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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ MICHELE MAIDEL RECUPERAÇÃO DE TERRAS RARAS PROVENIENTES DE CATALISADOR DE EQUILÍBRIO DE UNIDADES DE CRAQUEAMENTO CATALÍTICO ATRAVÉS DE PRECIPITAÇÃO SELETIVA CURITIBA 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

MICHELE MAIDEL

RECUPERAÇÃO DE TERRAS RARAS PROVENIENTES DE CATALISADOR DE

EQUILÍBRIO DE UNIDADES DE CRAQUEAMENTO CATALÍTICO ATRAVÉS DE

PRECIPITAÇÃO SELETIVA

CURITIBA

2016

Michele Maidel

RECUPERAÇÃO DE TERRAS RARAS PROVENIENTES DE CATALISADOR

DESATIVADO DE UNIDADES DE CRAQUEAMENTO CATALÍTICO ATRAVÉS DE

PRECIPITAÇÃO SELETIVA

Dissertação de Mestrado apresentada comorequisito parcial para a obtenção do título deMestre em Engenharia Mecânica, ao Programade Pós-Graduação em Engenharia Mecânica,na área de concentração Fenômenos deTransporte, da Universidade Federal doParaná.

Orientador: Maria José Jerônimo de SantanaPonte

CURITIBA

2016

FOLHA DE APROVAÇÃO

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela vida e pelas oportunidades;

Aos meus pais: Eliane e Mario (in memoriam), por sempre acreditarem em

minha capacidade e confiarem em minhas decisões;

Aos meus irmãos: Thiago e Matheus, pelo apoio e pelos bons momentos;

Aos professores Maria José e Haroldo, pelo auxílio e confiança em meu

trabalho;

À equipe do GEA, pelo auxílio e amizade. Principalmente à Renata , Raquel e

Luciana, que acompanharam o trabalho;

Às minhas queridas amigas, Dieli e Maiza, pelos momentos bons e pelo ombro

amigo sempre disponível;

Ao professor Marco Grassi e à Loana, do Grupo de Química Ambiental - UFPR,

pela disponibilidade de realizar as análises quando precisei;

Ao Laboratório de Análise de Minerais e Rochas (LAMIR – UFPR), pelo serviço

prestado, sempre com qualidade;

À CAPES, pelo apoio financeiro;

Ao PgMec - UFPR, pela oportunidade;

“Não importa quanto a vida possa ser ruim, sempre existe algo que você pode fazere triunfar. Enquanto há vida, há esperança. ”

Stephen Hawking

RESUMO

O processo de craqueamento catalítico fluidizado de uma refinaria de petróleo

utiliza catalisadores que contém metais de alto valor agregado em sua estrutura,

como os elementos de terras raras. Devido às severas condições de processo e

contaminação da carga, estes catalisadores perdem sua atividade para o

craqueamento ao longo do tempo e são descartados ou encaminhados para

coprocessamento em fornos de cimento. A recuperação dos metais presentes

nestes catalisadores desativados reduz a toxicidade do resíduo e apresenta nova

fonte de matéria-prima. Estudos anteriores recuperaram 100 % dos metais terras

raras, com pureza de até 80 % via precipitação seletiva sobre efluente de lixiviação

ácida a quente de catalisador FCC contendo La, Ce e Ni. Este trabalho teve como

objetivo realizar a recuperação de Lantânio via precipitação seletiva sobre efluente

líquido da remediação eletrocinética de catalisador desativado utilizado em unidades

brasileiras contendo La, Ni e V. Os resultados mostraram ser possível recuperar

99 % do Lantânio contido na solução efluente na forma de sais de duplo sulfato, com

pureza de até 95 %, através da elevação da temperatura da solução. Este processo

envolve baixo custo de remoção de metais além de manter preservada a estrutura

do catalisador (reaproveitável em outro processo).

Palavras chave: Terras raras. Lantânio. Catalisador FCC. Remediação

eletrocinética. Precipitação seletiva.

ABSTRACT

The fluid catalytic cracking process, from a petroleum refinery, request

catalysts which have high-value metals inside of their framework, the rare earth

elements, for example. Due to the severe FCC process conditions and the oil load

contaminants, this catalysts lose their activity over the time and are discarded or

used for co-processing in cement kilns. The metal recovery from the deactivated

catalysts decreases its waste toxicity and presents a new source of raw material.

Former researches recovered 100 % of the rare earth metals, with purity up to 80 %,

by selective precipitation of an effluent derived from a heated acid leaching of a FCC

deactivated catalyst containing La, Ce and Ni. This study aimed to recover

Lanthanum by selective precipitation of an effluent solution derived from

electrokinetic remediation of a deactivated catalyst used by Brazilian refineries, which

contains La, Ni and V. The results revealed to be possible to remove 99 % of the La

from the solution as double sulfate salts, with purity up to 95 %, by increasing the

solution temperature. This process has low operational costs and preserve the

catalyst structure (what allow it to be used in another process).

Key words: Rare earth elements. Lanthanum. FCC catalyst. Electrokinetic

remediation. Selective precipitation.

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - FLUXOGRAMA DE PROCESSO BÁSICO DO FCC..............................16

FIGURA 2 – REPRESENTAÇÃO DA PARTÍCULA DE CATALISADOR DE FCC ....17

FIGURA 3 – PROCESSO DE RECUPERAÇÃO DE TR VIA PRECIPITAÇÃO

SELETIVA. ..................................................................................................................26

FIGURA 4 – PROCESSO DE RECUPERAÇÃO DE TR VIA EXTRAÇÃO COM

SOLVENTE..................................................................................................................27

FIGURA 5 – DIAGRAMA DE POURBAIX PARA A SÍLICA EM ÁGUA A 25ºC.........30

FIGURA 6 – DIAGRAMA DE POURBAIX PARA O ALUMÍNIO EM ÁGUA A 25ºC.. .30

FIGURA 7 – DIAGRAMAS DE POURBAIX PARA (a) CÉRIO e (b) LANTÂNIO EM

ÁGUA A 25ºC..............................................................................................................31

FIGURA 8 – DIAGRAMAS DE POURBAIX PARA NÍQUEL EM ÁGUA A 25ºC.........32

FIGURA 9 – DIAGRAMAS DE POURBAIX PARA TITÂNIO EM ÁGUA A 25ºC........32

FIGURA 10 – DIAGRAMAS DE POURBAIX PARA O VANÁDIO EM ÁGUA A 25ºC.

.....................................................................................................................................33

FIGURA 11– DIAGRAMAS DE POURBAIX PARA O FERRO EM ÁGUA A 25ºC.....33

FONTE: Pourbaix (1974).............................................................................................33

FIGURA 12 – ESQUEMA DA INSTALAÇÃO DE REMEDIAÇÃO ELETROCINÉTICA

.....................................................................................................................................35

FIGURA 13 – FOTO DO EXPERIMENTO DE REMEDIAÇÃO ELETROCINÉTICA. .35

FIGURA 14 – LIXIVIAÇÃO EXPERIMENTAL ATRAVÉS DO MÉTODO I.................36

FIGURA 15 – LIXIVIAÇÃO EXPERIMENTAL ATRAVÉS DO MÉTODO II................37

FIGURA 16 – EXPERIMENTO DE PRECIPITAÇÃO SELETIVA SOBRE EFLUENTE

DE REMEDIAÇÃO......................................................................................................38

FIGURA 17 – DISTRIBUIÇÃO DA INTENSIDADE DE EMISSÃO EM ICP-OES.......40

FIGURA 18 – CURVA ANALÍTICA PARA ANÁLISE DE LANTÂNIO EM ICP-OES ..41

FIGURA 19 – SOLUÇÕES OBTIDAS APÓS LIXIVIAÇÃO.........................................49

FIGURA 20 – PRECIPITADO FORMADO NO EXPERIMENTO DE PRECIPITAÇÃO

VIA LIXIVIAÇÃO..........................................................................................................53

FIGURA 21 – CONSUMO DE REAGENTE VERSUS CONCENTRAÇÃO DE

LANTÂNIO...................................................................................................................55

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – PREÇOS DAS EXPORTAÇÕES DOS ÓXIDOS DE TR EM US$/kg. . .22

TABELA 2 – PROPRIEDADES FÍSICAS DO CATALISADOR DE EQUILÍBRIO.......44

TABELA 3 – ANÁLISE QUÍMICA DOS CATALISADORES DE EQUILÍBRIO, FRX.. 47

TABELA 4 – % DE REMOÇÃO DOS ELEMENTOS NA REMEDIAÇÃO, ECAT –

LOTE 2, FRX...............................................................................................................48

TABELA 5 – RESULTADOS DA LIXIVIAÇÃO SOBRE ECAT – LOTE 1,

CROMATOGRAFIA IÔNICA.......................................................................................50

TABELA 6 – % DE REMOÇÃO DOS ELEMENTOS NA LIXIVIAÇÃO, ECAT – LOTE

2, FRX..........................................................................................................................50

TABELA 7 – COMPARATIVO ENTRE AS TÉCNICAS DE REMOÇÃO, ECAT –

LOTE 2........................................................................................................................51

TABELA 8 - COMPOSIÇÃO DO PRECIPITADO VIA REMEDIAÇÃO......................54

TABELA 9 - COMPOSIÇÃO DO PRECIPITADO VIA LIXIVIAÇÃO.........................54

TABELA 10 – RECUPERAÇÃO DE LANTÂNIO NA PRECIPITAÇÃO VIA

LIXIVIAÇÃO.................................................................................................................57

TABELA 11 – RECUPERAÇÃO DE LANTÂNIO NA PRECIPITAÇÃO VIA

REMEDIAÇÃO............................................................................................................57

TABELA 12 – CONSUMO ENERGÉTICO DO PROCESSO VIA REMEDIAÇÃO.....58

TABELA 13 – CONSUMO ENERGÉTICO DA PROCESSO VIA LIXIVIAÇÃO..........59

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BTX Mistura formada pelos hidrocarbonetos benzeno, tolueno e xileno

DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral

Ecat Catalisador de equilíbrio proveniente do processo de FCC

EPA Agência Americana de Proteção Ambiental

FCC Craqueamento catalítico fluidizado

FRX Fluorescência de Raio-x

GLP Gás liquefeito de petróleo

ICP-OES Espectrômetria de emissão óptica por plasma acoplado

IUPAC União Internacional de Química Pura e Aplicada

LCO Óleo leve de craqueamento

QAV Querosene para aviação

TR Elementos de terras raras

SUMÁRIO

1INTRODUÇÃO......................................................................................................12

1.1 OBJETIVOS......................................................................................................13

2 REVISÃO DE LITERATURA...............................................................................14

2.1 REFINO DE PETRÓLEO..................................................................................14

2.1.1 Craqueamento Catalítico...............................................................................15

2.1.2 Os catalisadores de FCC...............................................................................17

2.1.3 Desativação dos catalisadores de FCC.........................................................18

2.2 ELEMENTOS DE TERRAS RARAS.................................................................20

2.2.1 Mineração e Produção de Terras Raras........................................................20

2.2.2 Aplicações dos Elementos de Terras Raras..................................................23

2.2.3 Terras raras nas Zeólitas...............................................................................24

2.3 RECUPERAÇÃO DE ELEMENTOS DE TERRAS RARAS..............................24

2.4 REMEDIAÇÃO ELETROCINÉTICA..................................................................28

2.5 PRECIPITAÇÃO SELETIVA.............................................................................29

3 MATERIAIS E MÉTODOS...................................................................................34

3.1 MATERIAIS.......................................................................................................34

3.2 MÉTODOS........................................................................................................34

3.2.1 Remediação eletrocinética.............................................................................34

3.2.2 Lixiviação ácida..............................................................................................35

3.2.3 Precipitação seletiva......................................................................................37

3.2.4 Concentração de Lantânio nas soluções.......................................................39

3.2.5 Caracterização química do catalisador e dos precipitados...........................41

3.2.6 Remoção e recuperação de Lantânio............................................................42

3.2.7 Cálculo do Consumo energético....................................................................43

3.2.7.1 Perda de carga no leito de remediação......................................................44

3.2.7.2 Energia para aplicação do potencial...........................................................45

3.2.7.3 Energia para aquecimento das soluções....................................................46

3.2.7.4 Energia para agitação.................................................................................46

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO..........................................................................47

4.1 CARACTERIZAÇÃO DO CATALISADOR DE EQUILÍBRIO............................47

4.3 REMEDIAÇÃO ELETROCINÉTICA..................................................................47

4.4 LIXIVIAÇÃO ÁCIDA..........................................................................................48

4.5 PRECIPITAÇÃO SELETIVA.............................................................................52

4.6 CONSUMO ENERGÉTICO..............................................................................58

5 CONCLUSÕES....................................................................................................60

REFERÊNCIAS.......................................................................................................61

APÊNDICE I – CÁLCULO DO CONSUMO DE ENERGIA....................................64

ANEXO I – DADOS TÉCNICOS DO AGITADOR C-MAG HS7 (IKA® LABORATORY EQUIPMENT).........................................................................67

12

1 INTRODUÇÃO

O processo de craqueamento catalítico fluidizado (FCC – Fluid Catalytic

Cracking) é amplamente utilizado em refinarias de petróleo em todo o mundo, devido

à sua capacidade de quebrar moléculas grandes provenientes de outras unidades

em moléculas menores e de maior demanda (como GLP e gasolina), utilizando para

isso pressão, temperatura e catalisadores como agentes de fracionamento. Devido à

sua alta flexibilidade, unidades de FCC costumam operar em sua máxima

capacidade (ALMEIDA; SECCHI, 2011; SZKLO; ULLER, 2008).

