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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA - PPGEF Wanessa Cristina Maranhão de Freitas Rodrigues FORMAÇÃO CONTINUADA EM EDUCAÇÃO FÍSICA: UM ESTUDO SOBRE A PROPOSTA DO MUNICÍPIO DO NATAL/RN Natal/RN 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA - PPGEF

Wanessa Cristina Maranhão de Freitas Rodrigues

FORMAÇÃO CONTINUADA EM EDUCAÇÃO FÍSICA: UM ESTUDO SOBRE A

PROPOSTA DO MUNICÍPIO DO NATAL/RN

Natal/RN

2017

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Wanessa Cristina Maranhão de Freitas Rodrigues

FORMAÇÃO CONTINUADA EM EDUCAÇÃO FÍSICA: UM ESTUDO SOBRE A

PROPOSTA DO MUNICÍPIO DO NATAL/RN

Dissertação apresentada como requisito parcial para

obtenção do título de mestre em Educação Física no Programa de Pós-Graduação em Educação Física - PPGEF, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

na linha de Estudos Pedagógicos sobre o Corpo e o Movimento Humano.

Orientador: Prof. Dr. José Pereira de Melo

Natal/RN

2017

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Moacyr de Góes - CE

Rodrigues, Wanessa Cristina Maranhão de Freitas.

Formação continuada em educação física: um estudo sobre a proposta do município do

Natal/RN / Wanessa Cristina Maranhão de Freitas Rodrigues. - 2017.

145 f.: il.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Programa de

Pós-Graduação em Educação Física - PPGEF. Natal, RN, 2017.

Orientador: Prof. Dr. José Pereira de Melo.

1. Formação docente - Dissertação. 2. Formação Continuada - Dissertação. 3. Educação

Física Escolar - Dissertação. 4. Educação física - Estudo e ensino - Dissertação. I. Melo, José

Pereira de. II. Título.

RN/UF/BS-CCS CDU 377:796(043.3)

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Wanessa Cristina Maranhão de Freitas Rodrigues

FORMAÇÃO CONTINUADA EM EDUCAÇÃO FÍSICA: UM ESTUDO SOBRE A

PROPOSTA DO MUNICÍPIO DO NATAL/RN

Aprovada em 11/12/2017

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________

Prof.º Dr. José Pereira de Melo (Orientador) – UFRN

_______________________________________________________

Prof. Dr. Allyson Carvalho de Araújo (Membro Interno) – UFRN

_______________________________________________________

Profª. Drª. Marta Genú Soares (Membro Externo) – UEPA

________________________________________________________

Prof. Dr. Marcio Romeu Ribas de Oliveira (Suplente Interno)– UFRN

_______________________________________________________

Profª. Drª. Maria Eleni Henrique da Silva (Suplente Externo) - UFC

Natal (RN), 11 de dezembro de 2017.

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Dedicatória

Aos meus pais Ossivaldo e Elvira, em quem me espelho todos os dias da minha vida...

minha maior inspiração.

Àqueles que mudaram suas vidas para que eu pudesse

realizar um sonho... Meu amor, Ubiraci Soares, e meus tesouros, Maria Clara, Isaac e Juan.

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AGRADECIMENTOS

Certo dia resolvi que era o Tempo da Travessia. No entanto, sempre soube que

não iria conseguir sozinha. Pessoas colaboraram desde o dia que decidi fazê- la. Não foi fácil

abandonar as roupas usadas que já tomavam conta do meu corpo e esquecer os caminhos que

me levavam sempre ao mesmo lugar. Ousei, pois decidi que não queria ficar à margem de

mim mesma.

E não por acaso, deixei para tecer os agradecimentos no final da escrita desta

pesquisa, pois sabia que esse seria um momento repleto de lembranças e emoções. Nada mais

justo que retribuir e registrar as pessoas que foram de extrema importância em cada momento

desta trajetória, tornando-a menos solitária, menos dolorida e cheia de significados.

Felizmente, não foram poucos os que fizeram parte de alguma forma deste caminho, e cada

um merece a minha imensa gratidão.

Oh, Deus!, como sou grata por ter me sustentado, trazendo serenidade e fazendo-

me compreender que Cada coisa a seu tempo tem seu tempo. Obrigada, Senhor!;

Meus amados pais, Ossivaldo e Elvira, tudo que sou devo a vocês. Ensinaram-me

a ser destemida, e se não desisti no meio da travessia foi por que vocês me preparam,

ensinando que o melhor caminho nem sempre é o mais fácil. Obrigada por me prepararem

para a vida! E aos meus irmãos Ricardo, Jean e Lidiane por estarem mesmo de longe torcendo

pelo meu crescimento;

Meu querido esposo Ubiraci, essa conquista é nossa! Lembro com carinho o

orgulho expresso no brilho dos seus olhos no dia da minha aprovação para o mestrado. Um

momento envolvido de alegrias e tensões. Mas, você foi um verdadeiro PARceiro neste

momento ímpar da minha vida, preenchendo a minha ausência neste período, fazendo-se mais

presente ainda na vida dos nossos filhos. Se Deus nos uniu, nem o mestrado nos separa!

Obrigada por estar sempre ao meu lado;

Aos meus filhos, Maria Clara, Isaac e Juan – as maiores realizações da minha vida

– pelos gestos e palavras que inconsciente e inocentemente me motivaram. Pela maturidade

que precisaram ter no meio de tantos conflitos envolvidos neste momento de adolescência e

pré-adolescência em que estão vivendo. Em vocês encontro todos os dias o amor e a

inspiração para querer sempre ser uma pessoa melhor. Obrigada por serem os melhores

desassossegos que eu poderia ter;

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A toda a minha família – tios, primas, sobrinhos, cunhadas, concunhada, pelo

apoio emocional que precisei constantemente. Dona Eneide e Sr. Rodrigues, obrigada pela

atenção dada aos nossos filhos mais ainda nestes dois últimos anos; Mona, Thayse e Lara,

obrigada por estarem sempre presentes na minha vida; Evaneide, suas palavras de conforto e

carinho sempre vieram nas horas que mais precisei; Cidoca, obrigada pelo cuidado de sempre

com nossa família;

Ao meu orientador, Professor José Pereira, por ter aceitado o desafio de me

orientar mesmo sabendo dos meus ofícios paralelos – mãe, esposa, dona de casa e professora.

Agradeço pelas orientações que ultrapassaram o espaço acadêmico, pela compreensão e

paciência que sempre teve comigo. Foi uma honra ser orientada por um professor, a quem

passei toda a minha vida admirando e que pude conhecer melhor, passando a respeitá- lo ainda

mais. Obrigada por acreditar no meu sonho e por estar nesta travessia junto comigo;

Ao Professor Allyson Carvalho pelo apoio constante, pela credibilidade que

depositou em mim em tantas ocasiões nos últimos dois anos. Pudemos desfrutar de um

reencontro, marcado por compartilhamento de experiências, respeito, carinho, brincadeiras e

almoço na rodoviária. Agradeço por todos os ensinamentos e pelo incentivo. Obrigada por me

fazer sentir do tamanho dos meus sonhos;

Ao professor Márcio Romeu pela prontidão de sempre em ajudar, por ter

permitido que eu crescesse participando de suas aulas na graduação e por suas relevantes

colaborações. Obrigada por me contagiar com essa constante alegria de ser professor;

À Professora Marta Genú pelas significativas contribuições na ocasião do Exame

de Qualificação e por aceitar o convite para compor a Banca Examinadora. Assim como a

professora Maria Eleni, que gentilmente aceitou o convite para compor a Banca Examinadora

Suplente;

À Professora Ednice Peixoto, chefe do Departamento de Ensino Fundamental da

Secretaria Municipal de Educação do Natal, por quem tenho profundo carinho e admiração.

Obrigada pelo apoio, pela confiança e pelos sábios conselhos!

À professora Rosemarie Loer, chefe do Setor de Ações e Projetos da Secretaria

Municipal de Educação do Natal. Agradeço pela compreensão, confiança e carinho de

sempre. Obrigada especialmente pelos abraços de conforto em momentos difíceis;

Aos meus colegas de trabalho da Secretaria Municipal de Educação do Natal que

dividem comigo o sonho de melhorar a qualidade da educação. A vocês, Adeilza, Ana Maria,

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Beth, Conceição, Doceo, Gleydson, Kátia, Leninha, Márcia, Mariana, Milton, Rosár io, Sheila

e Sthela, o meu agradecimento por tornarem mais leve o dia a dia do nosso trabalho;

À equipe FOCO-EF – Christyan Giullianno, Dianne Sena e Matheus Jancy, que

juntamente comigo acreditam, defendem e investem na Educação Física Escolar do nosso

município. Obrigada por entenderem minhas constantes ausências e por me suportarem todos

os dias! Vocês formam a melhor equipe com quem alguém poderia querer trabalhar;

Às “meninas” do Setor de Tempo Integral da Secretaria Municipal de Educação

do Natal, que acompanham minha jornada há anos e que acreditaram nos meus esforços e

sempre me incentivaram. A vocês Andrea, Estefânia, Idelúzia, Gió, Lu, Marcinha e Sueli, a

minha eterna gratidão!

A todos os meus parceiros do mestrado/doutorado, em especial àqueles que

dividiram comigo de forma mais intensa esta caminhada em busca de conhecimento, Antônio,

Rayanne, Nadiel, Eloyse Jonas, Ribamar e Mackson, compartilhando angústias e conquistas.

E em especial a você, Rodolfo pela constante disposição em ajudar e pelos seus conselhos.

“Cá pra nós”, sou sua fã!; e a você, Érika, por cada palavra sincera de motivação, por cada

lágrima derramada comigo, por todo o carinho, afeto e amizade que construímos esses anos e

que espero levá-la por toda a vida;

Aos professores do Departamento de Educação Física da UFRN, em especial

àqueles com quem tive mais aproximação nestes últimos anos: os Professores Aguinaldo,

Cida, Priscila, Pádua, Petrúcia, Rose e Maria Isabel (obrigada pelas risadas mais gostosas em

meio a tanta vontade de chorar). Destaco o meu agradecimento à Professora Elizabeth Jatobá,

uma amiga que me incentiva desde a graduação, acompanhando momentos difíceis da minha

vida, por quem tenho profunda gratidão!

Agradeço também a todos os funcionários do Departamento de Educação Física

da UFRN – local que se transformou em minha segunda casa nestes dois últimos anos e onde

fui tão bem acolhida. Agradeço especialmente a Dona Luzinete pelo cafezinho delicioso e

estimulante nos momentos de cansaço e a Diego pela atenção e dedicação com todos os

alunos do Programa de Pós-Graduação em Educação Física;

Ao Grupo de Pesquisa Corpo e Cultura de Movimento (GEPEC - UFRN) e

Laboratório de Estudos em Educação Física, Esportes e Mídia (LEFEM) que trouxeram

contribuições extremamente relevantes para minha formação;

Aos colegas da Escola Municipal Ferreira Itajubá, onde vivi a maior parte das

minhas experiências pedagógicas. Em especial aos meus alunos queridos que passaram e

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deixaram marcas em minha vida, e às professoras Raquel e Jocélia que mesmo de longe

continuam torcendo sempre pela minhas conquistas pessoais e profissionais.

Aos amigos e amigas, pelas mais diversas manifestações de carinho, afeto e

cuidado. A você, Mellyna, meu agradecimento por mesmo distante se fazer tão presente na

minha vida; Kárita e Frassi que me proporcionaram momentos de descontração e alegrias em

meio a tanta tensão; Carlinha e Anderson pela atenção e dedicação de sempre;

Um agradecimento especial a você minha amiga, Marcinha, um anjo enviado por

Deus, por todo o tempo dedicado às inúmeras leituras e contribuições, pelas palavras de

motivação e conforto. Palavras não seriam suficientes para descrever o tamanho da minha

gratidão;

A todos os meus colegas Professores de Educação Física da Rede Municipal do

Natal que participaram da formação continuada. Agradeço pela confiança e por

compartilharem conosco suas experiências. Sem a colaboração de vocês este estudo não teria

sentido. Vocês são os protagonistas desta pesquisa. A vocês o meu profundo reconhecimento

e agradecimento.

Por fim, a todos àqueles que direta ou indiretamente contribuíram para o fim da

travessia! E que venha a próxima! Estou muito feliz!!!

Valeu a pena?Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

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Não sou nada

Nunca serei nada

Não posso querer ser nada À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo...

Fernando Pessoa

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RESUMO

A Secretaria Municipal de Educação do Natal vem oferecendo formação continuada a todos os profissionais do magistério da Rede, incluindo os professores de Educação Física. O objeto

desta pesquisa é o programa de formação continuada oferecido aos professores de Educação Física da Rede Municipal do Natal. A pesquisa se deu a partir da seguinte questão de estudo:

como vem se configurando o programa de formação continuada de professores de Educação Física da SME/Natal? Ancora o estudo nas seguintes questões norteadoras: a) qual é a trajetória histórica do programa de formação continuada da SME/Natal oferecido aos

professores de Educação Física? b) Como se caracteriza o planejamento pedagógico a partir dessa trajetória? c) Qual a concepção dos professores da Rede Municipal do Natal a respeito

da formação continuada oferecida pela SME/Natal? No tocante aos procedimentos metodológicos opta pela pesquisa descritiva por meio da abordagem qualitativa. Os participantes da pesquisa foram todos os 137 professores que frequentaram a formação

continuada oferecida pelo município do Natal no período entre 2014-2016 e assessores pedagógicos lotados na SME/Natal. As técnicas utilizadas para a coleta de dados foram a

observação participante e o livro de registro produzido pela equipe de formadores, os documentos institucionais da SME/Natal, a Proposta de Formação e assessoramento do município do Natal, os relatórios e as fichas avaliativas anuais da formação continuada

realizadas pelos professores. As interfaces do contexto investigado mostram que a forma, a qual o Programa de formação continuada oferecido aos professores de Educação Física foi

planejado e executado, caminha em direção a uma perspectiva de concepção inovadora de formação continuada, à luz das características apontadas pelos referenciais teóricos contemporâneos – reflexão, ressignificação da prática docente, autonomia docente,

aproximação com as reais necessidades dos professores, professor como protagonista de sua formação, valorização do saber docente e dialogicidade. Destaca a relevância da continuidade

da parceria com as Instituições de Ensino Superior; dos investimentos na formação continuada; da continuidade e do aprofundamento desta pesquisa, que possa vislumbrar o acompanhamento dos professores em suas práticas escolares.

Palavras-Chave: Educação Física Escolar, Formação Continuada de Professores, Políticas Públicas.

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ABSTRACT

The Municipal Education Department of Natal has been offering continuing education to all professionals in the teaching profession of the Network, including Physical Education

teachers. The object of this research is the continuing education program offered to Physical Education teachers of Natal Municipal Network. The research was based on the following

study question: how has the SME / Natal Physical Education teachers' continuing education program been configured? We base the study on the following guiding questions: a) What is the historical trajectory of the SME / Natal continuing education program offered to Physical

Education teachers? b) How is pedagogical planning characterized from this trajectory? c) What is the conception of the teachers of the Natal Municipal Network regarding the

continuing education offered by SME / Natal? Regarding the methodological procedures, the descriptive research was chosen through the qualitative approach.The research participants were all 137 teachers who attended the continuing education offered by the municipality of

Natal in the period between 2014-2016 and pedagogical advisors crowded at SME / Natal. The techniques used to collect data were participant observation and the lo gbook produced by

the team of trainers, the institutional documents of the SME / Natal, the Training Proposal and advice of the municipality of Natal, reports and annual evaluative sheets of the teachers. The interfaces of the investigated context showed that the way in which the Continuing Education

Program offered to Physical Education teachers was planned and executed, it moves towards a perspective of innovative conception of continuing education, in the light of the

characteristics pointed out by contemporary theoretical references - reflection, re-signification of teaching practice, teaching autonomy, approach to the real needs of teachers, teacher as protagonist of their training, appreciation of teaching knowledge and dialogue. The relevance

of the continuity of the partnership with the Institutions of Higher Education is highlighted; of investments in continuing education; the continuity and the deepening of this research, that

can glimpse the accompaniment of teachers in their school practices.

Key words: Physical School Education, Continuing Teacher Education, Public Policies.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Relação entre o período e a perspectiva de formação continuada de professores .............. 28

Quadro 2 -Síntese conceitual de termos empregados para formação continuada de professores ......... 50

Quadro 3 - Síntese dos termos utilizados para se referir à formação continuada a partir dos documentos

legais .......................................................................................................................................... 51

Quadro 4 - Publicações relacionadas à formação de professores nos PPGEF.................................... 61

Quadro 5 - Distribuição dos periódicos a partir de publicações ....................................................... 63

Quadro 6 - Demonstrativo de Professores e municípios atingidos por eventos/modalidades ofertados

pelo Núcleo Paidéia ..................................................................................................................... 73

Quadro 7 - Materiais elaborados e editados pelo Núcleo Paidéia ..................................................... 74

Quadro 8 - Datas e Temáticas Formação Continuada - 2014 ........................................................... 86

Quadro 9 - Datas e Temáticas Formação Continuada/2015 ............................................................. 90

Quadro 10 - Datas e Temáticas Formação Continuada/2016 ........................................................... 96

Quadro 11 - Quantitativo de professores por encontro de formação continuada – 2014 - 2016 ........ 103

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Metodologias de ensino propositivas e não-propositivas ................................................. 58

Figura 2 - Quantidade de publicações nos PPGEFs por ano ............................................................ 62

Figura 3 - Quantidade de publicações em periódicos científicos por ano.......................................... 64

Figura 4 - Encontro de formação continuada professores SME/Natal-RN – vivência Goalball e Bocha

adaptada ..................................................................................................................................... 87

Figura 5 - Aula de campo professores SME/Natal-RN – Trilha ecológica e Prática do Slickeline - 2014

.................................................................................................................................................. 89

Figura 6 - Encontro de formação continuada – Ginástica na Escola ................................................. 92

Figura 7 - Encontro de formação continuada 2015 – Experimentando Diferenças ............................ 93

Figura 8 - Formação Continuada – Oficina de Brinquedos Cantados/ Cidade da Criança .................. 93

Figura 9 - Formação Continuada – Mídias nas aulas de Educação Física ........................................ 98

Figura 10 - Formação Continuada – Vivências Esporte de Marca (materiais alternativos) / Esporte de

Rede ........................................................................................................................................... 99

Figura 11 - Formação Continuada – Vivências Esporte de Invasão – Hóquei e Corfebol................. 100

Figura 12 - Inclusão de pessoas com deficiência – Goalball, Bocha Adaptada e Vôlei sentado ........ 101

Figura 13 - I Mostra de Experiências Pedagógicas dos Professores de Educação Física do Município

do Natal – MEPEF .................................................................................................................... 102

Figura 14 - Novas experiências – Aula de Campo/ Mídias............................................................ 107

Figura 15 - Formação Continuada - Relatos de Experiências ........................................................ 107

Figura 16 - Formação Continuada – Vivências (práticas corporais) ............................................... 116

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BM - Banco Mundial

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CEFD - Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Espírito Santo CEMURE – Centro Municipal de Referência em Educação Aluísio Alves

CIENTEC - Semana de Ciência, Tecnologia e Cultura da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

CNE - Conselho Nacional de Educação DEF - Departamento de Ensino Fundamental EJA - Educação de Jovens e Adultos

EPS - Educação Permanente em Saúde FUNDEF - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental

IES - Instituições de Ensino Superior GEPEC - Grupo de Estudos Corpo e Cultura de Movimento

JERN´S - Jogos Escolares do Rio Grande do Norte LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LEFEM - Laboratório de Estudos em Educação Física, Esportes e Mídia

LESEF - Laboratório em Educação Física MEC - Ministério da Educação

ONU - Organização das Nações Unidas OPAS - Organização Pan Americana de Saúde PABAEE - Programa de Assistência Brasileiro-Americana ao Ensino Elementar

PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais PME - Programa Mais Educação

PNE - Plano Nacional de Educação PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PPGED - Programas de Pós-graduação na área de concentração da Educação

PPGEF - Pós-Graduação em Educação Física SAPEF - Setor de Ações e Projetos

SEDU - Secretaria Estadual de Educação SME - Secretaria Municipal de Educação do Natal UFES - Universidade Federal do Espírito Santo

UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura

UNICEF - United Nations Children's Fund

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 16

SEÇÃO I

REFLETINDO ACERCA DA FORMAÇÃO CONTINUADA DE

PROFESSORES NO CENÁRIO NACIONAL.........................................................

26

SEÇÃO II

A FORMAÇÃO CONTINUADA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR EM DISCUSSÃO.............................................................................................................. 56

SEÇÃO III

DO PLANEJAMENTO À AVALIAÇÃO DOS ENCONTROS FORMATIVOS – UMA ANÁLISE DA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA SME/NATAL................................................................ 84

3.1 O Que Revela as Impressões dos Professores Sobre os Encontros Formativos

dos Anos de 2014 à 2016?......................................................................................... 103 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES..................................................................

122

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 127

ANEXOS....................................................................................................................

137

APÊNDICE................................................................................................................

144

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18

INTRODUÇÃO

A discussão sobre as mudanças ocorridas na sociedade se mostra bem marcante

nos dias atuais e a escola não pode estar alheia a estas transformações, uma vez que ela exerce

uma função social que se distingue de outras práticas educativas por se constituir de forma

sistemática, planejada e continuada, tendo como propósito contribuir para que os educandos

se apropriem de conhecimentos sociais e culturais de maneira crítica e construtiva.

Na busca por acompanhar essas transformações, muitas mudanças vêm

acontecendo na educação brasileira: reformas curriculares, avaliações, programas de formação

para docentes, entre outras. Neste contexto, o professor – personagem principal deste cenário

– precisa, além de acompanhar, fazer parte destas mudanças.

A formação dos professores passou a ser questionada e ganhou uma atenção

especial, principalmente após a Lei de Diretrizes e Bases (LDB – Lei nº 9.394/96), que em

seu art. 87, §4º, definiu que “... até o fim da Década da Educação somente serão admitidos

professores habilitados ou formados por treinamento em serviço”. No intuito de atender tal

exigência, a oferta de cursos para os professores da Educação Básica se expandiu, embora

muitos deles deixem a desejar na qualidade.

Para os professores que já se encontravam em exercício da docência e precisavam

se adaptar as novas exigências, muitos programas foram criados, a exemplo o Programa de

Formação Inicial para Professores em Exercício na Educação Infantil - PROINFANTIL, o

Programa de Formação de Professores Em Exercício - PROFORMAÇÃO e o Programa de

Formação Inicial para Professores em Exercício no Ensino Fundamental e no Ensino Médio -

PRÓ-LICENCIATURA1.

Diante desse contexto, a formação continuada passou a ser uma bandeira

levantada pelo Governo Federal, como forma de elevar a qualidade da educação e foi objeto

imediato de discussão em diversos documentos, tais como a LDB, a Resolução nº 03/97 do

Conselho Nacional de Educação e o Plano Nacional de Educação (Lei n.10.172/2001). Todos

estes traziam a obrigatoriedade da formação continuada aos professores e demais profissionais

da Educação Básica, envolvendo os Estados e Municípios.

Nesse período, a formação continuada passou a ser tema de interesse do sistema

educacional público de ensino, tendo o intuito de atender esses desafios postos pelo sistema

educacional e de preencher as lacunas da formação inicial, resumindo-se muitas vezes a

1Cursos de curta duração, uma média de dois anos, que tinham como objetivo aprimorar a prática dos professores que já

estavam em sala de aula e oferecer a formação inicial exigida pela LDB.

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propostas de atualização e capacitação dos professores, passando a ser instituída e garantida

por diversos documentos, dentre eles a própria LDB, que define no inciso III, do art. 63, que

“as instituições formativas deverão manter programas de formação continuada para os

profissionais de educação dos diversos níveis”, além de estabelecer no inciso II, art. 67, “que

os sistemas de ensino deverão promover aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive

com licenciamento periódico remunerado para esse fim”. Visando atender essas demandas,

diversos programas de formação continuada foram estruturados pelos estados e municípios,

assumindo diferentes concepções – clássicas ou inovadoras 2 . Na primeira, pautado no

racionalismo técnico, o professor era treinado para a melhoria das técnicas de ensino, e o

segundo, baseado na reflexão e na criticidade, o professor é o protagonista do processo

formativo.

Apesar das exigências legais visando à formação continuada do professor só

serem enaltecidas na década de 90, o Município do Natal já vinha desde a década de 60, por

meio da Secretaria Municipal de Educação (SME), oferecendo formação continuada aos

professores da rede, quando implantada a Campanha De Pé no Chão Também Se Aprende a

Ler3 e desde então investe na formação continuada.

Em consonância com a Lei nº 11.738/2008, que aprovou o Piso Salarial

Profissional Nacional para os Profissionais do Magistério Público da Educação Básica

(PSPN), o município do Natal no ano de 2004 aprovou a Lei Municipal nº 058 que dispõe

sobre o Plano de Carreira, Remuneração e Estatuto do Magistério Público Municipal do Natal

e dá outras providências, garantindo, em seu Artigo 39, “o direito do contínuo processo de

atualização, aperfeiçoamento e especialização profissional, além do período reservado a

estudos, planejamento e avaliação, incluído na jornada de trabalho”.

O texto disposto no Artigo supracitado nos anuncia uma visão fragmentada e

limitada que se tem de formação continuada, quando se reduz aos conceitos “atualização,

aperfeiçoamento e especialização”, ou seja, o professor precisa adequar-se à atualidade,

procurando aprimorar-se e especializar-se para se tornar um melhor profissional, mostrando

2 Consideramos inovadoras práticas de formação continuada que ultrapassam as utilizadas por modelo de formação baseado

em cursos exclusivamente transmissivos e receptivos. 3Diante da necessidade da oferta de educação para a população mais pobre, e sem condições financeiras para construir

prédios escolares, a Campanha “De pé no chão também se aprender a ler” foi implantada em Natal, capital do Rio Grande do

Norte, a partir de fevereiro de 1961, na gestão de Djalma Maranhão como prefeito da cidade, até o Golpe Militar em 1964.

Foram instaladas escolinhas em espaços cedidos por Sindicatos, sociedades beneficentes, sedes de clubes de futebol, igrejas de todos os credos e residências particulares. Com a expansão da campanha surgiram os acampamentos escolares que eram

uma estrutura de madeira, coberta com palha de coqueiro e chão de barro batido. O professorado era constituído, em parte,

por voluntários e, em parte, por assalariados da prefeitura do Natal. Alguns eram estudantes, outros eram pessoas indicadas

pela localidade onde existia uma Escolinha; outros, ainda, concluíam o Curso de Formação de Professores e procuravam um

local onde pudessem desenvolver o trabalho. (GERMANO, 1982)

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um foco puramente na técnica, no fazer, corroborando com a ideia de formação como espaço

de capacitação, deixando de contemplar ações que consideramos de suma importância em

uma formação continuada: refletir, experimentar, vivenciar, inovar, dentre outras.

No entanto, no ano de 2010 A Política de Formação Continuada e Projeto de

Assessoramento Pedagógico para Rede Municipal de Ensino de Natal foi elaborada,

apresentando orientações voltadas para a formação continuada e do assessoramento às

escolas, superando a visão minimalista e compensatória envolvida no modelo clássico de

formação. A formação continuada passou a ser considerada um processo de constante reflexão

e de valorização dos saberes docentes daqueles que estão nas escolas. Nessa perspectiva, a

formação continuada que ocorria de forma pontual, passou a contemplar os professores de

todos os componentes curriculares de forma sistemática.

Dessa forma, a SME/Natal oferece formação continuada a todos os profissionais

do magistério, sendo de responsabilidade do Setor de Ações e Projetos – SAPEF, do

Departamento de Ensino Fundamental – DEF, a formação continuada dos professores dos

Anos Iniciais e Anos Finais do Ensino Fundamental, assim como dos mediadores de leitura,

coordenadores e diretores pedagógicos. O SAPEF conta com assessores pedagógicos

distribuídos em equipes por componente curricular, os quais são responsáveis por planejar e

organizar a formação continuada, além de realizar assessoramento às escolas. Algumas destas

equipes já oferecem formação continuada aos professores em exercício há quinze anos. No

entanto, a equipe de Educação Física deste Setor, só foi composta no ano de 2014, contando

anteriormente com a colaboração de assessores lotados em outros setores.

A formação dos professores de Educação Física possui metas e objetivos que

foram traçados levando em conta as particularidades desta área, entre elas a adequação desse

componente curricular às propostas pedagógicas da escola, tendo em vista que a Educação

Física apenas se tornou componente curricular obrigatório na Educação Básica no ano de

1996 por meio da LDB.

Assim, a Educação Física passou a ter a mesma importância (ou deveria ter) que

os demais componentes curriculares. Ao passar de uma atividade que tinha caráter

complementar para esse novo componente curricular, aumentou a necessidade de

investimentos na formação continuada para esses professores, visando despertar nos mesmos

a mudança essencial para a consolidação desse componente curricular dentro das escolas.

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Nesse sentido, a SME/Natal oferece para todos os professores de Educação Física

da Rede Municipal de Ensino do Natal – atualmente cerca de 155 (cento e cinquenta e cinco)4

– distribuídos em 72 escolas, dos quais uma média de 137 professores5 já frequentaram pelo

menos um encontro de formação continuada oferecido pela SME/Natal desde o ano de 2014 –

período em que a equipe de formadores de Educação Física foi composta. Os encontros de

formação continuada ocorrem quinzenalmente. A formação continuada realiza-se no horário

destinado ao planejamento desses professores, e não tem caráter obrigatório.

Partindo da problemática apresentada e dos nossos anseios, assumimos como foco

desta pesquisa a seguinte questão de estudo: como vem se configurando o programa de

formação continuada de professores de Educação Física da SME/Natal? Para responder essa

questão que tem como finalidade superar fragilidades existentes e adequar o programa ao

suporte teórico contemporâneo, elencamos três questões norteadoras:a) qual é a trajetória

histórica do programa de formação continuada da SME/Natal oferecido aos professores de

Educação Física? b) Como se caracteriza o planejamento pedagógico a partir dessa trajetória?

c) Qual a concepção dos professores da Rede Municipal do Natal a respeito da formação

continuada oferecida pela SME/Natal?

Dessa forma, objetivamos apresentar o programa de formação continuada

instituído na SME para os professores de Educação Física da Rede Pública Municipal do

Natal, bem como descrever o seu percurso histórico; discutir o processo de planejamento e

execução dos encontros de formação continuada referente ao período 2014 e 2016; por fim,

identificar a visão dos professores participantes sobre a formação continuada instituída pela

SME/Natal.

Visando atender os objetivos propostos, definimos o percurso metodológico

optando pela pesquisa descritiva, como eixo metodológico a abordagem qualitativa, por

entendermos que este tipo de pesquisa tem uma preocupação com o fenômeno, não somente

com os resultados, buscando os significados dos dados coletados, dessa forma captando a

essência dos mesmos.

Conforme Chizzotti (2006), a pesquisa qualitativa busca interpretar o sentido

desses significados que as pessoas atribuem ao que falam e fazem. A mesma será realizada em

uma abordagem da investigação qualitativa por buscar os dados em seu ambiente natural, que

nesse caso seria a formação continuada. (LUDKE; ANDRÉ, 1986). 4 Este número é referente aos professores que estão em exercício da docência. Dessa forma não foi contabilizado

aqueles que estão em outras funções, tais como d iretores de escolas. Esses dados foram retirados da relação de

professores de Educação Física fornecidos pela Secretaria Municipal de Educação do Natal. 5 Dados obtidos a partir da análise das freqüências dos três anos em que ocorreu a pesquisa.

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Além disso, embora a pesquisa qualitativa não nos aponte dados replicáveis e

generalizáveis, por considerar buscar responder questões em um determinado contexto

espaço-temporal ou histórico-social, ela nos fornece informações ricas e detalhadas sobre um

determinado grupo, a partir das perspectivas dos sujeitos participantes, que podem ser

utilizadas para a compreensão de outros fenômenos.

Nesse sentido, a pesquisa descritiva é a que mais se aproxima, visto que, segundo

Gil (2008), tem como finalidade principal a descrição das características de determinada

população ou fenômeno. Além disso, Triviños (1987, p. 110) afirma que “o estudo descritivo

pretende descrever “com exatidão” os fatos e fenômenos de determinada realidade”, de modo

que o mesmo é utilizado quando a intenção do pesquisador é conhecer determinada

comunidade, suas características, valores e problemas relacionados à cultura.

Selecionamos como campo de investigação a formação continuada instituída pela

Secretaria Municipal de Educação do Natal aos professores de Educação Física. Os sujeitos de

nossa pesquisa foram todos os professores que frequentaram a formação continuada oferecida

pelo município do Natal durante o período de 2014 a 2016, que atualmente soma uma média

de sessenta professores participando dos encontros quinzenalmente, divididos nos turnos

matutino e vespertino; os assessores pedagógicos que estão lotados na SME/Natal,

responsáveis pelo planejamento e organização da formação continuada, equipe composta por

quatro professores de Educação Física do SAPEF/DEF, na qual estamos inseridos e o assessor

pedagógico lotado na SME/Natal no Setor de Educação de Jovens e Adultos, responsável pelo

planejamento da formação continuada ofertada aos professores do Ensino Fundamental nos

anos anteriores ao presente estudo.

Delimitamos o nosso estudo a partir do ano em que a equipe de formadores de

Educação Física do SAPEF foi constituída - 2014, até o final de 2016 - período que

encerramos nossa coleta de dados. No entanto, entendendo a importância do processo

histórico, buscamos compreender as transformações ocorridas no processo de planejamento e

desenvolvimento das ações de formação continuada oferecidas pela Secretaria Municipal do

Natal aos professores de Educação Física nos anos anteriores a esse estudo.

Utilizamos como técnica a observação participante, que, assim como a maioria

das técnicas de pesquisa, precisa ser utilizada juntamente com outra técnica, pois, do ponto de

vista científico, essa técnica possui vantagens e limitações. No caso da observação

participante, o observador se envolve com o grupo, transformando-se em um dos seus

membros (MARCONI; LAKATOS, 1996). Dessa forma, observamos todos os encontros entre

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o período de 2014 e 2016, totalizando 40 encontros – incluindo uma aula de campo e a Mostra

de Experiências Pedagógicas dos Professores de Educação Física da Rede Municipal do Natal

na qual obtivemos informações sobre a realidade da formação continuada.

Para a coleta de dados utilizamos o livro de registro produzido pela equipe, na

qual se encontram as pautas e convites de cada encontro, cartões de agradecimento entregue

aos professores, lista de frequência e a descrição de alguns encontros6. Analisamos ainda

documentos, tais como a Proposta de Formação e Assessoramento do Município do Natal, o

Relatório Anual da formação continuada produzido pela equipe de formadores e as avaliações

realizadas pelos professores participantes dos encontros de formação ao final de cada um

deles, assim como a avaliação realizada ao final de cada ano. A partir dos dados coletados,

construímos um conjunto de categorias descritivas as quais fundamentamos nos referenciais

teóricos da nossa pesquisa, conforme sugerido por Gil (2008).

Cabe ressaltar que, antes do início do estudo que resultou nesta dissertação, a

pesquisadora já estava inserida no campo de investigação, conforme já dito anteriormente.

Assim, a interpretação dos dados perpassa também pelo seu olhar na condição de formadora.

Realizamos, ainda, uma entrevista semi-estruturada com o professor de Educação

Física, atualmente assessor pedagógico lotado na SME/Natal no Setor de Educação de Jovens

e Adultos, atuando na condição de formador desde o início da formação continuada oferecida

aos professores de Educação Física, que nos auxiliou com informações necessárias para a

construção do percurso histórico sobre o nosso campo de investigação.

Em busca de responder o questionamento desta pesquisa, estruturamos a nossa

dissertação em quatro seções. Na introdução, revelamos o nosso objeto de estudo – a

formação continuada dos professores de Educação Física da Rede Municipal do Natal;

apresentamos e discutimos sobre a problemática; justificamos a escolha pela temática, assim

como levantamos argumentos que demonstram a relevância do nosso estudo e apontamos as

nossas escolhas metodológicas.

Uma pesquisa deve se justificar pela sua relevância – pessoal, científica e social –

partindo na maioria das vezes da experiência pessoal de envolvimento do pesquisador com o

objeto da pesquisa. Nesse sentido, um dos motivos que nos motivou na realização deste

estudo foi a relação com a formação continuada oferecida pela SME/Natal aos professores de

Educação Física, na condição de integrante da equipe formadora. Além disso, faz-se

6 Apesar de possuir informações sobre todos os encontros de formação continuada desde 2014, apenas no ano

seguinte a equipe passou a descrever os mesmos.

