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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC- SP
Patrícia Rebello Silvestri
Atravessando o Mar Egeu: Atuação do profissional de Psicologia em Organização
não Governamental para refugiados.
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
São Paulo 2020
PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC- SP
Patrícia Rebello Silvestri
Atravessando o Mar Egeu: Atuação do profissional de Psicologia em Organização
não Governamental para refugiados.
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontificia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Psicologia Clínica pelo Núcleo de Configurações Contemporâneas da Clínica Psicológica do Programa de Estudos Pós Graduados em Psicologia Clínica da PUC- SP, sob orientação da Profa. Dra. Marlise Aparecida Bassani.
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
São Paulo 2020
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
Aos meus filhos André e Felipe, por me proporcionar a oportunidade de conhecer o amor incondicional.
O presente trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior- Brasil (CAPES)- Código de Financiamento 001, e do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Brasil.
This study was financed in part by the Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior- Brasil (CAPES)- Finance Code 001and with the support of the National
Council for Scientific and Technological Development (CNPq) - Brazil.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a meu esposo Fabio, que me acompanhou em toda esta jornada, e
aos meus filhos André e Felipe pela sua compreensão e apoio com a minha pouca
disponibilidade.
A minha mãe Yvone que sempre me incentivou a estudar e também por
demonstrar todo o seu amor.
Aos meus irmãos, Silvia e Paulo pela torcida constante e por estarem sempre
próximos.
A minha orientadora, Profa. Dra. Marlise Bassani, com quem aprendi muito,
agradeço por compartilhar seus conhecimentos, pelas leituras dos textos e pela
compreensão em meus momentos difíceis. Foi uma honra aprimorar ao seu lado o
estudo nessa área e a você minha sincera gratidão. Certamente ele guarda grande
influência de seus comentários e reflexões.
À Profa. Dra. Ida Kublikowski e à Profa. Dra. Fabiana Coelho pelas preciosas
contribuições fornecidas no Exame de Qualificação, que foram extremamente
significativas para o direcionamento desta pesquisa.
Ao Coordenador responsável pela ONGs agradeço por conceder a autorização
para que a pesquisa fosse realizada, e aos profissionais das equipes pela abertura e
por ceder o tempo para a que o estudo pudesse se realizar.
Aos meus colegas de turma, o meu agradecimento pela troca e aprendizagem
mútua.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil
(CAPES) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), pelo apoio financeiro através da concessão de bolsa que viabilizou esta
pesquisa de mestrado.
Por fim, agradeço a todas e todos não listados aqui, os refugiados que
definitivamente contribuíram de maneira direta ou indireta para que este trabalho fosse
realizado.
O mar Egeu é considerado o berço de diversas civilizações da antiguidade, fato que
também atrai muitos turistas por sua importância histórica. O Egeu é um mar que faz
parte do mar Mediterrâneo. Está localizado entre o continente europeu e o asiático.
O mar banha, a oeste, o litoral da Grécia. A leste o litoral da Turquia.
O nome do mar Egeu está baseado na mitologia grega, com o rei ateniense Egeu, pai
de Teseu, que morreu em suas águas. Egeu era um rei de Atenas na Grécia Antiga.
Em sua homenagem, o mar ganhou o nome do rei.
Trata-se de uma Rota muito utilizada em busca de novas oportunidades que ocorreu
por diversas civilizações por terra e também pelo mar.
É a principal forma que os imigrantes têm para ingressar na Europa e pedir asilo ou
refúgio em outros países; quando encontram as fronteiras fechadas.
Alguns refugiados vendem todos os seus bens e utilizam o dinheiro para pagar pela
viagem chamada Rota do Mediterrâneo do Leste (que parte de Marrocos e Argélia
rumo à Espanha, para alcançarem o litoral europeu). Esta é a rota mais curta utilizada
pelos refugiados para se chegar à Europa apesar das condições climáticas.
Para o Brasil é mais comum utilizarem-se das fronteiras secas (terrestre) como é o
caso da Venezuela por exemplo.
A Grécia testemunhou 74.482 chegadas de refugiados e migrantes em 2019,
significativamente superior ao número de 50.508 registrados em 20183.
Pela sua localização, o Mar Egeu acaba demarcando a desigualdade entre o mundo
desenvolvido e o mundo subdesenvolvido.
3 Dados do relatório semanal da Agência de Refugiados da ONU (ACNUR) publicado em Janeiro de 2020.
SILVESTRI, P. R. Atravessando o Mar Egeu: Atuação do profissional de Psicologia em Organização não Governamental para refugiados. 128 p. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica). Pontificia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, Brasil, 2020. Orientadora: Prof.ª Dra. Marlise Aparecida Bassani.
RESUMO O fenômeno de migração vem sendo abordado por vários autores e continua um tema atual. A maioria dos países vem lidando com um grande fluxo de imigração ou emigração. A literatura em Psicologia enfatiza os processos psicológicos que ocorrem com os migrantes na sociedade que os acolhe. Segundo relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR, 2019), há mais de 70,8 milhões de pessoas refugiadas. O objetivo da presente pesquisa foi caracterizar a atuação do profissional de psicologia sob sua própria perspectiva e sob a perspectiva dos profissionais das equipes interdisciplinares em uma ONG de atendimento a refugiados, à luz de possíveis contribuições da Psicologia Ambiental. Propusemos pesquisa qualitativa, de estudo de caso, e como fontes de dados: documentos da ONG e entrevistas semiestruturadas com profissional de Psicologia e mais cinco membros da equipe interdisciplinar de atendimento. Os resultados foram organizados em dois grandes temas: motivação para escolha do trabalho na ONG em foco e a atuação do profissional de Psicologia, abordando: características do atendimento, participação em equipe interdisciplinar, dificuldades encontradas, convergências entre as percepções do psicólogo e as de outros membros da equipe sobre sua atuação, inserção na ONG, descrições de um dia típico e um atípico. Analisamos possíveis contribuições da Psicologia Ambiental, a partir de conceitos como apropriação de espaço e apego ao lugar, no trabalho do psicólogo junto a refugiados. Apresentamos reflexões acerca da atuação do profissional em Psicologia no terceiro setor, considerando referenciais da Psicologia Ambiental e da Psicologia Clínica, nas interações pessoa-ambiente em deslocamentos por catástrofes ambientais e imigrações forçadas. Propomos esse possível campo de confluência na atenção a refugiados, como um convite a psicólogos para práticas sensíveis ao contexto de refugiados, no reconhecimento da multiplicidade de práticas psicológicas e nas implicações políticas dos diferentes tipos de fazer psicológico. Esse trabalho teve apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Palavras-chave: Atuação em Psicologia. Refugiados. ONG. Psicologia Ambiental. Equipe interdisciplinar.
SILVESTRI, P. R. Crossing the Aegean Sea: Performance of the Psychology professional in a non-governmental organization for refugees. 128 p. Dissertation (Master in Clinical Psychology). Pontifical Catholic University of São Paulo, São Paulo, Brazil, 2020. Academic advisor: Profa. Dra. Marlise Aparecida Bassani.
ABSTRACT
The migration phenomenon has been addressed by several authors and remains a current topic. Most countries have been dealing with a large flow of immigration or emigration. Psychology literature emphasizes the psychological processes that occur with migrants in the society that welcomes them. According to a report by the United Nations High Commissioner for Refugees (UNHCR, 2019), there are more than 70.8 million refugees. The objective of the present research was to characterize the performance of the psychology professional from his own perspective and from the perspective of the professionals of the interdisciplinary teams in an NGO serving refugees, in light of possible contributions from Environmental Psychology. We proposed qualitative research, case study, and as data sources: NGO documents and semi-structured interviews with a Psychology professional and five other members of the interdisciplinary care team. The results were organized into two major themes: motivation to choose the job at the NGO in focus and the role of the Psychology professional, addressing: characteristics of the service, participation in an interdisciplinary team, difficulties encountered, convergences between the perceptions of the psychologist and those of others team members about their work, inclusion in the NGO, descriptions of a typical day and an atypical one. We analyze possible contributions of Environmental Psychology, from concepts such as appropriation of space and attachment to the place, in the psychologist's work with refugees. We present reflections on the performance of the professional in Psychology in the third sector, considering references of Environmental Psychology and Clinical Psychology, in person-environment interactions in displacements due to environmental catastrophes and forced immigration. We propose this possible confluence field in the care of refugees, as an invitation to psychologists for practices sensitive to the context of refugees, in the recognition of the multiplicity of psychological practices and in the political implications of the different types of psychological activity. This work was supported by the Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel - Brazil (CAPES) and by the National Council for Scientific and Technological Development (CNPq). Keyword: Psychologist, Performance, Refugees, Non-governmental Organizations, Environmental Psychology.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Principais países de origem das pessoas refugiadas .............. 29
Figura 2 – Principais países de destino das pessoas refugiadas ............. 30
Figura 3 – Países que mais receberam novos pedidos de refúgio ........... 30
Figura 4 – O que está ocorrendo nos países de origem das principais
novas chegadas........................................................................
31
Figura 5 – Psicologia Ambiental ................................................................ 45
Figura 6 – Modelo dual de apropriação de espaço com base em POL
(1999).
47
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Novas Solicitações de Refúgio na cidade de São Paulo ............ 33
Gráfico 2 – Voluntários ................................................................................ 119
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Artigos e Dissertações pesquisados nas bases selecionadas 37
Quadro 2 – Interdisciplinaridade: Mapeando da percepção em relação ao
serviço de Saúde Mental na ONG...........................................
78
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Cronologia das entrevistas realizadas............................... 59
Tabela 2 – Estrutura por tipo de contratado ONG.................................... 119
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS
ABONG – Associação Brasileira Organizações Não Governamentais
ACNUR – Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados
ADUS – Instituto de Reintegração do Refugiado
CAAE – Certificado de Apresentação para Apreciação Ética
CAPS – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior- Brasil
CASP – Caritas Arquidiocesana de São Paulo
CDHIC – Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante
CLT – Consolidação das Leis do Trabalho
CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CONARE – Comitê Nacional para Refugiados
CRAI – Centro de Referência e Atendimento de Imigrantes
CTA – Centro Temporário de Acolhimento
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IKMR – I Know My Rights
IMDH – Instituto de Migrações e Direitos Humanos
LAR – Levando Ajuda ao Refugiado
ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
OMS – Organização Mundial da Saúde
ONG – Organização Não Governamental
ONU – Organização das Nações Unidas
OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
PARR – Programa de Apoio para Recolocação dos Refugiados
PNDH – Plano Nacional de Direitos Humanos
PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
SciELO – Scientific Eletronic Library Online
SEDES-SP – Instituto Sedes Sapientiae
SUS – Sistema Único de Saúde
TCLE – Consentimento Livre e Esclarecido
UFES – Universidade Federal Espirito Santo
UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo
UNINOVE – Universidade Nove de Julho
USP – Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................ 18 Origem do estudo ............................................................................................. 18 Retrospectiva histórica ..................................................................................... 21 O termo ONG - Organização não Governamental ............................................ 21 Objetivos .......................................................................................................... 23 Objetivos Específicos ....................................................................................... 23
1 OS REFUGIADOS NO BRASIL E NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO ........... 25 1.1 Refúgio no mundo e no Brasil ................................................................. 28 1.2 Situação de refugiados no Brasil ............................................................ 31
2 DAS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS E O ATENDIMENTO AOS REFUGIADOS ........................................................................................
32
2.1 Faixa etária e Nacionalidade e Religião ................................................ 34
3 A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO EM ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS PARA REFUGIADOS ...................................................
36
4 CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA AMBIENTAL PARA ATUAÇÃO JUNTO AOS REFUGIADOS ...........................................................................
40
4.1 A Psicologia Ambiental – Principais Conceitos ..................................... 42
5 MÉTODO ...................................................................................................... 50 5.1 Considerações Metodológicas ............................................................... 50 5.1.1 Cuidados Éticos ...................................................................................... 52
5.1.1.1 Procedimentos éticos ........................................................................... 52
5.1.1.2 Procedimento para construção do caso em estudo .............................. 53
5.2 Descrição do caso .................................................................................... 54 5.3 Participantes e Critérios para a inclusão ................................................ 55 5.3.1 Informações sobre os entrevistados ........................................................ 55
5.3.2 Métodos de coleta ................................................................................... 56
6 RESULTADOS E ANÁLISE .......................................................................... 58 6.1 Etapas da análise de dados .................................................................... 61
7 DISCUSSÃO ................................................................................................. 86
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 91
REFERÊNCIAS ............................................................................................... 94
APÊNDICES .................................................................................................... 100
ANEXOS .......................................................................................................... 108
18 INTRODUÇÃO
Origem do estudo
O tema do presente estudo versa sobre a atuação do profissional de Psicologia
junto a equipe interdisciplinar4 no atendimento a refugiados em Organização não
Governamental. Esse tema teve como origem o interesse por problemáticas
contemporâneas a partir de dois eixos: pessoal e o profissional. Minha atuação como
voluntária junto a refugiados em São Paulo, trouxe a reflexão e o interesse como
pesquisadora através de um levantamento descritivo a partir de casos de psicólogos
atuando junto a essa população e instituições. A atuação dos psicólogos em ONGs
que atendem a refugiados foi uma questão que chamou a minha atenção e de como
essa atuação estaria atrelada a dinâmicas relacionais.
Sou psicóloga de formação e minha atuação se deu em posições executivas
na Psicologia Organizacional onde permaneci por cerca de 25 anos. Contudo, pelo
exercício profissional do meu marido, tivemos de nos mudar e viver em outros países.
Com essa mudança experimentei a adaptação em diversas esferas: pessoal, familiar
e profissional. Experimentei como é ser estrangeiro em outro país e suas implicações.
Acredito que tais vivências contribuíram para esse olhar plural nas relações humanas
e podem enriquecer a proposta da presente pesquisa.
Interessei-me, portanto, em estudar a atuação do profissional de Psicologia em
um cenário de migrações cada vez mais presentes nas sociedades contemporâneas,
gerando a pluralidade de possibilidades de escolhas, que afetam a construção da
identidade em um processo contínuo de reorganização de suas experiências e
decisões.
Por questões políticas, religiosas, culturais encontramos hoje milhões de
pessoas buscando o refugio pois tiveram de sair de seus países e buscar proteção
em outros países.
De acordo com Zaia (2007) a migração é entendida como o deslocamento de
pessoas para um país, ou território por um tempo prolongado. O termo emigração,
significa deixar o local de origem (a pátria) com intenção de se estabelecer em um
4 Interdisciplinar ou transdisciplinaridade se preocupa com uma interação entre as disciplinas, promove um diálogo entre diferentes áreas do conhecimento e seus dispositivos, e visa a cooperação entre as diferentes áreas e entre essas disciplinas (IRIBARYY, 2003).
19 novo país. O termo imigração trata da entrada das pessoas que veem de outros países
em busca de trabalho ou ainda buscar formar nova residência.
A migração humana é um fenômeno permanente na história mundial. Vários
países são resultados de migração.
A migração no Ocidente começou na época das descobertas, com os países
europeus invadindo outros continentes, representando o deslocamento das pessoas
de um lugar para outro.
Após a primeira guerra mundial observamos as ondas migratórias partindo da
Europa. A situação se fez presente no século XX, durante a Segunda Guerra. No
século XX o problema dos refugiados tomou enormes proporções, fazendo com que
dezenas de milhões de pessoas se deslocam pelo mundo.
A Assembleia Geral das Nações Unidas estabeleceu em 1946, os princípios,
da condição de refugiado: onde o problema do refúgio começa a ter um alcance e
caráter internacional. Os protocolos de acolhimento e o trabalho junto a refugiados,
surgem a partir de 1950 Com a criação da ACNUR - Agência da ONU para
Refugiados: a Convenção do Estatuto dos Refugiados, de 19515 e, em 1967, é
proposto o protocolo de 19676, esse protocolo é relativo ao Estatuto dos Refugiados.
O estatuto de 1967 foi responsável por reformular a Convenção de 1951 e expandiu
para além das fronteiras europeias o mandato do ACNUR aumentando o escopo da
Convenção.
A Convenção do Estatuto dos Refugiados estabelece como refugiado apenas
as pessoas que por temor a perseguição, e que tivessem saído do seu território por
acontecimentos ocorridos antes de 1951.
No Brasil, com a nova democratização um fluxo maior de refugiados veio ao
país nos anos 1980. O Brasil aderiu em 1960 à Convenção de 1951, mas decidiu
aprovar a sua própria lei sobre refúgio (Lei 9.474 e a Lei nº 13.445/2017) que
detalharemos o escopo das leis mais adiante.
Segundo dados de 2019 do site do IMDH7, as migrações do século XXI tem se
dado por motivos econômicos, perseguições religiosas, desastres naturais, fome,
disputas políticas e regimes totalitários.
5 Vide A Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados (1951). Disponível em: https://www.acnur.org/fileadmin/Documentos/portugues/BDL/Convencao_relativa_ao_Estatuto_dos_Refugiados.pdf. 6 Vide: Protocolo de 1967 Relativo ao Estatuto dos Refugiados. Disponível: https://www.acnur.org/fileadmin/Documentos/portugues/BD_Legal/Instrumentos_Internacionais/Protocolo_de_1967.pdf. 7 Vide IMDH - Instituto de Migrações e Direitos Humanos. Disponível: https://www.migrante.org.br/.
20 Remete aos anos 1950, a proteção aos refugiados no Brasil, uma vez que o
país validou na Convenção de Genebra de 1951 e no Protocolo de 1967, além de
fazer parte do Conselho Executivo do ACNUR desde 1958. A migração internacional
no Brasil era regulada até então por normas legais implementadas no período do
Regime Militar, nas quais o imigrante era visto como uma ameaça.
Nas últimas décadas do século XX observamos em escala internacional,
alterações no comportamento do fenômeno migratório no Brasil. As mudanças, eram
percebidas na chegada de imigrantes, diversificados pela origem, quanto na
continuada saída de brasileiros do país, gerando a necessidade de respaldo jurídico
que desse sustentação as políticas migratórias. A proteção mais efetiva aos
refugiados no Brasil passou a acontecer a partir da Constituição Federal de 1988,
onde o pais demonstrou maior preocupação com a proteção aos direitos humanos
sendo a partir de 1996, com a edição do I Plano Nacional de Direitos Humanos- PNDH,
que foi proposto um projeto de lei estabelecendo o estatuto dos refugiados. Data de
julho de 1997 a aprovada a Lei 9.4748, que estabeleceu os critérios para o
reconhecimento do status de refugiado, e determinou o procedimento para o
reconhecimento com a criação do Comitê Nacional para Refugiados-CONARE, que é
o órgão responsável para tratar do tema.
O Brasil possui de acordo com a ONU, uma das leis mais modernas e
inovadoras para os refugiados, possibilitando a eles o registro de estrangeiro,
trabalho, estudo e direito a cidadania, pelos acordos bilaterais, através da Lei nº
13.445/20175, (Lei de Migração) que fortalece o sistema de refúgio no Brasil.
Informações do relatório Tendências Globais, publicado em junho de 2019, pela
Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), há mais de 70,8 milhões de pessoas
refugiadas. Esse número representa um aumento de 2,3 milhões comparados com o
ano anterior e equivale ao dobro dos deslocados forçados registrados há 20 anos
atrás, em suas quase sete décadas de atuação quando o organismo internacional foi
criado em 1950. É o maior número de deslocamento forçado registrado em quase 70
anos da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR). No ano de 2018 o número era
de 68,5 milhões de pessoas.
8 As leis encontram-se disponíveis: Lei 9.474. Disponível: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9474.htm. Acesso em Dez 2019. Lei 13.445. Disponível: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13445.htm. Acesso em Dez 2019.
21 A fim de apresentar as razões do foco da presente pesquisa em Organizações
não Governamentais para atenção a Refugiados, faremos uma breve retrospectiva
histórica, a seguir:
Retrospectiva histórica
Na época da segunda guerra mundial, cerca de 40 milhões de pessoas, em sua
maioria na Europa, se deslocaram a outros países por guerra (HOBSBAWN, 1995).
Para uma melhor condução e gestão dos fluxos de refugiados foi necessário a
negociação e o diálogo entre as autoridades governamentais bem como a criação de
programas de assistência aos público de refugiados.
O termo ONG surgiu pela primeira vez, na Carta das Nações Unidas (através
do artigo 71) emitida em 26 de junho de 1945, nos EUA, após a Segunda Guerra
Mundial que se deu na década de 1940. Tinha como objetivo designar entidades não-
oficiais que recebiam ajuda financeira de órgãos públicos e para executar projetos de
interesse social, dentro de um trabalho chamado de desenvolvimento de comunidade
e se constituíram as bases do Welfare State (Estado de Bem-estar Social).
O termo ONG - Organização não Governamental
Segundo Landim (1993) e, posteriormente Gohn (2000), a expressão
Organização não Governamental-ONG, foi criada pela Organização das Nações
Unidas-ONU nos finais dos anos 40, referindo-se a um universo extremamente amplo
e pouco definido de instituições. ONG provém do sistema da ONU, e foi incorporada
pelo Banco Mundial para designar toda entidade que não pertença ao aparelho de
Estado. Em 1945, na Ata de Constituição das Nações Unidas, já se faz menção a
Organizações Não Governamentais (BRASIL, 1977).
A partir da década de 1970, as ONGs começaram a multiplicar-se no país.
Porém, o reconhecimento das ações das ONGs ocorreu na década de 1980,
especialmente após a realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento (Eco 92), realizada no Rio de Janeiro. No Brasil, a
denominação ONG tornou-se conhecido a partir da década de 1990, quando passou
a designar como o conjunto de várias entidades privadas, sem fins lucrativos, que
buscavam atender a determinadas demandas da sociedade, por meio da captação de
recursos (doações), e também por parcerias como por exemplo com o Poder Público.
22 As Organizações Não-Governamentais fazem parte do Terceiro Setor, que surgiu na
década de 1970, e está formado por entidades que, embora sejam privadas, também
tem fins públicos. Do ponto de vista jurídico as ONGs, presentes no Código Civil
brasileiro, só podem ser constituídas legalmente sob associação, enquadram-se na
legislação como esta categoria de organização. Estes tipos de sociedades são
formalmente reconhecidas pelo Código Civil Brasileiro de 1916.
No presente estudo optamos pela conceituação de Fernandes e adotada pela
Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (ABONG). A ABONG foi
criada em 1991, e tem como “principais objetivos promover o intercâmbio entre as
ONGs e representar coletivamente essas organizações junto aos Estados.”
(FERNANDES, 1994, p. 21). O objetivo fundamental das ONGs é o de contribuição
para uma sociedade cidadã, justa, igualitária, através da participação, da
solidariedade e do respeito à diversidade e ao plural.
ONGs são as organizações da sociedade civil empenhadas no fortalecimento da cidadania e democracia. mas que não têm um caráter de representação de um determinado grupo social ou de prestação de serviços filantrópicos a uma determinada comunidade, tendo como objetivo fundamental contribuir para a consolidação de uma sociedade democrática, justa e igualitária e estimular a participação e a solidariedade. (FERNANDES, 1994, p.27).
A migração não representa em si uma condição de vulnerabilidade, mas muitas
vezes ela é marcada por intensas violações dos direitos humanos e desigualdades no
processo de deslocamento. A vulnerabilidade nesse processo retrata a baixa
resistência psíquica do individuo. "Ao chegar a um novo país, as dificuldades que
enfrentam perpassam à nova cultura, ao idioma e aos costumes. É comum chegarem
em situação estrema vulnerabilidade, às vezes doentes e sem perspectiva de
reestruturar sua vida" (MILESI; CARLET, 2012, p. 87).
Na conjuntura contemporânea, a saúde é vista pelo conjunto de atitudes que
buscam à promoção do bem-estar e a melhoria da qualidade de vida. Há novas
demandas que convidam os psicólogos a questionarem a sua forma de atuar
associados ao novo contexto. À medida que o Brasil se coloca como um país de
acolhimento para os refugiados, é fundamental que estas condições de acolhimento,
integração e de oferta de serviços sejam também revistas e adaptadas.
23 Objetivos
O objetivo da presente pesquisa é caracterizar a atuação do profissional de
psicologia sob sua própria perspectiva e sob a perspectiva dos profissionais das
equipes interdisciplinares em uma ONG de atendimento a refugiados, à luz de
possíveis contribuições da Psicologia Ambiental.
Objetivos Específicos
a) Identificar possíveis participações do psicólogo na estrutura funcional da ONG
em questão;
b) Investigar as avaliações que o profissional de psicologia faz sobre sua inserção
na ONG e sobre sua atuação;
c) Compreender os significados atribuídos pelo profissional de psicologia e pelos
demais profissionais que compõem a estrutura funcional da ONG frente a sua
atuação para a população atendida;
d) Analisar possíveis contribuições da Psicologia Ambiental no contexto de ONG
para o atendimento a refugiados.
Nossa expectativa com a presente pesquisa é fomentar a discussão sobre a
atuação de profissionais de Psicologia, características, limites e possibilidades que o
profissional avalia serem relevantes em seu trabalho, bem como analisar a percepção
e significado que profissionais de outras equipes atribuem à contribuição da
Psicologia. Tais análises podem indicar articulação, ou não, do profissional em
Psicologia para composição de um trabalho interdisciplinar, abrindo possibilidades
para novas formas de atenção a refugiados por ONGs, para além do município de São
Paulo.
A fim de atingir os objetivos propostos que é o caracterizar a atuação do
profissional de psicologia sob sua própria perspectiva e sob a perspectiva dos
profissionais das equipes na ONG de atendimento a refugiados, esta pesquisa se
organiza conforme a estrutura a seguir:
No Capítulo 1 abordaremos os refugiados no Brasil, no Estado de São Paulo e
no município de São Paulo; bem como a análise dos dados do governo estadual e
municipal.
24 As Organizações não Governamentais e o atendimento aos refugiados serão
abordados no Capítulo 2. Informações sobre os dados da população atendida ao
longo do tempo e nos dias atuais e a crescente importância desses atores na última
década.
A proposta do Capítulo 3 é discutirmos sobre a atuação do psicólogo frente aos
conceitos de refugiados e as ONGs que os atendem.
Diante dos elementos analisados nos capítulos precedentes, o Capítulo 4 terá
por objetivo a reflexão sobre as contribuições da Psicologia Ambiental para atuação
junto aos refugiados.
O método será apresentado no capítulo 5 no qual abordaremos as
considerações metodológicas adotadas para o estudo, os procedimentos de coleta de
dados, os procedimentos éticos e a descrição do caso.
No capítulo 6 apresentaremos o plano de análise dos dados e os resultados. A
partir das narrativas e a reflexão dos participantes com relação a atuação do
profissional de Psicologia junto aos refugiados e às equipes.
