ciência, tecnologia e sociedade. e o contexto da educação tecnológica

Upload: guilherme-aguiar

Post on 13-Oct-2015

41 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

  • 22/1/2014 Cincia, Tecnologia e Sociedade. E o contexto da educao tecnolgica. Sala de lectura CTS+I

    http://www.oei.es/salactsi/bazzo03.htm 1/32

    Esten:OEIProgramacinCTS+ISaladelectura

    Cincia,TecnologiaeSociedadeEocontextodaeducaotecnolgica

    WalterAntonioBazzo

    CAPTULO3

    CINCIA,TECNOLOGIAESOCIEDADEESUASIMPLICAES

    Neste captulo, uma srie de assuntos relacionados com as implicaes da cincia e datecnologia junto sociedade contempornea ajuda a reforar o contexto do trabalho. Nestesentido,buscaseencaminharalgumasdiscussesparaenfatizaraimportnciaquetaistemasdevemassumirnasescolasdeengenharia.Ocompromissodeproporcionaranlisesreflexivassobre a relao que compromete o ensino desenvolvido e a atuao consciente do futuroengenheiro na sua profisso um dos meus objetivos centrais. Discutindo entre nsprofessoresa importnciadeumaslida formaonestareadeconhecimento,pretendeseatingiroestudante,incutindonelearesponsabilidadederefletiredetrabalharasrepercussesdesuas aes junto sociedade.Paralelamente, atravs da colocao de algumas noesconceituaisbsicassobreasaplicaeseasrepercussesdacinciaedatecnologiaaolongoda histria, objetivase demonstrar que a posse de assuntos desta natureza deve servir deagentemotivadorparaapermannciadosestudantesnosbancosescolares.

    3.1AIMPORTNCIADOTEMA

    Asociedadevive,maisdoquenunca,sobosauspciosedomniosdacinciaedatecnologia,eissoocorredemodo to intensoemarcanteque comummuitos confiarem nelas como seconfia numa divindade. Este comportamento ficou de tal forma arraigado na vidacontemporneaque fomos levadosapensardestamaneiradurante todanossapermanncianosbancosescolares.A lgicaprimordial docomportamentohumanoa lgicadaeficciatecnolgica suas razes so as razes da cincia. As notcias do diaadia exacerbam asvirtudesdacinciaedatecnologiaosprodutossovendidoscalcadosnassuasqualidadesembasadasemdepoimentos'cientficos'.umarelaotoprofundaaqueseestabeleceentrea sociedade e asmquinas que se traduz em incoerncia e grave omisso as escolas deengenharianoprocuraremterumaatuaomaispresentenasanlisesdeseusresultados.

    As avaliaes da cincia e da tecnologia e de suas repercusses na sociedade precisamseguramente tomar rumosmais claros e intensos nas atividades didticas. Estes debates ediscusses tm se tornado permanentes na grande maioria das instituies de ensino nomundo todo, realando a sua pertinncia e reforando a necessidade de seguir o mesmocaminhonasescolasquetrabalhamacinciaeatecnologianoBrasil.Enosetratadeavaliarapenasospossveisimpactosquefatalmenteacinciaeatecnologiacausamecausaronavida de todos ns, mas sim, e principalmente, descobrir o irreversvel a que tais usos nosconduziro.

    Um dos motivos destes debates e discusses , em parte, 'desmascarar' a cincia e atecnologia.Pareceque,emfunodotipodecomportamentoqueesteassuntoassumeentreoscidados,urgentediscutilo,paraqueapartirdetaisanlisespossamosretiraracinciaea

  • 22/1/2014 Cincia, Tecnologia e Sociedade. E o contexto da educao tecnolgica. Sala de lectura CTS+I

    http://www.oei.es/salactsi/bazzo03.htm 2/32

    tecnologiadeseuspedestais inabalveisda investigaodesinteressadadaverdadeedosresultadosgenerososparaoprogressohumano.Estasanlisesdevemserprocessadasparaexpor todososseuscompromissosedependnciasem relaosdiferentes foras sociais,inclusive as menos favorecidas, que operam em nossa civilizao. Dentro desta tica, noentanto, devemos ter cuidado para no produzir o que poderamos chamar de vulgarizaocientfica,oque,longedereduziraalienaodohomemcomrelaocinciaetecnologia,contribuiria,narealidade,paraaumentla,fornecendoailuso,perigosa,detercompreendidooprincpiosementrarnaessnciadaatividadedacinciacontempornea:suacomplexidade,suacoernciaeseuesforo(Moles,1995).

    Na continuidade destas constataes, uma citao de Moles importante porque procuramostrarque,independentedoconhecimentodasimplicaesdacinciaedatecnologianasuavida cotidiana, o homem cultiva uma relao de dependncia na tentativa de se manteratualizadocomosproblemascontemporneos:

    Querelepenetreounodentrodossegredosdopensamentocientfico,estepequenohomemprefere para o seu conforto intelectual adorar as vacas sagradas da nova religiocontempornea.Hmuitasdelas,humamisturadarelatividade,Einstein,Oppenheimer,comMonodeo inventor donilon, os laboratrios longnquosonde sedestila amagiaetc., emtornodeseres,delugaresedecoisasincompreensveis.Elecolocaaseualcanceaomesmotempo respeito e hostilidade. Certamente, ele tem maior respeito pela lista vertiginosa dosmiligramasdectioncomnomegregosobreaetiquetadeguamineralqueeleconsomeemsuamesacomoindicaesdodoutoremmedicina:eleconfundealegrementeacinciadoprofessorqueassinouaetiquetacomasadefsicaqueeleretirardeseuconsumotcnicabiolgica.,demaneiramuitoexata,oquesepodechamardekitsch:osaspectosdecorativosdovocabulrioqumicolatinotomandoolugardefunesqueelenocompreendeenoseesperamesmoquecompreendaessekitschquesemanifestanojalecobrancoounodiplomadedoutor,quesvezespodeatserperigoso.Nonecessrioinsistiraquisobreopotencialfenomenaldacaixaderessonnciatelevisivaedetodasasmdiasconjugadasparasustentarumavisocientficoprticadavirtudecvicafaamtalcoisa...quesereduzdentro davidacotidianaaumacoleoderespeitosaproibiesacarnegrelhadadcncer...,deimposiescoloquemoscintosdesegurana,deadmiraesbeatasFreud,Einstein,Marxem todosospontos comparveis s religies das quais o homem tinha acreditadolibertarsesubstituindoaspeladeusaRazo(Moles,1995,p.358).

    Apropagandaque se fazda cincia eda tecnologia, provavelmente com vistas amelhoresresultadosdasquestesdeordemeconmica,tointensaqueumaparcelasignificativadaspessoasacreditaqueelas,emquaisquercircunstncias,podemsempresertidascomoamigasleais,quearrastamconsigoapenasbenessesparaasociedade.Postmancoloca,emrelaotecnologia,duasrazesparaessejulgamento:

    Primeiro,atecnologiaumaamiga.Tornaavidamais fcil,mais limpaemais longa.Podealgumpedirmaisdeumamigo?Segundo,porcausadeseurelacionamentolongo,ntimoeinevitvel com a cultura, a tecnologia no convida a um exame rigoroso de suas prpriasconseqncias.otipodeamigoquepedeconfianaeobedincia,queamaioriadaspessoasest inclinadaadarporquesuasddivassoverdadeiramentegenerosas.Masclaro,holado nebuloso desse amigo. Suas ddivas tm um pesado custo. Exposto nos termosmaisdramticos, podese fazer a acusao de que o crescimento descontrolado da tecnologiadestri as fontes vitais de nossa humanidade.Cria uma cultura sem uma basemoral.Minacertosprocessosmentaiserelaessociaisquetornamavidahumanadignadeservivida.Emsuma,atecnologiatantoamigacomoinimiga[...](Postman,1994,p.12).

    Essas colocaes, aliadas a muitas outras que por questes bvias no podem ser todasexpressasaqui,jsomotivosuficienteparapensarmosestasimplicaessoboutrosngulosnas questes educacionais. Sem nos deixarmos levar pelo passionalismo das anlisesdirecionadaspor interesses individuais, sentimoscomo inadivel semelhante tarefa, sempreprocurando deixar claro que no se pode, contudo, colocar a tecnologia como uma armaperigosa,quemsabecomoummssil,apontadaparaaculturaouparaasociedadecomoseelas fossem um alvo ambulante frgil e desamparado. Estas ponderaes precisam serconstantementetrazidasbailaparanosecairnaingenuidadedeacharqueastcnicasvm

  • 22/1/2014 Cincia, Tecnologia e Sociedade. E o contexto da educao tecnolgica. Sala de lectura CTS+I

    http://www.oei.es/salactsi/bazzo03.htm 3/32

    deoutromundo,domundodasmquinas,frio,sememoo,estranhoatodosignificadoevalorhumanos,comotendeapregar,emdeterminadassituaes,umacertatradiointelectual.Seestequestionamentoativoacontecerestaremosobjetivandoumestudomaduronestadireo,afirmandoquenosastcnicassoimaginadas,fabricadasereinterpretadasparausodoshomens,masqueaprpriautilizaointensivadasferramentasqueconstituiahumanidade.

    um comportamento habitual entre parcela da sociedade agravado principalmente pelobombardeamentodeinformaesdiriasaconsideraodacinciaedatecnologiacomolibertadoras1 em si mesmas. Somada a isso, existe a viso linear de progresso cientficotecnolgico no s como um avano do conhecimento, mas sim como uma melhoria real,inexorveleefetivaemtodososaspectosdavidahumana.Destaforma,acinciaeosavanostecnolgicosfariamfelizesoshomens,independentementedascondiesdesuasaplicaes.

    Estaviso,quenotrianoentendimentodosensocomum,felizmentetemsealteradoparaumnmero cada vez mais expressivo de pessoas que vem nela um mito que precisa sertrabalhadoparaasuaerradicao.Essaspessoascomeamaterclaraaconscinciadequeacincia e a tecnologia tm feito o homem mais feliz, mas que, junto com isto, possuem acapacidadede tambmdestrulo. Inmeras obras escritas com tais abordagens nas ltimasquatro dcadas, entre as quais podese citar Um mundo feliz, de Aldous Huxley, sotestemunhas desta posio mais reflexiva de 'progresso' que se concede cincia, nosomente como libertadora, mas sim, em determinadas situaes, como desumanizadora eescravizadoradavidahumana.

    Mesmo assumindo que no incio, quando semelhantes discusses surgiram, tenhase dadolugar,namaioriadasvezes,aseverascrticas,inclusivemuitasvezesinfundadas,emrelaocinciaetecnologia,hojetemseapossibilidadeearazosuficienteparacompreenderassuas riquezas e complexidades, as oportunidades que oferecem e, sem dvida, tambm osperigos que possuem. No entanto, apesar desta razo que surge, ainda existe uma certaletargiaporparceladosseususuriosquepensamqueelasstmdadospositivosaoferecereque as suas conseqncias so fatos cujo uso deve ser aceito como inevitvel. Isto temcontribudoparaquesepercaumaricaoportunidadeparamelhorarasuacompreenso.

    No se pode crer, no entanto, que apenas uma maior vontade de educar em cincia etecnologiasejasuficientepara resolveros inmerosproblemasqueestasquestesarrastamconsigo.Principalmentequando,sequeistoefetivamenteocorre,estavontadeseapresentadaformacomotemseconfiguradonoscurrculosdoscursosdeengenharia,perpetuandoseointernalismotecnicista2. Igualmenteseestariadandoumarespostavazia fracassariapornolevar em conta a estrutura inerente de valores ideolgicos que a cincia e a tecnologiacarregamdocontextosocial.

    Oquesepretende,narealidade,alcanarumacompreensocadavezmaissofisticadadosmecanismos internoseexternosda cincia eda tecnologiae, por extenso, daengenharia,situando tal compreensonocontextodeuma interpretaodeambas, cinciae tecnologia,comoprocessossociais.Istoprecisaserfeitoverificandose,emalgumassituaes,ocarterambiental3 e socialmente destrutivo de muitas das atividades inerentes a estes processos.Nesteobjetivoprecisoreconhecer,comoessencialparaaprpriasobrevivnciadacinciaeda tecnologia, os danos4causados pela sua utilizao, e no apenas minivalorizlos comoefeitossecundriosouconseqnciasnoprevistas.

