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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS
DEPARTAMENTO DE HIDRÁULICA E SANEAMENTO
Curso de Graduação em Engenharia Ambiental
AVALIAÇÃO DA POLUIÇÃO SONORA NO CENTRO COMERCIAL DO
MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS
Monografia apresentada à Escola de Engenharia
de São Carlos, da Universidade de São Paulo
como pré-requisito à obtenção do título de
Engenheiro Ambiental.
Juliana Taguti Pinto
Graduanda
Prof. Dr. Francisco Arthur Silva Vecchia
Orientador
São Carlos, SP
2009
3
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Francisco Vecchia, pela orientação, atenção e oportunidade.
Aos meus pais, José Gil e Carmen, e à minha irmã Mariana pelo esforço constante que
fizeram para minha formação pessoal e acadêmica, amor, carinho, paciência, conforto e por
acreditarem sempre que eu seria capaz. Sem vocês nada teria sido possível.
Às amigas Ana Cristina Lobo (Poia) e Luciana Marrara pela amizade, paciência, compreensão
e apoio nos momentos difíceis, tanto emocionalmente como academicamente. Sem vocês tudo
teria sido muito mais difícil de ser realizado.
Ao departamento de Arquitetura e Urbanismo pelo empréstimo do decibelímetro.
À todos que de alguma forma participaram da elaboração desse trabalho, através de
orientação, apoio e amizade.
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RESUMO
PINTO, J. T. (2009) Avaliação da Poluição Sonora no Centro Comercial do Município de
São Carlos. 58p. Monografia de Graduação. Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo, São Carlos, 2009.
O crescimento da população e o aumento da concentração em ambientes urbanos vêm
aumentando a cada ano e em conjunto com o crescente desenvolvimento de tecnologias
desperta uma preocupação ainda maior com as questões ambientais. O progresso implica no
aumento do ruído, o que resulta a poluição sonora, que diferentemente dos outros tipos de
poluição, não deixa traços visíveis de sua influencia no ambiente, e é impossivel o tratamento
depois de poluído.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2003), a poluição sonora é, depois
da poluição do ar e da água, o problema ambiental que afeta o maior numero de pessoas. Ela é
capaz de produzir incômodos e danos específicos ao organismo humano. A poluição acústica
é considerada pela maioria da população das grandes cidades como um fator importante, que
incide de forma principal na sua qualidade de vida
Devido à esses fatores, o presente estudo tem como objetivo avaliar o nível de
poluição acústica no centro comercial do município de São Carlos, a fim de identificar,
através de comparação de níveis equivalentes de pressão sonora medidas em locais
específicos desse centro com as recomendações existentes na literatura (NBR e outras
indicações), o quanto esse ruído ambiental está de fato afetando o conforto ambiental da
população que freqüentam a região do centro comercial do município.
Palavras-chave: poluição sonora; conforto ambiental; ruído urbano.
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ABSTRACT
PINTO, J. T. (2009) Evaluation of the Sonorous Pollution in the Commercial Center of
the city of São Carlos. 58p. Monograph for graduation. Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo, São Carlos, 2009.
The growth of the population and the increase of the concentration in urban
environments come increasing to each year and in set with the increasing development of
technologies awaken a still bigger concern with environmental issues. The progress implies in
the increase of the noise, what results sonorous pollution, that differently of the other types of
pollution, does not leave visible traces of its influences in the environment, and is impossible
the treatment after polluted.
According to World Health Organization (WHO, 2003), the sonorous pollution is,
after the pollution of air and of the water, the environmental problem that affects the largest
number of people. It is able to produce disturbances and specific damages to the human
organisms. The sonorous pollution is considered by most of the population of large cities as
an important factor, that happens of main form on their quality of life.
Due to these factors, this study aims to assess the level of noise in the commercial
center of the city of São Carlos, to identify, through comparison of levels of sound pressure
measures in specific locations of the center with the existing recommendations in the
literature (NBR and other information), how much the noise is in fact affecting the
environmental comfort of the population that frequent the region of the commercial center of
the city.
Keywords: sonorous pollution, environmental comfort, urban noise.
6
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Mapa da região urbana do município de São Carlos................................................43
Figura 2 - Localização dos pontos de medição.........................................................................44
Figura 3 - Região do Mercado Municipal.................................................................................45
Figura 4 - Avenida São Carlos..................................................................................................46
Figura 5 - Rua General Osório..................................................................................................47
Figura 6 - Decibelímetro Quest Technologies modelo 2700, utilizado para medições............48
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LISTA DE TABELAS
Tabela 4.1 – Velocidade de propagação para variados meios..................................................17
Tabela 4.2 – Comprimento de onda..........................................................................................19
Tabela 4.3 – Potencias acústicas diversas.................................................................................20
Tabela 4.4 – Nível sonoro das atividades humanas..................................................................21
Tabela 4.5 – Nível de critério de avaliação (NCA) para ambientes externos, em dB(A).........31
Tabela 4.6 – Limites de tolerância para ruídos contínuos ou intermitentes..............................34
Tabela 6.1 – Medições do nível de pressão sonora em dB(A) em 21/06/2008 e 03/06/2009...51
Tabela 6.2 – Níveis equivalentes de pressão sonora em dB(A) obtidos em 21/06/2008..........52
Tabela 6.3 – Níveis equivalentes de pressão sonora em dB(A) obtidos em 03/06/2009..........52
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SUMÁRIO
RESUMO....................................................................................................................................4
ABSTRACT................................................................................................................................5
LISTA DE FIGURAS.................................................................................................................6
LISTA DE TABELAS................................................................................................................7
1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................11
2. OBJETIVOS.........................................................................................................................13
2.1. Objetivos gerais..............................................................................................................13
2.2. Objetivos específicos.....................................................................................................13
3. JUSTIFICATIVA..................................................................................................................14
4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.............................................................................................15
4.1. Conceitos em acústica....................................................................................................15
4.1.1. Som.........................................................................................................................15
4.1.2. Sensação auditiva....................................................................................................15
4.1.3. Fontes sonoras.........................................................................................................16
4.1.4. Propagação..............................................................................................................16
4.1.5. Pressão acústica.......................................................................................................18
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4.1.6. Freqüência...............................................................................................................18
4.1.7. Período....................................................................................................................18
4.1.8. Intensidade..............................................................................................................19
4.1.9. Potência acústica.....................................................................................................20
4.1.10. Nível em dB..........................................................................................................21
4.1.11. Reverberação.........................................................................................................22
4.1.12. Percepção..............................................................................................................22
4.1.13. Curvas de igual sensação......................................................................................23
4.2. Ruído..............................................................................................................................23
4.2.1. Definição de ruído...................................................................................................23
4.2.2. Efeitos do ruído.......................................................................................................26
4.2.3. Fontes de ruído........................................................................................................27
4.2.3.1. Ruído nas ruas..................................................................................................27
4.2.3.2. Ruído nas habitações........................................................................................27
4.2.3.3. Ruído nas indústrias.........................................................................................27
4.2.3.4. Ruído dos aviões..............................................................................................28
4.3. Poluição sonora..............................................................................................................28
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4.3.1. Conceito de poluição sonora...................................................................................28
4.3.2. Limites legais para a poluição sonora.....................................................................29
4.4. Efeitos da poluição sonora no organismo humano........................................................35
4.4.1. Efeitos auditivos......................................................................................................36
4.4.2. Efeitos extra-auditivos............................................................................................37
4.5. Efeitos da poluição sonora em plantas e animais...........................................................40
4.6. Formas de prevenção contra os danos causados pela poluição sonora..........................40
5. MATERIAIS E MÉTODOS.................................................................................................42
5.1. Área de estudo................................................................................................................42
5.2. Coleta de dados..............................................................................................................43
5.2.1. Mercado Municipal.................................................................................................44
5.2.2. Rua General Osório (“Calçadão”)...........................................................................46
5.3. Equipamentos utilizados................................................................................................47
5.4. Procedimento para coleta de dados................................................................................48
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO..........................................................................................50
7. CONCLUSÃO......................................................................................................................54
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................56
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1. INTRODUÇÃO
A poluição sonora, diferentemente dos outros tipos de poluição, não deixa traços
visíveis de sua influencia no ambiente, e é impossivel o tratamento depois de poluído.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2003), a poluição sonora é, depois da
poluição do ar e da água, o problema ambiental que afeta o maior numero de pessoas. Ela é
capaz de produzir incômodos e danos específicos ao organismo humano. A poluição acústica
é considerada pela maioria da população das grandes cidades como um fator importante, que
incide de forma principal na sua qualidade de vida. Na poluição ambiental urbana, o ruído
ambiental é uma conseqüência direta não desejada das próprias atividades que ocorrem nas
cidades.
