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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS HUGO MAGALHÃES COSTA FERREIRA A CONSISTENTE RELAÇÃO ENTRE O A INTERNET E A TEORIA DOS LONGOS CICLOS ECONÔMICOS DE KONDRATIEFF, INSERIDA NA TEORIA DO DESENVOLVIMENTO DE SCHUMPETER SALVADOR 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS

HUGO MAGALHÃES COSTA FERREIRA

A CONSISTENTE RELAÇÃO ENTRE O A INTERNET E A TEORIA DOS LONGOS CICLOS ECONÔMICOS DE KONDRATIEFF, INSERIDA NA TEORI A DO

DESENVOLVIMENTO DE SCHUMPETER

SALVADOR 2008

HUGO MAGALHÃES COSTA FERREIRA

A CONSISTENTE RELAÇÃO ENTRE A INTERNET E A TEORIA D OS LONGOS CICLOS ECONÔMICOS DE KONDRATIEFF, INSERIDA NA TEORI A DO

DESENVOLVIMENTO DE SCHUMPETER

Trabalho de conclusão de curso apresentado no curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Ciências Econômicas

Orientador: Prof. Dr. Bouzid Izerrougene

SALVADOR 2008

Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Ferreira, Hugo Magalhães Costa F383 A consistente relação entre a internet e a teoria dos longos ciclos econômicos de Kondratieff, inserida na teoria do desenvolvimento de Shumpeter / Hugo Magalhães Costa Ferreira. – Salvador, 2008. 38f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Economia) – Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal da Bahia. Orientador: Prof. Dr. Bouzid Izerrougene. 1. Internet – Teoria do desenvolvimento. 2. Inovações – Internet. 3. Desenvolvimento econômico – Shumpeter. 3. Ciclos econômicos – Kondratieff. I. Ferreira, Hugo Magalhães Costa. II. Título.

CDD – 658.8

HUGO MAGALHÃES COSTA FERREIRA A CONSISTENTE RELAÇÃO ENTRE A INTERNET E A TEORIA DOS LONGOS CICLOS ECONÔMICOS DE KONDRATIEFF Aprovada em julho de 2008 Orientador: __________________________________

Prof. Dr. Bouzid Izerrougene Faculdade de Economia da UFBA

____________________________________________

Prof. Dr. Da Faculdade de Economia da UFBA

____________________________________________

Prof. Dr. da Faculdade de Economia da UFBA

Dedico este trabalho a Jeová, a Jesus e ao Espírito Santo, aos meus pais Eduardo Jorge Ferreira e Regina Maria Magalhães Ferreira, e a minha amiga Aline Motta, que como um anjo pegou meus “escritos” e me ajudou-me a transforma-los neste trabalho monográfico.

RESUMO

Este trabalho monográfico visa fazer um estudo da internet, como inovação presente tanto nos ciclos de Kondratieff quanto na Teoria do Desenvolvimento de Schumpeter. Demonstrada a Internet como a ultima inovação de base a conceber conglomerados de inovações no sistema econômico gerando ondas longas de crescimento demonstráveis, é observado que ela cumpre as diretrizes formuladas por Schumpeter e gerou efeitos sobre o mercado financeiro conforme descreve a teoria. Tal trabalho que contribui com a teoria do desenvolvimento econômico de Schumpeter no sentido de fazê-la poder ser sentida na virada do século XX para o XXI. Palavras-Chave: Ciclos. Crises. Inovações. Crescimento. Desenvolvimento. Internet

LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Topologia de rede 10 Gráfico 1 - Ciclo de Kondratieff 18 Gráfico 2 - Ciclos de Kondratieff 18 Gráfico 3 - Comparativo entre a depressão ocorrida na Nasdaq e na Dow Jones 32 Gráfico 4 - Pico ocorrido na Nasdaq e na Dow Jones 33 Gráfico 5 –Comparativo entre a depressão ocorrida na Nasdaq e demais crises ocorridas a partir da década de 70 34 Tabela 1 - Principais características de cada onda de Kondratieff 20 Tabela 2 - Principais características de cada onda de Kondratieff e a base para a quinta onda 25 Tabela 3 – Duração e queda no volume de transações da bolsa Nasdaq 34 Tabela 4 - A Internet como centro “gravitacional” da quinta onda 36

SUMÁRIO:

1 INTRODUÇÃO 2 A INTERNET COMO AUTÊNTICA INOVAÇÃO DE BASE 2.1 ANÁLISE HISTÓRICA DA INTERNET 2.1.1 A Fase da Invenção 2.1.2 A Fase Da Inovação 2.1.3 A Fase Da Difusão

3 A INTERNET COMO INOVAÇÃO DO ULTIMO CICLO DE KONDRATIEFF 3.1 UM CICLO DE KONDRATIEFF COMPLETO 3.2 AS GRANDES INOVAÇÕES OCORRIDAS EM CADA CICLO 3.2.1 As grandes inovações da primeira onda 3.2.2 As grandes inovações da segunda onda 3.2.3 As grandes inovações da terceira onda 3.2.4 As grandes inovações da quarta onda 3.3 CARACTERÍSTICAS COMUNS OBSERVADAS E A BASE PARA A 5ª ONDA 4 A INTERNET INSERIDA COMO INOVAÇÃO MODIFICAD ORA DO FLUXO CIRCULAR DA RENDA DA TEORIA DESENVOLVIMENT O ECONÔMICO DE SCHUMPETER. 4.1 DIRETRIZES BÁSICAS DO MODELO DE FLUXO CIRCULAR DA RENDA E OS CINCO FENÔMENOS GERADOS POR UMA INOVAÇÃO PODEROSA 4.2 A INTERNET E OS CINCO FENÔMENOS 4.2.1. Um novo bem 4.2.2 Novo método de produção 4.2.3 Novo mercado 4.2.4 Nova fonte de matéria-prima 4.2.5 Posições de Monopólio 4. ANÁLISE DOS EFEITOS DA INOVAÇÃO INTERNET POR MEIO DA BOLSA DE VALORES NASDAQ

5 CONCLUSÃO REFERÊNCIAS

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1 INTRODUÇÃO

A internet foi relacionada como elemento significativo do surgimento de uma quinta onda

longa de Kondratieff pelos autores Tessaleno C. Devezasa e Harold A. Linstoneb. O presente

trabalho verificará se a relação descrita acima pode ser confirmada na Teoria do

Desenvolvimento Econômico de Joseph A. Schumpeter, como uma inovação econômica que

causou modificações no “fluxo circular da renda” (“circular flow”) criado por Schumpeter.

Tessaleno Devezasa e Harold Linstoneb defendem que conglomerados de inovações

tecnológicas originam pulsos que geram ondas de crescimentos em todos os setores da

economia e sociedade, se tornando assim o determinante dos longos ciclos econômicos

ocorridos desde a revolução industrial. A internet - situada no setor de comunicação - foi

confirmada por eles como ultima inovação a gerar grupos de empresas de tecnologia de

informação, capazes de gerar um crescimento na economia e na sociedade e se tornar

inovação determinante do quinto ciclo longo.

No segundo capitulo é feita uma análise histórica da internet, como ela nasceu, quem foram

os principais criadores dela, como ela se desenvolveu e se difundiu, gerando profissionais,

empresas, indústrias e um mercado de ações de tecnologia da informação e se tornando a

grande inovação que é hoje. No terceiro capitulo é feita uma breve conceituação do que são

ciclos, e particularmente do ciclo de Kondratieff, com alguns detalhes de cada onda de

crescimento ocorrida e a demonstração de como os autores citados acima comprovaram que a

internet se insere como a ultima grande inovação geradora do quinto ciclo. No quarto capitulo

será examinado se a internet, no contexto duma grande inovação do quinto ciclo de

Kondratieff, pode ser considerada como inovação modificadora do “fluxo circular da renda”,

criado na Teoria do Desenvolvimento Econômico de Joseph A. Schumpeter. Por fim, depois

de mostrar que a internet satisfaz as condições de modificação cíclica, o trabalho analisa por

meio de análise da bolsa de valores Nasdaq (A Nasdaq é a bolsa de negociação das ações das

empresas de Tecnologia da Informação), como a internet causa um dos efeitos privilegiados

por Schumpeter, que é o de causar instabilidade no sistema financeiro.

