revinter revista da toxicologia -volume 7 número 3 out de 2014 - são paulo

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REVISTA DE TOXICOLOGIA, RISCO AMBIENTAL E SOCIEDADE

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Page 1: Revinter Revista da Toxicologia -Volume 7 Número 3 Out de 2014 - São Paulo
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ISSN 1984-3577

São Paulo, v. 7, n. 3, out. 2014

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_______________________________________________________________________________________________________

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 06-149, out. 2014

2014 Intertox

Periódico científico de acesso aberto, quadrimestral e arbitrado

meses: (2) fevereiro, (6) junho e (10) outubro.

Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida desde que citada a fonte.

As opiniões e informações veiculadas nos artigos são de inteira e exclusiva responsabilidade dos

respectivos autores, não representando posturas oficiais da empresa Intertox Ltda.

Seções

Artigo Original; Artigo de Atualização; Comunicação Breve; Ensaio; Nota de Atualização e

Revisão; Notas

Idiomas de Publicação

Português e Inglês

Contribuições devem ser enviadas para <[email protected]>.

Disponível em: <http://revinter.intertox.com.br>.

Normalização e Produção Web site

Henry Douglas

Capa

Henry Douglas

Projeto Gráfico

Henry Douglas

Rua Turiassú, 390 - cj. 95 - Perdizes - 05005-000 - São Paulo - SP – Brasil Tel.: 55 11 3872-8970

http://www.intertox.com.br / [email protected]

RevInter – Revista Intertox de Toxicologia,

Risco Ambiental e Sociedade. / InterTox uma empresa do

conhecimento. – v. 7, n. 3, (out. 2014).- São Paulo: Intertox. 2014.

Quadrimestral

ISSN: 1984-3577

1. Ciências Toxicológicas. 2. Risco Químico. 3. Sustentabilidade

Socioambiental. I. InterTox uma empresa do conhecimento.

Biblioteca InterTox II. Título.

1. Ciências Toxicológicas. 2. Risco Químico. 3. Sustentabilidade

Socioambiental. I. InterTox uma empresa do conhecimento.

Biblioteca InterTox II. Título.

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RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 06-149, out. 2014

Expediente

Editor(a) Conselho Editorial Científico (2011-2013)

Maurea Nicoletti Flynn Alice A. da Matta Chasin

Bibliotecária Doutora em Oceanografia (USP) Doutora em Toxicologia (USP)

Com Especialização Ecologia

Comitê Científico (2011-2013)

Irene Videira Lima

Doutora em Toxicologia (USP), Perita Criminal

Toxicologista do IML-SP por 22 anos.

Marcus E. M. da Matta

Doutor em Ciência pela Faculdade de Medicina

USP. Especialista em Gestão Ambiental (USP).

Engenheiro Ambiental e Turismólogo.

Moysés Chasin

Farmacêutico-bioquímico pela UNESP-SP

especializado em Laboratório de Análises

Clínicas e Toxicológicas e de Saúde Pública.

Ex-Perito Criminal Toxicologista de classe

especial e Diretor no Serviço Técnico de

Toxicologia Forense do Instituto Médico Legal

da SSP/São Paulo. Diretor executivo da

InterTox desde 1999.

Ricardo Baroud

Farmacêutico-Bioquímico Toxicólogo, Editor

Científico da PLURAIS Revista

Multidisciplinar da UNEB e da TECBAHIA

Revista Baiana de Tecnologia.

Eduardo Athayde

Coordenador no Brasil do WWI - World Watch

Institute

Eustáquio Linhares Borges

Mestre em Toxicologia (USP), ex-Presidente da

Sociedade Brasileira de Toxicologia, ex-

Professor Adjunto de Toxicologia da UFBA.

Fausto Antonio de Azevedo

Mestre em Toxicologia USP, ex-Diretor Geral

do Centro de Recursos Ambientais do CRA-BA,

ex-Presidente do CEPED-BA, ex-Subsecretário

do Planejamento, Ciência e Tecnologia do

Estado da Bahia.

Isarita Martins

Doutora e Mestre em Toxicologia e Análises

Toxicológicas (USP), Pós-doutorado em

Química Analítica (UNICAMP), Farmacêutica-

Bioquímica Universidade Federal de Alfenas

MG.

João S. Furtado

Doutor em Ciências (USP), Pós-doutorado

(Universidade da Carolina do Norte, Chapel

Hill, NC, EUA).

José Armando-Jr

Doutor em Ciências (Biologia Vegetal) (USP),

Mestre (UNICAMP), Biólogo (USF).

Sylvio de Queiroz Mattoso

Doutor em Engenharia (USP), ex-Presidente do

CEPED-BA.

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RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 06-149, out. 2014

Sumário

TOXICOLOGIA

Relação entre consumo alimentar da população nordestina e o alto índice de

câncer gástrico nesta região 6

Desenvolvimento de métodos cromatográficos qualitativos para identificação

de benzodiazepínicos 25

Utilização na medicina popular, potencial terapêutico e toxicidade em nível

celular das plantas Rosmarinus officinalis L., Salvia officinalis L. e Mentha

piperita L. (Família Lamiaceae) 50

SUSTENTABILIDADE

A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações 69

Plantas medicinais: cultivo em quintais pela população de um município do

semiárido Piauiense, nordeste do Brasil 101

SOCIEDADE

Avaliação das condições higiênico-sanitárias de indústrias processadoras

de açaí de Imperatriz-MA 114

Percepção de adolescentes em conflito com a lei sobre as ações de saúde 124

Prevalência e fatores relacionados com a automedicação em moradores

de bairros da zona sul de Teresina – PI 140

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Editorial

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 06-149, out. 2014.

Revinter inscrita no Sistema Qualis da CAPES

A Revinter – Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e

Sociedade – é um periódico científico de acesso aberto, quadrimestral (meses

de fevereiro, junho e outubro), arbitrado, publicado pela parceria Intertox-

Ecoadvisor, São Paulo, SP, Brasil e classificado na Tabela de Áreas do

Conhecimento do CNPq em Ciências Biológicas - 2.10.07.00-4 – Toxicologia.

Sua missão é divulgar a produção científica da Toxicologia, Meio

Ambiente e Sociedade, estimulando as contribuições criativas e inéditas do

trabalho acadêmico, de pesquisa e do meio empresarial, tanto de autores

nacionais como estrangeiros, contribuindo para a discussão e o

desenvolvimento do conhecimento nestas áreas.

A Revinter tem como objetivos: (a) contribuir para o aumento da

produção de conhecimento das comunidades acadêmica e profissional de

Toxicologia; (b) servir como canal adequado para veicular avanços

conceituais, tecnológicos e de experiências empresarial e profissional; (c)

estimular a difusão de conhecimentos que promovem atitudes voltadas ao

aumento de competitividade das organizações.

Seu foco está na publicação de contribuições científicas no campo das

Ciências Toxicológicas, com ênfase em todos os aspectos do gerenciamento

dos riscos químico e toxicológico que tenham repercussão sobre o meio

ambiente e a sociedade. Além dos números regulares, a Revinter pode editar

edições especiais monotemáticas, que abordem temas relevantes que

possuam interface com a toxicologia e a sustentabilidade socioambiental.

A Revinter aceita a submissão de contribuições de profissionais e

pesquisadores de todas as áreas envolvidas com as Ciências Toxicológicas,

como as seguintes especialidades, entre outras: Biossegurança;

Contabilidade Social e Ambiental; Direito Ambiental; Economia Ambiental;

Farmacoepidemiologia; Fármaco-toxicologia; Planejamento Ambiental;

Química Ambiental; Resíduos Sólidos, domésticos e industriais; Segurança

Alimentar; Sociologia da Saúde; Toxicidade de resíduos de praguicidas;

Toxicologia Ambiental; Ecotoxicologia; Toxicologia da Reprodução e do

Desenvolvimento; Toxicologia de Alimentos; Toxicologia Forense;

Toxicologia Ocupacional; Toxicologia pré-clínica e clínica; Toxicologia Social.

As diferentes seções da Revinter são: Toxicologia; Ecotoxicologia;

Sustentabilidade e Sociedade. As contribuições são publicadas na forma de:

Artigos originais; Comunicações; Ensaios; Informes; Opinião; Revisões.

Os originais submetidos para publicação na Revinter, em Português,

Espanhol ou Inglês, serão aceitos para análise pressupondo-se que: (a) sejam

exclusivamente inéditos; (b) todas as pessoas listadas como autores tenham

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Editorial

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 06-149, out. 2014.

aprovado o encaminhamento; (c) qualquer pessoa citada como fonte de

comunicação pessoal aprovou a citação; (d) as opiniões emitidas pelos

autores sejam de sua exclusiva responsabilidade. O Comitê Editorial faz

uma análise preliminar quanto à pertinência e/ou adequação da submissão

ao escopo da Revinter. As contribuições recebidas são submetidas à

apreciação de dois membros do Conselho Editorial, dentro de suas

especialidades. Em caso de empate, um terceiro membro será convidado. A

análise é assessorada, quando necessário, por Avaliadores ad hoc. O

resultado do parecer do Conselho Editorial é comunicado aos autores, sob

anonimato, obedecendo-se o procedimento conhecido por sistema duplo-cego.

A Comissão Editorial procederá as alterações de ordem puramente formal,

ortográfica e gramatical, visando a manutenção do padrão culto da língua,

respeitando, porém, o estilo dos autores. Quando se fizerem necessárias

modificações substanciais, os autores serão notificados e encarregados de

fazê-las.

A Revinter adota a filosofia de "acesso aberto", permitindo o acesso

gratuito e irrestrito ao seu conteúdo, proporcionando maior democratização

mundial do conhecimento.

O esforço permanente do grupo que lidera a Revinter resultou em seis

anos de publicações ininterruptas até aqui, tendo-se atingido o total de 19

números, com 157 artigos publicados e 195 autores. Desde o lançamento de

seu primeiro número, em outubro de 2009, a Revinter já registrou, no total,

257.934 downloads, com média mensal de 3582 downloads.

Isso tudo somado possibilitou que a Revinter fosse incluída pela

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), do

Ministério da Educação (MEC), na classificação do Sistema WebQualis. O

Qualis é um sistema de avaliação de periódicos mantido pela Coordenação

de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), no Brasil que

relaciona e classifica os veículos utilizados para a divulgação da produção

intelectual quanto ao âmbito da circulação (local, nacional ou internacional)

e à qualidade (A, B, C). A classificação possui atualização anual e segue uma

série de critérios definidos pela CAPES, que inclui o número de exemplares

circulantes, número de bases de dados em que está indexado, número de

instituições que publicam na revista.

Conforme se pode consultar no endereço da internet

http://qualis.capes.gov.br/webqualis/principal.seam, a Revinter encontra-se

incluída como transcrito abaixo:

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Editorial

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 06-149, out. 2014.

Tal fato gera novo alento e força propulsora para que a Intertox-

Ecoadvisor e todo o corpo de profissionais envolvidos com a Revinter

renovem suas forças e a determinação de prosseguir levando adiante essa

cruzada pela divulgação do conhecimento e geração de oportunidade para a

publicação dos autores brasileiros.

Maurea Nicoletti Flynn e Fausto Antonio de Azevedo

Conselho Editorial Científico

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Artigo original

OLIVEIRA, Victor Alves de; OLIVEIRA, Thayse Wilma Nogueira de; ALENCAR, Marcus

Vinicius Oliveira Barros de; PERON, Ana Paula; SOUSA, João Marcelo de Castro e.

Relação entre consumo alimentar da população nordestina e o alto índice de câncer gástrico

nesta região. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n.

3, p. 06-24, out. 2014.

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Relação entre consumo alimentar da

população nordestina e o alto índice de

câncer gástrico nesta região

Victor Alves de Oliveira

Núcleo de Pesquisa em Biotecnologia Aplicada a Saúde e Meio

Ambiente - NUPBSAM

Aluno do Curso de Nutrição do Campus Senador Helvídio Nunes de

Barros – Universidade Federal do Piauí. CSHNB.

Thayse Wilma Nogueira de Oliveira

Núcleo de Pesquisa em Biotecnologia Aplicada a Saúde e Meio

Ambiente - NUPBSAM

Aluna do Curso de Nutrição do Campus Senador Helvídio Nunes de

Barros – Universidade Federal do Piauí. CSHNB.

Marcus Vinicius Oliveira Barros de Alencar

Laboratório de Pesquisa em Genética Toxicológica

Aluno da Pós Graduação em Ciências Farmacêuticas

Universidade Federal do Piauí. CSHNB.

Gilberto Santos Cerqueira

Laboratório de Anatomia Universidade Federal do Piauí, CSHNB

Doutor do Curso de Nutrição do Campus Senador Helvídio Nunes de

Barros – Universidade Federal do Piauí. CSHNB.

Ana Paula Peron

Núcleo de Pesquisa em Biotecnologia Aplicada a Saúde e Meio Ambiente

- NUPBSAM

Professora Doutora do Curso de Ciências Biológicas do Campus Senador

Helvídio Nunes de Barros – Universidade Federal do Piauí. CSHNB.

Page 10: Revinter Revista da Toxicologia -Volume 7 Número 3 Out de 2014 - São Paulo

Artigo original

OLIVEIRA, Victor Alves de; OLIVEIRA, Thayse Wilma Nogueira de; ALENCAR, Marcus

Vinicius Oliveira Barros de; PERON, Ana Paula; SOUSA, João Marcelo de Castro e.

Relação entre consumo alimentar da população nordestina e o alto índice de câncer gástrico

nesta região. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n.

3, p. 06-24, out. 2014.

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João Marcelo de Castro e Sousa*

Núcleo de Pesquisa em Biotecnologia Aplicada a Saúde e Meio Ambiente

- NUPBSAM

Professor Mestre do Curso de Ciências Biológicas do Campus Senador

Helvídio Nunes de Barros – Universidade Federal do Piauí. CSHNB.

*Autor para correspondência: João Marcelo de Castro e Sousa, e-mail:

[email protected] , fone (86) 81006336.

RESUMO

No mundo, o câncer de estômago figura como a segunda maior causa de

morte por câncer. A relação entre câncer gástrico e nutrição é apontada em

vários estudos, sendo a dieta um fator exógeno bastante relevante. Dessa

forma, este trabalho teve como objetivo cruzar dados do perfil alimentar da

população do nordeste brasileiro com estudos que investigaram a relação

entre as neoplasias gástricas e os principais alimentos consumidos, para

explicar a alta incidência desta neoplasia na região. Para isso, foi realizada

uma revisão de literatura, por meio de buscas bibliográficas nos bancos de

dados informatizados Medline/Pubmed, Scielo e Lilacs, no período de maio a

julho de 2013, considerando artigos que investigaram a relação entre

neoplasias gástricas e a alimentação. Foram encontrados 43 artigos, dos

quais 21 atenderam aos critérios de inclusão do estudo, e estes foram

divididos em dois grupos. O primeiro com as características alimentares do

nordeste, e o segundo, a influência dos alimentos tradicionais nas neoplasias

gástricas. Analisando os artigos: arroz, café, feijão, carne e refrigerantes

estão entre os principais alimentos consumidos pela população nordestina e

alguns desses alimentos possuem, na sua composição ou na sua conservação,

substâncias carcinogênicas. Observou-se também que alguns alimentos,

ditos preventivos para tal patologia, são os menos consumidos pela

população dessa região. Portanto, pode-se notar que a alimentação da

população nordestina parece possui uma estreita relação com o

desenvolvimento e a alta incidência do câncer gástrico, sendo um fator de

risco a ser considerado e estudado para a redução dessa patologia na região.

Palavras-chaves: Câncer gástrico. Alimentação. Nordeste. Brasil.

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OLIVEIRA, Victor Alves de; OLIVEIRA, Thayse Wilma Nogueira de; ALENCAR, Marcus

Vinicius Oliveira Barros de; PERON, Ana Paula; SOUSA, João Marcelo de Castro e.

Relação entre consumo alimentar da população nordestina e o alto índice de câncer gástrico

nesta região. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n.

3, p. 06-24, out. 2014.

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ABSTRACT

Worldwide, stomach cancer appears as the second leading cause of cancer

death. The relationship between gastric cancer and nutrition is suggested in

several studies, the diet being a very important exogenous factor. Thus, this

paper aims to cross data between dietary profile of the northeastern

Brazilian population with studies that investigated the relationship

between gastric cancer and the main food items consumed, to explain the

high incidence of this tumor in the region. For this, a literature review,

through literature searches in computerized databases Medline / Pubmed,

Lilacs and SciELO, from the period May to July 2013, considering articles

that investigated the relationship between gastric cancer and diet. Overall

43 papers were found, of which 21 met the inclusion criteria. The included

papers were divided into two groups. The first with northeast region dietary

characteristics, and the second, with the influence of traditional food on

gastric neoplasms. The items: rice, coffee, beans, meat and soft drinks are

among the main food item consumed by the population and some of these

foods have in their composition or their storage process, carcinogenic

substances. It was also observed that the population of that region

consumes less preventive food items for such pathology. Therefore, it can be

noted that the diet of the Northeastern population has a close relationship

with the development and high incidence of gastric cancer. Such a risk

factor must be considered and studied to reduce this pathology in this region

Keywords: Gastric Cancer. Food. Northeast. Brazil.

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OLIVEIRA, Victor Alves de; OLIVEIRA, Thayse Wilma Nogueira de; ALENCAR, Marcus

Vinicius Oliveira Barros de; PERON, Ana Paula; SOUSA, João Marcelo de Castro e.

Relação entre consumo alimentar da população nordestina e o alto índice de câncer gástrico

nesta região. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n.

3, p. 06-24, out. 2014.

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INTRODUÇÃO

No mundo, um dos tipos mais comuns de câncer é o de estômago e

este figura como a segunda maior causa de morte por câncer. A mais recente

estimativa mundial apontou a ocorrência de cerca de um milhão de casos

novos de câncer de estômago para o ano de 2014, configurando-se como a

quarta causa mais comum de câncer. Mais de 70% dos casos ocorreram em

países em desenvolvimento, como o Brasil. E, além disso, a incidência é

cerca de duas vezes mais alta no sexo masculino do que no feminino. Para o

ano de 2014, estima-se, para o Brasil, 20.390 novos casos, sendo 12.870

homens e 7.520 mulheres. Para a região Nordeste, foco do estudo, sem

considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer de estomago é o

segundo em homens (9/100 mil) e o sexto mais frequente entre as mulheres

(6/100 mil) (INCA 2014).

O câncer gástrico é uma patologia de etiologia multifatorial, em que

os tumores se desenvolvem a partir de lesões na mucosa gástrica,

ocasionadas pela ação e/ou interação de fatores de risco, ou seja, é um

processo que inclui várias etapas sendo resultado da exposição a fatores

endógenos (genéticos) e exógenos (ambientais), por um longo período de

tempo (CARVALHO et al. 2010).

Para os fatores endógenos, as alterações no material genético se

destacam no desenvolvimento e progressão do câncer gástrico, tendo

alterações em oncogenes e genes supressores de tumores (genes que

controlam o ciclo celular) assim como em outros mecanismos de controle da

estabilidade genômica, respondendo pelo aparecimento dessa patologia. As

alterações descritas até agora incluem amplificações e mutações nos

seguintes genes: c-ERBB2, KRAS, MET, TP53 e c-MYC (RIBEIRO et al.

2010).

A relação entre câncer gástrico e nutrição é apontada em vários

estudos, sendo a dieta um fator exógeno bastante relevante. Entre os fatores

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dietéticos associados à carcinogênese gástrica, vale ressaltar que dietas com

altas concentrações de cloreto de sódio, nitrito e nitrato, presentes em

alimentos defumados e frituras, são o ponto inicial para provocar

transformações na mucosa gástrica, podendo dar início a esta neoplasia

(MELO et al. 2012). Acredita-se que cerca de 35% dos diversos tipos de

câncer ocorrem em razão de dietas inadequadas. É possível identificar, por

meio de estudos epidemiológicos, associações relevantes entre alguns

padrões alimentares observados em diferentes regiões do globo e a

prevalência de tal patologia (GARÓFOLO et al. 2004).

Características regionais apontadas no consumo individual

confirmam os perfis diferenciados de disponibilidade de alimentos que

caracterizam as cinco grandes regiões do Brasil. O rendimento familiar é

importante para caracterizar a disponibilidade domiciliar de alimentos e o

consumo individual. O aumento da presença de frutas, verduras, legumes e

do refrigerante esta ligado a um maior rendimento familiar, e a tendência

inversa também foi observada para o consumo de feijão e farinha de

mandioca (JAROSZ et al. 2012).

Diversos autores apontam estudos que mostram a dieta habitual como

importante fator no aparecimento do câncer de estômago. Entre os fatores

de risco para essa neoplasia, está uma dieta rica em gorduras animais e com

baixa ingestão de frutas, vegetais e cereais. Além da dieta inadequada, estão

entre os fatores de risco o alcoolismo, sedentarismo e a infecção alimentar

pela Helicobacter pylori.

Diante do exposto, o objetivo do estudo foi cruzar dados de perfil

alimentar da população do nordeste do Brasil com estudos que investigaram

a relação entre as neoplasias gástricas e os principais alimentos consumidos

por esta população, sejam eles carcinogênicos ou anticarcinogênicos,

explicando assim a alta incidência desta neoplasia na região.

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nesta região. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n.

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METODOLOGIA

Foi realizada uma revisão de literatura, por meio de buscas

bibliográficas nos bancos de dados informatizados Medline/Pubmed, Scielo e

Lilacs, no período de maio a julho de 2013. Considerou-se os artigos que

investigaram a relação entre neoplasias gástricas e a alimentação, incluindo

uma pesquisa das características alimentares do nordeste do Brasil.

Incluíram-se artigos de estudos epidemiológicos transversais, ecológicos,

revisão, caso-controle e coorte publicados no período de 2008 a 2013. Não

foram inseridos no estudo, artigos nos quais o câncer foi investigado em

relação a suas consequências para o estado nutricional. Excluíram-se

também, aqueles que não estavam disponíveis na íntegra, visto que esse fato

dificultava e/ou impossibilitava a extração de informações relevantes para a

investigação dos fatores e desfecho analisados.

As buscas foram conduzidas por meio do formulário avançado

utilizando no campo “descritores de assunto” as seguintes palavras-chave

em português e seus correspondentes em inglês: neoplasias gástricas,

fatores de risco, consumo alimentar, alimentos, câncer de estômago e

características alimentares do nordeste do Brasil. Todas as palavras-chave

constam nos descritores em ciências da saúde.

Do conjunto de artigos identificados, foram selecionados os

relacionados com os hábitos alimentares, e estudos que comprovem a

interação dos principais alimentos consumidos na região com o

aparecimento destas neoplasias.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram encontrados 43 artigos, dos quais 21 atenderam aos critérios de

inclusão do estudo, compreendendo artigos de revisão, caso controle,

epidemiológicos e transversais.

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nesta região. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n.

3, p. 06-24, out. 2014.

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Os artigos foram divididos em dois grupos. O primeiro continha

aqueles que tratavam das características alimentares do nordeste, e o

segundo, os que citavam a influência de cada um dos alimentos mais

consumidos na região com o aparecimento de neoplasias gástricas. A partir

dos artigos base do grupo um, foi feito um cruzamento de dados para traçar

o perfil alimentar da população do nordeste do Brasil.

Com a pesquisa foi possível traçar o perfil alimentar do nordestino,

que mostrou que os alimentos mais consumidos pela população da região de

um modo geral são: arroz (84%), café (79%), feijão (72,8%), pão de sal (63%) e

carne bovina (48,7%). A banana foi a fruta mais citada (16,0%) e a salada

crua (16%) a preparação incluindo verduras mais frequentes entre os

brasileiros. A prevalência do consumo de sucos e refrescos foi de 39,8% e de

refrigerantes 23%, assim estes ocuparam, respectivamente, a sexta e nona

posições entre os alimentos mais consumidos. A prevalência de consumo do

leite integral foi de 12,4% e a de queijos, 13,5%. Biscoito salgado (15,9%),

bolos (13,4%), e doces (11,7%) também estiveram entre os 20 alimentos com

maior prevalência de consumo no País.

Entre os trabalhos analisados, o de Souza e colaboradores (2013)

mereceu destaque pois construíram em sua pesquisa o ranking dos 20

alimentos mais consumidos no Brasil, a partir do Inquérito Nacional de

Alimentação, onde são levados em consideração fatores regionais,

econômicos e sociais para o consumo alimentar. O café foi o item de maior

prevalência no Nordeste (83,6%). Sucos e refrescos também figuraram entre

os itens de maior consumo ficando em sexta posição no ranking. A

prevalência do consumo de refrigerantes foi de 16,1%, o que corresponde à

14ª posição. Hortaliças foram mais frequentemente citadas sob a forma de

salada crua no Nordeste (20ª posição, 10,6%).

Alguns itens, que aparecem entre os mais prevalentes somente em algumas

regiões, marcam características locais no consumo de alimentos, por

exemplo, a farinha de mandioca na região Nordeste (13ª posição, 18,2%). Os

Page 16: Revinter Revista da Toxicologia -Volume 7 Número 3 Out de 2014 - São Paulo

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OLIVEIRA, Victor Alves de; OLIVEIRA, Thayse Wilma Nogueira de; ALENCAR, Marcus

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Relação entre consumo alimentar da população nordestina e o alto índice de câncer gástrico

nesta região. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n.

3, p. 06-24, out. 2014.

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doces também aparecem entre os itens mais consumidos na região, com

prevalência em torno de 13%. Já os salgados fritos e assados não figuraram

entre estes itens. Os biscoitos salgados e os ovos estão entre os mais

prevalentes em todas as regiões do país, e os peixes também foram citados

com importância no Nordeste.

A partir do estudo de Souza e colaboradores (2013) foi analisado

alimentos com alta incidência para região Nordeste e que ao mesmo tempo

possuem na sua constituição compostos que são fatores de risco para o

desenvolvimento e progressão do processo de carcinogênese gástrica. Como

também foram avaliados e analisados alimentos de baixa incidência na

mesma região do País e que possuem propriedades antineoplásicas.

Alimentação como fator de risco para o câncer gástrico na Região

Nordeste

Café

Dentre todos os alimentos citados no consumo diário dos nordestinos o

café obteve o maior destaque ocupando o topo do ranking de consumo. O café

é uma das matérias-primas com maior importância no comércio

internacional. É igualmente uma das bebidas mais apreciadas em todo

mundo, não só pelas suas características organolépticas, mas também pelo

seu efeito estimulante (ALVES et al. 2009).

Esta é uma bebida muito consumida pela população, que possui uma

mistura complexa de diferentes moléculas com atividade genotóxica, como o

metilglioxal, o peróxido de oxigênio e os dicarbonos alifáticos, formados

durante o processo de torrefação. Düsman et al. (2012) mostram que o café

induz mutações em várias cepas de Salmonella typhimurium, em células de

hamster Chinês e em linfócitos humanos. O café instantâneo também possui

atividade genotóxica, tanto por seus constituintes como pela formação dos

compostos fenólicos decorrentes da auto-oxidação do mesmo.

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Estudos realizados demonstraram que a cafeína, presente em chás e

cafés, afeta a ação reparadora do DNA durante a divisão celular, modifica a

resposta apoptótica e altera o funcionamento do gene p53, que codifica uma

proteína reguladora do ciclo celular. Além disso, o café e a cafeína são

capazes de interagir com muitos outros mutagênicos e os seus efeitos são

sinergísticos junto com raios-X, luz ultravioleta e alguns agentes químicos

(DÜSMAN et al. 2012).

Carne

A carne bovina também é um alimento muito consumido na região

nordeste, figurando entre os cinco itens mais consumidos (JAROSZ et al.

2012). O Departamento de Saúde dos Estados Unidos considera que existe

uma associação de risco moderado consistente entre o consumo de carnes

processadas e o câncer do trato gastrointestinal (MAGALHÃES et al. 2008).

Está bem documentado na literatura que os compostos N-nitrosos e o

nitrato induzem à formação tumoral por meio da sua transformação em

nitrito, um óxido desestabilizado, que pode acarretar danos ao material

genético, causando assim uma lesão celular. O nitrito, que pode ser formado

endogenamente, também provém das carnes curadas (conservadas com

nitrito de sódio), embutidos e alguns vegetais (espinafre, batata, beterraba,

alface, tomate, cenoura, nabo, couve-flor, repolho, rabanete, etc.) que contêm

nitrato, o qual é transformado em nitrito pela ação da saliva. Os

mecanismos postulados para o aumento do risco do câncer de estômago com

o consumo de compostos nitrosos estão associados ao aumento de radicais

livres, que promovem lesão celular com redução na produção de muco, um

fator de proteção à mucosa gástrica (MAGALHÃES et al. 2008).