    Somentequandoa 'alfabetizaoemcinciae tecnologia' forentendidanestecontextomaisamplopoderhaverumaesperanarealdequeaconfiguraodonossomundo futurosertraadaporumeficientecontrolepblico,demodoqueosprocessoscientficosetecnolgicosbeneficiemverdadeiramenteahumanidade.Porm,dentrodesta tentativadeseproporcionaruma alfabetizao em cincia e tecnologia, necessrio antes procurar decifrar o que seentendeporanalfabetismocientficotecnolgico.aestaperguntaqueJavierGmezFerrieJuanF. IlerbaigAdell procuram responderatravsdoartigo Ciencia, tecnologa y sociedad.Alternativaseducativasparaunmundoencrisis.Elesdizemque:

    Atentativaparaeliminlopassa,emprimeirolugar,porumapropostaquetemafinalidadede

  • 22/1/2014 Cincia, Tecnologia e Sociedade. E o contexto da educao tecnolgica. Sala de lectura CTS+I

    http://www.oei.es/salactsi/bazzo03.htm 4/32

    fazerfrentesnecessidadesecarnciascomqueseencontraasociedadedevidoaorpidoavanocientficotecnolgico.Aonipresenadatecnologianomundoatual,aliadasuamaiorcomplexidade,dlugaraumasituaobastanteproblemtica[...].Distintaspropostasmaisoumenoselaboradasdealfabetizaocientficotecnolgica tmpretendidomaterializaracrenaamplamenteestendidadequeatravsdombitoeducativoquesepodeenfrentarestasituaoproblemtica(Ferri&AdellapudMedina&Sanmartn,1990,p.135).

    Cadaumadestaspropostasresponde,emgrandeparte,aumaanlisedistintaondepodeserencontrada a chave do problema. Conforme menos simplistas sejam estas consideraes,menosingnuosseroostiposdealfabetizaodefendidos.LeonardWaks,emEducacinenciencia, tecnologa y sociedad: orgenes, desarrollos internacionales y desafos actuales(Medina&Sanmartn,1990),defendeaalfabetizaotecnolgicaparaaparticipaoefetivadoscidadosnasdecisesdecarterpoltico.

    A expresso 'alfabetizao cientfica e tecnolgica' est sendo usada para denominar umobjetivo educativo fundamental em diversas anlises e informes polticos. Quase todos osautoresquetrabalhamestesassuntosestodeacordoemquedeveriamexistirnveismnimosdeaprendizagemsobre cinciae tecnologiapara todososestudantes, emqueo estudo dacinciadeveriaestarconectadoaodetecnologiaesuasconseqnciassociais.

    Nomaispossvel,emuitomenosindicado,quesefique,comoalgunsopinam,numestadopermanentedecontemplaoesperado inexorvel desenvolvimento cientficotecnolgico.Estecomportamentoapassivadolevaaopensamentodequeaquestocientficotecnolgica,independentementedesuasrepercusses,inerenteaestafasededesenvolvimentohumano,eque,medidaqueaprpriacinciaeatecnologiasedesenvolvam,osproblemasporelascausados sero automaticamente superados. bastante claro que, potencializando oscontedosdentrodestarea,nosmaisdistintosnveiseducativos,conseguirseincrementarograude'culturacientficotecnolgica'.Destemodo,sercrescenteonmerodecidadosquesesentiroatradospelasuaproduoe,oquemaisimportante,pelareflexopermanentedeseus resultados. Talvez desta forma, com anlises bem fundamentadas, a atrao peloscamposdapesquisaemcinciaetecnologiasermaissubstancial, inclusivecomoatividadeprofissional,eentosimosproblemascausadosporelasserocorrigidosporumatecnologiamelhor.

    Apesar de todas as boas intenes necessrio reconhecer as limitaes que esta tarefaimpe. Uma destas limitaes vem da inexorabilidade da utilizao de certos artefatos queparece escapar da nossa escolha, ou do nosso controle, por estar sujeita a um'entrincheiramentotecnolgico'.Estetermo,muitoprocedenteparaanalisaresteaspecto,realaque as tecnologias entrincheiradas so aquelas profundamente arraigadas em nosso tecidoscioeconmicoeemnossasformasdevida.

    Omelhorargumento5,mesmoqueanacrnico e defeituoso, com que parecem contar certastecnologiasparaseguirentrensqueelasjseencontramnonossomeioe,ademais,seriaextremamentedifcilsuaerradicao.Nestasituaosoincludasalgumasconquistassociaisbemconhecidas,comoateleviso,aenergiaeltrica,ordioouumsistemadetransporte,jinerentes vida social. So tecnologias fortemente solidificadas em nossos contextos, nosistema scioeconmico e na organizao social. Deste modo, parecem escapar nossacapacidade de escolha e controle. No entanto, uma avaliao com antecedncia e amonitorizao do desenvolvimento de novas tecnologias6, assim como a promoo daparticipao pblica em tal controle, podem contribuir para a preveno de novosentrincheiramentoseseusconseqentesefeitosnegativos(Gonzlez,LpezeLujn,1996).

    Quandorealoestefato,quemepareceinexorvel,nopretendocoloclocomoalgonocivo,massimcomoalgopostoaocomportamentohumanoequecareceapenasdealgumcontrolee,emcertassituaes,deadaptaesparaquecontinuesocialmenteaceitvel.

    Continuandonesteraciocniosurgecomosurpreendenteofatodequequandosetratadeumaavaliaocrticaliterriaouteatralou,maisainda,quandosefazrefernciaaqualquerobradearte,todasaspessoasenvolvidasnoprocessoentendemtalatitudecomopositiva.Umcrticoliterrioexaminaumaobraanalisandosuaabrangncia,avaliandosuaqualidade,buscando

  • 22/1/2014 Cincia, Tecnologia e Sociedade. E o contexto da educao tecnolgica. Sala de lectura CTS+I

    http://www.oei.es/salactsi/bazzo03.htm 5/32

    umaapreciaomaisprofundaquepossasertil paraoutros leitoresdomesmo texto.Algosimilaracontececomoscrticosmusicais,teatrais,artsticos.Emgeralelesdesempenhamumpapel valioso e claro, apontando situaes importantes entre os produtores e seusconsumidores.Noentanto,todososque,demaneirasemelhante,pensamemtecercomentriosacerca das questes cientficotecnolgicas, que poderamos chamar como uma espcie decrticosdesuasaese repercusses,envolvendosenosmodeloseproblemasbsicosdenossacultura,sotachadosrapidamentedeantitecnologistas,arautosdoatrasodaevoluohumana ou outros improprios que os intimidam em suas aes, provocando, com isso, aretiradaimediatadesemelhantesdiscussesdapautadasresponsabilidadessociais(Winner,1987).

    Estetipodecomportamento,queconduzaumconformismoeaumafaltadeavaliaocrticaindispensveis,tornasemaisagudoparansbrasileiros,comotambmparatodososoutroshabitantes de pases em desenvolvimento7, que vivemos em constantes dvidas,questionamentos e assombros quanto utilizao e ao desenvolvimento da cincia e datecnologia.Osproblemasaquisomaisprementes.Umapergunta,entremuitasoutras,porsuapertinncia, se faz presente: mais importante estar de acordo com os parmetrosinternacionaisemtermosdepesquisadeponta,oumais importantenosrecolhermosaumcontextoqueaindaclamaporsolues,muitasvezesrudimentares,desimplesaplicaesdetcnicasjprontas?

    Este questionamento pontochave neste assunto. E o porque muitas vezes existeprecipitao, no af de no se perder o 'trem da histria', como alguns professores deengenhariaseguidamentecomentam,elanasemodepolpudosrecursoseconmicosparainvestiremprojetosmuitosdosquaispossivelmentedeutilidadeduvidosa.Estesgastospodemprejudicaroinvestimentonaformaocientficotecnolgicabsicadapopulao,oqualpodeconstituirseempredicadofundamentalparafuturasdecisesdequestessemelhantes.

    OBrasilricoemexemplosdeprojetoscientficotecnolgicos8que'fizeramgua'por teremsido'analisados'somenteporburocratasfechadosemseusgabinetes,destitudosportantodeembasamentosrealsticosquepudessemlevlosaumadecisodecartermenos'tecnicista'.Eopiorqueaengenharianacionalnempodesequeixarmuitodesemelhantesituao,poisasescolasno formavam,eaindano formam,cidadoscrticoscom trnsitosuficientenasquestes polticas e sociais para travarem semelhantes debates com a comunidade dedirigentesdanao.

    Sejamquais foremas justificativas,ospoucosestudosrealizadosathoje tendemamostrarque no existem autnticas comunidades cientficotecnolgicas nos pases emdesenvolvimento.Oestmuloeainspirao,quasesempreafastadosdasnecessidadesmaisprementesdapopulao,nagrandemaioriadasvezessoimportadosdepasescomoutrasrealidades.

    JacquesGaillardfazinteressanteanliseemseuartigo'Acinciadoterceiromundoentredoismundos'(Witkowsky,1995),quandodefendeosurgimentodecomunidadescientficotecnolgicascontextualizadassnecessidadesprimeirasdesuapopulao.Nodefendenoentantoqueestas comunidades fiquem alheias smais recentes conquistas domundo atual. Nestamesmareferncia,XavierRichetcom'Aspolticascientficasnosregimessocialistas',velyneDourille,com'Apolticajaponesadepesquisadesenvolvimento',eJacquesVaret,com'China,umapesquisaincerta',produzemsemelhantesreflexes.

    Quandoaquestodautilizaodosavanostecnolgicosemrelaosociedadepostaemdiscusso, muitas dvidas e questionamentos sacodem nossos sentimentos, na procura derespostasaesta intricada relaoqueaindadeixa foradeseusbenefciosamaiorparte dapopulao.Taisquestionamentosedvidasspoderoserrespondidossetodocidadoemespecialosengenheirosqueterograndeinfluncianesteprocessotiveroportunidadedereceber uma formao razovel nos preceitos cientficos e tecnolgicos e nas suasconseqnciase repercusses.Comesta formao,poderoento fazerpartedasdecisesque devero alterar sobremaneira as relaes sociais, principalmente nos pases emdesenvolvimento.

  • 22/1/2014 Cincia, Tecnologia e Sociedade. E o contexto da educao tecnolgica. Sala de lectura CTS+I

    http://www.oei.es/salactsi/bazzo03.htm 6/32

    3.2UMCOMPORTAMENTOCONFORMADO

    Atecnologia,commaioresoumenoresimpactos,temconformadonossavida.Estamosmercdesistemasinterconectados,transistores,bytes,hardware,softwaree,oquegrave,estamosnossentindosubservientes suaautoridade,moldandonos ao seu funcionamento. Isto nosconverte,gostemosouno,emparticipantesdeumanovaordemnahistria,acantonandonosnum sistema tal que nos coloca face a face com uma cultura que podemos chamar de'tecnopolista'9, sujeitandonos ao que Winner, pertinentemente, chamou de sonambulismotecnolgico.

    Estesonambulismovemaoencontrodetudoqueexaustivamenterepetidoaolongodestasargumentaes e tem estreita ligao com a forma como a sociedade se relaciona e secomportafrentetecnologia.Emcorroboraoaestesaspectosnoincomumqueaindanose encontrem respostas para certas perguntas que constantemente esto postas nossaavaliao. Por que to difcil a elaborao de uma filosofia da tecnologia? Por que umaculturatofirmementeembasadaemincontveisinstrumentos,tcnicasesistemassofisticadospermanece imutvelnoqueserefereresistnciaemexaminarosprprios fundamentosdetodosestesaparatoscriadospela tecnologia?Winnerparececolocaralgumasquestes quepodemcomearadarumarespostaaestesonambulismotecnolgico.Dizele:

    Grande parte destas respostas podese encontrar na assombrosa influncia da idia deprogressonopensamentosocialduranteaeraindustrial.NosculoXXseacreditaemgeralqueosnicosmeiosconfiveisparaomelhoramentodacondiohumanaprovmdasnovasmquinas,substnciasqumicaseasmaisdiversas tcnicas. Inclusiveos recorrentesmalessociaisedoambientequeacompanhamosavanostecnolgicosrarasvezestmafetadoestaf.Aindaumrequisitoprvioqueapessoaquequeirapostularumcargopblicoasseguresuaconfianafrreaemqueexisteumlaopositivoentredesenvolvimentotcnicoebemestarhumanoeafirmequeaprximaondadeinovaessernossasalvao(Winner,1987,p.21).

    ParacontraargumentarestesonambulismoameaadorapontadoporWinner,umacitaodeMunford, emQu es la filosofa de la tecnologa, de Carl Mitcham, ajuda a desmistificar asupervalorizaodaspotencialidadesdatecnologiaemdetrimentodosvaloreshumanos:

    Se todos os inventosmecnicos dos ltimos cincomil anos fossem apagados de repente,haveriaumacatastrficaperdadevidamasohomemcontinuariasendohumano.Porsuavez,seseeliminasseafaculdadedeinterpretar[...]aterrainteiradesapareceriamaisdepressaquea viso dePrspero e o homem sumiria num estadomais desamparado e brutal que o dequalqueranimal:prximoparalisia(MunfordapudMitcham,1989,p.55).

