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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC - SP CRISTIANE GROPPO DE PROFESSOR PARA PROFESSOR-COORDENADOR: SENTIMENTOS E EMOÇÕES ENVOLVIDOS NA MUDANÇA MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO SÃO PAULO 2007

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULOPUC - SP

CRISTIANE GROPPO

DE PROFESSOR PARA PROFESSOR-COORDENADOR:SENTIMENTOS E EMOÇÕES ENVOLVIDOS NA MUDANÇA

MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

SÃO PAULO2007

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CRISTIANE GROPPO

DE PROFESSOR PARA PROFESSOR-COORDENADOR:SENTIMENTOS E EMOÇÕES ENVOLVIDOS NA MUDANÇA

MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Orientadora: Prof ª. Dr ª. LAURINDA RAMALHO DE ALMEIDA

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC/SP

SÃO PAULO2007

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULOPUC - SP

CRISTIANE GROPPO

DE PROFESSOR PARA PROFESSOR-COORDENADOR:SENTIMENTOS E EMOÇÕES ENVOLVIDOS NA MUDANÇA

MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Dissertação apresentada à Banca

Examinadora da Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo como exigência

parcial para obtenção do título de Mestre

em Educação: Psicologia da Educação,

sob a orientação da Professora Doutora

Laurinda Ramalho de Almeida.

SÃO PAULO2007

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Banca examinadora:

_________________________

_________________________

_________________________

Data: ___/___/_____

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Aos meus pais Milton e Deoclésia, pessoas incomparáveis.

Ao Clóvis, meu amado, meu esteio.

Dedico esse trabalho.

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Agradecimentos Especiais

À minha querida orientadora, Profª. Drª.

Laurinda Ramalho de Almeida, pela orientação,

solidariedade e crescimento humano e profissional;

Aos meus amigos, irmãos de coração, Manoel

Felix de Souza Filho e Jean Corino Teodoro da Silva

pela amizade e ajuda nos momentos difíceis;

À amiga de todas as horas, Rita de Cássia

Vereda, pelos sentimentos compartilhados.

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Agradecimentos

“Já percebi que estar junto de quem gosto me basta,Ficar na companhia dos outros num fim de tarde me basta (...)”

Walt Whitman

Primeiramente agradeço a Deus, Nosso Senhor, por ter me concedidosabedoria, persistência, perseverança para realizar este trabalho;

À Secretaria de Estado da Educação de São Paulo pela possibilidade deconcretizar um sonho tão esperado;

À querida Dirigente de Ensino, Maria Aparecida dos Santos Martins pelo seuapoio em todos os sentidos;

Às Professoras Doutoras Abigail Alvarenga Mahoney e Vera Maria Nigro deSouza Placco pelas valiosas contribuições a mim oferecidas durante as aulas eno Exame de Qualificação;

Aos Professores do Curso de Psicologia da Educação da PUC/SP, peloaprendizado e a busca pelo saber;

À Irene e Helena, do Programa de Educação: Psicologia da Educação e aoRodrigo, da Secretaria da pós-graduação que proporcionaram as orientaçõesnecessárias com muito carinho.

À minha família, em especial: Milton Jr., Cíntia, Cecília, Pedro, Mariana, André,Ana, Eli, Toninho, Lurdinha, Agda, Milton, Susi, Mauro, Mônica e Letícia, pelosmomentos de descontração;

À família Carneiro, sempre prestativa e alegre;

Aos alunos do Programa de Educação: Psicologia da Educação, em especial:Leia Soares, Maristela, Almunita, Tereza, Flávia, Victor, Camila, Regiane,Vivian, Zildene, Júlio e Norma, pela emoção e companheirismo;

Às queridas professoras da Faculdade Integração Zona Oeste, especialmente:Vera Lúcia Trevisan de Souza, Eliane Bambini Gorgueira Bruno e MariaAparecida Guedes Monção, cujos nomes estão guardados em meu coração;

Às alunas do curso de Pedagogia da Faculdade Integração Zona Oeste, IedaGil, Patrícia, Nadir, Júlia, Juliana, Elza pelos anos de companheirismo que otempo não vai apagar;

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Ao ATP Antônio Cláudio, pelo ‘abstract’ e revisão deste trabalho, sempre tãoamigo e gentil;

Aos Supervisores de Ensino, em especial Irena e Revi, pela amizade eincentivo;

À Yara do setor de Finanças e ao Supervisor Claude, que conduziram commuita dedicação o meu processo de bolsa-mestrado;

Às meninas do Setor de Planejamento Valéria, Carmen e Soraya, pelasinformações que muito contribuíram para a realização deste estudo;

Ao Danilo, querido amigo, pela constante força e sempre disposto a ajudarcom o seu carisma;

Aos amigos ATPs, em especial: Marycilda, Isabel, Ivone, Antônio Caffi,Edinéia, Kelly, Ângela, Osmar ( Caraguatatuba ), Wagner ( Santo André ), João( Sertãozinho ), Paulinha ( Pirassununga ), Edinei ( São Joaquim da Barra ),Émerson ( Franca ) e Miriam ( Ribeirão Preto ) pela força e carinho;

Aos amigos Dona Ada, Dona Rosa, Sr. Tadeu, Ieda Maria, Marquinhos, Tânia,Denise, Júlio César, Jussara e Silvia Góes, pela preocupação dispensada;

Aos amigos da Vila Ipojuca, obrigada pelos momentos alegres;

Ao Paulo, meu professor de piano, pela ajuda constante;

Aos amigos Professores Coordenadores do Programa Ensino Médio em Rede,em especial: Nina, Romeu, Suely, Doju e Wagner que muito me ensinaram;

Aos Diretores das Escolas onde se realizou esta pesquisa, o meu sinceroagradecimento;

Aos Professores Coordenadores participantes desta pesquisa, pela paciência eauxílio na construção deste trabalho.

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“Quando a tua mão direita estiver hábil pinta com a esquerda;Quando a esquerda ficar hábil pinta com os pés.”

Paul Gaugin

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Resumo

Esta pesquisa tem como objetivo identificar sentimentos e emoções

manifestados no professor que se torna professor-coordenador de escola

pública estadual paulista noturna, nos dias que antecedem o início de suas

atividades e nos primeiros meses na nova função, bem como compreender as

situações indutoras desses sentimentos e emoções. O estudo justifica-se pelo

priorizar das questões afetivas, pela reflexão sobre a preparação do professor

para exercer o papel de professor coordenador, o apoio dispensado a ele e as

orientações oferecidas no início da nova função. Ao levar em conta a

afetividade como elemento importante na constituição da pessoa, o

embasamento teórico escolhido para a análise é a teoria de Henri Wallon, cujo

eixo principal é a integração do organismo – meio e dos conjuntos funcionais:

afetividade, cognição e movimento. Os instrumentos de coleta de dados são: a

entrevista com 05 professores coordenadores recém-chegados na função, de

uma região da Grande São Paulo; documentos e observação do contexto de

atuação. Após a análise e discussão dos dados, concluiu-se que antes da

entrada na função de professor-coordenador prevalecem os sentimentos de

tonalidades agradáveis ao contrário dos primeiros meses, já designado, em

que predominam os sentimentos de tonalidades desagradáveis. Nos dias que

antecedem a nomeação, o aspirante à função sente-se valorizado e confiante

pela possibilidade de exercer um novo trabalho. Nos primeiros meses, na

maior parte, sente-se inseguro, decepcionado, desencorajado e frustrado. Os

sentimentos de tonalidades desagradáveis têm, em geral, suas origens na

experiência de vida que interferem na atividade do professor-coordenador, na

falta de orientação e apoio nos primeiros momentos da coordenação, nas

situações de embates e no desvio de função.

Palavras-chave: dimensão afetiva, teoria walloniana e professor-

coordenador.

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Abstract

This research intends to identify feelings and emotions present in the

teacher who becomes a coordinator teacher in a public school of the state of

São Paulo not only in the period that precedes the beginning of his activities but

also in the first months he is in the new position. Besides it tries to understand

the situations of life that lead to these feelings and emotions. My studies give

priority to affectionate matters and emphasize the reflections on preparation of

the teacher who will be a coordinator; in addition to these methodological

purposes they examine the support and orientation he is given at the

commencement of his new job. The basis for my analyses was provided by

Henry Wallon´s theory, whose main subject includes three important elements

found in the composition of the human character: affectionateness, cognition

and movement. Different instruments were utilized to collect the data: an

interview with five coordinator teachers just employed in the position in public

schools located in the outskirsts of the city of São Paulo; other documents and

observations of the context in which the data are considered as well. After the

analysis of the data I came to the conclusion that before being a coordinator,

the feelings that prevail in the teacher are those of satistaction, agreeable

sensation. As time goes by, on the contrary, little by little, he begins to feel

uncomfortable when he is about to start the new job. The data showed that he

feels secure and important to get the position of coordinator. But after some

months in the occupation he feels insecure, disappointed, discouraged and

frustratred. As a rule, disagreeable feelings have its origin in facts of life that

interfere substantially in the activity of the coordinator teacher, what is

materialized in the lack of specific orientation for the coordinator and the

absence of the required support that may give him skills to solve many

situations of conflict that happen in the daily life of his school.

Key words: affectionate dimension – Wallonian theory –

coordinator teacher.

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Sumário

Introdução........................................................................................................14

Capítulo 1. O ensino noturno e pesquisas sobre o professor-coordenador.....22

1.1. O curso Noturno.........................................................................................22

1.2. O professor-coordenador do período noturno............................................27

1.3. Pesquisas sobre o professor-coordenador...............................................31

Capítulo 2. Contribuições de Henri Wallon......................................................36

2.1. A integração organismo-meio....................................................................40

2.2. A importância do outro na constituição da pessoa....................................42

2.3. A integração afetiva, cognitiva e motora....................................................43

2.4. Dimensão afetiva.......................................................................................45

2.5. Wallon e a educação.................................................................................49

Capítulo 3. Procedimento Metodológico..........................................................51

3.1. A trajetória da pesquisa.............................................................................52

3.1.1. Primeiro passo....................................................................................52

3.1.2. Segundo passo...................................................................................53

3.1.3. Terceiro passo....................................................................................55

3.1.4. Quarto passo......................................................................................58

3.1.5. Quinto passo......................................................................................59

3.1.6. Sexto passo........................................................................................59

Capítulo 4. Análise e discussão dos dados.....................................................61

4.1. Apresentação dos participantes e contexto de atuação............................61

4.1.1. Participantes em estudo.....................................................................62

4.1.2. Cenários do estudo: as escolas..........................................................62

4.2.3. Síntese dos biogramas e contexto de atuação...................................63

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4.2. Sentimentos e emoções envolvidos no processo de mudança...............75

4.2.1. Bagagem dos professores-coordenadores........................................76

4.2.2. Razão para tornar-se professor-coordenador....................................80

4.2.3. Preparação para exercer a função.....................................................85

4.2.4. Início na função de professor-coordenador........................................90

4.2.4.1. Orientação de outros ao professor-coordenador..........................90

4.2.4.2. Primeiros contatos na função de professor-coordenador.............94

4.2.4.3. Primeiras atividades na função de professor-coordenador........106

4.2.4.4. Primeiras impressões na função de professor-coordenador......109

Capítulo 5. Considerações Finais.................................................................116

Referências Bibliográficas..........................................................................121

AnexosAnexo 1. Roteiro de Entrevista......................................................................127

Anexo 2. Resolução SE nº 66, de 03 de outubro de 2006............................128

Anexo 3. Biogramas e Quadros....................................................................138

1. Contexto Escolar: Luisa............................................................................139

2. Biograma: Luisa........................................................................................140

3. Quadro “sentimentos e emoções no processo de mudança” : Luisa........142

4. Contexto Escolar: Fernando.....................................................................154

5. Biograma: Fernando.................................................................................155

6. Quadro “sentimentos e emoções no processo de mudança”: Fernando..157

7. Contexto Escolar: Mateus.........................................................................167

8. Biograma: Mateus.....................................................................................168

9. Quadro “sentimentos e emoções no processo de mudança”: Mateus......171

10. Contexto Escolar: Julia............................................................................181

11. Biograma: Julia........................................................................................183

12. Quadro “sentimentos e emoções no processo de mudança”: Julia.........186

13. Contexto Escolar: Carolina......................................................................194

14. Biograma: Carolina..................................................................................195

15. Quadro “sentimentos e emoções no processo de mudança”: Carolina...199

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INTRODUÇÃO

“Certo como a certeza mais certa....aprumado, bem trançado, firme na vigas, Forte como um cavalo, carinhoso, orgulhoso, elétrico Aqui estamos eu e este mistério.”

Walt Whitman

A trajetória profissional do educador está sempre permeada de

lembranças das suas experiências no ambiente escolar e fora dele, as quais são

tangidas por emoções e sentimentos.

Esses sentimentos são processados através da interação com seus

pares e fatos ocorridos com a própria pessoa. Sendo assim, precisamos considerar

as diferentes formas de expressão para compreender o processo de cada uma

das partes envolvidas para a construção de um relacionamento de afetividade que

contribua na formação integral do indivíduo.

Na educação, trabalhamos com pessoas e é necessário conhecercomo elas se constituem, como pensam, como agem e por que ofazem de determinadas formas, o que determina sua maneira deser, seus motivos e afetos( SOUZA, 2002 : 39 ).

Cada conhecimento novo, obtido por várias vias, pode mobilizar no

educador sentimentos de alegria, medo, frustração, ansiedade, prazer, entre outros.

Durante o seu percurso profissional, ao se deparar com situações diferenciadas,

tais como novas turmas de alunos, nova unidade escolar, mudança de corpo de

gestores ou mudança de função, sentimentos e emoções são nele provocados e

expressos de diferentes formas.

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Uma das funções que o docente pode exercer, ao longo da sua

trajetória, é a de professor – coordenador. Essa pessoa é responsável pela

articulação e mobilização da equipe escolar na construção do projeto pedagógico

da escola, e tem, como uma das atribuições, a formação dos professores de sua

unidade. A mudança de professor para professor-coordenador é uma situação

indutora de emoções e sentimentos.

Vale ressaltar que o professor-coordenador, hoje, na rede oficial de

ensino do estado de São Paulo, exerce uma função e não um cargo. Ou seja, ele

não passa por um concurso público para ser efetivado. O candidato à função,

atualmente, deve atender a alguns requisitos: ter 3 ( três ) anos de efetivo exercício

no quadro do magistério, possuir licenciatura plena em qualquer área e ser

aprovado em um processo de seleção. A prova responsável pela escolha do

aspirante à função é elaborada por uma equipe de supervisores e assistentes

técnicos pedagógicos em cada Diretoria de Ensino 1 e pode ser oferecida em dias

diversos. Assim, um professor que deseja prestar a prova em duas Diretorias de

Ensino poderá fazê -lo se esta não for marcada no mesmo dia. Os supervisores têm

autonomia na construção da prova, tanto na indicação da bibliografia quanto na

elaboração das questões.

Após a aprovação, o candidato identifica o estabelecimento de

ensino que está aceitando projetos de professores - coordenadores. Na data

específica, reservada pela escola, os interessados em pleitear a vaga apresentam

suas propostas de trabalho ao Conselho de Escola 2 . Segue-se, assim, uma

eleição para decidir quem ficará à frente de todo processo pedagógico juntamente

com os professores, a partir da análise da proposta apresentada pelo aspirante à

função. É comum, muito embora não esteja na Resolução3, a apresentação do

1 Ao todo, no estado de São Paulo, são 90 Diretorias de Ensino.2 O conselho de escola obedece a seguinte composição: 40% de docentes, 5% de especialistas emeducação, exceto o Diretor da escola, 5% dos demais funcionários, 25% de pais de alunos e 25% dealunos.

3 Resolução SE n º 66, de 03 de outubro de 2006

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aspirante à função, para a equipe docente da unidade escolar, no HTPC 4 ( Horário

de Trabalho Pedagógico Coletivo ). Caso tenha mais de um candidato, os

professores votam naquele que melhor atende as suas expectativas.

Dessa maneira, o novo professor-coordenador passa a exercer a

função que já não é mais a de professor, responsável por uma sala de aula, mas de

um profissional comprometido com a formação da equipe docente da escola ( que

pode ser aquela onde atuava como professor ou uma nova escola) . Desenvolver a

formação de um professor reflexivo e autônomo não parece tarefa fácil,

considerando-se um professor - coordenador recém-designado para a função.

O início da carreira tem sido árduo para muitos professores -

coordenadores. Acostumados a cuidar da sua própria sala de aula, passam a

conviver com uma diversidade imensa de obrigações e a visualizar não somente o

seu mundo, mas também o conjunto de classes de uma escola, inserido em um

sistema escolar mais amplo. O momento da passagem do papel de professor para

o de professor-coordenador é, via de regra, um momento de turbulência na

dimensão afetiva. Desta forma, interessa-nos identificar quais os sentimentos e

emoções do professor quando se torna professor-coordenador. Quais são as

situações indutoras para essas emoções e sentimentos? Com quem conta ele para

facilitar essa passagem?

Nas escolas, nota-se que a equipe docente, professor-coordenador

e direção procuram discutir os aspectos motores e cognitivos. No entanto, os

aspectos relacionais, interpessoais e intrapessoais são discutidos mais no seu

aspecto cognitivo ou pouco refletidos. Isso torna mais complexa a situação

pedagógica. No ambiente escolar o reflexo desta desatenção pode interferir no

desenvolvimento e no amadurecimento do educador.

4 O HTPC – Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo. Horário destinado ao encontro da equipe docente para discutir questões relevantes da unidade escolar.

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Em boa parte dos casos, o professor-coordenador ingressante pode

não ter a habilidade necessária para atuar. O apoio dos demais docentes e da

equipe gestora possibilita colaborar no enfrentamento dos desafios e das incertezas

da função, amenizando as angústias e os medos. É provável que, sem esse auxílio,

a expressão dos sentimentos do novo professor-coordenador passe a ser

reprimida.

Carl Rogers ( 2001 ) aponta-nos que as emoções podem ser

reprimidas no processo de socialização e aprendizagem através da interiorização

de formas de conduta admitidas pelo meio social no qual vivencia suas

experiências. No entanto:

Quanto mais um indivíduo é compreendido e aceito, maior suatendência para abandonar as falsas defesas que empregou paraenfrentar a vida, maior sua tendência para se mover para frente (ROGERS, 2001:31 ).

Ao considerarmos a afetividade como combustível fundamental na

trajetória docente, definimos como objetivo de pesquisa: identificar os sentimentos

e emoções presentes na passagem de professor para professor – coordenador do

período noturno na escola pública, nos dias que antecedem o início de suas

atividades e nos primeiros meses na nova função, bem como compreender as

situações indutoras desses sentimentos e emoções.

Por entendermos que o ambiente escolar é um espaço valioso para

o estudo da construção do percurso docente e das relações interpessoais, portanto

da dimensão afetiva, é que enfatizamos as experiências vividas pelo professor-

coordenador.

Razão pela escolha do tema

Foram dois os motivos principais da escolha desse tema para a

dissertação de mestrado. O primeiro deles parte da minha experiência como

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professora - coordenadora. Em janeiro de 2001, assumi essa função em uma

escola pública estadual da região da Grande São Paulo. Era um estabelecimento

de grande porte, com cerca de 3000 alunos e 102 docentes. Essa mudança gerou

muitos questionamentos no meu modo de pensar a escola e todos que a integram.

O início da minha atuação foi marcado pela ansiedade e pela vontade de fazer o

melhor, mas sem saber como fazê-lo. Esse fato afetou-me e levou-me a refletir

sobre os sentimentos e emoções no período de transição de professor para

professor- coordenador.

O segundo interesse pelo tema partiu da atividade que exerço

atualmente na educação pública estadual: a de assistente técnico pedagógico

(ATP)5 . Nessa função, fui responsável pela formação e mediação dos professores

– coordenadores do período noturno no curso semi-presencial “Programa Ensino

Médio em Rede” 6 ,oferecido pela Secretaria Estadual de Educação do Estado de

São Paulo.

Razão pela escolha do período noturno e dos participantes dapesquisa

As capacitações do “Ensino Médio em Rede” foram destinadas

aos professores-coordenadores dos períodos diurno e noturno de escolas públicas

estaduais que ofereciam o Ensino Médio regular, mesmo que fosse uma só classe.

O programa de formação continuada foi desenvolvido ao longo dos anos de 2004 a

2006. Na Diretoria de Ensino da região onde trabalho , formaram-se cinco turmas

de professores – coordenadores ( com média de quinze inscritos cada ), sendo

5 A função de assistente técnico pedagógico é exercida por docentes do quadro do magistério afastadosda escola para integrar a equipe de profissionais responsáveis na Diretoria de Ensino. Entre suasatribuições estão: a divulgação de projetos da Secretaria Estadual de Educação; ministrar cursos deformação de professores, professores-coordenadores e gestores da rede estadual paulista e tornar públicosos materiais existentes na videoteca e biblioteca, auxiliando o professor na realização de uma auladiversificada. O número de assistentes técnicos pedagógicos varia conforme cada Diretoria de Ensino. ADiretoria de Ensino, onde exerço a função, conta com onze profissionais.6 O programa semipresencial “Ensino Médio em Rede” realizou-se como um curso, parte em encontrospresenciais na Diretoria de Ensino e parte a distância por videoconferências e atividades no ambiente on-line. Teve entre suas metas, promover a implementação da reforma curricular do Ensino Médio.

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responsáveis pelas turmas, três profissionais do período diurno e dois do período

noturno.

Na divisão dos responsáveis para cada turma, somente dois

assistentes técnicos pedagógicos estavam disponíveis para exercer o trabalho à

noite, sendo eu, um deles. Dessa maneira, fui formadora e mediadora de quinze

professores – coordenadores do período noturno no programa “Ensino Médio em

Rede”. Nos encontros presenciais, todos os professores-coordenadores

participavam juntos das discussões, isto é, trinta profissionais, somando-se as duas

turmas. A divisão das turmas era necessária para facilitar a correção das atividades

encaminhadas pelos inscritos e a melhor interação no ambiente on-line.

No decorrer do programa, precisamente na metade, foram

realizadas inscrições de novos professores-coordenadores do período noturno:

novos no programa “Ensino Médio em Rede” e novos na função de professor –

coordenador. Ao todo, cinco professores – coordenadores de ambas as turmas

efetivaram seus cadastros no início do ano de 2005.

O curso de formação continuada encontrava-se adiantado para os

recém – chegados à função, por isso, além dos encontros presenciais no período

noturno os principiantes teriam que compensar trinta horas de atividade para

receber o certificado no final do programa. Após um consenso entre formador e os

cinco professores-coordenadores, estes encontros ocorreram à tarde e eram

permeados de emoções e sentimentos pelos novos participantes . Eles estavam

impacientes, na expectativa de compartilharem suas experiências e angústias dos

primeiros dias de trabalho. Desejavam ser ouvidos, compreendidos e ajudados em

suas novas funções.

Durante os seis encontros, totalizando trinta horas, percebi que

surgiam dúvidas em relação ao trabalho a ser realizado com o professor, o papel do

professor-coordenador como articulador da equipe docente e as especificidades da

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sua função. Contudo, era visível nas reações corporais e nos diálogos dos novos

professores-coordenadores a preocupação em estabelecer boas relações

interpessoais na unidade escolar, entendendo que, assim, a mudança de função

poderia ser menos traumática.

Frente a esta situação, procurando entender as razões de tantas

incertezas, solicitei aos profissionais recém-chegados na função que me

auxiliassem na busca de respostas. Dessa forma, os participantes desta pesquisa

são cinco professores-coordenadores da rede pública estadual de São Paulo que

pela primeira vez passam por essa experiência.

Referencial teórico

Como educadores, temos boas e más recordações da nossa

trajetória. Entretanto, não nos cabe agora julgar o passado, mas refletir sobre ele, e

aproveitar o máximo de nossas percepções para análise dos assuntos referentes à

emoção e aos sentimentos dos professores que renovam o seu processo

profissional e galgam novas funções. Para tanto, busquei na teoria de

desenvolvimento de Henri Wallon o suporte teórico para descortinar o tema

escolhido nesta dissertação.

A teoria de Henri Wallon, cujo eixo principal é a integração

organismo – meio e dos conjuntos funcionais: afetividade, cognição e movimento,

leva em conta a afetividade como conjunto fundante na constituição da pessoa.

Priorizar a dimensão afetiva não significa desmerecer as dimensões cognitivas e

motoras. Significa tentar compreender que a dimensão afetiva prepondera, em

alguns momentos, sobre as outras, em complementaridade.

Na teoria walloniana,

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o afetivo, o motor, o cognitivo se relacionam entre siprofundamente, a cada momento, e dão como resultado a pessoaindividual, única. O que define é essa individualidade,conseqüência das relações internas, próprias de cada sujeito, edas situações objetivas que ele encontra ao longo do seudesenvolvimento ( MAHONEY, 2003: 17 ).

A possibilidade de relacionar a teoria à vivência pessoal,

despertou-me para discussões inesperadas e significativas para o meu

aprendizado. Mais do que isso, penso que a resposta obtida por essa pesquisa

poderá apresentar subsídios na preparação do professor que vai exercer a função

de professor-coordenador e oferecer-lhe o apoio e orientações necessários no

início dessa etapa.

Acreditando, portanto, que toda construção se dá em processo,

essa pesquisa foi amadurecendo durante o percurso de sua elaboração. Assim, a

estrutura de apresentação está organizada da seguinte forma:

1. Capítulo I: A escola noturna e pesquisas sobre o professor-coordenador - uma

breve apresentação histórica e atual do curso noturno e do professor-coordenador

do período noturno, assim como pesquisas recentes em relação ao professor-

coordenador.

2. Capítulo II: Fundamentação teórica – apresentação das contribuições do

teórico Henri Wallon para a educação.

3. Capítulo III: Procedimento Metodológico – descrição do processo de construção

desse trabalho, bem como os princípios que nortearam a coleta de dados.

4. Capítulo IV: Análise e discussão dos dados – uma reflexão dos dados através da

articulação teórica com as informações adquiridas.

5. Capítulo V: Considerações finais – uma síntese do aprendizado e o

envolvimento com o processo enriquecedor dessa pesquisa.

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Convidamos o leitor a compartilhar esse conhecimento e refletir

sobre a importância da afetividade na trajetória docente, que busca tornar seu

percurso mais humano, percebido por outros e valorizado como pessoa.

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1. A escola noturna e as pesquisas sobre o

professor-coordenador “Pensar no tempo....pensar retrospectivamente, Pensar no hoje..e nas eras que estão por vir.”

Walt Whitman

O capítulo apresenta alguns fragmentos históricos e dados atuais

sobre o curso noturno e o professor-coordenador do período noturno, assim como

pesquisas recentes em relação a este profissional.

1.1. O Curso Noturno

As primeiras referências aos cursos noturnos, no Brasil, datam dos

tempos do Império, inicialmente para adultos analfabetos, e posteriormente visando

ao prosseguimento de estudos ( ALMEIDA, 1988 ).

No Estado de São Paulo, a Lei nº 88/1892 ( primeira reforma da

instrução paulista no período republicano ) cria escolas noturnas para adultos e

crianças operárias, e a Lei nº 1.184/ 1909 determina a localização das escolas

operárias nas proximidades das fábricas em que se ocupam crianças, o que leva

Almeida ( 1995 ) a afirmar:

os atos legais referidos deixam bem claro o caráter do ensinonoturno, já na sua gênese, em nosso Estado: atender o alunotrabalhador, crianças, jovem ou adulto, mas necessariamenteligado ao mercado de trabalho. Tanto é que algumas leisestabelecem a instalação das escolas noturnas nas proximidadesdas fábricas, e de acordo com o horário de seu funcionamento. (ALMEIDA, 1995: 19 )

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No início do século XX, houve um aumento significativo nas

matrículas do ensino noturno no Estado de São Paulo. A industrialização em pleno

desenvolvimento, o crescimento populacional advindo da imigração e os interesses

políticos como forma de atrair a clientela eleitoral, foram fatores decisivos na sua

expansão.

Na educação pública, o aumento de novas escolas foi determinado

pelo número de eleitores, ou seja, localidades onde as reivindicações eram intensas

e que, ao mesmo tempo, traziam benefícios eleitoreiros para os políticos, passavam

a ser contempladas com a criação de escolas. Esse fato possibilita explicar o

crescimento na área educacional: de 40 ginásios existentes até 1940; no período

de 1953 a 1958, anos pré-eleitorais e eleitorais, o número saltou para 359.

Segundo Carvalho ( 2001 ), não havendo verba disponível para a

construção de prédios, principalmente na capital, o curso noturno foi instalado em

grupos escolares já existentes. Esse recurso, a princípio emergencial, passou a ser

definitivo e muitas escolas funcionaram em condições precárias.

Visto como intruso, o ginásio sofreu um verdadeiro confronto:

empecilhos administrativos criados pelo outro estabelecimento; teve parte da sua

área delimitada, faltando, muitas vezes, até sala de aula para os alunos do período

noturno; os corpos docente e discente não tinham direito à utilização da biblioteca e

do laboratório e, sendo a clientela do período noturno trabalhadores-estudantes,

com faixa etária acima do período diurno, cabiam a esses alunos a culpa pela

depredação do prédio e estragos materiais ( CARVALHO 2001 ).

Na década de 70, houve uma expansão considerável de jovens

trabalhadores e do número de matrículas no curso noturno ( principalmente no

Ensino Médio ). Preocupados com a escolarização, jovens e adultos vêem nos

estudos uma perspectiva de progresso social, além disso, o aumento crescente da

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população trabalhadora leva o aluno a almejar um grau de instrução cada vez maior

por causa das imposições no mercado de trabalho. Para Almeida (1995 ):

o fato de trabalhar contribui para o esforço do jovem e da famíliapara permanecer na Escola, pois há a percepção de que, àmedida que se amplia o acesso ao sistema escolar, aumentam asexigências para a admissão de trabalhadores nas ocupações,inclusive pouco qualificadas, dos diversos setores da economia. (ALMEIDA, 1995: 23 )

Junto com a ampliação das matrículas no noturno, a repetência e

evasão são altas nesse período. Dados apontam que na 5ª série, a metade dos

alunos no Estado de São Paulo era reprovada. A partir do fato, técnicos ligados à

educação, chegam a questionar o gasto do governo oferecido para o noturno, em

detrimento ao ínfimo rendimento dos alunos ( ALMEIDA, 1992 ).

Na década de 80, a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo

propõe o projeto Noturno a ser desenvolvido por 152 escolas, nos anos de 1984 e

1985. O Projeto serviu de base para que as escolas elaborassem seu próprio

Projeto Noturno, a partir da sua realidade e solicitassem dos órgãos centrais da

Secretaria da Educação meios de viabilizar o Projeto ( ALMEIDA, 1992 ).

Ainda na mesma década, e na seguinte, outras propostas foram

feitas pelos órgãos centrais da Secretaria do Estado da Educação de São Paulo

para a melhoria do ensino noturno, porém os ganhos em termos de rendimento

foram pequenos.

No ano de 2000, segundo relatório do SARESP7, o período noturno

abrange a maior parte dos estudantes do Ensino Médio e uma pequena parcela dos

alunos do Ensino Fundamental:

7 SARESP – Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo. A avaliação diagnóstica,no ano de 2000, foi aplicada para alunos da 5ª e 7ª séries do Ensino Fundamental e para alunos da 3ª série doEnsino Médio nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática. O Saresp, além de avaliar o desempenhonos diferentes componentes curriculares, permitiu, por meio de questionário, identificar fatores relativos aouniverso escolar, socioeconômico e cultural dos alunos que interferiram no rendimento.

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para a análise dos resultados do Saresp 2000, foramconsiderados 1.320.336 alunos. Dos 516.592 alunos que fizerama prova na 5ª série do Ensino Fundamental, quase a totalidade (99,12% ) estudavam no período diurno. Na 7ª série do EnsinoFundamental, dos 495.885 alunos que realizaram a prova,89,94% pertenciam ao período diurno e 10,06% ao noturno. Já nocaso dos estudantes que cursavam a 3ª série do Ensino Médio,tem-se a incidência maior no período noturno ( 68,82% ) que nodiurno ( 31,18% ), totalizando 307.859 alunos.” ( SECRETARIADA ESTADO DA EDUCAÇÃO DE SÃO PAULO, 2000: 16 )

A análise da avaliação trouxe informações interessantes em relação

ao empenho dos estudantes do noturno. Construindo um paralelo entre o

questionário respondido pelos alunos e as notas alcançadas por eles, foi possível a

seguinte leitura para explicar a variabilidade dos resultados no Saresp:

* alunos que não freqüentaram aulas de recuperação tiveram um

desempenho melhor;

* alunos que estudavam em unidades escolares em que o diretor lia

jornais, revistas e livros com freqüência, obtiveram notas mais altas comparadas

com alunos que estudavam em escolas onde o diretor nunca lia;

* estudantes que freqüentavam escolas em que o professor -

coordenador tinha idade inferior a 25 anos obtiveram notas mais baixas;

* alunos mais jovens alcançaram melhores resultados em

comparação com estudantes em defasagem de idade, ou seja, a cada ano

acrescido, houve um decréscimo na nota da avaliação;

* alunos do noturno que não trabalham obtiveram notas mais baixas

do que seus pares que têm uma jornada acima de 21 horas;

* alunos que estudavam em escolas da região da Grande São Paulo

obtiveram notas mais baixas do que os estudantes do interior do estado de São

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Paulo. Assim, a localização das escolas influenciou no nível de empenho dos

alunos;

* alunos que estudavam em escolas cujos professores do noturno

utilizavam equipamentos e instalações escolares como laboratórios, biblioteca, sala

– ambiente, sala de vídeo etc, tiveram melhor desempenho;

* alunos que estudavam em escolas que tiveram uma avaliação

excelente em relação as condições de conservação e instalação do prédio

obtiveram notas mais altas;

* estudantes de escolas menores obtiveram melhores resultados em

relação aos alunos de unidades de médio e grande porte. Na menor escola

encontrada no estudo – 184 alunos – a habilidade média é 6,70 pontos mais alta

comparando-se com a maior escola observada – 4.082 alunos.

A análise ainda permitiu verificar que o período noturno continua

tendo os menores índices de rendimento escolar, em comparação com os outros

períodos. O número de alunos do 3º ano do Ensino Médio, participantes do Saresp

2000, que deixou de estudar por algum tempo, é maior no noturno, 21,7% contra

8,4% do diurno. A expectativa de prestar vestibular após o término do último ano do

Ensino Médio é menor para os alunos do noturno do que para os estudantes do

diurno.

Os dados apontam que no ensino noturno a clientela permanece

sendo, na sua maioria, de estudantes-trabalhadores. As dificuldades de conciliar

escola e estudo é um dos empecilhos no período noturno, haja vista a

porcentagem de alunos que deixam de estudar por um determinado momento.

Entretanto, apesar do desgaste do dia-a-dia, estar inserido no mercado de trabalho

proporciona um ganho para estes estudantes: a responsabilidade dos estudos e ter

conhecimento da sua importância no avanço do seu percurso escolar e profissional.

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Hoje, jovens e adultos procuram o ensino noturno com o objetivo de

prosseguirem seus estudos. Há diversas modalidades de ensino: Educação de

Jovens e Adultos ( Suplência ou Telessala ) e Ensino Regular. Dar condições aos

alunos trabalhadores de estarem satisfeitos com a escola é um desafio das políticas

públicas e dos profissionais que atuam no ensino noturno. Dessa forma, a

possibilidade de reverter um quadro que durante décadas persiste na área

educacional mostra-se como sendo uma realidade.

1.2. O professor-coordenador do período noturno

O termo Coordenador Pedagógico8 foi utilizado, inicialmente, no

ano de 1976 nas escolas públicas estaduais paulistas de 1º e 2º graus. Nas

unidades escolares o profissional seria responsável pela coordenação,

acompanhamento e controle das atividades curriculares. Segundo os estudos de

Andreucci ( 1989 ) os candidatos à função eram indicados por seus diretores e sua

indicação homologada em reunião com o corpo docente. O futuro profissional

deveria atender aos seguintes requisitos: ter seis anos de efetivo exercício no

quadro do magistério, ser formado em Pedagogia com habilitação em supervisão

escolar e ser aprovado em prova de seleção realizada em nível central.

As atribuições do coordenador pedagógico permaneceram

indefinidas por todo ano de 1977, sendo que somente no início do ano seguinte

passaram a ter funções delimitadas. No entanto, a função pouco a pouco vai

desaparecendo das escolas, tornando-se rara a figura deste especialista (

CARDOZO, 2006 ).

8 O histórico sobre a função do professor coordenador pode ser lido em: Andreucci, Sônia Brasil de Siqueira( 1989 ) . “ O coordenador pedagógico na rede oficial de ensino em São Paulo – relato de uma experiência dealfabetização”. São Paulo: PUC . Dissertação de Mestrado; Lomonico, Circe Ferreira (1980 ). “ Avaliação dodesempenho das atribuições do coordenador pedagógico junto às escolas carentes da região metropolitana daGrande São Paulo”. São Paulo: PUC. Dissertação de Mestrado e Cardozo, Marcel Fernando Inácio ( 2006 ). “O professor coordenador: um estudo sobre identidade”. São Paulo: PUC. Dissertação de Mestrado

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Em 1984 e 1985, todas as escolas ( 152 ) participantes do Projeto

Noturno, já referido, passam a ter o Professor Coordenador com atribuições

claramente definidas para seu trabalho no curso noturno ( Resolução SE 54/84

publicada no Diário Oficial de 25 de fevereiro de 1984 ), porém não houve o

respaldo dos órgãos centrais da Secretaria da Educação para seu trabalho (

ALMEIDA, 1992 ).

Em 1992 surgiu o projeto Escola-Padrão implantado

gradativamente na rede Pública Estadual que, inicialmente, abrangia 306 escolas e,

em 1994, atingiu um total de 1613 unidades participantes. As vantagens, entre

outras, foram as criações da função de coordenador do curso diurno e do curso

noturno.

Ao criar a função de Coordenador do Curso Noturno, o projetoEscola-Padrão atendeu a antiga reivindicação do professorado edeu um passo importante para a elaboração e fortalecimento deum projeto pedagógico para o curso Noturno. ( TOZZI, 1995: 177).

Com a implementação do projeto Escola-Padrão e da função de

Coordenador do Curso Noturno houve, a necessidade de se rever os métodos de

trabalho e a aprendizagem na Escola Pública Noturna. Assim, sob a

responsabilidade conjunta da FDE e CENP9 iniciou-se o “Projeto de Capacitação

dos Coordenadores do Curso Noturno”. De acordo com Tozzi ( 1995 ) o projeto de

capacitação era dividido em dois módulos. O módulo I tinha como título “ o Papel do

Coordenador do Curso Noturno” e conseguiu-se “ desenvolver as bases conceituais

do trabalho do Coordenador do Curso Noturno, contextualizando sua função e seu

papel no cotidiano da Escola Pública” ( TOZZI, 1995: 180 ). No módulo II, com o

tema “Curso Noturno: Contradições e Alternativas de Organização do Trabalho

Escolar” apontou para as atribuições do Coordenador do Curso Noturno quanto à

organização do trabalho coletivo e à construção do projeto pedagógico da escola.

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Tozzi ( 1995 ) ainda menciona a importância da continuidade do

“Projeto de Capacitação dos Coordenadores do Curso Noturno” tendo em vista a

influência deste profissional na unidade escolar. Entretanto, o Projeto “Escola-

Padrão” , ao invés da ampliação prevista, foi extinto em 1996, talvez por ser

duramente criticado pelos educadores e pesquisadores, já que nem todas as

escolas da rede pública estadual paulista beneficiaram-se com este projeto.

Outros projetos que contaram com a figura do coordenador,

durante os anos de sua execução, foram o Ciclo Básico ( CB ) e Centro de

Formação Específica para o Magistério ( CEFAM ), porém, sem a atribuição

específica para o noturno.

No final do ano de 1995, de acordo com o artigo 4o, do decreto

no 40.510 de 04 de dezembro, todas as unidades escolares passaram a ter

professores designados para a função de professor-coordenador, tanto no período

diurno quanto no noturno, o que representou um verdadeiro ganho para a educação

pública.

Além dos professores-coordenadores dos períodos diurno e

noturno, passados dez anos, foi implantado no início de 2006, o projeto “Escola de

Tempo Integral” 10. Neste contexto, no segundo semestre do mesmo ano, houve a

necessidade de mais um docente designado para a função, agora, sendo professor-

coordenador das oficinas educacionais, tais como: Matemática, Informática e

Educação Física.

9 FDE: Fundação para o desenvolvimento da educação; CENP: Coordenadoria de Estudos e NormasPedagógicas.10 Escolas onde na parte da manhã há o Ensino Fundamental Regular e à tarde oficinas educativas.Funcionam em um período de 9 horas. As escolas participantes da pesquisa “De professor para professor-coordenador: sentimentos e emoções no processo de mudança” não fazem parte da lista de escolas de tempointegral.

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Atualmente, a designação do professor-coordenador está

regulamentada pela resolução SE 66, de 03 de outubro de 200611 e dispõe sobre o

processo de credenciamento, seleção e indicação de docentes para o posto de

trabalho de professor-coordenador, em escolas da rede estadual de ensino.

A Resolução 66/2006 considera importante a atuação do

professor-coordenador quanto à integração curricular da equipe docente, à

elaboração, implementação e avaliação da proposta pedagógica da escola, a

formação continuada dos professores e integração dos trabalhos da escola, da

equipe de supervisão e Oficina Pedagógica. A Resolução enfatiza, ainda, o

trabalho amplo do professor-coordenador, não limitando-se apenas ao grupo

docente e, sim, acompanhar o desempenho escolar dos alunos e estimular

parcerias com a comunidade.

O artigo 1o da Resolução 66/2006 refere-se aos postos de

trabalhos destinados ao exercício das atribuições de professor-coordenador:

* um posto de trabalho para a escola que apresente, no mínimo, doze classes,

distribuídas em dois ou mais turnos;

* dois postos de trabalho para a escola que apresente, no mínimo, doze classes

distribuídas em dois ou mais turnos diurnos, e mais, no mínimo, dez classes no

noturno;

* um posto de trabalho de professor-coordenador na Escola de Tempo Integral, não

importando a quantidade de classes funcionando, porém, em um regime de nove

horas diárias, com no mínimo 140 ( cento e quatorze ) alunos matriculados e

freqüentes nessas classes. A Escola de tempo Integral pode fazer jus a mais postos

de trabalho caso atenda às condições acima citadas.