Métodos de preservação e preparo de carnes, que acarretam a

formação de amina heterocíclicas, além dos nitritos, também foram

associados ao maior risco de cânceres do trato gastrintestinal. Por exemplo,

preparar as carnes com temperaturas elevadas, produzindo um suco

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3, p. 06-24, out. 2014.

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queimado, ou expor a carne diretamente ao fogo, como durante o preparo do

churrasco, tem sido desaconselhado pela World Cancer Research Fund, por

produzir componentes carcinogênicos na superfície do alimento e aumentar

o risco de câncer, principalmente de estômago. A presença de elevada

quantidade de benzo [a] pirenos – hidrocarboneto cíclico aromático nos

alimentos, considerado um potente carcinogênico - também é correlacionada

com essas formas de preparações e parece associar-se com o risco aumentado

de câncer do trato gastrintestinal (GARÓFOLO et al. 2004).

Refrigerantes

Estudos toxicológicos na literatura com corantes alimentares

presentes em refrigerantes mostram que alguns desses corantes possuem

atividades citotóxicas e mutagênicas. Alves e colaboradores (2009)

comprovaram que o corante caramelo, presente nos refrigerantes sabor Cola,

apresentou atividade mutagênica em Salmonella typhimurium cepa TA 100.

O corante também causou convulsões quando administrado em ratos,

camundongos e pintos, afetou adversamente os níveis de glóbulos brancos e

linfócitos em animais de laboratório, e inibiu a absorção de vitamina B6 em

coelhos, devido à presença de uma impureza chamada de 4-Metilimidazol no

corante caramelo, produzida por processos que utilizam amônia. O 4-

Metilimidazol apresentou potencial carcinogênico em camundongos tratados

por 2 anos com concentrações bem elevadas dessa substância. Outros

corantes como o amaranto, corante presente em alimentos como,

refrigerante sabor Uva, também apresentou potencial mutagênico e

carcinogênico quando administrados em camundongos (ALVES et al. 2009).

Gomes e colaboradores (2013) demostraram que os corantes

alimentares amarelo crepúsculo, vermelho bordeaux e amarelo tartrazina

tem capacidade citotóxica sobre o ciclo celular de Allium cepa L. Cada

corante foi avaliado nas doses de 0,4 e 4,0 mL, nos tempos de exposição de

24 e 48 horas, em células de pontas de raízes de Allium cepa L, e os

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resultados obtidos mostraram que os três corantes, nas doses e tempos de

exposição avaliados, foram citotóxicos às células do sistema-teste utilizado.

Salgados, biscoitos e industrializados

O consumo de alimentos processados e industrializados se mostra

prevalente na população de todo o Brasil. No Nordeste, a prevalência de

salgados fritos ou assados não foi tão expressivo, porém os biscoitos e

industrializados foram citados entre a maior parte da população de todo o

país, estando mais presente entre os adolescentes de renda alta e média

(JAROSZ et al. 2012).

Nestes alimentos o potencial carcinogênico esta presente na interação

dos aditivos alimentares com o organismo. É pertinente a constante

preocupação com as substâncias químicas sintéticas, pois estas podem

desencadear o câncer, estando presentes nos alimentos como aditivos ou

contaminantes ambientais de uso na agricultura como, por exemplo, os

agrotóxicos.

Algumas substâncias adicionadas aos alimentos, como os corantes e

os conservantes, acumulam-se no organismo e deve-se tomar um cuidado

maior quanto as suas doses de ingestão diária. Mesmo considerando-se uma

parcial eliminação dessas substâncias e uma degradação metabólica da

mesma, deve-se destacar que não existem informações bem definidas para

cada substância quanto à dose diária de ingestão e o risco da carcinogênese.

Dependendo da substância, uma pequena dose ingerida diariamente e por

tempo prolongado, pode resultar no câncer (CESAR e TOLEDO 2011).

As nitrosaminas e os antioxidantes BHA (antioxidante butil

hidroxianisol) podem provocar danos e mutações no DNA, provavelmente

desencadeando, desta forma, a neoplasia. Também alguns corantes

artificiais, nomeadamente a eritrosina e a tartrazina, apresentam este

potencial. Essas substâncias alteram o “turn-over” das células durante o seu

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crescimento normal ou no processo de hiperplasia regenerativa e, deste

modo, contribuem para a incidência de câncer (ALVES et al., 2009).

A identificação de agentes antimutagênicos e/ou anticarcinogênicos

em alimentos é de grande relevância na busca de estratégias para a

prevenção do câncer. Atualmente, os corantes mais investigados são os do

grupo Azo (amarelo tartrazina, amarelo crepúsculo e vermelho 40), devido

aos seus possíveis efeitos mutagênicos e carcinogênicos.

Farinha

No nordeste, uma característica marcante da alimentação desta

região é o alto consumo de farinha de mandioca. A relação entre o consumo

de farinha e o câncer, é a alta ingestão de anilina, presente em vários tipos

de farinha de mandioca e fonte de radicais aminas e dióxido de nitrogênio.

Estes compostos podem atuar como substrato para a formação endógena de

nitrosaminas, importantes carcinógenos associados à patogênese do câncer

gástrico, particularmente na situação de carência relativa de antioxidantes,

em função de um consumo reduzido de legumes e vegetais, embora maior de

frutas. Os compostos nitrosos e o nitrato induzem à formação tumoral por

meio da sua transformação em nitrito, levando ao aumento na produção de

radicais livres (CESAR e TOLEDO 2011).

Alimentação como fator preventivo de câncer gástrico na região

Nordeste

Uma nutrição adequada e apropriada é indispensável para a

manutenção da saúde. Contribui tanto para a diminuição de riscos de

doenças como também para a restauração da homeostasia em casos de

enfermidades. Por meio da alimentação é possível promover a recuperação,

reabilitação, desintoxicação e reparo de células, proporcionando maior

vitalidade a órgãos e tecidos.

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A alimentação pode modificar o processo de carcinogênese,

principalmente nos estágios iniciais, proporcionando melhores resultados no

tratamento e diagnóstico clínico. Dessa forma, através de um padrão

nutricional normal ou equilibrado pode-se reduzir o risco de câncer

(ANTUNES et al. 2010).

Foram identificadas várias etapas na patogênese do câncer nas quais

os fatores dietéticos podem, supostamente, atuar no aumento ou na

diminuição da probabilidade de desenvolvimento de um câncer clínico.

Sendo assim é de fundamental importância conhecer as substâncias

mutagênicas em cada alimento que pode causar câncer, além de conhecer

também alimentos que promovam o processo inverso, identificando sua ação

e como este previne tal patologia (FIGUEREDO e SILVA 2003; GARÓFOLO

et al. 2004; EPPLEIN et al. 2010).

Frutas e sucos

O consumo de frutas pela população nordestina não é tão frequente. A

fruta mais consumida é a banana, que esteve prevalente não só nesta região

mais em todo o Brasil. Outra fruta também citada no consumo,

principalmente da população idosa, foi a laranja, que tem boas

concentrações de vitamina C. Os sucos também tiveram lugar de destaque

no consumo da população nordestina e ocuparam a sexta posição no ranking

dos alimentos mais consumidos. Os sucos e frutas estão ligados com a

prevenção do câncer, pois as vitaminas possuem propriedades

quimiopreventivas que funcionam como antioxidantes em sistemas

biológicos (JAROSZ et al. 2012; CESAR e TOLEDO 2011; SHILLS et al.

2009).

As vitaminas mais investigadas com propriedades quimiopreventivas

são os carotenóides e as vitaminas C e E, que funcionam como

antioxidantes. O processo carcinogênico é caracterizado por um estado

oxidativo crônico, especialmente na etapa de promoção. Além disso, a fase de

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iniciação está associada com dano irreversível no material genético da

célula, devido ao ataque de radicais livres. Desse modo, os nutrientes

antioxidantes poderiam reduzir o risco de câncer inibindo os danos ao DNA

(CESAR e TOLEDO 2011).

Estudos sobre o mecanismo de ação dos carotenóides, na inibição da

carcinogênese, revelaram a existência de ações múltiplas: proteção ao DNA

contra a mutagênese e genotoxicidade; inibição da proliferação celular;

facilitação da comunicação intercelular e estímulo ao sistema imunológico.

As vitaminas C e E são importantes antioxidantes, que reduzem a

velocidade de iniciação ou previnem a propagação de radicais livres. A

vitamina E é especialmente importante na prevenção da peroxidação de

lipídios, enquanto que a vitamina C reage efetivamente com superóxido e

radicais hidroxilas. Esta vitamina desempenha ainda papel importante na

redução de radicais cromanoxil e na regeneração da vitamina E. Um

mecanismo importante na prevenção do câncer pelo ácido ascórbico é a sua

capacidade de inibir a formação de compostos N-nitrosos (N-nitrosaminas).

Essa propriedade é de grande significado na redução do risco de câncer em

humanos. Sob certas condições, suplementação com ácido ascórbico pode

reverter células transformadas em células morfologicamente normais,

podendo ser este mais um mecanismo de sua atuação na prevenção de

tumores (CESAR e TOLEDO 2011).

Quanto à vitamina E (α-tocoferol), esta é reconhecida, como a melhor

bloqueadora de radicais livres em membranas. Tem sido demonstrado que a

vitamina E inibe reações de nitrosação na célula, sugerindo que possa

exercer um efeito anticarcinogênico. A suplementação com vitamina E não

altera a progressão de tumores já instalados. Sugere-se que sua ação

antitumoral esteja ligada à sua capacidade de inibir a formação de radicais

livres, que poderiam danificar o DNA. Da mesma forma que a vitamina C, a

vitamina E pode atuar sobre o sistema imunológico aumentando a resposta

imune (PACHECO e SGARBIERI 2010).

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Os estudos de Epplein e colaboradores (2010) notaram que os homens

com o mais alto consumo de frutas tinham uma redução de

aproximadamente 50% no risco de câncer gástrico distal em comparação com

os homens com o mais baixo consumo de frutas. Esta associação foi

especialmente forte entre os fumantes sempre masculinos, para quem

aqueles com mais alto nível de ingestão de frutas tiveram quase 60% menos

risco de câncer gástrico distal.

Cavalcante e colaboradores (2011) observaram em seu estudo com

camundongos que o caju (Anacardium occidentale) mais precisamente em

forma de suco e cajuína (suco processado), as formas mais comumente

consumidas no nordeste do Brasil, tem elevado potencial antigenotóxico e

anticlastrogênico in vivo, o que pode estar relacionado com os compostos

antioxidantes encontrados em ambas as bebidas. Mostrando assim, a

capacidade dessa fruta em reduzir os radicais livres que são elementos que

reagem com a estrutura do DNA causando modificações nessa estrutura.

Leite e fibras alimentares

A alimentação da população nordestina apresentou características

peculiares quanto ao consumo de leite e fibras alimentares presentes nas

saladas cruas. O leite é a forma mais acessível da suplementação alimentar

de cálcio e, as fibras solúveis e insolúveis nos legumes e vegetais são

responsáveis por uma grande proteção em outros tipos de câncer do trato

gastrointestinal.

Cabral e Gruezo (2010) citam alguns estudos de coorte e caso-controle

que comprovam que há uma associação entre a ingestão de cálcio e a

diminuição dos riscos de câncer colorretal, citam também estudos que

mostram que uma ingestão >250g/dia de leite esta relacionada com um

menor risco de câncer colorretal quando comparado com uma ingestão

<70g/dia, e que o consumo de 500g/dia (aproximadamente 2 copos de leite)

estava associado com a redução em 12% do risco de câncer colorretal.

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As fibras alimentares também denominadas dietéticas constituem um

grupo de componentes funcionais dos mais importantes. É fornecida

principalmente pelos alimentos de origem vegetal e tem ações protetoras

contra o câncer colorretal (ANTUNES et al. 2010).

Várias hipóteses procuram explicar a ação preventiva da fibra

alimentar no câncer de cólon: 1) redução da exposição a agentes

carcinogênicos pelo aumento do bolo fecal e/ou diminuição do tempo de

trânsito do bolo intestinal; 2) redução da produção de ácidos biliares

secundários (desoxicólico e litocólico) pela diminuição de bactérias

produtoras de enzimas (7-α-desidroxilases) responsáveis pela conversão dos

ácidos biliares primários (cólico e quenodesoxicólico) nos ácidos secundários

que são pro-carcinogênicos; 3) efeito ligante da fibra a hormônios

(estrógenos) promotores de câncer de cólon e mama; 4) produção de ácidos

graxos de cadeias curtas que contribuem para a redução do pH do bolo

intestinal e desempenham papel fisiológico importante em nível de tecido

epitelial (ANTUNES et al., 2010).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista todos os dados avaliados, pode-se notar que a

alimentação na região Nordeste possui uma estreita relação com o

desenvolvimento de vários tipos de câncer, principalmente o de estômago

por este órgão ser o primeiro do trato gastrointestinal a ter contato com

substâncias carcinogênicas e por ser onde as primeiras interações de grande

importância estão acontecendo, aumentando assim sua exposição a

substâncias precursoras de dano e que pode induzir ao câncer.

Outro fator importante observado na alimentação dessa região foi a

taxa do consumo de alimentos que tem potencial carcinogênico, como carnes,

refrigerantes, café, farinha e industrializados, que se apresentou bem mais

elevada que o consumo de alimentos como sucos e frutas que previnem o

aparecimento de neoplasias gástricas.

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Além disso, deve se levar em consideração o fator econômico que está

ligado ao consumo alimentar da população e a disponibilidade de alimentos

na região.

Assim, o declínio da incidência do câncer gástrico na região Nordeste,

pode se dar com a implementação de uma alimentação rica em frutas e

vegetais, visto que o consumo destes alimentos pela população da região é

deficiente. É necessário também que aconteça uma reeducação alimentar

quanto ao consumo de alimentos com potencial carcinogênico, para que aja

um equilíbrio favorável à prevenção desta neoplasia.

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GADELHA, Julia de Abreu; VASCONCELOS, Auriana Serra; SANTIAGO, Vívian Romero;

JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; MOREIRA, Breno Alves Auad; SOARES, Janete

Eliza de Sá; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Desenvolvimento de métodos

cromatográficos qualitativos para identificação de benzodiazepínicos. RevInter Revista

Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 25-49, out. 2014.

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Desenvolvimento de métodos

cromatográficos qualitativos para

identificação de benzodiazepínicos

Julia de Abreu Gadelha

Farmacêutica graduada pela Universidade Federal do Ceará

Endereço para correspondência: Laboratório de Pesquisa em

Toxicologia.

*Autor para correspondência: Laboratório de Pesquisa em Toxicologia.

Rua Alexandre Baraúna, 949 - Rodolfo Teófilo - Fortaleza - CE / CEP

60430-160. 3º andar.

Auriana Serra Vasconcelos

Farmacêutica mestranda em farmacologia da Universidade Federal do

Ceará

Vívian Romero Santiago

Farmacêutica Perita legista da Perícia Forense do Ceará e especialista

em farmacologia legal.

Wanderley Pinheiro de Holanda Junior

Farmacêutico Perito legista da Perícia Forense do Ceará.

Breno Alves Auad Moreira

Farmacêutico mestrando em ciências farmacêuticas da Universidade

Federal do Ceará.

Janete Eliza de Sá Soares

Professora doutora da disciplina de toxicologia de alimentos do

Departamento de Farmácia da Faculdade de Farmácia, Odontologia e

Enfermagem da Universidade Federal do Ceará.

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GADELHA, Julia de Abreu; VASCONCELOS, Auriana Serra; SANTIAGO, Vívian Romero;

JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; MOREIRA, Breno Alves Auad; SOARES, Janete

Eliza de Sá; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Desenvolvimento de métodos

cromatográficos qualitativos para identificação de benzodiazepínicos. RevInter Revista

Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 25-49, out. 2014.

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Teresa Maria de Jesus Ponte Carvalho

Professora doutora da disciplina de Análises Toxicológicas do

Departamento de Farmácia da Faculdade de Farmácia, Odontologia e

Enfermagem da Universidade Federal do Ceará.

RESUMO

Os benzodiazepínicos são os agentes sedativo-hipnóticos mais prescritos no

mundo devido à eficácia terapêutica e ao rápido início de ação. Porém, desde

1970, são descritos casos de dependência devido ao consumo abusivo desses

fármacos. Além disso, são utilizados com objetivo criminoso em roubos e

estupros através de adulterações em bebidas ou alimentos, sendo os

principais, flunitrazepam, clonazepam, diazepam e midazolam. A

Toxicologia Forense utiliza métodos analíticos de triagem e de confirmação

para a identificação de substâncias, entre eles, os mais utilizados são os

métodos cromatográficos. O objetivo desse estudo foi desenvolver métodos

cromatográficos qualitativos por Cromatografia em Camada Delgada (CCD)

e Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) para a identificação dos

benzodiazepínicos (bromazepam, clonazepam, clordiazepóxido, diazepam,

flunitrazepam, flurazepam e midazolam). Foram testadas diferentes

condições cromatográficas para o aperfeiçoamento dos métodos. Para CCD,

selecionou-se a fase móvel acetato de etila:metanol:hidróxido de amônio

(89,5:10:0,5) e revelação através da solução de cloreto férrico, de

aquecimento e da solução de Dragendorff para melhor identificação e

separação. Foram observadas colorações diversas de manchas (branco, cinza,

amarelo, laranja e marrom) e fatores de retenção entre 0,30 e 0,58. O

método foi testado para a análise de duas amostras de comprimidos, que

mostraram a presença de flunitrazepam e bromazepam. Para CLAE,

utilizando-se coluna C18, comprimento de onda 230nm, fluxo 1mL/min e

volume de injeção de 25µL, foram testadas diferentes proporções da fase

móvel acetonitrila:metanol:água na tentativa de identificar e separar os sete

padrões de benzodiazepínicos, não sendo possível esta separação. Porém, a

fase móvel acetonitrila:metanol:água (40:20:40) ajustada em pH 4 com ácido

fosfórico (1/2) foi capaz de separar os padrões de flunitrazepam (5,6 min),

clonazepam (4,4 min) e diazepam (11,4 min). Além disso, a fase móvel

acetonitrila:metanol:água (20:45:35) identificou o midazolam (10,5 min), que

não foi detectado nas outras proporções da fase móvel testadas. Diante dos

resultados expostos, a metodologia desenvolvida nesse estudo pode ser

aplicada nas análises toxicológicas qualitativas com finalidade forense,

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porém, ainda necessita de mais estudos para o aperfeiçoamento do método e

para a sua validação analítica.

Palavras-chave: Cromatografia em Camada Delgada. Cromatografia

Líquida de Ultra Eficiência. Toxicologia Forense. Benzodiazepínicos.

ABSTRACT

Benzodiazepines are sedative-hypnotic agents and the most prescribed in

the world due to its therapeutic efficacy and rapid onset of action. However,

since 1970, cases of dependence due to the abuse of these drugs have been

described. Moreover, those agents are used to rob and rape victims through

adulteration of food or drinks. The most used are flunitrazepam,

clonazepam, diazepam and midazolam. The Forensic Toxicology uses

analytical methods of screening and confirmation for the identification of

substances. The most common are chromatographic methods. The aim of

this study is to develop chromatographic methods for qualitative Thin Layer

Chromatography (TLC) and Ultra Performance Liquid Chromatography

(UPLC) for the identification of benzodiazepines (bromazepam, clonazepam,

chlordiazepoxide, diazepam, flunitrazepam, flurazepam and midazolam).

Different chromatographic conditions for the improvement of the methods

were tested. For TLC, the mobile phase selected was ethyl acetate:

methanol: ammonium hydroxide (89,5:10:0,5) and the visualization agents

were ferric chloride solution, heating and Dragendorff solution for better

separation. Colorations were observed forming several spots (white, gray,

yellow, orange and brown) and the retention factors observed, between

0.30and 0.58. The method was tested for the analysis of two samples of

tablets, which showed the presence of flunitrazepam and bromazepam. For

UPLC, using a C18 column, wavelength 230nm, flow1ml/min and injection

volume of 25μL were tested different ratios of mobile phase

acetonitrile:methanol:water in an attempt to identify and separate the

seven patterns of benzodiazepines. The separation was not possible.

However, the mobile phase acetonitrile:methanol:water(40:20:40) adjusted

to pH 4 with phosphoric acid (1/2) was capable of separating patterns of

flunitrazepam (5.6 min), clonazepam (4.4 min) and diazepam (11.4 min). In

addition, mobile phase acetonitrile:methanol:water(20:45:35) identified

midazolam (10.5 min), which was not detected in other mobile phase ratios

tested. The methodology developed in this study can be applied in

qualitative toxicological analyzes with forensic purpose; however, it still

needs more studies to analytical validation.

Keywords: Thin Layer Chromatograph.Ultra Performance Liquid

Chromatography.Forensic Toxicology.Benzodiazepines.

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INTRODUÇÃO

A Toxicologia Forense engloba qualquer aplicação da ciência dos

toxicantes, com o objetivo de esclarecer uma investigação criminal e está

intimamente relacionada à Toxicologia Analítica, a qual consiste na

identificação e/ou quantificação de agentes tóxicos e/ou seus metabólitos,

como também na detecção de parâmetros relacionados com a exposição à

toxicantes que resultam em alterações fisiológicas no organismo (MOREAU;

SIQUEIRA, 2008).

As análises toxicológicas com fins médico-legais são empregadas para

detectar, identificar e quantificar agentes tóxicos, com aplicação nas

análises post-mortem, controle de dopagem, toxicodependência, crimes

ambientais (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008).

Dentre as metodologias utilizadas nas análises toxicológicas, temos

como bastante utilizada a cromatografia. A cromatografia é um método

físico-químico de separação, que se baseia na migração diferencial dos

componentes de uma mistura, distribuídos em duas fases imiscíveis, a fase

móvel e a estacionária. A fase estacionária permanece fixa e a fase móvel

passa através dela, arrastando determinados componentes da mistura,

enquanto outros ficam retidos na fase estacionária, o que irá resultar na

migração diferencial de cada componente (PERES, 2002).

Os métodos cromatográficos possuem boa sensibilidade e são capazes

de separar diversos tipos de espécies, desde não voláteis até termicamente

instáveis, sendo utilizados para fins qualitativos e quantitativos (TONHI,

2002).

Considerando os diversos tipos de cromatografia, podemos destacar a

Cromatografia em Camada Delgada (CCD) e a Cromatografia Líquida de

Alta Eficiência (CLAE).

A Cromatografia em Camada Delgada (CCD) tem sido empregada

como método de triagem para a detecção de compostos carbâmicos, como o

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aldicarb (XAVIER et al., 2007) e a CLAE como método de confirmação

(MELITO, 2004) com finalidade forense. A CLAE é bastante utilizada como

método de triagem ou confirmação e, juntamente com a espectrometria de

massa, é a técnica de eleição para confirmação por fornecer máxima

especificidade possível (MOREAU; SIQUEIRA, 2008).

Dentre as drogas de importância para as situações periciais, destacam-

se os benzodiazepínicos, drogas estas que originalmente teriam ação

sedativa e hipnótica, podendo ser usados também como agentes

antiepilépticos, ansiolíticos, relaxantes musculares e como anestésicos,

quando administrados em altas doses e associados a outros fármacos.

(GOODMAN, 2006). Entretanto, além da dependência e tolerância,

infelizmente, os benzodiazepínicos passaram a ser “conhecidos nas ruas”

como drogas facilitadoras de estupros e roubos, possibilitando a venda por

traficantes. Os mais conhecidos são o flunitrazepam, designado por “rape

drug”, principalmente porque é um indutor do sono, cuja ação se dá de forma

rápida e intensa, além de atuar como ansiolítico, relaxante muscular e levar

a produção de amnésia (BERTHELON et al., 2003); o clonazepam (POLÍCIA

CIVIL DO ESTADO DE RONDÔNIA, 2013); e, o diazepam (AMIR;

WAISMAN, 2006), provavelmente, por serem fármacos da classe de

benzodiazepínicos com ação mais longa.

Estes fármacos vêm sendo utilizados com o objetivo criminoso de sedar

vítimas potenciais de estupro e assalto (CHEN; HU, 1999; BICHOP,

LERCH, MCCORD, 2004). Vários casos destes são registrados nas

delegacias brasileiras por vítimas induzidas a ingerir bebidas adulteradas

com essas substâncias, conhecidas, popularmente, como “Boa Noite

Cinderela” (LEIROZ; RIEHL, 2008).

Dessa forma, apesar de serem muito prescritos, os benzodiazepínicos

são alvos de uso indiscriminado (LAVIE et al, 2009; FORSAN, 2010), o que

torna necessário o desenvolvimento de métodos confiáveis para a análise

qualitativa e quantitativa desses fármacos no estudo médico-legal. Além

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disso, o desenvolvimento de métodos capazes de identificar substâncias de

interesse forense permite estabelecer nexo causal entre um determinado

evento e um efeito, ou mesmo a tentativa deste, possibilitando a elucidação

de uma investigação (MENEZES et al., 2012).

O presente trabalho tem como objetivo principal desenvolver métodos

cromatográficos qualitativos (triagem e confirmação) para identificação dos

benzodiazepínicos com finalidade forense, principalmente aqueles fármacos

envolvidos em eventos criminosos que necessitam ser identificados para que

o procedimento legal seja instaurado.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo analítico, qualitativo, utilizando-se o método

da Cromatografia em Camada Delgada (CCD) e Cromatografia Liquida de

Alta Eficiência (CLAE).

As análises foram realizadas em um Cromatografia Liquida de Alta

Eficiência (CLAE) com sistema de bombeamento, detector com arranjo de

diodos (PDA) (AccelaThermoScientific®) e sistema de aquisição de dados

ChromQuest 5.0 (ThermoScientific®) e coluna analítica ODS HYPERSIL C18

(250x4,6mm) da ThermoScientific®.

Os reagentes sólidos foram pesados em balança analítica de precisão

RK®-200. A água utilizada no preparo das soluções foi purificada em

Sistema MilliQ – ELGA®. As soluções foram filtradas em sistema de

filtração com bomba a vácuo GAST®, membrana Pall Corporation® tipo

PTFE (0,45- 47mm) e homogeneizadas em banho ultrason QUIMIS® modelo

Q335D. Foram utilizados micropipetadores automáticos PIPETMANNeo®

GILSON e as medidas de pH foram feitas no Phmetro JENWAY® modelo

3510.

Foram utilizados os seguintes solventes e materiais: Água purificada

em sistema MilliQ® (resistividade 18,2 MΩ.cm); Acetato de etila (ISOFAR®);

Metanol e Hidróxido de amônio para análise - P.A. (VETEC®); Metanol e

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Acetonitrila grau HPLC (TEDIA®); Cromato placas (Sílica gel 60 F254

MERCK®).

Os padrões de benzodiazepínicos analisados, bem como duas amostras

de comprimidos foram cedidos pela Perícia Forense do Ceará (PEFOCE).

Cromatografia em Camada Delgada (CCD)

Foram preparadas soluções de benzodiazepínicos 5% em metanol grau

CLAE. Os padrões utilizados no trabalho foram: bromazepam, clonazepam,

clordiazepóxido, diazepam, flunitrazepam, flurazepam e midazolam. As

amostras de comprimidos foram maceradas utilizando grau e pistilo e, em

seguida, extraídas com metanol.

Foram utilizados os seguintes reveladores: cloreto férrico 10% (FeCl3),

aquecimento (∆) e solução de dragendorff. A fase móvel utilizada foi acetato

de etila:metanol:hidróxido de amônio (89,5:10:0,5).

Primeiramente, foi feita a padronização com os benzodiazepínicos

bromazepam, clonazepam, clordiazepóxido, diazepam, flunitrazepam,

flurazepam e midazolam.

A aplicação dos padrões na placa cromatográfica foi feita utilizando-se

capilares de vidro (volume de ¼). Após a aplicação dos padrões, a

cromatoplaca foi levada para a cuba cromatográfica contendo o sistema

solvente acetato de etila: metanol: hidróxido de amônio (89,5:10:0,5) e foi

deixada eluir até 10 cm. Com a eluição completa, a cromatoplaca foi deixada

à temperatura ambiente para secagem e, em seguida revelada,

primeiramente, com o cloreto férrico a 10%, depois foi aquecida por 5

minutos em estufa a 100º C, e, por último, revelada com a solução de

Dragendorff.

Para a análise das amostras de comprimidos, aplicou-se pequenas

quantidades das soluções das amostras na cromatoplaca, juntamente com as

soluções padrões de benzodiazepínicos, e seguiram-se os mesmos

procedimentos descritos acima após a aplicação.

