avaliação institucional: reflexões e desafios
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uma maior inserção de pessoas qualificadas no mundo do trabalho. Essa interação visa prominence and leading reforms in the systems of production, education, research and A interação da universidade com os setores produtivos, que atualmente vem ganhando ensino superior (IES), cada vez mais, procuram identificar suas potencialidades e obter Avaliação da Educação Superior – SINAES, que passou a utilizar dimensões que garantem oTRANSCRIPT
AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL: REFLEXÕES E DESAFIOS
Institutional Assessment: Reflections and Challenges
Cláudia Ibiapina Lima
Universidade Federal do Ceará (UFC) Brasil
Resumo
A interação da universidade com os setores produtivos, que atualmente vem ganhando
destaque e provocando reformas nos sistemas de produção, ensino, pesquisa e tecnologia, busca
uma maior inserção de pessoas qualificadas no mundo do trabalho. Essa interação visa
promover a qualidade da educação superior e elaborar políticas de avaliação. As instituições de
ensino superior (IES), cada vez mais, procuram identificar suas potencialidades e obter
elementos para superar suas fragilidades. Em 2004, o Brasil instituiu o Sistema Nacional de
Avaliação da Educação Superior – SINAES, que passou a utilizar dimensões que garantem o
foco da avaliação institucional, a unidade do processo avaliativo simultaneamente em âmbito
nacional e a especificidade de cada instituição. Faremos uma reflexão sobre a nova avaliação
institucional nas universidades brasileiras, que enfatiza a aplicação de elementos como a
integração de seus partícipes no processo global da avaliação. O objeto da nossa investigação
bibliográfica é a avaliação institucional que tem como elemento essencial a auto-avaliação.
Palavras-chave: avaliação institucional; controle e regulação; educação de qualidade.
Abstract
The university interaction with the productive sectors, which is currently acquiring
prominence and leading reforms in the systems of production, education, research and
technology, is seeking a greater inclusion of qualified people in the world of work. This
interaction seeks to promote the quality of the higher education and develop policies of
evaluation. The higher education institutions increasingly seek to identify their potential and
provide elements to overcome their weaknesses. In 2004, Brazil established the National
System of Evaluation of the Higher Education – SINAES - , using dimensions that ensure the
focus of institutional evaluation, the same evaluation process throughout the country and the
peculiarity of each institution. We will make a reflection on the new institutional evaluation in
Brazilian universities that emphasizes the application of elements such as the integration of its
participants in the overall process of evaluation. The object of our research is the institutional
evaluation which has, as essential element, the self-evaluation.
Key words: Institutional Evaluation, Control and Regulation; Quality Education.
Introdução
Avaliar vem do latim a + valere, que significa atribuir valor e mérito ao objeto em
estudo. Deste modo, avaliar é atribuir um juízo de valor sobre a propriedade de um
processo, de um programa para a aferição da qualidade do seu resultado. Isto é, associa-
se o ato de avaliar ao de “medir” os conhecimentos adquiridos pelos alunos.
Portanto, o mito da avaliação é decorrente de uma caminhada histórica, sendo seus
espectros ainda apresentados como forma de controle e de autoritarismo por diversas
gerações. Acreditar em um processo avaliativo mais eficaz é o mesmo que cumprir sua
função dialógica de seus partícipes em promover e auxiliar a qualidade do ensino.
Este trabalho faz uma reflexão sobre o novo olhar e fazer da avaliação institucional
no âmbito universitário brasileiro, que passa a realçar a aplicação de elementos como a
integração de seus partícipes no processo global da avaliação.
O tema “avaliação institucional” está presente nas discussões há mais de duas
décadas, em razão da expansão quantitativa de instituições, de cursos e de alunos nessa
modalidade de ensino. Ressaltamos que a pressão por escolaridade é um aspecto do
mundo globalizado, que passa a vincular a educação ao desenvolvimento, provocando o
deslocamento populacional do campo para a cidade.
Na primeira parte do trabalho, mostramos as concepções e funcionalidade da
avaliação, fazendo um breve histórico conceitual de teóricos renomados ao tema,
apresentando suas contribuições para a evolução conceitual da avaliação institucional.
Na segunda parte apresentaremos a educação superior e a avaliação dentro de um
novo contexto de transformação, diante da globalização.
Na terceira e quarta partes fazemos uma breve trajetória da avaliação da educação
superior no Brasil, suas influências e o surgimento do sistema de avaliação SINAES e
seus desafios diante de um novo olhar e fazer da avaliação.