    OutrosargumentosqueWinnersustentaparajustificarestadificuldadeemseavaliarcommaiscrtica conseqncias da tecnologia tm estreita ligao com o comportamento do ensinotecnolgico:

    Existemoutras razes para que a filosofia da tecnologia nunca tenha tidomuita aceitao.Segundo o ponto de vista convencional, a relao humana com os objetos tcnicos demasiadamentebviaparamereceruma reflexosria.Causadecepoanoo razovelqueherdamosdetemposdistantesemenoscomplicados:aquedivideagamadepossveisinteresses acerca da tecnologia em duas categorias bsicas: fazer e utilizar. Na primeira aatenosecentraemcomofuncionamascoisaseemfazercomqueascoisasfuncionem.Temosatendnciadepensarqueestaumaatraoparacertaspessoasemdeterminadasocupaes,pormparaningummais.Comofuncionamascoisasoterrenodosinventores,dostcnicos,dosengenheiros,dosmecnicosdemanuteno,etc.,quepreparaminstrumentosartificiaisparaaatividadehumanaeosmantmsempreembomfuncionamento.Sepensaqueaquelesquenoestodiretamenteenvolvidoscomnenhumadasdiversasesferasdo fazertm pouco interesse ou necessidade de conhecer os materiais, os princpios ou osprocedimentosqueincluemestasesferas(Winner,1987,p.21).

    Uma razo forte e irrefutvel que pode nos levar a tentar acordar deste sonambulismotecnolgicovemnovamentedeWinner:

  • 22/1/2014 Cincia, Tecnologia e Sociedade. E o contexto da educao tecnolgica. Sala de lectura CTS+I

    http://www.oei.es/salactsi/bazzo03.htm 7/32

    [...]aexperinciadasociedademodernanosmostraalgo,queastecnologiasnososimplesmeiosparaasatividadeshumanas,esimtambmpoderosasforasqueatuamparadarnovaformaditaatividadeeaoseusignificado.[...]Asalteraesdifundidasatravsdastcnicasdecomunicao, transporte, fabricao, agricultura, etc., so em grande parte o que distinguenossapocadosperodosanterioresdahistriahumana.Aclassedecoisasquetendemosaconsiderarmerasentidadestecnolgicassefazemmuitomaisinteressanteseproblemticassecomeamosaobservarquegrande influncia tmnascondiesdevidasocial emoral(Winner,1987,p.22).

    Narealidade,acinciaea tecnologianoestoapenasconformandoasnossasvidasparamelhormastambm,emmuitassituaes,fazendoasmaisperigosas.Percebemosaprpriarealidadeatravsdemquinaseartefatos,etambmtantoomundoexternocomooqueterminadentrodenossoscorposementes.Concebemonosansmesmosdaformacomoemgrandepartedenossaexistncianosfoipostoeensinado:comocomplexasmquinasfsicoqumicascomum crebro que, segundo investigaes realizadas nas ltimas dcadas, tem resultadoanlogoaumpotenteecomplicadocomputador.ParecequeapartirdaRevoluoIndustrialaprpria construo coletiva da vida social est sendo conformada como se conformaram asmquinas, seguindoummodelo institudoporAdamSmith e consubstanciado na sociedadecontempornea(Gonzlez,LpezeLujn,1996).

    Uma experincia da sociedade moderna ressalta esta moldagem a que estamos nossubmetendoquandomostraqueestastecnologiasnososimplesmeiosparaasatividadeshumanas,massimpoderosasforasqueatuamparadarumanovaformaaestasatividadeseao seu significado. A introduo de um rob numa linha industrial no s aumenta aprodutividademas,emgrandeparte,modificaradicalmenteoprocessodeproduoe,muitasvezes,redefineosignificadodetrabalhonestelugar.

    Quandoseadotaumanovatcnicaouinstrumentosofisticadonamedicina,transformasenosomente o que osmdicos fazemmas tambm a forma de pensar das pessoas acerca dasade, da doenae da atenomdica. Todas estas alteraes ajudam e nos empurram amodelarnossavidadeacordocomodesenvolvimentocientficotecnolgico.

    H muitos anos a cincia e a tecnologia vm ditando os rumos e alternncias docomportamentosocial, tantono plano industrial quanto nos setores individuais das pessoas.Este fato, por mais paradoxal que possa parecer, pouco tem produzido de mudanassubstanciaisnaformadeconstruirconhecimentosnestecampo.Estamudana,decorrentedesatisfazerasnecessidadescotidianasnasquestesdesobrevivncia,desenvolvimento,lazer,geraodesuprfluos,vementupindoasociedadedeaparatos tecnolgicosquenamaioriadasvezesosusuriosnemsequer imaginamcomooperar.Grandeparceladoscidadososadquiremasgeralmenteignorasuascaractersticasdefuncionamento,osseusriscos,assuasvantagensououtraspossveisconseqnciasouinconvenientes.Estassituaescontraditriasde riscose vantagens quea cincia e a tecnologia apresentam requeremque se tenhaummaiorconhecimentosobreosprocessosenvolvidosnoseudesenvolvimentoeproduo.

    No incomum, fundamentados nestas determinaes, quemuitas vezes nos comportemoscomoasmquinasou,aomenos,nosutilizemosdesuaslimitaesparajustificarnossasfalhashumanas. Algumas expresses10 e nas escolas que trabalham com tecnologia estecomportamentomuitomaispresentequeusamosautomaticamenterelatamanossavisodemundo,aautoimagemcomopessoaseoutrasrazesimportantesdenossasvidas,quesotraadas,determinadase,emcertasocasies,atdefinidaspelavalorizaoextremadaqueseimputasquestescientficotecnolgicas.

    Pacey,emLaculturadelatecnologa,natentativademostrarqueapesardocomportamentocultural as coisas no se estabelecem destamaneira, prope uma interessante inverso deanlisequandofazumaradiografiarpidadarevoluoindustrial,eargumentaquenofoiamquinaavaporque introduziuessarevoluo industrial.Foisimumambientehumanoquepropiciouautilizaodovaporparaseproduzirumaverdadeira revoluonoscostumesdapoca,atravsdaimposiodenovosrumosnaproduohumana.

    Apresentase,portanto,comocentralofatodequeautilizaoearepercussodacinciaeda

  • 22/1/2014 Cincia, Tecnologia e Sociedade. E o contexto da educao tecnolgica. Sala de lectura CTS+I

    http://www.oei.es/salactsi/bazzo03.htm 8/32

    tecnologiaestosempreestreitamenterelacionadasaaspectoshumanos.Produzidasaolongodos tempos, pelos homens e para os homens, elas tm um largo espao na histria dacivilizao. Afinal de contas, o ser humano sempre investiu sua inteligncia para adquirir,fabricareutilizar ferramentasqueprolongassememultiplicassemseuconfortomaterial paraalmdeseussonhos.Mas talvezumdosgrandesproblemasqueele fabricouparasinesteempreendimento foi esquecer de investir semelhante esforo na direo de prepararse,tambm,para fazer frentesmudanasque tais ferramentasprovocariamnasuavida.Estesobjetos,processosetodasortedetcnicas,semretirarqualquerdesuasvirtudesemfunodeseususosedesuasbenesses,provocaram,provocameprovocarosempre inquietaes equestionamentossobreosseusaltoscustosdeutilizaoparaacivilizaohumana.

    Na relao entre capital e trabalho o trabalhador ou operador individual analisado quasecomoumapeacomponentedeumequipamentoindustrialvistocomoum'artefatosensor',ligado a um 'mecanismo computacional' e a 'conexesmecnicas'. Isto o que a indstriamoderna faz na sua parte de moldar a sociedade atual o trabalho usado como algointercambiveleoprogressoconcebidoparaaumentarindefinidamenteonmerodetarefasquepodemserefetuadaspelamquina.Nesteembateconstanteotriunfofinalobtidoquandotodos os componentes humanos tenham sido substitudos por seus similares mecnicos eeletrnicos(Pacey,1990).

    Estas novas concepes levamnos a indagar em que condies econmicas, polticas eculturais esto sendo produzidas, mostrando que preciso tornar possvel o exame dasrelaes entre os saberes e as aplicaes tcnicas, entre as prticas tecnolgicas e suasrepercusses, entre as polticas e as ideologias que preciso observar, para poder entointerferir,comoessessaberescontribuemparaasoluodasquestesticasehumanase,ainda,dequeformaacinciaeatecnologiafazempartedomundocontemporneo.

    Oengenheiro,oadvogado,omdico,enfim,ocidadocomumprecisasaberdasimplicaesque tem o desenvolvimento tecnolgico nas mudanas geradas na nossa forma de vida.Precisamdesmistificar,noseucotidiano,apseudoautoridadecientficotecnolgicadealgunsiluminadosqueporteremtidoacessoaumaeducaomaisapurada,porquestotambmdeoportunidadeenoapenasdecompetncia,decidemosdestinosdetodososque,comoeles,fazempartedeumasociedade.Ohomemcomum,ousurio,devetambmsaberseprecisodesenvolverouadotartodasastecnologiasmodernasantesdeapenasmoldarseaelasdominadas por outros pasesmais avanados, dentro de um contexto to diferenciado. Eleprecisainferirseasnecessidadesdeumpovosseroalcanadascomtecnologiasdepontaou, ainda, se o desenvolvimento tecnolgico implica, necessariamente, desenvolvimentohumano.

    Uma instruo11 adequada a respeito destas questes ensejaria o posicionamento polticoconscientedosdiferentesgruposeclassessociaisemrelaoaodesenvolvimentocientficoetecnolgico.Noseconsegueesteobjetivosemumaestratgiaparaqueelesejaalcanado.Sedeixarmosestaresponsabilidadeparaamdia,grandeparteatreladaaossistemasdepoder,amensagemcontinuarsendodirecionadaemtrataracinciaeatecnologiacomomgicasoucomoumconjuntodeexpressesdamodaededomnioapenasdaqueles 'bemdotados'.Seestas questes no forem refletidas caber sociedade, principalmente ao homem comum,quandomuito o direito de aceitar estas imposies cientficotecnolgicas que alteraro suavida ao belprazer dos detentores dos artefatos. Se esta situao no for revertida,continuaremosaterumcomportamentoconformadodeacordocomosditamesdacinciaedatecnologia.

    3.3AQUESTOCULTURAL

    Todavezqueaevoluodaespciehumanatrazidaadiscusso,osmarcosutilizadosparasuadefiniosoevocadosprioritariamenteporquestes tcnicaspelosartefatos,queparecemdistantesdashumanas.Recorresesempreaexpressescomoa'eradapedra',a'eradobronze',a 'erado ferro',a 'revoluo industrial',a 'eradocomputador'.Aexistnciadesteparadigmaseapresentaclara.Elenonasceuporumaquestodemodismotemporrioesimporumaquesto inerenteaodesenvolvimentoculturaldoserhumano.Esta interpretao,deassociar progresso humano linearmente ao desenvolvimento tcnico, configurase em algo

  • 22/1/2014 Cincia, Tecnologia e Sociedade. E o contexto da educao tecnolgica. Sala de lectura CTS+I

    http://www.oei.es/salactsi/bazzo03.htm 9/32

    bastantecomplexoporquedirecionaa formacomoaevoluodacivilizaoabordadanasociedadeenaescola.Por estemotivo, a sua remoopurae simplesdenossosmtodoseducacionaisserevestedeextremadificuldade.Quererincutirdeprontoquedesenvolvimentotcnico no significa necessariamente desenvolvimento humano, entre os cidados,principalmentedentrodeumaescoladeengenharia,quefoicriadasobestalgica,nopareceseratticamaisindicada.necessrioqueseprocureavaliar,emtaisescolasenasociedade,oquerealmentesignificaavanoeevoluohumana.

    Foi com muita tenacidade que grupos dominantes, sempre apoiados em uma ideologiatecnocrtica12, sentiram a necessidade de impregnar na sociedade contempornea talcomportamento.Mesmo com evidncias contrrias do desenvolvimento humano e social aolongodahistria,aculturaquedominaasociedadecontinuaatribuindosquestescientficasetecnolgicasarazomaiordafelicidadehumana.

    NoOcidente,oafdohomemmodernoporconstruirmquinasetodoequalquerartefatonabuscade conquistar a natureza lhe facultou a possibilidade de elaborar uma tese discutvelhoje,masquesemprepareceuabsolutamenteincontestveldesdearevoluocientfica.Elaprocura evidenciar que a construo e a utilizao de ferramentas tm sido fatoresimprescindveiseessenciaisnaevoluodohomem.Estatese,noentanto,parececontraditriaenosebaseiaemaspectosempricos,quesofundamentosdeterminantesdocientificismo13.Estesaspectosrefletemofatodequeosartefatoseferramentasnosoalgopereneesempresemostraramfrgeisaolongodotempo.

    Talteorianofundamentadaemsuposies,sendoprovenientedeinvestigaesbaseadasem restos arqueolgicos elamostra queos fatores determinantes das civilizaes foram asrelaes ditadas pelo homem. As tcnicas ferramentais no deixaram vestgios materiaissignificativos,aopassoqueosritos,aslinguagens,asorganizaessociais,apardetodaaculturaquequercolocaremdiscordnciatalfato,foramosmaisimportantesdos'artefatos'queohomemelaborouao longoda sua vidaeda suaadaptao ao entorno a que temestadosubmetido.Oaperfeioamento de ritos, smbolos, palavras, imagens,modos de conduta e acontnuaseleodecomponentesparacomerdevemterconfiguradoasprincipaisocupaesdohomemprimitivo. Isto tudo parece ter sidomais importante,mesmo que a construo deequipamentos e artefatos possa ter percorrido este caminho simultaneamente, para asobrevivnciadoserhumanodoqueaprpriafabricaodeferramentas.

    motivo preocupante e de anlise, a par do que foi exposto, o objetivo desta tentativa desemprevalorizarmaisoaspectotcnicoouferramentaldoqueosaspectoshumanosnodesenrolar da histria. Afinal de contas, neste desenvolvimento contnuo, a maior razo dosobreviverdohomemfoielemesmo.Utilizandoseusmembrosergoscorporais,combinadoscomasmais diversas formas de cooperao, ele realizou um grande nmero de atividadestecnolgicasatividade tecnolgicaassumidaaqui comoumcomprometimento comoutrasatividadeshumanasenopuramentecomodesenvolvimentodeartefatosferramentaisquelhepermitirampossibilidadesdeaesdiferentesnoambienteemquevemvivendo.

