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45 ANOS DEPOIS NO COPACABANA PALACE REVISTA COPAFEST. ED. 01.2010. PRIMAVERA Banda Mantiqueira | Hector Del Curto Quinteto | Leo Gandelman Trio Dom Salvador Sexteto | Vinil é Arte E MAIS: DOM SALVA DOR

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45 ANOSDEPOIS NOCOPACABANA PALACE

REVISTA COPAFEST. ED. 01.2010. PRIMAVERA

Banda Mantiqueira | Hector Del Curto Quinteto | Leo Gandelman TrioDom Salvador Sexteto | Vinil é Arte

E MAIS:

DOMSALVA

DOR

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INDICE 4 | Editoralpor Bernardo Vilhena

6 | Uma mistura bem brasileira Coletivo Vinil é Arte entrevista Dom Salvador

12 | Explosão de infinitos rítmospor Hugo Sukman

17 | 20 anos de música instrumentalBanda Mantiqueira por Carlos Calado

21 | Antes e depoisUma retrospectiva do Festival

24 | Um toque latino no CopaFest Hector Del Curto por Pedro Motta Gueiros

28 | Tem groove no loungeVinil é Arte por Christina Fuscaldo

30 | Copacabana - Um mar de histórias

33 | Camaleão dos soprosLeo Gandelman por Yuri Almeida

BAR DO COPAAv. Atlântica, 1702 - CopacabanaEntrada pelo Restaurante PérgulaReservas: (21) [email protected]

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O CopaFest está chegando a sua terceira edição reafirmando o compromisso de apresentar o ex-perimentalismo na música instrumental. Desta vez, estamos acrescentando um tempero latino com a presença do quinteto do bandoneonista Hector Del Curto, produtor de uma combinação bem sucedida de jazz e tango, seguindo a linhagem de grandes mestres argentinos como Astor Piazzolla e Gato Barbieri, entre outros.No futuro, pretendemos aprofundar esta experi-ência apresentando os artistas latino americanos que, inspirados em seus ritmos nativos, vem atua-lizando e divulgando a música de seus países.

O CopaFest traz também o quarteto do saxofonis-ta Leo Gandelman - um artista que, além de ter participado de importantes discos da MPB como instrumentista e produtor, vem trabalhando incessantemente na divulgação da música instrumental brasileira, seja através dos meios de comunicação, seja através da veiculação de seu trabalho em novos formatos.A presença da Banda Mantiqueira, do notável instrumentista Nailor Proveta, sublinha a nossa intenção de promover a interação entre músicos do Rio de Janeiro e de São Paulo. Estamos dando continuidade à tradição carioca de receber músicos paulistas, como aconteceu com o pianista e compositor Vadico (parceiro de Noel Rosa em “Feitio de Oração” e outros sucessos), com o imenso Paulo Moura e, também, com outro ilustre convidado desta edição o maestro, pianista e compositor Dom Salvador.Dom Salvador foi um artíficie da bossa nova. Em seus trios tocaram os músicos mais importantes da geração – só pra citar os bateristas, temos Victor Manga, Dom Um Romão e Edison Machado. Em seguida, criou a mistura do funk com o samba na Banda Abolição, abrindo novos caminhos para a nossa música instrumental.Os melhores lugares das melhores cidades do mundo tocam música brasileira. Bem vindo ao Copacabana Palace. BEM VINDO AO COPAFEST.

Bernardo Vilhena

EDITORIALOS MELHORES LUGARES DAS MELHORES CIDADES DO MUNDO TOCAM MÚSICA BRASILEIRA

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UMAMISTURA BEMBRASILEIRA

Ele estava no auge. Tudo aconteceu naquela década de 60, quando acompanhava Edu Lobo, Jorge Ben, Elza Soares, Tom Jobim e muitos outros, e colocava o seu piano à disposição de grupos estelares como Copa Trio (com o baterista Dom Um Romão), Rio 65 Trio (com Edison Machado na bateria e Sérgio Barrozo no baixo) e Abolição, formado só por músicos negros, entre eles o trompetista Barrosinho e o saxofonista Oberdan Magalhães.Radicado nos Estados Unidos desde 1973, Dom Salvador conversou por

Skype com os discotecários Marcelo MB e Formiga, do coletivo Vinil é Arte, responsável pelo som ambiente do Lounge CopaFest. Também participou da entrevista o curador do evento, Bernardo Vilhena.Rebobine com a gente a história do pianista e descubra o que Dom Salvador está preparando para o show no festival.

2 DJS DO COLETIVO VINIL É ARTE CONVERSAM POR SKYPE COM DOM SALVADOR E REBOBINAM COM A GENTE HISTÓRIAS DO NOSSO MAESTRO

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POR MONICA RAMALHO

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VINIL É ARTE Você já curtia música na infância, Dom?

DOM SALVADOR Sou de Rio Claro e nasci em uma família muito musical. Qua-se todos tocavam um instrumento. As minhas irmãs fizeram um quarteto, chama-do As irmãs Silva, e estavam sempre na rádio local. Mas eram todos amadores e os ensaios eram feitos lá em casa. Tudo girava em torno da música. Paulo, meu irmão, era ótimo no violão, no contrabaixo e no saxo-fone. Cresci vendo tudo isso muito de perto.

