falando de axé 4ª edição - setembro de 2011

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1 “TUDO SOBRE UMBANDA, CANDOMBLÉ E CULTOS AFRICANOS - CULTURA E RELIGIOSIDADE NEGRA”. Falando de Axé ANO 1 Edição 04 Setembro de 2011 ÒRÌS À DO MÊS: Ìbejì A Divinização dos Gêmeos em terras Iorubás SANTO DO MÊS: São Cosme e São Damião Os Santos Gêmeos ERÊS A Alegria que contagia a Umbanda FALANDO DE AXÉ com Bàbá O lóò Àpésì (Rasaki Sàlámì Sàláwu)

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Falando de Axé 4ª Edição - Setembro de 2011

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Page 1: Falando de Axé 4ª Edição - Setembro de 2011

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“TUDO SOBRE UMBANDA, CANDOMBLÉ E CULTOS AFRICANOS - CULTURA E RELIGIOSIDADE NEGRA”.

Falando de Axé ANO 1 — Edição 04 Setembro de 2011

ÒRÌSÀ DO MÊS:

Ìbejì — A Divinização

dos Gêmeos em terras

Iorubás

SANTO DO MÊS:

São Cosme e São

Damião — Os Santos

Gêmeos

ERÊS — A

Alegria que contagia a

Umbanda

FALANDO DE AXÉ

com Bàbá Olóòjè Àpésì

(Rasaki Sàlámì

Sàláwu)

Page 2: Falando de Axé 4ª Edição - Setembro de 2011

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________________________________________________________________________

Edições Anteriores

EDITORIAL Depois de nossa ultima edição, o Especial sobre Ìyámi, cá estamos nós de novo, com mais uma edição, repleta de novidades e mais uma vez trabalhando em prol da divulgação cultural e religiosa afro e afro-brasileira. Nesta edição falaremos de Ìbejì, de São Cosme e São Damião, nossos alegres Erês e muito mais, esperamos estar indo de agrado aos nossos leitores e ficamos nós, no aguardo de sugestões. Nosso intuito é publicar o que vocês leitores desejam ler, por isso entrem em contato conosco e dêem sua sugestões. Pedimos desculpas por alguma coisa. Até breve e uma ótima Leitura... Wúre fún o (Boa sorte para você)!!!

Hérick Lechinski - O Editor

No mundo, sem-pre existirão pessoas que vão te amar pelo que você é e ou-tras, que vão te odiar pelo mes-mo motivo, por isso, seja sempre você mesmo!!!

Page 3: Falando de Axé 4ª Edição - Setembro de 2011

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ÍNDICE

Ìbejì – A Divinização dos Gêmeos em

terras Iorubás Pág. 04

Santo do Mês: São Cosme e São Damião

– Os Santos Gêmeos Pág. 08

Erês – A Alegria que contagia a Umbanda

Pág. 11

Folha do Mês: Òdúndún – O Pai que

espalha calma sobre a Terra Pág. 15

A música Africana e sua influência

Pág. 17

Entrevista do Mês: Falando de Axé com o

Bàbá Olóòjè Àpésì Pág. 19

Personalidades Negras: Wangari Maathai

Pág. 22

História da Capoeira Pág. 24

Àwon Odù – Os signos de Ifá Pág. 27

Livro do Mês: Exu e a ordem do Universo Pág. 29

Ìbà Olódùmarè Elédà mi - Saudações a Olódùmarè, O meu Criador.

Ilè Ògéré Ìbà - Terra, cujo poder se espalha por todo o Uni-verso,

Saudações. Mo júbà Èsù Alágbára Irúnmalè - Eu respeitosamente saúdo

Èsù, o Poderoso Venerável. Ìbà gbogbo - Saudações a Todos!!!

Page 4: Falando de Axé 4ª Edição - Setembro de 2011

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Ìbejì – A Divinização dos Gêmeos em

terras Iorubás

Ìbejì (Ibedí), termo que em yorùbá (dialeto africano falado na Nigéria) literalmente

quer dizer “Nascimento Duplo”, é como são chamados os gêmeos em terras iorubá

(Nigéria). Grande confusão existe em relação a este tema no Brasil. E com a ajuda do sin-

cretismo religioso afro-católico, mais confuso se tornou...

O que são Ìbejì?

Quem são os Ìbejì?

Divindade protetora das crianças?

Divindade protetora dos Gêmeos?

Ìbejì e Erê (espíritos infantis cultuados na Umbanda) são as mesmas coisas?

Essas e inúmeras outras perguntas são feitas pelos adeptos de religiões africanas,

como o Èsìn Yorùbá ou religiões afro-brasileiras, como o Candomblé e o Batuque, ou até

mesmo dentro da Umbanda, por adeptos que ainda não conhecem com mais profundidade

“este culto”.

Começamos dizendo que, Ìbejì não é um Òrìsà (divindade primordial), não são os

espíritos (Erês) infantis que incorporam e são cultuados na Umbanda, muito menos o es-

tado de transe infantil, pelo qual passam alguns adeptos do Candomblé. Não são santos...

Ìbejì é a Divinização dos Gêmeos em terras iorubás. Não é um orixá (divindade)

que entra em transe, não possui filhos (omorìsà) e nem é “raspado” na cabeça de nin-

guém, ou seja, não há Igbèrè (iniciação) em Ìbejì. Ìbejì são seres espirituais que vivem em

uma sociedade espiritual no Céu e também em alguns bosques na Terra. Nos primórdios

da Terra, também se reuniam em sociedades, assim como as Ìyámi Eleyé (feiticeiras), os

Abíkú (espíritos natimortos) e outras sociedades nigerianas...

Page 5: Falando de Axé 4ª Edição - Setembro de 2011

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Acredita-se que a ori-

gem do Culto a Ìbejì, seja

Ìsòkún, cidade que hoje está

agrupada a cidade de Òyó –

Estado de Òyó na Nigéria.

Foi nessa cidade, que Ìbejì

veio a Terra (Àiyé) pela pri-

meira vez, uns dizem que foi

através da mulher de um fa-

zendeiro pobre de Ìsòkún,

outros dizem que foi através

da mulher de um Rei de

Ìsòkún.

O Iorubás acreditam

que cada pessoa que nasce

na Terra, deixa um duplo no

Céu – Enikéjì, que fica na

espera daquele que veio a

Terra voltar. E é por este mo-

tivo, que por muito tempo

acreditaram que o nascimen-

to de gêmeos não era algo

bom, já que, os dois (a pes-

soa e o duplo) vinham do

Céu para a Terra. Era algo

negativo, desequilibrado,

etc. E por esse motivo, os

gêmeos passaram a serem

sacrificados, inicialmente os

dois, depois apenas um, com

a crença de que mandariam

de volta para o Òrun (Céu)

aquele que veio pra Àiyé

(Terra), mas deveria ter fica-

do por lá.

Conta um Ìtàn

(História Sagrada do Corpo

Oral de Ifá), que na época

em que os ìbejì (gêmeos) e-

ram sacrificados, em Ìsòkún,

um casal dá a luz a gêmeos

(Ìbejì), mas por amarem

muito suas crianças e não

desejarem sacrificá-las, bus-

cam então Ifá (oráculo sa-

grado), para darem um me-

lhor caminho aos seus filhos,

que não a morte, o sacrifício.

O Sábio Òrúnmìlà, Divinda-

de que é a Testemunha de

todos os Destinos, declara

que as crianças não deveri-

am ser sacrificadas, nem elas

e mais nem um outro Ìbejì

que viesse a nascer no Mun-

do, declarando então, que o

duplo nascimento, ou seja, o

nascimento de gêmeos, não

deveria ser um motivo de

tristeza e de má sorte, pelo

contrário, deveria ser um or-

gulho, uma honra e uma e-

norme alegria para os pais

dos gêmeos e para seus fa-

miliares, pois, significava a

vinda de seres de muita sor-

te, bom axé – Ejìre (Duas

alegrias, alegria dupla) para

o âmbito familiar. E determi-

nou que os pais dos gêmeos

devessem festejar o nasci-

mento deles por toda a cida-

de, tratá-los muito bem, com

muito amor, carinho e mi-

mos e toda pessoa que cru-

zasse com os Ìbejì (gêmeos)

deveriam presentear-lhes. E

assim nasce o CULTO A

ÌBEJÌ/EJÌRE (Gêmeos), em

terras iorubás.

