apostila de toxicologia

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TOXICOLOGIA OCUPACIONAL

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Page 1: Apostila de Toxicologia

TOXICOLOGIA OCUPACIONAL

Profª DSc. Rita Wetler Tonini

Page 2: Apostila de Toxicologia

1- TOXICOLOGIA

A Toxicologia é a ciência que tem como objeto de estudo o efeito

adverso de substâncias químicas sobre os organismos vivos, com a finalidade

principal de prevenir o aparecimento deste efeito, ou seja, estabelecer o uso

seguro destas substâncias químicas.

Trata-se de uma Ciência multidisciplinar, onde os conhecimentos estão

inter-relacionados. Envolvendo assim, especialistas com diferentes formações

profissionais

A Toxicologia se apóia em 3 elementos básicos:

i) O agente químico (AQ) capaz de produzir um efeito;

ii) O sistema biológico (SB) com o qual o AQ irá interagir para produzir o

efeito;

iii) O efeito resultante, que pode ser adverso (ou tóxico) para o SB.

TOXICOLOGIA QUÍMICA

BIOQUÍMICA

BIOLOGIA

PATOLOGIA

FARMACOLOGIASAÚDE PÚBLICA

FÍSICA

FISIOLOGIA

Page 3: Apostila de Toxicologia

2- ÁREAS DA TOXICOLOGIA

Toxicologia Ambiental: efeitos nocivos produzidos por substâncias

químicas presentes no macro ambiente dos seres vivos.

Toxicologia Ocupacional: efeitos nocivos produzidos pelas substâncias

químicas presentes no meio ocupacional (micro ambiente) do homem.

Toxicologia de Alimentos: estuda os efeitos adversos produzidos por

agentes químicos presentes nos alimentos, sejam estes de origem biogênica

ou antropogênica.

Toxicologia de Medicamentos: efeitos adversos decorrentes do uso

inadequado de medicamentos, da interação medicamentosa ou da

susceptibilidade individual.

Toxicologia Social: efeito nocivo dos agentes químicos usados pelo

homem em sua vida de sociedade seja sob o aspecto individual ou social.

Ecotoxicologia: estudo dos efeitos adversos de agentes químicos ou

físicos no ecossistema.

Todas estas áreas poderão ser estudadas sob três aspectos distintos: o

clínico, o analítico e o experimental.

3- AGENTE TÓXICO

Diz-se de qualquer substância química que, interagindo com um

organismo vivo, é capaz de produzir um efeito tóxico, seja este uma alteração

funcional ou a morte.

Toda a substância química é potencialmente tóxica, este potencial pode

se transformar em risco com base em 3 fatores:

- Dose recebida

- Sensibilidade do receptor à concentração recebida

- Via de contato

Page 4: Apostila de Toxicologia

Todas as substâncias são venenos, não há uma que não seja. A dose

correta é que diferencia um veneno de um remédio (PARACELSUS-1493-

1541).

3.1- Classificação dos Agentes Tóxicos

- Quanto à natureza: Naturais ou Sintéticos

- Quanto ao órgão ou sistema onde atuam: Hepatotóxico, Neurotóxico,

Nefrotóxico, Genotóxico, etc.

- Quanto às características físicas: Sólidos, Líquidos, Gases, vapores,

partículas

- Quanto às características químicas: Halogênios, Metais, Produtos alcalinos,

Hidrocarbonetos alifáticos, HPAs, etc.

Page 5: Apostila de Toxicologia

4- TOXICIDADE

Toxicidade é capacidade do agente químico, de produzir maior ou menor

efeito nocivo sobre os organismos vivos, em condições padronizadas de uso.

- Substância muito tóxica: causará dano a um organismo se for

administrada em quantidades muito pequenas.

- Substância de baixa toxicidade: somente produzirá efeito quando a

quantidade administrada for muito grande.

4.1- Fatores que influem na toxicidade

- Fatores ligados ao agente químico:

Page 6: Apostila de Toxicologia

- propriedades físico-químicas (solubilidade, grau de ionização,

coeficiente de partição óleo/água, tamanho molecular, estado físico, etc.);

- impurezas e contaminantes;

- fatores envolvidos na formulação (veículo, adjuvantes)

- Fatores relacionados com o organismo:

- espécie, linhagem, fatores genéticos;

- fatores imunológicos, estado nutricional, dieta;

- sexo, estado hormonal, idade, peso corpóreo;

- estado emocional, estado patológico

- Fatores relacionados com a exposição:

- via de introdução;

- dose ou concentração

- Fatores relacionados com o ambiente:

- temperatura, pressão, radiações, luz, umidade, etc.

5- INTOXICAÇÃO

É um conjunto de efeitos nocivos representado pelos sinais e sintomas

que revelam o desequilíbrio orgânico produzido pela interação do agente

químico com o sistema biológico. Corresponde ao estado patológico provocado

pelo agente tóxico, em decorrência de sua interação com o organismo.

Efeito tóxico

=

Dose da substância

+

Tempo contato

Suficientes para quebrar a homeostasia do organismo

Page 7: Apostila de Toxicologia

5.1- Fases da intoxicação

Fase de Exposição: corresponde ao contato do agente tóxico com o

organismo. Representa a disponibilidade química das substâncias químicas e

passíveis de serem introduzidas no organismo.

Fase Toxicocinética: consiste no movimento do AT dentro do

organismo. É formada pelos processos de absorção, distribuição,

armazenamento e eliminação (biotransformação e excreção). Todos esses

processos envolvem reações mútuas entre o agente tóxico e o organismo,

conduzindo à disponibilidade biológica.

Fase Toxicodinâmica: corresponde à ação do AT no organismo.

Atingindo o alvo, o agente químico ou seu produto de biotransformação

interage biológicamente causando alterações morfológicas e funcionais,

produzindo danos.

Fase Clínica: corresponde à manifestação clínica dos efeitos resultantes

da ação tóxica. É o aparecimento de sinais e sintomas que caracterizam o

efeito tóxico e evidenciam a presença do fenômeno da intoxicação.

5.1.1- Fase de exposição

Exposição é a medida do contato entre o AT e a superfície corpórea do

organismo e sua intensidade depende de fatores, tais como:

5.1.1.1- Via ou local de exposição: As principais vias de exposição, através

das quais os AT são introduzidos no organismo são:

- via gastrintestinal (ingestão)

- via pulmonar (inalação)

- via cutânea (contato)

Page 8: Apostila de Toxicologia

Embora não tão importante para a Toxicologia como estas três, existe

também a via parenteral. A via de introdução influi tanto na potência quanto na

velocidade de aparecimento do efeito tóxico. A ordem decrescente de eficiência

destas vias é: via endovenosa > pulmonar > intraperitoneal > sub-cutânea >

intra muscular > intra-dérmica > oral > cutânea.

Estas vias ganham maior ou menor importância, de acordo com a área da

Toxicologia em estudo. Assim, a via pulmonar e a cutânea são as mais

importantes na Toxicologia Ambiental e Ocupacional, a via gastrointestinal na

Toxicologia de Alimentos, de Medicamentos, em casos de suicídios e

homicídios, e a via parenteral tem certa importância na Toxicologia Social e de

Medicamentos (Farmacotoxicologia).

5.1.1.2- Duração e freqüência da exposição: A duração de uma exposição é

importante na determinação do efeito tóxico, assim como na intensidade

destes. Geralmente a exposição pode ser classificada, quanto à duração em:

- exposição aguda: exposição única ou múltipla que ocorra em um

período máximo de 24 horas

- exposição sub-aguda: aquela que ocorre durante algumas semanas

(até 1 mês)

- exposição sub-crônica: aquela que ocorre durante alguns meses

(geralmente entre 1 e 3 meses)

- exposição crônica: ocorre por um tempo maior do que 3 meses.

Quanto à freqüência da exposição observa-se que, geralmente, doses

ou concentrações fracionadas podem reduzem o efeito tóxico, caso a duração

da exposição não seja aumentada. Assim, uma dose única de um agente que

produz efeito imediato e severo, poderá produzir menos do que a metade ou

nenhum efeito, quando dividida em duas ou mais doses, administradas durante

um período de várias horas ou dias. No entanto, é importante ressaltar que a

redução do efeito provocado pelo aumento de freqüência (ou seja, do

fracionamento da dose) só ocorrerá quando:

i) A velocidade de eliminação é maior do que a de absorção, de modo

que os processos de biotransformação e/ou excreção ocorram no espaço entre

duas exposições;

Page 9: Apostila de Toxicologia

ii) O efeito tóxico pela substância é parcial ou totalmente revertido antes

da exposição seguinte.

Se nenhuma destas situações ocorrerem, o aumento de freqüência

resultará em efeitos tóxicos crônicos.

5.2 - Fase toxicocinética

Nesta fase tem-se a ação do organismo sobre o agente tóxico,

procurando diminuir ou impedir a ação nociva da substância sobre ele. É de

grande importância, porque dela resulta a quantidade de AT disponível para

reagir com o receptor biológico e, consequentemente, exercer a ação tóxica. A

fase toxicocinética é constituída dos seguintes processos:

- Absorção

- Distribuição

- Eliminação: biotransformação e excreção

Pode-se notar que, nesta fase, o agente tóxico deverá se movimentar

pelo organismo. Para tal, terá que, frequentemente, transpor membranas

biológicas. Assim, é muito importante o conhecimento dos fatores que influem

no transporte das substâncias químicas pelas membranas.

Fatores que influem no transporte por membranas: podem ser agrupados

em duas classes distintas: os relacionados com a membrana, e aqueles

relacionados com a substância química.

Fatores relacionados com a membrana

- Estrutura da membrana

- Espessura da membrana

- Área da membrana

Page 10: Apostila de Toxicologia

Dentre estes 3 fatores, destaca-se a estrutura da membrana. Sabe-se

que a membrana biológica é constituída de uma bicamada lipídica, contendo

em ambos os lados, moléculas de proteínas que penetram e às vezes

transpõem esta camada. Os ácidos graxos presentes na camada lipídica não

possuem uma estrutura cristalina rígida, ao contrário, na temperatura fisiológica

eles têm características quase fluídas. Portanto, o caráter fluído das

membranas (e sua permeabilidade) é determinado principalmente pela

estrutura e proporção relativa de ácidos graxos insaturados presentes na

região. Este modelo denominado de “mosaico fluído”, foi proposto por SINGER

& NICOLSON em 1972 e é o mais aceito atualmente.

Fatores relacionados com a substância química

Lipossolubilidade: Devido à constituição lipoprotéica das membranas

biológicas, as substâncias químicas lipossolúveis, ou seja, apolares, terão

capacidade de transpo-la facilmente, pelo processo de difusão passiva. Já as

substâncias hidrossolúveis não transporão estas membranas, a não ser que

tenham pequeno tamanho molecular e possam ser filtradas, através dos poros.

Grau de ionização ou de dissociação: A maioria dos agentes tóxicos são

ácidos fracos ou bases fracas que possuem um ou mais grupos funcionais

capazes de se ionizarem. A extensão desta ionização dependerá do pH do

meio em que a substância está presente e do seu próprio pKa. É importante

relembrar que a forma ionizada é polar, hidrossolúvel e com pouca ou nenhuma

capacidade de transpor membranas por difusão passiva.