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Cromatografia Liquida de Alta Eficiência (CLAE)

As soluções dos fármacos de bromazepam, clonazepam,

clordiazepóxido, diazepam, flunitrazepam, flurazepam e midazolamforam

preparadas a 5% em metanol grau HPLC (solução estoque) e, em seguida,

diluídas para uma concentração de 250µg/mL (solução trabalho). Essas

soluções foram mantidas sob refrigeração até o momento de uso.

Diferentes comprimentos de onda foram analisados com a finalidade

de selecionar o que permitia melhor visualização dos padrões de

benzodiazepínicos. Os comprimentos testados foram: 210; 230e 315nm.

Para a escolha da composição da fase móvel para a separação

cromatográfica testaram-se os seguintes solventes em diferentes proporções:

acetonitrila (ACN), metanol (MetOH) e água purificada (H2O). As

composições testadas foram: ACN:MetOH:H2O (40:20:40), ACN:MetOH:H2O

(40:20:40) acidificada com H3PO4 (1:2) até pH 4, ACN:MetOH:H2O

(30:20:42), ACN:MetOH:H2O (35:20:45), ACN:MetOH:H2O (35:25:40),

ACN:MetOH:H2O (30:25:45), ACN:MetOH:H2O (45:35:20) e

ACN:MetOH:H2O (20:45:35). Todas elas, antes do uso, foram

desgaseificadas em aparelho para banho ultrassônico e a água foi filtrada

através de papel de filtro, com auxílio de bomba de vácuo.

Foi utilizada a coluna cromatográfica de fase reversa ODS

HYPERSIL C18 (250 x 4,6 mm x 5µm), tomando-se como base dados da

literatura (LIMA, 2009; KASSAB; LANGUE, 2009; SESHAGIRI RAO;

USHA RANI, 2009; SRUTHI et al, 2012).

As determinações cromatográficas foram feitas em CLAE e os sete

benzodiazepínicos estudados foram determinados pela cromatografia líquida

em fase reversa (CL-FR), fluxo 1mL/min e eluição isocrática composta de

fase móvel contendo os solventes acetonitrila, metanol e água.

Para evitar grandes oscilações de absorvância na linha de base, a

coluna cromatográfica era condicionada com a fase móvel a ser utilizada nos

experimentos por aproximadamente 20 minutos. Após esse tempo, eram

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injetados 25µL dos padrões, observando-se a detecção através do tempo de

retenção. Diversas proporções da fase móvel composta pelos três solventes

(acetonitrila, metanol e água) foram testadas, descritas no item 3.4.2.3.

Porém, nem todos os benzodiazepínicos puderam ser testados em cada fase

devido a problemas técnicos do equipamento.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Determinações por Cromatografia em Camada Delgada (CCD)

No procedimento de revelação da cromatoplaca foi utilizado,

inicialmente, a solução de cloreto férrico (FeCl3), sendo possível a

visualização de três dos sete benzodiazepínicos (bromazepam,

clordiazepóxido e flunitrazepam). No entanto, as manchas eram muito claras

e fugazes. Então, a cromatoplaca foi aquecida para a melhor fixação das

manchas e, em seguida, foi revelada com a solução de Dragendorff. Após esse

revelador, foi possível a visualização dos sete padrões de benzodiazepínicos,

mostrando-se manchas bem mais visíveis (Tabela 1).

Segundo Clarke (1986), o cloreto férrico (FeCl3) é capaz de revelar

grupamentos fenólicos, já a solução de Dragendorff é capaz de revelar

compostos alcaloides, devido as reações químicas que ocorrem entre essas

substâncias. No entanto, apesar dos benzodiazepínicos não possuírem

grupamentos fenólicos e nem pertencerem à classe dos alcaloides, esses

reveladores são descritos como eficientes na literatura (MORAES;

SZNELWAR; FERNICOLA, 1991).

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Um aspecto importante observado na revelação da cromatoplaca foi que

as manchas correspondentes aos padrões de clonazepam e midazolam eram

muito fugazes, e a mancha correspondente ao padrão de bromazepam

persistia ao passar do tempo, ficando com uma coloração roxa.

A fase móvel utilizada em CCD não deve ser pouco polar, incapaz de

remover os compostos do ponto de aplicação, e nem muito polar, capaz de

arrastar os compostos até o topo da placa cromatográfica. Sendo assim,

melhores resultados são obtidos com misturas de solventes (DEGANI;

CASS; VIEIRA, 1998).

No caso da separação dos benzodiazepínicos estudados, a fase móvel

constituída pelos solventes acetato de etila (89,5 mL), metanol (10 mL) e

hidróxido de amônio (0,5mL) foi capaz de permitir o deslocamento na fase

estacionária de todos os padrões de benzodiazepínicos, obtendo valores do

fator de retenção (Rf) na faixa de 0,3 a 0,6. Apesar da proximidade de alguns

valores, foi possível a identificação de cada benzodiazepínico, já que durante

a análise dos resultados em CCD também se leva em consideração as cores

das manchas obtidas durante a revelação (Tabela 2).

As amostras de comprimidos foram identificadas frente às condições

previamente estabelecidas, sendo elas: fase móvel -acetato de

etila:metanol:hidróxido de amônio (89,5:10:0,5) e reveladores –solução de

cloreto férrico, aquecimento e solução de Dragendorff. As soluções das

amostras foram aplicadas na cromatoplaca juntamente com os padrões de

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benzodiazepínicos, a fim de identificar o(s) princípio(s) ativo(s) presente(s)

nos comprimidos.

A Tabela 3 apresenta os resultados das amostras de comprimidos e dos

padrões de benzodiazepínicos estudados frente às condições cromatográficas

já estabelecidas, descrevendo as cores e os valores do Rf produzidos pelos

reveladores solução de cloreto férrico (FeCl3) a 10%, aquecimento (∆) e

solução de Dragendorff.

As Figuras 1 e 2 mostram as placas cromatográficas reveladas com a

solução de cloreto férrico a 10% e com a solução de Dragendorff,

respectivamente.

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Figura 1 – Cromatoplaca por CCD após revelação com solução de cloreto férrico. Fase

móvel: acetato de etila:metanol:hidróxido de amônio (89,5:10:0,5).

Figura 2 – Cromatoplaca por CCD após revelação com solução de Dragendorff. Fase móvel:

acetato de etila:metanol:hidróxido de amônio (89,5:10:0,5).

Analisando o comportamento das amostras através da comparação

com os padrões, é possível identificá-las qualitativamente, porém, ainda será

necessária a confirmação dos resultados, já que a CCD é utilizada como

técnica de triagem. Na amostra 1 há a suspeita de flunitrazepam, já na

amostra 2 suspeita-se do bromazepam, pois os valores de Rf estão bem

próximos dos padrões desses fármacos, bem como revelaram de forma

semelhante aos padrões citados.

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Determinações por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência em

Fase Reversa (CLAE-FR)

O comprimento de onda ideal é aquele em que o composto apresenta

absorção máxima e livre de interferências (COLLINS; BRAGA; BONATO,

2007). Dessa forma, entre os comprimentos de onda analisados, o escolhido

foi o de 230nm.

A escolha do solvente para a eluição depende da sua polaridade e da

sua capacidade de remover os analitos adsorvidos na fase estacionária. Para

as colunas menos polares, como a C18, utilizada na CLAE-FR, o solvente de

eluição precisa ter características bem polares, como a água, o metanol e a

acetonitrila (HAGE; CARR, 2011). Portanto, neste estudo os solventes

escolhidos para composição da fase móvel foram a acetonitrila, o metanol e a

água, testados em diferentes proporções.

Não foi possível encontrar uma fase móvel que separasse bem todos os

sete padrões de benzodiazepínicos. No entanto, foi possível visualizar

comportamentos diferentes de cada padrão com a utilização das diferentes

proporções da fase móvel.

De acordo com a teoria de Brönsted-Lowry, os ácidos são todas as

espécies químicas capazes de doar um próton (íon H+) a outra substância, já

as bases são as espécies químicas capazes de aceitar um próton de um ácido

(ATKINS; JONES, 2006). Observando a estrutura dos benzodiazepínicos

estudados nesse trabalho (Figura 3), é possível perceber que todos eles

podem funcionar como bases, pois são capazes de receber íons H+ através do

grupamento carbonila, porém, somente o bromazepam, o clonazepam e o

clordiazepóxido podem funcionar como ácidos, ou seja, são capazes de doar

íons H+ através do grupamento amina.

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O tempo de retenção engloba todo o tempo em que o analito

permaneceu no sistema cromatográfico, desde a injeção até a saída do ponto

máximo do pico. Esse tempo leva em consideração a interação do analito com

a fase móvel e com a fase estacionária, bem como a força do solvente de

eluição, ou seja, a capacidade do eluente de deslocar os solutos mais retidos

na fase fixa para permitir sua detecção. Quanto mais forte o solvente de

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JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; MOREIRA, Breno Alves Auad; SOARES, Janete

Eliza de Sá; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Desenvolvimento de métodos

cromatográficos qualitativos para identificação de benzodiazepínicos. RevInter Revista

Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 25-49, out. 2014.

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eluição, menor o tempo de retenção, ou seja, o analito será detectado mais

rapidamente. Em fase normal, o solvente forte é mais polar e vai reduzir a

retenção, já o mais fraco é menos polar e vai aumentar a retenção. Porém,

em fase reversa, o solvente fraco é o mais polar e o solvente forte é o menos

polar (COLLINS; BRAGA; BONATO, 2007). Portanto, na cromatografia em

fase reversa, o solvente fraco possui alta afinidade pelo analito mais polar,

podendo arrastá-lo mais rapidamente durante a corrida; já o solvente forte

possui baixa afinidade pelo analito mais polar, demorando mais tempo para

arrastá-lo.

A Tabela 5 contém as forças de eluição dos solventes por cromatografia

em fase normal, mostrando que a água é o solvente mais forte, o metanol

médio e a acetonitrila o mais fraco. Porém, por fase reversa, na detecção de

analitos mais polares, ocorre o inverso, a acetonitrila passa a ser o solvente

mais forte, seguido do metanol e a água o mais fraco.

Foram testadas diferentes proporções da fase móvel ACM:MetOH:H2O

na tentativa de identificar e separar cada um dos sete padrões de

benzodiazepínicos analisados. A seguir, os comportamentos desses padrões

serão descritos separadamente frente à fase móvel.

Bromazepam Entre todas as fases móveis analisadas, só foi possível a

detecção do padrão de bromazepam na fase ACN:MetOH:H2O (40:20:40)

acidificada com ácido fosfórico a pH 4, com formação de pico no tempo de

retenção de 4,45 minutos.

Clonazepam Após análise por CLAE nas fases móveis constituídas por

ACN:MetOH:H2O nas diversas proporções, foram obtidos diferentes tempos

de retenção do clonazepam (Figura 4).

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Figura 4 - Comportamento do clonazepam frente às fases móveis compostas por

ACN:MetOH:H2O em diferentes proporções. Condições cromatográficas: coluna C18,

fluxo 1mL/min; comprimento onda 230nm, volume de injeção de 25µL.

Comparando esses tempos de retenção frente às fases móveis nas

variadas proporções, é possível fazer algumas observações com relação aos

solventes de eluição utilizados. Ao comparar a fase móvel na proporção

ACN:MetOH:H2O40:20:40, acidificada com H3PO4 (4,4min) e sem

acidificação (5,6min), percebeu-se que a fase acidificada foi capaz de reduzir

o tempo de retenção, ou seja, aumentou a interação da fase móvel com o

clonazepam, levando, entre as proporções testadas, ao menor tempo de

retenção obtido desse padrão.

Comparando as proporções ACN:MetOH:H2O30:25:45 (7,8min) e

35:25:40 (5,9min), notou-se que o aumento de acetonitrila e a diminuição da

água resultou na redução do tempo de retenção, mostrando que a

acetonitrila aumenta a interação do clonazepam com a fase móvel, mas a

água reduz a interação. Além disso, comparando as proporções

ACN:MetOH:H2O38:20:42 (6,2min) e 35:25:40 (5,9min), percebeu-se que o

aumento de metanol é capaz de reduzir o tempo de retenção, ou seja,

também aumenta a interação do clonazepam com a fase móvel.

Clordiazepóxido Os diferentes tempos de retenção do padrão de

clordiazepóxido frente à fase móvel ACN:MetOH:H2O nas diversas proporções

encontram-se na Figura 5.

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Figura 5 - Comportamento do padrão de clordiazepóxido frente às fases móveis

compostas por ACN:MetOH:H2O em diferentes proporções. Condições

cromatográficas: coluna C18, fluxo 1mL/min; comprimento onda 230nm, volume de

injeção de 25µL.

Com relação à acidificação da fase móvel, não ocorreu alteração

significativa no tempo de retenção do clordiazepóxido. E, diferente do

clonazepam, a fase móvel que permitiu uma eluição mais rápida desse

padrão foi ACN:MetOH:H2O na proporção 38:20:42 (4,8min), sendo assim,

ao comparar esse resultado com o obtido na proporção 40:20:40 (4,95min)

nota-se que o aumento da acetonitrila e redução da água levou a um

pequeno aumento do tempo de retenção, diferente do observado para o

clonazepam.

Comparando as eluições quando se utilizou ACN:MetOH:H2O nas

proporções 35:20:45 (6,2min) e 35:25:40 (5,27min), notou-se que o aumento

de metanol, com redução da água, é capaz de reduzir o tempo de retenção.

Porém, ao comparar os resultados obtidos com a fase ACN:MetOH:H2O nas

proporções 30:25:45 (6,8min) e 35:20:45 (6,2min), observou-se que o aumento

de acetonitrila e o a redução de metanol levou à redução do tempo de

retenção.

Diazepam Os tempos de retenção obtidos do padrão diazepam nas

diferentes fases móveis testadas encontram-se na Figura 6.

Figura 6 - Comportamento do padrão de diazepam frente às fases móveis compostas

por ACN:MetOH:H2O em diferentes proporções. Condições cromatográficas: coluna

C18, fluxo 1mL/min; comprimento onda 230nm, volume de injeção de 25µL.

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JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; MOREIRA, Breno Alves Auad; SOARES, Janete

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Entre todos os benzodiazepínicos estudados, o diazepam foi o que obteve os

maiores tempos de retenção. Observando a tabela 4 é verificado que ele não

é capaz de doar íons H+ e recebe apenas dois, sendo, entre os sete padrões

estudados, o que menos interage com a fase móvel.

A fase móvel ACN:MetOH:H2O (40:20:40) em pH 4 ajustado com H3PO4

foi a que obteve o menor tempo de retenção, demonstrando que a

acidificação da fase diminui a retenção. Isso ocorre porque o diazepam não é

doador de prótons e, portanto, em meio ácido, recebe prótons e fica

dissociado (mais polar), reduzindo a interação com a fase estacionária e,

consequentemente, o tempo de retenção.

Ao comparar as proporções de ACN:MetOH:H2O 30:25:45 (17,7min) e

35:20:45 (15,3min), percebe-se que ambas possuem o mesmo somatório de

acetonitrila e metanol (55%), porém, com tempos de retenção diferentes e

menor ao utilizar maior quantidade de acetonitrila, solvente de eluição mais

forte que o metanol. Para esse padrão, a acetonitrila e o metanol também se

mostraram inversamente proporcionais ao tempo de retenção. Com relação à

água, percebe-se que as duas proporções de fase móvel em que ela estava em

maior quantidade (30:25:45 e 35:20:45) tiveram os maiores tempos de

retenção, demonstrando que a água é diretamente proporcional à retenção.

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Flunitrazepam Após a análise por CLAE, observou-se que o

flunitrazepam possui comportamento semelhante ao clonazepam (figura 7).

É possível justificar isso ao verificar na tabela 4 que ambos são aceptores de

quatro íons H+, o que leva a interações semelhantes com a fase móvel e,

assim, a tempos de retenção semelhantes.

A fase móvel ACN:MetOH:H2O (40:20:40) em pH 4 foi a que permitiu o

menor tempo de retenção, porém, essa acidificação não levou à alteração

significante na retenção, pois não reduziu tanto o tempo de retenção como

aconteceu para o clonazepam e diazepam.

Figura 7 - Comportamento do padrão de flunitrazepam frente às fases móveis compostas

por ACN:MetOH:H2O em diferentes proporções. Condições cromatográficas: coluna C18,

fluxo 1mL/min; comprimento onda 230nm, volume de injeção de 25µL.

Flurazepam Os resultados dos tempos de retenção obtidos após eluição

nas diversas fases (figura 8) mostraram muita semelhança de

comportamento com o clordiazepóxido, com tempos de retenção iguais ou

bem próximos, o que se justifica ao verificar na tabela 4 que ambos são

aceptores de três íons H+.

A acidificação da fase móvel não alterou significativamente o tempo

de retenção. A fase móvel que permitiu menor retenção também foi

ACN:MetOH:H2O na proporção 38:20:42 (4,5min), que, ao comparar com a

proporção 40:20:40 (5min), notou-se que o aumento de acetonitrila e de água

resultou no aumento do tempo de retenção. Porém, ao comparar as

proporções 30:25:45 (6,8min) e 35:20:45 (6,2min), observa-se que o aumento

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da acetonitrila e a redução do metanol, reduziram o tempo de retenção. E,

comparando as proporções 35:20:45 (6,2min) e 35:25:40 (5,33min), percebeu-

se que o aumento do metanol e redução da água levaram à redução do tempo

de retenção.

Figura 8 - Comportamento do padrão de flurazepam frente às fases móveis

compostas por ACN:MetOH:H2O em diferentes proporções. Condições

cromatográficas: coluna C18, fluxo 1mL/min; comprimento onda 230nm, volume de

injeção de 25µL.

Midazolam Entre todas fases testadas, o midazolam foi detectado

apenas na fase móvel ACN:MetOH:H2O (20:35:45), obtendo tempo de

retenção de 10,5 minutos. Essa fase foi escolhida para esse fármaco de

acordo com pesquisas na literatura (KASSAB; LANGUE, 2003).

Separação dos padrões de benzodiazepínicos

Na tentativa de separar os padrões de benzodiazepínicos, foram

escolhidas quatro fases móveis em diferentes proporções que foram testadas

para todos os sete benzodiazepínicos estudados. Os resultados encontram-se

na Figura 9.

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Figura 9 - Tempos de retenção dos benzodiazepínicos na fase móvel ACN:MetOH:H2O

em diferentes proporções. Condições cromatográficas: coluna C18, fluxo 1mL/min;

comprimento onda 230nm, volume de injeção de

25µL.

O diazepam mostrou uma boa separação em relação aos outros padrões

em todas as proporções da fase móvel ACN:MetOH:H2O, pois apresentou

tempos de retenção bem superiores em relação a todos os outros.

O flunitrazepam e o clonazepam apresentaram tempos de retenção bem

próximos, porém na fase ACN:MetOH:H2O pH 4 (40:20:40) foi possível a

separação dos dois.

O bromazepam fase ACN:MetOH:H2O pH 4 (40:20:40) mostrou tempo

de retenção muito próximo ao clonazepam, não podendo ser separado.

Para o clordiazepóxido e flurazepam não foi possível realizar a

separação, pois se comportam muito semelhantes frente às diferentes

proporções da fase móvel.

E o midazolam não foi detectado nas proporções da fase móvel

presentes nos gráficos da figura 11, mas foi possível sua detecção na fase

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móvel ACN:MetOH:H2O (20:35:45), sendo essa fase escolhida para a sua

separação.

CONCLUSÃO

As condições cromatográficas (fase móvel e reveladores) utilizadas na

Cromatografia em Camada Delgada (CCD) para a separação dos

benzodiazepínicos estudados (bromazepam, clonazepam, clordiazepóxido,

diazepam, flunitrazepam, flurazepam e midazolam) foram estabelecidas.

São elas: fase móvel acetato de etila:metanol:hidróxido de amônia

(89,5:10:0,5) e reveladores solução de cloreto férrico, aquecimento e solução

de Dragendorff.

Na Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE), as condições

cromatográficas também foram estabelecidas para a identificação dos sete

padrões de benzodiazepínicos. São elas: fluxo de 1mL/min, comprimento de

onda de 230nm, coluna C18 e fase móvel acetonitrila:metanol:água em

eluição isocrática. Porém, não foi possível encontrar uma proporção da fase

móvel capaz de separar todos os padrões, necessitando de mais estudos para

o aperfeiçoamento do método, sendo sugerida a utilização de eluição por

gradiente para esse objetivo. Dos sete padrões de benzodiazepínicos, a fase

móvel acetonitrila:metanol:água (40:20:40) ajustada em pH 4 com ácido

fosfórico (1:2) foi capaz de permitir a separação de apenas três

(flunitrazepam, clonazepam e diazepam). Além disso, a fase móvel

acetonitrila:metanol:água (20:45:35) foi capaz de identificar o midazolam,

não detectado nas outras proporções, o que permitiu sua separação dos

outros padrões.

Apesar de ainda necessitar de mais estudos para o aperfeiçoamento do

método na separação dos sete padrões de benzodiazepínicos, os métodos

propostos são importantes para as análises toxicológicas qualitativas, com

finalidade forense, na identificação dos benzodiazepínicos flunitrazepam,

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clonazepam, diazepam e midazolam, fármacos que estão sendo utilizados

para a prática de crimes.

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Page 53: Revinter Revista da Toxicologia -Volume 7 Número 3 Out de 2014 - São Paulo

Artigo revisão

MALAQUIAS, Geiz; CERQUEIRA, Gilberto Santos; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro;

PACHECO, Ana Carolina Landim; SOUZA, João Marcelo de Castro e; DEUS, Maria do

Socorro Meireles de; PERON, Ana Paula. Utilização na medicina popular, potencial

terapêutico e toxicidade em nível celular das plantas Rosmarinus officinalis L., Salvia

officinalis L. e Mentha piperita L. (Família Lamiaceae). RevInter Revista Intertox de

Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 50-68, out. 2014.

50

Utilização na medicina popular,

potencial terapêutico e toxicidade em

nível celular das plantas Rosmarinus

officinalis L., Salvia officinalis L. e

Mentha piperita L. (Família Lamiaceae)

Geiz Malaquias

Acadêmica do Curso de Ciências Biológicas. Campus Senador Helvídio

Nunes de Barros, Universidade Federal do Piauí.

E-mail: [email protected].

Gilberto Santos Cerqueira

Docente Adjunto. Departamento de Nutrição. Campus Senador Helvídio

Nunes de Barros, Universidade Federal do Piauí.

E-mail: [email protected].

Paulo Michel Pinheiro Ferreira

Docente Adjunto. Departamento de Biofísica e Fisiologia / Programa de

Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas (PPGCF), Universidade

Federal do Piauí.

*Autor para correspondência: Universidade Federal do Piauí, Avenida

Universitária, lado ímpar, Bairro Ininga. Teresina, Piauí. CEP 64.049-

550. E-mail: [email protected].

Ana Carolina Landim Pacheco

Docente Adjunto. Departamento de Ciências Biológicas. Campus Senador

Helvídio Nunes de Barros, Universidade Federal do Piauí. Rua Cícero

Duarte, n◦ 940. Bairro Junco. Picos, Piauí, Brasil. CEP 64607-670. E-

mail: [email protected].

João Marcelo de Castro e Souza

Docente Assistente. Departamento de Ciências Biológicas. Campus

Senador Helvídio Nunes de Barros, Universidade Federal do Piauí. E-

mail: [email protected].

Page 54: Revinter Revista da Toxicologia -Volume 7 Número 3 Out de 2014 - São Paulo

Artigo revisão

MALAQUIAS, Geiz; CERQUEIRA, Gilberto Santos; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro;

PACHECO, Ana Carolina Landim; SOUZA, João Marcelo de Castro e; DEUS, Maria do

Socorro Meireles de; PERON, Ana Paula. Utilização na medicina popular, potencial

terapêutico e toxicidade em nível celular das plantas Rosmarinus officinalis L., Salvia

officinalis L. e Mentha piperita L. (Família Lamiaceae). RevInter Revista Intertox de

Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 50-68, out. 2014.

51

Maria do Socorro Meireles de Deus

Docente Assistente. Departamento de Ciências Biológicas. Campus

Senador Helvídio Nunes de Barros, Universidade Federal do Piauí. E-

mail: [email protected].

Ana Paula Peron*

Departamento de Ciências Biológicas / Programa de Pós-graduação em

Genética e Melhoramento (PPGM). Campus Senador Helvídio Nunes de

Barros, Universidade Federal do Piauí. Rua Cícero Duarte, n◦ 940.

Bairro Junco. Picos, Piauí, Brasil. CEP 64607-670.

E-mail: [email protected]

*Autor para correspondência.

RESUMO

Este trabalho teve por objetivo realizar uma revisão bibliográfica extensa,

porém objetiva, sobre a utilização na medicina popular, potencial

terapêutico e toxicidade em nível celular das plantas Rosmarinus officinales,

Salvia officinales e Mentha piperita, pertencentes a família Lamiaceae, visto

que, estas plantas são amplamente cultivadas e utilizadas na medicina

popular, e estudadas por pesquisadores do mundo todo quanto aos seus

potenciais terapêuticos e toxicológicos. Para realização desta pesquisa

consultou-se as bases de dados Scielo, PubMed e Google Acadêmico. Após a

análise dos artigos verificou-se que estas plantas, principalmente pela ação

dos óleos essenciais, terpenos e flavonóides presentes em suas constituições

fitoquímicas, são eficientes, na medicina popular e com ação comprovada

cientificamente no tratamento de doenças dos aparelhos digestório,

circulatório e respiratório, e do sistema nervoso. Quanto a toxicidade em

nível celular destas plantas, as três possuem efeito antiproliferativo,

citotóxico, genotóxico e mutagênico a linhagens de células normais e

tumorais. A partir desta revisão, reforça-se a importância destas plantas na

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MALAQUIAS, Geiz; CERQUEIRA, Gilberto Santos; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro;

PACHECO, Ana Carolina Landim; SOUZA, João Marcelo de Castro e; DEUS, Maria do

Socorro Meireles de; PERON, Ana Paula. Utilização na medicina popular, potencial

terapêutico e toxicidade em nível celular das plantas Rosmarinus officinalis L., Salvia

officinalis L. e Mentha piperita L. (Família Lamiaceae). RevInter Revista Intertox de

Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 50-68, out. 2014.

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cura e amenização de doenças e o potencial para serem usadas,

futuramente, como quimiopreventivas.

Palavras-chave: potencial medicinal, ação tóxica as células, alecrim,

salvia, hortelã-pimenta.

ABSTRACT

This study aimed to perform an extensive, but objective, literature review on

the use in folk medicine, therapeutic potential and toxicity at the cellular

level, of Rosmarinus officinales, Salvia officinales and Mentha piperita

belonging to the family Lamiaceae. These plants are widely cultivated and

used in folk medicine, and studied by researchers worldwide for its

therapeutic and toxicological potential. For this research, the bases of

SciELO, PubMed and Google Scholar were consulted. After analyzing the

articles it was found that these plants, mainly by the action of its essential

oils, terpenes and flavonoids phytochemical in their constitutions are

efficient in the treatment of diseases of the digestive apparatus, circulatory

and respiratory, and nervous system. As for toxicity at cellular level, the

three plants have antiproliferative, cytotoxic, genotoxic and mutagenic

effects to strains of normal and tumor cells. From this review, it is

reinforced the importance of these plants in healing and alleviation diseases

and the potential for being used in the future as a chemopreventive.

Keywords: medicinal potential, action toxic cells, rosemary, salvia e

peppermint.

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PACHECO, Ana Carolina Landim; SOUZA, João Marcelo de Castro e; DEUS, Maria do

Socorro Meireles de; PERON, Ana Paula. Utilização na medicina popular, potencial

terapêutico e toxicidade em nível celular das plantas Rosmarinus officinalis L., Salvia

officinalis L. e Mentha piperita L. (Família Lamiaceae). RevInter Revista Intertox de

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INTRODUÇÃO

O uso de plantas medicinais tem sido significativo nos últimos

tempos. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que 80%

da população mundial faz uso da medicina popular para a amenização ou

cura de doenças (LOPES et al. 2010). Assim, tem-se verificado um grande

avanço científico no entendimento do mecanismo de ação de compostos

químicos presentes nas plantas com ações medicinais, bem como seus

potenciais tóxicos, como por exemplo, os flavonóides, alcaloides, terpenos,

taninos e esteróis, sendo isto claramente observado pelo número de

trabalhos científicos publicados nesta área em congressos e em periódicos

nacionais e internacionais (CAPELLO et al. 2007).

A família Lamiaceae possui aproximadamente 300 gêneros e 7.500

espécies distribuídas nos diferentes continentes (ALARCON-AGUIAR et al.

