para abrir as ciências sociais

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A Construção Histórica das Ciências Sociais, do século XVIII até 1945

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Apresentação de alguns trechos da obra de Wallerstein

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Page 1: Para abrir as ciências sociais

A Construção Histórica das Ciências Sociais, do século XVIII até 1945

Page 2: Para abrir as ciências sociais

Empreendimento do mundo moderno

Tentativa: desenvolver um saber sistemático; regular a

realidade; e ser empiricamente válido

Scientia = conhecimento empírico

Page 3: Para abrir as ciências sociais

Parte de duas Premissas:

1) modelo newtoniano - prevê uma simetria entre

passado e o futuro

2) dualismo cartesiano - prevê a existência de uma

dicotomia natureza/seres humanos; matéria/mente;

mundo físico/mundo social-espiritual

Page 4: Para abrir as ciências sociais

Divisão entre Exatas e Humanas

Exatas – entendida como o “conhecimento das coisas

naturais, e de todas as Artes úteis, Manufaturas,

práticas Mecânicas, Máquinas e Invenções pela via da

Experimentação”

Humanas - envolve “o Divino, a Metafísica, a

Política, a Gramática, a Retórica, ou a Lógica

Page 5: Para abrir as ciências sociais

Ciência: leis da natureza universais e verdadeiras sob

qualquer circunstância.

Progresso: dotado do sentido de infinitude, da

tecnologia e de suas conquistas materiais.

Mudança na percepção a respeito do globo terrestre –

dotado de finitude

Page 6: Para abrir as ciências sociais

Conseqüência: encurtamento das distâncias sociais e

temporais em decorrência das viagens dos

descobrimentos e da divisão do trabalho;

Infinidade do tempo e do espaço - alimentava a idéia

de um progresso ilimitado;

Até o séc. XX a finitude da terra propiciou a

exploração ocidental pelo progresso

Page 7: Para abrir as ciências sociais

Finitude da terra e encurtamento das distâncias:

incentivaram novas explorações; alargamento da dominação

Humanos – senhores de uma unidade cada vez mais

cósmica; prepotência do homem (e da ciência).

Desprendimento da ciência com relação à filosofia –

metafísico em oposição ao termo ciência (leis da natureza)

Page 8: Para abrir as ciências sociais

Vista como fonte de um conhecimento certo

Variabilidade da chamada Filosofia – falta coesão

interna; incapacidade de resultados “práticas”

Luta epistemológica pelo controle do conhecimento

relativo ao mundo humano (controle do conhecimento

relativo à natureza já se encontrava encabeçado pelos

próprios cientistas naturais).

Page 9: Para abrir as ciências sociais

Marcado pela criação de estruturas institucionais

permanentes;

São voltadas para a produção de um novo conhecimento e

reprodução dos seus produtores

Marca determinante da história intelectual desse período

Grande processo de disciplinarização e profissionalização

do conhecimento.

Page 10: Para abrir as ciências sociais

Passam por processo de revitalização e transformação

Intuito: disponibilizar um lugar institucional para a criação de

conhecimento, visto que se notou a existência de múltiplas

espécies de sistemas sociais com variedades a espera de

explicações

Faculdades de Filosofia: edificação da autonomia de múltiplas

estruturas disciplinares pelos praticantes tanto das artes como das

c. naturais.

Page 11: Para abrir as ciências sociais

Ciências Naturais: atuavam fora da academia devido ao

apoio social e político angariado graças à promessa de

resultados práticos e de aplicação imediata

Demais estudiosos: foram os que mais se manifestaram

pela revitalização das universidades durante o séc. XIX

Estes atraem as C.N para o interior da academia graças ao

seu perfil positivo com vistas a obter apoio estatal para as

investigações “filosóficas”

Page 12: Para abrir as ciências sociais

Conseqüência: estabelece-se um espaço permanente

de tensão entre as artes e as ciências.

Revolução Francesa – lançou novas luzes à discussão

sobre este antagonismo, graças ao surto cultural que

trouxe consigo.

