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ARTE E MANHA NA ESCRITA DE AUTORIA Um Projeto de Produção de Final de Contos de Esperteza PROGRAMA LER E ESCREVER CEFAI – SEE DE SP Julho/2014

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ARTE E MANHA NA ESCRITA DE AUTORIA

Um Projeto de Produção de Final de Contos de Esperteza

PROGRAMA LER E ESCREVER CEFAI – SEE DE SP

Julho/2014

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ARTE E MANHA NA ESCRITA DE AUTORIA

Um Projeto de Produção de Contos de Esperteza

Elaboração:

Formadoras do Programa “Ler e Escrever”

Kátia Lomba Bräkling (Supervisora de Língua Portuguesa)

Supervisão Pedagógica do Programa Ler e Escrever: Telma Weisz

CEFAI

SEE DE SP

JULHO/2014

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO GÊNERO CONTO DE ARTIMANHA

(OU DE ESPERTEZA) .............................................................................. 5

DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO ........................................................ 7

1ª Etapa: Apresentação do Projeto de Escrita em Questão: Produção de

Autoria de Partes Desconhecidas de Contos de Artimanha ........................... 7

2ª Etapa: Leitura Compartilhada e Análise do Conto de Artimanha “A Velhinha

Inteligente” .................................................................................................... 13

3ª Etapa: Planejar Coletivamente Diferentes Finais para o Conto de Artimanha

“O cego que não era bobo”. .......................................................................... 21

4ª Etapa: Produção Coletiva de um das Possibilidades de Finais Criados nas

Atividades da Etapa Anterior ........................................................................ 25

5ª Etapa: Leitura Compartilhada para Estudo de Texto Focalizando seus

Recursos Discursivos e Linguísticos............................................................. 31

6ª Etapa: Produção de Autoria, em duplas, do Final do Texto “O Bicho

Folharal” ........................................................................................................ 36

7ª Etapa: Revisão do Texto Produzido pelas Duplas ................................... 43

8ª Etapa: Produção Individual de Final Desconhecido de Conto de Artimanha

...................................................................................................................... 59

9ª Etapa: Revisão do Final Produzido Individualmente. ............................... 61

10ª Etapa: Organização da Coletânea, Preparação da Vernissage e Avaliação

do Trabalho Realizado .................................................................................. 63

ANEXOS .......................................................................................... 66

Pedro Malasartes e o Lamaçal Colossal....................................................... 66

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A Velhinha Inteligente ................................................................................... 73

Sapo com Medo de Água (versão 1) ............................................................ 75

Sapo com Medo D´Água (versão 2).............................................................. 76

O Sapo e o Coelho ....................................................................................... 78

O Rei da Folhagem ....................................................................................... 79

O Bicho Folharal ........................................................................................... 81

O Cego que não era Bobo ........................................................................... 83

A Onça e o Bode .......................................................................................... 84

O Leão e o Rato ........................................................................................... 85

A Árvore que dava Dinheiro .......................................................................... 86

A Dona Raposa e os Peixes ......................................................................... 87

De como o Malasartes fez o Urubu falar....................................................... 89

REFERÊNCIAS PARA LEITURA .............................................................. 92

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ARTE E MANHA NA ESCRITA DE AUTORIA

UM PROJETO DE PRODUÇÃO DE CONTOS DE ESPERTEZA

Caro Professor,

O projeto aqui apresentado tem a intenção de oferecer a você uma referência a

respeito de como organizar um trabalho de produção de textos de autoria, ainda

que preveja apenas a elaboração do final de um conto de artimanha.

Neste material serão focalizados – fundamentalmente - os aspectos textuais e

discursivos de um texto, aqueles aspectos essenciais para que este texto possa

organizar-se de modo coerente e coeso, seja em relação ao gênero no qual se

organizará, seja em relação à progressão das ideias e ao encadeamento das

mesmas ao longo do texto.

Além disso, as orientações oferecidas para o desenvolvimento do trabalho prevê

a organização das atividades considerando as operações essencias do processo

de produção de textos: definição do contexto de produção, criação e

planejamento do conteúdo temático, elaboração de um plano para o texto que

será escrito (planificação), redação do texto (textualização), revisão processual e

revisão final.

É importante considerar que a elaboração de um material dessa natureza deve

prever um trabalho exaustivo com todos os diferentes aspectos envolvidos na

realização do trabalho: por um lado, para garantir que haja referências relativas

a todas as possíveis necessidades de aprendizagem dos alunos, relacionadas aos

mais diferentes conteúdos envolvidos no processo. Por outro, porque, uma vez

tendo oferecido essa referência, espera-se que você, professor, selecione as

atividades que se relacionem não apenas com as necessidades de seus alunos

reais, mas também com suas possibilidades de aprendizagem.

Em outras palavras, a oferta é ampla, mas isso não significa que todos os aspectos

tratados devam ser objeto de ensino na sua sala de aula; ou que todas as

atividades indicadas devam ser realizadas. Cabe a você analisar a importância de

cada atividade no que se refere ao conteúdo tratado e ao quanto este conteúdo

determina a qualidade de um texto. Depois disso, cabe também a você decidir o

que é necessário e possível ser trabalhado junto à sua classe, considerado suas

possibilidades no momento.

Afinal, você é o professor e cabe a você a adequação de qualquer proposta de

trabalho à sua classe e aos seus alunos, de modo a oferecer-lhes as melhores

oportunidades possíveis de aprender.

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APRESENTAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO GÊNERO CONTO DE

ARTIMANHA (OU DE ESPERTEZA)

Nas séries iniciais do Ensino Fundamental, as crianças, em geral, têm um bom

repertório de contos, principalmente os chamados contos de fadas ou contos de

encantamento ou, ainda, as fábulas. Já estão familiarizadas com esses gêneros e já

fizeram muitas atividades de leitura e escrita dessas histórias, apropriando-se

gradativamente da sua organização interna, assim como da linguagem que costuma

caracterizá-las, da definição de tempo e lugar dessas narrativas, assim como do

narrador típico das mesmas.

No entanto, há um vasto campo ainda pouco explorado na escola que também faz parte

das chamadas narrativas de tradição oral, como as facéias, os contos de exemplo,

religiosos, etiológicos, acumulativos, de adivinhação, de artimanha e tantos outros.

Dentre esse vasto e riquíssimo material de nossa cultura, esse projeto priorizará os

chamados contos de artimanha: narrativas, geralmente curtas, nas quais os

personagens – humanos ou animais – utilizam-se de ardis (armadilhas ou disfarces),

truques, malandragens, gambiarras e espertezas para garantir sua sobrevivência ou

mesmo a vitória contra forças maiores que a sua.

Essas histórias fundamentam-se em uma moral1 ingênua que vigora num mundo de

injustiça onde impera a crueldade e cada um luta por si, contexto esse que justifica o

uso da esperteza da qual lançam mão os protagonistas desses contos.

Neles, coelhos ou raposas proibidos de beber água no riacho se disfarçam com folhas,

sapos ameaçados de morte fingem ter medo de água, rabos de porcos são enterrados

na lama para enganar o dono da fazenda e até mesmo a morte pode ser vencida.

Em tais contos – de artimanha; ou de manhas e artimanhas; ou de astúcia, ou ainda, de

esperteza, como costumam ser denominados – a trama é sempre organizada em torno

1 A moral é um conjunto de princípios e normas gerais que deve ser respeitado por todos: não mentir,

não roubar, não matar, valorizar a busca da justiça, da imparcialidade, da impessoalidade, da isenção e da neutralidade. Esses princípios regulam nossas ações e garantem a ordem social. A moral é inseparável da atividade prática, pois as relações humanas acontecem sempre em uma determinada comunidade social. Por isso, esses princípios podem variar muito de uma sociedade para outra. A ética, diferentemente, é a teoria ou a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. Segundo VASQUEZ (1998), ela é "um conjunto sistemático de conhecimentos racionais e objetivos a respeito do comportamento humano moral" (pp. 12-13).

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de um personagem que utiliza a esperteza para obter o que deseja, ludibriando outro –

ou outros – personagem ingênuo ou, pelo menos, não tão esperto como o protagonista.

Dessa maneira, os ardis são sempre inesperados e engenhosos, nunca havendo uso

de estratégias usuais e previsíveis.

Estes protagonistas - que podem ser pessoas ou animais – acabam por representar a

possibilidade de ludibriar certos valores da sociedade que os segrega ou exclui, valores

estes sintetizados na figura de seu antagonista. Assim, podem ser personagens que

sofrem pela pobreza, o que lhes acarreta ausência de dinheiro, de comida e bens

materiais; podem sofrer por problemas que se realizam no interior da família (ou de um

casal, como a traição) que desafiam astuciosamente os valores morais vigentes; podem,

ainda, ser alvo do autoritarismo de representantes de classes sociais hierarquicamente

superiores.

Conforme afirma Lopes (1982)2, tais contos “reproduzem a imagem de uma sociedade

estratificada onde a artimanha de [caráter] individualista se afirma como arma de

legítima defesa” (p. 126).

Os contos de artimanha são comumente organizados no eixo temporal, quer dizer, as

ações narradas são apresentadas em uma ordem e sequência de tempo claramente

indicadas. O tempo da narrativa costuma ser indefinido, mas o local pode ser

especificado em alguns textos, já que se referem à tradição oral e, dessa forma, a sua

origem histórica pode remeter a uma região específica3. As relações de causalidade

marcam a progressão temática no que se refere à relação existente entre os motivos do

protagonista, a estratégia que desenvolve para resolver o problema colocado a ele e às

consequências/resultados do plano executado.

Nestes contos não há a presença do elemento mágico típico dos contos de fadas e de

encantamento: a astúcia do protagonista o substitui. Tampouco há príncipes, reis e

princesas: sendo assim, quando acontece a resolução do problema por meio do

casamento, este acontece com a filha do patrão, por exemplo.

2 LOPES, Ana Cristina Macário. Contos de Manhas e artimanhas na Literatura Tradicional

Portuguesa. Tese defendida na Universidade de Paris X – Nanterre, em novembro de 1982, sob a orientação do Professor Gerárd Genot.

3 O conto “A Velhinha Inteligente”, por exemplo, apresentado a seguir, refere-se à cidade de Carcassonne, localizada no sul da França (PAMPLONA, Rosana. Novas Histórias Antigas. São Paulo: Brinque-book.).

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Do ponto de vista especificamente textual, a artimanha do protagonista costuma ser

apresentada ao leitor – e comumente também aos seus antagonistas - no momento em

que está sendo desenvolvida na história, e não de maneira antecipada. Quer dizer: em

tais textos, não é usual que haja antecipação do plano do personagem esperto ao leitor;

ao contrário, este toma conhecimento do plano na medida em que está sendo posto em

ação, o que coloca suspense no texto, quase sempre surpreendendo, ao final, tanto

personagens quanto leitores.

DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO

As etapas apresentadas a seguir organizam o trabalho que está sendo proposto.

1ª Etapa: Apresentação do Projeto de Escrita em Questão: Produção de

Autoria de Partes Desconhecidas de Contos de Artimanha

Objetivo:

Conhecer um conto de artimanha e familiarizar-se com algumas das características

desse tipo de conto.

Conhecer o projeto e o contexto da produção dos textos de autoria que produzirão.

Participar de um planejamento coletivo de uma produção de autoria.

Planejamento:

Quando realizar as atividades?

Como organizar os alunos? A atividade é coletiva e os alunos devem

acompanhar a leitura do texto feita pela professora através de uma cópia em papel

ou pelo datashow.

Quais materiais são necessários? Cópias do conto escolhido para leitura e,

sendo possível, o livro Histórias à Brasileira.

Encaminhamentos:

Leitura de um conto de artimanha pela professora

Avise aos alunos que você lerá um conto de artimanha, chamado “Pedro Malasartes e

o Lamaçal Colossal”4, do livro “Histórias à Brasileira”. Antes da leitura, pergunte à

4 Em anexo.

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classe: Vocês já ouviram falar em contos de artimanha? Que tipo de conto pode ser

esse? Será que a palavra artimanha pode ajudar a entender do que se trata?

Discuta as respostas, procurando referenciar-se sobretudo, na palavra artimanha,

discutindo seu significado, comparando com sinônimos, por exemplo.

Após a leitura proponha uma discussão sobre o texto lido, fazendo perguntas como:

“Vocês já conheciam histórias parecidas com essa? Já tinham ouvido falar do Pedro

Malasartes? Por que será que esse conto pode ser chamado de conto de artimanha?

Quais as diferenças entre esse conto e, por exemplo, o conto “Branca de Neve e os

Sete Anões?”

Registre, em um cartaz, as primeiras conclusões a que chegaram sobre os contos de

artimanha. Você poderá organizar um quadro como nomeado “O que é que esse conto

tem?”, apresentado a seguir.

O QUE É QUE ESSE CONTO TEM?5

Branca de Neve e os Sete Anões Pedro Malasartes Tem castelo e floresta.

Tem príncipe, princesa, rei e rainha.

Tem uma bruxa que faz maldades para a Branca.

Tem os anões que cuidam da Branca.

Tem o príncipe que salva a Branca.

A Branca de Neve, a heroína da história, sofreu muito durante a história, mas acabou casando-se com o príncipe. (...)

Acontece em uma fazenda.

Tem patrão muito sovina, que explora o empregado.

Tem um empregado – Pedro Malasartes -esperto, que consegue enganar o patrão explorador.

Não tem bruxa e nem fada.

(...)

5 No quadro são apresentadas possibilidades de respostas dadas pelos alunos. Não foram

esgotadas as possibilidades: o quadro deve ser preenchido com os aspectos indicados pelos alunos. Ao professor cabe ter clareza dos aspectos que diferenciam um conto do outro, de forma a tematizá-los junto aos alunos, criando um espaço de elaboração do conceito do gênero focalizado na atividade.

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Leitura de um segundo conto de artimanha pela professora

Leia o segundo conto para os alunos – “A Velhinha Inteligente”, apresentado nos

anexos.

Converse com os alunos sobre as diferenças e semelhanças entre os contos

comparados na atividade anterior, realizando perguntas como: “Com qual dos contos

que estudamos este que eu acabei de ler se parece mais: com Branca de Neve ou com

Pedro Malasartes? Por que? O que é que eles têm em comum? E de diferente, o que

têm? Vocês diriam que este conto é de artimanha, ou não? Por quê?”

AMPLIANDO INFORMAÇÕES Pedro Malasartes De acordo com o pesquisador da cultura nacional Luís Câmara Cascudo, "Pedro Malasartes [ou Malazartes] é figura tradicional nos contos populares da Península Ibérica, como exemplo de burlão invencível, astucioso, cínico, inesgotável de expedientes e de enganos, sem escrúpulos e sem remorsos." A menção mais antiga feita ao personagem é na cantiga 1132 do Cancioneiro da Vaticana, datado do século XIII e XIV:

"chegou Payo de Maas Artes com seu cerame de chartes… semelha-me busuardo viindo en ceramen pardo… log'ouve manto e tabardo".

Há informações de que até mesmo o grande romancista, dramaturgo e poeta espanhol Miguel de Cervantes Saavedra, escreveu sobre este ícone em sua comédia PEDRO DE URDEMALAS, que compõe o livro Ocho comedias y ocho entremeses nuevos (1615). Outras versões deste personagem surgem em várias regiões da Europa, como Pedro Urdemales em Castela, Till Eulenspiegel na Alemanha e Pedro de Urdes Lamas na Andaluzia. Duas óperas brasileiras tem o personagem por protagonista: Malazarte de Oscar Lorenzo Fernández e Graça Aranha, e Pedro Malazarte, de Mozart Camargo Guarnieri e Mário de Andrade. Na literatura, vários autores usaram o personagem e nos cinemas o ele tomou corpo com As Aventuras de Pedro Malasartes, de 1960, com Mazzaropi no papel principal.”

Fontes: http://www.ebc.com.br; Cancioneiro da Vaticana, Biblioteca Digital do Alentejo, p. 281; http://www.jangadabrasil.com.br.

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Apresentação do projeto e dos contos que serão lidos

Conte aos alunos que eles produzirão finais de contos de artimanha. Explique que,

primeiro, farão uma produção coletiva para, depois, escreverem em duplas e

individualmente. Diga a eles que terão a oportunidade de conhecer muitos contos de

artimanha e estudá-los. Apresente a eles os títulos dos contos que farão parte da

sequência: prepare um cartaz com esses títulos, com as imagens das capas dos livros

de onde foram tirados e, se possível, com algumas ilustrações. Exponha em um lugar

ao qual todos tenham acesso.

Apresentação do contexto de produção do trabalho

Explique aos alunos que o trabalho que realizarão será o seguinte: produção de finais

de contos de artimanha, que serão organizados em um livro para a realização de

sessões de leitura com alunos das séries iniciais.

Ao apresentar o contexto de produção e mencionar o portador, é importante que as

características desse portador sejam definidas também. Isso requer um estudo de

outros portadores, para a constituição de referências. Sendo assim, procure levar

exemplares que mostrem de que maneira um livro pode ser organizado, planejado,

definido em função daquilo que vai conter.

Considerando as condições colocadas e as atividades previstas nesta sequência

didática, o livro terá um conto com final coletivo produzido pela classe; um conto com

finais elaborados por duplas (em uma classe de 30, serão 15 finais, portanto); um conto

IMPORTANTE SABER

Estudar um portador não é um exercício de fazer uma lista das suas características,

isoladamente; ao contrário, trata-se de realizar um estudo no qual analisamos todas as suas

características e as articulamos entre si e com o tema do texto. Um bom projeto editorial não

prescinde dessas articulações.

Assim, as cores selecionadas para compor a obra, o tipo de letra, o tipo de ilustração, o

tamanho e o formato de um livro, a localização das ilustrações na página e em relação ao

texto, tudo isso constitui essa obra, como um todo.

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com finais escritos individualmente (serão, portanto, na mesma classe, 30 finais para

um único conto).

Sendo assim, o livro precisará organizar-se de modo a:

a) apresentar os três contos inteiros, com os finais originais;

b) apresentar os diferentes finais elaborados nas diferentes etapas do trabalho.

Isso remete à necessidade de organizar esse portador de modo a apresentar tudo isso

ao leitor. Há diferentes modos de isso ser realizado. Por exemplo, à maneira da coleção

“Enrola e Desenrola”, que apresenta possibilidades de o leitor seguir lendo o final que

quiser. Nessa perspectiva, o livro a ser produzido poderá organizar-se da seguinte

maneira:

a) apresentar o primeiro conto, com o final coletivo da classe e, depois, o final

original (ou o contrário também);

b) apresentar o segundo conto, sem apresentar o final original e, na mesma página,

indicar: “se você quer ler o final elaborado por Joana e Clara, vá para a página

05; se quiser ler o final escrito por Laura e Ana Maria, vá para a página 06”; e

assim por diante;

c) apresentar o final original depois das versões das duplas;

d) apresentar o terceiro conto, sem apresentar o final original e proceder da mesma

forma que no segundo;

e) apresentar o final original do terceiro conto.

Levante junto à classe algumas possibilidades de títulos para o livro. Nesse caso,

poderia ser “Novos finais para contos antigos: as versões do 5º ano”; “Finais novos para

antigas histórias"; “Não gostou? Então inventa!”, ou similares. Procure colaborar com os

alunos na indicação de títulos, pois precisam ter referências para poder pensar a

respeito e sugerir.

Combine com os alunos a organização interna do livro e defina quem produzirá cada

parte: capa, contracapa, apresentação, índice, ilustrações.

Estude com os alunos tipos de ilustrações de outros livros para que os alunos se

inspirem quando forem produzir as suas.

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Combine se as ilustrações ocuparão página inteira ou não; se poderá sair das margens

ou não; se serão colocadas antes do conto ou no final; entre outros aspectos.

