astropt outubro2012

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astroPT magazine Outubro 2012 Volume 2 Edição 10

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AstroPT Magazine. Edição de setembro de 2012. Publicação mensal com os posts relevantes do sítio astropt.org

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Page 1: astroPT Outubro2012

astroPT magazine

Outubro 2012 Volume 2 Edição 10

Page 2: astroPT Outubro2012

Página 2

ASTROFOTOGRAFIA Outubro 2012

Aurora na IslândiaAurora na Islândia

Aurora em Jökulsárlón, na Islândia, a 1 de Outubro de 2012. Crédito: Tony Power

Page 3: astroPT Outubro2012

Página 3

Volume 2 Edição 10 ASTROFOTOGRAFIA

Via Láctea nos EUAVia Láctea nos EUA

Via Láctea sobre Monument Valley. Crédito: Wally Pacholka

Mais AurorasMais Auroras

Anchorage, Alaska, na noite de 12 de Outubro de

2012 .Crédito: Carl Johnson

Via Láctea e Aurora na Austrália

Aurora no Canadá. Crédito: Sharleen Chao

Page 4: astroPT Outubro2012

O “nosso” Miguel Claro, utilizou 170 das suas astrofotos para criar este belíssimo mosaico (LPOD).

Carlos Oliveira

Página 4

ASTROFOTOGRAFIA Outubro 2012

Mosaico de fotografiasMosaico de fotografias

Page 5: astroPT Outubro2012

Página 5

Volume 2 Edição 10 ASTROFOTOGRAFIA

Page 6: astroPT Outubro2012

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EDUCAÇÃO Outubro 2012

Portugal acaba de conseguir o melhor resultado

de sempre nas Olimpíadas Ibero-Americanas de

Matemática (OIAM) de 2012, que decorreram

entre 29 de setembro e 6 de outubro em Cocha-

bamba, na Bolívia.

Através de uma equipa composta na íntegra por

alunos do Ensino Secundário, de Escolas Públicas

de norte a sul do país, Portugal arrecadou uma

medalha de ouro e três medalhas de prata.

Temos aqui jovens com enorme potencial e futu-

ro!

Medalhas ganhas por aluno/ano:

David Martins (11ºano) – medalha de ouro

Luis Duarte (12ºano) – medalha de prata

Miguel Moreira (11ºano) – medalha de prata

Miguel Santos (12ºano) – medalha de prata

Portugal reluziu a ouro e prata nas

Olimpíadas Ibero-Americanas de

Matemática

Da esquerda para a direita: Miguel Santos (estudante do 12º ano, em Alcanena), Miguel Moreira (estudante do 11º ano, em Lis-

boa), Luís Duarte (estudante do 12º ano, em Alcains), David Martins (estudante do 11º ano, em Mirandela) e Paulo Antunes

(professor do Departamento de Matemática da FCT da U. de Coimbra).

Page 7: astroPT Outubro2012

Na classificação por países (18 no total), Portugal

conseguiu um extraordinário segundo lugar o

que lhe garantiu a suamelhor pontuação de sem-

pre, e lhe valeu a distinção com a Copa Puerto

Rico, que é atribuída ao país com a melhor evo-

lução na classificação nos últimos três anos.

Como curiosidade destaco que foi precisamente

o aluno mais novo deste grupo, David Martins, o

responsável por trazer para terras lusitanas uma

medalha de ouro, um feito extraordinário tendo

em conta que todos os participantes concorrem

em pé de igualdade.

Esta foi a 27ª edição das OIAM, onde Portugal

obteve 136 pontos tendo superado largamente o

recorde nacional anterior, que era de 108 pon-

tos. O nosso país participa desde 1990 neste

evento, e as equipas nacionais já arrecadaram

duas medalhas de ouro, em 2007 e 2012, 11

medalhas de prata, 30 de bronze e 10 menções

honrosas.

De realçar que a participação da delegação por-

tuguesa nas competições internacionais é organi-

zada pela Sociedade Portuguesa de Matemáti-

ca (SPM) e que a preparação e seleção dos alu-

nos estão a cargo do Projecto Delfos da Universi-

dade de Coimbra, liderado pela professora Joana

Teles, que tem efetuado um excelente e rigoroso

trabalho.

O ano de 2012 continua a ser profícuo para os

nossos jovens alunos matemáticos, como já havia

sido noticiado na Imprensa Regional por António

Piedade, pois entre 8 e 15 de julho deste ano, em

Mar da Prata

na Argentina,

uma equipa

portuguesa

conseguiu o

melhor resul-

tado de sem-

pre em Olimpíadas Internacionais de Matemática

(OIM): uma medalha de ouro, uma de prata, duas

de bronze e uma menção honrosa.

Pessoalmente, estou muito contente e satisfeito

com esta e outras notícias que têm saído sobre o

potencial científico dos nossos jovens. Dêem-lhes

condições, acreditem neles, e verão que o limite

é o céu! Isto vale tanto para a Matemática como

para outras áreas do conhecimento humano.

Pena que as condições que atualmente o país

oferece a estes, e outros jovens de valor, sejam

muito abaixo do que deveriam e poderiam ser!

Quem estiver interessado em saber mais deta-

lhes pode ler o comunicado de imprensa da

Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM).

——————————————————————

Este é um artigo do autor-convidado, João Pedro

Cesariny Calafate: Professor do Ensino Básico de

Matemática e Ciências da Natureza, criador,

coordenador e editor do projeto de educação/

divulgação de ciência e tecnologia – Ciência com

Todos.

——————————————————————

Manel Martins

Página 7

Volume 2 Edição 10 OLIMPÍADAS

Page 8: astroPT Outubro2012

De quando em vez, surgem referências ou comentários, no AstroPt, sobre os chemtrails. Aliás, foi aqui mesmo, neste site, que tive conhe-cimento de tal fenómeno. Questionei as pessoas à minha volta sobre tal assunto, e, recorrente-mente, respondiam-me que não sabiam do que eu estava a falar. Concluí que se deveria tratar de um tema isolado geograficamente nas Américas, e que ainda não havia chegado a Portugal. Acabei por não dar grande importância ao assunto, até há pouco tempo, quando voltei a deparar-me, nas redes sociais, com um documentário que abordava esta temática.

Com o burburinho que se começava a formar, decidi averiguar do que se tratava. Da pesquisa efectuada, resultou um texto que escrevi para o site da COMCEPT – Comunidade Céptica Portu-guesa, e que partilho hoje aqui no AstroPT. O que são os chemtrails? O que tentam esconder de nós? Qual a gravidade da situação? Devemos ficar preocupados? Espero que as respostas que encontrei tragam alguma luz sobre este assunto:

Há umas semanas, apercebi-me que andava a circular na internet um (pseudo)documentário sobre os Chemtrails que deixou nos espectadores um misto de indignação e de preocupação. Num próximo texto analisarei esse filme. Por agora, procurarei entender o que são os chemtrails, e se nos devemos preocupar com isso.

I – Definições:

Contrails – Abreviatura de “Condensation Trails” (rastos de condensação). São os rastos normalmente formados na traseira dos aviões. Como produto da combustão, forma-se vapor de água que congela a grandes altitudes, onde as temperaturas são negativas, gerando cristais de gelo. O resultado é a formação de nuvens cirrus (1).

Chemtrails – Abreviatura de “Chemical Trails” (rastos químicos). Segundo os Adeptos das

Teorias da Conspiração, os chemtrails são criados intencionalmente por pessoas desconhecidas, com objectivo de envenenar a população através de produtos químicos libertados pelos aviões. (2)

II – O que se diz sobre os Chemtrails (2), (3), (4), (5), (6):

Tendo definido e distinguido os contrails dos chemtrails, vamo-nos agora debruçar sobre estes últimos.

O que são: De acordo com os defensores destas ideias, os chemtrails são o resultado de substân-cias nocivas libertadas intencionalmente pelos aviões para a atmosfera, formando uma grande quantidade de nuvens que fica nos céus durante imenso tempo, ao contrário dos vulgares con-trails. Essas substâncias são identificadas, pelos mesmos proponentes, como alumínio, estrôncio, bário, entre outras.

Onde: Esta ideia surgiu nos Estados Unidos da América e, posteriormente, terá sido dissemina-da pelo resto do mundo.

Desde quando: a origem da primeira observação dos rastos nebulosos no céu é vaga, mas parece haver observações desde a segunda guerra mun-dial, período em que os aviões conseguiram atin-gir elevadas altitudes. (7), (8), (9), (10) O consen-sual é os rastos terem aumentado em quantida-de desde a década de 1990. De acordo com a minha pesquisa, em 1996 começa a surgir a teo-ria da conspiração de que o governo pretende alterar o clima, com base no estudo “Owning the Weather”, mas só em 1999 começam a surgir referências aos chemtrails.

Quem são os responsáveis: não é bem certo, havendo dedos acusatórios que apontam em diferentes direcções: o governo, as companhias farmacêuticas, os cientistas, os Illumminati, os Bilderberg, os “Donos do Mundo”, (…)

Porquê: Existem duas vertentes independentes:

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LITERACIA CIENTÍFICA Outubro 2012

Os chemtrails sob análise

Page 9: astroPT Outubro2012

uma ambiental e outra social. Por um lado diz-se que os cientistas e o governo têm uma política deliberada de criar estes rastos no céu para diminuírem o aquecimento global, através da reflexão da luz; ou, em alternativa, porque pre-tendem controlar o clima, pulverizando as nuvens com reagentes que contribuam para a condensação, criando chuva – a estes processos dá-se o nome de Geoengenharia. Por outro lado, fala-se da existência de responsáveis ocultos que pretendem libertar as substâncias nocivas sobre os campos agrícolas e as pessoas para que estas adoeçam e sejam facilmente manipuláveis.

III – Análise crítica:

- Alumínio – Assim na Terra, como no Céu:

Durante a guerra do Vietname foram utilizadas várias tácticas para iludir os radares inimigos, sendo uma delas a libertação de reduzidas fibras

de alumínio (Chaff, em inglês), que reflectiam o sinal de radar. Se os aviões comerciais estives-sem na actualidade a libertar deliberadamente alumínio, estariam a confundir os radares de controlo de tráfego aéreo que os orientam, o que seria impraticável. (11), (12) Análises que têm sido realizadas detectam de facto Alumínio e Bário na água, no gelo e no ar, mas sempre dentro dos níveis padrão. No entanto, estas observações estão dentro do esperado, uma vez que estes elementos ocorrem naturalmente na Natureza. Por exemplo, 7% da crosta terrestre é constituída por Alumínio. (13)

- Mais rastos no céu. Linhas paralelas e cruza-das:

Vêem-se mais rastos no céu, porque aumentou o tráfego aéreo. (14) Os voos a grande altitude na vizinhança dos aeroportos têm trajectos coin-

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Volume 2 Edição 10 LITERACIA CIENTÍFICA

Rasto de um contrail no céu. Autoria: João Monteiro

Page 10: astroPT Outubro2012

cidentes. É frequente que aviões diferentes se desloquem numa mesma direcção com um certo intervalo de tempo entre eles. Os aviões da fren-te deixam um contrail atrás de si, mas quando os próximos passarem pelo mesmo local deixando também um rasto, o contrail anterior já se deslo-cou com o vento, reproduzindo rastos paralelos. Ocasionalmente, pode haver aviões com rotas perpendiculares a rastos anteriores, dando a sen-sação que se está a formar uma grelha. (15), (16)

- Estará a população a ser envenenada?

Os contrails são formados naturalmente a uma certa distância da traseira do avião e não logo a seguir aos motores, acabando por formar uma espécie de nuvem persistente. Pelo contrário, se os aviões estivessem a libertar substâncias (líquidas ou em pó), o rasto seria visível mais per-to dos motores e a nuvem dissipar-se-ia com a distância, como nos aviões pulverizadores de cul-turas. (15) Contudo, os agentes biológicos podem ser libertados de um avião e apresentar a forma de um contrail. Mas para isso acontecer, o meio onde estaria o agente biológico, teria de ser aquecido a elevadas temperaturas até ficar no estado gasoso, o que iria matar os agentes noci-vos. Mas se, mesmo assim, alguns subsistissem, teriam ainda de sobreviver às temperaturas extremamente baixas do exterior. (15) Ainda para mais, devido ao reduzido tamanho das par-tículas, estas seriam dispersas e não aterrariam no local onde foram libertadas. Portanto, a pro-babilidade de haver agentes microbianos ou quí-micos a serem lançados da troposfera, delibera-damente com o intuito de envenenar a popula-ção, é praticamente nula.

- Estarão a controlar o clima?

Geoengenharia é o nome dado ao processo de modificação deliberada do ambiente na Terra. Neste sentido têm sido realizadas várias expe-riências, mas ainda sem resultados definitivos.

Foi em 1996 que surgiu um rumor que associava a libertação de partículas de alumínio dos aviões militares para reflectir a luz solar e assim ameni-zar a temperatura do planeta. Este rumor baseou

-se num estudo académico que saíra nesse ano, “Weather as a force multiplier: Owning the wea-ther in 2025” (1996), e acabou por dar origem, mais tarde, à Teoria da Conspiração dos Chem-trails, o que mereceu um comunicado da Força Aérea a explicitar os factos. (17), (18)

Outro exemplo de modificação do ambiente é o da semeadura de nuvens (cloud seeding), que consiste em libertar reagentes nas nuvens, como o iodeto de prata, que as farão condensar, pro-duzindo chuva. Também neste caso, ainda não há resultados definitivos, pois não se sabe se chove-ria se não tivessem sido lançados os produtos, não se conseguindo estabelecer ainda uma rela-ção causa-efeito directa. (19)

Em qualquer caso, isto são experiências científi-cas em que se pretende testar a hipótese de alte-ração do ambiente, para contornar situações de seca, por exemplo. Daí a pegar nisto e dizer que há conspirações governamentais em prática com a intenção de envenenar as pessoas, vai um gran-de salto.

- Quem está por detrás dos chemtrails?

Como veremos de seguida, os chemtrails são atri-buídos a diversos agentes, de acordo com a variante da teoria que nos é proposta. Há até versões em que os diferentes responsáveis se juntam para conspirar contra a Humanidade. A sensação de conspirações dentro do governo para prejudicar os cidadãos é uma ideia que se encontra frequentemente no pensamento popu-lar norte-americano. Mas porque quereria um governo envenenar os membros da sociedade, fazendo-os ficar doentes?

Segundo os adeptos desta versão, o governo pre-tende ter cidadãos enfraquecidos para serem facilmente manipulados. A esta ideia juntam-se outras, como a indústria farmacêutica pretender adoecer pessoas para vender mais medicamen-tos; ou ainda grupos secretos que pretendem eliminar as pessoas mais vulneráveis, preservan-do as elites e os militares, com o intuito de redu-zir a população do planeta. Mas fará isto senti-do? A verdade é que estas afirmações não pas-

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LITERACIA CIENTÍFICA Outubro 2012

Page 11: astroPT Outubro2012

sam de meras especulações, sem qualquer pro-va apresentada. O que temos assistido nos paí-ses ocidentais, principalmente na Europa, é exactamente o contrário: um investimento nos cuidados de saúde e de saneamento, uma apos-ta na longevidade e na melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. Apesar de estarmos próximos de um nível preocupante de sobrepopulação humana no nosso planeta, a solução passa, no meu entender, pelo controlo da natalidade em vez da eliminação de indivíduos. E quando falo em controlo de natalidade, não me refiro a um programa governamental, mas a uma decisão pessoal por parte de cada cidadão, que ocorrerá naturalmente. Com o aumento da qualidade de vida de uma sociedade, aumenta a capacidade de sobrevivência e diminui o número de filhos por casal. O que se verifica em populações do terceiro mundo é que estas famílias têm muitas crianças para compensar as que vão morrendo de várias doenças e de desnutrição. No entanto, ao dar cuidados de saúde a essas famílias, e ao incluí-las no mercado laboral, elas vão ter maior capacidade de cuidar da sua prole, aumentando a sua probabilidade de sobrevivência, tendendo a ter menos filhos, como está relatado no livro “O Fim da Pobreza”, do economista Jeffrey Sachs. (20) Se esta política está a ser aplicada em países do terceiro mundo com o apoio dos países desenvolvidos, porque é que estes países ricos iriam fazer o oposto à sua população?

Ao contrário do que é propagado pelas teorias da conspiração, um governo tem todo o interes-se em que os seus cidadãos sejam saudáveis, pois deste modo podem trabalhar e contribuir para a economia nacional. Se a maioria da popu-lação adoecesse, acabaria por ser um peso enor-me para o próprio Estado que não só teria indiví-duos que necessitariam de cuidados de saúde, como não estariam aptos a contribuir para a economia. Ou seja, não só não estariam a gerar riqueza, como ainda trariam custos acrescidos. Aliás, uma estratégia de guerra entre países pas-sa por mutilar os adversários em vez de os matar, pois os países com soldados feridos têm

mais encargos, não só porque ficam com opera-cionais inactivos, como ainda tem de disponibili-zar tratamentos e deslocar pessoas para cuidar dos doentes, que doutro modo poderiam ser utilizadas na guerra. Deste modo, porque é que qualquer governo quereria adoecer deliberada-mente a população? Além do mais, se houves-sem químicos a serem libertados de aviões na troposfera (altitude onde se forma os contrails), eles não cairiam no local de onde foram lança-dos. Aliás, não haveria qualquer controlo do local onde poderiam assentar, pelo que afecta-riam indiscriminadamente qualquer indivíduo da sociedade, mesmo os membros do governo, militares, ou seus familiares.

É possível eliminar os chemtrails?

Quando se pensa que a ficção não consegue ir mais longe do que meras especulações sem pro-vas, eis que surgem dois exemplos de como a imaginação humana não pára de nos surpreen-der:

Alguns adeptos dos chemtrails alegam que os silfos ou sílfides (Sylphs) irão aspirar e transfor-mar os chemtrails em substâncias inofensivas. (6) Ora bem, os silfos são Elementais do Ar, cria-turas etéreas mitológicas identificadas pelos gre-gos. O que é curioso, é que aquilo a que os pro-ponentes desta ideia chamam de silfos, são na realidade nuvens que, com um pouco de imagi-nação, parecem dragões, gatos, aves, etc. (21) Posto isto, creio que qualquer pessoa sensata sabe responder à pergunta sobre o que é mais provável, as fotografias (22) representarem cria-turas mitológicas, ou a imagem de nuvens nor-mais? A este fenómeno de reconhecer padrões familiares em imagens abstractas dá-se o nome de pareidolia. (23), (24)

Outra ideia que está a ser propagada na internet é que ao borrifar vinagre para o céu, isso fará os chemtrails desaparecerem, como se vê neste filme (25). Alguém deve explicar a essas pessoas que os borrifos de vinagre não vão mais longe que alguns centímetros e a troposfera, onde se formam os contrails, fica a cerca de 8 mil metros de altitude. Como já se explicou, os rastos dos

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Volume 2 Edição 10 LITERACIA CIENTÍFICA

Page 12: astroPT Outubro2012

aviões podem durar algumas horas, acabando por desaparecer passado algum tempo, sendo que a sua duração depende das condições atmosféricas.

Conclusão:

Olhemos para os factos: tudo indica que o os ras-tos que vemos nos céus após a passagem de aviões são contrails, um fenómeno natural, na sua maioria constituídos por minúsculos cristais de gelo; não há indícios de mais libertações quí-micas do que aquelas libertadas por um motor; as substâncias, que se dizem ter sido identifica-das, como o alumínio, encontram-se espontanea-mente na Natureza; o número de contrails no céu aumentou na última década devido ao aumento de voos comerciais; devido às instáveis condições atmosféricas e à altitude, não há con-trolo do local onde os alegados químicos pode-riam cair, afectando qualquer indivíduo indiscri-minadamente; a probabilidade de um governo, ou uma entidade secreta, querer adoecer delibe-radamente a população é reduzida; até ao momento, não há confirmação científica que apoie a existência de chemtrails (26), (27); o fac-to de as pessoas desconhecerem os contrails e a sua formação, levou a várias interpretações erra-das já no passado. (28)

Assim, com base nos dados disponíveis, concluo que os chemtrails não passam de mais uma teo-ria da conspiração, como muitas outras que pulu-lam na internet.

