1 rafael said bhering cardoso poluiÇÃo sonora e

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1 RAFAEL SAID BHERING CARDOSO POLUIÇÃO SONORA E ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DAS FESTAS NO MUNICÍPIO DE VIÇOSA MG VIÇOSA MG JUNHO/2011

Author: phamhanh

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  • 1

    RAFAEL SAID BHERING CARDOSO

    POLUIO SONORA E ORGANIZAO ESPACIAL DAS FESTAS NO

    MUNICPIO DE VIOSA MG

    VIOSA MG

    JUNHO/2011

  • i

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIOSA

    CENTRO DE CINCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

    DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

    POLUIO SONORA E ORGANIZAO ESPACIAL DAS FESTAS NO

    MUNICPIO DE VIOSA MG

    Monografia apresentada disciplina GEO

    481 Monografia e Seminrio do curso de

    Geografia da Universidade Federal de

    Viosa como exigncia parcial para

    aprovao.

    Autor: Rafael Said Bhering Cardoso

    Orientador: Prof. Edson Soares Fialho

    VIOSA MG

    JUNHO/2011

  • ii

    RAFAEL SAID BHERING CARDOSO

    POLUIO SONORA E ORGANIZAO ESPACIAL DAS FESTAS NO

    MUNICPIO DE VIOSA MG

    Monografia defendida e aprovada em 22 de junho de 2011.

    __________________________________________________

    Prof. Edson Soares Fialho (Orientador)

    __________________________________________________

    Prof. Maria Isabel de Jesus Chrysostomo

    ___________________________________________________

    Alexandre Valente Arajo

    (Chefe do Departamento de Fiscalizao da PMV)

    __________________________________________________

    Almir Cassiano de Almeida

    (Major da Polcia Militar do Estado de Minas Gerais)

  • iii

    preciso sempre acreditar que o caminho s existe quando voc passa. Se no tens a

    fora de vontade de continuar a caminhar, dificilmente chegar a seus objetivos.

    preciso sempre sonhar, pois os sonhos so a base de todas as nossas realizaes.

  • iv

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo a DEUS sobre todas as coisas.

    Agradeo ao meu pai, Dcio, pelas grandes lies que aprendi e que ajudaram a

    formar meu carter, certamente levarei para toda a vida, apesar da distncia, sempre

    pude contar com seus ensinamentos.

    minha me, Adlia, por ter me dado a vida e cuidado de todas as formas para

    que eu pudesse estar me formando, lembrarei sempre de suas palavras e de seus gestos.

    Ao meu irmo Yuri por todos os momentos bons que passamos juntos, pelas

    brigas e pela cumplicidade. Agradeo a ele tambm pela grande ajuda na coleta dos

    dados para realizao deste trabalho.

    Aos meus amigos verdadeiros pela ajuda quando precisei e pelas grandes

    histrias que pude viver junto deles.

    Ao professor Edson pela orientao nesta pesquisa, pelas oportunidades

    oferecidas, por ter acredito em mim e por sua amizade.

    Aos amigos que fiz na Universidade pelos momentos que pude desfrutar de suas

    companhias.

    In Memorian minha av, Dona Adlia, e ao meu Padrinho, Luiz, pois sempre

    acreditaram em mim e me aconselharam para chegar aonde cheguei, sempre estaro

    comigo.

    A todas as pessoas que cruzaram o meu caminho e que de alguma forma

    influenciaram para que eu me tornasse o que sou hoje.

  • v

    SUMRIO

    LISTA DE FIGURAS ..................................................................................................... vi

    LISTA DE TABELAS .................................................................................................... vi

    LISTA DE SIGLAS ....................................................................................................... vii

    RESUMO.......................................................................................................................viii

    1 INTRODUO .......................................................................................................... 1

    2 HIPTESE ................................................................................................................. 4

    3 OBJETIVOS ............................................................................................................... 5

    3.1 Objetivos Especficos .......................................................................................... 5

    4 APRESENTANDO A REA EM ESTUDO ............................................................. 6

    4.1 Caractersticas Geogrficas .................................................................................. 6

    4.2 Histrico ............................................................................................................... 7

    5 FUNDAMENTAO TERICA ........................................................................... 10

    5.1 Legislao .......................................................................................................... 10

    5.1.1 Legislao do municpio de Viosa ............................................................. 14

    5.2 Efeitos da poluio sonora na sade .................................................................. 16

    5.3 Poluio sonora em cidades brasileiras ............................................................. 18

    6 MATERIAIS E MTODOS ..................................................................................... 26

    7 RESULTADOS E DISCUSSES ............................................................................ 32

    8 CONCLUSO .......................................................................................................... 61

    9 ANEXOS .................................................................................................................. 63

    10 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................... 64

  • vi

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Localizao do municpio de Viosa .............................................................. 6

    Figura 2 GPS utilizado no trabalho. ............................................................................ 27

    Figura 3 Decibelmetro utilizado no trabalho. ............................................................. 28

    Figura 4 - Localizao dos locais de festas em Viosa .................................................. 34

    Figura 5 - Recorte dos locais de festas em Viosa ......................................................... 35

    Figura 6 Rudo no entorno do Bar do Edilson ............................................................. 38

    Figura 7 Rudo no entorno do Fama, Galpo e Flor e Cultura .................................... 39

    Figura 8 Rudo no entorno do Multishow ................................................................... 40

    Figura 9 Rudo no entorno do Multiuso ...................................................................... 41

    Figura 10 Rudo no entorno do Stio das Palmeiras .................................................... 42

    Figura 11 Rudo no entorno do Stio do Ado ............................................................ 43

    Figura 12 Locais onde foram realizadas medies no centro urbano do municpio ... 45

    Figura 13 Decibis medidos nos locais no centro da cidade no dia 12 de maio de 13:00

    s 15:00 ........................................................................................................................... 46

    Figura 14 Decibis medidos nos locais no centro da cidade no dia 3 de junho das

    22:00 s 23:00 ................................................................................................................. 47

    Figura 15 Decibis medidos nos locais no centro da cidade no dia 6 de junho das

    22:00 s 23:00 ................................................................................................................. 48

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Nvel de critrio de avaliao para ambientes externos, em dB (A) ............ 10

    Tabela 2 Nveis de rudos compatveis com o conforto acstico ................................ 11

    Tabela 3 Tabela de limite aceitvel para rudos segundo NBR 10151 ........................ 12

  • vii

    Tabela 4 Limites de tolerncia para rudo contnuo ou intermitente ........................... 23

    Tabela 5 Cidades, local e decibis dos trabalhos analisados ....................................... 25

    Tabela 6 Local, data e horrio das medies dos pontos ............................................ 30

    Tabela 7 Agenda das festas mais frequentadas em 2010............................................. 32

    Tabela 8 Mdia dos decibis medidos nos locais de festas ......................................... 37

    Tabela 9 Decibis obtidos em locais de medio no centro urbano do municpio no dia

    12 de maio ...................................................................................................................... 44

    Tabela 10 Decibis obtidos em locais de medio no centro urbano do municpio no

    dia 3 de junho ................................................................................................................. 44

    Tabela 11 Deibis obtidos em locais de medio no centro urbano do municpio no dia

    6 de junho ....................................................................................................................... 44

    LISTA DE SIGLAS

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente

    CONTRAN Conselho Nacional de Trnsito

    dB(A) decibel ponderado em A

    ESAV Escola Superior de Agricultura e Veterinria

    NBR Norma Brasileira Regulamentar

    PMV Prefeitura Municipal de Viosa

    SEBRAE Servio Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas

    UFV Universidade Federal de Viosa

  • viii

    RESUMO

    Com o crescimento acelerado das cidades os problemas ambientais tem-se

    intensificado, incluindo o aumento da poluio sonora. Esta pesquisa foi realizada no

    municpio de Viosa, Minas Gerais, procurando-se analisar a produo de rudos

    causados pelas festas e pela mobilizao de pessoas em torno destas. As festividades na

    cidade ocorriam principalmente em locais no centro ou no espao fsico da UFV,

    observando-se atualmente o fato de estarem ocorrendo em lugares mais afastados.

    Assim o objetivo geral deste trabalho foi analisar os motivos que fizeram com que

    ocorresse uma reorganizao espacial destes eventos. Foram levantadas as legislaes

    que tratam do tema poluio sonora e trabalhos realizados em outros municpios do

    pas. O trabalho de campo contou com levantamento e espacializao dos locais

    utilizados para a realizao de festas no municpio, tanto os antigos como os que so

    utilizados atualmente. Foram mensurados os nveis de rudos produzidos no entorno dos

    locais de realizao de eventos em Viosa bem como em pontos no centro da cidade,

    especificamente em ambientes externos de hospitais, escolas e igrejas. As medies no

    centro foram realizadas em trs dias, um no horrio diurno de grande trnsito, outros

    dois no horrio noturno (no dia de apresentao de uma banda e numa segunda-feira

    sem eventos festivos). O poder pblico municipal instituiu em 2003 o Cdigo de

    Posturas do Municpio (popular Lei do Silncio), impondo medidas para o controle da

    poluio sonora emitida pelos eventos festivos, porm a referida lei foi realmente

    efetivada no ano de 2011, aps realizao de reunies entre rgos da Prefeitura, Polcia

    Militar e Polcia Civil. Os principais motivos que levaram efetivao da lei foram o

    aumento da criminalidade no horrio de sada das festas e o ndice de reclamaes de

    perturbao do sossego. Questionrios aplicados a estudantes universitrios e a

    moradores do municpio permitiram perceber que ambos se sentem incomodados com a

    poluio sonora, esta atrapalhando seu descanso e interferindo em sua sade.

  • 1

    1 INTRODUO

    Desde que estabeleceu residncia fixa, com a domesticao do fogo, dos animais

    e das plantas, o homem iniciou o processo de concentrao populacional, culminando na

    criao e expanso das cidades. Com o advento da Revoluo Industrial, a capacidade e

    a velocidade com que o homem se apropria e transforma a natureza vem aumentando,

    tendo-a como um recurso, acarretando na fuga do homem do campo para a cidade em

    busca de melhores condies de vida.

    A expanso das cidades, fenmeno chamado de urbanizao, quando realizada

    de forma desordenada, acaba gerando vrios problemas ambientais, principalmente em

    regies em desenvolvimento, pois regies que, em curto espao de tempo, se

    transformaram em reas industrializadas atravs da importao de tecnologias e capital

    e a instalao macia de empresas transnacionais, como ocorreu na Amrica Latina, na

    sia e na frica (ROSS, 2005, p. 215), acabam tendo seus problemas ambientais

    urbanos agravados. Estes fatores aumentam a poluio do ar, da gua, do solo e tambm

    a poluio sonora. evidente, porm, que a conscincia acerca da atividade humana

    como produtora de mudanas globais, e os impactos causados por estas mudanas, vem

    crescendo, tornando cada vez mais necessrio se pensar a relao entre a natureza e a

    sociedade como sendo interdependentes.

