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INSTITUTO EDUCACIONAL ALFA
DISCIPLINA:
PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
MINAS GERAIS

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A INSTITUIÇÃO ESCOLAR
A escola, tal como conhecemos hoje, intitulada pelos historiadores da
educação como Escola Moderna, começou a se configurar em fins do século XVI e
ao longo do século XVII.
Antes disso, nas sociedades antigas e medievais, já havia a preocupação
com a educação de seus jovens, os quais estudavam ou individualmente, sob a
orientação de um mestre, ou em pequenos grupos, independentes de idade ou
seriação. Adultos e crianças frequentavam a mesma classe durante o tempo que
desejassem ou precisassem, e isso não era considerado um problema. As teorias da
psicologia da aprendizagem, que estabelecem etapas para o desenvolvimento
humano, virão muitos anos depois.
MAS A ESCOLA MODERNA ORGANIZA-SE INICIALMENTE COM
CARACTERÍSTICAS QUE JÁ CONHECEMOS BEM:
A preocupação em separar os alunos em classes seriadas, de acordo com a
faixa etária;
A divisão sistemática dos programas de acordo com cada série;
Os níveis de estudos passam a ter um encadeamento: a escola elementar
(ler, escrever e contar), com a escola média ou profissional e os estudos
superiores;
O tempo para o estudo e para o cumprimento dos programas para
determinada série também passam a ser preestabelecidos.
Não será mais o ritmo de aprendizado do aluno que dirá de quanto tempo ele
necessita para aprender, mas sim o ritmo imposto pela instituição. Outros elementos

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muito comuns em nossa prática escolar também passaram a ser utilizado, como o
registro das aulas, o controle de frequência (chamada), a elaboração de textos
simplificados para cada disciplina (livros didáticos). Junto com isso teremos maior
rigor disciplinar, com a criação de normas e regimentos de conduta. Enfim, são
práticas que têm a função de organizar, disciplinar e controlar, e que hoje nos
parecem naturais e quase imutáveis.
Desnaturalizar a instituição escolar significa saber que ela foi pensada e
construída por pessoas como professores,
religiosos ou governantes que tinham interesses e
necessidades próprias daquele momento histórico.
E que, antes desse modelo escolar, existiram
outras formas criadas pelas sociedades para
transmitirem às suas crianças e jovens os saberes
necessários para a vida social. Portanto, cabe a
nós e às próximas gerações também pensarmos e
construirmos escolas que estejam mais próximas
de nossas necessidades e nossos sonhos!
TEXTO PARA REFLETIR:
Há um descompasso crescente entre os modelos tradicionais de ensino e as
novas possibilidades que a sociedade já desenvolve informalmente e que as
tecnologias atuais permitem. A maior parte do que se ensina não é percebido pelos
alunos como significativo.
Uma boa escola depende fundamentalmente de contar com gestores e
educadores bem preparados, remunerados, motivados e que possuam comprovada
competência intelectual, emocional, comunicacional e ética.
Sem bons gestores e professores nenhum projeto pedagógico será
interessante, inovador. Não há tecnologias avançadas que salvem maus
profissionais.
São poucos os educadores e gestores proativos, inovadores, que gostam de
aprender e que conseguem por em prática o que aprendem.

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Temos muitos profissionais que prefere repetir modelos, obedecer, seguir
padrões, que demoram para avançar. São mais os que adotam uma postura
dependente do que os autônomos, criativos, proativos. Sem pessoas autônomas é
mito difícil ter uma escola diferente, mais próxima dos alunos que já nasceram com a
Internet e o celular.
Uma boa escola precisa de professores mediadores de processos de
aprendizagem vivos, criativos, experimentadores, presenciais-virtuais. De
professores menos “falantes”, mais orientadores; de menos aulas informativas e
mais atividades de pesquisa, experimentação, desafios projetos.
Uma escola que fomente redes de aprendizagem, entre professores e entre
alunos; que aprendam com os que estão perto e também longe, conectados, com os
mais experientes ajudando aos que têm mais dificuldades.
Uma escola com apoio de grandes bases de dados multimídia, de multi-textos
de grande impacto (narrativas, jogos de grande poder de sensibilização), com
acesso a muitas formas de pesquisa, de desenvolvimento de projetos.
Uma escola que privilegie a relação com os alunos, a afetividade, a
motivação, a aceitação, o reconhecimento das diferenças. Que dê suporte
emocional para que os alunos acreditem em si, sejam autônomos, aprendam a
analisar situações complexas e a fazer escolhas cada vez mais libertadoras.
Uma escola que se articule efetivamente com os pais (associação de pais),
com a comunidade, que incorpore os saberes dela, que preste melhores serviços.
A escola pode estender-se fisicamente até os limites da cidade e virtualmente
até os limites do mundo. A escola pode integrar os espaços significativos da cidade:
museus, centros culturais, cinemas, teatros, parques, praças, ateliês, centros
esportivos, centros comerciais, centros produtivos, entre outros. A escola pode trazer
as manifestações culturais e artísticas próximas, fazendo dos alunos espectadores
críticos e produtores de novos significados e produtos. Pode inserir atividades
teóricas com as práticas, a ação com a reflexão. Trazer pessoas com diversas
competências para mostrar novas possibilidades vocacionais para os alunos.

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A escola e a universidade precisam reaprender a aprender, a serem mais
úteis, a prestar serviços mais relevantes à sociedade, a saírem do casulo em que se
encontram. A maioria das escolas e universidades se distancia velozmente da
sociedade, das demandas atuais. Sobrevivem porque são os espaços obrigatórios e
legitimados pelo Estado. Os alunos frequentam muitas aulas porque são obrigados,
não porque sintam que vale a pena. As escolas deficientes e medíocres atrasam o
desenvolvimento da sociedade, retardam as mudanças.
A educação poderá tornar-se cada vez mais participativa, democrática,
mediada por profissionais competentes. Teremos muitas instituições que optarão por
uma postura mais conservadora, que manterão o sistema disciplinar, o foco no
conteúdo; mas, mesmo nelas, o ensino-aprendizagem não se fará somente na sala
de aula. Haverá maior flexibilidade de tempos, horários e metodologias do que há
atualmente. Outras – e esperamos que muitas – caminharão para tornar-se ou
continuar sendo organizações democráticas, centradas nos alunos; que
desenvolvem situações ricas de aprendizagem, sem asfixiar os alunos, incentivando-
os; que desenvolvem valores de colaboração, de cidadania em todos os
participantes.
Escolas não conectadas são escolas incompletas (mesmo quando
didaticamente avançadas). Alunos sem acesso contínuo às redes digitais estão
excluídos de uma parte importante da aprendizagem atual: do acesso à informação
variada e disponível on-line, da pesquisa rápida em bases de dados, bibliotecas
digitais, portais educacionais; da participação em comunidades de interesse, nos
debates e publicações on-line, em fim, da variada oferta de serviços digitais.
Quanto mais tecnologias avançadas, mais a educação precisa de
pessoas humanas, evoluídas, competentes, éticas. A sociedade torna-se cada
vez mais complexa, pluralista e exige pessoas abertas, criativas, inovadoras,
confiáveis. O que faz a diferença no avanço dos países é a qualificação das
pessoas. Encontraremos na educação novos caminhos de integração do humano e
do tecnológico; do racional, sensorial, emocional e do ético; do presencial e do
virtual; da escola, do trabalho e da vida em todas as suas dimensões.

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CONTEXTO HISTÓRICO DO NASCIMENTO
DA INSTITUIÇÃO ESCOLAR
As revoluções burguesas,
principalmente a inglesa (séc.XVIl) e a
francesa (séc. XVIIl), vão encerrar
definitivamente o feudalismo e
inaugurar um novo modo de produção
– o capitalismo. A burguesia, classe
social em ascensão, irá conceber uma
nova doutrina social ou uma nova ideologia para o capitalismo que se denominará
liberalismo. Os princípios do liberalismo são: o individualismo, a propriedade, a
liberdade, a igualdade e a democracia. Explicando os princípios:
A doutrina do individualismo coloca no esforço individual toda a
responsabilidade para que as pessoas atinjam o sucesso ou o progresso,
desconsiderando as condições econômicas e sociais nas quais estejam
vivendo. Para o liberalismo, os indivíduos serão tão mais livres quanto menor
for à ação do Estado, ou seja, o Estado não deve interferir e despender
recursos para serviços públicos.
Quanto ao princípio da propriedade, significa que todos têm direito à
propriedade desde que se esforcem e trabalhem para isso.
A igualdade, como é tratada no liberalismo, não se refere à igualdade social,
mas sim à igualdade perante a lei. Já devem ter ouvido a frase: “Todos são
iguais perante a lei”. Pois é, mas em relação às desigualdades sociais, a
conversa é outra. Os liberais consideram natural que existam pobres e ricos,
uma vez que nem todas as pessoas são talentosas ou esforçadas da mesma
forma.
A democracia, defendida pelos liberais, resume-se à democracia
representativa, isto é, o direito de todos escolherem seus representantes
políticos. No entanto, democracia é mais do que isto, é o direito de
usufruirmos igualmente os bens produzidos em nossa sociedade.

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Outro importante movimento que se desenvolve a partir do século XVII, foi à
chamada “revolução científica”. A filosofia, e as ciências físicas, químicas e
matemáticas sofrem um grande desenvolvimento e há uma supervalorização do
pensamento racional e científico. O filósofo e matemático René Descartes (França,
1596 – 1650) é considerado o fundador desta doutrina.
Observe que não fica difícil estabelecer relações entre a doutrina liberal, o
pensamento racionalista e o surgimento da escola moderna, tal como essa foi
descrita anteriormente.
Vocês viram até aqui uma breve história da instituição escolar, organizada de
forma mais ou menos semelhante em grande parte das sociedades.
PERSPECTIVAS ATUAIS DA EDUCAÇÃO
Nas últimas duas décadas do século XX assistiu-se a grandes mudanças
tanto no campo socioeconômico e político quanto no da cultura, da ciência e da
tecnologia. Ocorreram grandes movimentos sociais, como aqueles no leste europeu,
no final dos anos 80, culminando com a queda do Muro de Berlim. Ainda não se tem
ideia clara do que deverá representar, para todos nós, a globalização capitalista da
economia, das comunicações e da cultura. As transformações tecnológicas tornaram
possível o surgimento da era da informação.