Acreditando que uma

pessoa que nasce duplamen-

te, é dona de grande força -

axé, os Ìbejì passaram a ser

considerados pelos iorubas

como DIVINDADES VI-

VAS, que merecem todo cul-

to e respeito.

Mas deixamos claro

que, Ìbejì não é uma divin-

dade que re-encarna, ou seja,

que teve (tem) passagens na

Terra como Obàtálá, Òsun,

Sàngó, Èsù, etc. E sim, espí-

ritos que habitam em dois

corpos e se completam, pos-

suindo pleno equilíbrio. Em-

bora, há pessoas que acredi-

tam que são dois espíritos

que vivem juntos no céu

(Òrun) e vem para a terra

(Àiyé), outros, acreditam

que é a vinda da pessoa e de

seu enikéjì (seu duplo) para

a Terra.

Mas o importante

mesmo é a família que é a-

bençoada com o nascimento

de gêmeos buscarem a ma-

neira correta de cultuá-los,

Page 6: Falando de Axé 4ª Edição - Setembro de 2011

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para que possam receber todas as dádivas

que esses espíritos são capazes de propor-

cionar a família que escolhem nascer.

No Brasil, nas casas de Candomblé,

Ìbejì passou a ser considerado uma Divinda-

de, assim como as outras, filho de Sàngó

com Oya, outras vezes filho de Sàngó com

Òsun. Tendo seu sincretismo afro-católico

(por necessidade, na época da escravatura)

com os Santos Cosme e Damião e também

passou a ser sincretizado com o Nkisi Wun-

je (Divindade bem distinta dos Gêmeos).

Na Umbanda, Ìbejì passou a ser sinônimo

de Erê (espírito infantil, ou que assume essa

forma). No Batuque tornou-se uma

“qualidade” de Sàngó = Xangô Ibeje. Até

pessoas iniciadas (raspadas, feitas) de Ìbejì

podemos encontrar no Brasil, mesmo res-

peitando as tradições de cada casa, digo que

isso é algo errado, já que, o Culto a Ìbejì

não tem Igbèrè – Iniciações.

O culto a Ìbejì é realizado através de

pactos (imulè) com Èsù (Ìdòwú) e com a

Egbé Òrun Ìbejì (a Comunidade Espiritual

dos Gêmeos), montamos Ojúbo (altar) aos

mesmos, com representações feitas através

de estatuetas de madeira e outros símbolos.

É costume ioruba, quando no decor-

rer da Vida um dos gêmeos vem a falecer -

“vai ao mercado”, o gêmeo sobrevivente e

até mesmo a família deste, continuar cultu-

ando-o através de uma estatueta – Ère Ìbejì,

dando parte do que recebe ao mesmo.

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Os iorubas também possuem o hábito de dar nomes específicos aos gêmeos, por

exemplo:

- Táíwò para o primeiro dos gêmeos a nascer, que literalmente quer dizer “Vai experimen-

tar a Vida”, é considerado o espírito mais novo, que chega primeiro a Terra, para abrir ca-

minho para seu irmão mais velho, que nasce como o caçula dos gêmeos. Táíwò é saudado

com a expressão Táyé Lólú Ejìre.

- Kéhìndé para o segundo dos gêmeos ao nascer, que literalmente quer dizer “O ultimo a

chegar”, considerado o espírito mais velho.

Ter filhos gêmeos é algo tão maravilhoso para os iorubas, que eles utilizam-se da

expressão Ejìre Òkín, referindo-se que a beleza de possuir gêmeos é tão qual a de um Pa-

vão (Òkín)

Mas não podemos falar de Ìbejì sem falar de Ìdòwú, o tão conhecido DOUM, que

muitos vêem entre São Cosme e São Damião, mas nem sabe quem é. Ìdòwú é como os

iorubas chamam a criança que nasce logo após os gêmeos (Ìbejì), que literalmente quer

dizer “Aquele que equilibra os gêmeos”, Ìdòwú nada mais é do que um aspecto de Èsù,

que é cultuado para que as bênçãos de Ìbejì recaiam sobre aquela família. Não tem como

cultuar Ìbejì, sem cultuar Ìdòwú (Èsù). Na época da escravatura no Brasil, com o sincre-

tismo afro-católico, os nigerianos escravos que cultuavam Ìbejì, cultuavam também

Ìdòwú, como o passar do tempo, surgiu então Doum (Ìdòwú) e ficou São Cosme, São Da-

mião e Doum, podemos ver claramente, que Doum é menor que Cosme e Damião, ou se-

ja, representa a criança que nasce após os gêmeos. Sabemos também que, a Igreja Católi-

ca e a História não conhece Doum e assim podemos ter total certeza que Doum é o Sin-

cretismo Católico de Ìdòwú. O mesmo não é e nunca foi irmão de Cosme e Damião.

E para finalizar esta matéria, falarei um pouco sobre os Edun Oròòkun (Colobo

polykomos), o Colobo Real, macacos africanos de pelagem preta com detalhes brancos,

animais associados aos Ìbejì, já que, foram os primeiros animais a gerar gêmeos (ìbejì).

Seres completamente admiráveis, pelo hábito que possuem de ao amanhecer ficarem em

silêncio na copa das árvores em orações. São considerados mensageiros dos Deuses e es-

cutados por Eles. A fêmea Colobo, ao parir afasta-se do bando, retornando no dia seguinte

com sua cria. Cria esta, considerada re-encarnação de espíritos Ìbejì que ficam vagando

pelas florestas. São animais sagrados dentro do Culto Ìbejì.

Caros leitores, espero ter contribuído com algo para o entendimento de vocês sobre

o Culto a Ìbejì. Gostaria de aproveitar e render minhas homenagens ao Ìbejì Táíwò Aláyé-

solà, Omorìsà (filho de santo) da Grande Ìyálóòrìsà Beata de Yèmoja, um grande divulga-

dor do culto a Ìbejì e uma das pessoas que posso considerar como fonte deste artigo.

Wúre fún àwa – Boa Sorte para nós.

Por Hérick Lechinski (Ejòtolà T’Òsùmàrè)

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São Cosme e São

Damião – Os Santos

Gêmeos

No mês de Setembro comemoramos os Santos Católicos - São Cosme e São Damião. Dia 26 de setembro da Igreja Católica, dia 27 de setembro nos Templos de Religiões Afro-brasileiras (Candomblé e Batuque) e Umbandistas e no dia 1º de novembro das Igrejas Cristãs Ortodoxas. P r o t e t o r e s d o s M é d i c o s e Farmacêuticos, Santos Gêmeos que são sincretizados dentro das religiões afro-brasileiras com os Òrìsà Ìbejì (a Divinização dos Gêmeos). E na Umbanda (Religião Brasileira com grande influência Afro) são cultuados a através da Legião de São Cosme e São Damião, uma das sete legiões da Linha de Oxalá, composta por espíritos infantis ou que assumem essa forma espiritual.

Ao contrário do que muitos pensam, não

são Santos Crianças e sim, protetores das

crianças e também não possuem nenhuma

ligação com Doum (Ìdòwú, de origem iorubá,

Nigeriana).

Pelo ano 303 d.C. na cidade de Egéia, na Arábia, nasceram os gêmeos Cosme e Damião, filhos de nobres árabes; Dona Teodata, mulher piedosa e de grandes virtudes, transmite aos filhos os vivos sentimentos de fé, esperança e caridade. O nome Cosme vem de “Cosmos” – no grego: Puro, e Damião – “Damianus”: “Mão do Senhor” segundo a tradição. Nossos gêmeos foram educados e instruídos pelos grandes mestres da Síria e lá especializaram-se nas ciências e na medicina.

Os ensinamentos cristãos de sua Mãe,

aliados a arte de curar e de aliviar os

sofrimentos alheios, fizeram de nossos jovens

médicos, um testemunho de amor e dedicação

aos irmãos.

Os gêmeos médicos eram muito requisitados pelas pessoas, que neles encontravam um sopro de esperança e um alento nos sofrimentos. Cosme e Damião não perdiam a oportunidade de falar de Jesus Cristo, o Médico dos Médicos, e de seu evangelho, assim aliavam a cura do corpo e da alma.

A admiração das pessoas crescia ainda

mais, vendo que os médicos Cristãos, não

aceitavam a mínima gratificação, eram outras

as riquezas que atraiam: “Almas para Deus.”

