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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE QUÍMICA DEPARTAMENTO DE QUÍMICA INORGÂNICA PREPARAÇÃO DE ANODOS PARA PILHAS DE CÉLULAS A COMBUSTÍVEL USANDO CATALISADORES BIMETÁLICOS DE PLATINA Monografia do projeto final de curso Sidnei Valente de Paiva Orientadoras: Profa. Dra. Ana Maria Rocco Profa. Dra. Maria Iaponeide Fernandes Macêdo Rio de Janeiro, 30 de outubro de 2006

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE QUÍMICA

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA INORGÂNICA

PREPARAÇÃO DE ANODOS PARA PILHAS DE CÉLULAS A COMBUSTÍVEL

USANDO CATALISADORES BIMETÁLICOS DE PLATINA

Monografia do projeto final de curso

Sidnei Valente de Paiva

Orientadoras: Profa. Dra. Ana Maria Rocco

Profa. Dra. Maria Iaponeide Fernandes Macêdo

Rio de Janeiro, 30 de outubro de 2006

ii

Esse Trabalho de Conclusão de Curso foi realizado com o apoio financeiro da

ANP - Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis.

iii

RESUMO

TÍTULO: Preparação de anodos para pilhas de células a combustível

usando catalisadores bimetálicos de platina

ALUNO: Sidnei Valente de Paiva

ORIENTADORAS: Profa. Dra. Ana Maria Rocco

Dra. Maria Iaponeide Fernandes Macêdo

Neste trabalho foi realizado um estudo exploratório da metodologia de

obtenção e caracterização de catalisadores bimetálicos de Pt-Co suportados

em carbono. Utilizou-se a técnica de Redução à Temperatura Programada

(TPR) para reduzir os íons metálicos adsorvidos no suporte e propiciar a

formação da liga, uma vez que trabalhos na literatura reportam que a formação

da mesma é essencial para a eficiência do processo de eletrocatálise e para

evitar o envenenamento do catalisador por CO em células a combustível.

Os catalisadores bimetálicos foram obtidos e caracterizados morfológica,

estrutural e eletrocataliticamente. Para tanto, foram preparados

eletrocatalisadores com diferentes concentrações de platina e cobalto variando-

se a temperatura e as condições de impregnação dos íons. Nos catalisadores

bimetálicos, a formação da liga foi comprovada através de pequenos

deslocamentos do pico de difração referente ao plano (111) no difratograma da

amostra com Pt. A ordem de adição dos precursores metálicos, assim como a

temperatura de dispersão do Co influencia na formação da liga. Os testes

eletrocatalíticos por voltametria cíclica em solução de H2SO4 com os

catalisadores preparados por adição simultânea mostraram maior atividade

para as amostras com 10% de cada metal. As áreas eletroativas para estes

sistemas foram menores que para o sistema Pt/C Electrochem e Pt/C

preparados no laboratório pelo método de redução com etileno glicol, em

função das partículas maiores.

Concluiu-se que um controle mais fino das condições de preparo são

necessárias para diminuir o tamanho das partículas, assim como a redução

prévia da Pt, via redução por etileno glicol, seguida da dispersão controlada do

segundo metal e redução por TPR para formação da liga.

iv

AGRADECIMENTOS

A orientadora Profa Ana Maria Rocco pela orientação científica ao longo

de tanto tempo trabalhando juntos.

A orientadora Profa. Maria Iaponeide Fernandes Macêdo pela orientação

ao longo de todas as etapas da monografia.

Aos meus pais e familiares pela educação, amor e incentivo aos estudos.

Aos amigos que conviveram ao meu lado ao longo de todo o trabalho no

laboratório, pela confiança e por terem tornado o dia-a-dia mais prazeroso.

A minha noiva, Rita de Cássia, por toda a ajuda, carinho e incentivo que

foram absolutamente indispensáveis para a conclusão da monografia.

A Márcia da Metalurgia/COPPE-RJ pelas imagens de microscopia

eletrônica de varredura.

Agradeço a ANP pela bolsa concedida para elaboração do projeto de final

de curso.

Aos NUCAT pelas análises de DRX.

Aos funcionários e professores do Instituto de Química da UFRJ, pelo

apoio e aprendizagem adquiridos durante o curso de química.

Ao Coração de Jesus por sempre pulsar de forma especial para mim,

pelas graças de cada dia e especialmente pela conclusão de mais esta etapa na

minha vida.

E, desde já, a banca examinadora por aceitar o convite, pelas críticas e

quaisquer contribuições que possam prestar.

v

ÍNDICE GERAL

1. Introdução ................................................................................................................... 01

1.1. Introdução geral ...................................................................................................... 01

1.2. Células a combustível. ............................................................................................ 04

1.3. Células a combustível do tipo PEM. ....................................................................... 06

1.4. Eletrodos de difusão gasosa. ................................................................................. 10

1.5. Empilhamento da célula. ........................................................................................ 11

1.6. Eficiência da célula a combustível. ......................................................................... 12

1.7. Célula a combustível a menbrana polimérica ........................................................ 14

1.8. Membrana polimérica condutora protônica ............................................................ 15

1.9. Eletrocatálise da reação de redução de oxigênio .................................................. 15

1.10. Eletrocatálise da reação de oxidação de hidrogênio............................................. 18

1.11. Envenenamento do catalisador por CO ................................................................ 19

1.12. Métodos de preparação de eletrocatalisadores .................................................... 19

1.12.1. Método do ácido fórmico .................................................................................... 20

1.12.2. Método de Bönnemann ...................................................................................... 21

1.12.3. Método da deposição espontânea ..................................................................... 22

1.12.4. Método de decomposição de precursores moleculares..................................... 24

1.12.5. Método de redução por álcool ............................................................................ 25

2. Objetivo ....................................................................................................................... 27

3. Materiais e Métodos ................................................................................................... 27

3.1. Precursores .............................................................................................................. 27

3.2. Procedimento experimental. .................................................................................... 27

3.2.1. Preparação da suspensão do carbono grafite e carbono Vulcan XC-72R. ......... 27

3.2.2. Preparação dos sistemas de Pt(NH3)4Cl2 nos suportes Cg e Cv. ......................... 28

3.2.2.1. Preparo da solução aquosa de Pt(NH3)4Cl2 ...................................................... 28

3.2.2.2. Adição da solução de Pt(NH3)4Cl2 à suspensão de Cv ..................................... 28

3.2.2.3. Adição da solução de Pt(NH3)4Cl2 à suspensão de Cg ..................................... 29

3.2.2.4. Redução a Temperatura Programada (TPR) .................................................... 29

3.2.3. Preparação do sistema Co(NO3)2.6H2O em Cv. ................................................... 29

3.2.3.1. Preparação do sistema Co(NO3)2.6H2O em Cv. ................................................ 29

vi

3.2.3.2. Adição da solução aquosa de Co(NO3)2.6H2O ao Cv ....................................... 29

3.2.3.3. Redução química do Co+2 ................................................................................. 30

3.2.3.4. Redução completa do Cobalto .......................................................................... 30

3.2.4. Sistema com adição simultânea dos sais de platina e cobalto ............................ 31

3.2.5. Adição e redução do segundo metal .................................................................... 32

3.2.6. Formação da liga Pt-Co ........................................................................................ 33

3.2.7. Método de redução empregando-se ácido fórmico .............................................. 34

3.3. Caracterização espectroscópica, estrutural e morfológica ..................................... 38

3.3.1. Espectoscopia Vibracional no Infravermelho por Transformada de Fourier ........ 38

3.3.2. Difração de Raios-X .............................................................................................. 38

3.3.3. Microscopia Eletrônica de Varredura ................................................................... 38

3.3.4. Redução a Temperatura Programada .................................................................. 38

3.3.5. Área Superficial..................................................................................................... 39

4. Resultados e Discussão. ............................................................................................ 39

4.1. Catalisadores Suportados em carbono grafite, Cg .................................................. 39

4.1.1. Caracterização por espectroscopia vibracional no infravermelho ....................... 39

4.1.2. Caracterização por difração de raios-X ................................................................ 40

4.1.3. Análise Termogravimétrica ................................................................................... 44

4.2. Catalisadores Suportados em carbono Vulcan XC-72R, Cv ................................... 45

4.2.1. Caracterização do Cv por espectroscopia vibracional no infravermelho ............. 45

4.2.2. Caracterização do Cv por difração de raios-X ...................................................... 45

4.2.3. Método da impregnação: Sistema Pt/Cv .............................................................. 46

4.2.3.1. Redução a Temperatura Programada ............................................................... 46

4.2.3.2. Difratogramas de Raios-X ................................................................................. 50

4.2.3.3. Microscopia Eletrônica de Varredura ................................................................ 55

4.2.4. Método da impregnação: Sistema Co/Cv ............................................................. 56

4.2.4.1. Redução a Temperatura Programada ............................................................... 56

4.2.4.2. Difratogramas de Raio-X ................................................................................... 61

4.2.4.3. Microscopia Eletrônica de Varredura ................................................................ 62

4.2.5. Método da impregnação: Sistemas PtCo/Cv ........................................................ 63

4.2.5.1. Redução a Temperatura Programada ............................................................... 63

4.2.5.2. Difratogramas de Raio-X ................................................................................... 65

4.2.5.3. Teste de eletrocatálise por voltametria cíclica................................................... 71

vii

4.3. Método do ácido fórmico: sistema Pt/Cv .................................................................. 76

4.3.1. Difratogramas de Raio-X ...................................................................................... 77

5. Conclusões ................................................................................................................. 80

6. Referências ................................................................................................................. 82

viii

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Desenho esquemático de uma célula a combustível do tipo PEM. .............. 7

Figura 2 - Configurações de veículos com motores de combustão interna e

veículos utilizando células a combustível. ...................................................................... 9

Figura 3 - Representação esquemática de um MEA mostrando em detalhes a

interface trifásica gás-líquido-sólido. ............................................................................ 11

Figura 4: Montagem de uma célula a combustível. ..................................................... 12

Figura 5- Dependência do rendimento teórico com a temperatura da conversão

eletroquímica do hidrogênio, do metano e no ciclo de Carnot. .................................... 13

Figura 6: Fluxograma do procedimento experimental ................................................ 36

Figura 7- Fluxograma do procedimento experimental do preparo das amostras

com adição inicial de Platina ........................................................................................ 37

Figura 8 - Espectro vibracional no infravermelho dos eletrocatalisadores

Pt(10%)Co(10%)/Cg, Pt(10%)/Cg e seus precursores. ................................................. 40

Figura 9 - Difratogramas de raios-X das amostras (a) Pt/Cg e (b) CoPt/Cg. ............... 44

Figura 10 - Curvas de TGA das amostras Pt+2/Cg, Pt/Cg, Co+2Pt/Cg e CoPt/Cg. ........ 45

Figura 11 - Espectro de FTIR do carbono Vulcan XC-72R. ........................................ 46

Figura 12 - Difratograma de raios X do Cv .................................................................. 47

Figura 13 - Curvas de TPR da amostra Pt+2(10%)/Cv_25ºC. ...................................... 48

Figura 14 - TPR realizado na amostra Pt+2(10%)/Cv_50ºC ......................................... 48

Figura 15 - TPR realizado na amostra Pt+2(15%)/Cv_50ºC. ........................................ 50

Figura 16 - TPR realizado na amostra Pt+2(20%)/Cv_50ºC. ........................................ 50

Figura 17- DRX da amostra Pt(10%)/Cv_50ºC ........................................................... 51

Figura 18- Difratogramas das amostras preparadas na temperatura de adição ao

carbono Vulcan de 50ºC em comparação com a ampstra comercial de

catalisador de platina em carbono ................................................................................ 53

Figura 19- Difratograma de raios-X com 2θ variando de 38 a 42o mostrando o

pico referente ao plano (111) de todas as amostras de Pt/Cv (platina

impregnadas em carbono vulcan) estudadas. ............................................................. 53

ix

Figura 20 - Detalhe da região entre 32 e 42 graus dos difratogramas de raios-x

das amostras de platina 10% em carbono vulcan preparadas em diferentes

temperaturas. ................................................................................................................ 55

Figura 21 - Imagem de Microscopia Eletrônica de Varredura da amostra

Pt(10%)/Cv_50ºC com um ampliação de 2000 vezes. ................................................ 56

Figura 22- Microscopia Eletrônica de Varredura da amostra Pt(10%)/Cv_50ºC

com um zoom de 20000 vezes. .................................................................................... 56

Figura 23- EDS da superfície da amostra Pt(10%)/Cv_50ºC. ..................................... 57

Figura 24- TPR realizado na amostra Co+2(10%)/Cv_25ºC......................................... 58

Figura 25-TPR realizado na amostra Co+2 (15%)/Cv_25ºC......................................... 58

Figura 26- TPR realizado na amostra Co+2(20%)/Cv_25ºC ........................................ 59

Figura 27- TPR realizado na amostra Co+2(10%)/Cv_50ºC. ........................................ 61

Figura 28- TPR realizado na amostra Co+2(15%)/Cv_50ºC......................................... 61

Figura 29- TPR realizado na amostra Co+2(20%)/Cv_ 50ºC........................................ 62

Figura 30 - Microscopia Eletrônica de Varredura da amostra Co(20%)/Cv_50ºC

com um zoom de 5000 vezes. ...................................................................................... 63

Figura 31- MEV da amostra Co(20%)/Cv_50ºC com um zoom de 20000 vezes. ....... 63

Figura 32- TPR realizado na amostra Pt+2(10%)Co+2(10%)/Cv_50ºC. ........................ 65

Figura 33- TPR realizado na amostra Pt+2(10%)_s_Co+2(10%)/Cv_50ºC. .................. 65

Figura 34- Difratogramas das amostras de Pt e Co com diferentes ordens de

adição dos precursores dos metais sobre carbono Vulcan. ........................................ 66

Figura 35- Gráfico da variação do parâmetro de rede em relação a concentração

dos precursores metálicos nas amostras de Pt e da liga preparada com adição

inicial de Pt, ambos preparados em carbono Vulcan e nas temperaturas de 25 e

50ºC. ............................................................................................................................. 68

Figura 36- Difratogramas de raios-X para as amostras de eletrocatalisadores

dispersos a 50oC, variando-se as concentrações dos metais de 10, 15 e 20%

(m/m) de Pt e Co sobre o carbono Vulcan. .................................................................. 69

Figura 37- Decomposição em funções primitivas Lorentzianas do pico referente

ao plano (111) no difratograma de raios-X das amostras bimetálicas Pt-Co em

três diferentes composições. ........................................................................................ 71

Figura 38 - Voltamograma Cíclico a 10 mV/s de -200 a 1000 mV versus ECS

para o eletrodo de Pt policristalino. Foi utilizado um eletrodo rotatório de Pt como

x

eletrodo de trabalho, como contra-eletrodo uma lâmina de Pt (1 cm2) e

calomelano saturado como o eletrodo de referência. .................................................. 72

Figura 39 - Voltametrias cíclicas a 10 mV/s de -200 a 1000 mV versus ECS para

filmes das amostras de PtCo/Cv com concentrações iguais dos dois metais

variando de 10, 15 e 20 % (m/m) sobre Cv. ................................................................. 74

Figura 40 - Voltamogramas cíclicos a 10mV/s de -200 a 1000 mV versus ECS

para 20% Pt/ carbono Vulcan XC-72R (Electrochem) (a), e 20% Pt/ carbono

Vulcan XC-72R obtido neste trabalho. Eletrodo de trabalho e contra-eletrodo de

Pt. .................................................................................................................................. 76

Figura 41 - Difratogramas das amostras de Platina (10%) em carbono vulcan

preparadas pelas técnicas da impregnação e método do ácido fórmico, com suas

respectivas variações metodológicas. .......................................................................... 78

Figura 42 - Comparação, em detalhe, do pico referente ao plano (111) da platina

em amostras preparadas pela técnica da impregnação e do ácido fórmico

respectivamente. ........................................................................................................... 79

xi

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Código das amostras precursoras dos catalisadores Pt/Cv. ...................... 29

Tabela 2 - Código das amostras precursoras das espécies Co/Cv............................. 31

Tabela 3 - Código das amostras das espécies Co/Cv. ................................................ 31

Tabela 4- Código das amostras precursoras dos catalisadores bimetálicos

Pt-s-Co/Cv. .................................................................................................................... 32

Tabela 5- Código das amostras precursoras dos catalisadores bimetálicos Pt-

Co/Cv ............................................................................................................................. 33

Tabela 6 - Código das amostras bimetálicas que receberam tratamento para

formação da liga. .......................................................................................................... 34

Tabela 7- Códigos das amostras preparadas pelo método do ácido fórmico. ............ 35

Tabela 8 - Tamanho médio de partículas e parâmetros de rede das amostras do

tipo Pt/Cv preparadas nas temperaturas de 25 e 50 ºC. .............................................. 54

Tabela 9 - Tamanho médio de partícula e o parâmetro de rede das amostras

preparadas pelo método da impregnação em diferentes temperaturas (25, 50 ºC)

com 10% (m/m) de platina em relação ao suporte. ...................................................... 55

Tabela 10- Tamanho de partícula e parâmetros de rede das amostras de Pt e Co

preparadas com ordem de adição de reagentes alterados. ......................................... 67

Tabela 11- Tamanhos de partícula e os parâmetros de rede para as amostras de

eletrocatalisadores com concentrações diferentes de Pt e Co. ................................... 72

Tabela 12- Área ativa eletrocatalíca em cm2 e tamanhos de partícula para as

amostras de eletrocatalisadores com mesma concentração de Pt e Co. .................... 77

Tabela 13- Tamanho médio de partícula e o parâmetro de rede das amostras

preparadas pelo método da redução com ácido fórmico. ............................................ 80

1

1 - Introdução

1.1 - Introdução Geral

De uma forma ou de outra, todas as atividades humanas sobre a Terra

provocam alterações ao meio ambiente. Dentre estas, várias alterações se

originam da geração, manuseio e do uso da energia. Em 1998, segundo as

Nações Unidas1, o consumo mundial de energia primária proveniente de fontes

não renováveis (petróleo, carvão, gás natural e nuclear) correspondeu a

aproximadamente 86% do total, cabendo apenas 14% às fontes renováveis. De

acordo com a Agência Internacional de Energia2 o consumo mundial de energia

primária passou de 283,629x1015 Btu no ano de 1980 para o valor de

446,442x1015 Btu para o ano de 2004, crescendo significantemente ano a ano.

