ceide 2º boletim€¦ · (payne e issacs 1995; gabbard, 1996; johnson, christie e yaw-key, 1999;...
Embed Size (px)
TRANSCRIPT

A procura sistemática do
conhecimento científico na
nossa prática diária, faz parte
integrante do nosso modo de
estar na enfermagem e na
Escola.
Neste momento, já não faz
sentido afirmar-se a necessi-
dade de fazer investigação
científica, ou realçar o contri-
buto que ela traz, interessa
sim analisar e reflectir sobre
os resultados concretos que
obtemos nos nossos estudos
e suas implicações para a
profissão e disciplina de
enfermagem.
Por isso, neste novo número
do Boletim do CEIDE vamos
dar espaço para divulgação
de resultados de trabalhos
científicos levados a cabo
por docentes da Escola. A
Prof. Elsa Gonçalves estu-
dou o fenómeno: “Brincar em
contexto de internamento
pediátrico” e o Prof. Manuel
Luís Capelas: “Dor total nos
doentes com metastização
óssea”. Os resultados obti-
dos merecem ser pensados,
reflectidos e levantam ques-
tões com vista a futuros
aprofundamentos.
A investigação biológica, até
há bem pouco tempo, com
pouca expressividade na
área de enfermagem, tem-se
vindo a revelar como um
contributo enriquecedor para
as nossas práticas, pelo que
deixamos aqui um aponta-
mento, pela mão da Prof.
Fernanda Serrano, sobre as
características deste tipo de
investigação .
O grupo que integra o Centro
de Estudos Investigação e
Desenvolvimento em Enfer-
magem, está desde o início
deste ano lectivo, a desen-
volver uma nova linha de
investigação relacionada
com o estudo dos estilos de
aprendizagem dos estudan-
tes e com as questões da
inteligência emocional, no
sentido da melhoria da quali-
dade das práticas pedagógi-
cas.
Com o espírito com que ini-
ciámos a publicação deste
Boletim, mantemos um canal
aberto ao diálogo e partilha
de experiências no âmbito
das problemáticas a investi-
gar.
Editorial Onde a Investigação acontece
Nesta edição:
Editorial 1
Brincar em Contexto de Inter-namento Pediátrico
Elsa Gonçalves
2
Princípios orientadores e objectivos do CEIDE
8
Dor Total nos Doentes com Metastização Óssea
Manuel Luís Capelas
9
Investigação Biológica Fernanda Serrano
12
Nursing Research - A tool for action - Poster ICN
14
Teresa Faia
Prof. Coordenadora da ESESFM
Março de 2008
Volume 1, Edição 2
Março de 2008
Volume 1, Edição 2 BOLETIM
CEIDE ACTUAL Centro de Estudos, Investigação e Desenvolvimento em Enfermagem
Escola Superior de Enfermagem S. Francisco das Misericórdias

RESUMO
Jogar e brincar é um dos mais poderosos veículos para a criança poder desenvolver ou experimentar novas competências. Brincar ajuda a criança a
desenvolver uma atitude positiva. A doença e internamento hospitalar constituem disfunção na criança e família. A natureza crítica da situação, e a incerte-
za, provocam stress. Para as crianças doentes, brincar é um mecanismo de coping positivo. Brincar no hospital, promove o bem-estar emocional e físico,
diminuiu o impacte negativo do internamento, prepara para procedimentos dolorosos e alivia a dor.
Finalidade: Contribuir para a compreensão da problemática do jogo e brincadeira, na perspectiva dos enfermeiros em contexto de internamento pediátrico.
Objectivos: Descrever como os enfermeiros valorizam o brincar, como forma de promoção do desenvolvimento global da criança e de estratégia de alívio
do impacte negativo do internamento pediátrico; identificar as perspectivas dos enfermeiros face ao brincar, em duas instituições hospitalares; identificar as
perspectivas dos enfermeiros face ao brincar, nas áreas de pediatria médica e cirurgia pediátrica; demonstrar se o tempo de exercício na área de cuidados
de enfermagem pediátricos está associado às perspectivas dos enfermeiros, e identificar constrangimentos à utilização do jogo/brincadeira.
Desenho do estudo: Estudo transversal de carácter exploratório e descritivo, com recurso a técnicas de análise quantitativa e análise de conteúdo.
Contexto e participantes: Amostra, de conveniência, constituída por 112 enfermeiros, de dois hospitais da região de Lisboa. Recolha de dados com
recurso a questionário de auto-preenchimento, construído para o efeito.
Análise dos dados: Estatística descritiva, verificação da consistência interna do instrumento e análise de conteúdo.
Resultados: Os sujeitos reconhecem a importância do jogo e brincadeira, para o desenvolvimento da criança, enquanto estratégia de diminuição do
impacte negativo do internamento; mecanismo de coping positivo; estratégia de preparação para procedimentos dolorosos e alivio da dor. Não há diferen-
ças significativas nos valores médios totais e das dimensões, entre as instituições hospitalares e áreas de cuidados. Não há correlação entre o tempo de
exercício na área de prestação e a perspectiva dos enfermeiros face ao brincar. Identificados constrangimentos de índole funcional, estrutural e relaciona-
dos com a especificidade do jogo e brincadeira, como a motivação e habilidade.
Implicações: O desenvolvimento de investigação com base na reflexão-acção, sobre as práticas de enfermagem na preparação da criança e família, para
PROBLEMÁTICA
Jogar e brincar é um dos mais poderosos veículos para a criança
poder desenvolver ou experimentar novas competências. Brincar
ajuda a criança a desenvolver os conhecimentos de que necessi-
ta, para enfrentar os desafios com que se vai deparando durante
o seu crescimento e desenvolvimento. (Payne e Issacs 1995;
Gabbard, 1996; Johnson, Christie e Yawkey, 1999; Neto, 1997 e
2001)
Segundo Cole e Cole (2001), a criança enquanto brinca resolve
situações do foro social, emocional e intelectual, encontrando
para os seus problemas novas soluções e ideias. Brincar ajuda a
criança a desenvolver uma atitude positiva perante as aprendiza-
gens, na medida em que experimenta uma sensação de poder e
controlo sobre as situações vividas.
Brincar é essencial no desenvolvimento da criança, na medida
que ajuda a desenvolver uma grande variedade de habilidades.
(Payne e Issacs 1995; Gabbard, 1996; Johnson, Christie e Yaw-
key, 1999; Neto, 1997 e 2001)
Brincar em Contexto de Internamento Pediátrico1
Elsa Restier Gonçalves2
1Dissertação elaborada e defendida (2007) no âmbito do Mestrado em Desenvolvimento da Criança – Variante de Desenvolvimento Motor, Faculdade Motricidade Humana – Universidade Técnica de Lisboa,
2Professora Adjunta da Escola Superior de Enfermagem S. Francisco das Misericórdias, Enfermeira Especialista na área de Enfermagem de Saúde Infantil e Pediátrica
2
Brincar é uma actividade, indubitavelmente associada à infân-
cia e fundamental no processo de socialização, sendo esta
influência de duplo sentido, pois o ambiente social influencia
de forma encorajadora e desencorajadora, a forma de brincar,
através do que a criança observa nos adultos de referência e
nos seus pares. Brincando a criança desenvolve competên-
cias sociais, tais como receber, partilhar, cooperar e perceber
os pensamentos, percepções e emoções, dos outros.
(Johnson, Christie e Yawkey, 1999)
Segundo McArdle (2001) brincar é fulcral para o normal
desenvolvimento da personalidade, sendo um importante
instrumento de regulação das emoções. Brincar torna-se uma
importante forma de a criança, encenando situações já vividas
ou não, adquirir mecanismos de coping.
A doença e a eventual necessidade de internamento hospita-
lar constituem sempre, disfunção para o padrão no quotidiano
da criança e família. A natureza crítica da situação, quer seja
doença aguda ou crónica, e a incerteza em relação ao futuro
mais próximo, provocam na criança como nos adultos cuida-

dores relativos níveis de stress. (Mott, James, Spehrac, 1990;
Whaley e Wong, 1996; Bowben, Dickey, Greenberg, 1998)
As intervenções de enfermagem perante estas situações
devem incluir, cuidados apropriados à idade e nível de desen-
volvimento, de acordo com as necessidades psicossociais da
criança e família e de modo a facilitar a integração no ambiente
hospitalar, que não deve ser ameaçador.