Incontáveis conversões foram

testemunhadas, graças ao empenho e a

dedicação de Cosme e Damião. As curas

aconteciam de várias formas sendo até mesmo

de formas extraordinárias, era o poder de Jesus

sendo manifestado através de seus servos

fiéis.

SANTO DO MÊS

Page 9: Falando de Axé 4ª Edição - Setembro de 2011

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Durante muitos anos viveram os médicos como missionários na Cilícia. O empenho e a fama dos dois chamaram a atenção de autoridades, e uma das primeiras medidas do governador Lígias, quando chegou a Cilícia, foi ordenar a prisão dos gêmeos, que lhe foram indicados como inimigos das divindades cultuadas na época. O então governador Lígias dizia cumprir ordens do imperador Diocleciano que nutria um ódio mortal contra os Cristãos. Citados perante o tribunal de Lígías, este os interpelou sobre o exercício da profissão e sobre algumas denúncias maldosas de prática de feitiçaria. Cosme e Damião estavam sendo acusados de exercer a medicina gratuitamente, e isto, estava causando incômodo a alguns mercenários da medicina. Responderam as acusações dizendo: - Curamos as doenças – mais em nome do Senhor Jesus Cristo, do que pelo valor de nossos conhecimentos e ciência. Lígias respondeu furioso: - É preciso que adoreis aos Deuses, sob pena de cruel tortura! Novamente responderam eles: - Teus deuses não tem poder nenhum; nós adoramos o criador do céu e da terra, e nele depositamos nossa confiança. Então, eles foram submetidos aos cruéis tormentos para fazê-los negar a fé e renegar a Jesus Cristo. Vendo o governador que nada os fazia mudar de idéia, ordenou que fossem decapitados, e assim martirizados os médicos da gratuidade, os gêmeos da bondade e da caridade. Os corpos Cosme e Damião, foram carregados por uma centena de amigos, pacientes e admiradores que por eles nutriam grande respeito e veneração. Depois de algum tempo, os restos mortais foram levados para a Síria, numa cidade chamada Cyra, e lá construíram uma Igreja em homenagem aos dois. Em Constantinopla foi construída outra Igreja em honra aos mártires, por determinação do Imperador Justiniano I, que por eles foi favorecido em grave doença. Parte das relíquias de dos santos encontram-se em Roma e parte em Munique, no altar da Igreja de São Miguel. O culto aos dois irmãos é muito antigo, havendo registros sobre eles desde o século 5, que relatam a existência, em certas igrejas, de um óleo santo, que lhes levava o nome, que tinha o poder de curar doenças e dar filhos às mulheres estéreis. Aqui no Brasil, a devoção trazida pelos portugueses misturou-se com o culto aos orixás-gêmos (Ibejis) da tradição africana iorubá. São Cosme e São Damião, os santos mabaças ou gêmeos, são tão populares quanto Santo Antônio e São João. São amplamente festejados na Bahia e no Rio de Janeiro, onde sua festa ganha a rua e adentra aos barracões de candomblé e terreiros de umbanda, no dia 27. No dia 27 as crianças saem às ruas para pedir doces e esmolas em nome dos santos e, as famílias aproveitam para fazer um grande almoço, servindo a comida típica da data: o chamado caruru dos meninos.

Mas deixamos claro que, mesmo com o famoso sincretismo afro-católico existente no Brasil,

São Cosme e São Damião são santos Católicos cultuados em Igrejas Cristãs, Templos de Umbanda e

em algumas Casas (Ilé Àse) de Candomblé e Ìbejì, são os gêmeos considerados divindades vivas

dentro da tradição africana iorubá, cultuados também em casas de Camdomblé Kétu no Brasil.

Texto readaptado por Hérick Lechinski (Ejòtolà T’Òsùmàrè)

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Por Mônica Buonfiglio

Oração a São Cosme e São

Damião

Amados São Cosme e São Damião, Em nome do Todo-Poderoso,

Eu busco em vós a bênção e o amor.

Com a capacidade de renovar e regene-rar,

Com o poder de aniquilar qualquer efei-to negativo,

De causas decorrentes, Do passado e presente,

Imploro pela perfeita reparação, Do meu corpo e Dos meus filhos

(...............................................) nome dos filhos

E de minha família.

Agora e sempre, Desejando que a luz dos santos gê-

meos, Esteja em meu coração!

Vitalize meu lar, A cada dia,

Trazendo-me paz, saúde e tranqüilida-de.

Amados São Cosme e Damião,

Eu prometo que, Alcançando a graça,

Não os esquecerei jamais! Assim seja,

Salve São Cosme e Damião, Amém!

*Ao alcançar a graça, fazer um bolo ou oferecer uma festa às crianças de rua,

orfanatos ou creches.

Page 11: Falando de Axé 4ª Edição - Setembro de 2011

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Erês - A Alegria que contagia a Umbanda

Consoante ensinamento de guias e protetores, elevados na escala espiritual, a alma, ao desencarnar, conserva os traços característicos que possuía na Terra. Aliás,vão mais longe até. Afirmam que os espíritos libertos do corpo físico, podem, por sua vontade, materializarem-se segundo a forma desejada. Suponhamos que um casal haja tido um filho morto, digamos, com a idade de 10 anos. Ao se invocar o seu espírito, comparecerá ele materializado ou incorporado no médium, sob a forma de um menino, tal qual o era quando ele faleceu. Esta faculdade de apresentar-se e agir como criança, não quer dizer seja um espírito-criança. Pode ser, talvez, até mais velho que seus pais. Ele vem com aspecto ou forma infantil, porque lhe é conveniente vir assim, pois, do contrário, dificilmente seria reconhecido. A infância do espírito é um estado de desenvolvimento psíquico, de cujo estágio raramente se recorda. O ente humano, ou melhor, sua condição de humanidade é adquirida somente após passar pelas formas mineral, vegetal e animal, nas quais vai-lhe desabrochando a consciência individual, até ingressar na fase humana, já com certo entendimento e conhecimento de si mesmo. O cachorro, por exemplo, é um dos animais que se encontram mais próximo do período humano. Eis que já possui princípios rudimentares de inteligência e acentuado sentimento de humanidade: É fiel, amoroso, fraterno, sentimental, chegando a chorar e a sentir a falta e a morte de seu dono, como se percebe desta passagem verídica: “...Contam os biógrafos de Mozart, que o compositor morreu sozinho com a esposa, que estava doente. Ao seu enterro não foi um só dos amigos. Chovia. Quatro gatos pingados seguram por desencargo de consciência e alça do caixão. O seu cão o acompanhou longe. Depois que os coveiros se afastaram, deitou-se sobre a sepultura e ali ficou sem comer, uivando e uivando, até que morreu. Dias depois, a viúva de Mozart procurou a sepultura do marido e ninguém soube informar onde era.

Page 12: Falando de Axé 4ª Edição - Setembro de 2011

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Havia um cão morto sobre ela, disseram. Mas o cão tinha sido atirado ao lixo, ou enterrado, ninguém sabia. Desse modo, não se soube jamais onde havia sido enterrado o grande músico. Tudo porque, comentou um dos seus biógrafos, um cão mostrou sensibilidade humana, quando cada amigo procedeu como um cão...” Mas, voltemos aos erês. Ora, como espírito toma a forma que deseja, deduz-se daí, não ser erê (criança) uma alma em desenvolvimento, uma criança espiritual no sentido restrito da palavra, mas um espírito evoluído, que se apresenta como tal nos terreiros, mantendo o psiquismo infantil e portando-se dessa maneira, porque gosta e essa situação ser-lhe agradável e conforme o temperamento. Vindo nesse estado, naturalmente, conserva os mesmo gostos da criança: adora balas, doces, refrigerantes, brinquedos, moedas, flores, bonecas, carrinhos, que lhes satisfaçam prazerosamente a condição própria da personalidade temporariamente modelada. Como querem e gostam de brincar, quais crianças, devemos respeitar-lhes a vontade, tratando-os como tais. É um estado passageiro. Há crianças brancas, índias, negras e orientais, de acordo com a inclinação de cada um. Quando vêm aos terreiros, fazem traquinices, comem doces, chupam balas, bebem refrigerantes, lambuzam-se, rolam pelo chão, brincam com carrinhos ou bonecas, tratam os adultos de tios, pedindo-lhes moedas e brinquedos. Seus trabalhos todavia, são sérios. Querem um exemplo? Pois aí vai: “ Por ocasião das festas de Cosme e Damião, um casal foi a uma tenda de Umbanda, a convite, a fim de assistir às festividades em louvor aos erês. Durante a sessão, na qual as crianças brincavam, rolavam pelo chão e faziam traquinices, comendo doces e chupando balas, Joãozinho, um dos erês, aproximou-se do marido e pediu: - Tio, me dá bolinhas de gude. - Não tenho - disse o homem – eu não trouxe. - Ah tio, que pena! Lamentou a criança. - Espere – confidenciou o marido – se você me solucionar um negócio complicado que não consigo resolver, trar-lhe-ei bastante bolinhas de vidro. Você é capaz de resolvê-lo? - Tá tio – afiançou o erê – eu vou resolver dentro de três dias. Mas, o senhor promete que traz minhas bolinhas? - Oh! Sim, na outra festa que houver eu trago. Certo? - Tá, tio, benção! – pediu a mão do homem e a beijou. Terminada a festa, o casal se retirou. No caminho, o marido comentou com a esposa: - Que achou da festa? Palhaçada, não? - É verdade – concordou a mulher – homens e mulheres já velhos, rolando pelo chão, lambuzando-se, chupando os dedos e bancando crianças... Onde já se viu isso!