Entre 2003 e 2004, o consumo global apresentou o maior aumento desde

1980. Além disso, mostra que os Estados Unidos continuam sendo os maiores

consumidores de energia primária, tendo um consumo anual sempre maior do

que toda a Europa.

A dependência de fontes não renováveis de energia desperta

preocupação permanente com o esgotamento das mesmas, além da

preocupação com a emissão de grandes quantidades de dióxido de carbono

(CO2) na atmosfera, as quais no ano de 1996 foram da ordem de 23 bilhões de

toneladas3, aproximadamente o dobro da quantidade emitida em 1965. A taxa

média de crescimento desta emissão verificada na década de 90 foi de 0,5%

ao ano. Como conseqüência, o teor de CO2 na atmosfera aumenta

progressivamente levando muitos especialistas a acreditarem que o aumento

da temperatura média da biosfera terrestre seja devido ao efeito estufa

provocado por este acréscimo de CO2 e de outros gases na atmosfera, já

denominados genericamente como gases de efeito estufa (GHG, Greenhouse

Gases). A preocupação com o crescimento do teor de GHG na atmosfera

começa a fazer parte de discussões internacionais (Rio-92, Kioto-97 e Bonn-

2001), a ponto de inúmeros países, notadamente aqueles que mais contribuem

com as emissões destes gases, já se comprometerem com algum tipo de

controle destas emissões. Até o momento estes compromissos permanecem

mais ao nível da retórica e não provocaram ações efetivas dos governos.

2

Os estudos realizados em escala global para redução da taxa de

crescimento dos teores de GHG na atmosfera têm apontado para uma série de

procedimentos de curto, médio e longo prazo. Dentre estes procedimentos

pode-se citar (i) a substituição de combustíveis fósseis, (ii) a introdução de

medidas que tornam mais eficiente o uso da energia, (iii) a criação progressiva

de medidas legislativas de contenção de emissões nas grandes cidades (como

a da Califórnia, USA), (iv) investimentos pesados no desenvolvimento das

fontes renováveis de energia (como a energia eólica e a solar) e (v) a produção

de combustíveis denominados "limpos" (como os derivados da biomassa e o

hidrogênio), com baixa emissão de poluentes e/ou nenhuma liberação de CO2.

No caso específico do setor de transportes, sua participação no

consumo mundial de energia situa-se em torno de 20%, correspondendo

também a algo desta ordem sua participação no total das emissões globais de

CO2.

No Brasil, o uso de derivados do petróleo tem participação da ordem de

80% do total de emissões de CO2 do país 4 . O setor de transporte é o

responsável por mais da metade destes, ou seja, de 40% das emissões totais

brasileiras.

O setor de transportes é um dos principais emissores de GHG, e a

concentração de veículos nas grandes cidades faz com que localmente o

impacto ambiental causado pela queima dos combustíveis fósseis seja

significativo, principalmente em decorrência da concentração de poluentes no

perímetro urbano dos municípios. Este efeito é especialmente marcante na

região central das cidades onde, em geral existe pouca circulação do ar pela

presença de grande número de prédios e edifícios. O uso de combustíveis para

transporte no meio urbano tem sido o principal fator de comprometimento da

qualidade do ar das grandes cidades, embora nas duas últimas décadas tenha

havido reduções significativas na emissão de poluentes como monóxido de

carbono (CO), dióxido de enxofre (SO2), óxidos de nitrogênio (NOx)

provenientes da queima de derivados de petróleo em motores de veículos. No

caso do CO2, ao contrário dos demais, as emissões permaneceram com

índices crescentes.

Por tudo isto é que grandes cidades como Los Angeles, Cidade do

México, Tókio, São Paulo e outras vêm adotando e estudando a implantação

3

de diversas medidas para controlar este problema. Estas variam desde

alterações técnicas redutoras das emissões veiculares, tais como o uso de

aditivos especiais à gasolina, uso de catalisadores, até medidas de restrição ao

tráfego de veículos em determinadas áreas em certas épocas do ano, como o

denominado "rodízio" de veículos já implementados na cidade de São Paulo

desde 1995, pedágio eletrônico em determinados locais da cidade, controle

rigoroso do nível de emissão dos motores da frota com pesadas multas para

veículos fora de especificação, imposto adicional proporcional ao nível de

emissão do veículo. Estas últimas três ainda encontram-se em estudo.

Com o previsível esgotamento do petróleo nas próximas décadas, torna-

se urgente à busca por fontes energéticas alternativas, capazes de assegurar

ao mesmo tempo o suprimento diante de uma demanda mundial crescente e a

devida proteção ao meio ambiente. Sabe-se que os países em

desenvolvimento, ao contrário dos países desenvolvidos, ainda não atingiram

seu ápice na demanda por energia, o que constitui um bom motivo para que

este desenvolvimento ocorra de forma sustentável. Conseguir alcançá-lo exige

uma mudança profunda nos hábitos de produção e consumo da sociedade,

questão que envolve o acesso a tecnologias alternativas.

Desenvolvimento sustentável, segundo a Brundtland Commission

(Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável), é

aquele capaz de satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a

capacidade das futuras gerações de satisfazerem as suas próprias

necessidades5.

No Brasil, cerca de 41% da oferta interna de energia (OIE) é originada de

fontes renováveis, sendo que a geração de energia hidráulica corresponde a

14% da OIE e 27% obtém-se através de biomassa. O restante (59%) é oriunda

de combustíveis fósseis6.

1.2 - Células a Combustível

Considerando-se esta tendência, quanto ao esgotamento das reservas de

petróleo conhecidas, até o final do século XXI, o estudo de Pilhas de Células a

Combustível (CC) e, em especial de novos materiais, de modo a produzir

energia com custos menores para aplicações veiculares e estacionárias, vêm

4

recebendo grande destaque das empresas petrolíferas e de energia nos últimos

anos.

Alguns tipos de células a combustíveis são: a alcalina (AFC), a de

membrana de troca de próton (PEMFC), a de ácido fosfórico (PAFC), a de

carbonato fundido (MCFC), a de óxidos sólidos (SOFC) e a de metanol

(DMFC) 7.

Células a combustível baseadas em eletrólitos sólidos inorgânicos

requerem alta temperatura de operação, acima de 500oC. Em geral, tais células

são utilizáveis para grande geração de potência, enquanto as células a

combustível baseadas em eletrólitos sólidos poliméricos são destinadas

especialmente a veículos elétricos ou geradores de energia residenciais8.

Células a combustível baseadas em eletrólitos sólidos inorgânicos

requerem alta temperatura de operação, acima de 500oC. Em geral, tais células

são utilizáveis para grande geração de potência, enquanto as células a

combustível baseadas em eletrólitos sólidos poliméricos são destinadas

especialmente a veículos elétricos ou geradores de energia residenciais 9.

O combustível pode ser o hidrogênio, o gás natural, o metanol ou o etanol

e o oxidante pode ser o gás oxigênio ou o ar. O melhor combustível para as

células é o hidrogênio, que tem sido apontado como a maior fonte de energia do

futuro, devido à sua disponibilidade, flexibilidade de produção (pode ser obtido a

partir de diferentes matérias-primas e processos de produção) e versatilidade de

utilização (geração de eletricidade, portador de energia em fontes móveis e

estacionárias), além de ser não-tóxico, não-poluente e possuir alta densidade de

energia por unidade de massa.

O hidrogênio pode ser produzido a partir de diferentes fontes, divididas

em três classes principais: combustíveis fósseis, fontes renováveis e eletrólise da

água10. A energia requerida para a eletrólise pode ser de origem nuclear ou a

proveniente de fontes renováveis, como energia hidroelétrica, solar ou eólica.

Atualmente a eletrólise da água responde por apenas 4% da capacidade

mundial de produção de H2, devido ao alto custo e tecnologia ainda incipiente11.

A utilização de fontes renováveis, como biomassa e resíduos orgânicos, também

é altamente promissora, mas ainda se encontra em estágios iniciais de

desenvolvimento. Quanto aos combustíveis fósseis, o gás natural responde por

48% da produção mundial de H2, o petróleo por 30% e o carvão por 18%11. É

5

importante lembrar que, quando se utilizam combustíveis fósseis para produção

de hidrogênio, o CO2 é um importante subproduto e quanto maior o

hidrocarboneto, maior é a produção relativa de CO2, que é o principal causador

do efeito estufa. Portanto, entre os combustíveis fósseis, o gás natural é o mais

adequado à produção de H2 devido ao seu maior conteúdo relativo de hidrogênio

e também porque as reservas mundiais comprovadas de gás natural já excedem

as de petróleo e vem crescendo mais rapidamente do que estas tendências que

devem ser mantidas ao longo do século XXI12.

No Brasil, o gás natural tem tido uma participação discreta na matriz

energética. Em 1998, sua produção foi de 32 milhões de m3/dia, representando

menos de 3% do consumo total de energia primária. Desse total, cerca de 40%

era reinjetado nos poços das reservas associadas para aumentar a extração de

petróleo e outra grande parte queimada na boca-do-poço por falta de mercado13.

Este cenário está mudando e o aquecimento do mercado de gás natural é

visível, embora no momento, após a nacionalização dos recursos naturais da

Bolívia, o investimento realizado na construção do gasoduto Brasil-Bolívia em

dezembro de 1998, esteja sendo questionado. Além do gasoduto, as reservas

brasileiras de gás natural cresceram na última década a uma taxa média de 10%

ao ano, passando de 26 bilhões de m3 em 1975 para 225 bilhões em 1998, com

destaque para as reservas da bacia de Campos-RJ e na área de Urucu (região

amazônica).

O Relatório da Comissão do Gás Natural, do Ministério das Minas e

Energia, publicado em 1992, previu que a participação do gás na matriz de oferta

de energia deveria chegar a 12% em 201014.

Atualmente o gás natural representa cerca de 3% da energia primária

produzida no país, mais de 10 vezes menor que o petróleo. Há necessidade de

tecnologias, equipamentos, produtos e processos relacionados ao uso de gás

natural no país.

Portanto, em uma primeira fase, o gás natural poderia ser o combustível

para as Células a Combustível. Entretanto, para operar CC economicamente

viáveis é preciso avançar rapidamente no estudo de novos materiais inorgânicos

e orgânicos com propriedades adequadas à aplicação que aumentem a

eficiência e o tempo de vida desses dispositivos. Para tanto, é necessário o

conhecimento e domínio, dos fenômenos que definem as propriedades

6

observadas em nível macroscópico, isoladamente e durante o funcionamento da

CC. Apesar dos últimos avanços na área na última década do século XX, ainda

resta muita pesquisa a ser feita na área de catalisadores anódicos, oxidação

seletiva de CO, eletrólitos sólidos, estrutura de eletrodos e da engenharia da

pilha a combustível.

Protótipos de veículos com CC já foram mostrados pela Ford (P2000),

Daimler Chrysler (NECAR IV), Toyota (FCEV) 15 e outras indústrias. Nestes

veículos espera-se uma eficiência de conversão de energia, do tanque à roda,

de até 50%, enquanto para um veículo com motor de combustão convencional,

movido a gasolina e nas mesmas condições de teste, alcança-se apenas 23%

de eficiência.

Comparando-se também a emissão dos dois tipos de veículos, deve-se

salientar que a emissão de CO proveniente de um motor convencional é maior

que 100g/100Km e a de NOx é cerca de 8g/100Km, enquanto que as emissões

de CO e NOx de um automóvel com CC são praticamente nulas.

1.3 - Células a combustível do tipo PEM.

Dentre as tecnologias de CC a do tipo PEM (polymer electrolyte

membrane) é uma das mais convenientes em função de sua eficiência na faixa

de temperatura de 50 a 125 ºC para as aplicações de menor potência. Estes

dispositivos são, em princípio, baterias de funcionamento contínuo, que

produzem corrente contínua pela oxidação do combustível gasoso, geralmente

hidrogênio16.

A Figura 1 mostra o princípio de funcionamento desta célula com

membrana condutora protônica alimentada com H2/O2.

7

Figura 1 - Desenho esquemático de uma célula a combustível do tipo PEM.

O hidrogênio é oxidado no eletrodo de difusão gasosa (anodo), com o

auxílio de um catalisador, gerando prótons e elétrons segundo a reação 1:

H2 → 2 H+ + 2e- (1)

Os prótons são transportados através do eletrólito sólido de condução

protônica, ou seja, membrana polimérica trocadora de prótons (PEM), até o

catodo, também de difusão gasosa, onde participam da redução catalisada do

oxigênio, produzindo H2O, o único subproduto liberado para o ambiente.

2H+ + 2 e- + ½O2 → H2O (2)

Os elétrons gerados na primeira etapa fluem por um sistema externo

dando origem a uma corrente elétrica.

8

A reação global, que é acompanhada de liberação de calor, pode ser

descrita da seguinte forma:

H2 + ½O2 → H2O + energia (3)

A ruptura das moléculas diatômicas H2 e O2 requerem uma energia de

ativação da mesma ordem de grandeza de suas energias de formação, quando

as reações são homogêneas e ocorrem em fase gasosa. Em CC, ambas as

reações são heterogêneas e ocorrem na interface eletrodo/eletrólito, sendo

catalisadas na superfície do eletrodo. Em decorrência, utiliza-se nas células de

baixa temperatura de operação, platina como catalisador tanto na reação

anódica como na catódica16. A platina é dispersa, aleatoriamente, em partículas

nanométricas na superfície do suporte de catalisador que normalmente é

carbono Vulcan. O efeito catalítico no anodo resume-se na ruptura por adsorção

química da molécula de H2, enquanto no catodo somente no enfraquecimento da

ligação oxigênio/oxigênio, também por adsorção química da molécula de O2.

Entretanto, não se utiliza hidrogênio puro, mas sim uma mistura gasosa,

que contém além de hidrogênio, um pouco de vapor d’água, CO2 e CO. Este gás

é chamado de gás de reforma e provém da transformação catalítica heterogênea

de gás natural; hidrocarbonetos ou de também metanol, com vapor d’água, de

acordo com as reações totais (4, 5 e 6). Estas reações requerem considerável

energia térmica.

Reforma do gás natural (metano): CH4 + H2O → CO + 3H2 (4)

Reforma de hidrocarbonetos: CnH2m + 2nH2O → nCO2 + (2n + m) H2 (5)

Reforma de metanol: CH3OH + H2O → CO2 + 3H2 (6)

O desempenho das CC é limitado por perdas relacionadas à membrana,

aos eletrodos e ao sistema eletro-eletrônico.

9

Perdas significativas são originadas de: i) cinética reacional limitada, em

particular da reação de redução de oxigênio; ii) envenenamento do catalisador

anódico, particularmente quando se usa hidrogênio produzido por reforma; iii)

condutividade protônica limitada na camada catalisadora dos eletrodos; iv)

permeabilidade efetiva limitada do oxigênio ou hidrogênio na camada

catalisadora do eletrodo e v) limitação difusional do gás na camada difusora do

eletrodo.

Tendo em vista o objetivo deste trabalho, a seguir serão discutidos os

aspectos mais importantes dos fenômenos (i) e (ii) acima relacionados17.

Para a melhor compreensão da tecnologia envolvida em relação ao

emprego da CC no setor veicular é interessante traçar um comparativo entre a

configuração estrutural existente nos atuais veículos de combustão interna e as

possíveis configurações estruturais para um veículo utilizando CC, de acordo

com a Figura 2.

Figura 2 - Configurações de veículos com motores de combustão interna e

veículos utilizando células a combustível.

10

1.4 - Eletrodos de Difusão Gasosa

Eletrodos de difusão gasosa são camadas de alta porosidade, cuja

espessura depende do tipo de célula e pode variar de 20 μm até alguns

centésimos de milímetros. São separados um do outro por um eletrólito

(condutor iônico), de modo que os gases não se misturem. O eletrólito pode ser

um líquido, um polímero condutor de cátions saturado com um líquido.

