locucion embrapa

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manual de competencias comunicacionales del instituto embrapa.

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  • Prosa RuralManual de Produo e Edio

  • Prosa RuralManual de Produo e Edio

  • Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria Embrapa Informao Tecnolgica

    Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

    Embrapa Informao Tecnolgica Braslia, DF

    2009

    Prosa RuralManual de Produo e Edio

    Juliana Miura Selma Lcia Lira Beltro

    Editores Tcnicos

  • Exemplares desta publicao podem ser adquiridos na:

    Embrapa Informao TecnolgicaParque Estao Biolgica (PqEB), Av. W3 Norte (final)CEP 70770-901, Braslia, DF Fone: (61) 3448-4236Fax: (61) [email protected]/liv

    Prosa RuralFone: [email protected]/prosarural

    Elaborao e projeto editorialEmbrapa Informao Tecnolgica

    Coordenao editorialFernando do Amaral Pereira Mayara Rosa CarneiroLucilene M. de Andrade

    Superviso editorialJuliana Meireles Fortaleza

    Copidesque e reviso de textoFrancisco C. Martins

    Reviso de formataoRafael de S Cavalcanti

    Prosa Rural : manual de produo e edio / editores tcnicos, Juliana Miura, Selma Lcia Lira Beltro. Braslia, DF : Embrapa Informao Tecnolgica, 2009.

    140 p. : il. ; 22 X 16 cm.

    ISBN 978-85-7383-454-3-1. Equipamentos. 2. Gravao sonora. 3. Locutor. 4. Rdio. 5. Radiofuso. 6. Radiojor-

    nalismo. I. Embrapa Informao Tecnolgica.

    CDD 302.2344

    Todos os direitos reservadosA reproduo no autorizada desta publicao, no todo ou em parte,

    constitui violao dos direitos autorais (Lei n 9.610).

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)Embrapa Informao Tecnolgica

    Embrapa 2009

    Normalizao bibliogrficaCelina Tomaz de Carvalho

    Projeto grfico e capaCarlos Eduardo Felice Barbeiro

    Tratamento das IlustraesPedro Filognio de Freitas Cabral

    Figura de abertura dos captuloswww.sxc.hu

    1 edio1 impresso (2009): 2.000 exemplares2 impresso (2012): 500 exemplares

  • Elaborao dos textos

    Rdio: histrico e fundamentosFlvia Bessa

    Ilka Queiroz Lemos de OliveiraJuliana MiuraMarina Ferraz

    Projeto radiofnico do Prosa RuralJuliana MiuraMarluce Freire

    Selma Lcia Lira Beltro

    A experincia no Prosa RuralAmanda Sampaio Rose de Oliveira

    Maria da Conceio Arajo AlvesTeresa Ferreira

    Sayonara MarinhoMarcelino Loureno

    Juliana EscobarJos Carlos Caires

    Linguagem radiofnicaJuliana Miura

    Selma Lcia Lira Beltro

    Locuo e fonoaudiologiaJuliana Miura

    Mnica S. Teichmann Krieger

    Gravao e edioMarcelo Goedert

    AnexosJos Lus do Nascimento SterIlka Queiroz Lemos de Oliveira

  • A Embrapa Informao Tecnolgica agradece aos profissionais que colaboraram na elaborao do contedo deste manual, com palestras, oficinas, cursos e elaborao de material escrito.

    Agradecimentos

  • Apresentao Nos ltimos cinco anos, a parceria entre o Ministrio do Desen volvimento

    Social e Combate Fome (MDS) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agrope-curia (Embrapa), no mbito da estratgia Fome Zero, promoveu encontros e ofi cinas com a participao de profi ssionais de radiodifuso que, alm de partilharem conhecimentos e experincias para a defi nio do formato do Prosa Rural, tambm contriburam na elaborao do contedo deste manu-al, cujos objetivos so:

    Apresentar os princpios norteadores do rdio, como um ve -culo capaz como poucos de aproximar interlocutores.

    Enumerar as caractersticas e o processo de produo, edio e vei-culao do programa Prosa Rural como importante difusor de novas tecnologias direcionadas agricultura familiar brasileira, ao mesmo tempo em que apoia o desenvolvimento sustentvel, a segurana ali-mentar e a autossustentabilidade das comunidades rurais.

    Destacar a importncia das redes interna e externa que envolvem o processo de construo coletiva do programa desde sua concepo.

    Com este manual, esperamos vencer mais um desafi o: o de colocar disposio de comunicadores, de multiplicadores do conhecimento e de pro-fi ssionais de transferncia de tecnologia da Embrapa e das Organizaes Es-taduais de Pesquisa (Oepas) que atuam no Prosa Rural, bem como de outros profi ssionais interessados em difundir informaes que do suporte ao uso de uma mdia que exige linguagem e contedo prprios, adequados ao seu pblico-alvo, para garantir a melhoria da qualidade de vida dos jovens rurais e dos agricultores familiares nas cinco regies do Pas.

    Crispim MoreiraSecretrio Nacional de Segurana

    Alimentar e NutricionalMinistrio do Desenvolvimento Social e

    Combate Fome

    Fernando do Amaral PereiraGerente-Geral

    Embrapa Informao Tecnolgica

  • Sumrio

    Introduo ........................................................................................................16

    Rdio: histrico e fundamentos

    Histrico .............................................................................................................18

    O rdio no Brasil ............................................................................................19

    Fundamentos ......................................................................................................22

    Formatos e gneros de programas radiofnicos...................................................24

    Projeto radiofnico do Prosa Rural

    Histrico do projeto ............................................................................................28

    Objetivos do Prosa Rural .....................................................................................33

    Nossos ouvintes ..................................................................................................33

    Valorizao da cultura local .................................................................................34

    Processo de produo .........................................................................................35

    Definio dos temas do programa..................................................................36

    Estrutura do Prosa Rural .................................................................................37

    Elaborao de roteiro .....................................................................................38

    Cuidados com o contedo tcnico .................................................................41

    Prazos ............................................................................................................42

    Distribuio das cpias e veiculao ...............................................................43

    A experincia no Prosa Rural

    A conversa na roa .............................................................................................46

    Condies para entrevistas ..................................................................................47

    Pitacos da Hora ...................................................................................................49

    Radiodrama no Prosa Rural .................................................................................50

    Passo a passo .................................................................................................52

    Em sintonia com as razes ...................................................................................52

    Arte em Favas Contadas ......................................................................................54

    Validade da informao na voz do produtor ........................................................55

    Cidadania no Ao P do Ouvido ...........................................................................58

    Retorno do pblico .............................................................................................60

  • Linguagem radiofnica

    Adequao da linguagem ...................................................................................64

    Elaborao de texto ............................................................................................66

    Abertura dos programas .....................................................................................68

    Estilos e recursos .................................................................................................69

    Orientaes para entrevista .................................................................................71

    Uma conversa amistosa .................................................................................73

    Orientaes para o entrevistador ....................................................................76

    Recursos para programas radiofnicos ................................................................77

    Radiodrama ...................................................................................................77

    Vinheta ..........................................................................................................78

    Chamada .......................................................................................................78

    Spot ..............................................................................................................79

    Jingles ...........................................................................................................79

    Locuo e fonoaudiologia

    Locuo ..............................................................................................................82

    Prtica da locuo ..........................................................................................82

    Cuidados com a pronncia ............................................................................84

    Dramaticidade interpretativa ..........................................................................86

    Respirao .....................................................................................................88

    Postura ao microfone .....................................................................................90

    Dicas de fonoaudiologia ......................................................................................91

    Fala precisa ....................................................................................................92

    Fala travada e imprecisa .................................................................................92

    Articulao ....................................................................................................93

    Ressonncia e projeo vocal .........................................................................93

    Aquecimento vocal ........................................................................................93

    Abuso ou mau uso da voz .............................................................................93

    Gravao e edio

    Gravao ............................................................................................................98

    Captao do som em estdio ..............................................................................99

  • Equipamentos de som ................................................................................100

    Mesa de som ...............................................................................................102

    Posicionamentos para gravao ..................................................................103

    Captao do som fora de estdio .....................................................................104

    Equipamentos para gravao ...........................................................................106

    Gravadores ..................................................................................................106

    Microfones de gravao ..............................................................................108

    Edio ...............................................................................................................109

    Edio linear ................................................................................................110

    Edio no linear .........................................................................................110

    Dicas para uma boa edio ..........................................................................110

    Som ..................................................................................................................111

    Mixagem ..........................................................................................................111

    Masterizao ....................................................................................................112

    Copiagem .........................................................................................................113

    Formatos digitais .........................................................................................113

    Formatos analgicos ....................................................................................115

    Referncias e literatura recomendada .........................................................118

    Anexos

    Anexo 1. Rdios comunitrias ...........................................................................122 Anexo 2. Rdios comerciais ...............................................................................125 Anexo 3. Modelo de roteiro ..............................................................................129 Anexo 4. Termos mais usados em rdio .............................................................139 Anexo 5. Cesso de direitos autorais .................................................................140

  • IntroduoIntroduoIntroduo

  • 16

    O propsito deste manual oferecer a comunicadores (jor nalistas, radialistas e professores de radiodifuso) e a outros profissionais (de difuso do conhecimento, de transferncia de tec no logia, pesquisadores e tcnicos), uma maneira prtica de se conhecer a histria, as vantagens e as caractersticas da mdia rdio, bem como a experincia com o Prosa Rural, programa radiofnico da Embrapa.

    Desde 2003, quando em apoio estratgia do Fome Zero, patrocinado pelo Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome (MDS), a Embrapa criou o programa semanal de rdio Prosa Rural, surgia tambm a necessidade de se elaborar um documento orientador para as equipes de produo das Unidades da Empresa, das Organizaes Estaduais de Pesquisa (Oepas) e de outros parceiros que atuam nesse programa.

    A proposta deste manual fornecer meios para a elaborao dos programas em linguagem exata, simples e acessvel, onde a cincia e a tecnologia possam ser explicadas sem sisudez e exemplificadas ao mximo, para ficar o mais prximo possvel da realidade dos nossos ouvintes, tendo sempre como foco o pblico-alvo do Prosa Rural, que so os jovens rurais e os agricultores familiares de todas as regies brasileiras.

    Esta obra apresenta as tcnicas mais indicadas para gravao, locuo e edio de programas radiofnicos, alm dos cuidados que devem ser tomados desde o momento de definio dos temas que compem a programao anual at a edio final, incluindo recomendaes quanto ao contedo abordado e quanto linguagem a ser usada, bem como recursos que o rdio oferece para enriquecer a programao, como jingles, msicas, dramatizaes e outros que criam maior identidade com o ouvinte.

