revista fiacha dezembro

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  • 8/10/2019 Revista Fiacha Dezembro

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    Passatempos Crnicas Leituras conjuntas

    N.4/Dez2014

    A rvore Vermelha,Shaun Tan

    O Ba do Cantinho do Corvo

    A Vida de Ursula K. Le Guin

    Contadores de histrias

    Shaun Tan

    Entrevista exclusiva a Isabel Ricardo

    Fiacha

    Passatempo A Cativa

    Temas de debate Jogos literrios

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    Gostas de es-crever?

    Gostarias de par-ticipar na revis-ta Fiacha?

    R e s e r v a m o seste espao paracrnica ou con-to, para tema egnero livre.

    S tens de o envi-ar para

    cant inhodocor- vofiacha@gmail. com

    e publicaremosna revista se-guinte.

    Atreve-te e par-ticipa.

    No 1. aniversrioda revista ire-mos premiar 1livro para o contoou crnica maisvotada.

    Pg.3Ser um Contador de histrias,por SoBernardes e Rui Ramos

    Pg. 12Entrevista exclusiva a Isabel Ricardo

    Pg. 163 histrias do escritorShaun an, porSo Bernardes

    Pg. 23A Vida de Ursula K. Le Guin,um artigo de Marco Lopes

    Pg. 28Contos para ler neste natal

    Pg. 29Passatempo A Cativa

    Este ms na tua revista:

    Pg. 29Balano literrio

    2

    Pg. 11Saquinhos de histrias, desco-bre-os e torna a leitura nummomento mais divertido e fasci-nante

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    Erauma vez um menino muito curisoso que costumava sentar-se no seu florido jardim. Percorria o seu tempo desenhando no solo traos da sua imaginaocom ajuda de pequenas pedras ou ptalas oferecidas pelas flores cintilantes.O menino sorria de to belo que era o seu jardim e comeou a contar o que sua imaginao d e s e n -h a v a na sua mente. Aos poucos as pedras e ptalas ganharam vida e transformaram-se em peda-os daquela histria. Ao menino foi oferecida magia pela sua simples narrao. Com o passar dotempo, e em virtude do seu cuidado e ateno com as pessoas e com o mundo, o menino a p r e n -d e u que contar histrias alegrava tudo sua volta, colorindo sorrisos e recebendo olhares bri l-ha ntes. Esse menino tornou-se, assim, num contador de histrias, correndo as ruas das mais vari-adas vilas e grandes cidades espalhando os desenhos da sua imaginao em palavras encantadas,mensageiras de ensinamentos e cheias de magia. Hoje, um contador de histrias traz consigo umpouco da magia que nasceu naquele jardim, na inocncia daquela criana que se transformou emalgo maior, uma forma de tocar no mais profundo do homem, a alma. Contar histrias no ape-nas narrar uma qualquer histria, faz-la sentir por qualquer ouvinte, em qualquer lugar, ondecada palavra embrulhada por emoo. Ento, e o que ser um contador de histrias? Convid-mos o experiente Rui Ramos e a doce So Bernardes para nos falarem um pouco desta aventura.

    1.) O que ser um conta-dor de histrias?

    R ui Ramos: uma pergunta difcilque tem mltiplas respostas. Ser contadorde histrias pode ser muitas coisas dependen-do de cada um, mas de um modo geral, seralgum que chega, cativa a ateno e comea afalar, induzindo na mente do ouvinte ou grupode ouvintes, um estado alterado de conscincia

    semelhante ao sonhar acordado (capacidadenecessria para visualizar e imaginar). Enquan-to esse estado de conscincia est a decorrer,

    durante a narrao da histria, o contador irconduzir o seu pblico, marcando o ritmo atculminar no clmax, para depois traz-lo (aopblico) em segurana, de volta ao mundo real.Em suma, tem um pouco de sedutor, manipu-lador, provocador e condutor. algum que, sefor talentoso, pode ser bastante poderoso. No por acaso que os grandes lderes polticos,mestres religiosos, vendedores, publicitrios,executivos, professores, terapeutas, empresri-os de sucesso so bons contadores de histrias eos que no so, procuram formao nesta rea.

    No meu caso, bem mais humilde e longe dopoder ou estrelato, ser contador de histrias satisfazer a necessidade de partilhar com algum,as histrias que mais me agradam. Para mim,como contador tambm fundamental criar la-os com os ouvintes. Sou dos que defendem queos contadores de histrias so agentes impor-tantes no estabelecimento de comunidades.

    uma das sensaes que mais prazer me d, quan-do o pblico composto por totais desconheci-dos, comea a funcionar como um grupo unidopelas histrias que est a ouvir, durante a sesso.

    Contador de Histrias

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    So Bernardes: Uma pergunta difcil, Sercontador de histrias como ser um ilu-s ionista. Contar uma histria como um truquede magia: escolh-la e dar-lhe vida, conseguirprender os outros, deix-los sem respirao,

    presos nas nossas palavras, nas personagens elev-los a viajar connosco. Assim como o ilusioni-sta usa os seus truques, ns usamos as palavras, osgestos, a aco e o objectivo? Deliciar as pessoas.

    2.) Como comeou o gos- to por esta forma de viajarpelo mundo da imagina-o?

    R ui Ramos:Sempre tive esta vontade de con-tar histrias dentro de mim, desde os temposem que contava os lmes, as sries e os desenhosanimados que via, aos meus primos e amigos, emmido. Era um verdadeiro espectculo, com di-reito a efeitos sonoros, banda sonora e tudo! Umdos meus colegas ao ouvir, no recreio da escola, aminha descrio do Alien 3, interrompeu-me todofeliz: At parece que estou a ver o lme! No po-dia ter recebido melhor elogio. Mas naquela alturaestava longe de imaginar que um dia iria viverdesse talento.

    Durante muitos anos, fui um rapaz tmido quedetestava falar em pblico. Apresentaes de tra-

    balhos e palestras eram um castigo para mim. Agarganta cava seca e o crebro bloqueava perantetantos olhares.

    Contudo, por casualidade e sem planicaes, fuisendo gradualmente conduzido ao universo daoralidade. Primeiro com a praxe da faculdade quedesbloqueou muita da minha timidez, depois com

    a participao em coros, onde comecei a tomar ogosto pelo palco e a perder o medo do pblico eainda com uma formao de teatro em expressocorporal que z s para acompanhar uma namora-

    da na altura. Ela no achou graa e desistiu mas eu,que fui por arrasto, sem grande entusiasmo inicial,quei e adorei. No m do curso, fui convidado peloprofessor para frequentar formaes mais avana-das, mas eu estava mais interessado em terminar o

    mestrado, arranjar emprego em Geologia e dedi-car-me ao mundo da banda desenhada e da escrita,do que explorar o mundo do teatro. Passaram-sebastantes anos sem que pensasse mais no assunto.

    At que um dia, por que nas histrias chega sem-pre o dia, e esta no foge regra, fui livrariaespecializada em livros ilustrados para a in-fncia, Salta Folhinhas, no Porto, encetei con- versa com a dona da loja e, conversa puxa con- versa, quei a saber que ali iria decorrer, embreve, um curso de contadores de histrias.

    Achei que seria uma mais-valia para a minhamulher que educadora de infncia. Lev-ei-lhe um carto com os dados do curso,todo satisfeito, pois de certeza que iria gos-

    tar, e enquanto caminhava pela rua fora, com-ecei a imaginar-me na pele de um conta-

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    dor de histrias a viajar pelo mundo a contar ea encantar as povoaes. Quando nalmentelhe entreguei o carto e lhe apresentei o curso, j tinha tomado a deciso que viria a mudar orumo da minha vida. Disse-lhe que o iria fre-

    quentar tambm. Na altura, andava a braos coma tese de doutoramento e as obras no tnel dometro do Porto para Rio into. iramos os doiso curso e recebemos o nosso baptismo de fogoprecisamente em Dezembro, faz este ms 5 anos,perante uma multido de olhos de pais e crian-as vidos pelas nossas histrias. Foi um sucesso.