O professor-coordenador do período noturno, de acordo com a

Resolução 66/2006 tem a carga horária de 24 ( vinte e quatro ) horas a serem

11 A Resolução 66, de 03 de outubro de 2006 encontra-se, na íntegra, no anexo 2.

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cumpridas integramente na unidade escolar e pode ministrar aulas, em outros

períodos, até completar a carga máxima de 40 ( quarenta ) horas semanais.

Nossa experiência mostra, juntamente com relatos de professores-

coordenadores do período noturno, que estes profissionais realizam um número

menor de cursos oferecidos pela Secretaria da Educação e Diretoria de Ensino, em

relação ao professor-coordenador do período diurno. Uma das explicações

possíveis é o cronograma de encontros: estes órgãos funcionam, normalmente, no

horário comercial, isto é, das 8:00 às 17:00 horas e, portanto, são poucos os

eventos ou cursos oferecidos para o período noturno.

Outro ponto, igualmente baseado na minha experiência, da última

década, é o envolvimento dos professores-coordenadores com a elaboração de

projetos. Os agentes educacionais e o corpo discente do período noturno

desenvolvem número menor de projetos do que os do período diurno. Uma das

razões que encontramos para essa situação é o fato de o noturno, na sua maioria,

receber alunos jovens e adultos trabalhadores que, assim como seus professores,

pensam a escola de forma tradicional.

Cumpre observar, ainda, que nossa experiência atesta uma relativa

rotatividade dos professores-coordenadores nas escolas, fato ratificado por um

estudo realizado com 5.780 professores-coordenadores, pela Secretaria do Estado

da Educação de São Paulo no SARESP 2000, com o objetivo de caracterizar esse

profissional e sua atuação. A tabela abaixo mostra a distribuição dos professores-

coordenadores segundo o tempo de exercício na função na escola em que

trabalham:

Tempo de exercício na função na escola Nº de professores -coordenadores %

Menos de 1 ano 1.936 33,

Até 2 anos 1.108 19,

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Até 3 anos 657 11,

Mais de 3 anos 2.056 35,

total 5.757 100,

Analisando os dados apresentados pelo SARESP 2000, verificamos

que, para mais da metade desses educadores, o tempo exercido na função de

professor-coordenador nas escolas em que trabalham é de três anos ou menos.

1.3. Pesquisas sobre o professor-coordenador

Serão apresentadas, nesse item, algumas pesquisas que trazem

como foco a figura do professor-coordenador. Ao proceder um levantamento de

fontes bibliográficas foram selecionados os trabalhos de Bruno ( 1998 ), Roman (

2001 ), Vieira ( 2002 ), Gil ( 2004 ), Abreu ( 2006 ), Cardozo ( 2006 ), Horta ( 2007 )

e Cunha ( 2007 ) por tratarem de temas ligados à nossa pesquisa: formação de

professores, identidade, atuação do professor-coordenador, sentimentos, entre

outros.

A fim de facilitar a exposição, os estudos comentados encontram-se

separados por eixos temáticos:

* formação do professor-coordenador e formação docente;

* identidade do professor-coordenador;

* atuação do professor-coordenador.

Formação do professor-coordenador e formação docente Fazem parte do eixo os trabalhos de Bruno ( 1998 ), Vieira ( 2002

), Gil ( 2004 ) e Cunha ( 2007 ).

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O processo de formação continuada do professor-coordenador é o

tema discutido por Bruno. A autora desenvolveu um trabalho em conjunto com uma

professora-coordenadora da rede pública levantando, primeiramente, os interesses

desta na função. Por meio de um plano de trabalho e de registros sistemáticos,

formadora e formanda puderam pensar a prática educacional agindo sobre ela.

Bruno defende que a formação do professor-coordenador deve

partir das suas expectativas. Percebe que, a princípio, o formando estabelece certa

dependência em relação ao formador. Exemplo disso é a participante da pesquisa

entender a sua principal atribuição ,que é formar professores, mas não saber como

fazê-lo: faltava um norte, um caminho a seguir, e uma solicitação à pesquisadora

que a ajudasse a trabalhar coletivamente com seus professores. Sua demanda é

acolhida pela pesquisadora que desenvolve, então, uma pesquisa-ação ( ou

pesquisa colaborativa ) chegando a resultados satisfatórios para ambas.

A investigação de Cunha refere-se à formação de professores no

espaço coletivo ,a partir da mediação do professor-coordenador, buscando

compreender se o coordenador se reconhece como sendo formador do grupo

docente da escola onde atua. Os dados apontam que há compreensão do

processo de formar, percebendo-se como mediador do trabalho coletivo e os

docentes como co-autores da sua própria formação. Cunha conclui, ainda, que os

professores-coordenadores constroem uma proposta de formação baseada nas

suas possibilidades e condições de trabalho.

A dimensão afetiva aparece nas pesquisas de Bruno e Cunha,

porém, não é o foco do problema proposto por elas. Nos estudos de Vieira e Gil os

sentimentos fazem parte da investigação como tema principal, no entanto,

enfatizam o sentir do professor.

Vieira focaliza, em sua dissertação de mestrado, a necessidade do

professor-coordenador reconhecer os sentimentos que vão surgindo no processo

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de formação docente. Acredita que a comunicação é um dos instrumentos mais

eficazes na forma de expressar a afetividade. O falar e o ouvir são recursos que

devem ser levados em conta pelo professor-coordenador. Sendo assim, os

sentimentos dos professores aparecem como sinais de redimensionamento das

ações e reações do formador.

Na mesma linha, a pesquisa de Gil ( trabalho de conclusão de

curso com outros autores ) aborda a percepção dos sentimentos dos professores e

a construção do vínculo afetivo na formação docente. Seu trabalho demonstra a

relevância do professor-coordenador como sendo um profissional responsável em

criar uma relação de confiança com seu grupo docente. Ser capaz de apreciar seus

sentimentos, o professor-coordenador terá a oportunidade de conhecer cada

docente como pessoa. A autora acredita que conforme o professor percebe-se

sendo cuidado pelo coordenador, se sentirá mais confiante, valorizado e estimulado

para desenvolver suas atividades. Gil, ao se reportar à construção do vínculo

afetivo na formação docente, destaca que o professor-coordenador necessita de

instrumentos facilitadores para a sua ação. Um dos instrumentos citados pela

autora, a partir do depoimento da participante da pesquisa, é a possibilidade do

trabalho com dinâmicas e textos de auto-estima, tudo com o objetivo de “tocar” ou

“seduzir” e, assim, favorecer o desenvolvimento da sensibilidade do professor. É

um processo lento, do dia-a-dia e compartilhado entre formador e formandos.

Identidade do professor-coordenador Os trabalhos de Cardozo ( 2006 ) e Horta ( 2007 ) tratam da

identidade do professor-coordenador. As abordagens diferem na seleção dos

procedimentos de coletas de informações. Enquanto o estudo de Cardozo se utiliza

das narrativas de história de vida, a investigação de Horta tem cunho teórico-

analítico.

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A pesquisa de Cardozo sugere que os diferentes determinantes

sociais na constituição do sujeito interferem na atividade desenvolvida pelo

professor-coordenador. O autor verifica que o indivíduo se constitui como síntese

do social e do individual. Em sua atuação, o professor-coordenador pauta-se,

também, em conhecimentos já produzidos e na apreensão de atitudes, sobretudo

da família e dos agentes educacionais. Múltiplos fatores podem possibilitar o

rompimento da alienação e produzir a melhoria do ensino oferecido pela escola.

Horta, na discussão das identidades do grupo docente e do

professor-coordenador, critica a ênfase dada, nas teorias educacionais, ao

profissional “autônomo” e “reflexivo”. Questiona a relação de tutela do formador

sobre o formando e enfatiza a necessidade de se buscarem outras formas de

interação que de fato promovam o desenvolvimento docente.

Atuação do professor-coordenador Roman ( 2001 ) e Abreu ( 2006 ), em seus estudos, analisam a

atuação do professor-coordenador.

Roman ( 2001 ) argumenta que ao professor-coordenador, por uma

tendência histórica, cabe a tarefa de inovar as práticas pedagógicas. Porém,

essas inovações partem dos órgãos superiores e encontram dificuldades de

implementação no cristalizado cotidiano escolar. A complexa rede de relações

institucionais, ressalta Roman, é marcada pelos conflitos dos quais o professor-

coordenador participa ativamente. O autor afirma que o desenrolar dos conflitos

gera indefinição das funções do professor-coordenador e, assim, o trabalho

pedagógico é relegado.

Abreu ( 2006 ) parte do pressuposto que os conflitos ocorrem no

ambiente escolar. O foco da investigação é atuação do professor-coordenador

frente aos principais conflitos observados e como os professores e alunos

percebem essa atuação. Entende-se por conflitos as situações de embate entre os

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agentes escolares. Abreu aponta que o corpo docente está satisfeito em relação à

atuação do professor-coordenador, pois ele busca resolver as situações

conflituosas. Todavia, a atitude do coordenador não favorece a autonomia dos

professores. A autora afirma a importância do formador em ajudar as partes a

encontrar a solução, de modo que ambos ( professor coordenador - professor /

professor-aluno ) tenham as suas necessidades satisfeitas.

As pesquisas de Bruno ( 1998 ), Roman ( 2001 ), Vieira ( 2002 ), Gil

( 2004 ), Abreu ( 2006 ), Cardozo ( 2006 ), Horta ( 2007 ) e Cunha ( 2007 )

demonstram a preocupação com a qualidade do trabalho do professor-coordenador

tanto na formação de professores quanto nas suas relações interpessoais. É

interessante notar o entrelaçamento de alguns estudos principalmente sobre a

construção da autonomia do professor. Entretanto, as investigações voltam-se para

os afazeres do formador, sendo a sua afetividade pouco discutida até então. É

possível que o professor-coordenador iniciante se depare com situações de

embates entre docentes e alunos, por exemplo. Desse modo, quais os sentimentos

envolvidos? Qual a razão para sentir-se desse jeito? Seria importante, nesse

sentido, estudar os sentimentos e as emoções do professor que se torna professor-

coordenador.

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2. Contribuições de Henri Wallon

“Um mundo está ciente, e é de longe pra mim o mais imenso, eu-mesmo, E se chego a ser o que sou hoje ou em dez mil ou dez milhões de anos, Posso aceita-lo agora mesmo com alegria, ou com a mesma alegria posso esperar”

Walt Whitman

Ao levar em conta a afetividade como elemento importante na

constituição da pessoa, identificando emoções e sentimentos na trajetória do

educador, manifesta-se de forma inevitável a passagem por alguns estudiosos

preocupados em compreender o indivíduo como um ser completo. Como eixo

norteador, foi escolhida a teoria de Henri Wallon12 para a análise dos dados desta

pesquisa. Por ter esta pesquisa como ponto mais importante o professor –

coordenador, o foco principal da teoria de Wallon, aqui apresentado, será aquele

relacionado ao adulto.

Diversos autores procuram tornar inteligível o desenvolvimento

humano e suas relações. Assim, a opção por Henri Wallon partiu do eixo principal

da sua teoria psicogenética: a integração organismo-meio e a integração cognitiva,

afetiva e motora. Outra razão foi a concepção de escola e de aluno que Wallon

propagou em suas atividades educacionais: uma escola para todos, preocupada em

atender as necessidades de um aluno concreto, inserido em um determinado

contexto sócio-econômico-político.

12 Henri Wallon nasceu em Paris em 1879 e faleceu no mesmo local em 1962. Teve intensa atuação nosmovimentos sociais de sua época. Foi médico, psicólogo, pesquisador, educador.

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O autor voltou sua atenção para a criança. Em uma perspectiva

abrangente, estuda a criança de maneira completa. Segundo Galvão,

Wallon investiga a criança nos vários campos da sua atividade enos vários momentos de sua evolução psíquica. Enfoca odesenvolvimento em seus domínios afetivo, cognitivo e motor,procurando mostrar quais são, nas diferentes etapas, os vínculosentre cada campo e suas implicações com o todo representadopela personalidade. ( GALVÃO, 2004: 11 )

Wallon estudou a constituição da pessoa a partir da sua gênese e

por meio da comparação. O autor compara a criança ao primitivo, ao animal, ao

patológico e ao adulto. Para Wallon, certos fenômenos devem ser explicados além

do plano em que eles se dão, pois quanto mais planos estudados e comparados,

melhor e mais completo será o esclarecimento desses fenômenos. Mahoney (

2003 ) denomina seu método de análise genética comparativa multidimensional.

Na teoria walloniana, o homem é um ser geneticamente social e o

seu desenvolvimento, como processo, compõe a pessoa concreta inserida em um

contexto, isto é, nas suas relações com o meio. Os efeitos do desenvolvimento

humano, segundo o autor, “podem ser amplamente transformados pelas

circunstâncias sociais da sua existência, donde a escolha pessoal não está

ausente” .( WALLON, 1980: 165 ). Assim, o homem é geneticamente social por uma

necessidade íntima e a existência dos dois – homem e sociedade – está ligada. “É

difícil imaginar o homem antes da sociedade”. (WALLON, 1980: 165 )

Para explicar sua teoria do desenvolvimento humano, Wallon

estabelece estágios 13 que só adquirem sentido dentro de uma sucessão temporal,

quando se considera que o conteúdo de cada estágio depende da cultura onde está

inserido o indivíduo.

13 Estágios: Impulsivo Emocional ( 0 a 1 ano ), Sensório-Motor e Projetivo ( 1 a 3 anos ), Personalismo ( 3 a 6anos ), Categorial ( 6 a 11 anos ) e Puberdade e Adolescência ( 11 anos em diante ). De acordo com Mahoney( 2003 ) as idades indicadas em cada estágio do desenvolvimento infantil foram propostas por Wallon paracrianças de sua época e cultura. Assim, necessitam ser revistas para a nossa cultura e para os dias de hoje.

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Em relação à idade adulta, Wallon acredita que o adulto é

constituído das experiências vividas no decorrer dos anos. Assim, ele traz da sua

psicogênese passada seus erros e acertos.

A idade adulta é a dos sucessos e insucessos na vida privada ena vida pública profissional do indivíduo. O peso dascircunstâncias torna-se aí muito grande. Mesmo se há erro dapessoa, talvez seja mesmo a sua psicogênese passada aresponsável, não estando já relacionado com uma fase atual dasua evolução psíquica. ( WALLON: 1980, 71 )

Estas concepções de Wallon condizem com as histórias de vida

relatadas pelos professores-coordenadores, participantes dessa pesquisa. Quando

se tornam adultos, trazem consigo componentes da criança e do adolescente que

um dia foram. Mais do que isso, trazem as marcas de sua trajetória, positivas ou

negativas para seu desenvolvimento pessoal e profissional.

Segundo Almeida e Mahoney ( 2006 ) a teoria de desenvolvimento

de Henri Wallon auxilia na compreensão do processo de constituição da pessoa,

fornece recursos para o professor aceitar trabalhar com as características de cada

fase de desenvolvimento do aluno, refletindo as possibilidades de utilizar o ensino

como algo que possa ajudar no desenvolvimento integral. Propicia ao professor

pensar nas atividades adequadas aos alunos da sua sala, promovendo alterações

quando necessárias. A teoria deve ser constantemente testada e verificada, no

confronto com a sua prática, pelo docente que passa a ter postura de pesquisador:

observando, questionando e sendo curioso em compreender certos fenômenos.

As autoras, nesse sentido, afirmam que:

uma teoria de desenvolvimento assume três funções paralelas ecomplementares: dá previsibilidade à rotina, oferece subsídios parao questionamento e enriquecimento da prática e da própria teoria,possibilita alternativas de ação com maior autonomia e segurança. (ALMEIDA E MAHONEY, 2006: 58, 59 )

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Na psicogenética walloniana, a mudança de um estágio para o outro

não é linear: há avanços e retrocessos, dependendo das circunstâncias. Sobre o

ritmo pelo qual sucedem os estágios, Galvão ( 2004 ) menciona:

a psicogenética walloniana contrapõe-se às concepções quevêem no desenvolvimento uma linearidade, e o encaram comosimples adição de sistemas progressivamente mais complexosque resultariam da reorganização de elementos presentes desdeo início. Para Wallon, a passagem de um a outro estágio não éuma simples ampliação, mas uma reformulação. Com freqüência,instala-se, nos momentos de passagem, uma crise que podeafetar visivelmente a conduta da criança. ( GALVÃO, 2004: 41 )

Os períodos de tensão são, na teoria walloniana, propulsores de

desenvolvimento. A criança necessita passar por esses momentos: tanto

relacionados aos desencontros das suas próprias ações e do ambiente exterior,

quanto referentes à sua maturação nervosa. O processo de maturação nervosa

traz novas funções, mais evoluídas, que não eliminam as antigas funções, mas

exercem um controle sobre elas. Esse movimento, nos períodos de tensão, traz a

passagem de uma fase para outra.

Uma das características da teoria de Wallon é que o

desenvolvimento se faz sempre do sincretismo para a diferenciação, nos vários

conjuntos; afetividade, cognição, motricidade e pessoa.

O pensamento sincrético não aparece apenas na infância mas em

toda a fase do desenvolvimento humano, isto é, até a fase adulta. O professor –

coordenador, participante dessa pesquisa, no início da sua função está imbuído de

pensamentos confusos. As dúvidas são constantes, as idéias misturam-se a outras

e a superação de obstáculos passa a ser fundamental na sua nova função. Estes

períodos nebulosos propiciam o progresso do pensamento, surgindo formulação e

reformulação dos fatos que tendem para conceitos que se unem e diferenciam-se.

Este movimento permite a passagem do sincretismo para a diferenciação.

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Os estágios de desenvolvimento na teoria walloniana apontam as

leis reguladoras do desenvolvimento: lei da alternância funcional, lei da

predominância funcional e a lei da integração funcional.

• A lei da alternância funcional indica a alternância de movimentos predominantes,

sendo que ora é para o conhecimento de si ( para dentro ) ora é para o

conhecimento do mundo exterior ( para fora ).

• A lei da predominância funcional indica qual dimensão – motora, cognitiva e

afetiva - fica mais evidente. Nos estágios de desenvolvimento, ora prepondera a

motora, ora a cognitiva e em outros momentos a afetiva. Cada dimensão está

ligada na outra e interfere no seu desenvolvimento mutuamente.

De acordo com Mahoney:

aproximando as duas leis, vemos que quando a direção é para simesmo – centrípeta – o predomínio é do afetivo; quando é para omundo exterior – centrífuga – predomina o cognitivo. O afetivo e ocognitivo têm sempre como suporte a atividade motora, ou emsua expressão exterior ( deslocamento no espaço ) ou em suaexpressão plástica ( a forma do corpo mediante seu tônus ). (MAHONEY, 2003:14 )

• A lei da integração funcional indica que os primeiros estágios são conjuntos com

atividades simples e primitivas e vão integrando-se aos estágios seguintes por meio

de conjuntos mais complexos, conforme as possibilidades orgânicas e do meio em

que a pessoa vive.

Segundo Wallon, na fase adulta, há um equilíbrio entre as dimensões

motora, afetiva e cognitiva e entre as direções centrífuga e centrípeta. Assim, o

adulto tem domínio de si mesmo e do seu mundo exterior; tendo já definido seus

valores, passa a ter compromissos, objetivos definidos e consegue ponderar suas

decisões: consegue ficar centrado em si e no outro.

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2.1. A integração organismo – meio

Na teoria walloniana, a psicogênese do homem está ligada às

condições orgânicas e às relativas ao meio.

Wallon denomina a maturação biológica como sendo o ponto inicial do

desenvolvimento. No entanto, afirma ele: “a constituição biológica da criança ao

nascer não será a lei única do seu futuro destino” ( WALLON,1980: 165 ), pois a

variação no processo de desenvolvimento, de criança para criança, dependerá das

condições oferecidas a ela. Neste caso, o meio passa a ser fundamental. “O meio é

o complemento indispensável do ser vivo. Ele deve corresponder às suas

necessidades e às suas aptidões sensório-motoras e mais tarde psicomotoras.” (

WALLON, 1980: 164 )

É na integração organismo – meio que o indivíduo se desenvolve, em

uma determinada cultura, época e sociedade. O meio em que o sujeito vive traz

recursos para o seu desenvolvimento, de acordo com a sua maturação biológica.

Wallon esclarece que:

os meios onde a criança vive e os que ambiciona são molde quedá o cunho à sua pessoa. Não se trata de um cunhopassivamente suportado. O meio de que depende começamcertamente por dirigir as suas condutas e o hábito precede aescolha, mas a escolha pode impor-se quer para resolverdiscordâncias quer por comparação dos seus próprios meios comoutros ( WALLON, 1980: 167 )

Daí a importância da escola, como meio para o desenvolvimento

cognitivo- afetivo – motor. Possibilitando o contato com crianças de diferentes

meios sociais, oferecendo os recursos da cultura que socializa, insere, desenvolve.

Para Wallon, certos meios, como a família, são grupos que reúnem

indivíduos, cada qual com o seu papel e lugar dentro do conjunto. A escola não é

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um grupo propriamente dito, mas é constituída sim de vários grupos com

tendências diversificadas, que podem estar em concordância ou discordância com

seus objetivos. ( WALLON, 1980 ).

O grupo, componente do meio, é indispensável tanto para a criança,

quanto para o adulto. No grupo aprende-se a conviver socialmente e auxilia no

desenvolvimento da personalidade. De acordo com Wallon, “o grupo coloca-se

entre duas exigências opostas.” ( WALLON, 1980: 175 ). Por um lado, filiar-se ao

grupo requer assimilar seus interesses, suas aspirações. Por outro lado, o indivíduo

deve tomar um lugar neste grupo, ter um papel determinado, fazer parte dele com

suas proezas e fraquezas, sendo distinto e certo de que possui autonomia. Assim, o

grupo apresenta duas tendências complementares em um mesmo processo:

individualismo e espírito coletivo.

Dessa forma, Wallon expressa a importância do grupo na formação

das pessoas, desenvolvendo a cooperação e, sobretudo, a solidariedade. Enfatiza,

ainda, que além de períodos em grupo cada pessoa necessita de momentos de

intimidade.

2.2. A importância do outro na constituição da pessoa

Na teoria walloniana, o outro ou o socius estará presente por toda a

vida psíquica e é parte essencial na constituição da pessoa. De acordo com Wallon:

as pessoas do seu meio não são em suma senão ocasiões oumotivos para o sujeito se exprimir ou se realizar. Mas se lhes podedar vida e consistência fora dele, é porque fez nele a distinção doseu eu e do que dele é complemento indispensável: esseestranho essencial que é o outro.( WALLON, 1980: 158 )

O eu e o outro mantém uma parceria constante. O outro está

contido no eu, mas é, por vezes, negado e reduzido. O eu, no esforço para

individualizar-se, trava uma luta de oposição e diferenciação. A pessoa firma-se

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como pessoa opondo-se à sociedade, opondo-se ao outro. Ao mesmo tempo que o

eu necessita do outro para sua sobrevivência e evolução, o eu só irá constituir a

sua identidade pela libertação deste outro. O outro – não um, mas muitos,

representantes da cultura, é o que Wallon chama de socius, conceito bastante

complexo na sua teoria.

Na psicologia genética de Wallon, a medida que a criança sente

necessidade de afirmar-se ela manifesta interesse pelas outras pessoas. Passa,

então, a imitá-las. “A necessidade de imitar, de auto-substituir os outros,

testemunhando ainda uma certa indiferenciação entre o eu e o outro” ( WALLON,

1980: 156 ). Imitar significa conhecer melhor as pessoas e ao mesmo tempo

apropriar-se do que é reconhecido como sendo pertencentes a elas. A imitação não

ocorre somente nas crianças, o adulto imita igualmente aquele com quem mais se

identifica. Wallon chamou essa característica de imitação seletiva: a pessoa não se

dirige aos outros de maneira igual, mas, sim, àqueles que, por motivo diverso, se

impõem a ela.

Segundo Wallon, em certos casos, a preponderância pode passar do

eu ao outro. É um estado de consciência nebulosa, onde não há limitações

precisas. É como se o eu estivesse dependente das vontades do outro. Apesar de

ser mais comum nas crianças,

um adulto pode ter momentos em que se sente maisdeliberadamente ele mesmo e outros em que se sente sujeito a umdestino menos pessoal e mais submetido às influencias, vontades,fantasias dos outros ou às necessidades que fazem recair sobre eleas situações em que está empenhado perante os outros homens. (WALLON, 1980: 158 )

Sem dúvida, o outro pode exercer poder sobre o indivíduo. Contudo,

as influências devem ser reguladas por fatores, entre os quais, os íntimos ou

orgânicos. Disso depende o equilíbrio das relações com os outros e as adaptações

às circunstancias exteriores.

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2.3. A integração Afetiva, Cognitiva e Motora

Na teoria walloniana “ os domínios funcionais entre os quais se

dividirá o estudo das etapas que a criança percorre serão, portanto, os da

afetividade, do ato motor, do conhecimento e da pessoa” ( WALLON, 1995: 135 ).

A divisão dos domínios afetivo, cognitivo e motor se explica apenas

como forma de análise, é um recurso didático para compreender o complexo

funcionamento do indivíduo. Assim, não é possível, na prática, pensar na existência

isolada de um deles, os domínios são interligados, complementando-se entre si.

No domínio motor, Wallon apresenta três formas de deslocamento: o

movimento exógeno ou passivo, o movimento autógeno ou ativo e o movimento de

reações posturais ou deslocamentos dos segmentos corporais uns em relação aos

outros.

Como este trabalho se refere a sentimentos e emoções, é preciso explicar

o terceiro movimento do domínio motor. O movimento de reações posturais ou

deslocamento dos segmentos corporais uns em relação aos outros, é caracterizado

pelas mímicas ou expressões corporais e faciais. Cuja origem está na variação das

emoções, ficando o movimento num nível músculo-cutâneo. Dessa forma, Wallon

acrescenta que o movimento, além de ser físico e externo, passa a ser orgânico

interno do corpo.

O reconhecimento das emoções e do pensamento nos movimentos

trouxe avanços na forma de olhar os alunos: o professor pode perceber alegria ou

tristeza sem que o aluno tenha dito uma única palavra, apenas observando a sua

fisionomia. O docente que presta atenção nos movimentos posturais de seus

alunos verifica se a aula está interessante, se todos estão aprendendo ou se

apresentam cansaço.

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Na mudança de função, de professor para professor-coordenador,

talvez, se os envolvidos “lessem” certas reações posturais dos coordenadores, essa

transição não seria tão árdua. Ao observarem com atenção o nervosismo, o medo,

a insegurança presentes no olhar e no tônus do professor-coordenador recém-

chegado à função, os gestores e a equipe docente poderiam canalizar seus

cuidados, auxiliando o professor-coordenador no que fosse preciso.

O domínio cognitivo apresenta as funções intelectuais e possibilitam

à pessoa adquirir conhecimentos sobre si e sobre o mundo externo. Permite, dessa

forma, a aquisição de idéias, representações e noções dentro de um espaço e

tempo. O domínio cognitivo “permite ainda registrar e rever o passado, fixar e

analisar o presente e projetar futuros e imaginários” ( ALMEIDA E MAHONEY,

2006: 60 ).

Na teoria walloniana, o domínio afetivo refere-se ao ato de ser

afetado pelo mundo externo/ interno não apenas por sensações agradáveis, mas

igualmente por desagradáveis. A afetividade engloba a emoção, os sentimentos e

a paixão.

Nesta pesquisa, cujo tema são os sentimentos e emoções do

professor que se torna professor-coordenador na escola pública noturna, o domínio

afetivo será detalhado a seguir, pois compreende o foco principal desse estudo.

A pessoa, integração do afetivo, cognitivo e motor, é o quarto

domínio funcional. Para Wallon, é impraticável pensar no indivíduo, se estiver

ausente um dos domínios funcionais. Durante toda a vida, em todos os estágios de

desenvolvimento, o afetivo, o movimento e o conhecimento irão manifestar-se,

apresentando diferentes configurações, conforme a preponderância de um ou de

outro.

2.4. Dimensão Afetiva

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A teoria de Wallon aponta que a dimensão afetiva que engloba a

emoção, sentimento e paixão, ocupa lugar de destaque, tanto do ponto de vista da

construção da pessoa, quanto do conhecimento. A afetividade é condição para um

bom aprendizado. Para que o educador consiga atingir seu objetivo, de ensinar, é

preciso olhar para seu aluno como um ser total: biológico, social, afetivo, cognitivo.

As contribuições de Wallon para a educação propõem refletir sobre

o processo de ensinar e aprender de uma forma integrada, considerando as

condições intelectuais e relacionais importantes para o desenvolvimento do aluno.

A afetividade tem sua origem nas sensibilidades orgânicas e

primitivas, denominadas sensibilidades interoceptiva e proprioceptiva. A

sensibilidade interoceptiva é uma sensibilidade visceral, que permite a percepção

de como estão os órgãos internos, por exemplo, estômago, intestino. A

sensibilidade proprioceptiva está ligada ao equilíbrio, às atitudes e aos movimentos;

localiza-se nos tendões, articulações e músculos. As sensações interoceptiva e

proprioceptiva são as primeiras manifestações afetivas da criança e podem ter

tonalidades agradáveis ( quando causam conforto ) e tonalidades desagradáveis (

quando causam desconforto ).

No estágio impulsivo-emocional, o choro do bebê é inicialmente

expressão de uma sensibilidade desagradável. Ao chamar atenção para suas

necessidades, o adulto interpreta essa manifestação que pode ter vários

significados: fome, dor de estômago, frio, calor. A mãe, ou quem dele cuida, aos

poucos, passa a reconhecer cada tipo de choro da criança por meio de seus

gestos, da sua fisionomia, das suas atitudes, garantindo a sobrevivência física do

bebê. O mesmo acontece com o riso: ele expressa bem-estar e o adulto avalia que

a criança está feliz, calma e confortável. Dessa forma, manifestações de

tonalidades desagradáveis como o choro ou de tonalidades agradáveis como o riso

vão se tornando cada vez mais sociais.

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A presença do outro garantirá não somente a sobrevivência física

do bebê, mas também a sobrevivência cultural pela transmissão de valores,

instrumentos, técnicas, crenças, idéias e afetos predominantes na cultura. Isso se

fará gradualmente por meio de recursos intelectuais de que a criança vai

gradativamente dispondo.

O bebê responde, principalmente, à sensibilidade interoceptiva e à

sensibilidade proprioceptiva. As duas sensibilidades precedem a sensibilidade

exteroceptiva, em que a criança se volta para o mundo externo. Dessa forma, de

estágio para estágio, as emoções terão um caráter cada vez mais organizado,

regulado, a partir de centros nervosos que coordenem suas manifestações.

A emoção é a primeira revelação de afetividade a provocar um

contágio no meio humano. Neste sentido, a emoção necessita de expectadores, a

criança chora buscando a acolhida do meio. O expectador, por sua vez, se vê

contagiado pela emoção da criança e tenta conferir significado a essa

manifestação.

A emoção tem a necessidade de suscitar reações similares ourecíprocas em outrem e, inversamente, tem sobre o outro umagrande força de contágio. É difícil ficar indiferente às suasmanifestações, não se associar a elas através de arroubos demesmo sentido, complementares, ou mesmo antagônicos. É nasgrandes afluências de pessoas, quando mais se apaga em cada uma noção de sua individualidade, que as emoções explodem commais facilidade e intensidade. ( WALLON, 1995: 99 ).

O contágio emocional não ocorre somente no início do

desenvolvimento infantil, mas em todas as fases, inclusive na fase adulta. Ao

observar uma pessoa que expressa profunda tristeza, nos sentimos contagiados

por essa emoção e ficamos comovidos pela sua situação. “ O contágio das

emoções é um fato comprovado freqüentemente.” ( WALLON, 1995: 141 ).

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Assim, a emoção é a exteriorização da afetividade. É corpórea,

motora e fisiológica.As emoções fazem parte da vida de crianças e dos adultos, e

manifestam-se com características específicas como batimento cardíaco acelerado,

dificuldades na ingestão de alimentos, secura na boca, suor nas mãos. Na emoção,

o tônus ( nível de tensão muscular ) revela as intenções e a postura, que

,combinados, formam sistemas de atitudes.

Na fase adulta, há um controle na manifestação das emoções. É

cobrado do adulto o equilíbrio necessário para resolver problemas, para a não

exposição de situações ridículas e que ele reflita sobre a responsabilidade de seus

atos. Consiste em um indicador de amadurecimento: “estar centrado em si” e “estar

centrado no outro”. Para Wallon, “não ceder às emoções significa ter adquirido a

capacidade de lhes contrapor a atividade dos sentidos ou da inteligência “ (

WALLON, 1995: 87 ). É “a redução da emoção através do controlo ou simples

tradução intelectual dos seus motivos ou circunstâncias; derrota do raciocínio e das

representações objetivas pela emoção” ( WALLON, 1995:144 ).

A emoção é a manifestação de um estado subjetivo e garante a

passagem do orgânico para o social. A emoção:

é uma forma concreta de participação mútua, é uma forma primitivade comunhão que se apresenta nos ritos coletivos, que funde asrelações interindividuais; que funde os indivíduos e ascircunstâncias exteriores; é um instrumento de sociabilidade queune os indivíduos entre si ( ALMEIDA E MAHONEY, 2006: 61 )

O sentimento corresponde à representação da emoção; não é

momentâneo como a emoção, ele é um estado mais permanente, enquanto a

emoção, por ser mais orgânica, é efêmera.

A criança que é solicitada pelo sentimento não tem, perante ascircunstâncias, as reações instantâneas e diretas da emoção. A suaatitude é de abstenção, e se observa, é com um olhar longínquo oufurtivo que recusa qualquer participação ativa nas relações que seencadeiam à sua volta. ( WALLON, 1995: 144 ) .

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Segundo Almeida e Mahoney ( 2006 ) o adulto tem maior recurso

para representar do que a criança. Ele observa, reflete antes de agir e sabe

quando e onde se expressar.

Por volta dos 4 anos, no estágio do personalismo, surge a paixão.

Na paixão predomina o autocontrole, que torna a emoção silenciosa. A criança

sente ciúme, não o manifesta, e pensa em uma maneira para prejudicar quem

está provocando esse ciúme sem causar alarmes. “ A criança torna-se capaz de

amadurecer secretamente frenéticos ciúmes, ligações afetivas exclusivas,

ambições mais ou menos vagas mas exigentes.” ( WALLON, 1995: 145 ).

Na fase adulta, o autocontrole torna-se elemento indispensável para

as relações sociais. O adulto mesmo não aceitando determinados fatos, consegue

silenciar a sua emoção com o objetivo de atingir seus objetivos e solucionar seus

problemas. Ele prevê situações conduzindo seus pensamentos e atos para aquilo

que lhe interessa.

As emoções, os sentimentos e a paixão são modificados e

transformados nas relações sociais, isto é, nas trocas e interações que se dão entre

os indivíduos. No ambiente escolar, conhecer a trajetória afetiva dos envolvidos no

processo, implica manter um relacionamento preocupado em acolher, favorecendo

um ambiente agradável e propício ao desenvolvimento integral da pessoa.

2.5. Wallon e a educação

Wallon não é considerado propriamente um pedagogo, mas as suas

contribuições para a educação são numerosas. Sua teoria psicogenética serve

como reflexão pedagógica, auxiliando o professor para uma prática mais adequada

em relação as idades da criança. Seu interesse pela área educacional levou-o a

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elaborar textos sobre o tema e participar da reforma do ensino francês, atuando

decisivamente no “Plano Langevin-Wallon.” 14

O Plano Langevin – Wallon é indicador de respeito pela instituição

escolar e pelo professor que nela atua: “ a escola é um meio indispensável à

formação do ser humano, e o professor deve ter uma formação adequada para

atuar nesse meio e o reconhecimento de sua atuação.” ( ALMEIDA, 2003: 77 ). O

plano prevê, entre outras metas, que a escola seja um leque de oportunidades para

os alunos, tanto no presente, quanto no futuro, ao mesmo tempo em que abre

caminhos para a livre manifestação e senso crítico, mas sempre buscando fornecer

às crianças e jovens o gosto pela verdade.

Wallon defende que:

reduzir a arte de ensinar a prescrições e a processos é congelá-la, éimpedir as possibilidades de adaptação que podem oferecer amatéria ensinada e as disposições da criança, conforme ascircunstâncias. Mas é precisamente ao estudo destes dois termosque é necessário dar atenção: as disposições que a criançaapresenta dependentes da sua idade e do seu temperamentoindividual, as aptidões que exige e que exerce cada disciplina aensinar. (WALLON, 1980: 356 )

Para Wallon, o desenvolvimento intelectual da criança não deve ser

o único objetivo escolar, mas a pessoa como um todo. Em suas idéias, ele propõe

que a escola deve estar engajada em movimentos de transformação da sociedade

e que os alunos se formem na cultura independentemente da sua origem étnica,

religiosa ou social. Assim, de acordo com o autor, a escola é responsável pelo

desenvolvimento das crianças e jovens integrando o social e o individual.

14 O plano teve como objetivo a reforma do sistema de ensino francês após a Segunda Guerra Mundial. Sendoresultado de um trabalho de três anos ( 1945 a 1947 ) período em que Paul Langevin foi o presidente eWallon, juntamente com Piéron, vice-presidentes. Após a morte de Langevin, Wallon assumiu a presidência.

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Em relação ao professor, Wallon menciona que a sua formação

deve ir além da teoria. As experiências pedagógicas, que ele próprio pode realizar,

são entendidas como formação e devem fazer parte do seu cotidiano. Na teoria

walloniana, compreender o professor implica conhecer também o meio no qual ele

está inserido e, assim como o aluno, o professor é visto na totalidade, isto é,

munido de afeto, cognição e movimento.

Dessa forma, realizando inferências a partir da teoria de Wallon, o

professor-coordenador é também uma pessoa completa, sendo afetado e

transformado por todos os envolvidos no ambiente escolar.

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3 . Procedimento Metodológico

“Tudo é um processo, O universo é um processo em seu movimento belo e equilibrado.” Walt Whitman

Entendemos que da natureza do problema a ser investigado parte o

recurso metodológico que irá direcionar a pesquisa. Neste caso, sendo a

identificação dos sentimentos e emoções e as respectivas situações indutoras o

objetivo principal do trabalho, nesta pesquisa, de abordagem qualitativa,

selecionamos a entrevista como meio de coleta de dados. A entrevista exige a

presença do pesquisador com a finalidade de retirar as informações necessárias e,

assim, obter a resposta do problema. Esse procedimento de coleta de dados tem a

vantagem de promover uma relação pessoal entre pesquisador e sujeito, facilitando

esclarecer pontos nebulosos. ( MOROZ E GIANFALDONI, 2002 )

A entrevista permite reunir informações que, segundo Luna ( 2002 ),

são consideradas opinativas, ou seja, exprimem a opinião de um indivíduo a

respeito dele mesmo ou de outras pessoas, de uma situação, envolvendo suas

crenças, sentimentos, valores etc.

Foram dois os momentos de entrevista ( que ocorreram em dias

diferentes ):

1) para captar sentimentos e emoções ( e situações indutoras ) envolvidos na

mudança de função;

2) para captar histórias de vida dos participantes.

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Na caracterização das escolas, que fazem parte do contexto deste

estudo, foram utilizados documentos como o Quadro Escolar ( QE )15 e

observações do espaço físico de cada unidade.

3.1. A trajetória da pesquisa

A trajetória da pesquisa foi dividida em passos para uma melhor

compreensão do leitor:

3.1.1) Primeiro passo: seleção dos participantes e, por conseqüência, dos

cenários de pesquisa;

3.1.2) Segundo passo: realização das entrevistas para a construção do

quadro “sentimentos e emoções no processo de mudança”;

3.1.3) Terceiro passo: realização das entrevistas para a construção do

biograma;

3.1.4) Quarto passo: retomada das entrevistas com os depoentes e

reelaboração dos biogramas;

3.1.5) Quinto passo: visita à Diretoria de Ensino, com o objetivo de colher

informações a respeito dos cenários da pesquisa;

3.1.6) Sexto passo: visita às escolas, com a finalidade de contextualizar o

local onde cada professor-coordenador atua.

A seguir, apresentamos a trajetória desta pesquisa.

3.1.1 . Primeiro passo

Os participantes da pesquisa foram selecionados a partir do

programa “ Ensino Médio em Rede “ oferecido pela Secretaria do Estado da

Educação aos professores – coordenadores dos períodos diurno e noturno. Como

já citado na introdução deste trabalho, no ano de 2005, cinco escolas públicas

estaduais, de uma Diretoria de Ensino da Região da Grande São Paulo, admitiram

novos professores – coordenadores no período noturno. Dessa maneira, são cinco

15 O Quadro Escolar será explicitado no quinto passo (item 2.1.5)

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profissionais que, pela primeira vez em sua trajetória no magistério, passam por

essa experiência.

O próximo passo exigiu um contato presencial ou por meio do

telefone com os cinco participantes da pesquisa. O objetivo era explicar o trabalho

proposto e se eles ( professores – coordenadores ) aceitariam colaborar na

realização deste estudo. Todos se mostraram solícitos e concordaram em participar

das entrevistas.

3.1.2 – Segundo passo

Antes de seguirmos a campo com a coleta de dados definitiva,

fizemos um roteiro de perguntas e realizamos uma entrevista - piloto com um

professor coordenador recém – chegado na função, mas do período diurno. Com

isso, a finalidade era perceber a eficácia do roteiro, ou seja, se era possível

alcançar os objetivos da questão norteadora da pesquisa.

A entrevista - piloto ajudou-nos a perceber que algumas questões

estavam repetitivas e outras distanciavam-se do foco da pesquisa, além de

provocarem certa confusão no entrevistado que sentiu, em determinados

momentos, já ter respondido à pergunta.