  • Rdiohistrico e fundamentos

  • 18

    HistricoEm 1863, em Cambridge, na Inglaterra, James Clerck Maxwell, profes-

    sor de fsica experimental, demonstra teoricamente a existncia das ondas

    eletromagnticas. A partir dessa revelao, outros pesquisadores tambm se

    interessam pelo assunto, entre eles o alemo Henrich Rudolph Hertz.

    Em 1887, pela primeira vez, Hertz detecta as ondas de rdio, atualmente

    chamadas de ondas hertzianas. O achado de Hertz foi o ponto de partida

    para uma srie de experincias que culminam com a inveno definitiva do

    rdio transmitindo e recebendo men sagens, sem contato pessoal entre o

    emissor e o receptor.

    A simples posse da tecnologia necessria para transmitir sons por meio

    de ondas eletromagnticas no significa o surgimento do rdio, como o co-

    nhecemos hoje. No princpio, o rdio nasce como um meio de comunicao

    bidirecional e sua funo servir como elo entre dois sujeitos fisicamente

    afastados, que precisam estar em constante comunicao.

    Em 1916, David Sarnoff institui a possibilidade de transformar o rdio

    num meio de comunicao massiva. Os avanos tcnicos fizeram com que o

    rdio perdesse sua bidirecionalidade, constitu indo-se num meio de comuni-

    cao massiva unidirecional.

    A industrializao de equipamentos se d com a criao da primeira

    companhia de rdio, fundada em Londres, Inglaterra, pelo cientista italiano

    Guglielmo Marconi, a quem se atribui a primeira inteno de obter algum

    proveito do rdio sob fins comerciais.

    Em 1919, as transmisses radiofnicas assumem caractersticas prprias,

    passando a ter denominao de radiodifuso. Naquele ano, na Holanda

    e nos Estados Unidos surgem rdios com trans misses regulares. Em poucos

    anos, vrias emissoras de ondas mdias (OM) se espalham pelo mundo.

  • 19

    O rdio no Brasil

    Apesar de a histria oficial no confirmar, a primeira experincia radiof-nica remonta a 1893, realizada pelo padre Roberto Landell de Moura, numa transmisso do alto da Avenida Paulista, para o alto de SantAna, na capital paulista, onde ele enviou sinais de telegrafia e de telefonia sem fio (AZZOLIN, 2005).

    Considerado precursor nas transmisses de vozes e rudos, em 1900 (dez anos depois), o padre Landell de Moura obteve do governo brasileiro carta-patente que lhe reconhece os mritos de pioneirismo cientfico, universal, na rea das telecomunicaes.

    A primeira apario pblica e oficial no Pas ocorre em 1922, na Exposi-o Nacional, preparada para os festejos do Centenrio da Independncia do Brasil. Como parte da solenidade de inaugurao, ocorre a transmisso do discurso do presidente da Repblica, Epitcio Pessoa, proferido num dos pavilhes da exposio. Aps o discurso, transmitida a pera O Guarany, de Carlos Gomes, diretamente do Teatro Municipal.

    Ao fim das festividades, a rdio sai do ar e outra transmisso s acontece no ano seguinte.

    Em 20 de abril de 1923, instala-se, definitivamente, o rdio no Pas. Essa data marca a fundao da Rdio Sociedade do Rio de Janeiro, a primeira rdio brasileira. Criada por Roquette Pinto e Henry Morize, a emissora tinha como proposta educar pelo rdio.

    O idealismo dos pioneiros do rdio se reflete no slogan da primeira emis-sora do Pas: Trabalhar pela cultura dos que vivem em nossa terra e pelo progresso do Brasil. Com base nesses parmetros, Roquette Pinto definia o novo veculo de comunicao:

    O rdio o jornal de quem no sabe ler; o mestre de quem no pode ir escola; o divertimento gratuito do pobre; o animador de novas esperanas; o consolador do enfermo; o guia dos

  • 20

    sos; desde que o realizem com esprito altrusta e elevado (FERRARETTO, 2001, p. 97).

    Contudo, ao contrrio do que hoje, o rdio nasce elite. A preocupa-o com grandes peras transmitidas pelo rdio, a presena de palavras e de oraes rebuscadas, tudo isso marca os primrdios do veculo no Brasil, porque as rdios eram fundadas por clubes ou sociedades, formadas por pessoas ricas, capazes de pagar, mensalmente, quantias necessrias para a manuteno dessas emissoras.

    O elitismo do rdio agravado pelo preo dos aparelhos re ceptores, que, no incio das transmisses no Brasil, so todos importados e muito caros. uma divergncia do que seria o rdio no futuro.

    Com o advento dos reclames, ou seja, anncios publicitrios, j na dcada de 1930, o rdio comea a se autossustentar, po dendo, assim, de-terminar uma programao mais voltada para seu verdadeiro pblico-alvo: a classe mais pobre da populao.

    Nessa poca, o rdio vai abandonando seu perfil educativo e elitista, para firmar-se como um meio popular de comunicao. A linguagem torna-se mais direta e de fcil entendimento; a pro gramao se diversifica e bem mais organizada, atraindo o grande pblico.

    A dcada de 1940, a poca de ouro do rdio brasileiro, o perodo em que o rdio mais se desenvolve. A programao se volta ao entreteni-mento, predominando programas de auditrio, radionovelas e humorsticos. Em 1941, a primeira radionovela, Em busca da felicidade, e seu principal noticirio, o Reprter Esso, so transmitidos pela Rdio Nacional, do Rio de Janeiro (SAROLDI, 1984, citado por FERRARETTO, 2001, p. 111).

    Por sua vez, o radiojornalismo ganha forma durante o envol vimento do Pas na Segunda Guerra Mundial. As tcnicas intro duzidas pelo Reprter Esso frases curtas e objetivas, agilidade, instantaneidade e seleo cuida-dosa das notcias so usadas at hoje, na maioria dos jornais falados.

  • 21

    No final da dcada de 1950, com a popularizao da televiso, o apogeu do rdio chega ao fim e as emissoras so obrigadas a redefinir seus objetivos. Nessa reestruturao, o rdio passa a dar mais espao ao radiojornalismo e aos servios comunidade.

    E, a partir da dcada de 1960, o rdio ganha novos impulsos com a descoberta do transistor, para substituir as vlvulas. O transistor permite a miniaturizao dos aparelhos, alimentados com pilhas. Assim, o rdio passa a ser carregado at no bolso, criando o modismo do porttil e abarcando uma audincia individual, ao invs da antiga audincia familiar.

    Em seguida, surgem outras inovaes, como a frequncia mo dulada (FM), o som estereofnico e o quadrifnico. Agora, ouve-se rdio em qual-quer lugar: no automvel, no elevador, no metr, no nibus, no barco, nos estdios de futebol e, com o uso de fones de ouvido, at mesmo onde o som possa perturbar o ambiente.

    O surgimento da FM provoca um processo de diviso do pblico, que vai se consolidar na dcada de 1980, devido diviso do espectro em dois ramos com caractersticas prprias de som e de abrangncia.

    As estaes de amplitude modulada (AMs) concentram-se no jornalis-mo, nas coberturas esportivas e na prestao de servios populao. Por sua vez, as emissoras de frequncia modulada (FMs) so voltadas para a transmisso da chamada msica ambiente. Contudo, ao longo da dca-da de 1970, as FMs con quistam o pblico jovem, seguindo modelos norte-americanos de programao.

    A principal entidade empresarial na rea de radiodifuso surge em 27 de novembro de 1962, a Associao Brasileira de Emissoras de Rdio e Televiso (Abert). Na mesma semana, o Congresso Nacional vota o Cdigo Brasileiro de Telecomunicaes.

    Em 1989, durante o Congresso da Abert, a Empresa Brasileira de Tele-comunicaes (Embratel) oferece um novo servio ao setor, o Radiosat, que comeava a modificar o quadro da radiodifuso sonora no Pas.

  • 22

    Atualmente, as emissoras de radiodifuso esto informatizadas, permi-tindo (caso queiram) dias sucessivos de programao sem a necessidade de operador. Contudo, a personalidade forte e a instantaneidade do rdio dire-cionam suas programaes em cima do binmio msica/informao, sempre que possvel, ao vivo.

    No Brasil, nas dcadas de 1980 e de 1990, os movimentos de transfor-mao social foram acompanhados de inmeras expe rincias no campo da comunicao comunitria e, marcadamente, pela expanso do movimento de rdios livres e seu aprimora mento num tipo particular, denominado de rdios comunitrias, caracterizadas pela participao popular em sua admi-nistrao, na elaborao e na pluralidade cultural de sua programao.

    Contudo, a regulamentao oficial das rdios comunitrias s ocorreu aps muita mobilizao da sociedade, realizao de eventos em defesa des-sas emissoras e da sua atuao, quando da realizao do Frum Nacional pela Democratizao dos Meios de Comunicao no Congresso Nacional.

    Participaram do frum diversas entidades, entre elas a Associao Brasileira de Rdios Comunitrias (Abrao), criada em 1996, como uma entidade de classe para unificar a luta em defesa das rdios comunitrias. Em fevereiro de 1998, o presidente da Repblica sanciona a Lei 9.612/1998, que regula-menta o funcionamento dessas emissoras.

    FundamentosPelas ondas eletromagnticas, usadas para transmitir men sa gens sonoras

    distncia, possvel se ter acesso a entretenimento, educao e informa-o. O rdio pode oferecer programao variada, contendo msica, notcias, discusses, informaes de utilidade pblica, programas humorsticos, nove-las, narraes de acontecimentos esportivos e sociais, entrevistas e cursos.

    Esse um dos meios de comunicao de massa mais antigos e tambm um dos mais importantes, pois capaz de levar informaes aos lugares de mais difcil acesso, integrando as populaes das cidades e dos locais

  • 23

    mais afastados, onde, muitas vezes, outros meios de comunicao no tm acesso.

    Por ser parte do cotidiano de milhares de pessoas em todo o mundo, o rdio tornou-se o meio de comunicao mais prximo e de mais fcil acesso. Ele desempenha inmeros papis e funes, entre os quais destacam-se as capacidades de:

    Influenciar o comportamento de pessoas.

    Criar novos hbitos.

    Atender s demandas simblicas de lazer, entretenimento, informa-o e companhia.

    Divulgar novos artistas e a cultura local.

    Segundo o radialista ingls Robert McLeish (2001, p. 89), o rdio funcio-na muito bem na disseminao de ideias, destacando conceitos e fatos. Por suas qualidades, ele um excelente aliado na educao, podendo servir de instrumento para difuso de ideias e mensagens que visam ao desenvolvi-mento integral do ser humano, alm de motivar a reflexo e a transformao social.

    Como meio de comunicao de massa, o rdio possui uma audincia ampla, heterognea e annima. Assim, a segmentao de pblico foi uma das estratgias adotadas por essa mdia para se manter vivo diante do surgi-mento e do crescimento de outros meios de comunicao.