Quando o pH do meio é igual ao pKa de um composto, a metade deste estará

na forma ionizada e a outra metade na forma não-ionizada. Importante

ressaltar que o pKa sozinho não indica se um composto tem caráter ácido ou

básico, já que os ácidos fracos tem pKa elevado, mas as bases fortes também

o tem. Da mesma maneira os ácidos fortes tem pKa baixo assim como as

bases fracas.

5.2.1- Absorção: É a passagem do AT do meio externo para o meio interno,

atravessando membranas biológicas. O meio externo na absorção pode ser o

Page 11: Apostila de Toxicologia

estômago, os alvéolos, o intestino, ou seja, dentro do organismo, mas fora do

sangue. Existem três tipos de absorção mais importantes para a Toxicologia.

5.2.1.1- Absorção pelo trato gastrintestinal (TGI) ou Oral: Uma vez no

TGI, um agente tóxico poderá sofrer absorção desde a boca até o reto,

geralmente pelo processo de difusão passiva. São poucas as substâncias que

sofrem a absorção na mucosa bucal, principalmente porque o tempo de contato

é pequeno no local. Estudos feitos experimentalmente, no entanto, mostram

que cocaína, estricnina, atropina e vários opióides podem sofrer absorção na

mucosa bucal. Esta absorção é dependente, principalmente, da

lipossolubilidade (quanto maior, mais fácil será a absorção) e resulta em níveis

sanguíneos elevados, já que as substâncias não sofrerão a ação dos sucos

gastrintestinais.

Não sendo absorvido na mucosa bucal, o AT tenderá a sofrer absorção

na parte do TGI onde existir a maior quantidade de sua forma não-ionizada

(lipossolúvel). De maneira geral, os ácidos fracos não se ionizam em meio

ácido, como o do estômago, sendo assim absorvidos na mucosa gástrica,

enquanto as bases fracas por não se ionizarem no pH intestinal, serão

absorvidas no local.

Embora a maioria dos AT sofram absorção no TGI por difusão passiva,

existem alguns que serão absorvidos por processo especial, mais

precisamente por transporte ativo. Exemplo: o chumbo é absorvido por

transporte ativo e utiliza o sistema que transporta o cálcio; o tálio é

transportado pelo sistema carregador responsável pela absorção de Fe, etc.

5.2.1.2- Absorção Cutânea: A pele íntegra é uma barreira efetiva contra

a penetração de substâncias químicas exógenas. No entanto, alguns

xenobióticos podem sofrer absorção cutânea, dependendo de fatores tais como

a anatomia e as propriedades fisiológicas da pele e propriedades físico-

químicas dos agentes.

A pele é formada por duas camadas: a epiderme que é a camada mais

externa da pele; e a derme, que é formada por tecido conjuntivo, onde se

observa a presença de vasos sangüíneos, nervos, folículos pilosos, glândulas

sebáceas e sudoríparas. Estes três últimos elementos da derme permitem o

Page 12: Apostila de Toxicologia

contato direto com o meio externo, embora não existam dados que

demonstrem haver absorção através das glândulas citadas. As substâncias

químicas podem ser absorvidas, principalmente, através das células

epidérmicas (absorção transepidérmica) ou folículos pilosos (absorção

transfolicular).

Fonte: http://www.colegioweb.com.br

i) Absorção transepidérmica: é o tipo de absorção cutânea mais

frequente, devido ao elevado número de células epidérmicas existente, embora

não seja uma penetração muito fácil para os AT devido à proteção da camada

queratinosa.

ii)Absorção transfolicular: Algumas substâncias químicas podem

penetrar pelos folículos pilosos, alcançando rapidamente a derme. É uma

penetração fácil para os agentes químicos, uma vez que eles não necessitam

cruzar a camada de queratina da pele. Qualquer tipo de substância química,

seja ela lipo ou hidrossolúvel, ionizada ou não, gás ou vapor, ácida ou básica,

pode penetrar pelos folículos. É uma absorção também importante para alguns

metais.

Page 13: Apostila de Toxicologia

5.2.1.3- Absorção pelo trato pulmonar: A via respiratória é a via de maior

importância para Toxicologia Ocupacional. A grande maioria das intoxicações

Ocupacionais é decorrente da aspiração de substâncias contidas no ar

ambiental. O fluxo sangüíneo contínuo exerce uma ação de dissolução muito

boa e muitos agentes químicos podem ser absorvidos rapidamente a partir dos

pulmões. Os agentes passíveis de sofrerem absorção pulmonar são os gases

os vapores e os aerodispersóides. Estas substâncias poderão sofrer absorção,

tanto nas vias aéreas superiores, quanto nos alvéolos.

Gases e Vapores

i) Vias Aéreas Superiores (VAS): Geralmente não é dada muita atenção

para a absorção destes compostos nas vias aéreas superiores. Deve-se

considerar, no entanto, que muitas vezes a substância pode ser absorvida na

mucosa nasal, evitando sua penetração até os alvéolos. A retenção parcial ou

total dos agentes no trato respiratório superior está ligada à hidrossolubilidade

da substância. Quanto maior a sua solubilidade em água, maior será a

tendência de ser retido no local. Visto sob este ângulo, a umidade constante

das mucosas que revestem estas vias, constitui um fator favorável. Há, no

entanto, a possibilidade da ocorrência de hidrólise química, originando

compostos nocivos, tanto para as vias aéreas superiores quanto para os

alvéolos. Ex.: dióxido de enxofre (SO2) + H2O ácido sulfúrico.

Isto é importante porque estes produtos formados, além dos efeitos

irritantes, favorecem também a absorção deles ou de outros agentes pela

mucosa já lesada. Assim, nem sempre, a retenção de gases e vapores nas vias

aéreas superiores é sinônimo de proteção contra eventuais efeitos tóxicos.

ii) Alvéolos: Nos alvéolos pulmonares duas fases estão em contato, uma

gasosa formada pelo ar alveolar; e outra líquida representada pelo sangue. As

2 fases são separadas por uma barreira dupla: o epitélio alveolar e o endotélio

capilar. Diante de um gás ou de um vapor, o sangue pode se comportar de

duas maneiras diferentes: como um veículo inerte, ou como meio reativo. Em

outras palavras, o agente tóxico pode dissolver-se simplesmente por um

processo físico ou, ao contrário, combinar-se quimicamente com elementos do

Page 14: Apostila de Toxicologia

sangue. No primeiro caso tem-se a dissolução do AT no sangue, que é

puramente física e no segundo caso a reação química, ocorre aqui uma fixação

entre o AT e o sangue que dependerá da afinidade química entre estes dois

elementos. São várias as substâncias químicas que se ligam quimicamente ao

sangue são monóxido de carbono (CO), chumbo, mercúrio, etc.

Material particulado ou aerodispersóides:

Aerodispersóides são partículas sólidas ou líquidas de pequeno tamanho

molecular, que ficam em suspensão no ar, por um período longo de tempo.

Geralmente, somente as partículas com diâmetro menor ou igual a 1m

atingirão os alvéolos e poderão sofrer absorção. As partículas que possuem

diâmetro maior ficarão retidas nas regiões menos profundas do trato

respiratório. A penetração e retenção dos aerodispersóides no trato pulmonar

depende de fatores como:

Diâmetro da partícula: o diâmetro das partículas nem sempre indica o

seu comportamento no aparelho respiratório. É importante considerar o

diâmetro aerodinâmico que é função do tamanho (diâmetro físico) e da

densidade da partícula. Quanto maior o diâmetro aerodinâmico, menor a

penetração ao longo das vias aéreas superiores. Assim, se existem duas

partículas com o mesmo diâmetro físico, a de maior densidade terá o maior

diâmetro aerodinâmico e penetrará menos ao longo das vias aéreas superiores

(VAS).

Hidrossolubilidade: devido à umidade existente nas VAS, as partículas

hidrossolúveis tenderão a ficar retidas na parte superior do trato pulmonar, sem

alcançar os alvéolos.

Condensação: o tamanho das partículas no aparelho respiratório pode

ser alterado pela aglomeração ou por adsorsão de água, originando partículas

maiores. Influem na condensação a carga da partícula, as propriedades físico-

químicas da substância, o tempo de retenção no trato respiratório, etc.

Temperatura: ela pode aumentar o movimento browniano (movimento

natural e ao acaso de partículas coloidais pequenas), o que provocará maior

colisão das partículas e, consequentemente, sua maior condensação e maior

retenção.

Page 15: Apostila de Toxicologia

Mecanismos de Remoção dos Aerodispersóides do Trato Pulmonar:

Nem todas partículas que se depositam no aparelho pulmonar serão retidas

nele. Se assim fosse, calcula-se que, após 20-30 anos de trabalho, os mineiros

deveriam ter cerca de 1 kg de partículas retidas em seus pulmões. No entanto,

os estudos detectaram apenas cerca de 20g o que demonstra um eficiente

sistema de remoção ou de “clearence” pulmonar. Os mecanismos de remoção

vão depender do local de deposição. Assim:

Região nasofaríngea: as partículas são removidas pelo muco, associado

ao movimento dos cílios, que vibram em direção à faringe. É o chamado

movimento mucociliar. Na região nasofaríngea a velocidade de clearence é

muito rápida. A remoção ocorre em minutos.

Região traqueobronquial: o processo de remoção é o mesmo anterior

(movimento mucociliar), sendo que a tosse, ocasionada pela presença de

corpo estranho na região, pode auxiliar nesta remoção. Algumas substâncias

tais como o SO2, amônia e também a fumaça de cigarro diminuem a velocidade

de remoção nesta região, mas, normalmente, nesta região, a velocidade de

remoção é rápida, e esta ocorre em minutos ou horas. Em regiões mais

profundas dos brônquios esta velocidade de remoção é moderada (cerca de

horas).

Região alveolar: os epitélios dos bronquíolos e dos alvéolos são

desprovidos de cílios. O muco está presente devido à secreção das células

epiteliais. Esse muco se move em direção ao epitélio ciliado. Sabe-se que este

mecanismo é capaz de remover as partículas em direção às vias aéreas

superiores e que ele é estimulado pela presença das próprias partículas nos

alvéolos.

Outro mecanismo de remoção é a fagocitose, realizada pelos macrófagos

presentes em grande número na região. Os fagócitos contendo as partículas

podem migrar em duas direções: - até aos brônquios onde são eliminados pelo

movimento mucociliar (que é o mais comum); ou até ao sistema linfático,

através da penetração pelas paredes dos alvéolos. A fagocitose pode remover

até 80% das partículas presentes nos alvéolos. Na região alveolar a velocidade

de clearence é lenta, podendo levar de dias até anos para ocorrer. Ela vai

depender do tipo de partícula e do mecanismo de remoção. As partículas

Page 16: Apostila de Toxicologia

presentes nos alvéolos, que não foram removidas ou absorvidas, podem ficar

retidas na região, causando as chamadas Pneumoconioses.

