lingua e ensino 1 avea

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  • 7/24/2019 Lingua e Ensino 1 Avea

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    5 PerodoLngua e Ensino I

    Maria Jos Damiani Costa

    Vera Regina de Aquino Vieira

    Brenda Rocio Ruesta Barrientos

    Letcia Beatriz Folster

    Rgis Bueno da Silva

    Sila Marisa de Oliveira

    Florianpolis, 2013.

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    Governo Federal

    Presidente da Repblica: Dilma Vana RousseffMinistro de Educao: Aloizio MercadanteUniversidade Aberta do Brasil (UAB)

    Universidade Federal de Santa Catarina

    Reitora: Roselane NeckelVice-reitora: Lcia Helena Martins PachecoPr-reitora de Ensino de Graduao: Roselane Ftima CamposPr-reitora de Ps-Graduao: Joana Maria PedroPr-reitor de Pesquisa: Jamil AssreuyPr-reitor de Extenso: Edison da RosaPr-reitor de Planejamento e Oramento: Beatriz Augusto de PaivaPr-reitor de Administrao: Antnio Carlos Montezuma BritoPr-reitora de Assuntos Estudantis: Lauro Francisco Mattei

    Diretor do Centro de Comunicao e Expresso: Felcio Wessling MargottiDiretor do Centro de Cincias da Educao: Nestor Manoel Habkost

    Curso de Licenciatura em Letras-Espanhol na Modalidade a

    Distncia

    Diretor Unidade de Ensino: Felcio Wessling MargottiChefe do Departamento: Silvana de GaspariCoordenadoras de Curso: Vera Regina de Aquino Vieira

    Maria Jos Damiani Costa

    Coordenadora de Tutoria: Raquel Carolina Souza Ferraz DEly

    Projeto Grfico

    Coordenao: Luiz Salomo Ribas Gomez

    Equipe: Gabriela Medved Vieira

    Pricila Cristina da Silva

    Adaptao: Laura Martins Rodrigues

    Comisso Editorial

    Adriana Kuerten Dellagnello

    Maria Jos Damiani Costa

    Meta Elisabeth Zipser

    Vera Regina de Aquino Vieira

    Liliana Reales

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    Equipe de Desenvolvimento de Materiais

    edio ()

    Laboratrio de Novas Tecnologias - LANTEC/CED

    Coordenao Geral: Andrea LapaCoordenao Pedaggica: Roseli Zen CernyCoordenao Material Impresso e Hipermdia: Thiago Rocha Oliveira, LauraMartins RodriguesDiagramao: Ana Flvia Maestri, Gabriel NietscheIlustraes: Natlia Gouva, Rafael de Queiroz Oliveira, Thiago RochaOliveiraReviso gramatical: Rosangela Santos de SouzaCoordenao de Design Instrucional: Isabella Benfica BarbosaDesign Instrucional: Luiziane Silva Rosa

    edio ()

    Laboratrio Multimdia/CCE - Material Impresso e Hipermdia

    Coordenao: Ane GirondiDiagramao: Letcia Beatriz Folster, Grasiele Fernandes HoffmannSuperviso do AVEA: Mara Tonelli SantosDesign Instrucional: Paula Balbis GarciaReviso: Rosangela Santos de SouzaReviso ABNT: Juliana de AbreuIlustrao: Kamilla Santos de Souza

    Copyright@2013, Universidade Federal de Santa Catarina/LLE/CCE/UFSC. Nenhuma parte deste

    material poder ser comercializada, reproduzida, transmitida e gravada sem a prvia autoriza-o, por escrito, da Universidade Federal de Santa Catarina.

    Ficha catalogrfica

    Q7 5. perodo : lngua e ensino I / Maria Jos Damiani Costa...[et al.]. 2. ed. - Florianpolis : UFSC/CCE/DLLE, 2013.

    64 p. : il., grfs., tabs.

    Inclui bibliografia.

    ISBN 978-85-61483-80-7

    1. Lngua espanhola Estudo e ensino. I. Costa, Maria JosDamiani. II. Quinto perodo

    CDU: 806.0

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    Sumrio

    Unidade A - O caminhar pedaggico .......... 9

    1 A educao lingustica do docente de espanhol como

    lngua estrangeira ............................................................11

    1.1 Introduo .............................................................................................11

    1.2 Algumas possibilidades oferecidas pelas reflexes

    bakhtinianas sobre linguagem ............................................................121.3 Formao de professores e compromisso social ....................15

    1.4 Afinal, o que educao lingustica? ...........................................19

    Resumo ............................................................................................. 20

    2 A proposta dos PCNs e seus benefcios ao cenrio do

    ensino de LE no Brasil ......................................................21

    2.1 Introduo .............................................................................................21

    2.2 LDB e PCNs, o que podemos ler em suas entrelinhas... ........21

    Resumo ............................................................................................. 27

    3 Texto, gnero textual e ensino de lngua ......................29

    3.1 Introduo .............................................................................................29

    3.2 Os textos e o ensino de LE ...............................................................30

    3.3 Texto e textualidade ...........................................................................31

    Resumo .............................................................................................. 36

    Unidade B - Unidades didticas e gnerostextuais ........................................................... 37

    4 A elaborao de unidades didticas a partir de gneros

    textuais ..............................................................................39

    4.1 Introduo .............................................................................................39

    4.2 Mapa Semntico e sua aplicao ..................................................39

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    4.3 Materiais e mtodos ...........................................................................41

    Resumo .............................................................................................. 46

    5 Propostas de ensino atravs de gneros textuais .........475.1 Introduo .............................................................................................47

    5.2 Materiais e mtodos ...........................................................................49

    Resumo .............................................................................................. 54

    Consideraes Finais ........................................................55

    Referncias ........................................................................57

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    Apresentao

    Querid@ alun@,

    Em nosso fazer pedaggico, ao longo de muitos anos, frequentemente

    nos deparamos com situaes muito diversas, tanto nas aes de ensino-

    aprendizagem de lnguas na sala de aula como nos depoimentos dos alunos

    com os quais convivemos em vrias disciplinas, sejam de cunho terico

    ou aplicado. Essas situaes sempre nos instigaram enquanto docentes e

    pesquisadores e nos levaram a desenvolver formas alternativas de envolver

    e desafiar os sujeitos em formao a pensarem e repensarem as orientaes

    tericas e prticas didtico-pedaggicas de seus mestres e as suas prprias. Umadessas formas alternativas que encontramos foi inserir os alunos da graduao

    em Letras Espanhol em projetos de pesquisa e extenso, j no primeiro ano

    do curso, pois dessa maneira, era possvel experimentar, na prtica, a realidade

    que nos envolve no mbito social, cultural, educacional, etc. Podemos dizer

    que a experincia tem sido muito gratificante e exitosa, pois tanto a partir

    de nossa percepo como docentes e orientadores quanto nos relatos dos

    discentes e dos sujeitos participantes de tais aes a interveno desta forma

    de trabalho permite participar ativamente na formao de cidados reflexivos,

    conscientes de seu estar no mundo e pertencentes a uma comunidade social

    e historicamente constituda, que tm direitos e que a partir do conhecimento,

    dos saberes socializados nessas prticas tm condies de se conscientizarem e

    se fortalecerem para, finalmente, encontrarem seu caminho e espao no mundo.

    a partir deste entendimento e de nossas experincias, individuais e coletivas,

    que idealizamos e escrevemos este livro. Nosso objetivo ao incluir a disciplina

    Lngua e Ensino I em nossa organizao curricular foi estimular a reflexo sobre

    o ensino de lngua estrangeira (LE), o carter interacional da linguagem como

    eixo norteador do fazer pedaggico do docente, apresentar e discutir prticas

    diversificadas do processo de ensino-aprendizagem de lnguas. Acreditamos

    que estas temticas podem contribuir para a formao de um docente reflexivo

    em suas prticas, consciente em suas escolhas didticas e orientaes tericas,

    proporcionando segurana na apropriao dos paradigmas tericos que

    sustentam tais prticas. Os captulos que compem este material didtico,

    que complementa a disciplina Lngua e Ensino I, tm um objetivo muito

    mais documental e reflexivo do que propriamente uma linha de trabalho

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    a ser seguida, pois as direes a serem tomadas pelos licenciandos, futuros

    profissionais da linguagem, fazem parte de seu livre arbtrio, no cabendo aqui

    dizer de que maneira devem trabalhar. Queremos apenas dar as ferramentas e

    suporte para os possveis caminhos a serem trilhados em seu percurso comoprofessor e tudo o que o prprio termo traz em seu mago.

    O primeiro captulo traz uma reflexo sobre a educao lingustica do docente

    de espanhol como lngua estrangeira (ELE). Sua meta contribuir, a partir da

    vertente bakhtiniana sobre lingua(gem), com as reflexes sobre a decncia e sua

    contnua formao, como tambm sobre o compromisso social do professor,

    que vai muito alm de um mero transmissor de contedos.

    J o segundo captulo apresenta a LDB e os PCNs, traando paralelos entre os

    documentos oficiais que regulamentam e norteiam o ensino de LE em nosso

    pas, como tambm as discrepncias observadas na formao do indivduo

    aluno e docente na prtica da sala de aula.

    No terceiro captulo, fazemos a conexo entre os PCNs e os gneros textuais,

    que concebemos como a alternativa acertada para se pensar e ensinar uma LE,

    como tambm revisitaremos alguns conceitos e contedos sobre a gramtica,

    passando pelas concepes de lngua e pela evoluo do conceito de texto.

    Finalmente, o quarto e quinto captulos tem como proposta subsidi-lo na

    produo de material didtico para as aulas de ELE, orientando e exemplificando

    o trabalho com os gneros textuais a partir da elaborao de unidades didticas,

    traando como eixo norteador os mapas semnticos.

    Esperamos poder contribuir com muitas reflexes, j apresentadas em outras

    disciplinas a partir de outras perspectivas e discutidas em vrios outros livros

    ao longo de nosso Curso, como tambm com possveis mudanas no fazer

    pedaggico, apresentando um material de apoio para o exerccio de suas futuras

    experincias tanto nas disciplinas da prtica de ensino como na sua presente e\

    ou futura atividade profissional.

