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BETELGEUSE BOLETIM INFORMATIVO DA A.A.G.G. ANO: 13 ABR/MAI/JUN N°43

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BETELGEUSEBOLETIM INFORMATIVO DA A.A.G.G.

ANO: 13 ABR/MAI/JUN N°43

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01

Associaçao Astronômica Galileu Galilei

Fundada em 1978Declarada de Utilidade Pública - Lei 4.150/88

Caixa Postal 010-089629001-970 Vitória - Espírito Santo - Brasil

Conselho Administrativo

Diretor Presidente: Ângelo Corrêa Ribeiro Diretor Adjunto: Adilson José Cruzeiro

Conselho Consultivo

Prof. Antônio Rezende Guedes - UFJF/MGProf. Ronaldo Rogério de Freitas Mourão - MAST/CNPq/RJNelson Travnik - OMA/OMP/OMCJN/SP

Administração

Secretário/T esoureiro: Coordenador de Projetos: Coordenador de Fotografias: Editor Betelgeuse:

Antônio Carlos Garcia Júnior Marco Junio de Faria Godinho Walace Fernando Neves Antônio Carlos Garcia Júnior

CAPA: O Cometa Halley Na Constelação do Centauro (15/04/86)Filme Tri X Pan 400 (15 minutos de exposição)Foto: Antenor Guimarães Filho .

Sumáriopágina

. Editorial 02

. O Cometa Halley - Fragmentos Históricos 03

. Agenda Astronômica 14

. Eclipse Total da Lua em 3\4 de abril de 1996 15

. O Cometa Hyakutake (Relatório) 19

. O Canto do Galo Velho 20

Betelgeuse Ano 13 - ABR/MAI/JUN - N2 43

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A Astronomia amadora é , como já dissemos em outras oportunidades, um hobby, assim é que nós da AAGG

encaramos nossas atividades. Longe de ser um meio de vida, que possa de alguma forma remunerar o aficionado, a astronomia amadora requer investimentos financeiros e lógico uma dedicação de precioso tempo, inclusive nem sempre totalmente livre. Não é raro escutarmos de nossos familiares reclamações por causa de nossas ausências, trocados que são por amor à Urânia. Realmente algo apaixonante, misterioso até, sem querer ser extremamente piegas, faz com que indivíduos desembaraçados de qualquer anseio e propósitos que não sejam o de observar o céu e de difundir o conhecimento com a comunidade onde moram, se dediquem tão profundamente.

A pesar de todas as dificuldades os astrônomos amadoresbrasileiros estão aí, e aos poucos aumenta seu número, a

*

diversidade de seus trabalhos e a qualidade das observações, reconhecidas internacionalmente.Há muito o que fazer ainda, não resta dúvida, mas aos poucos vemos delineado pelo trabalho coletivo destes amadores anônimos espalhados pelos vários Estados brasileiros, uma ciência astronômica forte. Temos como exemplo o Jornal COSMOS que já está consolidado, a Rede de Astronomia Observacional - REA que tem atuado como uma central que compila e arquiva os resultados das observações realizadas, coordenando vários projetos de observação, às vezes somos surpreendidos com o aparecimento de publicações como do “Aldebaran” que esperamos continue brilhando por muito tempo, enfim várias estrelas brilham neste céu.

A estes batalhadores da astronomia dedicamos este número do Betelgeuse.

O Editor

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COMETA HALLEY - FRAGMENTOS HIStÓRICOS

Registro do Cometa Halley em terras capixabas no século XX

Dos corpos celestes talvez o que mais impressões causaram ao imaginário coletivo neste século XX sem dúvida nenhuma foi o Cometa de Halley.

Na sua última passagem, em 1986, ele pode ter decepcionado muita gente, porém o sôu carisma continua e certamente será ansiosamente esperado pelos habitantes do planeta Terra em sua próxima passagem Periélica no distante ano de 2061, Será recebido, provavelmente por varias missões de sondas espaciais que pousarão em seu núcleo e extrairão um quinhão da matéria primeva que originou, talvez o nosso sistema solar, isto tudo sendo observado ao vivo nas telas de computadores instalados em todos os locais. Será sem dúvida uma sensação tecnológica.

Nós que o observamos neste século, em que as luzes da ciência apenas começam a delinear o que separa o real da superstição, podemos ao menos dizer que fomos os últimos a vê-lo com olhos sonhadores.

Para comemorar-mos os 10 anos de sua última passagem Periélica, época que marcou a astronomia brasileira e claro a história da AAGG, com a fundação do Observatório da UFES e de nossos primeiros trabalhos de observação sistemáticos do céu, estamos reunindo alguns textos representativos das duas passagens do Cometa Halley neste século e como ele foi visto 110 Estado do Espírito Santo.

Da primeira passagem em 1910, quando Vitória ainda era apenas uma Vila com pouco mais de 15000 pessoas e ainda não dispunha de água encanada, luz elétrica ou rádio e Televisão, reunimos textos de jornais que circulavam no Estado, procuramos manter 0 grafia utilizada naqueles tempos dando um maior realce à realidade dos moradores deste recanto aprazível do planeta nos primeiros anos deste século.

Da passagem Periélica de 1986 publicamos os depoimentos de dois astrônomos capixabas: Ângelo Corrêa Ribeiro e Walace Fernando Neves. Os colegas registram de forma pessoal como foram suas observações e as impressões que ficaram gravadas em suas mentes.

Queremos assim, deixar registrado nas páginas do Betelgeuse, esta história que de outra forma se perderia no sistema digestivo das bactérias necrófagas.

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O COMETA HALLEY EM 1910 EM TERRAS CAPIXABAS

22 de janeiro de 1910

Em Roma foi observado a olho nu um cometa. (Diário da Manhã)

24 de abril de 1910.