Para que o anterior se verifique, os cuidados devem ser centra-
dos na família, para que as alterações à rotina da criança e
família, impostas pelo internamento, sejam o menos sentidas
possível. (Mott, James, Spehrac, 1990; Whaley e Wong, 1996;
Bowben, Dickey, Greenberg, 1998)
Outra exigência imposta ao enfermeiro, enquanto prestador de
cuidados em contexto de internamento pediátrico, é o desenvol-
vimento de habilidades de comunicação com a criança, tendo
em atenção o seu estádio de desenvolvimento e grau de com-
preensão.
Em termos das diferentes reacções ao internamento hospitalar,
estas vão depender da sua idade, temperamento, vivência de
situações similares anteriores e adultos que servem de sistema
de suporte. Os principais stressores são, a ansiedade da sepa-
ração, a sensação de perda de controlo, a lesão corporal e a
dor. (Mott, James, Spehrac, 1990; Whaley e Wong, 1996; Bow-
ben, Dickey, Greenberg, 1998)
Promover o coping positivo nas crianças, durante o internamen-
to, é atributo dos enfermeiros. Essa promoção passa pelo for-
necimento de informação adequada à criança, sendo importan-
te que o enfermeiro compreenda o nível de profundidade que
essa informação deve assumir, ou seja, a informação deve dar
resposta às necessidades individuais da criança para que não
se corra o risco de, sendo essa em quantidade ou complexida-
de exageradas para a criança, ir ser factor precipitador de mais
ansiedade e stress. Algumas estratégias de coping, redutoras
de stress na criança são técnicas de relaxamento e distracção,
o envolvimento dos pais nas actividades e prestação de cuida-
dos, desenhar, ouvir música, comunicar com o exterior, por
exemplo através do telefone ou computador e brincar ou jogar.
(Mott, James, Spehrac, 1990; Whaley e Wong, 1996; Bowben,
Dickey, Greenberg, 1998).
De entre as estratégias de coping referidas anteriormente, con-
cretamente o jogo e brincadeira, são promotores do bem-estar
da criança, em contexto de internamento pediátrico e redutor do
impacte negativo associados a este. (Furtado e Lima, 1999;
Bowmer, 2002; Motta e Enumo, 2002; Oliveira, Dias, Roazzi,
2003)
3
Motta e Enumo (2002) desenvolveram um estudo na área da
psicologia, a partir de relatos de crianças com doença oncológi-
ca, sobre as estratégias utilizadas para lidarem com situações
adversas durante o internamento hospitalar. Estes autores refe-
rem que, brincar constitui uma das possíveis estratégias, utiliza-
das pelas crianças e pelos técnicos de saúde, para lidarem com
situações stressantes como a hospitalização e os procedimen-
tos técnicos invasivos. Estudo descritivo e de intervenção, em
que os resultados permitem aos autores afirmar, que ao brincar
no hospital a criança tem a possibilidade de alterar o ambiente
envolvente, aproximando-o do seu quotidiano; brincar tem um
efeito terapêutico, quando se consideram terapêuticas, todas as
actividades que facilitam a promoção do bem-estar da criança;
o recurso à brincadeira pode servir de estratégia de preparação
para procedimentos invasivos; em geral não apresentam restri-
ções para o tipo de brincadeiras sendo que o importante é a
actividade em si mesma.
Brincar, dá a oportunidade à criança internada de fazer esco-
lhas, numa situação naturalmente adversa em que a maioria
das situações fogem ao seu controlo.
Johnson, Christie e Yawkey (1999), referem a importância do
recurso ao jogo e brincadeira, em contexto de internamento
pediátrico, não só como fonte de divertimento, mas essencial-
mente, porque torna a criança participante activo em todo o
processo de internamento. Brincar, neste contexto é essencial
e fornece aos prestadores de cuidados, importantes informa-
ções sobre o que a criança pensa e sente sobre o internamen-
to. (Furtado, Lima, 1999; Bowmer, 2002; Motta, Enumo, 2002;
Oliveira, Dias, Roazzi, 2003)
Segundo Johnson, Christie e Yawkey (1999), as salas de brin-
cadeiras, nas enfermarias são indispensáveis. Estas salas
devem ter mobiliário adequado, e devem ser equipadas com
brinquedos e jogos que possam responder às necessidades de
desenvolvimento das diferentes faixas etárias e às preferências
das crianças.
Como referem Motta e Enumo (2002), facilitar à criança a
expressão de sentimentos, proporciona que a vivência dos
acontecimentos mais adversos seja feita de forma mais positi-
va, aumentando o grau de autonomia da criança e direccionan-
do as intervenções específicas de forma mais adequada.
Quanto ao tipo de brincadeiras, não devem existir restrições, a
não ser as que são motivadas pela condição da criança, e tanto
quanto possível devem ser o mais aproximado do quotidiano da
criança. (Mott, James, Spehrac, 1990; Whaley e Wong, 1996;
Bowben, Dickey, Greenberg, 1998).
Brincar em Contexto de Internamento Pediátrico

É também frequente observar-se crianças nas enfermarias
pediátricas, manipularem e envergarem equipamento médico,
ou brinquedos miniatura desse equipamento, havendo uma
troca de papéis na brincadeira, em que são eles os enfermeiros
ou médicos e os bonecos os pacientes. Observar e participar
neste tipo de brincadeira, torna-se uma oportunidade única
para que os técnicos, de uma forma não intrusiva, questionem
a criança sobre os seus medos e ansiedades com questões
como, “como é que a boneca se sente quando lhe dão uma
injecção”. (Johnson, Christie e Yawkey, 1999, p.184)
Na mesma linha de investigação, Oliveira, Dias e Roazzi
(2003), procuraram verificar se o recurso ao jogo e brincadeira
modifica as estratégias utilizadas por crianças hospitalizadas,
para lidarem com emoções como a tristeza e raiva. Os resulta-
dos mostram que o uso de actividades lúdicas, modifica positi-
vamente as estratégias de regulação das emoções. Os autores,
referem que o estudo mostrou que, o brinquedo se traduz num
importante veículo de regulação das emoções. Assim observa-
do, o brinquedo tem um papel mais lato na medida em que
permite e contribui para um desenvolvimento da criança, mas
também permite aprendizagens e regulação de emoções rela-
cionadas com situações tão adversas, como pode constituir o
internamento hospitalar e que em termos impacte no desenvol-
vimento global da criança, não têm que ser vistas como negati-
vas. (Oliveira, Dias e Roazzi, 2003)
Haiat, Bar-Mor e Shochat (2003) relatam a sua experiência no
Schneider Children’s Medical Center em Israel, fundados no
princípio que o mundo da criança é o mundo da brincadeira,
mesmo quando esta está hospitalizada e que saber brincar é
uma mais-valia para os enfermeiros pediátricos, na aproxima-
ção à criança e família. Os autores reforçam a ideia, de que o
enfermeiro que consegue integrar a brincadeira com a criança,
nas suas actividades mais técnicas é aquele que; reconhece a
brincadeira como fundamental para a criança internada; obser-
va a criança enquanto esta brinca, com o intuito de perceber
que tipo de brincadeira lhe dá prazer e o que está a comunicar
através desta; sabe usar o recurso a diferentes brincadeiras em
diferentes contextos a que a criança está sujeita; e por último
planeia intervenções de enfermagem específicas, que têm o
jogo e brincadeira por base. (Haiat, Bar-Mor e Shochat, 2003)
O enfermeiro deve dar oportunidade à criança de manipular o
equipamento e material o que fará aumentar o nível de confian-
ça e auto-controlo. (Mott, James, Spehrac, 1990; Whaley,
Wong, 1996; Bowben, Dickey, Greenberg, 1998; Zahr, 1998;
McGrath, Huff, 2001)
Furtado e Lima (1999) levaram a cabo um estudo com o objec-
tivo de elaborar uma base teórica e prática que desse suporte à
importância do jogo e brincadeira, junto das crianças hospitali-
zadas. Os autores identificaram, que brincar em contexto de
enfermaria pediátrica tem repercussões para a criança, para o
enfermeiro e para o hospital. Para a criança porque a ajuda a
perceber o que está a acontecer, ajuda a libertar os medos,
tensões, frustrações e ansiedade, além de promover satisfação,
divertimento e estimular a espontaneidade. Para a enfermeira é
um importante meio de comunicação com a criança, permitindo
perceber as suas particularidades. Por fim para o hospital, per-
mite uma mudança da imagem de instituição onde só há lugar
para a dor e sofrimento. (Furtado e Lima, 1999)
Segundo alguns autores, é importante que sejam consideradas
intervenções de enfermagem, junto de crianças que são sub-
metidas a intervenções dolorosas, e que incluem o jogo e brin-
cadeira, antes, durante e após o procedimento. Antes do proce-
dimento, o recurso ao jogo está direccionado ao fornecimento
informação que deve ser especifica e adequada ao estádio de
desenvolvimento da criança, esta deve conter elementos sobre
o material e a técnica propriamente ditos, e sobre o tipo de
sensações que irá experimentar. Durante o procedimento, o
recurso a elementos de distracção têm como objectivo desviar
a atenção e preocupação da criança. Após o procedimento, a
criança e os pais devem ser alvo de intervenções que visem a
promoção do bem-estar, deve-se rever a experiência clarifican-
do as percepções, reforçando e elogiando comportamentos que
demonstrem mecanismos de coping positivos. (Mott, James,
Spehrac, 1990; Whaley, Wong, 1996; Bowben, Dickey, Green-
berg, 1998)
Em relação aos jogos e brincadeiras que melhorem as funções
fisiológicas, estes são importante veículo de recuperação do
nível de saúde da criança, de uma forma não ameaçadora e
que como complemento a outras intervenções farmacológicas
ou não, mas mais agressivas e invasivas em relação à integri-
dade da criança. (Mott, James, Spehrac, 1990; Whaley e Wong,
1996; Bowben, Dickey, Greenberg, 1998)
No que diz respeito ao jogo dramático, pode recorrer-se a acti-
vidades que promovam a libertação de tensões, distracção e
relaxamento, da criança aumentando o seu bem-estar. (Mott,
James, Spehrac, 1990; Whaley e Wong, 1996; Bowben, Dickey,
Greenberg, 1998)
Vários estudos foram realizados, em que há uma patente conju-
gação entre a vivência da dor e a utilização do jogo como estra-
tégia de preparação para eventos que a provocam, ou como
contribuição para o alívio da mesma.