    Maria Jos Damiani Costa

    Vera Regina de Aquino Vieira

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    Unidade AO caminhar pedaggico

    Quem ensina tem muito menos segurana a respeito de sua atividade do

    que aqueles que aprendem a respeito da prpria. Por isso mesmo que na

    relao de quem ensina com aqueles que aprendem, quando se trata de uma

    relao verdadeira, jamais entra em jogo quer a autoridade do sabicho

    quer a influncia autoritria de quem exerce um cargo. Por isso tambm

    que continua a ser algo de muito grande algum que ensina o que uma

    coisa inteiramente diferente do professor renomado. Se hoje quando tudo

    se mede de acordo com os nveis mais baixos como, por exemplo, o lucro

    ningum mais deseja tornar-se mestre, isto sem dvida se deve s implicaes

    dessa grande coisa e sua prpria grandeza. Sem dvida, tambm semelhante

    averso est ligada aquilo que d mais o que pensar. Devemos conservar muito

    sob nosso olhar a verdadeira relao entre quem ensina e quem aprende, se

    quisermos que no desenrolar desse curso desperte uma aprendizagem. Nossa

    tentativa aqui a de ensinar a pensar (HEIDEGGER, 1967).

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    CAPTULO01

    1 A educao lingustica do

    docente de espanhol comolngua estrangeira

    Neste captulo, aprenderemos a identificar algumas das contribuies

    bakhtinianas para o estudo da lingua(gem), reconhecer o professor como

    um profissional em constante formao e ainda, estabelecer interface entre

    os conhecimentos acerca da lngua(gem) e a profisso docente.

    1.1 Introduo

    Neste captulo, convidamos voc a trilhar conosco dois caminhos que

    tero direes diferentes e, ao mesmo tempo, complementares. Um deles

    o caminho que apresenta a ideia de homem como ser social e interacional,

    cujas atividades desenvolvem-se por meio da/na lngua(gem) e, para

    tanto, nossa referncia central a Filosofia Bakhitniana da Linguagem,

    mais comumente conhecida como Anlise/Teoria Dialgica do Discurso

    (BRAIT, 2008a). O outro caminho nos conduz reflexo sobre a

    formao do professor de lngua estrangeira, seu exerccio profissional e

    as implicaes de sua prtica para alm do contexto escolar.

    Mas porque dissemos que esses caminhos so diferentes e

    complementares? Esperamos que aps percorr-los, atravs da leitura

    desse captulo voc possa encontrar um ponto em comum e tambmpropor novas questes.

    A seguir, abordaremos algumas questes que envolvem o uso da

    lngua(gem) pela perspectiva bakhtiniana tais como: as concepes de

    palavra, de discurso e a noo de exotopia. Para Bakhtin (1995, p. 113), a

    palavra uma espcie de ponte lanada entre [quem a profere] e os outros;

    o discurso, por sua vez, essencialmente dialgico e no lingustico; e a

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    exotopia refere-se ao olhar externo, o olhar do outro sobre mim e que eu

    no posso ter. (BUENO DA SILVA, 2011).

    1.2 Algumas possibilidades oferecidaspelas reflexes bakhtinianas sobre linguagem

    No final do sculo XIX e incio do sculo XX, as pesquisas e as

    crticas de estudiosos concentravam-se unicamente sob o ponto de vista

    do funcionamento sistemtico e sistmico da linguagem, descrevendo

    as relaes estruturais em diferentes nveis a partir da palavra.

    Nesse grupo de estudiosos da palavra esto os formalistas que

    se autodenominavam objetivos, positivistas e a-histricos. Porm,

    mais precisamente, na Rssia, nas primeiras dcadas do sculo XX,

    a expanso da educao superior com a criao de universidades, de

    institutos, de centros culturais, o crescimento de grupos e/ou crculos

    de estudos e da produo intelectual proporcionam o surgimento

    de outras abordagens e crticas sobre a palavra e, tambm, sobre a

    linguagem em geral. (BRAIT, 2008a). a partir desse contexto que

    Bakhtin, Voloshinov e Medvedev e outros participantes formulam e

    discutem suas concepes de linguagem, cultura e arte.

    As pesquisas de Bakhtin e do Crculo sobre a concepo da

    linguagem movem-se entre diferentes lugares do saber e requerendo

    uma filiao na Cincia das Ideologias. Assim sendo, a linguagem, no

    pensamento bakhtiniano, vem a ser uma prtica entre sujeitos para

    nossa disciplina sujeito docente e sujeito aprendiz - e suas relaes as

    prticas docentes de ensinagemem Espanhol como Lngua Estrangeira(doravante ELE)com a histria e no um sistema estvel. Isso significa

    que a linguagem estabelece um lugar na histria das formaes

    ideolgicas e daqueles os sujeitos presentes no espao escolar - que

    fazem parte dela, ou seja, forma um campo epistemolgico que leva em

    conta a formao de uma teoria do sujeito e do sentido como produo

    e/ou produtos na/da/pela linguagem. (BUENO DA SILVA, 2011).

    Esses trs autores constituemo que atualmente os pesqui-sadores denominam Crculo

    de Bakhtin.

    Esse termo foi cunhado porAnastasiou (1998) a partir de

    sua pesquisa de doutorado.Apresentaremos a definio

    do mesmo na seo seguinte.

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    CAPTULO01

    Ento, Bakhtin se preocupa com a palavra construda por um

    sujeito e/ou um sujeito se construindo atravs dela, da palavra, enfim, do

    discurso. Afirma que atravs da palavra, defino-me em relao ao outro

    (BAKHTIN, 1995, p. 113) e refora tambm que a palavra uma espciede ponte lanada entre mim e os outros (BAKHTIN, 1995, p. 113). O

    discurso distribudo sobre diferentes instncias, lugares discursivos a

    escola, a sala de aula, o mundo do sujeito docente, do sujeito aprendiz e suas

    experincias com e na vida e tambm com e na linguagem - em que um

    eu mltiplo pode ocupar simultaneamente. Esses lugares so instncias

    de confrontao entre sujeitos, constituindo-se pelo seu Outroe, ao mesmo

    tempo, transformando-se no seu prprio Outro. (BUENO DA SILVA, 2011).

    Portanto, a essncia do discurso de natureza dialgica. O dialogismo

    um conceito, um princpio formal e constitutivo do discurso, ou seja, o

    pressuposto fundamental de existncia do discurso de ser dialgico e no

    lingustico (anlise mecnica e estrutural da lngua). O discurso em si, sem

    a situao, sem o ambiente, pura virtualidade, entidade abstrata. Para

    Bakhtin (1981, p. 189) o discurso em si mesmo, considerado isoladamente,

    como um fenmeno puramente lingustico, no pode ser nem verdadeiro,

    nem falso, nem audacioso, nem tmido. (traduo nossa).

    Com esse pressuposto fundamental, o discurso no tem um sujeito

    fixo, determinado; no tem um sentido nico; no tem destinatrio

    (Outro) determinado, fixo. H vrios lugares discursivos vozes que se

    fazem escutar, ouvir ao mesmo tempo. H uma disperso de contextos,

    de vozes, de sujeitos (Eu, Outro, Ns). O discurso, por vezes, vem a ser

    uma materialidade polifnica. Entretanto, cabe ressaltar que a linguagem

    seja ela verbal ou verbo-visual constitutivamente dialgica, porm

    nem sempre polifnica. Portanto, vamos considerar que o ensino, maisprecisamente de ELE, constitutivo da linguagem e no o que vem sendo

    largamente difundido sobre a relao (de poder) de ensino em relao

    linguagem, isto , so as prticas sociodiscursivas e interacionistas

    linguageiras que definiro a postura e as formas de agir nos lugares, nas

    instncias discursivas. Bakhtin (1995) prope uma nova concepo e

    um novo lugar epistemolgico que a anlise dialgica da linguagem

    em que a concepo do discurso est centrada na interpretao da

    Slovo, em russo, que tam-bm significa discurso numa

    acepo mais metafrica,mais arcaica segundo JuliaKristeva (1970).

    Esse material didtico vem aser um exemplo de materiali-dade polifnica, uma vez quetal objeto foi construdo num

    processo de autoria comoaquele j mencionado docrculo de Bakhtin.

    Entendemos como lugares,instncias discursivas a esco-la, a sala de aula, o mundodo sujeito docente, do sujeitode aprendiz e suas experin-cias com e na vida e tambm,com e na linguagem.

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    linguagem em mltiplos planos, sentidos, dimenses, incluindo sempre

    sujeitos humana e historicamente.

    O sujeito como instncia discursiva se apresenta dividido pelo

    desejo da escuta do Outro e/ou pela confrontao de ideias, de

    pontos de vista, de textos, de vozes.(BUENO DA SILVA, 2011). No dpara esquecer que toda essa dialeticidadedo discurso tem como centro

    organizador e formador o texto que serve como base para anlise

    dialgica da linguagem, isto , o texto vem a ser um dispositivo em

    que as ideologias se apresentam e se esgotam pela e na confrontao

    das ideias, da conscincia (individual ou coletiva) entre sujeitos.

    Pode-se, inicialmente, afirmar que a ideologia um elemento

    concreto da linguagem em uso. No o ideolgico o dispositivo principal

    de interpretao e, sim, o sujeito (ser) no mundo e sua ativa posio

    responsiva (BAKHTIN, 2010, p. 271). A anlise dialgica vem a ser

    outra possibilidade de interpretao, tendo a alteridade constitutiva

    (discurso, polifonia, autoria, autor, personagem) um papel fundamental

    nas relaes humanas materializadas na escrita, seja ela verbal ou verbo-

    visual. Posteriormente, a anlise dialgica no puramente literria,

    nem lingustica, nem filosfica, mas a(s) possibilidade(s) de ser tudo ao

    mesmo tempo, dependendo, claro, do olhar do docente em relao ao

    seu objeto: a lngua(gem). No a abordagem dialgica que vai revelaras possibilidades de construo do sentido, mas o prprio objeto sem

    isol-lo do seu carter social e interacional.

    Para tanto, precisamos considerar a noo de exotopiana relao

    sujeito docente e sujeito aprendiz. A relao sujeito docente e sujeito

    aprendiz caracteriza-se pela tenso entre dois lugares, dois pontos de

    vista: um, em que o sujeito vive e olha de onde vive, e o outro de tentar

    Para Bakhtin, o sujeito seja personagem, seja autor define-se

    como uma instncia discursiva, isto , o lugar da fala (> da pala-

    vra> do discurso). (BUENO DA SILVA, 2011).

    Foi o terico da linguagemTzvetan Todorov quem

    traduziu do russo para alngua francesa a expressoexotopia, quando organiza-va e sistematizava as obras

    de Mikhail Bakhtin para oOcidente, mais precisamente,

    na Frana. Esse conceito dopensamento bakhtiniano de

    se posicionar, de estar em um

    lugar exterior tem sua origemna obra Para uma filosofia doato tico responsvel(2010),porm o texto de referncia

    O autor e o heri, quefaz parte do livro Esttica da

    Criao Verbal.