O Cometa HalleyTem sido visto a olho desarmado à leste desta cidade, das 4 às 5 horas da manhã,

ao lado da estrella Vênus, esse belo astro que percorre a orbita que lhe é traçada na immensidade do espaço.

Algumas pessoas crédulas e susceptiveis de falsa suggestão, deixam-se levar por um terror absolutamente sem razão de ser, com a presença do bello visitante que em breve se mostrará em todo o seu deslumbrante e imiofensivo explendor. (O Cachoeirano).

25 de abril de 1910

Rio,O Observatório Nacional declarou que o Cometa de Halley não foi visto hoje por

estar o céu encoberto. (Diário da Manhã)

27 de abril de 1910.

Diversas pessoas já tem observado pela madrugada de 4 a 5 horas o cometa Halley, que se apresenta a leste, um pouco apagado ainda.

Distingue-se, porém, a cauda, voltada para cima e terminada por luna estrela de pouco brilho, principalmente comparando-se com a estrela D‘alva de admirável belleza, que lhe fíca próxima. (Commercio do Espirito Santo)

4 de maio de 1910.

De PalanqueHá uns dias que o povo da capital se levanta, contra os seus hábitos, de madrugada

para ver o tal cometa que tem o nome de um sábio que o descobriu - Halley.As pessoas edosas se soccorrem de binóculo para apreciar o astro brilhante e após

verificarem o seu tamanho ficam seriamente pensando nas historias que por ahi correm sobre o fim do mundo, fazendo conjecturas as mais apavorantes; outras apreciam a estrella rabuda e viram-lhe os hombros, desilludidas, porque as versões que correram sobre ella davam a entender que sua claridade seria tão intensa que os próprios animaes a estranhariam, cantando o gallo, cocorocando a galinha, zurrando o burro, berrando o carneiro e relinchando o cavallo.

Não vendo e não ouvindo nada daquellas cousas que seriam realmente dignas de admiração, olham meio desconfiadas para os jomaes e para as pessoas que contaram taes lorotas.

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Afinal o cometa tem conseguido isto: Fazer com que muita gente que sae do leito às 8 e 9 horas se accorde cedo, apanhando também alguns resfriados que trazem como conseqüências bronchites rebeldes. Eu mesmo, que ha mais de trinta anos não sei o que seja defluxo, estou agora preso de tal aborrecida moléstia porque quiz também acompanhar o farrancho dessas troças.

Foi por mna madrugada bellissima; meu neto mais velho, o Francisquinho, um rapazelho de 14 anos, já ha uma porção de dias que andava espiando o céu, afinal um dia descobre o astro e põe a casa em polvorosa, acordando todo o pessoal. Deante dos gritos de admiração da creançada e de algumas comadres, não resisti ao desejo de ver também o Halley e o resultado de tal temeridade foi que até agora ando com uma tosse levadinha da breca que quasi me arrebenta a caixa do peito.

Mas como affirmam que o cometa só apparece de 74 em 74 amios, não quiz perder a opportunidade de velo agora visto como nunca mais terei o prazer de aprecia-lo porque eu não posso durar mais de 10 a 15 annos, segundo os meus cálculos que afinal podem falhar.

Estou satisfeito com o resultado, mas não concordo com a opinião do primo Eutropio que me garantiu ter o cometa bastante influência nos destinos políticos do paiz e principalmente do nosso Estado.

Disse aquelle meu prezado parente que o apparecimento do vagabundo brilhante vem avisar a reentrada do Demuniz na alta política interna do Espirito Santo, o que eqüivale a affírmar que o modernismo com todas as suas refonnas extravagantes, e os seus descalabros, enfim, vae baquear.

Se assim for, será o caso de felicitarmos não só o cometa como ao compadre Argeu que, apesar dos algarismos das estatísticas que já representam uma bonita soma, será o verdadeiro dono desta terra capixaba. (J. Machado - Diário da Manhã)

17 de maio de 1910

Rio,A faixa do Cometa de Halley foi vista pela madrugada, nitidamente, com uma

longa cauda. O Observatório informou que a contar de amanhã diminuirá o seu brilho, devido à sua aproximação para o Sol.

Depois de amanhã, quarta feira, entre às 10 para 11 horas da noite, será observado o phenomeno da passagem da Terra pela cauda consistente do cometa num nevoeiro ligeiramente amarellado. (Diário da Manhã).

20 de maio de 1910.

De Palanque.Affrnal o cometa passou, ou melhor, engoliu a Terra e novidade alguma houve que

nos fizesse acreditar que estivéssemos sendo comidos. A enchente, o terremoto, o calor da cauda gazosa do Halley, o ruído atmosphérico, o despreendimento de gazes, a chuva de estrelas, a queda de aerolitos, a dansa dos astros, o amarellão do Sol e a languidez da Lua, nada de tudo isto sucedeu. A Terra continua no seu giro immutavel; as águas, sejam do mar ou dos rios, seguem o seu curso natural; todas as casas com as taes platibandas ou não, estão erectas e firmes nos referidos locaes; as gazosas continuam a ser vendidas no café Rio Branco; os gazes que se desprendem são pouco cheirosos e esses vêm dos

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monturos; os bolides continuam lá de cima a dar seus adeuses ao Bendengó que lhes despresou a companhia; os astros não estão dispostos a fazer concorrência aos discipulos de Terpaychore; o Sol continua radiante a aquecer, carinhoso, a Terra e os outros planetas e a Lua, pallida e bela, na sua phase nova, clareia praias de limpidas areias, animando os poetas e namorados a conversarem amorosamente com as musas e com as eleitas do seu coração.

Não há mais receio do fim do mundo... (J. Machado - Diário da Manhã).

20 de maio de 1910.

E o nosso Halley, o rabudo vagabundo que ha uns pares de dias anda a attrahir as vistas curiosas dos que pretendem devassar os impenetráveis mysterios do espaço infinito?

