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ZILDA BENKENDORF MAIOCHI
AVALIAÇÃO-ENSINO EM AMBIENTE HOSPITALAR: INTEGRA E DÁ
CONTINUIDADE À ESCOLARIZAÇÃO DO ALUNO.
FAFIPAR
CURITIBA, 2010
ZILDA BENKENDORF MAIOCHI
AVALIAÇÃO-ENSINO EM AMBIENTE HOSPITALAR: INTEGRA E DÁ
CONTINUIDADE À ESCOLARIZAÇÃO DO ALUNO.
Material didático pedagógico apresentado à
coordenação do Programa de Desenvolvimento
Educacional, PDE, turma 2010, área
pedagogia, da Secretaria do Estado da
Educação do Paraná, SEED/PR e
Superintendência da Educação, SUED, como
um requisito parcial para a conclusão do
programa.
Orientadora: Danielle Marafon
CURITIBA
2010
1 –NOME DA PROFESSORA PDE – ZILDA BENKENDORF MAIOCHI
2 – DISCIPLINA –ÁREA - PEDAGOGIA
3 – IES – FAFIPAR
4 – ORIENTADORA – PROFESSORA DANIELLE MARAFON
5 – TÍTULO – AVALIAÇÃO-ENSINO EM AMBIENTE HOSPITALAR: INTEGRA E DÁ
CONTINUIDADE À ESCOLARIZAÇÃO DO ALUNO
6 – OBJETIVO GERAL- Pretende esta Unidade Didática ser espaço de estudo, pesquisa e
organização de ações coletivas para integrar atividades pedagógicas, com enfoque à
avaliação-ensino no contexto de unidade e simultaneidade de atuação e de intervenção, em
prol da aprendizagem dos alunos.
7 – TIPO DE PRODUÇÃO – UNIDADE DIDÁTICA
8 – PÚBLICO ALVO – Professores, Diretores, Pedagogos do Colégio Estadual Prieto Martinez ,
escolas públicas do Paraná e do SAREH.
AGRADECIMENTOS:
À Professora Danielle Marafon, que com seu profissionalismo e entusiasmo soube
encorajar, ousar na busca de novos caminhos por conhecimentos que permitem embasar
teoricamente a Unidade Didática,
A todos os professores, e à Coordenação geral da IES – FAFIPAR,
À coordenação geral do PDE da SEED – Curitiba, que diante da escolha do tema de
estudo abriram espaço para a realização do mesmo no esforço de cumprir com as metas do
Programa num trabalho incansável e determinado,
A todos os colegas pelo incentivo e pelo abraço forte e amigo nas horas das
dificuldades.
A todos os profissionais do Programa SAREH, sempre incentivando inovações e
socializando saberes,
À família,em especial aos filhos órfãos de pai, pelo apoio incondicional, compreensão e
incentivo aos estudos, numa troca salutar de experiências. À Bianca Giulia, netinha, nascida
durante o PDE, fonte de inspiração para a vida.
A Deus, Propulsor e Gestor da nossa vida.
“ A vida, por mais breve que seja,merecerá sempre ser vivida em sua plenitude. Nem a morte
consegue ofuscar a validade de seus belos e inesquecíveis momentos.” Sigmund Freud
Sumário
1 - Avaliação: Ensino: Uma breve reflexão: .................................................................. 7
2 - Ensinar: Avaliar: ação integrada ............................................................................ 10
3-Legislação ............................................................................................................... 19
4 - Histórico do atendimento pedagógico hospitalar: .................................................. 22
5 - Classe hospitalar : ação do professor .................................................................... 24
6 - REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 32
Links: .......................................................................................................................... 34
7 - Anexos: ................................................................................................................. 35
1 -Prezado Professor(a): ............................................................................................. 35
2 -Prezado Professor(a): ............................................................................................. 36
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APRESENTAÇÃO O Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, idealizado pela Secretaria de
Estado da Educação, é considerado referência na formação continuada dos professores da
rede pública estadual.
A estrutura organizacional do PDE, representada no Plano Integrado de Formação
Continuada, prevê uma série de atividades a serem cumpridas nos quatro períodos do
Programa. Uma das atividades a ser realizada no segundo semestre deste Programa é a
elaboração de uma Produção Didático-Pedagógica, que será pertinente ao objeto de estudo
proposto em nosso Projeto de Intervenção Pedagógica.
Dessa forma, a presente Unidade Didática foi idealizada a partir da minha experiência
profissional como Professora Pedagoga, das atividades de aprofundamento teórico-prático
propostas pela SEED e FAFIPAR, como também, através do suporte e acompanhamento da
professora-orientadora da IES.
Considera-se relevante o fato dessa produção ser utilizada como material didático , que
dará subsídios à implementação do projeto de intervenção, junto aos professores do Colégio
Estadual Prieto Martinez, aos professores do SAREH e aos professores participantes do Grupo
de Trabalho em Rede –GTR, que terão possibilidade de conhecer, refletir e contribuir com o
trabalho.
Essa Unidade Didática foi elaborada com a questão norteadora da avaliação sob o
enfoque de unidade e simultaneidade de atuação e de intervenção com o ensino,como
processos que mantêm simultaneidade e concomitância de ação, de intervenção e de efeito,
pois ensinando avalia-se e avaliando ensina-se ao mesmo tempo, sem prejuízo das
peculiaridades inerentes a cada um, visto não existir dicotomia entre ensinar e avaliar, ainda
que cada um se caracterize com peculiaridades que não lhes dão direcionamento individual,
mas intercomplementar.
O presente estudo tem o propósito de compreender melhor a prática pedagógica
através de uma ação reflexiva , com um olhar voltado aos alunos hospitalizados que dependem
de um trabalho pedagógico individualizado para garantir a continuidade de seus estudos. No
ambiente hospitalar o parecer avaliativo, documento oficial do Programa SAREH, é um relato
preciso das ações pedagógicas realizadas e das superações e ou dificuldades que o aluno
ainda apresenta, com o propósito de, a partir deste conhecimento, serem encaminhadas novas
formas de aprendizagem. Também o professor da escola, no recebimento e no envio de
atividades, deve considerar as condições desse aluno hospitalizado para melhor realização das
atividades propostas. Esta unidade didática pretende disponibilizar subsídios a todos os
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professores na compreensão do ensino-avaliação em ambiente hospitalar,e a grande
importância de todos que trabalham com a educação básica têm na vida desses alunos que,
impedidos temporariamente de freqüentar a escola, continuem sua vida estudantil, sem ficar
em prejuízo dos conteúdos escolares.
Um passo para o conhecimento!
1 - Avaliação: Ensino: Uma breve reflexão:
A avaliação da aprendizagem é, talvez, o momento mais forte da ética na didática, pois
é o momento em que podemos definir a vida do aluno. ( Moretto)
Para o senso comum a avaliação se restringe aos procedimentos explícitos e
localizados por meio dos quais se interrompe ou simplesmente se aborda determinada
atividade ou complexo de atividades para aferir os resultados alcançados em dado estágio do
processo ou ao seu final. A avaliação, entretanto está presente também, de modo implícito, em
momentos em que os próprios executores da ação não estejam conscientes, ou alertas, para
sua presença. Isso porque, quer nos atos humanos do cotidiano, quer nos empreendimentos
dos mais variados tipos, são criados mecanismos automáticos de correção de rumos no próprio
processo de realização da atividade e tomadas medidas necessárias para a garantia da boa
qualidade do aprendizado.
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Ainda que não seja intenção de historiar a caminhada da avaliação através dos
tempos, é evidente que de época em época posturas e concepções lhe dão sentido e
encaminhamentos diferenciados.
• na concepção tradicional , a avaliação se manifesta sob o aspecto verificativo de notas, de
prazos, de reforço e de punição. O aluno reproduz os conteúdos comunicados, uma vez que a
inteligência é considerada uma faculdade que apenas armazena informações e o conhecimento
é considerado estático, portanto, possível de ser memorizado e mensurado. Por isso, provas,
exames, chamadas orais, são importantes instrumentos para evidenciarem a exatidão da
reprodução cultural, sendo o professor o detentor do poder decisório dessa transmissão, pois é
ele quem apresenta os conteúdos de forma expositiva. Aos alunos cabe ouvir, memorizar e
reproduzir nas avaliações o que foi exposto pelo professor; é a repetição automática dos dados
que a escola forneceu, considerando-se que só através da escola, espaço essencialmente
disciplinador, é que o aluno aprende. O ensino articula-se com o produto da ciência.
