infra estrutura 2: criando e conectando redes locais de informática

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Pesquisa FAPESP - Suplemento Ed. 64

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ESPECIAL

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INFRA-ESTRUTURA 2

Um salto com rede Quilómetros de cabos ligam pesquisadores paulistas entre si e à ciência mundial

Desde 1995, o Programa de Infra-Estrutura da FAPESP já liberou cerca de R$ SOO mi­lhões para dar suporte material à pesquisa em São Paulo. Desse total, aproximada­mente R$ 65 milhões destinaram-se à im­

plantação de redes de informática nas universidades e institutos de pesquisa do Estado de São Paulo. Redes que interligaram, entre si e com o mundo, laboratórios, ins­titutos e faculdades, campus universitários, como uma malha subterrânea de fios, fibras e cabos se estendendo pelo território paulista, agilizando o processamento e a troca de informações e beneficiando diretamente pro­fessores, pesquisadores, estudantes e funcionários das universidades e institutos.

O professor Carlos Henrique de Brito Cruz, presi­dente da FAPESP e diretor do Instituto de Física Gleb Wataghin, da Universidade Estadual de Campinas (Uni­camp ), costuma utilizar a analogia com a invenção da imprensa por Johannes Guttenberg, na Alemanha, em 1450, para estabelecer o lugar da informática no mundo contemporâneo. "A modificação que as novas tecnolo­gias de informação produzem tem paralelo com aquilo

PESQUISA FAPESP

que aconteceu a partir da invenção da imprensa. As tec­nologias de informação produzem aumento de eficiên­cia e produtividade. Elas são vitais para aumentar a co­municação. E mais comunicação é essencial para a produção científica."

Foi com esse entendimento, e percebendo a existên­cia de gargalos importantes na área de tecnologia de in­formação das instituições de pesquisa paulista, que a FAPESP estabeleceu, já na segunda fase do Programa de Infra-Estrutura, o módulo redes locais de informática, para investir diretamente na criação de redes de alta efi­ciência dentro das universidades e institutos. No total, foram beneficiados 650 projetos (ver tabelas), implanta­dos muitos quilômetros de cabos, instalados milhares de pontos para ligações de terminais de computadores. Este suplemento, o segundo de uma série sobre o Pro­grama de Infra-Estrutura publicado pela revista Pes­quisa FAPESP, vai contar um pouco da história das transformações provocadas nas instituições de pesqui­sa por essa malha invisível: as redes de informática. As reportagens são de Maria Aparecida Medeiros e a edi­ção de Mário Leite Fernandes.

Tráfego de informação

O impacto da implantação das redes de informática na produção científica paulista pode ser intuído de for­ma clara. Entretanto, não é um impacto concretamente mensurável. Pelo menos não em todas as áreas. "Concei­tualmente, o mundo inteiro reconhece que a maior ca­pacidade de transmitir e receber dados aumenta a capa­cidade de produzir ciência", afirma Carlos Henrique de Brito Cruz. Segundo ele, medições de impacto, entretan­to, só seriam possíveis em áreas do conhecimento nas quais o computador é um instrumento para simulações e cálculos, ou, ainda, em projetas que envolvem gran­des redes de pesquisadores, como os dos programas Ge­noma e Biota. "Nos outros projetas, menores mas não menos importantes para a FAPESP, ainda não se tem noção do peso do acesso ao fluxo internacional de dados nos seus resultados, mas deve ser muito grande."

O pró-reitor de pesquisa da Universidade de São Pau­lo (USP), Hernan Chaimovich, ressalta a importância das redes na integração da universidade ao mundo globali­zado. "Se eu pudesse resumir numa frase a responsabili­dade da FAPESP nas mudanças tecnológicas na área de informática experimentadas nos últimos anos pela uni-

A DEMANDA POR RECURSOS (Situação em 31.03.01)

PROJETOS INFRA 2 INFRA 3 INFRA 4 TOTAL

Recebidos 716 278 315 1.309

Denegados 468 89 99 576

247 189 214 650

Cancelados 2 3

(Situação em 31.03.01)

FASES DO PROGRAMA PROJETOS APROVADOS

N' VALOR

lnfra 2 247 26.626.962,61

lnfra 3 189 15.271.502 ,67

lnfra 4 214 22.985.057,79

Total 650 64.883 .523,07

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versidade, eu diria o seguinte: a USP, com seus recursos próprios orçamentários, não teria sido capaz de acom­panhar essas mudanças. Os investimentos da FAPESP permitiram que a universidade se adequasse às mudan­ças tecnológicas globais': declara. Não é pouca coisa. Só em um de seus institutos, o Instituto de Química, a USP tem mais de 900 computadores. A nova estrutura chega tam­bém ao interior. Em São José do Rio Preto, a Universida­de Estadual Paulista (Unesp) tem um supercomputador semelhante ao Deep Blue, a máquina que enfrentou o campeão mundial de xadrez Garry Kasparov, comprado num programa que envolve, além do apoio da FAPESP, parcerias com a empresa IBM.

O início do Programa de Infra-Estrutura da FAPESP, em meados da década de 90, coincidiu com a expansão da Internet, que ajudou a transformar o computador, além de instrumento de comunicação, também em ins­trumento de informação. Foi mais do que substituir o correio comum e o telex pelo correio eletrônico. "Foi um fenômeno que mudou totalmente a postura do pes­quisador perante a informação': comenta Chaimovich. "Agora, a informação é em tempo real. Isso vai desde a comunicação entre pessoas até a busca de informações numa fonte global, que é a rede", acrescenta.Brito Cruz aponta um fenômeno. "O contato eletrônico permite o acesso às revistas científicas no mesmo dia em que elas saem. Antes, era necessário esperar de dois a três meses para receber a revista."

O ponto de partida A implantação das redes locais, ou redes corpo­

rativas, unindo entre si laboratórios e faculdades das universidades públicas paulistas e dos institutos de pesquisa teve início a partir de 1996. Mas essas redes locais estão todas conectadas à ANSP - Aca­demic Network at São Paulo, rede criada e geren­ciada pela FAPESP, que liga as redes de computa­dores acadêmicas e dos institutos e centros de pesquisa de São Paulo entre si e com o Brasil e o Ex­terior. É a ANSP a via de conexão à Internet de to­das as instituições vinculadas ao Sistema de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo.

A Rede ANSP começou a ser desenhada em 1987 e foi inaugurada em agosto de 1988. A ANSP foi a primeira rede brasileira a integrar-se à Inter­net, em 1991. Com essa conexão, ela estabeleceu um acesso internacional não só para os centros de pesquisa paulista como, também, para instituições conectadas à Rede Nacional de Pesquisa, criada em 1989 pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico ( CNPq) para interligar as redes acadêmicas estaduais.

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Distância percorrida - É uma longa distância desde o aparecimento dos primeiros computadores nas univer­sidades, ainda na década de 80. Canhestros, lentos e pe­sados em comparação com as máquinas de hoje, esses primeiros computadores eram usados principalmente nas áreas de Física e de Matemática, nas quais sua capa­cidade para fazer cálculos complicados os transformou em valiosas ferramentas. No início da década de 90, sua utilidade também em outros campos ficou patente e eles se espalharam para outras áreas. A quantidade, no entanto, ainda era pequena. O mesmo Instituto de Quí­mica que tem hoje centenas de micras tinha pratica­mente apenas um por andar. A utilização também era restrita. Para alguns, o computador era apenas um ins­trumento de produção de textos, um substituto da má­quina de escrever.

"Uma transição mais dramática aconteceu quando,

aos pesquisadores paulistas e que permite o acesso on line a textos integrais de publicações científicas de grandes editoras internacionais, e do Programa Biblioteca Eletrô­nica (ProBE), que disponibiliza cerca de mil publicações científicas internacionais. É a inserção do pesquisador em uma rede mundial de conhecimento.