Os ruídos podem causar diferentes níveis de danos ao aparelho auditivo humano e ao
próprio organismo humano, dependendo do nível de intensidade do ruído, tempo de exposição
ao ruído, condições gerais de saúde do individuo, idade do individuo, acústica do ambiente
entre outros fatores. Quando combinados e ao longo do tempo de exposição, estes fatores
podem acarretar ao homem efeitos como surdez (temporária ou permanente), desequilíbrios
psíquicos (como insônia ou ate mesmo perda de capacidade intelectual) e até complicações
físicas no organismo (como trauma acústico) (SOUZA, 2006).
Em São Paulo, a poluição sonora e o estresse auditivo são a terceira causa de maior
incidência de doenças do trabalho, só atrás das devido a agrotóxicos e doenças articulares.
Inúmeros trabalhadores vêm-se prejudicados no sono e às voltas com fadiga, redução de
produtividade, aumento dos acidentes e de consultas médicas, falta ao trabalho e problemas de
relacionamento social e familiar.
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Contudo, os ruídos responsáveis pela maior parte dos problemas auditivos são os
níveis moderados de ruído. Esse tipo de ruído, embora possam ser percebidos, são toleráveis e
aparentemente adaptáveis pela audição humana. Portanto, os indivíduos expostos
continuamente a esse ruído não percebem o ruído de maneira consciente ou incomoda. Porém,
os efeitos desta exposição continuam a atuar danosamente contra a saúde destes indivíduos.
Não há duvidas de que os ruídos urbanos proporcionam grandes danos à saúde física e mental
dos seres humanos.
Os centros urbanos, principalmente os centros comerciais urbanos é um ambiente com
muitas fontes de ruído, tal como veículos de passeio, ônibus circulares, fluxo de pessoas,
veículos de som para propaganda e os próprios comércios produzem ruído através de
vendedores e musicas para atrair a atenção dos consumidores. É bastante preocupante o ruído
nesse ambiente, pois um grande numero de pessoas estão expostas a esse ruído por 8 horas
por dia durante pelo menos 5 dias da semana. Com o crescimento do município de São
Carlos, o centro comercial também teve uma expansão, e com isso, a preocupação com a
poluição acústica também é crescente.
Através desse trabalho, foram realizadas leituras do nível de ruído no centro do
município de São Carlos e analisado, comparando com parâmetros da NBR 10.151 e normas
regulamentadoras do ministério do trabalho (NR15) para verificar o conforto acústico das
pessoas que trabalham ou que freqüentam o centro da cidade.
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2. OBJETIVOS
2.1. Objetivos gerais
O presente trabalho tem como objetivo principal avaliar o conforto ambiental no que
diz respeito à poluição acústica do centro urbano do município de São Carlos.
2.2. Objetivos específicos
• Realizar a coleta de dados através de medições de nível de pressão sonora em locais
estratégicos;
• Determinar os níveis equivalentes de pressão sonora para cada medição;
Comparar o nível equivalente de pressão sonora obtido com normas, legislação e
recomendações da literatura.
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3. JUSTIFICATIVA
Com o desenvolvimento mundial, tecnológico e industrial, a preocupação com o
conforto ambiental vem aumentando, e têm surgido estudos específicos sobre os efeitos dessa
evolução na população. Um dos grandes vilões dessa revolução é o ruído. Esse agente físico
pode causar danos ao organismo humano com efeitos de curto e médio prazo. A exposição
prolongada em ambientes que apresentam um nível de pressão sonora elevado pode levar o
usuário ao esgotamento físico e às alterações químicas, metabólicas e mecânicas do órgão
sensorial auditivo, segundo SELIGMAN (1997).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a poluição sonora é uma das mais
nocivas poluições a que estamos expostos, ficando atrás apenas da poluição de águas e do ar.
Mas apesar de sua nocividade e da crescente preocupação da população, ainda há poucos
estudos a respeito da poluição sonora, principalmente na cidade de São Carlos.
Em pesquisas realizadas também pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil
é apontado como possível nação dos surdos, já que 15 milhões de pessoas no país apresentam
algum problema de audição.
O centro comercial de São Carlos é uma região de grande concentração de ruídos,
como veículos de passeio, ônibus circular, fluxo de pessoas e ruídos provenientes do próprio
comércio. As pessoas que trabalham nesse centro comercial, ou mesmo aquelas que
freqüentam apenas, estão expostos a um nível alto de ruído contínuo.
Com esse estudo, através do levantamento de dados, espera-se identificar o conforto
acústico da população da cidade de São Carlos que freqüenta ou que trabalha na área de
estudo.
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4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
4.1. Conceitos em acústica
4.1.1. Som
É um fenômeno físico que consiste de uma rápida variação de uma onda de pressão
num meio. Ele é causado pelos mais diversos objetos e se propaga através dos diferentes
estados físicos da matéria. A percepção do som se dá através da sensação auditiva, detectada
pelos nossos ouvidos. Fisicamente o som é uma variação muito pequena e rápida na pressão
atmosférica, acima e abaixo de um valor fixo (estático), tal como uma senoidal. Existe um
valor de referencia em relação à pressão atmosférica em que a partir desse valor tudo o que se
percebe é na forma sonora, este valor é cerca de 100.000 Pa. Quanto ao fator diferenciado
entre um som audível – que se pode perceber pelo ouvido humano – e o que não se pode
perceber ocorrem dentro de uma variação de pressão entre cerca de 20 a 20.000 vezes por
segundo (o que se convencionou chamar Hertz ou Hz).
4.1.2. Sensação auditiva
É função da percepção, portanto engloba aspectos fisiológicos e sociológicos.
Exemplificando, podemos dizer que duas pessoas reagem diferentemente a um mesmo ruído
em função de diversos fatores, como idade, cultura, sexo, atividade, sensibilidade, etc.
Envolvendo aspectos fisiológicos e sociológicos, o som influi direta e indiretamente no
comportamento humano. Algumas mudanças constatadas são: fadiga, perda de sono, lazer,
atenuação, perda de audição, agressividade, etc.
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• Aspectos fisiológicos – Uma pessoa pode ouvir um som ou um barulho o qual não lhe
causará nenhum dano, pois seu sistema auditivo é resistente; porém, outra pessoa, por
ter um sistema auditivo menos resistente, poderá ficar surda com o mesmo som;
• Aspectos psicológicos – Se uma pessoa gostar de barulho, tipo discoteca, barulho de
prensa ou barulho de moto, pelo fato de gostar desse barulho não sofrerá grande dano
auditivo; porém se a pessoa não gostar do barulho, ela poderá perder a audição;
• Aspectos sociológicos – Se um grupo de pessoas gosta de barulho, ou acha que está na
moda, uma pessoa que entrar nesse grupo, se gostar desse barulho, poderá ser pouco
afetada, porém se outra pessoa que não gostar e se o barulho for acima do nível
normal, 85 dB(A), sofrerá grande dano.
4.1.3. Fontes sonoras
São os instrumentos que geram as ondas sonoras. Muitos corpos podem servir como
fontes sonoras, todavia, há um pré-requisito indispensável para que ele funcione como tal:
precisa ser capaz de vibrar. Para que um corpo seja posto em movimento vibratório, é
imprescindível que exista uma relação bem definida entre duas características importantes da
matéria que o compõe: densidade e rigidez.
4.1.4. Propagação
O movimento de corpos vibrantes faz com que eles transmitam energia aos meios
vizinhos. Essa energia não passa de condensações e rarefações desses meios. Estas
condensações e rarefações se manifestam sob a forma de variações de pressão, velocidade de
partícula, amplitude, deslocamento, etc. O fenômeno se caracteriza ainda pela velocidade de
propagação de energia, pela freqüência e pela duração. Para determinadas freqüências,
durações e amplitudes, tais fenômenos são capazes de impressionar os ouvidos humanos.