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necessário percorrer a trajetória pessoal e profissional para o entendimento de outras razões

que despertaram o interesse pela referida temática.

Inicialmente, buscando compreender como ocorreu a nossa escolha pelo curso de

Educação Física, percebemos que essa se diferenciou dos motivos da maioria daquele ano

(1998), cuja escolha se deu devido à experiência exitosa em alguma prática esportiva. A nossa

não surgiu pelas experiências de sucesso como atleta, pois o máximo que conseguimos foi a

participação nos Jogos Esportivos Escolares do Rio Grande do Norte (JERN´S) sem nunca ter

tido a vivência de subir ao pódio. Quando adolescente, tivemos experiências com as lutas,

especificamente com o Jiu- jitsu, contudo com certeza não foi esse o motivo que nos levou à

escolha do curso. Diferentemente de muitos vestibulandos do referido ano, a opção pelo curso

ainda não havia sido realizada, ocorrendo apenas no ato de inscrição no vestibular. A

aprovação no vestibular ocorreu no ano de 1999 quando ingressamos no curso de Licenciatura

Plena em Educação Física. Muitas vezes questionamentos como “o que estou fazendo neste

curso?” vieram à tona.

Hoje, a maturidade nos leva a pensar que o motivo daquela escolha foi um tanto

inconsciente. Foi uma forma de camuflar aquela decisão, para não contrariar as orientações

maternas: “não invente de ser professora!”. O nosso desejo era ser professora. A educação

nos atraiu de uma forma que, quando percebemos, já não tinha mais volta. Então, a saída foi

fazer parte dos que queriam fazer o diferente na Educação Física Escolar.

Em nosso trabalho de conclusão de curso preocupações relacionadas à Educação

Física Escolar na Rede Pública do Município do Natal já surgiam. O mesmo trouxe a

realidade deste componente curricular nas escolas do referido município, apontando em suas

considerações finais uma reflexão sobre a prática pedagógica e a necessidade da formação

continuada para esses profissionais.

No ano de 2006, dois anos após a conclusão do curso de Licenciatura em

Educação Física, passamos a fazer parte do quadro de professores do Município do Natal por

meio de concurso público. Naquele ano, percebemos que a graduação não tinha nos preparado

para a dura realidade que encontramos nas escolas públicas. Passamos a questionar a

formação inicial e entender as angústias e lamentações encontradas por parte dos professores

na pesquisa para a monografia de conclusão do curso. As lágrimas fizeram parte praticamente

de toda a primeira semana de experiência na escola. Pensamentos de desistir surgiram naquele

momento, mas fomos encorajados pela vontade de fazer a diferença na vida daqueles alunos.

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Durante esse período, participamos poucas vezes da formação continuada

oferecida pela SME aos professores efetivos. E uma das razões que não nos motivava a

participar era o número reduzido de colegas e a metodologia utilizada nos encontros, fazendo-

nos optar pelo planejamento na escola.

Após três anos em sala de aula, recebemos o convite do diretor da escola onde

lecionávamos para assumir a coordenação de um programa que acabava de chegar em Natal, o

Programa Mais Educação - PME. Sentimo-nos lisonjeados, pois diante de um quadro com

mais de 40 professores, ser escolhida para estar à frente de um Programa bem mais amplo que

uma sala de aula era uma demonstração enorme de confiança. Porém, o sentimento de receio

tomou conta pela falta de experiência em gestão, além de ser formada em uma área que

limitava os conhecimentos pedagógicos devido à sua especificidade. Mesmo assim, aceitamos

o desafio. Coordenamos por cinco anos o PME que nos trouxe conhecimentos que jamais

seriam encontrados apenas nos livros, além de uma rica experiência que jamais conseguiria

vivenciar se estivéssemos apenas ministrando a disciplina de Educação Física.

Paralelamente a essa coordenação, a convite da chefia do Setor de Educação

Integral da SME/Natal, ministrávamos voluntariamente a formação continuada para todos os

monitores do PME vinculados às escolas municipais da cidade do Natal, especificamente do

Macrocampo Esporte e Lazer, que engloba as práticas corporais.

A partir dessa experiência, no ano de 2014 recebemos o convite para participar da

equipe de Educação Física do Setor de Ações e Projetos (SAPEF) do Departamento de Ensino

Fundamental (DEF) da SME/Natal. Mais uma vez sentimos receio em aceitar, pois, apesar da

experiência trabalhando durante quatro anos com a formação continuada dos monitores,

passaríamos a planejar e realizar uma formação para os colegas de profissão, muitos deles

com bem mais experiência em relação à Educação Física Escolar.

Porém, aceitamos mais esse desafio e hoje fazemos parte da equipe de assessores

pedagógicos de Educação Física do SAPEF/DEF/SME. Consideramos que o receio em

assumir tal função cedeu espaço para a ansiedade. A partir de leituras atualizadas relacionadas

à formação continuada, procuramos ampliar o entendimento sobre o papel que um formador

exerce, passando a compreender que no entendimento de uma formação continuada mais

inovadora, seríamos mediadores desse processo em uma relação de parceria com os

professores que se encontravam em sala de aula.

Acreditamos que a busca incessante pela melhoria da educação, por meio de uma

constante reflexão da prática pedagógica fez parte de todo o percurso, tenha sido na condição

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de professora, de coordenadora ou de assessora pedagógica, na qual nos enquadramos

atualmente.

Além das inquietações pessoais que nos levaram a propor uma investigação que

envolve a qualidade da formação continuada oferecida aos professores de Educação Física

pela SME/Natal, consideramos que o nosso estudo traz contribuições significativas para esse

órgão central, a partir de elementos que apontam para a melhoria do processo formativo do

professor. Nesse sentido, estudos que venham elucidar os caminhos nesse direcionamento são

de suma importância também para os professores que estão nas escolas, pois podem lhes

despertar, o interesse na participação da formação continuada, como protagonistas desse

processo.

O estudo poderá contribuir ainda, trazendo subsídios que possam instigar uma

reflexão por parte de outras secretarias de educação que oferecerem formação continuada aos

seus professores. Além disso, poderá incentivar parcerias com as Instituições de Ensino

Superior, que tem o dever de contribuir para a formação continuada do professor, colocando

em perspectiva a interação entre os saberes científicos e os saberes e experiências produzidos

pelos professores no contexto escolar.

No que diz respeito à relevância científica, justificamos nosso estudo a partir do

estado da arte que nos apontou a necessidade de pesquisas voltadas a essa temática, pois

verificamos que apesar de muitos trabalhos publicados sobre formação continuada, poucos

são voltados para a formação continuada oferecida aos professores de Educação Física, quase

inexistente na região nordeste, o que nos aponta uma necessidade de introduzir essa temática

para elucidar essas questões e que lançam o olhar para as formações oferecidas pelas

Secretarias dos estados e municípios. Assim, o levantamento bibliográfico de estudos

realizados acerca do tema de nossa pesquisa foi relevante e se fez necessário a fim de

compreendermos os trabalhos publicados sobre o mesmo, verificando as lacunas que,

inclusive, serviram como elementos norteadores para nossa pesquisa.

Acreditamos ainda, que nossa pesquisa traz dados empíricos que poderão

referenciar práticas e políticas educacionais voltadas à formação continuada dos professores

que estão em serviço nos municípios e estados do nosso país, contribuindo dessa forma para

uma melhoria na qualidade da educação pública.

Na Seção I, intitulada de Refletindo acerca da Formação Continuada de

Professores no Cenário Nacional, contextualizamos a formação continuada de forma mais

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ampla a partir dos seus aspectos históricos e teóricos, além de apresentar uma discussão sobre

as políticas que legitimam a formação continuada e os modelos que surgem a partir destas.

Na Seção II, definida como A Formação Continuada da Educação Física Escolar

em Discussão, dialogamos sobre a formação continuada voltada para os professores de

Educação Física no contexto nacional por meio de um levantamento de pesquisas que

apontam experiências nesse campo e apresentamos o programa de formação continuada

ofertado pela Secretaria Municipal do Natal aos professores de Educação Física da Rede.

Na Seção III, nomeada Do Planejamento à Avaliação dos Encontros Formativos

– uma análise da formação continuada de professores de Educação Física na SME/Natal,

apresentamos e discutimos o planejamento e a organização dos encontros da formação

continuada oferecida aos professores de Educação Física desta Rede entre o período de 2014-

2016, identificando por meio das avaliações dos encontros de formação continuada as

impressões dos professores sobre os mesmos.

Por fim, nas Considerações finais e Recomendações, retomamos à

contextualização do estudo e apontamos caminhos, tendo como referência os resultados

encontrados na nossa pesquisa, por meio de dados empíricos e teóricos, no sentido de aguçar

discussões sobre o programa de formação continuada oferecida aos professores de Educação

Física da Rede Municipal de Natal.

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SEÇÃO I

REFLETINDO ACERCA DA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES NO

CENÁRIO NACIONAL

Nesta seção abordamos temas que versam sobre formação continuada para

professores, estruturada em dois momentos. Inicialmente trazemos uma breve

contextualização histórica acerca da formação continuada do professor, discutindo sobre a

legislação que regulamenta esta formação no cenário nacional. Em seguida, direcionamos a

discussão sobre modelos e concepções de formação continuada existentes no Brasil.

Podemos afirmar que o ser humano vive em um processo de contínua formação

em diversos aspectos da vida. No entanto, ao nos reportarmos à literatura existente sobre a

temática, percebemos que a utilização do termo formação continuada associa-se, na maioria

das vezes, à formação profissional, mais especificamente à educação, ou seja, aos professores.

A formação continuada de professores vem sendo objeto de análise no âmbito

nacional e internacional de diversos autores (ZEICHNER, 1993; CANDAU, 2003; GATTI,

2008; MIZUKAMI, 2002; NÓVOA, 1995; TARDIF, 2002; PIMENTA, 2002; PERRENOUD,

2001; PORTO, 2000), entre outros.

Apesar da maior parte da literatura encontrada apontar para experiências de

formação continuada que datam a partir da década de 60, Romanowski e Martins (2010)

argumentam que ocorria anteriormente a esse período, alegando que quando o sistema de

ensino foi instituído não existiam professores preparados para exercer a docência. Estes eram

leigos indicados para serem professores e durante o exercício é que iriam adquirir prática

profissional. Assim, a formação continuada assumiu o caráter de suprimento ou compensação.

De acordo com Prada et al. (2010), foi a partir da década de 30, período pós-

Primeira Guerra Mundial, que a formação continuada passou a ganhar ênfase, destacando as

razões ideológicas, políticas e econômicas, quando foi necessário investir na prevenção contra

o nacionalismo observado durante a guerra e também difundir as propostas pedagógicas que

chegavam ao Brasil. Destacamos ainda algumas mudanças importantes que ocorreram nesse

período na educação do nosso país: A criação do Ministério dos Negócios da Educação e

Saúde Pública em 1930; a Constituição de 1934 estabelecendo a necessidade de um Plano

Nacional de Educação, como também a gratuidade e obrigatoriedade do ensino elementar, e

as Reformas Educacionais. Nesse período a Tendência Tradicional predominava na educação

brasileira, o professor assumindo o papel de transmissor de conteúdos, que eram

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conhecimentos repassados como verdade absoluta, ou seja, o professor detinha o saber e a

autoridade, dirigia o processo, e, ainda mais, apresentava-se como um modelo a seguir. Dessa

forma, o autor Fusari (1988) afirma que a Tendência Tradicional influenciou no

“treinamento” dos professores durante décadas, e se objetivava nas propostas a aquisição de

conhecimentos, o desenvolvimento de habilidades específicas e o desenvolvimento de

atitudes, estimulando mudanças de comportamento no professor, objetivando melhor

desempenho em sala de aula. Eram propostas de aulas expositivas, painéis, sínteses de textos

discutidos a partir de folhas-tarefas, baseadas na crença de que a aquisição do conhecimento

por si só levaria à mudança de atitude na prática. Há o estímulo da dicotomia entre teoria e

prática, muitas vezes expressa pelos professores em comentários como “O curso foi bom, mas

na prática a realidade é outra”, “a teoria é muito bonita, mas difícil é fazer”.

A concepção de “treinamento” de formação continuada perdurou durante muito

tempo e até hoje é um termo bastante utilizado em cursos oferecidos para diversas áreas.

Porém, na educação essa concepção vem sendo criticada por atrelar-se a ações mecânicas, de

transmissão de técnicas e modelagem de comportamento, o que não condiz com a formação

de professores que pressupõe atitudes criativas, flexíveis e autônomas. A respeito dessa

concepção de formação, corroboramos com o pensamento de Marin (1995, p.15), a saber:

Penso que, em se tratando de profissionais de educação, há inadequação em

tratarmos os processos de educação continuada como treinamento quando

desencadearem apenas ações com finalidades meramente mecânicas. Tais

inadequações são tanto maiores quanto mais as ações forem distantes

das manifestações inteligentes , pois não estamos, de modo geral, meramente

modelando comportamentos ou esperando reações padronizadas; estamos educando

pessoas que exercem funções pautadas pelo uso da inteligência e nunca apenas pelo

uso de seus olhos, seus passos ou gestos.

No entanto, não podemos negar que treinamento é uma modalidade de formação,

principalmente quando nos referimos à ênfase em técnicas específicas, utilização de

ferramentas, estratégias de ensino. Porém, não se pode resumir a formação aos procedimentos

instrumentais, assim como reduzir a formação a uma “receita de bolo” sem que haja uma

reflexão sobre essas técnicas.

Segundo Romanowski e Martins (2010), a formação continuada sempre

acompanhou as tendências da prática pedagógica como escolanovismo, tecnicismo,

perspectiva crítica, teoria reprodutivista e, por fim, uma perspectiva de análise que tem como

foco o cotidiano escolar. Elaboramos um quadro no qual apresentamos uma síntese sobre a

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relação entre essas tendências e concepções de formação continuada a partir das ideias dessas

autoras.

Quadro 1 - Relação entre o período e a perspectiva de formação continuada de p rofessores

Período Tendência Pedagógica Perspectiva de formação continuada de

professores

Até a década de 60

Escolanovismo Experimento das propostas indicadas nos estudos

teóricos e, de acordo com essa perspectiva, com

base nelas, os professores mudariam suas práticas.

Final da década de 60 Tecnicis mo

Complementação profissional. Os cursos de curta

duração e palestras oferecidos aos professores têm

como ênfase a organização do planejamento de

ensino, materiais instrucionais e avaliação.

Restringe-se à aplicação na prática dos modelos

preconizados, visando à organização do ensino

eficiente e eficaz.

Final da década de 70 Teoria crít ica

Ainda que as concepções críticas constituam a

tendência da prát ica pedagógica, a formação

continuada tinha um caráter de aperfeiçoamento,

atualização, capacitação e educação permanente,

tendo como enfoque os conteúdos de ensino na

perspectiva crítica. Permanece o modelo de

cursos de curta duração, palestras e seminários.

Ênfase na transmissão de conhecimentos aos

professores.

Década de 80 Perspectiva de análise das

estruturas educacionais

A ênfase dos cursos se direciona para a

organização pedagógica e os currículos escolares .

A formação continuada passa a ser considerada na

carreira docente. O tempo de serviço é

considerado insuficiente para a progressão

profissional. A avaliação do desempenho

profissional é sistemát ica, por meio de uma

avaliação de desempenho definida e reg istrada em

documentos escritos, iniciando o controle do

trabalho docente.

Década de 90 Foco no cotidiano escolar

Na formação continuada o professor é sujeito de

sua própria prática, e são consideradas as

necessidades dos professores e os problemas do

seu dia a dia. Deve favorecer processos coletivos

de reflexão e interação.

Contemporaneidade Neotecnicis mo A Formação continuada apresenta uma

diversidade de formas e conteúdos, desde cursos

de autoajuda, qualidade de vida, relação afetiva

com os alunos, como usar as novas tecnologias no

ensino, à análise da prát ica pedagógica. Mais uma

nova forma de regulação profissional do que

rumo à promoção da profissionalização docente.

Fonte: Elaborado pela autora com base nos estudos de Romanowski e Martins (2010)

O quadro apresenta uma visão geral de como as tendências pedagógicas

influenciaram nas concepções de formação continuada para os professores.

Transitando pela década de 40, percebemos que iniciativas como criação de

órgãos e programas presenciais e a distância são lançados a fim de impulsionar a formação

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continuada. De acordo com Romanowski e Martins (2010), um desses programas foi o

Programa de Assistência Brasileiro-Americana ao Ensino Elementar –PABAEE,que consistia

em assessorar a educação no Brasil. Os professores líderes de Escolas Normais Oficiais

tinham acesso a introdução de novas metodologias e técnicas de ensino, assim como aos

materiais didático-pedagógicos e passavam a ser multiplicadores dos demais professores das

inovações necessárias a serem introduzidas na prática pedagógica.

Ressaltamos que esse período foi marcado pelo movimento Escolanovista,

considerado um momento de renovação no âmbito educacional que influenciou diretamente

na formação do professor, que passou a ser um facilitador da aprendizagem no processo de

ensino-aprendizagem e deveria despertar o interesse do aluno e estimular a curiosidade. Nesse

sentido, os objetivos das formações

[...] seriam atingidos, na medida em que os educadores vivenciassem as "novidades"

apresentadas nos treinamentos. A vivência, o fazer, a troca de experiências foram

amplamente valorizados. Aqui, diferente da tendência tradicional, a mudança de

comportamento do educador ocorreria muito mais através das experiências v ividas

nos cursos em geral do que nos domínios dos conteúdos propriamente ditos. Era

necessário introduzir "inovações" e "modernizar" a prática docente (FUSARI,

1988, p.18).

No entanto, existe uma preocupação do autor em relação a essa concepção de

formação, a qual, ele afirma, não considera a atividade docente do professor em sua totalidade

e reforça sua preocupação ao alertar que “a escola tradicional, na medida em que se

compromete com a transmissão de conteúdo, mesmo de forma autoritária, revela-se mais

democrática, de fato, do que a proclamada liberdade da „escola nova‟, com mais atividades e

menos conteúdo” (p.19). Para Altenfelder (2005), a formação gerava mudanças no discurso

dos professores, mas não havia subsídios e instrumentos para desenvolver a prática, o que

acabava gerando uma postura “espontaneísta” ou uma prática baseada no ensino tradicional.

Na década de 50, o mundo inteiro passava por transformações pós-guerra e o

Brasil sofreu influência dessas transformações, que exigia uma reestruturação da política

econômica. Com vistas a construção de um projeto desenvolvimentista. De acordo com

Oliveira (2008, p.26), o campo educacional nesse período foi marcado pela influência da

Teoria do Capital Humano, que “surgiu da preocupação em explicar os ganhos de

produtividade gerados pelo “fator humano” na produção”. A educação era tida como um

meio de qualificar o trabalho humano, a fim de ampliar a produtividade econômica, e esse foi

um fator que provocou “a necessidade de se estabelecer uma vinculação estreita entre trabalho

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e escolaridade” (IDEM, p.27) que apontou novas direções em relação à formação dos

professores.

Dessa forma, a década de 60 foi marcada pela produtividade oriunda do ingresso

do Brasil no forte ciclo de industrialização, a necessidade urgente de mão de obra, o que

acarretou em uma grande reforma educacional promovida pelo governo militar, trazendo

mudanças que influenciaram mais uma vez na formação do professor, que passou a adotar

uma proposta tecnicista. A escola deveria formar indivíduos capazes de se engajar rápido e

eficientemente no mercado de trabalho de forma produtiva, racional e organizada. O professor

passaria a exercer o papel de administrar as condições de transmissão de conteúdos, cabendo

ao aluno ser um mero expectador passivo e executando sem questionamentos.

Em busca por atender essas demandas, a década de 70 se inicia com a

promulgação da Lei nº 5.692 em 11 de agosto de 1971, trazendo em seu Artigo 80 a obrigação

para os sistemas de ensino desenvolver programas especiais de recuperação para os

professores sem a formação, a fim de que pudessem atingir gradualmente a qualificação

exigida no próprio documento descrita no artigo 29:

A formação de p rofessores e especialistas para o ensino de 1º e 2º g raus será feita

em níveis que se elevem progressivamente, ajustando-se às diferenças culturais de

cada região do País, e com orientação que atenda aos objetivos específicos de cada

grau, às características das disciplinas, áreas de estudo ou atividades e às fases de

desenvolvimento dos educandos (BRASIL, 1971).

Entendemos que ao falar em desenvolvimento de programas de formação, mesmo

não surgindo nenhum termo especifico referente à formação continuada, fica implícito na

redação deste artigo que se refere a uma formação após a formação inicial. Além disso,

percebemos que se trata de uma concepção de formação de suprimento devido a uma provável

formação inicial precária desses professores.

A partir desse documento, entre os anos de 1972 e 1974, foi elaborado o Plano

Setorial de Educação e Cultura, que teve como pano de fundo um discurso de “respeitar e

desenvolver uma educação humana voltada para o trabalho”, tendo em vista o crescimento

econômico do país. Buscavam nas escolas de treinamento militar as técnicas e ideias

relacionadas ao plano econômico nacional. Sobre esse período, Silva e Frade (1997, p.33)

apontam que a formação continuada foi pautada na “valorização de princípios de

racionalidade técnica, da hierarquização de funções, da burocratização da escola”.

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Ainda sobre a década de 70, Imbernón (2017) reconhece e valoriza o esforço de

um pequeno grupo, que sob a influência de alguns autores7, realizaram cursos, seminários,

oficinas quase que de forma clandestina, seguindo a filosofia educativa destes, além de ações

realizadas por algum grupo ou instituição. Porém, esses foram “[...] fatos esporádicos,

renovadores ou conservadores, que não tiveram uma repercussão institucional na profissão,

embora tivessem, sim, um impacto importante” (IMBERNÓN, 2017, s/p), afinal foram essas

ações que impulsionaram a visão da necessidade da formação continuada. O autor ainda

revela que

Foi um tempo em que a formação continuada viveu o predomín io de um modelo

individual de formação: cada um buscava para si a vida formativa, ou seja, primava-

se pela formação in icial, que era melhor ou pior segundo a época e o território, e

aplicava-se à fo rmação continuada a ideia "forme-se onde puder e como puder

(IDEM, 2017, s/p).

De acordo com Fusari (1988), nesse período a noção de "capacitação de recursos

humanos" foi se tornando comum na educação e começou a ser valorizada pelo próprio

Ministério da Educação e Cultura – MEC. Dessa forma, segundo Romanowski e Martins

(2010, p. 289-290),

A formação continuada passa a constituir-se complementação profissional como

reciclagem e treinamento, sob a forma de cursos de curta duração e palestras. A

ênfase dos conteúdos desses cursos é a organização do planejamento do ensino, dos

materiais instrucionais e da avaliação. Os professores são treinados para elaborar

objetivos instrucionais que permitam controlar a aprendizagem dos alunos e

organizar mapas com percentuais de comportamentos atingidos, bem como elaborar

questões de testes de itens tecnicamente corretos. [...] a formação continuada

restringe-se à aplicação na prática dos modelos preconizados, visando à organização

do ensino eficiente e eficaz.

Até esse momento da história, “treinamento” é o termo que melhor definiu a

formação a qual os professores participavam, permeada pelo saber técnico, reflexo do

capitalismo. Reflexo de uma sociedade submissa, a educação sendo imposta pela classe

dominante como forma de manter seus interesses. Essa forma de se pensar a formação

continuada para o professor perdurou até o final da década de 70, quando a perspectiva crítica

ganha ênfase como tendência pedagógica e o cenário educacional configurado a partir das

reformas educacionais instituídas pela ditadura militar, passou a ser questionado, assim como

a formação de professores que se resumia ao treinamento, na qual eram aplicados

conhecimentos científicos e pedagógicos como unidades separadas do processo de ensino.

7 Para maior aprofundamento desses autores, recorrer aos estudos Imbernón(2010).

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O início dos anos 80 foi marcado pelo descontentamento em relação à educação,

principalmente em relação a essa concepção de formação do professor das décadas anteriores.

Segundo Candau (1982), vivia-se um momento de crise em relação à formação de educadores.

Essa insatisfação acabou por desencadear um movimento de rejeição à visão de educação e de

formação de professores predominantes naquela época. Essas críticas foram intensificadas a

partir de um novo cenário político marcado pelo surgimento de movimentos e organizações

que por meio da educação formal e não formal, procuravam conscientizar os indivíduos da

sua condição como sujeitos de direitos e de deveres, inaugurando um “período preliminar de

rupturas ao ideário tecnicista” (MICHALTCHUK; DE ALMEIDA, 2010, p.10).

Segundo Candau (1982), nessa época, as discussões apontavam sobre as relações

entre competência técnica e o compromisso político do docente, diferentemente da forma

neutra que o processo formativo incorporava em relação aos aspectos político-sociais na

década anterior.

Dessa forma, buscava-se a ruptura do pensamento tecnicista e o que se

vislumbrava era a formação de um profissional de visão ampla, com domínio e compreensão

da realidade, que percebesse no âmbito escolar a possibilidade de transformação social por

meio de uma prática crítica e reflexiva. Sobre esse período, Pedroso apud Alferes &

Mainardes (2011, p.2) afirma que houve uma participação mais efetiva dos professores nas

questões da educação e que “com isso, as análises realizadas acerca da formação continuada

não se restringiam apenas às questões técnicas, mas passaram a abordar o contexto sócio

histórico onde a formação do professor estava inserida”.

Nesse contexto, houve um aumento significativo nas propostas de formação que,

segundo Morais (2009, p.22),

[...] surgiu como consequência de um trip lo processo que passou a delinear -se com a

democratização po lít ica brasileira: a luta dos profissionais da educação, organizados

em associações e sindicatos, por melhores condições de trabalho, as exigências

impostas pelas reformas do ensino que, gradativamente, apresentavam este aspecto

como relevante para a qualidade da educação e a precarização dos cursos de

formação inicial. Assim, como o foco passa ser a atuação docente, e como os cursos

de formação in icial não dão conta de suprir as demandas educativas, aparece o

discurso da formação continuada como responsável por resolver os problemas

educacionais.

Diniz-Pereira (2013, p.147) acredita que essa necessidade de se opor ao modelo

antigo de formação do professor, “precipitou o surgimento de análises até certo ponto

ingênuas, fortemente influenciadas pelo viés ideológico. O discurso enviesado e a tão

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almejada “práxis” não foram capazes de transformar a condição do professorado no país, na

chamada “década perdida8”.

Apesar desse contexto, foi uma década de muita reflexão no âmbito educacional,

desencadeada pela atuação mais vigorosa da representatividade dos professores e que,

segundo Michaltchuk & Almeida (2010, p.6), “desempenhou papel decisivo ao

redimensionamento das práticas pedagógicas, através da realização de congressos, seminários,

reformas curriculares, publicação de coletâneas e obras que contemplavam as novas

proposições educativas”.

Porém, todo esse investimento intelectual esbarrou na falta de investimentos

governamentais que marcou esse período. Mesmo sendo considerada importante para o

desenvolvimento do país, no Brasil – assim como em todos os países latino-americanos – a

mudança no contexto escolar se limitou a ampliação dos anos de escolaridade obrigatória.

Essa mudança levou a uma necessidade urgente do aumento de número de professores. Essa

situação para Eckert-Hoff apud Michaltchuk (2010, p.8 e 9),

[...] trouxe para o ensino uma massa de indiv íduos sem as necessárias habilitações

acadêmicas e pedagógicas, o que gerou desequilíbrios estruturais graves e suscitou a

criação de programas de profissionalização e formação em serviço. É característico,

desse período, o surgimento dos cursos de treinamento, os quais tinham como

pretensão habilitar o professor, formando em técnicas e estratégias para “transmitir”

– da forma mais eficiente possível – os saberes socialmente valorizados. Esses

programas, embora tendo contribuído para o processo de formação do professor,

referendaram o papel do Estado no controle da profissão docente e evidenciaram a

degradação da profissão de professor.

Enquanto se defendia um profissional reflexivo, o que chegavam às escolas eram

pessoas que, além de não ter uma formação necessária que pudesse contribuir para momentos

críticos e reflexivos juntamente com os alunos, eram controladas pelo Estado sob resquícios

das tendências reprodutivistas da década anterior, como sugere Romanowski e Martins

(2010).

Esse controle era mantido por meio de cursos rápidos e descontextualizados que

não permitiam a formação de um profissional reflexivo. Nesse período, um termo muito

utilizado para definir esses cursos foi “reciclagem”. Porém, esse termo vem sendo criticado

por diversos autores, entre eles Patto (1995, apud ANDALÓ, p.12) que afirma: “(...) reciclar,

reciclagem designam, na Física, um conjunto de transformações que levam um sistema a um

estado final igual ao inicial;”, ou seja, associar um termo que remete a um processo de volta

8A década de 80 fo i assim conhecida pela estagnação do ponto de vista econômico, do crescimento e do

desenvolvimento.

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ao estado inicial, como ocorre com o lixo, por exemplo, acaba sendo incoerente quando

pensamos na formação como processo de mudança. Nóvoa (1997) também critica a utilização

desse termo na área educacional, considerando que a vulgarização deste é de grande pobreza

conceitual.

Nos anos 90, o discurso por uma formação crítico-reflexiva, que nos últimos anos

foi pensada de forma coletiva por intelectuais, pesquisadores e professores que insatisfeitos,

questionavam o modelo convencional de formação, mas que nunca encontraram solo fértil no

Brasil, começava a aparecer no discurso das reformas educacionais que marcaram essa época,

reformas estas que acompanhavam um quadro de reformulações política e econômica.

Mesmo não sendo nosso interesse o aprofundamento em relação a essas reformas

políticas e econômicas, faz-se necessário ressaltar que o Brasil saía de uma década estagnada

política e economicamente e apresentava a intervenção do Estado como responsável pela crise

instalada no sistema capitalista, justificando dessa forma a necessidade de reformas baseadas

no sistema capitalista neoliberal como a solução para o crescimento econômico, em que o país

retomasse o caminho do crescimento, do aumento da riqueza, do desenvolvimento. Nesse

sentido, citamos Floriani (2008, p.63)

O importante para nossa discussão sobre a reforma educacional no Brasil na década

de 1990 é ressaltar que o neoliberalis mo econômico, ao acentuar a supremacia do

mercado propondo a "reforma" dos serviços públicos e providenciando reformas que

façam funcionar os agentes públicos "como se" estivessem no mercado, modela o

espaço público pelos padrões do privado. Dito isto, falar de uma formação humana

para a emancipação, independentemente de qualquer função utilitária imediata, é

falar de um t ipo de formação que não consegue espaço dentro deste modelo onde os

critérios são: o rendimento, a produtividade e a eficácia.

Mais uma vez os investimentos intelectuais voltados para novas tendências da

formação de professores esbarravam nos interesses políticos, que nesse momento eram

voltados para atender as demandas da política neoliberal, que atribuía à escola a função de

preparar a sociedade para o mundo globalizado, exigindo uma nova postura do professor.

Segundo Silva e Frade apud Ventura (2015, p.196),

As novas tecnologias, globalização cultural e a reestruturação das relações

internacionais, passaram a exig ir dos professores novos conhecimentos, habilidades

e métodos que respondessem efet ivamente às necessidades da época. Nesse período,

os movimentos de professores tem grande papel, e passam a exigir sobretudo que

tanto a formação continuada quanto a formação inicial do docente fossem feitas

pelas Universidades.

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Nesse sentido, com o mesmo intuito – melhorar a qualidade da educação – porém

motivado por razões diferentes, o Brasil buscou avançar no que se refere ao investimento em

políticas públicas educacionais. Se de um lado os professores lutavam por uma formação para

avançar no que se refere ao reconhecimento e valorização da profissão, do outro, o governo

encontrava na falta de qualificação dos mesmos o motivo pelo qual não se alcançava um

ensino de qualidade no país e pertencia ao grupo de países com a maior taxa de analfabetismo.

Atestando as melhorias no campo da educação, a reforma educacional ocorrida na

década de 90 acompanhava as políticas públicas em nível mundial que foram marcadas por

uma série de eventos. O primeiro desses, que inaugurou um grande projeto de educação, foi a

“Conferência Mundial sobre Educação para Todos” realizada em Jomtien, Tailândia, em

março de 1990, da qual participaram 155 países que assinaram uma Declaração Mundial e um

Marco de Ação. Essa Conferência foi financiada pelas agências UNESCO (Organização das

Nações Unidas para a Educação, a C iência e a Cultura), UNICEF (O Fundo das Nações

Unidas para a Infância), PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e

Banco Mundial. Segundo Fernandes Dourado (2015) essas Agências da Organização das

Nações Unidas (ONU) tornaram-se os principais interlocutores da agenda internacional,

passando a ditar as regras de reestruturação econômica e da globalização no Brasil e na

América Latina, enfatizando um contexto de mercantilização e privatização da educação que

interferiam diretamente na formação dos professores.

A Declaração Mundial sobre a Educação para Todos assinada pelos países

participantes trouxe um Plano de Ação para Satisfazer as Necessidades Básicas de

Aprendizagem contendo objetivos e metas que partem da combinação de experiência

acumulada de reformas, inovações, pesquisas, e, com o notável progresso em educação

registrado em muitos países, faz com que pela primeira vez na história se estabeleça uma meta

viável. Nesse documento, a formação dos professores aparece como uma estratégia inserida

no item que define políticas para a melhoria da Educação Básica (UNICEF, 1990, p.11).

21- As estratégias específicas, orientadas concretamente para melhorar as condições

de escolaridade, podem ter como foco: os educandos e seu processo de

aprendizagem; o pessoal (educadores, administradores e outros); o currículo e a

avaliação da aprendizagem; materiais didáticos e instalações. Estas estratégias

devem ser ap licadas de maneira integrada; sua elaboração, gestão e avaliação devem

levar em conta a aquisição de conhecimentos e capacidades para resolver problemas,

assim como as dimensões sociais, culturais e éticas do desenvolvimento humano. A

formação dos educadores deve estar em consonância aos resultados pretendidos,

permit indo que eles se beneficiem simultaneamente dos programas de capacitação

em serviço e outros incentivos relacionados à obtenção desses resultados.

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Nesse contexto, o paradoxo é visível. Demonstra-se uma preocupação com o

homem em suas diversas dimensões, mas se apresenta uma formação continuada para o

educador reduzida ao conceito de “capacitação em serviço”, em uma concepção atrelada a

uma lógica de obtenção de resultados. Ainda no decorrer do documento, no item que trata de

estruturar alianças e mobilizar recursos, percebemos a tentativa de valorização do professor

no intuito de que o retorno seja refletido na melhoria do seu desempenho profissional.

33. O proeminente papel do professor e demais profissionais da educação no

provimento de educação básica de qualidade deverá ser reconhecido e desenvolvido,

de forma a otimizar sua contribuição. Isso irá implicar a adoção de medidas para

garantir o respeito aos seus direitos sindicais e liberdades profissionais, e melhorar

suas condições e status de trabalho, principalmente em relação à sua contratação,

formação in icial, capacitação em serviço, remuneração e possibilidades de

desenvolvimento na carreira docente, bem como para permitir ao pessoal docente a

plena satisfação de suas aspirações e o cumprimento satisfatório de suas obrigações

sociais e responsabilidades éticas (IDEM, p.14)

É a partir desse documento que o Plano Decenal de Educação para Todos (1993-

2003) é lançado. Chamamos atenção para o texto de abertura na qual é sugerido que o

documento seja discutido a partir de um Roteiro para o Trabalho da Escola, e que todos os

envolvidos na comunidade escolar devem participar e elaborar um relatório, em que um dos

temas sugeridos para a discussão sendo os professores e profissionais do ensino, que apontam

para os seguintes questionamentos.

Tais profissionais são valorizados? Receberam uma formação adequada? Têm

oportunidades de atualização e aperfeiçoamento'? Trabalham em prol da

produtividade do ensino? Exercem seus direitos e cumprem seus deveres? Que

padrões de remuneração, de estímulos e incentivos funcionais poderiam melhorar as

condições profissionais e de vida dos educadores? A partir da situação existente,

planeje o que a escola pode realizar com a ajuda da comunidade e com a

colaboração do Município e do Estado, para a real valorização dos profissionais do

Ensino (MEC, 1993, p 06).

