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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC Bacharelado em Planejamento Territorial Métodos e técnicas de análise da informação para o planejamento territorial ANÁLISE ESPACIAL DOS ÍNDICES DE GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA EM 2010 NO ESTADO DE SÃO PAULO Karina Vieira dos Santos São Bernardo do Campo Agosto/ 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC

Bacharelado em Planejamento Territorial

Métodos e técnicas de análise da informação para o planejamento territorial

ANÁLISE ESPACIAL DOS ÍNDICES DE GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA EM 2010 NO ESTADO DE SÃO PAULO

Karina Vieira dos Santos

São Bernardo do Campo

Agosto/ 2015

Karina Vieira dos Santos

ANÁLISE DOS ÍNDICES DE GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA EM

2010 NO ESTADO DE SÃO PAULO Trabalho final da disciplina ‘Métodos e Técnicas de Análise da Informação para o Planejamento’, ministrada pela Profª Dra. Flávia Feitosa da Graduação de Planejamento Territorial, na Universidade Federal do ABC.

São Bernardo do Campo

Agosto/ 2015

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO

2. METODOLOGIA

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Preparação dos dados e análise exploratória

3.2. Análise de Regressão Clássica

4. CONCLUSÃO

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. INTRODUÇÃO

A Constituição Federal estabelece em seu art.227: “É dever da família, da

sociedade e do Estado assegurar à criança, o adolescente e ao jovem, com

absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer,

à profissionalização, à dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência

comunitária e familiar, além de colocá­la a salvo de toda forma de negligência,

discriminação, exploratória, violência, crueldade e opressão” conforme é também

contemplado no art.4º do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Apesar de todo o aparato legislativo com uma série de recomendações,

normas e resoluções, alguns estudos apontam para uma realidade que submete

crianças e adolescentes à contextos de vulnerabilidade que compreendem as

dimensões econômicas(renda) e sociais (educação).

O estudo presente, tem como pretensão realizar um estudo em escala

estadual, utilizando como objeto de estudo os municipios do Estado de São Paulo. A

questão que norteará o diagnótisco será a relação entre a incidência de gravidez na

adolescência, que abrange a faixa etária de 10 à 17 anos, com indicadores

socioeconômicos do IDHM: longevidade, renda e educação.

De acordo com estudos do Fundo de População das Nações Unidas­

instituição ligada a Organização das Nações Unidas­ somente no Brasil, cerca de

19,3% das crianças nascidas vivas em 2010 eram filhas de adolescentes, cujo fruto

da gravidez precoce é resultado da falta de acesso a escola e violência social.

Ressalta­se, porém, que nos últimos anos o acesso aos serviços de saúde voltados

ao amparo de mulheres grávidas tem aumentado, como o pré­natal, natal e pós

natal.

Ainda conforme aponta o relatório Situação da População Mundial 2013,

incidência de meninas grávidas precocemente ocorre em maior probabilidade em

meninas com perfil pobres, com baixa escolaridade e residentes em áreas rurais do

que com meninas ricas, com mais escolaridade e que vivem em área urbana.

Além disso, afirma­se que a alta taxa de gravidez na adolescência está

relacionada a problemas sociais associados à pobreza, à cultura social machista,

quando não resultado de violência sexual ou coerção. Outro apontamento

importante e que incitou o desenvolvimento desse trabalho foi o de que “meninas

que permanecem na escola por mais tempo são menos propensas a engravidar”.

Portanto, esse trabalho tem como objetivo investigar se existe correlação

entre o indicador social de educação com a taxa de gravidez na adolescência nos

645 municípios do Estado de São Paulo com base nos Censos de 2000 e 2010,

possibilitando de certa forma observar se ao longo dos anos houve um movimento

de melhora, tanto no IDHM_E quanto na taxa de gravidez.

2. OBJETIVO

Verificar por meio de análises estatísticas quais as correlações que se pode

estabelecer entre as dimensões do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal,

no que tange às dimensões: renda e educação. para isso será utilizado dados do

censo 1999 e 2010. Com base nisso, inicialmente, levantou­se as seguintes

hipóteses:

Pode­se estabelecer correlação entre renda média domiciliar e

gravidez precoce?

A dimensão educação estão correlacionada com aumento ou

mesmo redução da taxa de gravidez na adolescência?