Page 13: Para abrir as ciências sociais

Houve necessidade de entendê-las e estudá-las para poder

organizá-las e racionalizá-las posteriormente, como se

desejava

O que se reivindicava: um espaço próprio do que seriam as

Ciências Sociais de fato, visto que já se demonstrava uma

necessidade social pelo seu surgimento.

Page 14: Para abrir as ciências sociais

Com a necessidade de organizá-las segundo critérios

estáveis, requereu-se um caráter exato ou “positivo” a esta

ciência, utilizando como modelo a física newtoniana

Preocupação em recompor a unidade nacional dos

Estados: favoreceu a criação de narrativas históricas

nacionais baseadas na investigação empírica de arquivos a

fim de poder assim escorar as novas ou potenciais

soberanias

Page 15: Para abrir as ciências sociais

Houve uma associação das narrativas históricas nacionais

com as c. sociais e naturais no sentido de rejeitar a

“especulação” e a “dedução”, características da Filosofia.

Porém, este tipo de história não via com bons olhos o

surgimento desta nova “ciência social” com intenções de

estabelecer leis universais para a sociedade, ou seja, o que

se acreditava ser uma mera generalização.

Page 16: Para abrir as ciências sociais

C. sociais- situada entre as humanidades e as c. naturais,

encontrando-se mais próxima desta última

História – mais próxima às faculdades de artes / letras

Entretanto, como cada uma destas esferas possuía sua ênfase

epistemológica própria, seus estudiosos viram-se divididos e

encurralados pelas respectivas questões.

Page 17: Para abrir as ciências sociais

Triunfo deste sobre a filosofia especulativa – prestígio social no mundo do conhecimento; meritocracia

Implicações políticas: conceito de leis deterministas era conveniente às tentativas de controle tecnocrático dos movimentos de mudanças; tanto àqueles que se opunham as mudanças tecnocráticas em defesa das instituições e tradições quanto àqueles que almejavam uma interferência mais espontânea e radical no terreno sociopolítico, interessava a defesa do particular, do não determinado e do imaginativo.

Page 18: Para abrir as ciências sociais

Em todas as partes em detrimento da Filosofia

O que restou a Filosofia?

Redefinir, de maneira mais equivalente com o próprio ethos

científico, suas respectivas atividades, principalmente por

ser conhecida pela sua faculdade de cogitar e escrever a

respeito das próprias cogitações.

Page 19: Para abrir as ciências sociais

Estabelecem regras que prescindem às análises do mundo

social.

Física social comtiana: preocupações políticas relativas ao

partido da ordem e partido do movimento decorrentes de

uma “anarquia intelectual” datada desde a Revolução

Francesa

Page 20: Para abrir as ciências sociais

Física Social: reconciliação da ordem e do progresso graças

a um “número reduzido de inteligências de elite” dotadas de

um nível de instrução adequado aptos a resolver os

problemas sociais. Instalação de um novo poder espiritual

que findaria a Revolução finalmente. “A base tecnocrática e

a função social da nova física social tornavam-se, assim,

evidentes”

Page 21: Para abrir as ciências sociais

Enquanto a ciência positiva visava pela libertação total no

concernente a teologia e a metafísica assim como a todos os

demais modos de “explicação” da realidade, os filósofos se

tornariam “especialistas em generalidades” nesta nova

estrutura do conhecimento.

Mill: correspondente de Comte no contexto inglês; defesa

não de uma ciência positiva mas de uma ciência exata.

Page 22: Para abrir as ciências sociais

História

Economia

Sociologia

Ciência Política

Antropologia

Page 23: Para abrir as ciências sociais

Garantir e avançar conhecimento ‘objetivo’ sobre a

realidade na base de descobertas empíricas

Descobertas empíricas: oposto ao trabalho de

‘especulação’; aprender a verdade em vez de intuí-la

Institucionalização: não linear, nem simples

Page 24: Para abrir as ciências sociais

Questão: deveria ser singular, ou dividida em

disciplinas diversas? Que tipo de epistemologia

empregar?