Na célula do tipo PEM esses eletrodos são confeccionados pelo depósito

sobre uma folha de tecido de carbono, de uma camada fina de uma mistura

formada por partículas de carbono com nanopartículas de platina dispersas na

superfície. Essas partículas são recobertas por fibras microscópicas de PTFE ou,

no caso da PEM, também com o próprio material da membrana, formando um

agregado poroso. Uma parte dos poros entre os flocos de carbono é totalmente

preenchida pelo material do eletrólito, outra fração de poros é mantida

hidrofóbica, pois nestes poros as partículas estão recobertas com uma fina

camada de PTFE e estão disponíveis para a difusão dos gases no eletrodo.

A construção deste eletrodo tem como função à maximização da interface

trifásica gás-líquido-sólido, aumentando consideravelmente a velocidade dos

processos eletródicos. A figura 3 apresenta a representação esquemática de

uma unidade eletrodo/membrana/eletrodo (MEA).

Os eletrodos de difusão gasosa devem satisfazer no mínimo duas

exigências importantes: (i) devem possuir alta atividade catalítica, a fim de se

obter altas densidades de corrente e; (ii) os poros, durante a operação do

eletrodo, não podem apresentar forças capilares muito fortes, para não sugar

todo o eletrólito, e a pressão do gás não deve ser muito alta, para que o eletrólito

não seja totalmente expulso dos poros. Nestes dois extremos o eletrodo torna-se

ineficiente. A superfície interna dos poros do eletrodo é contatada por um filme

delgado do eletrólito, de modo que os poros relativamente grandes (diâmetros

entre 0,1 a 1 mm) fiquem livres para a circulação/difusão dos gases de trabalho.

Em células de baixa temperatura de operação (por exemplo: PEM), as

partículas do eletrocatalisador estão numa faixa de distribuição de tamanho

nanométrica. O eletrólito da célula PEM constitui-se de uma camada delgada

(100 a 150 μm de espessura) de um polímero condutor protônico (membrana

Nafion®), bastante resistente quimicamente18.

11

A fabricação destes eletrodos baseia-se, na maioria dos casos, na

fabricação de filmes precursores obtidos a partir de uma pasta, como nos

processos cerâmicos tradicionais (doctor-blade). Esta pasta contém, além do

catalisador, um formador de poros e um ligante orgânico apropriado, por

exemplo, um álcool polivinílico. O ligante dá sustentação intermediária ao filme,

sendo mais tarde evaporado por aquecimento.

A montagem da unidade MEA pode ser realizada por diferentes métodos,

prensagem a quente dos componentes preparados individualmente o usando as

seguintes técnicas: screen-printing, rolling, brushing, filtering e spraying19,20,21.

Figura 3 - Representação esquemática de um MEA mostrando em detalhes a

interface trifásica gás-líquido-sólido.

Após a montagem da unidade eletrodo/membrana, processa-se a retirada

do ligante orgânico polimérico da membrana, por aquecimento. Este processo

tem como efeito a fixação dos eletrodos na membrana formando uma célula.

1.5 Empilhamento da célula

Nestas células unitárias obtêm-se potenciais de trabalho para o sistema

hidrogênio/oxigênio entre 0,5 e 0,7 V. Potenciais de circuito aberto ficam entre

12

1,1 e 1,2 V. Estes valores são, sob o ponto de vista prático, muito baixos. A fim

de se obter potencial prático da ordem de 150 a 200 V torna-se necessário o

empilhamento em série de várias unidades de células (200 a 300), como

mostrado na Figura 4. As células são montadas eletricamente em série e

sobrepostas, normalmente dispostas verticalmente, formando um empilhamento

“stack”.

1: Placa bipolar; 2: moldura do anodo; 3: Anodo 4: Membrana; 5: Catodo; 6:moldura do catodo; 7: placa bipolar.

Figura 4: Montagem de uma célula a combustível.

Utiliza-se a placa bipolar para separar o anodo de uma célula do catodo

da célula seguinte. As placas bipolares devem ser estáveis quimicamente tanto

em atmosfera redutora quanto oxidante. Além disso, devem ser boas condutoras

de eletricidade e resistir ao ataque químico do eletrólito. Para células de baixa

temperatura de operação (80 a 200oC) utiliza-se carbono ou um compósito de

polímero e carbono.

1.6 - A eficiência das células a combustível

O princípio das células a combustível foi descoberto por Sir Grove já em

1835. No final do século passado, Wilhelm Ostwald e Walther Nernst

demonstraram a vantagem da combustão eletroquímica a frio em relação à

produção de eletricidade pela máquina de calor/mecânica, que funciona sob o

princípio de Carnot. A eficiência teórica “η” de qualquer processo de produção de

energia eletroquímica é obtida pelo quociente:

1 2 3 4 5 6 7

13

η: = ΔG/ΔH (7)

Na Figura 5 são mostrados valores de η para a reação de combustão

(reação 8) em fase gasosa em função da temperatura segundo o processo

eletroquímico e o ciclo de Carnot. A eficiência teórica eletroquímica diminui de 86

a 70% na faixa de temperaturas de 100 a 1000°C. A eficiência de Carnot, por

sua vez, eleva-se de 0 a 70% na mesma faixa e somente a temperaturas

superiores a 1000°C é maior que a eficiência teórica eletroquímica.

CH4 + 2O2 → 2 H2O + CO2 (8)

Portanto, células a combustível a hidrogênio apresentam uma eficiência

teórica significativamente maior que máquinas de Carnot, principalmente a

baixas temperaturas. Na Figura 5 também é mostrada, comparativamente, a

curva da conversão eletroquímica do metano. Neste caso, a eficiência teórica

encontra-se muito próxima de 100% em toda a faixa de temperaturas mostrada.

O metano torna-se, assim, o armazenador de energia primário de preferência

para células a combustível.

Figura 5- Dependência do rendimento teórico com a temperatura da conversão

eletroquímica do hidrogênio, do metano e no ciclo de Carnot.

14

Células a combustível a membrana polimérica são células de baixa

temperatura de operação, que utilizam uma membrana polimérica como

eletrólito, também chamadas PEMFC (Próton Exchange Membran Fuel Cell),

são as mais promissoras como alternativa para motores a combustão, por ser

robustas e de fácil acionamento e desligamento, além das vantagens inerentes

como alta eficiência com baixa emissão de poluentes. Devido à baixa

temperatura de operação, e, mesmo utilizando-se ar como alimentação do

cátodo, tem-se emissão zero para NOx. As células de baixa temperatura também

se aplicam a unidades estacionárias.

Atualmente, o fator determinante para a sua entrada no mercado é, ainda,

o seu custo 22 . A célula do tipo PEM é a mais apropriada para a tração

automotiva e não se prevê, em curto prazo, sua substituição por nenhum outro

tipo de célula nesta aplicação.

A estratégia de desenvolvimento para as células estacionárias sofreu uma

grande mudança nos anos 90. Unidades das classes de 100 kW e de até alguns

MW eram preferenciais. Atualmente este desenvolvimento também está voltado

para unidades de alguns kW. A motivação vem da situação favorável do

mercado para a aplicação das células no fornecimento de energia elétrica em

residências. As células do tipo PEM são bastante promissoras para esta

aplicação devido ao seu avançado desenvolvimento para a indústria automotiva.

Pequenas instalações de CC para aplicações residenciais abrirão um

novo mercado no ramo de serviços de energia e de fornecimento de gás, se o

custo da instalação for suficientemente competitivo. Mesmo a preços um pouco

acima dos convencionais, esta tecnologia já pode assegurar um mercado

específico e promissor, onde suas características principais (como baixo impacto

ambiental e melhor aproveitamento do combustível) passam a ter um papel

relevante na escolha final.

Ainda assim, hoje o mercado principal da tecnologia de células a

membrana é o dos veículos elétricos não poluentes. O fato de que uma

importante montadora automobilística tem equipado não só ônibus, mas também

carros de passeio com células tipo PEMFC e, muito, além disso, tem uma meta

já anunciada de que em 8 anos 2% de sua produção serão veículos movidos a

15

PEMFC, não nos permite dúvidas quanto o futuro - e o mercado - deste tipo de

tecnologia7.

Para tornar viável a utilização comercial de células, alguns problemas são

motivo de intensos estudos. A geração de hidrogênio através da reforma

catalítica de um combustível líquido gera como subproduto o CO (100 a 2000

ppm). Esta espécie é particularmente danosa ao desempenho da célula a

combustível, pois adsorve irreversivelmente nos sítios de Pt (catalisador

normalmente utilizado) gerando um bloqueio físico que impede a oxidação do

combustível.

1.8 - Membrana polimérica condutora protônica

A maior parte das células a combustível relatadas na literatura utilizam

uma membrana polimérica de condução protônica comercial fluorada como a

DOW (DOW chemicals), a Flemion (Asashi Glass) e o NAFION (DuPont)23.

Entretanto, as membranas são de custo elevado dificultando os avanços na sua

comercialização e limitam as condições de temperatura de operação da célula

na faixa de 50 a 125 oC24 . Estas membranas são conhecidas genericamente por

Eletrólitos Sólidos Poliméricos (ESP).

1.9 - Eletrocátalise da reação de redução de oxigênio

A reação de redução de oxigênio (RRO) é considerada como uma das

reações eletrocatalíticas mais importantes devido a sua função em conversores

eletroquímicos de energia, vários processos industriais e em corrosão.

Conseqüentemente, há muitos anos é foco de interesse das pesquisas

eletroquímicas. A redução de oxigênio continua a ser um desafio para

eletroquímicos devido à sua complexidade cinética e à necessidade de melhores

eletrocatalisadores.

A redução de oxigênio é uma reação multieletrônica que usualmente inclui

várias etapas elementares no mecanismo reacional. A RRO em soluções

aquosas ácidas ocorre segundo dois mecanismos globais clássicos já

conhecidos25,26.

16

I) Mecanismo direto ou mecanismo 4-elétrons:

O2 + 4H+ + 4e- → 2H2O (9)

II) Mecanismo Peróxido ou mecanismo 2-elétrons

O2 + 2H+ + 2e- → H2O2 (10)

Sendo que o peróxido de hidrogênio pode ser reduzido em uma etapa posterior:

H2O2 + 2H+ + 2e- → 2H2O (11)

Ou sofrer decomposição química segundo:

2H2O2 → 2H2O + O2 (12)

O potencial Eo nestas equações corresponde ao valor padrão da reação

em função do eletrodo reversível de hidrogênio (ERH) a 25oC. A distinção entre

estes dois mecanismos é dificultada pelo fato de que a redução direta também

pode envolver a formação de peróxido, desde que este permaneça adsorvido na

superfície do eletrodo sem sofrer dessorção ou decomposição, e a sua redução

ocorra subseqüentemente. Sendo este processo também de 4 elétrons, porém,

chamado de mecanismo em série. Em potenciais mais catódicos juntamente

com o mecanismo via 4 elétrons ocorre o mecanismo via 2 elétrons, sendo

chamado de mecanismo paralelo.

Nas últimas décadas, muitos esforços têm sido dedicados ao estudo do

mecanismo da RRO em soluções aquosas ácidas e alcalinas sobre diferentes

materiais de eletrodo27. Em eletrólitos ácidos, platina e ligas de platina ainda são

consideradas as melhores opções para a redução de oxigênio, tanto em termos

dos mais baixos sobrepotenciais desejáveis para promover a reação, quanto da

estabilidade requerida. Assim, os eletrocatalisadores baseados em platina são

necessários para prover estabilidade no ambiente corrosivo da PEMFC e, neste

sentido, as ligas de platina favorecem a atividade catalítica desejada ao mesmo

17

tempo em que permitem a diminuição do teor de Pt, com conseqüente ganho

econômico.

Sobre platina e metais da família da platina ocorre o mecanismo paralelo,

mas a predominância é do mecanismo direto via 4 elétrons. Para estes metais

há duas propostas para a primeira etapa reacional. A primeira proposta é de

Damjanovic e colaboradores 28 em que a transferência de prótons ocorre

simultaneamente com a transferência de carga. A segunda visão é de que o

mecanismo mais comum, a redução via 4 elétrons sobre Pt, envolve adsorção

química seguida de dissociação da molécula de O2 sobre a superfície de platina

que, provavelmente, ocorre simultaneamente com a transferência de carga29.

Uma variedade de sistemas de ligas de Platina, binárias e ternárias, tem

sido discutidas e investigadas para a utilização em CC de ácido fosfórico (PAFC)

e de eletrólitos poliméricos (PEMFC) 30. A utilização de ligas de platina como

catalisadores catódicos tem atraído uma ampla atenção como um candidato

para alcançar uma alta performance, para o aumento na densidade do pó, e para

a redução do custo do componente31.

Ligas como Pt-Co, Pt-Cr, Pt-Ti, Pt-V e Pt-Fe suportadas em carbono

(Pt-M/C) têm sido muito estudadas para a redução de oxigênio em meio ácido.

Alguns estudos sobre estas ligas têm mostrado um aumento da atividade

eletrocatalítica para a RRO em relação à Pt pura29,32. Ligas de Pt-Co e Pt-Co-Cr

suportadas em carbono podem aliviar apreciavelmente o sobrepotencial da

redução de oxigênio em relação à platina pura33,34.

Ligas binárias de Pt-Fe exibem melhor resistência à sinterização das

partículas a elevadas temperaturas que catalisadores que contêm platina pura.

Este efeito é chamado de “efeito âncora” do ferro para a platina sobre substrato

de carbono. A mobilidade dos átomos de platina sobre substrato de carbono é

dificultada quando o ferro está presente.

Aricó e colaboradores35 realizaram estudos de difração de raios-X para Pt,

Pt-Co e Pt-Co-Cr e os resultados mostraram que a Pt suportada em carbono tem

estrutura cúbica de face centrada, porém, Pt-Co e Pt-Co-Cr suportadas em

carbono têm estrutura de face centrada tetragonal, o que está de acordo com a

proposta de Glass36. Outros estudos em ligas de Pt-Co suportadas em carbono

mostraram que uma estrutura cristalina desordenada é mais resistente à

18

corrosão que uma ordenada e mantém alta a atividade catalítica deste material

por um longo tempo37.

1.10 - Eletrocatálise da reação de oxidação de hidrogênio

Um outro problema muito importante relacionado à eficiência das células

a combustível está relacionado com a pureza do hidrogênio. Se o gás é

produzido por eletrólise da água, a pureza é elevada e o catalisador de platina

dispersa é plenamente satisfatório para promover com alta eficiência a reação de

oxidação de hidrogênio (ROH) que tem lugar no ânodo das células. Entretanto,

se o hidrogênio é produzido através da reforma de outros combustíveis, (gás

natural, biogás, metanol, etanol, etc.) o produto pode vir acompanhado de

impurezas tais como CO e compostos de enxofre (em níveis de 0,1%) que se

adsorvem fortemente sobre a platina, diminuindo de forma drástica a atividade

do eletrocatalisador em temperaturas abaixo de 150oC.

Através de estudos utilizando eletrodos de metais maciços, já se sabe que

a presença de um segundo elemento além da platina, como Ru, Sn, Os, Mo, etc,

formando ligas ou co-depósitos, leva a um incremento significativo na tolerância

ao CO se comparado à platina pura 38 , 39 , 40 . A busca do entendimento do

mecanismo de envenenamento tem se concentrado em uma variedade de

abordagens experimentais41, incluindo o uso de técnicas eletroquímicas, UV-

visível in situ, espectroscopia de infravermelho por reflectância, absorção de

raios-X, etc 42,38.

Diversos estudos realizados a 25oC em Pt ou ligas de Pt dispersa em

carbono indicam que o envenenamento ocorre devido à forte adsorção de CO na

superfície do catalisador, que bloqueia a adsorção da espécie reagente

(hidrogênio). Assim sendo, ocorre um forte efeito causado pela presença de CO

na curvas de polarização de uma célula PEMFC. No caso das ligas de Pt, um

mecanismo bifuncional tem sido proposto para explicar a melhor tolerância em

relação à presença do contaminante. De acordo com este modelo, a espécie

reagente adsorve-se preferencialmente nos átomos de Pt, enquanto que o outro

metal (Ru, Mo, etc) produz espécies oxigenadas ou óxidos hidratados que atuam

diretamente na oxidação do envenenador da reação. Nestas condições, a

corrente origina-se apenas da oxidação do reagente que ocorre nas zonas da

19

superfície da Pt livres de CO que se formam ao redor dos átomos do outro metal,

sendo que o restante da área permanece coberto pela compacta monocamada

de CO adsorvido.

Uma avaliação crítica dos resultados até agora obtidos permite concluir

que o desenvolvimento de novos materiais e estruturas eletródicas mais ativas

para a ROH na presença de CO é ainda um campo muito aberto para pesquisas.

Isto decorre do fato de que nem todos os fenômenos associados aos processos

envolvidos estão plenamente caracterizados, sendo ainda requerida muita

pesquisa de forma a superar as dificuldades envolvidas.