Percebemos que por várias vezes, o documento traz a formação inicial e

continuada do professor como um dos principais motivos de precariedade da educação. Por

exemplo, em relação à Efetividade e relevância do ensino, as insuficientes condições de

formação inicial e contínua é apontada como um dos principais motivos pelos quais as escolas

geralmente operam com pouca ou nenhuma definição de seus objetivos de aprendizagem e

com precários métodos de construção curricular. Por ser apontada como a mazela da

educação, a formação inicial e continuada receberam uma atenção especial nesse Plano,

surgindo em diversas partes do documento, tornando parte da agenda de compromissos do

mesmo, que define em seu item 5 – “Valorizar social e profissionalmente o magistério, por

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meio de programas de formação permanente, plano de carreira, remuneração e outros

benefícios que estimulem a melhoria do trabalho docente e da gestão escolar” (BRASIL,

1993, p.88).

Percebemos que no decorrer de todo o texto surgem os termos “formação

contínua”, “formação continuada”, “capacitação dos profissionais em exercício”, “capacitação

docente” e por último, conforme supracitado, “formação permanente”, levando-nos à

compreensão de que essa diversidade de termos empregados, embora gere uma confusão

terminológica que não denota somente uma questão semântica, traduz claramente as

perspectivas adotadas por uma política pública que priorizou responder aos compromissos

firmados na Conferência Mundial, sustentados em uma concepção de formação e em um

perfil de professor de caráter técnico- instrumental, ainda orientada por uma perspectiva

compensatória, em que o professor precisa se tornar capaz de desempenhar bem as funções

próprias do docente.

Essa perspectiva de capacitação é até aceitável, visto que já está mais do que claro

que apenas a formação inicial não é suficiente, seja em qualquer profissão. No entanto,

quando recorremos ao dicionário, capacitar pode ser sinônimo de convencer, persuadir. E

sobre esse significado de capacitação, corroboramos com Marin (1995, p.17), quando afirma

que “os profissionais da educação não podem, e não devem ser convencidos de ideias; eles

devem conhecê- las, analisá- las, criticá- las, até mesmo aceitá- las, mas mediante o uso da

razão”.

Os estudos de Hypolitto (2000) apontam crítica a esse modelo, pois a autora

acredita que os professores não devem ser persuadidos a mudar conceitos e nem convencidos

de ideias, como se fizessem uma “lavagem cerebral”e ficassem doutrinados, para aceitar

ideias sem nenhuma crítica e/ou questionamento sobre o assunto.

Do contexto ao qual estamos nos referindo, a preocupação com a eficácia e a

eficiência na educação com objetivos implícitos e explícitos no aumento da produtividade do

trabalho humano trazidas pela onda neoliberalizante, tornou-se um terreno fértil para a

formação correspondente à ideologia e à concepção tecnicista de educação, denominada até

então de capacitação, treinamento, reciclagem e aperfeiçoamento, entre outras. Segundo Prada

et al. (2010, p.375),

Essas denominações correspondem mais a uma concepção de manipulação, de

implementação de cursos curtos e rápidos, de palestras e encontros esporádicos que

permitem a implantação de “pacotes” propiciadores de um maior grau de instrução

ou aptidão para seguir modelos predefinidos externamente que remendam,

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completam algo que supostamente falta e, por sua vez, corrigem defeitos visíveis na

educação. Estas concepções têm implícita, de um lado, a desconsideração dos

saberes dos educadores e, de outro, o entendimento de que o faltante são os

conhecimentos “científicos” que devem ser adqu iridos de seus possuidores para tirar

os professores de sua incapacidade. [...] Nesse entendimento, os professores são

considerados apenas consumidores de conhecimentos ou executores de tarefas e não

autores dentro do processo educativo, nem gestores da sua própria aprendizagem.

Podemos afirmar que essa forma de pensar a formação remete à ideia de

hierarquia de conhecimentos, em que o formador considerado com mais capacidade transmite

conteúdos, métodos ou técnicas com o objetivo de capacitar o professor q ue assume uma

postura passiva na condição de menos capacitado. Dessa forma, a formação continuada

assume uma perspectiva minimalista que para Torres (2001, p. 42-43) orienta-se

[...] como parte do pacote de reforma educativa financiado com empréstimos

internacionais generalizou-se nos países em desenvolvimento um esquema que

privilegia os programas dirig idos aos docentes em serviço, reduz o tempo e os níveis

de exigência da formação/capacitação docente e, em geral, encara a aprendizagem

docente mais em termos de t reinamento (manejo de um repertório de métodos e

técnicas, uso de manuais e textos, instrumentalização das orientações da reforma

educativa em curso, etc.) do que de formação ampla, integral e permanente.

O objetivo é oferecer formação que favoreça um retorno rápido atendendo à

ampla mercantilização da educação. Fica claro que essa intenção é regida pelo Banco Mundial

que tem como prioridade fortalecer os sistemas de educação para alcançar resultados e utilizar

essas ações como estratégias voltadas para a estabilidade do sistema econômico e na

rentabilidade dos sistemas de ensino.

Na busca de atender esse objetivo, houve um forte incremento nas políticas de

formação continuada, resultando na formulação de novas propostas e programas e na

ampliação dos investimentos públicos. Portanto, nesse período o Ministério da Educação e

Cultura (MEC) passou a implementar novos programas de formação continuada para os

professores a partir da elaboração e implementação de um conjunto de dispositivos legais, que

passaram a regulamentar essa formação, tendo como objetivo promover o desenvolvimento da

formação continuada nos âmbitos federal, estadual e municipal.

Dentre esses dispositivos legais implementados estão a discussão e a promulgação

da Lei de Diretrizes e Bases – LDB 9394/96, um dos primeiros documentos a legitimar a

formação continuada. No título VI – Dos Profissionais da Educação, art. 63, está definida a

necessidade de programas de formação continuada para os profissionais de educação nos

diversos níveis. Dessa forma, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino

Fundamental– FUNDEF é instituído e essa própria Lei em seu art.60 regulamenta que 60% dos

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recursos do Fundo sejam destinados à remuneração do magistério, sendo que a parcela restante

(de até 40%) deverá será aplicada em ações variadas, de manutenção e desenvolvimento do ensino

fundamental público, dentre as quais a formação (inicial e continuada) dos professores e a

capacitação de pessoal técnico-administrativo.

Segundo Martelli & Manchope (2004, p. 8), a LDB “integra o conjunto das

reformas econômicas, sociais e políticas do modelo neoliberal que, hegemonicamente se

implanta no Brasil desde a década de 80”, confirmando o caráter neoliberal que circundava o

país. O que justifica o fato do documento apresentar princípios e diretrizes comuns

relacionadas ainda a uma formação compensatória, da mesma forma que o Plano Decenal de

Educação para Todos (1993), em que a formação continuada era considerada como

capacitação em serviço, como aperfeiçoamento profissional continuado e como treinamento

em serviço, a pretensão sendo a de trazer a melhoria da qualidade do ensino como decorrência

de um intenso processo de qualificação docente por meio de uma formação de caráter técnico-

instrumental.

Dessa forma, a educação de qualidade, em perspectiva crítica e emancipatória,

com vistas a formar professores, e, consequentemente, alunos como sujeitos investidos de

criticidade e autonomia, fica comprometida.

No ano seguinte a publicação da LDB (1996), a Resolução do Conselho Nacional

de Educação nº 3, sancionada em 8 de outubro de 1997, que Fixa Diretrizes para os Novos

Planos de Carreira e de Remuneração para o Magistério dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios pouco acrescenta no que se refere à formação continuada. Em seu artigo Art. 5º

resolve que

Os sistemas de ensino, no cumprimento do disposto nos artigos 67 e 87 da Lei

9.394/96, envidarão esforços para implementar programas de desenvolvimento

profissional dos docentes em exercício, incluída a formação em n ível superior, em

instituições credenciadas, bem como em programas de aperfeiçoamento em serviço.

Parágrafo único - A implementação dos programas de que trata o caput tomará em

consideração: I - a prioridade em áreas curricu lares carentes de professores; II - a

situação funcional dos professores, de modo a priorizar os que terão mais tempo de

exercício a ser cumprido no sistema; III - a ut ilização de metodologias

diversificadas, inclu indo as que empregam recursos da educação a distância

(BRASIL, 1996).

Como nos dispusemos a trazer um apanhado legal no que concerne à formação

continuada, é preciso citar a referida resolução. Mesmo não apresentando nenhuma

contribuição relacionada a avanços, ela enfatiza os programas de aperfeiçoamento em serviço

para os professores e implicitamente reafirma a concepção de formação compensatória.

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Até esse momento, a legislação caminha na contramão dos pensamentos trazidos

pelos estudiosos de educação em uma época em que se pensava na “Epistemologia da prática

reflexiva” ou a corrente do “professor reflexivo” como perspectiva teórico-metodológica para

a formação de professores, a partir de um movimento mundial de reformas educacionais,

corroborando com ideias dos estudiosos como Schön (1983, 1987) e Zeichner (1993) nos

Estados Unidos, Gómez (1992) e Marcelo García (1992) na Espanha, Nóvoa (1992) e Alarcão

(1996) em Portugal, que discutiam sobre essa perspectiva de formação inicial e continuada de

professores.

No Brasil, foi difundido o livro “Os professores e sua formação”, organizado por

Antônio Nóvoa (1997), que apresenta uma coletânea de vários autores, tais como Donald

Schön, Carlos Marcelo Garcia, Thomas S. Popekewitz, Angel Perez Gomes, influenciando

significativamente a produção teórica da época. Além deles, autores como Gimeno Sacristán,

Maurice Tardif, Philipp Perrenoud, Bernard Charlot também apontavam discussões acerca das

práticas formativas, trazendo novos horizontes apoiados em uma perspectiva reflexiva de

formação.

É importante ressaltar que o pensamento de professor reflexivo, apesar de surgir

somente associado à formação continuada recentemente, já emerge desde a década de 30,

tendo como precursor o filósofo educacional americano John Dewey. Segundo Alarcão

(2015), esse conceito emergiu como forma de reação à concepção tecnocrática do professor

mero aplicador de pacotes curriculares pré-enlatados em uma perspectiva oriunda de uma

racionalidade técnica. Nessa mesma perspectiva, Pimenta (2003) complementa afirmando que

para pensar em um conceito de professor reflexivo que se opõe à racionalidade técnica, há de

vê- lo como um intelectual em processo contínuo de formação.

O conceito de reflexão apenas se tornou um expoente na formação continuada dos

professores nas últimas décadas e tem sido divulgado, entre outros autores, por Schön (1992),

Nóvoa (1992), Marcelo Garcia (1992), Pérez-Gómez (1992), Zeichner (1993) e seus

seguidores. A utilização do termo “professor reflexivo” impulsionou diferentes propostas de

formação continuada em nosso país. Segundo Pimenta (1997), acredita-se na ideia de que a

reflexão docente sobre o que este faz, diz e pensa, poderia ser resolvida com alguns

programas de formação, valorizando a experiência e o conhecimento do professor.

Dessa forma, a autora acredita que

A formação de professores na tendência reflexiva se configura como uma polít ica de

valorização do desenvolvimento pessoal-profissional dos professores das

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instituições escolares, uma vez que supõe condições de trabalho propiciadoras da

formação como continua dos professores, no local de trabalho, em redes de

autoformação, e em parceria com outras instituições de formação. Isto porque

trabalhar o conhecimento na dinâmica da sociedade multimídia, da globalização, da

multiculturalidade, das transformações nos mercados produtivos, na formação dos

alunos, crianças e jovens, também eles, em constante processo de transformação

cultural, de valores, de interesses e necessidades, requer permanente formação,

entendida como ressignificação identitária dos professores (IDEM, p.13).

Nessa perspectiva, o Plano Nacional de Educação – PNE, implementado por meio

da Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001, inaugura nos documentos oficiais uma visão de

formação continuada que dará os primeiros passos para uma formação pautada na valorização

desse desenvolvimento pessoal-profissional dos professores, o que se verifica nas diretrizes

relacionadas à Formação dos Professores e Valorização do Magistério, na meta 10.2.

A valorização do magistério implica, pelo menos, os seguintes requisitos:

- uma formação profissional que assegure o desenvolvimento da pessoa do educador

enquanto cidadão e profissional, o domínio dos conhecimentos objeto de trabalho

com os alunos e dos métodos pedagógicos que promovam a aprendizagem;

- um sistema de educação continuada que permita ao professor um crescimento

constante de seu domínio sobre a cultura let rada, dentro de uma v isão crít ica e da

perspectiva de um novo humanis mo;

- jornada de trabalho organizada de acordo com a jo rnada dos alunos, concentrada

num único estabelecimento de ensino e que inclua o tempo necessário para as

atividades complementares ao trabalho em sala de aula;

- salário condigno, competitivo, no mercado de trabalho, com outras ocupações que

requerem nível equivalente de formação;

- compromisso social e polít ico do magistério (BRASIL, 2001, p. 149).

Percebemos que o documento traz um novo olhar para o professor quando trata de

assegurar o desenvolvimento do professor não somente como profissional, mas como cidadão.

Destacamos também o avanço no que se refere à formação continuada quando a concebe

como espaço de crescimento do professor por meio da construção de uma visão crítica. Por

fim, busca assegurar condições de valorização profissional que são primordiais para uma boa

formação.

O PNE (2001) aponta ainda os princípios sobre os quais a formação continuada

deverá se respaldar, enfatizando ainda que a mesma deve ser assegurada pelas secretarias

estaduais e municipais de educação, cuja atuação incluirá a coordenação, o financiamento e a

manutenção dos programas permanentes e a busca de parcerias com universidades e outras

instituições de ensino. Quais sejam:

a) sólida formação teórica nos conteúdos específicos a serem ensinados na Educação

Básica, bem como nos conteúdos especificamente pedagógicos;

b) ampla formação cultural;

c) atividade docente como foco formativo;

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d) contato com a realidade escolar desde o início até o final do curso, integrando a

teoria à prática pedagógica;

e) pesquisa como princípio format ivo;

f) domínio das novas tecnologias de comunicação e da informação e capacidade para

integrá-las à prática do magistério;

g) análise dos temas atuais da sociedade, da cultura e da economia;

h) inclusão das questões relativas à educação dos alunos com necessidades especiais

e das questões de gênero e de etnia nos programas de formação;

i) t rabalho coletivo interdisciplinar;

j) v ivência, durante o curso, de formas de gestão democrática do ensino;

k) desenvolvimento do compromisso social e polít ico do magistério; e

l) conhecimento e aplicação das diretrizes curricu lares nacionais dos níveis e

modalidades da educação básica (BRASIL, 2001).

Destacamos a presença nesses princípios de alguns conceitos novos que surgem

pela primeira vez em documentos oficiais no tocante à formação continuada, o que significa

um avanço quando pensamos em uma perspectiva de formação para além da racionalidade

técnica. A formação cultural, a formação de caráter inclusivo, o trabalho coletivo, a pesquisa e

o compromisso social e político são exemplos desses princípios formativos.

O PNE (2001) também instaura, como o documento que legitima a formação

continuada para os professores da Educação Básica, o olhar sobre a prática reflexiva ainda em

suas diretrizes, pois

A formação continuada do magistério é parte essencial da estratégia de melhoria

permanente da qualidade da educação, e visará à abertura de novos horizontes na

atuação profissional. [...] Essa formação terá como finalidade a reflexão sobre a

prática educacional e a busca de seu aperfeiçoamento técnico, ét ico e polít ico.

(BRASIL, 2001).

É provável que a discussão teórica que envolvia a formação naquele momento,

pautada na prática reflexiva, tenha servido de suporte teórico na elaboração do PNE, mesmo

que de forma tímida. Com isso, percebemos no decorrer do documento que os termos

treinamento e capacitação perdem espaço, sendo utilizados apenas quando se referem a algum

conhecimento específico na formação do professor, por exemplo, na utilização de recursos

tecnológicos como instrumentos pedagógicos. Nesse sentido, a abordagem do ensino

reflexivo que se opõe à racionalidade técnica, a aprendizagem das técnicas sendo primordial,

pela função do professor se resumir ao instrumental, passou a conquistar espaço na legislação.

Nessa perspectiva, citamos De Paula (2009, p. 69), quando afirma que

O movimento a favor do ensino reflexivo e da prát ica reflexiva traduzia e traduz o

esforço de vários teóricos na mudança da visão predominante do professor: técnico

sem voz, sem formação adequada e submetido a um processo de proletarização, para

uma visão deste como intelectual comprometido polit icamente com a

democratização do ensino e da sociedade.

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Nesse contexto, a visão tradicional que concebe a formação dos professores

advinda de cursos de capacitação, treinamento, aperfeiçoamento, reciclagem, entre outros,

deve dar espaço para uma formação que envolva a discussão crítica originada da pesquisa, da

reflexão e transformação da prática, a fim de formar docentes que possam atuar na produção

do conhecimento significativo e relevante.

No ano de 2004, com intuito de atender essas novas demandas voltadas à

formação continuada dos professores, o MEC em parceria com universidades constituiu a

Rede Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação, foi criada no intuito de

desenvolver programas de formação continuada para professores em serviços das redes

públicas de ensino, com o objetivo de melhorar o ensino, visando também a aproximação

entre as instituições formadoras e professores da Educação Básica, a fim de socializar os

conhecimentos científicos produzidos sobre educação. Nesse sentido, foram estabelecidos

objetivos, dos quais destacamos o desenvolvimento da autonomia intelectual e profissional

dos docentes, desencadeando uma dinâmica de interação entre os saberes pedagógicos

produzidos pelos centros durante a formação docente e aqueles produzidos pelos professores

em sua prática cotidiana; o oferecimento de subsídios para uma reflexão sobre a prática

docente, consequência da crítica, e a institucionalização e fortalecimento do trabalho coletivo

como meio de reflexão teórica e construção da prática pedagógica.

Os centros de pesquisas criados a partir da Rede Nacional de Pesquisa e

Desenvolvimento da Educação foram espalhados em 14 estados do nosso país, por meio de

convênios com universidades federais, estaduais e comunitárias, contemplando as seguintes

áreas: 1. Alfabetização e Linguagem (6 centros); 2. Educação Matemática e Científica (5

centros); 3. Ensino de Ciências Humanas e Sociais (3 centros); 4. Artes e Educação Física (3

centros); 5. Gestão e Avaliação da Educação (3 centros). Ressaltamos que um dos centros de

Artes e Educação Física foi sediado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte no

Departamento de Educação Física.

Em consonância com o PNE (2001), os objetivos correspondem a um avanço no

que diz respeito à concepção de formação continuada, quando valoriza a formação inicial do

professor, incentiva a reflexão sobre a prática profissional e enaltece a importância das

questões pertinentes ao cotidiano dos professores, considerando seus saberes.

Na Rede Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação esse avanço é

notório também em seus princípios e diretrizes. O primeiro deles garante que A formação

continuada é exigência da atividade profissional no mundo atual. O mesmo ressalta a

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importância da formação inicial construída a partir de uma formação teórico-prática e

complementada pelos saberes construídos na reflexão do cotidiano e na formação continuada,

que “não pode ser reduzida a um paliativo compensatório de uma formação inicial aligeirada”

(BRASIL, 2005, p.22). Além disso, destaca a importância de uma formação que observe a

adequação a diversidade que caracteriza nosso país, trazendo a educação indígena e a

quilombola como exemplos. Para isso, ressalta que “É preciso pensar a formação docente

(inicial e continuada) como momentos de um processo de construção de uma prática

qualificada e de afirmação da identidade e profissionalização do professor” (IBIDEM).

Apesar das análises realizadas no campo da formação já apontarem para uma

redefinição do papel docente e da prática pedagógica, assinalando uma reorientação no

posicionamento do professor na busca pela afirmação de sua identidade desde a década de 80,

em nenhum documento oficial essa discussão tinha sido contemplada. Nesse sentido,

destacamos a utilização dos termos “identidade e profissionalização do professor”. A presença

de uma identidade própria para o professor aponta para sua responsabilidade para com o seu

papel social, caminhando para o surgimento de uma autonomia e do comprometimento.

Recorremos a Pimenta (2002, p. 07) para definir o que é identidade profissional. Segundo a

autora,

A identidade profissional do professor se constrói a partir da significação social da

profissão [...] constrói-se também, pelo significado que cada professor, enquanto

ator e autor, confere à atividade docente de situar-se no mundo, de sua história de

vida, de suas representações, de seus saberes, de suas angústias e anseios, do sentido

que tem em sua vida: o ser professor. Assim, como a part ir de sua rede de relações

com outros professores, nas escolas, nos sindicatos, e em outros agrupamentos.

Nessa perspectiva, a identidade profissional do professor não é adquirida de um

dia para outro, mas construída tendo como pano de fundo a história de vida de cada um, a

subjetividade e reconhecê-lo dessa forma é enxergá-lo como sujeito que possui suas

trajetórias individuais e sociais que precisam ser respeitadas e valorizadas. Desse modo, a

formação continuada pode se constituir como espaço para a troca de conhecimentos

construídos a partir dessas trajetórias.

A profissionalização docente, segundo Ramalho & Nuñez (2008), seria um

processo de construção da identidade docente pelos professores, na qualidade de um grupo

que exerce uma atividade social específica. Porém, contrariando esse pensamento, Shiroma e

Evangelista (2004, p. 535), em concordância com outros estudiosos, afirmam que

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[...] a política de profissionalização de professores e gestores, nos moldes em que

vem sendo implantada, tem por objetivo não o aumento da qualificação do quadro

de magistério, mas sim, a sua desintelectualização para, desse modo, torná-los

pragmáticos diminuindo-lhes a capacidade de intervenção consciente.

Não aprofundaremos o debate sobre essa discussão, porém acreditamos que a

profissionalização do professor faz parte de uma luta desse grupo em busca do respeito, da

valorização social e do reconhecimento do trabalho docente e que a Rede Nacional de

Pesquisa e Desenvolvimento da Educação reconhece em suas diretrizes e princípios, aos quais

passamos a retomar.

A formação continuada deve ter como referência a prática docente e o

conhecimento teórico. Esse é o segundo princípio trazido nas orientações gerais do

documento já supracitado em que aponta a importância da articulação entre teoria e prática na

busca por romper com a ideia de que a prática se resume à aplicação de conhecimentos

produzidos por teóricos. Nessa perspectiva, “a formação continuada deve voltar-se para a

atividade reflexiva e investigativa” (BRASIL, 2005, p.24).

Consideramos o terceiro princípio, A formação continuada vai além da oferta de

cursos de atualização ou treinamento, um marco no que diz respeito ao rompimento do

pensamento de formação em uma concepção tradicional e como suprimento de uma formação

inicial deficiente. O mesmo ressalta a importância da valorização dos diferentes saberes e da

experiência docente que poucas vezes foi considerada nos programas de formação. Dessa

forma, “torna-se urgente desenvolver uma cultura de formação alicerçada na reflexão crítico-

teórica” no processo de formação que deve

[...] considerar o professor como sujeito, valorizando suas incursões teóricas, suas

experiências profissionais e seus saberes da prática, permitindo que, no processo, ele

se torne um investigador capaz de rever sua prática, atribuir -lhe novos significados e

compreender e enfrentar as dificuldades com as quais se depara (BRASIL, 2005,

p.24-25).

Chamamos atenção para o aparecimento do termo “saberes da prática” que para

Tardif (2002, p.46) “são pouco valorizados por instituições e mecanismos que determinam os

conteúdos da cultura e dos saberes escolares, assim como das organizações pedagógicas”.

Podemos afirmar que assim também ocorre com os programas de formação continuada que

muitas vezes chegam como pacotes prontos em que os saberes adquiridos a partir da

experiência profissional não são valorizados, ou sequer considerados. Nesse sentido,

corroboramos com Tardif (2002, p.237) ao afirmar que a “prática dos professores, ou seja, seu

trabalho cotidiano, não é somente um lugar de aplicação de saberes produzidos por outros

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(saberes acadêmicos), mas também um espaço de produção, de transformação e de

mobilização de saberes que lhe são próprios”. Dessa forma, o professor precisa assumir o

papel de investigador, como sugere o documento, pois não se trata de negar o conhecimento

produzido pelos teóricos, mas de conceber a escola como lugar onde também se produz

conhecimento e não somente o reproduz.

Nesse sentido, o próximo princípio apontado pelo documento é que A formação

para ser continuada deve integrar-se no dia-a-dia da escola. Sob essa perspectiva, Candau

(2003) defende que o dia-a-dia na escola é um lócus de formação, pois é nesse espaço que o

professor aprende e desaprende, descobre e redescobre, aprimorando a sua formação.

A defesa da escola como espaço privilegiado para a formação continuada do

professor se deu a partir das críticas realizadas aos cursos oferecidos para os professores fora

dela, planejados e executados sem o conhecimento da realidade da mesma, para onde muitas

vezes ao retornar os professores não encontravam aplicabilidade. O risco que isso aconteça

ocorre sempre que os professores não são ouvidos sobre suas dificuldades e perspectivas,

sendo tratados como coadjuvantes, quando deveriam assumir o papel de protagonistas desse

processo.

Além disso, a universidade sempre é referenciada como local de produção de

saber e conhecimento científico, e a escola seria o local de aplicabilidade da produção desse

conhecimento. É preciso romper com esse pensamento que, segundo Candau (2003), vem de

uma concepção clássica de formação continuada e passar a considerar a escola como lócus de

formação continuada para que se possa avançar na construção de uma nova perspectiva na

área de formação continuada de professores.

O último princípio apresentado no Caderno de Orientações da Rede Nacional de

Pesquisa e Desenvolvimento da Educação, em consonância com o Plano Nacional de

Educação (2001) – que traz como uma de suas metas a Formação e Valorização do Magistério

– determina que A formação continuada é componente essencial da profissionalização

docente apontando para o entendimento de que

[...] uma política de formação implica o encaminhamento de ações efetivas no

sentido de melhorar as condições de trabalho, bem como a estruturação do trabalho

pedagógico da escola. Desse modo, os planos de carreira devem incentivar a

progressão por meio da qualificação inicial e continuada do trabalho docente,

visando à valorização dos professores (BRASIL, 2005, p.22).

Percebemos que mais uma vez a valorização profissional surge como fator

essencial no tocante à formação do professor. Nesse contexto, surgem algumas políticas de

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valorização profissional, tais como o Plano de Cargos, Carreira e Remuneração (PCCR) e

Piso Salarial Profissional Nacional (Lei nº 11.738/2008), mas que não foram efetivadas como

deveriam. Savianiet al. (2009) considera que existe a necessidade de pensar em outros

aspectos além do piso salarial, no que se refere à carreira profissional dos professores, como o

estabelecimento de condições necessárias ao desenvolvimento da profissão, e também a

jornada integral em uma única escola e de 40 horas semanais, onde 50% da carga horária seria

destinada a outras atividades que não as de ensino. Portanto, ainda há muito para se avançar

quando o assunto é valorização do professor, sobretudo em relação às condições de trabalho, à

carreira, à remuneração e à formação.

Em 2014, o novo e apovado Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024

aprovado, corrobora com questões discutidas nos documentos acima ao continuar com a

ênfase em políticas de valorização do professor, trazendo na estratégia 17.4 a ampliação da

assistência financeira específica da União aos entes federados para “implementação de

políticas de valorização dos (as) profissionais do magistério, em particular o piso salarial

nacional profissional” e ao sugerir na sua estratégia 15.3 o desenvolvimento de “modelos de

formação docente para a educação profissional que valorizem a experiência prática, por meio

da oferta, nas redes federal e estaduais de educação profissional, de cursos voltados à

complementação e certificação didático-pedagógica de profissionais experientes”, retomando

à lógica de valorização dos “saberes da experiência” em detrimento de conhecimentos da área

de atuação profissional.

Essa valorização do professor permanece sendo uma bandeira do governo no

documento mais atual referente à formação continuada do magistério – As Diretrizes

Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura,

cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a

formação continuada definida pela Resolução nº 2, de 1º de julho de 2015, do Conselho

Nacional de Educação. O documento define que

§ 3º A valorização do magistério e dos demais profissionais da educação deve ser

entendida como uma d imensão constitutiva e constituinte de sua formação inicial e

continuada, incluindo, entre outros, a garantia de construção, definição colet iva e

aprovação de planos de carreira e salário, com condições que assegurem jornada de

trabalho com dedicação exclusiva ou tempo integral a ser cumprida em um único

estabelecimento de ensino e destinação de 1/3 (um terço) da carga horária de

trabalho a outras atividades pedagógicas inerentes ao exercício do magistério

(BRASIL, 2015).

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As Diretrizes definem ainda, em seu Artigo 16, uma concepção mais ampla de

formação continuada na qual a reflexão sobre a prática ganha uma ênfase ainda maior quando

é apontada como principal finalidade da formação continuada na busca de superar a visão

técnico- instrumental.

Compreende dimensões coletivas, organizacionais e profissionais, bem como o

repensar do processo pedagógico, dos saberes e valores, e envolve at ividades de

extensão, grupos de estudos, reuniões pedagógicas, cursos, programas e ações para

além da formação mínima exigida ao exercício do magistério na educação básica,

tendo como principal finalidade a reflexão sobre a prática educacional e a busca de

aperfeiçoamento técnico, pedagógico, ético e político do profissional docente

(IDEM, 2015).

Ressaltamos, que o documento define em seu parágrafo único que a formação

continuada decorre de uma concepção de desenvolvimento profissional dos profissionais do

magistério que leva em conta

I – os sistemas e as redes de ensino, o projeto pedagógico das instituições de

educação básica, bem como os problemas e os desafios da escola e do contexto onde

ela está inserida;

II – a necessidade de acompanhar a inovação e o desenvolvimento associados ao

conhecimento, à ciência e à tecnologia;

III – o respeito ao protagonismo do professor e a um espaço tempo que lhe permita

refletir criticamente e aperfeiçoar sua prática;

V – o diálogo e a parceria com atores e instituições competentes, capazes de

contribuir para alavancar novos patamares de qualidade ao complexo trabalho de

gestão da sala de aula e da instituição educativa (IDEM, 2015).

Nessa concepção, a formação continuada deverá partir das demandas apontadas

pelos professores, suas dificuldades, seus anseios, e que possa ser transformada em um espaço

de troca de experiências com o diálogo e reflexão, distanciando-se cada vez mais dos modelos

de formação baseados na racionalidade técnica.

Porém, mesmo com avanços consideráveis no que se refere aos princípios e

diretrizes apontados nos documentos relacionados à formação continuada voltados para uma

formação crítica e reflexiva, o professor deve sendo o protagonista do processo, os autores

Prada et al. (2010, p. 377) afirmam que

A produção de conhecimento, as ações de formação continuada e outras ações

denominadas ou relacionadas com essa formação, em vez de aprofundar sobre os

pensamentos e práticas docentes, a compreensão de suas problemáticas, a construção

de propostas de transformação mais significativas institucional e socialmente, são

reduzidas a um fazer técnico, distanciando o professor e sua formação do exercício

crítico da/na profissão.

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Nessa perspectiva, mesmo com caminhos sugeridos pelos últimos documentos

oficiais que apontam para uma formação continuada como espaço em que as demandas da

escola sejam consideradas, os saberes dos professores construídos a partir de suas

experiências no cotidiano da escola sejam valorizados, a prática seja um processo de reflexão

e novos saberes possam ser construídos, diversos modelos e concepções de formação

continuada caminham na contramão desses princípios. Recorremos a Pereira (2000, p. 51) que

reafirma essa discussão ao anunciar que as últimas décadas do século XX apresentaram

“elementos de conservação e mudança” em relação à formação de professores, o que gera

certo desconforto à medida em que se tem a impressão de que os problemas são sempre os

mesmos e as discussões seguem o mesmo caminho, porém não dão conta de solucionar os

entraves que se interpõem na educação, em especial no processo de formação dos professores.

Conforme percebemos a partir da discussão histórica sobre a formação

continuada, definir o termo “formação continuada” se torna uma tarefa difícil, uma vez que as

discussões sobre esta não nos ajudam a esclarecê- lo. Trata-se de um termo amplo e que se

apresenta em diferentes abordagens, concepções e perspectivas que apontam para uma

discussão polissêmica. Em sua pesquisa, Gatti (2008, p.57) sinaliza essa dificuldade, visto que

em seus estudos verificou que

[...] Ora se restringe o significado da expressão aos limites de cursos estruturados e

formalizados oferecidos após a graduação, ou após ingresso no exercício do

magistério, ora ele é tomado de modo amplo e genérico, como compreendendo

qualquer tipo de atividade que venha a contribuir para o desempenho profissional

[...]. Uma vastidão de possibilidades dentro do rótulo de educação continuada.

Diante dessa vastidão de possibilidades citada pelo autor, diversos termos foram e

continuam sendo utilizados para nomear a formação recebida pelo professor após a formação

inicial. E apesar de parecer que se trata apenas de nomenclatura, Prada (1997) afirma que

esses conceitos e práticas dependem de diferentes situações, principalmente ideológicas,

políticas e geográficas, acadêmicas e econômicas.

A partir dos estudos de Prada (1997), uma síntese conceitual foi elaborada por

Costa (2004) a quem recorremos neste momento (QUADRO 2). Cada um desses termos foi

utilizado condizendo com a intencionalidade que a formação apresentava em determinada

época, sendo esta permeada pela percepção de ser humano, de escola, de professor e de

educação em geral. Dessa forma, a contextualização histórica relacionada à formação do

professor se faz necessária.

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Quadro 2 -Síntese conceitual de termos empregados para formação continuada de professores

Capacitação Proporcionar determinada capacidade a ser adquirida pelos professores, mediante

um curso; concepção mecanicista que considera os docentes incapacitados.

Qualificação Não implica a ausência de capacidade, mas continua sendo mecanicista, pois visa

melhorar apenas algumas qualidades já existentes.

Aperfeiçoamento Implica tornar os professores perfeitos. Está associado à maioria dos outros

termos.

Reciclagem Termo próprio de processos industriais e, usualmente, referente à recuperação do

lixo.

Atualização Ação similar à do jornalis mo; informar aos professores para se manter na

atualidade dos acontecimentos, recebe críticas semelhantes à educação bancária.

Formação

Continuada

Alcançar níveis mais elevados na educação formal ou aprofundar como

continuidade dos conhecimentos que os professores já possuem.

Formação

Permanente

Realizada constantemente, visa à formação geral da pessoa sem se preocupar com

os níveis da educação formal.

Especialização É a realização de um curso superior sobre um tema específico.

Aprofundamento Tornar mais profundos alguns dos conhecimentos que os professores já têm.

Treinamento Adquirir habilidades por repetição, utilizado para manipulação de máquinas em

processos industriais; no caso dos professores, estes interagem co m pessoas.

Re-treinamento Voltar a treinar o que já havia sido treinado.

Aprimoramento Melhorar a qualidade do conhecimento dos professores.

Superação Subir a outros patamares ou níveis, por exemplo, de t itulação universitária ou

pós-graduação.

Desenvolvimento

Profissional Cursos de curta duração que procuram a “eficiência” do professor

Profissionalização Tornar profissional. Conseguir, para quem não tem, um título ou dip loma

Compensação Suprir algo que falta. Atividades que pretendem subs idiar conhecimentos que

faltaram na formação anterior

Fonte: Costa (2004, p.66) com base em Prada (1997, p.88-89).

As pesquisas atuais trazem ainda termos como “educação permanente”, “educação

continuada” ou “formação em serviço”. De acordo com Marin (1995), o termo educação

permanente implica em um processo formativo que se desenvolve ao longo de toda a vida.

Percebemos que esse termo vem sendo bastante utilizado nas pesquisas voltadas para a saúde.

Em uma dessas pesquisas, Lemos (2016, p.914) traz que “A denominada Educação

Permanente em Saúde (EPS) surge em meados da década de 1980, tendo sido disseminada

pelo Programa de Desenvolvimento de Recursos Humanos da Organização Pan Americana de

Saúde (OPAS)”. Esta organização cria uma diferenciação entre os termos educação

permanente e educação continuada, considerando a última mais reducionista.

Em relação à concepção de formação continuada, a Marin (1995) recorre a

Chantraine-Demailly (1992) para afirmar que a mesma "guarda o significado fundamental de

atividade conscientemente proposta, direcionada para a mudança." (IDEM, 1995, p.18). A

autora considera que o termo educação continuada é o que traduz uma concepção mais

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completa incluindo à concepção de formação continuada, o local onde se realiza a formação –

a escola.

Já o termo “formação em serviço” remete à formação especificamente voltada

para os professores em exercício. Percebemos que ele é bem mais utilizado para se referir a

formação de professores em exercício no serviço público.

Diante dessa discussão terminológica, Gatti, Barreto e André (2011, p. 198)

acredita que é necessário considerar que “ao abordar as modalidades de formação continuada,

é mais importante discutir como são conduzidas as ações formativas do que como são

nomeadas, porque o “como” evidencia mais claramente a concepção de formação subjacente”.