Mudando a ciência - A instalação e a expansão das redes também deram lugar aos grandes projetas de cunho co­operativo, envolvendo pesquisadores de vários locais e de várias disciplinas, como os programas Genoma-FA­PESP e Biota. "O Programa Genoma é todo baseado na rede virtual': comenta Imre Simon, professor do Depar­tamento de Ciências de Computação do Instituto de Matemática e Estatística da USP e presidente da comis­são central de informática da universidade de 1994 a 1998. "Sem essa rede, não haveria a menor chance de se

fazer esse seqüenciamen­to cooperativo': afirma.

além de ferramenta de texto ou de cálculo, o computador foi entendi­do como ferramenta de informação", diz Chai­movich. "Houve uma evolução fantástica na rede", declara o pró-reitor da USP. "A quantidade de informação disponível mudou, a maneira como se acessa essa informação também mudou': prosse­gue. "A USP, graças em parte aos investimentos da FAPESP, focalmente em infra-estrutura de in­formática e generalizada­mente em pesquisa, se ade­quou a essa mudança tecnológica': acrescenta.

INVESTIMENTO POR INSTITUIÇÃO

Para Simon, "o mun­do caminha para uma re­alidade em que todas as ciências dependem, de maneira fundamental, de técnicas da computação':

Para Chaimovich, po­rém, isso foi apenas uma parte do quadro. "A outra parte, também de respon­sabilidade da FAPESP, foi colocar em operação al­guns tipos distintos de procura bibliográfica por intermédio da rede, per­mitindo uma mudança na forma como se procura uma informação científi­ca", assinala. É o caso, por exemplo, do Web of Scien­ce, uma base de dados do Institute for Scientific In­formation, disponibilizado

PESQUISA FAPESP

INSTITUIÇÃO N• PROJETOS CONTRATADOS

USP 222

UNICAMP 137

UNESP 127

OUTRAS INST. ESTADO 56

INST. FEDERAIS 84 5.378.374,99

INST. PARTICULARES 2 2.485.696,59

INST. MUNICIPAIS 2

650 64.883.523,07

INVESTIMENTO POR AREA DE ATIVIDADE

ÁREA N• PROJETOS CONTRATADOS VALOR (R$)

Agrárias 60

Arquitetura 3 -- -------~--------

5

Biologia 59

Economia 8

Engenharia 130

Física 55

Geociências 20

Humanas e Sociais 64

Interdisciplinar 24 8.876.963,95 -----------------Matemática 51 7.953.561,53

Química 27 2.213.242,95

Saúde 144

650

A computação, ele diz, transformou-se em insu­mo essencial de qualquer ciência e está mudando a ciência de maneira glo­bal. "Estão sendo produ­zidas quantidades enor­mes de dados. Mastigar, digerir e transformar es­ses dados em informação, em conhecimento, só é possível por meio de computadores."

As grandes redes para programas específicos, co­mo o Genoma-FAPESP e o Biota, além das que en­volvem, simultaneamente, cientistas de vários países, recebem muita atenção da mídia e, às vezes, ofus­cam outros aspectos da questão. Mas o efeito da instalação das redes pode ser percebido em todas as áreas de pesquisa, como a Medicina, e atinge até o próprio ensino, abrindo novas perspectivas para a educação à distância.

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administrador Sidney Pio de Campos ainda lembra dos velhos tempos. "Não conse­guíamos atender todos

os usuários com problemas de cone­xão", diz o responsável pela rede de informática do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW), da Univer­sidade Estadual de Campinas (Uni­camp). O sistema do instituto de Campinas não era apenas lento. Era precário e pouco confiável.

A antiga estrutura de rede, por exemplo, não tinha um painel de controle no qual era possível locali­zar onde estava a origem de um pro­blema. "Era necessário percorrer todo o instituto, prédio por prédio, até achar o ponto com problemas e corrigi-los': afirma. Na maioria das vezes o problema era um cabo solto.

A solução começou a surgir em 1995, quando o instituto recebeu as primeiras verbas da FAPESP para mo­dernizar sua rede de informática. To­da a estrutura foi substituída por um sistema mais moderno, com base em fibras ópticas. Hoje, um backbone de fibra óptica liga os 14 prédios do Instituto de Física da Unicamp. O sistema tem mais de 700 pontos de rede, mas isso não assusta os respon­sáveis. A capacidade total é para mais de 1.200 pontos.

Tornou-se possível um enorme aumento na velocidade da transmissão de dados. Quando a Internet apare­ceu, na década de 80, a velocidade má­xima de transmissão era de 56 quilo­bits por segundo. No início da década de 90, já tinha saltado para 45 mega­bits por segundo. Hoje, as boas redes permitem velocidades de entre 100 e 155 megabits por segundo. A linha

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Cada um recebe um pedaço do problema

Computação paralela substitui supercomputador

que liga a FAPESP à USP já trabalha com uma velocidade de 1 gigabits por segundo. E, segundo os técnicos, não está longe o dia em que as redes locais chegarão a essa mesma velocidade.

Publicações científicas - Para o dire­tor do instituto e presidente da FA­PESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, ainda é cedo para avaliar o real im­pacto de redes como essa nas pes­quisas científicas. "Os resultados só vão aparecer daqui a dez anos, quan­do for examinada a evolução no ín­dice de publicações científicas e de teses publicadas': afirma. "Hoje, ain­da não é possível notar essa evolução. Mas podemos afirmar com certeza que facilitar o fluxo de informações sem­pre aumenta a velocidade e a qualida­de da produção de conhecimento:'

Pinheiro de Lima: infra-estrutura essencial

Marco Aurélio Pinheiro de Lima, do Departamento de Física Quânti­ca, apóia. "Hoje em dia, o sistema computacional de um instituto de­termina sua capacidade criativa", declara. "Se a infra-estrutura é ruim, já se sabe que as pesquisas não vão muito longe. Os problemas são mui­to sofisticados e demandam uma com­putação de alto desempenho."

A rede tornou as conexões mais estáveis e o transporte de dados mais rápido, com velocidade de até 100 me­gabits por segundo. Os problemas da Física, hoje, por exemplo, envolvem cálculos complexos e a transferência de uma grande massa de dados. Com uma boa conexão, um pesquisador pode usar vários computadores ao mesmo tempo. O efeito é o mesmo do uso de um supercomputador.

z Esse recurso, conhecido ~ como computação parale-

la, é muito usado pelos físi-" ~ cos da Unicamp. Um único

problema é dividido em diversas partes e então cada parte vai para uma CPU. Quando os cálculos estão concluídos, os dados voltam a ser reunidos numa única máquina, que controla toda a operação até que se chegue ao resul­tado final.

A computação paralela, tornada possível por uma rede de alta qualidade, tem muitas vantagens. Em pri­meiro lugar, poupa ao ins­tituto pesados investimen­tos em máquinas mais sofisticadas. Em segundo, pode ser usada a partir de qualquer ponto da rede.

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"Aqui, é comum um pesquisador pe­dir licença para usar máquinas de outros usuários, quando eles têm ca­pacidade ociosa", diz o professor Pi­nheiro de Lima. "Quando um pes­quisador recebe uma máquina, ela é automaticamente ligada à rede. Se o pesquisador não a usa integralmen­te, está apto a dividi -la com quem precisa. Por isso, nossos equipamen­tos são usados em 95% do tempo, inclusive nos fins de semana:'

Pesquisa internacional - A rede trouxe outras mudanças para o dia-a-dia do instituto. O correio eletrônico passou a ser, de lon­ge, o método de comunicação mais usado, tanto nos cantatas internos como nos externos. "Se você precisa de uma resposta rá­pida, é mais garantido mandar uma mensagem pela rede do que usar o telefone", comenta o presidente da comissão de in­formática do instituto e profes­sor do Departamento de Raios Cósmicos do IFGW, José Au­gusto Chinellato.

Para o professor Chinellato, a rede tornou possível, também, a participação numa importan­te pesquisa internacional, o pro­

ao universo. Trata-se de um projeto que envolve tanta tecnologia e tanto dinheiro que tornou necessária uma cooperação internacional. Só a con­tribuição do Brasil deve chegar a US$ 3,5 milhões, parte desse mon­tante investido pela FAPESP.