Pregou-nos uma peça admirável, perfeita e acabada.O Observatório Astronômico do Rio de Janeiro, segundo li no Diário, fez

annunciar grandes cousas lá pela abóbada celestial, das dez para onze da noite de ante- hontem.

Essas grandes cousas determinar-las-ia o vaporoso peregrino, à conta de quem correm as mais desencontradas versões que dariam por si sós um volume de muitas páginas.

Encheram-se as janellas, onde cada qual procurava mostrar-se mais entendido nos segredos da astronomia, estabelecendo premissas e tirando conclusões, algumas, aliás, bem disparatadas; desertaram-se os leitos àquella hora de somno reparador pelo espetáculo de telhas acima, asseveravam, nos ia ser offerecido e sem ônus nenhum para as nossa algibeiras; as mas de ordinário desertas, nunca se viram tão movimentadas, com tanta gente a palmilha-las, na expectativa do falado acontecimento; outro assumpto não ocupava a atenção além do cometa de Halley, e afinal nada vezes nada nos foi dado observar a não ser um céo perfeitamente normal, com os milhares de olhos coruscantes que recamam o côncavo.

Forte decepção.Bem me disse uma respeitável senhora, com todo o peso da sua autoridade de

preceptora: “Qual!...seu Gil, não passam de favas contadas o que andam por ahi a assoalhar esses figurões que se julgam muitos enfronhados nos arcanos da natureza. Não ha meio de acreditar em nenhuma d‘essas patranhas escriptas”.

O grande facto é que se illudiram os astrônomos do observatório e illudiram nos a nós com suas aífirmações feitas sem base segura.

Verdade é que antes isso do que a efPectividade de cousas monstruosas, verbi gratia, o fim do nosso mundo, que ahi se espalhavam. Levando o medo , o pavor, a muito espirito não apparelhado para as grandes crises da vida.

Foi melhor assim e já agora que ninguém mais veja no pobre Halley o terrível facínora que se suppunha. (Gil - Commercio do Espirito Santo).

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OS 10 ANOS DO COMETA p/HALLEY

Comemoramos em 1996 os dez anos da última passagem periélica do Cometa de Halley, tempo mais do que suficiente para resgatarmos as memórias daqueles momentos de alegria e de prazer, vividos no verão de 1986. As lembranças já um pouco apagadas vão se avivando à medida que escrevo.

Primeiro os preparativos para a chegada do cometa: a curiosidade despertada por volta de 1983, quando veio à Vitória o Prof. Nelson Travnik para falar sobre o cometa (e os outros cometas). Os contatos com o amigo Marcelo Moura de Belo Horizonte, pedindo-lhe dicas sobre que tipo de instrumento usar nas observações, as informações valiosas recebidas e a oportunidade de pela primeira vez conhecer os instrumentos da Celestron, o C-90 e o C-8, observar o céu de BH através dos mesmos, seguido de longas conversas animadas a cerveja e churrasco, falando também de outras observações, Lua, planetas e fundo do céu, junto com nossas esposas e filhos e ainda os amigos Marco Antônio (Véio) e Cabral com seus familiares.

Depois, já conhecendo os instrumentos e a melhor maneira de usá-los, a procura no Brasil por um telescópio ou uma luneta que não fosse me atormentar a vida com a dificuldade de seu uso, até que o amigo Alberto Barros, colega da CST em Vitória conseguiu, através de um amigo seu residente em Providence, Rhode Island, nos Estados Unidos, adquirir para mim o Spotting Scope Celestron C-90 que possuo até hoje. Ele o adquiriu direto da Celestron, em Torrance, Califórnia, de onde ele seguiu para Providence via reembolso postal. Aí entrou a dificuldade de trazê-lo para o Brasil (isso foi em meados de 1985 e naquela época era praticamente impossível importar qualquer bem para o Brasil). Tivemos que montar uma "ponte" com uma senhora brasileira, residente em Miami, para onde o nosso amigo americano enviou o pacote contendo o telescópio, oculares, barlow e anéis de fixação - esse pacote me custou cerca de 450 dólares. A senhora de Miami me cobrou mais 150 dólares e entregou a encomenda a uma terceira pessoa em Belo Horizonte. Quando chegou, já por volta de setembro de 1985, eu já estava aflito pois havia 6 meses que enviara os dólares para a compra, já havia pago o "transporte" e não tinha nenhuma garantia de que um dia receberia a minha mercadoria. Fui buscá-lo num final de semana e a partir daí comecei uma corrida frenética de aprendizado do seu uso. Por esse tempo iniciei a minha assinatura da revista "Sky & Telescope" que continuo lendo com a mesma satisfação até hoje. Através dela tive detalhes sobre a trajetória do cometa na esfera celeste à medida que ele vinha se aproximando do Sol.

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Aproveitei os feriados de final de ano, visitando familiares e amigos em Minas Gerais. Assim é que dessa forma pude ver o cometa pela primeira vez, no entardecer do dia 03.01.86, bem no oeste, junto à Alfa de Aquário. Ele se apresentava como uma manchinha ínfima, um pedacinho de algodão na ocular de 55x do telescópio C-8 do Marcelo . Dois dias depois estava de volta à Vitória e tentei observá-lo uma vez mais ao entardecer, porém sem sucesso, pois as nuvens no horizonte oeste impediam qualquer tentativa de observação e o cometa já se encontrava muito próximo do Sol. Daí a alguns dias ele passou pelo periélio e não era visível nem no entardecer e nem no amanhecer. Vivíamos o horário de verão e comecei a levantar de madrugada a partir do início de fevereiro.As vigílias deram resultado, conforme passo a narrar a seguir, mostrando o que consegui registrar de sua passagem:

21.02.86 5:45 hora de verão, encontrei o Halley na posição de AR 20 h39 m e DECL 13 graus e 53 min sul, numa altura aproximada de 10 graus do horizonte leste. Havia pouca nebulosidade e com o dia quase claro, pude mostrá-lo à Raquel, minha esposa, e às minhas filhas Daniela e Janaína

22.02.86 5:35 hora de verão, observei com 33x (bastante difuso) e 55x (distingui bem a cauda, espalhada, mostrando a direção do Sol, que ainda não apontara ). Sua localização era ao sul de Beta Capricomii e estimei uma magnitude + 5,5.

