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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE-UFF
ESCOLA DE ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA-EEAAC
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
MESTRADO ACADÊMICO EM CIÊNCIAS DO CUIDADO EM SAÚDE-MACCS
CRYSTIANE RIBAS BATISTA RIBEIRO
IMPACTO AMBIENTAL, TRABALHO E SAÚDE DE PESCADORES DA BAÍA DE
GUANABARA - RJ, BRASIL:
A Educação pelos Pares como estratégia de prevenção
NITERÓI
2013
2
CRYSTIANE RIBAS BATISTA RIBEIRO
IMPACTO AMBIENTAL, TRABALHO E SAÚDE DE PESCADORES DA BAÍA DE
GUANABARA - RJ, BRASIL:
A Educação pelos Pares como estratégia de prevenção
Dissertação apresentada ao Mestrado Acadêmico
em Ciências do Cuidado em Saúde (MACCS), da
Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa
(EEAAC), da Universidade Federal Fluminense
(UFF), como requisito parcial à obtenção do
título de Mestre.
Campo de Confluência: Ambiente, Trabalho,
Saúde e Educação.
Orientadora:
Profª Drª Vera Maria Sabóia
Niterói, RJ
2013
3
R 484 Ribeiro, Crystiane Ribas Batista.
Impacto ambiental, trabalho e saúde de pescadores da
Baía de Guanabara – RJ, Brasil ... / Crystiane Ribas Batista
Ribeiro. – Niterói: [s.n.], 2013.
116 f.
Dissertação (Mestrado Acadêmico em Ciências do
Cuidado em Saúde) - Universidade Federal Fluminense,
2013.
Orientador: Profª. Vera Maria Sabóia.
1. Saúde do trabalhador. 2. Educação. 3. Poluição
ambiental. 4. Enfermagem.I.Título.
CDD 616.9803
4
CRYSTIANE RIBAS BATISTA RIBEIRO
IMPACTO AMBIENTAL, TRABALHO E SAÚDE DE PESCADORES DA BAÍA DE
GUANABARA - RJ, BRASIL:
A Educação pelos Pares como estratégia de prevenção
Dissertação apresentada ao Mestrado Acadêmico
em Ciências do Cuidado em Saúde (MACCS), da
Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa
(EEAAC), da Universidade Federal Fluminense
(UFF), como requisito parcial à obtenção do
título de Mestre.
Campo de Confluência: Ambiente, Trabalho,
Saúde e Educação.
Aprovada em 12 de dezembro de 2013.
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________________________
Profª Drª Vera Maria Sabóia - UFF
Orientadora
Profª Drª Maria da Soledade Simeão dos Santos - UFRJ
Profª Drª Alessandra Conceição Leite Funchal Camacho - UFF
Profª Drª Joseli Maria da Rocha Nogueira - FIOCRUZ
Profº Enéas Rangel Teixeira - UFF
Niterói
2013
5
Aos Pescadores Artesanais da Comunidade Cassinú
Ao Eterno Mestre Paulo Freire (in memorian)
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PARÁBOLA DA VIDA MODERNA-UM HOMEM DE NEGÓCIOS
Um homem de negócios, americano, no ancoradouro de uma aldeia da costa mexicana,
observou um pequeno barco de pesca que atracava naquele momento, trazendo um único
pescador. No barco, vários grandes atuns de barbatana amarela. O americano deu parabéns ao
pescador pela qualidade dos peixes e lhe perguntou quanto tempo levara para pescá-los.
- "Pouco tempo" - Respondeu o mexicano.
Em seguida, o americano perguntou por que ele não permanecia no mar mais tempo, o que lhe
teria permitido uma pesca mais abundante.
O mexicano respondeu que tinha o bastante para atender as necessidades imediatas de sua
família.
O americano voltou à carga:
- "Mas o que é que você faz com o resto de seu tempo?"
O mexicano respondeu:
- "Durmo até tarde, pesco um pouco, brinco com os meus filhos, tiro a sexta com minha
mulher, Maria, vou todas as noites à aldeia, bebo um pouco de vinho e toco violão com meus
amigos. Levo uma vida cheia e ocupada, senhor".
O americano assumiu um debochado ar de pouco caso e disse:
- "Eu sou formado em Administração de empresas em Harvard, perito em 'Qualidade' e
poderia ajudá-lo. Você deveria passar mais tempo pescando e, com o lucro, comprar um barco
maior. Com a renda produzida pelo novo barco, poderia comprar vários outros. No fim, teria
uma frota de barcos pesqueiros. Em vez de vender pescado a um intermediário, venderia
diretamente à uma indústria processadora e, no fim, poderia ter sua própria indústria. Poderia
controlar o produto, o processamento e a distribuição. Precisaria deixar esta pequena aldeia
costeira de pescadores e mudar-se para a Cidade do México, em seguida para Los Angeles e,
finalmente, para Nova York, de onde dirigiria sua empresa em expansão".
- "Mas, senhor, quanto tempo isso levaria?" - Perguntou o pescador, com os olhos
arregalados.
- "15 ou 20 anos" - Respondeu triunfante o americano.
- "E depois, senhor?"
O americano riu, e disse que essa seria a melhor parte.
- "Quando chegasse a ocasião certa, você poderia abrir o capital de sua empresa ao público e
ficar muito, muito rico. Ganharia milhões".
- "Milhões, senhor? E depois?"
- "Depois..." - Explicou o americano - "...Você se aposentaria... Mudaria para uma pequena
aldeia costeira, onde dormiria até tarde, pescaria um pouco, brincaria com os seus netos,
tiraria a sexta com a sua esposa, iria à aldeia todas as noites, onde poderia tomar vinho e tocar
violão com os amigos..."
- "Pois é, senhor... É exatamente assim que eu vivo!" - Concluiu, sorrindo, o pescador...
Fonte: http://pensador.uol.com.br/frase/NDYzOTA1/
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AGRADECIMENTOS
A conclusão do mestrado para mim hoje significa um turbilhão de novas idéias. O pouco que
conhecia sobre educação e educação popular não foi substituído, mas complementado por
essas novas idéias e ganharam uma forma encantadora. Tenho tanto a agradecer pelas
experiências que vivenciei ao longo desta pesquisa. As transformações que busquei realizar na
vida dos pescadores da Comunidade Cassinú, antes de tudo ocorreram dentro de mim. Do que
adianta pesquisar para tentar transformar algo se primeiro não somos transformados como
pessoas?
Começo, então, a agradecer àqueles que fizeram parte não da conclusão, mas do início do
caminho que pretendo trilhar como pesquisadora.
Ao meu precioso e amado Deus, a quem rendo toda a gratidão pelo sustento em todos os dias
de elaboração desta obra.
Ao meu amado, Reginaldo, pelas palavras de motivação, fé e esperança. Por enxergar a
importância desta etapa na minha vida e me acompanhar nas manhãs de coleta de dados
mesmo após noites inteiras de plantão. Você é incrível!
Aos meus pais, Márcio e Rosy, pelo carinho e apoio nesta empreitada. Mãe, nunca esquecerei
as tardes de transcrição dos achados da pesquisa. Sua ajuda foi imprescindível!
À minha linda irmã Camille, a sua idade definitivamente não contempla a imensidão da sua
esperteza e inteligência. Obrigada por fazer parte desse trabalho!
À minha querida orientadora Vera Sabóia, pelas palavras de sabedoria, pela profissional
exemplar que é e pela pessoa maravilhosa que se revelou a mim nesses 2 anos de mestrado.
Por me apresentar a Paulo Freire... Nem imagina como sou grata a Deus por tê-la colocado em
meu caminho. É uma honra dividir esse momento único com você!
À amiga e parceira Dayane. O que seria de mim sem você? Obrigada pelo compromisso e
pela dedicação sem igual.
À profª Joseli e ao Técnico de laboratório Licurgo, pela disposição em participar conosco
deste trabalho sem medir esforços, pela paciência nos dias de treinamento no laboratório.
Muito obrigada pela parceria!
Ao Cleber pelo grande auxílio com os números... que bom que surgiu em nosso caminho!
Muito obrigada!
À profª Alessandra, à profª Soledade e à profª Geilsa pelas belas contribuições para o
resultado final deste trabalho.
À profª Rose Rosa, como os versículos bíblicos, as doces palavras agiram de forma a renovar
as minhas forças. Deus continue usando a sua vida para abençoar muitas outras.
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Aos amigos do Mestrado Acadêmico Vangelina, Renata Santos, Edson, Márcia. Já sinto
saudade das nossas conversas. Agradeço a Deus pela amizade que construímos!
Ao Sr. Paulo e aos pescadores da Comunidade Cassinú. Não preciso dizer que se não fossem
vocês nada disso seria possível. Os dias que passamos juntos serão inesquecíveis, as trocas, as
discussões. Obrigada pela oportunidade de conhecer um novo olhar da pesca artesanal e o
amor que têm pela profissão de vocês apesar das inúmeras dificuldades que enfrentam!
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A humanidade socializada, em aliança com uma natureza
mediatizada, transforma o mundo em lar.
Ernst Bloch
10
RESUMO
Trata-se de uma pesquisa participante com abordagem qualitativa sobre o agir educativo-
participativo da enfermeira com pescadores artesanais da Baía de Guanabara – RJ, Brasil. No
entorno do rio Maribondo localizado em São Gonçalo-RJ-Brasil, existe uma colônia de
pescadores na Comunidade Cassinú. Em estudos prévios no referido rio, no que tange
aspectos microbiológicos e físico-químicos, foram detectados valores de elevado grau de
contaminação fecal. Por desembocar na Baía de Guanabara-RJ, o rio acaba contribuindo para
a poluição da mesma. Os pescadores estão sujeitos a riscos de acidentes e doenças, devido ao
grande esforço físico a que são submetidos, variações climáticas e contato com agentes
patológicos num ambiente sem saneamento. Acidentes por estruturas do próprio peixe podem
tornar-se uma porta de entrada para micro-organismos presentes na água contaminada
retardando a cicatrização da ferida. Pensando na tecnologia educacional denominada
educação pelos pares e suas interfaces com a educação popular Freiriana, a partir da
dialogicidade e assunção dos sujeitos, entende-se a importância da aplicação da mesma com
este grupo de trabalhadores. A pesquisa traz como objetivos caracterizar as condições de
trabalho e saúde de destes pescadores e discutir uma proposta participativa de cuidado em
saúde a partir da Educação pelos Pares com foco nas feridas cutâneas. Como técnica de coleta
de dados foi utilizada a entrevista semiestruturada, observação participante e atividade grupal.
Dos 35 pescadores participantes 88,6% são do Rio de Janeiro, têm uma média 2,3 filhos, 3,4
dependentes, 34,3% possuem ensino fundamental 1 completo, renda mensal prevalente,
42,9%, entre 1 e 2 salários mínimos. A carga horária média de trabalho diário é de 11,8,
principal ponto de venda são atravessadores (88,6%), entram em contato com a água durante
toda a pesca (85,7%). Dos 71,4% que utilizam EPI, utilizam parcialmente. As principais
queixas/doenças apontadas pelos pescadores foram dor na coluna (11,4%), dor no joelho
(5,7%) e hipertensão (5,7%), além de problemas digestivos, câncer de pele entre outros. Os
ferimentos já ocorreram em 91,4% dos entrevistados em algum momento da pesca. As mãos e
as pernas são as regiões do corpo mais atingidas, com aplicação de substâncias como pó de
café, água do mar e secreção do olho do Bagre no local. Os resultados encontrados e os
relatos dos pescadores revelam suas precárias condições de saúde e trabalho, falta de proteção
social, risco de ferimentos, prejuízo das funções emocionais e físicas. A pesquisa participante
revelou a riqueza e a potencialidade da atividade pesqueira, dando visibilidade aos pescadores
artesanais, que apesar dos desafios que enfrentam destacam a satisfação e o prazer na
profissão, que persiste há anos e lhes proporciona liberdade de expressão e momentos de
descontração. Além disso, a reflexão das falas dos participantes, da observação participante e
da construção de saberes na atividade grupal à luz de Freire, por intermédio do agir educativo-
participativo, permitiu uma melhor percepção e compreensão da importância da educação em
articulação com o ambiente, a saúde e o trabalho.
Palavras-chave: Saúde do Trabalhador. Educação. Poluição Ambiental. Enfermagem.
ABSTRACT
11
It is a participant research with a qualitative approach on the educational and participatory act
nurse with fishermen of Guanabara Bay - RJ, Brazil. Surrounding the river Maribondo located
in São Gonçalo - RJ - Brazil, there is a colony of fishermen in the Community Cassinú. In
previous studies in that river, regarding aspects of microbiological and physico - chemical
values were detected high degree of faecal contamination. For culminate in Guanabara Bay ,
RJ , the river ends up contributing to the pollution of the same . The fishermen are at risk of
accidents and diseases , because of the physical effort they undergo , weather changes and
contact with pathogens in an environment without sanitation. Accidental structures of the fish
itself may become a gateway for micro - organisms present in contaminated water delaying
wound healing. Thinking in educational technology called peer education and its interfaces
with popular education Freire, from the dialog and assumption of subject, understands the
importance of the application of the same with this group of workers. The research has as
objectives to characterize the working conditions and health of these fishermen and discuss a
proposal participatory health care from the Peer Education with a focus on skin wounds. For
the technique of data collection was used semistructured interviews, participant observation
and group activity. Of the 35 participants 88.6 % are fishermen from Rio de Janeiro, have an
average 2.3 children , 3.4 dependents , 34.3 % have primary education first full monthly
income prevalent , 42.9 % between 1 and 2 minimum wages . The average workload of daily
work is 11.8, the main selling point are middlemen (88.6 %) , come in contact with water
during the entire fishing (85.7 %). 71.4% using the PPE used in part. The main complaints /
diseases mentioned by the fishermen were back pain (11.4%), knee pain (5.7 %) and
hypertension (5.7 %), and digestive problems , skin cancer, among others . Injuries have
occurred in 91.4 % of respondents at some time fishing. The hands and legs are the body
regions most affected, with application of substances such as coffee powder, sea water and
eye Catfish’s secretion on site. The results and reports of fishermen reveal their poor health
and work, lack of social protection, risk of injury, loss of emotional and physical functions.
Participant observation revealed the richness and potential of the fishing activity, giving
visibility to the fishermen, who despite the challenges facing the satisfaction and pleasure out
in the profession, which persists for years and provides them freedom of expression and
moments of relaxation .Moreover, the reflection of participants' speech, participant
observation and the construction of knowledge in the light of group activity Freire, through
educational and participatory act, allowed a better perception and understanding of the
importance of education in conjunction with the environment, health and work .
Keywords: Occupational Health. Education. Environmental Pollution. Nursing.
RESUMEN
Se trata de una investigación participante con un enfoque cualitativo de la enfermera acto
educativo y participativo con los pescadores de la Bahía de Guanabara - RJ , Brasil. Alrededor
de la Maribondo río ubicado en São Gonçalo -RJ - Brasil, hay una colonia de pescadores de la
12
Comunidad Cassinú . En estudios previos en ese río , en relación con aspectos de los valores
microbiológicos y físico - química se detectaron alto grado de contaminación fecal . Para
culminar en la Bahía de Guanabara , RJ , el río termina contribuyendo a la contaminación de
la misma . Los pescadores están en riesgo de accidentes y enfermedades , debido al esfuerzo
físico que sufren , los cambios climáticos y el contacto con agentes patógenos en un entorno
sin saneamiento . Estructuras accidentales de la propia peces pueden convertirse en una puerta
de entrada para los microorganismos presentes en el agua contaminada retrasar la
cicatrización de heridas . Pensando en la tecnología educativa llamada educación entre pares y
sus interfaces con la educación popular Freire , desde el diálogo y la asunción de la materia,
entiende la importancia de la aplicación de la misma con este grupo de trabajadores. La
investigación tiene como objetivos caracterizar las condiciones de trabajo y salud de los
pescadores y discutir una propuesta de atención de la salud participativa de la educación de
pares con un enfoque en heridas de la piel. Para la técnica de recolección de datos se utilizó
entrevistas semiestructuradas, observación participante y la actividad de grupo. De los 35
participantes en el 88,6 % son pescadores de Río de Janeiro , tiene un promedio de 2,3 hijos ,
3,4 personas dependientes , el 34,3 % tienen educación primero ingreso mensual total
primaria frecuente , 42,9 % entre 1 y 2 salarios mínimos. La carga de trabajo promedio de
trabajo diario es de 11.8 , el principal punto de venta son intermediarios ( 88,6 %), entrar en
contacto con el agua durante toda la pesca (85,7 %). 71,4 % con el PPE usado en parte. Las
principales quejas / enfermedades mencionadas por los pescadores fueron dolor de espalda
(11,4 %), el dolor de rodilla (5,7 % ) y la hipertensión ( 5,7 % ), y problemas digestivos,
cáncer de piel, entre otros. Las lesiones han ocurrido en el 91,4 % de los encuestados en algún
tiempo en la pesca. Las manos y las piernas son las zonas del cuerpo más afectadas, con el
uso de sustancias como el polvo de café , agua de mar y el pez gato ojo en el sitio. Los
resultados y los informes de los pescadores revelan su mala salud y el trabajo, la falta de
protección social, el riesgo de lesiones, pérdida de funciones físicas y emocionales. La
observación participante reveló la riqueza y el potencial de la actividad pesquera, dando
visibilidad a los pescadores, que a pesar de los desafíos que enfrenta la satisfacción y el placer
en la profesión, que persiste durante años y les proporciona la libertad de expresión y de
momentos de relax. Por otra parte, el reflejo del discurso de los participantes, la observación
participante y la construcción del conocimiento a la luz de actividad de grupo Freire, a través
del acto educativo y participativo, permite una mejor percepción y la comprensión de la
importancia de la educación en relación con el medio ambiente, la salud y el trabajo.
Palabras clave: Salud Ocupacional. Educación. Contaminación Ambiental. Enfermería.
13
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO, p. 19
1.1. Contextualização da Problemática, p.21
1.1.1. A realidade dos pescadores, p.22
1.1.2. A educação pelos pares como tecnologia educacional e estratégia de intervenção, p.24
1.2. Objetivos, p.26
1.3. Justificativa, p.27
1.4. Relevância/Contribuições, p.28
2. CONTEXTUALIZANDO A ATIVIDADE PESQUEIRA ARTESANAL NA BAÍA DE
GUANABARA – ANÁLISE SOB A ÓTICA DO IMPACTO AMBIENTAL , p.30
2.1. A pesca e o trabalho informal, p.30
2.2. Atividade pesqueira na Baía de Guanabara, p.32
2.3. A poluição aquática e os micro-organismos veiculados pela água contaminada, p.32
2.3.1. Febre tifóide causada por Salmonella enterica do sorogrupo Typhi, p.35
2.3.2. Diarréia causada por Escherichia coli, p.35
2.3.3. Cólera e outras doenças causada por espécies de Vibrio, p.36
2.4. A pele e as feridas cutâneas, p.37
3. EDUCAÇÃO POPULAR E EDUCAÇÃO PELOS PARES: UMA VISÃO FREIRIANA, p.40
4. METODOLOGIA, p.45
4.1. Caracterização do estudo, p.45
4.2. Cenário, p.46
4.3. Participantes, p.48
4.4. Técnica de coleta de dados, p.48
4.5. Análise dos resultados, p.54
4.6. Aspectos Éticos, p.55
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO, p.57
6. CATEGORIAS ANALÍTICAS DO ESTUDO, p.85
6.1.1ª Categoria - Dualismo no trabalho informal: Prazer e Dor, p.85
6.2. 2ª Categoria - Individualismo na pós-modernidade: União para a libertação, p. 88
6.3. 3ª Categoria - Sustentabilidade ambiental: Saúde e Educação, p.91
7. CONCLUSÃO, p.98
14
8. REFERÊNCIAS, p.100
8.1. Obras citadas, p.100
8.2. Obras consultadas, p.109
APÊNDICE I – FORMULÁRIO PARA LEVANTAMENTO DE DADOS, p.110
APÊNDICE II - ROTEIRO PARA ATIVIDADE GRUPAL, p.112
APÊNDICE III - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO , p.113
APÊNDICE IV – ROTEIRO PARA O DIÁRIO DE CAMPO-OBSERVAÇÃO
PARTICIPANTE, p. 115
ANEXO I – COMPROVANTE DE APROVAÇÃO NO COMITÊ DE ÉTICA. p. 116
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Fig.1 Mapa dos distritos de São Gonçalo, RJ, f.22
Foto 1 Localização do Rio Maribondo próximo à BR-101, f.23
Quadro 1 Principais micro-organismos indicadores da qualidade da água e as doenças
que causam, f.35
Foto 2 Colônia de pescadores do Gradim Z-08 à margem da Baía de Guanabara, f.47
Foto 3 Associação de pescadores do Gradim – São Gonçalo, RJ, f.47
Foto 4 Local da realização das entrevistas dia 09/03, f.50
Foto 5 Entrevista com pescador, f.50
Foto 6 Atividade grupal na Associação de moradores da colônia de pescadores f.52
Foto 7 Discussão sobre poluição ambiental, f.52
Fig. 2 Alguns recursos visuais utilizados nas discussões com os pescadores, f.52
Fig. 3 Imagens de diferentes espécies de peixes utilizadas na dinâmica, f.53
Fig.4 Desenhos elaborados pelos pescadores educadores para avaliação da
atividade, f.53
Gráfico 1 Distribuição dos pescadores segundo a variável idade (N=35), f.57
Tabela 1 Distribuição dos pescadores segundo idade, filhos e dependentes, f.58
Gráfico 2 Distribuição proporcional dos pescadores segundo naturalidade (N=35), f.58
Gráfico 3 Distribuição proporcional dos pescadores segundo cor de pele (N=35), f.59
Gráfico 4 Distribuição dos pescadores segundo uso de protetor solar (N=35), f.59
Gráfico 5 Distribuição dos pescadores segundo principais motivos para não utilização de
protetor solar (N=31), f.60
Tabela 2 Distribuição dos pescadores segundo estado civil (N = 35), f.60
Gráfico 6 Distribuição proporcional dos pescadores segundo tipo de residência (N=35),
f.61
Foto 8 Dois caícos no quintal de um dos pescadores, f.61
Foto 9 Pescador no período da manhã preparando a rede que irá utilizar à tarde na
pesca, f.62
Gráfico 7 Distribuição proporcional dos pescadores segundo religião (N=35), f.62
Gráfico 8 Distribuição proporcional dos pescadores segundo principais responsáveis
pelo ensino da atividade pesqueira (N=35), f.63
16
Gráfico 9 Distribuição proporcional dos pescadores segundo escolaridade (N=35), f.64
Gráfico 10 Distribuição proporcional dos pescadores segundo renda, por salário mínimo
(N=35), f.64
Gráfico 11 Distribuição dos pescadores que trabalham ou já trabalharam em outras áreas
(N=35), f.65
Gráfico 12 Distribuição dos pescadores segundo principais atividades realizadas para
complementação de renda, f.66
Tabela 3 Distribuição dos pescadores segundo tempo de profissão e horas de trabalho,
f.66
Gráfico 13 Distribuição dos pescadores segundo principais tipos de pescado, f.67
Gráfico 14 Distribuição dos pescadores segundo principais pontos de venda, f.68
Foto 10 Pier por onde chega o pescado, f.69
Foto 11 Pescado disposto em caixas para o leilão, f.69
Foto 12 Fim de mais um dia de leilão, f.69
Gráfico 15 Distribuição dos pescadores segundo uso de EPI (N=35), f.70
Gráfico 16 Distribuição dos pescadores segundo principais EPI’s utilizados, f.71
Gráfico 17 Distribuição dos pescadores segundo momentos destacados onde entram em
contato com a água, f.71
Gráfico 18 Distribuição dos pescadores segundo existência de caso de ferimento durante
a atividade pesqueira (N=35), f.72
Gráfico 19 Distribuição dos pescadores segundo principais partes do corpo atingidas por
ferimento, f.73
Foto 13 Imagem de cortes com faca na preparação da rede, f.73
Gráfico 20 Distribuição dos pescadores segundo principais causas de ferimento, f.74
Gráfico 21 Distribuição dos pescadores segundo principais formas de tratamento das
feridas, f.74
Quadro 2 Distribuição dos pescadores segundo doenças/queixas anteriores que levaram
ou não à internação, f.75
Gráfico 22 Distribuição dos pescadores segundo histórico de doença na família, f.76
Gráfico 23
Gráfico 24
Distribuição dos pescadores segundo principais queixas/doenças atuais, f.76
Distribuição dos pescadores segundo realização de tratamento para as
doenças/queixas atuais (N=17), f.77
Gráfico 25 Distribuição dos pescadores segundo prática de atividades físicas, mínimo 1x
17
por semana, f.77
Gráfico 26 Distribuição dos pescadores segundo prática de atividades de lazer (N=35),
f.78
Gráfico 27 Distribuição dos pescadores segundo principais atividades de lazer, f.79
Gráfico 28 Distribuição da classificação de pressão arterial dos pescadores com base em
1 aferição, f.79
Gráfico 29 Distribuição da classificação dos pescadores pelo índice de massa corporal,
f.80
Gráfico 30 Distribuição dos pescadores segundo uso de drogas ilícitas, f.80
Gráfico 31 Distribuição dos pescadores segundo ingestão de álcool (N=35), f.81
Gráfico 32 Distribuição da frequência na ingestão de álcool entre os pescadores etilistas
(N=31), f.81
Gráfico 33 Distribuição da última realização de exame de sangue entre os pescadores,
f.82
Gráfico 34 Distribuição dos pescadores segundo hábito de fumar (N=35), f.82
Gráfico 35 Distribuição da quantidade de carteiras/dia utilizadas pelos 20 pescadores
fumantes (N=20), f.83
Quadro 3 Categorias formadas para discussão, f.85
18
“Aprender, para nós, é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não
se faz sem abertura ao risco e à aventura do espírito.