''A participação em projetas como o Auger seria completamente inviá­vel sem um meio rápido de trans­missão de dados", comenta o profes­sor Chinellato. ''A entrada do IFGW só foi possível porque o instituto es-

percomputador Cray do centro do Cenapad, no Rio Grande do Sul.

O uso do equipamento à distân­cia, porém, dificultava o trabalho. ''A situação era crítica, pois muitas pes­soas usavam o supercomputador", ele lembra. Com a capacidade de processamento paralelo da rede, Gaivão passou a fazer seus cálculos no próprio instituto. "Isso facilitou bastante nossa pesquisa", declara.

Os casos do Instituto de Física de Campinas não são isolados. As pes-

jeto Auger. Nesse projeto, com o apoio da FAPESP, pesquisado­

Instalação do projeto Auger, na Argentina: cientistas de mais de 20 países

res da Unicamp participam com cientistas de mais de 20 países da operação e análise dos dados re­colhidos pelo observatório de raios cósmicos Pierre Auger, construído na região semidesértica de Pampa Amarilla, no sul da província de Mendoza, na Argentina.

Sem uma rede como a existente na Unicamp, ligada à rede ANSP e à Internet, esses cientistas nem pode­riam sonhar em participar do proje­to. Seu objetivo é detectar, examinar e interpretar raras partículas de alta energia que penetram na atmosfera, vindas do espaço. A esperança dos cientistas é obter mais informações sobre o big-bang, a grande explosão que, segundo uma das teorias mais aceitas da Física, teria dado origem

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tá tecnologicamente à altura do proje­to." Chinellato conta que se mantém em cantata constante com pesquisa­dores dos Estados Unidos, Rússia, China, Argentina, Grécia e outros países, discutindo e trocando infor­mações. Os dados recolhidos pelo observatório são enviados diariamen­te para um banco situado na Itália.

Ele não foi o único beneficiado. Parte do trabalho do pesquisador Douglas Gaivão, da área de Biofísica do instituto, é discriminar moléculas potencialmente cancerígenas e pro­por drogas mais eficientes para seu controle. A pesquisa exige cálculos só possíveis com computadores de alto desempenho. Antigamente, Gal­vão recorria com freqüência ao su-

quisas, hoje, tendem a ser cada vez mais multidisciplinares e cooperati­vas. Em muitas áreas, ter acesso ou não às novas tecnologias pode signi­ficar para um grupo ter ou não ca­pacidade de produzir ciência.

"Hoje há uma nítida separação entre os países que têm acesso à tecnologia da informação e os que não têm", comenta o professor Bri­to Cruz. "Por isso, o grande mérito dos programas de infra-estrutura da FAPESP foi o de colocar as uni­versidades paulistas do lado dos que têm acesso à essa tecnologia." Mas ele mesmo adverte: "Não po­demos achar que está tudo pronto. A evolução dessa tecnologia é mui­to rápida".

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De um extremo a outro do Estado

Rede da Unesp liga 25 unidades de ensino

Existe no Brasil ilecl\ 1j ~ 4.7 a.a 9:e: uma parceria com a IBM,

representa bem uma das características mais mar­cantes da Universidade Es­tadual Paulista (Unesp). Ela está espalhada por todo o Estado. Das 25 unidades de ensino da Unesp, espalhadas por 14 cidades, a mais próxima da capital, onde está ins­talada a reitoria, fica em São José dos Campos, a 97 km de distância. Para chegar à mais distante,

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um supercom­putador IBM SP-2, muito se­melhante ao

Deep Blue, a máquina

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maravilhosa que dispu­tou - e venceu - uma sé­rie de partidas contra o campeão mundial de xa­drez Garry Kasparov. Ele está situado em São José do Rio Preto, no norte do Estado de São Paulo, 460 km ao norte da capital do

Cansian: correio eletrônico substitui viagens Estado. É usado principal- em Ilha Solteira, na fron­

teira com Mato Grosso mente por pesquisadores de outras cidades. Professores de Ja­boticabal usam o SP-2 para trabalhos ligados ao Programa Genoma. Pesqui­sadores de Ilha Solteira fazem nele

cálculos ligados a projetos de insta­lação e desenvolvimento de fábricas.

O SP-2, comprado em 1995 com um financiamento da FAPESP e

Uma fábrica sem operários

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No Núcleo de Manufatura Avan­çada (Numa) da Escola de Enge­nharia da Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos, a rede de infor­mática está sendo usada para algo mais do que as trocas de mensa­gens e consultas a bibliotecas a dis­tância. Num projeto do qual parti­cipa também a Unesp de São José do Rio Preto, pesquisadores estão comu­nicando-se com máquinas. No futu­ro, a técnica poderá ser empregada em fábricas sem operários, nas quais má­quinas e robôs seriam comandados a distância, por meio da Internet.

O palco da experiência é a Fá­brica Integrada Modelo (FIM), na qual, por meio de um computador conectado à rede e um software pro-

jetado por técnicos do Numa, o funcionamento das máquinas do setor de usinagem de uma fábrica é acompanhado pela Internet. O soft­ware mostra, com recursos de ani­mação, se a máquina está funcionan­do ou se está trabalhando em sua plena capacidade ou subutilizada.

"Trata-se de um recurso impor­tante", explica o engenheiro João Fernando Gomes de Oliveira, pro­fessor da Escola de Engenharia e um dos responsáveis pelo projeto. "Muitas vezes, o supervisor da fá­brica só vai saber que uma máquina está trabalhando abaixo da capacida­de quando percebe que a encomen­da feita por um cliente está com uma semana de atraso", acrescenta.

do Sul, percorrem-se 670 km. Para ir de uma faculdade a outra, é necessá­rio, muitas vezes, cobrir enormes distâncias.

O software também dá infor­mações sobre o funcionamento da máquina que podem evitar uma parada de produção. Ele é progra­mado para disparar um alarme sempre que houver perigo. "Se a temperatura subir muito, por exemplo, o supervisor tomará lo­go conhecimento do problema e poderá tomar uma providência antes que o equipamento se que­bre", diz Oliveira.

Os pesquisadores de São Carlos trabalham para o futuro. Na práti­ca, os especialistas concordam, ain­da não é possível controlar uma máquina pela Internet, pois a rede não permite a realização de opera­ções em tempo real. Um padrão de transmissão de 100 a 150 megabits por segundo, bom para operações

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O mesmo acontece com a rede, montada com a ajuda do Programa de Infra-Estrutura da FAPESP, que hoje liga todas es­sas instalações. ''A rede aproxi­mou os pesquisadores, não só dentro da Unesp, mas também com os de fora da instituição", diz o chefe da assessoria de in­formática da universidade, Adriano Mauro Cansian. Ele mesmo é um exemplo disso. Morando em São José do Rio Preto, onde pesquisa e dá aulas na Faculdade de Informática, e passando vários dias por sema­na em São Paulo, onde fica a sede da assessoria, precisava su­bir num automóvel e rodar 300

SP-2: parente do Deep 8/ue em Rio Preto

de dados do Programa Genoma fica numa instalação da Unesp, o Laboratório de Biologia Mole­cular da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jabo­ticabal. A instalação da rede trouxe enormes vantagens na área administrativa, com a eli­minação de despesas em cor­reio, telefonemas urbanos e mui­tas, muitas viagens. Mas quem mais ganhou foram os pesquisa­dores. "Boa parte das pesquisas bibliográficas é feita· pela rede, sem que o pesquisador precise sair de sua sala", diz Cansian. "Antes, era preciso esperar de 30 a 60 dias para receber uma cópia de um artigo publicado numa

ou 400 km quando precisava con­versar, por exemplo, com um pes­quisador em Bauru ou Rio Claro. O correio comum era muito lento.

normais, é insuficiente para opera­ções mais sofisticadas.

