tentativa de fuga de ugio caamanho chama a atençom...

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NÚMERO 51 15 DE FEVEREIRO A 15 DE MARÇO DE 2007 1 Pescanova pretende submeter a Junta apesar da sua escassa incidência no emprego do sector REDACÇOM / Apesar dos esforços que o executivo de Touriño esta- ria a fazer para impedir o abando- no da Galiza de vários estabeleci- mentos aqüícolas que se iriam situar ao largo da costa galega, a multinacional piscatória Pescanova mostra-se inflexível nos seus planos de deslocaliza- çom. Entre as cessons governa- mentais encontrariam-se novas ofertas de localizaçom e a agiliza- çom da redacçom do Plano Galego de Aqüicultura. As razons da atitude da empresa, acompan- hadas de perto pola imprensa galega, parecem responder a umha mera campanha publicitária que pretende submeter a gestom política galega aos interesses empresariais da Pescanova. Porém, nom existem razons de peso para dar azos a semelhante submissom: Pescanova gera umha percentagem ínfima de postos de trabalho em relaçom à desestrutu- raçom do sector piscatório, e os efeitos sobre a costa galega dos seus projectos estám longe de ser compensados pola incidência sócio-laboral e económica das novas instalaçons de piscicultura. Por isso, nom se entende que Portugal aceitasse as exigências do grupo galego, acedendo a situar o complexo da Pescanova num dos espaços naturais mais valiosos da costa lusa. O executivo de Touriño faria bem em deixar de fazer o ridí- culo nas negociaçons com a Pescanova, quando por agora, na seqüência desta polémica, limi- tou-se a cumprir as normativas europeias, nada de mais em defesa da costa galega. / Pág. 10 DESPENALIZAÇOM da interrupçom voluntária da gravidez em Portugal deixa isolado o Estado Espanhol / 08 E AINDA... Opinions de María do Cebreiro, Beatriz Santos, Carlos Velasco, Valentim R. Fagim “Se nós nom tivéssemos estado fortes quando se decidiu que língua éramos, hoje teríamos um maiorquino com ortografia castelhana” Guillem Colom, membro de L’Ambaixada (os Países Cataláns na Galiza) PÁGINA 16 REDACÇOM / Na madrugada do passado dia 13 de Fevereiro o independentista Ugio Caamanho protagonizava umha tentativa de fuga na cadeia de Cáceres, onde se encontra em prisom preventi- va há já mais de um ano e meio. O propósito do preso galego foi frustrado por funcio- nários do centro prisional que imediatamente o transferírom para umha cela de isolamento, onde poderá estar até um máximo de três meses. Na seqüência deste acontecimen- to, vários meios de comunica- çom e colectivos cívicos cha- mavam a atençom para a situa- çom de dispersom em que se encontram tanto ele como Giana Rodrigues, esta última na prisom abulense de Brieva. Amizades e companheiros de militáncia dos dous presos rea- lizam viagens semanais aos dous cárceres para minguarem os efeitos de umha dispersom (no caso de Ugio Caamanho nem sequer conta com a com- panhia de mais presos políti- cos), que também acaba por implicar um castigo acrescido para o ámbito familiar dos mesmos, traduzido inclusive em sério risco de acidente na estrada. NOVAS DA GALIZA viajou este mês às prisons em que se encontram detidos os dous jovens e publica umha completa análise dos efeitos psíquicos da dispersom da autoria do médico psiquiatra Ramom Muntxaraz. / Pág. 15 UMHA POLÉMICA CONVERTIDA EM CAMPANHA PUBLICITÁRIA PARA A PESCANOVA XOÁN LASANTA, VEREADOR do BNG em Foz: “O BNG sempre defendeu para Foz um modelo urbanístico oposto ao que praticárom tanto PP como PSOE” / 05 APRESENTAM RECURSO CONTRA a Secretaria Geral de Política Lingüística por discrimi- naçom normativa / 05 A génese da insubmissom nos anos oitenta analisada por Milucho Romero O conhecido insubmisso galego revê a importáncia de um movimento esquecido em tempos de militarismo global / 13 Tentativa de fuga de Ugio Caamanho chama a atençom para os efeitos da dispersom PODERÁ SER TRANSFERIDO PARA UMHA PRISOM DE CÁDIZ

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Page 1: Tentativa de fuga de Ugio Caamanho chama a atençom ...novas.gal/wp-content/uploads/2016/10/ngz51.pdf · abandono da Palestina à sua sorte, fica inteiramente a nu a renúncia cínica

NÚMERO 51 15 DE FEVEREIRO A 15 DE MARÇO DE 2007 1 €

Pescanova pretende submeter a Junta apesar dasua escassa incidência no emprego do sector

REDACÇOM / Apesar dos esforços

que o executivo de Touriño esta-

ria a fazer para impedir o abando-

no da Galiza de vários estabeleci-

mentos aqüícolas que se iriam

situar ao largo da costa galega, a

multinacional piscatória

Pescanova mostra-se inflexível

nos seus planos de deslocaliza-

çom. Entre as cessons governa-

mentais encontrariam-se novas

ofertas de localizaçom e a agiliza-

çom da redacçom do Plano

Galego de Aqüicultura. As razons

da atitude da empresa, acompan-

hadas de perto pola imprensa

galega, parecem responder a

umha mera campanha publicitária

que pretende submeter a gestom

política galega aos interesses

empresariais da Pescanova.

Porém, nom existem razons de

peso para dar azos a semelhante

submissom: Pescanova gera umha

percentagem ínfima de postos de

trabalho em relaçom à desestrutu-

raçom do sector piscatório, e os

efeitos sobre a costa galega dos

seus projectos estám longe de ser

compensados pola incidência

sócio-laboral e económica das

novas instalaçons de piscicultura.

Por isso, nom se entende que

Portugal aceitasse as exigências do

grupo galego, acedendo a situar o

complexo da Pescanova num dos

espaços naturais mais valiosos da

costa lusa. O executivo de Touriño

faria bem em deixar de fazer o ridí-

culo nas negociaçons com a

Pescanova, quando por agora, na

seqüência desta polémica, limi-

tou-se a cumprir as normativas

europeias, nada de mais em defesa

da costa galega. / Pág. 10

DESPENALIZAÇOM da interrupçom

voluntária da gravidez em Portugal

deixa isolado o Estado Espanhol / 08

E AINDA...

Opinions de María do Cebreiro, Beatriz Santos,

Carlos Velasco, Valentim R. Fagim

“Se nós nom tivéssemos estado fortes quando se decidiu que língua éramos, hoje teríamos um maiorquino com ortografia castelhana”Guillem Colom, membro de L’Ambaixada (os Países Cataláns na Galiza) PÁGINA 16

Tentativa de fuga de UgioCaamanho chama a atençompara os efeitos da dispersom

REDACÇOM / Na madrugada do

passado dia 13 de Fevereiro o

independentista Ugio

Caamanho protagonizava

umha tentativa de fuga na

cadeia de Cáceres, onde se

encontra em prisom preventi-

va há já mais de um ano e

meio. O propósito do preso

galego foi frustrado por funcio-

nários do centro prisional que

imediatamente o transferírom

para umha cela de isolamento,

onde poderá estar até um

máximo de três meses. Na

seqüência deste acontecimen-

to, vários meios de comunica-

çom e colectivos cívicos cha-

mavam a atençom para a situa-

çom de dispersom em que se

encontram tanto ele como

Giana Rodrigues, esta última

na prisom abulense de Brieva.

Amizades e companheiros de

militáncia dos dous presos rea-

lizam viagens semanais aos

dous cárceres para minguarem

os efeitos de umha dispersom

(no caso de Ugio Caamanho

nem sequer conta com a com-

panhia de mais presos políti-

cos), que também acaba por

implicar um castigo acrescido

para o ámbito familiar dos

mesmos, traduzido inclusive

em sério risco de acidente na

estrada. NOVAS DA GALIZA

viajou este mês às prisons em

que se encontram detidos os

dous jovens e publica umha

completa análise dos efeitos

psíquicos da dispersom da

autoria do médico psiquiatra

Ramom Muntxaraz. / Pág. 15

UMHA POLÉMICA CONVERTIDA EM CAMPANHA PUBLICITÁRIA PARA A PESCANOVA

XOÁN LASANTA, VEREADOR do BNG em Foz: “O BNG sempre defendeu para Foz um modelourbanístico oposto ao que praticárom tantoPP como PSOE” / 05

APRESENTAM RECURSO CONTRA a SecretariaGeral de Política Lingüística por discrimi-naçom normativa / 05

A génese da insubmissomnos anos oitenta analisadapor Milucho RomeroO conhecido insubmisso galego revê aimportáncia de um movimento esquecidoem tempos de militarismo global / 13

Tentativa de fuga de UgioCaamanho chama a atençompara os efeitos da dispersomPODERÁ SER TRANSFERIDO PARA UMHA PRISOM DE CÁDIZ

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Que atrás dos tempos vêm temposE outros tempos hão-de vir…FAUSTO

Com certeza venhem maustempos para a frágildemocracia que nos toca

viver aos apouvigados povos dasEspanhas. A impressionantedemonstraçom de massas orques-tradas há poucos dias pola ultra-direita neofranquista em Madriddeixou bem às claras, por sealgumha dúvida pudesse caber aorespeito, que no conjunto desteEstado existe um amplo sector decidadaos e cidadás a sustentar umprojecto político totalitário. Cuidoque nom é possível fazer outraleitura, se temos em conta arelativa teimosia com que essesector tem dado mostras, de umtempo a esta parte, de inequívocoapoio à estratégia desesta-bilizadora do chamado PartidoPopular. E olho! Porque estamos afalar de vários milhons depotenciais votantes, providos deumha capacidade mobilizadoramais que notável e a bênçom depoderosos grupos económicosvinculados ao que poderíamosdenominar caverna mediática.

Vem isto ao encontro doimportante desafio que seapresenta à sociedade galega commotivo das vindouras eleiçonsmunicipais. É bem sabido queunicamente umha cómoda vitóriadas — chamemo-las assim —forças de progresso permitiráassentar o governo bipartido deSam Caetano e garantir umhamínima continuidade da políticareformista do mesmo. Até agoratodo parecia indicar umha sintonia

maioritária dos galegos e galegascom o novo rumo empreendido em2005. Mas, à vista dos últimosacontecimentos, bem poderiamtorcer-se as cousas. Nomesqueçamos a inveteradatendência da nossa sociedade ainteriorizar como própria adinámica de acontecimentosexternos, nomeadamente osespanhóis, em detrimento danossa realidade mais imediata.

Pois bem, o que nos indica aevoluçom desse acontecerexterno? Pura e simplesmente queestamos a assistir a um avanço dasforças da mais negra reacçom. Emterritório espanhol, com umprocesso de paz no País Bascoinfelizmente paralisado e umhaopiniom pública conservadora cadadia mais fanatizada, o fascismo —pois isso e nom outra cousarepresenta, para mim, o PartidoPopular — apronta-se aintensificar a sua conhecidaoperaçom para fazer abalar ogoverno Zapatero. Na arenainternacional, entretanto, após ainvasom do Iraque, o infameassassinato de Sadam Hussein e oabandono da Palestina à sua sorte,fica inteiramente a nu a renúncia

cínica da Uniom Europeia acontestar, sequer timidamente, apolítica imperialista genocida doamo estado-unidense (a merotítulo de exemplo é patética, pornom dizer algo pior, a trajectória doactual ministério espanhol dosAssuntos Exteriores). Todo istosem falarmos do auge dascorrentes xenófobas e a tragédiahumana inerente a umhamigraçom Sul-Norte que nomcessa, nem pode cessar.

É claro que tamanho pano defundo, visivelmente virado para àdireita — apesar de haver tambémsintomas do contrário na AméricaLatina e noutras partes —acrescenta um ‘plus’ de rudeadversidade urgente à próximaconsulta eleitoral. Será preciso,pois, ‘pormos toda a carne noassador’ para esconjurá-la. Quefazer? Sem ánimo de aventurarreceitas milagreiras, eu diria quecumpre um esforço de reflexom eacçom colectiva da parte de todosos implicados. Em primeiro lugar,das forças conformadoras dobipartido. A, digamos, direitacivilizada espanholista represen-tada polo PSOE e o seu sócio degoverno, o nacionalismo mode-

rado (moderado de tam tímido,digo eu), deveriam antes de maisdar umha imagem séria, degoverno minimamente coeso (nomdous governos paralelos, como àsvezes parece) capaz de publicitaras suas conquistas mas também dereconhecer as suas insuficiências ecompromissos incumpridos; e,sobretodo, evitar digladiarem-seentre si, em oferecimento gratuitode um lamentável espectáculo tipopolítica municipal de Vigo.Pedirmos cousas ad maiorem comoumha política nitidamente deesquerda e soberanista é já demais,pois que obviamente nom hávimes para tal cesto.

É neste mesmo quadro deactuaçom responsável, aliás, quecorresponde um certo papel àsorganizaçons situadas à esquerdado BNG, quer adscritas aonacionalismo independentistaquer a outras correntes ideológicasem qualquer caso respeitosas como direito de autodeterminaçompara a nossa pátria. Qual o papel?Pois o de convergirem — ali ondefor possível e sem tentaremdeliberadamente restar votos aoBNG, o que seria nefasto — emplataformas unitárias com vistas a

obterem umha mínima repre-sentaçom que ‘oxigene’ de algummodo o panorama excessivamenteinstitucional e politicamente correctoactualmente imperante na nossapolítica nacional. Considero queseria muito útil para a sociedadegalega ouvir, através darepresentaçom autárquica, novasvozes, ver outras pintas (nom sópessoas engravatadas), ouvirargumentos e confrontar valoresamiúde silenciados mas existentesno nosso corpo social, ou somenteexpressáveis através da acçom derua. É só dessa maneira que osnossos cidadaos se poderámhabituar à necessária polifonia doespectro sócio-político-culturalcom presença real (maior oumenor, essa é outra questom) nanossa terra. Mas para alcançarmosisso, essas forças tenhem de agirsem sectarismo nem espíritomessiánico, dous males endémicosque sempre tenhemcaracterizando muitas delas. Nestesentido, iniciativas interessantescomo as registadas ultimamentena cidade de Vigo podem ver-seseriamente com-prometidas polaestreita visom política de algunsdos concorrentes. Por favor, umpouquinho de siso! Que nom sereiterem mais umha vez os errosde trinta, vinte e dez anos atrás. Opaís nom está para lérias.

Derrotemos entre todos a letalinfluência do PP na nossasociedade; esmendrelhemos o seuplano de se entrincheirar no nossopaís a guisa de bastiom cavernário:eis a tarefa urgente, a angueira detodos quantos quigermos ver estepaís em positivo. Nom falhemosdesta vez. Juízo!

NOVAS DA GALIZA15 de Fevereiro a 15 de Março de 200702 OPINIOM

O PELOURINHO DO NOVAS

Se tens algumha crítica a fazer, algumfacto a denunciar, ou desejas transmi-tir-nos algumha inquietaçom oumesmo algumha opiniom sobre qual-quer artigo aparecido no NGZ, este éo teu lugar. As cartas enviadas deve-rám ser originais e nom poderámexceder as 30 linhas digitadas a com-putador. É imprescindível que os tex-tos estejam assinados. Em caso con-trário, NOVAS DA GALIZA reserva-se odireito de publicar estas colaboraçons,como também de resumi-las ouestractá-las quando se consideraroportuno. Também poderám ser des-cartadas aquelas cartas que ostenta-rem algum género de desrespeito pes-soal ou promoverem condutas antiso-ciais intoleráveis. Endereço: [email protected]

REPROVADO

Se a Cámara de Muros fosse subme-tida a umha hipotética avaliaçom,ainda que algumhas das suas compe-tências merecessem um ‘suficiente’,o atendimento aos cidadaos seria amatéria pendente de recuperaçom.Comecemos por analisar o sítio webda Cámara. Dirijamo-nos ao endere-ço www.muros.es, que tem porobjectivo, polas palavras da saudaçomda presidenta da Cámara CaridadGonzález Cerviño, “ademais de dar aconhecer os monumentos e paragensnaturais, compartilhar algo da históriae do presente do concelho”. Umhagrande verdade esse “algo”, porquetodo nom se pode saber… Estaspáginas web começam por omitirumha paróquia, Sestaio, entre as oitoque componhem o concelho. A infor-maçom, salpicada de erros ortográfi-cos, está bastante desactualizada, e asconsultas via web nom som atendi-

das, já que depois de serem distribu-ídas em funçom do assunto, os desti-natários nom se molestam em dar-lhes resposta. Ademais disto, as actasdas reunions dos plenários já nomsom disponibilizadas na capa do web,já que esta informaçom só foi enviadaà Casa da Cultura, onde se encarre-gam da sua manutençom, duranteuns meses. Agora há que chegar-se àCámara municipal para saber dasdecisons de quem nos governa. Oatendimento telefónico tampouco éo melhor. Depois de fazer umhaprova chamando ao telefone princi-pal da Cámara para perguntar acercado estado do novo plano urbanísticoque se está a elaborar, fiquei com aresposta que já tinha, quer dizer, nen-huma. Umha funcionária respondeucom amabilidade ao telefone, masnom soubo dar-me a informaçomque lhe pedia. “Terias que falar comfulano…”, “podes transferir a chama-da?”, “é que agora nom está…”, “tar-dará muito?”, “pois nom che sei…”,“e tu nom sabes em que estado se

encontra o plano?”, “pois nom chesei tampouco…” fôrom algumhasdas frases da nossa breve conversa.Mas de todas, a pessoal surpreendemais. No rés-do-chao da Cámaramunicipal, em entrando topamoscom um balcom esperando a quealguém se coloque atrás. Se o quequeremos é falar com a presidentada Cámara ou com qualquer outra“personalidade” e calha estaremausentes, ninguém di nem aondefôrom nem quanto tempo tardarámem voltar, de maneira que já pode-mos aquecer o banco numha longaespera. A resposta mais freqüente é“saiu tomar um café”. Para solicitarinformaçom acerca de algumha lei,pedir autorizaçom para reformas,etc., é preciso preencher um impres-so para fazer a solicitaçom e aguardarque a respondam, e ter muita paciên-cia, pois muitas vezes a respostanunca chega depois de uns quantosmeses. Alguns curiosos que já passa-mos por isso e nos atrevemos a per-guntar que foi desses impressos rece-

bemos umha resposta nom mui con-vincente: “vam para aí dentro” infor-mou-me umha funcionária assinalan-do o escritório do secretário daCámara. Haverá neste escritórioalgumha gaveta secreta onde se acu-mulam os pedidos? Ou irám parar aolixo? Reunidas várias queixas, e com opropósito de fazer algumhas suges-tons de melhoria, um colaboradordeste artigo falou com BelarminoManeiro Rey, vice-presidente daCámara, mas ao ver que nom mostra-va muito interesse e parecia maispreocupado com a hora de sair jantar,este dixo-lhe que nom se sentia aten-dido. Em lugar de melhorar o atendi-mento com este cidadao, a respostafoi do mais negativa “ou sais oumando-te detido com a polícia local”.Cousas veredes… Pregunto eu, paraquando serám os exames de recupe-raçom? Em tempo de eleiçons? Comcerteza.