    O crescimento das cidades acarreta no agravamento da situao da poluio

    sonora, devido falta de um controle mais rgido em relao produo de rudos.

    Segundo Brito (1999), o som um fenmeno acstico que compreende qualquer

    vibrao em meio elstico e rudo pode ser definido como todo som que no desejado

    ou que possa perturbar o indivduo. O rudo pode ser gerado pelas mais diversas fontes.

    Vernier (1994) classifica os rudos como provenientes de duas grandes fontes geradoras:

    os rudos ligados aos transportes seja ele rodovirio, ferrovirio ou areo e os rudos

    de vizinhana gerados por estabelecimentos industriais, canteiros, atividades

    domsticas e lazer. A unidade utilizada para expressar o nvel de presso sonora o

    decibel, onde deci indica que se trata de uma escala logartmica e Bell em homenagem

    ao inventor Graham Bell (TROPPMAIR, 2002, p. 84), ento, o aumento de 1 decibel

    representa que se est aumentando o nvel da presso sonora em 10 vezes. O decibel

    representado por dB(A).

  • 2

    A expanso urbana do municpio de Viosa contou com um processo de

    verticalizao da rea central do municpio a partir do momento em que Universidade

    Federal de Viosa (UFV), antiga Escola Superior de Agricultura e Veterinria (ESAV),

    constituiu-se como um impedimento fsico para a expanso horizontal da cidade ao

    ocupar uma topografia privilegiada, obrigando a cidade a buscar outras direes para

    crescer (CARNEIRO e FARIA, 2005). Isso gerou grandes engarrafamentos e muitos

    canteiros de obras no centro da cidade, o que vem causando um grande incmodo

    populao residente e que transita por esta rea. Alm destas fontes de gerao de

    rudos, outro problema a realizao de festas voltadas principalmente para o pblico

    de estudantes universitrios, os principais frequentadores das festas no municpio de

    Viosa, o que acaba gerando um incmodo para alguns habitantes de certas reas do

    municpio. Para este trabalho, entende-se como festa uma aglomerao de pessoas em

    determinado local no qual se verifica a venda e/ou utilizao de bebidas alcolicas e que

    suas atividades utilizem fonte sonora com transmisso ao vivo ou qualquer sistema de

    amplificao, sejam eles provenientes de bandas e instrumentos musicais, carros de

    som, ou de aparelhagem especializada.

    As atividades de lazer, incluso o denominado lazer ou diverso noturna, so

    importantes ao bem estar do ser humano, possuindo este o direito diverso, sem se

    esquecer de que este deve ser compatibilizado com outros direitos igualmente

    fundamentais, como a vivncia em ambientes que propiciem o necessrio sossego e

    repouso a uma qualidade de vida saudvel, principalmente em um municpio como

    Viosa, onde h uma grande concentrao de jovens, sendo grande parte deles

    estudantes universitrios, quem tm, alm do direito de descontrao noite, o dever de

    no causar prejuzos outra parcela da comunidade que merece o descanso noturno. As

    atividades de lazer, como bares, boates, lojas de convenincia em postos de gasolina,

    entre outros, em dias de funcionamento, trazem consigo um grande fluxo de veculos e

    de pessoas no entorno, gerando, consequentemente, um aumento da poluio sonora em

    suas circunvizinhanas em zonas pblicas (FREITAS, 2006).

    Existe uma legislao especfica que trata da emisso de rudos tanto em esfera

    federal e estadual quanto municipal. Geralmente, o poder pblico adota como limites

    para a emisso de rudos as normas NBR 10151 e NBR 10152 da Associao Brasileira

    de Normas Tcnicas (ABNT). Dificilmente se verifica o cumprimento da legislao

  • 3

    acerca da emisso de rudos para ambientes diversos, o que foi verificado atravs da

    leitura de trabalhos realizados em vrios municpios do pas.

  • 4

    2 HIPTESE

    O municpio de Viosa conhecido popularmente como cidade universitria e

    de realizao de vrias festas, o que atrai vrios estudantes de outros lugares que

    procuram o municpio pela sua fama de cidade festeira, procurando alm da graduao

    universitria, aproveitar o tempo que passam na cidade frequentando as festas que so

    realizadas. Exemplo disso, que, embora seja uma cidade com menos de 100 mil

    habitantes, vrias so as bandas de renome do contexto nacional da msica que j

    fizeram apresentaes na cidade, diferentemente do que ocorre em cidades do mesmo

    porte. Outro exemplo o grande nmero de nibus e vans que trazem jovens de outros

    lugares para os grandes eventos que ocorrem no municpio.

    No passado, os principais locais de realizao das festas em Viosa se

    concentravam na rea central do municpio ou mesmo dentro dos limites territoriais da

    UFV, mas atualmente este panorama vem se modificando, com os locais de festividades

    localizados na rea central sendo substitudos por outros estabelecimentos, e os eventos

    ocorrendo em locais afastados do centro urbano, com destaque para stios e espaos

    criados para este fim. A realizao das festas, que tem como pblico alvo

    principalmente estudantes universitrios gera um conflito entre os interesses dos

    estudantes e o dos moradores do municpio, principalmente os que residem prximos a

    locais de realizao destas.

    O rudo causado pela realizao de festas prximas a residncias causa muito

    incmodo aos moradores, gerando muitas reclamaes por parte destes junto aos rgos

    fiscalizadores do municpio. Devido a este fato, foi criado no municpio o Cdigo de

    Posturas, em vigor desde o ano de 2003, sendo realmente efetivado no ano de 2011,

    estabelecendo um limite ao horrio permitido para a realizao de eventos e

    funcionamento de estabelecimentos como bares, restaurantes e casas noturnas.

    Assim, coloca-se como hiptese deste trabalho analisar a afirmativa de que os

    motivos que esto levando as festas a serem remobilizadas para reas mais afastadas do

    centro urbano se d em funo da aplicao do Cdigo de Posturas (popular Lei do

    Silncio) imposto pelo municpio.

  • 5

    3 OBJETIVOS

    O objetivo geral deste trabalho consiste em analisar o fato de grande parte das

    festas estarem ocorrendo em locais afastados do centro urbano do municpio de Viosa,

    j que em tempos passados ocorria justamente o contrrio, quando a maior parte das

    festas acontecia dentro do centro urbano ou dentro do espao fsico da UFV.

    3.1 Objetivos Especficos

    Mensurar o nvel de rudos na rea central do municpio de Viosa sem a

    presena de condies atmosfricas adversas, como chuvas, trovoadas e vento

    forte, que possam interferir nos resultados, no primeiro semestre de 2011;

    Monitorar os nveis de rudo em festas realizadas no municpio de Viosa;

    Levantar e espacializar as festas realizadas no municpio de Viosa nos meses de

    abril, maio e junho de 2011;

    Aplicar questionrios aos moradores e estudantes universitrios para saber se

    existe o conflito entre os interesses deles;

    Analisar o conflito existente entre os moradores e os estudantes frequentadores

    das festas, em relao ao incmodo causado pela produo de rudos.

  • 6

    4 APRESENTANDO A REA EM ESTUDO

    4.1 Caractersticas Geogrficas

    O municpio de Viosa faz vizinhana ao norte com Teixeiras, a leste com So

    Miguel do Anta e Cajuri, ao sul com Coimbra e Paula Cndido, a oeste com Porto

    Firme e a noroeste com Guaraciaba.

    Figura 1 Localizao do municpio de Viosa

    A rea foi originalmente ocupada pela Floresta Estacional Semidecidual, hoje

    restrita aos topos e altas escarpas, sob forma de capoeiras ou matas secundrias. As

    espcies arbreas mais frequentes dessa floresta so peroba, angico, jequitib, canela e

    sapucaia. Tais partes, apesar de sofrerem grande interveno, ainda guardam

    caractersticas naturais primitivas da antiga floresta, que cobriu extensas reas e foi

    praticamente substituda por pastagem, reflorestamento e capoeira. O clima, junto com a

    vegetao e a fauna de uma determinada regio, tem grande influncia na formao dos

    solos, na decomposio das rochas e nas formas de relevo. No territrio estudado, o

    clima dominante o tropical, com uma estao seca. A precipitao mdia anual de

  • 7

    1200 mm, concentrando-se as chuvas no perodo de outubro a maro, com dois picos:

    um em novembro, outro em janeiro. A estao seca, de 4 a 5 meses, coincide com os

    meses mais frios. A temperatura mdia anual de 21 Celsius, enquanto a mxima

    mdia de 26 Celsius. A temperatura mnima mdia de 14 Celsius. A umidade

    relativa mdia de 80%. No relevo predominam colinas convexas e convexo-cncavas,

    alinhadas em forma de espiges, bastante seccionadas pela rede de drenagem. Os topos

    so aplainados ou abaulados e funcionam como divisores de gua para as pequenas

    bacias de drenagem. As alteraes so profundas, em geral oriundas de rocha

    metamrfica, sem exposio de afloramentos rochosos constata-se a presena de uma

    linha de pedra descontnua, no contato do pacote de sedimentos com a rocha em

    processo de decomposio. A regio pertence ao chamado Domnio Tropical dos Mares

    de Morros, apresentando processos de formao de solos caractersticos das zonas

    intertropicais midas, em que predominam os processos qumicos e biolgicos, que

    atuam associados aos mecnicos. Da ao conjugada dos processos qumicos,

    mecnicos e biolgicos resulta um manto de alterao que se caracteriza por ser

    bastante espesso nas reas de declividades fracas e mdias (SEBRAE, 1999).

    4.2 Histrico

    O processo histrico de urbanizao do municpio de Viosa se d,

    primeiramente, devido a dois ciclos econmicos antigos do pas, que so o ciclo do ouro

    e o ciclo do caf (PEREIRA, 2005). Com a decadncia do processo de extrao do ouro

    em Ouro Preto e Mariana, a populao comeou a procura por novas reas para fixao,

    encontrando aqui terras melhores para a implantao de lavouras, dando incio a um

    processo de migrao dos polos aurferos para esta regio onde se localiza Viosa. Os

    principais produtos agrcolas produzidos no incio da colonizao do municpio eram

    voltados subsistncia, com nfase em fumo, cana-de-acar e principalmente caf.

    Segundo Pereira (2005) a configurao espacial de Viosa era tal que nos

    morros e encostas mais altas, ficava a floresta; nas vertentes inferiores, o caf, isolado

    quando adulto, e com culturas intercalares, quando novo; nos vales pastos, fazendas,

    currais, estradas, etc., a paisagem humanizada enfim. Somente em 1876 Viosa foi

    elevada cidade, sendo que mais tarde uma rede ferroviria fora instalada em toda a

    Zona da Mata, inclusive no municpio, aumentando assim as possibilidades de expanso

  • 8

    de suas atividades produtivas. Contando com um relevo acidentado, juntamente com

    prticas agrcolas rudimentares e um solo pobre, rapidamente os solos foram exauridos.