Defina se haverá uma paleta de cores definida, ou se será de coloração livre. Definir

uma paleta faz sentido se as cores articularem-se tematicamente com o texto. O livro

“Nuno descobre o Brasil”, de José Roberto Torero, por exemplo, é todo ele elaborado

em um papel de tonalidade amarela, com ilustrações e texto verde e preto, apenas. Ao

elaborarmos um livro de contos de detetive, é possível eleger cores relacionadas ao

tema, como vermelho, preto e branco. Se forem histórias de mistério, e com vampiros,

é possível escolher preto e violeta como cores predominantes. Se for um livro sobre a

relação entre água e vida na terra, por exemplo, é possível que diferentes tonalidades

de azul sejam o que predomina. As possibilidades são muitas; o importante é que haja

uma intencionalidade na escolha, e que ela se relacione com essas intenções.

Defina o formato do livro: retangular, quadrado, grande, médio, pequeno, comprido; se

a capa será dura ou não; se será grampeado, ou encadernado com espirais; ou

alinhavado, ou outro recurso qualquer que faça sentido para a proposta temática.

Defina recursos que serão utilizados. Por exemplo: os finais podem ser produzidos em

papéis avulsos e colocados dentro de envelopes colados, uma a um nas páginas.

Nestas, a ilustração pode abranger a página toda e os envelopes ficarem “camuflados”

na ilustração, compondo-a.

É, as possibilidades são mesmo muitas, é só a gente começar a imaginar...!

Depois dessa conversa e desse estudo, organize um quadro contendo as decisões

tomadas conjuntamente, ainda que essas possam ser provisórias.

Em seguida, organize outro quadro com um cronograma de trabalho, para que a classe

possa organizar-se melhor no tempo.

Deixe ambos os quadros – estes e os outros já mencionados – disponíveis para leitura

da classe e para controle das atividades realizadas e em andamento.

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2ª Etapa: Leitura Compartilhada e Análise do Conto de Artimanha “A

Velhinha Inteligente”

Objetivo

Ampliar – e aprofundar - conhecimentos sobre a linguagem e os recursos discursivos

presentes nos textos apresentados para leitura.

Planejamento

Quando realizar as atividades? Após a leitura pelo professor de um dos contos

sugeridos.

Como organizar os alunos? A atividade é coletiva e os alunos devem ter o texto a

ser lido em mãos.

Quais materiais são necessários? Cópias do conto escolhido para leitura (conto

sugerido: “A Velhinha Inteligente”, em anexo).

Encaminhamentos

Estudo do conto e preparação da atividade

Antes da leitura do conto com os alunos, analise o texto:

a) selecionando trechos que se relacionem com as características fundamentais do

gênero. No caso de um conto de artimanha, identifique trechos nos quais se

esclareça: quem é o protagonista – personagem esperto que ludibria outro; quem

é o ludibriado; quais os motivos que levaram o protagonista a enganar o

antagonista; qual a estratégia/plano que o protagonista executa para conseguir

o que pretendia.

b) identificando recursos discursivos e linguísticos relevantes para que seja

possível compreender da melhor maneira o texto lido. Trata-se, aqui, de

selecionar recursos do texto, em si, que permitem compreender os aspectos

apontados no item anterior.

Elabore questões que sejam adequadas para a identificação dos aspectos indicados no

primeiro encaminhamento, sublinhando, no seu texto de apoio, os trechos nos quais

haja pistas a respeito dos aspectos focalizados nas questões.

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Estudo do conto junto à classe.

Retome o conto lido na etapa anterior e faça uma nova leitura com a classe, com o

objetivo de que todos recuperem a história.

Como os alunos já conhecem o conto, pode não haver qualquer problema de

compreensão mais gera. Comece, então, o estudo do texto a partir de questões

orientadoras. A intenção, nesse momento, é aprofundar a compreensão dos alunos e,

ao mesmo tempo, estudar os recursos discursivos e linguísticos nele apresentados.

Para o estudo do conto “A Velhinha Inteligente”, sugerimos as seguintes questões:

a) Essa é uma história criada por um autor ou que vem sendo contada de boca

em boca, ao longo do tempo? Como é possível saber isso? Onde encontramos

pistas no texto a esse respeito?

Comentários:

Na discussão com os alunos, oriente para que procurem no texto o trecho que

contém pistas sobre a resposta. Nesse caso, o primeiro parágrafo já indica que a

história é antiga, conhecida de todos, e que vem se modificando ao longo do tempo.

É importante remeter o aluno à fonte – caso eles não recorram a ela

espontaneamente – para problematizar dois aspectos: o primeiro refere-se à

presença da autoria que, nesse caso, relaciona-se com a reescrita, a elaboração

PARA NÃO ESQUECER

Quando se fala em estudar um texto por meio de questões, é preciso ter clareza de

que as questões são apenas orientadoras da discussão. Elas não devem cumprir o

clássico ritual pergunta-resposta, mas devem desencadear uma investigação de pistas

apresentadas no texto que permitem compreender o aspecto focalizado.

É preciso não perder de vista que o pressuposto do trabalho é que aprende-se por meio

da reflexão e ação sobre o objeto, a partir da mediação do outro, nesse caso, o

professor, mas também outros alunos. A metodologia de trabalho, portanto, é reflexiva.

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de uma nova versão da história pelo escritor indicado; o segundo aspecto refere-se

ao título da obra – Novas Histórias Antigas – que ratifica a ideia de que são histórias

que já existem há muito tempo e que estão sendo recontadas pela autora.

b) Em qual trecho inicial o leitor já tem uma pista de que pode se tratar de um

conto de artimanha?

Comentários:

Pretende-se que os alunos recuperem uma das características fundamentais do

conto de artimanha, que é a presença de um protagonista esperto, engenhoso.

Logo no primeiro parágrafo há uma pista a respeito, quando se diz que “a cidade

foi salva graças à esperteza de uma mulher”.

c) É possível saber no início do conto qual era o plano da madame Carcas para

salvar a cidade dos guerreiros inimigos?

Comentários:

Esta pergunta remete à uma estratégia discursiva e textual dos contos de artimanha

que é a de não apresentar previamente o “plano” do protagonista para o leitor e

demais personagens da história. Nestes contos, o estratagema do protagonista vai

sendo conhecido à medida em que vai sendo desenvolvido. Isto provoca um

suspense durante a narrativa e um final inusitado, não esperado, que surpreende a

todos, resultado do ardil, da esperteza e da inteligência do protagonista.

Nesse sentido, espera-se que os alunos percebam que – no texto - o plano não é

anunciado e depois executado; ao contrário, ele só vai sendo conhecido quando

posto em prática, aos poucos. A madame Carcas não conta à população da cidade

o que vai fazer. Apenas vai dando ordens a todos, para providenciarem isso e

aquilo. Só ao final é que se pode ter uma ideia de tudo o que ela engendrou para

conseguir vencer o inimigo.

Para responder a esta questão, os alunos precisarão ir identificando o modo pelo

qual ficam sabendo – ao ler o texto – do plano da senhora Carcas. Isso remete à

localização de informações em diferentes trechos do texto, e à articulação de todos

eles para a totalização do plano, em si. Os diferentes trechos seriam relativos aos

pedidos que a madame vai fazendo à população, os quais são fundamentados no

conhecimento que ela tem dos moradores da cidade – já que ela é uma velhinha,

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ou seja, antiga moradora e, dessa forma, conhecedora da população – e, além

disso, no seu intento: enganar os inimigos, conhecendo também seu ponto fraco.

Para responder a questão é preciso, antes de qualquer coisa, identificar o plano, o

que remete à articulação das informações dos trechos e elaboração da ideia

totalizadora do plano. Dito em outras palavras, só se compreende qual é o plano no

final do texto, e não antes, depois de todas as etapas executadas.

Sintetizando: o plano da Madame Carcas era induzir o inimigo a ir embora,

fazendo-o acreditar que a cidade tinha condições de resistir muito tempo, mais do

que eles, pois tinham alimentação suficiente para continuar resistindo ao cerco.

Como ela faz isso? Mostrando aos soldados que tinham muitas provisões, o que é

conseguido com a “fuga” da vaca. Na verdade, Madame Carcas antecipa a reação

dos soldados, que estavam morrendo de fome: se a cidade deixasse “escapar” a

vaca, bem alimentada, certamente os soldados a matariam para comer. Ao fazerem

isso, veriam como estava bem alimentada. Concluiriam que a população tinha

muitas provisões e, dessa forma, poderiam resistir ao cerco por muito mais tempo

que eles.

d) Por que todos acham um absurdo os pedidos que a Madame Carcas vai

fazendo durante a história?

Comentários:

Para responder a essa questão os alunos precisarão analisar a reação dos

moradores dentro da situação em que se encontravam: sitiados e com fome, por

causa da escassez de alimentos. Os pedidos da Madame Carcas estavam levando

a população a abrir mão dos últimos alimentos que tinham à disposição, o que –

aparentemente - a colocava em desvantagem em relação ao inimigo.

Nessa questão é importante que sejam analisados cada pedido feito e de que modo

se relacionam com o plano urdido pela protagonista. Além disso, é preciso levar em

conta quem era ela: uma antiga moradora que, dessa forma, conhecia muito bem

todo mundo. Esse fato, por exemplo, possibilitou que ela inferisse que o avarento

da cidade tivesse escondido uma vaca na sua casa.

É importante articular a discussão dessa questão com o estudo feito na questão

anterior.

e) Por que o plano de Madame Carcas dá certo?

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Comentários:

Articule essa discussão com a das duas questões anteriores. Focalize que o plano

dá certo por vários motivos:

a) a velha senhora conhece as condições em que o inimigo está (com fome,

também, e sem provisões);

b) ela sabe que a saída é fazer com que os soldados desistam do cerco, pois a

cidade não resistiria por muito tempo;

c) Madame Carcas antecipa uma razão que poderia levar os soldados à

desistência: imaginar que a cidade está mais forte;

d) a velha senhora conhece muito bem a população, e sabe, inclusive que há um

avarento que, provavelmente, estaria escondendo uma vaca na sua casa;

e) Madame Carcas consegue antecipar a reação dos soldados e a conclusão a

que chegaria o chefe deles.

f) Algumas palavras e expressões usadas no texto indicam que ela tinha muita

certeza que seu plano daria certo. Quais são elas?

Comentários:

Nesta questão pretende-se que os alunos estejam atentos para os recursos

linguísticos empregados no texto, as palavras selecionadas para indicar a certeza

da senhora. Isso é fundamental no texto porque ratifica uma característica da

protagonista: ser inteligente e saber muito bem o que estava fazendo.

g) De que forma o plano de Madame Carcas é revelado no texto?

Comentários:

A intenção, com essa pergunta, é deslizar da discussão do conteúdo semântico,

em si, para a estratégia textual. Ou seja, é focalizar que o plano não foi apresentado

para o leitor primeiro para, depois, fosse mostrado de que maneira foi desenvolvido

e executado na cidade, junto à população.

Nesse momento, é possível que você apresente para os alunos uma alternativa de

redação, caso a estratégia textual não seja observável para eles.

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A alternativa poderia ser a seguinte: pegue o conto lido e, depois do 4º parágrafo,

que termina com “não faria mal escutá-la”, introduzam o seguinte trecho:

“A velha senhora, então, revelou à população o que pretendia fazer:

Precisamos enganar os soldados fazendo com que eles pensem que podemos

resistir mais do que eles. Vamos fazer com que pensem que temos provisões de

sobra e que eles não aguentarão tanto tempo quanto nós. Meu plano, então, é o

seguinte: pegamos uma vaca, damos de comer a ela com os alimentos que nos

restam e deixamos que ela “escape” da cidade. Eles, famintos como estão,

certamente vão tentar comer a vaca... Então, primeiro, tragam-me uma vaca – pediu

ela.”

Leia o texto com essa nova redação e, se possível, permitam que os alunos vejam

o texto enquanto é lido (para isso, prepare-o antes com o recurso que você tiver

disponível na escola).

Leia um ou dois parágrafos seguintes e perguntem a eles que diferença faz escrever

o texto dessa forma ou como no original. A ideia é que possam perceber que:

a) contar antes tira o suspense da história e, portanto, a surpresa final;

b) contar o plano antes não é tão interessante para o leitor quando se ele ficar

sabendo só quando ele for executado;

c) não seria possível conseguir tanta indignação dos moradores se eles já

soubessem do plano, o que também contribui para a quebra do suspense e não

prenderia tanto a atenção do leitor.

PARA NÃO ESQUECER

Estas perguntas são para você professor. Não é para fazê-las por escrito aos alunos

e estes responderem.

Dê espaço para que os alunos exponham suas observações e reconheçam quais

recursos de linguagem foram utilizados pelo autor para escrever o texto.

É importante evidenciar com os alunos as escolhas realizadas pelo autor para

explicitar o plano de esperteza da personagem do conto, a forma de contar, o

estilo do autor e outros recursos discursivos e textuais.

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Comparação entre contos: continuando a investigação

Depois desse estudo, retome o quadro “O que é que esse conto tem?” e acrescente a

ele mais uma coluna. Será uma coluna destinada à caracterização do conto “A Velhinha

Inteligente” e à realização da comparação entre as características de todos.

Sendo assim, solicite aos alunos que digam tudo o que o conto tem para que possam

completar a coluna.

O QUE É QUE ESSE CONTO TEM? Branca de Neve Pedro Malasartes A Velhinha Inteligente

Tem castelo e floresta.

Tem príncipe, princesa, rei e rainha.

Tem uma bruxa que faz maldades para a Branca.

Tem os anões que cuidam da Branca.

Tem um caçador que é mandado pela bruxa para matar a Branca, mas não mata.

Tem um príncipe que salva a Branca.

A Branca de Neve, a heroína da história, sofreu muito durante a história, mas acabou casando-se com o príncipe.

(...)

Acontece em uma fazenda.

Tem patrão muito sovina e que explora o empregado.

Tem um empregado – Pedro Malasartes - esperto, que resolve se vingar das maldades que o patrão faz a ele.

Malasartes elabora um plano para enganar o patrão.

Malasartes, com esperteza, consegue sair ganhando.

Não tem bruxa e nem fada.

O leitor só fica sabendo do plano do protagonista quando é executado.

(...)

Acontece em uma cidade da França.

Tem uma cidade sitiada por soldados, que querem invadi-la.

Tem um governador que quer se render.

Tem uma velhinha inteligente que sabe como vencer os soldados.

A velhinha é inteligente e esperta.

As pessoas, no começo, parece não acreditarem nela.

A velhinha consegue enganar os soldados e libertar a cidade.

Não tem bruxa, nem fada, nem magia.

O leitor só fica sabendo do plano do protagonista quando é executado.

(...)

Depois de completada a coluna, perguntem aos alunos com qual dos dois contos

anteriores o da velhinha se parece mais: com o da Branca de Neve ou com o do Pedro

Malasartes. Pergunte porque e espere as justificativas. Nesse processo, use o quadro

e as características levantadas pelos alunos.

Pergunte, a seguir aos alunos: então, qual dos dois contos são contos de artimanha?

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Leitura de um terceiro conto: “O Coelho e o Sapo”

Leia para a classe o conto “O Coelho e o Sapo”.

Pergunte à classe se esse seria um conto de esperteza e por que. Espere que

justifiquem. Ofereça o quadro “O que é que esse conto tem?” como referência.

Depois disso, peça aos alunos para que, em trios, completem o enunciado a seguir, com

base no quadro “O que é que esse conto tem?” e com base na discussão que acabou

de ser realizada:

Em seguida, peça para que cada trio apresente suas conclusões para a classe e vá

registrando na lousa o que os alunos vão indicando. Registre apenas as características

que não se repetirem.

Comentário:

Espera-se que os alunos completem o quadro com as seguintes informações:

Todo conto de artimanha tem:

a) um personagem esperto, que é o protagonista;

b) um personagem que é o antagonista, o vilão, e que, de alguma forma, é maldoso

com o protagonista;

Todo conto de artimanha tem ..............................................................

...............................................................................................................

...............................................................................................................

...............................................................................................................

...........................................................................................................

Um conto de artimanha nunca tem .....................................................

..............................................................................................................

..............................................................................................................

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c) um personagem esperto que “se vinga” do vilão, por meio de um plano engenhoso,

bem bolado;

d) um jeito de fazer com que o leitor conheça o plano à medida em que vai sendo

realizado, e não antes.

Um conto de artimanha nunca tem:

a) fadas, bruxas e magia;

b) princesas, príncipes, reis e rainhas.

Depois, da discussão, peça que cada trio complete o seu quadro, se for necessário.

Peça, ainda, que cada um dos alunos do trio registre em seu caderno as conclusões da

classe.

3ª Etapa: Planejar Coletivamente Diferentes Finais para o Conto de

Artimanha “O cego que não era bobo”.

Objetivos

Conhecer um novo conto de artimanha “O cego que não era bobo”.

IMPORTANTE SABER

Estes últimos exercícios foram propostos para que os alunos possam organizar as suas ideias sobre as características do gênero conto de artimanha. Partimos do princípio de que conceitos são constituídos por meio de processos de comparação por estabelecimento de semelhanças e diferenças. Nesse sentido, um movimento indutivo é sempre bem-vindo, pois orienta o aluno para o que é focal no estudo e, além disso, para a generalização das características identificadas em cada momento que nesse caso, referem-se ao estudo de cada um dos contos.

Para finalizar, é preciso considerar, ainda, que o registro organiza o estudo realizado e permite a sua retomada em momentos posteriores.

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Participar de um planejamento coletivo da produção de autoria de um final de um

conto.

Levantar diferentes sugestões para finalizar um conto de artimanha.

Planejamento

Quando realizar as atividades? Após a leitura e discussão da parte inicial do conto de

artimanha “O cego que não era bobo”.

Como organizar os alunos? A atividade é coletiva e as diferentes propostas para

finalizar o conto devem estar acessível à todos os alunos;

Quais materiais são necessários? Lousa e giz.

Encaminhamentos

Leia para os alunos o conto “O cego que não era bobo” (em anexo) até o terceiro

parágrafo (“...para enganá-lo”) e proponha uma conversa com os alunos a partir de

algumas questões que resgatem os fatos ocorridos até esse momento.

Recupere junto aos alunos: vocês acham que esse conto é um conto de esperteza? Por

que?

Comentário:

Nesse momento, recupere o registro feito anteriormente sobre o que tem e o que não

tem um conto de artimanha e confira com os alunos, item a item, considerando que o

conto está inacabado.

Recuperar essas características vai contribuir para que o planejamento do conteúdo

temático seja mais direcionado, focalizado e organizado.

Proponha aos alunos: “Vamos levantar algumas sugestões para terminarmos esse

conto. Antes disso, vamos recuperar algumas ideias. Quem é o protagonista esperto?

Quem é o vilão? Qual a intenção do protagonista? Que plano seria possível para que o

protagonista conseguisse o que quer?”.

Registre na lousa as respostas, pois elas serão orientadoras do planejamento do

conteúdo do final do texto.

Depois disso, proponha aos alunos que deem suas sugestões de final.

Registre-as na lousa, aproveitando para discutir se a sugestão dada é interessante ou

não; se é engenhosa como deve ser em um conto de artimanha; se dá continuidade

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adequada ao texto ou não; se possibilita que o cego consiga seu intento; se garante que

o antagonista seja devidamente enganado; se há coerência entre o final dado e o

contexto apresentado no início do texto.

Registre na lousa todas as sugestões pensadas para o final do conto (ou elabore um

cartaz, faça um PPT, quer dizer: utilize o recurso que tiver disponível na escola). Esse

registro deve ser recuperado quando for acontecer a planificação do texto e a

textualização.

Comentário:

Algumas sugestões de perguntas orientadoras do processo de criação de conteúdo do

texto:

a) Você concorda com o cego que o ladrão só poderia ser o vizinho? Por que? Quais

são as pistas do texto que podem sustentar essa ideia?

b) Qual era a intenção do cego? Prender/pegar o ladrão, recuperar o seu dinheiro ou

ambas? (Considerar que há uma diferença entre as duas intenções e que essa

diferença pode levar a planos diferentes.)

c) Diante disso, qual poderia ser o plano do cego?