Consideramos esse aprofundamento sobre as terminologias e conceitos atual,

válido e significativo, porém percebemos pouca diferença entre esses últimos termos –

“educação permanente”, “educação continuada” ou “formação em serviço” – quando se

referem às concepções de formação inseridas em cada um deles, ou seja, são termos que

apresentam muito mais convergência do que distanciamento e por si só não definem

concepções e nem modelos de práticas formativas.

Nesse sentido, a escolha pelo termo “formação continuada” se deu também por ser

essa a nomenclatura mais utilizada nos documentos oficiais nacionais atuais, conforme

recente pesquisa realizada pelas autoras Bertottiet al. (2016), que em um quadro (QUADRO

3) descrevem a relação de ações, atos legais, ano e termos para se referir à formação

continuada no Brasil.

Quadro 3- Síntese dos termos utilizados para se referir à formação continuada a partir dos documentos legais

AÇÕES

ATOS

LEGAIS

ANO TERMOS PARAREFERIR

FORMAÇÃO

CONTINUADA

Primeira menção à formação

continuada

Lei nº

9.394/

Artigo 67

1996

Capacitação

Aperfeiçoamento profissional

Atualização

Treinamento

Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento do Ensino

Fundamental e de Valorização do

Magistério (apoio financeiro)

Lei nº.

9.424/

1996

1996

Capacitação

Plano Nacional da Educação

(PNE)

Lei nº

10.172

2001/

2011

Capacitação

Qualificação

Aperfeiçoamento

Formação Continuada

Formação Permanente

Especialização

Aprofundamento

Treinamento

Profissionalização

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Sistema Nacional de Cert ificação

e Formação Continuada de

Professores da Educação Básica

Portaria

Ministerial

nº 1.403

2003

Formação Continuada

Rede Nacional de formação

continuada de professores da

educação básica (Rede)

-

2004

Formação Continuada

Concessão de bolsas de estudo e

de pesquisa aos participantes de

programas de formação in icial e

continuada de professores para a

educação básica. (apoio

financeiro )

Lei nº 11.273

2006

Formação Continuada

Implementação do Plano de

Metas Compromisso Todos pela

Educação, pela União Federal, em

regime de colaboração com

Municípios, Distrito Federal e

Estados, e a participação das

famílias e da comunidade,

mediante programas e ações de

assistência técnica e financeira

(apoio financeiro)

Decreto nº

6.094

2007

Formação Continuada

Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento da Educação

Básica de Valorização dos

Profissionais da Educação

(FUNDEB) (apoio financeiro )

Lei nº

11.494

2007

Capacitação

Formação Continuada

Mudança das competências e a

estrutura organizacional da

CAPES

Lei no

11.502

2007

Formação Continuada

Plano de desenvolvimento

educacional (PDE)

Lei nº

11.738

2008 Formação Continuada

Instituição da política nacional de

formação de profissionais do

magistério da educação básica

Decreto no

6.755

2009

Aperfeiçoamento

Atualização

Formação Continuada

Especialização

Profissionalização

Rede Nacional de formação

continuada

Portaria nº

1.129

2009 Formação continuada

Plano Nacional de Educação –

PNE

Lei nº

13005

2014–2024 Formação continuada

Diretrizes curriculares nacionais

para formação inicial e

continuada

Resolução

nº 02

2015 Formação continuada

Fonte: Bertotti, Ens & de Siqueira (2016)

Entendemos que é preciso avançar na compreensão de uma formação além de

cursos descontextualizados da realidade escolar e sem significados para o professor.

Corroboramos com Candau (2003, p.141), quando afirma que

A formação continuada não pode ser concebida como um processo de acumulação

(de cursos, palestras, seminários, etc., de conhecimentos ou técnicas), mas sim como

um trabalho de reflexibilidade crítica sobre a prática de (re) construção permanente

de uma identidade pessoal e profissional, em interação mútua.

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53

Dessa forma, a nossa percepção de formação continuada se distancia da

concepção de que a formação em serviço seja realizada em forma de treinamentos e cursos

esporádicos que não valorizam os saberes docentes e os problemas concretos vividos por eles

no dia a dia da escola.

Ainda nessa perspectiva, Nóvoa (1995) afirma que a formação do professor deve

estimular o desenvolvimento da visão crítica e reflexiva, que lhe forneça os meios de

aprimoramento do pensamento e das práticas autônomas e facilite a dinâmica do investimento

na auto formação participada, isto é, em formação construída não somente em processos

solitários, mas com base na participação colegiada.

No entanto, mesmo que os atuais documentos apontem para uma perspectiva de

formação continuada crítica e reflexiva, nem sempre este o lhar é levado em consideração

pelas secretarias municipais e estaduais, responsáveis pela articulação da formação

continuada, e diversos modelos e concepções de formação da atualidade “refletem traços

desse contexto evolutivo” (FERREIRA, SANTOS & COSTA, 2015, p.291), os quais

apresentamos no decorrer deste capítulo.

A partir dos nossos estudos, percebemos que existem diversos modelos de

formação continuada e que eles se enquadram em uma dessas concepções: a clássica ou

tradicional, embasada na transmissão impositiva de conteúdos, a ênfase sendo somente na

atualização e capacitação profissional, imperando a racionalidade técnica, e os conhecimentos

e as necessidades dos professores não são considerados. Com ideias opostas a esta

concepção, surge a concepção inovadora pautada nas necessidades reais do professor, que é

considerado o protagonista de todo o processo, convidado a refletir sobre sua prática.

Dentro dessas concepções estão enquadrados alguns modelos de formação

continuada que são utilizados atualmente. Ao nos referimos a “modelo de formação”,

recorremos aos autores (IDEM, 2015, p.291) que caracterizam como sendo a reunião de um

conjunto de ações mediadas por relações de poder, cu lturas, crenças, e valores

estabelecidos entre as instituições /redes /sistemas de ensino e os sujeitos envolvidos

no processo formativo e apresenta características implícitas, objetivos particulares e

maneiras peculiares de condução das práticas formativas.

Nesse contexto, estudiosos da área, envolvidos pelos mais diversos pressupostos

epistemológicos e metodológicos apontam alguns modelos. Entre eles, destacamos os

apresentados por Demailly (1992) que, a partir das questões sobre formação continuada

desenvolvida na França, levando em consideração princípios relativos à organização e

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estrutura da mesma, descreveu quatro modelos: universitário, escolar, contratual e interativo-

reflexivo. Segundo o autor, o modelo universitário é pautado na transmissão de

conhecimentos. Nesse caso os formadores são os produtores do conhecimento e o formando o

receptor; o modelo escolar segue a mesma lógica do universitário, porém os formadores não

participam do processo de planejamento, sendo essa função exercida por instituições externas

a eles. O modelo contratual é caracterizado pela negociação entre diferentes parceiros para o

desenvolvimento de um determinado programa de formação; o modelo interativo-reflexivo é

caracterizado pela aprendizagem mútua de profissionais, calcada na resolução de problemas

de todo o contexto escolar, o formador assumindo o papel de mediador.

Outros modelos são apresentados por Nóvoa (1992) a partir de seus estudos

realizados em Portugal sobre formação continuada, considerando a síntese dos modelos já

supracitados. O autor apresenta dois tipos: o modelo estruturante e o modelo construtivista. O

primeiro é caracterizado por partir de uma lógica pautada na racionalidade técnica, engloba

dois dos modelos apontados por Demailly (1992), o universitário e escolar. Já o modelo

construtivista, se pauta na reflexão a partir da relação teoria e prática, o diálogo e a

cooperação sendo fundamentais e o foco está na necessidade daqueles que participam da

formação, dessa forma englobando os modelos contratual e interativo-reflexivo.

Porém, os próprios autores reconhecem que não existe um “estado puro” desses

modelos, ou seja, eles não existem de forma isolada. Por essa razão, Costa (2004, p.69) nos

alerta que esses modelos devem “servir aos educadores como modelos teóricos de análise e

não como modelos práticos de intervenção”.

Em relação a esses modelos práticos de intervenção, Candau (2003, p. 144) sugere

um modelo que se enquadra na concepção inovadora de formação continuada, “[...] que seja

uma prática coletiva, uma prática construída conjuntamente por grupos de professores”,

pautado em três pressupostos: a escola como lócus de formação continuada; o reconhecimento

e a valorização dos saberes docentes como foco; a consideração das diferentes fases do

desenvolvimento profissional do professor, assim como os problemas e necessidades

advindos de cada uma delas.

Também contrapondo-se à concepção clássica de formação, Imbernón (2010) que

apesar de não trazer um modelo de formação continuada, sugere pr incípios que devem ser

utilizados para planejá-la, tais como propiciar uma aprendizagem da colegialidade

participativa, partir dos interesses e necessidades dos participantes; partir da prática dos

professores; criar um espaço dialógico; elaborar projetos coletivos; superar a resistência ao

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trabalho colaborativo; conhecer as diversas culturas das instituições. Todos esses princípios

devem ser envolvidos pelo clima afetivo, que, segundo o autor, deve ser considerado o pilar.

Essas estratégias têm sido utilizadas em algumas experiências de formação

continuada pelo Brasil, denominada por alguns pesquisadores como modelo colaborativo.

Segundo Damiani (2008), os estudos sobre o trabalho colaborativo no contexto escolar foram

embasados por Vygotsky (1989) que defende as enormes vantagens em relação à realização

das atividades em grupo sobre a aprendizagem individualizada. Para Damiani (2008, p.218),

“o trabalho colaborativo entre professores apresenta potencial para enriquecer sua maneira de

pensar, agir e resolver problemas, criando possibilidades de sucesso da difícil tarefa

pedagógica”. Dessa forma, para a autora (IDEM, 2008) o trabalho colaborativo possibilita a

promoção de aprendizagens a partir da interação social entre pares e que sustentadas pelo

diálogo entre teoria e a prática, possibilitam a articulação na busca da solução dos problemas

oriundos de seu contexto, o que é uma condição fundamental para a construção de uma ação

pedagógica crítica e reflexiva.

Nessa perspectiva, um modelo colaborativo de formação continuada, segundo

Bastos & Henrique (2014, p. 3208)

se insere na perspectiva de uma formação reflexiva, que fomenta a escuta das

necessidades cotidianas do professor, permite a liv re expressão de seus

conhecimentos, seus medos, suas angústias, proporcionando novas aprendizagens

através de momentos de reflexão e de trocas colaborativas e emancipatórias.

Assim, o modelo colaborativo de formação continuada permite a construção de

um espaço formativo que oportunizem aos docentes a reflexão acerca de sua prática, o que é

considerado fundamental para estimular possíveis mudanças que as tornem ainda mais

significativas.

O conhecimento desses modelos de formação continuada de professores se faz

necessário, pois nos possibilita compreender os pressupostos que envolvem o processo de

formação continuada atualmente. Acreditamos que para nossa pesquisa é importante também

conhecermos como esses modelos vêm influenciando as formações oferecidas aos professores

de Educação Física no contexto nacional. Desse modo, dedicaremos a próxima seção a essa

discussão.

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SEÇÃO II

A FORMAÇÃO CONTINUADA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR EM

DISCUSSÃO

Esta seção resgata o percurso da Educação Física na condição de componente

curricular e discute sobre as mudanças relacionadas à formação dos professores de Educação

Física necessárias para o acompanhamento das transformações que esta área sofreu durante as

últimas décadas. Em seguida, apontamos o estado da arte, revelando os estudos existentes

sobre programas de formação continuada voltados para professores de Educação Física.

Descreveremos ainda o programa de formação continuada oferecido aos professores de

Educação Física da Rede Municipal do Natal.

Ao longo dos anos a Educação Física escolar no cenário nacional sofreu

influências políticas, científicas, filosóficas e pedagógicas, inclusive de outros países, e que de

alguma forma influenciam até os dias de hoje na formação dos professores desta área, assim

como nas práticas pedagógicas. Nesse sentido, acreditamos ser importante retomarmos

brevemente a essa construção histórica.

A Educação Física no contexto escolar no Brasil teve sua história marcada

oficialmente a partir da reforma Couto Ferraz em 1851 que inseriu a Educação Física nos

programas escolares das escolas do município da Corte do Rio de Janeiro. Sofreu fortes

influências de outras áreas, como a médica e a militar, tendo a área médica discursos pautados

na higiene e saúde, e a militar, pautada em interesses de grupos políticos que encontravam no

esporte um instrumento de seleção daqueles mais aptos que pudessem representar o país

(DARIDO, 2012).

Como não possuía uma base teórica, assim como uma proposta pedagógica

própria para a Educação Física, o Brasil importou métodos europeus de ginásticas – o sueco, o

alemão e, posteriormente, o francês – que se baseavam em princípios biológicos. Mesmo com

as peculiaridades que esses métodos apresentavam, de forma geral eram fundados em

repetições mecânicas de gestos e movimentos e atendiam as demandas da Educação Física

daquela época que era a “promoção da saúde”, da higiene física e mental em busca de uma

sociedade apta para os trabalhos físicos. Segundo Goellner (1996), a prática pedagógica da

Educação Física escolar foi marcada profundamente pelo método francês.

A partir da década de 50, o Brasil toma como base teórico-metodológica para a

Educação Física o Método Natural Austríaco e o Método Desportivo Generalizado. Segundo

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Cunha (2014), a possível apropriação desses métodos ocorreu a partir de sua repercussão nos

espaços de formação, exemplo das Jornadas Internacionais de Educação Física, e nos Cursos

Internacionais de Formação e Aperfeiçoamento de professores de Educação Física. Nesse

período, o esporte passou a ser tratado basicamente como sinônimo da Educação Física

escolar, os objetivos estavam claramente direcionados para a aptidão física e à detecção de

talentos esportivos (DARIDO, 2003).

Mesmo inserida na escola, a Educação Física só passou a ganhar espaço em

relação à legislação na década de 70, quando timidamente o Artigo 7º da Lei 5.692/71

considerou “obrigatória a inclusão de Educação Moral e Cívica, Educação Física, Educação

Artística e Programa de Saúde nos currículos plenos dos estabelecimentos de 1º e 2º graus”.

No mesmo ano, a Educação Física é regulamentada pelo Decreto Nº 69.450, de 1º de

novembro de 1971, sendo possível compreendermos como a mesma era considerada naquele

período já no Artigo 1º: “A educação física, atividade que por seus meios, processos e

técnicas, desperta, desenvolve e aprimora-forças físicas, morais, cívicas, psíquicas e sociais

do educando, constitui um dos fatores básicos para a conquista das finalidades da educação

nacional”.

Mesmo regulamentada, o fato da Educação Física não possuir uma autenticidade

e uma organização sistemática como os outros componentes curriculares, fazia com que a

mesma fosse considerada um apêndice na escola ou uma atividade extraclasse, não fazendo

parte do processo formativo como implicitamente encontramos no Artigo 7º “A realização de

qualquer forma de competição desportiva e recreativa não deverá prejudicar as atividades de

natureza essencialmente formativa”.

Em decorrência de críticas a essa situação, professores e estudiosos da área da

Educação Física escolar no Brasil, na década de 80 movimentaram-se na busca de criar uma

identidade para a mesma em nosso país, de forma a torná- la autêntica. Esse movimento

coincidiu com o surgimento de uma forte tendência crítica na educação em virtude da abertura

política gerada pelo fim da ditadura militar. Nesse contexto, a importância da Educação Física

passou a ser defendida pensando na formação do cidadão crítico que pudesse contribuir nas

questões políticas e sociais.

Nessa perspectiva, diversas concepções pedagógicas surgiram classificadas por

Castellani Filho (1999), no que diz respeito à metodologia de ensino, como não-propositivas e

propositivas, resumidas a seguir:

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Figura 1 - Metodologias de ensino propositivas e não-propositivas

Fonte: Castellan i Filho (1999, p.151)

Esses investimentos foram refletidos no que se refere aos aspectos legais e a

Educação Física passou a ser legitimada como um componente curricular pela da

promulgação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 20 de dezembro de 1996 – Lei 9394/96,

que em seu parágrafo 3º dispõe que “A educação física, integrada à proposta pedagógica da

escola, é componente curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às

condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos”. Essa legitimação

aponta novos encaminhamentos em relação à Educação Física escolar, pois, conforme Melo

(2006, p.188), a partir dela

[...] exigiu um novo pensar e um novo agir dos seus professores. O novo pensar é

caracterizado pela necessidade de se conceber a Educação Física na escola nas

mes mas condições dos demais componentes curriculares, nos quais a organização

dos seus aspectos didáticos os consolidam na educação escolarizada. Exige-se,

também, uma part icipação mais efetiva dos professores de Educação Física na

concepção do projeto pedagógico, pois, ao considerá-la como componente

curricular, as suas práticas deverão ser orientadas pelas diretrizes do projeto

pedagógico da escola.

Dessa forma, algumas mudanças se fizeram necessárias, no sentido de consolidar

a Educação Física na escola, para que ela fosse concebida nas mesmas condições que os

demais componentes curriculares. Uma delas é a formação dos professores dessa área, que até

então tinha sido pautada em questões de ordem técnica, e, a partir da LDB, precisou ser

repensada. Nessa perspectiva, Melo (2006) indica a urgência de investimentos em políticas

públicas voltadas para a Educação Física escolar, enaltecendo a importância da formação

continuada que possa contribuir para a transição do que é visto na formação inicial e o que é

operacionalizado na escola, considerando essas novas demandas apontadas pela legislação.

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Nesse sentido, outros estudiosos vêm se dedicando a pesquisas relacionadas à

formação continuada na área de Educação Física, dos quais destacamos Bracht (1999),

Günther & Molina Neto (2000) e Molina & Molina Neto (2001). No entanto, diante o

destaque que a temática formação continuada tem apresentado nas discussões acadêmicas,

percebemos que os estudos voltados para a formação continuada de professores de Educação

Física, especificamente, precisam ganhar mais investimentos.

Essa preocupação vem sendo discutida por Ost (2012) que aponta a escassez de

estudos voltados para a formação continuada específica de professores de Educação Física,

sobretudo na realidade brasileira, como um motivo para a impossibilidade da realização de

uma discussão teórica mais profunda, quando se dispôs a investigar as propostas de formação

continuada em Educação Física no município de Pelotas, o que pudemos comprovar quando

realizamos o estado da arte da nossa pesquisa.

Esse estado da arte nos levou ao mapeamento e à discussão acerca do que vem

sendo produzido no campo cientifico sobre experiências voltadas para a formação continuada

de professores de Educação Física no Brasil. Reconhecemos que essa investigação a partir das

produções acadêmicas não nos dá um quadro de todas as experiências que são realizadas no

cenário nacional, pois muitas não são transformadas em publicações. No entanto, faz-se

necessário entender o que as mesmas apontam sobre essa temática, pois elas nos dão um

panorama das concepções e tendências de formação continuada de professores de Educação

Física que vêm sendo discutidas.

Iniciamos a investigação pelos trabalhos disponíveis em Programas de Pós-

Graduação em Educação Física no Brasil (PPGEF 9 ) reconhecidos pela Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e pelos periódicos científicos com

Qualis A1, A2, B1, B2 na área de avaliação Educação Física e que tivessem suas produções

disponíveis de forma online. A escolha desses ambientes de investigação se deu por

representarem os espaços significativos de produções do conhecimento cientifico da área.

Ressaltamos que tal levantamento investigativo foi realizado em dois momentos:

(a) levantamento exploratório dos PPGEF, realizado nos meses de setembro e outubro de

2016, e (b) levantamento exploratório dos periódicos, realizado nos meses de fevereiro e

março de 2017, podendo haver modificações por se tratar de plataformas de armazenamento

que sofrem constantes atualizações.

9 Mesmo reconhecendo que existem outras nomeações para programas vinculados a esta área, definimos esse

critério de organização.

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60

Elencamos alguns critérios em comum para os dois ambientes de investigação –

PPGEF e periódicos científicos – que são: (a) possuírem publicações disponíveis online com

acesso gratuito; (b) estarem vinculados a instituições brasileiras e (c) possuírem publicações

escritas no idioma português. Porém, devido ao grande universo de PPGEF (37), e ao elevado

número de periódicos, para cada ambiente de investigação utilizamos estratégias de

levantamento de dados distintas.

No que concerne às publicações nos PPGEF utilizamos os critérios em que as

mesmas possuam no título um dos descritores definidos – formação e professor – e que

tenham resumo disponível para acesso. Mesmo cada um dos PPGEF possuindo um programa

de armazenamento de dissertações e teses próprio, fazendo-nos trilhar caminhos de busca

distintos, alcançamos retorno significativo naqueles que conseguimos ter acesso. Do total de

37 PPGEF, encontramos apenas um programa de mestrado e doutorado acadêmico que

durante o período de pesquisa não estava disponível na internet. Assim como não

encontramos o banco de dados de um outro programa de mestrado acadêmico. Além disso,

seis PPGEF foram criados e autorizados recentemente, dessa forma ainda não possuem

nenhuma defesa submetida, o que totaliza um universo de 29 PPGEF.

A utilização do termo formação como descritor ao invés de formação continuada

– termo que elegemos para este estudo – deu-se por entendermos que ao utilizá- lo, estaríamos

deixando de abranger pesquisas que fazem uso de termos como formação permanente,

formação em serviço, formação continua, entre outros. Porém, a abrangência conceitual do

termo formação ampliou muito a quantidade de pesquisas encontradas, dificultando um

pouco a nossa investigação. As mesmas apresentavam temáticas bastante variadas, ora

envolvendo formação inicial, ora cursos pontuais (capacitação, qualificação, atualização),

programas de formação e cursos stricto sensu (mestrado e doutorado). Ao utilizarmos esse

descritor foram encontradas 157 dissertações e 38 teses, totalizando 195 trabalhos. A

utilização do descritor “professor” nos apontou 172 dissertações e 24 teses, um total de 196.

Esses números não correspondem à quantidade exata de trabalhos selecionados, pois em uma

única dissertação ou tese é possível ocorrer mais de um dos descritores. A quantidade de

publicações que foi selecionada por meio desse processo inicial de seleção corresponde a 278

dissertações e 52 teses.

Dessa forma, elencamos um requisito para um segundo nível de filtragem, que foi

as publicações precisariam anunciar debates sobre formação continuada para professores de

Educação Física que estivessem em serviço na educação básica. Dessa forma, realizamos a

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leitura de todos os resumos, o que diminuiu consideravelmente o número de pesquisas para 27

dissertações e 07 teses selecionadas, totalizando 34 pesquisas. Esse número nos revela que

apesar da formação ser um tema que está em evidência nas políticas públicas e discussão

acadêmica na educação, pouco se tem investido em pesquisas sobre o mesmo na á rea da

Educação Física (Quadro 4).

Quadro 4 - Publicações relacionadas à formação de professores nos PPGEF

IES Publicações que explicitam relações com a

formação de professores e professoras de EF

Tipo de Pós-Graduação Dissertações Teses Total de Trabalhos

UFRN 01 - 01 Mestrado Acadêmico

UNESP/RC 02 04 06

Mestrado e Doutorado

Acadêmico

UFRGS 01 - 01

FES P/UPE 01 - 01

UFES 11 - 11

UFPEL 03 - 03

UFS C 04 - 04

UNB 03 - 03

UNICAMP 01 03 04

Fonte: dados obtidos pelo levantamento da pesquisa/2016

A distribuição observada no Quadro 4 nos revela uma notória concentração de

publicações nas regiões sul e sudeste que equivale a 85% do total de dissertações e teses

relacionadas à formação continuada de professores, a maioria produzida pela Universidade

Federal do Espírito Santo, que podemos associar ao grupo de pesquisadores do Instituto de

Educação e Educação Física (Proteoria), o qual vem desenvolvendo pesquisas que objetivam

dialogar com o cotidiano escolar, percebendo os professores no centro dos debates

educacionais.

Já o centro-oeste apresenta 8,8 % desse total, o nordeste apenas 5,9% e a região

norte, por não possuir em nenhuma de suas Instituições de Ensino Superior um PPGEF

reconhecido e recomendado pela CAPES, não apresenta nenhuma publicação. Dessa forma,

as regiões norte e nordeste se apresentam como as mais carentes no que se refere às pesquisas

voltadas para a formação continuada de professores em serviço.

Podemos observar ainda que desde o ano de 2000 as pesquisas acadêmicas

voltadas para a formação continuada dos professores na área de Educação Física vêm

crescendo (Figura 2), porém de forma irregular e muito tímida ainda. Houve um intervalo de

cinco anos (2003-2008) sobre os quais não tivemos nenhum estudo sobre a temática, mas não

teríamos subsídios para esboçar uma resposta sobre a ausência nesse período. Percebemos

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ainda um número considerável de pesquisas publicadas (09) no ano de 2014, o que representa

26% do total das dissertações e teses entre o período de dezesseis anos (2000-2016). Já nos

anos seguintes houve uma queda brusca, revelando uma distribuição irregular de pesquisas

realizadas sobre esta temática, mesmo estando no ápice das políticas públicas atuais, como o

PNE (2014-2024) que aponta a importância da formação continuada para os professores como

já situamos no capítulo anterior.

Figura 2- Quantidade de publicações nos PPGEFs por ano

Fonte: dados obtidos pelo levantamento da pesquisa/2016

Esses dados nos revelam que são poucas as pesquisas sobre formação continuada

de professores de Educação Física. Segundo Heringer (2008) a atribuição de importância a

esta temática se encontra ainda “em fase embrionária na Educação Física”, contando com um

número crescente de pesquisadores que se inspiram em estudos voltados para a educação de

forma mais ampla, ligados aos Programas de Pós-graduação em Educação. Entendemos que

precisamos avançar na nossa própria área, tendo em vista as peculiaridades da formação dos

professores de Educação Física.

Realizamos ainda, uma investigação por pesquisas nos Programas de Pós-

graduação na área de concentração da Educação (PPGED). Temos a consciência de que seria

preciso um tempo maior para realizar uma pesquisa mais aprofundada, devido ao grande

número de dissertações e teses que existe nesses programas. Iniciamos a busca no Banco de

Teses e Dissertações da CAPES, utilizando os mesmos descritores formação e professores no

setor de buscas e encontramos mais de cinco mil trabalhos. Modificamos o descritor para o

termo formação continuada como palavras-chave dentro dos conteúdos e encontramos 164

estudos, e apenas 03 eram voltados para a área da Educação Física.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

2000 2001 2003 2005 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Dissertações

Teses

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63

Por isso, abrangemos nossa pesquisa para a área da Educação, a fim de encontrar

mais estudos, e obtiver 105 do total de trabalhos encontrados. Porém, todos eles foram

publicados no período entre 2011 e 2012, e verificamos reclamações de alguns pesquisadores

e encontramos a informação em outros sites de pesquisas científicas, que só disponibilizam

teses e dissertações deste período na CAPES, o que acabou não contribuindo de forma

satisfatória em nossa pesquisa, visto que não tivemos acesso a pesquisas mais recentes.

Realizamos a leitura dos resumos de todos esses trabalhos e encontramos algumas

pesquisas que se aproximavam do nosso estudo no sentido de investigar os programas de

formação oferecidos por municípios e estados, porém apenas 02 (duas) dissertações são

voltadas para estudos referentes à formação continuada de professores de Educação Física,

sendo uma realizada pelo programa de Pós-graduação da Universidade Federal da Paraíba e

outra pelo programa de Pós-graduação da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Em relação aos periódicos científicos, ao optarmos por revistas com Qualis A1,

A2, B1, B2 na área de avaliação Educação Física em português que tivessem suas produções

disponíveis de forma online, e que se aproximassem mais da área da educação, selecionamos

08 (oito) revistas: Movimento (ESEF/UFGRS); Licere (Centro de Estudos de Lazer e

Recreação/UFMG); Revista Brasileira de Ciências do Esporte (CBCE); Revista Brasileira de

Educação Física e Esporte (USP); Revista da Educação Física (UEM); Motrivivência

(UFSC); Pensar a Prática (UFG) e Revista Brasileira de Ciência e Movimento (UCB).

Utilizamos como descritor a palavra formação e encontramos um total de 325

publicações, sendo distribuídas, conforme Quadro 5.

Quadro 5- Distribuição dos periódicos a partir de publicações

Periódico Descritor

(Formação)

1ª etapa 2ª etapa

Movimento 63 14 10

Licere 19 - -

Revista Brasileira de Ciências do Esporte 43 07 04

Revista Brasileira de Educação Física e Esporte 25 09 06

Revista da Educação Física 25 03 03

Motrivivência 71 17 15

Pensar a Prática 66 09 05

Revista Brasileira de Ciência e Movimento 13 02 01

Total 325 61 44

Fonte: dados obtidos pelo levantamento da pesquisa/2016

Realizamos a primeira etapa a partir da leitura dos títulos, selecionando as

pesquisas que atendessem o mesmo requisito utilizado na investigação das teses e

dissertações: as publicações precisariam anunciar debates sobre formação continuada para

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64

professores de Educação Física que estivessem em serviço na educação básica. Conforme já

esperávamos, devido à abrangência conceitual do descritor escolhido – formação – após essa

primeira filtragem o número de publicações diminuiu para 61 artigos distribuídos conforme o

Quadro 5.

Após a segunda etapa, que consistiu na leitura de todos os resumos dos artigos, a

investigação nos encaminhou a um número total de 44 artigos que trazem debates sobre a

formação continuada de professores de Educação Física, sendo o primeiro deles datado em

1994. Podemos verificar ainda (FIGURA 3) que nos dois últimos anos houve um crescimento

no número de pesquisas sobre essa temática. Além disso, identificamos também que muitos

desses artigos são recortes de dissertações e teses, o que diminui a quantidade de pesquisas

relacionas a essa temática.

Figura 3 - Quantidade de publicações em periódicos científicos por ano

Fonte: dados obtidos pelo levantamento da pesquisa/2016

Após uma leitura superficial dos trabalhos analisados – dissertações e teses

PPGEFs e PPGEDs e artigos publicados nos periódicos – podemos afirmar que os mesmos

em sua totalidade apresentam uma compreensão de formação continuada, considerando todos

os cursos realizados após a formação inicial como parte desse processo. E, apesar de

apresentarem relação com a formação continuada de professores em seus títulos e resumos,

em grande parte das pesquisas a formação continuada é utilizada como um espaço (campo de

pesquisa), em busca de respostas aos objetivos das investigações propostas, muitas vezes

propondo cursos isolados e pontuais apenas com esse fim.

Poucos apontam propostas de formação como programa contínuo, o que nos leva

a perceber uma preocupação muito maior com o produto da pesquisa que com o próprio

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Dissertações

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processo de formação. Talvez esse seja um dos motivos pelo qual muitos professores não são

receptivos às pesquisas, pois muitas vezes os pesquisadores apontam os problemas e trazem

as soluções prontas, sem sequer ouvir a população investigada, e, raramente, dão o retorno

dos resultados para os professores envolvidos. Contraditoriamente a essa percepção, as

pesquisas investigadas apontam, quase de forma unânime, a importância de “dar voz aos

professores” e colocá- los como protagonista de sua formação, inclusive na criação das

propostas de formação. A partir dessa perspectiva, Brandão (2011, p.176) sugere que

Precisamos, coletivamente, reinventar políticas públicas para a formação continuada,

na perspectiva do/a professor/a pesquisador/a, com propostas curriculares,

metodológicas, com a criação de condições que garantam espaço/tempo para sua

realização, que permitam aos/as professores reconhecerem e assumirem a sua

condição de sujeito. Para tal, é preciso, ainda, que se reconheça a necessidade e

importância de garantir a efetiva part icipação dos/as professores/as na criação dessas

políticas e propostas de formação. Assim, também eles/as podem se tornar autores,

coautores e, por isso, corresponsáveis na criação dessas propostas e dos discursos

sobre suas práticas pedagógicas e de formação [...].

Dessa forma, notamos que as pesquisas se encaminham para o fortalecimento do

protagonismo do professor no seu processo formativo, tomando como base uma forte cr ítica

aos modelos de formação continuada de caráter técnico-instrumental e uma aproximação

àqueles baseados na prática reflexiva, os professores deixando de ser meros receptores e

reprodutores de teorias e passando a produzir conhecimento.

Os professores também começam a se perceber neste lugar, como podemos

perceber em pesquisa realizada por Gunther & Molina Neto (2000) na qual afirmam que os

professores trazem uma ênfase na necessidade e o desejo em participarem de forma mais

efetiva de todos os momentos do processo de formação, “desde a concepção das atividades até

sua execução e avaliação” (p.81).

Nesse sentido, várias pesquisas se utilizaram das narrativas dos professores para

compreender o olhar e “dar voz” aos mesmos sobre os processos formativos dos quais

participam no sentindo de tornar a formação significativa a partir de uma perspectiva crítico-

reflexiva. Tomamos como exemplo a pesquisa de Loureiro & Caparroz (2010), um estudo

sobre o imaginário social de professores de Educação Física da Rede Municipal de Ensino de

Vitória a respeito da formação continuada com o objetivo de investigar o que esses docentes

pensam a respeito de seu processo formativo, e compreender, em sua globalidade,

complexidade e singularidade da sua formação, abrindo diálogo para pensar na melhoria dos

programas de formação continuada. Os autores fazem uma crítica ao programa de formação

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da cidade de Vitória/ES, denunciando-a como uma política de mandato e não uma política

pública, apontando sinais de descontinuidade em sua proposta.

A partir de nossa investigação, podemos afirmar que esses sinais não são

exclusivos da formação continuada da cidade de Vitória/ES. As pesquisas sinalizam uma

preocupação com a formação continuada dos professores de Educação Física, porém poucas

analisam ou sugerem propostas de formação continuada. Estas nos dão pistas de que a

continuidade e a oferta permanente não são características presentes nas mesmas.

A exemplo disso temos os estudos de Heringer (2008) que avaliou como as

propostas de formação previstas na política sugerida pela Secretaria Municipal de Educação

de Vitória/ES se efetivavam na escola, analisando as possibilidades que eram oferecidas nas

formações e o que é oferecido para que estas sejam concretizadas no âmbito escolar,

observando as contradições que cercam a formação continuada no dia a dia da prática escolar

a partir do olhar de uma professora participante da mesma.

As propostas avaliadas pelo autor apresentam duas tendências sinalizadas nas

discussões sobre formação, consideradas inovadoras. A primeira delas é a escola como lócus

principal no processo formativo dos professores, o que vem sendo debatido por diversos

pesquisadores, entre eles, destacamos Candau (2003), que acredita ser este um dos aspectos

fundamentais na busca por superar o modelo clássico de formação, defendendo que é no

cotidiano que o professor “aprende, desaprende, reestrutura o aprendido, faz descobertas e,

portanto, é nesse locus que muitas vezes vai aprimorando a sua formação” (p.57).

Nessa perspectiva, Gunther e Molina Neto (2001) apontam a partir de narrativas

dos professores de Porto Alegre que a identificação da escola como locus privilegiado de

formação permanente é expressa claramente pelos professores de forma que haja um

acompanhamento mais sistemático por parte da Secretaria Municipal da referida cidade nas

escolas, e que estas sejam palco de ações formativas.

Não temos dúvida da escola como um espaço de formação para os professores,

porém devemos atentar sobre as limitações do mesmo no processo formativo, principalmente

quando nos referimos à formação dos professores de Educação Física. Estes professores

muitas vezes não encontram seus pares nos ambientes escolares por ser o professor que tem

uma das cargas horárias menores nas escolas, quando comparadas aos demais componentes

curriculares.

Nesse caso, quando pensamos na formação continuada como um espaço de

compartilhamento de experiências, é de suma importância que os espaços extraescolares

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sejam considerados para que conhecimentos específicos sejam discutidos e questionados. Por

isso, corroboramos com Nóvoa (1991), quando ele afirma que devemos pensar na escola

como um dos espaços de formação, mas não como o único. Pensar na escola como único

espaço de formação seria correr o risco de limitar esse processo formativo que pode assumir

um caráter muito mais amplo.

Entendemos que defender a escola como principal lócus de formação é pensar em

propostas que considerem as realidades das escolas, buscando estratégias que contribuam na

construção de saberes dos professores, valorizando-os como protagonistas desse processo,

mas não deixando de considerar a importância do embasamento teórico. Nesse caso, não é

nossa intenção dicotomizar teoria x prática, mas ressaltar que uma necessita da outra.

A outra tendência apontada pelas propostas da cidade de Vitória/ES avaliadas por

Heringer (2008) é a pesquisa-ação como um dos caminhos possíveis na direção de uma

educação emancipatória. Esta tendência tem sido utilizada com frequência como metodologia

nas formações na área da Educação Física, sendo considerada uma estratégia em que o

professor se torna sujeito pesquisador de sua própria prática.