Notas e Referências:

(1) Existem vários tipos de nuvens que podem ser distinguidas quanto ao aspecto. As nuvens cirrus são formadas na alta troposfera, a cerca de 8 mil metros de altitude, em temperaturas negativas.

(2) Chemtrails no Skepdic

(3) Rense.com

(4) Chemtrails na wikipedia portuguesa

(5) Chemtrails na wikipedia britânica

(6) Chemtrails no Educate-yourself

(7) A primeira descrição científica sobre contrails em inglês parece datar de 1953 (H. Appleman,

“The formation of exhaust condensation trails by jet aircraft”, Bulletin of the American Meteorolo-gical Society, 34, pp. 14-20), e em alemão de 1941 (E. Schmidt, “Die Entstehung von Eisnebeln aus den Auspuffgasen von Flugmotoren”, Schrif-ten der Deutschen Akademie der Luftfahrtfors-chung Vol. 44, pp. 1-15). Ver aqui.

(8) Sobre a história dos Chemtrails.

(9) Fotos onde se observam contrails desde a década de 1940

(10) Fotos de contrails durante a Segunda Guerra Mundial

(11) NMSR, na secção Other metals in the air.

(12) contrails facts

(13) Análises químicas aos chemtrails

(14) 30 anos de viagens aéreas

(15) NMSR, explicado pelo piloto Ian Wickson.

(16) Contrail grids

(17) “Weather as a force multiplier: Owning the weather in 2025”

(18) Comunicado da Força Aérea America-na relativamente aos chemtrails.

(19) Scientific American

(20) Jeffrey Sachs, “O Fim da Pobreza – como consegui-lo na nossa geração”, Casa das Letras, Cruz Quebrada, 2006 – Tradução de Paulo Tiago Bento

(21) Imagens de Silfos

(22) Mais imagens de silfos

(23) Pareidolia facial

(24) A pareidolia mata

(25) Parar chemtrails com vinagre

(26) Resposta do Governo a uma petição da Canadian House of Commons.

(27) Publicação do parlamento britânico

(28) Confusões relativas aos contrails

João Monteiro

Página 12

LITERACIA CIENTÍFICA Outubro 2012

Page 13: astroPT Outubro2012

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Volume 2 Edição 10 BIOLOGIA

O nosso genoma apre-senta 23 pares de cro-mossomas. Como pares que são deverão apresentar alguma semelhança. No entanto há um par que difere e que insis-te em ser cada vez mais diferente. O par XY tem um elevado heteromorfismo. O X tem muito mais genes que o Y, no entanto, este último, tem fun-ções mais específicas no genoma, entre elas a determinação do sexo.

Sabemos que os nossos ancestrais têm alguns cromossomas mesclados. O par XY surgiu de um par de autossomas que adquiriu a capacidade de determinar o sexo. Ainda nos dias de hoje este “cromossominha” continua a degenerar até, um dia, se extinguir. Para termos noção da mediocridade do Y veja-mos a quantinade de unidades codificadas entre o X e o Y: O Y tem 178 genes, é um deserto gené-tico. O X, por sua vez, tem uns magníficos 1098, identificados por cientistas do “Reino Unido, Estados Unidos e Alemanha que o analisaram em pormenor” (Ciência Viva)

Comecemos, então, por perceber que cromosso-mas existem no Homo Sapiens Sapiens. Temos os autossomas, que constituem o património genético do indivíduo; e os cromossomas sexuais que determinam o sexo do indivíduo. No par de cromossomas sexuais temos, em média, os que

são XX (fêmeas) e os XY (machos). “As mulheres têm vindo a conquistar as mais diversas áreas da sociedade. Contudo, se antes havia 7 mulheres para cada homem, hoje há 1,07″ (uma nota). Esta é uma frase de um texto meu do dia da Mulher deste ano, que deixa em aberto algo de interessante: Podemos, os homens, estar a perder genes de um cromosso-ma essencial mas continuamos a ter grande importância. A Natureza não perde nada, trans-forma. Veremos qual o truque que irá fazer. Tal-vez um outro cromossoma adquira as competên-cias sexuais.

Um dia, quando formos para o espaço, será que os resquícios do cromossoma Y se tornarão essenciais? Quanto mais pequena a estrutura genética mais instável e mais mutagénica se tor-na. É imprevisível saber o que irá ocorrer. Pode-se desintegrar ou não. Cá continuaremos para continuar a estudar este par… Dário Codinha

Um Par Diferente I: Características

Page 14: astroPT Outubro2012

Página 14

FÍSICA Outubro 2012

Bosemon!

Sim, parece um jogo de crianças, uma

mistura entre cartas Pokemon e o tradi-

cional jogo do Peixinho.

Basicamente os alunos (ou adultos,

visto que está a viciar também professo-

res, catedráticos, etc.) terão que formar

a família, a geração, o protão ou o áto-

mo de hidrogénio. Para isso terão que pedir uma carta

usando duas características e não o nome da partícula

que pretendem a outro jogador. Se o segundo jogador

tiver a carta entrega ao jogador que a requisitou. Se não

tem a carta diz ao outro jogador “Go Field!” de modo a que

este pesque uma das cartas espalhadas pela mesa.

O jogo também possui cartas especiais!

O que se pretende é que o jogo seja

aplicado pelos professores a alunos do

secundário e queremos um feedback

para melhorar o jogo ou a documenta-

ção. Para obter o guia do professor e do aluno (em português) ir aqui: http://portal.discoverthecosmos.eu/en/node/187729

Para obter uma versão melhorada das cartas para impres-são, ir aqui: https://www.box.com/s/q1lriszsnbbavafzziwj

Agradeço a divulgação e feedback que possam dar.

José Gonçalves

BosemonBosemon——O jogo de Física de O jogo de Física de

PartículasPartículas

Algumas das cartas do jogo. Crédito: Jay Dornfeld , José Gonçalves, Daniela Marconi, Chuleenee Pahurat , Tahiana Razafintsa-

lama, Kobi Shvarzbord , Kevin Wolf.

Page 15: astroPT Outubro2012

A resposta simples é Não.

Chegar a essa resposta é que foi um tudo nada

mais complexo.

A segurança do LHC.

O Large Hadron Collider (LHC), ou Grande Colisio-

nador de Hadrões

(Nota: Hadrões são partículas constituídas por

Quarks)

pode alcançar energias que nunca foram antes

atingidas por aceleradores de partículas, mas a

natureza, por rotina, produz energias mais eleva-

das em colisões de raios cósmicos. Durante mui-

tos anos houve preocupações sobre a segurança

Página 15

Volume 2 Edição 10 FÍSICA

Pode o CERN produzir um perigoso buraco

negro?

Vista simulada dum buraco negro defronte da Grande Nuvem de Magalhães.

Note-se o efeito de lente gravitacional, que produz 2 vistas ampliadas mas muito distorcidas da Nuvem. Ao cimo, o disco da Via

Láctea aparece distorcido num arco.

Page 16: astroPT Outubro2012

do que quer que possa ser criado em tais colisões

de alta energia de partículas. À luz dos novos

dados experimentais e da compreensão teórica,

o Grupo de Avaliação de Segurança do LHC (com

as siglas LSAG) actualizou uma revisão da análise

feita em 2003 pelo Grupo de Estudos de Seguran-

ça do LHC, um grupo de cientistas independen-

tes.

O LSAG reafirma e alarga as conclusões do relató-

rio de 2003 que concluía que as colisões do LHC

não apresentam perigo e que não há motivos

para preocupação. Seja o que for que o LHC nos

vai fazer, a natureza já o fez inúmeras vezes

durante a vida da Terra e durante a vida doutros

corpos celestes. O relatório LSAG foi analisado e

aprovado pelo Comité de Política Científica do

CERN, um grupo de cientistas externos que acon-

selha o órgão de Administração do CERN, o seu

Conselho.

O documento abaixo resume os principais argu-

mentos apresentados no relatório LSAG. Quem

estiver interessado em mais detalhes é incentiva-

do a consultá-lo directamente, e aos trabalhos

técnicos científicos a que se refere.

http://lsag.web.cern.ch/lsag/LSAG-Report.pdf

Os raios cósmicos.

O LHC, como outros aceleradores de partículas,

recria os fenómenos naturais de raios cósmicos

em condições controladas de laboratório, permi-

tindo serem estudados com mais detalhe. Os

raios cósmicos são partículas produzidas no espa-

ço exterior, alguns dos quais são acelerados a

energias muito superiores às do LHC. A energia e

a velocidade com que eles atingem a atmosfera

da Terra têm sido medidas em experiências há já

perto de 70 anos. Ao longo dos últimos milhares

de milhões de anos, a Natureza já gerou na Terra

muitas colisões, tantas como cerca de um milhão

de experiências do LHC – e o planeta ainda exis-

te. Os astrónomos observam um número enorme

de grandes corpos celestes em todo o Universo,

os quais também são atingidos por raios cósmi-

cos. O Universo como um todo realiza mais de 10

milhões de milhões de experiências do LHC por

segundo. A possibilidade de quaisquer conse-

quências perigosas contradiz o que

os astrónomos vêem – já que as estrelas e as

galáxias ainda existem.

Buracos negros microscópicos

A Natureza faz buracos negros quando certas

estrelas, muito maiores do que o nosso Sol,

colapsam sobre si mesmas no final das suas

vidas. Concentram uma grande quantidade de

matéria num espaço muito pequeno. As especu-

lações sobre buracos negros microscópicos no

LHC referem-se a partículas produzidas nas coli-

sões de pares de protões, em que cada uma des-

sas partículas tem uma energia comparável à de

um mosquito em voo. Buracos negros astronómi-

cos são muito mais pesados do que qualquer coi-

sa que poderia ser produzida no LHC.

De acordo com as propriedades bem estabeleci-

das da gravidade, descritas pela relatividade de

Einstein, é impossível produzir buracos negros

microscópicos no LHC. Existem, no entanto, algu-

mas teorias especulativas que predizem a produ-

ção de tais partículas no LHC. Todas estas teorias

predizem que estas partículas se desintegrariam

imediatamente. Os buracos negros, portanto,

não teriam tempo para começar a acreção da

Página 16

FÍSICA Outubro 2012

Page 17: astroPT Outubro2012

matéria envolvente a fim de causarem efeitos

macroscópicos.

Embora a teoria preveja que os buracos negros

microscópicos decaiam rapidamente, mesmo os

hipoteticamente estáveis buracos negros resul-

tam inofensivos, como demonstram os estudos

das consequências na sua produção pelos raios

cósmicos. Apesar das colisões no LHC diferirem

das colisões de raios cósmicos com corpos celes-

tes como a Terra, dado que as novas partículas

produzidas em colisões no LHC tendem a mover-

se mais lentamente do que as produzidas pelos

raios cósmicos, ainda assim pode-se ainda

demonstrar a sua segurança. As razões específi-

cas para isso dependem dos buracos negros esta-

rem electricamente carregados, ou de serem

neutros. Será expectável que muitos buracos

negros estáveis

sejam electricamente carregados, uma vez que

eles são criados por partículas carregadas. Neste

caso, eles poderiam interagir com a matéria

comum e serem parados ao atravessarem a Terra

ou o Sol, quer fossem produzidos por raios cós-

micos ou pelo LHC. O facto de que a Terra e o Sol

ainda estão aqui exclui as possibilidades dos os

raios cósmicos ou do LHC poderem produzir peri-

gosos buracos negros microscópicos. Caso os

estáveis buracos negros microscópicos não

tenham carga eléctrica as suas interacções com

a Terra seriam muito fracas. Aqueles produzidos

por raios cósmicos iriam passar sem causar

danos através da Terra para o espaço, enquanto

os outros produzidos pelo LHC poderiam perma-

necer na Terra. No entanto, existem corpos

celestes muito maiores e muito mais densos do

que a Terra. Os buracos negros produzidos em

colisões de raios cósmicos com astros como as

estrelas de neutrões e as estrelas anãs brancas

não os afectam. A existência de tais corpos den-

sos, assim como a da Terra, exclui a possibilidade

de o LHC produzir quaisquer buracos negros peri-

gosos.

Strangelets.

Strangelet é o termo dado a um pedaço micros-

cópico da hipotética “matéria estra-

nha” contendo números quase iguais de partícu-

las chamadas Up, Down ou Strange quarks. De

acordo com a maioria do corpo de trabalho teóri-

co, os strangelets deverão mudar para a matéria

normal num período de tempo de 1 nano-

segundo. Mas poderiam os strangelets coalescer

com a matéria normal e mudá-la para matéria

estranha? Esta questão foi levantada pela primei-

ra vez antes do arranque do Relativistic Heavy

Ion Collider, (siglas RHIC), em 2000, nos Estados

Unidos. Um estudo realizado nesse tempo

demonstrou que não havia motivo para preocu-

pação, e o RHIC já está ligado há oito anos, em

busca de strangelets, sem até hoje os detectar.

Por vezes, o LHC trabalhará com feixes de

núcleos pesados, assim como o faz o RHIC. Os

feixes do LHC terão mais energia do que os do

RHIC, mas isso torna ainda menos provável que

os strangelets se possam formar. É difícil para a

matéria estranha continuar formada às altas

temperaturas produzidas por estes aceleradores,

tal como o gelo não se forma em água quente.

Além disso, os quarks estarão mais diluídos no

LHC do que no RHIC, sendo assim mais difícil

gerar-se a matéria estranha. Produzir Strangelets

no LHC é, portanto, menos provável do que no

RHIC, e a experiência já validou o conjunto de

Página 17

Volume 2 Edição 10 FÍSICA

Page 18: astroPT Outubro2012

argumentos que demonstram que os strangelets

não podem ser produzidos.

A análise dos primeiros dados do LHC das coli-

sões de iões pesados confirma agora os principais

ingredientes utilizados no relatório LSAG para

avaliar o limite superior para a produção de

strangelets hipotéticos. Para mais detalhes veja

estaadenda ao relatório LSAG: Implicações dos

dados do LHC iões pesados para multi-estranha

produção de bariões (2011)

Bolhas de vácuo

Houve especulações de que o Universo não está

na sua configuração mais estável, e que as per-

turbações causadas pelo LHC poderiam incliná-lo

para um estado mais estável, chamado de bolha

de vácuo, em que não poderia existir. Se o LHC

pudesse fazer isso, então também o poderiam as

colisões de raios cósmicos. Desde que as bolhas

de vácuo não tenham sido produzidas em qual-

quer lugar do Universo visível, também o não

serão pelo LHC.

Monopolos Magnéticos

Monopolos magnéticos são partículas hipotéticas

com uma única carga magnética, ou um pólo nor-

te ou um pólo sul. Algumas teorias especulativas

sugerem que, se existem, os monopolos magnéti-

cos podem causar o decaimento dos protões.

Essas teorias também dizem que esses monopo-

los seriam pesados demais para serem produzi-

dos no LHC. No entanto, se os monopolos mag-

néticos fossem suficientemente leves para apare-

cerem no LHC, os raios cósmicos que atingem a

atmosfera da Terra já os estariam a produzir, e a

Terra seria um corpo muito eficaz para os parar e

prender. A continuação da existência da Terra e

doutros corpos celestes, portanto, exclui a exis-

tência de perigosos protões comedores de mono-

polos magnéticos suficientemente leves para

poderem ser produzidos no LHC.

Outros aspectos de segurança do LHC:

Foi recentemente expressa a preocupação de

que uma ‘reacção de fusão descontrolada

“poderia ser criada pelo dispositivo de carbono

que absorve o feixe do LHC. A segurança da des-

carga do feixe do LHC já havia sido revista pelas

autoridades reguladoras competentes dos países

hospedeiros do CERN, a França e a Suíça. As

preocupações específicas expressas foram abor-

dados num memorando técnico por Assmann et

al.

http://lsag.web.cern.ch/lsag/

BeamdumpInteraction.pdf

Como ali se aponta, as reacções de fusão apenas

podem ser mantidas em material comprimido

por uma pressão externa, como a que é forneci-

da pela força gravítica no interior duma estrela,

ou por uma explosão de fissão num dispositivo

termonuclear, ou por um campo magnético num

Tokamak, ou por um laser isotrópico contínuo ou

ainda por feixes de partículas no caso da fusão

por inércia. No caso da descarga do feixe do LHC,

uma vez que o dispositivo é atingido pelo feixe

vindo duma única direcção, não há nenhuma

pressão de compensação, de modo que o mate-

rial de despejo não é comprimido, o que impossi-

bilita a fusão.

Foi expressa a preocupação de que uma

‘reacção de fusão descontrolada “poderia ser

criada num tanque de Azoto no interior do túnel

do LHC. Não existem tanques de azoto no LHC.

Página 18

FÍSICA Outubro 2012

Page 19: astroPT Outubro2012

Além disso, os argumentos no parágrafo anterior

provam que nenhuma fusão seria possível mes-

mo se estes existissem.

Por fim, também foi expressa a preocupação de

que o feixe do LHC poderia desencadear de algu-

ma forma um ‘Bose-Nova “no hélio líquido usado

para refrigerar os ímanes do LHC. Um estudo rea-

lizado por Fairbairn e McElrath demonstrou cla-

ramente que não existe a possibilidade do feixe

do LHC poder provocar uma reacção de fusão de

hélio.

http://arxiv.org/abs/0809.4004

Lembramos que os ‘Bose-Novae “são conhecidos

por estarem relacionados com reacções químicas

que libertam uma quantidade infinitesimal de

energia pelos padrões da Física nuclear. Lembra-

mos ainda que o hélio é um dos elementos mais

estáveis conhecidos, e que o hélio líquido tem

sido utilizado em muitos aceleradores de partícu-

las anteriores sem se assinalarem contratempos.

O facto de o hélio ser quimicamente inerte e não

ter spin nuclear implica que nenhum “Bose-Nova

‘pode ser accionado no hélio superfluido usado

no LHC.

(Nota: “Visto que explosões de supernovas são

implosões, a explosão de um condensado de

Bose-Einstein em colapso foi baptizada de

“bosenova”).

Comentários sobre os artigos de Giddings e

Mangano, e pelo LSAG

Os trabalhos de Giddings e Mangano e do LSAG

que demonstram a segurança do LHC foram

revistos pelos pares, analisados e aprovados

pelos principais especialistas dos estados mem-

bros do CERN, dos Estados Unidos, Japão e Rús-

sia que trabalham em Astrofísica, Cosmologia,

Relatividade Geral, Matemática, e ainda em Físi-

ca de Partículas e em análise de risco, incluindo

vários vencedores do Prémio Nobel de Física.

Todos concordam que o LHC é seguro.

http://arxiv.org/abs/0806.3381

http://iopscience.iop.org/0954-

3899/35/11/115004

O artigo de Giddings e Mangano tem sido revisto

por pares que são especialistas anónimos em

astrofísica e física de partículas e foi publicado na

revista científica profissional Physical Review D. A

Sociedade Americana de Física optou por desta-

car este paper como um dos trabalhos mais

importantes que publicou recentemente, comis-

sionando ainda um comentário do Prof. Peskin

do Laboratório do Acelerador Linear de Stanford

em que ele endossa as suas conclusões.

O Comité Executivo da Divisão de Partículas e

Campos-forças da Sociedade Americana de Física

emitiu uma declaração endossando o relatório

LSAG.

O relatório LSAG foi publicado pelo Instituto de

Física do Reino Unido (Institute of Physics, IoP)

na sua publicação Revista de Física G (Nota: do

Grupo de Física Gravítica . As conclusões do rela-

tório LSAG foram aprovadas num comunicado de

imprensa que anunciou esta publicação.

As conclusões do LSAG também foram aprovadas

pela Secção de Física de Partículas e Física

Nuclear (KET), da Sociedade Alemã de Física.

Uma tradução para o alemão do relatório LSAG

completa pode ser encontrada no sítio web do

KET, bem como aqui. (A tradução para o francês

do relatório LSAG completo também está dispo-

nível.)