25.02.86 Observei novamente com 55x e pude vê-lo à vista desarmada, pela primeira vez.

28.02.86 5:23 horário de verão, com 55x vi a cauda bastante proeminente. Estimei uma magnitude + 5,0, na posição AR 20 h 31 m e DECL 15 graus e 29 m sul. Apresentava uma altura de 15 graus, com muitas nuvens no horizonte.

01.03.86 5:10 hora de verão, observei com 55x. Mostrei ao Reginaldoe familia e em casa foi um reboliço: Raquel, Daniela, Janaína e João e a Paloma (filha da vizinha que dormiu na nossa casa para ver o cometa na madrugada).

03.03.86 5:06 hora de verão, apresentava com 33x uma cauda de 3 a 4graus de comprimento, com magnitude + 5,0, próximo da Pi Capricomii, ligeiramente ao sul das coordenadas fornecidas pela "Sky".

04.03.86 5:26 HV, somente conferi à olho nu, com pouco brilho

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05.03.86 5:05 HV, brilho aumentou bastante (talvez porque eu tenha levantado mais cedo) e estimei a magnitude em + 3,0. Vista mais abrangente da cauda com 33x. Céu ótimo

09.03.86 5:40 HV, cometa nas coordenadas AR 20 h 13 m e DECL 19 graus e 22 m sul. Magnitude estimada + 3,0, para um céu apenas regular. Vi Júpiter em conjunção com a Lua.

10.03.86 5:30 HV, observei com 33x e a olho nu, com céu claro estimei a magnitude em + 3,0.

11.03.86 5:20 HV, novamente observei com 33x e a olho nu, céu claro e magnitude aparentemente a mesma.

12.03.86 5:20 HV, magnitude +3,0, observado com 33x e já passou para a região de Sagitário.

14.03.86 4:15 HV, ótima visibilidade, próximo de M75, magnitude estimada em +2,8.

15.03.86 5:00 H, agora cada vez mais visível, a cauda não cabe no campo do telescópio com 33x (acabou hoje o horário de verão). Fiz minhas primeiras fotos.

16.03.86 3:15 Hora legal de Brasília, domingo, visão magnífica e é visível o seu deslocamento no céu dia após dia.

18.03.86 4:15 H, observei com 55x, 33x e a olho nu, o cometa se dirigia muito rápido na direção de Tau Sagitarii.

22.03.86 2:30 H, apesar da presença da Lua no céu, vi com 33x próximo às estrelas h l e h2 Sagitarii. Pouco brilho e uma certa decepção com a sua evolução. Na pracinha em frente ao Village, na Ilha do Boi, contei uma fila de mais de 50 pessoas aguardando sua vez de verem o cometa e Saturno (na maioria residentes no Condomínio Village de L'ile).

01.04.86 0:00 H, muita dificuldade para observá-lo com 55x à direitade Eta Sagitarii, pois a Lua em dicotomia estava sobre M69 e ofuscava o cometa.

04.04.86 23:00 H, casa do Manoel Barreto em Jacaraípe, difícil de ver a cauda, com o cometa muito fraco perto de Eta Scorpii (melhor foi

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observar o aglomerado m7). Reunimos cerca de 30 pessoas em tomo da churrasqueira, no fundo do quintal. O amigo Guido Tarabal, cuja casa se confronta pelos fundos com a do Manoel, pulou o muro ao ver que tínhamos um telescópio e o assunto era o cometa. Estavam presentes também o Poeiras, o Pena e o Hemani, todos colegas da CST e respectivas famílias.

05.04.86 A partir do escurecer, fomos para' o sítio do Edelberto, em Santa Leopoldina, o cometa era encontrado próximo das estrelas Zeta 1 e Zeta 2 Scorpii, apresentando-se muito fraco e cauda difícil de ser observada (isso por volta de 23 horas), apesar da excelente visibilidade e ausência da Lua (podia-se visualizar estrelas até magnitude + 6,5 a olho nu). Os filhos e a esposa do Edelberto nem se interessaram pelo cometa, gostando mais dos aglomerados da região do Escorpião e de Omega Centauri.

08.04.86 Noite excelente para observar as estrelas, os aglomerados e o planeta Saturno. O cometa, já na constelação da Norma, decepciona aos que acreditaram que o seu explendor se daria por essa data.

10.04.86 O cometa se encontrava na constelação do Lobo, dirigindo-se para o Centauro.

11.04.86 Última noite em que observei o cometa com o telescópio. O amigo Luciano Azevedo, também astrônomo amador, tinha estado fora do país, em viagem à serviço. Foi a única oportunidade dele ver o Halley, sendo que eu levei o telescópio para próximo da caixa de água da Ilha do Boi, onde as condições de observação eram mais favoráveis. Nessa altura só se via a coma , quase nada se vislumbrava mais da cauda que estava em linha reta com a Terra.