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2 A INTERNET COMO AUTÊNTICA INOVAÇÃO DE BASE

2.1 ANÁLISE HISTÓRICA DA INTERNET

As invenções do telégrafo, telefone, rádio, televisão e do computador formaram a base para a

integração que a Internet iria fazer. A Internet é um mecanismo de radiodifusão, de

disseminação de informação, e um meio de colaboração e interação entre os indivíduos - sem

restrições geográficas. Ela é uma infra-estrutura global de informação com uma influência que

alcança, além dos campos tecnológicos, toda a sociedade. Porém, é preciso uma análise mais

sistemática para se entender como ela veio a se tornar uma autêntica inovação, (SANTOS,

2001).

Uma autêntica inovação deve passar por 7 estágios, chamados "estágios da inovação",

segundo Bright. São eles: descoberta científica, viabilidade laboratorial, protótipo

operacional, introdução comercial ou uso operacional, adoção generalizada, difusão para

outras áreas e, por fim, o impacto econômico e social, (SANTOS, 2001).

Passando por estes estágios, uma invenção se torna uma autêntica inovação. Mas, para uma

análise mais simplificada, estes sete estágios podem ser agrupados em três fases

correspondentes. A fase da invenção, que corresponde à descoberta científica e à viabilidade

laboratorial; a fase da inovação, que corresponde ao protótipo operacional e a introdução

comercial ou uso operacional; e a fase da difusão, que corresponde à adoção generalizada e

sua consolidação em diversas áreas, gerando diversos impactos econômicos e sociais. Os três

subtítulos a seguir resumem como a internet passa por cada fase descrita.

¹ : Estes estágios foram criados por Bright. em sua obra, The Manager and Technological

Forecasting.

2.1.1 A fase da invenção

A fase de invenção da internet começou por volta dos anos 60 com a elaboração das redes de

pacotes-comutados (“Packet-Switching”). Redes de pacotes-comutados é um método de

fragmentar uma informação em pequenas partes e enviá-las a um destino. Chegando ao

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destino, as pequenas partes são juntadas retomando a forma inicial. O simples fato de se poder

dividir uma informação em pequenas partes e poder reconstruí-la remotamente é uma

invenção importante, pois antes as informações teriam que ir inteiras, o que tornava as

conexões entre computadores complicadas e de velocidade muito baixa. Em seguida, outra

invenção permitiu comprimi-las para melhorar a velocidade de transmissão. Por fim, tornou-

se possível codificá-las, aumentando a segurança da comunicação. Outras façanhas deste

sistema ainda podem ser mencionadas como: a democratização do fluxo e uso da rede

permitindo que as informações fossem arquitetadas de forma distribuída conforme a figura 1

abaixo. Leonard Kleinrock foi quem desenvolveu este sistema de redes de pacotes comutados,

e é considerado o “Pai da Internet”. Em 1969 foi implementada a primeira rede com tal

característica, sendo considerado então o ano de “nascimento da Internet”, (SANTOS, 2001).

Figura 1 - Topologia de rede Fonte Devezas, 2005

Esta rede nasceu nos Estados Unidos da América e foi denominada de ARPA -

AdvancedResearch Projects Agency. No final de 1969 quatro servidores estavam ligados entre

si formando a ARPANET A primeira ligação entre redes de pacotes comutados, em outras

palavras, o primeiro nó da ARPANET foi feito no Centro de Medida de Rede da UCLA. O

segundo nó foi instalado no “Stanford Research Institute” (SRI) e um mês após esta ligação, a

primeira mensagem entre estes dois servidores foi enviada! Dois novos nós foram

acrescentados posteriormente, um na “University of California Santa Barbara” e outro na

universidade do Utah.

A idéia de criar um sistema interligado de rede com uma arquitetura aberta (redes sem

segredos com respeito aos componentes usados nela e sem impedimentos de se construir

novos componentes) que suporte diversas redes individuais, desenhadas e desenvolvidas

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separadamente, foi introduzida inicialmente por Bob Kahn em 1972. Seria um protocolo de

rede que originalmente fazia parte de um programa desenvolvido anteriormente por ele de

rede de pacotes que funcionava por ondas de rádio, mas que não vingou. Nessa época o

programa foi chamado de “Internetting”, (SANTOS, 2001).

Kahn decidiu desenvolver este projeto novamente, mas numa rede de pacotes-comutados e

denominou-a de “Transmission Protocol/Internet Protocol”, em 1973. Na época, ele chamou

Vinton Cert (que trabalhava em Stanford) para trabalhar nos detalhes do design deste novo

produto, formando uma equipe que viria a construir o que seria chamado de TCP/IP. Um IP é

um valor numérico usado para encaminhar as informações para um determinado computador

na Internet. Se esse computador mudar de localização, o seu IP muda, mas se ele for fixo os

mesmos números designados a ele são usados para alcançá-lo em algum ponto na rede. Com o

crescimento da Internet e seu uso generalizado, foram atribuídos nomes aos IP's de maneira a

não ser necessário lembrar os diversos valores numéricos, isso é chamado de “Domain Name

System” (DNS) que traduz, por exemplo, o endereço demnet.ubi.pt no seu endereço IP

193.136.64.217, facilitando tremendamente o uso da rede, (SANTOS, 2001)..

Robert M. Metcalfe desenvolveu no Xerox Parc a idéia da Ethernet que permitia que cabos

semelhantes aos usados em antena de TV pudessem enviar dados a velocidades extremamente

elevadas para a época. Este seria um componente crucial no desenvolvimento das redes locais.

A primeira rede Ethernet, chamada “Alto Aloha System”, foi testada em Maio de 1973,

(SANTOS, 2001).

Reunindo o sistema de rede com arquitetura aberta, a facilidade de se atribuir nomes a

endereços IP e um funcionamento em alta velocidade, abriu o caminho para a proliferação de

uso de redes locais, de PCs (computadores pessoais) e estações de trabalho. Adicionalmente a

essas evoluções descritas, entre 1972 e 1974, foram lançadas as especificações de dois

protocolos que se tornariam extremamente importantes para a implementação dos serviços

que hoje usamos na Internet. Em 1973 foi desenvolvida a primeira especificação do Telnet

que permitia entrar remotamente (remote login) num computador e trabalhar nele como se

estivesse utilizando localmente. Em 1974 a especificação do FTP (File Transfer Protocol)

trouxe a possibilidade de transferir pastas de arquivos completos entre computadores remotos.

Com essas invenções, o terreno para o fenômeno que a Internet é hoje foi preparado, faltando

apenas um detalhe: computadores pequenos, baratos e softwares simples de operar. O

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primeiro desafio foi visualizado pela IBM e em 1980, quando deu a 12 dos seus principais

engenheiros a tarefa de construir um computador pessoal que fosse mais barato e mais rápido

que qualquer outro. A tarefa foi um sucesso e nos anos seguintes os computadores registraram

uma evolução rápida e os preços sempre foram baixando devido à competitividade, conforme

observado até hoje.

O segundo desafio de conceber softwares fáceis de operar também foi vencido pela IBM. Por

uma estratégia, consciente ou não, a Microsoft se beneficiou disso e com apenas cinco anos

de existência, a empresa, cujos donos eram Bill Gates e Paul Allen, aproveitou a oportunidade

de negociar com a IBM seu sistema operacional, mas não a venda do software, apenas o seu

licenciamento dando assim início à sua escalada internacional.

2.1.2 A Fase da Inovação

Assim a Internet estava com todos os pilares levantados para se tornar a revolução que

surpreende até hoje. Mas ela precisava ganhar aplicações para de uma simples invenção, se

tornar uma inovação econômica. Esta fase é a parte operacional, em que uma invenção passa a

despertar interesse dos agentes econômicos e receber investimentos, tornando-se uma

verdadeira inovação econômica. A necessidade a ser atendida era bem clara: diminuir as

barreiras e o tempo de comunicação entre instituições e entre indivíduos. O caminho era

encontrar recursos tecnológicos que propiciam o funcionamento pleno da internet, tais como

protocolo de comunicação TCP/IP, provedores de acesso e navegadores.