1) Onde essa institucionalização teve lugar?

Séc. XIX: a Grã-Bretanha, a França, as Alemanhas, as

Itálias e os Estados Unidos.

Page 25: Para abrir as ciências sociais

Por que essa institucionalização não ocorreu no restante do

mundo?

Universidades: não possuíam o peso / prestígio

internacional dos cinco países citados; maioria dos

estudiosos e universidades encontrava-se num destes

espaços

Page 26: Para abrir as ciências sociais

2) De nomes de ‘assunto’ e de ‘disciplinas’ avançados

no decurso do século passado

I Guerra Mundial: consenso em torno de um punhado

de nomes específicos, principalmente em torno das

cinco apontadas

Mas por que a geografia, a psicologia e o direito não

estão inclusos nesta lista?

Page 27: Para abrir as ciências sociais

Nomotéticas: visam à investigação das leis da

natureza; buscam enquadrar os fatos dentro de leis

gerais da espécie a que pertencem (psicologia)

Idiográficas: ou culturais, que visam as formas

particulares (história, arte, direito)

Page 28: Para abrir as ciências sociais

Primeira disciplina a adquirir uma existência

institucional autônoma; muitos historiadores rejeitaram

o rótulo de ciência social;

Por que isso ocorre?

Divergências internas dentro das ciências sociais –

resulta disputa entre historiadores e demais disciplinas

das primeiras

Page 29: Para abrir as ciências sociais

Prática antiga

relatos alusivos ao passado, e em particular ao passado

dos povos e dos Estados, constituíram uma prática

muito conhecida no mundo do conhecimento

O que distinguia a ‘nova disciplina’ da história tal

como esta veio a se desenvolver no século XIX?

Page 30: Para abrir as ciências sociais

Ênfase: rigorosa na descoberta de ‘o que efetivamente

aconteceu’,

Oposição: a histórias imaginadas ou exageradas, fossem estas

por lisonjearem os leitores ou para servirem aos fins imediatos

dos governantes

Conclusão: passou a ser mais exata, menos fictícia e alegórica.

Passou então a ter como máxima a busca da verdade acima de

tudo.

Page 31: Para abrir as ciências sociais

ciência utilizou de temas como: ênfase na existência de um

mundo real e tido por objetivo e cognoscível, ênfase na

prova empírica e ênfase na neutralidade do estudioso

O historiador: ex. C.N não deve buscar informações nem

nos escritos já existentes (a biblioteca, lugar da leitura) nem

nos processos do seu próprio pensamento (o estúdio ou

estudo, lugar por excelência da reflexão)

Page 32: Para abrir as ciências sociais

Onde ele deve buscar então as informações de que precisa?

Num espaço onde é possível reunir, armazenar, controlar e

manipular uma informação objetiva e exterior (o laboratório

ou o arquivo, lugar da investigação)

Page 33: Para abrir as ciências sociais

Aproximou história e ciência, entendidos como modos de

conhecimento ‘modernos’

Moderno = a não medieval

Rejeição por parte dos historiadores: busca de esquemas

gerais capazes de explicar os dados empíricos, pq qualquer

busca de eventuais ‘leis’ cientificas do mundo social os

reconduziria necessariamente à via do erro

Page 34: Para abrir as ciências sociais

“Explica o porquê de terem sido capazes, no âmbito do seu

trabalho, não só de espelharem o novo primado da ciência

no pensamento europeu, mas também de surgirem como

arautos e defensores de uma posição idiográfica e

antiteórica.” Daí a insistência dos historiadores de

pertencerem às faculdades de letras e de mostrarem

resistência em identificar-se com as CSO.

Page 35: Para abrir as ciências sociais

Válida – historiadores enfatizaram uso dos arquivos;

Arquivos: baseado num conhecimento contextual e

aprofundado da cultura;

Resultado: fez com que a investigação histórica fosse

validada quando “o historiador a levava a cabo no seu

próprio quintal.”