1.11 - Envenenamento do catalisador por CO

No caso da utilização de H2, a sua geração através da reforma catalítica

de um combustível líquido gera como subproduto o CO (100 a 2000 ppm). Esta

espécie é particularmente danosa ao desempenho da CC, pois adsorve

irreversivelmente nos sítios de Pt (catalisador normalmente utilizado) gerando

um bloqueio físico que impede a oxidação do hidrogênio. Sendo assim o

desempenho da PCC depende fortemente da concentração de CO e do tipo do

catalisador anódico.

1.12 - Métodos de preparação de catalisadores

O método convencional de preparação de catalisadores metálicos

suportados é a impregnação dos sais metálicos no suporte e posterior redução,

freqüentemente em fluxo de hidrogênio a alta temperatura (Redução a

Temperatura Programada – TPR).

Existem, porém, diversos métodos que mostram diferentes abordagens

na preparação de eletrocatalisadores, que oferecem maior ou menor grau de

controle da distribuição, composição e do tamanho das nanopartículas

produzidas. Alguns métodos permitem a preparação de sistemas de

nanopartículas metálicas sendo, portanto, vantajosos para o estudo isolado

dessas partículas e da interação com o suporte. Já outros métodos envolvem a

preparação direta do eletrocatalisador suportado. É fundamental destacar que as

características do eletrocatalisador obtido dependem não somente do método

20

utilizado, mas também das condições de preparação. Assim, o objetivo deve ser

sempre a produção de nanopartículas de tamanho adequado, monodispersas e

que apresentem uma distribuição homogênea no suporte. Estas características

têm demonstrado serem as mais adequadas para se obter o máximo

desempenho de um eletrocatalisador.

1.12.1 - Método do ácido fórmico

O método do ácido fórmico consiste na preparação de eletrocatalisadores

via redução química, visando alta atividade catalítica e quantidade reduzida de

metal nobre. Foi demonstrado que os eletrocatalisadores Pt/C preparados pelo

método do ácido fórmico apresentaram alta atividade catalítica, tanto para a

reação de oxidação de hidrogênio no ânodo, quanto para a reação de redução

de oxigênio no cátodo. Posteriormente, este método foi adaptado para

preparação de ligas de platina com certos metais de transição43.

A metodologia de preparação de eletrocatalisadores pelo método do ácido

fórmico consiste em adicionar o pó de carbono de alta área superficial (Vulcan

XC-72, 240 m2g-1) a uma solução de ácido fórmico e aquecer a mistura até 80ºC.

Uma solução contendo os sais de platina e do co-catalisador é adicionada em

etapas. Para o controle do andamento da redução, utiliza-se o iodeto de potássio

como reagente externo, com a finalidade de indicar a presença de platina em

solução (vermelho intenso). Após a redução total da platina não se observa mais

o tom avermelhado e novas adições da solução contendo os íons metálicos

podem ser realizadas. Após a redução total da platina, o catalisador é filtrado,

seco e triturado43.

Oliveira Neto e colaboradores43 prepararam eletrocatalisadores Pt:Ru pelo

método do ácido fórmico a partir de composições atômicas Pt:Ru de 90:10,

80:20, 70:30 e 60:40. Os eletrocatalisadores obtidos foram caracterizados pelas

técnicas de análise de espectroscopia de dispersão de energia de raios-X (EDX),

difração de raios-X (XRD) e microscopia eletrônica de transmissão (TEM). A

caracterização eletroquímica foi realizada por voltametria cíclica.

Os resultados de difração de raios-X mostraram que as partículas

metálicas encontram-se na forma de ligas e apresentam a estrutura cúbica de

face centrada da platina, que predomina nas ligas. As análises por EDX

21

mostraram que as composições atômicas das ligas Pt:Ru obtidas foram

semelhantes às composições de partida. As micrografias obtidas por TEM

apresentaram uma faixa estreita de distribuição de tamanho de partículas

variando de 1,6 a 6,4 nm, sendo que cerca de 50% das partículas encontram-se

na faixa de 3 nm.

1.12.2 - Método de Bönnemann

O método de Bönnemann, também conhecido como método coloidal,

pode ser utilizado para a obtenção de catalisadores mistos ou sistemas de

catalisadores, ternários e quaternários, sobre carvão ativo e carvão ativo

grafitizado. Esta metodologia pode ser aplicada com sucesso para a obtenção de

eletrocatalisadores à base de platina e ligas contendo metais (e/ou óxidos de

metais), em particular, Sn, V, W e Mo e demais elementos de transição, como

Cu, Fe, Co e Ni44,45,46.

Este método, numa versão modificada44 consiste na preparação de um

sistema coloidal em atmosfera inerte, utilizando-se solventes e sais

desidratados, o que encarece o método.Os sais anidros dos metais são

dissolvidos nas proporções desejadas em tetraidrofurano (THF) anidro ([H2O] <

0,005%) junto com uma quantidade apropriada de brometo de tetraoctilamônio

(N(oct)4Br). O agente redutor é preparado com a mistura de soluções de

N(oct)4Br em THF e uma solução de trietilidroborato de potássio (KHB(et)3) em

THF. Formase então uma solução de trietilidroborato de tetraoctilamônio

(N(oct)4HB(et)3), um forte redutor, como indicado pela Equação 13:

(oct)4Br + KHB(et)3 → N(oct)4HB(et)3 + KBr (13)

Para a redução dos íons metálicos utiliza-se uma vez e meia a quantidade

estequiométrica da solução de N(oct)4HB(et)3, que é adicionada à solução dos

sais dos metais a 40°C sob agitação. A redução pode ser observada pelo

escurecimento e geração de hidrogênio como mostrado na Equação 14:

MeXn + N(oct)4HB(et)3 → Me*[N(oct)4]+ + nB(et)3 + n/2 H2 + nX- (14)

22

A dispersão coloidal é, então, agitada à temperatura ambiente e o colóide

é formado pela adsorção do íon [N(oct)4]+ na superfície do metal/liga dos metais,

o que garante a dimensão nanométrica das partículas e sua grande solubilidade

em solventes orgânicos. Todas as etapas até a formação do colóide são

realizadas em atmosfera controlada.

Após a agitação, a dispersão coloidal é vagarosamente adicionada à

suspensão de pó de carbono (suporte) em THF44. Resíduos de íons [N(oct)4]+

ainda permanecem ligados às nanopartículas após a preparação do catalisador

suportado, prejudicando o desempenho eletroquímico. Segundo Schmidt e

colaboradores47. Pode-se eliminar os íons [N(oct)4]+ por oxidação, submetendo o

catalisador à passagem de um fluxo de 10% oxigênio/90% nitrogênio, seguido de

um fluxo de hidrogênio a 300°C.

Franco e colaboradores 48 prepararam eletrocatalisadores ternários

Pt:Ru:Mo com razões atômicas 1:1:1 e 1:1:0,5 pelo método de Bönnemann. As

análises por microscopia eletrônica de transmissão (Figura 3) mostraram que,

para ambos os eletrocatalisadores, as nanopartículas apresentavam-se bem

distribuídas e possuíam tamanhos de cerca de 2 nm.

1.12.3 - Método da deposição espontânea

Adzic e colaboradores 49 , 50 , relataram um método de preparação de

eletrocatalisador bimetálico de Platina, o qual reduz consideravelmente a

quantidade de platina empregada. Segundo os autores, somente um quarto de

uma monocamada de platina sobre nanopartículas de um segundo metal de

transição resulta em um eletrocatalisador com maior atividade e tolerância ao

envenenamento da Pt pelo monóxido de carbono, na oxidação de misturas

H2/CO (100 ppm de CO), em comparação com eletrocatalisadores comerciais

contendo ligas as mesmas ligas. O método de preparação deste

eletrocatalisador envolve a deposição espontânea de platina sobre

nanopartículas de rutênio suportadas em carbono, sem a aplicação de um

potencial externo. Inicialmente, as nanopartículas de rutênio suportadas no

carbono Vulcan XC-72 são tratadas em atmosfera de hidrogênio a 300ºC

por 2 h. Posteriormente, são esfriadas à temperatura ambiente e imersas em

uma solução contendo íons [PtCl6]2-.

23

O procedimento completo é realizado em atmosfera de hidrogênio e/ou

argônio e a quantidade de platina disponível para a deposição espontânea é

controlada pela concentração e volume da solução de imersão. Dessa forma

ocorre a formação de depósitos de platina desde frações de monocamadas até

multicamadas, sem a aplicação de um campo externo.

Em relação ao mecanismo da deposição espontânea de um metal nobre

sobre outro metal ainda não existe consenso. A deposição pode ser atribuída a

uma reação química com o hidrogênio adsorvido ou a um mecanismo

envolvendo a formação de espécies M-OH na superfície (Equações 15 e 16).

Ru0 + x(H2O) → RuOxHy + (2x-y)H+ + (2x-y)e- (15)

[PtCl6]2- + 4e- → Pt0 + 6Cl- (16)

A atividade catalítica dos eletrocatalisadores Pt:Ru, obtidos pela

deposição espontânea, foi determinada a partir de experimentos utilizando o

eletrodo rotativo de camada fina porosa. Na oxidação de H2 em H2SO4

0,5 mol L-1 a 25ºC, a atividade foi cerca de três vezes maior, considerando-se a

densidade de corrente por massa de platina, quando comparada ao

eletrocatalisador comercial E-TEK (liga Pt:Ru) 49.

Como conseqüência das propriedades eletrônicas modificadas da

monocamada de platina sobre o rutênio, espera-se que a ligação do CO49 com a

platina e o rutênio seja mais fraca quando comparada à dos metais em fases

puras. O mecanismo bifuncional é freqüentemente citado na literatura para

materiais Pt:Ru, devido à formação de espécies RuOH a baixos potenciais,

facilitando a oxidação do CO.

Wieckowski e colaboradores49 prepararam eletrocatalisadores através da

deposição espontânea de rutênio sobre nanopartículas de platina e testaram a

atividade na oxidação de metanol. A deposição espontânea envolveu a imersão

da platina em uma solução de cloreto de rutênio. Os eletrocatalisadores obtidos

foram duas vezes mais ativos, em termos de densidade de corrente por área

superficial de platina, que os catalisadores comerciais. Estes resultados ilustram

o efeito benéfico da adição de co-catalisadores à platina.

24

1.12.4 - Preparação de eletrocatalisadores a partir da decomposição de

precursores moleculares

Uma outra alternativa para o método convencional de preparação de

catalisadores bimetálicos suportados (impregnação dos sais metálicos no

suporte e posterior redução) é o uso de clusters ou complexos bimetálicos como

precursores. Dessa maneira, espera-se que a composição das nanopartículas

que resultam da ativação dessas moléculas sejam semelhantes à de seus

precursores, pois suas agregações e crescimento devem ser diferentes daqueles

feitos a partir da mistura de sais metálicos.

Nuzzo e Shapley51,52 descreveram a preparação de nanopartículas Pt:Ru

suportadas em carbono, preparadas a partir do cluster PtRu5C(CO)16. Os

resultados mostraram que a ativação do cluster precursor em atmosfera de

hidrogênio a 400ºC levou à formação de partículas bimetálicas, com distribuição

de partículas excepcionalmente estreita de cerca de 1,5 nm. A distribuição da

composição apresentouse centrada na relação atômica Pt:Ru de 1:5, indicando

uma coalescência uniforme do cluster precursor durante a ativação.

Posteriormente, foi também utilizado como precursor o cluster Pt2Ru4(CO)18 e,

também neste caso, as nanopartículas obtidas apresentavam uma composição

atômica Pt:Ru de 2:4 e diâmetros médios entre 1,0 e 1,5 nm.

Lukehart e colaboradores53,54 utilizaram como precursor o complexo (η-

C2H4)(Cl)Pt(μCl)2Ru(Cl)(η3:η3-C10H16). Este precursor foi incorporado em

diversos suportes de carbono e tratado em condições oxidantes e redutoras

apropriadas. As análises das partículas formadas revelaram que apresentavam

uma estequiometria Pt:Ru bem próxima de 1:1. Os materiais foram testados

como ânodo em células a combustível usando metanol diretamente como

combustível e, em alguns casos, mostraram-se mais ativos que os

eletrocatalisadores comerciais E-TEK.

Dickinson e colaboradores 55 descreveram a preparação de

eletrocatalisadores Pt:Ru a partir de uma mistura de clusters carbonilados. Neste

caso, os clusters carbonilados [Pt3(CO)3(μ2-CO)3]x-2 e Ru3(CO)12, na razão

atômica Pt:Ru de 1:1, e o suporte de carbono foram colocados em o-xileno e

refluxados a 143ºC por 24 h. O catalisador obtido apresentou nanopartículas

Pt:Ru pequenas (2,5 nm), homogeneamente distribuídas no suporte e com uma

25

distribuição de tamanho bem estreita (0,5 nm). No entanto, a deposição de

rutênio foi mais efetiva que a de platina nas condições utilizadas obtendo-se

valores de 62-67 átomo% para o rutênio e 33-38 átomo% para a platina nas

diferentes medidas feitas por EDX na amostra. A performance normalizada deste

eletrocatalisador na oxidação direta de metanol, quando comparada ao

eletrocatalisador comercial da E-TEK (Pt:Ru 50:50 átomo%), mostrou que a

baixos valores de corrente o catalisador da E-TEK apresenta melhor

performance, provavelmente, devido à razão atômica de 33:67 átomo% não ser

a mais adequada para oxidação de metanol. No entanto, para valores acima de

145 A g-1 de metal a tendência é inversa, provavelmente devido à maior área

superficial eletroquimicamente ativa (27,7 m2 g-1) que a do catalisador comercial

(22,2 m2 g-1).

1.12.5 - Método da redução por álcool

O método da redução por álcool foi desenvolvido por Toshima e

Yonezawa56, para preparar dispersões coloidais de nanopartículas apresentando

tamanho e distribuição bem uniformes. Neste método, o refluxo de uma solução

alcoólica contendo o íon metálico na presença de um agente estabilizante,

normalmente um polímero, fornece dispersões coloidais homogêneas das

nanopartículas metálicas correspondentes. O álcool funciona como solvente e

agente redutor, sendo oxidado a aldeídos e cetonas (Equação 17).

H2PtCl6 + 2 CH3OH ↔ Pt0 + 2 HCHO + 6 HCl (17)

Este método apresenta as seguintes vantagens: i) o procedimento é muito

simples e reprodutível, ii) as nanopartículas obtidas são pequenas e apresentam-

se bem distribuídas, iii) o tamanho das nanopartículas pode ser controlado

alterando as condições de preparação, como escolha do álcool, temperatura de

redução, quantidade e variedade do agente estabilizante, concentração do íon

metálico e uso de aditivos, iv) as dipersões coloidais das nanopartículas

apresentam alta atividade catalítica e v) as dispersões obtidas são bastante

estáveis.

26

Wang e Hsing57 prepararam eletrocatalisadores Pt/C e Pt:Ru/C através do

método da redução por álcool. Para isto, uma solução metanol-água contendo

os sais de platina e de rutênio foi refluxada na presença de um agente

estabilizante (surfactante SB12) e do suporte de carbono. As análises por DRX,

TEM e XPS mostraram que as nanopartículas (tamanho médio de 2,5 nm)

apresentavam-se bem dispersas e suportadas no carbono. A caracterização

eletroquímica mostrou que, em comparação ao eletrocatalisador comercial da

ETEK, o eletrocatalisador Pt/C apresentou atividade catalítica similar para a

reação de redução de oxigênio, enquanto que o eletrocatalisador PtRu/C

apresentou maior tolerância ao envenenamento pelo monóxido de carbono.

Lee e colaboradores58 preparam o eletrocatalisador Pt/C pelo método da

redução por álcool. Uma solução aquosa de H2PtCl6.6H2O foi adicionada ao

álcool e uma pequena quantidade de solução aquosa de KOH foi adicionada

gota a gota. Uma razão molar KOH/Pt = 8 foi usada para induzir a formação de

nanopartículas pequenas e bem uniformes. O suporte de carbono foi disperso

nesta solução usando ultra-som e a mistura resultante foi aquecida em forno de

microondas por 60 s. A suspensão resultante foi filtrada, lavada com acetona e

seca. As medidas por EDX indicaram a incorporação de 9,5; 13,6 e 18,6% em

massa para as amostras preparadas a partir de 10, 15 e 20% em massa de

platina. As análises por TEM mostraram que as nanopartículas de platina obtidas

apresentavam-se bem uniformes e distribuídas na superfície do carbono. O

material contendo 18,6% em massa de platina apresentou nanopartículas na

faixa de 3,5 a 4,0 nm e poucas partículas maiores que 5,0 nm. O

eletrocatalisador comercial Pt/C E-TEK (20% em massa de Pt), usado para

comparação, apresentou tamanho médio de nanopartículas de 5,1 nm e uma

ampla distribuição entre 2 e 10 nm. As medidas eletroquímicas mostraram que o

eletrocatalisador Pt/C preparado desta forma apresentou maior atividade na

eletro-oxidação de metanol à temperatura ambiente que o catalisador comercial

da E-TEK.