Após estabelecer seus pilares tecnológicos e estar apta para ser usada, faltava ainda que

ocorressem dois fatores para a completa estruturação da Internet: que o sistema da rede

ARPANET, o TCP/IP, se tornasse padrão e a introdução da Internet no mundo comercial. É a

chamada fase da inovação a que nos referimos anteriormente, onde diversos empreendedores

desenvolveram grandes e importantes aplicações que permitiram que seja padronizada e que

se tornasse comercial.

Em 1984 a Internet já era uma tecnologia bem estabelecida e utilizada grandemente nos

laboratórios, nas universidades e algumas empresas. Mas ela ainda era apenas uma entre as

demais redes existentes dentre outras como o XNS da Xerox, o DECNet da Digital e o IBM

SNA. Havia pouca pressão para que se tornassem compatíveis entre si. Na realidade, estas

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redes eram em muitos campos incompatíveis. No entanto as coisas começaram a mudar

quando a Janet (1984), uma rede britânica e a NSFNET (1985), uma rede americana,

anunciaram suas intenções de servirem toda comunidade universitária. A NSF (National

Science Foundation) definiu que o financiamento seria efetuado sobre a condição das

universidades terem que disponibilizar o acesso desta rede de comunicação a todos os

docentes e investigadores do campus universitário (SANTOS, 2001).

Para alcançar este objetivo e atender a necessidade de desenvolver este projeto sem depender

diretamente do financiamento federal, a NSF precisava de uma infra-estrutura de rede robusta,

que suportasse a comunidade acadêmica e de investigação. Ela então escolheu o protocolo

TCP/IP. Juntamente com este fato, algumas agências federais americanas criaram e

implementaram decisões políticas que permitiram levar este protocolo a se tornar padrão e

tornar a Internet o que ela é hoje.

Os equipamentos utilizados nas comunidades científicas da rede NSF, que foram construídos

especificamente para isso, foram lentamente substituídos por equipamentos comerciais. Entre

1985 e 1995, esta rede cresceu de seis pontos interligados, seis nós, com linhas de transmissão

de 56 mil bytes por segundo para vinte e um nós com múltiplas linhas de transmissão a 45

mega bytes por segundo. Entre 1985 a 1995, 50 mil redes se encontravam interligadas com

este protocolo, sendo que aproximadamente 29 mil delas se encontravam nos Estados Unidos,

(SANTOS, 2001).

Por volta de 1990, o protocolo TCP/IP tinha suplantado a maioria dos outros protocolos de

rede, e o IP estava a tornar-se o protocolo padrão. Assim, o primeiro fator para a Internet

deixar de ser somente uma invenção e se tornar uma inovação aconteceu, pois seu protocolo

se tornou padrão.

No final de 1989, surgiu o primeiro provedor comercial de acesso à rede por ligação

telefônica, a The World. Isto permitiu que a Internet começasse a crescer para além dos

laboratórios acadêmicos e dos laboratórios científicos. Rapidamente este novo correio, o

correio eletrônico, passou a crescer graças a ex-estudantes universitários que queriam

continuar tendo acesso a ele após terem se graduado.

A introdução comercial ocorreu em outubro do ano de 1990 quando a “Clari-Net” ofereceu o

primeiro recurso comercial na Internet. Porém havia uma barreira a ser derrubada: seu uso era

14

pouco amigável, incompreensível para a maioria dos usuários, pois seu uso requeria um

conhecimento em computação. O primeiro passo em direção à quebra de tal barreira foi dado

por Paul Lindner e Mark McCahill, da Universidade do Minnesota, que desenvolveram um

programa chamado Gopher em 1991. Este programa permitia que o usuário clicasse em um

ícone e baixasse arquivos, bem diferente dos outros programas da época. Um outro programa,

o World-Wide Web (Teia Mundial Alargada) - WWW ou Web, foi criado pelo cientista inglês

Tim Berners-Lee e por ser esteticamente ser mais interessante e conter funções multimídia

superou rapidamente o Gopher. Posteriormente surgiu o “Hypertext Markup Language”, ou

simplesmente HTML, que permitiu que um usuário visualizasse um documento num terminal

de texto, enquanto outro visualizasse o mesmo documento num outro computador com

ambiente gráfico, em outras palavras, o programa HTML ajusta o texto a cada ambiente. O

criador do World- Wide Web, Berners-Lee criou um navegador de internet, mas pouco

sucesso isso teve. Em 1993, Mark Andreesen lançou o Mosaic X que era fácil de instalar, fácil

de usar e tinha assistência técnica 24 horas e, além disso, tinha capacidade gráfica muito

melhor, pois ele apresentava as imagens entre o texto em vez de em caixas separadas como

ocorria com o navegador de Berners-Lee (SANTOS,2001).

Com essas melhoras, as empresas começaram a entrar na rede e oferecer produtos e serviços

por meio dela. A equipe de desenvolvimento do Mosaic criou a empresa Netscape, ou seja, a

primeira empresa genuinamente de Internet. Os primeiros domínios registrados foram os

comerciais (.com) e os educacionais (.edu). A partir de então, a internet se torna uma inovação

tecnológica estabelecida, pois havia se tornado rede padrão e sua introdução comercial havia

se realizado. Agora será exposta a fase da difusão, que corresponde à adoção generalizada e à

difusão em diversas áreas.

2.1.3 A fase da difusão

A difusão começou graças aos interesses dos governos de criarem redes nacionais de

computadores para suas instituições civis, militares e, principalmente, as acadêmicas,

tornando a Internet uma ferramenta de trabalho para seus pesquisadores. Surgiram muitas

empresas que fabricavam e forneciam produtos de rede, fornecedores de serviços de acesso,

aumentando a sofisticação dos serviços da rede e a atividade econômica ficou, pouco a pouco,

permeada pela informação e a comunicação, através das Novas Tecnologia de Informação e

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Comunicação que permitiram a ampliação do campo econômico à totalidade do campo social,

via redes humanas de cooperação (IZERROUGENE, 2006).

Começaram a aparecer nas bancas de jornal, revistas especializadas em assuntos de Internet.

Empresas como a Compuserve, a America Online (AOL) e a Prodigy começaram a ofertar

cestas de serviços completas a seus assinantes. Novos serviços surgiram como o da empresa

Vocal Tec, que tornou possível efetuar chamadas telefônicas via Internet; o da Real Networks,

cujo software “Real Player” torna possível o envio de áudio em tempo real também pela

Internet; e, o da A Sun, que chama a atenção dos programadores ao lançar a sua linguagem de

programação JAVA, com a possibilidade de um dia poder usar-se um computador sem que

dependa de um sistema operacional, do Windows, do Linux e outros. Em 1995 o interesse

econômico era muito grande nas empresas especializadas em internet e TI (tecnologia da

informação) que se lançaram freneticamente em bolsas de valores. A NASDAQ (National

Association of Securities Dealers Automated Quotation), onde se situa a quase totalidade das

empresas de Internet e TI, obtinha crescentes valorizações, por vezes em torno de 10% ao dia.

A NASDAQ tornou-se a principal fonte de financiamento destas novas empresas, com

investidores dispostos a colocar muito dinheiro nelas (SANTOS, 2001).

A Internet já se difundiu para outras áreas, sendo possível hoje realizar conferências, aulas de

ensino superior e médio à distância, e inclusive já ocorreram operações médicas por meio

dela, demonstrando que num breve futuro deverá consolidar-se em outros campos, quanto

mais a velocidade de conexão permitir.

Impactos adicionais podem ser descritos nas empresas (micro, pequenas, médias e grandes

empresas) de uma maneira ou de outra, desde o contato por e-mail, a consulta de preços, até

aos sistemas avançados de logística que usam a internet, efetuando assim uma nova base

estrutural corporativa. Além disso, podem-se observar algumas mudanças causadas no

trabalho como uma maior planificação da informação e velocidade de difusão da mesma.