Cuide para que as articulações entre todas as nuances da proposta de plano sejam

coerentes com o trecho anterior e não desconsiderem que:

a) o cego deve conseguir o seu intento, explicitado no texto;

b) o plano deve mesmo prever uma artimanha esperta e inteligente da parte do cego,

e não uma situação usual, que qualquer um planejaria (como, por exemplo, ligar

para a polícia e dar queixa).

Não esqueça de que primeiro é preciso levantar os aspectos que devem ser

considerados para elaboração do final. Só depois disso é que se deve partir para a

criação de diferentes finais.

Registre na lousa os diferentes finais. Como se trata de uma produção coletiva, então é

preciso selecionar uma das possibilidades levantadas pela classe, a qual será

textualizada posteriormente.

O registro pode ser realizado de várias maneiras: de modo esquemático ou não. O

importante é se ter clareza de que não se trata, nesse momento, de textualizar, quer

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dizer, de escrever como se já se estivesse elaborando o texto mesmo. Trata-se apenas

de uma atividade na qual o registro vai funcionar como recurso mnemônico para ser

retomado nas etapas posteriores: a de planificação e a de textualização.

Algumas possibilidades de final:

Possibilidade 1:

Vizinho é desonesto, mas sem muita inteligência.

Jeito de pegá-lo em uma armadilha: pensar que algo de ruim vai acontecer com ele por

causa do dinheiro roubado e que a única maneira de resolver é devolvendo o dinheiro.

Ele precisa acreditar que não será pego, senão, não devolve.

Plano: Cego conta ao vizinho o que, para proteger o seu dinheiro de ladrões, deu um

banho nele com uma poção de uma velha benzedeira e o enterrou no quintal. Diz que

se uma pessoa tocar o dinheiro, em 3 dias começa a ficar vermelho no rosto; no 7º dia

aparece uma coceira tão grande, que vai arrancar a pele de tanto coçar. No 10º dia, diz

que a pessoa enlouquece com a coceira e precisa ir para o manicômio. Diz que o único

jeito de quebrar o efeito da poção é recolocando o dinheiro onde estava, e cobrindo-o

com as folhas do carvalho por três dias, que as folhas, junto com a terra tratada com

outra poção, funcionam como uma espécie de antídoto, até para o corpo.

Possibilidade 2:

Vizinho é desonesto, mas sem muita inteligência.

Jeito de pegá-lo em uma armadilha: pensar que ele ficará sem o dinheiro por algum

motivo, e que recolocá-lo debaixo do carvalho é a única maneira de recuperá-lo

Plano do Cego: O começo é o mesmo. Mas a poção tem efeito diferente: o dinheiro é

que se desmancha em 7 dias. Para salvar o dinheiro só haveria uma maneira: enterrá-

lo novamente, no mesmo lugar, cobrindo-o com as folhas do carvalho por três dias para

que o efeito da poção passe.

Possibilidade 3:

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Vizinho é desonesto, mas sem muita inteligência, e muito ambicioso.

Jeito de pegá-lo em uma armadilha: pensar que pode lucrar mais.

Plano do Cego: diz ao vizinho que teve uma infelicidade, que havia guardado o dinheiro

enterrado no quintal, mas que fazia tanto tempo que não valia mais nada. Diz que

conseguiu encontrar um negociante que vai comprar as notas antigas e ainda vai pagar

mais por elas. Diz que vai levar as notas no dia seguinte pela manhã. Mas que não vai

deixar de enterrar o dinheiro no quintal, pois acha um lugar muito seguro.

Defina com a classe qual será o final do texto coletivo, a ser elaborado na próxima etapa.

4ª Etapa: Produção Coletiva de um das Possibilidades de Finais Criados nas

Atividades da Etapa Anterior

Objetivos

Planificar o texto a ser escrito, considerando os estudos realizados nas etapas

anteriores e a definição de possibilidade de final.

Redigir o final do texto, levando em conta todas as decisões tomadas nas etapas

anteriores do trabalho: a definição do contexto de produção – incluindo-se aqui a

caracterização do gênero; planejamento do conteúdo temático.

Vivenciar, procedimentos de escrita por meio da modelização do professor, para

quem a classe ditará o texto:

o retomar o contexto de produção definido e a planificação realizada antes e

durante a escrita do texto, orientando-o;

o antecipar o que será escrito, a partir da planificação, e organizar o texto em voz

alta;

o reler o que foi escrito para definir o que será escrito e qual a conexão a ser feita

com o trecho seguinte.

Planejamento

Quando realizar as atividades? Após o planejamento de diferentes finais para o conto

“O cego que não era bobo”.

Como organizar os alunos? A atividade é coletiva e os diferentes planejamentos do

texto devem estar acessíveis para todo o grupo.

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Quais materiais são necessários? Quadro com as características do conto de

artimanha; registro do contexto de produção definido; registro da possibilidade de final

escolhida pela classe; registro da planificação do texto.

Encaminhamentos

Planificação do texto que será elaborado.

Retome, com a classe, o conteúdo temático definido na etapa anterior.

Explique aos alunos que, nesse momento, irão definir um esquema geral do texto que

escreverão, indicando cada uma de suas partes. Esclareça que não se trata de redigir

o texto, propriamente, mas apenas de decidir parte a parte o que será escrito e em que

ordem. Se for preciso, inicie você a planificação, sugerindo sobre o que será primeira

parte do final a ser escrita, dando continuidade ao trecho que se conhece.

IMPORTANTE SABER

No processo de produção de textos 5 operações estão implicadas:

a) definir o contexto de produção do texto a ser produzido (para quem o texto

será escrito; qual a finalidade desse texto; onde circulará; em que portador será

publicado; em que gênero será organizado);

b) planejar o conteúdo temático (no caso de textos organizados em gêneros da

esfera ficcional, como os contos de artimanha, trata-se mesmo de inventar, de

criar o conteúdo do texto);

c) planificar o texto, ou seja, esquematizar o texto que será escrito considerando

as duas operações anteriores;

d) textualizar, ou seja, escrever o texto, propriamente, redigindo-o de acordo com

as decisões tomadas anteriormente;

e) revisar o texto, quer dizer, depois de uma primeira versão produzida, realizar os

ajustes necessários para deixar o texto mais adequado ao contexto definido.

Nesta etapa, a operação diretamente implicada foi o planejamento do conteúdo

temático.

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Comentário:

Nesse momento, é preciso pensar na textualização, ainda que esta não vá ser realizada.

A tarefa é planificar – ou planejar – o texto a ser escrito considerando o final decidido e

preparando a textualização.

Tomemos como exemplo a Possibilidade 3 de final. Nela está explicitado o conteúdo

temático a ser redigido. Para iniciar a planificação – ou o planejamento do texto – releia

o finalzinho do trecho conhecido do texto, para imaginar como a continuidade poderá

ser. Oriente os alunos por meio de perguntas como: “Bom, o Cego elaborou um plano

para recuperar o dinheiro, certo? Foi a última coisa dita no texto. O que pode vir em

seguida? O que precisamos dizer? Vocês acham que ele planejaria algo imediatamente,

assim, bem rápido, ou precisaria de um tempo pra repensar, maquinar, arquitetar revisar

o plano para que fosse alguma coisa bem tramada, que não fizesse o vizinho desconfiar

de nada? Quanto tempo? Como é que ele vai encontrar o vizinho para contar sobre o

dinheiro? Onde? Como o cego vai envolver o vizinho pra ele não desconfiar? O que

precisa dizer para garantir que o vizinho recoloque o dinheiro no lugar? Como vai estar

o cego nessa conversa: apreensivo, confortável, cuidadoso? E o vizinho, como vai se

sentir: desconfiado, achando-se muito esperto, feliz, achando que tirou a sorte grande?”

O quadro a seguir pode esclarecer como poderia ficar a planificação do texto.

DO PLANEJAMENTO DO CONTEÚDO À PLANIFICAÇÃO DO TEXTO

Planejamento do Conteúdo Temático

Planificação do Texto

Vizinho é desonesto, mas sem muita inteligência, e muito ambicioso.

Jeito de pegá-lo em uma armadilha: fazer ele pensar que pode lucrar mais.

Plano do Cego: diz ao vizinho que teve uma infelicidade, que havia guardado o dinheiro enterrado no quintal, mas que fazia tanto tempo que não valia mais nada. Diz que conseguiu encontrar um negociante que vai comprar as notas antigas e ainda vai pagar mais por elas. Diz que vai levar as notas no dia seguinte pela manhã. Mas que não vai deixar de enterrar o dinheiro no quintal, pois acha um lugar muito seguro.

Dizer:

que o cego foi para a cama pensativo, tentando encontrar uma solução;

que no dia seguinte, levantou com ela;

que ficou na varanda esperando ouvir a porta do vizinho de abrir;

cego finge que está voltando pra casa e que está feliz;

cego conta sobre o negociante;

cego avisa que vai levar o dinheiro e dá a dica do dia;

que o cego finge que confia no vizinho;

que o vizinho está muito curioso e nem desconfiou de nada;

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que o vizinho pensa que vai levar vantagem;

que o vizinho devolve o dinheiro;

que o cego recupera o dinheiro.

Terminar falando que o vizinho está até hoje esperando o dinheiro aparecer.

Textualização da história

Retome a planificação realizada anteriormente e explique para os alunos que, nesse

momento, irão ditar o texto pra que você o escreva na lousa (ou no computador, desde

que haja um datashow disponível; ou utilizando outro recurso qualquer que a escola

possua).

Retome também os registros dos estudos realizados nas etapas anteriores: contexto de

produção, características do gênero, planejamento do conteúdo temático e planificação.

Deixe-os visíveis para que os alunos possam consultar, se necessário, especialmente

a planificação, que será o guia orientador do texto.

Indique a primeira parte a ser escrita – identificando na planificação –, releia o texto que

será continuado e pergunte: “Como podemos escrever isso no texto, agora?”. Caso os

alunos tenham dificuldade, dê uma sugestão.

Antes de iniciar a textualização, recupere com os alunos quem está narrando a história

e em que tempo está acontecendo a narrativa. Explique que a continuação precisa

respeitar a maneira como o texto começou.

Durante a textualização, vá retomando o trecho anterior para redigir o seguinte; releia o

que acabou de ser escrito para modelizar procedimento de escrita e de revisão

processual (analisar se está adequada a redação - considerando-se o contexto de

produção, conteúdo criado e a planificação – e se precisa de ajustes).

Se for o caso, selecione trechos dos contos lidos até o momento – ou de outros contos

de artimanha - que possam referenciar o aluno quanto a escolhas lexicais e recursos

textuais mais próprios para o texto que está sendo elaborado como, por exemplo,

adjetivos adequados para qualificar a ação e as emoções do Cego e seu vizinho.

Você pode, ainda, realizar inventários de possibilidades de dizer, antes de solicitar que

a classe decida o que seria mais adequado para o texto que está sendo elaborado (listas

de adjetivos, de verbos possíveis, de articuladores textuais, por exemplo).

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Comentário:

Consulte o quadro apresentado a seguir para ver uma possibilidade de textualização

para o conteúdo definido e a planificação realizada.

DO PLANEJAMENTO DO CONTEÚDO À PLANIFICAÇÃO DO TEXTO E, FINALMENTE, À TEXTUALIZAÇÃO

Planejamento do Conteúdo Temático

Planificação do Texto

Vizinho é desonesto, mas sem muita inteligência, e muito ambicioso.

Jeito de pegá-lo em uma armadilha: fazer ele pensar que pode lucrar mais.

Plano do Cego: diz ao vizinho que teve uma infelicidade, que havia guardado o dinheiro enterrado no quintal, mas que fazia tanto tempo que não valia mais nada. Diz que conseguiu encontrar um negociante que vai comprar as notas antigas e ainda vai pagar mais por elas. Diz que vai levar as notas no dia seguinte pela manhã. Mas que não vai deixar de enterrar o dinheiro no quintal, pois acha um lugar muito seguro.

Dizer:

que o cego foi para a cama pensativo, tentando encontrar uma solução;

que no dia seguinte, levantou com ela;

que ficou na varanda esperando ouvir a porta do vizinho de abrir;

cego finge que está voltando pra casa e que está feliz;

cego conta sobre o negociante;

cego avisa que vai levar o dinheiro e dá a dica do dia;

que o cego finge que confia no vizinho;

que o vizinho está muito curioso e nem desconfiou de nada;

que o vizinho pensa que vai levar vantagem;

que o vizinho devolve o dinheiro;

que o cego recupera o dinheiro.

Terminar falando que o vizinho está até hoje esperando o dinheiro aparecer.

Textualização

À noite, deitado em sua cama, ficou revisando o plano para que não houvesse falhas. Ficou pensando que não poderia deixar que o vizinho desconfiasse de nada. Precisaria encontrar uma maneira de fazer com que ele acreditasse que era da sua confiança.

No dia seguinte levantou-se bem cedo, foi para a varanda e ficou esperando algum barulho que indicasse que o vizinho estava acordado. Assim que ouviu, abriu o portão e ficou na calçada, esperando-o sair.

Bom dia, vizinho! – disse o cego fingindo que estava chegando em casa naquele momento – Bom dia!

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Bom dia! – respondeu o vizinho, ao avistar o cego - Nossa, quanta animação!

Você nem sabe o que me aconteceu, caro amigo, você nem sabe! ... Mas venha cá que vou te contar. Escute só! Sabe, eu sempre tive a mania de guardar meu dinheiro enterrado debaixo do carvalho que tenho no quintal, sabe como é? Sempre tive muito medo de ser roubado. Mas acontece, meu amigo, que eu deixei meu dinheiro muito tempo enterrado. Imagine o meu desespero ao saber que não valia mais nada, de tão velho... Mas hoje encontrei um negociante que me tranquilizou: meu dinheiro, exatamente por ser muito velho, tem, agora, outro valor. Ele me disse para levá-lo a sua loja que ele o trocará por moeda nova e até vai me pagar a mais! Amanhã bem cedo vou levar minhas economias para ele. Agora, sabe de uma coisa? Quando eu enterrar meu dinheiro de novo, vou marcar no calendário lá de casa... O que você acha?

Acho que é uma ideia muito boa! – disse o vizinho bem depressa, pensando em encorajar o cego a recolocar o dinheiro no quintal – Muito boa mesmo!

Dito isto, o cego entrou em sua casa e ficou aguardando.

O vizinho esperou anoitecer e devolveu o dinheiro ao pé do carvalho, ansioso por voltar e pegar a nova quantia que seria enterrada depois da negociação.

O cego, no dia seguinte bem cedinho, foi até o quintal e recuperou o seu dinheiro.

O vizinho? Está até hoje esperando que o dinheiro volte para o buraco...

Depois de finalizado, coloque o texto em um espaço coletivo, como um mural externo,

por exemplo. Caso outras professoras estejam desenvolvendo o mesmo trabalho,

convide seus alunos a fazerem a leitura das produções de outras salas, comparando-

as àquelas produzidas por sua turma.

IMPORTANTE SABER

Quando se escreve coletivamente um texto cujo conteúdo temático já foi definido e

planejado anteriormente, a atividade de textualizar fica centrada na decisão sobre o ajuste

da linguagem ao leitor, sobre a adequação das escolhas das palavras para se dizer o que

se pretende, sobre o modo de organizar uma frase e/ou um período, sobre a pontuação

e os efeitos de sentido que o uso de um ou outro sinal pode provocar, sobre a coerência

entre o que se disse antes e o que se acaba de escrever, sobre a utilização de expressões

adequadas para articular um trecho com outro. Ou seja, o trabalho a ser realizado junto

da classe concentra-se nas questões textuais e discursivas, tornando-se muito produtivo

nesse aspecto. Nessa perspectiva, o foco acaba, também, na revisão processual.

Por isso a revisão final não foi solicitada neste momento, podendo ser realizada em

momentos posteriores, quando houver maior distanciamento dos leitores em relação ao

texto. Na ocasião, oriente-se pelas instruções da 7ª Etapa, considerando que terá apenas

um texto para analisar.

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5ª Etapa: Leitura Compartilhada para Estudo de Texto Focalizando seus

Recursos Discursivos e Linguísticos.

Objetivos

Compreender um conto de artimanha lido a partir dos elementos constitutivos da

sua organização interna (ardis e truques para enganar o oponente; identificação do

protagonista e do antagonista; identificação do plano do protagonista; identificação

dos motivos do protagonista para ludibriar o vilão).

Identificar, a partir da mediação do professor, recursos linguístico-discursivos

empregados em dois contos de artimanha e os efeitos de sentido que provocam.

Planejamento

Quando realizar as atividades? Após a leitura pelo professor dos contos sugeridos.

Como organizar os alunos? A atividade é coletiva e os alunos devem ter o texto a ser

lido em mãos.

Quais materiais são necessários? Cópias das duas versões do conto “Sapo com

medo d’água” para todos os alunos.

Encaminhamentos

Leitura das duas versões do conto “Sapo com medo d’água”.

Nessa etapa, sugerimos que sejam lidas as versões do conto “Sapo com medo d'água”,

de Ricardo Azevedo e Câmara Cascudo6. Leia os textos em dias distintos e converse

com as crianças sobre as semelhanças e diferenças entre as duas histórias, focalizando

não apens aspectos semânticos, mas discursivos e textuais.

Faça uma primeira leitura de um dos contos e converse com o grupo fazendo perguntas

que ajudem a verificar se as crianças compreenderam o texto. Estas perguntas devem

remeter-se às características fundamentais de um conto de artimanha, ou sejam, devem

referir-se a: a) quem é o protagonista –personagem esperto, que vai enganar o vilão -

nessa história?; b) como você sabe disso?; c) quem é o antagonista, o vilão?; d) como

você sabe disso?; e) qual o plano do protagonista?; f) ele consegue enganar o vilão?;

g) por que você acha que o protagonista quis enganar o vilão?; h) como você sabe

disso?

6 Ambas disponibilizadas em anexo.

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Em seguida, releia o conto analisando, junto com os alunos, os recursos discursivos e

textuais empregados no textos e os efeitos de sentido que provocam. Considerem os

comentários e as orientações apresentadas a seguir.

Comentário:

Na primeira versão, os seguintes aspectos podem ser discutidos com os alunos:

a) O título do texto - “Sapo com medo d´água” – contraria tanto o possível repertório

do aluno, quanto a lógica do conto de artimanha, no qual o protagonista é sempre

esperto, inteligente, ardiloso: sapo não tem medo de água; o sapo não pode ser

medroso, se é o protagonista. O título, enquanto recurso textual e discursivo que

supõe redução de informação semântica do texto como um todo, costuma

possibilitar ao leitor antecipar sentidos do texto. Nesse caso, pode, à primeira vista,

apresentar uma contradição. No entanto, sabendo-se que sapo não tem medo de

água, podemos considerar que o leitor já tem – a partir desse título - uma pista sobre

quem será o esperto, quem estará enganando, qual a estratégia do protagonista.

Nesse sentido, o título passa a ser um recurso provocativo; explicitador da estratégia

do sapo.

b) A primeira frase – “O sapo é esperto.” - embora contrarie o título, confirma a

esperteza do sapo; ao mesmo tempo ativa a capacidade do leitor para estabelecer

a relação entre o que ele sabe sobre o sapo, a contradição em relação ao título e

quem será o protagonista do conto, considerando as características de textos desse

gênero. É possível, inclusive, inferir qual será a estratégia do sapo para enganar seu

antagonista.

c) A organização do diálogo, foi elaborada quase sem a presença de verbos

‘discendi’ (verbos de dizer: aqueles que especificam a fala a ser apresentada em

cada turno: disse, falou, respondeu, retrucou, perguntou, indagou, murmurou, entre

outros); e quase sem referências à origem – ‘autor’ - da fala de cada turno. Esse

recurso provoca um efeito de agilidade nas falas e, dessa forma, rapidez à ação da

trama, pelo menos até a fala “Vamos botar o sapo na lagoa!”.