Numa rede interna, em condições ideais, o intervalo entre apertar o botão do mouse e a execução de uma tarefa programada vai de dois a três segundos. Numa rede como a Internet, com seus gargalos de transmissão, ele pode ser dez vezes maior. "Com a atual capacidade de transmissão das redes, operar uma máquina industrial distância ainda é inviável", informa Oliveira.

Ele prossegue: "Esses equipamen­tos geralmente exigem grande pre­cisão de movimentos, o que ainda não se consegue numa rede. Para

PESQUISA FAPESP

"Na melhor das hipóteses, por Se­dex, os dados chegavam em três ou quatro dias", lembra.

Eliminação de despesas - Hoje, um sistema confiável de correio eletrônico permite que as informações sejam transferidas rapida­mente. Tanto que o

de estocagem

revista internacional." Para chegar a isso, porém, foram

necessários muito trabalho e muitas despesas. O primeiro passo foi a montagem das redes internas, as chamadas LANs (Local Area Net­works). Cada unidade ganhou a sua. Ao todo, foram usados 100 km de fi­bras ópticas e 600 km de cabos de cobre. Para instalar essas linhas, foi preciso cavar, quebrar paredes, ins­talar dutos, cimentar e dar o acaba-

tecnológico': comenta. "Ninguém usinagem é controlada pela Internet

controlar o braço de um robô, por exemplo, a posição vista no monitor do computador está atrasada 20 se­gundos com relação à posição real".

• pode prever quando isso vai acon­tecer, de que tamanho será o próxi­mo salto e quais serão suas conse­qüências, mas que ele virá, virá."

É um problema muito mais complexo do que acionar equipa­mentos como lâmpadas elétricas e cafeteiras a distância, como se vê nas chamadas casas do futuro. "Se uma peça for usinada com apenas alguns décimos de milímetro a mais, não se encaixará bem e todo o lote será perdido", diz o professor.

Para ele, a fábrica governada a distância pode transformar-se em realidade a qualquer momento. "Depende apenas de mais um salto

O Numa é composto por vári­os grupos que desenvolvem solu­ções técnicas para otimizar proces­sos produtivos, reduzir impactos ambientais e promover a coopera­ção entre empresas. Usa a rede das universidades em São Carlos com diversos objetivos, inclusive a inte­gração entre seus participantes. Se­diado na Escola de Engenharia da USP, o núcleo reúne também pes­quisadores da Universidade Fe­deral de São Carlos, Unicamp, Universidade Metodista de Piraci­caba (Unimep) e Universidade de Aachen, na Alemanha.

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menta final. Mas todas as conexões foram feitas com uma tecnologia confiável e capaz de aceitar altas ve­locidades de transmissão.

A etapa seguinte foi a de unir to­das essas redes, num grande sistema chamado unespNET. Foi a forma­ção de uma WAN ( Wide Area Net­work). As linhas de longa distância são contratadas às concessionárias de telecomunicações, mas, para es­tabelecer as ligações com essas li­nhas, foram usados mais de 600 concentradores de rede (hubs) e 30 rateadores. São equipamentos ca­ros. Um único rateador pode custar entre US$ 70 mil e US$ 200 mil. "Dificilmente a Unesp poderia montar uma rede desse porte sem o auxílio financeiro da FAPESP", re­conhece Cansian. A Fundação che­gou a investir na compra de links de rádio, necessários em algumas uni­dades mais distantes. Foram inves­tidos cerca de US$ 12 milhões em infra-estrutura de cabeamento e equipamentos de rede. A participa­ção da FAPESP, por meio dos pro­gramas Infra I e Infra II, superou os US$ 5 milhões.

Cursos a distância - Os números são gigantescos. Mais de 10 mil termi­nais estão ligados hoje à rede, entre eles o supercomputador SP-2, 9 mil

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computadores do tipo PC, 600 esta­ções de trabalho com arquitetura RISC e vários computadores parti­culares, de propriedade de profes­sores, funcionários e alunos. Há mais. De acordo com o pró-reitor de pós-graduação e pesquisa da Unesp, Marcos Macari, a universi­dade pretende ampliar sua infra-es­trutura para teleconferências, de maneira a promover aulas e cursos a distância. No momento, os custos são muito elevados, pois a trans­missão é feita via satélite. No futu­ro, porém, com a evolução da rede, o sistema se tornará mais econômi­co e mais viável.

Já existe infra-estrutura para es­sas transmissões em Bauru, Batuca­tu, Guaratinguetá, Ilha Solteira e São José do Rio Preto. O sistema exige a instalação de salas de aula especiais para as fllmagens e trans­missão de imagens. Mas tem várias vantagens. Um só professor pode dar uma aula para várias cidades si­multaneamente. Por exemplo, uma aula do curso de Veterinária pode ser dada em Jaboticabal e atingir não somente alunos dessa cidade, mas também outros em Botucatu e Araçatuba.

Os alunos, reunidos em auditó­rios com telões, nos quais aparece a figura do professor e o quadro-ne-

gro, têm a possibilidade de fazer perguntas ao vivo. O sistema é espe­cialmente interessante para a Unesp, que enfrenta o problema da falta de professores em várias disci­plinas e em várias cidades.

"O problema afeta principal­mente regiões mais distantes, onde as cidades não têm boa infra-estru­tura para moradia", diz Macari. Em Ilha Solteira, por exemplo, houve muitas dificuldades para preencher o quadro de professores. "Apesar de a faculdade de Engenharia Elétrica estar situada às portas de uma usina hidrelétrica, o que é uma grande vantagem para alunos e professo­res, a cidade não atraía profissionais qualificados", afirma.

Impressão lenta - Para os dirigentes da Unesp, a universidade poderia ter maior participação em pesqui­sas avançadas se conseguisse maior velocidade na transmissão de da­dos. O problema não é da universi­dade, mas do serviço público de te­lefonia, ainda deficiente em vários locais. Um exemplo é dado também em Ilha Solteira, onde, de acordo com Macari, um pesquisador pode levar duas horas para imprimir um artigo de revista, algo que em São Paulo levaria apenas alguns minu­tos. A culpa cabe ao sistema de transmissão de dados, que ainda depende da ligação por microon­das alugada à concessionária de co­municações.

Outros pontos de congestiona­mento, de acordo com o pró-reitor, são Jaboticabal, devido ao grande volume de dados ligado ao Pro­grama Genoma, e Botucatu, que tem o maior contingente de alunos e professores da Unesp, com dois campi e quatro unidades universi­tárias. "Os troncos de fibra óptica, necessários para dar maior veloci­dade à transmissão, ainda estão res­tritos aos grandes centros urbanos, onde a rentabilidade é maior", diz Macari. A solução, assim, depende do próprio desenvolvimento das concessionárias.

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Um pedaço do Univer­so distante pode ser observado e estudado numa sala da Cidade Universitária, em São

Paulo. No Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), professores e estudantes de Astro­química simulam as condições da atmosfera de uma estrela, para pes­quisar estruturas moleculares que só existem em temperaturas excepcio­nalmente altas. Realizar uma expe­riência desse tipo no mundo real se­ria impossível. Hoje, os pesquisadores usam o mundo virtual dos compu­tadores para fazer o que até há pou­co era impossível. E mais. Mantêm­se em contato constante com seus colegas de outras partes do Brasil e do mundo para trocar informações e poupar tempo e trabalho.

"A maioria dos grupos de pesqui­sa do IQ tem vínculos com pesquisa­dores do exterior e depende de uma troca contínua de informações", co­menta o diretor do instituto, Paulo Sérgio Santos. Eles têm à sua dispo­sição um bom número de computa­dores - são cerca de 900, em todo o instituto. Mas isso de pouco valeria se eles não estivessem conectados ao mundo por uma rede confiável e de alta velocidade. "Boa parte dos pro­blemas envolvidos na pesquisa mo­derna em Química e Bioquímica é al­tamente interdisciplinar. Eles requerem especialistas de diversas áreas. Muitas vezes, uma especialidade só é encon­trada fora da instituição e, o que não é raro, em outro país'; acrescenta Santos.