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    CAPTULO01

    mostrar o que v do olhar do outro sujeito. O gesto exotpico que d

    o acabamento e no aprisionamento; um ato generoso de quem d de

    si (AMORIM, 2008, p. 97).

    Bakhtin adverte, ainda, que a relao exotpica em uma obra pode

    se apresentar, em momentos diferentes, com intensidades maiores ou

    menores de exotopia, de acabamento. Nessa relao de foras e tenses,

    a criao esttica marcada pelo gesto exotpico e a objetividade est-

    tica, prpria do autor, configura-se como uma fora centralizadora e de

    acabamento da objetividade tico-cognitiva.

    1.3 Formao de professores e compromissosocial

    Acompanhando uma tendncia internacional e nacional, as pesquisas

    sobre formao de professores surgem em um contexto de crtica figura

    do professor como transmissor de contedos. Tais pesquisas vm

    trazendo contribuies valiosas no campo do conhecimento das opes

    didtico-pedaggicas, da atuao em sala de aula, dos processos

    sciointerativos e discursivos entre docentes e aprendizes. Conforme

    Bueno da Silva (2011, p. 6261), todo um conhecimento sobre o cotidiano

    da escola e sobre o desempenho (crtico e tico) dos docentes e dos sujeitos

    aprendizes, inserindo-se em um paradigma convencionalmente chamado

    de epistemologia da prtica aplicada.

    At pouco tempo atrs, a formao de

    professores era vista como o perodo em

    que se permanece no curso de licenciatura.Passado esse tempo, o sujeito estaria pronto

    - e acabado - para entrar em sala de aula

    e l poderia aplicar todo o conhecimento

    que adquirira nos bancos universitrios.

    No cenrio que temos nos dias atuais,

    sabe-se que:

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    O proessor de lnguas estrangeiras um profissional em ormao

    contnua; precisa estar sempre se atualizando, no s para acompanhar

    um mundo em constante mudana, mas tambm para ser capaz de

    provocar mudanas. (LEFFA, 2006, p. 21).

    Essa atualizao a qual o autor se refere pode acontecer atravs

    de cursos de especializao, mestrado ou doutorado, porm, algumas

    pesquisas tm mostrado que nem sempre com esses cursos so observadas

    mudanas significativas na atividade docente. Nesse momento, voc

    pode estar se perguntando se voc, como professor, nunca estar pronto,

    por mais que se especialize. Pois bem, ento, faa uma reflexo a respeito

    e tente responder ao final da leitura deste captulo.

    importante observar que a formao do professor compreende

    desde suas experincias anteriores como aluno, sua formao

    universitria e todo seu fazer pedaggico ao longo da carreira docente.

    Romanowski (2007, p. 39) afirma que o professor completa sua

    formao com o conhecimento que advm da prtica. [...] A profissio-

    nalizao um processo permanente de construo e no se restringe

    aquisio, uma conduta. Por sua vez, Nvoa (2009, p. 34), prope um

    modelo de formao de professores aps ter acompanhado um grupo

    de estudantes e professores de Medicina num hospital universitrio. Ele

    observou quatro aspectos:

    a. o modo como a formao se realiza a partir da observao, do

    estudo e da anlise de cada caso;

    b. a identificao de aspectos a necessitarem de aprofundamentostericos, designadamente quanto possibilidade de distintas

    abordagens de uma mesma situao;

    c. a existncia de uma reflexo conjunta, sem confundir os papeis

    de cada um (chefe da equipa, mdicos, internos, estagirios,

    etc.), mas procurando mobilizar um conhecimento pertinente;

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    CAPTULO01

    d. a preocupao com questes relacionadas com o funcionamento

    dos servios hospitalares e a necessidade de introduzir melhorias

    de diversa ordem.

    Como se v nesse paralelo entre a formao do mdico e do

    professor, preciso olhar para a individualidade de cada sujeito, iluminar

    teoricamente as questes que se apresentem e, na coletividade de olhares,

    buscar as solues mais adequadas. Chamamos a ateno para o fato de,

    na citao de Nvoa (2009), aparecer a figura do interno que, em nosso

    caso, seria o aluno. Isto quer dizer que se o professor conceber a palavra,

    em termos bakhtinianos, como ponte a unir duas pessoas, mais

    facilmente dar voz ao aluno.

    No possvel admitir mais um professor como

    mero transmissor de conhecimentos nem como

    expositor de contedos, j que ele no o nico

    detentor desse conhecimento. Com as facilidades

    de acesso informao, esses contedos podem

    ser facilmente encontrados em livros, pginas

    na internet, e em outras fontes de informao,

    at mesmo com outras pessoas (dentro e fora do

    contexto escolar). Dessa maneira, espera-se que o

    professor seja capaz de gerir situaes de ensinagem.

    Em situaes de ensinagem h uma parceria deliberada e

    consciente entre professor e aluno em busca da construo do

    conhecimento e que envolve tanto a ao de ensinar quanto a de

    aprender (ANASTASIOU, 2007, p. 20).

    Os sujeitos envolvidos nesse processo precisam saber resolver

    problemas, trabalhar em equipe, aceitar as diferenas e a alteridade, ser

    responsveis por seu desenvolvimento constante, resolver situaes

    que saiam da rotina, assumir responsabilidades e administrar sua

    vida e a do grupo. Enfim, os saberes desenvolvidos no contexto

    escolar precisam ter sentido prtico fora dos muros da escola.

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    Segundo Bueno da Silva (2011, p. 62-63), a saber:

    A todo instante deparamo-nos com novos produtos tecnolgicos e

    com enorme riqueza inormativa, revelando-nos, assim, que o espa-o escolar de ensino superior no mais o proprietrio absoluto do

    conhecimento e que, tambm, o docente no mais o nico - trans-

    missor- dos saberes reconhecidos socialmente. Na nova configurao

    mundial de sociedade, os sujeitos-alunos devem estar suficientemente

    preparados para serem intrpretes (gestores) de suas inormaes, bem

    como relacion-las e transorm-las, isto , so responsveis pela cons-

    truo do seu prprio conhecimento.

    Imbernn (2006, p. 27) nos alerta para a necessidade de aceitarmos

    a docncia como profisso e, em decorrncia disso, que o conhecimento

    especfico do professor e da professora seja colocado

    a servio da mudana e da significao da pessoa. Ser um profissional

    da educao significar participar da emancipao das pessoas. O

    objetivo da educao ajudar a tornar as pessoas mais livres, menos

    dependentes do poder econmico, poltico e social. E a profisso de

    ensinar tem essa obrigao intrnseca.

    Com essa citao, Imbernn nos alerta para duas questes centrais:

    Sendo assim, as prticas escolares precisam ser condizentes com o

    que se espera para alm dela, pois muito se fala em formao de cidados

    reflexivos, mas pouco espao se abre para a reflexo, o questionamento.

    1 - o compromisso profissional do professor

    2 - o fato de a sala de aula constituir-se como um microcosmo da

    sociedade.

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    CAPTULO01

    Fala-se muito, ainda, em justia e igualdade, mas os mtodos avaliativos,

    por exemplo, continuam sendo classificatrios.

    1.4 Afinal, o que educao lingustica?

    Esperamos que ao trmino da leitura desse captulo voc tenha

    conseguido conseguido reunir algumas consideraes sobre: descobrir

    porque, em nossa opinio, os caminhos percorridos - ou seja, as

    leituras sobre lngua(gem) e sobre formao docente - so diferentes e

    complementares. Encontrou uma resposta? Se sim, busque refletir o que

    essa resposta pode ter a ver com o que estudamos at aqui.

    O [...] termo educao lingusticaj oerece nuanas de que precisamos

    de dois respaldos: o das cincias da educao e o das cincias

    lingusticas. Na educao, obtenho as ormas de pensar a ormao

    e as resistncias dos proessores, por conta de cincias da educao

    serem tributrias de vrios campos do conhecimento. Nas cincias

    lingusticas, obtenho o acesso s pesquisas lingusticas atuais. (grios

    da autora). (PASSARELLI, 2008, p. 220)

    Considerando o ensino de ELE, especificamente, verificamos que

    aulas cuja abordagem esteja centrada na simples explicitao de regras

    gramaticais, exposio de estruturas lingusticas descontextualizadas,

    memorizao de listas de palavras, repetio oral e escrita de exerccios

    do tipo siga o modelo, no se justificam. Isso porque concebemos

    a lngua(gem) como prtica social, constitutiva e constituda pelos

    sujeitos, utilizada em contextos sociodiscursivos e interacionistas.

    Para tanto, a formao lingustica do professor de lngua estrangeira

    no se resume em saber a prpria lngua estrangeira (a dominar as

    quatro habilidades lingusticas), mas sim saber embasar suas escolhas

    pedaggicas e lingusticas podendo dizer para si mesmo porque faz o

    que faz em sala de aula, com quais objetivos e de que forma suas aes

    podero impactar no aprendizado e nas vidas dos alunos.

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    Se concebermos a linguagem como prtica social, podemos

    partir da premissa do ensino de lnguas estrangeiras na escola como

    uma prtica social, dialgica, humana e essencialmente dinmica

    (WIELEWICKI, 2006, p. 41-42). De acordo com Wielewicki (2006)so as concepes sobre a natureza da linguagem e sobre a natureza do

    ensino e da aprendizagem que iro caracterizar a abordagem de ensino

    de LE adotada pelo docente. Se concebermos a linguagem como prtica

    social podemos partir da premissa do ensino de lnguas estrangeiras

    na escola como uma prtica social, dialgica, humana e essencialmente

    dinmica (WIELEWICKI 2006, p. 41-42).

    Resumo

    Como voc pode perceber, neste captulo tentamos apresentar um

    panorama das contribuies de Bakhtin para os estudos da linguagem.

    Sabemos que nos semestres anteriores voc j teve contato com este

    terico em algumas disciplinas, no entanto, nos parece importante

    conduzi-lo uma vez mais pelos caminhos que concebem a ideia do

    homem como um ser dialgico, eminentemente social e interacional,

    pois como futuro professor, um profissional em permanente formao,

    precisar ter sempre em mente que suas prticas didtico-pedaggicas

    tm implicaes que vo alm do contexto escolar, que no se limitam a

    um mero transmissor de contedos.

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    CAPTULO02

    2 A proposta dos PCNs e seus

    benefcios ao cenrio do ensinode LE no Brasil

    Neste captulo, vamos conhecer os direcionamentos dados pelos Parmetros

    Curriculares Nacionais (PCNs) sobre o fazer pedaggico do profissional

    da linguagem, em especial, o de lngua estrangeira, alm de refletir sobre a

    prtica pedaggica e a conscincia de seu suporte terico.