VINIL E quando você quis realmente tocar?

DOM Meu primeiro instrumento foi a bateria. Costumava ir ao cinema só para ver as orquestras americanas e adorava assistir a performance dos bateristas das

orquestras de Severino Araújo e de Zacarias. Até que, certo dia, uma das minhas irmãs virou para o Paulo, nosso irmão, e falou: ‘Você tem que ver como o Poim toca na mesa’. Poim era o meu apelido na família. Foi assim que ele me chamou para tocar repique no Carnaval. Depois, me arrumou um professor e comecei a estudar música pela teoria antes de aprender bateria com o Emilio.

VINIL Mas você aca-bou se destacando mesmo em outro ins-trumento. Como o pia-no entrou em cena?

DOM O Emilio come-çou a me ensinar. Um tempo depois, foi con-vidado para dar aula numa escola em São Carlos. Fiquei sem professor de bateria e não conseguimos ou-tro. Nesse intervalo, para não ficar parado, resolvi estudar piano.

A outra possibilidade era violão já que eu tinha um problema de hérnia e não podia tocar instrumento de sopro. Podemos di-zer que o piano veio por acidente. Tanto é que, no início, eu não gostava muito, mas conheci ótimos pianis-tas e, em seguida, me interessei de verdade. Como o piano tam-bém é um instrumen-to percussivo, foi fácil aprender.

VINIL Você teve que estudar aquela lista de compositores eru-ditos?

DOM Exatamente. Fui ter aulas com uma professora de piano clássico. Durou um bom tempo com ela e aprendi bastante. Depois, estudei num Conservatório em Campinas. O diploma saiu em 1960 e, no ano seguinte, mudei para São Paulo a con-vite de uma cantora conhecida na época,

Marita Louise. Ela cantava operetas e fa-zia muito sucesso na Europa. Trabalhamos em bares, alguns com pinta de cabaré.

VINIL Em relativo pouco tempo, só cin-co anos, você fez par-te de grupos super importantes para o instrumental brasilei-ro. Como conheceu o Dom Um Romão?

DOM Eu estava sem-pre na Baiúca, no Beco das Garrafas. Numa determinada noite, uns gringos arrasavam no palco e havia um bando de músicos por lá: Tenório Jr., Hamil-ton Godoy, acho que o Cesar Camargo Maria-no, Laércio de Freitas e Toninho Pinheiro, do Jongo Trio. Todo mun-do era desembaraça-do. Já eu, nunca gos-tei de dar canja. Era meio tímido com essa coisa. Toninho insistiu para eu tocar. Toquei e, nessa noite, estava lá o Dom Um. Quando

desci do palco, ele me chamou na mesa e fa-lou: “Você toca muito bem. Gostaria de ir com a gente para o Rio de Janeiro?”. Isso foi em 1964. Fiquei nervoso, mas topei porque tudo acontecia no Rio naquele tem-po. Falei com a mi-nha noiva, com quem me casaria em 1965, e ela me incentivou. Fizemos shows ines-quecíveis no Beco das Garrafas, entre eles os primeiros da Elis Regi-na e do Quarteto em Cy, acompanhamos Jorge Ben e muitos outros, até que Dom Um Romão foi em-bora para os Estados Unidos.

VINIL Acompanhou mais alguém ilustre na estreia?

DOM O Marcos Valle no Bacarat, mas foi por acaso. A proposta original era reunir Vic-tor Manga na bateria, Tenório Jr. no piano e Zezinho Alves no E

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foi um incentivo do Hélcio Milito, do Tam-ba Trio. Ele é um visio-nário, sempre pesca as coisas diferentes no ar. Milito trabalhou como produtor em gravadoras e, certo dia, me chamou e su-geriu fazer aquele som do Abolição que vocês conhecem bem.

VINIL Vocês tiveram que se vestir com uma temática africa-na, defendendo o dis-curso do movimento negro. Como isso in-fluenciava na música?

DOM Abolição tem um funk bem carac-terístico americano. Mas a gente fazia com uma cara bem regio-nal, cem porcento bra-sileira, porque a gente tocava de tudo, cho-rinho e tal. Não ouso dizer que fomos os primeiros, mas essa mistura era meio origi-nal. E olha que curio-so: Havia quem es-cutasse as gravações do Herbie Hancock e

pensasse que era a gente tocando (risos).

VINIL Quando rom-peu com o Abolição, houve outra mudança no seu som. Como re-tomou a carreira solo?

DOM Depois do Abo-lição, fiz as malas e voei para os Estados Unidos. Toquei com grupos de jazz em in-contáveis gigs. Toquei com todo mundo, sem saber com quem ia encontrar. Comecei a entrar nos lugares, mas foi muito difícil no início porque não dá para viver só de gigs. A intenção era ficar um mês e voltar para o Brasil, mas estou no país do Tio Sam até hoje.

VINIL O que você está preparando para o show do CopaFest?