Os catalisadores utilizados nas unidades de FCC contém metais de alto

valor agregado em sua estrutura, como elementos de terras raras. Devido às

condições severas do craqueamento e à presença de contaminantes na carga de

alimentação, estes catalisadores têm sua atividade reduzida com o tempo de

processo, sendo necessária constante retirada de catalisador usado e adição de

catalisador fresco. A demanda por estes catalisadores está cada vez maior devido

ao aumento contínuo no processamento de matérias-primas mais pesadas nas

refinarias e na demanda crescente por combustíveis menos poluentes. O catalisador

descartado é denominado catalisador de equilíbrio (Ecat) e tem como principal

destino o coprocessamento em indústrias cimenteiras ou o descarte de acordo com

sua toxicidade (BUSCA et al., 2014; GUISNET, 2004; SZKLO; ULLER, 2008; VALT,

2012).

O principal elemento responsável pela atividade do catalisador é a zeólita,

que possui, em muitos casos, metais de terras raras em sua estrutura. Estes metais

oferecem maior estabilidade estrutural à zeólita, aumentando seu tempo de vida útil

e incrementando sua acidez, conferindo-lhe maior atividade. Os elementos de terras

raras mais comumente usados para este fim, no Brasil, são Lantânio e Cério

(BUSCA et al., 2014; GUISNET, 2004; SOUZA-AGUIAR; TRIGUEIRO; ZOTIN,

2013).

O mercado mundial de terras raras é liderado pela China, tanto em termos

de produção quanto em quantidade de reservas lavráveis. Os preços destes

elementos costumam sofrer grandes flutuações em decorrência da geopolítica e

economia dos países fornecedores (ANDRADE, 2015; JHA et al., 2016). O interesse

13

em recuperar os metais do catalisador de equilíbrio é reduzir o passivo ambiental

deste resíduo além de obter outra fonte de matéria-prima para estes metais,

reduzindo custos e dependência de oferta internacional.

Inocenzzi et al. (2014) estudou a recuperação de elementos de terras raras

de catalisador usado de FCC da seguinte forma: lixiviação a quente com ácido

sulfúrico, com remoção de mais de 80 % destes metais, seguida de precipitação

seletiva com hidróxido de sódio sobre a solução obtida na lixiviação, recuperando-se

100 % dos metais terras raras presentes na solução, com grau de pureza de até 80

%.

Valt (2012) estudou a remediação eletrocinética para remoção de metais de

catalisadores de equilíbrio, utilizados por refinarias brasileiras, e obteve bons

resultados na remoção de elementos contaminantes como níquel e vanádio. A

técnica também apresentou nível de até 88 % de remoção de elementos de terras

raras do catalisador, sem gerar grandes mudanças em sua estrutura (o que pode

torná-lo reaproveitável para outros processos de conversão).

1.1 OBJETIVOS

Como a remediação eletrocinética obteve níveis de remoção de Lantânio tão

elevados quanto a lixiviação ácida realizada por Inocenzzi et al. (2014), este trabalho

teve como objetivos:

• Realizar precipitação seletiva em efluentes de lixiviação e remediação

eletrocinética sobre o mesmo Ecat para comparação entre os métodos.

• Verificação do potencial de recuperação de terras raras provenientes de Ecat

através da remediação

• Análise da influência da temperatura na precipitação de terras raras.

14

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 REFINO DE PETRÓLEO

O petróleo tem origem da decomposição da matéria orgânica resultante de

restos de animais e plantas juntamente com rochas sedimentares, que após longo

tempo submetidos a ações bacterianas e químicas, ativadas pelo aumento de

pressão e temperatura, acabam por se transformar em hidrocarbonetos (CARDOSO,

2005).

O refino de petróleo constitui da separação deste insumo, via processos

físico-químicos, em frações de derivados, que são processados em unidades de

separação e conversão até os produtos finais, que dividem-se em três categorias

(SZKLO; ULLER, 2008):

1. Combustíveis (gasolina, diesel, óleo combustível, gás liquefeito de

petróleo (GLP), querosene de aviação (QAV), querosene, coque de petróleo, óleos

resíduais): cerca de 90 % dos produtos de refino do mundo.

2. Produtos acabados não-combustíveis (solventes, lubrificantes, graxas,

asfalto e coque)

3. Intermediários da indústria química (nafta, etano, propano, butano, etileno,

propileno, butilenos, butadieno, mistura de aromáticos (BTX)).

A composição da carga na refinaria pode variar significativamente. Assim,

refinarias de petróleo são sistemas complexos com múltiplas operações que

dependem das propriedades do insumo (ou mix de insumos) e dos produtos

desejados. Por esta razão, “não existem duas refinarias iguais no mundo” (SZKLO;

ULLER, 2008).

Em princípio, as operações de uma refinaria incluem cinco categorias

(SZKLO; ULLER, 2008):

1. Operações de topping (ou separação de hidrocarbonetos): trata-se da

separação da carga (petróleo cru) em diferentes grupos e/ou frações de

hidrocarbonetos. A unidade topping mais comum é a destilação.

2. Craqueamento térmico ou catalítico de hidrocarbonetos: envolve a quebra

de moléculas grandes (pesadas) de hidrocarbonetos em moléculas menores. O

15

craqueamento pode ser atingido através do aporte de calor e/ou uso de

catalisadores. As operações de craqueamento incluem os coqueamentos retardado,

flexi e fluido, a visco-redução, o craqueamento catalítico, o hidrocraqueamento

catalítico e o termo-craqueamento.

3. Combinação de hidrocarbonetos: envolve a combinação de duas ou mais

moléculas de hidrocarbonetos para formar uma molécula maior, por exemplo,

convertendo um combustível gasoso em um combustível líquido. As operações de

combinação incluem as unidades de alquilação, eterificação e polimerização, que

combinam moléculas pequenas para produzir componentes da gasolina de alta

octanagem.

4. Rearranjo de hidrocarbonetos: altera a estrutura original da molécula,

produzindo uma nova molécula com diferentes propriedades físico-químicas, mas o

mesmo número de átomos de carbono. Neste caso, podem ser citadas as unidades

de reforma catalítica e as de isomerização.

5. Tratamento e blending: envolvem o processamento de derivados do

petróleo para remoção de enxofre, nitrogênio, metais pesados e outras impurezas. O

blending (ou a mistura, a formulação do produto) é a última fase do processo de

refino que é usada para obtenção do produto final. Entre as unidades de tratamento,

destacam-se as unidades de recuperação de enxofre e as unidades de

hidrotratamento.

2.1.1 Craqueamento Catalítico

O craqueamento catalítico em leito fluidizado, FCC, é o sistema mais

empregado entre os vários tipos de craqueamento existentes. Ele utiliza calor,

pressão e catalisadores como agentes no fracionamento da mistura de

hidrocarbonetos (SZKLO; ULLER, 2008).

A seção de reação do FCC, conhecida como conversor, é um equipamento

flexível e pode gerar grandes quantidades de GLP, se adequadas condições

operacionais forem utilizadas. Por outro lado, também é capaz de maximizar o

rendimento de produção de nafta craqueada ou óleo leve (LCO) quando os preços

da gasolina e do diesel estão favoráveis no mercado. Devido à sua alta flexibilidade,

16

unidades de FCC costumam operar em sua máxima capacidade (ALMEIDA;

SECCHI, 2011).

A FIGURA 1 apresenta um fluxograma básico do processo de FCC. A carga

da unidade é, normalmente, constituída de gasóleos leves e pesados da unidade de

destilação atmosférica (ou de destilação a vácuo), da unidade de coqueamento e

das operações de desasfaltação. Unidades de FCC iniciam a sua operação através

do pré-aquecimento da carga a 250-425 ºC. Esta carga, em seguida, entra em

contato com o catalisador aquecido a cerca de 700 ºC. Para aumentar a vaporização

e o craqueamento subsequente, a carga é atomizada com o vapor. O craqueamento

ocorre a 500-540 ºC e 1,5-2,0 bar. Quase todas as reações ocorrem no riser, quando

o catalisador e a carga entram em contato e ascendem ao reator. No topo do reator,

as reações estão completas (SZKLO; ULLER, 2008).

FIGURA 1 - FLUXOGRAMA DE PROCESSO BÁSICO DO FCC

FONTE: SZKLO; ULLER (2008)

O catalisador fluidizado e os produtos da reação são separados

mecanicamente (através de ciclones) e qualquer produto (óleo) sobre a superfície do

catalisador é removido através da passagem de vapor. Os produtos da reação

seguem para uma torre de fracionamento onde as frações desejadas são coletadas,

após separação. O resíduo do FCC é retirado no fundo da coluna e pré-aquece a

17

carga do FCC. O catalisador, por sua vez, vai para um reator de regeneração

(SZKLO; ULLER, 2008).

O catalisador, transportado do stripper (reator) para o regenerador por

simples gravidade, tem um teor de coque de cerca de 1 % (kg de coque por kg de

catalisador) e uma razão atômica Hidrogênio/Carbono ≤ 0,4. A combustão do coque

em ar inicia-se pelos átomos de hidrogênio, formando-se vapor de água enquanto

que o carbono pode ser transformado em CO ou CO2. As condições típicas de

funcionamento de um regenerador são: temperatura compreendida entre 680-760 ºC

e tempo de residência do catalisador de 5 a 10 minutos (GUISNET; RIBEIRO, 2004).

2.1.2 Os catalisadores de FCC

Os atuais catalisadores de FCC são constituídos de partículas esféricas de

70 a 80 μm de diâmetro médio (variando de 20 a 120 μm), apropriado para ser

utilizado no reator fluidizado. A análise das partículas evidencia a complexidade do

catalisador, que é composto por cristais de zeólita Y dispersas em uma matriz ativa

de alumina ou sílica-alumina junto com partículas de argila (GUISNET; RIBEIRO,

2004). A FIGURA 2 mostra a representação esquemática de uma partícula de

catalisador.

FIGURA 2 – REPRESENTAÇÃO DA PARTÍCULA DE CATALISADOR DE FCC

FONTE: Adaptado de BUSCA et al, 2014.

18

Estruturalmente as zeólitas são aluminossilicatos cristalinos baseados num

arranjo tridimensional de tetraedros TO4 (SiO4 ou AlO4-) ligados pelos seus átomo de

oxigênio para formar subunidades e, finalmente, enormes redes constituídas por

blocos idênticos (as malhas elementares). A fórmula estrutural das zeólitas, ou seja,

a composição das malhas elementares é: Mx/nO(AlO2)x(SiO2)y, onde n é a valência do

cátion M, x+y é o número total de tetraedros SiO4 e AlO4- por malha elementar e y/x

a razão atômica Si/Al (GUISNET; RIBEIRO, 2004).

Considerando a carga trivalente do alumínio em especial, os tetraedros AlO 4-

induzem cargas negativas na estrutura da zeólita, que são neutralizadas pelos

cátions de compensação passíveis de troca (M). As zeólitas são catalisadores

eficientes porque a aproximação forçada entre moléculas reagentes sob a influência

dos fortes potenciais eletrostáticos existentes no interior dos canais e cavidades

provoca o abaixamento da energia de ativação necessário ao fenômeno da catálise

(AFONSO et al., 2004).

Os fabricantes de catalisadores desenvolveram uma série de aditivos que

permitem: aumentar o índice de octano na gasolina e a formação de olefinas leves

(zeólita MFI), craquear seletivamente os hidrocarbonetos pesados, passivar os

venenos metálicos (Ni e V) presentes nas cargas, obter uma combustão total do

coque (em CO2) e reduzir as emissões de SO2. Estes aditivos são introduzidos no

catalisador durante a preparação ou disponibilizados separadamente sob a forma de

microesferas compatíveis com o catalisador (GUISNET; RIBEIRO, 2004). Os metais

de terras raras incluem-se neste grupo e suas características serão discutidas no

item 2.2.3.