(Paulo Freire)
19
1. INTRODUÇÃO
Em decorrência da intensa ação antrópica1 no entorno do rio Maribondo
2, favorecida
pelo aterro que originou a atual BR-101 e o crescimento populacional desordenado em suas
margens, tem-se observado nas últimas décadas a destruição de uma grande floresta de
manguezal na região. A poluição aquática gerada pelo despejo de lixo doméstico faz com que
hoje seja notada apenas uma larga planície lamosa que se estende de fronte a algumas casas e
a própria Rodovia.
Com a intenção de pesquisar sobre a qualidade das águas do rio Maribondo e outros
cinco rios do município de São Gonçalo que desembocam na Baía de Guanabara-RJ, foi
realizado um estudo para o Trabalho de Conclusão do Curso de Ciências Biológicas da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), entre 2010 – 2011 (RIBEIRO, 2011). O
estudo foi sobre a influência de tais rios na qualidade das águas da Baía de Guanabara,
segundo padrões microbiológicos e físico-químicos estabelecidos pelo Conselho Nacional do
Meio Ambiente pela Resolução CONAMA 274/2000 (BRASIL, 2011).
Os resultados apontaram para contagem de coliformes termotolerantes3 na média de
106
NMP/ 100 mL no rio Maribondo, durante os seis meses de coleta. Na última amostragem
obteve-se um valor superior a 2.500 coliformes termotolerantes, e nas demais, todos os
valores apresentaram-se acima de 1000 coliformes fecais/ 100 ml. Assim, os resultados
ultrapassaram o valor aceitável pelo CONAMA para balneabilidade; proteção de
comunidades aquáticas; abastecimento para o consumo humano após tratamento
convencional; irrigação de hortaliças, plantas frutíferas, campos de esporte e lazer com os
quais o público possa vir a ter contato direto; inclusive atividade de pesca (BRASIL, 2011).
A partir dos resultados obtidos e em outra investigação desenvolvida durante a Pós-
Graduação em Enfermagem do Trabalho na Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa
da Universidade Federal Fluminense (UFF), evidenciou-se a necessidade de se investigar o
potencial risco dos pescadores desta região na aquisição de doenças por micro-organismos
patogênicos devido ao contato constante com a água contaminada e condição de trabalho de
1 São alterações realizadas pelo homem no planeta Terra. A ação antrópica em relação à natureza é precária,
pois o ser humano causa danos à fauna e à flora. 2 O rio Maribondo compõe a extensa rede hidrográfica do município de São Gonçalo no Rio de Janeiro e
atravessa um dos municípios do 4º Distrito, Gradim. 3 Os coliformes termotolerantes foram escolhidos como indicadores da presença potencial de organismos
patogênicos de origem fecal na água porque existem em grande número na matéria fecal e não existem em
nenhum outro tipo de matéria orgânica poluente; por conseguinte, são indicadores específicos de matéria fecal
(BRAGA, 2002).
20
extrema precariedade corroborada por estudos realizados em grupos similares de pescadores
na região de Magé (ROSA & MATTOS, 2010).
Nesta perspectiva e vinculado ao projeto Casadinho/ Procad4 intitulado: “Inovação
em Enfermagem no Tratamento de Lesões Tissulares – sistematização, inclusão tecnológica e
funcionalidade”, o atual estudo em aderência a este projeto maior, tem como problemática a
caracterização das condições de trabalho e saúde de um grupo de pescadores artesanais da
Baía de Guanabara tendo em vista o cuidado e prevenção de feridas cutâneas. Visto que, foi
constatada a ocorrência frequente de acidentes traumáticos entre pescadores de várias regiões
do Brasil. Destacando-se ferimentos por animais do ambiente aquático em Tocantins; injúrias
e envenenamento por animais aquáticos no Mato Grosso do Sul; e ferimentos com anzol e
estruturas de peixes em Sergipe (GARRONE NETO, CORDEIRO, HADDAD JR., 2005;
SILVA et al, 2010; OLIVEIRA, 2012).
Cabe ressaltar que este estudo contou com a participação de uma bolsista de
Iniciação Cientifíca (CNPq) que auxiliou na coleta de dados sócio-demográficos dos
pescadores da colônia em estudo.
4 Projeto que conta com o apoio financeiro da MCTI/CNPq/MEC/Capes com vistas à implantação de cooperação
acadêmica entre o programa de Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde da Escola de
Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense (UFF) com o programa consolidado
de Pós-Graduação em Enfermagem na Saúde do Adulto da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo
(USP).
21
1.1. Contextualização da Problemática
O meio ambiente redefine a economia, a sociedade e a política (BRUSCHI et al.,
2002). Essa afirmação traduz a busca, nas últimas décadas, de soluções para problemas
ambientais, não só no Brasil como em outros países do mundo. O gerenciamento dos
ambientes naturais tem se revelado de grande importância para a sociedade e para sua
sustentabilidade, de maneira que a pesquisa ecológica tem demonstrado ser uma eficiente
ferramenta capaz de detectar impactos nos ecossistemas por atividades antrópicas, e ainda,
prever a longo e médio prazo os efeitos de tais perturbações (SCHINDLER, 1987; JESUS et
al., 2003).
O município de São Gonçalo tornou-se o mais populoso da costa oriental da Baía de
Guanabara e um dos mais densos de toda a Região Metropolitana. Possui cerca de 249 Km²
de extensão e faz divisa com os municípios de Itaboraí, Niterói e Maricá. Sua população atual
é de 999.728 habitantes (BRASIL, 2010). A cidade tem registrado um intenso crescimento
populacional nos últimos anos e a exemplo do que ocorre em tantas outras no Brasil, seguiu o
modelo de ocupação desordenada que compromete os recursos naturais, muitas vezes já
escassos ou inexistentes.
Assim, o aumento populacional suscitou a construção de domicílios em áreas de risco
(encostas, manguezais, margens de rios), e não foi acompanhado de investimentos em infra-
estrutura (habitação, coleta regular de lixo, drenagem pluvial, abastecimento de água,
esgotamento sanitário, entre outros), além da ausência de planejamento e fiscalização do uso
do solo urbano, tornando crônico o problema a ser gerenciado nas cidades (ANDRADE et al.,
2010).
O Gradim, um dos bairros do município de São Gonçalo, pertencente ao 4ºdistrito em
conexão direta com a Baía de Guanabara (figura 1, p.22), concentra um grande contingente
populacional, sobretudo às margens da BR-101. As casas que ocupam a orla da comunidade
também não possuem coleta de esgoto, sendo este lançado diretamente na baía. Torna-se,
assim, perceptível o impacto gerado pela contaminação dos rios, dentre eles, o rio Maribondo.
Segundo Rodrigues (2009), a grande população moradora no bairro parece ter
modificado a dinâmica local da pesca, de acordo com o atual presidente da Associação de
Pescadores Livres do Gradim (APELGA), aumentando o número de indivíduos engajados
nessa atividade. Na história da baía da Guanabara, segundo Brandão (2004), o pescador
artesanal assoma como uma categoria de refugiados: eram escravos recém-libertos ou fugidos
e que se tornavam marisqueiros, pescadores e lenheiros nos mangues da baía, tornando-se
22
invisíveis e desconsiderados. A atividade pesqueira outrora praticada por um número restrito
de pescadores artesanais em um ambiente aquático com grande diversidade de pescado
disponível é dificultada pela poluição ambiental e alta competividade, tendo em vista o
elevado número de pescadores artesanais atualmente.
Figura 1 - Mapa dos distritos de São Gonçalo, RJ.
Fonte: http://www.saogoncalo.rj.gov.br/mapas.php
1.1.1. A realidade dos pescadores
No entorno do rio Maribondo, localizado à 22º 49’12.1” S/ 0,43º04’54.9” W (foto 1,
p.23), um dos rios avaliados em estudos anteriores, que corta bairros do município de São
Gonçalo como Gradim, há uma colônia de pescadores denominada Z-08, onde residem
dezenas de pescadores associados à APELGA que utilizam o rio como via de acesso à Baía de
Guanabara diariamente, durante suas atividades laborais. Além desses, existem outros
pescadores, cujas casas foram construídas às margens deste rio em virtude da ocupação
desordenada anteriormente citada. Foi observado um engajamento destes trabalhadores com a
atividade pesqueira de forma informal. Atribui-se a este tipo de atividade o nome de pesca
artesanal que, de acordo com Diegues (1988); Ramires, Barella e Clauzet (2002) é aquela em
que os pescadores autônomos, sozinhos ou em parcerias, participam diretamente da captura,
usando instrumentos relativamente simples. Vale ressaltar que foi observado entre os
23
pescadores da região, que os mesmos confeccionam tais instrumentos manualmente, como as
redes utilizadas para captura de peixes.
Foto 1 - Rio Maribondo próximo à BR-101.
Fonte: Arquivo pessoal. Ribeiro (2011)
De acordo com Ramalho e Arrochelas (2004), em estudo realizado com pescadores
da Baía de Guanabara da região de Magé, a atividade informal desenvolvida por eles
apresenta uma situação de extrema precariedade no que tange as condições do ambiente de
trabalho, deixando-os totalmente desprotegidos.
Nos textos da Organização Internacional do Trabalho (OIT), citados por
Parmeggianni (1989), já se apontavam várias enfermidades relativas ao trabalho com a pesca,
como bursites, tenossinovites, doenças do aparelho digestivo, tensão nervosa, excesso de
consumo de álcool e/ou fumo, provocando enfermidades respiratórias, sinusites, cáries
dentárias, dermatites originadas pelo contato com óleo diesel e perda de audição, provocada
pela exposição a ruído excessivo. As diversas enfermidades apresentadas podem ser
relacionadas ao contexto de vida dessa classe de trabalhadores, onde uma parcela significativa
possui baixa escolaridade e não têm acesso à saúde em função da própria dinâmica de
trabalho no qual estão inseridos.
Na convenção nº 188 da OIT (2007), refere-se em pesca como atividade perigosa
quando comparada com outras ocupações como o combate à incêndios e à mineração. A
fadiga, associada às largas jornadas de trabalho, foi identificada como um grave problema.
Os estudos realizados junto a esta categoria profissional revelam os mais variados
tipos de adoecimento, com influência negativa em sua vida econômica e social. Na região de
24
Magé (RJ), os autores Chaves e Sant’anna (2003), realizaram estudos que identificaram casos
de agravo à saúde, inclusive mortes, com doenças de veiculação hídrica e de vetores, assim
como transtornos mentais.
Os pescadores estão sujeitos a riscos de acidentes e doenças, devido ao grande
esforço físico a que são submetidos, variações climáticas e contato com agentes patológicos
num ambiente sem saneamento. Acidentes traumáticos são muito comuns entre esta classe de
trabalhadores. Garrone, Cordeiro e Haddad Jr. (2005) em estudo sobre acidentes de trabalho
em pescadores do rio Araguacema em Tocantins, revelam que a principal causa de acidentes
deve-se a lesão por animal do ambiente aquático no momento da retirada do peixe do anzol ou
rede, sendo membros inferiores e superiores as partes do corpo mais atingidas.
Constrangimentos físicos do corpo por meio de feridas ou lesões superficiais também foram
apontados como uma das principais causas de acidentes com pescadores em estudo
internacional realizado em Portugal (JACINTO, 2002).
Subentende-se que, a realidade dos pescadores residentes na comunidade do entorno
do rio Maribondo não seja tão distoante. Além dos riscos inerentes à profissão, há o risco de
acidente traumático, com surgimento de feridas cutâneas e contaminação das mesmas com
micro-organismos presentes em água comprovadamente contaminada. Estas feridas podem
tornar-se uma questão de saúde pública importante, uma vez que estes agentes podem gerar o
agravamento de tais lesões e o retardamento cicatricial.
Estudo promovido por Rodrigues et al. (2001) indicam que foram detectadas
bactérias do gênero vibrio e outras espécies bacterianas, presentes em água contaminada, em
feridas nos membros inferiores de pescadores do município de Raposa no Estado do
Maranhão (MA), gerando manifestações clínicas como hiperemia, edema, secreção e dor
local.
1.1.2. A educação pelos pares como tecnologia educacional e estratégia de prevenção
Compreendendo o contexto de vida dos pescadores e a real importância de
assumirem-se como seres capazes de mudar a realidade na qual estão inseridos, a partir de
uma estratégia de ensino – aprendizagem, pensou-se no conceito de educação popular
proposto por Freire, associado à tecnologia de educação pelos pares. Nestas concepções,
educador e educando se educam simultaneamente e dialogicamente (FREIRE, 1987).
25
As tecnologias podem ser relacionadas às valises5 que os profissionais utilizam. Nas
valises relacionadas às “mãos” dos profissionais cabem Tecnologias Duras, dispositivos
materiais utilizados no dia-a-dia do trabalho em saúde; na valise vinculada à “cabeça” cabem
Tecnologias Leve-Duras, dispositivos intelectuais que subsidiam o agir dos profissionais; na
valise vinculada às “relações” cabem diferentes dispositivos relacionais, que irão ser
utilizados nos encontros entre profissionais e usuários-pacientes, Tecnologias Leves
(MERHY, 2000).
As tecnologias podem ser de vários tipos: Tecnologias Educacionais (cabe aqui
salientar que são dispositivos para a mediação de processos de ensinar e aprender, utilizadas
entre educadores e educandos nos vários processos de educação), Tecnologias Assistenciais e
Tecnologias Gerenciais. A Educação pelos Pares insere-se como uma tecnologia educativa,
utilizada na educação em saúde, que promove o intercâmbio de saberes e práticas por
intermédio do diálogo e da reflexão sobre o contexto social no qual os indivíduos estão
inseridos (SABÓIA & TEIXEIRA, 2011).
Dilly e Jesus (1995) corroboram esta questão quando dizem que a educação em
saúde se constitui num aspecto da educação integral, envolvendo, o reconhecimento de que as
ações educativas se processam em uma sociedade em mudança, como um processo contínuo.
Busca-se não a mera adaptação do educando a um mundo já construído, mas o alcance, por
meio desse processo, da própria mudança.
Em estudo promovido por Oliveira, Andrade e Ribeiro (2009) sobre educação em
saúde, os autores remetem-se ao modelo educativo proposto por Freire (1983), onde as
pessoas são estimuladas a desenvolver uma consciência crítica, pelo processo de análise
coletiva de problemas na busca de soluções e estratégias conjuntas para a mudança da
realidade. Ressalta-se esse modelo como apostador de um projeto onde o educador em saúde
desempenha um papel de facilitador de descobertas e reflexões dos sujeitos sobre a realidade,
facilitando o processo de construção ou reconstrução dessa realidade, para isso, o educador
em saúde ao desenvolver seu trabalho educativo deve levar em conta à relação entre a vida
dos indivíduos e a estrutura da sociedade onde estão inseridos, estimulando-os sempre a agir
como sujeito de suas próprias vidas.
A educação, como atividade teórico – prática, caracteriza-se por uma relação de
aprendizagem em que não existe o “educador que ensina” nem a “população que aprende”,
5 Estas valises representam caixas de ferramentas tecnológicas, enquanto saberes e seus desdobramentos
materiais e não-materiais, que fazem sentido de acordo com os lugares que ocupam naquele encontro e conforme
as finalidades que o mesmo almeja (MERHY, 2000).
26
mas sim um grupo que, por meio do trabalho e da reflexão, vai produzindo seu próprio
conhecimento e vai aprendendo a conhecer a partir da realidade objetiva sentida (SABÓIA e
TEIXEIRA, 2011).
Portanto, ao trabalhar com base na Educação Popular, a enfermeira deve ser capaz de
instrumentalizar os participantes a desenvolver, sob uma consciência crítica, o exercício da
sua autonomia frente às decisões de saúde no âmbito individual e coletivo. Assim, o desafio é
desenvolver a dimensão político-social no contexto de ensino-aprendizagem, a fim de que se
efetivem práticas pedagógicas que dêem conta de promover efetivamente a autonomia dos
sujeitos (CHAGAS, XIMENES e JORGE, 2007).
A Educação pelos Pares tem sido empregada em diversos contextos por meio de
práticas educativas grupais, como no Grupo dos Diabéticos do Hospital Universitário Antônio
Pedro (HUAP-UFF) há alguns anos. Segundo Sabóia e Teixeira (2011), uma relação
horizontal entre educadores e educandos possibilita que ambos se eduquem em comunhão,
deixando clara a importância da enfermeira enquanto educadora em saúde, no planejamento,
na implementação e avaliação dessa tecnologia educacional.
Entendendo o contexto de pescadores de diversas regiões do Brasil e a Educação
pelos Pares como “uma outra” tecnologia utilizada na Educação Popular, percebe-se a
necessidade desta investigação. Diante deste contexto, a pesquisa traz como objeto o agir
educativo-participativo da enfermeira com pescadores artesanais da Baía de Guanabara
residentes no entorno do rio Maribondo, São Gonçalo/RJ, tendo em vista o cuidado e a
prevenção de feridas cutâneas.
As perguntas que nortearam o estudo foram: Quais as condições de trabalho e saúde
destes pescadores? Os acidentes traumáticos são comuns neste grupo populacional? Como a
Educação pelos Pares pode contribuir sustentavelmente diante da situação encontrada?
1.2. Objetivos
-Caracterizar as condições de trabalho e saúde de pescadores artesanais da Baía de
Guanabara residentes no entorno do rio Maribondo no município de São Gonçalo, RJ.
-Discutir uma proposta participativa de cuidado em saúde a partir da Educação pelos
Pares com foco nas feridas cutâneas.
27
1.3. Justificativa
A pesquisa justifica-se pelo grande número de pescadores que se expõem a riscos de
acidentes traumáticos durante a atividade pesqueira. Segundo Navarro (2009), o termo risco
está associado à possibilidade de ocorrência de um evento indesejado e sua severidade. Sendo
assim, cabe ressaltar, que o acidente traumático e a consequente ferida gerada pode ser
agravada por sua exposição a um ambiente aquático insalubre. E, muitos pescadores
desconhecem essa possibilidade. Estudo previamente realizado aponta que a contaminação de
feridas cutâneas por micro-organismos patogênicos como Vibrio, outras bactérias gram-
negativas e positivas, foi possivelmente responsável por sinais e sintomas clínicos como
hiperemia, dor, edema e secreção (MULDER, RIES e BEAVER, 1989; RODRIGUES et al.,
2001). Estes sintomas dependendo da gravidade podem gerar comprometimento no processo
de trabalho e redução na capacidade produtiva dos pescadores.