A pesquisa realizada por Bracht (1999) foi uma das pioneiras nesse processo. A

partir de uma experiência do Laboratório em Educação Física do Centro de Educação Física e

Desportos (CEFD) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) nos programas de

capacitação docente promovidos pela Secretaria Estadual de Educação do estado nos anos de

1996 e 1997, bem como da experiência dos cursos de especialização em Educação Física

escolar promovidos também pelo CEFD/UFES, utilizou-se a pesquisa-ação como estratégia,

buscando, entre outros objetivos, verificar em que medida esta metodologia traz resultados

positivos quando o objetivo é operar mudanças na prática pedagógica em Educação Física.

Podemos afirmar a partir dos resultados apresentados por Bracht (1997) que a

formação continuada deve ser gerida de forma que leve o professor a refletir sobre a sua

prática, dando condições para a construção de sua autonomia, a partir da reflexão de suas

concepções e atitudes, visto que os problemas cotidianos em uma escola são variáveis e

exigem tomadas de decisões dos professores que vão além da simples aplicação do

conhecimento técnico-teórico.

Em sua tese, Palma (2001), que também utilizou a pesquisa-ação como estratégia

com o intuito de estabelecer uma prática reflexiva com pesquisas sobre o oficio de ensinar,

tendo como consequência a autonomia profissional, elencou os seguintes benefícios que a

pesquisa-ação pode trazer:

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- cria estrutura facilitadora da reflexão e ação sobre os acontecimentos ligados ao

processo ensino-aprendizagem;

- provoca a união entre os professores, encorajando-os a novas interações,

possibilitando que assinam novos papéis e posturas de lideranças;

- proporciona a revelação de problemas em número consideravelmente maior que

em pesquisas tradicionais;

- estabelece como leg ítimo o conhecimento prático dos professores bem como seus

problemas;

- promove uma ligação estreita entre pesquisa-atitudes científicas -implementação de

resultados (PALMA, 2001, p.25).

Dessa forma, essa estratégia está ganhando um espaço importante em pesquisas

referentes à formação continuada. Nesse sentido, segundo Bracht (1999), a formação

continuada que utilizou a pesquisa-ação como aporte metodológico se mostrou profícua,

porém entende que é preciso ir em busca para superar as limitações e os problemas levantados

nas pesquisas, entre eles o caráter descontínuo do processo, apontando a necessidade da

implementação de programas que sejam contínuos e permanentes dentro de uma perspectiva

que ele denomina de política e/ou cultura de inovação pedagógica.

Analisando do nosso estado da arte, percebemos esse caráter de descontinuidade

em outras pesquisas que também utilizaram a pesquisa-ação como aporte metodológico, eque

encerrados seus estudos, atingindo ou não seus objetivos, a formação – que deveria ser

continuada – se limita a uma publicação que, no máximo, poderá ser utilizada como

referência para uma outra experiência. Não queremos com essa afirmação desmerecer o

caráter das pesquisas, mas trazer uma reflexão sobre essa limitação. Nesse sentido,

corroboramos com Brandão (2011, p.176), quando afirma que

Precisamos, coletivamente, reinventar políticas públicas para a formação continuada,

na perspectiva do/a professor/a pesquisador/a, com propostas curriculares,

metodológicas, com a criação de condições que garantam espaço/tempo para sua

realização, que permitam aos/as professores reconhecerem e assumirem a sua

condição de sujeito. Para tal, é preciso, ainda, que se reconheça a necessidade e

importância de garantir a efetiva part icipação dos/as professores/as na criação dessas

políticas e propostas de formação. Assim, também eles/as podem se tornar auto res,

coautores e, por isso, corresponsáveis na criação dessas propostas e dos discursos

sobre suas práticas pedagógicas e de fo rmação, pois, do contrário, segundo Linhares

(2006), o que não se faz com os professores se faz contra eles.

Nessa perspectiva, documentos como a Resolução 02/2015-CNE/CES aponta que

a formação deve ser pensada além da junção de cursos isolados, e para isso precisa avançar na

concretização de experiências, visto que já aparecem muito bem elaboradas em documentos

oficiais. Nesse sentido, a pesquisa-ação nos vislumbra o caminho de ter o professor como

autor desse processo, percebendo-o para além de suas potencialidades técnicas. Ainda

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segundo Brandão (2011), a pesquisa-ação possibilita a consideração à história de vida dos

professores, compreendendo suas angústias, que devem ser consideradas no processo

formativo, visto que o âmbito profissional e a vida pessoal estão intimamente ligados e as

transformações só ocorrem mutuamente.

A partir dessa compreensão, diversas pesquisas são conduzidas no sentido de “dar

voz” a esses professores no processo formativo. Destacamos os trabalhos de Loureiro (2010)

que buscou compreender o pensamento, o sentimento e as ações tomadas pelos professores de

Educação Física do Espírito Santo em relação a sua formação continuada baseada na Teoria

das Representações Sociais10, que vem sendo bastante utilizada nas pesquisas relacionadas à

formação de professores. O autor nos traz um alerta em relação à compreensão elaborada

sobre formação continuada a partir do olhar de suas opiniões, crenças, valores e

conhecimentos dos professores.

Seguindo este mesmo pensamento, Rossi (2010) busca analisar os significados

que um grupo de professores de Educação Física, atuantes na rede pública de ensino da cidade

de Bauru/SP, atribui à formação continuada no processo da profissionalidade docente. A

partir da sua pesquisa a autora revela que os professores tecem críticas em relação aos

programas de formação continuada pela falta de apontamentos satisfatórios em relação aos

problemas existentes no cotidiano escolar. Eles reconhecem que as atividades formativas têm

priorizado procedimentos e estratégias didáticas inovadoras, “mas o que de fato eles sentem

necessidade é de um processo permanente de reflexão” (p.96).

Ainda nessa perspectiva, podemos citar o estudo de Luiz (2014) que buscou

compreender, por meio das narrativas (auto)biográficas, os sentidos e as apropriações

produzidos por professores de Educação Física das cidades de Serra, Vitória e Viana, situadas

no Estado do Espírito Santo, sobre suas experiências com os processos de formação

continuada, sinalizando possibilidades para a construção de uma política voltada para o tema.

Apesar de ser um estudo que consideramos limitado, devido ao número de professores (14)

participantes, é de extrema relevância considerarmos algumas possibilidades apresentadas

pelo autor a partir dessas narrativas dos professores.

Destacamos a valorização e o compartilhamento das experiências pedagógicas que

surgem a partir das narrativas como uma perspectiva de formação considerada bastante

relevante para os professores, pois apresentam possibilidades de ensino que podem ser 10

A Teoria das Representações Sociais tem Moscovici como seu precursor e remete-se ao conhecimento

produzido no senso comum e que segundo Alves -Mazzotti apud Loureiro (2010) assume uma relevância na

orientação de políticas voltadas para a formação do professor a partir de suas representações.

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adaptadas em cada contexto escolar. Para Luiz (2014, p.43), essas experiências “se constituem

como produtos singulares, que nascem do ofício coletivo, criados e ressignificados pela

pessoa do professor”.

Nesse caso, pensar em uma formação em que o cotidiano escolar seja levado em

consideração, os professores sendo produtores de conhecimentos, é um caminho apontado por

diversos pesquisadores, a exemplo de Heringer (2008, p.57), quando afirma que

Fica evidente que os princípios que dão base a uma nova forma de visualizar a

formação continuada estão ancorados na autonomia e no protagonismo desses

professores. São eles os atores que devem não só participar de processos de

formação, mas, principalmente, defin ir seus objetivos e sua estrutura de

funcionamento.

Ressaltamos que ao valorizar o professor como protagonista no processo de

formação e como construtor de conhecimento, não estamos negando os saberes produzidos

nas Instituições de Ensino Superior (IES). Acreditamos sim, que eles se complementam.

Corroboramos com Tardif (2002) que entende as universidades como parceiras que

apresentam condições de atender de forma mais consistente as necessidades provenientes dos

processos de reconstrução de saberes e de desenvolvimento de subjetividades vivenciados

pelo professor.

Sem dúvidas, durante muito tempo, a visão de que essas instituições produziam

saberes e os professores no cotidiano escolar os colocavam em prática predominou, gerando

uma relação de tensão entre professores do Ensino Superior e professores da educação básica.

Se por um lado, os professores que estavam mais próximos às escolas se defendiam e até se

afastavam de formações onde os professores considerados detentores dos saberes

ministravam-nas, alegando que na prática a teoria era outra; por outro, os professores das IES

não valorizavam o conhecimento produzido por professores da educação básica por ser

considerado um saber empírico. Nesse sentido, corroboramos com Damiani & Melo (2006,

p.4) sobre essa relação ao apresentar o seguinte pensamento:

Sobre a formação permanente na relação Universidade-escola, compreendemos que

não há mais espaços para subordinações de uma sobre a outra, principalmente da

primeira sobre a segunda no que diz respeito à tarefa de transmitir conhecimentos.

Professores de ambas as instâncias que devem ser considerados parceiros,

companheiros das mesmas lutas e desafios que dialogam, que se apoiam, que fazem

trocas constantes diante de realidades diversas, mas tão iguais nos problemas de

ordem educacionais, e daí com tantas contradições e questionamentos.

Percebemos a partir das nossas investigações que experiências na tentativa de

romper esse muro enorme que sempre separou as IES das escolas vêm aumentando

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significativamente. Entendemos que estas podem trazer subsídios que estimulem ações

colaborativas entre os pesquisadores, as IES e os professores na busca de refletir e transformar

suas realidades e práticas formativas. Nesse sentido, Luiz (2014, p.19) afirma que

O desafio está em discutir a formação continuada de professores de forma articulada

a conceitos como teoria e prática, experiência, profissionalização e trabalho docente,

processos de identificação profissional ao longo da carreira, relações de poder,

autonomia e emancipação do professor, pois a formação continuada determina e é

determinada pelo modelo de o rganização da escola e do currículo, pelos usos do

espaço e do tempo, pelas práticas de planejamento e gestão, pela forma como as

aulas são distribuídas, ou seja, por muitos fatores que incidem sobre a qualidade da

educação, do trabalho docente e da própria profissão.

Porém, mais uma vez enfatizamos a necessidade dessas propostas saírem do papel

e serem concretizadas como um processo de formação de caráter contínuo sob o viés de

políticas públicas, visto que todas as pesquisas apontam as mesmas direções, ou seja, a

formação continuada não é mais um espaço que navega no desconhecido, já se tem um

embasamento teórico muito consolidado a partir de produções científicas que sinalizam

tendências inovadoras que favorecem o processo formativo do professor.

Infelizmente, o que percebemos é que essas experiências colaborativas entre

pesquisadores, IES e professores se limitam em sua maioria a projetos de extensão ou cursos

de especialização em nível de pós-graduação lato sensu , sempre com prazo previsto para

término e a maioria realizada na região sul e sudeste.

Uma experiência bastante expressiva na região nordeste quanto ao processo

formativo dos professores de Educação Física, foi a proposta de trabalho do Núcleo de

Formação Continuada para Professores de Arte e Educação Física – Paidéia /UFRN. Esta foi

o objeto de estudo da tese de Capistrano (2010), que investigou a perspectiva de professores

cursistas acerca da formação continuada desenvolvida pelo Paidéia, no que se refere à

ressignificação de saberes da área de Educação Física na Educação Infantil.

Essa pesquisa não surgiu em nossa investigação por não ter atendido aos critérios

de busca já elencados, entre eles a vinculação ao PPGEF, pois a mesma foi uma pesquisa

realizada no Programa de Pós-Graduação em Educação do Centro de Ciências Sociais

Aplicadas. Entretanto, consideram-na de extrema relevância no que concerne à formação

continuada de professores, especialmente os de Educação Física.

A referida pesquisa é de suma importância para pensarmos na formação

continuada para professores, porém, mesmo se tratando de saberes da área da Educação

Física, os sujeitos da investigação são 23 professores formados em Pedagogia e apenas 01

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formado em Educação Física, visto que passaram pelo critério de ser professor da Educação

Infantil. Esse dado nos revela a ausência do professor de Educação Física nesse segmento da

Educação Básica, apontando a necessidade de pesquisas sobre essa temática.

Retomamos então às discussões sobre o Núcleo de Formação Continuada para

Professores de Arte e Educação Física – Paidéia /UFRN, que foi criado em 2004 a partir de

uma seleção lançada pelo Ministério da Educação para criação da Rede Nacional de

Formação de Professores de Educação Básica – descrito no capítulo anterior – por meio do

edital nº 01/2003.

Na busca sobre mais informações que enriquecessem nossa pesquisa, buscamos os

arquivos do Núcleo Paidéia, que se encontram em uma sala no Departamento de Educação

Física da UFRN. O Núcleo permanece sendo utilizado para estudos e pesquisas voltados a

Educação Física escolar, principalmente pelo Grupo de Estudos Corpo e Cultura de

Movimento – GEPEC, o qual conta com pesquisadores que coordenaram o Núcleo Paidéia, a

exemplo do professor José Pereira de Melo.

O Programa de Formação Continuada para Professores de Artes e Educação

Física apresentado pelo Núcleo Paidéia foi pautado no seguinte modelo:

[...] três modalidades de formação: Cursos de Atualização (40 horas), Cursos de

Aperfeiçoamento (180 horas) e Cursos de Especialização (360 horas). As

modalidades (atualização, aperfeiçoamento e especialização) constituir-se-ão de

módulos seqüenciais, para os quais foram elaborados materiais didáticos para o

planejamento de aula, projeto pedagógico da escola, formação de tutores, entre

outros, para a avaliação individual dos participantes. Na oferta dos módulos,

dividiremos as atividades dos cursos em horas presenciais e não-presenciais

(atividades vivenciais na própria sala de aula do professor e encontros pedagógicos

com o tutor) (UFRN, 2004).

Notamos que o programa de formação continuada foi apresentado sob uma

perspectiva de complexidade de níveis baseada em quantidade de horas que remete ao

aprofundamento de formação. Nesse pensamento, uma carga horária de 40 horas apenas

atualiza os professores, 180 horas daria um caráter de aperfeiçoamento e 360 horas, carga

horária mínima exigida pela Resolução n° 1, de 8 de Junho de 2007 que estabelece normas

para o funcionamento de cursos de pós-graduação lato sensu em nível de especialização, deu

ao professor o título de especialista.

O Núcleo Paidéia trouxe uma proposta de formação continuada que é um

referencial e um parâmetro de avanço em relação à formação de professores de Artes e

Educação Física no nordeste, quando trouxe o professor como protagonista nesse processo. O

curso de especialização idealizado por esse grupo teve a intenção de considerar a experiência

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do professor e o contexto da escola na qual estava inserido, considerando o professor como

“um sujeito que possui conhecimentos e um saber-fazer proveniente de sua própria atividade e

das trocas que estabelece com a realidade, com os alunos, com os colegas, com o

conhecimento da área, com as experiências vividas” (NÓBREGA; MELO; DIAS, 2011).

Talvez esse reconhecimento do professor como sujeito de sua formação tenha sido

um dos fatores que levou essa experiência a surgir significativamente nas narrativas dos

professores de Educação Física que tiveram o privilégio de participar, sinalizando-a como um

curso que marcou de forma singular o seu processo formativo. A grande quantidade de

professores de diversas áreas contemplados pelas ações de formações ofertadas pelo Núcleo

Paidéia também é algo que se destaca, conforme podemos perceber no Quadro 6.

Quadro 6- Demonstrativo de Professores e municípios atingidos por eventos/modalidades ofertados pelo Núcleo

Paidéia

Eventos/Modalidades Professores envolvidos Municípios atingidos

Encontros 1.050 210

Cursos

- Especialização

- Aperfeiçoamento

- Atualização

250

--

1.200

48

--

59

Oficinas 662 59

Total 3.162 376

Fonte: Paidéia

Além de cursos de formação, o Núcleo Paidéia organizou quatro edições do

Encontro Nacional de Ensino de Arte e Educação Física, que deram visibilidade às práticas

dos professores no cotidiano escolar, além de estimulá- los à pesquisa, fazendo-os refletirem

sobre sua própria prática. Os encontros foram realizados com conferências, minicursos, mesas

temáticas, mesas redondas e exposição de pôsteres, colaborando para a aproximação entre as

IES e as escolas do ensino básico. Além disso,

[...] constituindo-se em um espaço privilegiado para o debate de temáticas relevantes

para a consolidação da arte e educação física como componentes curriculares.

Assim, com a temát ica Arte e Educação Física: Ação na Escola pretendemos

instigar o debate em torno da relação teoria-prática no ensino das linguagens

artísticas e das práticas corporais na educação escolarizada, tendo-se como eixo a

socialização de experiências pedagógicas e a p rodução de conhecimentos, com a

participação de d iferentes estudiosos das duas áreas nos diversos cenários de

discussão que serão ofertados no desenvolvimento do evento (UFRN, 2006).

Esses eventos foram de suma importância para o professor de Educação Física se

perceber como produtor de conhecimento a partir das suas experiências pedagógicas.

Sabemos que o professor desta área sempre esteve muito preocupado com o saber fazer.

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Podemos afirmar que a formação inicial contribuiu – e ainda contribui – quando nos cursos de

graduação há predominantemente o incentivo à parte instrumental do conhecimento.

Nesse sentido, corroboramos com Kunz (1995), quando afirmou que é muito

limitado o valor que se dá ao saber cientifico entre os professores de Educação Física,

atribuindo a dois motivos que, mesmo com as diversas mudanças ocorridas nos currículos dos

cursos de graduação, são perceptíveis na formação inicial do professor de Educação Física.

Um deles, já citado acima, diz respeito à ênfase instrumentalização funcional desses futuros

professores e o outro está relacionado a falta da compreensão teórico conceitual daqueles

professores que atuam nas escolas, onde apenas “repete o receituário prático recebido na sua

formação” (KUNZ, 1995, p.49).

Assim, a formação continuada também deve estimular o professor a assumir uma

postura de pesquisador que, segundo as palavras de Freire (1997, p. 32), “faz parte da

natureza da prática docente a indagação, a busca, a pesquisa. O que se precisa é que, em sua

formação permanente, o professor se perceba e se assuma como professor e como

pesquisador”.

Dessa forma, faz-se necessário entender que a teoria e a prática devem dialogar

constantemente, pois somente sendo investigador de sua prática, o professor será capaz de

refletir sobre a mesma e de transformá-la. Bracht (2002, p.17) afirma que “não é tarefa fácil

superar a visão imediatista e instrumental do conhec imento”. Portanto, torna-se mais difícil

fazer com que o professor de Educação Física, que tem essa visão mais acentuada devido à

sua formação, assuma o papel de pesquisador. Por isso, experiências como esta, trazida pelo

Núcleo Paidéia, apontam possibilidades para programas de formação continuada.

Contamos ainda com um acervo riquíssimo de material que pode servir de apoio

na formulação de programas de formação continuada produzido pelo Núcleo Paidéia. Foram

elaborados livros, cadernos didáticos, revistas, vídeos, folders institucionais, Boletins

Informativos, CD-ROM, entre outros, conforme mostra o Quadro 7.

Quadro 7- Materiais elaborados e editados pelo Núcleo Paidéia

Es pecificação Número de volumes

Vídeos 03

Cadernos Didáticos 05

CD-ROOM 03

Livros Didáticos 04

Revista Brasileira de Ensino de Arte e Educação Física 03

Coleção Cotidiano Escolar 12

Caderno Informat ivo 01

Guia do Tutor 01

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Livros de resumo dos Encontros Nacionais 03

Fonte: Arquivos do Paidéia

Esses materiais didáticos (Cadernos e Livros) subsidiaram os cursos de formação

oferecidos pelo Núcleo Paidéia, trazendo uma orientação didática que deu suporte aos

mesmos, adotando como pressuposto a prática reflexiva a partir do processo de ação –

reflexão – ação. Nesse sentido, recorremos a Capistrano (2010, p.112) que explica em sua tese

a orientação apresentada nesses materiais.

- Atividade desencadeadora – tem a intencao de fazer a conexao teoria /prática, à

medida que provoca reflexoes /discussões iniciais acerca da tematica a ser abordada .

Propõe uma atividade com todas as etapas do seu planejamento : nome,

intencionalidade, tempo aproximado , material , espaço físico e procedimentos . Além

da atividade sugerida , são também apresentadas outras possibilidades de atividades

em uma sessao denominada sugestão de atividades.

- Em seguida , há um texto para fundamentação teórica do conteúdo proposto que

subsidia as discussoes.

- Ao final do texto , o capitulo traz questoes alusivas a tematica a fi m de permitir

uma reflexao posterior .

- Por fim , há indicação de leituras para complementar o aporte teórico sobre as

temáticas discutidas.

Notamos uma perspectiva inovadora de formação nessa orientação didática visto

que a mesma ultrapassa os modelos de formação continuada baseados no racionalismo técnico

em que especialistas em educação formulavam programas e planejamentos de ensino que

fossem capazes de provocar respostas adequadas e aos professores aplicá-los. Na Proposta

apresentada pelo Núcleo Paidéia, o professor é o protagonista do processo.

A partir desse protagonismo, foi elaborada a Coleção Cotidiano Escolar,

publicada anualmente no período de quatro anos a partir das experiências pedagógicas dos

professores de Educação Física e Artes, estimulando o professor no processo de pesquisa.

Assim, corroboramos com Pontes (2013, p.63), quando afirma que essa escrita torna uma

experiência de formação diferenciada, pois, segundo a autora, “ao escrever, a professora ou

professor revê sua experiência, significa sua atuação e socializa os percursos de sua formação.

Dessa forma, os frutos dos seus trabalhos são utilizados hoje como referência nacional para a

elaboração de programas de formação para professores de Educação Física”.

Ademais, as experiências de formação continuada realizada pelo Núcleo Paidéia

apontaram aspectos que, segundo Melo (2006) apud Nóbrega et al. (2011), merecem ser

considerados e refletidos, tais como as críticas à Universidade e seu distanciamento da Escola;

a dicotomia teoria e prática; a ideia de “capacitação” e de cursos de atualização como um

pacote de “receitas” e o descrédito dos componentes curriculares Arte e Educação Física nas

escolas. Alguns anos se passaram e essas continuam sendo questões atuais que precisam ser

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refletidas para pensarmos em um programa de formação continuada para professores de

Educação Física que seja significativo de fato.

Nesse caso, pensar no professor como participante e não como ouvinte desse

processo – como fez o Núcleo Paidéia – é caminhar em busca de diminuir as lacunas entre o

que se idealiza em uma formação continuada e o que realmente é possível na realidade do

cotidiano escolar. Porém, é preciso ter cuidado em não reduzir esta formação a um espaço

apenas de escuta, as lamentações devido às limitações encontradas no âmbito escolar

tornando-se o foco da discussão. Com isso não negamos a importância de conhecê- las, mas,

no intuito de que, a partir delas, sejam direcionados encaminhamentos em busca da

ressignificação da prática pedagógica.

Ressaltamos que a mudança na prática pedagógica tem sido um dos objetivos

recorrentes nas pesquisas encontradas em nossa investigação acerca da formação continuada

de professores de Educação Física. E pensamos nessa prática pedagógica de forma mais

ampla do que a maioria dos trabalhos apresenta, quando resume a mesma ao ato de aplicar os

instrumentos procedimentais, por exemplo. Acreditamos no conceito de prática pedagógica

que envolve elementos que abrangem organização, gestão, ensino e pesquisa. Nesse sentindo,

consideramos a formação continuada um caminho para se refletir sobre esta prática, contudo

entendemos que várias condições envolvem a transformação da mesma.

Fatores que abarcam, inclusive, a participação (ou não) dos professores nas

formações oferecidas pelos órgãos centrais, como por exemplo, as más condições de trabalho,

os baixos salários que levam os professores a uma jornada excessiva de trabalho, a grande

quantidade de turmas, a falta de valorização do professor. E quando nos referimos aos

professores de Educação Física esses problemas são ainda mais enaltecidos, visto que muitas

escolas sequer possuem espaços apropriados para práticas dessa disciplina; por ser um

componente curricular que possui menor carga horária na matriz curricular, o professor de

Educação Física, é um dos que possui o maior número de turmas, tendo muitas vezes que

complementar sua jornada de trabalho em diversas escolas. Além disso, é um profissional

pouco valorizado no âmbito escolar.

Nesse sentido, a construção de um programa de formação continuada para

professores de Educação Física apresenta desafios políticos, epistemológicos e pedagógicos,

pois demanda fundamentos teórico-metodológicos, desenvolvimento de pesquisas, criação e

consolidação de práticas de ensino-aprendizagem que possam, efetivamente, ser um espaço

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significativo em que se possa vislumbrar uma perspectiva de transformações na prática

pedagógica de forma ampla.

Algumas experiências nos apontam possíveis caminhos para que a formação

continuada seja transformada nesse espaço significativo para os professores de Educação

Física. A exemplo, a Secretaria de Educação do Município do Natal, capital do Rio Grande do

Norte, vem desenvolvendo um programa de formação continuada organizado por componente

curricular, contemplando dessa forma todos os professores das escolas públicas, incluindo os

professores de Educação Física.

No tocante aos investimentos realizados na Rede Municipal de Ensino do

Natal/RN, verifica-se que a Secretaria de Educação vem oferecendo cursos, seminários,

jornadas pedagógicas, entre outras modalidades de formação continuada aos professores da

Rede Municipal do Natal há décadas.

Foi na década de 60, quando implantada a Campanha De Pé no Chão Também Se

Aprende a Ler que foram desenvolvidas as primeiras ações formativas. Foi criado o Centro

de Formação de Professores (CFP) que era responsável pelo acompanhamento dos professores

que iriam trabalhar nos acampamentos escolares. Esse foi instalado em dezembro de 1962

pela Lei nº 1.301, de 27 de dezembro de 1962. De acordo com Germano (1982) esse Centro

“substituía a Coordenação Técnico-pedagógica que existia desde outubro de 1961 e tinha

como atribuições: a formação de professores, através de diferentes cursos; a manutenção de

uma escola de demonstração, que servia como laboratório para os seus alunos; a coordenação

pedagógica da Campanha” (p.104).

Algumas pesquisas sobre a Campanha De Pé no Chão Também Se Aprende a Ler

trazem reflexões sobre essa formação, Aquino (2012), em seu estudo relata, baseando-se nas

narrativas dos professores que atuaram em acampamentos, o sentido que eles davam a essa

formação. Um dos depoimentos é o do professor João Oliveira Sobrinho, que afirma que

Eles não deixaram a gente abandonado lá, não. Esses galpões foram feitos e a

Secretaria de Educação tinha um grupo de pessoas que vinha visitar e assistir aula

com a gente; sentavam também, verificavam, depois agradeciam, falavam com

aqueles alunos. [...] Eles conversavam se a gente sentia alguma dificu ldade (IDEM,

p.4).

Dessa forma, podemos afirmar que a formação continuada focalizava também os

acampamentos como lócus por meio de assessoramento, além de encontros sistemáticos como

nos revela Aquino (2012) em sua pesquisa. A autora considera que a formação continuada

ocorria naquela época por meio das reuniões dos supervisores dos acampamentos com a

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equipe pedagógica do Centro, das reuniões dos supervisores com os professores dos

acampamentos, das semanas pedagógicas, das práticas dos professores em suas salas de aula,

dos próprios encontros com a comunidade e na semana de cultura.

Os cursos de formação continuada aconteciam em níveis diferentes, eram

nomeados de curso de Emergência – preparação a curto prazo; cursos e/ ou treinamentos com

duração de três ou quatro meses; Ginásio Normal – duração de quatro anos; Colégio Normal –

duração de três anos. Eles eram organizados da seguinte forma

[...] além da parte propriamente técnica, incluía-se uma outra parte referente ao

estudo dos problemas e da realidade brasileira, bem como d is cussões sobre o

conteúdo da Cartilha (Livro de Leitura/ Adultos) da Campanha. O temário, em geral,

versava sobre os seguintes aspectos: Processo Espoliativo do Imperialis mo, Cultura

Brasileira e Alienação, Cultura Popular, Análise e Crítica da Constituição Brasileira,

Realidade Brasileira, Reformas de Base, Aspectos da Economia Brasileira, O

Professor Primário em Face da Realidade Brasileira e Análise da Cartilha da

Campanha (GERMANO, 1982, p. 104-105). Percebemos pelo relato da narrativa do professor que a formação continuada era

pautada em demandas das escolas e da educação brasileira de uma forma geral. Nesse

momento podemos dizer que havia uma reflexão sobre a prática do professor, pois eles

traziam os problemas do cotidiano e pensavam coletivamente em estratégias. Nesse contexto,

Imbernón (2012, p.46) afirma que “A formação técnica e isolada pode originar experiências

de inovação, mas dificilmente uma inovação da instituição e da prática coletiva dos

profissionais”. Por isso, a formação continuada deve se aproximar o máximo da realidade

escolar, partindo das necessidades reais do professorado.

Para o contexto daquela época, a formação continuada oferecida aos professores

da Campanha fugia do padrão do modelo predominante na década de 60, o qual se restringia à

aplicação dos conteúdos transmitidos em palestras e cursos de curta duração na prática.

Notamos que a reflexão sobre a prática, que só ganharia uma dimensão anos depois, já era

enunciada nessa experiência.

Na década de 80, a formação continuada dos professores no cenário nacional foi

marcada pela busca da ruptura do pensamento tecnicista, e, acompanhando esta tendência a

Secretaria Municipal de Educação do Natal firmou parcerias com instituições. Dentre elas, a

UFRN que, por meio da Pró-Reitora de Extensão, ofertou o I Curso de Aperfeiçoamento para

docentes da Rede Municipal de Ensino, com uma carga horária total de 180h, com foco nos

fundamentos antropológicos, sócio históricos, psicológicos e filosóficos da educação

(NATAL, 2014).

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Entre as décadas de 80 e 90 “a formação de professores foi assumindo diferentes

contornos metodológicos que imprimiram maior ou menor grau de sistematização ao

processo” (NATAL, 2014, p.14). Não existia uma continuidade dos encontros que ocorriam

de formas pontuais. A década de 90 foi marcada pelas reformas educacionais que ocorriam

em todo o mundo em busca da melhoria da educação e um dos motivos apontados como causa

da precariedade da mesma no Brasil foi à deficiência na formação inicial e continuada do

professor.

Nesse sentido, o investimento na formação profissional do professor foi

enfatizado por vários programas e cursos11 de formação que foram designados pelo MEC e

custeados pelo Fundo Nacional de Educação (FNDE). No cenário local, a Secretaria

Municipal de Educação do Natal instituiu dois grandes eventos formativos – a Jornada

Pedagógica das Escolas da Rede Municipal do Natal (JENAT), lançando uma proposta

temática de trabalho por meio de palestras e apresentação de trabalhos de professores e a

Mostra de Arte, Cultura e Conhecimento (MARCO), um espaço de culminância dos trabalhos

realizados pelas escolas (NATAL, 2014).

Além da adesão a ações e programas destinados pelo MEC, a Secretaria

Municipal de Educação organizou formações mensais para elaboração dos Refere nciais

Curriculares de cada componente curricular, a partir da versão preliminar elaborada pelos

professores durante a JENAT de 2006. Concluindo com a publicação dos Referenciais

Curriculares em 2008.

Com a aprovação do Plano Nacional de Educação regulamentada pela Lei

10.172/2001, o compromisso com a formação dos professores e valorização dos mesmos

continuaram sendo enfatizados e os programas oferecidos pelo MEC continuaram ocorrendo.

No entanto, segundo A Política de Formação Continuada e Projeto de Assessoramento

Pedagógico para Rede Municipal de Ensino do Natal elaborada no ano de 2010, foi

identificado que a forma pontual e isolada na política de formação de professores apresentava

deficiências na sistematização e acompanhamento dos resultados.

De acordo com a entrevista realizada com o assessor pedagógico que era

responsável pela formação continuada dos professores de Educação Física, anteriormente à

constituição da equipe atual, em 1999, quando assumiu como professor da rede municipal, os

encontros eram assistemáticos e esporádicos, organizados pelo Setor de Desporto do

Departamento de Ensino Fundamental, eles se reuniam para discutir as propostas e

11 Parâmetros em Ação; Gestão da Aprendizagem; Programa de formação de professores Alfabetizadores; Educação

Ambiental e demais temas transversais.

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tendências. Em uma dessas reuniões se iniciou a construção do Referencial Curricular de

Educação Física, inicialmente pela Educação de Jovens e Adultos, em 2006, na gestão de

Carlos Eduardo Nunes Alves, tendo como Secretária de Educação a professora Justina Iva de

Araújo Silva. Somente depois os Referenciais do Ensino Fundamental começaram a ser

elaborados. Para a consolidação do Referencial de Educação Física (anos iniciais e anos

finais), todos os professores foram convidados, porém, apenas 07 (sete) participaram da sua

construção.

A princípio os encontros de formação continuada foram organizados para d iscutir

sobre o Referencial Curricular. No entanto outra demanda para a formação dos pro fessores de

Educação Física da Rede Municipal do Natal surgiu, devido a inserção destes professores

também nos anos iniciais que somente ocorreu “para ajustar as cargas horárias do professor e

do aluno” (NATAL, 2010, p. 28), pois, conforme previa a Lei Complementar nº 058, de 13 de

Setembro de 2004, que dispõe sobre o Plano de Carreira, Remuneração e Estatuto do

Magistério Público Municipal do Natal, os professores adquiriram o direito de destinar vinte

por cento de sua carga horária “à preparação e avaliação do trabalho didático, à colaboração

com a administração da escola, a reuniões pedagógicas, à articulação com a comunidade e ao

aperfeiçoamento profissional em serviço”. Dessa forma, a Secretaria Municipal de Educação

do Natal identificou a necessidade de formação para os professores desta área, considerando

que eles trabalhariam com crianças dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental (NATAL,

2010).

Apesar da formação continuada na Rede Municipal do Natal ter se iniciado desde

a década de 60, somente no ano de 2010 a Política de Formação Continuada e Projeto de

Assessoramento Pedagógico para Rede Municipal de Ensino de Natal foi elaborada sob a

coordenação da Secretária Adjunta de Gestão Pedagógica à época, professora

Tânia Maria Leiros Cunha Cavalcanti , com a participação da Comissão de Formação

Continuada, Ensino e Pesquisa, do Comitê Estratégico de Assessoramento Pedagógico e dos

Assessores Pedagógicos e Chefes dos Departamentos de Ensino Fundamental, Educação

Infantil e Gestão Escolar e Atendimento ao Educando. O referido documento foi elaborado

com o objetivo de

Propor uma polít ica de formação continuada adequada aos profissionais docentes,

dentro de suas especificidades, articulando teoria e prática de modo a favorecer uma

unidade formativa de qualidade, com vistas a garantir o processo de aprendizagem

dos educandos (crianças, jovens e adultos) matricu lados nas unidades educacionais

da rede municipal de ensino da cidade do Natal (NATAL, 2010, p.10).

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Propunha ainda, em consonância com as propostas atuais de formação continuada,

a superação da visão minimalista e compensatória envolvida no modelo clássico de formação

– trazida na Lei Municipal 058/2004 – a partir de um processo complexo que envolvesse um

empoderamento do conhecimento científico que movimentasse o sistema educacional e suas

instituições, considerando e respeitando suas especificidades. Dessa forma, algumas medidas

foram apontadas para a efetivação dessa política: realização da formação continuada dos

assessores pedagógicos da SME/Natal; planejamento anual das ações de formação,

assessoramento e avaliação contínua das ações formativas.

Nessa perspectiva, a Política de Formação Continuada e Projeto de

Assessoramento Pedagógico para Rede Municipal de Ensino de Natal entendia, a partir dos

pressupostos apontados nos Referenciais para a formação de professores (MEC, 2002, p.18),

que

1. O professor exerce uma ativ idade profissional de natureza pública, que te m

dimensão coletiva e pessoal, implicando simultaneamente autonomia e

responsabilidade;

2. O desenvolvimento profissional permanente é necessidade intrínseca a sua

atuação e, por isso, um direito de todos os professores;

3. A atuação do professor tem como dimensão principal a docência, mas não se

restringe a ela: inclui também a part icipação no projeto educativo e curricular da

escola, a produção de conhecimento pedagógico e a part icipação na comunidade

educacional. Portanto, todas essas atividades devem fa zer parte da sua formação;

4. O trabalho do professor visa o desenvolvimento dos alunos como pessoas, nas

suas múlt iplas capacidades, e não apenas a transmissão de conhecimentos. Isso

implica uma atuação profissional não meramente técnica, mas também intelectual e

política;

5. O necessário compromisso com o sucesso das aprendizagens de todos os alunos

na creche e nas escolas de educação infantil e do ensino fundamental exige que o

professor considere suas diferenças culturais, sociais e pessoais e que, sob hipótese

alguma, as reafirme como causa de desigualdade ou exclusão;

6. O desenvolvimento de competências profissionais, exige metodologias pautadas

na articulação teoria - prática, na resolução de situações-problema e na reflexão

sobre a atuação profissional;

7. A organização e o funcionamento das instituições de formação de professores são

elementos essenciais para o desenvolvimento da cultura p rofissional que se pretende

afirmar. A perspectiva interinstitucional de parceria e cooperação entre diferentes

instituições - também contribui decisivamente nesse sentido;

8. O estabelecimento de relações cada vez mais estreitas entre as instituições de

formação profissional c as redes de escola dos sistemas de ensino é condição para

um processo de formação de professores referenciado na prática real.