Inés Abeijón CernadasMuros

Tempo sombrio, tempo de esperançaCARLOS F. VELASCO SOUTO

“A IMPRESSIONANTE DEMONSTRAÇOM DE MASSAS ORQUESTRADAS HÁPOUCOS DIAS POLA ULTRA-DIREITA NEOFRANQUISTA EM MADRID DEIXOUBEM ÀS CLARAS, POR SE ALGUMHA DÚVIDA PUDESSE CABER AO RESPEITO,

QUE NO CONJUNTO DESTE ESTADO EXISTE UM AMPLO SECTOR DECIDADAOS E CIDADÁS A SUSTENTAR UM PROJECTO POLÍTICO TOTALITÁRIO”

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NOVAS DA GALIZA15 de Fevereiro a 15 de Março de 2007 03EDITORIAL

André Gide deixou claro que aliteratura nom se fai comboas intençons nem com

bons sentimentos. Cumpriria insis-tir em que a política tampouco. Odiscurso sentimental, do qual o fas-cismo sempre soubo tirar proveitoideológico, ameaça com se conver-ter numha das armadilhas maisperigosas do inconsciente políticoactual.

Um dos efeitos mais perversos dosentimentalismo público é o usoindiscriminado do conceito de víti-ma, figura que dá nome a umhacheia de singularidades históricasliteralmente incomparáveis. Háalgo profundamente errado nummecanismo de pensamento quepermite agrupar na mesma catego-ria os sujeitos de exploraçom capita-lista, da violência doméstica, da dis-criminaçom por raça, da repressompolítica ou da ocupaçom bélica. Aíonde o sentimentalismo sublinha aequivalência de todas as vítimas emtodas as circunstáncias, o respeito àverdade da história exige a diferen-ciaçom.

Mas correm maus tempos para ahistória. Com todos os seus proble-mas, o empirismo e o positivismoeram métodos que dependiam dedados comprováveis. Eram, em últi-mo termo, formas de conhecimentomaterial. Hoje em dia, as denomi-nadas ‘histórias orais’ convertem astestemunhas em juízes. A minhainsistência em dizer que eu estavalá nom deveria garantir a importán-cia do que conto. A subjectividadeda memória pode obscurecer aobjectividade dos factos. Nom sejaque de tanto avisar contra o totalita-rismo dos grandes relatos ficásse-mos impedidos para detectar a par-cialidade dos pequenos.

A centralidade da memória é umdos testemunhos mais nítidos daderiva em que se tem vindo a insta-lar, desde há décadas, a esquerda

ocidental. Debates como o do nega-cionismo, mui vinculados à relaçomdialéctica entre lembrança e esque-cimento, mostram as armadilhasque se escondem atrás da preten-som de conjurar os problemas reaispola via da política de gestos. Nestesentido, o sentimentalismo institu-cional de algumhas acçons vincula-das ao que se deu em chamarmemória histórica poderia estar apôr em perigo a eficácia das práticasde resistência contra a repressom.

A vitimizaçom das pessoas impe-de a soberania das ideias. Cada vezque os poderes públicos usam poe-mas, discursos ou placas para honra-rem a memória dos que combatê-rom pola República, deveriam insis-tir, agora que já é tarde, mais naRepública que nos combatentes.Antepor a exposiçom pública dosrelatos privados ao estudo crítico dahistória colectiva constitui um efei-to desconcertante dessa indistin-çom entre o simbólico e o real à qualnos convida de contínuo o regimede opiniom em que vivemos.

Num momento em que osmemoriais da morte começam aocupar museus públicos e funda-çons privadas, constitui umha obri-gaçom ter presente que as valascomuns nom se chamavam lugaresde memória, senom valas comuns.Ainda ninguém, que eu saiba, seatreveu a qualificar de stress pós-traumático as conseqüências dolongo processo histórico aberto apóso levantamento de 1936, mas seriabom lembrar que a psicologia seocupa das emoçons e a política, dosfactos.

Por fortuna, é fácil reconhecer aperversom sentimental nas lágrimaspreventivas de Bush. Outros exces-sos emotivos podem nom ser tamvisíveis. Pola conta que nos tem,cumpre ficarmos à espreita, opondodureza a quem insista em nos fazerchorar para evitar que pensemos.

DEPREDADORES QUEREM LICENÇA

GONZALO

Memória nom é história(contra o abuso político

do sentimentalismo)MARÍA DO CEBREIRO

APescanova tem contribuído, com outrosgrandes conglomerados pesqueiros, a extin-guir os caladoiros mais importantes do

globo. Esgotado um modelo, o capitalismo sempátria desenha o seguinte, com o único cálculo dasdécadas de rentabilidade que estám por vir, atéque a natureza rebente. A exploraçom industrial dacosta inçada de estabelecimentos de piscicultura éo novo paradigma. Relacionado com ele, a desapa-riçom definitiva da pesca artesanal e o incrementoirracional do consumo de peixe na Europa da opu-lência.

A folha de rota da Pescanova inclui países comoGrécia, Marrocos, Portugal e Galiza. Os planifica-dores sabem que, aqui e acolá, as naçons condena-das aos arrabaldes do progresso devecem comotolas por somar-se a um produtivismo que asmetrópoles rejeitaram há mais de trinta anos.Decerto que nestes países existem políticos comoFeijoo, dispostos a aplaudir qualquer barbaridadeque encaixe na religiom dos ‘postos de trabalho’;decerto que nessoutras latitudes existem também

tatejos como Quintana ou Touriño, incapazes deexibir modelos de um outro desenvolvimentopedindo sítio no carro do progresso com um vernizde verde e sustentável.

Nom foi o povo organizado a parar os pés àPescanova, grupo empresarial especialista em tra-tar com os que mandam, desde que os seus ante-cessores directos forneceram de carne os exércitosfranquistas. Foi a Pescanova a condicionar as deci-sons governamentais, dirigidas a abrir ‘quase todosos espaços’ à produçom industrial de peixe. Anossa costa tam louvada prepara-se para suportarumha arroiada de cimento salpicada de produçonsde enclave; como espaços de excepçom, a consel-haria de turno preparará porventura a ‘posta emvalor’ do património que reste ainda em pé. Ofuturo profetizado e por vezes tam temido nomaguarda muito, já o temos hoje aqui. Para além dosgrandes proprietários, os políticos e a imprensaempresarial, a maioria social – essa que nom possuimais do que esta terra que habita – terá bastantescousas que dizer.

D. LEGAL: C-1250-02 / As opinions expressas nos artigos nom representam necessariamente a posiçom do periódico. Os artigos som de livre reproduçomrespeitando a ortografia e citando procedência. A informaçom continua periodicamente no sítio web www.novasgz.com e no portal www.galizalivre.org

EDITORA

MINHO MEDIA S.L.

DIRECTOR

Carlos Barros G.

CONSELHO DE REDACÇOM

Alonso Vidal, Antom Santos, Ivám Garcia,Xiana Árias, Sole Rei, F. Marinho, GerardoUz, Maria Álvares, Eduardo S. MaragotoAndré Casteleiro

DESENHO GRÁFICO E MAQUETAÇOM

Miguel Garcia, C.Barros, A. Vidal, X. Árias

IMAGEM CORPORATIVA

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FECHO DA EDIÇOM: 15/02/07

INTERNACIONAL

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COLABORAÇONS

Opiniom. Maurício Castro, X. Carlos Ánsia,Santiago Alba, Daniel Salgado, Kiko Neves,J.R. Pichel, R. Pinheiro, Carlos Taibo,Germám Ermida, Celso Á. Cáccamo, JorgePaços, Adela Figueroa, Joám Peres, PedroAlonso, Luís G. Blasco ‘Foz’, Alberte Pagán,Concha Rousia, Xurxo Martínez, AlexandreBanhos, Iván Cuevas, Raul Asegurado,Miguel Penas. Música. Jacobe Pintor. GalizaNatural. João Aveledo. Sexualidade. BeatrizSantos. Língua Nacional. Valentim Fagim.Descobre o que sabes. Salva Gomes. Desportos.Anxo Rua Nova, Xavier S. Paços. Cozinha.Joana Pinto, Miguel Burros, Ana Rocha

FOTOGRAFIA

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CORRECÇOM LINGÜÍSTICA

Eduardo Sanches MaragotoFernando Vázquez CorredoiraVanessa Vila Verde

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NOVAS DA GALIZA15 de Fevereiro a 15 de Março de 2007

NOTÍCIAS

04 NOTÍCIAS

A MARBELHIZAÇOM DA COSTA GALEGA

Após a suspensom do plano urba-nístico de Barreiros, concelho deFoz, governado polo PSOE commaioria absoluta, a Marinha can-tábrica vê como o seu desenvolvi-mento urbanístico é questiona-do pola Junta de Pérez Touriño.

Qual é neste momento a situa-çom no concelho de Foz, depoisdas denúncias contra licençasoutorgadas de maneira desmesu-rada?A situaçom é de um crescimentodesordenado e insustentávelcom um modelo urbanístico queo próprio PSOE, no Governo daJunta, criticou mui duramentepor ser indefensável. É ummodelo urbanístico discricional,que nom atende ao interessepúblico e está fora da legalidade,com mais de 1.300 habitaçonsanuladas pola Direcçom Geral deUrbanismo por nom cumpriremcom o procedimento legalmenteestabelecido ao carecerem derelatório jurídico e serem conce-didas depois da suspensom delicenças.

Como se pudo produzir talnúmero de autorizaçons?Quantas fôrom no total?No concelho de Foz autorizaram-se entre Janeiro e Abril de 2006umhas 3.685 habitaçons mais doque na Corunha ou Vigo em todo2005. A causa é a irresponsabili-

dade de um governo municipalao qual nunca interessou fazerum urbanismo racional e do qualfoi cúmplice activo. Quem seria o grande beneficiáriodas concessons destas licenças?Nom a maioria dos habitantes doconcelho, que se vírom privadosdas mais-valias do desenvolvi-mento urbanístico. Hoje Fozcarece de infra-estruturas ade-quadas para o crescimento urba-nístico que se produziu, tem pro-blemas com a depuradora e arede de esgotos e sobretodosofreu um encarecimento dahabitaçom dos mais elevados daGaliza, de 150% em quatro anos.Isto impede à maioria da popula-çom da vila aceder a umha casa.

Segundo declaraçons do consel-heiro do Trabalho, as obras sóafectavam o núcleo urbano enom iam mais além. É isto certo?Que partes do concelho se viammais afectadas?Varela [conselheiro do Trabalho]saiu em defesa do presidente daCámara após umhas declaraçonsdo mesmo em que ameaçava comcriar umha lista independente seo partido nom o apoiava. As licenças anuladas som em solourbano. O problema é quealgumhas destas obras situam-seem solo urbano nom consolida-do. Deste modo, teria que apli-car-se a normativa para este tipo

de superfície, com as cessonsobrigatórias para dotaços públi-cas e construçom de habitaçomprotegida. Isto nom se fijo pornom estarem adaptadas as nor-mas subsidiárias à Lei do Solo daGaliza.

Denunciou o grupo do BNG oque estava a acontecer?O BNG sempre defendeu paraFoz um modelo urbanístico opos-to ao que praticaram tanto PPcomo PSOE. No passado anomanifestamos preocupaçom polaelevada pressom urbanística noConcelho. Por este motivo apre-sentamos perguntas naComissom de Urbanismo doParlamento da Galiza após umhadenúncia do COAG sobre omesmo assunto. Ao ver que havialicenças sem relatório jurídicopreceptivo também saímos à luz.Em todo o momento moveu-noso respeito à legalidade e a defesado interesse público.

Considera que se aplicará umhasuspensom pola parte do governogalego sobre Foz, do mesmomodo que aconteceu emBarreiros?A DXU mandou um requerimen-to, a 7 de Janeiro deste ano, àCámara de Foz para anular aslicenças de 1.350 habitaçons pornom cumprirem com o ordena-mento jurídico existente. O pre-

sidente de Foz respondeu quenom acataria a resoluçom. Aindahoje nom sabemos que vai fazer aCámara de Foz com este requeri-mento.

Que interesses verdadeirospensa que estarám por detrás detodo isto?Nom som interesses públicos. Odesenvolvimento urbanístico deFoz viu-se acurralado pola grandeprocura de segunda habitaçom,deixando fora o direito e a neces-sidade que existe de primeira

habitaçom. Isto traz umha gran-de especulaçom urbanística,tanto do solo como da habitaçom.

Está toda a costa cantábrica afec-tada de igual modo?Em toda a costa marinhá háumha grande pressom urbanísti-ca, mas os casos de Barreiros eFoz som os mais alarmantes, polonível de edificaçom e por teremgovernos mais fracos e permissi-vos perante as exigências urgen-tes do mercado imobiliário desegunda habitaçom.

“Em toda a costa marinhá existe umha grande pressom urbanística”Xoán Lasanta, vereador do BNG em Foz

Na foto da esquerda, imagem da Praia das Catedrais, na costa da Marinha. Na da direita, efeito da pressom urbanística e da urbanizaçom selvagem sobre a costa, em Benidorm.

REDACÇOM / Um comunicado via correio electrónicochegado ao portal galizalivre.org assumiu a autoria doataque à sede do PSOE de Nigrám, polo que parecedespejar-se a confusom inicial. A ‘casa do povo’ deNigrám apareceu na madrugada do dia 13 com os vidrospartidos e coberta de pintura vermelha, sem que se pro-duzissem detençons. Os três partidos maioritários con-denaram o que considevam um ‘ataque terrorista’, e oPSOE acusara as máfias urbanísticas.Precisamente, a referida reivindicaçom acusa este parti-do de “estar por detrás de operaçons urbanísticas comoo recheio da ria de Vigo”, e assinala a figura de AbelCaballero. Também menciona o delegado do governo,Manuel Ameijeiras, e culpabiliza-o da perseguiçom ‘àdissidência’. O texto acaba com chamadas a lançar ‘aresistência galega.’

Autoria independentista da sabotagem de Nigrám

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NOVAS DA GALIZA15 de Fevereiro a 15 de Março de 2007 05NOTÍCIAS

Umha empresa que produz para Inditex despededuas trabalhadoras por serem sindicalistas

10.01.2007

O ano 2006 foi o mais calorosodesde o registo de dados meteoro-lógicos na Galiza.

11.01.2007

Junta pede ao governo de Madrid70 milhons de euros para os cen-tros galegos de investigaçom con-correrem com os melhores domundo.

12.01.2007

Secretário de organizaçom doPSdeG Ricardo Varela qualificade problema administrativo o sur-gido entre a Junta e o presidenteda Cámara de Foz.

13.01-2007

Portos galegos receberam mais de2.200 milhons de euros para mel-horarem competitividade.

14.01.2007

Rede Natura 2000 pede quepedreiras de seixo na Terra Chásejam compatíveis com uso racio-nal e meio ambiente.

15.01.2006

Protesto dos trabalhadores doJuan Canalejo na Corunha porsaturaçom do serviço de urgên-cias. Conselheira da Saúde avisaque som problemas herdados daJunta de Fraga.

16.01.2007

A Junta e o Ministério daIndústria destinarám 47 milhonsde euros a linha de crédito paraFerrol Terra.

17.01.2007

Reuniom entre Tourinho, Feijó eQuintana para conseguirem acor-do na reforma do Estatuto deAutonomia. Fracasso das negocia-çons.

18.01.2007

Grupos políticos de Vigo, Cámaramunicipal e empresários pedemAVE com compromisso firme dogoverno de Madrid.

CRONOLOGIA

REDACÇOM / Chiquiplancha SL éumha oficina de confecçom querealiza trabalhos para a filial deInditex 'Choolet' em Arteijo. Afinais do passado mês deDezembro realizava as suas elei-çons sindicais contra a vontade dogestor da empresa, que acabou pordespedir as únicas duas candidatase sindicalistas da CIG por meio deum buró-fax durante as suas férias.O dia 14 de Fevereiro a centralnacionalista tinha previsto realizarumha concentraçom perante asinstalaçons da Fundaçom Inditex,mobilizaçom que foi desconvoca-da o dia antes pola irrupçom derepresentantes do gigante que secomprometêrom a “assumir asconsequências das graves irregu-laridades”, conforme indica a CIG

num comunicado de imprensa,evitando assim maiores repercus-sons do caso, mas sem reincorporaras despedidas ao plantel.Quando a empresa ChiquiplanchaSL conhecia o aviso da convocató-ria de eleiçons sindicais para o dia22 de Dezembro, o empresário“pressionou as oito operárias paraque rejeitassem a realizaçom dasvotaçons”, segundo fontes da cen-tral nacionalista. Se nom aceita-vam a chantagem do patrom, esteameaçava com despedi-las. Porém,as empregadas recusárom-se e oprocesso eleitoral seguiu o seucurso. O dia 26 de Dezembro, emperíodo de férias, duas das operá-rias recebiam a comunicaçom dodespedimento alegando “proble-mas económicos da sociedade”,

sem existir nenhum relatório eco-nómico que sustivesse a falta deviabilidade financeira.Mari Carmen Martínez, delegadasindical da CIG emChiquiplancha SL, explica que osdespedimentos das duas compan-heiras estivérom “perfeitamenteplanificados” desde que a centralnacionalista comunicou a realiza-çom de eleiçons sindicais. Opatrom, chamado Francisco Ibar emais conhecido em Arteijo como‘Paco o catalám’, mesmo tentouobrigar as empregadas a assinaremum documento para que desistis-sem da realizaçom da convocatóriaeleitoral.A oficina da Chiquiplancha éumha garagem onde, durante anoite, o proprietário guarda os seus

próprios carros. O local tem máventilaçom e as operárias carecemde um lugar onde se mudarem. Osabusos do gestor chegam ao extre-mo de terem que lavar as operáriasa roupa do mesmo e de toda afamília.Apesar de que a CIG pujo em con-hecimento de Choolet estes fac-tos, a filial de Inditex ignorou sis-tematicamente as irregularidades.A CIG tem suspeitas de que oGrupo Inditex apoiou económica ejuridicamente a Chiquiplancha. O plantel seguia sem receber osalário de Dezembro e as pagasextraordinárias do Natal no fechodesta ediçom. Perante esta situa-çom, as trabalhadoras mantivéromdiferentes jornadas de greve desdea segunda quinzena de Janeiro.