Dentre outras definições, a educação em saúde segundo Pereira (2003), pressupõe
uma combinação de oportunidades que favoreçam a manutenção da saúde e sua promoção,
não entendida somente como transmissão de conteúdos, mas também como a adoção de
práticas educativas que busquem a autonomia dos sujeitos na condução de sua vida, ou seja,
educação em saúde nada mais é que o pleno exercício de construção da cidadania.
A Educação Popular é percebida como um sistema educativo que contempla
princípios e diretrizes de uma maneira de educar privilegiando as questões sociais. Trata-se de
um jeito de estar no mundo que fundamenta as relações sociais tanto no trabalho quanto na
educação (CRUZ & VASCONCELOS, 2011). Esse jeito, segundo Melo Neto (1999), está
relacionado à crença no homem, possibilidade de mudança, compartilhamento, resistência,
superação, participação e organização popular. Constituindo-se num sistema educativo aberto
que fomenta mobilização, organização e capacitação das classes populares.
Acredita-se que a enfermeira tem desempenhado papel fundamental na prática da
Educação Popular, visto que, as ações educativas em saúde constituem-se em um dos
instrumentos utilizados pela enfermagem num contexto abrangente, cuja preocupação não se
restringe ao corpo individual mais ao controle de doenças no coletivo.
Sendo assim, o estudo possui pertinência social e científica e é de grande valia para
o trabalhador pescador que por meio da Educação pelos Pares, terá a oportunidade de refletir
não só sobre o cuidado e a prevenção de feridas, mas sobre sua saúde em sentido amplo e
condições de trabalho, propondo alternativas.
28
1.4. Relevância/Contribuições
Foi realizada uma revisão integrativa com o objetivo de identificar em bases de dados
cientificamente reconhecidas a avaliação crítica e a síntese das evidências disponíveis sobre o
tema investigado. A partir da busca realizada até a seleção dos 5 artigos referentes à temática,
constatou-se que não há publicações científicas realizadas por enfermeiras no que se refere a
saúde dos pescadores e a ocorrência de feridas cutâneas, o que aumenta ainda mais a
relevância deste estudo, contribuindo para a participação efetiva de enfermeiras em pesquisas
que envolvam a busca de novas alternativas para a melhoria das condições de saúde dos
pescadores.
A pesquisa trouxe contribuições para a saúde do trabalhador pescador por meio da
caracterização das condições de saúde e trabalho do grupo estudado e divulgação dos achados
relevantes para os participantes, objetivando uma reflexão conjunta dos problemas
identificados e apontando para possibilidades de mudanças. A partir da atividade educativa
grupal, foram trocadas informações sobre o impacto ambiental de resíduos domiciliares, sobre
vida aquática e saúde humana que poderão ser repassadas para seus familiares e assim
contribuir com a saúde coletiva e ambiental da comunidade. O estudo trouxe ainda
contribuições para área da saúde e da enfermagem em particular, uma vez que, pretendeu
revelar possibilidades de pesquisa e ação educativa da enfermeira em outros contextos, para
além dos muros do hospital e da academia.
29
“Eu gostaria de ser lembrado como um sujeito que amou profundamente o
mundo e as pessoas, os bichos, as árvores, as águas, a vida.
(Paulo Freire)
30
2. CONTEXTUALIZANDO A ATIVIDADE PESQUEIRA ARTESANAL NA BAÍA DE
GUANABARA – ANÁLISE SOB A ÓTICA DO IMPACTO AMBIENTAL
2.1. A pesca e o trabalho informal
A pesca é o ato de capturar peixes ou outros animais aquáticos tais como crustáceos,
moluscos, equinodermes, entre outras, em rios, lagos ou mares com propósitos comerciais, de
subsistência, desportivos e outros (SAINSBURY, 1996). Trata-se de uma atividade antiga
que, tal como a caça e a agricultura. É praticada pelo homem desde a pré-história tendo em
vista conseguir obter os meios necessários à sua subsistência a partir do meio aquático –
alimentação humana. Sem ainda ter desenvolvido as formas tradicionais de cultivo da terra e
criação de animais, as sociedades primitivas praticamente dependiam da pesca como fonte de
alimentos (SAINSBURY, 1996).
Atualmente, a pesca é classificada como comercial, artesanal e de subsistência.
Alguns autores, todavia, inserem a pesca artesanal como uma modalidade de pesca comercial.
Sabendo-se que os pescadores residentes do entorno do rio Maribondo realizam a pesca
classificada como artesanal, torna-se de indiscutível importância compreender o
funcionamento dessa prática pesqueira.
De acordo com o Ministério da Pesca e Aquicultura, a pesca artesanal realiza-se
única e exclusivamente pelo trabalho manual do pescador. O pescador (a) artesanal é o
profissional que, devidamente licenciado pelo Ministério da Pesca e Aquicultura, exerce a
pesca com fins comerciais, de forma autônoma ou em regime de economia familiar, com
meios de produção próprios ou mediante contrato de parcerias, desembarcada ou com
embarcações de pequeno porte (BRASIL, 2011).
Para a maior parte dos pescadores o conhecimento é passado de pai para filho ou
pelas pessoas mais velhas e experientes de suas comunidades. Os pescadores utilizam
embarcações extremamente simples como botes ou caiaques. A remuneração é feita pelo
sistema tradicional de divisão da produção em “partes”, sendo o produto destinado
preponderantemente ao mercado. Da pesca retiram a maior parte de sua renda, ainda que
sazonalmente possam exercer atividades complementares.
Através da pesca os pescadores adquirem um extenso conhecimento sobre o meio
ambiente, as condições da maré, os tipos de ambientes propícios à vida de certas espécies de
peixes, o manejo dos instrumentos de pesca, identificação dos pesqueiros (melhores pontos de
pesca), o hábito dos diferentes peixes, o comportamento e classificação dos peixes
(RAMIREZ, BARELLA e CLAUZET, 2002).
31
Para o pescador artesanal, admite-se uma relação de informalidade com o trabalho. O
trabalho informal é um fenômeno social que se encontra em praticamente todo o mundo
capitalista. Todavia, assume dimensões de maior proporção nos chamados países de
capitalismo periférico, como o Brasil.
Segundo Filgueiras, Druck e Amaral (2004) a condição informal é aquela em que o
trabalhador executa um trabalho que não é trocado por capital e não contribui diretamente
para aumentar o capital e/ou que não possui um vínculo de trabalho regulamentado.
Compreende tanto atividades e formas de produção não tipicamente capitalistas - legais ou
ilegais – quanto relações de trabalho não registradas, mesmo que tipicamente capitalistas. As
pessoas que se vêem incluídas nessa problemática são, geralmente, de menor escolaridade, de
baixa qualificação profissional, negros, jovens e mulheres (FAGUNDES, 1994; BARROS &
MENDONÇA, 1996; OLIVEIRA & IRIART, 2008).
Segundo dados obtidos em um estudo realizado por Rosa e Mattos (2010), a
escolaridade dos pescadores é baixa, ou seja, a maioria possui até o primeiro grau incompleto
63% e 12% são analfabetos. Os analfabetos estão distribuídos em todas as faixas etárias,
inclusive entre os mais jovens. Esse percentual ainda pode ser mais alto, visto que muitos dos
que assinam seu nome não sabem ler. Para eles, uma melhoria de vida está relacionada a uma
melhor educação, ou seja, um futuro melhor.
A precariedade da legislação trabalhista específica para o setor pesqueiro,
especialmente aquela relacionada aos segmentos feminino e artesanal, estimula a conivência
entre o pescador e o armador no desrespeito à legislação, agravando a ausência da cobertura
assistencial e social aos pescadores. O pescador, assim, precisa usar de sua criatividade para
“driblar” a falta de recursos. Muitos aprendem a fazer suas próprias redes e consertos em seus
barcos (ROSA & MATTOS, 2010).
Esta modalidade de trabalho, por sua vez, conforme aponta Tavares (2002), mostra-
se capaz de auferir lucros maiores para o capital, já que este último economiza gastos com a
legalização de sua força de trabalho. Desse modo, percebe-se que o capital promove um
constante aumento do já alarmante exército de reserva e uma crescente precarização do
trabalho, alicerçado pela desregulamentação do direito do trabalho.
2.2. Atividade pesqueira na Baía de Guanabara
32
No Brasil, e mais especificamente na cidade do Rio de Janeiro, a geografia de
grandes rios e afluentes sempre favoreceu a atividade pesqueira, além de um clima tropical
propício que favorece a biodiversidade, ou seja, uma ampla variedade de espécies de peixes
disponíveis para pesca.
Apesar da alteração brusca na qualidade das águas da Baía de Guanabara nas últimas
décadas em decorrência de um incremento populacional e ocupações habitacionais irregulares
em suas margens e nas margens dos rios que desembocam na mesma, persiste a vida aquática.
Esse fato permite um numeroso contingente de pescadores envolvidos em atividades
pesqueiras na baía, entre 5.000 a 18.000 (BRASIL, 2002; ROSA & MATTOS, 2010).
Todavia, frente ao desequilíbrio ecológico gerado pela poluição proveniente de
despejos domésticos e industriais, os pescadores tendem a associar sua única fonte de renda, a
pesca, com outras atividades a fim de manter a renda familiar. A destruição deste recurso,
para além dos prejuízos relacionados à biosfera, acrescenta ainda problemas relacionados com
a entrada dos trabalhadores de áreas urbanas no mercado de mão – de – obra. Assim, o
impacto ambiental passar a ser também indutor de variados problemas econômicos (SOARES
& LIMA, 2005).
2.3. A poluição aquática e os micro-organismos veiculados pela água contaminada
A população mundial cresceu de 2,5 bilhões de pessoas em 1950, para 6 bilhões no
ano 2000 e, atualmente, a taxa de crescimento está em aproximadamente 1,3 por cento ao ano
(BRAGA, 2002). Com um crescimento populacional em escala mundial e a imposição do
modelo consumista como paradigma de crescimento econômico e modernidade, tem-se
percebido nas últimas décadas uma atenção prioritária focada na preservação do meio
ambiente. Principalmente em virtude dos efeitos da poluição no meio ambiente, vários
programas têm sido criados com a finalidade de recuperação ambiental. No entanto, a
realidade mostra que ainda há um longo caminho a percorrer. Dentre os diversos assuntos
relacionados a este tema que têm sido alvo de discussões e debates, está a questão da poluição
da água (SISINNO & OLIVEIRA, 2000).
A água é considerada um bem essencial para as atividades humanas e indispensável à
sobrevivência do homem. Contudo, por ser o alimento mais consumido pela população, está
associada a grandes riscos à saúde pública (MARQUEZI, 2010). A alteração da qualidade da
água não está somente ligada a aspectos estéticos, já que a água aparentemente satisfatória
pode estar contaminada, ou seja, conter micro-organismos patogênicos e substâncias tóxicas
33
para determinadas espécies, passíveis de serem transmitidos: o que traduz o impacto
fisiológico gerado (BRAGA, 2002).
O impacto ecológico em decorrência da poluição aquática pode produzir como
consequência o desequilíbrio de todo um ecossistema. No ambiente marinho, por exemplo, há
um equilíbrio natural entre seres produtores e consumidores, entre reação da fotossíntese e
respiração. Segundo Braga (2002), para que essas reações ocorram, são necessários diversos
elementos químicos, tais como o nitrogênio, fósforo, potássio, ferro, carbono, oxigênio e
hidrogênio. E, para que o ecossistema possa sobreviver, esses elementos devem ser
devolvidos ao meio novamente por meio de seres decompositores. Todavia, quando a matéria
orgânica biodegradável é despejada no meio aquático, os decompositores fazem sua digestão
por meio de mecanismos bioquímicos. Assim, os decompositores aeróbios respiram o
oxigênio dissolvido na água e passam a competir com os demais organismos, vencendo a
competição uma vez que têm alimento à disposição e possuem requisito metabólico baixo de
oxigênio levando à morte peixes e outros seres vivos. É dessa maneira que a matéria orgânica
biodegradável causa poluição.
No Brasil atualmente uma das regiões mais impactadas pela poluição ambiental é a
região Sudeste. Batista Neto, Wallner-Kersanach e Patchinelam (2008) apontam que do litoral
brasileiro, a região sudeste é uma das mais impactadas, já que mais de ¼ da população está
concentrada nessa região.
Localizada no estado do Rio de Janeiro (22º24’, 22º57’ S e 42º33’, 43º19’W) com
clima úmido subtropical prevalente entre os meses de dezembro a abril e temperatura média
anual de 20ºC a 25ºC, a Baia de Guanabara, comporta o segundo maior complexo industrial e
o segundo maior centro demográfico do país (GROHMANN, 2009), sendo considerado um
dos ambientes mais poluídos do litoral brasileiro (PEREIRA et al., 2007). De acordo com
SILVA e colaboradores (2008); FEEMA (1990), mais de 12.000 indústrias operam ao longo
da Baia de Guanabara, sendo responsáveis por 25% da poluição orgânica despejada na Baia.
O número de habitantes do entorno da Baia era de 10.2 milhões de pessoas, subindo
para cerca de 11 milhões em 2007, resultado da rápida urbanização e crescimento
populacional. Nos últimos 100 anos a área ao redor da baía tem sido fortemente modificada
pelo desmatamento e incontrolável assentamento. Essas atividades tem causado o incremento
na velocidade da correnteza dos rios e no transporte de sedimento (assoreamento) de 1 para 2
cm por ano (GODOY et al., 1998; PEREIRA, et al., 2007).
Além da localização geográfica peculiar (JABLONSKI, AZEVEDO e MOREIRA,
2006) a Baia de Guanabara recebe uma expressiva quantidade de poluição de matéria
34
orgânica e inorgânica de origem doméstica e do parque industrial da região metropolitana e
municípios adjacentes. Um estudo recente realizado na porção sudoeste da Baía de Guanabara
por Santos, Carreira e Knoppers (2008) ratifica a acumulação recente de esgotos e de matéria
orgânica fitoplanctônica6 como consequência do processo de eutrofização
7 do sistema citando
a ação antrópica como indutora da alteração do equilíbrio natural do sistema como um todo.
Batista Neto, Wallner-Kersanach e Patchinelam (2008) afirmam que várias doenças
podem estar associadas à água, seja em decorrência da sua contaminação por excretas
humanas ou de outros animais (rota fecal-oral) ou pela presença de substâncias químicas
nocivas à saúde humana. A Organização Mundial da Saúde corrobora com essa questão
quando diz que 80% das doenças nos países em desenvolvimento são ocasionadas pela
contaminação da água, sendo o seu tratamento uma importante ferramenta contra essas
doenças (MARQUEZI, 2010).
Assim, a disseminação de patógenos pela água ocorre através da contaminação desta
com esgoto não tratado ou tratado inadequadamente. Uma vez contaminada com fezes de
humanos ou animais, a água se torna um reservatório para diversos patógenos, especialmente
aqueles que causam doenças gastrointestinais, tais como cólera, shigelose e leptospirose
(MARQUEZI, 2010), além de febre tifóide, salmonelose, hepatite A, parasitoses, giardíase e
amebíase (MARQUEZI, 2010).
Tradicionalmente, as doenças relacionadas com a água são classificadas em dois
grupos conforme Baptista Neto, Wallner-Kersanach e Patchinelam (2008): doenças de origem
hídrica, causadas por determinadas substâncias químicas orgânicas ou inorgânicas presentes
na água em concentrações inadequadas (em geral superiores as especificadas nos padrões para
consumo humano); e, doenças de transmissão hídrica, em que a água atua como veículo do
agente infeccioso (quadro 1, p. 35). É o que ocorre no caso de micro-organismos como as
bactérias.
Quadro 1 - Principais micro-organismos indicadores da qualidade da água e as doenças que
causam (BAPTISTA NETO, WALLNER-KERSANACH & PATCHINELAM, 2008)
Bactérias Doenças
6 Fitoplâncton é o conjunto de organismos microscópicos fotossintetizantes adaptados a passar parte ou todo o
tempo da sua vida em suspensão em águas abertas oceânicas ou continentais (REYNOLDS, 2006). 7 A eutrofização das águas significa seu enriquecimento por nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo,
levando ao crescimento excessivo das plantas aquáticas, tanto planctônicas quanto aderidas, com conseqüente
desequilíbrio do ecossistema aquático e progressiva degeneração da qualidade da água (FIGUEIREDO et al,
2007).
35
Enterobactérias Gastroenterite, diarréia ("diarréia do viajante")
Pseudomonas aeruginosa Infecções oportunistas
Vibrio sp Cólera,gastroenterite,diarreia
Streptococcus(Enterococcus) Infecção piogênica
Clostridium sp Botulismo, gastroenterite
Salmonella sp Gastroenterite, febre tifóide, febres entéricas, septicemia
2.3.1. Febre tifóide causada por Salmonella enterica do sorogrupo Typhi
Doença infecciosa que se caracteriza por febre contínua, mal estar, manchas róseas
no tronco, tosse, prisão de ventre mais freqüente do que diarréia, e comprometimento dos
tecidos linfóides. Devido à sobrevivência dessa bactéria na água do mar, os peixes e moluscos
tem um papel importante na transmissão da febre tifóide (COSTA, FERRAZ & NUNES,
2004).
2.3.2. Diarréia causada por Escherichia coli
Cepas de Escherichia coli colonizam o trato gastrointestinal de seres humanos e
animais poucas horas após seu nascimento, e constituem o principal membro anaeróbico
facultativo da microbiota intestinal destes organismos (NATARO & KAPER, 1998). Apesar
de seu papel como comensal, algumas cepas de E. coli são capazes de causar uma grande
variedade de doenças, devido à aquisição de fatores de virulência por transferência horizontal
(KAPER et al., 2004). Dentre estas doenças a diarréia é uma das principais, sendo as
Escherichia coli diarreiogênicas (ECD) responsáveis por inúmeros surtos de diarréias
registrados no mundo (MOURA, 2009).
Atualmente são conhecidos 6 patotipos de ECD: E. coli enteroinvasora (EIEC), E.
coli enterotoxigênica (ETEC), E. coli enteropatogênica (EPEC), subdividida em EPEC típica
e EPEC atípica, E. coli produtora de toxina de Shiga (STEC), e seu subgrupo E. coli
enterohemorrágica (EHEC); E. coli enteroagregativa (EAEC), e E. coli que adere difusamente
(DAEC) (NATARO e KAPER, 1998).
2.3.3. Cólera e outras doenças causadas por espécies de Vibrio
36
A cólera é uma doença intestinal bacteriana aguda que geralmente ocorre em surtos
explosivos e caracteriza-se por apresentar os sintomas de diarréia aquosa abundante, vômitos
ocasionais, rápida desidratação. O principal meio de propagação da cólera é a água e em casos
de epidemia o monitoramente e controle dos principais cursos de água superficiais (rios,
lagos, represas, entre outros) e águas subterrâneas (poços, nascentes, entre outros) devem ser
aumentados (COSTA, FERRAZ & NUNES, 2004).
Os membros da família Vibrionaceae são habitantes naturais de ambientes marinhos
e estuários e muitos podem causar infecções em humanos que comumente apresentam
quadros clínicos como diarréia, septicemia, otites, infecções de pele e tecidos moles. As
infecções são, geralmente, adquiridas por consumo de alimento e água contaminada ou mais
raramente, por contaminação direta de feridas cutâneas ocorridas durante o contato com a
água do mar ou estuarinas (WEST & COLWELL, 1984).
As doenças gastrointestinais são mais comuns dentre as doenças por veiculação
hídrica, todavia estudos apontam para distintos mecanismos de ação de determinados micro-
organismos no organismo humano. Há cerca de duas décadas atrás foram reportados 121
casos de infecção por Vibrio em 4 estados dos Estados Unidos (Alabama, Florida, Louisiana,
e Texas). Destes, as seguintes espécies foram identificadas: 34 V. parahaemolyticus, 30 V.
cholerae non-O1, 18 V. vulnificus, 9 V. hollisae, 7 V. alginolyticus e 7 V. fluvialis. Dos 121
casos, 14 pacientes tiveram septicemia primária; 71 pacientes, gastroenterite pela ingestão de
ostra contaminada; e 29 pacientes tiveram feridas infectadas (LEVINE & GRIFFIN, 1993).
Ainda segundo Levine e Griffin (1993), infecções cutâneas causadas por espécies de
Vibrio instalam-se após exposição a ambientes aquáticos, e as lesões começam com feridas
pequenas, às vezes já preexistentes, ou através de lacerações causadas por acidentes no local
de trabalho. Há descrições de casos de lesões sépticas superficiais, cujos pacientes foram
expostos ao ambiente marinho ou outras superfícies aquáticas, e dos quais foram isoladas
várias espécies de Vibrio, constituindo mais um indício do possível papel patogênico desta
bactéria. Muitas destas lesões cutâneas apresentam infecções mistas, podendo-se esperar que
organismos ubíquos (Enterobacteriaceae) e comensais associados à pele (Staphylococcus e
Streptococcus) estejam presentes em qualquer ferimento, não importando o local de
contaminação (RODRIGUES et al., 2001).
2.4. A pele e as feridas cutâneas
37
A pele é o maior órgão do corpo e constantemente se adapta conforme necessidades
impostas pelo ambiente externo sendo, portanto, proteção contra o meio externo e importante
responsável pela manutenção da homeostase do meio interno (BRODERICK, 2009). Assume
funções como proteger as estruturas internas da ação de micro-organismos patogênicos,
termorregulação corporal, percepção, excreção, e secreção de várias substâncias capazes de
garantir a proteção bioquímica em sua superfície (FIGUEIREDO, 2003).