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É um tempo de expectativas, de perplexidade e da crise de concepções e
paradigmas não apenas porque inicia-se um novo milênio – época de balanço e de
reflexão, época em que o imaginário parece ter um peso maior. O ano 2000 exerceu
um fascínio muito grande em muitas pessoas. Paulo Freire dizia que queria chegar
ao ano 2000 (acabou falecendo três anos antes). É um momento novo e rico de
possibilidades. Por isso, não se pode falar do futuro da educação sem certa dose de
cautela. É com essa cautela que serão examinadas, neste artigo, algumas das
perspectivas atuais da teoria e da prática da educação, apoiando-se naqueles
educadores e filósofos que tentaram, em meio a essa perplexidade, apesar de tudo,
apontar algum caminho para o futuro. A perplexidade e a crise de paradigmas não
podem se constituir num álibi para o imobilismo.
No início deste século, H. G. Wells dizia que “a História da Humanidade é
cada vez mais a disputa de uma corrida entre a educação e a catástrofe”. A julgar
pelas duas grandes guerras que marcaram a “História da Humanidade”, na primeira
metade do século XX, a catástrofe venceu. No início dos anos 50, dizia-se que só
havia uma alternativa: “socialismo ou barbárie” (Cornelius Castoriadis), mas chegou-
se ao final do século com a derrocada do socialismo burocrático de tipo soviético e
enfraquecimento da ética socialista. E mais: pela primeira vez na história da
humanidade, não por efeito de armas nucleares, mas pelo descontrole da produção
industrial, pode-se destruir toda a vida do planeta. Mais do que a solidariedade,
estamos vendo crescer a competitividade. Venceu a barbárie, de novo? Qual o papel
da educação neste novo contexto político? Qual é o papel da educação na era da
informação? Que perspectivas
podemos apontar para a educação
nesse início do Terceiro Milênio?
Para onde vamos? Para iniciar,
verifica-se o significado da palavra
“perspectiva”.
A palavra “perspectiva” vem
do latim tardio “perspectivus”, que
deriva de dois verbos: perspecto,
que significa “olhar até o fim,
examinar atentamente”; e perspicio,

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que significa “olhar através, ver bem, olhar atentamente, examinar com cuidado,
reconhecer claramente” (Dicionário Escolar Latino-Português, de Ernesto Faria).
A palavra “perspectiva” é rica de significações. Segundo o Dicionário de
filosofia, do filósofo italiano Nicola Abbagnano, perspectiva seria “uma antecipação
qualquer do futuro: projeto, esperança, ideal, ilusão, utopia. O termo exprime o
mesmo conceito de possibilidade, mas de um ponto de vista mais genérico e que
menos compromete, dado que podem aparecer como perspectivas coisas que não
têm suficiente consistência para serem possibilidades autênticas”. Para o Dicionário
Aurélio, muito conhecido entre nós, brasileiros, perspectiva é a “arte de representar
os objetos sobre um plano tais como se apresentam à vista; pintura que representa
paisagens e edifícios à distância; aspecto dos objetos vistos de uma certa distância;
panorama; aparência, aspecto; aspecto sob o qual uma coisa se apresenta, ponto
de vista; expectativa,
esperança”.
Perspectiva significa
ao mesmo tempo
enfoque, quando se
fala, por exemplo,
em perspectiva
política, e
possibilidade, crença
em acontecimentos
considerados
prováveis e bons.
Falar em perspectivas é falar de esperança no futuro.
Hoje muitos educadores, perplexos diante das rápidas mudanças na
sociedade, na tecnologia e na economia, perguntam-se sobre o futuro de sua
profissão, alguns com medo de perdê-la sem saber o que devem fazer. Então,
aparecem, no pensamento educacional, todas as palavras citadas por Abbagnano e
Aurélio: “projeto” político-pedagógico, pedagogia da “esperança”, “ideal” pedagógico,
“ilusão” e “utopia” pedagógica, o futuro como “possibilidade”.
Fala-se muito hoje em “cenários” possíveis para a educação, portanto, em
“panoramas”, representação de “paisagens”. Para se desenhar uma perspectiva é
preciso “distanciamento”. É sempre um “ponto de vista”.

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Todas essas palavras entre aspas indicam uma certa direção ou, pelo menos,
um horizonte em direção ao qual se caminha ou se pode caminhar. Elas designam
“expectativas” e anseios que podem ser captados, capturados, sistematizados e
colocados em evidência.
UM PASSADO SEMPRE PRESENTE
A virada do milênio é razão oportuna para um balanço sobre práticas e teorias
que atravessaram os tempos. Falar de “perspectivas atuais da educação” é também
falar, discutir, identificar o “espírito” presente no campo das ideias, dos valores e das
práticas educacionais que as perpassa, marcando o passado, caracterizando o
presente e abrindo possibilidades para o futuro. Algumas perspectivas teóricas que
orientaram muitas práticas poderão desaparecer, e outras permanecerão em sua
essência. Quais teorias e práticas fixaram-se no ethos educacional, criaram raízes,
atravessaram o milênio e estão presentes hoje? Para entender o futuro é preciso
revisitar o passado. No cenário da educação atual, podem ser destacados alguns
marcos, algumas pegadas, que persistem e poderão persistir na educação do futuro.

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EDUCAÇÃO TRADICIONAL
Enraizada na sociedade de classes escravista da Idade Antiga, destinada a
uma pequena minoria, a educação tradicional iniciou seu declínio já no movimento
renascentista, mas ela sobrevive até hoje, apesar da extensão média da
escolaridade trazida pela educação burguesa. A educação nova, que surge de forma
mais clara a partir da obra de Rousseau, desenvolveu-se nesses últimos dois
séculos e trouxe consigo numerosas conquistas, sobretudo no campo das ciências
da educação e das metodologias de ensino.
O conceito de “aprender fazendo” de John Dewey e as técnicas Freinet, por
exemplo, são aquisições definitivas na história da pedagogia. Tanto a concepção
tradicional de educação quanto a nova, amplamente consolidadas, terão um lugar
garantido na educação do futuro.
A educação tradicional e a nova têm em comum a concepção da educação
como processo de desenvolvimento individual. Todavia, o traço mais original da
educação desse século é o deslocamento de enfoque do individual para o social,
para o político e para o ideológico. A pedagogia institucional é um exemplo disso. A
experiência de mais de meio século de educação nos países socialistas também o
testemunha. A educação, no século XX, tornou-se permanente e social. É verdade,
existem ainda muitos desníveis entre regiões e países, entre o Norte e o Sul, entre
países periféricos e hegemônicos, entre países globalizadores e globalizados.

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Entretanto, há ideias universalmente difundidas, entre elas a de que não há idade
para se educar, de que a educação se estende pela vida e que ela não é neutra.
EDUCAÇÃO INTERNACIONALIZADA
No início da segunda metade deste século, educadores e políticos
imaginaram uma educação internacionalizada, confiada a uma grande organização,
a UNESCO. Os países altamente desenvolvidos já haviam universalizado o ensino
fundamental e eliminado o analfabetismo. Os sistemas nacionais de educação
trouxeram um grande impulso, desde o século passado, possibilitando numerosos
planos de educação, que diminuíram custos e elevaram os benefícios.
A tese de uma educação internacional já existia deste 1899, quando foi
fundado, em Bruxelas, o Bureau Internacional de Novas Escolas, por iniciativa do
educador Adolphe Ferrière. Como resultado, tem-se hoje uma grande uniformidade
nos sistemas de ensino. Pode-se dizer que hoje todos os sistemas educacionais
contam com uma estrutura básica muito parecida. No final do século XX, o
fenômeno da globalização deu novo impulso à ideia de uma educação igual para
todos, agora não como princípio de justiça social, mas apenas como parâmetro
curricular comum.

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NOVAS TECNOLOGIAS
As consequências da evolução das novas tecnologias, centradas na
comunicação de massa, na difusão do conhecimento, ainda não se fizeram sentir
plenamente no ensino – como previra McLuhan já em 1969 –, pelo menos na
maioria das nações, mas a aprendizagem à distância, sobretudo a baseada na
Internet, parece ser a grande novidade educacional neste início de novo milênio. A
educação opera com a linguagem escrita e a nossa cultura atual dominante vive
impregnada por uma nova linguagem, a da televisão e a da informática,
particularmente a linguagem da Internet. A cultura do papel representa talvez o
maior obstáculo ao uso intensivo da Internet, em particular da educação à distância
com base na Internet.
Por isso, os jovens que ainda não internalizaram inteiramente essa cultura
adaptam-se com mais facilidade do que os adultos ao uso do computador. Eles já
estão nascendo com essa nova cultura, a cultura digital. Os sistemas educacionais
ainda não conseguiram avaliar suficientemente o impacto da comunicação
audiovisual e da informática, seja para informar, seja para bitolar ou controlar as
mentes. Ainda trabalha-se muito com recursos tradicionais que não têm apelo para
as crianças e jovens. Os que defendem a informatização da educação sustentam
que é preciso mudar profundamente os métodos de ensino para reservar ao cérebro
humano o que lhe é peculiar, a capacidade de pensar, em vez de desenvolver a
memória. Para ele, a função da escola será, cada vez mais, a de ensinar a pensar

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criticamente. Para isso é preciso dominar mais metodologias e linguagens, inclusive
a linguagem eletrônica.
EDUCAÇÃO POPULAR
O paradigma da educação popular, inspirado originalmente no trabalho de
Paulo Freire nos anos 60, encontrava na conscientização sua categoria
fundamental. A prática e a reflexão sobre a prática levaram a incorporar outra
categoria não menos importante: a da organização. Afinal, não basta estar
consciente, é preciso organizar-se para poder transformar. Nos últimos anos, os
educadores que permaneceram fiéis aos princípios da educação popular atuaram
principalmente em duas direções: na educação pública popular – no espaço
conquistado no interior do Estado –; e na educação popular comunitária e na
educação ambiental ou sustentável, predominantemente não governamentais.
Durante os regimes autoritários da América Latina, a educação popular
manteve sua unidade, combatendo as ditaduras e apresentando projetos
“alternativos”. Com as conquistas democráticas, ocorreu com a educação popular
uma grande fragmentação em dois sentidos: de um lado ela ganhou uma nova
vitalidade no interior do Estado, diluindo-se em suas políticas públicas; e, de outro,
continuou como educação não-formal, dispersando-se em milhares de pequenas
experiências. Perdeu em unidade, ganhou em diversidade e conseguiu atravessar
numerosas fronteiras. Hoje ela incorporou-se ao pensamento pedagógico universal e
orienta a atuação de muitos educadores espalhados pelo mundo, como o

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testemunha o Fórum Paulo Freire, que se realiza de dois em dois anos, reunindo
educadores de muitos países.
As práticas de educação popular também constituem-se em mecanismos de
democratização, em que se refletem os valores de solidariedade e de reciprocidade
e novas formas alternativas de produção e de consumo, sobretudo as práticas de
educação popular comunitária, muitas delas voluntárias. O Terceiro Setor está
crescendo não apenas como alternativa entre o Estado burocrático e o mercado
insolidário, mas também como espaço de novas vivências sociais e políticas hoje
consolidadas com as organizações não-governamentais (ONGs) e as organizações
de base comunitária (OBCs). Este está sendo hoje o campo mais fértil da educação
popular.
Diante desse quadro, a educação popular, como modelo teórico
reconceituado, tem oferecido grandes alternativas. Dentre elas, está a reforma dos
sistemas de escolarização pública. A vinculação da educação popular com o poder
local e a economia popular abre, também, novas e inéditas possibilidades para a
prática da educação.
O modelo teórico da educação popular, elaborado na reflexão sobre a prática
da educação durante várias décadas, tornou-se, sem dúvida, uma das grandes
contribuições da América Latina à teoria e à prática educativa em âmbito
internacional. A noção de aprender a partir do conhecimento do sujeito, a noção de
ensinar a partir de palavras e temas geradores, a educação como ato de
conhecimento e de transformação social e a politicidade da educação são apenas
alguns dos legados da educação popular à pedagogia crítica universal.