• a renovada se apresenta sob a forma de auto-avaliação da aprendizagem, por considerar que
somente o próprio indivíduo pode conhecer realmente a sua experiência e que somente ele tem
condições de julgar-se a partir de critérios internos do organismo. Portanto, o aluno assume a
responsabilidade do controle da própria aprendizagem. Os objetivos estabelecidos direcionam
a avaliação, servindo para constatar se o aluno aprendeu e atingiu os objetivos propostos. Para
isso, considera-se que o aluno progride num ritmo próprio, aos poucos e sem errar. A avaliação
surge aqui como parte integrante do processo de aprendizagem mas, a ênfase é no produto
obtido, no que se pode transmitir culturalmente, na influência do meio, no diretivismo, que
determina sobre o que será aprendido e o que deverá ser transmitido às novas gerações. O
ensino articula-se com o processo de desenvolvimento da ciência.
• a tecnicista se configura sob a ótica de comportamentos observáveis e mensuráveis, de
controle comportamental com base em objetivos previamente definidos. O ensino é
burocratizado , a fragmentado e descontinuo. fragmentação. A preocupação é avaliar o fazer
do aluno através de parâmetros extraídos da própria teoria ,mensurando o aproveitamento
através de múltiplos critérios objetivos, em que os conteúdos são estanques e desarticulados.
A prática avaliativa é diluída, eclética e pouco fundamentada, com exagerado apego aos livros
didáticos, uso de testes objetivos, realização de
• a sócio-cultural, em que a avaliação transparece com base em noções sistematizadas,
processuais, de abrangência de ordem social. É uma avaliação permanente da prática
educativa do professor e do aluno. Nesta proposta de avaliação, alunos e professores tomarão
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ciência de suas dificuldades e progressos. Nesta abordagem a educação tem um caráter
amplo, não se restringindo a situações de ensino-aprendizagem. A ciência considerada até
então neutra, é explicada agora como um produto histórico, a educação como um ato político, o
conhecimento como transformação contínua, e não transmissão de conteúdos programados, o
sujeito como centro da aprendizagem. É a discussão da avaliação fundamentada numa
perspectiva crítica da educação com forte influência da Dialética materialista-histórica nos
estudos educacionais, em especial na Pedagogia histórica-crítica. Esta propõe interação entre
conteúdo e a realidade concreta, visando transformar a sociedade através da ação-
compreensão-ação do educando, com enfoque nos conteúdos, como produção histórico-social
de todos os homens, e trabalhar com os conhecimentos sistematizados a partir da realidade do
aluno. Na visão da Pedagogia Histórica-Crítica de Saviani (2005), é partindo do conhecimento
que o aluno já possui, que o professor o direcionará a se apropriar de conteúdos apresentados
na escola, os quais servirão de instrumentos de transformação social. A concretude da
condição existencial, social, histórica e cultural do educando deve ser o próprio “motor” da ação
educativa. Consequentemente, esta ação, longe de se estabelecer de maneira estática e
aprisionada a objetivos estabelecidos a priori ignorando os aspectos contextuais, apresenta-se
marcada por uma íntima comunicação e diálogo, em que os condicionantes históricos e
culturais, que dão concretude às experiências de aprendizagem. Considera as desigualdades
históricas sociais e promove, segundo Gasparin ( 2005,p.37)” espaço de questionamento do
conteúdo escolar confrontado com a prática social, em função dos problemas que precisam ser
resolvidos no cotidiano das pessoas ou da sociedade.” Nesta perspectiva a avaliação é
importantíssima por projetar possibilidades, reflexões, e regular processos pedagógicos para
proporcionar e favorecer a inclusão de todos e não a seleção.
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2 - Ensinar: Avaliar: ação integrada
A aprendizagem ocorre tanto mais significativamente quanto maior for a interação de
ações entre o ato de ensinar e o de avaliar.
Assim sendo, avaliar a aprendizagem do aluno significa concomitantemente, avaliar o ensino
oferecido. Não havendo a aprendizagem esperada, o ensino não cumpriu sua finalidade de
fazer aprender.
A avaliação é concomitante ao ensino, sendo sujeitos o professor e o aluno, enquanto
os conteúdos constituem o seu objeto. A avaliação estabelece muitas vezes relação complexa
entre avaliador e avaliado, revelando-se questão subjetiva. Sim, mesmo que baseando-se em
parâmetros específicos, a subjetividade na avaliação permanece, e como tal deve ser também
levada em consideração.
Em qualquer dos níveis escolares o processo avaliativo representa uma das questões
de grande dificuldade. É importante trabalhar este processo como agente inserido no ensino.
Trata-se aqui, de uma visão redimensionada em torno da concepção de avaliação, agora
sob o enfoque de avaliação-ensino. E o redimensionamento deste enfoque justamente localiza-
se no contexto de unidade e simultaneidade de atuação e de intervenção, considerando-se
que, se tanto avaliação e ensino são vislumbrados como processos, então não cabe serem
encarados como agentes com dualidade, mas com complementaridade de ações sem quebrar
a caracterização individual de cada um. A avaliação como processo é ensino por excelência.
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Ensino e avaliação como processos mantêm simultaneidade e concomitância de ação, de
intervenção e de efeito, pois ensinando avalia-se e avaliando ensina-se, ao mesmo tempo, sem
prejuízo das peculiaridades inerentes a cada um, visto não existir dicotomia entre ensinar e
avaliar, ainda que cada um se caracterize com peculiaridades que não lhes dão direcionamento
individual, mas intercomplementar.
Cabe dizer, no entanto, que a compreensão da avaliação como ensino não abomina a
utilização de dados quantitativos-verificação, no entanto, devem permanecer somente ao nível
de apoio e de cumprimento de papel de excelente instrumento auxiliar do ensino-
aprendizagem.
Considerando que a avaliação envolve o trabalho metodológico como um todo,
analisando, corrigindo, repensando situações para que a aprendizagem ocorra, a prática
pedagógica vai muito além do conhecimento de conteúdos e uso de tecnologias . Se estende à
reflexão das ações pedagógicas numa constante evolução paradigmática tendo em vista a
formação crítica e transformadora.
Ao avaliar a aprendizagem dos alunos está se avaliando a prática dos professores, a
gestão e o currículo escolar, bem como o próprio sistema de ensino como um todo.( Eu
acompanho a avaliação escolar de meu filho. E você?- SEED/PR).
Além do mais, igualmente não existe a idéia de se pretender enfraquecer a participação da
avaliação no processo de ensino-aprendizagem. A defesa, isto sim, repousa sobre uma
absoluta intimidade de atuação e de ação entre ensino e avaliação, a ponto de se confundirem
como processo: avaliação como ensino por excelência.
A compreensão de avaliação em questão permite o apontamento da expressão
avaliação-ensino, formando o mesmo componente, tendo a mesma função e a mesma ação.
Assim, a avaliação-ensino visa à qualidade, com função transformadora como a de fermento na
massa.
Os conteúdos programáticos compreendem os elementos que constituem o ensino-
aprendizagem em cada um dos níveis de ensino em que os respectivos educandos estão se
qualificando.
A realidade social compreende as questões psico-comportamentais que possibilitam o
relacionamento do homem consigo mesmo, com o seu semelhante, com o meio ambiente e
com o mundo, tendo em vista sua realização pessoal e como “ ser com o outro”. A realidade
social igualmente envolve toda a questão de desenvolvimento e de transformação social,
econômica, científica e tecnológica, visando ao bem estar da sociedade.
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Entende-se que, encaminhada a avaliação-ensino sob este enfoque, a educação poderá atingir
mais fácil e efetivamente ao homem em sua totalidade, em sua dimensão pessoal e social, a
que se propõe a escola.
Como afirma Celso dos Santos Vasconcellos:
“ O papel que se espera da escola é que possa colaborar na formação do cidadão( objetivo de que participam outras instâncias sociais) pela mediação do conhecimento científico, estético, filosófico (especificidade). O conhecimento não tem sentido em si mesmo: deve ajudar a compreender o mundo, e a nele intervir. Assim sendo, entendemos que a principal finalidade da avaliação no processo escolar é ajudar a garantir a formação integral do sujeito na mediação da efetiva construção do conhecimento, a aprendizagem por parte de todos os alunos. Entendemos, pois, que o sentido maior da avaliação é: avaliar para que todos os alunos aprendam mais e melhor.” ( Vasconcellos,2008,p.57)
Este é um imperativo ético, em que a avaliação orienta o currículo e a prática pedagógica,
contribuindo com seus processos emancipatórios e com a democracia na escola.
