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150 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE #58 Atualidade em foco Ato do “Não Cala USP”, em São Paulo, 2016 Daniel Garcia / ADUSP Expressões da luta atual das mulheres no Brasil Daniel Garcia

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150 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE #58

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Ato do “Não Cala USP”, em São Paulo, 2016

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Expressões da luta atual

das mulheres no Brasil

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151 ANDES-SN n junho de 2016

Mulheres durante o ato “Não Cala USP”, em São Paulo, 2016

Pode-se dizer que a luta das mulheres por conquista de espaços, posições e direitos sociais vem de muitos séculos atrás. Se

quisermos, pode-se dizer mesmo que, desde as primeiras grandes transformações ocorridas nas primeiras sociedades, quando surge uma nova divisão do trabalho com a agricultura e a propriedade privada, as leis que garantiram a legitimidade da prole alteraram a posição da mulher, transferindo o direito materno para o paterno. Para a nova ordem social do direito privado que surgia, com os homens herdeiros cuidando dos bens, a mulher perde destaque em sua posição e transforma-se em prisioneira do matrimônio monogâmico. Transforma-se, no capitalismo, em dona do lar, escrava doméstica, mãe abnegada, incapaz política e sexualmente, sexo frágil a ser protegida pelo chefe da família.

Daniel Garcia

152 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE #58

Militante da ANEL discursa em ato no dia 8 de março,

em Manaus, 2016

Manifestação nas ruas da cidade de Manaus,

março de 2016

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Gedeon Santos

Jupiara fala durante ato “Não Cala USP”, em São Paulo, 2016

No Brasil, a luta pela emancipação política e social da mulher toma corpo no século 20. A mulher vai à luta e, em 1932, conquista o direito ao voto. Depois, nos anos 1960, com a chegada da pílula anticoncepcional, a mulher encontra a possibilidade de se liberar da gravidez indesejada, o que provoca uma revolução em seu comportamento e a conscientização sobre a necessidade de dominar seu próprio corpo. Ainda que seja uma autonomia parcial, pois a Lei 4121/62 expressa a não obrigatoriedade da autorização do marido para que ela trabalhasse fora de casa, a mulher brasileira vai obtendo informações de controle sobre seu papel social a partir da relação com um outro mundo do trabalho, até então destinado apenas ao homem. É com a instituição do Estatuto da Mulher, ainda nos anos 1960, que essa postura machista é abalada e a prerrogativa deixa de existir.

Manifestante em ato contra a Prefeitura de Manaus,

por não negociar com docentes paralisados, 2015

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Manifestação no Dia Nacional de Luta dos Sindicatos, em Manaus, 2013

Ato pela Vida das Mulheres e Contra o PL 5069/13, em Cuiabá, 2015

Vera Paiva fala durante o ato “Não Cala USP”,

em São Paulo, 2016

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154 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE #58

Ao participar do mercado de trabalho capitalista, a mulher percebe gradualmente o desequilíbrio salarial existente entre o trabalho que os homens praticam e o por elas praticado. Mais tarde, toma consciência de que a mesma natureza do trabalho continua sendo discriminatória às mulheres e da necessidade de organização para atuar na luta. Agregado a isto, com a percepção de que, ao se inserir no mercado de trabalho e poder alcançar um ganho de liberdade e autonomia, a mulher tem a certeza de que sua jornada duplicou ou triplicou com a junção das atividades maternais e caseiras. O movimento de mulheres transforma a luta agora não só para alterar o comportamento machista do homem, mas a própria política social que impõe essa lógica.