Trajetória do com eta entre as constelações

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11

A partir daí, o resto é história. Eu tive o privilégio de observar o cometa em 23 dias alternados, sendo que os melhores foram os dias 14, 15 e 16 de março. Acompanhei sua trajetória de Aquário, passando por Capricórnio, Sagitário, Escorpião, Norma, Lobo, até Centauro, tudo no hemisfério sul celeste, dormindo muito pouco durante os meses de fevereiro e março, me reunindo com amigos, vizinhos e colegas de trabalho. Mostrei o cometa através do telescópio para cerca de 200 pessoas (pena é que eu não tenha registrado isso), incluindo aí os rondantes no condomínio, crianças, adultos, idosos. Tenho a certeza de que decepcionados ou exultantes, para essas pessoas aquela foi uma experiência única nas suas vidas.

Para mim também o cometa p/Halley deixou um legado, pois a partir dele me integrei ao grupo de associados da AAGG e desde então tenho dividido com esses amigos batalhadores pela causa da Astronomia as dificuldades, os problemas, as tristezas, mas sobretudo a alegria de estar participando da construção de um futuro onde a nossa comunidade possa se desfazer dos laços do obscurantismo e do atraso cultural que sempre nos impediram de atingir o verdadeiro Conhecimento.

Quero registrar aqui que entre os jovens para os quais mostrei o Halley através do C-90, se encontravam 3 adolescentes, muito inteligentes e vivazes, que posteriormente se tornaram grandes amigos de minhas filhas. O mundo já não pode mais contar com a presença de Igor Miranda Silva Nogueira, Cheidid Banhos Mamari e Heine Schwartz Duarte, todos no vigor de sua juventude e promessa não concretizada de se tornarem grandes cidadãos brasileiros, pois foram brutalmente assassinados em um assalto na madrugada do dia 8 de fevereiro deste ano, quando gozavam merecidas férias de trabalho e de estudo nas praias de Búzios, litoral do Rio de Janeiro. À eles dedico a compilação dessas memórias, como homenagem póstuma.

A

Saudações, Angelo Correa Ribeiro

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12

O HALLEY HÁ 10 ANOS

(Fragmentos)

O Halley, "o cometa do século", atende ao chamamento do Sol e retoma. Não importa o fato de sua última vinda em 1986 ter sido um aparente fiasco, uma vez que diferentemente de 1910 ele passou bem mais distante da Terra, cerca de 68 milhões de quilômetros. Todo o trabalho da "midia" na época baseou-se na grandiosidade de sua presença no início do século XX. No entanto, apesar de sua dimensões aparentes bastante reduzidas, eu ficava encantado com sua forma e seu brilho misterioso, em cada uma das noites que o buscava.

Eu já chegara à casa dos 46 anos quando conheci o jovem RenatoSfalsini Passos , muito entusiasmado com Astronomia. Ele me procurara para tentarmos fotografar o cometa, pois sabia que eu era professor de Fotografia no Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo. Ao longo da carreira de professor e de artista na área da fotografia, fizera incursões em vários campos dessa arte, experimentalmente como pesquisa, de modo que aquele era um novo desafio que não poderia deixar escapar, uma vez que somente daí a 76 anos ele retomaria e sem minha presença neste mundo.

O Renato, muito habilidoso, utilizando-se da sucata de um despertador e um pequeno motor elétrico, montou um "clock drive" e um "timer"para controle da velocidade e o adaptou ao pequeno telescópio Tasco newtoniano que eu possuia, com montagem equatorial ideal para o acompanhamento do cometa no processo fotográfico. Para fixação da câmera no sistema de movimento, improvisamos um "pig back" com madeira, parafusos e tiras metálicas. A fonte elétrica foi a bateria do carro.

O sítio de observação surgiu depois de algumas pesquisas. Escolhemos um local sem iluminação elétrica, bastante escuro que nos permitiu observar o céu sem quaisquer interferências. Era em uma elevação ao lado da Rodovia do Sol, próximo à Ponta da Fruta.

Optei por uma câmera Asahi PENTAX SP, com objetivas 50 mm f 1.8 e grande angular 35 mm f 3.5 para as tomadas fotográficas. Empreguei os filmes Kodak e Ilford para fotos preto e branco, com 125 e 400 ISO respectivamente, e os filmes Fujichrome e Fujicolor, ambos ISO 100. Variei o tempo de exposição entre 1 segundo e 5 minutos. Os resultados foram excelentes.

Perseguimos o Halley por várias noites e o quanto foi possível, estimulamos pessoas a que participassem conosco da observação. Houve noites em que se reuniram mais de 30 pessoas em tomo de nós. Ali perdia-se a noção do tempo e de espaço e aproveitávamos a motivação do Halley para mostrar outras maravilhas do céu. Saturno ostentava-se qual jóia dourada no veludo negro do céu, dividindo com o cometa as atenções do público vivamente interessado.

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Algumas pessoas, poucas felizmente, influenciadas pelo peso da "midia" esperavam encontrar a grandiosidade e o esplendor do Halley em 1910 e não souberam apreciar o fenômeno que jamais veriam novamente e a beleza destes instantes, quando se dilata a percepção da nossa realidade de habitantes da Terra, do Sistema Solar e a consciência de cidadãos do Universo, libertos do dia a dia, integrando-se por alguns momentos à Via Lactea que se distendia translúcida ante nossos olhos deslumbrados.

O dia onze de abril foi o dia de maior aproximação do Halley e desta vez buscamos o sítio de observação com a minha filha Maria Carolina, que contava apenas 13 anos. Por volta das 3 da madrugada ao retomar à casa no Bairro Jardim da Penha, distando aproximadamente 30 km de Ponta da Fmta, na altura da terceira ponte, na Av. N. Sra. dos Navegantes eu cochilei por fração de segundo, tempo suficiente para colisão de frente com uma árvore. Nada sofremos, mas o carro foi vendido a um Ferro-Velho. Estavamos inteiros e vivos. Seria cômodo transferir a culpa ao Halley, no entanto o acidente foi fruto do cansaço acumulado, do sono perdido nas observações noturnas somadas ao cumprimento dos compromissos diurnos.