    A expanso da cidade ocorreu inspirada em um modelo de avenidas francs

    denominado boulevards, como o caso da Avenida Santa Rita. O processo industrial na

    cidade tem incio na dcada de vinte do sculo passado, onde surgiriam novos

    elementos da economia local. Surgem as primeiras indstrias, com destaque para duas

    tecelagens onde eram fabricados tecidos simples, com algodo produzido no prprio

    municpio e tambm pequenos engenhos que produziam rapadura e aguardente

    (PEREIRA, 2005).

    A populao urbana do municpio teve seu crescimento elevado a partir dos anos

    de 1950, e com a chegada da ESAV, futura UFV, trouxe um grande nmero de pessoas

    de outras localidades, ocasionando

    mudanas culturais, scio-econmicas e ambientais na cidade. Esta

    urbanizao desorientada contribuiu para a emergncia dos impactos

    ambientais urbanos como desmatamento, destruio das reas de

    preservao permanente, intensificao dos processos erosivos e

    contaminao generalizada dos recursos hdricos, problemas que se

    relacionam com localizao, distncia, topografia, caractersticas

    geolgicas e geomorfolgicas, crescimento populacional, formas de

    apropriao do espao e segregao scio-espacial (CARNEIRO e

    FARIA, 2005, p. 126).

    O crescimento acelerado e desorganizado deu origem a uma srie de ocupaes

    no entorno da cidade, gerando loteamentos populares devido segregao scio

    espacial, atingindo encostas e topos de morros. A urbanizao desorientada contribuiu

    para a emergncia dos impactos ambientais urbanos, sendo os principais motivos para a

    ocupao das encostas a falta de planejamento urbano, a especulao imobiliria, o

    descumprimento das legislaes especficas, a prpria topografia acidentada da regio e

    a excluso scio espacial (CARNEIRO e FARIA, 2005, p. 126).

    Ocorre uma nova fase de crescimento do municpio a partir da

  • 9

    dcada de 1970, quando ocorrem dois fatores significativos que

    justificariam a expanso da rea urbana, que foram a chegada da BR

    120, que abriu a possibilidade de crescimento na cidade, pois interligou

    os bairros Santo Antnio, Cabana e Silvestre. Tal processo ampliou-se

    com a federalizao da Universidade Federal de Viosa que ampliou o

    nmero de cursos e de alunos em seu campus (SANTOS, 2007, p. 24).

    A UFV acaba funcionando como um indutor de migrao para o municpio de

    Viosa, pois aumentando-se a oferta de cursos de graduao e ps-graduao em seu

    campus localizado em Viosa, expande-se o comrcio e a prestao de servios,

    contribuindo para o aumento do nmero de migrantes vindo cidade, e a partir da

    dcada de 1990 a cidade v o processo de especulao imobiliria ganhar fora, quando

    a cidade sequer contava com edifcios acima de 5 andares (SANTOS, 2007).

  • 10

    5 FUNDAMENTAO TERICA

    5.1 Legislao

    A NBR 10151 (Acstica Avaliao do rudo em reas habitadas visando o

    conforto da comunidade) elaborada pela Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    (ABNT) define os limites de emisso de rudos em reas habitadas de acordo com a

    Tabela 1, colocando que fica a cargo das autoridades, de acordo com o hbito da

    populao, alterar os dados contidos na tabela.

    Tabela 1 Nvel de critrio de avaliao para ambientes externos, em dB (A)

    Tipos de reas Diurno Noturno

    reas de stios e fazendas 40 35

    rea estritamente residencial urbana ou de hospitais ou de escolas 50 45

    rea mista, predominantemente residencial 55 50

    rea mista, com vocao comercial e administrativa 60 55

    rea mista, com vocao recreacional 65 55

    rea predominantemente industrial 70 60 Fonte: ABNT, 2000.

    Esta norma ainda define o rudo em 4 tipos:

    nvel de presso sonora equivalente (Leq), em decibis ponderados em A [dB

    (A)]: Nvel obtido a partir do valor mdio quadrtico da presso sonora (com a

    ponderao A) referente a todo o intervalo de medio;

    rudo com carter impulsivo: Rudo que contm impulsos, que so picos de

    energia acstica com durao menor do que 1 s e que se repetem a intervalos

    maiores do que 1 s (por exemplo, martelagens, bate-estacas, tiros e exploses);

    rudo com componentes tonais: Rudo que contm tons puros, como o som de

    apitos ou zumbidos;

    nvel de rudo ambiente (Lra): Nvel de presso sonora equivalente ponderado

    em A, no local e horrio considerados, na ausncia do rudo gerado pela fonte

    sonora em questo.

    Em complemento norma NBR 10151 da ABNT, tem-se a norma NBR 10152

    (Nveis de rudo para conforto acstico), que institui o conforto acstico em ambientes

    diversos, de acordo com a Tabela 2.

  • 11

    Tabela 2 Nveis de rudos compatveis com o conforto acstico

    Locais dB(A)

    Noturno-Diurno

    Hospitais

    Apartamentos, Enfermarias, Berrios, Centros cirrgicos

    Laboratrios, reas para uso do pblico

    Servios

    35-45

    40-50

    45-55

    Escolas

    Bibliotecas, Salas de msica, Salas de desenho

    Salas de aula, Laboratrios

    Circulao

    35-45

    40-50

    45-55

    Hotis

    Apartamentos

    Restaurantes, Salas de estar

    Portaria, Recepo, Circulao

    35-45

    40-50

    45-55

    Residncias Dormitrios

    Salas de estar

    35-45

    40-50

    Auditrios

    Salas de concertos, Teatros

    Salas de conferncias, Cinemas, Salas de uso mltiplo

    30-40

    35-45

    Restaurantes 40-50

    Escritrios

    Salas de reunio

    Salas de gerncia, Salas de projetos e de administrao

    Salas de computadores

    Salas de mecanografia

    30-40

    35-45

    45-65

    50-60

    Igrejas e Templos (Cultos meditativos) 40-50

    Locais para esporte

    Pavilhes fechados para espetculos e atividades esportivas

    45-60 Fonte: ABNT, 1987.

    A tabela 3, instituda tambm pela NBR 10151, apresenta os limites aceitveis

    para rudos levando em considerao as reas do municpio segundo sua caracterstica,

    podendo esta ser residencial, comercial ou mista, dividindo o horrio dos rudos em

    diurnos e noturnos, alm do fato de considerar ambientes internos com janelas fechadas

    ou abertas.

  • 12

    Tabela 3 Tabela de limite aceitvel para rudos segundo NBR 10151

    Tipos de reas

    Ambientes externos Ambientes internos

    Diurno

    Noturno Diurno Noturno

    Janela

    Aberta

    Janela

    Fechada

    Janela

    Aberta

    Janela

    Fecha

    da

    rea estritamente

    residencial urbana ou

    de hospitais ou de

    escolas

    50

    45

    40

    35

    35

    30

    rea mista,

    predominantemente

    residencial

    55

    50

    45

    40

    40

    35

    rea mista, com

    vocao comercial e

    administrativa

    60

    55

    50

    45

    45

    40

    Fonte: ABNT, 2000.

    A Legislao Federal tambm trata da poluio sonora, atravs do decreto de lei

    n 3.688, de 3 de outubro de 1941, intitulada Lei das Contravenes Penais, por meio de

    seu artigo de nmero 42, estabelecendo responsabilidade penal de priso ou ao pagamento

    de multa o indivduo que perturbar algum, o trabalho ou o sossego alheios:

    I. com gritaria ou algazarra;

    II. exercendo profisso incmoda ou ruidosa, em desacordo com as

    prescries legais;

    III. abusando de instrumentos sonoros ou sinais acsticos;

    IV. provocando ou no procurando impedir barulho produzido por animal que

    tem a guarda.

    Tratando ainda do mbito nacional, o CONAMA por meio da resoluo n 001,

    de 8 de maro de 1990, estabelece que a emisso de rudos, em decorrncia de

    quaisquer atividades industriais, comerciais, sociais ou recreativas, inclusive as de

    propaganda poltica, obedecer, no interesse da sade, do sossego pblico, aos padres,

    critrios e diretrizes estabelecidos nesta resoluo (CONAMA, 1990). O rgo

    considera prejudiciais sade e ao sossego pblico, os rudos com nveis superiores aos

    considerados aceitveis pela NBR 10152. J na questo da execuo dos projetos de

  • 13

    construo ou de reformas de edificaes para quaisquer tipos de atividades

    heterogneas, o nvel de rudo produzido no poder ultrapassar os nveis estabelecidos

    pela mesma norma.

    No estado de Minas Gerais, a Lei Estadual n 7.302, de 21 de julho de 1978

    define em seu artigo 1 que constitui infrao, a ser punida na forma desta lei, a

    produo de rudo, como tal entendido o som puro ou mistura de sons com dois ou mais

    tons, capaz de prejudicar a sade, a segurana ou o sossego pblicos, colocando como

    limites da produo de rudos 85 (oitenta e cinco) decibis para recintos nos quais esses

    rudos se originam, e que atinjam esse nvel em seu interior ou que extrapole para seu

    exterior rudo acima deste limite, aceitando como limites tolerveis o exposto pelas

    normas da ABNT. O artigo 3 desta mesma lei institui que, independente de medio do

    nvel sonoro, so proibidos os rudos:

    I. produzidos por veculos com o equipamento de descarga aberto ou

    silencioso adulterado ou defeituoso;

    II. produzidos por aparelhos ou instrumentos de qualquer natureza utilizados

    em preges, anncios ou propagandas nas vias pblicas, para elas

    dirigidos;

    III. produzidos por buzinas, ou por preges, anncios ou propagandas, viva

    voz, nas vias pblicas, em local considerado pela autoridade competente

    como zona de silncio;

    IV. produzidos em edifcios de apartamentos, vilas e conjuntos residenciais

    ou comerciais, por animais, instrumentos musicais, aparelhos receptores

    de rdio ou televiso, reprodutores de sons, ou, ainda, de viva voz, de

    modo a incomodar a vizinhana, provocando o desassossego, a

    intranquilidade ou o desconforto;

    V. provenientes de instalaes mecnicas, bandas ou conjuntos musicais, e

    de aparelhos ou instrumentos produtores ou amplificadores de som ou

    rudo quando produzidos em vias pblicas;

  • 14

    VI. provocados por bombas, morteiros, foguetes, rojes, fogos de estampido

    e similares;

    VII. provocados por ensaio ou exibio de escolas-de-samba ou quaisquer

    entidades similares, no perodo compreendido entre 0 hora e 7 horas,

    salvo aos domingos, nos dias de feriados e nos 30 dias que antecedem o

    trduo carnavalesco, quando o horrio ser livre.