Segundo Smeltzer e Bare (2000) a pele é composta por três camadas: a epiderme, a
derme e o tecido subcutâneo, sendo a epiderme mais superficial em relação a derme e o tecido
subcutâneo. A epiderme possui uma série de camadas ou estratos, um dos estratos
denominado delgado estrato córneo, por exemplo, age de forma a proteger às células e os
tecidos subjacentes da desidratação e prevenir a entrada de certos agentes químicos, além de
permitir a evaporação de água a partir da pele e a absorção de certos medicamentos tópicos. A
derme, em contra partida, proporciona força tênsil, suporte mecânico e proteção aos
músculos, ossos e órgãos subjacentes. Contém principalmente colágeno, uma resistente
proteína fibrosa, tecido conjuntivo e poucas células (POTTER & PERRY, 2009).
O tecido subcutâneo ou hipoderme é um tecido principalmente adiposo, que
proporciona um acolchoamento entre as camadas da pele, músculos e ossos. Ele promove a
mobilidade da pele, delimita contornos do corpo e isola o corpo. Quando a pele é lesada, a
epiderme atua de modo a regenerar a superfície da ferida e restaurar a barreira contra
organismos invasores, enquanto a derme responde de modo a restaurar a integridade estrutural
(colágeno) e as propriedades físicas da pele (POTTER & PERRY, 2009).
Compreendendo melhor a função da pele é possível identificar que feridas cutâneas
impõem riscos à segurança do indivíduo e deflagram uma complexa resposta de cicatrização.
Uma ferida é uma interrupção da integridade e da função de tecidos no corpo (POTTER &
PERRY, 2009). Figueiredo corrobora esta questão quando diz:
“A quebra da integridade da pele é conhecida como lesão e poderá ser desencadeada
por hipóxia, desiquilíbrios nutricionais, distúrbios genéticos, reações imunológicas,
agentes químicos, físicos e infecciosos, ou ainda por ação traumática mecânica
(utilização de instrumentos adequados como lâminas de bisturi e tesouras), como é o
caso da ferida” (FIGUEIREDO, p. 342, 2003).
Segundo Potter e Perry (2009), as feridas podem ser classificadas conforme início e
duração (tempo) em feridas agudas e feridas crônicas. As feridas agudas progridem através de
um processo reparativo, ordenado e oportuno, que resulta na restauração sustentada da
integridade anatômica e funcional, são usualmente fáceis de serem limpas e reparadas. São
geralmente feridas traumáticas, como cortes, abrasões, lacerações, queimaduras e outras. Em
38
geral cicatrizam sem complicações; a demora no processo cicatricial pode tornar a ferida
aguda em crônica. (FIGUEIREDO, 2003).
As feridas crônicas, por sua vez, não progridem através de um processo ordenado e
oportuno para promover a integridade anatômica e funcional. São causadas por
comprometimento vascular, inflamação crônica ou insultos repetitivos ao tecido, que
impedem a cicatrização da ferida (DOUGHTY & SPARKS-DEFRIESE, 2007). Feridas
crônicas são feridas complexas que usualmente não progridem nas fases de cicatrização. Isso
pode ser causado por fatores intrínsecos ou extrínsecos e todas as faixas etárias podem ser
afetadas.
Todas as feridas crônicas começam de forma aguda. As feridas crônicas mais
comuns são as úlceras de membros inferiores. A Insuficiência Venosa Crônica é responsável
por 80% a 90% dos casos de úlceras de membros inferiores. Aproximadamente 2 a 3 milhões
de pessoas sofrem de feridas crônicas nos Estados Unidos. A cicatrização das feridas é um
processo dinâmico para restaurar estruturas celulares e lesões teciduais (BRODERICK, 2009).
De acordo com a etiologia, as feridas podem ser traumáticas, ou seja, provocadas
acidentalmente por agentes cortantes, perfurantes, contundentes, por atrito, inoculações de
veneno, mordeduras, queimadura; cirúrgicas, que são feridas agudas intencionais,
preferencialmente realizadas em centro cirúrgico; patológicas, geralmente causadas por
alterações patológicas no organismo, como as úlceras venosas, arteriais, diabéticas,
neuropáticas, isquêmicas; e as iatrogênicas, causadas por resposta desfavorável ao tratamento
médico ou cirúrgico, ou seja, induzida pelo próprio tratamento (OLIVEIRA, 2005).
Faz parte do tratamento proposto pela enfermagem para recuperação de tecidos
lesados, orientações aos clientes sobre as ações necessárias para cuidar de si. Muito se deve a
ele a eficácia da recuperação. O uso adequado de substâncias e medicamentos é de grande
importância para o adequado processo cicatricial.
Para a enfermagem, que é uma profissão da educação em saúde e do cuidado, é
preciso um comprometimento no ensinar a cuidar de feridas, já que é uma de suas atribuições.
Tendo sempre uma visão holística do paciente, para promoção de um autocuidado menos
prescritivo e mais participativo (ANDRADE, OLIVEIRA e ANDRADE, 2010).
39
“Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na
ação-reflexão.
(Paulo Freire)
40
3. EDUCAÇÃO POPULAR E EDUCAÇÃO PELOS PARES: UMA VISÃO
FREIREANA
Paulo Reglus Neves Freire nasceu no Recife, Pernambuco, Brasil, em 1921. Foi
educador e filósofo e, como tal, comprometido com a vida, não pensou idéias e sim a
existência. Como educador, existenciou seu pensamento numa pedagogia em que o esforço
totalizador da práxis humana busca, na interioridade desta, retotalizar-se como “prática da
liberdade”. Destacou-se por seu trabalho na área da Educação Popular, voltada tanto para a
escolarização como para a formação da consciência política (FREIRE, 1987).
A sua prática pedagógica tem por fundamento o uso de uma prática dialética com a
realidade, criando assim o educando, sua própria educação e não a educação imposta e
arbitrária. Paulo Freire não inventou o homem, apenas pensou e praticou um método
pedagógico que procurava dar ao homem a oportunidade de re-descobrir-se por meio da
retomada reflexiva do próprio processo em que vai ele se descobrindo, manifestando-se e
configurando o “método de conscientização”. Mas ninguém se conscientiza separadamente
dos demais, ao passo que ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se
educam entre si, mediatizados pelo mundo (FREIRE, 1987).
A educação fundamental para o desenvolvimento do homem e da sociedade remete os
educadores a acompanharem, criticamente, o surgimento de novos paradigmas, para que se
coloquem a serviço da construção de um mundo melhor, para além da incorporação
tecnológica, a qual somos cotidianamente submetidos. É preciso refletir sobre as relações
pedagógicas que devem considerar o educando como sujeito de seu processo educativo,
buscando resgatar valores como autonomia e liberdade, estes necessários à construção da
cidadania (JULIANI & KURCGANT, 2009).
A Educação pelos Pares é uma tecnologia educacional em saúde conhecida
internacionalmente na área da Educação em Saúde pelo termo inglês “peer education”. Esta
palavra, de origem britânica, teve origem há centenas de anos e significava ser membro de um
dos cinco ramos da nobreza. Atualmente, e de acordo com o dicionário Webster, a palavra
"peer" significa: "aquele que se situa ao mesmo nível do outro; aquele que pertence ao mesmo
grupo social, nomeadamente com base na idade, escolaridade, ou posição social". Por isso, o
termo "peer education" significará "peer-to-peer education", ou seja, aqueles que, pertencendo
ao mesmo grupo ou estatuto social, se educam uns aos outros. A Educação pelos Pares
envolve uma minoria de pares representativos de um grupo que tenta educar a maioria,
41
promovendo uma reorientação de atitudes, crenças e comportamentos por meio do
conhecimento (SVENSON, 2001).
Assim, por meio de uma minoria de participantes (denominados clientes educadores)
busca-se educar outros indivíduos (denominados clientes educandos), que por sua vez,
possuem mesma escolaridade e nível social. A escolha dos clientes educadores deve atender a
alguns critérios de seleção, tais como: desejo de realmente integrar a proposta, aceitação pelo
grupo no qual se pretende atuar (grupo de pares educandos), e personalidade compatível com
o trabalho em grupo, ou seja, capacidade de trocar informações, abertura para mudanças e
vontade de inovar o outro e a si mesmo. A seleção dos clientes educandos não segue critério
específico, importa que sejam pares de seus educadores (SABÓIA & TEIXEIRA, 2011).
A fim de atender a essas exigências, primeiramente deve ser feito um convite às
pessoas selecionadas para participarem de um encontro para apresentação da tecnologia
educacional, Educação pelos Pares. Em seguida, devem ser agendados encontros com
dinâmicas participativas em grupo, dramatização e outras estratégias que favoreçam o
processo ensino-aprendizagem, além de abordarem conteúdos relativos a questões contextuais
(SABÓIA & TEIXEIRA, 2011).
Desse modo, ao desenvolver esta tecnologia educacional com pescadores artesanais no
sujeitos à contaminação de feridas e aquisição de outras doenças por água contaminada é
fundamental que sejam destacados temas como poluição ambiental, micro-organismos
patogênicos, doenças por veiculação hídrica, feridas cutâneas, cicatrização e tratamento de
feridas. É importante que os assuntos discutidos nos encontros gerem dúvidas e
questionamentos, e que sejam de interesse da população-alvo (SABÓIA & TEIXEIRA, 2011).
Os encontros grupais devem se fundamentar no conceito freireano de “assunção do
sujeito”, ou seja, os participantes serão estimulados a se assumir como seres capazes de
pensar, de se comunicar e de se transformar, contribuindo para a melhoria da qualidade de
vida de todos por meio do aprendizado construído coletivamente pelas pessoas envolvidas
(SABÓIA & TEIXEIRA, 2011).
Estudo realizado por Britto, Mendes e Homem (2012), com universitários de Coimbra,
por intermédio da Educação pelos Pares, destaca a importância dessa tecnologia para a
reorientação de comportamentos de risco entre universitários. Sobretudo, em relação à
condução de veículos sob efeito do álcool, pois referem que tomar consciência da alcoolemia
permite conscientizar-se acerca do risco. Os resultados evidenciaram elevada satisfação e
utilidade do aconselhamento par-a-par. Os estudantes-alvo referem que o aconselhamento
proporcionado pelos estudantes “educadores de pares” facilitou a reorientação em relação aos
42
comportamentos de risco dos estudantes que frequentam as festas acadêmicas de Coimbra.
Esta tecnologia também proporcionou o aprofundamento do conhecimento sobre os efeitos do
álcool e de outras substâncias psicoativas no organismo, sobre sexualidade responsável, assim
como, maior conscientização sobre o grau de alcoolemia.
Enquanto educadora em saúde, a enfermeira deve contribuir para as condições de vida
e o retardo ou não aparecimento de doenças e complicações delas decorrentes. Lembrando
que o papel educativo deve ser construído numa perspectiva dialógica e que, portanto, o saber
ouvir e a percepção apurada da enfermeira pode torná-la a principal mediadora desse processo
(SABÓIA & TEIXEIRA, 2011).
Assim, pode-se admitir que os pilares da Educação pelos Pares tem por base o
referencial da proposta pedagógica da dialogicidade, do ensino problematizador e da
Educação Popular propostos por Freire.
A Educação Popular pode ser compreendida como uma forma de desenvolver um
referencial humanizador, democrático e justo nos processos educativos, não importando em
que espaço eles acontecem (CRUZ & VASCONCELOS, 2011).
Compreende-se a Educação Popular, fundamentada no referencial teórico-
metodológico freireano, como uma concepção de educação, realizada por meio de processos
contínuos e permanentes de formação, que possui a intencionalidade de transformar a
realidade a partir do protagonismo dos sujeitos. A sistematização da Educação Popular
inspirou a configuração de projetos de pesquisa e reivindicou para Paulo Freire o título de
‘criador’ de um estilo de pesquisa e ação educativa, que posteriormente foi conhecido como
pesquisa participante e pesquisa-ação.
Aplicadas ao campo da saúde, estas abordagens têm por objetivo discutir problemas de
saúde encontrados na realidade local por meio do diálogo, da problematização e da ação
comum entre os grupos sociais e os técnicos e intelectuais para a construção compartilhada de
conhecimentos e para organização política, necessárias à superação dos problemas
encontrados (STOTZ, DAVID E WONG-UM, 2005; VASCONCELOS, 2007).
A educação problematizadora proposta por Freire rompe com os esquemas
verticais característicos da educação bancária8, realiza-se como prática de liberdade.
Não mais educador do educando, não mais educando do educador, mas educador -
educando com educando-educador. Desta maneira, o educador não é o que apenas educa,
8 Educação bancária: o saber é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber. Trata-se de uma
relação entre educador e educando fundamentalmente narradora, dissertadora. Onde os educandos são
transformados em “vasilhas”, recipientes a serem enchidos pelo educador”( FREIRE, 1987).
43
mas o que enquanto educa, é educado em diálogo com o educando que ao ser educado,
também educa. Ambos crescem juntos enquanto sujeitos do processo.
Segundo Brandão (2012), não é apenas em uma sociedade transformada que se
cria uma nova cultura e um novo homem. É sim ao longo do processo coletivo de
transformá-la, pelo qual as classes populares se educam com a sua própria prática, e
consolidam o seu saber com o aporte da Educação Popular.
Entende-se assim, que ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os
homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo. Desta maneira, o educador já não
é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o
educando que ao ser educado, também educa. Ambos, assim, se tornam sujeitos do
processo em que crescem juntos (FREIRE, 1987).
Insere-se neste contexto a dialogicidade apontada por Freire (1987) como uma
exigência existencial. O encontro em que se solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos
endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado. O diálogo está para além do ato de
depositar idéias de um sujeito no outro, envolve a abertura da alma, do eu para com o outro.
Para que o diálogo, seja consolidado Freire (1987) nos remete à quatro palavras: amor,
humildade, fé e esperança, sem as quais o diálogo inexiste.
O amor revela compromisso com a libertação dos homens. A humildade possibilita a
intenção dialógica, que se desfaz em um contexto onde um dos sujeitos demonstra-se
arrogante. A aprendizagem da assunção do sujeito é incompatível com o treinamento
pragmático ou com o elitismo autoritário dos que se pensam donos da verdade e do saber
articulado (FREIRE, 1996).
A fé no poder de criar e recriar, poder de fazer e refazer dos homens, sem qual o
diálogo é falso, manipulador. A esperança leva os homens a uma eterna busca, que por sua
vez, não se faz no isolamento, mas na comunicação entre eles. O que gera o ascender de um
pensar crítico, que percebe a realidade como processo, um fazer contínuo e não estático.
Ao fundar-se no amor, na humildade e na fé nos homens, o diálogo se faz numa
relação horizontal, em que a confiança de um pólo no outro é consequência óbvia. Seria uma
contradição se, amoroso, humilde e cheio de fé, o diálogo não provocasse este clima de
confiança na antidialogicidade da concepção “bancária” da educação (FREIRE, 1987).
44
“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua
produção ou construção.
(Paulo Freire)
45
4. METODOLOGIA
4.1. Caracterização do estudo
Trata-se de uma pesquisa participante, com abordagem qualitativa, sobre o agir
educativo-participativo da enfermeira com pescadores da Baía de Guanabara residentes do
entorno do rio Maribondo, São Gonçalo/RJ, tendo em vista o cuidado e a prevenção de feridas
cutâneas.
A pesquisa qualitativa é um método que envolve a obtenção de dados descritivos, por
meio do contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do
que o produto e se preocupa em tratar a perspectiva dos participantes (LUDKE & ANDRÉ,
1986).
Referenciando Minayo (1993), essa abordagem metodológica pode ser entendida
como aquela capaz de incorporar a questão do significado e da intencionalidade como
inerentes aos atos, às relações, e às estruturas sociais, sendo essas últimas tomadas tanto no
seu advento quanto na sua transformação, como construções humanas significativas. Ainda
segundo Minayo (1994):
“A pesquisa qualitativa trabalha com um universo de significados,
motivações, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que
corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos
e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização
de variáveis” (MINAYO, p. 21-22, 1994).
Inserida no rol das metodologias qualitativas, a pesquisa participante é uma proposta
metodológica emergente da crise nas Ciências Sociais, que se desenvolve durante a década de
1960 na América Latina e, com aspectos semelhantes, também na Europa. Segundo Brandão e
Streck (2006), conceitua-se, como uma proposta metodológica inserida em uma estratégia de
ação definida, que envolve os sujeitos na produção de conhecimentos, uma prática política de
compromisso popular. Persegue a transformação social vista como totalidade e supõe a
necessária articulação da pesquisa, educação e ação (WITT & GIANOTTEN, 1983).
Essa modalidade de pesquisa apresenta dois atributos básicos: relação de
reciprocidade entre sujeito e objeto e relação dialética entre teoria e prática. A distância entre
pesquisador e informante se não é eliminada é encurtada e o produto do conhecimento é mais
amplo, profundo, capaz de superar o imediato dado pela aparência do fenômeno em
consideração (BRANDÃO & STRECK, 2006).
Desde o início se manifesta por meio de várias bases conceituais e operativas.
Segundo Gajardo (1983) estas são a realidade concreta dos grupos com quem se trabalha; a
46
luta por estabelecer relações horizontais e antiautoritárias; a prioridade dos mecanismos
democráticos na divisão do trabalho; o impulso dos processos de aprendizagem coletiva por
meio de práticas grupais; o reconhecimento das implicações políticas e ideológicas
subjacentes a qualquer prática social, seja de pesquisa ou de educação; o estímulo à
mobilização de grupos e organizações para a transformação da realidade social, ou para ações
em benefício da própria comunidade; e a ênfase à produção e comunicação de conhecimentos.
4.2. Cenário
A pesquisa foi realizada na colônia de pescadores da comunidade Cassinú
popularmente conhecida como Favela do Gato, localizada no entorno do Rio Maribondo –
São Gonçalo, localizada à margem da Baía de Guanabara, RJ, Brasil (foto 2, p. 47).
Nas últimas décadas, devido a grande produção de pescado na região, surgiram as
primeiras colônias de pesca e entrepostos, onde o produto, geralmente, é vendido em leilões.
A atividade pesqueira desenvolvida na Baía de Guanabara é voltada para o mercado interno.
Vários povoados e núcleos pesqueiros deram origem às colônias de Itaipu (Z-07), Jurujuba,
Ilha da Conceição, Gradim (Z-08), Itaóca, Mauá (Z-09), Ilha de Paquetá, Ilha do Governador
(Z-10), Ramos (Z-11), Caju (Z-12) e Copacabana (Z-13), além das associações de pesca
(cerca de 20). Na região do estudo se estabeleceu a colônia (Z-08) no Gradim-SG, um dos
bairros cortados pelo rio Maribondo. No município de São Gonçalo, encontram-se as
Associações do Gradim (APELGA- Associação de Pescadores Livres do Gradim), próxima a
colônia Z-08 (foto 3, p.47), além da Associação da Praia das Pedrinhas e Associação da Praia
da Luz (ROSA, 2005).
Segundo relatório da Petrobrás (2000), em 18 de janeiro do referido ano, ocorreu um
vazamento de óleo combustível resultante da ruptura de um dos nove oleodutos que ligam a
Refinaria Duque de Caxias (Reduc) ao terminal da Petrobrás na Ilha D'Água. O vazamento
atingiu principalmente a área do fundo da Baía de Guanabara, causando danos ao meio
ambiente e às comunidades da região. A poluição industrial e doméstica, associada ao
vazamento ocorrido tem causado uma série de danos, além de ecológicos (decréscimo
faunístico, grande quantidade de peixes mortos em decorrência da poluição ambiental) e
econômicos aos pescadores da colônia do Gradim, que em sua grande maioria vivem
exclusivamente da renda pesqueira.
47
Foto 2 – Colônia de pescadores do Gradim Z-08 à margem da Baía de Guanabara.
Fonte: Arquivo pessoal. Ribeiro (2013)
Foto 3 – Associação de pescadores do Gradim - São Gonçalo, RJ.
Fonte: Arquivo pessoal. Ribeiro (2013)
4.3. Participantes
48
Os participantes do estudo foram pescadores artesanais residentes na colônia de
pescadores Z-08 no Gradim próximo ao rio Maribondo. Critérios de inclusão: homens entre
18 e 70 anos que exercem atividades pesqueiras na Baía de Guanabara, apresentando ou não
feridas cutâneas produzidas e/ou contaminadas no exercício desta função. Vale ressaltar que
segundo OIT (2007) a idade mínima para trabalho em uma embarcação é de 16 anos, todavia,
não tivemos participantes menores de idade. Critérios de exclusão: Foram excluídos os
pescadores que exerciam outras atividades de trabalho formal remuneradas como renda
primária e que estivessem sob efeito de bebida alcoólica no momento da entrevista, o que
poderia prejudicar a fluência das informações.
4.4. Técnica de coleta de dados
Inicialmente, para a coleta de dados foi estabelecida uma estratégia de entrada no
campo, em janeiro de 2013. Optou-se por contato telefônico com APELGA, disponível no site
da associação. Assim, foi agendado um encontro entre a equipe de pesquisadores com o
presidente dessa associação, onde foi exposta a intenção de pesquisa, questionado número
total de pescadores inscritos na mesma, entre outras informações. O presidente sugeriu que a
equipe também entrasse em contato com o presidente da Associação de Moradores para
identificação do número de pescadores residentes na colônia de pescadores da comunidade
Cassinú. Após o contato, esse morador informou a existência de cerca de 50 pescadores
residentes na comunidade. Porém, disse não haver precisão desse dado, visto que, é necessário
realizar atualização dos dados cadastrais.
Para técnica de coleta de dados foram utilizadas: a entrevista semi-estruturada, que
segundo Minayo (1993) combina perguntas fechadas (ou estruturadas) e abertas, onde o
entrevistado tem a possibilidade de discorrer o tema proposto, sem respostas ou condições
prefixadas pelo pesquisador, adotando-se um formulário como instrumento (Apêndice 1,
p.110); e a observação participante, que ainda segundo Minayo (1993), é caracterizada como
um processo pelo qual mantém-se a presença do observador numa situação social, a fim de
realizar uma investigação científica. A fim de substanciar os achados relevantes em campo,
fossem eles objetivos ou subjetivos optou-se pela adoção de um diário de campo também
como instrumento (Apêndice 4, p. 115).