Consequentemente a ação educativa, longe de se estabelecer de maneira estática e
aprisionada a objetivos estabelecidos a priori ignorando os aspectos contextuais, apresenta-se
marcada por uma íntima comunicação e diálogo em que há espaços para ambas as “ vozes”,
do professor e a do aluno.
Como ressalta Freire, a “voz” do aluno estará sempre implicada com os condicionantes
históricos e culturais de sua existência e é a partir da concretude dessas experiências que o
conhecimento e a aprendizagem são possíveis. Portanto a concretude da condição existencial,
social, histórica e cultural do educando deve ser o próprio “motor” da ação educativa.
Isto pede um ensino extremamente exigente, uma educação que esteja baseada em princípios
científicos, na compreensão da estrutura do conhecimento e do processo de desenvolvimento
do educando. Conforme Vasconcellos:
Temos que superar as “ pseudo-exigências”, as exigências formais que dão aparência de ensino “sério”; quem precisa disto é porque, de fato, não faz um ensino sério. O que tem que ser exigente são as aulas e não separadamente, as normas ou as avaliações!” (Vasconcellos,2008,p.99)
Aguarda-se que, assim concebida e assumida a questão da avaliação-ensino, poderão
ser melhor reconhecidos os valores inerentes ao homem, como o saber e o ser, bem como o
pensar; o julgar e o (re)agir. Por outro lado, o educador poderá passar mais facilmente da
questão ainda presente de “sabe-tudo” para a de “provocador” de situações de conflito, de
demonstrador das diferentes realidades, de apontador de novos horizontes, incentivando o
educando à co-responsabilidade quanto ao desenvolvimento sócio-pessoal.
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Certamente a figura do professor “auleiro” desaparece para, em seu lugar, surgir o
professor que estimulará a produção do conhecimento.
Existe forte consciência pela boa qualidade da aprendizagem, em que seus professores
sabem ensinar e avaliar, e que os seus alunos conhecem os caminhos do aprender. No
entanto, mesmo assim, cabe reavivar a consciência e enveredar pelo caminho de troca de
idéias a respeito daquilo que todos entendem dominar plenamente, como no caso da avaliação.
O foco principal da avaliação não é aprovar ou reprovar os alunos, mas que, a partir
dela, consigam perceber o quanto e em que condições dominam, conseguem relacionar e
aplicar os conteúdos e conhecimentos inerentes às temáticas diversas que compõem os
currículos.
Assim sendo, não é o professor o único responsável pela aprovação ou reprovação dos
seus alunos, embora a aprendizagem em maior ou menor escala também tem a ver, e muito,
com a capacidade que o professor demonstra em comprometer o alunado com ela.
Priorizar a aprovação como resultado de uma excelente aprendizagem constitui meta principal
numa instituição de ensino.
Avaliar não requer o emprego de (muitos) instrumentos , no entanto eles não ficam
banidos na avaliação-ensino, ou melhor, quando se ensina avaliando e se avalia ensinando.
Assim a avaliação permeia a diversidade cultural dos alunos,e a educação se estabelece a
partir de aprendizagens diversas e de âmbito interdisciplinar. Para Saraiva :
“ se a avaliação permear todo o processo ensino-aprendizagem e se for entendida em todas as suas dimensões -avaliação do aluno, do professor, da escola- possibilitará ajustes que contribuirão para que a tarefa educativa seja coroada de sucesso.” (Saraiva, 2005,)
Ensino, avaliação e aprendizagem não se justificam plenamente por si só, mas sempre em
função de um bem maior; o da educação. E para compreensão melhor do que seja educação,
tem ela sua origem do verbo educar, que, por sua vez, provém do verbo latino educere, que
significa trazer para fora, fazer desabrochar. E desabrochar quer dizer mostrar-se para a vida
de forma real, revelar-se para o mundo externo, desvelar possibilidades como desdobramentos
da educação.
A avaliação, em qualquer área de intervenção, tem se constituído em fator de preocupação e,
por vezes, até de inquietação. Por isso mesmo, em especial na área educacional, cabe
desmistificar o papel da avaliação, passando da cobrança para apoio na promoção de
conhecimentos e no desempenho do educador e do educando na esfera do ensino e da
aprendizagem.
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Mais especificamente em termos de avaliação do aproveitamento, o Conselho Estadual de
Educação do Estado do Paraná, permite os seguintes apontamentos (Deliberação nº 007/99):
• a avaliação deve ser entendida como um dos aspectos do ensino pelo qual o professor estuda e interpreta os dados da aprendizagem e de seu próprio trabalho...; • a avaliação é possuidora das "finalidades de acompanhar e aperfeiçoar o processo de aprendizagem dos alunos, bem como diagnosticar seus resultados e atribuir-lhes valor"; • a avaliação deve dar condições para que seja possível ao professor tomar decisões quanto ao aperfeiçoamento das situações de aprendizagem; • a avaliação deve proporcionar dados que permitam ao estabelecimento de ensino promover a reformulação do currículo com adequação dos conteúdos e métodos de ensino; • a avaliação deve possibilitar novas alternativas para o planejamento do estabelecimento de ensino e do sistema de ensino como um todo; • a avaliação do aproveitamento escolar deverá incidir sobre o desempenho do aluno em diferentes situações de aprendizagem; • a avaliação utilizará técnicas e instrumentos diversificados; • a avaliação deve utilizar procedimentos que assegurem a comparação com os parâmetros indicados pelos conteúdos de ensino, evitando-se a comparação dos alunos entre si.
Na avaliação do aproveitamento escolar, deverão preponderar os aspectos qualitativos
da aprendizagem, considerada a interdisciplinaridade e a multidisciplinaridade dos conteúdos.
Os apontamentos enunciados sobre a avaliação do aproveitamento escolar permitem perceber
o acurado cuidado com que deve ser tratado e implementado o ensino-aprendizagem, onde a
ênfase recai sobre a intensa interação que deve ocorrer entre o ensinar, o aprender e o avaliar.
Fica banida a idéia dicotômica do agora ensinar e depois avaliar. Quando se trata de
avaliar e ensinar, a interação de percepção conteudística, a visão inter e multidisciplinar, bem
como o como avaliar e o que fazer com os resultados da avaliação necessitam se apresentar
com evidente clareza. Todo o processo avaliativo também constitui um diagnóstico do nível de
desempenho tanto do educador quanto do aluno. E diagnosticar não significa recolher qualquer
dado, mas dar importância maior aqueles que realmente contribuem para a valorização do
desempenho dos educandos. A finalidade da avaliação merece ser desmistificada, tornando-a
processo aliado e não fator inquietante para o aluno. O processo avaliativo também constitui
processo de investigação, pelo fato de os dados diagnosticados em função da avaliação
sofrerem tratamento e análise. O processo de análise dos dados com base em critérios pré
estabelecidos confere cientificidade à avaliação. A avaliação processual igualmente se presta à
investigação, pois ela fornece dados diagnosticados de valor, importantes, mesmo sem serem
numéricos, e que se prestam à análise científica.
A avaliação serve de baliza que orienta o educador na sua docência e não como
instrumento de punição ou premiação, de reprovação ou aprovação. A avaliação possui sentido
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pedagógico, pois integra o contexto do ensino-aprendizagem, em que o aluno é encarado como
sujeito do processo da educação que tem em conta modificar o seu comportamento diante da
realidade de seu meio, em especial, e de fazê-lo enxergar mais e melhor aquilo que pretende
perceber. Para Luckesi :
“Constitui a avaliação um juízo de valor sobre dados relevantes para uma tomada de decisão. E dados relevantes são aqueles que efetivamente são importantes na orientação educacional do estudante. Enfim, cada professor, seja qual for a sua formação acadêmica e o nível escolar em que atua, é detentor de concepção própria de avaliação que vem construindo ao longo de sua docência. “(Luckesi,1998,p. 9)
A aprendizagem não ocorre em dois tempos distintos, ou seja, primeiro ensinar para
depois avaliar a aprendizagem assimilada. A simultaneidade de ação e intervenção do ensino
favorecem a aprendizagem.