Outro exemplo da importância da internet e da cesta de produtos e serviços advindos por ela é

destacado pelo professor Izerrougene no artigo ..... Ele cita o exemplo do Toyotismo onde a

transmissão de informações entre demanda e oferta é um objetivo constante para que o

estoque da empresa seja mínimo (se possível zero) e a transformação de mercadoria em

dinheiro seja veloz. Em outras palavras, o surgimento do Toyotismo levou à criação de um

segmento de trabalho que usa a informação e tudo que a envolve como ferramenta de trabalho

para o objetivo magno de redução do tempo de realização de mercadoria em dinheiro. O autor

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destaca ainda que a tecnologia da informação é ao mesmo tempo ferramenta de trabalho e

objeto de consumo (IZERROUGENE, 2006).

Socialmente, a forma das pessoas se contatarem também mudou. O uso crescente dos

sistemas de comunicação em tempo real pela internet, tais como o msn (Messenger), o orkut e

os blogs modificou os hábitos da nova geração. Muita gente não consegue passar um dia sem

conectar-se ao msn para encontrar-se com amigos reais ou virtuais, tornando-se num hábito

tão grande como era antigamente sentar na calçada no fim de tarde e ficar horas conversando

com os amigos.

Impactos adicionais não são abrangidos propositalmente. Por exemplo, a relação capital

trabalho e o próprio trabalho são afetados. Porém, como será visto posteriormente, os autores

escolhidos para desenvolver este trabalho destacam as inovações tecnológicas (o capital)

como fatores de ciclos e o empreendedor (o capitalista), como agente criador delas (das

inovações) excluindo outros fatores. Uma das explicações que podem ser dadas a isso foi

encontrada no artigo “Professor Schumpeter's theory of innovation” de Paul M. Sweezy. No

artigo, Sweezy destaca que na teoria do Desenvolvimento Econômico de Schumpeter, as

inovações perturbam os processos de troca e que por trás delas está uma “classe social” que

não se insere necessariamente nem no proletariado nem na classe capitalista. É o empresário

inovador, que não possui necessariamente capital.

17

3 A INTERNET COMO INOVAÇÃO DO ULTIMO CICLO DE KONDR ATIEFF

Partindo do suposto que grandes inovações tecnológicas originam pulsos na economia e

geram ondas de crescimento em todos os setores, serão aqui demonstradas as principais

inovações em cada ciclo e, em seguida, emitida a hipótese da internet ser a principal inovação

do quinto ciclo (ultimo ciclo). O próximo subtítulo mostrará como se caracteriza o longo ciclo

de Kondratieff, suas fases e períodos, para, posteriormente, verificar as inovações que

ocorreram em cada ciclo.

UM CICLO DE KONDRATIEFF COMPLETO

A teoria dos longos ciclos econômicos foi demonstrada em 1926 pelo economista russo

Nicolai Kondratieff, também conhecida como ciclos de Kondratieff. Ele demonstrou a

existência de períodos longos de crescimento da economia, seguidos de períodos de recessão

acentuada. Suas observações começaram a partir de 1780, período da primeira revolução

industrial. O estudo de tais ondas já havia sido efetuado por Jevons em 1884 e pelo

economista holandês Van Gelderen em 1913, ambos apresentaram dados empíricos para

justificar a existência deles (IASA, 2005). Kondratieff acreditava que a interação entre vários

acontecimentos produzia um padrão que se repetia ao longo de um grande período de tempo,

especificamente 56 anos. Os acontecimentos levados em consideração envolviam

principalmente inovações, seguidos de outras como guerras, descobertas, opinião pública e

clima. Assim o longo ciclo econômico de Kondretieff representa um evento bem mais

complexo que se possa imaginar. Ele acumulou dados de diversas variáveis econômicas de

diferentes países, e mostrou que a economia seguia repetidas fases de crise, recuperação,

prosperidade e estagnação, conforme podemos observar na figura abaixo (IASA, 2005).

18

Gráfico 1 - Ciclo de Kondratieff Fonte: Devezas,2005

O trabalho de Kondratieff apenas se destacou depois de 1930, pois ele previu a grande

depressão, assim como a enorme especulação que a precedeu. A partir de então suas

publicações e debates ganharam uma forma sustentada. Será considerada mais de perto cada

fase de um longo ciclo econômico de Kondratieff, e posteriormente, os fatos observados na

história que comprovam tais ciclos.

Basicamente um ciclo de Kondratieff pode ser explicado, baseando-se nas suas fases de

acontecimento: começa com a fase de expansão, através do surgimento de importantes

inovações tecnológicas; seguindo-se a fase de recessão, também chamada de depressão

primária, na qual há escassez de matéria-prima; e passa-se a uma fase de depressão, com o

colapso econômico. Conforme se pode observar no gráfico 2.

19

Gráfico.2 —Ciclos de Kondratieff Fonte: Devezas,2005

A fase de expansão começa quando autênticas inovações começam a surgir, desenvolvendo-se

uma nova infra-estrutura econômica e também social. A nova infra-estrutura muda a estrutura

das empresas permitindo que ganhem produtividade, que diminuam custos, refletindo muito

positivamente no mercado, gerando a confiança e força para a economia expandir. Esta fase

de expansão tem uma duração de aproximadamente 20 a 25 anos, períodos sobre os quais são

aplicados capitais para a implementação das inovações surgidas. Uma explicação para essa

duração relativamente precisa é o período de 20/25 anos se baseada na vida ”útil” das pessoas

(IASA, 2005).

Nessa fase de mudanças, a produção aumenta, novos projetos e tecnologias são consolidados,

conseqüentemente a taxa de desemprego cai, os salários e a produtividade aumentam. Mas

tudo isso é acompanhado por uma constante inflação. A inflação dos preços é creditada por

duas origens: a primária provem da demanda empresarial que aquece o sistema produtivo; a

secundária, resulta do aumento da renda do trabalhador e dos proprietários de matéria prima.

Quando o crescimento econômico atinge os seus limites, começa a fase da recessão, ou se

pode chamar, de depressão primária. O crescimento acentuado leva a escassez de algumas

matérias primas, eleva seus respectivos preços e desvia capital que iria para investimento,

para aquisição de matéria-prima, diminuindo significativamente as margens de lucro. Assim,

ocorre um freio no crescimento que dura aproximadamente três a cinco anos, e provoca uma

mudança no estado de ânimo, que permanece por anos. Começa a haver um excesso de

capacidade produtiva instalada, gera-se um desequilíbrio entre oferta e demanda e surgem

prejuízos e desemprego. Kondratieff relaciona às transições das fases de expansão econômica

para as fases recessão com incidências de grandes conflitos, tais como as Guerras

Napoleônicas, a Guerra Civil Americana, a 1ª Grande Guerra e a Guerra do Vietnã

20

(posteriormente serão relacionados alguns acontecimentos históricos ocorridos em cada ciclo)

(DEVEZAS; ALI, 2005).

A depressão é a fase de colapso da economia, conhecido comumente como crise, onde os

meios de produção estão desgastados, não existem novas oportunidades de investimentos, o

sistema econômico fica praticamente exausto, levando a economia a uma profunda recessão.

Esta fase dura por volta de cinco ou mais anos de colapso, seguidos de aproximadamente 20

anos de contínuo declínio. Neste período se permite o reajustamento da economia e a criação

de novas bases para a primeira fase do ciclo seguinte.

3.2 AS GRANDES INOVAÇÕES OCORRIDAS EM CADA CICLO

De fato, ciclos econômicos ocorrem e as inovações que os cercam também. O primeiro e

segundo ciclo, ou ondas, foram observados por volta de 1792 e 1847 respectivamente e são

associados como à primeira revolução industrial. O terceiro ciclo foi notado por volta de

1893, podendo ser chamado de segunda revolução industrial. O quarto ciclo inicia-se por

volta de 1948, logo após a 2ª Guerra Mundial. Abaixo segue uma tabela adaptada pelo

professor Devezas que descreve o período ocorrido de cada ciclo e as principais inovações

ocorridas.

21

Tabela 1 - Principais características de cada onda de Kondratieff

Fonte: DEVEZAS e ALI, 2005.

Na base desta tabela, será feita uma breve exposição das principais inovações que geraram os

grandes ciclos de Kondratieff, conforme delineado por Tessaleno C. Devezasa e Harold A.

Linstoneb e Humberto Santos.