Chambers et al (1996) desenvolveram uma escala de avaliação
de dor pós-operatória de crianças entre os 7 e 12 anos, para
4 Brincar em Contexto de Internamento Pediátrico

pais. A escala foi construída com base num estudo levado a
cabo por Reid et al (1995), citado por Chambers et al (1996),
onde se referem comportamentos identificados por pais de
crianças com dores, tais como o estado de alerta, diminuição
do apetite, alteração de estado emocional, modificações no
padrão habitual de actividade, padrão de sono, alterações fisio-
lógicas, comportamentos de defesa à dor, regressões, pedido e
recusa de medicação, verbalização de dor e desconforto visual
e auditivo. Um dos itens que apresentou forte correlação foi
“brinca menos do que é habitual”.
Todas as fases relacionadas com intervenções dolorosas são
importantes alvos de atenção, a preparação para o procedi-
mento é fundamental na medida em que se fornecem elemen-
tos à criança que farão diminuir o seu medo motivado pelo des-
conhecimento, durante o procedimento a criança deve ser esti-
mulada por forma a desviar a atenção do processo técnico e no
final o enfermeiro deve assegurar-se de que a criança fica cal-
ma e deve junto desta, com o recurso a técnicas de comunica-
ção especificas e ajuda do jogo, ter como objectivo perceber as
percepções e sentimentos vividos.
Para um melhor entendimento sobre a complementaridade
entre a abordagem farmacológica e não farmacológica da dor,
Tanabe, Ferket, Thomas, Paice e Marcantonio (2002), estuda-
ram o efeito da recurso à analgesia e a métodos de distracção,
no alivio da dor e satisfação de crianças com traumatismo mus-
culo-esquelético. Os resultados apontam para o facto das técni-
cas de distracção, serem um importante coadjuvante da anal-
gesia, no grupo de crianças estudado.
Dentro da mesma linha, Jordan-March, Hubbard, Watson, Hall,
Miller e Mohan (2004) realizaram um estudo de intervenção,
com o objectivo de melhorar a avaliação da dor nas crianças,
através da avaliação sistemática e consequente analgesia ade-
quada. Do estudo emergem resultados conducentes ao reforço
de estratégias como a avaliação sistemática da dor e recurso
ao jogo e brincadeira, assim como métodos de distracção, para
o acompanhamento de crianças com dor.
Cavender et al (2004) quiseram perceber de que forma é efecti-
va a ajuda no posicionamento e distracção, por parte dos pais,
à criança submetida a punção venosa. Estudo experimental,
tendo como objectivo perceber se haveriam diferenças entre o
nível de dor e medo relatados pela criança, observação de
medo e comportamentos relacionados com stress em crianças
cujos pais participassem no posicionamento e na distracção,
comparando com outro grupo cujos pais não participassem ao
mesmo nível. Segundo os autores, os resultados do estudo
sugerem que a participação activa dos pais, em termos de dis-
tracção, durante um procedimento invasivo resultam numa
diminuição do medo, além de promover a proximidade entre a
criança e esses, assim como afasta a atenção da criança do
estímulo doloroso. (Cavender, Goff, Hollon, Guzzeta, 2004)
De uma forma indirecta, o estudo referido anteriormente
demonstra como actividades de distracção simples e que são
vistas pelas crianças e pelos pais como brincadeiras, podem
ser estratégias fáceis de usar, não dispendiosas e complemen-
tares a intervenções não-farmacologicas de cuidados stan-
dards, em procedimentos dolorosos.
Variados estudos tem sido, tal como descrito, realizados com o
intuito de perceber e demonstrar que o recurso ao uso do jogo
e brincadeira, é uma importante via para o aliviar os medos,
tensões e sensações relacionadas com as experiências menos
positivas, vivenciadas pelas crianças em contexto de interna-
mento pediátrico.
MÉTODO
Estudo transversal de carácter exploratório e descritivo, utilizan-
do como recurso de análise dos dados, técnicas de análise do
tipo quantitativo e análise de conteúdo.
COMPOSIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
O universo populacional do estudo é constituído por enfermei-
ros a exercer funções em serviços de internamento pediátrico.
A população alvo constituída por enfermeiros, de Serviços de
Internamento Pediátrico de departamentos de medicina e cirur-
gia, de dois hospitais da região de Lisboa. Universo composto
por 211 enfermeiros, 137 pertencentes ao Hospital A e 74 ao
Hospital B. Amostra não probabilística, de conveniência.
Exercem funções na área, em média há 8,87 anos, com um
mínimo de 0,33 anos (correspondente a 4 meses) e um máximo
de 32 anos.
INSTRUMENTO DE COLHEITA DE DADOS
Instrumento de colheita de dados constituído por um questioná-rio. A Parte 1 do questionário é constituída por uma escala de Likert, e a Parte 2 por questões abertas.
A Parte 1, escala de Likert, foi construída com base na revisão bibliográfica, tendo sido elaboradas 56 asserções, agrupadas em três dimensões:
a. Jogo/brincadeira como factor importante para o desenvolvi-mento global da criança;
b. Jogo/brincadeira em contexto de internamento pediátrico;
c. Jogo/brincadeira como estratégia, de preparação da criança
para procedimentos dolorosos e de alivio da dor.
5 Brincar em Contexto de Internamento Pediátrico

A escala de Likert tem quatro opções de posicionamento dos
indivíduos em relação à temática em estudo, sendo elas
“discordo totalmente”, “discordo”, “concordo” e “concordo total-
mente”. A validação do questionário foi realizada por validação
de conteúdo e por verificação da confiabilidade.
A validação de conteúdo foi realizada por três enfermeiros
especialistas em saúde infantil e pediátrica e dois mestres em
Desenvolvimento da Criança, com objectivo de se confirmar a
pertinência e compreensão, das dimensões e asserções conti-
das no instrumento, tendo em conta a problemática em estudo.
O pré-teste foi aplicado a 15 indivíduos, com as mesmas carac-
terísticas da população alvo, pedindo-se sugestões em relação
às asserções, nos mesmos termos dos peritos referidos acima.
A confiabilidade, foi verificada através do teste de alpha de
Cronbach, a escala apresenta, no caso do pré-teste um valor
alpha superior a 0,9, considerando-se a consistência a um
nível, Muito Bom e no caso do estudo a um nível Bom, por
apresentar um valor entre 0,8 e 0,9. (Pestana e Gageiro, 2003)
A Parte 2, é constituída por três questões abertas, em que na
primeira se pede aos enfermeiros que definam brincar, na
segunda que se refiram à sua experiência relativamente à utili-
zação do jogo/brincadeira enquanto estratégia de aproximação
à criança internada e por último na terceira, se consideram
existir constrangimentos no seu local de trabalho para a utiliza-
ção do jogo/brincadeira.