    Desde ento nunca mais parei de contar histrias.Durante os primeiros 3 anos -lo quase por des-porto. Era mais um extra, uns trocos para pagarfrias e ans. At que um dia, por que nas histriaschega sempre o dia e esta no foge regra, empalco, no Museu do Brincar, em Vagos, em 2012,depois de ter passado o dia todo a contar histriasa sucessivos grupos de dezenas de crianas quecirculavam pelo museu, tive uma epifania. Nesse

    dia, o meu crebro sofreu uma mudana qualquere foi-me revelada a minha vocao: tinha nascidopara ser contador de histrias! Iria viver desta arte!Assim foi, regressei a casa e criei uma marca: OBa do Contador. Abri uma conta num blogue eno Facebook e tornei-me mais proactivo. Quan-do terminei a tese de doutoramento e recebio diploma, tornei-me contador de histrias a

    tempo inteiro, no incio do ano de 2013 e des-de ento tem sido uma verdadeira aventura.

    So Bernardes: As histrias, os con-tos sempre zeram parte da minha vida desde que me lembro de ser gente.

    A minha me contava-me histrias quando eracriana e elas faziam-me sonhar com mundoslongnquos e ter amigos fantsticos. Infelizmentea minha me no gostava de fantasia, a realidadeera um ponto-chave para ela e as suas histrias

    que luz do dia eram reais, durante a noite, es- voaavam pelo meu sonho transformando-se empequenos seres mticos, orestas perdidas com r- vores sussurrantes e quedas de gua misteriosas. A,no mundo dos meus sonhos, eu era a que viajava,

    a que procurava novas aventuras para me divertir.

    Mais tarde este gosto intensicou-se. E desdesempre me vi a ler histrias, contos de todos osgneros e feitios. Caminhei sempre entre osmundos, o real e o da fantasia. Procurei na na-tureza, a beleza dos velhos trilhos que percorriaem criana, nos meus sonhos, e encontrei-os.

    So esses trilhos que percorro hoje, por o-restas verdes e musgosas, por meio de pe-dras que sussurram histrias antigas e ventos que trazem vozes desconhecidas.

    3.) Qual a diferena en- tre escrever e contar umahistria?

    R ui Ramos:H todo um universo de dife-renas. Como so formatos diferentes tmexigncias distintas, por exemplo a escrita depen-

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    de da descrio, enquanto que a contada, da aco.Mas h mais diferenas. Escrever um acto cria-tivo solitrio que cristaliza uma histria, anco-rando-a a determinadas palavras minuciosa-mente escolhidas pelo autor, tornando-a imutvel.

    Um contador de histrias, ao contrrio de um es-critor, no precisa criar uma histria, na maioriados casos, conta aquilo que outros escreveram, deforma mais ou menos el, dependendo da abor-dagem de cada um. Assim, no propriamenteum autor ou um criador de algo novo, pois est atrabalhar sobre a obra de outros. Outro ponto im-portante, um contador, igualmente um leitor ecomo tal vai sujeitar a obra que se prope contar sua anlise pessoal, valorizando e menosprezandoaspectos distintos de outros leitores, e esta interpre-tao vai condicionar a sua adaptao da histria.

    Contudo, tambm h contadores que so os au-tores das histrias que contam. Eu, por exem-plo, gosto bastante de improvisar histrias emplena sesso com a ajuda do pblico. Raramenteas escrevo. Em parte por preguia, em parteporque agrada-me a exibilidade que a narra-o oral lhes confere, adaptando-as ao feedbackque vou recebendo do pblico, moldando-as emudando-lhes a forma consoante o que acharmelhor para determinada audincia. Desta ma-neira, a histria torna-se um organismo vivo quese adapta e evoluiu de cada vez que partilha-

    da com o pblico, nunca exactamente igual.

    Mais diferenas, o escritor est em segurana,sozinho a escrever, tem todo o tempo para en-contrar e dar forma histria certa, pode fazeros intervalos que quiser para ir casa de banho,tomar um caf, almoar, dormir, atender o tele-fone, contudo, quando se entra na oralidade

    no pode haver pausas a meio da histria, e onarrador tem um espao de tempo muito curtoda ateno do ouvinte Uma pessoa dicilmente

    consegue car atenta mais que meia hora, pormuito boa que seja a histria e qualquer toquede telemvel ou entrada de algum atrasadopodem ser sucientes para arruin-la. O narra-dor vai ter que usar todos os seus recursos para

    manter alto o nvel de ateno da audincia paraque a histria funcione. Nem sempre fcil.

    So Bernardes: Escrever contar umahistria! Pelo menos no que respeita escritaccional. No entanto, para mim, existem muitas

    diferenas. Escrever um acto isolado, mesmosabendo que a histria que estamos a construirpoder chegar a um pblico muito vasto. Deixa-mos as ideias correr para o papel / pc, indiferente-mente do que os outros possam pensar, naquelemomento o pensamento surge em lufadas, vivas,despertas ou hesitantes, correndo desgarrada ens estamos ali a coloc-las na ordem, a dar-lhes

    vida, a personaliz-las, agarramo-las e prende-mo-las ao papel, elas rebelam-se e ns repetimos,corrigimos e tentamos fazer com que elas, partede ns, ganhem as suas asas para poderem voar emaravilhar o mundo, atravs das nossas palavrasmgicas.Queremos chegar ao outro atravs das nossas pa-lavras, esperar que ele goste, que sinta a magia que

    colocmos naquele texto e esperamos a resposta.Esperamos, a est a outra grande dife-rena entre um escritor e um con-tador. Contar um acto pblico.

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    O escritor espera um feed-back que pode de-morar horas, dias, meses, e at nem vir. Ocontador tem um feed-back imediato. Quan-do conta, ele v nos olhos a brilhar do pblicoque este est a gostar, ou nos olhos adorme-cidos que ele est a ser uma grande seca. Oefeito imediato, na hora e se erra sabe quetem de contornar a situao, mas sabe tambmque falhou. Com o pblico infantil, eles noperdoam, so muito exigentes e querem mais

    de ti, o pblico adulto acaba por se desligar, seno tiver interesse e at bater uma sorninha.

    O contador tem de se munir de vrias tcnicasque lhe permitam dar a volta na hora se ele virque o seu trabalho no est a correr da formamais desejvel, tem de estar sempre atento sreaces, aos olhares, enquanto se interliga com a

    histria que est a contar. claro que a experin-cia ajuda muito, e torna-se mais fcil com o tem-po perceber estes sinais e conseguir contorn-los.Outra diferena a preparao, um contador temde interiorizar a histria, senti-la com alma ecorao e prepar-la, os gestos, as vozes, os ru-dos, o suspense ou o medo, tudo so po rmeno -res que contam muitssimo na apresentao.

    4.) Tendo em considera-o as caractersticas dopblico e ao tipo do texto,

    que tcnicas utilizas para contar histrias de umaforma divertida, ldica einteressante?

    Rui Ramos: Contar histrias um acto deseduo, portanto, antes de mais, a aparn-cia importantssima. O tipo de roupa, penteado,se temos ou no uma couve nos dentes, tudo con-ta. a primeira coisa que os outros vem. Assim,que nos apresentamos, estamos a ser avaliados, julgados, se no estivermos seguros da nossaidentidade, das nossas capacidades, podemos serdevorados pelo pblico nesse instante inicial.