Page 36: Para abrir as ciências sociais

Conseqüência: os historiadores que se haviam negado a

continuar a alinhar na justificação dos reis, se acharam na

posição de justificar ‘nações’ e com freqüência os seus

novos soberanos – ‘os povos’

Isso se tornou útil aos Estados uma vez que contribuiria

para lhes reforçar a coesão social, contudo, não os ajudou a

tomar decisões quanto às políticas mais avisadas a

empreender no presente.

Page 37: Para abrir as ciências sociais

Grande procura por especialistas(funcionários públicos

x), por parte dos Estados

Por que essa procura?

Ajuda na formulação de políticas, sobretudo nos

momentos marcadamente mercantilistas dos

respectivos percursos históricos.

Page 38: Para abrir as ciências sociais

Jurisprudência (termo antigo) e o direito das nações

(termo novo). A primeira já era ofertada nas faculdades

de Direito da universidades;

A economia política (termo igualmente novo que

designava a macroeconomia ao nível das sociedades

politicamente organizadas);

Page 39: Para abrir as ciências sociais

A estatística (outro termo novo, que designava os

dados quantitativos relativos aos Estados)

E as Kameralwissenschaften (ciências da

administração) – que passou a ser matéria de estudo

das universidades alemãs no século XVIII

Page 40: Para abrir as ciências sociais

Séc.XIX: passa a fazer parte das faculdades de Direito;

Encontrada antes no interior das faculdades de Filosofia

Economia Política: expressão corrente sec. XVIII

desaparece – teorias econômicas liberais XIX- na metade

de oitocentos em favor da expressão ‘economia’

Page 41: Para abrir as ciências sociais

Deu condições aos economistas de defenderem “que o

comportamento econômico era reflexo de uma

psicologia individualista universal e não de instituições

socialmente construídas, argumento que pôde então ser

utilizado para afirmar o caráter natural dos princípios

do laissez-faire.”

Page 42: Para abrir as ciências sociais

Estudo voltado para o presente;

Conseqüência: história econômica ficou relegada a

lugares inferiores nos currículos de economia, e quando

surge como subdisciplina essa evolução dá-se a partir

da historia (da qual irá parcialmente separar) do que da

economia

Page 43: Para abrir as ciências sociais

Economia ganha solidez; surge disciplina nova: a

sociologia

Comte: a sociologia seria a rainha das ciências, na qual

seria uma ciência social integrada e unificada e

caracterizada pelo ‘positivismo’

Page 44: Para abrir as ciências sociais

Só ocorre na segunda metade sec. XIX

institucionalização e transformação, nos limites das

universidades, do trabalho realizado pelas associações

para a reforma da sociedade

Page 45: Para abrir as ciências sociais

Programa de ação: o mal-estar e os desequilíbrios vividos

pelo número incontável da população operária urbana.

Trabalho no ambiente universitário: ao fazerem isso

acabaram por abdicar da sua militância ativa em prol de

medidas legislativas imediatas

Page 46: Para abrir as ciências sociais

Ao consumar o corte com suas origens nas organizações

para a reforma social, “os sociólogos começaram a cultivar

o impulso positivista que, juntamente com a sua disposição

para o estudo do presente, os empurrou, também a eles, para

o campo nomotético.”

Page 47: Para abrir as ciências sociais

Surge ainda mais tarde em relação as disciplinas

mencionadas

Por que isso ocorreu?

Não porque seu respectivo conteúdo – o Estado

contemporâneo e a sua componente política – se prestasse

menos à análise nomotética, mas sim porque as faculdades

de Direito não queriam abrir mão do monopólio que

detinham sobre esta área;

Page 48: Para abrir as ciências sociais

reflete a importância atribuída pelos cientistas políticos

ao estudo da filosofia política – que ora assumia a

designação de teoria política – pelo menos até a

revolução behaviorista do período posterior a 1945

Page 49: Para abrir as ciências sociais

Permitiu que a ciência política reivindicasse como sua

uma herança que já vinha dos gregos, detendo-se na

leitura de autores desde há muito com lugar firmado

nos currículos universitários;