Essa simulação favoreceu não apenas a reformulação do roteiro

de entrevista, mas também a mudança de postura do entrevistador frente à coleta

de dados. Percebemos ser melhor partir para uma entrevista semi-estruturada ou

semi-diretiva, ou seja, através de uma conversa na qual o entrevistado se sentisse

à vontade em um clima descontraído; no entanto, para não perder o norte da

pesquisa, elaboramos cinco questões norteadoras, sem descartar, se necessário,

intervenções, pois:

as intervenções no momento da entrevista servirão de índices, nomomento de análise, para observar momentos de digressões, de

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confusão na expressão de idéias ou fatos e de superficialidade notratamento de alguma idéia. Essas observações podem serreveladoras para a compreensão do fenômeno estudado. (SZYMANSKI, 2003: 212 )

A coleta de dados foi então feita através de entrevistas gravadas

com quatro professores-coordenadores do período noturno. Segundo Queiroz (

1991 ) o gravador, como recurso tecnológico, é um meio de captar o real. As fitas

registram a voz dos entrevistados com as suas entonações, suas emoções, suas

pausas e suas idas e vindas.

Um depoente recusou-se a gravar a entrevista e o seu relato foi

escrito diretamente, ou seja, conforme o entrevistado relatava o seu processo de

mudança de professor para professor-coordenador, o entrevistador registrava os

dados no papel, na íntegra.

Foram definidas datas e horários para a entrevista conforme a

disponibilidade de tempo dos participantes da pesquisa. É importante ressaltar que

as entrevistas se concretizaram nos meses de novembro e dezembro de 2005 no

próprio ambiente onde os professores - coordenadores atuam. Cada encontro,

individualmente, possibilitou uma interação positiva entre pesquisador e

pesquisado, como por exemplo, visualizar a emoção de contar um fato marcante

ocorrido no início da nova função.

De acordo com Szymanski, a entrevista face a face é fundamental

para a interação humana, na qual os sentimentos, as expectativas, preconceitos,

interpretações e constituições de sentidos dos entrevistadores e entrevistados

tornam-se perceptíveis.

Quem pesquisa tem uma intencionalidade que vai além da merabusca de informações: pretende criar uma situação de confiançapara que o entrevistado se abra, pretende passar uma imagem decredibilidade e quer que o interlocutor colabore, trazendo dadosrelevantes para sua pesquisa. ( SZYMANSKI, 2003:195 )

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Após a transcrição das entrevistas, os dados foram agrupados em

forma de quadro, baseado em estudos realizados por Mahoney e Almeida ( 2004b )

a partir de um olhar walloniano, o quadro foi dividido em seis colunas:

* depoimento: relatos transcritos em recortes para análise;

* reações corporais do depoente: registros das reações corporais captados pelo

entrevistador com o objetivo de auxiliar na identificação de sentimentos e emoções;

* emoções/ sentimentos captados pelo pesquisador: a partir dos relatos e das

reações corporais foi possível identificar emoções e sentimentos surgidos no

processo de mudança de professor para professor-coordenador;

* situações indutoras das emoções/ sentimentos: registro das possíveis razões

das emoções/ sentimentos identificados pelo pesquisador;

* sentimentos nomeados pelo depoente: registro dos sentimentos nomeados

pelo depoente durante a entrevista;

* categorias e subcategorias: após várias leituras dos dados coletados, cada

recorte do depoimento analisado foi organizado em categorias e subcategorias com

o objetivo de interpretar, posteriormente, os dados obtidos.

Esse primeiro momento de organização, em forma de quadro (

anexo ), facilitou a visualização dos dados obtidos e a análise posterior dos

depoimentos: o preenchimento do quadro auxiliou a pesquisadora a identificar os

sentimentos e as situações indutoras envolvidas, além de ajudar na discussão

posterior.

3.1.3 – Terceiro passo

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Realizadas as entrevistas, houve necessidade de conhecer, além

deste momento de mudança na função, a história de vida de cada participante

desta pesquisa. Saber o percurso dos professores - coordenadores ajudou a

entender, muitas vezes, a razão de certas atitudes e a sua maneira de pensar.

De acordo com Queiroz ( 1991 ) a história de vida se define “ como

o relato de um narrador sobre a sua existência através do tempo, tentando

reconstruir os acontecimentos que vivenciou e transmitir a experiência que adquiriu”

( QUEIROZ, 1991: 17 ). Na história de vida, o pesquisador interfere o menos

possível, embora tenha ele escolhido o tema da pesquisa e formulou as questões.

Assim, o narrador determina o que é relevante ou não narrar da sua história. (

QUEIROZ, 1991 )

A segunda etapa de coleta de dados não foi tão simples, pois foram

concretizadas no início de 2006 e dois professores - coordenadores afastaram-se

da função: duas escolas tiveram um número reduzido de matrículas do noturno e

não comportaram mais o professor - coordenador neste período.16

Iniciou-se, então, uma busca para verificar a escola onde cada

professor coordenador afastado da função estava lecionando. Resolvido esse

problema, novamente foi explicado para os cinco participantes da pesquisa,

individualmente, o objetivo dessa segunda entrevista e os pontos que seriam

levantados: a trajetória de vida ( ou parte dela ) com o processo de escolarização e

a razão da escolha pelo magistério.

Nesta etapa, todas as entrevistas foram gravadas e o professor-

coordenador, que na primeira entrevista não se sentiu a vontade de falar “ para um

gravador”, desta vez se mostrava mais seguro e não se opôs a gravar.

16 É necessário um mínimo de 10 salas no período noturno para comportar o professor-coordenador desteturno.

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As entrevistas, com duração média de 50 minutos, revelaram

histórias de vida surpreendente, com forte presença dos familiares na decisão do

ingresso ao magistério. Os depoentes relatavam o passado e em seguida o

presente, voltavam para o passado e traziam os momentos atuais. Segundo Sá e

Almeida ( 2004 ) esse movimento espiral, de idas e vindas, é próprio desse tipo de

entrevista, e assim produz extenso material.

Utilizou-se, dessa forma, o biograma como meio de organização

dos dados coletados. Os biogramas, segundo estudos de Bolívar ( apud SÁ E

ALMEIDA, 2004 ), são sínteses esquemáticas do percurso vivido pelos indivíduos

investigados, são suas histórias de vida, tanto pessoal quanto profissional.

De acordo com Sá e Almeida ( 2004 ) o biograma possui algumas

vantagens:

• organiza os dados coletados, já que as entrevistas biográficas produzem um vasto

volume de informações;

• é um bom recurso para a devolutiva das entrevistas. Em forma de textos, os

sujeitos da pesquisa podem não ter tempo para a leitura de todo o material. O

esquema organizado pelo biograma facilita na leitura e no entendimento das

questões levantadas, tornando possível ao entrevistado rever certas informações;

• o biograma pode ser um recurso para a formação do depoente. Ao ler a sua

trajetória, o sujeito mobiliza-se para compreender o seu próprio percurso pessoal, o

seu processo de escolarização e a sua vida profissional, bem como as suas

tomadas de decisões;

• o biograma é um recurso para a autoformação do pesquisador. Ao refletir a

trajetória do outro, o entrevistador é provocado a refletir a sua própria trajetória.

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A síntese esquemática proposta nesta dissertação foi retirada dos

estudos de Sá e Almeida ( 2004 ). O biograma, de cada professor coordenador, foi

ordenado em seis colunas, em ordem seqüencial: fases, cronologia, idade, tempo

de docência, acontecimentos e valoração. A tabela era preenchida conforme a

cronologia: dos primeiros anos relatados até os fatos mais recentes.

3.1.4 – Quarto passo

No preenchimento das colunas do biograma, verificaram-se algumas

lacunas: em certos casos a cronologia não correspondia aos fatos relatados e

alguns pontos importantes não foram citados pelos depoentes. Assim sendo, houve

a necessidade de se voltar à escola de cada professor - coordenador e mostrar-lhe

pela primeira vez, o biograma.

Na apresentação, individualmente e sempre no horário marcado por

eles, as reações dos entrevistados, ao verem a tabela organizada, foram parecidas:

a surpresa estava estampada no rosto, no olhar. Não imaginavam que suas

palavras seriam organizadas daquela forma e à medida que liam as informações,

lembravam-se dos momentos que foram tão marcantes. “Foi isso mesmo que

aconteceu!” , “ Não sei por que fiz isso!” , essas frases pronunciadas por alguns

depoentes apareceram durante a leitura. Explicamos para os professores -

coordenadores o que era o biograma, para que servia e as intenções de certos

pontos serem revistos.

O preenchimento das lacunas não demandou muito tempo, já que o

biograma facilita a visualização dos dados. Em certos casos, foram necessárias

modificações no biograma: alguns depoentes não ficaram satisfeitos com a sua fala

e quiseram expressá-las de forma mais clara.

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O biograma tornou-se um bom recurso para a devolutiva dos

depoimentos, mesmo para esses profissionais que não estão acostumados a

trabalhar com esquemas e tabelas. O fato de terem a oportunidade de ler

passagens da sua trajetória, lembrar-se da sua família, amigos, antigos professores

e refletir sobre a sua formação, já constituem pontos positivos de aceitação do

biograma pelas pessoas.

Para a maioria dos professores - coordenadores era a primeira vez

que estavam visualizando, cronologicamente, os acontecimentos da sua vida, “a

vida passa e a gente nem se dá conta, não dá tempo para pensar em nada”,

afirmou uma das entrevistadas. Alguns solicitaram que o biograma fosse

encaminhado para o e-mail particular, deste modo teriam um registro do seu

percurso até então.

As novas informações completaram o biograma e possibilitaram o

entendimento dos pontos que haviam, até então, permanecido obscuros.

2.1.5 – Quinto passo

Com o objetivo de colher informações a respeito dos cenários

dessa pesquisa, foi realizada uma visita à Diretoria de Ensino da região onde se

concentram as escolas dos professores-coordenadores. É no setor de

planejamento que estão centralizadas todas essas informações.

Durante a visita ao setor de planejamento, foram retirados dados

relevantes do Quadro Escolar sobre a estrutura física, recursos humanos e

modalidades de ensino. Estas informações auxiliaram na compreensão do meio

onde atuam os professores-coordenadores.

O Quadro Escolar é um documento encaminhado pelas escolas no

início do ano letivo ao setor de planejamento. Os profissionais do setor, conhecidos

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como Assistentes Técnicos de Planejamento, conferem os dados e montam um

caderno com os quadros de todas as escolas que compõem a região. O Quadro

Escolar é essencial na organização dos dados e serve de consulta para todas as

ações da Diretoria de Ensino (DE ), Secretaria Estadual de Educação ( SEE ) e

Coordenadoria da Grande São Paulo ( COGSP ).

2.1.6 – Sexto passo

As anotações realizadas a partir do Quadro Escolar são feitas por

meio de números. E somente os números não passam o real contexto vivido pelos

professores-coordenadores. Por isso, realizou-se novamente um contato por

telefone com os cinco professores-coordenadores a fim de ser agendado um dia de

visita em cada escola, sempre no período noturno.

Na visita, foi observada a estrutura física da escola, se o ambiente

é agradável, possui espaço apropriado, iluminação adequada e as condições de

trabalho do professor – coordenador.

Em todas as visitas, a princípio, os professores-coordenadores

mostravam as dependências da escola, relatando as dificuldades e o que

pretendiam fazer para melhorar o seu trabalho e do corpo docente. Várias vezes a

nossa conversa era interrompida, pois a solicitação do professor-coordenador pelos

diretores, professores e alunos ocorria com freqüência. Nesses momentos, tivemos

a oportunidade de observar a postura dos coordenadores e visualizar com calma a

estrutura física de cada escola.

Essas informações, somadas a outras, compuseram o contexto de

atuação dos professores-coordenadores. No próximo capítulo, serão apresentadas

a análise e discussão dos dados, que delinearão respostas às perguntas que esta

pesquisa propõe.

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4. Análise e discussão dos resultados

“O sol e as estrelas que flutuam ao ar livre.... a terra em forma de maça e a gente sobre ela....

com certeza suas trajetórias são grandiosas;Não sei dizer o que é isso a não ser que é grandioso, que é felicidade,

E que o motivo da gente estar aqui não é especulação,ou uma frase de efeito ou um reconhecimento,

E que não é algo que com sorte vire pro lado da gente,ou sem sorte seja um fracasso pra gente,

E não é coisa que possa ser desdita numa contingência específica.”

Walt Whitman

O referencial teórico e o problema proposto nessa pesquisa irão

nortear a análise e a discussão dos resultados. A análise dos dados, coletados a

partir dos depoimentos dos professores-coordenadores e da observação do meio

onde atuam, já teve início com a elaboração do biograma e do quadro “sentimentos

e emoções no processo de mudança “, localizados no anexo 3. Neste capítulo, a

análise está organizada da seguinte forma:

* Item 4.1 – apresenta os cinco participantes da pesquisa e o contexto de atuação

dos professores – coordenadores ;

* Item 4.2 - propõe identificar os sentimentos e emoções envolvidos no processo

de mudança de professor para professor-coordenador, bem como compreender

suas situações indutoras.

4.1. Apresentação dos participantes e contexto de atuação

Neste item serão apresentados os participantes e os cenários em

estudo que auxiliarão na busca de respostas para o problema dessa pesquisa.

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4.1.1. Participantes em estudo

Os participantes em estudo correspondem a cinco professores

coordenadores recém-chegados na função, sendo dois do sexo masculino e três do

sexo feminino. Todos atuam na escola pública estadual e no período noturno.

Abaixo, o quadro com a relação dos entrevistados para a melhor visualização do

leitor:

Participantes Nomes fictícios

Idade Tempo deexperiênciano magistério

Tempo deexperiênciana função deprofessor-coordenador

Mês e ano deadmissão comoprofessor-coordenador

ProfessorCoordenador 01

Luísa 33 anos 14 anos 8 meses Abril de 2005

ProfessorCoordenador02

Fernando 47 anos 20 anos 10 meses Fevereiro de 2005

ProfessorCoordenador 03

Mateus 48 anos 15 anos 8 meses Abril de 2005

ProfessorCoordenador04

Julia 48 anos 24 anos 8 meses Abril de 2005

ProfessorCoordenador 05

Carolina 34 anos 06 anos 5 meses Julho de 2005

4.1.2. Cenários do estudo: as escolas

Na teoria de Wallon, o contexto possui um grande valor para o

desenvolvimento da pessoa. O meio estabelece condições de compreender o

indivíduo, havendo, portanto, uma relação de transformação mútua. Assim, “o meio

é o complemento indispensável do ser vivo” ( WALLON, 1980: 164 ).

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Desta maneira, torna-se importante explicar o contexto onde atua

cada professor-coordenador envolvido na pesquisa. As informações partiram do

Quadro Escolar ( QE ) e de observações do ambiente escolar. Fazem parte da

apresentação dos cenários a localização, a estrutura física e os recursos humanos.

Todas essas escolas se localizam na região da Grande São Paulo e

admitiram novos professores-coordenadores no intervalo de fevereiro a julho de

2005. Abaixo, a apresentação do quadro de entrevistados e seus respectivos

cenários:

Participantes Nomes fictícios Cenários

Professor Coordenador 01 Luísa Unidade Escolar 01

Professor Coordenador 02 Fernando Unidade Escolar 02

Professor Coordenador 03 Mateus Unidade Escolar 03

Professor Coordenador 04 Julia Unidade Escolar 04

Professor Coordenador 05 Carolina Unidade Escolar 05

4.1.3. Síntese dos biogramas e contexto de atuação

Síntese do Biograma - Professor- Coordenador 1

Luísa, aluna boazinha e aplicada, desde pequena queria ser

professora. Acompanhava a mãe, que era servente, em todas as festas da escola.

Na oitava série, em 1986, influenciada pela mãe, decide fazer Magistério. Inicia

seus estudos no CEFAM em 1987.A escola era de período integral e por problemas

de transporte chegava tarde em casa; resolve, então, trocar de escola. No segundo

ano do Magistério não aprova a quantidade de faltas dos professores e muda de

unidade novamente. No último ano, em 1991, inicia sua carreira como professora

estagiária do pré à quarta série ( atual Educação Infantil e ciclo I do Ensino

Fundamental ). Revolta-se com a mãe, pois não consegue ser professora titular,

afirma que a idéia do Magistério foi dela. Com 19 anos, em 1992, matricula-se na

faculdade de Letras e em seguida leciona para uma Suplência de sexta-série. A

princípio, fica apavorada por ter alunos já adultos, mas logo sente-se reconhecida

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em passar de professora estagiária para contratada. Termina, em 1995, o curso de

Letras na Faculdade Oswaldo Cruz na cidade de São Paulo. Efetiva-se em Língua

Portuguesa no primeiro cargo em 1998 e no segundo cargo em 2000. Inicia o curso

de complementação pedagógica em 2002. Por causa da intensa atividade

profissional ( ministrava 62 aulas durante a semana ) sua garganta começou a

apresentar irritações fortes. Luísa não queria se afastar; entrou em depressão por

não conseguir comunicar-se com seus alunos. Surgiu, então, uma vaga para

professor-coordenador na própria escola em que lecionava. Como já havia

realizado a prova de seleção, elaborou o projeto e o entregou ao Conselho de

Escola tendo sido aprovada para exercer a função. Pretende continuar atualizando-

se, estudar inglês e fazer pós-graduação na área de Letras.

Contexto de atuação - Unidade Escolar 1Localização

A Unidade Escolar 1 localiza-se na periferia da cidade, o bairro

cresceu nos arredores de um conjunto habitacional de prédios populares. Há casas

com boa infra-estrutura, mas a grande maioria são residências simples. O bairro

não oferece opções de lazer, não há parques, quadras de esporte (somente na

própria escola) e cultura (teatro, cinema, exposições).

Estrutura Física

Desde sua construção em 1977 até o ano de 2005, a escola nunca

sofreu nenhum tipo de reforma geral, por isso apresenta grandes problemas nas

instalações elétricas, hidráulicas e na quadra esportiva.

A Unidade Escolar 01, com dois andares ( térreo e primeiro andar ),

possui na sua estrutura: secretaria, biblioteca, 12 salas de aula, sala dos

professores, sala de direção, sala de coordenação, sala de vice-direção, laboratório

de Ciências, laboratório de informática, pátio, quadra de esportes, sala de vídeo,

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sala de Educação Física, sala da “Escola da Família”17, sala da “Padaria

Artesanal”18, cantina, cozinha para merenda dos alunos, cozinha de funcionários,

banheiro de funcionários, banheiro dos alunos ( 2 femininos e 2 masculinos ) e

almoxarifado.

A sala de Luísa é pequena e nela são guardados todos os tipos de

materiais, inclusive equipamentos e armários sem utilidade. O ambiente tem luz

precária, dificultando o trabalho da coordenadora.

Recursos humanos

A escola atende o Ensino Fundamental, ciclo II, Ensino Médio

Regular e Ensino Médio na Modalidade EJA ( Educação de Jovens e Adultos –

Suplência ). Conta com 1611 alunos matriculados, 01 diretor, 01 vice- diretor, 02

professores coordenadores pedagógicos ( período diurno e noturno ), 65

professores, dos quais, 29 são titulares de cargo efetivo, 24 com sede de controle

na escola, cinco que apenas completam o cargo nesta Unidade, pois na de origem

não têm o número suficiente de aulas para comporem cargo e a jornada de opção

( 20 aulas ou 40 aulas ), 7 professores eventuais, 20 funcionários entre agentes de

organização escolar, agentes de serviços escolares, frente de trabalho19 ( pessoas

contratadas pela prefeitura por 9 meses ) e contratados pela escola.

Síntese do Biograma - Professor – coordenador 2 Fernando, na 1ª e 2ª séries ( ciclo I do Ensino Fundamental ),

estudava na mesma escola onde seu pai trabalhava como diretor. Ciências era a

17 A Unidade Escolar tem uma sala para a administração do programa “Escola da Família”, que tem comoobjetivo a abertura da escola, aos finais de semana, transformando-a em centro de convivência com atividadesvoltadas às áreas esportiva, cultural, saúde e qualificação para o trabalho.18A “Padaria Artesanal” é um projeto que faz parte do programa “Escola da Família”. Nos finais de semana, acomunidade aprende a fazer pães doces e salgados. A padaria também é utilizada no período de aula poralguns professores com o objetivo de ensinar medidas de tempo, temperatura, massa,etc.19 A “Frente de Trabalho” é um programa emergencial de auxílio-desemprego de iniciativa do Governo doEstado de São Paulo. Envolve todas as secretarias e seus órgãos e objetiva proporcionar ocupação,qualificação e renda à população desempregada residente no estado. Os funcionários da frente de trabalhosão contratados por 9 meses.

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sua disciplina favorita. Na quinta-série, em 1969, durante seu relato, lembra-se com

saudade das aulas de experiência, do imenso laboratório de Biologia e do projetor

de slides trazido pelo professor, cujas imagens gostava de ver. Inicia o colegial e

sente-se feliz por ter aprendido Biologia na prática. Entra no curso de Ciências

Físicas e Biológicas, com 18 anos, na Faculdade de Filosofia Nossa Senhora do

Patrocínio, na cidade de Itu. Faz a licenciatura por influência do pai e Ciências

Físicas e Biológicas pelas ótimas aulas que teve no decorrer dos seus estudos. Em

1976, ainda aos 18 anos, inicia o trabalho na linha de montagem de uma empresa

e logo é transferido para o escritório. Termina a faculdade em 1980 e não pretende

lecionar por questões salariais, já que ganhava o dobro em relação a um professor.

A empresa, no entanto, passa por uma crise e reduz o salário dos funcionários;

Fernando, então, decide começar a dar aulas. Em 1986, aos 28 anos, não

consegue aula na região onde mora o que o obriga a mudar-se para uma cidade da

Grande São Paulo. No início da docência, realiza todos os cursos oferecidos pela

Secretaria do Estado da Educação de São Paulo na área de Ciências. Na sala de

aula, orgulha-se por incentivar os alunos com aulas no laboratório. Aos 41 anos

começa a lecionar na prefeitura e no estado. Ministra aulas nos três períodos:

manhã, tarde e noite. Mesmo demonstrando problemas de saúde, pela intensa

atividade profissional, orgulha-se por nunca ter faltado e tirado licença médica.

Entra para a coordenação em 2005 e no futuro, pretende fazer um curso de pós-

graduação em meio ambiente.

Contexto de atuação - Unidade Escolar 2Localização

A Unidade Escolar 02, onde atua Fernando, está localizada próxima

à escola de Luísa. A unidade foi construída para atender a demanda de moradores

do conjunto de prédios habitacionais e de casas populares na década de 70 e

início dos anos 80.

Estrutura Física

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A Unidade Escolar 02 tem dois andares ( térreo e primeiro andar ).

Em sua estrutura encontram-se 17 salas de aula, quadra esportiva descoberta,

quadra esportiva coberta, laboratório de Ciências, refeitório, sala de Leitura, sala de

Vídeo, sala de informática, secretaria, biblioteca, sala dos professores, sala de

direção, sala de coordenação, sala de vice-direção, pátio coberto, cantina, cozinha

para merenda dos alunos , banheiro de professores e funcionários, banheiro dos

alunos ( feminino e masculino ). A unidade possui grades em todas as janelas,

nos corredores e na extensão inteira do pátio.

O espaço da sala de coordenação é amplo, bem organizado, fica no

corredor juntamente com as salas de aula. Nos cantos, grandes armários de

madeira guardam livros e materiais encaminhados pela Secretaria Estadual de

Educação. No ambiente, Fernando realiza o HTPC ( horário de tempo pedagógico

coletivo ) com os professores do período noturno.

Recursos Humanos

No total são 967 alunos, sendo 590 do Ensino Fundamental Ciclo II e

377 do Ensino Médio regular. Na escola, funcionam três turnos: manhã ( 07:00 h às

12:20 h ), tarde ( 13:00 h às 18:20 h ) e noite ( 19:00 h às 23:00 h ).

A cada ano, a escola perde um número considerável de alunos. No

período noturno, por exemplo, há 17 salas de aula, mas apenas 10 estão em

funcionamento. Algumas classes têm apenas 24 ou 28 matriculados, onde

normalmente caberiam 45 alunos.

Essa perda no corpo discente pode ser explicada pelo número

elevado de escolas no bairro e pelo fato de que no início da construção dos

prédios populares houve uma grande demanda de alunos, precisando edificar uma

escola com 21 salas de aula ( antigamente os laboratórios comportavam alunos ).

Hoje, não há tantas crianças, jovens e adultos assim e a escola não consegue

matricular novos alunos pois todas as outras unidades da região encontram-se na

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mesma situação de risco, ou seja, poderão fechar caso não haja procura de novas

matrículas.

Com a diminuição do número de alunos, o quadro de funcionários

sofre uma perda significativa. A escola, atualmente, possui 1 diretor, 1 vice-diretor,

02 professores- coordenadores ( períodos diurno e noturno ), 3 oficiais de escola e

mais 12 funcionários ( 2 inspetores de alunos, 3 serventes, 1 zelador e 06 pessoas

contratadas pela frente de trabalho ).

Para Fernando, o grande problema na coordenação é a falta de

funcionários. Por esse motivo, há desvio de função e o trabalho pedagógico, com

os professores, acaba prejudicado. Sente-se decepcionado quando relata que

antes de entrar para a função achava que ia desenvolver projetos e fazer

encaminhamentos a partir do plano pedagógico da escola. Na coordenação,

percebeu que fazia serviço de diretor, aplicando advertências e suspensões aos

alunos indisciplinados. A falta de funcionário exigiu um esquema de trabalho em

relação à inspeção do corpo discente. Em certos dias, a servente torna-se

inspetora, já em outros é o próprio Fernando que assume esse papel.

Síntese do Biograma - Professor – coordenador 3 Em 1964, Mateus, inicia seus estudos na 1ª série do primário ( ciclo

I – Ensino Fundamental ). Terminando a 4ª série, seus pais decidem trancar a sua

matrícula, pois moravam num sítio, distante 14 km da nova escola. Sem condução,

Mateus fica quatro anos sem estudar. Aos 14 anos consegue ônibus para ir até a

escola e afirma sentir-se orgulhoso por nunca ter sido retido e tirar boas notas. No

colegial, em 1975, faz o curso de “Patologia Clínica” e torna-se estagiário na área,

logo em seguida. Ao terminar o curso, consegue seu primeiro emprego, mas como

bancário. Com o objetivo de auxiliar seu trabalho no banco, faz a faculdade de

Administração de Empresas, que termina depois de quatro anos. Inicia a docência,

aos 32 anos, “por pura brincadeira” , após perguntar a uma amiga, então

professora da rede estadual, se era fácil dar aulas. Não se imagina como docente e

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fica surpreso quando sua amiga o leva até uma unidade escolar. Diz não estar

preparado para ministrar aulas, entretanto, a diretora aponta que precisa dele e a

sua aparência já basta. Atende ao apelo da gestora. Em casa, estuda intensamente

a disciplina Matemática por dois meses. Já na sala de aula, sente medo, no

primeiro instante, mas, depois, fica feliz pelo interesse dos alunos; traz para a aula

atividades práticas do banco. Em 1998 realiza a complementação em Matemática,

o que dá direito a Mateus de ter uma licenciatura plena e prestar concurso público

na área. No ano de 2000 consegue uma promoção no banco. Insatisfeito com as

recentes mudanças na educação, decide largar as aulas, no entanto, seu pedido

não é aceito pela diretora. Já no final do ano, mesmo sem dar autorização, sua

esposa faz a inscrição de Mateus para o concurso público estadual em Matemática.

É aprovado no concurso, iniciando o trabalho como professor efetivo em 2001.

Torna-se professor – coordenador em 2005; ano de muita atividade profissional,

tanto no banco quanto na escola. Pretende aposentar-se do banco daqui cinco

anos e dedicar-se exclusivamente à coordenação e, quem sabe, uma futura direção

de escola.

Contexto de atuação - Unidade Escolar 3 Localização

A Unidade Escolar 03, onde atua Mateus, situa-se no final de uma

rua sem saída, totalmente plana e onde está construída a escola inicia um terreno

íngreme. No bairro, estão as últimas edificações dos prédios populares de um

conjunto habitacional, o mesmo onde se encontram as escolas de Luísa e

Fernando.

Estrutura Física

A construção da Unidade Escolar 03 acompanhou o terreno íngreme

da região. Por esse motivo, a escola tem quatro pavimentos ( térreo mais três

andares ). Na parte externa é pintada de tijolo à vista e com jardins na entrada, tem

um belo visual.

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Nas suas dependências encontram-se 16 salas de aula, 2 salas de

vídeo, sala de leitura, laboratório de Ciências e Biologia, pátio, sala de informática,

salão para eventos, refeitório, cantina, cozinha para alunos e funcionários,

banheiros para alunos e funcionários, quadra poli-esportiva coberta, zeladoria,

quadra esportiva descoberta, sala dos professores, sala dos professores-

coordenadores ( diurno e noturno ), sala do vice-diretor, sala do diretor e secretaria

ampla.

A sala de Mateus fica no terceiro andar, perto da sala dos

professores. É espaçosa, bem arejada e tem materiais pedagógicos que enchem os

diversos armários espalhados pelo ambiente.

Recursos Humanos

A Unidade Escolar 03 tem no total 1114 alunos, sendo 210 do

Ensino Fundamental ciclo II ( 5ª a 8ª séries ), 158 do Ensino Médio, 226 de

Educação de Jovens e Adultos ( EJA ) do Ensino Fundamental ciclo II e 520 de

Educação de Jovens e Adultos ( EJA ) do Ensino Médio.

O público escolar, atinge adolescentes de onze a dezoito anos de

idade e adultos acima de dezoito anos. Observa-se um grande número de adultos

que estão na faixa dos 25 anos em diante, ansiosos por conseguirem retomar os

estudos, principalmente nas séries oferecidas pelo EJA. Para eles, estarem

estudando ou concluindo o Ensino Médio é a garantia de conseguir emprego ou ter

a possibilidade de assegurá-los.

Na escola, a Educação de Jovens e Adultos tem duas modalidades:

a suplência e a telessala. Na suplência, cada disciplina é ministrada por um

professor, como no ensino regular, mas com a duração de seis meses para cada

termo. Na telessala, o ensino é realizado por módulo e os alunos assistem aos

vídeos referentes a cada disciplina acompanhando as suas apostilas. Não há

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professor específico de cada matéria e, sim, um monitor que tira as dúvidas dos

alunos.

A Unidade Escolar 3 também sofre com a falta de alunos. Assim

como a escola de Fernando, a unidade em que atua Mateus está situada no

conjunto habitacional de prédios populares.O baixo número de matrículas de

crianças e jovens levou a equipe gestora a procurar alternativas para diminuir o

fechamento de salas. Dessa maneira, abriram-se salas de Educação de Jovens e

Adultos ( suplência e telessala ) tanto no Ensino Fundamental e quanto no Médio.

As diversas modalidades de ensino existentes na Unidade Escolar 3

passaram a ser motivo de dúvidas para Mateus. Encontrar material específico não

era fácil e a biblioteca da escola permanecia fechada no período noturno. No

HTPC, o professor-coordenador nunca trabalhou as diferentes modalidades, todos

os professores realizavam o mesmo trabalho, liam os mesmos textos e discutiam

juntos. Segundo Mateus, não importava se um professor era da suplência,

telessala, regular, Ensino Fundamental ou Ensino Médio: todos eram profissionais

de uma mesma escola. Não diferenciar, para Mateus, evitava constrangimentos, já

que poderia acontecer de um professor da suplência recusar-se a assistir a um

HTPC direcionado aos professores do regular, por exemplo.

Mateus concluiu, então, que se houvesse um professor –

coordenador para cada modalidade de ensino seria mais específico , melhoraria o

trabalho. Mostrou-se sobrecarregado com os afazeres da coordenação e impotente

para mudar esse quadro.

Síntese do Biograma - Professor-coordenador 4 Júlia sempre gostou de estudar. Na escola era aluna exemplar e

tirava boas notas. No entanto, aos dez anos, estudou com uma professora de

Língua Portuguesa que provocava medo; tanto que fica em segunda época nesta

disciplina. Dedica-se intensamente aos estudos; por essa razão passa na prova e o

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seu interesse por Língua Portuguesa aumenta. Em 1967 presta o exame de

admissão. Orgulha-se de ter um pai que, somente com o curso no primário, deu

aulas de Português e Matemática para a filha. Na quinta-série estuda em uma

escola cujo nível era considerado excelente. Em 1973, aos 18 anos, consegue o

primeiro emprego como secretária de uma universidade particular. Por intermédio

de uma professora da universidade, ganha uma bolsa de estudos de três anos e

inicia o curso de inglês em uma escola renomada; estuda no horário do almoço. No

ano seguinte entra na USP e faz o curso de Letras a fim de ser tradutora-intérprete.

Na faculdade faz curso de Inglês, Português e Alemão. Orgulha-se por sido a única

filha de quatro irmãos com nível superior. Aos 21 anos muda de cidade e, em razão

da distância, pede dispensa do emprego. Participando de uma reunião, em uma

escola pública estadual, foi convidada pela diretora a dar aulas de Língua

Portuguesa. Inicia, assim, na docência. Após dois anos ganha uma bolsa de

estudos no exterior ( Alemanha ) e em seguida faz curso de Inglês em Oxford. Volta

da Alemanha aos 25 anos e tenta um emprego de tradutora-intérprete em

empresas multinacionais. Sem obter sucesso, volta a lecionar nas redes pública e

particular. No início sente-se frustrada, mas logo pensa que fez a escolha certa. Já

casada, inicia o mestrado na área de Letras e abandona os estudos em seguida;

sua filha nasce com problemas de saúde, necessitando de cuidados permanentes.

Em 2005 sai da sala de aula pela primeira vez e atua na função de professora-

coordenadora.

Contexto de atuação - Unidade Escolar 4 Localização

A Unidade Escolar 04 localiza-se no centro do município, na

avenida principal. Ao redor existem estabelecimentos comerciais de todo tipo, um

posto da polícia militar que atende à população 24 horas e uma rede bancária

razoável que se concentra nessa região.

Estrutura Física

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Sendo a maior escola em área construída da região, funcionários e

alunos desfrutam de amplo espaço em todos os setores.

A unidade tem 2 andares ( térreo e primeiro andar ) e possui 21

salas de aula, 2 salas para alunos deficientes auditivos, 1 laboratório de Química, 1

laboratório de Física, 1 laboratório de Arte, 1 laboratório de Ciências e Biologia, 1

laboratório de Informática, 2 salas de vídeo, salão para eventos com palco e área

reservada para o camarim, 2 pátios cobertos, 1 pátio descoberto, sala de leitura,

biblioteca, cozinha para funcionários, cozinha para alunos, 2 almoxarifados,

refeitório,cantina, quadra poli-esportiva coberta, quadra poli-esportiva descoberta,

banheiros para alunos e funcionários, sala dos professores, sala do professor-

coordenador, sala do vice-diretor, sala do diretor e secretaria. Todas as salas estão

em funcionamento.

O amplo espaço da Unidade Escolar 4 pode ser considerado, por

um lado, positivo e, por outro negativo. Alunos e professores usufruem de cinco

laboratórios, salas de evento e de vídeo em perfeitas condições, sendo que poucas

escolas públicas estaduais têm este privilégio. Mas, percorrer toda esta área torna-

se uma tarefa complicada para Júlia. Andar pelos corredores atendendo alunos e a

equipe docente exige um grande esforço físico; auxiliar os professores na utilização

destes recursos pedagógicos demanda muito tempo disponível para tanto.

A sala de Júlia fica ao lado da secretaria e entre as salas da direção

e da vice-direção. Tem espaço restrito, mas suficiente para organizar 3 armários

com livros, 4 cadeiras e 1 mesa com micro-computador.

Recursos humanos

O número de alunos matriculados na Unidade Escolar é 2377,

distribuídos em 633 do Ensino Fundamental Ciclo II, 1714 do Ensino Médio e 30

Deficientes Auditivos.

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A Unidade Escolar 04 conta no momento com 73 professores

habilitados ( 19 efetivos, 47 servidores e 07 professores eventuais ), 1 diretor, 2

vice-diretores, 2 professores-coordenadores ( períodos noturno e diurno ), 8 oficiais

de escola, 4 inspetores de alunos, 6 serventes, 1 zelador e 3 funcionários da frente

de trabalho.

No HTPC, assim como o professor – coordenador Mateus, Júlia

aplicava as mesmas atividades tanto para docentes dos Ensinos Fundamental e

Médio quanto para os professores da Educação Especial20. Eventualmente, ela

visitava as salas especiais e verificava, com a finalidade de aprender, os trabalhos

desenvolvidos pelos alunos deficientes auditivos. Segundo Julia, torna-se complexo

ser professora – coordenadora em uma escola com alunos especiais; não houve

nenhum tipo de curso para assumir essa responsabilidade. Em alguns momentos,

Júlia sente-se impotente em querer auxiliar os docentes da classe especial, porém,

muitas vezes, não sabe nem por onde começar.

Síntese do Biograma - Professor – coordenador 5

Carolina inicia seus estudos na 1ª série do primário no ano de 1976.

Tira boas notas durante o ginásio, porém, confessa que gostava da escola não pelo

estudo, mas sim por ser o único lugar de lazer. Por ter pais separados e família

desestruturada morava com a avó rigorosa. Queixa-se porque a avó considera o

estudo supérfluo. Ao terminar a 8ª série do ginásio ( Ciclo II do Ensino Fundamental

), sua avó tira Carolina da escola e impõe que a menina trabalhe. Aos 14 anos

consegue o primeiro emprego. Casa-se jovem, aos 17 anos, culpa da avó por ser

rígida. Com o passar do tempo, começa a sentir falta dos estudos. No ano seguinte,

arruma emprego em um escritório. Tenta voltar a estudar, mas as condições

financeiras a impedem de continuar o curso de Processamento de Dados. Nasce

seu filho em 1990 e em conseqüência disso, pede demissão do escritório. Após

dois anos o marido fica desempregado e Carolina, pensando nas dificuldades, volta

20 No período noturno não há salas de Educação Especial, no entanto, os docentes destamodalidade faziam o HTPC juntamente com os professores do noturno.

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a trabalhar na função de merendeira de uma escola pública estadual. Na hora do

intervalo, a diretora proíbe as funcionárias de conversar com os alunos enquanto

estavam servindo a merenda. Observando o corpo discente da escola e as atitudes

rigorosas da diretora, Carolina decide voltar aos estudos e tentar melhorar de vida.

Deixa o emprego de merendeira, em seguida, inicia o curso de Edificações e

consegue um estágio na área. Termina o curso de Edificações em 1997. Pensa em

fazer Engenharia Civil, mas fica angustiada por não ter condições. Aos 27 anos, por

influência da tia, cursa Biologia em uma faculdade de final de semana, mas tranca

a matrícula em seguida; estava insatisfeita com a qualidade do curso. Presta

vestibular em outra faculdade, sendo aprovada no curso de licenciatura em Biologia

na Faculdade Integrada para o Estudo de Osasco ( FIEO ), que agora cursa

diariamente. Inicia como professora eventual em 1999, mas não estava preparada

para lecionar. Decepciona-se com a profissão, os alunos não querem estudar.

Chora muito. No mesmo ano substitui uma professora e consegue aproximar-se

mais dos alunos. Começa a gostar de dar aula. Em 2005, faz a prova para

coordenador; sente-se feliz porque se torna professora-coordenadora na mesma

escola em que era professora eventual.

Contexto de atuação - Unidade Escolar 5

Localização

A Unidade Escolar 05, na qual atua Carolina, localiza-se na periferia

da cidade, na divisa com outro município e no alto de um morro. O bairro é carente,

não há comércio, somente um minimercado. Não tem área de lazer, somente uma

pequena quadra de futebol de areia faz a alegria dos moradores.

Estrutura Física

O terreno escarpado onde a escola foi edificada, fez com que as

salas fossem distribuídas em 4 pisos ( térreo e 3 andares ). Há escadas para todos

os lados; os corredores internos são estreitos e o pátio pequeno.

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A Unidade Escolar 05 possui em sua estrutura 16 salas de aula, 1

sala de informática, quadra poli – esportiva descoberta, pátio interno, zeladoria,

cantina, cozinha para funcionários, cozinha para alunos, refeitório, banheiros (

funcionários e alunos ), sala dos professores, sala de coordenação, sala da direção,

sala da vice-direção e secretaria.

A sala de Carolina encontra-se no 2º andar. O espaço, apesar de

pequeno, é bem organizado. Há estante com livros, 2 mesas, cadeiras e um micro-

computador.

Recursos Humanos

São 1428 alunos matriculados, sendo 558 de Ensino Fundamental

de ciclo I ( 1ª a 4ª séries ), 496 de Ensino Fundamental de ciclo II ( 5ª a 8ª séries ) e

374 de Ensino Médio.

A Unidade Escolar 5 possui no seu quadro de funcionários: 48

professores, 1 vice-diretor, 1 diretor, 2 professores-coordenadores ( período diurno

e noturno ), 3 oficiais de escola, 2 inspetores de alunos, 5 serventes, 1 zelador e 4

pessoas da frente de trabalho.

4.2. Sentimentos e emoções envolvidos no processo de

mudança.

Essa pesquisa propõe-se a identificar os sentimentos e emoções

envolvidos no processo de mudança de professor para professor-coordenador, bem

como compreender suas situações indutoras. A análise dos dados está organizada

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em categorias com o objetivo de explicar os resultados obtidos. Compõem essa

análise as seguintes categorias:

4.2.1 Bagagem dos professores-coordenadores;

4.2.2 Razão para tornar-se professor-coordenador;

4.2.3 Preparação para exercer a função;

4.2.4 Início na função de professor-coordenador.

4.2.1 Bagagem dos professores-coordenadores

As histórias de vida dos cinco depoentes permitiram compreender

os conhecimentos trazidos para a função de professor-coordenador. É a sua

bagagem, é a experiência que cada um carrega consigo.

A presença do outro é fortemente narrada nas entrevistas e é

responsável pelo sentir e agir do professor-coordenador. Exercendo a sua força, o

outro pôde até determinar a sua trajetória. “ Essa afirmação nos obriga a considerar

esse processo não como uma mera reprodução de papéis, mas como uma

produção de si mesmo” ( CARDOZO, 2006: 133 ).