DOM Quero mostrar as composições que estou fazendo no mo-mento. Estou sempre mudando algo, sem

perder a essência. Não sei dizer se é para frente ou para trás (ri-sos). Gosto muito dos sons do passado, mas faço uma mistura com os sons atuais. Tem a ver com gafieira e samba-jazz. Porque eu acho que o samba-jazz veio do som que os caras faziam na gafieira, aquele negó-cio de tocar um tema e sair improvisando em cima. Meu último show no Copacabana Palace foi em 1965. Sabe quem estava nesse show? Tenório Jr., Antonio Adolfo, Cesar Camargo Maria-no, Luis Carlos Vinhas, Zimbo Trio, Meirelles e os Copa 5. Vocês podem imaginar como estou entusiasmado com esse convite para tocar no CopaFest, não é?

baixo e Dóris Mon-teiro na voz. Eles en-saiaram e tudo, mas ninguém apareceu na hora do show (risos). Éramos todos jovens. Então, chamaram o Edison Machado e o Sérgio Barrozo e bo-taram a Leny Andrade no lugar da Dóris. O show estava ficando muito legal. A gente fazia dois, três núme-ros instrumentais e ficava uma suingueira danada. Wilson Simo-nal e Jorge Ben, por exemplo, estava sem-pre na plateia, e tam-bém o Armando Piti-gliani, que perguntou se queríamos gravar um disco. Topamos no ato.

VINIL E as viagens para a Europa, como pintaram os convites?

DOM A primeira via-gem foi com o Salva-dor Trio. Levamos o Chico Batera no lugar do Victor Manga, que gravou o disco. Nessa época, entrou a onda

dos Beatles e fomos obrigados a mudar tudo. Graças a Deus, não faltou trabalho. A maioria dos caras to-cava tudo de ouvido e, para enfrentar horas de estúdio, era preci-so saber música. Eu, Antonio Adolfo e Te-nório líamos partitura bem e choviam convi-tes para gravar. Nessa época, acabou por um longo tempo esse ne-gócio de bossa nova.

VINIL É, mas apesar de a bossa nova ser a bandeira da música brasileira no exterior, quando saiu de moda não impediu você de tocar nos Estados Uni-dos, não é?

DOM Pelo contrário! Fui em 1966 com o Salvador Trio, em 1967 com o Copinha, flau-tista extraordinário, e, em 1968, com a Elza Soares. Conhe-ci Bill Evans e alguns de meus ídolos. Voltei com outras ideias e o negócio da Abolição

VOCÊS PODEM IMAGINAR COMO ESTOU ENTUSIASMADO COM ESSE CONVITE PARA TOCAR NO COPAFEST, NÃO É?

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EXPLOSÃODE INFINITOSRITMOS POR HUGO SUKMAN

A chamada música popular brasileira - aquele vasto hibrido formado por canções e danças portuguesas, música culta e popular européia, infinitos ritmos, sentimentos e procedimentos africanos, algo indígena, fraseados de bandas militares, e quantas influências mais fossem chegando no decorrer do tempo – nasceu ins-trumental. Vamos dizer, sem medo de errar, que com o mulato, filho de escrava liberta, Anacleto de Medeiros: foi ele, com suas composições calcadas em danças européias mas de espírito chorão, com seus arranjos para bandas (nota-damente a do Corpo de Bombeiros, pioneira de nossos registros fonográficos), e com sua op-ção pelos instrumentos de sopro, o primeiro a libertar a música brasileira de suas influências, tornando-a, finalmente… brasileira. E não mais européia, africana, erudita, popular, portuguesa, indígena, militar, etc.: hibrida e única.Anacleto é o pioneiro.

Se Anacleto criou, Pixinguinha, não por acaso outro soprista negro de sólida formação musi-cal européia, formatou isso o que chamamos de música popular brasileira, seja como o maior compositor de choro, como o bom sambista, o estilizador de cantos anacestrais, mas principal-mente como o arranjador que estabelece a nos-sa linguagem orquestral. Anacleto é o pioneiro. Pixinguinha é o clássico. Lá pelos anos 1950, o bastão, ou melhor, o sa-xofone, é passado para outro músico negro, soprista, líder de banda, maestro, compositor, arranjador, etc.: Moacir Santos, aquele que não é um só, é tantos, como dele disse Vinicius. Tantos que, até hoje, e pelo menos desde que lançou o seminal LP “Coisas”, em 1964, Moacir seja o mais influente músico brasileiro, o que vai determinar o que é nossa sofisticada música instrumental contemporânea.

UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA DA HISTÓRIA DA MÚSICA INSTRUMENTAL BRASILEIRA

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Anacleto é o pioneiro, Pixinguinha é o clássi-co, Moacir Santos é o moderno. Não é difícil perceber a influência de Moacir na música de hoje: a das harmonias sem-pre surpreendentes mas de resultado sempre agradável, do impressionante conví-vio entre a ancestra-lidade da música afri-cana e a modernidade da música brasileira e do jazz, das técnicas eruditas e corretas com o balanço da mú-sica popular. Na explosão da mú-sica brasileira instru-mental dos anos 60, e que determinaria a música de hoje, Mo-

acir é de fato a figura central não apenas por seu trabalho mu-sical, mas por ter sido professor (literalmen-te) e/ou influenciador de gente como Baden Powell, Roberto Me-nescal ou João Dona-to. E até mais jovens como Mario Adnet, Zé Nogueira (que presta-ram-lhe os últimos e inestimáveis tributos, “Ouro negro” e “Cho-ros e alegria) e a flau-tista Andrea Ernest Dias, que acabou de fazer sua tese de dou-torado sobre Moacir e, justamente, sua in-fluência nas gerações posteriores.É impossível, por exemplo, ouvir a Ban-da Mantiqueira e não lembrar de Moacir Santos (bem como da linhagem, digamos, saxofonística da nossa formação musical).