ANÁLISE E PROCESSAMENTO DE DADOS
Tendo como referência os objectivos específicos do estudo,
optou-se por técnicas de análise de estatística descritiva e infe-
rência estatística. Na estatística descritiva descreveram-se os
dados através de medidas de localização como a média, valor
máximo e valor mínimo e medidas de dispersão como o desvio
padrão. Na inferência estatística através de métodos paramétri-
cos, como o Teste T, para verificação de igualdade de médias
em amostras independentes, e do coeficiente de correlação Ró
de Spearman.
Para o tratamento e análise dos dados, das respostas às ques-
tões abertas, da Parte II do questionário, optou-se pela técnica
de análise de conteúdo.
DISCUSSÃO E RESULTADOS
Em contexto de internamento pediátrico, além dos pais ou
outros adultos da esfera afectiva da criança, os enfermeiros são
sem dúvida, quem mais interage com ela, durante as vinte e
quatro horas de cada dia que permanecer no hospital.
Quanto à importância atribuída pelos enfermeiros, ao jogo e
brincadeira, no desenvolvimento global da criança, a análise e
discussão dos valores médios da dimensão Jogo/brincadeira
como factor importante para o desenvolvimento global da crian-
ça, mostram que essa dimensão foi a que apresentou valores
mais elevados, acima do ponto 3,00, que na escala correspon-
de à opinião “concordo”, quer seja no total da amostra, por insti-
tuição hospitalar e por área de cuidados.
Da análise do conteúdo da categoria Definição de Brincar,
emergem duas subcategorias, Conceito de Brincar e Domínios
do Brincar, com unidades de registo que demonstram a abran-
gência das opiniões dos enfermeiros, independente da institui-
ção.No domínio emocional, os sujeitos referem igualmente o
brincar como “forma de exprimir sensações, preocupações”,
assim como importante para o crescimento emocional e afecti-
vo e “[favorecimento] confiança face a situações problema”
aumentando a autoconfiança da criança. As respostas dos
sujeitos vão de encontro ao defendido pelos autores quando
afirmam que brincar, regula as emoções e está intimamente
relacionado com o desenvolvimento do auto-conceito e da auto-
nomia, e ajuda a criança a separar o real do imaginário.
(Johnson, Christie e Yawkey, 1999)
O Domínio cognitivo e Domínio Social, são também considera-
dos, sendo que no Domínio cognitivo, surgem unidades de
registo como “imaginar e criar”, “estimular o desenvolvimento
cognitivo”, e “(…) aprender novas competências”. Segundo
Johnson, Christie e Yawkey (1999), brincar tem forte influência
no domínio cognitivo. No caso do Domínio social, emerge a
“adaptação ao meio envolvente” e a “compreensão e aquisição
de (…) papéis sociais”, referidas pelos sujeitos e corroborado
pelos autores, quando afirmam que brincando a criança desen-
volve competências sociais, tais como receber, partilhar, coope-
rar e perceber os pensamentos, percepções e emoções, dos
outros. (Johnson, Christie e Yawkey, 1999)
No que diz respeito ao reconhecimento, por parte dos sujeitos,
acerca do brincar em contexto de internamento pediátrico,
como estratégia de diminuição do impacte negativo da hospita-
lização na criança, pela avaliação da dimensão Jogo/
brincadeira em contexto de internamento pediátrico, pode-se
perceber que também os valores médios desta dimensão se
encontram acima do ponto 3,00, e que têm o mesmo comporta-
mento, na avaliação por instituição e por área de cuidados.
Nesta dimensão foram identificadas duas asserções, com valo-
res médios abaixo de 2,50, apontando para alguma resistência
por parte dos enfermeiros quanto ao facto da hospitalização
puder resultar numa experiência positiva para a criança, e de
não dever haver restrições, no que concerne ao tipos de brinca-
deiras passíveis de ser realizadas, em contexto de internamen-
6 Brincar em Contexto de Internamento Pediátrico

to. Na análise de conteúdo da categoria Experiências da Utili-
zação do Jogo em Contexto Hospitalar, as subcategorias
Importância da utilização do jogo / brincadeira, enquanto estra-
tégia de aproximação à criança internada e O jogo / brincadeira
enquanto estratégia de coping positivo para criança, ilustram e
reforçam os resultados dos valores médios totais descritos aci-
ma, na medida em que os enfermeiros descrevem a sua expe-
riência como positiva e reforçam que o jogo e brincadeira,
enquanto veículo de aproximação e comunicação, para estabe-
lecimento de uma relação de confiança, com o objectivo de
diminuir o impacte negativo do internamento. Assim, o jogo e
brincadeira resultam num mecanismo de coping positivo, dimi-
nuindo o medo da criança e promovendo o auto-controlo ao
mesmo tempo que distrai.
A aproximação à criança internada é importante para que se
estabeleça uma relação de confiança e comunicação eficaz, e
como tal Bowben, Dickey, Greenberg, (1998) afirmam, uma
exigência imposta ao enfermeiro, enquanto prestador de cuida-
dos em contexto de internamento pediátrico, é o desenvolvi-
mento de habilidades de comunicação com a criança, tendo em
atenção o seu estádio de desenvolvimento e grau de com-
preensão. A relação que se estabelece depende directamente
da qualidade da experiência e da criança ver no enfermeiro um
companheiro de brincadeiras, então consegue-se diminuir o
impacte negativo do internamento, porque o jogo e brincadeira,
são promotores do bem-estar da criança, em contexto de inter-
namento pediátrico. (Furtado e Lima, 1999; Bowmer, 2002;
Motta e Enumo, 2002; Oliveira, Dias, Roazzi, 2003)
A dimensão Jogo/brincadeira como estratégia de preparação
da criança para procedimentos dolorosos e de alívio da dor
apresentou valores médios, igualmente acima da posição
“concordo”, no entanto mais baixos do que os valores totais ou
de qualquer outra dimensão. Nesta dimensão foram identifica-
das três asserções com valores médios, abaixo de 2,50, respei-
tantes a atitudes e procedimentos de preparação da criança
para intervenções dolorosas, onde na opinião dos enfermeiros
o mais importante é a preparação prévia para o procedimento,
que a criança acalma sozinha e que o objectivo da preparação
estará centrada, na colaboração e sucesso da intervenção. Nas
afirmações dos enfermeiros inclusas na subcategoria, Utiliza-
ção do jogo / brincadeira enquanto estratégia de preparação
para procedimentos dolorosos e alívio da dor, os sujeitos dos
dois hospitais, centram as vantagens da preparação, na colabo-
ração da criança e optimização da intervenção, mais do que
nas vantagens para o objecto dos cuidados, em termos da
vivência da situação. Este facto vai de encontro aos valores
médios das asserções da escala, referidos acima, e fica ilustra-
do quando os sujeitos referem a importância de “obter a colabo-
ração para os procedimentos” e de “optimizar as intervenções
de enfermagem” o que “permite realizar técnicas/tratamentos
com menor resistência”.
Catorze das 25 unidades de enumeração estão centradas no
prestador de cuidados e no sucesso da intervenção, tal posição
por parte dos enfermeiros foi igualmente patente nos valores
médios de algumas asserções da escala. Onze das unidades
de enumeração remetem a atenção na perspectiva da criança,
tal como se pode encontrar nos autores citados, que defendem
que, o principal objectivo do recurso a este tipo de brincadeiras
é explicar à criança o que vai acontecer consigo, diminuindo
assim o desconhecimento e o medo associado a esse desco-
nhecimento, o que fará aumentar o nível de confiança e auto-
controlo. (Mott, James, Spehrac, 1990; Whaley, Wong, 1996;
Bowben, Dickey, Greenberg, 1998; Zahr, 1998; McGrath, Huff,
2001)
Verificou-se que não há diferenças significativas nos valores
médios totais e por dimensões, quando se consideram as duas
instituições hospitalares, as áreas de cuidados de enfermagem
pediátricos, e a área de cuidados em serviços de medicina nas
duas instituições. Este facto permite sublinhar que na amostra
deste estudo, a proveniência em termos de instituição e a área
de cuidados de enfermagem em serviços de medicina e cirur-
gia, não resulta em perspectivas diferentes por parte dos sujei-
tos.
Não se encontrou correlação positiva e significativa entre o
tempo de exercício na área de prestação de cuidados de enfer-
magem pediátricos e a perspectiva dos enfermeiros face ao
brincar em contexto de internamento hospitalar, quer na totali-
dade da amostra, quer quando se consideraram as duas insti-
tuições hospitalares em separado.