A festa foi esquecida e os erês também. Três dias depois, o homem resolveu o

negócio encrencado, que há muito lhe constituía problema. Resolvido o caso, começou

a prosperar na vida e nem se lembrava das festas de Come e Damião e a elas não mais

voltou.

Page 13: Falando de Axé 4ª Edição - Setembro de 2011

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Certo dia, ao calçar o sapato, sentiu uma dor aguda no calcanhar. Percebeu que não podia andar. Tirou o sapato, examinou-o e nada viu que o impedisse de andar ou pisar no solo. Calçou outro par. A mesma dor. Experimentou outros, a mesma coisa. Comprou sapatos novos e macios, não podia calçá-los. Admirado, chamou o médico. Este examinou-lhe o pé. Aperta aqui, aperta ali e nada constatou. - O senhor não tem nada.. Só dói quando calça os sapatos? - Sim – explicou – inclusive chinelos e somente no calcâneo. - Esquisito. O pé está bom. Mas, vamos tirar radiografias. Feitos os exames de raios x, nada se constatou de anormal. Mas a dor persistia. Fez outros exames, todos negativos. Ao calçar o sapato a dor continuava. Consultou vários especialistas e nada! Nenhuma causa patológica foi encontrada. Passou a usar chinelos; contudo, a dor teimava em lhe não deixar andar. Gastou rios de dinheiro com médicos e benzedeiras sem qualquer resultado. Despedido do emprego, que lhe dava boa remuneração, por impossibilidade de andar calçado, não conseguiu outro, pois ti-nha de andar descalço. Assim caiu na pobreza total. Desanimado e abatido, jogou-se no monte humano dos inúteis. Entretanto, por coincidência ou capricho do destino, quis a sorte que fosse convidado por um amigo para assistir a festa de Cosme e Damião, na mesma tenda onde estivera há dois anos atrás. Como não tinha nada a fazer neste dia, foi. Lá chegando, pé no chão, tristonho e desalento, ficou a um canto do terreiro até bai-xar a linha de criança. Em meio a algazarras e brincadeiras das entidades, ouviu uma voz infantil que lhe era dirigida, reclamando: - Tio! O senhor trouxe as minhas bolinhas? Olhou. Era o Joãozinho, o mesmo da vez anterior, do qual não recordava. Sorriu: - Não. Eu não trouxe. Mas... que bolinhas? - Ah tio, o senhor me prometeu! Lembra? O homem ficou pensativo, com os olhos fixos nos do menino, procurou lembrar. - Puxa, tio! – Lamentou Joãozinho, tristonho e magoado – o senhor disse que se eu re-solvesse aquele negócio, o tio me trazia bolinhas de gude... Lembra? E eu resolvi...

Page 14: Falando de Axé 4ª Edição - Setembro de 2011

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“Papai me mande um balão, com todas as crianças que têm lá no céu. “Papai me mande um balão, com todas as crianças que têm lá no céu.

Tem doce Papai, tem doce papai, tem doce lá no Jardim...” *Ponto Cantado de Erês na Umbanda e algumas das fotos, são pinturas de Donal Zolan.

O sujeito acordou. Lembrou-se do fato. Desajeitadamente justificou: - Ah sim, agora me lembro. Mas esqueci de trazê-las.

- Esqueceu?! Mas, como?! – zangou-se o menino e aborrecido acrescentou – Puxa! E

eu todo dia lembrava o tio, colocando uma bolinha de vidro no sapato que o senhor

calçava...

Fonte: Livro Conheça a Umbanda De: J. Edson Orphanake

Page 15: Falando de Axé 4ª Edição - Setembro de 2011

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Òdúndún – O Pai que

espalha calma sobre a Terra

Nome Yorùbá: Òdúndún, Elétí.

Nome Popular: Folha da costa, saião, folha grossa, paratudo, erva grossa.

Nome Científico: Kalanchoe brasilienses.

Òdúndún é uma folha de origem brasileira, encontrada praticamente em

todo o território nacional. Mas hoje, também já encontramos Òdúndún (Folha da

costa) em diversas áreas tropicais de outros continentes.

Muito confundida com Àbámodá (Folha da fortuna), o Òdúndún é uma folha

(ewé) Èrò (de apaziguamento), feminina, ligada ao elemento água e a todas as

divindades da Criação – Òrìsà funfun.

É utilizada tanto no Brasil, quanto na África (Nigéria), onde é conhecida

pelo nome yorùbá de Elétí, em iniciações (Igbèrè) e em medicinas (Oògùn).

No Brasil, nas Casas de Candomblé da Nação Kétu, a mesma é uma das

principais folhas utilizadas no Àgbo (composição de elementos vegetais, animais

e minerais, utilizado para a sacralização do corpo do iniciado e seus pertences

ritualísticos). É também utilizada em oferendas à Obàtálá ( Òsàlá ) e no

sacrifício de animais como o Pombo (Eyelé), a Galinha de angola (Etù) e o

Caramujo (Ìgbín).

Utiliza-se também o Òdúndún, junto a outras ervas, para “lavar as vistas”

e os búzios (Owó eyo), dos sacerdotes que utilizam-se do oráculo Mérìndínlógún

Ifá (Jogo de Búzios).

FOLHA DO MÊS

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Por Hérick Lechinski (Ejòtolà T’Òsùmàrè)

Na Nigéria, o Òdúndún é uma das folhas que compõe um omièrò utilizado pe-

los Bàbálawo e Iniciados em Ifá (Awo ’ fá) para lavarem suas vistas antes de abri-

rem Igbádù (a Cabaça da Deusa Òdù), para que assim possam cultuar a mesma,

sem maiores danos para suas vistas e vidas. Também é utilizada juntamente a ou-

tras folhas, em um àgbo específico para serem lavados os símbolos ritualísticos de

Obàtálá e sua esposa Yèmowó, após os sacrifícios.

Na Medicina e na Fitoterapia, o Saião (Òdúndún) é utilizado no combate a do-

enças pulmonares, porém, seu consumo excessivo gera pleurisia (inflamação das

pleuras pulmonares - Empiema). O saião é cicatrizante, alivia a dor e ajuda a de-sinchar áreas magoadas, machucadas. Aquecida em azeite de oliva, ajuda furún-

culos virem a furo. Seu sumo quando ingerido, ajuda no combate a úlceras e dis-túrbios estomacais.

Òdúndún é uma folha que acalma, apazigua, traz saúde, paz e vida longa –

Àláàfíààaaaaaa. Assim como diz uma de suas cantigas:

Òdúndún Bàbá T’èrò‘lè Òdúndún Bàbá T’èrò‘lè

Bàbá T’èrò’lè Imalè T’érò’lè

Òdúndún Bàbá T’èrò‘lè

Òdúndún, Pai, espalhe a calma sobre a terra.

Òdúndún, Pai, espalhe a calma sobre a terra.

Pai espalhe a calma sobre a terra. Divindade espalhe a calma sobre a

terra. Òdúndún, Pai, espalhe a calma sobre

a terra.

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A música africana exerceu grande influência sobre outras

manifestações musicais no mundo.