2002, AFONSO 2010). Muitas das suas plantas são cultivadas em hortas e

jardins, e todas possuem um odor intenso, decorrente da presença de óleos

essenciais em suas folhas e flores (SILVA et al. 2010). São também

conhecidas por suas propriedades antioxidantes, com destaque as espécies

dos gêneros Rosmarinus, Salvia e Mentha, que, em geral, são plantas

subarbustivas, de pequeno porte e muito ramificadas (CUVELIER et al.

1994). Em função da composição fitoquímica, estas plantas possuem

importante valor econômico, sendo utilizadas na culinária, como

condimento, e como ornamentais, na decoração e arejamento de ambientes

(VEIGA-JÚNIOR e MELLO 2008).

Outra característica importante é o potencial terapêutico de seus

representantes, onde, diferentemente de outras famílias de plantas, a

Lamiaceae possui espécies, que além da utilização na medicina popular,

possuem grupos químicos com ação terapêutica e tóxica já comprovados por

estudos laboratoriais (SILVA et al. 2010). Dentre os gêneros mais

importantes das lamiáceas estão o Rosmarinus, Salvia e Mentha, que

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terapêutico e toxicidade em nível celular das plantas Rosmarinus officinalis L., Salvia

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possuem as espécies R. officinalis, S. officinales e M. piperita,

respectivamente, como as mais bem definidas em relação a estes aspectos

(BAKIKEL et al. 2008).

Nesse contexto, este estudo teve por objetivo abordar, de forma

extensa, porém objetiva, a utilização na medicina popular, o potencial

terapêutico e a toxicidade em nível celular das plantas R. officinalis, S.

officinales e M. piperita.

METODOLOGIA

Tratou-se de uma pesquisa bibliográfica de base descritiva extensa e

objetiva, realizada no período de junho de 2000 a agosto de 2014, por meio

de levantamento de dados pesquisados na literatura, utilizando as bases de

dados Scielo, PubMed e Google Acadêmico, afim de selecionar estudos, em

português e inglês, relevantes para a discussão do tema abordado. Para esta

seleção utilizou-se a combinação dos seguintes termos: Lamiaceae, aspectos

botânicos, potencial medicinal, toxicidade em nível celular, gênero

Rosmarinus, espécie Rosmarinus officinales, alecrim, gênero Salvia, espécie

Salvia officinales, Salvia, gênero Mentha, espécie Mentha piperita e hortelã-

pimenta.

Desenvolvimento

A utilização de plantas para tratamento, cura e prevenção de

enfermidades é uma das mais antigas formas de prática medicinal da

humanidade, onde se tem registrados diferentes procedimentos utilizando

estes organismos. Apesar da grande evolução da medicina alopática a partir

do século XX, ainda existem obstáculos básicos para a utilização dos

medicamentos sintéticos por parte da população, em função, muitas vezes,

do difícil acesso aos centros de atendimento hospitalares e do valor cobrado

por estes medicamentos (COSTA 2008). Estes motivos, associados a fácil

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obtenção e a grande tradição no uso de plantas medicinais, contribuem para

a utilização destas plantas na medicina popular, principalmente pelas

populações dos países em desenvolvimento (CALIXTO 2005, VEIGA-

JÚNIOR e MELLO 2008).

Dentre as plantas amplamente utilizadas como medicamento no

mundo todo estão as da família Lamiaceae, pertencentes à subclasse

Asteridae e a ordem Lamiales, com 300 gêneros e 7.500 espécies

encontradas nos mais variados habitats (MAYER 2009). Seus

representantes são típicos de savana, mas podem ser encontrados em áreas

quentes de todo o mundo. No Brasil, esta família, até o momento, é

representada por 34 gêneros, dos quais quatro são endêmicos, e por 498

espécies, das quais 334 são endêmicas (HARLEY et al. 2013).

Seus representantes possuem caule curto e lenhoso, e flores pequenas

de coloração azul a violeta dispostas em inflorescências. Usualmente, são

cultivados em hortas e jardins residenciais, com destaque as espécies dos

gêneros Ocimum, Lavandula, Mentha, Majorana, Rosmarinus e Salvia.

Possuem odor intenso, e por isso classificadas como aromáticas, decorrentes

de suas folhas e flores serem ricamente constituídas por óleos essenciais

(BARREIRO 2006). Em função da constituição fitoquímica, muitas destas

espécies são utilizadas como condimentos, na decoração de ambientes, na

fabricação de cosméticos e, principalmente, para fins medicinais (HARLEY

et al. 2013).

Ações medicinais e toxicidade em nível celular da espécie R.

officinalis

Dentre os representantes da família Lamiaceae encontra-se a R.

officinalis L., conhecida popularmente como alecrim. Esta espécie possui

origem na região mediterrânea da Europa, mas é cultivada em quase todos

os países de clima tropical, como por exemplo, o Brasil, e encontrada em

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quintais residenciais; ervanários, na forma in natura e seca moída; e hortas.

Além de alecrim, esta herbácea também é conhecida por alecrim-de-cheiro,

alecrim-das-hortas, alecrim-da-casa, alecrim-comum, alecrim verdadeiro e

rosmaninho (SILVA et al. 2010).

Em relação a constituição botânica, o alecrim possui porte

subarbustivo lenhoso, ereto de até 1,5m de altura, pouco ramificado com

folhas pequenas, lineares, coriáceas, de aroma forte, de 1,5 a 4cm de

comprimento por 1 a 3mm de espessura, flores pequenas de cor azul-claro e

de aroma intenso (ANGIONI et al. 2004). Na constituição fitoquímica de

suas folhas e flores ocorrem a presença de diterpenos, como o ácido carnósico

(presente de forma marjoritária), carnosol, rosmadiol, rosmanol,

epirosmanol, rosmaquinonas e metil carnosato. Também são encontrados os

flavonóides, como a genkvanina, cirsmaritina, diosmetina, diosmina,

gencuanina, luteolina, hispidulina e apigenina; os ácidos caféico, clorogênico

e rosmarínico; e esteróis (SILVA et al. 2010).

Na medicina popular dos países da América do Sul e da Europa as

folhas e flores do alecrim são utilizadas em infusão para a amenização de

flatulência epigástricas, como aceladoras da digestão, como diurética e

digestiva, como coleréticas, colagogas, na desobstrução nasal, na eliminação

de catarros, como cicatrizantes, antimicrobianas, na amenização de

problemas circulatórios e reumáticos (LORENZI e MATOS 2002, AFONSO

et al. 2010), na amenização de dores de cabeça, enxaquecas, tonturas, falta

de memória, depressão, na cura de eczemas, como analgésicos para dores de

garganta (SILVA et al. 2010), na amenização de mialgias, neuralgias

intercostal e dor ciática, na amenização de cansaço físico e mental

(HEINRICH et al. 2006), e como antidiabético (BAKIKEL et al. 2008).

No entanto, nas últimas décadas, ocorreram mudanças importantes

no conceito de medicamentos de origem vegetal, onde as indústrias

farmacêuticas e outros laboratórios de pesquisas passaram a considerar

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plantas medicinais, como a R. officinales e outros representantes da família

Lamiaceae, importantes protótipos para o desenvolvimento de novos

medicamentos. Atualmente, laboratórios em todo mundo estudam a ação

medicinal dos compostos químicos presentes nesta espécie. A seguir, serão

citados estudos realizados com compostos químicos presentes na

constituição fitoquímica nas folhas e flores do alecrim.

Heinrich e colaboradores (2006) e Hussain e colaboradores (2010)

verificaram atividade antioxidante e antitumoral, respectivamente, em

roedores tratados com os terpenos rosmadiol e rosmanol extraídos das folhas

do alecrim. Ainda, estudos laboratoriais demonstraram que o ácido carnósico

isolado desta planta protege os cloroplastos da oxidação, retirando radicais

livres, durante situações de estresse na planta, como baixa umidade e altas

temperaturas. Pesquisas realizadas com roedores mostraram que o efeito

antioxidante dos seus terpenos carnosol foi superior aos do antioxidante

sintético butil-hidróxi-anisol (BHA) e semelhante a do antioxidante sintético

butil-hidróxi-tolueno (BHT). Também se verificou que o seu diterpeno

carnosol possui a habilidade de reduzir danos oxidativos causados ao DNA,

a proteínas e as membranas fosfolipídicas de mamíferos.

Hussain e colaboradores (2010) relataram, a partir de estudos

realizados com animais e culturas de células, que os terpenos encontrados

no alecrim desempenham importante papel na regulação da atividade e/ou

expressão de sistemas enzimáticos implicados em processos fisiológicos

vitais ao organismo, como apoptose, destruição de células tumorais,

transdução do sinal intracelular e regulação de enzimas que metabolizam

xenobióticos no fígado, como a superóxido dismutase, catalase e glutationa

transferase. Estes autores também relatam que a natureza lipofílica dos

terpenos extraído do alecrim tem nas membranas biológicas um dos

principais alvos para a sua atividade, visto que, o ácido carnósico e seus

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derivados foram encontrados associados a membranas de cloroplastos,

protegendo estas estruturas.

Trabalhos mostraram a eficácia do óleo essencial de R. officinales em

aumentar o desenvolvimento cognitivo em seres humanos saudáveis

submetidos a uma bateria de testes computadorizados, onde foi observado

que o impacto olfatório causado por este óleo realça significativamente a

qualidade total da memória secundária. Dentre as ações farmacológicas

desta espécie comprovadas cientificamente tem-se observado também a ação

hipoglicemiante, a atividade inibidora da enzima acetilcolinesterase e da α-

amilase, e efeito hepatoprotetor contra agentes hepatotóxicos, como aos

compostos tetracloreto de carbono (CCl4), tetra-butilhidroperóxido (t-BHP),

ciclofosfamida e azatioprina (YESIL-CELIKTAS et al. 2010)

Ainda, Visanji e colaboradores (2006) relataram a ação

antimicrobiana do extrato etanólico de alecrim frente a bactérias sensíveis e

resistentes a antibióticos sintéticos, onde foi possível verificar sinergismo

entre antibióticos e os extratos desta planta, possibilitando que antibióticos

ineficazes apresentassem ação sobre bactérias resistentes. Estes autores

ainda demonstraram demostraram atividade bacteriostática e fungiostática

do extrato aquoso de alecrim por meio da técnica do orifício em ágar.

Em relação a toxicidade em nível celular desta planta, pode-se citar

sua atividade celular antiproliferativa. Esta atividade é atribuída à ação

dos compostos químicos rosmarinidifenol, rosmariquinona e rosmanol

(YESIL-CELIKTAS et al. 2010). Segundo Visanji e colaboradores (2006),

altas concentrações destes terpenos estacionam o ciclo celular na fase G2 da

interfase por interromper a duplicação do citoplasma e o início da

condensação cromossômica. Estes autores ainda observaram que super-

dosagens do diterpeno carnosol tem a ação de estacionar células em divisão,

no estágio de prometáfase, por atuar sobre as ciclinas B1 durante a divisão

celular, não permitindo a formação adequada do fuso mitótico. Este dado

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corrobora aos resultados obtidos neste trabalho, onde em todos os TR, nos

três TE, ocorreu um grande número de células em prófase (Tabela 1).

Muitas pesquisas sobre o efeito antiproliferativo do alecrim foram

realizadas nos últimos anos, como a de Yesil-Celiktas e colaboradores (2010)

que avaliaram a ação de extratos aquosos e alcóolicos das folhas de R.

officinalis, em concentrações consideradas elevadas, que variaram de 12,50

a 47,55 microg/mL, sobre as linhagens de células humanas NCI-H82 (células

de carcinoma de pulmão), DU-145 (células de carcinoma de próstata), Hep-

3B (células de carcinoma de fígado), K-562 (leucemia mielóide crônica) e

MCF-7 (adenocarcinoma da mama) e verificaram que o alecrim inibiu

significativamente a divisão celular em todas elas.

De modo semelhante, Tai e colaboradores (2012) e Cheng e

colaboradores (2011) observaram redução significativa do índice mitótico em

células da linhagem A2780 (células cancerosas de ovário humano), e de

várias linhagens celulares de carcinomas de cólon de roedores tratadas com

concentrações elevadas de carnosol, respectivamente. Dessa forma, a planta

alecrim tem sido considerada por muitos pesquisadores como um potente

anticancerígeno, antitumoral e quimiopreventivo.

Ações medicinais e toxicidade em nível celular da espécie S.

officinalis

Outra espécie da família Lamiaceae, porém do gênero Salvia, muito

utilizada na medicina popular de todo o mundo e que, recentemente, tem

sido amplamente estudada quanto ao seu potencial medicinal por

pesquisadores de muitos países, é a S. officinales L., conhecida

popularmente como salva, salva-das-boticas e salva-dos-jardins. É uma

planta originária do Mediterrâneo, e, da mesma forma que o alecrim, é

encontrada no mundo todo (PIEROZAN et al. 2009). Suas plantas

apresentam hábito de crescimento herbáceo ou arbustivo muito ramificado,

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de pequeno porte, medindo entre 50 a 80cm, com florescimento entre os

meses de agosto e dezembro (LORENZI e MATOS 2002). Possuem folhas

verde-acinzentadas, oval-lanceoladas e largas, e flores agrupadas em espiga

(CORRÊA et al. 2003).

Na composição fitoquímica das flores e folhas desta espécie estão

presentes os terpenos ácido carnosólico, ácido oleanólico, ácido ursólico e

carnosol; os flavonóides diosmina, luteolina, apigenina e quercetina; o fenol

ácido cafeico; os óleos essenciais cineol, cânfora, borneol, tuiona; e taninos

(LORENZI e MATOS 2002). Na medicina popular a Salvia em infusão é

utilizada para amenização da ansiedade, irritabilidade, para dispepsia, na

cura de problemas hepáticos e digestivos (PIEROZAN et al. 2009), como

redutora da lactação, antiglicemiante, antimicrobiana, na higiene bucal, no

combate a leucorréias, na cicatrização de feridas (ALONSO 2004, LIMA et

al. 2005), na cura de aftas, no combate a dores de dente, na cura de úlceras e

como emenagoga (LORENZI e MATOS 2002).

Estudos laboratoriais demonstraram que os terpenos presentes na

composição fitoquímica das folhas e flores da S. officinales possui grande

potencial antiinflamatório, antiproliferativo e neuroprotetor as células de

roedores e humanos (POECKEL et al., 2008). Em 2007, Bozin e

colaboradores avaliaram a capacidade antimicrobiana do cineol e cânfora

presentes nesta planta e verificaram que estes compostos químicos agiram

contra cepas de Escherichia coli L., Salmonella typhi L., Salmonella

enteritidis L. e Shigella sonei L.

Poeckel e colaboradores (2008) demonstraram a capacidade dos

terpenos ácido carnósico e carnosol extraídos da Salvia agirem em células de

roedores diretamente em agentes pró-inflamatórios, inibindo células

polimorfonucleares (PLM) e a formação de leucotrienos. Maryam e

colaboradores (2005) demonstraram o efeito hipoglicemiante do extrato

metanólico de folhas de S. officinalis em ratos diabéticos induzidos por

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estreptozotocina. Ainda, Rodrigues e colaboradores (2003) observaram

potencial cicatrizante do ácido oleanólico em ratos com úlceras induzidas por

ácido acético.

Em relação a toxicidade em nível celular utilizando extratos de

Salvia, estudos como os de Nicollela e colaboradores (2014) mostraram que o

extrato aquoso das folhas desta planta promoveu o aparecimento de

micronúcleos em cultura de células de fibroblastos de pulmão de hamster

chinês (V79) e em cultura de células de hepatoma humano. Também reduziu

de forma significativa o índice de divisão celular destas células, mostrando-

se citotóxico e mutagênico as linhagens de células em questão.

Sertel e colaboradores (2011) observaram que altas concentrações do

óleo essencial de S. officinalis foram citotóxicas e mutagênicas a linhagem

HNSCC, linhagem de carcinoma da cavidade oral de humanos, reduzindo a

viabilidade celular ao mínimo. Loizzo e colaboradores (2007) verificaram que

o óleo essencial extraído das folhas e flores de desta planta tem grande

potencial em inibir a divisão celular em células de tumor humano, como nos

casos de câncer renal, de próstata, de mama e de pele. Da mesma forma que

o alecrim, a Salvia tem sido considerada um importante quimiopreventivo.

No entanto mais pesquisas devem ser realizadas em diferentes sistemas

testes para se afirmar com propriedade esta ação.

Ações medicinais e toxicidade em nível celular da espécie M.

piperita

Também pertencentes à família Lameaceae as espécies do gênero

Mentha, conhecidas popularmente como hortelãs ou mentas, são muito

utilizadas na medicina popular de vários países (DORMAN et al. 2003).

Supõe-se que as hortelãs tenham sido introduzidas na Europa, via norte da

África (RUSSOMANNO et al. 2005). Atualmente as espécies do gênero

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Mentha encontram-se em toda a Europa, África e Américas (PATON et al.

2000;).

A mais conhecida popularmente das hortelãs é a espécie M. piperita,

conhecida popularmente como menta, hortelã e hortelã-pimenta. Trata-se de

uma espécie herbácea, perene, de caule subarbustivo com 60 a 90cm de

altura, muito ramificados. Possuem folhas pilosas, pecioladas, opostas,

lanceoladas e agudas, com bordas serreadas de cor verde escura na face

superior e verde clara na face inferior, e com flores, de cor lilás, em espigas

terminais (RUSSOMANNO et al. 2005).

Esta espécie, da mesma forma que outras plantas da família

Lamiaceae, é rica em óleo essencial que produz um aroma mentolado,

balsâmico e fresco, característico do hortelã-pimenta e com diversas

aplicações na indústria de alimentos, cosmética e farmacêutica (SILVA

2001). A composição fitoquímica destas plantas são o mentol, mentona,

mentofurano, acetato de mentila e pulegona (AFLATUNI 2005; CAPELLO

et al. 2005).

De acordo com Cassol (2007) a M. piperita é utilizada na medicina

popular para a amenização da atonia digestiva, gastralgia, cólicas, afecções

hepáticas, bronquite crônica, como calmante, revitalizante, antidepressivo,

antialérgico, carminativo, hipotensor, tônico em geral, antiespasmódico,

espasmolítica, antiemética, estomáquica e como broncodilatadora

(LORENZI e MATOS 2006) e estimulante do sistema nervoso (MIMICA et

al. 2003).

Ainda na medicina popular, segundo Lorenzi e Matos (2006), o

hortelã-pimenta pode ser utilizado como digestivo, no combate a náuseas e a

flatulência, como antivomitivo, na amenização de inflamações de gengiva e

cólicas intestinais. O hortelã-pimenta há vários anos é avaliado em estudos

laboratoriais quanto ao seu potencial medicinal. Mimica et al. (2003),

verificaram que o óleo extraído das folhas desta planta possui propriedade,

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terapêutico e toxicidade em nível celular das plantas Rosmarinus officinalis L., Salvia

officinalis L. e Mentha piperita L. (Família Lamiaceae). RevInter Revista Intertox de

Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 50-68, out. 2014.

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antifúgica; antibactericida, frente a cepas E. coli; e grande potencial

antioxidante em células de ratos Wistar, diminuindo drasticamente a

concentração de radicais hidroxila –(OH).

Em outro trabalho, Lorenzi e Matos (2006) usaram o óleo de hortelã-

pimenta no tratamento de transtornos digestivos, melhorando os sintomas

abdominais em pacientes com síndrome do cólon irritável. Ainda, testaram o

óleo essencial de M. piperita em inalação e observaram sua eficiência no

tratamento de distúrbios respiratórios. Ainda, verificaram que o óleo desta

planta é um potente estimulante do Sistema Nervoso Central em

mamíferos, por potencializar o estado de alerta quando inalado. Mimica et

al. (2003) relataram que o óleo deste tipo de hortelã possui potente atividade

analgésica em humanos, reduzindo de forma significativa a sensibilidade na

dor de cabeça e enxaqueca quando administrados em seres humanos.

Também verificaram que este óleo é eficiente no combate a acnes e

dermatites. Estes autores também citam que o óleo extraído das folhas do

hortelã-pimenta é estimulante da circulação especialmente nos casos de

lipodistrofia ginóide e varizes.

Smartha e colaboradores (2006) verificaram que extratos aquosos

administrado a camundongos Swiss tiveram ação antigenotóxica e

quimiopreventivas as células destes animais. Romero-Jimenez (2005)

avaliaram o potencial genotóxico de extratos aquosos de M. piperita em teste

de SMART e verificaram sua capacidade em retirar radicais livres. Assim

estes autores afirmam que o as folhas do hortelã-pimenta possuem potente

atividade antioxidante.

Ainda, em estudos realizados por Jain e colaboradores (2011) e Ferreira e

colaboradores (2014) foi verificado que os óleos essenciais presentes nas

folhas desta planta promovem fragmentação das mitocôndria e condensação

da cromatina sem perda da integridade da membrana plasmática,

acelerando o processo de apoptoses em células de roedores. No entanto,

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Artigo revisão

MALAQUIAS, Geiz; CERQUEIRA, Gilberto Santos; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro;

PACHECO, Ana Carolina Landim; SOUZA, João Marcelo de Castro e; DEUS, Maria do

Socorro Meireles de; PERON, Ana Paula. Utilização na medicina popular, potencial

terapêutico e toxicidade em nível celular das plantas Rosmarinus officinalis L., Salvia

officinalis L. e Mentha piperita L. (Família Lamiaceae). RevInter Revista Intertox de

Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 50-68, out. 2014.

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diferentemente do alecrim e da salvia, o hortelã-pimenta ainda foi pouco

estudado quanto seu potencial quimiopreventivo. Assim, pesquisadores

como Smartha e colaboradores (2006) e Jain e colaboradores (2011) afirmam

que mais pesquisas são necessárias para se pra a verificação deste potencial.

CONCLUSÃO

A partir desta revisão pode se verificar e reforçar a importância

medicinal destas três espécies, onde estas plantas, apesar de serem de

gêneros diferentes possuem propriedades terapêutica parecidas, com ênfase

a atividade citotóxica, genotóxica, mutagênicas e quimiopreventivas a

linhagens de células tumorais, principalmente, pela ação de seus óleos

essenciais. Assim, é importante que outras plantas da Família Lamiaceae

sejam estudas para a verificação de suas ações medicinais bem como os seus

potenciais tóxicos em nível celular e assim gerar benefícios a população de

um modo geral.

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SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações.

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100,

out. 2014.

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A Sustentabilidade Ambiental dentro das

organizações

Ana Paula Teixeira Santos

Administradora de empresas graduada pela Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo. Administradora, Organização Dinâmica da

Intertox.

RESUMO

Entre os principais problemas que ameaçam a sobrevivência das próximas

gerações podemos destacar o crescimento demográfico, a limitação dos

recursos indispensáveis à vida e o aumento contínuo dos níveis de produção.

Baseado nesses fatores veremos a perspectiva de futuro das populações

elaborada por Malthus e Hardin (perspectiva pessimista) e a perspectiva

elaborada por Adam Smith e Julian Simon (perspectiva otimista). Será

abordado também como a Sustentabilidade pode melhorar as empresas

protegendo-as, gerenciando-as e promovendo seu crescimento.

Apresentaremos uma comparação das principais características que

diferenciam uma empresa com Visão Tradicional (reativa) de uma empresa

com Visão Sustentável (proativa), e também abordaremos como os termos

Ética e Moral estão ligados às ações das empresas, principalmente suas

ações sustentáveis.

Palavras-chave: Sustentabilidade; Gestão Ambiental; Empresas; Recursos

Ambientais; Responsabilidade Social.

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Ensaio

SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações.

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100,

out. 2014.

70

ABSTRACT

Among the main issues that threaten the survival of future generations it is

possible to highlight the demographic growth, limitation of resources

required for living, and the continuous increase in production levels. Based

on these factors it will be presented the prospect of future populations

developed by Malthus and Hardin (pessimistic outlook) and the prospect

elaborated by Adam Smith and Julian Simon (optimistic outlook).

Furthermore, it will be discussed how the Sustainability can improve

companies, protecting, managing and promoting their growth. It will be

presented a comparison of the main features that differentiate a company

with a Traditional View (reactive) from a company with a Sustainable

Vision (proactive), and also it will be discussed how the terms Ethics and

Moral are linked to the procedures of companies, especially their

sustainable actions.

Keywords: Sustainability; Environmental Management; Companies;

Resources; Social Responsibility.

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SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações.

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100,

out. 2014.

71

INTRODUÇÃO

Sustentabilidade é um modo de suprir as necessidades humanas sem

comprometer as futuras gerações.

A responsabilidade de uma empresa pelo carbono emitido, começa na

extração ou na manufatura de matérias-primas e estende-se por toda a

cadeia produtiva e além dela, para as emissões associadas ao consumo e ao

descarte do produto consumido (seus cartuchos e suas embalagens).

A empresa sustentável do século XXI é aquela que avalia todo o ciclo

de vida do produto, calcula suas emissões de carbono e desenvolve uma

estratégia de minimização e, no longo prazo, de eliminação desse conteúdo

de carbono. A “descarbonização” é a única meta aceitável em uma estratégia

de sustentabilidade no longo prazo. Para a maioria dos produtos e serviços

ofertados no mercado global, é possível obter reduções significativas das

emissões de carbono ou do grau de carbonização recorrendo a tecnologias já

disponíveis.

O que forçará mudanças no perfil de carbono da demanda e da

produção de bens e serviços? Com certeza, os fatores mais determinantes

serão o aumento e redefinição da ação regulatória do Estado e a presença

crescente de um novo agente regulador: a agência multilateral ou global.

Leilões de cotas e créditos de emissões de carbono, impostos sobre

carbono, regras restritivas e proibições diretas de determinadas práticas e

usos se tornarão frequentes e comuns nos próximos anos. Quem não se

adaptar a esse novo cenário perderá competitividade, mercado e, no limite,

não conseguirá sobreviver nele.

O Brasil é o único país do mundo de grande extensão territorial que

concentra o transporte de cargas no modelo rodoviário. O país tem

desprezado as ferrovias e hidrovias como meio de transporte de cargas de

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SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações.

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100,

out. 2014.

72

longa distância. Essas distorções no sistema de transportes fazem com que

ele seja um grande emissor potencial de gases de efeito estufa.

As políticas energéticas em diferentes países estão sendo

progressivamente reorientadas, a fim de atingir, no longo prazo, padrões de

produção e uso de energia que levem em consideração três fatores

(segurança do abastecimento e disponibilidade de recursos energéticos;

busca de flexibilidade da demanda; preocupação e responsabilidades

ambientais).

Exemplos dessa tendência:

Setor de transportes: os carros flex bi ou tricombustível e os carros

híbridos, especialmente associados à tecnologia plug-in1 (ver foto abaixo), e

o papel crescente do uso de biocombustíveis de primeira geração a partir de

matérias-primas agrícolas, como o etanol (proveniente da cana-de-açúcar, no

Brasil, e proveniente do milho, nos Estados Unidos) e o biodiesel, produzido

a partir de diferentes oleaginosas.

Geração de eletricidade: o papel crescente das centrais eólicas em

diferentes países e as novas tecnologias visando reduzir o nível de emissões

das centrais a carvão.

Programas de eficiência energética: diferentes tecnologias e

equipamentos reduzindo o consumo de energia, além de programas de

gestão da demanda e novas regulamentações fixando padrões de consumo

eficiente para diferentes equipamentos.

O futuro do setor de petróleo e gás natural está fortemente vinculado

às transformações advindas do setor de transportes, no qual predomina o

uso de derivados do petróleo, porém, a grande e longa transição aponta para

uma corrida tecnológica cujo objetivo é abastecer o automóvel do futuro. É

provável o surgimento de uma grande variedade de iniciativas em

1 Um automóvel híbrido plug-in possui dois motores, sendo: um motor elétrico e um de apoio (o tradicional, motor

a explosão) a bateria usada para alimentar o motor elétrico pode ser carregada através de uma tomada, isso faz

com que o carro opere com uma quantidade significativamente reduzida de combustível fóssil.

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Ensaio

SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações.

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100,

out. 2014.

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biocombustíveis, que devem concorrer com iniciativas em outras tecnologias

que seriam mutuamente exclusivas: células a combustível, carros elétricos,

veículos híbridos. (ZYLBERSZTAJN e LINS, 2010).

As 5 dimensões da Sustentabilidade

A Gestão Ambiental resume-se em um sistema de atividades de

planejamento, responsabilidades, práticas, processos e recursos para

desenvolver, atingir, analisar e manter a política ambiental. O objetivo é

fazer a empresa minimizar os impactos e efeitos negativos provocados no

ambiente por suas atividades de produção, seja produtos ou serviços.

Empresas que aderiram a gestão ambiental com responsabilidade,

vivenciam os benefícios da sustentabilidade em suas diferentes esferas

organizacionais (benefícios econômicos, benefícios estratégicos e incremento

da receita corporativa).