    Depois a voz a ferramenta por excelncia. elaque pode salvar o contador se este no passar noimpacto inicial, causado pelo seu visual. A vozbem trabalhada pode suportar todo o trabalho donarrador, sem que este precise de mais recursos.

    udo o resto, fogo-de-vista para chamar aten-o e marcar a diferena dos restantes c o n c o r -r e n t e s no mercado. Vale tudo, desde disfarces,instrumentos musicais, msica gravada, livrosilustrados originais, fantoches, teatros de papel,aventais de contos, tapetes de contar, projecode powerpoints, enm, haja imaginao para cri-ar e adaptar outros recursos.

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    enho a sorte de poder contar as histriasque mais me agradam, sejam elas contosde fada, contos tradicionais, mitos e len-das do mundo, contos de autor, lmes, par-tilhas de experincias de vida pessoais ou

    mesmo improvisaes criadas em pela sesso.

    So Bernardes: Eu ainda estou muito noinicio desta arte, ainda sou uma apren-diza que procura explorar vrias tcnicas paraaperfeioar o seu estilo, a sua forma de contar.H vrias tcnicas e cada contador tenta en-contrar aquela que se adequa mais sua ma-neira de ser. H quem cante (jamais o meucaso ou fugiria todo o pblico aos primeiros

    acordes),ou que utilize um instrumento mu-sical que vai dedilhando, como se fosse umamsica de fundo, por outro lado podem serutilizados fantoches, bonecos, livros, etc.

    Eu z dois cursos com um contador, para quema oralidade e os gestos so a principal tcnica. Opoder da voz o ponto mais alto no contador.

    Aliar a expressividade da voz aos gestos e pos-tura so as ferramentas essenciais do contador.Um factor que ainda tenho de trabalhar bastante.Para mim muito importante sentir a histria, temde ter algo a ver comigo. rabalho-a, re-escrevo-

    a , resumo-a, elenco os seus pontos chave, e des-ta forma decoro-a e preparo-a. Se me esquecerde algo, sabendo os pontos chave, improviso.

    Um contador no l as histrias, conta-as dememria, e por isso que a mesma histriacontada por dois contadores distintos sem-pre diferente. Para o pblico infantil essen-cial a presena de livros, na minha opinio cla-ro. A primeira vez que contei, para um grupogrande de crianas, como era s uma histria,no achei necessrio levar livro, mas eles ques-tionaram imenso porque no tinha levado e vimais tarde que a imagem muito importantepara este pblico. O livro deve estar viradopara eles e no para ns e vamos contando,ao mesmo tempo que se passam as pginas.Normalmente escolho livros com muitas ima-gens e poucas letras.

    Na minha ltima sesso, contei sobre lendas ehistrias de vrios pases, como que uma viagem,levei uma velha mala de cabedal com pequenosobjectos tpicos desses pases, utilizando-os paraintroduzir o pas e a histria, correu muito bem.

    (Descobri ao utilizar umas bolas chine-sas que servem para exercitar as mos e aomesmo tempo aliviar o stress, que estas fa-zem um som muito suave e engraado e achoque as vou utilizar numa prxima vez, comomsica de fundo, pois do um som mui-to agradvel. Assim descobri uma tcnica).As narrativas tm de ser bem escolhi-

    das, pois nem todas do uma boa histriapara ser contada, tenho aprendido issocom as minhas experincias e tenho perce-

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    bido que no devem ser demasiado lon-gas, nem devem ser muito pormenorizadas.H excelentes contos que perdem tudo quando socontados. Eu escolho sempre narrativas que medigam alguma coisa, que eu as sinta, pois s assim

    possvel que eu as consiga transmitir aos outros.Quem contador prossional, que no o meu caso,pois sou amadora, por vezes tem de contar aquelahistria, goste ou no goste, porque algum solicita.Se um dia tiver de o fazer, contarei claro, masno sei bem como ser.

    5.) O que faz um bom con- tador de histrias: o impro- viso, a oralidade, o c o n h e -cimento de histrias,os gestos, a postura()?

    Rui Ramos: Para alm dessas caractersticas,um bom contador destaca-se dos restantespelo prazer que sente ao contar histrias e pela re-lao que estabelece com o pblico, pois esta vai ser

    fundamental para que a sesso seja bem-sucedida.

    So Bernardes: Penso que em parte j respon-di a esta pergunta na anterior. H contadores

    que nascem com um poder de improviso muitogrande, natural neles e isso que os distinguecomo excelentes contadores. H outros que pre-cisam de trabalhar mais para que o consigamfazer, mas de facto um aspecto extraordinaria-

    mente importante. odos os outros factores quemencionas na pergunta so importantes e nelesque consiste o grande trabalho que est por detrsde uma histria bem contada.

    Quem conta histrias de fantasmas e no faz o ba-rulho das correntes destes quando sobem as velhasescadas de madeira, no rangem quando abremuma porta no sto abandonado, e no grita e pulade susto quando lhe cai um rato em cima ou umamo decepada? udo isto muito importante.

    6.) Consideras que ouvirhistrias importante noprocesso de desenvolvi-mento das crianas? Oque te d mais prazer emcontar histrias?

    Rui Ramos: Contar histrias fundamentalpara o desenvolvimento das crianas e parao fortalecimento dos laos afectivos com os seuseducadores, pois juntos, discutem e do respostaa muitas das dvidas e receios que as apoquentame que so abordados e trabalhados pelos contos.

    Nestes momentos passados em conjunto com oseducadores (progenitores, outros familiares ouprofessores e colegas da escola) transmite-se umasensao de segurana criana que fundamen-tal para o seu equilbrio emocional. Uma crianaque gosta de ouvir histrias tem uma maior capa-cidade imaginativa que ser essencial no futuropara a resoluo de problemas abstratos e mais

    complexos. Mas ouvir histrias no so s impor-tantes para as crianas, os adultos tambm ne-cessitam de as ouvir. Quantas vezes, os pais

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    Descobre as suspresas do Mergulho no mundo dascores no espao Era uma vez e torna a leitura nummomento mais divertido e fascinante!

    Sacos de Histrias: Uma mo no saco... vrias peas na mesa... e uma histria..."Era uma vez..." permite dar largas sua imaginao e a todos a sua volta.Um pequeno saco que poder transportar facilmente, com 6 ou 4 peas, que sendotiradas sorte vo imprimir o rumo da sua histria. Aps a primeira volta, viram-seas peas e a histria continua...Momentos de diverso para toda a famlia, para asclasses de aula, ou mesmo para simples momentos de lazer.Estes pequenos sacos de histrias esto divididos em conjuntos temticos de 4 peas(8 desenhos), sendo que existe um geral com 6 peas (12 desenhos). As peas sopintadas mo em madeira, de dimenses 5cm x 5cm x 3mm. Sendo uma pinturaartesanal nenhuma exactamente igual a outra.

    Recomendaes:- As peas no podem ser colocadas em gua para se lavar;- No conveniente estarem expostas muitas horas de seguida ao sol;

    Novos temas para breve...Aceitam-se encomendas de peas individuais ou temas escolha.

    Locais onde pode ver:- Blog do Mergulho no Mundo das Cores;- Pgina do facebook: https://www.facebook.com/EraumvezMergulhonoMundo-dasCores; https://www.facebook.com/MergulhoNoMundoDasCores;- Livraria Gatafunho (Oeiras - http://editoragatafunho.blogspot.pt/p/livrarias.html)

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    1.) Quando ecomo comeou ogosto pela escri- ta? Essa paixo j vem de longe.Acho que nasceu comigo o gos-to por criar histrias. J o faziamesmo antes de saber ler e es-crever. Quando era criana cos-tumava pegar nos livros escolaresda minha irm, ia para a janelae ngia que lia. Inventava umahistria, com princpio, meio e

    m, de tal maneira que as pes-soas que passavam na rua ca- vam muito surpreendidas e im-pressionadas por acharem que umacriana com 3 anos j sabia ler.Ao crescer, reparava na minhairm. O prazer que ela obtinhana leitura despertava-me sempregrande curiosidade e um desejoenorme de os poder ler tambm.Devia ser maravilhoso ler paraconhecer histrias emocionantese locais que de outra maneiranunca ouviria falar. Para mim oslivros sempre foram mgicos! A

    melhor coisa do mundo era ter

    um livro nas mos. Aquilo erauma espcie de tesouro! Mal es-perava o dia para aprender a ler.Por isso assim que comecei a ler,nunca mais parei. Depois apre-nder a escrever foi uma alegriaconstante. Foi uma liberta- o poder escrever tudo o queme vinha cabea. Da a es-crever o primeiro livro e desco-brir aquilo que eu instintiva-mente j sabia, foi um pulinhoO que eu queria mesmo fazerera escrever livros e encantar,apaixonar e entusiasmar aspessoas com eles, tal como eume entusiasmava com alguns.