    5.1.1 Legislao do municpio de Viosa

    J em relao legislao do municpio de Viosa, a lei que regulamenta a

    emisso de rudos esta contida no Cdigo de Posturas do Municpio, na forma da lei n

    1.574 de 24 de dezembro de 2003, dizendo que o municpio observar as legislaes

    federais e estaduais para assegurar a ordem, o decoro e o sossego pblicos. O artigo 136

    da lei probe a emisso de rudos capazes de prejudicar a sade e o sossego pblicos a

    partir dos limites estabelecidos pelas NBR 10151 e NBR 10152. O artigo 138 institui a

    necessidade de tratamento acstico para os estabelecimentos, instalaes ou espaos,

    inclusive aqueles destinados a lazer, cultura e hospedagem, cultos religiosos, diverses

    e institucionais de toda espcie para limitar a passagem de som para o exterior, caso

    suas atividades utilizem fonte sonora com transmisso ao vivo ou qualquer sistema de

    amplificao, devendo esta ser uma condio satisfeita para a emisso do alvar de

    funcionamento. Segundo a lei, independentes da medio do nvel sonoro so proibidos

    rudos:

    I. produzidos por veculos com equipamentos de descarga abertos ou

    silencioso adulterado ou defeituoso;

    II. de buzina e apito ou silvo de sirene de fbricas, ou quaisquer outros

    estabelecimentos, por mais de 30 segundos antes das 7 horas ou depois

    das 22 horas;

    III. decorrentes de qualquer atividade que produza rudo caracterizando

    flagrante incmodo comunidade circundante, antes das 7 horas e depois

    das 19 horas, nas proximidades de escolas, hospitais, asilos, orfanatos e

    congneres e antes das 7 horas e depois das 22 horas nas proximidades

    de residncias.

  • 15

    A lei ainda estabelece excees para aplicao de penalidades, quando da emisso de

    rudos por:

    I. sinos e dispositivos similares de templos que abrigam cultos de qualquer

    natureza, desde que utilizados apenas para assinalao das horas e dos

    ofcios religiosos, no horrio compreendido entre 7 horas e 22 horas;

    II. sirenes ou aparelhos sonoros de viaturas quando em servio de socorro

    ou de policiamento;

    III. sirenes ou aparelhos sonoros quando empregados para alarme e

    advertncia de segurana;

    IV. aparelhos sonoros usados durante a propaganda eleitoral, nos termos

    estabelecidos pela legislao pertinente;

    V. manifestaes e festividades pblicas desde que se realizem em horrio e

    local previamente autorizados pelos rgos competentes e nos limites por

    eles fixados;

    VI. toda e qualquer obra ou circunstncia de emergncia pblica ou

    particular que, por sua natureza, objetive evitar colapso nos servios de

    infraestrutura urbana ou risco de integridade fsica da populao.

    Em relao emisso de rudos provenientes de veculos automotores, devero

    ser obedecidas as normas do CONTRAN.

    Quanto s penalidades impostas pela lei, estas devero ser aplicadas a todo

    aquele que cometer, mandar, constranger ou auxiliar algum a praticar infrao e ainda

    os encarregados da execuo das leis que, tendo conhecimento da infrao, deixarem de

    autuar o infrator, que ser multado. As multas so aplicadas de acordo com o nvel da

    penalidade, que poder ser de grau mnimo, mdio ou mximo, e no caso de

    reincidncia, a multa aplicada ser o dobro da ltima.

    O artigo 148 coloca que os proprietrios de estabelecimentos comerciais,

    industriais ou prestadores de servios de qualquer natureza que infringirem dispositivos

    do cdigo de posturas sofrero penalidades de advertncia e tero suas licenas de

  • 16

    funcionamento suspensas por prazo determinado, de acordo com os critrios adotados

    pela autoridade pblica municipal competente, sendo que no caso de reincidncia, a

    licena de funcionamento do estabelecimento ser suspensa. A licena ainda poder ser

    cassada no caso de sua atividade se tornar prejudicial sade, higiene, segurana, ao

    sossego e moralidade pblica, porm a licena no pode ser cassada antes de ser

    iniciada a apurao da infrao pela autoridade competente.

    No ano de 2011 ocorreu uma reunio das autoridades do municpio (Polcia

    Militar, Polcia Civil, Secretaria de Fiscalizao e Secretaria de Trnsito e Segurana

    Pblica) para efetivar a aplicao do Cdigo de Posturas, principalmente no que tange

    ao horrio de funcionamento de bares, casas noturnas, restaurantes e derivados,

    impondo um limite de funcionamento at as 2 horas para estabelecimentos que no

    possuem isolamento acstico e at as 3 horas para estabelecimentos que possuem

    isolamento acstico.

    5.2 Efeitos da poluio sonora na sade

    Segundo Almeida (1999) a nocividade do rudo est relacionada ao seu espectro

    de frequncias, intensidade da presso sonora, direo da exposio diria, bem

    como suscetibilidade individual. A autora ainda cita a perda auditiva como uma

    consequncia da exposio ao rudo, classificando esta perda em trs categorias:

    trauma acstico, perda auditiva temporria e perda auditiva permanente.

    O trauma acstico a perda de audio de instalao sbita, provocada

    por rudo repentino e de grande intensidade, como uma exploso ou

    uma detonao. J a perda auditiva temporria ocorre aps a exposio

    a rudo intenso, por um curto perodo de tempo. Hoje em dia acredita-se

    que um rudo capaz de provocar uma perda temporria ser capaz de

    provocar uma perda permanente aps longa exposio. E a perda

    auditiva permanente aquela que se instala lenta e progressivamente

    devido exposio ao rudo excessivo e que, no decorrer dos anos, leva

    a uma perda irreversvel (ALMEIDA, 1999, p. 3-4).

  • 17

    Os autores Zanni e Szeremetta (2003) apontam que a medicina instituiu o limite

    de 65 dB(A) para que o rudo no afete a sade humana. Segundo eles, acima deste

    limite, os problemas ocasionados sade da populao comeam a gerar preocupao.

    A poluio sonora pode trazer danos sade da populao a ela exposta,

    causando dentre outros males um estresse dos sistemas circulatrio, digestivo e

    respiratrio quando o organismo exposto a um rudo constante. Cury Jnior (2002, p.

    4) afirma que dependendo do tipo de rudo, o estresse, por conta da liberao de

    hormnios, pode condicionar a elevao da presso arterial. Com o tempo, pode haver

    outras complicaes.

    O rudo, alm de afetar o aprendizado das crianas, tambm as afeta deixando-as

    nervosas, inquietas e agressivas, com distrbios de conduta. O rudo forte aciona

    tambm a sndrome do alarme do organismo, que desencadeia reaes hormonais, com

    efeitos nas secrees gstricas, causando srios prejuzos para a digesto (SOUTO,

    1992, p. 45). A autora diz ainda que

    os ndices sonoros, estando acima do suportvel pelo homem, podem

    provocar distrbios orgnicos como: irritabilidade, nervosismo,

    perturbaes psquicas e do sistema nervoso central, alteraes na

    presso sangunea, angstia e diminuio na produtividade. Esses

    problemas so causados pelo trfego, atividades industriais, uso de

    eletrodomsticos, etc. (SOUTO, 1992, p. 43).

    Nucci (1999, p. 76) revela que o melhor bioindicador da poluio atmosfrica

    o prprio ser humano, pois a concentrao de poluentes leva uma grande parte da

    populao a apresentar problemas de sade, principalmente no inverno, quando as

    inverses trmicas so mais frequentes. O aumento da poluio sonora consequncia

    da urbanizao, afetando a qualidade ambiental, e as principais fontes de rudos em um

    meio urbano so os meios de transportes terrestres, os aeroportos, as obras de

    construo civil, as atividades industriais, os aparelhos eletrodomsticos e o prprio

    comportamento humano.

    Um problema causado sade de muitos indivduos e que passa por vezes

    despercebido, so os barulhos noturnos, que nem sempre chegam a acordar as pessoas,

  • 18

    tendo, porm, a sua influncia maligna: eles podem deixar as pessoas cansadas, tensas e

    esquecidas no dia seguinte, sem que elas saibam por que esto assim, provocando srios

    danos sade humana (SOUTO, 1992). Ainda sobre os problemas noturnos provocados

    pelo rudo Vernier (1994) fala que o rudo, perturba o sono, traz dificuldades para

    adormecer, faz com que o indivduo desperte de noite e, sobretudo causa uma durao

    mais curta do sono profundo, sendo este o mais reparador.

    5.3 Poluio sonora em cidades brasileiras

    Em trabalho realizado no municpio de Corumb, Mato Grosso do Sul, por

    Brasil (et. al., 2009), acerca do problema da poluio sonora na rea central do

    municpio citado, os autores citam como principais fontes de rudo no municpio: rudos

    das ruas; rudo das habitaes; rudos das indstrias; cultos religiosos; bares e casas

    noturnas; aeroportos; veculos automotores; e eletrodomsticos. Em medio realizada

    na Avenida General Rondon, atingindo um pico de 95 dB(A), constatou-se que o nvel

    sonoro na avenida apresenta um aumento durante os fins de semana, e que isso

    desagrada populao que reside nas proximidades desta rea. Referindo-se Rua

    Arthur Mangabeira, atravs de entrevistas aos moradores da rua, os autores concluram

    que os moradores achavam ruim morar naquele local, apesar de estarem no centro da

    cidade. Buscando amenizar a situao, foi institudo na cidade o Programa Silncio

    Urbano PSIU, a fim de fiscalizar e controlar o rudo excessivo na cidade para que este

    no cause interferncias na sade humana.

    Analisando a rea central do municpio de Passo Fundo, Rio Grande do Sul,

    Fritsch (2006) procurou problematizar a poluio sonora na rea central do referido

    municpio. Para isso, o autor escolheu 4 pontos na rea central do municpio, realizando

    medies em dias de semana, entre os meses de agosto e dezembro de 2005. O autor

    obteve mdias nas medies variando de 47,4 a 96,5 dB(A). Segundo anlise do autor,

    as principais fontes do rudo nos pontos mensurados, foram o trnsito e os

    equipamentos de som para a realizao de propaganda por parte das lojas instaladas

    naqueles locais. O autor concluiu que a poluio sonora na rea analisada estava acima

    do limite recomendvel pela NBR 10151 e NBR 10152. O autor destacou que a

    legislao municipal tolera nveis sonoros acima dos limites estabelecidos pelas normas

  • 19

    citadas, propondo uma reviso da legislao sobre o tema, e indaga o fato da elaborao

    do Plano Diretor do municpio no se preocupar com a questo da poluio sonora.