5.2.2- Distribuição: Após a entrada do AT na corrente sangüínea, seja através

da absorção ou por administração direta, ele estará disponível para ser

distribuído pelo organismo. Normalmente a distribuição ocorre rapidamente e a

velocidade e extensão desta dependerá principalmente dos seguintes fatores:

- Fluxo sangüíneo através dos tecidos de um dado órgão;

- Facilidade com que o tóxico atravessa a membrana e penetra nas

células de um tecido.

Assim, aqueles fatores que influem no transporte por membranas,

discutidos anteriormente, serão importantes também na distribuição. Alguns

agentes tóxicos não atravessam facilmente as membranas celulares e por isto

tem uma distribuição restrita enquanto outros, por atravessá-las rapidamente,

se distribuem através de todo organismo. Durante a distribuição o agente

alcançará o seu sítio alvo, que é o órgão ou tecido onde exercerá sua ação

tóxica, mas poderá, também, se ligar a outros constituintes do organismo,

concentrando-se em algumas partes do corpo.

Em alguns casos, estes locais de maior concentração são também os

sítios de ação e disto resultam efeitos altamente prejudiciais. É o caso do

monóxido de carbono (CO), para o qual o sangue representa tanto o local de

concentração quanto o de ação tóxica. Felizmente para o homem, no entanto,

a grande maioria dos AT atinge seus maiores níveis em locais diferentes do

sítio alvo (exemplo: Pb é armazenado nos ossos e atua nos tecidos moles).

Este acúmulo do AT em outros locais que não o de ação, funciona como uma

proteção ao organismo, uma vez que previne uma elevada concentração no

sítio alvo. Os agentes tóxicos nos locais de concentração estão em equilíbrio

com sua forma livre no sangue, e quando a concentração sangüínea decai, o

tóxico que está concentrado em outro tecido é liberado para a circulação e daí

pode atingir o sítio de ação.

A importância do sangue no estudo da distribuição é grande, não só

porque é o principal fluído de distribuição dos AT, mas também por ser o único

tecido que pode ser colhido repetidamente sem distúrbios fisiológicos, ou

traumas orgânicos. Além disto, como o sangue circula por todos os tecidos,

Page 17: Apostila de Toxicologia

algum equilíbrio pode ser esperado entre a concentração do fármaco no

sangue e nos tecidos, inclusive no sítio de ação. Assim, a concentração

plasmática fornece melhor avaliação da ação tóxica do que a dose (a não ser

quando a concentração plasmática é muito baixa em relação à concentração

nos tecidos).

A distribuição do AT, através do organismo ocorrerá de maneira não

uniforme, devido a uma série de fatores que podem ser reunidos em dois

grupos:

- Afinidade por diferentes tecidos, e

- Presença de membranas

5.2.1- Afinidade por diferentes tecidos

- Ligação às proteínas plasmáticas (PP): Várias proteínas do plasma

podem se ligar à constituintes do corpo (ex.: ácidos graxos, triptofano,

hormônios, bilirrubinas, etc.) e também aos xenobióticos. A principal proteína,

sob o ponto de vista da ligação a xenobióticos, é a albumina. Algumas

globulinas têm também papel relevante na ligação aos agentes estranhos,

especialmente àqueles de caráter básico. Destaca-se aqui a 1 glicoproteína

ácida.

Com exceção das substâncias lipossolúveis de caráter neutro, que

geralmente se solubilizam na parte lipídica das lipoproteínas, a ligação de

fármacos às proteínas plasmáticas é feita, usualmente, pela interação de

grupos polares ou não polares dos AT com o(s) grupamento(s) protéico(s). Ex.:

os fármacos de caráter ácido se ligam em um único sítio de albumina,

possivelmente ao nitrogênio do aminoácido terminal, que é no homem, o ácido

aspártico.

O elevado peso molecular das proteínas plasmáticas impede que o

complexo AT-PP atravesse pelas membranas dos capilares restringindo-o ao

espaço intravascular. Assim, enquanto ligado às proteínas plasmáticas, o AT

não estará disponível para a distribuição no espaço extravascular. Deve-se

observar, no entanto, que esta ligação é reversível (geralmente feita por pontes

de hidrogênio, forças de van der Waals, ligação iônica), e à medida que o

agente livre se difunde através da membrana capilar, a fração ligada se

dissocia das proteínas tornando-se apta para ser distribuída. Esta ligação atua,

Page 18: Apostila de Toxicologia

portanto, graduando a distribuição dos xenobióticos e, consequentemente, a

chegada ao sítio de ação.

- Ligação Celular: Embora não tão estudado como a ligação às proteínas

plasmáticas, a ligação a outros tecidos exerce um papel muito importante na

distribuição desigual dos agentes pelo organismo. Sabe-se a quantidade total

de albumina plasmática no homem corresponde a cerca de 0,4% do peso

corpóreo. A água corpórea total corresponde a 60% do peso corpóreo, logo

pode-se deduzir que os restantes 40% do peso corpóreo é de tecido não

hidratado. Assim, a ligação de AT a componentes teciduais poderá alterar

significativamente a distribuição dos xenobióticos, já que a fração de AT ligada

aos tecidos será inclusive maior do que a ligada às proteínas plasmáticas. Sob

o aspecto de ligação a xenobióticos, o tecido hepático e o renal têm um papel

especial. Eles possuem elevada capacidade de se ligarem aos agentes

químicos e apresentam as maiores concentrações destes (e também de

substâncias endógenas), quando comparados com outros órgãos.

5.2.2- Presença de membranas

- Barreira Hematencefálica: esta barreira, que protege o cérebro da

entrada de substâncias químicas, é um local menos permeável do que a

maioria de outras áreas do corpo. Assim, em contraste com outros tecidos, o AT

tem dificuldade em se mover entre os capilares, tendo de atravessar não

somente o endotélio capilar, mas também a membrana das células gliais, para

alcançar o fluído intersticial. Uma vez que este fluído é pobre em proteínas, o

AT não pode usar a ligação protéica para aumentar a distribuição dentro do

SNC. Estes fatos juntos atuam como um mecanismo de proteção, que diminui

a distribuição e ação dos tóxicos no SNC, já que eles não entram no cérebro

em quantidades significativas. A eficiência da barreira hematoencefálica varia

de uma área do cérebro para outra. Não está claro se a maior permeabilidade

destas áreas decorre de um suprimento sanguíneo mais rico ou de uma

permeabilidade mais adequada da barreira ou dos dois fatores juntos.

Os princípios que regem o transporte das substâncias através de

membranas são também os que comandam a entrada de tóxicos no cérebro.

Assim, somente a forma livre estará apta para entrar no cérebro, desde que

seja lipossolúvel

Page 19: Apostila de Toxicologia

- “Barreira” Placentária: Durante anos, o termo “barreira” placentária

demonstrou o conceito que a principal função da placenta era proteger o feto

contra a passagem de substâncias nocivas provenientes do organismo

materno. Sabe-se hoje que ela possui funções mais importantes, tais como a

troca de nutrientes e gases, como O2, CO2, etc.. Este material vital necessário

para o desenvolvimento do feto é transportado por processo ativo, com gasto

de energia. Já a maioria dos xenobióticos que consegue passar através da

placenta, o faz por difusão passiva. Atualmente sabe-se que a placenta não

representa uma barreira protetora efetiva contra a entrada de substâncias

estranhas na circulação fetal. Embora não totalmente efetiva na proteção do

feto contra a entrada de AT, existem alguns mecanismos de biotransformação

de fármacos, que podem prevenir a passagem placentária de alguns

xenobióticos.

5.2.3- Armazenamento: Os agentes tóxicos podem ser armazenados no

organismo, especialmente em dois tecidos distintos:

Tecido adiposo: Como a lipossolubilidade é uma característica

fundamental para o transporte por membranas, é lógico imaginar que os

agentes tóxicos de uma maneira geral poderão se concentrar no tecido

adiposo. Os xenobióticos são armazenados no local através da simples

dissolução física nas gorduras neutras do tecido.

Tecido Ósseo: Um tecido relativamente inerte como o ósseo pode

também servir como local de armazenamento de agentes químicos

inorgânicos, tais como flúor, chumbo e estrôncio. O fenômeno de captura dos

xenobióticos pelos ossos pode ser considerado essencialmente um fenômeno

químico, no qual as mudanças ocorrem entre a superfície óssea e o líquido que

está em contato com ela. O líquido é o fluído extracelular e a superfície

envolvida é a matriz inorgânica do osso. Assim, por exemplo, o fluoreto pode

ser facilmente colocado no lugar da hidroxila e o Pb e Sr no lugar do Ca. O

armazenamento de xenobióticos no tecido ósseo poderá, ou não, provocar

efeitos tóxicos no local. O Pb não é nocivo para os ossos, mas o flúor pode

provocar fluorose óssea e o Sr radioativo, osteosarcoma e outras neoplasias.

Este armazenamento não é irreversível. O agente tóxico pode ser liberado dos

ossos por trocas iônicas ou descalcificação. Se, no lugar do cálcio, o osso

Page 20: Apostila de Toxicologia

contiver um AT, este será deslocado para a corrente sangüínea, aumentando a

sua concentração plasmática.

5.2.4- Eliminação: Se aceita atualmente, que a eliminação é composta de dois

processos distintos: a biotransformação e a excreção.

5.2.4.1- Biotransformação: Pode-se conceituar Biotransformação como

sendo o conjunto de alterações maiores ou menores que um agente químico

sofre no organismo, visando aumentar sua polaridade e facilitar sua excreção.

Trata-se de um dos mecanismos de defesa, do organismo vivo, que busca

impedir ou minimizar a ação farmacológica ou tóxica de um fármaco sobre ele.

A intensidade e duração de uma ação tóxica são determinadas, principalmente,

pela velocidade de biotransformação do agente no organismo. Segundo alguns

autores, se não existisse a biotransformação, o organismo humano levaria

cerca de 100 anos para eliminar uma simples dose terapêutica de

pentobarbital, que é um fármaco muito lipossolúvel. A biotransformação pode

ocorrer em qualquer órgão ou tecido orgânico como, por exemplo, no intestino,

rins, pulmões, pele, etc. No entanto, a grande maioria das substâncias, sejam

elas endógenas ou exógenas serão biotransformadas no fígado.

Mecanismos da Biotransformação: A biotransformação pode ocorrer

através de dois mecanismos:

i) Mecanismo de Ativação da Biotransformação: produz metabólitos com

atividade igual ou maior do que o precursor, isto pode aumentar a toxicidade da

substância.

ii) Mecanismo de Desativação: quando o produto resultante é menos

ativo (tóxico) que o precursor, esta situação é a de ocorrência mais comum

para os xenobióticos. Os termos Metabolização e Detoxificação são

comumente encontrados na literatura científica, como sinônimos de

biotransformação. Hoje, no entanto, se guarda o termo metabolização para os

elementos essenciais endógenos do organismo e sabe-se que detoxificação

não é sinônimo de Biotransformação. Isto porque detoxificação significa

diminuição de toxicidade e nem todas as reações de biotransformação, como

Page 21: Apostila de Toxicologia

citado acima, produzirão metabólitos menos tóxicos ou ativos que o seu

precursor.