3.2.1 As grandes inovações da primeira onda

A primeira onda começou por volta da primeira revolução industrial. As inovações mecânicas

da indústria têxtil nos finais do século XVIII e a máquina a vapor foram as chaves do

desenvolvimento desta primeira onda, tendo como matérias-primas de base o algodão e o

ferro forjado. A fase de crescimento estendeu-se entre 1792 e 1817 e foi acompanhada por

uma mudança da dependência da madeira e energia hídrica como fontes de energia primária

para o uso em larga escala da energia do carvão mineral. Esta mudança levou a uma

necessidade de aumento da capacidade de transporte de mercadorias. Na Inglaterra

construíram-se canais fluviais que ligavam os principais rios britânicos. A finalização das

22

principais ligações do sistema de canais deu-se por volta de 1790, coincidindo com o arranque

da economia. Os canais (inicialmente para o transporte de carvão) foram então extremamente

lucrativos na primeira metade do século seguinte. O motor a vapor gradualmente foi tornando

a energia baseada no carvão a principal força motora para uma grande gama de aplicações,

independente da localização, fato que não ocorria com a energia hídrica (DEVEZAS; ALI,

2005).

Durante as duas últimas décadas do século XVIII, a combinação do motor a vapor, do ferro

forjado e da nova tecnologia de construção de máquinas, tornou a energia do carvão

disponível em larga escala. De início, motores a vapor complementaram (e mais tarde

substituíram) a energia da água necessária à transmissão de movimento para as máquinas

fabris. Posteriormente, motores a vapor móveis foram usados para substituir os cavalos e o

vento. Foi o início do desenvolvimento que levou ao transporte ferroviário ou também

chamado de cavalos de ferro, por volta de 1830. A mecanização introduzida nesta época na

indústria têxtil, usando o carvão e a máquina a vapor como fontes energéticas e força de

tração mecânica, revolucionou um outro setor: a imprensa. Foi por esta época que se iniciou a

produção de periódicos (jornais e revistas) em larga escala, alguns dos quais persistem ainda

hoje, como Times (1788), Scientific American (1825) e The Economist (1830), (DEVEZAS e

ALI, 2005).

3.2.2 As grandes inovações da segunda onda

O uso generalizado da máquina a vapor e do transporte ferroviário foram os elementos

básicos da segunda transformação tecnológica, permitindo a consolidação da indústria

siderúrgica. A locomotiva a vapor, os altos-fornos e processos siderúrgicos para a produção

do aço, o telégrafo, o cimento e a fotografia foram o conjunto de inovações de base surgidas

no período precedente de depressão, que viriam a criar as bases industriais do período de

expansão econômica característico da segunda transformação tecnológica. A indústria

siderúrgica e do cimento foram os principais alicerces das infra-estruturas desenvolvidas neste

segundo ciclo (DEVEZAS; ALI, 2005).

As ferrovias vieram a romper o monopólio dos canais fluviais no transporte de mercadorias

pesadas no Reino Unido. Entre 1838 e 1843 houve um declínio dos lucros dos canais ingleses

23

levando a grandes perdas nas ações das companhias que exploravam esses canais, enquanto a

maior fase de construção das ferrovias teve inicio em meados de 1840, gerando a recuperação

econômica que se seguiu. A construção das ferrovias acelerou nos EUA a criação de uma rede

de telégrafo, como um necessário meio de comunicação para grandes distâncias (DEVEZAS;

ALI, 2005).

Assim como acontece em cada ciclo, existiram inovações que tiveram uma enorme

importância no desenvolvimento da economia, mas que não foram logo usadas por todos os

setores da economia e da sociedade. A ferrovia oferecia um novo serviço para todos, mas os

primeiros e maiores utilizadores (e investidores) foram os mineradores. Muitas das primeiras

linhas ferroviárias ligavam as minas de carvão aos portos. Mais tarde elas vieram a

complementar e finalmente substituir os canais fluviais no transporte de mercadorias pesadas

(a exemplo do próprio carvão). A drástica redução dos tempos de transporte significava uma

redução na quantidade de mercadorias em estoque e uma possibilidade de aumento da

produção que agora poderia ser escoada mais rapidamente. Isto se traduziu em grandes

poupanças de capital para a economia (DEVEZAS; ALI, 2005).

A energia do vapor tornou também as minas de carvão mais eficientes, levando novamente à

poupança de capital, assim como de mão-de-obra. Finalmente, a implementação de fornalhas

de alta temperatura permitiu ao mesmo tempo uma poupança do carvão como combustível e

um aumento da produção do aço. As inovações surgem e vão se interagindo, se

complementando, contribuindo para a expansão econômica. Exemplo disso foi o nítido

aumento da procura de ferro e aço - inovação na indústria de base - para a construção de vias-

férreas e a implementação do telégrafo como meio de comunicação à distância - inovações na

indústrias de transporte e comunicação, (DEVEZAS; ALI, 2005)

3.2.3 As grandes inovações da terceira onda

Enquanto que as tecnologias líderes nas duas primeiras ondas são facilmente identificáveis,

tal já não acontece com relação à terceira. A principal razão creditada por Devezas é o fato de

ter começado a existir uma grande diversificação de atividades industriais, com adoção do

método de produção em larga escala. Grandes avanços tecnológicos ocorreram em diferentes

setores industriais de forma quase simultânea e, além disso, o centro geográfico destas

24

transformações foi definitivamente deslocado da Europa para os Estados Unidos. Houve de

fato dois conglomerados de inovações correspondentes a dois grupos distintos de setores

líderes, o das indústrias químicas (incluindo a fotográfica) e os das indústrias petroquímicas,

que iniciaram por volta de 1870 nos Estados Unidos. Pouco mais tarde, pelo início do século

XX, a eletro-técnica (que inclui todo o grande conjunto de inovações introduzidas por

Thomas Edison entre 1876 e 1890), o telefone (Alexandre G. Bell, 1876) e a indústria

automóvel (motor de combustão interna, 1876) emergiram (DEVEZAS; ALI, 2005).

Esta terceira transformação tecnológica foi muito mais complexa, e foi principalmente

centrada no arranque da indústria petrolífera, nas redes de eletrificação e no desenvolvimento

do motor de combustão interna, que proporcionaram uma expansão nos EUA entre 1895 e

1930. Por fim é de se salientar que, mais uma vez, durante uma completa transformação

tecnológica, assistiu-se a uma revolução nas comunicações, desta vez com o advento do

telefone e da possibilidade de comunicações intercontinentais com o uso de cabos

submarinos.

3.2.4 As grandes inovações da quarta onda

Mais uma vez em um período de severa depressão econômica, desta vez compreendido entre

os anos de 1960 á 1970, houve uma considerável concentração de inovações autênticas, entre

as quais podemos destacar o rádio, a televisão, o computador, os foguetes, os satélites, a

tecnologia nuclear, a aviação comercial, os semicondutores e os microprocessadores. Mais

uma vez ocorreu um florescer de inúmeros novos setores de atividades industriais, assim

como novas atividades profissionais e uma radical transformação da sociedade como um todo

(DEVEZAS e ALI, 2005).

A indústria elétrica, que havia entrado no século XX como a principal fornecedora de bens,

expandiu-se enormemente nos anos 40-50 com o advento de uma grande variedade de

produtos elétricos de grande consumo - os eletrodomésticos. A eletrônica e as

telecomunicações começaram a convergir. O transporte aeronáutico comercial disparou e teve

um grande crescimento (difusão) também nos anos 40-50. Diversas novas sub-indústrias

surgiram, incluindo as de fibras sintéticas, de borracha sintética, plásticos e a farmacêutica.

25

Seguiu-se a este desenvolvimento o surgimento da indústria aeroespacial e o surgimento dos

satélites

Outra grande alteração que pôde ser observada nesta 4ª onda foi a institucionalização da

Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), havendo uma participação em larga escala dos governos

com financiamentos. A opinião pública começou a tomar consciência do poder que a

tecnologia tinha na alteração das suas vidas, coisa que não acontecia anteriormente, que mais

tarde levou ao consenso de que a tecnologia é o principal motor das transformações sociais e

econômicas (DEVEZAS; ALI, 2005).