No que concerne à categoria de análise Constrangimentos à
utilização do Jogo e Brincadeira em Contexto Hospitalar,
os sujeitos enfatizam a ausência de constrangimentos. Dos
constrangimentos referidos realçam-se nos dois contextos insti-
tucionais estudados, os de índole funcional e estrutural, como a
falta de tempo e pessoal e a falta de recursos materiais, e rela-
cionados com especificidade do jogo e brincadeira, como a
motivação e habilidade.
CONCLUSÔES E IMPLICAÇÕES
Os resultados revelam sensibilidade e conhecimentos acerca
dos benefícios do recurso ao jogo e brincadeira em contexto
hospitalar, por parte dos participantes.
No entanto, o facto dos indivíduos demonstrarem a atenção
focalizada na técnica, quando se trata de recorrer ao jogo e
7 Brincar em Contexto de Internamento Pediátrico

brincadeira como estratégia de preparação da criança para
procedimentos invasivos e dolorosos, em detrimento da aten-
ção aos benefícios no alvo dos cuidados, indicia a necessidade
de reflexão por parte dos enfermeiros acerca desta prática.
O desenvolvimento de investigação com base na reflexão-
acção, sobre as práticas de enfermagem na preparação da
criança e família, para procedimentos dolorosos, poderá consti-
tuir uma importante base de estudo.
BIBLIOGRAFIA
Bowben, V., Dickey, S., Greenberg, C. (1998). Children and Their Families: The Continuum of Care, Philadelfhia: W. B. Saunders
Bowmer, N. (2002). Therapeutic play and the impact on anxiety in hospital-ized children. Ky Nurse, Jan-Mar, 50(1), 15
Cavender, K., Goff, M. D., Hollon, E. C., Guzzetta, C. E. (2004). Parents’ posicioning and distracting children during venipuncture: Effects on children’s pain, fear and distress. Journal of Holistic Nursing, March, 22(1), 32-54
Chambers, C. T., Reid, G. J., McGrath, P. J., Finley, G. A. (1996). Develop-ment and preliminary validation of a postoperative pain measure for parents. Pain, 68, 307-313
Cole, M., Cole, S. R. (2001). The Development of Children, (4th Ed.), New York: Worth Publishers
Furtado, M. C., Lima, R. A. (1999). Brincar no hospital: cuidado de enferma-gem. Revista da Escola de Enfermagem da USP, Dez, 33(4), 364-369
Gabbard, C. P. (1996). Lifelong Motor Development. (2nd Ed.). Madison: Brown e Benchmark Publishers
Haiat, H., Bar-Mor, G., Shochat, M. (2003). The world of the child: a world of play even in hospital. Journal of Pediatric Nursing, Jun, 18(3), 209-214
Johnson, J. E., Christie, J. F., Yawkey, T. D. (1999). Play and Early Childhood Development. (2nd Ed.), New York: Addison Wesley Longman, Inc
Jordan-Marsh, M., Hubbard, J., Watson, R., Deon, R., Miller, P., Mohan, O. (2004). The Social Ecology of Changing Pain Management: Do I Have to Cry? Journal of Pediatric Nursing, 19(3), 193-203
McArdle, P. (2001). Children’s play. Child: Care Health Development, 27(6), 509-514
McGrath, P., Huff, N. (2001). “What is it?”: findings on preschooler’s re-sponses to play whith medical equipment. Child: Care Health Development, 27(5), 451-462
Mott, S., James, S., Spehrac, A. (1990). Nursing Care of Children and Fami-lies, (2nd Ed.), New York: Addison-Wesley Nursing
Motta, A. B. e Enumo, S. R. (2002). Brincar no hospital: câncer infantil e avaliação do enfrentamento da hospitalização. Psicologia, Saúde e Doenças, 3(1), 23-41
Neto, C. A. F. (1997). O Jogo e o Desenvolvimento da Criança, Lisboa: Edi-ções FMH
Neto, C. A. F. (2001). Motricidade e Jogo na Infância (3ª Ed.), Rio de Janeiro: Editora Sprint Ltda.
Oliveira, S. S. G., Dias, M. G. B., Roazzi, A. (2003). O lúdico e suas implica-ções nas estratégias de regulação das emoções em crianças hospitalizadas. Psicologia: Reflexão e Crítica, 16(1), 1-13
Payne, V. G., e Isaacs, L. D. (1995). Human Motor Development: A Lifespan Approach. (3rd). California: Mayfield Publishing Company
Pestana,M. H., Gageiro, J. N. (2003). Análise de Dados para Ciências Sociais, (3ª Ed.). Lisboa: Edições Sílabo
Tanabe, P., Ferket, K., Thomas, R., Paice, J., Marcantonio, R. (2002). The effect of standard on pain relief and patient satisfaction in children with mus-culosketal trauma. Journal of Emergency Nursing, April, 28(2), 118-1
Whaley, L. F., Wong, D. L. (1996). Enfermagem Pediátrica: Elementos Es-senciais à Intervenção Efectiva. (5ª Ed.), Rio de Janeiro: Guanabara Koogan
Zahr, L. K. (1998). Therapeutic play for hospitalized preschoolers in Lebanon. Pediatric Nursing, Sep-Oct, 24(5), 449-454
8 Brincar em Contexto de Internamento Pediátrico
O CEIDE assume como princípios orientadores:
A Pessoa na sua unicidade e complexidade, fascínio e
mistério, deve constituir-se como núcleo das problemá-
ticas a investigar
As metodologias de investigação a desenvolver, têm
sempre, obrigatoriamente, que salvaguardar os direitos
fundamentais das Pessoas, enquanto sujeitos de inves-
tigação, no respeito total pelos princípios éticos
E, como objectivos prioritários:
Promover a reflexão, o estudo, a prática e o debate
sobre a investigação científica em enfermagem
Apoiar os professores e estudantes da Escola, no
desenvolvimento de projectos de investigação em
enfermagem
Facilitar os meios logísticos para a concretização de
estudos científicos em enfermagem
Proporcionar um espaço de informação, estudo e deba-
te científico

INTRODUÇÃO
Dor total é um conceito fulcral em cuidados paliativos. Desenvolve-
mos este estudo no sentido de explorar, identificar as dimensões
práticas deste conceito, na população de doentes oncológicos com
metástases ósseas. É um estudo descritivo, simples, quantitativo e
transversal, com uma amostra acidental com selecção racional,
constituída por 53 sujeitos acompanhados num serviço de oncolo-
gia, cujo objectivo é descrever a dor total nos doentes com metasti-
zação óssea, através da identificação da sua miríade de problemas.
Segundo a Associação Internacional para o estudo da dor, esta é
uma experiência individual, sensorial e emocional desagradável
associada a dano tecidual ou potencial, ou descrita em termos de
tal dano (1). Desta forma, poder-se-á dizer que é um acontecimento
ao nível somático e psíquico, influenciado pelo estado psicológico
do doente, sua postura moral e pelo significado com que essa dor é
por ele assumida (2,3). É afectada, positiva ou negativamente, por
inúmeros factores nas múltiplas dimensões humanas e afecta o
modo de vida, as relações familiares, a vida social, o sono, o apeti-
te, a espiritualidade, a capacidade de executar actividades físicas
essenciais para o seu auto-cuidado e prazer.
RESUMO
Dor total é um conceito fulcral em cuidados paliativos, que Cicely Saunders definiu como uma miríade de problemas físicos, sociais, psíquicos e espirituais,
a que se chamou de dor física, dor psíquica, dor social e dor espiritual, fortemente inter-relacionados e produtores de um considerável sofrimento global.
Finalidade: Contribuir para o reconhecimento da míriade de problemas interrelacionados que contribuem para o sofrimento global, nos doentes com
metastização óssea
Objectivos: descrever a dor total nos doentes com metastização óssea, através da identificação da sua miríade de problemas.
Desenho do estudo: estudo descritivo, simples, quantitativo e transversal
Contexto e participantes: amostra acidental com selecção racional, constituída por 53 sujeitos acompanhados num serviço de oncologia. Recolha de
dados com recurso a questionário de auto-preenchimento construído para o efeito, partindo de outros já existentes, e por consulta do processo clínico
Análise dos resultados: Estatística descritiva e verificação da consistência interna
Resultados: A dor óssea é uma dor somática com contornos de neuropática, descrita por enorme diversidade de constructos; mesmo com uma dor ligeira
a moderada, evidenciada pela maioria dos sujeitos, esta interfere significativamente no seu quotidiano, nomeadamente no sono, humor, relacionamento
com outras pessoas, trabalho, na mobilidade e locomoção, e no aproveitamento da vida; os sujeitos evidenciam significativas dificuldades físicas, com
repercussão em actos tão simples como subir escadas, efectuar passeios, curvar, ajoelhar, inclinar; a ansiedade e ou depressão estão presentes em
menos de 20% dos sujeitos, embora na generalidade, estejam mais irritáveis, com dificuldades de memória e pouco ou nada satisfeitos com a sua reacção
à doença, assim como se preocupam ou têm medo da morte; não se encontram sinais indiciadores de delirium; a generalidade dos sujeitos apresenta
sinais e factores indicadores e contributivos para significativo sofrimento social e espiritual; na realidade, a generalidade dos sujeitos, consoante o impacto
que cada um atribui às diversas questões na sua vida, apresenta sofrimento global/dor total em maior ou menor grau.