    Estavisohoje felizmentenomaishegemnicade considerar a criao de artefatoscomo a principal causa do desenvolvimento humano tem algumas conseqncias graves.Dentreelas,umasubestimaasculturasarcaicasmasaindacontemporneasleiaseTerceiroMundo em virtude do desenvolvimento mais frgil de suas tcnicas de elaborao deferramentas e processos,mesmoque tenham isoladamente construdo sofisticados sistemascientficos,muitosdosquaisintangveisnaprtica.

    Outradestasconseqnciasaconstituiodoque,comojfoicomentado,Winnerdenominou'sonambulismo tecnolgico', quando a sociedade se submete humildemente a cada novaexigncia da tecnologia14 e utiliza sem questionar todo novo produto, seja ele positivo ounegativoparaumamelhorareal.Nesteclimaatecnologiasempreumaresposta,mesmoqueasociedadenotenhafeitonenhumapergunta.Noimportaqueumarespostatecnolgicamesmo sem perguntas possa criar problemas porque se confia que outra inovao lheprescrever remdio. Para reforar a afirmativa, podese dizer que, pelo menos na ltimasituao,gerouseumarespostaaumproblemaexistente,mesmoqueelesejadecorrentedeumarespostaondenohaviapergunta(Revilla,MrquezeStingl,1993).

  • 22/1/2014 Cincia, Tecnologia e Sociedade. E o contexto da educao tecnolgica. Sala de lectura CTS+I

    http://www.oei.es/salactsi/bazzo03.htm 10/32

    Alguns autores, talvez procurando ser mais enfticos, utilizam o termo determinismotecnolgico e ainda imperativo tecnolgico. Parece, no entanto, que o termo utilizado porWinner reflete melhor esta alienao em relao aos superpoderes que a cincia e atecnologiaassumememnossavida.PorsuporqueWinnerutilizaeste termona tentativadesalientar comnfasequea inovao tecnolgica realmentenoa causa fundamental dasmudanassociaisemuitomenosarazonicadodesenvolvimentohumano,equepor issonodevemossentarnos e observar o desenrolar deste processo inevitvel, posicionamentocom o qual concordo, prefiro usar uma noo mais reveladora, salientando que mesmoconscientesaomenosalgunsdensdequeatecnologianotemtalpoder,continuamoscaminhando,dormindovoluntariamente,semnotaroprocessodereconstruodascondiesdaexistnciahumanaqueelavemproduzindo.Esteenfoquepermiteummaioralentoereforaasconvicesqueassumesecomestetrabalho:Porquenoacordar?

    Ocomplexoconjuntoderelaeseinteraesqueumensinonestadireorequerconduzaumproblema que s parece ter uma soluo atravs da interdisciplinaridade15 efetiva entrevrioscamposdesaber. Istoseconfiguranumaaposta importanteparaquebraraexcessivarigidezexistenteentreasdiversascomunidadesprofissionaisqueseagarramaosseusditamesculturais,nodandoguaridaaumaprovvel renovao,consubstanciadanoentrelaamentodosmaisdiferentesmatizesdoconhecimento.Fazeristocomxitosignificadesenvolverumacompreensotantodecartergeralinterdisciplinarquantocomexemplosespecficospreservandoascaractersticasparticularesdecadacampodeconhecimentoacercadequaisvaloresexistem,comoaspessoaspodemsustentlosecomoelesevoluemnotempo.Significaentender a gnese e a funo das instituies sociais nos mbitos poltico, econmico ecultural. Significa, tambm, compreender, em sentido geral, a essncia e o funcionamentointernodacinciaedatecnologia.Significaterumafamiliaridadecomoraciocniocientficoetecnolgico,comosprincipaisconceitosemetodologiasatuaisparaaceitlasourejeitlas,comoprojetoeaconfiguraodeestratgiasnasdisciplinasestudadas.Significaterumacompreensoholsticadascomplexasinteraesentretodosestescomponentes.E,seistonoforsuficienteenoo,importatambmsabercomonestecomplexoserefleteaarte,aliteratura,afilosofiaeahistria,assimcomoaanlisepoltica,econmicaesociolgica.

    Umaabordagemnatentativadedesmistificararelaolineardedesenvolvimentotecnolgicocomevoluohumanano significa transformar as escolas de engenharia em templos paratornarseusalunosaprendizesdefilsofosousocilogos.Nonecessriaenemdesejveltalatitude.Fazerissorequerapenasinterdisciplinaridadequepodeserconseguidanoatravsdedisciplinas estanques, como se procura configurar nas solues atuais,mas sim atravs degruposdeconhecimentoformadospelosmaisdiversosprofessorescomaadoodenovasediversificadas tcnicas. Isto tudo, porm, sempre mantendo os olhos nas complexas interrelaesholsticas,oquenotoproibitivoquantopossaparecer.

    Levandoaargumentaoparaoutrolado,nonecessrioconverterosestudantesdeoutrasreasemtecnlogosouengenheiros.Snecessrio,emambososcasos,fazlosentenderanecessidadedeseterconscinciadasrelaesentrecincia,tecnologiaesociedade.Estaumacompreensoquesepodeconseguirdemaneirageralemnvel tericoequepodeserapoiada, na prtica, com exemplos especficos e apropriados na rea de engenharia, comcritrio, para que possa refletir os problemas e questes que esto sendo considerados nocontexto(CutcliffeapudMedina&Sanmartn,1990).

    Para isso preciso acabar com o hiato existente principalmente entre o campo doconhecimentotecnolgicoeocampodeconhecimentodascinciassociais.Nossasociedadesempredeixoutranspareceraexistnciadeumacrescenteseparaoentreduasculturas16queconstantementeresultounumentraveparaaaproximaoindispensvelentreosmaisdiversoscamposdesaber.

    A idiadequeodesenvolvimentohumano funo lineardoprogresso tcnicovemsendosustentadahmuitotempo,querendoestabelecerqueesteprogressoarrastainexoravelmenteconsigo a sociedade humana. E isto estabeleceu culturalmente o que se pode chamar de'misticismopelamquina'17,queinfluenciousobremaneiraoensinodeengenhariaquantoaosseus propsitos. Um destes propsitos tomou a direo de optar por especialistas em

  • 22/1/2014 Cincia, Tecnologia e Sociedade. E o contexto da educao tecnolgica. Sala de lectura CTS+I

    http://www.oei.es/salactsi/bazzo03.htm 11/32

    determinadosassuntosestanquesdatecnologia.Istoserefletiunaformaodeumprofissionalqueresolveosproblemascomasmaiscomplexasvariveis,tambmdeordemsocial,somentenadireodaeficinciadamquina.Foiestaconcepoquegeroucomgravesrepercussesnasescolasdeengenhariaaculturaocultaque,comobemretratouLewisThomas,podemoschamarde'tecnologiainsuficiente'18.

    Toda esta mistificao da mquina e da tecnologia que parecia realmente ser os fatoresprimordiais que definiam o progresso humano foi rompida pelas exploses das bombasatmicasnaSegundaGuerraMundial,emNagasquieHiroshima.Estavamacesososestopinsda inverso da discusso do lado apenas positivo e idealizado para a questo realista datecnologia.Umclimadecriseedvidaemrelaoaelaveiotona19.Osgruposperifricosganharamespaopregandoque,juntocomasbenessesdatecnologia,vinhamonapalm,osdesfolhantes,aradioatividade,abombaatmica.Atecnologiapassouaserencaradatambmcomo antivida e, em determinadas situaes, como fora de controle. Nascia ento anecessidade do surgimento de uma nova rea no campo de conhecimento que pudesseinterpretareconhecerestasrelaesquecomeavamadefinirnovosrumosparaacivilizao.

    Na nsia de superar este aspecto cultural evidente, foise ao outro extremo do problema,marcandopresenaforteofatodequeamaiorpartedaliteraturanasdcadasde50e60eassimpermaneceuatmeadosdosanos70eraantitecnolgica.IssoserefletiuemgrandepartenaspropostasdaprimeirageraodasconhecidasdisciplinasCTS,quesepreocupavamcom a cincia e com a tecnologia. Elas tentavam instruir os estudantes de cincias eengenhariasobreoverdadeiroimpactosocialdeseutrabalho,masofaziamdeformaumtantoparcial,prejudicandoasfinalidadesdetaisprojetos.

    MuitosdosprimeiroscursoseprogramasplanejadosparaosestudosdeCTS,apesardassuaslimitaes e, em certas vezes, com abordagens equivocadas, comearam a despertar ointeresse em todas as reas de conhecimento. Eram, a essa altura, dirigidos a todos osestudantes,inclusiveosdareadeengenharia.Dadaadiversidadedeinteresse,eapartirdeseusaprofundamentos,estesestudospartiamdeumainterpretaoquedefiniaacinciaeatecnologiacomoprocessoshumanos, sendoambas fortemente influenciadas, conformadasedesenvolvidasporvaloressociaisque,porsuavez,eramafetadospelosimpactosderivadosdoconhecimento cientfico e das inovaes tecnolgicas (Cutcliffe apud Medina & Sanmartn,1990).

    A impresso que se pode tirar do fato de outros campos de conhecimento terem tido apreocupaonaanlisesociolgicadatecnologia,eatcertopontoteremtomadoainiciativade talao,provocoualgumespantoempartedos tecnlogos,quesesentiramacuadosemseus conhecimentos tecnicistas e procuraram irrelevar a forte tendncia da anlise dosimpactossociaisdacinciaedatecnologianoinciodosanos70.

    Faaseumpoucode justia: esteacuamentono foi semumapontade razo.A literaturaindica issoemvrios trabalhospublicadosnapoca,emqueasanlisesdossocilogosdacinciaeram,emmuitassituaes,feitascomumadosedepassionalismo,colocandosempreatecnologianobancodosrus.naturalqueumcertograude'defesa'surgisseentreaquelesquetrabalhavamnodesenvolvimentodeartefatostecnolgicos.Estecomportamentofoioquegerou a rivalidade classificada por Snow como as duas culturas e que, indubitavelmente,proporcionouumatrasoconsidervelnasanlisesnecessriasdos impactosdacinciaedatecnologia.

    Asdiscusses foramseavolumandoeoscurrculosnoconseguiammaisabarcar tamanhovolume de contedos. Na poca atual, as transformaes psindustriais teriam saturadocompletamente os eventuais programas CTS, que no dariam mais conta de tratar tantasquestes.

    Dessaforma,nadcadade90,aindacomapreocupaocentradanestesaspectos,pormcomas anlises e reflexes bem melhor sedimentadas, alguns autores tentam fazer avaliaessobreatecnologiadeumaformadiferenciadadascomumenterealizadasatento20,propondoumaparticipaoativaeumaapropriaodastendnciasculturaisdasmltiplascomunidadesparafazerfrenteaoquadrosocialatualefuturo.Nestarealidadedasituao,Waksargumenta

  • 22/1/2014 Cincia, Tecnologia e Sociedade. E o contexto da educao tecnolgica. Sala de lectura CTS+I

    http://www.oei.es/salactsi/bazzo03.htm 12/32

    queoseducadoresdeveroagoraalocarmenostempoeatenoeducaogeralemaisaprojetosparasituaesdeaprendizagemespecificamentedirecionadas, taiscomoprogramasdemeioambienteeserviocomunitrio.Emsuma,ele 'esquece'a responsabilidade jogadasomenteparaaescolatradicional,pregandoqueasoluoparaqueenfrentemosasquestesdatecnologiaestarianasorganizaespopulares.

    TalvezestaanlisedeWakspossaser reforadapelasafirmaesdeGrardValeduc21, aoanalisarasrespostasconcedidaspelograndepblicoaoserinquiridosobrequestesrelativasa tecnologiaesociedade.A respostamaisveementedadaporestepblicoescolhido aoacasodentrodetodasascamadasdapopulaoserelacionacomaimportnciadoensinoformal nesteprocesso todo, colocado emltimo lugar frente a outros como jornais, revistas,televises,naajudadispensadaparapoderinfluenciarnosrumosdacinciaedatecnologia.