Comparando as histórias de vida relatadas pelos entrevistados,

Luísa foi a única que sempre quis ser professora, ao contrário dos demais

depoentes, para os quais o Magistério ocupava a segunda opção. Sua formação é

toda voltada para a área educacional. Iniciou muito jovem como docente; na sua

trajetória profissional obteve experiência desde a Educação Infantil até o Ensino

Médio.

Somando-se a esses fatores, Luísa recorria à mãe nos momentos

de dúvidas. Além da imagem materna, a entrevistada sabia que sua mãe era

profunda conhecedora dos assuntos escolares; trabalhava na unidade onde Luísa

era professora havia quase trinta anos, primeiro na função de servente, depois

como secretária.

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Analisando as falas de Luísa, os sentimentos de tonalidades

desagradáveis aparecem com menos freqüência em relação aos outros

entrevistados. A sua bagagem de vida promoveu um olhar mais aguçado na função

de professor-coordenador. Sabe ouvir o grupo docente e preocupa-se em

desenvolver a parte pedagógica.

Tanto a formação de Fernando, como a de Luísa, são na área de

educação. Porém, o entrevistado foi funcionário de uma empresa por vários anos.

Quando criança gostava das aulas de Ciências no laboratório e trouxe esse gostar

para a vida adulta, mas no papel de professor de Biologia e, agora, na função de

professor-coordenador.

Mateus, ao longo da sua trajetória, formou-se em diversas áreas:

Patologia Clínica, Administração de Empresas e Licenciatura em Matemática (

complementação ). No entanto, além dos cursos, a experiência que mais o

influenciou na coordenação foi o trabalho de bancário:

“ Uma coisa que bateu muito no começo foi que o professor

vê a escola como estado e não como uma empresa. Ele falta

e fala: ‘ eu tenho direito’ ou ‘eu preciso faltar!’ e na empresa

não é assim. (...) Se eu colocar a escola como uma empresa

eu tenho que ter clientes e lucro. E assim é a escola: os

alunos são clientes e eles têm que ser bem atendidos,

valorizados e o lucro é o conhecimento.” Mateus

A concepção de Mateus sobre educação confunde-se com a idéia

de empresa. Parece simples: os alunos são clientes e devem ser valorizados.

Serem bem atendidos é obrigação dos agentes escolares, mas a comparação entre

aluno e cliente traz a impressão de um relacionamento frio, em que professores são

isentos de orientar o corpo discente a prosseguir seus estudos e também educá-

los para a vida.

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O trabalho no banco, a faculdade de Administração de Empresas e

os dias na direção da escola, talvez tenham levado Mateus a preocupar-se mais

com a parte administrativa do que a pedagógica. Mesmo em certas atividades, na

função de professor-coordenador, o depoente demonstra inquietação e

desapontamento quando os professores não entregam as tarefas solicitadas:

“Pra você ver...hoje eu estou recolhendo os diários dos

professores, estou vendo se está tudo certo... e tem professor

que nem entrega.” Mateus

De que maneira Mateus aborda seus professores ao verificar as

cadernetas? Qual o sentido de dizer se está certo ou errado? Novamente a

impressão de empresa: você entrega e eu confiro.

É possível que o choque entre o Mateus, funcionário de um banco, e

o Mateus, professor-coordenador, seja um dos pontos responsável pelos

sentimentos de tonalidades desagradáveis captados durante a entrevista.

Vamos falar de Júlia. Uma característica marcante da professora-

coordenadora é o prazer de estudar. Os vários cursos de idiomas no Brasil e no

exterior evidenciaram tal fato. É bom ressaltar que Júlia interessou-se por Língua

Portuguesa a partir das atitudes rigorosas de uma professora que a deixou para um

exame de recuperação. Dessa maneira, podemos evidenciar que mesmo os

indivíduos que travam uma relação negativa têm uma participação importante no

processo de constituição da pessoa ( CARDOZO, 2006 ).

Entretanto, os anos de docência fizeram a entrevistada parar de

estudar, acomodar-se. A mudança de função trouxe-lhe a possibilidade de voltar a

ler, aprender e ser jovem novamente:

“ Agora o que é bom é que eu voltei a estudar e na sala de

aula você se acomoda. Eu já tenho 24 anos de profissão e

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está tudo aqui ( aponta para a cabeça ). Não preciso estudar

mais. Agora, na coordenação, eu tenho que ler, estudar para

saber o que passar para os professores. Estudar...eu voltei a

ser jovem de novo! (...) É muito o que aprender (...).”Júlia

O tempo no Magistério, 24 anos, fez Júlia passar por várias

gestões: conheceu diretores e coordenadores com linhas de pensamento

semelhantes ou diferentes das suas. Essa experiência desencadeou a formação de

novas opiniões sobre ser professor-coordenador. Ao entrar na função, sabia o que

ela, como professora, não gostava e preocupou-se em reverter essa situação:

“Eu estava morrendo de medo de dar HTPC, porque antes eu

achava chato. Nosso HTPC não era legal. A gente respeitava,

então, tinha que fazer. Aí eu falei:’ meu Deus...eu tenho que

fazer de um jeito que eles ( professores ) não achem chato’,

porque eu odiava...a minha preocupação eram os HTPCs.”

Júlia

Após os primeiros HTPCs, o grupo docente aprovou os temas

discutidos durante os encontros. Estimular bons debates é necessário, sobretudo,

um assunto que excite a atenção e a curiosidade de todos. Júlia lê muito, estuda,

pesquisa, por isso, essa sua desenvoltura quanto à escolha de materiais que

garantam a formação dos professores.

Entre os respondentes, Carolina é a professora-coordenadora que

mais passou por dificuldades ao longo da sua trajetória. Observando-lhe as

reações corporais, durante a entrevista, percebemos gestos firmes, seguros e em

outros momentos, tranqüilos. Não apresentou mudanças de entonação; fala com

empolgação somente quando relata que aceitou coordenar por ser na mesma

escola onde era professora. Sorri muito pouco, o que nos mostra uma pessoa

marcada pelas intempéries da vida.

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Contudo, Carolina não se deixou levar pelo desânimo. Em seu

depoimento, são evidentes as tentativas, mesmo sem condições financeiras, de se

acertar na carreira profissional. Placco e Souza ( 2006 ) afirmam que:

as situações conflituosas da prática cotidiana podem impulsionarcada pessoa a lutar ou a desistir. A forma com que cada um reagediante dessas situações tem estreita relação com suas experiênciasde vida e com o processo de constituição de sua identidade. (PLACCO E SOUZA, 2006: 70 )

Exemplo da determinação de Carolina pode ser verificado na

explicação de uma das possíveis razões para tornar-se professora-coordenadora:

“Eu acho que eu fui para essa função porque nunca tive medo

do novo.” Carolina

Com base nas experiências vividas nas funções de merendeira e

professora eventual, a depoente incorporou na sua bagagem outras formas de

enxergar a escola. No entanto, Carolina é a entrevistada com a formação na área

educacional e atuação no quadro de educadores mais recente. É possível que as

manifestações de sentimentos desagradáveis, ao desenvolver o trabalho na função

de professor-coordenador, sejam devidas a esta falta de vivência no magistério.

Assim, podemos verificar que “a experiência é uma mediação entre

o conhecimento e a vida humana” ( PLACCO E SOUZA, 2006: 70 ) e que os

sentimentos manifestados na passagem de professor para professor-coordenador

igualmente decorrem dela.

4.2.2. Razão para tornar-se professor-coordenador

No presente item analisamos as razões pelos quais o professor se

tornar professor-coordenador, desenvolvendo uma discussão utilizando a teoria de

Wallon.

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Nos depoimentos, ficou claro que nenhum entrevistado havia

pensado em ser professor-coordenador. O sentimento de indiferença prevaleceu

em relação a almejar uma nova função. O gostar de dar aulas e estar na

companhia da família no período noturno influenciaram em não querer sequer

pensar em tornar-se professor-coordenador. É como se o cotidiano permanecesse

estagnado pelos vários anos de magistério. Assim, dar aula traz segurança e não

haveria motivos para mudança da prática.

Ser professor – coordenador nas escolas públicas estaduais de São

Paulo, não traz benefícios financeiros e não auxilia na evolução funcional. Esses

motivos, possivelmente, acarretam um desprezo pela função. Na Diretoria de

Ensino onde se realizou essa pesquisa, é grande o número de docentes inscritos

na prova de seleção para professor-coordenador que não comparecem no dia

estipulado ou realizam a avaliação apenas como forma de testar seus

conhecimentos.

Sentimentos de inferioridade e impotência surgiram durante as

entrevistas, já que uma depoente – Luísa - mencionou não ter o perfil adequado

para tentar exercer a função por ser tímida. Compara seu jeito de ser, introspectiva,

com a antiga professora-coordenadora, extrovertida e querida por toda a escola e

comunidade. Na teoria walloniana, o outro tem papel importante na constituição da

pessoa e pode exercer certo poder. No caso de Luísa, estar no lugar da antiga

professora-coordenadora era infundado, quase impossível. A influência do outro,

como ser perfeito, não faria Luisa arriscar-se em ocupar o espaço na função.

Então, se todos os entrevistados não buscavam ser professores-

coordenadores, qual a razão para mudarem de idéia? A resposta está no grupo. A

decisão partiu da influência do corpo docente de cada escola. Os professores

incentivaram os depoentes com palavras otimistas, enfatizando que, se eles fossem

professores – coordenadores, fariam um bom trabalho. Esse fato confirma-se na

fala dos depoentes:

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“ (...) Foi a própria decisão do grupo... eles ( professores )

falavam: ‘ você tem um trabalho legal, você trabalha bem esta

parte’. A própria motivação do grupo.” Fernando

“ (...) a maioria quis que eu ficasse...a direção...os

professores.” Mateus

Luísa não foi influenciada pelo grupo de professores da sua escola,

mas, sim, por um outro grupo: a família. “ A sua existência baseia-se na reunião de

indivíduos tendo entre si relações que notificam a cada um o seu papel ou o seu

lugar dentro do conjunto. (...) A família é um grupo natural e necessário” ( WALLON,

1980:167, 168 ). A ação da família foi essencial na decisão de Luísa em querer

participar da eleição para professor-coordenador. Sua mãe assumiu o papel de

conselheira e confidente. Luísa sofria de problemas na garganta, tendo que se

afastar da sala de aula. Ouvindo os problemas da filha, a mãe incentivou-a a tentar

pleitear a nova função.

Na teoria de Wallon, o grupo é o espaço de aprendizagem no qual a

pessoa pode perceber-se, ou seja, tomar consciência do eu, através da

confrontação com o outro. Isso significa que, é nas relações com o outro que o

sujeito reconhece as suas dificuldades, limitações e fraquezas, bem como as suas

qualidades.

Dessa forma, sentimentos de indiferença pela função e impotência

em não fazer jus a ela transformaram-se em sentimentos de valorização,

satisfação e encorajamento. Segundo Wallon, a consciência é resultado da

pressão exercida pelas exigências da vida em sociedade. É na relação com o outro

que os depoentes tomam consciência de suas próprias capacidades , o que os leva

a refletir sobre a possibilidade de serem professores-coordenadores.

No momento em que os participantes dessa pesquisa são

impulsionados pelos colegas de trabalho a exercer a função de professor-

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coordenador, surgem sentimentos que nos reportam ao período da Puberdade e

da Adolescência. Na teoria walloniana, o jovem busca a aventura, a conquista, a

necessidade de surpreender o outro, tem a preocupação de mudar o mundo e

ultrapassar a vida cotidiana.

Assim, os entrevistados, mesmo adultos com características

diferentes dos jovens e adolescentes, porque já centrados em si e no outro,

passaram a ter o desejo de estar na coordenação, confiantes que poderiam fazer

algo de bom para a escola, transformá-la inovando seu processo pedagógico. Em

seus sonhos, construíram um “castelo encantado” e tinham a certeza que é

possível mudar.

De acordo com Wallon, todos os grupos têm objetivos determinados

e sua composição depende desses mesmos objetivos. Do mesmo modo, a

repartição dos cargos rege entre si as relações dos membros e , se necessário, a

sua hierarquia ( WALLON, 1980 ). O grupo de professores e a equipe gestora de

cada unidade pesquisada tinham um objetivo comum: não vir um professor-

coordenador de outra escola e ,sim ,eleger um docente do mesmo meio em que

atuam. Como exemplo, apresentamos trechos das falas dos entrevistados:

“ Um dos motivos que me levou a ser coordenador foi o medo

de vir alguém de fora.” Mateus

“ A diretora falou que queria alguém da escola, se não iria

buscar alguém de fora, alguém que não conhece a escola.”

Júlia

“ É até engraçado... porque sendo professor da escola, no

momento você quer que fique alguém conhecido da escola,

porque geralmente temos medo daquele que vem de fora.”

Fernando

O medo é citado pelos depoentes como um sentimento

desagradável, uma incerteza do que pode acontecer se algum estranho ficar à

frente da equipe de professores. Escolher um profissional já conhecido pelo grupo

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gera segurança. Todos os docentes, ou grande parte deles, da unidade escolar

sabem a maneira pela qual o aspirante à função se comporta, como é o seu

trabalho na sala de aula e seu relacionamento interpessoal.

Supostamente, temos o outro lado: o medo de ter um professor-

coordenador intruso, estranho ao ambiente, pode representar um receio do novo e

até mesmo um certo comodismo por parte do grupo docente. Por que tanto medo

de vir alguém de fora? É possível que a permanência de um profissional que irá

mudar o cotidiano da escola traga desconforto aos professores habituados ao

mesmo processo educativo. Perpetuar algo cristalizado é, via de regra, mais fácil do

que buscar novos caminhos e provocar transformações significativas.

As cinco vagas oferecidas para os professores – coordenadores

eram nas escolas onde os entrevistados já ministravam aulas. Esse fator foi

predominante na aceitação da nova função. Nos depoimentos, fica evidente que, se

a vaga ocorresse em outra unidade, os entrevistados não aceitariam a função de

professor-coordenador:

“ Se fosse uma escola nova eu não iria (...) se eu chegasse

rápido nessa escola, como eu estava na outra, talvez eu não

quisesse ser coordenadora” Luísa

“Eu quis ser coordenador porque, a princípio, eu estou

trabalhando na mesma escola que sou professor.” Fernando

“ Coordenação para mim, só se for nessa escola, em outra eu

não pegaria.” Carolina

Ao mesmo tempo em que os depoentes sentem medo pela

possibilidade de vir um professor-coordenador que não faça parte do quadro

docente da sua unidade, aventurar-se na função em outra escola passa a ser

perigoso. Lidar com um grupo de professores que possui valores, atitudes e

concepções de educação diferentes dos quais estão acostumados gera

insegurança diante de algo tão desconhecido.

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Pelas considerações dos entrevistados, há uma preocupação em

conhecer a escola e a comunidade, justificando a razão de aceitar a função apenas

nas unidades onde lecionam. Sentem-se motivados e desafiados em analisar seu

trabalho antes de entrar para a função e depois, já como professores-

coordenadores. Percebe-se, assim, uma oposição ao antigo professor-coordenador,

na busca de afirmação de si. É um sentimento de competição, muito comum no

estágio do Personalismo indicado por Wallon, onde a criança se apropria do que é

reconhecido como pertencendo aos outros. ( WALLON, 1980 ).

A questão de gênero não foi foco dessa pesquisa. Entretanto, de

cinco professores - coordenadores escolhidos por votação em suas respectivas

escolas, dois são do sexo masculino. Sabemos que a porcentagem de docentes do

sexo feminino na educação básica brasileira é demasiadamente superior ao do

sexo oposto. Aos homens são atribuídos cargos de chefia talvez porque a sua

imagem traga segurança e respeito em um ambiente onde predominam mulheres.

A hipótese levantada aqui parte da idéia de que além do quesito capacidade ou

sociabilidade , um professor pode ser intitulado professor-coordenador por ser do

sexo masculino. Somente esse fator justificaria uma pesquisa à parte sobre

questões de gênero.

4.2.3. Preparação para exercer a função

A teoria de Henri Wallon baseia-se numa visão não-fragmentada do

desenvolvimento humano; busca compreender o indivíduo do ponto de vista do ato

motor, da afetividade e da inteligência ( GALVÃO, 2003 ). Contudo, no exercício da

leitura e comparação entre os relatos, os depoentes prepararam-se para exercer a

função de professor-coordenador levando em consideração a dimensão cognitiva.

Na fase adulta, muito embora o movimento, a afetividade, o

conhecimento e da pessoa sejam conjuntos diferenciados, porém imbricados entre

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si, a preponderância é do cognitivo. É o que define a passagem da puberdade e

adolescência para a idade adulta: o desenvolvimento passa a ter objetivos claros

tanto no trabalho quanto nos estudos. “o plano é atingido quando o

desenvolvimento da pessoa e dos conhecimentos pode orientar-se segundo opções

e fins definidos.” ( WALLON, 1980:71 )

Assim, os participantes dessa pesquisa estudaram textos sobre as

atribuições do professor-coordenador, fizeram cursos oferecidos pela Oficina

Pedagógica e, para Carolina, ter finalizado a faculdade há pouco tempo ajudou na

compreensão da função. Estudar, para os futuros professores-coordenadores,

tinha um objetivo evidente: passar na prova de seleção. Buscar inferências,

preparar-se para exercer a função é estar em condições de ser aprovado no exame

e não em preocupar-se com a atuação, de fato, de um professor-coordenador.

Ler livros ou fazer cursos em estabelecimentos externos à escola

são maneiras de formar um educador. Porém, é provável que esteja presente uma

visão dicotômica entre teoria e prática, entre os que produzem conhecimento e

aqueles ligados diretamente aos alunos. O foco da formação do professor é a

própria escola. “Nesse cotidiano ele aprende, desaprende, reestrutura o aprendido,

faz descobertas e, portanto, é nesse lócus que muitas vezes ele vai aprimorando

sua formação” ( CANDAU, 1996:144 ).

De acordo com Candau (1996), favorecer condições mobilizadoras

de um processo formativo requer pensar a prática, identificando os problemas e

sendo capaz de resolvê-los. Pelo contrário, a prática estará vinculada à repetição.

Estudos sobre formação docente convergem para a idéia de que a ação

mobilizadora se faz no coletivo, nas experiências construídas conjuntamente.

Os depoimentos evidenciaram que, a preparação para tornar-se

professor-coordenador é um momento solitário, com cada profissional recluso em

seus livros. Nas entrelinhas, verificamos que os participantes dessa pesquisa não

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se dão conta da importância da sua formação ser constituída no grupo e no

ambiente escolar. Parece que estão fadados a cada um resolver os seus problemas

e sentirem-se indiferentes quanto a isso.

Segundo Wallon “ a formação psicológica dos professores não pode

ficar limitada aos livros. Deve ser uma referência perpétua nas experiências

pedagógicas que eles próprios podem pessoalmente realizar.” ( WALLON, 1980:

366 ). É certo que todos os entrevistados experimentaram ser professores-

coordenadores pela primeira vez. Entretanto, possuem um vasto conhecimento

obtido pela prática do dia-a-dia na docência. A teoria e a reflexão das experiências

vividas são igualmente importantes na preparação para exercer a função de

professor-coordenador, mas os depoentes não citam tal fato.

Se por um lado a experiência vivida pelos participante dessa

pesquisa não foi mencionada em relação à preparação para tornar-se, professor-

coordenador, as experiências alheias, nos relatos de Julia e Fernando, passaram a

ser uma fonte rica para o processo de aprendizagem:

“A diretora passou livros e textos para eu estudar para a

prova. Falou da sua experiência como coordenadora (...)”.

Júlia

“Eu...para ter um começo na coordenação, a princípio, eu

verifiquei com os meus colegas como eles trabalhavam na

coordenação, a atuação, nas dificuldades de se trabalhar com

o professor. Li alguns livros sobre coordenação”. Fernando

De acordo com Placco e Souza ( 2006 ):

a aprendizagem do adulto resulta da interação entre adultos,quando experiências são interpretadas, habilidades econhecimentos são adquiridos e ações são desencadeadas.” (PLACCO E SOUZA, 2006: 16 ). (...) Mas não se trata de qualquerexperiência; ela decorre da implicação com o ato de conhecer eda escolha deliberada por dar-se a conhecer determinado objetoou evento. Por tratar-se de adultos, há uma vivência anterior e as

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expectativas irão influenciar a formação de novas idéias. (PLACCO E SOUZA, 2006:19)

Podemos dizer que ao ouvir os relatos da diretora e dos colegas de

profissão, os depoentes mobilizaram seus recursos pessoais e sociais a fim de

terem uma ação consciente. Para Júlia, aprender levando em consideração as

experiências da gestora, suscitou sentimentos de alegria, satisfação e orgulho. A

aprendizagem, dessa maneira, envolveu a compreensão de que, apesar dos vários

anos de docência, ainda havia muito que descobrir, perguntas a fazer e respostas

para se encontrar.

Sabe-se que a trajetória de vida tem uma forte influência na

atuação de qualquer profissional. Enquanto Júlia se sente feliz pela conquista de

novos saberes e, desde menina, sempre encontrou nos estudos uma fonte de

prazer, para Mateus, funcionário de um banco a partir dos vinte anos de idade,

preparar-se para a função de professor-coordenador não mereceria grande

relevância. Somando-se a vivência como bancário e o tempo assumido na direção

de uma escola, a parte administrativa já era suficiente para seu início como

professor-coordenador.

As atividades desenvolvidas por diretores e funcionários de banco

têm suas especificidades, em geral, burocráticas. É certo que Mateus trouxe para a

função de professor-coordenador,como referido no item “bagagem dos professores-

coordenadores” uma carga de sua experiência em outros setores profissionais.

Contudo, a reflexão do papel do professor-coordenador merecia destaque: saber

que é um representante dos objetivos e princípios da rede escolar a que pertence; é

um educador preocupado com a formação da equipe docente e alguém que busca

valer suas convicções a fim de construir o projeto pedagógico. ( BRUNO, 2003 ).

Além de sua atitude reveladora, Mateus manifesta indiferença ao

relatar não ser necessário preparar-se para a função. Sendo o sentimento a

representação da emoção, o depoente expressa reações corporais visíveis,

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balança a cabeça para os lados e fala com desprezo, mostrando desinteresse pelo

tema:

“Eu não me preparei para ser coordenador. Eu já tinha a parte

administrativa. Conhecia a escola e os alunos. Fiquei algum

tempo na direção (...)” Mateus

O sentimento de confiança predominou no depoimento dos cinco

professores – coordenadores. Os gestos, durante esse momento da entrevista ,

simbolizaram tranqüilidade. Na opinião dos participantes dessa pesquisa, a leitura

de materiais relacionada à atribuição do trabalho e o conhecimento da escola em

que irão atuar permitiriam agir com segurança. Na fala de Carolina, preparar-se

para função de professor – coordenador foi algo natural, quase impensado,

aconteceu no dia-a-dia, quando realizou atividades para a antiga professora-

coordenadora :

“ (...) eu já conhecia a função porque já tinha lido bastante.

(...) Como eu era professora eventual aqui, às vezes, não

tinha aula e eu passava o dia inteiro aqui. Então, eu vivia

dentro da sala do coordenador, fazendo alguma atividade.

Então, esse contato também...quando eu vim para essa

função eu já sabia o que estava acontecendo. Eu tive esse

contato antes, eu sempre estava aqui, digitando alguma coisa

(...)”. Carolina

Ao proferir essas palavras, inferimos que não apenas Carolina, mas

a totalidade dos entrevistados não reconhece a complexidade da função do

professor-coordenador. Sentimentos de indiferença e confiança, aqui

representados, estão atrelados a algo que podemos dizer: eu já sei o que fazer na

coordenação... o texto que li dizia isso, então posso coordenar...tenho noções

precisas do trabalho de diretor, assim, sei o que faz um coordenador... passando na

prova de seleção, eu vou ter sucesso... se eu desenvolvia essa atividade para a

antiga professora-coordenadora, sei o que fazer na coordenação... conhecer a

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escola e a comunidade já me basta para coordenar...Contudo, não queremos dar a

entender que os futuros professores-coordenadores devam sentir insegurança ao

preparar-se para a função, longe disso. A confiança deve partir de um professor –

coordenador realmente preparado para assumir tal responsabilidade, não sozinho,

mas, sim, no coletivo; um coordenador que compreenda a complexidade de

trabalhar o grupo de professores e os elementos que abrangem a realidade escolar.

Por outro lado, a nomeação para professor-coordenador é um

processo rápido. Segundo relatos dos depoentes, entre o desejo de estar na função

e vir a ser professor – coordenador passam-se uma semana ou um mês. Esse

curto intervalo justifica, em parte, o excesso de confiança em dizer que se sabe do

trabalho ou não é necessário preparar-se para atuar. O processo não admite, ao

menos, pensar na responsabilidade que virá a ser a designação de professor-

coordenador. Ao entrar na função, sentimentos de confiança e indiferença dão

lugar, na maioria das vezes, a sentimentos de tonalidades desagradáveis,

permitindo verificar que ser professor-coordenador não é tão simples como parecia

ser.

4.2.4. Início na função de professor-coordenador

A análise, até o presente momento, buscou abordar os

sentimentos e emoções envolvidos nos dias que antecedem as atividades como

professor – coordenador. Agora, apresentamos uma articulação entre o referencial

teórico de Wallon e os depoimentos dos cinco participantes dessa pesquisa no

início da função. Para tanto, constituem o item quatro subcategorias a seguir:

4.2.4.1 Orientação de outros ao professor-coordenador

4.2.4.2 Primeiros contatos na função de professor-coordenador

4.2.4.3 Primeiras atividades na função de professor-coordenador

4.2.4.4 Primeiras impressões na função de professor-coordenador

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4.2.4.1. Orientação de outros ao professor-coordenador

Recém- chegados à função, os novos professores –

coordenadores recebem orientações de formas variadas. Apesar dessa

diversidade, os sentimentos e emoções dos depoentes são similares: segurança,

satisfação, alegria. Para Luisa, a oportunidade de ler um jornal oferecido pela vice-

diretora ajudou-a a compreender melhor as atribuições do professor-coordenador:

“ A vice-diretora trouxe um jornal da UDEMO que saiu em

1998 ou em 1999. Um jornal que tem, de forma clara e sucinta

o que é ser coordenador. Ela cobrou mais, mas também

ajudou. A cobrança dela me ajudou: ‘aqui tem um jornal que

traz as atribuições do coordenador’ ela disse. E aquilo foi

como uma cartilha para mim, eu não sabia quais eram as

atribuições do coordenador.(...). Esse jornal, essa cartilha me

esclareceu um pouco. Era de pergunta e resposta. Me senti

mais segura, eu tive muitas dúvidas”. (...) A parte pedagógica

eu já sabia. (...) Agora, essas outras funções que vão

agregando ao coordenador, eu não tinha firmeza. “ Luísa

A fala de Luísa leva-nos a refletir sobre o significado do vocábulo

orientar. O fato de a gestora apenas entregar-lhe um jornal possibilita à principiante

observar os diversos aspectos que envolvem uma unidade escolar e atuar de modo

a gerar transformações nos participantes do processo educativo? Parece que não.

Tornar-se professor-coordenador não faz parte de um processo natural. Assim, a

leitura deve estar atrelada a um ato de pesquisa: questionando a realidade,

realizando comparações teóricas e assim, constituindo-se como professor-

coordenador. Segundo Pellisson ( 2006 ):

para se desenvolver profissionalmente, necessário se faz quetome conhecimento das concepções teóricas atuais, no campo daeducação, acompanhe as mudanças que ocorrem nesse meio e,a partir delas, ressignifique suas práticas, num processo contínuode reflexão, preferencialmente coletivo. ( PELLISSON, 2006 :292 )

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As questões teóricas, tão somente, não bastam para orientar o

professor-coordenador na sua nova etapa. A afetividade é condição necessária

para que ele atinja o objetivo de coordenar. A teoria de Wallon pressupõe que a

emoção e cognição estão relacionadas. Dessa forma, o que a pessoa conquista no

plano afetivo é um lastro para o desenvolvimento cognitivo e vice-versa. (

ALMEIDA, 2004 )

Apesar da disposição da vice-diretora em entregar um jornal a fim

de esclarecer as dúvidas de Luisa, não houve preocupação em atender às suas

necessidades e as suas diferentes exigências de afeto. Nesse momento de

transição de professor para professor-coordenador, o recém-chegado à função

precisa ser observado como uma pessoa completa, em cada um de seus domínios

funcionais. Logo, se a gestora olhasse atentamente para Luísa, a orientação seria

um momento de encontro entre as duas. Encontro no sentido de reconhecer um

clima afetivo, de expor suas indecisões e angústias, suas satisfações e alegrias.

Receber orientações da direção da escola nos primeiros dias na

coordenação, por mais rápidas e talvez não eficientes que seja, é privilégio de

alguns professores-coordenadores. Nos relatos de Fernando e Júlia, verificamos

que os principiantes orientaram-se a partir de cursos oferecidos pela Secretaria

Estadual de Educação:

“ Neste ano eu tive oportunidade de aprender mais com os

cursos que fizemos no Núcleo21, no Ensino Médio em Rede.

Os cursos da TIC22 e no Pró-Gestão23. Esse valeu a pena!

Porque tem um estudo voltado para professores e alunos.”

Fernando

21 Núcleo Regional de Tecnologia Educacional: parte integrante da Oficina Pedagógica responsável pelascapacitações e divulgações de materiais na área tecnológica como softwares educacionais, por exemplo.22 Tecnologia de Informação e Comunicação: curso semipresencial para gestores da educação relativo ao usodas tecnologias no ambiente escolar.23 Pró-Gestão: curso para gestores da educação pública; tem por objetivo formar lideranças comprometidascom a construção de um projeto de gestão democrática.

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“Voltei a ser uma grande estudiosa. Estudo daqui...estudo

dali. Não só o curso do Ensino Médio em Rede, vários cursos.

Estudo todos os cursos (...) .Tanta coisa! É muita

informação...projetos e mais projetos.”Júlia

Notamos, nesses depoimentos, a evidência do empenho de

Fernando e Júlia em participar dos cursos. Ao contar sobre sua experiência vivida

em um processo de formação continuada, os professores-coordenadores

exteriorizam suas afetividades, falam com empolgação, mostram-se felizes pela

oportunidade de aprender. Na teoria walloniana, “as emoções consistem

essencialmente em sistemas de atitudes que respondem a uma determinada

espécie de situação” ( WALLON, 1995:140 ). Assim, deixam vir à tona suas

emoções, respondendo o quanto estão satisfeitos pelas orientações dispensadas a

eles. Para Júlia, é momento de resgatar a menina estudiosa, perdida na sua longa

trajetória no magistério.

Por meio dos relatos, foi possível perceber o contentamento dos

depoentes. Para eles, a orientação nos primeiros momentos da nova função

parecia ideal. Entretanto, inferimos que por trás de sentimentos tão agradáveis

estão a solidão, o isolamento. Os professores-coordenadores, no início de suas

atribuições, foram buscando compreender a função sozinhos: lendo e participando

de cursos fora do ambiente de trabalho. Nossos entrevistados não demonstraram

reações perante a falta de uma orientação mais humana, baseada nas relações

interpessoais. Percebemos, a consolidação de um processo, ou seja, cada um é

responsável por si próprio.

Outra atitude dos recém-chegados à função foi recorrer aos

agentes escolares e aos colegas, também professores-coordenadores, do período

diurno e até mesmo de unidades diversas:

“Eu observava muito o que a coordenadora do diurno fazia.

Eu ligava e não a deixava em paz”.

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(...) a inspetora me ajudou muito, ela falava: ‘ a outra

coordenadora fazia assim, vamos tentar?’ “

Luísa

“Algumas coisas que eu tinha dúvida, eu ligava para a

coordenadora do diurno. Aprendi muito com os outros

coordenadores no encontro Ensino Médio em Rede. Foi bom,

principalmente o encontro de Português sobre textos. O curso

do Pró-gestão também me ensinou. Foi mais em que procurei

ajuda”. Mateus

“A orientação que eu tive foi da própria coordenadora do

diurno, os professores e antiga coordenadora do noturno. Eu

fiquei assustada com tanta coisa para fazer! Antes quando eu

só ajudava era uma coisa”. Carolina

O intuito de comunicar-se com outros profissionais é atravessar a

fase de confusão, típica no início de uma nova trajetória. Na teoria de Wallon, o

estado de consciência nebulosa é um estado sem delimitações próprias de ação.

Comum na crise da personalidade nas crianças por volta de três anos, a criança

sente a necessidade de imitar, de auto-substituir os outros, por não diferenciar-se o

eu do outro. Podemos entender que assim ocorre nos professores-coordenadores

iniciantes. A confusão, a consciência nebulosa de não saber suas atribuições, do eu

depender da vontade do outro, gera também a necessidade de imitar. Imitando, o

principiante interessa-se pelas outras pessoas e procura conhecê-las melhor no

objetivo de afirmar-se como pessoa.

Na teoria walloniana, “a criança imita para ser bem aceita, para

obter uma recompensa ou afeto. A imitação torna-se mais uma marca do que uma

reação imediata de simpatia. “ ( WALLON, 1986: 98 ) . Contudo, “a criança não se

dirige a todos indistintamente, mas às pessoas que , por um motivo qualquer, se

impõem a ela. Originalmente é um desejo mais ou menos total de se unir às

pessoas por uma espécie de participação efetiva.” ( WALLON, 1986: 100 ). Dessa

maneira, os professores – coordenadores imitam para serem aceitos pelo grupo ,

mas, a imitação advém de pessoas que possuem conhecimento e experiência que,

de alguma forma, servirão de recursos nas suas atuações.

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Em linhas gerais, a orientação oferecida aos entrevistados suscitou

sentimentos de alegria, confiança e satisfação. Ora, o fato que colocamos é,

segundo os relatos acima, tem que partir dos professores-coordenadores a

iniciativa de perguntar e tirar dúvidas em relação à função. Talvez se os depoentes

não tivessem, a princípio, “deixado os outros coordenadores em paz”, qual seria a

possibilidade de coordenar nos primeiros dias da sua nova etapa? Podemos dizer,

portanto, que nas escolas não temos laços de sociabilidade que unam as pessoas

mobilizando-as em torno de um trabalho integrado. Carolina assustou-se por causa

da sobrecarga de atividades a serem desenvolvidas, e parece que a

responsabilidade das múltiplas atribuições é somente dela e de mais ninguém.

Como é possível sentir-se feliz com essas orientações? Devemos, como

educadores, refletir melhor sobre o cuidar, o orientar um profissional iniciante.

Dessa maneira, o recém-chegado professor-coordenador pode sentir-se

verdadeiramente feliz.

4.2.4.2. Primeiros contatos na função de professor-coordenador

Os primeiros contatos de um professor - coordenador principiante

são permeados de sentimentos de tonalidades ora agradáveis, ora desagradáveis.

Disso dependerá o acolhimento concedido ao recém-chegado, ao

comprometimento da equipe docente no processo de formação e as situações de

conflitos entre os envolvidos na unidade escolar.

Nessa subcategoria, ficaram em evidência as verbalizações dos

entrevistados quando se referiram à recepção dos professores no momento da

designação como professores-coordenadores. Apesar dos participantes dessa

pesquisa conhecerem o grupo docente, eles demonstraram sentimentos de medo e

insegurança por talvez não serem aceitos pelos professores.

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Na realidade, tornar-se professor-coordenador pressupõe ser

formador, estar à frente do processo pedagógico. Assim, a prática já não é, tão

somente, a da sua sala de aula; o fato de estar ausente na sala dos professores na

hora do intervalo, por exemplo, mostra que algo mudou. É perfeitamente cabível

que um iniciante na função sinta medo. Podemos realizar uma leitura em que não

ser aceito no grupo significa não ser visto como pertencente ao grupo e não

atender as suas expectativas.

Para Carolina, ser professora eventual causava medo na medida

em que a maioria do grupo docente era de professores efetivos ou contratados.

Qual seria a reação deles em relação a isso? Na verdade, Carolina sentiu-se

inferior. Professora eventual, como poderia formar professores cuja situação

perante o quadro do magistério era melhor que a dela? É possível que a

“hierarquia” – efetivo, contratado, eventual – tenha um grande peso na tomada de

decisões. Imaginamos quantos professores eventuais24 almejam estar na função

de professor-coordenador e não se sintam à vontade para concorrer à vaga, por

inferioridade ou pela incerteza de corresponder a um grupo mais favorecido.

Todavia, os dados apontam a boa receptividade da equipe docente,

fato que possibilitou o surgimento de sentimentos de alegria, mesmo porque se um

professor-coordenador está na função é devido, grande parte, aos votos dos

professores da unidade escolar.

Embora o comportamento dos professores tenha sido positivo, as

interações identificadas durante o período de formação ou nas reuniões de HTPC

manifestaram-se de diferentes formas. Para alguns entrevistados, os encontros

permitiram verificar um acolhimento verdadeiro, ou seja, uma equipe docente

preocupada em auxiliar o recém-chegado professor-coordenador e desenvolver

com ele um bom trabalho. Em outros casos, os primeiros contatos tão calorosos e

24 Ressaltamos que, para ser professor-coordenador, o professor eventual deve ser contratado, no mínimo, poruma aula. Essa aula garante o vínculo no quadro do magistério do Estado de São Paulo.

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amigáveis transformaram-se em relações pautadas no desinteresse, na falta de um

olhar mais aguçado para as necessidades afetivas dos principiantes na função.

Nos depoimentos de Luísa e Júlia verificamos a preocupação, tanto

da equipe docente quanto das entrevistadas, em demonstrar apoio e buscar o

desenvolvimento de um trabalho com êxito:

(...) eu fui muito bem recebida, os professores gostaram... eu

senti isso (...). Eu dava ouvido para todos eles. Ouvia as suas

experiências. Eu percebi que eles queriam me ajudar mesmo.

Tem gente que quer só dar palpite, mas não foi isso que eu

percebi (...) eles foram me ajudando, até hoje. Tem um

professor (...) ele traz novidades. Eles ( professores)

enxergavam em mim... tinham facilidade de chegar (...). ”

Luísa

“ O apoio dos professores foi total. No HTPC tudo o que eu

pedia eles faziam. Nós melhoramos esse noturno! Chega

sexta-feira os alunos vêm. Os professores tinham idéias, a

gente discutia. Eles ajudavam muito. Tudo o que eles

precisavam, na parte pedagógica, eu ajudava...sempre ajudei.

(...) depois os professores falaram: ‘é o melhor HTPC’! Sabe

por quê? Porque eu deixei eles falarem. A gente lia os textos

(...) eu dava abertura para eles falarem... falarem dos

problemas do dia-a-dia, dos problemas com os alunos, trocar

idéias entre eles. Nós tínhamos discussões muito boas, foram

ótimos os HTPCs. Isso me deixa contente! O HTPC acaba e

os professores continuam falando.” Júlia

Podemos identificar, nessas interações, o entusiasmo, a alegria das

entrevistadas. Sentiram-se orgulhosas e valorizadas em auxiliar os professores e

serem amparadas por eles. Nos relatos, notamos que ambas ouviam o grupo

docente e sabiam da importância de conhecer suas experiências ou compreender

suas aflições. Segundo Rogers ( 2001 ) compreender é duplamente enriquecedor .

Por um lado, permitir a si mesmo essa compreensão acarreta uma mudança.

Assim, Luísa e Júlia, ao ouvirem seus professores, enriqueceram-se com suas

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falas, tornaram-se mais sensíveis aos seus sentimentos. Por outro lado, a equipe

docente enxergou nas professoras – coordenadoras duas pessoas que atribuíram

valor ao fato de prestar atenção no que diziam.

Rogers ( 2001 ) menciona que a relação entre pessoas é

significativa na medida em que há um desejo contínuo de compreender, uma

empatia sensível que possibilita uma transparência entre elas, aceitando-as da

maneira que são:

quando a outra pessoa pode até certo grau vivenciar estasatitudes, então eu acredito que a mudança e o desenvolvimentopessoal construtivo ocorrerão invariavelmente e eu incluo apalavra ‘invariavelmente’ apenas após longa e cuidadosaconsideração. ( ROGERS, 2001 : 39 )

Júlia expressa contentamento ao falar das mudanças ocorridas no

período noturno. Os alunos do noturno, na sua maioria trabalhadores, tinham o

costume de faltar às aulas nas sextas-feiras. A relação de empatia entre docentes e

a professora - coordenadora possibilitou mudar o quadro e trazer os alunos à

escola. No HTPC, os docentes discutiam até mesmo após o término da reunião,

fato que comprova a mudança de postura do grupo de professores.

É bem possível que tanto Júlia quanto Luísa já cultivassem esse

sentimento de empatia, com a equipe docente, antes da nomeação para professor-

coordenador, como podemos verificar nesse relato:

“Fiz o João25 conversar com os alunos... imagina!!! Ele é tão

resistente!!! Às vezes ele pára a aula para conversar com os

alunos. Sabe o caderno-espelho26? Consegui fazer com que

ele fizesse. Acho que é porque ele me conhece faz tempo e

me respeita ...é tem isso...eles ( professores ) sabem que eu

estou aqui há muitos anos, conhecem o meu trabalho, sabe...

é uma contribuição dupla.” Júlia

25 João é nome fictício.26 Caderno-espelho: caderno de registro das ocorrências durante o período de aula.

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Na contribuição dupla, segundo depoimento de Júlia, ambos se

beneficiaram do trabalho desenvolvido, pelo respeito e amizade de longos anos. A

entrevistada empolga-se ao contar que João, um professor resistente, passou a

conversar com seus alunos, dando maior atenção a eles. Júlia foi capaz de aceitar

João, orientando-o de maneira construtiva, positiva. A professora-coordenadora,

por sua vez, favoreceu-se da mudança de João. Para uma iniciante na função,

“tocar” um professor, fazer com que ele seja afetado é sinônimo de estar no

caminho certo, é sentir-se forte e confiante na busca de trilhar mais desafios.