2.1.3 Desativação dos catalisadores de FCC

Durante seu ciclo de vida, um catalisador sólido pode ser desativado por

diversas causas. Um fenômeno típico que causa essa desativação é a deposição de

produtos orgânicos, que torna os sítios ativos progressivamente inacessíveis. Nestes

casos, a funcionalidade é restaurada por calcinação do catalisador desativado

através de condições apropriadas. Em outros casos, a desativação ocorre por

envenenamento dos sítios ativos por elementos presentes em traços na corrente de

19

alimentação ou pela modificação da estrutura local dos sítios em si, induzida pelas

condições de reação e/ou regeneração (BUSCA et al., 2014).

O vanádio, enquanto contaminante do catalisador de FCC, além de causar

promoção de reações indesejadas, pode ter efeitos dramáticos na estabilidade dos

componentes da zeólita devido à volatilidade do H3VO4 formado no regenerador. Já

o níquel tende a reduzir-se para o estado metálico no riser e piorar as propriedades

catalíticas: Ni metálico é um catalisador de desidrogrenação efetivo, promovendo a

formação de H2 e coque quando presente no catalisador de FCC, reduzindo a

produção de gasolina (BUSCA et al., 2014)

As condições severas de reação e de regeneração e os contaminantes da

carga processada provocam a redução contínua da atividade catalítica dos

catalisadores de FCC. Além disso, os choques entre grãos e contra as paredes do

riser, do stripper e do regenerador levam à degradação mecânica do catalisador,

produzindo-se finos que são arrastados com os produtos ou com os gases de

combustão. Estes fatores exigem retirada frequente de parte do catalisador e adição

de catalisador fresco, formando uma mistura de catalisadores com várias idades

dentro do processo, mantendo assim uma performance catalítica constante

(GUISNET; RIBEIRO, 2004; BUSCA et al, 2014).

Após serem usados nas unidades petroquímicas, tais catalisadores tornam-

se poluentes em potencial (de fato, um dos piores contaminantes oriundos de

refinaria de petróleo) devido a três fatores básicos: o teor normalmente considerável

de metais pesados; a presença de compostos altamente cancerígenos presentes

nos inevitáveis depósitos carbonáceos (coque); a elevada ácidez desses materiais,

muito superior à dos solos. No ano de 2002, a Agência Norte Americana de

Proteção ao Meio Ambiente (EPA) caracterizou os catalisadores usados das

unidades de hidrotratamento, hidrorrefino, hidroprocessamento e craqueamento

como resíduos perigosos (AFONSO et al., 2004). No Brasil, o descarte de

catalisadores FCC atinge 120 t/mês por refinaria e os principais destinos são aterros

classificados, co-processamento em fornos de cimento e incorporação a

cerâmicas/concreto (VALT, 2012).

20

2.2 ELEMENTOS DE TERRAS RARAS

Os elementos de terras raras (TR) correspondem aos elementos do lantânio

(La, Z = 57) ao lutécio (Lu, Z = 71), entre os quais se incluem o ítrio (Y, Z = 39) e o

escândio (Sc, Z = 21). Mas, segundo recomendações da União Internacional de

Química Pura e Aplicada (IUPAC), usam-se os termos lantanídeos (Ln) para

designar os elementos do La ao Lu e terras raras quando aos lantanídeos são

incluídos o Sc e o Y (MARTINS; ISOLANI, 2005). O termo “terras raras” refere-se ao

fato de que estes metais encontram-se, geralmente, em concentrações mais baixas

do que outros metais, embora eles seja relativamente frequentes na crosta terrestre

(HERRMANN et al., 2016).

Quanto à toxicidade dos elementos de terras raras, há poucas informações

disponíveis na literatura. Herrmann et al. (2016), revisou os efeitos do Lantânio em

termos de bioacumulação e toxicidade para espécies aquáticas. A exposição a

níveis abaixo de 1 mg/L de La, nas formas de La(NO3)3, LaCl3 e La2O3, pode

interferir no crescimento, reprodução e ocasionar mortalidade de várias espécies em

ambientes aquáticos marinhos e de água doce.

2.2.1 Mineração e Produção de Terras Raras

Os elementos de terras raras encontrados na crosta terrestre não são

suficientemente concentrados para torna-los facilmente exploráveis. Isto se deve à

similaridade de seus raios iônicos, o que os torna intercambiáveis na maioria dos

minerais e muito difíceis de separar. Os terras raras são sempre encontrados em

vários minerais como, silicatos, halogenetos, carbonatos, fosfatos, etc, mas nunca

encontrados na forma de metal puro (JHA et al., 2016).

Os minerais de maior interesse comercial são como a Bastnasita

((Ce,La)CO3F), a Monazita ((Ce,La)PO4), a Allanita (silicato hidratado de Ce, La e Y),

a Gadolinita (silicato de Ce, La, Nd e Y) e a Xenotima (fosfato de Y ou Yb). A

monazita é um dos mais abundantes minerais de terras raras encontrados na

natureza. O tratamento químico da monazita pode ser feito via rota alcalina através

de adição de hidróxido de sódio ou rota ácida através de digestão com ácido

21

sulfúrico. O licor de terras raras produzido atraves da digestão com ácido sulfúrico

também contém outros elementos com U, Th e Fe (ABREU; MORAIS, 2010;

IBRAHIM; EL-HUSSAINI, 2007). Para purificar o licor, os TR são geralmente

precipitados na forma de duplos sulfatos de sódio e terras raras, através da adição

de sulfato de sódio, Equação 1 (ABREU; MORAIS, 2010).

OxHSONaTROxHSOTRNa 224224

3 )(2 (1)

Como o duplo sulfato Na-TR é muito pouco solúvel em soluções ácidas, para

atingir a dissolução desejada na separação dos TR individualmente, o duplo sulfato

é convertido em um composto altamente solúvel, como um hidróxido de TR, feito

através da adição de NaOH pela reação de dupla troca , Equação 2 (ABREU;

MORAIS, 2010).

OxHSONaOHTRNaOHOxHSONaTR 2423224 2)(3)( (2)

A China possui cerca de 44 % das reservas mundiais lavráveis de TR

(55.000 kt), seguida pelo Brasil (17 %, 22.000 kt), e Australia (2,5 %, 3.200 kt). A

China também é a líder da produção mundial, com 85,2 %, 95 kt/ano, dos óxidos de

terras raras produzidos em 2014 (86,6 % em 2013) e consome cerca de 64 % da

produção mundial, de 112 kt/ano, seguida pelo Japão (15 %), EUA (10 %) e União

Europeia (7 %) (ANDRADE, 2015).

No Brasil, as reservas lavráveis atuais localizam-se em Poços de Caldas -

MG (com 3 Mt de minério lavrável, teor de 1,15 % de óxido de TR, pertencente à

Mineração Terras Raras), em São Francisco do Itabapoana – RJ (com 438 t de

monazita, pertencente à Indústrias Nucleares do Brasil) e no Vale do Sapucaí - MG

(com 3,56 kt de monazita, pertencente à Vale S/A). Em 2012, o Departamento

Nacional de Produção Mineral (DNPM) aprovou novas reservas lavráveis, em duas

áreas de Araxá – MG, pertencentes às empresas CBMM e CODEMIG, com 14,2 Mt

e 7,7 Mt de óxidos de TR contidos, teores de 3,0 % e 2,3 % respectivamente, e uma

área em Itapirapuã Paulista - SP, com 97,96 kt de óxidos de TR contidos, teor de

4,89 %, de titularidade da Vale Fertilizantes. Sabe-se, também, que o país dispõe de

22

reservas minerais significativas ainda não exploradas, localizadas nos municípios de

Presidente Figueiredo - AM e de Catalão - GO. A exportação brasileira em 2014 foi

de 500 t de produtos manufaturados e 3 t de compostos químicos de TR e a

importação foi de 1244 t de compostos químicos e 529 t de produtos manufaturados

de TR. Estes dados demonstram a dependência do mercado brasileiro da

importação destes produtos com maior valor agregado além da baixa exploração do

potencial mineral lavrável no país (ANDRADE, 2015).

De acordo com o Sumário de Comodities Minerais Americana de 2015, a

produção global de terras raras é 110 kt/ano enquanto as reservas totais são de

130 Mt (JHA et al., 2016). Estes elementos são vendidos a teores de 99% de

pureza, na forma de óxidos ou em ligas de teores variados. Por essa razão, os

preços podem variar em função da qualidade e da quantidade requeridas nas

aplicações (ROCIO et al., 2012).

A TABELA 1 exemplifica as flutuações observadas nos preços destes

minérios (óxidos com pureza acima de 99,5 %) ao longo dos anos e a atual

estabilização.

TABELA 1 – PREÇOS DAS EXPORTAÇÕES DOS ÓXIDOS DE TR EM US$/kg. Óxido de 2007¹ 2008¹ 2009¹ 4T/2010¹ 2T/2011¹ Dez/2014² Dez/2015³

Lantânio 3,44 8,71 4,88 52,49 140,10 4,80 4,80

Cério 3,04 4,56 3,88 52,62 150,60 4,40 4,40

Neodímio 30,24 31,90 19,12 81,38 330,00 59,00 59,00

Praseodímio 29,05 29,48 18,03 78,62 235,50 105,00 105,00

Samário 3,60 5,20 3,40 36,58 135,60 ND ND

Disprósio 89,10 118,49 115,67 287,85 1470,00 340,00 340,00

Európio 323,90 481,92 492,92 611,54 3400,00 680,00 680,00

Térbio 590,40 720,77 361,67 620,38 2800,00 600,00 600,00

¹China (ROCIO et al., 2012, p. 396)

²Disponível em: http://mineralprices.com. Acesso em: 15 ago. 2015.

³Disponível em: http://mineralprices.com. Acesso em: 03 ago. 2016.

ND: Não disponível.

23

2.2.2 Aplicações dos Elementos de Terras Raras

As inúmeras aplicações dos TR são devidas às suas propriedades ímpares,

principalmente as espectroscópicas e magnéticas. Os lantanídeos são classificados

de acordo com os conceitos de Pearson como ácidos duros; por isso, coordenam-se

preferencialmente com bases duras, especialmente àquelas contendo oxigênio,

nitrogênio e enxofre como átomos doadores. Os íons Ln3+ são paramagnéticos com

exceção dos íons Y3+, La3+ e Lu3+, que são diamagnéticos (MARTINS; ISOLANI,

2005).

A industrialização das terras raras teve início com a fabricação de camisas

de lampiões no século XIX, devido à luminosidade apresentada pelos óxidos de

Tório (Th, Z=90) e Cério (Ce, Z=58) sob aquecimento. Com o passar do tempo suas

propriedades foram tornando-se mais conhecidas e seus compostos passaram a ser

mais utilizados, tais como na produção de ligas para pedras de isqueiro, baterias

recarregáveis e aplicações metalúrgicas (MARTINS; ISOLANI, 2005).

Com o desenvolvimento tecnológico os terras raras passaram a ganhar

novos usos e, hoje em dia, o universo de suas aplicações é muito abrangente, sendo

utilizadas em catalisadores como, por exemplo, no tratamento de emissões

automotivas e no craqueamento do petróleo, como corantes na indústria do vidro, na

fabricação de imãs permanentes, laseres e como materiais luminescentes, na

fabricação de lâmpadas fluorescentes e tubos de raios catódicos de aparelhos de

televisão (MARTINS; ISOLANI, 2005).

O interesse em aplicar os terras raras na investigação das propriedades e

funções de sistemas bioquímicos e na determinação de substâncias biologicamente

ativas tem aumentado. Os terras raras são usados principalmente como sondas

espectroscópicas no estudo de biomoléculas e suas funções, por exemplo, em

traçadores biológicos para acompanhar o caminho percorrido pelos medicamentos

no homem e em animais; como marcadores em imunologia (fluoroimunoensaios) e

também como agentes de contraste em diagnóstico não invasivo de patologias em

tecidos por imagem de ressonância magnética nuclear (MARTINS; ISOLANI, 2005).

24

2.2.3 Terras raras nas Zeólitas

A faujasita, ou zeólita Y, é sintetizada na forma química Na-Y, não ativa. O

processo tradicional de ativação é através de troca iônica com sais de amônia e/ou

soluções de TR, seguido de calcinação, tornando a zeólita na forma H-Y ou TR(H-Y)

(SOUZA-AGUIAR; TRIGUEIRO; ZOTIN, 2013).