    Asrespostaseposicionamentosestampadosnessapesquisaservemdealertaepodemajudaradevolver,oureacender,nacomunidadedeprofessoresumaresponsabilidadequesemprefoisuaequehoje,apesardosnovosdesafiosculturais,pareceterfugidodaaladadaescola.Estaculturadedescrditoemrelaoaoensino formalsedimentadanasociedade, reforadanasafirmaesdeWaksenaspesquisasdeValeduc,precisa,pois,sertrabalhadanaescolacommais firmeza. A tarefa inerente ao trabalho dos professores, que podero catalisar esteprocesso.Paraisso,temqueserquebradooparadigma,queaindaimpregnaamentalidadedealguns professores, de que o assunto no para a escola mas para a sociedade entendimento movido por uma definio equivocada de que ambas tm obrigaes eatribuiesdiferenciadas.

    Aquestocultural, noentanto, felizmentepareceestar semodificandoem facede inmerasnovassituaescolocadascivilizaomoderna,mostrandoqueaescolaquemdeveterporobjetivo proporcionar uma introduo ao estudo das dimenses sociais da cincia e datecnologia. Esta iniciao, ento, proporcionar mais condies para que, como argumentaWaks e demonstram as pesquisas de Valeduc, a populao tenha mais argumentos parareivindicar sua participao nas anlises pblicas da utilizao da cincia e da tecnologia.Quemsabecomestascondiesecomavontadedemonstradapelapopulaodeirembuscadestaparticipao22efetivasemsertomadadesurpresaquandoemcontatocomacinciaea tecnologianomundo real nas decises que podero influenciar o destino da evoluohumana,estaculturaestabelecidahtantotempocomecefinalmenteaserrevertida.

    3.4ASFACESDACINCIAEDATECNOLOGIA

    Para no tomarmos posies impensadas de supervalorizar ou no os pontos positivos ounegativos,osefeitoserepercussesdacinciaedatecnologianocomportamentohumano,importante que tenhamos claras as diferentes faces que elas assumem nas suas estreitasrelaescomavidacotidianadetodosns.Osaparatos,mquinasouinstrumentos,produtosdaatividadecientfica,nosomausnembons,nempositivosnemnegativosemsimesmos.Nem poderamos tomar este carter irracional em tal anlise porque estaramos sendoanimistaseinconseqentes,atribuindoaumaconstruodoprpriohomemumcomportamentoqueno lhepertinente.Oquesepodeesedeveanalisar,noentanto,ousoquese fazdestesaparatos,mquinaseprocessosque,asim,poderesultarnegativooupositivo,bomoumauparaavidahumana.

    inegvel a contribuio que a cincia e a tecnologia trouxeramnos ltimos anos. Porm,apesar desta constatao, no podemos confiar excessivamente nelas, tornandonos cegospelosconfortosquenosproporcionamcotidianamenteseusaparatosedispositivos tcnicos.Issopode resultar perigosoporque,nestaanestesiaqueodeslumbramentodamodernidadetecnolgica nos oferece, podemos nos esquecer que a cincia e a tecnologia incorporamquestessociais,ticasepolticas.

    importantetersemprepresentequenemtudoquesepodefazertecnicamente,devesefazermoralmente.Estaspreocupaes,estasrelaeseasdiferentesinterpretaesquecriamosnotocante aos verdadeiros fins da tecnologia e o seu carter neutro, quemuitos lhes querematribuir no sentido de afastlas das questes de ordem social e poltica, tm sriasrepercussesnaformacomoosconhecimentossoconstrudosnasescolas.Constituem,por

  • 22/1/2014 Cincia, Tecnologia e Sociedade. E o contexto da educao tecnolgica. Sala de lectura CTS+I

    http://www.oei.es/salactsi/bazzo03.htm 13/32

    isso,aabordagembuscadanesteitem.

    Umarelaodedesconhecimento,medoeufanismo

    Omedodatcnicaoudatecnologianoassuntonovo.srecorrerhistria recente dahumanidadeparaperceberisso.Arevoluocausadapelaintroduodaimprensa,nosculoXV,frutodeconsiderveismelhoriasnumantigoprocessochins,umexemplo.O'invento'deGutenberg,em1450,queproporcionouadisseminaodeconhecimentonumavelocidadeatentodesconhecidaequedeunovodinamismoculturaecincia, teve tambmosseuspercalos.Oscopistas,quenapocapacientementereproduziamoslivrosletraporletra,numinstanteperderamsuaimportncia.Destaformaumanovamquinasubstituiuvriosindivduos.A introduo da mquina a vapor, com as melhorias estabelecidas numa tambm antigainveno,porJamesWatt,em1764,outroexemplo.Aliadaao tearmecnicomultifusos,amquinaavaporcrioucondiesparaarevoluoindustrial,quesacudiuahumanidade.

    Os choques provocados por essas e por muitas outras novidades e acontecimentosrelacionadostecnologia23podemajudaracompreenderoquesepassanasociedadeatual.

    Avio a jato, forno de microondas, tomografia computadorizada, clonagem, internet,microcirurgia a laser, cateterismo, telefone celular, pentium. Poderamos listar uma srieinfindvel de novidades que nos estonteiam e nos apequenam diante da nossa ignorncia.Como funcionam, quem as criou, para que servem, para onde nos leva tudo isso? Secompararmosmuitasdessasnovidadesao impactodaaparentemente simples introduodaagriculturanasociedadehumana, h cercadedezmil anos, talvezquase todas sumamemimportncia.Masasuacontemporaneidadecomanossavidaparticularquedevemajoraroseuimpacto,elevandoasuaimportnciarelativa.

    Sugestoparaencararasnovastecnologiasetrabalharosseusimpactossemmedosesemufanismos:cautela,umaboadosedereflexodesuasvantagenselimitaes,eacimadetudouma contextualizao das suas implicaes. Se a revoluo industrial causa problemas athoje sentidos poluio, degradao ambiental, acumulao de capital, explorao detrabalho humano ela tambm permite confortos de que ningum quer abdicar medicamento, televiso, carro, telefone, geladeira. Se a imprensa desempregou os mongescopistas, ela tambmpermite hoje que cada aluno tenha o seu livro, que todos possam lerjornaisdiariamenteequesemontembibliotecasemcadacidadeouemcadaescola.

    O tipo de posicionamento colocando a cincia e a tecnologia como isentas dos outrosacontecimentosdavida,aoqualesteensaiobuscacontraporse,queteminfluenciadoedirigidoemcertaescalaossistemasdeensinodasescolasdeengenharia,teveumadassuasfontesdeorigemnosescritosdeBacon,nosculoXVI,ondeelediziateracinciasomentebondadeeneutralidade, inerentes ao prprio processo, e que qualquer mal que ela causasse seriaconseqnciadesuamutilizao.TaltradioseguiuganhandoadeptosefoireforadaporGalileu,namesmapoca,quedizianopoderenodeveracinciaestarsujeitaanenhumalimitao.Deveriateroseucaminholivreedesinteressado.Oscientistasdeveriamterodireitode buscar e praticar a verdade cientfica sem se preocuparem com suas possveisconseqnciassociaisperturbadoras.Por issoela foisempretratadademaneiraasspticaecompletamenteafastadadeoutrasvariveisquenodissessemrespeitoexclusivamenteaosresultados empricos que confirmassem ou no os seus estabelecimentos tericoseminentementeracionais.

    A defesa intransigente de tal comportamento da cincia vinha acompanhando odesenvolvimentocientfico,eencontravaumforteadeptoemDescartes,quetinhaaambiodeconverter o homem em dono e possuidor da natureza. Descartes, no entanto, apesar dedefenderanointerfernciadeelementosexternosnofazercincia,reforavaqueoidealdocientista no poderia ser apenas especulativo, curioso e desinteressado. Deveria, sim, serligadoaoconjuntodedesenvolvimentodahojeconhecidacivilizaoocidental,daexploraoedacolonizao,daconquistamilitaredaindstria.

    AinterpretaodeDescartespodedirecionaropensamentodeque,apesardaveemnciacomque se estabelece a cultura do mtodo cartesiano como decorrente de uma interpretao

  • 22/1/2014 Cincia, Tecnologia e Sociedade. E o contexto da educao tecnolgica. Sala de lectura CTS+I

    http://www.oei.es/salactsi/bazzo03.htm 14/32

    eminentemente mecanicista da cincia, comea a surgir, tenuamente, a questo daneutralidadecientficaimpostasuautilizaomasnoaoseufazer.Esteaspectopareceser,dentro do que est estabelecido nos seus currculos, o mais sensato e possvel de sertrabalhadonoensinodeengenharia.

    Emdecorrnciadasinterpretaesdbiasquepraticamentesempreestiverampresentesnestasquestes desde a revoluo cientfica, um novo episdio importante vem estampado noconceito de progresso ligado umbilicalmente ao desenvolvimento cientfico, que surge noprojetoda'Enciclopdia'deDiderot,porvoltadosculoXVII.Nelasebuscavarecompilartodooconhecimentoqueexistiadispersosobreafacedaterra,daraconhecerasuaestruturageralaoshomense,almdisso,transmitiloquelesqueviriamdepois.Continuavavivonaculturahumanaqueoprogressoerairreversvelequeacinciaspoderiaserbenfica.NosculoXIXsurgenovoreforoaestaafirmativa,agoraatravsdeMarxeoutrospensadoresquetiveramrelevncianodesenvolvimentoeconmicoesocial(Revilla,MrquezeStingl,1993).

    Arevoluoindustrial,entreosanos1750e1830,significouagrandeexpansodatecnologiaedeumotivosparaumconjuntodesuposiesemtornodela,fundamentalmenteacrenadequea cincia se traduz em tecnologia, a tecnologia modifica a indstria e a indstria regula omercadoparaproduzirobenefciosocial.Estaconceposimplista,quepoderamoschamardeconcepo positivista da evoluo humana, parece ter contribudo para que a anlise daneutralidadepassassecommaisvigordacinciaparaatecnologia,pordoismotivos:primeiroporque sendo a tecnologia uma aplicao da cincia, esta anlise abarcaria tambm asquestescientficasaoutraporque,emfunodesuasaplicaesdiretas,atecnologiaestavamuitomaisprximadosresultadossociais.

    Porm, a tese e as perguntas continuavam a ser as mesmas que permeavam a questocientfica:atecnologianeutra?Aneutralidadesexistenasuacriao?Comosecomportaestaneutralidadequandoutilizamosatecnologia?

    Depoisdestasupostatransfernciadeanlisesobreaneutralidade,numperodocompreendidoentreosanos1830e1890conhecidocomoaetapadaprosperidadeconsolidasedefatoavinculaodoprogressocomatecnologia,principalmenteostentadanumfatoderepercussouniversalnapoca:aprimeiraExposioMundialIndustrial24,realizadanaInglaterra.Aidiadeprogressotecnolgicoassociadoaodesenvolvimentohumano,apartirdesteevento,tornousedefinitivamenteumartigodefparaahumanidade.

    Anosmais tarde, na seqncia destes arroubos de ufanismo, aCorporao deTecnologiasUnidas dos Estados Unidos dizia aos quatro cantos domundo: Eticamente a tecnologia neutra,nohnadabomnemmauinerentementeaela.simplesmenteuminstrumento,umserventeparaserrefinado,dirigidoeutilizadoporpessoasparaqualquerpropsitoquequeiramconseguir.

    uma afirmao que refora o discurso contemporneo acerca da tecnologia como umaferramentaneutrafacilmentemanipulvelparaousohumano(Gana,1995).

    Acivilizaoocidentalcontinuavaembaladaporeste'cantodasereia',acreditandoemtemposdeprogressodesenfreadoabarrotadodesaldospositivos.Todasaseventuaisconseqnciasnegativas seriam corrigidas pela prpria tecnologia. Afinal, como sua repercusso dependiaapenas da forma de utilizao, parecia inconcebvel que qualquer resultado nopositivopudessedecorrerdela.

    Ograndeimpacto,jrealadoanteriormente,surgiriacomumaatitudepolticaqueviriaaabalaromundo.Ohomemusavaumartefatotecnolgicoparaproduzirumadasmaiorescatstrofesda histria contempornea. O domnio da natureza serviria para, atravs de uma forma deenergiaacumulada,ceifarmilharesdevidascomumaarmaidealizadaeconstrudapeloprpriohomem.

    Aquestotica,aneutralidade,autilizao,avulnerabilidadedacinciaedatecnologiaemrelao a questes polticas infames comeam a colocar em xeque o velho chavo dodesenvolvimento humano associado linearmente ao conceito de progresso cientfico

  • 22/1/2014 Cincia, Tecnologia e Sociedade. E o contexto da educao tecnolgica. Sala de lectura CTS+I

    http://www.oei.es/salactsi/bazzo03.htm 15/32

    tecnolgico. Estes aspectos fazem a sociedade comear a questionar o conceito de que oprogresso tecnolgico suficiente para o desenvolvimento humano. E,mais do que nunca,estasindagaescomeamafervilharnasmentes,agoratambm,doshomenscomuns.Noainda com a intensidade necessria, porque a populao mais dependente da tecnologiacontinuavavivendodasbenessesqueelaoferecia.