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CARACTERÍSTICAS GERAIS DO SISTEMA
EDUCACIONAL
Níveis e modalidades de ensino
De acordo com o art. 21 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(Lei n.º 9.394/96), a educação escolar compõe-se de:
I. Educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino
médio;
II. Educação superior.
A educação básica «tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-
lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe
meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores» (art. 22). Ela pode ser
oferecida no ensino regular e nas modalidades de educação de jovens e adultos,
educação especial e educação profissional, sendo que esta última pode ser também
uma modalidade da educação superior.
«A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade
o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos
físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da
comunidade» (art. 29). A educação infantil é oferecida em creches, para crianças de
zero a três anos de idade, e pré-escolas, para crianças de quatro a seis anos.
O ensino fundamental, cujo objetivo maior é a formação básica do cidadão,
tem duração de oito anos e é obrigatório e gratuito na escola pública a partir dos
sete anos de idade, com matrícula facultativa aos seis anos de idade. A oferta do
ensino fundamental deve ser gratuita também aos que a ele não tiveram acesso na
idade própria.

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O ensino médio, etapa final da educação básica, objetiva a consolidação e
aprofundamento dos objetivos adquiridos no ensino fundamental. Tem a duração
mínima de três anos, com ingresso a partir dos quinze anos de idade. Embora
atualmente a matrícula neste nível de ensino não seja obrigatória, a Constituição
Federal de 1988 determina a progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade
da sua oferta.
A educação superior tem como algumas de suas finalidades: o estímulo à
criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo;
incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o
desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e,
desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive. Ela
abrange cursos sequenciais nos diversos campos do saber, cursos de graduação,
de pós-graduação e de extensão. O acesso à educação superior ocorre a partir dos
18 anos, e o número de anos de estudo varia de acordo com os cursos e sua
complexidade.
No que se refere às modalidades de ensino que permeiam os níveis
anteriormente citados, tem-se:
• Educação especial: oferecida, preferencialmente, na rede regular de ensino,
para educandos portadores de necessidades especiais.
• Educação de jovens e adultos: destinada àqueles que não tiveram acesso ou
continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria.
• Educação profissional: que, integrada às diferentes formas de educação, ao
trabalho, à ciência e à tecnologia, conduz ao permanente desenvolvimento de
aptidões para a vida produtiva. É destinada ao aluno matriculado ou egresso
do ensino fundamental, médio e superior, bem como ao trabalhador em geral,
jovem ou adulto (art. 39).
Além dos níveis e modalidades de ensino apresentados, no Brasil, devido à
existência de comunidades indígenas em algumas regiões, há a oferta de educação
escolar bilíngue e intercultural aos povos indígenas. Esta tem por objetivos: «i –
proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, a recuperação de suas
memórias históricas; a reafirmação de suas identidades étnicas; a valorização de
suas línguas e ciências; ii – garantir aos índios, suas comunidades e povos, o
acesso às informações, conhecimentos técnicos e científicos da sociedade nacional
e demais sociedades indígenas e não-índias» (art. 78).

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POLÍTICAS GERAIS
De acordo com o Plano Nacional de Educação (Lei n.º 10.172/2001), uma das
principais prioridades refere-se à garantia de acesso ao ensino fundamental
obrigatório de oito séries a todas as crianças de 7 a 14 anos. Conforme a legislação
educacional brasileira, cabe aos Estados e Municípios a responsabilidade pela oferta
do ensino fundamental. No entanto, há que ressaltar o papel da União na assistência
técnica e financeira às demais esferas governamentais, a fim de garantir a oferta da
escolaridade obrigatória.
A consecução desse objetivo tem sido associada a políticas e ações
governamentais relacionadas, entre outras, à regularização do fluxo escolar, à
formação de professores e à elaboração de diretrizes curriculares.
No que se refere à regularização do fluxo escolar, as altas taxas de
defasagem idade-série presentes nas estatísticas nacionais têm conduzido a
formulação e implementação de políticas para correção e adequação das idades dos
alunos à série escolar correspondente. Duas políticas são de grande relevância para
a consecução desse objetivo: a) a implementação de programas de aceleração de
aprendizagem que, com o suporte de materiais didático-pedagógicos específicos, a
ênfase na elevação da autoestima do aluno e a oferta de infraestrutura adequada
aos professores, possibilita o avanço progressivo do aluno às séries e períodos
subsequentes; b) a reorganização do tempo escolar através da implantação dos
ciclos escolares, agrupando os alunos de acordo com as etapas de desenvolvimento
do indivíduo.
As políticas de regularização do fluxo escolar têm sido implementadas tanto
pelo governo federal em parceria com outras instituições como através da iniciativa
dos próprios Estados e Municípios. A reorganização do tempo escolar vem sendo

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amplamente discutida nessas esferas governamentais, de modo que a sua adesão
tem sido crescente.
No que diz respeito à formação de professores, ações têm sido direcionadas
para garantir formação inicial e continuada dos professores, bem como infraestrutura
adequada para o desenvolvimento do seu trabalho, tais como remuneração
adequada, tempo para estudo, atualização e tempo de carreira. Entre essas ações,
destacam-se:
• Garantia de formação mínima, ou seja, que todos os professores tenham o
curso superior completo como formação mínima.
• Programas de formação de professores a distância, com a utilização de
recursos tecnológicos, como a TV Escola, com o objetivo de formar
professores leigos, principalmente em localidades onde o número de
professores nessa situação é maior.
As políticas relativas à formação de professores são de responsabilidade de
todas as esferas governamentais. Esforços têm sido empreendidos a fim de que
sejam obtidas parcerias com instituições de ensino superior, organizações não-
governamentais e agências de financiamento, de modo a tornar possível a formação
mínima exigida pela legislação educacional, que, a partir de dezembro de 2007, será
a licenciatura plena, obtida em cursos de nível superior.
A definição de referenciais e diretrizes curriculares para os diversos níveis e
modalidades de ensino também se encontra entre as prioridades das esferas
governamentais. Cabe à União, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal
e os Municípios, estabelecer as «competências e diretrizes para a educação infantil,
o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus

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conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum» (LDBEN, art.
9º, inciso IV).
A concretização de ações com esse direcionamento resultou na definição de:
a) referenciais curriculares nacionais para a educação infantil; b) referenciais
curriculares para a educação indígena; c) proposta curricular para a educação de
jovens e adultos; d) parâmetros nacionais curriculares para o ensino fundamental
(de 1ª a 4ª e de 5ª a 8ª série); e) adaptações curriculares para a educação de alunos
com necessidades educacionais especiais; f) parâmetros curriculares para o ensino
médio; e g) diretrizes curriculares para todos os níveis e modalidades de ensino.
CULTURA E SOCIEDADE
Todos nós adquirimos nossas características humanas em um contexto
sociocultural. Essa condição básica da vida humana levou o filósofo espanhol
Ortega e Gasset a dizer: “Eu sou eu e a minha circunstância”. Isso significa que
cada um de nós constrói sua identidade a partir do seu ambiente. “Quem sou eu?” é
a pergunta que mais cedo ou mais tarde todos nós fazemos. De maneira mais ou
menos consciente nos interrogamos sobre nossa identidade pessoal e percebemos
quanto os valores e os comportamentos das pessoas que nos rodeiam e que

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conhecemos mais de perto influenciam nossas ações e ideias. Aprendemos muito
do que nos torna seres humanos em um ambiente cultural, aquele em que
nascemos e nos desenvolvemos.
Poucas pessoas percebem como a vida, e mesmo a personalidade de cada
um de nós, é influenciada pela sociedade da qual somos parte. Nascer no Brasil e
crescer como membro da sociedade brasileira constitui uma experiência de vida
muito diferente da de crescer e ser educado na França, no Japão ou na Índia, por
exemplo. E isso tem consequências fundamentais e diversas para o resto de nossas
vidas.
O estudo das
sociedades humanas é
importante não só para
melhor conhecermos a nós
mesmos, mas, também,
para melhor
compreendermos as
pessoas que vivem em
outros contextos
socioculturais. Nunca como
hoje, tantos aspectos da vida humana mudam tão rapidamente e para tantas
pessoas ao redor do planeta. E isso tem ocorrido em todas as áreas: nas artes, nas
ciências, na religião, na moralidade, na educação, na política, na família e na
economia. Todas são afetadas. Nessas circunstâncias, não é surpresa que tenha
aumentado de maneira significativa o interesse pelo estudo das sociedades
humanas, embora constituam um fenômeno dos mais complexos e as ciências
sociais integrem um campo de pesquisa jovem em que predomina o debate e a
controvérsia.
A sociedade é uma forma de organização que se desenvolveu aos poucos,
em correntes animais distintas e, em inúmeras vezes, independentemente uma das
outras. A forma societal é encontrada não apenas entre os humanos, mas, também,
entre muitas espécies de mamíferos, pássaros, peixes e mesmo entre insetos,
facilitando, através da adaptação, a sobrevivência e a multiplicação.