CONCLUSÃO:Dez qnos se passaram desde a visita do cometa Halley. O acidente de

carro caira no esquecimento, porém conservaram-se as lembranças gratifícantes: as noites desprovidas de quaisquer traços de poluição luminosa ou atmosférica, tão diferentes dos dias atuais caracterizados por mudanças radicais do meio ambiente num espaço de tempo tão curto, as expressões de alegria nos rostos das crianças, de jovens, de adultos e dos amigos que fizemos, a magia da visão de um corpo celeste diferente e exótico, as imagens fotográficas obtidas, a experiência adquirida e o "clock drive" artesanal que guardo até hoje.

A partir de então ampliou-se e consolidou-se o interesse pela Astronomia que eu guardara desde a infância.

Walace Fernando Neves Associação Astronômica Galileu Galilei Observatório Astronômico Camille Flammarion

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Agenda

Astronômica

ABRIL

fenômenos

Lua Cheia (Eclipse Total da Lua)Spica 3o S da LuaAntares 9o S da LuaCeres Io N da Lua (Ocultação)Mercúrio no periélio (0,31 UA)Júpiter 5o S da LuaLua Quarto Minguante^ua no perigeo (369.911 Km da Terra)Netuno 5o S da LuaUrano 6o S da LuaVênus 10° N de AldebaranSaturno 4o S da LuaLua Nova (Eclipse parcial do Sol)Pallas em oposição Mercúrio 5o N da Lua Aldebaran Io S da Lua Vênus 9o N da LuaMercúrio em máxima elongação (20° E) Lua no apogeo (404.377 Km da Terra) Pollux 12° N da Lua Lua no Quarto Crescente Regulus 5o N da Lua Netuno estacionário

MAIO

Dia Hora h m

Fenômenos

01 21 00 Spica 3o S da Lua03 08 48 Lua Cheia03 09 00 Mercúrio estacionário04 11 00 Vênus em máxima brilhância

14 00 Júpiter estacionário05 03 00 Antares 9o S da Lua06 19 00 Lua no perigeo (366.526 Km da Terra)07 17 00 Júpiter 5o S da Lua08 14 00 Netuno 5o S da Lua

21 00 Urano estacionário09 03 00 Urano a 6o S da Lua

Dia Horah ni

Fenômenos

10 02 04 Lua Quarto Minguante13 10 00 Saturno 3o S da Lua14 22 00 Mercúrio em conjunção inferior16 00 00 Marte a 1,7° N da Lua17 08 46 Lua Nova18 10 00 Aldebaran 1° S da Lua19 22 00 Vênus 8o N da Lua20 04 00 Vênus estacionário22 04 00 Pollux 12° N da Lua

10 00 Plutão em oposição13 00 Lua no apogeo (405.089 Km da Terra)

23 Mercúrio no afélio (0,47 UA)25 05 00 Regulus 5o N da Lua

11 13 Lua quarto Crescente27 21 00 Regulus 5o N da Lua

04 00 Mercúrio estacionário29 07 00 Spica 3o S da Lua31 03 00 Mercúrio 4o S de Marte

JUNHO

Dia Hora h m

Fenômenos

01 12 00 Ceres 0,8° S da Lua (Ocultação)13 00 Antares 9o S da Lua17 47 Lua Cheia

03 13 00 Lua no perigeo (361.502 Km da Terra)04 03 00 Júpiter 5o S da Lua

21 00 Netuno 5o S da Lua05 09 00 Urano 6o S da Lua08 08 05 Lua Quarto Minguante09 19 00 Saturno 3o S da Lua10 06 00 Mercúrio em máxima elongação (24° O)

16 00 Vênus em conjunção inferior13 21 00 Mercúrio 0,4° N da Lua

22 00 Marte 4o N da Lua14 10 00 Mercúrio 3o S de Marte

17 00 Aldebaran 1° S da Lua15 22 36 Lua Nova18 11 00 Pollux 12° N da Lua19 03 00 Lua no apogeo (406.046 Km da Terra)20 23 00 Solstício de Inverno21 08 00 Mercúrio 4o N de Aldebaran

21 00 Regulus 4o N da Lua23 09 00 Mercúrio 1,6° N de Vênus24 02 23 Lua Quarto Crescente25 15 00 Spica 3o S da Lua27 09 00 Marte 6o N de Aldebaran28 23 00 Antares 9o S da Lua30 01 00 Vênus 4o S de Marte

* Hora Local = -3 h TU **Fonte: “Observeris Guide - 1995", Astronomy, EUA.

Dia Horah m

03 21 0704 12 0007 20 0008 09 000910 14 00

20 3511 00 00

09 0009 00

15 19 0022 00

17 19 4918 18 0019 07 0021 02 00

11 0023 05 0024 19 00

19 0025 17 4027 21 0029 06 00

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________ECLIPSE LUNAR TOTAL de 03-04\04\96

Helio C, Vital *

OBJETIVO: Observação e registro do eclipse total de 03-04\04\96, para análise das principais característica do fenômeno.

I- CIRCUNSTÂNCIAS:

a) Introdução

Dois eclipses serão observáveis do Brasil em 1996, ambos serão lunares e totais e ocorrerão, um em 03-04 de abril e outro, em 26-27 de setembro. Durante a noite de03-04\04\96, a Lua, em seu nodo ascendente em Virgem, cruzará a sombra terrestre de W para SE (celeste), passando cerca de um raio lunar ao sul de seu centro e permanecendo 86 minutos totalmente imersa em sua região mais interna e escura - a umbra. No meio do eclipse, às 21:10 (hora legal de Brasília) do dia 3 de abril, as magnitudes penumbral e umbral serão iguais a 2,432 el,383, respectivamente.

b) Contatos Primários

A tabela 1 fornece os instantes previstos para os contatos de limbo (hora, minuto e décimo, em Tempo Universal), seguidos do respectivo ângulo de posição (AP) e das correspondentes coordenadas horizontais aproximadas da Lua, altura (H) e azimute (Az), calculadas para o Sudeste brasileiro. AP refere-se ao ângulo submetido no centro do disco lunar entre o ponto norte do disco e o centro da umbra, metido do Norte (0o) para o Leste celeste (90°) - correspondente ao Oeste lunar.