Novo 8 de Março com novas reivindicaçonsREDACÇOM / No próximo dia 8 deMarço, e ao longo dos dias anterio-res, haverá umha série de actos rei-vindicativos do Dia da MulherTrabalhadora. A organizaçom quereúne a grande maioria das organi-zaçons feministas do País, aMarcha Mundial das Mulheres naGaliza vai ter como lema este ano:“Escolhe: compartir ou discrimi-nar”. A mensagem e linha reivindi-cativa deste ano pretende cons-ciencializar a cidadania na valoriza-çom do trabalho que fam as mulhe-res, e portanto fazer ver que, ou secomparte o trabalho entre todos,homens e mulheres, ou se está aincorrer numha discriminaçom defacto. A campanha lembrará comoumha grande parte das mulheres

devem suportar umha dupla jorna-da de trabalho, tendo que conciliarcontinuamente a sua vida laboral eafectiva, que muitas vezes se vêprejudicada por nom poder desen-volver-se, tanto ao nível do casalcomo com as crianças, devido àpressom a que se veem submeti-das. É, portanto, umha campanhaque vai dirigida à sociedade no seuconjunto, pois também se querrecalcar que se as mulheres rece-bessem um salário por todo o tra-balho que realizam na sociedade,nom haveria orçamento que supor-tasse o seu pagamento. As actividades vam ser numerosas,através de cartazes, brochuras eactos locais de apresentaçom dacampanha, nomeadamente nas

cidades. A campanha culminarácom a manifestaçom que se reali-zará a 8 de Março.Além disso, na passada quinta-feira1 de Fevereiro, houvo umha con-centraçom perante o Consulado dePortugal em Vigo, convocada polaMarcha Mundial, em solidariedadecom as mulheres portuguesas noreferendo para a despenalizaçomdo aborto que se realizou emPortugal a 11 de Fevereiro. O actorespondeu a um apelo das redesfeministas do país vizinho parainternacionalizarem e darem maispropaganda ao evento. À concen-traçom acudírom mais de cem pes-soas representativas das principaisorganizaçons feministas galegas e aassistência de umha representa-

çom do feminismo português.Convém lembrar o contexto destereferendo, pois já em 1998 houve-ra outro referendo no país luso emque o Sim à despenalizaçom per-dera por mui pouca diferença. Aonom mudar a legislaçom, nos últi-mos anos foram várias as mulherescondenadas por delito de abortoem Portugal, passando já das duasdezenas as afectadas. Agora, com a vitória do Sim, e àespera de que o governo portuguêslegisle em conseqüência, somainda cinco os países europeus querecusam radicalmente este direi-to: Irlanda, Polónia, Malta, Chipree Andorra, países todos onde a hie-rarquia católica ainda tem umhagrande influência.

Acçom do colectivo feminista Mulheres Transgredindo, a denunciar a situaçom das trabalhadoras no sector textil

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NOVAS DA GALIZA15 de Fevereiro a 15 de Março de 200706 NOTÍCIAS

19.01.2007

Presidente de Pescanova acusa aJunta de nom permitir a centralaqüícola em Tourinhám por umplano do sector realizado poloGoverno galego.

20.01.2007

Famílias de marinheiros galegosdesaparecidos na Namíbia denun-ciam obscurantismo de empresae reclamam melhor investigaçom.

21.01.2007

Touriño anuncia que plano aqüí-cola galego estará preparado naPrimavera e que som muitas asempresas foráneas interessadas.

22.01.2007

Conselharia da Saúde pretendereduçom de listas de espera commedidas organizativas e contrata-çom de pessoal sanitário.

23.01.2007

SEPI considera irrealizável avenda do estaleiro Navantia deFene escusando-se na proibiçomcomunitária para a construçombarcos civis no estaleiro galego.

24.01.2007

Conselheira da Pesca di que aGaliza aumenta por seis a suacapacidade para a recolhida deresíduos marinhos no balanço doplano de contingências por polui-çom marinha.

25.01.2007

Estaleiro Barreras pede que seacelere a resposta sobre o seuplano para a construçom de barcosem Fene.

26.01.2007

Sindicatos espanhóis eConselharia da Indústria pedemà SEPI que fagam público o acor-do UE-Espanha sobre NavantiaFene.

27.01.2007

Audiência Nacional espanholadeixa em liberdade sob acusaçomos implicados galegos no caso doleite negro.

28.01.2007

Começa tratamento psicológicopara pessoas aditas à Internet emcentros galegos.

29.01.2007

UGT di que a SEPI tem razomquando di que o plano de Barreraschoca com acordo com a UE.30.01.2007

Mobilizaçons no Carvalhinho contra matanças de raposasREDACÇOM / Várias centenas depessoas reunírom-se noCarvalhinho a 4 de Fevereiroconvocadas polos colectivosambientalistas Verdegaia,Amigos da Terra, ADEGA,Ridimoas, Outeiro, Couto doFrade e Movimento CívicoMatar por Matar Nom. Com oslogan que dá nome a este últi-mo colectivo, protestavam con-

tra a realizaçom nessa comarca ena do Ribeiro da IV Taça deEspanha de Caça da Raposa, eainda contra outros treze ‘cam-peonatos’ das mesmas caracte-rísticas previstos em diferentespontos da Galiza para estasdatas.O manifesto redigido para a oca-siom assinala o facto de quematanças como as que se reali-

zam nestas convocatórias nomse justificam com base no apro-veitamento cinegético, já que asraposas som simplesmenteenterradas após a sua exibiçom,polo que esta actividade se podeconsiderar simples crime contraumha espécie.Os assinantes reclamam àConselharia do Meio Ambientea modificaçom da Lei de Caça e

a proibiçom da actividade cine-gética nos montes na época decriaçom, já que a actual activida-de contínua nom deixa sossegopara os animais se reproduzireme nom permite a regeneraçomda fauna no seu meio natural, oque torna precisa a solta de ani-mais criados em cativeiro paracaçá-los sem lhes dar tempo ase adaptarem ao novo habitat.

Denunciam atentado ambientalnas Gándaras de BudinhoREDACÇOM / Membros daassociaçom ambientalistaVerdegaia detectárom no dia12 de Fevereiro um grandedespejo poluente e oleoso quecobria totalmente umhasuperfície de mais de doushectares de bosque encharca-do de ribeira nas proximidadesdo polígono industrial dasGándaras e em terrenos quali-ficados como habitat de con-servaçom prioritária incluídosna área natural protegida dasGándaras de Budinho. Outrosdous hectares situados mais asul achavam-se menos afecta-dos ao estarem cobertos porumha mancha superficial quedesembocava, através de umcanal, no rio Louro. Os ambientalistas déromconta do ocorrido aoDepartamento de MeioAmbiente da CámaraMunicipal do Porrinho e aDelegaçom Provincial daConselharia de MeioAmbiente que tomou mostrasdo despejo que, ao que parece,provém de um rego do citado

polígono, desconhecendo-seainda quais as pessoas ouempresas responsáveis. Háuns meses, vários trabalhado-res da empresa mais próximado referido caneiro sofrêromenjoos polo fedor. Suspeita-se que o despejopoluente se tenha realizadouns dias antes, coincidindocom a volta das chuvas, o quepoderia ter relaçom com umhagrande mortandade de peixesno rio Louro à altura de Tui.Perante a gravidade dos factos,os ambientalistas exigírom ainvestigaçom da origem dodespejo poluente, a identifica-çom dos responsáveis e, seassim se determinasse, o ence-rramento da empresa causado-ra de um grave delito ambien-tal com risco para a saúdepública pola provável introdu-çom na cadeia trófica de subs-táncias cancerígenas, polui-çom de solos e aqüíferos comos agravantes de reincidênciae afectaçom a um habitat prio-ritário da Rede EcológicaEuropeia Natura 2000.

FEG aposta na descentralizaçom,a compostagem e a reduçom REDACÇOM / O conselheiroManuel Vázquez reuniu-se como Conselho Galego do MeioAmbiente para apresentar-lhe oanteprojecto de lei de gestom deresíduos sólidos urbanos (RSU).A central de Sogama em Cerzedafora construída para tratar500.000 toneladas de RSU porano, mas actualmente encontra-se sobrecarregada com as mais de800.000 que recebe e das quaissó 10% se submete a processosde valorizaçom. Vázquez falouaos meios em apostar na nova leipor um modelo de tratamento dolixo modernizador e alternativo efijo referência à compostagem e àreciclagem como métodos aimpulsionar. Porém, o problemaactual nom pode limitar-se aoámbito legislativo, já que o planode gestom de resíduos em vigordesde há anos contempla já noseu texto a priorizaçom destesmodelos.O secretário da FederaçomEcologista Galega, TinoQuintenla, assinala a necessidadede fazer umha aposta forte nareduçom em origem, com cam-

panhas para consciencializar oscidadaos e com medidas sobre omercado, penalizando as emba-lagens excessivas para incremen-tar a eficiência, pois menos mate-riais implicarám menos resíduos.Este tipo de medidas já se ten-hem adoptado no Reino Unido,onde está em andamento umprograma de sete anos de dura-çom dirigido a empresas em quese investírom 95 milhons deeuros com o objectivo de poupartrês vezes essa quantidade graçasaos resíduos que nom se iamgerar como resultado do mesmo. Quintenla nomeia também anecessidade de mudar a recolhaselectiva actual, que se centra nasembalagens, por um modelo emque a matéria orgánica seja a quese separe para passar a geri-la emcentrais de compostagem.“Continuar com a incineraçomcai polo seu próprio peso. Os efei-tos estám à vista: uns níveis derecuperaçom de 10%, o resto éincinerado, uns gastos económi-cos enormes... é um modeloinsustentável económica eambientalmente”.

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NOVAS DA GALIZA15 de Fevereiro a 15 de Março de 2007 07NOTÍCIAS

Junta anuncia que aumentará pes-soal contra o fogo e melhorias nasua qualificaçom.

31.01-2007

Nova linha de voos de baixo custocomeça a operar em Santiago.

01.02.2007

Entra em prisom um dos detidosem Ourense por tráfico de armas.

02.02.2007

2.917 novos desempregados naGaliza, mas Junta considera que asituaçom melhora a respeito deanos anteriores.

03.02.2007

Touriño responde a críticas deFeijó em Fitur contra a indumen-tária das crianças nas escolas. Dique a direita espanhola trabalhacom intensidade para atacargoverno da Junta.

04.02.2007

Arde um ginásio em Vigo deixan-do um ferido grave.

05.02.2007

BNG pede que o Parlamentocorrija inexactitude no projecto deDireito Civil.

06.02.2007

UE di que se governo galego auto-rizasse o projecto de Pescanovaem Tourinhám sancionaria aacçom.

07.02.2007

Debate parlamentar sobre o fra-casso da reforma estatutária.Quintana di que Feijó nom écapaz de pedir ao PP em Madrid omesmo que pede ao PP naAndaluzia.

08.02.2007

Conselho da Junta aprova lei paraBanco de Terras impulsionada porconselheiro Suárez Canal.

09.02.2007

A Junta galega e o governo portu-guês confirmam o comboio de altavelocidade entre Ferrol e o Portopara o ano 2013.

10.02.2007

Adolescentes e crianças galegasultrapassam média espanholano uso do telemóvel, segundoestudo recentemente publicadoem diferentes meios de comu-nicaçom.

REDACÇOM / A AssociaçomGalega da Língua (AGAL)apresentou através do seupresidente, BernardoPenabade, um recurso contraumha Resoluçom daSecretaria Geral de PolíticaLingüística, dirigida porMarisol López, em que seregula a concessom de ajudasa entidades que fomentam ouso do galego, excluindo dasmesmas as que usarem umhanormativa diferente da RAG.

Segundo o recurso, a dispo-siçom da Lei 3/1983, em quese baseia a Resoluçom dePolítica Lingüística, em nen-hum caso deveria afectarentidades alheias àAdministraçom Pública enela apenas se “estima” comocritério de autoridade o esta-belecido pola RAG, sem

excluir outro ou outros. Norecurso indica-se ainda que adiscriminaçom de umhanorma de correcçom como ada AGAL é contraditório como Plano de NormalizaçomLingüística e com a própiaLei de NormalizaçomLingüística, nas quais nada sefala da sançom de um deter-minado uso normativo, e lem-bra-se ainda que, na vigentelegislaçom, só no ámbito doensino se impujo umhanorma obrigatória.

Com isto, a AGAL conside-ra que os cidadaos e cidadásgalegas nom estám obrigadospor lei a acatar um determi-nado modelo de correcçomgráfica e a citada resoluçomimplica umha clara discrimi-naçom de amplos sectores domovimento normalizador.

Apresentam recurso contraPolítica Lingüística pordiscriminaçom normativa

REDACÇOM / O Voluntariadopola Língua, organizado polaAGAL e a Gentalha do Pichelem Compostela, anunciourecentemente a formaçom dosprimeiros quarenta pares lin-güísticos. Como informamosno número passado, oVoluntariado consiste em pôrem contacto pessoas que falamhabitualmente galego comoutras que ainda nom domi-nam esta língua oralmente eque nom disponhem de umámbito comunicativo paradarem os primeiros passos.Entre os primeiros 43 pares,juntados depois de um mês decampanha, podem encontrar-se pessoas das mais diversasorigens, da Coreia à AméricaLatina, passando polo Magrebou grande número de paíseseuropeus. Mesmo assim, a

organizaçom do Voluntariadosalientou sobretodo a presençacatalá entre as pessoas apren-dentes. Numha conferência deimprensa realizada emCompostela, a organizaçomindicou que ainda é possíveladerir ao Voluntariado e que asactividades a ele vinculadascontinuarám até Junho, mêsem que se realizará umha festa-convívio entre todos os partici-pantes para trocarem experiên-cias em relaçom aos resultadosdo programa. Também noutras cidades evilas diversos colectivos locaisestám a avançar com oVoluntariado. Em Ferrol e Vigo,os centros sociais Artábria,Revolta, Faísca e a Cova dosRatos contam com o apoio daAGAL e de várias associaçonsvicinais e sindicais.

G.U. / Para minimizar o impactoque tenhem nos orçamentos daJunta os ataques de canídeos sel-vagens, a Conselharia do MedioAmbiente anunciou no passadoVerao a elaboraçom de um Planode Gestom do Lobo e umhanova linha de ajudas, desta vezcom maior vocaçom preventiva –ordem de 3 de Agosto de 2006.O conselheiro, Manuel Vázquez,tinha a certeza de poder aprovaro Plano de Gestom do Lobo nopassado mês de Outubro, mas afalta de consenso em aspectosfulcrais e numerosas alegaçonsimpedírom-lho, de maneira quetivo que manter o sistema desubsídios enquanto nom conse-guir avançar com o projecto.Essa linha de ajudas pretende,em primeiro lugar, prever os ata-ques. Desta forma, subvencionacans mastins para tornar do gado,a instalaçom de pastores eléctri-cos, curros e detonadores de pro-pano para espantar os canídeos.Já em segundo termo pretendecompensar os ganadeiros polaperda de reses. Foi e continua aser criticada a escassa dotaçomeconómica das ajudas, tanto pre-ventivas quanto compensatórias.Por exemplo, a instalaçom devalados eléctricos e curros subsi-diam-se respectivamente com

um máximo de 100 e 60 euros.Por outra parte, as cabeças degado estám pouco valorizadaspola Conselharia: gado ovino,entre 40 euros os exemplaresjovens e até 85 os adultos; gadocaprino, entre 50 e 90 euros,também em funçom da idade;gado bovino adulto, entre 150 e1.000 euros, segundo a raça, aidade e a qualidade láctea ou dacarne.

Oposiçom ambientalista

Especialmente críticas reagíromassociaçons ambientalistas comoAdega. Lembram que o lobo éumha espécie em perigo – comaproximadamente 400 exempla-res em retrocesso – e ameaçamcom chegar à via judicial para evi-tar que durante a tramitaçom doplano se consagre a possibilidadede caçá-lo – que figura, por outraparte, no regulamento284/20012 de espécies cinegéti-cas galegas.Os sindicatos agrários, porém,estám basicamente de acordocom o projecto, ao menos nogrande objectivo: garantir asobrevivência do lobo e a viabili-dade das exploraçons pecuáriasque sofrem os ataques. XoséManuel González Vilas, do

Sindicato Labrego Galego(SLG), defende que o Plano deGestom do Lobo “nom vaia con-tra dos interesses dos ganadei-ros”. Aduz que “pode ser compli-cado”, mas acha que “existemferramentas avondo para garanti-lo”, e que isto apenas será possí-vel seguindo três directrizes.Questom de dinheiro

Trataria-se, por um lado, daparticipaçom das associaçonsagrárias nos tribunais que ava-liam os ataques; por outro, deter claro que “qualquer filoso-fia de actuaçom públicadepende de haver suficientebase orçamentária”; e final-mente, de concitar o maiorconsenso possível entre todosos actores implicados.E é que estamos a falar, essen-cialmente, de umha questomde dinheiro. Assim o vê tam-bém o biólogo e consultorambiental Xavier VázquezPumariño. Na sua opiniom,nom existe qualquer proble-ma para a coexistência deumha espécie ameaçada comoo lobo e a actividade ganadei-ra, ao menos “sempre que asAdministraçons destinarem oorçamento necessário para aconsecuçom deste objectivo”.

Voluntariado pola Línguajunta os primeiros quarentapares em Compostela

Organizamem Ordesmostra sobrea repressomfranquista

Coexistência das actividadesganadeiras e do lobo,questom de dinheiro

Plano de gestom do lobo precisa de orçamento

Ao longo do mês de Janeirorealizou-se umha exposiçomsobre a República, a GuerraCivil e a posterior repressome guerrilha antifranquista nacomarca de Ordes. A mostraapresentava fotografias,documentos manuscritos eoficiais, tanto da Repúblicacomo da Ditadura, relaciona-dos fundamentalmente comOrdes, Frades, Mesia eoutros concelhos da comarca.Além disso, pudérom-se verlivros relacionados com estaépoca, muitos deles teste-munhos da repressom depessoas desta zona. A expo-siçom no Centro Comarcalde Ordes estivo completadapor três magníficas conferên-cias que completárom avisom da época. O público foinumerosíssimo os três dias,desbordando a capacidade dasala de conferências. As for-ças da direita da comarca(P.P., Terra Galega, PartidoGaleguista e Uniom porOrdes) boicotárom a exposi-çom nom assistindo a nen-hum acto, e isso apesar deterem participado no seufinanciamento através damancomunidade de Ordes. Aexposiçom foi encerrada comum concerto de Míni e Mero.