    As rdios locais exploram atributos ligados cultura regional, promoven-do a afinidade com o ouvinte. Por isso, a concepo e a estruturao dos programas radiofnicos devem sempre con siderar o tipo de pblico e seu nvel sociocultural. Por causa da segmentao dessa mdia, preciso adaptar o contedo, a lin guagem e a abordagem conforme as caractersticas espec-ficas do pblico que pretende atingir.

    Apesar do seu poder de criar mensagens na memria dos ouvintes, de promover a criatividade estimulando o interesse por assuntos, pessoas e

  • 24

    eventos antes desconhecidos , o rdio possui algumas caractersticas que limitam seu uso ou diminuem sua eficcia.

    Como no oferece contato visual, o rdio depende unicamente do som para transmitir sua mensagem. Por isso, o cuidado com a linguagem deve ser redobrado, visto que deve garantir que o ouvinte continue atento transmisso.

    O aproveitamento do seu contedo est estreitamente ligado capaci-dade auditiva do receptor, linguagem radiofnica, fugacidade, aos tipos de pblico e s formas de recepo.

    Alguns recursos podem ajudar nessa tarefa. A msica, os efeitos sonoros e at o silncio, isoladamente ou combinados entre si, podem enriquecer, temperar a produo e prender a ateno do ouvinte, compensando a au-sncia da imagem.

    A instantaneidade do rdio outro limitante desse meio de co mu nicao, que faz com que sua mensagem seja passageira e fugaz. Por mais esse moti-vo, importante que a linguagem usada para transmitir mensagens radiof-nicas seja exata, ntida e simples, para que o ouvinte a capte logo na primeira vez que a ouvir, pois toda mensagem radiofnica deve ser entendida no momento nico da sua transmisso.

    Formatos e gneros de programas radiofnicos

    So vrios os formatos que um programa radiofnico pode assumir. Pode tambm combinar mais de um formato, dependendo do objetivo e do pblico-alvo da programao.

    Tambm existem gneros diversificados, que determinam as temticas que sero abordadas em determinado programa. Destacamos alguns dos gneros mais comuns:

  • 25

    Educativo Apresenta conceitos e fatos, seja ilustrando um evento histrico, seja acompanhando o pensamento poltico. Serve para veicular qualquer assunto que possa ser discutido, conduzindo o ouvinte num ritmo predeter-minado por um conjunto de informaes.

    Musical A variedade de msicas mais abrangente que nossa memria, podendo dar ao ouvinte a oportunidade de descobrir formas musicais novas ou que ainda lhe so desconhecidas.

    Jornalstico e de utilidade pblica Caracteriza-se pela veiculao de informa-es de fatos atuais em tempo real e pela prestao de servio (campanhas de sade, instrues eleitorais, informaes sobre emprego, achados e perdidos, previso do tempo, desaparecimentos, etc.).

    Entretenimento Oferece diverso ao ouvinte, como humor, promoes, sorteios, etc.

    Existem ainda outros gneros de programas, como esportivo, feminino (moda, culinria, horscopo, dicas de beleza), ambien talista, religioso, po-ltico e de divulgao cientfica, que devem atender aos objetivos de cada emissora.

    Para cada gnero, ser tambm definido o formato para a veiculao das informaes, que podem ser: revista, debate, novela, mesa-redonda, boletim, etc.

  • Parte do texto elaborado com base na palestra Re exo sobre o programa de rdio Prosa Rural e a composio dos mundos, proferida por Jos Geraldo Di Stefano, no Encontro do Prosa Rural 2006, Recife, PE.

    Projeto radiofnico Prosa Rural

  • 28

    Histrico do projetoEm 2003, a Embrapa Informao Tecnolgica, Unidade situada em Bra-

    slia, DF, em apoio estratgia de governo Fome Zero, criou o programa radiofnico da Embrapa, o Prosa Rural, para levar tecnologias aos jovens e pequenos produtores da regio do Semirido nordestino, considerando as necessidades e desejos desse pblico de aprender conceitos, obter conhe-cimentos e informaes sobre agropecuria, educao, sade e meio ambi-ente, em busca de melhor qualidade de vida.

    Por perceber a diversidade das pessoas que compem a so ciedade brasi-leira, desde sua concepo o Prosa Rural mostra uma real preocupao com a linguagem, com o modo de ser da Regio Nordeste, onde foi implantado inicialmente, e ainda dando nfase cultura de cada estado que a compe.

    Por isso, em 2003, foi montada uma estratgia de ao inicialmente baseada no diagnstico Semirido: subsdios para o projeto programa radio-fnico Embrapa Fome Zero a qual, por meio de uma grande pesquisa corpo a corpo, nos locais onde o programa seria veiculado, procurou enfocar as dimenses de gerao, gnero, etnia e convivncia com o Semirido.

    Esse diagnstico trouxe elementos concretos para a discusso de um projeto que atendesse s necessidades e aos interesses do pblico-alvo defi-nido. A pesquisa foi feita pela antroploga Maria do Socorro de Magalhes e pelo cinegrafista e fotgrafo Olavo Maciel (de saudosa memria). Foram feitas 267 entrevistas em seis estados do Semirido (Alagoas, Bahia, Cea-r, Paraba, Pernambuco e Piau) por meio de um questionrio semiestrutu- rado e de um roteiro de entrevistas.

    O pblico envolvido na pesquisa foi composto por produtores rurais, jovens rurais estudantes de escolas tcnicas e agrcolas, assentados da reforma agrria, organizaes sindicais, pesquisa dores de instituies gover-namentais e no governamentais, radi alistas, donas de casa, etc. Enfim, pes-soas que demonstrassem liderana ou fossem possveis multiplicadores em cada estado visitado.

  • 29

    Ainda em 2003, a participao do gerente-geral da Embrapa Informao Tecnolgica, Fernando do Amaral Pereira, no seminrio sobre comunicao rural, promovido pela Escola de Comunicao e Artes da Universidade de So Paulo (ECA/USP), contribuiu para ampliar o conhecimento em torno de experincias exitosas na rea de rdio para comunidades rurais e subsidiar propostas para o formato mais adequado do programa.

    Paralelamente ao diagnstico do Semirido, aconteciam reunies em Braslia, DF, para planejar a primeira oficina de rdio, que aconteceria em Teresina, PI, com o objetivo de sensibilizar pesquisadores, coordenadores do programa nas Unidades de Pesquisa da Embrapa, no Nordeste, jornalistas e demais comu nicadores para a causa. A metodologia da oficina previa uma contextualizao da proposta, com apresentao de possveis aes do pro-grama no Nordeste e o depoimento da pesquisadora responsvel pelo diag-nstico da regio.

    Na ocasio, a jornalista Sofia Hammoe, com larga experincia em rdios comunitrias, promoveu uma oficina, quando a equipe formada por comu-nicadores e tcnicos das Unidades de Pesquisa da Embrapa, no Nordeste, da Embrapa Informao Tecnolgica, da Embrapa Transferncia de Tecnologia e da Assessoria de Comunicao Social (ACS) teve contato com especificida-des da linguagem do rdio, formatos de programa, roteiros e outros pontos considerados importantes para a criao do programa.

    Tambm foram discutidas questes regionais, linhas de pesquisa e tecno-logias que dariam corpo ao contedo do programa de rdio que deveria ter como diferencial seu pblico o jovem e o pequeno produtor rural. Desse encontro, saiu a primeira tentativa de um programa-piloto.

    Noutro momento, a equipe props um concurso para escolha do nome do programa. Da nasce o Prosa Rural. O nome foi escolhido entre 107 su-gestes enviadas por empregados das Unidades da Embrapa do Nordeste e de Braslia, DF. Uma caracterstica importante no nome Prosa Rural que ele remete o programa diretamente ao seu objetivo, facilitando a identificao para o pblico.

  • 30

    O Prosa Rural ganhou corpo em duas oficinas, uma em Forta leza, CE, e outra em Aracaju, SE, ainda em 2003, envolvendo jornalistas e outros comu-nicadores e tcnicos que compuseram a equipe do programa.

    Depois de muitas dinmicas, oficinas de comunicao e de linguagem do rdio, e de uma discusso pedaggica sobre como o contedo cientfico poderia ser levado ao produtor rural numa linguagem popular, ainda com a preocupao de criar uma iden tidade com seu pblico-alvo, foi gravado o primeiro programa, para apresentar os temas que formariam a grade de programao de 2004.

    Assim, desde o primeiro momento, o Prosa Rural fruto de uma cons-truo coletiva, com adoo de metodologia participa ti va, onde todos os integrantes da equipe inicial do projeto tiveram voz e vez.

    At hoje, o processo de construo coletiva constante e, como tal, o programa mantm a cultura, o fazer e as experincias de todos os envolvi-dos, respeitando as diferenas, mas buscando formar uma s identidade.

    A coordenao do programa ficou sob responsabilidade da Embrapa In-formao Tecnolgica. No incio, seu contedo foi desenvolvido pelas Uni-dades da Regio Nordeste (Embrapa Agroindstria Tropical, Embrapa Algo-do, Embrapa Caprinos e Ovinos, Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, Embrapa Meio-Norte, Embrapa Semi-rido e Embrapa Tabuleiros Costeiros).

    Apesar de o Prosa Rural ter entrado no ar no incio de 2004, ele s foi lanado oficialmente em abril daquele ano, durante a exposio Cincia para a Vida, em Braslia, DF, quando foi feita a primeira avaliao, com a preocupao de ouvir cada membro da equipe do programa.

    Ainda em 2004, tambm foi promovida nova oficina em Salvador, BA, com a participao de Unidades da Embrapa do Nordeste e outras Uni-dades que apresentassem temas apropriados ao Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais (Embrapa Gado de Leite e Embrapa Milho e Sorgo), e Regio Norte (Embrapa Amaznia Ocidental, Embrapa Amaznia Oriental, Embrapa Acre, Embrapa Amap, Embrapa Rondnia e Embrapa Roraima),

  • 31

    alm de convidados de Organizaes Estaduais de Pesquisa Agropecuria (Oepas) que se propuseram a participar do programa. Essas organizaes foram as seguintes:

    Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrcola (EBDA).

    Empresa de Pesquisa Agropecuria do Rio Grande do Norte (Emparn).

    Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuria da Paraba (Emepa).

    Empresa de Pesquisa Agropecuria de Minas Gerais (Epamig).

    A partir de ento, todas essas organizaes passaram a integrar a equipe do Prosa Rural. Na referida oficina, foram elaboradas as grades de progra-mao de 2005, com temas totalmente voltados para o produtor da regio Norte e da regio do Semirido (incluindo-se o Vale do Jequitinhonha).

    A cada ano, promovido novo encontro, com a finalidade de preparar/reciclar as equipes envolvidas no Prosa Rural, avaliar e discutir o andamento dos trabalhos ao longo desse tempo. Em 2005, Braslia sediou o evento.