Nas considerações finais procuramos analisar a inclusão da avaliação como cultura e
acolher de maneira sintética a concepção de auto-avaliação estabelecida pelo SINAES,
como elemento central, mas necessitando de uma ressignificação para alcançarmos a
legitimidade que deve ter. Assim ultrapassaremos a concepção de avaliação como mera
função regulatória.
Concepções e Funcionalidade da Avaliação
Para compreendermos a avaliação educacional no contexto atual necessitamos
realizar uma breve reconstituição, destacando alguns teóricos e suas concepções que
contribuíram para o crescimento pedagógico e para a formação de avaliadores
educacionais.
O considerado pai da avaliação educacional e fundador da avaliação do currículo,
Ralph Tyler (1942), entende que “[...] educar consistiria em gerar e/ou mudar padrões
de comportamento, devendo, em conseqüência, o currículo ser construído com base na
especificação de habilidades desejáveis expressas em objetivos a serem alcançados” no
final do processo educativo (Vianna, 2000, p.50).
A concepção de avaliação de Tyler consistia num meio de verificar como os
objetivos educacionais se caracterizariam na prática, através de um processo de
investigação sistemática para criar ou modificar condutas padrões anteriores. Condutas,
estas, atreladas ao aluno como o único responsável pela sua aprendizagem.
Esse tipo de avaliação inspirou outros modelos, como a modalidade accountability,
que ainda é utilizada por caracterizar-se pela demonstração de eficiência e
produtividade. Na década de 90 foi estimulada por agências financiadoras e apoiada
pelos governos, como o Brasil.
Cronbach (1963) levou-nos a refletir sobre a prática da avaliação no sentido amplo,
levando à coleta e ao uso de informações que permitiram decidir sobre um programa.
“A avaliação é entendida como uma atividade prática e diversificada que exigirá a
tomada de vários tipos de decisões”. (Vianna,2000, p. 68).
A avaliação era usada com o objetivo de tomar três decisões: a) determinar se o
material pedagógico e os métodos utilizados são realmente eficientes (aperfeiçoamento
do currículo); b) identificar as necessidades dos alunos que possibilitará um
planejamento para obtenção do mérito final (desempenho do aluno) e c) apreciar a
regulamentação administrativa sobre a qualidade do sistema de ensino (corpo gestor e
administrativo). Com essa compreensão, Cronbach ampliou o campo conceitual e
funcional da avaliação educacional muito além de Tyler. (Vianna, 2000).
Scriven (1967) não tinha a intenção de criar um modelo, mas de desenvolver uma
série de fundamentos que favoreceram a compreensão lógica da avaliação educacional.
Sua grande contribuição foi mostrar que a atividade avaliativa desempenha muitos
papéis e possui um objetivo intrínseco de determinar o valor ou o mérito do que está
sendo avaliado, bem como estabeleceu a diferença que há entre os papéis (roles) e os
objetivos (goals) para o desenvolvimento de uma possível teoria da avaliação. A
diferença fica clara quando Scriven associa a avaliação a um julgamento de valor ou
mérito, ou seja, os objetivos da avaliação seriam oferecer respostas satisfatórias aos
problemas propostos e os papéis, como essas respostas seriam usadas. A avaliação sem
referência a objetivos passaria a analisar o processo de ensino a fim de intervir para o
seu aperfeiçoamento e o estudo dos resultados (Vianna, 2000).
Stufflebeam (1971) enfatiza a responsabilidade do avaliador, que deve agir de
acordo com os princípios aceitos pela sociedade e critérios de profissionalismo, a julgar
pela qualidade e valor educativo da avaliação institucional. Destaca, todavia, que o
avaliador tem o dever e o direito de desobrigar-se da responsabilidade política para a
tomada de decisões e para as decisões tomadas.
Para avaliarmos a educação numa sociedade moderna, Stufflebeam e seus
companheiros conceberam o modelo que ficou conhecido pelo anagrama Contexto,
Insumo, Processo e Produto (CIPP), onde a idéia central estava no dimensionamento da
avaliação com o objetivo que permitisse a tomada de decisões. Portanto, uma avaliação
é um processo sistemático e contínuo para descrever, obter e proporcionar informações
satisfatórias para que os responsáveis sejam capazes de julgar decisões alternativas, ou
seja, decisões para melhorar e não para provar a sua eficiência ou ineficiência (Vianna,
2000).