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NOVAS DA GALIZA15 de Fevereiro a 15 de Março de 200708 INTERNACIONAL

INTERNACIONAL

Para entendermos acerta-damente a complexa reali-dade que temos entre

maos nos tempos da nocividadecapitalista, fai falta atender cui-dadosamente; tomarmos nota ecaminhar, caminharmos pergun-tando. A caleidoscópica situaçoma que nos arrojam as mudançassistémicas de paradigmas, fampouco prescindível a intercone-xom com as múltiplas realidadesque nos rodeiam. Se bem que aGaliza passe por ser um exem-plo tangível dessa realidade(com a permanência e convivên-cia de formas produtivas e socie-tárias historicamente pluritem-porais), semelha pois, este paísnosso, um terreno óptimo para ainteligente exploraçom de diver-sas formas de luita como se ven-hem desenvolvendo em quantosespaços irrompe a luita contra oneoliberalismo global.Centenas, milhares de toneladasde entulho caírom em terra ame-ricana fracturando paradoxal-mente anos de pax romana. O 11de Setembro de 2001 caírombem forte as torres gémeas nocoraçom do Império. Corpos eentulhos abrírom a veda. Derepente, o século XX vomitoupor cima um novo tempo cheiode violência e contradiçom; devermelha guerra e sangue preto.Um tempo novo, em que inven-tar um outro inimigo, chegou aoseu ponto álgido, elevando amiséria imperialista a um novoestádio; umha proposiçom final,o mais sofisticado desenvolvi-mento capitalístico, a GuerraGlobal Permanente. Sete anos antes, nas montanhaschiapanecas, milhares de semen-tes de milho antecipárom-se aogigante do ALCA e caírom nomundo chamando, mostrando,fazendo umha revoluçom quenom entende de tomadas dopoder. Que nom entende defuturos possíveis, mas de presen-tes criados, luitados, desfruta-dos. De realidades que se usur-pam sem pedir autorizaçom.Que se confiscam por direito devida, direito de resistência.A Revoluçom dos Gestos tornoureal no Capitalismo dos Signos.Por umha vez, gramática e

semiótica fôrom a melhor dasarmas. A mais precisa e eficaz. Apalavra de umha mudança social,de umha revoluçom dos de baixoque alinhavou colectivamente amadeixa dos 10 anos.Materializou-se numha realida-de que de dia para dia fai por sereinventar. A madeixa tecidasem descanso nas afastadasterras lacandonas fiou duranteumha década um outro futuropossível; até esse Janeiro de 94,onde longe de começar a histó-ria, esta acabou para dar começoà vida. Afastada da metrópole, arevolta zapatista – que continuao seu caminhar firme mais dedez anos depois – identificou osinimigos próprios e alheios, esoubo jogar de jeito colectivo aferramenta que permitiu a per-petuaçom e reinvençom do seuADN milenário. Aqueles indíge-nas que dérom (e dam) umhasábia liçom à esquerda ocidentalabrírom nom só as suas vidas.Abrírom umha e mil novas por-tas. Estreárom publicamente otempo da construçom autóno-ma. Inventárom gestos, perfor-mativos jeitos comunicativoscom os quais nom fam falta aspalavras; obscenos por singelos.Inteligente e sagaz o movimentozapatista, com acertos e virtudes– erros e defeitos –, constituihoje, para muitos, um exemplo(mais?) de conjugaçom revolu-cionária.Poderíamos citar muitos exem-plos mais de hábeis estratégiasmovimentistas, mas pode que aChiapas destes últimos 20 anosseja um óptimo exemplo. Umestímulo rejuvenescedor paraumha esquerda e um movimen-to europeu tam viciado de capi-talismo e práticas autoritárias.Assim o identificárom, entreoutros, o movimento de CentrosSocias italiano e as suas inume-ráveis formas antagonistas.Assim, potencializárom a comu-nicaçom entre companheiros ecompanheiras e formas organi-zativas das antípodas globais.Fitárom o sudeste mexicano damesma maneira que podemosolhar para outras maquinaçonsconspirativas que, na sediçomdo agora, proponhem novas for-

mas de construçom horizontal,que se mostram como eficazesmicropoderes contra a assimila-çom da miséria do Capital: aítemos o movimento de fábricasrecuperadas na Argentina, resis-tindo o invite clientelar deKirschner, ou o movimento con-tra a Ocupaçom que se abrepasso nos espaços híbridos daPalestina Histórica. Mostrasmais ou menos eficazes de(re)apropriaçom do sistema pro-dutivo (Argentina) ou de des-obediência cooperativa a umregime profundamente armado(Palestina Histórica). ParaFugaEmRede som espaços ondea observaçom participante demilitantes e activistas galegaspodem contribuir imensamentepara o fortalecimento de umsaber fazer colectivo neste movi-mento galego que se quer, hoje eamanhá, contrapoder constituí-do perante a barbárie da destrui-çom planetária.A finais de Março, activistasgalegas moverám razom e senti-do, corpo pois, até o VênetoItaliano, um dos alicerces de ummovimento com prós e contras,mas sem dúvida, com umhabagagem de construçom políticaprofusamente interessante.

A interrupção voluntária dagravidez (IVG) até às dezsemanas será despenalizadaem Portugal, como resultadodo referendo realizado no pas-sado dia 11 de Fevereiro.Apesar de a abstenção de56,39% ter tornado o resultadonão vinculativo, foi consensualentre as forças políticas a legi-timidade do governo em legis-lar nesta matéria de acordocom a vontade da população, oque acontecerá nos próximosmeses. Este foi o terceiro refe-rendo em 32 anos de democra-cia (o segundo foi sobre aRegionalização). Na primeiraconsulta popular a este tema,ocorrida em 1998, a abstençãofoi de 68,06% e o Não ganhoucom 50,92% dos votos, ao con-trário deste ano, em que o Simganhou com 59,25%. Mais umavez se notou uma grande dife-rença entre o Norte e Ilhas(Não) e o Sul (Sim) do país,sendo o Porto o único distritoa destoar. Os principais parti-dos de esquerda mobilizaram-se pelo Sim, enquanto que àdireita apenas o CDS-PP deua cara pelo Não. Este referen-do era uma promessa eleitoraldo governo de José Sócrates.Uma das razões apontadaspara a derrota do Sim em 1998

foi a não participação activa doPS na campanha do referendo.O secretário-geral de então,António Guterres, preferiuessa postura por ele próprioser contra a despenalização daIVG até às dez semanas, o quejá não se verificou este ano,com a clara participação dopartido. O aborto clandestinoé um grave problema de saúdepública em Portugal e apesarde a legislação não diferirmuito da de outros países(como Espanha), a sua fracaaplicação levou à necessidadede alterar a legislação.Enquanto tal não sucede, oProcurador-geral da República,Pinto Monteiro, fez saber quetodos os processos em cursorelacionados com IVGs deixamde ser considerados prioritá-rios e qualquer investigaçãocessará imediatamente. Alegislação em preparação terátambém de prever o enquadra-mento da IVG no ServiçoNacional de Saúde, pois oshospitais públicos terão deincluir estas operações nosseus serviços. Os dois maioresgrupos privados de saúde, oEspírito Santo Saúde e o Joséde Mello Saúde já anunciaramque não iram fazer IVGs nosseus hospitais. / NUNO GOMES

Aborto depenalizado, finalmente

De novo, história e práticaPerspectivas internacionais na construçom

de movimentos sociais (I)

JOSE ÁNGEL BRANDARIZ E ANTÓN GÓMEZ-REINO VARELA

‘FugaEmRede’pro-cura espaços onde aobservaçom partici-pante de militantes e

activistas galegaspodem contribuir

imensamente para ofortalecimento de

um saber fazercolectivo neste movi-mento galego que se

quer, hoje e amanhá,contrapoder consti-tuído perante a bar-bárie da destruiçom

planetária

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NOVAS DA GALIZA15 de Fevereiro a 15 de Março de 2007 09OPINIOM

Muito se tem escrito edebatido sobre oanúncio da Pescanova

de trasladar para Portugal umdos seus projectos-estrela, deci-som que foi aproveitada poloPartido Popular e os meios adic-tos para criticarem a falta de ini-ciativa empresarial e a imperícianegociadora do Governo galego.Páginas e páginas enchérom-secom as lamentaçons pola fugidada companhia a terras portugue-sas e as análises sisudas sobre asrazons que pudérom levar osseus responsáveis a fazer tal.Semelha que a questom essen-cial é se a empresa vai ou vemou se os seus magnates tenhemesta ou outra filiaçom política.

Para entender o comporta-mento dos donos da multinacio-nal chega com se ter em contaque este responde à lei maisbásica e abjecta do teoremacapitalista: depredaçom dosrecursos, o que em chave huma-na significa a exploraçom dohome polo home. Salários maisbaixos, lucros mais altos. Vam-se a Portugal porque decerto nopaís vizinho aumentam as possi-bilidades de obterem maioresmais-valias com o negócio. Viamão de obra mais barata oumediante as pontuais injecçonsde quartos públicos do governode turno (os cofres galegos já

estám saqueados). Diram depois que empunha-

mos de novo o ManifestoComunista contra eles, que osíndices bursáteis contradim asespirais, que a luita de classes éunha utopia do passado. O certoé que trabalhamos nas suasfábricas e consumimos todo oque nos vendem: peixe congela-do ou mentiras. Mais somosdonos do que somos; conscien-tes do seu jogo macabro, da suavida de telejornal fora do mundoreal. Sabemos que trasnacionali-zam a precariedade e jogampadel aos domingos; deslocali-

zam a solidariedade humanamais investem em i mais de mais i.Som os donos do que comemos,vestimos ou empregamos, masnom do que pensamos. Ham desaber que nos tenhem enfronte.

A gente do mar di que o futu-ro da espécie passa pola aquicul-tura (vimos do caçador-recolectore achamo-nos no homo supermer-cado), que o mar é mui grandemas nós somos mais. E semelhaque já nom há marcha atrás.Melhor fazer o caminho amodo.Com os expertos na vanguarda ecom a universidade marcando oritmo dos investimentos nesta

matéria, planificando o presentepara que o futuro seja possível.Mas como tantas vezes, numpaís amigo de velocidades idio-tas, toca agora encher o mar e aterra de gaiolas, afogá-los deferro outra vez (antes já fôromos portos desportivos).Bailamos ao som de empresá-rios pioneiros do desastre, son-hadores do pólo de mar comcuste zero. Dim os expertosque virám enfermidades asso-ciadas aos cultivos desmesura-dos, problemas com a acumu-laçom de "piensos" e fármacosnos fundos, etcétera, etcétera,etcétera. Pero pior para o mar.

A Pescanova nom é agora amultinacional maldita, é todasas multinacionais: chucha e des-trui os recursos, mete a mao nopeto do povo, especula com ochao e com a miséria, chantageiaa e vai-se com a música a outraparte. Queremos depois empre-sas galegas para fazer país nestecampo de escombros. Empresasexploradoras galegas que espal-ham precariedade polo mundoe pola terra. E nós mercamos osseus produtos porque polo menossom galegos. Pero eles semprenos vendem. Porque o capitalnom tem coraçom. O capitalnom tem bandeira.

* Mariano Barreiro H. é jornalista

O capital nom tem bandeiraMARIANO BARREIRO H.

Fotografia tomada numha fábrica da Pescanova no ChileFONTE: OBSERVATÓRIO DA DÍVIDA NA GLOBALIZAÇOM - UNIVERSIDADE POLITÉCNICA DE BARCELONA

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A PESCANOVA

CHUCHA E DESTRUI

OS RECURSOS, METE

A MAO NO PETO DO

POVO, ESPECULA

COM O CHAO E COM

AMISÉRIA,CHANTAGEIA

A E VAI-SE COM A

MÚSICA A OUTRA

PARTE. QUEREMOS

DEPOIS EMPRESAS

GALEGAS PARA FAZER

PAÍS NESTE CAMPO

DE ESCOMBROS.EXPLORADORAS

GALEGASQUEESPALHAM

PRECARIEDADE POLO

MUNDO E POLA

TERRA. E MERCAMOS

OS SEUS PRODUTOS

PORQUE POLO MENOS

SOM GALEGOS.MAS ELES SEMPRE

NOS VENDEM

PARA ENTENDER O COMPORTAMENTO DOS DONOS DA MULTINACIONAL CHEGA COM SE TER EM CONTA QUE ESTE RESPONDE À LEI MAIS BÁSICA DO

TEOREMA CAPITALISTA: DEPREDAÇOM DOS RECURSOS, O QUE EM CHAVE HUMANA SIGNIFICA A EXPLORAÇOM DO HOME POLO HOME. SALÁRIOS MAIS

BAIXOS, LUCROS MAIS ALTOS. VAM-SE A PORTUGAL PORQUE DECERTO NO PAÍS VIZINHO AUMENTAM AS POSSIBILIDADES DE OBTEREM MAIORES MAIS-VALIAS COM O NEGÓCIO. VIA MÃO DE OBRA MAIS BARATA OU MEDIANTE AS PONTUAIS INJECÇONS DE QUARTOS PÚBLICOS DO GOVERNO DE TURNO

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HILDA CARVALHO / O Governopresidido por Pérez Touriño anun-ciou a apresentaçom do PlanoGalego de Aquicultura dentro doprimeiro semestre deste ano. Oobjectivo é regular as concessonsde espaços costeiros para asempresas do sector. Depois da sus-pensom do macro-viveiro que aPescanova projectava em CaboTourinhám, a multinacional tomoua iniciativa anunciando a constru-çom de outra unidade na localida-de minhota de Mira e desistiu deiniciar neste ano as obras previstasna Marinha. O presidente doempório pesqueiro, ManuelFernández de Sousa, no entanto,continua a apostar em manter oprojecto de Tourinhám no braço-de-ferro que mantém com o execu-tivo, o qual recebeu o suporte daUE na decisom de o paralisar.

O alarme mediático lançadobeneficia os interesses daPescanova, construindo umhasuposta crise nacional motivadapola ameaça das multinacionais. Asdirectrizes da mensagem apontampara o governo autonómico comoagente enfrentado a umha série deprojectos considerados de interes-se estratégico. No entanto, os res-ponsáveis de Sam Caetano limitá-rom-se a cumprir diferentes leis edirectivas europeias e oferecêromàs empresas numerosas localiza-çons alternativas que nom déromcontentado umha Pescanova quepretende manter o grau de submis-som da administraçom autonómicafrente às suas necessidades quecaracterizou os anos da era Fraga.Pérez Touriño comprometeu-se a"acelerar ao máximo" a planifica-çom aquícola e continua as nego-ciaçons para cumprir as exigênciasde umha empresa que no dia dehoje nom chega a empregar meiomilhar de pessoas nos seis comple-xos aquícolas que possui na Galizae que parece resolvida a bloquearqualquer soluçom apresentadapolo Governo e a avivar a polémicaamplificada polos média.

A transnacional conseguiu atin-gir umha posiçom importante nosmercados internacionais graças àajuda imprescindível do regimefranquista, que os seus fundado-

res amparárom e do qual benefi-ciárom, conseguindo que oEstado protegesse a empresacomo se esta figesse parte do apa-relho. O patrocínio institucionalcontinuou com um governo Fragaque pactuou com as transnacio-nais do sector aquícola para lheentregar importantes espaçoscosteiros, financiando 50% do seuinvestimento inicial, vulnerandoa legislaçom de protecçomambiental e forçando vizinhos evizinhas em numerosas localiza-

çons a venderem cada metro qua-drado de terra ao preço de 1 euro.

Em relaçom ao peso da produ-çom de rodabalho na economia eno emprego, a associaçom ambien-talista Adega compara os 270 pos-tos laborais de todas as instalaçonsexistentes com as mais de 13.000pessoas que trabalham na culturado mexilhom, um sector que conti-nua a arrastar crises periódicas.Consideram que o governo deveapostar em criar emprego na pescatradicional e no marisqueio.

Quanto às possibilidades para abrircaminho à aquicultura, apostamnas unidades flutuantes, de menorimpacto do que aquelas que estáma instalar-se actualmente.

A situaçom das unidades de cria-çom de peixe na Galiza continua aser irregular. Em Novembro do anopassado, a Adega denunciava aexistência de 27 viveiros no litoralsem autorizaçom para descargas deresíduos -alguns depois de 10 anosde actividade-, entre os quais seencontrariam instalaçons da pró-

NOVAS DA GALIZA15 de Fevereiro a 15 de Março de 200710 A FUNDO

A FUNDO

A TRANSNACIONAL É UMHA DAS EMPRESAS MAIS SUBSIDIADAS E PRIVILEGIADAS POLA ADMINISTRAÇOM AUTONÓMICA

A transnacional do mar quer decidir onde implantar as suas indústrias e marcar as suas con-diçons. Esta atitude é similar à que mostra no Chile ou a Namíbia, mas a Galiza é o país deorigem da segunda companhia europeia de comércio de peixe e as duas principais Caixas famparte da sua administraçom. O crescimento da multinacional agro-aalimentar só foi possívelgraças ao apoio excepcional que recebeu do Estado durante o franquismo e, posteriormen-

te, da Junta de Fraga, que a subsidiou com centos de milhons. A ameaça de deslocalizar osprojectos de aquicultura está a provocar umha polémica artificial que alerta para os alegadosperigos da perda de indústrias de produçom de peixe. Estas, porém, geram uma percenta-gem ínfima postos de trabalho em relaçom à desestruturaçom do sector piscatório, ademaisde estarem projectadas em lugares de elevado valor ambiental.

Pescanova pretende manter a submissom da Juntaalarmando sobre a suposta necessidade dos seus projectos

Frente às decenas de milhares de pessoas que trabalham na pesca e o marisqueio, no total de instalaçons de rodabalho na Galiza só estám contratadas 270 pessoas

A transnacionalcresceu graças à ajudado regime franquista,que os seus fundadoresamparárom e do qualbeneficiárom,conseguindo queo Estado protegessea empresa como seesta figesse partedo aparelho

O alarmebeneficia aPescanova,

construindoumha supostacrise nacionalmotivada pola

ameaça dasmultinacionais.

As directrizes damensagem

apontam para ogoverno autonómico

como agenteenfrentado aos

projectosconsiderados

estratégicos. Noentanto, a Junta

limitou-se acumprir a lei

Arquivo NGZCentral da Pescanova em Chapela

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pria Conselharia das Pescas, con-forme dados procedentes de Águasda Galiza. O colectivo ambienta-lista dirigiu-se em Setembro aoValedor do Povo para denunciarque o viveiro da Stolt Sea Farm emCabo Vilám nom dispunha destaslicenças para descarregar os resí-duos. Sobre este viveiro e os planosde aquicultura concebidos pologoverno Fraga e as transnacionaisinformava o NOVAS DA GALIZA nonúmero 22 (Setembro de 2004).

A fortaleza económica do giganteA companhia de origem galega éumha das líderes do sector pes-queiro a nível mundial. Está pre-sente em 37 sociedades de quatrocontinentes e tem uma frota de120 barcos em propriedade.Desde 2001 tem intensificado aabsorçom de outras empresas emultiplicado os lucros graças, em

boa parte, ao financiamento insti-tucional. O seu peso em relaçomaos governos internacionais comque negocia é importante: dispomde caladoiros em trinta países emesmo provoca disputas entreadministraçons de diferentesEstados que pugnam para lhe ofe-recer melhores condiçons. Agoraestá a procurar estender a sua redeaquícola no sul peninsular, noBrasil, no Vietnám e em Cuba.

Nos últimos anos está a conse-guir aumentar notavelmente osseus lucros. No fecho do exercí-cio de 2006 ultrapassou os 1000milhons de euros em volume denegócios e superou os 374 mil-hons de capitalizaçom bursátil.O lucro líquido deste ano andacerca dos 20 milhons de euros erepresenta um aumento de 8% arespeito do ano anterior.

NOVAS DA GALIZA15 de Fevereiro a 15 de Março de 2007 11A FUNDO

Em datas recentes saíam à luz públi-ca dados do relatório de fiscalizaçomdo Conselho de Contas de 1996 queindicavam que a Pescanova fora ava-lizada polo IGAPE para obter umempréstimo de 8000 milhons depesetas com subsídios nas taxas dejuros no valor de 240 milhons. Oantedito relatório assevera que "emnenhumha das operaçons [financia-das] aparece a justificativa do desti-no do empréstimo" polo que éimpossível "determinar se existiucumprimento da finalidade daajuda". Este é só um capítulo dasnumerosas ajudas que através dediferentes vias fortalecêrom oscofres de umha companhia privile-giada polo executivo autonómico.