    Em 2006, a oficina promovida em Recife, PE, reuniu 67 participantes. Dessa vez, tambm participaram representantes das Unidades da Embrapa envolvidas na programao do Centro-Oeste:

    Embrapa Arroz e Feijo.

    Embrapa Gado de Corte.

    Embrapa Hortalias.

    Embrapa Agropecuria Oeste.

    Embrapa Pantanal.

    Embrapa Recursos Genticos e Biotecnologia.

    Embrapa Transferncia de Tecnologia.

    Do Sudeste:

    Embrapa Agrobiologia.

  • 32

    Embrapa Solos.

    Embrapa Agroindstria de Alimentos.

    Embrapa Pecuria Sudeste.

    Embrapa Meio Ambiente.

    Embrapa Monitoramento por Satlite.

    Embrapa Instrumentao Agropecuria.

    Embrapa Informtica Agropecuria.

    Depois, outras Unidades tambm passaram a contribuir na elaborao das grades j existentes:

    Embrapa Trigo.

    Embrapa Uva e Vinho.

    Embrapa Florestas.

    Embrapa Soja.

    Embrapa Sunos e Aves.

    Em 2007, o Prosa Rural j estava presente em quatro regies do Brasil, com programaes especficas direcionadas ao pblico dessas regies (Semi-rido, Norte e Centro-Oeste/Sudeste) e no Sul do Pas, em fase experimental, com um programa-piloto com 5 minutos de durao.

    Em 2008, o Prosa Rural oficializou a programao direcionada ao p-blico sulista, que passou a ser composta por programas de 15 minutos de durao, com a participao de todas as Unidades do Sul e de outras que pudessem contribuir com temas adequados regio.

    H sempre uma preocupao da equipe coordenadora de Braslia, DF, com as dificuldades locais que os comunicadores e demais colaboradores encontram, buscando manter a equipe unida, e estabelecendo programa-es com caractersticas regionais, para melhor atender s necessidades do pblico-alvo do Prosa Rural.

  • 33

    Objetivos do Prosa RuralO Prosa Rural divulga a pesquisa cientfica e tecnolgica. Ele leva os re-

    sultados da pesquisa cientfica em linguagem fcil e regionalizada para o pblico, difundindo tecnologias que possam ser aplicadas nas propriedades rurais. Alm disso, divulga a cultura local, na forma de cordel, msica, conto e radiodrama.

    O Prosa Rural busca contribuir para a democratizao do acesso s in-formaes geradas pela cincia. Assim, procura fortalecer a populao rural e despertar o intercmbio entre o saber cientfico e o saber do campo, e vice-versa.

    Apesar de a veiculao do Prosa Rural ser gratuita, a Embrapa recebe grande procura das emissoras interessadas na sua transmisso. O primeiro programa destinado Regio Nordeste foi enviado em fevereiro de 2004, para cerca de 50 emissoras. Ao final daquele ano, 423 emissoras estavam listadas na mala-direta da Embrapa Informao Tecnolgica, e em 2008 ul-trapassa a marca de 1.000 emissoras parceiras.

    Nossos ouvintesNum programa como o Prosa Rural, o cuidado com a lingua - gem de suma importncia, para ajustar a capacidade de oralidade entre a Embrapa e seus diferentes pblicos. (Jos Geraldo Di Stfano)1

    Desde sua concepo, o Prosa Rural busca adequar-se aos valores cultu-rais locais e conhecer de perto as atitudes, exigncias e caractersticas das comunidades para as quais pretende se dirigir, para alcanar maiores chan-ces de aprovao do pblico-alvo (jovens rurais e agricultores familiares) e demonstrar seu compromisso com essas comunidades.

    O pblico-alvo foi definido pela estratgia governamental do Fome Zero. Por sua vez, para o diagnstico Semirido: subsdios para o projeto progra-

    1 Comunicao pessoal feita por Jos Geraldo Di Stfano, no Encontro do Prosa Rural 2006, Recife.

  • 34

    ma radiofnico Embrapa Fome Zero foram entrevistados representantes de vrios segmentos, como estudantes do ensino fundamental e mdio de escolas rurais e agropecurias, jovens agricultores com idade entre 14 e 25 anos, donas de casa, associaes e sindicatos rurais, e principalmente agri-cultores familiares afastados dos principais centros urbanos, para conhecer melhor suas expectativas e interesses quanto ao contedo do programa.

    Nesse cenrio, por meio do rdio, a Embrapa consegue disseminar tec-nologias desenvolvidas pela pesquisa para um pblico que antes no atendia e que, em muitos casos, estava excludo do acesso s tecnologias agrcolas.

    No entanto, para que essa atividade continue tendo xito, importan-te que se tenha sempre em mente o pblico-alvo, seu modo de vida, seus valores, faixa etria, profisso, entre outros elementos que o definem. im-portante, tambm, superar algumas dificuldades para alcanar esse pblico-alvo, como sugere Ellen Wortmman (informao verbal)2.

    Aproximar quem fala de quem ouve:

    Quem fala (ns, a equipe do Prosa Rural) tem cultura letrada (literacy).

    Quem ouve (agricultor e jovem rural) pblico que tem uma lgica diferente da nossa; um caminho de pensamento diferente, baseado na oralidade (orality).

    A diferena entre a cultura de quem fala e a de quem ouve pode causar problemas na comunicao, gerando incompreenso e mes mo rejeio ao programa. Por isso, a adequao e a harmonia vocabular (padronizao da linguagem), o respeito e a valorizao da cultura do ouvinte so fundamen-tais na produo do Prosa Rural.

    Valorizao da cultura localUma forma de permanecer em sintonia com o pblico-alvo valorizan-

    do a cultura local ou regional. Para isso, importante que cada programa apresente: 2 Comunicao feita por Ellen Wortmman em palestra proferida no Encontro do Prosa Rural 2006, Recife.

  • 35

    Msicas nativas (regionais).

    Causos, nas regies onde esse tipo de narrativa comum.

    Poesias de autores da regio.

    Contos que retratem a cultura e as crendices regionais.

    Nota: a assinatura e o envio do Termo de Autorizao de autores de msicas, contos, cordel, poesias, causos e outras formas de expresso cultural so imprescindveis para sua veicula-o no programa, a fim de se evitar problemas futuros com direitos autorais.

    Processo de produoO processo de construo do Prosa Rural fragmentado, en volvendo as

    equipes das Unidades de Pesquisa da Embrapa e das Organizaes Estaduais de Pesquisa Agropecuria (Oepas).

    De acordo com a programao dos temas, estabelecida para cada ano e para cada regio, as Unidades de Pesquisa e as Oepas produzem os udios (entrevistas, dicas, receitas, participao cul tural, depoimentos) e as informa-es sobre o tema para apoiar a elaborao do roteiro.

    O documento escrito enviado para apoiar a elaborao do roteiro deve ter contedo diferente do que for dito na entrevista, para que as informa-es sejam complementares, e no redundantes.

    Todo o material enviado para a equipe do Prosa Rural, em Braslia, DF, onde o programa recebe sua forma final, com roteiro, locuo, edio, mi-xagem, aprovao e copiagem, sendo, em seguida, enviado s rdios cadas-tradas, via correios, e ainda colocado disposio dessas rdios para serem baixados pela internet, no sistema do Prosa Rural.

    As rdios que querem se cadastrar enviam seus dados para a equipe do Prosa Rural em Braslia ou podem acessar o sistema disponvel no site3. Essas rdios recebem, em CD, os programas para a veiculao no ms ou podem optar por baix-los pela internet, semanalmente.3 www.sct.embrapa.br/prosarural acessar Rdios parceiras.

  • 36

    Definio dos temas do programa

    O Prosa Rural tem 15 minutos de durao, abordando, de forma clara e acessvel, temas sobre tecnologias de baixo custo, fcil adoo e ambiental-

    mente sustentveis para a regio onde veiculado, e que tenham aplicao

    prtica no dia a dia do pequeno produtor rural.

    As programaes anuais, com 48 temas para cada regio, so apresen-

    tadas pelas Unidades da Embrapa e Organizaes Esta duais de Pesquisa

    (Oepas), via edital, aberto uma vez por ano, sempre no segundo semestre.

    As propostas apresentadas com os respectivos resumos de im pa cto

    econmico e social para a agricultura familiar, disponibilidade da tecnologia e

    perodos indicados para a veiculao dos programas em cada regio so

    avaliadas por um comit de seleo, cons titudo especialmente para essa fi-

    nalidade.

    Em 2007, para auxiliar no processo de seleo dos temas, adotou-se

    um formulrio com dez quesitos para avaliao dos temas apresentados:

    Adequao do contedo ao veculo rdio.

    Possibilidade de aplicao realidade do produtor.

    Potencial do impacto socioeconmico presumido.

    Atualizao do conhecimento do produtor.

    Custo de implantao da tecnologia, produto e servio (TPS).

    Grau de independncia para a adoo da TPS.

    Impacto positivo da TPS no meio ambiente.

    Adequabilidade s linhas temticas do edital.

    Universo de pblico a ser atingido com a TPS.

    Identidade com a regio.

  • 37

    A partir do resultado da avaliao das propostas recebidas, a grade de programao elaborada e apresentada para a Diretoria-Executiva da Embrapa e respectivas Unidades participantes, para ajustes finais.

    Estrutura do Prosa Rural

    Inicialmente, a estrutura do Prosa Rural foi estabelecida em:

    Jingle (abertura), seguido de vinheta institucional.

    Um Dedo de Prosa Entrevista com especialista na tecnolo gia a ser divulgada.

    Pitacos da Hora Bloco criado para integrar o segmento feminino com receitas ou dicas de aproveitamento alimentar ou sobre a tecno-logia em questo.

    Favas Contadas Tem o objetivo de conservar a histria, a cultura, as tradies, as lendas e os mitos populares, abrindo espao para artistas locais por meio de msicas, poesias, cordel, contos e at radionovelas interpretadas por empregados da Embrapa.

    Telefones de servio (telefone 0800 disponvel para os ouvintes tira-rem dvidas sobre os temas veiculados).

    Anncio do prximo tema.

    Encerramento institucional e jingle final.

    At 2005, os programas continham o quadro Notcias (divulgao de assuntos diversos de interesse do pblico rural). Porm, ao longo dos anos, algumas adaptaes foram feitas. O quadro Notcias foi retirado pois, por serem factuais, inviabilizavam a reprise dos programas, prtica bastante ado-tada pelas rdios parceiras. Para complementar o modelo, foi criado um

  • 38

    novo bloco, o Fala, Produtor, para quem j usa a tecnologia divulgada falar de sua experincia.