Depois disso – quando o final se anuncia e a estratégia está para ser concretizada

-, a diferença é visível: há, por duas vezes, o anúncio completo fala do sapo7 (‘Aí o

77 Nos exemplos a seguir, o que está com sublinhado simples é o sujeito que fala; o que foi

escrito em negrito, é o verbo discendi; o que está escrito com sublinhado duplo é o modo como o sujeito que fala o fez.

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sapo ficou triste começou a pedir, com voz de choro:’ e O sapo mergulhou, veio em

cima da água fritando satisfeito:’); há, ainda, o apresentação da fala dos meninos,

após a primeira fala do sapo (‘Vamos para a lagoa – gritaram os meninos’). É

importante tematizar junto aos alunos as pistas que o texto oferece para que

identifiquemos quem está falando o que.

Algumas orientações:

na primeira fala, a referência ao sapo como objeto da ação do nós implícito

em ‘vamos’ – os meninos - indica que não é ele quem fala; a 1ª pessoa do

plural (referente aos meninos) indica quem fala;

na segunda fala, o verbo de dizer - ‘dizia’ - e a referência à fonte – o sapo –

explicitam quem fala. Além disso, há a referência a “meu couro”, que é mais

coerente com o personagem sapo, e a ideia de que não adiantaria jogá-lo nos

espinhos – intenção dos meninos, apresentada na fala anterior;

na terceira fala, o verbo na primeira pessoa do plural – ‘vamos’ – já indica

quem fala; além disso, há uma referência a ele – o sapo -, o que indica que não

pode ser o sapo quem fala;

na quarta fala, como há uma alternância, e também pelo conteúdo semântico

da fala (pois fogo pode matar sapo e, se alguém está dizendo que não, só

poderia ser o sapo para salvar-se, o que é coerente com sua estratégia para

enganar os meninos), fica fácil deduzir quem fala;

a quinta fala possui as mesmas características que a terceira;

a sexta fala é semelhante à quarta: há uma alternância de turno, e também o

conteúdo semântico da fala denuncia o seu autor (pois pedra pode matar sapo

e, se alguém está dizendo que não, só poderia ser o sapo para salvar-se, o que

é coerente com sua estratégia para enganar os meninos);

na sétima fala, o verbo na 1ª pessoa do plural, identifica os falantes;

na oitava, vale a justificativa apresentada para a 4ª fala;

na nona fala, vale o exposto para a sétima.

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d) A diferença na redação das sequências dialogais do texto – quando colocadas em

comparação - provocam o efeito de sentido que confere rapidez à primeira parte –

‘bate-volta’ e ‘pingue-pongue’ -, e mais lentidão à segunda;

e) O efeito de lentidão conferido à segunda parte é bastante adequado às intenções

semânticas: necessidade de o sapo demonstrar medo para convencer mesmo os

meninos de que ele deveria ser jogado na água; isso coloca a necessidade textual

de explicar, qualificar a ação para que se tenha uma ideia mais clara da

dramatização/encenação realizada pelo sapo, e com sucesso.

Na segunda versão do conto “Sapo com Medo d’água” – a versão de Ricardo Azevedo

– encontramos uma progressão organizada de maneira diferente e uma estratégia do

protagonista também diferente.

Nela, a estratégia do protagonista é manter-se tranquilo e calado enquanto os bandidos

pensam em maneiras de fazer maldades ao animal que, de fato, poderiam prejudicá-lo.

Quando os antagonistas tem a ideia de jogá-lo na lagoa é que ele se põe a falar, como

se fosse a pior coisa que poderiam fazer com ele. A partir desse momento – com a fala

IMPORTANTE SABER

A organização do diálogo em si, supõe a alternância entre os enunciadores,

conhecimento que o sujeito constituiu no exercício da linguagem oral. Na escuta da

leitura – em uma atividade de leitura oral feita pelo professor, por exemplo -, pode até

ser fácil para o ouvinte identificar os turnos de fala e, assim, identificar os eventuais

autores, já que o que está em jogo é a busca da coerência do texto na recuperação dos

seus sentidos, pois a ele não cabe decifrar o escrito.

No entanto, quando o leitor iniciante lê por si mesmo, nem sempre conhece as marcas

que indicam os turnos de fala utilizadas na escrita. Além disso, a fluência leitora está

em franco processo de desenvolvimento, o que pode supor retomadas reiterativas de

trechos que se leu para poder recuperar o sentido do escrito, requerendo muito

esforço.

Dessa forma, o estudo coletivo de textos como o que está sendo estudado é uma

ferramenta fundamental. Além de todas as informações discursivas e linguísticas,

oferece ao aluno referências sobre procedimentos que podem ser adotados em

situações de leitura correlatas, modelizando-os.

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“Tudo menos isso” – é que o diálogo fica rápido, com verbos de dizer escasseando

progressivamente, assim como a indicação do falante.

Depois da leitura dos dois textos, oriente um trabalho de comparação entre eles,

focalizando os aspectos estudados em cada um.

As perguntas a seguir podem orientar uma conversa sobre os textos: a) quem pega o

sapo e por qual razão, em cada uma das versões?; b) quais ameaças são feitas ao sapo

e como ele reage, em cada uma das versões?; c) qual o plano do sapo em cada um dos

textos?; d) quais são os desfechos?; d) qual plano vocês acharam mais interessante?

Por que?; e) de qual texto vocês mais gostaram? Por que?.

Ao final do estudo comparativo, aproveite para conversar com seus alunos sobre o fato

de que os contos de artimanha, assim como os contos de fadas, têm suas raízes na

tradição oral, ou seja, são histórias muito antigas que foram transmitidas ao longo do

tempo de geração a geração. Por isso, muitas delas têm diferentes versões, pois, cada

pessoa, depois de ouvir a história, conta de seu jeito.

PARA NÃO ESQUECER

O estudo de textos, de sua organização interna considerando os recursos textuais e

discursivos neles empregados é fundamental para a constituição da proficiência

leitora dos alunos. Além disso, à medida em que o aluno vai se tornando

competente para identiifcar esses recursos no processo de linguagem, pode ir se

tornando apto a utilizá-los na produção de textos também. Dessa forma, é muito

importante que o professor garanta na rotina escolar diária momentos de leitura de

estudo de diferentes textos.

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6ª Etapa: Produção de Autoria, em duplas, do Final do Texto “O Bicho

Folharal”

Objetivo

Planificar o trecho final do conto considerando o contexto definido pela parte

conhecida do texto e as possibilidades de final levantadas.

Textualizar, em duplas, o final de conto de artimanha.

Planejamento

Quando realizar as atividades? Após o planejamento de diferentes finais para o conto

“O Bicho Folharal”

Como organizar os alunos? Estarão organizados em duplas e é importante que alunos

não alfabéticos tenham como dupla um colega alfabético. Sendo alfabéticos os dois,

pode-se pensar em alternar o ditante e o escriba;

Quais materiais são necessários? Lápis e papel; texto reproduzido para os alunos

para que possam acompanhar a leitura.

Encaminhamentos:

Leitura e estudo do texto “A Onça e o Bode” (Anexo 9).

Leia o texto em voz alta para a classe, apresentando-o no datashow ou utilizando um

outro recurso qualquer disponível na escola (como retroprojetor, por exemplo, ou um

cartaz).

Organize o estudo do texto, fazendo perguntas que remetam às características do conto

de artimanha que, dessa forma, podem levar à uma boa compreensão do texto.

Perguntas sugeridas:

a) Quem é o esperto nesse conto? Onde é que, no texto, há indicações disso?

b) Quem é que foi enganado? Onde é que, no texto, há indicações disso?

c) Qual foi o estratagema do esperto? Onde é que, no texto, há indicações disso?

d) Podemos dizer que a onça era malvada? Por que?

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e) Podemos dizer que o bode era malvado? Por que?

f) Então, por que será que um enganou o outro?

Estabeleça uma comparação entre esse conto e os demais, lidos anteriormente.

Pergunte aos alunos:

a) Entre esse conto e aqueles que já lemos até agora, existe uma diferença muito

importante. Quem poderia me dizer qual é?

Procure focalizar que, nesse caso, apenas animais participam da história, não havendo

a presença humana. Por causa disso, algumas especificidades se colocam em relação

à trama, à relação existente entre os personagens principais e às motivações do

protagonista para enganar o seu oponente.

São elas:

a) quando um conto de artimanha se desenvolve apenas no ‘reino dos animais’, a

trama focaliza a subversão da lei de sobrevivência na natureza, que indica que quem

sempre vence é o mais forte. Nesse caso, o protagonista vence o antagonista, que

não é um vilão, mas o mais forte, o maior naturalmente, e que pode ser seu

predador;

b) isso coloca o vilão não como vilão, propriamente, mas como aquele que precisa ser

enganado para que o mais fraco sobreviva.

Esses dois aspectos são muito importantes para a elaboração do final do próximo conto

– “O Bicho Folharal” -, pois o final deverá prever a vitória do mais fraco em força física,

do menor em tamanho (e que, por isso seria o sobrevivente natural e até um predador

do protagonista), mas mais esperto.

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É importante também que os alunos compreendam que um conto de artimanha de

animais é diferente de uma fábula.

Sendo assim, você poderá ler uma fábula com eles e fazer a comparação. Por exemplo,

leia a fábula “O leão e o ratinho”8 e compare:

a) o mais forte é o leão, que é ajudado pelo ratinho;

b) o mais fraco é o ratinho, que não engana o leão para sobreviver, ao contrário, o

ajuda;

c) o ratinho retribui a ajuda do leão, posteriormente;

d) não há ruptura da lei do mais forte pela esperteza do mais fraco;

8 Disponível no Anexo 10.

IMPORTANTE SABER

Nos contos de artimanha a trama é conduzida sob a ótica de um herói malandro que troça

de ricos, poderosos, de instituições, mas também de indivíduos comuns cujo

comportamento destoa de um padrão convencional.

Na trama, o protagonista costuma agir: a) para melhorar a sua situação ou a situação de um

aliado, procurando obter recompensa, ou então explorando uma situação que possa lhe

render algum benefício material; b) para proteger-se de uma ameaça ou agressão, vinda de

alguém que o subestima, e/ou explora ou a um aliado; c) punir um oponente, vingando-se

dele.

Como ficam esses aspectos quando se trata de contos que envolvem apenas animais?

Nesse caso, a esperteza e a astúcia são as únicas armas de que o animal de porte pequeno

dispõe – com possibilidade de vitória - para enfrentar o inimigo mais forte. O antagonista é

representado, portanto, por aquele que é superior ao esperto em relação à força física e

tamanho. Isso se justifica considerando que na lógica da natureza, sobrevive quem é mais

forte. O conto de esperteza mostra a possibilidade de subverter essa lógica por meio da

esperteza.

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e) o leão aprende a lição da retribuição de gentileza/favor: ele não é enganado pelo

ratinho.

Leitura e estudo do texto cujo final será elaborado pelas duplas.

Leia em voz alta o texto “O Bicho Folharal”9 até o trecho “usando de uma astúcia

qualquer”, apresentando-o à classe ou coletivamente - em datashow ou qualquer outro

recurso disponível na escola que permita que os alunos acompanhem a leitura do texto

– ou individualmente.

Após a leitura, proponha um intercâmbio oral ouvindo os alunos sobre as impressões

que tiveram até a parte lida.

Nessa conversa, procure retomar os aspectos fundamentais de um conto de artimanha,

os quais possibilitam verificar, perfeitamente, a compreensão que os alunos tiveram do

que foi lido. Além disso, trata-se de uma versão de Câmara Cascudo, que conserva

algumas expressões regionais que precisarão ser discutidas, caso não sejam

compreendidas pela classe: furna, cacimba, curtiu tanta sede.

9 O texto completo encontra-se em anexo.

IMPORTANTE SABER

Na fábula, os animais representam as virtudes e defeitos humanos, segundo a visão do

homem. Este é o critério de seleção dos mesmos para a composição da trama. Por exemplo:

a raposa costuma representar a astúcia; o coelho, a rapidez, agilidade; o macaco, traquinagem

e esperteza; a cegonha, a pureza, maternidade, bondade.

A finalidade da fábula é mostrar ao homem a sua condição e regras morais que deveria

respeitar. Assim sendo, a característica de cada animal é apenas servir ao propósito de ensinar

ao homem por meio de uma comparação.

As relações estabelecidas entre os animais das fábulas são, portanto, diferentes daquela

estabelecida no conto de artimanha: nestes, o que vale é a possibilidade de subverter uma

relação de predador-presa; uma ideia de que o maior e mais forte fisicamente sobrevive pela

seleção natural. Nas fábulas isso não se coloca.

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Utilize algumas perguntas elaboradas previamente para orientar a discussão.

Sugestões:

a) Quem parece ser o protagonista esperto desse conto? Por que você pensa assim?

b) E o antagonista, aquele que vai ser enganado, quem parece ser? Por que você

pensa assim?

c) A Raposa disse que ia beber água usando de uma “astúcia qualquer”. Isso dá

alguma pista sobre quem pode ser o personagem esperto?

d) O título do texto é “O Bicho Folharal”. Você já viu algum bicho como esse? Vamos

procurar no dicionário pra ver se tem algum bicho com esse nome? Vamos procurar

em uma enciclopédia de animais? Por que será, então, que o texto tem esse título?

O que será que tem a ver com a história?

e) A Onça já foi enganada uma vez na história. Você acha que ela conseguirá pegar a

Raposa, ou esta vai se safar?

f) Este conto se parece mais com qual dos contos já lidos por nós? Por que?

g) Como se chamavam a onça e a raposa dessa história? Por que vocês acham isso?

Que diferença faz as palavras Onça e Raposa estarem escritas com letra

maiúscula?

Comentário:

É muito importante nessa discussão, não perder de vista os seguintes aspectos:

a) A Onça também tenta enganar a raposa utilizando-se de ardis; no entanto, na

primeira vez, é enganada pela Raposa.

b) Este é um conto de artimanha, e não uma fábula; portanto, a Raposa não

precisa ‘aprender uma lição’, como na fábula “A Cegonha e a Raposa” (assim

como o coelho, na segunda versão desse conto - intitulada “O Rei da

Folhagem”10 -, não recebe uma lição, como na fábula ‘O coelho e a tartaruga’).

Trata-se, aqui, de que quem é mais esperto vence quem é menos esperto. O

conto, além disso, desenvolve-se no ‘reino dos animais’, e não no dos humanos,

procurando focalizar a. São animais os envolvidos, não para representar

virtudes e defeitos humanos – como na fábula – mas para serem como são (ou

10 Disponível em anexo.

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para mostrarem as características que lhe atribuem os humanos), sem supostos

‘julgamentos de valor’.

c) No conto lido, os nomes dos animais estão escritos com letra maiúscula. Isso

confere a cada nome o status de ‘nome próprio’. Isso significa que o conto está

falando da Onça e da Raposa, e não de uma onça e uma raposa,

individualizadas. Isso significa que o conto fala da esperteza das raposas em

geral, e da perseverança das onças, em geral. E de como as raposas podem

ser mais espertas do que as onças.

d) A análise dos itens b) e c) pode auxiliar os alunos na previsão do final que, à

primeira vista pode parecer confuso, sobretudo se considerarmos que os textos

lidos anteriormente apresentam o protagonista enganando aquele que lhe faz

mal. A grande questão, aqui, é a mudança de cenário, que remete à relação

colocada entre os animais no seu próprio universo, onde a lógica é a da

sobrevivência do mais forte.

No caso da elaboração do final desse conto é preciso focalizar a relação deste conto

com o “A Onça e o Bode”, pois isso pode auxiliar os alunos a prever um final mais

adequado ao gênero.

Depois de toda essa discussão, faça um levantamento de aspectos que precisam ser

considerados no planejamento do final. Tais aspectos referem-se a:

a) é um conto de artimanha só de animais; portanto, deve haver na história uma

tentativa de romper com a lei natural de que quem sobrevive é o mais forte; deve

haver a ideia de que a presa pode vencer o predador;

b) a onça é o animal mais forte, portanto, o predador; seguindo a lógica desse tipo de

conto, será enganada pela raposa;

c) a raposa é o animal mais fraco; portanto, assume o lugar da ‘presa’; seguindo a

lógica desse tipo de conto enganará a onça;

d) é comum que a estratégia de esperteza preveja recursos típicos do ambiente da

narrativa;

e) já foi definido no texto que:

a. a raposa está com muita sede;

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b. precisa ir beber água no único lugar possível;

c. esse lugar está sendo vigiado pela onça;

d. é preciso que seja feita referência ao “Bicho Folharal”, presente no título.

Registre isso em um quadro e deixe disponível para que os alunos consultem a

qualquer tempo.

Depois disso, faça um levantamento coletivo de possibilidades de final, indicando o

estratagema que permita que a raposa vença a onça. Avise que esse levantamento é

apenas para servir de ‘inspiração’ para todos e que cada dupla escolherá o final de sua

preferência; inclusive, pode ser diferente dos finais previstos coletivamente.

Comentário:

Vamos supor que um dos finais sugeridos pela classe seja o seguinte:

“A Raposa vai pedir auxílio para o Macaco para apanhar um coco e jogar na cabeça

Onça; assim ela pode chegar na cacimba e beber água e fugir, enganando sua inimiga.”

Se analisarmos considerando os elementos que constam do registro acima, veremos

que falta a presença do “Bicho Folharal”. Isso terá que ser tematizado junto à classe, e

acrescentado na estratégia da Raposa.

Esse aspecto é fundamental, pois a coerência seria rompida se o título não

estabelecesse alguma relação com o texto.

Oriente as duplas para que planejem o final do seu conto. Inicialmente, apenas

inventando o final e anotando. Mas retome com eles as atividades anteriormente

realizadas quando da produção do texto coletivo, retomando com os alunos o processo

todo, parte a parte:

a) inventar o final (planejamento do conteúdo temático);

b) decidir quais serão as partes do texto, uma a uma, na sequência (planificação);

c) escrever o texto considerando o conteúdo criado e a pré-organização do texto.

Depois de retomar, – em uma outra aula, se for o mais adequado para a classe -, oriente-

os a planificarem o texto.

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Finalmente, proponha que redijam o texto em duplas, a partir da planificação realizada.

7ª Etapa: Revisão do Texto Produzido pelas Duplas

Objetivos:

Identificar, com auxílio do professor, aspectos discursivos e textuais que precisam

ser revisados no texto.

Revisar, com o auxílio do professor, questões relativas às principais dificuldades

discursivas observadas nos textos produzidos anteriormente.

Revisar, em duplas, os textos produzidos anteriormente com base nas orientações

do professor.

PARA NÃO ESQUECER

A produção de textos neste projeto é orientada de modo a que cada uma das

operações seja realizada em separado, explicitando os procedimentos envolvidos em

cada uma. A finalidade é oferecer referências aos alunos sobre como realizar cada uma

das tarefas, já que são escritores iniciantes e sua proficiência pode não prever a devida

agilidade para articulá-las todas, como o faria o escritor mais experiente.

No entanto, você, ao avaliar as necessidades de aprendizagem da classe, pode

considerar que é possível realizar operações concomitantemente, como planificar o

texto e textualizá-lo ao mesmo tempo. Essa decisão é sua, e deve ser orientada pela

sua avaliação das necessidades e possibilidades de aprendizagem da classe.

Além disso, pense que as atividades devem articular-se no processo de produção;

sendo assim, ao tentar redigir o texto é possível que a planificação inicial seja alterada,

ou que aspectos do conteúdo temático previstos inicialmente sejam modificados. A

produção resultante de cada operação de produção de textos não é rígida e imutável.

Ao contrário, deve articular-se necessariamente, pois trata-se de um processo

contínuo de elaboração de um mesmo e único produto. Ratificando: a mudança é

possível – e, pode até ser bem-vinda -, embora possa nem sequer se colocar como

necessária.

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Planejamento

Quando realizar? Após as duplas escreverem o final do conto “O Bicho Folharal” e

depois do estudo das produções dos alunos pelo professor.

Como organizar os alunos? A primeira etapa da atividade será feita coletivamente e

a segunda, em duplas.