Mãos que se unem para aprender:
No ambiente hospitalar, quando se reflete sobre a avaliação, tem-se como base o artigo
24- inciso V, da Lei de Diretrizes e Bases de nº 9.394, de 1996, cuja definição diz: “a avaliação
é contínua e acumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos
sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas
finais”. Assim, opta-se por um processo dinâmico de avaliação que considera todo o
desenvolvimento do aluno nas atividades curriculares, levando-se em conta os avanços de
conhecimentos adquiridos no período de permanência no hospital. Dessa forma todas as
atividades desenvolvidas são consideradas como parte do processo de ensino-aprendizagem
do aluno. A LDB visualiza a avaliação tanto nos seus aspectos de diagnosticar o desempenho
como nos de promover novos conhecimentos que atendam a diferentes necessidades do
homem no meio social.
A avaliação acontece durante todas as etapas da aula, com vistas a não se perder o
objetivo principal que é a apropriação por parte do aluno de conhecimentos significativos. É
importante conhecer a condição do aluno hospitalizado que é partícipe e principal interessado
do tratamento. Isto significa conhecer a natureza de sua enfermidade, suas manifestações, o
funcionamento de seu corpo, os procedimentos terapêuticos como também seus direitos como
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paciente, a função de cada espaço, as relações que se estabelecem no hospital, etc. Os
conhecimentos trabalhados não ficam limitados a essas condições, todavia não se pode ignorá-
las. A avaliação vai revelar o momento em que se encontra o aluno no processo de construção
dos conhecimentos,sua forma de elaboração e, principalmente, como esses conhecimentos
participam da tomada de consciência da situação em que vive e como podem ser utilizados na
intervenção a ser produzida para transformar essa realidade, no sentido de fazê-lo sair do
estado de opressão em que se encontra. A avaliação facilita os meios e as condições
necessárias para que a aula propriamente dita aconteça com qualidade. Para a otimização da
avaliação- ensino, o professor organiza os espaços de aprendizagem ,presta ajuda a cada
aluno, ajustando suas intervenções aos progressos e obstáculos individuais; dialoga
permanentemente para que possa, compreendendo o contexto, ensinar aprendendo e
aprender ensinando. Reconhece que a avaliação é inerente a esse processo dialógico de
aprendendo, ensinar. É um movimento de tomada de consciência e decisão diante da opressão
sofrida e da mobilização necessária para sua superação. Trabalha com o aluno a resiliência
para enfrentar e superar dificuldades na promoção permanente de sua cidadania.
A definição dos critérios de avaliação por disciplina, considera a concepção de ensino e
aprendizagem, bem como a fundamentação teórico-metodológica que norteia o tratamento
curricular dos conteúdos escolares,considerando a singularidade do processo de aprender. Isto
porque o“ controle de variáveis” que permeia a visão positivista da avaliação acarreta uma
grande ansiedade aos professores, quando se vêem diante de situações diferenciadas,
inusitadas de alguns alunos, que representam no ambiente hospitalar uma situação do dia a
dia. Isto exige do professor a realização de um trabalho diferenciado que vai ao encontro da
realidade do aluno hospitalizado em relação às atividades propostas. O tempo deste aluno, que
precisa ser respeitado, é o tempo de aprender e o tempo de ser e não o” tempo de aprender
determinado conteúdo.” Acompanhá-lo, passo a passo, exige conhecê-lo enquanto sujeito,
protagonista de sua história, produtor do seu conhecimento. Daí a importância do professor
favorecer oportunidades e tempo para o aluno descobrir, organizar e compreender a partir de
sua própria ação sobre o objeto de conhecimento os conceitos trabalhados nas diversas
disciplinas do currículo escolar. As respostas apresentadas poderão se expressas de forma
verbal, escrita, por meio de desenhos ou a partir da observação e análise; valorizando-se
sempre os critérios qualitativos. Como diz Demo(1994), o qualitativo abrange a “ dimensão da
intensidade e da profundidade”.
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A avaliação foi e sempre será um processo de entendimento e assimilação do próprio
indivíduo e de sua relação com o outro e o conhecimento. Portanto, ela valoriza e oferece ao
aluno uma visão completa de seu crescimento.
Diante disso, todas as possibilidades de sistematização dos conteúdos são
consideradas e entendidas como parte do processo de ensino-aprendizagem. Quando o aluno
está estudando, pesquisando, interiorizando conhecimentos, ele está sendo avaliado pelo
professor. Este trabalha os critérios avaliativos com clareza, transcrevendo-os em pareceres
que serão encaminhados à escola de origem do aluno, onde serão convertidos em notas ou
conceitos.
O parecer avaliativo é um documento oficial do programa Sareh ( Serviço de
atendimento à rede de escolarização hospitalar) e, ao elaborá-lo o professor procura relatar
com clareza o desempenho do seu educando no desenvolvimento das atividades durante o
período de internamento. Este considera a observação sensível e escuta pedagógica, como
elementos de sua prática. O acompanhamento do aluno no ambiente hospitalar permite que a
família se faça presente no trabalho pedagógico lançando um novo olhar sobre o processo
avaliativo, enquanto inerente a própria aprendizagem. A família, presente nas atividades
escolares no hospital, torna-se mais participativa do processo avaliativo do aluno e mais
comprometida com o estudo e com a construção do conhecimento de seu filho. Concebe-se o
conhecimento como algo que não se transfere,de forma mecânica e imediata, daquele que o
detém para aquele que o ignora, ao contrário, sua relação se dá por meio das relações que são
estabelecidas na sociedade a serviço da transformação da realidade.
Para o aluno é importante a revelação de sua capacidade de pensar, e de se reconhecer
como autor de novas formas de construir seu conhecimento, de perguntar e perguntar-se. Por
isso é imprescindível que o docente se perceba como alguém que acredita que o aluno pode
aprender, considera e respeita o sujeito mesmo numa situação de doença .
De acordo com FERNANDEZ,2005. “O professor tem que ser portador do amor ao ato
pedagógico, um amor baseado no respeito, na condição e possibilidade do outro.”
A escolarização hospitalar, desse modo tem a função de ser um espaço de
democratização dos processos de ensino-aprendizagem, o acolhimento de atos, ações,
alegrias e dores,o ato amoroso de acolher, integrar e incluir. Conforme Luckesi:
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Defino avaliação da aprendizagem como um ato amoroso, no sentido de que a avaliação, por si só, é um ato acolhedor, integrativo, inclusivo. Para compreender isso, importa distinguir avaliação de julgamento. O julgamento é um ato que distingue o certo do errado, incluindo o primeiro e excluindo o segundo. A avaliação tem por base acolher uma situação, para,então ( e só então), ajuizar a sua qualidade, tendo em vista dar-lhe suporte de mudança, se necessário.”(Luckesi,2006,p.172).
É preciso que se conheçam as disposições do aluno, em termos socioculturais,
psicológicos e sua condição de saúde, a fim de que sejam conquistados seus interesses, sua
colaboração, sua aspiração à continuidade de sua formação. O professor oferece um leque de
possibilidades que permite ao aluno atingir qualquer condição, perfazer qualquer caminho,
inclusive caminhos que a humanidade não percorreu.
Para isto a educação hospitalar se apresenta como uma possibilidade diferenciada de
acesso ao saber, independente do contexto em que se encontram os alunos hospitalizados. O
trabalho pedagógico vai contribuir para a manutenção da reação orgânica desejável do
indivíduo,pois atua reforçando indiretamente a sua auto estima ao conferir-lhe possibilidade de
continuidade de desenvolvimento cognitivo, psicomotor, bem como lhe restitui um espaço de
convivência social do qual é abruptamente afastado. Essa linha de pensamento reflete-se em
MATOS e MUGGIATI, quando descrevem:
“observa-se que a continuidade dos estudos, paralelamente ao internamento, traz maior vigor às forças vitais do enfermo, como estímulo motivacional, induzindo-o a se tornar mais participante e produtivo, com vistas a uma efetiva recuperação”. (2001,p.39).
Um professor, mediador do conhecimento, sensível e crítico,aprendiz permanente e
organizador do trabalho na escola, um orientador, um cooperador, curioso e, sobretudo, um
construtor de sentido; este professor é consciente que , ensinar não é transferir conhecimento,
mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção (...) (FREIRE, 1997).