Pensar em Sustentabilidade é pensar grande, pensar amplo. E é por

isso que alguns autores afirmam que a Sustentabilidade pode ser dividida

em cinco dimensões2 :

Sustentabilidade Social – a criação de um processo de desenvolvimento

sustentado por uma civilização com igualdade na distribuição de renda e de

bens, de modo a reduzir as diferenças entre os padrões de vida dos ricos e

dos pobres. Alguns autores incluem aqui, na Sustentabilidade Social, os

programas e ações de conscientização da sociedade que visam posicioná-la

contra o consumismo exagerado e supérfluo, fortemente visível no presente

século.

2 A abordagem da Sustentabilidade dividida em 5 dimensões foi formulada primeiramente por Ignacy Sachs e

pode ser verificada em SACHS, Ignacy. Desenvolvimento includente, sustentável e sustentado. Rio de

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RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100,

out. 2014.

74

Sustentabilidade Econômica – alcançada através do gerenciamento

eficiente dos recursos e de um fluxo constante de investimentos públicos e

privados.

Sustentabilidade Ecológica – alcançada através da limitação do consumo

de combustíveis fósseis e demais recursos facilmente esgotáveis, redução dos

resíduos e da poluição através da conservação de energia, de recursos

naturais e da reciclagem. Inclui-se aqui, a busca pela substituição de

recursos não-renováveis por alternativas renováveis e de menor impacto

ambiental e social.

Sustentabilidade Espacial – dirigida para a obtenção de um cenário

rural-urbano mais equilibrado e com melhor distribuição territorial dos

assentamentos humanos e das atividades econômicas.

Sustentabilidade Cultural – inclui a procura por raízes endógenas de

processos de modernização e de sistemas agrícolas integrados, que facilitam

a geração de soluções específicas para o local, o ecossistema, a cultura e a

área.

Para planejar um modelo de desenvolvimento que pretenda ser

sustentável, deve-se considerar todas as dimensões envolvidas direta e

indiretamente no negócio, e também conhecer os objetivos do

desenvolvimento sustentável:

Retomar o crescimento.

Alterar a qualidade do desenvolvimento.

Atender às necessidades essenciais de emprego, alimentação,

energia, água e saneamento.

Manter um nível populacional sustentável.

Conservar e melhorar a base de recursos.

Reorientar a tecnologia e administrar o risco .

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Ensaio

SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações.

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100,

out. 2014.

75

Incluir o meio ambiente e a economia no processo de tomada de

decisões.

Sob a atual pressão mercadológica e da sociedade, a empresa que não

incorporar o conceito de sustentabilidade, verdadeiramente, em sua gestão

de negócios e não apenas no discurso ou nas ações de marketing,

provavelmente terá dificuldades em sobreviver às próximas décadas.

Uma montadora de automóveis não pode, por exemplo, usar recursos

de comunicação para se vangloriar de “ser ambientalmente correta” apenas

por adotar tapetes feitos a partir da reciclagem de garrafas pet, ignorando os

impactos causados ao meio ambiente ao longo do ciclo de vida desse meio de

transporte. Um carro é fabricado a partir de mais de uma tonelada de aço,

além de utilizar borracha, vidro e plástico, e é movido a combustível fóssil. A

indústria de transporte é uma das mais poluidoras do mundo. Sendo assim,

associar a gestão sustentável à utilização de tapetes reciclados não pode ser

considerado um exemplo de sustentabilidade, pois corresponde apenas a

uma ação de marketing. (ZYLBERSZTAJN e LINS, 2010).

Políticas Públicas Ambientais

Segundo Barbieri (2007), entende-se por Política Pública Ambiental o

conjunto de objetivos, diretrizes e instrumentos de ação que o poder público

dispõe para produzir efeitos desejáveis sobre o meio ambiente.

À medida que os problemas surgiam a gestão ambiental começou a ser

desenvolvida e implantada pelos governos dos Estados nacionais, de modo

que as primeiras manifestações de gestão ambiental procuravam solucionar

problemas de escassez de recursos vitais à subsistência humana e animal, só

após a Revolução Industrial os problemas ligados à poluição começaram a

ser tratados de modo sistemático. Durante muito tempo as iniciativas dos

governos eram quase exclusivamente de caráter corretivo, os governos só

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Ensaio

SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações.

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100,

out. 2014.

76

enfrentavam os problemas ambientais depois que eles já tinham sido

criados, isso ainda ocorre explicitamente em muitas situações, inclusive em

países considerados de primeiro mundo. Foi a partir dos anos 1970 que

vários países começaram a desenvolver políticas governamentais que

tratassem as questões ambientais de modo integrado e, inclusive,

introduzindo uma abordagem preventiva. Os debates sobre a relação entre

meio ambiente e desenvolvimento urbano e os acordos ambientais

multilaterais contribuíram, e muito, para essa mudança de comportamento

e de políticas públicas integradas.

Como reflexo das políticas públicas ambientais há diversos

instrumentos de comando e controle operando, fiscalizando, monitorando e

auditando empresas de diversos setores e segmentos de atuação. Esses

instrumentos também são chamados de instrumentos de regulação direta e

objetivam alcançar as ações que degradam o meio ambiente, limitando ou

condicionando o uso de bens, a realização de atividades e o exercício de

liberdades individuais em benefício da sociedade como um todo. Trata-se do

exercício do poder de polícia dos entes estatais, que manifesta-se por meio de

proibições, restrições e obrigações impostas às organizações e aos indivíduos

através de normas legais.

A seguir veremos a classificação e os tipos mais comuns de

Instrumentos de Política Pública Ambiental3:

Referente a Comando e Controle:

Padrão de emissão

Padrão de qualidade

Padrão de desempenho

3 BARBIERI, José Carlos. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. São Paulo:

Ed. Saraiva, 2007, p.73.

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SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações.

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100,

out. 2014.

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Padrões tecnológicos

Proibições e restrições sobre produção, comercialização e uso de produtos

e processos.

Licenciamento ambiental

Zoneamento ambiental

Estudo prévio de impacto ambiental.

Referente ao Econômico:

Tributação sobre poluição

Tributação sobre uso de recursos naturais

Incentivos fiscais para reduzir emissões e conservar recursos

Remuneração pela conservação de serviços ambientais

Financiamentos com condições especiais.

Criação de mercados de produtos ambientalmente saudáveis

Permissões negociáveis

Sistema de depósito-retorno

Poder de compra do Estado (licitações sustentáveis ou fornecedores

ecologicamente corretos)

Outros:

Apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico

Educação ambiental.

Unidades de conservação

Informações ao público.

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Ensaio

SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações.

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100,

out. 2014.

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Dentre todos esses tipos de instrumentos de política pública

ambiental os três tipos de maior importância são: padrões de

qualidade ambiental, padrões de emissão e padrões tecnológicos.

Os padrões de qualidade ambiental se referem aos níveis máximos

admitidos para os poluentes de um dado segmento do meio ambiente, são

segmentados em ar, água e solo. Esses níveis são estabelecidos como médias

aritméticas ou geométricas de concentração diária ou anual, permitindo com

isso, incorporar as variações climáticas que afetam a dispersão e a

concentração dos poluentes.

Os padrões de emissão se referem aos lançamentos de poluentes

individualizados por fonte aos lançamentos de poluentes individualizados

por fontes fixas ou estacionárias, como os armazéns, as fábricas e as lojas, ou

fontes móveis, como os automóveis, caminhões, embarcações e outros

veículos. Os padrões de emissão estabelecem uma quantidade máxima

aceitável de cada tipo de poluente por fonte poluidora (ex. 0,5 mg/l de

chumbo) ou uma quantidade máxima por unidade de tempo (ex. “X”

toneladas de dióxido de carbono por dia, mês ou ano). Há um tipo especial de

padrão de emissão que estabelece exigências no desempenho das máquinas,

equipamentos e operações fabris, com o objetivo de reduzir a emissão de

poluentes específicos a um nível aceitável, como normas legais que

estabelecem valores máximos permitidos para as emissões de gases e

fumaça em veículos automotores (ex. limite máximo de emissão de monóxido

de carbono de veículos automotores: 24g/km).

O controle da poluição pode ser estabelecido através dos meios e

recursos tecnológicos que as fontes poluidoras adotarem. É importante

compreendermos que o termo “tecnologia” abrange não somente softwares e

programas com linguagem computacional, mas inclui também máquinas,

instalações, ferramentas, materiais e outros elementos físicos de um

estabelecimento ou uma unidade produtiva, práticas administrativas e

operacionais ex: avaliação de fornecedores, especificar e selecionar

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SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações.

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100,

out. 2014.

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materiais, métodos de inspeção, roteiro da produção, planejamento da

manutenção e treinamento.

Segundo Barbieri (2007), definir o padrão tecnológico é uma tarefa

árdua e complexa para a alta administração da empresa, pois além das

tecnologias estarem em constante evolução elas representam ativos de posse

privativa daqueles que as desenvolvem, de forma que a melhor tecnologia

para certa finalidade nem sempre está disponível para todos os agentes

produtivos, devido a isto, o padrão tecnológico a ser adotado precisa sempre

considerar a disponibilidade da tecnologia. Em geral, o padrão tecnológico é

estabelecido após consultas com especialistas, fornecedores de tecnologia e

os responsáveis pelas unidades produtivas. O objetivo de todas essas

consultas é alcançar consenso entre as partes quanto ao melhor padrão

tecnológico disponível a ser adotado.

De acordo com os estudos de Barbieri, as empresas se utilizam de dois

importantes critérios para auxiliá-las na escolha da tecnologia que irão

adotar em seus processos produtivos. Um desses critérios se baseia no

conceito de Melhor Tecnologia Disponível e o outro se baseia na Melhor

Tecnologia Disponível que Não Acarreta Custo Excessivo4. Este segundo

critério procura evitar que a empresa adote um padrão de tecnologia que irá

apresentar um resultado final muito pequeno em relação às outras

tecnologias disponíveis, porém, com um custo consideravelmente mais

elevado. Também tenta evitar que o custo da implementação da melhor

tecnologia disponível não inviabilize os empreendimentos do ponto de vista

econômico. Este segundo critério (Melhor Tecnologia Disponível que Não

Acarreta Custo Excessivo) é muito utilizado nos Estados Unidos, no Reino

Unido e em outros países da Europa para fixar limites máximos de emissões

de poluentes. No Brasil, a prática mais usual é a definição de padrões de

4 BARBIERI, José Carlos. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. 2ª edição.

São Paulo: Ed. Saraiva, 2007, p. 75.

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SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações.

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100,

out. 2014.

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qualidade e de emissão, o critério de Melhor Tecnologia Disponível é usado

apenas na ausência de padrões de emissão fixados em normas legais.

Entre os instrumentos de Comando e Controle podemos citar as

proibições ou banimentos da produção, banimentos em comercialização e uso

de certos produtos, o estabelecimento de cotas de produção, cotas para

comercialização ou utilização de materiais ou recursos; o licenciamento

ambiental para atividades ou obras potencialmente poluidoras e o

zoneamento ambiental também são considerados instrumentos de comando

e controle das poluições fabris, industriais, entre outras.

Regulamentações ambientais adequadas podem estimular o

surgimento de inovações que reduzem os custos ambientais e permitem o

uso mais eficiente de recursos. O problema não é a regulamentação em si,

mas o modo como ela é formulada. Uma regulamentação ambiental pública

rigorosa pode se tornar uma vantagem competitiva para a empresa e o país,

em outras palavras, a proteção ambiental, via instrumento de comando e

controle, pode ser um importante fator de competitividade das empresas e

dos países. (BARBIERI, 2007, p. 84-85).

Alguns motivos por que a regulamentação é necessária:

Cria pressões que motivam a realização de inovações pelas empresas;

Melhora a qualidade ambiental quando a inovação não compensa o

custo total da conformidade;

Educa e alerta a empresa a respeito de ineficiências prováveis e de

áreas potenciais para melhorias;

Aumenta a probabilidade de que as inovações de produtos e processos

sejam mais amigáveis ao meio ambiente;

Cria demanda pelo aprimoramento ambiental, até que as empresas e

os clientes sejam capazes de perceber e mensurar a ineficiência dos

recursos como fonte de poluição;

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Ensaio

SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações.

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100,

out. 2014.

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Ajuda a equilibrar o período de transição, assegurando que nenhuma

empresa será capaz de ganhar posição por não efetuar os

investimentos ambientais.

Ainda dentro do tema Políticas Públicas Ambientais, Barbieri afirma

que uma política pública ambiental deve contemplar a educação ambiental e

que esta deve ser usada como um de seus instrumentos. A meta da

educação ambiental é desenvolver uma população consciente e preocupada

com o meio ambiente, para atuar individual e coletivamente na busca de

soluções para os problemas atuais e para a prevenção de novos problemas,

para serem portadoras de soluções e não apenas de denúncias. Uma

educação ambiental eficaz deve produzir mudanças nas próprias condutas

diárias das pessoas, modificando por exemplo, seus hábitos de consumo e

descarte dos resíduos (orgânicos e não orgânicos).

A eficácia de uma política pública ambiental bem elaborada depende

diretamente de outras políticas públicas. É muito comum a convivência

conflituosa entre diversas políticas públicas. Exemplos: uma política

agrícola voltada para a produtividade pode induzir o uso abusivo de água,

fertilizantes e agrotóxicos. Políticas de transportes e de energia baseadas em

combustível fóssil não ajudam em nada as políticas ambientais. A falta de

uma política de transporte coletivo na cidade de São Paulo estimula os

indivíduos locais a utilizarem cada vez mais seus veículos particulares

(carros, motos). Subsidiar combustíveis fósseis para ampliar a oferta de

energia elétrica pode inviabilizar a utilização de fontes renováveis de

energia. Uma política monetária baseada em altas taxas de juros, ao

penalizar o setor produtivo reduzindo suas margens e, portanto, os fundos

de investimentos, contribui negativamente para a atualização tecnológica

das empresas, obrigando-as a operarem com equipamentos e instalações

obsoletos.

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Ensaio

SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações.

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100,

out. 2014.

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Logo, é possível concluir que a falta de coerência e de interação entre

as diversas ações de políticas públicas acaba e tornando um incentivo às

práticas ambientais insustentáveis por parte de muitos agentes privados. Se

as demais políticas públicas forem elaboradas em harmonia com a política

pública ambiental esta última terá maior chance de se mostrar realmente

efetiva e eficaz.

A Mesa Redonda

Consumidores, financiadores, acionistas e potenciais investidores

exigem cada vez mais, compromissos éticos das corporações. Não basta

apenas olhar para o resultado econômico-financeiro para avaliar o

desempenho de uma organização, pois na atualidade seu desempenho

também é avaliado e medido levando-se em conta os resultados de todas as

partes e divisões da cadeia produtiva, bem como o impacto nos recursos

naturais.

Alguns acontecimentos na natureza ajudam a entender o quanto o

momento é crítico e depende de mudanças efetivas nos meios de produção e

nos modos de consumir.

No início dos anos 1990 surgiram novas iniciativas internacionais de

rastreamento e certificação socioambiental. Indústrias de roupas, setor

naval e de pesca, indústria química, mineração, construção civil, transportes

e diferentes segmentos da agricultura respondem, ao menos formalmente, a

protocolos que envolvem a certificação de seus produtos e o rastreamento de

suas atividades.

Em muitos casos o rastreamento permitiu avanços, apesar da

existência, até hoje, de procedimentos inaceitáveis.

Segundo Abramovay (2012), apesar dos benefícios sociais e

ambientais da certificação ela possui efeitos desiguais evidentes, como por

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SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações.

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100,

out. 2014.

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exemplo: a certificação envolve custos que podem limitar severamente o

acesso aos mercados dos produtores com menor poder econômico.

A partir dos anos 2000 se intensificaram e com maior sucesso as

campanhas voltadas de forma explícita contra comportamentos julgados

destrutivos praticados pelo setor privado. Empresas e marcas globais foram

alvo de campanhas em que são apontadas abertamente. Isso as obrigou a

responder a críticas, criar departamentos de relacionamento com a

sociedade civil e alterar seus próprios métodos de avaliação de seus

negócios. Hoje há empresas de consultoria especializadas em orientar as

empresas privadas em suas relações com stakeholders.

Tem aumentado de maneira acelerada a diversidade dos setores em

que a relação com os stakeholders se intensifica. A qualificação dos produtos

é cada vez mais generalizada e profunda o que leva as empresas a adotarem

atributos que vão além do que a legislação de cada país exige. Dentro desses

processos de mudanças as empresas e as associações empresariais passam a

procurar parâmetros de julgamento de suas atividades que vão muito além

do balanço contábil ou da remuneração dos acionistas. O que implica a

formulação de vários indicadores, como o uso de materiais e energia, balanço

de emissões de gases de efeito estufa e a mensuração dos impactos que

fazem as firmas tanto na biodiversidade como nas populações e comunidades

encontradas ao longo de suas cadeias de valor.

Até as próprias organizações não governamentais alteram seus

procedimentos, realizam negociações diretas com o setor privado, o que exige

preparação técnica. Os riscos reputacionais então ampliam-se. Para as

empresas se torna necessário saber escolher os stakeholders com os quais

irão dialogar, selecionar os temas relevantes, demonstrar compromisso,

abertura e visibilidade naquilo que a empresa faz, em cada um desses

tópicos há riscos e conflitos imensos.

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SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações.

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100,

out. 2014.

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Para Abramovay (2012), os mercados não podem ser encarados como o

domínio da vida privada, em oposição ao Estado e à sociedade civil. As

empresas estão se organizando de forma cada vez mais profissionalizada

para lidar com as pressões sociais decorrentes daquilo que produzem e das

cadeias de valor que gerem, e é fundamental que as organizações da

sociedade civil ampliem sua participação nesse campo, pois essa interação

terá um papel decisivo na emergência de uma nova economia.

Abramovay ainda defende a ideia de que o conceito de

responsabilidade social elaborado até os dias atuais é insuficiente para

enfrentar o tema, e que a criação de valor para a empresa deve visar,

direta e claramente, a criação de valor para a sociedade. Não é algo

que ocorre à margem dos negócios, mas está em seu cerne. Criar valor não

deve ser encarado em apenas ter lucro.

“Se não agirmos agora, os danos causados pelas

agressões ao meio ambiente serão devastadores para a

economia do planeta. As grandes empresas dos Estados

Unidos já estão se conscientizando disso e já adotaram

medidas para diminuir a emissão de carbono. Há um

ditado que diz: se quiser ir mais rápido, vá sozinho; se

quiser ir mais longe, vá junto. Temos de ir rápido e

juntos. Para as gerações futuras, temos de ser a geração

que teve coragem de fazer o que muitos achavam que era

impossível para salvar a Terra” Al Gore , 20075

5 ZYLBERSZTAJN, David. LINS, Clarissa. Sustentabilidade e geração de valor: a transição para o século

XXI. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 2010, p. xvii (Introdução).

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SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações.

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100,

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“Os próximos anos representam uma grande

oportunidade para estabelecermos novas bases de

crescimento capazes de transformarem a economia e a

sociedade. Vamos atravessar o período de recessão por

meio da redução de riscos e de investimentos que vão

criar um planeta mais seguro, limpo e com uma

economia mais forte” Nicholas Stern – professor da

London School of Economics6.

Fig. 1 - Evolução das expectativas sociais

Fonte: BARBIERI e CAJAZEIRA, 2009, p. 72.

A figura acima representa a evolução das expectativas das pessoas,

em relação às empresas, ao comprarem um produto ou contratarem o serviço

6 ZYLBERSZTAJN, David. LINS, Clarissa. Sustentabilidade e geração de valor: a transição para o século

XXI. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 2010, p. xvii (Introdução).

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SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações.

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100,

out. 2014.

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de determinada empresa e pode ser usada para ilustrar as partes

interessadas que compõem a Mesa Redonda.

Crescimento populacional, recursos limitados e nível de produção

O crescimento demográfico, a limitação dos recursos indispensáveis à

vida (humana e animal) e o aumento contínuo dos níveis de produção

(ligado à automação , demanda e superconsumo) são as três principais

problemáticas que ameaçam a sobrevivência das gerações das próximas

décadas. Considerando essas três grandes problemáticas, Barbieri (2007)

apresenta dois extremos ligados à perspectiva de futuro das populações de

todo o globo terrestre.

A primeira perspectiva de futuro é defendida por Malthus e Hardin

(perspectiva com inclinação pessimista) , a segunda é defendida por Adam

Smith e Julian Simon (perspectiva com inclinação otimista), cada qual com

seus argumentos e apontamentos advindos da análise social.

Na perspectiva pessimista, temos Malthus7 defendendo a ideia de que

a paixão entre os sexos é necessária e não irá se alterar e assim ele conclui

que a população, quando não controlada, tende a aumentar numa

progressão geométrica, enquanto os recursos e os meios de subsistência

crescem em proporção aritmética, o que acabaria resultando em escassez de

alimentos. Ainda segundo Malthus, o equilíbrio entre oferta e demanda de

alimentos seria restabelecido pelas guerras, doenças, pestes e outras

catástrofes que ele denomina como “freios positivos”, uma vez que ele não

acreditava na capacidade dos seres humanos, principalmente dos mais

pobres, de refrear preventivamente seus impulsos em razão de restrições

morais e controle da natalidade. Por isso mesmo Malthus condenava as

políticas públicas em defesa dos pobres, como as Leis dos Pobres (Poor

7 Malthus em sua obra “Ensaio sobre a população”, publicada em 1798.

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RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100,

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Laws), introduzidas na Inglaterra no início do século XVII, e que

incentivariam os pobres a aumentar ainda mais sua prole, ampliando o

descompasso entre a população e os meios de subsistência. Ainda nessa

linha de pensamento Malthus também condenava os sindicatos, pois em seu

entender, conceder melhores salários aos trabalhadores estimularia o

crescimento populacional. Malthus fez escola, embora suas previsões

pessimistas não se tenham verificado, e o adjetivo malthusiano é utilizado

para indicar pessoas pessimistas quanto ao futuro devido ao descompasso

entre recursos e necessidades e devido à dificuldade de conter o crescimento

populacional, principalmente das populações pobres.

Ainda hoje, o neomalthusianismo continua pessimista quanto ao

futuro da humanidade e prega a necessidade de controle da população.

Segundo seus argumentos, as altas taxas de natalidade geram populações

muito jovens e como estas consomem mais do que produzem, o resultado

final é o aumento da pobreza.

Hardin8, um autor neomalthusiano9, aponta que há certos problemas

para os quais não há solução técnica, como por exemplo, as questões

relativas à população mundial, pois uma Terra finita pode suportar apenas

uma população finita e não é isso o que se observa diante da liberdade de ter

filhos. Hardin considera essa liberdade intolerável e se opõe ao direito das

famílias decidirem sobre essa questão. Para ele como não há solução técnica

capaz de salvar a humanidade da miséria resultante da superpopulação, a

liberdade de procriar arruinará a todos.

No outro extremo temos a perspectiva otimista de futuro em relação

aos recursos necessários à vida humana. Essa perspectiva otimista se baseia

8 Hardin em seu artigo “The tragedy of the commons”, publicado em 1968 na prestigiada revista Science.

9 Neomalthusiano – adjetivo dado às pessoas que atualmente acreditam na Teoria Populacional Malthusiana,

criada pelo demógrafo Thomas Malthus. Segundo essa teoria a superpopulação dos países é a principal a causa

da pobreza dos mesmos. Para os neomalthusianos, uma população numerosa seria um obstáculo ao

desenvolvimento e levaria ao esgotamento dos recursos naturais, ao desemprego e à pobreza.

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na crença de que qualquer problema de escassez no presente ou no futuro

próximo será solucionado mais adiante, defende a ideia de que sempre

haverá a possibilidade de substituição de insumos e processos produtivos.

Funciona como um “efeito dominó10” onde à medida que o mercado visualiza

a possibilidade de esgotamento de um certo recurso natural, o seu preço de

mercado aumentaria e isso estimulará as atividades de pesquisa e

desenvolvimento científico e tecnológico para melhor aproveitar esse recurso

escasso e também para encontrar alternativas de substitui-lo. Essa visão

otimista considera, na prática, todos os recursos infindáveis, pois diante da

iminência de escassez de um certo recurso sempre será encontrado algum

substituto.

Adam Smith11 em sua obra “A riqueza das nações” faz análises e

apontamentos a favor da perspectiva otimista. Adam afirma que,

independentemente do solo, clima ou extensão territorial de uma nação, a

abundância ou escassez de bens de que ela irá dispor dependerá de duas

circunstâncias, sendo a primeira mais importante que a segunda :

1. Da habilidade, destreza e bom senso com que o trabalho é executado.

2. E da proporção entre os que executam e os que não executam o

trabalho útil.

Segundo Adam Smith, sempre haverá demanda por alimentos e da

mesma forma que os animais, os humanos se multiplicam

proporcionalmente aos meios de subsistência. Assim, ele conclui que os

10 Efeito Dominó – expressão usada para representar uma ação que gera uma sequência de acontecimentos que

ocorrem um após o outro inevitavelmente, lembrando, no sentido figurado, ao que acontece quando se organiza as

peças de um dominó todas em pé e uma atrás a outra com um pequeno espaço entre elas, e então, se empurra a

primeira peça fazendo-a cair sobre a segunda peça, repentinamente esta cairá sobre a próxima e rapidamente

todas estarão derrubadas.

11 SMITH, Adam. A riqueza das nações: investigações sobre sua natureza e suas causas. São Paulo: Abril

Cultural, 1983.

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alimentos sempre irão demandar trabalho e sempre haverá alguém disposto

a produzi-los, de modo que a terra irá sempre produzir uma quantidade de

alimentos mais que suficiente para remunerar o trabalho e repor o capital.

Julian Simon, economista da Universidade de Maryland e outro

defensor da perspectiva otimista de futuro em relação aos recursos

indispensáveis à vida, afirmava que os seres humanos sempre souberam

resolver seus problemas. Prova disso é a melhor qualidade de vida de que a

humanidade dispõe hoje comparada ao passado. E quanto mais pessoas,

maior a capacidade para resolver problemas. Para Simon, o resultado final é

surpreendente, pois as condições finais seriam melhores do que se a escassez

nunca tivesse ocorrido. Os meios alternativos encontrados seriam até

melhores do que a antiga forma aplicada (ou os recursos antes utilizados).

Barbieri (2007), explica que essas duas posturas (perspectiva

pessimista e otimista) estão equivocadas, embora ambas trazem

contribuições importantes para o debate sobre recursos naturais e vitais à

vida. A obra de Malthus contribuiu para o desenvolvimento da dinâmica

populacional e serve, até hoje, como base para se desenvolver modelos que

buscam relacionar o crescimento das populações de qualquer espécie com os

seus fatores limitantes, entre eles a oferta de recursos. O grande problema é

quando esses modelos explicativos baseados nos conceitos de Malthus são

transformados em modelos normativos aplicados aos seres humanos, como

programas de esterilização em massa de populações pobres.

Barbieri ainda aponta que é comum as pessoas que afirmam que há

gente em excesso no Planeta não se incluírem entre os que estão sobrando, e

assim suas propostas e argumentos sempre se voltam contra os outros, os

que não podem se defender.

Três maneiras como a Sustentabilidade melhora as empresas

Ao encontrar, ou mesmo ao buscar, o equilíbrio entre o social, o

econômico e o ambiental, os princípios da sustentabilidade podem melhorar

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a gestão da empresa de três maneiras básicas – ajudando a protegê-la , a

gerenciá-la e a promover seu crescimento12.

Proteção da empresa

A proteção da empresa inclui a redução dos riscos de prejudicar os

clientes, os empregados e as comunidades; a identificação o mais cedo

possível de riscos iminentes e de falhas gerenciais pendentes; a limitação de

intervenções regulatórias; e a preservação da licença de operação implícita

ou explícita, concedida pelo governo ou pela comunidade em geral.

Gestão da empresa

A gestão da empresa abrange redução de custos, melhoria da

produtividade, eliminação de desperdícios desnecessários e garantia de

acesso a fontes de capital a custos mais baixos.

Promoção do crescimento da empresa

A promoção do crescimento da empresa inclui a abertura de novos

mercados, o lançamento de novos produtos e serviços, a aceleração do ritmo

de inovação, a melhoria da satisfação e da lealdade dos clientes, a ampliação

da fatia de mercado mediante a conquista de novos clientes para os quais a

sustentabilidade seja valor pessoal ou empresarial importante, o

desenvolvimento de novas alianças com parceiros de negócios e com outros

stakeholders, além da melhoria da reputação e do valor da marca.