Ao desenvolver uma pesquisa numa comunidade, é preciso levar em conta os aspectos
legais e íntimos das relações sociais; aspectos culturais e sentimentos verbalizados por meio
de suas categorias de pensamento. Assim, o pesquisador poderá estabelecer uma relação face
49
a face com os participantes, envolvendo-se no seu cenário sócio-cultural, ao mesmo tempo
modificando e sendo modificado por este contexto.
Para Queiroz et al. (2007), a observação participante é uma das técnicas muito
utilizada pelos pesquisadores que adotam a abordagem qualitativa e consiste na inserção do
pesquisador no interior do grupo observado, tornando-se parte dele, interagindo por longos
períodos com os sujeitos, buscando partilhar o seu cotidiano, para sentir o que significa estar
naquela situação.
A observação participante enquanto técnica de coleta de dados tem proporcionado
uma maior aproximação do grupo social estudado. O levantamento de pessoas-chaves, no
caso do presente estudo, o presidente da associação de moradores, e a sistematização dos
dados, tem contribuído para efetividade desta técnica de coleta.
Antes do início das entrevistas, foi realizado um teste piloto por meio da aplicação do
formulário com um pescador residente próximo ao rio Maribondo, com vistas à aplicabilidade
do mesmo. Optou-se pela aplicação desse instrumento, uma vez que foi constatada por
trabalhos prévios a baixa escolaridade do grupo pesquisado, o que provavelmente
inviabilizaria a aplicação de um questionário auto-aplicável. Percebeu-se a necessidade de
redução dos itens, pois estava excessivamente longo, com tempo superior a 40 minutos, o que
gerou aparente desinteresse do pescador durante a entrevista.
Falkembach (1987) recomenda que sejam datadas as observações, especificando
local e hora. Refere ainda que o diário de campo pode ser organizado em três partes: (1)
descrição; (2) interpretação do observado, momento no qual é importante explicitar,
conceituar, observar e estabelecer relações entre os fatos e as conseqüências; (3) registro das
conclusões preliminares, das dúvidas, imprevistos, desafios tanto para um profissional
específico e/ou para a equipe, quanto para a instituição e os sujeitos envolvidos no processo.
De janeiro a fevereiro de 2013 pensamos na melhor estratégia para a coleta de dados,
enquanto mantínhamos contato buscando uma maior aproximação com o presidente da
Associação de Moradores. Inicialmente encontramos certa dificuldade, pois percebemos que o
horário que chegávamos ao local, os pescadores estavam dormindo, já que trabalhavam
durante a noite e a madrugada. O presidente da associação se inteirou do instrumento a ser
aplicado e mediou esse processo, sugerindo que agendássemos uma data específica para o
início da coleta dos dados na própria associação. Assim, elaboramos cartazes para divulgação
desse encontro e ele se encarregou de fixar em lugares estratégicos da comunidade, além da
divulgação corpo a corpo.
50
Em 09 de março de 2013 iniciamos as entrevistas com a comunidade. Nesse primeiro
contato foram realizadas 8 entrevistas (fotos 4 e 5 , p. 50) que tiveram duração média de 20
minutos, seguidas da aferição da pressão arterial e medidas antropométricas. De modo geral,
os pescadores compreenderam a intenção da pesquisa e obtivemos boa adesão por parte dos
mesmos. Posteriormente, fomos encontrando horários possíveis para as entrevistas a partir das
orientações dos próprios pescadores. Descobrimos que entre 5 e 6 horas da manhã estariam
retornando da pesca, poderíamos, então realizar a coleta de dados mais facilmente e participar
do momento de leilão e venda do pescado. Encerramos a coletas de dados em maio de 2013,
totalizando 35 pescadores.
Foto 4 :Local da realização das entrevistas dia 09/03 Foto 5: Entrevista com pescador
Fonte: Arquivo pessoal. Ribeiro (2013) Fonte: Arquivo pessoal. Ribeiro (2013)
Após a etapa de coleta de dados realizamos a atividade grupal para aplicação da
tecnologia de Educação pelos Pares. O encontro ocorreu na associação, após a concordância
do presidente. Solicitamos mais uma vez seu auxílio para a seleção de um pequeno grupo de
pescadores, que denominamos de “pescadores educadores”. Foi indicada a participação de
pescadores que moravam próximos à associação com faixa etária diversificada e compromisso
com a causa pesqueira. Um jovem da comunidade nos guiou a pedido do presidente até as
casas dos pescadores. Ao chegarmos às casas foram feitos os convites verbalmente, para
encontro em data escolhida pela maioria desses pescadores. Dos seis sujeitos convidados,
cinco aceitaram participar da atividade grupal, sendo que dos cinco que aceitaram, quatro
pescadores compareceram na data e local marcados, 22 de julho de 2013.
Elaborou-se, assim, o roteiro para a atividade grupal (Apêndice 2, p.112) que teve
duração média de 1h e 30 min. Chegamos cedo ao local para preparação do encontro.
51
Dispusemos as cadeiras em círculo, a fim de criar uma aproximação maior com os pescadores
e facilitar a observação do grupo como um todo (fotos 6 e 7, p. 52). Priorizamos o discurso
dos sujeitos, ressaltando a importância dos mesmos no processo de transformação. Utilizamos
recursos visuais (figura 2, p.52) e realizamos uma dinâmica participativa, com imagens de
peixes que valorizassem o conhecimento e a experiência dos pescadores sobre a atividade
pesqueira (figura 3, p.53).
Abordamos temas relativos à saúde e ao trabalho, que se destacaram durante as
entrevistas individuais realizadas, como os desafios da pesca, as principais doenças de
ocorrência na família, até chegarmos ao tema central do estudo que relacionava prevenção e
cuidado de feridas cutâneas com poluição ambiental buscando participativamente, estratégias
de prevenção e promoção da saúde.
Ao final da atividade, solicitamos que cada um dos pescadores elaborasse um desenho
que sintetizasse o que foi discutido na atividade educativa como forma de avaliação do
encontro (figura 4, p.53). Vale ressaltar que, o agir da enfermeira pesquisadora, mediou todo
este processo educativo-participativo.
A fim de retribuir a participação dos pescadores na pesquisa e ressaltar a contribuição
de alguns para a discussão na atividade grupal, foi elaborado um banner explicativo sobre o
cuidado com feridas e outros pontos relacionados à saúde que deverá ser afixado na
associação de moradores.
Desse modo, pretende-se que o conhecimento construído durante a tecnologia de
Educação pelos Pares, seja compartilhado entre os demais pescadores da comunidade
Cassinú, favorecendo a reflexão sobre as condições de saúde e trabalho destes pescadores,
bem como a construção e reconstrução de um saber ensinado aprendido simultaneamente e
multuamente pelos pescadores envolvidos.
52
Foto 6 – Atividade grupal na Associação de Foto 7 – Discussão sobre poluição ambiental
moradores da colônia de pescadores
Fonte: Arquivo pessoal. Ribeiro (2013) Fonte: Arquivo pessoal. Ribeiro (2013)
Figura 2 – Alguns recursos visuais utilizados nas discussões com os pescadores
Fontes: www.andreiajoao.com.br; www.jfonline.ufjf.br; espacoeducar-liza.blogspot.com
Os recursos visuais utilizados foram imagens extraídas da internet sob forma de mini-
cartazes que facilitassem a compreensão dos temas abordados.
53
Figura 3 – Imagens de diferentes espécies de peixes utilizadas na dinâmica
Fontes: www.vaqueiro.pt; sullpesca.blogspot.com; www.informacaonutricional.blog.br;
www.infoescola.com; mares-oceanos.blogspot.com
As espécies foram selecionadas por terem alta prevalência na Baía de Guanabara e
terem sido destacadas nas entrevistas individuais como principais espécies capturadas pelos
participantes. Seguindo-se de cima para baixo, da direita para esquerda, como são
popularmente chamadas, temos: Sardinha, Anchova, Corvina, Tainha e Bagre.
Figura 4 – Desenhos elaborados pelos pescadores educadores para avaliação da atividade
Fonte: Arquivo pessoal. Ribeiro (2013)
54
Considerando a numeração dos desenhos de 1-4, contados da esquerda para direita de
cima para baixo, no desenho 1, observam-se dois pescadores na embarcação de um rio,
provavelmente o rio Maribondo, o mais próximo da região. Na superfície da água
constatamos diversos materiais como pneus, garrafas plásticas, evidenciando a intensa
poluição da água, demonstrando a preocupação do pescador com o ambiente.
O desenho 2 , mostra o ato de captura de um peixe, que em relação ao barco tem um
tamanho considerável. A imagem nos leva a refletir sobre o grau de importância da pesca para
este trabalhador.
O desenho 3, mostra a tentativa de captura de um peixe, e o que nos chama atenção na
imagem agora, é o semblante do pescador, de tristeza e desânimo, provavelmente, devido à
escassez de peixes na água, o que reduz a renda e a satisfação pessoal do pescador com seu
trabalho.
No desenho 4, observa-se uma embarcação vazia e a imagem incompleta de um
pescador como se a difícil situação da pesca atual afetasse a auto-imagem do mesmo,
favorecendo a desvalorização da atividade pesqueira artesanal.
4.5. Análise dos resultados
Foi realizada análise estatística simples dos dados coletados por meio das questões
fechadas. As questões abertas foram analisadas com base na análise temática proposta por
Minayo (1993), que consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem uma
comunicação cuja presença ou frequência signifiquem alguma coisa para o objetivo analítico
visado.
Os pescadores foram identificados com a letra “P” inicial da palavra pescador
seguida do número sequencial da entrevista, a fim de preservar o anonimato das colocações
feitas por eles. Obtivemos assim: P1, P2, P3, P4, P5,..., P35.
Operacionalmente, de acordo com Minayo (1993) a análise temática desdobra-se em
três etapas, as quais foram seguidas nesta pesquisa:
1ª) A pré- análise: consiste na escolha dos documentos a serem analisados; na retomada das
hipóteses e dos objetivos iniciais da pesquisa, reformulando-as frente ao material coletado; e
na elaboração de indicadores que orientem a interpretação final.
2ª) Exploração do material: consiste essencialmente na operação de codificação. Segundo
Bardin (1979), realiza-se na transformação dos dados brutos visando a alcançar o núcleo de
compreensão do texto. Finaliza-se com agregação dos dados em categorias teóricas.
55
3º) Tratamento dos resultados obtidos e interpretação: consiste na submissão dos resultados
brutos a operações estatísticas simples, além da proposta de inferências e realização de
interpretações previstas em seu quadro teórico.
A análise proposta foi realizada sob a luz do referencial teórico de Paulo Freire e
outros estudiosos relacionados. Segundo Freire (1983) há um modelo educativo onde as
pessoas são estimuladas a desenvolver uma consciência crítica, pelo processo de análise
coletiva de problemas na busca de soluções e estratégias conjuntas para a mudança da
realidade. Essa pedagogia evidencia a formação de um indivíduo mais crítico e questionador.
As análises das informações foram realizadas utilizando-se os dados estatísticos
mostrados nas tabelas e quadros, juntamente com os depoimentos dos pescadores,
possibilitando a identificação de aspectos relevantes sobre as suas condições de trabalho e
saúde, geradoras de riscos e agravos, bem como um maior entendimento da atividade
pesqueira artesanal desenvolvida na Baía de Guanabara.
4. 6. Aspectos Éticos
O projeto foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Universitário
Antônio Pedro (UFF) conforme estabelecido pela Resolução 466/2012 do Conselho Nacional
de Saúde, sendo aprovado sobre o nº CAAE 05017512.1.0000.5243 (Anexo 1, p.116). Vale
ressaltar que a pesquisa foi explicada aos sujeitos e todos que aceitarem participar da pesquisa
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice 3, p.113), sendo-lhes
garantidos o sigilo e o anonimato.
56
“Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo.
(Paulo Freire)
[Digite uma citação do documento ou o
resumo de um ponto interessante. Você
pode posicionar a caixa de texto em
qualquer lugar do documento. Use a guia
Ferramentas de Desenho para alterar a
formatação da caixa de texto de citação.]
57
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram entrevistados 35 homens com idade entre 24 e 68 anos. Segundo o gráfico
abaixo, contudo, o maior número de entrevistados possui entre 40 e 55 anos, sendo a média de
idade 46, 4 e a mediana 47, conforme tabela 1, p.58. Nota-se uma prevalência do gênero
masculino na atividade pesqueira da região; provavelmente pelo esforço físico exigido na
captura e remoção do pescado das embarcações. Todavia, existem estudos sobre mulheres que
atuam na atividade pesqueira. Segundo Fassarella (2007) constatou-se a participação das
mulheres na atividade na separação dos siris e camarões dos cardumes, além de descascar
camarões e desfiar siris, não participando, contudo, do ato da pesca, comercialização e
instâncias que discutem a pesca. A pesquisa chama a atenção para o sentimento por parte das
processadoras, de desvalorização e invisibilidade da atividade laborativa no âmbito da pesca,
além da impotência diante da degradação ambiental e, consequente redução da matéria prima.
Gráfico 1: Distribuição dos pescadores segundo a variável idade (N=35)
Fonte: Ribeiro (2013)
O número reduzido de pescadores mais jovens pode ser atribuído a maior
possibilidade de estarem engajados em outras atividades laborais.
Outro fato importante a ser ressaltado é a presença de 4 pescadores com idade igual ou
superior a 60 anos, um deles com 68 anos de idade. Provavelmente para complementarem a
renda da aposentadoria, permanecem em pleno exercício. Os pescadores idosos precisam
fazer um esforço extra, pois apesar das alterações fisiológicas em decorrência do
envelhecimento, precisam tentar manter o mesmo ritmo de trabalho dos mais jovens.
58
Tabela 1: Distribuição dos pescadores segundo idade, filhos e dependentes
idade Filhos Dependentes
N 35 35 35
Mínimo 24 0 1
Máximo 68 7 6
Mediana 47 2 3
Média 46,4 2,3 3,4
Desvio padrão 11,1 1,7 1,5
Fonte: Ribeiro (2013)
A tabela acima (1) apresenta as varáveis idade, número de filhos e número de
dependentes, segundo mínimo, máximo, mediana, média e desvio padrão.
É possível perceber que a média de filhos dos pescadores é de 2,3, um número baixo
considerando a realidade da comunidade local, onde observam-se famílias com um número
maior de filhos.
Vale ressaltar que há pescadores com elevado número de dependentes (6), recebendo
uma renda mensal de cerca de 2 salários mínimos (gráfico 10, p.64), o que nos leva a refletir
sobre as reais condições de vida dos pescadores e suas famílias.
Percebeu-se que os pescadores estão imersos no universo da pesca e gostam do que
fazem, como no depoimento de P6: “A gente só tira o fruto, não planta nada. Esse mar é uma
maravilha pra mim”. Entretanto, nota-se uma certa resistência de que seus filhos sigam a
mesma profissão, para P25: “ A pesca é um trabalho muito sofrido”, para P30: “De jeito
nenhum. O que tinha que dar já deu.”, para P16: Não tenho filhos, mas se tivesse…pesca não
é vida pra ninguém”.
Gráfico 2: Distribuição proporcional dos pescadores segundo naturalidade (N=35)
Fonte: Ribeiro (2013)
No gráfico acima (2), observa-se que 88, 6% dos entrevistados nasceram no Rio de
Janeiro, entretanto, alguns vieram de outros estados. Tal fato justifica-se, provavelmente,
Rio de Janeiro; 88,6
Piauí; 2,9
Bahia; 2,9
Minas Gerais; 2,9
Alagoas; 2,9
59
porque houve um período em que a pesca artesanal era lucrativa, o que favoreceu a instalação
de comunidades no entorno da Baía e mantêm-se neste ambiente porque não possuem
alternativas.
Atualmente isso não acontece em virtude das transformações ambientais e econômicas dos
últimos anos, conforme a fala de P4: “Não vale mais a pena, tem muitos pescadores, falta
peixe”.
Gráfico 3: Distribuição proporcional dos pescadores segundo cor de pele (N=35)
Fonte: Ribeiro (2013)
Dos 35 pescadores 51,4% são pardos, 40% brancos e 8,6% negros. A pele mais clara
recebe com mais intensidade os efeitos da radiação solar.
Apesar dos pescadores estarem durante parte da jornada de trabalho sob exposição direta
ao sol, poucos utilizam protetor solar.
Gráfico 4: Distribuição dos pescadores segundo uso de protetor solar (N=35)
Fonte: Ribeiro (2013)
Conforme descrito no gráfico acima (4), 77,1% dos pescadores não utilizam protetor solar
e dos 22,9 que utilizam, utilizam parcialmente.
Branco; 40,0
Negro; 8,6
Pardo; 51,4
Não utilizam;
77,1
Utilizam de vez em
quando; 22,9
60
São apontados diversos motivos para a não utilização do protetor solar, segundo gráfico 5,
p.54. Dos 31 pescadores que não utilizam protetor solar, muitos não vêem importância
(67,7%), acreditam que os anos de exposição de alguma forma os protege de futuros
problemas na pele. Conforme fala de P28: “Já sou acostumado com sol na pele”. Alguns não
usam por esquecimento (16,1%), lembram-se quando já saíram de casa. Outros por
trabalharem a maior parte do tempo à noite (6,5%), não estarem acostumados (3,2%) e pelo
alto preço do produto (6,5%), que está muito acima do que poderiam pagar com a renda que
ganham com a pesca.
Gráfico 5: Distribuição dos pescadores segundo principais motivos para não utilização de
protetor solar (N=31)
Fonte: Ribeiro (2013)
Fonte: Ribeiro (2013)
A tabela acima (2) revela um percentual significativo de pescadores solteiros. Muitos
optam por estar solteiros, provavelmente, pela liberdade que lhes é intrínseca e pela baixa
renda salarial.
Por meio de conversas identificamos que alguns pescadores valorizam a atividade
pesqueira e gostam de exercê-la pela possibilidade de liberdade inerente a profissão. A
liberdade de “ir e vir” sem dever submissão a um patrão e sem estar “preso”. Como diz P3:
“Vivo livre, vou na hora que quero”. A autonomia que lhes é dada por meio da pesca pode
67,7
16,1 6,5 6,5 3,2
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
100,0
Não vêimportância
Esquecimento Alto preço doproduto
Trabalho maiorparte no tempo à
noite
Não tem ocostume
Tabela 2: Distribuição dos pescadores segundo estado civil (N = 35)
Frequência %
Casado 18 51,4
Solteiro 14 40,0
Divorciado 3 8,6
Total 35 100
61
estar refletindo na vida pessoal, de forma que muitos pescadores optam por permanecerem
solteiros. Além disso, a baixa renda dificulta ou quase que torna inviável a manutenção de
uma família, mesmo para aqueles que desejam.
Gráfico 6 :Distribuição proporcional dos pescadores segundo tipo de residência (N=35)
Fonte: Ribeiro (2013)
Os pescadores em sua grande maioria moram em casa própria (82,9%) à margem da Baía
de Guanabara, o que facilita o acesso ao local de trabalho e isenta o pescador de custos com
transporte para o trabalho. Conforme registro em diário de campo, percebe-se que a
construção das casas da colônia deu-se de forma desordenada sem um planejamento prévio.
As casas são simples, inacabadas. É difícil o alcance de água encanada nas casas mais
próximas à margem, há falta de saneamento básico. Os fundos do quintal de algumas casas
são uma espécie de continuidade da Baía. Assim, muitos pescadores deixam seus caícos (foto
8, p.61) no próprio quintal e ali mesmo preparam os materiais que utilizam na pescaria, como
redes ( foto 9, p.62) , isopores e outros apetrechos.
Foto 8: Dois caícos no quintal de um dos pescadores
Fonte: Arquivo pessoal. Ribeiro (2013)
62
Foto 9: Pescador no período da manhã preparando a rede que irá utilizar à tarde na pesca
Fonte: Arquivo pessoal. Ribeiro (2013)
Gráfico 7: Distribuição proporcional dos pescadores segundo religião (N=35)
Fonte: Ribeiro (2013)
Dos 35 pescadores entrevistados, 54,3% dizem ser católicos e 25, 7% dizem não ter
religião. O que nos chama a atenção, visto que em nossa sociedade há um apego/vínculo
extremamente forte das pessoas com diversas religiões.
Talvez a precária condição de vida e a falta de esperança em possível mudança possa ser o
fator primordial a afastar qualquer possibilidade de vínculo do pescador com a religião.
54,3
14,3
2,9 2,9
25,7
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
Católico Protestante Testemunhade Jeová
Espírita Não possui
63
Alguns pescadores quando questionados sobre planos para o futuro demonstram total
desesperança. P15: “Não. Ando desanimado”. P18: “Não. Não tenho mais condições de ter
planos”. P27: “Não. Só de morrer, planos pra quê?”. P14: “Não. Sem dinheiro fica difícil”.
Gráfico 8: Distribuição proporcional dos pescadores segundo principais responsáveis pelo
ensino da atividade pesqueira (N=35)
Fonte: Ribeiro (2013)
O gráfico acima (8) mostra que a maior parte dos pescadores aprendeu a profissão com o
pai (31,4%).
De fato a pesca em diversos outros cenários tem se revelado uma profissão que passa de
pai para filho. Os filhos iniciaram os primeiros passos na pesca ainda na infância e quando
adolescentes alguns relatam que deixavam de ir à escola algumas vezes para ajudar o pai na
pesca e assim ganhar um “trocado”. Mas parece que para a nova geração as coisas serão
diferentes. Quase 100% dos entrevistados afirmam que não desejam que os filhos sigam a
mesma profissão. Segundo P13: “Não. Nunca incentivei, meu filho de 21 anos não sabe nem
remar. Não tem expectativa. Muita poluição, escassez de peixe” e P7: “Não. Hoje tenho outra
visão. Eles têm que estudar para conhecer outro mundo, o mundo é informatizado”.
31,4
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
5,7
2,9
22,9
2,9
2,9
11,0
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0
Pai
Pai e amigo
Pai e avô
Pai e tio
Pai, avô e tio
Avô
Tio
Padrasto
Irmão
Cunhado
Amigo
Vizinho
Patrão
Influências diversas do meio
64
Gráfico 9 :Distribuição proporcional dos pescadores segundo escolaridade (N=35)
Fonte: Ribeiro (2013)
A escolaridade dos pescadores é baixa, a maioria possui até o Ensino Fundamental 1
completo, estudaram até a antiga 4ª série, hoje o 5º ano.