9. Os pro jetos de desenvolvimento profissional só terão eficácia se estiverem

vinculados a condições de trabalho, avaliação, carreira e salário.

A partir desses pressupostos, foram estabelecidas metas gerais que deveriam ser

cumpridas por toda a Secretaria Municipal de Educação, visto que a execução das mesmas

não dependia somente dos aspectos pedagógicos, mas também dos administrativos,

financeiros e jurídicos que envolviam o detalhamento e a avaliação anual das ações

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formativas e de assessoramento, assim como o estabelecimento de estratégias que

possibilitassem o acompanhamento dos resultados alcançados pelas mesmas; a realização de

formação continuada para todos os assessores pedagógicos das SME, assim como de todos os

profissionais do magistério e educadores infantis; o estabelecimento de parcerias com

Instituições de Ensino Superior; a criação e manutenção de programa de incentivo a pesquisas

voltadas ao cotidiano escolar; a articulação de ações formativas que contemplassem a

preservação do meio ambiente, multiculturalismo e qualidade de vida; promoção de ações

formativas que priorizassem o atendimento às necessidades dos alunos com deficiência; o

estabelecimento de parcerias com outras secretarias do sistema munic ipal e órgãos estaduais

(NATAL, 2010).

Além dessas, foram estabelecidas metas específicas para as áreas da Gestão

Escolar, Educação Infantil e Ensino Fundamental. Entre as metas de responsabilidade do

Departamento de Ensino Fundamental, destacamos a seguinte: “proporcionar Formação

continuada para os docentes de artes e Educação Física, com foco na perspectiva do

letramento e no desenvolvimento humano” (Idem, 2010, p.34), a qual consideramos muito

limitada, visto que sugere a compreensão de uma formação biologicista do professor de

Educação Física, quando já havíamos avançado nessa perspectiva. Supomos que não havia

professor específico de Educação Física na equipe responsável pela elaboração deste

documento, embora nesta época já houvesse uma equipe responsável pela formação

continuada dos professores de Educação Física.

Porém, em entrevista, o assessor pedagógico – que no ano de construção deste

documento fazia parte do Setor de Ações e Projetos juntamente com a professora Fátima

Costa, também de Educação Física – afirmou que inicialmente a preocupação maior era com a

formação continuada voltada para os coordenadores pedagógicos e que apenas no ano de 2009

a formação continuada se concretizou com encontros mensais, ocorrendo nos dois turnos para

atender a todos os professores. Ainda, segundo ele, a frequência era baixa, o que ele associava

primeiramente à dificuldade de comunicação Secretaria/Escola.

Com a saída da professora Fátima Costa do Setor responsável pela formação

continuada dos professores, e a transferência do assessor pedagógico entrevistado para o Setor

de Educação de Jovens e Adultos, houve a necessidade de formar uma equipe que voltasse a

ter responsabilidade sobre essa ação. Dessa forma, até o ano de 2013 o responsável pela

formação continuada dos professores de Educação Física dos anos iniciais, finais e Educação

de Jovens e Adultos da Rede Municipal do Natal era apenas um assessor pedagógico que

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acabou assumindo essa atribuição, já que o Setor responsável pela mesma não tinha

representação de professores de Educação Física.

Assim, no ano de 2014 a equipe foi composta pelos professores Matheus Jancy e

Jonas Sobrinho, convidados pela chefe do Departamento de Ensino Fundamental (DEF) –

Professora Ednice Peixoto – pela vasta experiência no campo da educação inclusiva, com

trabalhos importantes com deficientes; e eu, pela experiência com a formação continuada com

os monitores do macrocampo Esporte e Lazer do Programa Mais Educação. A equipe ficou

responsável pelo planejamento dos encontros de formação continuada dos professores de

Educação Física, assim como pelo assessoramento dos projetos12 a partir daquele ano.

Assim, a equipe passou a planejar e organizar os encontros de formação

continuada para os professores de Educação Física. No sentido de compreender como se

configurou a mesma a partir deste período, dedicamos a seção seguinte à descrição do seu

planejamento e da sua organização didática.

12

Correspondente a complementação da carga horária segundo a Resolução 06/2009 do Conselho Municipal de Educação que

estabelece a Matriz Curricular para o Ensino Fundamental nas Unidades Escolares da Rede Municipal de Natal/RN .

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SEÇÃO III

DO PLANEJAMENTO À AVALIAÇÃO DOS ENCONTROS FORMATIVOS – UMA

ANÁLISE DA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO

FÍSICA NA SME/NATAL

Nesta seção discutiremos o processo de planejamento dos encontros ocorridos no

período de 2014 a 2016 do programa de formação continuada oferecido pela SME/Natal aos

professores de Educação Física da Rede Municipal de Ensino, identificando a concepção

daqueles que participam dos encontros sobre o referido programa utilizando-se da avaliação

realizadas com eles.

A formação continuada oferecida pela SME/Natal aos pro fessores de Educação

Física da Rede ocorre por meio de encontros quinzenais e são planejados e executados pela

equipe de assessores pedagógicos do SAPEF/DEF.

O ano de 2014 foi marcado por incertezas e tentativas em relação à formação

continuada oferecida aos professores de Educação Física por parte da equipe de formadores.

O planejamento dos encontros foi muito mais movido pelas experiências pessoais e

profissionais que por qualquer outro fundamento e não possuía um embasamento teórico.

Todas as dúvidas, anseios, críticas relacionadas às formações das quais participávamos na

condição de professor, quando estávamos lotados nas escolas, foram consideradas.

Na perspectiva de sempre atender as reais necessidades dos professores que estão

na escola no dia a dia, a proposta de formação continuada para aquele ano foi elaborada com a

colaboração do assessor pedagógico que até o ano anterior era responsável pelo planejamento

e organização dos encontros de formação continuada. A partir destes, foram elencados,

conjuntamente, os objetivos para a formação continuada de 2014:

Discutir a respeito do Ensino de Educação Física aprofundando os saberes

e fazeres docentes nos Anos Iniciais e Anos Finais, tendo por referência o

planejamento didático de sala de au la regular, transformando a Formação

Continuada em um espaço de compartilhamento de práticas pedagógicas e

de reflexão da prática docente;

Refletir e discutir aspectos teórico-metodológicos da ação educativa no

Ensino de Educação Física nos Anos Iniciais e Anos Finais, focalizando o

currículo, o planejamento, a autoavaliação/avaliação e o registro dentro da

perspectiva da cultura de movimento;

Incentivar o (a) professor (a) à prática do registro reflexivo, estimulando

leitura e escrita a fim de buscar a formação do professor-pesquisador;

Buscar parceria entre a Secretaria Municipal de Educação através do

Departamento de Ensino Fundamental com o Departamento de Educação

Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Instituto Federal

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do Rio Grande do Norte, entre outras, com intuito de aproximarmos o

saber empírico do conhecimento e produção científica;

Subsidiar a prát ica pedagógica em Educação Física inclusiva nos anos

iniciais e finais;

Criar um grupo de estudos referente à reformulação dos Referenciais

Curriculares de Educação Física do Ensino Fundamental nos Anos Iniciais

e Anos Finais;

Discutir acerca das diretrizes do projeto referente à complementação da

carga horária de acordo com a resolução 06/2009.

Após a definição dos objetivos, as temáticas dos encontros foram determinadas, a

partir da apreciação das avaliações realizadas pelos professores que participaram dos

encontros de formação no ano anterior, paralelamente às demandas apresentadas pela chefia

do DEF relacionadas à inclusão de pessoas com deficiência nas aulas de Educação Física.

Essas temáticas foram propostas para serem trabalhadas nos encontros de

formação continuada que tiveram as datas estabelecidas de acordo com o calendário de

formação dos demais componentes curriculares, e que em 2014 passou a acontecer

quinzenalmente, assim como a área das Artes, pois a equipe em reunião com as chefias do

Setor e do Departamento entenderam que haveria necessidade de aumentar o número de

encontros para que fosse dado um enfoque maior ao tema da inclusão nesta área. Dessa forma,

temáticas voltadas à inclusão deveriam ser trabalhadas alternadamente com as demais

temáticas.

Inicialmente, foram programados 14 encontros, nos turnos matutino e vespertino,

com 3 horas e 30 minutos de duração cada, distribuídos entre março e dezembro, com exceção

do mês de junho devido ao recesso escolar e do mês de outubro, pois neste mês os professores

se envolviam com as atividades da Mostra de Arte, Cultura e Conhecimento (MARCO) em

parceria com a Semana de Ciência, Tecnologia e Cultura (CIENTEC), onde eram expostas

para a comunidade, as atividades realizadas nas escolas do Município do Natal. Além desses

encontros, foi planejada também uma aula de campo a ser combinada com os professores em

relação à data e local.

O cronograma da formação continuada oferecida pela Secretaria Municipal do

Natal aos professores de todos os componentes curriculares foi entregue nas escolas da Rede.

Porém, uma greve foi deflagrada pelos professores da Rede Municipal de Ensino do Natal

logo no início do ano letivo, a principal reivindicação sendo à implantação do terço de hora-

atividade da carga horária total, que de acordo com a Lei do Piso Nacional estipula 1/3 da

carga horária para atividade extraclasse e 2/3 em docência. A greve foi suspensa apenas no

final do mês de maio, após mais de quarenta dias de paralisação, em razão de um acordo

firmado entre a categoria e a Secretaria Municipal de Educação, após a mediação do Tribunal de

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Justiça. Assim, os encontros de formação continuada somente foram iniciados a partir do

segundo semestre.

Dessa forma, a formação continuada daquele ano precisou ser reorganizada e

apenas 08 encontros foram realizados, além da aula de campo. Os encontros de formação

continuada foram realizados conforme previsto no cronograma a partir de julho, o que trouxe

a necessidade de escolha entre as temáticas propostas inicialmente, conforme demonstra o

Quadro 8.

Quadro 8- Datas e Temáticas Formação Continuada - 2014

21/07 Apresentação da proposta de formação 2014/ escrita reflexiva

04/08 Eu posso, vocês duvidam? Educação Física para pessoas com deficiência

18/08 Jogos e brincadeiras

15/09 As possibilidades da Bocha Adaptada nas aulas de Educação Física

29/09 As três dimensões dos conteúdos na Educação Física escolar

03/11 Vivenciando as diferenças através dos jogos sensoriais

10/11 Aula de campo – Trilhas educativas

17/11 Pedagogia das lutas

01/12 Avaliação nas aulas de Educação Física

Fonte: Relatório da formação continuada/ 2014

Todos os encontros apresentaram a seguinte organização didática: Acolhida –

Momento que os professores eram recepcionados e o material que seria utilizado naquele

encontro era entregue; Temática – O mediador trazia um embasamento teórico, assim como

vivências sempre que possível; Roda de Conversa: refletindo sobre esses saberes no chão da

escola – momento onde os professores dialogavam sobre a aplicabilidade (ou não) das

possibilidades apontadas pelo mediador; Relatos de Experiência – de forma voluntária, o

professor poderia estar compartilhando uma experiência sua, de preferência relacionada a

temática; Informes e Encaminhamentos – momento aberto para avisos e sugestões.

Os encontros de formação continuada foram voltados para professores de

Educação Física da Rede Municipal do Natal, dos Anos Iniciais e Anos Finais do Ensino

Fundamental, ou seja, 1º ao 9º ano de escolaridade, visto que é uma ação do Departamento de

Ensino Fundamental. No entanto, os professores dos Centros Municipais de Educação Infantil

participaram, efetivamente dos encontros. Além disso, destacamos a participação assídua e

ativa de uma professora do Instituto de Educação e Reabilitação de Cegos do RN – IERC.

No primeiro dia de formação continuada, fomos apresentados pelo assessor

pedagógico anteriormente responsável pela organziação da mesma. Realizamos a acolhida dos

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professores com a leitura do texto de abertura13, discutindo sobre a importância da escrita e ao

mesmo tempo sobre a dificuldade em realizá- la, por isso a necessidade em exercitá- la

diariamente. O texto apontava alguns dos motivos pelos quais precisamos escrever sobre a

nossa prática: “porque temos o que dizer, porque temos o que compartilhar, porque

precisamos documentar o que vivemos e refletir sobre isso”.

Em seguida, complementamos a discussão com a leitura de outro texto A

importância do registro da autora Madalena Freire, no intuito de incentivar ainda mais o

registro de suas práticas, para que dessa forma eles conseguissem refletir sobre as mesmas. A

autora defende que esse registro traz inquietações e questionamentos que propocionarão o

exercício de reflexão sobre o seu posicionamento frente ao aluno, à escola, ao conhecimento

que pode acarretar em mudanças na sua prática.

A maioria do encontros foi mediado pela equipe de formadores da SME/Natal,

alguns tiveram a contribuição dos professores da Rede com seus relatos de experiência e nos

dois últimos encotnros tivemos a colaboração de professores do Departamento de Educação

Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sinalizando o início de uma parceria.

A temática da inclusão esteve presente na metade dos encontros, porém muito

mais voltada para uma perspectiva de Educação Física para alunos com deficiência. Nestes

encontros, os professores foram convidados a dialogar com pessoas com deficiência; a refletir

sobre os avanços, retrocessos e perspectivas da Educação Física e de esportes adaptados

quando relacionados aos princípios da integração e inclusão; a experimentar novas

possibilidades pedagógicas para alunos com diversos tipos de deficiência, conhecendo

práticas como a Bocha Adaptada e o Goalball (FIGURA 4).

Figura 4 - Encontro de formação continuada professores SME/Natal-RN – vivência Goalball e Bocha adaptada

Fonte: acervo de imagens do programa de Formação Continuada SME/Natal-RN/2014

13

Texto retirado da abertura do caderno de registro dos educadores cursistas do PROFA/MEC.

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Não podemos negar a dificuldade que temos no campo educacional de trabalhar

com pessoas que tem deficiência. Conforme Cosmo (2014, p.5861),

[...] alguns estudos da área educacional (CHICON, 2005; FALKENBACH et al.,

2007; JESUS, 2006; CRUZ, 2005; 2008; BUENO, 1999) revelam que os professores

regentes e os de Educação Física, de maneira geral, anunciam que não estão

preparados para atuar com crianças que apresentam deficiência, S862 Rev. Bras.

Ciênc. Esporte, Florianópolis, v. 36, n. 2, supl., p. S859-S876, abr./ jun. 2014 que

não se sentem capacitados para receber um aluno com deficiência em sua sala de

aula/quadra, apesar de acreditarem nos méritos da inclusão. Eles evidenciam a

dificuldade de compreender o que é inclusão, o significado de uma escola inclusiva

e como inclu ir alunos com deficiência em suas aulas.

Porém, apesar dos investimentos em possibilidades pedagógicas para pessoas com

deficiência, compreendemos que “conteúdos e métodos por si só não estabelecem relações

nem promovem inclusão. Necessária é uma mudança de mentalidade do “homogêneo é

atrativo” para “também diferenciação é atrativo”” (HILDEBRANDT & TAFFAREL, 2017,

p.130). A formação continuada aponta caminhos para essa mudança, mas somente efetivando

essa mudança é que a inclusão ocorrerá de fato no chão da escola.

Além dos encontros que enalteceram a inclusão de pessoas com deficiências,

outro destaque foi a primeira aula de campo de professores de Educação Física da Rede

Municipal do Natal intitulada de Projeto Trilhas Educativas nas aulas de Educação Física –

percepções e significados, realizada nas Fazendas Mucambo e Bom Jardim, localizadas no

município de Goianinha, município situado a 55 km ao sul de Natal. Esta atividade foi

financiada com recursos da Secretaria Municipal de Educação do município do Natal,

incluindo o ônibus e a alimentação dos participantes. A mesma teve como objetivo abordar as

práticas corporais em ambientes naturais, evidenciando o lúdico e a interação homem/meio

ambiente, discutindo as percepções e significados que estas trazem aos participantes,

estabelecendo uma troca de experiências e vivências fundamentais para a melhoria do seu

fazer pedagógico, vivenciando as trilhas como processo de sensibilização e ampliação da

consciência corporal.

Além da atividade direcionada para a trilha ecológica (FIGURA 5), os professores

puderam escolher entre algumas práticas corporais propostas – Slackline14, jogo de peteca,

jogos com bola, passeio de charrete e passeio à cavalo. Essas atividades tiveram como intuito

14

Este é um esporte oriundo dos Estados Unidos, recém chegado ao Brasil, praticado sobre uma fita elástica

esticada entre dois pontos fixos trabalhando o equilíbrio, permitindo ao praticante andar ou fazer manobras por

cima.

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a integração dos participantes, a socialização, além da vivência em práticas desconhecidas no

aspecto corporal, a exemplo, o Slackilne (FIGURA 5).

Figura 5- Aula de campo professores SME/Natal-RN – Trilha ecológica e Prát ica do Slickeline - 2014

Fonte: acervo de imagens do programa de Formação Continuada SME/Natal-RN/2014

Esta atividade foi marcada por experiências corporais significativas que fazem

parte do processo de formação desses professores. Em uma perspectiva de formação

continuada em que o professor é considerado o protagonista do processo, faz-se necessário

que o mesmo seja valorizado, por isso momentos como esses são fundamentais.

A formação continuada teve a participação de 57 professores15de Educação Física

da Rede Municipal, tendo uma média de 34 professores por encontro divididos entre os turnos

matutino e vespertino.

No ano de 2015 a formação continuada para os professores de Educação Física se

iniciou conforme o planejado, no início do ano letivo. Foram realizados dezesseis encontros,

distribuídos entre os meses de março a dezembro, com exceção do mês de outubro. Os

mesmos foram realizados em sua maioria no Centro Municipal de Referência em Educação

Aluísio Alves - CEMURE, que no ano anterior se encontrava em reforma, apresentando-se

neste ano como um espaço de formação para os professores e servidores da rede municipal de

ensino. Nele ocorrem atividades constantes tais como reuniões, seminários, cursos, encontros,

conferências, congressos, bienais, debates, exposições, fóruns, jornadas, mesas redondas,

15

Foram contabilizados aqueles que participaram de pelo menos 01 encontro de formação continuada neste ano.

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mostras culturais, oficinas, palestras e simpósios. Apesar de não oferecer um espaço adequado

para as práticas, o CEMURE possui uma tenda grande que permitiu a realização das mesmas.

Além disso, a equipe de formadores de Educação Física do SAPEF também

sofreu mudanças devido ao afastamento do professor Jonas Sobrinho que ingressou no

mestrado em Educação. Dessa forma, indicamos à chefia do Departamento de Ensino

Fundamental a professora Dianne Sena que passou a integrar a referida equipe.

Em relação ao planejamento da proposta de formação continuada para este ano, os

objetivos permaneceram os mesmos do ano anterior e os encontros foram novamente

planejados a partir das demandas apresentadas pelos professores nas avaliações, assim como

daquelas solicitadas pela chefia do Departamento de Ensino Fundamental, que são comuns a

todos os componentes curriculares. No entanto, percebemos que a inclusão da forma que foi

trabalhada no ano anterior estava muito ligada à deficiência, quando precisávamos ampliar

essa discussão juntamente com os professores, em uma perspectiva de incluir todas às

pessoas, sem exceção. Além disso, entendemos que inclusão devia ser um eixo da formação

continuada e não uma temática, devendo estar inserida em todos os encontros.

Assim, inicialmente propusemos algumas temáticas que foram trabalhadas na

formação continuada, e outras surgiram da necessidade dos professores no decorrer do ano,

conforme verificamos no Quadro 9.

Quadro 9- Datas e Temáticas Formação Continuada/2015

16/03 Proposta de Formação Continuada para 2015/ Importância do Registro

30/03 Experimentando Diferenças

13/04 Esportes de aventura nas aulas de Educação Física

27/04 Educação Física na Educação básica: motricidade, corpo e movimento

11/05 Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física

25/05 Saúde nas aulas de Educação Física

15/06 Dialogando sobre as competências e habilidades da matriz de referencial da Secretaria de Educação

Básica

13/07 Noções Básicas de Primeiros Socorros na Escola

27/07 Filme – Recurso didático na prática pedagógica dos professores de Educação Física

17/08 Oficina de Brinquedos Cantados

31/08 Valorizando aquele que mostra como superar os limites da vida - Professor de Educação Física

14/09 O ensino da ginástica nas aulas de Educação Física

28/09 Lutas na Escola: d ialogando com as artes marciais

16/11 Fórum - Dialogando sobre a Base Nacional Comum Curricular

23/11 Dialogando sobre a Base Nacional Comum Curricu lar II

30/11 O desafio de avaliar nas aulas de Educação Física

Fonte: relatório de formação continuada SME/NATAL/2015

Algumas destas temáticas foram mediadas pela equipe formadora, outras por

professores convidados de Instituições de Ensino Superior e algumas por professores da Rede.

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Inicialmente duas das temáticas (QUADRO 9) não estavam no planejamento: Noções Básicas

de Primeiros Socorros na Escola, que surgiu da necessidade dos professores no mês de julho,

após a morte de uma aluna de uma das escolas municipais da Rede. Outra demanda que não

estava prevista e que foi inserida, advinda da SME/Natal foi o diálogo sobre a Base Nacional

Comum Curricular - BNCC.

Iniciamos o ano cientes de que iríamos enfrentar o descontentamento dos

professores em relação a Resolução nº 01/2014 – Conselho Municipal de Natal, que

estabelece a matriz curricular para o ensino fundamental do 1º ao 9º ano da Rede Municipal

de Natal/RN. Publicada no Diário Oficial nº 2946 de 16 de janeiro de 2015, estabeleceu em

seu Capítulo IV uma nova organização para a Educação Física escolar, reduzindo o número

de aulas semanais, de duas para uma aula em algumas turmas.

Nessa perspectiva, o primeiro encontro foi envolvido por tensão, porém aos

poucos cedeu espaço à relação de confiança estabelecida entre os professores e a equipe de

formadores sob a égide do diálogo proposto no encontro inaugural, quando o espaço

formativo foi utilizado para a escuta da história de vida de cada professor presente.

Percebemos pelas suas narrativas, o motivo pelo qual a vida dos professores tem se tornado

foco de pesquisas. De acordo com Nóvoa (1995), um dos autores que tem desenvolvido

estudos sobre a vida de professores, mesmo em tempo onde a racionalidade e a uniformização

imperam, o ser professor é algo produzido de maneira íntima por cada um, a partir do sucesso

ou insucesso de suas experiências, que marcam a postura pedagógica. Dessa forma, conhecer

essas histórias é de extrema importância quando pensamos em uma formação pautada na

reflexão, afinal “é impossível separar o eu profissional do eu pessoal” (NÓVOA, 1995, p. 17).

Após um momento bem intenso de escuta, envolvidos por emoções, propomos

como desafio que o espaço de formação continuada fosse o lugar para refletirmos sobre a

história de cada um e seu envolvimento com a Educação Física, sobre os professores e as

práticas que fizeram e fazem parte da sua vida, para que dessa forma pudéssemos levá-los à

pensar sobre os motivos que vêm sendo considerados para que a Educação Física não tenha a

mesma importância que os demais componentes curriculares na visão da sociedade e refletir

sobre como podemos por transformações pedagógicas desmistificar o conceito de que a

Educação Física se limita a “jogar bola”, convencendo-a sobre o papel fundamental da

Educação Física no âmbito escolar. Percebemos que os professores refletiram sobre estas

questões e demonstraram confiança no trabalho da equipe de formadores, sabendo dissociar as

questões as quais podemos influenciar e àquelas que nos limitamos a discutir.

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Os encontros foram mediados – em sua maioria – por professores convidados de

outras instituições, destacando a presença expressiva de membros do GEPEC/UFRN, que

trouxeram contribuições atuais e significativas, além de possibilidades pedagógicas a partir da

cultura de movimento. Destacamos também a participação na condição de mediadora da

professora da Rede Municipal do Natal – Mirella Nogueira – que contribuiu intensamente no

despertar do interesse dos professores em vivenciar e trabalhar com a ginástica na escola

(FIGURA 6).

Figura 6–Encontro de formação continuada – Ginástica na Escola

Fonte: acervo de imagens do programa de Formação Continuada SME/Natal-RN/2015

Apesar de não realizarmos uma aula de campo este ano, por limitações

financeiras, alguns encontros foram realizados em locais diferenciados e apresentou uma

estrutura organizacional diferenciada dos demais encontros de formação continuada. Um

deles ocorreu na praça de eventos de um shopping de Natal, onde estava montada a arena do

Projeto Experimentando Diferenças, promovido pela Caixa Econômica Federal com apoio do

Governo Federal. A arena cenográfica de 180m² foi construída especialmente para que o

público pudesse interagir e brincar através de atividades como chute à gol com os olhos

vendados, utilizando a bola sonora; bocha; corrida; basquete em cadeira de roda; além de

games com simulação virtual de corrida e handbike. No dia da formação a arena foi utilizada

exclusivamente pelos professores da Rede Municipal do Natal, havendo a experimentação de

novas sensações e a promoção da quebra de paradigmas sobre o deficiente, sensibilizando os

professores para o mundo dos deficientes (FIGURA 7).

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Figura 7 - Encontro de formação continuada 2015 – Experimentando Diferenças

Fonte: acervo de imagens do programa de Formação Continuada SME/Natal-RN

Outro encontro que teve um caráter diferenciado dos demais foi a Oficina de

Brinquedos Cantados, realizada na Cidade da Criança 16 – cenário da infância de muitos

professores presentes, que neste dia abriu exclusivamente para nossa formação e foi mediada

pelo professor Ricardo França (Buiú)– referência no que diz respeito à cultura popular no Rio

Grande do Norte (FIGURA 8).

Figura 8 - Formação Continuada – Oficina de Brinquedos Cantados/ Cidade da Criança

Fonte: acervo de imagens do programa de Formação Continuada SME/Natal-RN

Outro encontro que destacamos foi o Fórum de Discussão sobre a BNCC que foi

planejado a partir das orientações da SME/Natal de ampliar as discussões nos grupos de

formação, iniciadas entre os formadores após a abertura da consulta pública da primeira

versão da Base Nacional Comum Curricular - BNCC. Nesse período, educadores de todo o

país foram convidados a conhecer e contribuir na elaboração do documento e houve a

16Parque urbano que foi fundado em 1962 e, após passar por reestruturação e modernização, reaberto ao público

em 2014.

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solicitação de que os estados e municípios organizassem ações que pudessem favorecer essas

demandas. Dessa forma, seu planejamento visava mobilizar os professores de Educação Física

para uma discussão acerca da BNCC, estimulados não somente a conhecer, mas também a

analisar e contribuir com críticas e sugestões para a construção deste documento.

Nesse sentido, o grupo de formadores da equipe de Educação Física da

SME/Natal articulou com o corpo docente do Departamento de Educação Física da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, estudantes do PIBID, conjuntamente com os

professores das redes estadual e municipal, além dos monitores do Programa Mais Educação.

Compreendemos ser importante a discussão deste documento que trará novos

horizontes não somente em relação à sistematização dos conteúdos, mas também na formação

inicial e continuada dos professores, pois a BNCC servirá como ferramenta na orientação da

construção do currículo das escolas, esclarecendo para o professor quais os conhecimentos

fundamentais que os educandos deverão ter acesso em cada ano de escolaridade, pois

atualmente,

[...] o professor decide, de acordo com alguns fatores (entre eles o seu bom e mau

humor), o que ensinar. Por exemplo, ele pode optar por conteúdos exatamente iguais

para a quinta série do primeiro grau e a segunda série do segundo grau, se quiser (e

muitas vezes acontece). Da mes ma forma, o grau de complexidade no ensino pode

ser exatamente igual, para os dois momentos. O mesmo não acontece, por exemplo,

numa aula de matemát ica, geografia ou português “o que é que vamos ter hoje,

professor?” Como acontece, constantemente, numa aula de Educação Física (KUNZ,

2003, p. 150 - 151).

Embora a sistematização dos conteúdos de Educação Física sofra rejeição por

parte de alguns estudiosos, e também de alguns professores, corroboramos com Kunz (1994)

quando sugere que esta organização poderia resolver a “bagunça interna” desse componente

curricular. Nesse sentido, Melo (2006) reconhece que a sistematização dos seus conteúdos

possibilita uma aprendizagem mais ampla e plural.

A formação continuada oferecida pela SME/Natal encerrou contemplando

aproximadamente 113 professores 17de Educação Física, uma média de 52 professores por

encontro, divididos entre os turnos matutino e vespertino. Estes dados nos anunciam que a

formação continuada oferecida aos professores de Educação Física ganhou credibilidade dos

professores da Rede Municipal do Natal no ano de 2015, pois é notório o crescimento de

professores participantes, comparado ao ano anterior em que a média de participantes foi de

34 professores por encontro.

17

Foram contabilizados todos os professores que participaram de pelo menos 01 encontro.

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Em 2016 após uma semana do início do ano letivo, uma greve foi deflagrada,

desta vez estavam dentre as reivindicações a apresentação do calendário de pagamento da

reposição salarial, a correção do piso salarial, a publicação e o pagamento das promoções

verticais e horizontais e a discussão do reordenamento da rede de ensino (matriz curricular,

diminuição do número de aula - incluindo as de Educação Física). Dessa forma, mais uma vez

o setor responsável pela formação continuada dos professores, respeitando o direito de greve

dos professores, adiou o início das formações que só foram retomadas ao final do movimento,

após 23 dias de paralisação, no mês de abril.

Àquele ano mais um formador foi integrado à equipe de formação continuada de

Educação Física – o professor Christyan Silva – em virtude do grande número de projetos

para assessoramento, que é uma de nossas atribuições, e a necessidade da continuidade dos

investimentos no planejamento e execução dos encontros formativos.

Além da mudança na equipe, o programa de formação continuada também sofreu

algumas modificações e foram acrescentados dois objetivos àqueles definidos na proposta

inicial construída no ano de 2014. Foram eles:

No âmbito da formação em parceria com a UFRN mediada pelo

Laboratório de estudos em Educação Física, esporte e míd ia

(LEFEM/UFRN), promover e incentivar o profes sor aos temas referentes às

mídias na educação;

Dar v isibilidade a prát ica pedagógica do professor.

O primeiro objetivo citado foi traçado a partir da parceria estabelecida com o

Departamento de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte por meio

do Laboratório de Estudos em Educação Física, Esportes e Mídia (LEFEM), que é uma

extensão do Grupo de Pesquisa Corpo e Cultura de Movimento e tem como objetivo principal

a experimentação de metodologia de ensino-aprendizagem em espaço escolar a partir dos

conteúdos midiáticos. Dessa forma, baseado no edital PROEXT 2016, o LEFEM estabeleceu,

com anuência prévia da Secretaria Municipal de Educação do Natal, uma parceria em que

uma das ações seria a contribuição com a formação continuada dos professores da Rede

Municipal do Natal.

O projeto inicial teve como objetivo tematizar e difundir a mídia-educação dentre

os professores de Educação Física da Rede Municipal de Ensino da cidade do Natal, além de

identificar e problematizar os limites e possibilidades do diálogo entre os discursos midiáticos

e os conteúdos da Educação Física. Assim, alguns encontros da formação continuada para os

professores de Educação Física oferecida pela SME/Natal neste ano foram planejados pelo

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LEFEM, sendo utilizados para inserção da temática mídia nas aulas de Educação Física. O

LEFEM também colaborou para a organização da primeira Mostra de Experiências de

Professores de Educação Física da Rede Municipal do Natal, a qual teve o intuito de atender

ao segundo objetivo estabelecido, que era dar visibilidade a prática pedagógica do professor.

Assim, foram realizados 15 encontros de formação continuada, dos quais 07

foram planejados pelo LEFEM e 07 pela equipe de formadores e culminou com a primeira

Mostra de Experiências pedagógicas dos professores de Educação Física – MEPEF com

variadas temáticas, conforme o Quadro 10.

Quadro 10- Datas e Temát icas Formação Continuada/2016

11/04 Apresentação da proposta da Formação Continuada Professores de EF

25/04 Tecnologia e narrativas midiáticas na escola

16/05 Conhecendo o esporte de marca: um olhar sobre o atletismo

30/05 Jogos Olímpicos e os conteúdos da EF

13/06 Jogos Olímpicos e cultura mid iática

11/07 Dialogando sobre Dança como conteúdo da EF

25/07 O olhar para deficiência nas aulas de Educação Física

15/08 Gamificação e Educação Física

29/08 Dialogando sobre os esportes de rede nas aulas de EF

19/09 Educação Física e Jogos digitais

26/09 Conhecendo as possibilidades do Esporte de Invasão

10/10 Imagem e audiovisual na cultura d igital: possibilidades nas aulas de EF

14/11 Produzindo Relatos de Experiência18

28/11 Mídia-educação: narrat ivas impressas na EF escolar

05/12 Mostra de Experiências pedagógicas dos professores de EF

Fonte: relatório de formação continuada 2015 SME/NATAL

Dessa forma, o planejamento dos encontros ocorreu não somente a partir das

demandas apontadas pelos professores, mas também de temáticas relacionadas a inserção das

mídias nas aulas de Educação Física. Porém, a equipe de formadores se reuniu previamente

aos encontros com os integrantes do LEFEM para conhecer as etapas do projeto – a formação

continuada era uma delas – assim como para apresentar a organização didática dos encontros

no intuito de que eles pudessem organizar o planejamento dos encontros a partir da mesma,

assim como dialogar sobre as estratégias que estariam motivando a participação dos

professores para que pudessem ser contempladas.

Nesse sentido, os encontros foram planejados a partir da mesma organização

didática dos anos anteriores, porém após o desenvolvimento da acolhida e discussão sobre a

temática, inserimos o momento de vivências, seguidos da roda de conversa. Os relatos de 18

Este encontro foi voltado especificamente para os professores que tiveram interesse em produzir os relatos de

experiência que foram apresentados na MEPEF. Dessa forma, ele não foi contabilizado no levantamento da

frequência anual.

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experiências dos professores da Rede Municipal do Natal, que ocorriam em alguns encontros

de forma voluntária, passaram a ser centralizados no último encontro de formação continuada

do ano. O momento de vivências foi inserido com o objetivo de intensificar a relação teoria x

prática, pois o aumento do tempo de prática nos encontros foi muito solicitado pelos

professores nos anos anteriores.

Essa organização foi seguida também pelos encontros organizados pelo LEFEM,

de modo que sempre buscaram associar o objetivo do projeto – difundir a mídia-educação

dentre os professores de Educação Física da Rede Municipal de Ensino da cidade do Natal –

com a realidade das escolas públicas. Foi um salto para os professores de Educação Física do

município do Natal iniciar discussões sobre uma temática que vem ganhando espaço no que

se refere à educação de forma geral.

No tempo atual quando se discute muito sobre as novas tecnologias no âmbito

educacional, os professores precisam acompanhar as discussões e a Educação Física não pode

ficar alheia a estas. Assim, concordamos com Batista (2016, p.11) quando reconhece que as

áreas de conhecimento passam por mudanças, e dentro destas ressalta que

[...] as práticas corporais na contemporaneidade em sua interlocução com

comunicação e tecnologia como ponto de partida para a reflexão. São transmissões

radiofônicas de jogos de futebol, aplicativos para smartphone que atualizam notícias

e resultados de diversos esportes, intervenções em espetáculos de dança que

imbricadas à videoarte promovem experiências estéticas distintas.

Ou seja, a relação com a mídia atravessa o nosso dia a dia e mais do que nunca

está inserida nas salas de aula, sendo muitas vezes tachada pelos professores como “inimiga”

de suas aulas. Ora, em uma época em que as pessoas passam grande parte do seu dia

utilizando as mídias – que lhe dão respostas imediatas, que as fazem estar em vários lugares

ao mesmo tempo, que realizam suas funções – faz com que a educação precise urgentemente

repensar suas estratégias para manter seus alunos durante um mínimo de quatro horas na

escola de forma que os motivem.