No entanto, durante a realização de testes que estabelecem essa correlação,

a dimensão que mais apresentou correlação foi a de educação. Sendo assim, todo o

trabalho se desdobrará na análise das variáveis: educação e taxa de gravidez na

adolescência no Estado de São Paulo.

3. METODOLOGIA

O desenvolvimento do trabalho contou com duas fontes de dados: a base do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística­ IBGE (taxa de gravidez na

adolescência, tendo como base o universo do Censo 2010) e o ATLAS Brasil,

plataforma onde foram encontradas as informações relativas ao IDHM consolidadas

por Estado.

Para o realiza as análises espaciais foram utilizadas as seguintes

ferramentas: para a seleção dos dados necessários utilizou­se o Excel, o cálculo e

espacialização da regressão clássica foi feita nosoftware Statistical Package for the

Social Sciences­ SPSS e para a manipulação do shapefile e join do mapa com a

tabela de atributos foi utilizado o Quantum GIS.

3.1. PREPARAÇÃO DOS DADOS E ANÁLISE EXPLORATÓRIA

Inicialmente se fez necessário a manipulação de dados no Excel para realizar

a seleção dos dados que compuseram a análise.Terminada a seleção dos dados

(variáveis dependente e independentes) a tabela foi salva no formato cujos valores

são separados por vírgula, em inglês Comma Separated Values (.csv).

Tabela em formato .csv para join com o mapa no QGIS e análise de dados no SPSS

O segundo passo foi realizar ojoin entre a tabela com as variáveis e oshapefile cujo

formato é o .shp do estado de São Paulo.

3.2. ANÁLISE DE REGRESSÃO CLÁSSICA

Para realizar uma análise de regressão clássica usarei o software SPSS. O

programa permitirá o desenvolvimento de análises estatísticas dos dado a partir da

identificação da correlação ou não entre os indicadores escolhidos, ou seja, verificar

se uma variável pode ser explicada por outras variáveis.

No primeiro momento serão realizadas as análises descritivas das variáveis,

ou seja, explanaremos modelos estatísticos simples: média, moda, mediana,

variância, desvio­padrão, intervalo de confiança, assimetria e curtosis. A amostra

utilizada para análise apresenta um número de observações, ou seja, “n” igual a

645.

Antes de iniciar as análises, discorreremos rápida e superficialmente sobre as

medidas de posição central e as medidas de dispersão. A média é a soma dos

elementos de um conjunto dividido pelo numero de elementos do conjunto. A moda

é o elementos que aparece com maior frequência, ou melhor, o maior número de

vezes. A mediana é o valor que divide um conjunto ao meio e diferente da média é

menos sensível a valores extremos, não comprometendo a representação desejada.

(SARTORIS, 2013).

No grupo referente às medidas de dispersão temos a variância, que é a amis

comumente utilizada para indicar a variância de um conjunto de valores, assim

como o desvio­padrão. No entanto, o desvio­padrão elimina o efeito dos quadrados.

O intervalo de confiança significa estabelecer uma margem de erro para um

estimador e calcular o grau de confiança a essa margem(SARTORIS, 2013).

Para melhor visualização desses dados utilizaremos as ferramentas de

represenação gráfica:o histograma que representa a distribuição de determinada

categoria de dados agrupados em um gráfico de barras; o BoxPlot que representa a

variação de uma variável, onde fica claro a presença de outliers e de outros dados

estatísticos descritivos e o Q­Plot indica resultado esperados e o que foi observado.

Por fim, utilizaremos o modelo de regressão linear simples, ou seja, um

modelo baseado sobre uma linha reta para explicar a relação entre as variáveis. A

regressão é dada pelo modelo estimado por Yi= B0 + B1 X1 + e1 , sendo a equação

linear nos parâmetros Bo + B¹, onde Bo é o intercepto populacional, B1 é a

inclinação populacional e “Y” é a variável resposta. A inclinação da reta de

regressão indica que há mudança na média de Y quando é acrescido uma unidade

de X (FEITOSA,2015).

3.3. ANÁLISE DE REGRESSÃO ESPACIAL

O modelo de regressão espacial não será abracado no decorrer desse

trabalho, pois conforme indicado na tabela abaixo, gerada pelo GeoDa, os erros não

estão autocorrelacionados. A não existência de autocorrelação foi indicada pelo

Índice de Moran com 0,0076.