A baixa escolaridade além de reduzir a possibilidade de trabalho com carteira assinada,
aumenta as chances de desconhecimento sobre o cuidado em saúde e doenças veiculadas pela
água contaminada. Além de dificultar a articulação dessa classe de trabalhadores para luta por
melhorias nas condições de trabalho e saúde. Assim, se veem “obrigados” a assumirem uma
postura de submissão às questões políticas relacionadas à pesca artesanal, se adequando a
realidade de vida na qual estão inseridos.
Gráfico 10: Distribuição proporcional dos pescadores segundo renda, por salário mínimo
(N=35)
Fonte: Ribeiro (2013)
*Salário Mínimo atual (2013) = R$ 678,00
Fonte:http://br.advfn.com/indicadores/salario-minimo/2013
17,1
34,3
28,6
8,6 5,7 5,7
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
Ens. Fund. 1- Incompleto
Ens. Fund. 1- Completo
Ens. Fund. 2- Incompleto
Ens. Fund. 2- Completo
Ens. MédioIncompleto
Ens. MédioCompleto
14,3
17,1
42,9
11,4
5,7
2,9
2,9
2,9
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0
Menos que 1 SM
1 SM
Entre 1 e 2 SM
2 SM
Entre 2 e 3 SM
Entre 3 e 4 SM
4 SM
4 ou mais SM
65
Considerando o valor do salário mínimo (SM) atual, 42,9% dos pescadores tem uma renda
mensal entre 1 e 2 salários mínimos (R$678,00 – R$1.344,00).
Apenas 25,8% dos pescadores entrevistados recebem renda mensal superior a 2SM
(R$1.344,00), em uma realidade média de 3,4 dependentes. O que deixa evidente a difícil
situação financeira que vivenciam.
Muitos demonstram clara indignação com a renda que recebem. P14: “Pescador ganha
muito pouco”. P1:“...Se tivesse condição de pagar um bom estudo, melhor área médica,
advogado”. P13: “Gostaria de sair pra tentar outra coisa. Hoje o pescador não tem um carro,
conta no banco, uma profissão que não te dá retorno”.
Alguns, apesar do baixo rendimento com a pesca, declaram grande satisfação com a
profissão. P8: “O problema é que ganha pouco, mas é divertido”. P12: “Agradeço muito a
Deus, já ganhei muito dinheiro, mas não tive cabeça, né?”.
Gráfico 11 : Distribuição dos pescadores que trabalham ou já trabalharam em outras áreas
(N=35)
Fonte: Ribeiro (2013)
Dos 35 pescadores 82,9% trabalham ou já trabalharam em outras áreas. Provavelmente na
tentativa de complementar a baixa renda que a pesca tem proporcionado nos últimos anos.
Dentre as atividades já realizadas por eles destacam-se auxiliar de estaleiro (14,3%),
seguido de comércio, ajudante de pedreiro, operário da fábrica de sardinha com 8,6% e
motorista, pedreiro, porteiro, eletricista, serviços gerais com 5,7% (gráfico 12, p.66).
Muitas funções relacionadas não tem possibilidade de fixação, demonstrando assim, que a
liberdade no fazer prevalece.
Sim; 82,9
Não; 17,1
66
Gráfico 12: Distribuição dos pescadores segundo principais atividades realizadas
para complementação de renda
Fonte: Ribeiro (2013)
Tabela 3: Distribuição dos pescadores segundo tempo de profissão
e horas de trabalho
tempo de profissão horas de trabalho/dia
N 35 35 Mínimo 2 7 Máximo 40 15 Mediana 25 12 Média 21,5 11,8 Desvio padrão 10,2 1,7
Fonte: Ribeiro (2013)
A tabela acima (3) apresenta o tempo de profissão e jornada de trabalho dos pescadores.
Em relação ao tempo de profissão há uma média de 21,5 anos sendo o mínimo de 2 anos e o
máximo de 40 anos.
Em relação à jornada de trabalho verificou-se uma média de 11,8h sendo o mínimo de 7
horas e o máximo de 15 horas.
14,3
8,6
8,6
8,6
5,7
5,7
5,7
5,7
2,9
2,9
2,9
5,7
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0
Auxiliar de estaleiro
Comércio
Ajudante de pedreiro
Operário (fábrica de sardinha)
Motorista
Pedreiro
Porteiro
Eletricista
Ajudante de caminhão
Segurança
Operador de Marketing
Serviços gerais
Cobrador
Posto de gasolina
Balconista
Metalúrgica
Pintura
Ajudante de convés
Rodoviário
Açougueiro
Ajudante de cozinha
Calçador de rua
Padeiro
Pedágio da ponte
67
Durante as entrevistas, muitos pescadores disseram que saem para pescar a tarde e só
retornam ao amanhecer para a venda do pescado. Quando terminam o período de venda, caso
necessário, utilizam o período da manhã também para consertos de equipamentos e
preparação do material para a próxima pesca. Por ficarem um longo período em alto mar, os
pescadores estão sujeitos a acidentes por alterações climáticas inesperadas, como
tempestades. Como já pescam há anos, e portanto, têm muita experiência no que fazem,
alguns pescadores saem para pescar sozinhos, sem ajudantes, ao contrário da maioria. Isso
aumenta ainda mais o risco de acidentes por eventuais contra-tempos, mas em contrapartida,
reduz a divisão da baixa renda com um ajudante.
Quando questionados sobre o perigo da profissão e a segurança das embarcações, a
maioria associou às questões climáticas e ao risco de colisão com embarcações maiores à
noite. P1: “O tempo que fica em alto mar. É sair e pedir a papai do céu para proteger e ir em
frente”. P6: “A gente tá em área de risco. Risco do navio passar por cima, perde rede direto”.
P13: “A gente sai pra pescar, mas não sabe se volta, pode bater em pedra, navio, dormir no
leme, temporal”. P28: “É sacrificante e perigosa. Pra você ter uma idéia, meu irmão se afogou
num temporal”.
Gráfico 13: Distribuição dos pescadores segundo principais tipos de pescado
Fonte: Ribeiro (2013)
68,6
37,1
31,4
25,7
20,0
8,6
8,6
2,9
2,9
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0
Tainha
Camarão
Corvina
Sardinha
Anchova
Bagre
Siri
Pescadinho
Lula
68
Os pescadores entrevistados dentre as diversas espécies de pescado que capturam com
maior frequência destacaram a Tainha (68, 6%), Camarão (37,1%), Corvina (31,4%),
Sardinha (25,7%) e Anchova (20%).
Apesar do declínio no número de pescado disponível, em função do intenso despejo de
lixo doméstico e dos efluentes industriais, a Baía de Guanabara persiste apresentando uma
grande diversidade de espécies faunísticas.
Gráfico 14: Distribuição dos pescadores segundo principais pontos de venda
Fonte: Ribeiro (2013)
Segundo o gráfico acima (14) o principal ponto de venda do pescado pelos pescadores da
colônia se dá por meio de um atravessador.
Os pescadores ganham por dia de trabalho dependendo da quantidade e do tipo de
pescado. Quando chegam da pesca, o que foi pescado é disposto em caixas para o início do
leilão (fotos 10, 11 e 12, p.69). Os atravessadores estipulam um preço bem abaixo do
encontrado nos mercados. Como não têm como realizar o transporte e o armazenamento da
mercadoria para conseguirem a venda por um melhor preço nos grandes mercados, os
pescadores se submetem ao preço ofertado pelos atravessadores. Assim, o pescado é vendido
por um preço muito aquém do que os atravessadores vendem para os mercados e feiras livres.
88,6
14,3 8,6 5,7 5,7 5,7
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
100,0
Atravessador Mercado Praia Comércio Domicílio Feiras livres
69
Foto 10:Pier por onde chega o pescado Foto 11: Pescado disposto em caixas para o leilão
Fonte: Arquivo pessoal. Ribeiro (2013) Fonte: Arquivo pessoal. Ribeiro (2013)
Foto 12: Fim de mais um dia de leilão
Fonte: Arquivo pessoal. Ribeiro (2013)
70
Gráfico 15: Distribuição dos pescadores segundo uso de EPI (N=35)
Fonte: Arquivo pessoal. Ribeiro (2013)
Dos 35 pescadores entrevistados quando questionados sobre a utilização de Equipamento
de Proteção Individual (EPI), desconheciam o significado das siglas. Depois de explicado,
28,6 % disseram não utilizar e os 71,4% restantes disseram utilizar, mas de forma parcial, ou
seja, ora utilizam luvas, ora utilizam botas.
Os EPI’s, de acordo com os relatos não são utilizados com frequência. Um dos pescadores
afirmou que o uso de luvas de borracha, por exemplo, atrapalha a sensibilidade no contato
com o peixe. P7: “Tem que ter contato pra remover o peixe. Pescador confia muito em si
mesmo”.
Poucos costumam ter coletes, sinalizadores ou outros equipamentos que possam auxiliar
nos casos de emergência.
Os principais EPI’s utilizados segundo as informações obtidas são as botas (54,3%), o
macacão de oleado (34,3%) e luvas de borracha (28,6%), conforme gráfico 16, p.70.
De acordo com a Norma Regulamentadora do Ministério do Trabalho e Emprego, NR-6
(2011), os EPIs são definidos como todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado
pelo trabalhador, destinado à proteção contra riscos capazes de ameaçar a sua segurança e a
sua saúde. Na população de pescadores, contudo, o uso de EPI’s é um recurso pouco
explorado. Principalmente entre pescadores artesanais, onde não há compromisso
empregador/ empregado, e o uso de EPI’s, portanto, é de total responsabilidade do próprio
pescador.
Dentre os EPI’s a serem adotados pelo pescador artesanal segundo Ministério do Trabalho
e Emprego (2008) estão: colete salva-vidas, chapéu de palha ou boné, alicate pequeno (para
retirada do anzol da própria pele), faca ou facão com bainha de couro, botas de borracha de
Não utiliza; 28,6
Utiliza parcialmente; 71,4
71
cano longo (quando pisar no fundo do rio), luvas grossas (para manusear peixes e cabos).
Além do uso de protetor com Fator de Proteção Solar (FPS) 25. Em algumas regiões do país,
onde pescadores pescam com linha de mão, recomenda-se utilização de um anel feito de
câmara de borracha para proteger os dedos.
Os Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC’s), por sua vez, também devem ser
utilizados, incluem-se neste grupo o estojo de primeiros socorros e bote salva-vidas.
Gráfico 16: Distribuição dos pescadores segundo principais EPI’s utilizados
Fonte: Ribeiro (2013)
Gráfico 17 : Distribuição dos pescadores segundo momentos destacados onde entram em
contato com a água
Fonte: Ribeiro (2013)
34,3
54,3
28,6
5,7
5,7
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0
Macacão oleado
Bota
Luvas de borracha
Guarda-sol
Calça de oleado
Luvas de pano
Chapéu
Toca
Meias de lã
Colete
85,7
8,6 2,9 2,9
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
100,0
Durante toda pesca No ato de puxar arede
No ato de removero anzol
No ato dedescarregar o
pescado do barco
72
Dos 35 pescadores 85,7 % dizem entrar em contato com a água durante toda a pesca,
conforme gráfico 17, p.71.
Alguns caícos ficam atracados no rio Maribondo. Segundo Ministério do Trabalho e
Emprego (2008), caíco é o nome utilizado pelos pescadores para Canoa (CAN), embarcação
movida a remo ou vela, sem convés, confeccionada em madeira (jaqueira ou marmeleiro) de
fundo chato ou não, também conhecida como curicaca, igarité, biana, patacho, canoa de
casco, batelão, iole.
Em dias de maré baixa, alguns pescadores precisam entrar no rio com a água até o nível
do joelho para empurrarem essa pequena embarcação até um nível em que seja possível
remar. Assim, quando não estão utilizando EPI’s podem sofrer lesões, pois no rio há intenso
despejo de lixo doméstico, inclusive, garrafas de vidro e outros materiais pérfuro-cortantes
como latas de alumínio.
É sabido que o contato com a água contaminada pode trazer prejuízos à saúde dos
pescadores.
Gráfico 18: Distribuição dos pescadores segundo existência de caso de ferimento durante
a atividade pesqueira (N=35)
Fonte: Ribeiro (2013)
Como já era esperado, os casos de ferimento entre os pescadores são muito comuns. Dos
35 entrevistados 91,4% afirmam já ter sofrido algum ferimento durante a atividade pesqueira
nos anos de profissão.
Não houve pescadores com lesões significativas no momento da entrevista, todavia alguns
apresentaram cicatrizes decorrentes de ferimentos de causas variadas durante a pesca.
Sim; 91,4
Não; 8,6
73
Há casos de ferimentos mais simples com o próprio anzol e facas (foto 13, p.73), mas há
casos de ferimentos graves, como por exemplo, um pescador que se feriu com estrutura do
peixe Bagre e ficou internado no hospital por 1 mês.
As principais partes do corpo atingidas são as mãos (80%) seguidas de pernas (17,1%),
braço e pés (5,7%), rosto, regiões variadas, joelho (2,8%) (gráfico 19, p.73).
Gráfico 19: Distribuição dos pescadores segundo principais partes do corpo atingidas por
ferimento
Fonte: Ribeiro (2013)
Foto 13: Imagem de cortes com faca na preparação da rede
Fonte: Arquivo pessoal. Ribeiro (2013)
80,0
17,1
5,7
5,7
2,8
2,8
2,8
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0
Mãos
Pernas
Braço
Pés
Rosto
Regiões variadas
Joelho
74
Gráfico 20: Distribuição dos pescadores segundo principais causas de ferimento
Fonte: Ribeiro (2013)
Como principais causas de ferimentos destacam-se estrutura do próprio peixe (60%),
remoção de peixe do anzol (14,3%), mordida de peixe (14,3%).
Gráfico 21: Distribuição dos pescadores segundo principais formas de tratamento das
feridas
Fonte: Ribeiro (2013)
60,0
14,3
14,3
5,7
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0
Estrutura do peixe
Remoção de peixe do anzol
Mordida de peixe
Faca
Corda do timão
Remoção de peixe da rede
Estrutura da rede
Cracas
Falta de atenção
Ligação do motor -…
22,9
17,1
8,6
8,6
8,6
8,6
8,6
8,6
5,7
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0
Não faz nada
Água e sabão
Povidine
Posto de saúde
Pomada
Água, sal e vinagre
Pronto-socorro
Mão de molho em água da praia
Mercúrio
Pó de café
Qualquer remédio
Água e sal
Sabão de coco
Fura o olho do bagre e passa
Spray anti-inflamatório
75
Por estarem no mar, a maioria dos pescadores ao se ferirem, optam por não fazer nada
(22,9%), outros (17,1%) dizem que assim que chegam da pesca lavam o local do ferimento
com água e sabão. Em casos mais graves se dirigem ao posto de saúde (8,6%) ou pronto-
socorro (8,6%).
Nota-se a aplicação de diversas substâncias tradicionalmente utilizadas pelo saber
popular como pó de café (2,9%), fura o olho do bagre e passa (2,9%), mão de molho em água
da praia (8,6%). Tais substâncias não possuem comprovação científica no processo cicatricial
podendo prejudica-lo e favorecer a contaminação da ferida.
Quadro 2: Distribuição dos pescadores segundo doenças/queixas anteriores
que levaram ou não à internação
Frequência %
Tuberculose 2 5,7
Acidente de trabalho 2 5,7
Hepatite 2 5,7
AVC 2 5,7
Apendicite 1 2,9
Hemorragia gástrica 1 2,9
Dor no estômago 1 2,9
Úlcera gástrica 1 2,9
Doença venérea 1 2,9
Queda da própria altura 1 2,9
Câncer de pele 1 2,9
Pedra nos rins 1 2,9
Problema nos rins 1 2,9
Problema na clavícula 1 2,9
Bronquite 1 2,9
Fonte: Ribeiro (2013)
Entre os pescadores entrevistados, segundo quadro acima, recebem destaque os casos de
tuberculose, acidente de trabalho, hepatite e AVC (Acidente Vascular Cerebral) todos com
5,7% de ocorrência.
Segundo histórico de doenças na família (Gráfico 22, p.76) destacam-se Diabetes (34,3%),
Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) (22,9%) e Hipertensão arterial (20%).
76
Gráfico 22: Distribuição dos pescadores segundo histórico de doença na família
Fonte: Ribeiro (2013)
Gráfico 23: Distribuição dos pescadores segundo principais queixas/doenças atuais
Fonte: Ribeiro (2013)
34,3
22,9
20,0
11,4
8,6
2,9
2,9
2,9
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0
Diabetes
IAM
Hipertensão arterial
AVC
Câncer
Tuberculose
Bronquite crônica
Mal de Alzheimer
11,4
5,7
5,7
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0
Dores na colunaDores no joelho
HipertensãoInchaço nas pernas
Dores no ouvidoDores na virilha
Dores nas articulações do braçoDiabetes
Problemas na visãoDores no pé
EsquecimentoCâncer de pele
SoluçosDores no peito
Dormência lado esquerdoProblemas respiratórios
Problemas na peleProblemas digestivos (úlcera)
Tonteira
77
As dores em diversos locais no corpo, como coluna, joelho, virilha estão presentes na
fala de alguns pescadores. A descarga do pescado dos caícos de forma inadequada e o excesso
de peso que carregam diariamente podem estar gerando alterações posturais com
consequências ergonômicas graves.
Gráfico 24: Distribuição dos pescadores segundo realização de tratamento para as
doenças/queixas atuais (N=17)
Fonte: Ribeiro (2013)
Dos 17 pescadores que apresentam queixa/doença 58,8% não faz tratamento.
Os pescadores queixam-se da falta de profissionais de saúde no posto mais próximo e da
dificuldade de acesso. Segundo relatos, o posto municipal encontra-se praticamente inativado.
Não há dispensação de medicações básicas para a comunidade local.
Gráfico 25: Distribuição dos pescadores segundo prática de atividades físicas, mínimo 1x por
semana
Fonte: Ribeiro (2013)
Sim; 41,2
Não; 58,8
25,7
2,9 2,9 2,9 2,9
62,7
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
100,0
Futebol Caminhada Bicicleta Malhação Natação Não pratica
78
A atividade física não é realidade para a maioria dos pescadores da colônia. Destes,
apenas 37,3% realizam algum tipo de atividade física por semana, enquanto 62,7% não
praticam qualquer atividade.
Para o pescador é extremamente complicado conseguir conciliar algum tipo de atividade
provavelmente devido à sobrecarga diária de trabalho. Quando chega da pesca, o tempo que
tem disponível busca descansar para a próxima pesca, algumas horas depois.
Das atividades físicas, realizadas pelo menos uma vez por semana, destacam-se o futebol
aos finais de semana, caminhada, bicicleta, malhação e natação.
Gráfico 26: Distribuição dos pescadores segundo prática de atividades de lazer (N=35)
Fonte: Ribeiro (2013)
Em relação as atividades de lazer, observa-se um maior percentual de pescadores que
realiza (74,3%) e um menor percentual de pescadores que não realiza (25,7%), conforme
gráfico 26, p.78.
31,4% dos pescadores relatam como principal atividade de lazer tomar cerveja com
amigos e esposa.
Em diversas visitas à colônia foi possível observar pescadores no bar da comunidade.
Percebe-se que o uso de álcool é uma atividade habitual na colônia de pescadores.
Sim; 74,3
Não; 25,7
79
Gráfico 27: Distribuição dos pescadores segundo principais atividades de lazer
Fonte: Ribeiro (2013)
Gráfico 28: Distribuição da classificação de pressão arterial dos pescadores com base em
uma aferição
Fonte para referência: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd05_06.pdf
A pressão arterial dos pescadores, com base em 1 aferição, foi classificada como normal
em 54,3% dos pescadores, pré-hipertensão em 22,9%, hipertensão estágio I em 5,7% e
hipertensão estágio II em 17,1%.
A classificação foi referenciada nos valores de pressão arterial estabelecidos pelo
Ministério da Saúde (BRASIL, 2006, p.14). Que segue: Normal (PAD < 85 e PAS< 130),
31,4
11,4
8,6
5,7
5,7
5,7
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
2,9
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0
Tomar cerveja com amigos e esposa
Jogos de mesa
Jogar futebol
Ouvir música
Passeios
Sair com a esposa
Desenho
Fazer churrasco
Igreja
Reunião de família
Reunião de amigos
Baile/Pagode
Cinema
Ir a ilha de Paquetá com amigos
54,3
22,9
5,7
17,1
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
100,0
Normal Pré-hipertensão Hipertensão estágio I Hipertensão estágio II
80
Limítrofe/Pré-hipertensão (PAD 85-89 e PAS 130-139), Hipertensão estágio I (PAD 90-99 e
PAS 140-159) e Hipertensão estágio II (PAD ≥100 e PAS ≥160).
Gráfico 29: Distribuição da classificação dos pescadores pelo índice de massa corporal
Fonte: Ribeiro (2013)
Dos 35 pescadores entrevistados, 40% está com peso normal, 48,6% está sobrepeso
segundo Índice de Massa Corpórea (IMC). E há casos de obesidade no grupo.
A falta de atividade física pode ser um fator a contribuir para a realidade encontrada.
Gráfico 30: Distribuição dos pescadores segundo uso de drogas ilícitas (N=35)
Fonte: Ribeiro (2013)
Em relação às drogas ilícitas foi identificado o uso por 8,6 % dos pescadores.
Dentre as principais drogas mencionadas estão a maconha, o craque e a cocaína.
0,0
40,0 48,6
5,7 5,7 0,0
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
100,0
Abaixo dopeso
Peso normal Sobrepeso Obesidade I Obesidade II Obesidademórbida
Sim; 8,6
Não; 91,4
81
Gráfico 31: Distribuição dos pescadores segundo ingestão de álcool (N=35)
Fonte: Ribeiro (2013)
Dos 35 pescadores entrevistados 88,6% faz ingestão de álcool. Como dito anteriormente,
trata-se de uma prática bastante comum na colônia.