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Como a origem do som é um movimento vibratório da matéria, é interessante analisar
o comportamento da propagação do som em diversos meios. No vácuo, onde não existe o
indispensável meio material que o transporte, o som não se propaga. A tabela 4.1 demonstra a
velocidade de propagação para alguns meios materiais.
Tabela 4.1 – Velocidade de propagação para variados meios Meio Velocidade (m/s)
Dióxido de Carbono 259
Oxigênio à 0 ºC 316
Ar seco a 0 ºC 331
Ar seco à 20 ºC 343
Hélio a 0 ºC 965
Clorofórmio a 20 ºC 1004
Etanol a 20ºC 1162
Chumbo 1230
Água doce a 8 ºC 1435
Mercúrio à 20 ºC 1450
Água doce a 20 ºC 1482
Água do mar 1522
Chumbo 1960
Cobre 5010
Vidro (Pyrex) 5640
Aço 5960
Granito 6000
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4.1.5. Pressão acústica
A pressão acústica p(t) resulta da variação da pressão atmosférica P0. Para um ponto A
num instante t, a pressão total resultante P nos dá:
p = p(t) + P0 ou p(t) = P - P0
Esta pressão p(t) varia de instante a instante em função do tempo. Muitas vezes a
variação da pressão não tem interesse. Então usamos o valor eficaz e o valor máximo.
4.1.6. Freqüência
É o que caracteriza o número de vibrações por unidade de tempo. A unidade de
freqüência é o Hertz (Hz) que, por definição, é igual a um ciclo por segundo. As freqüências
de sons audíveis estão no intervalo de 20 a 20.000 Hz.
Abaixo de 20 Hz temos os infra-sons, e acima de 20.000 Hz os ultra-sons, que apesar
de não serem audíveis, influem sobre o ser humano.
No intervalo dos sons audíveis, chamamos de graves aos sons de intervalo de 20 a 200
Hz, médios, de 200 a 2.000 Hz e agudos de 2.000 a 20.000 Hz.
4.1.7. Período
Período (T) de um fenômeno vibratório é o tempo necessário para que, num dado
ponto, o fenômeno se repita em amplitude e fase.
Existe ema relação entre a velocidade, o comprimento de onda e a freqüência de um
som, que vemos abaixo, exemplificada na tabela 4.2.
c = λ.f
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Tabela 4.2 – Comprimento de onda f (Hz) T = 1/f (seg) λλλλ (m)
20 5x10-2 17
50 2x10-2 68
100 1x10-2 3,4
200 5x10-3 1,7
500 2x10-3 0,7
1.000 1x10-3 0,3
2.000 5x10-4 0,2
5.000 2x10-4 0,07
10.000 1x10-4 0,03
20.000 5x10-5 0,02
4.1.8. Intensidade
É a uma noção ligada ao conceito de densidade de energia, sendo definida como a
quantidade de energia que atravessa uma unidade de superfície perpendicular à direção de
propagação. A relação entre a intensidade e a pressão eficaz é dada pela fórmula:
I = P2
ef/Pc0
O conceito de intensidade é importante, pois está ligada à percepção do ouvido, que
necessita uma quantidade mínima de energia para ser excitado. Para um ouvido normal, essa
energia é da ordem de 10-12 W/m2.
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Existe ainda uma energia a partir da qual a sensação é de dor. Ela é da ordem de 10
W/m2. Como vemos,, as intensidades que sensibilizam o ouvido estão dentro de uma gama de
variação de 1012.
Para uma onda esférica onidirecional, quando aplicamos a definição de intensidade
obtemos a relação a seguir, onde D é a distância do ponto considerado à fonte, e W a potência
da mesma, e I a intensidade:
I = W/(4πD2)
4.1.9. Potência acústica
Nas potências acústicas que interessa à percepção do ouvido humano, encontramos
valores desde 10-9 watt, até ruídos de reatores de avião com potência de 104 watt. A potência
acústica de algumas fontes encontra-se na tabela 4.3.
Tabela 4.3 – Potencias acústicas diversas Valor máximo Valor médio
Cochicho Suave 1 x 10-3 µ W
Relógio Elétrico 2 x 10-2 µ W
Conversa de Homem 4 x 10-3 W 5 a 10 µ W
Conversa de Mulher 2 x 10-2 W 5 a 10 µ W
Orador 4 x 10-2 W 20 a 50 µ W
Automóvel a 70 km/h 1 x 10-1 W
Martelo Pneumático 1 W
Avião a Jato 1 x 104 W
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4.1.10. Nível em dB
Os técnicos acham conveniente exprimir as grandezas sob a forma logarítmica: obtêm-
se, assim, níveis em relação a certos valores de referência, arbitrariamente escolhidos, os
quais são expressos em decibéis (dB).
O meio urbano possui diversas fontes de som, que pode variar de 30 a 120 dB. Na
tabela 4.4 pode-se observar o nível sonoro de algumas atividades humanas.
Tabela 4.4 – Nível sonoro das atividades humanas Atividade Nível (dB)
Limiar auditivo 0
Estúdio de gravação 20
Biblioteca forrada 30
Sala de descanso 40
Escritório 50
Conversação 60
Datilografia 70
Tráfego 80
Serra circular 90
Prensas excêntricas 100
Marteletes 110
Aeronaves 130
Limiar da dor 140
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4.1.11. Reverberação
A reverberação é um fenômeno característico de ambientes fechados. Quando um som
é emitido em um ambiente fechado, ele se propaga em todas as direções devido aos
obstáculos e duraria indefinidamente se não houver absorção no ambiente.
O tempo de reverberação é definido como o tempo necessário para a energia sonora
decair de um milhão de vezes em relação à sua energia inicial, isto é, o tempo necessário para
o nível de decibéis decair em 60 dB e expressa a capacidade de absorção do ambiente.
4.1.12. Percepção
Se, num local onde as vibrações do ar forem imperceptíveis, emitirmos sons simples
com intensidade crescente até um valor perceptível, dizemos que para esta freqüência
atingirmos o limiar da percepção. Se o procedimento for repetido para todas as freqüências,
obteremos uma curva num gráfico intensidade x freqüência.
Se aumentarmos a intensidade para as mesmas freqüências até sentirmos dor,
chamaremos a esta curva de limiar da dor.
• Limiar da percepção: é a intensidade sonora mínima perceptível; varia conforma a
freqüência própria das vibrações;
• Limiar da dor: é a intensidade sonora máxima que o aparelho auditivo suporta sem
sofrimentos; onde o limiar da dor varia com a freqüência, porém menos do que a
limiar da percepção.
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4.1.13. Curvas de igual sensação
Quando comparamos um som audível, de freqüência f, e uma certa intensidade I, com
sons de freqüências audíveis e intensidade variando até encontrarmos igual sensação, então
encontramos uma curva de igual sensação.
4.2. Ruído
4.2.1. Definição de ruído
O ruído, é de forma geral é qualquer som que seja desagradável, ou seja, é uma
questão subjetiva, por isso vários autores definem o ruído de diversas formas. Segundo
FIORILLO, “som é qualquer variação de pressão (no ar, na água, ...) que o ouvido humano
possa captar, enquanto ruído é o som ou um conjunto de sons indesejáveis, desagradáveis,
perturbadores. O critério de distinção é o agente perturbador, que pode ser variável,
envolvendo o fator psicológico de tolerância de cada individuo”.
SALIBA (2000) descreve, o ruído sob o ponto de vista da Higiene do Trabalho, como
“fenômeno físico vibratório com características indefinidas de variações de pressão (no caso
do ar) em função da freqüência, isto é, para uma dada freqüência podem existir, em forma
aleatória através do tempo, variações de diferentes pressões”.
Segundo RUSSO (1999), o ruído é um “sinal acústico, originado da superposição de
vários movimentos de vibração com diferentes freqüências as quais não apresentam relação
entre si”.