C.P cumpre outro objetivo: o de legitimar a economia

como disciplina autônoma

Page 50: Para abrir as ciências sociais

Rejeitada como matéria – o Estado e o mercado

funcionavam, e deviam funcionar, através de lógicas

distintas;

Esse argumento exigia como garantia o

estabelecimento a longo prazo de um estudo científico

autônomo da esfera política

Page 51: Para abrir as ciências sociais

“ao se tornarem disciplinas universitárias no século XIX (e

de fato até 1945), esse quarteto não só se limitou a ser

praticado nos cinco países em que elas tiveram

coletivamente origem, como se dedicou em grande medida,

a descrever a realidade social desses mesmos países. Não se

pode dizer que as universidades dos cinco países

ignorassem o resto do mundo. O que sucedia é que nelas

esse estudo era segregado para disciplinas diferentes”

Page 52: Para abrir as ciências sociais

Moderno sistema-mundo: implicou encontro – e a

conquista – de europeus com povos de diferentes

regiões do mundo;

O encontro: deu-se com dois tipos muito diferentes de

povos e de estruturas sociais

Page 53: Para abrir as ciências sociais

Grupos pequenos, sem nenhum sistema de registro escritos,

desinseridos de qualquer sistema religioso geograficamente

amplo e militarmente frágeis em relação à tecnologia

européia;

Civilizações ‘avançadas’ (orientais) possuíam: escrita,

sistemas religiosos que cobriam um vasto espaço geográfico;

uma estrutura política relativamente organizada, sob forma

imp.burócratico; uma capacidade militar significativa

Page 54: Para abrir as ciências sociais

Criou a necessidade de uma nova disciplina, que tivesse por

domínio esse objeto

= a soc. a antrop. teve início fora da universidade; praticada

por: exploradores,viajantes e funcionários dos serviços

coloniais das potências européias

Mais tarde fora institucionalizada como a soc. embora

segregada das demais ciências sociais dedicadas ao estudo

do mundo ocidental

Page 55: Para abrir as ciências sociais

Atraídos pela idéia de uma “história natural da

humanidade de contornos universais

pressões exercidas pelo mundo exterior levam os

antropólogos a tornarem-se etnógrafos deste ou daquele

povo;

objeto de estudo: os povos que encontravam nas

colônias internas ou externas dos respectivos países.

Page 56: Para abrir as ciências sociais

Conseqüência: adoção metodologia muito especifica,

construída em torno do trabalho de campo (resp.exigência

ethos científico investigação empírica) e da observação

participante (exigência de se atingir um conhecimento

mais profundo em torno da cultura em estudo)

Observação participante: desde sempre ameaçou violar o

ideal da neutralidade científica.

Page 57: Para abrir as ciências sociais

Ser mediador entre o povo que estudava e o mundo dos

conquistadores europeus, principalmente por cidadão

da potência colonizadora do povo estudado;

ex: antropólogos ingleses na África Ocidental;

antropólogos italianos na Líbia; antropólogos dos EUA

que se dedicaram ao estudo da ilha Guam e dos índios

americanos)

Page 58: Para abrir as ciências sociais

fato preponderante para que mantivessem a prática da

etnografia dentro das premissas normativas da ciência

Assumem, talvez, uma posição nomotética e

debruçada sobre o presente, semelhante ao dos

economistas, e em verdade após 1945 a antropologia

estrutural viria a conhecer uma evolução desse tipo

Page 59: Para abrir as ciências sociais

prioridade à necessidade de justificar o estudo da

diferença, bem como o de defender a legitimidade

moral de não se ser europeu. “Por isso, seguindo a

lógica dos primeiros historiadores, os antropólogos

resistiram à exigência de formular leis, dedicando-se,

na sua maioria, à prática de uma epistemologia

idiográfica.”