    No Jardim Botnico de Curitiba, Paran, em trabalho realizado por Zanni e

    Szeremetta em 2003, avaliando a poluio sonora no local, mesmo dentro de um local de

    lazer, onde as pessoas procuram por descanso, os nveis sonoros apresentados

    aparentemente estavam acima do limite permitido pela legislao municipal de Curitiba,

    que estabelece um limite mximo de 55 dB(A) para reas verdes, sendo que ainda, quase

    metade do parque, apresentava um nvel de rudo acima do estabelecido pela medicina

    como danoso sade humana, que de 65 dB(A). Apesar disso, atravs de entrevistas

    realizadas com frequentadores do parque, constatou-se que a maior parte deles no se

    incomodava com os rudos, tendo o autor considerado isto uma adaptao dos

    frequentadores em relao aos rudos existente nos limites do local. Os autores no

    demonstram no trabalho os resultados com os valores de decibis obtidos pelas medies,

    citam apenas como foram realizadas as medies dos nveis sonoros dentro do parque,

    dando nfase no trabalho s entrevistas realizadas. Mesmo assim colocam os fatores

    urbanos como principal problema de gerao de rudos que chegam ao parque.

    Em Itajub, cidade de Minas Gerais, Martins e Barbosa (2004) realizaram um

    trabalho com o objetivo de caracterizar o rudo na comunidade da cidade. Os autores

    fizeram levantamentos dos nveis de fundo e tambm dos nveis de efeito sonoro, com a

    participao de rudo de fundo. Os valores obtidos pelas medies realizadas na cidade

    variaram de 35,3 a 71,4 dB(A). Os autores concluram que o rudo na cidade estava

    tambm acima do limite permitido, apesar de as zonas rurais e os bosques apresentarem

    nveis de rudo que atendem ao conforto acstico. Os autores tambm mediram os

    nveis sonoros nas intermediaes da Santa Casa de Misericrdia de Itajub,

    constatando um nvel acima do permitido pela legislao para reas como esta. O

    motivo alegado foi devido proximidade de um parque de estacionamento e de um

    reservatrio de oxignio prximos Santa Casa, sugerindo uma adequao do local aos

    nveis impostos pela NBR 10152.

    No municpio de Boa Vista, Roraima, Magalhes e Almeida (2009) realizaram

    uma pesquisa na cidade para analisar um programa contra a poluio sonora, institudo

    pelo municpio, denominado Programa Operao Deixa Dormir. O objetivo dos autores

  • 20

    foi identificar o grau de conhecimento da populao com relao poluio sonora, o

    conhecimento que esta tinha da legislao sobre o tema, e avaliar o grau de

    conhecimento acerca dos problemas causados pela poluio sonora. Os autores

    aplicaram uma pesquisa junto aos rgos pblicos e questionrios populao. A

    concluso foi que era necessria uma campanha para a conscientizao da populao

    acerca do tema, uma vez que atravs de entrevistas realizadas, foi constatado que grande

    parte da populao no sabia da existncia do programa. Divulgaes atravs de rdio,

    internet, televiso, folders, adesivos para carros, cartazes, dentre outros, foram sugeridos

    pelos autores para que se obtivesse uma maior abrangncia da campanha.

    Atravs de um estudo realizado no municpio de Feira de Santana, Bahia,

    Gonalves Filho e Moraes (2004), objetivaram mensurar o incmodo causado pelo

    rudo urbano aos trabalhadores e residentes em alguns logradouros da cidade. Para isso,

    os autores escolheram 15 locais, com fontes de rudos fixas e mveis. Foram realizadas

    medies, alm da aplicao de questionrios populao residente e aos trabalhadores

    dos logradouros escolhidos, sendo tambm realizadas comparaes estatsticas de

    variveis no acsticas (sexo, idade, renda e escolaridade da populao entrevistada)

    com o incmodo causado aos que foram entrevistados. Os autores concluram que o

    trnsito, apesar de causar um nvel de poluio sonora elevado, no causava tanto

    incmodo aos moradores do municpio quanto as festas e bares que perturbavam o sono

    das pessoas entrevistadas, o que acabava gerando muitas reclamaes junto ao rgo

    fiscalizador do municpio. Como estes pontos geradores de rudos so fixos, para os

    autores o nmero de reclamaes contra os bares se deve ao fato de a fonte do rudo

    poder ser controlada e o responsvel por ela pode ser identificado. Ainda concluram

    que, para os moradores, quanto maior o incmodo sentido maior o nvel escolar e o de

    renda, enquanto para os trabalhadores, quanto maior o incmodo maior o nvel escolar e

    a faixa etria. Bares, equipamentos instalados em indstrias, propaganda realizada com

    a ajuda de aparelhagem de som instalada em lojas, cultos religiosos, marcenarias e

    panificadoras foram citadas pela populao como as principais fontes de rudo nos

    logradouros pesquisados.

    No municpio de Santos, So Paulo, cidade com vocao turstica, so

    frequentes as denncias envolvendo a poluio sonora gerada por aglomeraes no

  • 21

    entorno de estabelecimentos comerciais como bares, restaurantes e similares (DUTRA,

    2007). Analisando este contexto, a autora elaborou um estudo para saber quais as

    condies que levavam estes estabelecimentos a receberem tantas denncias, acusados

    de causar incmodo aos habitantes de seu entorno. A autora utiliza um estudo de caso

    para exemplificar a ao dos moradores junto ao poder pblico, atravs de reclamaes,

    e a atuao deste frente ao problema, culminando com o fechamento do estabelecimento

    conhecido fantasiosamente como Amarelinho. Rudos envolvendo carros de som,

    msica alta, buzinas e brigas ocorridas nos estabelecimentos, so problemas observados

    em vrias cidades do pas, foram as principais fontes de rudos na rea por ela analisada.

    Em seu estudo, a autora concluiu que os maiores problemas relacionados ao incmodo

    sentido pelos habitantes de reas urbanas, em relao poluio sonora, esto ligados

    aos excessos praticados por estabelecimentos dos tipos citados, mesmo que sejam

    licenciados. A maior dificuldade do poder pblico justamente a caracterizao do

    sujeito poluidor, uma vez que

    a atuao do poder de polcia ambiental se desenvolve na prtica de atos

    administrativos, que devem se pautar no que preconiza a lei. Como

    quando analisa, e aprova ou no, a expedio de um alvar de

    localizao e funcionamento, ou mediante a fiscalizao do

    cumprimento das normas locais, na aplicao de sanes, na cassao

    de licenas, ou mesmo, na orientao e, inclusive, na conscientizao

    dos infratores, quando recebem uma intimao que pode ser uma mera

    advertncia, so informados de como devem agir. Este ato tem a

    finalidade de no s reprimir como conscientizar o infrator e outros

    interessados em abrir um estabelecimento comercial das consequncias

    que podem advir do descumprimento da lei (DUTRA, 2007, p. 164).

    As fontes de rudos provenientes do lazer noturno so problemas em vrias

    cidades do pas. Falando sobre o tema em sua dissertao de mestrado, abrangendo o

    municpio de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Freitas (2006) escolheu 8 pontos para

    realizar sua anlise, todos prximos a estabelecimentos de lazer noturno. Foram

    efetuadas medies em dias de grande movimentao e em dias menos movimentados,

    no horrio compreendido entre 22 horas e 5 horas. Para analisar a reao da populao

    residente prxima a estes locais, a autora pesquisou, junto brigada militar, ao

  • 22

    ministrio pblico estadual e prefeitura, dados referentes s reclamaes dos

    moradores e as devidas aes tomadas pelos rgos citados. A autora ainda relatou que

    mesmo em ambientes com isolamento acstico, o rudo proveniente destes locais, que

    duram at altas horas da noite, acaba afetando toda a populao residente no entorno

    destes estabelecimentos de lazer, gerando reclamaes, abaixo-assinados, e at mesmo

    desvalorizando imveis prximos. O trnsito ocasionado pelos frequentadores destes

    locais tambm influencia na poluio sonora, chegando a apresentar uma variao de 20

    dB(A) dos dias de funcionamento para os dias de no funcionamento dos

    estabelecimentos. J em locais que no possuem emisso de rudos elevados

    internamente, como bares, lojas de convenincia em postos de gasolina e trailers fica

    difcil o proprietrio controlar a emisso de rudos, uma vez que o som proveniente da

    aglomerao de pessoas em torno destes estabelecimentos, sendo classificadas como

    fontes mveis de rudo, ficando o controle a cargo do poder pblico.

    Lima e Silva (2009) pesquisaram a poluio sonora ocasionada por uma igreja

    evanglica, a Igreja Nova Aliana do Brasil, localizada no municpio de Natal, Rio

    Grande do Norte, inserida em uma rea predominantemente residencial, cujos residentes

    da vizinhana reclamavam dos altos volumes sonoros (principalmente no horrio

    noturno, no qual as pessoas procuram por descanso), produzidos pelos cultos realizados

    pela igreja. As queixas dos moradores foram principalmente quanto dificuldade para

    dormir, para assistir televiso e ouvir msica no horrio de realizao dos cultos. Os

    lderes da igreja disseram que, por se tratar de um prdio grande, teriam de aumentar a

    potncia dos equipamentos sonoros para que todos os fiis pudessem escutar o que os

    pregadores tinham a dizer. Foram realizadas medies em 7 pontos, 5 no interior da

    igreja e outros 2 no entorno desta, com os valores obtidos variando de 63,8 a 104,6

    dB(A), sendo o maior valor obtido no interior da igreja. Para o exterior, a medida maior

    foi de 79,7 dB(A). Os autores apontaram que os principais problemas relacionados

    poluio sonora causados pela igreja se devem sua estrutura arquitetnica, que no se

    preocupou, quando na poca de sua construo, com o isolamento acstico do interior

    do recinto, que permite uma livre propagao do som do interior para o exterior dela. A

    concluso foi de que os templos deveriam ser locados em regies mais afastadas de

    zonas residenciais, alm de serem realizadas pesquisas arquitetnicas para adequar as

  • 23

    igrejas, antes de sua construo, buscando o melhor isolamento acstico possvel no

    interior destas para que no prejudique a qualidade de vida da vizinhana.

    Troppmair (2002) realizou um trabalho no municpio de Rio Claro, So Paulo,

    sobre a poluio sonora na rea central do espao urbano daquela cidade. Abaixo segue

    uma tabela com os limites de tolerncia para rudo contnuo ou intermitente, exposta no

    trabalho:

    Tabela 4 Limites de tolerncia para rudo contnuo ou intermitente

    dB(A) durao dB(A) Durao

    85 8 horas 96 1 hora e 45 min.

    86 7 horas 98 1 hora e 15 min.