    Pormaishediondaqueaexplosoatmica tenhasido, ela ficou longedaanlise crticadocidado, porque tambm foi defendida, e sempre com a maestria peculiar daquelesinteressadosemassimfazlo,comoimportanteeboaportercontribudoparaestancarumdosmaioresconflitoshumanos,aSegundaGuerraMundial.Almdisso,justificavaseaexpansodo desenvolvimento atmico como fundamental para a gerao de energia limpa e nopoluente.Continuavaquaseinabalvelacrenanatecnologiacomoinstrumentoimprescindveldedesenvolvimentohumano.

    No sculo XIX, quando a civilizao estava embevecida com o advento das novidadestecnolgicas,julgavaseseracinciaumagrandeaventuraparaoespritohumanoe,maisdoque isso, ummeio para libertar o homemda escravido. Certamente precisvamos dela daformacomonoseraposta.Hoje,porm,ecomasincertezasesuspeitasquantoaosefeitosdacinciaedatecnologia,acrisedeconfianaeidentidadesentidadentrodosprprioscrculoscientficosnotvel.Talvezeimportantepensarassimesteaspectosejadevidomaiorpreocupao dos prprios cientistas em escrever sobre a cincia e suas aplicaes. Seusresultados comeam a nomais ficar circunscritos a poucos entendidos que decidem seusdestinos.Estasnovaspercepesestampadasdentrodosgruposquetrabalhavamacinciaeatecnologiafaziamnascerdiferentescolocaessobrearepresentatividadedestasatividadesnavidahumana.

    Como decorrncia destes aspectos, nos anos 60 se registravam frases de ufanismos emrelaocinciaetecnologia,comoesta,devidaaAlvinWeinbergdiretordoOakRidgeNationalLaboratory,Tennessee,reproduzidanolivroParaqueserveacincia:

    QuandoahistriaolharparaosculoXX,veracinciaea tecnologiacomoseu tema [...]VernosmonumentosdaBigScienceosenormesfoguetes,osaceleradoresdealtaenergia,osreatoresdepesquisadealtofluxosmbolosdaera,tocertamentequantoNotreDameodaidademdia(WeinbergapudDixon,1973,p.2).

    Porm, nos anos 70 esta unanimidade j comeava a fazer gua, quando outros cientistasvislumbravamalgumaspossibilidadesemergentesdedestruioocasionadaspelautilizaoindiscriminada da cincia e da tecnologia. Alguns livros e ensaios, publicados em revistasespecializadas, comeavam a ser editados na nsia de segurar um pouco este ufanismodesenfreadoque,inconscientemente,procuravafazerveratodosumacinciaeumatecnologiadissociadas dos problemas sociais que poderiam causar. Frases bombsticas talvez decunhomuitoalarmante,tambmsurgiamnaoutrapontadodebateestabelecidoequeDixonfazia questo de citar para reforar seus argumentos de discutir com mais profundidadesemelhantes assuntos, constantes do seu ensaio.Uma delas era atribuda aoDr. DesmondKingHele,emsuapublicaoTheendofthetwentiethcentury,quandoseperguntava:Serqueanossacivilizaonosedestruirantesdoano2000?(KingHeleapudDixon,1973).

    Essamodificaoveioocorrendocomocidadocomumdesdeaquelapoca,provocandoumaprimeira mas ainda, no entanto, pequena alterao cultural, transformando os medos, osdesconhecimentoseasdvidasemconstantebuscadeesclarecimentossobreoquearelaoentreacincia,atecnologiaeasociedadepoderiasignificaremsuavida.Apesardaadmiraopelosefeitosdacinciaedatecnologia,apreocupaoagoramuitomaisaguadacomasconseqnciasnegativasdosseususos,tantonasquestesdomeioambiente,dodomniodearmas poderosssimas, quanto em relao s questes sociais decorrentes da minoriadominantedetodosestesconhecimentos.

    Tcnica,cinciaetecnologia,umarelaoconfusa

    Existemdiferenasentrecincia, tcnica e tecnologia?Pareceque responder diretamente aestaperguntacairnoreducionismoenoacrescentamuitoemtermosdeinterpretaodesua

  • 22/1/2014 Cincia, Tecnologia e Sociedade. E o contexto da educao tecnolgica. Sala de lectura CTS+I

    http://www.oei.es/salactsi/bazzo03.htm 16/32

    evoluo ao longo do desenvolvimento social. Mas, ao contrrio, discutir diferenas eseparaesserevestemdeuma importnciaconceitualparaalmdasemnticaequepodemudaralgunsposicionamentosemrelaossuasabordagensnoensinotecnolgico,tantodeordemsociolgicaquantodeordemepistemolgica.Umareflexobuscadanesteitem,comointuito de tentarmapear as repercusses sociolgicas que tais posicionamentos ocasionam,deixando a questo epistemolgica para uma anlise conjunta com os aspectos didticoscontempladosnocaptulo6.

    Podese dizer que nestas diferenas vem embutida a questo da neutralidade que elasarrastam, quanto aos seus usos e aplicaes, e que tanto confunde o posicionamento daspessoasemrelaoaesteaspecto.Essaconfusosobreaneutralidadetoevidenteque,emdiversassituaes,crianaspessoasumpadroequivocadodecomportamentoparaaquelesquetrabalham,oupretendemtrabalhar,comacinciaeatecnologia.Oesteretipoconstrudonestaperspectivaapontaque,para trabalhlascommaiorsucesso,ocientistaou tecnlogodeveestarafastadodasquestesdocomportamentohumano.

    Como ilustrao desta constatao, a afirmao proferida por um jovem universitrio degraduaoemreanotecnolgicarefletebemaopiniodosensocomumsobreaquestodaneutralidade da cincia e da tecnologia em relao ao comportamento de quem com elastrabalha.Diziaele,emlinhasgerais,aoserinquiridosobreumproblemadecorrentedosistemadeabastecimentodeguadesuacidade:Noseirespondersobreesteassuntoporque istonodizrespeitoamim.umassuntoestritamentedaaladadosengenheirosresponsveis.Ademais,mesmoqueeuquisesse,quemsabeumdia,lidarcomatecnologia,nopoderiafazlo, pois sou uma pessoa muito sensvel, emotiva at, e no poderia opinar sobre a suautilizaopelofatodenoconseguirmemanterneutro.

    Naprocuradealgumainformaoparaestaintrincadaquesto,separtirmosparaumarevisonasdefiniesclssicasacercadatcnica,parecequenoexistediferenaalgumaentreelaea tecnologia. Elas sempre foram identificadas com utenslios, ferramentas, instrumentos emquinas.Mas,numavisomaisaprofundada,atcnicasempretrazidaparaanliseatravsdastransformaesconsecutivasdosdiferentesartefatosutilizadospelohomemcomosentidoestrito de ferramenta. Sempre se refletiu uma explicao de tcnica na histria do homematravsdesuaaplicaoeminentementeinstrumental.Elavemsendoentendidacomoaarte,produo e manuteno de instrumentos e, na maioria das vezes, para no dizer na suatotalidade,nesseentendimentosempreprocurounolevaremconsideraoasinterrelaesdentrodoentornoqueabrangeosistemaeoserhumano.Suasdefinieseestudosexcluemofatorcultural,socialeomeioambientedestatcnica.Abibliografiasobreestetema,nagrandemaioriadesuas interpretaes, temtrazidoesteposicionamento,apesardeatribuir tcnicainmerosdesenvolvimentossociaisnahistriahumana25.

    Ahistriadatcnicaahistriadasgrandestransformaesdosartefatoscaracterizadasemdoistiposdemudanas:emprimeironvel,asmudanasqueprovocamalteraesnosartefatosenosprocessose,emsegundonvel,asmudanasnaestruturaenaorganizaosocial.

    importante notar que, apesar das mudanas sociais, os registros histricos procuram serenfticos em querer mostrar que estas revolues aconteceram independentemente dasrepercusseseconseqnciassociaisadvindasdaadoodastcnicas.Grandepartedestesregistros enfatizam que as revolues aconteceram estritamente em decorrncia de ummovimentopuramentematerial.Atporissoasdificuldadesdeinterpretaosurgem.Equando,nabuscadeumasadaparaestetipodeanlise,osfundamentosseprendemaumaseparaoquesesupeexistirentre tcnicaetecnologia,algumasafirmaes26defilsofosdacinciafazem reacenderadiscussodaautonomiaeneutralidadeda tcnicaque tida comoumaentidadesujeitasuaprpriadinmicainternadedesenvolvimentoalheiaaqualquertipodeintervenosocial.Estasindependnciasdedesenvolvimentos,baseadasnestasdeclaraes,entovoltamasecomprometer.

    Diante desse impasse podese tomar dois posicionamentos: revisar a noo tradicional datcnica, reformular as perguntas fundamentais em matria de seu desenvolvimento e, porconseguinte, examinar o conjunto mais amplo que a tcnica poderia fazer em termos decontexto,seuentorno,seusriscos, impactos,vantagens,desvantagenseasmodificaesna

  • 22/1/2014 Cincia, Tecnologia e Sociedade. E o contexto da educao tecnolgica. Sala de lectura CTS+I

    http://www.oei.es/salactsi/bazzo03.htm 17/32

    organizao e no meio ambiente do homem ou ento estabelecer de pronto diferenasmarcantes entre tcnica e tecnologia para fazer frente atual diversidade do fenmenotecnolgico,posicionandoodomniodatcnicarealmenteemumnveldemenorrelevncia27.

    Gana,nestedirecionamento,efetivamenteestabelecealgumasdiferenasentrea tcnicaeatecnologiaemfunodosmtodosemeiosutilizadospararealizarasmodificaesnoentornoque pode clarear esta questo. Diz ela que estas diferenas tm relao com o tipo deconhecimentoempregado,ametodologiaestabelecida,oalcance, riscoe impactoda prticautilizada, o tipo de propagao, os requerimentos de sua implementao, os avanos,vantagensedesvantagenseasmudanasscioculturais.

    Emoutraspalavras,eatcomafinalidadedeumaseparaodeordemmetodolgica,podesedizerqueaesferadeaodatcnicamaisreduzidaeseposicionaemumnveldemenorcomplexidade em relao tecnologia. Mas, apesar desta limitao, continua difcil umadefinioprecisa,agoraparaotermotecnologia28.Noentanto,dentrodacoernciaqueprocuraeste trabalho e assumindo como fundamental este posicionamento para a linha de atuaoadotada nesta tese, quando o termo tecnologia for utilizado ele o estar sendo no seguintesentido:umapartedoconhecimentohumanoquetratadacriaoeusodemeiostcnicosesuasinterrelaescomavida,sociedadeeseuentorno,recorrendoarecursostaiscomoasartesindustriais,engenharia,cinciaaplicadaecinciapura.29

    Para ampliar o escopo deste entendimento do que tecnologia representa nesta abordagem,novamentealgunstpicosdoresumoqueGanarealizapodemserutilizados.

    A tecnologia simboliza uma grande complexidade e qualquer intento por definila deveriaconsiderarque:

    a. atecnologiatemrelaocomacincia,comatcnicaecomasociedadeb. atecnologiaintegraelementosmateriaisferramentas,mquinas,equipamentos

    e nomateriais saber fazer, conhecimentos, informaes, organizao,comunicaoerelaesinterpessoais

    c. atecnologiatemrelaescomfatoreseconmicos,polticoseculturaisd. aevoluoda tecnologia inseparveldasestruturas sociaiseeconmicasde

    umadeterminadasociedade.

    Postoisso,oobjetivoqueseperseguenestetratamentodatecnologiaaevoluo:aevoluodoserhumano.Ficaclaroquenesteintentonosepodeassumiraimagemdeumatecnologianeutraeobjetivacomofundamentoelegitimaododesenvolvimentotecnolgico.Podeseatadmitiraexistnciaeassuno,porpartedemuitaspessoas,dosonambulismotecnolgico,mas o mais importante , paralelo a isto, e principalmente, tambm admitir que possvelassumirumposicionamentocrticoereflexivoepassaraviver,dentrodestesnovosparmetros,comasmaisdiferentesalternativassciotcnicas.

    Natentativadelidarcomosconfusosentendimentosdacincia,datcnicaedatecnologia,etendocadavezmaisclaroqueo tratamento sociolgicodaneutralidade fator fundamentalparaestabeleceroscritriosdesuautilizaojuntosociedadeduranteosltimosvinteanos,os especialistas, os professores, os cientistas e os encarregados da gesto pblica tmreconhecido,nasuagrandemaioria,deformacrescente,queacinciaeatecnologiaapartirdeagoraestaremosutilizandoapenasapalavratecnologiatendoemcontaasdiferenciaesestabelecidas com a tcnica nos itens anteriores so processos sociais carregados devalores.Nemacinciaemuitomenosatecnologiasoempreendimentosautnomoscomvidaprpria, nem tampouco so instrumentos neutros que possam ser facilmente modificados eutilizados para as necessidades ou interesses de planto. So, na realidade, complexosempreendimentos que tm lugar em contextos especficos configurados, e por sua vezconfiguradores de valores humanos que se refletem nas instituies culturais, polticas eeconmicas.O interessecriadoporpartedosconsumidores,dosempresrios,dosgovernos,dosbanqueiros,defineosproblemaseestabeleceosparmetrosemquesedeverobuscarosresultados aceitveis. Simultaneamente, a cincia e a tecnologia afetam a configurao e adefinio de valores e instituies, de forma que a relao dinmica, de constantes ecomplexas relaes recursivas (Sutcliffapud Medina & Sanmartn, 1990). Teramos que ser

  • 22/1/2014 Cincia, Tecnologia e Sociedade. E o contexto da educao tecnolgica. Sala de lectura CTS+I

    http://www.oei.es/salactsi/bazzo03.htm 18/32

    muito ingnuos para pensar que a aplicao e a produo da cincia e da tecnologia seconformamcomoalgoneutro.