Contudo, citamos que nem sempre ocorre uma interação onde o

grupo se enxerga e se aceita o outro com suas diferenças, onde já não temem

discordar ou emitir seus pontos de vista ( SOUZA, 2003 ), mas, nas escolas temos

grupos que vêem o professor-coordenador como um mero cumpridor de tarefas, ou

ainda, travam uma relação simbiótica, uma dependência para com o professor-

coordenador, esperam dele a resolução de todos os problemas. Nesses casos os

sentimentos de tonalidades desagradáveis são representados pela tristeza, mágoa,

insatisfação. Mateus e Carolina exemplificam esse fato:

“Cada um queria mandar ( professores ) e não tive apoio. Fui

em alguns pontos bem autoritário. O grupo não era unido. Em

princípio eu senti apoio de alguns, nos outros era puro

interesse. Vários professores são bons, mas têm muito ciúme.

Se eu tivesse apoio no começo, seria diferente... menos

traumático. Tive muita rivalidade entre professores e alunos. E

mais... muita imposição: ‘eu quero! Eu quero! Ou ainda ‘eu

quero biblioteca, eu quero laboratório!’ Mas quando foi feito

ninguém usava e só critica negativa, destrutiva. Muitas

oscilações entre o grupo.” Mateus

“O que falta ainda é que quando eu chego com os cursos, os

professores têm uma certa resistência. Nesse sentido, eu

ainda não estou realizada, ainda falta muito. (...) mas essa é a

pior parte para um coordenador. Na parte pedagógica, eles

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ouvem...concordam...mas na realidade é difícil de acontecer.”

Carolina

Mateus, ao tornar-se professor-coordenador, viu-se diante dos

diversos grupos que compõem uma unidade: os que apóiam, os que criticam e

aqueles que impõem. Na teoria walloniana, “ a escola não é um grupo

propriamente dito, mas um meio onde podem constituir-se grupos com tendência

variável e que podem estar ou em discordância ou em concordância com seus

objetivos.” ( WALLON, 1980 :167 ). Para Wallon, individualismo e espírito coletivo

são complementares. Não há grupos sem indivíduos e não há conhecimento de si

próprio sem o coletivo. Porém, a ação deve ser harmonizada, a fim de atingir o

objetivo do grupo ( WALLON, 1980 ).

A falta de harmonia entre a equipe docente e os entrevistados, e

em conseqüência disso os sentimentos de tonalidades desagradáveis de Mateus e

Carolina, pode ser explicada pelo fato de os professores não se enxergarem

pertencentes a uma unidade escolar. Palavras de ordem como: ‘ eu quero... faça

isso...’ e não ‘ vamos fazer juntos ’apenas reforçam a responsabilidade centrada

em um único indivíduo, nesse caso do professor-coordenador. Wallon destaca que

ao assumir tarefas e as normas que impõem a presença da pessoa ao grupo, o

professor-coordenador obriga-se a regular a ação de cada indivíduo e a controlá-la

sobre os grupos, igual a um espelho, em suma, “ a fazer dela uma imagem exterior

a ela própria e de acordo com as exigências que reduzem a espontaneidade

absoluta e a subjetividade inicial.” ( WALLON, 1980 : 176 ).

No caso de Mateus, temos, ainda, a possibilidade de ele estar

agindo e sendo visto pelos professores como diretor. O depoente assumiu a direção

da mesma escola, por trinta dias, antes de tornar-se professor-coordenador e

talvez esteja aplicando um mesmo sentido para funções diferentes: direção e

coordenação têm as suas especificidades. Sem dúvida, o gestor precisa caminhar

ao lado do grupo docente, porém, cabe ao professor-coordenador promover a

interação entre os professores, dando novas formas ao grupo.

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Nos relatos, percebemos a ausência da solidariedade dos

professores em relação aos depoentes. Essa falta pode ter sentido de apatia do

grupo ou no sentido da aceitação do professor-coordenador não ser autêntica. Para

Carolina, os docentes ouviram, concordaram, mas não mudaram a forma de

ministrar suas aulas. A entrevistada sentiu-se decepcionada em trazer novidades e

sofrer resistências dos professores, estes, por sua vez, não participaram

efetivamente do processo pedagógico; não havia por parte deles solidariedade em

ouvir, objetivando a transformação da prática. Assim, os professores apenas

ouviram e permaneceram alheios aos fatos e Carolina frustrada por não conseguir

atingir sua equipe docente.

O segundo sentido refere-se à falta de apoio, do grupo docente,

dispensado a Mateus no início da sua função. É provável que o acolhimento, nos

primeiros dias não tenha sido autêntico por parte dos professores. Talvez o

incentivo de querer Mateus na coordenação seja a vontade dos gestores, já que o

entrevistado fez parte da equipe gestora por um período, e os professores, por

satisfazer as decisões da direção, acomodaram-se com a idéia. Rogers ( 2001 )

afirma que é extremamente importante ser real, “quanto mais conseguir ser genuíno

na relação, mais útil esta será” ( ROGERS, 2001: 37 ). Se o grupo docente

evidenciasse seus reais sentimentos e Mateus tivesse disposição para

compreender essa atitude, os professores não manteriam uma aparência e o

recém-chegado professor-coordenador teria o apoio devido.

Fernando, pelo contrário, não recebeu auxílio da gestora nos

primeiros dias na coordenação. A diretora trouxe outro aspirante à função de

professor-coordenador para concorrer à vaga juntamente com Fernando. O

entrevistado, após receber a maioria dos votos dos professores, foi designado na

função, iniciando um período turbulento na sua trajetória como educador. Sentiu-se

rejeitado pela falta de apoio da equipe gestora e irritado pelas atribuições

conferidas a ele:

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“ (...) quando eu entrei para na coordenação, eu disputei a

vaga com mais seis professores, todos de escolas diferentes.

Inclusive um dos representantes foi a própria diretora que

trouxe (...). Isso foi o difícil no começo do nosso

relacionamento: ela queria essa pessoa e os professores

votaram em mim. (...) A princípio eu consegui trabalhar

normalmente...mas depois...ela veio com funções, ela me

atribuiu funções com aluno e professor. Eu disse para ela:

‘não...isso é seu...é sua função perante os professores e

alunos’. A parte pedagógica eu trabalho, mas as

leis...advertências...suspensões...isso é da direção.” Fernando

Podemos notar que os sentimentos de tonalidades desagradáveis

referem-se, entre outros casos, à ausência de um acolhimento verdadeiro tanto por

parte da equipe gestora quanto dos professores. Os dois grupos, juntos, precisam

enxergar o recém-chegado professor-coordenador como uma pessoa completa,

que necessita de cuidados afetivos, motores e cognitivos. Se um dos grupos (

gestores ou docentes ) falha em oferecer apoio ao iniciante na função, firma-se um

ambiente hostil e acaba por isolar o novo professor-coordenador.

Em relação aos funcionários da escola, um dado curioso é relatado

pelos depoentes dessa pesquisa. Tornar-se professor-coordenador é motivo de

mudança na forma de tratamento. É possível que antes, como professores, os

funcionários não dessem as merecidas atenções a eles. Os docentes não tinham,

por muitas vezes, sequer um nome, denominavam-se apenas ‘professor’. E assim,

bastou estar à frente da equipe de professores e estar ao lado da direção, que tudo

mudou. As considerações voltaram aos professores-coordenadores, que passaram

a ser chamados de senhor, dona. Essa atitude dos funcionários suscitou ora

sentimentos de tonalidades agradáveis e ora sentimentos de tonalidades

desagradáveis: sentimento de valorização, os entrevistados sentiram-se bem por

esse diferencial; sentimento de descontentamento, os professores-coordenadores

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acharam desnecessária a mudança de tratamento; sentimento de irritação, a função

não deveria acarretar um olhar diferente para as pessoas.

Pensamos, novamente, na autenticidade mencionada por Rogers (

2001 ). Apesar de os funcionários acolherem de maneira agradável os novos

professores-coordenadores, a relação entre eles é autêntica? A preocupação dos

funcionários é apoiar verdadeiramente o recém-chegado à função? Nas entrelinhas,

diríamos que a situação poderia causar um sentimento de desconfiança por parte

dos depoentes. Dessa forma, por que os funcionários agiriam assim, quais seriam

suas intenções? Wallon menciona a importância do papel do professor em evitar

“que se estabeleça entre seus alunos distinções baseadas na sua origem social ou

ética. Deve tomar em consideração as relações que uma sociedade cada vez mais

igualitária exigirá às crianças que estão diante dele nos bancos da sala de aula.” (

WALLON, 1980 : 224 ). Inferimos, da teoria walloniana, que assim ocorre entre

funcionários e professores, funcionários e professores-coordenadores. Uma escola

onde todos devam ser respeitados e cada um “desenvolva o melhor possível

segundo suas aptidões” ( WALLON, 1980 : 224 ), sem preconceitos, sem

distinções, é o desejável.

No início da sua função, os depoentes apontaram algumas

situações de conflitos que envolviam professores e alunos, o que acarreta

sentimentos de tonalidades desagradáveis. De acordo com Abreu ( 2006 ), o

professor-coordenador, via de regra, é a pessoa mais indicada pela equipe escolar

para resolver os conflitos e em meio a tanta diversidade de tarefas desenvolvidas

por ele, geralmente, não sobra tempo hábil para articular os professores a fim de

saberem lidar com essas situações. No trabalho de Abreu ( 2006 ), o participante da

pesquisa, entre outros, era uma professora-coordenadora já experiente. No entanto,

alguns conflitos não puderam ser resolvidos por ela. Imaginamos, agora, um

professor-coordenador recém-chegado na função que nos primeiros dias se vê no

meio de desacordos abrangendo o corpo docente e discente da unidade escolar.

Que estrutura um iniciante possui para lidar nos momentos de conflito? Indecisos,

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inseguros, os entrevistados, bem ou mal, tentaram resolver os problemas gerados

na sala de aula ou fora dela.

Estamos falando de conflitos, mas em qual sentido? Buscamos em

Thomas Gordon, psicólogo e educador, a definição envolvendo um modelo

baseado nas relações humanas. Segundo Gordon,

conflito significa batalhas e colisões que ocorrem entre duas ( oumais ) pessoas quando o seu comportamento interfere com asnecessidades de um ou de outro ou quando os seus valores não seencaixam. (...) Os conflitos não pertencem unicamente ao professorou ao aluno. Envolvem as necessidades de ambas as partes; porisso, dizemos que o problema pertence a ambos.( GORDON, 1998 :187 )

Assim, nos relatos, encontramos situações de conflitos vividas

pelos professores-coordenadores logo no início da função:

“ Foi algo terrível que aconteceu... com uma sala. Essa sala a

lousa estava ruim, não dava para escrever direito e a sala

estava com poeira, apesar da inspetora ter limpado, estava

com poeira, muita poeira. Eu falei: ‘ Dona Lourdes27, dá uma

limpada na sala, porque os alunos estão reclamando.’ Mesmo

a sala estando limpa, mesmo assim, acho que por influência

do professor, a sala se revoltou e a sala desceu para

conversar comigo... a sala inteira! Não veio o representante, a

sala inteira com 37 ou 40 alunos, lotada. (...) Bom... aí eu falei

para a sala que eu ia pedir para a servente limpar de novo,

um aluno virou e falou: ‘ não dá para ter aula nessas

condições’.Outra aluna falou: ‘ quem é você para impedir a

gente de sair... você não fede e não cheira!’ Isso me deixou

muito nervosa! Eu falei... ‘e você menina fede!!!’ Eu não

agüentei! E eu percebi que o professor fez com que os alunos

se voltassem contra mim. (...) Eu me senti mal, perante essa

sala, três alunos me desrespeitaram , de falarem alto, serem

grosseiros. Isso me deixou muito abalada.” Luísa

27 O nome Dona Lourdes é fictício

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Pela fala de Luísa é possível perceber que ambas as necessidades

não foram satisfeitas, tanto da entrevistada quanto do corpo discente. Luísa

preocupou-se em deixar a sala limpa com o objetivo de os alunos poderem estudar

em um ambiente apropriado. Enquanto eles, os alunos, influenciados pelo

professor, tentaram abandonar as aulas queixando-se da poeira da sala, nada mais

do que um pretexto para sair antes do período terminar. Por serem mais velhos, no

período noturno são jovens e/ou adultos, os alunos reagiram com atitudes

retaliativas, mostraram-se resistentes aos apelos da professora-coordenadora.

Nesse caso, o conflito tornou-se um confronto violento não de força física, mas de

trocas de ofensas. Na luta pelo poder, na batalha a ser ganha não há vencedores e

o que resta são sentimentos de desapontamento, decepção, raiva e irritação.

Analisando o depoimento de Luísa, notamos as três propriedades

da emoção pelas quais agem e alteram o meio. Propriedades, estas, descritas pela

teoria walloniana: contagiosidade, plasticidade e regressividade. Segundo Leite (

2006 ), Wallon chama de contagiosidade a capacidade de contaminar o outro, de

plasticidade a capacidade de refletir no corpo os seus sinais e a regressividade

como a capacidade de regredir as atividades do raciocínio. ( LEITE, 2006 : 20 ).

Luisa foi tomada pela emoção. “A emoção tem o poder de invasão, que precede

toda reflexão” ( WALLON, 1986 : 86 ). A depoente contagiou-se pela circunstância,

deixou-se levar pelas atitudes dos alunos e pelo poder expressivo da emoção.

Irritada, Luisa não conseguiu manter sua atividade intelectual, estava embebida

pela cólera. Portanto, teve dificuldade de reagir coerentemente e compreender as

causas dessa situação.

Apesar da postura da aluna ter sido incorreta, já que ofendeu a

professora-coordenadora, sua fala: ‘ quem é você para impedir a gente de sair...

você não fede e não cheira!’, remete-nos a pensar sobre o quanto os alunos têm

conhecimento da função do professor-coordenador na escola. Quem é ele afinal?

Não é professor, não é diretor, o que faz aqui? Assim, percebemos a falta de

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esclarecimentos por parte, principalmente, da equipe gestora das atribuições de um

professor – coordenador para o corpo discente. É possível que se os alunos

soubessem da sua função, do trabalho desenvolvido por ele, não agiriam dessa

forma e por conseqüência o professor-coordenador iria sentir-se melhor.

Retomamos, ainda, as interações conflituosas no cotidiano escolar

no depoimento de Fernando:

“ (...) Eu falei de assalto, esse aluno que assalta já parou de

estudar. Tem um filho pequeno de meses... eu conheço ele

desde a quinta série e fiquei surpreso porque ele estava

discutindo com uma professora. Eu chamei ele e falei: ‘por

que você está fazendo isso?’ Ele respondeu: ‘ porque estou

nervoso...estou sem emprego e os caras estão me chamando

para assaltar, eu já estou fora disso ’. Entendeu? Você acaba

envolvido com os sentimentos e eu não pude ajudar ele. Eu

falei para ele: ‘ se você precisar de cesta básica, nós

ajudamos’. Hoje, eu não sei onde ele está, ninguém sabe...só

sei que é difícil.” Fernando

Ao contrário da situação conflituosa relatada por Luisa, onde ficou

visível um procedimento impulsivo, turbulento, Fernando percebeu que havia um

motivo concreto para a oposição do aluno. O entrevistado estava ciente do papel

desempenhado pelo conflito eu-outro e não tomou como afronta pessoal a sua

atitude. No entanto, desapontamento, decepção, remorso e tristeza foram

manifestações expressas por Fernando que também se deixou levar pela emoção e

talvez esse seja o motivo da falta de racionalidade no auxílio ao aluno.

Segundo Galvão ( 2004 ), apenas reconhecer o motivo concreto da

oposição do aluno não resolve o problema, é preciso descobrir uma forma de lidar

melhor com a situação e esta deve ser encontrada em seu contexto específico.

Está certo que os problemas do aluno perpassam a escola, envolvem questões

financeiras e familiares, mas é possível buscar um caminho, achar recursos que

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possam trazer medidas que incluam a cooperação e a solidariedade. Contudo, ao

atuar na resolução de conflitos, a participação de todos os agentes escolares deve

fazer-se presente, ou seja, deve-se fazer um trabalho coletivo em que o professor-

coordenador não será o único responsável a interpretar e agir no complexo sistema

escolar.

4.2.4.3. Primeiras atividades na função de professor-coordenador

As primeiras atividades dos novos professores-coordenadores são

marcadas pela indecisão. A dúvida perpassa desde a elaboração de uma pauta

para as reuniões de HTPC até o desconhecimento das reais atribuições da função:

“ Era começo de ano, falar de projetos que a escola já estava

começando? Eu fiquei em desespero! Preparar o HTPC...”

Luísa

“ Nos primeiros dias como coordenador, você vê... eu estava

como coordenador e estava faltando muito professor. A

diretora pediu para eu juntar três salas e dar aula de Biologia.

Eu coloquei os alunos no laboratório... imagina... coordenador

dando aula de Biologia. Eu não posso estar na coordenação e

dando aula... isso foi muito estranho e muito ruim. Até os

professores falaram: ‘ você é coordenador ou professor? ’Até

começaram a tirar sarro de mim. ”Fernando

“ Eu tive muita dificuldade de fazer livro ATA, eu não sabia

fazer aquilo. Depois que eu fui melhorando.”Mateus

“ (...) logo que eu entrei teve a prova do ENEM28. Eu nem

sabia o que fazer... eu não sabia o que os coordenadores

tinham que fazer. Eu e o coordenador do diurno ficamos

perdidos...era aluno que escrevia errado, era aluno que não

trazia documento (...). Menina...passamos ‘dobrado’ aqui. A

responsabilidade pesou, a gente sem experiência nenhuma.”

Júlia

28 ENE

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A falta de experiência na função de professor-coordenador trouxe

aos três entrevistados, sentimentos de insegurança: ao preparar a primeira reunião

( Luísa ), por perceber a ambigüidade de ser professor e coordenador ao mesmo

tempo e ser ridicularizado por isso ( Fernando ) e desconhecer as atribuições do

coordenador quanto às avaliações externas ( Julia ).

Lembrando que toda nova experiência provoca um pensamento

sincrético, verificamos nos participantes dessa pesquisa, uma busca em sair do

estado nebuloso, enfrentar as dificuldades, entender os fatos e tomar consciência

de si em um movimento progressivo para a diferenciação e autonomia.

Carolina não apresentou insegurança nas primeiras atividades na

função de professora-coordenadora. Já mencionamos no item “síntese dos

biogramas” que ela foi a entrevistada que passou por inúmeras dificuldades na sua

trajetória de vida, tanto na família quanto no emprego. Deduzimos, por

conseqüência, a razão pela segurança em enfrentar situações inusitadas. Preparar

uma reunião de HTPC era algo tranqüilo e a entrevistada baseou-se na

coordenadora do diurno ao desenvolver o seu trabalho:

“Eu não tive problema no HTPC porque eu vinha de manhã no

HTPC da coordenadora do diurno. Eu via tudo o que ela

passava e fazia o meu à tarde.” Carolina

Carolina buscava concretizar o encontro de HTPC pela

incorporação o outro, ou seja, copiava e assimilava as qualidades e méritos da

pessoa-modelo e, posteriormente, reproduzia de forma a enriquecer a sua

aprendizagem (BASTOS E DÉR, 2000 ). Assim, a entrevistada necessitava do outro

para manter-se segura e confiante.

Todavia, no início das atividades na função de professor-

coordenador, os depoentes permaneceram em um estado de solidão. Sentiram-se

ENEM : Exame Nacional do Ensino Médio.

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sós por não haver uma aproximação afetiva, faltou o comunicar-se entre pessoas.

Os recém-chegados professores-coordenadores submeteram-se a situações de

desafios sem que houvesse uma atenção para com eles. Pelo contrário, além da

solidão, da insegurança, especificamente, no caso de Fernando, manifestaram-se

sentimentos de vergonha, desapontamento e constrangimento pelas atitudes da

diretora e do corpo docente. Diríamos que se os agentes escolares

compreendessem o antagonismo entre as dimensões afetiva e cognitiva instalado

nas relações entre eles e os professores-coordenadores , perceberiam que

somente no contato interpessoal, na estimulação da afetividade haveria um melhor

desempenho intelectual dos iniciantes na função.

Certos relatos apresentaram a dicotomia entre as atividades

pedagógicas e as questões de disciplina do corpo discente. Fernando, por exemplo,

mostrou-se esperançoso ao afirmar que o caminho para a obtenção de sucesso na

escola passava primeiro por um controle no comportamento dos alunos para depois

trabalhar a parte pedagógica. Da mesma maneira que afetivo e cognitivo estão

entrelaçados, a disciplina e o processo de formação dos educandos funcionam

como uma engrenagem. Ministrar boas aulas, significativas para o aluno, cria

condições desejáveis na sua conduta e vice-versa.

Enfatizar a parte administrativa, ao invés do trabalho pedagógico;

ter a visão de que a disciplina dos alunos e a parte pedagógica não caminham lado

a lado ou cobrir as faltas dos professores, mesmo sabendo que o mais importante

é conhecer as razões de tantas ausências e tentar agir para que haja compromisso

do corpo docente são atividades que comprovam a falta de uma formação

adequada do professor-coordenador. Sabemos que a formação se dá em serviço,

mas é preciso um conhecimento mínimo ao entrar na função. É indubitável que as

primeiras atividades a serem desenvolvidas por um iniciante causem sentimentos

de dúvida. No entanto, as indecisões, os desapontamentos e os desânimos seriam

reduzidos caso houvesse a valorização da presença do professor-coordenador

sendo um profissional que, assim como outros, necessita de formação específica.

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4.2.4.4 Primeiras impressões na função de professor-coordenador

Nos dias que antecedem a nomeação para professor-coordenador,

é interessante notar o sentimento de confiança existente nos cinco entrevistados.

Todos afirmaram estarem preparados para a função. Após a designação, o

sentimento é de incerteza, já não sabem ao certo as atribuições de um professor-

coordenador. Começam as dúvidas e a sobrecarga de atividade, outras funções

vão agregando-se ao coordenador, o trabalho torna-se complexo, abrangendo

todos os agentes escolares, alunos e a comunidade.

Esse conjunto de fatores fez os depoentes pensarem na grande

responsabilidade de ser professor-coordenador e alguns deles mencionaram as

facilidades de estar na sala de aula ao contrário das dificuldades da atual função.

As palavras dos depoentes convergem para tal fato:

“(...) Ser professor é mais fácil. Ser coordenador é uma

seqüência do outro emprego. Eu tenho que administrar

pessoas...o que não é fácil. (...) Eu acho a sala de aula

melhor. Não sei exatamente por quê. Eu saio do banco de

terno e gravata, sento com os alunos, explico e brinco.”

Mateus

“Eu percebi que era muito difícil essa função, porque

infelizmente com a falta de funcionário você acaba desviando

a sua função. Muita responsabilidade, porque ao mesmo

tempo você lida com a questão pedagógica da escola, sem

poder ter tempo disponível para isso.” Fernando

“ Nos primeiros dias senti muita responsabilidade, muito

trabalho. Agora, dependia de mim. (...) É muita

responsabilidade ser coordenadora. Antes, eu só tinha a

minha sala de aula. Hoje, às vezes, eu não consigo dormir de

preocupação. Quando eu estava na sala de aula isso não

acontecia (...). Eu encosto a cabeça e não durmo. Às vezes,

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você fica chateada...é professor estressado...com problema...”

Júlia

Neste percurso inicial, em alguns momentos, ficou evidente o

arrependimento de tornar-se professor-coordenador. A função exige, entre outras

tarefas, o acompanhamento do professor em serviço. Este acompanhar é tomado

no sentido amplo, tanto na formação intelectual do grupo docente quanto ouvindo

seus problemas. Entretanto, verificamos que envolver-se com os sentimentos dos

professores traz um certo cansaço, um desânimo de tudo ser canalizado na figura

do professor-coordenador.

Por outro lado, o professor-coordenador do período noturno já

passou por inúmeros afazeres antes de chegar à escola. Todos os entrevistados

relataram ter uma segunda ou até terceira ocupação além da coordenação.

Chegam a trabalhar oito horas durante o dia e somando-se o noturno totaliza treze

horas de trabalho diariamente, fato que nos dá indícios de que nem sempre um

professor-coordenador está apto a comprometer-se em relação aos sentimentos do

grupo docente.

Mahoney e Almeida ( 2002 ), citando Gordon, lembram o “mito do

bom professor” no qual se deve substituir a visão idealizada do professor por um

modelo mais humano. Então, transpondo a idéia, é um mito pensar que o professor-

coordenador nunca apresenta variação de humor e sempre está solícito para

atender as necessidades afetivas e cognitivas dos envolvidos no ambiente escolar.

Agora, é importante frisar, que o cansaço e o desânimo não devem prevalecer,

habitualmente, ao prestar atenção nas pessoas, observando-as em todos os níveis.

Lidar com seres humanos é uma tarefa difícil, exige não somente

disponibilidade e confiança de ambos os lados. Mateus chamou de administrar

pessoas, uma denominação fria, talvez fruto do seu trabalho no banco. Uma das

razões possíveis do entrevistado achar mais fácil a sala de aula, por isso o tom de

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arrependimento e insatisfação no seu ato de narrar, é o caso da coordenação exigir

uma mudança de postura nas relações interpessoais:

“Tive uma surpresa: como professor eu vou lá e falo...mas

como coordenador eu tenho que trazer o professor, ser mais

educado...tentar incentivar. Isso perdeu até mais a minha

forma de trabalhar.” Mateus

Em meio a uma fala pausada e corpo encolhido, Mateus expressa

o seu desapontamento quando se refere a uma surpresa indesejada. Inferimos

que, enquanto professor, o depoente tinha o controle da situação, repreendia os

alunos assim que achasse necessário. Já na atual função, repreender o professor

não causaria efeito algum, talvez por serem adultos e alguns efetivos no cargo, o

que faz uma grande diferença. Então, como promover a sua atuação? Sendo mais

educado, incentivando o grupo docente, ser uma pessoa que, na realidade, não é e

isto causaria descontentamento por tornar-se refém.

Podemos inferir, novamente, pensando na autenticidade da

relação entre Mateus e seus alunos, daí o fato da conversa ser franca e aberta: ‘eu

vou e falo’ . Na interação com os professores, o depoente não encontraria espaço

para ser ele mesmo, na intenção do trabalho, deveria fingir aquilo que não é. Nesta

análise, Mateus não manifestaria descontentamento por privar-se de um poder que

lhe era atribuído e, sim, pela troca de uma relação verdadeira por outra menos

desejável.

Uma das dificuldades relatadas pelos entrevistados é provocar

transformações no professor, “que ele possa vir a ser um profissional reflexivo, com

uma identidade positivada e autonomia para conduzir o processo pedagógico com

segurança.” ( BAPTISTA E AGUIAR, 1995 : 85 ). Carolina, ao tentar atingir o grupo

docente, deixou-se levar pelo descrédito e Júlia deparou-se com aspectos

dificultadores, contudo, ainda se sente esperançosa em reverter o quadro:

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“(...) Eu passei o final de semana fazendo gráfico para

discutir com os professores e quando você chega...não tem o

retorno...é ...não tem o retorno. Eu crio uma expectativa.”

Carolina

“Como professor você ensina e você vê o resultado

imediato...mas como coordenador você vê o professor dando

aula e muitas vezes você não concorda, mas...como chegar

no professor e falar? Olha professor não é assim, tenta fazer

assim...é difícil lidar com o professor. Mas eu tenho muito que

aprender.”Júlia

Segundo os depoimentos, a insegurança e ansiedade fazem parte

das primeiras impressões na função de professor-coordenador. Ao entrar na

coordenação, o recém-chegado espera resultados rápidos e as mudanças não

ocorrem de maneira imediatista, pois é um processo. Processo na conotação de

formação continuada e na construção de vínculos afetivos, e são indissociáveis.

No caso dos entrevistados, é estranho pensarmos que mesmo

lecionando anos a fio na mesma escola onde pleitearam a vaga de professor-

coordenador seja necessário construir vínculos. Está certo que a construção de

vínculos afetivos, mesmo relacionando-se às pessoas já conhecidas, modifica-se

por toda a vida. Além disso, a mudança de professor para professor-coordenador

gera um estranhamento entre o principiante na função e o grupo docente. O

momento inicial é de avaliação para ambos os lados; os professores talvez reflitam

em relação ao coordenador: ‘será que fizemos a escolha certa? Sabemos que

quando professor ele comportava-se assim e agora na nova função? ‘ e, por outro

lado, são possíveis os mesmos questionamentos na visão do professor-

coordenador: ‘ será que fiz a escolha certa? Sei que quando professor meus

colegas comportavam-se assim e agora eu estando nessa nova função?’ . Dessa

forma, ao iniciar uma nova trajetória, uma nova relação será construída.

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Conhecidos ou não, faz-se necessário construir vínculos afetivos

entre professor-coordenador e o grupo docente. Souza ( 2003 ), aponta o cuidado

ao abordar as questões relativas às atividades dos professores: “só quando os

vínculos estão estabelecidos é que se torna possível lidar com as críticas, expor os

não – saberes, confrontar-se com as faltas” ( SOUZA, 2003 : 29 ) . Isso apenas se

concretizará no conviver juntos, na capacidade de percepção e na sensibilidade de

enxergar o outro. Gil ( 2004 ) citando Wallon, ressalta o caráter social da

afetividade:

os afetos por serem inerentes ao homem, são possuidores decaráter social, pois, as expressões de afeto são adquiridas noconvívio com o meio social, isso quer dizer que não sãoespontâneas, e modificam-se de acordo com as situações emotivas.( Gil , 2004 : 41 )

Agora, ao falarmos do caráter social da afetividade, entramos em

um novo dilema. Segundo os respondentes, há falta de tempo disponível para o

conviver juntos:

“ Não é fácil conhecer os professores...não dá tempo! A gente

fica meio solitário. Para você ver...é a primeira vez que eu

sento e converso com alguém sobre o meu trabalho...desse

jeito...” Mateus

“ (...) no começo, eu tinha que dar suspensão para aluno, eu

sabia que isso não era da minha função. No começo a direção

pediu para eu fazer uma pesquisa...não sei do que...era sobre

cores: negro, branco...depois pesquisar não sei o

que...mandar bilhetinho para o pai e para a mãe dos alunos

menores...coordenação tem que fazer... e aí? Como é que

fica? E os professores... que apoio eu estou dando para eles?

Então, fica tudo solto.” Fernando.

Mateus e Fernando destacaram, nessas falas, a importância do

professor-coordenador estabelecer vínculos com a sua equipe de professores.

Entretanto, queixaram-se da falta de tempo decorrente da organização e condições

de trabalho. Mas, em quem apoiar-se? A quem pedir ajuda? Sentiram-se solitários

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em não exporem suas dificuldades. Durante as entrevistas, frisaram o grande valor

da equipe gestora estar ao lado do professor-coordenador no momento da

passagem de função e o quanto seria proveitoso o conviver junto com a direção a

fim de articular a parte pedagógica, mas infelizmente isso não ocorre.

Percebemos, assim, a desvalorização de um profissional, que ao nosso ver, é

fundamental na educação.

Sabemos dos inúmeros problemas existentes na unidade escolar e

a maneira pela qual o meio influencia nestes aspectos. A indisciplina dos alunos,

por exemplo, é citada várias vezes pelos respondentes de escolas localizadas no

subúrbio ao contrário de Júlia que coordena uma unidade no centro do município. É

claro que existem escolas de periferia onde o índice de violência é considerado

baixo, no entanto, aquelas que são situadas em local privilegiado, o próprio nome

diz, têm diversos recursos, sobretudo lazer e segurança.

O meio também influencia o desvio de função quando se refere a

uma escola de grande ou pequeno porte29. O desvio de função, apontado como

causador de frustrações e decepções, além da falta de uma organização interna é

fruto de um sistema que pouco colabora com o desenvolvimento da pessoa do

professor-coordenador. Nas escolas de grande porte há somente um professor-

coordenador no período noturno, que se responsabiliza pelo atendimento de 30 ou

40 professores e de 800 ou 900 alunos. Já nas escolas de pequeno porte, o

número reduzido de alunos faz a quantidade de funcionários diminuir, contribuindo

ainda mais no desvio de suas atribuições:

“ Você é um inspetor de aluno, assim...graduado.” Fernando

A situação agrava-se se somarmos a isso as diversas modalidades

de ensino encontradas na escola pública estadual. Mencionamos no item “síntese

do biograma e contexto de atuação “ o fato de um professor-coordenador, que pela

29 Entende-se grande ou pequeno porte pela quantidade de alunos e professores da unidade escolar.

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Resolução30 não necessariamente precisa ser formado em Pedagogia, sair da sua

sala de aula e deparar-se com professores e alunos de Telessala, Suplência e

Educação Especial. De que forma trabalhar com tanta diversidade? Por recair sobre

seus ombros toda a responsabilidade pedagógica da unidade escolar, qual a

qualidade do trabalho a ser realizado? Neste contexto, o professor-coordenador

engajado e consciente da sua função política e social para com a educação está

longe de tornar-se real.

Enfim, as primeiras impressões na função de professor-

coordenador provocaram, em sua grande maioria, sentimentos de tonalidades

desagradáveis. Os depoentes nomearam, ainda, o medo em vários pontos ao

longo das entrevistas. Medo no sentido de ansiedade pela aceitação do grupo

docente, medo como sinônimo de inferioridade por pensarem que não estão no

mesmo nível de conhecimento em relação aos antigos professores-coordenadores,

medo pela expectativa de desenvolver um bom trabalho na coordenação.

Diante de tantos empecilhos o professor – coordenador não deve

acomodar-se perante as dificuldades da função. Nossos entrevistados estão no

início de uma nova trajetória e é o momento de (re) avaliar o seu papel. Para tanto,

a afetividade é fator indissociável no processo de buscar caminhos. Na escola,

cabe a todos os agentes escolares contribuir para que o novo professor-

coordenador avance nas suas atividades, veja significado naquilo que está

realizando e goste de estar na função.

30 Resolução SE nº 66, de 03 de outubro de 2006.

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5. Considerações Finais

“Além do empurra-empurra e do trânsito está o que eu sou,Que se levanta feliz, complacente, compassivo, prequiçoso, unitário,

Que olha pra baixo, fica ereto, ou apóia o braço num indefinível impalpável descanso,Que olha com a cabeça pensa pro lado curiosa pra saber o que vem por aí,

Dentro e fora do jogo ao mesmo tempo e observando e admirado com isso.”

Walt Whitman

Esta pesquisa teve como objetivo identificar os sentimentos e

emoções manifestados na mudança de função de professor para professor

coordenador, nos dias que antecedem o início das suas atividades e nos primeiros

meses na nova profissão, bem como compreender suas situações indutoras.

Após a análise e discussão dos dados, fizemos algumas

observações importantes sobre esta passagem na trajetória docente. Concluímos

que antes da entrada na função de professor-coordenador prevalecem os

sentimentos de tonalidades agradáveis ao contrário dos primeiros meses, já

designado, onde superam os sentimentos de tonalidades desagradáveis.

Em linhas gerais, antes do início na função, há uma seqüência de

fatos que acarretam sentimentos de indiferença, valorização, encorajamento e

confiança, respectivamente. São eles:

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• sentimentos de indiferença: os professores, na sua maioria, não almejam ser

professores-coordenadores. O que os impulsiona é a influência do grupo docente

ou da família;

• sentimentos de valorização: o aspirante à função, indicado por seus pares,

passa a sentir-se valorizado pelo grupo. Há algo que nele, candidato, faz a

diferença. Talvez a sociabilidade, o aspecto de liderança, o conhecimento

pedagógico, a capacidade de articulação e até questões de gênero;

• sentimentos de encorajamento: a valorização do grupo traz, por conseqüência,

um estímulo de experimentar tornar-se professor-coordenador; da certeza que algo

pode ser feito por ele a fim de melhorar as condições de trabalho na unidade

escolar;

• sentimentos de confiança: nesta fase, o docente está com a idéia fixa de

concorrer à vaga de professor-coordenador e convicto da sua chance de vencer a

eleição, pois foi indicado pelo grupo. O aspirante prepara-se ou não para exercer a

função de professor-coordenador. Entretanto, permanece confiante nas suas

atribuições e sabe do trabalho a ser desenvolvido na escola.

Verificamos neste estudo que o período de indicação do aspirante

à função é um dos poucos momentos de interação entre o candidato e o grupo

docente, seguido da votação. A preparação para tornar-se professor-coordenador

é um processo solitário: o profissional procura por si só conhecer suas atribuições,

na maioria dos casos, por meio da leitura. Este conhecer se dá, geralmente, no

sentido de memorizar para ir bem na prova de seleção e não em atuar de forma

consciente.

É interessante notar que há uma ausência de percepção do

professor-coordenador quanto à importância da formação configurar-se no grupo.

Nas escolas, encontramos uma cultura voltada para o individualismo onde cada um

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é responsável por resolver a sua parte. Este comportamento está de tal forma

arraigado que o professor-coordenador se sente confiante e seguro em desenvolver

um bom trabalho na sua nova trajetória, mesmo sendo a sua preparação apenas

teórica e feita de maneira isolada.

Os sentimentos de confiança e segurança, manifestados nos dias

que antecedem a função são “quebrados” logo nos primeiros meses de designação,

o que nos dá indícios da falta de uma formação adequada antes do ingresso do

professor como coordenador. A formação seria de grande valor para o

entendimento do complexo trabalho da coordenação.

Ao iniciar suas atividades, o recém-chegado professor-

coordenador depara-se com os vários elementos que abrangem a função e

ocasionam, em grande parte, sentimentos de tonalidades desagradáveis. Estes

sentimentos são revelados a partir de alguns fatores, tais como:

• a história de vida: as experiências vividas pelo professor-coordenador

interferem nas manifestações de afetividade. Verificamos que o professor-

coordenador com formação ou graduação que não seja a área educacional e além

da coordenação atua em outros setores profissionais, apresenta dificuldades ao

desenvolver o trabalho na função;

• o meio social: na teoria walloniana, o indivíduo é amplamente transformado

pelas circunstâncias sociais da sua existência. Esta pesquisa aponta que a falta de

um acolhimento autêntico na chegada do novo professor-coordenador, tanto da

equipe gestora quanto da docente acarreta sentimentos de mágoa, tristeza,

insatisfação. Verificamos, também, que no processo de formação dos professores,

principalmente nas reuniões de HTPC, o não-comprometimento e não-envolvimento

da equipe docente fazem o recém-chegado professor-coordenador estar diante de

grupos que criticam sem fundamentação e aqueles que apenas ouvem e

acomodam-se. Temos, ainda, as situações de conflitos que geram transformações

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no professor-coordenador. Logo no início da sua função, o professor-coordenador

depara-se com situações conflituosas. O profissional decepciona-se, sente raiva e

irritação ao tentar resolver estes embates por ser contagiado pelas emoções;

• a questão financeira: neste estudo, conferimos que uma característica do

professor-coordenador do noturno é a dupla ou tripla jornada, assim, ele já passou

por inúmeras atividades durante o dia. O aspecto salarial faz o profissional do

magistério trabalhar treze ou quatorze horas diariamente. As relações

interpessoais, em certos casos, podem não ocorrer e serem vencidas pelo cansaço

e pelo desânimo do professor-coordenador;

• o aspecto organizacional: os sentimentos de dúvida e insegurança em relação

às atribuições do professor-coordenador aparecem quase na totalidade dos

entrevistados; há um choque entre o que foi visto na teoria e a realidade escolar.

Esta pesquisa revela que o desvio de função é uma das principais causas de

descontentamento por parte dos novos professores-coordenadores. Assim, a parte

pedagógica fica prejudicada e conhecer o grupo docente é uma tarefa difícil de ser

alcançada. Um outro ponto neste aspecto são as diferentes modalidades de ensino

encontradas no período noturno. O professor-coordenador atua numa função para

qual é necessária uma licenciatura em qualquer área, por esta razão, este

profissional não está preparado para lidar com a formação de professores da

Telessala e Suplência. Apesar de não haver Educação Especial à noite, o

professor-coordenador é responsável pela formação dos docentes desta

modalidade do período vespertino, já que estes cumprem o HTPC em conjunto

com os docentes do noturno. Na própria Educação Especial temos salas com

alunos DM ( deficiência mental leve e moderada ), DV ( deficiência visual ) e DA (

deficiência auditiva ).Sem formação específica para trabalhar com tanta

diversidade, o professor-coordenador sente-se impotente em auxiliar os

professores.

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Vimos que a preparação para tornar-se professor-coordenador é um

processo solitário. Entretanto, a orientação de outros agentes escolares nos

primeiros dias de função limita-se à entrega de um material, que deve ser lido pelo

recém-chegado. É possível destacar, também, que no decorrer das entrevistas

ficou evidente a busca de uma orientação visando compreender as experiências

alheias, de tal modo que possam auxiliar o professor-coordenador na sua nova

trajetória. A procura por informações, via de regra, é uma iniciativa do principiante

na função e frisamos os sentimentos de alegria e felicidade manifestados até então.

Contudo, verificamos que não há nada de agradável neste fato, pois a preparação

antes do início da função e a orientação nos primeiros meses já como professor-

coordenador são processos igualmente solitários.

Entendemos que a função de professor-coordenador é baseada

quase exclusivamente nas relações interpessoais. Ao analisarmos os depoimentos

ficou clara a predominância somente do aspecto cognitivo: ler, estudar, conhecer.

Não houve, assim, a preocupação em atender as necessidades afetivas dos

professores-coordenadores. A equipe gestora foi citada durante as entrevistas, no

entanto, falta a sua presença no momento de transição do professor para professor-

coordenador, falta “sentar” e “conversar” sobre as suas reais atribuições. Este

sentar e conversar deve ser entendido em seu sentido amplo: ser olhado, ser

compreendido, ser ouvido. O recém-chegado à função precisa ser observado como

uma pessoa completa, em cada um de seus domínios funcionais.

Os sentimentos de tonalidades desagradáveis talvez expliquem a

rotatividade de professores-coordenadores na rede pública estadual paulista. É

uma grande perda para a educação uma vez que não há continuidade do trabalho

na unidade escolar. Sai um profissional entra outro e o processo se reinicia, pois

cada um carrega consigo a sua “bagagem” de experiência.

Está certo que o professor-coordenador deve assumir seu

compromisso junto à equipe escolar, ser uma pessoa inquieta em relação aos

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problemas, “(...) que olha com a cabeça pensa pro lado curiosa pra saber o que

vem por aí”. Todavia, os órgãos governamentais são responsáveis por dar

condições financeiras e de trabalho para este profissional. A função de professor-

coordenador é fundamental na articulação do grupo docente; na elaboração,

implementação e avaliação da proposta pedagógica da escola e por esse motivo

não pode ser desvalorizada.