27

2. Objetivos

2.1. Objetivo Geral

O Objetivo deste trabalho é realizar um estudo exploratório da

metodologia e caracterização de catalisadores de Pt-Co suportados em carbono.

2.2. Objetivos específicos

- Pretende-se utilizar a técnica de Redução a Temperatura Programada

para reduzir os íons metálicos adsorvidos no suporte e propiciar a formação

da liga.

- Deve-se obter e caracterizar morfológica, estrutural e eletroliticamente os

sistemas de catalizadores.

- Devem ser preparados eletrocatalisadores com diferentes concentrações

de platina e cobalto variando-se as condições de temperatura de

impregnação dos íons metálicos.

28

3. Materiais e Métodos

3.1. Precursores

Foram utilizados dois suportes para a preparação dos catalisadores:

carbono grafite (Cg) proveniente da Nacional de Grafite LTDA e carbono Vulcan

XC-72R (Cv) proveniente da Bandeirantes SA. Estes possuem área superficial

de 17 e 376 m2/g, respectivamente.

O sal de platina utilizado foi o cloreto de tetramin platina II, Pt(NH3)4Cl2, e

o ácido cloro platínico (H2PtCl6) Aldrich com 98% de pureza.

O sal de cobalto utilizado foi o nitrato de cobalto P.A., Co(NO3)2.14H2O,

Tedia.

3.2- Procedimento experimental

3.2.1- Preparação da suspensão do carbono grafite e carbono Vulcan XC-

72R.

Foram adicionados lentamente 20 mL de água a 1g de Cg ou Cv sob

agitação constante em aquecimento brando até que todo o pó de Cg ou Cv

estivessem úmidos. Adicionou-se mais 20 mL para suspender a mistura,

mantendo-se a temperatura a 50ºC e sonicação por 30 minutos.

3.2.2 - Preparação dos sistemas de Pt(NH3)4Cl2 nos suportes Cg e Cv

3.2.2.1 - Preparo da solução aquosa de Pt(NH3)4Cl2

Foram preparadas soluções aquosas de 10, 15 e 20% de platina por

sonicação do sal Pt(NH3)4Cl2 durante dez minutos. Em seguida cada uma

dessas soluções foram adicionadas à suspensão de Cv. Somente a solução de

10% de Pt foi adicionada à suspensão de Cg.

29

3.2.2.2 - Adição da solução de Pt(NH3)4Cl2 à suspensão de Cv

Com o auxílio de um funil de separação, adicionou-se as soluções

aquosas 10, 15 e 20% de Pt(NH3)4Cl2 (m/m) ao becher contendo a suspensão

de Cv nas temperaturas de 25 e 50ºC mantendo sob agitação nessa temperatura

por 2h. Utilizou-se ainda a temperatura de adição de 100ºC apenas para a

solução 10% (m/m) de platina. Esta adição foi realizada em balão acoplado a um

condensador de bolas para evitar perda de material durante o tempo de refluxo

de 2h. Em seguida a suspensão foi transferida para um becher. Esta amostra

recebeu o código Pt+2(10%)/Cv_100ºC.

Todos os sistemas permaneceram sob agitação e foram secos a

temperatura de 50ºC até massa constante.

Tabela 1 - Código das amostras precursoras dos catalisadores Pt/Cv.

Código da amostra*

Pt+2(10%)/Cv_25ºC

Pt+2(15%)/Cv_25ºC

Pt+2(20%)/Cv_25ºC

Pt+2(10%)/Cv_50ºC

Pt+2(15%)/Cv_50ºC

Pt+2(20%)/Cv_50ºC

Pt+2(10%)/Cv_100ºC

*Nos códigos mostra-se: O íon adicionado (composição da espécie iônica

metálica)/suporte de catalisador_temperatura de adição em oC.

3.2.2.3 - Adição da solução de Pt(NH3)4Cl2 à suspensão de Cg

Utilizou-se um procedimento semelhante ao descrito no tópico 3.2.2.2

para adicionar a solução aquosa de Pt(NH3)4Cl2 com 10% de platina à

suspensão de Cv. A adição foi realizada na temperatura de 25ºC. Esta amostra

recebeu o código de Pt(10%)/Cg_25ºC.

30

3.2.2.4 - Redução a Temperatura Programada (TPR)

Todos as amostras, previamente secas, foram transferidas para cadinhos

de porcelana e calcinadas em mufla por 1 h. Em seguida as amostras foram

reduzidas por TPR.

Para a redução o catalisador foi aquecido a taxa de aquecimento de

10 ºC/min, de 25 a 550ºC, permanecendo nesta temperatura por mais 1 h.

Durante esse procedimento, a amostra é mantida sob fluxo de 30 mL/min de

uma mistura 1,74% de H2/Ar. O consumo de H2 foi monitorado contra

temperatura, utilizando um detector de condutividade térmica.

3.2.3 - Preparação do sistema Co(NO3)2.6H2O em Cv

3.2.3.1 - Preparo da solução aquosa de Co(NO3)2.6H2O

Foram preparadas soluções aquosas 10, 15 e 20% de cobalto (m/m)

utilizando o sal Co(NO3)2.6H2O, por sonicação durante 10 minutos.

3.2.3.2 - Adição da solução aquosa de Co(NO3)2.6H2O ao Cv

Com o auxílio de um funil de separação, a adição da solução aquosa de

Co(NO3)2.6H2O com 10,15 e 20% (m/m) de cobalto foram adicionadas

lentamente ao becher contendo a suspensão de Cv na temperatura de 50ºC. A

adição da solução aquosa de Co(NO3)2.6H2O com 10% de cobalto também foi

adicionada a suspensão de Cv na temperatura de 25ºC. Esta amostra recebeu o

código Co+2(10%)C_25ºC.

Após a adição das soluções de cobalto, a temperatura dos sistemas foi

mantida a 50ºC sob agitação.

31

Tabela 2 - Código das amostras precursoras das espécies Co/Cv.

Código da amostra*

Co+2(10%)/Cv_50ºC

Co+2(15%)/Cv_50ºC

Co+2(20%)/Cv_50ºC

Co+2(10%)Cv_25ºC

*Nos códigos mostra-se: O íon adicionado (composição da espécie iônica

metálica)/suporte de catalisador_temperatura de adição em oC.

3.2.3.3 - Redução química do Co+2

Em cada um dos sistemas citados no tópico 3.2.3.2 foi adicionado 20 mL

da solução aquosa de sulfato de hidrazina 5% m/v. Em seguida, adicionou-se

NH4OH 10% v/v até pH 9 na solução.

3.2.3.4 - Redução completa do Cobalto

Todas as misturas resultantes do tópico 3.2.3.3 permaneceram sob

agitação e temperatura de 50 ºC até peso constante. As amostras

Co+2(10%)Cv_25ºC, Co+2(10%)/Cv_50ºC, Co+2(15%)/Cv_50ºC,

Co+2(20%)/Cv_50ºC foram tratadas por TPR na taxa de aquecimento de

10 º C/min, variando-se a temperatura de 25 ºC a 900ºC, e permanecendo nesta

temperatura por 1 h.

Tabela 3 - Código das amostras das espécies Co/Cv.

Código da amostra*

Co(10%)/Cv_50ºC

Co(15%)/Cv_50ºC

Co(20%)/Cv_50ºC

Co(10%)Cv_25ºC

*Nos códigos mostra-se: espécie metálica adicionada e reduzida (composição da

espécie iônica metálica)/suporte de catalisador_temperatura de adição em oC.

32

3.2.4 - Sistema com adição simultânea dos sais de platina e cobalto

As soluções de Pt(NH3)4Cl2 e Co(NO3)2.6H2O, ambas com 10, 15 e 20%

dos respectivos cátions, foram preparadas da mesma forma descrita nos tópicos

3.2.2.1 e 3.2.3.1 As soluções de platina e cobalto contendo as mesmas

concentrações foram misturadas sob sonicação por 10 minutos.

Cada uma das misturas foi adicionada a suspensões de carbono Cv de

forma semelhante à descrita anteriormente.

A adição da mistura das soluções de platina 10% e cobalto 10% à

suspensão de carbono Cv foi feita nas temperaturas de 25 e 50 ºC. A adição das

outras misturas das soluções de platina e cobalto, ambas com 15 e 20%, à

suspensão de carbono Cv foi realizada na temperatura de 50 ºC. Para a redução

dos íons metálicos de todas as amostras citadas acima seguiu-se o mesmo

procedimento adotado para a redução química do íon Co+2 no tópico 3.2.3.3 e

em seguida realizou-se um TPR nestas amostras. Para o TPR destas amostras

utilizou-se as mesmas condições descritas no tópico 3.2.3.4.

Tabela 4 – Código das amostras precursoras dos catalisadores bimetálicos

Pt-s-Co/Cv.

Código da amostra*

Pt+2(10%)_s_Co+2(10%)/Cv_25ºC

Pt+2(10%)_s_Co+2 (10%)/Cv_50ºC

Pt+2(15%)_s_Co+2(15%)/Cv_50ºC

Pt+2(20%)_s_Co+2(20%)/Cv_50ºC

*Nos códigos mostra-se: íon de platina (composição da espécie iônica

metálica)_s_íon de cobalto (composição da espécie iônica metálica)/suporte de

catalisador_temperatura de adição em oC. A letra “s” simboliza que a adição dos íons

ocorreu de forma simultânea.

33

3.2.5 - Adição e redução do segundo metal

Com exceção das amostras em que ocorreram adição simultânea, após a

redução completa da primeira espécie iônica metálica em cada amostra, iniciou-

se o procedimento de adição do segundo metal. Estes procedimentos foram

idênticos ao descrito anteriormente para os respectivos metais. Após adição do

segundo metal, realizou-se a redução do mesmo mediante os procedimentos já

descritos nos tópicos acima, para cada metal.

Exceto para uma dessas amostras, o segundo metal foi adicionado com a

mesma concentração em que o primeiro metal foi adicionado. A única exceção

foi realizada em uma das amostras Pt(10%)/Cv_25ºC que recebeu adição de

solução aquosa 20% de cobalto (m/m). Esta amostra recebeu o código de

Pt+2(10%)Co+2 (20%)/Cv_25ºC. As amostras com adição inicial de platina

receberam os códigos, de acordo com o mostrado na Tabela 5.

Tabela 5: Código das amostras precursoras dos catalisadores bimetálicos Pt-

Co/Cv

Código da amostra*

Pt+2(10%)Co+2(10%)/Cv_100ºC

Pt+2(10%)Co+2(10%)/Cv_25ºC

Pt+2(15%)Co+2(15%)/Cv_25ºC

Pt+2(20%)Co+2(20%)/Cv_25ºC

Pt+2(10%)Co+2(10%)/Cv_50ºC

Pt+2(20%)Co+2(20%)/Cv_50ºC

Pt+2 (10%)Co+2(20%)/Cv_25ºC

Pt+2Co+2(10%)/Cg_25ºC

*Nos códigos mostra-se: Primeiro íon adicionado (composição da espécie iônica

metálica) Segundo íon adicionado (composição da espécie iônica metálica)/suporte de

catalisador_temperatura de adição em oC.

Na amostra Co(10%)/Cv, ou seja, que recebeu adição de solução de 10%

de cobalto na temperatura de 50ºC e posterior redução, adicionou-se em

seguida a platina com a mesma concentração em que o primeiro metal foi

adicionado (10%). Utilizou-se o procedimento semelhante ao descrito nos

34

tópicos 3.2.2.2. e 3.2.3.4. Esta amostra recebeu o código

Co+2(10%)Pt+2(10%)/Cv_50ºC.

3.2.6 - Formação da liga Pt-Co

As amostras que já receberam a adição do segundo metal ou as amostras

que receberam adição simultânea de Pt+2 e Co+2 receberam tratamento no TPR

com o objetivo inicial de promover a redução do segundo metal ou,

respectivamente, promover a redução dos dois metais adicionados. Entretanto, o

objetivo principal do TPR nesta fase do processo foi promover a formação das

ligas Pt-Co em altas temperaturas e em ambiente inerte.

Após passar por este procedimento, cada uma das amostras recebeu um

novo código, onde o símbolo dos metais com o nox +2 foram alterados nos

códigos representando, assim, a redução do metal. Os códigos, seguindo a

mesma seqüência anterior passam a ser:

Tabela 6 - Código das amostras bimetálicas que receberam tratamento para

formação da liga.

Código da amostra*

Pt(10%)Co(10%)/Cv_100ºC

Pt(10%)Co(10%)/Cv_25ºC

Pt(15%)Co(15%)/Cv_25ºC

Pt(20%)Co(20%)/Cv_25ºC

Pt(10%)Co(10%)/Cg_25ºC

Pt(10%)Co(10%)/Cv_50ºC

Pt(20%)Co(20%)/Cv_50ºC

Pt(10%)Co(20%)/Cv_25ºC

Co(10%)Pt(10%)/Cv_50ºC

Pt(10%)_s_Co(10%)/C_25ºC

Pt(10%)_s_Co(10%)/C_50ºC

Pt(15%)_s_Co(15%)/C_50ºC

Pt(20%)_s_Co(20%)/C_50ºC

35

* Nos códigos mostra-se: Primeira espécie metálica adicionada e reduzida

(composição da espécie iônica metálica) Segundo espécie metálica adicionada e

reduzida (composição da espécie iônica metálica)/suporte de catalisador_temperatura

de adição das espécies iônicas metálicas em oC.

3.2.7- Método de redução empregando-se ácido fórmico

Foi adicionado 30 mL de ácido fórmico concentrado em um becher de 400

mL contendo 1g de carbono. O sistema foi submetido a sonicação por 5 minutos

e a seguir permaneceu em repouso, à temperatura ambiente, por 40 minutos.

Após o repouso, a suspensão de carbono foi agitada mecanicamente. A esta

suspensão foi adicionada uma solução aquosa 0,017 M (solubilização de

0,2108g em 30 mL de água) de ácido hexacloroplatínico (H2PtCl6), de coloração

amarela, preparada com auxílio do ultrasom. Durante a adição, e após a

descoloração da solução, a mistura permaneceu em agitação constante na

temperatura de 50ºC até a evaporação completa da água. Essa amostra foi

caracterizada por DRX para determinação de tamanho de partícula e parâmetro

de rede, para comparação. Esta amostra recebeu o código Pt(10%)/C –

Ac.fórmico.

Uma segunda amostra foi preparada procedendo-se de maneira

semelhante ao descrito acima. A diferença é que, nesta segunda, a área

superficial do carbono Vulcan foi ativada antes da adição do ácido fórmico. Para

promover a ativação, o carbono permaneceu por duas horas em aquecimento de

300ºC. Esta amostra recebeu o código Pt(10%)/C – Ac.fórmico_ativ.

Tabela 7- Códigos das amostras preparadas pelo método do ácido fórmico.

Código da amostra*

Pt(10%)Co(10%)/Cv_Ac.fórmico

Pt(10%)Co(10%)/Cv_Ac.fórmico_ativ.

36

A Figura 6 apresenta o fluxograma de forma resumida do procedimento

experimental.

Precursores do Carbono

Metodologias Metodologia

Ácido fórmico

Pt(NH3)4Cl2

Impregnação

Precursor da platina H2PtCl6

composição da espécie iônica metálica

10%

20% 10% 10% 100ºC 50ºC 25ºC

Co(NO3)2.14H2O

Carbono Vulcan XC72R

Impregnação

composição da espécie iônica metálica

Temperatura de Adição dos precursores

1º Pt 1º Co simultânea 15%

Ordem de adição dos precursores

Precursores dos metais

Grafite do Brasil

Redução completa das espécie

iônica metálica por TPR

Temperatura de secagem

50ºC

Figura 6: Fluxograma do procedimento experimental

37

A Figura 7 apresenta o fluxograma do procedimento experimental relativo

ao preparo das amostras que tiveram adição inicial de Pt.

Figura 7- Fluxograma do procedimento experimental do preparo das amostras

com adição inicial de Platina

38

3.3 - Caracterização espectroscópica, estrutural e morfológica

Os materiais foram caracterizados pelas seguintes técnicas:

3.3.1 - Espectoscopia Vibracional no Infravermelho por Transformada de

Fourier (FTIR)

As análises de FTIR foram realizadas usando um Espectrofotômetro

Nicolet Magna IR-760 na faixa de 4000 a 400 cm-1 com resolução de 1 cm-1 e

128 varreduras. As amostras foram preparadas utilizando-se pastilhas de KBr.

3.3.2 - Difração de Raios-X (DRX)

Análises de DRX foram realizadas em um Difratômetro de Raios-X

Miniflex da Rigaku (V= 15 kV, I= 30 mA) que utiliza radiação k de cobre

(=15418 Å). O intervalo angular, 2, de 5-90° foi varrido com passos de 1°,

utilizando tempo de contagem de 1s.

3.3.3 - Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)

Análises de MEV foram realizadas no aparelho Zeiss DSM 940. As

amostras foram dispersas em propanol e tratadas em ultrasom por 12 minutos.