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Estudos comparativos de sociedades
animais desenvolvidos pela Biologia
Evolutiva mostram que a individualidade
tende a ser suprimida em sociedades de
insetos, por exemplo, em que os
mecanismos genéticos são responsáveis
por regular a vida social do grupo (pense
nas sociedades de abelhas e de formigas).
O sociólogo Gerhard Lenski, em seu livro
As Sociedades Humanas (em inglês,
Human Societies) desenvolve uma análise
que muito nos ajuda a compreender a
importância da dimensão cultural para a
nossa vida individual e a sobrevivência da espécie humana.
Na perspectiva do processo de evolução das espécies animais, Lenski
assinala que de forma contrastante com outras espécies, “a individualidade é
marcante nas sociedades dos mamíferos o que, por sua vez, significa que a unidade
social, tão importante para a sobrevivência das espécies, depende em grande parte
de comportamentos a serem aprendidos”. Dessa forma, quanto mais a
individualidade ganha realce em uma espécie, maior é a importância dos processos
de aprendizagem para a realização e desenvolvimento de cada membro assim como
da espécie como um todo. O fato de que todas as espécies de macacos e primatas
vivem em grupos sociais sugeriu uma questão aos pesquisadores da área: por que
isso ocorre? Os estudos sobre comportamento de primatas permitiram concluir que a
razão principal reside no aumento de oportunidades de aprendizagem que a
organização em sociedade oferece. Foi observado que “o grupo é o lugar de
conhecimento e experiência que ultrapassa em muito o do membro como indivíduo”.
É no grupo que as experiências tornam-se mais vantajosas e com benefício mútuo,
recíproco. Entretanto, todos nós percebemos o quanto os humanos são diferentes
na sua capacidade de aprendizagem.

23
Sobre isto Lenski escreveu:
“se comparamos os humanos, do
ponto de vista físico, com outros
antropoides, as diferenças são
menores do que as que separam
esses antropoides dos outros
animais. Do ponto de vista
comportamental, entretanto, ocorre
o oposto. (...) O ser humano
ultrapassou um ponto crítico no
processo de evolução com apenas
pequena mudança genética,
abrindo o caminho para um extraordinário avanço comportamental. Esse curioso
desenvolvimento está ligado à imensa capacidade para aprender que os humanos
possuem. Isto tornou possível um modo original e próprio de adaptação ao ambiente
que os cientistas sociais chamam de cultural. Essa é uma característica crucial da
vida humana.”
O QUE É CULTURA?
Uma pergunta retorna sempre e tem se mostrado de difícil resposta: o que
constitui, então, a natureza humana? Gradualmente, observa Lenski, começamos a
perceber de forma um pouco mais clara isso que chamamos de “natureza humana”.

24
Com as descobertas relativamente recentes do DNA, RNA, do código genético e de
todas as pesquisas biológicas atuais, é possível entender um pouco melhor o que
influencia nossa maneira de ser e de agir. Dessa forma,“muitos cientistas sociais
consideram que o termo natureza humana não se refere ao que é mais específico do
comportamento humano – como as pessoas se vestem, como casam, o que comem,
como enterram seus mortos, como praticam suas crenças. Esses são costumes
socialmente determinados e que variam intensamente.” Consequentemente, o termo
natureza humana tende a ser utilizado mais em relação a tendências básicas
enraizadas em nossa herança genética comum e que, portanto, independem do que
é específico de cada sociedade e dos comportamentos que as pessoas aprendem
no ambiente social em que vivem.
Nessa perspectiva, o termo “natureza humana” estaria referenciado às
“necessidades biológicas básicas do ser humano, à sua motivação geneticamente
programada para satisfazê-las, à sua dependência, geneticamente baseada, de
sistemas socioculturais e, também, ao seu potencial, geneticamente estabelecido
para a construção cultural”.
Para acentuar a diferença que distingue
os humanos do resto do mundo animal, os
antropólogos buscaram vincular o termo
cultura ao conceito de “símbolos”. Podemos
garantir tudo que é fundamental em uma
definição de cultura se a consideramos como
“os sistemas de símbolos da humanidade e
todos os aspectos da vida humana que deles
dependem”. De um modo geral esse é o
aspecto que mais nos distingue de todos os
outros seres vivos. Mas o que são “símbolos” e “sistemas de símbolos”?
Lenski esclarece que todos os mamíferos são capazes de comunicar com
outros de sua espécie e o fazem através de “sinais”. Só os humanos, no entanto,
usam “símbolos” tanto quanto “sinais”. Símbolos e sinais são veículos de
transmissão de informação. Mas há uma fundamental diferença: o significado de um
sinal é amplamente determinado de forma genética, é uma resposta geneticamente
determinada por um estímulo específico. Um exemplo clássico de um sinal é o grito
de dor emitido por um animal ferido. Outro membro do grupo responde

25
instintivamente a esse som ou pode aprender através da observação e experiência a
associá-lo com os humores e ações dos demais membros de seu grupo. E, com
isso, ele pode ajustar o seu comportamento. Os sinais são extremamente úteis para
ordenar as relações sociais entre os membros de um grupo.
Os animais aprendem a associar experiências e por meio de sinais
comunicam aos outros de sua espécie, informações essenciais – como uma ameaça
de perigo – através de movimentos do corpo, secreções glandulares ou outros
métodos e suas combinações. Em geral, no entanto, os sinais são muito limitados
em seu poder de comunicação. Os símbolos, em contraste, como não são
condicionados geneticamente, são flexíveis e podem ser modificados facilmente.
Pense na história de qualquer linguagem. Símbolos linguísticos foram modificados
ao longo dos tempos enquanto seus significados permaneceram os mesmos e vice-
versa. Isso ocorre porque os significados dos símbolos são atribuídos pelos grupos
sociais de maneira arbitrária, adotados pelos seus membros e, portanto, não estão
submetidos a regras previamente definidas e podem modificar-se com o tempo e as
circunstâncias.
A invenção da escrita, por exemplo, significou uma revolução na história da
humanidade porque possibilitou aos seres humanos acumular informação muito
além das suas capacidades biológicas. E isso só foi possível através de um sistema
de símbolos – as letras do alfabeto. Pela combinação e recombinação das letras
somos capazes, indefinidamente, de formar palavras e frases, transmitindo
informações de todos os tipos às gerações que se sucedem. E fazemos isso
ultrapassando em muito nossa capacidade de memória individual e
independentemente do contato pessoal. Considere, também, a grande
transformação cultural que ocorre nos nossos dias com o uso ampliado da Internet.
São criações humanas que ampliam e atribuem novas formas e
características ao mundo em que vivemos. Podemos dizer, portanto, que os
símbolos são veículos culturalmente determinados para a transmissão de
informações de qualquer natureza. O antropólogo Clifford Geertz, em seu livro A
Interpretação das Culturas, ao analisar a relação entre o desenvolvimento da
cultura e a evolução da mente humana considera que foi no período pré-histórico da
Era Glacial que foram forjadas quase todas as características da existência do ser
humano que são mais impressivamente humanas. Em uma mesma época da
história evolutiva desenvolveram-se de forma combinada e interativa a totalidade do

26
sistema nervoso do cérebro humano, a estrutura social baseada no tabu do incesto
e a capacidade de criar e usar símbolos. “O fato de que essas características
distintivas de humanidade”, escreveu Geertz, “emergiram juntas e em interação
complexa uma com a outra (...) é de excepcional importância na interpretação da
mentalidade humana, porque sugere que o sistema nervoso humano não apenas
torna o homem capaz de adquirir cultura mas demanda positivamente que ele assim
o faça para que possa funcionar.”
Hoje, as pesquisas da neurociência tem comprovado a importância das
atividades de natureza cultural que, associadas às atividades físicas, são a melhor
maneira de avançar em idade de forma saudável e com lucidez. Nas sociedades
tecnologicamente avançadas dos nossos dias, o volume de informação transmitido
de geração para geração tornou-se tão grande que nenhum membro individual
consegue dominá-lo. Assim, diz Lenski, “se os indivíduos são os portadores da
cultura, a cultura em sua totalidade é a propriedade de uma sociedade. Nesse
sentido podemos dizer que os sistemas de símbolos tem uma função do ponto de
vista cultural, semelhante ao do sistema genético. Ambos são mecanismos que
facilitam a adaptação de populações ao seu ambiente, através da aquisição, de
acúmulo, da transmissão e uso de
informações relevantes”.
Através da criação de sistemas
de símbolos os seres humanos foram
capazes de modificar seus
comportamentos de maneira
significativa, tornando sua adaptação
ao ambiente cada vez mais eficiente e
isso sem qualquer transformação
orgânica importante. O antropólogo Clifford Geertz, sob a influência do grande
cientista social Max Weber, acredita que “o ser humano é um animal envolvido em
teias de significados que ele próprio teceu”. Cultura, para Geertz, são essas redes e
sua análise deve ser um estudo interpretativo de seus significados. Para analisar e
conhecer uma cultura é preciso interpretar os sinais e símbolos que são utilizados
nos processos de comunicação de um grupo social, de um povo ou de uma nação.
O conceito de cultura está entre os mais usados na Sociologia e refere-se às
formas de vida dos membros de uma sociedade ou de grupos dentro da sociedade,

27
incluindo todas as formas de arte, com suas linguagens próprias (a literatura, a
música, as artes plásticas, etc.), as várias formas de expressão que se manifestam
no modo de vestir das pessoas,
em seus costumes, em seus
padrões de comportamento, os
seus rituais religiosos, as suas
ideias, crenças e princípios
orientadores da vida (como as
teorias científicas, as doutrinas
religiosas e as ideologias).
O mundo da cultura é
constituído de uma trama
complexa dos elementos que
contribuem para a organização da vida cotidiana, como os estilos de vida familiar e
as atividades de lazer que caracterizam nosso ambiente de convivência, e dos
mecanismos sociais desenvolvidos para a resolução dos problemas da vida coletiva,
como as formas de organização da vida escolar, da política ou da produção da vida
material. A cultura é um vasto campo que abrange tanto as ideias abstratas que
traduzem a vida da imaginação e do pensamento, com suas linguagens próprias,
quanto os arranjos sociais e os instrumentos que permitem e favorecem a
cooperação entre as pessoas nas formas das organizações sociais, possibilitando
melhorar nossa habilidade em alcançar o que precisamos e desejamos para nós
mesmos. Dessa forma a noção de cultura envolve tanto aspectos “intangíveis” -
como valores, crenças, ideias, teorias e normas sociais- quanto aspectos “tangíveis”
– como objetos, produtos do trabalho, das artes, da ciência e da tecnologia. Os
valores e as normas sociais definem o que é considerado fundamental e desejável
para a orientação da vida das pessoas em suas interações sociais. Os valores
informam nossas crenças morais dando sentido e direção às nossas vidas, enquanto
as normas são regras comportamentais que definem o que é esperado das ações
individuais no contexto da convivência social.
As normas dizem o que devemos fazer ou é proibido fazer em situações
específicas. Em alguma medida as normas sociais, escritas ou não na forma de leis,
refletem os valores predominantes de uma cultura em uma determinada sociedade.
Todos esses elementos, tangíveis e intangíveis, são constitutivos da cultura e são