Avaliação Institucional no Brasil e suas Influências
A literatura referente à avaliação aponta que o tema já era discutido e conceituado
desde o período anterior à Idade Média e que a fase Psicométrica contribuiu para que
estudiosos a contextualizassem dentro de sua importância e originassem modelos dentro
da sua funcionalidade e finalidade.
Nas últimas décadas, a avaliação institucional vem ganhando força como um
processo essencial para a gestão responsável das políticas públicas. Diante deste
contexto, tem sido valorizada não apenas como processo de gestão, mas também como
instrumento de melhoria e aperfeiçoamento contínuo da educação a partir do
autoconhecimento de seu potencial e de suas fragilidades como agente transformador da
realidade.
As nações ricas disputam por um lugar no mercado global, levando os governos a se
preocuparem cada vez mais com os resultados dos seus sistemas de educação, ao
mesmo tempo, o grande volume de recursos destinados à educação suscita questões
relativas à eficácia dos investimentos neste setor e impõe uma aferição cada vez mais
detalhada da qualidade oferecida.
Essa cobrança por maiores informações sobre os resultados dos sistemas
educacionais tem sido implementada por políticas de accountability (palavra inglesa que
não possui uma tradução precisa para o português, significando de forma abrangente a
ação de prestação de contas realizadas pelos gestores), ou seja, de responsabilização
pelo nível de desempenho alcançado pela instituição em função do investimento
recebido do órgão mantenedor, favorecendo assim comparações entre instituições, sem
levar em conta as diferenças socioeconômicas e a aprendizagem prévia dos alunos,
chegando a gerar reações negativas por parte da comunidade acadêmica.
Hoje, as novas formas de organizar as atividades universitárias encontram-se em
momentos reflexivos e de constantes mudanças em suas ações de gestão acadêmica e
administrativa diante da diversidade de variantes humanas, sociais e políticas nos atuais
processos de tomada de decisões.
Portanto, nessa nova organização educacional, o processo avaliativo será
direcionado para uma perspectiva institucional, sendo fundamental ao gestor, à
comunidade técnica e ao docente, uma visão de amplitude/globalizada com uma
definição de estratégias que atendam às expectativas dos discentes, à melhoria da
qualidade da educação e ao aprofundamento da responsabilidade social da Instituição de
Educação Superior (IES).
Segundo Dias Sobrinho (2000), a construção da economia é, sem dúvida, uma das
responsabilidades da educação:
Hoje, mais do que nunca, é muito estreita a vinculação entre educação e trabalho e cada vez mais a educação é vista como um capital econômico e fator incontestável de desenvolvimento. Entretanto, as demandas e necessidades de momento de setores privados, particularmente os interesses dos grandes aglomerados econômicos transnacionais, não podem subsumir os interesses maiores da sociedade como um todo. (p. 30).
O atual contexto de globalização ou mundialização leva a universidade a um
processo de ressignificação como campo do saber diante de seu compromisso social,
em virtude do processo mercadológico.
Podemos apontar períodos decisórios de reforma universitária que compreendem os
governos de Fernando Henrique Cardoso (1995 – 2002) e de Luís Inácio Lula da Silva
(2003 aos dias atuais).
Evolução da Avaliação da Educação Brasileira e suas Influências
Constatamos que os programas de avaliação proliferaram nas últimas décadas,
acentuando a preocupação com a qualidade do ensino e o estabelecimento de padrões
nacionais. Em termos gerais, neste novo modelo de prestação de conta à sociedade e aos
poderes públicos, passamos a exigir mais no desempenho profissional do ingressante e
concluinte, na qualificação docente, nas infra-estruturas destinada ao ensino, a pesquisa
e a extensão.
Para compreendemos a evolução da avaliação da educação superior brasileira, é
fundamental que reconheçamos que:
Nossas reformas e nossos modelos de avaliação não são propriamente originais; recebem influências, orientações e até mesmo imposições externas, que se combinam com fortes apoios de segmentos importantes da economia, da política e da
intelectualidade locais. Os políticos têm grande facilidade em trazer para os âmbitos nacionais ou locais, com ou sem adaptação, experiências já vividas em outros países, com maior ou menor sucesso. (Dias Sobrinho, 2003: p.55).
Na década de 80, a crise econômica mundial e o colapso do regime militar brasileiro
trouxeram à tona o assunto da avaliação da educação superior como instrumento
essencial para direcionar a repartição dos recursos públicos e a determinação da
racionalidade da eficiência.