A Música Africana e sua Influência

A música africana

exerceu grande influência sobre outras manifestações musicais no mundo. Toda a g e n t e c o n h e c e o s espirituais negros, cantados pelos escravos africanos levados para a América. E s s e s c â n t i c o s manifestavam a realidade quotidiana que eles viviam e era uma habilidade para a s s e g u r a r e m a sobrevivência cultural.

Constituía uma fonte

de conselhos e de valores comportamentais; uma afirmação da própria identidade étnica e cultural para quem vivia uma profunda tensão entre a esperança e a resignação, entre a alegria e a dor. A idéia-base dos espirituais é

que a escravidão é uma afronta a Deus, é a negação d a S u a v o n t a d e . Também os calls (chamamentos) e os cries (gritos) do Sul dos Estados Unidos são uma herança africana. Há canções de protesto, de crítica social, outras que recordam e p i s ó d i o s d a v i d a quo t i d i a na e fe i tos históricos. Há cantigas tristes e alegres, amargas e plenas de humor. Todas e l a s s e e n c o n t r a m relacionadas com o ritmo do trabalho. Os calls que ressoavam nas plantações de algodão e de cana-de-açúcar, nos portos e nos locais de labor serviam para comunicar mensagens ou manifestar uma emoção. Os blues eram os cânticos dos Negros do Norte estadunidense. Para os Brancos, os escravos negros eram apenas um nadinha, superiores aos animais. Nos cânticos deles descobre-se a influência das canções do Sul. Os blues, cânticos trágicos da dor humana, provavelmente retiraram o nome da expressão inglesa to “have

the blues”, que significa “estar dominado pela m e l a n c o l i a ” , p e l o d e s e s p e r o . F o r a m conhec idos como a “música do Diabo”, porque os cantores manifestavam o seu mal-estar, atribuindo-o ao Diabo ou à má sorte. O cantor fala sempre daquilo que não tem e nunca virá a ter. Não se nota neles uma atitude de revolta nem de desafio. O autor lamenta-se e procura unicamente sofrer o menos possível.

Também o jazz é um

tipo de música que contém uma saudade da África. Não é música africana, mas não existiria sem a África. É resultado do encontro entre o “branco” e o “negro” no Sul dos Estados Unidos. No início, foi criado por músicos negros e era considerado como a expressão de uma minoria. Este gênero de música c a r a c t e r i z a - s e p e l a improvisação e ritmo sincopado. É uma derivação dos espirituais e dos blues. Hoje, o jazz inspira muito da música moderna.

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O famigerado banjo é a versão norte-americana de um tradicional instrumento a-fricano de três cordas chamado akonting (ou ekonting, como é conhecido no Senegal). É um instrumento tradicional do povo jola (ou diola, de acordo com a grafia em fran-cês), utilizado pelos griots (classe de músicos itinerantes do Norte da África, algo se-melhante ao trovador europeu), e de acordo com a tradição oral do mesmo povo, o ins-trumento teria surgido na vila de Kanjanka, onde hoje é a região de Casamança, no Sul do Senegal. Aliás, o nome dado à afinação mais comum do instrumento relembra tal tra-dição, pois recebe o nome de kan (como é chamado o som da corda de acompanha-mento), jan (o som da segunda corda) e ka (o da terceira), ao invés do convencional ré-s o l - f á , n a t r a d i ç ã o o c i d e n t a l . A partir de Casamança, o instrumento tornou-se parte da tradição musical da Gui-né-Bissau e também da Gâmbia (mesmo porque os Jola estão distribuídos entre os três países, como convém à arbitrária e exploratória partilha da África feita pelos coloniza-dores europeus no final do século XIX). É bem semelhante ao banjo moderno, só que de dimensões maiores. O corpo é feito de uma grande cabaça recoberta com pele animal, sendo que o “braço” do instrumento consiste de uma larga vara que atravessa a caba-ça. Possui três cordas, como já foi dito, dando uma o acompanhamento (assim como no banjo comum, de cinco cordas) e as outras duas, a melodia. Onde está a ligação com o banjo?

É só observar o formato do instrumento, o modo como é construído, a técnica u-sada para tocá-lo (a técnica designada o´teck assemelha-se bastante à mais antiga for-ma de se tocar banjo), o sistema de cordas de acompanhamento e coisas do gênero. A ligação com a lusofonia?

Casamança fez parte da Guiné-Bissau até 1886, quando foi incorporada no Sene-gal francês. Até hoje, a influência portuguesa é grande na área, havendo muitos Câma-ras, Oliveiras, (o “Kamarrá” e o “Oliverrá”, ambos jogadores da seleção francesa, são n a t u r a i s d e l á ) . Há ainda o dialeto crioulo, o mesmo da Guiné-Bissau, que lá também se usa co-mo “língua franca”, além de tradições européias e da religião católica, bem como no-mes de localidades (Ziguinchor, a capital de Casamança e maior cidade, alegadamente deve o seu nome à expressão em português «cheguei e choram», fazendo referência aos africanos temerosos de estarem presenciando a sua vez de serem atirados para os t e m í v e i s n a v i o s n e g r e i r o s p o r t u g u e s e s . Em acréscimo, o akonting deu origem a instrumentos similares em toda a região da população jola (na Guiné-Bissau e na Gâmbia, onde boa parte da população fala cri-oulo); há o buchundu, instrumento do povo manjaco (Guiné-Bissau e Gâmbia), o busun-de (do povo papel, da Guiné-Bissau), e ainda o kisinta, dos Balantas, também da Guiné-Bissau.

Na verdade, todos estes instrumentos são creditados como ancestrais do banjo, aparecendo o akonting como o instrumento que mais se assemelha aos primeiros ban-jos norte-americanos, sendo por isso uma espécie de “elo perdido” na história musical dos Estados Unidos. Apesar de o banjo ter surgido na parte norte da África Ocidental, certo é que os colonizadores portugueses, à semelhança dos donos de escravos norte-americanos, começaram a apelidar o instrumento de “banjo”, designação proveniente da palavra m´banza, que em quimbundo (a língua do segundo maior grupo étnico de Angola) significa “lar”, “cidade”, como provável referência ao “banzo” que os escravos negros deviam sentir ao apoiar os seus lamentos nas cordas do instrumento…

Texto de Maria Bijóias e Foto por Vikki Gregory's Flickr

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Falando de Axé com Bàbá Olóòjè Àpésì (Rasaki

Sàlámì Sàláwu)

Bàbá Rasaki é Africano, de origem Egbá, nasceu em Abéòkúta, Estado de Ògún-Nigéria. Filho espiritual da Saudosa Ìyá Obìmonure Àsàbí. É Sacerdote de Òrìsà, principalmente das Divindades Ògún, Egúngún, Òsayìn e Ògbóni. Residindo no Brasil já alguns anos, mais precisamente em São Paulo, Capital. Sacerdote principal do Templo de Culto a Òrìsà – Ilé Àse Àpésì Olóòjè - São Paulo-SP. Falando de Axé Com alguns anos já no Brasil, o que o senhor acha da forma como os Orixás são cultu-ados aqui no Brasil? Bàbá Rasaki Eu tenho certeza, é maravilhoso, brasileiro ama orixá e acredita muito em orixá, assim como nós Nigerianos. Pessoas que não respeitam os Òrìsà e a Religião existe em todos os lugares, mas também existem muitos brasileiros que levam a sério, que respeitam e não brincam com o Culto! Todo mundo tem seu conhecimento, ninguém sabe tudo, quem sabe tudo é Òrìsà e Deus, por isso, cada pessoa deve ser respeitada pelo aprendizado que possui e o há muitos brasileiros que conhecem muito de Òrìsà! Falando de Axé Qual é seu sonho dentro da religião? Bàbá Rasaki Meu sonho é bom, é maravilhoso! É transmitir o conhecimento que possuo dentro de minha tradição (Abéòkúta – Ògún State), para aqueles que desejarem aprender um pou-co mais, contribuindo assim para que os Orixás sejam cada vez mais e melhor cultua-dos!