No capítulo 7 realizaremos a discussão dos resultados retomando os objetivos,
articulando os resultados, as possíveis contribuições da Psicologia Ambiental.
O capítulo 8 versará sobre as Considerações finais, com as possibilidades de
estudos no futuro sobre o tema ampliando-se o escopo para articulações entre a
clínica psicológica contemporânea e a atenção aos refugiados.
Por fim no capítulo 9, serão apresentadas as referências bibliográficas do
presente estudo.
Esperamos contribuir para a reflexão que vem atuando no terreno em que
convergem a atuação das ONGs, a prática profissional em psicologia no país,
fornecendo subsídios aos pesquisadores e profissionais que atuam nessas áreas.
25 1 OS REFUGIADOS NO BRASIL E NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO Faz-se necessário entender e contextualizar a problemática dos refugiados. A
questão dos refugiados é relevante na medida que o aumento de conflitos étnicos e
as violações de direitos humanos os qualificam os cada vez. Os refugiados retratados
nessa pesquisa, são os sujeitos influenciados por fatores que levam à exclusão, à
segregação e como resultado a emigração do país de origem fazendo com que saiam
a busca de refúgio em um país estrangeiro.
O estrangeiro é também aquele individuo que se encontra na fronteira, aquele
que será o de fora. Não é uma tarefa fácil aprender uma novo idioma, uma nova cultura
e um novo conjunto de regras. Eles estão expostos a vivenciar de maneira positiva
e/ou negativa o choque cultural causado pelo estresse emocional que pode
comprometer o seu funcionamento quando na verdade são incapazes de entender os
sinais de um ambiente novo. Um fator importante é a elaboração das perdas nessa
experiência atreladas à história de cada indivíduo (SILVA, 2017). Em seu deslocamento, os refugiados transportam muito pouco consigo em
termos de objetos pessoais, objetos estes que caracteriza a sua identidade e o lugar
de onde vem. Torturas, guerras, violências, massacres, a morte de parentes e amigos,
são situações traumáticas que ficam expostos. A fome e as perdas de pertences que
trazem consigo são frequentes, além da cultura em um novo país que escolheram
para o refúgio. Um indivíduo que migra precisará abrir mão de tudo que é conhecido
e imergir em um mundo que requer novos significados vivenciando uma experiência
de desamparo onde a não compreensão afeta o bem-estar psicológico e pode
dificultar na sua adaptação. Um migrante em estado de privação, sofre e vivencia uma
crise. Estes períodos de transição representam uma possibilidade do aumento da
vulnerabilidade. ( MARTINS-BORGES, 2013).
Mudar de país significa construir uma nova vida e resinificar o que era familiar
se deparando com perdas como por exemplo, a de pertencer a um grupo que lhe dava
identidade e reconhecimento. A diferença cultural confronta-se com a ruptura de tudo.
A perda do sentimento de pertencimento pode gerar ansiedade pela necessidade que
os indivíduos têm do sentimento de segurança e proteção. (SILVA, 2016 p.3).
O sofrimento do migrante está vinculado à instabilidade de suas certezas, e
coloca em risco a sua identidade. O migrante em sua “entrangeiridade não é possível
de classificar, é considerado um sem lugar”(SILVA, CREMASCO, 2016, p 2-3).
26 “O estrangeiro desvela para o grupo esse outro. Outro que se expressa em
muitos sentidos: outro idioma e outros costumes”. (SOUZA,1998 p.155). Essa
incompreensão do modo de existir diferente é difícil de ser compreendidos, o
estrangeiro pode vir a sofrer de grande rejeição na sua nova pátria. Constituem-se um
grupo diferente, pois tiveram que sair de seus países não podendo mais retornar.
“O refugio carrega as noções de temporalidade (entre o país de origem e o
país de destino) e a transitoriedade” (MOREIRA 2015, p.87), em questões de
identidade e também sociais e culturais representando e refletindo uma dificuldade de
pertencimento. A migração forçada ocorre por uma série de fatores, a perseguição,
as catástrofes, a degradação ambiental mas também está presente por guerras e
conflitos.
O acolhimento de refugiados pelos Estados gira em torno da fronteira entre a
inclusão e exclusão, os desejáveis e os indesejáveis; que reforça a vulnerabilidade.
Moreira (2014 p.86) coloca que os refugiados são vistos como outsiders9, não só
porque vem de outras países, mas por não por não pertencerem à nação, lhes são
estranhos os códigos e a identidade cultural, religiosa, de idioma da nova nação. As
situações enfrentadas pelos refugiados são, tão perigosas que decidem cruzar as
fronteiras em busca de segurança em outros países, sendo assistidos por outras
nações ou pelo ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), ou
outras Organizações que atuam na defesa dos direitos humanos.
Os traumas como as guerras e os conflitos, a permanência por períodos
grandes nos campos de refugiados, a perda de familiares, os casos da violência
sexual no percurso e a possibilidade da perda da própria vida, onde a viagem para
outros países se dá por caminhos perigosos, com a incerteza de serem aceitos e o
estresse da adaptação a uma nova cultura muitas vezes feita na intolerância e o
racismo (BUHMANN, 2014).
A verificação do status de refugiado no Brasil, cabe ao governo federal, através
do Comitê Nacional para Refugiados (CONARE). Aqueles que não forem
considerados refugiados e, não necessitarem de nenhuma forma de proteção
internacional, podem ser enviados de volta aos seus países de origem.
9 Termo utilizado por BAUMAN, Zygmunt. Vidas desperdiçadas; SAYAD, Abdelmalek. A imigração ou os paradoxos da alteridade.
27 Segundo o ACNUR, quem solicita asilo é um individuo que afirma ser um
refugiado, mas que não teve seu pedido avaliado. Os sistemas de asilo a nível
nacional, servem para determinar quais requerentes se qualificam para a proteção
internacional. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados
(ACNUR) considerando a Convenção de 1951 e o Protocolo de 1967, relativos ao
assunto, o refugiado é aquele que: [...] temendo ser perseguido por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção desse país. (ACNUR, 2011, p.11)
O número de refugiados no mundo não tem deixado de aumentar e também a
Europa se depara com esta realidade decorrentes de conflitos e guerras.
Detalharemos a seguir o cenário do refúgio no mundo e, especificamente, no
município de São Paulo.
28 1.1 Refúgio no mundo e no Brasil O Brasil adota uma política de portas abertas para pessoas de países que se
encontram em pobreza extremas e a situações de guerras, mas ainda faltam os
serviços de acolhimento.
Nossos acordos bilaterais e o nosso endosso ao Estatuto dos Refugiados, com
as nossas leis, a facilidade de conseguirem a documentação vão firmando o Brasil na
rota das migrações. O Brasil faz parte dos principais tratados internacionais de direitos
humanos e é parte da Convenção das Nações Unidas de 1951 sobre o Estatuto do
Refugiado e pelo Protocolo de 1967, que reformou a Convenção. O Brasil promulgou
a Lei de Refúgio (n. 9474/97 e a Lei da Imigração (Lei nº 13.445/2017) que amplia a
estrutura administrativa e a tramitação de processos dos refugiados de maneira
informatizada, adotando uma ampla definição de refugiado que se vê presente
também na Declaração de Cartagena de 198410. A Declaração considera que a
“violação dos direitos humanos” de maneira generalizada como uma das causas para
o reconhecimento da condição de refugiado.
O crescimento exponencial de refugiados, que significa que, à medida que a
quantidade aumenta, aumenta também a taxa na qual ele cresce, observado pelas
ocorrências catastróficas e que impactam o aspecto humanitário, de crises, conflitos
políticos e sociais, guerras e também os desastres naturais. Segundo dados
extraídos do Relatório Tendências Globais, do ACNUR (2019), mais de 68,5 milhões
de pessoas foram forçadas a deixar suas casas em todo o mundo por conta de
conflitos, perseguições ou violência. Das 25,9 milhões de pessoas refugiadas, 41,3
milhões estão deslocadas internamente em seus países e 3,5 milhões são
solicitantes de asilo. Turquia, Paquistão e Uganda são os três países que acolhem
em maior numero refugiados. Juntos estes três países já receberam mais de 6,3
milhões de pessoas. O Relatório Tendências Globais, ou Global Trends, traz que a
maioria dos refugiados vive em áreas urbanas (58%), não em campos ou áreas
rurais, e que a população deslocada global é jovem: 53% são crianças, incluindo
muitas que estão desacompanhadas ou separadas de suas famílias. O número de
refugiados aumentou mais de 50% nos últimos 10 anos, sendo que mais da metade
dos refugiados são crianças, com menos de 18 anos de idade, representando 52%
da população refugiada no mundo.
10 A Declaração de Cartagena encontra-se disponível no site https://www.acnur.org/cartagena30/pt-br/antecedentes-e-desafios/
29 Dados do último relatório do ACNUR, traz que os refugiados no mundo vem de
três países: Síria (6,7 milhões), Afeganistão (2,7 milhões) e Sudão do Sul (2,3
milhões).
Na figura 1, trazemos os dados dos principais países de origem das pessoas
refugiadas.
§ Metade da população refugiada tem menos de 18 anos, ou seja, são crianças
ou adolescentes. Crianças constituem cerca de metade dos refugiados população em 2018, acima dos 41 por cento em 2009, mas semelhante aos anos anteriores.
§ 84% das pessoas refugiadas vivem em países em desenvolvimento.
§ 1/3 das pessoas refugiadas vivem nos países menos desenvolvidos no mundo, cujo PIB somado equivale a 1,25% do PIB mundial.
§ Quatro em cada cinco refugiados vivem em países vizinhos ao país de origem.
Em 2018...
§ 1 em cada 5 pessoas que procuraram refúgio era venezuelana. § A Venezuela foi o país de origem do maior número de solicitantes de refúgio,
com: 341.800 novos pedidos.
Figura 1: Principais países de origem das pessoas refugiadas Fonte: ACNUR, 2019.
30 Na figura 2, observamos os dados dos principais países de destino das pessoas
refugiadas e na Figura 3, os países que mais receberam pedidos de refugio e a origem
dos pedidos mais solicitados no último ano.
Figura 2: Principais países de destino das pessoas refugiadas Fonte: ACNUR, 2019. Figura 3: Países que mais receberam novos pedidos de refúgio Fonte: ACNUR, 2019.
Importante pontuar que Leis internacionais obrigam vizinhos de países em
conflito a receber os refugiados. Por isso, Turquia e Líbano surgem como rotas de
fuga preferenciais pela fronteira com a Síria. No Caso dos venezuelanos, o Brasil
acaba sendo uma das rotas escolhidas (CONARE, 2019).
LIBANO: O Líbano continuou a hospedar
o maior número de refugiados em relação à sua população nacional, onde
1 em cada 6 pessoas era refugiada. Jordânia (1 em 14) e Turquia (1 em 22) ficou em segundo e
terceiro, respectivamente.5
VENEZUELA: Os refugiados e requerentes de
asilo venezuelanos aumentaram em número. O movimento
mais amplo de venezuelanos em toda a região e além assumiu cada vez mais
características de uma situação de refugiado, com cerca de 3,4
milhões fora do país até o final de 2018.
31 1.2 Situação de refugiados no Brasil
O Brasil também vem sendo influenciado por esse novo fluxo internacional. O
Brasil já havia reconhecido 4.035 refugiados em 2011, número este que chegou a
7.262 em 2014, e a 11.231 em 2018. Três ondas migratórias recentes chamam a
atenção no Brasil: a do Haiti, em 2010; a de Sírios (2011) e, mais recentemente a dos
venezuelanos (2018). Os imigrantes venezuelanos enxergam no Brasil o refúgio de
que necessitam para sobreviver e se manter.
Os dados atualizados de 2019 sobre número de solicitações de refúgio no país
ainda não foram divulgados pelo Ministério da Justiça, porém, segundo informações
do CONARE (Comitê Nacional para os Refugiados), o Brasil tem um acumulado até
a presente data de 11.231 pessoas reconhecidas como refugiadas, enquanto, no
mundo todo, esse número é de 25,9 milhões de pessoas. O país também recebeu
7.000 solicitações de haitianos. Em 2019, o Brasil recebeu cerca de 59 mil solicitações
de refúgio, mais de três quartos foram de venezuelanos: com 61.600 solicitações.
Figura 4: O que está ocorrendo nos países de origem das principais novas chegadas. Fonte: Caritas, 2019.
32 2 DAS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS E O ATENDIMENTO AOS REFUGIADOS As principais instituições que trabalham com a temática do refúgio em São
Paulo são: ACNUR, Caritas Arquidiocesana de São Paulo11, IKMR – I Know My
Rights, Adus – Instituto de Reintegração do Refugiado, Missão Paz, Centro de
Referência e Acolhida para Imigrantes (CRAI), Casa de Passagem “Terra Nova”,
Oásis Solidário, Programa de Apoio para Recolocação dos Refugiados (PARR), e
Levando Ajuda ao Refugiado (LAR). Escolhemos para o estudo a ONG Caritas pela
sua capilaridade e tempo de atuação junto a população vulnerável. A Caritas
Arquidiocesana de São Paulo é uma das organizações não governamentais parceiras
do ACNUR no Brasil. Fundada pela Igreja Católica, em 1956, está atenta a promoção
do direito e desenvolvimento das pessoas vulneráveis. Em São Paulo, foi criada em
abril de 1968, como parte integrante da Arquidiocese de São Paulo, também
conhecida por CASP (Caritas Arquidiocesana de São Paulo), por meio do “Centro de
Referência para Refugiados”, localizado na região central de São Paulo.
Estaremos fazendo um recorte estatístico das pessoas atendidas no mundo e
no município de São Paulo até Fevereiro de 2020. A cidade de São Paulo tem estreita
relações com os imigrantes desde 1554. Segundo dados do Museu de Imigração, no
século 19, com o fim da escravidão, a cidade de São Paulo foi um dos principais
lugares no país que recebeu os imigrantes, principalmente para o trabalho nas
lavouras de café. No século XIX, chegaram os Italianos, espanhóis e, depois, os
japoneses. O Museu tem como objetivo documentar o processo migratório no Brasil,
e tem registros das acolhidas, com fotos e objetos históricos, além do registro de
origens de sobrenomes desses países. A cidade de São Paulo continua ate hoje com
a sua trajetória de receber imigrantes com diversos serviços oferecidos.
O recorte estatístico apresentado aqui refere-se ao levantamento do
Georreferenciamento5, lançado em 23 de Outubro de 2019 pela Caritas em parceria
com o ACNUR. A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e o Centro de
Referência para Refugiados da Caritas Arquidiocesana de São Paulo, tem como base
os dados de registro de 2018. Sobre o número de refugiados vivendo na cidade de
São Paulo, segundo dados do relatório “Refúgio em números, de Junho de 2019”, Em
11 Vide Dados da Caritas Brasileira: disponível em: http://caritas.org.br.
33 2018, mais de 9 mil pessoas de 115 nacionalidades solicitaram o refúgio no estado de
São Paulo, sendo em maior numero na Capital. A maior parte da população recém
chegada ou já no território há mais de um ano concentra-se em áreas centrais da
cidade.
Gráfico 1: Novas Solicitações de Refúgio na cidade de São Paulo Fonte: BRASIL, 2020.
O gráfico 1, apresenta os dados da Policia Federal referente as novas
solicitações de refúgios na cidade e São Paulo, a partir de 2011, onde podemos
identificar um aumento crescente a partir de 2016. Também observamos que o
movimento de refugiados para o interior paulista tem aumentado a cada ano.
Dados do Centro de Referência para Refugiados no Estado de São Paulo, por
meio do levantamento realizado, traz que a maior parte das pessoas atendidas, após
chegada a cidade, moram na região Central da cidade, mas ainda há pessoas
morando em cidades do Interior e no Litoral. É possível destacar no relatório que a
maior parte das pessoas em situação de refúgio em São Paulo, vive na zona leste da
capital paulista (55%), mesmo que a região da Sé e República sejam as localidades
com maior número de residentes 521 e 466, respectivamente. Em relação à
residência, dos 346 entrevistados (90,58% do total de 382) residem em moradias
alugadas enquanto 6 (menos de 2%), outros vivem em unidades “cedidas”.
A mobilidade na cidade de São Paulo é uma das questões para os imigrantes-
refugiadas que se estabeleceram em bairros situados no extremo-leste de São Paulo.
Seja pela falta de recursos ou ainda pela dificuldade em acessar o sistema público de
transporte.
34 As pessoas venezuelanas atendidas pela Caritas em 2018 representam 19,8%
do total, constituindo também a principal nacionalidade de novas chegadas no país
neste ano (53,9%). Dos 773 venezuelanos recém-chegados atendidos pela Caritas
SP em 2018, 441 (57% do total) chegaram à cidade de São Paulo. Dos atendidos pela
ONG, 62% são homens e 38% mulheres. Sua distribuição na cidade se concentra na
região central, porém com distribuição para diferentes regiões da metrópole,
chegando a ocupar espaços menos urbanizados nas Zonas Norte e Sul.
De acordo com o relatório Georreferenciamento de Pessoas em Situação de
Refúgio atendidas, São Paulo é um marco no trabalho com refugiados na cidade e
representa uma guinada no olhar das políticas e abordagens humanitárias em
contexto urbano (ACNUR, 2019).
2.1 Faixa etária e Nacionalidade e Religião Está mapeado no relatório do Georreferenciamento que dos refugiados
economicamente ativos, apresentam idades entre 18 e 49 anos, o que representam
88,26%. Desse percentual 2% tem mais de 18 anos e menos que 20 anos. Nessa
amostra os com menos de 18 anos foram excluídos. 11,73% tem mais de 50 anos e
4,32% tem mais do que 60 anos. Do total de refugiados hoje presentes no Brasil, 72%
são homens e 28% mulheres, 227 são casados (46,61%) ou em uma união estável,
239 (corresponde a 49,08%) são solteiros e 21 se declararam como viúvos ou
divorciados. Nessa população os indivíduos estão mais próximos da aposentadoria
ou já se aposentaram. Em termos de entradas no país, 55,23% vieram da Síria (153)
e República Democrática do Congo (116). 16,01% vieram da Angola (42) e Colômbia
(36). Do total mapeado, 83,16% chegaram ao Brasil em sua maioria depois do ano de
2010. A maior parte dos atendidos (75%) já residia no Brasil antes de 2018. Já em
relação à população de refugiados que chegou em 2018 os Venezuelanos são
apontados como maioria, contabilizando um total de 773 atendidos, representando
25%. Em relação à raça ou cor (auto declaração -seguindo metodologia do IBGE),
40% são brancos, os que se declararam brancos são principalmente sírios. 46%
negros, o que acreditamos demonstrar que houve incômodo apenas diante de certas
perguntas presentes no levantamento, como por exemplo, a questão de gênero.
Dados do Perfil Socioeconômico dos Refugiados no Brasil, traz que 93% (do número
de 487 indivíduos pesquisados) declaram professar alguma religião. Ao se investigar
a crença religiosa, ponto que nos pareceu importante para a questão do aculturamento
35 e para o entendimento da frequência com que realizam os cultos que ocorre pelo
menos uma vez por semana, o que indica, em tese, que a crença faz parte da vida
social do refugiado, constituindo-se assim em importante espaço de integração social,
tais como: o encontro de parceiros, a busca e indicação de emprego, entre outros
fatores tais como moradia, partilha de utensílios, móveis e roupas. 39,96% são
Islâmicos, 17, 86% são católicos e protestantes corresponde a 27,46%.
A espiritualidade está na essência do ser humano, e não depende
necessariamente de experiências religiosas. A espiritualidade dimensiona o sentido
da vida com um dinamismo interno (GONÇALVES, 2013). Com o objetivo de trazer
luz para a compreensão das religiões do mundo contemporâneo, estaremos fazendo
um esclarecimento do que são os protestantes e os evangélicos nesse estudo, pois
vários estudos têm apontado a importância da religião/espiritualidade na qualidade de
vida. O drama do refúgio não faz acolhimento a religião, pois pode envolver qualquer
crença. Atualmente existem inúmeras religiões sendo praticadas no mundo, dentre
elas o Budismo, Judaísmo, Cristianismo Hinduísmo, Islamismo. No âmbito católico, o
compromisso da pastoral junto a migrantes e refugiados é encabeçado pelo Pontifício
Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes instituído por Paulo VI em 1970
e tinha como preocupação oferecer assistência espiritual aos fiéis que se encontravam
longe da sua nação. Do século I ao início do XVI o cristianismo na época tinha como
objetivo propagar a ideia da Igreja Católica no mundo que começou a mudar a partir
do século XVI. Os dois nomes, protestantes e evangélicos referem-se aos cristãos
que romperam com a Igreja Católica durante a Reforma Protestante. O termo
“protestante” : emergiu a partir de divergências de opiniões dentro da Igreja Católica,
em alguns países e no Brasil, o termo “protestante” foi substituído por “evangélico”,
que ocorreu no ano de 1557 (MENDONÇA,1990). Vale destacar que o evangelismo
ou cristianismo evangélico é um movimento cristão protestante que surge da reforma
Protestante. Esse movimento reúne vários outros submovimentos, como por exemplo
a Igreja Batista, o Pentecostalismo, o movimento Carismático e o chamado
Cristianismo (BOHN, 2004).
Para os refugiados a prática de seus costumes religiosos é também a
oportunidade de nos cultos, encontrar e fazer amigos além do apoio mutuo, como
tomar ciência de oportunidade de emprego, apoio na subsistência além de sentirem-
se parte de um grupo. A espiritualidade aponta assim para o sentido da esperança e
da resiliência.
36 3 A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO EM ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS PARA REFUGIADOS
Para a construção de um aporte teórico que pudesse dar conta do objetivo
principal dessa pesquisa, efetuamos uma revisão da literatura com o objetivo de
elucidar a reflexão do papel do psicólogo junto a ONGs que atendem ao público de
refugiados no município de São Paulo. Para o alcance dos objetivos a pesquisa foi
realizada seguindo o caminho: Realizamos um levantamento bibliográfico sobre
trabalhos já desenvolvidos em torno do tema que envolve esta pesquisa. Foram
realizadas buscas na base de dados Google acadêmico, Plataforma BVS-Psi,
integrada à integrada à Scientific Eletronic Library Online (SciELO), no período de
2014 a 2019, foram selecionados artigos publicados em periódicos Qualis/CAPES,
com classificação A1, A2, B1 e B2. A classificação Quali/CAPES fornece informações
sobre a qualidade das produções acadêmicas. Consideramos o material em
português, tendo pelo menos um psicólogo entre os autores. No caso desse
levantamento, o interesse foi por pesquisas sobre Psicólogos atuando em ONGs que
atendem a refugiados. Para tal, utilizamos os descritores “Psicólogo em ONG” AND
“Refugiados” onde relacionamos as publicações sobre o tema mencionados no
Quadro 1. No processo de busca pelos artigos e dissertações relacionados ao tema,
seguimos os passos a partir da definição dos descritores a serem utilizados pelos
critérios de seleção. O levantamento demonstra a forma como o assunto vem sendo
tratado e atualiza as informações sobre os avanços em torno do objeto de estudo
(BASSANI, 2015).
Na revisão, buscamos classificar os artigos, os periódicos científicos (teses e
dissertações), procurando classificá-los por: ano de publicação (de 2014 a 2019) e
objetivo. Considerado o nosso interesse pelo tema da pesquisa, passamos a leitura
dos materiais coletado e à análise, de acordo com o tema abordado e características
metodológicas. Com a temática dos refugiados, os estudos evidenciam temas tais
como: diversidade cultural e as redes de apoio. Com relação a metodologia
empregada, a maioria dos estudos utilizam-se de métodos qualitativos.
Os critérios de inclusão foram: serem artigos ou dissertações relacionados a
atuação de psicólogos em ONG, estarem redigidos em língua portuguesa e terem sido
publicados nos últimos seis anos.
Foram critérios de exclusão: artigos duplicados, artigos de opinião ou de
reflexão, artigos escritos em outras línguas e artigos versando campos de refugiados
37 em cenários de guerra. O resultado na aplicação dos critérios de inclusão e exclusão,
foi um conjunto de apenas doze artigos a ser analisado.
Não identificamos artigos com o tema dos refugiados e a psicologia ambiental,
no processo de pesquisa as bases selecionadas.
Nome artigo Autor Volume e # Relação com o tema
Atuação do psicólogo em organizações não governamentais na área da Educação
DADICO, Luciana; SOUZA, Marilene Proença Rebello de
Atuação do psicólogo em organizações não governamentais na área da Educação. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 30, n. 1, p. 114-131, mar. 2010. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932010000100009&lng=pt&nrm=iso>. acesso em nov. 2018.
Atuação psicólogo ONG foco escolar
Psicologia Escolar em ONGs: Desafios Profissionais e Perspectivas Contemporâneas de Atuação
GALVAO, Pollianna; MARINHO-ARAUJO, Claisy Maria
Psicologia Escolar em ONGs: Desafios Profissionais e Perspectivas Contemporâneas de Atuação. Psicol. Esc. Educ., Maringá, v. 21, n. 3, p. 467-476, Dec. 2017. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572017000300467&lng=en&nrm=iso. acesso em 22 Nov. 2018. http://dx.doi.org/10.1590/2175-35392017021311177.
Atuação psicólogo ONG foco escolar
A atuação do psicólogo em ONG/AIDS
RASERA, Emerson F.; ISSA, Carmem Lucia Graminha
A atuação do psicólogo em ONG/AIDS. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 27, n. 3, p. 566-575, set. 2007. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932007000300015&lng=pt&nrm=iso>. Acesso Nov. 2018. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932007000300015.
Atuação psicólogo ONG para portadores HIV
Atenção Psicológica em Situações Extremas: Compreendendo a Experiência de Psicólogos
VASCONCELOS, Ticiana Paiva; CURY, Vera Engler
Atenção Psicológica em Situações Extremas: Compreendendo a Experiência de Psicólogos. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 37, n. 2, p. 475-488, Jun 2017 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932017000200475&lng=en&nrm=iso>. Acesso em Nov. 2018. http://dx.doi.org/10.1590/1982-3703002562015.
Atuação psicólogo em situações extremas
O psicólogo brasileiro: sua atuação e formação profissional
BASTOS, Antônio Virgílio Bittencourt; GOMIDE, Paula Inez Cunha
Psicologia: Ciência e Profissão Print version ISSN 1414-9893 Psicol. cienc. prof. vol.9 no.1 Brasília 1989 Acesso em Nov. 2018. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98931989000100003
Atuação psicólogo Estudo CRP
O psicólogo no terceiro setor: os sentidos do trabalho no enfrentamento à desigualdade social
SILVA, Camila Young da
Biblioteca PUC, Scielo- mestrado psicologia social, 2011 PUC CP Acesso em Nov. 2018. Disponível em: https://tede2.pucsp.br/handle/handle/16920
Atuação psicólogo ONG – Atuação multifuncional
38 Continuação do Quadro 1: Artigos e Dissertações pesquisados nas bases selecionadas
Serviço de atendimento psicológico especializado aos imigrantes e refugiados: interface entre o social, a saúde e a clínica
MARTINS BORGES, Lucienne; POCREAU, Jean-Bernard.