A introdução de terras raras no catalisador reduz a desaluminização da

estrutura da zeólita sob condições hidrotérmicas e, consequentemente, aumenta sua

atividade e taxa de transferência de hidrogênio. Podem atuar como armadilha para

os compostos contendo vanádio, ou “v-trap”, formando compostos tipo TR(VO4), que

passiva os efeitos contaminantes deste metal. Estes elementos também reduzem o

processo de desidratação e o colapso da estrutura devido às altas temperaturas

existentes no processo de FCC (SOUZA-AGUIAR; TRIGUEIRO; ZOTIN, 2013). Isso

confere maior estabilidade estrutural à zeólita, aumentando seu tempo de vida útil.

Para garantir o equilíbrio eletrônico da estrutura da zeólita, são requeridos

cátions de compensação para assim respeitar o balanço de cargas entre os átomos

de sílica e alumínio da rede. A atividade catalítica é fortemente influenciada pela

natureza deste cátion. Para a maioria das reações envolvendo hidrocarbonetos, as

formas básicas da zeólita (Na-Y) tem pouca atividade e é necessária uma troca

iônica para aumentar a atividade catalítica ácida, que é comumente feita com

elementos de TR. Zeólitas com TR mais leves são mais ácidas do que as zeólitas

com TR pesados (SOUZA-AGUIAR; TRIGUEIRO; ZOTIN, 2013).

2.3 RECUPERAÇÃO DE ELEMENTOS DE TERRAS RARAS

A redução de fontes de metais pesados devido à extensiva mineração

mudou o foco das indústrias metalúrgicas para o uso de fontes secundárias de

metais, que incluem baterias usadas, resíduos eletrônicos, cinzas volantes e

catalisadores de petróleo usados. Elas ajudam a suprir a demanda atual pelos

metais de uma maneira mais eficiente e de melhor custo (MOTAGHED et al., 2014).

Há duas tecnologias principais de remoção de metais de resíduos sólidos:

hidrometalúrgica e pirometalúrgica. Na hidrometalúrgica, metais são dissolvidos por

25

lixiviação do material com ácido ou base; na pirometalúrgica, um tratamento térmico,

como calcinação ou fundição é utilizado para extrair os metais (SHAHRABI-

FARAHANI et al., 2014).

Afonso et al. (2004), realizou reciclagem química de um catalisador

comercial de craqueamento, isolando os diversos metais contidos neste, através de

uma sequencia de fusão com KHSO4, precipitação seletiva em meio alcalino,

dissolução do precipitado em ácido clorídrico e precipitação dos lantanídeos com

oxalato de amônio. Obteve precipitados na forma de hidróxido de ferro, oxalato de

lantanídeos e hidróxido de alumínio com purezas acima de 99 %.

Bertuol, Bernardes e Tenório (2009) obtiveram recuperação de 98 % de

elementos de terras raras (Nd, La, Ce e Pr) de baterias gastas de hidreto metálico

de níquel (Ni-MH) através de lixiviação com ácido sulfúrico, seguida de precipitação

do efluente com gotejamento de solução de NaOH, avaliando a influência do pH de

0,8 a 1,6. Resultou-se um precipitado na forma de pó fino e branco com

concentração de 76 a 85 % de terras raras, com melhores resultados em pH de 1,2.

A análise do precipitado através de Difratometria de Raio-X estabeleceu que este é

composto principalmente por sulfatos de terras raras, na forma de NaTR(SO4)2 ou

TR2(SO4)3.

Abreu e Morais (2010) investigaram, entre outros, o efeito da temperatura,

variando de 25 a 70 ºC, na precipitação de NaTR(SO4)2 com solução de NaOH. O

NaTR(SO4)2 proveio do licor produzido na digestão do minério monazita com ácido

sulfúrico e sua solubilidade decresceu com o aumento de temperatura, utilizando

quantidade de reagente suficiente, concluindo-se que a melhor temperatura para a

precipitação nesta solução foi de 70 ºC.

Provazi et al. (2011) comparou as técnicas de precipitação seletiva com

hidróxido de sódio e separação líquido-líquido com solvente Cyanex 272 para

recuperar metais de uma mistura de baterias domésticas. A separação líquido-

líquido mostrou-se mais eficiente, conseguindo recuperar 99 % de Zn a pH 2,5, 95 %

de Fe e 90 % de Ce a pH 7,0 e mais de 80 % de Cd e La a pH 3,5.

Innocenzi e Vegliò (2012) descrevem um processo hidrometalúrgico para

recuperação de terras raras de baterias de hidreto metálico de níquel. Foram

testadas lixiviações com ácido sulfúrico e ácido cítrico, obtendo recuperação de

26

99 % do La e Ce após precipitação seletiva com hidróxido de sódio a pH abaixo de

2,0.

Innocenzi et al. (2014) estudou a remoção de TR, especialmente Lantânio e

Cério, de catalisadores FCC usados da refinaria ORIM Spa (Macerata, Italia),

através de dois processos: precipitação seletiva e extração com solvente.

No primeiro processo, o catalisador foi lixiviado com solução de ácido

sulfúrico 2 mol/L sob agitação a 80 ºC durante 3h (FIGURA 3). Esta etapa removeu

mais de 80 % dos elementos de terras raras presentes no catalisador. Em seguida, a

solução filtrada foi submetida à precipitação seletiva, que consiste no gotejamento

controlado de solução de hidróxido de sódio (35 % m/v) até pH 2,0, ocorrendo

formação de precipitado na forma NaTR(SO4)2.H2O, separado da solução. A pureza

obtida ficou entre 75 e 80 % e os principais contaminantes encontrados no produto

foram Si (12 %) e S (10 %) (INNOCENZZI et al., 2014).

FIGURA 3 – PROCESSO DE RECUPERAÇÃO DE TR VIA PRECIPITAÇÃO SELETIVA.

FONTE: Adaptado de INNOCENZZI et al. (2014)

Na extração com solvente usou-se solução de 20 % v/v D2EHPA (ou ácido

bis-2-etil-hexil-fosfórico) em n-heptano, seguido de um Stripping e precipitação das

27

TR com ácido oxálico (H2C2O4). O catalisador foi previamente lixiviado com solução

de ácido nítrico (FIGURA 4). A extração com solvente apresentou recuperação de 76

a 82 % dos TR. Seguido de precipitação total dos mesmos em pH de 0,5 até 3,

apresentando como impurezas principais Al, Si e Mn na faixa de 1 % cada. A

vantagem deste processo em relação à precipitação seletiva é que o precipitado final

é um oxalato de terras raras; desta forma a parte orgânica pode ser calcinada,

obtendo um produto com alta pureza e valor comercial (INNOCENZZI et al., 2014).

FIGURA 4 – PROCESSO DE RECUPERAÇÃO DE TR VIA EXTRAÇÃO COM SOLVENTE

Fonte: Adaptado de INNOCENZZI et al. (2014).

28

2.4 REMEDIAÇÃO ELETROCINÉTICA

A remediação eletrocinética é uma tecnologia que tem recebido atenção

como uma prática de remediação in-situ e ex-situ para solos argilosos de baixa

permeabilidade ou sedimentos finos. Quando um gradiente de baixa voltagem é

aplicado no sedimento via eletrodos embutidos, poluentes eletricamente carregados

sofrem eletromigração em direção ao eletrodo de carga oposta. O campo elétrico

induz um fluxo eletro-osmótico e poluentes solubilizados de carga neutra também

podem ser transportados com o fluido. Então, os contaminantes podem ser

removidos do sedimento através da extração da solução eletrolítica da câmara dos

eletrodos ou por eletrodeposição nos eletrodos (CAMESELLE; REDDY, 2012;

OTTOSEN, 2014; RYU et al., 2011).

A remediação eletrocinética é baseada em três mecanismos principais:

eletromigração de espécies iônicas, eletro-osmose e eletroforese. Eletromigração é

a migração de espécies eletricamente carregadas (íons) presentes no sólido através

da água sob a força de um campo eletrico. Cátions se movem na direção do catodo,

enquanto ânions movem-se na direção do anodo. Eletro-osmose ocorre nos poros

devido à interação de arraste entre o seio do líquido no poro e uma fina camada de

líquido carregado próxima à superfície sólida, ou dupla camada elétrica, em que o

líquido move-se sob a ação do campo elétrico, como um íon. A eletro-osmose

produz um fluxo rápido de água em materiais de baixa permeabilidade e

provavelmente contribui significantemente para processos de descontaminação em

materiais argilosos. Eletroforese é a migração de partículas sólidas ou colóides

eletricamente carregados em uma mistura sólido-líquido. Em alguns casos,

eletroforese pode desempenhar um papel de descontaminação se os coloides

migrantes tem contaminantes adsorvidos (ELICKER; SANCHES; CASTAGNO,

2014).

O Grupo de Eletroquímica Aplicada (GEA) da Universidade Federal do

Paraná tem estudado a técnica de remediação eletrocinética com o intuito de reduzir

o passivo ambiental causado pelos catalisadores de equilíbrio de FCC através da

remoção de metais de sua estrutura e superfície, assim como investigar a possível

recuperação de atividade catalítica do catalisador, tornando possível sua reutilização

29

em outro processo. Os trabalhos de Valt (2012) e Valt et al. (2015) testaram a

remoção de metais sobre Ecat utilizado em refinaria contendo cerca de 2,6 % em

massa de La2O3, usando remediação eletrocinética com solução de H2SO4 1 mol/L,

potencial de 11 V, durante 48 h e obtevam remoção de cerca de 88 % dos

elementos de terras raras presentes no catalisador, sem comprometer sua estrutura

e com indícios de aumento de sua atividade catalítica.

2.5 PRECIPITAÇÃO SELETIVA

Um precipitado é uma substância cristalina ou coloidal formada quando a

solução se torna supersaturada com a substância em particular, formando uma fase

sólida que pode ser separada por filtração ou centrifugação. Na precipitação seletiva

ocorre a separação de elementos (em geral, cátions) presentes em uma solução,

utilizando para isso as diferenças de solubilidade dos sais dos mesmos. A

separação é feita através da adição de um composto solúvel que contém

substâncias que reagem e formam precipitado insolúvel com o cátion que deseja-se

separar (VOGEL, 1981).

Para obter índícios do comportamento de cátions em solução, pode-se

utilizar os diagramas de Pourbaix. Este tipo de diagrama mostra os produtos de

reação que se farão presentes quando é alcançado o equilíbrio do elemento em

água pura, de acordo com as condições de potencial de oxidação e pH do sistema.

As linhas contínuas e paralelas correspondem ao valor de log C indicado em sua

proximidade, onde C é a atividade do elemento em solução (JONES, 1996). As

FIGURAS 5 a 11 exemplificam estes diagramas para alguns dos principais

elementos encontrados em catalisadores de equilíbrio. Desconsiderando a

presença de ações de oxirredução no sistema de precipitação, observa-se a região

entre as linhas diagonais tracejadas (zona de equilíbrio eletroquímico da água) na

faixa de pH de interesse.

As FIGURAS 5 e 6 apresentam os diagramas para os dois elementos em

maior proporção no catalisador FCC: sílica e alumínio (BUSCA et al., 2014), e

mostra que a sílica possui baixa solubilidade em água no intervalo de pH de 0 a 10,

tendendo à formação de precipitado, enquanto o alumínio permanece em estado

30

iônico até o pH próximo a 2 e a partir deste valor pode ocorrer precipitação,

dependendo de sua concentração.

FIGURA 5 – DIAGRAMA DE POURBAIX PARA A SÍLICA EM ÁGUA A 25ºC.

FONTE: Pourbaix (1974).

FIGURA 6 – DIAGRAMA DE POURBAIX PARA O ALUMÍNIO EM ÁGUA A 25ºC.

FONTE: Pourbaix (1974).

31

O comportamento dos elemento de terras raras mais encontrados em

catalisadores de FCC, lantânio e cério (JHA et al., 2016), é descrito pela FIGURA 7.

Para ambos, o hidróxido do metal inicia precipitação em pH próximo a 7. Antes

disso, a forma mais estável do elemento é o cátion em estado de oxidação +3,

garantindo que seu hidróxido não seja formado.

FIGURA 7 – DIAGRAMAS DE POURBAIX PARA (a) CÉRIO e (b) LANTÂNIO EM ÁGUA A 25ºC.

FONTE: Pourbaix (1974).

O níquel permanece dissolvido em forma de cátion em pH ácido e pode

iniciar sua precipitação em pH de 4 a 6, dependendo do potencial de oxidação do

sistema (FIGURA 8). O titânio apresenta solubilidade em pH abaixo de 0 e a partir

deste valor pode precipitar na forma de óxido (FIGURA 9). Para ambos os casos, o

aumento do pH causa aumento da solubilidade seguida de queda, com a

solubilização do metal na forma de ânions.