ENTREVISTA DO MÊS

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Falando de Axé Sabemos que o senhor é de Ògún, o que essa maravilhosa Divindade representa em sua vida? Bàbá Rasaki Eu acredito muito em Ògún, ele me ajudou muito em minha vida, me dá caminhos, me proporciona novas buscas de crescimento! Falando de Axé O que o Senhor pode nos falar de Ògún? Bàbá Rasaki Ògún abre os caminhos, Ògún é bom, mas como todos os orixás, Ògún é melindroso e não gosta de ser enganado, tanto que na minha terra quando juramos, juramos por Ògún, com uma faca na boca, e se a pessoa mentir poderá ter sérios problemas! Falando de Axé Bàbá, Egúngún é uma das Divindades (Ancestrais) mais mal interpretada pelos brasilei-ros, o senhor como Olóòjè (Sacerdote de Egúngún), poderia nos falar um pouco sobre esta Divindade? Por exemplo, Egúngún pode abraçar as pessoas? Bàbá Rasaki Pode abraçar sim. Egúngún é um orixá, como os demais, o tratamento é diferenciado, como cada orixá tem seu tratamento. E no momento do abraço pode pedir tudo o que quiser, e Egúngún dará, pode pedir filhos, saúde e vida longa! Talvez, um dos motivos pelo qual foi criado este mito de não poder abraçar o ancestral, seja pela ilusão que alguns querem manter viva, de que não há uma pessoa em baixo da roupa. Mas, de fato há, e o importante é a energia e o axé que a roupa possui. Assim como o ferro é importante para Ògún, a água para Òsun e Yèmoja, e etc... Falando de Axé Sabemos que um dos projetos do seu Templo, é o de levar pessoas para a Nigéria, qual seria o motivo Bàbá?

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Bàbá Rasaki Cada orixá tem sua cidade de origem, por exemplo; Òsun é de Òsogbo; Ifá e Odùdúwà de Ilé Ifè; Sàngó de Òyó; Ògún de Ìré, etc., o objetivo é que cada pessoa conheça a terra de seu orixá, conheça como os orixás são cultuados lá. Pois assim como Jerusalém es-tá para os Judeus, como o Vaticano está para os Católicos, a Nigéria e o Benin com su-as cidades sagradas, berço de determinados orixás, está para os devotos de orixá. To-dos os devotos de orixá deveriam conhecer as cidades Iorubanas, na Nigéria e no Be-nin. Falando de Axé Bàbá, gostaríamos que o senhor deixa-se uma mensagem para os devotos e cultuado-res de orixá: Bàbá Rasaki Respeitar as diferenças de culto, seja no Brasil ou na Nigéria, é dever do ser humano (cultuador). Buscar conhecimentos e adequá-los a sua realidade. Devem evoluir e ad-quirir sabedoria, sem deixar de respeitar os outros. Todas as pessoas de orixá são meus irmãos, são de minha família e desejo que os ori-xás abençoe à todos! Bàbá Àpésì (Rasaki) e Bàbá Òsàálásínà (Zarcel) trabalham juntos com um mesmo obje-tivo, ajudar as pessoas a se aproximarem da tradição yorùbá, pois ela não é tão compli-cada como alguns querem demonstrar e nem tão simples quanto outros fazem. Respei-tando as diversas tradições já existentes no Brasil queremos apenas contribuir para o desenvolvimento cultural e espiritual dos devotos de orixá no Brasil. Ire fun gbogbo àwa! (Felicidades para todos nós)!

AXÉ

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Wangari Maathai Wangari Muta Maathai nasceu em 1º

de Abril de 1940 em Nyeri, no Quênia. Licenciou-se em Biologia no Kansas, um feito raro para as raparigas oriundas das áreas rurais do Quênia. De regresso ao seu país trabalhou em investigação na medicina veterinária na Universidade de Nairobi. Apesar de todo o cepticismo e oposição alcançou a direção da faculdade de veterinária. Em 1970, o seu marido concorreu ao Parlamento e Maathai envolveu-se num projeto de apoio aos pobres, tornando-se mais tarde numa organização de apoio ao ambiente. Este projeto tornou-se num significante avanço contra a des-florestação no Quênia.

Em 1989, fundou o Movimento Cinto Verde, com o qual mobilizou mulheres pobres a plantar 30 milhões de árvores. Esta campanha viria a ser copiada por outros países, tais como a Tanzânia, Uganda, Malawi, Lesoto, Etiópia, Zimbabwe, etc. O objetivo de Wangari era produzir, de forma sustentável, madeira para combustível e combater a erosão do solo. Em entrevista à BBC, a queniana disse que a campanha não contou com apoio popular quando foi lançada.

“Levei muitos dias e noites para

convencer as pessoas de que as mulheres poderiam melhorar o meio ambiente, mesmo

sem muita tecnologia ou recursos financeiros”, disse Wangari.

O Movimento do Cinto Verde lutou

(luta) também pela educação, contra a fome e outros assuntos importantes para as mulheres e para a sociedade no geral. No final da década de 80, tornou-se uma opositora famosa da construção de um arranha-céus planeado para ser erguido no meio do principal parque da capital do Quênia. Wangari tornou-se uma vilã para o governo queniano da época, mas a campanha foi bem-sucedida e o projeto, abandonado.

Em 1991, foi presa tendo sido

libertada com a ajuda da Anistia Internacional. Posteriormente foi novamente presa por diversas vezes pelo governo do presidente queniano Daniel Moi. Em 1997, concorreu às presidenciais do Quênia, apesar do seu partido ter retirado a sua candidatura alguns dias antes das eleições, sem o seu conhecimento. Em Dezembro de 2002, Mwai Kibaki, o principal candidato da oposição, ganhou as presidenciais no Quênia, pondo fim a 24 anos de liderança do presidente Daniel Arap Moi, permitindo a entrada de Maathai no Parlamento.

Em Dezembro de 2003, Kibaki nomeou

-a assistente do ministro do Ambiente. Maathai permaneceu corajosamente contra o antigo regime opressivo no Quênia e serviu de inspiração a muitas pessoas na luta pelos direitos democráticos.

PERSONALINADES

NEGRAS

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Em 2004 o Comitê Nobel da Noruega decidiu atribuir o Prêmio Nobel da Paz a Wangari Maathai pelo seu contributo para o desenvolvimento sustentável, a democracia e a paz.

“A paz na terra depende da nossa habilidade em defender o nosso ambiente vi-

vo.” Maathai ergue-se na frente da luta para promover o desenvolvimento social, econô-mico e cultural ecologicamente viáveis no Quénia e na África. Ela fez uma abordagem ao desenvolvimento sustentável que abraça a democracia, os direitos do homem e os direitos da mulher em particular. Pensa globalmente e age localmente, lê-se na decisão do Comitê Nobel da Noruega.

Maathai causou controvérsia na comunicação social internacional, quando numa conferência de imprensa, após o anúncio da conquista do Prêmio Nobel da Paz, disse que o " vírus HIV era um produto criado pelo homem através de bio-engenharia, e foi introduzido em África por cientistas ocidentais não-identificados como uma arma de destruição em massa para “punir os negros”. Desde então tem fugido a tomar uma po-sição definitiva, alegando que “Eu não sei qual é a origem do vírus da SIDA, mas espero que um dia saibamos, porque isso é algo que obviamente todos queremos saber, de on-de vem a doença”.

Wangari Maathai foi a primeira mulher africana a ser laureada com um Prêmio No-

bel.

Fonte: http://grandefabrica.blogspot.com/2006/04/wangari-

maathai.html

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História da Capoeira

O Brasil a partir do século XVI foi palco de uma das maiores violências contra um povo. Mais de dois milhões de negros foram trazidos da África, pelos colonizadores portugueses, para se tornarem escravos nas lavouras da cana-de-açúcar. Tribos intei-ras foram subjugadas e obrigadas a cruzar os oceanos como animais, em grandes gale-otas chamadas de navios negreiros. Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro foram os por-tos finais da maior parte desse tráfico.

Ao contrário do que muitos pensam, os negros não aceitaram pacificamente o ca-tiveiro; a história brasileira está cheia de episódios onde os escravos se rebelaram con-tra a humilhante situação em que se encontravam. Uma das formas dessa resistência foi o quilombo; comunidades organizadas pelos negros fugitivos, em locais de difícil acesso. Geralmente em pontos altos das matas. O maior desses quilombos estabeleceu-se em Pernambuco no século XVII, numa região conhecida como Palmares. Uma espé-cie de Estado africano foi formado. Distribuído em pequenas povoações chamadas mo-cambos e com uma hierarquia onde no ápice encontrava-se o rei Ganga-Zumbi, Palma-res pode ter sido o berço das primeiras manifestações da Capoeira.