    2.1 Introduo

    O contexto de nossa histria educacional, desde a poca do Brasil

    colnia at os dias de hoje, mostra-nos que as constantes reformas,

    a publicao de vrios documentos conformando novas decises

    comprovam que a trajetria do ensino da lngua estrangeira (LE) sempre

    foi frgil, pois sua permanncia na escola e/ou sua importncia ou no,

    na formao do aluno, sempre estar nas mos das autoridades federais,

    estaduais, municipais e diretores das unidades escolares. Atualmente,

    encontramos, ainda, questionamentos sobre sua necessidade na grade

    curricular oficial ou sobre sua carga horria semanal.

    Como profissionais de LEs, importante conhecermos esses

    diversos cenrios construdos ao longo dos anos, pois nos ajudar a

    refletir sobre a importncia de nossa atuao, tambm nas instnciasadministrativas e polticas de nossas escolas e associaes.

    2.2 LDB e PCNs, o que podemos ler emsuas entrelinhas...

    Esse contexto intranquilo para o ensino das lnguas estrangeiras

    no Brasil que mencionamos foi percebido em 1961, quando foi

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    editada a Lei de Diretrizes e Bases de Educao Nacional (LDB) - Lei

    n 4.024 e o ensino das LEs ficou a cargo dos Estados e Municpios

    e, consequentemente, sua incluso nos currculos escolares. Em

    decorrncia desta determinao, ns professores assistimos perplexoso desaparecimento da pluralidade da oferta de LE de muitas escolas,

    o deslocamento de sua oferta como disciplinas extracurriculares e no

    contraturno do horrio regular e a diminuio de sua carga horria.

    Confira a seguir as imagens.

    Discursos como estes foram constantes durante anos e fortalece-

    ram o preconceito com a disciplina, com os alunos das escolas pblicas

    e com os professores de LE, que ficavam na incerteza do oferecimento

    de sua disciplina e o respeito sua carga horria na escola.

    Mas, a partir da publicao da nova LDB - Lei n 9.394/96 este

    cenrio apresentou mudanas e sinalizou necessidade das unidades es-

    colares elaborarem sua proposta pedaggica.

    A LDB de 1996 afirma que a proposta pedaggica, o projeto pe-

    daggico, projeto poltico-pedaggico (PPP) ou o projeto educativo so

    documento para nortear as aes da comunidade escolar, que tem auto-

    nomia financeira, administrativa e pedaggica, ou seja, normas flexveis

    para a escola elaborar democraticamente o currculo, organizar o espa-

    o e a carga horria em consonncia com suas necessidades de ensino.

    Eles no precisam de LEpois nunca iro viajar

    Nossos alunos mal sabemfalar o portugus imagina

    uma lngua estrangeira

    A carga horria de LE deveser transferida para

    portugus e matemtica

    A Lei n 9.394/96 determinaa obrigatoriedade das LEs

    nas 5 a 8 sries do EnsinoFundamental e no 2 Grau,

    atual Ensino Mdio.

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    CAPTULO02

    Como uma forma de fazer valer o que est prescrito na LDB, fo-

    ram elaborados os Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs), do-

    cumentos publicados pelo Ministrio da Educao e do Desporto que

    tem como proposta contribuir para a melhoria da qualidade do ensino,

    apresentando diretrizes curriculares para o ensino brasileiro e, tambm,

    nortear o trabalho do professor.

    Estes dois documentos LDB e PCNs so, ento, de grande

    importncia elaborao do PPP da unidade escolar, pois os princ-

    pios norteadores neles expostos determinam elementos fundamen-

    tais construo de um eixo norteador ao fazer pedaggico e orien-

    tam caminhos possveis ao consenso dos princpios educativos dos

    representantes da escola.

    Como destaca o educador espanhol Alvarez (2004), a proposta

    pedaggica tem o valor de uma pequena Constituio que serve comoeixo norteador do fazer pedaggico. Para o autor, importante tambm

    que, em sua elaborao, exista um frum que permita uma reflexo

    coletiva, na qual os implicados exponham seus interesses e objetivos.

    Construir um documento no qual os princpios educativos com os quais

    todos concordam, estejam contemplados, uma excelente opo para

    proporcionar o compromisso coletivo.

    E

    S C

    O

    LA

    Os PCNs constituem umreferencial de qualidade

    para a educao no EnsinoFundamental em todo oPas. Sua funo orientare garantir a coerncia dos

    investimentos no sistemaeducacional, socializandodiscusses, pesquisas erecomendaes, subsidiandoa participao de tcnicose professores brasileiros,

    principalmente, daqueles quese encontram mais isolados,com menor contato com a

    produo pedaggica atual.Consulte o documento nantegra no Portal do MEC.Disponvel em: .

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    O ensino de lngua estrangeira tambm foi repensado com a

    publicao dos PCNs e suas orientaes reforam a sua importncia

    na organizao curricular das escolas nacionais, aspectos j defendidos

    pela Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB) de 1996.

    Com este propsito, os PCNs ressaltam que em um curso de

    lnguas existem outras competncias que integram a real competncia

    comunicativa e que fundamental considerar que o uso da linguagem

    est determinado por sua natureza sociointeracional, ou seja, ao

    produzirmos um enunciado consideramos nosso interlocutor, o

    propsito, o contexto que abriga esta situao comunicativa e que seu

    significado construdo pelos participantes do discurso. Os discursos

    no esto mais elaborados em uma redoma distante do ambiente social,

    eles esto determinados pelo seu entorno social que est constitudo por

    inmeros elementos culturais, histricos e institucionais.

    Esta nova viso do tratamento da linguagem em sala de aula

    enfatiza a necessidade de aproximar as situaes de aprendizagem

    realidade pessoal e cotidiana do aluno e, assim, abandonar o ensino

    meramente reprodutivo, baseado na repetio e memorizao que

    reforam a defesa, por parte dos docentes, da simples repetio dosmesmos contedos durante anos e anos e ajudam a solidificar a crena

    que aprender uma LE se reduz apenas a contedos gramaticais e de

    estruturas morfo-sintticas isoladas de qualquer situao de uso.

    No intuito de proporcionar uma mudana no olhar do profissional

    de lngua estrangeira, os PCNs fazem as seguintes consideraes sobre as

    competncias e habilidades a serem desenvolvidas em LE. Acompanhe.

    Os PCNs direcionam o fazer pedaggico do profissional de LE

    para muito alm das atividades que enfatizam o domnio das ha-

    bilidades lingusticas, eles propem reflexes ao docente sobre que

    competncias devem ser dominadas pelos alunos e razes que de

    fato justifiquem a aprendizagem de LE na escola.

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    CAPTULO02

    Quadro 2.1 - Competncias e habilidades a serem desenvolvidas em LE.

    Representao e comunicao Escolher o registro adequado situao na qual se processa acomunicao e o vocbulo que melhor reflita a ideia que pretende

    comunicar. Todo discurso est vinculado a uma situao co-

    municativa que est direcionada para determinados interloc-utores e, devido a este cenrio, requer um registro adequadoe um lxico prprio. Ento, estes elementos devem estar pre-sentes nas reflexes e na elaborao dos textos orais e escritos.

    Utilizar os mecanismos de coerncias e coeso na produo

    oral e/ou escrita.Mostrar ao aluno o papel do autor na elabo-rao do discurso, que elementos lingusticos so imprescind-veis para alcanarmos a compreenso e propsito de nossotexto.

    Utilizar as estratgias verbais e no verbais para compensar as

    falhas.

    Favorecer a efetiva comunicao e alcanar o efeito pretendido

    em situaes de produo e leitura.

    Conhecer e usar as lnguas estrangeiras modernas como instru-

    mento de acesso a informaes a outras culturas e grupos sociais.

    Investigao e compreenso Compreender de que forma determinada expresso podeser interpretada em razo de aspectos sociais e/ou culturais.

    Analisar os recursos expressivos da linguagem verbal, rela-cionando textos/contextos mediante a natureza, funo, or-ganizao, estrutura, de acordo com as condies de produo/

    recepo (inteno, poca, local, interlocutores participantesda criao e propagao de ideias e escolhas, tecnologias dis-ponveis).

    Contextualizao sciocultural Saber distinguir as variantes lingusticas.

    Compreender em que medida os enunciados refletem a for-ma de ser, pensar, agir e sentir de quem os produz.

    Tambm, outro objetivo proposto pelos PCNs a importncia de

    trabalhar a lngua estrangeira na sala de aula, oportunizando a diversidade

    de gneros textuais. Este propsito traz para o foco das discusses otratamento dado ao texto na sala de aula, o fato de deslocar e ampliar

    seu uso para alm de sua estrutura fsica. Ou seja, mostrar ao aluno

    que a elaborao de um texto est vinculada a seu propsito ideolgico

    de interlocuo, sua funo, seu veculo/suporte de divulgao e ao seu

    contexto scio-histrico-cultural. Assim, possvel despertar no aluno

    a reflexo sobre alguns aspectos que esto em funo da interlocuo:

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    o papel da gramtica;

    que modalidade retrica est contemplada no gnero textual

    escolhido;

    a importncia das escolhas lexicais.

    As sinalizaes advindas da proposta dos PCNs so muito benficas

    ao cenrio do ensino de LE no Brasil. Muitos estudiosos de distintas

    reas da linguagem atravs de suas pesquisas, publicaes, participaes

    em eventos fortalecem a proposta da utilizao dos gneros textuais.

    Entretanto, observamos que muitas vezes a responsabilidade deapresentar propostas metodolgicas que permitam a concretizao da

    utilizao dos gneros recai sobre o profissional de sala de aula.

    Aliado a esta questo tambm existe a preocupao com a formao

    dos educadores. Como garantir a compreenso de tais orientaesse h

    um pblico docente to numeroso em nosso pas e to heterogneo em

    sua formao?

    sabido que muitas instituies responsveis pela formao dos

    docentes, ainda hoje, concebem o processo de ensino como linear e que

    o contedo especfico o nico que deve ser assimilado e testado no

    momento de sua prtica ao final do curso.

    A prtica reflexiva, conforme Krug (2001), tm como objetivo

    romper a relao linear e mecnica entre o conhecimento cientfico-

    tcnico e a prtica na sala de aula. Em consonncia com o exposto,

    Oliveira e Lampert (2007) ressaltam que a prtica reflexiva um processo

    cclico que proporciona aos professores a reavaliao de suas crenas e

    prticas pedaggicas, o repensar de situaes de conflito geradas em seu

    ato educativo, o xito ou fracasso de sua abordagem.

    E neste caso citamos, porexemplo, a do uso do texto e

    gneros textuais.

    Este modelo reafirma a separao entre a teoria e a prtica e no

    favorece o aluno-professor construo de uma prtica reflexiva.