Quais materiais são necessários? Textos dos alunos, previamente lidos e analisados

pelo professor; material de apoio preparado para o trabalho com as questões priorizadas

para estudo, de acordo com as necessidades de trabalho identificadas no estudo dos

textos.

Encaminhamentos:

A Revisão de um Aspecto Discursivo Representativo das Dificuldades da Classe

Preparação do Trabalho

Analise os textos dos alunos do ponto de vista textual e discursivo. Investigue os

seguintes aspectos:

1. o final prevê a elaboração de uma artimanha pela raposa (como é típico desse tipo

de conto de artimanha, o animal menor e mais fraco fisicamente, ludibriará o mais

forte)?

2. a artimanha vai sendo apresentada ao leitor à medida em que vai sendo realizada

na narrativa?

3. a artimanha está relacionada com o fato de a raposa ter que matar a sede na

cacimba ao pé da serra?

4. há referência – e a presença – do “Bicho Folharal”, anunciado no título do texto?

5. houve articulação entre o final elaborado e o começo do texto não havendo

problemas de compreensão entre os dois trechos?

6. há coesão entre os trechos elaborados?

7. a pontuação está adequada (indicar tanto os recursos que não foram utilizados

adequadamente, quanto os que foram)?

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8. a escrita continua mantendo os nomes dos animais com letras maiúsculas?

9. a ortografia está correta (analisar quais aspectos precisam ser cuidados, porque

demonstram dificuldades dos alunos)?

Para obter uma visão geral da classe, você pode organizar uma tabela, como a seguinte:

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TABELA 1 – PRODUÇÃO DE FINAL DESCONHECIDO DE UM CONTO DE ARTIMANHA ANÁLISE DOS TEXTOS DA CLASSE

DUPLAS

ASPECTOS ANALISADOS

OBSERVAÇÕES 1 2 3 4 5 6 7 8 9

SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO

Ana e Josélia

Adauto e Mauro

Rosário e Igor

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Para conseguir uma visão de cada dupla (ou de cada aluno, desde que sejam realizas

as devidas adaptações), a tabela pode ser como a que segue.

ANÁLISE DE PRODUÇÃO EM DUPLAS DE FINAL DE CONTO DE ARTIMANHA

Dupla: ........................................................................ Data: .................................... Classe: .............................

ASPECTOS SIM NÃO ÀS VEZES

(com observações)

O final prevê a elaboração de uma artimanha pela raposa (como é típico desse tipo de conto de artimanha, o animal menor e mais fraco fisicamente, ludibriará o mais forte)?

A artimanha vai sendo apresentada ao leitor à medida em que vai sendo realizada na narrativa?

A artimanha está relacionada com o fato de a raposa ter que matar a sede na cacimba ao pé da serra?

Há referência – e a presença – do “Bicho Folharal”, anunciado no título do texto?

Houve articulação entre o final elaborado e o começo do texto não havendo problemas de compreensão entre os dois trechos?

(inserir os demais aspectos apontados acima)

Depois de feito esse levantamento inicial, veja quais aspectos são mais recorrentes e

selecione, dentre esses, um ou dois aspectos para serem trabalhados coletivamente.

Prefira os aspectos discursivos – incluindo-se entre eles, a pontuação -, pois são os

mais complexos e, assim, são aqueles que mais necessitam modelização.

Escolha um texto da classe que contenha o problema priorizado.

Estude possibilidades de ajuste do texto produzido pelos alunos, identificando o que

precisa ser modificado.

Selecione textos que possam funcionar como referência para o estudo que você

realizará. Podem até ser trechos de textos elaborados por outras duplas, desde que

estejam bem escritos e possam, dessa maneira, representar bons modelos11.

Você deverá ter em mãos:

a) um texto da classe – Texto 1 -, que contenha o problema representativo das

suas necessidades de aprendizagem;

b) um texto (da classe ou não) – Texto 2 - que não contenha o problema priorizado;

11 Quando falamos em modelo, neste documento, referimo-nos à referências de textos bem

escritos que podem ser apresentadas aos alunos no processo de estudo dos textos que eles mesmos produziram, de modo que tenham exemplos alternativos de organização textual e discursiva. Não nos referimos, em nenhum momento, a modelos a serem seguidos – copiados e/ou reproduzidos - de maneira não-reflexiva.

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c) uma versão do Texto 2 – que chamaremos de Texto 3 -, modificado para conter

o problema priorizado para trabalho.

Comentário:

Suponhamos que o aspecto mais recorrente nas produções das duplas tenha sido a não

apresentação do plano do protagonista ao leitor na medida em que vai sendo realizado

na história, mas na forma de anúncio do plano inteiro, sem que este seja narrado, passo

a passo, ação realizada por ação realizada, à medida em que a raposa vai agindo para

conseguir o seu intento. Este último procedimento não corresponde ao usual em um

conto de artimanha. Então, você deverá selecionar um texto que represente essa

necessidade.

Um possível texto poderia ser o seguinte:

Texto da Classe

“A raposa, então, resolveu nocautear a onça, pedindo para o macaco jogar

um coco na cabeça dela. Assim ela poderia ir beber água à vontade, sem se

preocupar com ninguém.

Foi isso que fez, enganando a onça direitinho, mais uma vez.”

Você precisará fazer um contraponto a esse texto, mostrando aos alunos um trecho que

seja organizado de modo mais coerente com o movimento textual típico desses textos,

que já foi estudado.

Para isso,você pode recorrer a um dos textos que já foi estudado em classe como, por

exemplo, o conto “A Velhinha Inteligente”.

Elabore dois cartazes (ou lâminas para retroprojetor, ou arquivos eletrônicos para

datashow, dependendo do recurso que for utilizar na aula): um deve conter o texto na

versão original, já conhecida de todos – chamaremos de Texto 1; o outro deve ser

escrito como o original até a parte “ Todos riram dela, porém como já se consideravam

perdidos, acharam que não faria mal escutá-la.”. Depois desse trecho, deve prosseguir

como o que segue:

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A Velhinha Inteligente

[incluir o trecho inicial do texto]

Todos riram dela, porém como já se consideravam perdidos, acharam

que não faria mal escutá-la.

A velhinha, então, explicou que, o seu plano era enganar o inimigo fazendo

com que acreditasse que a cidade tinha alimentos e que, dessa forma,

poderia resistir ao cerco muito tempo, ao contrário deles, os soldados, que

estavam com fome e que, por não terem mais provisões, acabariam

morrendo. Para isso, ela disse que só precisava deixar uma vaca gorda sair

pelo portão, que os soldados fariam o resto.

Todos acharam a ideia inteligente. Fizeram o que a velhinha propôs, os

soldados ficaram com medo e foram embora,

A cidade venceu a batalha.

Chamaremos a esse texto modificado de Texto 2.

Você utilizará os dois cartazes para problematizar o aspecto textual em foco, por meio

da comparação entre ambos. Só depois disso, recorrerá ao trecho do texto da dupla da

classe. A seguir, no item relativo ao desenvolvimento da atividade, vamos sugerir um

modo de encaminhar a discussão.

Uma vez tendo definido qual aspecto será priorizado e quais serão os textos com os

quais trabalhará, marque em cada texto produzido pelas duplas o trecho no qual você

encontrou o problema priorizado. Pode ser, por exemplo, com um traço colorido vertical,

à margem do trecho: a intenção é que o aluno identifique no seu texto o trecho que

deverá ser revisado, reelaborado.

Evidentemente, se o problema for como esse identificado acima, a reelaboração do

trecho vai requerer que o aluno: a) apague o que escreveu; b) reelabore o trecho. A

reelaboração vai demandar muito mais espaço do que o utilizado pela dupla. Por isso,

ao invés de solicitar que ele apague o que escreveu e reelabore no mesmo espaço,

entregue a eles uma folha de papel à parte (pode ser uma folhinha de linguagem, por

exemplo) para que a escrita seja realizada nele. O aluno, dessa forma, não precisará

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apagar o seu texto original, mantendo-o como referência para a produção revisada, a

qual será registrada na folha complementar entregue.

Sendo assim, uma providência que deve tomar nesse momento do preparo da revisão

coletiva é providenciar folhas avulsas para a revisão dos textos.

Desenvolvimento do trabalho

Momento 1: reconhecendo qual é o problema do texto

Explique à classe que você leu os textos de todos e tem alguns aspectos que precisam

ser ajustados, para ficarem mais bem escritos de acordo com o que deve ser um conto

de artimanha. Avise que você fará junto com todos um estudo dos aspectos e, depois,

cada dupla retomará o seu texto para fazer as modificações necessárias, considerando

o que foi estudado.

Apresente à classe – utilizando o recurso disponível na escola (datashow, cartaz de

papel pardo, lousa, retroprojetor, p.e.) – o Texto 1 e leia com a classe. Depois,

apresente o Texto 2 e leia também. Depois das leituras pergunte:

SÍNTESE DOS PROCEDIMENTOS DE PREPARO DA REVISÃO

a) Leia os textos dos alunos, analisando-os e identificando necessidades de

aprendizagem.

b) Priorize um ou dois aspectos para revisão coletiva, considerando o que é

mais recorrente nos textos lidos (ou seja, o que é representativo das

dificuldades da classe).

c) Selecione um texto da classe que possa exemplificar o problema que você

trabalhará.

d) Escolha outro texto para tomar como referência de solução do aspecto

que trabalhará (pode ser um dos textos conhecidos pela classe).

e) Organize duas versões desse texto: uma correta; outra modificada para

conter o mesmo problema que o texto dos alunos.

f) Marque o trecho que contém o problema em cada um dos textos

produzidos.

g) Providencie folhas avulsas para a revisão.

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a) os dois textos falam de que? (espera-se que os alunos respondam que falam

sobre o mesmo assunto);

b) o que há de diferente entre eles? (espera-se que identifiquem o modo de dizer,

quer dizer, a estratégia textual que será foco do trabalho).

Retome com os alunos qual a maneira de um conto de artimanha apresentar o plano do

protagonista, mostrando outros textos, se for necessário. Focalize o texto, em si.

Momento 2: comparando com o texto da classe

Uma vez que a identificação do problema tenha acontecido, apresente a todos o Texto

da Classe. Pergunte aos alunos com qual dos dois textos esse trecho se parece mais:

com o Texto 1 ou com o Texto 2. Espera-se que reconheçam que parece mais com o

Texto 2.

Momento 3: reelaborando coletivamente o texto da classe

Em seguida proponha aos alunos que reescrevam juntos o trecho, procurando utilizar o

mesmo jeito de dizer do Texto 1. Neste momento, você coordenará a reelaboração do

trecho, solicitando que ditem para você como deveria ficar. Procure focalizar os

seguintes aspectos:

a) o texto deve narrar os acontecimentos da história, na medida em que vão

acontecendo nessa história;

b) não pode ser dada nenhuma pista para o leitor a respeito de qual é o plano da

Raposa;

c) faça perguntas relativas ao conteúdo temático, como:

a. De que maneira a Raposa vai convencer o Macaco a ir jogar cocos na Onça?

b. O que vai acontecer se um coco acertar a Onça? Nesse caso, seria preciso

o Bicho Folharal entrar na história?

c. Se precisamos colocar o Bicho Folharal na história, o Macaco deve acertar

a Onça? Por que?

d. Quem será o Bicho Folharal?

d) Essas perguntas precisam ser feitas para que sejam estabelecidas as relações

lógicas entre as ações que serão narradas, garantindo, assim, a coerência do texto.

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Dessa maneira, articule as respostas, explicite as relações e auxilie os alunos na

elaboração do texto.

e) Realize a textualização em um material que possa ser reutilizado posteriormente

(papel pardo, lâmina de retroprojetor, arquivo eletrônico, por exemplo).

Comentário:

Uma possibilidade de textualização:

Texto da Classe Reelaborado

“A Raposa, então, teve uma ideia maravilhosa.

Foi até o bananal e, lá chegando, logo avistou o Macaco. Aproximou-se do

Macaco e disse:

Oi, colega, fiquei sabendo que a Onça está dizendo pra bicharada toda

que você só tem garganta, que você jamais teria coragem de lhe jogar um

côco na cabeça... Imagina ela te achar covarde, logo você, o bicho mais

esperto da floresta!

O que? Eu, covarde? Essa Onça vai ver só uma coisa... respondeu,

muito bravo.

Imediatamente saiu apressado em direção à cacimba, subiu no coqueiro que

lá havia, mirou na cabeça da onça e lá se foi o primeiro coco... Mas, nada

de acertar. Pegou o segundo e... nada de novo. Pegou o terceiro e...

A Raposa, conhecendo a má pontaria do Macaco, resolveu se aproveitar da

distração da Onça: recolheu umas folhagens que estavam ali nas margens

da cacimba, disfarçou-se de moita e foi se aproximando da água.

Em meio aos ataques do Macaco, a Onça percebeu a presença estranha e

perguntou:

Quem é esse que se aproxima?

É o Bicho Folharal! respondeu a Raposa disfarçando a voz. Cuidado,

dona Onça, que lá vem coco...!

A Onça – não querendo ser acertada por nenhum coco – voltou a preocupar-

se com o Macaco e acabou se distraindo.

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Enquanto isso, a Raposa bebeu água até fartar-se e foi embora.

E o Macaco? – perguntarão os senhores leitores. Até hoje ninguém sabe

dizer quem se cansou primeiro: se o Macaco, de atirar cocos, ou se a Onça,

de esperar a Raposa...”

Momento 4: revisando nas duplas

Uma vez terminada a produção coletiva, compare o resultado com o texto inicial e

confira com a classe se o problema foi resolvido, se ficou escrito da maneira como

acontece nos bons contos de artimanha. Se precisar de mais alguns pequenos ajustes,

faça com eles.

Assim que terminar, recolha o trecho reelaborado, pois a dupla que o produziu, o

revisará pessoalmente.

Explique à classe que você vai entregar os textos das duplas e que em cada texto há

uma marca colorida, na margem. Essa marca mostra que aquele trecho está com o

mesmo problema que tinha o texto que foi reelaborado coletivamente.

Explique que a tarefa da dupla é reescrever aquele trecho considerando o estudo que

foi feito na classe, quer dizer, utilizando o modo de apresentar o plano do protagonista

que é comumente utilizado nos contos de artimanha: sem contar direto para o leitor; ir

contanto à medida em que as coisas vão acontecendo lá na história.

Oriente os alunos para que não apaguem aquele trecho, e para que o reelaborem na

folha avulsa que você entregará.

Retome os procedimentos que você utilizou antes de começar a reescrita coletiva:

identificar perguntas que precisam ser respondidas para dar a continuidade adequada

ao texto.

Entregue as folhas avulsas e acompanhe as duplas no processo de reelaboração do

texto.

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Quando os alunos terminarem, recolha o material grampeando a folha avulsa à folha

original de produção. Você o utilizará para fazer uma nova revisão neste texto: uma

revisão relativa aos aspectos que representam as dificuldades de cada dupla.

A Revisão de Aspectos Relativos às Dificuldades Específicas de cada Dupla

Preparação do Trabalho

PARA NÃO ESQUECER

Três pequenos lembretes:

1o) Na atividade de revisão, não é preciso trabalhar com todos os aspectos considerados

problemáticos nos textos dos alunos. O levantamento inicial realizado possibilita um

mapeamento de necessidades de aprendizagem que pode ser orientador de muitas

futuras revisões. Trabalhar com todas as questões do texto leva os alunos à exaustão

e ao cansaço de lidar com o mesmo texto reiteradas vezes.

2o) A revisão realizada em colaboração – coletiva, em duplas/grupos – e mesmo a

individual, é uma atividade de ensino que não deve ser confundida com a atividade

realizada pelo revisor, cuja finalidade é deixar o texto perfeito para publicação. Mesmo

quando a intenção é tornar o texto público, a revisão realizada em classe tem esse

caráter. Para publicar o texto – dependendo do lugar de circulação e das necessidades

de correção do texto decorrentes – pode-se recorrer à figura do revisor, que deve

realizar o trabalho depois da revisão pedagógica.

3o) Além da revisão final – focalizada nessa etapa do projeto – temos que trabalhar com

a revisão processual em classe, aquela que realizamos como constitutiva do processo

de produção do texto. Assim, na produção coletiva cabe ao professor ir revisando o

texto enquanto escreve, na busca da coerência e da coesão do texto: analisar se o

articulador utilizado é o mais adequado, se a palavra escolhida é a melhor para dizer

o que se pretende, verificar se a pontuação procura garantir a compreensão que se

pretende que o leitor tenha do que foi escrito, entre outros aspectos. Quando os

alunos estiverem trabalhando em duplas e, sobretudo, individualmente, cabe ao

professor ir acompanhando o trabalho e interferindo de modo a apontar eventuais

necessidades de ajuste no texto, avaliando que aspectos devem ser priorizados nessa

intervenção em função das necessidades de aprendizagem identificadas.

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Recolha os textos dos alunos, com a folha da revisão grampeada e, neste momento,

selecione um outro aspecto para ser discutido coletivamente ou, então, apenas trabalhe

focalizando as necessidades de cada dupla.

Entre os aspectos coletivos que podem ser priorizados – os discursivos e textuais,

preferencialmente – você pode, por exemplo, selecionar pontuação: utilização dos sinais

de pontuação final; emprego de pontuação medial interna aos períodos; organização

do texto em parágrafos; pontuação de discurso direto.

Pode, ainda, escolher qualquer outro aspecto implicado na escrita de textos, como a

coerência ou a coesão, ou mesmo as questões relacionadas à concordância verbal e

nominal, regência verbal e nominal, manutenção do tempo verbal; ortografia e

acentuação, entre outros.

Os mesmos aspectos podem ser tratados de modo individual, caso não sejam

representativos das dificuldades da classe, como um todo.

Caso você considere que é mais necessário realizar outro trabalho relacionado às

dificuldades da classe, proceda como indicado acima para o trabalho com a questão

textual priorizada, que foi a adequação da estratégia textual: trabalho coletivo, para

modelizar e, depois, em duplas. Nesse caso, não se esqueça de oferecer referências

para a realização dos ajustes necessários.

Caso considere que é o momento de trabalhar com as questões individuais – ou, no

caso, das duplas – recomendamos os procedimentos elencados a seguir.

1. Retome os textos produzidos por cada dupla, com a revisão grampeada, e releia-

os, marcando, agora, as questões relativas à pontuação, ortografia, e, mesmo, as

que se referirem à compreensão do sistema – caso existam.

2. Para fazer a marcação, considere a natureza do aspecto do conhecimento que

estiver apontando. Caso se trate de uma questão ortográfica, retome o modo pelo

qual essa questão precisa ser trabalhada durante o ensino e oriente a revisão a

partir dele. Por exemplo, quando se tratar da grafia das palavras, sabemos que há

questões que só podem ser tratadas por meio de pautas de memorização, e que há

outras que podemos recorrer à observação, comparação e posterior dedução de

regra para o seu aprendizado. Assim, quando a questão a ser tratada referir-se à

uma questão colocada em uma das pautas de memorização disponíveis na sala de

aula, indique, na margem da folha do texto, que naquela linha há uma questão

relativa à pauta de memorização tal (indique a numeração) – PM2, por exemplo.

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Assim, os alunos se orientam a respeito de o que devem procurar, onde - no texto

- devem procurar e, mais do que isso, sabem de que tipo de correção se trata. Se

a palavra a ser corrigida refere-se a uma regularidade observada, indique ficha de

registro12 tal – FR5, por exemplo.

Quando se tratar de pontuação, marque com um traço vertical – se possível, de cor

diferente da que utilizou para marcar a primeira questão trabalhada – e identifique o

aspecto a ser revisado, nomeando-o. Sabemos que a pontuação textual deve ser

analisada como um conjunto de possibilidades. Converse, então, com as duplas,

apontando diferentes alternativas de pontuação para os trechos em que você

identificou problemas, discutindo com os alunos os efeitos de sentido que o uso

daqueles recursos poderia provocar.

Depois, oriente a dupla para que escolha uma das alternativas ou pense em outra

que mais represente o que quiseram dizer, o efeito desejariam provocar no leitor.