Estud. psicol. (Campinas), Campinas , v. 29, n. 4, p. 577-585, Dec. 2012. Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-166X2012000400012&lng=en&nrm=iso>. https://doi.org/10.1590/S0103-166X2012000400012. Acesso em Apr. 2019.
Atuação psicólogo ONG – Adequação dos serviços
A política de acolhimento de refugiados –considerações sobre o caso português
COSTA, B. Ferreira. TELLES, Géssica.
COSTA, B. F.; TELES, G. A política de acolhimento de refugiados - considerações sobre o caso Português. REMHU, Revista Interdisciplinar de Mobilidade Humana, v.25, n.51, p.29-46, 2017 Disponível em: http://www.unhcr.org/protect/PROTECTION/3b66c2aa10.pdf. Acesso em: 7 de Julh .2018
Refugiados, políticas de acolhimento
Refugiados e saúde mental-acolher, compreender e tratar
ANTUNES, José António Pereira de Jesus.
Psicologia, Saúde & Doenças, 2017, 18(1), 115-130- www.sp-ps.com DOI: http://dx.doi.org/10.15309/17psd180110 Acesso em: Julh .2018
Refugiados e a Saúde Mental
Migrantes, Imigrantes e Refugiados: a Clínica do Traumático
ROSA, Miriam Debieux
Rosa, M. (2012). Migrantes, Imigrantes e Refugiados: a Clínica do Traumático. Revista De Cultura E Extensão USP, 7, 67-76. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9060.v7i0p67-76 DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2316-9060.v7i0p67-76 Acesso em fev. 2018
Psicanálise, Clínica do traumático, Práticas clínico-políticas
Além-mar: casais de imigrantes haitianos e as redes relacionais
SILVA, S.A.
SILVA, Sidney Antônio da. Imigração e redes de acolhimento: o caso dos haitianos no Brasil. Rev. bras. estud. popul., São Paulo , v. 34, n. 1, p. 99-117, Apr. 2017 . disponível <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-30982017000100099&lng=en&nrm=iso>. https://doi.org/10.20947/s0102-3098a0009. Acesso em: Fev .2018
Rede de apoio
Quadro 1: Artigos e Dissertações pesquisados nas bases selecionadas Fonte: Elaborado pela autora
Os dados apresentados (ABONG, 2002; SILVA, 2006; HADDAD, 2002;
CAMPAGNAC, 2006), permitem identificar uma participação crescente de psicólogos
atuando nas organizações do Terceiro setor, e consequentemente nas organizações
não-governamentais. No entanto, as pesquisas disponíveis em relação aos locais de
atuação dos psicólogos não trazem informações que permitam verificar a ocorrência
desse crescimento no campo da Psicologia.
39 Yamamoto (2007) afirma que há uma crescente presença do psicólogo nas
organizações do Terceiro Setor, voltadas para o bem-estar social, processo que é
interdependente à introdução sistemática do psicólogo no campo do bem-estar social.
Para o autor, estes processos estão associados à expansão dos serviços do psicólogo
para camadas mais amplas da população, ao longo dos quarenta anos de
consolidação da profissão no Brasil.
O psicólogo que participou da pesquisa trabalha na organização há vários anos,
desde 2007 e atuava simultaneamente na ONG e em seu consultório particular.
Descreveu na entrevista diversos aspectos de sua formação, ressaltando partes do
currículo acadêmico e de cursos específicos que influenciaram de algum modo sua
trajetória profissional, como relata:
[...] trabalho com refugiados partiu da atuação em um projeto que atuei por 9
anos, voltado a crianças e adolescentes, com vários programas... [...] Sempre gostei
de trabalhar com populações vulneráveis, que é onde tem um campo para o psicólogo
e foge a proposta de um trabalho mais elitizado.
A maior parte da equipe interdisciplinar contaram ter chegado à ONG por um
interesse ou por experiência profissional anterior na área.
As descobertas, assim como a escassez de estudos a respeito da atuação do
psicólogo em Organizações não Governamentais, levam a refletir a respeito da
atuação do psicólogo deve ser uma tarefa constante e necessária, ainda mais em um
campo incomum como é o das ONGs, campo este permeado de possibilidades e
ambiguidades, no qual essas organizações trabalham fortemente para manter uma
boa relação com o Estado.
40 4 CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA AMBIENTAL No Brasil há poucos estudos sobre a saúde dos deslocados e sobre os
deslocamentos por questões de clima dos refugiados. A população desalojada pelas
mudanças climáticas e pelas catástrofes naturais preocupa autoridades mundiais.
Segundo RAMOS (2011), em sua tese com o título: Refugiados ambientais: em busca
de reconhecimento pelo direito internacional, discorre como na história da
humanidade os relatos de catástrofes naturais, doenças, epidemias, fome e outros
eventos extremos forçam o deslocamento de indivíduos a buscarem garantir a
sobrevivência em locais mais seguros. Guerras e outras formas de violência e
perseguições também levaram o deslocamento forçado no mundo, liderados pelos
problemas na República Democrática do Congo e pela guerra do Sudão do Sul,
gerando a saída de centenas de milhares de refugiados. Nota-se que os países em
desenvolvimento são os mais afetados, onde os fenômenos climáticos apresentam
um papel cada vez mais importante nas ondas migratórias.
Importante trazermos o que são refugiados ambientais. São todas as pessoas
que foram forçadas ou tiveram de sair de suas casas e terras de origem por desastres
naturais, dentro os quais cabe destacar os terremotos, as enchentes, os tsunamis, as
desertificações e secas, e as erupções vulcânicas. Cabe incluir nessas razões de
migrações os fatores recentes do aquecimento global, e inclusive às consequências
causadas pela ação humana, efeitos dos processos de desenvolvimento dos países,
tais como os acidentes nucleares e industriais, e a questão da poluição das cidades.
Ou seja, devido eventos adversos da natureza ecológica, ambiental ou climática. A
definição de refúgio ambiental é dada pela primeira vez por Essam El-Hinnawi (1985),
em relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
41 Those people who have been forced to leave their traditional habitat, temporarily or permanently, because of a marked environmental disruption (natural and/or triggered by people) that jeopardized their existence and/or seriously affected the quality of their life […]. By ‘environmental disruption’ in this definition is meant any physical, chemical, and/or biological changes in the ecosystem (or resource base) that render it, temporarily or permanently, unsuitable to support human life. (EL-HINNAWI, 1985, p. 4)12
De acordo com a ONU, hoje em dia o número de refugiados pelo clima é 4
vezes maior do que o número de refugiados vítimas de conflitos religiosos e políticos.
O deslocamento humano nessa proporção está relacionado ao aumento nas
temperaturas, ao crescimento no número de enchentes, a secas, furacões, terremotos
e outros efeitos causados pelas mudanças climáticas. O ACNUR, reconhece a
gravidade e a complexidade dos fatores ambientais que geram os fluxos de migrantes
e refugiados, e não reconhece a categoria de “refugiados ambientais” como
“refugiado”. Dessa forma, faremos referência às “pessoas deslocadas no contexto das
mudanças climáticas”.
Os dados sobre esses imigrantes que saem de seus países por conta de
fenômenos ambientais e climáticos são ainda incompletos. Segundo o site de
estratégias da ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável), estima-se que,
desde 2008, cerca de 22,5 milhões por ano deixaram suas casas devido a eventos
extremos do clima. Em 2019 de acordo com a Organização Meteorológica Mundial
(OMS), eventos climáticos extremos fizeram um número recorde de sete milhões de
pessoas serem obrigadas a fugir de suas casas ou de seu país. A odisseia em busca
de moradia pode começar dentro do próprio país. Normalmente os refugiados migram
do campo para áreas urbanas, onde enfrentam problemas, já que as habilidades como
o cultivo agrícola não podem ser aproveitadas.
O relatório anual Tendências Globais ou Global Trends, disponível no site do
ACNUR13, acompanha através essa publicação o deslocamento forçado com base
em dados coletados pelo órgão por governos e outros parceiros.
12 EL-HINNAWI, Essam. Environmental refugees. Nairobi: UNEP, 1985. p. 04. Tradução livre: “São pessoas que foram obrigadas a abandonar temporária ou definitivamente a zona onde tradicionalmente vivem, devido ao visível declínio do ambiente (por razões naturais e/ou humanas) perturbando a sua existência e/ou a qualidade da mesma de tal maneira que a subsistência dessas pessoas entra em perigo. [...] Com o declínio do ambiente quer se dizer, o surgimento de uma transformação no campo físico, químico e/ou biológico do ecossistema (ou fonte de recursos), que, por conseguinte, fará com que esse meio ambiente temporária ou permanentemente não possa ser utilizado para assegurar a sobrevivência humana.” 13 Vide O relatório anual Tendências Globais, (ACNUR, 2018).
42 O relatório informa que 68,5 milhões de pessoas estavam deslocadas por
guerras e conflitos, tanto pela primeira vez como repetidamente, o que corresponde a
44,5 mil pessoas sendo forçosamente deslocadas a cada dia (ou uma pessoa
deslocada a cada dois segundos), por conta das inundações, tempestades, incêndios
florestais e temperaturas extremas. Milhares de outras pessoas fogem de suas casas
no contexto de situações de risco, cujo processo é mais lento, como secas ou erosão
ligadas ao aumento do nível do mar. Outras conclusões do relatório são que a maioria
dos refugiados vivem em áreas urbanas (58%), não em campos ou áreas rurais, e que
a população deslocada global é jovem 53% são crianças.
No mundo todo observamos uma crescente preocupação com o meio
ambiente, independentemente de seus objetivos ideológicos ou pelos problemas
ambientais. Os temas da Psicologia Ambiental estão relacionados a busca por
soluções contemporâneas, possibilitando dessa forma os estudos e práticas a partir
de diversas teorias e métodos. A partir da Psicologia Ambiental, buscamos
compreender como a dimensão da Apropriação de Espaço e da Apropriação de lugar,
no impacto ao público dos refugiados. 4.1 A Psicologia Ambiental – Principais Conceitos
A psicologia ambiental surge de contribuições através dos estudos de Kurt
Lewin e de sua preocupação com o ambiente urbano. As maiores influências de
Lewin para a Psicologia Ambiental foram a teoria de campo e a pesquisa ação,
levando a primeira à consideração cuidadosa do ambiente físico nas pesquisas e a
segunda assinalando a importância das pesquisas científicas estarem vinculada às
mudanças sociais.
A Psicologia Ambiental é considerada uma área recente de estudo da
Psicologia e tem como objeto de estudo a pessoa em seu contexto, tendo como tema
central as inter-relações e não somente as relações entre a pessoa e o meio
ambiente físico e social. A Psicologia Ambiental é uma área de ensino e pesquisa no
Brasil, em especial na PUC-SP, com a articulação interdisciplinar com o foco na Saúde
e tem como especificidade analisar como o indivíduo avalia e percebe o ambiente e,
ao mesmo tempo, como ele está sendo influenciado por esse mesmo ambiente
(MOSER 1998, p. 122). O autor traz em sua obra (2002, 2005) a importância de
43 caracterizar as transações pessoa-ambiente em diferentes níveis, contextualizando-
as nos quatro níveis:
1) nível I – o micro ambiente. São os espaços privados. Exemplo: residência,
o espaço privado ou particular no ambiente de trabalho.
2) nível II – nível interpessoal e da comunidade próxima. São os ambientes
compartilhados. Exemplos: espaços semi-públicos, os condomínios residenciais, a
vizinhança, o lugar de trabalho, os parques.
3) nível III – indivíduo comunidade. Exemplos: Espaços públicos coletivos,
como as cidades, o campo, a paisagem.
4) nível IV – nível social. Exemplo: o ambiente global, tanto natural quanto
construído e os recursos naturais.
Moser (2002) afirma que na Psicologia Ambiental, os modos de relação com o
ambiente se constituem como um aspecto importante para o bem estar da pessoa e
considera uma relação à temporalidade e suas articulações ao ambiente físico e
social. As transformações ambientais são demarcadas pelo tempo das relações da
pessoa com o ambiente, integram-se a partir de suas experiências e projetos
pessoais, assumindo assim um caráter interdisciplinar.
O espaço que a pessoa ocupa é um fenômeno associado à apropriação do
espaço. Trata-se do espaço objetivo e subjetivo, por exemplo quando estamos
interagindo uma com as outras. A distância interindividual dá informações sobre o tipo
de relações existentes entre os indivíduos, porque determina a qualidade e a
quantidade de estímulos nela trocadas. É no ambiente que emerge a afetividade,
constituído por objetos naturais e/ou artefatos que servem como pontos de referência
para o sujeito (TUAN,1983, p. 83).
O termo “espaço pessoal” é um conceito introduzido na Psicologia Ambiental
por Sommer (1973) e refere-se a distância espacial, objetiva e subjetiva, entre as
pessoas em interação social, a fim de promover interações positivas e diminuição de
conflitos. Segundo o autor o espaço pessoal é uma área com limites invisíveis que
cercam nosso corpo; é um território portátil, pois pode ser levado para qualquer lugar,
sendo que, dependendo da concentração de pessoas ou da densidade do local, este
território pode se ampliar, diminuir ou até desaparecer.
Para esse estudo, utilizaremos o modelo de apropriação de espaço (POL,
2002) como referência para a análise e discussão das significações. Segundo o autor,
a apropriação de espaço é complexo e constituído por várias dimensões, se
44 organizando através de componentes comportamentais e que supõe ação-
transformação. Baseia em mudanças involuntárias, e é importante na
ação/transformação do espaço, bem como na sua identificação simbólica no conceito
de apego ao lugar.
A ação-transformação representa os comportamentos que a pessoa ou um
grupo tem em relação a um espaço físico.
Para avaliar o processo de apropriação de espaço, em sua circularidade ação-
transformação e na identificação simbólica, nos embasamos nos trabalhos de Bassani
(2019). A autora iniciou projetos de pesquisa, aliados à formação em Psicologia
Ambiental, que enfocavam a apropriação de espaço com diferentes populações e
espaços, através de estudos realizados sobre a apropriação de espaços com família
de agricultores entre 2000 e 2010, estes estudos foram realizados em convênio
interinstitucional da PUC-SP e coordenado pela autora, com a EMBRAPA (Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária), coordenado pelo professor Dr. José Maria
Gusman Ferraz, de 2004 a 2009.
Bassani (2018a) traz que os problemas ambientais contribuem cada vez mais
para a deterioração da qualidade de vida das pessoas, principalmente para as
pessoas que habitam em centros urbanos, e afirma que no processo de uma avaliação
ambiental, a percepção e a cognição estão relacionadas, pois a pessoa percebe o
ambiente e interpreta os estímulos segundo as suas próprias experiências. Também
as mudanças geradas como consequências de desastres sócio naturais ou
imigrações forcadas são modificações nos habitats que impactam os laços sociais e
espaciais da pessoa, afetando os elos e configurando a formação de repertórios de
significados sobre o espaço, e como estes espaços se formam.
As transformações produzidas a partir de desastres sócio naturais e
subsequentes processos de deslocamento alteram o ambiente físico das pessoas,
modificando a construção coletiva de simbolismo e significado espacial, alterando a
própria dinâmica de convivência e a associação de comunidades e grupos.
Moser (2002) além das dimensões espaciais também propõe considerar as
dimensões temporal e cultural levando em consideração o impacto e a contribuição
para o bem- estar do indivíduo em quatro diferentes níveis espaciais: individual,
vizinhança- comunidade, indivíduo-comunidade e social.
Buscamos na Psicologia Ambiental, como a área que permite estudar a relação
entre a pessoa e os mais diversos tipos de ambientes com os quais se relaciona, para
demonstrar a visibilidade da abrangência da área.
45
Figura 5: Psicologia Ambiental Fonte: FARJO, 2019. Bassani (2011) salienta em seus estudos, o contexto dos problemas
ambientais, que implica no estudo das inter-relações pessoa ambiente, transformando
os problemas ambientais em problemas humano-ambientais. A autora incrementa o
conceito ao dizer que as dimensões temporais referem-se tanto às vivências do tempo
horizontal (que é subjetivo), como também o tempo medido pelo relógio (objetivo), no
que diz respeito à informação compartilhada como, por exemplo, dias, semanas e
anos. As duas perspectivas incluem as referências de passado, presente e futuro.
(BASSANI, 2004b). Ressalta, ainda, a importância de se designar o termo “pessoa”
nos estudos sobre a Psicologia Ambiental, compreendendo, as contribuições de
diferentes abordagens epistemológicas para investigação das inter-relações pessoa-
ambiente (BASSANI, 2004a, 2011, 2018b). O termo “pessoa” proposto pela autora,
salienta que as inter-relações ocorrem com o ser humano concreto e com a história
de vida, em um contexto cultural, do Estado de cognição e afetos, com identidade
social e individual. Os estudos da Psicologia Ambiental não enfocam o ambiente físico em si, mas suas características e relações que venham a facilitar ou dificultar as interações sociais e necessidades humanas; envolve portanto, o ambiente social. (BASSANI, 2011, p.12)
Para Moser (2018), o ambiente é o espaço vital do indivíduo, é o seu habitat.
Segundo o autor, o espaço é o primeiro conceito importante e a dimensão temporal é
outro ainda mais relevante e especifico, pois se estende ao mesmo tempo como
projeção para o futuro e como referência ao passado e à história. Moser relata ainda
que considerando o indivíduo, em sua relação com os diferentes espaços, está
46 condicionado pelo contexto cultural e social, que por sua vez se modifica por sua
história e suas aspirações em presença do espaço, tendo por referência as dimensões
sociais e culturais, e é na relação do indivíduo com o ambiente que deve-se levar em
conta, os contextos culturais e sociais em que essa relação se realiza. É a história que
condiciona as percepções e os comportamentos, bem como as necessidades e
aspirações particulares. Esta interação também será tributária da projeção do
indivíduo no futuro, sempre relacionada com o ambiente, com o qual o indivíduo está
em interação.
Lugar é um espaço que identificamos e no qual nos fixamos, por exemplo onde
moramos, trabalhamos, nos divertimos, é a nossa referência. É no espaço ao qual se
atribui o significado em que adquirimos um valor pela vivência e pelos sentimentos.
Por conseguinte, lugar é o espaço com o qual se estabelece essa relação e o que
permite a sua transformação em lugar (ELALI,1997). A criação do lugar é um processo
de troca entre a pessoa e o ambiente que pressupõe vivência, significação,
percepção, apego e envolvimento emocional com o lugar. Enquanto a definição de
espaço era vista como um conjunto de avaliações positivas acerca do ambiente físico,
o lugar constituía-se enquanto local gerador de significados (ELALI, 2011).
Dessa forma, entendemos que se faz necessário discutirmos a questão da
apropriação de espaço e apego ao lugar, como conceitos relevantes para este estudo.
Ressaltamos a importância desta relação, pois possibilita a construção de novos
conceitos no diálogo da psicologia com a Psicologia Ambiental, e o fenômeno do
apego ao lugar, constitui-se objeto de estudo da Psicologia Ambiental.
Utilizaremos o modelo dual circular proposto por Pol (2002), onde o autor traz
que a apropriação do espaço é um fenômeno complexo que envolve dimensões
relativas a: ação/transformação e identificação simbólica. Por meio desse processo,
as pessoas desenvolvem diferentes sentimentos e características de apego ao lugar.
47
• Apropriação de Espaço: Ação – Transformação: São os componentes
comportamentais e podem representam transformações de
características no novo ambiente.
• Apego ao Lugar: Buscamos identificar a possibilidade do aceite do
refugiado nesse novo lugar, com novos costumes, idioma e com uma
cultura diferente a sua de origem.
Figura 6 : Modelo dual de apropriação de espaço com base POL (1999); Fonte: FARJO, 2019.
É na interação com o meio físico e a apropriação do espaço que se dá a
circularidade entre as ações e transformações realizadas em um ambiente físico pela
pessoa bem como a expressão de identificação simbólica gera e é decorrente de
novas ações/transformações.
A palavra apego ao lugar ou place attachment é uma sub estrutura da
identidade pessoal e elucida a compreensão da relação afetiva com o ambiente,
representam memórias, ideias, valores, sentimentos, atitudes, significados e
experiências.
A noção de apego ao lugar está centrada nos sentimentos afetivos que as
pessoas desenvolvem em relação aos lugares onde nascem e vivem, de tal forma que
cumprem assim uma função fundamental na vida das pessoas. O apego ao lugar é
definido por Hidalgo e Hernandez (2001) como o vínculo emocional que se estabelece
entre pessoas e determinados ambientes, constituindo-se um conceito
multidimensional que busca compreender o complexo fenômeno da interação entre
pessoas e ambientes bem como os vínculos que entre eles se estabelecem.
48 Segundo Tuan (1983), o apego ao lugar pode ser definido como o vínculo
emocional firmado com cenários físicos, envolvendo sentimentos derivados da
experiência espacial real ou esperada.
Assim apego ao lugar nos auxilia na análise do porquê as pessoas criam
vínculos com determinados ambientes e que as fazem decidir por permanecer ou
partir para outro.
Considerando a relação emocional que estabelecemos com os lugares, na
formação de um vínculo com esse lugar, no espaço e no tempo, sendo que sua
característica mais marcante é o de manter um grau de proximidade com o objeto de
apego. O conceito pressupõe que não há relação na afetividade humana que não
esteja de alguma forma relacionada aos aspectos de lugar, e considera, de modo
semelhante ao que trata a teoria do apego (BOWLBY, 1997). O autor considerou para
a relação interpessoal, a existência de vínculos emocionais envolvendo a dimensão
física do ambiente, tratada na sua obra de 2002 sobre a teoria do apego.
O conceito de identidade de lugar está conectado à questão do pertencimento
a determinado grupo e local. A construção da identidade é contínua e uma importante
característica do ser humano, entender a sua constituição e os elementos envolvidos
no grupo possibilita compreender as relações.
Os resultados de relacionar e refletir sobre os conceitos de apego ao lugar
baseiam-se nas semelhanças assim como na identificação com o lugar, sentimentos
de satisfação, bem-estar e segurança oriundos das cognições positivas seja por meio
da familiaridade, ou significados atribuído a este lugar que se transformam
continuamente. Todos esses elementos estão relacionados com a variedade e
complexidade dos lugares físicos que definem a existência cotidiana de cada ser
humano no sentido de pertencimento a um lugar (GIULIANI, 2003; 2004).
Em qualquer lugar do planeta, as mudanças climáticas podem levar à
desertificação (processo de modificação ambiental) e à perda da qualidade de vida.
Nos processos de apego ao lugar com os refugiados, as questões culturais e da
linguagem também interferem nesse conceito, pois não conhecer os costumes e o
idioma dificulta essa associação.
A Psicologia tem se aproximado de modo contínuo das discussões acerca
do meio ambiente, onde os estudos sobre as relações humano-ambientais passaram
a ser a pauta de discussão de autores, que abordam a complexa conceituação de
termos como o desenvolvimento sustentável. Para a pesquisa a proposta foi o de
49 articular os textos que trabalhassem estes conceitos propiciando aproximações e
distinções.
A falta de material na produção nacional com atenção aos laços afetivos com
lugares e a apropriação de novos espaços a refugiados, revela um descompasso
compreensível, em certa medida, pelo fato de a produção mais expressiva sobre os
temas refúgio e ONG ser recente.
Um último ponto que precisa ser considerado das contribuições da Psicologia
Ambiental na presente pesquisa: A atuação do psicólogo em equipe interdisciplinar.
Bassani (2011) ressalta que a Psicologia Ambiental, dentre as suas características,
seria interdisciplinar, a partir da origem de vários conceitos, inclusive a de apropriação
de espaço.
Assim, Bassani (2019) sistematiza os procedimentos por ela utilizados quando
do inicio de seu trabalho com pesquisadores da EMBRAPA, junto a famílias de
agricultores. A autora destaca que o profissional de psicologia deveria atentar para os
seguintes aspectos em seu trabalho em equipe interdisciplinar.
a) Informações sobre as áreas e profissionais envolvidos no trabalho em
foco (no caso, a autora estudou as características e autores da
agroecologia);
b) Estabelecimento de pressupostos teóricos, práticos e éticos em comum;
c) Conceitos da Psicologia Ambiental pertinentes a demanda apresentada;
d) Planejamento de métodos de acesso a informações e plano de analise
dos dados obtidos;
e) Discussão contínua com os demais profissionais das equipes sobre o
processo em curso;
f) Retorno à população envolvida (no caso na pesquisa) e abertura
continua para os esclarecimentos a todos os envolvidos;
g) Troca dos conhecimentos entre os pares e fórum das áreas envolvidas
nas equipes interdisciplinares.
As reflexões sobre as articulações entre a Psicologia Ambiental e a Psicologia
Clínica (BASSANI, 2018c), ressalta que a Psicologia Ambiental pode contribuir para a
definição de eixos que articulem a produção de conhecimento em diferentes contextos
em Psicologia Clínica produzindo novas formas de intervenção, prevenção e
promoção da saúde.
50 5 MÉTODO
5.1 Considerações Metodológicas Propusemos realizar uma pesquisa de estudo de caso qualitativo dado que a
pesquisadora buscou com a pesquisa, compreender o universo dos significados, os
motivos, as crenças dos participantes sobre a atuação do profissional de Psicologia
frente a refugiados em uma ONG em São Paulo, e teve como objetivo compreender
os significados do fenômeno. Esse tipo de pesquisa é uma atividade que localiza o
observador no mundo, sendo um recurso valioso tanto para a pesquisa científica como
para as práticas psicológicas.
Minayo (2007) salienta que as metodologias qualitativas são capazes de
incorporar a questão dos significados e da intencionalidade como inerentes aos atos,
sendo entendidas como construções humanas significativas.
De acordo com Denzin e Lincoln (2006) a pesquisa qualitativa surge na década
de 1920 pelos estudos da sociologia e antropologia e pela preocupação em entender
o outro considerando seus hábitos, costume social e a cultura.