A tal linhagem saxo-fonística para contar a história da música brasileira, aliás, pode-ria ser pianística. Po-deria contar a mesma história partindo dos pianeiros, passando por Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga, por Sinhô e o piano no samba, por Radamés Gnattali, Ary Barroso, Custódio Mesquita, Tom Jobim para che-gar em Luiz Eça, figura tão central e influente quanto Moacir Santos.

Edu Lobo, por exem-plo, não cansa de dizer que, em vez de ir a Berklee estudar músi-ca, ele e Dori Caymmi iam à casa de Luiz Eça. Só por ter influenciado tanto os dois maiores compositores brasilei-ros vivos (o terceiro, Guinga, veio de Villa-Lobos, das serestas suburbanas, do cho-ro, o que é uma outra história), Luiz Eça já teria grande importân-cia. Mas, mais do que isso, pode-se dizer que, com o Tamba Trio (ao lado de Bebeto no baixo e Helcio Milito na bateria e na tamba), no início dos anos 60 Eça criou um formato moderno e brasileiro para a tradicional for-mação do trio de jazz piano-baixo-bateria.

Pegue qualquer trio brasileiro antes do Tamba – ouça o de Dick Farney, por exem-plo - e note como eles são ”americanos”, ja-zzísticos. Ouça o Tam-ba. E depois, todos que vieram depois. Os pianistas, de Dom Salvador, Antonio Adolfo e Cesar Camar-go Mariano a André Mehmari, nunca mais foram os mesmos. O tecido percussivo, no lugar apenas da tradi-cional bateria, nunca mais seria usado da mesma forma. Os procedimentos musi-cais sofisticados, as brincadeiras com an-damento e ritmo, tudo em Luiz Eça marcaria profudamente a músi-ca brasileira dali para frente. Não é difícil di-zer que o LP “Luiz Eça e cordas”, de 1968, seja, além do melhor disco de arranjador já gravado no Brasil, o modelo para os arran-jadores atuais, em for-ma e sonoridade.

Enquanto Luiz Eça in-fluenciava, no Beco das Garrafas e nos demais inferninhos cariocas, toda uma geração de músicos no auge do chamado samba-jazz, em São Paulo um também jovem Hermeto Pas-coal começava uma linhagem paralela, de jeito nenhum menos importante. Assim como Eça, Hermeto começou sua revolu-ção com um trio de jazz em princípio tra-dicional (piano-baixo-bateria), o Sambrasa, ao lado de Humbeto Clayber e Airto Morei-ra, este outro revolu-cionário maluco.

No único disco do Sambrasa Trio, de 1965, Hermeto (e Airto), criavam uma nova linguagem para o formato trio, incorpo-rando não apenas ele-mentos do samba-jazz e da música brasileira urbana, mas de ele-mentos nordestinos, de música modal, do pop e de uma liber-dade de execução até então inédita. A nítida intenção de Hermeto e Airto de fazer um jazz de fato brasileiro e contem-porâneo fez com que o Sambrasa Trio se transmutasse, dois anos depois, no Quar-teto Novo, já influen-ciado por Geraldo Van-dré e pela chamada MPB (o movimento musical que traria para a bossa nova e para o samba-jazz elementos da chamada música tradicional brasileira urbana ou rural).

Assim, tocando mú-sica brasilera com a liberdade e a invenção proporcionadas pelo jazz, Hermeto (piano e flauta), Airto (bateria e percussões), Theo de Barros (violão) e Heral-do do Monte (guitarra e viola caipira) fizeram o, talvez, mais in-fluente grupo musical brasileiro. O único LP do Quarteto Novo, de 1967, é cultuado tan-to quanto o “Coisas”, de Moacir Santos e o “Luiz Eça e cordas”. Juntos, eles formam uma espécie de San-tíssima Trindade da música brasileira con-temporânea.

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20 ANOSDE MÚSICAINTRUMENTAL POR CARLOS CALADO

UMA MÚSICA BRASILEIRA HIBRIDA, LIVRE, AUTÔNOMA E MODERNA PARA SEMPRE

Mas, espalhado por aí, o Quarteto Novo fez mais coisa, acompanhando Vandré (a queixada de bode em “Disparada” é invenção de Airto) e Edu Lobo (na famosa gravação de “Ponteio” ou num dos melhores discos de todos os tempos, “Cantiga de longe”, gravado em Los Angeles em 1970).

A explosão da música instrumental brasileira dos anos 60, renderia muitos frutos. Poderia-se falar em Sérgio Mendes e no combo que ele criaria nos Estados Unidos, o Brasil 66, que espalha-ria como nunca a música brasileira pelo mundo. Ou nos arranjos que o saxofonista J.T. Meirelles começou fazendo para Jorge Ben e que redun-daria em toda uma linhagem de música negra (Black Rio, etc.). Tanta coisa aconteceu, mas o fato é que gente como Moacir Santos, Luiz Eça e Hermeto Pascoal ajudaram a trazer até aqui o sonho sonhado por Anacleto de Medeiros nas antigas tardes na sua Ilha de Paquetá, no come-ço dessa história toda: o de uma música bra-sileira hibrida, livre, autônoma e moderna para sempre.