Concluímos este estudo expressando o desejo de que, num futuro

próximo, ao iniciar a função, os sentimentos de tonalidades agradáveis

preponderem sobre os sentimentos de tonalidades desagradáveis e estas

manifestações sirvam como forma de reflexão e aprendizado para o professor-

coordenador.

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Anexos

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Anexo 1

Roteiro de Entrevista

Roteiro de entrevista para a elaboração do quadro “Sentimentos e

Emoções no processo de mudança”

1) Conte por que você quis ser professor-coordenador.

2) Como você se preparou para ser professor-coordenador?

3) Conte como foram os primeiros dias na coordenação.

4) Como foi o acolhimento do grupo quanto ao: diretor, professor, aluno e

funcionários?

5) Você teve a orientação de alguém para exercer essa função?

6) Conte algum fato ocorrido, nos primeiros meses, que marcou o início da sua nova

função.

Questão desencadeadora para a entrevista com vista à elaboração

do “ Biograma”:

Conte um pouco da sua vida, do seu processo de escolarização e as razões da

escolha do Magistério.

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Anexo 2

RESOLUÇÃO SE Nº 66, DE 03 DE OUTUBRO DE 2006

Dispõe sobre o processo de credenciamento, seleção e indicação dedocentes para o posto de trabalho de Professor Coordenador, emescolas da rede estadual de ensino e dá providências correlatas.

Considerando a importância da atuação do Professor Coordenador,

junto à equipe escolar, no processo de:

- integração curricular entre os professores de cursos, períodos e turnos diversos;

- elaboração, implementação e avaliação da proposta pedagógica da escola;

- aprimoramento do processo ensino-aprendizagem;

- acompanhamento e avaliação do desempenho escolar dos alunos;

- formação continuada dos docentes;

- articulação das ações da coordenação pedagógica e otimização de recursos e

parcerias com a comunidade;

- dinamização de todos os espaços pedagógicos e integração dos trabalhos da

escola, das equipes de Supervisão e da Oficina Pedagógica da Diretoria de Ensino,

A Secretária da Educação resolve:

Artigo 1º - As unidades escolares da rede estadual de ensino

contarão com postos de trabalho destinados ao exercício das atribuições de

Professor Coordenador, na seguinte conformidade:

I – 1 (um) posto de trabalho para escola que apresente, no mínimo,

12 (doze) classes, distribuídas em dois ou mais turnos;

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II – 2 (dois) postos de trabalho para escola que apresente, no mínimo,

12 classes distribuídas em dois ou mais turnos diurnos, e mais, no mínimo, 10

classes no noturno.

§ 1º – Na unidade escolar que comportar os dois postos de trabalho,

a que se refere o inciso II deste artigo, o segundo Professor Coordenador deverá

ter a atuação direcionada exclusivamente para o curso noturno.

§ 2º- Na Escola de Tempo Integral, qualquer que seja a quantidade

de classes do Ensino Fundamental funcionando em regime de 9 (nove) horas

diárias, com o mínimo de 140 (cento e quarenta) alunos matriculados e freqüentes

nessas classes, haverá, pelo menos, um posto de trabalho de Professor

Coordenador, podendo a unidade fazer jus a mais postos de trabalho, se

comprovar atendimento às condições previstas nos incisos I e/ou II deste artigo.

§ 2º - No cômputo do número de classes da escola, para a definição

do módulo referente ao posto de trabalho de Professor Coordenador, de que tratam

os incisos I e II deste artigo, incluem-se as classes/salas de recurso da Educação

Especial, as classes de escolas vinculadas, as da Educação de Jovens e Adultos –

EJA, bem como as turmas de Telessalas, observada a proporcionalidade de, para

cada 2 (duas) turmas, fazer corresponder 1 (uma) classe e, ainda, as classes em

regime de 9 (nove) horas diárias da Escola de Tempo Integral, que serão contadas

em dobro.

Artigo 2º - Caberá ao docente designado para o exercício das

atribuições de Professor Coordenador, como membro da equipe gestora:

I - assegurar a integração das atividades de desenvolvimento e

aprimoramento do plano de trabalho da escola, articulando as ações de docentes

de cursos, modalidades e turnos diversos;

II - acompanhar a execução e a avaliação das ações e metas fixadas

pela escola em sua proposta pedagógica;

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III – garantir, planejar e liderar o desenvolvimento dos trabalhos

realizados na escola, participando ativa, rotineira e diretamente das reuniões nas

Horas de Trabalho Pedagógico Coletivo – HTPCs;

IV - estabelecer, juntamente com o Diretor da Escola, o horário das

Horas de Trabalho Pedagógico Coletivo - HTPCs, organizando a participação de

todos os professores em exercício na unidade, de forma a assegurar o caráter

coletivo dos trabalhos;

V - acompanhar o trabalho dos professores, subsidiando-os com

sugestões para a melhoria da prática docente e, nas Escolas de Tempo Integral,

orientar os professores das oficinas curriculares de forma a assegurar que as

atividades nelas desenvolvidas se apresentem dinâmicas, contextualizadas,

significativas e prazerosas;

VI - proceder, juntamente com os professores, à análise dos

resultados da avaliação do desempenho escolar, através de seus indicadores,

registrando e divulgando avanços e estratégias bem sucedidas, bem como

identificando as dificuldades a serem superadas e propondo alternativas de

otimização dos resultados;

VII - coordenar, acompanhar e avaliar as atividades de recuperação

da aprendizagem, em especial da recuperação paralela, e também dos demais

projetos implementados na escola;

VIII - desenvolver ações que visem a ampliação e o fortalecimento da

relação escola - comunidade.

Artigo 3º - São requisitos para o exercício das atribuições de

Professor Coordenador:

I - ser portador de diploma de licenciatura plena;

II – contar, no mínimo, com 3 (três) anos de experiência como

docente da rede estadual de ensino;

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III - estar com vínculo docente na rede estadual de ensino, por

ocasião da apresentação da proposta de trabalho e da designação.

Parágrafo único - O docente readaptado poderá exercer as

atribuições de Professor Coordenador na própria sede de exercício ou em outra

unidade escolar, fazendo jus à remuneração correspondente à diferença entre a

quantidade de horas de sua jornada/carga horária e a estabelecida na designação

para o referido posto de trabalho, desde que, em qualquer caso, apresente prévia

manifestação e autorização da C.A.A.S. da Secretaria de Estado da Saúde.

Artigo 4º - Constituem-se componentes do processo de designação

do docente para o posto de trabalho de Professor Coordenador:

I – o credenciamento obtido pela aprovação em processo promovido

pela Diretoria de Ensino, que consistirá de uma prova escrita;

II –a apresentação de proposta de trabalho junto às escolas;

III -a seleção e a indicação, pelo Conselho de Escola, na unidade

escolar, da melhor proposta de trabalho apresentada;

IV – a designação do docente indicado para o posto de Professor

Coordenador, por ato de competência do Diretor de Escola, a ser publicado no

Diário Oficial do Estado – D.O.E..

Artigo 5º - O credenciamento de docentes, de que trata o inciso I do

artigo anterior, dar-se-á mediante processo a ser organizado, executado e avaliado

por uma comissão designada pelo Dirigente Regional de Ensino, composta por

Supervisores de Ensino e por Assistentes Técnico-Pedagógicos.

§ 1º - O processo de credenciamento de docentes poderá ser

promovido e realizado, conjuntamente, por grupo de Diretorias de Ensino de

regiões próximas, sendo que nenhuma Diretoria poderá integrar mais do que 1

(um) grupo.

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§ 2º - O credenciamento fornecido ao docente por uma Diretoria de

Ensino terá validade somente para as unidades escolares de sua jurisdição ou, no

caso de credenciamento realizado nos termos do parágrafo anterior, para as

unidades escolares das jurisdições das Diretorias do mesmo grupo.

§ 3º - Caberá ao Dirigente Regional de Ensino a publicação dos

resultados do credenciamento no D.O.E.

Artigo 6º - O processo de credenciamento deverá ocorrer

preferencialmente durante o primeiro semestre do ano, ou a qualquer tempo,

sempre que a Diretoria de Ensino constatar a necessidade de preencher postos de

trabalho vagos e/ou se encontre com carência de docentes devidamente

credenciados no último processo.

§ 1º – A Diretoria de Ensino poderá deixar de promover anualmente

processos de credenciamento de Professor Coordenador.

§ 2º - O processo de credenciamento terá validade de 3 (três) anos,

mantendo-se as designações feitas anteriormente à sua invalidação, desde que se

verifique interesse na continuidade do Professor Coordenador em exercício.

Artigo 7º - A abertura de inscrições para o processo de

credenciamento para Professor Coordenador deverá ser realizada pela Diretoria de

Ensino, por meio de edital publicado no Diário Oficial do Estado, com ampla

divulgação em todas as escolas sob sua jurisdição.

Parágrafo único – Deverão constar do edital:

I – as condições para inscrição;

II - a relação do número e escolas com vagas disponíveis;

III - o período, o local e o horário para a inscrição e para a realização

da prova de credenciamento;

IV – os referenciais bibliográficos;

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V – a composição da prova;

VI - o índice de acertos necessários para credenciamento;

VII – o prazo para publicação de resultados;

VIII – a indicação das datas e prazos para inscrição e apresentação

de propostas de trabalho nas unidades escolares.

Artigo 8º - O docente, que atenda as condições previstas nos incisos

I e II do artigo 3º desta resolução, poderá se inscrever e realizar a prova de

credenciamento em quantas Diretorias de Ensino pretenda ser credenciado.

Artigo 9º - Na avaliação e indicação do Professor Coordenador, a

Diretoria de Ensino, por meio de sua comissão de Supervisores de Ensino e de

Assistentes Técnico-Pedagógicos, deverá assessorar as unidades escolares no

reconhecimento da:

I - importância de escolhas conscientes;

II - identificação das características organizacionais da escola e dos

aspectos positivos e negativos de sua prática pedagógica;

III - oportunidade de a escola poder contar com profissional capaz de

inovar e promover mudanças, com vistas à otimização dos planos de trabalho no

processo ensino-aprendizagem.

Artigo 10 - A proposta de trabalho, a ser elaborada pelo docente

credenciado, deverá conter:

I - diagnóstico dos pontos críticos do processo ensino-aprendizagem,

elaborado a partir dos indicadores de resultados educacionais da escola;

II - atividades propostas para o desenvolvimento e o aperfeiçoamento

do trabalho pedagógico da escola.

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Artigo 11 - No processo de seleção e indicação do Professor

Coordenador na unidade escolar competirá ao Diretor de Escola:

I – organizar os procedimentos de análise das propostas

apresentadas ao Conselho de Escola, coordenando e orientando a definição de

critérios e de técnicas avaliatórias (entrevistas, debates etc.) que assegurem a

indicação do profissional cuja qualificação e experiência atendam satisfatoriamente

às necessidades e às expectativas da escola;

II – assegurar, entre os critérios a serem considerados pelo Conselho

de Escola, a valorização de certificados de participação em cursos promovidos pela

Secretaria da Educação, em especial: Circuito-Gestão, Ensino Médio em Rede,

Tecnologia e Informática na Comunicação – T.I.C., entre outros;

III - orientar os docentes credenciados na elaboração de suas

propostas de trabalho, que serão apresentadas ao Conselho de Escola,

disponibilizando-lhes informações e dados sobre o desempenho dos alunos e as

características da unidade escolar.

Artigo 12 - Em caso de empate na avaliação das propostas

apresentadas, deverá ser priorizada a proposta do professor titular de cargo ou

estável que se encontre cumprindo horas de permanência, na condição de adido

ou com carga horária não constituída.

Artigo 13 – A carga horária da designação para o exercício das

atribuições de Professor Coordenador será de 40 (quarenta) horas semanais, a

serem cumpridas integralmente na unidade escolar, cabendo ao Diretor de Escola,

mediante elaboração e fixação de horário, distribuí-las por todos os turnos de

funcionamento da escola, proporcionalmente à quantidade de classes em cada

turno.

§ 1º - O Professor Coordenador designado para atuar no período

noturno, a que se refere o §1º do artigo 1º desta resolução, terá carga horária de

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24 (vinte e quatro) horas semanais, a serem cumpridas integralmente na unidade

escolar.

§ 2º - Para o Professor Coordenador da Escola de Tempo Integral, de

que trata o § 2º do artigo 1º desta resolução, a designação dar-se-á pela carga

horária de 30 (trinta) horas semanais, a serem cumpridas integralmente na unidade

escolar, acompanhando o desenvolvimento de todas as oficinas curriculares, bem

como orientando e liderando funcionários da escola para um trabalho educativo e

recreativo, junto aos alunos, no intervalo compreendido entre o final das aulas do

currículo básico e o início das atividades nas oficinas curriculares.

§ 3º - Sem detrimento da carga horária de trabalho, estabelecida na

forma prevista nos parágrafos anteriores, o Professor Coordenador poderá exercer

a docência, ministrando aulas até o limite de carga horária máxima de 40

(quarenta) horas semanais.

§4º Os Professores Coordenadores usufruirão período de férias

regulamentares no mês de janeiro de cada ano, juntamente com seus pares

docentes.

Artigo 14– A manutenção da designação do Professor Coordenador

na unidade escolar, com a recondução do docente, dar-se-á após a avaliação de

seu desempenho, a ser realizada anualmente, por ocasião do início do ano letivo,

pela Direção da unidade escolar e pelo Conselho de Escola, justificada com base

no pleno cumprimento das atribuições previstas no artigo 2º desta resolução e

devidamente registrada em ata.

Artigo15 – A cessação da designação do Professor Coordenador da

escola poderá ocorrer quando não aprovada sua recondução, nos termos do artigo

anterior, ou a qualquer tempo, nas situações previstas no artigo16 desta resolução.

Parágrafo único – Na hipótese do Professor Coordenador não

corresponder às atribuições relativas ao posto de trabalho, a cessação da

designação dar-se-á por decisão conjunta da Direção da unidade escolar, do

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Conselho de Escola e da Diretoria de Ensino, devidamente justificada e registrada

em ata.

Artigo16 - É vedada a substituição do ocupante do posto de trabalho

de Professor Coordenador, devendo ocorrer designação de outro docente

devidamente credenciado e indicado pelo Conselho de Escola, quando o professor

designado tiver a designação cessada, em qualquer das seguintes situações:

I – a seu pedido, mediante solicitação por escrito;

II – a critério da administração, em decorrência de:

a) não corresponder às atribuições do posto de trabalho, conforme

prevê o disposto nos artigos 2º e 15 desta resolução;

b) entrar em afastamento, a qualquer título, por período superior a 30

dias;

c) vir a perder o vínculo docente.

Parágrafo único – O docente que tiver sua designação cessada, nas

situações previstas no inciso I ou na alínea “a” do inciso II deste artigo, somente

poderá ser novamente designado Professor Coordenador, da mesma ou de

qualquer outra unidade escolar e Diretoria de Ensino, após se submeter a novo

processo de credenciamento.

Artigo 17 – O titular de cargo de Coordenador Pedagógico poderá,

em todo e qualquer impedimento legal e temporário, por período superior a 30

(trinta) dias, ser substituído por um Professor Coordenador, a ser designado, pela

carga horária de 40 (quarenta) horas semanais, durante o impedimento, desde que

previamente credenciado pela Diretoria de Ensino e selecionado/indicado pelo

Conselho de Escola, de conformidade com o previsto nesta resolução.

Parágrafo único – A unidade escolar que seja órgão de classificação

de um Coordenador Pedagógico deverá manter, em reserva, relação de docentes

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credenciados e selecionados, disponíveis para exercer, a qualquer tempo, no

decorrer do ano, a substituição de que trata o caput deste artigo.

Artigo18 - Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação,

ficando revogadas as disposições em contrário, em especial a Resolução SE – 35,

de 08/4/2000 e a Resolução SE-50, de 14/7/2006.

Notas:

Revoga a Res. SE 35/00, à pág. 107 do vol. XLIX;

Revoga a Res. SE 50/06.

Anexo 3

Quadros:

Contexto escolar

Biogramas

Sentimentos e emoções no processo de mudança

1. Contexto Escolar: Luisa

2. Biograma: Luisa

3. Quadro “sentimentos e emoções no processo de mudança” : Luisa

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4. Contexto Escolar: Fernando

5. Biograma: Fernando

6. Quadro “sentimentos e emoções no processo de mudança”: Fernando

7. Contexto Escolar: Mateus

8. Biograma: Mateus

9. Quadro “sentimentos e emoções no processo de mudança”: Mateus

10. Contexto Escolar: Julia

11. Biograma: Julia

12. Quadro “sentimentos e emoções no processo de mudança”: Julia

13. Contexto Escolar: Carolina

14. Biograma: Carolina

15. Quadro “sentimentos e emoções no processo de mudança”: Carolina

Observações: Todos os nomes mencionados durante as entrevistas são fictícios.

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Quadro 1. Contexto de atuação da Professora-Coordenadora Luísa

Unidade Escolar 1

Recursos Humanos Estrutura Física Modalidades de Ensino1 diretor1 vice-diretor1 professor-coordenador ( diurno )1 professor-coordenador (noturno )65 professores

20 funcionários

Para o atendimento a 1.611 alunos

dois andares12 salas de aula1 sala do professor1 sala da direção1 sala da vice-direção1 sala da coordenação1 laboratório de Ciências1 laboratório de informática1 pátio coberto1 quadra coberta1 sala de vídeo1 sala de Educação Física1 sala do Projeto “Escola da Família”1 sala do Projeto “Padaria Artesanal”1 cozinha para merenda1 cozinha de funcionários1 cantina1 almoxarifado2 banheiros para funcionários4 banheiros para alunos

1 secretaria

Ensino Fundamental Regular Ensino Médio Regular EJA ( Suplência ) – Ens. Fundamental EJA ( Suplência ) – Ens. Médio

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Quadro 2. Biograma Professora- Coordenadora Luísa

Biograma – LuísaFases Cronologia Idade Tempo de

DocênciaAcontecimentos Valoração

1979 7 anos 0 - inicia a primeira série do EnsinoFundamental

- aluna boazinha, aplicada, dedicada;- desde pequena já queria ser professora, poisacompanhava a mãe nas festas da escola ondetrabalhava.

1981 9 anos 0 - mudança de escola para a 3ª série doEnsino Fundamental.

- lembra que a sala toda caminhou da escola“velha” para a escola “nova”, foi um momentomarcante.- lembra do cheiro de tinta da nova escola.

1986 14 anos 0 - termina o Ensino Fundamental ( 8ªsérie ).

- a mãe influencia a filha a fazer magistério;- sente-se orgulhosa da mãe trabalhar naescola.

1987 15 anos 0 - inicia o curso de magistério no CEFAM - o curso era integral, teve problemas por causado custo do transporte, saía tarde e ficouperigoso o trajeto para casa.

Formação

1988 16 anos 0 - 2º ano de Magistério em Osasco (cidade onde morava )

- não gostou da escola, às vezes chegava naescola e não havia aula.

Início da docência 1991 18 anos Início dadocência

- último ano de magistério;- início como professora estagiária /substituta de pré até a 4ª série doEnsino Fundamental.

- no magistério, foi aluna de vários professoresque hoje são diretores de escola;- sempre estudou em escola pública.

Momento de revisãoda escolhaprofissional

1991 18 anos 6 meses - se revoltou porque não conseguiaaula, apenas lecionava como substituta.

- culpa a mãe pela sua situação, afirma que foiidéia dela o curso de magistério.

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Fases Cronologia Idade Tempo deDocência

Acontecimentos Valoração

1992 19 anos 1 ano - matricula-se na faculdade de Letras,início como professora do ciclo II / 6ªsérie da Suplência

- a princípio sente-se apavorada com a idéia delecionar para alunos da Suplência;- sente-se reconhecida porque começa a daraula para 6ª série. Passou de professorasubstituta a professora contratada.

Comprovação daescolha

1995 22 anos 05 anos - terminou o curso de letras nafaculdade Oswaldo Cruz

- após o término da Faculdade, sente-seperdida porque fica com um período livre.

1998 25 anos 08 anos - efetivou-se no primeiro cargo comoprofessora de Língua Portuguesa;- começa a dar aulas na prefeitura

- se sente bem, orgulhosa por ter passado naprova.

2000 27 anos 10 anos - efetivou-se no segundo cargo comoprofessora de Língua Portuguesa;- deixou o trabalho na prefeitura.

2002 29 anos 12 anos - Iniciou o curso de Pedagogia /complementação

- orgulha-se por nunca ter parado de estudar epor ter terminado todos os cursos que iniciou.

Intensa atividadeprofissional

2005 33 anos 14 anos - tornou-se professora-coordenadora - ministrava 62 aulas por semana, motivo quecasou problemas de saúde, então, pedeconselhos para a mãe, secretária de escola, edecide entrar para a coordenação.- orgulha-se pela mãe trabalhar por quase trintaanos na escola onde Luísa era professora eagora professora-coordenadora.- pretende continuar estudando/ atualizando.Quer estudar inglês e fazer pós-graduação.

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Quadro 3. “Sentimentos e emoções no processo de mudança” Professora-coordenadora Luísa

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentos

captados pelopesquisador.

Luísa sente-se:

Situações indutorasdos sentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

“Bom, a princípio, nunca havia passado pelaminha cabeça ser coordenadora. Até porqueeu sou tímida, precisa ser uma pessoa bemextrovertida.”

Fala devagar, pausado,encolhe os ombros.

Impotente Não acha que tem operfil para ser

professor-coordenador.

Razão paratorna-se

professora-coordenadora

“ Surgiu a provinha em outra escola. Aprova para coordenação fiz para testar meuconhecimento. Nessa época eu não tinhaintenção de ser coordenadora(...) fiz a provae nem fui ver o resultado.”

Fala com desprezo,balança a cabeça paraos lados e balança osombros para cima e

para baixo.

Indiferente Descaso com o fato defazer a prova para a

coordenação e verificara nota. Interesse

apenas em testar oconhecimento

Razão paratorna-se

professora-coordenadora

“ Até o dia de ser coordenadora eu nãohavia visto o resultado. Isso se passou 2 ou3 anos. A prova serve para 4 anos, nãoé?Depois tive esse problema de gargantapor trabalhar demais, no município e aqui.Aí me fez pensar: ‘ eu não posso ficar dessejeito!’ Me deu até depressão... porque euquero trabalhar, eu quero dar aula e nãoconsigo, é a pior coisa para um professornão conseguir falar”.

Em relação àcoordenação fala comdesprezo; em seguidafala sobre o problemada garganta com ar

triste; arregala os olhose fecha o punho quandomenciona que quer dar

aula.

IndiferenteTriste

Descaso em ver oresultado da prova.Teve o problema de

garganta, por trabalhardemais, e pensa em

dar aula mas nãoconsegue.

Razão paratorna-se

professora-coordenadora

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Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Luísa sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

“Eu nunca havia pensado em sercoordenadora, foi por causa desseproblema da garganta, de saúde, que euresolvi me afastar.”

Pega na garganta e falabaixo, com ar triste.

Triste Sente-se triste emnão poder mais

lecionar.

Razão paratorna-se

professora-coordenadora

“Falei com o senhor Revi, ele que pesquisouno Diário Oficial da época e viu se passei ounão. E eu havia passado. Aí... me deu umdesespero! Estava dando tudo certo!”

Arregala os olhos, falamais alto, com mais

empolgação.

InseguraAnsiosa

Possibilidade deassumir umacoordenação.

Desespero Preparação paraexercer a função

de professor-coordenador

“ Conversando com a minha mãe, em casa,ela falou: ‘você deveria tentar! Depoispensei ‘vou fazer o projeto!’. Entreguei oprojeto e o conselho aprovou. E na 2ª feiraeu já comecei... em 4 de abril de 2005. Tudoem uma semana.”

Gesticula muito, falaentusiasmada

Animada, vibrante.Convicta de tornar-se

professora-coordenadora.

Ouve o conselho damãe para tomar a

decisão de elaborarum projeto para a

coordenação.

Preparação paraexercer a função

de professor-coordenador

Depoimento Reações corporais do Emoções/sentimentos Situações Sentimentos Categorias e

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depoente captados pelopesquisador.

Luísa sente-se:

indutoras dossentimentos/

emoções

nomeados pelodepoente

subcategorias

“É...o que me deu força para trabalhar nacoordenação é que eu já conhecia a escola,a comunidade. Poucos alunos que estãoaqui no Ensino Médio não foram meusalunos. É... os professores já trabalham aquihá 4 ou 5 anos, isso facilita. Facilita otrabalho, isso me incentivou.”.

Gesticula com firmeza SeguraEncorajada

Conhece os alunos,a comunidade e osprofessores, o que

dá força para tornar-se professora-coordenadora.

Razão paratorna-se

professora-coordenadora

“Se fosse uma escola nova eu não iria(...)se eu chegasse rápido nessa escola, comoeu estava na outra, talvez eu não quisesseser coordenadora”.

balança a cabeça esorri levemente

DesencorajadaInsegura pela

possibilidade de algonovo.

Não querer ou ter apossibilidade de

experimentar tornar-se professora-

coordenadora emuma escola nova.

Razão paratorna-se

professora-coordenadora

“ A gente tem que conhecer a escola, aclientela. A forma que a escola trabalha. Agente tem que ter parâmetro do antes eagora. O meu trabalho antes de eu sercoordenadora e o meu trabalho depois deser coordenadora, pra você fazer umaanálise. Isso também me motivou.”

Fala incisivamente, batea palma da mão direita

em cima da mesa.

MotivadaDesafiada

Sente-se desafiadaem analisar seu

trabalho antes deser coordenadora e

depois de sercoordenadora. Esse

desafio torna-seuma motivação.

Razão paratorna-se

professora-coordenadora

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelo

Situaçõesindutoras dos

Sentimentosnomeados pelo

Categorias esubcategorias

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pesquisador.Luísa sente-se:

sentimentos/emoções

depoente

“ Eu não pensava em ser coordenadora, foitudo uma surpresa. Mesmo porque acoordenadora do diurno ficou muitos anosaqui, ela também é efetiva aqui e não tinhainteresse em sair. A coordenadora donoturno também... ela é dessa comunidade,toda comunidade a conhece, ela freqüenta aigreja daqui, é professora daqui, estudouaqui, fez o colegial aqui. Elas eram muitopresentes aqui, na comunidade. Elas nãotinham interesse em sair.”

Balança a cabeça paraos lados, fala baixo,

encolhe-se.

InseguraNão pertencente

Fala como se fizessecomparação entre ela (depoente ) e as outras

professoras-coordenadoras.

Sente-se inferior pornão conhecer tão

bem a comunidadee de não estar

presente como asoutras.

Razão paratorna-se

professora-coordenadora

“O primeiro dia de coordenação foi dia deHTPC, era numa terça-feira e o conselhotinha aprovado o meu projeto na sexta-feira.Eu pensei: o que vou fazer no HTPC? (...)eu demorei um dia inteiro para preparar oHTPC. O que eu preciso fazer?”

Levanta os ombros, viraas palmas das mãos eabre os dedos. Ar de

dúvida.

Ansiosa InquietaInsegura

Necessidade deplanejar um bom

HTPC; pouco tempopara preparar.

Primeirasatividades na

função deprofessor-

coordenador.

“Era começo de ano, falar de projetos que aescola já estava começando? Eu fiquei emdesespero!”Preparar o HTPC...”

Fala mais alto, commais empolgação.

Insegura Ansiosa

Incerteza sobre oque trabalhar no

HTPC.

Desespero Primeirasatividades na

função deprofessor-

coordenador.( no 1º HTPC ) “ Deu tudo certo! Eu meapresentei para os professores, se bem quetodos me conheciam, na verdade foi umaapresentação, porque agora eu estou emoutra função.Cheguei... já estava com umapauta.”

Fala com convicção,ergue-se, estica-se e

estufa o peito.

Aliviada Satisfeita

Empolgada Animada

Certeza de que otrabalhado foi bem

planejado.

Primeirasatividades na

função deprofessor-

coordenador.

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Situaçõesindutoras dossentimentos/

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

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Luísa sente-se: emoções( no 1º HTPC ) “(...) o que eu precisei docoordenador eu estava tentando dar para osprofessores... esse respaldo agora. Osprofessores gostaram, eu nunca tiveproblemas de relacionamento com osprofessores.”

Fala e sorri. Balança acabeça para os ladosquando diz que nunca

teve problemas derelacionamento.

SatisfeitaValorizada por ter um

bom relacionamento comos professores.

Preocupação eenvolvimento com

os professores.

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador.

“ Sempre me dei bem com todos. Aí, nessaescola, eu não sei o que acontece, mas nãotem ‘panelinha’. É coletivo mesmo! Ou ela éamiga de todo mundo ou ela fica isolada.Então, ou é 8 ou 80. (...) eu fui muito bemrecebida, os professores gostaram... eusenti isso... foi mais fácil do que euesperava ( 1º HTPC ).”

Fala e sorri. SatisfeitaAliviada

Sente-se satisfeitapor ter sido bem

recebida e por terum grupo unido;

aliviada porque oprimeiro HTPC foi

fácil.

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador.

“( ... ) eu dava ouvido para todos eles (professores ). Ouvia as suas experiências.Eu percebi que eles queriam me ajudarmesmo. Tem gente que quer só dar palpite,mas não foi isso que eu percebi (... ) elesforam me ajudando, até hoje. Tem umprofessor (...) ele traz novidades. “

Fala mais baixo, commais carinho.

Segura Confiante Protegida

Sente que osprofessores queremajuda-la, que estãoenvolvidos com o

seu trabalho.

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador.

( primeiros dias como professora-coordenadora ) “ É a apreensão foi muita,até hoje. Eu sou muito ansiosa. Tinhamedo...sei lá... medo de ao invés da escolaprogredir, houvesse um retrocesso. Então,eu ficava muito apreensiva.”

Arregala os olhos; juntaas mãos e cruza osdedos; balança as

pernas e bate os pés.

Insegura Ansiosa em pensar noque poderia acontecer

com a escola nosprimeiros dias na nova

função.

Incerteza quanto aoprogresso da

escola.

Medo.Apreensão,Ansiedade.

Primeirasimpressões na

função deprofessor –

coordenador.

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Situaçõesindutoras dossentimentos/

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

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Luísa sente-se: emoções“Eu estava no lugar da outra professora -coordenadora do noturno, e ela era umacoordenadora muito competente e eu tinhamedo do meu trabalho ser inferior ao dela.Porque quando você substitui alguém quetem dificuldade é fácil, agora quando vocêsubstitui alguém, uma coordenadora comoela é complicado É automático, assim comoos alunos comparam os professores: ‘eramelhor...era pior...’ os professores tambémfazem isso: ‘ a outra coordenadora faziaassim..’ eu tinha receio disso.”

Encolhe o corpo, falamais baixo, arregala osolhos quando fala do

medo.

InseguraInferior

Incerteza quanto aoseu trabalho, sente-

se insegura,preocupada se o

seu trabalho vai serinferior ao da antiga

professora-coordenadora.

Medo Primeirasimpressões na

função deprofessor –

coordenador.

“Eu pensava que no mínimo eu tinha quecontinuar o trabalho da outra professora -coordenadora, o que ela estava fazendo ese eu melhorar... maravilha. O que eu nãoposso fazer é cair. Cair em termo dequalidade. (...) Eu tinha medo que os alunoscomeçassem a faltar na sexta-feira . O meureceio era esse, né. Os professores têmoutros fatores que os obrigam a estar aqui efazer um bom trabalho, mas os alunos não.E ele é influenciado pelo professor-coordenador indiretamente, né. O professor– coordenador influencia o professor e issoreflete no aluno.”

Fala mais baixo,balança a cabeça paraos lados e arregala osolhos quando fala do

medo.

Inferior perante a outraprofessora –

coordenadora.Responsável

Ansiosa

Responsabilidade,preocupação em

manter e melhorar aqualidade do ensino

na escola.Convicção sobre a

importância dotrabalho doprofessor-

coordenador

Medo Primeirasimpressões na

função deprofessor –

coordenador.

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Situaçõesindutoras dossentimentos/

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

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Luísa sente-se: emoções“Não tive problemas, não, eles ( professores) me ajudaram. Eles enxergaram em mim...tinha uma facilidade de chegar. Eles não meconduziam, mas davam opiniões, elesfalavam: ‘já que agora é você, vamos fazerassim’? Eles davam sugestões, eu anotavatudo, parava para pensar e pensava: isso dápara fazer”.

Fala sorrindo, comcarinho. Coloca a mão

no peito.

Confiante Sente-se confiantecom o auxílio dosprofessores e a

relação de parceriaentre eles.

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador.

“Fui muito bem recebida ( 1º dia na função ).Não me lembro de nenhum professor quetorceu o nariz quando entrei para acoordenação. A diretora me apresentoupara eles com muito carinho. Elesperceberam que eu tinha o aval dela.”

Fala com naturalidade ConfianteSatisfeita

Foi bem recebidapelos professores

sendo apresentadacom carinho. Teve oaval da diretora para

a nova função.

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador.

“ A direção e todos me receberam bem.Melhor impossível. (...) Quando eu trouxe oprojeto e mostrei, os olhos da diretora seencheram de lágrimas e ela falou: ‘ olha eufalei para a vice-diretora e ela é muitocatólica, rezar e pedir para que viesse umbom coordenador e veio você’ Então foiassim... melhor do que eu esperava, isso tedá ânimo pra começar... melhor do que euesperava. A ansiedade, o medo que euestava sentindo, ela me deu ânimo, medeixou mais forte para conseguir ”.

Fala com alegria, osolhos brilham, sorri.Arregala os olhos e

fecha os punhosquando diz: “ me deixou

mais forte paraconseguir”.

AlegreConfianteSegura

SatisfeitaEsperançosa

Orgulhosa

Sente-se bemrecebida pela

diretora; satisfeitapela sua atitude.Expectativa dedesenvolver umbom trabalho.

AnsiedadeMedo

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador.

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Luísa sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

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“ A vice-diretora... eu tive mais dificuldade,talvez porque eu tinha pouco contato..é...senti mais dificuldade e ela cobrava maisde mim, ela cobrava erros que os outrosrelevavam em mim. (...) eu tinha dificuldadena parte burocrática, a parte pedagógica,como sou professora é mais fácil .Agoraparte de conselho, como proceder em umconselho. Ela me ajudou mas também mecobrou mais. Eu entrei em abril e em maioteve conselho, tive dificuldade de organizaro conselho.”

Fala pausadamente,levanta as

sobrancelhas, arregalaos olhos, balança acabeça para cima e

para baixo quando dizque sentiu dificuldade.

ConfusaSó

Insegura

Não saber comoproceder na

organização doconselho.

Sentir-se só pararesolver questões

burocráticas.

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador.

“ A acolhida dos funcionários foi melhorainda. A inspetora me ajudava muito, comoeu devo proceder em determinada situação,eu não sou inspetora, não sou diretora, nãosou professora, mas sou a coordenadora.Como proceder? Que atitude devo tomar? Ainspetora me ajudou muito, ela falava: ‘ aoutra coordenadora nessa situação faziaassim, vamos tentar?’.Eu comecei aperceber e fui melhorando”.

No começo sorri;balança a cabeça paraos lados e aponta os

dedos como seestivesse contando.

Nas indagações,arregala os olhos,

levanta as sobrancelhase vira as palmas das

mãos.

ConfusaIndecisa

Confiante ( após a ajudada inspetora )

Incerteza quantoaos procedimentosem determinadas

situações.Sente-se confiante

com a ajuda dainspetora.

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador.

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Luísa sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

“ As serventes me trataram muito bem, eu já Sorri levemente e Contente Sente-se bem Primeiros

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conhecia todas elas. E depois que eu entreicomo coordenadora elas passaram a meenxergar de maneira diferente, elas tiveramrespeito por mim, foi diferente. Umaservente foi comigo, me apresentou emtodas as salas como a nova coordenadora.(...) A servente falava:‘ essa é a Dona Luisa,a nova coordenadora’. Dona Luisa...eu?Dona Luisa, eu achei muito diferente. Parapassar uma imagem para os alunos...’olhaessa não é mais a Luisa...professora. é anova coordenadora.’ Tive o respaldo dosserventes.”

depois dá muita risadaquando diz Dona Luísa.

ValorizaSegura

Inferior quando diz”DonaLuísa...eu?”

tratada pelasserventes e

valorizada por ser anova coordenadora.

Apesar de ser anova coordenadoraacha diferente/ não

necessário serchamada de Dona

Luísa.

contatos nafunção de

professor –coordenador.

“ os alunos que eu dava aula, não gostaram.Eu dava aula muito bem com eles e era boaprofessora. Eles falavam:’ eu gosto muito dasua aula’. Eu gosto de literatura, montavateatro com eles (...) E os alunos sentiramfalta, eles falavam:’ah professora...volta...’ .“

Fala devagar como seestivesse com saudade.Faz rostinho de choro

quando diz ‘ahprofessora...volta’.

SatisfeitaRessentida

Sentir que fazdiferença na vidados alunos e aomesmo tempo

ressente-se por nãoestar mais próxima

deles.

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador.

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Luísa sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

“(...) os ( alunos ) que não me conheciamme receberam bem. Somente em alguns

No princípio fala baixo edepois o tom de voz

ConfusaInsegura

Incerteza quantoaos procedimentos

Primeiroscontatos na

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casos que eu não sabia como procederdiante de um problema...um alunobagunçando no corredor, apesar de ter ainspetora eu não sabia o que fazer. Masisso foi resolvido em um mês nacoordenação. Eu passei a saber o quefazer, já me senti mais firme para tomar asdecisões, eu já sabia que decisão tomardiante de um determinado problema. Nãoser inspetora e não ser diretora...sercoordenadora.”

aumenta. ConfianteDeterminada

Decidida

a serem tomadosem casos de

indisciplina dealunos. Sente-se

confiante, decidida edeterminada quandopassa a resolver osproblemas por ser

professora -coordenadora e nãoinspetora e diretora.

função deprofessor –

coordenador.

Primeirasatividades na

função deprofessor –

coordenador.

“A vice-diretora trouxe um jornal da UDEMOque saiu em 1998 ou em 1999. Um jornalque tem, de forma clara e sucinta, o que éser coordenador. Ela cobrou mais, mastambém me ajudou. A cobrança dela meajudou: ‘ aqui tem um jornal que traz asatribuições do coordenador’‘ ela disse. Eaquilo foi como uma cartilha para mim, eunão sabia quais eram as atribuições docoordenador. Porque ele é o elo de ligaçãoentre o professor e diretor, e também doaluno. Acho que estou no meio dessetriângulo. Esse jornal, essa cartilha meesclareceu

Fala naturalmente,depois balança a

cabeça para os ladosquando diz que não

sabia das atribuições doprofessor-coordenador.

Segura Sente-se seguraquando a vice-

diretora lhe entregao jornal e ela ( Luísa

) tem aoportunidade de ler /

tirar as dúvidassobre as

atribuições doprofessor-

coordenador.

Segurança Orientação deoutros ao

professor –coordenador nos

primeiros diasna nova função.

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Luísa sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

um pouco. Era de pergunta e resposta. Mesenti mais segura, eu tive muitas dúvidas.“ Eu me senti mais segura ( em relação asorientações ), eu tive muitas dúvidas. A

Fala calmamente.Expressão tranqüila.

SeguraConfiante

Sente segurançacom as orientações

Segurança Orientação deoutros ao

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parte pedagógica eu já sabia (...) Agora,essas outras funções que vão agregando aocoordenador, eu não tinha firmeza, sabe. Euobservava muito o que a coordenadora dodiurno fazia. Eu ligava e não a deixava empaz.”

sobre a função deprofessor –

coordenador.

professor –coordenador nos

primeiros diasna nova função.

“ Um aluno começou a batucar na carteira eo professor se irritou. Já eram 22:30 h. maisou menos, então o professor trouxe o alunopara baixo e queria que eu chamasse o pai.(...) o professor falou: ‘ eu quero que vocêchame o pai dele agora! Agora!!! Aí eudesci, conversei com o aluno e o professordesceu atrás e falou: ‘ você já chamou o paido aluno?’ eu falei: ‘ está muito tarde, eunão vou chamar, ele é um pai que semprevem na reunião... hoje não vai dar.’ Oprofessor achou muito ruim a minhapostura... ele queria porque queria falar como pai naquele momento e eu não chamei.Eu me senti acuada, eu pensei... o que aRose* faria se ela estivesse aqui hoje? (...)eu me senti muito mal, acuada. Fui paracasa mal.”

Fala com empolgação,gesticula muito.

Expressão de sustoquando conta o fato.

Expressão triste quandorelata que foi para casa

mal

MagoadaDesapontada

IndecisaTriste

Percebe que oprofessor ficouexaltado e não

compreendeu a suaatitude.

Sente-se malporque não sabecomo lidar com a

situação

Acuação Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador.

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Luísa sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

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“ Foi algo terrível que aconteceu... com umasala. Essa sala a lousa estava ruim, nãodava para escrever direito e a sala estavacom poeira, apesar da inspetora terlimpado, tava com poeira, muita poeira. Eufalei: ‘ Dona Lourdes**, dá uma limpada nasala, porque os alunos estão reclamando.’Mesmo a sala estando limpa, mesmo assim,acho que por influencia do professor, a salase revoltou e a sala desceu para conversarcomigo... a sala inteira! Não veio orepresentante, a sala inteira com 37 ou 40alunos, lotada. (...) Bom... aí eu falei para asala que eu ia pedir para a servente limparde novo, um aluno virou e falou: ‘ não dápara ter aula nessas condições’.Outra alunafalou: ‘ quem é você para impedir a gente desair... você não fede e não cheira!’ Isso medeixou muito nervosa! Eu falei... ‘e vocêmenina fede!!!’ Eu não agüentei! E eupercebi que o professor fez com que osalunos se voltassem contra mim. (...) Eu mesenti mal, perante essa sala, três alunos medesrespeitaram , de falarem alto, seremgrosseiros. Isso me deixou muito abalada.”