Implicações: a avaliação holística da pessoa doente, contribuirá para a identificação de factores geradores e resultantes de sofrimento, contribuindo assim
como a mola impulsionadora de um adequado controlo.
Esta influência negativa gera um sofrimento total e global a que
Cicely Saunders chamou de Dor Total, definindo-a como uma miría-
de de problemas físicos, sociais, psíquicos e espirituais, a que se
chamou de dor física, dor psíquica, dor social e dor espiritual, forte-
mente inter-relacionados e produtores de um considerável sofri-
mento global (4,5).
Neste contexto, para uma adequada intervenção, e como não é
possível controlar a dor física nem qualquer um dos sintomas sem
que se consiga controlar em simultâneo todos os outros factores
geradores de sofrimento, é fundamental que os avaliemos, identifi-
quemos de forma a dar resposta às necessidades e aos problemas
reais dos doentes.
Mais especificamente, a dor óssea originada por metástases
ósseas, é considerada como uma das causas mais comuns de dor
nas pessoas com doença oncológica avançada e de maior dificul-
dade de controlo, assim como das complicações ósseas geradas
pelo processo metastático (6,7).
Com este estudo pretendeu-se dar resposta à questão: “Quais as
manifestações da dor física, psíquica, social e espiritual nos doen-
tes com metastização óssea?” tendo como objectivo “descrever a
dor total nos doentes com metastização óssea”.
9
Dor Total nos Doentes com Metastização Óssea1
Manuel Luís Vila Capelas2
1Dissertação elaborada e defendida (2006) no âmbito do Mestrado em Cuidados Paliativos, Faculdade de Medicina de Lisboa - Universidade de Lisboa
2Professor Adjunto da Escola Superior de Enfermagem S. Francisco das Misericórdias

nas actividades ou por elas precipitadas (20,21,24,19).
A variedade de constructos que cada sujeito, individualmente, apre-
senta para descrever a sua dor, vem confirmar em absoluto a dor
como uma experiência individual e subjectiva com multi-influências
e gerando muitas interferências (1,2,3).
Ao nível da componente psicológica da dor total, como demonstra-
do, não se detectou nenhum caso de delirium, embora a prevalên-
cia desta entidade ocorra entre 25-40% dos doentes oncológicos
(22) e em 32% dos com dor óssea (40), o que poderá ser explicado
pelo controlo de alguns factores etiológicos importantes, como a
hipercalcémia (controlo da metastização com bifosfonatos) e outros
factores metabólicos ou farmacológicos, e simultaneamente ausên-
cia de factores inerentes ao internamento e permanência no leito
(2,23,22) pois estes doentes são observados no serviço em ambu-
latório.
Por outro lado, a presença de ansiedade e ou depressão está den-
tro das prevalências apresentadas por diversos estudos
(23,24,25,26,27). Apesar de não serem dados fora do normal, esta
prevalência vai interferir como o controlo da dor, pois tanto a ansie-
dade como a depressão estão com ela intimamente relacionadas
de forma biunívoca, sendo que a dor agrava estas duas entidades e
por sua vez o controlo destas contribui só por si para um melhor
controlo da dor (24). A presença de ansiedade e depressão poderá
também justificar algumas dificuldades físicas, pois tanto uma como
a outra também incluem no seu quadro clínico, manifestações
somáticas (23,22). Por outro lado, também a presença de dor irrup-
tiva, como os dados sugerem e outros factores terapêuticos destes
doentes, parecem propiciar o aparecimento destas entidades,
assim como se poderão considerar como respostas naturais às
perdas com que estes doentes se vão deparando (2), visto 60%
apresentarem uma progressão da sua doença óssea, o que conse-
quentemente aumenta o sinal/sentimento de incurabilidade (20)
originando nestes uma maior irritabilidade, medo ou preocupação
com a morte, desânimo e até alguma insatisfação como estão a
reagir à sua doença.
Socialmente, os problemas encontrados, referidos por estes doen-
tes, com a classificação de “intensos” surgindo em mais de 1/3 dos
sujeitos, centram-se ao nível do relacionamento, conjugal
(insatisfação com o corpo e com a vida sexual), das relações inter-
pessoais (realização de menos tarefas que o desejado), a nível
económico-financeiro, com sentimento de incapacidade para o
trabalho assim como incapacidade para o desempenho total das
suas funções laborais. Por outro lado surgem limitações na ocupa-
ção dos tempos livres e de lazer, no desenvolvimento das AVD’s e
insatisfação com a sua qualidade de vida, entre ouras várias e
ramificadas situações de menor prevalência.
Todos estes problemas na dimensão social da dor poderão estar ou
não relacionados com a dor física, enquanto entidade fisiopatológi-
ca, só por si, (resposta para a qual este estudo não foi dirigido) mas
estarão’ com fortes probabilidades, relacionados com todo o impac-
METODOLOGIA
Estudo descritivo, transversal e observacional, cujo fenómeno a
estudar é a Dor Total, e cujas variáveis descritivas são a dor física,
dor psíquica, dor social e dor espiritual, em que a população alvo
foram os doentes, maiores de 18 anos, com metastização óssea
acompanhados num serviço de oncologia de um hospital central,
em que a sintomatologia fosse predominantemente devida à metas-
tização óssea. O processo de amostragem foi um misto de aciden-
tal com selecção racional, num total de 53 doentes, que se desloca-
ram ao serviço num período de tempo de 2 meses.
O instrumento foi construído com base em diversos outros instru-
mentos de avaliação, usados parcial ou totalmente e dividido em 6
grupos. O 1º visava caracterizar a população amostral, o 2º e o 4º
procuravam avaliar a dimensão psicológica em que no 2º se utilizou
o “Mini-Mental State Examination” (8) e algumas questões do
“Delirium Rating Scale” (9). O grupo 4 consistiu numa adaptação
para o português do “Hospital Anxiety and Depression” (10). Os 3º,
5º e 6º grupos foram construídos com base no “Brief Pain Inven-
tory” (11), “McGill Pain Questionnaire” (12), “Clinical Pain Assess-
ment” (13), “EORTC-QLQ-C30” (incluindo módulos) (14,15),
“Medical Outcomes Study 36 item short form (SF-36)” (14),
“Functional Assessment of Chronic Illness Therapy-Sp-Ex” (14,16),
“Functional Assessment of Cancer Therapy” (geral e módulos) (14)
e o “Stockholm Marital Stress Scale” (17).
A componente maioritária do instrumento foi sob a forma de uma
escala de Likert (não, um pouco, bastante, muito), onde a consis-
tência interna obtida pelo “alfa de Crohbach” foi em todas > 0,9.
DISCUSSÃO
Os resultados obtidos na descrição da dor física revelam-nos que a
componente física da dor total é mais que a entidade fisiopatológica
“dor” só por si, pois denota-se um adequado controlo terapêutico
desta entidade, com valores médios máximos de 3,3±3,2/10 e uma
manutenção ou mesmo diminuição do consumo de analgésicos,
assim como um alívio médio desta da ordem dos 77,5±27% e
mediana de 80%, enquanto observadas as interferências da dor na
vida das pessoas, se denota um aumento considerável do valor
médio para índices superiores a 5±3/10 (à excepção das relações
interpessoais) o que poderá ser justificado pela forte probabilidade
de presença de dor irruptiva nesta tipologia de doentes (8,24,19),
confirmando que a dor, em si, afecta negativamente várias outras
dimensões físicas e não físicas do individuo (2,3).
A descrição da dor, leva à sua caracterização como um misto de
dor somática (essencialmente) e de dor neuropática (24), até por-
que um dos locais de maior afinidade para a metastização são os
corpos vertebrais e aí a forma de apresentação é essencialmente
neuropática. Da mesma forma parece existir nestes doentes, cerca
de 1/3 que apresentam características de dor incidental, ao consi-
derarem-na brusca, momentânea, o que aponta para nesses
momentos, uma elevada intensidade da dor e forte interferência
10 Dor Total nos Doentes com Metastização Óssea

to que a doença oncológica tem sobre as diversas esferas da vida
dos doentes (28,24). De uma forma geral temos diversas esferas
com necessidades sociais não adequadamente satisfeitas que vão
sem dúvida constituem-se parte integrante e influenciador do sofri-
mento global, ou seja da dor total (2,28,29,30,31,32).