Hugo Sukman é jornalista e curador do novo Museu da Imagem e do Som (MIS)

COM ARRANJOS INSPIRADOS EM SEUS EXCELENTES MÚSICOS, NAILOR PROVETA FAZ DA BANDA MANTIQUEIRA UM DOS MAIS COMPLETOS LABORATÓRIOS DA MÚSICA INSTRUMENTAL BRASILEIRA

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Próxima de completar 20 anos, a Banda Manti-queira tem motivos de sobra para comemorar. Se tocar música instrumental em nosso país já é por si só uma aventura arriscada, seus integran-tes realizaram nessas duas décadas uma grande façanha: manter ativa por tanto tempo uma big band tão original, fazendo música de altíssima qualidade, é algo raro até nos Estados Unidos ou na Europa.A pré-história dessa banda paulista remonta ao início da década de 1980. O projeto de formar uma big band para tocar música popular brasilei-ra surgiu nas conversas do clarinetista e sax alto Nailor “Proveta” Azevedo com o trompetista Walmir Gil, com o saxofonista Cacá Malaquias e o trombonista François de Lima – parceiros mu-

Seu talento musical era tão precoce e surpreen-dente, que seus colegas recorreram à ciência genética para explicá-lo: já se destacando como solista da orquestra do maestro Sylvio Mazzuca, com apenas 16 anos, Nailor só poderia ser um bebê de proveta. “Na Mantiqueira trabalhamos com arranjos fei-tos sob medida. Sempre gostei de explorar a musicalidade de cada integrante da banda”, diz o líder e arranjador Proveta, que segue o exemplo do mestre do jazz Duke Ellington (1899-1974), criando os arranjos de acordo com a personali-dade e o potencial de cada um dos músicos da banda. A chegada do baixista e arranjador Édson José

Alves, um pouco depois, também foi importan-te para aumentar a intimidade da banda com o formato da canção. Clássicos da música popular brasileira, como o choro “Carinhoso” (Pixingui-nha), o samba “Linha de passe” (João Bosco), os sambas-canções “As rosas não falam” (Cartola) e “Folhas secas” (Nelson Cavaquinho e Guilher-me de Brito) ou ainda o “Baião de Lacan” (Guinga), costumam figurar entre os números mais aplaudidos nas apresentações da banda.“Os arranjos e a interpretação usam todas as técnicas da história das big bands, mas têm os pés firmemente fincados nos coretos do interior, onde muitos dos músicos tocaram em público pela primeira vez”, observou bem o maestro Nel-

SEUS INTEGRANTES REALIZARAM NESSAS DUAS DÉCADAS UMA GRANDE FAÇANHA: MANTER ATIVAPOR TANTO TEMPO UMA BIG BAND TÃO ORIGINAL, FAZENDO MÚSICA DE ALTÍSSIMA QUALIDADE, É ALGO RARO ATÉ NOSESTADOS UNIDOS OU NA EUROPA

sicais e amigos, que na época dividiam um apar-tamento no Bixiga, o folclórico bairro paulistano.Antes de criarem a Mantiqueira, em 1991, esses músicos participaram juntos de outras forma-ções do gênero, como a Banda Savana, a Banda Aquarius e a Sambop Brass. “Nossas influências eram muito amplas. Ouvíamos a Orquestra Ta-bajara, a turma da bossa nova, orquestras de ga-fieira, as bandas dos maestros Branco e Laércio de Freitas. Também íamos a concertos eruditos”, relembra o trompetista Gil.A eclética formação desses músicos foi essen-cial para a criação da Mantiqueira, assim como a estimuladora liderança de Nailor Azevedo. Nasci-do em Leme, cidade do interior paulista, Proveta herdou esse apelido ao se mudar para a capital.

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ANTES E DEPOIS

Copacabana Palace + Música Instrumental + Rio de Janeiro, uma mistura nada incomum, marcas da nossa história, elementos que ecoam e nos identificam a milhas e milhas daqui. Mistura que começou com o SOM DO BECO das garrafas, reduto inspirador da nossa música, CopaFest quer permanecer clássico, porém provocando e mostrando os novos contornos da música instru-mental. Música brasileira, música do mundo, do nosso tempo.CopaFest viveu shows sensacionais, como as duas apresentações do Zé Luis com os garotos da Banda Magnética e encontros memoráveis

como, João Donato e Paulo Moura. Vimos tam-bém inéditas interseções sonoras no diálogo musical de David Feldman e Gabriel Grossi e a ponte aérea com Chico Pinheiro, outro jovem ta-lento. Tivemos a oportunidade de trazer para o nosso palco o múltiplo Hermeto Pascoal, depois de alguns anos sem tocar na cidade, e a hon-ra de receber, por duas vezes, aquele que nas palavras do maestro Paulo Moura “tem a bossa nova toda debaixo dos dedos”: Osmar Milito. O emocionante show do Cesar Camargo Mariano e o vibrante “Jet Samba” do Marcos Valle com-pletaram nossa segunda edição.Nas duas edições iniciais, descobrimos que exis-tem muitos amantes da música instrumental brasileira. A terceira edição abre caminho para a proposta de realizar o festival duas vezes por ano e para o lançamento da revista CopaFest. A música instrumental instiga a imaginação e nos leva a acreditar em novas noites para revivê-la e reinventá-la nos salões do Copa.