28
compartilhados pelos membros da sociedade, formando um contexto comum para
os seus integrantes e dando sentido às suas vidas, ações e atividades.
AS DIVERSIDADES CULTURAIS
É fácil percebermos, quando entramos em contato com aspectos da vida de
outras sociedades, como seus ambientes culturais e os comportamentos de seus
membros são diferentes dos nossos e, às vezes, de forma acentuada. Quando
temos a oportunidade de conhecer e comparar diversas culturas, por leituras e
estudos ou em viagens, adquirimos consciência da importância da dimensão cultural
para as nossas vidas e para a vida coletiva em geral. Isso também ajuda a
esclarecermos o conceito sociológico de cultura. Sociedades de tempos históricos
diversos ou em espaços geográficos diferentes, desenvolveram modos de vida,
valores e crenças que em muitos aspectos e, às vezes, de maneira bastante radical,
diferem e divergem dos nossos.
Ao comparar e comentar diferentes culturas deve-se prestar atenção para
eventuais manifestações de “etnocentrismo”, a tendência que desenvolvemos em
julgar elementos de outras culturas com base nos padrões da nossa cultura, o que
torna difícil simpatizar com as ideias ou aceitar os comportamentos das pessoas de
uma cultura diferente. Os problemas envolvidos nas comparações e avaliações
culturais levantam uma questão que tem se tornado fonte de grande debate,
transformando-se em foco de tensão no mundo da política global, especialmente

29
para os que lidam na esfera internacional dos direitos humanos. Trata-se do
significado e abrangência do relativismo cultural no mundo contemporâneo.
A questão é a seguinte: é possível avaliarmos os valores e normas de outra
cultura? Baseados em que critérios podemos julgar outra forma de vida cultural
como melhor ou inferior à nossa? Essa é uma questão polêmica que provoca
grandes debates nas ciências sociais. O sociólogo Anthony Giddens pergunta: no
Afeganistão, “as políticas do Talibã para as mulheres são aceitáveis no início do
século XXI?” O relativismo cultural –“ou seja, suspender suas próprias crenças
culturais profundamente sustentadas e examinar uma situação de acordo com os
padrões de outra cultura – pode ser repleto de incerteza e desafio”.( ...) “ Questões
preocupantes são levantadas. O relativismo cultural significa que todos os costumes
e comportamentos são igualmente legítimos? Haveria padrões universais aos quais
todos os humanos deveriam aderir?” Giddens acrescenta, “não há soluções simples
para esse dilema e para dúzias de outros casos nos quais normas e valores culturais
não coincidem.” ...E ensina uma lição básica para todo o estudante de Sociologia: “O
papel do sociólogo é evitar “respostas automáticas” e examinar questões complexas
cuidadosamente a partir de tantos ângulos diferentes quanto possível.”
Essas inúmeras questões são um alerta e devem intensificar nossa
disposição para conhecer os diversos sistemas socioculturais para melhor
compreender os mecanismos que facilitam assim como os que dificultam a
convivência humana, necessariamente, de cunho social. De um lado a cooperação,
a convivência mais equilibrada e harmoniosa, de outro, os antagonismos, os
conflitos e as guerras.

30
Os processos da globalização econômica, da revolução na informática, da
mídia, da superação das barreiras geográficas vem transformando o mundo em uma
grande “aldeia global”. Em que medida esses fenômenos estão produzindo uma
cultura universal, válida para todos os povos? Em que sentido podemos afirmar
isso? Quais os possíveis danos para a vida das pessoas e para os diferentes grupos
sociais com raízes histórico-culturais distintas? Como fenômeno humano as culturas
dos povos são dinâmicas e sofrem mudanças. Os indivíduos agem e reagem às
influências do ambiente em que vivem e às transformações de seu tempo. Os
grupos sociais se mobilizam e movimentam-se no sentido de alterar as suas
condições de vida. Continuidade e mudança são dimensões inerentes à vida das
sociedades e das culturas. As mudanças podem ocorrer de forma mais lenta, como
nos tempos mais antigos, como podem tornar-se rápidas e permanentes como tem
ocorrido desde os tempos modernos.
É importante observar que “as culturas ultrapassam seus criadores”, como diz
Lenski. Cada um de nós nasce em uma sociedade com uma cultura estabelecida e é
somente através do domínio dessa cultura que somos capazes de satisfazer nossas
necessidades e aspirações. Mas, no processo de dominar a cultura, a cultura tende
a nos controlar e fazer de nós suas criaturas. Em um sentido, ela define mesmo
nossos objetivos na vida e dá forma aos padrões de nossos pensamentos. Por isso
encontramos dificuldade em desaprender o que aprendemos no passado. E isso é
especialmente marcante nas pessoas mais velhas. Por outro lado é sempre possível
uma adaptação consciente e deliberada a um novo ambiente ou a uma mudança
cultural. Isso implica que processos de mudança cultural ocorrem e podem até ser

31
controlados e mesmo planejados. Esse tema, o da mudança cultural, é
especialmente importante na medida em que envolve o debate em torno das
questões que dizem respeito às transformações da sociedade.
Em geral, novos elementos culturais são acrescentados em uma base de
continuidade. Em certos momentos ocorre o abandono de componentes culturais
que são substituídos por outros novos. Se nós pensarmos nos vários instrumentos
de comunicação utilizados através dos séculos nós teremos uma boa amostra das
significativas mudanças culturais e das consequências dessas mudanças para a
vida das pessoas. Mas muitas mudanças envolvem, ao mesmo tempo, continuidade,
como é o caso do alfabeto que usamos há mais de três mil séculos, assim como o
conceito de justiça que perdura desde tempos ainda mais antigos.
SOCIALIZAÇÃO: UMA APRENDIZAGEM
PERMANENTE
O processo através do qual aprendemos a cultura da sociedade em que
vivemos é o que chamamos de socialização. De um modo geral, os seres humanos
são dotados de uma grande capacidade para aprender a agir de maneira
socialmente responsável. A socialização é um processo sócio psicológico bastante
complexo que se inicia no momento do nascimento. O objetivo principal de tal
processo é adaptar o indivíduo aos costumes, comportamentos e modos da cultura

32
do seu ambiente social para que possa aprender a sobreviver por si mesmo e ser
capaz de, gradativamente, controlar seu comportamento de acordo com as
exigências da vida em sociedade.
Ao aprender o significado que a Sociologia atribui ao processo de
socialização e as maneiras como este processo se desenvolve, podemos ampliar
nossa visão e conhecimento sobre os mecanismos que operam nas sociedades e
que dizem respeito à vida cultural. Isso possibilita uma melhor compreensão do
modo e estilos de vida da sociedade em que nascemos e no qual nossas
identidades, pessoal e de grupo, se desenvolvem.
Através do processo de socialização nos tornamos, gradualmente, pessoas
autoconscientes e capazes de lidar de forma competente com o mundo a nossa
volta. O estudo dos processos de socialização pode contribuir para uma melhor
compreensão de fatores que influenciam na construção das identidades pessoais
(auto identidade) e das identidades dos grupos sociais a que pertencemos como a
família, o gênero, o grupo religioso, o grupo de convivência social, o profissional e
outros.
O processo de socialização é
o principal mecanismo que uma
sociedade possui para a
transmissão da cultura através do
tempo e das gerações. A
socialização, além de estar
diretamente relacionada com as
identidades sociais, deve ser vista
como um processo que dura à vida
toda na medida em que as nossas
ideias e o nosso comportamento
são continuamente influenciados pelos relacionamentos sociais e pelo ambiente em
que vivemos. É através da socialização que aprendemos e incorporamos os hábitos,
os costumes, valores e normas da vida cultural de nossa sociedade. Desde o
nascimento, através da infância e da adolescência e mesmo na vida adulta, estamos
continuamente a aprender comportamentos e formas de interagir em diversos e
novos ambientes a que somos expostos em nossa trajetória de vida. Nossa

33
identidade se modifica ao atingirmos diferentes estágios de desenvolvimento e ao
assumirmos papéis sociais diversos que se alternam e multiplicam ao longo da vida.
PSICOLOGIA: CONCEITO
Psicologia é a ciência que estuda o comportamento humano, as
interações dos organismos com o seu ambiente.
Dependendo do enfoque e conhecimento de homem que está sendo
utilizado à psicologia pode ter vários conceitos, dentre eles: ciência que estuda os
seres humanos e seus processos psíquicos.
Todorov (1999) definiu a psicologia como sendo a ciência que estuda a
mente e o comportamento. Para que a definição seja inteligível, é necessário saber
o que é mente e o que é comportamento.
O conceito “ciência que estuda o comportamento humano” pode ser completo
se entendermos e buscarmos nos aprofundar nos conceitos de ciência,
comportamento e homem. Se soubermos descrever o que é ciência, o que é
comportamento humano e quem é esse homem estudado pela psicologia (caso mais

34
complexo, mais filosófico) estaremos entendo o conceito de psicologia aqui
apresentado.
Atribuições e áreas de atuação:
Promover a saúde do ser humano por meio do respeito à dignidade e
integridade, proporcionando condições satisfatórias de vida na sociedade. Segundo
a OMS (ONU): "Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e
não apenas a ausência de doença ou enfermidade."
O Psicólogo, dentro de suas especificidades profissionais, atua no âmbito da
educação, saúde, lazer, trabalho, segurança, justiça, comunidades e comunicação
com o objetivo de promover, em seu trabalho, o respeito à dignidade e integridade
do ser humano.
Atribuições Profissionais:
- Estuda e analisa os processos intrapessoais e relações interpessoais,
possibilitando a compreensão do comportamento humano individual e de grupo, no
âmbito das instituições de várias naturezas, onde quer que se deem estas relações.
- Aplica conhecimento teórico e técnico da psicologia, com o objetivo de identificar e
intervir nos fatores determinantes das ações e dos sujeitos, em suas histórias
pessoais, familiares e sociais, vinculando-as também a condições políticas,
históricas e culturais.