Por último, na dimensão espiritual, apesar de nenhuma componen-
te ser referida como afectada intensamente, por mais de 30% dos
sujeitos, surgem algumas ao nível da afectação geral, que pelo seu
peso, considerando que a espiritualidade envolve as relações con-
sigo próprio, com os outros e com algo acima de si e com a nature-
za (33,34), tais como a não-aceitação da sua doença, a não sereni-
dade, incapacidade de alcançar um estado de auto-conforto, não
sentir paz de espírito nem estar em harmonia consigo próprio, sen-
tir que a sua vida de nada valeu, assim como nesta fase não enten-
der qual o sentido da sua vida, nem por sua vez as suas crenças e
fé não constituem fonte de conforto ou forças reparadoras como
seria desejado e mesmo alguns dizem que começam a não existir
razões para viver e até de a sua vida não ter dignidade, apontam
para um sofrimento espiritual, que mais uma vez não se pode con-
cluir como resposta à dor (como entidade) mas, provavelmente, a
toda a inter-relação entre os diversos factores que constituem o
impacto da doença sobre todas as componentes da vida destes
doentes. Numa oura perspectiva poderemos ver estes dados como
não indiciadores de intenso sofrimento espiritual mas tendo bem
presente, e como tal esclarecer bem se não serão o reflexo de uma
demonstração de estoicidade e de se revelarem perante os outros
como estando bem, pois nestes casos, poder-se-á estar perante
doentes com intenso sofrimento e angústia (2,34).
CONCLUSÃO
O controlo da dor no doente com cancro em fase avançada, como
acontece na metastização óssea, é um objectivo fundamental no
cuidar destes doentes, pois com índices de dor ligeira a moderada
esta interfere significativamente no quotidiano destes doentes.
No entanto, o cuidar estes doentes, deverá ser mais abrangente, ou
seja, deve cuidar-se de outras componentes físicas, da psicológica,
social e espiritual, porque, embora devido à tipologia deste estudo
não se determine uma relação directa da dor com os restantes
problemas evidenciados, estes doentes revelaram significativas
dificuldades físicas em actos tão simples como subir escadas, pas-
sear, ajoelhar ou inclinar. A ansiedade e ou depressão estão pre-
sentes em menos de 20% dos doentes, embora globalmente este-
jam mais irritáveis, pouco ou nada satisfeitos com a forma como
estão a reagir à sua doença e preocupados com a morte. A nível
social existem sinais de sofrimento ao nível da esfera familiar, dos
amigos mas menos, do relacionamento interpessoal, financeiro,
papéis e qualidade de vida, assim como a nível espiritual, também
esse sofrimento se manifesta, nomeadamente através da ausência
de serenidade, de harmonia consigo próprio, da não-aceitação, da
ausência de paz de espírito e do próprio sentido da vida. Este sofri-
mento espiritual parece ser menos intenso que o social.
Todos estes factos encontrados e revelados neste estudo, inter-
relacionado-se uns com os outros irão contribuir para a presença
do sofrimento global, a que Cicely Saunders apelidou de dor total,
pois na realidade, a generalidade dos sujeitos, consoante o impacto
que cada um atribui às diversas questões na sua vida, apresenta
esse sofrimento global/dor total em maior ou menor grau.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. International Association for the Study of Pain.Task Force on Taxonomy (1994) , Classification of chronic pain. 2nd ed. Seattle, IASP Press
2. Twycross R. Cuidados Paliativos. 2nd ed. Lisboa: Climepsi Editores; 2003. p. 47-53, 56-9, 83-121
3. Twycross R, Wilcock A. Symptom management in advanced cancer. 3ª edição. Oxon (UK):Radcliffe Medical Press; 2001. p. 17-67, 192-8
4. Storey P. The vision of hospice and total pain relief. Am J Hosp Palliat Care 1996 Jan-Feb; 13(1): 40-9
5. Michaud M. Total Pain. AARN 1989 May; 45(5):18
6. Payne R, Gonzales GR.Pathophysiology of pain in cancer and other termi-nal diseases. In Doyle D, Geoffrey H, Nathan C, Kenneth C, editors. Oxford textbook of palliative medicine. 3ed. New York: Oxford University Press; 2004. p. 288-298
7. Philips LL. Managing the pain of bone metastases in the home environ-ment . Am J Hosp Palliat Care, Jan-Feb, 1998; 15(1): 32-42
8. Folstein MF, Folstein SE, Mchugh PR. Mini mental state: a practical method for grading the cognitive state of the patients for the clinician. J Psy-chiatric Res 1975 Nov; 12(3): 189
9. Trzepacz PT, Baker RW, Greenhouse J. Symptom rating scale for delirium. Psychiatrc Res 1988 Jan; 23 (1): 89
10. Zigmond AS, Snaith RP. The hospital anxiety and depression scale. Acta Psychiatric Scand 1983 Jun; 67(6): 361
11. Cleeland CS, Ryan K M. Pain assessment: global use of the brief pain inventory. Ann Acad Med Singapore 1994 Mar; 23(2):129-38
12. Melzack R. The MacGill pain questionnaire: major properties and scoring methods. Pain 1975 Sep; 1(3): 277-99
13. Sugarbaker PH, Barofsky I, Rosenberg SA, Gianola FJl. Quality of life assessment of patients in extremity sarcoma clinical trials. Surgery 1982 Jan; 91(1): 17-23
14. Pimentel FL. Qualidade de vida em oncologia. Lisboa: Permanyer Portu-gal; 2004. p. 13-20, 47-60
15. Aaronson NK, Ahmedzai S, Bergman B, Bullinger M, Cull A, Duez NJ et al. The European Organisation for Research and Treatment of Cancer QLQ-C30: A quality-of-life instrument for use in international clinical trials in oncol-ogy. J Natl Cancer Inst 1993 Mar; 85(5): 365-376
16. Functional Assessment of Chronic Illness Therapeutics – in www.facit.org (http://www.facit.org/qview/qlist.aspx ) acedido em 12 de Dezembro de 2005
17. Orth-Gomer K, Wamala SP, Horsten M, Schenck-Gustafsson K, Schnei-derman N, Mittleman MA. Marital stress worsens prognosis in women with coronary heart disease: the Stockholm female coronary risk study. JAMA 2000 Dec 20; 284(23): 3008-14
18. Ripamonti C, Fulfaro F. Malignant bone pain: pathophysiology and treat-ments. Curr Rev Pain 2000; 4(3): 187-96
19. Ripamonti C, Fulfaro F. Pathogenesis and pharmacological treatment of bone pain in skeletal metastases. Q J Nucl Med 2001 Mar; 45(1): 65-77
20. Pereira J. Management of bone pain. In Portenoy PK, Bruera E, editors. Topics in palliative care. New York: Oxford University Press; 1998. p.79-116
21. Twycross RG. Management of pain in skeletal metastases. Clin Orthop Relat Res 1995 Mar; (312): 187-96
11 Dor Total nos Doentes com Metastização Óssea

INVESTIGAÇÃO BIOLÓGICA EM ENFERMAGEM
Fernanda Serrano
Assistente Escola Superior de Enfermagem S. Francisco das Misericórdias
Mestranda Cuidados Paliativos - Faculdade de Medicina de Lisboa - Uni-
versidade de Lisboa
Na sequência da 1ª edição deste boletim, em que foi realçada a impor-
tância da investigação em ciências de enfermagem como contributo
fundamental para a construção de uma prática baseada na evidência,
surge a necessidade de procurar, aprofundar e promover a reflexão
sobre as diversas formas, ao nosso alcance, de realizar investigação.
Neste sentido, surgiu a oportunidade de assistir a uma conferência
proferida pela Professora de Enfermagem Nancy Stotts, da Universida-
de da Califórnia, que nos deixou alguns conhecimentos e lançou curiosi-
dade sobre uma vertente da Investigação em Enfermagem pouco abor-
dada entre nós – Investigação Biológica em Enfermagem.
Com este artigo, pretende-se compreender melhor as características
deste tipo de investigação e sobretudo qual o seu contributo para a
construção da ciência de Enfermagem.