3.3 CARACTERÍSTICAS COMUNS OBSERVADAS E A BASE PARA A 5ª ONDA

O poder das inovações tecnológicas na estimulação das fases de crescimento dos ciclos

econômicos de Kondratieff foi bem claro nas quatro fases. Em todas elas ocorreram

aglomerados de inovações de base gerando todo um novo sistema técnico-econômico,

denominado pelo professor Devezas de tecnosfera, que vieram a consolidar-se em expansão

econômica.

Os aglomerados de inovações de base geralmente ocorrem com grandes descobertas,

superações de barreiras tecnológicas superadas, que particularmente emergem durante as fases

de depressão. Segue-se disto que os investimentos são canalizados para tais novas

oportunidades de negócio proporcionadas por elas e passam assim a serem exploradas

comercialmente. São pelo menos seis setores diferentes de atividades humanas, impactados de

forma interligada pelas inovações: os sistemas de transportes, comunicações, de infra-

estruturas que dão suporte a estes sistemas, de materiais de base, ciência e de exploração de

novas fontes de energia primária.

Conforme se pode observar, não necessariamente todos eles precisam ser revolucionados

inteiramente. Muitas inovações foram provenientes de invenções de fora do seu setor e

revolucionaram outros setores, como por exemplo, na segunda onda a locomotiva a vapor

(transportes) e as ferrovias (infra-estruturas), propiciaram o desenvolvimento dos telégrafos

(comunicações), enquanto que a inovação do ferro forjado (matérias de base), ocorrida na

primeira onda, proporcionou o desenvolvimento dos transportes e infra-estruturas na segunda

onda.

26

O setor de comunicação apresentou a seguinte revolução em cada ciclo: periódicos impressos

→ telégrafo → telefone → rádio/televisão/satélites. Tal sucessão prova que, desde as

publicações periódicas aparecidas na 1ª onda, até a televisão e satélite, que aparecidos na 4ª

onda, não houve necessariamente uma substituição de um meio de comunicação por outro. O

que se assistiu foi uma convergência de todas essas formas de comunicação em direção à

globalização do sistema de comunicação, tornando-o cada vez mais eficiente rápido e

includente.

A Internet como a inovação de base da atual transformação no sistema de comunicações, a

qual puxaria os demais setores da economia gerando, a base do crescimento do sistema

técnico-econômico atual. A partir de então eles procuraram completar um possível cenário

para a 5ª onda de Kondratieff, conforme tabela 2.

Tabela 2 - Principais características de cada onda de Kondratieff e a base para a quinta onda

Fonte: DEVEZAS e ALI

27

4 A INTERNET COMO INOVAÇÃO MODIFICADORA DO FLUXO CI RCULAR DA

RENDA DA TEORIA DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DE SCHUMP ETER.

O capitalismo é um sistema de crescimento qualitativo e quantitativo e quando seu

crescimento não se baseia em ganho de produtividade (novas fontes de matéria prima, novos

processos, etc.), mas tão somente em maiores quantidades de capital, trabalho ou recursos

financeiros o sistema econômico sofre grande dificuldade. Por exemplo, quando governos

aplicam políticas monetárias ou fiscais expansionistas como base de crescimento, se esbarram

com problemas como inflação e desequilíbrio nas contas externas, levando á crises que fazem

perder todo crescimento alcançado.

Um sistema rico em inovações passa por extenso crescimento econômico, e mesmo havendo

retrocessos não se perde todo crescimento alcançado. As inovações resolvem “gargalos”

como escassez de matéria prima importante, saturação de mercados, etc., alterando a

constituição do sistema econômico, fazendo ele se tornar vencedor de obstáculos e se

sustentar sobre novas bases. Schumpeter na sua obra Teoria do Desenvolvimento Econômico,

se concentra nas inovações, pois com elas o sistema econômico atinge seus objetivos de

crescimento sustentável. Para explicar sua importância, seu aparecimento e desenvolvimento,

Schumpeter cria um modelo de ponto de partida chamado Fluxo Circular da Renda.

4.1 DIRETRIZES BÁSICAS DO MODELO DE FLUXO CIRCULAR DA RENDA E OS

CINCO FENÔMENOS GERADOS POR UMA INOVAÇÃO PODEROSA

No Fluxo Circular da Renda o sistema econômico possui dois agentes: os consumidores e os

produtores. É um sistema em equilíbrio, onde a demanda é igual à oferta, ou seja, os

produtores conseguem produzir e vender todas as mercadorias e os consumidores são

atendidos em todas as necessidades de consumo sem haver sobras significantes. Passam-se

anos e os canais de venda e compra permanecem iguais, porque a experiência passada permite

que ocorra tal equacionamento entre a quantidade produzida e a quantidade demandada. Outro

motivo é o fato do produtor ser ao mesmo tempo consumidor.

Com respeito às mudanças que podem quebrar o equilíbrio do fluxo circular da renda,

Schumpeter afirma que não há significativas mudanças que possam provir da demanda.

Quando aparecem mudanças espontâneas e descontínuas no gosto dos consumidores, trata-se

28

de uma questão de súbita mudança dos dados, a qual o homem de negócios deve enfrentar,

por isso é possivelmente um motivo ou uma oportunidade para adaptações de seu

comportamento que não sejam graduais, mas não de um outro comportamento em si mesmo.

(SCHUMPETER, 1931, p. 48)

As mudanças (inovações) que quebram o equilíbrio do sistema são as provenientes da

produção. Schumpeter explica que produzir é a combinação das coisas existentes e ao alcance,

e sendo assim o sistema se desequilibra quando ocorrem mudanças nas combinações. Elas

destroem e constroem canais distintos no sistema econômico gerando ciclos econômicos. Tais

mudanças ocorridas na produção conforme descritas causam realmente desenvolvimento.

O desenvolvimento, no sentido em que o tomamos, é um fenômeno distinto, inteiramente estranho ao que pode ser observado no fluxo circular ou na tendência para o equilíbrio. É uma mudança espontânea e descontínua nos canais do fluxo, perturbação do equilíbrio, que altera e desloca para sempre o estado de equilíbrio previamente existente. Nossa teoria do desenvolvimento não é nada mais que um modo de tratar esse fenômeno e os processos a ele inerentes. (SCHUMPETER, 1931, p. 48)

A construção e destruição de canais não é um assunto apenas no estudo dos ciclos

econômicos. Paul M. Sweezy destaca que muito se atribui nos trabalhos de Schumpeter à

importância nos estudos dos Ciclos Econômicos. Porém, na sua teoria é dada uma outra

grande explicação aos processos de troca na economia - os processos de troca são problemas

muito importantes e discutidos exaustivamente na teoria política desde Adam Smith.

Schumpeter destaca que as inovações perturbam os processos de troca e que por trás delas

estão o empresário inovador. A atividade de criação e destruição de canais é descrita por

Schumpeter quando ele trata da função do crédito no sistema:

A função especial do crédito no sentido em que tomamos consiste em habilitar o empresário a retirar de seus empregos anteriores os bens de produção de que precisa, ativando uma demanda por eles, e com isso forçar o sistema econômico para dentro de novos canais. (SCHUMPETER, 1931, p. 74).

É de se destacar que na função executada pelo inovador, é encontrado o porquê do sistema

financeiro ser tão abalado durante os ciclos. Isso não está explicito na obra de Schumpeter,

porém, considerando que o inovador não poupa nem acumula, e sim usa crédito do sistema

financeiro, então, do lado real da economia quem corre os riscos são os investidores

financeiros.

29

Ele descreve que as mudanças nos canais são descontínuas, ocorrendo mediante grandes

etapas e diferentes fatores acrescentados ou retirados da produção. Movimentos contrários

que surgem e também entravam o desenvolvimento, põem-lhe um fim e iniciam crises.