    2.) O que a suaescrita diz de si?

    Que sou uma pessoa apaixonadapela vida, pelas pessoas, pelaHistria Para mim muitoimportante partilhar o que es-crevo com os leitores e ter anoo de que o livro lhes vaiinteressar, ao ponto de se torna-rem meus leitores is. Se fosses para mim, sem ter a preocu-pao de escrever algo que lhespossa agradar e entusiasmar,no valia a pena publicar, comome parece evidente. Se for spara ns, basta escrevermos eguardarmos na gaveta, comoalgo muito pessoal. Gosto demanter um contacto prximoe muito personalizado com osmeus leitores. roco mensagensde telemvel, e-mails e telefone-mas com eles, porque uma

    forma de receber o feedbacke de saber se de facto a minhamensagem chegou, se os tocoue surtiu efeito. E tenho sempre

    surpresas muito agradveis!

    3.) Que marcadeixa nos seuslivros?Muitas e as mais variadas. Jtive provas disso com dois ra-pazes, em escolas diferentes.Um deles, o Filipe, detestavaler e a professora de portugus j tentara que ele lesse vriascoleces diferentes, mas elenunca os acabava, pois abor-recia-se a meio. Num trimestrea turma trabalhou Os Aventu-reiros na Gruta do esouro eele, tal como os outros colegas,leu-o. O resultado que adoroue acabou ainda antes dos outros.Quando eu l fui, a convite daprofessora, ele disse-me quelhe parecia que estava a ver umlme e se tinha sentido trans-portado para dentro do livroonde as personagens estavam junto dele. A partir da tor-nou-se um dos meus mais isleitores. O Diogo tinha o mesmoproblema e uma professora queestivera a estagiar nessa escola eque agora estava em Caldas da

    Rainha, lembrou-se e disse-memais tarde: Vou espetar-lhecom um livro d Os Aventu-reiros e vamos ver se continuaa no gostar de ler. Ele gostoutanto que um dia apareceu emminha casa a pedir-me para lhe vender os restantes livros, queestavam esgotados nas livrarias.Num dos meus livros h atuma dedicatria para ele. Osprofessores notam melhoriaspor parte dos estudantes, poiscam com mais vontade deler e isso ajuda-os a entender

    Entrevista :IsabelRicardo

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    a matria, pois cam com ummelhor vocabulrio, alm delhes estimular a imaginao edesenvolver a inteligncia.

    4.) Que gneroliterrio preferee s c r e v e r / e x -plorar: litera- tura infantil, a juvenil ou ro-mances histri-cos?

    Gosto de todos. graticanteescrever para qualquer idade.A partir de uma determinadaaltura resolvi escrever para to-das as idades, tentando ac om-panhar os leitores desdepequeninos at adultos.O sentido de humor uma dascaractersticas que me dene eque aponto como estruturantedos meus livros. Esse, aliado aomistrio, aventura e suspense,so os principais ingredientesque gosto de polvilhar ao longodos enredos, seja para crianasou para adultos.

    5.) O que a inspi-ra a escrever?

    Eu inspiro-me em muitas coi-sas, desde paisagens, castelos,msicas que oio, etc. Para mim muito difcil apontar uma dasprincipais fontes de inspirao.As ideias costumam surgir-meem catadupas, bombardeando-me a mente sem avisar e no estranho para mim estar apensar em vrias histrias aomesmo tempo, histrias com-pletamente diferentes. Desde

    o enredo do 12 volume dacoleco d Os Aventureiros,como o 3 volume da trilo-gia Porto do Graal, o enredode um romance histrico quetenho na cabea no momen-to, histrias infantis, para apequenada. Enm! A minhacabea est sempre a pensar emnovas histrias. No consegueparar.

    6.) Que impactosente que as suasobras deixamnos leitores e naliteratura por- tuguesa?Na minha trajectria enquantoescritora, j fui ao encontro denovos leitores que no tinhamqualquerapetncia para a leitu-ra e que encontraram nos meuslivros o prazer de ler e a capa-cidade de os ajudar a descobrirnovos horizontes e isso ex-tremamente graticante paraum escritor. Saber que de al-guma maneira contribumospara o enriquecimento pessoalde uma criana/jovem/adulto.Quanto ao impacto na literaturaportuguesa gosto de pensar que

    a enriqueci. anto as crianas,os jovens e os adultos gostammuito dos meus livros e ex-pressam-me sempre isso quan-do estou com eles, ou atravs detelefonemas ou e-mails. Receboat e-mails de leitores do Brasil.A questo dos valores um ali-cerce muito patente nos meuslivros, principalmente nos quese destinam aos mais novos.Procuro sempre no descuraro sentido didctico da narra-tiva. enho a preocupao deassociar a pedagogia ao mun-do fantstico da Literatura,de procurar que as histriastenham alguma profundidade,uma mensagem importanteque tento transmitir de formaa que eles absorvam ticas mo-rais e que se venham a tornaradultos melhores, mais sen-sveis e responsveis, mas deuma forma leve. A camarada-gem, a amizade, o respeito pe-los outros (sejam eles pessoas,

    animais ou a prpria natureza),o no fazer distines, a hu-mildade e a solidariedade soalguns dos valores que salti-tam das minhas histrias.

    7.) Pode falar--nos um poucosobre o seu livroO ltimo Con- jurado?O ltimo Conjurado sem-pre foi muito importante equerido para mim. Eu adoroescrever, adoro a Histria dePortugal e ter tido a inspiraode escrever sobre uma pocato empolgante como foi a darestaurao da nossa liberdadee independncia, perdidas du-rante sessenta anos, foi mui-to entusiasmante para mim.

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    um livro especial, tan-to para mim, como para osleitores. Um livro que invaria- velmente lido mais do queuma vez, provocando umentusiasmo e um carinho

    quase familiar nos leitores.

    al como j disse noutra en-trevista, tem todos os in-gredientes para um romancehistrico de sucesso: Umenredo empolgante, uma nar-rativa dinmica, rigor histri-co, personagens fascinantes,momentos deliciosos e muitomistrio, paixo e suspense.

    O ltimo Conjurado vaiapaixonar e prender o leitor,desde a primeira pgina. Acerta altura da sua vida vai

    ter a tentao de o reler e adescobrir pormenores quelhe passaram despercebidosna primeira leitura, j que,possivelmente, na leitura ante-rior, o livro foi devorado commuito entusiasmo e pressa

    8) Considera oromance histri-co uma formamais aliciantede escrever e

    ler uma passa-gem histrica verdica?

    Sem dvida. emos momentosda nossa Histria que dariammuitos romances e lmes em-polgantes. s procurarmos!No entanto, se no estiveremescritos de forma apelativa ecativante, muito difcil que aspessoas leiam, excepto os estu-diosos e investigadores. Sempreachei muito importante apren-der alguma coisa enquanto se l.Se podemos associar o prazer daleitura aprendizagem de outroassunto isso excelente, no ?

    muito entusiasmantepara mim poder mergulharnaquelas pocas, sonhar comelas, transportar-me para l, viver aqueles momentos, vibrarcom as personagens, e desco-brir factos ou pormenores to

    interessantes que no resistoa transmiti-los aos leitores,proporcionando-lhes esseprazer. So os meus cmplicese acho que eles sentem essacumplicidade. enho escolhidoos mais emocionantes a c o n -t e c i m e n t o s , desde a Rev-oluo de 1640, como a crise de1383/85, as invases francesas.