Desenvolvida para ser uma defesa, a Capoeira foi sendo ensinada aos negros ain-

da cativos, por aqueles que eram capturados e voltavam aos engenhos. Para não levan-tar suspeitas, os movimentos da luta foram sendo adaptados às cantorias e músicas africanas para que parecessem uma dança. Assim, como no Candomblé, cercada de se-gredos, a Capoeira pode se desenvolver como forma de resistência. Do campo para a cidade a Capoeira ganhou a malícia dos escravos de 'ganho' e dos fre-qüentadores da zona portuária.

Na cidade de Salvador, capoeiristas organizados em bandos provocavam arrua-

ças nas festas populares e reforçavam o caráter marginal da luta. Durante décadas a Capoeira foi proibida no Brasil. A liberação da sua prática deu-se apenas na década de 30, quando uma variação da Capoeira (mais para o esporte do que manifestação cultu-ral) foi apresentada ao então presidente, Getúlio Vargas. De lá para cá a Capoeira Ango-la aperfeiçoou-se na Bahia mantendo fidelidade às tradições, graças principalmente ao seu grande guru, Mestre Pastinha, que jogou Capoeira até os 79 anos, formando gera-ções de angoleiros.

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Elementos da Capoeira Angola Já dizia o Mestre Pas-

tinha, "Capoeira Angola é, antes de tudo, luta e luta vi-olenta." Mas atualmente a Capoeira é normalmen-te praticada como um es-porte ou simplesmente fol-clore para preservar as tra-dições.

É claro que entre os

praticantes sérios, em seus treinos, os golpes são ape-nas simulados e a Capoeira torna-se um exercício físico e mental. A violência dos seus golpes, no entanto, não deixa espaço para meio termo; ou joga-se Capoeira 'para valer', com as suas sé-rias conseqüências ou ape-nas simula-se um jogo. A possibilidade de enquadrá-la em regras esportivas é inexistente; quem assim o faz está sendo leviano ou não conhece de fato a Capo-eira.

Os Golpes

A Capoeira Angola tem um número relativa-mente pequeno de golpes que podem, no entanto, a-tingir uma harmoniosa com-plexidade através de suas variações. Assim como a música tem apenas sete no-tas. Os seus principais golpes são: Cabeçada, Rasteira, Rabo de Arraia, Chapa de Frente, Chapa de Costas, Meia Lua e Cutilada de Mão.

A Música A Capoeira é a única

modalidade de luta marcial que se faz acompanhada

por instrumentos musicais. Isso deve-se basicamente às suas origens entre os es-cravos, que dessa forma disfarçavam a prática da lu-ta numa espécie de dança, enganando os senhores de engenho e os capitães-do-mato. No início esse acom-panhamento era feito ape-nas com palmas e toques de tambores. Posteriormente foi introduzido o Berimbau, instrumento composto de uma haste tensionada por um arame, tendo por caixa de ressonância uma cabaça cortada. O som é obtido per-cutindo-se uma haste no a-rame; pode-se variar o som abafando-se o som da caba-ça e (ou) encostando uma moeda de cobre no arame; complementa o instrumento o caxixi, uma cestinha de vime com sementes secas no seu interior.

O Berimbau, um ins-trumento usado inicialmente por vendedores ambulantes para atrair fregueses, tornou-se instrumento símbolo da Capoeira, conduzindo o jo-go com o seu timbre peculi-ar. Os ritmos são em com-passo binário e os anda-mentos - lento, moderado e rápido são indicados pelos toques do Berimbau. Entre os mais conhecidos estão o São Bento Grande, o São Bento Pequeno (mais rápi-do), Angola, Santa Maria, o toque de Cavalaria (que ser-via para avisar a chegada da polícia), o Amazonas e o Iu-na.

Numa roda de ango-

leiros o conjunto rítmico completo é composto por: três berimbaus (um grave - Gunga; um médio e um agu-do - Viola); dois pandeiros;

um reco-reco; um agogô e um atabaque. A parte musi-cal tem ainda ladainhas que são cantadas e repetidas em coro por todos na roda. Um bom capoeirista tem obriga-ção de saber tocar e cantar os temas da Capoeira.

O Jogo "Capoeira é um diálo-

go de corpos, eu venço quando o meu parceiro não tem mais respostas para as minhas perguntas" - Mestre Moraes.

O jogo da Capoeira na

forma amistosa, ou seja, na roda é verdadeiramente um diálogo de corpos. Dois ca-poeiristas se benzem ao pé do Berimbau e iniciam um lento balé de perguntas e respostas corporais, até que um terceiro 'compre o jogo' e assim desenvolve-se su-cessivamente até que todos entrem na roda.

A Malícia Elemento básico da

Capoeira Angola, a malícia ou mandinga a torna ainda mais perigosa. Essa malan-dragem que faz que vai e não vai, retira-se e volta ra-pidamente; essa ginga de corpo que engana o adver-sário, faz o diferencial da Capoeira em relação às ou-tras artes marciais. Essa é uma característica que não se aprende apenas treinan-do.

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Mestres

Vicente Ferreira Pasti-

nha (1889-1982) - Mestre Pastinha, "mestre da Capo-eira de Angola e da cordiali-dade baiana, ser de alta civi-lização, homem do povo com toda a sua picardia, é um dos seus ilustres, um de seus obás, de seus chefes. É o primeiro em sua arte; senhor da agilidade e da co-ragem..." Jorge Amado. Bai-ano de Salvador, do Pelouri-nho, Pastinha foi o grande mestre da Capoeira Angola, aperfeiçoando a arte cente-nária dos escravos. Ele or-ganizou uma escola, estabe-leceu um método de ensino com base nas antigas tradi-ções e ainda escreveu o pri-meiro livro do gênero, onde expõe a sua concepção filo-sófica. Foi com o Mestre Pastinha que foram instituí-das as cores amarelo e pre-to para o uniforme dos an-goleiros e a constituição da bateria composta por três berimbaus, dois pandeiros, um atabaque, um reco-reco e um agogô. "Capoeira é tu-do o que a boca come", dizi-a ele na sua singular filoso-fia. Formou capoeiristas co-mo João Grande, João Pe-queno, Curió e tantos ou-tros.

Antônio Carlos Mora-

es - Mestre Caiçara. Uma das lendas da Capoeira; sua história mais parece tirada

de livros de ficção. Numa época em que o Pelourinho não tinha o glamour de hoje.

Mestre Caiçara ditava

as regras num território de prostitutas e cafetões; de traficantes e malandros. To-dos tinham que pedir a sua benção. Gravou um dos principais discos da Capoei-ra Angola onde exemplifica os diversos toques de be-rimbau, além de cantar lada-inhas e sambas de roda. Fa-leceu em agosto de 1997.

João Pereira dos San-

tos - Mestre João Pequeno. Aluno do Mestre Pastinha e um dos mais antigos e im-portantes mestres da Capo-eira Angola em atividade. Pela academia do Mestre João Pequeno, no Centro Histórico de Salvador, pas-saram alguns dos principais angoleiros da nova geração. É possível vê-lo quase to-das as noites jogando e en-sinando a tradicional arte da Capoeira. Academia de Ca-poeira Angola de Mestre Jo-ão Pequeno Centro de Cul-tura Popular Forte de Santo Antônio - Santo Antônio a-lém do Carmo Salvador – Bahia.

João Oliveira dos

Santos - Mestre João Gran-de. Phd Honoris Causa. Um dos principais discípulos do mestre Pastinha. Por mais de 40 anos o Mestre João Grande tem praticado e en-sinado Capoeira Angola. Ele

viajou para África, Europa e América do Norte, onde en-sina atualmente, em sua a-cademia na cidade de New York.

De lá ele continua

mantendo o intercâmbio com a Bahia e acompanhan-do a movimentação da As-sociação Brasileira de Ca-poeira Angola.

Fonte : http://www.abrasoffa.org.br/folclore/danfesfol/

capoeira.htm

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Àwon Odù – Os Signos de Ifá

Nos dias de hoje, muita confusão ainda existe em relação aos Odús. Para

melhor esclarecimento dos leitores, a Falando de Axé cria esta coluna mensal – À-

won Odù, e em cada mês apresentará um resumo sobre cada um dos 256 Odù, para que assim, nossos leitores possam aprender mais sobre esses sagrados sig-

nos universais.

Mas o que é Odù???