Tabela 1: Estimativa dos principais contatos

FASE TU (h:m) AP H AzInicial PI Penumbral 21:15,6 98° 7° 93°

U1 Umbral 22:20,8 93° 22° 87°U2 Total 23:26,6 74° 36°

oOOO

Central 00:09,7 17° 4̂ o 74°Final U3 Total 00:52,9 320° 55° 65°

U4 Umbral 01:58,6 302° 67° 44°P4 Penumbral 03:03,6 296° 73° 358°

Obs: TU= Tempo Local + 3 h

Nota-se que a fase parcial terá inicio às 22:21 TU (19:21 hora legal do Rio), quando a Lua estará cerca de 22° acima do horizonte leste. Inicialmente, a umbra avançará sobre o Oeste lunar (AP= 93°) encobrindo, nove minutos depois, Aristarchus e Grimaldi.

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c) Contatos com Crateras

A Tabela 2 fomece os instantes calculados para imersões e emersões na umbra de 21 crateras lunares mais facilmente identificáveis (Pico, é exceção por tratar-se de uma elevação). Os instantes foram aproximados para o minuto inteiro mais próximo.

Tabela 2: Previsões da imersões emersões das crateras.

IMERSÕES E MERSOESTU

(h:m)Crateras TU

(h:m)Crateras

22:29 Grimaldi 00:58 Grimaldi22:29 Aristarchus 01:03 Billy22:35 Kepler 01:10 Aristarchus22:37 Billy 01:11 Campanus22:40 Pytheas 01:11 Kepler22:43 Copemicus 01:16 Tycho22:43 Plato 01:20 Copemicus22:43 Timocharis 01:21 Pytheas22:43 Pico 01:25 Timocharis22:51 Campanus 01:28 Plato22:52 Aristóteles 01:28 Pico22:53 Eudoxus 01:36 Manilius22:56 Manilius 01:37 Aristóteles22:59 Menelaus 01:37 Eudoxus23:02 Plinius 01:40 Menelaus23:02 Dionysius 01:40 Dionysius23:04 Tycho 01:43 Plinius23:11 Proclus 01:50 Goglenius23:14 Taruntius 01:52 Proclus23:17 Goglenius 01:52 Taruntius23:21 Langrenus 01:54 Langrenus

* Todas as previsões das tabelas 1 e 2 foram calculadas pelo autor usando programas desenvolvidos por ele. Comparações com outras fontes têm mostrado uma concordância média melhor que 0,3 m (em tempo) para os contatos.

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E C L IP S E TOTAL DA LUA

II- MOTIVAÇÃO

Ainda hoje, existem muitas incertezas em relação aos mecanismos físicos que contribuem para o aspecto de nosso satélite natural durante eclipses totais. Várias décadas de observação já mostraram que o brilho da Lua eclipsada, o qual pode variar muito de um eclipse para outro, está aparentemente relacionado com o grau de transparência de nossa atmosfera e com a luminescência lunar. Em geral, grande formação de nuvens e intensos acúmulos de cinzas vulcânicas na estratosfera tendem a obscurecer o anel luminoso que seria observado ao redor de nosso planeta por um observador fictício, situado sobre a superfície da Lua, quando a Terra oculta totalmente o Sol. Além disso, a luminescência do solo lunar, a qual também contribui para o brilho da Lua eclipsada, parece estar correlacionada ao ciclo solar.

Ressalta-se no entanto, que ainda não existe um modelo que leve todos estes fatores em consideração e forneça previsões precisas sobre as complexas configurações de brilho e cor apresentadas pela Lua durante um eclipse total.

Outro fenômeno digno de estudos é o da variação da espessura da nossa atmosfera. Ela parece oscilar, contribuindo em tomo de 2% para o raio observado da umbra. Existem indicações de que a elevação do nível de poeira meteórica na alta atmosfera (até 120 Km), que se segue às principais chuvas de meteoros tende a aumentar as dimensões da umbra.

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III- OBSERVAÇÕES

A seguir resumimos as principais atividades observacionais sugeridas:

[1] Cronometragem dos contatos da umbra com o limbo lunar e com o centro das crateras. Use as tabelas 1 e 2 como orientação e procure estimar os eventos com a precisão de alguns segundos. As cronometragens permitirão avaliar enquanto nossa atmosfera contribui para o diâmetro da umbra. Use aumentos de telescópios em tomo de 40 vezes. Não devem ser usados aumentos superiores a 60 vezes pois eles diminuem a nitidez da fronteira da umbra e geralmente introduzem erros sistemáticos nas cronometragens.

[2] Estimativa do brilho da Lua na fase total - Numero de D’anjon. No meio do eclipse, faça algumas estimativas do Numero de D ’anjon (L: 0-4). Lembre-se que 0- corresponde a Lua praticamente invisível; 1- Lua cinza ou marrom com poucos detalhes, visíveis com dificuldades; 2- Lua vermelha escura com alguns detalhes mais destacados; 3- Lua cor de tijolo com a borda da umbra amarelada e 4- Lua alaranjada ou cor de cobre com borda brilhante e azulada. É bem provável que o hemisfério sul da Lua se apresente menos escuro do que o norte. Exemplos aceitáveis de estimativas seriam : L aproximadamente 2; ou L= 1,8; ou L= 1,3 (N) e 2,3 (S). Nas estimativas de L use o olho nu ou binóculos.

