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A INFLUÊNCIA DA TEXTURA DO SOLO SOBRE A ESTRUTURA DA VEGETAÇÃO DA ILHA DO ARAPUJÁ, ALTAMIRA-PAPaulo Ricardo R. Piovesan¹; Sandra Andréa S. Silva².¹Graduando do Curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Pará – UFPA/Altamira; [email protected] 2 Profª da Universidade Federal do Pará – UFPA/Altamira. Discente do Curso de Doutorado em Ciências Agrárias da Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA, [email protected] A textura do solo, que se refere à propoTRANSCRIPT
10ª Semana de Integração das Ciências Agrárias – SICA: 15 a 19 de Novembro de 2010
A INFLUÊNCIA DA TEXTURA DO SOLO SOBRE A ESTRUTURA DA
VEGETAÇÃO DA ILHA DO ARAPUJÁ, ALTAMIRA-PA
Paulo Ricardo R. Piovesan¹; Sandra Andréa S. Silva².
¹Graduando do Curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Pará – UFPA/Altamira;
[email protected] 2Profª da Universidade Federal do Pará – UFPA/Altamira. Discente do Curso de Doutorado em Ciências
Agrárias da Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA, [email protected]
RESUMO
A textura do solo, que se refere à proporção de argila, silte e areia, influencia na
infiltração/retenção de água e consequentemente no fornecimento de nutrientes às plantas,
portanto, pode influenciar na estrutura da vegetação. Neste trabalho procurou-se relacionar as
texturas do solo com a estrutura da vegetação na Ilha do Arapujá, localizada no Rio Xingu,
em frente à sede do município de Altamira-PA. As amostras de solo foram coletadas em 20
plots de 20 x 20 m. A classificação textural procedeu pela sensibilidade ao tato, segundo o
fluxograma proposto por Nortcliff. As texturas observadas foram agrupadas em três tipos de
solo: arenoso, médio e médio argiloso. O tipo de solo que predomina na ilha é o médio
argiloso, correspondendo a mais de 70 % das amostras. Após as analises do solo e
comparações com a vegetação, foi verificado relação entre a o tipo de solo e a estrutura da
vegetação na ilha, na qual áreas com solos arenosos predominaram vegetação de campo limpo
e/ou pastagem e áreas com solos siltosos e argilosos nas áreas de vegetação de floresta e
campo sujo.
PALAVRAS-CHAVE: Classe textural; propriedade física; relação solo/vegetação.
ABSTRACT
The soil texture, which refers to the proportion of clay, silt and sand, influences in the
infiltration / water retention and consequently the supply of nutrients to plants, therefore, may
influence the vegetation structure. In this work we tried to relate the texture of the soil with
the vegetation structure in Arapuja’s Island, on the Xingu River, in front of headquarters of
the town in Altamira, Para. The samples of soil were collected in 20 plots of 20 x 20 m. The
textural classification was held by the sensitivity to tact, according to the flowchart proposed
by Nortcliff. The textures observed were grouped into three types of soil: sandy, medium to
medium clayey. The soil type that dominates in the island is the medium clayey, representing
over 70% of samples. After the soil analysis and comparisons with the vegetation, checked
relation between the kind of soil and the structure of vegetation on the island, in which areas
with sandy soils predominate the vegetation of clean field or pasture and in areas with silty
and clayey soils the areas vegetation of forest and dirty field.
KEY-WORDS: Textural class; physical property; relation soil/vegetation.
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INTRODUÇÃO
Os solos são formados por um processo contínuo sobre a superfície da Terra (VIEIRA;
VIEIRA, 1983). A textura é a propriedade física do solo que menos sofre alteração ao longo
do tempo (MEDEIROS et al., 2003), constituindo uma característica de grande importância
na descrição do solo (SCARAMUZZA, 2007).
Os solos de textura argilosa são caracterizados por sua grande capacidade de reter
água, resistência a erosão e forte tendência a compactação, sendo identificado através de seu
aspecto pegajoso. Os solos de textura arenosa possuem baixa capacidade de retenção de água
(são muito permeáveis), e altamente frágeis a erosão. A classe textural média (equilíbrio entre
areia, argila e silte), apresenta uma boa capacidade de retenção de água, sendo pouco
susceptível a erosão (MEDEIROS et al., 2003).