O Instituto de Química é apenas uma parte do que se passa em toda a universidade. Afinal, os investimen­tos da FAPESP na USP, em redes de

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Contato permanente com o resto do mundo

Investimento permitiu o avanço da cooperação internacional

Chaimovich : mais transparência

informática, totalizaram R$ 27 mi­lhões, do total de R$ 65 milhões in­vestidos nesse módulo. "Houve uma mudança de cultura", afirma o pró­reitor de pesquisa da universidade, Hernan Chaimovich. "Hoje, o pesqui­sador está inserido numa rede mun­dial de conhecimento." Além disso, o professor ficou mais transparente. "Tudo o que ele fez e está fazendo passa a constar da rede", destaca.

Nitroglicerina - Com uma boa rede, trabalha-se melhor e com mais segu­rança. Os outros corpos celestes não são o único exemplo do que pode ser simulado nos computadores do Ins­tituto de Química. Hoje, por exemplo,

~ simula-se até a nitrogliceri-0~ _ na nos aparelhos do insti-~ tuto. O trabalho nos labo­:E

ratórios tornou-se mais racional. Grande parte do trabalho preparatório pode ser feita virtualmente, re­duzindo-se o tempo e au­mentando-se a eficiência das aulas práticas.

Outras economias são trazidas pelas reuniões pe­la rede. As despesas e o tem­po gasto relacionados com viagens foram reduzidos drasticamente. "Muitas ve­zes, reúnem-se três, quatro, cinco, seis pessoas ou mes­mo vários grupos para con­versar pela rede", conta o professor Santos. Diversos pesquisadores do IQ parti­cipam de pesquisas que reúnem várias instituições, como o projeto Genoma Câncer. "Isso seria total­mente inviável se não ti-

véssemos uma rede com muita agili­dade na transmissão de dados", acrescenta o professor.

Para o diretor do IQ, ter uma rede com essas condições é um requisito básico, hoje, para qualquer tipo de pes­quisa. "É o cartão de visitas de um instituto", considera. "Ela abre possi­bilidades concretas de interação, que tornam o organismo realmente com­petitivo, especialmente nas áreas de fronteira da pesquisa, onde não exis­tem todos os especialistas necessários no espaço de um só laboratório." San­tos afirma que isso já se reflete, in­clusive, no mercado de trabalho. "Ho­je em dia, é muito difícil contratar um bom especialista se não houver

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Santos: cacife para conferências

uma infra-estrutura de trabalho ade­quada a pesquisas de alto nível."

Os pesquisadores do IQ acredi­tam em novos desenvolvimentos es­perados para o futuro próximo, como a Internet 2, que permitirá velocida­des ainda mais altas nas ligações com o exterior, que trarão novos progres­sos. "Temos de admitir que ainda so­mos muito periféricos e não só do ponto de vista geográfico", afirma Santos. "Não são todos, hoje, os que têm cacife para participar de confe­rências e simpósios científicos." A possibilidade de participar de um sistema de teleconferências, em tempo real, pode melhorar a situa­ção. "Vamos estar mais perto de onde as coisas muito importantes estão acontecendo", declara.

Supercomputador - A rede tornou possível, também, o uso cada vez mais fre­qüente do acesso re­moto a equipamentos não disponíveis a to­dos os laboratórios. É o caso, por Pxt>mplo, dos supercomputadores, máquinas capazes de realizar cálculos enor­mes e complexos. O IQ é responsável por mais de 50% dos acessos fei­tos ao Centro Nacional de Processamento de Al­to Desempenho (Ce­napad) de São Paulo,

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esperando ansiosamente, durante dois ou três me­ses, para ler o material."

Araújo: previsões sempre ultrapassadas

Troca interminável - A im­plantação das novas tecno­logias não foi feita sem al­gumas dificuldades. Um exemplo foi a compra do rateador, equipamento usa­do para controlar o fluxo de dados. O instituto adquiriu nos Estados Unidos um roteador de última geração. Não havia nada semelhan-

de acordo com o último relatório do centro. Esse é um dos cinco labora­tórios de supercomputação criados pelo Ministério de Ciência e Tecno­logia para apoiar atividades de pes­quisa e desenvolvimento.

O acesso ao supercomputador é feito via rede. "Isso comprova que ho­je seria impraticável fazer pesquisa sem uma rede de alta velocidade", afirma Pedro Soares de Araújo, mem­bro da comissão de informática do ins­tituto. Araújo dá muito valor, tam­bém, ao acesso a publicações pela rede. "Quando era um pesquisador iniciante, na década de 60, constituía uma obrigação religiosa ir à bibliote­ca duas vezes por semana, para ler o Current Contents, a publicação cien-­tífica mais importante da época", ele lembra. "Recebíamos primeiro os tí­tulos dos artigos. Depois, ficávamos

RIBEIRÃO PRETO

SÃO CARLOS

BAURU PIRASSUNUNGA

PIRACICABA

te no Brasil. Nem técnicos para configurá-lo. "Fomos obrigados a recorrer ao fornecedor", lembra Araújo. "Foi uma interminável troca de e-mails. Mas conseguimos confi­gurar o equipamento."

Um roteador bem ajustado é algo básico para o bom funcionamento de uma rede como a do instituto. Esse equipamento segmenta o tráfego, para que ele flua mais rapidamente. Numa comparação com o trânsito numa avenida, mantém os veículos que vão virar à esquerda na faixa da esquerda e os que vão para a direita na faixa da direita. Sem ele, os congestio­namentos seriam enormes e compli­cados. Assim, o rateador mantém o tráfego administrativo separado do acadêmico. Há ainda uma via espe­cial para as pesquisas dos alunos.

O uso, hoje, atinge apenas 15% da capacidade do rateador. Mas pro­

vavelmente essa pro­porção não vai manter­se por muito tempo. "O tráfego cresce de se­mana para semana': de­clara Araújo. Ele afir­ma que o instituto faz previsões para seis me­ses. Mas nunca se re­gistrou um semestre sem que as projeções fossem ultrapassadas. "Passamos do nada a uma das maiores redes do Estado de São Pau­lo sem que a maioria percebesse", afirma.

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uando, no fim do ano passado e começo des­te ano, o falecido go­vernador Mário Covas esteve internado no

Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), não eram os médicos vistos entrando e saindo da área onde ele se encontrava os únicos que participavam do seu tratamento. Complexo e envolvendo diversas es­pecialidades médicas, o caso do go­vernador mobilizou médicos até do Sloan-Kettering Cancer Center, de Nova York, nos Estados Unidos. Usando um sistema de videoconfe­rência, médicos do InCor, do Sloan­Kettering e membros da família do paciente discutiram longamente o caso e seus possíveis tratamentos.

Ouvir uma segunda opinião não é novidade e nem significava insegu­rança por parte dos médicos que cui­davam do governador em São Paulo. Trata-se de prática corriqueira, espe­cialmente nos casos mais graves. A novidade, no caso, é que todas as consultas foram feitas sem que o go­vernador precisasse viajar para Nova York ou mesmo sair do seu leito em São Paulo. Conferências como essa são parte da chamada telemedicina, um conjunto de recursos com base na tecnologia da informação que está alterando práticas e usos em vários setores da medicina e que ganha es­paço com o crescimento e aperfei­çoamento das redes de informática. Também não são um privilégio de po­líticos importantes. Desde que alguém arque com os custos, sistemas iguais ao usado por Covas estão à dispo si­ção de qualquer pessoa no InCor.