Grandes quantidades de valores são aniquiladas; as condições e os pressupostos fundamentais

dos planos dirigentes do sistema econômico se alteram, um novo ânimo começa e um novo

sistema aparece. Não simplesmente a continuação do antigo, pois, não se perdem todos os

benefícios do crescimento ocorrido sobre as bases novas surgidas. Dessa maneira o sistema se

desenvolve, mas para precisar exatamente que tipos de mudanças são capazes disso

Schumpeter lista cinco fenômenos que precisam necessariamente acontecer dentro do sistema:

1) Introdução de um novo bem — ou seja, um bem com que os consumidores ainda não estiverem familiarizados — ou de uma nova qualidade de um bem. 2) Introdução de um novo método de produção, ou seja, um método que ainda não tenha sido testado pela experiência no ramo próprio da indústria de transformação, que de modo algum precisa ser baseada numa descoberta cientificamente nova, e pode consistir também em nova maneira de manejar comercialmente uma mercadoria. 3) Abertura de um novo mercado, ou seja, de um mercado em que o ramo particular da indústria de transformação do país em questão não tenha ainda entrado, quer esse mercado tenha existido antes ou não. 4) Conquista de uma nova fonte de oferta de matérias-primas ou de bens semimanufaturados, mais uma vez independentemente do fato de que essa fonte já existia ou teve que ser criada. 5) Estabelecimento de uma nova organização de qualquer indústria, como a criação de uma posição de monopólio (por exemplo, pela trustificação) ou fragmentação de uma posição de monopólio”. (SCHUMPETER, 1931, p. 48)

O ponto principal é discutir se a internet, como a ultima inovação de comunicação da quinta

onda de Kondratieff pode ser classificada como um novo bem, por ter uma inédita qualidade e

ter gerado novos bens. Se sua descoberta e evolução teriam gerado a introdução de novos

métodos de produção, novas profissões, novos mercados, novas indústrias, tão inéditas que

acabam sofrendo problemas legais por causa de “trustificação”. Preenchendo a internet tais

condições, a hipótese dela como inovação do quinto ciclo de Kondratieff será praticamente

confirmada, restando verificar se ocorreram efeitos no sistema financeiro. Isso será feito

posteriormente a análise da bolsa Nasdaq.

4.2 A INTERNET E OS CINCO FENÔMENOS

A Internet é um bem abstrato, mas é real e gerou bens e serviços reais. Ela e estes bens

gerados por ela servirão para testificar a ocorrência dos cinco fenômenos descritos por

30

Schumpeter. São eles: novo bem, novo método de produção, novo mercado, nova fonte de

matéria-prima e por fim grandes empresas do setor em posições de monopólio.

4.2.1 Um novo bem e um novo mercado

O primeiro fenômeno é a introdução de um novo bem que os consumidores ainda não

estiveram familiarizados — ou uma nova qualidade de um bem.

A Internet é uma rede em escala mundial de milhões de computadores interligados por meio

de protocolo único, que permite o acesso a informações e todo tipo de transferência de dados

entre eles. É abstrata, mas real, pois as empresas e pessoas pagam pelo acesso à rede, e, além

disso, ela gerou e impulsionou a criação de mercados e bens inéditos tais como: fibra óptica,

modem, placa de comunicação (placa de rede), softwares, websites, etc.

A internet propiciou a abertura de muitos mercados, de diversos ramos particulares da

indústria de tecnologia da informação. São de destacar as empresas de Tecnologia da

Informação que se situam no Vale do Silício, e o nascimento da bolsa de Valores NASDAQ.

Do lado industrial, o Vale do Silício é a maior bandeira que se pode alçar da grandeza que se

tornou a internet, com suas empresas correlacionadas. O Vale do Silício é um conjunto de

empresas implantadas a partir da década de 1950 com o objetivo de inovar científica e

tecnologicamente, destacando-se na produção de Chips, na eletrônica e informática. Ela

abrange várias cidades do estado da Califórnia, ao sul de São Francisco, como Palo Alto e

Santa Clara, estendendo-se até os subúrbios de San Jose. A industrialização dessa região teve

início nos anos 90, mas o impulso para o seu desenvolvimento já se deu com a Segunda

Guerra Mundial e principalmente durante a Guerra Fria, devido à corrida armamentista e

aeroespacial. Muitas empresas que hoje estão entre as maiores do mundo foram gestadas na

região: Apple, Altera, Google, NVIDIA Corporation, Electronic Arts, Symantec, Advanced

Micro Devices (AMD), eBay, Maxtor, Yahoo!, Hewlett-Packard (HP), Intel, Microsoft (hoje

está em Redmond, próximo de Seattle), entre muitas outras. (WIKIPÉDIA, 2007)

No lado financeiro pode-se destacar a NASDAQ (North American Securities Dealers

Automated Quotation System) uma nova Bolsa de valores eletrônica, constituída para as mais

de 7.000 ações de diferentes empresas, em sua maioria de pequena e média capitalizações de

alta tecnologia em eletrônica, informática e etc. (WIKIPÉDIA, 2007).

31

4.2.2 Novo método de produção

O segundo fenômeno seria a Introdução de um novo método de produção, baseado em alguma

descoberta cientificamente nova.

Isso ocorreu a partir da fase da inovação, onde as descobertas científicas ocorridas desde a

Segunda Guerra Mundial e principalmente durante a Guerra Fria foram transformadas em

oportunidades de negócio e a Tecnologia da Informação se tornou uma ferramenta de trabalho

com novos meios de transação por meio de website, pagamentos on-line, redes à distancia,

etc., demandando profissionais qualificados em novas ciências como à engenharia eletrônica,

engenharia de software, administradores de rede de computadores, etc.

Surgiram novos trabalhos, como desenvolvimento de softwares que englobam: linguagens de

programação, bases de dados, ferramentas, plataformas, bibliotecas, padrões, processos e a

questão da Qualidade deles. Os fundamentos científicos para a engenharia de software

envolvem o uso de modelos abstratos e precisos que permitem ao engenheiro especificar,

projetar, implementar e manter sistemas de software, avaliando e garantindo suas qualidades.

A internet introduziu maior precisão nos métodos de produção, deduzindo o tempo da

realização da mercadoria. Ela planificou e universalizou a comunicação, conferindo-lhe o

principal papel no aumento da produtividade. A informação, combinada com os meios de

produção, se torna fonte dominante de criação de riquezas. Segundo Izerrougene, a

valorização se realiza no interior mesmo do processo de produção e difusão da informação. O

autor coloca que:

A infra-estrutura de informação, estruturada numa arquitetura ilimitada, inclusiva e diferenciada, é embutida nos novos processos de produção que lhe são totalmente inerentes. As Novas Tecnologias de Informação e Comunicação permitem, não somente a manipulação e combinação das informações, como também impõem de forma transversal normas de funcionamento, participando assim na diluição das fronteiras entre os tempos históricos do capitalismo: consumo/inovação. O tempo humano se torna então totalmente econômico, não mais através das duas seqüências separadas, mas via um continum de atividades. Consome-se, primeiro, bens que dão acesso à informação e que representam um capital. O acesso à informação, em seguida, permite produzir novas informações. Então, sob forma de consumo, constrói-se capital e, sob a forma de tempo, produz-se informação. (IZERROUGENE, 2006, P.7).

32

4.2.3 Nova fonte de matéria-prima

A conquista de uma nova fonte de oferta de matérias-primas ou de bens semimanufaturados,

independentemente do fato de que essa fonte já existia ou teve que ser criada é a terceira

condição descrita.

As empresas impulsionadas pela internet revolucionaram a tecnologia eletrônica com o

desenvolvimento de circuitos integrados baseados em silício. Até então, no final dos anos 70,

reinavam absolutos os mainframes (computadores enormes, trancados em salas refrigeradas e

operados apenas por alguns poucos privilegiados). O Silício veio quebrar este estado

tecnológico e permitiu que fossem criados circuitos integrados - circuitos concebidos de

maneira compacta de tal forma que permitiu maior resistência a choques. Por meio deles os

computadores diminuíram de tamanho e puderam, com a aplicação de técnicas “nano

eletrônicas”, se popularizar a partir da década de 80.

4.2.4 Posições de Monopólio

Duas empresas se beneficiaram de uma posição de monopólio na indústria de Tecnologia da

Informação: a Intel e a Microsoft.