O processo educativo realizado no ambiente hospitalar considera as necessidades, as
angústias do aluno hospitalizado (escuta pedagógica), não com caráter assistencialista ou de
compaixão, mas com a intenção de criar um elo, a cumplicidade, a afetividade entre o professor
e o aluno. Nesse sentido, cabe ao professor construir uma ação efetiva e específica à
necessidade do aluno, pois apesar da enfermidade este pode continuar aprendendo,
vivenciando,criando, interagindo na sua vida escolar. É por meio de diversas atividades
pedagógicas que o professor constrói um elo entre o mundo hospitalar e a vida cotidiana do
aluno internado, no sentido de diagnosticar, acompanhar e intervir no processo de
aprendizagem. Estas atividades pedagógicas contribuem na prevenção, correção ou
19
minimização dos problemas decorrentes de possíveis efeitos tardios no desenvolvimento
cognitivo do paciente, garantindo seu direito ao ensino escolar, de acordo com o art. 205 da
Constituição Federal Brasileira, no qual a educação é direito de todos e dever do Estado e da
família. Esta ação está voltada à inclusão e ao direto à educação, que busca promover a
equidade na diferença, a dignidade e o desenvolvimento integral das crianças e adolescentes
hospitalizados e impedidos temporariamente de frequentar a escola. Aqui ressalta-se o respeito
às necessidades individuais do aluno como um compromisso entre as áreas da educação e
saúde que aliadas unificam os papéis de aluno e paciente em prol da vida. O trabalho em
ambiente hospitalar colabora grandemente para a humanização do atendimento e o processo
de inclusão social. Se a escola pode contribuir para a redução da doença e a promoção da
saúde o hospital pode ser o defensor da escolarização e juntos caminharem de mãos dadas.
Atividade realizada pelo aluno Willian da 7ª série na classe hospitalar HC. 3-Legislação
A educação é um direito de toda e qualquer criança ou adolescente, e isso inclui o
universo da criança ou adolescente hospitalizado.
A legislação brasileira reconhece tal direito através da constituição de 1988, da Lei n.
1044/69, da Lei n. 6202/75, da Lei n. 8069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente, da
Resolução n. 41/95 do Conselho Nacional de Defesa dos direitos da Criança e do Adolescente,
do Conselho Nacional de Educação. A esta modalidade de atendimento educacional denomina-
se Classe Hospitalar, que segundo a Política Nacional de Educação Especial publicada pelo
MEC – Ministério da Educação e da Cultura, em Brasília, em 1994, visa ao atendimento
pedagógico às crianças e adolescentes que, devido às condições especiais de saúde,
encontram-se hospitalizados.
20
A CONSTITUIÇÃO Federal, Título VIII – Da Ordem Social, Capítulo III – Da Educação,
da Cultura e do Desporto, Seção I – Da Educação, no artigo 205, diz que “ a educação, direito
de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho” ( A CONSTITUIÇÃO, 1988, p. 106). E, no artigo
214, diz que “ a lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração plurianual, visando
à articulação e ao desenvolvimento do ensino em seus diferentes níveis e à integração das
ações do Poder \público que conduzem à : (…) II – universalização do atendimento escolar” ( A
CONSTITUIÇÃO, 1988, p. 108). Sendo a educação um direito de todos, sem discriminação , a
criança hospitalizada está apta a esse direito. E, sendo um dever do Estado, deve tomar as
medidas necessárias para que esse direito seja respeitado e cumprido.
O Decreto Lei n. 1044/69 dispõe sobre tratamento excepcional para alunos portadores
de afecções, considerando que as condições de saúde nem sempre permitem a frequência de
crianças e adolescentes à escola, mesmo que estes apresentem condições de aprendizagem.
Diz o artigo 1º que :
(…) são considerados merecedores de tratamento excepcional os alunos de qualquer nível de ensino, portadores de afecções congênitas ou adquiridas, infecções, traumatismo ou outras condições mórbidas, determinando distúrbios agudos ou agudizados, caracterizados por: a) incapacidade física relativa,incompatível com a frequência aos trabalhos escolares, desde que se verifiquem a conservação de condições intelectuais e emocionais necessárias para o prosseguimento da atividade escolar com novos moldes; b) ocorrência isolada ou esporádica; c) Duração que não ultrapasse o máximo ainda admissível, em cada caso, para a continuidade do processo pedagógico de aprendizado, atendendo a que tais características se verificam, entre outros, casos de síndromes hemorrágicos ( tais como a hemofilia), asma,cardite, pericardite, afecções osteoarticulares submetidas a correções ortopédicas, nefropáticas agudas ou sub-agudas, afecções reumáticas, etc. (BRASIL, 1969f, p.1) .
Note-se que esse artigo contempla a possibilidade de atividade pedagógica para alunos
em suas residências, não havendo distinção para os encaminhamentos necessários em caso
de hospitalização.
Em 1975, a Lei n. 6202/75 estendeu os exercícios domiciliares às estudantes gestantes,
dizendo, em seu artigo 1º, que “ a partir do oitavo mês de gestação e durante três meses a
estudante em estado de gravidez ficará assistida pelo regime de exercícios domiciliares”
(BRASIL, 1975g,p.1). O artigo 2º diz que esse prazo pode ser estendido, sendo essa
necessidade devidamente comprovada por atestado médico.
21
A Lei n. 8069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente – em seu artigo 4º confirma o
direito constitucional da educação: “ E dever da família, da comunidade, da sociedade em geral
e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à
vida, à saúde (…) à educação(...) à dignidade, ao respeito (...)” (BRASIL, 1990h,p.2).
Complementando, o artigo 5º afirma “ nenhuma criança ou adolescente será objeto de
qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão,
punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos direitos fundamentais”
(BRASIL, 1990h,p.2). Nesse contexto, a educação é um desses direitos, mesmo se o ambiente
educacional for o hospital.
O artigo 53 é mais específico, dizendo que “ a criança e do adolescente têm direito à
educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da
cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-lhes: (...)I igualdade de condições para o
acesso e permanência na escola” (BRASIL, 1990h,p. 13). Nesse aspecto surge a discussão
sobre as propostas de trabalho quando esse acesso e permanência não são possíveis em
virtude de problemas de saúde.
Aqui se abre um parêntese para mostrar a importância de se fazer cumprir o direito da
criança hospitalizada à educação.
Deve ser prioridade do Estado e também da sociedade civil combater os fatores que
afastam as crianças e os adolescentes do acesso à escolaridade. Além de conhecer os
problemas, é preciso ter princípios e diretrizes educacionais que possibilitem a concretização
de ações.
“Acolher, acreditar e impulsionar através do amor”
22
4 - Histórico do atendimento pedagógico hospitalar:
Para respaldar a concretização da percepção da necessidade de continuidade da
educação escolar para crianças e adolescentes quando internados por tempo prolongado e,
portanto, deixados fora dos serviços educacionais comuns, definiu-se o conceito de classe
hospitalar.
Para BARROS ( 1999, p. 84), “ a Secretaria de Educação Especial do MEC denominou
classe hospitalar como uma das modalidades de atendimento especial, conceituando-a como:
Ambiente hospitalar que possibilita o atendimento educacional de crianças e jovens internados
que necessitam de educação especial ou que estejam em tratamento hospitalar. Pressupõe um
espaço físico delimitado para as ações pedagógicas necessárias, bem como materiais e
profissionais capacitados, pois o atendimento se dá na própria instituição hospitalar.”
Segundo AMARAL e SILVA ( 2003 p. 010) “ a criação de classes escolares em hospitais é resultado do reconhecimento formal de que crianças hospitalizadas, independente do período de permanência na instituição ou de outro fator qualquer, têm necessidades educacionais e direitos de cidadania, onde se inclui a escolarização”.
FONSECA e CECCIM ( 1999) indicam que foi a partir da segunda metade do século XX
que se observou,na Inglaterra e nos Estados Unidos da América, que os orfanatos, asilos e
instituições que prestavam assistência a crianças não respeitavam alguns aspectos básicos do
seu desenvolvimento emocional, por falta de um atendimento mais completo. A conclusão a
que se chegou é que essas falhas no atendimento infantil traziam riscos de sequelas que, na
vida adulta, poderiam evoluir para doenças psiquiátricas. Surgiu, então, a iniciativa de
implementar experiências educativas para crianças e jovens internados em instituições
hospitalares. Esta iniciativa também foi implementada em hospitais no Brasil com o mesmo
objetivo.