O ruído pode ser classificado quantitativa e qualitativamente. Quantitativamente, o
ruído é definido pelos atributos físicos indispensáveis para o processo de determinação de sua
nocividade – sua duração no tempo, espectro e de freqüência e os níveis de pressão sonora,
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em dB. A classificação dos ruídos qualitativamente pode se dar de acordo com a variação de
seu nível de intensidade com o tempo. De acordo com a Norma ISO 2204/1973, a
classificação se dá da seguinte forma:
• Contínuos estacionários: ruído com variações de níveis desprezíveis durante o período
de observação;
• Contínuos não estacionários: ruídos cujo nível varia significativamente durante o
período de observação;
• Contínuo flutuante: ruído onde o nível varia continuamente de um valor apreciável
durante o período de observação;
• Ruído intermitente: ruído cujo nível, ao variar, cai ao valor do nível do ruído de fundo
várias vezes durante o período de observação;
• Ruído de impacto ou impulso: ruído que se apresenta em picos de energia acústica de
duração inferior a um segundo. É um fenômeno acústico associado a explosões ou
tiros de revolver, sendo mais nocivo à audição.
Foi realizada uma pesquisa para avaliar a sensação auditiva ao ruído, confrontando-se
a audibilidade de um tom de 1.000Hz, comparada a outras freqüências, à medida que a
intensidade sonora crescia. Foi traçada uma curva com base nesses dados, formada por todos
os sons que produzem igual sensação auditiva, a uma determinada intensidade, sempre com
referencia a freqüência de 1.000Hz. Com a zona de maior sensibilidade auditiva entre 3.000 e
4.000Hz, essas curvas foram denominadas de curvas de igual audibilidade ou curvas
isofônicas. Segundo GERGES (1992), para se obter uma curva que correspondesse bem à
resposta ao comportamento do ouvido humano, foram estabelecidas as curvas de
compensação “A”, “B”, “C” e “D”. O circuito “A” aproxima-se das curvas de igual
audibilidade para baixos níveis sonoros; os circuitos “B” e “C” são análogos ao circuito “A”,
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porém respectivamente para médios e altos níveis sonoros. Somente o circuito “A” é
amplamente usado, uma vez que os circuitos “B” e “C” não fornecem boa correlação com
testes subjetivos. Quando os valores são ponderados segundo a curva “A”, os resultados das
medidas de nível de pressão sonora são descritos em dB(A). o circuito “D”, por sua vez foi
padronizado para as medições em aeroportos.
De acordo com GERGES (1992), o potencial de danos à audição de um determinado
ruído depende do seu nível e de sua duração. É possível estabelecer um valor único, Leq, ou
seja, o nível sonoro médio integrado durante uma faixa de tempo especificada. O calculo
matemático é baseado na energia do ruído (ou pressão sonora quadrática), segundo a equação
01:
Onde: Li – nível de pressão sonora em dB(A), lido em resposta rápida (fast) a cada 10
segundos, durante pelo menos 5 minutos;
n – numero total de leituras;
Leq – nível equivalente de pressão sonora (dBA).
O tempo de exposição ao ruído também pode influenciar de forma nociva à saúde
humana. Assim, é de grande preocupação a saúde dos trabalhadores que ficam expostos
durante um grande período de tempo ao ruído do ambiente de trabalho. Esse tipo de ruído é
chamado de ruído ocupacional ou profissional. Em muitos paises do mundo, esse tipo de
ruído já se tornou um dos maiores problemas para a saúde do trabalhador.
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A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estabelece três limites de ruído, para
os quais se devem tomar algumas providencias: limite de alerta para ruído de 85 dB (A);
limite de perigo para 90 dB (A); e acima de 115 dB (A) recomenda-se a utilização de
protetores auriculares individuais.
4.2.2. Efeitos do ruído
Na maior parte dos casos, os ruídos a que um homem é submetido podem ser
decompostos em um ruído de fundo, resultante de diversas fontes e de ruídos de fontes bem
definidas que sobressaem em meio aos outros.
O homem tem a tendência a aceitar bem os ruídos de fundo, quando estes apresentam
características estáveis em freqüência e duração, e níveis relativamente baixos.
A intensidade de ruídos estáveis suportáveis por um individuo é função direta de sua
atividade. Exemplificando: uma atividade intelectual requer maior silencio que uma atividade
manual, que não requer grande concentração. Podemos dizer que para uma atividade, quanto
maior o nível de ruído e a freqüência, maior é a perturbação.
O ouvido é o único sentido que jamais descansa, sequer durante o sono. Com isso, os
ruídos urbanos são motivos a que, durante o sono, o cérebro não descanse devidamente. Desta
forma, o problema dos ruídos excessivos não é apenas de gostar ou não, é, nos dias que
correm, uma questão de saúde.
27
4.2.3. Fontes de ruído
4.2.3.1. Ruído nas ruas
O trânsito é o grande causador do ruído na vida das grandes cidades. As características
dos veículos barulhentos são o escapamento furado ou enferrujado, as alterações no silencioso
ou no cano de descarga, as alterações no motor e os maus hábitos ao dirigir - acelerações e
freadas bruscas e o uso excessivo de buzina.
4.2.3.2. Ruído nas habitações
Condicionadores de ar, batedeiras, liquidificadores, enceradeiras, aspiradores,
maquinas de lavar, geladeiras, aparelhos de som e de massagem, televisores, secadores de
cabelo e tantos outros eletrodomésticos que podem estar presentes numa mesma residência,
funcionando simultaneamente.
4.2.3.3. Ruído nas indústrias
É dos mais importantes o papel da indústria na poluição sonora. Depois da primeira
grande guerra, foi que se verificou o aumento das doenças profissionais, notadamente a
surdez, além do aparecimento de outras moléstias, devidas ao desenvolvimento espantoso
trazido pelo surto industrial.
Em alguns países europeus, como a Suécia e a Alemanha, onde os dados estatísticos
retratam fielmente a realidade, é impressionante o numero de operários que, nas indústrias,
devido ao ruído, vêm sofrendo perda de audição.
28
4.2.3.4. Ruído dos aviões
A partida e a chegada de aviões a jato são acompanhadas de ruídos de grande
intensidade que perturbam sobremaneira os moradores das imediações
4.3. Poluição sonora
É importante destacar que a poluição sonora não é, ao contrário do que pode parecer
numa primeira análise, um mero problema de desconforto acústico. O ruído passou a
constituir atualmente um dos principais problemas ambientais dos grandes centros urbanos e,
eminentemente, uma preocupação com a saúde pública.
4.3.1. Conceito de poluição sonora
Segundo o inciso III do art. 3° da Lei n° 6.938/81, a poluição é:
"a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos".
Portanto, a poluição é qualquer alteração das propriedades biológicas, físicas, químicas
e sociais que possa interferir negativamente ao meio ambiente e à qualidade de vida da
população. Cada uma das espécies de poluição representa um tipo específico de alteração
negativa que um poluente pode produzir em um determinado ecossistema. Sendo assim, a
poluição sonora é uma grave forma de poluição do meio ambiente.
No entendimento de Luís Paulo Sirvinskas, a poluição sonora é a emissão de ruídos
indesejáveis de forma continuada e em desrespeito aos níveis legais que, dentro de um
determinado período de tempo, ameaçam a saúde humana e o bem-estar da coletividade.
29
É importante destacar que se o ser humano apreende o meio ambiente e a própria
realidade através de seus sentidos, é também por meio desses sentidos que a poluição se faz
perceber. De modo que é por meio da audição, do olfato, do paladar, do tato e da visão que
todo e qualquer tipo de poluição chega ao ser humano, seja de forma mais direta ou menos
direta, o que obviamente também ocorre com a poluição sonora em relação à audição.
Ao contrario de outros modos de poluição, nos quais os residuos das atividades
humanas são gerados e descartados na forma de matéria, podendo causar danos aos
ecossistemas, os resíduos da poluição sonora estão na forma de energia e geralmente
permanecem por curtos períodos de tempo nos ecossistemas.
4.3.2. Limites legais para a poluição sonora
Por se tratar de problema social difuso, a poluição sonora deve ser combatida pelo
poder público e pela sociedade, individualmente, com ações judiciais de cada prejudicado, ou
coletivamente, através da ação civil pública (Lei 7.347/85), para garantia do direito ao
sossego público, o qual está resguardado pelo artigo 225 da Constituição Federal.