Investigação Biológica e Enfermagem
A Enfermagem enquanto ciência, reconhece a influência da dimen-
são física na saúde e nos comportamentos de saúde, numa lógica
de visão e cuidado multidimensional de cada pessoa sendo que,
muitas das questões resultantes da prática de Enfermagem, são
fundadas na biologia básica. As áreas possíveis de investigar são
várias e muito abrangentes, podendo ser dirigida à biologia molecu-
lar e celular, até à prestação de cuidados de saúde.1
Obter e integrar resultados biológicos na investigação em enferma-
gem, como contributo para a construção do conhecimento em
Enfermagem, é o principal objectivo a que este tipo de investigação
se propõe.
Um aspecto importante e que deve ser realçado, prende-se com o
facto de os resultados obtidos através da investigação biológica em
Enfermagem, contribuírem não só para aumentar o corpo de
conhecimentos da profissão, mas também por serem utilizados por
outras áreas de conhecimento, exteriores à Enfermagem, permitin-
do a partilha de um conhecimento e investigação de qualidade,2
contribuindo para a visibilidade da profissão.
Vários estudos realizados com
recurso a resultados biológicas, são
publicados numa revista específica –
Biological Research for Nursing – e
podem ser consultados através do
sítio: www.brn.sagepub.com
22. Sivesind D, Baile WF.The psychologic distress in patients with cancer. Nurs Clin North Am 2001 Dec; 36(4): 809-25
23. Massie MJ, Holland JC. The cancer patient with pain: psychiatric compli-cations and their management. Med Clin North Am 1987 Mar; 71(2): 243-58
24. Breitbart W. Psychiatric management of cancer pain. Cancer 1989 Jun; 63 (suppl):2336-42
25. Thielking PD. Cancer pain and anxiety. Curr Pain and Headache Rep 2003 Aug; 7(4): 249-61
26. Schwenk TL. Cancer and depression. Prim Care 1998 Jun; 25(2): 505-13
27. Vachon MLS. The emotional problems of the patient in palliative medicine. In Doyle D, Geoffrey H, Nathan C, Kenneth C, editors. Oxford textbook of palliative medicine, 3rd ed. New York: Oxford University Press; 2004. p.961-84
28. Kuuppelomäki M, Lauri S. Cancer patients’reportes experiences of suffer-ing. Cancer Nurs 1998 Oct; 25(5): 364-9
29. Greenstreet W. The concept of total pain: a focused patient care study. Br J Nurs 2001 Oct 25-Nov; 10(19): 1248-55
30. Lamb MA.Sexuality. In Ferrel BR, Coyle N editors. Textbook of Palliative Nursing. 1st ed. New York: Oxford University Press; 2001. p:309-15
31. Cano A, Gillis M, Heinz W, Geisser M, Foran H. Marital functioning, chronic pain, and psychological distress. Pain 2004 Jan; 107(1-2): 99-106
32. Cohen SR, Mount BM. Living with cancer: “Good” days and “Bad” days-what produces them?. Cancer 2000 Oct; 89(8): 1854-65
33. Cassidy JP, Davies DJ. Cultural and spiritual aspects of palliative medi-cine. In Doyle D, Geoffrey H, Nathan C, Kenneth C, editors. Oxford textbook of palliative medicine, 3rd. New York: Oxford University Press; 2004. p. 951-7
34. Murata H. Spiritual pain and its care in patients with terminal cancer: construction of a conceptual framework by philosophical approach. Palliat Support Care 2003 Mar; 1(1): 15-21
12
Campus de Sintra da Universidade Católica Portuguesa Estrada Octávio Pato 2635—631 Rio de Mouro
www.esesfm.pt
Escola Superior de Enfermagem S. Francisco das Misericórdias
Telefone: 217 120 913 Fax: 217 161 076 [email protected]

Instrumentos de Medida
Quando falamos em medidas biológicas, devem estar claras as
definições adjacentes; por biológico, entende-se tudo o que está
relacionado com organismos vivos ou com as respostas desses
organismos; medir, é uma forma de avaliar algo; um padrão a partir
do qual algo pode ser comparado.
A escolha sobre a forma como se vai obter a medida biológica, vai
depender essencialmente da questão de investigação, que pode
estar relacionada por exemplo com a dor, balanço hídrico ou hiper-
tensão. Esta questão vai dar origem a variáveis e métodos, que vão
então conduzir à escolha da forma de colheita de dados para
obtenção de resultados
Alguns aspectos devem ser tidos em consideração quando se faz
investigação biológica e se selecciona a medida biológica a obter.
Esses aspectos passam pela competência do investigador na exe-
cução técnica de obtenção das medidas, pelo grau de agressão
(métodos invasivos) que a obtenção de valores pode representar
para os sujeitos incluídos na investigação, e pela necessidade de
obtenção de consentimento informado dos mesmos sujeitos, que
pode ser um factor de dificuldade, sobretudo se a investigação
métodos invasivos com já referido.
Características dos instrumentos de Medida
Tal como em investigações direccionadas para áreas psicossociais,
os instrumentos utilizados na Investigação biológica, devem apre-
sentar como características, Fiabilidade (Reliability) e Validade
(Accuracy).
Desta forma podemos garantir a qualidade dos dados obtidos,
assegurando a consistência da medição e a capacidade do instru-
mento em medir o que deve ser medido, apresentando o verdadeiro
valor.
Em muitos instrumentos utilizados neste tipo de investigação, como
por exemplo nos termómetros ou sensores de oxigénio, surge a
necessidade de calibração, como forma de garantir a exactidão do
valor obtidos.
Obtenção de medidas biológicas
Para obtenção de medidas biológicas, os enfermeiros investigado-
res utilizam diversos métodos, que podem ser não invasivos, como
por exemplo, a obtenção de sinais vitais, do índice da massa corpo-
ral, medidas antropometricas, análises de urina3, de substâncias
presentes na saliva4 ou em pedaços de cabelo5.
Neste tipo de investigação, é necessário recorrer frequentemente a
métodos mais invasivos que possibilitem dar resposta às questões
levantadas. Como exemplo, podemos referir as colheitas de sangue
que permitem adquirir vários parâmetros como os imunológicos6, ou
a introdução de implantes de silastic subcutâneos para avaliação
da oxigenação tecidular7.
Nota final
Na prestação de cuidados de qualidade, os enfermeiros devem
utilizar práticas baseadas na evidência, resultantes do conhecimen-
to obtido através da investigação.
Podemos assim considerar que, investigar em Enfermagem torna-
se o caminho certo a percorrer, quando se pretende avançar na
construção de uma ciência ainda com muito por descobrir, esclare-
cer e confirmar.
Aproveitar todas as oportunidades para investigar, seja a nível psi-
cológico, social ou biológico, exige que se consiga utilizar as dife-
rentes metodologias que estão ao nosso alcance, seleccionando a
que melhor se adapta ao tipo de investigação que permite dar res-
postas às perguntas de investigação que nos inquietou e impulsio-
nou para o estudo.
Estudar a dimensão biológica, contribui para ilustrar a perspectiva
holística da Enfermagem perante a Pessoa e a sua saúde. A utiliza-
ção de medidas biológicas na investigação em Enfermagem está
ao nosso alcance e deve ser sempre ponderada enquanto forma
mais adequada de conhecer a realidade que se pretende no
momento.
Bibliografia
1. RUDY E.; Grady P. - Biological Researchers: Building nursing sci-ence.;Nursing Outlook 2005; 53; Nº 2, 88-94
2. BURNS S. D. et al – The Impact (factor) of Biological Research for Nursing. 2004; Biological Research Nursing 5; Nº 3, 157-158
3. MENTES J. et al - Use of a Urine Color Chart to Monitor Hydration Status in Nursing Home Residents - 2006; Biological Research Nursing 7; Nº 3, 197-203
4. WOODS D.; DIMOND M. - The Effect of Therapeutic Touch on Agitated Behavior and Cortisol in Persons with Alzheimer’s Disease - 2002; Biological Research Nursing 4; Nº 2, 104-114
5. OKOLI C. T. et al - Measuring Tobacco Smoke Exposure Among Smoking and Nonsmoking Bar and Restaurant Workers. 2007; Biological Research Nursing 9; Nº 1, 81-89
6. LENGACHER C. et al - Immune Responses to Guided Imagery During Breast Cancer Treatment. 2008; Biological Research Nursing 9; Nº 3, 205-214
7. WHITNEY J. et al - Tissue and Wound Healing Effects of Short Duration Postoperative Oxygen Therapy- 2001; Biological Research Nursing 2; Nº 3, 206-215
13 Investigação Biológica em Enfermagem

14
Internacional Council of Nurses (ICN - Poster)