Diogo Rezende e Isabel SeixasM’Baraká Experiências Relevantes

son Ayres ao apresentar “Aldeia” (1996), disco de estréia da Mantiqueira, que foi indicado ao prêmio Grammy de melhor performance de jazz latino, em 1998.Os álbuns “Bixiga” (2000) e “Terra Amantiquira” (2005) completam a pequena e preciosa disco-grafia individual da banda, que também já lançou um DVD (em 2009, pela série Toca Brasil do Itaú Cultural), além de três CDs que registram apre-sentações ao lado da OSESP, com participações das cantoras Luciana Souza e Monica Salmaso. “Tem que existir um ritual. A gente precisa se encontrar sempre para ensaiar e tocar”, comenta o saxofonista Cacá Malaquias, sugerindo que a convivência quase diária e a amizade que une os 14 integrantes da Mantiqueira são fundamentais para que ela se mantenha ativa, exibindo a mes-ma energia e excelência musical que marcaram seus primeiros 20 anos de história. Sorte nossa, porque outros tantos devem vir por aí.

Carlos Calado é jornalista e crítico musical. Colabora com a “Folha de S. Paulo” e é autor dos livros “O Jazz Como Espetáculo” e “Tropicália: a História de Uma Re-volução Musical”.

É DIFÍCIL IMAGINAR UM CENÁRIO MAIS PERFEITO PARA EXIBIR TANTA TÉCNICA, TANTA SENSIBILIDADE E ESSES MÚSICOS MARAVILHOSOS

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“O CopaFest é um daqueles festivais que parecem peque-nos, mas resul-tam grandes. Se para os mais velhos faz lembrar as noites do beco das garrafas, para os mais jovens remete às boas noites do saudoso Free Jazz. Ou clubes de jazz como Blue Note (NY) e Ronnie Scott (Londres), onde só rola boa música. Shows como es-ses são dignos dos melhores festivais internacionais” Lauro Lisboa Garcia, jornal O Estado de São Paulo.

“O elenco (do CopaFest) é ótimo, entre nomes consagrados e novos do instrumental brasileiro....o festival já vale por trazer de volta ao Rio Hermeto Pascoal” Antônio Carlos Miguel, jornal O Globo.

“Um suntuoso lugar e um som de primei-ríssima qualidade. A equação de bom gosto tem nome: CopaFest” Carla Vidal, jornal O Fluminense.

“Desde 2003 sem fazer show no Rio, Hermeto Pascoal apresentou um pout pourri de músicas no CopaFest, no Golden Room do Copacabana Palace. Improvisou letra em homenagem a cidade... O show terminou com a banda deixando o palco em forma de trenzinho, passando pelo meio do público” Maria Fortuna, Gente Boa, jornal O Globo.

“Com o CopaFest, Copacabana recupera seu lugar de classe e glamour das décadas de 50, 60... mostra com muita competên-cia algo inovador que vem soar em nossos ouvidos assim como é: Esplêndido!” Ana Claudia Dias.espectadora

“Esse lugar é sensa-cional. Aqui tem um charme, uma mági-ca...com o grande número de ótimos instrumentistas que temos no Brasil pode-riam ser feitos muitos outros CopaFest” Marcos Valle

“É um privilégio estar neste lugar. Privilégio para os músicos, para a música instrumental brasileira e para o público” Chico Pinheiro

“Esta sala, este bairro, essa rua aqui de trás tem tanta história. Estou emocio-nado” Cesar Camargo Mariano

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UM TOQUE LATINO NO COPAFESTPOR PEDRO MOTTA GUEIROS

A TABELINHA TANGO E FUTEBOL MOSTRA QUE A ARTE LATINO AMERICANANASCEU PARA BRILHAR EM TODO O MUNDO

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que Lionel Messi ocupa na seleção argentina. Jovem, com a formação completada no exterior, Hector Del Curto tem o orgulho nacional estam-pado na face mais global da cultura argentina. Se Maradona era uma espécie de Piazzolla, que transformava seu talento num concerto para ser aplaudido de pé, Messi faz os adversários dan-çarem como nos bailes dos anos dourados do tango argentino. Embora gasta, a comparação resiste por ser incomodamente atual. Como no Brasil, o futebol e a música ainda são pilares de sustentação do sonho latino-americano.

Pedro Motta Gueiros é jornalista esportivo e já cobriu duas Copas do Mundo e uma Olimpíada. Escreve no jornal O GLOBO há dez anos. É um baterista frustrado e amante da música brasileira.