Importância da Biotransformação para as Análises Toxicológicas: A

forma mais comum de se encontrar o agente tóxico em material biológico é

como produto biotransformado. Assim, conhecendo a biotransformação do AT,

sabe-se o que procurar na amostra enviada ao laboratório. Além disto,

conhecendo-se a biotransformação e os metabólitos formados, fica mais fácil

saber que tipo de amostra é a mais indicada para ser requisitada. Exemplo: a

metanfetamina, um anorexígeno do grupo anfetamínicos usado como “bolinha

é biotransformada no organismo, produzindo anfetamina, que é excretada

pelos rins. Assim, quando da ingestão ou intoxicação com a metanfetamina,

que é excretada na urina. Assim, o material biológico enviado para análise deve

ser uma amostra de urina, e o produto principal a ser pesquisado deverá ser a

anfetamina. Os solventes clorados do tipo CHCl3 e CCl4 são pouco

biotransformados no organismo e quando isto ocorre o produto formado é

geralmente o CO2, que será, assim como os precursores, eliminados pelo ar

expirado. Logo não adianta solicitar ou receber amostras de urina para serem

analisadas.

5.2.4.2- Excreção: Este processo é, muitas vezes, denominado

Eliminação, embora pelo conceito atual a eliminação é também o processo de

biotransformação. A excreção pode ser vista como um processo inverso ao da

absorção, uma vez que os fatores que influem na entrada do xenobiótico no

organismo podem dificultar a sua saída. Basicamente existem três classes de

excreção:

i) Através das secreções: tais como a biliar, sudorípara, lacrimal,

gástrica, salivar, láctea.

ii) Através das excreções: tais como urina, fezes e catarro.

iii) Pelo ar expirado.

Excreção Urinária: Trata-se do processo de excreção mais importante

para a Toxicologia. Os glomérulos filtram substâncias lipossolúveis ou

hidrossolúveis, ácidas ou básicas, desde que tenham PM menor do que

60.000. A filtração glomerular é um dos principais processos de eliminação

Page 22: Apostila de Toxicologia

renal e está intimamente ligada a outro processo que é a reabsorção tubular.

As substâncias, após serem filtradas pelos glomérulos, podem permanecer no

lúmem do túbulo e serem eliminadas, ou então podem sofrer reabsorção

passiva através da membrana tubular. Isto vai depender de alguns fatores, tais

como a hidrossolubilidade; o pKa da substância e pH do meio. De modo geral,

as substâncias de caráter alcalino são eliminadas na urina ácida e as

substâncias ácidas na urina alcalina. Isto porque nestas condições as

substâncias se ionizarão, tornando-se hidrossolúveis e a urina é, em sua maior

parte, formada de água.

Outro processo de excreção renal é a difusão tubular passiva.

Substâncias lipossolúveis, ácidas ou básicas, que estejam presentes nos

capilares que circundam os túbulos renais, podem atravessar a membrana por

difusão passiva e caírem no lúmem tubular. Dependendo do seu pKa e do pH

do meio, elas podem, ou não, se ionizarem e, consequentemente, serem

excretadas ou reabsorvidas.

O terceiro processo de excreção renal é a secreção tubular ativa.

Existem dois processos de secreção tubular renal, um para substâncias ácidas

Page 23: Apostila de Toxicologia

e outro para as básicas, estando estes sistemas localizados, provavelmente, no

túbulo proximal. A secreção tubular tem as características do transporte ativo,

ou seja, exige um carregador químico, gasta energia, é um mecanismo

competitivo e pode ocorrer contra um gradiente de concentração. Algumas

substâncias endógenas, tais como o ácido úrico, são excretadas por este

mecanismo e a presença de xenobióticos excretados ativamente, pode

interferir com a eliminação de substratos endógenos. A Penicilina é um

exemplo de xenobiótico secretado ativamente pelos túbulos. O uso de

Probenecid (fármaco excretado pelo mesmo sistema) evita que este antibiótico

seja secretado muito rapidamente do organismo. Geralmente, o que ocorre no

organismo é uma combinação dos três processos de excreção renal, para

permitir uma maior eficácia na eliminação dos xenobióticos.

Excreção Fecal e Catarral: Não são processos muito importantes para a

Toxicologia. Os AT encontrados nas fezes correspondem à fração ingerida e

não absorvida ou então ao AT que sofreu secreção salivar, biliar ou gástrica. As

partículas que penetram pelo trato pulmonar podem ser eliminadas pela

expectoração no TGI e, se não forem reabsorvidas, serão, também, excretadas

pelas fezes.

Secreção Biliar: Dentre as secreções orgânicas, a mais significativa para

a excreção de xenobióticos é a biliar. O fígado tem uma posição vantajosa na

remoção de substâncias exógenas do sangue, principalmente daquelas

absorvidas pelo trato gastrintestinal. Isto porque, o sangue proveniente do TGI,

através da circulação porta, passa inicialmente pelo fígado, e somente depois

entra na circulação sistêmica. No fígado parte do xenobiótico pode ser

biotransformado e os metabólitos ou mesmo o produto inalterado pode ser

secretado pela bile no intestino.

Page 24: Apostila de Toxicologia

Existem, sabidamente, três sistemas de transporte ativo para a secreção

de substâncias orgânicas na bile, a saber, para substâncias ácidas, básicas e

neutras. É quase certa a existência de outro sistema para os metais. Uma vez

secretado no intestino, os xenobióticos podem sofrer reabsorção ou excreção

pelas fezes. Não se conhece o mecanismo que determina se a excreção será

urinária ou biliar. Esquematicamente temos:

Fígado

BileIntestino

Estômago

CirculaçãoSistêmica

Fígado

BileIntestino

Estômago

CirculaçãoSistêmica

Page 25: Apostila de Toxicologia

Este é o chamado ciclo entero hepático e a morfina é um exemplo típico

de xenobiótico que apresenta tal ciclo. Ela é conjugada com ácido glicurônico

no fígado e o glicuronídeo de morfina é secretado pela bile no intestino. Neste

local, pela ação da enzima -glicuronidase, a morfina é liberada e reabsorvida.

O glicoronídeo que não for lisado será excretado pelas fezes.

Outras secreções: A eliminação através da secreção sudorípara já é

conhecida há muitos anos. Sabe-se que substâncias tais como iodo, bromo,

ácido benzóico, ácido salicílico, chumbo, arsênio, álcool, etc., são excretadas

pelo suor. O processo parece ser o de difusão passiva e podem ocorrer

dermatites em indivíduos suscetíveis, especialmente quando se promove a

sudorese para aumentar a excreção pela pele.

A secreção salivar é significativa para alguns xenobióticos. Os

lipossolúveis podem atingir a saliva por difusão passiva e os hidrossolúveis

podem ser eliminados na saliva, em velocidade proporcional ao seu peso

molecular, através de filtração. Geralmente as substâncias secretadas com a

saliva sofrem reabsorção no TGI.

Existe um interesse em relação à secreção de xenobióticos no leite,

pois, através a amamentação, estes compostos acabam sendo ingeridos por

recém-nascidos. Geralmente as substâncias apolares sofrem difusão passiva

do sangue para o leite e como esta secreção é mais ácida do que o sangue

(ela tem pH = 6,5), os compostos básicos tendem a se concentrarem mais aí.

Já os compostos ácidos têm uma concentração láctea menor que a sangüínea.

Várias substâncias são, sabidamente, eliminadas pelo leite: DDT, PCB (difenil

policlorados), Pb, Hg, AAS, morfina, álcool, etc.

Excreção pelo ar expirado: Gases e vapores inalados ou produzidos no

organismo são parcialmente eliminados pelo ar expirado. O processo envolvido

é a difusão pelas membranas que, para substâncias que não se ligam

quimicamente ao sangue, dependerá da solubilidade no sangue e da pressão

de vapor. Estes xenobióticos são eliminados em velocidade inversamente

proporcional à retenção no sangue, que é estimada pelo coeficiente de partição

ar alveolar/sangue (K). Assim, gases e vapores com K elevado (pouco solúveis

no sangue) são rapidamente eliminados, enquanto os de K baixo (muito

Page 26: Apostila de Toxicologia

solúveis no sangue) são lentamente excretados pelo ar expirado. A frequência

cardíaca influi na excreção das substâncias de K alto, enquanto a frequência

respiratória influencia a excreção de agentes de K baixo. Em relação à pressão

de vapor, os líquidos mais voláteis serão, quase exclusivamente, excretados

pelo ar expirado.

Fatores que influem na velocidade e via de excreção:

- Via de Introdução: a via de introdução influi na velocidade de absorção, de

biotransformação e, também, na excreção.

- Afinidade por elementos do sangue e outros tecidos: geralmente o agente

tóxico na sua forma livre está disponível à eliminação.

- Facilidade de ser biotransformada: com o aumento da polaridade a

secreção urinária está facilitada.

- Frequência respiratória: em se tratando de excreção pulmonar,

aumentando-se a freqüência respiratória, as trocas gasosas ocorrerão mais

rapidamente.

- Função renal: sendo a via renal a principal via de excreção dos

xenobióticos, quaisquer disfunção destes órgãos interferirá na velocidade e

proporção de excreção.

5.3- Fase toxicodinâmica

Esta é a terceira fase da intoxicação e envolve a ação do agente tóxico

sobre o organismo. O AT interage com os receptores biológicos no sítio de

ação e desta interação resulta o efeito tóxico. O órgão onde acontece a

interação agente tóxico-receptor (sítio de ação) não é, necessariamente, o

órgão onde se manifestará o efeito. Além disto, mesmo que um AT apresente

elevadas concentrações em um órgão, não significa obrigatoriamente, que

ocorrerá aí uma ação tóxica. Geralmente os AT se concentram no fígado e rins

(locais de eliminação) e no tecido adiposo (local de armazenamento), sem que

haja uma ação ou efeito tóxico detectável.

Quando se considera a complexidade dos sistemas biológicos (do ponto

de vista químico e biológico), pode-se imaginar o elevado número de

Page 27: Apostila de Toxicologia

mecanismos de ação existentes para os agentes tóxicos. Alguns destes

mecanismos, os principais em Toxicologia, são resumidos a seguir:

5.3.1- Interferência com o funcionamento de sistemas biológicos

- Inibição irreversível de enzimas: O exemplo clássico deste mecanismo

são os inseticidas organofosforados, que inibem irreversivelmente a

acetilcolinesterase (AChE). Assim, impedem que a acetilcolina (Ach), um dos

mais importantes neurotransmissores do organismo, seja degradada em colina

e ácido acético, após transmitir o impulso nervoso através da sinapse. Ocorrerá

acúmulo de Ach e, consequentemente, os efeitos tóxicos decorrentes deste

acúmulo.