Página 19

Volume 2 Edição 10 FÍSICA

Page 20: astroPT Outubro2012

http://physics.aps.org/articles/v1/14

http://www.aps.org/units/dpf/governance/

reports/upload/lhc_saftey_statement.pdf

http://iopscience.iop.org/0954-

3899/35/11/115004

Assim, a conclusão de que as colisões do LHC são

completamente seguras foi aprovado pelas três

respeitadas sociedades profissionais de físicos

que fizeram a sua avaliação, e que estão entre as

sociedades profissionais mais respeitadas do

mundo.

Especialistas de renome em astrofísica, cosmolo-

gia, relatividade geral, matemática, física de par-

tículas e análise de risco, incluindo vários vence-

dores do Prémio Nobel de Física, também

expressaram opiniões individuais claras de que

colisões do LHC não são perigosas:

“Pensar que colisões de partículas no LHC a ener-

gias elevadas possam originar buracos negros

perigosos é lixo. Tais rumores foram espalhados

por pessoas não qualificadas que procuram sen-

sação ou publicidade.”

- Académico Vitaly Ginzburg, vencedor do Prémio

Nobel de Física, Instituto Lebedev, de Moscovo, e

da Academia de Ciências da Rússia.

“O funcionamento do LHC é seguro, não só no

sentido antigo da palavra, mas no sentido mais

geral dos nossos cientistas mais qualificados

terem cuidadosamente considerado e analisado

os riscos envolvidos na operação do LHC.

[Quaisquer preocupações] são meramente hipo-

téticas e especulativas, e estão contrariadas por

muitas provas e análise científica. ”

Declaração subscrita pelos Professores:

- Prof. Sheldon Glashow, vencedor do Prémio

Nobel de Física, Universidade de Boston, Prof.

Frank Wilczek, ganhador do Prêmio Nobel de Físi-

ca, Massachusetts Institute of Technology, Pro-

fessor Richard Wilson, Mallinckrodt professor de

Física da Universidade de Harvard

“O mundo não chegará ao fim quando o LHC é

ligado. O LHC é absolutamente seguro … Colisões

libertando mais energia ocorrem milhões de

vezes por dia na atmosfera da Terra e nada de

terrível acontece”.

-Prof. Steven Hawking, professor Lucasiano de

Matemática, da Universidade de Cambridge

“A natureza já fez essa experiência …. Os raios

cósmicos têm atingido a Lua com mais energia e

ainda não produziram um buraco negro que

engoliu a lua. O universo não anda por aí a verter

enormes buracos negros”.

-Prof Edward Kolb, astrofísico da Universidade de

Chicago

“Eu certamente não tenho preocupações sobre a

suposta possibilidade do LHC produzir buracos

negros microscópicos capazes de devorar a Terra.

Não há qualquer base científica para tais especu-

lações.”

-Professor Sir Roger Penrose, Professor Bola Ex

Rouse de Matemática, da Universidade de

Oxford

“Não há risco [de colisões no LHC, e] o relatório

LSAG é excelente.”

-Prof Lord Martin Rees, astrónomo real britânico

e presidente da Royal Society de Londres.

(Academia das Ciências).

“Aqueles que têm dúvidas sobre a segurança do

Página 20

FÍSICA Outubro 2012

Page 21: astroPT Outubro2012

LHC devem ler o relatório LSAG onde todos os

riscos possíveis foram considerados. Podemos

ter certeza de que as colisões de partículas no

LHC não podem levar a consequências catastrófi-

cas”.

-Académico V.A. Rubakov, Instituto de Pesquisa

Nuclear, de Moscovo, e da Academia Russa de

Ciências

“Apoiamos inteiramente as conclusões do relató-

rio LSAG: não há base para preocupações sobre

as consequências derivadas de novas partículas

ou novas formas de matéria que possam ser pro-

duzidas no LHC.”

-R. Aleksan et al., Os 20 membros externos do

Comité de Política Científica do CERN, incluindo o

Prof Gerard ‘Hooft, Nobel de Física.

A esmagadora maioria dos físicos concordam que

buracos negros microscópicos seriam instáveis,

como previsto pelos princípios básicos da mecâ-

nica quântica. Como foi discutido no relatório

LSAG, se os buracos negros microscópicos pudes-

sem ser produzidos pelas colisões de quarks-

gluões / ou dentro de protões, eles também

deveriam ser capazes de se decomporem de vol-

ta em quarks e / ou gluões. Além disso, a mecâni-

ca quântica prevê especificamente que devirão

decair através da radiação de Hawking.

No entanto, uns tantos papers têm sugerido que

os buracos negros microscópicos podem ser

estáveis. O artigo de Giddings e Mangano e o

relatório LSAG analisam muito conservadora-

mente o caso hipotético dos estáveis buracos

negros microscópicos e concluiu que, mesmo

neste caso, não haveria perigo concebível. Outra

análise com conclusões semelhantes tem sido

documentada pelos Dr. Koch, Prof. Bleicher e

Prof. Stoecker da Universidade de Frankfurt e

GSI, Darmstadt, que concluem:

“Discutimos os caminhos de evolução logicamen-

te possíveis do buraco negro. Então, discutimos

cada simples resultado desses caminhos e essa

discussão demonstrou que nenhum dos cami-

nhos fisicamente sensatos pode levar a um

desastre dum buraco negro no LHC.”

O Professor Roessler (médico e teórico do caos

em Tuebingen) também levantou dúvidas sobre

a existência de radiação de Hawking. As suas

ideias foram refutadas pelos Profs. Nicolai

(Diretor do Instituto Max Planck de Física Gravi-

tacional – Albert-Einstein-Institut – em Potsdam)

e Giulini, cujo relatório apontam para a sua inca-

pacidade de compreender a relatividade geral e

a métrica de Schwarzschild, e sua dependência

duma teoria alternativa da gravidade que foi

refutada em 1915. O seu veredicto:

“O argumento [Roessler] não é válido, o argu-

mento não é auto consistente.”

O paper do Prof Roessler também foi criticado

pelo Prof Bruhn, da Universidade Técnica de

Darmstadt, que conclui que:

“(A) Má interpretação de Roessler da métrica de

Schwarzschild [torna as] suas considerações …

nulas e sem efeito. Estes são os trabalhos que

podem ser tomados em conta quando os proble-

mas de buracos negros são discutidos.”

Um cenário hipotético para possivelmente peri-

gosos e meta estáveis buracos negros foi recen-

temente proposto pelo Dr. Plaga. As conclusões

deste trabalho têm-se mostrado inconsistentes

num segundo artigo científico (paper), por Gid-

Página 21

Volume 2 Edição 10 FÍSICA

Page 22: astroPT Outubro2012

dings e Mangano, onde é também afirmado que

a segurança dessa classe de cenários de meta

estáveis buracos negros já está estabelecida pelo

seu trabalho original.

Comentários sobre os reclamados riscos dos

metaestáveis buracos negros

http://arxiv.org/PS_cache/arxiv/

pdf/0808/0808.4087v1.pdf

Declaração da Comissão Executiva da Divisão de

Partículas e Campos da American Physical Society

(APS)

http://www.aps.org/units/dpf/governance/

reports/upload/lhc_saftey_statement.pdf

Resumo do relatório LSAG

http://environmental-impact.web.cern.ch/

environmental-impact/Objects/LHCSafety/

LSAGSummaryReport2008-en.pdf

Relatório LSAG (2008)

http://lsag.web.cern.ch/lsag/LSAG-Report.pdf

Adenda ao relatório LSAG: Implicações dos dados

de iões pesados no LHC para multi-estranha pro-

dução de bariões (2011)

http://public.web.cern.ch/public/downloads/

LSAG/LHCaddALICE2011.pdf

Relatório especializado publicado na Europa

(2003)

http://cdsweb.cern.ch/record/613175/files/

CERN-2003-001.pdf?version=1

Relatório especializado publicado nos Estados

Unidos (1999)

http://cdsweb.cern.ch/record/403566/

files/9910333.pdf

Comentário especialista sobre as especulações

levantadas pelo professor Otto Roessler sobre a

produção de buracos negros no LHC

http://environmental-impact.web.cern.ch/

environmental-impact/Objects/LHCSafety/

NicolaiComment-en.pdf

Mais comentários dos especialistas em especula-

ções levantadas pelo professor Otto Roessler

sobre a produção de buracos negros no LHC.

http://environmental-impact.web.cern.ch/

environmental-impact/Objects/LHCSafety/

NicolaiFurtherComment-en.pdf

Outra avaliação independente da segurança dos

cenários de buracos negros no LHC.

http://arxiv.org/pdf/0807.3349.pdf

Original do CERN

http://public.web.cern.ch/public/en/lhc/safety-

en.html

Outro cálculo informal estima que necessitaría-

mos dum acelerador com um diâmetro de mil

anos-luz para produzirmos um micro buraco-

negro, e que este levaria cerca de 3 vezes a idade

do Universo para devorar o equivalente a uma

casca de noz, mas só o interior , para a casca não

chegaria este inusitado período de tempo.

Por outras palavras, não há perigo.

O CERN mantém igualmente uma rigoro-

sa política de segurança no trabalho, e ainda

coordena com as autoridades das regiões onde

está instalado o uso de energia eléctrica a fim de

não interferir na rede de distribuição que serve

as populações, a indústria e o comércio dessas

zonas da Europa.

Mais um mito desclassificado pela ciência.

Alguns advogados mais histéricos nos EUA tenta-

ram abrir um caso contra o CERN com o intuito

Página 22

FÍSICA Outubro 2012

Page 23: astroPT Outubro2012

de impedir a sua inauguração, em sede de Justiça

a sua pretensão não foi sequer acolhida para ir a

julgamento, dado tratar-se dum absurdo. No

entanto a razão para este não acolhimento foi de

técnica jurídica e relacionava-se com a área geo-

gráfica de jurisdição.

Numa época em que a litigância de má fé contra

a Ciência parecia querer fazer escola nos círculos

da pseudociência e das seitas religiosas norte-

americanas, sem dúvida a quererem colher clien-

tes entre os seguidores da facção anti-ciência do

actual Partido Republicano (um tendência que no

fundo é anti-americana), a chamada Tea Party,

esta decisão marcou um limite bem delineado:

O do bom senso contra o absurdo e contra a

cupidez dos interesses escondidos.

De facto, o que se pode concluir é que ganancia,

sede de protagonismo, cupidez e fanatismo são

sinónimos, mas que felizmente Justiça, bom-

senso e Ciência também o podem ser.

Nota de tradução: Este relato do CERN foi uma

tradução científica da minha inteira responsabili-

dade, incluindo eventuais erros e/ou omissões.

[NR: ver vídeos aqui]

Manel Martins

Página 23

Volume 2 Edição 10 FÍSICA

Page 24: astroPT Outubro2012

Sir John Bertrand Gurdon nasceu em 1933 na

Inglaterra.

O miúdo era bastante irrequieto e teimoso, que-

ria fazer sempre as coisas à maneira dele.

O pai queria que ele tivesse disciplina, por isso

ambicionava que ele fosse militar. Mas quando

ele foi fazer os testes, o médico do exército diag-

nosticou-lhe uma bronquite quando ele só esta-

va meio constipado. Conclusão: não conseguiu

ser militar.

Quando entrou para a escola, continuou a ser o

miúdo que não queria seguir o que os professo-

res diziam.

Apesar de ser bastante curioso com o mundo à

sua volta, nomeadamente insectos, o certo é

que não prestava qualquer atenção na escola, e

resolvia os exercícios como queria e não como

os professores pretendiam que os exercícios fos-

Página 24

NOBEL 2012 Outubro 2012

Prémio Nobel da Medicina não ia seguir Prémio Nobel da Medicina não ia seguir

ciênciaciência

Page 25: astroPT Outubro2012

Página 25

Volume 2 Edição 10 ATUALIDADE

sem resolvidos.

Assim, não é surpreendente que neste boletim

escolar de 1949, o professor diga que as notas

dele são más, e que apesar de ele querer ser

cientista isso seria uma tre-

menda perda de tempo.

Quando acabou a escola,

Gurdon candidatou-se à

Faculdade de Letras da

Universidade de Oxford

para estudar Literatura

Clássica.

Por um daqueles acasos do destino que ninguém

consegue explicar, a administrativa que estava

na secretaria da Universidade a registar os pedi-

dos de matrículas, cometeu o erro de em vez de

o colocar como candidato à Faculdade de Letras

colocou-o como candidato à Faculdade de Ciên-

cias.

Após uma licenciatura em Biologia, e doutora-

mento em Biologia Celular, Gurdon foi conside-

rado o padrinho da clona-

gem e este ano recebeu,

juntamente com Shinya

Yamanaka, o Prémio

Nobel da Medicina, devi-

do à investigação que

levou à conclusão que

“células maduras e espe-

cializadas podem ser reprogramadas para se tor-

narem células estaminais, capazes de formarem

qualquer tecido do corpo“.

Carlos Oliveira

Page 26: astroPT Outubro2012

O Prémio Nobel da Fìsica 2012 foi atribuído a Serge Haroche e David J. Wineland pelos “métodos que permitem a medição e manipula-ção de sistemas quânticos indivi-duais”.

Serge Haroche e David J. Wine-land, de forma independen-te, inventaram e desenvolveram métodos inovadores que permi-tiram medir e manipular partículas individuais, preservando o seu estado quântico. (ver infor-

mação para o público aqui)

Destaca-se no artigo científico do comité (ver aqui), o controlo individual de sistemas quânticos, o aprisionamento de iões (íons), os fotões numa cavidade, a investigação do paradoxo gato de Schrödinger, os computado-res quânticos e os relógios ópti-cos.

José Gonçalves

Página 26

NOBEL 2012 Outubro 2012

Prémio Nobel da Física 2012

Serge Haroche Photo: © CNRS Photothèque/Christophe Lebedinsky (à esquerda)

David J. Wineland. Photo: © NIST (à direita)

Page 27: astroPT Outubro2012

Página 27

Volume 2 Edição 10 ATUALIDADE

Na verdade, a disciplina que ganhou o Prémio deste ano foi a óptica quântica, e a metodologia chama-se “das cavidades quânticas cromo-dinâmicas.”

Mas, pergunta muita e boa gente, afinal o que quer dizer isso de quântica, de quantas? Muito boa pergunta, pois os quantas são as quantidades mínimas de espaço, portanto onde cabem, os fenómenos da energia.

Vamos lá agora ver o que quer dizer energia, energia quer dizer trabalho, acção, portanto os quantas são umas quantidades mínimas abaixo das quais não é possível somar 1 mais 1, porque não cabe lá dentro.

E o que é que define esse mínimo, essa entidade tão pequenina?

Muito bem, isso é o comprimento de Planck, um grande cientista que foi buscar Albert Einstein ao seu emprego de funcionário de escritório e o convidou para os trabalhos da Ciência. Vejam lá no que deu, como Einstein percebeu tão bem como trabalho é Energia!

E o comprimento de Planck é 1,60 cm, um metro e sessenta centímetros.

Esperem lá, isso começa bem mas não chega, isso ainda é muito grande.

Ah, pois, desculpem, divide-se esse metro e ses-

Nobel da Física 2012 consagra Física

quântica

Armadilha de Paul à esquerda, para Iões de Berílio e Cavidade quantum cromodinâmica para Fotões, à direita.

Page 28: astroPT Outubro2012

senta por 10 e dá 16 centímetros. Depois outra vez e dá 1,6 centímetros. Bem, para ser um pou-co mais breve e claro, divide-se 1,60 metros por 10 consecutivamente 35 vezes, e já fica mesmo muito pequenino.

Mas que raio tem isso que ver com Energia?

Bem, se tiverem uma folha de papel com 1,60 m (pode ser de celofane) e dobrarem pela metade isso é fácil, requer pouca energia, os braços che-gam.

Depois se a dobrarem outra vez pela metade precisam de aplicar mais força, e assim sucessi-vamente quando a dobram mais vezes.

Podem experimentar com uma simples folha de A4.

Digam depois nos comentários quantas vezes, ou quantas interacções, conseguiram dobrar a folha.

Para ser sincero não fiz estas contas de forma apurada, mas assim informalmente julga-se que quando dobram a folha pela 11ª vez vão precisar da energia duma bomba atómica para a dobrar outra vez.

O que, convenhamos, não seria muito prático.

Então como conseguem os cientistas observar e manipular estas “dobras” tão pequeninas, estes fotões, estes átomos, estes quantas?

De facto é muito difícil, tanto assim que os seus descobridores (e as suas equipas) ganharam o Premio Nobel da Física de 2012.

Sejamos desportivos, muita gente pensava que seria Peter Higgs a vencer já este ano, mas o Nobel não premeia descobertas muito recentes, faz bem que é para dar tempo para se confirmar os dados todos dessas descobertas.

Página 28

ATUALIDADE Outubro 2012

São utilizados feixes de Laser para suprimir a deslocação térmica dos iões dentro da armadilha, e com o intuito de se medir e de

se controlar o ião aprisionado.

Os eléctrodos mantêm os iões de Berílio dentro da armadilha de Paul

Page 29: astroPT Outubro2012

Página 29

Volume 2 Edição 10 ATUALIDADE

Os dois cientistas conseguiram capturar e mani-pular partículas quânticas de forma muito preci-sa.

Conseguiram isolar estes sistemas (um átomo é um sistema) do mundo do muito pequeno, afim de manterem – durante muito pouco tempo – estas partículas e os ambientes pristinamente quânticos para se poder estudar as suas proprie-dades.

Pois é, caso um simples e tão pequeno fotão fugisse do aparato o sistema colapsava para aquilo que vemos no nosso dia a dia, para o mundo do muito grande, e a Física quântica, coi-tada, ficaria apenas a ser um edifício teórico muito bonito. Mas eles, cheios de coragem e de determinação, baseando-se em muitos estudos e muitas desco-bertas suas e dos seus colegas, lograram trazer a

Física dos Quantas para a experimentação verifi-cável.

Tão bem o fizeram que são as descobertas com maior precisão de todas, uma precisão que ultra-passa a dum relógio atómico de Césio!

E como o fizeram? Se bem que se encontrem semelhanças nas 2 abordagens e nas suas técni-cas, em termos práticos e experimentalistas foram observados 2 sistemas muito diferentes.

1) David J. Wineland e os Iões numa armadi-lha.

Não se refere na literatura quanto tempo se con-segue manter os iões neste estado quântico muito bizarro , mas como osiões são átomos electricamente carregados e o Berílio só é atraí-do por um campo magnético externo e não acu-mula o magnetismo é o elemento ideal para

Nascimento dos átomos no Universo, uma estimativa calcula este número de átomos:

1.43×10^53 kg

Page 30: astroPT Outubro2012

este átomo electrificado se manter isolado das próprias ferramentas de manipulação dos cien-tistas.

Outros colegas, baseados na sua experimenta-ção semelhante, referem que o ião de Be se manterá nesta superimposição digna do gato de Schroedinger (vivo e morto ao mesmo tem-po) durante 1/10 de segundo.

Isso é uma eternidade, uma verdadeira idade geológica em Física de partículas.

“Os iões podem ser observados através de tran-sições ópticas que resultam numa forte disper-são da luz quando eles são excitados por um laser. Podem ser vistos a olho nu ou através duma máquina fotográfica digital (CCD). E o que é mais, o estado interno do ião (isto significa por exemplo saber se há electrões desemparelha-dos) pode ser estabelecido pela observação dos saltos quânticos (por exemplo se os electrões vão para as posições orbitais muito especificas que a teoria prevê, e vão).” É fundamental e incontornável também arrefe-cer-se o sistema para o mais baixo nível de ener-gia do aparato da armadilha de Paul ( é o nome desta armadilha) e isso implica o que parece um paradoxo.

É que o preceito técnico exige que o ião seja excitado, aumentando a sua energia interna e diminuindo a sua energia vibratória. Por simples contas de somar e de diminuir apuram-se com extrema precisão as propriedades físicas do sis-tema, com um bónus maravilhoso disso poder vir a ter aplicações muito práticas. Mantém-se a assim a coerência de todo o siste-ma. Atentem nesta palavra, coerência, (link em inglês, mais completo), o mundo do dia a dia é por natureza incoerente, e aqui no muito peque-no esta metodologia permitiu finalmente obser-var um sistema totalmente coerente.