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    CAPTULO02

    Defendemos que a introduo de propostas reflexivas na ao

    didtica amplia o papel do docente reflexivo para o aparecimento do

    professor-pesquisador, que reflete sobre sua prtica, reconhece os

    paradigmas tericos que a sustentam, analisa os resultados e percebe anecessidade de reformular suas hipteses. Para Lima (2012), o papel do

    pesquisador ou do professor-pesquisador desde sua formao deve estar

    relacionado ao contexto e s prticas pedaggicas e de ensino, ento a

    ao reflexiva sobre a prtica docente e a importncia da utilizao da

    pesquisa para tal, ter um sentido.

    Em razo disso, percebemos a importncia de iniciativas de

    elaborao de textos paralelos que contemplem as orientaes existentesnos PCNs, acompanhem as reflexes dos docentes e proponham

    materiais didticos que reflitam os anseios do documento.

    Resumo

    No presente captulo, discutimos o contexto educacional brasileiro e

    as muitas reformas realizados em vrios momentos de nossa histria,

    sobretudo, no que se refere ao ensino de lnguas estrangeiras. Essa

    discusso teve como propsito contextualizar o modelo em vigor, a

    partir dos documentos editados com base nas leis que regem a educao

    em nosso pas, LDB\PCNs, e ao mesmo tempo, fazer voc refletir sobre

    tais diretrizes e a prtica docente na maioria das escolas do ensino

    mdio e fundamental, tanto pblico quanto privado. importante ter

    a conscincia de que tais documentos devem nortear a elaborao do

    Projeto Poltico Pedaggico (PPP) da unidade escolar, para no haver

    discrepncias entre as escolas e os contedos nelas trabalhados. Nestesentido, destacamos aqui o seu papel e responsabilidade enquanto

    professor e sujeito participativo nas escolhas, elaborao e prticas

    didtico-pedaggicas.

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    CAPTULO03

    3Texto, gnero textual e ensino

    de lngua

    Neste captulo, faremos reflexes e questionamentos sobre os PCNs e o ensino

    aprendizagem de lnguas, os modelos e as prticas existentes, bem como sua

    eficincia nos dias atuais. Com base neste paralelo, compreenderemos que

    o ensino de lnguas a partir dos gneros textuais mais efetivo e possibilita

    aos sujeitos participantes um uso real e significativo da lngua estrangeira.

    3.1 Introduo

    Os documentos oficiais (PCNs) insistem no trabalho centrado

    no texto e, em virtude disto, importante que os alunos construam

    conhecimentos partindo desta perspectiva. Ao direcionarmos nosso

    olhar para o ensino de lnguas e a lngua em uso a partir da compreenso

    e produo oral e escrita em contexto, constatamos que os sujeitos no

    s aprendem a lngua para se comunicar, mas tambm comeam a

    desenvolver competncias e a ver sentido no ensino-aprendizagem de

    lnguas estrangeiras. Isso faz com que passem a refletir e a sentir-se como

    autores medida que, de acordo com Rodrigues (2011) seus interlocutores

    e textos adquirem diferentes lugares, propsitos e situaes.

    Os PCNs do Ensino Fundamental, em 1998, j sinalizavam no

    apenas para a questo de se trabalhar com os textos, mas para que se

    privilegiasse a leitura, j que nesta etapa o ensino da Lngua Estrangeirafuncionaria mais como sensibilizao para a aprendizagem do que como

    aprendizagem propriamente dita. No que desta forma fosse excluda a

    possibilidade de o professor explorar os textos e fazer com que os alunos

    estivessem expostos lngua estrangeira e que se buscasse desenvolver

    todas as habilidades lingusticas.

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    3.2 Os textos e o ensino de LE

    Os textos, sobretudo os gneros textuais, na ltima dcada,

    assumiram um alto statusno ensino de lnguas, passando a figurarem revistas, artigos e discursos no meio acadmico e educacional.

    Lamentavelmente, este lugar de respeito acaba sendo relegado

    enunciao, pois na maioria das salas de aula, seja no Ensino

    Fundamental, Ensino Mdio ou Superior, a referncia ou expresso,

    na prtica, acaba no tendo nenhum significado.

    De modo geral, ao fechar a porta da sala de aula, o professor

    continua trabalhando a LE com foco nico na gramtica, usando muitasvezes o texto como pretexto, mantendo a tradio implcita e equivocada

    de que saber uma lngua saber gramtica. Mesmo os materiais e livros

    didticos tm como espinha dorsal o sistema gramatical e, na maior

    parte das vezes, o sistema verbal.

    O ponto de vista adotado neste livro orienta para o vis

    sciointeracionista da linguagem, pois acreditamos que na lngua

    em uso, nos textos e gneros textuais os aspectos gramaticais esto,

    naturalmente, implcitos e so tratados como ferramentas, sendo que

    seu aprendizado em paralelo possibilita aos alunos e professores um

    melhor e mais reflexivo domnio das habilidades lingusticas.

    Os PCNs sugerem que em todas as disciplinas devem constar

    atividades que promovam o (re) conhecimento de como se d a

    vida em sociedade, a atividade produtiva e a experincia subjetiva.

    Todas as realizaes tanto da vida em sociedade, da atividadeprodutiva, quanto da experincia subjetiva correm/acontecem por

    meio da linguagem seja ela verbal ou no-verbal- e esto sempre

    situadas em um determinado contexto scio-histrico-cultural.

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    CAPTULO03

    Quando se trata de lngua estrangeira, a

    abordagem do elemento cultural ainda mais

    importante, pois o aluno passar a se deparar

    com novas prticas sociais, novos costumes,antes desconhecidos, mas que agora passam a

    se desvendar por intermdio da nova LE.

    Nesses documentos, as orientaes se

    ampliam e intensificam a ideia de vida em

    sociedade, trabalho, sob uma perspectiva de

    construo de conhecimentos, cabendo aos educadores desenvolver no

    aluno a conscincia crtica para a construo da cidadania. Neste aspecto,a aprendizagem de uma Lngua Estrangeira tem a responsabilidade de

    permitir ao aluno a tomada de conscincia de outros modos de ver o

    mundo, alm de desenvolver a capacidade crtica, motivao para a

    mudana e valores como o respeito pelo outro, pelo diferente, o novo.

    3.3 Texto e textualidade

    Os textos, para Bazerman (2006) organizam a vida e as atividades

    humanas dos mais diversos grupos de pessoas que convivem em

    sociedade, e caracterizam-se como formas de expresso pelas quais os

    indivduos executam tarefas e produzem fatos sociais.

    Koch (2008) considera que o conceito que se tem de texto depende

    das concepes que se tenha de lngua e de sujeito, e importante

    esclarecer tais concepes para deixar claro a partir de que perspectiva

    se deseja tratar ou trabalhar.

    Seguindo este entendimento, podemos ver a lngua como:

    representao do pensamento e do sujeito como o responsvel

    por suas aes e de seus dizeres, na qual o texto concebido

    como um produto do pensamento do autor e ao leitor\ouvinte

    cabe somente captar essas representaes mentais e intenes,

    deixando os receptores em uma posio puramente passiva;

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    cdigo (instrumento de comunicao) e de sujeito pr

    determinado pelo sistema, concebe-se o texto como simples

    produto da codificao de um emissor a ser decodificado por

    um leitor ouvinte, e para tanto basta apenas conhecer o cdigo.Aqui, tambm, a postura dos receptores totalmente passiva;

    interao, na qual os sujeitos so protagonistas sociais,

    considera-se o texto como o lugar em que se d a interao entre

    interlocutores/sujeitos ativos que, no texto, dialogicamente,

    constroem-se e so construdos. (KOCH, 2008, p. 187-188).

    No texto, segundo Koch (2008), h espao para toda uma gamade implcitos, de variados tipos, que apenas podem ser detectveis

    quando se tem, como pano de fundo, o contexto sociocognitivo dos

    participantes da interao.

    o ato de haver interpretabilidade por parte de uma comunidade de

    usurios situa o texto no tanto na estrutura imanente de um discurso,

    mas, principalmente, na matriz social no interior da qual o discurso

    produzido e compreendido. Esse ato tambm sinaliza uma orientao

    social, segundo a qual o texto, o que quer que este seja, um enmeno

    comunicativo. (HANKS, 2008, p.119)

    J a textualidade refere-se aos elementos ou qualidade de coerncia

    ou conectividade que caracterizam o texto. Segundo Hanks (2008),

    possvel que a conectividade dependa das propriedades pertencentes ao

    artefato textual, dos movimentos interpretativos de uma comunidade de

    leitores\ouvintes ou de uma combinao de ambas. Em outras palavras,

    a textualidade, em uma primeira leitura, a qualidade de coerncia ou

    de conectividade que caracteriza o texto.

    Texto pode ser usado para designar qualquer configurao de

    signos coerentemente interpretvel por alguma comunidade de

    usurios, quando usado genericamente. (Hanks, 2008, p. 119).

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    CAPTULO03

    Nesta linha de raciocnio, para Hanks (2008), texto e textualidade

    integram vrios outros conceitos como o fio discursivo ou cotexto, a

    interpretao do texto ou metatexto, e o ambiente lingustico, social,

    psicolgico ou contexto, em referncia ao mbito mais amplo, ao qual otexto responde e sobre o qual ele opera.

    3.4 Gneros textuais

    Ao longo dos anos, a concepo de texto foi passando a ser concebida

    de variadas formas, conforme a linha de pensamento e concepes sobre

    lngua e linguagem que os tericos manifestavam em seus escritos.

    Todas as eseras da atividade humana, por mais variadas que sejam, esto

    sempre relacionadas com a utilizao da lngua. No de surpreender que

    o carter e os modos dessa utilizao sejam variados como as prprias

    eseras da atividade humana, o que no contradiz a unidade nacional

    de uma lngua. A utilizao da lngua eetua-se em orma de enunciados

    (orais e escritos, concretos e nicos, que emanam dos integrantes de uma

    ou de outra esera da atividade humana (BAKHTIN, 2003, p. 279).

    A concepo de Bakhtin a respeito dos gneros do discurso representa

    uma mudana no paradigma terico dos estudos da linguagem, que se

    contrape aos enfoques anteriores, sobretudo, de base estruturalista.

    O conceito tradicional de gnero em sua maioria voltado aos estudos

    literrios e que pretendiam a identificao dos tipos textuais, passa

    a ter uma nova concepo, sobretudo para conseguir explicar

    a ligao entre regularidades formais e fenmenos do discursoem funo das mudanas sociais, culturais e disciplinares para

    adequar-se s necessidades de anlises discursivas no literrias de

    fala e escrita, o mesmo ocorrendo com os estudos retricos que se

    convencionou chamar de Nova Retrica.