- Inibição reversível de enzimas: Geralmente, os AT que atuam através

deste mecanismo são anti-metabólitos, ou seja, quimicamente semelhantes ao

substrato normal de uma enzima. Assim, o agente tóxico é captado pela

enzima, mas não consegue ser transformado por ela, interrompendo assim

reações metabólicas essenciais para o organismo. É uma inibição reversível

porque o próprio organismo ao final da exposição é capaz de revertê-la. O

exemplo clássico é a dos inseticidas carbamatos, que inibem também a AChE,

só que reversivelmente. Outro exemplo são os antagonistas do ácido fólico

(usados no tratamento de tumores malignos e como herbicidas). Estas

substâncias inibem enzimas envolvidas na síntese das bases púricas e

pirimídicas, impedindo que haja síntese de DNA e multiplicação celular. Como

estes fármacos não têm ação seletiva, podem causar efeitos tóxicos em uma

série de tecidos e órgãos.

- Síntese letal: Neste tipo de mecanismo de ação, o agente tóxico é,

também, um antimetabólito. Ele é incorporado à enzima e sofre transformações

metabólicas, entrando em um processo bioquímico, surgindo como resultado

um produto anormal, não funcional e muitas vezes tóxico. Em outras palavras,

há a síntese de substâncias que não são farmacologicamente úteis e,

dependendo da concentração deste produto anormal, pode haver morte celular,

tecidual ou de sistemas biológicos. Tem-se como exemplo, o ácido fluoracético

(CH2-F-COOH), usado como rodenticida e que atua no organismo tomando o

lugar do ácido acético no ciclo do ácido cítrico. Os processos metabólicos

desenvolvem-se até a formação de ácido fluorocítrico (no lugar do ácido

Page 28: Apostila de Toxicologia

cítrico). Este produto anormal inibe a aconitase, enzima responsável pela etapa

seguinte do ciclo. Assim, há formação de um substrato anormal, tóxico, que

impede o desenvolvimento do ciclo do ácido cítrico, indispensável para o

suprimento de energia de quase todos os organismos vivos.

- Seqüestro de metais essenciais: Vários metais atuam como cofatores

em diversos sistemas enzimáticos, como os citocromos, envolvidos nos

processos de oxi-redução. Destacam-se o Fe, Cu, Zn, Mn e Co. Alguns

agentes tóxicos podem atuar como quelantes, ou seja, se ligam ou seqüestram

os metais, impedindo que eles atuem como cofatores enzimáticos. Desta

maneira, o processo biológico, no qual estas enzimas atuam, ficará prejudicado

ou mesmo interrompido. É o caso dos ditiocarbomatos. Eles se complexam

com metais, formando complexos lipossolúveis e impedindo a ação enzimática.

- Interferência com o transporte de oxigênio: A hemoglobina (Hb),

pigmento responsável pelo transporte de O2 dos alvéolos para os tecidos e da

retirada de CO2 dos tecidos para os pulmões, é constituída de uma parte

protéica (globina) e outra não protéica (heme). Na fração heme, tem-se

basicamente, um complexo, formado por uma molécula de Fe2+ ligada a quatro

moléculas de protoporfirina. Quimicamente o ferro possui 6 valências de

coordenações, portanto no heme restam ainda 2 coordenações livres. Em

situações normais, uma delas é ligada à globina formando a hemoglobina e a

outra é ligada ao O2, dando origem a oxemoglobina (HbO2), pigmento normal

do sangue. Existem alguns agentes tóxicos que alteram a hemoglobina,

impedindo o transporte de oxigênio. São três os pigmentos anormais do

sangue, ou seja, formas de Hb que são incapazes de transportar O2:

- Carboxemoglobina (HbCO): que pode ser causada pelo CO,

diclorometano, etc.

- Metemoglobina (MeHb): resultante, por exemplo da exposição a

anilina, acetaminofeno, nitritos,etc.

- Sulfemoglobina (SHb): a droga oxidante metaclorpramida é exemplo de

um agente sulfemoglobinizante.

No caso de carboxemoglobina, o monóxido de carbono, que tem 210

vezes mais afinidade pela Hb do que o O2 liga-se à sexta coordenação do Fe2+,

deslocando o O2. A HbCO é incapaz de exercer a função respiratória e efeitos

decorrentes desta hipóxia vão aparecer no indivíduo exposto.

Page 29: Apostila de Toxicologia

Existem vários xenobióticos tais como os nitritos, anilina e

acetaminofeno, que uma vez no sangue, oxidam os íons Fe2+ da hemoglobina,

formando a chamada metemoglobina. O Fe3+ da MeHb perde a capacidade de

se ligar na 6a coordenação com o O2 e, assim, este pigmento não cumprirá,

também, a função respiratória. Dentro deste grupo de agentes tóxicos, que

agem interferindo com o transporte de O2, estão, ainda, os agentes que

provocam a lise das hemácias. Com a hemólise, a hemoglobina é extravasada

para o meio extracelular, onde é desnaturada. Haverá assim menor quantidade

de Hb e logicamente menor transporte de O2 para os tecidos.

5.3.2- Interferência com o sistema genético

- Ação citostática: Alguns agentes tóxicos impedem a divisão celular e,

consequentemente, o crescimento do tecido. Esta ação pode ser desenvolvida

através de distintos mecanismos, tais como a inibição enzimática ou o encaixe

entre as duplas hélices do DNA. Neste último caso estão as substâncias

denominadas de Alquilantes, que ao se intercalarem entre as bases de cada

hélice, inibem o crescimento celular; são usadas no tratamento do câncer, mas

não têm ação seletiva.

- Ação mutagênica, carcinogênica e teratogênica: Certas substâncias

químicas têm a capacidade de alterar o código genético, ou seja, de

produzirem um erro no código genético. Se esta alteração ocorrer nos genes

de células germinativas (que formam os gametas), pode ocorrer um efeito

mutagênico. Este efeito possui um período de latência relativamente grande, se

manifestando apenas algumas gerações após a ação. Isto porque, geralmente,

a mutação ocorre em genes recessivos e só será manifestada se houver o

cruzamento com outro gene recessivo que tenha a mesma mutação.

Logicamente, os estudos que comprovam esta ação é bastante difícil de

ocorrer e de se avaliar, o que faz com que, atualmente, poucas substâncias

sejam consideradas comprovadamente mutagênicas. O mais comum é existir

suspeita de ações mutagênicas.

A ação carcinogênica vem sendo mais intensamente estudada nos

últimos anos. Nesta ação os xenobióticos provocam alterações cromossômicas

que fazem com que as células se reproduzam de maneira desordenada. Esta

reprodução incontrolável não produz células harmônicas e perfeitas. Embora o

Page 30: Apostila de Toxicologia

mecanismo exato de desenvolvimento do câncer não seja totalmente

conhecido, se aceita que esta ação ocorra em duas fases distintas: a

conversão neoclássica ou fase de iniciação, e o desenvolvimento neoclássico

ou promoção. Na fase de iniciação, um xenobiótico ou produto de

biotransformação promove a alteração ao nível do DNA. Esta lesão origina a

chamada célula neoplástica, que através da interferência de outras substâncias

químicas e/ou fatores, muitas vezes desconhecidos, sofre processo de

crescimento, originando o neoplasma e o câncer instalado. Entre as duas fases

do processo carcinogênico existe, geralmente, um período de latência que

pode variar de meses a anos.

A teratogênese resulta de uma ação tóxica de xenobióticos sobre o

sistema genético de células somáticas do embrião/feto, levando ao

desenvolvimento defeituoso ou incompleto da anatomia fetal.

(NOTA: neoplasma: massa ou colônia anormal de células. A neoplasia pode ser

benigna, situação na qual o tumor não é invasivo, ou maligna, quando o tumor

é invasivo).

5.3.3- Interferência com as funções gerais das células

- Ação anestésica: é a interferência no transporte de oxigênio e

nutrientes para as células. O xenobiótico se acumula na membrana de certas

células, impedindo que haja a passagem destes nutrientes. As células mais

sensíveis a esta deficiência são as do SNC, por necessitarem de maior

quantidade destes compostos essenciais.

5.3.4- Interferência com a neurotransmissão

Na realidade, muitos dos mecanismos agrupados aqui podem decorrer

de inibição enzimática, ou seja, poderiam ser classificados no primeiro grupo

de ação tóxica citado.

Vários agentes tóxicos atuam alterando a transmissão neurológica

através da interferência nos neurotransmissores envolvidos, que pode ocorrer

ao nível pré-sináptico, sináptico e/ou pós-sináptico. Exemplos:

- Bloqueio dos receptores de diferentes sinapses (curare);

Page 31: Apostila de Toxicologia

- Inibição do metabolismo dos neurotransmissores (praguicidas

organofosforados);

- Bloqueio na síntese ou metabolismo de neurotransmissores (mercúrio);

- inibição da liberação da liberação pré-sináptica dos neurotransmissores

(toxina botulínica - Clostridium botulinum);

- Estimulação da liberação de neurotransmissores (anfetamina)

- Bloqueio da recaptura dos neurotransmissores para as células pré-

sinápticas (imipramina, anfetamina).

5.4- Fase Clínica

Essa fase é caracterizada pela exteriorização dos efeitos do agente tóxico, ou seja, o aparecimento de sinais e sintomas da intoxicação ou alterações laboratoriais causadas pela substância química. No diagnóstico das intoxicações, deve-se lembrar que um mesmo órgão pode ser afetado por uma grande variedade de agentes tóxicos, e que uma única substância química pode atingir vários órgãos ou produzir diferentes efeitos relacionados a um mesmo órgão.

5.4.1 - Classificação dos efeitos tóxicos

5.4.1.1- Quanto ao tempo de aparecimento dos sintomas

- Efeitos Imediatos ou agudos: são aqueles que aparecem

imediatamente após uma exposição aguda, ou seja, exposição única ou que

ocorre, no máximo, em 24 horas. Em geral são efeitos intensamente graves.

- Efeitos crônicos: são aqueles resultantes de uma exposição crônica, ou

seja, exposição a pequenas doses, durante vários meses ou anos. O efeito

crônico pode advir de dois mecanismos:

i) Somatória ou Acúmulo do Agente Tóxico no Organismo: a velocidade

de eliminação é menor que a de absorção, assim ao longo da exposição o AT

vai sendo somado no organismo, até alcançar um nível tóxico.

ii) Somatória de Efeitos: ocorre quando o dano causado é irreversível e,

portanto, vai sendo aumentado a cada exposição, até atingir um nível

detectável; ou, então, quando o dano é reversível, mas o tempo entre cada

exposição é insuficiente para que o organismo se recupere totalmente.

Page 32: Apostila de Toxicologia

- Efeitos retardados são aqueles que só ocorrem após um período de

latência, mesmo quando já não mais existe a exposição. Exemplo: efeitos

carcinogênicos que têm uma latência a 20-30 anos.

Deve-se, no entanto, fazer distinção entre exposição a curto prazo

(aguda) ou a longo prazo (crônica) e os efeitos agudos e crônicos. Por

exemplo, uma exposição a curto prazo (aguda) pode determinar um efeito

crônico, ou seja, a exposição a uma única dose de triortocresilfosfato (TOCP)

pode produzir, no homem, lesão persistente no SNC.