35
- Analisa a influência de fatores hereditários, ambientais e psicossociais sobre os
sujeitos na sua dinâmica intrapsíquica e nas suas relações sociais, para orientar-se
no psicodiagnóstico e atendimento psicológico.
- Promove a saúde mental na prevenção e no tratamento dos distúrbios psíquicos,
atuando para favorecer um amplo desenvolvimento psicossocial.
- Elabora e aplica técnicas de exame psicológico, utilizando seu conhecimento e
práticas metodológicas específicas, para conhecimento das condições do
desenvolvimento da personalidade, dos processos intrapsíquicos e das relações
interpessoais, efetuando ou encaminhando para atendimento apropriado, conforme
a necessidade.
- Formula hipóteses e à sua comprovação experimental, observando a realidade e
efetivando experiências de laboratórios e de outra natureza, para obter elementos
relevantes ao estudo dos processos de desenvolvimento, inteligência,
aprendizagem, personalidade e outros aspectos do comportamento humano e
animal.
Locais e áreas de atuação
Além da área clínica, a cada dia é observável a emergente atuação do
profissional psicólogo em áreas como organizações, hospitais, escolas, tribunais de
Justiça, marketing, esportes, aviação, engenharia, etc. Devido a essa ampliação e
as formas diferentes de atuação exigidas, torna-se necessário cada vez mais uma

36
atenção focalizada para os valores e princípios fundamentais ao exercício ético da
profissão. Esse exercício ético tem como base filosófica conduzir o indivíduo ao
bem-estar evitando ao máximo o sofrimento psíquico.
O psicólogo desempenha suas funções e tarefas profissionais
individualmente e/ou em equipes multiprofissionais. Abaixo alguns locais e áreas de
atuação profissional:
Trabalho – Empresas públicas ou privadas
Educação - Creches, Escolas.
Saúde - Hospitais, Ambulatórios, Centros e postos de saúde, Consultórios, Clínicas
especializadas
Justiça - Varas da criança e do adolescente, de família, cível, criminal, penitenciárias
Psicotécnicos - clínicas de trânsito
Esporte - Associações e/ou esportivas, clubes esportivos
Sociedade em geral, Associações comunitárias, Ongs
Escolas de 2º grau
Escolas de nível superior (com especialização, mestrado ou doutorado)
Área da comunicação social

37
HISTÓRICO DA PSICOLOGIA DA
EDUCAÇÃO
·
O interesse pela educação, suas condições e seus problemas, foi sempre
uma constante entre filósofos, políticos, educadores e psicólogos. Com o
desenvolvimento da Psicologia como Ciência e como área de atuação profissional,
no final do século XIX, várias perspectivas se abriram, fato que também ocorreu à
chamada Psicologia Educacional.
Durante as 3 primeiras décadas do século XX a psicologia aplicada à
educação teve enorme desenvolvimento. Nos EUA destacava-se a necessidade de
um novo profissional, capaz de atuar como intermediário entre a psicologia e a
educação.
Três áreas destacaram-se: as pesquisas experimentais da aprendizagem; o
estudo e a medida das diferenças individuais; psicologia da criança.
Até a década de 50, a Psicologia da educação aparece como a 'rainha' das
ciências da educação. Seu conceito: uma área de aplicação da psicologia na
educação. Psicologia Educacional era um ramo especial da Psicologia, preocupado
com a natureza, as condições, os resultados e a avaliação e retenção da

38
aprendizagem escolar. Ela deveria ser uma disciplina autônoma, com sua própria
teoria e metodologia.
Durante a década de 50, o panorama muda. Começa-se a duvidar da
aplicabilidade educativa das grandes teorias da aprendizagem, elaboradas durante a
1ª metade do século XX. Prenuncia-se uma crise... Surgem outras disciplinas
educativas tão importantes á educação quanto à psicologia, e esta precisa ceder
espaço.
Na década de 70, assume o seu caráter multidisciplinar, que conserva até
hoje. Não mais é considerada como a psicologia aplicada á Educação.
Atualmente, a Psicologia da Educação é considerada um ramo tanto da Psicologia
como da Educação, e caracteriza-se como uma área de investigação dos problemas
e fenômenos educacionais, a partir de um entendimento psicológico.
CONCEITO DE PSICOLOGIA DA
EDUCAÇÃO
Quando se fala, hoje, em 'Psicologia da Educação', vários termos são
utilizados indiscriminadamente como sinônimos, tais como: psicopedagogia,
psicologia escolar, psicologia da educação, psicologia da criança, etc. A lista poderia
ser alongada. Esta imprecisão na linguagem, e esta confusão entre disciplinas ou
atividades não são exatamente passíveis de sobreposição, pois cada qual têm suas
definições e limitações.
A Psicologia da Educação tem por objeto de estudo todos os aspectos das
situações da educação, sob a ótica psicológica, assim como as relações existentes
entre as situações educacionais e os diferentes fatores que as determinam.
Seu domínio é constituído pela análise psicológica de todas as facetas da
realidade educativa e não apenas a aplicação da psicologia à educação. Seu maior
objetivo é constatar ou compreender e explicar o que se passa no seio da situação
de educação. Por isso, tanto psicólogos quanto pedagogos podem possuir tal
especialização profissional.

39
A Psicologia da Educação faz parte dos componentes específicos das
ciências da Educação, tal como a sociologia da educação ou a didática. Compõem
um núcleo, cuja finalidade é estudar os processos educativos. Atualmente, rejeita-
se a ideia de que a Psicologia da Educação seja resumida a um simples campo de
emprego da Psicologia; ela deve, ao contrário, atender simultaneamente aos
processos psicológicos e às características das situações educativas.
Ela estuda os processos educativos com tripla finalidade:
Contribuir à elaboração de uma teoria explicativa dos processos
educativos – nível teórico;
Elaborar modelos e programas de intervenção - nível tecnológico;
Dar lugar a uma práxis educativa coerente com as propostas teóricas
formuladas - nível prático.
APRENDIZAGEM
Conceito
Aprendizagem é um processo inseparável do ser humano e ocorre quando há
uma modificação no comportamento, mediante a experiência ou a prática, que não
podem ser atribuídas à maturação, lesões ou alterações fisiológicas do organismo.
Do ponto de vista funcional é a modificação sistemática do comportamento em caso

40
de repetição da mesma situação estimulante ou na dependência da experiência
anterior com dada situação
De acordo com as proposições das teorias gestaltistas é um processo
perceptivo, em que se dá uma mudança na estrutura cognitiva. Para que haja a
aprendizagem são necessárias determinadas condições:
• Fatores Fisiológicos - maturação dos órgãos dos sentidos, do sistema nervoso
central, dos músculos, glândulas etc.;
• Fatores Psicológicos - motivação adequada, autoconceito positivo, confiança em
sua capacidade de aprender, ausência de conflitos emocionais perturbadores etc.;
• Experiências Anteriores - qualquer aprendizagem depende de informações,
habilidades e conceitos aprendidos anteriormente.
Características do processo de aprendizagem
• Processo dinâmico - A aprendizagem é um processo que depende de intensa
atividade do indivíduo em seus aspectos físico, emocional, intelectual e social. A
aprendizagem só acontece através da atividade, tanto externa física, como também,
de atividade interna do indivíduo envolve a sua participação global.
• Processo contínuo - Todas as ações do indivíduo, desde o início da infância, já
fazem parte do processo de aprendizagem. O sugar o seio materno é o primeiro
problema de aprendizagem: terá que coordenar movimentos de sucção, deglutição e
respiração. Os diferentes aspectos do processo primário de socialização na família,
impõem, desde cedo, a criança numerosas e complexas adaptações a diferentes

41
situações de aprendizagem. Na idade escolar, na adolescência, na idade adulta e
até em idade mais avançada, a aprendizagem está sempre presente.
• Processo global - Todo comportamento humano é global; inclui sempre aspectos
motores, emocionais e mentais, como produtos da aprendizagem. O envolvimento
para mudança de comportamento, terá que exigir a participação global do indivíduo
para uma busca constante de equilibração nas situações problemáticas que lhe são
apresentadas.
• Processo pessoal - A aprendizagem é um processo que acontece de forma
singular e individualizada, portanto é pessoal e intransferível, quer dizer ela não
pode passar de um indivíduo para outro e ninguém pode aprender que não seja por
si mesmo.
• Processo gradativo - A aprendizagem sempre acontece através de situações
cada vez mais complexas. Em cada nova situação um maior número de elementos
serão envolvidos. Cada nova aprendizagem acresce novos elementos à experiência
anterior, sem idas e vindas, mas em uma série gradativa e ascendente.
• Processo cumulativo - A aprendizagem resulta sempre das experiências vividas
pelo indivíduo que servem como patamar para novas aprendizagens. Ninguém
aprende senão, por si e em si mesmo, pela auto modificação. Desta maneira, a
aprendizagem constitui um processo cumulativo, em que a experiência atual
aproveita-se das experiências anteriores.
APRENDIZAGEM
E MATURAÇÃO
A maturação é constituída no
processo de desenvolvimento pelas
mudanças do organismo que
ocorrem de dentro para fora do
indivíduo. Mas apesar destas
mudanças acontecerem apenas
quando existe uma predisposição

42
natural no organismo do indivíduo, elas dependem de estimulações no meio
ambiente para se desenvolverem plenamente.
As características essenciais da maturação são:
1 - Aparecimento súbito de novos padrões de crescimento ou comportamento;
2 - Aparecimento de habilidades específicas sem o benefício de práticas anteriores;
3 - A consistência desses padrões em diferentes indivíduos da mesma espécie;
4 - O curso gradual de crescimento físico e biológico em direção a ser
completamente desenvolvido.
A aprendizagem, diferente da maturação, envolve uma mudança duradoura
no indivíduo, que não esta marcada por sua herança genética. A aprendizagem se
constitui no processo de socialização do indivíduo e desenvolve gostos, habilidades,
preferências, contribui para formação de preconceitos, vícios, medos e
desajustamentos patológicos.
A APRENDIZAGEM É CONDICIONADA PELA MATURAÇÃO
De maneira geral, concluindo-se pelas próprias definições acima, a influência
dos professores é restrita aos padrões de maturação dos alunos. Na aprendizagem
esta influência pode ser determinante, com consequências que podem ser tanto
positivas quanto negativas.
As características específicas do ser humano: a fala, a noção de tempo, a
cultura e a capacidade de abstração, confere uma qualidade única ao estudo do seu
comportamento.