    87 6 horas 100 1 hora

    88 5 horas 102 45 min.

    89 4 horas e 30 min. 104 35 min.

    90 4 horas 105 30 min.

    91 3 horas e 30 min. 106 25 min.

    92 3 horas 108 20 min.

    93 2 horas e 40 min. 110 15 min.

    94 2 horas e 15 min. 112 10 min.

    95 2 horas 114 8 min. Fonte: Troopmair (2002, p. 85)

    O municpio de Rio Claro conta com uma populao de 170 mil habitantes, e segundo o

    autor, sua evoluo espacial seguiu o modelo de uma planta de um tabuleiro de xadrez,

    como ruas e avenidas bem delimitadas seguindo um padro de 10 metros de largura

    mais 1,5 metros de calada em cada lado, separando quarteires que tem 89 metros de

    comprimento. A evoluo do municpio pode ser percebida pelo crescimento de seu

    nmero de quadras, que contava no incio do sculo 20 com 150 quarteires, passando a

    700 em 1950 e chegando a 2000 quarteires na data do trabalho. O autor ressalta que

    mesmo com a rpida expanso, os limites de comprimento e largura das ruas e avenidas

    foram respeitados, existindo poucas excees. A circulao no centro do municpio

    lenta, contribuindo para o aumento da poluio sonora. Utilizando um decibelmetro, o

    autor realizou medies na rea central da cidade, observando que os carros mais novos,

    por serem mais aperfeioados e equipados com motores menos ruidosos, produzem

    menos barulho que carros mais antigos, variando as medies entre 65 e 75 dB(A).

    Caminhes e motos alcanaram de 75 a 85 dB(A), enquanto caminhes pesados

    acusaram de 90 a 100 dB(A), e os nibus (quando freiam ou aceleram) de 80 a 90

  • 24

    dB(A). As medies foram realizadas em ruas com movimento intenso, mdio e fraco.

    Os valores obtidos em vias de trnsito intenso variaram de 80 a 85 dB(A), as vias de

    trnsito mdio de 65 a 70 dB(A) e as ruas de trnsito fraco de 50 a 60 dB(A). De acordo

    com as medies obtidas, o autor concluiu que 80% do centro de Rio Claro apresentava

    poluio sonora alta ou muito alta. Como o municpio apresenta uma expanso do

    nmero de prdios intensa, o autor tambm mediu a intensidade sonora no sentido

    vertical, concluindo que do 1 ao 3 andares o barulho alto e perturbador, do 4 ao 6

    andares o barulho mdio e causa poucas reclamaes por parte dos moradores, do 7

    ao 10 andares a poluio sonora fraca e acima do 11 andar o rudo produzido pelos

    automveis nas vias praticamente imperceptvel.

    Por fim, tem-se um estudo j realizado no prprio municpio alvo desta pesquisa,

    Viosa, Minas Gerais, em trabalho realizado por Fia e Fialho (2008), no qual os autores

    buscaram, atravs de medies realizadas em campo e de entrevistas, analisar o contexto

    da poluio sonora no centro urbano da cidade. Foram escolhidos 13 pontos, medidos em

    um espao de 1 hora, durante 10 dias, a fim de se traarem transetos mveis para a

    realizao das anlises. As medies foram todas realizadas no centro da cidade, obtendo-

    se a medio mxima de 118,4 dB(A) no horrio das 13 horas, quando o trnsito na rea

    central do municpio est mais movimentado. Em relao aos resultados obtidos pelos

    autores, todos os entrevistados disseram que grande parte da poluio sonora da cidade

    estava relacionada aos estudantes da UFV, que contribuem para o aumento do trnsito

    bem como para a aglomerao de pessoas nas festas realizadas no municpio, estas muitas

    vezes sendo realizadas pelos prprios estudantes. Eles ainda disseram que nos perodos de

    frias da instituio o rudo gerado no centro urbano era muito menor do que na

    temporada de aulas. Os entrevistados disseram ter uma sensao maior de sossego durante

    as frias estudantis, devido ao fato de grande parte dos estudantes retornarem s suas

    residncias no perodo de recesso da UFV.

    A tabela 5, apresentada abaixo, contm um resumo dos dados obtidos atravs da

    reviso bibliogrfica realizada buscando informaes sobre trabalhos feitos em outros

    municpios brasileiros.

  • 25

    Tabela 5 Cidades, local e decibis dos trabalhos analisados

    Cidade Medies

    em dB(A) Fonte do rudo Local Autor

    Corumb, MS 95

    Veculos automotores;

    eletrodomsticos;

    indstrias; cultos

    religiosos; bares e casas

    noturnas; aeroportos

    rea central

    do municpio

    Brasil et. al

    (2009)

    Passo Fundo,

    RS

    mn 47,4

    mx 96,5 Trnsito, lojas

    rea central

    do municpio Fritsch (2006)

    Curitiba, PR

    Fatores urbanos

    Parque

    municipal

    Zanni &

    Szeremetta

    (2003)

    Itajub, MG

    mn 35,3

    mx 71,4

    Danceterias, trnsito,

    igrejas, mercado

    municipal

    Diferentes

    bairros do

    municpio

    Martins &

    Barbosa (2004)

    Boa Vista, RR

    rea central

    do municpio

    Magalhes e

    Almeida (2009)

    Feira de

    Santana, BA

    Bares, indstrias, lojas,

    igrejas, marcenarias,

    panificadoras

    Logradouros

    do municpio

    Gonalves Filho

    e Moraes (2004)

    Santos, SP

    Carros de som, msica

    alta, buzinas, brigas

    Entorno do bar

    Amarelinho Dutra (2007)

    Santa Maria,

    RS

    mn 50

    mx 84,4

    Som dos centros de

    lazer noturno

    Centros de

    lazer noturno Freitas (2006)

    Natal, RN

    mn 63,8

    mx 104,6

    Equipamentos de som

    da Igreja Nova Aliana

    do Brasil

    Entorno da

    Igreja Nova

    Aliana do

    Brasil

    Lima & Silva

    (2009)

    Rio Claro, SP mn 50

    mx 100 Trnsito

    rea central

    do municpio

    Troppmair

    (2002)

    Viosa, MG mx 118,4 Trnsito, festas Centro urbano

    do municpio

    Fia & Fialho

    (2008)

  • 26

    6 MATERIAIS E MTODOS

    Para a realizao deste estudo foi feita uma pesquisa bibliogrfica para verificar

    o que j havia sido feito em relao temtica, alm de obter informaes acerca das

    metodologias utilizadas para empregar os melhores mtodos para a realizao desta

    pesquisa. O intuito foi atingir os melhores resultados possveis. Tambm foram

    levantados dados de trabalhos realizados em outros municpios brasileiros a fim de

    realizar comparaes ao final desta pesquisa.

    No trabalho de campo, primeiro foram levantados os locais onde ocorrem festas

    mais frequentemente, e que atraem um maior pblico no municpio de Viosa. Para isso

    verificou-se a existncia de divulgaes das festas ao longo da Avenida P. H. Rolfs

    (tradicional ponto de colagem de cartazes promovendo festas) e tambm a existncia de

    divulgao por parte dos organizadores das festas na entrada da UFV. Levantados os

    locais, estes foram marcados com ajuda de um aparelho GPS do modelo GARMIN

    GPSmap 60CSx, com o objetivo de espacializar os locais de realizao das festas.

    Depois de marcados, os pontos foram transferidos para o computador com a ajuda do

    software MapSource que acompanha o prprio aparelho GPS, sendo em seguida

    armazenados no computador. O arquivo com os pontos devidamente salvos foram

    exportados para o software ArcMap, onde foram manipulados juntamente com outros

    dados, como mapa do limite municipal de Viosa e da mancha urbana do municpio,

    para estabelecer os locais precisos de realizao das festas dentro do municpio. Os

    mapas utilizados nesta etapa do trabalho foram adquiridos junto ao Laboratrio de

    Geoprocessamento do Departamento de Solos. No foram levantadas neste trabalho as

    festas com pequenos pblicos, realizadas, entre outras, pelas vrias repblicas estudantis

    existentes no municpio, que so grande fonte de incmodo aos moradores do entorno

    desses locais.

  • 27

    Figura 2 GPS utilizado no trabalho.

    Fonte: Autoria prpria.

    Para a medio do nvel de rudos nos locais de realizao de festas, foi utilizado

    um aparelho de medio do nvel de presso sonora, popularmente denominado

    decibelmetro, sendo utilizado um modelo Tenmars TM-103 Datalogging Sound Level

    Meter, disponibilizado pelo professor Edson do Departamento de Geografia da UFV. O

    aparelho foi configurado de acordo com as especificaes disponibilizadas no manual

    oferecido, juntamente com o aparelho pela empresa vendedora, na opo de medio no

    nvel mdio de som (opo SLOW), sendo selecionada a ponderao em A que

    permite a medio de som de rudo geral. O instrumento foi segurado confortavelmente

    na prpria mo, a uma distncia mnima de 1,5 metros das paredes e de outras fontes

    refletidoras, e a distncia aproximada de 1,2 metros de altura, conforme manda a NBR

    10151, sendo direcionado para a fonte de emisso do rudo.

  • 28

    Figura 3 Decibelmetro utilizado no trabalho.

    Fonte: Autoria prpria.

    O tempo de medio de cada ponto foi de 1 minuto, tempo este controlado com

    a ajuda de um contador regressivo de um aparelho celular, sendo selecionadas as

    distncias de 0 metro (entrada do local da festa), 10 metros, 20 metros, 40 metros, 70

    metros e 100 metros a partir do ponto do local de entrada para a festa. Foi necessria a

    ajuda de uma pessoa, pois enquanto um realizava as medies nos aparelhos, o ajudante

    fazia as devidas anotaes acerca de cada ponto, como distncia do local de entrada da

    festa e obstculos propagao do rudo.

    Para a medio das distncias dos pontos em relao ao ponto de entrada da

    festa, o mesmo aparelho GPS utilizado para marcar os locais de festas foi utilizado,

    marcando-se o ponto de entrada, e caminhando-se em diferentes direes. Em alguns

    locais foram realizadas as medies em sentidos diferentes, devido presena de

    moradores prximos. Alguns locais, afastados das residncias, foram realizadas

    medies apenas em uma direo.

    O rudo registrado no aparelho decibelmetro se d de trs formas distintas: o

    nvel mnimo de rudo (Lmin); o nvel mximo de rudo (Lmax); e a mdia de

  • 29

    intensidade de rudo (Leq), durante um tempo determinado. Foram escolhidos para a

    pesquisa os dados do Leq, uma vez que o rudo se trata de uma grandeza dinmica, e

    sua mdia permite um melhor resultado para os objetivos da pesquisa.