5.4.1.2- Quanto à gravidade

- Efeitos reversíveis e irreversíveis: O efeito reversível desaparece quando

cessa a exposição, enquanto o irreversível persiste mesmo após o término da

exposição. São exemplos de efeitos irreversíveis os carcinomas, as mutações

e cirrose hepática. A manifestação de um ou outro efeito depende,

principalmente, da capacidade do tecido lesado em se recuperar. Assim, lesões

hepáticas são geralmente reversíveis, já que este tecido tem grande

capacidade de regeneração, enquanto as lesões no SNC são, geralmente,

irreversíveis, uma vez que as células nervosas são pouco renovadas.

5.4.1.3- Quanto à abrangência da lesão

- Efeitos locais: O efeito local refere-se àquele que ocorre onde acontece

o primeiro contato entre o agente tóxico e o organismo. Os xenobióticos que

possuem ação irritante direta sobre os tecidos, reagem quimicamente, no local

de contato, com componentes destes tecidos. Dependendo da intensidade da

ação pode ocorrer irritação, efeitos cáusticos ou necrosantes. Os sistemas

mais afetados são pele e mucosas do nariz, boca, olhos, garganta e trato

pulmonar. Destacam-se nesse grupo, a ação dos gases irritantes (gás

mostarda, NO2, cloro) e lacrimogênicos (acroleína, bromo, cloro). Outra ação

irritante de tecidos é a dermatite química. Os xenobióticos que apresentam esta

ação tóxica (substâncias vesicantes como as mostardas nitrogenadas ou

agentes queratolíticos como o fenol) lesam a pele e facilitam a penetração

subsequente de outras substâncias químicas.

Page 33: Apostila de Toxicologia

- Efeitos sistêmicos: são produzidos em local distante do sítio de

penetração do toxicante, portanto, exigem uma absorção e distribuição da

substância, de modo a atingir o sítio de ação, onde se encontra o receptor

biológico. Existem substâncias que apresentam os dois tipos de efeitos. (ex.:

benzeno, chumbo tetraetila, etc.).

5.4.1.4- Quanto ao tipo de alteração provocada

-Efeitos morfológicos: os efeitos morfológicos referem-se às mudanças

micro e macroscópicas na morfologia dos tecidos afetados. Muitos desses

efeitos são irreversíveis como, por exemplo, a necrose e a neoplasia

- Efeitos funcionais: em geral, representam mudanças reversíveis nas

funções dos órgãos-alvo. Essas mudanças geralmente são detectadas antes

ou em exposições a baixas doses quando comparadas às alterações

morfológicas.

- Efeitos bioquímicos: apesar de todos os efeitos tóxicos estarem

associados a alterações bioquímicas, quando se faz referência a efeitos

bioquímicos, significa que os efeitos manifestam-se sem modificações

morfológicas aparentes. Por exemplo, a inibição da acetilcolinesterase

decorrente da exposição a inseticidas organofosforados ou carbamatos.

5.4.1.5- Quanto ao tipo de célula alterado

- Efeitos somáticos e germinativos: Os efeitos somáticos são aqueles

que afetam uma ou mais funções vegetativas do indivíduo atingido, e os efeitos

germinais correspondem às perturbações determinadas nas funções de

reprodução, que atuam sobre a integridade dos descendentes e

desenvolvimento de tumores.

5.4.2- Efeitos resultantes da interação de agentes químicos

O termo interação entre substâncias químicas é utilizado todas as vezes

em que uma substância altera o efeito de outra. A interação pode ocorrer

durante a fase de exposição, toxicocinética ou toxicodinâmica. Como

consequência destas interações podem resultar diferentes tipos de efeitos:

Page 34: Apostila de Toxicologia

- Adição: É aquele produzido quando o efeito final de 2 ou mais agentes é

quantitativamente é igual à soma dos efeitos produzidos individualmente.

- Sinergismo: Ocorre quando o efeito de 2 ou mais agentes químicos

combinados, é maior do que a soma dos efeitos individuais.

- Potenciação: Ocorre quando um agente tóxico tem seu efeito aumentado

por atuar simultaneamente, com um agente “não tóxico”.

- Antagonismo: Ocorre quando dois agentes químicos interferem um com a

ação do outro, diminuindo o efeito final. É, geralmente, um efeito desejável em

toxicologia, já que o dano resultante (se houver) é menor que aquele causado

pelas substâncias separadamente. Existem vários tipos de antagonismo:

i) Antagonismo químico: (também chamado neutralização) ocorre quando o

antagonista reage quimicamente com o agonista, inativando-o. Este tipo de

antagonismo tem um papel muito importante no tratamento das intoxicações.

ii) Antagonismo funcional: ocorre quando dois agentes produzem efeitos

contrários em um mesmo sistema biológico atuando em receptores diferentes.

iii)Antagonismo não-competitivo, metabólico ou farmacocinético: é quando

um fármaco altera a cinética do outro no organismo, de modo que menos AT

alcance o sítio de ação ou permaneça menos tempo agindo.

iv)Antagonismo competitivo, não-metabólico ou farmacodinâmico: ocorre

quando os dois fármacos atuam sobre o mesmo receptor biológico, um

antagonizando o efeito do outro. São os chamados bloqueadores e este

conceito é usado, com vantagens, no tratamento clínico das intoxicações.

6- DOENÇAS OCUPACIONAIS

Doença ocupacional é designação de várias doenças que causam

alterações na saúde do trabalhador, provocadas por fatores relacionados com

o ambiente de trabalho. A doença ocupacional está diretamente ligada à

modificação na saúde do trabalhador por causa da atividade desempenhada

por ele ou da condição de trabalho às quais ele está submetido. Dessa forma,

as doenças ocupacionais podem ser classificadas como:

- Doença Profissional (Tecnopatia): é a modificação na saúde do

trabalhador, desencadeada pelo exercício da sua atividade profissional.

Page 35: Apostila de Toxicologia

- Doença do Trabalho (Mesopatia): é a modificação na saúde do

trabalhador, desencadeada em função de condições especiais em que o

trabalho é realizado e com ele se relaciona diretamente.

6.1- Classificação dos principais riscos ocupacionais

Uma doença ocupacional é adquirida quando um trabalhador é exposto

em excesso a riscos químicos, físicos, biológicos, ergonômicos ou de

acidentes, sem nenhuma proteção compatível.

As classes de riscos e sua gravidade no ambiente de trabalho é

representada de acordo com o quadro abaixo:

Page 36: Apostila de Toxicologia

Exemplo das classes de agentes e de gravidade dos riscos

representados em um mapa de risco empresarial:

Levando em consideração a natureza dos riscos, bem como a sua forma

de atuação no organismo humano, segue a relação de agentes que podem ser

encontrados no ambiente de trabalho:

Riscos Físicos (cor verde):Riscos Físicos (cor verde): Consideram-se agentes de risco físico as

diversas formas de energia a que possam estar expostos os trabalhadores. Ex.

ruído, calor, frio, pressão, umidade, radiações ionizantes e não-ionizantes,

vibração, etc.

- Ruídos- Ruídos

Conseqüências: fadiga nervosa; irritabilidade; perda temporária ou

definitiva da audição, etc.

Medidas de controle: Proteção coletiva (isolamento da máquina;

isolamento de ruído); Proteção individual (Equipamento de Proteção Individual

– EPI - protetor auricular);

Page 37: Apostila de Toxicologia

Medidas médicas: exames audiométricos periódicos, afastamento do

local de trabalho, revezamento.

Medidas educacionais: orientação para o uso correto do EPI, campanha

de conscientização.

Medidas administrativas: tornar obrigatório o uso do EPI, controlar seu

uso.

- Vibração- Vibração

Conseqüências: alterações neurovasculares nas mãos; problemas nas

articulações das mãos e braços; osteoporose (perda de substância óssea);

lesões na coluna vertebral; dores lombares.

Medidas de controle: Revezamento dos trabalhadores expostos aos

riscos (menor tempo de exposição).

- Radiações- Radiações

Conseqüências:perturbações visuais (conjuntivites, cataratas);

queimaduras; lesões na pele; câncer; etc.

Medidas de controle: Proteção coletiva (isolamento da fonte de radiação.

Ex: biombo protetor para operação em solda, pisos e paredes revestidas de

chumbo em salas de raio-x); Proteção individual: EPI (ex: avental, luva,

perneira e mangote de raspa para soldador , óculos para operadores de forno).

Medida administrativa: ex: dosímetro de bolso para técnicos de raio-x.

Medida médica: exames periódicos.

- Calor - Calor

Conseqüências: desidratação; erupção da pele; fadiga física; distúrbios

psiconeuróticos; problemas cardiocirculatórios.

- Frio- Frio

Conseqüências: feridas; rachaduras e necrose na pele; agravamento de

doenças reumáticas; predisposição para doenças das vias respiratórias.

Medidas de controle: Proteção coletiva (isolamento das fontes de

calor/frio; Proteção individual (EPI - ex: avental, bota, capuz, luvas especiais).

Riscos Químicos (cor vermelha): Riscos Químicos (cor vermelha): Substâncias, compostos ou

produtos que possam penetrar no organismo do trabalhador pela via

respiratória, ou serem absorvidos pelo organismo através da pele ou por

Page 38: Apostila de Toxicologia

ingestão. Ex. ácidos ou bases fortes, brometo de etila, solventes, metais

pesados, vapores, gases e produtos químicos em geral.

- Poeiras- Poeiras

- Poeiras minerais- Poeiras minerais: Ex: sílica, asbesto (amianto), carvão mineral.

Consequências: silicose (quartzo), asbestose (amianto), pneumoconiose

dos minérios de carvão.

- Poeiras vegetais:- Poeiras vegetais: Ex: algodão, bagaço de cana-de-açúcar.

Consequências: bissinose (algodão);bagaçose (cana-de-açúcar)

- Poeiras alcalinas:- Poeiras alcalinas: Ex: calcário

Consequências: doenças pulmonares obstrutivas crônicas; enfisema

pulmonar

- Fumos: - Fumos: Partículas sólidas produzidas por condensação de vapores

metálicos. Ex: fumos de óxido de zinco nas operações de soldagem com ferro.

Consequências: doença pulmonar obstrutiva, febre de fumos metálicos,

intoxicação específica de acordo com o metal.

- Névoas: - Névoas: Partículas líquidas resultantes da condensação de vapores ou

da dispersão mecânica de líquidos. Ex: névoa resultante do processo de

pintura a revólver, sprays ou aerossóis.

- Gases: - Gases: Estado natural das substâncias nas condições usuais de

temperatura e pressão. Ex: hidrogênio, ácido nítrico, butano, etc.

- Vapores- Vapores

Conseqüências: Irritantes (irritação das vias aéreas superiores. Ex: ácido

clorídrico, ácido sulfúrico, soda cáustica, cloro, etc.); Asfixiantes (dor de

cabeça, náuseas, sonolência, convulsões, coma e morte. Ex: H2, N2, CH4,

CO2 , CO, etc.); Anestésicos (ação depressiva sobre o sistema nervoso, danos

a diversos órgãos, ao sistema formador de sangue (benzeno), etc. Ex: butano,

propano, aldeídos, cetonas, cloreto de carbono, tricloroetileno, benzeno,

tolueno, álcoois, percloritileno, xileno, etc.).