    9.) Qual o seuprximo projetoliterrio?

    enho vrias. Continuar acoleco Contos Marotos einiciar a do Bosque SempreVerde para o pblico infan-til. Para o juvenil continuarcom a coleco d Os Aven-tureiros e terminar a trilo-gia Porto do Graal. ambmtenho outra coleco em men-te que gostaria de comear.

    Em relao aos livros para osadultos, pretendo escrever out-ros romances histricos, nome-adamente a continuao das in- vases francesas, j que tenhoum livro que decorre durante

    a primeira, A Revoluoda Mulher das Pevides.

    ...da leituraconjunta noCantinho......a histria simplesmentefantstica. Dos melhoresl i v r o s que li este ano.Todas as personagens estobem, cheias de garra, comcaractersticas bem distintase, por isso, nicas..., MariaPrattz - Cantinho do Fiacha.

    ...De um modo geral estou agostar. Adorei a dedicatriainicial. Gostei dos dilogos

    em espanhol da poesia no ini-cio de cada capitulo acho queembelezou mais a histria.Outro aspecto de que gos-tei bastante o facto de termuito dilogo a histria emvez da mauda narrao.Os aspectos que estou a gos-tar menos, acho a leitura um pouco juvenil... , Luisa Ber-nardino - Cantinho do Fiacha

    Achei imensa piada s teoriasque se foram criando em tornodo livro, bem como da partici- pao da prpria autora na lei-tura. Acredito que lhe tenhamos proporcionado umas quantasgargalhadas ao longo destassemanas e ela bem que nostentava baralhar como desen-rolar da histria , Soa Panela -h t t p : / / d e l i c i a s a l a r e i r a .b l o g s p o t . p t / 2 0 1 4 / 1 1 / o -u l t i m o - c o n j u r a d o . h t m l

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    Gostei muito da histria.Achei-a um mimo, repleta deaventuras, suspense, momen-tos de aio e de euforia, eque consegue muito bem dar aconhecer um perodo to im- portante da nossa Histria.Tem todos os ingredientes nasdoses certas, a meu ver. A au-tora conseguiu transmitir osacontecimentos, criando muitosatrativos e mistrio de forma aagarrar o leitor. Para quem gos-ta de Histria, como eu, este um romance histrico perfeito,como tinha referido anterior-mente. Uma histria leve, diga-

    mos, repleta de aventuras e devalentia, como era naquele tem- po em que os garbosos jovensandavam sempre procura demil aventuras. Fez-me lembrar,em alguns momentos, Os TrsMosqueteiros, de AlexandreDumas, obra que eu tanto gosto,Miss Lamora - http://oimaginari-odoslivros.blogspot.pt/2014/11/o-ultimo-conjurado-de-isabel-r icardo .h tml?view=sidebar.

    ilustrao do Capito Gualdim, por Maria Roseta (Miss Lamora)

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    Quem j no acordou algum dia

    com a certeza de que tudo vai male no h nada a fazer?

    Quem j no se sentiu

    como um peixe fora dguaem um mundo pra l de estranho?

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    http://editora.cosacnaify.com.br/Autor/1710/Shaun- an.aspxhttp://obviousmag.org/archives/2013/02/shaun_tan_o_tradutor_de_ideias_

    de_crianca.html#ixzz3JuMAABpE

    SHAUN

    TAN

    Shaun an nasceu em 1974na zona oeste do pas, Aus-trlia. ornou-se conhe-cido como ilustrador e au-tor de livros para crianas.

    Nos seus tempos de adoles-cente, ilustrou poemas e contosrelacionadas com a sociedade,poltica e a histria, bem comoa fazer desenhos de dinossau-ros, robots e naves espaciais.Comeou, j nessa altura,por pintar e desenhar ima-gens para contos de horror

    e de co cientca em re- vistas de pequena tiragem.

    J trabalhou como designerartstico, de teatro, e fez t r a -b a l h o s de arte conceptualpara alguns lmes, como Wall-E, da Pixar. Enquanto artista

    freelancer, esteve envolvidoem inmeros projectos, experi-mentando sempre coisas no-

    publicados e muitos prmiosno currculo, tornou-se mun-dialmente conhecido por seuestilo narrativo inconfundvel epela versatilidade de seu trao.

    Para Shaun an, as ilustra-es so o principal textode seus livros. Em Con-tos dos Subrbios , ele ten-tou transpor a atmosfera doscontos para os desenhos, nosquais utilizou tcnicas varia-das pintura a leo e tintaacrlica, guache, grate, cane-

    tas hidrocor, colagem e outras.Para chegar ao resultado sur-preendente que vemos em suasobras, Shaun trabalha tambmcom muita pesquisa: As boasideias no aparecem, voc pre-cisa procur-las. Entre suasprincipais referncias esto os

    artistas Edward Hopper, SmartJeffrey e Hieronymus Bosch.

    vas, segundo o prprio. O semnmero de prmios que recebeuenquanto artista deixa anteverum talento inequvoco ou umacapacidade de trabalho e de su-perao constante. Ou ambas.Iniciou a carreira de ilustradorem revistas de co cientca.

    Ainda inexperiente no uni- verso da literatura infantil,comeou a enviar seu port-flio para diversas editoras.Em 1997, quando foi con- vidado a ilustrar seu primeiro

    livro, Te Viewer [O obser- vador], de Gary Crew, Shaun

    an no poderia imaginarque catorze anos depois se-ria consagrado com o AstridLindgren Memorial Award,um dos principais prmios domeio, em reconhecimen-

    to sua contribuio para aliteratura infantil interna-cional. Hoje, com onze ttulos

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    Shaun an no queria escrever uma grande

    histria. Pelo menos no era o que tinha emmente quando comeou a rabiscar, na mesa dacozinha, um homem e um caranguejo enormena praia. O australiano tinha acabado de ver afoto de um caranguejo azul em uma revista eps o homem ali apenas para dar uma noode escala. No havia enredo nem ideia ge-nial por trs. Mas eles pareciam conversar. Edaqueles esboos surgiuA Coisa Perdida que, publicada em 2000, conquistou uma men-o honrosa na Feira Internacional do livro deBolonha, tornou-se pea de teatro e ganhou umscar de melhor curta de animao de 2011.

    Ento, querem ouvir uma histria?Bem, eu dantes sabia algumas muito in-teressantes. Umas eram to divertidasque vos fariam rir a bandeiras desprega-das, outras to terrveis que no iriamquerer repeti-las a ningum. Mas nome lembro de nenhuma dessas. Por issos vos vou contar uma, a daquela vez em

    que encontrei a coisa perdida No original, Te lost thing, foi publicadoem 1999 e inspirou Shaun an a realizar uma

    curta metragem, que recebeu, em 2011, o s-car de Melhor Curta Metragem de Animao.

    A histria -nos narrada na primeira pessoa,pelo prprio protagonista, um jovem colec-cionador de caricas, que em tempos distantespasseava pela praia e que pela primeira vez va coisa. Uma marca na paisagem da praia, umcorpo grande revestido por uma armadura deum metal desconhecido, com portas e gavetas,uma chamin lateral, uma tampa no cimo tipocafeteira, diversos suportes, pernas e sininhos.