De acordo com os autores: [...] a pesquisa qualitativa é uma atividade situada que localiza o observador no mundo. Consiste em um conjunto de práticas materiais e interpretativas que dão visibilidade ao mundo. Essas práticas transformam o mundo em uma série de representações, incluindo as notas de campo, as entrevistas, as conversas, as fotografias, as gravações e os lembretes. Nesse nível, a pesquisa qualitativa envolve uma abordagem naturalista, interpretativa para o mundo, o que significa que seus pesquisadores estudam as coisas em seus cenários naturais, tentando entender, ou interpretar, os fenômenos em termos dos significados que as pessoas a eles conferem. (DENZIN; LINCOLN, 2006, p.17)
Acrescentam que pesquisa qualitativa está inserida em um contexto complexo
pela multiplicidade de métodos que podem ser empregados nesse tipo de
investigação, uma vez que não existe um conjunto distinto de práticas que seja
inteiramente da pesquisa qualitativa. Nas pesquisas qualitativas as observações são
situadas no mundo do observador/pesquisador e no mundo do sujeito, das
experiências que são dos participantes da pesquisa.
Na presente pesquisa procuramos desenvolver a investigação a partir de uma
questão mais ampla sobre a atuação do profissional de Psicologia em Organização
não Governamental, que atende a refugiados. Buscamos propor um procedimento
51 que envolveu o levantamento do trabalho de ONGs no Brasil, articulamos com os
atendimentos a refugiados, verificamos as existentes no Estado de São Paulo, devido
à viabilidade de realização de uma investigação no contexto de um Mestrado,
propusemos e realizamos um procedimento exploratório do campo, incluindo visitas a
ONGs na cidade de São Paulo, realizamos entrevistas informais, levantamos dados
de organizações internacionais e nacionais sobre refugiados, até chegarmos aos
objetivos, proposta a uma ONG específica, elaborarmos os métodos de coleta –
documentos da ONG e entrevistas semiestruturadas – bem como os procedimentos
éticos e plano de análise.
Assim sendo, entendemos que os procedimentos supracitados se refiram a um
estudo de caso qualitativo que, segundo Stake (1994, 1995), se caracteriza não por
um método específico, mas pelo tipo de conhecimento que busca produzir: “Estudo
de caso não é uma escolha metodológica, mas uma escolha do objeto a ser estudado”
(p.236).
Stake (2011) abordou a análise de diversos estudos de caso em suas obras.
Segundo o autor o processo de escolha é o próprio objeto de estudo, deve ser algo
específico e funcional. Refere, ainda, que o pesquisador emerge de uma experiência
social, da observação onde o conhecimento é construído.
André (2013), ao discutir autores que discutem estudos de caso em educação,
destaca que todos mantêm características em comum: [...] a) o caso tem uma particularidade que merece ser investigada; e b) o estudo deve considerar a multiplicidade de aspectos que caracteriza o caso, o que vai requerer o uso de múltiplos procedimentos metodológicos para desenvolver um estudo em profundidade. (ANDRE, 2013, p. 98)
A autora acrescenta que o rigor da pesquisa metodológico “[...] não é medido
pela indicação do tipo de pesquisa, mas por uma descrição clara e detalhada do
caminho percorrido e das decisões tomadas pelo pesquisador ao conduzir seu estudo
[...]” (ANDRÉ, 2013, p. 96).
A partir dessas considerações, passaremos a apresentar o caminho trilhado
pela pesquisadora na presente pesquisa, seu compromisso ético, a fase exploratória,
a delimitação do caso, as análises realizadas.
52 5.1.1 Cuidados Éticos
5.1.1.1 Procedimentos éticos
O projeto considera que a pesquisadora se comprometeu fazer cumprir as
determinações da Resolução CNS/MS 466/2012, complementada pela Resolução
CNS/MS 510/2016, que trata dos cuidados éticos em pesquisa envolvendo seres
humanos. De acordo com o CNS, toda pesquisa com seres humanos envolve riscos
e é preciso ter claro que quanto maiores e mais evidentes os riscos, maiores devem
ser os cuidados para minimizá-los e a proteção oferecida aos participantes. Dessa
forma o pesquisador deve ter claro que nos cuidados éticos da pesquisa há um
componente imprescindível que é a análise de risco (conforme a Res. MS/CNS
466/2102). Nesse sentido, destacamos que o presente projeto considera como
mínimos os riscos aos participantes. Mesmo assim, foi prevista a assistência aos
participantes, caso necessitassem, para atender a possíveis danos imateriais
decorrentes da participação na pesquisa (Res. CNS/MS 466/2012: II.3.1 e II.3.2).
Contudo, tal precaução não precisou ser implementada.
Sendo considerados mínimos os riscos desta pesquisa, é preciso enfatizar que
se trata de uma investigação que contempla contribuições potenciais a serem
oferecidas aos psicólogos e a equipe. Aos participantes foi apresentado e esclarecido
o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (Apêndice C), após a leitura e
concordância de cada participante, foi assinado e uma cópia mantida com cada
participante. Ressaltamos que nos TCLEs da presente pesquisa houve autorização
de cada participante para divulgação de dados que poderiam identifica-los abrindo
mão, portanto, da privacidade de suas participações, ainda que os cuidados de
registro, manutenção das entrevistas realizadas continuem sendo responsabilidade
da pesquisadora. Salientamos, também, que os participantes autorizaram a
publicação em meios acadêmico-científicos.
Como cuidado adicional, portanto, a pesquisadora se comprometeu a enviar o
capítulo referente a Resultados e Análise, para aprovação de cada participante, antes
de realizar a Discussão e conclusões do estudo. Esse procedimento foi realizado,
sendo que os resultados apresentados foram totalmente aprovados pelos
participantes.
53 Acrescentamos que na Autorização da ONG para realização da pesquisa
consta a aprovação pelo responsável administrativo para identificação da Caritas do
município de São Paulo, na pesquisa realizada.
O projeto do estudo, obteve a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em 29 de outubro de 2019, CAAE
23808619.7.0000.5482.
Após a conclusão da pesquisa, os participantes e a ONG poderão ter acesso
aos resultados. Propomos entregar à Instituição uma cópia da dissertação, a fim de
serem apresentados os resultados e conclusões do trabalho realizado, mediante a
defesa pública.
5.1.1.2 Procedimento para construção do caso em estudo 1ª fase: Contato de aproximação com Organizações Não Governamentais (ONG) para
atenção a refugiados no município de São Paulo.
Foi realizada uma pesquisa por internet para identificação de ONGs que
atendessem a refugiados no Brasil, com um histórico de mais de 5 anos de atuação e
acolhimento a essa população, especificamente, na região metropolitana de São
Paulo. Uma lista das Organizações não Governamentais foi elaborada da região de
São Paulo com o endereço, telefone, a área de atuação, além de outras informações
complementares mais gerais, a respeito de características do atendimento de cada
uma delas. A partir dessa listagem, foram realizados contatos telefônicos e levantada
a informação sobre a existência de psicólogos atuando profissionalmente nas ONGs
selecionadas. Houve dificuldade para conseguir o contato com algumas organizações
por meio do telefone indicado no levantamento e, por essa razão, não foi possível ter
acesso a todas as organizações listadas. Dentre as ONGs foram selecionadas três
para a visita de reconhecimento. A referida visita de reconhecimento incluía prévio
contato com o responsável para apresentação das primeiras ideias sobre a pesquisa
e a visita às instalações físicas de cada ONG.
54
Foram objetivos da visita de aproximação ao campo:
a) Conhecer a missão, as frentes de atuação e o propósito da ONG;
b) Verificar se a ONG estava no escopo do projeto quanto à ideia inicial de
uma futura proposta de intervenção com os coordenadores e
voluntários;
c) Viabilizar o interesse da ONG em conhecer a proposta do projeto.
Após as visitas para aproximação ao campo, houve a decisão de realizar a
pesquisa em apenas uma ONG, que compõe o caso no presente estudo, por seu
âmbito de atuação, capilaridade, tempo de atuação e pela disponibilidade em aceitar
a realização da pesquisa. 5.2 Descrição do caso
A ONG foco dessa pesquisa, a Caritas do Brasil, está localizada na cidade de
São Paulo, tem como missão realizar trabalhos no âmbito social e ser o braço
estendido no serviço de sensibilização, animação, articulação e promoção da
caridade, além de refletir com a sociedade sobre as oportunidades de ações
transformadoras a fim de propiciar maior justiça. É uma referência na cidade de São
Paulo, no que diz respeito ao atendimento a pessoas em situação de refúgio. O Centro
de Referência para Refugiados é um dos projetos da Caritas e tem como objetivo o
apoio na integração e proteção de solicitantes de refúgio. Como parte do processo de
escolha do caso, foi enviada uma carta de apresentação para que a coordenação da
ONG pudesse avaliar o projeto de pesquisa, visando obter consentimento para a
coleta de dados. Foi também realizada uma reunião com o coordenador da área de
Assessoria e Comunicação e a Coordenação Geral da Caritas, para esclarecer
dúvidas e apresentar o roteiro da entrevista a ser realizada com as equipes, receber
informações sobre a operacionalização da coleta e estabelecer compromisso ético da
pesquisadora.
A Caritas auxilia as pessoas Refugiadas e solicitantes de Refúgio que chegam
ao Brasil, em serviços tais como o seu enquadramento jurídico e na adaptação social
à sua nova condição de vida. Atua com convênios com o Alto Comissariado das
Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e com o Ministério da Justiça por
intermédio do Comitê Nacional para Refugiados (CONARE). O Centro de Referência
55 para refugiados é um dos projetos da Caritas São Paulo com o objetivo o apoio na
integração e proteção de solicitantes de refúgio no estado de São Paulo. Em Abril de
2020 a Caritas completa 43 anos de trabalho e é uma referência na cidade de São
Paulo, no que diz respeito ao atendimento a refugiados. O trabalho da Instituição,
desde sua fundação em 1847, acontece também em diferentes áreas. Devido ao atual
contexto social e econômico, bem como aos novos fluxos migratórios mundiais.
5.3 Participantes e Critérios para a inclusão
Foram realizadas seis entrevistas na sede da Caritas no município de São
Paulo. Os participantes da pesquisa foram: 01 psicólogo, 02 advogados, 02
assistentes sociais e 01 jornalista, de ambos os sexos, que atuavam na ONG em 2019,
com carga horária de 16 a 44 horas semanais. Os critérios de seleção foram,
exclusivamente, integrar o quadro na ONG, ter interesse no tema e disponibilidade de
tempo para participar das entrevistas, mediante assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), conforme Resolução CNS/MS 510/2016.
Os participantes foram contatados, incialmente, por meio da assessoria de
comunicação da ONG.
5.3.1 Informações sobre os entrevistados
Para atender aos critérios de inclusão dessa pesquisa, os participantes
apresentaram as seguintes características:
• Idades entre 33 a 64 anos
• Dos participantes da pesquisa, 50% eram do sexo masculino e 50% era
do sexo feminino.
• O Tempo de formados é de 16 anos, considerando que uma das
entrevistadas tem 42 anos de formada, seguida de 3 participantes com
19 anos, 15 anos e 9 anos de formado, todos possuem curso Superior.
• Na equipe interdisciplinar há 2 Advogados do sexo masculino, 2
Assistentes Sociais do sexo feminino, 1 Psicólogo do sexo feminino e 1
Jornalista do sexo masculino.
56 • O Tempo médio atuando em ONG é de 9 anos, e na Caritas 5,5 anos.
• Todos os profissionais atuaram antes como voluntários em uma ONG, o
que demonstra que os voluntários são uma força de trabalho importante
e também uma forma de aproximar os profissionais a ONG. A Caritas
conta com 43 voluntários, todos de nível superior, com a seguinte
distribuição em termos de formação acadêmica.
Os dados levantados em nosso estudo, demonstram que a especialização e a
continuidade na aquisição de conhecimento é uma preocupação do profissional que
atua na equipe da ONG. Da população entrevistada, há 1 Doutorando em
Comunicação, 2 mestres em Direito pela USP (Universidade de São Paulo) e UFES
(Universidade Federal Espirito Santo) e 1 Especialista em Saúde Mental, Migração e
Interculturalidade pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo).
As relações de trabalho nas ONGs em geral são caracterizadas pela
informalidade, conforme dados sobre tipo de contratos presentes, esses dados
encontram-se nos anexos.
5.3.2 Métodos de coleta
A entrevista semiestruturada foi escolhida como método principal para coleta
de informações e buscou investigar o que os participantes levam em consideração
para compreender a sua própria atuação. A opção pela entrevista na coleta de dados
se deu pela possibilidade que o método oferece de acompanhar ideias, aprofundar
respostas, investigar motivos e sentimentos, além de permitir observar a maneira
como cada resposta é dada, ou seja, o tom de voz, a expressão facial, a hesitação
etc.
A construção dos itens que compõem os roteiros das entrevistas
semiestruturadas teve como base a literatura anteriormente descrita, bem como os
objetivos da pesquisa. Nas entrevistas abordamos com os participantes os seguintes
temas: formação do psicólogo e do profissional das equipes; conhecimentos dos
processos de adaptação cultural e psicológica; percepções sobre migração e
migrantes; como os psicólogos e os profissionais das áreas lidam com questões
interculturais presentes nos serviços apoio a imigração nos quais trabalham. Os
roteiros das entrevistas previam perguntas, sendo que ocasionalmente a ordem
57 poderia ser alterada para acompanhar o discurso do participante ou para perguntas
de esclarecimento.
As entrevistas ocorreram com o psicólogo e profissionais das equipes
interdisciplinares da ONG, com a utilização de um roteiro de entrevista, elaborado a
partir de variáveis relacionadas aos objetivos da pesquisa. Os roteiros foram utilizados
como base para a entrevista, sendo que ocasionalmente a ordem das perguntas era
alterada para acompanhar o discurso do participante ou perguntas de esclarecimento
eram acrescentadas, de acordo com as características do tipo de entrevista definido.
As entrevistas foram utilizadas para coletar informações a respeito das características
da atuação do psicólogo e dos demais profissionais das outras equipes na ONG
pesquisada. As entrevistas foram realizadas no próprio ambiente de trabalho dos
entrevistados, dentro da ONG, em um local que garantisse o sigilo e evitasse
interrupções, e tiveram uma duração média de 1h e 30 minutos. Os participantes
responderam às questões dos roteiros referentes a suas respectivas profissões e
funções na ONG (Apêndices A e B). Todas as entrevistas foram gravadas, em
gravador de voz de celular da pesquisadora, iphone, modelo 11 e, posteriormente,
transcritas pela própria pesquisadora.
Além das entrevistas, utilizamos como fontes complementares de informação
documentos da ONG, a fim de caracterizar as funções dos profissionais na estrutura
organizacional. Os documentos utilizados foram os disponíveis online no portal da
ONG em São Paulo.
58 6 RESULTADOS E ANÁLISE
O objetivo geral da pesquisa foi o de caracterizar a atuação do profissional de
psicologia sob sua própria perspectiva e sob a perspectiva dos profissionais das
equipes interdisciplinares em uma ONG de atendimento a refugiados, à luz de
possíveis contribuições da Psicologia Ambiental. A ONG foco desta pesquisa é uma
Organização não Governamental que atende aos refugiados no município de São
Paulo.
A fim de proporcionar uma melhor compreensão do estudo, organizamos os
resultados e análises, conforme a nossa proposta metodológica. Foram mantidas nas
transcrições das entrevistas, as características e expressões verbais dos
participantes.
A análise qualitativa dos dados das entrevistas semiestruturadas no estudo,
buscou preservar a relevância e os significados dados pelos entrevistados às suas
próprias colocações, assim como considerar os diferentes contextos nos quais
ocorreram. Primeiramente foi realizada a transcrição das entrevistas, com escuta
atenta ao relato do participante, organizando as transcrições, efetuamos uma pré
análise do material das entrevistas.
Segundo Ezzy (2003), os métodos qualitativos de pesquisa são valiosos para
tentar entender as interpretações dadas pelos participantes; mais do que transferir ou
traduzir resultados para uma página redigida, o escrever do pesquisador remete para
a criação e a forma como são reportados esses resultados, sendo o processo de
escrita implicado na reconstrução multifacetada e multidimensional de informações de
uma história ou sequência linear com início, meio e fim. Dessa forma, nesta pesquisa
qualitativa encontraremos enfoques importantes para analisar os conteúdos obtidos e
aprofundamento dos dados por meio do caso em estudo.
A fim de realizarmos uma análise mais abrangente, foram utilizados alguns dos
conceitos da Psicologia Ambiental, apresentada no capítulo sobre a Psicologia
Ambiental,14 pois entendemos enriquecerem a investigação.
As entrevistas foram organizadas em grandes temas que são:
14 Os conceitos da Psicologia Ambiental encontram-se no capitulo 4.
59 a) Motivos pela opção ao trabalho com refugiados nessa ONG, em
particular;
b) Descrição do trabalho realizado junto aos refugiados: atuação do
psicólogo em articulação com o trabalho dos profissionais das demais
equipes nos serviços prestados aos refugiados na ONG, abordando os
seguintes subtemas:
• Descrição e caracterização da atuação do psicólogo e o trabalho dos
profissionais das equipes nos serviços prestados aos refugiados na
ONG;
• Expectativas sobre o trabalho do psicólogo junto a refugiados;
• Articulações entre a atuação realizada e as expectativas que o
profissional de psicologia tem sobre seu trabalho junto a refugiados,
bem como as dos demais profissionais das equipes que compõem
o atendimento aos refugiados na ONG;
c) Lições apreendidas: Reflexão da pesquisadora sobre o processo de
desenvolvimento da pesquisa.
Por último, compondo a análise das entrevistas, foram acrescentados os
registros da pesquisadora sobre as percepções, o processo e as compreensões sobre
os caminhos percorridos ao longo da pesquisa, compartilhando assim algumas
reflexões pessoais.
Minayo (2000) afirma que a análise de conteúdo verifica hipóteses, ou seja, o
que está por trás do conteúdo relatado e também expressado pelo entrevistado.
Depois de estabelecidas as categorias, a etapa seguinte é o tratamento dos dados,
permitindo inferir no conteúdo comunicado pelo sujeito aproximando-o do tema
proposto pela pesquisa.
Os resultados foram elaborados a partir de uma sequência de etapas:
Os dados relativos à cronologia das entrevistas, presentes na Tabela 1
Tabela 1: Cronologia das entrevistas realizadas DATA ENTREVISTA HORÁRIO ENTREVISTA FUNÇÃO
04/12/2019 13:00 às 15:00h Coordenador 1 04/12/2019 09:00 às 10:30h Coordenador 6 17/02/2020 09:00 às 10:30h Coordenador 3 17/02/2020 14:00 às 15:00h Coordenador 4 04/03/2020 14:00 às 15:00h Coordenador 5 13/03/2020 14:00 às 15:00h Coordenador 2
Fonte: Elaborado pela autora com base nos Dados das entrevistas com os participantes
60 As entrevistas com os profissionais tinham como objetivo investigar quais
seriam as percepções sobre contribuições da atuação do psicólogo, de modo a
analisar como se estrutura a atenção interdisciplinar.
2. Transcrição das entrevistas e organização dos dados de cada participante:
Os dados das entrevistas foram organizados de modo a apresentar, em um primeiro
momento, o conteúdo, a sequência em que as temáticas do roteiro ocorreram para
cada participante. Em seguida, serão apresentados os temas referentes aos objetivos
com a inserção de excertos das entrevistas;
3. Análise dos pontos convergentes e possíveis divergências, sobre a atuação
do psicólogo, seja em relação ao trabalho realizado seja ao esperado, de modo a
integrar as narrativas dos participantes e sugestões sobre a atuação.
Utilizaremos excertos das transcrições das entrevistas, referentes a cada
categoria de análise supracitada. A análise dos conteúdos das narrativas, que
sintetizadas de acordo com os temas das categorias elencadas, possibilitarão a
identificação dos significados do estudo.
61 6.1 Etapas da análise de dados
1. Data e local de entrevista e tempo de duração dos encontros.
2. Transcrição das entrevistas: reprodução de todo o material gravado e
resumo do conteúdo de cada entrevista.
3. Análise temática dos relatos: distinção dos aspectos semelhantes e
possíveis divergências entre os respondentes, comparação das
respostas entre os participantes.
4. Elaboração das conclusões da visão da atuação do psicólogo em Saúde
Mental sob o prisma da equipe interdisciplinar análise à luz da literatura.
Buscamos com essa organização proporcionar fundamentos para o capítulo
seguinte referente à discussão dos resultados, a fim de retomar os objetivos da
pesquisa e elaboração das conclusões e perspectivas sobre a atuação do psicólogo
junto a refugiados sob o prisma da equipe interdisciplinar da ONG em estudo.
Com essa organização esperamos que propicie a necessária fundamentação
de modo a retomar os objetivos da pesquisa e elaboração das conclusões da visão
da atuação do psicólogo, sob sua própria perspectiva e sob a perspectiva dos
profissionais das equipes interdisciplinares e possibilitar a reflexão sobre possíveis
contribuições da Psicologia Ambiental nesse contexto de atenção a refugiados.
Esperamos, também, inserir as reflexões da pesquisadora e possíveis
encaminhamentos para, talvez, uma ampliação das perspectivas para a atuação dos
psicólogos nos serviços para refugiados.
a) Motivos pela opção ao trabalho com refugiados nessa ONG, em particular
Com base nas entrevistas realizadas, pudemos perceber que o motivador da
escolha de atuar em ONG está relacionado também a valores individuais pessoais e
o interesse em atuar com a população que apresenta vulnerabilidade. Os seguintes
excertos das entrevistas subsidiam essas considerações:
62 Coordenador 1:
“(...) Aqui se aprende muito sobre outras culturas e tem a possibilidade de se
doar ao outro completamente. (...) E você está podendo ajudar alguém e acompanhar
a evolução dessa pessoa que foi ajudada.”
“(...) O trabalho na ONG é muito rico. Você viaja o mundo sem sair do lugar”.
Coordenador 2:
“(...) trabalho com refugiados partiu da atuação em um projeto que atuou por 9
anos, voltado a crianças e adolescentes, com vários programas, incluindo um CAPS
infanto-juvenil. Sempre gostou de trabalhar com populações mais vulneráveis, que e
onde tem campo para o psicólogo e que foge a proposta de um trabalho mais
elitizado”.
“(...) Desenvolver habilidades de procurar uma forma criativa de “dar sentido
às coisas”. Acredita que a experiência além do consultório é importante para quem
quer se formar como terapeuta ou como psicólogo social, sendo que a informação a
respeito dessa atuação poderia ser mais transmitida nos cursos de psicologia nas
faculdades”.
Coordenador 3:
“(...) O interesse em trabalhar com imigração nem sei bem direito de onde veio.
Sempre me interessei por geografia, geopolítica, e trabalhando com a população
vulnerável. Esses são interesses pessoais, independente da área”.
“(...) E atuar em uma ONG em São Paulo é uma grande porta de entrada”.
“(...) Um pouco depois que acabei a faculdade, vim para a Caritas. Iniciei o
mestrado em 2014 e tinha bolsa CAPES, com tempo destinado ao estudo, decidi fazer
um trabalho voluntário.
“(...) E tem ressonância com as coisas que acredito”.
Coordenador 4:
“(...) Antes mesmo de terminar minha formação, buscava ter uma experiência
prática.
“(...) Realizei o mestrado com a temática do refúgio, organizando a disciplina
do refúgio na faculdade de direito. Na minha dissertação de mestrado, analisei a
maneira processual em que eram feitas as solicitações de refúgio”.
63 Coordenador 5:
“(...) Essa foi uma decisão que a vida me trouxe.
“(...) Após a morte de meu marido, estava buscando uma colocação no
mercado. Em 2012 comecei um trabalho em outra ONG, trabalhei lá por 8 anos e
organizei e coordenei lá, o eixo trabalho, que não existia. Também queria fazer
diferença na vida das pessoas”.
Coordenador 6:
“(...) Foi a busca de um sentido para a minha profissão. Vi que podia com meu
estudo e os idiomas ajudar no processo de integração dessas pessoas que se
encontram em uma situação de muita vulnerabilidade”.
Os valores que pudemos apreender desses depoimentos versam sobre o
próprio direcionamento profissional, de modo a ressaltarem propósito das próprias
profissões escolhidas: o trabalho para integração das pessoas que compulsoriamente
deixaram seus países de origem com as expectativas de uma vida mais estável e um
futuro de descoberta de um país antes desconhecido.
Atuar em ONGs é um desafio cotidiano para esses profissionais, posto que
exige uma diversidade de atividades realizadas por eles que podem se estender
desde atendimento psicoterápico individual, coordenação de diferentes tipos de
práticas grupais ao apoio na documentação no que diz respeito a violação de direitos
trabalhistas e do consumidor, racismo e xenofobia; e na própria assistência.
A conscientização e a educação no Brasil para a acolhida de refugiados, acaba
favorecendo o desconhecimento sobre a temática gerando receios e preconceitos, o
que impossibilita o atendimento oferecidos pelos programas de assistência, saúde
mental, proteção e integração para os refugiados.
64 b) Descrição do trabalho realizado junto aos refugiados
• Descrição e caracterização da atuação do psicólogo
A ONG possui em sua estrutura uma psicóloga contratada como prestadora de
serviço, que desempenha a função de Coordenadora do Programa de Saúde Mental.
Juntamente com essa profissional, há voluntários que são selecionados anualmente
e destinados a cada programa oferecido pela ONG. Na estrutura, na coordenação dos
demais programas na equipe, temos: 2 Advogados do sexo masculino, 2 Assistentes
sociais do sexo feminino e 1 jornalista do sexo masculino. Dos 6 entrevistados 3
possuem complementação acadêmica (dois advogados são Mestres e 1 jornalista
Doutor).
Dentre os entrevistados, a Coordenação do Programa de Saúde Mental na
ONG exercida por uma mulher, casada de 38 anos, que fez a sua formação acadêmica
em Psicologia na PUC-SP, concluída em 2005. Possui especialização em Psicologia
Clínica e Psicopatologia pela COGEAE-SP (Coordenadoria Geral de Especialização,
Aperfeiçoamento e Extensão). Teve várias passagens profissionais em projetos
voltados a populações vulneráveis e atualmente tem trabalhando na ONG desde
2016, também atua como terapeuta em seu consultório particular.
A atuação do profissional de Psicologia na ONG consiste em atendimentos
individuais e em grupos de escuta para homens e mulheres. Esses encontros são
semanais. Neles são oferecidos a escuta aos refugiados, enfatizando “a palavra” e a
atividade coletiva. Essa escuta ajuda a desenvolver formas simbólicas de
manifestação do sofrimento e a atividade coletiva possibilita que o refugiado descubra
sobre as experiências dos outros que são parecidas com aquelas pelas quais
poderiam ou podem estar passando. Segundo relato da Coordenadora 2:
“(...) Na escuta empática (uma escuta que procura compreender o estado
psicológico, utilizamos de técnicas de participação da conversa/escuta).
“(...) Normalmente observamos que o choque vem por causa do “encontro com
a nova cultura”, outros valores e outra concepção do mundo.