Gotas desta dispersão foram colocadas sobre o porta amostra de alumínio e

seca a vácuo, seguida da metalização com ouro.

3.3.4 - Redução a Temperatura Programada (RTP)

Análises de Redução a Temperatura Programada (RTP) foram realizadas

em um equipamento em fluxo, que utiliza um microreator de quartzo em forma

de U. Antes do início da redução, o catalisador foi pré-tratado a 300oC por 2 h,

sob fluxo de argônio, de modo a remover toda a água para não interferir na

análise. Em seguida, o catalisador foi aquecido sob fluxo de 30 ml/min com uma

mistura 1,74% de H2/Ar e taxa de aquecimento de 10oC/min, de 25oC até 550oC,

permanecendo nesta temperatura por mais 1 h. O consumo de H2 foi monitorado

em função da temperatura, utilizando um detector de condutividade térmica.

39

3.3.5 - Área Superficial (SBET)

A determinação das propriedades texturais dos suportes foi feita através

da técnica de isotermas de adsorção/dessorção de N2 a –196oC, em

equipamento Micromeritics ASAP (Accelerated Surface Area and Porosimetry)

modelo 2000. A amostra, previamente seca em estufa a 100oC por 2h, foi

submetida à pré-tratamento no próprio equipamento, que consistia no

aquecimento sob vácuo de 5x10-3 Torr de cerca de 250 mg de material, a 300oC

por 3h, para retirada da água superficial adsorvida. Após o tratamento a amostra

era pesada novamente para determinação exata da massa da amostra, sob

atmosfera de N2, após permitir o equilíbrio entre o gás e o sólido. A superfície

específica foi calculada pelo ajuste da isoterma de BET.

40

4. Resultados e Discussão

4.1. Catalisadores Suportados em carbono grafite, Cg

4.1.1 Infravermelho

A Figura 8 mostra os espectros vibracionais no infravermelho das

amostras Pt/C e CoPt/C antes e após o TPR e o do grafite para comparação. As

amostras antes do TPR apresentam em seus códigos os respectivos metais na

forma catiônica. O único espectro a apresentar picos é o da amostra

Pt(10%)Co+2(10%)/Cg, ou seja, antes do TPR. Neste, pode-se observar uma

banda centrada em 3153, que pode ser atribuída à deformação axial da ligação

OH de água, visto que o precursor do cobalto é muito hidrofílico, e uma outra

banda intensa em 1377 cm-1 referente ao nitrato. Em decorrência da alta

temperatura utilizada para a formação da liga, essas bandas desapareceram

após o TPR.

4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500

16

24

Carbono Grafite

Pt+2

(10%)/Cg

Pt(10%)/Cg

Pt(10%)Co+2

(10%)/Cg

Pt(10%)Co(10%)/Cg

Número de onda (cm-1)

% T

ransm

itância

Figura 8 - Espectro vibracional no infravermelho dos eletrocatalisadores

Pt(10%)Co(10%)/Cg, Pt(10%)/Cg e seus precursores.

41

4.1.2 Difração de Raios-X

A difração de raios X pela técnica de pó permite uma avaliação do retículo

cristalino. O difratograma obtido depende da estrutura do cristal, que por sua vez

é determinada por fatores como: tipo de retículo, classe do cristal, parâmetros de

cela unitária e a distribuição dos vários tipos de íons, moléculas que estão na

cela. O número de reflexões e posição destas, em termos da posição angular

(2θ) ou distância interplanar (d) e o perfil do difratograma dependem dos fatores

citados anteriormente e do comprimento de onda dos raios X aplicado na

amostra para a coleta dos dados. Já a intensidade do pico depende dos tipos de

átomos presentes e suas respectivas posições e do tempo de exposição da

amostra aos raios X.

Como esta técnica depende de tantos parâmetros, pode-se dizer que

cada sólido cristalino apresenta um padrão difratométrico característico, como

uma impressão digital, permitindo sua identificação através das posições

angulares e intensidades relativas dos picos difratados.

Os difratogramas dos catalisadores bimetálicos são característicos de

sólidos cristalinos, o que permite qualificar possíveis alterações que essas

estruturas possam apresentar.

Para estimar a média do tamanho das nanopartículas de Pt formadas, foi

escolhido o pico em 2θ ~ 39,7° (111) do difratograma, utilizando a equação de

Scherrer (equação 18) descrita abaixo.

cos

9,0

Bd Equação (18)

Onde:

d(111) = tamanho médio das partículas em Ângstrons.

k= constante que depende do formato da partícula (0,9).

= comprimento de onda de radiação usado (Cu =1,5418Å).

= largura a meia altura do pico difratado da amostra em radianos.

= ângulo de difração de Bragg do ponto máximo do pico analisado.

42

Para uma célula cúbica de parâmetro de rede, a, o plano que intercepta

os três eixos nos vértices da célula (x=y=z=a) terá os índices de Miller (111).

Pelas distâncias interatômicas entre os segundos vizinhos, pode-se calcular o

parâmetro de rede. Para calcular o parâmetro de rede foi usada a equação 19:

21

222 lkh

ad hkl

Equação (19)

onde:

d = distância interatômica em Ângstrons

a = parâmetro de rede

h, k, l = índices de Miller, que são definidos pela intersecção de um plano

de átomos com os eixos do sistema de coordenadas da célula unitária.

À distância interatômica é calculada segundo a equação de Bragg (Equação 20):

dsen2 Equação (20)

A Pt pura apresenta picos59 em 39,7 (111), 46,3 (200), 67,4 (220), 81,9

(311) e 86,0 o (222) sendo estas características da estrutura cúbica de face

centrada (cfc) e parâmetro de rede 0,3912 nm.

A partir do pico referente ao plano (111) será estimada a média do

tamanho das nanopartículas. Ao fazer esta estimativa de tamanho considera-se

que, durante a redução por TPR, os átomos metálicos migram e formam

agregados dispersos no suporte. A distribuição dos tamanhos é fortemente

dependente dos detalhes da preparação e não são fáceis de predizer já que o

fenômeno superficial que ocorre durante a preparação não é bem compreendido.

O DRX é sensível à massa, uma pequena fração de partículas maiores poderia

produzir picos de difração mais estreitos 60.

A Figura 9 mostra os difratogramas de raios-X das amostras Pt/C e

CoPt/C após o TPR. Observa-se na amostra CoPt/C que o pico referente ao

plano (111) da Pt sofre um pequeno deslocamento de 2θ = 39,7 para 39,9 o. Em

função da razão dos dois metais na liga, e da própria quantidade de liga, esse

deslocamento pode ser maior. No trabalho Huang e colaboradores, o máximo

desse pico varia de 39,9o, para a uma razão Pt:Co(5:1), para 40,49 o para a

43

razão Pt:Co(1:1). Neste trabalho, observou-se um deslocamento de 2θ = 0,2 o.

Mesmo esse pequeno deslocamento indica que houve formação de liga com

incorporação de Co na estrutura fcc da Pt.

A presença de alguma quantidade de uma fase Co3O4 segregada é

evidenciada pelo aparecimento de um padrão de difração a 2θ = 54,8o. Nota-se

ainda o pico a 2θ = 36,7o. Lima e colaboradores61 atribuíram um pico para uma

amostra Pt-Co/Cv a 2θ = 59o à formação dessa fase segregada.

44

30 40 50 60 70 80 90

81,2

o (

311)

67,4

o (

220)46,2

o (

200)

39,7

o (

111)

Inte

nsid

ade (

cps)

2 (graus)

(a)

30 40 50 60 70 80 90

54,8

C

o3O

4

44,7

C

o3O

4

36,7

C

oO

81,7

(311)

67,6

(220)

46,4

(200)3

9,9

(111)

2 (graus)

Inte

nsi

da

de

(cp

s)

(b)

Figura 9 - Difratogramas de raios-X das amostras (a) Pt/Cg e (b) CoPt/Cg.

45

4.1.3 Termogravimetria

A Figura 10 mostra a curva TGA das amostras Pt/Cg e CoPt/Cg antes e

após TPR. Observam-se pelas curvas uma diferença no perfil da amostra

CoPt/C antes do TPR em relação ao perfil das demais amostras. Podemos

dividir a curva obtida da amostra CoPt/C em três etapas de decomposição: A

primeira, de 25 a 200oC, foi atribuída à perda de água superficial; a segunda, de

200 a 300oC, referente à perda de água interna no material; e a terceira, de 600

a 700 ºC, referente a perda de nitratos.

Na amostra CoPt/Cg após TPR observa-se um pico por volta de 736oC

sugerindo a formação de materiais voláteis provenientes de alguma reação

desenvolvida paralelamente.

0 200 400 600 800 1000

30

40

50

60

70

80

90

100

110

P t /C an tes do T P R

P t /C após T P R

C oP t /C an tes do T P R

C oP t /C após T P R

T em pera tu ra ( ºC )

Pe

rda

de

ma

ss

a (

%)

Figura 10 - Curvas de TGA das amostras Pt+2/Cg, Pt/Cg, Co+2Pt/Cg e CoPt/Cg.

46

4.2. Catalisadores suportados em carbono Vulcan XC-72R (Cv)

4.2.1. Caracterização do Vulcan XC-72R (Cv) por espectroscopia vibracional

no infravermelho

A Figura 11 apresenta a do Cv e demonstra que o material não apresenta

impurezas. Pode-se verificar também que este espectro, referente ao Cv, é muito

semelhante ao espectro do carbono grafite apresentado na Figura 8, como o

esperado.

4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500

14

16

18

20

22

24

26

28

30

32

Tra

ns

mit

ân

cia

(%

)

N um ero de onda (cm-1

)

Figura 11 - Espectro de FTIR do carbono Vulcan XC-72R.

4.2.2 – Caracterização do Vulcan XC-72R (Cv) por difração de raios-X

A Figura 12 mostra o difratograma de raios-X do Cv onde observam-se

picos bem definido em 2θ = 25,73; 53,85; 76,73 e 82,78 º mostrando a

cristalinidade do material.

47

1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0 7 0 8 0 9 0

Inte

ns

ida

de

(c

ps

)

2 (g raus )

Figura 12 - Difratograma de raios X do Cv

4.2.3. Método da impregnação: Sistema Pt/Cv

4.2.3.1 – Redução a Temperatura Programada

Para a redução dos íons de Pt+2 dispersos na matriz de Cv em diferentes

temperaturas foi utilizada a técnica de Redução a Temperatura Programada

(TPR).

As curvas de TPR apresentadas a seguir mostram os processos de

redução de Pt+2. As figuras 13 e 14 apresentam o TPR das amostras

Pt+2(10%)/Cv_25ºC e Pt+2(10%)/Cv_50ºC, respectivamente. Os perfis dos TPR

para as amostras com 10% (m/m) de Pt+2 disperso a 25 e 50 ºC não são

significantemente alterados e o consumo de H2 também permanece similar.

Existe um início de redução em torno de 100 ºC, provavelmente decorrente de

do processo inicial de nucleação e a redução com o conseqüente crescimento de

partícula torna-se mais intenso entre 200 e 350ºC. Não foi encontrado na

literatura indício de que o íon Pt2+ apresente dois estágios de redução

detectáveis por TPR.

48

100 200 300 400 500 600

-5

0

5

10

Consum

o d

e H

2

Temperatura (°C)

Figura 13 - Curvas de TPR da amostra Pt+2(10%)/Cv_25ºC.

200 400 600

-5

0

5

10

15

20

consum

o d

e H

2

temperatura (ºC)

Figura 14 - TPR realizado na amostra Pt+2(10%)/Cv_50ºC

49

As Figuras 15 e 16 apresentam as curvas de TPR das amostras

Pt+2(15%)/Cv_50ºC e Pt+2(20%)/Cv_50ºC.

Com o aumento da concentração de Pt+2 ocorre alteração no perfil das

curvas de TPR, como podemos verificar nas figuras 15 e 16, para as amostras

com 15 e 20% (m/m) de Pt+2, respectivamente. Existe um início de redução dos

íons com a formação dos primeiros núcleos e uma segunda e terceira etapas de

redução com máximos em 200 e 300ºC.

Não foram encontrados indícios de contaminação por outros metais,

entretanto, eventuais reações com moléculas adsorvidas não podem ser

descartadas, embora não tenha sido acoplado um massa ao TPR. Durante a

manipulação das amostras, em decorrência da dimensão nanométrica do

suporte, adsorção pode ter ocorrido em decorrência da exposição das amostras

na atmosfera do laboratório.

Os processos de redução e formação de nanopartículas de Pt são

afetados pela natureza do suporte que influencia fortemente no processo de

redução62,63,64. Nanopartículas de platina crescidas em zeólita Y utilizando-se a

mesma técnica de redução foram reduzidas a 100 ºC para 5% de Pt+2 (m/m) e

de 150 a 190oC para 1% de Pt+2 (m/m) 65,66. Aparentemente, concentração

menor de íons metálicos resultam em uma concentração maior de íons

fortemente ligados ao retículo, o que pode aumentar a temperatura de redução.

50

80 160 240 320 400 480 560

-5

0

5

10

consum

o d

e H

2

temperatura (ºC)

Figura 15 - TPR realizado na amostra Pt+2(15%)/Cv_50ºC.

100 200 300 400 500 600

-5

0

5

10

Consum

o d

e H

2

Temperatura (ºC)

Figura 16 - TPR realizado na amostra Pt+2(20%)/Cv_50ºC.

51

4.2.3.2 – Difratogramas de Raios-X

A Figura 17 apresenta o DRX da amostra Pt+2(10%)/C-50ºC onde são

mostrados os picos de difração da Pt a 39,95; 46,45; 67,70; 81,45 e 85,90. Estes

são atribuídos aos planos cristalográficos (111), (200), (220), (311) e (222),

respectivamente67.

O tamanho médio das partículas de platina pode ser calculado com base

no plano (111) de acordo com a fórmula de Scherrer68,69 como mostrado na

Equação 18. Onde λ é 0,154056 e B é o valor a meia altura do pico analisado,

em radianos.

Figura 17- DRX da amostra Pt(10%)/Cv_50ºC

30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90

(222)(311)(220)(111) (200)

inte

nsid

ade (

u.a

.)

2 (graus)

52

A Figura 18 mostra as curvas de DRX para as amostras Pt

(20%)/Cv_50°C, Pt (15%)/Cv_50 °C, Pt (10%)/Cv_ 50 °C, Pt (20%)/C – Comercial

para 2θ entre 35 e 55 graus, região dos picos referentes aos planos (111) e

(200) da platina. Observam-se esses picos em todas as amostras, entretantos,

estes são menos definidos e mais largos na amostra Pt (20%)/C – Comercial.

Normalmente, quanto menor a dimensão das partículas de determinado material,

menos definidos são os picos na curva de DRX. As partículas da amostra

Electrochem possuem tamanho médio de 2nm. Sendo assim, estima-se pelas

curvas de DRX que as partículas obtidas neste trabalho tenham maiores

dimensões.

35 40 45 50 55

(111) (200) Pt (20%)/C - 50 °C

Pt (15%)/C - 50 °C

Pt (10%)/C - 50 °C

Pt (20%)/C - Comercial

inte

nsid

ade (

u.a

.)

2 (graus)

53

Figura 18- Difratogramas das amostras preparadas na temperatura de adição ao

carbono Vulcan de 50ºC em comparação com a ampstra comercial de

catalisador de platina em carbono

A Figura 19 mostra as curvas de DRX para amostras Pt/C preparadas a

diferentes concentrações e temperaturas, com ênfase na região compreendida

entre 2θ = 38 e 42o, na região do pico atribuído a difração do plano (111) da

platina. A marca de referência na Figura está em 39,92º.

Figura 19- Difratograma de raios-X com 2θ variando de 38 a 42o mostrando o

pico referente ao plano (111) de todas as amostras de Pt/Cv (platina

impregnadas em carbono vulcan) estudadas.

Observa-se o deslocamento dos picos bem como alteração do perfil da

curva em função das condições de preparo. O pico de difração atribuído a

38 39 40 41 42

20% Pt/C - 50ºC

15% Pt/C - 50ºC

10% Pt/C - 50ºC

20% Pt/C - 25ºC

15% Pt/C - 25ºC

10% Pt/C - 25ºC

inte

nsid

ade (

u.a

.)

2 (graus)

54

amostra Pt(15%)/Cv_25ºC apresentou maior deslocamento em relação aos

demais. Esta mesma amostra apresentou o menor parâmetro de rede e o menor

tamanho de partícula entre as amostras em questão. Esses parâmetros são

mostrados na Tabela 8.

Tabela 8: Tamanho médio de partículas e parâmetros de rede das amostras do tipo Pt/Cv preparadas nas temperaturas de 25 e 50 ºC.