Na Educação Física, especificamente, é preciso uma “constante reflexão sobre

formas, conteúdos e discursos acerca das práticas corporais” (BATISTA, 2016, p.12). Por

isso, a formação continuada precisa ser um espaço para essas questões serem discutidas. E ao

pensar nesta como um espaço dialógico e de reflexão, não podemos utilizá- la somente para

instrumentalizar o professor, ou seja, ensiná-los a utilizar as novas tecnologias. Nesse sentido,

Freire (2010) afirma que assim como as finalidades das tecnologias se modificam de acordo

com a época, ocorre também com a formação dos homens. Alertando-nos ainda, que uma

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formação técnica não precisa ser antagônica a uma formação humanista, mas que a tecnologia

deve estar a serviço “da libertação permanente de sua humanização” (IDEM, p.181).

Nessa perspectiva, o LEFEM proporcionou encontros nos quais foram discutidos

os conceitos de mediação, narrativa, comunicação, e gamificação19. Dentre estes, destacamos

o conceito de comunicação, pois entendemos ter sido fundamental no que concerne ao

diálogo sobre mídias, pois, como nos alerta Martín-Barbero (2000, p.53), “é indispensável

partir dos problemas de comunicação na escola antes de falar sobre os meios”. O autor se

refere à forma vertical que vem sendo utilizada na comunicação entre professor e aluno, e

aponta que enquanto essa comunicação não for verticalizada, a introdução das novas

tecnologias só reforçará ainda mais “os obstáculos que a escola tem para se inserir na

complexa e desconcertante realidade de nossa sociedade” (IBDEM).

Nesse contexto, o LEFEM trouxe para os encontros formativos, possibilidades de

novas formas de comunicação entre os professores e os alunos por meio das mídias; a

experimentação da mediação pelo do uso das tecnologias; a construção de narrativas

utilizando as novas tecnologias; e a ampliação de possibilidades acerca das práticas corporais

por meio da gamificação (FIGURA 9).

Figura 9 – Formação Continuada – Mídias nas aulas de Educação Física

19 “movimento que, em linhas gerais, almeja reajustar a “realidade” de maneira que seja possível experienciá-la como um

jogo (digital). Pode-se dizer que um de seus principais lemas é: se algo (uma tarefa, circunstância ou atividade) pode se

converter numa vivência semelhante a um game” (CRUZ JÚNIOR, 2014, p.942).

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Fonte: acervo de imagens do programa de Formação Continuada SME/Natal-RN/2016

Os encontros organizados pela equipe de formadores foram pensados a partir das

demandas dos professores e das dificuldades observadas durante a discussão sobre a Base

Nacional Comum Curricular relacionadas a alguns conteúdos, especificamente, à dança. Além

disso, os professores apontaram a necessidade de conhecer a forma de categorização dos

esportes que foi utilizada na 1ª versão da BNCC, baseada no sistema de classificação dos

esportes desenvolvido por González (2004) e na lógica de desempenho que prevalece em cada

modalidade. Dessa forma, três dos encontros foram voltados para o Esporte a partir desta

classificação, sendo elencados os Esportes de Marca, Esportes de Invasão e Esportes de Rede.

A partir desses encontros, houve o diálogo com os professores sobre como este

sistema de classificação pode facilitar o ensino dos esportes na escola, inclusive ampliando as

possibilidades. Nessa perspectiva, eles foram convidados a vivenciar esportes que não são

comuns serem praticados nas escolas.

No encontro referente ao Esporte de Marca (FIGURA 10), o atletismo foi

vivenciado a partir de materiais alternativos e de baixo custo, visto que muitos dos

equipamentos utilizados no referido esporte não existem nas escolas e têm um custo elevado.

Logo, a falta de material é muitas vezes um empecilho para a não realização das práticas e o

mediador Jonas Sobrinho trouxe as possibilidades já utilizadas por ele com os alunos. Em

relação aos Esportes de Rede, os professores experienciaram o Fute-tênis e o Badminton

(FIGIRA 10), que foram mediados pelos professores da Rede que já trabalham com os

mesmos nas escolas municipais.

Figura 10– Formação Continuada – Vivências Esporte de Marca (materiais alternativos) / Esporte de Rede

Fonte: acervo de imagens do programa de Formação Continuada SME/Natal-RN/2016

No que se refere aos Esportes de Invasão, a equipe formadora apresentou um

desafio aos professores de construir e experimentar, a partir da discussão conceitual sobre os

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mesmos, um jogo com as características dos Esportes de Invasão a partir de alguns

implementos. Em seguida foram apresentadas as regras dos esportes pouco conhecidos pelos

professores que participavam daquele encontro: o rúgbi, o ultimatefrisbee, o corfebol e o

hóquei (FIGURA 11). Além disso, foram experimentadas possibilidades metodológicas de

ensinar estes esportes, assim como apresentados materiais alternativos para cada um deles.

Figura 11–Formação Continuada – Vivências Esporte de Invasão – Hóquei e Corfebol

Fonte: acervo de imagens do programa de Formação Continuada SME/Natal-RN/2016

A inclusão continuou sendo trabalhada em todos os encontros como eixo temático

de forma ampla, porém um dos encontros foi voltado exclusivamente para aprofundar as

discussões e reflexões sobre a participação das pessoas com deficiência nas aulas de Educação

Física.

No sentido de levar o professor a refletir sobre o processo de inclusão de pessoas

com deficiências, e pensar em possibilidades pedagógicas para que ele ocorra, a estratégia

utilizada neste encontro foi a de trazer pessoas com deficiências para falar de suas limitações,

possibilidades e das suas experiências (ou falta delas) nas aulas de Educação Física. As suas

narrativas trouxeram situações de preconceito e exclusão que estas pessoas sofrem, na maioria

das vezes por falta de conhecimento dos professores.

Na ocasião, também foram experimentadas pelos professores possibilidades de

vivências (FIGURA 12), como o Goalball – único esporte criado especificamente para

pessoas deficientes visuais – que foi vivenciado juntamente com os alunos do Instituto de

Educação e Reabilitação de Cegos do RN – IERC. Ainda neste encontro, os professores

vivenciaram o Vôlei sentado e a Bocha adaptada de uma forma diferenciada, pois eles foram

desafiados a encontrar estratégias para incluir os alunos com deficiência visual – que se

encontravam no local – nestas atividades e assim o fizeram. Assim, alunos com diversos tipos

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de deficiências interagiram com os professores por meio das atividades, levando os

professores a experimentar situações próximas à realidade da escola.

Essas atividades nos fizeram refletir sobre o que Hildebrandt & Taffarel (2017)

nomeiam de “relações de movimentos entre “desiguais””. Os autores afirmam que essas

relações “[...] se forem vivenciadas como atrativas, podem ser “focos de inclusão” que podem

desencadear na escola uma “fogueira alastrada” que enfraquece a ideologia da

homogeneidade nessa sociedade e dá lugar a uma valorização da heterogeneidade ” (p. 122).

Assim, foi mais um encontro marcado por muito aprendizado e reflexão sobre a inclusão de

pessoas com deficiência nas aulas de Educação Física.

Figura 12 - Inclusão de pessoas com deficiência – Goalball, Bocha Adaptada e Vôlei sentado

Fonte: acervo de imagens do programa de Formação Continuada SME/Natal-RN/2016

O último encontro realizado foi a I Mostra de Experiências Pedagógicas dos

Professores de Educação Física do Município do Natal – MEPEF (FIGURA 13) que foi

idealizado pela equipe de professores responsável pela formação continuada de Educação

Física do Município do Natal em parceria com o LEFEM como um momento de culminância

da formação continuada deste ano e que teve o objetivo de apresentar as experiências

pedagógicas dos professores, dando visibilidade a estas, oportunizando a interlocução,

favorecendo as experiências entre professores e pesquisadores em torno de temas

significativos da Educação Física Escolar no tocante à formação e à prática pedagógica.

Inicialmente, foi realizada uma oficina sobre o Esporte Orientação para os

professores mediada pela Professora Dandara Queiroga (UERN) que oportunizou uma

reflexão sobre as práticas de aventura. Seguida da Mesa Redonda Formação Continuada e

Cotidiano Escolar que teve como mediadoras as professoras Tatiana Zylberberg

(Universidade Federal do Ceará) e Maria Aparecida Dias (Universidade Federal do Rio

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Grande do Norte) e objetivou dialogar sobre a importância da formação continuada dos

professores e suas possíveis implicações na prática docente.

Foram apresentadas 29 experiências pedagógicas de professores da Rede

Municipal do Natal no âmbito da Educação Física escolar no formato de banners, abordando

saberes e conhecimentos da área, como brincadeiras e jogos, esportes, ginásticas, danças,

lutas, práticas corporais de aventura, partindo do contexto de cada escola do município,

perpassando por discussões sobre inclusão na escola, as tecnologias e as mídias.

Figura 13- I Mostra de Experiências Pedagógicas dos Professores de Educação Física do Municíp io do Natal –

MEPEF

Fonte: acervo de imagens do programa de Formação Continuada SME/Natal-RN/2016

No ano, percebemos que a média de participantes da formação continuada

oferecida pela SME/Natal aumentou para 53 professores por encontro, porém a quantidade de

professores que frequentaram os encontros sofreu uma pequena queda para 107. Esse número

pode ser justificado pela quantidade de professores que estavam lotados nos Centros

Municipais de Educação Infantil e que foram retirados dos mesmos. Dessa forma, muitos

deles foram encaminhados para ocupar outras funções como à coordenação do Programa Mais

Educação, dificultando a participação na formação oferecida aos professores de Educação

Física.

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3.1 O Que Revela as Impressões dos Professores sobre os Encontros Formativos dos

Anos de 2014 à 2016?

Com intuito de conhecermos as impressões dos professores sobre o programa de

formação continuada de Educação Física oferecida pela SME/Natal foram analisados os

instrumentos de avaliação (ANEXO A, B e C), aplicados no último encontro de cada ano,

além dos registros quem realizamos pela da observação, o que nos permitiu complementar a

análise dos dados.

Antes de apresentarmos a análise das avaliações, um dos dados que consideramos

bastante importante enfatizar é o crescimento na quantidade de professores participantes nos

encontros de formação no decorrer desses anos, conforme verificamos no Quadro 11.

Podemos afirmar que eles nos dão uma dimensão da aceitabilidade por parte dos professores

em relação à forma como foi planejada e executada a formação continuada entre os anos de

2014 e 2016

Quadro 11 - Quantitativo de professores por encontro de formação continuada – 2014 - 2016

Mês 2014 2015 2016

Março - 54 -

Março - 69 -

Abril - 54 65

Abril - 50 66

Maio - 54 65

Maio - 50 48

Junho - 49 51

Julho - 55 54

Julho 26 56 60

Agosto 33 61 49

Agosto 35 54 53

Setembro 44 45 45

Setembro 43 45 41

Outubro - - 43

Novembro 28 40 -

Novembro 27 47 52

Novembro 37 46 -

Dezembro 36 - 53

Média por ano 34,33333 51,8125 53,21429

Fonte: Relatório da formação continuada SME/Natal

Acreditamos que o programa de formação continuada se apresentou mais atrativo

e a divulgação em redes sociais pode também ter sido um dos motivos para esse crescimento,

mesmo que consideremos um número ainda baixo quando pensamos na totalidade de quase

duzentos professores efetivos. Um total de 137 professores de Educação Física participou de

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pelo menos 01 encontro de formação continuada oferecida pela SME/Natal. Pudemos

encontrar pistas sobre os fatores que impulsionaram esse crescimento no número de

participantes a partir das avaliações realizadas pelos professores participantes e pela leitura

dos relatórios de formação continuada construídos pela equipe de formadores do

SAPEF/DEF/SME.

As avaliações anuais foram realizadas no último encontro de cada ano. Em 2014,

34 professores realizaram a avaliação; no ano de 2015, 46 professores; em 2016, 56

professores avaliaram de forma geral a formação continuada do referido ano. Os instrumentos

apresentam requisitos comuns que foram avaliados, mas no decorrer dos anos eles foram

sofrendo alterações de acordo com as necessidades que a equipe percebeu serem importantes

avaliar.

O primeiro item avaliado foi a relação entre os conteúdos trabalhados nos

encontros da Formação Continuada em Educação Física e o planejamento na escola. Esse

requisito esteve presente apenas no instrumento avaliativo dos anos de 2014 e 2015, pois

percebemos que as respostas se voltavam muito mais para as dificuldades encontradas para

planejar do que dados sobre a própria formação continuada. Acreditamos que é importante

para a equipe formadora conhecer essa realidade do planejamento, porém não era o objetivo

da avaliação. As avaliações apontaram que nesses dois anos os professores conseguiram, ou

pelo menos buscaram fazer essa relação, pois, apenas 01 professor no ano de 2014 respondeu

que somente às vezes, em decorrência de não haver um planejamento específico da disciplina

de Educação Física. Todos os demais responderam que sim e dada a possibilidade de

comentar suas respostas, os fatores mais recorrentes que surgiram nos comentários foram a

relevância das temáticas, a motivação para a mudança da prática, o estímulo que foi dado à

pesquisa, a relação com o cotidiano da escola, e a ampliação de possibilidades pedagógicas.

Podemos afirmar que esses fatores estão relacionados, pois a partir da relevância

das temáticas e da associação das mesmas com o cotidiano escolar, além do estímulo à

pesquisa, a reflexão sobre a prática pedagógica e as possíveis mudanças nesta, são motivadas.

Nesse sentido, de acordo com Imbernón (2009, p. 27),

Somente quando o professorado vê que o novo programa format ivo ou as possíveis

mudanças da prática que lhes é oferecida repercutem na aprendizagem de seus

estudantes, mudam suas crenças e atitudes de forma significativa e supõe um

benefício para o alunato e a forma de exercer a docência, então abre-se a forma de

ver a formação não como uma “agressão” externa, mas como um benefício

individual e coletivo”.

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Nessa perspectiva, algumas modalidades de formação continuada oferecida aos

professores sofrem diversas críticas por parte deles, quando se apresentam de maneira

descontextualizada de suas práticas educativas, tornando-se necessário uma formação

continuada que consista na construção de conhecimento sobre essa prática, a partir da reflexão

crítica sobre as situações do dia a dia do professor.

Além disso, o estímulo à pesquisa faz com que diante das dificuldades do

cotidiano escolar, os professores busquem relacionar a sua prática com a teoria, obtendo mais

subsídios para a solução das situações problemas que vierem a ocorrer no decorrer do

ensino/aprendizagem dos alunos. A pesquisa possibilita que os professores produzam

conhecimentos sobre a sua prática, de modo que possam reconstruir saberes, articulando os

conhecimentos teóricos e práticos, produzindo dessa forma mudanças no seu cotidiano.

Entendemos que ser professor e pesquisador na Educação Básica é um grande desafio por não

serem oferecidas condições necessárias. Por isso acreditamos na formação continuada como

espaço onde esta relação possa ser estimulada e possibilitada.

Dessa forma, Zeichner (1998) discute sobre a importância da valorização do

professor como pesquisador, pois ainda é predominante a visão de que a pesquisa é uma

atividade conduzida apenas por pesquisadores que estão fora da sala de aula. Assim, as

pesquisas realizadas pelos professores pouco são valorizadas no meio acadêmico. No entanto,

o autor tece uma crítica a essa desvalorização, afirmando que “Dentro dos muros da

academia, é fácil se entusiasmar e defender o objeto de nossas preocupações acadêmicas, mas,

frequentemente, fracassamos em reconhecer que somos nós e nossas carreiras que recebemos

os benefícios desse trabalho e não a comunidade” (p.8). Ou seja, estimular o professor-

pesquisador é caminhar em direção à ruptura deste estigma, sabendo que os resultados de suas

pesquisas favorecem não somente a ele na condição de pesquisador.

No que concerne à ampliação de possibilidades pedagógicas, que surgiu nas

avaliações do ano de 2015, entendemos que algumas experiências em atividades antes

desconhecidas pela maioria dos professores que participaram dos encontros até aquele ano,

tais como os Esportes de aventura (Slackline, Orientação), trouxeram novas perspectivas de

aulas, visto que a maioria não teve acesso a estas práticas em sua formação inicial e que estas

fazem parte das atividades que devem ser possibilitadas aos alunos nas aulas de Educação

Física.

Outro item avaliado nesses três anos foi à relação entre a relevância e contribuição

dos conteúdos/temáticas trabalhados na formação continuada para a prática educativa na sala

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de aula. As avaliações apontam que durante todos os anos avaliados houve essa relação, pois

apenas 01 professor, no ano de 2016, afirmou que a mesma não existiu. Segundo a avaliação

realizada por este professor, a fundamentação teórica foi muito explorada e houve pouco

tempo para prática, o que destoa das demais avaliações, visto que esse ano, especificamente,

foi marcado por uma maior distribuição de tempo entre teoria e prática, conforme havia sido

solicitado em anos anteriores pelos professores.

As justificativas ao afirmar existir essa relação foram diversas. Elencamos aquelas

que foram mais recorrentes ao longo desses anos: as práticas inovadoras, a troca de

experiências, novos conhecimentos apresentados, temáticas atuais e relevantes. Ressaltamos

ainda dois fatores que surgiram apenas nas avaliações do ano de 2016 em diversas avaliações:

a ampliação das possibilidades pedagógicas e a motivação que impulsionaram a transposição

do que foi visto nos encontros para sala de aula, melhorando assim a prática pedagógica.

Entendemos que essas práticas inovadoras, as quais alguns professores se

referiram, foram as vivências que utilizamos como procedimentos metodológicos nos

encontros. Quando eles mencionavam a inovação, era no sentindo de que essas práticas são

novidades, eles não tinham experimentado antes. Segundo Nóvoa (1992, s/p),

O incremento de experiências inovadoras e a sua disseminação pode revelar -se

extremamente útil e consolidar prát icas diferenciadas de formação contínua. [...] A

formação implica a mudança dos professores e das escolas, o que não é possível sem

um investimento positivo das experiências inovadoras que já estão no terreno. Caso

contrário, desencadeiam-se fenômenos de resistência pessoal e institucional, e

provoca-se a passividade de muitos actores educativos.

Dessa forma, consideramos que experiências como a primeira aula de campo para

professores de Educação Física da Rede Municipal do Natal, a experimentação de novas

práticas que vem sendo inseridas nas aulas de Educação Física – Esportes de aventura,

utilização de mídias (FIGURA 14), são exemplos de novos conhecimentos, de como práticas

inovadoras se tornaram úteis no sentido trazido pelo autor, de modo que a resistência pessoal

começou a ser rompida, como nos sugere o aumento de participação dos professores na

formação continuada.

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Figura 14 - Novas experiências – Aula de Campo/ Mídias

Fonte: acervo de imagens do programa de Formação Continuada SME/Natal-RN/2014/2016

Juntamente com as práticas inovadoras e os novos conhecimentos, o compartilhamento de

relatos de experiências ganhou um lugar de destaque entre os professores, sendo citados por

vários deles como de extrema relevância, contribuindo desta forma na sua prática educativa.

Considerar as experiências dos professores na formação continuada é considerá- los como

sujeitos produtores de saberes.

No que diz respeito a esses saberes, Tardif (2002) propõe que os professores

possuem saberes específicos que são produzidos por eles no seu dia a dia, sendo eles os

principais atores e mediadores da cultura e dos saberes escolares. O autor nomeia esses

saberes de experenciais, como aqueles que resultam do próprio exercício da atividade

profissional dos professores, sendo produzidos por eles por meio da vivência de situações

específicas relacionadas ao espaço da escola. Quando eles compartilham esses saberes

(FIGURA 15), o outro compreende que alguém com dificuldades semelhantes as suas

consegue experiências exitosas, e essas estimulam aqueles que se sentem desmotivados,

devido aos percalços do cotidiano da escola.

Figura 15–Formação Continuada - Relatos de Experiências

Fonte: acervo de imagens do programa de Formação Continuada SME/Natal-RN

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Quando os professores alegam que a troca de experiência motiva a mudança da

sua prática, entendemos que ocorre por reconhecerem em seus pares, problemas iguais ou

piores que os seus relacionados às condições de trabalho, a crença em uma educ ação de

qualidade. Entendemos que essa mudança não pode ser algo imposto, mas é preciso encantar

ou reencantar o professor em busca dessa transformação. Nesse sentido, concordamos com

Imbernón (2009, p. 106) ao afirmar que “A profundidade dessa mudança ocorrerá quando a

formação passar de um processo de “atualização” a partir de cima para se transformar num

espaço de reflexão, formação e inovação”.

Percebemos ainda que os procedimentos metodológicos empregados no

desenvolvimento dos conteúdos nos encontros de formação continuada para os professores de

Educação Física contribuíram para as estratégias didáticas de ensino dos professores, uma vez

que, dentre todas as avaliações deste triênio, apenas 04 professores afirmaram não ter existido

contribuição. Destes, dois alegaram em 2015 que esta não ocorreu por não possuir recurso

tecnológico na escola e o outro por se distanciar da faixa etária a qual ele trabalhava.

Provavelmente, o recurso tecnológico ao qual o professor se referiu foi a lousa digital que foi

utilizada em alguns encontros deste ano. Já em 2016, a justificativa foi o distanciamento da

realidade da escola.

Já todos os demais professores reconhecem a contribuição dos procedimentos

metodológicos utilizados na formação continuada para suas aulas, atr ibuindo-a a alguns

fatores, dentre eles categorizamos os mais recorrentes: as novas metodologias consideradas

mais dinâmica dos encontros, a possibilidade de novos conhecimentos, a abordagem inclusiva

e participativa, a preparação da equipe, o estímulo à reflexão sobre a prática e a troca de

experiências. Ressaltamos que em 2016, além dessas categorias que surgiram, a relação teoria

e prática foi uma das mais recorrentes entre as justificativas estabelecidas.

Ao conceituar a metodologia como dinâmica, entendemos que os professores

estão se referindo à inovação dos procedimentos metodológicos utilizados quando

comparados aos modelos clássicos de formação que segundo Imbernón (2010), o formador é

quem seleciona as atividades realizadas por meio de cursos nos quais especialistas repassam

para os professores o que deve ser replicado nas escolas, sem que haja contextualização,

debate e reflexão sobre essas atividades, diferentemente do que foi proposto nos encontros de

formação do ano, quando propomos uma reflexão teórica a partir de uma relação dialógica

entre formador/professor, que embasam a vivência de experiências significativas, por fazer a

relação com o cotidiano escolar, seguida de discussão sobre as possibilidades apontadas.

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Os professores associaram a formação continuada à aquisição de novos

conhecimentos. Dessa forma, entendemos a formação continuada não somente como um

espaço onde eles podem se atualizarem sobre esses conhecimentos, mas como um espaço de

construção e ressignificação dos mesmos, visto que esses sofrem constantes mudanças e os

professores necessitam acompanhá-las, porém não mais como no princípio estabelecido pela

racionalidade técnica, onde via de regra, alguns pensam e outros executam na prática, e sim

participando na produção destes novos conhecimentos.

Nessa perspectiva, o estímulo à reflexão sobre a prática, também indicado pelos

professores quando indagados sobre a contribuição dos procedimentos metodológicos

adotados na formação continuada em sua prática pedagógica, surge de forma implícita.

Refletir sobre a prática não é algo que possamos condicionar no processo formativo, ela surge

à medida que o professor se inquieta, sai da “zona de conforto” onde muitas vezes eles se

colocam, e a formação continuada possibilitou essa inquietação em alguns professores que

participaram dos encontros. Nesse aspecto, Freire (1997, p.43) afirma que “É pensando

criticamente a prática de hoje ou de ontem é que pode melhorar a próxima prática”.

Em vários desses encontros, esse estímulo ocorreu por intermédio dos relatos de

experiências de seus pares, como colocado pelos professores. Percebemos o quanto soa

diferente quando alguém que se encontra na sala de aula, com condições semelhantes as suas,

relata experiências exitosas mesmo diante das mesmas dificuldades encontradas. Nesse

sentido, corroboramos com Nóvoa (2002, p.39), quando afirma que “a troca de experiências e

a partilha de saberes consolidam espaços de formação mútua, nos quais cada professor é

chamado a desempenhar, simultaneamente, o papel de formador e de formando”.

No que concerne à forma de abordar a inclusão nos encontros formativos e a sua

contribuição para o fazer pedagógico do professor, quase todos os professores que realizaram

a avaliação afirmaram ter existido essa relação.Apenas dois professores no ano de 2015

disseram não ter havido contribuição por não terem alunos com deficiência. Percebemos não

somente nas avaliações desses professores, mas também de muitos professores que

responderam positivamente, que a concepção de inclusão dos professores está muito limitada

para alunos com deficiência. Talvez, a maneira como a formação continuada foi conduzida

durante o ano de 2014 tenha colaborado para reafirmar essa concepção.

Consideramos um avanço pensar a inclusão de pessoas com deficiência nas aulas

de Educação Física, e a formação continuada trabalhou muito bem as possibilidades

pedagógicas nessa perspectiva. Porém, a existência de encontros específicos para a

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abordagem desta temática – como ocorreu no ano de 2014 – intensifica essa limitação

relacionada à temática. Dessa forma, essa estratégia que utilizamos, apesar de ter sido

apontada de forma positiva pelos professores, necessitou ser repensada para o ano seguinte.

Reconhecemos que a inclusão deve ser enfatizada na formação continuada, pois

esta é uma alternativa imprescindível para ajudar os professores no enfrentamento dos

desafios, e que a formação inicial não dá conta, pois são questões que surgem no dia a dia do

professor. Porém, ela deve estar inserida como um eixo em todos os encontros, buscando,

inclusive, ampliar a visão de inclusão para além das deficiências. Nesse sentido, concordamos

com Chicon (2008, p.28) ao afirmar que

[...] incluir na Educação Física não é simples mente adaptar essa disciplina escolar

para que uma pessoa com NEEs20

possa participar da au la, mas é adotar uma

perspectiva educacional cujos objetivos, conteúdos e métodos valorizem a

diversidade humana e que esteja comprometida com a construção de uma sociedade

inclusiva.

Assim, a formação de professores de Educação Física deve estar voltada para a

reflexão sobre possibilidades que incluam todos os alunos, tendo ele deficiência ou não.

Pensar em estratégias para incluir aqueles alunos que se auto excluem das atividades, por

diferentes razões, inclusive aproveitando estas para discutir em sala, pois muitas vezes estão

ligadas à vergonha por não estarem dentro dos padrões sociais e econômicos ou estereótipos

de corpo, de beleza, de cabelo, impostos pela sociedade atual. Nesse sentido, o autor sugere

que

A formação inicial e contínua tem de seguir modelos isomórficos, isto é, o futuro

profissional tem de ser formado para conhecer e ap licar conteúdos que estejam

relacionados com o que se pretende que ele venha a ser como profissional. Se os

futuros profissionais forem formados para fomentar a competição, para procurarem

grupos homogêneos, para a exaltação do trabalho individual como poderemos

esperar que este profissional incentive nos seus alunos a cooperação, o respeito e o

valor da diferença e a solidariedade? (IDEM, 2008, p.33).

A formação continuada se aproximou desse viés apontado pelo autor, e dentre as

categorias que mais surgiram nos comentários referentes à relação entre a abordagem

inclusiva e o fazer pedagógico dos professores estavam a ampliação de estratégias e

possibilidades, o estímulo a reflexão e mudança da prática, a abordagem utilizada nos

encontros e a continuidade da formação.

20

“nec essidades educacionais especiais”-

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Enfatizamos ainda que, apesar de não serem recorrentes, no ano de 2016 algumas

avaliações nos mostraram a ampliação do conceito de inclusão por parte de alguns

professores, quando alegaram que trabalharam a inclusão no sentido de envolver todos os

alunos que não participavam das aulas e outro professor afirmou que trabalhou a inclusão a

partir da inserção de novos recurso midiáticos, o que nos sugere o pensamento de uma

inclusão digital.

Após considerarmos as questões específicas voltadas para a avaliação sobre a

relevância dos conteúdos, os procedimentos metodológicos utilizados nos encontros, a

abordagem inclusiva, buscamos entender como os professores avaliaram de forma geral a

formação continuada do ano de 2014. Dentre as opções Boa, Regular ou Ruim, apenas 01

(um) professor considerou a formação continuada Regular, alegando que a mesma deveria

transmitir mais conhecimentos. Todos os demais professores avaliaram como Boa a formação

continuada, e muitos apontaram a melhoria em relação ao ano anterior, associando-a a fatores,

tais como a diversificação e dinamização dos procedimentos metodológicos, a socialização de

práticas, o comprometimento e dedicação da equipe formadora, o atendimento às demandas

dos professores, a inovação no processo formativo, a relação entre a teoria e a prática, a

contribuição para o fazer pedagógico, a variação das temáticas, o prazer oportunizados nos

encontros, e a relação com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN.

Praticamente todos os fatores associados à formação continuada ser considerada

como Boa pelos professores já foram contemplados nas questões anteriores, mostrando-nos

quanto relevantes eles são em uma formação continuada sob o olhar do professor. Faz-se

necessário perceber e valorizar todos esses fatores quando pensamos no professor como

protagonista da formação continuada desde o planejamento à sua execução.

Na necessidade de avaliar especificamente alguns fatores que podem ser

atribuídos a melhoria ou não da formação continuada, detalhamos a parte da avaliação a qual

nos referirmos acima, e pontuamos aspectos referente à estrutura física, aos recursos

materiais, as parcerias, a organização didática, aos responsáveis pela formação. Dentre estes

nos detemos nos três últimos na nossa pesquisa.

Quanto à organização didática dos encontros, nos anos de 2015 e 2016 foram

avaliados alguns aspectos, dentre eles as temáticas dos encontros. Estas foram consideradas

entre Boa ou Ótima por quase todos os professores, pois apenas 01 professor no ano de 2016

considerou as temáticas de forma Regular, alegando que a temática relacionada à mídia

permaneceu durante muitos encontros.

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No tocante aos mediadores convidados durante esses dois anos, consideramos que

atendeu as expectativas dos professores, visto que a maioria avaliou como Boa ou Ótima a

colaboração dos mesmos na formação continuada. Apenas dois professores avaliaram a

mesma como Regular, mas não foram justificadas. Cabe retomar que durante o período

avaliado tivemos encontros mediados por professores de IES, professores da Rede Municipal

de Ensino, alunos da pós-graduação em Educação Física da UFRN e assessores pedagógicos

da SME.

Já o tempo destinado às vivências, ou seja, a parte prática da formação continuada

vem sendo considerado curto por uma boa parte dos professores, desde o ano de 2014,

período em que o tempo para a prática era pouco ou não ocorria nos encontros de formação

continuada para professores de Educação Física, devido a localização onde ocorriam os

encontros não oferecer espaço para a mesma. No ano seguinte, com a mudança de localização

para o CEMURE, as práticas foram possíveis de serem realizadas mesmo que o espaço não

tenha sido considerado adequado. E em 2015, a relação teoria e prática existiu em todos os

encontros, de forma que sempre orientamos os mediadores a distribuir igualmente o tempo

destinado a cada uma dessas partes. Sobre a qualidade destas vivênc ias, poucos professores a

avaliaram como Regular, sendo esta avaliação geralmente ligada ao local inapropriado para as

mesmas.

Em relação à equipe de formadores, todos os professores avaliaram como Ótima

ou Boa nos anos de 2015 e 2016. Em diversas avaliações encontramos palavras de carinho e

agradecimento voltadas à equipe, e o reconhecimento do compromisso da mesma com a

melhoria da Educação Física Escolar. Ressaltamos que todos os professores que integram

atualmente a equipe atuaram como professores nas escolas da Rede e alguns tiveram

experiência com a gestão delas, o que faz com que os problemas apontados pelos professores

tenham sido conhecidos de perto.

Além disso, a equipe de formadores de Educação Física da SME/Natal tem

desenvolvido pesquisas sobre a Educação Física e a maioria participa de grupos de estudo do

Programa de Pós-Graduação de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. Algumas destas pesquisas foram apresentadas em eventos nacionais e internacionais,

como o II Congresso Nacional de Educação Física Escolar - UNESP, com o trabalho

intitulado A BNCC em discussão na Formação Continuada de Professores de Educação

Física: um relato de experiência Natal/RN. Outra participação foi no 28° ENAREL –

Encontro Nacional de Recreação e Lazer, 1º ENIPPEL – Encontro Internacional de Políticas

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Públicas em Esporte e Lazer na Rede Cedes do RN e 6° CONECE – Congresso Nordeste de

Ciência do Esporte, quando apresentamos o trabalho A importância do lazer na natureza:

trilhando novos caminhos para a formação continuada dos professores de Educação Física.

Além da participação no V Seminário Internacional e IX Curso de Capacitação Técnica da

Ande, 2017 - Rio de janeiro em que foi apresentada a experiência dos Jogos das Escolas

Municipais do Natal: oportunidade para o fomento da bocha paralímpica no RN.

Outro item que avaliamos apenas em 2016 foi a parceria com as IES.

Anteriormente a este período, esta ocorreu de forma tímida com a participação de dois

professores da UFRN nos encontros de 2014. No ano de 2015, a participação aumentou e

metade do número total de encontros foi mediado por professores de IES. Dessa forma,

conseguimos estreitar os laços entre a universidade e a formação continuada para os

professores da educação básica. Essa não foi uma tarefa fácil, visto que muitos professores

ainda vêem os conhecimentos produzidos na academia muito distantes do que eles vivenciam

no cotidiano escolar. Além disso, Candau (2003) enfatiza que o modelo clássico de formação

continuada enfatizava a universidade como lócus de produção de conhecimentos, enquanto os

professores do ensino básico eram responsáveis por transpô- los didaticamente, fato este que

aumenta ainda mais a resistência dos mesmos.

Nesse mesmo pensamento, Zeichner (1998) critica veemente a relação das

universidades com os professores da educação básica, alegando que a estrutura das mesmas

“desencorajam o engajamento dos professores na discussão sobre a relevância de suas

pesquisas” (p.7), ou seja, não há valorização do saber produzido pelo professor. Dessa forma,

estabelecer uma relação de parceria, sem que houvesse o estabelecimento de hierarquia dos

saberes, foi o nosso primeiro passo na tentativa de desconstruir essas visões.

Contrariando o que dissemina os modelos de formação continuada apontados

pelos autores acima, a parceria com as IES teve uma boa aceitação por parte dos professores.

Entendemos que a participação da equipe de formadores foi muito importante nesse processo,

pois antes da participação dos professores destas instituições nos encontros formativos era

realizado um diálogo com o intuito de que os mesmos entendessem a proposta da formação

continuada e dessa forma adaptassem suas propostas à realidade dos professores da Rede

Municipal do Natal.

Ainda nessa perspectiva, os encontros formativos do ano de 2016 foram marcados

pela parceria entre o LEFEM/UFRN e a SME/Natal que foi avaliada positivamente por quase

todos os professores. Os professores apontaram nas avaliações que esse grupo trouxe novas

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possibilidades pedagógicas e nas quais encontraram motivação para a mudança da prática

pedagógica. Alguns professores elencaram ainda a importância da aproximação com o que a

universidade vem estudando e apontaram o desejo de continuidade da parceria, porém com

ampliação das temáticas, já que o grupo se limitou – devido ao objetivo do PROEXT –

trabalhar com a mídia como temática.

No entanto, mesmo afirmando que a parceria foi válida, alguns professores

concordaram com o único professor que não considerou relevante a mesma, quando

afirmaram que a temática se distanciava da realidade das escolas públicas da Rede Municipal

do Natal. Entretanto, diversos professores que mostraram uma resistência inicial,

apresentaram posteriormente em suas narrativas que foram seduzidos pela temática e

desafiados a pensarem sobre ela, e alguns, inclusive, realizaram no mesmo ano atividades

com seus alunos a partir das discussões fomentadas pelo grupo do LEFEM.

Outra questão que surgiu bastante foi a solicitação de visitas às escolas, ou até

mesmo a possibilidade de encontros nesses espaços. A formação continuada, tendo a escola

como lócus privilegiado, é apontada por diversos autores, e como Candau (2003, p.311),

quando afirma que

[...] considerar a escola como locus de formação continuada passa a ser uma

afirmação fundamental na busca de construir uma nova perspectiva para a formação

continuada de professores/as que não se limite a oferecer d iferentes "cursos" aos

docentes. Mas este objetivo não se alcança de uma maneira espontânea, não é o

simples fato de estar na escola e de desenvolver uma prática escolar concreta que

garante a presença das condições mobilizadoras de um processo formativo. Uma

prática repetitiva, uma prática mecânica não favorece esse processo. Para que ele se

dê, é importante que essa prática seja reflexiva, capaz de identificar as questões

presentes na sala de aula, de buscar compreendê-las e buscar formas de trabalhá-las,

coletivamente. A prática co letiva, construída conjuntamente por grupos de

professores/as ou por todo o corpo docente de uma determinada instituição escolar

constitui um elemento particularmente importante.