    Em 2007, um novo bloco de prestao de servios foi includo e, por meio de consulta equipe de comunicadores envolvida no Prosa Rural, re-cebeu o nome de Ao P do Ouvido, com orientaes sobre campanhas de vacinao, cuidados com a sade, formas de descarte de embalagens de agrotxicos, economia de energia eltrica e de gua, combate violncia contra a mulher, aposen tadoria, direitos trabalhistas, documentao, dentre outros assun tos que fortaleam a cidadania.

    Elaborao do roteiroNo caso de divulgao de cincia e tecnologia, ao se escolher um tema,

    importante delimit-lo. Um assunto amplo demais aca bar no sendo abor-dado por completo. Diante de tal situao, importante destacar apenas um aspecto da tecnologia, aquele que o mais importante. Nesse caso, vale a pena omitir os outros aspectos, para no cair na superficialidade.

    Por isso, o planejamento e a elaborao de um roteiro so funda-mentais para se definir a estrutura do programa. Uma sugesto pensar as seguintes etapas:

    Definio do que ser apresentado no programa, isto , quais os ar-gumentos que sero discutidos.

    Disposio dos argumentos numa ordem, ou seja, planejar comeo, meio e fim, de acordo com o objetivo proposto.

    Desenvolvimento do modo de apresentao dos argumentos.

    Definio dos recursos especficos que sero usados.

    oportuno reforar que elaborar um texto de divulgao cientfica no apenas resumir os aspectos de uma pesquisa em termos simples, mas descre-ver com clareza, conciso e simplicidade, finalidade, etapas, resultado, apli-cao, praticidade e vantagens e tudo mais que for de interesse do ouvinte.

  • 39

    importante, tambm, encontrar um fio condutor para ligar todos os elementos que escolheu para abordar no programa, de forma coerente, l-gica, dinmica e at original.

    Cada informao do texto deve se apoiar nas informaes precedentes, encadeando-se de maneira natural, sem quebras.

    Com as informaes em ordem, hora de elaborar o roteiro, que o ori-ginal escrito do programa radiofnico. Nele, esto inseridos os textos do(s) locutor(es), os destaques da fala, a pronncia correta, as inseres de entre-vistas, os efeitos sonoros, as msicas...

    A apresentao do Prosa Rural feita por um casal de locutores, para dar mais ritmo ao programa. Nesse caso, o estilo predominante o dilogo.

    No entanto, em alguns momentos, ao se apresentar um tema baseado em tecnologias ou em produtos, usada a descrio ou a narrao, para con-tar uma determinada experincia ou contextualizar o tema do programa.

    O texto deve seguir as orientaes da linguagem radiofnica: simplici-dade, conciso, alm de informaes de fcil compreenso, que possam ser colocadas em prtica pelo pblico-alvo e, sempre que possvel, aproximar-se da realidade das pessoas, mostrando de que forma aquele assunto afeta seu dia a dia.

    O texto tambm pode relatar o porqu da pesquisa, a motivao para realiz-la, mas deve evitar formulaes tericas e abstratas. Diante da impos-sibilidade de evit-las, importante explicar e exemplificar amplamente os termos tcnicos, colocando-se no lugar do ouvinte e procurando-se pontos de identificao e de empatia.

    Em se tratando de estilo, quanto mais clara for a mensagem, mais obje-tivo e eficaz ele ser, tornando-se tambm melhor relacionado com o modo de falar e de se comunicar do pblico-alvo. Assim, o estilo pode incorporar grias (aceitveis), jarges, chaves e expresses usadas pelo pblico. Tam-bm vlido tentar surpreender, impressionar, persuadir, aconselhar e enco-rajar, no apenas informar.

  • 40

    Para quem se prope a escrever um roteiro, importante ter em mente

    que as palavras devem transportar o ouvinte para o contexto que est sendo

    apresentado, despertando seu interesse e conquistando sua ateno.

    O roteiro deve ainda trazer informaes referentes tcnica.

    A indicao da entrada de uma sonora (insero de trechos gravados previa-

    mente), o nome do arquivo, as deixas (trechos) inicial e final com os respec-

    tivos tempos para corte (edio) do udio original.

    No roteiro, tambm deve ser indicada a entrada de vinhetas, jingles, m-

    sicas (incluindo o nome do CD e o nmero da faixa, caso o udio seja extra-

    do de CD) ou outro recurso que estiver contido no programa.

    Em relao apresentao do roteiro, alguns cuidados podem ser toma-

    dos para facilitar a locuo e a coordenao do programa:

    Indicar, no comeo do roteiro, o nome do programa, data de veicula-o e outras informaes que facilitem sua identificao.

    Destacar palavras ou frases quando o locutor tiver que mudar de en-tonao.

    Terminar todas as folhas ou pginas com pargrafo completo ou com ponto final.

    No separar as slabas de uma linha para outra, nem nomes de pes-soas ou de instituies.

    Indicar como se pronunciam palavras estrangeiras ou nomes diferen-tes.

    No modelo de lauda adotado pela equipe do Prosa Rural (ver Anexo 3), usada a fonte Arial, corpo 14, com entrelinhamento (espaamento) 1,5,

    para os textos dos locutores. Para cada linha, so computados 2 segundos.

    O tempo, incluindo-se texto + sonoras + vinhetas + msicas + efeitos, deve

    totalizar 15 minutos, que a durao do programa.

  • 41

    Cuidados com o contedo tcnico

    O objetivo do Prosa Rural divulgar os resultados da pesquisa cientfica e tecnolgica de forma simples e sem sisudez. Por isso, importante que as equipes de produo do programa tenham constante zelo e empenho com o contedo tcnico a ser apresentado, quando das entrevistas com especia-listas no assunto e da abordagem do tema.

    Os cuidados principais que as equipes responsveis pela produo do programa devem ter com relao ao contedo so:

    Detalhamento da tecnologia Os detalhes da tecnologia em foco so de suma importncia. Por isso, a tecnologia apresentada deve ser explicada logo no incio do programa, mas sem chatear o ouvinte com detalhes desne-cessrios ou com excesso de informao.

    Objetividade e compromisso Ter em mente que divulgar cincia contar uma histria, compartilhar uma informao. Para isso, deve-se despertar o esprito crtico dos ouvintes, falando das repercusses de ordem social, eco-nmica, poltica ou ambiental que tal tecnologia pode ocasionar.

    Seriedade No se deve omitir ou maquiar os obstculos ou problemas enfrentados pelos pesquisadores no desenvolvimento do seu trabalho. A franqueza em revelar esses fatos humaniza a cincia.

    Marketing empresarial Manter o embraps em alguns momentos ga-rante a legitimidade do discurso cientfico (a Embrapa e as Oepas so insti-tuies de pesquisa reconhecidas). Mesmo assim, preciso explicar, traduzir para a realidade do ouvinte e exemplificar sempre.

    Durao e contedo da entrevista Observar a extenso e o contedo da entrevista, j que esse segmento o principal bloco do programa. No caso do Prosa Rural, as entrevistas no devem ser longas, estendendo-se entre 5 e 8 minutos.

    Adequao vocabular Evitar terminologia de forma indistinta, como pequeno produtor, pecuarista ou outros, porque podem ter diferenas

  • 42

    de signifi cado de regio para regio. Nesse caso, importante primar pela

    adequao vocabular, evitando-se palavras locais, que s vezes podem ter

    signifi cados restritos.

    Clareza e conciso Evitar o uso de termos tcnico-cientfi cos (de difcil compreenso) ou que no faam parte da realidade do pblico-alvo ou ter-

    mos com ideia vaga, como efi cincia, que abstrato.

    O uso de cada termo tcnico deve ser justifi cado, substituindo-se esse

    termo por outro equivalente e mais popular. isso o que se chama de ade-

    quao vocabular.

    Em caso de espcies vegetais e animais, devem-se usar termos comuns

    em vez do nome cientfi co.

    No caso de ser essencialmente necessrio o uso de termos tcnico-

    cientfi cos, esses devem ser explicados ou defi nidos logo na primeira vez

    em que forem mencionados, inserindo-se exemplos, para facilitar seu

    entendimento. Assim, os ouvintes podero entender o assunto que est

    sendo apresentado e ampliar seu universo de conhecimento.

    Ouvir CD Anexo Faixa 1

    Uma dica pronunciar o termo em voz alta, como se estivesse expli-

    cando para algum. Alm de tornar a explicao mais simples, ampliar a

    oralidade do texto.

    Prazos

    Material gravado pelas Unidades para compor o programa:

    Entrevistas (Um Dedo de Prosa).

    Receitas ou dicas (Pitacos da Hora).

    Radiodramas (Um Dedo de Prosa ou Favas Contadas).

  • 43

    Causos, poesias, msicas (Favas Contadas).

    Depoimentos de produtores (Fala, Produtor).

    Servio ou dicas de cidadania (Ao P do Ouvido).

    Todo o material acima e os CDs com msicas (ou outro tipo de informa-

    o) devem ser enviados para a equipe do Prosa Rural na Embrapa Informa-o Tecnolgica, em Braslia, DF, com no mnimo 45 dias de antece dncia ao

    ms de veiculao do programa, para ser editado. Exemplo: se a Unidade

    tiver um programa para ser veiculado em julho, as equipes responsveis de-

    vem enviar todo o material a Braslia, DF, at o dia 15 de maio.

    Alm dos udios, devem ser enviados, obrigatoriamente, como parte do

    material para produo do programa:

    Termo de Autorizao para veiculao do material de divulgao cul-tural, assinado por seu(s) autor(es), como forma de assegurar os direi-

    tos autorais das obras.

    Material escrito para elaborao do roteiro.

    Ficha tcnica preenchida com os dados do programa.

    Distribuio das cpias e veiculao

    Depois de editado e aprovado, o programa enviado gratuitamente

    s rdios parceiras. Cada rdio pode optar em receber os programas men-

    salmente em CD, via correios, ou baix-los, semanalmente, no sistema do

    Prosa Rural4, em formato MP3 128 kbps, com qualidade adequada para veiculao.

    O site tambm oferece verso mais leve (MP3 64 kbps), apenas para ser

    ouvida pelos internautas.

    4 www.sct.embrapa.br/prosarural acessar Rdios parceiras.

  • 44

    Para transmitir o Prosa Rural, as emissoras celebram convnio com a Embrapa, onde se comprometem a manter dia e horrio fixos para sua vei-culao, pelo menos uma vez por semana.

    Rdios interessadas em tornarem-se parceiras do Prosa Rural podem acessar o site do programa e fazer seu cadastro ou enviar seus dados para a equipe em Braslia, por e-mail ([email protected]), ou carta para a Embrapa Informao Tecnolgica.

  • A experinciano Prosa Rural

  • 46

    A concepo e a produo do Prosa Rural constituram-se em experincia completamente nova para a Embrapa.