Odús não são Orixás, embora sejam considerados divindades por alguns, mas não são assentados e nem cultuados, como muitos pensam e fazem. Odús

são signos oráculares e também ―Capítulos‖ do Corpus Oral de Ifá, detentores de todos os segredos da Cultura e Religiosidade Iorubá – Nigeriana.

É baseando-se nos Odús, que os Iorubás (povos nigerianos) seguem sua vi-

da, cultura, sociedade, moral e religião e é sobre esses Odús, que mensalmente iremos falar.

Èjì ogbè/Ogbè méjì/Ogbè

wèyìn/Èjì onílè

O Odù da Vida

Èjì ogbè é o primeiro (1º) Odù na ordem de Ifá, fala no Mérìndínlógún Ifá

(Jogo de Búzios) com oito (8) búzios a-bertos e oito (8) búzios fechados. É um

odù de natureza masculina, ligado ao e-

lemento ar e regente do Leste.

Èjì ogbè (Èjì onílè) é o respeitável pai e também chefe de todos os Odù Àg-

bà (Odús antigos, primários). Rege o Sol, a Luz, a Vida, o Oriente. Representa

o principio masculino no Universo (Òrun)

e na Terra (Àiyé).

Rege a vida dos seres humanos, animais e vegetais. A conservação do

Planeta, a renovação e a evolução do mesmo.

Èjì onílè fala sobre o fluxo dos rios,

o fluxo das chuvas, sobre o Mar, as Montanhas e a terra firme.

Rege o dia, as horas diurnas e a

abóbada celeste.

Rege também a cabeça dos seres

humanos e animais.

Governa o Erín (Elefante), o Ajá (Cachorro), o Lékeléke (Garça Vaquei-

ra), o Eyelé (Pombo doméstico), o Igún (Abutre) e o Ìgbín (Caramujo).

Estão também sobre a regência

deste Odù os brancos, albinos e sararás.

Odù que rege o chumbo, o esta-nho, a prata e todos os metais brancos.

Também o efun (argila branca), o mar-fim, o diamante e todas as pedras bran-

cas.

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- Àwon Òrìsà que falam neste Odù = Obàtálá, Òrúnmìlà, Èlà, Orí, Odùdúwà,

Òsàlúfón, Òsàgiyán (Akínjolé), Olóòkè.

- Suas cores = Rege o branco, mas por sua qualidade de pai e chefe de todos os

Odús, rege também todas as outras cores.

- Suas folhas = As principais folhas regi-das por Èjì ogbè são o Òdúndún

(Kalanchoe brasiliensis = Folha da costa, saião, folha grossa, paratudo, erva gros-

sa), Tètè (Amarunthus viridis = Caruru, bredo, caruru de mancha, caruru de por-

co, caruru de soldado) e Ìronje.

- Corpo Humano = Rege a cabeça, o ma-xilar inferior, a coluna vertebral, os ossos (sustentáculo do corpo), os vasos sanguí-

neos (excluindo o sangue) e a respiração.

- Os filhos deste Odù = As pessoas nas-cidas sob a regência deste odù (signo)

são pessoas valentes, decididas, trabalha-doras, sábias e intelectuais. São de pouca

conversa, porém são curiosos e gostam muito de viajar. Seu principal defeito é a

teimosia e o hábito de muitas vezes não cumprir determinações.

- Èwò’s (interditos) deste Odù = As

pessoas deste odù (signo) não podem co-mer àkàsà (èko enrolado em folha de ba-naneira), carne de àkùko (galo), não po-

dem matar ratos, não podem usar roupas pretas, vermelhas e escuras, não podem

beber èmu (vinho de palma) e viverem embriagadas.

- Odù em Ire – Positivo

*Pessoal = Fala de uma pessoa inteligen-

te, sábia, intuitiva, espiritualizada e ho-nesta.

*Saúde = Saúde boa, vida longa e cura de doenças.

*Financeiro = Caminhos abertos, vitórias e conquistas no ambiente profissional, a-

cúmulo de fortunas. Profissões ideais, sa-cerdote, padre, professor, militar. Profis-sões em que exerça chefia.

*Amoroso = União ou futura união espi-rituosa.

*Família = Pessoa que é a base da famí-

lia, que conduz a família, deve cuidar da família sempre, direcionar os familiares.

Os familiares dependem da pessoa. *Religiosidade = Pessoa espiritualizada,

com grande caminho sacerdotal, deve cul-tuar Orí e escutar a intuição. Possui gran-

de proteção espiritual e é muito evoluída espiritualmente. Deve vestir-se de branco

sempre e cultuar Obàtálá. *Inimigos = Vitórias sobre os inimigos

com a ajuda de amigos e Obàtálá. O bom caráter deve imperar sempre. Não deve

subestimar os inimigos.

- Odù em Ibi – Negativo

*Pessoal = Pessoa estúpida, teimosa, ir-racional, confusa, agressiva. E que deve evitar vícios como bebidas, drogas e jo-

gos. *Saúde = Mostra problemas na área neu-

rológica – Cabeça (interna e externa). Loucura, esquizofrenia, dores de cabeça.

Cuidar da arcaria dentária inferior, proble-mas de ossos (osteoporose), coluna vérte-

bra e fraturas. Problemas respiratórios. *Financeiro = Problemas financeiros,

pessoas que perdem dinheiro com vícios e jogos. Ações impensadas dentro do ambi-

ente de trabalho que podem gerar confu-sões, demissão do trabalho.

*Amoroso = Relacionamento terminado por motivos de ciúmes, possessão, agres-são. Aventura extra-conjugal que terá um

final desastroso. Adultério. *Família = Mostra problemas em casa,

problemas com pai, doenças em casa. *Religiosidade = Pessoa desequilibrada

mentalmente, por necessidade de dar Eborí. Pessoa com problemas de saúde,

por necessidade de cultuar Obàtálá. Pes-soa fanática, que mesmo tendo uma forte

religiosidade, está padecendo por fanatis-mo. Se a pessoa for de Obàtálá, deve evi-

tar usar roupas pretas, vermelhas, beber até se embriagar, sujar-se de carvão e a-

zeite de dendê. *Inimigos = Inimigos poderosos que po-

dem vencer por teimosia e irracionalidade da pessoa.

Por Hérick Lechinski (Ejòtolà T’Òsùmàrè)

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Exu E a ordem do

Universo Dr. Profº Síkírù Sàlámì (Bàbálóòrìsà King) Drª Ìyákèmi Ribeiro

Livro do Mês Após um longo tempo de espera, cerca de

duas décadas, Dr. Síkírù Sàlámì (King) e a Drª Ìyákèmi Ribeiro entregam ao público leitor, para serem compartilhados, alguns conhecimentos sobre o Orixá Exú, a Primeira Estrela a ser Criada. O livro trata sobre a Divindade Exú e não sobre os Exús, espíritos cultuados na Umbanda.

Falam, sim, da Divindade primordial, a

partir de conhecimentos preservados no âmbito da tradição oral ioruba, mais precisamente, no corpus literário de Ifá: em odus, orikís, cantigas, rezas, saudações e evocações.

A coleta de informações junto a Babalaôs

nigerianos e outras fontes fidedignas, demandou muitas viagens ao território ioruba, viagens essas realizadas pelo autor principal desta obra, Síkírù Sàlámì (King), doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo, fundador e líder espiritual do Oduduwa Templo dos Orixás, espaço de ensinamentos e práticas da Religião Tradicional Iorubá, em Monagaguá-SP, Brasil.

1º livro brasileiro, que fala desta Majestosa

Divindade, com coerência e através de fontes fidedignas, verdadeiras, livro completo e que o leitor pode confiar...

Adquira você também o seu e uma Ótima

Leitura...

Altera a Lei no 9.394, de 20

de dezembro de 1996,

modificada pela Lei . 10.639,

de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e

bases da educação nacional,

para incluir no currículo

oficial da rede de ensino a

obrigatoriedade da temática

“História e Cultura Afro-

Brasileira e Indígena”.

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A Revista Falando de Axé está fazendo uma promo-ção de divulgação, faça suas divulgações na Revista, nos próximos meses: Outubro, Novembro e Dezem-bro, GRATUITAMENTE!!! É só entrar em contato conosco, mandando sua di-vulgação pelo e-mail: [email protected] Ou nos contatando pelos telefones: 41 8469-1985 (OI) – 41 9805-9770(TIM), Hérick Lechinski.

Aguardamos seu contato...

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