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    Nos anos 80, a concepo de texto como processo, representando os

    eventos comunicativos, atravs dos quais os sujeitos usam a linguagem,

    tem sua grande virada a partir da vertentesociointeracionistade Bakhtin

    e socioconstrutivistade Vygotsky. Deste momento em diante, de acordocom Alcaraz (2012) um olhar mais abrangente sobre texto ganha forma,

    passando a ser concebido como discurso, prtica de linguagem e ao

    entre sujeitos em um contexto scio-histrico inserido. Muda a direo

    e a concepo do sujeito social, dialgico e polifnico, quem produz o

    discurso e a interao, em suas prticas da vida diria com os demais.

    Os conceitos com respeito dialogia, polifonia, contexto scio-

    histrico, cultural etc., tambm passam a merecer especial ateno,

    pois o corao da atividade interpretativa est no carter social da

    cognio e, portanto, no sujeito interativo um sujeito que constri

    a identidade, o conhecimento na dialogia, no partilhamento com o

    outro (MIRANDA, 2001, p. 59).

    A teoria dos gneros textuais se v impulsionada na dcada de 80,

    a partir dos estudos empreendidos por Bakhtin e da concepo de base

    sociointeracionista, no mbito da filosofia da linguagem, em oposio

    viso formalista e estruturalista que at ento imperava. Sobressai,na concepo bakhtiniana da linguagem, a importncia da interao

    social, estabelecido como o lugar da formao dos enunciados verbais,

    construes discursivas, relativamente estveis, social e culturalmente

    construdas, para atender a diferentes intenes comunicativas.

    a verdadeira substncia da lngua no constituda por um sistema

    abstrato de ormas lingusticas, nem pela enunciao isolada, nem

    a partir desse momento que o sujeito social passa a ser visto

    como o centro das atenes de todos os estudos da linguagem, pois

    comea a ser percebido como protagonista, dono de suas aes e

    produtor dos discursos/textos nas interaes que estabelece com

    os demais, gerando significados no uso real da linguagem.

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    CAPTULO03

    pelo ato psquico-fisiolgico de sua produo, mas pelo enmeno

    social da interao de linguagem, realizada atravs da enunciao e

    das enunciaes. A interao de linguagem constitui, assim, a realidade

    undamental da lngua (BAKHTIN, 1998, p. 135-136)

    Os textos e os gneros textuais esto arraigados vida cultural, so

    o resultado de trabalho coletivo e entidades sciodiscursivas, produto

    da ao criativa, caracterizando-se como eventos dinmicos, flexveis e

    plsticos, uma vez que surgem, situam-se e integram-se funcionalmente

    nas culturas em que se de desenvolvem (MARCUSCHI, 2002, p. 20).

    Frequentemente, nos deparamos com novos gneros ou gnerosemergentes, que se apoiam em outros gneros pr-existentes, como

    diz Bakhtin (1998), ao se referir assimilao de um gnero por outro,

    passando a gerar novos, fenmeno chamado de transmutao.

    [...] os gneros textuais surgem, situam-se e integram-se uncionalmente

    nas culturas em que se desenvolvem. Caracterizam-se muito mais por

    suas unes comunicativas, cognitivas e institucionais do que por

    suas peculiaridades lingusticas e estruturais. So de dicil definio

    ormal, devendo ser contemplados em seus usos e condicionamentos

    scio-pragmticos caracterizados como prticas scio-discursivas.

    Quase inmeros em diversidade de ormas, obtm denominaes

    nem sempre unvocas e, assim como surgem, podem desaparecer.

    (MARCUSCHI, 2002, p. 20-21)

    lcito afirmar, dentro desta perspectiva, que impossvel a co-

    municao que no se d atravs de um texto, que por sua vez nos faz

    compreender sua estrutura, funcionalidade, condies de realizao econtextos de uso. Pois como afirma, so tipos relativamente estveis de

    enunciados elaborados pelas mais diversas esferas da atividade huma-

    na. (BAZERMAN, 2006, p. 48).

    Seguindo essa linha de pensamento, e por sua condio de

    relatividade, podemos dizer que o gnero possibilita a flexibilizao no

    que diz respeito a sua composio. Permite ainda a subcategorizaes

    Para complementar seuestudo, consulte o textoGnero(s) resumo na

    perspectiva bakhtiniana,publicado nos Anais do 6Encontro Celsul - Crculo deEstudos Lingusticos do Sul.Disponvel em: .

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    dentro do prprio gnero ou ainda, a criao de subgneros, na medida

    em que sua natureza variada e as denominaes recebidas so limitadas,

    da mesma forma que os eventos e situaes comunicativas tambm o so.

    Como afirma Kche (2010, p. 11), a interao social ocorre por

    meio de gneros textuais especficos que o usurio utiliza, disponveis

    num acervo de textos constitudo ao longo da histria pela prtica

    social. E a seleo ou escolha do gnero textual depende sempre das

    intenes do sujeito e do contexto ou da situao sociocomunicativa

    qual pertence, levando-se sempre em considerao a finalidade do texto

    e seu leitor/ouvinte, bem como o entorno scio-histrico em que se

    desenvolve a comunicao.

    Resumo

    Neste captulo, traamos um paralelo entre os PCNs e o ensino de ln-

    guas em nosso pas e propomos uma reflexo sobre o ensino aprendi-

    zagem de lnguas e a realidade da sala de aula. Tambm revisitamos al-

    guns conceitos sobre texto, textualidade e gneros textuais para que se

    compreenda que as prticas sociais se fazem atravs deles, que ensinar

    lnguas com esta perspectiva possibilita aos alunos e professores um efe-

    tivo uso da LE e que esta linha de trabalho propicia e facilita a interao

    entre ensino aprendizagem, lngua(gem) e sujeitos.

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    Unidade BUnidades didticas e gneros textuais

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    4 A elaborao de unidades

    didticas a partir de gnerostextuais

    Neste captulo, abordaremos a relao entre a prtica do ensino de ELE

    e os gneros textuais atravs da elaborao de uma unidade didtica.

    Alm disso, voc ter uma ideia do conceito de Mapa Semntico e de suas

    possveis aplicaes no ensino de lnguas estrangeiras.

    4.1 Introduo

    Considerando os conceitos apresentados nos captulos anteriores

    deste livro, relataremos parte de uma sequncia didtica realizada no

    ano de 2009 atravs do Projeto Incluir.

    O eixo orientador das aulas e das atividades so as Unidades

    Didticas, definidas aps a determinao de um tema central. A partir

    de teorias norteadoras, aplicamos os Mapas Semnticos, objetivando

    o mapeamento grfico destas Unidades e utilizamos os gneros

    textuaiscomo fundamentao para o desenvolvimento dos contedos

    programticos. Assim, por intermdio de atividades ldicas e tendo os

    gneros textuais como norteadores das atividades didtico-pedaggicas,

    entenderemos a incluso social atravs do ensino da lngua espanhola.

    4.2 Mapa Semntico e sua aplicao

    No contexto de nossa pesquisa, utilizamos oMapa Semntico como

    fundamentador e norteador da elaborao de unidades didticas e do

    planejamento de suas respectivas aulas.

    Consulte o material Potenciarla capacidad de aprender ypensar e conhea mais sobreesta tcnica. Disponvel em:.

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    importante ressaltar que os mapas semnticos se diferem dos

    mapas conceituais por no seguirem uma estrutura hierrquica, isto

    , as subcategorias so organizadas a partir do mbito semntico

    e da especificidade de cada um. Assim, de forma sinttica, os mapassemnticos so estruturados atravs da relao entre os significados

    das palavras. Os mapas conceituais, por outro lado, so determinados a

    partir de uma hierarquia de ideias e das relaes que se estabelecem entre

    elas. Dessa maneira, os mapas conceituais representam graficamente as

    relaes significativas entre ideias e conceitos.

    O conceito de mapa foi ampliado na dcada seguinte por Heimlich

    e Pittelman (1990 apud COSTA, 2002) no livro Los mapas semnticos.

    Estrategias para su aplicacin en el aula. Para os autores, os mapas

    semnticos so diagramas que ajudam o aluno a perceber como se

    relacionam as palavras entre sim, observar palavras conhecidas a partir

    de uma nova perspectiva, aprender usos e significados de palavras

    novas, ampliar, atravs de discusses com os demais estudantes, seus

    conceitos. O conceito tem sido retomado nos ltimos anos devido s

    investigaes sobre cognio, aquisio de linguagem e processamento

    da informao.

    Priorizando desta forma o conhecimento prvio e a memria

    de trabalho do indivduo, o mapa iniciado a partir de um tema

    principal e deste tema passa-se s subcategorias mais especficas

    ideia proposta. A partir dessa base, possvel agregar ou redefinir

    conceitos no decorrer do processo de ensino-aprendizagem, pois

    muitas vezes necessria uma nova adequao do contedo ao perfil

    e s necessidades do aluno.

    O conceito de Mapa Semntico, comumente confundido com

    Mapa Conceitual foi, inicialmente, proposto por Pearson e Johnson

    (1978) e pode ser definido como uma representao grfica dopensamento, tornando-se, assim, uma ferramenta para organizar

    e representar o conhecimento.

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    CAPTULO04

    No ensino de lnguas estrangeiras, o mapa foi, inicialmente,

    utilizado nos processos de ensino-aprendizagem somente como uma

    forma de acrscimo de lxico. Porm, hoje, tambm utilizado para

    valorizar o conhecimento prvio do aluno, fazendo com que existamrelaes com contedos j vistos em inmeras reas.

    4.3 Materiais e mtodos

    Para exemplificar o conceito de Mapa Semntico e contextualizar

    nossa pesquisa, relataremos, a seguir, uma sequncia didtica realizada

    na Casa So Jos, no segundo semestre de 2009. A partir do tema

    principal Lazer, passamos subcategoria Cultura, com enfoque na

    subcategoria Filmes, e como introduo ao tema, nos centramos na

    subcategoria Sinopse.

    Como apoio para o professor, os mapas podem ser utilizados na

    elaborao de unidades didticas, no planejamento de aulas, no

    acompanhamento, na reviso, na pr e ps-leitura e para promover

    a interao em sala de aula no momento de construo do mapa.

    E como apoio ao aluno, facilita a compreenso, a memorizao, a

    sntese, a reviso e a prpria organizao do seu conhecimento.