[3] Magnitude Total da Lua. Comparando-se o brilho da Lua observada através de um binóculo invertido, com brilho de estrelas próximas, observadas simultaneamente a olho nu, podem ser feitas estimativas da magnitude total da Lua no meio do eclipse (m). Ela poderá ser obtida através da equação: m= mag. 0,3 - 5 Log. A (onde mag. corresponde a magnitude observada e Log A ao logaritmo décimal do aumento do binóculo, em vezes).

[4] Registro de manchas, cores, TLP’s e Ocultações. Devem ser registradas todas as características do evento, incluindo a presença de cores manchas de albedo, a visibilidade de crateras, mares e limbo lunar. Devem ser incluidas também observações positivas de fenômenos lunares transitórios (TLP’s) e ocultações de estrelas pela Lua eclipsada. Todas as observaçõesw devem ser enviadas para a AAGG tão breve quando possivel nas ficha padrão disponiveis na AAGG, mediante solicitação.

Helio C. Vital (Coordenador de eclipses da REA) E-mail: [email protected].

FilLIE-SE À AAGG

Maiores informações no Planetário de Vitória, todas as terças feiras a partir das 20 h (Tel: 027 335-2489) ou pela caixa postal 10-896 Vitória\ES CEP 29001-970

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COMETA HYAKUTAKE

Este cometa descoberto no inicio deste ano por um astrônomo amador japonês, foi observado pela primeira vez aqui no Espírito Santo por Antonio Carlos Garcia Júnior como um objeto difuso de magnitude 5 na constelação da Libra com uso de binóculos 7X50 às 1:30 h TU do dia 16.03.96. Após esta data foi observado e fotografado em diversas ocasiões por equipes da AAGG, tendo seu brilho aumentado consideravelmente atingindo o maior brilho no dia 25.03.96 quando se encontrava na constelação do Boeiro com magnitude 2.5 .

Foto: Walace Fernando Neves Dia 16.03.96- 1:49 h TU Câmera Asahi Pentax-SP, Telescópio Maksutov de 150 mm.Filme T-Max 3200 ISO 135-36 Tempo de Exposição: 15 minutos. OA-UFES\AAGG\OACF

Este cometa foi o mais brilhante observado desde o Halley pela AAGG, e devido à sua posição e velocidade própria, pois estava próximo do periélio, apresentou um deslocamento, aparente na esfera celeste, extraordináriamente rápido. Em poucas horas de observação seu deslocamento era notado.Na noite do dia 24 para o dia 25 ele se deslocou da constelação do Boeiro até próximo à constelação da Ursa Maior.

As efemérides abaixo são baseadas no Equinócio 2.00,0.

Data AR (h.m) Dec R Delta Elong Phase PA Mag22.03 14h 47.4m 22° 34 1,091 0,128 135,0 040,2 243,5 1,427.03 04h 11.3m 79 07 0,986 0,135 080.8 091.4 056,7 1,101.04 03h 12.2m 52 12 0,876 0,272 055,9 109,2 045,5 2,111.04 03h 01.1 m 39 09 0,643 0,598 037,4 108,7 042,2 2,421.04 02h 47.8m 32 34 0,393 0.918 023,0 091,1 030,8 1,3

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Canto do Galo Velho

1-Comemorações dos 10 anos do OA-UFES: A nossa associação e a UFES realizaram na noite de 19 de março p.p., uma solenidade para marcar os 10 anos de operação do Observatório da UFES. Na abertura, realizada no hall do Planetário de Vitória, tivemos a bela participação do coral da universidade, e após breves discursos inaugurou-se uma exposição fotográfica retrospectiva dos trabalhos realizados no OA-UFES. As comemorações terminaram no Observatório onde foi servido um coquetel, patrocinado pela AAGG.

2- Poluição Luminosa: Quem compareceu às festividades do OA-UFES foi o prefeito de Vitória Paulo Hartung, que constatou aquilo que nós temos presenciado ao longo do tempo, a poluição luminosa do nosso céu, que muito dificulta os trabalhos de observação. O prefeito se comprometeu em estudar novas luminárias para nossa iluminação pública e prometeu em desligar as luzes a vapor, da Praia de Camburi, assim que solicitado pela AAGG.

3- Curso de Fundamentos de Astronomia: Promovido pela AAGG e o Planetário de Vitória - teve seu inicio no dia 11 de março último as aulas do Io Curso de Astronomia a utilizar os recursos didáticos do Planetário. São 29 alunos inscritos.

4- Centro de Ciência de Vitória - CCV: Utilizando de nossa independência e grande capacidade de articulação a AAGG se reuniu, independentemente, nestes últimos dias com a Secretaria de Estado da Educação Prof. Euzi Moraes, o Reitor da UFES Prof. José Weber e com o Secretário Municipal de Cultura e Turismo Sr. Jorge Alencar, o motivo principal são as negociações do regimento interno do Planetário de Vitória. Esperamos agilizar as pendências administrativas.

5- Observatório da AAGG: Projeto para os próximos anos é a construção fora da Grande Vitória de um Observatório Astronômico da AAGG, com área para recebermos os amantes da Astronomia. Vamos sonhar juntos.

6- Sede Administrativa: Estamos negociando com os parceiros do Centro de Ciências de Vitória o uso de uma sala do Planetário pela AAGG. Enquanto não se oficializa este pedido, estamos nos reunindo lá todas as terças feiras a partir da 19:30 h.

7- Campanha de Novos Sócios: O sócio Walace Fernando Neves está coordenando uma campanha junto aos atuais sócios para que cada um consiga pelo menos mais dois novos sócios e ao mesmo tempo está contatando com os sócios inativos para que eles retomem ao nosso convívio.

8- A Noite dosCometas: Na madrugada do dia 17 de março uma equipe da AAGG observou e fotografou os cometa Hyakutake e o Halle-Bop.