Medidas de controle: Proteção coletiva (Ventilação e exaustão,

substituição do produto químico utilizado por outro menos tóxico, redução do

tempo de exposição, estudo de alteração de processo de trabalho,

conscientização dos riscos no ambiente); Proteção individual (EPI como

medida complementar. Ex: máscara de proteção respiratória para poeira, para

Page 39: Apostila de Toxicologia

gases e fumos; luvas de borracha, neoprene para trabalhos com produtos

químicos, afastamento do local de trabalho).

Riscos Biológicos (cor marrom): Riscos Biológicos (cor marrom): Consideram-se como agentes de

risco biológico seres vivos que possam causar doenças ao trabalhador e

deterioração de produtos. Ex. bactérias, vírus, fungos, helmintos, protozoários

e outros parasitas.

- Agentes Biológicos diversos- Agentes Biológicos diversos

Conseqüências: AIDS, hepatite, leptospirose, tuberculose, brucelose,

malária, febre amarela, micoses, parasitoses, infecções intestinais, entre

outras.

Medidas de controle: saneamento básico (água e esgoto), controle

médico permanente, uso de EPI, higiene rigorosa nos locais de trabalho e

pessoal, uso de roupas adequadas, vacinação, treinamento, sistema de

ventilação/exaustão.

Existem diferentes vias de penetração no organismo humano, com

relação à ação dos riscos biológicos

Cutânea: ex: a leptospirose é adquirida pelo contato com águas

contaminadas pela urina do rato;

Digestiva: ex: ingestão de alimentos deteriorados;

Respiratória: ex: a pneumonia é transmitida pela aspiração de ar

contaminado.

Riscos Ergonômicos (cor amarela Riscos Ergonômicos (cor amarela):): Qualquer fator que possa

interferir nas características psicofisiológicas do trabalhador, causando

desconforto ou afetando sua saúde. Ex. levantamento de peso, ritmo excessivo

de trabalho, monotonia, repetitividade, postura inadequada, falta de iluminação

ou ventilação, etc.

- Diversas causas- Diversas causas

Conseqüências: cansaço físico; dores musculares, LER/DORT,

estresse, depressão, hipertensão arterial, alteração do sono, doenças

nervosas, taquicardia, doenças do aparelho digestivo (gastrite e úlcera),

ansiedade, problemas de coluna, etc.

Page 40: Apostila de Toxicologia

Medidas de controle: Ajuste entre as condições de trabalho e o homem

sob os aspectos de praticidade, conforto físico e psíquico por meio da melhoria

no processo de trabalho, melhores condições no local de trabalho,

modernização de máquinas e equipamentos, melhoria no relacionamento entre

as pessoas, alteração no ritmo de trabalho, ferramentas adequadas, postura

adequada, etc.

Riscos de Acidente (cor azul): Riscos de Acidente (cor azul): Qualquer fator que coloque o

trabalhador em situação vulnerável e possa afetar sua integridade, e seu bem

estar físico e psíquico. Ex. máquinas e equipamentos sem proteção ou

defeituosos, probabilidade de incêndio e explosão, arranjo físico inadequado,

armazenamento inadequado, animais peçonhentos, ferramentas inadequadas

ou defeituosas.

- Arranjo físico deficiente:- Arranjo físico deficiente: É resultante de: prédios com área insuficiente;

localização imprópria de máquinas e equipamentos; má arrumação e limpeza;

sinalização incorreta ou inexistente; pisos fracos e/ou irregulares.

- Máquinas e equipamentos sem proteção:- Máquinas e equipamentos sem proteção: Máquinas obsoletas; sem

proteção em pontos de transmissão e de operação; comando de liga/desliga

fora do alcance do operador; máquinas e equipamentos com defeitos ou

inadequados; EPI inadequado ou não fornecido.

- Ferramentas inadequadas ou defeituosas:- Ferramentas inadequadas ou defeituosas: Ferramentas usadas de

forma incorreta; falta de fornecimento de ferramentas adequadas; falta de

manutenção.

- Eletricidade:- Eletricidade: Instalação elétrica imprópria, com defeito ou exposta; fios

desencapados; falta de aterramento elétrico; falta de manutenção.

- Incêndio ou explosão:- Incêndio ou explosão: Armazenamento inadequado de inflamáveis e/ou

gases; manipulação e transporte inadequado de produtos inflamáveis e

perigosos; sobrecarga em rede elétrica; falta de sinalização; falta de

equipamentos de combate ou equipamentos defeituosos.

Conseqüências: danos físicos, como fraturas, queimaduras, contusões,

choques elétricos,etc.

Medidas de controle: Proteção Individual (uso de EPI quando aplicáveis),

Proteção Coletiva (sinalização dos perigos, extintores de incêndio, manutenção

Page 41: Apostila de Toxicologia

de equipamentos, treinamento adequado dos funcionários, fornecimento de

ferramentas adequadas).

6.2 Principais doenças ocupacionais

As doenças mais comuns são as do sistema respiratório, do sistema

ósseo e da pele. Os cuidados são essencialmente preventivos, pois a maioria

das doenças ocupacionais é de difícil tratamento. São exemplos principais

destas doenças:

6.2.1 - Doenças respiratórias: se destacam as pneumoconioses, que são

doenças por inalação de poeiras, substâncias que o organismo pouco

consegue combater com seus mecanismos de defesa imunológica e/ou

leucocitária, diferentemente do que ocorre com microorganismos que podem

ser fagocitados, digeridos ou destruídos pela ação de anticorpos e de células

de defesa por meio das enzimas lisossomais e outros mecanismos.causadas

pela inalação de poeiras. Suas variações incluem:

Antracose - poeira de carbono

Pneumoconiose dos mineiros de carvão (também conhecida como

"pulmão negro") - poeira de carvão

Asbestose – poeira de asbesto (amianto)

Fibrose de bauxita - poeira de bauxita

Beriliose - poeira de berílio

Siderose - poeira de ferro

Bissinose - poeira de algodão

Bagaçose – bagaço de cana-de-açúcar

Siderose - misto de poeira contendo sílica e ferro

Silicose (também conhecida como doença de "Grinder") - poeira de sílica

Outro exemplo é a asma ocupacional, causada por substâncias

agressivas inaladas no ambiente de trabalho. Estas se depositam nos pulmões,

provocando falta de ar, tosse, chiadeira no peito, espirros e lacrimejamento.

Page 42: Apostila de Toxicologia

6.2.2- Perda auditiva induzida por ruído (PAIR): Diminuição gradual da

audição decorrente da exposição contínua a níveis elevados de ruídos no

ambiente de trabalho. Consideram-se como sinônimos: perda auditiva por

exposição ao ruído no trabalho, perda auditiva ocupacional, surdez profissional,

disacusia ocupacional, perda auditiva induzida por níveis elevados de pressão

sonora, perda auditiva induzida por ruído ocupacional, perda auditiva

neurossensorial por exposição continuada a níveis elevados de

pressão sonora de origem ocupacional.

Os dados epidemiológicos sobre perda auditiva no Brasil são escassos e

referem-se a determinados ramos de atividades e, portanto, não há registros

epidemiológicos que caracterizem a real situação A maior característica da

PAIR é a degeneração das células ciliadas do órgão de Corti. Recentemente

tem sido demonstrado o desencadeamento de lesões e de apoptose celular em

decorrência da oxidação provocada pela presença de radicais livres formados

pelo excesso de estimulação sonora ou pela exposição a determinados

agentes químicos. Características:

É sempre neurossensorial, uma vez que a lesão é no órgão de Corti da

orelha interna.

É geralmente bilateral, com padrões similares. Em algumas situações,

observam-se diferenças entre os graus de perda das orelhas.

Geralmente, não produz perda maior que 40dB(NA) nas freqüências

baixas e que 75dB(NA) nas altas.

A sua progressão cessa com o fim da exposição ao ruído intenso.

A presença de PAIR não torna a orelha mais sensível ao ruído; à medida

que aumenta o limiar, a progressão da perda se dá de forma mais lenta.

A perda tem seu início e predomínio nas freqüências de 3, 4 ou 6 kHz,

progredindo, posteriormente, para 8, 2, 1, 0,5 e 0,25 kHz.

Em condições estáveis de exposição, as perdas em 3, 4 ou 6 kHz,

geralmente atingirão um nível máximo, em cerca de 10 a 15 anos.

O trabalhador portador de PAIR pode desenvolver intolerância a sons

intensos, queixar-se de zumbido e de diminuição de inteligibilidade da fala, com

prejuízo da comunicação oral.

Page 43: Apostila de Toxicologia

6.2.3- Intoxicações exógenas: pode ser definida como a consequência

clínica e/ou bioquímicas da exposição a substâncias químicas encontradas no

ambiente ou isoladas. Como exemplo, dessas substâncias intoxicantes

ambientais, podemos citar o ar, água, alimentos, plantas, animais peçonhentos

ou venenosos. Por sua vez, os principais representantes de substâncias

isoladas são os pesticidas, os medicamentos, produtos químicos industriais ou

de uso domiciliar.

- Agrotóxicos: Os agrotóxicos podem causar diversos efeitos sobre a

saúde humana, sendo muitas vezes fatais. Classicamente tais efeitos são

divididos em intoxicação aguda e intoxicação crônica. A exposição ocupacional

e/ou ambiental é normalmente responsável pelas intoxicações crônicas. Estas

podem se manifestar de varias formas, tais como: problemas ligados à

fertilidade, indução de defeitos teratogênicos e genéticos e câncer. Também

são relatados efeitos deletérios sobre os sistemas nervoso, respiratório,

cardiovascular, geniturinário, gastrointestinal, pele, olhos, além de alterações

hematológicas e reações alérgicas a estas substâncias.

- Chumbo (saturnismo): a exposição contínua ao chumbo, presente em

fundições e refinarias, provoca, em longo prazo, um tipo de intoxicação que

varia de intensidade de acordo com as condições do ambiente (umidade e

ventilação), tempo de exposição e fatores individuais (idade e condições

físicas).

- Mercúrio (hidrargirismo): o contato com a substância se dá por meio da

inalação, absorção cutânea ou via oral; ocorre normalmente com trabalhadores

que lidam com extração do mineral ou fabricação de tintas

- Solventes Orgânicos (benzenismo): por serem tóxicos e agressivos,

podem contaminar trabalhadores de refinarias de petróleo e indústrias de

transformação tanto por via cutânea quanto respiratória.

- Monóxido de Carbono (CO): Gás incolor, sem cheiro e potencialmente

perigoso. Liga-se fortemente à hemoglobina, (proteína que transporta O2 no

sangue para os tecidos), competindo com o oxigênio e provocando hipóxia,

podendo ocasionar lesão cerebral e morte. O monóxido de carbono pode ser

emitido por diversas fontes, como escapamento de veículos (perigo em lugares

fechados, como garagens), aquecedores a gás, fogões, aquecedores e queima

de praticamente qualquer substância em locais fechados. Os sintomas incluem:

Page 44: Apostila de Toxicologia

Inicialmente, dor de cabeça, náusea, vômitos, coriza. Posteriormente,

distúrbios visuais, confusão mental, síncope (desmaio), tremores, coma,

disfunção cardiopulmonar e morte.