Entre o ano 2000 e o 2005, aPescanova recebeu em forma desubsídios 21,5 milhons de euros, aomesmo tempo que reduzia 72empregos do seu quadro de pessoalna Galiza, conforme salientou osemanário A Nosa Terra numhareportagem em que referia tambémas injecçons de capitais públicos em

meados da década de 1990. No ano1996 a transnacional Unilever ten-tara comprar a Pescanova. polo queo governo investira na empresa maisdo equivalente a 42 milhons deeuros, para além de introduzir aCaixa Galicia e Caixanova no seuaccionariado com o objectivo demanter o poder da empresa emcapitais autóctones.

Na actualidade, a Caixa Galiciacontrola aproximadamente 20% dacompanhia entre acçons subscritasde forma directa e indirecta. ACaixanova dispom de 5,02%, queherdou da presença accionarial daCaixa Ourense. Ambas as entida-des financeiras fam parte da admi-nistraçom da multinacional, o querepresenta mais um elemento que

a vincula ao poder autonómico eaos grandes capitais gerados naGaliza. A poderosa presença dasCaixas nom impediu que a empre-sa continuasse a manter um confli-to com a administraçom nemaponta para um tratamento privile-giado dos investimentos no País,polos quais ambas as entidadesdeveriam em teoria velar.

A ajuda que os fundadores dePescanova prestaram na alimenta-çom do chamado 'bando nacional'na Guerra Civil, juntamente à sualealdade para com o regime facili-tou-lhes o apoio decidido do Estadofascista, a primeira administraçom aapoiar financeiramente a empresaque nascia em 1959. Desde a cons-truçom de navios de envergaduraaté os subsídios para a indústriaconserveira dentro das políticasdesenvolvimentistas da década de1960. Os nexos com o Estado eramtais que os barcos que fainavam nosmares africanos contavam na sua tri-pulaçom com moços a cumprirem oServiço Militar Obrigatório.

Dinheiro público para o 'Capitám Pescanova'

Os dirigentes da Pescanova continuam a insistir em que nom pensam renunciar a instalar umha grande central noCabo Tourinhám, um espaço natural privilegiado no que por enquanto nom poderá intervir. Fraga potenciara este projecto

Entre o ano 2000 eo 2005, a Pescanovarecebeu em formade subsídios 21,5milhons de euros,ao mesmo tempoque reduzia 72empregos do seuquadro de pessoalna Galiza. CaixaGalicia e Caixanovafam parte da suaadministraçom

OS PROJECTOS DA MARINHA, EM SUSPENSO

A planificaçom estratégica daPescanova incluía três intervençonsna Marinha que estám em suspensodesde Janeiro, depois de a companhiaanunciar perante a ComissomNacional do Mercado de Valores oabandono dos projectos para este ano,ainda que o seu presidente indicasseque nom renunciava à sua execuçomno futuro. O investimento total supe-raria os 300 milhons de euros até 2010para ampliar a unidade existente emJove, construir um novo viveiro de76.000 metros quadrados em Morás eum terceiro em Ribadeu, com umhaextensom de 270.000 metros quadra-

dos no Penedo do Corvo. Metade doinvestimento inicial partiria doscofres da administraçom autonómica,que se comprometeu a contribuircom 60 milhons de euros para tal fim.

A companhia aduz ter suspendidoestes projectos por discrepáncias com aJunta, a qual sugeriu modificar os planosda empresa por nom cumprirem os crité-rios estabelecidos para as edificaçons, aaltura dos taludes e os desmontes. Semnegociar as condiçons para a implanta-çom dos viveiros, a Pescanova anunciavao abandono da iniciativa como mais umelemento de pressom para forçar a Juntaceder às suas directrizes.

PORQUE A PESCANOVA APOSTA NA AQUICULTURA?Apesar de contar com um impor-tante número de barcos e bancosde pesca no mundo inteiro, aPescanova revisou a sua estraté-gia para apostar decididamentena aquicultura, de onde pretendeobter metade do peixe quecomerciar antes do ano 2010. Nospróximos dous anos duplicará aproduçom de rodabalho e lingua-do, para o que anunciou investi-mentos imediatos de mais de 300milhons de euros.

O motivo principal desta vira-gem acha-se no esgotamento pro-gressivo dos bancos de pesca em

que opera, em boa medida porcausa da sua própria actividade eda de outras companhias queestám a modificar profundamen-te os ecossistemas piscatórios emque fainam. Perante a possibilida-de de as capturas virem a min-güar até níveis preocupantes paraa empresa, a aquicultura situa-secomo a alternativa possível paracontinuar a aumentar os lucrosano após ano. Os lugares de desti-no serám países dóceis à sua pla-nificaçom, como aqueles em quetem ensaiado até o momento asua nova estratégia.

NGZPintada contra a política laboral da Pescanova em Chapela (Redondela)

Responde aoesgotamento dosbancos de pesca emque opera, em boamedida por causa dasua própria actividadee da de outrascompanhias queestám a modificarprofundamenteos ecossistemas

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NOVAS DA GALIZA15 de Fevereiro a 15 de Março de 200712 A FUNDO

Os filhos dos fundadores daPescanova som as cabeças visíveisda multinacional. Como presiden-te desde 1984, Manuel Fernándezde Sousa é o responsável máximoda companhia e acumula 24,15%do capital em seu nome, compar-tilhando o peso nas decisons estra-tégicas da empresa com a CaixaGalicia. Alfonso Paz-Andrade,como Conselheiro-Delegado, pos-sui 5% do accionariado e foi decisi-vo na expansom internacional dacompanhia. Som os descendentesdirectos do duo inicial que projec-tou a empresa: Valentín Paz-Andrade e José Fernández López,representantes do franquismocom matiz regionalista na altura.

Manuel Fernández de SousaFaro uniu-se à gestom empresarialdos negócios familiares em 1976,depois de se formar em Físicas, elogo ascendeu na estrutura daempresa pesqueira até atingir apresidência do Conselho deAdministraçom. A sua habilidadenas finanças levou-no a dirigir acriaçom de numerosas sociedadesinternacionais conjuntas.Recentemente adquiriu o pacoteaccionarial da sulafricana ImperialCold Storage (ICS) após a suasaída da sociedade mista com aPescanova. De maneira a nomultrapassar 25%, o que o obrigaria alançar umha OPA, recolocou umhapercentagem das suas participa-çons entre outros investidores,ficando ele próprio com 24,15 %.

Entre as empresas em que par-

ticipou salienta a Unión Fenosa,onde fijo parte da direcçom comoconselheiro em representaçom daCaixa Galicia. Em Dezembro de2005 demitiu-se, em paralelo aum aumento da sua presençaaccionarial na Pescanova até beiraros limites permitidos por lei paraas Sociedades Anónimas.

Adepto à hípica, tem patrocina-do numerosos eventos deste des-porto e é o presidente do comitéorganizador do Concurso HípicoInternacional de Vigo.

Fai parte do grupo inicial deempresários galegos que se reúnecada dous meses no oleirense Paçode Inhás, foro restrito promovidopor José Luís Méndez para "reunirum grupo de amigos para compar-tilhar ideias", discutindo sobretemas estratégicos para orienta-rem as suas actuaçons. No núcleo

fundador estavam tambémManuel Gómez (Coren), ManuelRodríguez (Rodman), José MariaCastellano (ex-Inditex) e o econo-mista Emilio Ontiveros.

Alfonso Paz-Andrade Rodríguezé o Conselheiro-Delegado dacompanhia e foi a cabeça que per-filou a expansom da Pescanova empaíses como o Chile, a Africa doSul, a Argentina, a Namíbia, osEUA, Cuba ou Moçambique. É oherdeiro da chamada 'linha gale-guista', ainda que fontes próximasconsultadas refiram que as moti-vaçons políticas do filho doescritor e activista culturalValentín Paz-Andrade nom ten-hem relaçom com as que sustin-ha o pai, que participara no cha-mado 'galeguismo' que emergiucom a editora Galáxia.

Nasceu em Vigo em 1940 e é

formado em Direito. Preside oComité Organizador da FeiraMundial da Pesca da cidade olí-vica (World Fishing Exhibition)e é secretário da revistaIndustrias Pesqueras.

Para além da actividade empre-sarial na Pescanova, fijo parte doConselho de Administraçom daCaixa Galicia como vice-presi-dente segundo.

O tandem que mexe os fios na Pescanova:Manuel Fernández de Sousa e Alfonso Paz-Andrade

Alfonso Paz Andrade, Manuel Fernández de Sousa Faro,Valentín Paz-Andrade, Antonio Fernández López e José Fernández López

Os filhos dosfundadores som ascabeças visíveis damultinacional. Comopresidente, ManuelFernández de Sousaé o responsável máximoda companhia com24,15% do capitalem seu nome,compartilhando opeso nas decisonsestratégicas com aCaixa Galicia. AlfonsoPaz-Andrade, comoConselheiro-Delegado,possui 5% das acçonse foi decisivo nainternacionalizaçom

O MACRO-VIVEIRO DE PORTUGAL INVADIRÁ EM MIRA UMHA DAS

MELHORES E MAIS VALIOSAS PRAIAS DA PENÍNSULA IBÉRICA

A alternativa à unidade deTourinhám é também umha áreaprotegida pola Rede Natura 2000.O ecossistema dunar e florestal dalocalidade de Mira, onde aPercanova começará as obrasneste mesmo ano, fora classifica-do Sítio de Interesse Comunitárioem Julho de 2006 sob proposta,precisamente, do Conselho deMinistros do mesmo governo quedeclara agora a proposta da multi-nacional como Projecto deInteresse Nacional para eludir aprotecçom ambiental da zona emque o complexo industrial ocupa-rá mais de 100 hectares.

Conforme às cifras oficiais,prevê gerar 7000 toneladas derodabalho por ano, quantidadeque de por si já ultrapassa a pro-duçom total deste peixe emPortugal e da qual 90% iria para aexportaçom europeia. No entan-to, o sindicalista da CIG XabierAboi considera que os dados sobre

a produçom do viveiro som falsose respondem à necessidade quetem a empresa de apresentar oprojecto como se fosse estratégicoe intensificar os efeitos mediáti-cos. Aboi indica que a unidadeque mais produz no mundo culti-va 1200 toneladas e que a unidadede Mira nom disporá de capacida-de logística para processar talquantidade de peixe.

Perante a proposta daPescanova, o governo de JoséSócrates ofereceu 45 milhons deeuros para financiar a construçom emanifestou a possibilidade deaumentar as dotaçons públicas atécobrir 50% da produçom inicial.Garantiu ainda a viabilidade doprojecto frente aos obstáculoslegais interpostos por se localizarnum espaço de alto valor ambien-tal. A respeito disso, cumpresalientar o silêncio das autoridadescomunitárias competentes, queapoiaram recentemente a decisom

da Junta de impedir o projecto deTourinhám mas evitárom posicio-nar-se sobre a agressiva constru-çom prevista em Portugal.

Para a localizaçom desta unida-de a Pescanova sondou diferentesEstados em dificuldades econó-micas e de desenvolvimento, taiscomo Marrocos ou a Grécia.

O interesse manifestado pologoverno português levou a multi-nacional a estudar a hipótese deinstalar umha unidade de proces-samento de linguado no Algarve.Os contactos com o executivoportuguês intensificárom-se apartir de 9 de Maio do ano passa-do, quando tivo lugar umha reu-niom em Lisboa entre ManuelFernández de Sousa e o Director-Geral das Pescas e Aquicultura dePortugal, ainda que na alturarepresentantes da empresa negas-sem que o encontro tratasse dapossibilidade de procurar umespaço alternativo a Tourinhám.

APONTAM PARA A PESCANOVA COMO CAUSA

DA RUÍNA DA INDÚSTRIA PESQUEIRA DO CHILE

Através da sua filial PescaChile,a multinacional agro-alimentarmantém umha intensa activida-de na produçom do salmom nopaís andino que foi motivo dedenúncia por parte de diferen-tes entidades dentro da campan-ha "Nom comas o Mundo". OObservatório da Dívida naGlobalizaçom, Veterinários SemFronteiras e a Rede de ConsumoSolidário apresentárom um rela-tório elaborado por um organis-mo da Cátedra Unesco deSustentabilidade daUniversidade Politécnica daCatalunha que acusa a empresade contratar sem seguro e compostos dependentes do grau deproduçom, de nom controlar osresíduos provocados pola produ-çom aquícola e de sobre-exploraros recursos. Neste sentido, dife-rentes análises apontam para adegradaçom continuada do sec-tor pesqueiro nas últimas déca-

das, tanto pola reduçom daquantidade de peixe como polaruína de muitas das empresasnacionais dedicadas à pesca.

Também neste Estado ameri-cano, como noutros africanos,aparecem diversas denúnciaspor chantagens da empresa àsadministraçons, assim como acu-saçons de dificultar a auto-orga-nizaçom dos trabalhadores emsindicatos ou assembleias.

As empresas forçárom o papeldo Chile como potência exporta-dora de salmom, competindodirectamente com países nórdi-cos europeus como a Noruega.Dez companhias, metade delasestrangeiras, produzem 65% dosalmom comercializado por estepaís. Como dado representativoda distribuçom dos lucros, porcada 1000 euros que ganhamas empresas com a exportaçomos trabalhadores recebem menosde 1 euro polo seu trabalho.

O pai e o tio do presidente daPescanova, José e AntonioFernández López, fôrom os prin-cipais fornecedores de carne parao bando golpista, depois de herda-rem o negócio de venda de gadoem 1931. Posteriormente, abrí-rom a Granja do Louro, que foi aempresa que introduziu a culturado hoje conhecido kivi. E entre asempresas que impulsionáromdestacam Frigsa, TranportesFerroviarios Especiales ouCementos del Noroeste.

Um dos negócios que mais lucroslhes deu foi a Titania. Esta empre-sa exportava wolfrámio para aAlemanha nazi durante a SegundaGrande Guerra, um material tamescasso como indispensável para oarmamento de Hitler e em cujaextracçom trabalhárom cerca de20.000 pessoas na Galiza.

Notabilizárom-se ainda poloslabores de mecenado do regiona-lismo culturalista que oFranquismo respeitava.

Antonio, engenheiro de camin-hos, e José, advogado de forma-çom, fundárom a Zeltia, hojeempresa multinacional. JoséFernández aliou-se a Valentín Paz-Andrade em 1959 para fundarema Pescanova, empreendimentopara que contárom com o suporteindispensável de um regime paracuja consolidaçom contribuírom.

Dous irmaos aoserviço do fascismo

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NOVAS DA GALIZA15 de Fevereiro a 15 de Março de 2007 13ANÁLISE

Vinte anos atrás, escuitei falarpola primeira vez da insub-missom. Foi numa juntança

de antimilitaristas em Compostela.Debatíamos sobre o que havíamosde fazer diante da lei de objecçomde consciência do PSOE. As pos-turas resumiam-se em duas: oubem acatar a lei e esperar por mel-hores tempos para mudá-la ou des-obedecê-la, lançando umha cam-panha de desobediência civil con-tra a lei, o exercito e a mili.

No ambiente pairava o "fracas-so" do referendo da NATO. Paramuitos, lançar umha campanha dedesobediência civil contra um dospilares básicos do franquismo e datransiçom, o exercito franquista,era umha temeridade e um infanti-lismo de esquerdas -definiçom muina moda naquela altura, que a serseguida levaria o antimilitarismo àmais absoluta marginalidade. Estaopiniom era compartilhada polamaioria das organizaçons políticase sindicais de esquerdas susceptí-veis de apoiarem o movimento.

Em Fevereiro de 1988 apresen-tam-se ao público os primeirosinsubmissos no Estado espanhol: aInsubmissom entrava em cena.

Nos quinze anos seguintes aInsubmissom, como estratégia dedesobediência civil, deu articula-do um movimento social, atéentom marginal, e conseguiu situá-lo no centro do debate político doEstado espanhol. Apesar da repres-som e da sanha do Estado, a estra-tégia triunfou: o número de insub-missos cresceu de maneira irresis-tível e a insubmissom tornou-se,talvez, um dos movimentos sociaisque tenha gerado maior apoiosocial, simpatia e solidariedade nademocracia pós-franquista.

O caminho nom foi fácil. A históriado movimento insubmisso é umhahistória de luita, e também derepressom. Deverá começar por lem-brar a luita contra as quintas no sécu-lo XIX e continuar com as primeirasmanifestaçons antimilitaristas con-tra as guerras coloniais em finais doséculo XIX e princípios do XX.

E, chegando aos nossos dias,

recordará ainda que entre os anos58 e 76 fôrom presos nas cadeiasfranquistas 285 objectores, conde-nados a mais de 3200 anos do quaiscumprírom 1904.

Estes números que podem pare-cer umha barbaridade, mas fôromamplamente ultrapassados pola"democracia española" nos anos 90,com a repressom brutal sobre osinsubmissos argalhada polo PSOEe continuada polo PP.

Por falta de espaço passarei porcima do período da transiçom, atéo ano 81. Naqueles anos, o antimi-litarismo, em luita polo reconheci-mento do direito à Objecçom deConsciência (OC), foi duramentereprimido. O texto vai discorrerpola época que se abre com a che-gada do PSOE ao poder, em 1982,e conclui com a saída da prisom dosúltimos insubmissos no ano 2003.

A lei de objecçom de 1984No ano 1982 a "esquerda espanho-la" chega ao poder da mao doPSOE, dá-se por fechada a transi-ción, do todo atado e bem atado, ecomeça umha nova etapa para oantimilitarismo.

Esquecendo-se, dentre outrasideias progressistas, da sua pro-messa de retirar o Estado espanholda NATO, o PSOE passa agora apromover a integraçom mas amobilizaçom social obriga o gover-

no a convocar um referendo.Na Galiza cria-se a CNOP

(Coordenadora Nacional deOrganizaçons Pacifistas) que aglu-tina a maior parte das organizaçonsanti-NATO do País. O discursoantimilitarista sai à rua, som cons-tantes as mobilizaçons, alcançan-do um grande apoio e credibilidadesocial. Neste contexto também aObjecçom de Consciência ganhalegitimidade e começa a ser umhaopçom cada vez mais aceita e res-peitada. Estas mobilizaçons ser-vem para que muitas organizaçonse pessoas, até entom críticas com aObjecçom de Consciência, com-preendam e comecem a colaborarnas luitas anti-mili.

Trás a perda do referendo, aCNOP vai esmorecendo, deixan-do passo à luita contra o ServiçoMilitar Obrigatório, como novoreferente antimilitarista.

A luita anti-NATO fai aumentaras declaraçons de Objecçom de

Consciência, o que obriga o PSOE anom pospor mais a sua regulaçom.Nessa altura, havendo objectorescom mais de cinco anos à espera deumha lei, a situaçom começava atornar-se insuportável para o Estado:diante da possibilidade de nomserem reprimidos, cada vez maismoços optam pola objecçom deconsciência, aumentando, portanto,a sensibilidade social sobre o tema.

Em 28 de Dezembro de 1984,publica-se no BOE a Lei que regula-mentava a objecçom de consciência(Ley de Ojección de Conciencia).

Esta lei pretendia converter-senum pacto, à moda europeia, entreo Estado e os objectores: estesnom som obrigados a fazer a milidesde que polo seu número ouincidência social nom ponham emperigo as prioridades militares,nom ponham em causa a defesamilitar nem, muito menos, a exis-tência e necessidade do exército.