Dos 31 pescadores que ingerem álcool, a grande maioria (71%), bebe aos finais de
semana. Vale ressaltar que a ingestão mesmo sendo aos finais de semana, como relatado por
eles, é em grande quantidade na maior parte das vezes.
9,7 % ingere álcool todos os dias.
Gráfico 32: Distribuição da frequência na ingestão de álcool entre os pescadores etilistas
(N=31)
Fonte: Ribeiro (2013)
Sim; 88,6
Não; 11,4
12,9
71,0
3,2 3,2 9,7
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
100,0
As vezes Final de semana Mais de 3 vezespor semana
Quase todos osdias
Todos os dias
82
Gráfico 33: Distribuição da última realização de exame de sangue entre os pescadores
(N=35)
Fonte: Ribeiro (2013)
Dos 35 pescadores 34,3% realizou exame de sangue há menos de 3 meses. Todavia,
28,6% não realiza exame de sangue há mais de 2 anos, conforme gráfico acima (33).
Parte dos pescadores por serem doadores de sangue tem direito a exame de sangue
gratuito, o que explica a última realização há menos de 3 meses em alguns casos.
A não periodicidade na realização de exames de sangue pode retardar a descoberta de
alterações fisiológicas importantes, dificultando o tratamento precoce.
Gráfico 34: Distribuição dos pescadores segundo hábito de fumar (N=35)
Fonte: Ribeiro (2013)
Dos 35 pescadores 57,1% fumam e 42,9% não fumam.
34,3
17,1 17,1
28,6
2,9
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
100,0
Menos que 3meses
Entre 3 meses e 1ano
Entre 1 e 2 anos Mais de 2 anos Nunca realizou
Sim; 57,1
Não; 42,9
83
Em relação à quantidade de carteiras de cigarro por dia, dos 20 pescadores que fumam
10% fumam mais de 1 carteira por dia.
Gráfico 35: Distribuição da quantidade de carteiras/dia utilizadas pelos 20 pescadores
fumantes (N=20)
Fonte: Ribeiro (2013)
Os resultados evidenciam as condições de trabalho e saúde de pescadores artesanais da
comunidade Cassinú, possibilitando um sólido caminho para análise mais aprofundada dos
achados.
45,0 45,0
0,0 5,0
0,0 5,0
0,0 0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
100,0
Menos que 1 1 1 e meia 2 2 e meia 3 Mais de 3
84
“Todos nós sabemos alguma coisa, todos nós ignoramos alguma coisa, por isso
aprendemos sempre”.
(Paulo Freire)
85
6. CATEGORIAS ANALÍTICAS DO ESTUDO
A partir da quantificação dos dados obtidos por meio das questões abertas e posterior
análise dos mesmos, os núcleos de sentido foram agrupados e categorizados conforme quadro
simplificado abaixo, a fim facilitar a análise dos temas emergentes e dos resultados obtidos
por meio da estatística simples.
Quadro 3- Categorias formadas para discussão
Dualismo no trabalho
informal: Prazer e Dor
Individualismo na pós-
modernidade: União para a
libertação
Sustentabilidade ambiental:
Saúde e Educação
“Porque não temos benefício de lado nenhum”. “Vivo livre, vou na hora que quero”. “O problema é que ganha pouco, mas é divertido”. “Tenho liberdade de expressão”. “É sacrificante e perigosa”. “Como vou planejar, se ganho pouco com a pesca”.
“O pescador tem que ser mais humilde”. “União do órgão competente”. “...pescador é tudo desigual”. “...pescador não tem união”. “Unir mais os pescadores”. “... pescador precisa ser mais humilde”. “...pescador é pouco unido”.
“Não tem médico se o cara cai e se machuca”. “O vazamento matou muito peixe”. “Não vale mais a pena, falta peixe”. “É preciso despoluir a Baía...”. “... hoje é bem diferente, tem que estudar”. “Eles tinham que dá um dinheiro pra ajudar a comprar remédio”.
6.1. 1ª Categoria - Dualismo no trabalho informal: Prazer e Dor
O trabalho na pesca é milenar e remonta aos modos de produção de coletores e
caçadores. Trata-se de um processo de trabalho pré-capitalista, que atravessou, na
antiguidade, modos de produção agrícola, escravista, feudal e que persiste até a presente data
em muitas regiões do globo (HOSBSAWM, 2000).
86
Falar de pesca no Brasil hoje é entrar na vida de milhares de brasileiros e brasileiras,
usufruir de seus saberes, admirar suas habilidades, aprender a ver a natureza de uma forma
toda especial. Mas também, compreender encantos e tradições de uma classe de trabalhadores
que supera desafios diários, como fruto da precária condição de trabalho e dura realidade
sócio-econômica.
Na modalidade de pesca comercial, há dois tipos de pesca: a industrial e a artesanal.
Na primeira, o pescador exerce suas atividades com vínculo empregatício e utiliza os recursos
disponibilizados por seu empregador. Na segunda, não há vínculo empregatício, portanto o
profissional exerce sua atividade de forma autônoma.
A pesca artesanal é caracterizada pela atividade individual ou em equipes formadas
geralmente por grupos de relações familiares ou de vizinhança. A organização se estrutura por
saberes e práticas dos pescadores quanto a: locais de pesca adequados; tipo e uso de
instrumentos de trabalho; previsão tradicional do tempo; escolha do peixe a ser coletado em
função do valor econômico, do acesso e dos períodos de pesca na sua relação com a natureza;
modalidades de limpeza (PENA, MARTINS E REGO, 2013).
No Brasil, dados recentes mostram elevado número de pescadores artesanais. Segundo
IBGE (2009) são 833.205 pescadores que assumem com o trabalho uma relação de
informalidade. Esta, por sua vez, é reflexo de uma sociedade capitalista, em que há
centralidade na produção e no lucro em detrimento do ser trabalhador, sem o qual, todavia,
não haveria produção e lucro. Conforme descrito por Marx (1983):
“o motivo que impulsiona e o objetivo que determina o processo de produção
capitalista é a maior autovalorização possível do capital, isto é, a maior
produção de mais-valia, portanto, a maior exploração possível da força de
trabalho pelo capitalista” (MARX, p.263, 1983).
Sendo assim, apesar do elevado número de pescadores artesanais, esta categoria não
está protegida contra riscos existentes no trabalho contratual com o empregador e não há
políticas do Sistema Único de Saúde (SUS) que garantam ações semelhantes às encontradas
para o assalariado. Realidade esta identificada também no grupo pesquisado. De acordo com a
fala dos pescadores, a saúde do grupo é negligenciada:
“Se for mudar, tem que mudar muita coisa. O pescador devia ter direito a
empréstimo pra comprar rede. Facilitar, porque pra conseguir é barra. Não tem
médico se o cara cai e se machuca”. (P20)
87
Encontra-se como resultado desta realidade o desconhecimento das doenças do
trabalho, mantendo essas como patologias invisíveis e negligenciadas, considerando que elas
persistem dada a ausência de ações de prevenção, tratamento e reabilitação (PENA,
MARTINS E REGO, 2013).
Outro dilema enfrentado pelos pescadores no âmbito social favorecido pela
informalidade do trabalho é a baixa renda gerada com a pesca artesanal. A miséria social
impõe um ritmo intenso de trabalho para gerar mais produtos à venda. Quanto mais necessita
garantir a sobrevivência, mais se sobrecarrega de trabalho. Muitos, apesar de todo esforço,
não conseguem nem mesmo comprar o próprio caíco, conforme relatado nas entrevistas,
tendo que ceder parte da renda diária com a pesca para os proprietários do barco. A fala
seguinte descreve bem o desafio econômico que enfrentam:
“[...] A vida na pesca é muito difícil, a renda é pouca”. (P15)
“É uma profissão que não te dá retorno”. (P13)
“A pesca tá ficando muito defasada, muita área restrita para Petrobrás”. (P9)
Em meio à pressão econômica e a falta de condições para transporte de suas
mercadorias para mercados, a grande maioria, se vê à mercê de atravessadores que impõem
preços muito aquém do real valor do pescado que capturam. Fato este corroborado por estudo
recente realizado por Prosenewicz & Lippi (2012) em que foi constatada a baixa renda com a
venda do pescado para atravessadores.
Problemas sociais como estes, podem justificar o comportamento de alguns
pescadores da pesquisa em relação ao uso abusivo de álcool. De acordo com os resultados
encontrados, 88,6% dos entrevistados faz ingestão alcoólica. Deste percentual, 71% o faz
todos os finais de semana e cerca de 9% ingere álcool todos os dias. Sendo considerada
atividade de lazer por 31, 4% dos pescadores. Percebe-se, assim, como uma atividade habitual
e valorizada entre os mesmos.
Segundo Pereira (2001); Rosa & Mattos (2010) há inclusive casos de transtornos
psiquiátricos em decorrência do uso abusivo de álcool, como esquizofrenia em pescadores
residentes em Vigia (PA).
O contexto de vida dos pescadores e a informalidade do trabalho em estudo
evidenciam o descaso de uma sociedade opressora. Descaso das autoridades em relação à
saúde, moradia, saneamento básico, educação. Freire (1987) nos remete à reflexão a partir da
sua fala:
88
“Quem melhor que os oprimidos, se encontrará preparado para entender o
significado terrível de uma sociedade opressora? Quem sentirá, melhor que
eles, os efeitos da opressão? Quem, mais que eles, para ir compreendendo a
necessidade da libertação? Libertação a que não chegarão pelo acaso, mas
pela práxis de sua busca; pelo conhecimento e reconhecimento da
necessidade de lutar por ela” (FREIRE, p. 31, 1987).
Nos depoimentos do grupo de pescadores participantes da pesquisa percebem-se
visões contraditórias que ora revelam a dor de uma classe de trabalhadores à margem das
condições de trabalho e saúde esperadas, desejadas e ora o contentamento por realizarem uma
atividade que tem alta representatividade pessoal, ensinada por seus pais e que lhes dá prazer.
“Me sinto muito bem quando pesco”. (P27)
“Gosto de ser pescador, porque tenho liberdade de expressão”. (P9)
“Eu amo muito. Um hobbie, ganhando um dinheirinho”. (P28)
Dentre as anotações descritas em diário de campo está o comportamento de alguns
pescadores durante a preparação do material para a pesca e no próprio ponto de venda, como
descontraído e alegre. Muitos pescam há mais de 20 anos conforme encontrado nos
resultados, e alguns iniciaram na pesca quando ainda eram adolescentes, sendo os pais
principais responsáveis pelos ensinamentos pesqueiros na própria colônia onde cresceram. O
tempo de profissão lhes confere um arcabouço significativo de conhecimento pesqueiro, além
de autoconfiança e aquisição de parceiros de longa data nas saídas para a pesca.
Essas questões fortalecem o elo entre o pescador e a sua profissão apesar das
tendências negativas inerentes à pesca artesanal atualmente.
6.2. 2ª Categoria - Individualismo na pós-modernidade: União para a libertação
Segundo Bauman (2000), dois processos simultâneos têm contribuído para a
privatização das liberdades individuais, transformando cidadãos em consumidores,
diminuindo assim, o poder de crítica e transformação global da sociedade. O primeiro envolve
precarizar os trabalhadores nos processos produtivos até incapacita-los como potenciais atores
da resistência. E o segundo envolve estimular desejos e expectativas, orientados para a
sociedade de consumo, que promete conferir status social para consumidores.
Brandão (2009) corrobora essa questão quando afirma que o interesse das empresas
capitalistas pela educação se dá levando-se em conta 3 focos principais dentre eles: procuram
intervir em políticas de educação, sabedores de que delas poderão resultar benefícios para o
89
andamento e o desenvolvimento da estrutura e da lógica do mundo dos negócios , em um
cenário cada vez mais “competitivo”.
Na sociedade capitalista, a pessoa educada é o sujeito produtivo e o lugar onde se afere
o valor-de-uso ou o valor-de-troca do saber não é a sociedade em que se vive, mas o mercado
em que se produzem tipos de bens e serviços, modos de poder e estilos culturais, o “ser
alguém na vida” (BRANDÃO, 2009).
Assim, a precarização do trabalho, o estímulo ao consumo exacerbado e a inserção da
lógica da competição no sistema educacional tem contribuído para a ampliação do abismo
inter-humano na humanidade. A era do consumo, o “ter” em detrimento do “ser”, tem sido
uma marca cada vez mais intensa do século que vivemos, colocando em pauta o ser
individualista inserido em uma sociedade que aos poucos torna- se impregnada de
sentimentos como falta de solidariedade, de união e amor ao próximo.
Entre os pescadores, durante as entrevistas e atividade grupal, ficou claramente
manifesta a indignação para com a desunião desta classe de trabalhadores quando
questionados sobre formas possíveis de ação para mudança da realidade dos pescadores
artesanais, conforme a fala que segue:
“Olha, pescador é tudo desigual, pescador não tem união [...]”. (P6)
“Ajudar o próprio pescador, pescador é muito pouco unido, não há ajuda para
empréstimo”. (P13)
“Fazer reunião para mudar, mas é muito difícil”. (P26)
A situação de falta de união apontada, pode sim ser um dos fatores a contribuir para a
estagnação da sócio-político-econômica da classe. Conforme dito por Freire (1987):
“Conceitos como os de união, organização, luta, são timbrados sem demora
como perigosos. E realmente o são, mas para os opressores. É que a
praticização desses conceitos é indispensável à ação libertadora. Afinal, na
medida em que as minorias, submetendo as maiorias a seu domínio, as
oprimem, dividi-las e mantê-las divididas são condição indispensável à
continuidade de seu poder” (FREIRE, pg.138, 1987).
Não houve na história da humanidade caso de luta por libertação que não fosse
delineado por um processo, algo contínuo que culminasse com a libertação. Não há como
vencer uma batalha ao acaso, sem que haja uma busca incessante pela vitória, um esforço, um
trabalho demandado em favor do objetivo principal da busca coletiva. Todavia, o indivíduo na
90
sociedade capitalista sempre deve se sobrepor ao coletivo, o que gera um contexto cada vez
mais competitivo e injusto.
Freire (1987) descreve a ação dialógica como instrumento de transformação da
realidade dos oprimidos. O encontro em que se solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos
endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado, não se reduz a um ato de depositar
ideias de um sujeito no outro, nem tão pouco discussão guerreira entre sujeitos que não
aspiram a comprometer-se com a pronúncia do mundo. A conquista implícita no diálogo é a
do mundo pelos sujeitos dialógicos. Conquista do mundo para a libertação dos homens. E
ainda:
“Se dizer a palavra é transformar o mundo, se dizer a palavra não é privilégio de alguns homens, mas um direito de todos os homens, ninguém pode dizer
sozinho a palavra. Dizê-la sozinha significa dizê-la para os outros, uma forma
de dizer sem eles e, quase sempre, contra eles. Dizer a palavra significa, por
isso mesmo, um encontro de homens. Este encontro não pode realizar-se no
ar, mas tão-somente no mundo que deve ser transformado, é o diálogo em
que a realidade concreta aparece como mediadora dos homens que dialogam”
(FREIRE, 1981).
Compreende-se o poder da palavra quando endereçada ao outro em cumplicidade, mas
também a dita e pensada de maneira individualista. Conforme a fala de Brandão (2012),
palavra que ordena a vontade de poucos sobre o trabalho de muitos, é a que cria o nome de
todas as coisas na sociedade onde o poder existe separado do trabalho produtivo, tanto quanto
da vida simbólica coletiva. Mundos sociais onde o ofício de pronunciar a palavra necessária
distancia-se do consenso; do pensá-la em comum como poesia e pensamento da vida coletiva
sem a desigualdade, e da experiência da solidariedade através das diferenças.
No contexto de luta contra a globalização neoliberal, a resposta está em promover uma
planetarização (viver conectando e conectando-se com os outros, isto é, viver e entender a
partir das relações em que estamos envolvidos e das relações que estudamos, de forma
relacional) respeitosa e digna dos homens e das mulheres deste planeta, baseada numa ética de
trabalho, de comunicação e de solidariedade, mas também baseada numa ética da produção
que não esteja fundada na cobiça, na avareza ou na usura (TORRES et al., 2008).
O objetivo da ação dialógica, destacada por Freire (1987) está em proporcionar que os
oprimidos, reconhecendo o porquê e o como de sua situação atual, exerçam um ato de adesão
à práxis9 verdadeira de transformação da realidade injusta. Assim, unificados e organizados
9 É o processo pelo qual uma teoria, lição ou habilidade é executada ou praticada, se convertendo em parte da
experiência vivida. Entendida como a atividade de transformação das circunstâncias, de modo que nem a teoria
se cristaliza como um dogma e nem a prática se cristaliza numa alienação.
91
farão de sua debilidade, força transformadora, que poderão recriar o mundo, tornando-o mais
humano.
6.3. 3ª Categoria - Sustentabilidade ambiental: Saúde e Educação
Com a Revolução Industrial, e principalmente ao longo do século XX, o crescimento e
a expansão dos processos produtivos para transformação de energias e materiais para
produção de matérias-primas e bens de consumo tornaram-se gigantescos, possibilitando uma
crescente integração econômica entre setores e países, resultando em crescimento
populacional e econômico em escala mundial.
Paralelo a esse processo ocorreu uma degradação ambiental e da saúde, que vem
contribuindo cada vez mais para que problemas de poluição locais, e por vezes globais,
alterem os sistemas ecológicos que são críticos para o desenvolvimento econômico e a própria
vida (MINAYO & MIRANDA, 2002).
As observações e anotações em diário de campo ressaltam o impacto ambiental sobre
a vida dos pescadores. As moradias próximas a um ambiente sem saneamento, a escassez de
água encanada, a grande quantidade de lixo doméstico e de efluentes industriais, lançados
diariamente no rio e na própria Baía, além de fornecerem risco à saúde desses trabalhadores,
geram grande preocupação no que tange às questões econômicas, uma vez que a fonte de
renda dos mesmos provém do pescado capturado das águas da Baía. Conforme os seguintes
depoimentos:
“[...] Precisa mudar mesmo a Baía de Guanabara, vai puxar rede vem pneu, lixo
agarrado”. (P21)
“Acho que agora não melhora não, o vazamento matou muito peixe”. (P12)
“[...] Não tem expectativa. Muita poluição, escassez de peixe”. (P13)
É notória a crescente poluição aquática nas últimas décadas na Baía de Guanabara e
no rio Maribondo, assim como a redução do quantitativo de peixes em decorrência dessa
poluição. Foram observados diversos utensílios domésticos flutuando no rio, desde objetos
pequenos como garrafas pet até utensílios domésticos de grande porte como sofá, que
provavelmente levaram décadas para sofrerem decomposição total.
De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos
Especiais (ABRELPE, 2011), o estudo Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, revela uma
92
produção de 62 milhões de lixo em 2011, com um aumento de 1,8% de 2010 a 2011, taxa
duas vezes maior que o crescimento da própria população no período.
Essa realidade infelizmente, não é restrita a comunidade Cassinú, nem mesmo ao
Brasil. Mas a relação do homem com o meio ambiente tem se distanciado cada vez mais na
sociedade contemporânea, o que tem gerado descontentamento em alguns grupos sociais.
No contexto europeu, da reorganização das lutas sociais do século XX, certos
movimentos de organizações sociais e grupos de intelectuais, ao reconhecerem que há limites
nas relações materiais e energéticas que se estabelecem socialmente com a natureza,
colocaram em questão a viabilidade de uma existência alienada, destrutiva, acumuladora de
riquezas, conforme aponta Loureiro (2012). Identificando-se uma grande contradição
explicitada pela ecologia política: só é possível sustentar certo padrão de vida para alguns em
detrimento do péssimo padrão de vida para outros e com base no uso abusivo da natureza. A
separação sujeito-mundo havia se objetivado como nunca antes.
A partir disso, nas últimas décadas o conceito de sustentabilidade, ou seja,
desenvolvimento sustentável, tem se expandido como um conjunto de princípios manifestos
em busca de um desenvolvimento qualificado por uma preocupação, qual seja: crescer sem
comprometer a capacidade de suporte dos ecossistemas e seus ciclos, garantindo a existência
social e de outras espécies em longo prazo (LOUREIRO, 2012).
Atrelada à sustentabilidade está a educação, quando assume-se que não há
transformação social sem educação. A educação ambiental no Brasil, se volta para a formação
humana. O que significa que a essa cabe o conhecimento (ecológico, científico e político-
social) e o comportamento, mas para que isso ocorra, deve promover simultaneamente
segundo Loureiro (2012):
-a participação ativa das pessoas e grupos na construção de alternativas sustentáveis;
-a autonomia dos grupos sociais na construção de alternativas sustentáveis;
-o amplo direito à informação como condição para tomada de decisão;
-a mudança de atitudes;
-a aquisição de habilidades específicas;
-a problematização da realidade ambiental.
Isso significa dizer que o conceito central do ato educativo deixa de ser simplesmente
a transmissão de conhecimento, conforme Freire (1987):
“Enquanto na concepção ‘bancária’ o educador vai ‘enchendo’ os
educandos de falso saber, que são os conteúdos impostos, na prática
problematizadora, vão os educandos desenvolvendo o seu poder de
captação e de compreensão do mundo que lhes aparece, em suas
relações com ele, não mais como uma realidade estática, mas como
93
uma realidade em transformação, em processo” (FREIRE, p. 71,
1987).
É a própria práxis educativa, a indissociabilidade teórico-prática na atividade humana
consciente de transformação do mundo e de auto-transformação que ganha a devida
centralidade. O que implica favorecer a contínua reflexão das condições de vida, na prática
concreta, como parte inerente do processo social e como elemento indispensável para a
promoção de novas atitudes e relações que estruturam a sociedade (LOUREIRO, 2012).
Outra questão intimamente relacionada à sustentabilidade e apontada como deficiente
pelos pescadores, é a saúde.
Há tempos a relação entre desenvolvimento, ambiente e saúde é indissociável. A
sociedade onde a pobreza e a desigualdade são endêmicas estará sempre propensa à crises
ecológicas. Destacam-se as falas de P29 e P20:
“Eles tinham que dá plano de saúde, um dinheiro pra ajudar a comprar remédio”.