A avaliação da educação superior tornou-se um instrumento de regulação em que a
intenção de avaliar não garantiria a educação de qualidade, mas sim, a força do Estado
na organização e na vida das IES, pois seus aspectos significativos estavam atrelados às
políticas governamentais e direcionados à economia.
As discussões se intensificaram sobre a avaliação da educação superior, resultado
das preocupações a respeito da credibilidade de prestação de contas à sociedade acerca
dos recursos utilizados e com a qualidade da educação superior numa tentativa de
reverter o quadro de críticas as IES públicas.
Na década de 90, inicia-se um novo cenário da avaliação da educação superior no
Brasil, ganhando consistência surgindo, então, o Programa de Avaliação Institucional
das Universidades Brasileiras (PAIUB) em 1993, que era amparado pelo princípio da
adesão voluntária das IES e possuía o objetivo de rever e aperfeiçoar o projeto
acadêmico e sócio-político da instituição, buscando a melhoria da qualidade e a
pertinência das atividades desenvolvidas.
As avaliações do PAIUB eram predominantemente formativas, por serem internas e
centradas nos processos com vistas à melhoria da qualidade institucional, mas também
eram somativas em alguns momentos, sobretudo quando utilizada para quantificar ou
determinar os níveis de eficiência da instituição.
O PAIUB estabelecia como etapa inicial do processo a auto-avaliação, que se
estendia por toda instituição e findava com a avaliação externa. Percebemos que ocorreu
um avanço significativo sobre a avaliação, pois havia preocupação com a totalidade
institucional, ou seja, a avaliação tornou-se global, integradora, participativa e
negociada, operatória e estruturante, contextualizada, formativa, permanente, legítima,
voluntária e adaptada a cada instituição, servindo de ferramenta essencial para o
planejamento estratégico e sistemático da instituição (Sobrinho, 2000).
No contexto do pleito eleitoral de 2002, o candidato a presidente do Brasil, Luiz
Inácio Lula da Silva, em sua proposta 12 para educação superior, diz:
Rever o atual sistema de avaliação que inclui o Exame Nacional de Cursos – ENC ou “Provão” – e implantar um sistema nacional de avaliação institucional a partir, entre outras, da experiência do Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB). (Ristoff e Giolo, 2006, p. 193).
Portanto, reestruturar a avaliação significou construir um sistema com novos
instrumentos, diante de uma concepção que aceitasse superar a fragmentação e que
integrasse organicamente os instrumentos de avaliação nos espaços do próprio
Ministério da Educação – MEC.
Em 2003, o Ministério da Educação designou uma Comissão Especial da Avaliação
da Educação Superior (CEA), conforme as portarias MEC/SESu nº 11 de 28 de Abril de
2003 e nº 19 de 27 de Maio de 2003 e instalada pelo Ministro da Educação, o então
Senador Cristovam Buarque. A comissão constituída era presidida pelo professor da
Unicamp, José Dias Sobrinho, que tinha por finalidade: “analisar, oferecer subsídios,
fazer recomendações, propor critérios e estratégias para a reformulação dos processos e
políticas de avaliação da Educação superior e elaborar a revisão crítica dos seus
instrumentos, metodologias e critérios utilizados” (Avaliação, 2004, p. 13).
No mesmo ano o Brasil através do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e a Agência Nacional de Avaliação da Qualidade e
Credenciamento (Aneca) da Espanha assinaram em 12 de Agosto de 2003 um termo de
cooperação na área da educação superior. Pelo acordo as duas instituições promoveriam
intercambio de especialistas para realizarem trabalhos de assessoramento e
implementação de experiências de sucesso desenvolvidas por elas.
Nos países europeus a avaliação do ensino superior é tema central na agenda
pública, assegurada por uma instituição que avalie a IES assegurando os processos de
acreditação e apoiar as IES em processo de inovação e melhoria. Portanto, na Europa
avaliar as instituições de educação superior, também é sinônimo de “rankings”.
Contudo, não queremos dizer que não ocorra como subprodutos de um processo
pluridimensional.
O Sistema de Avaliação das IES no Brasil
O acordo assinado em 2003, entre os dois países Brasil e Espanha e as duas
instituições (Inep e Aneca) promoveram um intercâmbio significativo de especialistas
europeus e brasileiros que realizaram assessoramento, implementação e troca de
experiências.
Assim, a concepção de avaliação instituída pela Lei nº 10.861, de 14 de Abril de
2004, criadora do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), que
tem como fundamentação e idéias centrais a integração e a participação, propõe
aprofundar o compromisso e a responsabilidade social da instituição, buscando
assegurar a integração das dimensões internas e externas, particular e global, somativo e
formativo, quantitativo e qualitativo e os diversos objetos e objetivos da avaliação.