Segundo MEIRELES, H. L. (1981),
“Embora seja certo que quem elege cidade grande para viver deve suportar o ônus que isso apresenta, todavia é dever do Poder Público amenizar o quanto possível a propagação de ruídos incômodos aos habitantes, principalmente em horário de repouso. O rumor das indústrias, a agitação do comércio se impõem aos cidadãos como ônus normais da vida urbana, em contraprestação das múltiplas vantagens que essas atividades proporcionam, mas o ruído anormal, excessivo, insuportável, principalmente à noite, apresenta-se como antijurídico”.
Como já foi citada, a questão da poluição é definida no art. 3, III, da Lei 6.938/81. A
Lei 9.605/98, que trata dos crimes ambientais, em seu artigo 54, configura crime “causar
30
poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar danos à saúde
humana...”, o que inclui aqui, a poluição sonora pelas conseqüências que produz.
Em seguida, estão listadas as principais leis vigentes no pais a respeito de poluição
acústica:
• Lei 8.078/90 do Código do Consumidor: proíbe o fornecimento de produtos e serviços
potencialmente nocivos ou prejudiciais à saúde (artigo 10), podendo-se considerar
como tais os que produzem poluição sonora.
• Resolução CONAMA 008/93: estabelece limites máximos de ruídos para vários tipos
de veículos automotores.
• Lei 6.938/81: de acordo com o inciso II do artigo 6°, a normatização e estabelecimento
de padrões compatíveis com o meio ambiente equilibrado e necessário à sadia
qualidade de vida, é atribuído ao CONAMA.
A identificação entre som e ruído é feita através da utilização de unidades de medição
do nível de ruído. Com isso, definem-se, também, os padrões de emissão aceitáveis e
inaceitáveis, criando-se e permitindo-se a verificação do ponto limítrofe com o ruído. O nível
de intensidade sonora se expressa habitualmente em decibéis (dB) e é apurada com a
utilização de um aparelho chamado decibelímetro.
No que diz respeito à ruído, a tutela jurídica do meio ambiente e da saúde humana é
regulada pela Resolução do CONAMA 001, de 08 de março de 1990, que considera um
problema os níveis excessivos de ruídos bem como a deterioração da qualidade de vida
causada pela poluição.
31
Esta Resolução adota os padrões estabelecidos pela Associação Brasileira de Normas
Técnicas – ABNT e pela Norma Brasileira Regulamentar – NBR 10.151, de junho de 2000,
reedição.
A Resolução 001/90 do CONAMA, nos seus itens I e II, dispõe:
I – A emissão de ruídos, em decorrência de quaisquer atividades industriais, comerciais, sociais ou recreativas, inclusive as de propaganda política. Obedecerá, no interesse da saúde, do sossego público, aos padrões, critérios e diretrizes estabelecidos nesta Resolução. II – São prejudiciais à saúde e ao sossego público, para os fins do item anterior as ruídos com níveis superiores aos considerados aceitáveis pela norma NBR 10.151 - Avaliação do Ruído em Áreas Habitadas visando o conforto da comunidade, da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
A NBR 10.151 dispõe sobre a avaliação do ruído em áreas habitadas, visando o
conforto da comunidade. Esta Norma fixa as condições exigíveis para a avaliação da
aceitabilidade do ruído em comunidades, independentemente da existência de reclamações,
conforme mostra a tabela 4.5.
Tabela 4.5 – Nível de critério de avaliação (NCA) para ambientes externos, em dB(A) Tipos de áreas Diurno Noturno
Áreas de sítios e fazendas 40 35
Áreas estritamente residencial urbana ou de hospitais ou
de escolas 50 45
Área mista, predominantemente residencial 55 50
Área mista, com vocação comercial e administrativa 60 55
Área mista, com vocação recreacional 65 55
Área predominantemente industrial 70 60
32
Além da NBR 10.151, tem-se a NBR 10.152, que trata dos níveis de ruídos para
conforto acústico, estabelecendo os limites máximos em decibéis a serem adotados em
determinados locais fechados.
O CONAMA considerando que o crescimento demográfico descontrolado ocorrido
nos centros urbanos acarretam uma concentração de diversos tipos de fontes de poluição
sonora, sendo fundamental o estabelecimento de normas, métodos e ações para controlar o
ruído excessivo que possa interferir na saúde e bem-estar da população, estabeleceu a
Resolução 002, de 08 de março de 1990, que veio a instituir o Programa Nacional de
Educação e Controle da Poluição Sonora – Silêncio, com o seguinte objetivo:
a) Promover cursos técnicos para capacitar pessoal e controlar os problemas de poluição
sonora nos órgãos de meio ambiente estaduais e municipais em todo o país;
b) Divulgar junto à população, através dos meios de comunicação disponíveis, matéria
educativa e conscientizadora dos efeitos prejudiciais causados pelo excesso de ruído;
c) Introduzir o tema "poluição sonora" nos cursos secundários da rede oficial e privada
de ensino, através de um Programa de Educação Nacional;
d) Incentivar a fabricação e uso de máquinas, motores, equipamentos e dispositivos com
menor intensidade de ruído quando de sua utilização na indústria, veículos em geral,
construção civil, utilidades domésticas, etc.
e) Incentivar a capacitação de recursos humanos e apoio técnico e logístico dentro da
política civil e militar para receber denúncias e tomar providências de combate para
receber denúncias e tomar providências de combate a poluição sonora urbana em todo
o Território Nacional;
f) Estabelecer convênios, contratos e atividades afins com órgãos e entidades que, direta
ou indiretamente, possa contribuir para o desenvolvimento do Programa SILÊNCIO.
33
A coordenação do Programa Silêncio é de responsabilidade do IBAMA – Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis que deverá contar com a
participação de Ministérios do Poder Executivo, órgãos estaduais e municipais do Meio
Ambiente.
No Brasil, a exposição do trabalhador a níveis de ruídos elevados é regulamentada
pelas Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho. A norma NR15 define um
critério de insalubridade que visa a proteção da saúde do trabalhador e estabelece os limites
máximos de exposição ao ruído e às condições de avaliação e condutas que devem ser
seguidas para a constatação do grau de insalubridade no trabalhador, conforme apresenta a
tabela 4.6.
34
Tabela 4.6 – Limites de tolerância para ruídos contínuos ou intermitentes Nível de ruído (dBA) Máxima exposição diária permissível
85 8 horas
86 7 horas
87 6 horas
88 5 horas
89 4 horas e 30 minutos
90 4 horas
91 3 horas e 30 minutos
92 3 horas
93 2 horas e 40 minutos
94 2 horas e 15 minutos
95 2 horas
96 1 hora e 45 minutos
98 1 hora e 15 minutos
100 1 hora
102 45 minutos
104 35 minutos
105 30 minutos
106 25 minutos
108 20 minutos
110 15 minutos
112 10 minutos
114 8 minutos
115 7 minutos
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4.4. Efeitos da poluição sonora no organismo humano
De acordo com GERGES (1992), o ouvido humano é o mais sofisticado sensor do
som, porém quando exposto ao ruído por tempo prolongado pode haver deterioração do
sistema auditivo. O mesmo autor enfatiza a necessidade de se manter os dois ouvidos sem
perda de sensibilidade, pois a percepção da direção do som ocorre através do processo de
correlação cruzada entre os dois ouvidos.
RUSSO (1999) diz que o ouvido humano é dotado de mecanismos protetores que, ao
serem expostos ao ruído, alteram a sensibilidade auditiva durante e após a estimulação
acústica, sofrendo a ação do fenômeno descrito como mascaramento. A percepção do som,
então, é diminuída na presença de um ruído de maior intensidade que encobre o som inicial.
Quando a sensibilidade auditiva é reduzida durante um estímulo sonoro intenso e
duradouro, diz-se que houve adaptação auditiva. Quando, porém, isso ocorre somente após
cessar o estímulo, diz-se que houve fadiga auditiva, também chamada de mudança temporária
no limiar.