Considerando o atendimento educacional específico para pessoas portadoras de
deficiência, a história iniciou no Brasil em 1600 com a criação de atendimento escolar à pessoa
física, na Santa Casa de Misericórdia em São Paulo. MAZZOTTA, apud CAIADO (2003,p. 73),
ao pesquisar os arquivos da instituição de saúde encontrou relatórios anuais do movimento
escolar de alunos deficientes físicos que datam de 1931.
FONSECA ( 2002), em pesquisa realizada em hospitais brasileiros verificou que as classes
hospitalares que informaram o início de suas atividades se situavam na região Sudeste. A
coleta de dados teve início em 1997 com término em fevereiro de 1998.
23
As classes com mais tempo de atuação foram criadas no município do Rio de Janeiro
(1950 e 1953), onde existe a classe hospitalar do Hospital Municipal de Jesus ( hospital público
infantil),que é a mais antiga classe hospitalar em funcionamento no país. Suas atividades foram
iniciadas, oficialmente, em 14 de agosto de 1950.
É a partir de 1981 que o atendimento de classe hospitalar teve um aumento significativo
no número de classes implantadas. Para FONSECA ( 1999e, p. 10), “ o crescimento do número
de classes hospitalares coincide com o redimensionamento do discurso social sobre a infância
e adolescência que culminou com a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente e seus
desdobramentos posteriores”.
Em 1988, o Paraná, por meio da Secretaria do Estado da Educação,em convênio com a
Associação Hospitalar da Proteção à Infância Raul Carneiro, mantenedora dos hospitais
Pequeno Príncipe e Cezar Perneta, em Curitiba, assina um convênio, disponibilizando duas
professoras da rede estadual de ensino para atender as crianças internadas. Segundo
Margarida MUGGIATTI, assistente social do referido hospital na época, em entrevista
concedida ao jornal Folha de Londrina, comenta que, “ antes deste convênio a criança rompia o
tratamento para ir à escola, ou evadia-se da escola para fazer o tratamento”.( 1988a ,p. 8)
Nesse sentido, FONSECA (2002) explica que a classe hospitalar pode diminuir a evasão
escolar, uma vez que o atendimento nesta modalidade de ensino contribui para o reingresso da
criança na sua escola de origem ou para seu encaminhamento para matrícula após sua alta.
Em março 1998, havia no Brasil 30 classes hospitalares, distribuídas em dez unidades
federais e Distrito Federal. Segundo VIKTOR ( 2003), em agosto de 1999, esse número
aumentou para 39 classes em 13 estados. Os últimos números indicam que 75 hospitais,
aproximadamente 2% dos quase 4 mil hospitais brasileiros, oferecem atendimento escolar,
espalhados em 15 Estados.
No Paraná iniciou-se em 1988 o projeto Hospitalização Escolarizada através de um
convênio firmado com o hospital Pequeno Príncipe. A implantação do Serviço de Atendimento
à Rede de Escolarização Hospitalar – Sareh, política pública de inclusão educacional do
governo do Estado do Paraná se efetivou a partir de 2008 por meio da Secretaria do Estado da
Educação, funcionando nas Unidades de Saúde conveniadas: Hospital de Clínicas da
Universidade Federal do Paraná, Associação Hospitalar de Proteção à Infância Dr. Raul
Carneiro/ Hospital Pequeno Príncipe, Hospital do Trabalhador, Associação Paranaense de
Apoio à Criança com Neoplasia, Liga Paranaense de Combate ao Câncer/ Hospital Erasto
24
Gaertner, Hospital Universitário Evangélico de Curitiba, Hospital Universitário Regional Norte
do Paraná, Hospital Regional de Maringá.
Considerando a orientação da SEED na Construção das Diretrizes Curriculares
Estaduais e o contexto em que a efetivação do programa acontece nas instituições hospitalares
conveniadas,este objetiva a formação de um sujeito crítico da realidade histórico-social no qual
está inserido. A ação deve contemplar a continuidade do processo de escolarização do aluno
hospitalizado, organizando o currículo, criando condições para a reinserção e a permanência
do educando na sua escola de origem; estabelecendo parâmetros para as ações pedagógicas,
na promoção de subsídios para o acompanhamento da avaliação- ensino, promovendo a
articulação das relações entre as instituições escolar, hospitalar e familiar, e garantindo a
formação continuada dos profissionais envolvidos com a educação hospitalar.
O Sareh atende alunos hospitalizados matriculados ou não na educação formal,
provenientes da rede pública ou privada de ensino, oriundos do Estado do Paraná, em sua
maioria, e de outras regiões do Brasil. Grande parte desses alunos é paciente do Sistema
Único de Saúde – (SUS).
As principais demandas dos profissionais que atuam no SAREH dizem respeito ao
enfrentamento de inúmeras situações que circulam o universo da escola e se estendem ao
ambiente da escolarização hospitalar: evasão escolar, elaboração de materiais didáticos e
pedagógicos para atividades individuais, reinserção de alunos na escola, identificação de
crianças e adolescentes em situação de risco, dificuldade de contato com a escola de origem,
estabelecimento de uma ligação efetiva entre o programa e as escolas, reconhecimento e
validação do trabalho de atendimento pedagógico hospitalar pelas escolas.
5 - Classe hospitalar : ação do professor
25
A classe hospitalar está incluída na política educacional do Paraná, e embora em
número insuficiente para atender todos os alunos hospitalizados,justifica-se a sua existência
pelo profissionalismo e dedicação dos professores, e pelos resultados no atendimento de
crianças e adolescentes que estão temporariamente afastados da escola , garantindo a
continuidade dos conteúdos escolares e possibilitando um retorno sem prejuízo após a alta.
O contexto de classes multisseriadas além de representar a garantia do direito da
criança e do adolescente hospitalizado continuar estudando, é também um espaço de
socialização para enfermos durante o período no qual estão internados, um local de trocas de
experiências multiculturais entre os alunos das mais diversas regiões do país e culturas, um
espaço de interação, mediado pelo conhecimento.Os professores aprendem a lidar com a
diversidade e com adaptações curriculares neste cenário complexo; local de conhecimento dos
professores sobre quem são as crianças e adolescentes brasileiros,como podem realizar a
“leitura do mundo”, como dizia Paulo Freire. Algumas destas crianças hospitalizadas muitas
vezes estão vivendo em condição de extrema miséria e saúde que nem chegam a frequentar
as escolas regulares por estarem em situações muito precárias que não lhes permitem acesso
aos bens sociais, dentre estes, a escola.
Nos hospitais muitas vezes chegam crianças seriamente comprometidas em relação à
sua saúde e suas funções essenciais. Temos como exemplo crianças que necessitam de
máquinas para respirar , das crianças que foram queimadas e têm algumas de suas funções
como a própria coordenação motora fina comprometida, outras crianças precisam realizar
hemodiálise constantemente, outras fazem tratamentos quimioterápicos, ou seja, essas
crianças têm muita dificuldade de freqüentar uma escola regular e são pacientes que
normalmente passam anos nos hospitais. A maioria desses pacientes não apresenta
comprometimento cognitivo , podem apresentar alguns comprometimentos emocionais em
função das questões que a doença e o tratamento lhes trazem, mas muitas destas crianças
podem acompanhar normalmente os conteúdos escolares que estão sendo trabalhados em
suas escolas.
Existem também aqueles pacientes que sofreram acidentes ou lesões graves e que
perderam algumas de suas funções. Existem pacientes que nasceram com síndromes que
podem acarretar prejuízos cognitivos e também existem pacientes que apresentam doenças
degenerativas que podem ou não comprometer suas funções intelectuais e motoras.como
também existem crianças portadoras de necessidades educativas especiais que podem ser ou
deficientes auditivos, visuais e mentais ou apresentar deficiências múltiplas.
26
No que se refere à escolaridade,o quadro também é bem complexo. Existem crianças que
estão matriculadas e freqüentam escolas oficiais, sem nunca terem sido reprovadas, com bom
desempenho escolar, existem crianças que já passaram por diversas reprovações, existem
crianças que abandonaram a escola e também existem aquelas que nunca foram à uma
escola. Não se pode generalizar, mas o fato é que muitas crianças que chegam aos hospitais,
são crianças que nunca tiveram a oportunidade de freqüentar uma escola, por sofrerem
discriminações em relação a sua doença, outras por terem doenças crônicas e por
necessitarem de hospitalizações constantes, outras por terem de trabalhar, outras por não se
identificarem com as questões que são trabalhadas na escola.