Importância da Sustentabilidade na Estratégia Empresarial

A Sustentabilidade aplicada na estratégia empresarial implica

reforçar o planejamento de longo prazo e ampliar o leque de fatores

considerados. A estratégia do negócio passará a ter o foco muito além na

12 SAVITZ, Andrew. WEBER, Karl. A empresa sustentável – Verdadeiro Sucesso e Lucro com

Responsabilidade. Rio de Janeiro: Ed. Campus. 2007, p. 40.

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Ensaio

SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações.

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100,

out. 2014.

91

empresa em si mesma e na primeira camada da esfera de relacionamento,

que cobre as cadeias de suprimento e a distribuição e venda.

“Hoje, há consenso no sentido de que toda empresa deve

estar engajada no esforço maior para manter a civilização

humana e aumentar a qualidade de vida, de forma

compatível com a capacidade de suporte do planeta. Isso se

aplica em especial à indústria e ao agronegócio e significa

compatibilizar as demandas por água, energia e recursos

naturais com os estoques disponíveis e renováveis do planeta

e também com a capacidade para absorção da geração de

resíduos sólidos, efluentes e emissões atmosféricas. Ou seja,

cada indivíduo isoladamente e cada organização, tenha

caráter produtivo e lucrativo ou não, são chamados a

assumir novos deveres, mudar hábitos e ajustar

comportamentos. Isso significa abandonar uma atitude

reativa e adotar posições proativas.” (ZYLBERSTAJN e

LINS, 2010, p.158 )

“Já é possível afirmar que a Responsabilidade Social no

Brasil superou uma primeira fase de assimilação e agora

começa a ser, de fato, incorporada ao dia a dia das

organizações. Do ponto de vista quantitativo, há um maior

engajamento de empresas em projetos sociais. Sob a ótica

qualitativa, a implementação de ações socialmente

responsáveis integradas ao planejamento estratégico das

empresas vem tendo um avanço importante... Hoje mais

empresários tem clareza do valor que a gestão sustentada

pela Responsabilidade Social agrega aos negócios13.”

13 Responsabilidade Social. <www.ethos.org.br/site/conferencia/rsocial.htm> visitado em 10 de agosto de 2000.

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SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações.

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100,

out. 2014.

92

A tabela 1 abaixo, informa que para as empresas administradas a

partir de uma visão tradicional e reativa pensar nos problemas ambientais e

adotar práticas que minimizem seus impactos representa um aumento de

despesas e investimentos sem retorno. Para elas os problemas ambientais

são solucionados a partir do cumprimento da legislação vigente. As

empresas com visão tradicional e reativa acreditam que configura um

cenário de concorrência desleal quando seus competidores não cumprem a

atual legislação ambiental e social. As empresas com visão sustentável e

proativa, por usa vez, acreditam que solucionar problemas ambientais é

uma maneira de se reduzir custos, desperdícios e perdas além de

representar uma forma de prevenir riscos para o negócio. Também

acreditam que as empresas devem adaptar seus processos antes das

exigências legais e de forma ainda mais rigorosa que as legislações. As

empresas sustentáveis e proativas veem a questão ambiental como meio de

encontrar oportunidades de negócios e assim conquistarem um forte

diferencial frente aos seus competidores. Elas acreditam também que se

suas ações, seus processos, sua logística e sua cadeia de suprimentos

seguirem orientações rumo à excelência ambiental ela, a empresa,

consequentemente irá se valer dos benefícios de um legítimo marketing

ecológico, como ter uma imagem positivamente forte e ser reconhecida

publicamente como empresa responsável ambiental e socialmente.

Tabela 1 – Dois tipos de visão empresarial: Visão Tradicional (REATIVA) e

Visão Sustentável (PROATIVA)

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SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações.

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100,

out. 2014.

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VISÃO TRADICIONAL E REATIVA VISÃO SUSTENTÁVEL E PROATIVA

Problemas ambientais são

absorvedores de despesas e

investimentos sem retorno.

A solução dos problemas ambientais deve ser

encarada como forma de reduzir custos,

desperdícios e perdas, e prevenir riscos para o

negócio, conciliando ecologia com economia.

A solução dos problemas ambientais

resume-se ao cumprimento da

legislação vigente.

As empresas devem se antecipar às novas

legislações em gestação, sempre mais

rigorosas, tendo em vista a globalização da

economia e a consolidação nas leis dos

avanços das novas tecnologias disponíveis e

economicamente viáveis.

O não cumprimento da legislação

ambiental e social por competidores é

uma ameaçadora forma de

concorrência desleal.

As oportunidades de negócios no campo

ambiental podem representar forte

diferencial frente aos competidores, ao lograr

melhor acolhida entre clientes e investidores

ambientalmente responsáveis; o respeito a

normas ambientais mais rigorosas pode

eliminar concorrentes.

A poluição e os acidentes ambientais

são algo danoso para a imagem da

empresa.

A excelência ambiental é a base para

promover o marketing ecológico legítimo, que

não deve ser confundido com mera

propaganda.

Fonte: ZYLBERSZTAJN e LINS, 2010, p.159.

Os três domínios da Responsabilidade Social das Empresas

Estudiosos e pesquisadores do tema Sustentabilidade sabem que este

tema também aborda a questão da Responsabilidade Social. Muitas pessoas

e até grandes organizações não compreendem ao certo o que é

Responsabilidade Social Empresarial, o que representa este tema e o que

está incluso nessa abordagem.

Para o Instituto Ethos, responsabilidade social é definida da seguinte

forma:

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SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações.

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100,

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[...] é a forma de gestão que se define pela relação ética

e transparente da empresa com todos os públicos com os

quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas

empresariais compatíveis com o desenvolvimento

sustentável da sociedade, preservando recursos

ambientais e culturais para as gerações futuras,

respeitando a diversidade e promovendo a redução das

desigualdades sociais.14

Barbieri e Cajazeira (2009), apresentam o modelo dos três campos ou

os três domínios da Responsabilidade Social Empresarial15. Este modelo foi

criado por Schwartz e Carroll em 2003 com o intuito de representar

adequadamente os elementos relacionados à Responsabilidade Social

Empresarial.

Em seu modelo, Schwartz e Carroll apontam que a Responsabilidade

Social Empresarial possui três domínios (ou três campos de forte atuação):

o domínio econômico, o legal e o ético.

O campo econômico se refere às atividades voltadas para produzir

resultados e retornos financeiros positivos (diretos e indiretos), como a

maximização de lucro ou do valor das ações. São exemplos claros de ações

econômicas diretas as atividades para incrementar as vendas da empresa ou

para evitar litígios. São exemplos de ações econômicas indiretas aquelas que

visam melhorar a imagem da empresa frente aos consumidores e acionistas

ou elevar a motivação de seus funcionários.

O campo da responsabilidade legal se refere às ações da empresa

para cumprir as normas e princípios legais, podendo se dividir em três

14 INSTITUTO ETHOS DE EMPRESAS E RESPONSABILIDADE SOCIAL. Processos gerenciais:

Responsabilidade Social Empresarial, junho de 2005, p.25.

15 BARBIERI, José Carlos. CAJAZEIRA, Jorge Emanuel Reis. Responsabilidade social empresarial e

empresa sustentável: da teoria à prática. São Paulo: Ed. Saraiva, 2009, p. 56.

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RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100,

out. 2014.

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categorias: ações de conformidade legal, medidas para evitar litígios16 e

medidas antecipatórias às leis regulamentadoras.

O campo ético se refere às responsabilidades da empresa diante das

expectativas da população, das comunidades e de seus stakeholders,

envolvem medidas e condutas éticas domésticas e globais. O domínio ético

pode ser dividido em três padrões éticos gerais: o padrão convencional, o

consequencialista e o padrão deontológico. O padrão convencional são

as normas sociais e os padrões considerados como necessários para o

funcionamento das indústrias no segmento e localidade onde elas atuam,

pelas associações profissionais e pela sociedade, incluindo os acionistas,

clientes, empregados competidores e demais stakeholders. Como essas

normas sociais variam entre diferentes grupos sociais, uma forma das

empresas contornarem essa limitação é elaborando e divulgando Códigos de

Ética formais, muitas vezes apresentados pela área de RH no processo de

integração de novos colaboradores.

O padrão ético consequencialista é aquele onde as ações são julgadas

ou decididas pensando-se em suas consequências. Nele, uma ação é

considerada consequencialista se promover o bem social ou se produzir a

maior quantidade de benefícios líquidos, ou o menor custo líquido,

comparativamente às outras alternativas.

O padrão ético deontológico está ligado diretamente às noções de

obrigação e dever como motivos das ações da empresa. É aqui, que a

empresa tem bem claro os direitos de todas as partes envolvidas, direta e

indiretamente, em seu negócio. Por exemplo: ao planejar a instalação de

uma indústria química, a empresa deverá considerar que é direito dos

moradores locais que a empresa se preocupe e preze por adotar todas as

medidas necessárias para garantir a segurança e a saúde de toda

16 Litígio – contestação de que pode resultar um processo judicial ou arbitramento. Pendência, atitude negligente,

disputa, demanda. Fonte: FERREIRA, Aurélio Baird Buarque. Mini Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio

de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1993, p. 337.

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comunidade local, ao mesmo tempo em que, por outro lado, há uma vasta

legislação que regulamenta todos os requisitos e exigências necessários para

que esta indústria seja construída, equipada e monitorada de maneira a não

causar dano ou prejuízo local, quer aos moradores das regiões vizinhas quer

às outras empresas, aos animais e às fontes de água local que ali já estavam.

Da mesma forma, é natural da empresa que segue o padrão ético

deontológico se preocupar em seguir corretamente todas as obrigações legais

apontadas pelas leis trabalhistas vigentes (direito dos funcionários e dever

da empresa que age com ética e moral). O padrão ético deontológico está

inevitavelmente ligado aos termos Ética e Moral17 e esses dois termos

estão relacionados a costumes, hábitos, condutas e modo de vida.

O substantivo Moral se refere ao conjunto de normas e valores aceitos

pela sociedade e que orientam a conduta humana. O adjetivo Moral é a

característica de uma conduta orientada por normas e valores morais,

qualificando-a como boa, certa, correta ou desejada. O substantivo Ética

indica o estudo a respeito da moral, por isso também é conhecido como

filosofia moral ou ciência moral. As palavras amoral e imoral precisam ser

esclarecidas. O sentido literal do adjetivo Amoral é ausência de

considerações de ordem moral. Trata-se de ação, decisão ou julgamento que

não envolve questões morais. Torcer por um time de futebol e ouvir pagode

são exemplos de fatos amorais ou não-morais. Já o adjetivo Imoral indica

uma oposição às normas morais, como é o caso da ação de votar em um

candidato a deputado sabidamente corrupto.

Carroll, um dos autores mais conhecidos no campo da ética e da

Responsabilidade Social Empresarial afirma que uma empresa com uma

administração imoral é aquela cujas decisões, ações e comportamentos se

opõem abertamente às normas morais vigentes e os administradores tem

17 BARBIERI, José Carlos. CAJAZEIRA, Jorge Emanuel Reis. Responsabilidade social empresarial e

empresa sustentável: da teoria à prática. São Paulo: Ed. Saraiva, 2009, p. 85, 87 e 88.

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RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100,

out. 2014.

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plena consciência desse fato. Decidem e agem movidos apenas para obter

benefícios para a empresa ou para si próprios sem considerar os danos que

causam aos demais envolvidos e os direitos dos mesmos.

A administração de uma empresa é amoral quando nem é a favor e

nem contra aos preceitos morais, pelo fato de que os administradores não se

dão conta das implicações das suas decisões e ações sobre outras pessoas,

organizações e grupos. Há, neste caso, uma forte necessidade de percepção

ou de consciência por parte da empresa no caso dos amorais involuntários ou

não intencionais.

Retomando à abordagem de Responsabilidade Social Empresarial

apresentada por Schwartz e Carroll, onde são apresentados o domínio

econômico, o legal e o ético, é muito comum que as empresas em suas ações e

programas acabem dando maior ênfase em UM dos três campos (como

mostra a figura abaixo). Embora o ideal é que a empresa sempre busque o

equilíbrio entre os três campos da responsabilidade social (figura D).

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out. 2014.

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Fig. 2 - Responsabilidade Social Empresarial : perfis das empresas

Fonte: BARBIERI e CAJAZEIRA, 2009, p. 60.

Considerações Finais

Numa abordagem geral sobre Sustentabilidade, pode-se dizer que, ao

contrário do que muitas pessoas pensam, o tema Sustentabilidade não é,

apenas, sinônimo de meio-ambiente. Pensar em Sustentabilidade não é

sinônimo de “pensar verde”, pois esse tema possui uma verdadeira

amplitude de assuntos e questões interligadas e bem conectadas

entre si.

Ser uma empresa sustentável não é apenas ter uma Política

Ambiental muito bem elaborada e constantemente monitorada e

mensurada, mas representa também, práticas honestas e legais de trabalho;

remunerações justas e ambiente de trabalho seguro e adequado aos

funcionários; inclui pensar em toda a cadeia de suprimentos; pensar nas

comunidades e populações envolvidas em cada etapa dos processos do

negócio; geração de emprego e renda a jovens e comunidades carentes; não-

exploração de mão de obra infantil; promoção de ações e programas sociais

que visem minimizar os impactos da concentração de renda; inclui expandir

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out. 2014.

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ou fomentar a educação básica do país; favorecer e impulsionar o ingresso

dos jovens na educação superior, especialmente os jovens oriundos de

comunidades ou populações carentes; se preocupar a fundo com toda a

cadeia de valor da empresa buscando parceiros e estabelecendo alianças

sustentáveis com outras empresas, fornecedores e prestadores de serviços

que sejam claramente responsáveis social, econômica e ambientalmente. A

união do Social, Econômico e Ambiental é inviolável quando falamos em

Sustentabilidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Abril, 2012.

BARBIERI, José Carlos. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e

instrumentos. 2ª edição. São Paulo: Ed. Saraiva, 2007.

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prática. São Paulo: Ed. Saraiva, 2009.

FERREIRA, Aurélio Baird Buarque. Mini Dicionário Aurélio da Língua

Portuguesa. 3ª edição. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1993.

MARQUES, José Roberto. Sustentabilidade e Temas Fundamentais de

Direito Ambiental. Minas Gerais: Editora Millennium, 2009.

SAVITZ, Andrew. WEBER, Karl. A empresa sustentável – Verdadeiro

Sucesso e Lucro com Responsabilidade. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 2007.

SACHS, Ignacy. Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. 2ª edição.

Rio de Janeiro: Ed. Garamond, 2002.

SACHS, Ignacy. Desenvolvimento includente, sustentável e sustentado. Rio

de Janeiro: Ed. Garamond, 2004.

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valor: a transição para o século XXI. Rio de Janeiro: Ed. Elsevier, 2010.

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Artigo ORIGINAL

SILVA, Maria de Fátima Pereira da; SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro

Richard; GOMES, Tássio Marcílio Francisco; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro;

CERQUEIRA, Gilberto Santos; ABREU, Maria Carolina de. Plantas medicinais: cultivo em

quintais pela população de um município do semiárido Piauiense, nordeste do Brasil.

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 101-

113, out. 2014.

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Plantas medicinais: cultivo em quintais

pela população de um município do

semiárido Piauiense, nordeste do Brasil

Maria de Fátima Pereira da Silva

Licenciada em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí.

Campus CSHNB.

Paulo Henrique da Silva

Licenciado em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí.

Campus CSHNB.

Ykaro Richard Oliveira

Licenciado em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí.

Campus CSHNB.

Tássio Marcílio Francisco Gomes

Especialista em Educação Ambiental, Professor Auxiliar I, Curso de

Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí. Campus Senador

Helvídio Nunes de Barros.

Paulo Michel Pinheiro Ferreira

Doutor em Farmacologia, Programa de Pós-graduação em

Ciências Farmacêuticas, Departamento de Biofísica e Fisiologia,

Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Piauí.

Gilberto Santos Cerqueira

Pós-doutor em Morfologia, Programa de Pós-Graduação em Ciências

Farmacêuticas da Universidade Federal do Piauí. Laboratório de

Anatomia Campus CSHNB.

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SILVA, Maria de Fátima Pereira da; SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro

Richard; GOMES, Tássio Marcílio Francisco; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro;

CERQUEIRA, Gilberto Santos; ABREU, Maria Carolina de. Plantas medicinais: cultivo em

quintais pela população de um município do semiárido Piauiense, nordeste do Brasil.

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 101-

113, out. 2014.

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Maria Carolina de Abreu

Doutora em Botânica, Professora Adjunto II, Curso de Ciências

Biológicas, Universidade Federal do Piauí- Campus Senador Helvídio

Nunes de Barros. E-mail: [email protected].

RESUMO

O uso das plantas medicinais cultivadas em quintais, é uma prática

recorrente entre populações de todo planeta, por questões socioeconômicas

ou culturais, tanto em zonas rurais como urbanas. É evidente a importância

dos quintais facilitando as ações antropogênicas e condicionando a

manutenção desses recursos vegetais no período de estiagem. Esse estudo

objetiva levantar dados no que concerne o cultivo e uso de plantas

medicinais nos quintais. Ele foi realizado na cidade de São Julião, no

semiárido Piauiense. Estudo de caráter quali-quantitativo descritivo,

realizado entre fevereiro e maio de 2013, sendo considerado o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido, além de aplicar 100 entrevistas

semiestruturadas, onde as residências foram escolhidas aleatoriamente.

Registrou-se o uso e o cultivo de oito espécies, distribuídas em 06 famílias,

sendo a Lamiaceae (03) de maior ocorrência. Constatou-se o cultivo em

quintais em 24% das citações, e o uso destas em 91,67%. Das partes

utilizadas predominou a folha com 83,33%, e como forma de preparo foi a

infusão com 79,17%. Com base no exposto, o pequeno número de plantas

medicinais cultivadas em quintais, leva a indagações e contradições de

cunho cultural e ético, carecendo de mais estudos na região para

compreender os motivos do abandono destas práticas.

Palavras – chave: Conhecimento popular, Caatinga, Cultivo e uso de

plantas.

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SILVA, Maria de Fátima Pereira da; SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro

Richard; GOMES, Tássio Marcílio Francisco; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro;

CERQUEIRA, Gilberto Santos; ABREU, Maria Carolina de. Plantas medicinais: cultivo em

quintais pela população de um município do semiárido Piauiense, nordeste do Brasil.

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 101-

113, out. 2014.

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ABSTRACT

The use of medicinal plants cultivated in backyards is an applicant practice

among peoples across the planet by socioeconomic or cultural issues in rural

and urban areas. The importance of backyards is evident, facilitating the

anthropogenic actions and conditioning the maintenance of these plant

resources in drought. The study aim was to get information about

cultivation and use of medicinal plants in backyards, at São Julião city in

semi-arid of Piauí state, Brazil. The study has a quali-quantitative approach

with descriptive character and was conducted between February and May

2013, was been considered the informed consent for research, with 100 semi-

structured interviews applied and households randomly selected. Was

recorded the use and cultivation of eight species, distributed in 06 families,

being the Lamiaceae (03) family of higher occurrence. Cultivation in

backyards occurred in 24% of the citations, and the use of these in 91.67%.

The most used part of the plants was the leaf 83.33%, and the infusion was

the method of preparation most common 79.17%. Based on the exposed, the

small number of medicinal plants cultivated in backyards leads to questions

and contradictions with cultural and ethical character, needing more studies

to understand the abandonment of these practices.

Keywords: Popular knowledge, Caatinga, Cultivation and use of plants.

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Artigo ORIGINAL

SILVA, Maria de Fátima Pereira da; SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro

Richard; GOMES, Tássio Marcílio Francisco; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro;

CERQUEIRA, Gilberto Santos; ABREU, Maria Carolina de. Plantas medicinais: cultivo em

quintais pela população de um município do semiárido Piauiense, nordeste do Brasil.

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113, out. 2014.

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INTRODUÇÃO

Considerando as palavras de Salvi e Heuser (2008), planta medicinal

é todo e qualquer vegetal que uma vez aplicado sob determinada maneira e

por alguma via ao ser humano é capaz de promover um efeito farmacológico.

A utilização de plantas medicinais é uma prática comum entre as

populações. Cerca de 80% da população mundial depende da medicina

tradicional para suas necessidades básicas de saúde e, quase 85% da

medicina tradicional envolve o uso de plantas medicinais, seus extratos

vegetais e seus princípios ativos (OMS 2002). Em consonância com Lima e

colaboradores (2010), acrescenta-se que a utilização de plantas medicinais

tem incentivos inclusive da Organização Mundial da Saúde.

Estes vegetais têm um papel muito importante na questão

socioeconômica, tanto para as populações que vivem em meio rural quanto

para as que vivem no meio urbano. A utilização de espécies medicinais, na

maioria das vezes nativa da sua região, ou cultivadas em quintal, pode

reduzir os gastos com medicamentos alopáticos (CALIXTO 2000). Por outro

lado, Di Stasi (2007) reporta que o avanço da ciência e da tecnologia no que

tange à elaboração sintética de fármacos vem desestimulando, ao longo do

tempo, a utilização das plantas medicinais no cuidado à saúde.

Os quintais são considerados sistemas agroflorestais importantes

para o cultivo, seleção e conservação de espécies de plantas, fornecendo

recursos para o consumo familiar e para preservação da cultura local

(KUMAR e NAIR 2004), sendo também apontados como responsáveis em

conservar parte da história da cultural local, podendo ser considerados

reservas atuais e potenciais de recursos vegetais (BRASIL et al. 2007).

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Richard; GOMES, Tássio Marcílio Francisco; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro;

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Desta forma, este espaço é de grande relevância para o contato com

variadas espécies vegetais, bem como à manutenção de conhecimentos

populares (NASCIMENTO et al. 2006; SIVIERO et al. 2011).

Na visão de Rocha e colaboradores (2010), os quintais facilitam as

ações antropogênicas, principalmente no que se refere a procriar condições

de sobrevivência nos períodos de seca do sertão nordestino, onde algumas

plantas perdem suas folhas e outras chegam a morrer. Para Amorozo (2002)

o hábito de cultivar plantas em quintais nas zonas urbanas permite formar

através da união de vários espaços plantados, como praças e parques, ilhas

de vegetação que contribuem para a melhoria da qualidade de vida nos

centros urbanos.

É importante ressaltar que os quintais são compreendidos como um

sistema de produção complementar a outras formas de uso da terra,

podendo se destaca pelo valor econômico que desempenham na residência,

constituindo uma fonte disponível de recursos alimentícios e medicinais

(PASA, SOARES e GUARIM-NETO 2005).

Este trabalho teve como objetivo realizar um levantamento de dados

sobre o cultivo e uso de plantas medicinais nos quintais da população do

município de São Julião/PI.

METODOLOGIA

O levantamento foi realizado na cidade de São Julião, município

piauiense de aproximadamente 5.761 habitantes (IBGE 2010), o qual foi

fundado em 18 de dezembro de 1960 e dista 382 km da capital Teresina 382

km.

O município dispõe de abastecimento de água, energia elétrica

distribuída pela Companhia Energética do Piauí S/A - CEPISA, terminais

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telefônicos atendidos pela TELEMAR Norte Leste S/A, agência de Correios e

Telégrafos, hospital e escolas de ensino fundamental e médio. A agricultura

praticada no município é baseada na produção sazonal de feijão, algodão,

mandioca e milho.

No tocante às condições climáticas do município, ocorre o clima

semiárido quente e seco, com temperaturas mínimas de 24ºC e máximas de

36ºC. Localizado na altitude de 377 m, apresenta solos, em grande parte

provenientes da alteração de gnaisses, quartzito, mármore, xisto, arenito,

siltito e conglomerado, rasos ou pouco espessos, jovens, às vezes pedregosos,

ainda com influência do material subjacente (JACOMINE et al. 1986).

A coleta de dados foi realizada entre os habitantes do município de

São Julião – PI, onde foram aplicados 100 formulários em residências

escolhidas de forma aleatória nas zonas rural e urbana, no período de

fevereiro a maio de 2013. O formulário semiestruturado foi composto por 14

questões abordando dados sobre o perfil dos participantes e questões sobre o

hábito destes em utilizar e cultivar plantas medicinais em seus quintais. No

processo de coleta de dados foram levadas em consideração as exigências

contidas na Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, que

regulamenta a pesquisa com seres humanos (BRASIL 2012). Para tanto, os

participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

assegurando aos participantes o anonimato, a privacidade e o direito de

desistir em qualquer etapa da pesquisa. Ressalta-se que esse estudo não

possui nenhum conflito de interesse, se constituindo numa pesquisa de

caráter quali-quantitativa de natureza descritiva. Todos os formulários

foram analisados à luz da literatura pertinente, e os dados compilados e os

gráficos construídos por meio do programa Microsoft Excel 2010.

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Richard; GOMES, Tássio Marcílio Francisco; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro;

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quintais pela população de um município do semiárido Piauiense, nordeste do Brasil.

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113, out. 2014.

107

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados obtidos através das 100 entrevistas, norteadas pelo

formulário de 14 questões aplicados à população do município de São Julião-

PI, permitiram estabelecer o perfil da população deste município quanto ao

cultivo de plantas medicinais em quintais além da diversidade e uso destas

plantas.

Quanto ao gênero dos participantes, 26% foram do sexo masculino e

74% do sexo feminino. Em um estudo semelhante de Nascimento e

Gonçalves (2013) para avaliar o uso de plantas cultivadas em quintais

urbanos no município de Campina do Monte Alegre em São Paulo, também

prevaleceu o maior conhecimento entre as mulheres que parece estar mais

voltado ao cultivo e a utilização de plantas medicinais.

O grau de escolaridade dos entrevistados variou entre Ensino

Fundamental incompleto (39%), Ensino Fundamental completo (22%),

Ensino Médio incompleto (8%), Ensino Médio completo (17%), Graduação

incompleta (4%), Graduação completa (8%) e Pós-graduação (2%). Percebe-se

uma maioria de sujeitos com ensino fundamental incompleto, o que denota

uma baixa escolaridade dos envolvidos no estudo. Todavia, ter baixa

escolaridade não significa que o indivíduo não conhece sobre o cultivo e a

utilização de determinadas plantas, pois tal saber pode ter sido a ele

repassado de forma oral pelos familiares e na comunidade.

Em uma pesquisa semelhante sobre plantas venenosas de Silva e

colaboradores (2014) na cidade de Francisco Santos, que fica à 60 km de São

Julião, também prevaleceu a escolaridade de Ensino Fundamental

incompleto. Porém, um estudo sobre a ocorrência do uso de plantas

medicinais por moradores de um bairro do município de Marília-SP, mostra

que 31% dos participantes possuía nível superior completo, levando-nos a

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Richard; GOMES, Tássio Marcílio Francisco; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro;

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quintais pela população de um município do semiárido Piauiense, nordeste do Brasil.

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 101-

113, out. 2014.

108

acreditar que o cultivo e o consumo de plantas medicinais não se dá apenas

em classes de condições socioeconômicas menos favorecidas.

No que se refere à faixa etária dos entrevistados, há uma maior

frequência na classe de idade compreendida entre 31 a 55 anos (38%). Em

seguida, com um número muito próximo de entrevistados (36%) aparece a

faixa etária de 18 a 30 anos. A menor frequência foi a da faixa etária entre

76-90 anos com 3%. Silva e colaboradores (2014) aponta a faixa etária de 76-

90 como sendo dotada de maior conhecimento sobre os recursos naturais, por

terem sentido ao longo da vida a necessidade de recorrer às plantas como

fonte de medicamento.

Sobre a renda mensal familiar dos entrevistados, prevaleceu a renda

média de um salário mínimo (55%), sendo relevante também informar a

percentagem de pessoas com renda abaixo de um salário mínimo (43%).

Desta forma, através dos dados obtidos na pesquisa, constatou-se que

o perfil da amostra questionada é de mulheres de baixa escolaridade com a

faixa etária entre 31 a 55 anos, com renda familiar de um salário mínimo.

Do universo de entrevistados, apenas 24% cultivam plantas

medicinais em seus quintais e os demais 76% não cultivam. Assim, é

interessante ressaltar a pequena quantidade de pessoas que cultivam

plantas medicinais.

Considerando os indivíduos que ocorrem na porcentagem dos que

cultivam (24%), apenas oito espécies foram mencionadas por estes, as quais

são cultivadas e usadas para finalidades medicinais, conforme evidencia-se

na Tabela 1.

Tabela 1. Nomes vulgares, nomes científicos e famílias das plantas medicinais cultivadas

nos quintais pela população do município de São Julião – PI.

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Richard; GOMES, Tássio Marcílio Francisco; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro;

CERQUEIRA, Gilberto Santos; ABREU, Maria Carolina de. Plantas medicinais: cultivo em

quintais pela população de um município do semiárido Piauiense, nordeste do Brasil.

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 101-

113, out. 2014.