    Primeiro, por se tratar de novidade para alguns profissionais de repen-te ter que se envolver com radiodifuso na divulgao dos resultados das pesquisas agropecurias, atividade que exige no apenas boa vontade, mas tambm novos aprendizados, principalmente relacionados simplificao da linguagem que esse veculo requer e sua dinmica de produo. Depois, pelo fato de o Prosa Rural ser destinado a um pblico especfico o jovem do cam-po e o agricultor familiar para os quais havia poucos produtos especficos.

    Diante desses desafios, comunicadores da equipe do Prosa Rural desen-volveram estratgias de trabalho para tornar o programa um instrumento eficaz de divulgao cientfica.

    A seguir, sero apresentadas experincias pessoais na produo do Prosa Rural, as quais podem servir como fonte de inspirao ou mesmo modelo a ser adotado pelas demais Unidades da Embrapa e por outras instituies de pesquisa, como forma de aprimorar o trabalho que vem sendo realizado.

    A conversa na roaA elaborao do bloco Um Dedo de Prosa no tarefa fcil, por exigir

    um cuidado todo especial, bem artesanal, talvez o maior desafio do progra-ma. Levar a tecnologia ao homem do campo em linguagem acessvel e efi-ciente, demanda no apenas parceria e adequao vocabular, mas tambm compromisso, dedicao, profissionalismo e criatividade.

    O jornalista precisa estar atento linguagem usada por ele e principal-mente por seu interlocutor (pesquisador ou convidado) para que a informa-o chegue ao ouvinte de forma clara, objetiva e eficiente. Assim, uma con-versa prvia com o pesquisador (ou convidado) muito importante, sendo necessria a adaptao da linguagem tecnolgica para termos mais simples utilizados pelo agricultor na roa.

  • 47

    O pesquisador , antes de tudo, um aliado, devendo estar consciente de que sua atuao no programa requer simplifi cao do seu vocabulrio. Alm disso, as diferenas regionais (regionalismos) tambm devem ser con-sideradas. imprescindvel adaptar o vocabulrio rebuscado dos laboratrios linguagem do pequeno produtor rural, com pouco ou nenhum acesso ao estudo, em sua maioria.

    Quanto gravao da entrevista para o Um Dedo de Prosa, como o prprio nome desse bloco sugere, deve ser encarada como uma conversa desembaraada, leve e espontnea, bem nos moldes do bate-papo entre os compadres, na roa.

    Mesmo a mais inovadora e desconhecida tecnologia deve chegar ao pro-dutor de forma familiar e acessvel. Antes de tudo, o agricultor precisa ser visto como companheiro e amigo. Alm de parceiro e amigo, ele a razo de ser do Prosa Rural, uma vez que esse programa elaborado e produzido especialmente para ele, que integra nosso pblico-alvo.

    Ouvir CD Anexo Faixa 2

    Condies para entrevistas importante o jornalista chegar ao entrevistado com uma postura segu-

    ra, sem, jamais, ser arrogante. Isso no quer dizer que ele deve ser passivo durante a entrevista, pois ele quem conduz o fi o da conversa. Por isso, o jornalista pode e deve perguntar tudo. No deve sair com a menor dvida em relao ao assunto abordado.

    Na verdade, melhor editar uma entrevista em tempo hbil do que re-tornar fonte para completar a matria. Alm disso, o entrevistado deve se colocar no lugar de quem vai ouvir a entrevista e se perguntar, o tempo todo, o que o ouvinte gostaria de saber, o que ele deveria saber. Assim, se-guramente, a entrevista ser mais proveitosa e objetiva.

    importante, tambm, que o entrevistador no se d por vencido quan-do o entrevistado no responder a alguma pergunta ou tentar fugir do

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    assunto. Nesse caso, o jornalista deve insistir em arrancar a informao dese-jada. Afinal, uma entrevista no deve ser encarada como uma polmica.

    No caso de entrevistas para o Prosa Rural, os entrevistados so quase sem-pre produtores rurais ou pesquisadores. Um tem uma linguagem mais sim-ples, o outro, naturalmente, mais tcnica e rebuscada. Em ambos os casos, o jornalista deve se esforar para traduzir a informao para os ouvintes em linguagem clara e compreensvel. Para as duas situaes, recomenda-se:

    Marcar a entrevista com antecedncia.

    Informar ao entrevistado, sempre que possvel, sobre o tema.

    Informar-se sobre o entrevistado e sobre o assunto-alvo da entrevista. Isso facilita a conversa com o entrevistado, garantindo segurana e bom desempenho para o entrevis tador e seu interlocutor.

    Nunca confiar apenas na memria. Levar o material para a entrevista (gravador, jacars, pilhas, fitas extras, papel e caneta para anota-es).

    Evitar refazer a entrevista. A primeira a mais espontnea.

    Evitar perguntas vagas: elas levam a respostas tambm vagas. Por isso, as perguntas devem ser curtas, diretas e uma de cada vez.

    Vestir-se de forma a no destoar do ambiente onde a entrevista ser concedida, para no inibir o entrevistado.

    Manter posio de distanciamento (formalidade) com relao ao en-trevistado, mas ter sensibilidade profissional para garantir a abertura de um bom canal de comunicao entre os dois.

    Escutar atentamente as respostas para no perguntar o que j foi dito. E, enquanto o entrevistado responder, procurar o gancho para a pergunta seguinte.

    No fazer perguntas bvias ou banais ou perguntas que exijam como resposta uma conferncia sobre o assunto. Se a resposta j tiver

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    sido suficiente, detenha o entrevistado e passe para a pergunta se-guinte. Nesse caso, deve-se ter bastante tato, para no cort-lo no meio da frase.

    Contudo, bom lembrar que no existe frmula pronta para se fazer uma boa entrevista. As dicas aqui apresentadas so apenas algumas das mais importantes. Com uma pitada de perspiccia e de posse da bagagem cultural do entrevistador, elas podem ajud-lo a fazer um bom trabalho.

    Nota: importante que o reprter de rdio adquira o hbito de ouvir rdio, principalmente o jornalismo do rdio AM, sem qualquer tipo de preconceito.

    Pitacos da HoraEm agosto de 2003, criava-se o Prosa Rural... No comeo, apenas uma

    ideia. Agora, uma realidade indispensvel comunidade rural do Semirido, que no tinha noo de como melhorar sua roa, sua criao, nem de como buscar essa tal tecnologia de que tanto se ouvia falar. Estava exatamente a a to sonhada inovao: criar um programa de rdio diferente de todos j existentes, pois na verdade, o Prosa Rural uma mistura de entrevista, radiodrama e opinio do produtor aliada pesquisa, aos conhecimentos empricos e dedicao e criatividade dos comunicadores.

    E foi nesse contexto que o bloco Pitacos da Hora foi concebido: com muitas dicas, informaes e receitas prticas, tudo elaborado em linguagem popular, clara e objetiva, direcionada ao pblico-alvo, o jovem e o produtor rural. Nesse bloco, sempre sugerimos receitas inditas sobre aproveitamento alimentar, como pizza de feijo-caupi ou feijo-de-corda, bolinhos de carne e de feijo, alm de outras receitas que enfeitam o programa.

    Entretanto, esse bloco no se limita apenas a receitas, apesar de tratar-se de um assunto que desperta a ateno de um pblico bem especfico do Prosa Rural, as mulheres agricultoras. O Pitacos da Hora tambm oferece dicas sobre os mais diversos assuntos, alm de informar sobre as tecnologias geradas pela Embrapa.

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    Dicas simples de como melhor armazenar os gros, higiene na ordenha e limpeza do apirio atraem cada vez mais um pblico que vai desde agricul-tores familiares e estudantes, a pessoas que moram nas pequenas cidades e que tm um pedacinho de terra no quintal de casa. Essas dicas despertam o interesse por novidades ou melhorias que possam ser aplicadas tanto na produo agrcola como na criao de animais.

    A colaborao de tcnicos e pesquisadores fundamental na produo desse bloco, pois so eles que passam a ideia central, as informaes impres-cindveis sobre determinada tecnologia, para que a equipe de cada Unidade adapte o contedo dessas informaes para o dia a dia do produtor rural.

    As receitas sobre aproveitamento alimentar so elaboradas com mat-rias-primas disponveis em cada regio. Em alguns casos, a poca de veicula-o do programa determinada para que coincida com a poca de colheita de determinado produto, o que torna o bloco mais dinmico e atual.

    A interao e o empenho da equipe para melhor atender ao pblico rural apresentando alternativas de melhor aplicao da pesquisa nas atividades do campo fazem o Pitacos da Hora conquistar espao na casa dos ouvintes.

    O Pitacos da Hora tudo isso... Em poucos minutos, um grande bene-fcio ao pblico e a ns, que fazemos o Prosa Rural, pois, a cada programa, ao mesmo tempo que ensinamos, tambm aprendemos.

    Ouvir CD Anexo Faixa 3

    Radiodrama no Prosa RuralCapturar a ateno dos ouvintes no tarefa das mais fceis. Principal-

    mente a do trabalhador do campo, que tem uma rotina pesada. A lida come-a cedo e s vezes se prolonga at o fi m da tarde. So poucos os momentos de folga e de distrao.

    No meio rural, o rdio acaba se tornando uma espcie de companheiro do agricultor. E, para ser um companheiro, preciso que haja afi nidades.

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    importante que ele se identifique e se reconhea no que est sendo apre-sentado. E qual a melhor maneira de se fazer isso? Criando situaes que reproduzam o dia a dia das pequenas propriedades rurais.

    Assim, o radiodrama se apresenta como um instrumento eficaz para maior aproximao com nosso pblico. Com esse recurso, possvel repro-duzir situaes reais da rotina de pequenos produtores, enriquecendo as informaes a serem transmitidas de maneira dinmica e divertida, dimi-nuindo a distncia entre o emissor e o receptor da mensagem.

    O radiodrama cria uma atmosfera propcia para captar a ateno do ou-vinte. Sabendo-se que ele vai ouvir uma histria com enredos, personagens e situaes factveis, fica muito mais interessante prestar ateno s infor-maes.

    A equipe do Prosa Rural da Embrapa Agroindstria Tropical encontrou uma maneira bastante eficaz de tratar os temas da Unidade. Em todos os pro-gramas, so feitos radiodramas para apresentar o bloco Um Dedo de Prosa.

    A primeira providncia da equipe foi criar um personagem fixo, o seu Z. Assim, ficou mais fcil estabelecer um fluxo nos programas, como se cada um se tornasse um captulo de novela.

    Logo no primeiro programa, ele foi apresentado aos ouvintes:

    O seu Z um tpico agricultor nordestino. Ele tem uma propriedade pequena, mas muito bem cuidada, onde planta milho, arroz, feijo e vrias fruteiras. Para complementar a renda, seu Z tem uma criao de galinha. Com esse trabalho que ele tira o sustento da famlia.