No grande baile do século XXI, a terra dança num lugar do espaço em que o tempo é marcado por um bandoneon. Com rostos colados e os pés no chão, a origem do tango aponta para um destino comum. Quanto maior a conexão entre culturas diferentes, mais raro e valioso é o caldo extraído das raízes regionais. Não é de hoje que o parado-xo sai pela Boca e atravessa corações num movi-mento transnacional. Do bairro dos imigrantes e excluídos da Buenos Aires do século XIX para os grandes palcos mundiais, as bruscas alterações de humor e andamento criam um efeito sanfona em que o tradicional e o moderno se fundem na Eternal Tango Orchestra, liderada pelo bandone-onista Hector Del Curto.Ao contrário das paixões dilaceradas no ritmo dos prostíbulos e do machismo portenho de ou-trora, o tango é uma relação estável para a famí-lia Del Curto. A partir de seu bisavô, fundador da Orchestra Tipica de Jazz Del Curto, o instrumen-to criado pelo alemão Henrich Band passou de mão em mão até ganhar o mundo nos acordes de Hector. Ainda na Argentina, aos 17 anos, foi premiado como o melhor bandoneonista com menos de 25 anos. O futuro promissor lhe deu o presente de dividir o palco com Astor Piazzolla e se tornar o mais jovem integrante da orquestra de Osvaldo Pugliese. Radicado em Nova York, repetiu o movimento original do gênero numa releitura que se desdobra como onda da gera-ção digital.Ao revisitar o passado, em que as danças de origem hispânica e o samba uruguaio foram amarrados pelas cordas dos imigrantes italianos e pela sanfona alemã, Hector trouxe elementos de jazz e novas etnias. A formação do grupo põe a estrela da companhia no lugar parecido com

NO GRANDE BAILE DO SÉCULO XXI, A TERRA DANÇA NUM LUGAR DO ESPAÇO EM QUEO TEMPO É MARCADO POR UM BANDONEON

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TEM GROOVE NO LOUNGEPOR CHRISTINA FUSCALDO

Niggas e Tuta nasceram em Juiz de Fora. Niggas cresceu aprendendo com seu pai, DJ Simon, que trabalhava em uma famosa equipe de som local, a Scorpius, e tinha em seu currículo parce-ria com Big Boy – o DJ mais aclamado de todos os tempos. Tuta também ouvia os discos de vinil de seu progenitor, um apaixonado por música. A dupla começou a “tocar” despretensiosamen-te. A vontade de se profissionalizar fez com que os dois criassem, em 2001, o Vinil é Arte – um coletivo formado por cinco DJs, com núcleos que atuam no Rio (Tuta e MB Grooves), em São Paulo (Niggas e Formiga) e Juiz de Fora (Pedro). São eles que comandam a programação sonora no lounge do CopaFest desde a primeira edição. O Vinil é Arte vem formando uma diversificada coleção de discos, especificamente aqueles prensados em vinil nas décadas de 50, 60 e 70. Ao todo, o Vinil é Arte acumula mais de 7.000 LPs brasileiros e estrangeiros de diversos esti-los. Do samba jazz a black music, passando pelo regional, eles tocam de tudo, mas sempre com foco no resgate da música nacional.Niggas e Formiga passeiam pela black music, pelo samba rock, pelo funk e por outros groo-ves. Tuta traz uma bagagem um pouco mais di-recionada à música regional, com samba, bossa, choro, maracatus e outros ritmos nordestinos.

Pedro tende a gostar mais da música instrumen-tal, com arranjos e orquestrações modernas e experimentais. A unidade está na busca pelo caminho do que não é óbvio, pela quebra de preconceitos e, também, pelo resgate da boa e velha discotecagem à moda antiga.Está no repertório de todos a música mineira do Clube da Esquina, baianidades e tropicalismos como o dos Mutantes, o swing de Jorge Ben, a experimentação de Marcos Valle, Rogério Du-prat e Hermeto Pascoal, o jazz de Victor Assis Brasil, o groove de Toni Bizarro e Tim Maia, as distorções dos Novos Baianos, afrobeats, músi-ca latina e até Beatles, com inúmeras raridades. No CopaFest, o Vinil é Arte toca no lounge do Copacabana Palace, que tem um excelente bar e confortáveis sofás e pufes para o público re-laxar. Nesta edição, eles continuam celebrando o Beco das Garrafas, vizinho do Copa e famoso por ser reconhecido como um dos berços da bossa nova.

Christina Fuscaldo é jornalista e crítica musical. Escreve na Rolling Stone Brasil e lançou em 2009 o site Garota FM. Através do twitter faz coberturas de shows em tempo real.

CERCADOS DE LPS, OS GAROTOS DO VINIL É ARTE FAZEM A FESTA NOS INTERVALOS DOS SHOWS

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COPACABANA UM MAR DE HISTÓRIAS

Copacabana é cenário de músicas, filmes e, sobretudo, de acontecimentos marcantes na vida de todos nós. Uma das praias mais famosas do mundo, seu nome e o desenho de suas calçadas evocam ondas de prazer e sensua-lidade. Como bem diz esta inesquecível canção de Dorival Caymmi e Carlos Guinle que, reza a lenda, foi composta no Bar da Pérgula do Copacabana Palace e, dizem as más línguas, Caymmi entrou com a música e Carlos Guinle com o uísque.