Page 60: Para abrir as ciências sociais

mundo árabe-islâmico e a China

civilizações "avançadas“(ñ consid. Tribos)

organização política, sistemas religiosos, vasto

território, grandes impérios burocráticos capacidade

militar opunha resistência às tentativas de conquista

Page 61: Para abrir as ciências sociais

com os progressos tecnológicos europeus essas

civilizações também se tornaram colônias ou

semicolônias

institucionalização estudos orientais

caráter mais secular -participação no quadro das

estruturas disciplinares das universidades

Page 62: Para abrir as ciências sociais

Precederam a institucionalização dos estudos orientais

Antiguidade, "cultura clássica" povos antepassados da Europa

moderna

saga única – antiguidade - conquistas dos bárbaros - continuidade

assegurada pela Igreja - Renascimento - reincorporação da herança

greco-romana - criação do mundo moderno

Page 63: Para abrir as ciências sociais

Preocupação em serem distintos da filosofia e da

teologia tinham caráter essencialmente literário, apesar

de serem uma mistura de literatura, artes e história

abriram terreno para os estudos orientais, que davam

entrada nas universidades

Page 64: Para abrir as ciências sociais

prática própria, sem interesse na reconstrução diacrônica interesse: compreensão e avaliação correta do conjunto de valores e práticas de civilizações vistas como estáticas exigiam capacidades lingüísticas e filológicas resistência à modernidade, ao ethos científico consideravam-se integrados nas "humanidades", mas contribuíram para as CSO por serem os únicos que se dedicavam a tais estudos (os comparativistas não tinham interesse nas civilizações orientais em si mesmas)

Page 65: Para abrir as ciências sociais

Geografia

Psicologia

Direito

Page 66: Para abrir as ciências sociais

prática antiga, que procedeu à sua própria reconstrução

como disciplina nova no século XIX

mesmas grandes preocupações CSO, mas resistiu à

categorização

ponte com as ciências naturais (geografia física)

Page 67: Para abrir as ciências sociais

ponte com as humanidades (geografia humana), com ênfase

nas influências do meio

preocupação em ser uma prática mundial em relação ao objeto

de estudo

mas, com a compartimentação em disciplinas no final do séc.

XIX, tornou-se anacrônica, devido ao seu caráter

generalizante

menos prestígio, "acólito da história"

Page 68: Para abrir as ciências sociais

Vs. ciências sociais, com sua ênfase temporal (negligenciando

o tratamento do espaço)

espaço, nas CSO

na abordagem universalista, determinista, era considerado

como "plataforma" em que ocorriam os acontecimentos,

na abordagem com ênfase no específico, era considerado um

contexto, com certa influência sobre os acontecimentos, mas

tido como residual, não essencial para análise

Page 69: Para abrir as ciências sociais

visão específica da espacialidade = territórios

soberanos (Estados)

fronteiras políticas como parâmetro das interações e

dos processos (sociais, políticos, econômicos),

fatores cruciais de confinamento social

Page 70: Para abrir as ciências sociais

Também cindiu da Filosofia, partilhando do ethos científico

considerada como parte do terreno médico, aproximação

das ciências naturais

legitimidade = natureza fisiológica e química

dando entrada nas faculdades de ciências naturais

Page 71: Para abrir as ciências sociais

psicologia social – modalidades com ênfase no

indivíduo visto em sociedade, permanecendo no campo

das ciências sociais

mas não conseguiram autonomia institucional completa

marginalização por parte da psicologia

subdisciplina da sociologia

Page 72: Para abrir as ciências sociais

forte e influente teorização da psicologia, com maior potencial de se definir como ciência social

não aconteceu, porque saiu da prática da medicina, o ambiente de escândalo do início a tornou uma

atividade pária, levando à criação de estruturas institucionais fora do sistema universitário

(o que preservou a psicanálise enquanto prática e escola do pensamento, mas afastou os conceitos freudianos dos departamentos de psicologia)