O ruído de até Leq 50 dB(A) no homem em vigília pode ser perturbador, mas ele se
adapta. A partir de 55 dB(A) começa a provocar estresse leve. O estresse degradativo do
organismo começa a cerca de 65 dB(A) com desequilíbrio bioquímico, aumentando o risco de
enfarte, derrame cerebral, infecções, osteoporose etc. Provavelmente a 80 dB(A) já libera
morfinas biológicas no corpo, provocando prazer e completando o quadro de dependência,
conforme PIMENTEL- SOUZA (2002).
Segundo CARMO (1999), o ruído afeta o organismo humano de várias maneiras,
causando prejuízos ao funcionamento auditivo, bem como o comprometimento da atividade
36
física, fisiológica e mental do indivíduo a ele exposto. Os efeitos nocivos do ruído ao ser
humano podem ocasionar a ação direta no sistema auditivo e também extra auditivo .
4.4.1. Efeitos auditivos
Segundo SALIBA (2000), a perda auditiva induzida pelo ruído (PAIR) é causada
devido à exposição continuada e prolongada dos trabalhadores a níveis elevados de ruído e
pode ser classificada em três tipos: trauma acústico, perda auditiva temporária e perda
auditiva permanente.
• Trauma Acústico – consiste na perda auditiva de instalação súbita, provocada
por ruído repentino e de grande intensidade, como uma explosão ou uma
detonação. Em alguns casos, a audição pode ser recuperada total ou
parcialmente com tratamento (antiinflamatórios, expansores do plasma e
ativadores da microcirculação). Eventualmente, o trauma acústico pode
acompanhar-se de ruptura da membrana timpânica e/ou desarticulação da
cadeia ossicular, o que pode exigir tratamento cirúrgico;
• Perda Auditiva Temporária – conhecida, também, como mudança temporária
do limiar de audição, ocorre após a exposição a ruído intenso, por um curto
período de tempo. Um ruído capaz de provocar uma perda temporária será
capaz de provocar uma perda permanente, após longa exposição. A
recomendação internacional é de que haja 14 horas de repouso acústico antes
da realização do exame audiométrico;
• Perda Auditiva Permanente – A exposição repetida ao ruído excessivo pode
levar, em alguns anos, à perda auditiva irreversível – permanente, conhecida
como “PAIR”, ocorrendo devido à exposição ao ruído em altas freqüências,
entre 3000 e 6000 Hz.
37
4.4.2. Efeitos extra-auditivos
Os efeitos extra-auditivos podem ser mais prejudiciais e complexos dos que os efeitos
provocados por outra estimulação sensorial, segundo RUSSO et al (1993).
OKAMOTO et al (1997), relatam pesquisas de Laid, cujo resultado evidenciou que a
exposição a ruído contínuo diminui a habilidade e o rendimento do indivíduo, acarretando um
provável aumento de acidentes de trabalho.
O ruído age diretamente sobre o calibre vascular, podendo desencadear hipertensão
arterial leve à moderada, taquicardia, aumento da viscosidade sangüínea, influenciando,
assim, a oxigenação das células e levando a possíveis alterações teciduais, de acordo com
ANDRADE et al. (1998). A reação visual à exposição ao ruído é a dilatação da pupila.
Se o ruído é excessivo, o corpo ativa o sistema nervoso, que o prepara contra o ataque
de um inimigo invisível, sem pegadas, que invade todo o meio ambiente pelas menores frestas
por onde passa o ar ou por toda ligação rígida à fonte ruidosa. O cérebro acelera-se e os
músculos consomem-se sem motivo. Sintomas secundários aparecem: aumento de pressão
arterial, paralisação do estômago e intestino, má irrigação da pele e até mesmo impotência
sexual.
A ativação permanente do sistema nervoso simpático do morador de uma região
ruidosa pode condicionar negativamente a sua atuação com as agressões. A falta de irrigação
muscular pode levar a gangrena nos membros. O corpo cai na pior contradição: atacado sem
saber bem por que e como se defender, devido ao bloqueio das reações naturais do organismo.
É um conflito, gerador de ansiedade, já que o nível de ruído em nosso ambiente urbano está
38
quase sempre acima dos limites do equilíbrio, e abre caminho para estresses crônicos. Certas
áreas do cérebro acabam perdendo a sensibilidade a neurotransmissores, rompendo o delicado
mecanismo de controle hormonal. Esse processo aparece também no envelhecimento normal
e ataca os mais jovens, que se tornam prematuramente velhos num ambiente estressante. Os
efeitos no sono não são menos importantes pela sua nobre função.
As alterações neuropsíquicas mais freqüentes que podem decorrer da exposição ao
ruído são: ansiedade, inquietude, desconfiança, insegurança, pessimismo, depressão, alteração
de sono/vigília, irritabilidade e agitação, falta de memória e atenção. As pessoas expostas por
um período longo de tempo são as mais afetadas. Tal exposição, também, pode ser
responsável por altas taxas de absenteísmo, cefaléia e acidentes de trabalho ou acidentes de
trânsito.
Assim, em sentido geral, os efeitos do ruído sobre o homem podem englobar-se nas
seguintes categorias que evidentemente não são independentes, ocorrendo, muitas vezes,
largas zonas de sobreposição:
• Afetação da audição, alterando a gama de percepção do som audível,
provocando dor e podendo mesmo danificar de forma irreversível o mecanismo
fisiológico da audição;
• Perturbações fisiológicas diversas, tais como flutuações das pulsações
cardíacas, da tensão arterial e de vaso dilatação dos vasos periféricos e, ainda,
contração dos músculos das vísceras e modificações do funcionamento das
glândulas endócrinas;
• Perturbações do sono, dificuldade em adormecer e menor duração de certas
fases do sono;
39
• Perturbações de atividades várias; os efeitos do ruído sobre as atividades
dependem do tipo de atividade e das características dos indivíduos, mas, em
geral, o ruído provoca uma diminuição do rendimento do trabalho e um
aumento do número de erros ou de acidentes;
• Interferência na comunicação oral.
Em geral, o ruído incomoda quando, por exemplo, sobrepõe-se e mascara uma
informação desejada, evoca coisas desagradáveis, implica demasiadas informações inúteis ou
é incompreensível. Situações incômodas provocadas pelo ruído podem originar no receptor
reações várias, dentre as quais de irritabilidade, medo e violência.
A perda da audição em conseqüência da exposição a ambientes acusticamente
agressivos caracteriza-se pelo fato da banda de freqüência, onde se detecta em primeiro lugar
o desvio do limiar de audição, localizar-se na vizinhança de 4000 Hz. Com a continuação da
exposição, dar-se-á o alastramento da afetação para outras bandas de freqüência.
Também foi observado que em certos tipos de atividades, como as de longa duração e
que requerem contínua e muita atenção, um nível acima de 90 dB afeta desfavoravelmente a
produtividade, bem como a qualidade do produto. Calcula-se que um indivíduo normal
precisa gastar aproximadamente 20% de energia extra para realizar uma tarefa, sob efeito de
um ruído perturbador intenso.
Assim, sempre que for possível, com o objetivo de se proteger, deve-se evitar a
exposição a um nível de pressão sonora acima de 100 dB(A), pois os danos à audição devido
à exposição permanente a ambientes ruidosos são cumulativos e irreversíveis.
40
4.5. Efeitos da poluição sonora em plantas e animais
Segundo os zoólogos, as maiores dificuldades de adaptação dos animais ao cativeiro,
decorrem principalmente do barulho artificial das grandes cidades. Tal ruído também pode
causar nos animais domésticos, problemas de saúde semelhante ou até mais acentuado ao
causado no organismo humano, uma vez que cada espécie animal tem o seu limiar auditivo.
Cabe citar aqui, que as vibrações sonoras produzidas por motores de avião provocam a
mudança de postura das aves e diminuição de sua produtividade.
Pesquisadores dos EUA, estudando os efeitos do ruído sobre as plantas, fizeram uma
experiência com as do gênero Coleus, possuidoras de grandes folhas coloridas e flores azuis.
Doze dessas plantas, submetidas continuamente ao ruído de 100 dB, após seis dias
apresentaram a redução de 47% em seu crescimento por causa, segundo os cientistas, da
estridência persistente, que as fez perder grande quantidade de água através das folhas.