    Winner nos adverte sobre este ponto de vista, em certas situaes definidor de um novocomportamentosocial,quandonovasesurpreendentestecnologiassopostasemuso:

    [...]jtemoscomeadoaadvertirsobreoutropontodevistadodesenvolvimentotecnolgico,quetranscendeosdefeitosempricosemoraisdosmodelosdecausaeefeito.Iniciasecomoreconhecimentodeque,medidaqueastecnologiassoconstrudasepostasemuso,jseestproduzindoalteraessignificativasnospadresdaatividadehumanaedas instituieshumanas.Estosendocriadosnovosmundos.Nohnadadesecundrionestefenmeno.De fato, a conquista mais importante de qualquer nova tecnologia. A construo de umsistematecnolgicoqueenvolvesereshumanoscomopartedeseufuncionamentorequerumareconstruodospapisedasrelaessociais.Muitasvezesistoresultadodasexignciasoperativas prprias de um novo sistema: simplesmente no funcionam a menos que semodifiqueacondutaparaadaptarsesuaformaeprocesso.Daquesomenteoatodeutilizaras classes de mquinas, tcnicas e sistemas disponveis gera modelos de atividades eexpectativas que logo se convertem em instintivos. certo que usamos os telefones, osautomveis,aluzeltricaeoscomputadoresnosentidoconvencionaldetomloselogodeixlos.Masnossomundologoseconverteemumsistemanoqualatelefonia,osautomveis,aluzeltricaeoscomputadoressoformasdevidanosentidomaispoderoso:avidaseriaquaseimpensvelsemeles(Winner,1987,p.27).

    Trabalhar a neutralidade ou a noneutralidade da tecnologia na sociedade e, maisespecificamentenaescola,passaaserentoumaquestodevalores30.

    Eestaanlisesociolgicarevestesedefundamentalimportnciaporqueelapodedeixarclaraumadiferenciao importantenageraodasnovas tecnologias.Nosepretende,de formaacrtica, limitar sua criao e sim, atravs destas reflexes, poder interferir na pertinncia enecessidadesdestacriao.Elasconstituemduascoisasbemdiferenteseporissodevemsertratadasdeformadiversa.Quandoseadvogaofatodedarseoportunidadeaocidadocomumpara que ele entenda o discurso cientfico, defendese enfaticamente a disponibilizao decondies para que ele possa discutir os rumos da cincia e da tecnologia como fatorimportantenasuaprpriaformadevida.Estetipodeposicionamentopromoveaquebradeumpensamentoequivocadodequeofazereentenderestesintrincadoscaminhosdacinciaedatecnologiasodeinteresseapenasdosprofissionais,parecendoserdelestambmadefiniodostiposdeusoquepoderoserobservadospelasociedade.

    Estes questionamentos apresentam um importante desafio para todas as reas deconhecimentodasquaisascinciassociaiseashumanidadesobrigatoriamenteprecisamfazerparte. De fato, existe uma grande quantidade de historiadores, antroplogos, socilogos,psiclogos e tambm toda a espcie de artistas cujo trabalho ilumina diversas dimenseshumanasda tecnologiadescuidadaspormuito tempo.Reforaseaqui,noentanto,quecomestas noes de neutralidade e convictos de que a tecnologia realmente um constructosocial,osengenheiroseoutrosprofissionaistcnicos,quandotiveremcoragemsuficienteparairmaisalmdascategorias intransigentesdesuacapacitao, teromuitomais a contribuirparaodesenvolvimentosocialehumano.

    3.5CINCIAETECNOLOGIAATRAVSDOSTEMPOS

    Acinciaumdeterminadotipodeconhecimento,pormnoonico.umconhecimentoquebuscaleisexplicativasgeraisestabelecendoconexesentrefatosefenmenos.Existe,hmuito tempo, como uma importante atividade humana. Desde os babilnios, os egpcios eoutrospovosmaisantigoseradesenvolvidaporcuriosidademas,apartirdestacuriosidade,foigerandomuitosresultadosimportantesathojeutilizadospelohomem.NaGrciaeemalgunsoutros povos na poca clssica, a cincia surgiu em convivncia paralela e estreita com afilosofia31.

    Apesar de todas as interpretaes, que por motivos diversos na rea de conhecimentotecnolgicosomuitasvezeslevadasaextremos,geralmente,tantoacinciaquantoafilosofia

  • 22/1/2014 Cincia, Tecnologia e Sociedade. E o contexto da educao tecnolgica. Sala de lectura CTS+I

    http://www.oei.es/salactsi/bazzo03.htm 19/32

    so,emsuasorigens,amesmacoisa:abuscadaracionalizaodomundoea tentativadaeliminaodomito.

    Aolongodetodaahistriaexistirampessoas,almdosgregos,queassumiramconjuntamenteentreassuasprioridadesdeestudos tantoa filosofiaquantoa cincia, desenvolvendo, comisso,capacidadesdeanliseereflexoextremamenteacuradas.Entreelespoderamoscitarosmais famososdaantigidaderepresentadosnosnomesdeTales,Pitgoras,Plato,Epicuro,entreoutros.

    Acinciasempreseconstituiunumaatividadeextremamente importantenodesenvolvimentodahistria.Noentanto,apesardetodasasevidnciasdestaimportnciaparaacivilizao,ato sculo XVII a cincia teve pouca relevncia para a vida humana. Ela efetivamente seimplantou como saber e conhecimento e, no conceito dominante na poca, capaz detransformar a natureza e influenciar as reflexes dos homens, atravs de Galileu. Nestaperspectiva,acincia,desdeosfinaisdosculoXVIII,temseconvertidoemfatordeterminanteparaodesenvolvimentoecomportamentodasociedadecontempornea.

    Nesta evoluo necessrio fazer referncia aos sculos XVI e XVII com a chamada'Revoluo Cientfica', em que aparece a cincia moderna proporcionando uma mudanaradicalnaformadeconceberseucomportamentoeestrutura.Produzse,ento,talvezamaiorrevoluonumconceitojestabelecidopeloserhumano.AfsicaseopecinciagregaquediziaseraTerraocentrodoUniverso.Omodelogeocntricodlugaraomodeloheliocntrico,abalando estruturas, costumes e convices. Comea a se estabelecer, mesmo que noadmitida explicitamente, a dependncia do comportamento humano aos desenvolvimentoscientficosessuasinterpretaes.

    Newton, ao utilizar as contribuies de Coprnico, Kepler e Galileu, parte para umasistematizao de todos estes conhecimentos e conceitos, consolidando com isso a fsicaclssicae,pordecorrncia,estabelecendoodespertardeumanovacincia.

    Deumarpidadescriodasorigensdacinciaedatecnologia,dentrodediferentescontextos,essencial,parajustificativadestaanlisereflexiva,quesefaaclaramenteumadiferenciaodosprocedimentos,digamos,desdeapocamedievalataatual,paraquesepossadefenderenfaticamente as diferentes formas de abordagens que se deve assumir para processar asreflexessobreasuainfluncianoshomensenasrelaessociais.

    Naeramedieval,afsicaeasheranasdacinciagregadominavamasreflexesdapoca.Naqueletempoeraumacinciaqualitativaenoquantitativa,emfunodeumademandaqueassimpermitia.Hoje,comacinciamodernaquegerouumatecnologiaassombrosaequeconstantemente se v frente responsabilidade de descrever relaes entre fenmenosquantificveis,comprovararegularidadedesuasapariese,aindacomodecorrnciadeumanova ordem sociolgica, decifrar as repercusses destes fenmenos na dinmica do meioambienteeasconseqnciasdestascriaesnodesenvolvimentodoserhumanoparecequeomtodo,asabordagenseasinterpretaesprecisammudar.Tantonaformadefazeracinciaeatecnologia,quantonaformadetrabalhlasnoprocessoeducacional.

    Acinciaesuametodologia

    Parajustificarumaalteraoquedevaacontecernaformadetrabalharacinciaeatecnologia,fundamental saber comoelas se comportarame se comportamatravsde suas diferentesabordagenseinterpretaes.

    A atitude cientfica no uma atitude espontnea. Omodo de ver, amaneira de olhar e ocuidadoemvigilaroqueaconteceemseuentorno,porpartedocientista,seprocessadeformadiversa da do homem do cotidiano que, por fora de expresso, podemos chamar aqui de'homemnormal'.Emaisainda.Amaneiradeolhardocientista,quandoeleestimbudodestaatividade, at mesmo diferente daquela que ele possui no seu viver habitual. Podesedescrever um mesmo objeto com diferentes atitudes a partir de diferentes perspectivas. Amaneira 'cientfica'deveromundosupeumesforomentalqueseconhecepor racional,eatribuiseestaatitudecientficacomofrutodeumaconquistahistricadohomemaolongodostempos.

  • 22/1/2014 Cincia, Tecnologia e Sociedade. E o contexto da educao tecnolgica. Sala de lectura CTS+I

    http://www.oei.es/salactsi/bazzo03.htm 20/32

    Anecessidadequeseestabeleceunohomemparaqueeleconhecesseomundoparaneleorientarse,paraneleviver,paratentardominloousimplesmenteparasaberacercadele,fezcomqueasperguntas,osproblemas,osfenmenosganhassemrelevnciampare,acimadetudo, um estudo metdico de modo que sobre eles no pairassem dvidas e merecessemcrenas seguras. Nasce o mtodo cientfico como a chave para desvendar os segredos eproporcionaracrenainabalvelnacincia.Comelesedeterminaoquesoverdadeiramenteascoisaseseprocuraaliberdadedohomematravsdoconhecimentodarealidadetalcomoseapresenta.Esta foi sempreaaspiraodomtodocientfico.Ele sempre se destacoudosensocomumqueprocediadeumaatitudenaturalparaseimporcomsuaracionalidadeatravsda 'infalvel'atitudecientfica.Agrandediferena, em tese, que seestabeleceentre o sabercomumeocientficonoestnocontedo,namatriaounanatureza,esimnaorganizao,nasistematicidade em suma, nomtodo. Dentro desta tica, o saber comum a acumulaoimperfeitaeincompletadeconhecimentos,enquantoacinciasereconhecepelacontundnciaemtornaranaturezaexplcitapormeiodaelaboraodeumsistemacompletoecoerentedeenunciadoscomsuasexplicaesperfeitamenteconstrudaserepletasde'verdades'.

    Aolongodetodoesteprocessodeafirmaocomoconhecimentoe,emcertasocasies,pelapostura inflexvel das pessoas que com ela trabalhavam como doutrina, a cincia recebeuinmerasclassificaesdeacordocomsuautilizaoepertinncia.Umadelasadistinoentrecinciasempricaseformais.Asempricassoaquelascujosenunciadosse referemafatos, afirmando ou negando algo que acontece nomundo. As formais32 so aquelas cujosenunciados no se referem a fatos, no afirmam e nem negam o que sucede nomundo eportantocarecemdecontedo factual.Elasseocupamdas relaesentreelementos, sejamestesoquesejam,existamounoexistam.Noseudesenvolvimentoeaplicaosoutilizadossmbolosvaziosdecontedo,comosquaisserealizaminmerasoperaesderegrasrgidassuaslinguagenssoprpriaseservemdeferramentasimprescindveisparaosabercientfico.

    Nabuscadodomniodetodasestaspossibilidadesdeverificaes,verdadeseoutrospreceitossupostosdacincia,ohomemsempreprocurouomelhormtodo.Dentreelessedestacaramdoismaisgerais:ainduoeadeduo.Foramutilizadoshabitualmentecomoformadepensareraciocinare,trabalhadoscomrigor,constitueminstrumentosindispensveisdofazercientfico.Nascinciasnaturaisonde,apriori, devemosdomaranaturezaparacolocla a serviodohomem,combinamseainduoeadeduo,fazendonasceromtodohipotticodedutivo33.Estemtodo, que consta de uma sriedepassos34, vai desembocar numa lei que, quandosistematizada,organizaseestruturalmente,fazendonascerasteorias.

    Destaformaacincia,comsuasanlisesinternalistas,foiseimpondo,epoucasvezes,apesardesuascontradieshistricas,foianalisadadeoutraformaquenoparasupervalorizarseusfeitoserepercusses.

    Emparaleloscinciasnaturaissurgemascinciashumanas,queprocuramseguiromesmomodelonapsicologia,nasociologia,naeconomiaeoutras.Soosdoistiposdecinciaqueseunificam pelo mtodo que utilizam. No decorrer do tempo se cria uma aproximao entreambas, e as dificuldades impostas s cincias humanas, por parte de um mtodo linear einflexvel,tendeaestabelecerperguntasque,inapelavelmente,comeamaatingirtambmascinciasnaturais.