3.2 RESULTADOS E DISCUSSÃO (Análise de Regressão Clássica)

A tabela abaixo, gerada pelo software SPSS, apresenta estatísticas

descritivas, que visa sintetizar grandes quantidades de quantidades de da variável

em números informativos.

A variável escolhida para o desenvolvimento desse trabalho é IDHM_E­

Índice de Desenvolvimento Humano Municipal da dimensão educação, conforme a

classificação do IBGE e Atlas Brasil. A tabela de resumo do processamento de caso

mostra que a mostra apresenta 645 observações válidas. Esse “N” representa os

municípios que compõem o Estado de São Paulo. Cabe ressaltar que dos casos

caracterizados como ausentes, ou seja, os 354 casos identificados representam

informações importadas da base que não fazem parte da amostra, não implicando,

portanto, em distorções nas análises.

3.2.1 Índice de Escolaridade

O histograma abaixo presenta a frequência em que dados estão distribuídos.

Observamos que há uma certa concentração em torno da média, ou seja, temos

poucos casos acima de ,700 e poucos abaixo de ,400. Contudo, chama a atenção

os casos que estão distantes da média pela discrepância. No mais, o histograma

apresenta curva semelhante à de uma distribuição normal. O desvio padrão

identificado foi 0,072.

O gráfico Q­Q Plot indica que os dados não estão linearmente distribuídos,

apesentando apenas distribuição próximos de uma normal. Nesse caso, o ajuste

dos valores pode levar à uma distribuição normal.

O Box­plot caracteriza­se por consolidar em forma de gráfico todas as

informações relativas às estatísticas descritivas relativas aos dados analisados.

Abaixo identifica­se a presença de poucos outliers e casos observado inferiores ao

menor valor não discrepante. Isso indica que há casos que apresentam um índice

de educação extremamente baixo. Podemos supor que pode nesses municipios,

não haver oferta adequada ou suficiente de equipamentos de educação(escolas).

3.2.2 Índice de gravidez x Índice de escolaridade

Abaixo temos o Resumo do modelo temos em destaque o R² (R quadrado)

que é o coeficiente de correlação, este mostra o quanto o modelo captura da

variância e é dada pela seguinte equação: SQM/ SQT= R². O O SQM, significa a

soma dos quadrados do modelo divididos pela soma dos quadrados totais

(variância em relação à média). O R²=0, indica que o modelo não serve, enquanto o

R²=1 indica que o modelo explica algo. Nesse sentido, o nossoR² (0,064)indica que

o nosso modelo explica 6%. O teste de Durbin­Watson pode variar entre 0 e 4e tem

o objetivo de detectar a presença de autocorrelação ou dependência dos resíduos.

A análise de regressão apresentada na tabela indica autocorrelação dos erros de

1,991.

A tabela de análise de variância, também conhecida comoANOVA,Analisys

of Variance em inglês, nos apresenta as somas dos quadrados da regressão com os

resíduos e a sua variância. Numa situação ideal a soma dos quadrados da

regressão deveria ser grande e a dos resíduos pequena, pois o resíduo indica a

diferença entre o modelo e a realidade(erro). A seguir a tabela ANOVA indica

teste­F 44,001 e significância alta de ,000, ou seja ou seja, p­valor< 0,001. Isso

indica que com 99,9% de confiança podemos rejeitar a hipótese nula(Ho) que indica

a inexistência de relação entre o índice de gravidez na adolescência e o de

educação.

Correlação é uma inferência que mede o relacionamento linear entre duas ou

mais variáveis. Na tabela seguinte, temos a representação da inferência de relação

entre “Y”, onde a variável dependente é a taxa de gravidez na

adolescência(T_M10A17CF) com “X”, onde a variável independente é índice de

educação (IDHM_E) que mede pessoas em idade escolar que tenham concluído um

grau especificado pela metodologia do IDHM. A exploração da correlação se dará

pela equação: Y= aX + b. Vale ressaltar que embora determine uma relação entre

as variáveis, isso não significa que necessariamente ela exista. E mais uma vez,

com 99,9% de confiança podemos rejeitar a hipótese nula, pois temos uma

correlação de ­,253. Caso a medida se aproximasse de zero, a correlação seria

menor.