    Algo completamente dissonante, estranhoe que no se parece com nada conhecido.No entanto, mesmo tendo em con-ta a sua dimenso, ningum lhe pres-

    ta ateno, como se no existisse. E essa noo da indiferena que causa s pessoasque passam por ela que faz com que se sinta triste.O rapaz que sente pena desta enorme coisa,aproxima-se e estabelece uma relao com ela.Simpatizam um com o outro e ele tenta arranjarum lugar, onde ela pertena, onde se sinta bem.So as imagens que nos contam a histria, en-quanto as palavras apenas comentam os factos.

    Mais uma vez Shaun an opta pela apresenta-o de imagens diversicadas que passam pelassequncias curtas com dilogos entre as per-sonagens, como o tpico desenho da banda de-senhada, s paginas cheias s com uma imagem,ou sobrepostas como se de colagens se tratasse.

    A histria simples mas desenrola-se diantedos nossos olhos carregada de ternura e me-lancolia, numa linguagem desenhada esub-til . O problema da excluso por ser diferente,a indiferena perante os outros na vida quo-tidiana e a amizade so temas que aqui se en-contram bem retratados, numa sociedadecinzenta e estril, povoada de gente aptica.Duas guras solitrias que se unem embusca de uma causa (um lugar para a coi-sa) e sobre a qual nada sabemos, mas queterminado o livro, nada camos a saber.

    Um livro magnicamente ilustrado que no descu-ra qualquer pormenor, desde a fantstica colecode caricas nas guardas da capa, aos fundos das p-ginas de cor spia que imitam folhas de antigos

    A Coisa Perdida

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    manuais tcnicos de fsica e lgebra sobre as quaisse conta a histria. O mundo retratado com coressem vida, cinzentos, beges e cor de ferrugem.

    Sendo um livro para crianas, coloca-nos, ans adultos, a pensar neste futuro prximo,onde a tecnologia e a industrializao nos po-

    dem levar a agir apaticamente, sem vermos oque nos rodeia, nem darmos importncia aqualquer coisa que surja no nosso caminho.

    De vez em quando ainda penso naquelacoisa perdida. Sobretudo quando vejopelo canto do olho algo que no encaixa.Sabem, algo com um aspec-to tipo estranho, triste, perdido.

    No entanto, ultimamente vejo cada vezmenos esse gnero de coisa. alvez jno haja por a muitas coisas perdidas.Ou talvez eu tenha apenas deixa-do de reparar nelas. Demasiado ocu-pado a fazer outras coisas, se calhar.http://folhasdomundo.blogspot.pt/2013/09/a-coisa-perdi-

    da-de-shaun-tan.html

    O video que ganhou o scar de Mel-hor Curta Metragem de Anima-o em 2011 (legendado em brasileiro):

    http://www.youtube.com/ watch?v=t1YG7ZXfC6g

    O que a coisa perdida?

    No h respostas claras. Oprprio Shaun an vive en-contrando novos signica-dos: crtica ao racionalismoeconmico, buracracia e alineao, transio da in-fncia para a idade adulta.

    Uma frase o narrador prevalece: Essa a histria.E, por favor, no me pergunte qual a moral.

    Shaun Tan: Esta uma boa questo. Pode-ria dizer que toda a histria , na verdade, ape-nas um modo elaborado de perguntar isso. Paraser honesto, no sei! por isso que gosto muitodela. Originalmente, imaginei uma criatura que pudesse ser levada praia pelo mar, um mutantede um estranho acidente de fbrica ou aindaalgo do espao, mas percebi que essas explica-es no so importantes. Simplesmente gosteida ideia de um animal amigvel, que no vemde lugar nenhum e no pertence a lugar algum.

    Qual o lugar para as coisas perdidas?

    Shaun Tun: uma espcie de lugar nenhum,sem nomes ou signicados, onde qualquer coi-sa possvel e nada pode ser classicado: o re-ino da possibilidade pura. Se ele existe em al-gum lugar, s ultrapassar a fronteira de cada palavra ou pensamento consciente, sempre prxima, mas nunca inteiramente visvel, e facil-mente esquecida quando camos mais velhos.

    O mundo real tem muita coisas perdidas?

    Shaun Tan: Sim, acho que uma coisa per-dida qualquer uma que ns possamos igno-rar porque muito difcil, inconveniente oudesagradvel para tentar entender ou fazeralgo a respeito. Essas coisas podem ser objetos,animais, pessoas, situaes ou apenas ideias.

    http://www.portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Regionais/108700/Documentos/

    DO -P/EDUCA%C3%87%C3%83O%20INFAN IL/1%C2%BA%20encontro%20jornada%20peda-

    gogica%202013/A%20COISA%20PERDIDA%20-%20SHAUN%20 AN.pdf

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    T a n A Coisa Perdida

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    A rvore Vermelha um livro que se encontraclassificado como sendo um livro para crianas.No entanto um livro bastante diferente docontexto que os livros infantis, na sua maio-ria, transmitem aos nossos pequenos leitores.Quase todos eles, no passam sem uma liopedaggica, ou sem uma moral da histria , oumesmo sem as ideias preconcebidas e estipuladasdaquilo que os livros de criana devem conter.

    Shaun an no se preocupou com estas teo-rias. odos os seus livros acabam por ser en-globados nesta classicao, mas o autor pre-

    ocupa-se mais em transmitir sentimentos.Sentimentos que passam por uma melanco-lia, uma tristeza de que algo no est bem,ou de que nos falta alguma coisa, ao mesmotempo que a esperana surge de uma forma t-nue e que vai crescendo suavemente ao longodos livros. Se queremos que os nossos jovensleitores sejam pessoas saudveis e emocional-mente estveis, ento eles devem desde cedoter contacto com estes sentimentos, estas re-alidades disfaradas em histrias e poesia.

    A rvore Vermelha uma poesia em grandeformato. As imagens grandes e extremamentemarcantes acentuam as poucas palavras queexistem em cada pgina. O mundo surge tristee agonizante, no qual a protagonista se senteperdida, desanimada e s, mas que de repenteela descobre, mesmo ali sua frente, um sinal,uma pequena luz, a esperana de que precisapara vencer todo o desnimo e toda a tristeza.Quantos de ns, adultos no nos senti-mos assim, em certos (ou muitos) dias.Por vezes, o dia comea sem expectati-vas e as coisas vo de mal a pior. A tristeza

    apodera-se de ti, ningum te compreende.O mundo uma mquina in-sensvel sem lgica nem sentido

    Por vezes tu esperas, e esperas, e esperas, e esperas,e esperas, e esperas, e esperas mas nada acontece Neste livro, Shaun an explora outras tcni-cas, as imagens a leo e colagens, so grandes,marcantes (como j referi anteriormente, peodesculpa pela repetio, mas esta propositada),intensas, cujo objectivo causar impacto. O texto simples e sem pontuaes, mas potico, explo-rando as emoes que transpiram nas imagens.

    um excelente livro, que a todos, crian-as e adultos, permite descobrir o valor dasolido, da incompreenso, onde tudo seagiganta, mas que ao mesmo tempo nos en-sina a acreditar na importncia da esperana.

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    A rvore Vermelha

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    Editado em 2006, Te Arrival foi vence-dor do Prmio da Melhor Banda Dese-nhada no Festival de Angoulme de 2007.Em Portugal saiu pelas mos da Kalandra-ka, em 2011, com o ttulo de Emigrantes.

    De capa castanha, imitando um lbumde fotograas antigo, que nos obriga arepensar o tempo presente, deparamo-nos com 128 pginas a spia, que nostransportam para um mundo mgico.Uma histria sem palavras, paginas cheias

    de imagens, espectacularmente desenha-das a grate e detalhadamente trabalha-das, que nos contam a vida de quem deixaa sua terra para procurar uma nova vida emoutro lugar, deixando para trs a famlia, osamigos, e todos os anos da sua existncia.Como tantos portugueses, outrora zeram(e agora cada vez mais novamente) o per-sonagem principal desta histria, caminha descoberta de uma cultura diferente.

    fcil identicarmos, nas imagens, (oadulto) ligaes a realidades passadas,como a chegada, de barco, dos emigran-tes europeus a Nova Iorque, a perse-guio dos nazis aos judeus na Europa.Classicado como um livro infantil, pode, naminha opinio, ser lido sob vrios nveis.Como todas as obras de Shaun an, tambm esta

    melanclica, mas que nos toca de uma maneiradiferente, consoante a nossa vivncia ou idade.