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    Lazer

    Cultura

    Cin

    ema

    Onde

    Encontrar

    Mapear

    Cinema/Teatro

    Filmes

    GneroTextual

    Sinopse

    ConceitodoGnero

    TextualSino

    pse

    Produ

    oescritada

    Sino

    psedofilme

    Exibiodofilme

    Moscona

    utas

    Compreenso

    LeitoradeSinopses

    Compreenso

    leitoradetextos

    sobreaLua

    FasesdaLua

    ? ?

    ?

    ?

    ?

    Figura4.2Recortedaunidadedidticaedassubcategoriasabordadasnasatividades

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    CAPTULO04

    Conhea, ento, os resultados das teorias discutidas at ento por

    meio do relato da experincia vivida, no segundo semestre do ano de

    2009, na qual o pblico-meta foram crianas do grupo G3 (10 a 12 anos).

    Tendo em vista a sequncia didtica que vinha sendo desenvolvida

    com esta turma, acompanhe o recorte das atividades que envolveram o

    gnero Sinopsede filmes infantis.

    4.3.1 Primeira etapa: Reconhecimento e apresentao do

    gnero textual sinopse

    Antes de conceituar formalmente o gnero textual sinopse,

    comeamos perguntando s crianas se sabiam o que eram sinopses,

    passando a dar exemplos de lugares nos quais seria possvel encontrar o

    respectivo gnero textual. O conhecimento prvio dos alunos comeou

    a ser ativado a partir das interaes e logo demonstraram ter uma ideia

    inicial sobre o tema abordado. Dessa maneira, a atividade foi significativa

    ao ser contextualizada e reconhecida pelo aluno como parte do seu

    conhecimento de mundo.

    A partir das respostas apresentadas, fomos desenvolvendo um

    mapa semntico no quadro e indagando onde eles podiam encontrar

    a sinopse. Aps a discusso em grupos das respostas apresentadas,

    entregamos um texto que continha o conceito do gnero textual sinopse,

    com um exemplo da sinopse do filme Buscando a Nemo.Aps a leitura

    dos textos, organizamos as crianas em trs grupos, entregando tirinhas

    com trs diferentes sinopses em espanhol de filmes infantis famosos.

    As crianas, aps leitura com seu grupo, tinham que contar s outrasequipes a histria do filme e ento os colegas deveriam adivinhar o

    nome do filme. De forma ldica e atravs do gnero textual sinopse,

    aproximamos a lngua espanhola s crianas.

    O ttulo do filme, em portu-gus, Procurando Nemo.Disponvel em: .

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    4.3.2 Segunda etapa: Compreenso leitora

    Iniciamos a nossa prtica pedaggica a partir de perguntas sobre o

    que eles se lembravam da ltima aula, na qual tinha sido discutido sobreo gnero sinopse. Posteriormente, a sala foi dividida em trs grupos

    pequenos, sendo que cada um foi acompanhado por um monitor. Em

    seguida, repartimos quatro sinopses de filmes infantis diferentes para

    cada grupo e foi feita a leitura em voz alta dos resumos dos filmes, o que

    proporcionou a leitura do texto em espanhol pelas crianas.

    Aps a leitura, eles deveriam adivinhar de que filme se tratava. Alguns

    conseguiram completar o desafio e os que no sabiam buscavam a ajuda deseus colegas. Aps isso, entregamos as figuras com os psteres dos filmes

    para que os alunos pudessem fazer associaes dos textos s imagens.

    Com estas etapas, percebemos a importncia de trabalharmos

    com textos relacionados realidade das crianas o que tambm

    foi fundamental para percebermos o interesse delas pelo espanhol e

    pelos gneros textuais.

    Depois de terem feito as associaes, perguntamos a eles se tinham

    assistido a algum dos filmes mencionados, quais eram de sua prefern-

    cia e a razo por tal gosto. A partir das respostas e da escolha das crian-

    as chegamos ao filme Os Mosconautas, a ser tratado na terceira etapa

    desta sequncia didtica.

    4.3.3 Terceira etapa: Exibio do filme Os Mosconautas

    Dando continuidade s atividades, foi exibido o filme Os Mosco-

    nautas, para que assim as crianas efetivassem o conhecimento adqui-

    rido at ento. A projeo do filme aconteceu na ONG Casa So Jos e a

    sala foi especial e cuidadosamente preparada com um telo para tal ati-

    vidade. Todos se mostraram muito interessados em poder ter a oportu-

    nidade de ver o filme em telo, uma vez que muitos deles nunca tinham

    tido a oportunidade de ir a um cinema.

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    CAPTULO04

    4.3.4 Quarta etapa: Construo oral da histria

    A partir da experincia anterior, iniciamos a quarta etapa da se-

    quncia didtica perguntando aos alunos suas opinies sobre o filme,bem como sobre o tema e elementos principais. Pouco a pouco eles

    contaram a histria do filme e todas as crianas participaram de forma

    espontnea na construo oral da histria de Os Mosconautas.

    Os alunos mencionaram que o tema principal do filme era o

    espao e que o objetivo das moscas era chegar lua. Dessa forma,

    perguntamos o que eles sabiam sobre a lua e eles deram respostas

    como Ela cinza, redonda.... Em seguida, relataram de que maneiraa lua influenciava em suas vidas, o que escutavam falar sobre ela, etc.

    Aps a discusso, organizamos trs grupos, e os alunos leram

    textos em espanhol sobre a Lua. medida que amos lendo, fazamos

    perguntas, comentvamos sobre os textos e os alunos participaram

    ativamente da leitura. Aps isso, os alunos compartilharam com o

    grande grupo os contedos lidos e os que mais chamaram a ateno

    de cada um.

    4.3.5 Quinta etapa: Ampliao do conhecimento prvio

    De incio, perguntamos o que se lembravam da ltima aula e logo

    muitas crianas se manifestaram respondendo sobre vrias curiosidades

    relacionadas com o tema abordado como, por exemplo, a chegada

    do homem lua, suas caractersticas bsicas etc. Logo, cada criana

    recebeu uma cartolina com uma abertura circular e uma figura da lua.Colocando a figura da lua atrs da cartolina a criana podia deslocar a

    figura o quanto desejasse para demonstrar a fase da lua referente ao dia

    escolhido que estava na parte de trs da cartolina.

    Fonte: http://tinyurl.com/c57zsx9

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    4.3.6 Sexta etapa: Produo escrita da sinopse do filme

    Como fechamento deste segmento da sequncia didtica, fizemos

    o resgate com os alunos das primeiras atividades realizadas em relaoao gnero sinopse. Para isso, a turma foi organizada em trs grupos e

    entregamos uma folha que continha o pster do filme Os Mosconautas

    e, ao seu lado, um espao em branco sublinhado, para que eles escrevessem

    o resumo do filme que assistiram e contaram anteriormente.

    Os alunos j haviam feito o relato oral do filme e, portanto,

    conseguiram recordar mais facilmente a histria. Posteriormente, um

    aluno de cada grupo leu sua sinopse. A atividade pareceu muito bemaceita e a construo conjunta alcanada deu resultados surpreendentes.

    Cabe ressaltar que as atividades descritas aqui correspondem apenas a

    uma parte da sequncia didtico-metodolgica realizada no ano de 2009.

    Para finalizar, importante mencionar que, durante as aulas, os

    alunos eram bastante estimulados a interagirem e se expressarem

    oralmente ou pela escrita na lngua espanhola. No entanto, como

    muitos ainda esto em processo de alfabetizao, a lngua materna

    empregada em vrios momentos tanto por eles como pelos professores.

    Resumo

    Neste captulo, conhecemos as etapas da aplicao de parte de uma

    sequncia didtica no ensino de lngua espanhola para crianas, bem

    como as possveis estratgias do uso de gneros textuais. Alm disso,

    tambm conhecemos o conceito do Mapa Semntico e sua aplicao noensino-aprendizagem. A ferramenta, alm de auxiliar na organizao

    e representao grfica do conhecimento, pode tambm contribuir no

    planejamento de aulas a partir de um tema principal, no diagnstico de

    conhecimento prvio do aluno, na reviso de contedos, entre outros.

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    CAPTULO05

    5 Propostas de ensino atravs

    de gneros textuais

    Neste captulo, socializaremos experincias de ensino que certamente

    contribuiro na sua formao acadmica e o estimularo a (re)conhecer

    e refletir sobre as diversas possibilidades didticas por meio do uso dos

    gneros textuais e da elaborao do mapa semntico como eixo norteador

    na prtica de ensino de lngua estrangeira.

    5.1 Introduo

    Como j mencionado anteriormente, nos captulos iniciais des-

    te material, sustentamos a nossa viso de ensino-aprendizagem de LE

    como prtica social. Isso implica que nos posicionemos como agentes

    da linguagem, em prol da construo de experincias de ensino que vi-

    sem uma troca dialgica, crtica e reflexiva entre aluno e professor, atra-

    vs do uso da lngua.

    Nesse sentido, exemplificaremos como possvel realizar essa

    orientao relatando algumas experincias didticas advindas da

    prtica de espanhol ensino de lngua estrangeira (ELE). Assim,

    relataremos a continuao uma sequncia didtica elaborada a partir

    da temtica: Diversidade Cultural Hispnica, destinada a um grupo

    de estudantes universitrios matriculados regularmente no nvel 2 do

    Curso Extracurricular de Lngua Espanhola da Universidade Federal

    de Santa Catarina - UFSC.

    Esta sequncia didtica tevecomo base o estudo do livroDirios de Motocicleta - No-tas de un viaje por AmricaLatina - Ernesto Che Guevarae da visualizao do filme:Dirios de Motocicleta dodiretor Walter Salles.

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    Filme

    Livro

    Livro

    Cinema

    Literatura

    Msica

    Diversidade

    Cultural

    Alotrolad

    odelro

    GneroTextualSinopse

    ProduodeSinop

    se

    Viagem

    Chile

    Poesia

    Argentina

    Literatura

    GneroTextual

    Microcuento

    Peru

    Hist

    ria

    Litera

    tura

    GneroTextual

    Com

    ics

    Seteensaios

    sobrearealidade

    Peruana

    Comunismo

    Dcadasde80e90

    ProduoGnero

    TextualRelato

    P

    roduoGnero

    TextualRelato

    ?

    ?

    ?

    ?

    ?

    ?

    ?

    Figura5.1Mapasemntico:sequ

    nciadidticagnerodiriodeviage

    m

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    CAPTULO05

    Ao compartilhar essa experincia de ensino, acreditamos auxiliar

    significativamente no seu futuro fazer pedaggico e no planejamento

    das suas aulas.

    5.2 Materiais e mtodos

    Com a finalidade de demonstrar os resultados da experincia

    pedaggica, especificaremos os desdobramentos metodolgicos, etapas

    e recursos didticos utilizados. Esta sequncia didtica parte da temtica

    central: Diversidade Cultural Hispnica e teve como base o estudo do

    livro Dirios de Motocicleta, como mencionado anteriormente.