4.6. Formas de prevenção contra os danos causados pela poluição sonora
Como já foi dito anteriormente, a poluição acústica é muito difícil de ser eliminada.
Porém, existem algumas medidas que podem ser tomadas para se prevenir dos efeitos da
poluição sonora, ou mitigá-las, como:
• Redução do ruído e demais sons poluentes na fonte emissora;
• Redução do período de exposição (principalmente para pessoas expostas
continuamente a processos que geram muito ruído), quando não for possível a
neutralização do risco pelo uso de proteção adequada;
• Educação da população;
• Uso de proteção nos ouvidos adequada ao risco auditivo;
41
• Ao ouvir música colocar o som com volume adequado ao "Ambiente", evitando-se o
volume alto. Não sendo possível, não permanecer por tempo prolongado em ambientes
onde se tenha que gritar para ser ouvido pelo interlocutor à distância de um metro;
• Criar barreira contra o ruído: barreiras de vegetação, paredes ou muros de diferentes
alturas e materiais, instalados entre uma fonte de ruído (indústria, máquinas,
rolamento de automóveis em uma estrada etc.) e os receptores (habitantes).
42
5. MATERIAIS E MÉTODOS
5.1. Área de estudo
O Município de São Carlos está localizado na região centro-norte do Estado de São
Paulo, entre as coordenadas geográficas de 21º35’45” e 22º09’30” de latitude sul e 47º43’04”
e 48º05’26” de longitude oeste
O município possui hoje 197,187 mil habitantes que estão distribuídos numa área total
de 1140,9 km2.
Na figura 5.1 pode-se ter uma noção da distribuição do perímetro urbano e do centro
comercial do município de São Carlos.
43
Figura 1. Mapa da região urbana do município de São Carlos
5.2. Local de coleta de dados
Para a coleta de dados foram escolhidos pontos críticos de ruídos, levando em
consideração o fluxo de pessoas, de carros e de ônibus, o número de pessoas que ficam
expostas ao ruído continuamente por longos períodos de tempo e a disponibilidade de espaço
necessário para realização da coleta de dados. Através de uma pré-analise, considerando os
aspectos mencionados, foram escolhidos o pátio do mercado municipal e a rua General Osório
(“calçadão”1), representados na figura 5.2. Todos os pontos escolhidos estão localizados no
1 “Calçadão “ é o que se convencionou chamar as ruas destinadas somente aos pedestres. Neste caso, a Rua General Osório, onde está concentrado o comércio e os consumidores podem circular a pé, sem a intervenção de automóveis.
44
centro comercial de São Carlos, que concentra um grande número de lojas, bancos e barracas
(“camelódromo”2), o que faz com que possua um grande fluxo de pessoas e de veículos.
Figura 2. Localização dos pontos de medição
5.2.1. Mercado Municipal
O mercado municipal de São Carlos está localizado entre duas ruas importantes,
Avenida São Carlos e Rua Episcopal, com grande fluxo de veículos e de pessoas. Todos os
quarteirões que rodeiam o mercado possuem uma grande concentração de lojas, dentre elas,
até uma escola de informática.
Na parte frontal ao pátio, existem alguns bancos de praça, onde muitos idosos passam
o dia conversando e normalmente freqüentam diariamente o local. Também ocorrem no pátio
do mercado, eventos voltados para os cidadãos.
2 “Camelódromo” é o nome utilizado para o recinto onde se concentram diversos vendedores ambulantes. No município de São Carlos, existe uma região que foi dividida em pontos para a regularização de tais vendedores.
45
Figura 3. Região do Mercado Municipal
A Avenida São Carlos está inclusa na rota de todas as linhas de ônibus circulares da
cidade, e a maioria dessas linhas passam pela região do mercado municipal. Além do grande
fluxo de ônibus fretado e de veículos que nela circulam, pois a avenida praticamente atravessa
o município.
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Figura 4. Avenida São Carlos
5.2.2. Rua General Osório (“calçadão”)
A Rua General Osório, popularmente conhecida como “calçadão” é uma rua onde não
é permitida a passagem de veículos, apenas os pedestres circulam nela. A rua tem extensão de
dois quarteirões, e ao longo dela situam se lojas populares variadas. Algumas dessas lojas
utilizam som com microfone ou musica para chamar a atenção dos consumidores. As três ruas
que cortam o “calçadão” perpendicularmente são a Avenida São Carlos, Rua Episcopal e Rua
Nove de Julho. A Rua Episcopal também comporta um grande fluxo de veículos, porém,
menor que a Avenida São Carlos.
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Figura 5. Rua General Osório
5.3. Equipamentos utilizados
O equipamento utilizado para as medições foi o medidor de nível de pressão sonora da
marca Quest Technologies, modelo 2700, com as seguintes características:
• Escala de medição para medidas rápidas e exatas do nível de som em escalas
de pesagens “A”, “B” e “C”;
• 4 escalas selecionáveis, 20 a 80, 40 a 100, 60 a 120 e 80 a 140 dB(A);
• Precisão conforme ANSI S1.4 tipo 2;
• Calibrador QC-10 de 114 dB, 1000 Hz;
• Microfone com condensador elétrico de 12,7mm de Ø.
O aparelho utilizado foi fornecido pelo Departamento de Arquitetura e Urbanismo da
EESC-USP.
48
Figura 6. Decibelímetro Quest Technologies modelo 2700, utilizado para medições
5.4. Procedimentos para a coleta de dados
A área foi escolhida de modo que fosse possível atender as especificações da NBR
10151 item 5:
5 Procedimento de medição 5.1 Condições gerais No levantamento de níveis de ruído deve-se medir externamente aos limites da propriedade que contém a fonte, de acordo com 5.2.1. Na ocorrência de reclamações, as medições devem ser efetuadas nas condições locais indicadas pelo reclamante, de acordo com 5.2.2 e 5.3, devendo ser atendidas as demais condições gerais. Em alguns casos, para se obter uma melhor avaliação do incômodo à comunidade são necessárias correções nos valores medidos dos níveis de pressão sonora, se o ruído apresentar características especiais. A aplicação dessas correções, conforme 5.4, fornece o nível de pressão sonora corrigido ou simplesmente nível corrigido (Lc).
49
Todos os valores medidos do nível de pressão sonora devem ser aproximados ao valor inteiro mais próximo. Não devem ser efetuadas medições na existência de interferências audíveis advindas de fenômenos da natureza (por exemplo: trovões, chuvas fortes etc.). O tempo de medição deve ser escolhido de forma a permitir a caracterização do ruído em questão. A medição pode envolver uma única amostra ou uma seqüência delas. 5.2 Medições no exterior de edificações Deve-se previnir o efeito de ventos sobre o microfone com o uso de protetor, conforme instruções do fabricante: 5.2.1 No exterior das edificações que contêm a fonte, as medições devem ser efetuadas em pontos afastados aproximadamente 1,2m do piso e pelo menos 2m do limite da propriedade e de quaisquer outras superfícies refletoras, como muros, paredes etc. Na impossibilidade de atender alguma destas recomendações, a descrição da situação medida deve constar no relatório. 5.2.2 No exterior da habitação do reclamante, as medições devem ser efetuadas em pontos afastados aproximadamente 1,2m do piso e pelo menos 2m de quaisquer outras superfícies refletoras, como muros, paredes etc. Caso o reclamante indique algum ponto de medição que não atenda as condições de 5.2.1 e 5.2.2, o valor medido neste ponto também deve constar no relatório.
Foram feitas 30 medições, registradas em resposta rápida (fast) a cada dez segundos
durante cinco minutos a cada ponto em escala de ponderação “A”. Para, posteriormente,
calcular o nível de pressão sonora equivalente, Leq em dB(A) a cada ponto determinado,
através da expressão matemática (01)3.
Foram realizadas medições dos níveis de pressão sonora em dois dias, e cada dia dois
horários. Os dias de medição foram 21/06/2008 (sábado) e 03/06/2009 (quarta-feira). O
sábado foi escolhido por ser o dia de maior movimento no comércio e a quarta-feira para que
se pudesse ter uma comparativa com um dia de rotina normal do centro comercial de São
Carlos. A primeira medição foi realizada entre 8h 00min até 8h 30min, ainda antes da abertura
do comércio e das 11h 30min às 12 horas, horário de maior movimento no centro comercial
em ambos os dias.