Esta metodologia e a dos

2) Fotões numa cavidade

Haroche e a sua equipa na Universidade de Yale usaram 2 espelhos muito sofisticados* para cap-turar um fotão.

nota* vejam na hiperligação o “tipo de espelho primário.”

De seguida, enviaram átomos entre esses espe-lhos para sondar o comportamento dos fotões.

Reparem neste detalhe, átomos e fotões, o mes-mo que dizer matéria e energia, e apuraram com tremenda acuidade as características de ambos, do sistema, e das interacções que nele ocorrem.

De novo, afinando meticulosamente os compri-mentos de onda dos fotões, da cavidade onde estes estavam isolados e a dos átomos utilizados na sua sondagem comportamental, conseguiram não perturbar o sistema – no sentido de não colapsar a sua coerência – e obter:

a) Um tempo de vida do sistema assombroso para esta dimensão, cerca de 130 ms (millisegundos).

b) Uma medição da oscilação da cavidade que regista um factor Q de 10 elevado a 13, 10^13. Aqui um explicação mais detalhada do Factor Q, também conhecido como factor de selectivida-de. Atentem na segunda definição.

Por comparação um diapasão de afinação musi-cal oscila a menos de 1000 Hz, 10^3. Podem por aqui ir afinar o som:

http://www.onlinetuningfork.com/

Vejamos então bem visto,

Diapasão = 1000 (10^3) Relógio atómico de césio = 100 000 000 000 (10^11) Cavidade quanto cromo dinâmica = 10 000 000 000 000 (10^13)

significa que se pode contar o tempo 100 vezes melhor do que com um relógio atómico!

Como se não bastasse, observaram assim um emaranhamento entre a cavidade (digamos

Página 30

ATUALIDADE Outubro 2012

Page 31: astroPT Outubro2012

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Volume 2 Edição 10 ATUALIDADE

o ambiente, ou este pequeno universo) e as par-tículas estudadas, os fotões.

esta simples palavra, fotões, tem implicações tremendas.

Fotões bem conhecidos com este nível de preci-são e entrelaçados com o próprio sistema onde evoluem significa:

Melhores raios x (menos intrusivos, com radia-ções muito mais baixas e imagens muito melho-res).

E, tremendo feito, fizeram o primeiro passo fun-damental para o futuro computador quântico.

Construíram 2 qubits.

– O que nos reserva o futuro? Pois vamos usar a excelente análise do The Economist sobre este passo, e cito, com a devida autorização:

Babbage The economist

Um computador digital vulgar manipula a infor-mação sob o formato dos bits, que satisfazem o valor 0 ou 1. Estes valores são representados dentro do computador por voltagens eléctricas diferentes.

Os trabalhos dos Doutores Haroche e Wineland possibilitam a utilização doutras propriedades das partículas, como os níveis de energia dos iões, para construírem uma entidade semelhan-te (análoga, embora digital) ao bit tradicional – o qubit.

Por seu turno, o emaranhamento permite que sejam adicionados mais qubits. Cada qubit extra dentro duma máquina quântica duplica o núme-ro de operações que podem ser realizadas em simultâneo.

Dois qubits emaranhados permitem 4 opera-ções, três permitem oito; e assim sucessivamen-te. (Nota- O máximo que neste momento se atingiu são 16 operações.)

Teoricamente, um computador quântico com

capacidade de processamento de 300 qubits poderá desempenhar mais operações em simul-tâneo do que o número de átomos existentes no Universo.

Ainda estamos longe desse feito, mas estes dois grandes cientistas construíram os 2 primeiros alicerces desta tecnologia. Para eles, com todo o mérito, o Prémio Nobel da Física de 2012.

Podem verificar a literatura do comité do Nobel: Popular Avançada Dar os parabéns aos laureados —

Nota final: hoje é um dia emocionante para todos os que gostam de Física Quântica. A título pessoal o que mais me impressionou nestes tra-balhos foi a questão do diapasão musical, por-que ela prova que a Música é matemática, como o disseram Leibniz ou Espinoza, como o formula-ram Pitágoras, e Bach com a sua notação.

Por aqui se vê bem e sem margem para hesita-ções como os Professores e o Ensino de Música são essenciais para um bom ensino de Ciências.

Como nós todos quando estamos a cantar esta-mos a exclamar formulas matemáticas extrema-mente complexas sem sequer darmos por isso.

Por esse ratio, por essa razão, e para extravasar, confesso, a minha alegria, deixo-vos com uma canção que nos diz que quando conhecemos as notas podemos cantar tudo.

Fica como justíssima homenagem a todos os Professores e Professoras de Música, neste dia muito feliz para a Física dos Quantas.

Do Ré Mi

Manel Martins

Page 32: astroPT Outubro2012

Há dias atrás, tive uma pequena sessão de per-guntas e respostas sobre cosmologia com o nosso leitor e habitual comentador Jonas. Achei o tema e as perguntas tão interessantes, que resolvi reproduzi-las em post, porque outros leitores poderão ter o mesmo género de dúvidas. ~

Pergunta: Onde está a Via Láctea em relação à fronteira da expansão do Big Bang? Há algo à nos-sa frente? Estamos longe da “borda” da expansão ou estamos na ponta? Resposta: em principio estaremos naquilo que nos parece o centro do nosso Universo Observá-vel. Não quer dizer que estejamos no centro do Universo, quer só dizer que onde quer que esteja-mos no Universo, estaríamos sempre no centro do nosso raio de observação para qualquer lado. O Universo poderá ter 156 mil milhões de anos-luz, mas o nosso Universo Observável é de 93 mil milhões de anos-luz. Como se pode ver na imagem seguinte, parece

que existe mais massa para uma das fronteiras do nosso Universo Observável. Pergunta: Temos sorte de vermos o Extreme Deep Field (XDF) por estarmos num local em que o inicio de tudo está dentro do nosso universo observável?

Resposta: Sim, mas, o “início” mesmo, o momen-to do Big Bang, não conseguimos ver. No futuro, talvez percebamos tudo até ao Tempo de Planck, ou seja, até 0,0000000000000000000000000000000000000000001 segundos após o Big Bang – o que naqueles tempos era uma eternidade! É só a partir daí que a Teoria do Big Bang tenta explicar os aconteci-

mentos, a evolução do Universo. Perceber e “ver” são coisas diferentes, porque “ver” só dá até ao momento em que passou a haver radiação visí-vel… com estrelas. Antes disso, é a chamada “Idade das Trevas”.

Pergunta: Seria possivel saber se o Big Bang se expandiu na direcção oposta ao nosso movimen-to? Ou ainda estou com uma ideia errada, não foi só de um ponto inicial, o universo “apareceu” criando “bolsões” de espaço x tempo x materia aos borbotoes, em espaços gigantescos por todos os lados de um ponto central, ao mesmo tempo, mesmo assim impulsionados para irem adiante a

Perguntas CosmológicasPerguntas Cosmológicas

Página 32

COSMOLOGIA Outubro 2012

Page 33: astroPT Outubro2012

partir de uma onda de um ponto central? Ou toda a matéria conhecida realmente saiu de um ponto e foi gerando as galáxias e se deslocando?

Resposta: agora estamos a movimentar-nos numa direcção, devido ao Great Atractor que nos está a atrair – a tal enorme massa que existe para lá do nosso Universo Observável, como se perce-be na imagem da resposta à primeira pergunta. No entanto, o Universo não se expandiu a partir de um ponto nesse espaço-tempo. Imagine o espaço-tempo como a superfície de um balão… e você é uma formiga andando em cima dessa superfície do balão. Se o balão for aumen-tando de tamanho, a sua superfície vai aumentan-do de tamanho, vai sendo cada vez maior, mas você, formiga em cima do balão, só se apercebe que a sua superfície fica sendo maior, mas nunca se apercebe onde é que passa a existir mais superfície. É por todo que fica maior, mas não existe um sítio donde brota mais superfície. Por-quê? Porque ele está a aumentar a partir de um sítio fora do seu universo, fora do seu espaço-tempo. Afecta o seu Universo de uma forma que você não pode ver a origem (porque é “dentro do balão”, não na sua superfície, fora do nosso espa-ço-tempo). Pergunta: Se estamos vendo o passado tão dis-tante de galáxias de 500 milhões de anos depois do início da expansão, com o Extreme Deep Field (XDF), que antiguidade mesmo é essa? Na

minha cabeça essa luz dos primeiros 500 milhões de anos já “passou” por nós faz tempo. Se a Via

Láctea se formou naquelas proximidades, ou mes-mo longe de lá, em outro “borsão” do espaço, mas se sabe que foi perto daquele tempo pela idade que tem, deslocando-se com a expansão e o tempo correndo e a luz saindo do ponto onde aquelas galáxias vistas pelo XDF estaria, aquela luz já passou por nós faz tempos, pois a velocida-de da luz é obviamente muito maior do que a velocidade de expansão.

Resposta: Só agora estamos vendo essa luz tão longe, porque essa luz nunca tinha chegado até

nós, porque não tínhamos capacidade para vê-la. Imagine que você tem telescópios para ver até 100 kms de distância. No dia seguinte você conse-gue criar um telescópio que vê até 200 kms de distância. Nesse momento você vai ver mais lon-ge. Por outro lado, essa luz não tinha chegado ainda até nós, porque o Universo está-se expandindo a velocidades aceleradas superiores à velocidade da luz. Foi assim no início, durante a chamada Infla-ção, e tem sido agora gradualmente. Ou seja, o Universo expande-se a velocidades superiores à que a luz pode chegar a si. Ou você cria telescó-pios melhores, ou então o que você vê hoje, já não haverá à mesma distância amanhã. Carlos Oliveira

Página 33

Volume 2 Edição 10 COSMOLOGIA

Page 34: astroPT Outubro2012

Página 34

COSMOLOGIA Outubro 2012

Nesta imagem da NASA vemos uma comparação da distância a que vamos vendo o Universo ao longo do tempo. Quanto mais longe vemos, mais no passado vemos.

Neste momento, o Telescópio Espacial Hubble vê até cerca de 500 milhões anos após o Big Bang: eXtreme Deep Field.

O próximo Telescópio Espacial (James Webb)

deverá ver ainda mais longe, e consequentemen-

te mais próximo do evento a que se convencio-

nou chamar Big Bang.

Carlos Oliveira

Até onde vêem os grandes Até onde vêem os grandes

telescópios?telescópios?

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Page 35: astroPT Outubro2012

Página 35

Volume 2 Edição 10 COSMOLOGIA

Enquanto o nosso Sol é uma estrela solitária, a maior parte das estrelas na Galáxia fazem parte de sistemas binários ou múltiplos, em que várias estrelas se orbitam mutuamente.

Teoricamente, pensava-se que se as estrelas se formassem perto uma da outra, então rapida-mente se fundiriam. Durante décadas as observações mostraram-nos isto mesmo. Nunca se tinham encontrado siste-mas binários em que as estrelas tivessem perío-dos inferiores a 5 horas, porque se pensava em sistemas binários com estrelas como o Sol.

No entanto, uma equipa de astrónomos utilizou o Telescópio Infravermelho do Reino Unido (UKIRT) e encontrou quatro sistemas binários (duas estre-las) de anãs vermelhas (as estrelas mais comuns no Universo) com órbitas inferiores a 5 horas. Provavelmente elas formaram-se mais longe uma

da outra, mas as suas órbitas foram ficando mais curtas ao longo do tempo, estando agora bastante próxi-mas… mas ainda não se fundiram.

O recorde de proximi-dade está neste momento em duas anãs vermelhas (tipo M4) que se orbitam a cada 2,5 horas. No futuro irão colidir e unir-se numa única estrela. Podem ler o artigo ori-ginal, na Royal Astro-nomical Society, onde obviamente a referên-

cia de que são estrelas “impossíveis” está entre aspas. Podem ler em português o artigo no Portal do Astrónomo, onde obviamente mantiveram as aspas na palavra “impossíveis”. Já este jornal informa logo em título que estas estrelas violam as leis da física, o que é um gran-de disparate sensacionalista. Percebe-se que o marketing está acima da informação credível. Ao contrário do sensacionalismo, não foram violadas quaisquer leis da física, sendo que a Lei da Gravi-dade continua a funcionar como sempre, até que o Limite de Roche faça o resto (quando o atingi-rem, as estrelas irão destruir-se, e formar um dis-co compacto de matéria que irá condensar numa única estrela). Carlos Oliveira

Par de anãs vermelhas bate recorde Par de anãs vermelhas bate recorde

de proximidadede proximidade

Crédito: J. Pinfield

Page 36: astroPT Outubro2012

Página 36

COSMOLOGIA Outubro 2012

A NASA, por intermédio do seu satélite Swift, detectou recentemente uma “explosão” em raios-x. A fonte desse pico de raios-x estava na direcção do centro da nossa Via Láctea.

Essa explosão breve de raios-x deu-se a 16 e 17 de Setembro de 2012, e é evidência de um bura-co negro estelar, que era desconhecido.

O buraco negro com massa estelar (resultado após uma supernova de uma estrela bastante massiva) recebeu o pomposo nome Swift J1745-26, e encontra-se a quase 30.000 anos-luz de dis-tância da Terra.

O buraco negro deverá ter uma companheira, muito provavelmente uma estrela similar ao Sol. A explosão de raios-x que foi detectada, deveu-se a alguma da massa da estrela, que já tinha

sido “roubada” à estrela e encontrava-se a orbi-tar o buraco negro, a ser “sugada” por este.

Leiam o artigo original e completo, na NASA.

[NR: veja o vídeo aqui]

Carlos Oliveira

NASA detecta um novo buraco negro NASA detecta um novo buraco negro

na nossa Galáxiana nossa Galáxia

Page 37: astroPT Outubro2012

Página 37

Volume 2 Edição 10 COSMOLOGIA

Cientistas da Universidade de Cambridge, utili-

zando os dados dos telescópios UKIRT e WISE,

conseguiram descobrir um buraco negro gigan-

tesco localizado a 11 mil milhões de anos-luz de

distância.

O buraco negro supermassivo recebeu o nome

ULASJ1234+0907.

A detecção do buraco negro foi feita em infra-

vermelho (calor).

Na imagem, o objecto está avermelhado, devi-

do a toda a poeira que rodeia o buraco negro,

que absorve a luz azul e esconde o buraco

negro em luz visível (daí não ter sido detectado

até agora).

Este buraco negro supermassivo tem 10.000

vezes mais massa que o buraco negro supermas-

sivo que está no centro da nossa Galáxia. Este é

assim um dos buracos negros

mais massivos alguma vez detec-

tados.

No Universo Observável existem

provavelmente 400 buracos

negros tão massivos como este.

Este estudo mostra que os bura-

cos negros supermassivos forma-

ram-se rapidamente e cresceram

bastante naquela altura.

Provavelmente formaram-se após

colisões entre galáxias.

Leiam mais detalhes, aqui.

Carlos Oliveira

Buraco Negro Monstruoso encontrado Buraco Negro Monstruoso encontrado

nos “confins” do temponos “confins” do tempo

Simulação de um buraco negro.

Page 38: astroPT Outubro2012

Página 38

SISTEMA SOLAR Outubro 2012

Já no passado, tive uma interessante e espontâ-

nea sessão de perguntas e respostas, a partir de

perguntas que me fizeram no facebook sobre

perigo de asteróides. Leiam aqui.

Mais recentemente houve uma nova e espontâ-

nea sessão de perguntas e respos-

tas no Facebook do astroPT, que por ter sido tão

interessante reproduzo aqui um resumo dela:

Pergunta: Tenho uma dúvida acerca da Cintura

de Asteróides. A teoria mais aceite diz que a

gigantesca gravidade de Júpiter impede a acre-

ção. Se a força gravitacional de Júpiter é assim

tão grande, não devia ter já pulverizado as luas

Io e Europa?

Resposta 1:

Pode-se dividir isto em vários pontos:

- A massa da cintura de asteróides é muito baixa.

Segundo a Wikipedia, situa-se nos 3×10^21 kg,

pouco mais de 4% da massa da Lua.

- Durante a formação do Sistema Solar, os plane-

tas gigantes, que se terão formado mais próxi-

mos do Sol, migraram para as posições que ocu-

pam hoje.

- Júpiter ter-se-á formado muito rapidamente,

tendo por isso uma enorme força gravitacional

Poderá a cintura de asteróides transformar-se num planeta?

Comparação entre os menores planetas e as maiores luas

Page 39: astroPT Outubro2012

Página 39

Volume 2 Edição 10 SISTEMA SOLAR

quase desde o início do Sistema Solar.

- Essa gravidade terá puxado e empurrado os

planetésimais que compunham a órbita da cintu-

ra de asteróides, dotando-os de velocidades

muito elevadas. Com a migração de Júpiter, esse

“puxão” deverá até ter sido amplificado.

- Como os planetésimais eram pequenos, e no

total pouco massivos, ganharam

demasiada velocidade. Assim, quan-

do iam na direção uns dos outros, em

vez de acretarem, chocavam com

tanta velocidade que simplesmente

se desfaziam.

Claro que, com tanto planetésimal a

“flutuar” naquela zona, lá houve um

ou outro que conseguiu crescer mais

um bocado. Mas mesmo Ceres, que

sozinho tem 1/3 da massa da cintura

de asteróides, tem cerca de 9×10^20

kg.

Comparando com as luas galileanas

de Júpiter, mesmo a mais

“levezinha” (Calisto) tem uma massa de 10^23

kg, ou seja, 1000x mais que Ceres, e quase 100x

mais que toda a cintura de asteróides.

Para o caso das luas mais pequenas, há que ter

em conta o número. Muito provavelmente em

órbita de Júpiter nunca terá havido tantos plane-

tésimais como na cintura de asteróides, por isso,

choques catastróficos entre eles seriam muito

menos prováveis.

Resposta 2:

A formação dos satélites de Júpiter ou a forma-

ção de um planeta com uma órbita próxima de

Júpiter são coisas completamente distintas.

Vejamos cada uma das duas situações:

O Sistema Solar formou-se a partir de uma nebu-

losa que se foi contraindo por ação da gravida-

de. Qualquer pequeno movimento de rotação

que ela tivesse inicialmente foi largamente

ampliado devido à conservação do momento

angular. A maior parte da matéria aglomerou-se

no centro, formando o Sol e, no disco protopla-

netário, foram-se formando os planetas. Os pró-

prios planetas também estavam envoltos num

disco de gases e poeiras em rotação que, em

alguns casos deram origem a satélites.

Os satélites principais de Júpiter, provavelmente

formaram-se a partir desse disco de matéria que

deu origem a Júpiter (os mais pequenos terão

tido uma formação independente e foram poste-

riormente capturados por Júpiter).

Quanto à área de influência do Sistema Joviano

(Júpiter e os satélites que o orbitam), essa área é

muito mais vasta. Júpiter ao deslocar-se em tor-

no do Sol, desestabiliza, com a sua gravidade,

um grande volume de espaço, onde não foi pos-

sível formar-se um outro planeta ou, se se for-

mou, tinha uma órbita tão instável que acabou

por cair no Sol, ser expulso do Sistema Solar ou

migrado para outro local do Sistema Solar.

Os satélites principais de Júpiter estão numa

situação muito diferente. Estão em órbitas está-

veis e só seriam destruídos pela gravidade de

Júpiter se por qualquer motivo se aproximassem

demasiado do planeta, caso em que o efeito de

maré poderia fragmentá-los.

Comparação entre Ceres, a Lua, e a Terra

Page 40: astroPT Outubro2012

Pergunta: Será que há condições para existir um

único planeta entre Marte e Júpiter?

Resposta: Como disse acima, a gravidade de

Júpiter imprime demasiada velocidade aos obje-

tos da cintura de asteróides para eles poderem

acretar. As colisões entre eles são sempre dema-

siado violentas.

Por isso, na minha opinião, nunca existirá um

planeta principal naquela órbita (a não ser que

alterem a definição de planeta, de modo a que

objetos como Ceres possam ser considerados

planetas principais).