Este momento difícil para a criança e o adolescente hospitalizado pode trazer através
das atividades escolares ricos momentos de oportunidades pedagógicas e desvincular, mesmo
que momentaneamente, dos efeitos que a hospitalização pode provocar.Evita também que a
escolaridade seja interrompida ou que sejam prejudicados na conclusão dos seus estudos por
constantes internações.
O atendimento de classe hospitalar, ainda que por um tempo mínimo, pode ajudar a
criança a desvincular-se das restrições que um tratamento hospitalar impõe.Quanto mais
propício e mais próximo da vida cotidiana infantil for o ambiente hospitalar, mais rápido e
menos sofrido será seu restabelecimento.E o processo educacional em muito pode colaborar
para isso,conscientizando o indivíduo acerca da doença e contribuindo para a aprendizagem da
criança hospitalizada.
“ O fato de que a criança ou jovem, mesmo hospitalizado, tenha sua escolaridade continuada torna-se importante para a visão que ela ou ele tem de si, da sua doença, de seu desempenho escolar e de seu papel social. A classe hospitalar ratifica se direito à cidadania. A educação em hospital pauta-se pelo respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana e no especial direito das crianças e adolescentes à proteção integral.”( Ceccim& Fonseca, 1999, p.34)
A hospitalização sempre vem acompanhada de incertezas, inseguranças, medo ,
angústia e preocupações relacionadas aos problemas relativos à saúde física da criança. Em
meio a estes aspectos os pais muitas vezes esquecem ou relegam a segundo plano a escola.
Conscientizar da importância da continuidade dos estudos, mesmo durante o tratamento
é importante para a criança doente perceber-se produtiva, em desenvolvimento e com
atividades semelhantes às demais crianças de sua idade.Como a escola é um espaço de
desenvolvimento cognitivo e social, ficar à margem desse espaço de vivências é penoso para a
criança ou adolescente hospitalizado.A oportunidade de, enquanto hospitalizada, dar
continuidade a sua escolaridade, contará com uma importante e positiva interferência na
27
percepção que possa ter de si mesma, de sua doença, de seu desempenho escolar e de seu
papel social.
O ensino que acontece no hospital ganha traços especiais em função de não ser
desenvolvido num espaço stricto sensu. As práticas pedagógicas ali desenvolvidas se
materializam de maneira particular, ganhando contornos próprios, de acordo com as demandas
e possibilidades do contexto hospitalar, numa concepção de que o processo educativo deve ser
uma experiência emancipatória. Para atender as singularidades do espaço educativo hospitalar
é preciso pesquisar sobre este espaço, conhecê-lo, procurar caminhos alternativos a partir do
olhar sobre este espaço, portanto, sobre essa realidade. Desse modo, o pesquisar impulsiona o
ensinar e o ensinar motiva o pesquisar.Como afirma Paulo Freire(2003,p.29):
“ Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade.”
Ser professor em espaço hospitalar, na perspectiva que aponta Freire, significa
redimensionar a prática educativa , a partir de um olhar crítico sobre seu próprio exercício e
sobre a realidade em que se inscreve esta prática. Isso significa pesquisar sobre as rotinas do
hospital, sobre os sentimentos das crianças ou adolescente e profissionais, sobre a distribuição
de poderes,sobre os procedimentos médicos, limites territoriais para educadores e educandos,
dietas alimentares, diagnóstico e previsão de alta, peculiaridades de conduta em função da
enfermidade e diversos outros elementos que emergem em função deste contexto. Todavia,
não é suficiente que se tome essas informações descoladas da experiência, ou que se reaja a
elas sem fazer-lhes a crítica.
Segundo Larrosa,(2002,p.26) “ é a experiência aquilo que nos passa, ou que nos toca,
ou que nos acontece, e ao passar-nos nos forma e nos transforma”. Para haver experiência é
preciso um encontro, uma relação com algo que se experimenta. Podemos saber várias coisas,
apreender diversos conceitos, mas isso não significa que experimentamos coisas. A
experiência se constitui como um processo permanente de reflexão e formação, que
consequentemente, gera mudanças nos modos de pensar e de agir, afetando as diferentes
trajetórias pessoais e profissionais. Esse exercício de reflexão, especialmente em espaço
hospitalar, deve emergir do diálogo entre educador e educando, de forma que conflitos e
consensos sejam vivenciados e o encontro de crenças, valores, conceitos e ideologias sirva de
cenário para um processo de autoconhecimento e de tomada de consciência e decisão. Ao
compreendermos o que seja experiência, ensino e pesquisa partimos do princípio que, não
28
ensinar, aprendemos e ao aprender, ensinamos, confirmando o que entende Freire quando
afirma que “ quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao
ser formado” ( Freire, 2003,p. 23).
Dessa experiência, portanto, emerge a compreensão sobre a realidade. Compreensão
esta que tem na prática o ponto de partida; na prática como “ local de questionamento, do
mesmo modo que é objeto deste questionamento, sempre mediado pela teoria” ( Esteban;
Zaccur, 2002,p. 22).
Os sujeitos que protagonizam esse processo trazem consigo suas histórias pessoais,
suas vivências e suas marcas, que se entrecruzam nas diversas relações que estabelecem e
que se inscrevem no contexto social, político e econômico em que estão inseridos e dos quais
fazem parte. Nesse contexto, e a partir de suas falas, de suas experiências, do diálogo,
portanto; o conhecimento é construído como um bem social efetivamente partilhado e posto a
serviço da transformação.
O educador deve compreender essa experiência, por fim, como um movimento de
constante busca. Como entende Freire ( 2003, p.41) :
“Uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é de assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos. Assim, se a experiência está a serviço da tomada de consciência crítica acerca da realidade individual e coletiva, bem como da tomada de decisão, no sentido de proporcionar as condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o professor ou professora ensaiam a experiência de transformação, essa mesma experiência ganha caráter emancipador, como deve ser a ação educativa “.
Os professores, na busca de vencer desafios que se apresentam no espaço hospitalar,
elaboram estratégias e mecanismos criativos de atuação para ensinar, atendendo a
diversidade dos alunos, a rotatividades dos mesmos, a rotina do hospital e a fragilidade
emocional em função do estado clínico dos mesmos . Assim ,fazem um elo entre o mundo
hospitalar e a vida cotidiana da criança internada, no sentido de acompanhar e intervir no
processo de aprendizagem dessa criança, além de oferecer subsídios para a compreensão do
processo de elaboração da doença. Na sua prática pedagógica levam em conta o momento
clínico e afetivo que o aluno(a) se encontra, promovendo atividades escolares adequadas à
situação peculiar do mesmo(a),possibilitando novas aprendizagens.
A práxis pedagógica das classes hospitalares está sedimentada nos conteúdos
escolares e utiliza o conhecimento para acesso aos bens culturais em que o aluno, articulador
nas ações de aprendizagem, ativa uma “ poderosa inteligência de vida”. A luta por mais
29
cognição e saúde são traços associados ao papel das classes hospitalares que se empenham
em ajudar os alunos nas aprendizagens, na apropriação dos saberes e no estabelecimento de
vínculos com o universo escolar de cada aluno , que assume uma postura de resistência à
doença.
O trabalho em classes hospitalares não se fecha em campos e espaços específicos,
mas encontra no diálogo com a escola de origem do aluno novas formas de se fazer e de
interagir nas aprendizagens, ressignificando o seu papel.
E, no tocante às atribuições do pedagogo nas classes hospitalares, conforme as
peculiaridades inerentes a este espaço de escolarização, a sua função é de articulador do
trabalho pedagógico e organizador dos espaços de aprendizagem. Para tanto, está junto com
os professores, atende pais, alunos, e participa coletivamente da avaliação ensino dos alunos
para efetivação das aprendizagens.Também organiza e faz os momentos de estudo e
discussão e reflexão do trabalho pedagógico, articula ações que favoreçam a articulação do
mesmo, o horário de aulas, as atividades desenvolvidas e os materiais de apoio que auxiliam
na apropriação dos saberes escolares. Estabelece diálogo com as escolas de origem dos
alunos e também encaminha crianças e adolescentes para a inserção ou reinserção nas
mesmas.