    Para cada programa, criada uma histria em que seu Z o protago-nista. Ao abordar o tema sobre defensivos agrcolas, visitamos a propriedade do seu Z, no interior do Cear. E sabe que o objetivo no era s passar informaes sobre defensivos agrcolas? Pois , aproveitamos para saborear o doce de caju da dona Maria, esposa do seu Z!

    Mas claro que no basta criar uma histria. preciso tambm cons-truir o ambiente e a paisagem, reproduzir sons. Enfim, envolver o ouvinte na histria, com um toque de realismo. E isso no difcil de se conseguir.

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    Basta inserir uma trilha sonora (msica, rudos, efeitos e vozes de fundo), para que o ouvinte entre no clima da histria.

    Passo a passo

    A cada programa, a equipe do Prosa Rural da Embrapa Agroindstria Tropical se rene para defi nir de que maneira ser tratado o tema em ques-to. Para isso, importante adequar o enredo do radiodrama ao assunto em pauta. Alm disso, preciso tambm adaptar a histria personalidade do pesquisador que vai participar do programa.

    O recurso do radiodrama s ser efi ciente se todos os participantes de-monstrarem naturalidade e entrosamento entre si. Se o pesquisador no se sentir vontade no personagem que vai desempenhar, certamente no vai conseguir passar credibilidade nem despertar o interesse do ouvinte.

    Aps a defi nio da histria, o passo seguinte criar os dilogos. Muitas vezes, preciso reescrev-los e adequ-los linguagem usada pelos agri-cultores. Por fi m, so inseridos os efeitos de som necessrios para criar uma histria o mais convincente possvel. Essa etapa feita no estdio, em Bras-lia, com base nas indicaes e nas sugestes enviadas pela equipe do Prosa Rural da Unidade.

    Contudo, antes de passar para a fase de gravao, imprescin dvel que os participantes do programa faam uma espcie de ensaio geral, para verifi car se a histria fi cou convincente, se os dilogos esto fl uindo com naturalidade e se os efeitos sugeridos realmente esto conseguindo criar o clima desejado para o programa.

    Ouvir CD Anexo Faixa 4

    Em sintonia com as razes...Inspirao, criatividade, experincia de vida e foco no homem do campo.

    com esses elementos que as primeiras frases do radiodrama vo se dese-

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    nhando no papel. Uma mistura de poesia e tcnica transforma um nico assunto, a tecnologia, em palavras que rimam e chegam com simplicidade aos pequenos produtores rurais.

    A linguagem clara, concisa, coloquial, e referente terra. Por isso, compreendida facilmente, mesmo estando carregada de informaes tcnicas.

    O radiodrama exerce um fascnio em quem o redige, em quem o inter-preta, e no deve ser diferente para quem o acompanha. No toa que esse bloco trabalhado, levando-se em conta as peculiaridades da regio, seus falares e a experincia do produtor com o tema abordado.

    Saindo do papel, o radiodrama entra em cena e ganha vida com a inter-pretao. Sotaques arrastados ou ligeiros, regionais, peculiares a uma gente do serto ou dos cantos mais distantes do Pas enriquecem ainda mais os textos que sero representados, seja com melodias ou com jogo de sons.

    Seus personagens esto sempre envolvidos no contexto da natureza, da agricultura familiar, no conhecimento popular e nas solues e benefcios que a pesquisa agropecuria pode trazer e fazer. Joaquim, Maria, Antnio, Pedro, nomes comuns, protagonizam histrias de pessoas que conhecem a terra onde vivem, mas que no tm acesso a informaes que as ajudem a produzir mais, sem prejudicar o meio ambiente.

    Muitas vezes, o radiodrama complementa, com linguagem mais adequa-da, a entrevista, em que, por ser feita com a participao de pesquisadores, sempre usam-se termos tcnicos, de difcil compreenso.

    Como nas antigas novelas de rdio em que cada cena era representada pelos sons, o radiodrama cria uma sensao visual no ouvinte. Das palavras, das frases, do dilogo ou do monlogo, saem o significado, a interpretao da pesquisa, dos dados cientficos, estudados por anos, e que o produtor apreende de maneira simples e informal.

    A identificao dos autores dos radiodramas com o quadro no coin-cidncia. preciso certa sintonia e experincia para compreender e passar

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    com maior originalidade e naturalidade o mundo interiorano. Tem sido assim com praticamente todas as Unidades no Nordeste, onde, geralmente, tem sempre um membro na equipe com experincias no meio rural.

    Na Embrapa Tabuleiros Costeiros, Jos Roque de Jesus busca, nos seus sentimentos saudosos, de quem j viveu e sobreviveu da roa, inspirao para criar histrias. Por sua vez, Jos Gouveia, no menos familiarizado com a vida no campo, coloca na sua voz a simplicidade, uma caracterstica da linguagem do povo rural.

    Assim, o radiodrama tenta imitar ou expressar a realidade do produtor rural de maneira ldica e descontrada, fazendo com que as informaes sobre as tecnologias desenvolvidas pela pesquisa da Embrapa cheguem ao produtor rural, dando-lhe oportunidades de melhoria no campo.

    Ouvir CD Anexo Faixa 5

    Arte em Favas ContadasA arte do sertanejo muito rica em seus mais variados aspectos. A vida

    sofrida, os sonhos, a cultura, o trabalho, a labuta, tudo isso fonte inesgo-tvel de inspirao. A seca transforma-se em lenda, rima, cano, melodia.

    No Prosa Rural, o bloco Favas Contadas o espao apropriado para ex-posio dessa arte recndita, no raro pouco conhecida, um campo aberto para a apresentao dos novos talentos regionais. Ali, os prprios colegas revelam-se timos cantores, poetas, repentistas, com oportunidade de levar ao pblico o artista que surge. Contudo, isso no impede a participao de artistas consagrados no Favas Contadas.

    So inmeras as possibilidades. Algumas vezes, usam-se no Favas Con-tadas msicas ou poesias que remetem ao assunto discutido no programa. Como a equipe da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical que, num pro-grama, incluiu Farinha, msica de Djavan, para ilustrar o tema em questo. Esse recurso pode chamar a ateno do ouvinte tanto para a arte quanto para a temtica do programa, o que muito pertinente.

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    Quando de uma participao da Embrapa Algodo no Prosa Rural, foi entrevistado um cantor regional, indicado por Dalmo Oliveira, jornalista da-quela Unidade. Assim, foi decidido que no bloco Favas Contadas seria execu-tada uma msica do entrevistado, precedida de informaes a seu respeito.

    A surpresa foi a histria de vida do cantor convidado: um advogado que tinha como sonho maior cantar. Esse sonho s se realizou algum tempo de-pois, com sua vida j estabilizada, com esposa e fi lhos.

    Sua msica, resultado do interesse pela vida no campo, era totalmente dedicada ao sertanejo, ao produtor. Os versos de suas canes faziam aluso s passagens de Os Sertes, de Euclides da Cunha.

    Depois dessa incurso no Prosa Rural, passou-se a observar, mais atenta-mente, apresentaes de artistas regionais e algumas vezes percebe-se que eles se encaixam perfeitamente no formato do programa.

    Houve, inclusive, a participao de um poeta, autointitulado poeta ma-tuto, de criatividade apaixonante, uma arte popular to envolvente que certamente agradou aos ouvintes.

    Ouvir CD Anexo Faixa 6

    Validade da informao na voz do produtor

    No mundo do serto, o rtulo de cientfi co ou a sentena do cientista no basta para que as propriedades escancarem suas porteiras para as ditas inovaes tecnolgicas. Nesse mundo povoado por uma maioria de agri-cultores familiares os caminhos que conduzem deciso de se adotar ou no uma tecnologia nem precisa de tantas explicaes acerca de sustentabi-lidade, aumento da produtividade, gerao de emprego e renda, conceitos to caros pesquisa.

    Muitas vezes, dois dedos de prosa entre compadres so o bas tante para um garantir ao outro: xe cumpadi, pode usar! T dizendo, homi!

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    Vizinhos prximos, de certa forma iguais, asseguram que suas experin-cias tm como que um carimbo ou um certificado benfico. Esse um dos modos como as coisas acontecem no serto e que a sociedade brasileira, na sua mobilizao contra a fome e a misria, tem aprendido a valorizar.

    No Prosa Rural, o destaque fala do produtor procura levar, pelas ondas do rdio, a credibilidade do julgamento de compadres acerca das tecnologias e dos conhecimentos desenvolvidos na Embrapa e em instituies parceiras para uma audincia marcadamente de agricultores familiares.

    Mas, que fique claro: no Prosa Rural, essa fala do produtor no se destina a confirmar vantagens do emprego nas roas das tcnicas testadas e retes-tadas pela pesquisa.

    Na verdade, sua dinmica de elaborao prioriza, levar ao ar, experin-cias de produtores e de comunidades com as tecnologias com nfase nas melhorias das suas condies de vida. Por vezes, essas experincias sequer foram acompanhadas por pesquisadores ou agentes da rea de transfern-cia de tecnologia de algumas das instituies parceiras do Prosa Rural.

    o caso de uma famlia do Municpio de Jabuticaba, no interior da Bahia, que desde 2002 no enfrenta mais problema de gua em sua propriedade, no apenas para beber, mas tambm para uso domstico (higiene pessoal, cozinhar, etc.), para a criao, para irrigar a horta e para distribuir entre os vizinhos.

    Um dos filhos desse casal, em visita Embrapa Semi-rido, tomou co-nhecimento de uma tcnica de armazenamento de gua de chuva cuja rea de captao pode ser uma estrada ou um caminho em declive. Era o que tinha em frente sua casa! Com a ajuda do pai e do irmo, ele construiu dois tanques que guardam quase 100 mil litros de gua.

    Experincias assim so um verdadeiro achado para o Prosa Rural, prin-cipalmente porque evidenciam um aspecto essencial do programa: mostrar iniciativas dos prprios produtores. Um Fala, Produtor, com personagens en-volvidos em histrias assim, d ao Prosa Rural a oportunidade de conversar

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    com muitos compadres sintonizados nas ondas das centenas de emissoras que transmitem o programa. Para compor a programao do Prosa Rural, os temas escolhidos tendem a um equilbrio entre os argumentos da pesquisa e as reflexes dos produtores.

    Identificar essas experincias um passo importante para montar o blo-co Fala, Produtor. Principalmente porque nelas estaro envolvidas pessoas que vivenciam a realidade das suas roas e comunidades, a associao com o trabalho dos pesquisadores e, o mais importante, a credibilidade do entre-vistado para discorrer sobre resultados alcanados nas propriedades, como era o ontem e como est o hoje, a viso que tem do futuro, a produtividade alcanada e um sem-nmero de questes que podem ser evidenciadas no levantamento de informaes para compor o bloco.