    As imagens alternadas, quer em ta-manho quer em pormenores, tam-bm contribuem para a criao de rit-mos diferentes de leitura e de percepo.O desenho, a palavra-chave nesta belssi-ma crnica. Shaun conta-nos a histria atravsdas suas imagens fantsticas, criando um elode comunicao connosco ao mesmo tempoque cria o desenho para que o seu

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    protagonista possa comunicar com os habitantesdesse novo pas (cuja lngua diferente da dele).

    Os desenhos de Shaun an so intensos, fugin-do realidade pela sua estranheza, mas que, poressa mesma razo transmitem-nos as emoes

    profundas e os medos que o desconhe-cido e a solido provocam no ser humano.

    Um livro para nos sentarmos junto das crian-as e com elas percorrer as pginas, perdendo-nos em cada pormenor, em cada detalhe, emcada fantasiaUm livro para ler e pensarUm livro para deslizar o nosso olhar pelasmaravilhosas imagens de Shaun an, uma vez... e outra....e outra....

    Emigrantes

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    Ursula K. Le Guin nasce emBerkeley (Califrnia, Estados

    Unidos da America) a 21 deOutubro de 1929. Filha do an-troplogo Alfred L. Kroeber eda tambm antroploga e escri-tora heodora Kracaw Kroe-ber Quinn. eve uma infncia,segundo a prpria, feliz. Viveunum ambiente que lhe fomen-tou o interessa pela literatura.

    Fruto disso escreveu a sua pri-meira histria aos nove anose aos onze anos submete umconto de fico cientifica famosa revista AstoundinSciencie Fiction, mas re- jeitado. No desanima e con-tinua a escrever, mas notentou publicar nada du-rante os dez anos seguintes.

    De 1951 a 1961 escreveucinco livros que foram re- jeitados pelas editoras porserem demasiado inacessveis,mas no desiste e quando

    comeou a publicar a suaobra no mais parou de cres

    cer em tamanho, mas prin-cipalmente em qualidade.

    Da sua imaginao saramobras mpares como O Feiti-ceiro e a Sombra ( he Wizardof Earthsea), A Mo Esquerdadas revas ( he Left Hand ofDarkness) ou Os Despoja-dos ( he Dispossessed) ape-nas para mencionar trs entremuitas outras belas criaes.Mas o que torna Ursula K.Le Guin extraordinria noso apenas as suas brilhanteso b r a s , mas toda uma ex-cepcional vida. Num gnero(e num tempo) governado(quase) em absoluto por ho-mens ela triunfou pela sua es-crita primorosa e claro pelas

    suas ideias e conceitos. Auto-ras como J. K. Rowling (HarryPotter) ou Suzanne Collins(os Jogos da Fome) vem naesteira de Ursula K. Le Guin.

    Quase trinta anos antes deHarry Potter ter ingressado

    em Hogwarts j Gued tinhaentrado na Escola para Fei-ticeiros na Ilha de Roke, e sepensam que a distopia ondeKatniss Everdenn vive origi-nal porque ainda no leramos livros de FC da Ursula K. LeGuin. A sua escrita maravilhaquem a l e influencia quemescreve, entre estes contam--se nomes como Neil Gaiman,Iain Banks, Salman Rushdie,David Mitchell ou o nossoLus Filipe Silva. tambmuma escritora verstil comuma obra que se estende dosoito aos oitenta, da Fantasia Fico Cientfica, passan-do pela poesia e pelo ensaio.

    As suas ideias e conceitos so

    lendrios e reflectem a nossasociedade em toda a sua multi-culturalidade e acima de tudofazem-nos pensar, como ape-nas os bons livros conseguem.

    Ursula K. Le Guin

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    Prova disso mesmo so livros como A Mo Es-querda das revas ( he Left Hand of Darkness),para muitos a sua maior criao. Parte do cicloHainish retrata a viagem de Genly Ai, embaixa-dor do Ecumnio, ao estranho planeta Gethen que habitado por seres que so hermafroditas que

    apenas na altura de acasalamento denem qual oseu sexo e que podem ser igualmente pais e mes.

    Com a sua mestria a autora leva o leitor num viagem em que aborda uma mirade de assun-tos como o preconceito. ambm nesta obrapodemos encontrar o Ansible, um aparelho quepermite comunicaes instantneas a distn-

    cias impossveis e que aparece no s nos seuslivros de FC do ciclo de Hainish, mas que tam-bm foi usado por muitos outros escritores deFC, como Orson Scott Card ou Dan Simmons,no s como forma de homenagem, mas tam-bm para mostrar a importncia desta escritora.

    Poetisa e ensasta foi como escritora de Fico

    Cientca e Fantasia que se notabilizou efoi sempre com orgulho e sem preconceitosque o assumiu e defendeu e continua a de-fender este dois gneros to marginalizadospelo resto do mundo literrio e acadmico.

    Na sua j longa carreira recebeu mais de sessentaprmios e menes, includo os prmios Nbula,Hugo, Locus, World Fantasy Award entre muitosoutros, demasiados para aqui serem todos men-cionados, mas que atestam bem a sua importn-cia no s para a critica como para os leitores.O ltimo prmio com que foi agraciada foio National Book Award, na categoria Medalfor Distinguished Contribution to Ameri-can Letters (equivalente a um prmio decarreira), no passado ms de Novembro.

    No seu discurso de aceitao mostrou que aosoitenta e cinco anos no s possuidora deuma lucidez invejvel, mas tambm que estatenta ao mundo que a rodeia. Pequeno no ta-manho, o seu discurso profundo e abrangente,no deixando de tocar em muitos a s s u n -t o s que nos deveriam preocupar a todos,seja enquanto leitores, escritores ou editores.

    Desde o desprezo a que so votados os escritores

    de Fantasia e Fico Cientica, passando poruma espcie de aviso sobre o que est para vir emconsequncia das polticas editoriais, ou melhordizendo corporativas , que ns, a comunidade deLiterria, deixamos que aconteam, exortando-nos todos a resistir a este verdadeiro ataque queest a ser exercido em nome do dinheiro, e quenos faz esquecer o que verdadeiramente importa.

    Mas melhor do que as minhas palavras deixo-voscom as dela e que belas palavras so, merecem serlidas e relidas vezes sem conta, mas mais do queisso merecem ser o mote para primeiro pensarmose em seguida agirmos, pois elas so o prennciode algo que vem ai e no nada de bom, mas aindaestamos a tempo de inverter este acontecimentos.

    Leiam e ajam.

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    Discurso de Ursula K LeGuin no National Book

    Awards Aos que me deram este bonito prmio, os meus agradecimentos, do fundo do meu

    corao. A minha famlia, os meus agentes, os meus editores, saibam que o eu estar aqui um feito deles tanto quanto meu e que a recompensa deles tanto quanto minha. E euregozijo-me em aceit-lo e partilh-lo com todos os escritores que foram excludos daLi t e ra tu ra por tanto tempo, os camaradas autores de Fantasia e Fico Cientfica, escri-tores da imaginao que nos ltimos cinquenta anos viram as bonitas recompensas irem para os chamados realistas. Acho que esto a chegar tempos difceis, quando iremos querer as vozes de escritoresque consigam ver alternativas a como vivemos agora e que consigam ver atravs da

    nossa sociedade atingida pelo medo e as suas tecnologias obsessivas para outras manei-ras de viver e at imaginem terreno real para a esperana. Iremos precisar de escritoresque se lembrem da Liberdade, poetas, visionrios, realistas de uma realidade maior.Neste momento precisamos de escritores que saibam a diferena entre a produode uma comodidade de mercado e a pratica de uma Arte. Desenvolver material es-crito para se adequar a vendas estratgicas e maximizar o lucro corporativo e as re-ceitas de publicidade no o mesmo que publicao responsvel de livros e autoria.