Destacamos, a seguir, a percepção dos profissionais das demais equipes nos
serviços sobre a atuação do profissional de Psicologia, bem como a caracterização
dos principais pontos de convergência dos profissionais que compõem as equipes na
ONG. Como mencionado, são realizados na ONG atendimentos individuais e em
65 grupos de escuta para homens e mulheres. Essa escuta ajuda a desenvolver formas
simbólicas de manifestação do sofrimento e a atividade coletiva possibilita que o
refugiado descubra sobre as experiências dos outros que são parecidas com aquelas
pelas quais poderiam ou podem estar passando. Por outro lado, um dos participantes destaca que o choque não é
necessariamente negativo. Como a Caritas é um lugar de acolhimento temporário, o
Programa de Saúde Mental da instituição também realiza a indicação de outros canais
de atendimento para psicanalistas e psicólogos ligados à Universidades, tais como a
Pontifica Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a UNINOVE, a USP e ao
SEDES-SP (Instituto Sedes Sapientiae). Resgataremos a seguir alguns excertos das
entrevistas:
Coordenador 1:
”(...) Aqui não tem rotina. Um dia é diferente do dia anterior. Os atendimentos
são pesados por natureza e o ambiente nas equipes é leve. A percepção que eu tenho
e que as pessoas que vem A ONG, sentem-se acolhidas.
“(...) O trabalho com essa população é pesado, mas ao mesmo tempo ele é
gratificante”.
Coordenador 2:
“(...) O principal objetivo do meu trabalho é estabelecer uma comunicação, um
vínculo, que é uma das maiores dificuldades de muitos refugiados”.
“(...) O “estresse migratório” e “estresse de aculturação” pode surgir porque no
novo ambiente existem muitas demandas e muitas necessidades com relação ao
refugiado e “ele começa a sentir-se muito ansioso”.
“(...) Às vezes o refugiado deseja conversar pontualmente. Há fases em que
surge a demanda para um atendimento de longo prazo. Mas é difícil ‘ter perna’. “
“(...) Os casos são normalmente encaminhados para clínica escola e é avaliado
caso a caso”.
“(...) Na escuta empática (uma escuta que procura compreender o estado
psicológico), utilizamos de técnicas de participação da conversa/escuta”.
“(...) As vezes não e só a questão de ser gratuito o serviço, mas o transporte é
caro e entre gastar com transporte para uma entrevista de emprego e um atendimento,
o primeiro ganha”.
‘(...) No ano passado várias pessoas que estavam no programa ou em
atendimento individual ou em rodas de conversa, não puderam continuar vindo pela
questão da verba destinada ao transporte”.
66 “(...) Muitos migrantes veem ao Brasil por que escutaram que alguém (amigo,
parente) conseguiu uma vida melhor aqui; eles pensam que “o Brasil vai ser uma terra
de oportunidade, vai acolhê-los, e muitos se decepcionam e acabam conhecendo o
racismo chegando ao Brasil”.
“(...) Os processos psicológicos que normalmente percebemos quando o
refugiado chega é o desenraizamento, que é entendido como perda da cultura e
costumes originais; se a pessoa consegue se adaptar, a flexibilidade, acho possível
que cada vez tenha mais inclusão”, também há os efeitos psicológicos de adaptação
efeitos que ocorrem as vezes sem sucesso.”
Coordenador 3:
“(...) O fluxo das outras áreas é mais intenso no sentido de que todos eles
atendem aos refugiados, que precisam de várias coisas, chegam com muitos
problemas. Assistência, Proteção e a Saúde Mental tem uma carga mais pesada”.
Coordenador 4:
“(... ) As pessoas não estão habituadas, muitas vezes não conhecem o trabalho
do psicólogo”.
“(...) Normalmente observamos que o choque vem por causa do “encontro com
a nova cultura”, outros valores e outra concepção do mundo”.
Coordenador 5:
“(...) A área de Integração atue de forma mais expansiva. Hoje a atuação maior
e em cursos com vários parceiros. Com as parcerias movimentos incríveis acontece.
Hoje a única coisa que faz é uma mentoria, preparação de curriculum etc. Essa é o
tipo de demanda que nos chega. Além dos documentos que o refugiado precisa para
o trabalho”.
Coordenador 6:
”(...) No Centro de Referência. São diversas as demandas. Fazemos o
atendimento quase que holístico voltado ao refugiado. Esse é um espaço de
referência muito reconhecido, então chega um refugiado na Polícia federal e eles
encaminham para cá, assim como vem refugiados de outras ONG”.
“(...) O cuidado com a Saúde Mental é ainda muito superior que a Promoção da
saúde psicológica. Que é uma característica da ONG, sendo esse espaço da Saúde
67 Mental o de primeiros socorros. É natural que o cuidado da saúde mental seja maior
que o dá a promoção da saúde”.
Como pontos de convergência encontramos a importância da atuação
interdisciplinar, pois favorece o ganho de novas competências e conhecimentos, na
busca de um melhor encaminhamento dos casos. Possíveis divergências não foram
identificadas na forma da atuação da equipe interdisciplinar na ONG, o que demonstra
que todos os participantes têm clareza do seu papel e comungam dos valores e
princípios da ONG em que trabalham.
Quando questionamos quais foram as dificuldades que identificam em sua
abordagem aos refugiados em suas atuações, relatou:
Coordenador 1:
“(...) O tamanho da equipe. Dado a quantidade de ‘nãos” que temos que dar e
o atendimento que suga”.
“(...) Dificuldade de ter mais recursos para atuar na ONG. Hoje contamos
basicamente com voluntários”.
“(...) Tivemos algumas capacitações oferecidas pelo ACNUR, mas são pontuas,
não tem um trabalho de qualificação da equipe”.
“(...) Ampliar para outras parcerias, como por exemplo temos o atendimento
odontológico com a UNINOVE entre outras parcerias importantes”.
“(...) Ter mais tempo para realizar as visitas em campo. “(...) Quando você vai
fazer a visita você vê o quanto essa aproximação sensibiliza a pessoa atendida.
Conhecer a realidade dela, em lugares precários e na maioria das vezes distantes do
centro da cidade”.
Coordenador 2:
”(...) O atendimento na área de Saúde Mental é Individual e em grupos. Em
grupos são feitos rodas de escuta para homens e mulheres. Para grande parte do
público no Programa são realizadas em média de 1 ou 2 conversas. No começo eu
acreditava que era uma questão de adesão, mas depois eu vi que não, tem a ver com
o perfil e a demanda”.
“(...) por exemplo o papel do psicólogo é o de procurar ajudar os refugiados a
reconstruírem o seu mundo simbólico para estarem seguros e se orientar fora dele na
adaptação do novo contexto”.
68 “(...) As barreiras culturais e linguísticas complicam o trabalho do psicólogo;
portanto, ele “tem que ser muito criativo” para se aproximar do refugiado”.
“(...) A grande parte do público atendido não quer falar sobre o luto no país
de origem eles querem falar do que está acontecendo aqui, da dificuldade de
adaptação, isso eu desmistifiquei vindo trabalhar aqui. São muitos poucos os casos
que querem falar o que aconteceu com eles, antes de chegarem ao Brasil. Trazem
questões em relação a adaptação a nova cultura, idioma, racismo, dificuldade de
conseguir trabalho, que podem gerar conflito em relação as suas histórias, sua origem
e em como conciliar essas duas culturas”.
“(...) Normalmente o vínculo no atendimento psicológico está: com a ONG, a
mudança gerada por um encaminhamento pode gerar desconfiança por parte do
refugiado. Assim que os encaminhamentos individuais é sempre um desafio”.
“(...) é importante que a pessoa possa trazer daquilo que é dela para ser
compartilhado”.
“(...) esse acesso é muito importante para que a pessoa não reviva essa
experiência”.
“(...) Um grande desafio é o de tentar desconstruir, por vários períodos tivemos
grupos de escutas de mulheres e houve um grupo de escuta de homens juntamente
com o atendimento individualizado. Os grupos de escuta não eram um grupo grande
eram de 3 a 4 homens e fazíamos aqui mesmo na sala de atendimento do programa
de Saúde Mental. Já experimentamos também grupos de escuta aberto e fechado,
que se realizam de acordo com a demanda e público”.
Coordenador 3:
“(...) As 16 horas limita a realização do trabalho, claro. Tenho demanda para 40
horas ou mais. O ritmo de trabalho versus a capacidade de entrega”.
“(...) Outra frente importante é começar a produzir conteúdos, como por
exemplo artigos etc. Gostaríamos que a ONG fosse uma fonte de informação”.
“(...) Infelizmente não tem um trabalho voltado para a equipe. Como somos uma
equipe única, há sempre o apoio mútuo entre as equipes, mas ele não está
estruturado”.
“(...) Desenvolver laços com as pessoas e visitar as comunidades, ir cada vez
mais onde ninguém quer ir”.
69 Coordenador 4:
“(...) Dificuldade de ter mais recursos para atuar na ONG. Hoje contamos
basicamente com voluntários”.
“(...) O número de horas que tenho alocado na ONG limita a realização dos
trabalhos”.
“(...) Há várias dificuldades que vão aumentando com a dificuldade de se
estabelecer no novo país, para os refugiados e para quem os atende. Os refugiados
vem para a ONG e vão nas outras ONGs também . Não há um cadastro único cruzado
entre as ONGs”.
“(...) É difícil essa pergunta, porque a gente acaba meio que no fluxo de
atendimentos não dando conta de fazer uma busca ativa”.
“(...) Estimular que as pessoas possam criar as suas próprias redes de
segurança. Criando vínculos com vizinho por exemplo. Outra coisa seria ampliar as
visitas as comunidades”.
Coordenador 5:
“(...) em uma conversa com os refugiados buscamos a resgatar a história de
vida, a cultura (...) brincadeiras com a língua, com símbolos do lugar de onde a pessoa
veio”.
“(...) Muitos migrantes “nem imaginavam que iam ter que ficar em algum
abrigo”. Por que a pessoa pode vir aqui com recursos financeiros e com formação,
mas não conseguem o trabalho rápido tendo que ficar gastando esse pouco dinheiro,
e de repente percebem que não tem mais nada, ou muitas vezes eles são
surpreendidos por roubos, levam todos os documentos, todo o dinheiro, e acabam
numa situação que não esperavam”.
“(...) Reajustar os programas que já existe na ONG e atuar mais próximo as
empresas”.
“(...) Que a área atue de forma mais expansiva. Atuar mais próximo aos
gestores das empresas que contratam esse recurso”.
“(...) Infelizmente não há um banco de dados de curriculum de refugiados de
forma integrada”.
“(...) Poder ter uma perspectiva do que tem de ser feito antes e não apagar
tantos incêndios. Trazer uma integração maior entre as 4 áreas de atendimento”.
“(...) Ampliar mais as Parcerias com Universidades e com pesquisadores”.
70 Coordenador 6:
“(...) Ter as informações no sistema e de fácil manuseio. Por exemplo a
reunião quinzenal, ocorre as quartas feiras, neste dia não tem atendimento. E um dia
reservado para estudo (capacitação em cursos/ fazer artigos ) e bem estar (cuidar da
integração da equipe/cuidar do lúdico). Essas coisas deveriam ser colocadas na
agenda de quarta feira, porque o trabalho é muito exaustivo. A equipe lida com dramas
muito fortes, então é importante que a equipe se cuide para se distanciar, para a
equipe tem que fazer um trabalho de comunicação e capacitação”.
“(...) Desenvolver para a equipe, um trabalho de comunicação e capacitação”.
A aproximação com a entidade em foco possibilitou a observação de alguns
desafios e dificuldades. De uma maneira geral, a dificuldade na linguagem (domínio
por parte da equipe de outros idiomas), a falta de recursos financeiros e humanos, a
sobrecarga de trabalho, a dificuldade na captação de recursos financeiros é recorrente
dentro da entidade, sendo este também um desafio enquanto Estado e sociedade
civil. Empregabilidade, saúde pública e educação são pontos importantes a serem
discutidos no momento do acolhimento.
A força do trabalho na ONG está alicerçada no trabalho dos voluntários, para a
composição das equipes nos programas oferecidos, um participante da pesquisa
mencionou que não há diferenças no comprometimento do voluntário em relação ao
comprometimento de um funcionário contratado. Dessa forma entendemos quando
os participantes mencionam a preocupação com a qualificação dos voluntários, ela é
coerente com a profissionalização com a qual a ONG pesquisada têm se preocupado,
contudo não apareceu nas verbalizações dos participantes como um ponto de
atenção.
Este dado está de acordo com a afirmação de Azevedo (2007), que constata
que a gestão de pessoas nas organizações do Terceiro Setor brasileiro, em especial
no que se refere aos voluntários, é uma preocupação, principalmente porque para
muitas ONGs o voluntariado é apenas visto como uma ajuda a um ato de
solidariedade. Sobre a qualificação para os voluntários, poderia justificar as diversas
iniciativas da ONG no programa de seleção e formação desses voluntários na Caritas,
no sentido de melhorar a qualidade da participação desses recursos, capacitando-os
para uma atuação mais abrangente e independente.
As avaliações que o profissional de Psicologia faz sobre sua inserção na ONG
e sua atuação frente aos refugiados impulsionando ações transformadoras entre as
71 equipes, bem como a avaliação da equipe sobre a inserção do psicólogo na
Organização, e são consideradas como importantes no processo de refúgio. Mas há
uma limitação de recursos e profissionais e há também a questão da capacitação da
equipe, que ainda não está estruturada.
c) Quanto ao fluxo do trabalho em um dia típico e em um dia atípico
- Típico:
As situações mais típicas envolvem atendimentos previamente agendados e os
profissionais consideram situações atípicas as situações que fogem ao “esperado”.
Como são os casos de violência doméstica ou a chegada de um menor de 18 anos
de idade, desacompanhado da família. Nesses casos, são necessários os devidos
encaminhamentos, como por exemplo no caso de violência doméstica, a delegacia da
mulher e no caso de menores desacompanhados o acionamento do Conselho Tutelar.
Destacaremos alguns trechos das entrevistas que ilustram o que os participantes
consideraram como um dia típico e um atípico, a seguir.
Coordenador 4:
“(...) É feita uma entrevista, individual, um trabalho de escuta. Verificamos qual
(quais) são as necessidades das pessoas. O que chamamos de “casos novos”. São
encaminhados para o Programa de Acolhida, que é o primeiro serviço que os
refugiados acessam”.
“(...) Todas as pessoas que passam pela ONG têm uma grande demanda
jurídica: Trabalho/contrato, família etc. Que é a primeira que aparece”. “(...) Como atuação rotineira estão os atendimentos individuais. São em média
de 7 a 8 pessoas a serem atendidas por turno (manhã e a tarde) já previamente
agendadas que passarão pelas entrevistas. As pessoas que são público alvo serão
apresentados os serviços oferecidos pela ONG e encaminhadas aos serviços
identificados, como trabalho, validação de diploma, problema no aluguel, ajuda
assistencial etc. Não são atendidas no mesmo dia, é feito o agendamento e outro dia
elas voltam”.
Coordenador 5:
“Por exemplo um dia típico e quando cumprimos nossa agenda de cursos e
palestras. Um dia atípico é quando temos algum problema com algum refugiado em
uma empresa onde precisamos entender o que está acontecendo. Um exemplo:
marcamos entrevista e a pessoa não vai”.
72
Coordenador 6:
“(...) Um dia atípico é um dia não silencioso, onde você não consegue
desenvolver um trabalho de começo ao fim. Hoje existe uma ideia de apagar
incêndios, o que é muito ruim”.
- Atípico:
Coordenador 1:
“(...) Como atípico são atendimentos que envolvem crianças.
“(...) Às vezes acontece quando chega um menor desacompanhado da família.
Quando chega um menor desacompanhado na portaria, temos que acionar o
Conselho Tutelar”.
Coordenador 2:
“(...) Não dá para prever as histórias. Quando há muita vulnerabilidade o
pessoal da acolhida (que é o primeiro programa) ofertam os serviços oferecidos pelo
Caritas. Muitas pessoas chegam, relatam as suas histórias, mas não querem falar
com a Saúde Mental”.
Coordenador 3:
“(...) Aparece uma demanda onde as pessoas querem informações para última
hora e é preciso ter jogo de cintura. Não temos autorização para filmagens dentro da
ONG isso também esgota porque as pessoas querem filmar, tirar fotos etc. Para isso
precisa de uma autorização prévia. Também a organização de eventos é sempre
complicado”.
“(...) As vezes gasto muito tempo com demandas de dúvidas gerais, com muitos
e-mails”.
73 d) Quando questionados o que fariam de forma diferente, relatam:
Coordenador 1:
“(...) Ampliar para outras parcerias, como por exemplo temos o atendimento
odontológico com a UNINOVE entre outras parcerias importantes.
“(...) Ter mais tempo para realizar as visitas em campo. “(...) Quando você vai
fazer a visita você vê o quanto essa aproximação sensibiliza a pessoa atendida.
Conhecer a realidade dela, em lugares precários e na maioria das vezes distantes do
centro da cidade”.
Coordenador 2:
“(...) Não há acompanhamento dos casos, depois que se tem alta, esse é um
aspecto que precisaria de melhora.”
Coordenador 3:
“(...) Gostaria de poder gerar mais visibilidade para a ONG”.
Coordenador 4:
“(...) O estabelecimento do laço de confiança não pode ser interrompido. No
caso de violência sexual, aí sim envolve o pessoal da Saúde Mental, muitas vezes no
meio da entrevista já identificamos que há uma fragilidade emocional ou uma
desorganização no relato que precisa de um apoio da área da Saúde Mental”.
“(...) Nos casos que identificamos que a pessoa ou a família tem uma situação
grave, nos reunimos e tentamos/buscamos fazer um atendimento conjunto
interdisciplinar”.
Coordenador 5:
”(...) A atuação e departamentalizada. Os casos são discutidos nas reuniões de
equipe”.
74
Coordenador 6:
“(...) Não entendo que vamos atender até aqui e vamos encaminhar para outra
organização. Um NPQ (Núcleo de Proteção) ou para um Veredas. Acho que é muito
fluido não existe uma regra”.
“(...) A demanda para a saúde mental dos pacientes vem normalmente dos
demais setores, principalmente pelo setor de proteção. Mas também a Saúde Mental
atua de forma mais integrada com as áreas de Integração e Assistência, que tem um
olhar cuidadoso”.
e) Do trabalho interdisciplinar e o acompanhamento dos casos.
Aspectos em sua rotina quanto a atuação interdisciplinar.
Os 6 participantes entrevistados mencionaram a questão da
interdisciplinaridade na forma de atuação.
Coordenador 1:
“(...) Há várias situações de trabalhos interdisciplinares. Com alguns
programas, pela similaridade de demandas ele ocorre mais frequentemente. “(...)
Como são os casos de violência doméstica.
“(...) Um psicólogo na ONG ajuda a ter uma visão mais ampla dos processos
que estão ocorrendo, da dinâmica e dos mecanismos que essas famílias usam para
se defender e para sobreviver”.
“(...) A ONG é uma escola, porque atuamos em equipe interdisciplinar. Não
tem rotina. Um dia é diferente do dia anterior. Um diferencial é o ambiente de trabalho.
Os atendimentos são pesados por natureza e o ambiente nas equipes é leve. Um
apoia o outro”.
“(...) A gente procura através da reunião de equipe trocar alguns casos mais
difíceis, temos procurado fazer o acompanhamento dos casos em cada um dos
programas, por exemplo dados da visita ao domicilio do refugiado, fazer a troca de
informação na gestão dos casos na própria reunião da equipe”.
75
Coordenador 2:
“(...) A ONG conta com parcerias com clínicas escolas mas a mudança no
encaminhamento pode gerar desconfiança por parte do refugiado. Sendo assim,
realizar os encaminhamentos individuais é sempre um desafio”.
“(...) Temos uma reunião de gestão. São apresentados as questões de fluxos
e encaminhamentos, mas também são discutidos os casos mais emergentes ou de
maior destaque”.
“(...) Como sugestão ter pessoas especialmente treinadas para as
necessidades específicas dos refugiados. Hoje cada profissional exerce seus
conhecimentos em áreas específicas em prol da causa”.
Coordenador 3:
“(...) Enquanto área, atendo hoje as várias demandas como por exemplo de
pesquisadores e dúvidas gerais, assim como forneço conteúdo sobre o ONG. A área
é a porta de entrada da Instituição”.
“(...) Seria importante uma atuação mais próxima entre os programas”.
“(...) Para fazermos um trabalho conjunto de forma interdisciplinar passa pela
questão de tempo de reunião até a definição das prioridades de cada programa.
Temos uma reunião semanal com todos os coordenadores onde discutimos casos
específicos, agenda de eventos, entre outras agendas já acordada com o ACNUR. A
Coordenação tem o que precisa para cobrar a equipe”.
“(...) Entendo que o fluxo das outras áreas é mais intenso no sentido de que
elas atendem aos refugiados, que tem várias demandas”.
“(...) A minha demanda é mais administrável com relação aos prazos, por
exemplo, porque não envolve o atendimento aos refugiados”.
“(...) As vezes gasto muito tempo com demandas de dúvidas gerais, com muitos
e mails.
“(...) Gostaria de poder gerar mais visibilidade para a ONG.
76 Coordenador 4:
“(...) Na entrevista inicial, é aí que temos um link interessante com a Saúde
Mental, porque nessa entrevista inicial fazemos o filtro e a identificação de
necessidades especificas. A continuidade dos atendimentos depende desse filtro”.
“(...) Nos casos que identificamos que a pessoa ou a família tem uma situação
grave, nos reunimos e tentamos/buscamos fazer um atendimento conjunto
interdisciplinar. O encaminhamento se dá através de uma por ficha de
encaminhamento com informações mais detalhadas, com observações do
entrevistador. Se for emergência, por exemplo a pessoa está muito abalada,
chamamos por exemplo a Saúde Mental para atender junto. Mas o serviço de Saúde
Mental, não é algo imposto. Há uma questão cultural”.
“(...) A pessoa para atuar nessas causas com os refugiados deve ter empatia.
É importante se colocar na dor e no sofrimento do outro. Nem sempre a gente tem
uma resposta, mas é importante saber escutar”.
“(...) A dinâmica dos atendimentos se dá em São Paulo, há uma explicação
genérica sobre os critérios para a solicitação de refugio e o refugiado passa por uma
entrevista individualizada. Aqui é que a ONG e a área de Proteção se destaca. Os
profissionais da ONG estão capacitados para fazer essa entrevista, e é nela que são
feitas algumas perguntas chaves”.
“(...) Importantíssimo a troca entre os programas na atuação interdisciplinar.
Saber se relacionar bem com outras equipes é fundamental para poder atuar de forma
completa”.
“(...) A pessoa para atuar nessas causas com os refugiados deve ter empatia.
É importante se colocar na dor e no sofrimento do outro. Nem sempre a gente tem
uma resposta, mas é importante saber escutar”.
77 Coordenador 5:
“(...) Percebo a atuação das equipes ainda muito departamentalizada. Poderia
haver mais troca, mas entendo a limitação de recursos”.
“(...) Vamos falar sobre ambientação, é importante que o refugiado entenda
quais as necessidades desse novo lugar. Como eles se desempenham. É importante
estar sensível e falar das questões culturais, como por exemplo aperto de mão, olho
no olho etc”.
Coordenador 6:
“(...) Importantíssimo a troca entre os programas na atuação interdisciplinar.
Saber se relacionar bem com outras equipes é fundamental para poder atuar de forma
completa”.
“(...) As reuniões quinzenais com toda as equipes é uma atividade nova. A
pauta e dividida em casos mais graves onde precisa um diálogo entre os setores e
também para as questões mais administrativas, os recados que precisam ser
passados, e ou eventos que é preciso criar um método e um cronograma /plano de
ação. Ainda está muito devagar e solto. Mas já e uma mudança na forma de atuação”.
“(...) O trabalho se dá de forma transversal e interdisciplinar “(...) O Programa
de saúde mental na ONG é destinada para o cuidado, bem como para a promoção da
saúde mental, sendo o cuidado no atendimento individual ou no atendimento em
grupo”.
“(...) É uma preocupação da profissional da Saúde Mental apoiar a equipe. Ela
costuma dar alguns toques para que a equipe, como por exemplo, para não atender
de maneira ansiosa um paciente que venha com um quadro de angustia e grande
ansiedade, por exemplo”.
Após a transcrição e leitura das entrevistas realizadas, dividimos os conteúdos
das entrevistas. Dos seis entrevistados, cinco mencionam a interdisciplinaridade como
um fator diferenciado na atuação entre os Programas oferecidos pela ONG. Quanto à
atuação do psicólogo e a interdisciplinaridade entre os programas, consideramos a
compreensão dos entrevistados sobre o que o programa oferece como proposta.
Todos os entrevistados reconheceram a relevância do recurso do psicólogo para a
ONG.
A seguir, o quadro com o relato das entrevistas sobre a Interdisciplinaridade.
78 Visão - Programa Verbalização dos entrevistados
Proteção
“(...) Todas as pessoas foram entrevista com os advogados do Programa de Proteção e Acolhida. Esse é o primeiro encaminhamento que recebem. Esse é um programa essencial, ou seja, todos precisam passar por ele. Aquela pessoa é avaliada se está nos critérios de ser considerada um “refugiado”. Todos os outros programas não são essenciais, e ofertado, e a pessoa participa se tem interesse”. “(...) Na conversa inicial com a Proteção, entendemos a elegibilidade. Para entender se ela é elegível para o refúgio. Claro que há casos de dúvida e nesse caso ela entra no fluxo de atendimento até termos mais clareza do caso dela. Aí temos um link interessante com a Saúde Mental, porque nessa entrevista fazemos o filtro e a identificação de necessidades especificas”. “(...) O Programa de Saúde Mental é ofertado, na acolhida inicial . Se quiser passar pelo programa, falar sobre qualquer assunto, que esteja o angustiando no presente momento ou que seja anterior, do período em que passou no seu país de origem. O Programa está aberto, mas é um percentual pequeno de pessoas que procuram o Programa de Saúde Mental.”
Coordenação Geral
Segundo o Coordenador de Proteção. “(...) O Programa de Saúde Mental é afetado, na acolhida inicial. Se quiser passar pelo programa, falar sobre qualquer assunto, que esteja o angustiando no presente momento ou que seja anterior, do período em que passou no seu país de origem. O programa está aberto, mas é um percentual pequeno de pessoas que procuram o Programa de Saúde Mental”.
Integração
“(...) É feito uma entrevista inicial pela área de Proteção que encaminha os casos. Há uma reunião com um fluxo de encaminhamento e reuniões de troca dos casos mais emergenciais. (reunião Momento de SER).Trata-se de uma reunião da equipe interdisciplinar.