Segundo os autores Ristoff e Giolo (2006), a construção do sistema SINAES está
sustentada:
Na idéia de que todas as avaliações da educação superior, realizadas no âmbito do Ministério da Educação, se organizem e se operacionalizem a partir de uma concepção que integre as metodologias, os momentos, os espaços e os instrumentos de avaliação e informação. Essa iniciativa talvez constitua um dos mais importantes diferenciais entre o que foi construído com o SINAES e as práticas anteriormente existentes. (p. 198 – 199).
Diante da nova “concepção” de Avaliação Institucional estabelecida pelo SINAES,
surge a necessidade de conhecer o real comprometimento e a participação dos atores no
processo que favorecerá a sua continuidade na instituição.
Entendemos que a avaliação institucional (AI) instituída pelo SINAES, não será a
soma de pequenas análises isoladas, mas uma ação global onde a IES será o objeto de
pesquisa e que será compreendida de maneira integral, ou seja, em todas as suas
dimensões, relações e processos. O sujeito da AI será coletivo, ou seja, será a
comunidade interna da IES que compreende o universo de docentes, discentes, técnico-
administrativos e gestores.
Diante dos momentos distintos da AI da Educação Superior, onde todas cumprem
funções específicas e essencial que haja articulação entre elas. Assim é necessário que
em todos os momentos do processo de avaliação haja integralidade, participação e
globalidade.
Assim a avaliação institucional como prática democrática na IES constitui uma teia
que articula o autoconhecimento, a autolegislação e as novas práticas de convivência
cidadã. Nessa articulação dos membros da comunidade interna da IES gera-se um novo
olhar sobre o fazer para a tomada de decisões.
A avaliação, enquanto compromisso de gestão, ganha novas e importantes
discussões, a partir da obrigatoriedade instituída com o SINAES, tornando-se um
desafio para gestores, enquanto compromisso e instrumento gerencial da IES.
Conseqüentemente, a proposta do SINAES deve gerar um equilíbrio entre a
avaliação emancipatória e a regulatória para promover uma concepção pedagógica ao
processo de avaliação. Deste modo, a avaliação institucional deverá ser de
conhecimento da comunidade interna da IES, onde a mesma terá condições de opinar
sobre suas fragilidades e potencialidades, considerando os objetivos institucionais e os
efeitos junto à sociedade.
Um dos componentes básicos do SINAES, objeto primordial deste documento, é a
Avaliação das Instituições de Educação Superior (AVALIES), que se desenvolve em
dois momentos principais:
• Auto-avaliação, conduzida pelas Comissões Próprias de Avaliação – CPA é o
componente central que confere estrutura e coerência ao processo avaliativo na IES;
• Avaliação externa, realizada por comissões externas designadas pelo Inep.
Elemento Essencial da Avaliação Institucional: Auto-Avaliação
Somos conhecedores de que há diferentes modelos de avaliação institucional e de
que ela pode e deve desempenhar funções diferentes, e por isso é essencial a utilização
de procedimentos e técnicas de avaliação igualmente diferenciadas. Temos consciência
de que não basta apenas avaliar o desempenho do ensino pelos alunos ou pelos
professores, o desempenho dos serviços administrativos, o desempenho da IES por
representantes da comunidade externa, dentre outros, mas que seja um processo
contínuo de aperfeiçoamento do desempenho acadêmico, uma ferramenta para o
planejamento e para a gestão universitária, um processo sistemático de prestação de
contas à sociedade, como também uma ferramenta de capacitação da função docente,
técnica e administrativa.
A auto-avaliação privilegia o autocontrole e a metacognição. O primeiro
corresponde a uma avaliação contínua, despertando o olhar crítico sobre o que se faz
durante o processo de ensino-aprendizagem. A segunda remete a faculdades mentais,
pelas quais o sujeito toma consciência das atividades cognitivas por ele empregadas
para aprender. Assim, “a metacognição é sinônimo de atividade de autocontrole
refletido das ações e condutas do sujeito que aprende” (Hadji, 2001, p. 103).
No SINAES há a integração de três modalidades de instrumentos de avaliação, que
serão aplicados em diferentes momentos. A primeira modalidade denominada de
AVALIES se desenvolverá em duas etapas: auto-avaliação e avaliação externa.