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Informática abre novos recursos para medicina

Médicos controlam pacientes pela Internet

O~ de seu cadastramento ao - último exame. ~

" ~ Centro de referência - Os

Tachinardi: melhor difusão do conhecimento

números são impressio­nantes. Só no ano de 1999, o InCor atendeu mais de 230 mil pacientes e reali­zou mais de 1,5 milhão de exames, de análises clínicas a diagnósticos por ima­gem. Isso exige uma enor­me capacidade de rede, que dificilmente seria obti­da se o instituto não con­tasse com a ajuda da FA­PESP. Há outros fatores em jogo. Como centro de refe­rência em cardiologia no Brasil, o InCor tem como missão difundir o conheci­mento gerado interna­mente e buscar informa-

Não é à toa que o sistema esteja disponível no Instituto do Coração. O organismo é um dos hospitais pi­oneiros do Brasil na implantação de redes de informática. A primeira rede do InCor data de 1980. "Mas o grande salto foi dado em novembro do ano passado, quando um aumen­to na capacidade da rede, concretiza­do com o auxílio da FAPESP, permitiu a criação do sistema de videoconfe­rências", afirma o diretor da Unidade de Sistemas do Serviço de Informá­tica do InCor, Umberto Tachinardi. Não é a única novidade que está aparecendo no instituto. O sistema prontuário on line, em fase de insta­lação, permitirá a qualquer pessoa com acesso a um computador da rede do instituto verificar todos os dados colhidos sobre um paciente,

ções em outras instituições da área. Isso sempre foi feito, por meio de aulas, cursos, seminários, workshops e mesmo gravações de ci­rurgias em vídeo. "Com a conexão por videoconferência, isso agora pode ser feito a distância, o que vai favorecer principalmente os profis­sionais que atuam fora dos grandes centros", diz Tachinardi.

Há mais. Nas unidades de trata­mento intensivo, os monitores que acompanham as funções vitais dos pacientes, como freqüência cardíaca e pressão arterial, foram ligados à rede. O médico responsável pode, agora, verificar, por exemplo, se uma medicação para corrigir uma arrit­mia teve o resultado desejado de qualquer computador do hospital. Em princípio, a rotina mudou pou­co. Os médicos continuam a visitar

li

os pacientes de três a quatro vezes por dia. "A diferença é que hoje posso acompanhar melhor a evolu­ção do quadro de cada paciente", diz o cardiologista clínico Carlos Vicente Serrano.

Os benefícios do sistema para um hospital como o InCor, onde muitas vezes a preservação de uma vida depende de ações muito rá­pidas, são enormes. Serrano cita um exemplo que já se tornou parte de sua rotina. Um paciente em estado grave sofre uma que-da de pressão, que pode ser fatal em seu estado. O médico admi­nistra o medicamento e meia hora depois- o tempo necessá-rio para o remédio fazer efeito -consulta o monitor do paciente e verifica seu estado.

Se a pressão voltou ao nor­mal, ele continuará a acompa­nhar o caso, pelo computador. Se não, enviará uma mensagem pelo computador à enfermaria, indican­do as providências a serem tomadas. Um sinal de alerta aciona a enferma­ria quando a mensagem chega. ''A ação se torna muito mais rápida e eficiente e ainda otimiza o tempo do médico': comenta Serrano.

Menos traumas - O processo ainda está no começo, mas os pesquisado­res do InCor também já estão dando outros passos numa nova tecnolo­gia: o uso da rede para fazer opera­ções a distância. O método usa um robô controlado por um cirurgião e já está sendo empregado na Europa. É considerado mais eficiente e causa menos traumas ao paciente, em al­guns casos, do que uma cirurgia normal. O InCor resolveu assestar baterias num projeto relativamente modesto. Ao contrário dos robôs fa­bricados por. alguns laboratórios do exterior, o projeto de São Paulo não terá três ou quatro braços, para se­gurar e movimentar os instrumen­tos cirúrgicos.

Ele terá apenas um braço, para fazer o trabalho do assistente cirúr­gico que maneja o sistema óptico, a

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câmera usada nas intervenções. Nes­se tipo de cirurgia, os cortes são mu­ito pequenos, suficientes apenas para a introdução de instrumentos no corpo do paciente. O cirurgião trabalha com base nas imagens cap­tadas pela óptica, transmitidas para uma tela de computador. Uma das maiores vantagens do sistema é per-

Pesquisadores paulistas já

constroem robô para ser usado

em cirurgias feitas pela rede

mitir a recuperação mais rápida do paciente. "Numa cirurgia cardiovas­cular, como uma ponte de safena ou mamária, o paciente pode ir para casa no dia seguinte, enquanto no método tradicional ele teria de ficar internado entre uma semana e dez dias", diz o cirurgião Fábio Biscegli Jatene, do InCor.

O projeto do robô está sendo de­senvolvido pela divisão de Bioenge­nharia do InCor, em parceria com.a Escola Politécnica da USP, com fi­nanciamento da FAPESP. Idágene Cestari, diretora de pesquisa em Bi­oengenharia do InCor, afirma que o sistema poderá ser usado em qual­quer cirurgia, não apenas em car­díacas. Jatene, que já experimentou a técnica num hospital de Dallas, nos Estados Unidos, defende a apro­ximação escolhida. ''Acho que neste momento vale mais a pena investir num projeto modesto do que gastar montanhas de dinheiro para im­portar um robô mais aperfeiçoado", declara.

Mais de 36 mil páginas - Na Escola Paulista de Medicina da Unifesp, a ênfase é no ensino a distância. Desde que a rede começou a ser implanta-

da, em 1992, professores e especialis­tas em informática trabalham juntos na elaboração de cursos sobre diver­sas disciplinas. O resultado é um dos websites mais completos sobre a área de saúde da Internet. O site da Uni­fesp tem nada menos do que 36 mil páginas, que vão desde informações sobre projetos e departamentos a

cursos completos e material de apoio didático com mais de 450 aulas em vídeo. O site recebe en­tre 8 mil e 9 mil acessos por dia, dos quais 3 mil de fora da rede.

Nem todos os cursos a dis­tância estão ligados diretamente às aulas. Um dos cursos de maior repercussão é o da simulação de desastres, organizado em con­junto com o Hospital das Clí­nicas. O objetivo é treinar pro­fissionais da área da saúde para agir em situações de catástrofe.

Ele tem 3.800 inscritos, entre médi­cos, enfermeiros e profissionais dos corpos de bombeiros de diversas ci­dades, que recebem aulas de espe­cialistas pela Internet. Como parte do curso, os alunos recebem vídeos que podem assistir em suas casas, a qualquer hora.

O chefe do Departamento de In­formática em Saúde da Unifesp, Da­niel Sigulem, nota que para a escola isso também significa economia. "Desenvolvemos um sistema que acabou por dispensar o uso do labo­ratório no curso de Histopatologia", comenta. ''As lâminas passaram a ser visualizadas no computador, no lu­gar dos microscópios, com o mesmo efeito para os alunos': ele diz. De qualquer maneira, nem tudo correu como os organizadores esperavam. No princípio, eles achavam que, com os novos métodos, um professor po­dia cuidar de até SOO alunos. Errado. O limite é de entre 20 e 30. Surgiu uma interação muito maior entre professor e aluno. Numa aula con­vencional, de 50 minutos, o estudan­te tem normalmente apenas os dez minutos finais para fazer perguntas. Agora, o contato com o professor, por correio eletrônico, nunca cessa.

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N ~b~~~~ç~n~~ ~ tituto de Tec- ~

:E nologia de Massachu­

setts (MIT), uma das mais prestigiadas instituições de ensino e pesquisa dos Es­tados Unidos, anunciou que estava iniciando um pro­grama, com investimentos deUS$ 100 milhões, para colocar, no prazo de dez anos, todo o conteúdo de seus 2 mil cursos na Inter­net. Ou seja, qualquer pes-soa terá acesso gratuita-mente, de qualquer lugar do mundo, ao que é ensina-do nos prédios do institu-to, na área metropolitana de Boston. Os interessados não poderão usar o sistema para conseguir diplomas. Mas um aluno do MIT precisa pagar, em média, US$ 26 mil por ano para seguir um desses mes­mos cursos.