Essas diferenças nas características das classes texturais influenciam na estrutura da
vegetação. Isso porque, segundo Chagas (1996), as argilas possuem a capacidade de realizar
reações químicas, que facilitam a transferência de nutrientes às plantas. Já a areia não possui
essa característica e, portanto não é capaz de alimentar as plantas.
Rossi et al. (2005) e Moreno e Shiavini (2001) realizaram trabalhos buscando verificar
ou não a relação entre tipo de solo e estrutura vegetação. Esses estudos foram desenvolvidos
em áreas de cerrado ou transição cerrado-floresta. Analogicamente, a ilha em estudo apresenta
características de campo limpo (área de predominância de gramíneas), campo sujo (capoeira)
e cobertura florestal mais densa.
Dessa forma, esse trabalho tem como objetivo estudar as relações entre as texturas do
solo e a tipo de vegetação presente na Ilha do Arapujá, uma vez que esta apresenta um
contraste entre área de cobertura florestal e área de campo limpo.
MATERIAIS E MÉTODOS
O presente trabalho foi realizado no período de setembro a novembro de 2009 na Ilha
do Arapujá, localizada na região media do Rio Xingu, frente à sede do Município de
Altamira-PA (Figura 1).
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Figura 1 - Localização de Altamira - PA e Ilha do Arapujá, e coordenadas geográficas.
A Ilha do Arapujá é uma das inúmeras ilhas espalhadas no Rio Xingu. Praticamente
plana, possuindo pequenas elevações, essa ilha é considerada como área de várzea devido à
influência do Rio Xingu. Outro aspecto importante é a variação de paisagens dentro deste
espaço: o contraste entre área de cobertura florestal, com grande variedade de vegetação de
grande porte, opondo-se as áreas de campo e de ação humana, na qual estão presentes
vegetação rasteira, gramíneas e arbustos. Seus lagos apresentam grande diversidade de
espécies de peixes e outros animais aquáticos, sendo considerados berçários ecológicos
(TREVISAN, dados não publicados).
Foram sorteados ao acaso 20 pontos de coletas, nos quais as amostras de solo foram
coletadas nas profundidades de 0-20 e 20-40 cm, de acordo com as coordenadas geográficas,
as quais foram localizadas com o auxilio de GPS (Global Position System).
A classificação textural foi seguida através da metodologia proposta por Nortcliff
(1994), na qual consiste no umedecimento de uma pequena porção de terra, e a utilização do
tato, segundo o fluxograma, chegando à classe textural. Essas classes texturais foram
sistematizadas em quatro tipos de solo, sendo o solo Tipo 1 para texturas arenosas (areia,
areia franca e franco arenosa), Tipo 2 para texturas média (franco siltoso, silte e franca), Tipo
3 para texturas média argilosas (franco argilo-arenoso, franco argilo-siltosa e franco argilosa)
e Tipo 4 para texturas argilosas (argilo-arenosa, argilo-siltosa e argila).
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A vegetação foi caracterizada por observações em campo e registros fotográficos,
sendo considerados porte, densidade e condição de preservação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram identificados três dos quatro tipos de solo, sendo eles arenoso (Tipo 1), médio
(Tipo 2) e médio argiloso (Tipo 3), não sendo encontrado solo de textura argilosa (Tipo 4) nas
amostras coletadas.
Nas áreas em que predominam a vegetação de campo ou pastagem (pontos 1, 2, 10, e
19) e em áreas ao redor do grande lago (ponto 14), foi observada a presença do solo arenoso
(Tipo 1), variando a textura de areia a franco arenosa.
Nas áreas de floresta e campo sujo (capoeira), foram encontrados dois tipo de solos.
Ao sul da ilha (pontos 6, 9 e 13), a textura presente é classificada como solo de textura média
(Tipo 2). Essa classe é caracterizada por não ser tão áspera quanto à textura arenosa e nem
modelável quanto o silte. Nas áreas de floresta ao norte (pontos 15 e 16), a oeste (pontos 3 e
20) e ao centro (pontos 4, 5, 12 e 18), foi constatada a presença do solo de textura média
argilosa (Tipo 3). Essa classe é composta por silte e mais argila do a citada anteriormente,
sendo moderadamente sedoso e escorregadio. Pode-se atribuir a diferença dos componentes
do solo nestas áreas ao fluxo de água proporcionado pelo Rio Xingu, que corre no sentido sul-
norte, uma vez que em época de cheia, as águas do rio avançam sobre a ilha, carregando as
partículas de argila. Como a área sul é a área mais exposta a esse fenômeno, é que apresenta
mais aparente essa lixiviação. A representação pode ser visualizada na Figura 2.