(P29)
“Se for mudar, tem que mudar muita coisa. O pescador devia ter direito a empréstimo
pra comprar rede. Facilitar, porque pra conseguir é barra. Não tem médico se o cara
cai e se machuca”. (P20)
Foram identificadas diversas queixas entre os pescadores como dor na coluna, joelho,
inchaço nas pernas, problemas de pele, respiratórios, digestivos, além de patologias como
hipertensão, diabetes e câncer de pele. As falas dos pescadores denunciam desamparo total
quando a questão é assistência à saúde. O posto de saúde mais próximo não atende as
expectativas da comunidade, há escassez de profissionais, falta de medicações, enfim, não há
a cobertura assistencial esperada e desejada por eles.
Conforme destacado por Prosenewicz e Lippi (2012) em estudo com pescadores
artesanais há necessidade de ampliação da atenção à saúde, com melhorias no saneamento
básico e expansão da estratégia Saúde da Família, a qual inclui promoção, prevenção,
recuperação, reabilitação de doenças e agravos mais frequentes, possibilitando a participação
social, conforme diretrizes do Ministério da Saúde.
Em função da precária condição de trabalho, os pescadores artesanais do estudo estão
sujeitos a diversos tipos de acidentes, inclusive risco de morte.
Os caícos, conforme descrição do Ministério do Trabalho (Brasil, 2008) são
embarcações movidas a remo ou vela, sem convés, confeccionadas em madeira de fundo
94
chato ou não, também conhecidas como curicaca, igarité, batelão. Alguns pescadores
consideram suas embarcações seguras, conforme as falas a seguir:
“Ela é forte, tem proteção, tem equilíbrio”. (P5)
“ Tô acostumado nela. O pescador acredita muito nele”. (P7)
“Porque fui eu quem fiz, é bem feito”. (P24)
Contudo, em algumas falas é possível perceber a fragilidade de algumas dessas
embarcações e o risco inerente à profissão, como apontado por P28, P13 e P23:
“Não considero meu caíco seguro... porque quando o mar quer, o navio vira uma
caixa de fósforo. Pra você ter uma idéia, meu irmão se afogou num temporal.”(P28)
“A gente sai pra pescar, mas não sabe se volta, pode bater em pedra, navio, dormir
no leme, temporal”. (P13)
“Tem temporal e pode acontecer um acidente, porque não é tão forte”. (P23)
Além da variação climática, a opção por pescar sozinho e a não utilização de
Equipametos de Proteção Coletivos como colete salva-vidas por alguns pescadores, tende a
aumentar ainda mais o risco de acidentes graves em alto mar. E ainda, conforme estudo
realizado por Silva et al. (2010) destaca as condições estressantes do trabalho, a desatenção
com medidas preventivas básicas e o descuido como alguns fatores que mais contribuíram
para os acidentes.
Em estudo realizado por Neto, Cordeiro e Haddad Jr. (2005) a proporção de incidência
de acidentes do trabalho obtida para a população de pescadores artesanais, estudada em
Tocantins, foi de 85,9% ao ano. E dentre os principais tipos de acidentes já ocorridos nos
artigos destacam-se: afogamentos na água; acidentes com animais marinhos peçonhentos,
estruturas traumáticas de peixes; acidentes pérfuro-cortantes com mariscos, pedras e outras
condições existentes no ambiente aquático de manguezais que causam ferimentos, fraturas,
riscos de contrair doenças como o tétano; acidentes com raios, dentre outros. O estudo revela
ainda, que a principal causa de acidentes deve-se a lesão por animal do ambiente aquático no
momento da retirada do peixe do anzol ou rede, sendo membros inferiores e superiores as
partes do corpo mais atingidas.
As feridas cutâneas geradas por consequência de ferimentos são realidade na vida de
muitos pescadores. Dentre os 35 pescadores entrevistados, 32 (91,4%) em algum momento já
95
se feriram durante o trabalho principalmente nas mãos, sendo a causa mais comum, a
estrutura do próprio peixe. Pesquisa realizada por Haddad Jr. et al. (2012) com 39 pescadores
artesanais de São Paulo, corrobora o achado, quando destaca que todos (100%) já foram
feridos por peixes em algum momento.
Acidentes traumáticos favorecem ainda a contaminação de feridas cutâneas por micro-
organismos patogênicos como os vibrios e associados a eles, sendo isoladas bactérias dos
gêneros Serratia, Proteus, Escherichia, Citrobacter, Enterobacter, assim como outras
bactérias não-fermentadoras e bactérias Gram positivas do gênero Staphylococcus. Muitas
destas lesões cutâneas apresentam infecções mistas, podendo-se esperar que organismos
ubíquos (Enterobacteriaceae) e comensais associados à pele (Staphylococcus e Streptococcus)
estejam presentes em qualquer ferimento, não importando o local de contaminação
(RODRIGUES et al. 2001).
Vale ressaltar que infecções de feridas cutâneas causadas por espécies de Vibrio
instalam-se após exposição a ambientes aquáticos, e as lesões começam com feridas
pequenas, às vezes já preexistentes, ou através de lacerações causadas por acidentes no local
de trabalho. Há descrições de casos de lesões sépticas superficiais em estudo realizado por
Levine e Griffin (1993), cujos pacientes foram expostos ao ambiente marinho ou outras
superfícies aquáticas, e dos quais foram isoladas várias espécies de Vibrio, constituindo mais
um indício do possível papel patogênico desta bactéria.
Um achado importante no que se refere às ações de enfermagem com a população alvo
foi a forma de tratamento das lesões adotada pelos pescadores. Nota-se a aplicação de
conhecimentos tradicionais no cuidado com as feridas. Constata-se o emprego de substâncias
como: pó de café, água da praia, líquido do olho do peixe bagre. Estudo realizado por
Haddad Jr. et al. (2012), aponta para a prevalência de aplicação de conhecimentos tradicionais
no cuidado com as feridas. Observa-se o emprego de substâncias como gasolina, óleo de
oliva, mercúrio e álcool.
O resgate do conhecimento que os pescadores possuíam a cerca do cuidado com as
feridas e o partilhar de novas formas de cuidar, permitiram a possibilidade de reconstrução do
saber. Foi compartilhado nosso conhecimento para com os pescadores de que a exposição do
ferimento à água da Baía, sabidamente contaminada, pode dificultar a cicatrização da ferida.
Assim como a aplicação do líquido do olho do peixe na ferida, compartilhado por eles, nos
instigou a pesquisar mais a respeito dos efeitos dessa substância no ferimento.
96
Assim, foi encontrado em estudo realizado por Haddad Jr. et al. (2012) em que
constatou-se a aplicação do olho de peixe no ferimento, contudo, não se encontrou qualquer
informação e comprovação científica dos efeitos clínicos dessa substância em ferimentos.
Com efeito, atividades grupais como a realizada sobre o cuidado das feridas cutâneas e
outros aspectos que envolveram a saúde do pescador, podem ser instrumentos de grande valia
como estratégia de educação em saúde. Em estudo promovido por Oliveira, Andrade e
Ribeiro (2009) sobre educação em saúde, os autores remetem-se ao modelo educativo
proposto por Freire, onde as pessoas são estimuladas a desenvolver uma consciência crítica,
pelo processo de análise coletiva de problemas na busca de soluções e estratégias conjuntas
para a mudança da realidade.
A educação, partindo da premissa que deve ser vista no contexto cotidiano do
educando , deve ser vista no interior de sua morada: a cultura – o lugar social das idéias,
códigos e práticas de produção e reinvenção dos vários nomes e faces que o saber possui
(BRANDÃO, 2012). Ainda segundo Freire (1981):
“A educação ou ação cultural para a libertação, em lugar de ser
aquela alienante transferência de conhecimento, é o autêntico ato de
conhecer, em que os educandos – também educadores – como
consciências ‘intencionadas’ ao mundo ou como corpos conscientes, se inserem com os educadores – educandos também – na busca de
novos conhecimentos, como consequência do ato de reconhecer o
conhecimento existente” (FREIRE, p. 80, 1981).
Não se pode pensar em estratégia educativa qualquer que seja sem o estabelecimento
de um elo entre a ação e a cultura do educando, a valorização do conhecimento que lhe é
intrínseco e faz parte da sua formação.
97
“Não há saber mais ou saber menos: Há saberes diferentes”.
(Paulo Freire)
98
7. CONCLUSÃO
Ao final do estudo pode-se dizer que os objetivos foram alcançados, uma vez que, foi
realizada a caracterização das condições de trabalho e saúde de pescadores artesanais da Baía
de Guanabara residentes no entorno do rio Maribondo no município de São Gonçalo, RJ e a
discussão de uma proposta participativa de cuidado em saúde a partir da Educação pelos
Pares, com foco nas feridas cutâneas.
A reflexão das falas dos participantes, da observação participante e da construção de
saberes desenvolvida na atividade grupal à luz de Freire, por meio do agir educativo-
participativo, permitiu uma melhor percepção e compreensão da importância da educação em
articulação com o ambiente, a saúde e o trabalho. Por outro lado, ficou evidente a
inviabilidade de dissociação entre prática e teoria quando o fim principal é a transformação da
realidade, por mais complexa que seja a mesma.
Os resultados da pesquisa destacam, em relação aos pescadores, suas precárias
condições de saúde e trabalho, evidenciadas pela falta de proteção, risco de ferimentos,
prejuízo das funções emocionais e físicas, acometimento de diversas doenças, baixa
escolaridade, falta de saneamento, e de, principalmente, políticas públicas voltadas para o
trabalho, saúde, educação em interface com a sustentabilidade ambiental.
A degradação ambiental intensificada nas últimas décadas, além aumentar o risco de
danos à saúde dos pescadores, tem modificado as condições de trabalho e a renda com o
pescado, afetando negativamente a realidade sócio-econômica da comunidade local.
Assim, a enfermeira necessita urgentemente se fortalecer para que possa participar
efetivamente do desenvolvimento científico, tecnológico e social do Brasil. É importante
contribuir com as comunidades para a solução de problemas reais e é imprescindível que
sejam superadas as questões meramente técnicas, a fim de ir além dos cenários pré-
estabelecidos. Portanto, desafiar a criatividade e aprimorar-se, é fundamental, para que se
possa sair dos ambientes convencionais de cuidado, favorecendo a mediação entre o saber
científico e o saber popular.
Sobretudo, vale ressaltar que, qualquer ação de prevenção, cuidado ou de
planejamento realizada por enfermeiras, deve estar atenta aos valores, atitudes e crenças do
grupo a quem a ação se dirige. E, que educar e ser educado exige risco, aceitação do novo,
reconhecimento, assunção da identidade cultural e esperança de mudança.
A pesquisa participante revelou a riqueza e a potencialidade da atividade pesqueira,
dando visibilidade aos pescadores artesanais, que apesar dos desafios que enfrentam destacam
99
a satisfação e o prazer na profissão, que persiste há anos e lhes proporciona liberdade de
expressão e momentos de descontração.
Constatou-se que educação popular e educação pelos pares não se aprendem na teoria,
e sim na prática, vivenciando e principalmente sentindo. É necessário se permitir viver outras
experiências transformadoras, a partir de relações que estabelecemos com as pessoas, famílias
e grupos participantes. Apesar da precariedade de condições de vida, os pescadores
demonstraram garra, determinação, criatividade e sensibilidade. Desse modo, favoreceram
uma visão para além dos preconceitos tão arraigados no senso-comum, que busca
desqualificar o potencial de pessoas consideradas menos favorecidas.
Pretende-se com este estudo, contribuir para que enfermeiros e outros profissionais da
área da saúde se preocupem com as populações que vivem à margem do desenvolvimento
científico e tecnológico, para as quais a ciência é algo inatingível. O verdadeiro profissional
de saúde deve se comprometer com problemas mais abrangentes que envolvam questões
ambientais, habitacionais, de transporte e lazer, constituindo-se em pessoas engajadas na luta
pela libertação da maioria da população brasileira.
100
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110
APÊNDICE I – FORMULÁRIO PARA LEVANTAMENTO DE DADOS
1.Identificação Data: ____/____/______
Nome:______________________________________________________________________
__________
Naturalidade:____________________
Data de Nasc.: ___/__/___ Idade: ________ Sexo: ( )M ( )F Raça: ( ) Branco ( ) Negro
( ) Pardo ( ) Índio Estado civil:________
Nível de escolaridade (anos de estudos):______________
Renda familiar (SM):__________ ( ) diária ( ) semanal ( ) mensal.
Nº de dependentes:____________
Nº de filhos:____________
Tipo de residência: ( ) própria ( ) alugada
Religião:______________
2.Trabalho
Trabalho: __________Tempo de profissão________
Com quem aprendeu a profissão? ____________________________________
Já trabalhou em outra área: Sim ( ) Não ( ) , Qual: ______________________
Realiza outra atividade para complementação de renda? ( ) Sim ( ) Não.
Qual?_______________________________________________________________
Duração da jornada de trabalho (horas/dia):_______
Qual o principal tipo de pescado? ( )peixe ( ) camarão . Espécies: ________________
Ponto de venda: ( ) atravessador ( ) comércio ( ) domicílio ( ) feiras livres ( ) mercado ( )
praia ( ) rua ( ) variável
Em que momento entra em contato com a água: _______________________________
Quanto tempo fica em contato com a água: ___________________horas.
Tempo de exposição ao sol diariamente: _____________horas. Uso de protetor solar: Sim ( )
Não ( ). Por quê? ( ) não vê importância ( ) alto preço Outro:_____________
Acredita que a sua profissão é perigosa? ( ) Sim ( )Não.
Por quê?_______________________________________________________________
Sabe que algumas doenças podem ser transmitidas por água contaminada?
( ) Sim ( ) Não. Gostaria de saber mais a respeito? ( ) Sim ( ) Não
Sabe o que é EPI? ( ) Sim ( ) Não. Utiliza EPI? ( ) Sim ( ) Não. Qual (is):
_____________________________________________________________________
Caso não por quê?_____________________________________________________
____________________________________________________________________
Já sofreu ferimentos em sua jornada de trabalho: Sim ( ) Não ( ). Em qual (is) parte(s) do
corpo ocorre com mais frequência?________________________________________
Qual (is) a(s) principal (is) causa(s) de ferimento?______________________________
Como costuma tratar o ferimento?___________________________________________
Considera a embarcação utilizada segura? ( ) Sim ( ) Não.
Por quê?_______________________________________________________________
Já esteve desempregado? ( ) Sim ( ) Não. Quanto tempo? ________________
É feliz na profissão? ( ) Sim ( ) Não . Por quê?________________________________
Deseja que os filhos sigam a mesma profissão?( ) Sim ( ) Não .
Por quê?_______________________________________________________________
Tem planos para o futuro?( ) Sim ( ) Não. Por quê? ____________________________
111
Como é a relação com os órgãos de fiscalização? ( ) Bom ( )indiferente ( )Não há ( )
Regular
Quais as medidas a serem tomadas pelos órgãos públicos e pelos próprios pescadores para
melhorar a situação? _______________________________________________
3. Saúde
Qual o histórico de doenças na família? ( ) hipertensão ( )Diabetes ( ) AVC ( ) Obesidade (
) Tuberculose ( ) Infarto. Outros:____________________________
Grau de parentesco:_________________________________________________
Doenças anteriores ( ) não ( ) sim
Qual?__________________________________________________________________
Já foi Internado? ( ) não ( ) sim. Especifique (motivo e o período)_____________
Doença/Queixa atual: ( ) Hipertensão ( ) Diabetes ( ) Cardiopatias ( ) AVC ( ) Câncer (
)Obesidade ( ) Problemas respiratórios ( ) Problemas Digestivos ( ) Problemas de pele (
)Nefropatia ( )Outras
Quais?_______________________________________________________
Faz tratamento? ( ) Sim ( )Não.
Sobre a doença: ( ) muito ( ) pouco ( ) razoável ( ) não sabe ( ) Conceito errôneo
Sobre o tratamento: ( )muito ( ) pouco ( ) razoável ( ) não sabe
Especifique:___________________________________________________
Sobre as complicações: ( )muito ( ) pouco ( ) razoável ( ) não sabe
Especifique: _________________________________________
Gostaria de saber mais a respeito: ( ) Não ( ) Sim
Sono e Repouso: _____h/noite Problemas para dormir? ( ) Nenhum ( ) acordar cedo ( )
insônia ( ) dificuldade para pegar no sono ( ) outros
Sente-se descansado após o sono: ( ) sim ( ) não
Pratica alguma atividade física: ( ) Não ( ) Sim Especifique:______________________
( ) diariamente ( ) 2 vezes por semana ( ) 3 vezes por semana ( ) outros: __________
Atividade de lazer ( ) Não ( ) Sim Especifique: _____________________________
Tabagismo: ( ) Não ( ) Sim ( ) Já tentou parar? ( ) Não ( ) Sim. Quantidade de carteiras por
dia: ________________________________________________________
Etilismo ( ) Não ( ) Sim ( ) Qual a freqüência? __________Outras drogas ( ) não ( ) sim Tipo:
_______________________________
Frequência de exames laboratoriais: ( ) menos que 3 meses ( ) entre 3 meses e 1 ano ( ) entre
1 e 2 anos ( ) mais de 2 anos.
Peso:__________Kg, Altura:__________cm IMC: _______
PA:______x______ mmHg
OBS:_______________________________________________________________________
_________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_________________________________________________________________
Assinatura: _______________________________________
112
APÊNDICE II – ROTEIRO PARA ATIVIDADE GRUPAL
Data:
Local:
Participantes:
Apresentação inicial – Aproximação com os pescadores.
O crescimento populacional e a poluição ambiental – Mostrar quadro com tempo de
decomposição do lixo.
Resultados das entrevistas individuais:
-Tempo de profissão
-Jornada de trabalho
-Ferimentos
-Vacina anti-tetânica
-Tratamento dos ferimentos
-Equipamentos de proteção individual
OBS: Utilizar recursos visuais
Histórico familiar de doenças:
-Diabetes mellitus
-Hipertensão arterial
OBS: Utilizar recursos visuais
Dinâmica: Qual o nome do peixe ?
Cada pescador é indagado sobre o nome do peixe da imagem. Um pode ajudar o outro na
resposta. À medida que dizem as respostas são questionados sobre formas de captura daquela
espécie, qual a mais difícil de limpar, qual rende mais lucro para o pescador, se há alguma
curiosidade sobre a espécie.
113
APÊNDICE III - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:
Título do projeto: Pesquisa de micro-organismos em feridas cutâneas de pescadores da Baía
de Guanabara, RJ, Brasil: A educação pelos pares como estratégia de prevenção.
Pesquisador(es) Responsável(is):
Vera Maria Sabóia e Crystiane Ribas B. Ribeiro
Instituição das Pesquisadoras: Universidade Federal Fluminense-UFF
Nome do Voluntário (a):
________________________________________________________
Idade do voluntário: _____ anos RG:__________________
O Senhor está sendo convidado a participar do Projeto de Pesquisa : Pesquisa de
micro-organismos em feridas cutâneas de pescadores da Baía de Guanabara, RJ, Brasil:
A educação pelos pares como estratégia de prevenção, de responsabilidade dos
pesquisadores: Vera Maria Sabóia e Crystiane Ribas B. Ribeiro, a pesquisa tem como
proposta identificar os micro-organismos que têm prejudicado a cicatrização das feridas e
assim orientá-lo no tratamento. Sua participação não é obrigatória e a qualquer momento
você poderá desistir e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua
relação com a pesquisadora ou com a Unidade de Origem.
Os objetivos desta pesquisa são: Caracterizar as condições de trabalho e saúde de pescadores
da Baía de Guanabara residentes do entorno do rio Maribondo no município de São Gonçalo,
RJ; Identificar espécies bacterianas veiculadas por água contaminada em feridas cutâneas de
pescadores do entorno do rio Maribondo no município de São Gonçalo, RJ; Desenvolver uma
tecnologia educacional denominada educação pelos pares, com pescadores da comunidade;
Prevenir a cronificação de feridas cutâneas frente ao impacto da poluição sobre a saúde desse
grupo populacional específico.
Quanto a sua participação na pesquisa informamos que será através de entrevista,
atividades grupais e coleta de material da ferida para análise em laboratório.
114
Pesquisadora: Vera Maria Sabóia
E-mail: [email protected]
Pesquisadora: Crystiane Ribas Batista Ribeiro
E-mail: [email protected]
Eu, __________________________________________, RG nº
. ___________________ declaro que entendi os objetivos do meu consentimento para a
realização da pesquisa acima descrita e concordo em participar, como voluntário.
São Gonçalo, ____ de ____________ de 2012.
______________________
Assinatura do voluntário
115
APÊNDICE IV – ROTEIRO PARA O DIÁRIO DE CAMPO – OBSERVAÇÃO
PARTICIPANTE
Nome da pesquisadora:
Orientadora:
Local:
Hora:
1) Descrição:
- Atividade proposta
2) Interpretação do observado:
- Ambiente
- Características das pessoas envolvidas
- Interação com as pesquisadoras
3) Registro diversos:
-Imprevistos
-dúvidas
-desafios
-conclusões
116
ANEXO I – COMPROVANTE DE APROVAÇÃO NO COMITÊ DE ÉTICA
FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE/ FM/
UFF/ HU
COMPROVANTE DE ENVIO DO PROJETO
Título da Pesquisa: Pesquisa de micro-organismos em úlceras de perna de pescadores da
Baía de Guanabara residentes das comunidades do entorno do rio Maribondo, RJ, Brasil: A
educação pelos pares como prevenção
Pesquisador:
Vera Maria Saboia de Souza Mota
Instituição Proponente: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
Versão: 2
CAAE: 05017512.1.0000.5243
DADOS DO COMPROVANTE
Número do Comprovante: 038855/2012
DADOS DO PROJETO DE PESQUISA
Patrocionador Principal: Financiamento Próprio
24.030-210
(21)2629-9189 E-mail: [email protected]
Endereço: Rua Marquês de Paraná, 303 4º Andar
Bairro: Centro
CEP:24.030-210
Telefone: (21)2629-9189
UF: RJ Município: NITEROI
Fax: (21)2629-9189