32

FIGURA 8 – DIAGRAMAS DE POURBAIX PARA NÍQUEL EM ÁGUA A 25ºC.

FONTE: Pourbaix (1974).

FIGURA 9 – DIAGRAMAS DE POURBAIX PARA TITÂNIO EM ÁGUA A 25ºC.

FONTE: Pourbaix (1974).

33

O vanádio e o ferro, cujos diagramas estão apresentados na FIGURAS 10 e

11, podem apresentar-se em diversos estados de oxidação em pH ácido e ambos

iniciam sua precipitação em pH acima de 5.

FIGURA 10 – DIAGRAMAS DE POURBAIX PARA O VANÁDIO EM ÁGUA A 25ºC.

FONTE: Pourbaix (1974).

FIGURA 11– DIAGRAMAS DE POURBAIX PARA O FERRO EM ÁGUA A 25ºC.

FONTE: Pourbaix (1974).

34

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 MATERIAIS

O catalisador de equilíbrio (Ecat) utilizado na lixiviação ácida e na

remediação eletrocinética é proveniente de unidades FCC de refinarias da

Petrobras. Os experimentos foram realizados utilizando dois lotes de catalisador.

A precipitação seletiva utilizou dois tipos de solução: solução efluente da

lixiviação ácida e solução efluente de remediação eletrocinética;

O H2SO4 (1 mol/L e 2 mol/L) e o NaOH (35 %m/v) foram utilizados na forma

de solução. Ambos preparados a partir de reagentes de grau analítico para análise

(P.A.) e água destilada.

3.2 MÉTODOS

3.2.1 Remediação eletrocinética

Os experimentos foram realizados seguindo o procedimento descrito por Valt

(2012), que apresentou maior remoção de Lantânio. O catalisador desativado foi

impregnado com solução de 1 mol/L de ácido sulfúrico e inserido em reator cilíndrico

de acrílico de 9,5 cm de diâmetro e 22 cm de comprimento. Nas extremidades do

cilindro foram acoplados duas câmaras para inserção e coleta de solução e

eletrodos de chumbo, como catodo (polo negativo), e de liga Ti/Ru-Ir, como anodo

(polo positivo). Após repouso do catalisador, impregnado com solução ácida, por

24 h dentro do reator, foi iniciado bombeamento de solução de H2SO4 1 mol/L na

câmara anódica e retirada de solução efluente pela câmara catódica, com auxílio de

duas bombas dosadoras peristálticas (MILAN®), na vazão de cerca de 30,5 mL/h e

aplicado uma diferença de potencial elétrico, através de uma fonte de alimentação

MPL-1305M (Minipa®), de 11 V nos eletrodos, condições mantidas durante 48 h. A

FIGURA 12 apresenta esquema da instalação do sistema e a FIGURA 13 ilustra a

instalação do sistema no laboratório.

35

FIGURA 12 – ESQUEMA DA INSTALAÇÃO DE REMEDIAÇÃO ELETROCINÉTICA

(A: Reservatório de solução ácida; B: Bomba peristáltica; C: Reator eletrocinético; D: Reservatório desolução efluente; E: fonte de potencial.)

FONTE: VALT (2012).

FIGURA 13 – FOTO DO EXPERIMENTO DE REMEDIAÇÃO ELETROCINÉTICA

FONTE: O autor.

A solução efluente foi reservada para precipitação seletiva e o catalisador foi

lavado com cerca de 7 vezes sua massa em água destilada, em ciclos de 0,5 litro,

seco em banho de areia (QUIMIS®) a 80 ºC por 48 h, homogeneizado manualmente

e amostrado para análise química. Um dos experimentos teve o efluente do primeiro

ciclo de lavagem do catalisador amostrado para análise química de lantânio.

3.2.2 Lixiviação ácida

A lixiviação foi baseada nos experimentos de Innocenzi et al. (2014), que

resultaram em maior remoção de elementos de terras raras.

Foi utilizada mistura de 15 % em massa de catalisador desativado

adicionado à uma solução de 2 mol/L de ácido sulfúrico.

Os estudos iniciais, conduziram os experimentos através de dois métodos:

36

Método I: A mistura foi inserida em Becker sobre agitador magnético

MQAMA 301 (Microquímica Ind. E Com. Ltda.) ou C-MAG HS 7 (IKA® Laboratory

Equipment), este último possuindo graduação numérica da velocidade de agitação e

temperatura da chapa. A agitação foi mantida durante todo o experimento no nível

mínimo que garantia visual homogêneo da mistura Ecat – solução ácida, 1250 rpm.

A FIGURA 14 apresenta um experimento de lixiviação realizado sobre agitador

MQAMA 301.

FIGURA 14 – LIXIVIAÇÃO EXPERIMENTAL ATRAVÉS DO MÉTODO I

FONTE: O autor.

Método II: A mistura foi inserida em Becker e acoplada em Banho Maria TE-

056 (TECNAL®) que possui controle de temperatura, sem agitação, porém com

sistema de condensação de vapores acoplado, de forma a evitar perda de solução

por evaporação. A FIGURA 15 apresenta um experimento de lixiviação realizado por

este método.

37

FIGURA 15 – LIXIVIAÇÃO EXPERIMENTAL ATRAVÉS DO MÉTODO II

FONTE: O autor.

Para ambos os métodos, foi ligado o sistema de aquecimento e, assim que a

temperatura da mistura alcançou 80 ºC (monitorado por termômetro digital

Incoterm®), as condições foram mantidas por 3 h. Após a lixiviação, a mistura foi

mantida dentro do Becker por aproximadamente 20 h para resfriamento e

decantação do catalisador, facilitando assim o processo de filtragem.

A filtragem foi realizada com auxílio de uma Bomba de vácuo TE – 058

(TECNAL®) em Kitasato, funil de Buchner e papel filtro. A solução efluente foi

amostrada e reservada para posterior etapa de precipitação seletiva. O catalisador

lixiviado foi lavado no próprio funil com cerca de 7 vezes sua massa em água

destilada, em ciclos de 0,5 litro. Então foi levado para secar em banho de areia

(QUIMIS®) a 80 ºC por 48 h, homogeneizado manualmente e amostrado para análise

química. Um dos experimentos teve o efluente do primeiro ciclo de lavagem do

catalisador amostrado para análise química de lantânio.

3.2.3 Precipitação seletiva

A precipitação seletiva foi realizada nas soluções efluentes provenientes de

lixiviação ácida e da remediação eletrocinética, utilizando-se a mesma metodologia

para ambas.

A solução foi inserida em Becker e colocada sobre agitador magnético C-

MAG HS 7 (IKA® Laboratory Equipment), com agitação de cerca de 750 rpm durante

todo o tempo do experimento. Para os experimentos com aquecimento, a chapa de

38

aquecimento do agitador foi acionada e a temperatura medida com auxilio de

termômetro digital (Incoterm®) até que atingisse 65 ºC, o aquecimento foi então

desligado para início da precipitação (pois esta aumenta a temperatura da solução)

e a temperatura monitorada durante todo o experimento.

A precipitação foi conduzida com adição de solução de 35 % m/v de NaOH,

com auxílio de bureta de vidro de 25,0 mL, o pH foi monitorado por pHmetro 826 pH

lab (Metrohm®), que possui duas casas decimais de precisão. Ao atingir o pH

desejado, a solução foi mantida sob agitação durante 1 h para completar as reações

de precipitação. Para a recuperação dos elementos de TR, o pH foi elevado até

aproximadamente 2,00, baseando-se no experimento de Innocenzi et al. (2014). A

FIGURA 16 apresenta um experimento de precipitação seletiva sobre efluente de

remediação.

FIGURA 16 – EXPERIMENTO DE PRECIPITAÇÃO SELETIVA SOBRE EFLUENTE DEREMEDIAÇÃO

FONTE: O autor.

Após cada precipitação, o precipitado formado foi separado da solução por

filtração com Bomba de vácuo TE – 058 (TECNAL®) em Kitasato, funil de Buchner e

Microfiltro fibra de vidro GF-3 (Macherey-Nagel®). Após cada filtragem, foram

retiradas amostras de solução para posterior análise química. O precipitado foi

39

lavado com cerca de 300 mL de água destilada (acidificada com solução de 1 mol/L

de H2SO4 e pH 2,00) no próprio funil e levado para secar em estufa a 80 ºC por 24 h.

Foram retiradas amostras de água efluente da lavagem do precipitado para

um experimento resultante da lixiviação e um da remediação, ambos a temperatura

ambiente.

Para todas as soluções obtidas, foram feitos ensaios de densidade da

seguinte forma: tomada a tara de um balão volumétrico de 25 mL, em seguida o

balão foi completado com a solução desejada e pesado novamente em balança

analítica. A massa obtida foi utilizada para calculo da densidade, Equação 3.

S

SS V

M (3)

S = densidade da solução.

SM = massa da solução.

SV = volume da solução.

3.2.4 Concentração de Lantânio nas soluções

A análise preliminar para comparação entre os métodos de lixiviação foi feita

através da leitura do lantânio nas soluções efluentes em Cromatógrafo de íons 882

Compact IC plus (Metrohm®), coluna Nucleosil 5SA-125/40 de silica gel esférica com

grupos ácido sulfônico e tamanho da partícula de 5 μm, no Laboratório de

Eletroquímica e Superfícies de Corrosão (LESC) – UFPR, utilizando-se curva

analítica de 1 a 20 mg/L de lantânio. Para se adequar à curva analítica, as soluções

foram diluídas 200 vezes em água ultrapura Milli-Q®.

Inicialmente, pretendia-se analisar a concentração de lantânio de todas as

soluções obtidas por Cromatografia Iônica. Porém a alta concentração de sódio

apresentada pelas soluções filtradas após a precipitação interferiu na leitura de

lantânio. A cromatografia iônica foi, então, somente utilizada para análise das

amostras efluentes da técnica de lixiviação na primeira etapa (comparação entre os

Métodos I e II) e não utilizada para as análises sub-sequentes.

40

As demais soluções efluentes foram submetidas à Espectrometria de

emissão óptica com plasma acoplado indutivamente (ICP-OES) em equipamento

iCAP 6000 series, Thermo Fisher®, para análise de concentração de íons de

Lantânio, no Laboratório de Análises Ambientais (DQUI) – UFPR. Para isso, foi

montada uma curva analítica de 1 a 10 mg/L de lantânio, com diluições das soluções

efluentes, em água ultrapura Milli-Q®, de 500 vezes (lixiviação e remediação), 5 ou

10 vezes (precipitação seletiva), 200 vezes (lavagem dos catalisadores) e 100 vezes

(lavagem dos precipitados). Foram analisadas a emissão de três comprimentos de

onda para o lantânio: 333,7 nm, 379,4 nm e 412,3 nm, sendo que todas as curvas

analíticas obtiveram coeficiente de correlação (R²) superior a 0,999.

Devido à alta concentração de diferentes metais nas amostras, que podem

causar interferência espectral na leitura da emissão de lantânio, foi realizada

comparação entre as distribuições de intensidade de emissão obtida para cada

comprimento de onda estudado e para cada amostra analisada. A FIGURA 17 ilustra

uma das amostras, como exemplo.

FIGURA 17 – DISTRIBUIÇÃO DA INTENSIDADE DE EMISSÃO EM ICP-OES.

FONTE: O autor.

41

Percebe-se que a menor interferência espectral foi obtida pelo comprimento

de 379,478 nm, com distribuição mais centralizada ao redor do pico, logo, os valores

utilizados para os cálculos foram os resultados relacionados a este comprimento de

onda.

A FIGURA 18 ilustra a curva analítica utilizada, com o resultado de uma das

amostras submetidas, como exemplo.

FIGURA 18 – CURVA ANALÍTICA PARA ANÁLISE DE LANTÂNIO EM ICP-OES

FONTE: O autor.

3.2.5 Caracterização química do catalisador e dos precipitados

A caracterização química do catalisador e dos precipitados obtidos após

precipitação foi realizada por fluorescência de raios-X (FRX). Procedeu-se a

preparação de pastilhas dos materiais, iniciando-se pela moagem de uma pequena

quantidade de catalisador em moinho de Carbeto de Tungstênio. Pesou-se 7 g do

material moído e adicionou-se 1,4 g de aglomerante. Nos Precipitados, como a

massa obtida era limitada, fez-se a moagem manual do material em Gral e Pistilo de

cerâmica, para reduzir perdas de material. Pesou-se 0,35 g do material moído e

adicionou-se 6,65 g de ácido bórico e 1,4 g de aglomerante.