Gesticula muito, falacom entusiasmo.

IrritadaZangadaNervosa

Decepcionada

Fica nervosa porcausa do

desrespeito dealguns alunos e pela

sala não quererentrar em um

acordo.Sente que os alunosforam influenciados

pelo professor.

Nervosismo Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador

Quadro 4. Contexto de atuação da Professor-Coordenador Fernando

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Unidade Escolar 2

Recursos Humanos Estrutura Física Modalidades de Ensino1 diretor1 vice-diretor1 professor-coordenador ( diurno )1 professor-coordenador (noturno )45 professores

15 funcionários

Para o atendimento a 967 alunos

dois andares17 salas de aula1 sala do professor1 sala da direção1 sala da vice-direção1 sala da coordenação1 laboratório de Ciências1 laboratório de informática1 pátio coberto1 quadra coberta1 quadra descoberta1 sala de vídeo1 sala de leitura1 biblioteca1 cozinha para merenda1 cantina2 banheiros para funcionários2 banheiros para alunos1 secretaria

Ensino Fundamental Regular Ensino Médio Regular

Quadro 5. Biograma Professor-Coordenador Fernando

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Biograma – FernandoFases Cronologia Idade Tempo de

DocênciaAcontecimentos Valoração

1965 7 anos 0 - entra para a 1ª série do primário (escola pública estadual )

- tinha que dar exemplo para os outros alunosporque seu pai era diretor da escola em queestudava.

1967 9 anos 0 - inicia a 3ª série em outra escola - gostava muito de fazer experiência na classe.1969 11 anos 0 - inicia a 5ª série do ginásio ( Ensino

Fundamental )- lembra do laboratório de Ciências que eraimenso;- passa o ginásio inteiro tendo aulas de Ciênciasno laboratório;- lembra das aulas que o professor de Ciênciasministrava com o projetor de slide, gostava de veras imagens;- gostava de fazer experiência e de participar defeiras de Ciência e Culturais.

1973 15 anos 0 - inicia o colegial;- muda-se para uma cidade maior.

- sente-se feliz por ter aprendido Biologia naprática.

Formação

1976 18 anos 0 - entra para o curso de Ciências Físicase Biológicas na Faculdade de FilosofiaNossa Senhora do Patrocínio, na cidadede Itu;- arruma o primeiro emprego em umaempresa de alto-falantes.

- relata que fez licenciatura por influência do paique era diretor e a faculdade de Ciências Físicase Biológicas por causa das ótimas aulas que teveno decorrer dos seus estudos;- orgulha-se de ter iniciado na empresatrabalhando na linha de montagem e logo passarpara o escritório. Mudou de cargo porque estavacursando a faculdade.- sente-se satisfeito porque no serviço utilizamuito cálculo matemático e a faculdade, apesarde ser de Ciências, ensina como resolver essesproblemas.

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Fases Cronologia Idade Tempo deDocência

Acontecimentos Valoração

1980 22 anos 0 - sai da empresa de alto-falantes e éadmitido em uma empresa multinacionalalimentícia.

- após terminar a faculdade de Ciências Físicas eBiológicas não pretende dar aula. Continuatrabalhando na empresa multinacional ondeganha praticamente o dobro do salário deprofessor.

Profissionalizaçãoem outra área

1985 27 anos 0 - a empresa passa por uma crisefinanceira e reduz o salário de todos osfuncionários.

- por causa da redução no salário, não acha maisvantagem continuar na empresa. Decide começara dar aula.

1986 28 anos Início dadocência

- não consegue aula no interior ( lugaronde morava ). Muda-se para a regiãoda Grande São Paulo.

- acha fácil pegar aula na região.Início da docência

1987 29 anos 1 ano - faz curso sobre AIDS no hospital“Emílio Ribas”, faz Pedagogia nos finaisde semana e outros cursos de Ciências.

- orgulha-se de fazer todos os cursos oferecidospela Secretaria do Estado da Educação.

1999 41 anos 13 anos - começa a lecionar na prefeitura e noestado. Trabalha nos três períodos:manhã, tarde e noite.

- sente-se feliz por dar aula no laboratório eincentivar os alunos;- percebe que trabalhou demais e, porconseqüência, sua saúde ficou debilitada.

Intensa atividadeprofissional

2005 47 anos 19 anos - entra para a função de professor-coordenador.

- orgulha-se de nunca ter faltado e tirado licença;- pretende fazer um curso de pós-graduação emmeio ambiente.

Quadro 6. “Sentimentos e emoções no processo de mudança”

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Professor-coordenador Fernando

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Fernando sente-se

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

“ Eu quis ser coordenador porque, aprincípio, eu estou trabalhando na mesmaescola que sou professor. Surgiu a vaga,uma função nova, uma experiência nova. Éver o outro lado sem estar na sala de aula...trabalhando com os professores...é umaexperiência nova.”

Fala calmamente,expressão tranqüila.Cruza os dedos dasmãos em cima da

mesa.

SeguroDesafiado

Esperançoso

Possibilidade de serprofessor -

coordenador namesma escola em

que atua comodocente.

Expectativa detrabalho em umanova função, uma

nova forma deenxergar a área da

educação.

Razão paratorna-se

professor-coordenador

“Eu... para ter um começo na coordenação,a princípio, eu verifiquei com os meuscolegas, como eles trabalhavam nacoordenação, a atuação, nas dificuldadesde se trabalhar com o professor. Li algunslivros sobre coordenação.”

Fala calmamente,expressão tranqüila.

Confiante Pede auxílio paraoutros professores –coordenadores com

o objetivo decompreender as

atribuições dessafunção.

Preparação paraexercer a funçãode professor –coordenador.

“ Como é uma experiência nova, você temmedo, né... acho que todos têm medo danão aceitação... não querer bajular, masque as pessoas vejam o seu trabalho, vocêfica com medo... você quer corresponder,aceitação do grupo.”

Arregala os olhos,balança a cabeça para

frente, levanta osombros.

Inseguro Amedrontado

Hesitante

Sentir que umaexperiência nova

pode trazer a não-aceitação do grupo.

Medo Primeirasimpressões na

função deprofessor –

coordenador.

Depoimento Reações corporais do Emoções/sentimentos Situações Sentimentos Categorias e

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depoente captados pelopesquisador.

Fernando sente-se:

indutoras dossentimentos/

emoções

nomeados pelodepoente

subcategorias

“É difícil trabalhar. Eu gosto de trabalhar emum ambiente saudável e não pegar no pé...olha... precisa fazer isso... isso... isso...semser chato. Trabalhar gostoso, porque é suavida que está aí. Se você não trabalhar emum ambiente saudável e gostoso, podefazer mal. E o medo... a aceitação dogrupo.”

Balança a cabeça paraos lados, fala baixo.Arregala os olhos

quando fala do medo.

ConfusoAmedrontado

Hesitante

Incerteza doambiente de

trabalho ser ou nãoser saudável e

prazeroso.Medo de não seraceito pelo grupo.

Medo Primeirasimpressões na

função deprofessor –

coordenador.

“ Neste ano eu tive oportunidade deaprender mais com os cursos que fizemosno Núcleo* , no Ensino Médio em Rede. Oscursos da TIC** e no Pró-Gestão. Essevaleu a pena! Porque tem um estudovoltado para professores e alunos.”

Pega uma caneta, batea caneta contra a outra

mão. Fala comempolgação sobre os

cursos que fez.

AnimadoEncorajadoConfiante

Percebe queaprendeu mais

sobre a função deprofessor-

coordenador com oscursos quefreqüentou.

Orientação deoutros ao

professor –coordenador nos

primeiros diasna nova função.

“ É até engraçado... porque sendo professorda escola, no momento você quer que fiquealguém conhecido da escola, porquegeralmente temos medo daquele que vemde fora, né. Foi a própria decisão dogrupo...eles ( professores ) falavam: ‘ vocêtem um trabalho legal, você trabalha bemesta parte.’ A própria motivação do grupo.”

Sorri levemente. Falacom firmeza quando

conta que osprofessores motivarama sua entrada para afunção de professor –

coordenador.

Com medoValorizadoEncorajado

Incerteza quanto atrabalhar com

alguém de outraescola. Sente-se

valorizado eencorajado pelosprofessores para

assumir a função deprofessor –

coordenador.

Medo Razão paratorna-se

professor-coordenador

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelo

Situaçõesindutoras dos

Sentimentosnomeados pelo

Categorias esubcategorias

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pesquisador.Fernando sente-se:

sentimentos/emoções

depoente

“Eu tinha medo de não corresponder e aomesmo tempo ansiedade para saber comoque é. Primeiro eu tive ansiedade e depoisos professores ... nós trabalhamos juntos.”

Balança a cabeça paraos lados, fala baixo.

InseguroAnsioso

ImpacienteEncorajado

Possibilidade denão corresponderaos desejos dosprofessores e de

não fazer um bomtrabalho.

Expectativa detrabalhar na função

de professor –coordenador.

MedoAnsiedade

Primeirasimpressões na

função deprofessor –

coordenador.

“Eu li os livros, fiz cursos na USP eBarueri... na Oficina pedagógica. Depois fiza prova para ser coordenador.”

Fala normalmente,expressão calma.

Confiante Realiza a provapara a função de

professor –coordenador após

ter lido e feitocursos.

Preparação paraexercer a funçãode professor –coordenador

“ Eu percebi que era muito difícil essafunção, porque infelizmente com a falta defuncionário você acaba desviando a suafunção. Muita responsabilidade, porque aomesmo tempo você lida com a questãopedagógica da escola, sem poder ter tempodisponível para isso. ”

Encolhe o corpo parafrente, balança

levemente a cabeçapara os lados, fala

baixo.

FrustradoSobrecarregado

Desanimado

Percebe que hádesvio de função,

não tem tempodisponível para as

ações pedagógicas.

Primeirasimpressões na

função deprofessor –

coordenador

“Você é um inspetor de aluno, assim...graduado.”

Franze a testa, entortaa boca, balança a

cabeça para os lados.

InferiorTraído

ConformadoAceito

Apesar de sergraduado, ser

professor –coordenador

percebe que hádesvio na função

Primeirasimpressões na

função deprofessor –

coordenador

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelo

Situaçõesindutoras dos

Sentimentosnomeados pelo

Categorias esubcategorias

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pesquisador.Fernando sente-se:

sentimentos/emoções

depoente

realizando otrabalho de inspetor

de alunos.

“ Quando eu era professor eu achava queser coordenador era mais fácil. Eu achavaque era mais fácil porque eu achava quenão tinha que lidar na parte dealunos...disciplina de alunos...isso é desviode função. Eu achava que eu ia trabalharcom o professor, com projetos, para ter umencaminhamento do plano pedagógico daescola. Agora que estamos conseguindo umnorte.”

Fala baixo. Eleva o tomde voz quando diz quelidar com disciplina de

aluno é desvio defunção. Arregala os

olhos e balançalevemente a cabeça

para os lados.

FrustradoDecepcionado

Esperançoso: quando dizque está conseguindo umnorte para o seu trabalho.

Saber que serprofessor –

coordenador exigemais trabalho do

que estar na sala deaula, por causa dodesvio de função.

Sente que estáconseguindodesenvolver

projetos e fazerencaminhamentos

para o planopedagógico da

escola.

Primeirasimpressões na

função deprofessor –

coordenador

“ Eu não conhecia a diretora, porque ela énova. Tivemos problemas derelacionamento... depois fomos trocandoexperiência, minha e dela... para melhorar oserviço na escola.”

Fala baixo Confiante Sente que depois dealguns problemas

conseguerelacionar-se com adiretora e melhorar

a escola.

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador.

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Situaçõesindutoras dossentimentos/

Sentimentosnomeados pelo

depoente

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Fernando sente-se: emoções“ (...) quando eu entrei na coordenação, eudisputei a vaga com mais seis professores,todos de escolas diferentes. Inclusive umdos representantes foi a própria diretora quetrouxe (...). Isso foi o difícil no começo donosso relacionamento: ela queria essapessoa na coordenação e os professoresvotaram em mim.”

Franze a testa, contraias sobrancelhas,

expressão séria. Falapausadamente.

Rejeitado A diretora não oqueria comoprofessor –

coordenador e simum docente

apresentado por ela.

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador.

“A princípio eu consegui trabalharnormalmente... mas depois... ela veio comfunções, ela me atribuiu funções com alunoe professor.Eu disse para ela : ‘ não... isso éseu...é sua função perante os professores ealunos’. A parte pedagógica eu trabalho,mas leis ... advertências ... suspensões ...isso é a direção da escola.”

Levanta o corpo, falacom empolgação,

gesticula com as mãos.

InjustiçadoRevoltadoZangadoIrritado

Saber que a diretoradelegava funçõesque não eram do

professor –coordenador.

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador.

“ em relação aos professores a acolhida jáfoi diferente, praticamente foram eles queme colocaram. Eu já era do meio deles.(...)eles me ajudaram, com certeza. Fica fáciltrabalhar assim, isso que está agora anoite...essa calma...foi com a ajuda deles.Eles falam: ‘ vamos tentar fazer assim?’ eeu falo: ‘ vamos tentar, se não der , a gentefaz de outro jeito.’ ”

Sorri, expressão dealegria.

SatisfeitoEntusiasmado

Contente

Sentir que tinha oapoio da equipedocente, que eracompreendido e

respeitado por ela.

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador.

“ Eu falei na primeira reunião de HTPC: ‘agora eu não quero saber da partepedagógica, por enquanto. Quando euconseguir um controle, um lugar bom para

Fala com firmeza, batea mão direita, váriasvezes, levemente na

mesa.

EsperançosoRealizado: consegue ler e

desenvolver projetos.

Necessidade demudar o ambienteda escola para que

os professores

Primeirasatividades na

função deprofessor –

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Situaçõesindutoras dossentimentos/

Sentimentosnomeados pelo

depoente

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Fernando sente-se: emoçõestrabalhar, quando o professor chegar paramim e falar que está conseguindo dar aula enão tem ninguém chutando a porta efazendo barulho, algo suportável...25% daparte pedagógica já está feita.’ Você nãoconseguia dar aula antes... é diferente. Emconseqüência, agora eu consigo ler edesenvolver projetos.”

consigam trabalharde maneiraadequada.

Sentir que agora operíodo noturno

está diferente, queos professores

conseguemlecionar. E ele (

professor –coordenador ) lê e

desenvolve projetos

coordenador.

“Eu passei nas salas avisando que eu era onovo coordenador. Já faz nove anos que euestou nessa escola, eu já tive alunos dequinta, sexta, sétima séries... e meurelacionamento sempre foi bom. É claro quedentro de limites.”

Expressão séria, falacom firmeza.

CompetenteConfianteSeguro

Trabalha há noveanos na escola, por

esse motivoconhece boa parte

dos alunos.

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador

“ Os alunos que eu dei aula não gostaram.Imagina o professor que ficou com asminhas aulas, o substituto. Os alunos nemconheciam ele e já criaram uma antipatia.Não... eu falei para eles, que eles deveriamexperimentar para ver como é... nem todomundo é igual. Então, a principio, eles nãogostaram, é lógico, se você gosta doprofessor, você não quer que ele vá paraoutra função, você quer aprender com ele.”

Balança a cabeça paraos lados. Arregala os

olhos. Bate a mãodireita na mesa,

levemente, quando diz‘não...eu falei para eles’

.

Satisfeito Sentir que fazdiferença na vida

dos alunos, que elesaprendiam nas

suas aulas e nãogostaram da saída

do professor.

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Fernando sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

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“Tive um bom relacionamento com osfuncionários. Eu tento fazer um esquema deserviço, apesar disso não ser a minhafunção. Eu tento fazer uma equipe...converso muito com eles. Hoje, só paravocê ter uma idéia, a Dona Maria que estáde inspetora de aluno, ela é servente. Elapresta esse serviço porque temos umrelacionamento bom...quando eu preciso,ela ajuda.”

Fala normalmente,expressão calma. Sorrilevemente quando fala

que tem um bomrelacionamento com a

servente.

SeguroConfianteContente

Sentir que tem umbom relacionamentocom os funcionáriose que pode contar

com a ajuda daservente.

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador

“(...) se todos os professores fossemcoordenadores em pelo menos dois HTPCs,eles teriam um relacionamento melhor,teriam uma visão melhor de comofunciona... do que é ... e até produziriammais... a pessoa iria sentir mais como éestar nesse lugar.”

Expressão triste.Franze a testa e

balança levemente acabeça para frente.

DesanimadoInsatisfeito

tristeSó

Sentir que não éfácil a função de

professor –coordenador. Achaque os professoresdeveriam estar no

seu lugar, pelomenos um pouco,para ver o outro

lado e assim mudara postura. Sentir –

se só nacoordenação: “ apessoa iria sentir

como é estar nesselugar.”

Primeirasimpressões na

função deprofessor –

coordenador

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Fernando sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

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“ O diretor é importante para essapassagem, ele tem que separar essa partede alunos, indisciplina, problemas graves edeixar a parte de professor com o professorcoordenador. Muitos diretores não fazemisso. (...) Falta sentar e o diretor dizer qual éa real função do professor –coordenador.Isso foi o meu problema noinício. ”

Expressão séria. Batelevemente a mão direitaem cima da mesa: para

um lado e para outroquando diz que o diretortem que separar a partede alunos, indisciplina e

problemas graves daescola. Fala com umtom mais alto quando

menciona que o diretortem que sentar com o

professor –coordenador dizer qual

a sua real função.

Irritado Os diretores nãoconversam com os

professores –coordenadores

sobre a real funçãodeles.

Saber que esse foium problema

enfrentado por eleno início.

Primeirasimpressões na

função deprofessor –

coordenador

“ Eles ( diretor e vice-diretores ) queriamque eu fizesse isso... eu sei da minhafunção! Mas no começo, eu tinha que darsuspensão para aluno, eu sabia que issonão era da minha função. No começo adireção pediu para eu fazer uma pesquisa...não sei do que... era sobre cores: negro,branco... depois pesquisar não sei o que...mandar bilhetinho para o pai e para a mãedos alunos menores... coordenação tem quefazer... e aí? Como é que fica? E osprofessores... que apoio eu estou dandopara eles? Então fica tudo

Levanta o corpo,arregala os olhos e falacom empolgação. Leva

o dedo indicador emdireção ao peito quando

diz que sabe da suafunção.

IrritadoDescontenteInsatisfeito

Saber que a equipegestora delega

funções que nãocompete aoprofessor –

coordenador.Por causa do desvio

de função, nãoconsegue dar apoio

aos professores.

Primeirasatividades na

função deprofessor –

coordenador

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Fernando sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

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solto.”

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“ Nos primeiros dias como coordenador,você vê... eu estava como coordenador eestava faltando muito professor. A diretorapediu para eu juntar três salas e dar aula deBiologia. Eu coloquei os alunos nolaboratório... imagina... coordenador dandoaula de Biologia. Eu não posso estar nacoordenação e dando aula... isso foi muitoestranho e muito ruim. Até os professoresfalaram: ‘ você é coordenador ou professor?’Até começaram a tirar sarro de mim. ”

Encolhe o corpo, falamais baixo. Balança acabeça para os ladosquando diz que não

pode dar aula.Expressão triste quandofala que os professoresaté riram à custa dele (

professor –coordenador ).

HesitanteDesapontado

EnvergonhadoConstrangidoDesrespeitado

MagoadoTriste

Achar estranho quelecionou para trêssalas a pedido da

diretora.Sentir que os

professores nãotiveram uma atitude

receptiva.

Primeirasatividades na

função deprofessor –

coordenadore

Primeirasimpressões na

função deprofessor –

coordenador“ Foi conversando que eu consegui resolveralgumas situações com a direção. Elapercebeu que muitas coisas que aconteciamera filtrado aqui. O professor tem problemacom aluno, ele chama. Problema deindisciplina, assalto... e o que eu nãoconsigo resolver eu passo para a direção.Ela percebeu isso.. que o que sobrava eunão tinha o que fazer. Isso não foi nosprimeiros dias e sim nos primeiros meses.”

Fala baixo epausadamente. Balançaa cabeça para os ladosquando diz o que nãoconseguia resolver.

AliviadoSatisfeito

Sentir que a diretoracompreendeu quecada profissionaltem a sua função.

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Fernando sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

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“ (...) Eu falei de assalto, esse aluno queassalta já parou de estudar. Tem um filhopequeno de meses... eu conheço ele desde

Franze a testa e contraias sobrancelhas. Falabaixo, expressão triste.

DesapontadoDecepcionadoCom remorso

Conhece o alunodesde pequeno enão entende por

Primeiroscontatos nafunção de

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a quinta série e fiquei surpreso porque eleestava discutindo com uma professora. Euchamei ele e falei: ‘por que você estáfazendo isso?’ Ele respondeu: ‘ porqueestou nervoso...estou sem emprego e oscaras estão me chamando para assaltar, eujá estou fora disso ’. Entendeu? Você acabaenvolvido com os sentimentos e eu nãopude ajudar ele. Eu falei para ele: ‘ se vocêprecisar de cesta básica, nós ajudamos’.Hoje, eu não sei onde ele está, ninguémsabe...só sei que é difícil.”

Triste que está tendo essaatitude com aprofessora.Saber que a

situação do seualuno não está boa

e não conseguirajudá-lo.

Não ter maisnotícias dele.

professor –coordenador

* Núcleo Regional de Tecnologia Educacional;** TIC – Tecnologia da Informação e Comunicação

Quadro 7. Contexto de atuação da Professor-Coordenador Mateus

Unidade Escolar 3

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Recursos Humanos Estrutura Física Modalidades de Ensino1 diretor2 vice-diretores1 professor-coordenador ( diurno )1 professor-coordenador (noturno )53 professores

16 funcionários

Para o atendimento a 1114 alunos.

quatro andares16 salas de aula1 sala do professor1 sala da direção1 sala da vice-direção1 sala da coordenação1 laboratório de Ciências1 laboratório de informática1 pátio coberto1 quadra coberta1 quadra descoberta1 salão para eventos2 salas de vídeo1 cozinha para merenda1 cantina1 refeitório1 sala de zeladoria2 banheiros para funcionários2 banheiros para alunos1 secretaria

Ensino Fundamental Regular Ensino Médio Regular EJA – Telessala – Ens. Regular EJA – Telessala - Ens. Médio EJA – Suplência – Ens. Regular EJA – Suplência – Ens. Médio

Quadro 8. Biograma Professor-Coordenador Mateus

Biograma – MateusFases Cronologia Idade Tempo de

DocênciaAcontecimentos Valoração

Formação 1964 7 anos 0 - Entra para a 1ª série do primário

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1967 10 anos 0 - Termina a 4ª série - Fica sem estudar durante quatro anos porquemorava no sítio e não tinha condução para ir atéa escola. A distância entre a sua casa e aescola era de 16 Km.

1971 14 anos 0 - Volta a estudar na 5ªsérie do ginásio. - Na 5ª série do ginásio consegue ônibus paravoltar a estudar.

1973 16 anos 0 - Na 7ª série muda de escola - Vai estudar em outra cidade.- Orgulha-se por nunca ter sido retido e irsempre bem na escola.

1975 18 anos 0 - Inicia os estudos no colegial. Faz ocurso de “Patologia Clínica”.- Consegue estágio para trabalhar comPatologia Clínica.

- orgulha-se por estudar e fazer estágio aomesmo tempo.

1977 20 anos 0 - termina o colegial de “PatologiaClínica”- Consegue emprego como bancário

- orgulha-se por estudar bastante, terminar umcurso e iniciar outro em seguida.- acha o emprego no banco fácil. O trabalho, noprincípio, era colocar cartas em envelope.

1978 21 anos 0 - Inicia a faculdade de Administração deEmpresas, termina depois de quatroanos.

- faz a faculdade de Administração deEmpresas para ajudar no seu serviço do banco.

Início da docência 1989 32 anos Início dadocência

- Inicia, em maio, como professorlecionando para uma sala de 7ª série doginásio ( Ensino Fundamental ) naescola pública estadual.

- inicia como professor por brincadeira,perguntando para uma amiga que também erabancária e professora: “ eu falei brincando seera difícil dar aula, (...) e essa amiga mearrumou uma escola. Eu nunca me imagineicomo professor!”

Fases Cronologia Idade Tempo deDocência

Acontecimentos Valoração

- Na apresentação para a diretora, pededesculpas e diz que não está preparado paraministrar aulas. Fica surpreso quando a diretoradiz que precisa dele para dar aula e que apenasa sua aparência já vale.

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- Sente-se preparado para lecionar após doismeses de intensos estudos, em casa;- Fica com medo de não atender asexpectativas da direção, porque foi bemrecebido pela equipe gestora. Percebe quesabe muito mais do que a maioria dosprofessores da escola.- Fica feliz porque traz para a aula atividadespráticas do banco. Os alunos começam a seinteressar bastante.- No primeiro dia de aula fica assustado eperdido, não sabe o que dizer para os alunos.Mas logo recupera os sentidos.- Fica feliz em atender as expectativas dosalunos, já que a sala atribuída para ele haviatirado o antigo professor com um abaixo-assinado.

Formação 1998 41 anos 9 anos - faz a complementação na disciplina deMatemática.

- sente necessidade de ter a licenciatura paraministrar aulas.

Momento de revisãoda escolha profissional

2000 43 anos 11 anos - Consegue uma promoção no banco.- Entrega as cadernetas para a diretoraem julho.- No final do ano, faz o concurso públicopara ser professor de Matemáticaefetivo.

- Fica feliz por ter sido promovido no banco.- Chateado com as recentes mudanças na áreada educação, comunica à diretora que vaideixar de lecionar. A diretora não aceita, diz queele é um bom professor e pede que fique até ofinal do ano.- sua esposa faz a inscrição para que ele faça oconcurso público. Mesmo não aceitando, faz.

Fases Cronologia Idade Tempo deDocência

Acontecimentos Valoração

a prova. Fica contente em conseguir tirar umaboa nota e passar

Comprovação daescolha

2001 44 anos 12 anos - inicia como professor efetivo deMatemática.

- Orgulha-se por gostar de lecionar e de nãoquerer mais sair da escola.

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Intensa atividadeprofissional

2005 48 anos 16 anos - inicia como professor - coordenador - Muita atividade: sai do banco às 18:00 h. ,chega na escola e em seguida já inicia o HTPC.Pretende aposentar-se do banco daqui cincoanos e dedicar-se exclusivamente àcoordenação e quem sabe a uma futura direçãode escola.

Quadro 9. “Sentimentos e emoções no processo de mudança” Professor-coordenador Mateus

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Situaçõesindutoras dossentimentos/

Sentimentosnomeados pelo

depoente

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Mateus sente-se emoções“ Um dos motivos que me levou a sercoordenador foi o medo de vir alguém defora. Ninguém pôde vir e eu quis fazer algopela escola. A maioria quis que eu ficasse...a direção... os professores. (...) Eu gosto daescola. É como a supervisora diz: ‘ a escolaé a menina dos meus olhos.’ ”

Fala calmamente.Expressão tranqüila.

Sorri quando relata que‘a escola é a menina

dos meus olhos’.

ConfianteSeguro

Tranqüilo

Sente que podefazer algo pelaescola sendo

professor-coordenador.

Percebe que émotivado pela

direção e pelosprofessores.

Medo Razão paratornar-seprofessor-

coordenador

“ Eu não me preparei para ser coordenador.Eu já tinha a parte administrativa. Conheciaa escola e os alunos. Fiquei algum tempona direção, mesmo não assumindo o cargo.No caso, eu era professor. Fiz um acordo,não quero ser diretor e então fiquei comoprofessor, só com o nome... assumi adireção por trinta dias.Fiz a prova paracoordenador em duas diretorias de ensino.”

Balança a cabeça paraos lados, fala com

desprezo.

Indiferente Não achanecessário

preparar-se paraassumir a função de

professor –coordenador. Jáconhece a parteadministrativa.

Preparação paraexercer a funçãode professor –coordenador.

“ (...) Ser professor é mais fácil. Sercoordenador é uma seqüência do outroemprego. Eu tenho que administrarpessoas... o que não é fácil.”

Respira fundo, enche opeito e solta o ar. Fala

com um tom maisbaixo. Balança a

cabeça para ladosquando diz que

DesapontadoDesestimuladoDesanimado

Acha que serprofessor é mais

fácil que serprofessor –

coordenador:administrar

Primeirasimpressões na

função deprofessor –

coordenador.

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Mateus sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

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administrar pessoasnão é fácil.

pessoas não é fácil.

“ No dia da eleição para coordenador, eu Levanta o corpo, Valorizado Recebe uma grande Preparação para

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passei pelo conselho de escola. Vieramprofessores de fora e quiseram sercoordenadores. Ao invés de ser no HTPC avotação, foi convocado o conselho. Cadaum apresentou a sua proposta. Eu recebi90% dos votos. Foram 25 votos para mim, 4votos e 1 voto para os professores de fora.”

cabeça erguida. Falacom firmeza.

OrgulhosoSatisfeito

parcela dos votosna eleição para

professor-coordenador.

exercer a funçãode professor –coordenador.

“ No início que eu assumi a coordenação,eu tive muitos problemas de saúde... emrelação à direção e à vice-direção nestaescola. O irmão da Ana Maria (diretora)faleceu, a Paula (vice-diretora) teve AVC ea Vanda ( assistente de diretor ) que tinhaacabado de assumir, também teve AVC efaleceu em seguida. No primeiro semestre,eu era tudo: diretor, vice-diretor ecoordenador.”

Cabeça baixa, falapausadamente.

Expressão séria.

SobrecarregadoPreocupado

Sente que está sópara resolver os

problemas daescola. Muito

trabalho acumulado.

Primeirasimpressões na

função deprofessor –

coordenador

“ (...) tive muito apoio do pessoal daDiretoria de Ensino, não houve críticaquanto ao meu trabalho.”

Balança a cabeça parafrente. Arregala os

olhos e franze a testa.

ConfianteSeguro

Recebe apoio daequipe da Diretoria

de Ensino.

Primeiroscontatos nafunção de

professor –

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Mateus sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

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coordenador.

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“Uma coisa que bateu muito no começo foique o professor vê a escola como estado enão como uma empresa. Ele falta e fala: ‘eu tenho direito!’ ou ‘eu preciso faltar!’ e naempresa não é assim. O professor tem seisabonadas e mais faltas justificadas. Falta deprofessor quebra a perna do coordenador!Os alunos não gostam de eventual e otrabalho fica quebrado.”

Levanta o corpo, falacom empolgação.Gesticula com os

braços.

IrritadoNervosoZangado

Fica irritado/nervoso com as

faltas dosprofessores. Alegaque as ausências

causam problemasno dia-a-dia da

escola.

Primeirasimpressões na

função deprofessor –

coordenador

“Se eu colocar a escola como umaempresa, eu tenho que ter clientes e lucro.E assim, é a escola: os alunos são clientese eles têm que ser bem atendidos,valorizados e o lucro é o conhecimento.”

Arregala os olhos,franze a testa. Fala com

firmeza.

Envolvido Empenhado

Compara a escolacom uma empresa.

Pensa que osalunos devem serbem atendidos e

valorizados.

Primeirasimpressões na

função deprofessor –

coordenador

“ Eu acho a sala de aula melhor. Não seiexatamente o porquê. Eu saio do banco deterno e gravata, sento com os alunos,explico e brinco.”

Balança a cabeça paraos lados, levanta os

ombros, vira as palmasdas mãos para cima.

Arrependido Sente que a sala deaula é melhor paratrabalhar do que nafunção de professor-coordenador, gosta

de estar com osalunos.

Primeirasimpressões na

função deprofessor –

coordenador

“ A coordenação é uma seqüência do queeu faço lá ( banco )... mas com umadiferença... na escola eu não tenho poder.Nunca foi meu forte usar a força: ‘faça isso,faça... estou mandando!’ Aqui é diferente

Fala devagar, pausado. ConformadoDecepcionado

Percebe que aimposição não

funciona com osprofessores.

Primeirasimpressões na

função deprofessor –

coordenadorDepoimento Reações corporais do

depoenteEmoções/sentimentos

captados pelopesquisador.

Mateus sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

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do banco: ‘ você pode fazer?’ Aqui tem queter conhecimento de cada professor e sevocê tiver isso com aluno fica mais fácil.”

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“ Não é fácil conhecer os professores... nãodá tempo! A gente fica meio solitário, né.Para você ver... é a primeira vez que eusento e converso com alguém sobre o meutrabalho...desse jeito...”

Arregala os olhos,balança a cabeça paraos lados. Fala baixo.

SobrecarregadoSó

Saber que asobrecarga de

trabalho dificulta orelacionamento com

os professores.Sente-se só por

isso.Não tem com quemcompartilhar idéias.

Primeirasimpressões na

função deprofessor –

coordenador

“ Pra você ver... hoje eu estou recolhendoos diários dos professores, estou vendo seestá tudo certo... e tem professor que estáatrasado e às vezes nem entrega.”

Encolhe os ombros,entorta a boca parafalar, fala devagar.

InsatisfeitoDesapontadoDesanimado

DesestimuladoInquieto

Saber que estárecolhendo osdiários e tem

professor que nãoentrega ou estáatrasado. Não

consegue verificarse todos os diários

estão corretos.

Primeirasatividades na

função deprofessor-

coordenadore

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador.

“ Cada um queria mandar ( professores ) enão tive apoio. Fui em alguns pontos bemautoritário. O grupo não era unido. Aprincípio eu senti apoio de alguns, nosoutros era puro interesse. Váriosprofessores são bons, mas têm muito

Abaixa a cabeça,encolhe os ombros.

Expressão triste.

TristeMagoado

Não recebe apoiodos professores.

Sente que emalguns casos oapoio era puro

interesse.

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador.

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Mateus sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

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ciúme.”“ Se eu tivesse apoio no começo, seriadiferente... menos traumático. Tive muita

Fala pausadamente eem tom mais baixo.

MagoadoInsatisfeito

Sente que setivesse apoio no

Primeiroscontatos na

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rivalidade entre professores e alunos. Emais... muita imposição: ‘eu quero! Euquero!’ ou ainda ‘ eu quero biblioteca, euquero laboratório!’ Mas quando foi feitoninguém usava e só critica negativa,destrutiva. Muitas oscilações entre o grupo.”

Gesticula muito quandorelata que os

professores querembiblioteca e laboratório.

Desapontado começo seriamelhor. Percebe a

imposição dosprofessores que

apenas criticam enão ajudam no

desenvolvimento dotrabalho.

função deprofessor –

coordenador

“ No HTPC... tive alguns bons.Conseguimos definir projetos, fizemospoucos, mas bem feitos. Mas na hora deexecutar... um queria ser mais que o outro.Era assim...’faça’e esse não era o meuobjetivo. O meu objetivo era trabalharcompartilhado.”

Arregala os olhos, falacom firmeza, expressão

séria.

InsatisfeitoDescontente

Consegue definiralguns projetos comos professores, masna hora de executartinha dificuldades de

fazer com que osprofessores

trabalhassem emconjunto.

Primeirasatividades na

função deprofessor-

coordenador

“ A direção confiou em mim. Me deu totalliberdade. No começo, a direção já meconhecia.”

Fala calmamente,expressão tranqüila.

ConfianteSeguro

Sente que a equipegestora confiou no

seu trabalho.

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Mateus sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

“ Algumas coisas que eu tinha dúvida, euligava para a coordenadora do diurno.Aprendi muito com os outros coordenadoresno encontro Ensino Médio em Rede. Foibom, principalmente o encontro de

Levanta assobrancelhas, fala

baixo, sorri levemente.

Satisfeito Pede auxílio paraoutros

coordenadores eaprende nos cursos.

Orientações deoutros aoprofessor

coordenador nosprimeiros dias

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Português sobre textos. O curso Pró-gestãotambém me ensinou. Foi mais em queprocurei ajuda.”

na função.

“ Depois que aconteceu tudo aquilo (problemas de saúde com a equipe gestora), a Ana Maria*, a Paula* e a Vanda* nãotiveram como me passar nada. No primeirosemestre eu não cheguei a conversar com adireção. Nessas horas eu senti que eu nãopodia deixar a peteca cair e atingir a meta.Nunca me senti abandonado e com medo,sempre achei que eu tinha que ir parafrente.”

Levanta o corpo, falacom firmeza, expressão

séria.

ConfianteEncorajado

EsperançosoDeterminado

Decidido

Apesar dosproblemas com aequipe gestora,

decide seguir emfrente com asatividades da

escola.

Primeirasimpressões na

função deprofessor –

coordenador

“ Em relação ao processo, eu fiquei maisvoltado com a parte administrativa e maiscom aluno... disciplina... do que com a partepedagógica. Quando um professor tinhaalgum tipo de dificuldade com aluno,discordância, eu dava conselho a partir doque eu vivi na sala de aula.”

Fala em um tom maisbaixo e calmo.

Expressão tranqüila.

ValorizadoConfiante

Trabalha mais aparte administrativa

e aconselha osprofessores, em

relação aos alunos,a partir da suaexperiência.

Primeirasatividades na

função deprofessor-

coordenador

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Mateus sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

“ Meu relacionamento com os funcionáriossempre foi bom, sempre tive apoio.”

Sorri levemente.Expressão tranqüila.

Contente Tem um bomrelacionamento com

os funcionários

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador

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“ Os alunos me acolheram bem, elesestavam acostumados a me ver comoliderança. Quando tinha alguma dificuldadeeles já me procuravam. Alguns me queriamcomo professor e não como coordenador.Mas o apoio foi total.”

Expressão séria, falacom firmeza. Balança acabeça para os lados

quando relata quealguns alunos não

queriam que ele fosseprofessor-coordenador.

ConfianteSeguro

Valorizado

É bem recebidopelos alunos.

Apenas algunsqueriam o professor– coordenador como

professor em salade aula.

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador

“ Eu tive muita dificuldade de fazer livroATA, eu não sabia fazer aquilo. Depois queeu fui melhorando.”

Levanta os ombros,balança a cabeça paraos lados. Arregala os

olhos e levanta assobrancelhas.

DuvidosoIndeciso

Tem dúvida emrelação a elaborar

uma ATA e melhoracom o tempo.

Primeirasatividades na

função deprofessor-

coordenador

“Tive uma surpresa: como professor eu voulá e falo... mas como coordenador eu tenhoque trazer o professor, ser maiseducado...tentar incentivar. Isso perdeu atémais a minha forma de trabalhar.”

Fala pausadamente emtom mais baixo.Encolhe o corpo.

DescontenteDesapontado

Insatisfeito

Saber que na suanova função tem

que trazer oprofessor,

incentivar. Mesmoque esse não seja amaneira como ele

trabalha.

Primeirasimpressões na

função deprofessor –

coordenador

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Mateus sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

“Na coordenação... a forma como aspessoas te tratam...como é diferente! Étotalmente diferente. Você tem um cargo eeles te tratam diferente. Eles olham demaneira diferente... não tem motivo...édiferente. Eu preferia... assim como eu trato

Gesticula muito, franzea testa e balança a

cabeça para os lados.

IrritadoDescontente

Não entende porqueas pessoastrataram-no

diferente quandoassumiu a

coordenação.

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador

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as pessoas, indiferente do seu cargo. Tratarpessoa como pessoa.”( em relação às modalidades de ensino queexistem na escola ) “Eu pegava um temaque abordasse de maneira geral. Eu traziamuita coisa do banco: como tratar aspessoas... o relacionamento entre aspessoas. Fazia com que todo mundofalasse a mesma linguagem. Trazia unsquebra- cabeças para passar para oprofessor sobre a dificuldade que o alunotem em Matemática. Algumas pegadinhaspara os professores passarem para seusalunos. Mas o foco eram temasrelacionados a como tratar as pessoas.”

Expressão tranqüila,fala em tom mais baixo

e de maneira calma.

ConfianteSeguro

Trazia para areunião, temasgerais. Com o

objetivo de atingirtodas as

modalidades.

Primeirasatividades na

função deprofessor-

coordenador

“ Tive dificuldade de trazer material diferentepara cada modalidade de ensino. OTelecurso já tem tudo pronto... é por fita.Tive dificuldade com a biblioteca que ficavasempre fechada no noturno. Muitas vezes,eu abri para procurar alguma coisa. Àsvezes eu pegava a fita do Telecurso efalava para o professor do regular passar

Abaixa a cabeça, falaem tom mais baixo.

Inseguro ( quanto àdificuldade de trazer

material )ConfianteSeguro

( quando mostra para oprofessor as fitas de

Teve dificuldade deconseguir material

para cadamodalidade de

ensino. Aconselha oprofessor do cursoregular a utilizar as

fitas do

Primeirasatividades na

função deprofessor-

coordenador

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Mateus sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

para os alunos.” vídeo do Telecurso ) Telecurso.“ No HTPC eu nunca pedi para o professordo Telecurso mostrar o material para oprofessor do regular, não importa... sãotodos professores da escola. Eu nuncadiferenciei ninguém. Se não ia começar

Balança os ombros,para cima e para

baixo.Balança a cabeçapara os lados. Entorta aboca para falar, como

DecididoDeterminado

No HTPC nãodiferencia os

professores porquesão de várias

modalidades . Não

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador

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aquele negócio: ‘eu sou do Telecurso, entãoeu não quero ver nada do regular ’ e assimpor diante.”

se estivesse imitandoos professores.

trabalha de maneiradiferenciada.

“ Se tivesse um coordenador para cadamodalidade de ensino melhoraria... seriamais específico. Coordenação pega muitotempo... isso é a dificuldade... atendendopai, atendendo aluno, atendendoprofessor. ”

Fala baixo. Batelevemente a mão namesa, várias vezes,

quando diz que atendepai, aluno e professor.

SobrecarregadoImpotente

Sente que sehouvesse um

professor-coordenador para

cada modalidade deensino, os

professoresaprenderiam mais.

A coordenaçãoexige muito tempo,a formação docente

não é prioridade.

Primeirasimpressões na

função deprofessor –

coordenador

“Quando você está na sala de aula dequarenta alunos...cinco são ruins. Agora nacoordenação, 90% dos alunos que vempara cá são bagunceiros... e os professoressão também... aqueles piores. Essa é adificuldade do coordenador. O volume depessoas pedindo as coisas e os alunos que

Franze a testa, arregalaos olhos. Fala comfirmeza, expressão

séria.