Assistência
“(...) Há hoje um limite institucional. Demanda v.s. capacidade instalada”. O dia precisaria ter mais horas e com uma equipe maior. Ficamos muito presas ao atendimento na sede da Caritas, porque ele tem uma demanda altíssima. O volume de atendimento é muito grande e muitas vezes ficamos sem tempo para fazer outros trabalhos como os contatos de redes, as visitas.”
Saúde Mental
“(...) As vezes as pessoas das outras equipes acreditam que aquele refugiado precisa atendimento, mas não é uma demanda do refugiado. E pode soar agressivo. Tem toda uma delicadeza. É importante que eu entenda como se deu a conversa com o atendido. Só depois desse levantamento inicial e que é agendado um atendimento individual”. “(...) Não dá para prever as histórias. Quando há muita vulnerabilidade o pessoal da acolhida (que é o primeiro programa) ofertam os serviços oferecidos pela Caritas.
“(...) A Saúde Mental na Caritas é destinada para o cuidado bem como para a promoção da saúde mental, sendo o cuidado no atendimento individual ou o atendimento em grupo. Então temos o atendimento das pessoas em consultório mas como não temos tanto tempo assim. Então normalmente quando a pessoa está de alta ou já esta um tempo aqui ela acaba sendo encaminhada aos serviços que existem, fora da Caritas.
Relações Externas
“(...) Minha área tem inter-relação com todos os programas. ... O fluxo das outras áreas é mais intenso no sentido de que todos eles atendem aos refugiados, que precisam de várias coisas, chegam com muitos problemas. Assistência, Proteção e a Saúde Mental tem uma carga mais pesada. Demanda um outro preparo para o atendimento ao público atendido
Quadro 2: Interdisciplinaridade: Mapeando da percepção em relação ao serviço de Saúde Mental na Caritas. Fonte: Elaborada pela autora com base nos Relatos das entrevistas com os participantes.
79 Com relação a interdisciplinaridade entre as equipes, ela é favorecida por meio
das reuniões semanais, com a participação da equipe técnica (coordenadores de
cada Programa) com a participação da Coordenação Geral, e tem como objetivo
trocar informações e socializar o conhecimento. Há também as reuniões informais
(agendadas diretamente entre os programas quando necessário), tem como objetivo
identificar mudanças no público atendido, verificar os resultados dos programas,
assim como discutir casos e identificar demandas especificas.
Verificamos que a interdisciplinaridade é um fator importante na atuação. Além
de perceptível por meio das verbalizações dos participantes da pesquisa, a
interdisciplinaridade se dá a medida que o psicólogo e outros profissionais discutem
os casos complexos, coordenam grupos de ajuda ou terapêuticos, ministram palestras
e participam das visitas domiciliares por vezes em conjunto, tomando decisões que
emergem de um debate entre os profissionais envolvidos na realização das atividades.
Os coordenadores dos programas auxiliam na identificação das demandas e realizam
encaminhamentos para atendimento. Assim a visibilidade e o reconhecimento da
necessidade da atuação, são imprescindíveis para que haja interdisciplinaridade que
possibilitam a comunicação e ocupa um papel primordial em qualquer equipe com
atuação interdisciplinar. Conforme relato de um dos participantes:
Coordenador 2:
“(...) Um psicólogo na ONG ajuda a ter uma visão mais ampla dos processos
que estão ocorrendo, da dinâmica familiar, dos mecanismos que essas famílias usam
para se defender e para sobreviver”.
f) Com relação ao espaço físico para realizar as atividades na ONG.
Coordenador 1:
“(...) Os atendimentos com o grupo da Assistência, ocorrem em salas
compartilhadas muitas vezes. Mas também utilizamos das salas individuais.
Coordenador 2:
“(...) Estar na região central e um diferencial para a população atendida. Há
uma sala para o atendimento individual no Programa de Saúde mental e as rodas de
conversa ocorrem na sala anexa a recepção”.
“(...) Os atendimentos acontecem em sala individualizada”.
80 Coordenador 3:
“(...) Apesar da especificidade da área de Saúde Mental, os outros programas
indicam / os programas encaminham demandas de atendimento para a Saúde Mental.
As vezes um caso específico passa por todos os programas, porque ela não vem com
uma única demanda, os refugiados vem com várias demandas associadas.
Coordenador 4:
“(...) A configuração do espaço físico para a equipe Proteção e Acolhida é
diferente: São várias salas pequenas para atendimento individualizado, por conta da
vulnerabilidade. “(...) É um espaço mais reservado para ela se abrir criando um vinculo
de confiança. A equipe é composta majoritariamente por mulheres, porque facilita a
empatia.
“(...) É um espaço mais reservado para ela se abrir criando um vínculo de
confiança. A equipe é composta majoritariamente por mulheres, porque facilita a
empatia”.
Coordenador 5:
“(...) Acabamos de nos mudar para a nova sala e estamos aguardando os
ajustes para que a equipe possa estar toda junta.
Coordenador 6:
“(...) Estamos em um prédio com 3 andares. O andar térreo ou 1.a andar e o
centro de referência para Refugiados, o segundo andar é. Direção da Caritas e o
terceiro andar está a Pastoral Sociais da Igreja. ...A gente tem salas que são
compartilhadas. Há salas onde as equipes trabalham separadas só por uma baia.
Uma vantagem de se optar por espaços colaborativos é que eles possuem a
tendência de criar um senso de comunidade e ambientes solidários, favorecendo a
comunicação e a troca entre as equipes. O compartilhamento de informações é um
ponto alto nos espaços colaborativos. Nesses ambientes a competição é muito menor.
Como consequência, os níveis de estresse se reduzem.
Na ONG, as equipes estão distribuídas em salas e em andares diferentes, o
que acaba ao nosso ver não sendo eficaz para a troca e o processo de comunicação
enquanto equipe.
81 Analisar a influência dos ambientes e a sua relação com o refúgio nos permitiu
identificar que quanto mais o indivíduo se sentir como parte dos espaços que
frequenta, mais irá se perceber como parte integrante de um grupo ou de uma
comunidade. Pela natureza do serviço oferecido pela ONG é necessário dispor de
salas individualizadas para os atendimentos.
g) Quanto as possíveis contribuições da formação do Psicólogo para desenvolver
o trabalho junto aos refugiados:
Coordenador 1:
“(...) . A gente procura através da reunião de equipe trocar alguns casos mais
difíceis, temos procurado fazer o acompanhamento dos casos em cada um dos
programas.
Coordenador 2:
“(...) Como sugestão, termos pessoas especialmente treinados para as
necessidades específicas do público dos refugiados. Hoje cada profissional exerce
seus conhecimentos em áreas específicas em prol da causa. O psicólogo é o
profissional que busca entender as dificuldades, do atendido, bem como os
sentimentos e é capaz de diagnosticar e tratar as questões emocionais, sem
apologizar, coisas que não são patologizáveis.
“(...) Além disso, um dos principais objetivos é levar o paciente a se entender,
se sentir melhor e ter confiança para enfrentar seus medos, problemas e alcançar
seus objetivos na sua nova vida.
“(...) Despertar esse olhar social e essa consciência nos alunos da psicologia,
e que o psicólogo perceba essa sua função social, essa vocação, essa vocação, são
os pontos a serem reforçados junto as Universidades”.
Coordenador 3:
“(...) Cada programa tem uma sala e ou área determinada. Fico em uma sala
pequena no final do corredor.
82 Coordenador 4:
“(....) A pessoa para atuar nessas causas deve ter empatia. É importante se
colocar na dor e no sofrimento do outro. Nem sempre a gente tem uma resposta, mas
é importante saber escutar.
Coordenador 5:
“(...) Outra dificuldade é a de trabalhar com as empresas. Os gestores no geral,
não estão preparados para receber esses recursos. E a mediação de conflitos é
intercultural. Infelizmente não há um banco de dados de curriculum de refugiados de
forma integrada.
Coordenador 6:
“(...) É importante para a formação do profissional de Psicologia a atuação
junto aos refugiados, dentro de uma atenção particular, à dimensão cultural do
individuo, considerando a análise e os funcionamentos psíquicos, com o objetivo de
proporcionar uma melhor qualidade de vida no que se refere à saúde mental”.
A experiência relatada pelos participantes do estudo, demonstram que os
refugiados não remontam ao passado quando questionados sobre suas dificuldades,
mas reconhecem no domínio da língua e na dificuldade em conseguir um emprego,
uma das principais dificuldades encontradas quando aqui chegam. Entre as causas
elencadas como explicação para a baixa frequência nos grupos terapêuticos é a de
que essas pessoas “dizem não ter traumas”, configurando assim uma espécie de
“resistência” ao tratamento psicoterapêutico. “Possivelmente por questões culturais e
de preconceito não conhecem o trabalho do psicólogo.
Gostaríamos de destacar um trabalho de acolhimento aos migrantes na cidade
de São Paulo, esse trabalho que é desenvolvido pelo Grupo Veredas15: Imigração
e Psicanálise, do IP-USP em parceria com a Psicologia Social da PUC-SP. Este se
realiza no contexto de uma rede de acolhimento (intra/inter) institucional. Esta atuação
15 Veredas: Projeto que teve seu início em 2004, está integrado à proposta do Laboratório Psicanálise e Sociedade, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP)e da Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). https://www.veredaspsi.com.br/sobre. A Congregação dos Missionários de São Carlos - Scalabrinianos - é uma comunidade internacional de religiosos, acompanham os migrantes das mais diversas culturas, crenças e etnias. O objetivo da Casa do Migrante é o de acolher migrantes brasileiros recém-chegados; imigrantes e refugiados, indivíduos envolvidos no drama mundial da mobilidade humana. Foi fundada em 28 de novembro de 1887 na Itália. (http://www.missaonspaz.org/historia).
83 tem como caraterística a particularidade do caso e do tempo, que é o que irá indicar
o tipo da escuta: que pode ser individual, em grupos, dentro e fora da instituição, etc.
Segundo Gebrim (2015) para que o acolhimento e a escuta ocorram é
necessário uma rede transferencial que ampare tanto o migrante quanto os
profissionais da área. Também a autora ressalta que a interdisciplinaridade permite
intervenções que levam em consideração a cultura e a realidade social, para que as
experiências vivenciadas pelos refugiados possam ser menos traumáticas.
A partir das verbalizações dos participantes, é possível demonstrar que a ONG
possui recursos financeiros limitados, com a qual os profissionais se deparam em sua
atuação. As verbalizações a seguir, sintetizam a situação com relação a qualidade do
trabalho na qual ela é representativa:
Coordenador 3:
“(...) O dia precisaria ter mais horas e com uma equipe maior”.
Coordenador 5:
“(...) Há um limite institucional. Demanda v.s. capacidade instalada”.
O psicólogo que atua em ONG pode trabalhar em uma perspectiva clínica ou
mista com grupos de escuta, de acordo com determinadas abordagens ou em equipes
interdisciplinares, como é o caso da ONG pesquisada. Na ONG foco da nossa pesquisa conforme mencionado, há rodas de conversa,
para homens e mulheres, coordenadas pelo Programa de Saúde Mental, destinado a
públicos diferentes, no caso um para homens e outro para mulheres, além do
atendimento individualizado. Importante ressaltar que nessa escuta oferecida
enfatizam “a palavra” e a atividade coletiva que ajuda a desenvolver as formas
simbólicas de manifestação do sofrimento possibilitando que o migrante descubra que
as experiências dos outros podem ser muito parecidas com aquelas pelas quais
passam.
84 h) Lições apreendidas: Reflexão da pesquisadora sobre o processo de
desenvolvimento da pesquisa.
A partir das pesquisas disponíveis a respeito da atuação do psicólogo,
mencionada no capítulo a atuação dos psicólogos em ONG, observa-se que a atuação
desse profissional se dá de forma variada. O psicólogo que atua em ONG pode
trabalhar em uma perspectiva clinica ou em uma perspectiva crítica, de acordo com
determinadas abordagens ou ainda em equipes interdisciplinares, como é o caso da
ONG pesquisada. Não é imprescindível que o profissional que vai realizar o
atendimento psicológico em ONG, tenha uma prévia experiência, mas sim é
fundamental que tenha uma abertura e uma sensibilidade para a questão intercultural,
porque o atendimento se dá de forma diferente.
A Psicologia, é uma das profissões de maior importância para os beneficiados
do terceiro setor, e teve como prioridade o seu atendimento individual e privatizado
durante anos. No início, seguiu o modelo médico clínico e, gradualmente, foi se
dirigindo ao coletivo, ingressando cada vez mais no terceiro setor com o público
vulnerável, se comprometendo com as questões sociais. O compromisso social está
marcando uma nova fase do psicólogo na busca de uma melhor qualidade de vida
para as pessoas, minimizando a exclusão social.
Assim a atuação do psicólogo busca ao nosso entender uma proposta de
ruptura de modelos tradicionais, com finalidade de colocar a Psicologia a serviço dos
refugiados na ONG estudada, engajando indivíduos em ações voltadas para a
melhoria da qualidade de vida.
Por fim, analisar a influência dos ambientes e a sua relação com o refúgio nos
permitiu identificar que quanto mais a pessoa se sentir como parte dos espaços que
frequenta, mais irá se perceber como parte integrante de um grupo ou de uma
comunidade.
85 Como sugestão, com o objetivo de melhoria nos procedimentos nos serviços
de atendimento aos Refugiados em ONGs, destacamos:
- Possibilidade de ter na equipe psicólogos e profissionais poliglotas para
uma atuação interdisciplinar;
- Manter reuniões sistemáticas em grupo;
- Realizar a documentação dos processos através da digitalização dos
arquivos/trabalhos realizados com o refugiado.
- Atuar ativamente como representantes nas estruturas do Estado
(Atuação junto as Políticas Públicas);
- Possuir na estrutura voluntários refugiados que já́ moram no país há
mais tempo;
- Proporcionar treinamento das equipes dos programas para lidarem com
questões culturais;
Dessa forma, finalizaremos com a discussão dos resultados e as análises aqui
apresentadas, no próximo capítulo, por meio da retomada dos objetivos propostos e
apresentaremos sugestões de possíveis intervenções a serem realizadas na ONG.
86 7 DISCUSSÃO
O objetivo da presente pesquisa foi o de caracterizar a atuação do profissional
de psicologia sob sua própria perspectiva e sob a perspectiva dos profissionais das
equipes interdisciplinares na Caritas, que é uma Organização não Governamental
(ONG) de atendimento a refugiados, à luz de possíveis contribuições da Psicologia
Ambiental. A Caritas que atua no município de São Paulo há mais de 40 anos,
atendendo imigrantes e refugiados autorizou a abertura do caráter sigiloso previsto na
Resolução CNS/MS 466/2012, complementada pela Resolução CNS/MS 510/2016,
bem como todos os participantes da pesquisa. A relevância do estudo justifica-se pela lacuna na literatura científica sobre o
trabalho do psicólogo em organizações não governamentais, especialmente, aquelas
que atendem ao refugiado. Para o estudo consideramos alguns conceitos que podem
contribuir para a atuação de profissionais de Psicologia, tais como apropriação de
espaço e o apego ao lugar.
Para tal utilizamos como referência o modelo de apropriação de espaço
proposto por Pol (2002), que implica em um modelo circular ação-transformação e
identificação simbólica (“marcas” espaciais que refletem a identificação da pessoa
com o espaço e referências de seu Self) para a análise e discussão das significações
(com aspectos afetivos e de significação).
Para avaliar o processo de apropriação de espaço, em sua circularidade ação-
transformação e na identificação simbólica, nos embasamos nos trabalhos realizados
por Bassani (2019). A autora iniciou projetos de pesquisa, aliados à formação em
Psicologia Ambiental, que enfocavam a apropriação de espaço com diferentes
populações e espaços, com família de agricultores entre 2000 e 2010 em convênio
com a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
Os resultados produzidos no trabalho de campo, por meio de levantamento de
documentos da ONG em foco e nas entrevistas semiestruturadas a seis profissionais
que ali trabalham proporcionam retomar o objetivo proposto e a discussão de
contribuições na atuação do psicólogo que atende aos refugiados. Por meio
da compreensão das entrevistas e da análise dos resultados, foi possível caracterizar
a atuação do psicólogo e também a visão das equipes. Destacamos as motivações
que levaram profissionais a trabalharem na ONG que atendem o público de alta
vulnerabilidade, que se encontram os refugiados, os participantes do estudo
destacam que tal atuação deram sentido às carreiras individuais e a possibilidade de
87 realizarem seus propósitos pessoais, fazendo a diferença na atuação com esse
público.
Bassani (2018) traz que os problemas ambientais contribuem cada vez mais
para a deterioração da qualidade de vida das pessoas e afirma que no processo de
uma avaliação ambiental, envolvendo a percepção e a cognição estão relacionadas,
sendo que a pessoa percebe o ambiente e interpreta os estímulos segundo as suas
próprias experiências.
Para Moser (2018), o ambiente é o espaço vital do indivíduo, é o seu habitat e
o psicólogo que se insere nessas relações indivíduo-sociedade pode contribuir para
uma melhor qualidade de vida desse público.
As entrevistas foram organizadas em grandes temas: os motivadores pela
opção ao trabalho com refugiados, os resultados das entrevistas demonstraram como
motivador o próprio direcionamento profissional e o propósito das profissões
escolhidas; a descrição e a caracterização da atuação do psicólogo em articulação
com o trabalho dos profissionais das demais equipes nos serviços prestados na ONG,
bem como as expectativas dos demais profissionais das equipes que compõem o
atendimento aos refugiados. No depoimento de um dos entrevistados.
Coordenador 1:
“(...) o papel do psicólogo é o de procurar ajudar os refugiados a reconstruírem
o seu mundo simbólico para eles estarem seguros e se orientarem fora dele na
adaptação do novo contexto”.
A avaliação que o profissional de Psicologia faz sobre sua inserção e a sua
atuação desse recurso na organização percebida pela equipe interdisciplinar são
consideradas como importantes no processo.
A atuação do psicólogo no terceiro setor busca ao nosso entender
uma proposta de ruptura de modelos tradicionais de atendimento, e coloca a
Psicologia a serviço dos refugiados em ações voltadas para a melhoria da qualidade
de vida.
Quanto à atuação interdisciplinar, nosso entendimento é que tal forma de
atuação na equipe proporciona a todos seus componentes o ganho de novos
conhecimentos e a possibilidade de pensar alternativas para os casos atendidos.
Quanto aos espaços físicos, analisamos as influências dos ambientes e a
proposta de que, quanto mais os indivíduos se sentirem parte dos espaços em que
88 vivem, mais irão se perceber como parte integrante de um grupo; o compartilhar
espaços físicos, respeitando as marcas simbólicas de apropriação de espaço, pode
facilitar o processo de comunicação e reduzir o estresse da competitividade.
O ato de migrar carrega em si, motivações de diferentes naturezas, sejam elas
por uma questão econômica, política, ambiental, étnica, religiosa. Para os refugiados,
evidenciaram-se aspectos que dificultam a sua chegada e residência no Brasil. A
demora do governo na avaliação dos processos de solicitações de documentos, fato
este recorrente em São Paulo, que muitas vezes acarreta uma situação irregular aos
refugiados. Desta feita, não podem ser inseridos em programas sócio assistenciais,
dificultando a procura de emprego, pois muitos empregadores só contratam com os
documentos regulares, perdem, assim, muitas oportunidades de trabalho,
favorecendo uma situação econômica de vulnerabilidade. Os resultados apresentados
indicam que são muitos os impactos que o refúgio causa na vida afetando,
consequentemente, a qualidade de vida.
A elaboração da dissertação tem proporcionado reflexões sobre a atuação da
pesquisadora como psicóloga e também na sua atuação como voluntária. A leitura
dos referenciais teóricos e análise dos resultados da pesquisa no levantamento da
literatura, serviram como fonte de inspiração para o desenvolvimento da proposta de
estudo.
Muitos refugiados passaram no seu país de origem por situações difíceis, com
sofrimentos e traumas. As demandas do novo ambiente (como por exemplo cultura e
língua diferentes) podem agravar o seu estado psicológico. A integração social e
cultural são elementos que trarão ao refugiado o sentimento de inserção e de
aceitação e possibilitará a sua adaptação à comunidade que o acolheu. O profissional
de Psicologia, que se insere nessas relações pode contribuir para a saúde e qualidade
de vida dos refugiados.
De acordo com as verbalizações dos participantes, as reuniões semanais são
um “espaço” de troca e a aquisição de conhecimentos e auxiliam a atuação dos
profissionais envolvidos, uma vez que possibilitam o debate sobre diferentes
possibilidades de atuação.
Os resultados obtidos indicam como os profissionais de outros programas
mantidos pela ONG percebem a importância e a necessidade da atuação do psicólogo
no serviço de Saúde Mental e sinalizam a importante contribuição que o serviço
desempenha no atendimento aos refugiados, como importante recurso oferecido.
Todos os entrevistados afirmaram que atuar no Serviço de Atendimento a
89 Refugiados proporciona uma satisfação pessoal e ganho de experiência profissional.
Essa experiência foi chamada de uma atuação “além da práxis”. O entendimento é
que a passagem profissional por uma ONG de atendimento a refugiados pode ser
considerada como um diferencial para os profissionais que nela atuam. Contudo,
apesar de o Serviço de Saúde Mental ser oferecido pela ONG desde o início de 2016,
ele “ainda era pouco frequentado”.
Falar sobre a saúde mental dos refugiados, além do sofrimento evidente, é falar
de suas necessidades, das diferenças culturais, das desigualdades socioeconômicas,
das políticas públicas dos países de exílio e, sobretudo, da possibilidade destes atores
sociais como agentes de sua própria história.
Há a necessidade de transformações sociais e políticas atuais de migração
porém, indo além do coletivo, faz-se necessário um olhar significativo para este
indivíduo que está na condição de estrangeiro. É importante ressaltar a relevância do
trabalho de equipes multiprofissionais em instituições que apoiam refugiados, em
especial com a presença de psicólogos.
O atendimento psicológico favorece o surgimento da palavra e da escuta
proporcionando que o refugiado ocupe o lugar de sujeito de sua própria história. O
reconhecimento de sua responsabilidade pelo seu próprio caminho no país de
acolhida pode facilitar sua reintegração. Assim, o refugiado estará fortalecido
psicologicamente para vivenciar os desafios que se apresentam como busca por
trabalho, moradia e adaptação a uma nova cultura.
Frente a situações do refúgio propomos, para pesquisas que versem sobre o
tema, abordarem as consequências dos impactos ambientais sobre os indivíduos e
grupos que migram. Nos refugiados, esses efeitos são imediatos, de curto, médio e
longo prazo, à medida que envolve vários atores sociais, os sobreviventes.
Dessa forma, as reflexões sobre a temática abrem um campo amplo para novas
pesquisas e também para a autorreflexão sobre as maneiras como lidamos com o
“outro”, o refugiado.
90 Por fim a reflexão da pesquisadora, nas lições apreendidas no processo de
pesquisa, levou a possíveis encaminhamentos para pensarmos em uma ampliação
das perspectivas para a atuação dos psicólogos nos serviços para refugiados no
terceiro setor.
Esperamos com o estudo, contribuir para a reflexão sobre a atuação do
profissional de Psicologia, a partir da Organização não Governamental que atende
aos refugiados, fornecendo subsídios aos estudiosos e profissionais que atuem com
essa população, propondo um convite aos colegas psicólogos para que proponham
práticas sensíveis neste novo contexto de trabalho, com a multiplicidade de práticas
de atendimento psicológico, em constante reflexão, sobre os diferentes tipos de fazer
psicológico.
91 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante o percurso percorrido nessa pesquisa, buscamos compreender a
atuação do profissional de Psicologia em Organização não Governamental nas
equipes interdisciplinares. Assim, diante de um fenômeno recente e pouco explorado
na academia, a pesquisa teve como objetivo analisar e caracterizar a atuação do
profissional de Psicologia sob sua própria perspectiva e sob a perspectiva dos
profissionais das equipes interdisciplinares em uma ONG de atendimento a
refugiados, à luz de possíveis contribuições da Psicologia Ambiental. A ONG foco
desta pesquisa é a Caritas, uma Organização não Governamental que atende aos
refugiados no município de São Paulo.
Buscamos propor um procedimento que envolveu o levantamento do trabalho
de ONGs no Brasil, articulamos com os atendimentos a refugiados, verificamos as
existentes no Estado de São Paulo, devido à viabilidade de realização de uma
investigação no contexto de um Mestrado, propusemos e realizamos um
procedimento exploratório do campo, incluindo visitas a ONGs na cidade de São
Paulo, realizamos entrevistas informais, levantamos dados de organizações
internacionais e nacionais sobre refugiados, até chegarmos aos objetivos, proposta a
uma ONG específica, elaborarmos os métodos de coleta – documentos da ONG e
entrevistas semiestruturadas – bem como os procedimentos éticos e plano de análise.
Os procedimentos metodológicos adotados caracterizam uma pesquisa de
estudo de caso qualitativo, tendo como ONG em foco a Caritas, que está situada na
cidade de São Paulo, há mais de 40 anos trabalhando com imigrantes e refugiados.
Os resultados proporcionam uma análise do fenômeno investigado e as
contribuições das ações realizadas na atuação do psicólogo que atende aos
refugiados. Por meio da compreensão das entrevistas realizadas com os participantes
e da análise dos resultados, foi possível caracterizar a proposta de atuação do
psicólogo e também a visão das equipes com relação aos programas oferecidos.
Destacamos as motivações que levaram tais profissionais a trabalharem na ONG e
junto aos refugiados, como um sentido maior às carreiras individuais, bem como a
congruência existente entre a percepção que a profissional de Psicologia tem de sua
atuação e as percepções dos profissionais das demais equipes.
Para alcançar o objetivo deste estudo foi necessário o entendimento de
algumas problemáticas referentes a características do terceiro setor, bem como das
políticas internacionais e nacionais voltadas para refugiados. Assim, foi fundamental
92 a revisão da literatura para a compreensão das transformações nas ONGs no decorrer
dessa década e a reflexão na forma de atuação do psicólogo nesse cenário de
trabalho. De uma maneira geral, o novo cenário profissional do psicólogo, a dificuldade
da linguagem, a falta de recursos humanos, a sobrecarga de trabalho, a dificuldade
de captação de recursos financeiros que é recorrente para o atendimento a
refugiados, entendemos que o tema é um desafio enquanto Estado e sociedade civil,
e trazem um pensar diferente no processo de atendimento psicológico a esse público.
A aproximação entre a Psicologia Ambiental e a pesquisa, possibilitou um olhar
de interdisciplinaridade, pondo em destaque a importância de que demais estudos a
partir desses referenciais podem ponderar esse tipo de articulação.