Pergunta: Aqui pode-se ver que Vesta é muito

maior que Itokawa. É estranho/interessante que

Vesta não consiga atrair e “engolir” Itokawa,

devido à

força gravi-

tacional de

Júpiter que

está milhas

e milhas de

distância.

Basicamen-

te o que

quero

saber é se

daqui a

centenas

ou milha-

res de anos

vai existir

UM plane-

ta (anão ou

não) entre

Marte e

Júpiter.

Haverá

possibilida-

des do pla-

neta-anão

Ceres se

juntar (acrecionar?) por exemplo a Vesta?

Resposta:

As perturbações gravitacionais mútuas entre

Ceres, Vesta, Palas e outros grandes objectos da

Cintura de Asteróides induzem um comporta-

mento caótico nas suas órbitas, tornando-as

imprevisíveis em escalas de tempo relativamen-

te curtas (na ordem das centenas de milhares de

anos). Num trabalho recente, astrónomos fran-

ceses descobriram que a probabilidade de coli-

são entre Ceres e Vesta atinge 0,2% em apenas

mil milhões de anos, uma probabilidade relativa-

mente elevada! No entanto, penso que a veloci-

dade destas colisões seria demasiado elevada

para que estes objectos se acrecionassem. A

altas velocidades a acreção é difícil. O desfecho

Página 40

SISTEMA SOLAR Outubro 2012

Comparação do tamanho de vários asteróides

Page 41: astroPT Outubro2012

mais provável de tal catástrofe seria a sua frag-

mentação em inúmeros pequenos asteróides.

Pergunta: Os anéis de Saturno formaram-se por-

que uma lua se aproximou demasiado do plane-

ta e a gravidade a desfez em pedacinhos. O pro-

cesso foi o mesmo?

Resposta: No caso dos anéis de Saturno, essa é

uma das teorias propostas para a sua formação.

Segundo essa teoria, uma lua saturniana com

um tamanho ligeiramente superior a Mimas ter-

se-ia aproximado demasiado do limite de Roche

de Saturno (por colisão com outro corpo?), o

que teria provocado a sua fragmentação pela

acção da força de maré.

No caso da Cintura de Asteróides, a perda de

massa causada pela migração de Júpiter no início

da formação do Sistema Solar terá inviabilizado

a formação de um objecto massivo na

região, restando apenas alguns planetési-

mais. A perturbação gravitacional de Júpi-

ter foi provocando a colisão entre estes

objectos, o que causou a fragmentação

de muitos dos planetas embriões origi-

nais. Vesta, Ceres e Palas terão sido os

grandes sobreviventes desse processo.

Ou seja, no caso dos anéis de Saturno

teríamos a fragmentação de uma lua. Na

Cintura de Asteróides, os acontecimentos

tiveram contornos diferentes. Júpiter aca-

bou por impedir o crescimento dos plane-

tas embriões aí formados. As perturba-

ções gravitacionais geradas pela sua

migração (ver modelo de Nice) ejectaram

muito do material aí existente e aceleraram o

que restou, interrompendo o processo de acrec-

ção e provocando colisões disruptivas.

Carlos Oliveira

Página 41

Volume 2 Edição 10 SISTEMA SOLAR

Anéis de Saturno

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http://www.grifin.pt/

Page 42: astroPT Outubro2012

Página 42

SISTEMA SOLAR Outubro 2012

Com aproximadamente 1.800

quilómetros de diâmetro e cer-

ca de 5,2 quilómetros de pro-

fundidade, Argyre é a segunda

maior bacia de impacto do pla-

neta vermelho. O seu nome

deriva da mitologia greco-

romana, que descrevia Argyre

como uma ilha de prata

(árgyros, em grego) situada

junto à costa ocidental da

actual Birmânia. No século XIX,

a palavra Argyre figurava pela

primeira vez num mapa de

Marte criado pelo astrónomo

italiano Giovanni Schiaparelli,

sobre uma região brilhante

situada nas proximidades do

pólo sul do planeta.

A imagem de cima mostra uma

porção da região mais seten-

trional da gigantesca bacia vis-

ta durante o Inverno. A paisa-

gem é dominada pela metade

ocidental de Hooke, uma pro-

funda cratera com cerca de

138 km de diâmetro, e pelas

terras baixas ajdacentes mol-

dadas pelo vento e por proces-

sos glacio-lacustrinos. Nestes

terrenos é possível observar

finas camadas de gelo de dióxi-

do de carbono cobrindo as

superfícies mais abrigadas do

Sol.

Sérgio Paulino

Beleza gelada na ilha de prata

PU

BP

UB

Gelo de dióxido de carbono em Argyre Planitia. Composição em cores naturais construída com imagens obtidas a 08 de Junho

de 2012 pela High-Resolution Stereo Camera da Mars Express.

Crédito: ESA/DLR/FU Berlin (G. Neukum).

Page 43: astroPT Outubro2012

Página 43

Volume 2 Edição 10 SISTEMA SOLAR

Há dias atrás, a

NASA publicou o caminho que

o rover Curiosity já percorreu

na superfície Marciana, até ao

Sol 56 (2 de Outubro de

2012), em direcção à área

Glenelg que é onde se inter-

ceptam três

tipos de terre-

nos.

Carlos Oliveira

Trajeto do Curio-sity

Crédito: NASA/JPL-Caltech / Universidade do Arizona

Page 44: astroPT Outubro2012

Página 44

Mais uma rocha espacial a rasar a Terra

SISTEMA SOLAR Outubro 2012

No passado Domingo, o aste-

róide 2012

TV cruzou tranquilamente o

interior do sistema Terra-Lua,

passando a uma distância

mínima de cerca de 249 mil

quilómetros da superfície ter-

restre. Neste momento, a

pequena rocha espacial afasta

-se do nosso planeta, estando

já demasiado distante para

poder ser observada através

dos maiores telescópios ama-

dores.

Entretanto, um outro asterói-

de recém-descoberto fará

uma passagem ainda mais

próxima da Terra na madruga-

da do dia 12 de Outubro.

Designado provisoriamen-

te 2012 TC4, este novo objecto

atravessará os céus a uma dis-

tância de 88 mil quilómetros

da superfície terrestre, cerca

do dobro da altitude a que se

encontram os satélites geosta-

cionários. Algumas horas mais

tarde fará uma nova passagem

rasante, desta vez a 115 mil

quilómetros da Lua.

2012 TC4 foi descoberto a 04

de Outubro, em imagens obti-

das pelo telescópio Pan-

STARRS. Com um tamanho

inferior a 30 metros, o peque-

no visitante deverá brilhar a

uma magnitude máxima de

13,76 nas horas que precedem

o momento de maior aproxi-

mação ao nosso planeta.

Sérgio Paulino

Diagrama da órbita do asteróide 2012 TC4.

Crédito: JPL’s Small Body Database.

Page 45: astroPT Outubro2012

Página 45

Volume 2 Edição 10 SISTEMA SOLAR

No passado Domingo, o Curiosity preparava a

primeira amostra de regolito marciano para aná-

lise, quando os cientistas da missão repararam

num pequeno objecto brilhante, com cerca de 8

mm de comprimento, repousando no solo junto

ao braço robótico. Seria um pedaço de um dos

componentes do robot? Ou um fragmento do

skycrane? Ou, quem sabe, talvez algo mais exóti-

co? Para determinar a natureza do objecto e

possíveis impactos da sua presença na colheita e

análise de amostras, a equipa cancelou as activi-

dades programadas para o sol seguinte, e

comandou a captação de imagens adicionais

com a ChemCam.

Após uma primeira análise das imagens

da ChemCam, a equipa da missão anunciou que

o misterioso objecto aparenta ser um fragmento

de plástico ou de material isolante proveniente

do robot, talvez libertado durante a preparação

da amostra de regolito. A equipa vai, no entanto,

continuar com a investigação por mais um sol,

antes de decidir se retoma as actividades ante-

riormente programadas. Entretanto,

o Curiosity irá fotografar o solo em seu redor e

alguns componentes dos seus instrumentos, em

busca de mais pistas que possam conduzir os

cientistas a uma identificação definitiva.

[NR: veja o vídeo aqui]

Sérgio Paulino

Curiosity encontra objecto invulgar no solo marciano

Um estranho objecto brilhante no solo marciano junto ao braço

robótico do Curiosity. Imagem obtida pela MastCam-34 a 07

de Outubro de 2012 (sol 61 da missão).

Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS.

O enigmático objecto da imagem de cima visto pela ChemCam

a 08 de Outubro de 2012 (sol 62 da missão).

Crédito: NASA/JPL-Caltech/LANL.

Page 46: astroPT Outubro2012

Página 46

SISTEMA SOLAR Outubro 2012

A 7 de Outubro

de 2012 (Sol 61),

com a ajuda do

seu braço robóti-

co, o rover

Curiosity reco-

lheu a

sua primeira

amostra de areia

e poeira da super-

fície marciana.

Agora é só anali-

sar essa amostra

do solo, com os

instrumentos:

SAM (Análise de

amostras em

Marte) e CheMin

(Química e

Mineralogia).

Carlos Oliveira

Primeira colherada do Curiosity

Page 47: astroPT Outubro2012

Huygens poisou numa superfície

arenosa ressequida

Apesar de terem passado mais de 7 anos sobre a chegada da sonda Huygens à superfície de Titã, os cientistas continuam a extrair dos dados recolhidos pela missão valiosas informa-ções acerca do ambiente tita-niano. Recentemente, uma equipa internacional de investi-gadores reconstruiu o movi-mento da sonda após o primei-ro impacto no solo, ao compa-rar as leituras de três instru-mentos com os resultados obti-dos em simulações computori-zadas e num teste com um modelo daHuygens desenhado para replicar a alunagem. A análise revelou que a Huygens abriu uma depres-são com 12 cm de profundida-de no primeiro contacto com a superfície, e que depois ressal-tou para uma área plana, desli-zando com uma inclinação de 10º na direcção do movimento, ao longo de 30 a 40 cm.

De acordo com os investiga-dores, a sonda parou de deslizar devido à fricção com a superfície,

balançando cinco vezes antes de se imobilizar por completo cerca de 10 segundos após o primeiro contacto. “Um pico nos dados da aceleração suge-re que, quando a sonda balan-çou pela primeira vez, encon-trou provavelmente um peque-no seixo saliente 2 cm acima da superfície” afirmou Stefan Schröder do Max Planck Insti-tute for Solar System Research, primeiro autor do artigo onde foram publicados estes novos resultados (ver aqui). O movi-mento oscilatório da sonda “deverá ter pressionado o sei-xo contra o solo, o que sugere que a superfície teria a consis-tência de areia fina e húmida.”

A depressão criada pelo impac-to inicial da Huygens mostra que o solo era macio e defor-mável no local da alunagem. No entanto, a superfície deve-ria ser também dura o suficien-te para permitir o movimento

oscilatório detectado após a imobilização, um movimento impossível de reproduzir caso o solo fosse lamacento. A Huygens detectou ainda evi-dências da formação de uma nuvem de partículas de poeira em seu redor logo após o pri-meiro contacto com o solo, o que sugere que a superfície se encontrava seca na altura da alunagem. As propriedades ópticas destas partículas são semelhantes às dos aeróssois de compostos orgânicos obser-vados em suspensão na atmos-fera titaniana. Este resultado contrasta com outros anterior-mente publicados, que revelam a detecção de vapores de metano libertados do solo por contacto com as superfícies quentes da sonda (recordem-se que em Titã chove metano e etano). Na presença destes resultados aparentemente dis-cordantes, Schröder e colegas concluem que, apesar da superfície estar coberta por uma camada de poeira seca, o solo subsuperficial encontrava-se húmido quando a Huygensalunou, o que sugere um episódio recente de seca na região.

[NR: veja o vídeo aqui]

Sérgio Paulino

Página 47

Volume 2 Edição 10 SISTEMA SOLAR

Representação artística da chegada da sonda Huygens à superfície de Titã. Crédito: ESA.

Page 48: astroPT Outubro2012

Página 48

Surpresas na rocha Jake

SISTEMA SOLAR

No caminho para Glenelg, a

equipa da mis-

são Curiosity seleccionou

uma rocha com uma curiosa

forma piramidal como primei-

ro alvo científico para o instru-

mento APXS (Alpha Particle X-

Ray Spectrometer). Denomina-

da Jake Matijevic, em honra ao

engenheiro da NASA Jacob

Matijevic, falecido a 20 de

Agosto de 2012, a rocha era

aparentemente um vulgar

exemplar dos basaltos estuda-

dos em Marte pelas mis-

sões Spirit e Opportunity, pelo

que os cientistas saberiam à

partida o que esperar nestas

primeiras análises. Para sua

surpresa Jake revelou ser um

tipo de rocha ígnea nunca

Outubro 2012

A rocha Jake Matijevic numa versão contrastada de uma imagem obtida pela MastCam do robot Curiosity, a 21 de Setembro de

2012. Na imagem estão assinalados os locais onde foram apontados dois instrumentos diferentes para estudar a composição da

rocha. Os pontos a vermelho são os locais onde a ChemCam disparou o seu laser a 21 e a 24 de Setembro de 2012 (sóis 45 e 48

da missão). Os círculos a preto e branco são imagens captadas pela ChemCam para observar os orifícios criados na superfície da

rocha pelo laser. Os círculos a roxo indicam os locais onde o instrumento APXS realizou as suas primeiras análises em Marte.

Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS.

Page 49: astroPT Outubro2012

antes encontrada no planeta

vermelho.

“Esta rocha tem uma composi-

ção muito semelhante a invul-

gares, mas muito conhecidas,

rochas ígneas encontradas em

regiões vulcânicas na Terra”,

afirmou Edward Stolper, um

dos investigadores da missão,

na conferência de imprensa da

passada quinta-feira. Os espec-

tros obtidos

pelo APXS mostram que, com-

parativamente aos basaltos

encontrados pelos

robots Spirit e Opportunity na

cratera Gusev e em Meridiani

Planum, Jake é pobre em mag-

nésio e ferro, mas rica em ele-

mentos como o sódio, o alumí-

nio, o silício e o potássio, ele-

mentos típicos dos feldspatos

alcalinos, minerais nunca antes

observados em Marte, porém

vulgares nos granitos terres-

tres. Na Terra, este tipo de

composição química resulta de

processos ocorridos no manto,

em magma relativamente rico

em água, cristalizado a eleva-

das pressões. Os investigado-

res da missão vão, no entanto,

aguardar por novos dados

antes de se pronunciarem

sobre os processos que estive-

ram na origem de Jake.

Os resultados

do APXS parecem confirmar as

observações realizadas

pela ChemCam na rocha Jake e

noutros alvos anteriores.

“A ChemCam tem observado

composições sugestivas de

feldspato desde Agosto, e ago-

ra estamos perto de confirmar

essas observações com os

dados do APXS, embora exis-

tam ainda mais testes adicio-

nais a realizar”, afirmou Roger

Wiens, investigador principal

da ChemCam. O estudo da

composição química de Jake é

apenas uma pequena amostra

das capacidades do

robot Curiosity e das muitas

surpresas que estão reserva-

das no caminho até o monte

Sharp.

Aconselho-vos a leitura adicio-

nal do artigo da Emily Lakda-

walla sobre este assunto

(ver aqui), onde encontrarão

uma análise mais aprofundada

destes fabulosos resultados.

Sérgio Paulino

Página 49

Volume 2 Edição 10 SISTEMA SOLAR

Tempestade de Meteoros Sim, leram bem. Todos os meses temos chuvas de meteoros: as famosas chu-vas de estrelas em que vemos mais estrelas cadentes do que na maioria das noites. E, como temos alertado em alguns posts, durante o ano existem chuvas de estrelas que real-mente nos fazem ficar de nariz no ar toda a noite. Mas para 2014 espera-se não uma mera “chuva”, mas sim uma enorme tempestade de meteoros.

O responsável será o cometa 209P/LINEAR. A 24 de Maio, este cometa estará bem perto da Terra. Na verdade, a órbita deste come-ta fá-lo cruzar-se com a Terra a cada 5 anos. Em 2014, após a passagem pelo periélio, o cometa atravessará a órbita da Terra e espera-se que deixe bastante poeira. Os modelos de computador dizem que a Terra, ao passar por esse pon-to da órbita onde o cometa deixou tanta poeira, será

banhada por uma enorme quantidade de partículas, que, ao imergirem na atmosfera terrestre, darão aos humanos um enorme espectáculo de estrelas cadentes. Esta poderá ser a maior tem-pestade de meteoros deste século, com um máximo de 1000 meteoros por hora (17 por minuto). Leiam este artigo. E marquem no vosso calendá-rio: 24 de Maio de 2014. Carlos Oliveira

Page 50: astroPT Outubro2012

Página 50

Um antigo dínamo em Vesta

SISTEMA SOLAR

Em Maio passado, cientistas

da missão Dawn anunciaram

a descoberta de indícios da

presença de um núcleo metáli-

co no interior de Vesta, uma

característica partilhada pela

Lua e pelos quatro planetas

telúricos do Sistema Solar.

Um novo artigo, publicado na

semana passada na revis-

ta Science, vem agora desven-

dar o passado impressionante

desta pequena estrutura.

Durante os primeiros 100

milhões de anos após a sua

formação, o núcleo de Vesta

manteve activo um dínamo

capaz de gerar um campo

magnético forte o suficiente

para magnetizar as rochas da

crusta. As evidências encon-

tram-se no registo paleomag-

nético de um dos meteoritos

HED (howarditos–eucritos–

diogenitos), objectos cujas

assinaturas espectrais denun-

ciam a sua origem vestiana.

Neste trabalho, os autores

analisaram um total de 13

amostras de ALHA81001, um

Outubro 2012

Vesta num mosaico de imagens obtidas pela sonda Dawn em Setembro de 2012.

Crédito: NASA/JPL-Caltech/UCLA/MPS/DLR/IDA.

Page 51: astroPT Outubro2012

meteorito com excepcionais

propriedades magnéticas reco-

lhido em 1981, em Allan Hills,

na Antártida. Estudos petroló-

gicos anteriores sugerem

queALHA81001 terá tido ori-

gem na parte superior da crus-

ta de Vesta. Depois de exami-

narem os pequenos cristais

ferromagnéticos encontrados

nas amostras e medirem cui-

dadosamente o seu alinha-

mento, os investigadores pro-

cederam a progressivas des-

magnetizações até encontra-

rem o mais antigo vestígio de

um campo magnético.

A determinação da razão entre

isótopos de Ar permitiu à equi-

pa concluir que a mais recente

magnetização térmica

deALHA81001 terá ocorrido há

3,69 mil milhões de anos, ou

seja, muito depois do desapa-

recimento de um dínamo no

interior do jovem Vesta. Para

explicar esta aparente contra-

dição, Roger e colegas suge-

rem que, nos primórdios, o

dínamo criado pelo núcleo

metálico de Vesta terá gerado

na superfície um campo mag-

nético com magnitudes entre

10 a 100 μT (para comparação,

o campo magnético na superfí-

cie terrestre alcança magnitu-

des entre 25 a 65 μT). Este for-

te campo magnético global

terá perpetuado a sua assina-

tura na crusta vestiana, persis-

tindo em algumas regiões da

superfície ao longo de milha-

res de milhões de anos.

Esta hipótese está em concor-

dância com algumas observa-

ções realizadas

pela Dawn durante a sua mis-

são em Vesta. Análises espec-

trais conduzidas pela sonda

mostraram que o vento solar

tem um efeito muito limitado

nos minerais da superfície de

Vesta, comparativamente ao

observado na Lua. De acordo

com os autores deste estudo,

esta anomalia poderá ser

explicada pela actual presença

de campos magnéticos rema-

nescentes com força suficiente

para deflectir grande parte das

partículas solares.

Podem encontrar uma análise

mais aprofundada a este arti-

go aqui.

Sérgio Paulino

Página 51

Volume 2 Edição 10 SISTEMA SOLAR

Secção do meteorito ALHA81001 visto através de um microscópio electrónico.

Crédito: Roger Fu (MIT).