    Assim, ideal que a elaborao do Fala, Produtor seja feita de forma con-junta entre a equipe do Prosa Rural e pesquisadores, tcnicos da extenso rural, produtores, membros de organizaes no governamentais, agentes pblicos, dentre outros que estejam envolvidos em atividades relacionadas com o tema do programa, primeiro, para que se possa ter um entendimento a partir da viso dos vrios atores, o que fundamental para definir os enfo-ques a serem enfatizados no referido bloco, depois, para identificar produ-tores interessantes a serem entrevistados.

    Em gravaes feitas nas comunidades, tambm importante observar costumes locais, em especial os de ordem moral, que so observados pelas famlias e pelas comunidades.

    A opinio dos produtores sobre os impactos de uma tecnologia pode ser bastante diferenciada. Para a equipe que monta o bloco Fala, Produtor, importante tomar cincia dessas diferenas que geralmente so complemen-tares e enfatizam aspectos da tecno logia. Assim, havendo tempo suficiente, pode-se montar esse bloco com mais de uma participao ou ento optar por aquela que permite compreender melhor o contedo e o formato do programa.

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    A questo do tempo um aspecto importante do quadro. No raro nos deparamos com produtores(as) que se expressam de uma maneira muito prpria e original, que falam de forma empolgada por longos minutos, pon-tuam com clareza os bons resultados das tcnicas empregadas em suas pro-priedades, que chega a ser um sofrimento ter de editar a entrevista, reduzin-do-a a 2 ou 3 minutos, para encaix-la no programa.

    Um procedimento para ajudar a evitar esse sofrimento e fazer uma en-trevista mais enxuta mais ou menos no tempo que tem o bloco dentro do programa , chegar aos entrevistados com o mximo de informaes fornecidas pelo pesquisador, pelo tcnico, etc., e dedicar um tempo a con-versar com o(a) produtor(a) assuntos que podem nem estar relacionados ao assunto do programa, mas que criem uma espcie de empatia com uma velha e boa prosa.

    Isso faz com que o entrevistado fi que vontade e fale com naturalidade, dentro da sua prpria lgica, com a alma. De certa forma, esse procedi-mento inibe at mesmo, ante a urgncia do tempo, a induo ou orientao de respostas s questes colocadas pelo programa.

    Ouvir CD Anexo Faixa 7

    Cidadania no Ao P do OuvidoNa labuta diria a que se dedicam muitos trabalhadores rurais em alguns

    rinces do Brasil, onde, no raro, nem mesmo a energia eltrica chega, mui-tas vezes, um velho radinho de pilha torna-se mais do que um bom com-panheiro. nesses locais que a utilidade pblica do rdio ganha ainda mais importncia. Muitos jovens e pequenos produtores familiares (pblico-alvo do Prosa Rural) podem ter no rdio o nico meio de acesso s informaes que extrapolam a vizinhana.

    Foi buscando ampliar o espao para a prestao de servios uma das fun-es da comunicao radiofnica que, a partir de 2007, informaes sobre temas universais, como sade, educao, direitos e deveres dos cidados,

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    ganharam lugar no Prosa Rural. Nasce ento o quadro Ao P do Ouvido, ttulo escolhido por su gesto e votao da equipe que produz o programa.

    Obtendo informaes junto a especialistas ou autoridades nos assuntos escolhidos, buscamos promover a cidadania, despertar o senso de responsa-bilidade social, para que o ouvinte possa refletir sobre sua condio de cida-do, que tem direitos e deveres, seja com assuntos relacionados realidade do produtor rural, da dona de casa, do aposentado ou do estudante.

    Assim, o bloco Ao P do Ouvido traz informaes sobre pro gra mas so-ciais, hbitos saudveis de alimentao, consumo cons ciente, preservao ambiental, incentivo leitura e outros temas de amplo interesse e alcance.

    O Dia do Trabalho serve de pretexto para lembrar aos ouvintes sobre a importncia de se obter a carteira de trabalho. No ms em que se comemora o Dia do Meio Ambiente, dicas sobre economia de energia e gua mostram como cada um pode contribuir para a sustentabilidade do planeta e das geraes futuras.

    Esse espao tambm dedicado a esclarecimentos sobre temas em evi-dncia, como os casos de febre amarela e dengue, que assustaram o Pas no incio de 2008, alm de apoiar e divulgar campanhas.

    Um bom exemplo foi o da Campanha 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violncia Contra Mulheres que, em 2007, foi tema do Ao P do Ouvido em todos os programas de maio. Com a participao da ministra Nilca Freire, da Secretaria Especial de Polticas para as Mulheres, falamos sobre a Lei Ma-ria da Penha, que havia entrado em vigor h pouco tempo, constituindo-se num importante instrumento na defesa das mulheres vtimas de violncia.

    Tambm buscamos chamar a ateno do pequeno produtor para assun-tos diretamente ligados sua realidade, como seguro agrcola, aposenta-doria rural, linhas de crditos e outras iniciativas do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), por exemplo.

    Em muitos casos, o rdio o veculo que melhor cumpre a funo de utilidade pblica dos meios de comunicao de massa. E, com uma boa

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    conversa Ao P do Ouvido, a equipe do Prosa Rural certamente d sua con-tribuio.

    Ouvir CD Anexo Faixa 8

    Retorno do pblicoFeedback uma palavra de origem inglesa que, num sentido restrito,

    pode ser conceituada como retorno ou retroalimentao, que acontece com mais frequncia no mbito da comunicao e das interaes humanas.

    No dia a dia, feedback pode ser considerado como fornecedor de infor-mao sobre o estado de um sistema, ao exemplo de quan do se aguarda a abertura de um determinado site e uma barra de carregamento mostra ao usurio o percentual j concludo.

    Mas qual a importncia do feedback na nossa atividade diria? No decorrer de sua existncia, tudo que o ser humano realiza de pende de um retorno ou de uma avaliao imediata. Isso facilita muito o ato de corrigir o rumo de nossas aes. S saberemos se estamos caminhando no sentido certo se nos detivermos diante de algumas informaes de como estamos agindo e, assim, poderemos corrigir nosso rumo ou traar novos caminhos para nossa conduta. Assim, vejamos a seguir um exemplo prtico.

    Em 2005, a equipe do Prosa Rural promoveu o Dia de Prosa Rural no Campo. A proposta do evento era levar ao pequeno pro dutor de leite da Bacia Leiteira do Municpio de Batalha, AL principal polo produtor de leite do Nordeste informaes sobre as tecnologias desenvolvidas pela Embrapa e outras empresas de pesquisa sobre o aproveitamento da palma forrageira na alimentao bovina.

    No dia do evento, reuniram-se na Associao dos Produtores de Leite de Olho Dgua das Flores, AL, produtores rurais e familiares, tcnicos da Secre-taria de Agricultura de Alagoas, o pesquisador que participou do Prosa Rural

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    com o tema Palma Forrageira na Alimentao Animal, o coordenador do Prosa Rural em Alagoas, o prefeito de Olho Dgua das Flores e as equipes de duas emissoras de TV daquele estado (TV Gazeta e TV Pajuara).

    Nossa expectativa sobre os resultados (feedback) do Dia de Prosa Rural no Campo era imensa. Afinal, tratava-se de uma atividade que, at ento, nunca havia sido posta em prtica. Como se v, valeu a pena a ousadia e o empenho de toda a equipe. por isso que se deve apostar e investir naquilo em que se acredita, mesmo correndo o risco de no se atingir os objetivos planejados. o preo do pioneirismo.

    Felizmente, o evento ocorreu conforme fora planejado: o prefeito abriu os trabalhos informalmente e, em seguida, o CD com o programa Prosa Rural foi executado para o pblico ouvir. Qual no foi nosso espanto, quando, ao final do programa, um pequeno produtor de leite fez o seguinte comentrio: Isso deveria ocorrer mais vezes. muito bom ouvir uma informao tcnica apresentada por um colega nosso. Fica mais fcil entender o assunto.

    Em seguida, o pesquisador Jos Fernando Melo explicou, passo a passo:

    Como preparar a palma forrageira.

    Como oferec-la ao animal.

    Dados estatsticos sobre ganho de peso do gado.

    Em resposta ao comentrio feito pelo produtor de leite, Jos Fernando Melo concluiu:

    Colocar a fala de um colega de vocs para apresentar a orientao tec-nolgica foi uma inovao que fizemos e foi muito importante para ns, que fazemos o Prosa Rural, saber que vocs gostaram da ideia.

    Nesse exemplo, pode-se observar que o feedback est presente em todas as atividades de nossas vidas. Esse fenmeno como um filtro que clareia nosso bom-senso nas tomadas de deciso. Ele est sempre nos questionan-do: como, por que e para que fazemos isso ou aquilo, individual ou profis-sionalmente.

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    Hoje, sabe-se que, alm de facilitar a comunicao com o pequeno pro-dutor, o Dia de Prosa Rural no Campo serve para avaliar como nosso progra-ma est em termos de linguagem e poder de motivao do pblico-alvo.

    Em sntese, quando comunicamos alguma coisa a algum, precisamos nos certificar se a pessoa que recebeu a mensagem teve condies de enten-d-la. Isso s possvel mediante a avaliao da reao que o outro expressa de forma direta ou indireta (feedback).

  • Parte do texto elaborado com base:

    Na palestra Uma lngua, vrias lnguas e na ofi cina A arte de escrever bem, ministradas por Dad Squarisi, no Encontro do Prosa Rural 2006, Recife, PE.

    Na ofi cina Estudos de linguagem, formatos e anlise dos temperos para potencializar o veculo na promoo de contedos ligados agropecuria, ministrada por Mara Rgia Di Perna, no Encontro do Prosa Rural 2006, Recife, PE.

    No documento Breve Guia de Produo Radiofnica Educativa: elementos de linguagem e criao de roteiros, de autoria da Nlia Rodrigues Del Bianco. Braslia, DF: Faculdade de Comunicao, Universidade de Braslia, 2001.

    Linguagemradiofnica

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    Adequao da linguagemSimplicidade Em programas radiofnicos, as tecnologias apre sentadas no podem ser visualizadas, por isso, o contedo informativo deve ser

    o mais descritivo possvel, tanto na abertura dos programas quanto na

    entrevista e nos demais blocos que compem o Prosa Rural.

    Para se escrever de forma mais concreta, devem-se fornecer exemplos,

    quantifi car a informao e comparar os dados apre sentados com os

    elementos conhecidos.

    Tambm vlido lanar mo de analogias e metforas, para tornar o texto

    mais vivo e impregnar imagens na mente do ouvinte.

    Ouvir CD Anexo Faixa 9

    Para as receitas, deve-se sempre adotar os padres de medidas adotados

    no meio rural (xcara, copo, prato, colher, pitada). Exemplo: em vez de gramas

    ou quilos, usar copo ou prato como medida.

    Nunca se deve escr