Não é uma enorme novidade. Outras instituições de ensino já ofe­recem programas semelhantes, em­bora não de maneira tão ampla e sem o prestígio internacional que acompanha o nome do MIT. No Brasil, o Instituto de Estudos Avan­çados da Universidade de São Paulo (USP) tem o projeto Cidade do Co­nhecimento, cujo objetivo é formar uma rede na qual pessoas do ensino médio, da universidade e do mundo profissional poderão produzir co­nhecimento publicamente e de ma­neira coletiva.

"As redes estão passando por um crescimento exponencial e sendo

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O ensino aprende a usar as novas tecnologias

Educação à distância ganha perspectivas mais amplas

Barravieira e um dos CDs de seus

cursos: recursos multimídia tornam

mais fácil o aprendizado

usadas de maneira cada vez mais so­fisticada", comenta Imre Simon, pro­fessor do Departamento de Ciências da Computação do Instituto de Ma­temática e Estatística da Universida­de de São Paulo (USP) e presidente da comissão central de informática da USP entre 1994 e 1998. "Mas exis­tem áreas em que seu uso está ape­nas engatinhando. É o caso da edu­cação. Existe aí o problema da disponibilização da informação, ou seja, quem vai pagar para colocar a informação na rede. Trata-se de uma questão complexa."

Outro jeito - Se há uma área onde há poucos problemas com relação ao ensino via redes, essa é a dos alunos. ''A informática já faz parte da vida

desta geração", diz o dire­tor do Instituto de Quími­ca da USP, Paulo Sérgio Santos. Ele já ouviu diver­sas vezes: "Professor, não fa­ça assim não, pois não vai dar certo, faça desse outro jeito': Hoje, o IQ se prepa­ra para substituir as aulas iniciais de laboratório por simulações em computador.

As simulações não & substituirão as aulas ~ práticas no labora­~ tório. Mas os profes-

sores esperam que os alunos entrem mui­to mais bem prepa­rados quando che­gar a hora de realizar as experiências reais.

Há experiências sendo realizadas em vários locais. No Instituto de Física da

USP em São Carlos, vários professo­res estão usando em suas aulas téc­nicas de teleconferências e de te­le-ducação. O primeiro teste foi a realização de um curso conjunto, de seis meses, para estudantes de Física e de Computação, envolvendo pro­fessores das duas áreas. "O curso dei­xou alunos e professores convenci­dos de que o sistema é viável e vantajoso quando se trata de pro­mover a integração de instituições distantes", afirma o professor Antô­nio Carlos Ruggiero, responsável pela instalação da rede da USP em São Carlos.

A prática do curso também ensi­nou muita coisa aos professores. Por exemplo, durante a aula, uma câme­ra deve ser mantida focalizando ex-

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clusivamente a lousa. "Se a câmera focalizar o professor e a lousa ao mesmo tempo, a ima­gem numa televisão de 29 polegadas não vai permitir que o aluno leia o que vai sendo es­crito", conta Ruggiero. Assim, o problema é re­solvido mantendo-se um zoam na lousa, en­quanto o professor aparece num canto da tela, para que os alu­nos possam acompa­nhar sua expressão.

O~ tano, ele leva cerca de _ 40 minutos para expli-3 car como a toxina age

,...,.1-."-l ~ no corpo humano, des-

Defesa de tese - Outro teste feito em São Car­los acompanhou a de­fesa de uma tese de

Alunos e computadores: quantidade de informações cada vez maior

de a porta de entrada, geralmente um ferimen­to no pé, até sua insta­lação. "Tenho de expli­car como o bacilo se divide, se multiplica, produz a toxina e atin­ge o sistema nervoso", declara. "Com um siste­ma de animação, é pos­sível mostrar isso em 40 segundos e, além do mais, o aluno pode re­petir a animação do CD-ROM quantas ve­zes quiser, até gravar a seqüência na memória."

mestrado. Por motivos legais, os três membros da banca tiveram de estar presentes fisicamente no local. Mas um suplente e uma pequena audiên­cia acompanharam todo o trabalho a distância. Não é impossível que a idéia evolua. Ligados pela rede, pro­fessores não precisariam mais viajar para participar de bancas fora de suas cidades. Ruggiero não acha difí­cil que a legislação seja mudada para permitir isso. "As vantagens são mui­tas", declara.

As experiências se avolumam. Na Unesp de Botucatu, a Faculdade de Medicina pretende iniciar, ainda este ano, cursos em que a presença do alu­no na sala de aula será dispensável. A idéia surgiu no Centro de Estudos de Venenos de Animais Peçonhentas (Cevap), um organismo com larga experiência em editoração eletrôni­ca. Desde 1995, o centro edita uma revista eletrônica sobre animais ve­nenosos, disponível em CD-ROM e no seu site, www.cevap.org.br.

Inicialmente, serão oferecidos três cursos, Ofidismo, Tétano e Vaci­nas. O aluno receberá um kit com um vídeo, um CD-ROM e um livro, material que já está pronto para ser distribuído. O aluno seguirá o curso onde quiser. Professores ficarão de

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plantão em certos horários, para es­clarecer dúvidas pela rede interna ou pela Internet e também poderão ser consultados por e-mail. O CD-ROM, por sua vez, terá links para sites na Internet nos quais, de acordo com os professores, os estudantes poderão obter informações confiáveis.

Experiência anterior - Benedito Bar­ravieira, pró-reitor de extensão da Unesp e professor do Departamento de Doenças Tropicais e Diagnósti<?o por Imagem da Faculdade de Medi­cina de Botucatu, diz que o trabalho é apenas uma extensão de uma ex­periência que vem dando certo. Há vários anos, ele distribui kits seme­lhantes a seus alunos e não faz ques­tão de presença obrigatória em todas as suas aulas.

"O aluno vem para a faculdade preparado para discutir o assunto em classe, tirar dúvidas e fazer as provas", conta. Ele vê muitas vanta­gens no sistema: além do aluno po­der distribuir seus horários de estu­do como for melhor, ainda conta com os recursos multimídia do ma­terial, como ilustrações e animações, capazes de facilitar o aprendizado.

O professor dá um exemplo. Numa aula convencional sobre o té-

Barravieira afirma que o uso das redes não traz vanta­gens só para o aluno. Também ajuda o professor, que passa a controlar melhor seu tempo. "Em vez de pas­sar horas repetindo as mesmas aulas, aproveito melhor o tempo, discutin­do o assunto em profundidade com os alunos ou pesquisando novida­des, o que é muito mais interessante e proveitoso", opina. "Isso pode ser o início de uma revolução no ensino da Medicina", prossegue. "Em breve, o sistema também poderá ser aplica­do nos cursos de graduação."

O professor deixa claro, de qual­quer maneira, que o sistema deve ser usado apenas em aulas teóricas. "Nin­guém está pensando em formar um médico a distância", ressalva. "Ne­nhum aluno vai ser capaz de operar se não tiver aulas práticas de cirurgia, mas nada impede que ele estude as téc­nicas cirúrgicas em sua própria casa:'

Barravieira prossegue: "Não se trata apenas de comodidade. A Me­dicina está evoluindo e a quantidade de informações cresceu muito nos últimos anos. Mesmo assim, os cur­sos de Medicina têm a mesma dura­ção da década de 50, ou seja, seis anos. Se não encontrarmos meios mais rápidos de transmitir informa­ções, vamos perder conteúdo."

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Em busca da confiabi I idade

Redes ganham segurança com novos equipamentos

uando foram instaladas as pnme1ras re­des nas uni­versidades e

institutos de São Paulo, o processo era simples. Passa­va-se um cabo telefônico por locais próximos de onde ficavam os interessados. Para cada ponto da rede, cortava-se o cabo e estabe­lecia-se uma saída para o computador. Todos os com­putadores ficavam ligados entre si, como num varal. Se um deles tivesse um proble­ma, como um curto-circui­to na eletricidade, toda a rede caía. Isso não causava grandes surpresas. As que­das na rede eram freqüentes e, quando aconteciam, per­diam-se os trabalhos que estivessem sendo realizados. Não que os prejuízos fos­sem exagerados. As redes eram muito pequenas.