Page 52: astroPT Outubro2012

Página 52

Antigos grandes mares no hemisfério

sul de Titã?

SISTEMA SOLAR

Cientistas da mis-são Cassini sugerem que o hemisfério sul de Titã poderá ter albergado num passado recente vastos mares pouco profundos. Num trabalho apresentado esta semana na 44ª Reunião da Divisão de Ciências Planetárias da Socie-dade Americana de Astrono-mia, Ellen Stofan descreveu como a análise de imagens de radar obtidas pela sonda entre 2008 e 2011 conduziu a equipa à descoberta de duas extensas regiões escuras delimitadas pelo que aparenta ser uma antiga linha de costa. Uma das regiões encerra no seu inte-rior Ontario Lacus, a maior massa de hidrocarbonatos líquidos actualmente existente no hemisfério sul de Titã. Recentemente, um outro gru-po de investigadores da mis-são, liderado por Oded Aha-ronson, sugeriu que processos semelhantes aos ciclos de Croll-Milankovich (variações a lon-go termo na órbita da Terra que se pensa estarem relacio-nadas com mudanças climaté-ricas cíclicas, como por exem-plo, as glaciações) provocam a transferência cíclica de hidro-carbonatos entre os dois pólos de Titã. De acordo com este modelo, há menos de 50 mil

anos, o pólo sul estaria coberto por extensas massas líquidas com aspecto e exten-são seme-lhantes aos grandes mares observa-dos actual-mente no pólo norte. Os leitos secos agora descritos pela equipa de Stofan parecem confirmar a presença de tais ciclos climatéricos. “Os mares de Titã são alber-gues temporários para expe-riências de química prebiótica, e sabemos que vão alternando de um hemisfério para outro em ciclos de mais de 100 mil anos” afirmou Stofan na confe-rência. Se Ontario Lacus é de

facto tudo o resta de um extenso mar, então poderá ter acumulado ao longo desse tempo uma verdadeira sopa de compostos orgânicos pre-bióticos! Leiam aqui o resumo deste e de outros trabalhos apresenta-dos na Reunião da DPS deste ano. Sérgio Paulino

Outubro 2012

Ontario Lacus numa composição de imagens de radar obtidas pela

sonda Cassini. A linha a vermelho desenha os limites de um antigo

mar com pelo menos 475 km de comprimento e 280 km de largura.

Crédito: NASA/JPL-Caltech/ASI/Proxemy Research.

Page 53: astroPT Outubro2012

Por terras australianas e mares

vizinhos decorrerá um eclipse

solar total no próximo mês de

Novembro no dia 13. E NÃO

SERÁ possível observá-lo em

terras europeias pois o eclipse

terá início pouco depois das 19

h 30 min (hora portuguesa) na

zona Nordeste da Austrália,

como se pode ver no gráfico

animado a seguir. Haverá fora

da faixa da totalidade (grosso

modo com pouco menos de

200 quilometros) por uma

extensão até cerca de pouco

mais de quatro

mil quilometros, zonas de

eclipse parcial do Sol, e assim

poder haver eclipse parcial na

Antárctida neste eclipse

solar total. A totalidade

ocorre numa faixa estreita

que atravessa a superfície

da Terra, ao passo que num

eclipse solar parcial será

visível numa maior exten-

são da ordem de milhares

de quilometros. Só a parte

Nordeste da Austrália será

a única parte terrestre na

qual a faixa da totalidade

passará. O eclipse central (o

mesmo que dizer na faixa

da totalidade) começará no

parque nacional Garig Ganak

Barlu National Park

Página 53

Volume 2 Edição 10 SISTEMA SOLAR

Eclipse solar total de 13 de Novembro

de 2012

Page 54: astroPT Outubro2012

Página 54

SISTEMA SOLAR

no Northern Territory a cer-

ca de 250 quilometros a

Este de Darwin às 20 h 35

min portuguesas. Viajando

na direcção Sudeste, a

umbra rapidamente atra-

vessará o golfo da Carpen-

tária e chegará à Península

do CaboYork às 20 h 37 min

portuguesas. A primeira e

única região habitada na

faixa da totalidade situa-se

na costa Este deQueens-

land. Trata-se de Cairns que

ficará a cerca de

30 quilometros a Sul da

linha central da faixa da

totalidade. Para os humanos

que lá estiverem poderão

apreciar um eclipse de 2

minutos de totalidade. Os

habitantes de Cairns que se

dirigirem para a linha central

ganharão mais 5 segundos de

totalidade. Tudo terá de ser

conjugado com os

dados climatéricos

oferecidos por Jay

Anderson http://

home.cc.umanitoba.ca/

~jander/tot2012/

tse12intro.htm.

Após deixar a Austrália, a

umbra seguirá pelo oceano e

não haverá qualquer zona ter-

restre que terá à sua passagem

a faixa da totalidade. O máxi-

mo do eclipse – com duração

máxima do mesmo – terá lugar

no Pacífico Sul às 22 h 11 min

e 48 s. Nesse instante, o pro-

longamento do eixo da umbra

lunar passará muito próximo

do centro da Terra. O Sol esta-

Outubro 2012

Figura 1 – Animação do eclipse solar total de 13 de

Novembro de 2012 a decorrer na Australásia. O pon-

to a negro representará a indicação da faixa da totali-

dade. O grande círculo que se move, a azul mais

escuro relativamente à dos oceanos, será a zona de

umbra mais a zona de penumbra da Lua projectada

na superfície da Terra. Créditos da imagem: A. T.

Sinclair, retirado do sítio da NASA.

Figura 2 – A imagem representa a orientação do plano orbital da Terra e do plano orbital

da Lua. O nodo representa o ponto de intersecção do plano da órbita da Terra com o plano

da órbita da Lua. O eclipse de 13 de Novembro de 2012 ocorrerá no nodo ascendente já

que a Lua passará para Norte da eclíptica (quase, grosso modo, coplanar com o do plano

orbital da Terra). É preciso notar que a eclíptica corresponde ao plano MÉDIO das órbitas

do Sistema Solar e que não será totalmente correspondente ao plano orbital da Terra. Não

esquecer que o Sol se encontra a cerca de 1 UA do nodo. É apenas por efeito de perspecti-

va que parece estar no mesmo plano onde se encontra a Lua e, com isso, parecer próximo

do nodo. Escusado dizer que tal nodo não se manifesta fisicamente no céu. Esquema da

autoria de Jorge Almeida.

Page 55: astroPT Outubro2012

Página 55

Volume 2 Edição 10 SISTEMA SOLAR

Figura 3 – A imagem ilustra a sequência dos contactos numa situação de uma localidade que esteja precisamente na faixa cen-

tral (quase próximo do meio dessa faixa central). A fase da totalidade inicia no contacto II e termina no contacto III. O contacto I

inicia quando o bordo Oeste da Lua “toca” no limbo Oeste do Sol (note que o Sol está cerca de 400 vezes mais distante de nós

do que a Lua, e que por coincidência, o seu diâmetro também é 400 vezes maior, o que faz com que, para um observador na Ter-

ra, os diâmetros aparentes dos dois astros sejam tão semelhantes). O contacto II sucede quando todo o disco solar está sob o dis-

co lunar e o bordo Oeste da Lua “toca” no limbo Este do Sol. Depois no máximo, o centro do disco da Lua poderá coincidir ou

não com o centro do disco do Sol (no caso ideal, isso acontece precisamente no meio da faixa central do eclipse.) No contacto

III, o bordo Este da Lua toca no limbo Oeste do Sol; no final do eclipse, o bordo Este da Lua contacta com o limbo Este do

Sol. Nota importante: A Lua, da imagem à direita, nos contactos II e III e no máximo foi propositadamente tornada transparente

para se ver o disco do Sol que está ATRÁS do disco lunar. Nos contactos II e III sobressai um pouco do disco lunar para a direita

no contacto II, e para a esquerda no contacto III. No máximo, o disco lunar sobressai um pouco mais em torno do disco solar que

está em segundo plano. A convenção usada para as direcções da Lua foi a estipulada pela IAU em 1961. Esquema da autoria

de Jorge Almeida.

Page 56: astroPT Outubro2012

Página 56

SISTEMA SOLAR

rá a uma altitude de 68º

(imagine-se o ângulo formado

desde o horizonte até ao zéni-

te que são 90º, o Sol estará em

relação ao “ponto mais alto”

do céu a 90º-68º=32º). O eclip-

se terminará às 23 h 48 min a

800 quilometros a Oeste do

Chile.

Um eclipse solar total ocorre

quando a Lua se interpõe

entre o Sol e a Terra; e o diâ-

metro aparente da Lua é maior

do que o do Sol. Para essa

interposição ter lugar é neces-

sário que a Lua esteja num dos

dois nodos, ou seja, o ponto de

intersecção da órbita da Lua

Outubro 2012

Figura 4 – Explicitação do parâmetro gamma de um eclipse solar total. O gamma representa-se com a letra grega ɣ. Destaque-se

que há duas Luas que NÃO REPRESENTAM o mesmo eclipse! Serviu-se de duas Luas apenas para ilustrar dois valores distin-

tos de gamma. O C a vermelho representa o centro geométrico da Terra que está assinalado com ponto de igual cor. O ponto B

aponta para a intersecção entre o raio da Terra com o prolongamento do eixo da umbra lunar da Lua de cima. O ponto C aponta

para a intersecção entre o raio da Terra com o prolongamento do eixo da umbra lunar da Lua de baixo. A distância entre este

ponto de intersecção até ao ponto C é definida como AC (com traço por cima de AC) e esse segmento de recta AC é o gamma! É

claro que esse gamma será negativo e é menor em relação ao outro gamma que é o segmento de recta BC. NOTA IMPORTAN-

TE: A distância Terra-Lua está fora de escala, e tem mesmo que estar, senão ogamma seria impossível de ser marcado. Contudo

pode haver um problema de interpretação da geometria da figura que pode criar um conceito errado na cabeça do leitor. Repare

que na situação B, o centro de massa da Lua está numa posição que não poderia estar, pois não pertence à sua órbita. Deve ser

entendido isso como um caso do gamma deslocado. Para ser mais preciso, seria necessário preservar os ângulos e não fazer caso

dos diâmetros da Terra e da Lua. E, como tal, não se respeitou os ângulos na totalidade. Para tentar perceber melhor dou estas

indicações: O plano da órbita da Lua está inclinado de 5 graus em relação à eclíptica. Recomendo que se adopte o plano horizon-

tal do desenho como sendo a eclíptica. Então estabeleçam as duas situações A e B da Lua, de modo que a linha centro da Terra /

centro da Lua esteja inclinada, no máximo, de 5 graus em relação à horizontal (nem é preciso deixar essa linha no esquema, é só

para garantir). Pode-se diminuir o diâmetro da Lua, mas manter grande o da Terra, para o gamma ficar bem fácil de se ver. Cla-

ro, “estenda-se” mais o cone de umbra, para ele tocar na superfície da Terra. Esquema da autoria de Jorge Almeida.

Page 57: astroPT Outubro2012

com a da Terra – ver também

figuras 2 e 3. Além disso é

necessário que o Sol, do ponto

de vista da Terra, esteja tam-

bém perto ou coincidente com

a projecção de tal nodo. Não

esquecer que o Sol está, gros-

so modo, a 1 UA de tal nodo.

A totalidade corresponde ao

intervalo de tempo que decor-

re desde o início do contacto II

até ao contacto III (vide figura

3 para maior esclarecimento).

A duração máxima teórica de

um eclipse solar total na totali-

dade é de 7 min 31 s. A dura-

ção máxima deste eclipse é de

4 min 2,1 s em pleno Pacífico a

Este da Nova Zelândia.

A magnitude deste eclipse

será de 1,0500 e o

seu gamma será de -0,3718. O

eclipse faz parte do ciclo Saros

133. Para os leitores que já

andam a puxar os cabelos a

perguntar sobre o que é esta magnitude, o gamma e o

Página 57

Volume 2 Edição 10 SISTEMA SOLAR

Figura 5 – Ordem de acontecimentos de um eclipse solar total momentos antes do contacto I e após o contacto IV. Nota impor-

tante: Há alguma controvérsia sobre a ordem das contas de Baily e do anel de diamante. No entanto, dependendo da configura-

ção do anel de diamante, que varia de eclipse para eclipse, mesmo perante uma fotografia duas pessoas podem ter percepções

diferentes sobre como se parece um anel de diamante. Parece que tudo depende de qual seja o instrumento usado (olho nu – com

o devido uso de óculos de protecção especial, binóculos e telescópio – ambos com filtro solar) poder resolver as contas de Baily.

Se há apenas uma conta de Baily, ou se todas as contas de Baily surgem como apenas uma devido ao intenso brilho do Sol, ou se

o Sol é ainda um fino decrescente (antes do contacto II) ou crescente (após contacto III) as pessoas podem interpretar como

estando perante um anel de diamante. Contudo, as contas de Baily são um fenómeno mais objectivo, isto é, se consegue resolver

múltiplas contas, sem margem para dúvidas, estará a olhar para as contas de Baily. O anel de diamante é mais subjectivo e

depende da forma como vê o eclipse. Daí não se admire em ver noutras páginas sobre o eclipse uma ordem distinta da apresenta-

da. A queda de luminosidade antecede a totalidade e prossegue durante a dita, o mesmo acontecendo com a temperatura. O vento

de eclipse ocorre normalmente depois da totalidade. A visualização da umbra lunar precede a totalidade e prossegue após o fim

da mesma. A visão de planetas e estrelas, bem como possibilidade de visualização de cometas e/ou asteróides terá ocorrência

apenas na faixa da totalidade (salvo raras excepções). Poderá haver a hipótese de não se verem as contas de Baily bem como o

anel de diamante dependendo do rebordo lunar. É provável que a coroa solar, dado que o Sol está no mínimo solar, não tenha

uma dimensão angular apreciável. Panfleto da autoria de Jorge Almeida.

Page 58: astroPT Outubro2012

Página 58

SISTEMA SOLAR

ciclo Saros aqui segue uma sin-

gela explicação:

A magnitude de um eclipse é a

fracção do diâmetro do Sol

oculta pela Lua. É estritamente

uma razão de diâmetros e não

se deve confundir com obscu-

recimento do eclipse, o qual é

uma medida da área superfi-

cial ocultada pela Lua.

A magnitude de um eclipse

pode ser expressa tanto por

percentagem como por frac-

ção decimal (exempli gratia –

com o Sol oculto em metade

do seu comprimento, a magni-

tude do eclipse será 50% ou

0,5). A magnitude no ponto

máximo do eclipse

(coordenadas geográficas: 39º

56,9′ S e 161º 19,8” O) é de

1,0500, o que significa que a

Lua além de ocultar os 100%

do diâmetro aparente do disco

do Sol, oculta mais cerca de

5,0% do diâmetro aparente do

disco do Sol. No concernente

ao gamma de um eclipse tal

serve para descrever quão

central a umbra (=sombra) da

Lua atinge a Terra ou então a

umbra da Terra atinge a da Lua

(este último caso é durante o

eclipse lunar – parcial ou

total). O gamma é a distância,

quando o eixo do cone da

umbra da Lua passa próximo

do centro da Terra, que vai

desde o raio da Terra e o pro-

longamento do eixo do cone

da umbra (ver figura 1). O sinal

de gamma define para um

eclipse solar se o eixo da

umbra da Lua passa a NORTE

ou a SUL do centro geométrico

da Terra. Um valor positivo

significa que o eixo da umbra

da Lua passa a NORTE do cen-

tro geométrico da Terra. No

caso do eclipse solar de 13 de

Novembro de 2012 o eixo pro-

longado do cone da umbra da

Lua passa a SUL do centro geo-

métrico da Lua, daí o sinal

negativo no valor de gamma.

O ciclo de Saros nada mais é

do que uma família de movi-

mentos lunares, que no decor-

rer de 18 anos, 11 dias e 8

horas, com a repetição da

posição da relação Sol – Lua –

Terra, verifica-se o mesmo

padrão das mesmas sombras

lunares sobre a superfície ter-

restre. Cada eclipse é, de fac-

to, único. Nunca há dois eclip-

ses iguais. Para mais pormeno-

res sobre o ciclo de Saros,

leiaSaros, que saros?.

Um acontecimento muito

curioso, que ocorre alguns

minutos antes do contacto II e

após o contacto III, reside na

formação de bandas de som-

bra. Notam-se bandas alterna-

das de luz difusa com zonas

mais sombrias em superfícies

claras e planas. Daí aconselha-

se o uso de folhas ou de toa-

lhas brancas estendidas ou

então a observação de pare-

des alvas. De notar que estas

bandas, numa fase inicial,

manifestam-se de forma alea-

tória as quais, à medida que se

aproxima o segundo contacto,

se vão organizando e tornando

lineares bem como devida-

mente alinhadas. Acompa-

nhando estas mudanças, à

medida que o segundo contac-

to se avizinha, nota-se invaria-

velmente um incremento de

contraste, ao contrário do

espaçamento entre as bandas

que vai decrescendo. As ban-

das de sombra são a expressão

da cintilação do Sol, que não

são vistas no dia-a-dia dado o

considerável diâmetro aparen-

te da estrela Sol assim como o

intenso brilho que emana. Ao

contrário do que se vê em

muitos livros, as bandas de

sombra ainda carecem de um

modelo científico que as expli-

que satisfatoriamente, embora

já se saiba que são afectadas

Outubro 2012

Page 59: astroPT Outubro2012

pela turbulência da atmosfera,

entre outros factores. Tam-

bém é falso afirmar que um

céu limpo é sinónimo de

garantia de visibilidade destas

bandas. Uma boa estabilidade

atmosférica, a inexistência de

ventos até 2 km de altura bem

como ventos fortes impossibi-

lita ou, pelo menos, dificulta

sobremaneira a visualização de

bandas de sombra.

A par de todos os eventos já

descritos, assim que está imi-

nente o segundo contacto,

acontece algo de único… surge

uma “[...] jóia de luz maior que

o próprio mundo [...]“, ou seja,

forma-se o anel de diamante.

A observação do anel de dia-

mante a olho nu sem uso de

filtros adequados – óculos de

protecção especial – deve ser

considerada perigosa já que

estamos a ver luz vinda da

fotosfera do Sol que emite

radiação ultravioleta e infra-

vermelha nocivas para a retina

do olho (lembre-se que a quei-

madura da retina é indolor). As

dimensões do anel de diaman-

te variam consoante o perfil

do limbo lunar, podendo ser

possível destacar desde um

grande anel a um pequeno ou

mesmo suceder a não visuali-

zação do anel. Mas antes deste

último suspiro dos raios do Sol

tocarem no limbo lunar – anel

de diamante – geram-se as

famosas contas de Baily que

não são mais que o resultado

de irregularidades no relevo

lunar nas quais as montanhas

bloqueiam a luz vinda do Sol e

os vales lunares deixam passar

os raios luminosos formando

então pequenas esferas de luz

intercaladas vistas aqui da Ter-

ra. Conforme o perfil do bordo

da Lua, podem destacar-se

muitas ou poucas contas de

Baily. Assim que fica somente

uma conta de Baily, forma-se o

anel de diamante. Após desa-

parecer o anel de diamante,

neste instante, dá-se o contac-

to II e entra-se na fase da tota-

lidade. Só a partir deste con-

tacto, é perfeitamente seguro

olhar para o Sol sem óculos de

protecção especial (logo

depois de desaparecer o anel

de diamante e as contas de

Baily). E se já imaginava estar

na apoteose final, desengane-

se pois em redor da Lua dife-

rencia-se a famosa coroa solar

que tem um brilho aparente

similar ao da Lua cheia, a qual

faz vibrar mesmo o mais

impassível ser humano. A

coroa solar começará a emer-

gir um minuto antes da totali-

dade (obviamente a coroa

solar está sempre presente, no

entanto, o forte brilho do Sol

impede a visualização da páli-

da coroa solar no dia-a-dia, e

que só emergirá visivelmente

aquando um eclipse solar

total) e tornar-se-á invisível

poucos segundos após a mes-

ma. Contudo, aconselha-se

apenas a apreciá-la entre o

contacto II e o contacto III,

uma vez que ainda fora desse

intervalo da totalidade é visível

a fotosfera cuja observação a

olho nu reveste-se de grande

perigo para a retina.