Nos dois casos, homogeneizou-se a mistura de material e aglomerante e

prensou-se em uma prensa PFAFF com pressão de até 40 tf/cm². A pastilha

prensada foi então levada ao equipamento de FRX para realizar a leitura da

concentração de todos os elementos presentes nas amostras. As análises de FRX

foram realizadas em Espectrômetro de fluorescência de raios X, Panalytical®,

42

modelo Axios Max no Laboratório de Análises de Minerais e Rochas (LAMIR –

UFPR).

3.2.6 Remoção e recuperação de Lantânio

O cálculo da porcentagem de remoção dos metais do catalisador submetido

às técnicas de remediação e lixiviação baseou-se nas análises obtidas pelo FRX, e

realizada através da Equação 4.

100.

Re% xMX

MXMXmoção

ECATECAT

ffECATECAT (4)

Sendo:

ECATX : fração do metal no catalisador desativado.

ECATM : massa inicial do catalisador desativado;

fX : fração do metal no catalisador após submetido à lixiviação/remediação.

Mf : massa do catalisador após submetido à lixiviação/remediação.

Para o cálculo da composição do precipitado a partir das análises de FRX,

foi utilizada a hipótese de formação do duplo sulfato de sódio e lantânio, defendida

por Bertuol, Bernardes e Tenório (2009) e, por isso, considerou-se que todo o

lantânio encontra-se presente nesta forma. As frações de sódio e enxofre foram

então recalculadas, subtraindo a quantidade estequiométrica dos mesmos tomando

a quantidade de lantânio como referência. O resultado apresentado forneceu as

frações de sódio e enxofre teoricamente não ligados ao duplo sulfato (impurezas),

Apresentadas pelas Equações 5 e 6.

La

NaLaNaNa

MM

MMXXX 112 (5)

La

SLaSS

MM

MMXXX 2112 (6)

Sendo:

iX 1 : fração do elemento i na análise de FRX;

43

iX 2 : fração do elemento i não ligado ao duplo sulfato.

iMM : massa molar do elemento i.

Feito isso, os resultados foram normalizados para cada elemento, para soma

igual a 100%, Equação 7.

100%12

2

X

XP

ii

(7)

Sendo:

iP% : fração de i final no precipitado, em %.

A recuperação de lantânio, baseada nas análises de ICP, foi fornecida pela

Equação 8.

11

2211Re%S

LaS

SLaSS

LaS

MC

MCMCcuperação

(8)

Sendo:

LaSC 1 : concentração de lantânio na solução inicial.

LaSC 2 : concentração de lantânio na solução final.

1SM : massa da solução inicial.

2SM : massa da solução final.

3.2.7 Cálculo do Consumo energético

Para comparar os métodos de remoção, é muito importante comparar o

consumo energético dos mesmos. Os gastos energéticos experimentais do processo

via remediação compreendem:

• Aplicação do potencial elétrico.

• Deslocamento do fluido (bombeamento peristáltico).

• Aquecimento da solução de precipitação.

Os gastos energéticos da lixiviação, compreendem:

• Agitação da mistura.

44

• Aquecimento da mistura.

• Manutenção da temperatura da mistura (devido às perdas por

convecção e evaporação).

3.2.7.1 Perda de carga no leito de remediação

Para a estimativa do consumo energético do processo de remediação, é

necessário conhecer a resistência fornecida pelo leito de catalisador ao movimento

de solução, denominada perda de carga.

As propriedades do catalisador de equilíbrio foram estudadas por Valt

(2012). E são reproduzidas pela TABELA 2.

TABELA 2 – PROPRIEDADES FÍSICAS DO CATALISADOR DE EQUILÍBRIO

Porosidade 0,23

Densidade aparente 1580 kg m-3

Diâmetro médio das partículas 65,37 μm

Área superficial externa 40,08 m²/g

A energia requerida para um fluido vencer uma perda de carga Δ P (Pa)

com uma vazão Q (m³ s-1) é igual a H (J), Equação 9.

PQH (9)

A perda de carga no leito da remediação foi calculada a partir da equação de

Kozeny-Carmann, que é válida para escoamento laminar em meio poroso, Equação

10.

223

2)1(150

P

oS

d

V

L

P

(10)

Sendo

P : perda de carga no leito (Pa).

L : comprimento do leito (m).

: porosidade do leito.

oV : velocidade aparente do fluido (m s-1).

45

S : viscosidade da solução (Pa s).

: esfericidade da partícula.

Pd : diâmetro médio da partícula (m).

A velocidade aparente foi calculada através da Equação 11.

A

QVo (11)

Q : vazão volumétrica (m³ s-1)

A : área da secção transversal do reator (m²)

A esfericidade da partícula (ψ) é a razão entre a área da superfície de

uma esfera que possui o volume igual ao da partícula e a área real da superfície

externa desta partícula, e foi obtido através da Equação 12.

ψ=π(V P

6π )

(23)

AP

(12)

Conhecendo as características do catalisador: diâmetro médio (dP),

porosidade (ε), densidade aparente (ρP) e área específica (Ae), seu volume (VP) e

área superficial (AP) foram calculadas pelas Equações 13 e 14.

)1(6

3 PP dV (13)

AP=ρPπ6d P3 Ae (14)

3.2.7.2 Energia para aplicação do potencial

A energia consumida devido à aplicação de potencial elétrico na remediação

eletrocinética foi calculado utilizando a potência da fonte de energia (Pot ) em W,

pela Equação 15. Onde V é a voltagem aplicada (V) e i a intensidade média de

corrente (A), ambas fornecidas pelo equipamento durante o experimento.

Pot=Vi (15)

46

3.2.7.3 Energia para aquecimento das soluções

A energia gasta com aquecimento da solução para as precipitações em

temperatura de 65 ºC e aquecimento da mistura Ecat – solução ácida na lixiviação

foram calculadas utilizando os dados técnicos de potência da chapa de aquecimento

do equipamento fornecidas pelo fabricante (ANEXO I) e a temperatura média da

chapa de aquecimento durante a execução dos experimentos.

3.2.7.4 Energia para agitação

A energia gasta na agitação da solução de precipitação e da mistura Ecat –

solução ácida na lixiviação foi calculada utilizando os dados técnicos de potência do

agitador do equipamento fornecidas pelo fabricante (ANEXO I) através da leitura do

valor da rotação do motor durante execução do experimento.

47

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 CARACTERIZAÇÃO DO CATALISADOR DE EQUILÍBRIO

Para este estudo, foram utilizados dois lotes diferentes de catalisador de

equilíbrio (Ecat) utilizado por refinarias brasileiras. A caracterização química do

material, por FRX, está apresentada na TABELA 3, juntamente com a caracterização

dos catalisadores utilizados por Innocenzi et al. (2014) e Valt (2012), também por

FRX, a fins de comparação.

TABELA 3 – ANÁLISE QUÍMICA DOS CATALISADORES DE EQUILÍBRIO, FRX.

Al Si La V Fe Ni Na P Ti K Ca Mg Ce Zr S

Ecat– Lote 1 23,1 22,5 1,4 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0,1 0,1 - - 0,1

Ecat – Lote 2 23,3 22,0 1,9 0,7 0,7 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0,1 - - - -

Ecat - Innocenziet al. (2014)

17,35 12,75 3,02 - 0,33 0,02 - - 0,43 - - - 0,23 0,13 0,01

Ecat – Valt,(2012)

20,8 23,7 2,3 0,1 0,5 0,2 0,3 0,5 0,2 - - - - - -

Foram analisadas três amostras de cada lote de catalisador. Apesar da

característica normalmente heterogênea, comum para este material, o desvio padrão

máximo observado foi de 0,60 para o Lote 1 e 0,12 para o Lote 2, ambos para o

silício, valores aceitáveis devido à alta concentração deste elemento no catalisador.

Os catalisadores utilizados neste estudo possuem quantidade menor de

elementos de terras raras (La e Ce) em comparação aos demais. Além disto,

possuem maior teor de contaminantes, como vanádio, ferro e níquel. Estas

diferenças nas características químicas podem resultar em diferenças na

porcentagem removida e na composição química do produto final obtido na

precipitação.

4.3 REMEDIAÇÃO ELETROCINÉTICA

Primeiramente, foram utilizadas soluções efluentes obtidas de experimentos

de estudos de remediação eletrocinética anteriores para a precipitação seletiva , nas

condições otimizadas de remoção de metais (potencial elétrico de 11 V,

48

concentração de H2SO4 1 mol/L, tempo de experimento de 48 h). Porém, devido ao

tempo de estocagem destas soluções, foi observada quantidade significativa de

precipitado formado no fundo dos recipientes, o que pode apresentar-se como

interferência nos experimentos de precipitação. Foram então realizados novos

experimentos de remediação nas mesmas condições especificadas, sobre o Ecat –

Lote 2, com o intuito de obter solução para os experimentos sem precipitados

preexistentes.

O catalisador foi pesado, amostrado e analisado em FRX antes e depois de

cada remediação. O material apresentou perda média de 8 % da massa do

catalisador para a solução e a técnica mostrou porcentagem de remoção de metais

apresentados pela TABELA 4, com baixos desvios.

TABELA 4 – % DE REMOÇÃO DOS ELEMENTOS NA REMEDIAÇÃO, ECAT – LOTE 2, FRX.

La P Na V Fe Al Ni Si

Remediação 1 84,2 54,7 45,6 37,3 27,5 17,7 9,4 2,4

Remediação 2 84,0 56,1 47,3 43,5 41,4 21,3 12,1 2,4

Remediação 3 84,0 56,1 47,3 43,5 12,1 19,7 0,0 3,4

Remediação 4* 72,0 29,7 41,4 39,2 12,1 5,3 12,1 5,3

Média 84,1 55,6 46,7 41,4 27,0 19,6 6,3 2,7

Desvio padrão 0,1 0,8 0,9 3,6 14,7 1,8 7,8 0,5

* Experimento não contabilizado na média

A Remediação 4 teve problemas de controle de vazão de solução durante a

execução, sendo que seu resultado não está contabilizado na média da TABELA 4,

mas sua solução efluente foi utilizada para experimentos precipitação seletiva, a fins

de comparação.

As soluções provenientes da remediação eletrocinética apresentaram pH

médio de 1,16.

4.4 LIXIVIAÇÃO ÁCIDA

A lixiviação ácida foi conduzida inicialmente através do Método I (agitador

magnético) sobre o Ecat – Lote 1. Durante os experimentos observou-se uma

evaporação muito intensa de solução. Para checar se essa evaporação poderia

interferir nos resultados de remoção dos metais, foi realizada investigação da

49

lixiviação através do Método II (banho térmico), cujos equipamentos estavam

disponíveis no laboratório. Este método, além de possuir um condensador para

refluxo da solução evaporada, conseguiu distribuir o calor no sistema com menor

perda por convecção e manteve a temperatura constante durante todo o

experimento, enquanto no Método I a evaporação e as perdas de calor para o

ambiente, altas devido ao fluxo de exaustão de ar dentro da capela, exigiu controle

manual constante e apresentou desvios da temperatura de ± 2 ºC.

Durante os experimentos, a coloração da solução tornou-se azul-

esverdeada, podendo indicar a presença de íons de vanádio, principalmente VO2+ e

V3+, que apresentam esta coloração e são estáveis para baixos valores de pH

(CRANS et al., 2004) (FIGURA 10). A coloração obtida para a solução efluente no

Método I apresentou tom mais forte do que a solução obtida através do Método II,

como mostra a FIGURA 19, fornecendo indicativo que o Método I obteve maior

remoção de metais.

FIGURA 19 – SOLUÇÕES OBTIDAS APÓS LIXIVIAÇÃO

(a) catalisador e solução lixiviados sobre agitador magnético (b) catalisador e solução lixiviados embanho térmico sem agitação

FONTE: O autor.

Após a filtração, as concentrações das soluções efluentes foram medidas

por cromatografia iônica e os resultados, apresentados pela TABELA 5, confirmaram

a maior remoção de Lantânio pelo Método I. Além disto, como neste método houve

perda de solução por evaporação, as soluções apresentaram-se quatro vezes mais

concentradas.

50

TABELA 5 – RESULTADOS DA LIXIVIAÇÃO SOBRE ECAT – LOTE 1, CROMATOGRAFIA IÔNICA.

Metodo I Método II

Concentração média de La na solução efluente (ppm) 2056,1 486,3

Desvio padrão Concentração de La na solução efluente (ppm) 69,721 107,2

Massa média La removido/Massa Ecat (g/kg) 5,23 3,01

Os resultados mostraram a importância da agitação do sistema durante a

lixiviação, pois esta promove maior contato entre a solução ácida e a superfície do

catalisador, facilitando a remoção do metal.