Fibras ópticas: muito mais velocidade Num dos pioneiros, o Insti-tuto de Matemática e Esta-tística da Universidade de São Paulo (USP), por exemplo, todos os com­putadores da rede, instalada em 1991, estavam numa única sala.

A situação mudou muito. Hoje, todos os mais de 500 prédios da USP, por exemplo, estão ligados por uma rede confiável, segura e, sobre­tudo, rápida. No lugar dos antigos cabos coaxiais, usam-se cabos muito mais seguros, que empregam uma tecnologia conhecida como pares trançados, ou UTP. Em alguns casos, os cabos foram substituídas por fi­bras ópticas, ainda mais estáveis.

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Cada computador é ligado direta­mente a uma central. Se tiver um problema, isso não vai interromper o restante da rede. As centrais, por sua vez, são ligadas a um equipa­mento do qual saem os cabos que fa-zem as conexões externas.

Comunicações digitais - O professor Fernando Paixão, do Instituto de Fí­sica da Unicamp e membro da coor­denação de informática da FAPESP, compara a situação, quando o pro­grama foi lançado, à de uma cidade onde chega, pela primeira vez, a

energia elétrica. "Os postes levam a eletricidade até a porta das casas, mas, para usá-la, é preciso que cada casa faça a sua instalação, puxando fios e instalando tomadas'~ diz. Foi mais ou menos o que aconteceu nas universidades. Cada insti­tuição montou sua rede, aproveitando a chegada das comunicações. Na época, de acordo com Paixão, já se previa que as comunicações digitais substituiriam, rapida­mente, telefones e aparelhos de telex. Daí, uma recomen­dação unânime da comis­são de informática para que a FAPESP desse prioridade para a instalação das redes nos projetas de infra-estru­tura, iniciados em 1995.

Milton Kashiwakura, as­sessor da rede Academic Net­work in São Paulo (ANSP), da FAPESP que participou da instalação da rede da USP, lembra que o trabalho exi­giu muito esforço de acom­

panhamento. "Cada empresa con­tratada tinha seus próprios padrões e foi preciso estabelecer normas rígi­das, a serem seguidas por todos", afirma. No fim do contrato, cada empresa só recebia o dinheiro de­pois de uma rigorosa inspeção. Por exemplo, no caso de uma conexão por fibra óptica, o cabo não pode ser muito esticado. Se isso acontecer, ele nunca funcionará direito. "Pode-se usar o melhor material do mundo, mas, se a instalação não for bem fei­ta, tudo tem que ser jogado no lixo", afirma Kashiwakura. Há outros cui-

IS

dados. Os cabos UTP, por exemplo, têm que ser colocados distantes da rede elétrica. A rede cria campos magnéticos e os cabos, feitos de co­bre, sofrem com essa proximidade.

Mesmo assim, os cabos de cobre ainda são muito usados, especial­mente em redes no interior de edifí­cios, onde correm por dutos metáli­cos instalados ao longo das paredes. Isso se deve, sobretudo, a questões de economia. Os ca-bos mais modernos, das catego-rias Se e 6, suportam perfeita­mente o tráfego atual. Metro por metro, os preços dos cabos UTP e de fibra óptica se equivalem. A diferença está nas tomadas que ligam os computadores à rede, muito mais caras no caso das fi­bras ópticas, devido aos mate­nats espeCiats necessários para esse tipo de comunicação, e nas placas de rede instaladas dentro dos próprios computadores. Numa co­nexão por fibra, a placa custa cerca de quatro vezes mais.

Trabalhos internos - De qualquer ma­neira, a diferença começa a valer a pena em certos casos. Uma é a dis­tância. É ponto pacífico entre os téc­nicos que, a partir de uma distância de 100 metros, os cabos UTP deixam de ser vantajosos, devido à necessi­dade de mais equipamentos para a transmissão. Assim, a tendência é que sejam usados mais em trabalhos internos, deixando os externos para as fibras. As conexões por fibra tam­bém são mais interessantes quando precisam passar por ambientes com muitas interferências, como as cau­sadas pelo funcionamento de mo­tores. Usadas externamente, as fi­bras têm ainda outra vantagem. Como funcionam à base de luz, se um raio cair na rede, a descarga não progredirá até chegar a queimar computadores e outros equipamen­tos, como pode acontecer com os cabos de cobre.

Ainda há outra questão. As fibras permitem velocidades muito mais altas. Isso se torna cada vez mais im-

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portante na rede. Para os técnicos, os cabos das categorias Se e 6, o atual pa­drão do mercado, suportarão as ne­cessidades previstas para os próximos anos. Mas redes montadas com ca­bos de categoria 3, como as primei­ras nos Estados Unidos, já exigem substituições. O custo é alto, mas não assustador. "Se os preços dos au-

Fibras ópticas são mais

vantajosas quando a

distância supera os 1 00 metros

tomóveis baixassem tanto como os dos produtos de informática, hoje poderíamos comprar um carro por R$ 1 ", brinca Paixão.

A necessidade de maior capacida­de se explica. Para se realizar uma in­tervenção cirúrgica a distância, por exemplo, as redes normais são inade­quadas. Não permitem um trabalho em tempo absolutamente real, que pode ser essencial em operações mais complicadas. Paixão destaca que, pa­ralelamente à formação das redes lo­cais, a FAPESP investiu muito no de­senvolvimento da rede ANSP, que liga as universidades e institutos en­tre si e também ao resto do Brasil e ao exterior. A rede ANSP 2, já em instalação, será ainda mais rápida e poderá eliminar alguns pontos de congestionamento ainda existentes.

Investimentos isolados - A evolução faz parte da informática. Por isso, é natural que as redes evoluam. Hoje, as redes internas das universidades suportam, sem problemas, até 100 megabits por segundo, um bom pa­drão, de acordo com os técnicos, para as necessidades atuais. "Mas, se o tráfego se tornar mais intenso, os fios não vão suportar", declara Pai-

xão. ''A situação seria como se usar um fio comum para ligar um chu­veiro elétrico à rede de energia". Pai­xão, no entanto, vê nisso uma situa­ção bem menos crítica do que a existente antes dos primeiros investi­mentos dos programas de infra-es­trutura. "Ela poderá ser resolvida com investimentos isolados, com re-

cursos de financiamentos das próprias pesquisas, por meio de reservas técnicas."

Uma mudança mais comple­ta, porém, pode vir do projeto Tecnologia da Informação e De­senvolvimento da Internet Avan­çada (Tidia), aprovado recente­mente pelo conselho da FAPESP. "Este é o próximo passo da In­ternet", afirma Antônio Carlos Ruggiero, responsável pela insta­lação da rede da USP em São Carlos e assessor da equipe que

estuda o projeto. O objetivo do pro­grama é estimular o desenvolvimen­to de tecnologia avançada na área da Internet. "Hoje, não há mais preocu­pações com a Internet 1 ': diz Rug­giero. "Ela já está bem consolidada. Mas as aplicações para a Internet 2 ainda não estão disponíveis. Falta tec­nologia, falta conhecimento, falta de­senvolvimento na área da pesquisa. É isso que o programa pretende esti­mular", acrescenta.

A iniciativa segue uma tendência mundial na área da computação e deverá contar com a participação de pesquisadores de todo o mundo. "Trata-se de algo inteiramente novo, menos comprometido com o tráfe­go de produção do que a Internet 1 ", diz Ruggiero. Com o novo sistema, os pesquisadores poderão fazer várias experiências que hoje interrompe­riam ou prejudicariam o fluxo de dados que corre por suas redes. São pesquisas nas quais, por exemplo, é preciso interromper a rede para ins­talar ou trocar equipamentos. Desses testes poderão surgir novidades tão impressionantes como as que come­çaram a mudar, há pouco mais de cinco anos, as possibilidades abertas para os pesquisadores de São Paulo.

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