    Tendo em vista que a sequncia didtica foi desenvolvida durante

    todo o semestre com o grupo, ser destacado aqui apenas um recorte

    para apresentao das atividades desenvolvidas em quatro etapas para a

    elaborao e produo do gnero textual Relato.

    As trs primeiras etapas foram idealizadas, objetivando levar o aluno,

    atravs de outros gneros textuais escritos e/ou orais -, construo do

    gnero pretendido como objeto principal: relato de viagem.

    5.2.1 Primeira etapa: a diversidade cultural hispnica

    preparando as malas para o encontro de culturas

    No incio do semestre, para se obter um perfil geral das

    expectativas da turma, foi questionado ao grupo quais seriam os

    interesses particulares de cada estudante sobre aprendizado de espanhol.Os alunos responderam em voz alta e comentando as suas diversas

    motivaes de aprendizagem de ELE, as respostas foram variadas como:

    aprendo porque importante na carreira falar idiomas;

    porque gosto da lngua;

    estudo porque necessrio no contexto MERCOSUL;

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    quero aprender porque o Brasil um pas rodeado de pases

    que falam espanhol, porm no se comunica com seus vizinhos

    pela diferena da lngua; e

    quero aprender a escrever e falar fluente.

    Aps ouvir as motivaes dos estudantes, percebemos que a maioria

    demonstrou interesse em aprender os aspectos culturais dos pases de

    lngua espanhola e pontuaram que na maioria dos cursos de lngua este

    aspecto pouco abordado.

    Por isso, com o intuito de incentivar a pesquisa para o conhecimentoda riqueza da diversidade cultural existente nos pases hispnicos e,

    principalmente, motivar o dilogo entre lnguas e culturas diferentes, ou

    seja, motivar o dilogo intercultural entendido comoum fenmeno de interao

    entre culturas diversas, de descentralizao e apreciao de diferenas,

    de modo que possa caracterizar a singularidade de cada individuo, e

    com seu contexto cultural (ZIPSER; POLCHLOPEK; FRENKEL; 2005,

    p. 62) Assim, foi feito um sorteio das bandeiras dos pases hispnicos.

    Cada estudante, ento, escolheu aleatoriamente uma bandeira e teve

    tempo necessrio para realizar a pesquisa em casa e apresentar ao

    grupo algum aspecto escolhido do pas sorteado, por exemplo: histria,

    msica, culinria, literatura, geografia etc. Nesta etapa, foram dedicados

    15 minutos para cada apresentao oral.

    Por meio desta atividade, os estudantes puderam expressar as suas

    experincias individuais, construindo coletivamente um dilogo entre o

    novo saber aprendido e o conhecimento prvio.

    Durante cada apresentao, foram realizadas discusses que

    objetivaram fazer com que os estudantes pudessem relacionar seus

    conhecimentos prvios e experincias relativas ao pas apresentado,pois concordamos com Lajolo (1994, p. 99) que afirma: S a partir

    da evocao de experincias vividas pelos leitores o texto encontra

    seu sentido.

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    CAPTULO05

    5.2.2 Segunda etapa: o cinema criando o cenrio

    multicultural atravs de gneros orais e escritos

    Aps a visualizao do filme Dirios de motocicleta, a fim demotivar a competncia comunicativa e reflexo para construir um

    dilogo intercultural conjunto, realizamos uma roda de conversa para

    recapitular a histria e os temas tratados dentro do filme. Em seguida,

    para verificar o conhecimento prvio e introduzir o tema gnero textual

    sinopsee suas prticas sociais,perguntamos aos estudantes o que eles

    entendiam por sinopse, se sabiam onde podiam encontrar, para quem

    se destinam e qual o objetivo da sinopse, entre outros questionamentos.

    Durante a atividade, os estudantes foram relembrando as cenas do

    filme e dialogando coletivamente sobre os aspectos culturais, polticos,

    histricos e sociais presentes naqueles pases e tambm atravs das suas

    experincias de viagens a pases da Amrica Latina.

    A partir das questes, construmos uma discusso sobre as

    caractersticas desse tipo de texto, a fim de sistematizar os conceitos e a

    partir das respostas foi elaborado coletivamente o conceito de Sinopse.

    Tambm, verificamos que por ser um gnero textual presente na prtica

    social dos alunos eles no tiveram problemas em defini-lo. Na sequncia,

    objetivando desenvolver a competncia escrita e a produo do gnero

    textual, entregamos aos alunos uma ficha e solicitamos que elaborassem

    a Sinopse do filme anteriormente observado.

    As tarefas propostas, mesmo com um nvel

    de dificuldade razovel, no apresentaram maiores

    problemas para os alunos, pois essa atividade foiexecutada de forma harmnica em sala de aula e

    com auxlio e monitoramento do professor. Para

    dar trmino a esta sequncia didtica, os estudantes

    foram encorajados a compartilhar em uma roda de

    leitura suas produes escritas em espanhol.

    O filme foi fundamental paraa atividade, considerando aimportncia da abordagem

    sobre as culturas, realidadehistrica e social da Amri-ca Latina, principalmente,no que se refere aos pases

    Argentina, Chile e Peru.

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    5.2.3 Terceira etapa: literatura: as diferentes estradas

    lingusticas

    Visando aprimorar a competncia de leitura e compreenso textual,assim como fomentar a experincia do prazer da leitura dentro da sala de aula,

    a terceira etapa aconteceu a partir da leitura da seleo de alguns captulos

    do livro Diarios de Motocicleta - Notas de un viaje por Amrica Latina. A

    atividade desenvolveu-se em trs encontros, nos quais os estudantes foram

    organizados em grupos de quatro, cada um com diferentes captulos dos

    relatos correspondentes ao livro.

    Durante a leitura, para esclarecer as dvidas dos estudantesreferentes ao lxico, expresses idiomticas, tpicas dos falantes

    argentinos, foram realizadas contextualizaes pertinentes a

    respeito da situao de enunciao para uma melhor compreenso

    do fenmeno lingustico.

    Aps o trmino da tarefa de sntese, os estudantes fizeram uma

    roda de leitura e socializaram com os outros grupos sua sntese do

    relato. Nesta etapa da atividade, demonstraram-se muito participativos

    porque, alm compartilharem a leitura coletivamente, foram

    incentivados a relacionar comparativamentefilmee texto, resgatando,

    assim, o conhecimento prvio obtido atravs da visualizao do

    filme. Alm disso, foi promovido o dilogo coletivo entre estudantes

    e professor, oportunizando trocas de suas prprias experincias,

    evidenciando os confrontos culturais vivenciados atravs de suas

    viagens pela Amrica Latina e outros pases.

    5.2.4 Quarta etapa: gnero textual relato de viagem: nosso

    destino final

    Visando o enlace com as etapas anteriores, e tambm com a finalidade

    de fazer com que os alunos expressassem o conhecimento adquirido atravs

    das etapas do Cinema e Literatura j trabalhados, promovemos um dilogo

    com o grupo. Neste dilogo, foi questionado do que se tratava e em que

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    estava baseado o filme visto na segunda etapa e tambm quem, onde, como

    e por que foi escrito o filme.

    A partir das respostas dos alunos, nas quais reconheceram o gnerotextual dirio de viagem, foi discutido sobre a estrutura desse gnero

    textual, a qual j tinha sido tratada no filme e retomada a partir da

    leitura do livro, e tambm sistematizadas as caractersticas lingusticas

    da funo social do texto: finalidade, destinatriose contedo.

    Com o propsito de efetivar o contedo discutido, solicitamos a

    tarefa final que consistiu em uma produo textual predominantemente

    descritiva. Para um melhor entendimento, entregamos aos alunos algunsmodelos de gneros textuais, tais como:

    relato de experincia, dirio de viagem,

    dirio ntimo, autobiografia etc. Na

    sequncia, foi solicitada que os alunos

    elaborassem a produo do gnero

    textual relato de viagem com base em

    alguma experincia de viagem deles,

    conforme exemplo na figura a seguir.

    Por fim, com o intuito de socializar

    as produes textuais realizadas pelos

    estudantes, organizou-se uma roda de

    leitura e conversa onde os estudantes

    puderam socializar as experincias vi-

    venciadas em viagens a partir do gnero

    textual construdo.

    Verificamos que a utilizao do

    gnero textual relato fomentou nos

    alunos posturas predispostas e sensveis

    ao dilogo intercultural, e proporcionou

    prtica docente uma consonncia

    com o proposto entre os estudiosos da Figura 5.2 Atividade produzida por um dos alunos

    em sala de aula

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    rea de ensino de LE, pois como orientam os Parmetros Curriculares

    Nacional (PCN, 1998, p.19), ao entender o outro e sua alteridade,

    pela aprendizagem de uma lngua estrangeira, ele aprende mais sobre

    si mesmo e sobre um mundo plural, marcado por valores culturaisdiferentes e maneiras diversas de organizao poltica e social. Assim,

    os estudantes, durante as etapas de pesquisa, leitura e produo textual,

    mostraram-se abertos ao conhecimento e ao respeito diversidade

    cultural presente no mundo hispnico, assim como uma predisposio

    para a construo do dilogo intercultural, demonstrando uma

    participao comprometida no processo de interao e construo do

    conhecimento coletivo.

    Resumo

    Com este captulo, socializamos e exemplificamos uma experincia pe-

    daggica a partir do uso de diversos gneros textuais no ensino-apren-

    dizagem de espanhol lngua estrangeira. Esperamos que essas ideias de

    atividades possam auxili-lo a refletir sobre as infinitas e to ricas pos-

    sibilidades didticas atravs do uso dos gneros textuais, assim como

    poder contribuir efetivamente com sua atual formao e no seu futuro

    planejamento e prtica de ensino.

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    Consideraes Finais

    Ao pensarmos e escrevermos este livro, nosso intuito oi o de trazerat voc alguns temas que contribuam para suas reflexes e aes,

    tanto na disciplina Lngua e Ensino I como em todas as demaisdisciplinas que compem o currculo do Curso de Letras EspanholEaD UFSC. provvel que muitos dos temas aqui tratados j sejamde seu conhecimento, porm nos parece importante e oportunoenatiz-los uma vez mais e sob outros enoques, agora de cartermais prtico, tendo-se em vista que estamos, exatamente, nametade de nossa licenciatura e tambm pelo ato de, a partir destemomento, vocs comearem a experienciar as atividades docentesque precedem o estgio supervisionado.

    Esperamos que os contedos aqui contidos ampliem seus

    conhecimentos acerca d