Um exemplo.

Os alunos produziram o final do conto de esperteza “Só mais um minutinho”13. Como

resultado, uma das duplas escreveu o seguinte trecho:

De todas as pessoas que eu já levei você é a mais difícil de me acompanhar já

estou cansado de sua enrolação pode tirar o cavalinho da chuva dona Carocha por

mim eu deixo você viver por mais cem anos.

O trabalho de revisão coletiva previu a discussão das possibilidades de pontuação

interna a esse enunciado. Nesse trabalho, as seguintes possibilidades foram

discutidas com a classe, juntamente com os possíveis efeitos de sentido que

produziriam.

12 Referimo-nos, aqui, à ficha de registro de conhecimento produzido, aquela na qual os alunos

são orientados a registrarem as constatações ou regularidades observadas nos estudos de ortografia das palavras. A esse respeito é possível consultar BRÄKLING, K. L. Essa escrita comovida em umas palavras-de-pernas-finas. O ensino de ortografia na prática docente de cada dia. São Paulo (SP): Revista Veras: vol. 1, no 2; 2011. Disponível no endereço: http://iseveracruz.edu.br/revistas/index.php/revistaveras/article/view/53.

13 Material resultante do trabalho realizado na Escola Fúlvio Abramo em 2012 pela Supervisora de Língua Portuguesa do Programa Ler e Escrever, que compõe a série de vídeos educativos para formação do professor no trabalho com produção de textos.

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Algumas possibilidades de reorganização discutidas com a classe:

(1)

De todas as pessoas que eu já levei, você é a mais difícil de me acompanhar. Já

estou cansado de sua enrolação, pode tirar o cavalinho da chuva, dona Carocha,

por mim eu deixo você viver por mais cem anos!!!

(2)

De todas as pessoas que eu já levei, você é a mais difícil de me acompanhar! Já

estou cansado de sua enrolação!! Pode tirar o cavalinho da chuva, dona Carocha!

Por mim eu deixo você viver por mais cem anos! ...

(3)

De todas as pessoas que eu já levei, você é a mais difícil de me acompanhar; já

estou cansado de sua enrolação... Pode tirar o cavalinho da chuva, dona Carocha;

por mim eu deixo você viver por mais cem anos!

(4)

De todas as pessoas que eu já levei, você é a mais difícil de me acompanhar!!!

Já estou cansado de sua enrolação: pode “tirar o cavalinho da chuva”, dona

Carocha, por mim eu deixo você viver por mais cem anos! ...

(5)

De todas as pessoas que eu já levei, você é a mais difícil de me acompanhar!!!

JÁ ESTOU CANSADO DE SUA ENROLAÇÃO! Pode “tirar o cavalinho da chuva”,

dona Carocha!!! Por mim eu deixo você viver por mais CEM anos! ...

Nesse caso, cada exemplo de pontuação discutida com a classe, pensado junto

com ela e sugerido por ela, ia sendo discutido em função dos efeitos que provocava.

Por exemplo, qual seria o estado do personagem “Esqueleto” ao dizer o enunciado:

estaria ele bravo com a Vovó Carocha? Ou estaria triste? Estaria irritado? Se

estivesse bravo, aumentaria o tom de voz? Gritaria? E se estivesse triste? De que

maneira poderíamos marcar essas emoções no texto?

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Marcar as diferenças entre alternativas de pontuação é fundamental nesse

momento. Por exemplo:

A - qual maneira de pontuar mostraria mais a irritação do Esqueleto:

a) Já estou cansado de sua enrolação!!

b) Já estou cansado de sua enrolação...

c) JÁ ESTOU CANSADO DA SUA ENROLAÇÃO!

Comparar alternativas e discutir os seus efeitos permite aos alunos identificar quais

sentidos pretendem imprimir ao seu texto e, dessa maneira, realizar as suas escolhas

em função disso.

No trecho acima – inclusive considerando que se trata de um texto literário, o que

coloca a possibilidade de uma pontuação mais propriamente estilística – a única

pontuação efetivamente gramatical a ser respeitada é a separação de “dona

Carocha” do restante do enunciado, por tratar-se de um aposto. No restante, a

escolha dos autores é que define a pontuação, tendo os sentidos produzidos por

essas escolhas, como parâmetro balizador.

3. Quando se tratar de revisão relativa à pontuação, pode ser mais adequado sugerir

que os alunos reescrevam o trecho em uma folha à parte, reorganizando-o.

4. Depois de orientar as duplas sobre os aspectos do seu texto que devem ser

ajustados, solicite a todos que passem o texto a limpo em uma nova folha,

considerando a revisão feita na aula anterior e nesta.

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8ª Etapa: Produção Individual de Final Desconhecido de Conto de

Artimanha

Objetivos:

Planejar, coletivamente, o conteúdo temático do trecho a ser produzido,

considerando o contexto definido pela parte conhecida.

IMPORTANTE SABER

(1)

Quando se trata de analisar as questões ortográficas é fundamental lembrar que estas

não compreendem apenas as decisões a respeito de quais letras são adequadas para

escrever determinadas palavras, mas também – entre outros - aspectos como:

a) o emprego de acentos gráficos, cedilha, apóstrofo e til;

b) à separação silábica e translineação (maneiras de se separar palavras quando o

espaço disponível para escrevê-las é insuficiente);

c) à utilização de iniciais maiúsculas nos substantivos próprios;

d) aos diferentes casos de emprego do hífen.

(2)

O trabalho com a translineação precisa ser desenvolvido mostrando-se ao aluno as

possibilidades de separação de uma palavra em relação ao espaço disponível na linha para

grafá-la, e não como um exercício exaustivo de separação de sílabas, por si. Assim, deve-

se propor aos alunos exercícios nos quais precisem tomar essa decisão.

Proponha a eles que observem o espaço disponível ao final da linha (durante uma

pequena cópia com focalização, por exemplo) e pergunte: “Onde é melhor separar a

palavra, considerando o espaço que tenho aqui? Olhem, tenho que escrever a palavra

telefone, que pode ser separada das seguintes maneiras: te-lefone; tele-fone e telefo-ne.

Qual maneira me permite utilizar melhor esse espaço?

Exercícios exaustivos – e descontextualizados - de separação de sílabas não levam o aluno

a constituir esse procedimento.

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Selecionar o final considerando a discussão coletiva e planificar o texto próprio.

Textualizar o final de um conto de esperteza, de maneira independente,

considerando o contexto de produção do projeto, o conteúdo temático definido e a

planificação realizada.

Planejamento

Quando realizar? Após o estudo do texto selecionado.

Como organizar os alunos? A primeira etapa da atividade será feita coletivamente e

a segunda, de maneira individual.

Quais materiais são necessários? Textos para os alunos; texto para ser estudado

coletivamente e apresentado em retroprojetor, cartaz ou datashow, de acordo com os

recursos disponíveis na escola.

Encaminhamentos:

Preparação do trabalho

Selecione um conto de esperteza disponível nos anexos ou outro de sua preferência.

Estude-o e defina o corte que fará, de modo que exclua da leitura dos alunos o final do

texto. Nesse estudo, faça um levantamento dos aspectos fundamentais da trama, os

quais devem ser considerados na elaboração do final. Considere como referência as

orientações oferecidas acima, para etapas similares.

Desenvolvimento do Trabalho, junto à classe

Apresente o texto aos alunos, discutindo-o. Nessa discussão, procure tematizar os

aspectos fundamentais de um conto de esperteza, tal como realizado nas etapas

anteriores.

Depois do estudo, retome com os alunos o contexto de produção dos textos definidos

no projeto e não se esqueça de salientar a necessidade de pensar o final em

concordância com as características definidas.

Faça um levantamento coletivo dos aspectos que precisarão ser respeitados na

definição dos possíveis finais. Registre esse levantamento deixando-o disponível para

consulta da classe.

Depois disso, converse com a classe e faça outro levantamento: dessa vez, relativo a

possibilidades de final para o conto – o planejamento de conteúdo temático. Registre

esse levantamento e deixe-o disponível para consulta da classe.

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A seguir, oriente os alunos para que escolham um final para o seu texto, tomando

como referência a discussão coletiva: podem escolher uma das possibilidades

levantadas coletivamente ou não, inventando, nesse caso, outro final. Peça para

registrarem essas ideias.

Depois de planejarem o conteúdo temático, solicite que planifiquem o texto que

escreverão. Não esqueça de fazer referência à essa mesma etapa do projeto

desenvolvida coletivamente e nas duplas: é importante para que recuperem os

procedimentos realizados e os adotem na produção individual.

Peça para registrarem a planificação.

Em todo esse processo, acompanhe os alunos indo de carteira em carteira e

auxiliando-os quando necessário.

Para finalizar, solicite que textualizem o final, considerando a planificação e o

planejamento do conteúdo temático realizados. Mais uma vez, acompanhe o trabalho

dos alunos, um a um, auxiliando-os quando necessário.

9ª Etapa: Revisão do Final Produzido Individualmente.

Objetivos:

Revisar o texto produzido, considerando as discussões coletivas realizadas em

classe e a orientação individual dada pela professora.

Planejamento

Quando realizar? Após a produção individual do final do conto.

Como organizar os alunos? A primeira etapa da atividade será feita coletivamente e

a segunda, de modo individual.

Quais materiais são necessários? Textos dos alunos; material de referência para

exemplificação e explicação dos aspectos que serão tematizados; folhas avulsas para

revisão.

Encaminhamentos:

Preparação do trabalho

Proceda como orientado nas etapas anteriores, lendo os textos produzidos,

analisando-os e selecionando os aspectos que serão tratados coletivamente e de

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modo individual. Para o trabalho coletivo, não se esqueça: o foco são as questões

textuais representativas das dificuldades da classe. Para o trabalho individual, os

aspectos referem-se às necessidades específicas de cada aluno, dessa vez.

Organize referências de texto que possam servir como exemplos para a tematização

do aspecto selecionado para o trabalho, em especial do aspecto coletivo.

Desenvolva o trabalho tal como orientado para as etapas anteriores de revisão,

prevendo:

a) trabalho coletivo: tematização coletiva e revisão individual na sequência, com

acompanhamento aluno por aluno;

b) trabalho individual: orientação e acompanhamento individuais.

Oriente os alunos para que passem a limpo o texto, considerando as duas revisões

realizadas.

Releia os textos para analisar o que foi apropriado por cada um e o que precisa ser

retomado posteriormente. Além disso, considerando o destino do texto, que é a

coletânea em livro, você precisará analisar se o trabalho de um revisor será

necessário.

PARA NÃO ESQUECER

A respeito da versão final, a decisão sobre a apresentação do texto costuma ser um dilema

na escola. Questões como “Devemos deixar o texto com os erros que não puderam ser

corrigidos e, assim, mostrar o que conseguiram aprender até o momento?”; “Devemos corrigir

todos os erros, pois o produto deve ficar impecável? Como proceder?” costumam assombrar

a escola nesse momento.

A esse respeito, temos a dizer o seguinte: a revisão de um texto precisa ser objeto de ensino,

pois constitui a capacidade escritora do aluno. Sendo assim, não pode ser negligenciada,

devendo compor a rotina de trabalho de produção de textos como uma das operações

fundamentais e indispensáveis nesse processo. No entanto, há ocasiões em que a revisão de

texto externa é necessária, pois a produção que está sendo realizada circulará em algum lugar

no qual a correção do texto é fundamental para que seja bem recebido pela audiência, de

modo que não seja desqualificado ou rejeitado pelo leitor pretendido.

Nesse sentido, é importante conversar com os alunos a esse respeito, esclarecendo-os sobre

a necessidade desse revisor externo, considerando-o como parte das recursos necessários à

publicação do material por eles produzido, dado o contexto de produção definido.

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10ª Etapa: Organização da Coletânea, Preparação da Vernissage, Realização

da Vernissage e Avaliação do Trabalho Realizado

Objetivos:

Organizar o livro, de acordo como que foi orientado na Etapa 1, considerando todas

as características do contexto de produção e as especificidades do portador

decididas junto à classe (tamanho; formato; cores e tipo das ilustrações; tipo, cor e

tamanho de letra, entre outros aspectos).

Organizar a vernissage da obra, realizando todos os preparativos correlatos.

Realizar uma avaliação coletiva e um individual do trabalho realizado durante o

projeto.

Planejamento

Quando realizar? Momento 1: após a produção de todos os textos que comporão o

portador. Momento 2: após a realização de todo o trabalho, para avaliar o desempenho

da classe e de cada um.

Como organizar os alunos? Em grupos responsáveis pela finalização de cada um dos

aspectos definidos e/ou individualmente, de acordo com as decisões organizacionais

tomadas. Individualmente, quando da realização da avaliação individual.

Quais materiais são necessários? Textos dos alunos passados a limpo e digitados

(caso essa tenha sido a escolha feita); material para ilustração e pintura; computadores

– caso esse recurso esteja disponível na escola – para digitação das demais partes

escritas do livro; material para confeccionar a capa, 2ª, 3ª e 4ª capas do livro; material

para elaboração dos convites para a vernissage. Para o momento de avaliação, quadro

com aspectos que precisarem ser considerados.

Encaminhamentos:

Preparação do trabalho

Momento 1: Organização da coletânea e planejamento da vernissage

Retome com os alunos, uma a uma, todas as decisões a respeito de como será

organizado o produto final – a coletânea dos contos organizada em livro. Organize um

quadro contendo todos as tarefas a serem realizadas e os responsáveis por elas.

Defina prazos claros para cada tarefa, de modo que os alunos se organizem para o

trabalho em função dos mesmos.

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Acompanhe a realização das tarefas, auxiliando os alunos sempre que necessário.

Possíveis tarefas:

a) Digitar o texto (se esta for a decisão tomada pela classe em função das intenções

de significação – como se espera que o portador fique, ao final – e em função dos

recursos disponíveis na escola).

b) Ilustrar cada conto.

c) Escrever as páginas iniciais (apresentação, dedicatória, sumário), as páginas que

articulam as histórias; e as páginas finais (contendo os créditos gerais).

d) Escrever a orelha.

e) Escrever a 4ª capa.

f) Elaborar as capas: 1ª, 2ª, 3ª e 4ª.

g) Compor o portador, encadernando o material produzido.

h) Planejar a vernissage, definindo responsáveis por cada uma das tarefas da sua

execução. Nesse planejamento pode-se prever:

a. seleção do local;

b. definição de como o local será decorado (livro de presença, decoração da

mesa de convidados de honra e autógrafos);

c. decisão sobre o que será servido aos convidados (comidas e bebidas);

d. definição de convidados – audiência e autoridades (diretor, coordenador,

professor, por exemplo);

e. escolha do anfitrião e do apresentador do evento;

f. apresentação de um vídeo contendo imagens do desenvolvimento do

trabalho pela classe;

g. definição de como será e elaboração do convite;

h. definição de equipe de apoio para oferecer suporte à realização do evento

na data.

Momento 2: Realização da Vernissage.

Realização da Vernissage de acordo com o planejado.

Momento 3: Avaliação geral e individual do trabalho realizado

Depois de todas as tarefas cumpridas, organize uma avaliação geral de todo o

trabalho realizado. Para tanto, oriente-se por tópicos que reflitam os aspectos

focalizados ao longo do projeto.

Algumas sugestões:

Sobre a produção dos textos:

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A - Em duplas:

a) Você colaborou com seu parceiro no momento de planejar o conteúdo do

texto?

b) Você elaborou conjuntamente com seu colega a planificação do texto?

c) Qual o seu papel no processo de textualização? Explique porque agiu dessa

maneira.

d) No processo de revisão, você considerou as orientações dadas pela

professora? Dê exemplos.

e) E a opinião do seu colega, você considerou? Dê exemplos.

f) O que foi mais difícil pra você no processo de escrita? Explique.

g) E no processo de revisão? Explique.

h) O que foi mais fácil pra você no processo de escrita? Explique.

i) E no processo de revisão? Explique.

j) Você acha que os leitores gostarão do texto que você e seu colega

produziram? Explique porque.

B – Individual:

Adeque as questões acima à situação de produção individual.

C – Organização do Portador:

a) Você ficou satisfeito com a realização das tarefas que lhe couberam na montagem

da coletânea? Diga quais foram as tarefas e explique sua resposta.

b) Na sua opinião, houve algum prejuízo ao trabalho de todos por causa do

desempenho de um ou outro aluno, individualmente? Explique.

c) Houve algum contratempo por causa de algum eventual não cumprimento do

prazo definido para a realização das tarefas, ou todas as tarefas foram cumpridas

adequadamente? Explique.

d) Você gostou do resultado do trabalho de todos na produção da coletânea? Dê

exemplos.

D – Organização da Vernissage:

Adapte as questões apresentadas para a organização da coletânea, no que couber.

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ANEXOS

Pedro Malasartes e o Lamaçal Colossal

Você conhece o Pedro Malasartes? Se não conhece, pode ir se preparando porque ele

pode aparecer aqui a qualquer hora.

Ele não esquenta lugar, está sempre indo de um canto para outro. Fica um tempinho

trabalhando numa fazenda, sai e vai para outro emprego num sítio, daí a pouco já está

numa vila vendendo umas coisas na feira... Quando a gente menos espera, Pedro já

está de novo na estrada, a caminho da cidade ou de outra fazenda onde possa ter uma

oportunidade melhor. Muda toda hora, sempre em busca de um trabalho mais bem

pago, de um patrão que trate bem, de um negócio mais interessante. Por isso, em cada

história ele está fazendo alguma coisa diferente. E sempre procurando dar um jeito de

se defender, garantir um prato de comida e não ser explorado. Mesmo que, para isso,

acabe enganando alguém.

Acho que uma das primeiras aventuras de Pedro Malasartes foi quando ele foi tomar

conta dos porcos de uma fazenda muito grande, de um fazendeiro muito rico e muito

sovina.

Quer dizer, no começo Malasartes não tomava conta dos porcos, não. Trabalhava na

colheita. Aliás, bem nesse começo ele ainda nem se chamava Malasartes, era só mais

um Pedro como tantos outros que ainda não tinha ficado conhecido por fazer arte nem

por pregar pela nos outros. Chegou lá pedindo emprego e foi contratado para colher

café.

Pedro trabalhou o mês inteiro. De manhãzinha até a noite. No fim desse tempo, quando

chegou o dia do pagamento, o patrão deu a ele umas moedinhas.

Só isso, patrão? E o salário que a gente combinou?

Bom, eu tive que descontar sua hospedagem... Se eu for hospedar de graça todo

mundo que chega nesta fazenda colossal...

E o senhor chama de hospedagem dormir amontoado com os outros naquele

barracão, numa esteira velha, direto no chão duro? - reclamou ele.

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Faz até bem para a coluna...

Pedro insistiu:

Mas foi uma hospedagem muito cara. Eu tenho pra mim que eu não dormi esse

tantão, não...

Não adiantou insistir. O desconto estava feito. E o patrão ainda apareceu com outra

explicação:

É que tem também o desconto da comida. Se eu for dar comida de graça para todo

mundo que chega nesta fazenda colossal...

Um descontão desses? Pela comida? Só aquele feijãozinho talo todo dia? E o senhor

queria que eu passasse fome? Trabalhasse sem comer? Saco vazio não fica em pé...

Claro que não quero ver você com fome! Mas comida custa dinheiro - respondeu o

patrão. Tenho que descontar do seu salário o preço do feijão com arroz, do sal, da

linguiça, da lenha que cozinhou a comida, do óleo, do alho e da cebola que a cozinheira

usou no refogado, do salário da cozinheira, do sabão que lavou as panelas, do...

Chega, patrão, chega! Não precisa mais falar tanto em desconto. Mas eu tenho pra

mim que eu não comi esse tantão, não...

Não adiantou discutir. O desconto estava feito.