6.2.4- LER/DORT (Lesões por Esforços Repetitivos / Distúrbios Osteo-

musculares Relacionados ao Trabalho): Conjunto de doenças que atingem

principalmente os nervos, músculos, tendões, articulações. O problema é

decorrente do trabalho com movimentos repetitivos, esforço excessivo, má

postura e estresse, entre outros. Abrangem 30 doenças, como a tendinite

(inflamação em tendão), a tenossinovite, sinovite, peritendinite, epicondilite,

tenossinovite estenosante (DeQuervain), contratura de Dupuytren, dedo em

gatilho, cisto, entre outras. A bursite é uma das LER que mais acometem

trabalhadores, esta doença causa inflamação da pequena bolsa de conteúdo

líquido que recobre as articulações, conhecida como bursa, que funciona como

amortecedor. A área do ombro é a mais atingida, devido ao maior esforço

aplicado sobre ela. Esta inflamação provoca dor intensa, capaz de impedir a

realização das mais simples tarefas e de afetar a qualidade de vida.

As LERs são classificadas em quatro estágios ou graus:

- LER grau I: A dor aparece durante os movimentos ou com a postura

inadequada que compromete um dado grupo muscular; cessando após alguns

minutos em repouso. Por exemplo, dor no ombro ou parte anterior do braço,

tendinite do ombro e tendinite bicipital respectivamente.

- LER grau II: nesse estágio a dor é mais persistente, bem localizada,

podendo ser um pouco difusa ou irradiar para todo o braço, mas o quadro

ainda é leve, exemplo: dor no punho Direito, tendinite do punho e tenossinovite

de MSD.

- LER grau III: Doença grave, de difícil controle, doença arrastando por

vários meses ou anos. Dor crônica que às vezes não cede com medicação

nem com o repouso; dor espontânea que exacerba com certos movimentos e

com o nervosismo. Pode haver perturbação do sono. A dor insuportável, às

vezes, é precedida de formigamentos, pontadas, choques, agulhadas,

queimação, perda de força na mão etc.

- LER grau IV: São exemplos a Síndrome de Distrofia Reflexa (SDR),

Ombro Congelado, etc; casos esses, bastante graves, onde o paciente nem

Page 45: Apostila de Toxicologia

mesmo consegue mexer com o ombro doente. A dor pode se tornar

insuportável, e até atividades comuns da vida diária, como escovar dentes e

cabelos, tornam-se impraticáveis. Nessa última fase, muitos pacientes recebem

injeções de drogas potentes para aliviar a dor e alguns chegam até a passar

por cirurgias.

Estas patologias representam 84,77% do total de doenças do trabalho,

no entanto, é importante ressaltar que todas elas podem ser evitas com

exercícios simples de ginástica e equipamentos certos na hora do trabalho.

6.2.5- Dermatite ocupacional ou dermatose ocupacional: Toda alteração de

pele, mucosas e anexos, direta ou indiretamente causada, condicionada,

mantida ou agravada por tudo aquilo que seja utilizado na atividade profissional

ou exista no ambiente de trabalho. São provocadas por uma reação do

organismo diante da exposição a agentes alergênicos, causando dermatites

alérgicas; ou agentes irritantes, causando dermatites de contato. Os principais

sintomas são coceira na pele, erupções vermelhas e formação de bolhas que

podem estourar formando crostas e descamações. Se a pele não for tratada,

poderá escurecer ficando grossa e rachada. Podem ser causadas por:

- Agentes Químicos: responsáveis por cerca de 80% das dermatoses

ocupacionais, destacando-se os ácidos, bases, cimento, borracha, derivados

de petróleo, óleos de corte, cromo e seus derivados, níquel, cobalto, madeira e

resina epóxi.

- Agentes Biológicos: bactérias, fungos, leveduras e insetos,

especialmente nos trabalhos de manipulação de couro ou carne animal;

tratadores de aves e porcos; peixeiros; açougueiros; jardineiros; balconistas de

bar; barbeiros, entre outros.

- Agentes Físicos: calor, frio, vibrações, eletricidade, radiações

ionizantes e não ionizantes, microondas, laser e agentes mecânicos.

Fatores como a temperatura ambiental e umidade influenciam o

aparecimento de dermatoses, como infecções por bactérias (piodermites) e

fungos (micoses). O trabalho ao ar livre é frequentemente sujeito à ação da luz

solar, picadas de insetos e contato com plantas irritantes ou alergênicas. O

tratamento envolve, principalmente, evitar o contato com a substância que

desencadeou a reação, além de medicamentos que aliviam os sintomas.

Page 46: Apostila de Toxicologia

O quadro inflamatório deve ser tratado com o uso de corticóides tópicos

ou sistêmicos, dependendo da gravidade. A aplicação de cremes hidratantes

nas peles secas aumenta sua resistência. Em caso de infecção secundária,

faz-se a administração de antibióticos e anti-histamínicos. Geralmente a

dermatite desaparece depois de duas ou três semanas, mas podem recorrer se

o antígeno não puder ser identificado ou evitado.

6.2.6- CVS (Computer Vision Syndrome ou Síndrome de Visão de

Computador): Sintomas oculares que aparecem durante ou após a

permanência prolongada diante da tela do computador, incluindo olhos irritados

ou vermelhos, coceira, olhos ressecados ou lacrimejamento, cansaço ocular,

sensibilidade à luz, dificuldade de conseguir foco, visão de cores alteradas,

visualição de halos ao redor de objetos, visão embaçada ou dupla. Existem

ainda outros sintomas, como dor de cabeça, dor na nuca ou nas costas e

espasmos musculares. Atinge principalmente os profissionais da área de

informática, ou outros trabalhadores que façam uso constante de

computadores. Algumas medidas podem reduzir ou evitar os sintomas

relacionados com esta síndrome:

- Posicionar a tela do computador entre 50 e 60 cm de distância dos

olhos, mantendo o topo do monitor na altura dos olhos ou abaixo.

Posicionar os papéis próximos à tela, com o auxílio de um suporte,

quando estiver digitando.

- Iluminar o ambiente de trabalho.

- Minimizar os reflexos da tela, alterando a posição do computador,

usando cortinas nas janelas e filtro anti-reflexo.

- Piscar os olhos frequentemente.

- Manter a tela sempre limpa.

- Descansar 5 minutos para cada hora de trabalho, tirando a visão da

tela e olhando para longe.

- Usar óculos, se necessário.

6.2.7- Câncer: O câncer ocupacional é originado devido à exposição a agentes

carcinogênicos presentes no ambiente de trabalho, mesmo após a cessação da

exposição; representa de 2% a 4% dos casos de câncer. Os fatores de risco de

Page 47: Apostila de Toxicologia

câncer podem ser externos (ambientais) ou endógenos (hereditários), estando

ambos inter-relacionados e interagindo de várias formas para dar início às

alterações celulares presentes na etiologia do câncer. Alguns tipos de agentes

causadores são:

- Agentes químicos: Agrotóxicos; Amianto (ou asbesto); Sílica; Benzeno;

Xileno; Tolueno. Profissionais expostos a estes agentes são, principalmente,

agricultores, operários da indústria química e construção civil, trabalhadores de

laboratório, mineradores etc.

- Agentes físicos: Radiação ionizante: partículas alfa, beta, raios gama,

raios-X, nêutrons e outros. Os trabalhadores afetados são os da indústria

nuclear ou aqueles que trabalham próximos a equipamentos que emitam

radiação (por exemplo: em instituições médicas ou em laboratórios). O dano

pode ocorrer ao nível celular ou molecular, quando o controle do crescimento é

rompido, permitindo o aumento descontrolado de células cancerosas, uma vez

que a radiação ionizante tem a habilidade de quebrar os elos químicos dos

átomos e moléculas, produzindo um potente carcinógeno. Radiação não-

ionizante: exemplo, luz solar que é composta de: Radiação ultravioleta (UV),

invisível aos olhos; Luz visível; Radiação infravermelha, que é a principal fonte

de calor, mas também não é visível. Os trabalhadores afetados são os que

executam suas atividades ao ar livre ou em áreas onde recebem grande reflexo

da luz solar, ou ainda, trabalhadores que utilizam intensa radiação de UV,

como soldadores.

Fatores que influenciam o desenvolvimento do câncer ocupacional são a

dose diária absorvida; o tempo de exposição; idade; doença preexistente;

suscetibilidade individual; predisposição genética; outros fatores, como tipo de

alimentação, estresse e fumo.

A prevenção do câncer de origem ocupacional deve abranger:

- Remoção da substância cancerígena do local de trabalho, os

compostos cancerígenos devem ser substituídos por outros mais seguros.

– Controle da liberação de substâncias cancerígenas resultantes de

processos industriais para a atmosfera.

– Controle da exposição de cada trabalhador e uso rigoroso dos

equipamentos de proteção individual (máscaras e roupas especiais).

Page 48: Apostila de Toxicologia

- Boa ventilação do local de trabalho, para evitar o excesso de produtos

químicos no ambiente.

- Trabalho educativo visando a aumentar o conhecimento dos

trabalhadores a respeito das substâncias com as quais trabalham, além dos

riscos e cuidados que devem ser tomados ao se exporem a essas substâncias.

- Eficiência dos serviços de medicina do trabalho, com a realização de

exames periódicos em todos os trabalhadores que devem ter direito à saúde

integral por tempo indeterminado

- Proibição do fumo nos ambientes de trabalho, pois a poluição

tabagística ambiental potencializa as ações da maioria dessas substâncias.

6.2.8- Estresse ou Stress: “Stress” é um dos termos mais utilizados

atualmente, tanto pela comunidade científica como pelo público em geral, no

entanto, continua a não existir um significado comum unanimemente aceito.

Este termo provém do latim, e tem como significado apertar, comprimir,

restringir. A expressão existe na língua inglesa desde o século XIV sendo

utilizada, durante bastante tempo, para exprimir uma pressão ou uma

contração de natureza física. Apenas no século XIX o conceito se alargou,

passando a significar também as pressões que incidem sobre um órgão

corporal ou sobre a mente humana.

O estresse ocupacional pode ser definido como um conjunto de

perturbações psicológicas ou sofrimento psíquico associado às experiências de

trabalho. Normalmente, é resultante da incapacidade de lidar com as fontes de

pressão no trabalho, tendo como consequências problemas na saúde física,

mental e na satisfação no trabalho, afetando o indivíduo e as organizações. As

fontes de pressão podem ser os relacionamentos com colegas ou superiores,

excesso de trabalho, horário inadequado, baixa remuneração, barulho, calor,

vibração, falta de espaço ou privacidade, etc.

Os sintomas do estresse causado pelas condições de trabalho podem

variar desde mudanças no humor, ansiedade, irritabilidade, distúrbios do sono

e descontrole emocional até doenças psíquicas, hipertensão, taquicardia,

gastrite e úlcera gástrica.

Page 49: Apostila de Toxicologia

7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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