Com o fim de integrar a dissi-dência, discordante com a "ideolo-gia dominante", o PSOE concebeumha lei baseada em dous filtros: oConsejo Nacional de la Objección deConciencia (CNOC) e a PrestaciónSocial Sustitutoria (PSS).

Com a criaçom do CNOC, tri-bunal ideológico (encarregado dejulgar as consciências, as motiva-çons e as ideias dos objectores e dedecidir quem é ou nom objector), a

objecçom de consciência deixa deser um direito fundamental daspessoas e passa a ser uma isençommais do SMO, como umha doença.As suas funçons eram claras: porum lado, individualizar a objecçomde consciência, e de passagem eli-minar o seu carácter de luita colec-tiva e política e, por outro lado,fazer de filtro em previsom que oaumento dos pedidos de objecçomde consciência pugesse em risco asnecessidades militares.

A PSS foi concebida como umserviço paramilitar cuja funçom eraevitar que o movimento de objec-çom de consciência pugesse emcausa a mili e o militarismo. Aimposiçom de um serviço, basea-do, tal como a mili, no recrutamen-to forçoso, buscava punir o objec-tor, castigando-o com outra mili,de civil, que durava mais que oSMO e sujeito a um regime disci-plinar que nada tinha a invejar aomilitar: eram negados direitos uni-versais, como o direito de greve, deassociaçom ou de reuniom e exi-gia-se ao prestacionista, no mais puroestilo castrense, a obediência abso-luta às ordens dos superiores.

Esta lei foi rejeitada polas orga-nizaçons antimilitaristas, quelográrom, junto com outras organi-zaçons sociais, que o Defensor delPueblo apresentasse um recurso deinconstitucionalidade. Ao mesmotempo, a Audiencia Nacional apre-sentou umha Questom deConstitucionalidade exigindo oreconhecimento da objecçom deconsciência como um direito fun-damental.

Em Outubro de 1987 o TribunalConstitucional, nas sentenças 160 e161, valida a totalidade da lei.Fundamenta a decisom na necessi-dade de salvaguardar as prioridadesmilitares antes de regulamentar osdireitos civis que assistem ao objec-tor. Estas sentenças negam a objec-çom de consciência como direito fun-damental, reafirmam o papel doCNOC e legitimam a PSS que, paraevitar pôr em risco o SMO e as neces-sidades militares, poderá ter umhaduraçom de até o duplo da mili.

O movimento antimilitarista na década de ‘80MILUCHO ROMERO

ANÁLISE

Em Fevereiro de 1988 apresentam-se ao público os primeiros insubmissos no Estado. Nos quinze anosseguintes a Insubmissom deu articulado um movimento social e conseguiu situá-lo no centro do debate

Jorge Landín

A PSS foi concebidacomo um serviçoparamilitar para evitarque o movimento deobjecçom pugesseem causa o militarismo

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NOVAS DA GALIZA15 de Fevereiro a 15 de Março de 200714 ANÁLISE

ANÁLISE

RAMOM MUNTXARAZ / Depois daentrada dos primeiros presos "políti-cos" nos cárceres europeus, e a nasequência das declaraçons de objec-çom de consciência de soldados con-tra o seu alistamento nas tropasdurante a II Guerra Mundial (poste-riormente acrescida com o encarce-ramento de militantes do IRA),começou um debate, entre juristas epenalistas europeus, sobre a formade distribuir e classificar os/as pre-sos/as. A formulaçom de partida erase se havia de concentrar ou disper-sar os/os presos/as em funçom da suaperigosidade. As propostas eramduas: a concentraçom em cárceresde alta segurança (RelatórioMouhtbatten) e a de habilitar "cár-ceres especiais de segregaçom"(Relatório Radzinowicz), que emInglaterra chegárom a ser seis, sendoeste último o sistema que prevale-ceu. O fracasso da política de dis-persom em Inglaterra foi evidente,ao aumentarem espectacularmenteos encarceramentos de presos políti-cos do IRA, que atingiu o cume em1972 com a denúncia do Governoirlandês junto do Tribunal deDireitos Humanos de Strasburgosobre a prática de torturas contrapresos/as do IRA durante as inco-municaçons nas comissárias e noscárceres de segregaçom.

O fracasso da política de segrega-çom inglesa determinou que, emNovembro de 1977, o ParlamentoEuropeu retomasse a ideia de criarum "cárcere europeu internacionalpara terroristas" (proposta de LouisMountbatten, que morreria emacçom do IRA em 27 de Agosto de1979). Esta ideia baseava-se em quese identificou os/as presos/as políti-cos como os maiores inimigos da"paz" (penitenciária e social) aoactuarem do interior dos cárcerescomo umha auténtica caixa de reso-nância das reivindicaçons políticas eda conflitividade social. No Estadoespanhol (entre 1977 e 1978) oGoverno da UCD começou a des-enhar as suas políticas penitenciá-rias, policiais e jurídico-penais: refor-mara-se o Código Penal; promulgou-

se a "Ley de Protección de laSeguridad Ciudadana" (substitui-çom da "Ley de Orden Público" ecriou-se a "Audiencia Nacional"(substituiçom "democrática"doTribunal de Orden Público). Noeido penitenciário, optou-se por"concentrar" os/os presos/as políti-cos/as (nomeadamente os/as inde-pendentistas - a maioria da ETA) nocárcere de "máxima segurança" deHerrera de la Mancha, inauguradano ano 1979, que pretendia simboli-zar o que seriam os novos "macro-cárceres da democracia" e, também,um indicador da nova políticarepressiva (Lei Anti-terrorista fran-quista - Código Penal do ano 77)contra o IndependentismoRevolucionário, nomeadamente daETA. No ano seguinte da sua inau-guraçom, começaram as denúnciasde presos/as sobre torturas e agres-sons por parte dos funcionários deHerrera, que determinárom o iníciode um processo contra o Director docárcere, e que na Galiza foi publica-do polas Ju.Ga (Juntas Galegas polaAmnistia) em 1980, numha ediçomespecial de Setembro. Em 1981morria a primeira vítima da repres-som em Herrera de la Mancha (JuanJosé Crespo Galende "Kepa", mili-tante do PCE-r, depois de 97 dias

em greve de fome). Em Inglaterra (modelo do siste-

ma espanhol penitenciário) a disper-som (eles utilizam o termo "segrega-çom") fazia parte do sistema derepressom e tortura a que eram sub-metidos/as os presos/as do IRAdesde a sua detençom, e partia doestabelecimento de categorias egraus no tratamento penitenciário, asaber: a) regimes penitenciários deseveridade graduada, dependendodas atitudes de colaboraçom dos/aspresos/as b) habilitaçom de cárceresespeciais para proceder à "segrega-çom" caso o anterior sistema fosseinsuficiente c) sistema de castigosespeciais que incluía a dispersomdos/as presos/as aos cárceres desegregaçom. Estes sistemas de gra-duaçom das formas de repressomdentro dos cárceres, baseavam-senumha classificaçom prévia dos/aspresos/as que, posteriormente, erare-avaliada segundo a sua evoluçom,tendo em conta sobre todo as condu-tas de colaboraçom. Esta tecnologiarepressiva era a aplicaçom dos estu-dos que se vinham realizando nosEUA. sobre métodos de condiciona-mento operante (condutivistas) noscárceres da Califórnia, que consis-tiam na administraçom de "recom-pensas" de diverso valor (reforços

positivos) a aqueles/as presos/as quedemonstrassem cumprir as normasda prisom. Era o sistema chamadode "Economia de Fichas".Entregavam-se-lhes "fichas" com umnúmero, para poderem trocá-las poralimentos, tempo de lezer, livros,música, etc. Deste jeito, os cárcerestransformaram-se em "caixas chine-sas", lugares que encaixam noutros,numha passagem contínua de umlugar a outro, de um regime peniten-ciária a outro e, em difinitivo, de ummodelo repressivo a outro. Os trêsgraus de severidade dos regimescomeçavam sempre polo máximo(1º grau) de tal forma que os/a pre-sos/as percessem os "benefícios decolaborarem" na passagem a um regi-me mais suave e, vice-versa, umhavez acadado esse "prémio" percebes-sem o retrocesso a um grau maissevero, no caso de nom colaborarem.Tratava-se, em definitivo, de um sis-tema que reproduzia o sistema"recompensa/castigo/conduta" (con-dutivismo social operante) seguidona sociedade civil para condicionarcondutas de colaboraçom cidadám, atodos os níveis. O último grau deregime penitenciário ("sistema aber-to", "cárceres de dia") contava com ahabilitaçom de comunidades tera-pêuticas (ensaiadas em Inglaterra

desde a década de 40 por MaxwellJones, para doentes com trastornospsíquicos "a re-insertar", para quem osistema sempre reservou lugaresespeciais na sociedade como "exem-plos" da sua correcçom-reabilitaçom(os/as escolhidos/as eram doentesprocedentes dos cárceres, diagnosti-cados/as como "psicópatas").

O objectivo do tratamento peni-tenciário é provocar nos/aspresos/as (e no seu ambiente sócio-familiar) um estado de permanenteincerteza, impotência e indefen-som. A dispersom a outro cárcere, écomunicada aos presos no mesmodia. Às vezes nem sequer isso, por-que a saída do cárcere tem lugarpola noite, interrompendo-lhes osono de forma violenta e imprevis-ta. Metem os/as presos/as num fur-gom, quase sem tempo para se ves-tirem e colherem os poucos objec-tos pessoais que lhes tenhem per-mitido ter. As perguntas sucedem-se vertiginosamente na sua mente:Onde me levarám? Como será acomida? Como será a cela? Comoos/as carcereiros/as? Com que pre-sos/as me meterám? Que regimeme aplicarám? Que farám com os/asoutros/as companheiros/as? Comohei-de fazer para comunicar à fami-lia a dispersom? Mil perguntas enengumha resposta. A incerteza étotal. Normalmente, a dispersomfai-se pola estrada, em auto-carrosque som conhecidos polos/as pre-sos/as como "kanguros", custodia-dos pola Guardia Civil. Estes veícu-los, nom reúnem as condiçons desegurança mínimas, apesar de queestám reguladas por lei. Nom ten-hem janelas, de maneira que o arinterior logo se torna irrespirável;os/as presos/as vam algemados ecolocado/as em mini-celas, com umestreito corredor no meio. Se oco-rresse um acidente, as conseqüên-cias poderiam ser funestas.

Umha vez no novo cárcere, o/apreso/a verifica logo que todo é amesma cousa, que todo é igual, quenada mudou agás o lugar geográfico,porque o determinante das institui-çons da repressóm, nom é a sua

A ideologia da repressom carcerária e a atençomà saúde mental do preso e a presa independentistas

Concentraçom polo fim da dispersom penitenciária em Compostela. Ugio Caamaanho e Giana Rodrigues continuamà espera de serem julgados pola sua suposta participaçom na colocaçom de um explosivo numha sucursal bancária

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NOVAS DA GALIZA15 de Fevereiro a 15 de Março de 2007 15ANÁLISE

Nem sempre as situaçons maisextremas som as que motivam des-contentamento popular. Um silên-cio perigoso rodeia a questom peni-tenciária, e as irregularidadesmedram. A situaçom das cadeiasespanholas vai cara um pioramentoinconcebível. Existem amplaszonas 'sem lei' no coraçom precisa-mente do Estado punitivo, veladasà fiscalizaçom popular por muros decimento e arame farpado, com osilenciamento activo da imprensaempresarial. Ugio Caamanho eGiana Rodrigues, os dous indepen-dentistas em prisom preventiva,sofrem o castigo extra que decidí-rom Interior e AdministracionesPenitenciarias. Família, amizades econtorno político recebem tambéma sua dose ao exercerem solidarie-dade. NOVAS DA GALIZA viaja comeles ao interior das prisons.

ANTOM SANTOS / Cada fim-de-semana, pequenos grupos de gentesolidária organizam as suas visitas aCáceres ou Ávila. Som familiaresdirectos ou companheiros de mili-tância da presa e do preso, a maioriasom pessoas moças com empregoprecário que gastam mais de 100euros em cada viagem.

Dúzias de famílias galegas sofremtambém a experiência carceráriapor pessoas do país estarem vincula-das ao PCE(r) ou aos GRAPO.

Dificuldades para os precáriosCem euros pode ser a quarta partedo salário de umha moça trabalha-

dora. Uma moça que deverá perco-rrer em transporte público 800 ou1400 quilómetros para se solidarizarcom a Giana ou com o Ugio. Nuncamenos de 24 horas de viagem, con-tando o tempo que se bota a deam-bular polas ruas de cada cidade.

A plataforma cidadá 'Que Voltemà Casa', constituída com o intuitofazer respeitar os direitos legalmen-te reconhecidos aos dous militantespresos, sufraga a viagem das pesso-as com mais dificuldades.

"Agora tentamos achar pessoascomprometidas em Ávila ouCáceres", diz-nos um visitantehabitual. "Gente com compromissoem algum movimento social desseslugares, disposta a deixar-nos umquarto para fazermos noite e pou-par o dinheiro da pensom". Háesperas longas polas cidadesenquanto se fai tempo para a visita.

Visitas curtas e controladasSom visitas de 40 minutos. Um vidrode separaçom dificulta as conversas,que som gravadas permanentemen-te. Desde que o governo do PSOEinventou os 'Ficheros Internos deEspecial Seguimiento', presos e pre-sas com militância activa, a gentemais combativa, som submetidoslegalmente a um estatuto especial. Eos seus conhecidos, eles tambémpadecem as consequências: as con-versas telefónicas, as cartas e as pró-prias visitas som intervindas. Nomsó a conversa política, como tambéma íntima e pessoal passam pola penei-ra de Instituciones Penitenciarias.

forma exterior, nem a sua localiza-çom dentro ou fora das povoaçons(nem sequer a distribuiçom doespaço interior) mas a relaçom,quase matemática, entre o espaço,os ritmos e as normas (que sempresom as mesmas quer seja em Jaénou Villabona, em Navalcarnero, noAcebuche, Cáceres ou Brieva) enas relaçons entre os/as presos/as epessoal penitenciário. O efeito quese busca com a dispersom nom é(como poderia parecer a umhaolhada ingénua) produzir umhamudança na vida dos/as presos/as,mas, ao contrário, trata-se de quecomprovem que "nada mudou" eque nom podem fazer nengumprojecto (nem sequer dentro docárcere) apenas de minuto a minu-to, provocando assim um perma-nente sentimento de incerteza eatitudes de passividade e indefen-som apreendidas. Quando a estaincerteza e indefensom perma-nentes se acescenta a insegurançaderivada da situaçom de presos/aspreventivos/as (que muitas vezesse prolonga até quatro ou maisanos) todos os anteriores proble-mas se acentuam.

Ora bem, a dispersom por simesma nom afectaria tanto, psi-cologicamente, os/as presos/aspolíticos/as independentistas, senom implicasse também a sepa-raçom do Colectivo de Presos/as.Por isso, os/as presos/as somduplamente dispersados/as eincomunicados/as (primeiro,dentro do cárcere e depoismediante a dispersom). Daí queo re-agrupamento num só cárce-re de todos os/as presos/as inde-pendentistas (nem sequer devários) lhes seja concedido. Poroutro lado, a transferência paracárceres galegos nom compreen-de a transferência para o mesmocárcere. Do ponto de vista políti-co, trata-se de que os/aspresos/as (estejam no cárcere emque estiverem, na Espanha ou naGaliza) deixem de estar organi-zados/as entre si e que nom con-sigam comunicar com as organi-zaçons que operam fora. Quandoos presos/as compartilham omesmo cárcere (e nom estámincomunicados/as) as informa-çons provenientes das famílias eamizades, unidas à comunica-çom com o resto dos presos/as do

colectivo, atenuam a deprivaçominformativa derivada da desco-nexom (social e política) carcerá-ria, e impedem o desenvolvi-mento da síndrome de prisoni-zaçom (Clemmer) que é avariante carcerária da neuroseinstitucional (Barton) que crianos presos um conjunto demecanismos de defesa neuróti-cos para se adaptarem ao sistemade vida do cárcere com umha ati-tude des-politizada, individua-lista e resignada, centrada nosbenefícios penitenciários e nareduçom das penas.

Mas nom só som os/as presos/aso objectivo da dispersom. Desde1988, tenho assistido a vários/aspresos/as independentistas gale-gos/as em diversos cárceres espan-hóis. Os familiares, informavam-me de importantes problemaspara se adaptarem às novas condi-çons impostas pola dispersom(novas rotas e gastos acrescenta-dos das viagens, novos sistemas derelaçons penitenciáriaes - bises -determinados polas direcçons doscárceres) e também polos novossistemas de visitas, envio de paco-tes, normas para a recepçom eemissom de correspondência pos-tal e telefónica, provisom de din-heiro para despesas básicas (entreoutros muitos) que dependemsempre das normas impostas polosrespectivos directores de cada cár-cere que, actuando em jeito dereis taifas, nem sequer cumprem oRegulamento Penitenciário(já deseu altamente restritivo).

Na actual "Ley GeneralPenitenciaria", a intencionalidadepsiquiatrizante e criminalizadorado "tratamento penitenciário" ficatotalmente espelhada no capítulodedicado ao "tratamento". Comefeito, depois de definir as fun-çons deste (que mais ou menos sepoderiam considerar como homo-logáveis às de qualquer institui-çom "civil") deixa clara a "diferen-ça" dizendo que o tratamento"...guardará relaçom directa comum diagnóstico de personalidadecriminal" (Art. 62.b). Nom conhe-cemos nengum estudo realizadopor psicólogos, psiquiátras, nemde nengum outro pessoal sanitáriodependente de InstituiçonsPenitenciárias, que denunciem ascondiçons de precariedade de vida

nos cárceres, nem os flagrantescasos de agressons e maus tratospsíquicos, o que indica que estepessoal sanitário está jogando umpapel de ocultaçom da realidade,em clara cumplicidade com a sis-tema de repressom penitenciária.

Ora bem, segundo os dados dosrelatórios apresentadas na Mesade Saúde Mental do Congresso daSociedade Espanhola de SanidadePenitenciária, realizado emSaragoça em 17 de Novembro pas-sado (a que assistim) durante oano 2005 morrêrom 33 presos/aspor suicídio nos cárceres deEspanha. Isto quer dizer que umem cada cinco presos/as que fale-cem nos cárceres de Espanha fale-cem por suicídio, o que representaumha taxa anual de 68 suicídiospor cada cento de milhar de habi-tantes (11 vezes superior à taxa desuicídio da populaçom total nomcarcerária). À luz destas impres-sionantes estatísticas, é "significa-tivo" que nengum dos estudos psi-cológicos e psiquiátricos que setenhem realizado sobre as causasde mortalidade por suicídio noscárceres incluam as condiçons devida dos/as presos/as ou as severasdeprivaçons a que som submeti-dos/as (como acontece com os queestám em regime de 1º grau, clas-sificados/as como FIES, ou sub-metidos/as à dispersom) nemsequer como factores de riscoauto-lítico.