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Figura 2 – (A) Distribuição da vegetação na Ilha do Arapujá e, (B) classificação textural do solo nos pontos
de amostragem. Tipo 1 – textura arenosa; Tipo 2 – textura média; Tipo 3 – Textura média argilosa.
Analisando os resultados foi verificada uma relação significativa entre a textura do
solo e a estrutura da vegetação na Ilha do Arapujá. Resultados semelhantes foram encontrados
em estudo feito por Rossi et. al. (2005), no Parque Estadual de Porto Ferreira (SP), local em
que predomina vegetação de cerrado e floresta estacional. Nesta área constataram que o tipo
de vegetação se mostra estreitamente relacionado com os solos e seus atributos, especialmente
com o teor de argila, retenção de água e disponibilidade de nutrientes. Neste estudo, foi
verificado que a vegetação de cerrado está relacionada com solo de textura média e de baixa
retenção hídrica, enquanto a vegetação de floresta a teores elevados de matéria orgânica e
nutrientes, assim como de argilas em todo perfil e de argilominerais.
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O mesmo foi obtido por Moreno e Shiavini (2001), em estudo realizado em gradiente
florestal formado por mata de galeria, mata mesófila semidecídua de encosta e cerradão, na
Estação Ecológica de Uberlândia – MG, no qual foi relacionado à composição física
(granulometria) e química do solo com a variação de vegetação. Eles observaram que o solo
se comporta como um fator determinante na distribuição da vegetação do gradiente estudado,
juntamente com a disponibilidade de água e interferência de luz.
CONCLUSÃO
Os resultados confirmaram a proposta encontrada na literatura e as hipóteses
levantadas no inicio do trabalho, verificando que a estrutura da vegetação foi alterada de
acordo com as mudanças na textura do solo na área estudada.
A área com a estrutura da vegetação de floresta e campo sujo predomina o solo Tipo 2
e 3, que são solos com maiores teores de silte e argila. Nas áreas de campo limpo e/ou
pastagem o solo predominante é o solo Tipo 1, com maiores teores de areia.
LITERATURA CITADA
CHAGAS, A. P. Argilas: as essências da terra. 1ª ed. São Paulo: Moderna. 1996. 117 p.
MEDEIROS, J. C.; CARVALHO, M. C. S.; FERREIRA, G. B. Solos. Revista Embrapa
Algodão – versão eletrônica: 2003. Disponível em:
<http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Algodao/AlgodaoIrrigado_2ed/s
olos.html> Acesso em: 30 de set. de 2009.
MORENO, M. I. C.; SHIAVINI, I. Relação entre vegetação e solo em um gradiente florestal na
Estação Ecológica do Panga, Uberlândia (MG). Revista Brasileira de Botânica. Vol. 24, n 4, São
Paulo, Dez. 2001.
NORTCLLIF, S. Soils in the Field. In: ROWELL; D. L. Soil Science. Methods and
applications. Reino Unido: Longman Group IK. p 1 -15. 1994.
ROSSI, M.; MATOS, I. F. A.; COELHO, R. M.; MENK, J. R. F.; ROCHA, F. T.; PFEIFER, R. M.;
DeMARIA, I. C. Relação solo/vegetação em área natural no Parque Estadual de Porto Ferreira,
São Paulo. Revista Instituto Florestal, São Paulo. Vol. 17, n. 1, p 45-61. 2005.
SCARAMUZZA, J. F. Textura do solo. Universidade Federal do Mato Grosso.
Departamento de Solos e Engenharia Rural. 2007. Disponível em: <
http://solos.ufmt.br/docs/solos1/textsolo.pdf>. Acesso em 02 de setembro de 2009.
VIEIRA, L. S.; VIEIRA, M. N. F. Manual de morfologia e classificação de solos. 2ª ed. São
Paulo: Editora Agronômica Ceres Ltda.. 1983. 320 p.