Cabe ao pedagogo uma escuta pedagógica que autoriza um sentimento de
aprendizagem,processo, avanço,transposição do não sei para agora sei. Nas diversas
interfaces de sua atuação,é muito constante a sua disponibilidade de estar com o outro para o
outro.Certamente fica menos traumático enfrentar o percurso de adoecimento quando não se
está sozinho, podendo compartilhar com o outro a dor, por meio do diálogo, da escuta
atenciosa.Ceccim fala da escuta pedagógica para agenciar conexões, necessidades
intelectuais, emoções e pensamentos. Segundo o autor:
“A escuta pedagógica diferencia-se da audição. Enquanto a audição refere-se a apreensão de vozes e sons audíveis, a escuta pedagógica refere-se à apreensão/compreensão de expectativas e sentidos, ouvindo através das palavras as lacunas do que é dito e os silêncios, ouvindo expressões e gestos, condutas e posturas. A escuta não se limita ao campo da fala ou do falado., busca prescrutar os mundos interpessoais que constituem nossa subjetividade para cartografar o movimento das forças de vida que engendram nossa singularidade.”(Ceccim,1997,p. 31)
A escuta pedagógica traz a marca da construção do conhecimento sobre o espaço
hospitalar, a rotina, as informações médicas, a doença, de forma lúdica e ao mesmo tempo
didática.É uma escuta com eco, da qual brota o diálogo que norteia toda a educação.
30
O diálogo pressupõe uma relação com o outro que também traz informações e
esclarecimentos relevantes que auxiliam o aluno a compreender melhor a realidade que o
cerca. E é através da aquisição de conceitos que modifica o seu processo de percepção da
realidade, como alguém capaz de estudar e aprender.
Neste espaço, em que se interpenetram os conce/itos de educação e saúde se expressa
uma perspectiva de educação que fertiliza a vida, pois o desejo de aprender e conhecer
engendra o desejo de viver no aluno .É um espaço de referência à vida normal e saudável e a
sua identidade enquanto estudante.
Trabalho realizado pelos alunos da clínica pediátrica
na Classe Hospitalar HC
O professor deve atingir os alunos enquanto
indivíduos que aprendem,através da valoração
positiva, propulsora de sucesso nas aprendizagens que acontecem em suas vidas.
A disposição do professor para conhecer seus alunos como indivíduos deve estar impregnada de sensibilidade e discernimento a fim de evitar as generalizações excessivas e de afogar a percepção que ele tem dos indivíduos em um agregado indistinto e pouco fértil para a adaptação de suas ações (TARDIFF, 2002, p.17).
A escola sistematiza o conhecimento que, de fato, não está dentro dela, mas, no
cotidiano daqueles que a frequentam. Em outras palavras, como esclarece Vygotsky (1995),”
todo indivíduo tem sua sóciohistória que deve ser considerada na escola porque circula na
mediação entre professor e aluno e acrescenta muito aos processos de aprendizagem do
aluno, mesmo que em situação de doença.”
32
6 - REFERÊNCIAS
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Entendimento a respeito da vigência do Decreto Lei n. 1044/69, que dispõe sobre o tratamento
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http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/29/Hospital_Evangelico_de_Curitiba_01.jpg
http://www.sppert.com.br/miniaturas/Brasil/Paran%C3%A1/Curitiba/Sa%C3%BAde/Hospitais_e
_Unidades/Erasto_Gaertner/0_1245954590.965.jpg
http://www.curitiba-parana.com/imagens/hospital-trabalhador.jpg
fotos de Zilda Benkendorf Maiochi
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7 - Anexos:
1 -Prezado Professor(a):
O presente questionário tem por finalidade colher informações relevantes para o trabalho que
realizo no PDE. Da autenticidade das respostas dependerá em grande parte a qualidade do
trabalho.
-1- Quanto tempo trabalha em classe hospitalar?
_______________________________________________________________
2- Cite duas práticas pedagógicas na sua atuação ( área de disciplina) que considera relevante
em classe hospitalar.
_______________________________________________________________
3 – Que dificuldades encontrou no trabalho em ambiente hospitalar?Como vê o
encaminhamento de superação a estas dificuldades?
4 –Fortalecer o processo avaliativo é compreender uma absoluta intimidade de atuação e de
ação entre ensino e avaliação, a ponto de se confundirem como processo: avaliação como
ensino por excelência. Como vivencia este processo avaliativo em ambiente hospitalar?
_______________________________________________________________
36
2 -Prezado Professor(a):
O presente levantamento tem por finalidade colher informações relevantes para o trabalho que realizo no PDE. Da
autenticidade das respostas dependerá em grande parte a qualidade do trabalho.
1 - Professor(a) ,enumere de 1 a 9, iniciando com o nº 1 à atividade mais presente na sala de aula.
( ) aula expositiva
( ) trabalhos em grupos
( ) palestra de convidado
( ) pesquisa bibliográfica
( ) pesquisa na internet
( ) trabalhos individuais
( ) resoluções de exercícios e tarefas
( ) exposição de trabalhos
( ) aulas práticas
( ) outra:________________________
2 - Quando está em sala de aula, durante a ação docente, como caracteriza seu com o aluno?
( ) A relação é de igual para igual, horizontalmente.
( ) Com autoridade do professor que exige atitude receptiva do aluno.
( ) É não diretiva, o professor é orientador e os alunos livres.
( )Educação centralizada no aluno e o professor é quem garantirá um relacionamento de respeito.
( ) O professor é auxiliador no desenvolvimento livre da estudante.
( )O aluno como participador e o professor como mediador entre o saber e o aluno.
( ) Relação objetiva onde o professor transmite informações e o aluno vai fixá-las.
3 - Como o estudante participa do ensino-avaliação nas suas aulas? Enumere, começando pelo n° 1 ao de maior
importância.
( ) Fazendo perguntas e esclarecendo suas dúvidas
( ) Relatando seus pontos de vista, trocando idéias com os demais colegas
( ) Raramente participam, apenas ouvem
( ) Respondendo às questões solicitadas
( ) Pesquisando os conteúdos que estão sendo trabalhados
( ) Escrevendo questões solicitadas
Outro:________________________
4 - Caracteriza o perfil de seus estudantes como:Caracterize pelo nº 1 ao que é mais presente.
( ) Responsáveis
( ) Questionadores/críticos
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( ) Imaturos
( ) Com falta de embasamento teóricos
( ) Indiferentes
( ) Outro: ___________________________
5 - Assinale três recursos pedagógicos que mais utiliza em sala de aula:
( ) TV multimídia
( ) pen-drive
( ) DVD
( ) vídeo
( ) rádio
( ) aparelho de som
( ) retroprojetor
( ) datashow
( ) computadores no laboratório de informática
( ) textos
( ) livros
( ) cartazes
( ) mapas e globos
( ) lápis de cor, giz de cera, canetas esferográficas, tesoura, cola, réguas, giz colorido
( ) quadro de giz
( ) jogos pedagógicos
( ) Outro: ___________________________
6 - Enumere de 1 a 8 o instrumento de avaliação que está presente na sua prática pedagógica:Inicie com o nº 1
ao que mais utiliza.
( ) Prova objetiva
( ) Prova subjetiva
( ) Trabalhos escritos
( ) Trabalhos apresentados oralmente
( ) Tarefas
( ) Caderno/Pasta
( ) Produções escritas
( ) Produções artísticas
( ) Outro: ___________________________
7- Quais as dificuldades que tem encontrado em seu trabalho? Inicie com o nº 1 ao que está mais evidente.
( ) alunos desmotivados
( ) carga horária insuficiente para os conteúdos propostos
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( ) organização das aulas em 50min
( ) indisciplina dos alunos
( ) falta de material didático
( ) falta de livros para os alunos
( ) falta de pré-requisitos dos alunos
( ) pouco tempo para planejamento coletivo
( ) outro: ________________________
8 - Em sua opinião o papel da Escola é: Enumere iniciando pelo número 1,a que considera mais relevante.
( ) A escola deve adequar as necessidades individuais ao meio social.
( ) Difusão dos conteúdos.
( ) É modeladora do comportamento humano através de técnicas específicas.
( ) Formação de atitudes.
( ) Preparação intelectual e moral dos alunos para assumir seu papel na sociedade.
( ) Transformação da personalidade num sentido autogestionário.
( ) Visa levar professores e alunos a atingir um nível de consciência da realidade em que vivem na busca da
transformação social.
( ) Outra________