Na minha intervençom nesteCongresso, solicitei junto da Mesade Saúde Mental, que se exigisse aInstituiçons Penitenciárias a aboli-çom das medidas dispersom carce-rária, por serem contrárias à saúdemental dos/as presos/as e às legisla-çons vigentes em matéria de reabi-litaçom e reinserçom (Lei GeralPenitenciária e RegulamentoPenitenciário). Depois do expostoaqui, é inútil acrescentar que asminhas petiçons estavam antecipa-damente condenadas ao ostracismo(nem sequer me foi permitido pas-sar - nem aos/às relatores nem aopúblico - a minha breve comunica-çom). Cuido que é desnecessário(por evidente) explicar o porquê.

Ramom Muntxaraz Muntxaraz é Médico Psiquiátra

do Colectivo Sanitário pola Amnistia e contra a

Tortura (SAT). Psiquiátra da Unidade de Saúde

Mental de Conxo.

Direitos conculcados ebarreiras contra a solidariedade

Frustram tentativa de fuga deUgio Caamanho em Cáceres

ÚLTIMA HORA

NGZ / O preso galego UgioCaamanho protagonizou na madru-gada do passado dia 14 umha tenta-tiva de fuga do cárcere em que seencontra recluso há mais de um ano,na cidade espanhola de Cáceres.Segundo o centro prisional, o inde-pendentista teria serrado os barro-tes da sua cela para aceder, com aajuda de lençóis atados, a um pátiointerior, onde foi interceptado porfuncionários da prisom. Para alcan-çar o exterior da mesma, teria sidopreciso ainda superar dous muros.Segundo fontes próximas do inde-pendentista galego, UgioCaamanho poderá estar 'isolado' atéum máximo de três meses "masencontra-se bem". De facto, asactuais circunstáncias poderiamprovocar umha mudança da suasituaçom prisional, pois é habitualque depois do período de isolamen-to as pessoas presas nom voltem aomesmo módulo em que estavam,sendo transferidas para outra cadeia.

SerátransferidoaPuertodeSta.MaríaNo fecho da ediçom deste númerofontes do organismo Ceivar infor-márom que a Direcçom Geral deInstituiçons Penitenciárias(DGIP) decidiu transferir ao presopara o cárcere de Puerto de SantaMaria em Cádiz, o que dificultaráainda mais as visitas a UgioCaamanho. Por parte de Ceivardenunciam ao PSOE e nomeada-mente à directora da DGIPCarmen Gallizo por “intensificar apolítica repressiva de forma cruelalonjando do seu domicílio o máxi-mo possível um independentistaque ainda nom foi julgado”.Chamam a utilizar todas as vias decomunicaçom possíveis com o presocomo mostra de solidariedade.

Ugio Caamanho encontra-se emprisom preventiva desde há um anoe meio, num cárcere onde nomconvivia com outros presos políticose a mais de oito horas de estrada daterra dos seus familiares.

PROVÁVEL TRANSFERÊNCIA A CÁDIZ DO PRESO

O objectivo do tratamento penitenciário é provocar nos/as presos/as (e no seu ambiente sócio-familiar) um estado depermanente incerteza, impotência e indefensom. Na foto, prisom de Brieva (Ávilla) onde está presa Giana Rodrigues

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NOVAS DA GALIZA15 de Fevereiro a 15 de Março de 200716 CULTURA

CULTURA

Um maiorquino na Galiza, deperiferia a periferia: como se vê aGaliza do outro extremo doEstado espanhol?Em primeiro lugar há muitostópicos (o conhecimento limita-se amiúde ao polvo à galega), eem segundo lugar a informaçomchega como chega, manipulada,nomeadamente em relaçom àlíngua: eu cheguei a ouvir cousasterríveis da língua reintegrada,por exemplo.

E agora? A imagem que tinhasmudou?Ao chegar aqui, a imagem mudamuito. Eu tivem a sorte deconhecer, através dos centrossociais, gente interessantenumha cidade com grande vidaassociativa, polo menos emrelaçom ao resto do País. Gosteimuito de termos encontradopessoas a que já nom tivemos deexplicar certas cousas sobre onosso país, que é o que queremosdivulgar através de l’Ambaixada.Quer queiras quer nom, trabalharnum centro social é muitogratificante.

Pertences à Redacçom doL’Accent, o irmao catalám doNOVAS DA GALIZA. O teu olhar dejornalista dará para fazer umhaboa análise contrastiva...Eu noto ainda umha grandediferença entre as formas devida. Os Países Cataláns é umdos lugares do Estado onde oliberalismo, infelizmente, deixoumais pegada. Na Galiza ainda seveem cousas estranhas no meupaís: comprar num mercadocomo o de Compostela, comcousas que chegam directamente

do campo é praticamenteimpossível. De facto, ascooperativas de consumidoresestám a espalhar-se muito lá, eaqui ainda nom surgiu com forçao fenómeno. Outra diferençafundamental é o trabalho: nosPaíses Cataláns, para ajuventude, trabalhar nom émuito difícil. O problema é o tipode trabalho que pode realizar:estacional, mal pago... Emdefinitivo, é verdade que se notaum menor desenvolvimento, maseu nom quereria odesenvolvimentismo que arrasacom o mundo e que caracteriza omeu país para a Galiza.

A turistificaçom chegou já àGaliza, mas está longe de atingiro poder destrutivo que tivo noteu país... poderá acontecer cá

algo parecido?A Galiza ainda nom é um destinoturístico como podem ser osPaíses Cataláns, mas osinteresses económicos daspromotoras podem conseguir queum território, com muito solobarato e susceptível de serurbanizado, se torne um destinoturístico preferente. É precisoprestar atençom aos agressivosprojectos de estradas e auto-estradas, por exemplo,descobrindo os objectivos queperseguem.

Fala-nnos do vosso projectoassociativo.Temos dous objectivosprimordiais: dar a conhecer arealidade do nosso país eaprender também muito da nossapassagem pola Galiza. Por isso

também integram este colectivopessoas galegas que já estiverama viver nos Países Cataláns, emesmo pessoas que sem teremmorado lá, gostam da nossacultura ou estudam catalám.Queremos que toda a genteaprenda nas duas direcçons.Falaremos dos Países Cataláns,chamando a atençom para a suadiversidade dentro da unidade.Queremos trazer esta realidadepara a Galiza, construindo umhaespécie de multiculturalismo,através dos centros sociais, porexemplo. Também queremos iràs escolas secundárias, ondeincidiremos na explicaçom danossa realidade lingüística. Aindahá muita gente que pergunta: omaiorquino é catalám?

Quanto à língua, como a vês deum ponto de vista maiorquino?No País Valenciano é um poucodiferente, mas nas Ilhas e noPrincipado da Catalunha, aidêntica validez do castelhano edo catalám já foi assumida. Na

Galiza talvez nom ainda. Eu, quetento falar galego, nom consigoque muitas pessoas mo falem,apesar de falarem galego na suavida diária.

Em Maiorca nom acontece isso?Pode acontecer, sim, com umempregado de bar, mas na Galizatem-me acontecido comprofessores universitários. Paraalém disso, vejo um problema decastelhanizaçom. Chama-me aatençom a questom normativa,porque penso que se nós nomtivessémos estado fortes nomomento em que se decidiu quelíngua éramos, hoje teríamos ummaiorquino com ortografiacastelhana, e isso teria sidodramático. Considero que naGaliza é algo que deve mudar.Penso que se deve fazer umesforço no sentido da reinte-graçom lingüística, porque nompode ser positivo que umhapessoa venha de fora e entenda ogalego em apenas umha semanadevido à castelhanizaçom.

“Ainda há muita gente que nos pergunta: o maiorquino é a mesma língua que o catalám?”E. MARAGOTO / Guillem Colom Montero, redactor do jornal bimensal L’Accent, mal pujo os pés naGaliza, pujo também as maos num projecto inédito neste País, ainda que com referentes similares noseu país de origem. Trata-se de umha associaçom que pretende promover o relacionamento galaico-catalám: L’Ambaixada (os Países Cataláns na Galiza). Com ele, perto de 15 catalás e cataláns,

maioritariamente estudantes, mostram-nos com orgulho umha realidade que está longe de ser como cáa aprendemos. De Valência a Palma, de Eivissa a Gerunda, umha identidade tam diversa comounitária é ameaçada por problemas similares. Um dos mais graves, a especulaçom, foi analisado nocentro compostelano do Pichel no passado dia 27 de Janeiro.

Guillem Colom, redactor de L’Accent e membro de L’Ambaixada, os Países Cataláns na Galiza

Guillem Colom afirma que a informaçom da Galiza chega manipulada ao exterior.

L’Accent é um jornal quinzenal de informaçom popular nos Países Cataláns

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NOVAS DA GALIZA15 de Fevereiro a 15 de Março de 2007 17CULTURA

JACOBE PINTOR / Numha das pri-meiras actuaçons ao vivo, emmeados da década de oitenta,Pedro Luxúria Canibal, vocalistado grupo Mão Morta, mutilava-seà frente de centos de testemun-has enlouquecidas, espentandoumha faca numha perna, provo-cando a sua entrada urgente numhospital e a cancelaçom de pos-teriores concertos. Este sucessoultrapassava mais um facto trivialna história da música popularmoderna, escrita por qualquernotário medíocre do sensaciona-lismo musical, de que tanto gos-tam os fabricantes e consumido-res da ‘vida tranquila’, confortá-veis espectadores ansiosos portransformarem as convulsons deum mundo sumido no caos numespectáculo televisivo que osreconcilia com a sua segurança,devorando imagens construídasde geraçons perdidas, drogadas,frustradas, violentas; ainda bemque os nossos filhos e filhasestám salvaguardados e protegi-dos polo calor doméstico e adedicaçom afectuosa...

Mas nom, nom é isso; a acçomde Luxúria Canibal contém em simesma a significaçom estéticaque, após mais de seis álbuns,convertêrom Mão Morta numhabanda fundamental na história damúsica popular europeia. As facas,o sangue, o assassinato, enfim, ofestival de carne e a orgia frenéti-ca, desfilam desde o primeiroálbum homónimo, em que os MãoMorta, agitados, seguiam amesma senda apocalíptica deMichael Gira com Swans, mascom a velocidade rítmica e eléc-trica que o Punk convertera empadrom. Um padrom que iria serdestroçado mais tarde por umnovo movimento que abrangiagéneros distintos, tradiçons musi-cais diferentes, e que unia numprodigioso malabarismo SonicYouth e Big Black, Nick Cave eSuicide, etc; ainda que conser-vando o essencial: o espíritu quese manifestava tanto no Punk dos

Ramones como no Jazz livre deJohn Coltraine, ou no hedonismodo techno mancuriano.

Com Corações Felpudos, o segun-do e mais importante disco deMão Morta, estes portuguesesinauguravam a década de noventairrompendo inspirados nestemovimento, como privilegiadoscoetáneos, mas também comoprotagonistas de primeira ordem.Assim, neste segundo álbum, osbracarenses pausavam o ritmo,retorciam a electricidade para,sem alertas, lançar-se de novo àvertigem da velocidade, à explo-som de bombas ruidosas que sefazem mais destrutivas nas pausase no silêncio que lhes seguem,conduzindo um som mais conti-do, mais apropriado para a vozcavernosa, primitiva, e de um vio-lento lirismo, de Luxúria Canibal,competente por si própria parainocular no teu organismo perigo-sas doenças que fam estragos nohomem moderno. Mão Mortaanuncia neste segundo disco a suadescoberta, um caminho que jánom abandonaria na sua longa tra-jectória salvo para obsequiar-noscom gemas pop, melódicas, quecontinham em si próprias a terrí-vel ironia de um género ingénuo,desenfadado, optimista, confron-tado com o próprio horror de MãoMorta. A banda portuguesa res-pondia assim às exigências demudança, com um som que que-brava a tentativa de adscriçomfácil a qualquer estilo, no entantocom umha identidade reconhecí-vel de qualquer ángulo que deci-dissem eles próprios para acome-ter as suas músicas. Em sucessi-vos trabalhos, Venus em Chamas,Primavera de Destroços ou CaríciasMalícias, fôrom incorporando aelectrónica ao seu rock infeccioso,ou jogando com a música garagempara a transformarem noutracousa, numha estranha síntese damúsica urbana, armada com oasfalto e o aço que brilha em Asfacas ensanguentadas dos adolescentes,penúltima faixa de Corações felpu-

dos, impressionante exercício decalma tensa que se prolonga até ofim, renunciando à descarga detrovoada anunciada desde o seuinício, deixando-nos cruelmenteferidos, mas também definitiva-mente marcados por este álbum.

O terror ao vazioMas este universo construído nopercurso de umha extensa carreirajá estava contido todo ele numhasó acçom, o acto convulso deLuxúria, que à luz do posterior des-envolvimento estético de MãoMorta, nos revela a sua profundi-dade e a sua releváncia como umhaferida na batalha com nós mesmos,com a nossa identidade reconhecí-vel através da família e o trabalho,e fortalecida através do consumoda televisom, do cinema, do lazer,da publicidade, da comida, da dore do sofrimento que nom se expe-rimenta, tudo consumido e devo-rado com umha tranquilidade queesconde o terror ao vazio sob a boaconsciência de pacíficos cidadaos,de atentos filhos, e de estimáveisamigos. Luxúria Canibal e MaoMorta através da sua música, dosseus textos, revelam a fragilidadeda própria identidade, somosassassinos, somos loucos movidospara a acçom polo desejo, somos osnossos medos, somos os nossospróprios inimigos; pola primeiravez, em terras portuguesas, a músi-ca popular moderna serve para aampliaçom do campo de batalhamoral em que tanto Pessoa, comoAlmada Negreiros, ou MárioCesariny executárom um comba-te perigoso, arriscado, que infun-de medo, como o próprio MãoMorta, que hoje fica muito,muito longe dos disparos panfle-tários de algumha música politi-zada e muito difundida por cá, eem que os tiros som disparadoscom armas de fogueio, mas tam-bém, muito distante do fetichis-mo revival, ingénuo, inocente, deum formalismo auto-complacen-te que nos últimos temposganha adeptos no nosso País.

IVÁN CUEVAS / Vai já para 6 anosque o Colectivo Murguía, umgrupo de investigadores e inves-tigadoras novas, começou a tra-balhar no projecto de umharevista que tratasse da históriada Galiza em galego, com umhaperspectiva de País e umha von-tade de intervir, com a suainvestigaçom, na realidadesocial do momento. O projecto,com o apoio da AssociaçomGalega de Historiadores, a quepertenciam vários dos membrosdo colectivo, tomou o nome dopróprio grupo e de quem foiconsiderado o pai da historiogra-fia galega: a revista Murguía nas-cia em Maio do 2003, à procurade um povo ciente de si próprioatravés da consciência do seupassado.

Longe da prática, habitual naacademia, de realizar estudossobre estudos numha espiral deliteratura, citaçons e criticismo,um dos principais interessesdesta revista reside nos seusesforços por disponibilizar aopúblico os documentos. Assim,Murguía abre todos os seusnúmeros com umha secçom,‘Fontes’, em que som resgatadase editadas testemunhas escritasdo passado da Galiza. Umhaoutra focagem é também a quenos traz a ‘Entrevista’, onde asconversas com personagensainda vivas quebram a fendaimaginária que costuma separara história da realidade actual.Outros apartados (‘Museus earquivos’, ‘Leituras’, ‘A Rede’)aproximam-nos de lugares eobras onde aumentar o conheci-mento, e ‘Lembranças’ recuperaem cada número um protagonis-ta do passado galego. Mas ocerne da revista forma-o a sec-çom ‘Investigaçom’, com estu-dos sobre toda a história daGaliza, modernos e com grande

rigor, muitos deles realizadospor investigadoras e investiga-dores novos.

No último número publicadoaté o momento, o 10, correspon-dente ao período de Maio-Agosto de 2006, estas investiga-çons abrangem temáticas diver-sas como os maços hidráulicosno trabalho do ferro do Vale doEu, os álbuns de guerra deCastelao, os programas radiofó-nicos de Luís Seoane no CentroLucense de Buenos Aires, oescultor Florencio de Arboiro, oretaliado socialista AlfonsoOrtega Prada ou o tráfegocomercial no porto de Ribeira afinais do século XIX. Na secçom‘Fontes’ é resgatada umha cartainédita de Castelao a Manuel deIrujo, deputado do PartidoNacionalista Basco e tambémsom editados um pergaminhodo século XIV procedente doMosteiro de Santa Maria deMonfero e um artigo de AntónVilar Ponte sobre dous filmes detemática galega dos anos 20. Aentrevista é feita a Rufo Pérez,membro histórico de Ultreya, asMocidades Galeguistas ou aUPG e fundador de Galaxia; e alembrança é neste número paraXohán Xesús González, com arecuperaçom de vários dos seustextos.

Murguía. Revista Galega deHistoria tem umha periodicida-de quadrimestral e um preço dedez euros. Para além de estarpresente em quiosques e livra-rias de toda a Galiza, pode-seassinar o boletim de subscriçome consultar os requisitos para apublicaçom de textos na suapágina web, http://www.vieiros.com/murguia/, assim como procu-rar maior informaçom sobreoutras actividades do colectivoMurguía e da AssociaçomGalega de Historiadores.

ENTRE LINHAS

MÃO MORTA Tráfico e punhais

Revista Murguía, a história perto de nós

MÚSICA

Mão Morta, o festival de carne e a orgia frenética

Trata da História da Galiza em galego

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NOVAS DA GALIZA15 de Fevereiro a 15 de Março de 200718 E TAMBÉM...

1981, preámbulo do GolpeNormativo que eliminouumha normativa reinte-

gracionista para a substituir porumha isolacionista, declaraçonsdo ex-presidente M. Fraga: “elgallego hay que dejarlo comoes, no inventarlo de nuevo, nimucho menos si estainvención, no sólo es filológica,sino también política”. NOTTO BE. 1997, M. Fraga naAcademia das Artes Brasileira:“Idioma comum dos povos dequatro continentes da Galiza aTimor, que luta por manter oseu lusitanismo bem perto dasnossas antípodas.” TO BE.

Exemplos de elasticidadequanto à identidade da nossalíngua som inúmeros e o ensinodo ‘português’ e da sualiteratura tem sido alvofrequentemente desta inde-terminaçom. Os primeirosmanuais escolares recolhiamcom normalidade literatos eliteratas de Portugal e doBrasil. TO BE. Fôromdesterrados mercê a comissons

formadas nom por malvadosespanholistas mas por auto-proclamados ‘galeguistas’. Maisum fruto da desconexom entreo galeguismo de antes de 36 e oque surgiu nos anos 60. NOTTO BE.

De um ponto de vista‘técnico’, é surpreendente opapel reservado ao portuguêsde Portugal no ensinoobrigatório da Galiza.Enquanto na Estremaduraespanhola som convocadascada ano vagas de professor(a)para o ensino primário esecundário, na Galiza as vagassom convocadas, mas defrancês.NOT TO BE. ..Argumenta-se entom que aproximidade entre ‘galego’ e‘português’ exigiria melhorintroduzir unidades didácticasnos planos de língua eliteratura galegas a tratar essasleves diferenças. TO BE.

TO BE OR NOT TO BE,umha frase em inglês, umhaobra de teatro ou um sprayparalisante?

JOANA PINTO / Ingredientes(4 pessoas):

¼ litro de leite gordo,¼ litro de água, 4 ovos, umha pitada de sal,umha pitada de canela, farinha,toucinho.