Devido à necessidade de realizar novas corridas de remediação

eletrocinética e à quantidade disponível de catalisador de equilíbrio, foram realizados

novos experimentos de lixiviação sobre o Ecat – Lote 2, pois, como apresentado na

TABELA 3, as características químicas entre os lotes são diferentes, principalmente

quanto à concentração de lantânio, assim a comparação entre as técnicas torna-se

mais confiável. Os resultados de remoção dos elementos através desta técnica

sobre o novo lote esta apresentado na TABELA 6.

TABELA 6 – % DE REMOÇÃO DOS ELEMENTOS NA LIXIVIAÇÃO, ECAT – LOTE 2, FRX.

Elemento La Na P V Fe Al Ni Si Ti

Lixiviação 1 85,4 64,9 56,1 45,9 31,7 24,0 12,2 2,2 12,2

Lixiviação 2 88,8 66,3 71,9 54,7 34,5 27,4 15,8 5,8 15,8

Lixiviação 3 82,0 67,1 40,7 34,1 23,2 18,3 1,2 0,0 1,2

Lixiviação 4 84,3 71,2 48,2 42,5 32,9 27,3 13,7 0,0 0,0

Lixiviação 5 85,9 66,2 49,3 51,8 40,9 27,4 15,6 3,3 0,0

Lixiviação 6 84,6 44,6 44,6 47,3 35,4 25,9 7,7 1,1 0,0

Média 84,8 63,6 52,5 47,0 34,3 25,0 13,3 2,2 6,0

Desvio padrão 2,3 8,6 10,3 7,1 6,2 3,3 8,0 2,1 7,2

As lixiviações 1 e 2 foram realizadas em agitador MQAMA 301

(Microquímica Ind. E Com. Ltda.), que possui capacidade de aquecer e agitar até 1 L

da mistura catalisador – solução, o controle de agitação e temperatura da chapa

deste equipamento não possui graduação numérica exata, dificultando a

reprodutibilidade da técnica. As demais lixiviações foram realizadas sobre o agitador

C-MAG HS 7 (IKA® Laboratory Equipment), utilizando 2 L de mistura e agitação e

temperatura controladas para todos os experimentos, pois este equipamento possui

51

graduação numérica mais precisa. O tempo médio de aquecimento da mistura foi de

40 minutos, sob agitação constante.

Para a maior parte dos elementos, a lixiviação performou com maior grau de

remoção comparado à remediação, obtendo porém praticamente a mesma remoção

para o Lantânio, como apresentado nas TABELAS 4 e 6. Pode-se dizer então que a

remediação eletrocinética possui maior seletividade para a remoção de lantânio,

fator que pode afetar diretamente na pureza do produto final da precipitação seletiva.

O catalisador foi pesado, amostrado e analisado em FRX antes e depois de

cada lixiviação e apresentou perda de massa de 12,8 % para a solução. O Alumínio,

um dos principais elementos constituintes da matriz ativa do catalisador (GUISNET;

RIBEIRO, 2004), foi removido significativamente, levando a crer que sua estrutura

possa ter sido comprometida.

As soluções efluentes da lixiviação ácida apresentaram pH médio de 0,17,

resultado próximo dos experimentos de Innocenzi et al. (2014), que apresentou pH

médio de 0,3.

Dados comparativos entre as técnicas de remediação e lixiviação,

apresentados pela TABELA 7 mostraram que, para uma remoção similar de lantânio

do catalisador (84,1 % e 84,8 %, respectivamente), a técnica de remediação exigiu

menor volume de solução com metade da concentração de ácido, o que representa

economia de 84 % de ácido sulfúrico, em comparação à lixiviação. Obtendo ainda

uma solução com concentração de Lantânio cerca de 3,5 vezes mais alta.

TABELA 7 – COMPARATIVO ENTRE AS TÉCNICAS DE REMOÇÃO, ECAT – LOTE 2.

Técnica Lixiviação ácida Remediação eletrocinética

Concentração H2SO4 (mol/L) 2 1

Temperatura 80ºC Ambiente

Potencial (V) - 11

Tempo de experimento (h) 3 48

Mecanismo de contato solução-catalisador Agitação magnética Bombeamento peristáltico

Razão Vsolução /mcatalisador(L/kg) 6,3 2,3

Concentração média de La+3 nas soluções

efluentes (ppm)*

1615 5588

Desvio padrão da concentração de La+3 nas

soluções efluentes (ppm)*

649,0 71,82

* Resultados obtidos por ICP-OES

52

Innocenzi et al. (2014) comparou lixiviações usando solução de 2 mol/L para

temperaturas de 25 ºC e 80 ºC, ambas com agitação, removendo 61,2 e 89 % do

lantânio do catalisador, respectivamente. Estes resultados evidenciam a

necessidade de uso de aquecimento na lixiviação e enfatizam o potencial da técnica

de remediação de remover o mesmo nível de lantânio que a lixiviação com menor

quantidade de reagente e sem necessidade de aquecimento e agitação.

Entre os fatores apresentados, o tempo necessário para a operação da

remediação pode tornar-se um fator determinante para inviabilizar este método

operacionalmente, visto que, é possível realizar 16 bateladas de lixiviação enquanto

apenas uma remediação é executada. Esta condição portanto, apresenta-se como

oportunidade de melhoria para trabalhos futuros.

O alto desvio padrão na concentração de lantânio obtida na lixiviação deve-

se principalmente às diferenças na taxa de evaporação da solução, que dependem

do tempo e velocidade do aquecimento e resfriamento da mistura e são condições

que apresentaram dificuldades de reprodução manual. A evaporação foi, em média,

de 46 % da solução inicial, com desvio padrão de 9,4 %.

A solução efluente do primeiro ciclo da lavagem do catalisador lixiviado,

analisada em ICP-OES, apresentou massa correspondente a 31,7 % do lantânio

contido na solução efluente de lixiviação, o que representa uma perda muito elevada

e indica oportunidade de melhorias na filtração, como aumento no tempo da

operação e até mesmo adição da água de lavagem à solução efluente. Para a

remediação, esta perda representou apenas 1 % do lantânio contido no efluente,

apresentando outra vantagem para o método.

4.5 PRECIPITAÇÃO SELETIVA

As precipitações seletivas foram realizadas utilizando as soluções efluentes

dos dois processos mencionados anteriormente. Cada um dos quatro efluentes de

remediação foi usado para duas precipitações paralelas (temperatura ambiente e

com aquecimento) e cada um dos efluentes de lixiviação foi submetido a uma

precipitação (três delas a temperatura ambiente e três com aquecimento). O

aquecimento das soluções até 65 ºC reduziu o pH das mesmas de 0,17 para 0,00,

53

para as soluções lixiviadas, e de 1,16 para 0,31, para as remediadas.

Assim que a solução de hidróxido de sódio foi gotejada nos efluentes de

ambas as técnicas foi visualizada a formação imediata de precipitado que, depois de

lavado e seco, apresentou-se na forma de um pó branco e fino (FIGURA 20).

FIGURA 20 – PRECIPITADO FORMADO NO EXPERIMENTO DE PRECIPITAÇÃO VIA LIXIVIAÇÃO

FONTE: O autor.

O diagrama de Pourbaix do Lantânio, FIGURA 7.b, infere que, nas

condições de precipitação estudadas, o lantânio deve estar solubilizado em sua

forma iônica La+3, portanto, o precipitado não deve ser formado por simples variação

de pH. Desta forma, foi aceita a hipótese de formação de duplo sulfato de sódio e

lantânio, defendida por Bertuol, Bernardes e Tenório (2009).

O precipitado foi enviado para análise em FRX e a partir dos resultados foi

calculada a composição dos sulfatos, utilizando as Equações 5 a 7, apresentados

pelas TABELAS 8 e 9. Os resultados estão apresentados desta forma para facilitar a

percepção da quantidade de enxofre e sódio que teoricamente não pertencem ao

produto desejado (NaLa(SO4)2) e são, portanto, impurezas.

Os resultados dos cálculos de composição, apresentados na TABELA 8,

indicam que, além da temperatura, a concentração de lantânio apresenta influência

na pureza do precipitado formado (porcentagem de lantânio), devido ao

deslocamento do equilíbrio da reação a favor da formação de precipitado, Equação

16.

OxHSONaLaOxHSOLaNa laqaqaq 224)(2)(24

3)()( )(2 (16)

54

Desconsiderando o experimento de remediação 4, que apresentou

problemas de execução durante a remediação, o precipitado, TABELA 8,

apresentou pureza média de lantânio de 85,9 % à temperatura ambiente (excluindo

remediação 3, devido ao alto desvio), desvio padrão de 3,5 %, enquanto para 65 ºC,

este valor foi de 92,9 %, desvio padrão de 2,4 %, representando um ganho de 7 %

de pureza com o aquecimento prévio da solução.

TABELA 8 - COMPOSIÇÃO DO PRECIPITADO VIA REMEDIAÇÃO.

Temperatura20ºC 65ºC

Remediação No. 4 1 2 3 4 1 2 3

Concentração de La+3 inicial (ppm)* 1581 5560 5535 5670 1581 5560 5535 5670

Composição do precipitado(FRX), em %.

S 9,9 0,0 0,0 29,2 12,9 0,0 6,1 0,0

La 73,9 83,4 88,4 31,7 81,0 95,3 92,3 90,6

Na 12,6 0,0 0,0 11,4 5,1 0,8 0,0 0,0

Al 0,9 15,5 10,3 25,5 0,0 3,9 0,3 7,5

Si 1,2 0,0 0,0 0,5 0,3 0,0 0,1 0,3

Ca 0,5 0,0 0,4 0,5 0,5 0,0 0,4 0,5

K 1,1 1,1 0,8 1,1 0,3 0,0 0,3 0,5

P 0,0 0,0 0,1 0,2 0,0 0,0 0,0 0,1

*Resultados obtidos por ICP-OES

TABELA 9 - COMPOSIÇÃO DO PRECIPITADO VIA LIXIVIAÇÃO.

Temperatura20ºC 65ºC

Lixiviação 1 2 6 3 4 5

Concentração de La+3 inicial (ppm)* 1133 905 2671 1256 1809 1914

Composição do precipitado(FRX), em %.

S 9,0 5,1 0,0 12,5 11,6 0,0

La 68,8 83,7 95,5 72,1 77,8 97,6

Na 8,0 2,8 0,0 8,7 7,5 0,0

Al 11,2 6,0 1,8 2,6 1,1 1,4

Si 0,5 0,3 1,1 2,6 1,1 0,6

Ca 1,0 0,8 0,6 0,9 0,6 0,5

K 0,9 1,2 1,0 0,5 0,3 0,0

P 0,2 0,2 0,0 0,0 0,0 0,0

*Resultados obtidos por ICP-OES

A pureza do lantânio para os precipitados obtidos pela lixiviação, TABELA 9,

apresentaram médias de 82,7 % em 20 ºC e 82,5 % em 65ºC, com desvios padrões

55

de 13,4 %, para ambos. Estes resultados não são conclusivos sobre a interferência

da temperatura para esta técnica, o que pode ser explicada pela alta quantidade de

reagente utilizada para elevar o pH, independentemente da temperatura. A FIGURA

21 ilustra a elevada diferença entre o volume de solução reagente utilizado para

cada tipo de experimento em função da concentração de lantânio. As diferenças

devem-se ao pH inicial da solução de lixiviação, que foi mais baixo, exigindo mais

solução básica para eleva-lo até o valor estipulado (2,00). Logo, o excesso de

reagente utilizado nas reações de precipitação foi em média 5,7 vezes maior para a

lixiviação, o que pode explicar a alta recuperação de lantânio mesmo nos

experimentos sem aquecimento.

FIGURA 21 – CONSUMO DE REAGENTE VERSUS CONCENTRAÇÃO DE LANTÂNIO

FONTE: O autor.

O efeito do excesso de reagente usado nas soluções com baixa

concentração de lantânio é percebido também pelo maior nível de contaminação de

sódio apresentada pela análise química dos precipitados, este aumento ocorre

56

juntamente com a elevação de enxofre, sugerindo ocorrência de coprecipitação de

sulfato de sódio, Equação 17.

42)(

24)(2 SONaSONa aqaq (17)

De acordo com as informações fornecidas pelos diagramas de Pourbaix

(FIGURAS 5 a 11), dos principais elementos removidos, os únicos que precipitariam

na faixa de pH utilizada seriam silício e titânio. Entretanto, neste trabalho, estes

elementos encontram-se em baixos níveis de remoção e, consequentemente,

contaminação do precipitado, principalmente para os produtos de remediação.