Assim que a totalidade está

prestes a terminar com início

do contacto III ( Nota impor-

tante: Aconselha-se vivamente

a colocar os óculos de protec-

ção especial alguns segundos

antes do contacto III ) todo o

eclipse solar total segue a

inversão dos acontecimentos,

acrescentando um fenómeno

que ocorre quase sempre a

seguir à totalidade: vento de

eclipse. Outros aspectos

meteorológicos do eclipse

relacionam-se com as nuvens…

Normalmente as nuvens

cumulus desaparecem durante

Página 59

Volume 2 Edição 10 SISTEMA SOLAR

Page 60: astroPT Outubro2012

Página 60

SISTEMA SOLAR

um eclipse porque a superfície

terrestre arrefece, no entanto,

nuvens stratus desenvolver-se-

ão mais uma vez que há arre-

fecimento da atmosfera.

Nuvens espessas bem como

tempestades dificilmente

sofrerão qualquer mudança

mesmo na eminência de um

eclipse solar total. A meteoro-

logia ligada ao eclipse é com-

plexa e as mudanças depen-

dem do tipo de clima, da situa-

ção meteorológica do dia,

localização na Terra, duração

do eclipse bem como a altura

do dia em que se dá o eclipse.

É importante realçar que sen-

do o eclipse um fenómeno

dinâmico é verdadeira a afir-

mação “cada eclipse é único”.

É frequente notar que muitos

eventos ligados ao eclipse

sucedem em simultâneo. Use

de bom senso e tome as provi-

dências necessárias para os

cuidados a ter, em especial nos

contactos II e III. Acima de

tudo, saboreie cada momento

que o eclipse solar total ofere-

ce e junte-se aos “[...] milhões

de gritos e aplausos na apo-

teose final[...]“.

Obviamente estas indicações

só terão sentido a quem esti-

ver a observar ou pretenda ir

observar o eclipse na Austrália

ou Pacífico. E para quem pos-

sa, recomendo vivamente e

para esses leiam com atenção

o Manual de segurança da

observação do eclipse solar

total no final do artigo.

Para quem tenha mais curiosi-

dade em saber mais sobre os

eclipses, continue a leitura que

se segue:

O eclipse solar total além de

ter suscitado muitos sentimen-

tos de medo e admiração ao

longo da História, serviu como

meio de estudos científicos.

Eclipses solares totais já foram

e ainda estão a ser usados em

várias pesquisas científicas,

além da monitorização das

vizinhanças do Sol, aproveitan-

do o contraste gerado pela

umbra lunar.

Através do eclipse solar total

foi possível comprovar um dos

aspectos da teoria da relativi-

dade de Einstein em que cor-

pos de grande massa como o

Sol podem deflectir a luz dado

que o Sol cria uma deformação

na teia espaço-tempo. A Rela-

tividade Geral de Einstein liga

a presença de massa à geome-

tria local do espaço-tempo.

Não se diz que a massa

“exerce força gravitacional”,

tal como defendia Newton,

mas que as partículas, ou mes-

mo a luz, se deslocam livre-

mente pelo espaço-tempo,

segundo geodésicas (isto é,

linhas segundo as quais a dis-

tância entre dois dados pontos

é mínima). O espaço-tempo

(que é quadridimensional)

sofre uma curvatura, devido à

presença da massa, por exem-

plo, do Sol. Nas proximidades

dele, a curvatura é mais acen-

tuada. Isso faz com que a luz

das estrelas, ao percorrer a

geodésica, se desvie da recta.

Devido a este fenómeno, as

posições aparentes das estre-

las, vistas por um observador

na superfície terrestre, são sig-

nificativamente modificadas,

quando estas se encontram

próximas do disco solar no

céu. Como o brilho excessivo

do céu próximo do Sol dificulta

a observação dessas estrelas, a

situação ideal para fotografá-

las é a de um eclipse solar

total. Comparando as suas

posições com as que já se

conhecem (ou seja, quando

estão longe do disco solar),

calcula-se um desvio que con-

corda excepcionalmente com

as previsões teóricas da Relati-

vidade Geral. Actualmente,

Outubro 2012

Page 61: astroPT Outubro2012

imagens em vários compri-

mentos de onda das coroas

internas e externas têm sido

usadas para se compreender

melhor os complexos proces-

sos magneto-hidrodinâmicos

que contribuem para o aqueci-

mento do plasma da coroa

solar a temperaturas até 1 ou

2 milhões de graus Celsius. Por

sua vez, registos espectroscó-

picos têm informado os cien-

tistas sobre a composição e

temperatura das regiões mais

externas do Sol. O “flash spec-

trum”, por exemplo, obtido

quando a fotosfera já está

totalmente ocultada pelo disco

lunar, mostra a composição da

cromosfera. Alguns pesquisa-

dores têm usado mapas da

actividade da fotosfera para

prever qual o aspecto da coroa

solar durante eclipses. Tais

correlações são importantes

para determinação dos efeitos

dos buracos coronais, helmet

streamers, flares, proeminên-

cias, manchas solares entre

outros, sobre as características

observadas da coroa solar. Há

um fenómeno muito curioso

conhecido como efeito de

Allais no qual se verifica supos-

tamente uma oscilação anó-

mala num pêndulo aquando o

decorrer de um eclipse solar

total, cujas causas não estão

devidamente esclarecidas.

Outro aspecto importante e

que despertará o interesse

neste eclipse solar total serão

os hipotéticos… vulcanóides.

Segundo http://

www.isthe.com/chongo/tech/

astro/SandT-200805-

vulcanoid_v3.pdfo que se pas-

sa é que nos próximos eclipses

solares totais vai haver busca

por vulcanóides – possíveis

asteróides residentes entre a

órbita de Mercúrio e a estrela

Sol. Recentes modelos elabo-

rados por Neil Evans

(Universidade de Oxford) e

Serge Tabachnik (do Observa-

tório da Universidade de Prin-

ceton) sugerem que os asterói-

des vulcanóides, se de facto

existirem, residirão numa ban-

da estreita e estável entre os

0,08 UA e 0,18 UA. A menos de

0,08 UA estariam sujeitos a

maior força gravitacional, além

do aquecimento extremo do

Sol, a mais de 0,18 UA seriam

ejectados… Vistos da Terrra,

eles não deverão ter mais de

10,5º de separação angular em

relação ao Sol. Suspeitas inci-

dem na maior probabilidade

de residirem a 0,08 UA o que

torna ainda mais difícil a bus-

ca, além do mais a interacção

da gravidade de Mercúrio e

mesmo de outros planetas

poderão deslocar estes aste-

róides a pouco mais de 10º em

relação ao plano da eclíptica.

Já se tentou procurar os vulca-

nóides em 2000 (a busca é

mais precoce ainda… Suspeitas

dos asteróides em questão já

tiveram início em 1859 por Le

Verrier.. que mais pensava, na

verdade, de um planeta Vulca-

no que poderia explicar even-

tualmente o movimento anó-

malo de Mercúrio.) Daí, que a

partir de agora, os eclipses

solares totais servirão para ir

em busca desses vulcanóides.

É preciso uma câmara CCD e

registar por alguns intervalos

de tempo a zona em redor do

Sol aquando a totalidade. Con-

vém usar filtros Wratten para

filtrar o comprimento de onda

verde da coroa, isto porque se

suspeita que os vulcanóides

sejam um pouco em termos de

cor tal qual o planeta Mercú-

rio… o uso de filtros é com

objectivo de aumentar o con-

traste e facilitar a busca dos

asteróides vulcanóides. Além

desta importância, registos

históricos de eclipses solares

Página 61

Volume 2 Edição 10 SISTEMA SOLAR

Page 62: astroPT Outubro2012

Página 62

SISTEMA SOLAR

totais têm sido usados para a

determinação de variações na

velocidade de rotação da Terra

e cálculo da diferença ΔT,

entre o Tempo Uniforme (TDT)

e o tempo baseado na rotação

da Terra (TU ou TU1). Os eclip-

ses solares já foram usados (e

ainda continuam a sê-lo) para

a determinação de alguns

parâmetros astrométricos,

como o raio lunar médio

(principalmente durante eclip-

ses onde os raios aparentes do

Sol e da Lua praticamente

coincidem ou nas áreas onde o

eclipse é visto como rasante) e

também como teste de pro-

gramas de previsão desses

eventos. Outras pesquisas

focam as mudanças atmosféri-

cas e meteorológicas, incluin-

do o interessante fenómeno

das bandas de sombra e a difu-

são da luz residual do Sol, e a

visibilidade de astros. Biólogos

têm estudado o comporta-

mento dos animais e plantas

durante a passagem da umbra

lunar. E, naturalmente, exis-

tem muitos outros estudos

mais complexos, relativos a

pesquisas de Astrofísica.

Manual de segurança da

observação do eclipse solar

total

NOTA IMPORTANTE: Em cir-

cunstância alguma, NUNCA

aponte binóculo e telescópio

sem filtro apropriado para o

Sol, sob grave perigo de ficar

irreversivelmente com ceguei-

ra absoluta. Para sua própria

segurança LEIA TODAS as

regras abaixo indicadas.

O autor não se responsabiliza

por quaisquer problemas que

advenham da má utilização

das regras deste manual.

1ª regra: NUNCA observar sem

óculos de protecção especial

antes do contacto II e logo

imediatamente ao contacto III.

Só é absolutamente seguro ver

o eclipse solar total a olho nu

durante a totalidade que cor-

responde ao tempo que decor-

re entre o contacto II e o con-

tacto III. Aconselha-se viva-

mente a colocar os óculos de

protecção especial uns segun-

dos antes da totalidade termi-

nar, ou seja, antes de se dar o

contacto III.

2ª regra: NUNCA ver as contas

de Baily e o anel de diamante

sem os óculos de protecção

especial, ou filtros solares pró-

prios, já que são manifesta-

ções de eclipse parcial sendo,

portanto, visível a fotosfera a

qual constitui fonte de emis-

são de radiação infravermelha

e ultravioleta que acarretam

perigo para a visão.

3ª regra: NUNCA usar óculos

escuros, vidros negros de

fumo, películas para fotogra-

fias a cores, negativos de foto-

grafias, radiografias, disquetes,

CDs, DVDs, filtros de gelatina,

polaróides, filtros Wratten,

folhas de alumínio em quais-

quer ocasiões e circunstâncias

na observação do Sol. Evite os

filtros Mylar. Não é recomen-

dável o uso de quaisquer fil-

tros de soldador, mesmo o de

#14.

4ª regra: NUNCA usar os ócu-

los especiais de protecção ocu-

lar* combinados com binócu-

los, câmaras fotográficas,

telescópios ou outros instru-

mentos ópticos. Os óculos

especiais com a norma euro-

peia supracitada apenas SÓ

devem ser usados para obser-

vação ocular directa. E deve-se

fazer intervalos frequentes

para descanso a fim de o olho

não aquecer demasiado.

5ª regra: NUNCA utilizar os

filtros solares** para serem

colocados na ocular do instru-

mento óptico, ou seja, a lente

Outubro 2012

Page 63: astroPT Outubro2012

onde se encosta o olho para

ver.

6ª regra: NUNCA fazer uso de

óculos especiais de protecção

ocular que já tenham sido utili-

zados ou que estejam guarda-

dos, porque podem ter micro-

furos, arranhões ou

imperfeições que dei-

xem passar mais

radiação do que a per-

mitida. Lembre-se que

a queimadura do olho

é indolor e o perigo é

demasiado para arris-

car com óculos espe-

ciais de protecção

ocular pouco fiáveis

seja de onde for a sua

origem (o mesmo para

os filtros solares).

Importante testar a

segurança do óculo

especial de protecção

ocular olhando com eles colo-

cados para uma fonte de luz

bem forte em casa e procurar

por falhas, imperfeições no

filtro do óculo.

7ª regra: NUNCA exceder

observação contínua com ócu-

lo de protecção especial por

períodos de mais 30 segundos,

fazendo sempre intervalos de

2 minutos de descanso. Evita-

se, desta forma, a acumulação

de calor na retina. IMPORTAN-

TE lembrar que o aquecimento

da retina não é sentido por nós

como sentimos o aquecimento

da pele, UMA VEZ que a quei-

madura da retina, derivado do

aquecimento desta, é INDO-

LOR! Se prolongar demasiado

a observação, a retina começa

a aquecer e não nos apercebe-

mos desse aquecimento,

podendo ocorrer lesões irre-

versíveis – a cegueira parcial

ou total. Além disso evita-se

que o filtro aqueça em dema-

sia, reduzindo assim a possibi-

lidade de deteriorar o óculo de

protecção especial.

* Os óculos especiais de pro-

tecção ocular são vendidos nas

farmácias, e devem ter marca

CE obrigatória, que cumprem a

Norma Europeia EN 169/1992

e a Directiva Europeia CEE

89/686), ou então no caso de

estar na Austrália desloque-se

a uma farmácia e peça por

óculos reconhecidos pela auto-

ridade de Saúde do país.

** Os filtros solares para binó-

culos e telescópios devem ser

comprados em lojas especiali-

zadas de Astronomia.

Jorge Almeida

Página 63

Volume 2 Edição 10 SISTEMA SOLAR

Page 64: astroPT Outubro2012

Página 64

TERRA Outubro 2012

Domingo é dia de mais um desafio de “Onde no mundo lusófono”. Deixem os vossos palpites nos comentários durante esta semana (os comentários vão sendo temporariamente embargados para não influenciarem os outros leitores). A resposta correcta será divulgada no próximo Sábado, antes da publicação do próximo desafio.

Observem com atenção esta imagem:

Resposta ao desafio:

Como quase todos os que comentaram sabiam, esta é uma imagem do troço do Rio Tejo entre Santarém e Alverca (ID da imagem: ISS030-E-166767).

O Tejo é o maior rio da Península Ibérica, estendendo-se por 1.038 km, desde a nascente em Fuente García, na Sierra de Albarracín, em Espanha, até à foz no Oceano Atlântico, em São João da Barra, a poucos quilómetros de Lisboa. Na imagem são visíveis os depósitos aluvionares da parte inferior da bacia hidrográfica do Tejo, unidades estratigráficas modernas (Holoceno) que ocultam a mais importante falha tectónica da região ocidental da Península Ibérica, a

conhecida falha do Vale do Tejo, local onde ocorreu o epicentro do forte sismo que abalou Benavente a 23 de Abril de 1909.

Sérgio Paulino

Onde no mundo lusófono Onde no mundo lusófono –– Rio TejoRio Tejo

Qual é o nome deste rio?

Page 65: astroPT Outubro2012

Página 65

Volume 2 Edição 10 TERRA

Aqui está o quarto desafio da série “Onde no mundo lusófono”. Deixem os vossos palpites nos comentários durante esta semana (os comentários vão sendo temporaria-mente embarga-dos para não influenciarem os outros leitores). A resposta correcta será divulgada no próximo Sábado, antes da publica-ção do próximo desafio.

Observem com

atenção a imagem.

Resposta ao desa-fio: Esta é uma ima-gem do Atol das Rocas obtida a 03 de Março de 2012 a partir da Estação Espacial Internacional (ID da imagem: ISS022-E-79938).

Situado no Oceano Atlântico, a cerca de 260 qui-

lómetros de distância da cidade do Natal, no

Brasil, o Atol das Rocas é um recife coralino com

3,5 km de comprimento e 2,5 km de largura, for-

mado sobre um antigo vulcão submarino perten-

cente à zona de fractura de Fernando de Noro-

nha. Na maré alta, apenas duas ilhas arenosas

espreitam acima das águas, a ilha do Farol e a

ilha do Cemitério (a mais pequena das duas).

Nas águas pouco profundas em redor do atol

abriga-se uma ictiofauna muito diversificada,

facto que justifica a sua inclusão na lista de

reservas biológicas com inscrição na UNESCO.

Sérgio Paulino

Onde no mundo lusófono Onde no mundo lusófono –– Atol das Atol das

RocasRocas

Qual é o nome deste atol?

Page 66: astroPT Outubro2012

Página 66

TERRA Outubro 2012

O desafio da semana passada foi, aparentemente, fácil demais e por isso resolvi esta semana trazer-vos algo menos óbvio. Vão deixando os vossos palpites nos comentários durante esta semana (os comentários vão sendo temporariamente embargados para não influenciarem os outros leitores). A resposta correcta será divulgada no próximo Sábado, antes da publicação do próximo desafio.

Observem com atenção a imagem.

Resposta ao desafio:

A imagem de cima mostra a parte mais meridional do Grande Vale do Rift, em África, região onde se implantam os grandes lagos Niassa (ou Malawi) e Tanganica (ambos discerníveis nas proximidades da linha do horizonte). Em primeiro plano, vemos as águas douradas da grande albufeira de Cahora Bassa (ou Cabora Bassa, como era conhecida no período colonial português). Esta imagem foi

obtida a 27 de Abril de 2012, a partir da Estação Espacial Internacional (ID da imagem:ISS031-E-5842).

Cahora Bassa é a quarta maior albufeira de África, ocupando uma bacia com cerca de 2.739 km² de extensão e 20,9 metros de profundidade média. Situada no rio Zambeze, na província de Tete, em Moçambique, a barragem que lhe deu origem foi o último grande projecto de desenvolvimento financiado pelo governo português em terras africanas. A sua construção iniciou-se em 1969, em plena guerra colonial, tendo o enchimento da albufeira começado apenas em Dezembro de 1974, cerca de 5 meses após a independência de Moçambique. Actualmente, a barragem produz cerca de 2.400 MW de electricidade, que são repartidos por Moçambique, pela África do Sul e pelo Zimbabué.

Sérgio Paulino

Onde no mundo lusófono Onde no mundo lusófono –– Albufeira de Albufeira de

Cahora BassaCahora Bassa

Qual é o nome da albufeira visível na imagem?

Page 67: astroPT Outubro2012

Página 67

Volume 2 Edição 10 TERRA

Este é o tipo de animal que se fosse encontrado

noutro planeta, se fosse extraterrestre, as pes-

soas ficavam maravilhadas com ele.

Mas este surpreendente “extraterrestre” é na

verdade um animal bem terrestre.

É um escaravelho de nome científi-

co Charidotella sexpunctata (antes chamava-se

Metriona bicolor) que muda de cor: “a primeira

camada da sua cutícula é transparente, tendo

por baixo uma camada de líquido; alterações na

quantidade do liquido – controladas por válvulas

microscópicas – alteram a cor reflectida pelo ani-

mal, que normalmente parece uma joaninha

dourada (mas chega a ficar alaranjado no Outo-

no e acastanhado no Inverno)”.

É um pequeno (6 milímetros) insecto da América

do Norte, que até parece ter uma carapaça

metálica – se eu fosse conspirador, diria que isto

é um dispositivo de espionagem enviado por

extraterrestres.

Carlos Oliveira

Besouro do “outro mundo”Besouro do “outro mundo”

Page 68: astroPT Outubro2012

Página 68

TERRA Outubro 2012

O austríaco Felix Baumgartner, de 43 anos, irá hoje realizar o salto mais alto que um ser humano alguma vez realizou. Aos 16 anos iniciou-se no skydiving e já fez saltos de 21 quilómetros e a 29,6 km de altitude.

Este domingo irá superar o recorde que tem 52 anos, pertencente ao coronel da Força Aérea dos Estados Unidos da América Joe Kittinger. No dia 16 de Agosto de 1960, Kittinger realizou o salto a 31.333 metros. A queda livre durou 4 minutos e 36 segundos a uma velocidade máxima de 988 km/h. Para saltar de grandes altitudes é necessário um fato espacial para evitar problemas com o frio, baixas pressões, raios cósmicos e falta

de oxigénio. Este será o fato (ver imagem) O senhor Baumgartner irá saltar de 37 Km. Onde fica isso? É perto da Lua? Não. Mas é alto na mesma.

Nesta altitude irá enfrentar temperaturas (exteriores ao fato) de entre 0ºC e – 50ºC e com pressões entre 10mb e 1mb (milibares). O salto terá lugar na Estratosfera, onde se situa a camada de ozono. Podem ver o site oficial aqui. Neste site tivemos as imagens em directo.