Sábado em CopacabanaComposição: Dorival Caymmi e Carlos

Guinle

Depois de trabalhar toda a semanaMeu sábado não vou desperdiçarJá fiz o meu programa pra esta noiteE sei por onde começar

Um bom lugar para encontrarCopacabanaPrá passear à beira-marCopacabanaDepois num bar à meia-luzCopacabanaEu esperei por essa noite uma semana

Um bom jantar depois dançarCopacabanaPra se amar um só lugarCopacabanaA noite passa tão depressa Mas vou voltar lá pra semanaSe eu encontrar um novo amorCopacabana

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CAMALEÃO DOSSOPROS POR YURI ALMEIDA

ESTRELA ENTRE AS ESTRELAS, LEO GANDELMAN DESENVOLVEU UMA CARREIRA SOLO MARCADA PELO SUCESSOO saxofonista Leo Gandelman formou por dez anos um dos mais consagrados naipes de so-pros do país, ao lado de Oberdan Magalhães, Marcio Montarroyos, Zé Carlos Bigorna, Bidinho e Serginho Trombone, presença certa em qua-se todos os discos da MPB na década de 80. Filho de uma pianista e um maestro, o músico já era solista da Orquestra Sinfônica Brasileira aos 15 anos e foi a partir dessa experiência que desenvolveu grande interesse pela música ins-trumental.Influenciado por Waine Shorter, Branford Marsa-lis, Paulo Moura e Nivaldo Ornelas, o saxofonis-

ta carioca já musicou imagens em filmes como ‘Budapeste’ e ‘Garrincha’, e em diversas novelas e minisséries. E, nesse espírito de camaleão, já apresentou programas sobre jazz e música bra-sileira na televisão e no rádio, além de se dedicar a projetos especiais, como o disco ‘Origens’ a ser lançado no final de 2010, em dueto com a pianista Maria Teresa Madeira.Ao todo, tem 12 discos lançados e seu nome consta nos créditos de mais de 800 gravações nacionais e internacionais.Acompanhado por David Feldman no piano, Al-berto Continentino no contrabaixo e Xande Fi-gueiredo na bateria, Leo Gandelman vai tocar para o público do CopaFest sucessos autorais, como “Solar” e “Furuvudé”, inéditas e clássicos e, para alegria da ala masculina, vai fazer uma homenagem ao amigo de som e futebol, o fura-cão da copa de 70, Jairzinho.

Yuri Almeida é pesquisador Musical e DJ e tem forma-ção publicitária. É Coordenador de Programação e Pro-dução da OI FM e trabalhou na mesma função por quase 2 anos na MPB FM.

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21h

BANDA MANTIQUEIRA23h

HECTOR DEL CURTO QUINTETO

21h

LEO GANDELMAN TRIO

23h

DOM SALVADOR SEXTETO

LOUNGE COM VINIL É ARTEsexta e sábado a partir das 20h com entrada gratuita

Copacabana Palace | Av. Nossa Sra de Copacabana, 291vendas www.ticketronics.com.br

PR

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SEX. 26 // 11

SÁB. 27 // 11

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TRUPE REVISTA:

EDITORBernardo Vilhena

SUB EDITORAMonica Ramalho

REALIZAÇÃOIsabel Seixas Diogo RezendeM´Baraká Experiências Relevantes

PROJETO GRÁFICOAnalu MenezesM´Baraká Experiências Relevantes

JORNALISTASCONVIDADOSCarlos CaladoChristina FuscaldoHugo SukmanPedro Gueiros Yuri Almeida

PRODUÇÃO E REVISÃOBeatriz Tafner

CONTATOSM´Baraká Experiências Relevantes www.mbaraka.com.br Tel: 2279-4504

ASSESSORIA DE IMPRENSABelmira Comunicaçã[email protected]: (21) 9163 [email protected]: (21) 7634 7083

TRUPE FESTIVAL:

IDEALIZAÇÃOBernardo Vilhena e Isabel Seixas

DIREÇÃO MUSICALBernardo Vilhena eCarolina Rosman

DIREÇÃO DE ARTE M´Baraká Experiências Relevantes

CENOGRAFIADiogo Rezende eRichard Veerdorn

PROJETO GRÁFICO Analu Menezese Diogo Rezende Clarice Laus (assistente)Fernanda Kassar (assitente)M´Baraká Experiências Relevantes

ILUMINAÇÃOFernanda Mantovani

SONORIZAÇÃOAlexandre Vargas

COORDENAÇÃO DO PROJETOIsabel Seixas

COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃOMarise Lima

PRODUÇÃO EXECUTIVAErika Candido eBeatriz Tafner

ASSISTENTE DE PRODUÇÃORodolpho Faria

PRODUÇÃOADMINISTRATIVAMariana Ximenes

ASSESSORIA DEIMPRENSAMonica Ramalho eMarcelo Pacheco(Belmira Comunicação)

REALIZAÇÃOM´Baraká Experiências Relevantes C

DIT

OS

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patrocínio apoio promoção

Rio

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ALÉM DA ENERGIA ELÉTRICA, NÓS COLABORAMOS PARA LEVAR A MÚSICA ATÉ VOCÊ!

Por meio de linhas de trans-missão que ligam um ponto a outro, a TAESA leva energia elétrica a várias cidades do país.

Com o patrocínio do Copa Fest, incentivamos também arte e cultura.