PREPARAÇOM:Batemos bem os ovos com

a pitada de sal e canela.Misturamos com o leite e aágua e acrescentamos farin-ha batendo tudo até termosumha massa ligada e líquida.Preparamos a frigideira,colocando-a ao lume e espe-

tando o pedaço de toucinhonum garfo. Untamos bem a fri-gideira com o toucinho quandoestiver quente, e com umhaconcha do caldo, tiramos umpouco de massa e deitamo-la nafrigideira estendendo-a muitobem para que fique fina; deixa-mos ao lume até que as bordaspodam separar-se com a ajudade um garfo e viramo-la paraque se coza do outro lado. Ao seretirar da frigideira, estende-mo-la num prato e espolvilha-mos açúcar por cima.Repetimos o mesmo processoaté fazer umha dúzia de filhoasporque a massa já acabou.Servem-se frias.

ARROZ COM CHÍCHAROS

Filhós doces

LÍNGUA NACIONAL

REDACÇOM / O Ateneo ouren-sám, foi o lugar escolhido para acriaçom de umha plataforma deestudo e conservaçom do entrui-do . A intençom é dotar-se deum centro de estudo para inter-pretar, conservar e difundir ossímbolos e ritos tradicionais pre-sentes no ciclo festivo doEntruido. Com estratégias enca-minhadas ao desenvolvimentoda oferta cultural específica, e agarantir a sustentabilidade dosEntroidos tradicionais, entre osprimeiros recursos com que aplataforma pretende dotar-seestám o de um Arquivo Digital eum Centro de InterpretaçomVirtual que serva de difusor doenorme património ligado a estaancestral expressom popular.

Para além disso programam acelebraçom de umhas jornadasdivulgativas sobre o Entroido, ea ediçom de distintos materiaisque podam ajudar a difusom:exposiçons, publicaçons e outrosrecursos educativos dirigidosfundamentalmente aos centrosde ensino.

O material estará também dis-ponível para que asAdministraçons podam utilizá-los em trabalhos com projectosmuseísticos concretos.

Muito que preservar.O objectivo de conservaçom edivulgaçom entende-se a poucoque demos umha vista de olhossobre o rico património de cul-tura popular de que disfruta-mos. Porque som muitas as per-sonagens que povoam os nossocarnavais, nomeadamente nascomarcas do interior do país.Ginzo de Lima enche-se de des-files de pantalhas coas suas bin-chas na terça feira, e na quartade cinsa enterra-se á sardinha.Em Verím podemos ver aos ciga-rróns e receber farinha. Omesmo acontece en Laza:

depois das zorregadas dos peli-queiros do domingo, e da saída damorena (cabeça de vaca) nasegunda, chega a farrapada, comfarinha e formigas esfameadas,na segunda à noite numha luitana que a gente se emporcalhacomo nunca. Ao día seguinteneste entruido, dos mais antigosdo mundo, le-se o testamentodo burro. Mais personagens apreservar som o vergalheiro emSaurreaus, os charruas deAlhariz, com festa de boi inclui-da, os felos de Maceda, ou osboteiros e a Mula de Viana doBolo e os de Vilarinho de Conso.

ENTRE LINHAS

Pretendem estudar o entruido ourensám

(Beatriz Santos reflecte consigomesma)Seica te aborrece profundamentefalar do centro de assessoramen-to afectivo-ssexual ‘Quérote’?Aborrece. Já comentei no seu diao inapropriado de continuar autilizar o termo afectivo-sexual(NGZ nº36) assim como o inapro-priado do modelo médico parafazer educaçom sexual (NGZ nº42).

E agora, de novo a voltas com‘Quérote’, porquê?Porque inçárom todo de cartazescom o lema ‘Sabemo-lo todosobre o sexo’ e quigem saberquanto sabiam.

E quanto sabiam?Bô! Nada, o que dixérom noCentro foi que era um erro deimprensa, faltava o signo de

interrogaçom ao final da frase.Assim e todo querer saber desexo sem sexologia...

Algumha vez tens dito que oúnico que diferenciava o‘Quérote’ de um centro de saúdeera que repartiam preservativos.E mantenho-o, todo do que sefala nos famosos cartazes faireferência às obrigas dos centrosde saúde e dos PAC’s. Nomdeveria ser tarefa do ‘Quérote’tirar as castanhas do lume aoSERGAS, mas exigir o seucorrecto funcionamento e fazerderivaçons nos casos precisos.Porque, insisto, esse recurso jáexiste e o que se está a produziré umha despesa de dinheiro quedeveria ser investida em respon-der à necessidade real de umhaeducaçom sexual rigorosa, seria-mente planeada e teoricamente

bem sustentada, desenvolvida demodo sistemático e dirigida amultidom de colectivos (nom sóà juventude).

Algumha sugestom paramelhorarem a sua qualidade?Se querem competir seriamentecom o SERGAS precisam é depôr um veículo de emergênciapara que, no caso decomplicaçons nas cópulas, asmoças e moços nem se molestemem ir ao ‘Quérote’ e podam obtera pílula anticonceptiva na suaversom intramuscular no própriolugar dos factos: carros,domicílios particulares,discotecas e as suasproximidades...; isso sim, demaneira anónima e confidencial,como reza o cartaz, polo quedeveriam ir sem luzes e semsereia.

A CONJUGAR O VERBO SEXUAR

BEATRIZ SANTOS

E quem sabe todo sobre o sexo?

To Be or Not To Be

VALENTIM R. FAGIM

Entruido em Vilarinho de Conso.

Coelho

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NOVAS DA GALIZA15 de Fevereiro a 15 de Março de 2007 19DESPORTOS

DESPORTOS

BERNARDO MÁIZ BAR / O remocomo forma de propulsom para oavanço na água está vinculado àhumanidade desde a pré-história,essencial na pesca, no transporte eem geral como meio de desloca-mento desde tempos imemoriais.Para além de algumha possívelrepresentaçom gráfica anterior, aprimeira documentaçom fiávelsobre competiçons de remo apare-ce no Egipto há 4.000 anos, porcausa de disputas entre embarca-çons no Nilo para acompanhar ofaraó, e na mitologia da antigaGrécia há algumha regata 'heróica'.

Desde entom até hoje a navega-çom a remo foi modificando-se ediversificando-se, convivendo coma vela até a introduçom da máquinade vapor, que foi minguando a suafunçom no mundo do trabalho. Asua importáncia, no mundo ociden-tal, hoje, só é marginal na pesca eno transporte e está a crescer nacompetiçom e no tempo livre.

A finais do século XVIII come-çárom as competiçons do queactualmente é conhecido como'remo olímpico', as universidadesde Cambridge e de Oxford regate-am desde o 1829. É diferente aevoluçom do denominado 'bancofixo', pois é na costa Cantábricaonde se desenvolveu umha moda-lidade de remo que é a que actual-mente assentou mais na Galiza.

Nesta área, a relaçom profissionale os contactos entre os povos dolitoral que vai do Minho aoBidasoa criou numerosos usoscomuns nas formas das embarca-çons, nas artes de pesca e nosmodos de navegaçom, contribuin-do para a expressom colectiva quetem entre as suas manifestaçonsmais espectaculares as regatas detrainhas. A competiçom que deuorigem às provas de banco fixo sur-diu da pugna entre as embarca-çons de pesca que, impulsadaspolos remos e a ajuda do vento,iam ou voltavam dos caladoiros. Astrainhas tinhan que ser embarca-çons muito velozes polo tipo depesca que realizavam (anchova,sardinha...) com redes chamadas'trainhas', e delas o nome daembarcaçom. Era precisa muitaceleridade para chegar-se ao peixe,virar em torno do banco e envolvê-lo na rede antes de que desapare-cera; no retorno era necessária avelocidade para chegar ao leilámantes de que a oferta de peixe dasoutras trainhas figesse cair os pre-ços.

Aos poucos, surdírom os desafiose a fachenda sobre a capacidade deumha ou outra tripulaçom ouembarcaçom. Estes reptos somconhecidos desde finais do séculoXIX, e à vista de que podiam serum espectáculo atractivo passárom

a formar parte dos programas dasfestas: o cámara de Donostiaincluiu no programas das festas asregatas de trainhas desde o 1879, ena Galiza polo menos desde a quese programou na Corunha em 1904.Até 1916 eram as mesmas trainhasde pesca as que regateavam, masao ir o vapor arrumando, na pescade altura, o remo e a vela, começá-rom a ser construídas trainhas espe-cificamente para a competiçom,mantendo a eslora clássica de 12metros mas modificando a manga,o pontal e o peso; também surdí-rom outras modalidades no bancofixo como som o batel e a traineirin-ha, utilizadas para a pesca de baixu-

ra ou auxiliares das trainhas, come-çou a haver tripulaçons femininas efoi variando a composiçom socialdas tripulaçons reduzindo-se onúmero de remeiros e remeiras vin-culadas directamente ao trabalhono mar.

O remo galego na actualidadeCumpre distinguir nas suas caracte-rísticas o banco fixo do banco móvel,agrupadas estas duas modalidadesna Federaçom Galega de Remo.O banco móvel tem oito modalida-des diferentes segundo o remeiro ouremeira puxe de um remo ou dous, ede se há leme ou nom. Para a práticado banco móvel o lugar e a meteoro-logia devem ser especiais, pois a dis-táncia entre o bordo superior destasembarcaçons e a superfície da água éde poucos centímetros, já que nas-cêrom para a prática desportiva nosrios ou lagos; tal questom é um dosmotivos, entre muitos outros, polosquais o seu implantamento naGaliza nom é tam grande como o dobanco fixo, já que a maioria dos clu-bes galegos de remo estám à beira-mar, devendo aproveitar para a prá-tica do banco móvel os esteiros e aspartes mais interiores das rias, masesta possibilidade também tem assuas dificuldades porque em mui-tos destes lugares os treinos tenhemque estar limitados aos espaços detempo de preamar.

Umha soluçom 'intermédia' polaque estám a optar alguns clubes é apráctica do remo nas embarcaçonsdenominadas iolas, também debanco móvel mas com maior fran-cobordo. O banco fixo tem trêsmodalidades: batel, traineirinhas etrainhas com quatro, seis e trezeremeiros respectivamente (e opatrom). Na Galiza o banco fixotem um muito bom nível competi-tivo e um forte respaldo social.

Apesar que desde começos doséculo XX (exceptuando os anos daguerra civil) as competiçons deremo na Galiza sempre existírom, amaioria dos clubes de remo actuaiscriárom-se nos anos setenta, naonda daqueles tempos de criaçomde sociedades várias organizandoactividades de todo o tipo (desdemitins a campeonatos de parchis) ecompartindo local com outros des-portos náuticos. A motivaçom prin-cipal dos remeiros e remeiras costu-mava ser a rivalidade com clubesvizinhos. Os clubes de remo maio-ritariamente estám situados emvilas medianas onde a tradiçom dastrainhas está muito enraizada etransmite-se de geraçom em gera-çom como algo muito fundo danossa idiossincrasia como povo.

Bernardo Máiz Bar (1977) começou a remar aos

12 anos e tem umha extensa carreira desportiva

que chega até a actualidade.

Até 1916 eram astrainhas de pescaas que regateavam,mas ao ir o vaporarrumando, napesca de altura, oremo e a vela,começárom a serconstruídas trainhaspara a competiçom

Do remo como propulsom no trabalho no mar ao remo como desporto

Tripulaçom galega de Perilho na bandeira da Concha. Donóstia

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A FUNDO 10ANÁLISE 13CULTURA 16DESPORTOS 19

Quantas vezes ponho dian-te dos olhos as cousas quepor mim se passaram nos

últimos anos não posso senão con-cluir que na Galiza não se respei-tam nem as ideias originais, nema criatividade, nem a crítica lúdi-ca, nem a procura de informação emuito menos o trabalho duro,feito e pensado desde a própriaterra, seja físico seja intelectual.Prefere-se no entanto cousasligeiras que façam bom ruído naimprensa regional. O desprezopolo tempo e as bases, polas pou-cas cousas boas que ainda temos,está tão enraizado nas altas esfe-ras culturais e académicas quenenhuma pessoa já se espantaquando uma alta figura das nossaselites artísticas académicas eintelectuais, malbarata sempudor uma parte do nosso patri-mónio. O mercadejar de ideias,de trabalhos, de investigações, delivros, de bases de dados, deteses, de esforços, combinadoscom o autoritarismo e a minusva-loração polos quais não fazemosparte da 'nata intelectual' é tãohabitual entre o pessoal vinculadoà cultura autonómica como aescravidão entre os povos antigos.Apenas há maldade. Só ausênciade tempo para desenhar ideias,para projectar, para percorrerarquivos, bibliotecas, livrarias. Asaltas figuras estão demasiado ata-refadas em dirigir Instituiçõesinverosíméis, em politiquear emdepartamentos e Conselhos, emassistir a lindas soirés e boatosculturais, em trocar os seusengenhos e emprestarem infor-mações e trabalhos não seus, emvulgarizarem ideias, em reduzi-las a anedota, em confundirem asautorias e os contextos sociais.Isto, e essa intranscendência comque consideram a história pátria,a precaridade, as classes sociais, ojeito em que aprenderam a sen-tar-se na mesa dos que mandam arecolher migalhas em troca debufonadas é que tem levado aesta situação em que a legitima-ção de uma cultura rápida, o cam-balache de ideias e a propagandasubstitui o trabalho de base, alenta, longa, custosa e maravilho-sa tarefa de pesquisar ou de cons-truir plataformas, espaços de tra-balho comum. E é que quererviver da cultura galega (não para acultura galega como sempre sefizera) é obrigar-se, com todas asconsequências, à picaresca.

Por ERNESTO VÁZQUEZ SOUZA

- TTrabalhaste nos meios públicosna etapa do PP e na acutal.Achas que mudárom os modusoperandi internos, como porexemplo no tocante à indepen-dência dos poderes políticos, àdiversificaçom das fontes ou àinfluência das filiaçons políticasnas contrataçons?- Para isso creio que os informati-vos som o material mais sensível.Eu trabalho em programas, e simque se nota a vontade da gentede contar a sua versom, mas demaneira muito menos importan-te. Continua a estar presente, e éum mal habitual na televisompública, a excessiva presença deinformaçon institucional, que émuito difícil de cortar se nom écom umha vontade expressa. Essapulsom deles por estarem aí écompletamente aceitável, mascontra isso tem que estar a nossaresistência às vezes. Mas o quenom noto e gostaria de notar somas promessas electorais dos parti-dos que estám no Governo deconseguir que os meios públicossejam independentes de quemesteja a governar. E acho que issoé algo muito necessário que nema gente nem os trabalhadoresdevem esquecer. Que nom é sin-gelo é verdade, mas há modelos aseguir, mais sucedidos que os quetemos aqui. O saudável seria quea gestom seja independente dasmudanças de governo.

- TTeoricamente os meios públi-cos deveriam atender os interes-

ses da cidadania e mesmo contri-buir para a sua formaçom.Extrarradio pretende educarnalgum sentido?- Estamos bons nós para educar-mos ninguém. Mas há conteúdosque dificilmente aparecem nosmeios privados e que a televisome a rádio pública tenhem a obri-gaçom de atender. Cousa comque eu estou satisfeita. E fazê-loàs vezes de maneira mesmo per-versa, porque por vezes empre-gamos para os nossos propósitosfórmulas que normalmente somempregadas para outros, do rádiofórmula. O que serve para venderJuanes ou Shakira, porque nomhá de servir para vender Dios KeTe Crew ou Galegoz?

- OO certo é que a tua trajectóriaprofissional sempre estivo bas-tante ligada à música. Comovalorizas a sua importánciana sociedade?- Parece-me que a vida de todostem umha banda sonora, ecolectivamente parece-meumha produçom cultural impor-tantíssima a que se pode tirartambém muito mais proveito doque já se lhe tirou. À música,também lhe acontece um poucocomo à televisom e à rádio: porum lado é produto do seutempo, mas por outro lado nomsabemos até que ponto é espel-ho ou até que ponto nós olha-mos para isso e acaba produzin-do algo diferente em nós... quala causa e qual o efeito?

- MMas na Galiza talvez houvo umtempo em que mais do que gru-pos de rock ou de punk tínha-mos grupos em galego, em que ovalor principal era a língua...- Eu creio que agora está come-çando a deixar de acontecer. Epenso que é umha sorte. Porquesim que houvo um momento emque havia menos gente a fazermúsica e era muito menos diver-sa do que agora, em sonoridade,no tipo de letras… Sim, podiaperceber-se como um todo. Esim que, se calhar por parte dosque escutávamos, em muitoscasos havia razons de militánciaidiomática. Acho que cada vezacontece menos, que cada vez seouve mais música em galego porrazons que nom tenhem a vercom que esteja em galego.

- PPorém, cada vez há menos gale-gofalantes entre a gente nova.Quase parece paradoxal o dosgrupos que cantam em galego…- É que o da língua que se fala écomplicadíssimo. Cada vez hámais gente à qual nom faláromem galego na casa. E é terrívelque alguém tenha que decidirfalar em galego. E a música emgalego... se vai fazer algo, vai serbom. Mas tem que existir comomúsica, nom como factor nor-malizador, embora o seja. Euacho que é um avanço para alíngua, para a música e paratodos, que nem a música nemnada do que se fai criativamen-te seja com afám evangelizadornem proselitista. O que há quefazer é comportar-se, dar porfeito que as cousas som nor-mais. E se calhar isso ajuda aque sejam normais.

- HHá uns quantos anos o mundogalegófono urbano estava maisligado a ámbitos politizados, masé certo que actualmente se apre-cia a emergência de um novogrupo social, em muitos casosligado a projectos culturais ou narede, que vive em galego demaneira mais 'desenfadada'…- Sim, o galegofalante pailám oudo Bloco, era o que se dizia habi-tualmente. E às vezes podia pare-cer que o galego era ou para oPanteóm de Galegos Ilustres oupara a reivindicaçom. E está muibem que seja para essas duas cou-sas e para muitas mais. Agora está-se a recuperar um sentido maislúdico, porque se calhar tambémé menos necessário fazer as cou-sas à contra. Há que fazer as cou-sas e pronto, tirar complexos, termais sentido do humor...

- EE onde achas que pode estaresse ponto de inflexom em que ogalego se desvincula da cons-ciência política e passa a empre-gar-sse de modo normal?- Eu acho que já se está a dar, eacho que os meios podem ajudarmuito. O Xabarín por exemplo foiimportantíssimo para isso. Emdeterminado momento o galegoconverteu-se numha cousa comoritual, ou ainda o é em muitosámbitos, que vale para dar discur-sos de inauguraçom, aulas emgalego... Mas que nos ámbitos dacultura juvenil apareça cada vezcom mais normalidade e menosmarcado a priori polo folclórico,polo político... acho que issoajuda. E sempre digo que há quetirar do armário os neofalantes,porque o galego a estas alturas jáserá neofalante ou nom será.

SOLE REI / Esta jornalista começou como apresentadora do programamusicalChambo,naTVG,edepoisdepassarpordiversos informativosoude trabalhar como redactora em Tardes com Ana actualmente podemosouvi-lla à frente de Extrarradio, na Rádio Galega.

BELÉN REGUEIRA JORNALISTA

Picarescaintelectual