43
Ainda mais significativo que tudo o que foi dito, o homem, em seu processo
de percepção, pode observar-se simultaneamente como sujeito e objeto, como o
conhecedor e como o que deve ser conhecido. Enquanto nos animais inferiores
muitos dos comportamentos são supostamente instintivos, a criança, molda os seus
múltiplos padrões de comportamento. O período relativamente de dependência da
criança, em relação ao adulto, que se segue à necessidade total de ajuda logo após
o nascimento, contribui para que ele adquira a cultura de seu grupo. Utilizando seu
potencial intelectual relativamente alto e sua capacidade de se comunicar através da
linguagem falada e der outros símbolos, os membros de cada geração constroem
sobre as realizações das gerações anteriores. A cultura de uma sociedade é o
resultado de muitas gerações de aprendizagem cumulativa.
O homem compartilha com outros mamíferos alguns impulsos orgânicos
primários como a fome, a sede, o sexo, a necessidade de oxigênio, de calor
moderado e de repouso e, possivelmente, umas poucas aversões primárias tais
como medo, raiva. A primeira manifestação de tais impulsos e aversões é um
processo de maturação. No entanto, o ser humano parece transcender de alguma
forma tais impulsos e aversões hereditários.
Parece não haver grupo de seres humanos que não tenha desenvolvido,
através da aprendizagem, alguns instrumentos para enriquecer seus contato com o
mundo que o cerca. Os animais parecem encontrar satisfação no uso de qualquer
das capacidades que possuem. Da mesma maneira, o homem encontra satisfação
no uso de suas capacidades e habilidades.
APRENDIZAGEM E DESEMPENHO
É fundamental para se concluir como
esta transcorrendo a aprendizagem a
observação do comportamento do indivíduo. O
desempenho pode ser considerado como o
comportamento observável do indivíduo.
Destarte, a aprendizagem não pode ser
observada diretamente; só pode ser inferida
do comportamento ou do desempenho de uma
pessoa.

44
Para tanto devem ser observadas determinadas características do
desempenho que servirão como indicadores do desenvolvimento da aprendizagem
ou da aquisição de uma habilidade. A característica principal é quando o
desempenho da habilidade melhorou, durante um período de tempo no qual houve a
prática. A pessoa sendo assim mais capaz de desempenhar a habilidade do que era
anteriormente.
A melhoria do desempenho deve ser marcada por certas características:
1 - O desempenho deve ser, como resultado da prática, persistente, ou seja,
relativamente constante. Deve ser duradoura no tempo.
2 - As flutuações do desempenho devem ser cada vez menores, ocorrendo menos
variabilidade.
Aprendizagem é uma mudança no estado interno do indivíduo, que é inferida
de uma melhora relativamente permanente no desempenho como resultado da
prática.
Modelo de aprendizagem motora
Segundo Fitts e Posner, existem três estágios que caracterizam a
aprendizagem motora:
1 - Estágio Cognitivo - Se caracteriza por uma grande quantidade de atividade
mental e intelectual. O principiante costuma responder às técnicas ou estratégias,
apresentando grande número de erros grosseiros no desempenho;
2 - Estágio Associativo - A atividade cognitiva envolvida na produção de respostas
decai. Mecanismos básicos da habilidade foram aprendidos até certo ponto. O
aprendiz está concentrado em refinar a habilidade. Detecta alguns dos seus erros. A
variação de desempenho começa a decrescer;
3 - Estágio Autônomo - As habilidades são aprendidas a um tal grau que respostas
são geradas de maneira quase automática. Desenvolve capacidade para detectar
seus erros e que espécies de ajustes são necessários para corrigir os erros. A
variação do desempenho de dia a dia já se torna muito pequena.

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É importante entender esses estágios de aprendizagem para determinação de
estratégias instrucionais apropriadas a serem utilizadas ao ensinar habilidades
motoras.
O desempenho inicial na aprendizagem nem sempre permite predizer com
precisão o desempenho posterior. O desempenho posterior deve ser considerado a
partir de:
a) determinação das capacidades relacionadas com a tarefa;
b) motivação para ter sucesso e para continuar a aprender a habilidade;
c) instrução inicial deve enfatizar os fundamentos importantes da habilidade a ser
aprendida;
d) quantidade de tempo de prática disponível do indivíduo é importante na
determinação do sucesso posterior.
Esses fatores além de serem valiosos na previsão do desempenho futuro, são
geradores de informações para determinar o que deve ser incluído no plano de
instrução, para ajudar o estudante a desenvolver seu potencial.
A APRENDIZAGEM E A PSICOLOGIA DA
EDUCAÇÃO: APRENDIZAGEM INFORMAL
E FORMAL
Aprendizagem Formal: processo que é direcionado, orientado e previamente
planejado e organizado (sala de aula); advém da instrução.
Aprendizagem Informal: processo que é de natureza incidental, não-dirigido,
e carente de controle. Resultam da experiência no ambiente de vida (fora da escola);
advém do ensino.
A Psicologia da Educação exerce seu papel mais relacionada à
aprendizagem formal.
·

46
Modelos de Ensino Formal:
Um modelo de ensino formal inclui um conjunto de procedimentos para que
se realize o ensino. Pode resumir-se em seus componentes fundamentais:
professor, aluno e conteúdo.
Existem 4 modelos básicos:
Modelo Clássico: ênfase dada no professor, enquanto um transmissor de conteúdo.
A educação consiste em transmissão de ideias selecionadas, organizadas e não de
acordo com o interesse do aluno. O aluno é apenas um recipiente passivo.
Modelo Tecnológico: ênfase na educação como transmissora de conteúdos; o
conteúdo é o centro do processo. O aluno é um recipiente de informações. A
educação se preocupa com aspectos observáveis e mensuráveis e o professor é o
responsável por essa concretização.
Modelo Personalizado: ênfase no aluno. O ensino se processa em função do
desenvolvimento e interesse dos alunos. A educação é um processo progressivo e o
professor oferece assistência ao aluno, enquanto um facilitador da aprendizagem.
Modelo Interacional: apresenta um equilíbrio entre os componentes do modelo. O
professor cria um clima de diálogo e troca experiências e valores com seus alunos.
O conteúdo consiste na análise crítica de problemas reais e sociais. O aluno é ativo
em sua aprendizagem.
DOMÍNIOS DA APRENDIZAGEM
A aprendizagem abrange 3 domínios fundamentais: 1. D. intelectual ou
cognitivo; 2. D. afetivo-social; 3. D. sensório- psiconeurológico.
Domínio intelectual ou cognitivo (inteligência humana)
A inteligência e a idade mental (e não a cronológica) são domínios decisivos
à aprendizagem humana.
Inteligência: capacidade de interagir com o meio ambiente e adaptar-se a
ele; se

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desenvolve através de fases, ao longo da vida, que se sucedem em uma mesma
ordem, mas devido às diferenças individuais, podem ser alcançadas em idades
diferentes para cada pessoa, dependendo do ritmo de desenvolvimento.
Domínio afetivo-social (emoções, sentimentos e aspectos psicossociais)
As pessoas são todas diferentes e únicas. As diferenças são determinadas pelas
influências genéticas, bioquímicas de seu próprio organismo e por estímulos do
ambiente em que vivem, bem como pela interação de todas as experiências sociais
que tiveram desde o nascimento.
A personalidade de cada indivíduo vai se formando/se desenvolvendo;
Portanto, cada aluno que chega á escola/universidade já possui sua personalidade
bem definida.
As características psicológicas momentâneas, tais como o humor, as
emoções e os sentimentos, também são domínios fundamentais à aprendizagem
humana. Da mesma forma, um certo amadurecimento social (relacionamento
interpessoal e intrapessoal) é elemento igualmente importante neste processo de
ensino-aprendizagem.
O sensório-psiconeurológico (sensações, desenvolvimento neuropsicológico e
maturação neurológica).
A integração das funções neuropsicológicas é fundamental à aprendizagem.
Para tanto, a estimulação é comprovadamente importante, já que crianças que
viveram seus primeiros anos de vida em ambientes pobres de estímulos sofreram
danos graves de desenvolvimento, principalmente em seus elementos sensoriais
(audição, visão, tato, gustação, olfato), neurológicos (maturação neurológica),
psicomotores (esquema corporal, lateralidade, equilíbrio) e linguísticos (fala).
PRINCÍPIOS DA APRENDIZAGEM
1º princípio: “universalidade” - a aprendizagem é co-extensiva à própria vida,
ocorre durante todo o desenvolvimento do indivíduo. Na vida humana a
aprendizagem se inicia antes do nascimento e se prolonga até a morte.
2º princípio: A aprendizagem é um processo constante/contínuo.

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3º princípio: “gradatividade” - A aprendizagem é gradual, isto é, aprende-se pouco
a pouco.
4º princípio: “processo pessoal/individual” - cada indivíduo tem seu ritmo próprio
de aprendizagem (ritmo biológico) que, aliado ao seu esquema próprio de ação, irá
constituir sua individualidade. Por isso, tem fundo genético e também ambiental,
dependendo de vários fatores: dos esquemas de ação inatos do indivíduo; do
estágio de maturação de seu sistema nervoso; de seu tipo psicológico constitucional
(introvertido ou extrovertido); de seu grau de envolvimento; além das questões
ambientais.
5º princípio: “processo cumulativo” - as novas aprendizagens do indivíduo
dependem de suas experiências anteriores. As primeiras aprendizagens servem de
pré-requisitos para as subsequentes. Cada nova aprendizagem vai se juntar ao
repertório de conhecimentos e de experiências que o indivíduo já possui, indo
construir sua bagagem cultural.
6º princípio: “processo integrativo e dinâmico” - esse processo de acumulação de
conhecimentos não é estático. A cada nova aprendizagem o indivíduo reorganiza
suas ideias, estabelece relações entre as aprendizagens, faz juízos de valor.
·
FATORES DA APRENDIZAGEM
1. Saúde física e mental: para que seja capaz de aprender, a pessoa deve
apresentar um bom estado físico geral; deve estar gozando de boa saúde,
com seu sistema nervoso e todos os órgãos dos sentidos. As perturbações
na área física, como na sensorial e na área nervosa poderão constituir-se
em distúrbios da aprendizagem. Febre, dores de cabeça, disritmias
(ausências mentais) são exemplos disto.
2. Motivação: é o fator de querer aprender; o interesse é a mola propulsora da
aprendizagem. O indivíduo pode querer aprender por vários motivos: para
satisfazer a sua necessidade biológica de exercício físico e liberar energia;
por ser estimulada pelos órgãos dos sentidos, através de cores alegres; por
sentir-se inteligente e bem consigo mesmo ao resolver uma atividade mental;
por sentir necessidade de conquistar uma boa classificação na escola (status
social e pessoal, admiração).