    As medies foram realizadas sem interferncias audveis de fenmenos da

    natureza como tempestades, ventanias, troves, etc. Alm disso, foi utilizada uma

    proteo de espuma na ponta do aparelho, local que capta o nvel de presso sonora,

    para minimizar a interferncia do vento e de outros fatores no resultado da medio. O

    aparelho utilizado nesta pesquisa apresenta uma preciso de 1,5 dB(A).

    Depois de realizadas as medies, o aparelho foi conectado ao computador,

    sendo utilizado um software disponibilizado juntamente com o equipamento, o Data

    Logger Sound Level Meter, que atravs de sua interface, permite que os dados sejam

    transferidos e salvos no computador. O software apresenta a opo de atualizar a hora

    interna do aparelho de acordo com a hora exibida no computador ao qual est

    conectado, assim, a fim de facilitar a identificao dos pontos de medio, a hora

    interna do aparelho era atualizada de modo que, ao realizar as medies em campo, a

    hora era conferida atravs de um aparelho celular, e anotada a hora em que cada ponto

    foi mensurado. Os arquivos salvos pelo programa so deixados em formas de tabelas,

    sendo salvos em formato texto (.txt), apresentando os dados de data, hora,

    unidade/velocidade e o valor das medidas obtidas. Com os dados devidamente salvos

    no computador, foram confeccionadas tabelas, com o software Microsoft Office Excel

    2010 e mapas com o auxlio do software ArcGis.

    As datas e horrios das medies foram escolhidos de acordo com a realizao

    das festas, e procurou-se optar por um horrio em que a maior parte dos frequentadores

    j estivesse dentro do local e que o som ao vivo estivesse ocorrendo. As medies

    foram realizadas de acordo com a tabela de datas abaixo (tabela 6), sendo estes dados

    disponibilizados pelo programa utilizado para armazenamento dos dados no

    computador:

  • 30

    Tabela 6 Local, data e horrio das medies dos pontos

    Local Data

    Multiuso 30 de abril de 2011

    Stio das Palmeiras 30 de abril de 2011

    Bar do Edilson 05 de maio de 2011

    Flor e Cultura 06 de maio de 2011

    Galpo 06 de maio de 2011

    Multishow 06 de maio de 2011

    Fama 06 de maio de 2011

    Stio do Ado 07 de maio de 2011

    A seguir foram confeccionados mapas com os raios de influncia do rudo

    gerados no entorno das festas. Os mapas com o raio de influncia dos locais de festas

    foram definidos da seguinte forma: abaixo de 50 dB(A) foi escolhida a cor Mango

    ; de 50,1 dB(A) 60 dB(A) a cor foi Cantaloupe ; de 60,1 dB(A) 70

    dB(A) foi a cor Electron Gold ; de 70,1 dB(A) 80 dB(A) a cor selecionada foi

    Fire Red ; acima de 80,1 dB(A) a cor escolhida foi Poinsenttia Red .

    Para a confeco dos mapas foram obtidas as mdias das medidas de acordo com as

    medies obtidas em diferentes direes a partir do local de entrada da festa. Por

    exemplo, para os locais onde foram realizadas as medies em 4 direes, foram

    somadas as medies e dividiu-se por 4, para se obter a mdia geral do rudo produzido

    naquela distncia.

    Ainda foram realizadas medies em locais no centro urbano do municpio,

    especificamente em ambientes externos de escolas, hospitais e igrejas, a fim de verificar

    se os nveis de rudo em ambientes externos existente nestes locais estavam de acordo

    com a legislao. Os locais foram escolhidos por estarem localizados no centro urbano

    do municpio, onde o trfego de automveis mais intenso, gerando um nvel de rudo

    maior que em locais mais afastados do centro. O mapa utilizado para demonstrar os

    locais medidos no centro da cidade foi obtido na internet pelo Google Maps, sendo a

  • 31

    seguir importado para o software ArcGis, onde o mapa foi georreferenciado para

    determinar a localizao dos locais onde foram realizadas medies. O mapa foi

    confeccionado da seguinte forma: para rudos de 50 dB(A) a 60 dB(A) foi utilizado um

    crculo pequeno e a cor verde; para rudos entre 60,1 dB(A) e 70 dB(A) foi utilizado um

    crculo mdio e a cor amarela; e para rudos acima de 70,1 dB(A) foi utilizado um

    crculo maior com a cor vermelha. Os pontos foram todos medidos no dia 12 de maio de

    2011, no horrio de 13:00 s 15:00 horas. Foram realizadas tambm medies no

    horrio noturno nesses pontos, sendo realizadas no dia 3 de junho (data em que houve

    um show de uma banda conhecida nacionalmente, atraindo um pblico em torno de 10

    mil pessoas ao local do evento), e tambm no dia 6 de junho, uma segunda-feira.

    Atravs da elaborao de um questionrio (ANEXO I), entrevistas foram

    aplicadas junto populao residente no municpio bem como a estudantes

    universitrios, no intuito de saber: os prejuzos que eles consideravam que a poluio

    sonora causa sua sade; a opinio deles sobre o Cdigo de Posturas instituda pelo

    poder municipal; quais medidas poderiam amenizar o problema da poluio sonora; o

    conflito entre moradores e frequentadores das festas; dentre outras questes. As

    entrevistas aos estudantes foram aplicadas na UFV durante o intervalo entre o horrio

    de aulas, com o auxlio de ajudantes, estes aplicando os questionrios em suas turmas.

    As entrevistas aos residentes no municpio foram aplicadas a pessoas que transitam pela

    Avenida P. H. Rolfs e pela Avenida Castelo Branco, alm de frequentadores do

    estabelecimento Renatus Lanches, localizado na Avenida P. H. Rolfs. Foram aplicados

    um total de 40 questionrios, sendo 20 para estudantes universitrios e 20 para

    moradores de Viosa. Os questionrios foram aplicados entre os dias 9 e 24 de maio de

    2011.

    Foi realizada uma entrevista ao policial civil do municpio, Marcelo

    Mascarenhas, integrante da comisso que analisou a efetivao da aplicao do Cdigo

    de Posturas, sendo esta gravada com a ajuda de um aparelho celular. A entrevista foi

    realizada no dia 26 de maio de 2011 na prpria delegacia da polcia civil do municpio.

    Tambm foram entrevistados funcionrios do estabelecimento Messias Bar, localizado

    na Rua Milton Bandeira, um antigo ponto de encontro de jovens.

  • 32

    7 RESULTADOS E DISCUSSES

    O mapa utilizado no trabalho para localizar os locais de festas foi confeccionado

    coletando-se dados em campo com a localizao das festas permitindo uma melhor

    visualizao, e posterior anlise, acerca dos locais de realizao de festas no municpio.

    Nos mapas tem-se tanto os locais utilizados atualmente como os locais antigos

    utilizados para festas, estes foram transformados, sendo hoje utilizados para outros fins,

    alm dos que so utilizados j h vrios anos. Tambm foi confeccionada uma tabela

    com as principais festas realizadas no municpio no ano de 2010 (tabela 7). Esta tabela

    demonstra uma tendncia repetio quanto a data de realizao destas festas ao longo

    dos anos.

    Tabela 7 Agenda das festas mais frequentadas em 2010

    Festa Mar Abr Mai Jun Ago Set Out Nov

    Mais louco que o Batman X

    Nicoloco X

    Torresmo Cachaa e

    Viola X

    Shows (Fama) X X XX X

    Calouradas X

    Chegando e Bebendo X X

    Festa Brega dos

    Formandos X

    8 Segundos X X

    Arrai dos Formandos X

    Quinta VIP X

    Nicoloco x Mais Louco

    que o Batman X

    Fasta fantasia X

    A tabela com a agenda de festas permite observar que as mesmas ocorrem

    justamente durante o perodo de aulas da UFV, sendo que nos meses de janeiro,

    fevereiro, julho e dezembro no ocorrem festas com um grande pblico frequentando-

    as, dando margem afirmao de que os estudantes universitrios tm uma participao

    importante na gerao dos rudos no municpio.

  • 33

    O mapa indicando os locais de festas no municpio de Viosa permite observar

    que h uma reorganizao espacial dos locais de realizao das mesmas. Os eventos,

    antes realizados em locais prximos ao centro urbano, onde habitam a maioria dos

    estudantes universitrios, que so os principais frequentadores das festas, est indo para

    lugares mais afastados, sendo agora realizadas em locais como stios, chcaras e espaos

    construdos justamente para abrigar eventos. A prpria universidade, que j fora um

    local onde se realizavam muitas festas, hoje controla a realizao das mesmas dentro de

    seus limites, podendo agora, serem realizadas apenas por estudantes da instituio e em

    nmero reduzido (um exemplo o das comisses de formatura, que dispe de apenas

    uma data para a realizao de uma festa a fim de arrecadar fundos para as festividades

    da formatura). O motivo constatado na universidade para que se diminusse o nmero

    de festividades dentro de seu espao fsico, foi o fato de ocorrer depredao do

    patrimnio da instituio, provocada pelos frequentadores, principalmente jovens

    alcoolizados aps sarem dos eventos. Locais como o Recanto das Cigarras, Centro de

    Vivncia, Ginsio de Esportes e Associao dos Ex-alunos, todos dentro dos limites

    territoriais da UFV, j foram palcos de vrias festas no passado alm de abrigarem

    shows musicais de bandas conhecidas no contexto da msica nacional. A universidade

    ainda permite a realizao de eventos em seu campus, principalmente no Espao

    Multiuso, mas agora estas festas ocorrem de forma menos recorrente e h um controle

    maior.

  • 34

    Figura 4 - Localizao dos locais de festas em Viosa

  • 35

    Figura 5 - Recorte dos locais de festas em Viosa

  • 36

    Os estabelecimentos Jarbinhas, Corao de Estudante e Lanches Lu que estavam

    localizados na Avenida PH Rolfs, a principal via de acesso universidade e importante

    via de trnsito da cidade, foram vendidos por seus antigos donos. Essa venda pode ser

    explicada pelo endividamento dos antigos donos e tambm pela valorizao imobiliria

    do local, j que a universidade, principal polo de desenvolvimento do municpio,

    aumentou consideravelmente a oferta de vagas tanto para estudantes como para

    professores e funcionrios tcnico-administrativos, o que aumenta o nmero de pessoas

    chegando ao municpio e buscando uma localizao mais prxima universidade para

    morar. O Messias bar, localizado na Rua Milton Bandeira tambm j foi local de

    encontro de jovens, mas devido ao Cdigo de Posturas, verificou-se a diminuio da

    concentrao de pessoas naquele lugar.