Moser (2018) nos alerta para a questão temporal e de espaço como conceitos
importantes para Psicologia Ambiental. Segundo o autor o espaço é o primeiro
conceito importante e a dimensão temporal é outro ainda mais relevante e especifico,
pois se estende ao mesmo tempo como projeção para o futuro e também como
referência ao passado e à história.
Bassani (2019) nos aponta caminhos para um trabalho interdisciplinar em
Psicologia Ambiental e conceitos como apropriação de espaço e apego ao lugar como
possibilidades de ampliação no atendimento, no caso de nossa pesquisa a refugiados.
A Psicologia Ambiental está envolvida com as questões ambientais, no sentido
de verificar as interações da pessoa frente a esse ambiente e do espaço em que se
vive, levando em consideração as dimensões culturais e sociais. Em nossos encontros
na PUC-SP discutimos muitos dos temas atuais entre eles a questão dos refugiados,
devido a conflitos étnicos, guerras, perseguições religiosas, catástrofes ambientais
etc.
De uma maneira geral, o idioma diferente e a dificuldade na comunicação são
fatores que os predispõem à baixa interação social, levando-os à formação de
pequenos grupos de refugiados da mesma nacionalidade, ocorrendo assim pouca
troca sociais e culturais. Não é fácil aprender uma nova língua, uma nova cultura e um
novo conjunto de regras. Os refugiados experimentam o choque cultural vivenciados
pelo estresse emocional, quando são incapazes de interpretar sinais de um ambiente
novo.
Mudar de país, significa construir uma vida diferente, dar significados novos ao
que era familiar se deparando com questões como a de pertencer a um grupo que
lhe dava identidade e reconhecimento. O estrangeiro é também, aquele que situará
na fronteira. Esse outro que não faz parte, além de sofrer com a rejeição e a solidão.
93 Para compreender a situação dos refugiados é importante entender que o
refúgio é uma migração forçada. Um indivíduo que migra entrará em contato com uma
nova cultura, precisará abrir mão do que lhe é conhecido e se inserir em um mundo
que requer novos significados.
Gostaria de destacar que a pesquisa foi realizada no Programa de Estudos
Pós-graduados em Psicologia Clínica, inserida no Núcleo Configurações
Contemporâneas da Clínica Psicológica. O Núcleo atua em linha de pesquisa voltada
a estudar temas e questões centrais da clínica psicológica, considerando os
paradigmas existentes de maneira plural e a natureza transformadora da clínica nos
mais diversos contextos, articulando assim o tratamento e prevenção dos fenômenos
na contemporaneidade.
A pesquisa compreendeu, a realidade migratória, o relato das formas de
acolhida que os órgãos públicos estão realizando para essa população e como os
refugiados estão inseridos nessas inter-relações, o psicólogo, se insere nessas
relações indivíduo-sociedade, e pode contribuir para a qualidade de vida e a saúde
dos refugiados.
A interdisciplinaridade na área da saúde é uma exigência tanto para a
compreensão do processo saúde/doença, quanto para possibilitar, como diz Japiassu
(1976), as ações profissionais que viabilizem a busca da saúde, proporcionar trocas
generalizadas de informação críticas além de dialogar sobre o trabalho em comum.
Com relação ainda à interdisciplinaridade na própria psicologia e nos demais saberes
presentes nos serviços oferecidos pela ONG, ela é dada pelos diferentes aspectos e
dimensões das práticas resultantes da atuação em áreas antigas e novas, decorrentes
do contato com novas populações e demandas que exigem novos conhecimentos e
linguagem específicas.
Por fim trouxe a reflexão sobre a contribuição da Psicologia no terceiro setor,
em Organização não Governamental, servindo como um convite aos psicólogos para
que proponham práticas sensíveis ao contexto de trabalho da população atendida,
reconheçam a multiplicidade de práticas psicológicas e reflitam sobre as implicações
políticas dos diferentes tipos de fazer psicológico.
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102 Apêndice A: Entrevista com Psicólogo/a 1. Roteiro Apresentação do TCLE, esclarecendo os objetivos da pesquisa, que é o de realizar
um estudo de caso a fim de caracterizar a atuação do psicólogo em uma ONG para
o atendimento a Refugiados na cidade de São Paulo.
1. Esclarecimentos dos objetivos da pesquisa;
2. Após esclarecimentos, Assinatura do TCLE;
3. Agradecimento pela inscrição;
4. Entrevistas com base no roteiro.
Dados do Entrevistado/a:
Nome: Data nascimento/Idade: Dados para Contato tel./cel: E mail: Formação acadêmica (Curso/ano conclusão): Outros Cursos:
Tempo atuação: Tempo na ONG:
Sexo: Área Atuação: N. horas dedicadas à ONG Atuações anteriores:
Você já participou de uma pesquisa antes? Como se sentiu ao ser convidado(a) para participar desta pesquisa?
TEMAS A SEREM ABORDADOS E INDICATIVOS DE QUESTIONAMENTOS:
1) DECISÃO E INÍCIO DO TRABALHO NA ONG PARA REFUGIADOS
• Relate sua trajetória profissional e experiências que considere relevantes hoje, para o trabalho na ONG - como você̂ chegou a esta ONG?
• Por que você̂ veio trabalhar no serviço junto a refugiados? Como seu trabalho se insere no organograma de funcionamento da ONG: departamentos que compõem a ONG; funcionários de cada departamento (formação profissional, número, por exemplo) e voluntários?
2) DESCRIÇÃO DO TRABALHO DESENVOLVIDO NA ONG, ATUALMENTE – E POSSÍVEIS ALTERAÇÕES NO DECORRER DO TEMPO (INÍCIO ATÉ O MOMENTO ATUAL)
• Qual o trabalho que desenvolve nessa ONG? • Como você percebe o trabalho com outras áreas/equipes? • Como seu trabalho se relaciona com as demais áreas de atenção que a ONG
oferece aos refugiados? • Poderia relatar um exemplo de como se dá o acompanhamento dos casos de
atendimento psicológico? • Quais os fatores que o/a motivam a trabalhar na ONG? • Quais as principais características do local físico que atua?
103 3) POPULAÇÃO QUE ATENDE NA ONG:
• Quem são os refugiados atendidos por você? • Como você obtém informações sobre os refugiados que são atendidos por
você? • Quais dificuldades você identifica em sua abordagem aos refugiados
encaminhados a você? • Há acompanhamento dos casos atendidos por você? • Em caso afirmativo, como ocorre e sob quais condições?
4) DESCRIÇÃO DE UM DIA TÍPICO E/OU SEMANA TÍPICA DE TRABALHO NA ONG
5) DESCRIÇÃO DE UM DIA ATÍPICO E/OU SEMANA – RELATO DE ALGUM CASO ESPECÍFICO QUE TENHA INFLUCENCIADO SUA FORMA DE ATUAÇÃO E/OU PESSOALMENTE
6) POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES DA FORMAÇÃO QUE RECEBEU / BUSCA EM PSICOLOGIA PARA DESENVOLVER SEU TRABALHO JUNTO AOS REFUGIADOS
• Que técnicas e conhecimentos de sua formação em Psicologia você̂ aplica no trabalho?
• Para você̂ o que é importante para a formação do profissional de Psicologia na atuação junto a refugiados?
• Que tipo de formação complementar você buscou, ou buscaria, de modo a contribuir para seu trabalho atual com refugiados?
7) [RETOMAR OU ABORDAR SE HÁ ALGUM TRABALHO INTERDISCIPLINAR- CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO COM PROFISSIONAIS RESPONSÁVEIS POR OUTROS TIPOS DE ATENDIMENTO AOS REFUGIADOS]
• Sua atuação prevê algum tipo de trabalho em conjunto com os profissionais das demais áreas de atendimento aos refugiados que compõem a ONG?
• Em caso afirmativo, como e com que frequência ocorre esse trabalho?
8) PERSPECTIVAS E EXPECTATIVAS REFERENTES A SUA ATUAÇÃO JUNTO A REFUGIADOS?
• O que aprendeu atuando com essa população? • O que faria diferente na sua rotina de trabalho? • O que faria diferente em sua atuação na ONG?
9) ABRIR PARA COLOCAÇÕES OUTRAS NÃO CONTEMPLADAS NAS TEMÁTICAS ABORDADAS.
• Você̂ gostaria de falar de algo que não foi contemplado e que possa contribuir para a pesquisa?
10) AGRADECIMENTOS*Registros de observações e percepções da pesquisadora sobre a entrevista e sobre entrevistado/a:
104 Apêndice B - Entrevista com profissionais das áreas de atendimento na ONG 1. Roteiro Apresentação do TCLE, esclarecendo os objetivos da pesquisa, que é o de realizar um estudo de caso a fim de caracterizar a atuação do profissional em uma ONG para o atendimento a Refugiados na cidade de São Paulo.
1. Esclarecimentos dos objetivos da pesquisa; 2. Após esclarecimentos, Assinatura do TCLE; 3. Agradecimento pela inscrição; 4. Entrevistas com base no roteiro.
Dados do/a Entrevistado/a:
Nome: Data nascimento/Idade: Dados para Contato tel./cel: E mail: Formação acadêmica (Curso/ano conclusão): Outros Cursos:
Tempo atuação: Tempo na ONG:
Sexo: Área Atuação: N. horas dedicadas a ONG Atuações anteriores:
• Você já participou de uma pesquisa antes? • Como se sentiu ao ser convidado(a) para participar desta pesquisa?
TEMAS A SEREM ABORDADOS E INDICATIVOS DE QUESTIONAMENTOS:
11) DECISÃO E INÍCIO DO TRABALHO NA ONG PARA REFUGIADOS
• Relate sua trajetória profissional e experiências que considere relevantes hoje, para o trabalho na ONG - como você̂ chegou a esta ONG?
• Por que você̂ veio trabalhar no serviço junto a refugiados? • Como seu trabalho se insere no organograma de funcionamento da ONG:
departamentos que compõem a ONG; funcionários de cada departamento (formação profissional, número, por exemplo) e voluntários?
• Quais os fatores que o/a motivam a trabalhar na ONG?
12) DESCRIÇÃO DO TRABALHO DESENVOLVIDO NA ONG, ATUALMENTE – E POSSÍVEIS ALTERAÇÕES NO DECORRER DO TEMPO (INÍCIO ATÉ O MOMENTO ATUAL)
• Qual o trabalho que desenvolve nessa ONG? • Quais os principais tipos de demandas? • Como os casos são encaminhamentos para sua área de atuação (substituir, no
momento da entrevista pela área do/a entrevistado/a) na ONG? • Gostaria que você me falasse sobre o seu trabalho, especificamente na ONG:
Se você preferir descrever o fluxo de seu trabalho e/ou um dia típico, seria bem interessante para a pesquisa.
• Você poderia exemplificar um dia atípico em seu trabalho? • Quais são as dificuldades encontradas em seu dia-a-dia de trabalho na ONG?
105 • Quais as principais características do local físico que atua?
13) ABORDAR SE HÁ ALGUM TRABALHO INTERDISCIPLINAR- CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO COM PROFISSIONAIS RESPONSÁVEIS POR OUTROS TIPOS DE ATENDIMENTO AOS REFUGIADOS
• Sua atuação prevê algum tipo de trabalho em conjunto com os profissionais das demais áreas de atendimento aos refugiados que compõem a ONG?
• Em caso afirmativo, como e com que frequência ocorre esse trabalho? • Como seu trabalho se relaciona com as demais áreas de atenção que a ONG
oferece aos refugiados? • Como você percebe o trabalho das outras áreas/equipes? • Poderia relatar um exemplo de como se dá o acompanhamento dos casos
que envolvam outras áreas na ONG?
14) PERSPECTIVAS E EXPECTATIVAS REFERENTES A SUA ATUAÇÃO JUNTO A REFUGIADOS?
• O que faria diferente na sua rotina de trabalho? • O que faria diferente em sua atuação na ONG?
15) ABRIR PARA COLOCAÇÕES OUTRAS NÃO CONTEMPLADAS NAS TEMÁTICAS ABORDADAS.
Você̂ gostaria de falar de algo que não foi contemplado e que possa contribuir para a pesquisa?
16) AGRADECIMENTOS 17) *Registros de observações e percepções da pesquisadora sobre a entrevista e sobre
entrevistado/a:
106 Apêndice C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TLCE)
Convido-o (a) a participar do estudo sobre a “Atuação do profissional de Psicologia em Organização não Governamental para refugiados”, título
provisório, e se dispõe a caracterizar o desempenho do profissional de psicologia na
perspectiva das equipes interdisciplinares da ONG que atende refugiados na cidade
de São Paulo,SP.
O estudo é realizado por mim, Patricia Rebello Silvestri, psicóloga, CRP
06/33730-2, aluna do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica da
PUC/SP, do Núcleo Configurações Contemporâneas da Psicologia Clínica (PEPG),
como exigência parcial para a obtenção do título de mestre em Psicologia Clínica, sob
a orientação da Profa. Doutora Marlise Aparecida Bassani.
A fim de atingirmos o nosso objetivo de pesquisa, realizaremos entrevistas com
temas referentes a sua atuação junto a refugiados. As entrevistas serão gravadas e
transcritas, posteriormente. Ressalto que a sua participação é voluntária, que poderá
obter informações sobre a pesquisa sempre que desejar e que poderá desistir de sua
participação a qualquer momento, sem que tal decisão causa prejuízos. A sua
participação em muito contribuirá para ampliar o conhecimento sobre a atuação da
Psicologia e das equipes junto aos refugiados, visando tanto a indicação de melhoria
na formação do profissional de psicologia, da articulação com outras áreas e dos
profissionais que trabalham com essa população além da indicação de contribuições
para Organizações não Governamentais para a atenção aos que chegam ao nosso
país.
CONSENTIMENTO
Diante do exposto, declaro ter recebido todas as informações sobre a pesquisa,
ter entendido e ter esclarecido todas as minhas dúvidas, concordando em participar,
livremente, do estudo descrito.
Estou ciente de que as informações coletadas são de cunho científico, de que
meus dados de identificação constarão da pesquisa, e também autorizo a publicação
das informações prestadas, em meios acadêmicos. Esclareço que os resultados e
análise realizados se circunscrevem a publicação em âmbito acadêmico-científico
107 Durante a realização da entrevista, caso você venha a sentir algum
desconforto, por favor interrompa e me comunique imediatamente. Será garantido o
atendimento psicológico em caso de necessidade decorrente da pesquisa.
Para fins de registro e análise, as entrevistas poderão ser gravadas e
transcritas, podendo utilizar de fotos, sempre em acordo com as exigências éticas da
Resolução CNS/MS - 510/16. Por fim, declaro que tenho conhecimento de que posso,
a qualquer momento, retirar meu consentimento, sem qualquer penalidade e que terei
acesso aos resultados do estudo, após a conclusão dos trabalhos.
O participante só deverá conceder a entrevista depois que tiver lido e
esclarecido sobre o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e afirmar ter clareza
do conteúdo do mesmo. Por fim, declaro que tenho conhecimento de que posso, a
qualquer momento, retirar meu consentimento, sem qualquer penalidade e que terei
acesso aos resultados do estudo, após a conclusão dos trabalhos.
Diante do exposto, declaro ter recebido todas as informações sobre a pesquisa,
ter entendido e ter esclarecido todas as minhas dúvidas, concordando em participar,
livremente, do estudo descrito.
Dados para contato sobre esta pesquisa Pesquisadora: prebellosilvest@aol.com ou telefone 9 72911964. Comitê de Ética em Pesquisa da PUC/SP: cometica@pucsp.br. São Paulo, ________ de ____________________________ de ________. __________________________________________ PESQUISADORA: PATRICIA REBELLO SILVESTRI __________________________________________ PARTICIPANTE: [NOME] Nome do Participante
Assinatura
109 Anexo 1 – A ONG - Caritas São Paulo:
A Caritas Arquidiocesana de São Paulo - CASP, é a associação civil de direito privado,
sem fins lucrativos, e de caráter assistencial. Foi fundada em 1897 na Alemanha e está
presente no Brasil em 1968. Esta rede está subdividida em sete regiões: América Latina e
Caribe, África, Europa, Oceania, Ásia, América do Norte e a chamada MONA (Oriente Médio
e Norte da África). O próprio nome da entidade, Caritas, remete à origem latina da palavra
caridade. A Caritas foi fundada em 12 de novembro de 1956, pela Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB) e é uma das 164 organizações-membros da Rede Caritas
Internacional presentes no mundo. É uma referência na cidade de São Paulo, no que diz
respeito ao atendimento a pessoas em situação de refúgio. Trabalha na defesa dos direitos
humanos e do desenvolvimento sustentável solidário. Junto aos excluídos e excluídas em
defesa da vida e na participação da construção solidária de uma sociedade justa, igualitária e
plural. Atualmente está presente em 165 países e territórios dos cinco continentes, através da
Rede Caritas Internationalis – que detém o estatuto consultivo geral no Conselho Econômico
e Social das Nações Unidas (ECOSOC).
A CASP atua como um organismo da Arquidiocese de São Paulo, na animação,
promoção, caridade e articulação da Ação Social. Sua atuação se dá a partir de sua matriz,
atuando através de seis Núcleos Regionais e Paróquias da Arquidiocese de São Paulo. Com
mais de 60 anos de história, configura-se como uma rede solidária de mais de 15 mil agentes,
a maioria composta por voluntários, com ação por todo o país. Nos últimos 10 anos, segundo
dados da ONG, auxiliaram mais de 300 mil famílias, contribuindo para a transformação de
suas vidas e para a aquisição de novas conquistas.
A Caritas atua no CONARE (Comitê Nacional para os Refugiados) é membro
representante da sociedade civil perante o CONARE, em conjunto com a Caritas Rio de
Janeiro, a Caritas Arquidiocesana de São Paulo e possui papel de extrema relevância,
propondo avanços na normativa brasileira, estimulando a adoção de novas políticas públicas,
além da inclusão dos refugiados em políticas já existentes. O CONARE é formado pelo
Ministério da Justiça (que preside o comitê), junto com os ministérios das Relações Exteriores,
da Saúde, do Trabalho, da Educação e a Polícia Federal, e um representante da sociedade
civil organizada (cadeira que é alternada entre a Caritas Arquidiocesana de São Paulo e a
Caritas Rio de Janeiro), além do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados
(ACNUR), que possui voz mas não pode votar. O Instituto de Migrações e Direitos Humanos
(IMDH), outra organização da sociedade civil também acompanha as plenárias. O CONARE
é considerado um órgão tripartite, ou seja, possui representantes do governo, da sociedade
civil e da ONU. No CONARE, a Caritas tem a oportunidade de argumentar pelo
reconhecimento da condição de refugiado, apresentando um parecer jurídico, e avançar com
a interpretação da lei brasileira de refúgio.
110 As finalidades da CASP (Associação Civil e Direito Privado) são objetivadas e
cumpridas em consonância com a Lei orgânica da Assistência Social (LOAS), a Lei de
diretrizes e bases da Educação Nacional (LDB), o Estatuto da criança e do adolescente (ECA),
Estatuto do Idoso, Lei Civil vigente, naquilo que lhe é aplicável, sem prejuízo aos critérios de
orientações previstos na alínea “a”, item 1, do artigo 7º do estatuto desta organização, qual
seja:
“Orientar suas atividades sociais pelos princípios da Doutrina Social da Igreja, diretrizes da
CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, nas da Arquidiocese de São Paulo, nas
da Caritas Brasileira e da Caritas Internacionalis, no que for pertinente.”
Tem como objetivo estratégico proporcionar acolhimento, proteção, assistência e
orientação aos solicitantes de refúgio e refugiados, visando sua integração na sociedade
brasileira. Os serviços oferecidos tem como objetivos específicos a melhoria do nível de
autossuficiência e condições de vida dos refugiados; melhorar o acesso à educação e saúde;
fornecer apoio de subsistência para garantir que os refugiados tenham artigos domésticos e
de higiene suficientes; prestação de serviços para grupos com necessidades especiais;
realização do potencial de integração local dos refugiados; reforço da documentação civil e
apoio ao procedimento de elegibilidade para melhorar o acesso ao território de pessoas que
buscam proteção.
111 Caritas Arquidiocesana de São Paulo - CASP CNPJ: 62.021.308/0001-70 Endereço: Rua José Bonifácio, 107, 2º andar, Sé, CEP: 01003-000 Cidade: São Paulo/SP www.caritassp.org.br e-mail: caritassp@caritassp.org.br e caritasarqsp@uol.com.br Telefone: 11 4873-6363; 11 4873-6361; 4873-6360 Obs: A sede da entidade é cedida em sistema de comodato
Responsável para contato com a Organização Coordenação: Cleyton Soares Abreu E-mail: coord.crr@gmail.com
E-mail: casp.refugiados@uol.com.br;
Filiais: Região Episcopal Belém, Região Episcopal Brasilândia, Ipiranga, Lapa, Santana e Sé. Abrangência: Em termos de estrutura interna, as ONGs operam obrigatoriamente com um órgão de
natureza deliberativa (Assembleia Geral) e um órgão de natureza decisória (Diretoria, também
denominada Conselho Administrativo). Já a criação de um Conselho Fiscal é obrigatória nos
casos em que a organização pretende qualificar-se como Organização da Sociedade Civil de
Interesse Público, e a criação do Conselho Consultivo é sempre facultativa. Quanto à
abrangência no território Municipal, Estadual e Nacional, atua conforme nucleação local em
consonância com as unidades paroquiais, comunitárias e respectivas sucursais. Os seis
Núcleos Regionais atendem o Município de São Paulo a partir da divisão regional da
Arquidiocese de São Paulo. Arquidiocese corresponde ao espaço territorial de atuação da
Igreja, sob a responsabilidade administrativa e pastoral de um arcebispo. A Igreja Católica se
concretiza na Cidade de São Paulo através da Arquidiocese de São Paulo. Por abranger um
território bastante extenso a Arquidiocese está 1situada a Rua José Bonifácio, 107, 2º andar,
Sé, subdividida em seis regiões assim dispostas: Região Episcopal Belém, Região Episcopal
Brasilândia, Região Episcopal Ipiranga, Lapa, Santana e Sé.
112 Composição da DIRETORIA ESTATUTÁRIA:
NOME do Presidente: MANOEL MESSIAS DE MACEDO
Cargo: Presidente do Conselho Deliberativo Profissão: Ministro de confissão religiosa
Não é funcionário público. Não exerce na entidade função remunerada.
Nome do Diretor: MARCELO MARÓSTICA (Pe. Diretor)
Cargo: Diretor Profissão: Ministro de confissão religiosa
Não é funcionário público. Não exerce na entidade função remunerada.
Obs: Mandato desta diretoria:
Início: 01.01.2017
Término: 31.12.2019 Orientação estratégica e Missão
São Orientações Estratégicas da Caritas:
a) Promoção e fortalecimento de iniciativas locais e territoriais na construção da
sociedade do Bem Viver;
b) Defesa e promoção de direitos, construção e controle das políticas públicas;
c) Organização, fortalecimento e sustentabilidade da Rede Caritas;
d) Formação permanente do voluntariado.
Tem como missão, ser o braço estendido da Igreja Arquidiocesana de São Paulo no serviço
de sensibilização, animação, articulação e promoção da caridade e refletir com a sociedade
sobre oportunidades de ações transformadoras que lhe propiciem justiça.
Valores da Caritas FÉ E MORAL CRISTÃ: Referência fundamental ao Evangelho de Cristo, que inspira o comprometimento social entre
as pessoas.
CARIDADE: Virtude de caráter social fundamental, que move o sentimento de urgência de
se estabelecer uma relação de justiça entre as pessoas. FRATERNIDADE: Realidade espiritual que suscita o sentido e valor ao empenho intrínseco
da pessoa em desejar dar uma destinação universal aos bens da natureza em benefício do
bem comum. SOLICITUDE SOCIAL: Gesto sensível e acolhedor em favor de outra pessoa, com
predisposição naturalmente amável para servi-la, reconhecendo e respeitando a eminente
dignidade desta outra.
113 DIÁLOGO: Disponibilidade cordial para explicitar o próprio conhecimento e experiência e
para acolher a realidade de terceiros, visando perceber demandas alheias à própria realidade. TESTEMUNHO: Carisma específico que espelha a fé e a esperança no coração materno da
Igreja e no rosto misericordioso do Deus de amor, de bondade e de ternura. O Serviço de Referência para Refugiados As atividades do Centro de Referencia para Refugiados visam a melhoria do nível de
autossuficiência e condições de vida dos refugiados; melhoria do acesso à educação e saúde;
apoio financeiro para mitigar as condições de subsistência; prestação de serviços para grupos
com necessidades especiais; realização do potencial de integração local dos refugiados;
reforço da documentação civil e apoio ao procedimento de elegibilidade para melhorar o
acesso ao território de pessoas que buscam proteção.
O Centro de Referência para Refugiados possui mais de 17 mil pessoas cadastradas
(entre refugiados e solicitantes de refúgio), e aproximadamente 70 pessoas atendidas por dia,
além de ligações atendidas e dúvidas respondidas por e-mail.
Público alvo para Atendimento a refugiados Critérios adotados para a inserção dos usuários nos serviços, programa, projeto ou beneficio
sócio assistencial:
• Refugiados reconhecidos pela lei brasileira : Lei 9.474/97 e a Lei 13.445/2017;
• Solicitantes de refúgio portadores do protocolo provisório emitido pela Polícia Federal;
• Pessoas que desejam fazer a solicitação de refúgio;
• Residentes do estado de São Paulo.
Centro de Referência para Refugiados: Solicitantes de refúgio e refugiados (homens,
mulheres, crianças, adolescentes, famílias).
Núcleos Regionais: Mulheres, lideranças comunitárias, organizações sociais, comunidades,
desempregados.
Lar Santa Maria: Cede seu espaço para Organizações da comunidade local das áreas da
Infância e Juventude e da Assistência Social.
A Caritas e os Serviços oferecidos A Caritas atua na perspectiva das Políticas Públicas com quatro diretrizes
institucionais: defesa e promoção de direitos humanos e sociais; incidência e controle social
114 de políticas públicas; construção de projeto de desenvolvimento solidário e sustentável; o
fortalecimento da Rede Caritas. Operacionaliza a atividade principal e secundária com os seis
Núcleos Regionais e Lar Santa Maria (filiais) constituídos.
Programas Acolhida: Registro dos recém chegados com informações pessoais, preenchimento de uma ficha
com dados pessoais, cópias dos documentos, encaminhamento de entrevista prévia com
Agente de Proteção. Orientações sobre o processo de refúgio no Brasil, os serviços que o
Centro de Referência para Refugiados presta, entrega de subsídios informativos. Identifica
vulnerabilidades primordiais, como: menores desacompanhados, mulheres grávidas, pessoas
necessitando de albergamento, violações de direitos em território nacional. Faz o
encaminhamento para os Programas específicos do Centro de Referência. Ajudam na entrega
de doações como itens de higiene, roupas entre outros.