109

Em relação ao uso das plantas cultivadas, indagou-se aos envolvidos

na pesquisa se quando utilizam as plantas medicinais, fazem uso daquelas

que cultivam ou buscam em outros lugares. Para tal questão, 22% das

pessoas questionadas faz uso daquelas que cultivam e, 78% busca em outros

lugares.

Da parcela de indivíduos que cultiva plantas medicinais em seus

quintais (24), 91,67% (22) faz uso daquelas que cultivam. Com relação ao

local em que têm acesso às plantas medicinais, a grande maioria (58%)

mencionou o mercado, 39% citou o acesso com vizinhos e apenas 3% fez

referência à mata.

Esses dados mostram que, apesar de a maioria ter acesso no mercado,

ainda existe um grande compartilhamento de plantas entre vizinhos. E

mesmo não cultivando plantas medicinais, as pessoas as utilizam muito

para fins terapêuticos. Somavilla e Canto-Dorow (1996) verificaram que 76%

das plantas utilizadas como medicinais na cidade de Santa Maria (RS) são

obtidas através de amigos e também pelo hábito de cultivo caseiro.

Aos que afirmaram cultivar plantas em seus quintais, foi questionado

se fazem uso de algum tipo de adubo e também se utilizam agrotóxico. As 24

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Richard; GOMES, Tássio Marcílio Francisco; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro;

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quintais pela população de um município do semiárido Piauiense, nordeste do Brasil.

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113, out. 2014.

110

pessoas que cultivam plantas utilizam o adubo orgânico e 95,83 % (23) não

usam nenhum tipo de agrotóxico, apenas 4,17% (1) faz uso de veneno para

matar pragas.

Com relação a utilização das plantas medicinais cultivadas, 83,33%

(20) dos entrevistados que cultivam plantas medicinais em seus quintais

(24) faz corte na planta utilizando apenas as folhas. Pereira-Martins (2001)

na comunidade negra de Abacatal-PA, também teve as folhas (57%) como a

parte da planta mais indicada. Os demais 16,67% (4) não faz nenhum corte e

utiliza toda a planta. Já a forma de preparo predominante na comunidade é

a infusão, mencionada por 79,17% (19) dos sujeitos que cultivam plantas

medicinais no município de São Julião. A infusão é um tipo de chá que

é ingerido de forma oral.

Na população de São Julião esses chás são as preparações

terapêuticas mais populares, sendo usados para quase todas as indicações

de cura e prevenção das doenças, como por exemplo, tosse, gripes, diarreias,

problemas de fígado, intestinos, calmante, diurético, cólicas, insônia e dores

em geral. Outro tipo de preparo utilizado é o lambedor, citado por 20,83% (5)

da população que cultiva plantas medicinais e é utilizado para dores de

garganta e no tratamento de gripes.

Outro dado que investigou-se refere-se a época do ano que os

entrevistados mais utilizam remédios caseiros preparados a partir das

plantas cultivadas. A maioria deles 71% não fazem diferença do uso, 17%

utilizam mais no período chuvoso (janeiro a maio) e 12% no período seco

(junho a dezembro). Resultados semelhantes foram obtidos por Pereira

(2010) em uma pesquisa sobre levantamento de dados sobre o uso e os

costumes da utilização de plantas medicinais pela população picoense, no

qual a grande maioria dos entrevistados (69,5 %) também não faziam

diferença entre os períodos seco e chuvoso no uso das plantas medicinais.

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quintais pela população de um município do semiárido Piauiense, nordeste do Brasil.

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113, out. 2014.

111

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em decorrência dos resultados analisados, é perceptível a pequena

quantidade de plantas medicinais que são cultivadas nos quintais da região

estudada. Seria a explicação para tal fato o grande desenvolvimento da

ciência e da farmacologia no que se refere o desenvolvimento de

medicamentos alopáticos e homeopáticos e a facilidade de adquiri-los? Ou a

descrença da população investigada quanto às propriedades bioativas que os

vegetais apresentam e que podem proporcionar benefícios na terapia de

inúmeras doenças? Ou seria a questão da mudança de padrões e de hábitos

quanto o cultivo de plantas medicinais na região de São Julião-PI, que já

sofre as pressões decorrentes da modernidade?

São respostas estas, necessárias para compreender o panorama seja

cultural seja ético em que tal localidade está inserida, haja vista que o uso e

cultivo de plantas está inserido na cultura popular, vinculados à

disseminação do conhecimento referente a tais ao longo das gerações. Assim,

carecem estudos para melhor compreender os motivos que estão levando a

população em foco a abandonar às práticas de cultivo das plantas medicinais

em quintais locais.

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NONATO, Saimon Guthierre Neco; MEDEIROS, Stella Regina Arcanjo; OLIVEIRA,

Amanda Mazza Cruz de; SOUSA, Paula Adrianne Braga de; SOUSA, Ana Cibele Pereira;

OLIVEIRA, Ellaine Santana de. Avaliação das condições higiênico-sanitárias de indústrias

processadoras de açaí de Imperatriz-MA. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco

Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 114-123, out. 2014.

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Avaliação das condições higiênico-

sanitárias de indústrias processadoras de

açaí de Imperatriz-MA

Saimon Guthierre Neco Nonato

Graduando em Engenharia de Alimentos, Centro de Ciências Sociais,

Saúde e Tecnologia, Universidade Federal do maranhão, Imperatriz-

MA / Brasil.

Stella Regina Arcanjo Medeiros

Engenheira de Alimentos, Doutora, Professora da Universidade Federal

do Piauí, Campus de Picos. Rua Cícero Duarte, no 905. Cep:64.600-000.

Picos-PI / Brasil. Tel.: (89) 34221018.

E-mail: [email protected].

Amanda Mazza Cruz de Oliveira

Nutricionista. Doutora, Professora do Instituto Federal de Educação,

Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus de Ubajara.

Paula Adrianne Braga de Sousa

Nutricionista. Especialista em vigilância sanitária pela Escola de Saúde

Pública do Ceará. Vigilância Sanitária e Ambiental de Fortaleza – CE.

Ana Cibele Pereira Sousa

Nutricionista. Universidade Federal do Piauí. Universidade Federal do

Piauí, Campus de Picos.

Ellaine Santana de Oliveira

Nutricionista. Universidade Federal do Piauí. Universidade Federal do

Piauí, Campus de Picos.

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Artigo ORIGINAL

NONATO, Saimon Guthierre Neco; MEDEIROS, Stella Regina Arcanjo; OLIVEIRA,

Amanda Mazza Cruz de; SOUSA, Paula Adrianne Braga de; SOUSA, Ana Cibele Pereira;

OLIVEIRA, Ellaine Santana de. Avaliação das condições higiênico-sanitárias de indústrias

processadoras de açaí de Imperatriz-MA. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco

Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 114-123, out. 2014.

115

RESUMO

O objetivo desse trabalho foi avaliar as condições higiênico-sanitário de

indústrias processadoras de açaí do município de Imperatriz - MA, por meio

da aplicação de uma lista de verificação das boas práticas de fabricação

obtida a partir dos dispositivos da RDC nº 218/05, e posteriormente efetuou-

se o percentual de atendimento dos itens classificando-os conforme a

Resolução RDC nº 275/02 – ANVISA. As industrias estudadas foram

classificadas no Grupo III, com o atendimento de ≤ 50 de adequações. Sendo

que a empresa C obteve o menor percentual de adequação com apenas

29,8%. Os fatores que mais contribuíram para esta avaliação insatisfatória

foram a ausência de procedimentos que assegurassem a integridade e a

qualidade sanitária do açaí, despreparo dos manipuladores durante o

manuseio dos alimentos, hábitos pessoais e de higiene inadequados, e as

precárias instalações físicas/estruturais e tecnológicas das empresas

investigadas.

Palavras-chaves: açaí, qualidade, lista de verificação, indústrias.

ABSTRACT

The aim of this study was to evaluate the hygienic and sanitary

conditions of acai processing industries in the municipality of Imperatriz -

MA, through the application of a checklist of good manufacturing practices

obtained from the RDC 218/05 devices, and subsequent assessment of

attendance percentage of classification items in accordance to RDC

Resolution Nº. 275/02 - ANVISA. Studied industries were classified in Group

III, with the requirement attendance of ≤ 50. Company C had the lowest

percentage of adequacy with only 29.8%. The factors that contributed to this

unsatisfactory assessment included the absence of procedures to ensure açai

integrity and quality, handlers’ lack of professional qualification, inadequate

personal hygiene habits, and poor physical, structural and technological

installations of the facilities investigated.

Key words: açaí, quality, checklist, industries.

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NONATO, Saimon Guthierre Neco; MEDEIROS, Stella Regina Arcanjo; OLIVEIRA,

Amanda Mazza Cruz de; SOUSA, Paula Adrianne Braga de; SOUSA, Ana Cibele Pereira;

OLIVEIRA, Ellaine Santana de. Avaliação das condições higiênico-sanitárias de indústrias

processadoras de açaí de Imperatriz-MA. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco

Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 114-123, out. 2014.

116

INTRODUÇÃO

O Brasil é o principal produtor, consumidor e exportador do açaí, fruto

típico e popular da região amazônica, que nos últimos anos ganhou

importância devido aos seus efeitos benéficos à saúde, associados a sua

composição fitoquímica e a capacidade antioxidante (MENEZES, TORRES e

SRUR 2008; HOMMA e FRAZÃO 2002).

A qualidade das popas de frutas está relacionada com a qualidade da

matéria-prima, as condições de transporte e processamento e o tipo de

embalagem. No caso do açaí, são inúmeros os problemas enfrentados para se

estabelecer no mercado, quando a empresa deve colocar como fator principal

de seu produto, a qualidade (COHEN et al. 2011). A produção de alimentos

industrializados requer uma logística adequada, para que dessa forma

consiga uma produção industrial padronizada e a disponibilização do

alimento o ano inteiro (ALMEIDA 2013).

Além das pragas no campo, as polpas de açaí também estão sujeitas

às contaminações por matérias estranhas durante as etapas de

processamento do fruto, como a presença de insetos e fragmentos, ácaros,

ovos e larvas, além de areia, terra entre outros no produto final, indicadores

de falha na adoção ou manutenção das boas práticas de fabricação (BRASIL

1997).

Outro aspecto importante a ser considerado e que merece grande

atenção das autoridades sanitárias e órgãos fiscalizadores é o fato do açaí

ser uma das possíveis causas da contaminação por via oral da Doença de

Chagas Aguda (DCA) (BRASIL 2008). A contaminação de alimentos pelo

Trypanosoma cruzi pode ocorrer quando insetos triatomíneos depositam

suas fezes infectadas na superfície de alimentos ou de ingredientes

alimentícios ou, eventualmente, quando os insetos são triturados durante o

processamento das frutas. Esta última é a principal hipótese explicativa

para os diversos surtos ocorridos nos últimos anos (VALENTE et al. 2002)

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NONATO, Saimon Guthierre Neco; MEDEIROS, Stella Regina Arcanjo; OLIVEIRA,

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OLIVEIRA, Ellaine Santana de. Avaliação das condições higiênico-sanitárias de indústrias

processadoras de açaí de Imperatriz-MA. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco

Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 114-123, out. 2014.

117

Dada a importância das boas práticas de fabricação a fim de garantir

a qualidade higiênico sanitária e a conformidade dos produtos alimentícios

com os regulamentos técnicos, esse estudo objetivou avaliar as condições

higiênico sanitárias de indústrias processadoras de açaí do município de

Imperatriz-MA.

METODOLOGIA

Para avaliação da qualidade sanitária dos quatros estabelecimentos

processadores de açaí, elaborou-se uma lista de verificação a partir dos

procedimentos higiênico-sanitários para preparo, acondicionamento,

armazenamento, transporte, distribuição e comercialização de alimentos e

bebidas preparados com vegetais, dispostos no anexo da RDC nº 218/05. A

lista constou de 3 (três) blocos, divididos em 29 (vinte e nove) itens, assim

caracterizados:

Bloco 01: aquisição, recebimento e armazenamento das matérias-

primas, ingredientes, embalagens e insumos;

Bloco 02: manipuladores de alimentos;

Bloco 03: processamento do açaí.

A coleta de dados procedeu-se com aplicação da lista de verificação,

utilizando o método de observação direta e indagações aos funcionários.

Para avaliação do panorama sanitário dos estabelecimentos estudados,

efetuou-se o percentual de atendimento dos itens, classificando-os conforme

a Resolução RDC nº 275/02 – ANVISA, que considera como Baixo Risco

(Grupo I) - de 76 a 100% de atendimentos aos itens; Médio Risco (Grupo II) -

51 a 75% de atendimento aos itens e Alto Risco (Grupo III) - até 50% de

atendimento aos itens.

Após a avaliação geral dos estabelecimentos, elaborou-se um

documento constando as medidas corretivas das principais não

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OLIVEIRA, Ellaine Santana de. Avaliação das condições higiênico-sanitárias de indústrias

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118

conformidades detectadas, contribuindo assim para a adoção e priorização

das estratégias de adequação à legislação vigente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Quanto à investigação das condições sanitárias de processamento das

polpas de açaí, 100% das empresas avaliadas foram classificadas no Grupo

III (≤ 50 de adequações), no somatório dos itens dos 3 blocos, sendo a

indústria A a que atingiu o maior índice de atendimento (47%), e a empresa

C o menor percentual de adequação (29,8%) (Figura 1).

Figura 1. Percentual geral de adequação sanitária dos estabelecimentos processadores de

polpas de açaí em Imperatriz-MA.

Dentre os fatores que contribuíram para esta avaliação insatisfatória,

os itens que mais se destacaram foram: ausência de procedimentos que

assegurassem a integridade e qualidade sanitária do açaí durante as etapas

de aquisição, armazenamento, preparo e exposição, despreparo dos

manipuladores durante o manuseio dos alimentos, hábitos pessoais e de

higiene inadequado; precárias instalações físicas/estruturais e tecnológicas.

Na avaliação particular dos procedimentos de aquisição, recebimento

e armazenamento das matérias-primas, ingredientes, embalagens e insumos

(Bloco 1), verificou-se baixo percentual de adequação (< 50%) em todos os

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NONATO, Saimon Guthierre Neco; MEDEIROS, Stella Regina Arcanjo; OLIVEIRA,

Amanda Mazza Cruz de; SOUSA, Paula Adrianne Braga de; SOUSA, Ana Cibele Pereira;

OLIVEIRA, Ellaine Santana de. Avaliação das condições higiênico-sanitárias de indústrias

processadoras de açaí de Imperatriz-MA. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco

Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 114-123, out. 2014.

119

estabelecimentos visitados, sendo o estabelecimento B, o que apresentou

maior índice de não-conformidades (33%) (Figura 2).

Figura 2. Percentuais de adequação sanitária, por bloco, das empresas processadoras de

polpas de açaí em Imperatriz-MA.

No que diz respeito aos manipuladores de alimentos, a empresa A

apresentou o maior percentual de atendimento (75%), enquanto as empresas

B, C e D apresentaram os menores índices de conformidade, 12,5%, 12,5% e

25%, respectivamente.

Quanto ao processamento do açaí, avaliado no Bloco 3, verificou-se as

empresas A e C apresentaram os menores índices de atendimento, enquanto

as outras empresas (B e D) apresentaram valores superiores a 50% de

atendimento.

Na investigação das condições sanitárias de processamento das polpas

de açaí, todas as indústrias foram classificadas como estabelecimentos de

alto risco sanitário.

A ausência de procedimentos que assegurem a integridade e

qualidade sanitária do açaí durante as etapas de aquisição, armazenamento,

preparo e exposição tornam-no impróprio ao consumo, pois, de acordo com a

FAO/OMS (1996), as deficiências de qualidade da matéria prima não podem

ser supridas, pois as condições finais dos produtos alimentícios são o

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NONATO, Saimon Guthierre Neco; MEDEIROS, Stella Regina Arcanjo; OLIVEIRA,

Amanda Mazza Cruz de; SOUSA, Paula Adrianne Braga de; SOUSA, Ana Cibele Pereira;

OLIVEIRA, Ellaine Santana de. Avaliação das condições higiênico-sanitárias de indústrias

processadoras de açaí de Imperatriz-MA. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco

Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 114-123, out. 2014.

120

resultado da soma do estado da matéria prima com os processos de

elaboração.

Os frutos devem ser avaliados no ato de sua aquisição e na recepção

para verificação das condições higiênico-sanitárias, a presença de vetores e

pragas e ou de seus vestígios, bem como de outros materiais contaminantes.

Frutos em condições insatisfatórias devem ser rejeitados.

A falta de preparo dos manipuladores durante o manuseio dos

alimentos, hábitos pessoais e de higiene inadequados são fatores de risco,

pois o manipulador de alimentos é a principal fonte de contaminação dos

alimentos, por isso se faz indispensável que ele conheça e adote cuidados de

higiene pessoal, para que possa produzir alimentos seguros (FAO/OMS

1996; BRAGANÇA 2001; SILVA JR 2001).

Manipuladores podem ser portadores de formas vegetativas de

bactérias patogênicas. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde,

até 26% dos surtos de doenças de origem alimentar são vinculados aos

manipuladores e, portanto, o seu treinamento em segurança alimentar é

uma das intervenções mais críticas na prevenção de doenças de origem

alimentar (FERREIRA e JUNQUEIRA 2009).

Precariedade de instalações estruturais e tecnológicas também é um

aspecto importante a ser considerado nas boas práticas e tem como objetivo

prevenir contaminação do produto durante o processo de manipulação ou

comercialização (SILVA JR 2001). O processamento das frutas para

obtenção de polpas deve apresentar-se dentro dos padrões de higiene e

qualidade, sendo indispensável à adoção de Boas Práticas de Fabricação

(ABREU, NUNES e OLIVEIRA 2003).

Segundo Clemente (1999) a segurança alimentar é desafio atual,

devendo ser analisada ao longo de toda cadeia alimentar. Assim a

fiscalização da qualidade dos alimentos deve ser feita não só no produto

final, mas em todas as etapas da produção, desde a colheita, passando pelo

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transporte, armazenamento e processamento, até a distribuição final ao

consumidor.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Todos os estabelecimentos apresentaram apenas 50% de

atendimentos aos itens avaliados, sendo considerados de alto risco sanitário.

Os dados sugerem que o panorama sanitário dos processadores de açaí

sejam utilizados como critério para definição e priorização das estratégias

institucionais de intervenção no sentido realizar educação sanitária e

tecnologia para produção do açaí com vista ao atendimento dos quesitos

necessários para garantir a sanidade e qualidade do açaí.

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com a lei sobre as ações de saúde. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco

Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 124-139, out. 2014.

124

Percepção de adolescentes em conflito

com a lei sobre as ações de saúde

Danila Barros Bezerra Leal

Bacharel Em Enfermagema Pela Universidade Federal Do Piauí,Picos-

Pi, Brasil.

Iolanda Gonçalves De Alencar Figueiredo

Enfermeira, Mestre em UTI, Professora do Curso de Bacharelado Em

Enfermagem da Universidade Federal do Piauí, CSHNB, Picos-Pi,

Brasil.

Jalles Dantas De Lucena

Enfermeiro, Mestrando do Programa de Pós-graduação em

Neurociências Cognitiva e Comportamento da Univerisidade Federal da

Paraíba.

Ana Paula Fragoso De Freitas

Enfermeira, Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciências

Médicas da Univerisidade Federal do Piauí

Email: [email protected].

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com a lei sobre as ações de saúde. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco

Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 124-139, out. 2014.

125

RESUMO

Por muito tempo os adolescentes foram regidos apenas pelo Código de

Menores de 1979. Mas em 1990, com a regulamentação do estatuto, que

abrange direitos e deveres, o jovem passou à condição de cidadão recebendo

também punições em caso de transgressão à lei. O presente estudo teve

como objetivo analisar a percepção dos adolescentes em conflito com a lei

sobre as ações de saúde. Trata-se de uma pesquisa descritiva-exploratória,

com abordagem qualitativa. Participaram desse estudo 8 (oito) adolescentes,

que estavam na casa do albergado, em cumprimento de medida

socioeducativa de internação provisória. Os dados foram coletados através

da aplicação de um roteiro de entrevista semiestruturada. A pesquisa

permitiu caracterizar os adolescentes infratores como sendo, na sua maioria,

jovens do sexo masculino, com idade média de 17 anos, ensino fundamental

incompleto, e que moravam com suas mães. De maneira geral, constatou-se

a ausência do desenvolvimento de ações de saúde na unidade e, dessa forma,

um desacordo com as legislações atuais que garantem assistência à saúde

dos adolescentes em cumprimento de tal medida, comprovado pelo discurso

dos adolescentes, os quais caracterizam a assistência à saúde na instituição

como ruim. Considera-se assim a necessidade de um trabalho

multidisciplinar eficaz, a fim de fortalecer as articulações propostas para o

desenvolvimento saudável do adolescente, além de um acompanhamento

psicopedagógico para tentar estabilizar as mudanças advindas com a

adolescência.

Palavras-chaves: Adolescente. Assistência à saúde. Saúde Coletiva.

ABSTRACT

For a long time the teenagers were only ruled by the Minor Code of 1979. In

1990, with the regulations of the statute, which covers rights and duties, the

young men went to the status of citizen also getting punishments in case of

transgression of the law. The present study aimed to analyze the perception

of adolescents in conflict with the law on health care. This is a descriptive-

exploratory study with a qualitative approach. Participants were 8 (eight)

teenagers, who were housed in the home, under socio measure of provisional

admission. Data were collected through the application of a semi-structured

interview. The research allowed the characterization of young offenders as,

mostly young males, mean age 17 years, completed elementary school, and

living with their mothers. In general, we found the absence of health

activities development in the unit, in disagreement with current laws that

guarantee health care for adolescents, in compliance with such action,

evidenced by the discourse of adolescents, which characterize health care in

the institution as bad. It is therefore considered the need for an effective

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com a lei sobre as ações de saúde. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco

Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 124-139, out. 2014.

126

multidisciplinary work in order to strengthen joints proposals for healthy

adolescent development, educational psychology, plus a follow up to try to

stabilize the changes after adolescence.

Keywords: Adolescents. Health care. Public Health.

INTRODUÇÃO

A adolescência caracteriza-se como uma fase de intensas

transformações físicas e psíquicas, sendo muitas vezes marcada por dúvidas

e inseguranças oriundas do acúmulo de responsabilidades. A adolescência

estabelece um período de transição entre a infância e a vida adulta, marcado

pelo abandono da dependência da infância e a aquisição de uma maior

autonomia e independência em campos da vida, como de atividade

ocupacional, relações afetivas estáveis e identidade sexual, entre outras.

De acordo com o artigo 2° do Estatuto da Criança e do Adolescente

(ECA), o adolescente pertence à faixa etária dos 12 anos completos aos 18

anos, porém ocorre um desacordo da fixação etária com a Organização

Mundial de Saúde (OMS), que circunscreve essa fase como sendo dos 10 aos

19 anos.

É importante lembrar que o adolescente ficou até pouco tempo, alheio

aos direitos civis, pois vigorava apenas o Código de Menores de 1979, que se

fundamentava na doutrina da Situação Irregular, com forte tendência à

criminalização da pobreza e à internação do público infanto-juvenil,

direcionando-se apenas aos menores em situação irregular, ou seja, aos

abandonados, carentes e infratores (ZAPPE e RAMOS 2010). Somente com

a regulamentação do ECA, pela lei 8.069/90, surgiu um novo olhar sobre

esse segmento populacional, servindo como referencial legal obrigatório nas

ações que beneficiam crianças e adolescentes, além de garantir direitos e

afirmar a cidadania, considerando-os como sujeitos de direitos, pessoas em

condição peculiar de desenvolvimento e prioridade absoluta (BOAS, CUNHA

e CARVALHO 2010).

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127

Além do ECA também existem outras legislações que garantem

direitos ao adolescentes, inclusive aos adolescentes em conflito com a lei,

como a portaria nº 1.082, de 23 de maio de 2014, que redefine as diretrizes

da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes em

Conflito com a Lei, em Regime de Internação e Internação Provisória

(PNAISARI). Apesar de tantas determinações legais há um distanciamento

entre a realidade vivenciada pelos adolescentes e o ideal jurídico da garantia

de direitos dos adolescentes infratores (BRASIL 2014). Essa concepção

estigmatizada em relação aos adolescentes autores de atos infracionais

recebe influência histórica, devido à inexistência de direitos de qualquer

natureza a esse segmento da população (BOAS, CUNHA e CARVALHO

2010). O distanciamento do ideal jurídico também se deve ao despreparo dos

profissionais em atender as necessidades desse público, além da dificuldade

de sensibilizar gestores para o interesse pela questão da saúde do

adolescente privado de liberdade.

Diante dessa realidade justifica-se a importância deste estudo, a fim

de conhecer a realidade institucional local, reafirmando os direitos dos

adolescentes em conflito com a lei, à saúde de forma integral, além de

contribuir para o aprimoramento científico, visto que existem poucas

publicações sobre o tema proposto. Objetivou-se assim, analisar a

assistência à saúde oferecida aos adolescentes em cumprimento de medida

socioeducativa de internação provisória, buscando identificar ações de saúde

desenvolvidas no estabelecimento socioeducativo para posteriormente

comparar com o ideal jurídico da garantia dos direitos dos adolescentes.

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128

METODOLOGIA

Foi realizado um estudo exploratória descritivo com abordagem

qualitativa. O cenário da pesquisa foi uma casa do albergado, localizada

numa cidade no interior do Piauí. Participaram dessa pesquisa adolescentes

com idade entre 14 e 17 anos, de ambos os sexos, em conflito com a lei e em

cumprimento de medida socioeducativa de internação provisória. As

entrevistas semiestruturadas tiveram o número de sujeitos determinados

pelas repetições das respostas, isto é, quando estas, de forma mais

consistente produziram informações redundantes, totalizando oito sujeitos.

Os dados foram coletados entre os meses de abril e junho de 2014 e, partindo

do ponto de saturação, estes, foram agrupados em categorias de temáticas,

apresentando os seguintes passos para sua operacionalização: transcrição,

ordenação, classificação e interpretação e análise final, momento em que se

estabelecem articulações entre os dados e as referências teóricas da

pesquisa, buscando responder as indagações da pesquisa com base em seus

objetivos (MINAYO 2008).

Ao realizar a categorização dos dados, destacaram-se os seguintes

temas: reincidência de infração e custódia no estabelecimento de internação

provisória; ações de saúde durante permanência na instituição; definição da

assistência à saúde na instituição.

Todas as etapas deste projeto estiveram em concordância com a

Resolução 466/12, o que exigiu encaminhamento ao Comitê de Ética em

Pesquisa da Universidade Federal do Piauí, portando número de CAAE

26913814.8.0000.5214.

Essa pesquisa não possui nenhum conflito de interesse e segue os

preceitos da Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, norma que

regulamenta a pesquisa envolvendo seres humanos e Declaração de

Helsinque (BRASIL 2012). Todos os participantes assinaram um termo de

consentimento livre e esclarecido.

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129

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa permitiu caracterizar os sujeitos do estudo de acordo com

o gênero, idade, nível de escolaridade e formação familiar. E confirmou a

predominância de adolescentes do sexo masculino e com idade máxima igual

a 17 anos e, mínima de 14 anos, demonstrando a caracterização da violência

masculina juvenil e a permanência dessa particularidade ao longo dos anos,

visto que no estudo de Zappe e Ramos (2010) que traçou o perfil de

adolescentes privados de liberdade, na cidade de Santa Maria/RS, também

obteve-se a idade média entre 16 e 17 anos dos internos que ingressaram no

Centro de atendimento Socioeducativo Regional de Santa Maria (CASE-

SM).

Quanto ao nível de escolaridade, a maioria dos adolescentes havia

estagnado entre a 7ª e 8ª série do ensino fundamental, extremando-se entre

a 4ª série do ensino fundamental e o 1º ano do ensino médio, como

evidenciado nos relatos anteriores. Assim, mais uma vez, concorda-se com os

estudos de Zappe e Ramos (2010), nos quais os autores constataram a

predominância de adolescentes que não possuíam o ensino fundamental

completo. Houve compatibilidade de resultados também com a pesquisa de

Souza, Abrão e Almeida (2011) e de Menicucci e Carneiro (2011), os quais

analisaram as formas de implementação do ECA e do SINASE em dois

centros socioeducativos de Minas Gerais, e observaram que a participação

dos jovens em cursos profissionalizantes era muito falha devido a baixa

escolaridade dos menores, que restringiam-se ao ensino fundamental

incompleto. Esse abandono escolar, contemplado também no estudo de

Maruschi, Estevão e Bazon (2012), no interior do Estado de São Paulo,

mostra a ineficiência da família, da comunidade e do Estado em efetivar a

educação aos jovens, que já foi previsto no ECA.