    Os locais mais utilizados para a realizao das festas atualmente podem ser

    divididos como localizados prximos a reas residenciais e localizados distantes de

    reas residenciais. Os locais afastados de reas residenciais so Dom Mingote, Stio das

    Palmeiras, Multishow, Fama, Flor e Cultura e Stio do Ado. Nestes no se observa um

    grande nmero de moradores, em alguns casos nenhum, em sua vizinhana, o que

    facilita a realizao das festas, evitando as reclamaes de moradores junto ao rgo

    fiscalizador do municpio. Os locais que esto prximos a zonas residenciais so Bar do

    Edilson, Leo e Galpo. Portanto, existem mais locais sendo utilizados afastados do

    centro urbano e longe de residncias do que prximos ao centro e a residncias, por

    contarem tambm com espaos internos maiores, permitem que nestes locais sejam

    realizadas as grandes festas, que necessitam de uma aparelhagem de som mais

    sofisticada e que recebem maior pblico. A realizao de festas longe do centro urbano

    proporcionou um aumento do lucro de pelo menos dois segmentos do comrcio local, os

    taxistas e os nibus de transporte urbano, pois devido distncia ao centro, onde reside

    a maior parte dos frequentadores das festas, a utilizao dos transportes citados acaba

    por tornar-se mais vivel do que dispor de veculo prprio para chegar aos locais das

    festas, alm de se caracterizar como meios de transportes mais seguros, evitando que

    muitos motoristas, aps sarem das festas, conduzam seus veculos alcoolizados.

    O Espao Aberto para Eventos, pertencente UFV, apesar de estar relativamente

    prximo a uma rea residencial, est longe o bastante para que no provoque um

  • 37

    incmodo suficiente para que a populao procure os rgos competentes para reclamar.

    Durante a realizao da pesquisa, no ocorreram festas no Dom Mingote, sendo este o

    motivo da no realizao de medies no local. Este local utilizado principalmente

    para as festas de calouradas no incio do ano.

    J em relao aos locais antigos de aglomerao para a realizao de festas,

    todos estavam localizados dentro do centro urbano do municpio ou dentro do espao

    fsico da UFV. Como os locais estavam prximos ao centro urbano, isso acaba por

    caracterizar uma proximidade s reas residenciais, o que gera muitas reclamaes dos

    moradores vizinhos. A tabela 8 apresenta os nveis sonoros mdios obtidos em locais

    utilizados atualmente para a realizao de eventos.

    Tabela 8 Mdia dos decibis medidos nos locais de festas Local Mdia

    dB(A) a 0

    metros

    Mdia

    dB(A) a 10

    metros

    Mdia

    dB(A) a 20

    metros

    Mdia

    dB(A) a

    40

    metros

    Mdia

    dB(A) a

    70

    metros

    Mdia

    dB(A) a

    100

    metros

    Bar do Edilson 76,0 73,2 65,7 62,9 59,3 61,3

    Fama 77,1 70,6 69,1 68,5 63,6 61,2

    Flor e Cultura 78,2 67,0 67,1 64,9 61,9 63,3

    Galpo 68,5 66,4 61,8 56,8 53,8 48,0

    Multishow 70,7 69,5 65,6 63,6 58,8 63,4

    Multiuso 93,5 75,8 78,0 79,6 76,0 61,2

    Stio das Palmeiras 72,3 62,2 69,7 70,4 70,8 76,9

    Stio do Ado 71,1 71,2 72,7 75,7 69,0 66,5

    As mdias obtidas nas medies realizadas no entorno do Bar do Edilson

    apresentam tendncia queda do nvel dos rudos medida que se distancia do local. As

    mdias caem em relao ao distanciamento do local e tambm devido ao relevo do

    entorno, pois em duas direes tem-se uma rea de descida e outra de subida em relao

    ao local da festa. O maior valor obtido foi no local onde so originados os rudos pelo

    som ao vivo, com a mdia de 76 dB(A), estando 52% acima do limite permitido pela

    legislao para reas residenciais mistas no horrio noturno. Mesmo o menor valor

    obtido, nas medies, 59,3 dB(A), estava acima do valor permitido pela legislao

    vigente.

  • 38

    Figura 6 Rudo no entorno do Bar do Edilson

    O espao Fama apresentou uma queda contnua dos decibis obtidos medida

    que se distancia do local. Como est em um local relativamente plano, a interferncia do

    relevo minimizada, por isso a queda nas mdias obtidas pelas medies se d de forma

    contnua. Neste local as mdias obtidas pelas medies tambm estavam todas acima do

    limite permitido pela legislao, mas isto pode ser minimizado pelo fato de no

    existirem residencias prximas ao local, o que acaba no gerando muitas reclamaes

    por parte da populao junto aos rgos pblicos de fiscalizao.

    O bar Flor e Cultura est localizado na mesma regio do espao Fama,

    apresentando mdias bem prximas s obtidas pelas medies realizadas no local

    anteriormente citado. As caractersticas da rea so muito prximas s caractersticas da

    anterior, sem residncias prximas, porm, o local tambm apresentou mdias acima do

    permitido pela legislao.

    O Galpo foi o local onde se obteve as menores mdias em relao a todos os

    locais analisados. Por se tratar de um estabelecimento com algum isolamento acstico, a

    propagao do rudo para o ambiente exterior ao estabelecimento minimizada. O

  • 39

    estabelecimento est em uma rea predominantemente residencial, e embora atravs das

    medies realizadas apresente pontos em que o nvel de rudo est abaixo do permitido

    pela lei, a maior parte das medies apontou nveis acima do estabelecido pela

    legislao, o que pode gerar reclamaes por parte da populao, e inclusive originar

    um processo de cassao do alvar do funcionamento do local.

    Figura 7 Rudo no entorno do Fama, Galpo e Flor e Cultura

    O Multishow tambm est afastado de residncias, contando com um espao

    aberto no qual se utiliza uma aparelhagem de som sofisticada, at os 100 metros, limite

    mximo das medies realizadas, no se verifica a presena de nenhuma residncia. O

    local apresentou mdias acima do permitido pela legislao, mas como no existem

    residncias muito prximas ao local, dificilmente existem reclamaes acerca da

    perturbao causada pelos rudos gerados ali.

  • 40

    Figura 8 Rudo no entorno do Multishow

    As medies obtidas no Multiuso mostram uma tendncia da diminuio dos

    decibis medida que aumenta a distncia, pois, alm do relevo relativamente plano, no

    local dificilmente ocorrem outras fontes de rudo nos horrios de realizao das festas.

    Pesa o fato de o local estar prximo ao centro da cidade, o que proporciona um trnsito

    menor do que em locais de festas longe do centro urbano, uma vez que o acesso ao

    Multiuso pode ser realizado a p por grande parte do pblico. Os nveis apresentados

    pelas medies no Multiuso estavam acima do permitido pela legislao, chegando a

    ultrapassar 107% do permitido. No local foi obtida a maior mdia de todas as medies

    realizadas, chegando a 93,5 dB(A), nvel que pode causar danos permanentes ao sistema

    auditivo do ser humano. As caractersticas da construo propiciam a propagao do

    som, pois trata-se de um lugar com muitas janelas de vidro, o que acaba refletindo em

    vrias direes o rudo produzido no interior do local.

  • 41

    Figura 9 Rudo no entorno do Multiuso

    No Stio das Palmeiras, observou-se uma caracterstica peculiar, o aumento dos

    decibis medidos a partir de 10 metros do local de entrada da festa por causa da

    interferncia do trnsito intenso, por estar localizado em uma rodovia federal. A maior

    medio encontrada se deve ao fato de passar uma carreta no local no momento da

    medio, fato recorrente na via. Foi importante observar que, os automveis que

    transitam pela rodovia, ao passar pela local de entrada da festa aumentam a acelerao

    consideravelmente, aumentando assim a emisso de rudo. Como ocorre uma grande

    aglomerao de pessoas na entrada e o trnsito no local intenso, o perigo de ocorrer

    acidentes evidente, pois, alm da acelerao dos carros outro incoveniente a

    bebedeira realizada pelos jovens, o que dificulta a ateno destes quando da sada do

    local. Todos os nveis obtidos no local estavam acima do permitido pela legislao,

    sendo que a medida mais alta estava 53% acima do limite aceitvel.

  • 42

    Figura 10 Rudo no entorno do Stio das Palmeiras

    No Stio do Ado todas as medies realizadas no local tambm apresentaram

    mdias acima do permitido pela lei. No entorno do local existem vrios stios e

    chcaras, que normalmente so utilizados por seus donos apenas durante os fins de

    semana, o que pode acarretar em reclamaes junto ao rgo fiscalizador, uma vez que

    as pessoas que vo aos stios durante os fins de semana procuram por descanso, e as

    festas ali realizadas ocorrem predominantemente nos fins de semana, incluindo as

    sextas-feiras.

  • 43

    Figura 11 Rudo no entorno do Stio do Ado

    Abaixo esto representados os mapas do centro urbano do municpio com os

    locais nos quais foram realizadas as medies, em ambiente externo, e tabelas com as

    medies realizadas no centro da cidade. A tabela 9 apresenta as medidas feitas no

    horrio de 13:00 s 15:00 no dia 12 de maio, uma quinta-feira. A tabela 10 apresenta

    nveis obtidos no horrio de 22:00 s 23:00 no dia 3 de junho, dia de um show de uma

    banda conhecida nacionalmente. A tabela 11 apresenta os valores obtidos no dia 6 de

    junho, uma segunda-feira tambm das 22:00 s 23:00. Os locais escolhidos foram

    Igrejas, Hospitais, Escolas e o Lar dos Velhinhos, apresentando as seguintes mdias de

    decibis:

  • 44

    Tabela 9 Decibis obtidos em locais de medio no centro urbano do municpio no dia 12

    de maio

    Local dB(A) Local dB(A)

    Igreja Presbiteriana 63,6 Escola Edmundo Lins 67,7

    Igreja Batista 58,2 Colgio gora 66,2

    Igreja Maranata 59,2 Colgio Anglo 68,1

    Igreja Matriz Santa Rita de Cssia 60,6 Hospital So Sebastio 66,4

    Colgio de Viosa 58,1 Hospital So Joo Batista 71,0

    Colgio Equipe 71,0 Lar dos Velhinhos 66,7

    Tabela 10 Decibis obtidos em locais de medio no centro urbano do municpio no dia 3

    de junho

    Local dB(A) Local dB(A)

    Igreja Presbiteriana 66,4 Escola Edmundo Lins 66,2

    Igreja Batista 52,9 Colgio gora 65,7

    Igreja Maranata 66,1 Colgio Anglo 73,7

    Igreja Matriz Santa Rita de Cssia 63,9 Hospital So Sebastio 62,6

    Colgio de Viosa 60,0 Hospital So Joo Batista 67,9

    Colgio Equipe 62,6 Lar dos Velhinhos 61,7

    Tabela 11 Deibis obtidos em locais de medio no centro urbano do municpio no dia 6

    de junho

    Local dB(A) Local dB(A)

    Igreja Presbit