Amostra Tamanho de partícula (nm)

Parâmetro de rede (nm)

Pt(20%)/Cv – 50ºC 22,328 3,907

Pt(15%)/Cv – 50ºC 19,298 3,911

Pt(10%)/Cv – 50ºC 20,465 3,915

Pt(20%)/Cv – 25ºC 23,666 3,913

Pt(15%)/Cv – 25ºC 17,962 3,905

Pt(10%)/Cv – 25ºC 18,800 3,924

A Figura 20 mostra as curvas de DRX com 2 entre 32 e 42o, na região do

pico referente ao plano (111) para as amostras preparadas pelo método da

impregnação em diferentes temperaturas (25, 50 e 100ºC) com 10% (m/m) de

platina em relação ao suporte.

Observa-se que de forma geral, menores concentrações de Pt2+ e menores

temperaturas na etapa de impregnação resultam em partículas de menores

dimensões.

A Tabela 9 mostra os tamanhos médios das partículas e os parâmetros

de rede calculados com base no pico atribuído ao plano (111) para estas

amostras, exceto para a amostra preparada a 100ºC.

Na Figura 20, o difratograma da amostra obtida com refluxo a 100°C

mostra um o pico a 2θ = 34,74°. Esse pico foi atribuído à formação de PtO2 por

Zhi Qun Tian e colaboradores70, em trabalho similar a este. Os autores atribuem

à formação do óxido a inexistência do pico a 2 = 39,92° referente ao plano

(111). Portanto, conclui-se que a temperatura de refluxo de 100 oC favoreceu a

formação do óxido que não foi reduzido por TPR na temperatura empregadas. A

formação de óxido não foi observada para nenhuma outra amostra em nenhuma

outra concentração.

55

Figura 20 - Detalhe da região entre 32 e 42 graus dos difratogramas de raios-x

das amostras de platina 10% em carbono vulcan preparadas em diferentes

temperaturas.

Tabela 9 - Tamanho médio de partícula e o parâmetro de rede das amostras

preparadas pelo método da impregnação em diferentes temperaturas (25, 50 ºC)

com 10% (m/m) de platina em relação ao suporte.

Amostra Tamanho de partícula (nm)

Parâmetro de rede

Pt(20%)/C - comercial 2,279 3,913

Pt(10%)/Cv_25ºC 18,800 3,924

Pt(10%)/Cv_50ºC 20,465 3,915

35 40

(111)

PtO2

Pt(10%)/C - 25ºC

Pt(10%)/C - 50ºC

Pt(10%)/C - 100ºC

inte

nsid

ade (

u.a

.)

2 (graus)

56

4.2.3.3 – Microscopia Eletrônica de Varredura

As Figuras 21 e 22 mostram imagens de microscopia eletrônica de

varredura da amostra Pt(10%)/Cv_ 50ºC em duas ampliações diferentes. As

partículas com tamanho médio de 20 nm não podem ser observadas na

resolução do MEV. Entretanto, a eventual formação de agregados maiores do

metal pode ser observada na Figura 21 e com melhor resolução na Figura 22.

Figura 21 - Imagem de Microscopia Eletrônica de Varredura da amostra

Pt(10%)/Cv_50ºC com um ampliação de 2000 vezes.

Figura 22- Microscopia Eletrônica de Varredura da amostra Pt(10%)/Cv_50ºC

com um zoom de 20000 vezes.

57

A Figura 23 mostra o EDS da superfície dessa amostra

(Pt(10%)/Cv_50ºC), do qual podem ser observados picos atribuídos ao Al

proveniente do suporte utilizado para preparo da amostra para a análise, Pt e

Au. Este último, proveniente do filme fino de ouro que recobre a amostra no

preparo desta para a análise da microscopia eletrônica de varredura.

Figura 23- EDS da superfície da amostra Pt(10%)/Cv_50ºC.

4.2.4. Método da impregnação: Sistema Co/Cv

4.2.4.1 – Redução a Temperatura Programada

As Figuras 24, 25 e 26 mostram as curvas de TPR de amostras de

cobalto dispersas em carbono Vulcan na temperatura ambiente e em diferentes

concentrações (10, 15 e 20% m/m). Observa-se que todas as três curvas

apresentam perfis diferentes. As amostras menos concentradas, com 10 e 15%

(m/m), mostram uma curva larga com um pico centralizado a 600ºC e um ombro

em 460 e 480 ºC, respectivamente. Sabe-se que a redução do cobalto ocorre em

torno de 600ºC, porém não foi encontrada uma atribuição para o ombro

58

observado. Provavelmente, este corresponde a uma reação decorrente de

substâncias adsorvidas nas partículas de suporte ou catalisador durante a

manipulação das amostras, ou seja, a impurezas decorrentes de falhas na

manipulação.

Figura 24- TPR realizado na amostra Co+2(10%)/Cv_25ºC

Figura 25-TPR realizado na amostra Co+2 (15%)/Cv_25ºC

100 200 300 400 500 600 700 800 900

0

20

40

60

80

100

Consum

o d

e H

2

Temperatura

100 200 300 400 500 600 700 800 900

0

20

40

60

80

100

Consum

o d

e H

2

Temperatura (ºC)

59

Observa-se da Figura 26 que o perfil da curva de TPR da amostra com

20% de Co (m/m) é semelhante ao perfil da amostra com 10%, porém a curva

apresenta apenas a banda com máximo em 600ºC na amostra mais

concentrada, como seria esperado também para as concentrações mais baixas.

100 200 300 400 500 600 700 800 900

0

20

40

60

80

100

C

onsum

o d

e H

2

Temperatura (ºC)

Figura 26- TPR realizado na amostra Co+2(20%)/Cv_25ºC .

As Figuras 27, 28 e 29 mostram as curvas de TPR das amostras de Co2+

10, 15 e 20% (m/m), respectivamente, dispersos em carbono Vulcan

impregnadas a 50ºC. Pode-se observar que o perfil da curva de TPR da amostra

menos concentrada em Co, de código Co+2(10%)/Cv_50ºC, mostra um perfil

diferente das outras duas curvas, porém mais aproximado do esperado para

esse tipo de amostra. As curvas de TPR das amostras Co+2(15%)/Cv_50ºC e

Co+2(20%)/Cv_50ºC apresentam um maior consumo de H2 no máximo das

respectivas curvas, o que é coerente com a maior concentração do íon metálico

a ser reduzida. Da mesma forma, como ocorre com as curvas das amostras

preparadas à temperatura ambiente, observa-se que a amostra preparada com

15% de Co apresenta um ombro, em torno de 470ºC, de maior intensidade em

relação as demais curvas das amostras também preparadas a 50ºC, atribuído

também a reações ocorridas paralelamente.As figuras 27,28 e 29 mostram as

60

curvas de TPR das amostras de Cobalto 10, 15 e 20% (m/m), respectivamente,

dispersos em carbono Vulcan na temperatura de impregnação igual a 50ºC.

Pode-se observar que o perfil da curva de TPR da amostra menos

concentrada em Co, de código Co+2 (10%)/Cv_50ºC, mostra um perfil diferente

das outras duas curvas.

As curvas de TPR das amostras Co+2(15%)/Cv_50ºC e

Co+2(20%)/Cv_50ºC apresentam um maior consumo de H2 no máximo das

respectivas curvas. Da mesma forma como ocorre com as curvas das amostras

preparadas na temperatura de ambiente, podemos observar que a amostra

preparada com 15% de Co apresenta um ombro, em torno de 470 ºC, de maior

intensidade em relação às demais curvas das amostras também preparadas a

50 ºC, atribuído também a reações ocorridas paralelamente.

61

100 200 300 400 500 600 700 800 900

-20

0

20

40

60

80

100

consum

o d

e H

2

Temperatura (ºC)

Figura 27- TPR realizado na amostra Co+2(10%)/Cv_50ºC.

100 200 300 400 500 600 700 800 900

0

20

40

60

80

100

Consum

o d

e H

2

Temperatura (ºC)

Figura 28- TPR realizado na amostra Co+2(15%)/Cv_50ºC.

62

100 200 300 400 500 600 700 800 900

-10

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Consum

o d

e H

2

Temperatura (ºC)

Figura 29- TPR realizado na amostra Co+2(20%)/Cv_ 50ºC.

4.2.4.2 - Difratogramas de Raios-X

Embora se tenha comprovado a redução do íon cobalto pelo estudo por

TPR, com o estudo realizado por difração de raios-X, não foi possível atribuir os

picos do Co. Segundo Xin e colaboradores, o Co puro sobre partículas de Vulcan

apresenta três picos de baixa intensidade no difratograma, a 2θ igual a 44,8;

52,0 e 76o atribuídos aos planos (111), (200) e (220) do Co71.

Nos difratogramas obtidos neste trabalho não foi possível separar o sinal

desses picos do ruído, provavelmente, por problemas no equipamento que

impediram a acumulação de sinal suficiente para a realização precisa da análise.

Essas amostras estão sendo refeitas e os resultados de sua caracterização

serão apresentados em trabalho futuro.

63

4.2.4.3 – Microscopia Eletrônica de Varredura As Figuras 30 e 31 apresentam as imagens da superfície da amostra

Co(20%)/Cv_50ºC, obtidas a partir do MEV, com ampliação de 5000 e 20000

vezes, respectivamente.

Figura 30 - Microscopia Eletrônica de Varredura da amostra Co(20%)/Cv_50ºC com um zoom de 5000 vezes.

Figura 31- MEV da amostra Co(20%)/Cv_50ºC com um zoom de 20000 vezes.

64

Observam-se regiões de coloração branca que são atribuídas a grandes

agregados de Co, já que a resolução do MEV não permite detectar a presença

de nanopartículas. Pode-se verificar que o Co não foi bem disperso como a

platina. Sugere-se para trabalhos futuros submeter a amostra à tratamento por

sonificação com aquecimento na impregnação do Cv com a solução do sal de

Co, ou utilizar a técnica de codeposição de íons de cobalto e platina para

aumentar a homogeneidade da dispersão.

4.2.4. Método da impregnação: Sistemas PtCo/Cv

4.2.4.1 – Redução a Temperatura Programada

As Figuras 32 e 33 mostram as curvas de TPR das amostras

Pt+2(10%)Co+2(10%)/Cv_50ºC e Pt+2(10%)_s_Co+2(10%)/Cv_50ºC, onde a

primeira amostra foi preparada com adição inicial de platina e a segunda com

adição simultânea de platina e cobalto. Observa-se que para a primeira amostra,

Figura 32, a curva mostra um primeiro processo de redução com baixo consumo

de H2 e máximo em torno de 250ºC, seguido de um segundo processo com

consumo grande de H2 entre 500 e 800ºC. O primeiro processo pode ser

atribuído à redução da platina e o segundo à redução do cobalto que para as

amostras anteriores apresentava consumo de H2 máximo por volta de 600ºC.

Como o segundo processo se estende a aproximadamente 800oC, isso pode ser

indicativo da formação da liga Co/Pt, que requer maior energia. Na Figura 33

porém, não foi observado o mesmo comportamento de consumo de H2.

Observou-se o sinal em torno de 550ºC e dois ombros em torno de 400ºC e 530

oC. A ordem de adição dos íons metálicos precursores parece influenciar no

perfil das curvas de TPR e, portanto, na extensão da formação da liga Pt/Co.

Caso haja formação de liga, esta normalmente é evidenciada nos difratogramas

de raios-x da amostra que mostra um ombro ou pequenos deslocamentos do

pico (111) da platina. A força da interação do íon com o substrato influencia na

temperatura de redução.

65

100 200 300 400 500 600 700 800 900

-20

0

20

40

60

80

100

consum

o d

e H

2

Temperatura (ºC)

Figura 32- TPR realizado na amostra Pt+2(10%)Co+2(10%)/Cv_50ºC.

100 200 300 400 500 600 700 800 900

-20

0

20

40

60

80

100

consum

o d

e H

2

temperatura (ºC)

Figura 33- TPR realizado na amostra Pt+2(10%)_s_Co+2(10%)/Cv_50ºC.

66

4.2.5.2 – Difratogramas de Raios-X

Na Figura 34, são mostrados os difratogramas das amostras preparadas

para 10% (m/m) de platina e cobalto em relação ao carbono Vulcan e nas

mesmas temperaturas de adição (50ºC). A diferença no preparo das mesmas foi

a adição dos íons metálicos, que se encontra descrita na figura.

30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85

(311)(220)(111) (200)

(10%)PtCo/C - 50ºC - adição inicial de Pt

(10%)PtCo/C - 50ºC - adição inicial de Co

(10%)PtCo/C - 50ºC - adição simultânea

inte

nsid

ade (

u.a

.)

2 (graus)

Figura 34- Difratogramas das amostras de Pt e Co com diferentes ordens de

adição dos precursores dos metais sobre carbono Vulcan.

A tabela 10 apresenta o tamanho de partícula de todas as amostras

citadas na figura 34, bem como os seus respectivos parâmetros de rede.

67

Tabela 10: Tamanho de partícula e parâmetros de rede das amostras de Pt e

Co preparadas com ordem de adição de reagentes alterados.

Amostra Tamanho de partícula (nm)

Parâmetro de rede (nm)

Pt/Co(10%)/Cv_50 °C simultaneo 15.293 3.915

Pt/Co(10%)/Cv_50 °C (1º Co) 18.197 3.909

Pt/Co(10%)/Cv_50 °C (1º Pt) 21.570 3.911

Como já evidente da análise dos difratogramas de raios-X, a amostra com

adição simultânea de precursores apresentou os menores tamanhos de

partícula, de aproximadamente 15 nm. Aparentemente, a adição simultânea

favorece a formação de partículas menores.

A Figura 35 apresenta a variação do parâmetro de rede em relação a

concentração de metais para cada amostra que contém platina, preparadas nas

temperaturas de 25 e 50ºC. Observa-se que nas amostras preparadas a 50ºC os

parâmetros de rede obtidos apresentaram valores relativamente estáveis, em

relação ao perfil da curva que representa a variação do parâmetro de rede de

Pt/C (25oC). Observa-se também que ocorre uma queda no valor do parâmetro

de rede da platina ao adicionarmos o cobalto no sistema. Nas duas temperaturas

de preparo, ocorre um valor menor para as amostras PtCo/C em relação a Pt/C,

sendo detectada uma diferença maior para as amostras preparadas a

temperatura ambiente. O perfil da curva muda significativamente para as

amostras preparadas a 25ºC. Nota-se que as amostras nesta temperatura

apresentam variações aleatórias, enquanto que, as amostras preparadas na

temperatura de 50ºC apresentam um parâmetro de rede inversamente

proporcional à concentração de platina.

68

10 15 20

3.70

3.75

3.80

3.85

3.90

3.95

P

arâ

me

tro

de

Re

de

(n

m)

Concentração de metais (%)

Pt/C - 25ºC

Pt/C - 50ºC

Pt/Co/ C - 25ºC (1º Pt)

Pt/Co/ C - 50 °C (1º Pt)

Figura 35- Gráfico da variação do parâmetro de rede em relação a concentração

dos precursores metálicos nas amostras de Pt e da liga preparada com adição

inicial de Pt, ambos preparados em carbono Vulcan e nas temperaturas de 25 e

50ºC.

A Figura 36 mostra os difratogramas de raios-X para as amostras de

eletrocatalisadores com os íons metálicos dispersos a partir de suas soluções a

50oC utilizando-se concentrações para alcançar 10, 15 e 20 % (m/m) de Pt e Co

sobre carbono Vulcan. A Tabela 11 mostra o tamanho de partícula e os

parâmetros de rede.

Nos difratogramas são mostrados os picos de difração da Pt a 2θ= 39,95;

46,45; 67,70; 81,45 e 85,90o atribuídos aos planos cristalográficos (111), (200),

(220), (311) e (222), sendo característicos da estrutura cúbica de face centrada

(cfc). As amostras com 15 e 20% de Pt e Co mostram o pico a 2θ = 34,74 o

atribuído a presença de PtO2.

69

Nos difratogramas da Figura 36 não pôde ser observado visualmente

ombro no pico referente ao plano (111). Procedeu-se a decomposição do pico

em duas funções primitivas Lorentzianas. Estas são mostradas na Figura 37 (a),

(b) e (c) e trazem o ponto máximo da contribuição em graus e a porcentagem em

área de cada contribuição. Nota-se que os três picos podem ser decompostos

em duas contribuições sendo a diferença entre os máximos das duas

contribuições de 0,14o (10 %), 0,10o (15%) e 0,12 o(20%). Essa diferença é

suficiente para se inferir a formação de liga, entretanto, é importante considerar

que a resolução do difratograma não foi a adequada para esse tipo de

tratamento, em função do equipamento utilizado. É de consenso nos trabalhos

da literatura que a redução por aquecimento em atmosfera de H2 é essencial

para, e via de regra, resulta na formação de liga. Os trabalhos em que se

procede a redução via química para obter partículas com dimensões variando de

2 a 7 nm, mencionam a não formação da liga e a necessidade de aquecimento a

altas temperaturas para obtê-la, com um custo adicional do aumento do tamanho

de partícula médio.

40 60 80

(222)(311)(220)(111) (200)

PtCo(10%)/Cv - 50ºC

PtCo(15%)/Cv - 50ºC

PtCo(20%)/Cv - 50ºC

inte

nsid

ade (

u.a

.)

