estamos “acostumados” a esse ruído. Esse fenomedo pode ser explicado

pela pesquisa realizada por RUSSO (1999), que indica que o ouvido humano é dotado de

mecanismos protetores que, ao serem expostos ao ruído, alteram a sensibilidade auditiva

durante e após a estimulação acústica, sofrendo a ação do fenômeno descrito como

mascaramento. A percepção do som então é diminuída na presença de um ruído de maior

intensidade que encobre o som inicial. Quando a sensibilidade auditiva é reduzida durante um

estímulo sonoro intenso e duradouro, diz-se que houve adaptação auditiva. Porem, com as

pesquisas realizadas por autores como OKAMOTO et al (1997), ANDRADE et al (1998),

Russo (1999) e SALIBA (2000), entre outros, ficou claro que a exposição a esse ruído de

forma continua pode acarretar em sérios problemas de saúde, tanto física quanto psíquica,

como reações psicológicas (perda de atenção, irritação, estresse, etc) e reações físicas (surdez

temporário ou permanente, neurológicas, etc).

Desta forma, esse ambiente pode até não causar grandes danos a pessoas que

freqüentam esporadicamente o local, porem pode ser um grande risco aos trabalhadores da

região que estão expostos diariamente por longos períodos de tempo à essa poluição.

Segundo FARIAS (2006), existe uma crescente preocupação da população em relação

à exposição à ruídos, porém, essa preocupação está ligada ao incomodo que esse ruído causa

às pessoas em sua residência do que à questão de sua saúde. Porém, é de grande importância

que a população seja informada das conseqüências que o ruído pode causar as sua saúde.

Como ação mitigadora, o fluxo de veículos da região poderia ser reorganizada,

descentralizando o tráfego de ônibus e tomando medidas que desafogassem o centro

55

comercial do município. O trabalho de conscientização da população para diminuir o fluxo de

veículos na região e realizar sempre a manutenção de seus veículos é essencial.

Como medidas preventivas, a prefeitura deve seguir a divisão de uso e ocupação do

solo, estabelecido no plano diretor do município de São Carlos, para evitar que novas áreas

sejam atingidas pela poluição sonora. É importante que haja um planejamento da cidade de

modo que descentralize o fluxo de veículos e ônibus na cidade, não só no centro comercial.

Um grande problema é o ônibus circular, pois não há como tirar o centro comercial da

rota das linhas de ônibus circular. Portanto, a medida cabível é que a prefeitura fiscalize as

frotas e exija que as empresas façam a manutenção dos veículos periodicamente, para evitar

barulhos excessivos derivados dos ônibus.

E por fim, a medida mais trivial, mas que muitas vezes é descumprida, a fiscalização

sobre veículos de passeio sem a devida manutenção (motores e escapamentos com barulho),

veículos de som que circulam na região (e em todo o município) e alto-falante das lojas, onde

os vendedores anunciam no microfone ou colocam musica alta para atrair a atenção do

consumidor.

Todas as medidas aqui citadas não são exclusivas para o centro comercial de São

Carlos, mas podem ser aplicadas em qualquer região do município.

56

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, D.R. de; FINKLER, C.; CLOSS, M. ; MARINI, A .L.; CAPP, E. Efeitos do

ruído industrial no organismo. Revista Pró-Fono, v. 10, n. 1, 1998.

ANTUNES, S. P. M. et al. Estudo de Caso: Restaurante Central EESC-USP SÃO

CARLOS – Avaliação da Exposição do Trabalhador ao Ruído. VI Encontro Nacional e

III Encontro Latino-Americano sobre Conforto no Ambiente Construído. ANAIS. São Pedro,

2001.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR 10.151:2000. Acústica –

Avaliação do Ruído em Áreas Habitadas Visando o Conforto da Comunidade –

Procedimento. ABNT. Rio de Janeiro, 1998.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR 10.152:1987. Acústica –

Avaliação do Ruído Ambiente em Recintos de Edificação Visando o Conforto dos

Usuários – Procedimento. ABNT. Rio de Janeiro, 1987.

BRAGA, B. et. al. Introdução À Engenharia Ambiental. São Paulo, 2002.

CONAMA N° 01/90- Emissão de ruídos, em decorrência de quaisquer atividades

industriais, comerciais, sociais ou recreativas, determinando padrões, critérios e

diretrizes. Disponível na Internet através do site: <www.lei.adv.br/conama01.htm>.

Acessado em 29/05/2008.

CONAMA N°02/90- Institui em caráter nacional o Programa Nacional de Educação e

Controle da Poluição Sonora- SILÊNCIO. Disponível na Internet através do site:

<www.lei.adv.br/conama01.htm>. Acessado em 15/06/2008.

57

CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Diário Oficial da União, Brasília, 1988.

FARIAS, T. Análise Jurídica da Poluição Sonora. Jus Navigandi, Volume 11. Teresina,

2007.

FIORILLO, C. A. P. Curso de direito ambiental brasileiro. São Paulo, 2003.

GERGES, S. N. Y. Ruídos: fundamentos e controle. Florianópolis, 1992.

KUSAKAWA, M. S. Análise do Conforto Acústico em Shopping Center: Um Estudo de

Caso. Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil, UFSC, 2002.

MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO – MTE. NR 15 – Atividades de Operações

Insalubres. Disponível na Internet através do site: <www.fundacentro.sc.gov.br>. Acessado

em 29/05/2008.

MEIRELES, H. L. Direito Municipal Brasileiro. Revista dos Tribunais. São Paulo, 1981.

NASCIMENTO, R. G., GODOY, R. M. B., SOUTO Jr. C.A., UEHARA, G. T. Avaliação da

Poluição Sonora na UNICAMP. Revista Ciências do Ambiente On-Line, Volume 3,

Número 1, 2007.

OKAMOTO, V. A.; GATTAZ, G. Emissões otoacústicas: conceito básico e aplicações

clínicas. Arquivos da Fundação Otorrinolaringologia. V. 1, n. 2, 1997.

PIMENTEL-SOUZA, F; Efeitos da poluição sonora no sono e na saúde em geral-ênfase

urbana. Disponível na Internet através do site: <www.icb.ufmg.br/lpf/2-1.html>. Acessado

em 14/05/2008.

RUSSO, I. C. P. Acústica e Psicoacústica Aplicadas a Fonoaudiologia. São Paulo, 1999.

58

RUSSO, I. C. P.; SANTOS, T.M.M. A prática da audiologia clínica. São Paulo, 1993.

SALIBA, T. M. Manual Prático de Avaliação e Controle de Ruído. São Paulo, 2000.

SÃO CARLOS. Plano Diretor do Município de São Carlos. Lei n° 13.691 de 25 de

novembro de 2005.

SELIGMAN, J.; IBANEZ, R. N. Perda Auditiva Induzida pelo Ruído. Porto Alegre, 1997.

SIH, T. A Poluição Sonora e a Criança. Manual de otorrinolaringologia pediátrica da Iapo.

São Paulo, 1997.

SIRVINSKAS, L. P. Manual de direito ambiental. São Paulo, 2005.

SOUZA, F. P. A Poluição Sonora Ataca Traiçoeiramente o Corpo. Disponível na Internet

através do site: <http://www.icb.ufmg.br/lpf/2-14.html>. Acessado em 18/05/2008.

ZORZAL, F. M. B. Estudo do Ruído Frente à Legislação Ambiental Municipal da

Cidade de Curitiba. Disponível na Internet através do site:

<http://www.bvsde.paho.org/bvsacd/abes22/ccxli.pdf>. Acessado em 15/05/2008.