3 Equação (1):
50
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
No total, foram feitos para dois pontos 30 medições com intervalo de 10 segundos
durante um intervalo de 5 minutos, em dois horários (8:00 e 11:30) e dois dias (21/06/2008 e
03/06/2009). O ponto 1 está localizado no pátio do Mercado Municipal e o ponto 2 na Rua
General Osório. Na tabela - 6.1 constam todas as medições realizadas.
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Tabela 6.1 – Medições do nível de pressão sonora em dB(A) em 21/06/2008 e 03/06/2009
Ponto 1 Ponto 2
21/6/2008 3/6/2009 21/6/2008 3/6/2009 Número
de Medições 8:00 11:30 8:00 11:30 8:15 11:45 8:15 11:45
1 44 74 57 62 48 70 59 68 2 47 76 53 72 47 72 59 64 3 55 73 61 74 51 71 57 58 4 48 71 60 69 48 66 56 59 5 53 70 53 70 48 67 58 62 6 49 74 57 67 57 73 52 65 7 53 71 59 70 51 68 55 62 8 46 67 52 72 44 67 51 64 9 62 64 55 70 49 64 58 65
10 57 72 55 65 43 68 52 69 11 58 77 52 68 47 70 50 67 12 55 80 46 71 51 67 44 62 13 53 69 49 73 54 70 45 65 14 50 76 48 73 48 72 50 66 15 54 73 54 74 43 71 49 68 16 51 77 53 74 47 68 50 71 17 53 76 50 69 52 69 56 71 18 48 81 44 69 48 72 52 76 19 58 77 47 65 58 73 51 68 20 71 75 46 67 54 75 58 62 21 59 75 50 69 54 75 54 64 22 55 75 50 68 55 75 54 67 23 48 73 55 72 47 73 57 69 24 46 72 53 71 53 72 51 65 25 46 74 50 71 47 74 46 68 26 57 74 58 68 42 74 48 65 27 52 68 58 69 47 73 47 63 28 65 68 57 66 45 74 45 72 29 59 71 56 68 48 71 50 72 30 59 72 52 71 43 71 52 72
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Por meio do calculo da equação (01)4 e dos dados obtidos, foi calculado o nível
equivalente de pressão sonora (Leq) para as oito medições efetuadas. A tabela 6.2 (refernede
ao dia 21/06/2008) e 6.3 (referente ao dia 03/06/2009) dispõe os resultados obtidos.
Tabela 6.2 – Níveis equivalentes de pressão sonora em dB(A) obtidos em 21/06/2008
Medições Local e Horário
LAeq LAmin LAmáx
M1 P1 - 8:00 59 44 71 M2 P2 - 8:15 51 42 58 M3 P1 - 11:30 75 68 81 M4 P2 - 11:45 71 66 75
Tabela 6.3 – Níveis equivalentes de pressão sonora em dB(A) obtidos em 03/06/2009
Medições Local e Horário
LAeq LAmin LAmáx
M5 P1 - 8:00 55 44 61 M6 P2 - 8:15 54 44 58 M7 P1 - 11:30 70 62 74 M8 P2 - 11:45 68 58 76
De acordo com a NBR 10151, a área de estudo se enquadraria na modalidade de “área
mista, com vocação comercial e administrativa, ou seja, o NCA para essa área é de 60 dB(A)
durante o dia e 55 dB(A) para o período noturno. Como uma das medições foi realizada num
sábado, a norma estipula que o período noturno não deve acabar antes das 9 hora da manhã.
Levando em consideração as especificações, pode-se observar que apenas M2 e M6
estão dentro do limite estipulado. Porem, como o centro comercial de São Carlos possui
atividade aos sábados (exceto bancos), pode-se considerar que o valor obtido em M1 também
é aceitável.
4 Equação (1):
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Já os níveis equivalentes de pressão sonora obtidos em M3, M4, M7 e M8 estão bem
acima do nível recomendado. Porem, o mais preocupante nesse resultado é que existem
inúmeras pessoas que ficam expostas continuamente, por um período de ate 8 horas diárias,
ou por um curto período de tempo, mas com uma freqüência alta. O risco à saúde devido a
essa exposição é alto, pois longas exposições à ruídos intensos podem causar surdez
(temporária ou permanente), desequilíbrios psíquicos (como insônia ou ate mesmo perda de
capacidade intelectual) e até complicações físicas no organismo (como trauma acústico),
como cita SOUZA (2006) em seu estudo.
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7. CONCLUSÃO
Quando andamos no centro comercial de São Carlos não percebemos quão ruidoso o
ambiente está, pois já estamos “acostumados” a esse ruído. Esse fenomedo pode ser explicado
pela pesquisa realizada por RUSSO (1999), que indica que o ouvido humano é dotado de
mecanismos protetores que, ao serem expostos ao ruído, alteram a sensibilidade auditiva
durante e após a estimulação acústica, sofrendo a ação do fenômeno descrito como
mascaramento. A percepção do som então é diminuída na presença de um ruído de maior
intensidade que encobre o som inicial. Quando a sensibilidade auditiva é reduzida durante um
estímulo sonoro intenso e duradouro, diz-se que houve adaptação auditiva. Porem, com as
pesquisas realizadas por autores como OKAMOTO et al (1997), ANDRADE et al (1998),
Russo (1999) e SALIBA (2000), entre outros, ficou claro que a exposição a esse ruído de
forma continua pode acarretar em sérios problemas de saúde, tanto física quanto psíquica,
como reações psicológicas (perda de atenção, irritação, estresse, etc) e reações físicas (surdez
temporário ou permanente, neurológicas, etc).
Desta forma, esse ambiente pode até não causar grandes danos a pessoas que
freqüentam esporadicamente o local, porem pode ser um grande risco aos trabalhadores da
região que estão expostos diariamente por longos períodos de tempo à essa poluição.
Segundo FARIAS (2006), existe uma crescente preocupação da população em relação
à exposição à ruídos, porém, essa preocupação está ligada ao incomodo que esse ruído causa
às pessoas em sua residência do que à questão de sua saúde. Porém, é de grande importância
que a população seja informada das conseqüências que o ruído pode causar as sua saúde.
Como ação mitigadora, o fluxo de veículos da região poderia ser reorganizada,
descentralizando o tráfego de ônibus e tomando medidas que desafogassem o centro
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comercial do município. O trabalho de conscientização da população para diminuir o fluxo de
veículos na região e realizar sempre a manutenção de seus veículos é essencial.
Como medidas preventivas, a prefeitura deve seguir a divisão de uso e ocupação do
solo, estabelecido no plano diretor do município de São Carlos, para evitar que novas áreas
sejam atingidas pela poluição sonora. É importante que haja um planejamento da cidade de
modo que descentralize o fluxo de veículos e ônibus na cidade, não só no centro comercial.
Um grande problema é o ônibus circular, pois não há como tirar o centro comercial da
rota das linhas de ônibus circular. Portanto, a medida cabível é que a prefeitura fiscalize as
frotas e exija que as empresas façam a manutenção dos veículos periodicamente, para evitar
barulhos excessivos derivados dos ônibus.
E por fim, a medida mais trivial, mas que muitas vezes é descumprida, a fiscalização
sobre veículos de passeio sem a devida manutenção (motores e escapamentos com barulho),
veículos de som que circulam na região (e em todo o município) e alto-falante das lojas, onde
os vendedores anunciam no microfone ou colocam musica alta para atrair a atenção do
consumidor.
Todas as medidas aqui citadas não são exclusivas para o centro comercial de São
Carlos, mas podem ser aplicadas em qualquer região do município.
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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ruído industrial no organismo. Revista Pró-Fono, v. 10, n. 1, 1998.
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Procedimento. ABNT. Rio de Janeiro, 1998.
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diretrizes. Disponível na Internet através do site: <www.lei.adv.br/conama01.htm>.
Acessado em 29/05/2008.
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<www.lei.adv.br/conama01.htm>. Acessado em 15/06/2008.
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2007.
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Caso. Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil, UFSC, 2002.
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