A auto-avaliação tem como principais objetivos:
Produzir conhecimentos, pôr em questão os sentidos do conjunto de atividades e finalidades cumpridas pela instituição, identificar as causas dos seus problemas e deficiências, aumentar a consciência pedagógica e capacidade profissional do corpo docente e técnico-administrativo, fortalecer as relações de cooperação entre os diversos atores institucionais, tornar mais efetiva a vinculação da instituição com a comunidade, julgar acerca da relevância cientifica e social de suas atividades e produtos, além de prestar contas à sociedade. (SINAES, 2004, p. 9).
Desde modo, a auto-avaliação favorecerá a IES a reconhecer suas fragilidades e
potencialidades nas dez dimensões referendadas na lei. Percebemos que a auto-
avaliação é um instrumento indispensável para a tomada de decisões.
Considerações Finais
Nesse contexto, a avaliação institucional passa a ser uma ação relevante e
indispensável dentro de qualquer IES que pretenda crescer e desenvolver-se
institucionalmente. Assim, a avaliação institucional constitui-se um instrumento
estratégico para a busca da construção de uma interconexão mais estreita com a
reclamação da comunidade interna, e, deste modo, atender a necessidade de melhoria do
compromisso institucional a que se propõe frente às comunidades interna e externa.
Para Cunha (2004), a auto-avaliação era um movimento que:
Quis se contrapor às relações de poder verticais, que extrapolavam o bom senso necessário ao avaliador, assumindo estratégias punitivas e pouco pedagógicas. [...] por falta de um amadurecimento dos protagonistas, a auto-avaliação começou a ser atingida por uma perspectiva de laissez-faire onde o professor, ao tentar despir de autoritarismo, perdia a condição necessária de autoridade. [...] não havia preparação suficiente para dar legitimidade à auto-avaliação. (Avaliação, 2004, p.26).
Percebemos que no espaço acadêmico universitário a cultura da auto-avaliação foi se
perdendo com o tempo, tornando-se assessória ou até inexistente para muitos dos
professores.
Para a avaliação institucional a auto-avaliação é um elemento central, para pela qual
necessita de esforços para ressignificar o termo, com a finalidade de legitimar o
momento, em virtude da falta de vivência de auto-avaliar em nosso cotidiano e
estabelecer as bases da participação reflexiva.
Não restam dúvidas de que o SINAES promoverá um avanço significativo na
Educação Superior brasileira, mas em seu entorno existem algumas dificuldades para o
sucesso de sua implementação, sobre as quais destacamos a garantia das especificidades
institucionais; as diferenças regionais, conceituais e culturais; o entendimento real das
concepções e da metodologia de implantação e a convivência com o “novo olhar e o
novo fazer” do ato de avaliar.
Em virtude do “novo”, nosso maior desafio é a ressignificação do ato de auto-
avaliação institucional, saindo da concepção autoritária para uma concepção reflexiva e
participativa que favorecerá o autoconhecimento institucional e promoverá assim sua
emancipação.
Referências Bibliográficas
Cunha, Maria Isabel. (2004). Auto-avaliação como dispositivo fundante da avaliação institucional emancipatória. RAIZES, v9, n4, 25 – 30.
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Dias Sobrinho, José. (2000). Avaliação da Educação Superior. Petrópolis: Vozes.
Dias Sobrinho, José. (2003). Políticas Educacionais e Reformas da Educação Superior. São Paulo: Cortez.
Dias Sobrinho, José & Ristoff, D. I. (orgs.). (2003). Avaliação e compromisso público: a educação superior em debate. Florianópolis: Insular.
Hadji, C. (2001). Avaliação desmistificada. Porto Alegre: Artmed.
Ristoff, Dilvo & Giollo, Jaime. (2006). O Sinaes como Sistema. RBPG, v.3,n.6, 193-213. Disponível em: http://www2.capes.gov.br/rbpg/portal/conteudo/Est_Artigo2_n6.pdf
Acesso em: 15/06/2007
Vianna, H. M. (2000). Avaliação educacional: teoria, planejamento e modelos. 1. ed. São Paulo: IBRASA.
Nota sobre a autora
Pedagoga com habilitação em Supervisão Escolar pela Universidade de Fortaleza
(UNIFOR), Psicopedagoga Clínica e Institucional pela Universidade Estadual Vale do
Acaraú (UVA). Mestranda em Educação Brasileira pela Faculdade de Educação
(FACED) da Universidade Federal do Ceará (UFC). Pesquisadora Institucional e
Pedagoga Técnica do Instituto Centro de Ensino Tecnológico (CENTEC).
E-mail: [email protected]