Apesar do Windows ser conhecido pelas suas falhas críticas na segurança e como plataforma

de vírus de computador e programas-espiões (spywares), cerca de 9 em cada 10 computadores

pessoais possuem tal sistema. A Microsoft tem diversos processos de “antitruste”, dos quais

destacamos os da: AOL Time-Warner, Apple, o Conselho Administrativo do Direito

Econômico do Brasil, Bristol Technology, Netscape, U.S.A , European Commission anti-trust

e Japan Fair Trade Commission, etc.

Outro monopólio citado é o da multinacional Intel, fabricante de circuitos integrados,

especialmente microprocessadores. Esta também é fabricante de chips para placa mãe

(também conhecidos como chipsets) e memórias flash usadas em dispositivos como tocadores

de MP3. Foi fundada em 1968 por Gordon E. Moore (um químico e físico) e Robert Noyce

(um físico e co-inventor do circuito integrado). A intel detém quase 80% do mercado de

microchips e vem recebendo processos de sua concorrente significante, a AMD (Advanced

Micro Devices), e da União Européia.

33

Por ultimo, um outro monopólio pode ser citado que é o do registro de domínios. Há algum

tempo atrás, o registro de domínios com extensões “.com”, “.net” e “.org” era feito apenas

através do site da InterNIC , que detinha o monopólio para efetuar o registro de domínios com

essas extensões, porém o governo norte-americano decidiu que o monopólio da Internet para

o registro de domínios era injusto, liberando o mercado de registro de domínios para qualquer

empresa que quisesse atuar nesse mercado, bastando para isso ter os pré-requisitos exigidos

pela InterNIC e ser credenciada por esse órgão. Atualmente, portanto, existem várias

empresas que oferecem o registro de domínios com extensão “.com”, “.org” e “.net”. A reação

imediata com essa decisão do governo norte-americano foi a queda do preço do registro de

domínios. Quando detinha o monopólio, a InterNIC cobrava US$ 70 para o registro de cada

domínio, em 2001 esse preço caiu para uma média de US$ 35. (SANTOS, 2001)

4.3 ANÁLISE DOS EFEITOS DA INOVAÇÃO INTERNET POR MEIO DA BOLSA DE

VALORES NASDAQ

Para finalizar o trabalho, será demonstrado no aparecimento e desenvolvimento da internet,

que ela foi capaz de gerar desequilíbrio no sistema financeiro, conformando-se às condições

de Schumpeter.

O fenômeno mais impactante no cenário financeiro foram as quebras. Isso ocorreu de 2000 a

2003 na Nasdaq, onde as ações das empresas de Tecnologia da Informação se comportaram

“econometricamente” de maneira muito semelhante à quebra ocorrida na bolsa de valores

Dow Jones em 1929, conforme pode-se observar no gráfico 3.

34

Gráfico 3 - Comparativo entre a depressão ocorrida na Nasdaq e na Dow Jones Fonte: WALKER

O gráfico apresenta no eixo y o volume máximo de negócios alcançados pela bolsa em 10 de

março de 2000 - 5.048,62 pontos. Em 11 de março de 2000 começou a derrocada conforme se

pode atestar em medição feita por Jeff Walker no artigo “The 2000-03 Nasdaq Bear Market

vs.1929 Crash” publicado no site “Lowrisk Market Analytics”. O volume foi reduzido em

torno de 25-30% do valor base, 661 dias após a data base (medidos no eixo x). Usando outro

gráfico (gráfico 4), onde a data base é modificada para cerca de três anos antes e três depois, a

semelhança é ainda maior (WALKER, 2003).

35

Gráfico 4 - Pico ocorrido na Nasdaq e na Dow Jones Fonte: WALKER

Conforme pode ser observado no gráfico 4, cerca de 3 anos antes de março de 2000, a bolsa

começou a crescer em volume de transação conforme ocorreu em 1929. Cerca de três anos

após março de 2000, a Nasdaq continuou variando de um modo muito semelhante a Dow

Jones em 1929. Já em relação a outras crises de menor extensão, a semelhança não é mais a

mesma. Conforme pode ser observado na tabela 3 e no gráfico 5, a extensão do número de

dias da crise de 2000 foi maior e a retração do volume foi também maior. De forma que tal

crise na Nasdaq somente pode ser comparada com a mais terrível de todas: a crise de 1929.

(WALKER, 2003).

36

Tabela 3 - Queda e duração da queda do volume de transações da bolsa Nasdaq

Período Percent decline Length (in days)

1973-74 -59.9% 473 days

1983 -31.5% 280 days

1987 -35.9% 45 days

1989 -33.0% 259 days

2000-03 -77.8% 648 days

Fonte: WALKER

Conforme a hipótese emitida, a internet - por meio de análise das ações das empresas de

Tecnologia da Informação - causou um efeito perturbador enorme no sistema financeiro, pois

nenhuma crise pós 1929 foi parecida em intensidade e extensão, conforme gráfico 5.

Gráfico 5 - Comparativo entre a crise na Nasdaq e demais crises ocorridas da década de 70 Fonte: WALKER

37

5 CONCLUSÃO

A proposta deste trabalho foi provar que a relação feita por Tessaleno C. Devezasa, Harold A.

Linstoneb da internet com os ciclos econômicos de Kondratieff é verificável na Teoria do

Desenvolvimento Econômico de J. Alois Schumpeter.

O segundo e o terceiro capítulo foram destinados a expor a relação da internet com os ciclos

de Kondratieff feita pelos autores citados. No segundo capitulo foi demonstrada a

comprovação da internet estar no rol das grandes inovações desde a primeira revolução

industrial. A internet, de fato, percorreu vitoriosamente os sete estágios determinados na

análise de Bright.: descoberta científica, viabilidade laboratorial, protótipo operacional,

introdução comercial ou uso operacional, adoção generalizada, difusão para outras áreas e

impacto econômico e social.

No terceiro capitulo foram resumidas as quatro grandes ondas de Kondratieff e exposto um

quadro da Internet como impulsionadora da quinta onda de Kondratieff. Em outras palavras, a

Internet logrou gerar novos mercados, novas oportunidades de trabalho e de investimento,

impulsionando assim os demais setores da economia e tornando-se a principal base do

crescimento do sistema técnico-econômico atual.

A internet como uma grande inovação esteve presente, de alguma maneira, em quase todos os

setores industriais, tendo grande área de atuação. Isso é o que torna seus impactos econômicos

e sociais muito diferenciados, assim como foram os do barco a vapor e das locomotivas nos

séculos XIX e XX. Olhando novamente a tabela 2, criada por Devezas, pode-se observar, por

exemplo, que na segunda onda de Kondratieff a locomotiva a vapor causou efeitos

econômicos e sociais diferenciados daqueles da segunda onda. Ela propiciou desenvolvimento

aos telégrafos. A inovação do ferro forjado (situada na indústria matérias de base) ocorrida na

primeira onda proporcionou o desenvolvimento da locomotiva a vapor, conforme destacado

na tabela 4. A internet de maneira semelhante à locomotiva foi concebida de outros avanços e

gerou outros avanços. Especificamente ela foi criada pelos avanços da infra-estrutura e do

sistema de transportes, depois da II Guerra Mundial e principalmente durante a Guerra Fria,

com a corrida armamentista e aeroespacial e, uma vez consolidada, impulsionou as indústrias

de materiais e a ciência em geral.

38

Tabela 4: A Internet como centro “gravitacional” da quinta onda

Fonte: DEVEZAS, 2005

No quarto capitulo foi cumprido o objetivo do trabalho, pois a Internet (por meio de análise

fundamentada nas empresas de tecnologia da informação), como uma inovação de

comunicação da ultima onda de kondratieff, cumpriu as cinco diretrizes criadas por

Schumpeter: se tornou um novo bem, propiciou novos métodos de produção, abriu novos

mercados, propiciou a conquista de novas fontes de matéria-prima e propiciou que empresas

vitoriosas conquistassem posição de Monopólio. Cumpriu também outro quesito ao

desestabilizar o sistema financeiro - conforme comprovado por meio de deflação e quebra

ocorrida na Nasdaq de 2000 a 2006, tendo o pico ocorrido em março de 2003. Os registros da

crise foram consistentes de tal forma que crise semelhante só ocorreu em 1929, na famosa

grande Depressão.

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REFERÊNCIAS

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