2 (graus)

Figura 36- Difratogramas de raios-X para as amostras de eletrocatalisadores

dispersos a 50oC, variando-se as concentrações dos metais de 10, 15 e 20%

(m/m) de Pt e Co sobre o carbono Vulcan.

70

Observou-se da Tabela 11 que existe uma tendência ao aumento do

tamanho de partícula com o aumento da concentração dos metais, o que é

esperado já que um número significativamente maior de íons pode migrar para a

superfície das partículas com posterior redução.

A dimensão maior das partículas a 15% deve-se, provavelmente, a falha

humana no controle do tempo de dispersão dos íons metálicos ou aumento do

aquecimento acidental. Estes experimentos já foram refeitos em trabalho de

continuidade deste projeto e os resultados mostram a tendência esperada. Para

as três amostras estudadas as dimensões de partículas calculadas são maiores

do que as esperadas. Erros grandes são esperados nesses cálculos de tamanho

de partícula por DRX, de até 100% de dimensão a mais para o cálculo quando

comparado com a dimensão média de partícula obtida por microscopia eletrônica

de transmissão. Mesmo considerando a possibilidade de tais erros a dimensão

de 8 a 15 nm já resultaria em material de propriedades catalíticas ineficientes

para a aplicação. Para menores tamanhos de partículas conclui-se ser mais

conveniente inicialmente a redução química de platina, obtendo-se partículas

variando de 2 a 4 nm com posterior dispersão e redução do segundo metal.

71

39,0 39,5 40,0 40,5 41,0

(a)

PtCo(10%)/CV - experimental

simulação (soma)

39,89o - 77%

40,03o - 23%

Inte

nsid

ade (

u.a

.)

2 (o)

39,0 39,5 40,0 40,5 41,0

(b)

PtCo(15%)/CV - experimental

simulação (soma)

39,89o - 48%

39,99o - 52%

Inte

nsid

ade

(u

.a.)

2 (o)

39,0 39,5 40,0 40,5 41,0

(c)

PtCo(20%)/CV - experimental

simulação (soma)

39,89o - 60%

40,01o - 40%

Inte

nsid

ade (

u.a

.)

2 (o)

Figura 37- Decomposição em funções primitivas Lorentzianas do pico referente

ao plano (111) no difratograma de raios-X das amostras bimetálicas Pt-Co em

três diferentes composições.

72

Tabela 11- Tamanhos de partícula e os parâmetros de rede para as amostras de

eletrocatalisadores com concentrações diferentes de Pt e Co.

Amostra Tamanho de partícula

(nm)

Parâmetro de rede

(nm)

Pt(10%)_s_Co(10%)/C_50ºC 15,3 3,9154

Pt(15%)_s_Co(15%)/C_50ºC 29,2 3,9092

Pt(20%)_s_Co(20%)/C_50ºC 18,0 3,9051

4.2.5.3 – Teste de eletrocatálise por voltametria cíclica

Para facilitar a discussão dos resultados de voltametria cíclica (VC) dos

testes de eletrocatálise em solução aquosa de ácido sulfúrico 1 mol/L, é

mostrada inicialmente na Figura 38 a voltametria cíclica realizada em um

eletrodo de platina policristalino, nas mesmas condições de análise das

amostras.

-200 0 200 400 600 800 1000

-3

-2

-1

0

1

2

Co

rre

nte

(m

A)

Potencial (mV)

Hads

H+

Pt Pt óxido

H+ H

ads

Pt óxido Pt

Região de dupla camada

Figura 38 - Voltamograma Cíclico a 10 mV/s de -200 a 1000 mV versus ECS

para o eletrodo de Pt policristalino. Foi utilizado um eletrodo rotatório de Pt como

eletrodo de trabalho, como contra-eletrodo uma lâmina de Pt (1 cm2) e

calomelano saturado como o eletrodo de referência.

73

O perfil do voltamograma obtido mostra a formação de óxido de Pt na

região anódica de 700 a 1000 mV, ocorrido devido a traços de oxigênio

presentes na solução que foi deaerada com Ar. A redução do óxido formado

ocorre em aproximadamente 500 mV, sentido de varredura catódica. A adsorção

e desorção de H2 ocorre na região entre -200 e 0 mV. Portanto, mostram-se os

potenciais em que devem ocorrer os picos de adsorção e desorção de H2 nas

amostras estudadas neste trabalho.

Na Figura 39 mostram-se os VC das amostras de eletrocatalisadores

bimetálicos com 10,15 e 20 % de Pt e de Co (m/m) sobre Vulcan.

O perfil dos voltamogramas obtidos mostram também a formação de

óxido de Pt na região anódica de 700 a 1000 mV, ocorrido devido a traços de

oxigênio presentes na solução que foi deaerada com Ar. A redução do óxido

formado ocorre na faixa de corrente entre 300 e 600 mV, sentido de varredura

catódica. A adsorção e desorção de H2 ocorre na região entre -200 e 0 mV.

Com o aumento da concentração dos metais nas amostras observa-se

um aumento da corrente de pico anódico e de pico catódico progressivo,

resultado coerente com o aumento de massa. Entretanto, esses valores são

baixos comparados aos valores esperados, indicando que uma baixa área ativa

é alcançada em decorrência das partículas terem dimensões variando em torno

de 20 nm. Para todas as amostras pode ser observada uma corrente capacitiva

significativa.

74

-0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0

-2,0x10-3

-1,5x10-3

-1,0x10-3

-5,0x10-4

0,0

5,0x10-4

1,0x10-3

1,5x10-3

2,0x10-3

Corr

ente

(m

A)

Potencial (mV)

Pt(10%)Co(10%)/Cv

-0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0-4,0x10

-3

-3,0x10-3

-2,0x10-3

-1,0x10-3

0,0

1,0x10-3

2,0x10-3

3,0x10-3

Corr

ente

(m

A)

Potencial (mV)

Pt(15%)Co(15)/Cv

-0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0

-4,0x10-3

-3,0x10-3

-2,0x10-3

-1,0x10-3

0,0

1,0x10-3

2,0x10-3

3,0x10-3

4,0x10-3

Corr

ente

(m

A)

Potencial (mV)

Pt(20%)Co(20%)/Cv

Figura 39 - Voltametrias cíclicas a 10 mV/s de -200 a 1000 mV versus ECS para

filmes das amostras de PtCo/Cv com concentrações iguais dos dois metais

variando de 10, 15 e 20 % (m/m) sobre Cv.

75

A Figura 40 mostra os voltamogramas cíclicos obtidos para eletrodos de

Pt recobertos com amostra comercial (Electrochem) e a de carbono Vulcan/Pt

obtida pelo grupo com redução por TPR para comparação com os resultados

obtidos para as amostras de bimetálicos. A resposta eletroquímica para a

amostra não comercial é inferior a amostra Electrochem, como observado nas

correntes de pico. Isto sugere um maior tamanho médio de partículas, bem como

menor dispersão, a qual fornece uma menor área de contato entre a Pt e a

solução, desfavorecendo a formação do óxido de Pt. Como se pode observar o

pico de redução do óxido é diminuído com relação à amostra Electrochem

sugerindo uma menor superfície de contato na amostra preparada no laboratório.

A região de -200 a 0 mV correspondente a adsorção e desorção de H2

apresenta pico com valores de corrente de aproximadamente metade do valor

observado para a amostra Electrochem. Esses resultados são coerentes com os

dados previamente observados para o tamanho médio das partículas de Pt

dispersas em carbono Vulcan, de aproximadamente 9 nm (de acordo com os

resultados de DRX apresentados previamente) comparativamente ao valor

médio de tamanho de partícula de Pt na amostra Electrochem de 2 nm.

A área ativa eletrocatalíca em cm2 para a amostra de carbono Vulcan foi

calculada a partir da Equação 4, considerando um valor de correspondência.

76

-200 0 200 400 600 800 1000

-1,0

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

0,2

0,4

0,6 (a) 20% Pt/C preparado no laboratório

(b)20% Pt/C vulcan XC-72R (Electrochem)

Corr

ente

(m

A)

Potencial (mV)

Figura 40 - Voltamogramas cíclicos a 10mV/s de -200 a 1000 mV versus ECS

para 20% Pt/ carbono Vulcan XC-72R (Electrochem) (a), e 20% Pt/ carbono

Vulcan XC-72R obtido neste trabalho. Eletrodo de trabalho e contra-eletrodo de

Pt.

Para a amostra Electrochem a área superficial estimada foi de 36,72 m2 e

6,61 m2 para a amostra não comercial. Este valor é coerente com o tamanho

médio das nanopartículas de Pt, conhecidas para os dois sistemas de carbono.

SEL (cm2) = QH/0.21 mC Equação (4)

Onde:

SEL = área real estimada eletroquimicamente.

QH = Carga estimada através da integração da área sob o pico de desorção de

H2 sobre o eletrodo de Pt.

77

Na Tabela 12 são mostradas as áreas superficiais relativas às amostras

de eletrocatalisadores bimetálicos caracterizados anteriormente, com mesma

concentração de Pt e Co.

Tabela 12- Área ativa eletrocatalíca em cm2 e tamanhos de partícula para as

amostras de eletrocatalisadores com mesma concentração de Pt e Co.

Amostra Área (cm2) Tamanho de

partícula (nm)

Pt(10%)_s_Co(10%)/C_50ºC 4,01 15,3

Pt(15%)_s_Co(15%)/C_50ºC 3,31 29,2

Pt(20%)_s_Co(20%)/C_50ºC 4,89 18,0

Os resultados obtidos para os catalisadores bimetálicos estudados neste

trabalho são compatíveis com as dimensões das nanopartículas. A área

eletrocatalítica é menor do que as amostras comerciais. Variando-se o tamanho

de partícula de 2 a 29 nm a área varia de 36,72 a 3,31 cm2. Como já comentado

anteriormente, para testar o efeito dos catalisadores bimetálicos na diminuição

do envenenamento do catalisador por CO deve-se realizar experimentos em

atmosfera saturada de CO com eletrocatalisadores com tamanhos de partículas

similares.

4.3 Método do ácido fórmico: sistema Pt/CV

Como este trabalho foi exploratório com relação às técnicas de redução

empregadas, utilizou-se também um método de redução química por ácido

fórmico

78

4.3.1 Caracterização por Difração de raios-X

Na Figura 41 são mostrados comparativamente os difratogramas de raios-X

para as amostras reduzidas por TPR, preparadas por dispersão do sal a 25 e 50

oC e amostras reduzidas quimicamente, todas contendo a razão Pt(10%)/Cv.

40 50 60 70 80 90

Pt(10%)/C - 25ºC

Pt(10%)/C - 50ºC

Pt(10%)/C - ác. fórmico

Pt(10%)/C - ác. fórmico ativ.

inte

nsid

ade (

u.a

.)

2 (graus)

Figura 41 - Difratogramas das amostras de Platina (10%) em carbono vulcan

preparadas pelas técnicas da impregnação e método do ácido fórmico, com suas

respectivas variações metodológicas.

79

A Figura 42 apresenta uma ampliação da região do pico relativo ao plano

de difração (111). Ao comparar os picos podemos perceber diferenças nos perfis

dos mesmos, de acordo com as respectivas técnicas. Os picos das amostras

preparadas pelo método da impregnação seguida de redução por TPR são mais

estreitos, provavelmente, representativos de um sistema com partículas maiores

do que as observadas para as amostras preparadas pelo método do ácido

fórmico. Na Tabela 13 são mostrados os tamanhos médios de partículas para as

amostras reduzidas quimicamente.

38,5 39,0 39,5 40,0 40,5 41,0

Pt(10%)/C - 25ºC

Pt(10%)/C - 50ºC

Pt(10%)/C - ác. fórmico

Pt(10%)/C - ác. fórmico ativ.

inte

nsid

ade (

u.a

.)

2 (graus)

Figura 42 - Comparação, em detalhe, do pico referente ao plano (111) da platina

em amostras preparadas pela técnica da impregnação e do ácido fórmico

respectivamente.

80

A Tabela 13 apresenta o tamanho médio de partícula e o parâmetro de

rede das amostras preparadas pelo método da redução com ácido fórmico.

Mostra-se comparativamente os dados para a amostra comercial Electrochem.

Tabela 13 - Tamanho médio de partícula e o parâmetro de rede das amostras

preparadas pelo método da redução com ácido fórmico.

Amostra Tamanho de partícula (nm)

Parâmetro de rede (nm)

Pt(20%)/C – comercial 2,279 3,913

Pt(10%)/C – Ac.fórmico 11.188 3.920

Pt(10%)/C – Ac.fórmico ativ. 15.166 3.9140

Embora as amostras reduzidas com ácido fórmico tenham apresentado

menores tamanhos de partícula, ainda são bem maiores que as partículas

comerciais. Provavelmente alguma falha no controle do tempo ou temperatura

de redução ocorreu, já que em trabalho recente o mesmo método forneceu

dimensão de partículas de aproximadamente 7 nm (DRX). Sabe-se, entretanto,

que a técnica de DRX aplicada à análise de tamanho de partículas com menos

que 10 nm pode resultar em até 100 % de erro, mostrando valores maiores,

portanto, pode-se ter alcançado dimensões de aproximadamente 5 nm na

amostra preparada neste trabalho, com ácido fórmico.

Em outro trabalho recente realizado no grupo utilizando o método químico

de redução com etileno glicol obteve-se partículas com diâmetro de

aproximadamente 5 nm por microscopia eletrônica de transmissão. Entretanto, a

utilização de métodos químicos de redução, embora resultem em dimensões

menores de partículas, geralmente produzem partículas com misturas de fases e

não formação de liga. Esta normalmente é formada após tratamento térmico a

altas temperaturas, o que resulta em um aumento da dimensão das partículas.

81

5 - Conclusões

Neste trabalho foram obtidos eletrocatalisadores bimetálicos CoPt/C

variando-se as condições experimentais de impregnação e redução. Foi

observado pelo TPR que a redução da platina se dá em uma só etapa, ou seja,

Pt2+ Pt por volta de 300oC, e a redução do cobalto, Co2+

Co, por volta de

597oC. Entretanto, pequenas variações nas temperaturas de redução e do

consumo de hidrogênio foram observadas em função das concentrações dos

íons metálicos precursores e da ordem de adição dos reagentes, para os

eletrocatalisadores bimetálicos.

A análise por difração de raios-X identificou a existência de platina na

forma cfc, entretanto, nas amostras bimetálicas não foi possível identificar por

DRX os picos de difração do Co. Estes são pouco intensos e foram confundidos

com ruído.

Nos catalisadores bimetálicos, a formação da liga foi comprovada apenas

através de pequenos deslocamentos de 2 de 39,90 a 39,97o no pico referente

ao plano (111) da Pt, na amostra Pt(10%)Co(10%)/Cv_50ºC - adição inicial de Pt.

Isso indica que a ordem de adição dos precursores metálicos, assim como a

temperatura de dispersão do Co influencia na formação da liga. Entretanto, é

importante salientar que o baixo número de acumulação de sinal no difratômetro

de raios-X utilizado, pode comprometer a visualização de um maior

deslocamento ou observação de um ombro nesse pico a maiores valores de 2,

já que a temperatura de redução no TPR alcançou valores de até 900o C,

temperatura suficiente para formação de liga identificável por DRX.

Foi observado que o suporte utilizado também influencia nas propriedades

das partículas obtidas. Isso é coerente com trabalhos da literatura, já que íons

adsorvem com energias diferentes em diferentes suportes, o que pode alterar as

condições de temperatura e velocidade de redução.

Os tamanhos de partícula calculados por DRX variaram de acordo com a

alteração das condições de preparo. Diferença considerável foi observada para

os eletrocatalisadores preparados por adição simultânea dos íons metálicos

(10%Pt10%Co), os quais apresentaram menores dimensões. Isto pode ser

atribuído ao menor tempo de exposição do sistema a energia de ativação alta no

aquecimento para a redução por TPR. Observou-se também para essas

82

amostras com adição simultânea dos íons metálicos que o tamanho de partícula

aumenta com a concentração dos íons, de acordo com o esperado.

Os testes eletrocatalíticos por voltametria cíclica em solução de H2SO4

com os catalisadores preparados por adição simultânea, mostraram atividade

maior para as amostras com 10% de cada metal. A área eletroativa e portanto,

as correntes de pico foram maiores para as menores concentrações, e

correspondem às menores partículas. Portanto, a adição do segundo metal

permite atingir valores de conversão de H2 maiores com massas reduzidas de

Pt. As áreas eletroativas para esses sistemas foram menores que para o

sistema Pt/C Electrochem e Pt/C preparados no laboratório pelo método de

redução com etileno glicol, em função das partículas maiores. Um controle mais

fino das condições de preparo são necessárias para diminuir o tamanho das

partículas, assim como a redução prévia da Pt, via redução por etileno glicol,

seguida da dispersão controlada do segundo metal e redução por TPR para

formação da liga.

Utilizando a técnica de dispersão para os metais estudados recomenda-

se a adição simultânea dos metais nas concentrações de 10% e na temperatura

de adição de 50 ºC. Como continuidade deste trabalho recomenda-se variar as

condições do TPR.

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8. Referências

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