    No entanto vejo departamentos de vendas a ter o controlo acima do editori-al. Eu vejo a minha prpria editora num pattico pnico de ignorncia e gann-cia a cobrar a bibliotecas pblicas por um e-book seis ou sete vezes mais o que co-bram a um consumidor. Acabamos de ver uma exploradora a tentar punir umaeditora por desobedincia e escritores ameaados com uma corporativa guerra santa.

    E eu vejo muito de ns, os produtores, que escrevem os livros e fazem os li-vros aceitar isto, deixamos que os exploradores de mercadorias nos ven-dam como desodorizante e que nos digam o que publicar e o que escrever.Os livros no so apenas mercadorias; o motivo do lucro est muitas vezes em con- ito com os objectivos da Arte. Ns vivemos no capitalismos e o seu poder pa-rece inescapvel, mas tambm assim era com o direito divino dos reis. Qual-quer p o d e r humano pode resistir e ser mudado por seres humanos. Resistncia emudana muitas vezes comeam na Arte. Muitas vezes na nossa Arte, a Arte das palavras.Eu tive uma longa e boa carreira e em boa companhia. Aqui no mdela no quero ver a Literatura Americana a ser vendida mais frente.

    Ns que vivemos da escrita e da publicao queremos e devemos exigir a nossa jus-ta parte dos proventos, mas o nome da nossa bonita recompensa no o lucro.

    O seu nome Liberdade.25

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    BibliograaA publicao da obra de Ursula K. Le Guin em Portugal agridoce. Por um lado tivemos asorte de ao longo dos anos os seus maiores e mais signicativos livros terem sido traduzi-dos, por outro, infelizmente, nunca houve uma editora que tenha apostado nela de modo se-rio e publicado a sua obra completa de modo continuo e permanente. Por este motivo a suaobra encontra-se espalhada no por muitas editoras, mas tambm por uma larga faixa temporal.Actualmente na editora Presena onde mais facilmente puderam encontrar alguns dos seus livros.

    A saga erramar poder ser encontrada quase completa. Na coleco Estrela do Mar os primeiro trs volumes, a saber: O Feiticeiro e a Sombra, Os mulos de Atuan, A Praia mais Longnqua e e h a -nu O nome da Estrela, da mesma saga tambm publicaram Num Vento Diferente, mas na colecoVia Lctea. Faltou apenas a publicao da colectnea de contos ales of Earthsea. Na extinta colecoViajantes no empo foram publicados trs livros, dois do ciclo Hainish, a saber A Mo Esquerda das

    revas, o mais conhecido e que infelizmente se encontra esgotado, e O Dia do Perdo. O terceiro O ormento dos Cus. Por m podem encontrar na coleco Grandes Narrativas a obra Lavnia.

    As restantes obras podem ser encontradas principalmente em duas coleces j extintas: a Ar-gonauta e a coleco de Bolso FC da EuropaAmrica. Alguns obras so as mesmas embo-ra com ttulos diferentes. Existem mais algumas obras (romances, noveletas e contos) avul-sos espalhadas por outras coleces, colectneas e editoras. Para quem gosta de procurar nadacomo uma visita arqueolgica a um Alfarrabista ou uma Feira das Antiguidades e tentar a sorte.

    Para uma lista completa da sua bibliograa podem e devem consultar o site Bibliowiki.

    A Vida de Ursula K. Le Guin, um artigo de Marco L

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    livros de Ursula K. le Guin

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    Contos para ler neste natal:

    Lili desceu as escadas, s escuras, a procu-rar o degrau seguinte com a ponta da meiade l. Pisou as escadas juntinho parede,onde os degraus faziam menos barulho.Descuidou um passo e encolheu os ombroscom o chio ninho das tbuas. Se acor-dasse a me e o pai, l se ia a misso secre-

    ta. No havia razo nenhuma para Lili espe-rar pelo dia de Natal para abrir o presente.

    Ebenezer Scrooge um homem avarentoe amargo que no gosta do Natal. ra-balha num escritrio em Londres comBob Cratchit, um funcionrio pobre, masum homem feliz, que pai de quatro lhos

    por quem nutre muito carinho, em especialpelo frgil iny im, o mais novo, que temproblemas de sade.Numa vspera de Na-tal, Scrooge recebe a visita do seu ex-scioJacob Marley, que havia morrido naquelemesmo dia, h sete anos atrs. Marleyd i z - l h e que o seu esprito no consegueter paz, por que no foi bom nem generosoao longo da sua vida, mas que Scrooge temuma hiptese. Para isso, Scrooge ir rece-ber a visita de trs espritos que pretendemfazer dele uma pessoa generosa e solidria.

    Estas onze histrias de Natal podem ser li-das em qualquer poca do ano e em qual-quer dia ou noite que desejares, porque, en-tre outras caratersticas, so das mais belasque j se escreveram ou contaram comonarrativas populares. De Andersen, po-des ler neste livro A pequena vendedorade fsforos e O pinheiro; de Dickens, oConto de Natal; de Hoffmann, O que-bra-nozes; de Henry, O presente dos ReisMagos; de wain, Carta de Santa Claus;e, de chekov, Vanka. Encontras tambmcontos populares que te surpreendero,como A bruxa Befana e os trs Reis Magos,O milagre da estrela de natal, A lenda deSanta Claus e A lenda dos Kallikantzaroi.

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    emos um exemplar de A Cativa deManuel Alves para oferecer. S tens deresponder acertadamente a 5 questesde acordo com o excerto j disponibi-lizado pelo autor no seu blog. Participae habilita-te a ganhar um exemplar au-tografado.Devers responder diretamente noblog a partir do dia 23 deste ms em:http://leiturasdoachaocorvonegro.blogspot.pt/.No nmero seguinte da revista ser di- vulgado o vencedor.Fica atento.

    Passatempo A Cativa.

    Podes ler o excerto aqui:http://juroqueminto.blogspot.pt/2014/10/a-cativa-excerto.html

    Chegmos ao nal de mais umano a altura de fazer o balanodas leituras de 2014.

    1. Nomeia o livro favorito.2. Nomeia o escritor favorito.

    3. Nomeia o livro que mais te surpreendeu.4. Nomeia o livro que menos gostaste.

    5. Objetivos de leitura para 2015.Balano

    l i t e r r i o

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    Livros

    Amizade

    Literatura Ideias

    Fantasia EscritaRomance histrico

    Msica FC Inspirao Criatividade Felicidade

    Esperana Contos ImaginaoConhecimento Poesia Cultura Sonho

    Ler Liberdade Escrita Afecto Ilustrao Mitologia Narrativa Fantasia

    Literatura Jogos Sorte Amizade Crescer ContarFilosofia Drama Encantos Mundos Aprender

    Cantinho do Corvo Fiacha

    AmizadeLivros

    O Cantinho do Corvo Fiacha desejaa todos os seus leitores e amigos, um

    feliz natal literrio e umas boas festas!

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    Revista da autoria dos administradores do Cantinho do Fiacha o Corvo Negro, com a colaborao deSo Bernardes e Marco Lopes.

    Um agradecimento especial participao de Marco Lopes, Rui Ramos, So Bernardes e Isabel Ricardo.

    O Cantinho deseja a todos boas leituras.

    Boasleituras...

    A rvore Vermelha,Shaun Tan