Nos coeficientes explanados na próxima tabela a variável “X” (IDHM_E)

apresenta correlação negativa. Caso transformássemos o valor ­18,31

multiplicando­o por 100, teríamos o valor 0,1831. Como estamos tratando do IDHM

que varia de 0 ­1, essa transformação no valor de “X” permitirá afirmar que o

aumento de 1 ponto no IDHM_E reduziria em 0,18 o índice de gravidez na

adolescência.

3.3.3 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL E GRÁFICA

No sentido de realizar uma análise espacial de forma superficial, os dois

mapas a seguir indicam: I) expressa a variável dependente (taxa de gravidez na

adolecência) e II) representa a distribuição espacial da variável independente(

IDHM_E). Observa­se que o mapa I apresenta maior concentração de incidência de

casos de gravidez na adolescência na região sul do estado. Pode­se perceber

também que não houve formação de clusteres e que os casos estão espacialmente

distribuidos aleatóriamente e portanto não é possível estabelecer uma correlação

espacial, como já fora indicado anteriormente pelo Indice de Moran.

O mapa II, apresenta o IDHM_E, e portanto quanto mais escuro for o laranja

maior é o índice de escolaridade. Podemos observar que apesar de não haver

clusteres bem definidos há uma certa “uniformidade” e concentração mais ao

centro­norte do estado. Essas inferências estão expressas no histograma e no

boxplot quando observamos os valores “abaixo da média” e do “menor valor

discrepante” respectivamente.

Ao comparar ambos concomitantemente, podemos observar que na região

onde o índice de educação é baixo (gráfico II) a incidência de gravidez precoce é

alta (gráfico I). Pode­se observar a mesma condição em outros pontos. Cabe aqui a

ressalva de que em pontos onde não se estabelece essa relação são os casos que

não são explicados apenas pela variável independente educação.

Gráfico I: variável dependente Gráfico II: variável independente

3.3.4 Análise dos Resíduos

O mapa e diagrama de espalhamento de Moran permite realizar uma análise

quanto a existência de dependência espacial entre os resíduos. No primeiro mapa

percebemos que os pontos destacados em vermelho indicam pior ajuste do modelo

enquanto os azuis apontam para um melhor ajuste de modelo. Ou seja, a

espacialização indica que em azul há baixa escolaridade e baixos índices de

gravidez na adolescência(Low­low) e nos pontos em vermelho alto índice de

escolaridade e alta taxa de gravidez(high­high). Não obstante, percebe­se que não

há correlação espacial entre os resíduos visto que não há a formação de clusteres.

4. CONCLUSÃO

Tendo em vista os aspectos observados podemos considerar que há, ainda

que pequena, correlação entre os indicadores de gravidez e educação embora o

modelo indique que em alguns dos casos observados apenas a variável Educação

não é capaz de explicar a incidência de gravidez precoce.

Nesse sentido o modelo estimado para essa análise aponta que o indicador

não está autocorrelacionado espacialmente.

5. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

1. Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. Disponível em:

http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/download/. <Acesso em 02/07/2015>

2. CEM CEBRAP­ CENTRO DE ESTUDOS DA METRÓPOLE. Disponível em:

http://www.fflch.usp.br/centrodametropole/758 <Acesso em 02/07/2015>

3. DATASUS. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb2012/matriz.htm <

Acesso em 02/07/2015>

4. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Disponível em:

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pesquisa_conhecimentos_atitudes_pratic

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5. FUNDO DE POPULAÇÂO DAS NAÇÔES UNIDAS. Disponível em

http://www.unfpa.org.br/Arquivos/Gravidez%20Adolescente%20no%20Brasil.pdf. <

Acesso em <17/07/2015>

6. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível

em:http://www.ibge.gov.br/home/mapa_site/mapa_site.php#populacao. < Acesso em

22/07/2015>

7. Ministério da Saúde/ Sinasc. Ver: Brasil/MS, 2012. Saúde Brasil 2011: uma

análise da situação de saúde e a vigilância da saúde da mulher. Brasília: MS/SVS.

Disponível em http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_brasil_2011.pdf.

<Acesso em 13/08/2015>

8. Comissão Econômica para a América Latina e Caribenhas. Ver: Observatório

de Igualdade de Gênero da América Latina e o Caribe, 2012. Informe Anual.

Santiago do Chile: CEPAL. Disponível em

http://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/35446/S2013192_pt.pdf?sequenc

e=1. < Acesso em 13/08/2015>