Corroboramos com a autora, quando entendemos que na escola se dá parte do

processo formativo; no entanto compreendemos que esse processo não exige a presença dos

formadores. Nesse momento, a atuação do coordenador pedagógico se torna extremamente

relevante, pois ele pode articular esse processo, seja criando condições de reflexividade

individuais e coletivas, incentivando o registro reflexivo, seja conhecendo os saberes

específicos de cada área de conhecimento para que possa acompanhar a prática do professor.

A dedicação de um tempo maior para as vivências (práticas) foi bastante

solicitado pelos professores, inclusive sugerindo que estas fossem realizadas em outros locais.

No período de 2014 à 2016, a equipe de formadores buscou atender essa demanda,

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distribuindo melhor o tempo para as vivências, pois percebeu que eram procedimentos

metodológicos que mobilizavam bastante os professores nos encontros, talvez pelo fato da

formação em Educação Física predominantemente estar associada ao conhecimento técnico-

instrumental. Nesse sentido, corroboramos com Günther e Molina Neto (2000, p.87), quando

ressaltam as sérias limitações existentes nas propostas dos cursos de Licenciatura em

Educação Física, pois

[...] o que tem pautado a formação acadêmica em Educação Física é um saber

predominantemente instrumental de caráter funcional, que priv ilegia a competência

técnica docente, restringindo a prática pedagógica à seleção e aplicação de

procedimentos instrumentais que possibilitam o máximo de eficiência nos

resultados. Isso contribui para que o futuro professor venha a agir sem uma

preocupação maior com o caráter pedagógico de sua prática. Uma vez que não lhe

foi proporcionado o exercício de reflexão e análise dos conhecimentos adquiridos na

graduação, o resultado é a ausência de reflexão que se estende no exercício da

profissão.

Porém, não podemos negar essa formação predominantemente instrumental do

professor de Educação Física, e sim levá- los pela formação continuada ao exercício de

reflexão que não lhe foi oportunizado, como afirma os autores. Dessa forma, torna-se uma

tarefa para a equipe de formadores transformar o espaço de formação em um lugar onde eles

possam superar essas limitações de uma formação preeminente técnica, dedicada ao fazer,

sendo levados a refletir sobre esse fazer. Além disso, que seja um espaço para pensarmos no

corpo de forma mais ampla que a apresentada pelas ciências naturais – um corpo

exclusivamente fisiológico – visão à qual a Educação Física durante muito tempo se limitou.

Dessa forma, é necessário que a formação continuada para professores de

Educação Física apresente os caminhos que criticam o paradigma das ciências naturais,

segundo o qual o movimento é limitado apenas à técnica, no sentido de ampliar a

compreensão deste, entendendo que o movimento é envolvido por sentidos e significados, o

que torna a aprendizagem um processo subjetivo que precisa levar em consideração as

experiências individuais. Perspectivando assim que a Educação Física Escolar possua o

objetivo de explorar as diferentes culturas e integre os alunos por meio da Cultura de

Movimento (KUNZ, 1995) e da Teoria do se-movimentar (KUNZ 1994, 2000, 2001, 2009), o

aluno sendo o centro do processo educativo e que deve ser valorizado como sujeito deste

movimento e que compreenda a qualidade do mesmo, que está “intimamente relacionada às

vivências, às emoções e à sensibilidade das ações experimentadas” (ARAÚJO, p.02, 2010).

Percebemos nos encontros que houve esse investimento por parte da equipe

formadora e os professores vivenciaram as práticas corporais (FIGURA 16), sem deixar de

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enfatizar a importância de discutir sobre essas experiências e de se pesquisar sobre o

significado cultural das mesmas, além de sempre pensar na inclusão de toda a turma. Discutir

sobre a forma de fazer também integra a formação dos professores. Nessa perspectiva

Imbernón (2009) afirma que é tão importante que a formação contemple a forma de ensinar

quanto o que se pretende ensinar.

Figura 16 - Formação Continuada – Vivências (práticas corporais)

Fonte: acervo de imagens do programa de Formação Continuada SME/Natal-RN/ 2015

A solicitação pela continuidade dos relatos de experiências foi sugerida em

diversas avaliações em todos os anos. Esta foi apontada no que se refere aos procedimentos

metodológicos como uma possibilidade de reflexão sobre a prática dos professores

participantes da formação continuada. A socialização destas experiências que ocorreram

durante os encontros dos anos de 2014 e 2015 de forma esporádica e em um espaço curto de

tempo ganhou um espaço de destaque no ano de 2016, quando ocorreu a I Mostra de

Experiências Pedagógicas dos Professores de Educação Física da Rede Municipal do Natal,

com o compartilhamento de 29 relatos de experiências. Os professores aprovaram esse

formato e sugeriram a continuidade da Mostra nos próximos anos, como também a ampliação

do convite aos gestores e coordenadores das escolas.

A parceria com a UFRN foi apontada em algumas avaliações em 2014 revelando

que o muro que separa a educação básica das IES pode ser derrubado se ambas as partes

reconhecerem os seus devidos valores, e assumirem conjuntamente o objetivo em comum de

encontrar possibilidades para a melhoria da qualidade da educação básica, por meio da

pesquisa e reflexão sobre a prática. Em 2016 diversas sugestões surgiram para a continuidade

da parceria com a UFRN e ampliação das temáticas.

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A sugestão mais enfatizada pelos professores em todos os anos foi a realização de

um nova experiência de aula de campo, mostrando o quanto essa atividade foi significativa

para aqueles que participaram. Dentre diversas estratégias utilizadas na formação continuada

para os professores de Educação Física da Rede Municipal do Natal, a atividade de campo,

que teve o lazer como seu elemento principal, objetivando reflexão e novas experiências,

apresentou-se como um momento de sensibilização que proporcionou a compreensão dos

professores como educador, como indivíduo integralizador de um ambiente social, fazendo-o

refletir sobre sua vida, seu papel na sociedade e sobre o seu lazer.

Além destas sugestões que foram discutidas, diversas outras surgiram de forma

pontuais. Elencamos aquelas que, além de surgirem nas avaliações, também foram

contempladas nas narrativas dos professores durante os três anos da pesquisa : a formação de

grupo de estudo, a criação de um blog para registro e divulgação, a permanência quinzenal

dos encontros, a utilização do espaço para a discussão de questões trabalhistas, a utilização de

vídeos, a cobrança de participação dos professores, o aprofundamento dos temas já abordados,

a ampliação do número de encontros, a exploração de conteúdos “menos favorecidos”, temas

pertinentes a todos os anos de escolaridade, publicação de trabalhos coletivos, sistematização

de conteúdos, aprofundamento da temática deficiência.

Sobre a cobrança da participação de todos os professores, corroboramos com

Imbernón (2010, p.55) quando afirma que “a formação enquanto processo de mudança

sempre gerará resistências, mas estas terão um caráter mais radical, se a formação for vivida

como uma imposição arbitrária, aleatória, não verossímil e pouco útil”. Dessa forma,

acreditamos que o interesse em permanecer em formação deve partir do professor, não

devendo ser imposto, mas algo que encante e motive o mesmo a participar.

Entendemos que a Secretaria Municipal do Natal oferece as condições para que o

professor tenha acesso à formação continuada por esta ser garantida a partir da aplicação da

Lei Federal nº. 11.738, de 16 de julho de 2008, que instituiu o piso nacional para os

profissionais do magistério público da educação básica e que determina 1/3 de hora/atividade

sem interação com os educandos para o planejamento fora de sala de aula nas redes públicas

de ensino. Diferentemente de outros municípios e estados, como apontam os estudos de Gatti,

Barreto e André (2011, p.203), que afirmam estar entre os principais obstáculos para

implementar ações de formação continuada o fator de “[...] não poder retirar o (a) professor

(a) da sala de aula para participar das formações. Isso faz que as ações formativas sejam

realizadas no período noturno ou aos sábados, o que provoca muita resistência”. A Rede

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Municipal do Natal contempla no Plano de Carreira do Magistério a possibilidade desde 2004

de os professores terem carga horária exclusiva para planejamento e formação conforme

regulamenta a Lei Complementar nº 058/2004.

Por fim, no ano de 2016 foi acrescentada uma questão à avaliação indagando

sobre os fatores que motivaram os professores a participarem dos encontros de formação

continuada propiciados pela SME/Natal. Associaram essa motivação em sua maioria às novas

experiências pedagógicas, às temáticas abordadas, ao interesse pela atualização, à busca por

novos conhecimentos, ao interesse em melhorar a prática pedagógica, a troca de experiências,

à integração com professores da mesma área, à equipe formadora.

A maioria dos fatores elencados já foi discutido anteriormente, pois surgiu nos

outros itens avaliados, porém ressaltamos a interação entre os professores da mesma área. A

respeito da interação entre os professores, Imbernón (2009, p. 103) afirma que

A formação deve ajudar a estabelecer vínculos afetivos entre o professorado, a

saber: trabalhar com as emoções, motivar-se, reconhecer as emoções dos outros

professores e professoras, já que ajudará a conhecer as próprias emoções e permitirá

situar-se na perspectiva do outro (desenvolver uma escuta ativa, mediante a empatia

e o reconhecimento dos sentimentos do outro). E, sobretudo, desenvolver a

autoestima docente.

Nesse sentido, percebemos que a interação entre os professores se intensificou ao

longo desses anos, e que o clima de alegria criado pelo grupo contagia os professores que

chegam. Essa integração é fortalecida nos grupos de redes sociais e durante algumas

atividades em grupo promovidas nos encontros formativos.

A equipe formadora também foi referenciada como uma motivação para os

professores em sua participação na formação continuada, talvez pelo fato dos formadores

assumirem o papel, como sugere Imbernón (2009), de colaborador em uma perspectiva de um

modelo reflexivo de formação superando o papel que assumiam os formadores considerados

“experts infalíveis”, em um modelo reducionista de formação como atualização dos

professores.

Algumas questões não surgiram nas avaliações, mas os registros realizados

durante a observação dos encontros nos possibilitam apontar outras questões, as quais

precisam ser discutidas para se pensar nesse modelo de formação continuada de professores.

Uma das questões mais importantes a ser enfatizada é a dificuldade que existe em

deter as discussões ao âmbito pedagógico nos encontros de formação continuada diante das

diversas questões relacionadas às condições de trabalho, tais como a desvalorização da

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profissão, as questões salariais, a carga horária exacerbada de trabalho, o número excessivo de

alunos, entre outras dificuldades enfrentadas por eles no seu dia a dia.

Compreendemos a formação continuada como uma parte do desenvolvimento

profissional que ocorre ao longo de toda sua atuação docente e pode possibilitar uma reflexão

sobre a prática pedagógica e a ressignificação da sua atuação na condição de professor.

Porém, para que isso ocorra é preciso que ele possa vislumbrar perspectivas de crescimento

profissional e de continuidade no seu processo de formação. Nesse sentindo, parafraseamos

Imbernón (2006, p.44), pois “a melhoria da formação ajudará esse desenvolvimento, mas a

melhoria de outros fatores como salário, estruturas, níveis de decisão, níveis de participação,

carreira, clima de trabalho, legislação trabalhista, tem papel decisivo nesse desenvolvimento”.

Portanto, entendemos os anseios e angústias trazidos pelos professores, pois a

formação continuada também é um espaço de articulação política, onde podem ser dialogadas

questões associadas à melhoria das condições de trabalho. No entanto, diante das diversas

dificuldades que limitam a prática do professor, na condição de formadores, a equipe

formadora precisa investir nas discussões pedagógicas e pensar possibilidades juntamente

com os professores, valorizar as experiências daqueles que não se permitem ficar apenas

lamentando o que não se pode fazer, mas o que se consegue a partir do que se tem.

A relação de confiança estabelecida com a equipe de formadores ao longo desses

três anos fez o grupo de professores participantes da formação continuada perceber que,

devido nossas atribuições se voltarem para o planejamento e organização da formação, nossa

contribuição muitas vezes se limita às necessidades pedagógicas. Porém, percebemos,

implicitamente, nas narrativas dos professores (também daqueles que não participam da

formação continuada) que a resistência se dá em parte pelas insatisfações devido a todas as

questões já apontadas relacionadas às condições de trabalho e valorização profissional.

Entendemos todos os descontentamentos e concordamos com Nóvoa (2002) ao

afirmar que os professores vivem tempos difíceis. O autor nos faz pensar sobre questões que,

segundo ele, são camufladas pelo discurso sobre professores reflexivos que tende a omitir que

- Os professores têm sua vida de dia para dia mais controlada, seja através de

dispositivos de avaliação conduzidos pelo Estado, seja devido a uma presença mais

próxima das comunidades locais, seja ainda por via de uma ideologia de “prestação

de contas” que raramente tem em conta as condições concretas do seu trabalho .

- Os professores tendem a ser responsabilizados, por parte do Estado e da sociedade,

pela incapacidade da escola para dar resposta aos grandes desafios do tempo

presente;

- Os professores são criticados por não garantirem na escola aquilo que a sociedade

não consegue fora dela; exige-se-lhes que assegurem a ordem e a autoridade, que

promovam os valores da tolerância e o respeito pelas diferenças, que consolidem

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comportamentos e regras de v ida colet iva, isto em que sejam o últ imo bastião das

“virtudes” sociais perdidas...

- Os professores possuem condições de trabalho (horário, instalações, etc.) que

dificultam um exercício reflexivo da profissão e desenvolvimento de momentos

colectivos de acção e pensamento.

- Os professores vivem momentos de grande instabilidade, profissional, pelo menos

nos primeiros anos de carreira, estando sujeitos a grandes tensões ao lidarem com

realidades locais e situações escolares marcadas por fenômenos de exclusão, de

agressividade e de conflito social (IDEM, p.46)

Essas insatisfações têm relação direta com outro desafio que encontramos - a

participação de um número maior de professores de Educação Física da Rede. Mesmo que o

número de participantes tenha aumentado de maneira significativa, muitos professores não

participam da formação continuada oferecida pela SME/Natal exatamente pelas questões

supracitadas. Recorremos ainda a Imbernón (2009), que acrescenta outros fatores que

desanimam os professores, tais como

[...] o aumento de exigências com a consequente intensificação do trabalho

educativo, manutenção de velhas verdades que não funcionam, a

desprofissionalização originada por uma falta de delimitação clara das funções do

professorado, a rápida mudança social provavelmente, um t ipo de formação

permanente que parece decantar-se de novo para um modelo aplicacion ista –

transmissivo [...] (p.16).

É preciso que o “desânimo” anunciado por Imbernón (2009), que ocorre em

alguns países em que a direita conservadora governou ou governa, não se consolide também

em nosso país entre os professores e aqueles que se preocupam com a formação, visto que o

cenário político nacional atual aponta para esse caminho. Afinal, as imposições que vem

ocorrendo em relação às mudanças (retrocessos) no contexto educacional são exemplos destes

fatores, que influenciarão diretamente na formação inicial e continuada dos professores, tais

como a redução drástica das verbas para educação nos próximos 20 anos, o Movimento

Escola Sem Partido, a Reforma do Ensino Médio, dentre tantos outros.

Nessa perspectiva, é preciso também não cair nas armadilhas dos pacotes de

formação continuada prontos que são oferecidos às Secretarias dos municípios e Estados do

nosso país, inseridos de forma descontextualizada a partir de um modelo aplicacionista-

transmissivo, que seria um retrocesso. Segundo Imbernón (2009), esse modelo é fruto de

políticas neoconservadoras que nos remete “voltar para ao básico, ou ficar onde sempre

esteve, de lições modelo, de noções, ortodoxia, de professor e professora eficaz e bom, de

competências assumir para ser um bom docente, etc., um retorno ao passado [...]” (IDEM,

p.17).

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Sobre esses modelos clássicos de formação continuada, Nóvoa (2002) não ignora

sua eficácia, inclusive ressalta que eles são mais eficiente em curto prazo, porém se limitam a

reproduzir uma realidade educacional já existente sem oferecerem perspectivas de produção

de uma nova escola e de um novo professor, exigido pela nova sociedade.

De forma geral, podemos perceber que as impressões dos professores aliadas às

narrativas capturadas em registros da observação, além dos relatórios construídos pela equipe

formadora durante esses três anos, apontam consideráveis avanços na formação continuada,

quando pensamos na superação desse modelo clássico – voltado para a atualização,

capacitação, reprodução – e caminhamos para uma perspectiva de formação continuada que

permite a reflexão, o diálogo e a ressignificação da prática.

No entanto, é preciso que haja uma constante reflexão por parte dos formadores

que devem também “analisar o que funciona, o que devemos abandonado, o que temos de

desaprender, o que é preciso reconstruir de novo ou reconstruir sobre o velho” (IMBERNÓN,

2009, p.18). Por isso, a relação dialógica no processo de formação continuada se faz tão

importante, pois somente a sensibilidade dos formadores, a partir das narrativas dos

professores trará subsídios para o planejamento e a organização que despertará a reflexão e a

possibilidade de transformação na prática docente.

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CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Tendo em vista a formação dos professores – inicial e continuada – configurar-se

como um tema de destaque no cenário educacional nacional e internacional e que vem

frequentemente impulsionando novos debates e reflexões, não temos a pretensão de esgotar

esta discussão com a finalização deste trabalho. Nessa perspectiva, as considerações aqui

apresentadas partem de um olhar sobre o objeto do nosso estudo, cuja pretensão é contribuir

para o fomento do debate relacionado ao tema.

O que desejamos ao tecer algumas considerações desta investigação é responder a

questão que motivou nosso caminhar: como vem se configurando o programa de formação

continuada de professores de Educação Física da SME/Natal?, ancorada nas três questões

norteadoras: a) qual é a trajetória histórica do programa de formação continuada da

SME/Natal oferecido aos professores de Educação Física? b) Como se caracteriza o

planejamento pedagógico a partir dessa trajetória? c) Qual a concepção dos professores da

Rede Municipal do Natal a respeito da formação continuada oferecida pela SME/Natal?

Por entendermos que é preciso superar as fragilidades existentes nos programas de

formação continuada – a falta de investimentos orçamentários, encontros pontuais e

descontextualizados, os horários inadequados, o predomínio de modelos baseados na

racionalidade técnica, a falta de acompanhamento dos professores nas escolas por parte dos

formadores, entre outras – além da necessidade de adequar esses programas ao suporte teórico

contemporâneo, objetivamos com esta pesquisa, apresentar o programa de formação

continuada instituído na SME para os professores de Educação Física da Rede Pública

Municipal do Natal. Dessa forma, descrevemos o seu percurso histórico, discutimos o

processo de planejamento e execução dos encontros de formação continuada referente ao

período entre 2014 e 2016, e, por fim, identificamos a visão dos professores participantes

sobre a formação continuada instituída pela SME/Natal.

Todo o caminho percorrido nos deu uma visão panorâmica e um tanto detalhada

da formação continuada oferecida aos professores de Educação Física da Rede Municipal do

Natal pela SME/Natal, levando-nos a compreensão de que a forma sob a qual a mesma foi

planejada e executada caminha na direção do que aponta os teóricos – uma concepção

inovadora de formação continuada, regida por alguns princípios, tais como a reflexão, a

autonomia docente, o protagonismo dos professores em sua formação, a aproximação com a

realidade da escola.

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O caráter qualitativo de nossa pesquisa nos permitiu compreender com base nas

avaliações realizadas pelos professores ao longo desses três anos (recorte da pesquisa) os

fatores considerados importantes por eles e quais suas expectativas em relação ao programa

de formação continuada, a partir dos elementos avaliados, que foram a contribuição ao

planejamento e à prática docente, as temáticas, os procedimentos metodológicos, a abordagem

inclusiva, a parceria com as IES, aspectos motivacionais para participação.

Muitos dos fatores e expectativas que nos revelam as avaliações já são apontados

como necessários à luz de estudiosos contemporâneos na área de formação continuada para

professores. Outras questões nos levaram a pensar sobre algumas especificidades quando se

trata de formação continuada para professores de Educação Física.

Quanto à relação da formação continuada com o planejamento e a prática docente,

averiguamos que a forma como a formação continuada oferecida pela SME aos professores de

Educação Física vem se configurando tem contribuído de forma significativa, instigando-os à

pesquisa e à reflexão sobre a prática, possibilitando a articulação dos conhecimentos teóricos

com o fazer pedagógico, desencadeando dessa forma transformações em suas práticas.

Quanto às temáticas, verificamos que teve bastante relevância para os professores

e foi um dos fatores que mais motivou a participação dos mesmos. Associamos que esta

relevância se deu pelo referido programa de formação continuada ter elencado tais temáticas a

partir das demandas apresentadas pelos professores e das discussões atuais que ocorrem

dentro da área da Educação Física escolar.

Certificamos ainda que os procedimentos metodológicos utilizados durante esses

três anos do programa de formação continuada da SME/Natal para os professores de

Educação Física da Rede atenderam de forma plausível as expectativas dos professores.

Todos os procedimentos metodológicos utilizados foram sempre envolvidos pela

contextualização e por uma relação dialógica entre mediadores e professores, contrapondo-se

ao modelo clássico de formação continuada nas quais o professor era um mero receptor de

informações que deveriam ser reproduzidas nas salas de aula sem que houvesse reflexão sobre

elas.

Nesse contexto, a realização de vivências aproximando as discussões com a

realidade do cotidiano escolar foi de fato um destaque, considerando que estas ampliaram as

possibilidades pedagógicas dos professores. Além disso, a socialização dos relatos de

experiências também foi bastante enfatizada como uma forma de seus pares professores

reconhecerem possibilidades de mudanças.

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Em relação à abordagem inclusiva, acreditamos que inicialmente a formação

continuada oferecida pela SME aos professores de Educação Física esteve muito voltada para

a inclusão de pessoas com deficiência, sendo ampliada em 2016. Dialogar sobre a forma de

incluir pessoas com deficiência nas aulas de Educação Física foi uma demanda que surgiu não

somente dos professores desta área, mas também dos alunos que por falta de conhecimento

muitas vezes acabam sendo excluídos das aulas. Dessa forma, verificamos que a formação

continuada possibilitou que os professores saíssem de um universo muitas vezes

desconhecido, ampliando as estratégias para trabalhar com pessoas com deficiências,

inclusive conhecendo de perto a realidade de algumas destas pessoas por meio da escuta e da

interação com alunos com deficiências severas e deficiência visual, por exemplo.

No tocante à parceria com as Instituições de Ensino Superior, percebemos que é

considerada de extrema importância pelos professores. No decorrer dos anos esta parceria tem

ocorrido de forma mais estreita com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, de

forma que os saberes produzidos pelos professores da Educação Básica e aqueles construídos

no Ensino Superior se entrelacem, desmistificando a ideia de hierarquia estabelecida em

alguns modelos clássicos de formação continuada que enfatizam a universidade como um

espaço de produção de conhecimentos, enquanto os professores do ensino básico os

reproduzem na escola.

O aumento na participação, concomitantemente à análise das avaliações realizadas

pelos professores e dos relatórios realizados a partir da observação leva-nos a compreensão de

que os professores de Educação Física se sentem motivados em participar da formação

continuada oferecida pela SME/Natal. Alguns fatores estão relacionados a esta motivação e

surgem nas narrativas dos professores, tais como as novas experiências pedagógicas, as

temáticas abordadas, o interesse pela atualização, a busca por novos conhecimentos, o

interesse em melhorar a prática pedagógica, a troca de experiências, a integração com

professores da mesma área, a equipe formadora.

Após conhecermos o planejamento dos encontros formativos do programa de

formação continuada oferecida pela SME/Natal aos professores de Educação Física da Rede,

acompanharmos a organização dos mesmos e analisarmos as impressões dos professores e os

relatórios da equipe formadora, compreendemos que a mesma caminha em direção a uma

perspectiva de concepção inovadora de formação continuada à luz das características

apontadas pelos referenciais teóricos contemporâneos – reflexão, ressignificação da prática

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docente, autonomia docente, aproximação com as reais necessidades dos professores,

professor como protagonista de sua formação, valorização do saber docente e dialogicidade.

Percebemos que algumas fragilidades existentes nos programas de formação

continuada são superadas no programa de formação continuada oferecido pela SME/Natal aos

professores de Educação Física da Rede Municipal do Natal. A exemplo, os encontros que são

sistematicamente oferecidos duas vezes por mês, em horário de planejamento dos professores

e planejados a partir das demandas dos professores, superando a pontualidade e a falta de

aproximação com a realidade dos professores, e tendo o horário adequado para a formação

dentro do seu horário de trabalho; a organização didática dos encontros que leva os

professores a conhecerem, experimentarem, discutirem, refletirem e a construírem uma

autonomia pedagógica, baseada na capacidade de transformar sua prática pedagógica a partir

das necessidades cotidiana, ultrapassando os modelos baseado na reprodução.

Porém, ainda é preciso avançar em relação aos investimentos orçamentários.

Percebemos que a falta destes nos últimos anos levou a retirada do lanche que eram

oferecidos aos professores, além de impossibilitar encontros tão importantes como a aula de

campo e o assessoramento dos assessores aos professores de Educação Física nas escolas.

Dessa forma, recomendamos a partir de nossos estudos que a continuidade seja

inserida como primeiro princípio de uma formação continuada. Parece redundante, mas

entendemos que a sistematização de encontros formativos, com um calendário anual – como

acontece na SME/Natal – possibilita uma integração maior do grupo, uma relação mais

consolidada de confiança com os formadores que reflete em uma maior participação de

professores, que apenas cursos que ocorrem de formas isoladas e pontuais.

Ressaltamos a relevância da continuidade da parceria com as Instituições de

Ensino Superior, especialmente com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

conscientes da necessidade de criar e estreitar vínculos, possibilitando a criação de pontes não

apenas para diminuir a distância entre o Ensino Superior e a Educação Básica, mas também

para construir conhecimentos articulados, considerando ambas as modalidades de ensino

como produtora destes, na certeza de que essa parceria reflete diretamente na qualidade da

educação, ao articular a formação de professores com a realidade das escolas públicas,

considerando da tríade que move as universidades: Ensino, Pesquisa e Extensão.

Apontamos também a necessidade da continuidade de investimentos na formação

continuada de professores da Rede Municipal do Natal por parte da Secretaria Municipal,

como forma de valorizar o professor e motivá-lo à reflexão e possível transformação de sua

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prática docente, incluindo investimentos em recursos materiais específicos da área da

Educação Física – bolas, cones, cordas, dentre outros; local adequado para a realização de

práticas, parte fundamental para a formação de professores de Educação Física; e em

formação continuada também para os formadores, que necessariamente precisam se sentir

motivados.

Sugerimos a continuidade e o aprofundamento desta pesquisa, para que possa

vislumbrar o acompanhamento dos professores em suas práticas escolares, no intuito de

verificar a forma como se revelam as influências da formação continuada em sua prática

docente. Estas poderão trazer subsídios mais consistentes para o fortalecimento de políticas

públicas relacionadas à formação continuada de professores, assim como para a consolidação

da Educação Física nas escolas promovendo transformações das práticas pedagógicas.

Pesquisas nesse contexto se fazem necessárias, visto que poucas são as experiências

divulgadas sobre programas de formação continuada especificamente na área da Educação

Física, conforme averiguou nosso estudo.

Dessa forma, com as nossas considerações e recomendações, não temos a

pretensão de apresentar o Programa de formação continuada da oferecido pela Secretaria

Municipal de Educação do Natal como um modelo ideal de formação continuada, pois

entendemos que o próprio sentido da palavra remete a algo que deva ser seguido.

Pretendemos, sim, caracterizar um espaço onde foram produzidas contribuições significativas

à prática, ao exercício do fazer docente e que podem ser utilizadas pelos leitores e professores

como referência, respeitando suas realidades escolares e pessoais.

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ANEXOS

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ANEXO A – Ficha de Avaliação anual 2014

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO

FORMAÇÃO CONTINUADA 2014 IX ENCONTRO DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA

AVALIAÇÃO DA FORMAÇÃO CONTINUADA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Prezados (a) Educador (a), este instrumento avaliativo tem o objetivo de buscar informações a respeito da Formação Continuada em Educação Física, realizada pela equipe de

Educação Física, colaboradores e parcerias no ano letivo de 2014, tendo em vista aperfeiçoarmos nossa pratica enquanto formadores. Para tanto, solicitamos que responda as

perguntas a seguir cujos resultados trarão subsídios para melhor realizarmos a Formação Docente Continuada em 2015 e o Assessoramento Pedagógico as escolas.

1. Buscou-se relacionar os conteúdos trabalhados nos encontros da Formação Continuada em Educação Física no ato do planejamento na escola? ( )SIM ( )NÃO

Comente:_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2. Os conteúdos trabalhados nos encontros da Formação Continuada em Educação Física

foram relevantes e trouxeram contribuições para sua pratica educativa na sala de aula? ( ) SIM ( )NÃO Comente:___________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3. O procedimento metodológico empregado no desenvolvimento dos conteúdos nos encontros da Formação Continuada em Educação Física contribuiu para suas estratégias

didáticas de ensino? ( ) SIM ( ) NÃO Comente:___________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4. A Formação Continuada em Educação Física quanto a sua abordagem inclusiva contribuiu no seu fazer pedagógico, ou trouxe novas possibilidades pedagógicas de atuação?

( ) SIM ( ) NÃO Comente:______________________________________________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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5. O coordenador Pedagógico acompanha seu planejamento no dia previsto para esse fim? ( ) SEMPRE ( ) AS VEZES ( ) NUNCA

Comente:_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

6. Você realiza o planejamento de seu componente curricular numa perspectiva interdisciplinar com os demais componentes curriculares?

( ) SEMPRE ( )AS VEZES ( )NUNCA Comente: ___________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________

7. O coordenador Pedagógico de sua escola articula planejamento de seu componente curricular de forma que ele dialogue com os outros componentes curriculares e possa haver um trabalho integrado entre os diferentes professores?

( )SEMPRE ( )AS VEZES ( ) NUNCA Comente:___________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 8. No geral, como você avalia a Formação Docente Continuada no ano de 2014, considerado

os encontros formativos realizados pela SME? ( ) BOA ( ) REGULAR ( ) RUIM

Comente:_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

9. Sugestões para a Formação Continuada em Educação Física 2015 que você acha importante ressaltar.

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

A todos um feliz Natal e um 2015 de realizações

EQUIPE DE EDUCAÇÃO FÍSICA – SME/DEF/SAPEF – NATAL, RN

ANEXO B– Ficha de avaliação Anual 2015

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ANEXO B – Ficha de Avaliação anual 2015

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO

FORMAÇÃO CONTINUADA 2015

AVALIAÇÃO DA FORMAÇÃO CONTINUADA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Prezados (a) Educador (a), este instrumento avaliativo tem o objetivo de buscar informações a

respeito da Formação Continuada em Educação Física, realizada pela equipe de Educação Física, colaboradores e parcerias no ano letivo de 2015, tendo em vista aperfeiçoarmos nossa pratica enquanto formadores. Para tanto, solicitamos que responda as perguntas a seguir cujos

resultados trarão subsídios para melhor realizarmos a Formação Docente Continuada em 2016 e o Assessoramento Pedagógico as escolas.

1. Buscou-se relacionar os conteúdos trabalhados nos encontros da Formação Continuada em Educação Física no ato do planejamento na escola? ( ) SIM ( ) NÃO

Comente:______________________________________________________________________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 2. Os conteúdos trabalhados nos encontros da Formação Continuada em Ed ucação Física

foram relevantes e trouxeram contribuições para sua pratica educativa na sala de aula? ( ) SIM ( ) NÃO

Comente:_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_ _________________________________________________________________________ 3. O procedimento metodológico empregado no desenvolvimento dos conteúdos nos

encontros da Formação Continuada em Educação Física contribuiu para suas estratégias didáticas de ensino? ( ) SIM ( ) NÃO Comente:___________________________________________________________________

________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________ 4. A Formação Continuada em Educação Física quanto a sua abordagem inclusiva contribuiu no seu fazer pedagógico, ou trouxe novas possibilidades pedagógicas de atuação? ( ) SIM (

) NÃO Comente:___________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5. Você realiza o planejamento de seu componente curricular numa perspectiva

interdisciplinar com os demais componentes curriculares?

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( ) SEMPRE ( ) AS VEZES ( ) NUNCA

Comente: _________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________

6. No geral, como você avalia a Formação Continuada Docente no ano de 2015, considerado

os encontros formativos realizados pela SME?

7.1 Local ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Ruim ( ) Regular 7.2 Material Disponibilizado ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Ruim ( ) Regular 7.3 Temas ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Ruim ( ) Regular

7.4 Palestrantes ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Ruim ( ) Regular 7.5 Tempo das atividades ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Ruim ( ) Regular

7.6 Vivências ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Ruim ( ) Regular 7.7 Comunicação com a equipe ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Ruim ( ) Regular 7.8 Equipe Formadores ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Ruim ( ) Regular

Comente:__________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

7. Apresente sugestões para a Formação Continuada em Educação Física para o ano 2016,

que você considera importante. __________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________________________________________

A todos um feliz Natal e um 2016 de realizações

EQUIPE DE EDUCAÇÃO FÍSICA – SME/DEF/SAPEF – NATAL, RN

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ANEXO C – Ficha de Avaliação anual 2016

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO

FORMAÇÃO CONTINUADA 2016

AVALIAÇÃO DA FORMAÇÃO CONTINUADA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Prezados Educadores, este instrumento avaliativo tem o objetivo de trazer dados que subsidiem a melhoria dos nossos encontros de Formação Docente Continuada em 2017 e o

Assessoramento Pedagógico às escolas. 1. Os conteúdos/temáticas trabalhados nos encontros da Formação Continuada em educação

Física forma relevantes e trouxeram contribuições para sua prática educativa em sala de aula? ( ) SIM ( ) NÃO

Comente:______________________________________________________________________________________________________________________________________________

2. Os procedimentos metodológicos empregados na Formação Continuada em Educação Física atenderam suas expectativas?

( ) SIM ( ) NÃO Comente:______________________________________________________________________________________________________________________________________________

3. A Formação Continuada em Educação Física quanto a sua abordagem inclusiva colaborou

no seu fazer pedagógico, ou trouxe novas possibilidades pedagógicas de atuação? ( ) SIM ( ) NÃO Comente:___________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4. Você considera a parceria com as IES importantes para a Formação Continuada em Educação Física? ( ) SIM ( ) NÃO

Comente: ___________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5. Aparceria da Formação Continuada em Educação Física/SME com a UFRN apresentou contribuições, perspectivas e novas possibilidades para organização, elaboração, ampliação e

construção para a sua prática pedagógica no contexto escolar? . ___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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6. No geral, como você avalia a Formação Continuada Docente no ano de 2015, considerado

os encontros formativos realizados pela SME? ___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Ótimo Bom Regular Ruim

Local parte exposição teórica

Local para execução prática

Material Disponibilizado

Temas/conteúdos

Professores convidados

Tempo das atividades

Vivências

Equipe Formadores

Parceria LEFEM/UFRN

Comunicação com a equipe

Lanche

Calendário Quinzenal

Comente:___________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________

7. Quais os fatores que lhe motivaram a participar dos encontros de Formação Continuada em Educação Física para o ano 2016, que você considera importante.

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________ 8. Apresente sugestões para a Formação Continuada em Educação Física para o ano de 2017

(temas/conteúdos, procedimentos metodológicos, atividades extras) ___________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________

A todos um feliz Natal e um 2017 de realizações

EQUIPE DE EDUCAÇÃO FÍSICA – SME/DEF/SAPEF – NATAL, RN

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APÊNDICE

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APÊNDICE A – Roteiro de Entrevista

1. Fale sobre a formação continuada de Educação Física oferecida pela Secretaria

Municipal do Natal, desde sua atuação na condição de participante da mesma até a sua

inserção como formador.

- Qual era o setor responsável pela formação continuada dos professores de

Educação Física do Ensino Fundamental? Quem eram os formadores?

- Quando começou a ser oferecida a formação continuada para os professores de

Educação Física?

- Como eram sistematizados os encontros?

- Quantos professores em média participavam dos encontros?

- De forma os professores tinham conhecimento sobre a formação continuada?

- Como eram planejados os encontros? E qual o aporte teórico utilizado?

- Qual a metodologia utilizada nos encontros?

- Como surgiu a demanda de uma equipe de Educação Física?

- Como acontecia a relação com as Instituições de Ensino Superior?

- Como os encontros eram avaliados?

- Quais as dificuldades que você encontrava na condição de formador?

- Como você percebia o reflexo da formação continuada na prática docente dos

professores?