Para ambas as técnicas, alguns precipitados (como a Lixiviação 1 e

Remediações 1, 2 e 3 a 20 ºC) apresentaram elevação na concentração de

alumínio associado ou não ao baixo teor de lantânio. Sendo que alumínio possui pH

de precipitação acima de 2,0 para o sistema alumínio-água (FIGURA 6), este fato

provavelmente aconteceu devido ao controle do gotejamento da solução reagente

ter sido manual, formando zonas pontuais de pH elevado e precipitação do

elemento. Este efeito observou-se mitigado com a elevação da temperatura. Aqui

nota-se a importância do gotejamento lento e controlado da solução precipitante

sobre a solução inicial, assim como agitação controlada e suficiente para garantir

uma mistura rápida entre as soluções. A estrutura para realizar o controle de

gotejamento não estava disponível durante os experimentos e está indicada para

trabalhos futuros.

Innocenzi et al. (2014) não indicou a concentração inicial de lantânio na

solução utilizada. Em seu precipitado, o duplo sulfato de sódio e terras raras obteve

pureza de 75 a 80 % com enxofre e alumínio como principais contaminantes, para

precipitações a temperatura ambiente de efluentes de lixiviação, resultados

semelhantes aos obtidos neste trabalho.

Com os resultados de concentração de lantânio mensurados em ICP-OES

das soluções efluentes filtradas após o processo de precipitação, foi possível

calcular a recuperação de lantânio pela Equação 8, apresentada pelas TABELAS 10

e 11.

57

TABELA 10 – RECUPERAÇÃO DE LANTÂNIO NA PRECIPITAÇÃO VIA LIXIVIAÇÃO

Temperatura 20ºC 65ºC

Lixiviação No. 1 2 6 3 4 5

Concentração deLa+3 inicial (ppm)

1133 905 2671 1256 1809 1914

% Recuperação 94,74 94,08 98,50 98,54 98,84 97,88

Média 95,57 98,76

Desvio padrão 2,017 0,169

Em sua precipitação em temperatura ambiente sobre efluente de lixiviação,

Innocenzi et al. (2014) precipitou 100 % dos elementos de terras raras em solução.

Seu catalisador usado possuia 59 % a mais de lantânio que o utilizado neste

trabalho, o que pode ter elevado a concentração da solução e explicar a baixa

diferença entre os resultados.

TABELA 11 – RECUPERAÇÃO DE LANTÂNIO NA PRECIPITAÇÃO VIA REMEDIAÇÃO

Temperatura 20ºC 65ºC

Remediação No. 4 1 2 3 4 1 2 3

Concentração deLa+3 inicial (ppm)

1581 5560 5535 5670 1581 5560 5535 5670

% Recuperação 72,79 75,42 91,16* 78,00 98,10 99,15 99,37 99,61

Média 74,42 99,06

Desvio padrão 1,424 0,6643

*Resultado não utilizado no cálculo da média (alto desvio).

Os resultados apresentados na TABELA 11, mostraram um aumento de

24,64 % na recuperação de Lantânio utilizando temperatura de 65 ºC para os

efluentes de remediação, enquanto para os efluentes de lixiviação, esta diferença foi

baixa, de cerca de 3,19 %, provavelmente devido ao excesso de reagente, como

discutido anteriormente.

Deste modo o aquecimento da solução é uma alternativa ao uso de excesso

de reagente para aumentar a recuperação da remediação. Como o Lantânio é

comercializado na forma de óxido, o uso ou não de temperatura no processo deve

ser avaliado de acordo com o valor deste no mercado, visto que o incremento na

recuperação deve superar os gastos energéticos utilizados para aquecer a solução.

Ainda, o processo de precipitação pode ser otimizado para aumentar a recuperação

à temperatura ambiente, utilizando variáveis como: taxa de gotejamento de

58

reagente, quantidade de reagente, concentração de reagente, velocidade de

agitação da solução e tempo de reação.

A análise em ICP-OES do efluente de lavagem do precipitado apontou perda

de 14,5 % do lantânio da solução lixiviada e 9,5 % da solução remediada, indicando

que parte do lantânio não precipitou de fato, mas ficou adsorvida na superfície do

precipitado, ou então as partículas de precipitado formado não cresceram

suficientemente para ficarem retidas no filtro. Esta perda reduz o valor da

recuperação consideravelmente. Não lavar o precipitado acarreta em riscos de

perda de pureza, logo, a decisão sobre realizar ou não esta lavagem deve ser

tomada de acordo com as necessidades do processo e será analisada em trabalhos

futuros.

4.6 CONSUMO ENERGÉTICO

O consumo energético para bombeamento da solução na remediação foi

calculado com dados do Ecat fornecidos por Valt (2012) e com a vazão de solução

medida durante os experimentos. Para a precipitação seletiva, o cálculo do consumo

energético utilizou a leitura da temperatura da chapa de aquecimento e rotação do

agitador durante os experimentos. A TABELA 12 apresenta os valores de consumo

de energia finais para a técnica, por kg de Ecat remediado.

TABELA 12 – CONSUMO ENERGÉTICO DO PROCESSO VIA REMEDIAÇÃO

Remediação eletrocinéticaBombeamento de solução 487,08 Wh kg-¹

Potencial elétrico 85,29 Wh kg-¹

Precipitação seletivaAgitação 3,83 Wh kg-¹

Aquecimento até 65 ºC 117,97 Wh kg-¹

Total 694,18 Wh kg-¹

O aquecimento da solução até 65 ºC, para aumento de 24,64 % na

recuperação de lantânio, eleva 20,47 % o consumo total de energia do método. Este

gasto extra representa 2,49 kWh por grama de lantânio adicional recuperado e é

vantajoso se for superado pelo valor do lantânio no mercado.

O consumo energético da técnica de lixiviação foi baseada na leitura da

temperatura e rotação do equipamento durante os experimentos e está apresentada

59

pela TABELA 13.

TABELA 13 – CONSUMO ENERGÉTICO DA PROCESSO VIA LIXIVIAÇÃO

Lixiviação ácida

Aquecimento da solução até 80 ºC 740,68 Wh kg-¹

Manutenção da temperatura 2196,81 Wh kg-¹

Agitação 15,28 Wh kg-¹

Precipitação seletiva Agitação 20,48 Wh kg-¹

Total 2973,25 Wh kg-¹

O principal responsável pelos gastos energéticos da técnica de lixiviação é a

manutenção de temperatura durante o processo de remoção, principalmente devido

à evaporação de solução (46 % em média), isto representa 73,89 % dos gastos

totais. No total, a energia térmica corresponde a 98,80 % de toda a energia

consumida no processo. O aquecimento da solução na precipitação não foi

apresentado, pois, como comentado anteriormente, este apresenta baixo incremento

na recuperação.

A comparação entre o consumo de energia por kg de catalisador

apresentado nas TABELAS 12 e 13 apresenta uma das principais vantagens da

operação de remediação eletrocinética: baixo consumo de energia, que foi apenas

23,35 % do consumo utilizado para o processo de lixiviação experimental.

60

5 CONCLUSÕES

As principais conclusões obtidas através deste trabalho foram:

• A técnica de remediação eletrocinética apresentou nível de remoção

de lantânio similar à lixiviação, para o catalisador de equilíbrio

utilizado, com economia de 84 % de ácido sulfúrico e 77 % de

consumo energético.

• O precipitado formado através do efluente de remediação possui

nível semelhante de pureza comparado ao formado pela lixiviação,

assim como os mesmos contaminantes. O controle do gotejamento de

reagente é um dos principais fatores a ser aperfeiçoado para redução

de impurezas no precipitado.

• A precipitação seletiva dos efluentes de remediação consumiu

78,45 % menos reagente com recuperação de lantânio 3,49 % mais

alta.

• O tempo necessário para o processo de remediação pode apresentar-

se como fator limitante para utilização industrial desta técnica.

Trabalhos futuros:

• Otimização da taxa de gotejamento da solução, excesso de reagente e

temperatura nos experimentos de precipitação seletiva.

• Avaliação da influência da lavagem na pureza e recuperação do

precipitado.

• Otimização do tempo da remediação eletrocinética.

61

REFERÊNCIAS

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64

APÊNDICE I – CÁLCULO DO CONSUMO DE ENERGIA

Bombeamento da solução de remediação

Utilizando as Equações 13 e 14 e os dados da TABELA 2, temos:

V P=π6(65,37 x10−6

)3m3(1−0,23)=1,126 x10−13m3

AP=1580kg m−3 π6(65,37 x 10−6

)3m340,08 x 10−3m2 kg−1

=9,262 x 10−6m2

Aplicando estes valores na Equação 12:

ψ=π(1,126 x10−13 x6

π m3)(2/3)

9,262 x10−6m2 =1,218 x10−3

A velocidade aparente é calculada pela vazão média de solução medida

durante experimento sobre a área da câmara de remediação:

V o=8,472 x10−9m3 s−1

7,088 x10−3m2 =1,195 x10−3ms−1

A viscosidade da solução foi aproximada por uma média ponderada da

viscosidade da água (0,001 Pa s) e do ácido sulfúrico puro (0,0267 Pa s). Para

solução de 1 mol/L, temos:

μS=((1−0,0533)1+0,0533 x 26,7)10−3=2,37 x 10−3 Pa s

Com os demais dados fornecidos pela TABELA 2, calculamos a perda de

carga no leito pela Equação 10.

ΔPL

=150 (1−0,23)2 x (2,37 x 10−3

)Pa s x1,195 x 10−3ms−1

0,233 x (1,22 x10−3)2 x (65,37 x10−6m)

2 =3266,6MPam−1

Para o cálculo da energia consumida, multiplica-se este valor pela vazão de

solução, Equação 9.

H=3266,6 x 106 Pam−1 x8,472 x 10−9m3 s−1=27,68W m−1

Sabendo que cada 22 cm de leito possuem aproximadamente 0,6 kg de

catalisador, considerando um leito de 1 m proporcional e 48 h de experimento:

Consumobombeamento=27,68W m−148h0,22m0,6kg

=487,08W hkg−1

Potencial elétrico

A potência fornecida pelo equipamento durante o experimento foi calculada

pela Equação 15.

Pot=11,0V 0,0969 A=1,066W

65

A energia consumida durante o tempo do experimento, tomando como base

1 kg de Ecat é:

ConsumoPotencial Elétrico=1,066W 48h0,600kg

=85,29W hkg−1

Agitação

Conhecendo a potência máxima do motor equipamento (ANEXO I) a rotação

utilizada, a potência consumida pela agitação durante precipitação seletiva

(Pot AgPS ) foi considerada proporcional:

Pot AgPS=750 rpm1500 rpm

1,5W=0,75W

Porém, este valor é referente à agitação de 0,6 litro de solução. Alterando a

base para massa de catalisador (TABELA 7) e multiplicando pelo tempo total do

experimento, temos o consumo da agitação:

Consumo Ag PS Remediação=0,75W0,6 l

x1,33h x 2,3 l kg−1=3,83Wh kg−1

Consumo Ag PS Lixiviação=0,75W0,6 l

x 2,6h x6,3 l kg−1=20,48Wh kg−1

Da mesma forma, para a agitar a mistura Ecat – solução ácida na lixiviação,

foi calculada a potência de agitação (PotAgLix) proporcional:

Pot AgLix=1250 rpm1500 rpm

1,5W =1,25W

Este valor é referente à agitação de mistura contendo 0,3 kg de Ecat.

Calculando o consumo de energia.

Consumo Ag Lixiviação=1,25W0,3kg

3,67h=15,28Wh kg−1

Aquecimento

Conhecendo a temperatura da chapa durante o processo de aquecimento

(aquecimento Lix e PS Rem) e a temperatura média utilizada durante experimento

(Manutenção T Lix) e o consumo de potência máxima da chapa de aquecimento do

equipamento (ANEXO I), considerou-se a potência consumida o valor proporcional à

temperatura lida. Foi também considerada proporcionalmente apenas a área da

chapa em contato com o becker.

66

Pot aquecimento Lix=440 ºC500ºC

1000W0,0123m2

0,0324m2=333,31W

Pot ManutençãoT Lix=290 ºC500ºC

1000W0,0123m2

0,0324m2=219,68W

Pot PS Rem=300 ºC500ºC

1000W0,00665m2

0,0324m2 =123,10W

A energia foi calculada multiplicando a potência pelo tempo de cada etapa e

alterou-se para base de 1 kg de Ecat.

Consumoaquecimento Lix=333,31W 0,67h

0,3kg=740,69Wh kg−1

Consumoexperimento Lix=219,68W 3h0,3kg

=2196,81Whkg−1

ConsumoPS Rem=123,10W 2,3 l kg−1

0,6 l=117,97Wh kg−1

67

ANEXO I – DADOS TÉCNICOS DO AGITADOR C-MAG HS7 (IKA®

LABORATORY EQUIPMENT)