Afinal o salto não foi de 37 mil metros mas de 39

O Salto de Felix BaumgartnerO Salto de Felix Baumgartner

Page 69: astroPT Outubro2012

Página 69

Volume 2 Edição 10 TERRA

068 metros. Atingiu os 1342 Km/h aos 47 segundos, como se pode ver no vídeo abaixo (a velocidade do som é de 690 mph, ou seja, cerca de 1110 Km/h). Ocorreram, na fase final da subida, uns probleminhas mas nada de mais. A queda-livre durou 4,22 minutos e o tempo total de descida foi de “aproximadamente 15 minutos, sobre o deserto do Novo México, nos EUA”. (Público)

No fim para que foi o salto? Para bater apenas um recorde? Tanto financiamento, uma equipa de cientistas e material caro e sofisticado para, apenas, um homem saltar? Não, o “projecto Red Bull Stratos foi financiado pela marca de bebida energética com o mesmo nome e, além de uma tentativa de bater recordes, tinha como objectivo servir de programa de testes de voo e de contribuir para a investigação em fatos especiais.” (Público)

Dário Codinha

Page 70: astroPT Outubro2012

O ano passado demos a notícia que o planeta que orbita o pulsar J1719-1438 seria totalmente fei-to de carbono, e sen-do o planeta mais denso até então encontrado, então muito provavelmente o planeta é feito de diamante. Este enorme diaman-te encontra-se a cer-ca de 4.000 anos-luz de distância da Terra.

Em 2007, demos a fantástica notícia de haver 5 plane-tas em órbita da estrela 55 Cancri: 55 Cancri b, c, d, e, f. Este sistema planetário com algumas semelhan-ças ao nosso, encontra-se a somente 41-anos-luz de distância. O ano passado foram detectados trânsitos do planeta 55 Cancri-e, com os dados a revelar que esta super-terra teria uma densidade supe-rior à Terra. Ainda mais recentemente saiu a notícia que este planeta deveria ter água super-crítica e gelo exó-tico.

Agora, cientistas da Universidade Yale, descobri-

ram que o planeta 55 Cancri-e não deverá ter

água e terá uma temperatura à superfície supe-

rior aos 2000ºC. Mais espectacular é que deverá

ter uma superfície coberta por grafite e imediata-

mente a seguir uma enorme camada de diaman-

te, com um interior de silício e um núcleo de fer-

ro fundido.

Este planeta é uma super-Terra, 2 vezes maior

que o nosso planeta e 8 vezes mais massivo que

a Terra.

A novidade agora prende-se com o facto deste

planeta conter provavelmente 1/3 da sua massa

feita de diamante.

Ou seja, na prática, teremos um enorme diaman-

te no céu, com 3 vezes mais massa que toda a

Terra!

Carlos Oliveira

Página 70

Planeta de diamante!Planeta de diamante!

EXOPLANETAS Outubro 2012

Page 71: astroPT Outubro2012

Página 71

Volume 2 Edição 10 EXOPLANETAS

O planeta chamado PH1 orbita duas estrelas, e elas orbitam também em volta de outras duas estrelas. Sendo assim, este planeta, que se encontra a 5.000 anos-luz de distância da Terra, tem 4 estrelas a iluminar o seu céu. Esta é a primeira vez que se detecta um planeta com estas características! Ainda mais surpreendente é que esta descoberta foi feita por dois astrónomos amadores dos EUA, Kian Jek e Robert Gagliano, com o progra-ma Planethunters.org que utiliza dados recolhi-dos pelo telescópio espacial Kepler. PH1 é um gigante gasoso do tamanho de Neptu-no que orbita as duas primeiras estrelas em 138 dias. As outras duas estrelas orbitam este sistema a

uma distância equivalente a mil vezes a da Terra ao Sol. Até agora, só se tinham descoberto seis outros planetas que orbitam simultaneamente duas estrelas, mas nenhuma dessas descobertas ante-riores tinha estrelas binárias com companheiras. Como é que este sistema é estável? Segundo Chris Lintott: “O ambiente do planeta é muito complicado, devido à pressão exercida pelas quatro estrelas. Mas, ainda assim, aparenta ter uma órbita estável. É algo realmente confuso e que torna essa descoberta ainda mais diverti-da”. Carlos Oliveira

Descoberto planeta sob 4 sóis!Descoberto planeta sob 4 sóis!

Page 72: astroPT Outubro2012

A estrela KOI-500 tem a mes-ma massa do Sol, tem 74% do diâ-metro solar, tem uma idade de mil milhões de anos (é uma jovem, comparada com os 5 mil milhões de anos de idade do Sol), e encontra-se a 1.100 anos-luz de distância da Terra. Uma equipa de astrónomos descobriu que esta estrela tem 5 planetas na sua órbita! O tamanho destes planetas é bastante parecido ao da Terra (os tamanhos vão de 1,3 a 2,6 vezes o tamanho da Terra; ou seja são planetas como a Terra e super-terras). Poderia-se pensar que é um sistema solar seme-lhante ao nosso.

No entanto, estes 5 planetas estão bastante per-to da estrela. Mesmo o que está mais longe, está 12 vezes mais perto da estrela que a Terra está do Sol. Enquanto a Terra demora 365 dias a dar uma volta ao redor do Sol, Mercúrio – o planeta mais próximo do Sol – demora somente 88 dias

terrestres. Ou seja, Mercúrio já está bastante perto do Sol, daí orbitar em muito menos tempo que a Terra. Estes 5 planetas em órbita de KOI-500 estão tão próximos da sua estrela, que as suas órbitas demoram: 1 dia, 3,1 dias, 4,6 dias, 7,1 dias e 9,5 dias! Os planetas não só estão per-tíssimo da estrela, mas obviamente estão bastan-te próximos uns dos outros!

Por incrível que pareça, as órbitas parecem bas-tante estáveis, e por isso os planetas não pare-cem estar em perigo de colidirem entre eles, de serem expelidos do sistema, nem de caírem na estrela.

E ainda existe mais uma característica importan-te: os 4 planetas mais longe da estrela têm órbi-

Página 72

Foi descoberto o sistema solar mais Foi descoberto o sistema solar mais

compacto!compacto!

EXOPLANETAS Outubro 2012

Page 73: astroPT Outubro2012

Página 73

Volume 2 Edição 10 EXOPLANETAS

tas sincronizadas. A cada 191 dias, estão exacta-mente na mesma configuração orbital. É a pri-meira vez que se encontra uma dança de 4 plane-tas sincronizados!

Quase de certeza que os planetas não se forma-ram onde estão agora. Eles provavelmente esta-vam muito mais espaçados, mas depois migra-ram para perto da estrela.

Mais um sistema planetário descoberto que nem

teoricamente se imaginou nem sequer a ficção

científica imaginou! Mais uma vez, prova-se: a

realidade é muito mais estranha do que a ficção

imagina!

Carlos Oliveira

Page 74: astroPT Outubro2012

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ASTRONÁUTICA

Um novo satélite de navegação foi colocado em órbita terrestre por um foguetão Delta-IVM+(4,2) a partir do Complexo de Lançamento SLC-37B do Cabo Canaveral AFS. O lançamento teve lugar às 1210UTC do dia 4 de Outubro.

O satélite GPS-IIF-3 deverá receber a designação

militar USA-239.

Rui Barbosa

Outubro 2012

Novo satélite de navegação em órbitaNovo satélite de navegação em órbita

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Volume 2 Edição 10 ASTRONÁUTICA

Cinco pequenos satélites foram

lançados desde a estação espa-

cial internacional. Os satélites

foram transportados para a ISS

a bordo do veículo de carga

japonês HTV-3 Kounotori-3 a

21 de Julho de 2012.

O lançamento dos satélites foi

feito a partir da secção japone-

sa da ISS e a partir dos sistemas

J-SSOD. Os primeiros satéli-

tes (RAIKO e We Wish)

foram ejectados às 1432UTC

do dia 4 de Outubro,

enquanto que os restantes

três satélites (F-1, Niwaka e

TechEdSat) foram ejectados

às 1544UTC.

Rui Barbosa

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A sua

revista

mensal de

astronáuti-

ca

[clica na

imagem

para saber

mais]

Pequenos satélites lançados da ISSPequenos satélites lançados da ISS

Page 76: astroPT Outubro2012

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ASTRONÁUTICA Outubro 2012

Um Dragão de novo em órbita Um Dragão de novo em órbita –– a a

primeira missão comercial de primeira missão comercial de

abastecimento da ISSabastecimento da ISS A SpaceX levou a cabo o lançamento da cápsula Dragon na missão SpaceX-1 (ou CRS-1) tendo por destino a estação espacial internacional na pri-meira de doze missões de reabastecimento da ISS ao abrigo do programa CRS – Commercial Resupply Services. Com a ausência do vaivém espacial, a cápsula Dragon é agora o único veícu-lo capaz de transportar de volta para a Terra grandes quantidades de carga.

O lançamento desta missão teve lugar às 0035UTC do dia 8 de Outubro de 2012 e foi leva-do a cabo pelo foguetão Falcon-9 (F-4) a partir do Complexo de Lançamento SLC-40 do Cabo Cana-veral AFS.

O foguetão Falcon-9 é desenhado e fabricado pela SpaceX. Ambos os estágios utilizam oxigénio líquido e querosene, podendo lançar 4.450 kg para uma órbita a 350 km de altitude.

A cápsula Dragon, também desenhada e fabrica-da pela SpaceX, pode transportar até 3.310 kg de carga no lançamento e regressar com 2.500 kg. É composta por três elementos principais: o cone frontal que protege a cápsula e o mecanismo de ancoragem durante o lançamento, sendo ejecta-do após a ascensão; uma secção pressurizada que é ancorada à ISS e na qual se transporta car-ga pressurizada, contendo também uma escoti-lha lateral para a introdução tardia de carga e acesso ao seu interior após o regresso, além de uma secção de serviço que contém os sistemas aviónicos, motores de controlo, pára-quedas e outras infra-estruturas de suporte; uma secção despressurizada que alberga carga que não necessita de pressurização e serve de apoio estrutural aos painéis solares e radiadores térmi-

cos. Esta secção é ejectada antes da reentrada.

O lançamento decorreu sem qualquer problema e a cápsula Dragon ficou colocada numa órbita inicial com um apogeu a 328 km e perigeu a 197 km.

A Dragon deverá ser capturada e ancorada à ISS a 10 de Outubro no seu terceiro dia de voo. O acesso ao seu interior terá lugar no dia seguinte. A missão deverá terminar a 28 de Outubro, podendo ser prolongada se necessário.

A bordo da Dragon seguem equipamentos neces-sários para o programa de investigação científica e outras cargas para o dia-a-dia da estação. Ainda a bordo seguiu o satélite Orbcomm-2G que se separou do segundo estágio do Falcon-9 após a separação da cápsula Dragon.

Durante o lançamento o computador de bordo detectou uma anomalia num dos seus nove motores do primeiro estágio, levando à sua desactivação. Em consequência, a queima dos restantes oito motores acabou por ser mais lon-ga.

Imagem: SpaceX

Rui Barbosa

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Volume 2 Edição 10 ASTRONÁUTICA

Dois novos satélites GalileoDois novos satélites Galileo

Um foguetão Soyuz-STB/Fregat-MT ao serviço

da Arianespace, foi hoje lançado desde o Comple-

xo ZLS do CSG Kourou, Guiana Francesa, às

1815:01UTC transportando dois novos satélites

de validação do sistema de navegação e de posi-

cionamento Galileo.

Este foi o terceiro lançamento de um foguetão

Soyuz desde Kourou e todas as fases do voo

decorreram como previsto.

Cada satélite tem uma massa de 640 kg tendo as

dimensões 3,02 x 1,58 x 1,59 m (na posição de

armazenamento) e 2,74 x 14,50 x 1.59 m (com os

painéis solares abertos). A bordo transportam

uma carga com dois relógios atómicos PHM

(Passive Hydrogen Maser), dois relógios atómicos

de rubídio, uma unidade de monitorização e de

controlo dos relógios, uma unidade geradora de

sinal de navegação, uma antena de banda L para

a transmissão do sinal de navegação, uma antena

de banda C para detecção de sinal, duas antenas

de banda S para telemetria e telecomandos, e

uma antena de busca e salvamento. Os painéis

solares irão fornecer 1.420 watts de energia em

exposição directa e 1.355 watts em eclipse. A vida

operacional de cada satélite será superior a 12

anos. Os satélites serão controlados a partir do

Centro de Controlo Galileu em Fucino, Itália.

Imagem: Arianespace

Rui Barbosa

Page 78: astroPT Outubro2012

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ASTRONÁUTICA Outubro 2012

China lança ShijianChina lança Shijian--99 A China levou a cabo o

lançamento da missão

SJ-9 Shijian-9 às

0325:05UTC do dia 14

de Outubro de 2012

utilizando um fogue-

tão CZ-2C Chang

Zheng-2C/SMA a par-

tir da Plataforma de

Lançamento LC9 do

Centro de Lançamento

de Satélites de Tai-

yuan.

A missão é composta

por dois satélites, Shi-

jian-9A e Shijian-9B,

que irão também pro-

ceder à observação da

superfície terrestre. A

designação ‘Shijian’

significa ‘Prática’.

O foguetão CZ-2C

Chang Zheng-2C foi

utilizado na sua versão

de três estágios utili-

zando um estágio

superior de combustí-

vel sólido SMA.

Este foi o 55º lança-

mento orbital de

2012, sendo o 4º lan-

çamento desde Tai-

yuan e o 14º lança-

mento da China em

2012.

Podem ler mais sobre

a missão aqui.

Rui Barbosa

Page 79: astroPT Outubro2012

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Volume 2 Edição 10 ASTRONÁUTICA

ProtonProton--M lança IntelsatM lança Intelsat--2323 Numa missão com

uma duração de 9

horas e 30 minutos,

a ILS (International

Launch Services)

levou a cabo o lan-

çamento do satélite

de comunicações

Intelsat-23 às

0837:00UTC do dia

14 de Outubro de

2012. O lançamento

foi efectuado por

um foguetão

8K82KM Proton-M/

Briz-M a partir da

Plataforma de Lan-

çamento PU-24 do

Complexo de Lança-

mento LC81 do Cos-

módromo de Baiko-

nur, Cazaquistão.

Todas as fases do

lançamento decor-

reram como previs-

to.

Mais informação

sobre o lançamento

pode ser encontra-

da aqui.

Imagem: Roscosmos

Rui Barbosa

Page 80: astroPT Outubro2012

Página 80

ASTRONÁUTICA Outubro 2012

Coçar o Nariz Coçar o Nariz –– com microfone e com microfone e

com valsalvacom valsalva

Este é um desafio diferente. A única pergunta é: Quando estão dentro dos fatos espa-ciais, como é que os astronautas coçam o nariz? (os comentários vão sendo temporariamente embargados para não influenciarem os outros leitores). Segundo este vídeo da NASA, é possível coçar o nariz contra o microfone que se encontra incorporado no capacete. No entanto, segundo este vídeo, o astronauta Daniel Burbank diz que coçou o nariz contra um pedaço de espuma dentro do capacete (Valsalva). Carlos Oliveira

Crédito: astronauta Samantha Cristoforetti

Page 81: astroPT Outubro2012

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Volume 2 Edição 10 ASTRONÁUTICA

Soyuz TMASoyuz TMA--06M 06M –– Nova tripulação Nova tripulação

para a ISSpara a ISS

A Rússia levou a cabo o lançamento da cápsula espacial tripulada Soyuz TMA-06M às 1051:11UTC do dia 23 de Outubro de 2012 transportando três novos elementos para a Expe-dição 33 a bordo da estação espa-cial internacional. O lançamento foi feito desde a Plataforma de Lança-mento PU-6 do Complexo de Lança-mento LC31 do Cosmódromo de Baikonur, Cazaquistão. Esta é a pri-meira utilização desta plataforma de lançamento para uma missão espacial tripulada desde 1984 quando se deu o lançamento da Soyuz T-12. O lançamento foi feito por um foguetão Soyuz-FG.

A tripulação da Soyuz TMA-06M é composta pelos cosmonautas Oleg Viktorovich Novistky, Yevgeni Igo-revich Tarelkin e pelo astronauta Kevin Anthony Ford. Oleg Novisty e Yevgeni Tarelkin realizam o seu pri-meiro voo espacial enquanto que para Kevin Ford esta será a sua segunda missão. Por seu lado, a tripulação suplente é composta pelos cosmonautas Pavel Vladimi-rovich Vinogradov e Alexander Ale-xandrovich Misurkin, e pelo astro-nauta Christopher John Cassidy. Podem ler mais sobre a mis-são aqui, sobre a tripulação aqui e sobre a cápsula Soyuz TMA-M aqui.

Rui Barbosa

Imagem: NASA/Bill Ingalls

Page 82: astroPT Outubro2012

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ASTRONÁUTICA Outubro 2012

BrizBriz--M explode em órbita e cria M explode em órbita e cria

dezenas de detritosdezenas de detritos

Cerca de 80 detritos resultantes da explosão de um estágio superior Briz-M ocorrido a 16 de Outubro de 2012, foram até ao momento catalo-gados em órbita. Estes detritos são o resultado da explosão do estágio.

No dia 6 de Agosto um foguetão Proton-M/Briz-M era lançado desde a Plataforma PU-24 do Complexo de Lançamento LC81 do Cosmódromo de Baikonur, Cazaquistão, transportando os saté-lites de comunicações Telkom-3 e Express-MD2. Devido a problemas ocorridos durante a terceira queima do estágio Briz-M (99532), a missão não foi bem sucedida e os dois satélites foram coloca-dos em órbitas inúteis. O estágio Briz-M perma-neceu também em órbita ainda com propolente

nos seus tanques.

Devido à natureza corrosiva dos propolentes hipergólicos, as membranas das respectivas con-dutas do oxidante e do combustível ter-se-ão degradado permitindo assim o contacto entre os dois líquidos originando uma explosão que des-truiu o estágio criando dezenas de detritos em órbita.

Os parâmetros orbitais dos detritos detectáveis em órbita estão e serão estudados de forma a determinar potenciais riscos de impacto noutros satélites em órbita.

Imagem: Roscosmos

Rui Barbosa

Page 83: astroPT Outubro2012

Página 83

Volume 2 Edição 10 ASTRONÁUTICA

China lança novo satélite de China lança novo satélite de

navegaçãonavegação

A China levou a cabo o lançamento de um novo

satélite de navegação. O Compass-G6, que rece-

beu a designação de ‘Beidou-16′, foi lançado às

1533:04UTC do dia 25 de Outubro de 2012 por

um foguetão CZ-3C Chang Zheng-3C a partir do

Centro de Lançamento de Satélites de Xichang.

Os habitantes locais, desconhecedores do lança-

mento, referiram tratar-se de um terramoto

quando o som dos motores do foguetão lançador

começou a percorrer os vales e a ecoar nas mon-

tanhas adjacentes ao local de lançamento.

Mais informações aqui.

Rui Barbosa

Page 84: astroPT Outubro2012

astroPT

sos feeds, têm que colo-car o rato sobre a pala-vra LIKE e seleccionar “Mostrar no Feed de Notícias” e também seleccionar “Adicionar a Lista de Interesses“. O José Gonçalves adap-tou estas imagens para vos ajudar Carlos Oliveira

Como têm andado a reparar, o AstroPT tem melhorado algumas facetas e tem-se diversificado em diversas actividades e parcerias. Uma das últimas é a cam-panha de oferta de livros de ciência aos nossos leitores. A mudança mais recente consistiu em transformar o perfil no facebook, numa página institucional. Muitas mais novidades acontecerão nos próximos dias e nas próximas semanas. Iremos dar conhecimento da maior parte delas, uma a uma, gradualmente. Por isso, estejam atentos! Para já, visitem a nossa pági-na, e façam LIKE, aqui. Notem que as páginas agora não aparecem nos feeds do vosso Facebook. Para aparecermos nos vos-

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