    Os fatoshumanossemostravamno to fceisdeseremexplicadoscomoopodiamserosfenmenos da natureza. No amesma coisa um fenmeno natural e um fato humano. necessriodistinguirnestasdiferenciaeso'explicar'eo'compreender'.Parecequecomeamasurgiraquiosprimeirosrespingosquepoderoalteraraformadirecionadaenoreflexivadeverummtodocomoabsolutonasuaaplicao.

    O entendimento de que no basta a aplicao simples de um mtodo, como o hipotticodedutivo,porexemplo,nascinciashumanas,porenquantofazsurgiranecessidadede,emparalelo,adotarseomtodohermenutico,quetemafunodelidarcomainterpretaoparao entendimento da cincia.Nesta perspectiva, parece estar hoje superada a forte dicotomiaentre explicao pura ou entendimento puro predominante no incio do atual sculo. J seaceita, permitindo a mudana que me parece imprescindvel, a presena de fundamentoscompreensivos nas atividades explicativas, assim como a necessidade da interveno da

  • 22/1/2014 Cincia, Tecnologia e Sociedade. E o contexto da educao tecnolgica. Sala de lectura CTS+I

    http://www.oei.es/salactsi/bazzo03.htm 21/32

    explicaonaprpriacompreenso.

    Estasimportantesmudanasquecomeamaseprocessarnocomportamentodascinciastmrepercussesdiretastambmnosprocessosdeaprendizagem.

    Umanovaatitude

    O fato de que as cincias, tanto as naturais quanto as humanas, precisavammais do quemtodosinternalistas,quepareciamalheiosaoutrosacontecimentosquepoderiaminfluenciarseusresultadosparaanlisesmais completasde seus funcionamentos, comeava a ganharcontornosbemdefinidos.Apartir destasevidncias tendeseadar destaqueaoselementoscontextuais,histriaprincipalmenteaexternacincia.Istoacontececommaiornfaseemtemposmaisrecentes,apartirdosanos60,comapresenaconstantedoselementoshistricos,contextuaisoucompreensivosdentrodaatividadecientfica.

    Tornavaselugarcomum,nasteoriasquebuscavamexplicarodesenvolvimentodacincia,orechaoaopositivismoouaoempirismolgico35.Orechaocontundentetambmnassuasteses fundamentais, dentre as quais se destacam a existncia de uma base empricateoricamenteneutra, a importncia exclusiva de contexto de justificaoe tambm o cartercumulativododesenvolvimentocientfico.Surgeapartirdissoumconfrontocomospositivistaslgicos,poisestasnovastesespassamagerarumaimagemdacinciaquenocorrespondevisodacinciaclssicadominanteatoinciodosculoXX.Paraosempiricistaslgicosodesenvolvimentodacinciaseexplicaunicamentepelaexpansodevelhasteoriasemoutras.Somenteisso.

    Acontribuiodenovospensamentos

    Estarevoluoeborbulhamentonacinciafezsurgirnovaspropostastericasquevieramluznos anos 70, sob a influncia incontestvel do modelo kuhniano, mas tambm, e comimportantescontribuies,sobasmaisdiferentesabordagensdediversosoutrosautores36.

    SegundoAgazzi(1996),omomentodenascimentodestaconceposociolgicapodesersituadocomapublicao,em1962,daobradeThomasKuhn37Aestruturadas revoluescientficas, que rapidamente suscitou amplos debates ao contrastar categoricamente aepistemologiadoempirismo lgicoeospensamentospopperianos.Apsapublicaodestaobra,tiveramincioosdebatesentrekuhnianosepopperianosdurantequasetodaaextensodosanos70quevieram,maistarde,agerarodesenvolvimentodasepistemologiasdeLakatoseFeyerabend.

    Nestes debates epistemolgicos surgiram as conseqncias do fato de se afirmar umadependnciademasiadofortedacinciacomrespeitoaocontextosocial: relativismo radical,antirealismo, desaparecimento da noo de verdade e do conceito fechado de objetividadecientfica.Almdissosetornaevidenteadissoluodoscritriosrgidosparaestabelecerumapreferncia somente de uma teoria em relao a outra, incluindo neste terreno a forma deconhecimentoreferentespseudocincias38.

    Destaspropostasmescladaspodeserenumeradaumasriedetesesqueestesautoresmaisoumenos compartemequenosoferecemumavisoda cincia talvez aqui j se possatambmincluira tecnologiaquepodeserchamadade 'psemprica' (Ayarzagenaet al.,1996):

    a. Ahistriadacinciaaprincipal fontedeinformaoparaconstruirecolocarprova os modelos sobre a cincia diante das anlises lgicas adquiremimportncia os desenvolvimentos histricos na compreenso do conhecimentocientfico.

    b. Nohumanicamaneiradeorganizarconceitualmenteaexperinciatodososfatosdacinciaestocarregadosdeteoria.

    c. As teorias cientficas se constroem e evoluem sempre dentro de marcosconceituais mais amplos, so autnticos pressupostos que estabelecem 'umamaneiradever'.Recebemdiferentesnomessegundoosmais variados autores,

  • 22/1/2014 Cincia, Tecnologia e Sociedade. E o contexto da educao tecnolgica. Sala de lectura CTS+I

    http://www.oei.es/salactsi/bazzo03.htm 22/32

    comoporexemplo:paradigmas,programasdeinvestigao,teoriasglobais.d. Osmarcosconceituaismudam,e,porisso,buscamsemarcososmaisprofundose

    duradourospossveis.e. Acincianoumempreendimentototalmenteautnomo.f. Odesenvolvimentodacincianolinearenemcumulativo.g. Aracionalidadedacincianopodeserdeterminadaapriori.h. Os modelos de desenvolvimento cientfico no tm uma base neutra de

    contrastao.

    Paraacontinuidadedestaanlise,detrocasnaabordagemdacinciaapartirdestesfatos,necessrio que estabeleamos mais algumas referncias em relao aos modelosdesenvolvidosporKuhn.Noseu livroAestruturadas revoluescientficas39, elemarca umpontodepartidatantodeumanovaimagemdacinciacomodeumanovamaneiradefazerfilosofia da cincia. Expe, a partir de agora, uma concepo global alternativa formatradicional de trabalhar a cincia. O modelo kuhniano estabelece uma srie de etapas nodesenvolvimento de uma disciplina cientfica. Comea com uma etapa prparadigmticacriandocorpoeconsistnciaparadepois,quandoocampodeinvestigaoseagrupasobumconjunto de conceitos bsicos estabelecidos, nos colocar frente a um paradigma, o qual seconvertenabasedetodaainvestigaoqueseprocessarnestecampodeconhecimento.

    Oconsensoacercadeumparadigmamarcao inciodoqueseconhece,na teoriadeKuhn,como cincia normal. O paradigma vai ento se articulando e se aperfeioando atravs dotrabalho rotineiro dos cientistas. O desenvolvimento da investigao na etapa da cincianormal,pormaispadronizadaquepossaser,levaaodescobrimentodecertasanomaliasqueresistemaserresolvidasmedianteousodoparadigma.Este fato levaapensarque algumacoisaestprecisandoseralteradanoparadigmaporqueelenooferecemaiscapacidadedesoluoatravsdaaplicaosimplesdacinciaditanormal.Elepassaentoaentrarnocampochamadodecrisedoparadigma,comeandopeloqueconhecemospor'cinciaextraordinria',e passa a provocar a possibilidade de uma revoluo cientfica. Esta cincia extraordinriaestar em ao enquanto algumas atividades se desenvolvem na busca de caminhosalternativos,buscandoresolverestacrisequesurgiudentrodoparadigma.Estacrisecessarse:

    a. oparadigmapostoemquestoconsegueseimpor,ainda,eresolveasanomaliasemquesto

    b. paraaresoluodasanomaliasobrigatrioosurgimentodenovasperspectivasdesoluoapartirdeumparadigmaalternativoque,emfunodisso,comeaaganharnovoconsensodentrodacomunidadedeespecialistas.Estasmudanasdeparadigmassochamadas,ento,de'RevoluesCientficas'.

    OfatomarcantedateoriadeKuhnqueajudasignificativamentenestaanliseenadefesadasminhas posies que ela permite abordar a cincia e a tecnologia de forma alternativa clssicaestabelecidadurantesculos,poiselaatacaosmodelosconfirmacionistaseanooderacionalidadequepressupe.

    Atrocadeparadigmadefatoumarevoluo.Noumarevoluoquepossaserresolvidapelaaplicaosimplesdeumalgoritmoneutro.Eleenfticoemafirmarqueasanomaliasnoseresolvemmediantealgicaouaexperinciaisentadetodososoutrosfatores'externos'deseufuncionamento. Ele rompe com a lgica dos empiricistas puros. Seu enfoque promove umamudanaradicalnanooderacionalidadecientfica.Suateoriaimportaemcertorelativismo.Asnormasnosomaistorgidasnotratamentodacincia.Asmudanascientficas,aindaque permaneam racionais, no arrastam consigo princpios absolutos de racionalidade nosmarcosconceituais.Nenhumcomponentedoempreendimentocientficoimutvelouabsoluto.Emresumo,tudonacinciaestsujeitoaalteraes.

    AcompreensodecinciaquenosfoilegadaapsasanlisesdeKuhnseapresentabastantediversadaqueladosprincpiosdosculo,queainda,porincrvelqueparea,abordadanasescolasdeengenharia,relevandoaimportnciampardomtodohipotticodedutivo.Segundoestas anlises, a compreenso da mudana cientfica tem de se realizar, inexoravelmente,tendoseemcontaospressupostosbsicosdentrodosquais sedesenvolvemasatividades

  • 22/1/2014 Cincia, Tecnologia e Sociedade. E o contexto da educao tecnolgica. Sala de lectura CTS+I

    http://www.oei.es/salactsi/bazzo03.htm 23/32

    cientficas.Porm,apartirdeagora tendeseapensarnocarternomonolticodosmarcosconceituais.Naavaliaodequalquer teoriacientfica temsede levarcontamais fatoresdoquesomenteaevidnciaemprica.Apartirdestemarco,aavaliaoeaconstruodacinciaedatecnologiapassamaserquestesbasicamentecomparativas.

    Umafunoimportantenoscurrculos

    Em decorrncia de todos os aspectos surgidos pelas mudanas conceituais dentro dotratamentodacinciacomsuasdiferentesabordagens,podesedizerqueapartirdeentoacinciaumaatividadesocial,estandosujeitaamudanasestruturais,variaese,semdvidaalguma,permanecendoatreladaaumainfinidadedeoutrosinteresses.SegundoAyarzagenaetal.(1996),aconstruosocialdacinciaabarcaumaideologiaquepodeservistadentrodetrs funes principais que servem de subsdios para sua futura compreenso dentro dosprocessosdeensino:

    a) 'Representao'domundo repetimosquequeiramosouno vivemosnumasociedadecientficotecnolgicaacinciaumdoselementosquenosdefinemcomoprojetosocial.

    b)'Legitimao'nestemundocontemporneosselegitimaoquepassapelocrivo'cientfico'acinciaavalizaeseconvertenanicaformade'darrazo'scoisas.Nosdiasatuaisseconfunde racionalidade cientfica com racionalidade e, acima de tudo, conhecimento comconhecimentocientfico.

    c) 'Encobrimento'. Chegamos a pensar, emmuitas situaes, que a nica soluo para osproblemas est na cincia. Esquecemos ou nos fazem esquecer que nem todos osproblemassodecartercientficotecnolgico.Emsuma,precisamostrabalharofatodequemaiscincia,maistcnica,nosignifica,necessariamente,'vidamelhorparatodos'.

    Estetrip,presentenojogodeinteressesnoscurrculos,dasescolas,dasinstituies,emsumadentrodasociedade,possuicontedoideolgicosuficienteparajustificarodesenvolvimentodeestudosemcincia,tecnologiaesociedadee,acimadetudo,abuscadaimplantaodeumafilosofia que nos permita tratar das questes da sociedade sem a idealizao de umaferramentamgicaparaprontasoluodetodososnossosproblemas.

    3.6ANECESSIDADEDEUMANOVAFILOSOFIA

    maisdoquerazovelsuporqueumasociedadeplenamentecomprometidacomafabricaode realidades artificiais que impem dvidas, medos e ufanismos pense com bastanteintensidadenanaturezade tal compromisso.Seriamaisdoque lgicoenaturalpensar,porexemplo,queumafilosofiadatecnologiapudesseaflorarexuberantedentrodeumaescoladeengenharia,gerandodiscusses e debates entre professores, estudantes e todas as outraspessoasqueformamacomunidadeacadmica.Atesedadependnciasocialdacinciaedatecnologiavemganhandoadeptoseadquirindoumapresenacadavezmaisforte,empurrandoasinstituiesquetrabalhamcomestasreasabuscarsubsdiosnoscampossociolgicoseepistemolgicos que possam ajudar