Page 73: Para abrir as ciências sociais

já existiam faculdades de Direito - formar advogados

ceticismo por parte dos cientistas sociais de vocação

nomotética, considerados muito normativos,idiográficos, sem

base na pesquisa empírica, leis que não eram científicas

a ciência política, em vez de analisá-las, dedicava-se à análise

das regras abstratas dos comportamentos políticos, dos quais

se extrairiam os sistemas jurídicos racionais

Page 74: Para abrir as ciências sociais

contexto: domínio Europa sobre o resto do mundo

Questão: “Por que razão é que esta pequena porção do mundo

foi capaz de derrotar todos os rivais e de impor a sua vontade

às Américas, à África e à Ásia?“

resposta ao nível da comparação de "civilizações" (nao ao dos

Estados soberanos)

Page 75: Para abrir as ciências sociais

poderio militar mais forte e eficaz interpretações livres

preocupação com o modo da expansão e dominação coincindiu com a

teoria evolucionista de Darwin

o paradigma da física newtoniana dominava a metodologia das

ciências sociais, mas a biologia darwinista influenciou as teorias do

social com a idéia de evolução enquanto sobrevivência do mais apto

Page 76: Para abrir as ciências sociais

conceito que sofreu interpretações livres

justificação da superioridade da sociedade européia

ponto final do progresso – civilização

esses primeiros estudos comparativos ainda não se centravam

no Estado

acabaram vítimas do impacto das guerras mundiais, minando

o otimismo liberal das teorias progressistas industrial

Page 77: Para abrir as ciências sociais

história, antropologia e geografia marginalizam as

tradições universalizantes

sociologia, economia e ciência política, com ênfase no

Estado, consolidam-se como cerne (nomotético) das

ciências sociais

Page 78: Para abrir as ciências sociais

1840 - 1945 - campo ciências sociais definido

institucionalização da formação acompanhada pela

institucionalização da investigação (revistas especializadas,

associações de investigadores)

esforço das disciplinas em se distinguirem das demais, também em

relação às voltadas para a realidade social distinção entre disciplinas

quanto ao conteúdo e às metodologias

Page 79: Para abrir as ciências sociais

História - afirmavam ter relação privilegiada com os materias, e

se propunham a reconstruir a realidade do passado, relacionando-

a com as necessidades culturais do presente pela via

interpretativa e hermenêutica

antropologia - modos de organização social de povos não

ocidentais, considerados não irracionais

Orientalistas - civilizações não ocidentais "avançadas"

("religiões mundiais" vs. perspectiva cristocêntrica)

Page 80: Para abrir as ciências sociais

ciências nomotéticas - ênfase no que as distinguia da

história: interesse por leis gerais, fenômenos enquanto casos

(não entidades individualizadas), segmentação da realidade

para análise, métodos estritamente científicos, provas

produzidas de forma sistemática, observação controlada

Separados da história idiográfica, demarcaram as diferenças

em relação às demais disciplinas, tanto quanto ao conteúdo

quanto às metodologias:

Page 81: Para abrir as ciências sociais

economistas: operações do mercado

cientistas políticos: estruturas governamentais formais

sociólogos: problemática social emergente (alheia aos

economistas e as c. políticos)

o sucesso do estabelecimento de estruturas disciplinares de

investigação gerou estruturas de investigação, análise e

formação produtivas (resultanto em grande legado

bibliográfico)

Page 82: Para abrir as ciências sociais

institucionalização na maioria das universidades de todo o

mundo

Com o fim da II Guerra Mundial até instituições alemãs e

italianas se alinharam ao padrão de classificação (bloco

soviético só nos finais da década de 50)

distinção clara em relação às ciências naturais (sistemas não

humanos) e às humanidades (produção cultural, mental e

espiritual das sociedades humanas 'civilizadas')

Page 83: Para abrir as ciências sociais

Mas mesmo com as estruturas institucionais já montadas, após

a II Guerra Mundial, começa a cisão entre as práticas e

posições intelectuais e a organização formal das ciências

sociais

Page 84: Para abrir as ciências sociais

WALLERSTEIN, I. Para abrir as Ciências Sociais. São Paulo: Cortez, 2206