Assessoria de Comunicação: Atendimento de imprensa, estudantes pesquisadores e comunidade em geral, a fim de
esclarecer e sensibilizar sobre a temática do Refúgio em São Paulo/Brasil. Organização de
eventos informativos e culturais, assim como campanhas de arrecadação de itens de
necessidades como higiene, alimentação, vestuário, educação entre outros.
Assistência Social: Atendimento individual e familiar com o objetivo de garantir a proteção social ao
refugiado (e família). As principais demandas são: moradia, saúde, alimentação, vestuário,
informações sobre programas sociais. Encaminhamentos para abrigos; encaminhamentos
para atendimentos de saúde e odontologia; avaliação e doação de itens de primeira
necessidade (mediante disponibilidade); acompanhamento de casos familiares especiais;
orientação sobre os serviços e programas sociais oferecidos pelo Governo brasileiro; apoio
para localização de familiares. Análise de situação de vulnerabilidade para concessão de
ajuda financeira, elaboração de parecer social.
Integração: Encaminhamento para cursos de português gratuitos e cursos profissionalizantes;
apoio para matrículas em escolas públicas; elaboração de currículo; orientação de abertura
de conta bancária e ingresso em universidades; orientação sobre validação de diplomas
obtidos no exterior; mediação para a busca de emprego; aconselhamento de planos de
115 pequenos empreendimentos. elaboração de currículo, parceria com o PARR (Programa de
Apoio para a Recolocação dos Refugiados.
Proteção: Programa que trabalha com demandas referentes ao CONARE (Comitê Nacional para
os Refugiados) Articula a capacitação de redes de entidades, visando ampliar o espaço de
proteção dos refugiados. Atendimento jurídico individual, difusão de informação legal e
realização de atividades comunitárias com o objetivo de garantir o acesso de refugiados e
solicitantes de refúgio aos seus direitos no Brasil.
ADVOCACY: Participação em fóruns e articulação com diversos atores, sempre visando
garantir que os solicitantes de refúgio e refugiados tenham acesso efetivo a políticas públicas
e possam realizar plenamente seus direitos na cidade de São Paulo. Alguns destes Fóruns
são: Grupo de Trabalho relativo ao Aeroporto de Guarulhos; Comitê Estadual de Refugiados;
Conselho Municipal de Imigrantes.
Saúde Mental: O Serviço de Saúde Mental na Caritas tem por objetivo “contribuir para a integração
social de refugiados e solicitantes de refúgio no país de acolhida por meio da redução dos
traumas psicológicos e transtornos emocionais, levando em conta seu contexto cultural e de
migração”, Atende a pessoas que passaram por traumas e/ou têm dificuldades de adaptação
no Brasil, como preconceitos sofridos por questões de etnia, lugar de origem, cor da pele ou
por não conseguir trabalho e barreiras em relação à língua e funciona em três frentes:
a) Os atendimentos psicoterapêuticos individuais, os grupos terapêuticos, chamados
de grupos de troca;
b) Oficinas temáticas voltadas para a capacitação profissional, no caso dos adultos.
c) O serviço “ainda é pouco frequentado”;
d) Organização de escuta em grupo na sala de espera do Centro de Referência para
Refugiados;
e) Realiza o atendimento psicológico individual; encaminhamento para atendimentos
psicológicos e psiquiátricos para a rede parceira; articulação em rede, favorecendo
análise de casos e ações promotoras de políticas públicas.
Os atendimentos são feitos àqueles que necessitarem: crianças, adolescentes, adultos
e terceira idade. Os atendimentos individuais acontecem raramente, e apenas quando
solicitado por algum refugiado.
Em 2019 a equipe começou a atuar de forma interdisciplinar com reuniões semanais
onde há troca de informações sobre os casos atendidos em cada programa e que podem
suscitar um encaminhamento ao programa de Saúde Mental.
116 O trabalho em Rede:
A Rede é uma organização não institucionalizada de trabalhadoras de serviços de
auxílio a imigrantes-refugiadas em São Paulo, sejam eles serviços de saúde, ou que tenham
algum tipo de intersecção com o tema. Na prática, constitui-se enquanto uma reunião mensal
de alguns serviços de assistência a imigrantes refugiadas que ofereçam algum tipo de
atendimento e/ou cuidado em saúde ainda que seja apoio psicológico ou que estejam
envolvidos na execução de políticas migratórias, como é o caso do CRAI4 As reuniões
ocorrem às primeiras sextas-feiras de cada mês, das 14h às 16h, salvo em ocasiões onde
algum feriado ou intercorrência maior impedisse e quando isso ocorria, elas costumam ser
transferidas para a sexta-feira subsequente. Inicialmente, a ideia era que cada serviço
trouxesse algum caso para ser discutido entre as profissionais participantes da reunião, a
maioria absoluta com formação em psicologia e/ou psicanálise e a experiência servisse para
acompanhamento de imigrantes-refugiadas em seus trânsitos pelos serviços, além de buscar,
por meio de brainstorms (chuva de ideias) sobre as questões trazidas, possíveis soluções
para os casos das atendidas. Com o decorrer do tempo, e devido às frequentes turbulências
políticas recentes, houve uma derivação da pauta das reuniões, que foram das discussões de
casos para, discussão sobre mobilizações e articulações políticas que pudessem otimizar o
funcionamento desses serviços em uma organização de rede, demandando, inclusive, do
poder público municipal as respostas para seus problemas através de Politicas Públicas. As
reuniões mensais ocorriam na Missão Paz, que funciona nas instalações da Igreja Nossa
Senhora da Paz, na baixada do Glicério, região central de São Paulo. Também neste espaço
funciona a Casa do Migrante, casa de acolhida para imigrantes refugiadas recém-chegadas
à cidade. As profissionais representavam serviços coordenados e oferecidos pelo Estado,
como as representantes da Unidade Básica de Saúde (UBS) e o Núcleo de Apoio à Saúde da
Família (NASF) da região da Sé, o Ambulatório, o Grupo Veredas (ligado à Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo e à USP), os CTAs do Butantã e de São Mateus – que
abrigavam venezuelanas – e, por vezes, de alguns CAPS; os serviços coordenados em uma
parceria entre o Estado e organizações da sociedade civil, como o CRAI e seu centro de
acolhida – administrados pelo Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras); e os serviços
coordenados somente pela sociedade civil, como o CRR/CASP, a Cruz Vermelha, a
BibliASPA, a Compassiva, a Preparando o Caminho, o Coletivo, o Projeto Ponte, a África do
Coração, a SBP-SP, e diversos outros que compareciam esporadicamente. Além disso,
representantes de projetos de saúde temporários junto a imigrantes-refugiadas, como uma
série de rodas de conversa organizada pela ONU Mulheres, também compareciam. Alguns
serviços rotacionavam seus representantes, mas garantiam presença em todas as reuniões,
e mulheres sempre representaram a maioria absoluta das participantes das reuniões, bem
como pessoas fenotipicamente consideradas e/ou autodeclaradas brancas. Também as
117 assistentes sociais são presença constante e maciça nas reuniões de Rede. A presença de
estrangeiras, também sempre foi constante: entre as profissionais. Entretanto, a discussão de
casos de imigrantes refugiadas o principal tema da maioria das reuniões de Rede. Em uma
dessas oportunidades, o caso discutido foi o de uma Escola Municipal de Ensino Infantil
(EMEI) localizada na Zona Norte que estava apresentando alguma dificuldade ao lidar com
suas alunas imigrantes-refugiadas: várias crianças estavam sendo encaminhadas pelas
professoras para o CAPS-Infantil do território com suspeita de autismo, algo bastante comum
a crianças imigrantes-refugiadas em contextos os mais diversos possíveis. Algumas alunas
imigrantes-refugiadas pouco interagiam com outras crianças, não respondiam às professoras
e colegas e não cumpriam as tarefas designadas a elas, ficando em silêncio a maior parte do
tempo. Diante disso, as professoras costumavam reagir chamando mães e pais à escola para
explicar-lhes a importância de elas próprias aprenderem a língua, e, em alguns casos,
proibindo-lhes que a língua nativa fosse falada em casa para não prejudicar o aprendizado do
português.
Grupos Terapêuticos: Segundo a coordenação geral do Caritas, dentre as ONGS que contam com
psicólogas na equipe (realizando atendimentos psicoterápicos ou não), estão poucas,
destaque para o Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante (CDHIC) –O CRAI
que oferece atendimento psicológico em parceria com o grupo Veredas (Grupo de Imigração
e Psicanálise, desenvolvida no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo), a
Missão Paz, a Caritas de São Paulo, entre outros, além das estruturas do SUS (Sistema Único
de Saúde) e alguns Centros de Acolhida, como por exemplo a Casa do Migrante e os Centros
Temporários de Acolhimento (CTAs).
No programa de Saúde Mental, os grupos terapêuticos funcionam como grupos de
verbalização e se inserem em um contexto de multiplicação de “novas abordagens que levam
em consideração a subjetividade humana e a inclusão social. Esses grupos têm como
proposta potencializar as trocas dialógicas, o compartilhamento de experiências e a melhoria
na adaptação ao modo de vida individual e coletivo.
O grupo de troca não intercambiava as dificuldades da temporalidade passada, pois
não era o que as imigrantes-refugiadas traziam para trocar, segundo a Coordenadora.
Enquanto esperava-se que elas discorressem sobre as guerras e perseguições em seus
países de origem, ou as situações-limite enfrentadas no processo migratório, as imigrantes-
refugiadas desfilavam exemplos sobre como as organizações que oferecem serviços a elas
estão profundamente implicadas nas dificuldades que elas sofrem. Eram sim trazidos temas,
como a dificuldade de aprender português (pela falta de cursos gratuitos em locais acessíveis
da cidade, pela dificuldade em utilizar o transporte público, pela indisponibilidade de tempo
e/ou financeira), a dificuldade de arranjar emprego (pelas entrevistas de emprego
118 assimétricas, consideradas as assimetrias na proficiência do português, pelo alto custo dos
processos de revalidação do diploma, pelo racismo e pela injúria racial, pela dificuldade em
utilizar o transporte público, pela ineficiência dos serviços de assistência, pela grande
quantidade de empregadores inescrupulosos e pela grande quantidade de imigrantes-
refugiadas em condições de trabalho análogas à escravidão) e o racismo sofrido que vinham
à tona nos grupos de troca organizados pelo programa de Saúde Mental. Quadro: Ações dos Programas
Programa | Atendimento Detalhamento Ação
De 01.01.17 a 31.12.2017 6.500 pessoas atendidas Gerando aproximadamente 20.000 atendimentos
Importância da escuta para orientações corretas, diminuindo dúvidas e minimizando tempo e recursos da população de interesse, assim como angústias com relação a sua situação documental e de integração local
Revisão dos fluxos atuais de trabalho em cada programa; Foco na excelência do serviço de primeira acolhida Contratação de Voluntariado para Programas estratégicos como a Saúde Mental Grupo de Orientação para Deferidos Implementação de Plantão de Atendimento Aumento do número de profissionais fixos Apoio de Voluntariado
Necessidade de capacitação específica para os órgãos públicos de serviços essencialmente sociais (Albergues, saúde, trabalho) para o melhor acolhimento de imigrantes e refugiados. Especial atenção a mulheres grávidas, grávidas com criança ou sozinhas são em geral as que mais sofrem e seu tempo de integração, onde a demanda do atendimento costuma ser mais demorado, considerando a dificuldade de encontrar trabalho como forma de integração e renda
Espaço físico ambientado de maneira a garantir sigilo, confidencialidade e conforto Ampliação de parcerias e Rede de apoio Atendimentos complementares in loco (visitas domiciliares) a fim de acompanhar as altas vulnerabilidades e verificar possibilidades de assistência social. Importância do Programa de Saúde Mental, em rodas de conversa e acompanhamentos individuais, como fonte de apoio aos solicitantes de refúgio e refugiados em um momento angustiante de integração social, minimizando efeitos traumáticos para a adaptação
Fonte: Elaborado pela autora
119
No gráfico 2, demonstraremos como está a composição de voluntários que
quanto ao tipo de contratação feita pela ONG. A grande força de trabalho nos
programas está alicerçado no trabalho dos voluntários. Dos 6 entrevistados 4, foram
voluntários antes de desempenharem uma posição efetiva na realizam na ONG,
atividades estas com carga horária diária de 8 horas.
Gráfico 2: Voluntários Fonte: Elaborado pela autora Tabela 2: Estrutura por tipo de contratado na ONG
Tipo contrato Frequência
Contratado Período de 04 meses 2 Contratado Período de 06 meses 1 Contratado Período de 08 meses 2 Contratado Período de 12 meses 11 CLT - 40 horas semanais 10 Total Geral 26
Fonte: Elaborado pela autora Para as posições de Coordenação dos Programas as contratações são feitas
via CLT, em sua maioria. Na Tabela 2 está a estrutura por tipo de contrato na ONG.
Dos seis entrevistados quatro são CLT (com carga horaria de 30 a 40 horas semanais)
e dois contratados como Prestador de Serviço, com uma carga horária menor (16
horas).
024681012141618
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Voluntários-Form Acadêmica
120
Parcerias da ONG: As parcerias ocorrem pela interdependência das ações para o alcance
qualitativo dos resultados e exercício de direitos dos usuários. Contam com os
seguintes parceiros: Pastorais Sociais da Arquidiocese de São Paulo; Instituto
CREDIPAZ, organização sem fins lucrativos de Microcrédito solidário e popular. No
que se refere ao Centro de Referência para Refugiados constituíram as seguintes
parcerias:
CONARE (Comitê Nacional para Refugiados) – através da Lei 9.474 de 1997
que regulamenta o Estatuto dos Refugiados; processo de elegibilidade e Políticas
Públicas; Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados no Brasil (ACNUR);
Policia Federal – apoio e encaminhamentos; Secretarias da Justiça e Defesa da
Cidadania via Comitê Estadual para Refugiados;
– estudo de possibilidades políticas públicas; Defensoria Pública da União –
orientação e encaminhamentos jurídicos, participação em eventos propostos pela
CASP; Ministério Público – apoio e encaminhamentos; Arquidiocese de São Paulo;
– apoio a atividades do Centro de Referência; Paróquia São João Batista do
Brás e Paróquia Santo Antônio de Lisboa;
– doações; Missão Belém – no acolhimento para idosos e pessoas com
doenças crônicas; Obra Social Nossa Senhora Aparecida (Irmãs Palotinas);
– acolhida às mulheres; Missão Paz (Padres Scalabrinianos – Casa do
Migrante e Pastoral do Migrante) – casa de acolhida e orientação quanto à
documentação de permanência; Refugees United;
– utilização de sala e infraestrutura para divulgação de plataforma de
localização de familiares e amigos; encaminhamento para albergamento;
– cursos profissionalizantes; UNISANTOS – Cursos de Relações
Internacionais- pesquisa sobre os países de origem; Instituto de Migrações e Direitos
Humanos (IMDH), apoio e esclarecimentos sobre migração e permanência;
SASECOP (Serviço de Apoio Educativo de Capacitação e Orientação Profissional);
CESPROM (Associação Educadora Beneficente do Centro Scalabriniano de
Promoção); Hospital das Clínicas e Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas;
SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial); SENAC (Serviço
Nacional de Aprendizagem Comercial) – cursos profissionalizantes; SESC (Serviço
Social do Comércio) – curso de português, acesso à internet, lazer e cultura,
121
alimentação a preço acessível; SESI (Serviço Social da Indústria); CREAS (Centro de
Referência Especializado de Assistência Social) – albergues; CAT – Centro de
Atendimento ao Trabalhador (PMSP) – cursos e palestras gratuitas;
– atendimentos em saúde mental e outras especialidades; Hospital de
Referência da Saúde da Mulher Pérola Byington – atendimento em saúde; Unidade
Básica de Saúde (UBS) Sé;
– atendimento ambulatorial; APCD (Associação Paulista de Cirurgiões
Dentistas) – atendimento odontológico; Universidade de São Paulo (USP);
– serviços odontológicos; Hospital "Emílio Ribas" – doenças infectas
contagiosas; Hospital Infantil "Menino Jesus";
– atendimento em saúde; Hospital Brigadeiro – referência no atendimento ao
homem; Santa Casa de Misericórdia , Amparo Maternal;
– assistência em saúde/internação à mulher gestante; Todos os Postos de
Atendimento Médico da Rede Pública Estadual e Municipal, principalmente os
localizados na região Central, onde reside a maioria dos solicitantes e refugiados;
- Parcerias com Universidades:
UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora); UFMG (Universidade Federal de
Minas Gerais); UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos); Instituto Paula Souza;
UNINOVE , – COMPASSIVA – organização que possibilita curso de português para
sírio e orientação para revalidação de diplomas; CIEE (Centro de Integração Empresa
Escola) – apoio pré-vestibular para pessoas vulneráveis e curso de português;
Universidade Federal de São Paulo, Campus Guarulhos – UNIFESP/GRU – curso de
português; Igreja Batista – curso de português; UNIFAI – curso de português; Coletivo
Conviva Diferente – curso de português; EDUCAFRO – curso de português; Cursinho
Popular Mafalda;
– odontologia e saúde; Escritório de Advocacia Mattos Filho –assessoria
jurídica;
– cursos Governo do Estado de São Paulo – certificações; Comunidade Novos
Rumos
– cadastro e encaminhamento para vagas de trabalho; Posto de Atendimento
ao Trabalhador (PAT) – cadastro e encaminhamento para vagas de trabalho; EMDOC
122
(Projeto PARR)14; recolocação profissional; Ótica Carol – preços mais acessíveis para
solicitantes de refúgio e refugiados; Posto humanizado Aeroporto de Guarulhos –
contatos e apoio aos solicitantes que se encontram no aeroporto; CROPH
(Coordenação Regional de Promoção Humana);
Projetos: a) FUNCIONAMENTO DE 05 UNIDADES DE EDUCAÇÃO INFANTIL- UEI
Com a solidariedade de benfeitores do Brasil e da Alemanha, realizaram o
trabalho de cuidar e educar diariamente, são atendidas 550 crianças de 02 e 03 anos,
em Unidades de Educação Infantil em 05 bairros periféricos de Rondonópolis, em
parceria com a Prefeitura Municipal de Rondonópolis, com a colaboração de
voluntários, e a de pessoas físicas, chamados de Padrinhos e Madrinhas das
Unidades e funcionários da Paróquia São José Operário.
b) AFILHADOS DE PADRINHOS DA ALEMANHA
O projeto Afilhados atende 123 afilhados com uma ajuda mensal financiada
pela Associação Dom Helder Câmara e Kindermissionwerk e tem por objetivo ajudar
as famílias através das ações: Favorecer instrumentos para despertar a consciência
familiar e cidadã. Incentivar as famílias a participarem da vida da comunidade.
Despertar a criatividade da criança e adolescente por meio de cursos.
c) PARCERIA EM PROJETOS /ACÕES COM OUTRAS INSTITUIÇÕES
Em parceria com o Mesa Brasil, recebem alimentos para ajudar os projetos da
UEIs e Recanto dos Idosos. Com a parceria do Lions Club São José Operário, com
uma ajuda mensal para a manutenção do projeto Raio de Luz.
d) RECANTO DOS IDOSOS
O Recanto dos Idosos S. José Operário, conta com 54 idosos residentes e 86
idosos que moram nos bairros vizinhos. Realizam as atividades: aferição de pressão
14 PARR-Programa de Apoio para a Recolocação dos Refugiados – PARR, foi criado em outubro de 2011 pela EMDOC, consultoria especializada em imigração, transferências para o exterior, com o apoio do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e o Centro de Referência para Refugiados da Caritas Arquidiocesana de São Paulo.
123
arterial; Palestra de conscientização ambiental e cuidados com a saúde; Terapias
ocupacionais dançante e artesanato; roda de conversas com o CRAS no atendimento
individual a moradores com depressão.
e) FUNCIONAMENTO DO ALBERGUE NOTURNO EM VILA OPERÁRIA Atende em média 40 pessoas por dia, o Albergue Noturno São José Operário
no ano de 2019 atendeu até dia 28/02/2019, contudo teve suas atividades encerradas
devido as condições do prédio que estava muito danificado e a repulsa da comunidade
em aceitar a reforma para esta finalidade.
Infraestrutura: A Sede, em regime de comodato, ocupa dois andares e uma sala no terceiro
andar do Condomínio Dom Paulo Evaristo Arns, em um prédio de três andares.
Estando assim distribuídos: Térreo: Rampa entrada; Hall de entrada; Escada;
Elevador; Controle de acesso; bancos de espera. O Primeiro andar abriga o serviço
Centro de Referência para Refugiados, assim distribuído em 11 Salas de atendimento
individual; 03 Salas exclusivas para administração, coordenação, equipe técnica; 02
Salas de atendimento em grupo/atividades comunitárias, sanitários e 01 Recepção.
Está equipada com 17 Computadores; 02 Datashow; 09 Impressoras; telefones;
Arquivos e armários de aço. O Segundo andar abriga 01 capela; 01 sala de reunião;
01 área de convivência; 01 Espera; 01 sala auxiliar administrativo; 01 sala para o
diretor; 01 sala para o vice-diretor; 01 sala assistente de diretoria; 01 sala assistente
social; 01 sala administração; 01 auditório; 01 depósito mobiliário; sanitários. As salas
são equipadas com computador; aparelho telefônico; internet; mesa; cadeiras;
arquivo; armário. O auditório e a área de convivência são equipadas com data show,
cadeiras e equipamento de som. O Terceiro andar abriga em uma sala a filial CASP
Sé, que também se utilizar das salas de reunião e auditório do segundo andar para
realizar suas atividades.
Os cinco Núcleos Regionais possuem, cada qual, uma sala nas regiões de
atuação, Regiões Episcopais Belém, Brasilândia, Ipiranga, Lapa, Santana.
124
Quadro – ONGS atuado no Município de São Paulo Nome Histórico e Características
CARITAS Presença de psicólogos
A Caritas Brasileira, fundada em 1956, faz parte das 164 organizações- membros da Rede Caritas Internacional. No Brasil ela é um organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), organizada em uma rede com 183 entidades-membros, 12 sedes regionais e uma nacional, atuando em 450 municípios. É uma entidade de promoção e atuação social que trabalha na defesa dos direitos humanos, da segurança alimentar e do desenvolvimento sustentável solidário. Sua atuação é junto aos excluídos (as) em defesa da vida e na participação da construção solidária de uma sociedade justa, igualitária e plural. Acolhe refugiados no Brasil e integrando-os por meio de suas unidades no Rio de Janeiro e em São Paulo.
A MISSÃO PAZ Presença de psicólogos
Missão paz é uma instituição filantrópica, fundada em 1930, pelos Missionários de São Carlos fazendo parte da Scalabrini International Migration Network (SIMN) buscando propiciar um ambiente acolhedor no qual as pessoas possam se relacionar e assumir suas responsabilidades perante o próximo. O objetivo da Casa do Migrante , que é uma organização religiosa voltada para a acolhida de imigrantes recém-chegados, imigrantes e refugiados e indivíduos envolvidos no drama mundial da mobilidade humana, sem distinção de sexo, etnia, cor, credo, nacionalidade ou qualquer outra forma passível de discriminação.; diferentes culturas e línguas, diversas religiões e credos. A Casa tem cem leitos, localizado ao lado da Pastoral do Migrante, A Missão Paz funciona na paróquia de Nossa Senhora da Paz, no bairro do Glicério em São Paulo. Oferece serviços de documentação, apoio jurídico, assistência social, atendimento psicológico e de saúde, assim como educacional, com cursos de português, palestras interculturais e cursos profissionalizantes.
INSTITUTO ADUS Presença de psicólogos
Instituto de Reintegração do Refugiado, fundado em 2010, é uma organização sem fins lucrativos que busca reinserir os refugiados localizados em São Paulo na sociedade. O Adus oferece aulas de português, cursos de qualificação profissional, apoio psicológico, inserção no mercado de trabalho, instrução e preparação em empreendedorismo e ações culturais. Além de promover os projetos incorpora os refugiados no mercado de trabalho.
CRUZ VERMELHA. Presença de psicólogos
Foi fundada em 1863 na Suíça, com o nome original de Comitê Internacional Para Ajuda aos Militares Feridos. A instituição foi criada inicialmente com o propósito de dar assistência aos prisioneiros de guerra. Atualmente atende uma variedade de programas de ajuda humanitária.
MÉDICOS SEM FRONTEIRAS Presença de psicólogos
A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) foi fundada em 1971 por um grupo de médicos e jornalistas franceses que atuou em parceria com a Cruz Vermelha em uma ação específica. A instituição oferece ajuda médica e humanitária a populações em situações de emergência, como em casos de conflitos armados, epidemias, exclusão social, entre outro. É atualmente a maior ONG de ajuda humanitária no mundo atuante na área da saúde, tendo ganho o Nobel da Paz em 1999 como reconhecimento à importância dos serviços prestados. Hoje é composta por mais de 36 mil profissionais de diferentes áreas e nacionalidades que desempenham atividades em mais de 70 países. entre as quais destacam a importância de se pesquisar mais a fundo as experiências dos próprios refugiados acerca dos processos de integração e exclusão social vivenciados por eles e de se adotar uma perspectiva interdisciplinar para melhor compreensão desse fenômeno extremamente rico e multifacetado.
ESTOU REFUGIADO Não tem a presença de psicólogos
O Movimento Estou Refugiado nasceu da convicção de que a questão dos refugiados está envolta de desinformação e preconceito. Apoiam na oferta de emprego. Trabalham permanentemente junto às empresas para garantir oportunidades de trabalho. Desenvolveram a Máquina de Currículos, bem como a produção de conteúdos realizando entrevistas com refugiados e fazendo pesquisas, escrevendo artigos e editando vídeos para montar uma biblioteca sobre o tema. Através da Planisfério Causas, desenvolvem produtos e serviços, garantindo a sobrevivência e a autonomia Os serviços já estão funcionando: Kosukola, o lava-rápido que tem como vantagens, a economia, a conveniência e a sustentabilidade.
MUNGAZI Não tem a presença de psicólogos
Criado em 2015, é uma organização apartidária e laica, criada pelo professor Omana Petench, refugiado do Congo, que visa prestar apoio aos refugiados na sua adaptação a uma nova realidade, sem distinção étnica, política, ideológica ou religiosa. Realizam apoio à integração, oferecem a oportunidade da aprendizagem da cultura africana e gastronomia africana, favorecendo os laços e as trocas intercomunitárias, promovendo, assim, o resgate e a preservação da história africana no Brasil.
Elaborado pela autora
126
ANEXO 3 - Aprovação do Comitê̂ de Ética da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP)
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