Pedro resolveu que no mês seguinte ia ser diferente. Trabalhou do mesmo jeito, de sol

a sol, mas não dormiu no barracão nem comeu com os outros. Com o pouquinho de

dinheiro que tinha ganho comprou na venda sua própria esteira e dormia embaixo de

uma árvore. Pescava no ribeirão, armava arapuca na mata, e no fim do dia quase

sempre tinha alguma coisa para assar numa fogueira ao ar livre. Arrumava uma frutinha

aqui, outra ali, pegava uma espiga de milho verde num milharal, uma raiz de mandioca

numa roça, umas folhas de taioba crescendo ao deus dará junto do córrego... Quase

sempre dava um jeito de não comer com os outros. Dessa vez o patrão ia ver só. Não

ia adiantar vir com aquela conversa de fazenda colossal.

Mas, na hora do pagamento, não foi muito diferente. O patrão descontou um tantinho

pelo aluguel do pedacinho de terra onde ele armava a esteira, outro tantinho pelo uso

do rio, e outro tantinho pela espiga de milho, pela raiz de mandioca, pelas folhas da

taioba, por tudo o que ele tinha comido.

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Chega, patrão, chega! Não precisa falar mais em tanto desconto. Mas eu tenho pra

mim que eu não usei esse tantão, não... - reclamou Pedro. Se é assim, vou-me

embora. Não trabalho mais aqui.

O patrão coçou a cabeça, olhou pra ele e disse:

Só se for no mês que vem. Porque neste mês agora vai ter que trabalhar pra mim,

para poder acertar nossas contas.

Nossa contas? Como assim? - estranhou Pedro.

É que ainda falta acertar sua conta com o armazém.

Que armazém? - estranhou Pedro de novo.

Uai, aquela vendinha na beira da estrada. Você não sabe que é minha?

E eu lá tenho conta em armazém?

Como não tem? E a esteira que você comprou?

Comprei e paguei, com muita honra! - exclamou Pedro furioso.

Pagou a esteira, mas também comprou também um pedaço de fumo de rolo e uma

cachacinha... Ou não lembra que comprou?

Comprei e também paguei, com muita honra! - exclamou Pedro, furioso!

Pagou a primeira... - concordou o patrão. Mas depois pediu outra, e mais outra, e

não tinha mais dinheiro para pagar. Mandou botar na conta. O vendedor anotou tudo. E

agora você tem que pagar. Se eu fosse deixar de graça tudo o que todo mundo compra

nessa fazenda colossal...

Pedro protestou:

Eu tenho pra mim que eu não bebi e não fumei esse tantão, não...

Com ar de bonzinho, o fazendeiro completou:

Mas pode deixar para pagar uma parte no mês que vem.

Pedro saiu dali muito zangado. Mão lembrava de ter bebido muitas doses de pinga. Mas

até podia ser. Bem que a mãe dele dizia que isso de tomar uma cachacinha é

desgraceira.

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De qualquer modo, uma coisa ele estava entendendo: aquilo não ia ter fim nunca.

Esse fazendeiro é um explorador! Vem com essa conversinha mole de fazenda

colossal, mas está querendo me tratar feito se eu fosse um escravo. Não me paga e

não em deixa ir embora. Ah, mas isso não vai ficar assim. Vou dar um jeito.

No dia seguinte, procurou o patrão e se ofereceu para tomar conta dos porcos da

fazenda. Esses porcos eram o grande orgulho do fazendeiro. Gordos, bonitos, rendiam

um bom dinheiro... Mas comiam muito, fediam muito e bem que davam trabalho.

Qualquer esforço para tomar conta deles era sempre bem-vindo.

Tudo bem. Então vá cuidar da lavagem deles.

Era duro. Uma espécie de trabalho de lixeiro. Pedro tinha que ir de casa em casa, por

toda a fazenda, recolhendo restos de comida, cascas de frutas, alimentos estragados,

todo tipo de sobra, e botando tudo nuns latões enormes e pesados, que cheiravam mal.

Depois carregava baldes d’água do ribeirão, misturava tudo, jogava nos cochos e abria

a porteira do cercado. Os porcos entravam correndo, derrubando uns aos outros, e se

amontoavam para a comilança. No meio de uma sujeirada incrível.

Mas Pedro não desanimou. Fez tudo direitinho, no capricho. Quando acabou, perguntou

ao patrão:

Agora posso levar os porcos para passear?

Passear? Nunca ouvi falar em porco passeando. Ficou maluco?

Com todo o respeito, senhor, eu sempre ouvi dizer que exercício faz bem aos

animais, a carne deles rende mais e fica maciazinha... Dá um preço ótimo na hora de

vender.

Os olhos do fazendeiro brilharam, e ele perguntou, interessado:

E como é que você vai levar esses porcos para passear?

Ah, patrão, numa fazenda colossal como esta, com toda a certeza não vai faltar um

lugar bem especial para seus porquinhos fazerem exercícios. Eu fico tomando conta,

como se fosse um pastor, um vaqueiro...

O patrão deu risada:

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Um porqueiro, você quer dizer. Mas... pode levar. Só tenha cuidado para eles não se

soltarem, não invadirem as roças, não darem prejuízo.

Pode deixar, patrão. Já vi um lugar aqui perto que tem uma laminha muito simpática.

Acho que eles vão gostar bastante.

Isso foi o que Pedro disse. O que ele não disse é que passara a noite carregando água

do córrego para jogar num terreno à beira da estrada, que tinha sido capinado e estava

pronto para ser plantado. A noite inteira, para lá e para cá. Desse jeito, Pedro tinha

preparado um lamaçal colossal. Levou os porcos diretamente para lá, sentou-se me

cima de uma pilha de tábuas que também tinha deixado preparadas e esperou.

Quando apareceu ao longe um caminhão vazio ele fez sinal. O motorista parou. Pedro

disse que o patrão estava numa emergência, tivera que fazer uma viagem de urgência

e o encarregara de vender logo aqueles porcos, bem baratinho, para mandar dinheiro

para ele. Conversa vai, conversa vem, negociou a venda de todos os animais. Com uma

única condição: os rabinhos tinham que ficar.

É para eu poder prestar contas - explicou. Ele saiu tão depressa que nem teve

tempo de contar. Assim a gente controla exatamente quantos porcos foram vendidos.

O sujeito achou esquisito, mas concordou. Estava com pressa. Queria fechar logo o

negócio, antes que surgisse um concorrente pela estrada. Ou que aquele caipira se

arrependesse de vender uns animais tão bonitos por um preço tão abaixo do que eles

poderiam ser revendidos no mercado. E com os olhos brilhando, enquanto fazia contas

mentalmente e calculava o lucro que ia ter, o motorista do caminhão ajudou Pedro a

cortar o rabo dos animais e a guardar na carroceria todos os porcos, que subiram por

uma rampa improvisada com as tábuas da pilha onde ele estava sentado.

Num instante, os dois se despediram, e o caminhão sumiu na estrada. Com toda aquela

porcalhada.

Pedro pôs no bolso o dinheiro da venda e disse pra si mesmo:

Agora estou descontando os descontos. Se eu fosse deixar de graça tudo o que

tiraram de mim nessa fazenda colossal...

Depois pegou os rabinhos, que tinha deixado separados em cima das tábuas, e foi

espetando todos na lama, a uma boa distância uns dos outros. Todos menos um, que

ficou segurando.

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Feito isso, foi para a casa da fazenda. Quando estava chegando lá perto, começou a

correr e a gritar, como se tivesse vindo esbaforido o tempo todo:

Socorro! Acudam! Estou precisando de toda ajuda!

Foi uma correria, todo mundo em volta, e ele fingindo que estava sem fôlego, que nem

conseguia falar.

O que foi?

O que está acontecendo?

E o patrão:

Cadê meus porcos?

Depois de muito ofegar, beber um copo d’água e fazer de conta que estava sem forças,

Pedro finalmente explicou:

Levei os bichinhos para passear num lugar onde não tinha nada plantado, e eles

descobriram um bom lamaçal. Um lamaçal colossal. Eles adoraram...

Nossa... Não dá pra curtir, propriamente. Mas dói de ler. Ah, dói... Sim, e daí? Conte

logo! Onde estão meus animais?

Estão lá, fique sossegado...

Então, pra que esse escândalo?

Bom, patrão, é que era um lamaçal tão colossal que eles foram se afundando aos

pouquinhos.

Afundando? Como assim?

Afundando, uai! Ficando com as pernas presas e indo para o fundo, devagarzinho.

Quando eu vi, tentei segurar o que estava mais perto. Puxei, puxei, mas não adiantou

nada. Olha só! O rabo dele ficou na minha mão, e o coitadinho foi sumindo...

E mostrou o rabinho que guardara.

Foi um espanto! Todo mundo queria ver. O rabo, todo enroladinho, passava de mão em

mão. Pedro continuou:

Eu então vi que não dava conta sozinho e vim correndo pedir ajuda.

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Vamos todos para lá! - ordenou o fazendeiro.

É isso mesmo – concordou Pedro. Mas é muito porco, nem sei se vai dar. Se o

senhor me der licença, eu posso também fazer outra coisa para ajudar.

O quê?

Se o senhor me autorizar, eu posso selar uma mula e ir até o vizinho pedir reforço.

Ele tem um trator bom, a gente pode amarrar umas cordas fortes nos bichos... Fica mais

fácil puxar.

Boa ideia! – concordou o patrão. Mas não vai perder tempo selando mula, não.

Monte logo no meu cavalo, que é veloz e já está arreado. Assim vai mais ligeiro.

Era isso mesmo que Pedro queria.

Num instante já estava longe, na direção oposta à do lamaçal colossal. A cavalo e com

dinheiro no bolso.

E o patrão, se não estiver esperando reforço até hoje, já deve estar com uma boa

coleção de rabinhos de porco na mão. Ou ele estava pensando que ia continuar para

sempre explorando todo mundo, sem nunca lhe acontecer nada, naquela fazenda

colossal?

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A Velhinha Inteligente

Esta é uma história que se conta até hoje na cidade de Carcassonne, ao sul da França.

Há várias versões do mesmo caso, mas todas concordam num ponto: a cidade foi salva

graças à esperteza de uma mulher.

Há muitos e muitos séculos, a próspera cidade de Carcassonne foi cercada por

guerreiros inimigos. Embora protegida por muralhas e portões, a população não estava

a salvo: como ninguém pudesse sair, aos poucos a comida foi escasseando. Logo

chegou o dia em que ninguém mais tinha o que comer, e os inimigos, do lado de fora,

resistiam teimosamente, esperando a rendição da cidade.

Então, o governador de Carcassonne, refletindo sobre a gravidade da situação, resolveu

que era preferível entregar-se a ver seu povo morrer de fome. Entretanto, assim que ele

anunciou a todos a sua resolução, uma senhora, madame Carcas, já bem idosa e por

isso mesmo muito experiente, adiantou-se e disse que tinha um plano para salvar a

cidade.

Todos riram dela, porém como já se consideravam perdidos, acharam que não faria

mal escutá-la.

Primeiro, tragam-me uma vaca – pediu ela.

Uma vaca?!? – exclamaram. – E como vamos achar uma vaca?

Mas madame Carcas insistiu e todos se puseram a procurar de casa em

casa.

Vira daqui, revira de lá, encontraram, por fim, uma vaca muito magra, na casa de um

avarento, que a havia escondido por medo de morrer de fome. Ele bem que reclamou,

mas o animal foi levado até a velha senhora.

Agora – disse ela – juntem tudo o que puderem de alimentos, restos, cascas, o que

encontrarem!

Assim fizeram todos, conseguindo juntar um saco cheio de restos de cereais.

Muito bem – aprovou a madame. – Deem tudo isso à vaca!

À vaca?!? Isso é um absurdo! Todos nós temos fome!

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Pois deem tudo à vaca e não vão se arrepender – garantiu a velhinha.

Não sem relutar, fizeram o que ela dizia. A vaca rapidamente engoliu aquilo que para

todos parecia um banquete desperdiçado.

Agora, abram com cuidado os portões e deixem a vaca sair – ordenou a senhora.

Essa velha é louca! – gritaram alguns. Mas como madame insistisse com tanta

segurança, resolveram obedecer-lhe até o fim.

Do lado de fora, a tropa inimiga percebeu que os portões da cidade se abriram.

Intrigados, viram que uma vaca escapava. Mais do que depressa, capturaram o animal

e o levaram para seu chefe de armas.

Veja, senhor, eles deixaram uma vaca escapar! Graças a esse descuido, hoje

teremos um bom jantar!

O chefe, intrigado, ordenou que matassem a vaca. Mas, quando abriram a barriga do

animal e ele a viu forrada de cereais, muito preocupado, concluiu:

Soldados! Se os habitantes dessa cidade ainda têm tantas provisões que podem

alimentar suas vacas e além disso se dar ao luxo de deixá-las escapar, é sinal de que

poderão resistir ainda por muito tempo. É melhor nos retirarmos, pois certamente

morreremos de fome antes deles.

Assim, os inimigos foram embora e a cidade foi salva.

Dizem que a velhinha, vendo partir os soldados, subiu à torre da igreja e começou a

tocar o sino, em sinal de vitória. Ouvindo aquilo, o povo gritou:

Viva! Carcas sonne! – que em francês quer dizer “Carcas está tocando o sino”.

É por isso que a cidade foi chamada de CARCASSONNE.

(PAMPLONA, Rosana. Novas Histórias Antigas. São Paulo (SP): Brinque-book,

1998; pp.23-26)

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Sapo com Medo de Água (versão 1)

O sapo é esperto. Uma feita o homem agarrou o sapo e levou-o para seus filhos

brincarem. Os meninos judiaram dele muito tempo e, quando se fartaram, resolveram

matar o sapo. Como haviam de fazer?

Vamos jogar o sapo nos espinhos!

Espinhos não furam o meu couro - dizia o sapo.

Vamos queimar o sapo!

Eu no fogo estou em casa!

Vamos sacudir ele nas pedras!

Pedra não mata sapo!

Vamos furar de faca!

Faca não atravessa!

Vamos botar o sapo na lagoa!

Aí o sapo ficou triste e começou a pedir, com voz de choro:

Me bote no fogo! Me bote no fogo! Na água eu me afogo! Na água eu me afogo!

Vamos para a lagoa - gritaram os meninos.

Foram, pegaram o sapo por uma perna e, fxirn bum, rebolaram lá no meio. O sapo

mergulhou, veio em cima da água fritando satisfeito:

Eu sou bicho d'água! Eu sou bicho d'água!

Por isso quando vemos alguém recusar o que mais gosta, dizemos:

É sapo com medo de água...

(CASCUDO, Luis da Câmara. Contos tradicionais do Brasil. São Paulo: Global, 2004; p.196.)

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Sapo com Medo D´Água (versão 2)

Dois homens, fugidos da prisão, pararam na beira da lagoa para matar a sede e

descansar um pouco.

Um sapo dormia debaixo da samambaia.

Os bandidos agarraram o sapo.

Olha que desengonçado! - disse um deles, apertando o bicho entre os dedos.

É feio que dói! - completou o outro, com cara de nojo.

E os dois resolveram fazer maldade.

Vamos jogar no formigueiro?

Ouvindo isso, o sapo estremeceu. Por dentro. Por fora, abriu um sorriso indiferente.

Que nada – respondeu o outro, percebendo que o sapo não estava nem ligando. -

Pega a faca. Vamos picar ele todinho.

O sapo, de olhos fechados, começou a assobiar uma linda melodia.

Os dois bandidos queriam dar um jeito de fazer o sapo sofrer.

Sobe na árvore e atira ele lá do alto.

Pega o fósforo e acende uma fogueira. Vamos fazer churrasco de sapo!

O sapo espreguiçava-se tranquilo entre os dedos do homem.

Um dos bandidos teve outra ideia.

Já sei! Vamos afogar o desgraçado na lagoa!

Foi quando o sapo deu um pulo desesperado e começou a gritar:

Tudo menos isso!

Os malfeitores, agora sim, tinham chegado onde queriam.

Vai pra água, sim senhor!

Não sei nadar! - berrava o sapo.

Então vai morrer engasgado!

O bicho esperneava:

Socorro!

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Vai sufocar de tanto engolir água!

Não!

Vai virar comida de jacaré!

Tenho mulher e filhos pra cuidar!

Joga bem longe!

Me acudam!

Lá vai!

O homem atirou o sapo no fundo da lagoa.

O sol estava redondo.

O sapo – ploft – desapareceu no azul bonito das águas.

Depois voltou risonho, mostrou a língua e foi embora nadando e cantando e dançando

e requebrando n'água, feliz da vida.

(AZEVEDO, Ricardo. Meu livro de folclore. São Paulo (SP): Ática, 2006; p.5-8.)

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O Sapo e o Coelho

O Coelho vivia zombando do Sapo. Achava-o preguiçoso e lerdo, incapaz de qualquer

agilidade. O sapo ficou zangado:

Quer apostar corrida comigo?

Com você? - assombrou-se o coelho.

Justamente! Vamos correr amanhã, você na estrada e eu pelo mato, até a beira do

rio...

O coelho riu muito e aceitou o desafio. O sapo reuniu todos os seus parentes e distribuiu-

os na margem do caminho, com ordem de responder aos gritos do coelho.

Na manhã seguinte os dois enfileiraram-se e o coelho disparou como um raio, perdendo

de vista o sapo que saíra aos pulos. Correu, correu, correu, parou e perguntou:

Camarada Sapo?

Outro sapo respondia dentro do mato:

Oi?

O coelho recomeçou a correr. Quando julgou que seu adversário estivesse bem longe,

gritou:

Camarada Sapo?

Oi? - coaxava um sapo.

Debalde o coelho corria e perguntava, sempre ouvindo o sinal dos sapos escondidos.

Chegou à margem do rio exausto mas já encontrou o sapo, sossegado e sereno,

esperando-o. O coelho declarou-se vencido.

(CASCUDO, Luís da Câmara. Contos tradicionais do Brasil. São Paulo (SP): Global,

2004; p.186.)

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9

O Rei da Folhagem

Seu coelho era muito mau e havia matado seu coiote. A história chegou até o rei dos

animais e este ordenou a todos que o agarrassem vivo ou morto.

Diante disso, os animais se reuniram em conselho e um deles disse o seguinte:

— Temos que ir esperá-lo no rio, pois ele precisa ir até lá para beber.

E foram todos.

Mas seu coelho, que para isso mesmo tem orelhas grandes, ficou detrás de um matagal

ouvindo tudo e se pôs a pensar. Então, sem mais nem menos, foi até o povoado, entrou

numa sapataria e, no primeiro descuido do sapateiro, roubou um sapatinho que este

tinha acabado de fazer. Em seguida, foi até a estrada principal.

Passava por lá um homem carregando um pote cheio de mel. Então seu coelho pôs o

sapatinho no meio do caminho. Ao passar, o homem viu o sapatinho e disse:

— Que sapatinho bonito! Se tivesse par, eu o pegava pra mim. Mas pra que que eu

quero um só?

E seguiu seu caminho.

Assim que o homem passou, seu coelho recolheu o sapatinho e correu até ficar bem

adiante do homem do pote de mel. Quando viu que ele vinha chegando, pôs outra vez

o sapatinho no meio do caminho.

— Veja! Aqui está o outro pé! Vou buscar aquele que deixei lá pra trás e fico com o par

completo! — exclamou o homem.

Colocou o pote no chão para ir mais depressa e saiu correndo.

Era isso mesmo que seu coelho esperava. Assim que o homem virou as costas,

destapou o pote e se lambuzou todo de mel.

Bem perto dali havia um matagal repleto de folhas secas. Seu coelho foi até lá e rolou

bastante no chão a fim de que as folhas grudassem no seu corpo. Em seguida foi até o

rio.

Ao verem chegar aquele bicho novo, tão esquisito, os animais ficaram de orelha em pé

e lhe perguntaram:

— Quem é o senhor?

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— Sou o rei da folhagem — disse seu coelho.

Então todos os animais se puseram imediatamente em fila e lhe prestaram honras

enquanto ele bebia.

Essa foi a artimanha que seu coelho inventou para beber água com toda liberdade.

(Coedição latino-americana. Contos Populares para Crianças da América Latina.