DescontenteDesanimado

DesestimuladoDecepcionado

Sente dificuldade nafunção por causa do

excesso desolicitações eproblemas deindisciplina.

Primeirasimpressões na

função deprofessor –

coordenador

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Mateus sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

você tem que ‘puxar a orelha’... e oprofessor também.”

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Quadro 10. Contexto de atuação da Professor-Coordenador Julia

Unidade Escolar 4

Recursos Humanos Estrutura Física Modalidades de Ensino 1 diretor2 vice-diretores1 professor-coordenador ( diurno )1 professor-coordenador (noturno )73 professores

dois andares21 salas de aula2 salas para Deficientes auditivos1 sala do professor1 sala da direção

Ensino Fundamental Regular Ensino Médio Regular Educação Especial – deficiência auditiva

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22 funcionários

Para o atendimento a 2.377 alunos.

1 sala da vice-direção1 sala da coordenação1 sala de Educação Física1 laboratório de Ciências e Biologia1 laboratório de Física1 laboratório de Química1 laboratório de Arte1 laboratório de Informática2 pátios cobertos1 pátio descoberto1 quadra coberta1 quadra descoberta1 salão para eventos1 sala de camarim2 salas de vídeo1 biblioteca1 sala de leitura1 cozinha para merenda1 cantina1 refeitório2 almoxarifados

Recursos Humanos Estrutura Física Modalidades de Ensino1 secretaria2 banheiros para funcionários2 banheiros para alunos

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Quadro 11. Biograma Professora-Coordenadora Júlia

Biograma – JúliaFases Cronologia Idade Tempo de

DocênciaAcontecimentos Valoração

Formação 1963 7 anos 0 - entra para a 1ª série do primário.

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1966 10 anos 0 - estuda com uma professora dePortuguês “terrível” que provocava

“medo”.- fica para 2ª época em Português e

estuda muito para a prova.

- enfrenta as dificuldades nas aulas de PortuguêsPor ter estudado muito para o exame, começa ainteressar-se pela disciplina. Nunca mais teve

nota ruim em Português.

1967 11 anos 0 - presta o exame de admissão, passapara a 5ª série do ginásio.

- na 5ª série muda de cidade e deescola.

- orgulha-se de ter um pai que somente estudouaté a 4ª série do primário e ensinou Português e

Matemática para a filha passar no exame deadmissão.

- orgulha-se de ter mudado para uma escola cujonível de ensino era considerado excelente.

1971 15 anos 0 - faz vestibulinho na mesma escola emque terminou a 8ª série do ginásio.

- orgulha-se de ter tirado uma nota boa novestibulinho.

- orgulha-se de ter média dez em História eGeografia no colegial.

Formação 1973 18 anos 0 - consegue seu primeiro emprego comosecretária de universidade particular;

- orgulha-se de ter feito o curso no horário dealmoço, mesmo sem tempo para comer, ia com

prazer estudar.

Fases Cronologia Idade Tempo deDocência

Acontecimentos Valoração

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- por intermédio de umaprofessora da universidade,consegue uma bolsa de

estudos de três anos para umcurso de inglês em uma escola

renomada.

1974 18 anos 0 - entra na USP no curso de Letras, como objetivo de ser tradutora interprete.

- durante a faculdade fez curso deinglês, português e alemão.

- no início fica frustrada por não conseguirestudar Medicina, mas orgulha-se de ter saída da

escola pública e entrar direto na USP.- considera importante o fato de ser a única filha,

de quatro irmãos, que fez faculdade.- sentiu-se feliz quando seu pai viu seu nome nojornal ( aprovada no curso de Letras ) e foi até oseu serviço para dar a notícia. Ele chorava de

tanta alegria.Início da docência 1978 21 ano Início da

carreira- muda de cidade, por causa da

distância deixa de ser secretária.- participa da reunião de pais da suairmã e a diretora convida-a para daraula de Português na própria escola.- leciona na escola pública estadual

onde a sua irmã estuda.- faz uma ficha para lecionar em um

colégio particular, sendo chamada logoem seguida.

- Não conhecia o procedimento para lecionar naescola pública estadual, tira dúvidas com os

supervisores na Diretoria de Ensino.- começa a dar aula. Não tinha experiência,

somente conhecimento. Elogia duas professorasque a auxiliaram em tudo: como dar aula, comopreencher a caderneta e quais livros utilizar na

sala de aula.- na rede particular, no curso de Processamentode Dados, sente-se com medo de lecionar “ (...)

fiquei vermelha e com a pernas bambas”. Osalunos eram mais velhos que a professora, mas,em seguida, fica calma já que eles sabiam pouco

o inglês.

Fases Cronologia Idade Tempo de Acontecimentos Valoração

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DocênciaFormação 1980 23 anos 2 anos - ganha uma bolsa de estudos no

exterior ( Alemanha ).- estuda inglês em Oxford.

- seu pai chora muito na despedida para a viagemà Alemanha.

- orgulha-se por ter ido estudar em um pais semconhecer o que a espera: “ fui com a cara e a

coragem”.

Comprovação daescolha profissional

1982 25 anos 2 anos - volta da Alemanha e sai a procura deemprego em empresas multinacionais.Não consegue emprego de tradutora

interprete.- volta a lecionar na rede pública

estadual e na rede particular.

- no início, quando voltou a dar aula, sentiu-sefrustrada e chateada, seu sonho era ser tradutoraintérprete. Logo gosta de lecionar e percebe que

fez a escolha certa.

Formação 1986 29 anos 6 anos - entra no Mestrado na área deLíngua Portuguesa, mas pára

em seguida;

- sente necessidade de trancar a matrícula, já quesua filha nasceu com problemas de saúde.

Intensa dedicaçãoprofissional

2005 49 anos 24 anos - sai da sala de aula, pela primeira vez,para tentar a função de professor-

coordenador na mesma escola em queatua como professora.

- continua lecionando para a redepública e particular.

- na nova função, procura ajudar a escola e osprofessores, já que a unidade passou por

momentos complicados.

Quadro 12. “Sentimentos e emoções no processo de mudança”

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Professora-coordenadora Júlia

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.Júlia sente-se

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

“No ano passado, essa escola virou o caos.Estou aqui há 15 anos eu adoro essaescola. Os alunos, todo mundo.Trocou dedireção quatro vezes, essa escola virou ocaos...esses diretores todos acabaram coma nossa escola. A outra diretora mudou atéa atribuição ferrando todos os professoresda casa (...). Quando a nova diretorachegou as duas coordenadoras pediramdemissão (...). A diretora falou que queriaalguém da escola, se não iria buscaralguém de fora, uma pessoa estranha quenão conhece a escola. Os professoresfizeram uma reunião, ninguém queria sercoordenador, eu virei para o meu amigo efalei ‘vamos ser coordenadores, quem sabeessa escola volta a ser o que era’. Todos osprofessores concordaram.”

Arregala os olhos,levanta as sobrancelhas, rosto sério, bate várias

vezes a caneta namesa.

DecepcionadaInjustiçadaCorajosa

DeterminadaEsperançosa

Saber que a trocade diretores

ocasionou o caos naescola.

Necessidade defazer algo pelaescola com a

expectativa de quevolte a ser o que

era.

Razão paratornar-seprofessor-

coordenador

“ Só que eu não tinha feito a prova decoordenação, tive que esperar e fiz a provapor outra Diretoria de Ensino. Antes daprova eu fazia o HTPC e ainda dava trinta etrês aulas, atendia os professores, ajudavano que dava. Fiz a prova, estudamos epassamos. Fui para a coordenação paraajudar a escola, estou aqui há quinze anos.

Balança a cabeça paraos lados, sorri com o

canto doslábios.Arregala os olhose fala mais forte quandodiz que ministrava trinta

e três aulas e aindafazia o

SobrecarregadaValorizadaDesafiada

Muito envolvimentocom o trabalho,

ministrando aulas,realizando as

reuniões de HTPC eauxiliando os

professores. Sente-se valorizada e

Razão paratornar-se

professor -coordenador

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelo

Situaçõesindutoras dos

Sentimentosnomeados pelo

Categorias esubcategorias

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pesquisador.Júlia sente-se:

sentimentos/emoções

depoente

A gente queria ajudar a direção.” HTPC desafiada emajudar a escola e adireção, já que tem

quinze anos deserviços prestados

nessa unidade.“A diretora passou livros e textos para euestudar para a prova. Falou da suaexperiência como coordenadora. Osprofessores colaboraram. No HTPC eles,ajudaram, foi um momento de união. Depoisque fiz a prova mostrei o projeto para eles.”

Expressão calma, falaem tom normal. Sorrilevemente quando diz

que os professoresajudaram.

ContenteSatisfeitaOrgulhosa

Sentir que podecontar com a ajuda

da direção e dosprofessores para

enfrentar osdesafios.

Preparação paraexercer a função

“ Eu não sabia que tinha passado ( na prova). Todo mundo sabia, menos eu...fui a últimaa saber. Todo mundo: ‘ parabénscoordenadora, agora você vai assumir o seulugar de fato! ’ Foi uma festa! ”

Expressão de euforia.Levanta o corpo e bate

palmas.

AlegreContente

FelizAnimadaVibrante

Saber que foiparabenizada pelo

grupo. Sente-sebem por ter passado

na prova.

Primeiroscontatos nafunção deprofessor-

coordenador“ Eu gostei de ter passado ( na prova ),porque eu queria ajudar a escola. Eu fiqueicontente, eu estudei... Nossa!!! Como euestudei! “

Sorri e balança acabeça para frente.

Respira fundo e solta oar quando diz ‘Nossa!!!

Como eu estudei! ‘

AliviadaSatisfeita

Saber que foiaprovada no exame

de professor –coordenador depois

de ter estudadomuito.

Contentamento Primeirasimpressões na

função deprofessor-

coordenador

“Fiquei triste porque tive que deixar minhassalas. Eu só quis terminar o bimestre, foi sódespedida. Porque eu sou do noturno eentão eu pude ficar só com duas salas. Foi

Fala baixo e encolhe-se.

TristeRessentidaHesitante

Necessidade dedeixar algumas

salas, despedir-sedos alunos eescolher em

Tristeza Primeirasimpressões na

função deprofessor-

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Júlia sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

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duro escolher quais terceiros eu queriaficar.”

quais salas iriacontinuar a lecionar.

coordenador

“ Os alunos falaram que eu largueideles...tadinhos...eles falaram que eularguei eles na mão...falaram que eu nãoquis mais eles, mas eu não escolhi... foi porcausa do horário, o horário estava pronto.Eu falei, expliquei, mas eles não gostaram.É ruim, né...é difícil quando tem que largar,a gente cria amor nas crianças. Ainda maisPortuguês que eu dou aula todos os dias.Na hora de largar é duro.”

Fala baixo, franze atesta e balança a

cabeça para os lados.

TristeMagoada

Ressentida

Os alunos nãocompreendem as

razões daprofessora ter

deixado a sala.Sentir-se magoadapor ter largado as

aulas de Português.

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador.

“Nos primeiros dias senti muitaresponsabilidade, muito trabalho. Agora,dependia de mim. Logo que eu entrei teve aprova do ENEM. Eu nem sabia o quefazer... eu não sabia o que oscoordenadores tinham que fazer. Eu e ocoordenador do diurno ficamosperdidos...era aluno que escrevia errado,era aluno que não trazia documento(...).Menina... passamos ‘ dobrado ‘ aqui. Aresponsabilidade pesou, a gente semexperiência nenhuma...”

Arregala os olhos,balança a cabeça parafrente. Coloca a mão no

peito quando diz ‘agora, dependia demim’. Bate as duas

mãos na mesa e falapausadamente quando

diz ‘menina’.

SobrecarregadaHesitanteConfusaIndecisaInsegura

Muitaresponsabilidade

como professora –coordenadora eincerteza quantoaos objetivos e

procedimentos dotrabalho doprofessor –

coordenador.Sentir que somentedependia dela para

resolver osproblemas da

Responsabilidade

Primeirasatividades na

função deprofessor –

coordenador e

Primeirasimpressões na

função deprofessor-

coordenador.

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Júlia sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

escola.

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“Eu nunca fui professora – coordenadora ,eu nunca pensei ser... eu adoro serprofessora. Sabe... ver meus alunosaprenderem. Tanto é que eu quis serprofessora – coordenadora do noturno paraainda poder dar aula.”

Franze a testa, levantaos ombros e balança acabeça para os lados.

DesestimuladaDesapontada

Desencorajada

Por causa dasobrecarga de

trabalho, lembra quenunca quis serprofessora –

coordenadora e quegosta mesmo é dedar aula. Lembra

que aceitou a novafunção por ser donoturno e poder

continuarlecionando.

Razão paratornar-se

professor -coordenador

“O apoio dos professores foi total. No HTPCtudo o que eu pedia eles faziam. Nósmelhoramos esse noturno! Chega sexta-feira os alunos vêm. Os professores tinhamidéias, a gente discutia, eles ajudavammuito. Tudo o que eles precisavam, na partepedagógica, eu ajudava... sempre ajudei...”

Fala com empolgação.Arregala os olhos, sorri.Bate a mão direita na

mesa várias vezesquando diz ‘nós

melhoramos essenoturno! ‘

AlegreSatisfeita

EntusiasmadaValorizadaAnimadaVibrante

Orgulhosa

Envolvimento dosprofessores donoturno com as

questõespedagógicas. Saber

que o períodonoturno melhorouapós ter entrado

para a coordenação.Satisfeita com o

problema resolvidoem relação àausência dos

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Júlia sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

alunos na sexta-feira. Sentir quepode ajudar a

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equipe docente“ A diretora falou que eu sou muito faladeirae muito explosiva. O que eu tenho que falareu falo...falo brincando... mais eu falo. Ela (diretora ) falou: ‘ eu nunca pensei que vocêia dar tão certo! ‘ ”

Fala em tom mais alto,gesticula com as mãos.

Confiante Saber que a diretoramudou sua opinião

a respeito dela (professora –

coordenadora ).

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador

“ Fiz o João conversar com osalunos...imagina!!! Ele é tão resistente!!! Àsvezes ele pára a aula para conversar comos alunos. Sabe o caderno-espelho?Consegui fazer com que ele fizesse. Achoque é porque ele me conhece faz tempo eme respeita...é tem isso... eles ( professores) sabem que eu estou aqui há muitos anos,conhecem meu trabalho, sabe...é umacontribuição dupla.”

Fala com empolgação. SatisfeitaConfianteValorizada

Envolvimento doprofessor,

consideradoresistente, com seus

alunos.Sentir que é

respeitada pelogrupo de

professores.

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador

“ O vice- diretor e os funcionários me deramtotal apoio. Somente a inspetora nãocolabora, não me apóia. Eu falo com ela: ‘você pode me ajudar? Você pode fazer issopara mim? ‘ ...se ela quiser ela meajuda...se não... eu mesma vou e faço.”

Levanta e abaixa osombros várias vezes ebalança a cabeça para

os lados, entorta a bocapara falar.

ZangadaCom raiva

A falta decompreensão e

auxílio da inspetorade alunos.

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Júlia sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

“Olha... voltei a ser uma grande estudiosa.Estudo daqui...estudo dali. Não só o cursoEnsino Médio em Rede, vários cursos.

Fala com empolgação,levanta o corpo,

arregala os olhos, sorri,

FelizSatisfeitaAnimada

Feliz por ter voltadoa estudar.

Certeza de que

Orientação deoutros aoprofessor-

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Estudo todos os cursos, menina!!! ‘ Ler eViver’, ‘Teia do Saber’ Nossa!!! Tantacoisa!!! É muita informação... projetos emais projetos.”

gesticula com as mãos. VibranteEntusiasmada

aprende a cada dia.Possibilidade de

participar de todosos cursos.

coordenador nosprimeiros dias

na nova função

“ Eu estava morrendo de medo de darHTPC, porque antes eu achava chato.Nosso HTPC não era legal. A genterespeitava, então, tinha que fazer. Aí eufalei ‘ meu Deus... eu tenho que fazer de umjeito que eles ( professores ) não achemchato’, porque eu odiava... a minhapreocupação eram os HTPCs.”

Inclina e balança acabeça para um dos

lados e , fala baixinho.Cruza os dedos em

cima da mesa.

InseguraDuvidosaIndecisaMedrosaAnsiosaInquieta

Expectativa dedesenvolver umHTPC prazeroso

para os professores.

MedoÓdio

Primeirasimpressões na

função deprofessor-

coordenador

“ Depois os professores falaram ‘é o melhorHTPC!’ Sabe por que? Porque eu deixeieles falarem. A gente lia os textos (...) eudava abertura para eles falarem... falaremdos problemas do dia-a-dia, dos problemascom os alunos, trocar idéias entre eles. Nóstínhamos discussões muitos boas, foramótimos os HTPCs. Isso me deixa contente!

Fala com empolgação,sorri, levanta o corpo,

arregala os olhos.

AlegreContente

FelizSatisfeitaAnimadaVibrante

Os professoresparticiparam dos

HTPCs, discutindo etrocando

idéias.Sentir que aequipe docente

aprovou os HTPCsorganizados por ela

Contentamento Primeirasatividades na

função deprofessor –

coordenador.

Primeiroscontatos na

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Júlia sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

(...) O HTPC acaba e os professorescontinuam falando.”

( professora –coordenadora).

função deprofessor –

coordenador

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“(...) aqui as professoras da EducaçãoEspecial fazem o HTPC com os professoresdo regular, eles desenvolvem as mesmasatividades. É difícil ...eu não sei trabalharcom deficientes auditivos. Às vezes eu vounas salas, quando é mais ou menos umas5:00 horas da tarde, só para ver ostrabalhos e aprender... só que eu não tenhomuito que passar para as professoras, nãohouve nenhum tipo de treinamento paraisso.”

Fala baixoBalança a cabeça para

os lados

Impotente Não sabe comoajudar as

professoras daEducação Especial

Primeirasimpressões na

função deprofessor-

coordenador

“É muita responsabilidade sercoordenadora. Antes, eu só tinha a minhasala de aula. Hoje, às vezes, eu nãoconsigo dormir de preocupação. Quando euestava na sala de aula isso não acontecia(...). Eu encosto a cabeça e não durmo. Àsvezes, você fica chateado... é professorestressado...com problema...”

Balança a cabeça paraos lados, fala em tomsério, franze a testa.

SobrecarregadaDesanimada

Desencorajada

Antever que afunção de professor– coordenador exigeresponsabilidade etraz preocupação.

Saber que otrabalho em sala de

aula era maistranqüilo.

ConstrangimentoChateação

Primeirasimpressões na

função deprofessor-

coordenador

“Como professor você ensina e você vê oresultado imediato... mas como coordenadorvocê vê o professor dando aula e muitasvezes você não concorda, mas... comochegar no professor e falar?

Fala baixo. Levanta osombros e vira a palmadas mãos quando diz “

como chegar noprofessor e falar?”

DuvidosaInsegura

Esperançosa

Saber lidar com oprofessor que nãoestá atendendo assuas expectativas.Sentir que ainda

Primeirasimpressões na

função deprofessor-

coordenador

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Júlia sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

‘ Olha professor não faz assim, tenta fazerassim...’ é difícil lidar com o professor. Maseu tenho muito que aprender”.

Balança a cabeça parafrente e fala

pausadamente quandodiz que tem muito que

tem muito o queaprender sobrecoordenação

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aprender“ Aconteceu uma coisa que eu fiqueichateada. Foi com o vice-diretor... fiqueimorrendo de vontade de voltar para a salade aula. ”

Fala em tom sério,franze a testa.

ArrependidaTriste

Pensa em voltarpara a sala de aula

após um fatoocorrido com o vice-

diretor.

ChateaçãoDesapontamento

Primeiroscontatos nafunção de

professor –coordenador

“ Agora o que é bom é que eu voltei aestudar e na sala de aula você se acomoda.Eu já tenho 24 anos de profissão e estátudo aqui. Não preciso mais estudar, àsvezes eu pego um texto, mas é light. Eununca mais estudei. Dava aula...fazia comamor e dedicação, mas não estudei mais.Agora, na coordenação, eu tenho que ler,estudar para saber o que passar para osprofessores. Estudar... eu voltei a ser jovemde novo! São tantos cursos! É uma delícia!!!Eu invento projetos. É muito o queaprender, até as minhas aulas estãomelhorando... eu me dedico ainda mais.”

Aponta para cabeçaquando diz ‘eu já tenho24 anos de profissão e

está tudo aqui’. Falacom empolgação sobreestudar e voltar a serjovem. Gesticula com

os braços.

AlegreFeliz

SatisfeitaAnimadaVibrante

ValorizadaOrgulhosa

Voltar a fazer algode que sempregostou: estudar.

Sentir que seaprimora como

professora a cadadia.

Primeirasimpressões na

função deprofessor-

coordenador

Quadro 13. Contexto de atuação da Professor-Coordenador Carolina

Unidade Escolar 5

Recursos Humanos Estrutura Física Modalidades de Ensino

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1 diretor2 vice-diretores1 professor-coordenador ( diurno )1 professor-coordenador (noturno )48 professores

15 funcionários

Para o atendimento a 1.428 alunos.

quatro andares16 salas de aula1 sala do professor1 sala da direção1 sala da vice-direção1 sala da coordenação1 laboratório de Informática1 pátio coberto1 quadra descoberta1 cozinha para merenda1 cozinha para funcionários1 sala de zeladoria1 cantina1 refeitório2 banheiros para funcionários2 banheiros para alunos

1 secretaria

Ensino Fundamental – ciclo I Regular Ensino Fundamental – ciclo II Regular Ensino Médio Regular

Quadro 14. Biograma Professora-Coordenadora Carolina

Biograma – CarolinaFases Cronologia Idade Tempo de

DocênciaAcontecimentos Valoração

Formação 1976 7 anos 0 - entra para a 1ª série do primário (atual ciclo I do Ensino Fundamental )

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1982 13 anos 0 - termina a 7ª série do EnsinoFundamental

- orgulha-se de ter estudado da 1ª série até a7ª série na mesma escola em que hoje éprofessora-coordenadora.

1983 14 anos 0 - muda de escola no início do ano.- termina a 8ª série do EnsinoFundamental e sua avó tira-a daescola.

- Morava com a avó, “por ter pais separados efamília desestruturada”. Sua avó, muito rígidacom a neta, não considerava o estudoimportante e, sim, o trabalho.- orgulha-se das notas altas, por nunca terdado problema e não levar reclamações para opai, que sempre participou das reuniões.- gostava da escola, não pelo estudo, mas porter um lugar para sair.

Início de1984

14 anos 0 - consegue o primeiro emprego. - sente-se triste, pois passa a trabalhar pelaimposição da avó.

Profissionalizaçãoem outra área.

1988 17 anos 0 - casa-se muito jovem. - considera que se casou muito jovem, culpa aavó que era muito rígida.- sente falta dos estudos.

Formação 1989 18 anos 0 - consegue emprego em um escritório.- tenta retornar aos estudos.

- estuda 6 meses em um colégio técnicoparticular – Processamento de Dados. Sente-se triste por ter que abandonar o curso porfalta de dinheiro.

Fases Cronologia Idade Tempo deDocência

Acontecimentos Valoração

Profissionalizaçãoem outra área.

1990 20 anos 0 - nasce o seu filho. - sente-se feliz pelo filho e para cuidar dele,pede demissão do emprego.

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1992 22 anos 0 - o marido fica desempregado.- inicia o trabalho como merendeira deuma escola pública estadual.- a diretora da escola, muito rígida,proíbe as funcionárias de conversarcom os alunos enquanto servem amerenda, inclusive Carolina.

- com o marido desempregado e depois de 2anos cuidando do filho e da casa, percebe anecessidade de voltar a trabalhar.- no emprego, surpreende-se por ter a mesmafaixa etária dos alunos do Ensino Médionoturno. A expectativa de voltar a estudarcresce.- insatisfeita com a atitude da diretora, pensaque o seu lugar não é naquela escola enaquele emprego. O desejo de voltar a estudaraumenta ainda mais.

Formação 1994 23 anos 0 - sai do emprego de merendeira.- faz vestibulinho em uma escolatécnica municipal.- inicia o curso de curso de Edificações. - consegue um emprego de estagiária.

- não se identifica com o curso, a princípio,mas gostava de desenho e cálculo.

Fases Cronologia Idade Tempo deDocência

Acontecimentos Valoração

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1997 26 anos 0 - termina o curso de Edificações.- é demitida do emprego por apresentarproblemas de saúde ( pressão alta ).

- no término do curso de Edificações, sente-seangustiada por não ter condições de fazer afaculdade de Engenharia Civil. Tinha um filhopequeno e ficar fora o dia inteiro tornava-secomplicado.

Formação

1998 27 anos 0 - inicia o curso de Biologia em umafaculdade de final de semana.- sai da faculdade ao término domesmo ano.

- apesar da sua primeira opção ser a faculdadede Odontologia, ouve o conselho da tia que ainfluencia a estudar Biologia, mas confessaque sempre teve tendência para ensinar: “ ( ...) as pessoas me procuravam para eu explicar,mas eu nunca tive vontade de ser professora emuito menos coordenadora.”- orgulha-se por estudar bastante, mas estavainsatisfeita por causa do curso ser aos finaisde semana.

Formação e início dadocência.

1999 28 anos Início dacarreira

- é aprovada no vestibular de umafaculdade de Biologia onde estudadiariamente.- inicia como professora eventual deuma escola estadual, antes mesmo doinício das aulas na faculdade.

- sentiu-se surpresa quando foi chamada paralecionar, achava que era para uma entrevista.Esse é um momento marcante na sua carreira:“ a coordenadora me chamou, achei que erauma entrevista, só que ela falou ‘ olha... faltouum professor, vai lá!’ e me deu um livro dePortuguês. Foi a pior aula da minha vida (...)eu não estava preparada para aquilo.”

Fases Cronologia Idade Tempo deDocência

Acontecimentos Valoração

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Momento de revisão. 1999 28 anos Início dacarreira

- conversa com a mãe sobre a suainsatisfação em lecionar.

- considera-se insatisfeita com a profissão,decepciona-se com os alunos que não prestamatenção na aula, não ouvem a explicação.Chora muito por esse motivo.

19992º semestre

28 anos Início dacarreira

- substitui uma professora de LínguaPortuguesa que tira licença médica.

- aproxima-se dos alunos, passa a gostar daárea de Educação pelo contato com os alunose por ser um desafio. Considera o contato comas pessoas importante.

Comprovação daescolha

2000 29 anos 1 ano - trabalha como eventual na escolaonde hoje é coordenadora.

- sente-se feliz em trabalhar na escola quesempre foi o seu “foco”. Reside no mesmobairro, conhece os alunos e a comunidade.

Intensa dedicaçãoprofissional

2005 34 anos 6 anos - após trabalhar 6 anos em váriasescolas, faz a prova para professor-coordenador.- inicia o trabalho como professora-coordenadora, continua lecionando noperíodo da tarde para completar acarga máxima de aula.

- considera que fez a prova para professor-coordenador sem a intenção de ser aprovada,apenas para testar conhecimento.- tornou-se professora-coordenadora a partirdas solicitações dos colegas de trabalho.Considera que já conhecia a função porquetinha lido muito sobre o trabalho docoordenador.

Quadro 15. “Sentimentos e emoções no processo de mudança” Professora-coordenadora Carolina

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Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Carolina sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

“Fiz a prova de coordenação em outracidade. O meu interesse nem era passar naprova, não é a função, mas é saber o quese pergunta. Eu faço tudo o que é prova queaparece.”

Fala devagar.Entorta a boca, levanta

e abaixo os ombros.

DesinteressadaIndiferente

Interesse apenasem fazer a provapara testar seu

conhecimento e nãopara a função de

professor-coordenador.

Razão paratornar-se

professor –coordenador.

“Eu tinha feito a prova uns dois mesesantes, mas eu não tinha intenção nenhumade ser coordenadora, porque meu filhoestuda de manhã e de tarde e eu queriaficar com ele a noite. Fiz a prova decoordenação, passei... sem perspectiva dafunção.”

Fala com desprezo,balança a cabeça para

os lados.

DesinteressadaIndiferente

Fez a prova sem aperspectiva de ser

professor –coordenador. Não

tinha essa intençãopor causa do filho

que estuda demanhã/ tarde,

queria ficar com eleà noite.

Razão paratornar-se

professor –coordenador.

“( ...) O pessoal da escola falou: ‘ a outraprofessora não vai dar para ficar nacoordenação, você não quer?’ ”

Arregala os olhos,franze a testa. Balançaa cabeça para os lados.Sorri levemente quando

diz “ você não vaiquerer”?

ConfianteSegura

Expectativa dosprofessores quanto

a ela assumir afunção de

professora-coordenadora.

Razão paratornar-se

professor –coordenador.

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelo

Situaçõesindutoras dos

Sentimentosnomeados pelo

Categorias esubcategorias

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pesquisador.Carolina sente-se:

sentimentos/emoções

depoente

“ Eu fiz o projeto, apresentei e o pessoalgostou. Apresentei para o conselho. Eu jáconhecia a função porque já tinha lidobastante. E comecei a atividade ”

Fala com firmeza,expressão séria.

ValorizadaSegura

Confiante

Saber que o projetofoi aceito pelo

grupo. Iniciou aatividade porque jáconhecia a função:tinha lido bastante.

Preparaçãopara exercer a

função deprofessor-

coordenador.

“Eu gosto da educação e eu queria ter umaoutra visão, além daquele da sala de aula.Eu criticava muito o HTPC, então eu queriaver o que tinha do outro lado, não tinha... ‘eu queria ser professor – coordenador’ euqueria saber a função, o que tinha comoplano, ver o outro lado.”

Levanta o corpo,arregala os olhos, fala

com firmeza.

DesafiadaEncorajada

Expectativa deconhecer o outro

lado, além da salade aula.

Razão paratornar-se

professor –coordenador

“ Como eu era eventual aqui, às vezes, nãotinha aula e eu passava o dia inteiro aqui.Então, eu vivia dentro da sala docoordenador, fazendo alguma atividade.Então, esse contato também... quando euvim para essa função eu já sabia o queestava acontecendo. Eu tive esse contatoantes, eu sempre estava aqui, digitandoalguma coisa. Quando eu tinha aula vaga,eu ficava aqui direto. Então, eu aprendibastante o que acontecia na prática.”

Expressão tranqüila.Bate na mesa com a

mão ( levemente )quando dia ‘ eu sempre

estava aqui’.

ConfianteSegura

Auxiliava o antigoprofessor –

coordenador nasaulas vagas. Por

esse motivo,aprendeu na prática

a função.

Preparaçãopara exercer a

função deprofessor-

coordenador

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelo

Situaçõesindutoras dos

Sentimentosnomeados pelo

Categorias esubcategorias

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pesquisador.Carolina sente-se:

sentimentos/emoções

depoente

“ falando da prova... eu tive contato combastante material sobre coordenação. Aprópria antiga coordenadora me ajudounessas coisas da prova. Tinha muita coisaque estava fresca na minha memória. Euterminei a faculdade e fui fazer aprova...estava tranqüila. Foi uma questão dedois meses.”

Expressão tranqüila.Aponta para a cabeça

quando fala damemória.

ConfianteCompetente

Fez a prova para afunção de professor– coordenador comtranqüilidade, poisteve contato com

material específico,a antiga

coordenadoraajudou-a com

algumas dicas paraa avaliação e havia

terminado afaculdade dois

meses antes daprova.

Preparaçãopara exercer a

função deprofessor-

coordenador

“ Eu tinha medo, a expectativa foi grande.Mas o maior medo que eu tive era aaceitação dos professores e a minharelação com a antiga coordenadora. Sabe...parece que... com a licença maternidade elapoderia voltar para a coordenação, se elarecorresse. Eu comentei com ela, que se elafosse fazer isso eu não iria ficar, e porqueeu gostava da escola...eu tinha um montede plano para implantar.”

Encolhe o corpo, cruzaos dedos, fecha as

mãos escondendo-asno vão das pernas.

Balança o corpo parafrente.

HesitanteInsegura

Com medoAnsiosa

Expectativa de serou não aceita pelo

grupo.Saber que a antiga

coordenadorapoderia voltar para a

função.Expectativa de

implantar algunsplanos para o

desenvolvimento doseu trabalho.

Medo Primeirasimpressões na

função deprofessor –

coordenador.

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Situaçõesindutoras dossentimentos/

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

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Carolina sente-se: emoções“Quando eu cheguei aqui fui bem recebidapelos professores. Eles me deram muitaforça... eu tava feliz. Apesar que eu abrimão de ficar com o meu filho a noite.”

Sorri levemente. Entortaa cabeça para um dos

lados, balança parafrente quando menciona

o caso do filho.

FelizCom remorso

Culpada

Sentir que foi bemrecebida pelosprofessores.

Sentir-se culpadapor não estar com o

filho à noite.

Felicidade Primeiroscontatos nafunção de

professor -coordenador.

“Eu não tive muito problema no HTPC,porque eu vinha de manhã no HTPC dacoordenadora do diurno. Eu via tudo o queela passava e fazia o meu à tarde. Não tiveproblema, eu já estava envolvida no HTPCcomo professora.”

Fala tranquilamente,expressão calma.

ConfianteSegura

Não teve problemasno HTPC porque já

estavaacompanhando o

trabalhodesenvolvido noperíodo diurno.

Primeirasatividades na

função deprofessor –

coordenador.

“O vice-diretor chegou me parabenizando...a expectativa era grande... eu não sabia oque isso ia resultar. Como a gente trabalhacom gente, a gente não sabe o que o outrovai achar disso.”

Franze a testa, arregalaos olhos. Balança a

cabeça para os lados.

AnsiosaInseguraDuvidosaConfusaIndecisa

Não saber qual seráa reação das

pessoas frente anova professora –

coordenadora.

Primeirasimpressões na

função deprofessor –

coordenador

“ Eu fui a professora que se formou maisrecente aqui. Então, sempre teve outros...tinha a Paula que queria ser e não pode.Então,ficava esse medo... mas ao mesmotempo eu estava feliz.”

Encolhe o corpo. Falabaixo e pausadamente.

InferiorDesencorajada

Ansiosa

Sendo a professoracom menos tempode formada, achou

que talvez não fosseaceita pelo grupo e

não tivessecompetência para a

função.

MedoFelicidade

Primeirasimpressões na

função deprofessor –

coordenador

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Carolina sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

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“ Ah... outra coisa! Coordenação para mim,só se for nessa escola, em outra eu nãopegaria. Eu acho que o coordenador temque influenciar tanto na parte de alunotambém e isso eu tenho aqui.”

Gesticula com as mãos.Fala com empolgação.

SeguraConfiante

Determinada

Sente segurançasendo professora –coordenadora naprópria escola em

que lecionava.Acha importante

conhecer os alunospara desenvolver

um bom trabalho nafunção.

Razão paratornar-se

professor –coordenador

“ O que me falta ainda é que quando euchego com os cursos, os professores têmcerta resistência. Neste sentido, eu aindanão estou realizada, ainda falta muito. Sãoresistentes em fazer curso... a implementarmais ainda. Eles têm medo do novo.”

Abaixa a cabeça.Balança a cabeça paraos lados. Fala baixo.

Insatisfeita Saber que osprofessores são

resistentes quanto afazer cursos e

implementar novosprojetos.

Primeiroscontatos nafunção de

professor -coordenador.

“ Eu acho que eu fui para essa funçãoporque eu nunca tive medo do novo, eusempre fui nos cursos e sempre tenteicolocar em prática.”

Levanta o corpo e falacom determinação.

DeterminadaDecidida

Capacitada

Sente que não temmedo dos desafiose executar novos

projetos.

Medo Razão paratornar-se

professor –coordenador

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Carolina sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

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“ Ainda faço isso aqui ( colocar em práticaconhecimentos novos ). Tento fazer issocom eles ( professores )... mas essa é a piorparte para um coordenador. Na partepedagógica, eles ouvem... concordam...mas na realidade é difícil de acontecer.”

Franze a testa, balançalevemente a cabeça

para frente. Fala baixocom ar triste.

DecepcionadaDesestimulada

Conformada

Tenta estimular oprofessor em

relação à partepedagógica, mas

ainda não consegueatingi-los quanto a

implementar o novona área

educacional.

Primeiroscontatos nafunção de

professor -coordenador.

“ Eu achei que no começo eu ia terproblema, mesmo porque eu sou eventualaqui...eu sou a eventual... eu tinha essemedo... mas fui bem recebida por eles (professores ). Não tive problemas.”

Fala baixo. Abre bem aboca quando diz o “a”

da frase: ‘ eu sou aeventual’.

InferiorInsegura

Por ser eventualacha que não seriabem recebida pelaequipe docente.

Medo Primeiroscontatos nafunção de

professor -coordenador

“ Eu não tenho muito contato com adiretora... ela vem de manhã. Não tiveproblema com ela.”

Balança a cabeça paraos lados, entorta a

boca. Abaixa e levantaos ombros bemdiscretamente.

Indiferente Não tem muitaproximidade com adiretora. Por essarazão, sente que

não teve problemascom ela.

Primeiroscontatos nafunção de

professor -coordenador

“ A vice-diretora é totalmente diferente demim... temos pensamentos muito diferentes.Ela tem aquela rigidez e eu sou maisflexível... dou oportunidade para o alunofalar, escuto o aluno e ela não é assim. Sóque uma complementa a outra... eu aprendomuito com ela e ela comigo.”

Arregala os olhos,balança a cabeça para

frente. Fala com firmezaquando diz que a vice-

diretora tem aquelarigidez. Expressão

tranqüila quando relataque uma

ConfianteSegura

Mesmo a vice-diretora tendopensamentos

diferentes, ela (professora –

coordenadora )sente que ambas

compartilham

Primeiroscontatos nafunção de

professor -coordenador

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Carolina sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

complementa a outra. idéias.

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“ O que eu sinto, em relação aos alunos, éque eles trocam, né. Só porque eu estou nacoordenação eles te tratam diferente... nãoé um poder, mas eles acham que édiferente. Eu não acho que é diferente,porque a função é diferente... mas eu sou amesma pessoa. Eles me tratavam diferentena sala de aula. Hoje eu sinto que eles têmmedo de mim... eu não gosto disso. Eu nãoconsidero que seja respeito... é medomesmo. Eu sou flexível, mas eles achamque não. Não sei... talvez porque eu nãotenho mais contato com a sala de aula. Masmesmo assim... todo dia eu converso comeles, mas eles me tratam de maneiradiferente.Medo... respeito... não sei . Comoeu sou eventual, eu passei por todas asclasses. A sala do noturno que era minhamesmo, eu também percebi essa diferença.Agora mesmo, antes de você chegar euestava lá conversando com eles. Elesficaram com um respeito maior.”

Balança a cabeça paraos lados como um sinalnegativo. Coloca a mão

no peito e coloca osombros para frentequando diz que é a

mesma pessoa.Expressão de dúvida.

HesitanteConfusaIndecisa

Sente que os alunosmudaram o

comportamento emrelação a ela. Mas,

a professora –coordenadora nãoentende a razão,

não sabe se o queeles sentem é medo

ou respeito.

Primeiroscontatos nafunção de

professor -coordenador

“ A orientação que eu tive foi da própriacoordenadora do diurno, os professores e aantiga coordenadora do noturno. Eu fiqueiassustada com tanta coisa para fazer!

Fala com um tom maisalto. Arregala os olhos.

Expressão de susto.

SobrecarregadaSobressaltada

Durante asorientações, ficaassustada com a

quantidade

Orientações deoutros ao

professor –coordenador.

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Carolina sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

Antes quando eu só ajudava era uma excessiva de nos primeiros

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coisa...” atribuições que umprofessor-

coordenador possui

dias na novafunção.

“ Essa responsabilidade da partepedagógica, você fica no meio do fogocruzado. (...) Eu falo: ‘vamos ver as notas’ oprofessor já acha que eu quero que elesdêem nota para os alunos e não é isso! Aquestão é mudar o jeito de dar aula. Eu falopara eles , vamos dar uma aula diferente, oprofessor já acha que eu estou criticando,questionando a aula dele. Não é essa aintenção, a intenção é que como professorele veja um lado que a gente não vê... elessão resistentes.”

Fala com firmeza, comtom mais alto. Aponta odedo quando diz ‘ e não

é isso’Gesticula muito.

IrritadaZangadaNervosa

Sente que oprofessor não

compreende a suareal preocupação.Percebe que osprofessores sãoresistentes e não

aceitam conselhosdela.

Primeiroscontatos nafunção de

professor -coordenador

“ Eu tinha esse sentimento com os meusalunos... às vezes você volta de férias,antes você bola um monte de coisas... fazgráfico...por exemplo... eu passei o final desemana fazendo gráfico para discutir comos professores e quando você chega... nãotem o retorno... é... não tem o retorno. Eucrio uma expectativa.”

Fala em tom mais baixoe pausadamente.Expressão séria.

DecepcionadaMagoada

InsatisfeitaDescontente

Sente que seutrabalho não évalorizado pelaequipe docente.

Não há retorno porparte dos

professores.

Primeirasimpressões na

função deprofessor –

coordenador

Depoimento Reações corporais dodepoente

Emoções/sentimentoscaptados pelopesquisador.

Carolina sente-se:

Situaçõesindutoras dossentimentos/

emoções

Sentimentosnomeados pelo

depoente

Categorias esubcategorias

“ Bem no começo da coordenação eu tive Expressão triste. Magoada Percebe que Tristeza Primeiras

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cálculo renal. No quarto, preocupada com oque estava acontecendo na escola, eu acheique as coisas não iriam acontecer se eunão estivesse na escola. Eu fiqueifrustrada... porque eu percebi que eu nãosou insubstituível . Aconteceu tudo normalsem mim... tem que acontecer, mas eu nãovou mentir que me senti frustrada, talvez euachei que eu não fosse necessária. Vejasó... eu tenho ótimos professores queseguram muito bem... mas eu me sentitriste.”

Cabeça baixa, balançaa cabeça para os ladosvárias vezes, fala em

tom baixo.

TristeInsatisfeita

Decepcionada

durante a suaausência, as

atividadessucederam

normalmente naescola. Sente que

não é insubstituível.

Frustração impressões nafunção de

professor –coordenador