Manifestação em prol da educação, em frente

à Arena da Amazônia, em Manaus, 2015

Denise Crispim durante ato na

rua Tutóia, em São Paulo, 2014

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A luta feminina será permanente em sociedades regidas pelo sistema capitalista. Um sistema regulado pelos mercados econômicos e financeiros onde nem homens e mulheres trabalhadores são devidamente reconhecidos como agentes sociais. Ainda assim, a luta pela inclusão e igualdade das mulheres é necessária, árdua e imprescindível. É importante manter firme a postura crítica às ações do Estado, lutando pela alteração estatutária de seu comportamento político. As lutas atuais das mulheres são por maior escolaridade e capacitação profissional; pelo direito à creche; pela maior ocupação de espaços de trabalho, combatendo o subemprego; pela reforma agrária; pela melhoria dos programas de saúde; pelo combate às diversas formas de violência contra as mulheres; pela descriminalização do aborto, como assertiva de seu controle sobre o corpo; contra o assédio moral e sexual ainda presentes; por maior participação na vida política da sociedade.

Mulheres no ato político pelo levante popular na Praça da Sé, em São Paulo, 2016

Ato contra a falta de água em São Paulo, na frente do MASP, 2015

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156 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE #58

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Ativista política em passeata pelo levante

popular, em São Paulo, 2016

Caminhada de mulheres pelo campus da UFSM alusiva ao dia 8 de março, em Santa Maria, RS, 2016

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Luta por moradia nos arredores de São Paulo, 2015

Grupo de mulheres durante a tradicional Lavagem das Escadarias do Senhor do Bonfim - “Boto Fé em Quem Não Mata

Mulher!”, em Salvador, 2014

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157 ANDES-SN n junho de 2016

A luta da mulher pela inclusão e condições de igualdade na sociedade capitalista, com forte corte machista, tem sido dura e lenta, mas perseverante. Diante de um quadro adverso, a mulher há de continuar sua luta por assumir a condição de sujeito histórico e batalhar na construção de uma sociedade mais igualitária, justa, respeitosa e libertadora.

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Show “Mulheres (En)Canto e Poder”, com cantoras santa-marienses, no dia 8 de março, em Santa Maria, RS, 2016

Ato “Em Defesa da Educação Pública”,em Brasília, 2015

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158 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE #58

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Feira Cultural da Mulher Camponesa, em Ibirapitanga, BA, 2014

Mulheres em capacitação de derivados da mandioca, no projeto “Construindo a Virada”, em Ilhéus, BA, 2014

Vigília da jornada “Sem Medo de

Ser Mulher”, em Camamu, BA, 2015

III Feira Agroecológica de Mulheres do Baixo

Sul Contra a Violência, em Camamu, BA, 2015

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159 ANDES-SN n junho de 2016

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Nesta pequena reportagem fotográfica em que dedicamos atenção ao papel social que hoje vem desempenhando a mulher trabalhadora brasileira, temos exemplos brilhantes da participação delas no contexto político. Há exemplos da importância das servidoras públicas em ocupar os espaços de reivindicação de seus direitos, da mulher que batalha na linha de frente para lutar por moradia e terra para plantar, das professoras de todos os níveis de ensino que exercitam seus direitos de reconhecimento do valor da educação libertária, das mulheres que vão ocupando por merecimento espaços tradicionalmente atribuídos aos homens na esfera da liderança econômica e política. As fotos foram recolhidas de fotógrafos profissionais, de contribuições de Seções Sindicais e de colaborações de ONGs, como a EACMA, da Bahia.

III Módulo do curso de Contação de História com Recursos Terapêuticos na Escola Agrícola Comunitária Margarida Alves (EACMA), em Ilhéus, BA, 2014

Projeto pelo FUNCEB “Contando Histórias e Criando Máscaras”, em Ilhéus, BA, 2015

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160 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE #58

A maior parte das mulheres de nosso século sabe, contudo, que a luta não será fácil e que depende bastante da conjugação de esforços em ter o homem como aliado. Sempre se soube que não se trata de uma competição entre homens e mulheres, mas de construir o desafio de ambos lutarem contra a opressão comum do sistema capitalista e partirem em busca do novo. Juntos.A todas as mulheres, nossa homenagem e solidariedade.

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Mulher em passeata confronta policial, em Salvador, 2015

Estudante protesta no dia de paralisação

geral das quatro Universidades

Estaduais da Bahia em frente

à Assembleia Legislativa, em Salvador, 2015

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Manifestantes em caminhada no dia 8 de março, em Santa Maria, RS, 2016