São Paulo (SP): Editora Ática, 1994; p.38-41.)

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1

O Bicho Folharal

(Versão de Câmara Cascudo para o conto “O rei da folhagem”)

Cansada de ser enganada pela Raposa e de não poder segurá-la, a Onça resolveu

atraí-la à sua furna. Fez para esse efeito correr a notícia de que tinha morrido e deitou-

se no meio da sua caverna, fingindo-se de cadáver. Todos os bichos vieram olhar o

seu corpo, contentíssimos. A Raposa também veio, mas prudentemente de longe. E,

por trás de outros animais gritou:

Minha avó, quando morreu, espirrou três vezes. Espirrar é o sinal verdadeiro da

morte.

A Onça, para mostrar que estava morta de verdade, espirrou três vezes. A Raposa fugiu,

às gargalhadas.

Furiosa, a Onça resolveu apanhá-la ao beber água. Havia seca no sertão e somente

uma cacimba ao pé duma serra tinha ainda um pouco de água. Todos os animais

selvagens eram obrigados a beber ali. A Onça ficou à espera da adversária, junto da

cacimba, dia e noite.

Nunca a Raposa curtiu tanta sede. Ao fim de três dias já não agüentava mais. Resolveu

ir beber, usando duma astúcia qualquer. Achou um cortiço de abelhas, furou-o e com

o mel que dele escorreu untou todo o seu corpo. Depois, espojou-se num monte de

folhas secas, que se pregaram aos seus pêlos e cobriram-na toda.

Ao lusco-fusco, foi à cacimba. A Onça olhou-a bem e perguntou-lhe:

Que bicho és tu que eu não conheço, que eu nunca vi?

Respondeu cinicamente:

Sou o bicho Folharal.

Podes beber.

Desceu a rampa do bebedouro, meteu-se n'água, sorvendo-a com delícia, e a Onça lá

em cima, desconfiada, vendo-a beber demais, como quem trazia sede de vários dias,

murmurava:

Quanto bebes, Folharal!

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2

Mas a água amoleceu o mel e as folhas foram caindo às porções. Quando fartara as

entranhas ressequidas, a última folha caiu, a Onça reconheceu a inimiga esperta e

pulou ferozmente sobre ela, mas a Raposa conseguiu fugir.

(CASCUDO, Luís da Câmara. Contos Tradicionais do Brasil. São Paulo (SP):

Global, 2004; p.207.)

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3

O Cego que não era Bobo

Era uma vez um cego que andava mendigando de porta em porta para sobreviver. Muito

prudente, do pouco que ganhava ainda conseguia economizar algumas moedas, que

enterrava nos fundos de sua casinha, junto à raiz de um carvalho.

Um dia, seu vizinho percebeu que ele escondia ali alguma coisa. Sorrateiro, à noite, o

espertalhão foi até lá, cavou a terra e roubou as moedas.

Dali a uns dias, quando o cego voltou ao local para acrescentar uma moeda ao seu

tesouro, descobriu o furto. Indignado, quis gritar, mas controlou-se; de nada adiantaria

lamentar-se. Em vez disso, voltou para casa e começou a pensar numa maneira de

recuperar seu dinheiro. Desconfiou de que o ladrão só poderia ser o vizinho e armou

um plano para enganá-lo.

Na manhã seguinte, procurou-o dizendo assim:

Caro vizinho, estou numa grande dúvida e pensei que você poderia aconselhar-me.

Acontece que hoje fiquei sabendo que herdei de uma velha tia uma fortuna em moedas

de ouro. Eu tenho um esconderijo secreto onde guardo minhas economias, mas não sei

se lá é um lugar seguro, a salvo de ladrões. Você não acha que talvez fosse melhor

entregar essa fortuna para o vigário da aldeia guardar?

Os olhos do vizinho piscaram de cobiça. E já pensando em pôr as mãos em todo o

tesouro, assegurou ao cego que o melhor seria guardar tudo junto no esconderijo, com

certeza um lugar muito seguro, sim!

O cego agradeceu o conselho e partiu para a aldeia, dizendo que ia buscar a herança.

Sem perder tempo, o vigarista recolocou o que furtara no buraco ao pé da árvore; cobriu

tudo com terra e foi embora.

Dali a pouco o cego voltou e, conforme esperava, encontrou no lugar de sempre as suas

preciosas moedas.

À noite, quando o vizinho ladrão retornou, só encontrou ao pé do carvalho um buraco

vazio, tão vazio quanto sua pobre cabeça de tolo...

(PAMPLONA, Rosana. Novas Histórias Antigas. São Paulo (SP): Brinque-Book,

1998; p.43-45.)

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A Onça e o Bode

O Bode foi ao mato procurar lugar para fazer uma casa. Achou um sítio bom. Roçou-ou e

foi-se embora. A Onça, que tivera a mesma idéia, chegando ao mato e encontrando o lugar

já limpo, ficou radiante. Cortou as madeiras e deixou-as no ponto.

O Bode, deparando-se com a madeira já pronta, aproveitou-se, erguendo a casinha. A Onça

voltou e tapou-a de taipa. Foi buscar seus móveis e quando regressou encontrou o Bode

instalado. Verificando que o trabalho tinha sido de ambos, decidiram morar juntos.

Viviam desconfiados um do outro. Cada um teria sua semana para caçar. Foi a Onça e

trouxe um cabrito, enchendo o Bode de pavor. Quando chegou a vez deste, viu uma Onça

abatida por uns caçadores e a carregou até a casa, deixando-a no terreiro. A Onça, vendo

a companheira morta, ficou espantada:

Amigo Bode, como foi que você matou essa Onça?

Ora, ora...Matando! - respondeu o Bode cheio de empáfia.

Porém, insisitindo sempre a Onça em perguntar-lhe como havia matado a companheira,

disse o Bode:

Eu enfiei esse anel de contas no dedo, apontei-lhe o dedo e ela caiu morta.

A Onça ficou toda arrepiada, olhando o Bode pelo canto do olho. Depois de algum tempo,

disse o Bode:

Amiga Onça, eu lhe aponto o dedo...

A Onça pulou para o meio da sala, gritando:

Amigo Bode, deixe de brinquedo...

Tornou-lhe o Bode a dizer que lhe apontava o dedo, pulando a Onça para o meio do terreiro.

Repetiu o Bode a ameaça e a onça desembandeirou pelo mato a dentro, numa carreira

danada, enquanto ouvia a voz do Bode:

Amiga Onça, eu lhe aponto o dedo...

Nunca mais a Onça voltou. O Bode ficou, então, sozinho na sua casa, vivendo de papo para

o ar, bem descansado.

(CASCUDO, Luís da Câmara. Contos Tradicionais do Brasil. São Paulo (SP): Global,

2004; p.205.)

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O Leão e o Rato

Esopo14

Um Leão dormia sossegado, quando foi despertado por um Rato, que passou correndo

sobre seu rosto.

Com um bote ágil ele o pegou, e estava pronto para matá-lo, ao

que o Rato suplicou:

"Ora, veja bem, se o senhor me poupasse, tenho certeza de que

um dia poderia retribuir sua bondade."

Apesar de rir por achar ridícula tal possibilidade, ainda assim,

como não tinha nada a perder, ele resolveu libertá-lo.

Aconteceu que, pouco tempo depois, o Leão caiu em uma armadilha colocada por

caçadores. Assim, preso ao chão, amarrado por fortes cordas, completamente indefeso

e refém do fatídico destino que certamente o aguardava, sequer podia mexer-se.

O Rato, reconhecendo seu rugido, se aproximou e roeu as cordas até deixá-lo livre.

Então disse:

"O senhor riu da simples ideia de que eu seria capaz, um dia, de retribuir seu favor. Mas

agora sabe, que mesmo um pequeno Rato é capaz de fazer um favor a um poderoso

Leão."

Moral da História:

Nenhum ato de gentileza é coisa vã. Não podemos julgar a importância de um favor,

pela aparência do benfeitor.

(Fonte: http://sitededicas.ne10.uol.com.br/cfab3.htm)

14 Esopo, o mais conhecido dentre os fabulistas, viveu na antiguidade. Sua origem é um mistério cercado

de muitas lendas; mas acredita-se que pode ter ocorrido por volta do ano 620 A.C. Várias cidades se colocam como seu local de nascimento, e é comum que o tratem como originário de uma cidade chamada Cotiaeum na província da antiga Frígia, Grécia.

Acredita-se que já nasceu escravo, e pertenceu a dois senhores. O segundo viria a torná-lo livre ao reconhecer sua grande e natural sabedoria. Conta-se que mais tarde ele se tornaria embaixador.

Em suas fábulas substituiu os personagens humanos por animais, objetos, ou coisas do reino vegetal e mineral.

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A Árvore que dava Dinheiro

(Histórias de Pedro Malasarte)

Vendo-se apertado com a falta de dinheiro e não querendo ter arenga com o dono da

pensão, Malasarte saiu bem cedo naquela manhã, para ganhar a vida. Arranjou com o

vendedor de mel de jataí um bocado de cera; trocou na mercearia de Seu Joaquim a

única nota de dinheiro que lhe sobrara, por algumas de moedas de vintém e caiu na

estrada. Caminhou por obra de uma légua ou mais, quando avistou uma árvore na beira

da estrada. Chegando ao pé da árvore, parou e pôs-se a pregar os vinténs à folhagem

com a cera que arranjara.

Não demorou muito, deu de aparecer na estrada um boiadeiro que vinha tocando uns

boizinhos para vender na vila. E como já ia levantando um solão esparramado, a cera

ia derretendo e fazendo cair às moedas. Malasarte, fazendo festas, as apanhava. O

boiadeiro acercou-se, curioso, perguntou-lhe o que fazia, e Malasarte explicou:

— Esta árvore é deveras encantada, patrão. As suas frutas são moedas legítimas. Estou

colhendo todas, porque vou me bandear pra outra terra e tô pensando em levar a árvore,

apesar de todo o trabalho que vai me dar.

— Não me diga isto, sô!

— É o que eu lhe digo, patrão!

— Diacho! Se lhe vai dar tanto trabalho...

E o boiadeiro propôs comprar a árvore encantada. Malasarte, depois de muitas

negaças, fechou negócio trocando a árvore pelos boizinhos; em seguida, bateu pé na

estrada, vendendo-os na vila por um bom preço.

O boiadeiro mandou alguns de seus peões retirarem, com todo o cuidado, a árvore

encantada e a replantou no pomar do seu sítio. Daquele ano até hoje, está esperando

ela dar moedas de vinténs.

Fonte: http://www.recantodasletras.com.br/contos/1049695

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A Dona Raposa e os Peixes

Um dia, bem cedinho, seu Raposa andava pelo bosque. Ao passar perto de um rio, viu uma

quantidade enorme de peixes nadando. Entusiasmado, ele começou a pescar. Eram tantos

os peixes, e seu Raposo estava tão esfomeado, que em pouquíssimo tempo pescou três

lindas traíras.

Muito alegre, foi para casa e disse à mulher, ao chegar:

Dona Raposinha, olhe só a sorte que tive hoje!

Oh! Que traíras enormes! – exclamou dona Raposa, já com água na boca.

Pois é. Eu como uma, você outra e ainda vai sobrar uma... Por isso, eu pensei em

convidar seu Tigre para almoçar; é sempre bom agradá-lo...

Você é quem manda, querido Raposo. Vou fritar com muito cuidado essas traíras. Vão

ficar deliciosas! Ande, vá convidar seu Tigre!

Seu raposo esfregou as mãos satisfeito e saiu em busca de seu Tigre. Dona Raposa se pôs

a preparar os peixes. Quando ficaram bem fritos, o cheiro era tão apetitoso que ela

murmurou:

Vou experimentar minha traíra para ver se ela ficou boa de sal. Só um pedacinho de

nada, pois ia ser bem chato se eu a comesse inteira antes de seu Raposo chegar com o

convidado!

Ela começou a beliscar o peixe e achou-o tão saboroso que se esqueceu do que havia dito.

Em poucos segundos o prato ficou limpo.

Estava deliciosa! Agora preciso experimentar a do Raposo; ele é muito delicado e, se sua

traíra não estiver bem frita, com certeza vai ficar zangado!

Comeu a cauda torrada, depois uma das barbatanas, a seguir a cabeça e, quando percebeu,

toda a traíra de seu Raposo havia desaparecido.

Meu Deus, comi inteirinha! – ela exclamou. – Mas, agora, o estrago está feito. Então não

faz mais diferença se eu comer também a última!

E, do mesmo jeito, comeu a última traíra.

Por fim, chegou seu Raposo, acompanhado de seu Tigre, e perguntou à mulher:

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Preparou as traíras?

Claro que sim! Ainda estão no fogo para que não esfriem – ela mentiu.

Sirva logo, porque estamos com muito apetite. Não é verdade, seu Tigre?

Sem dúvida, seu Raposo. Eu, pelo menos... E com esse cheirinho de peixe frito que há

por aqui...

Vou pôr à mesa – disse dona Raposa. – Sente-se ali, seu Tigre. Aquele é o seu lugar.

Obrigado, dona Raposa.

Seu Tigre sentou-se e Dona Raposa chamou o marido de lado.

Vá até o quintal e afie bem as facas, pois as traíras eram muito velhas e ficaram duras

demais – ela falou.

Seu raposo correu até o quintal, e dali a pouco podia-se ouvir o barulho que faziam as facas

contra a pedra de amolar.

Dona Raposa se aproximou de seu Tigre e lhe disse:

Você está ouvindo? É meu marido que está amolando uma faca. Ficou louco e meteu na

cabeça que quer comer suas orelhas, seu Tigre; para isso é que ele trouxe você até aqui.

Fuja logo, antes que ele volte, por favor!

Seu Tigre se assustou e saiu da casa a todo vapor.

Então, dona Raposa começou a gritar:

Seu Raposo, seu Raposo! Venha logo, que seu Tigre fugiu levando todas as traíras!

E seu Raposo, com uma faca em cada mão, começou a correr atrás de seu Tigre, gritando:

Seu Tigre, seu Tigrinho! Me dê pelo menos uma!

E o Tigre, achando que seu Raposo se referia às suas orelhas, apertou o passo, morrendo

de medo, e não parou até estar bem fechado e seguro em sua casa.

(Conto Tradicional Venezuelano - Contos de Artimanhas e Travessuras. Co-edição latino-

americana. Editora Ática. 1988. São Paulo.)

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De como o Malasartes fez o Urubu falar

Quando o pai de Pedro Malasartes entregou a alma a Deus, fez-se a partilha dos bens,

uma casinha velha, entre os filhos, e tocou a Pedro uma das bandeiras da porta da casa,

com o que ele ficou muito contente.

Pôs a porta no ombro e saiu pelo mundo. Em caminho, viu um bando de urubus sobre

um burro morto. Atirou a porta sobre eles e caçou um urubu que ficou com a perna

quebrada.

Apanhou-o, pôs a porta às costas e continuou viagem.

Obra de uma légua ou mais, avistou uma casa de onde saía fumaça, o que queria dizer

que se estava preparando o jantar.

Pedro Malasartes, que sentia fome, bateu à porta e pediu de comer.

Veio antendê-lo uma preta lambisgóia que foi logo dizer à patroa que ali estava um

vagabundo, com um urubu e uma porta, a pedir de jantar.

A mulher mandou que o despachasse – que a sua casa não era coito de malandros.

O marido estava de viagem e a mulher no seu bem bom a preparar um banquete para

quem ela muito bem o destinava. Neste mundo há coisas!

Pedro Malasartes, tão mal recebido que foi, resolveu subir para o telhado, valendo-se

da porta que trazia e lhe serviria de escada. Subiu e ficou espreitando o que se passava

naquela casa, tanto mais que sentia o cheiro dos bons petiscos.

Espiando pelos vãos das telhas viu os preparativos e tomou nota das iguarias, e ouviu

as conversas e confidências da patroa e da negra.

Justamente na hora do jantar chegou o dono da casa que resolveu voltar de inesperado

da viagem que fazia.

Quando a mulher percebeu que ele se aproximava mandou esconder os pratos do

banquete e veio recebê-lo e abraçá-lo, muito fingida, muito risonha, mas por dentro

queimando de raiva.

Vai daí mandou pôr na mesa a janta que constava de feijão aguado, paçoca de carne

seca e cobu, dizendo:

Por que não avisou, marido? Sempre se havia de aprontar mais alguma coisa…

Sentaram-se à mesa.

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Pedro Malasartes desceu de seu posto e bateu na porta, trazendo o urubu.

O dono da casa levantou-se e foi ver quem era.

O rapaz pediu-lhe um prato de comida e ele chamou-o para a mesa a servir-se do pouco

que havia.

A mulher estava desesperada, desconfiando com a volta de Malasartes.

Pedro tomou assento, puxou o urubu para debaixo da mesa, preso pelo pé num pedaço

de corda de pita.

Estavam os dois homens conversando, quando de repente o Malasartes pisou no pé

quebrado do bicho e este se pôs a gritar: uh! uh! uh!

O dono da casa levou um susto e perguntou que diabo teria o bicho.

Pedro respondeu muito sério:

Nada! São coisas. Está falando comigo.

Falando! Pois o seu bicho fala?!

Sim, senhor, nós nos entendemos. Não vê como o trago sempre comigo? É um bicho

mágico, mas muito intrometido.

Como assim?

Agora, por exemplo, está dizendo que a patroa teve um aviso oculto da volta do

senhor e por isso lhe preparou uma boa surpresa.

Uma surpresa! Conte lá isso como é.

É deveras! Uma excelente leitoa assada que está ali naquele armário…

Pois é possível! Ó mulher, é verdade o que diz o urubu desse moço?

Ela com receio de ser apanhada com todo o banquete e certa de que Pedro sabia da

marosca, apressou-se em responder:

Pois então? Pura verdade. O bicho adivinhou. Queria fazer-te a surpresa no fim do

jantar.

E gritou pela preta:

Maria, traz a leitoa.

A negra veio logo correndo, mas de má cara, com a leitoa assada na travessa.

Daí a pouco, Pedro Malasartes pisou outra vez no pé do urubu que soltou novo grito.

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O que é que ele está dizendo?

Bicho intrometido! Está candongando outra vez. Cala a boca, bicho!

O que é?

Outras supresas.

Outras?!

Sim, senhor: um peru recheado…

É verdade, mulher?

Uma surpresa, maridinho do coração. Maria, traz o peru recheado que preparei para

o teu amo.

Veio o peru. E pelo mesmo expediente conseguiu Pedro Malasartes que viessem para

a mesa todas as iguarias, doces e bebidas que havia em casa.

Ao fim do jantar, o dono da casa, encantado com as proezas do urubu, propôs comprá-

lo a Pedro Malasartes, que o vendeu muito bem vendido, enquanto a mulher e a preta

bufavam de raiva, crentes também, no poder mágico do bicho que, assim, seria um

constante espião de tudo quanto fizessem.

Fechado o negócio, Pedro Malasartes partiu satisfeito e vingado.

(Lindolfo Gomes. Contos populares. São Paulo, Companhia Melhoramentos, v. 1. In APOCALYPSE, Mary (org.). Publicado no site Estórias e lendas de Minas Gerais, Espírito

Santo e Rio de Janeiro: http://www.jangadabrasil.com.br/janeiro/cd50100c.htm#apocalypse)

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REFERÊNCIAS PARA LEITURA

CASCUDO, Luís da Câmara. Contos Tradicionais do Brasil. São Paulo(SP): Global,

2004.

MACHADO, Ana Maria. Jabuti Sabido e Macaco Metido. Rio de Janeiro(RJ): Objetiva;

2011(faz parte do acervo do PNLD 2013, 2014, 2015).

PAMPLONA, Rosana. Novas Histórias Antigas. São Paulo(SP): Brinque-Book, 1998.

VASQUEZ, Adolfo Sanchez. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996.

VÁRIOS AUTORES. Contos Populares para Crianças da América Latina. Coedição

latino-americana. São Paulo(SP): Editora Ática, 1994.

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