No que se refere à família, a maioria dos pesquisados, nesse estudo,

moravam com a mãe quando praticaram o ato infracional. Como citado nas

narrações, 6 (seis) adolescentes em conflito com a lei residiam com suas

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mães, um vivia somente com o pai e o outro sujeito da pesquisa morava com

sua esposa. Esses dados assemelham-se ao estudo de Souza, Abrão e

Almeida (2011), como também com o estudo realizado na cidade de Recife,

sobre a percepção de adolescentes infratoras submetidas à ação

socioeducativa sobre assistência à saúde, de Monteiro e colaboradores

(2011), no qual a maioria dos participantes possuía uma constelação

familiar matriarcal, sendo a figura materna, muitas vezes, citada como a

única representante do núcleo familiar.

Destoando do exposto acima, Davoglio e Gauer (2011), encontraram

no seu estudo que a maioria dos adolescentes pesquisados residia com

ambos ou pelo menos com um dos pais quando praticou o ato infracional.

Os resultados da presente pesquisa chamam atenção para o fato de

que o conflito com a lei não está associado à situação de rua ou à ausência

familiar no plano físico. Porém a presença da mãe/parente não exclui a

negligência, que se dá pela carência ou ausência de cuidados responsáveis,

podendo submeter o adolescente a uma inconstância psicológica, pois como

dito por Monteiro e colaboradores (2011), a fragilidade dos vínculos afetivos

com a família faz o adolescente ter uma maior probabilidade de se envolver

em infrações, apesar de não ser esta a regra.

Reincidência de Infração e Custódia no Estabelecimento de

Internação Provisória

A presente pesquisa revelou uma maior incidência de adolescentes

que estavam cumprindo a medida socioeducativa de internação provisória

pela primeira vez. Dos pesquisados, 5 (cinco), num total de 8 (oito), possuíam

essa característica de primeira internação provisória; 2 (dois) estavam em

cumprimento de medida socioeducativa pela segunda vez; e 1 (um) já estava

pela terceira vez na instituição.

Esses resultados conciliam-se com a pesquisa de Davoglio e Gauer

(2011) que investigaram as características sócio-demográficas de

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adolescentes em medida socioeducativa com privação de liberdade, em Porto

Alegre (RS), e encontrou uma frequência maior que 70% de adolescente em

cumprimento da primeira medida socioeducativa. Assim também como em

um estudo realizado por Maruschi, Estevão e Bozon (2012), no interior de

São Paulo, a fim de investigar a persistência da conduta infracional, em

amostra composta de quarenta adolescentes em conflito com a lei, revelou

reincidência de apenas 32,5% da amostra, distinguindo-os de mais da

metade que estavam pela primeira vez.

Ainda que os estudos enunciem a primazia da primeira internação em

oposição à reincidência, não é possível louvar esse resultado, pois não

existem dados que relacionem os egressos de instituições para cumprimento

de medida socioeducativa e os criminosos do sistema penitenciário, não

sabendo ao certo se o adolescente transgressor da lei não volta a cumprir

medida socioeducativa pelo fato de ter conseguido sua completa

ressocialização no meio, sendo a prática pedagógica eficiente, ou se pelo fato

do adolescente já ser maior de idade e não se caracterizar como adolescente,

passando a ser penalizado não mais sob regência do ECA, mas sim da Lei de

Execução Penal.

É válido colocar que outro segmento importante do atual estudo é a

magnitude do ato infracional, o qual foi elevando-se com a reincidência, ou

seja, a gravidade da transgressão sucessiva à lei foi sempre maior do que na

primeira violação. Como relatado pelos adolescentes, quando foi perguntado

se o mesmo já teria cumprido medida socioeducativa na instituição, como

mostrado nas falas que se seguem:

Adolescente D: Já, é a segunda vez que venho, da primeira vez foi assalto de 6

mil, e dessa foi 12.

Adolescente F: Terceira vez que venho. Da primeira vez foi tráfico de droga, da

segunda foi roubo de celular. E agora foi homicídio, 15.

Adolescente G: Já, essa já é a segunda vez. Da primeira vez foi ameaça e tráfico

de droga, e dessa vez foi tentativa de homicídio, porque a infeliz, que era minha

colega, tava na cama com meu namorado.

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132

Dessa forma, observa-se inconsonância com a parte do estudo de

Davoglio e Gauer (2011), os quais mencionam que nem sempre o ato

infracional pelo qual o adolescente cumpre a atual medida socioeducativa foi

o mais grave que já cometeu.

Essa divergência de resultados pode ser característica local, devido à

fragilidade das ações socioeducativas, que não conseguiram despertar no

adolescente a moral, nem tão pouco sensibilizá-lo quanto processo de

construção de um novo ser.

Outro fator que contribui pra esse aumento da proporção do ato

infracional é o uso de drogas, confirmado também no estudo de Maruschi,

Estevão e Bazon (2012), que julgaram como sendo o terceiro fator que

melhor discriminou o grupo de adolescentes reincidentes dos não

reincidentes.

Ações de Saúde Desenvolvidas na Instituição

De acordo com o ECA, o adolescente acusado da prática de um ato

infracional pode ficar internado provisoriamente até que seja proferida a

sentença referente ao seu processo num período máximo de 45 dias, devendo

esse processo ser analisado durante esse prazo.

Apesar de ser um período relativamente curto, a atividade pedagógica

logo deve ser iniciada, a fim de conseguir bons resultados, ou seja,

ressocializar eficazmente o adolescente. Ações no âmbito da saúde também

devem ser principiadas em tempo oportuno, pois na maioria das vezes esses

adolescentes chegam às instituições com a saúde fragilizada, devido ao estilo

de vida precário e inconstante.

A saúde do adolescente em conflito com a lei, em cumprimento de

medida socioeducativa de internação/ internação provisória, é regida pela

portaria nº 1.082 de 23 de maio de 2014, que redefine as diretrizes da

Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes em Conflito

com a Lei, em Regime de Internação e Internação Provisória (PNAISARI), a

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qual compreende as ações de saúde que devem ser prestadas aos

adolescentes na situação descrita, devendo ser contempladas, de acordo com

o artigo 8º, ações de promoção da saúde e prevenção de agravos, ações de

assistência e reabilitação da saúde e atividades de educação permanente.

Essa assistência deve ser oferecida pelas equipes de referência, seguindo as

atribuições indicadas na política nacional de atenção básica, por meio da

portaria GM/MS nº 2.488, de 21/10/2011. Porém o encontrado na atual

pesquisa não condiz com exatidão com as legislações citadas. Nesse estrato

perguntou-se sobre a necessidade de atendimento de urgência ou consulta

com algum profissional da saúde. As respostas também mostraram violação

das normas, já que deve ser garantido a integralidade e a universalidade de

acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência. Ainda assim,

através da fala de alguns adolescentes percebe-se uma mínima assistência à

saúde:

Adolescente A: Não, senti dor de cabeça um dia e me deram um remédio, mas

num me consultaram não.

Adolescente B: Não, mas sábado fizeram aquele negócio que fura o dedo e viram

minha pressão.

Adolescente C: Não, só senti dor de dente, aí fui no hospital, que era pra

arrancar, mas num tive coragem.

Adolescente D: Nunca senti nada, Graças à Deus, sou saudável.

Adolescente E: Tava com umas manchas no olho e a enfermeira veio olhar daí

mesmo onde a senhora tá, e disse que ia passar pra eu lavar, mas não trouxe

ainda.

Adolescente G: Precisei tia, mas ninguém veio. Aqui eles não levam pro hospital

com medo de eu fugir, mas isso num é problema não, se eu quisesse fugir daqui,

já tinha fugido.

A adolescente G relatou necessidade de atendimento no momento de

outra pergunta da pesquisa e afirmou não ter recebido atendimento.

Ainda foi possível perceber que as ações de promoção à saúde e

prevenção de agravos também não foram executadas com rigor, pois quando

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se perguntou acerca de orientações sobre abster-se do uso de drogas, ou

sobre os tipos de violências, DST’s, gravidez na adolescência, paternidade

responsável, alimentação saudável, entre outros, obteve-se discursos de

vivências externas, ou seja, as informações recebidas foram dadas fora da

instituição, por pessoas alheias à assistência à saúde, ou de forma

inconsistente.

Adolescente A: A enfermeira entregou uns panfletos, mas só entregou, quem

falou comigo sobre essas coisa foi os cara que trabalha aqui.

Adolescente B: Disseram que quando eu sair daqui é pra eu trabalhar e ajudar

minha mãe, pra não fazer coisa errada.

Adolescente D: Só disseram pra usar camisinha, mas foi lá fora, minha mãe,

minhas tias.

Adolescente E: É pra um respeitar o outro, se não... esse negócio de paternidade

eu já sei isso, porque já tenho um filho.

Adolescente F: Disseram que não é pra comer muita gordura. Pra eu respeitar

os outros. Disseram que é pra eu deixar de ser mal, deixar essas coisa pra lá. Eu

sou caba homem, num tenho coragem de abandonar ela não, se eu fiz, eu tenho

que criar. Mas que era pra usar camisinha. Ela falou nesse lugar bem aí que a

senhora tá, a enfermeira.

Adolescente G: Falaram alguma besteirinha aí, mas num lembro mais não.

Adolescente H: Só sei de violência porque li o ECA.

Diferente deste resultado, no estudo de Monteiro e colaboradores

(2011), concluiu-se que a instituição pernambucana atende a maioria dos

requisitos da Portaria nº 1.082[3], através da promoção e prevenção da

saúde, ofertando palestras educativas, apoio psicopedagógico, áreas de lazer,

além de manter contato com instituições de referência e contra referência

relacionada à assistência a saúde, incentivo na inserção educacional e

profissionalizante.

Analisando a atenção à saúde do adolescente de ato infracional

privado de liberdade no Brasil, sob a ótica da inspeção nacional às unidades

de internação de adolescentes em conflito com a lei, em todo o Brasil, em

2006, Vila Boas, Cunha e Carvalho (2010) revelaram em seu estudo que

raramente havia equipe da Estratégia de Saúde da Família (ESF) para o

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acompanhamento dos internos; também aproximou-se dos resultados desta

pesquisa no que se referia ao não oferecimento de assistência de urgência

aos usuários do serviço. A prevenção e orientação sobre a transmissão do

vírus da imunodeficiência humana, assim como outras atividades de

educação em saúde eram esporádicas. Vale ressaltar que essa pesquisa

menciona a problemática de maneira geral, não excluindo as exceções.

Em um estudo realizado por Cavalcanti, Dantas e Carvalho (2011), no

qual se objetivou discutir a situação dos adolescentes em privação de

liberdade no que se refere ao atendimento público em saúde, também se

concluiu que há descumprimento dos direitos sociais que os adolescentes

possuem constitucionalmente, dentre estes o direito à saúde.

Essa realidade local/nacional perpassa por uma série de fatores, sendo

necessária a reordenação de conceitos, crenças e atitudes, tanto dos

profissionais de saúde, que não recebem capacitação específica para lidar

com o adolescente em conflito com a lei que é um usuário do serviço em

condição peculiar, como principalmente dos gestores, para que volte a sua

atenção ao adolescente com transtorno de conduta, que pode ser modificado

e adaptado à sociedade.

Definição da Assistência à Saúde na Instituição pelos Adolescentes

No que concerna à assistência prestada percebe-se que o julgamento

dos jovens envolvidos com a prática de atos infracionais categorizou a

assistência à saúde na instituição para cumprimento de medida

socioeducativa como de má qualidade, na sua maioria, sendo que da

totalidade apenas um a considerou como boa enquanto três afirmaram ser

regular e quatro ruim.

Adolescente A: Porque o menino tava com a barriga doendo e chorando e só

deram chá e disseram que na cadeia era assim mesmo (Ruim).

Adolescente B: Tava sentido dor de barriga e tontura e nem ligaram pra mim,

mas o outro menino tava ruim, foi bem ligerim pro hospital. Pra mim só

fizeram um chá de casca de laranja (Regular).

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136

Adolescente C: Tem que levar pro hospital, num vai deixar morrer (Regular).

Adolescente D: Rapaz, é difícil. Boto fé que a gente chama o cara e pode é

morrer e o cara não vem. Tem condição não (Ruim).

Adolescente E: Ela veio ver meu olho na sexta. Acho que aqui é boa (Boa).

Adolescente F: Se eu precisar eles dão assistência (Regular).

Adolescente G: Tia, eu já precisei, quase morro bem aqui, e ninguém fez nada

(Ruim).

Adolescente H: Rum, se eu precisar eles tem que vim, se não eu faço é um

escândalo (Ruim).

O artigo de Areco e colaboradores (2011) envolveu um enfoque

qualitativo dos serviços de saúde mental e drogadição de um município do

estado de São Paulo, que oferece assistência aos adolescentes em situação de

vulnerabilidade social. E os resultados dessa pesquisa também mostraram

ausência da atenção integral de forma articulada, assim como está proposto

no ECA, evidenciando inconstância dos atendimentos, quase ausência de

planejamento das ações, sendo estas fragmentadas, sobreposição de

determinados serviços e ausência de outros, autenticando a desatenção à

saúde de adolescentes vulneráveis também em outras regiões do país.

Da mesma forma, o estudo de Coutinho e colaboradores (2009), que

objetivou identificar as representações sociais da prática socioeducativa de

privação de liberdade através das falas dos adolescentes, concluiu que a

prática de exclusão social emergiu de forma mais significativa nas falas dos

atores sociais retratando uma prática estigmatizante, no qual a ociosidade e

a violência são partes da rotina, e acaba por comprometer o processo de

ressocialização do adolescente privado de liberdade, pontuando mais uma

vez a falta do seguimento de normativas referentes à execução das medidas

socioeducativas e principalmente à saúde dos adolescentes que cumprem

tais medidas.

Destarte equipara-se a realidade local à realidade nacional,

admitindo-se que o entendimento da problemática do adolescente em

conflito com a lei deve ser multifatorial, pois nenhum fator isolado pode

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bastar para a compreensão de casos tão complexos como esses, devendo

envolver diferentes setores de políticas públicas. Assim também como

apenas um profissional da saúde não pode ser responsável pela totalidade

das (in)resoluções dos objetos de discussão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa possibilitou caracterizar o adolescente transgressor da lei

como sendo na sua maioria do sexo masculino, com 17 anos e ensino

fundamental incompleto, além de identificar a sua constituição familiar

matriarcal. A noção dessa realidade exprime as lacunas existentes no

desenvolvimento desses jovens causadas pela carência de apoio familiar,

escolar e governamental. A fim de solidificar a importância dessas três

esferas na construção da identidade do adolescente, faz-se necessário aplicar

políticas públicas para permanência na escola, através do preenchimento

completo do horário letivo com atividades interativas, como a prática de

esportes, grupos de teatro ou dança, ações ecológicas e de cunho social, ou

seja, atividades que estimulem os bons sentidos e desenvolva discernimento

moral no adolescente. Essa informação aponta para a necessidade de um

acompanhamento psicopedagógico ainda na escola, antes da influencia das

transformações da adolescência.

A existência de casos de reincidentes demonstra falhas nas atividades

sociopedagógicas da instituição. Uma alternativa para evitar a reincidência

dos jovens na unidade socioeducativa e até no sistema prisional para adultos

é a articulação, por parte dos gestores, com empresas a fim de absorverem

aprendizes para o seu quadro de funcionários, dando-lhes a oportunidade de

aprender uma profissão e remodelar a sua trajetória de vida. Com o mesmo

propósito, podem ser desenvolvidos ofícios emergenciais, que capacitem os

adolescentes a conseguirem renda com atividades que não exijam

conhecimento científico, mas que possa ser desenvolvida com habilidade e

prática, como ofício de carpinteiro, cozinheiro, encanador, pedreiro, entre

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outras. Outra forma para evitar a reincidência do ato infracional seria

organizar centros de reabilitação para dependentes químicos acessíveis à

comunidade local e que estes tenham articulação com a instituição

socioeducativa, para facilitar a referência, pois muitas vezes os jovens já

estão dependentes de substâncias que alteram seus os impulsos e suas

percepções, levando facilmente a transgressão.

Assim, faz-se necessária uma equipe multiprofissional engajada em

construir uma conexão eficiente entre as redes de atenção à saúde, que

garanta uma assistência completa ao jovem, desde a atenção primária até a

mais especializada, e primordialmente faz-se necessário desalinhar a

persistência da lógica prisional que embasa o tratamento desses jovens para

assim, garantir uma ressocialização digna.

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SOUSA, Antonio Alexandre Henrique; SOUSA, Ana Cibele Pereira; LIMA, Ludmila Araújo

Rodrigues; ROSA, Ruy Roberto Porto Ascenso; CALOU, Iana Bantim Felício; RODRIGUES,

Tonny Kerley de Alencar. Prevalência e fatores relacionados com a automedicação em

moradores de bairros da zona sul de Teresina – PI. RevInter Revista Intertox de

Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 140-149, out. 2014.

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Prevalência e fatores relacionados com a

automedicação em moradores de bairros

da zona sul de Teresina – PI

Antonio Alexandre Henrique Sousa

Graduando em Farmácia, Faculdade Santo Agostinho, Teresina-PI.

Ana Cibele Pereira Sousa

Bacharel em Nutrição, Universidade Federal do Piauí, Campus

Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos-PI.

Ludmila Araújo Rodrigues Lima

Graduanda em nutrição, Universidade Federal do Piauí, Campus

Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos-PI.

Ruy Roberto Porto Ascenso Rosa

Farmacêutico, Faculdade Santo Agostinho, Teresina-PI.

Iana Bantim Felício Calou

Farmacêutica, Doutora em Farmacologia UFC, Professora Adjunto I,

Curso de Nutrição, Universidade Federal do Piauí, Campus Senador

Helvídio Nunes de Barros, Picos-PI.

Tonny Kerley de Alencar Rodrigues

Bacharel em Economia (UFPI) e em Administração (FSA), Doutorando

em Administração Coppead/UFRJ, Professor da Faculdade Santo

Agostinho. Teresina-PI.

* Endereço para correspondência, Rua porto, 389, Bairro: São Pedro,

CEP: 64019-500, Teresina-PI. E-mail: [email protected].

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Rodrigues; ROSA, Ruy Roberto Porto Ascenso; CALOU, Iana Bantim Felício; RODRIGUES,

Tonny Kerley de Alencar. Prevalência e fatores relacionados com a automedicação em

moradores de bairros da zona sul de Teresina – PI. RevInter Revista Intertox de

Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 140-149, out. 2014.

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RESUMO

A automedicação é uma das forma de autocuidado à saúde mais

praticadas pela população. Não obstante é necessária a devida orientação

tendo em vista que a falta de informação pode levar a danos à saúde uma

vez que, sendo ferramenta comum de tratamento médico, o fácil acesso aos

fármacos os fazem os principais responsáveis pelo crescente número de

intoxicações registradas no país. Este trabalho teve como objetivo avaliar a

prevalência e fatores relacionados com a automedicação em moradores dos

bairros São Pedro e Irmã Dulce de Teresina-PI. Consiste em um estudo

epidemiológico de base populacional onde foram entrevistados 180

moradores dos bairros citados por meio de um questionário semiestruturado.

O resultado mostrou uma alta prevalência de automedicação, e dentre as

classes de medicamentos mais utilizados estão os analgésicos seguido dos

antitérmicos. As doenças referidas com maior prevalência tratada com esses

medicamentos foram a cefaleia, resfriado/gripe e febre.

Palavras chave: Intoxicação, fármacos, autocuidado.

ABSTRACT

Self-medication is the most practiced form of self-care health by the

population. No proper guidance and lack of information can lead to health

hazards, since being common tool for medical treatment; easy access to

drugs is mainly responsible for the increasing number of poisonings

registered in the country. This study aimed to assess the prevalence and

factors related to self-medication for residents of São Pedro and Irmã Dulce

neighborhoods, Teresina-PI. It consists of an epidemiological population-

based study where 180 residents received a semi-structured questionnaire

to answer and were all interviewed. Results showed high prevalence of self-

medication, and among the most widely used classes of drugs are analgesics

followed by antipyretics. The most prevalent diseases treated with these

drugs, were headache, cold / flu and fever.

Keywords: Intoxication, drugs, self-care.

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moradores de bairros da zona sul de Teresina – PI. RevInter Revista Intertox de

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INTRODUÇÃO

O medicamento é tido como um símbolo de saúde, de cura e de retardo

da progressão de doenças, porém o uso indiscriminado ou indevido pode

suscitar o agravamento do estado de saúde do paciente, intoxicação, ou até

mesmo a morte (LIMA, NUNES e BARROS 2010).

Segundo Azevedo (2010), a toxicologia atual é entendida como a

ciência que estuda os efeitos adversos das substâncias químicas sobre os

organismos vivos e avalia a probabilidade da sua ocorrência. E dentre os

agentes tóxicos mais frequentemente envolvidos nos casos de intoxicação

tem-se o paracetamol, os salicilatos, os anticolinesterásicos, a

metemoglobina e a carboxihemoglobina, os barbitúricos e os

benzodiazepínicos, antidepressivostricíclicos, alem das drogas de abuso,

etanol e cocaína (VIERA 2012).

De acordo com Schvartsman e Schvartsman, (1999) as consequências

clínicas e/ou bioquímicas da exposição aguda a substâncias químicas

encontradas no ambiente ou isoladas são as intoxicações exógenas agudas,

dentre as substancias isoladas causadora de tal enfermidade destacam-se os

medicamentos.

A automedicação é definida como a utilização de fármacos sem

prescrição médica, onde o próprio paciente decide qual fármaco a ser

utilizado, com o objetivo de tratar ou aliviar sintomas ou mesmo de

promover a saúde (WERTHEIMER e SERRADELL 2008). O problema do

uso indiscriminado de medicamentos na atualidade é a capacidade de

colocar em risco a saúde de boa parte da população, por ser uma prática

potencialmente danosa à saúde se não praticada de forma correta (LOPES

et al. 2014).

No Brasil, cerca de 80 milhões de pessoas praticam a automedicação.

Fatores como a má qualidade de oferta de fármacos, o não cumprimento da

obrigatoriedade da receita médica e a carência de informações e instrução da

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população em geral, justificam a preocupação em implementar as

estratégias do uso racional de fármacos (SILVA et al. 2011).

Consequências sérias podem advir do uso de medicamentos desprovido

de informação médica ou farmacêutica, como o aumento da resistência

bacteriana aos antibióticos e a hemorragia cerebral devido à combinação de

um anticoagulante com um simples analgésico (LIMA e RODRIGUES 2008).

Dentre os fatores associados ao uso indiscriminado de fármacos tem-se,

a propaganda massiva e a facilidade de acesso a medicamentos em

farmácias e supermercados, dando assim a impressão de que são produtos

livres de riscos à saúde. Expondo os consumidores a reações indesejadas

(NASCIMENTO 2003).

Diante da importância do cenário descrito esta pesquisa consiste em

um estudo epidemiológico de base populacional, que tem como objetivo

determinar a prevalência e os fatores associados à prática da automedicação

da população de dois bairros da zona sul de Teresina-PI.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo (GIL 2002), desenvolvido nos bairros

São Pedro e Irmã Dulce, Teresina-PI, no período de outubro de 2013 a

janeiro de 2014. A pesquisa utilizou um n amostral de 180 pessoas (nível de

confiança de 95% e erro amostral de 5%). Os critérios de inclusão para

participação da pesquisa foram: idade maior que 18 anos; pertencerem a

esses bairros e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para

Participação em Pesquisa. Os aspectos éticos de confiabilidade e privacidade

foram assegurados de acordo com a resolução nº 196/96.

Quanto à abordagem, a pesquisa é quantitativa, aplicada, consistindo

num estudo transversal onde foi realizado um levantamento por meio de um

questionário semiestruturado adaptado de Barros, Griep e Rotenberg (2009)

com uma escala tipo Liker, para coleta dos dados, constituído de perguntas

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estruturadas contendo dados de identificação e referentes à automedicação.

Os dados foram analisados por meio do software SPSS 20.0.

A coleta de dados foi realizada após aprovação pelo comitê de ética da

Faculdade Santo Agostinho - FSA, sob o número de

protocolo:16813613.2.0000.5602.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na figura 1 tem-se exposto o percentual de entrevistados que

relataram já terem usado ou comprado medicamentos sem receita médica.

Figura 1. Percentual de utilização e compra de medicamentos sem receita médica.

Fonte: Pesquisa: Prevalência e fatores relacionados com a automedicação em moradores de

bairros da zona sul de Teresina – PI.

Os resultados obtidos corroboram os resultados de Fernandes, Palma e

Monteiro (2010), onde 80% da população investigada no estudo afirmara que

se automedicava. Assim como no estudo de Oliveira e Pelógia (2011), em

estudo de automedicação entre profissionais de saúde onde 53,1%, a maior

prevalência encontrada, foi de automedicação.

Estudos epidemiológicos sobre o uso de medicamentos impõem

reconhecer que tal prática não se limita a fatores farmacoterapêuticos. Na

verdade, pode-se constatar que, além da contribuição do modelo biomédico,

exercem grande influência, as estratégias promocionais dos produtores com

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a lógica de mercado subjacente, mais recentemente, engendrando novas

artimanhas para convencer prescritores e consumidores sobre as vantagens

dos fármacos como fonte de bem-estar e de saúde (BARROS 2008).

Na figura 2, tem-se os tipos de medicamentos utilizados pelos

entrevistados, onde o consumo de analgésicos corresponde a classe

medicamentosa mais utilizada da população de estudo, corroborando assim

com estudos de Galato, Madalena e Pereira (2012) onde a maioria da

população estudada, 52,3% dos universitários, fazia uso de analgésico para

alívio de dores. Os analgésicos foram a maior classe consumida em outros

estudos como o de Freitas, Martins (2008) e Arrais et al. (1997). Apontando

que situação semelhante já era observada há cerca de onze anos, e, assim

como no estudo de Lalama (1999), as categorias de medicamentos mais

utilizadas na automedicação eram analgésicos, antibióticos e anti-

inflamatórios, dos quais 49% eram sugeridos pela propaganda. No entanto

ressalta-se que nesta pesquisa os antibióticos não tiveram tanta

expressividade em virtude de um maior rigor na apresentação da receita no

ato de sua venda ao longo dos anos, e os anti-inflamatórios apresentaram

um valor considerável. Entretanto em pesquisa realizada em Goiânia

apontou um perfil diferente da população idosa onde uso de analgésico

atingiu somente 9,1% de consumo, e o uso de medicamentos para doenças

cardiovasculares foi predominante neste estudo (Santos et al. 2013).

Salienta-se que dos tipos de medicamentos relatados, os vermífugos

apresentaram menor valor percentual.

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Figura 2. Classe de medicamentos utilizados.

Fonte: Pesquisa: Prevalência e fatores relacionados com a automedicação em moradores de

bairros da zona sul de Teresina – PI.

A figura 3 retrata as doenças apontadas pelos entrevistados como causa da

automedicação.

Figura 3. Motivos/doenças relacionados com a automedicação

Fonte: Pesquisa: Prevalência e fatores relacionados com a automedicação em moradores de

bairros da zona sul de Teresina – PI.

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moradores de bairros da zona sul de Teresina – PI. RevInter Revista Intertox de

Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 140-149, out. 2014.

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Segundo Freitas e Martins (2008), as principais afecções relatadas

pelos usuários de medicamentos por automedicação em seu estudo foram:

cefaleia (32%), dores osteomusculares (31%), e infecção respiratória (25%),

corroborando desta forma com os resultados aqui obtidos.

Lessa e Bochner (2008) ressaltam que o amplo uso de medicamentos sem

orientação médica, quase sempre acompanhado do desconhecimento dos

malefícios que podem causar, é apontado como uma das causas destes

constituírem o principal agente tóxico responsável pelas intoxicações

humanas registradas no país. Para que esse quadro seja mudado, é

necessário o cumprimento da regulamentação sobre o uso de medicamentos,

obedecendo às limitações em relação à dispensação farmacêutica destes

produtos (BORTOLON et al. 2008).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observou-se um alto percentual de automedicação, o que já era

esperado tendo em vista se tratar de um legítimo processo de autocuidado. A

classe de analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios, pertencentes ao

anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), foram os mais citados por

conseguirem um manejo rápido dos sintomas mais comuns apresentados por

qualquer população, a exemplo da cefaleia. A despeito de ser uma prática

permitida, a mesma deve ser devidamente orientada, tendo o profissional

farmacêutico papel imprescindível no fornecimento de informações

necessárias ao cliente da farmácia. A compra de medicamentos dissociada de

uma boa dispensação é fator de risco para intoxicações por medicamentos,

que a despeito de ser um problema antigo, tem alta prevalência no nosso

país.

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