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3. Prévio domínio: domínio de certos conhecimentos, habilidades e
experiências anteriores, possuindo relativa vantagem em relação aos que
não o possuem.
4. Maturação: é o processo de diferenciações estruturais e funcionais do
organismo, levando a padrões específicos de comportamento. A maturação
neurológica se dá por etapas sucessivas e na mesma sequência (Leis
céfalo-caudal e Próximo-distal). A maturação cria condições à
aprendizagem, havendo uma interação entre ambas.
5. Inteligência: capacidade para assimilar e compreender informações e
conhecimentos; para estabelecer relações entre vários desses
conhecimentos; para criar e inventar coisas novas, com base nas já
conhecidas; para raciocinar com lógica na resolução de problemas.
6. Concentração e atenção: capacidade de fixar-se em um assunto/tarefa.
Desta capacidade dependerá a facilidade maior ou menor para aprender.
7. Memória: a retenção da aprendizagem é aspecto essencial à
aprendizagem, pois quando a pessoa precisar de um conhecimento ela
deverá ser capaz de resgatá-los da memória, usando os conhecimentos
anteriormente adquiridos. No entanto, quem aprende está sujeito a esquecer
o que aprendeu. O esquecimento se dá por vários motivos: pela fragilidade ou
deficiência na aprendizagem, causada por estudo ineficiente, falta de
atenção; pela tentativa de evocação do fato memorizado através de um
critério diferente do usado na fixação da aprendizagem; pelo desuso das
informações; por um componente emocional que não permite a memorização
da informação ou a 'esconde' no subconsciente.
FATORES QUE INFLUENCIAM NA
APRENDIZAGEM
A aprendizagem é produto de uma interação complexa e contínua entre
hereditariedade e o meio ambiente. Este processo pode ser influenciado tanto na
vida pré-natal como na vida pós-natal. As causas podem ser inúmeras: químicas,
físicas, imunológicas, infecciosas, familiar, afetivas e socioeconômicas.

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FATORES GENÉTICOS OU HERANÇA
Os elementos hereditários que influenciam na aprendizagem são chamados
de fatores genéticos e encontram-se na inscrição do programa biológico da pessoa -
herança. Está presente em toda parte: determina o grau de sensibilidade dos órgãos
efetores aos estímulos indutores; condiciona o aparecimento de doenças familiares
capazes de prejudicar a aprendizagem (insônia, depressão, síndrome de down,
asma) e ainda pode indiretamente intervir nos fatores ambientais, garantindo maior
ou menor resistência do organismo aos agravos do meio.
FATORES NEUROENDÓCRINOS
O hipotálamo é destacado como o local controlador do sistema endócrino.
Podemos considerar o hipotálamo como um centro integrador de mensagens,
controlando a função da glândula hipófise na produção e liberação dos hormônios de
todas as glândulas do organismo e possibilitando a criança explorar seu potencial
genético, de desenvolvimento e de aprendizagem.
Neuro-Hormônio Adenocorticotrófico - ACTH: é liberado pelo hipotálamo;
sua secreção acompanha um ritmo circadiano gerado por um ritmo cerebral
intrínseco, ligado a alteração de luz (dia e noite), sono, estresse físico e emocional.
FATORES AMBIENTAIS
O meio ambiente na qual a pessoa está inserida exerce influências
particularmente poderosas, contribuindo positivamente à realização do plano
genético ou negativamente, apresentando obstáculos. O ambiente compreende
tanto condições da vida material, estando em primeiro lugar a alimentação e sua
utilização (nutrição), quanto pelo ambiente físico (sócio-econômico, estilo de vida) e
o ambiente familiar e cultural, cujo elemento fundamental é constituído pela relação
afetiva primária e o estímulo materno.
Na interação da hereditariedade e do meio ambiente, quando o meio é normal
e favorável pode-se calcular que 80 a 90 % da variabilidade natural da espécie
humana, nos limites da normalidade, se realizam segundo o programa genético pré-

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determinado, entretanto, quando o meio é desfavorável e heterogêneo, a
hereditariedade pode cair a 60 %.
NUTRIÇÃO
Em relação a alimentação, o leite é a nutrição natural inicial para todos, e a
qualidade desse leite tem condições para satisfazer o potencial genético ao
crescimento e à aprendizagem. A alimentação saudável é a balanceada, com
proteína suficiente, além da presença de hidratos de carbono, gorduras, sais
minerais e vitaminas.
É preciso ter presente que só o crescimento consome 40% das calorias
fornecidas à criança. Deve-se fornecer energia à criança para atender às
necessidades de metabolismo basal; ação dinâmico-específica dos alimentos; perda
calórica pelos excreta; atividade muscular; crescimento. Para que a aprendizagem
também seja beneficiada, a nutrição do indivíduo deve ser balanceada e saudável.
Essa energia é, então, transmitida através dos macro nutrientes: Vitaminas;
proteínas; hidratos do carbono; sais minerais; gorduras. Dois aspectos relacionados
a alimentação que exercem influências:
A superalimentação: aceleração e envelhecimento precoces do crescimento;
variáveis psicológicas.
A subalimentação: quando é global (fornecimento calórico abaixo de 1/3), o
crescimento é bloqueado de forma completa. Quando a sobrevida é possível, se
traduz pelo aspecto clínico de marasmo. Quando se refere especificamente sobre a
proteína, continuando o fornecimento calórico global tolerável, o crescimento
estatural é bloqueado - desnutrição proteica.
VARIÁVEIS SÓCIO-ECONÔMICO-CULTURAIS
As variáveis socioeconômicas exercem importante influência: renda per
capita, a idade dos pais, o tamanho da família, condições de habitação e
saneamento, escolaridade, higiene; cultura dos pais(influi na alimentação da
criança).
Dada a melhoria nas condições de vida, tais como a urbanização, melhoria
nos cuidados médicos, maior ingestão alimentar de nutrientes, vestuário menos

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restritivo, entre outros fatores, existe uma forte tendência para que as crianças das
gerações que nos sucedem alcancem uma maturação mais cedo. Esta tendência de
aceleração secular pode ser vista nos estudos de Monteiro (1996), que demonstra
que as crianças brasileiras estão maturando cada vez mais cedo, em todas as
classes sociais, onde as regiões sul e sudeste do país são as que mais crescem.
FAMÍLIA E OS FATORES PSICOSSOCIAIS
Outro aspecto importante, diz respeito ao ambiente familiar, que comporta
elementos diversos, de ordem psicológica particular, mas também de ordem cultural
segundo o nível intelectual, os conhecimentos adquiridos através dos pais, a
herança dos costumes, etc. Acima de tudo, intervém a relação afetiva precoce da
mãe com a criança desde os primeiros instantes da vida.
A qualidade dessa ligação afetiva condiciona em grande parte o
relacionamento da mãe e, consequentemente, a qualidade de sua conduta com a
alimentação, proteção física, estímulo psíquico e cultural da criança. A carência
afetiva consiste na falta de carinho e de solicitação afetiva materna, perturbando ou
mesmo impedindo o vínculo mãe e filho, determinando o aparecimento de uma
síndrome complexa com reflexos no seu desenvolvimento neuropsicomotor, no
crescimento e no estado emocional, e por consequência, na aprendizagem.
O PROFESSOR E O PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM
Quando inserido no processo de ensino-aprendizagem (sala de aula), o
professor poderá vir a assumir vários papéis sociais.
A Psicologia da Educação, após longos anos de pesquisa a respeito deste
assunto, identificou alguns papéis claros, assumidos por professores em seu
trabalho diário junto a uma classe de alunos.

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# Grupo de papéis Negativos:
Bode expiatório: sente-se alvo de hostilidades, recusado por seus
alunos; perde sua estabilidade emocional. Requer uma grande dose de segurança
interior para aceitar esta situação e ainda permanecer no posto. Este professor
poderá ter 2 tipos de comportamento: a contra hostilidade e a necessidade de
constante submissão para com a vontade de seus alunos para ser aceito.
Inspetor e disciplinador: sente-se o distribuidor e o executor da justiça;
Valoriza desempenhos, classifica alunos, promove-os e rebaixa-os. É o grande
responsável pela conduta em sala de aula, faz o papel de inspetor. Julga o certo e o
errado, administrando recompensas e punições.
# Grupo de papéis Autoritários:
Substituto da autoridade paterna: assume o papel de orientador dos
alunos, orientando a todos de igual maneira. Não é nem paternalista demais, nem
rígido demais. Mantém um bom e equilibrado nível de relações afetuosas com
todos.
Fonte de informações: sua função é transferir conhecimentos para os
alunos; é aquele que sabe. Se orienta em termos acadêmicos em sua abordagem.
Forja uma concepção passiva do aluno quando se vê como o único que sabe tudo.
Líder de grupo: professor que se coloca como líder. Pode assumir a
liderança do grupo de 2 formas: autocrática ou democrática, ambas envolvem o
sistema de status no grupo.
Cidadão modelo: sua função vai além de transmitir conhecimentos; se coloca
como mentor moral, ético, social e político de seus alunos. Dá sempre bom
exemplo de comportamento social, utilizando-o para ensinar. Não separa sua vida
provada da profissional.
# Grupo de papéis de Proteção:
Terapeuta: é um orientador e higienista mental do grupo; responsável pela
prevenção e ajustamento de problemas, além de promotor de um meio favorável à
aprendizagem; aceita as diferenças e promove aulas com atmosfera de aceitação
emocional. Acredita que a experiência pessoal e todos os aspectos da vida afetam
a aprendizagem.

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Amigo e confidente: é amigo e caloroso, convidando a todos a confidências
e a participar das dificuldades do grupo. Leva tudo ao plano da amizade pessoal. É
acessível e compreensivo, deixando o aluno contar suas dificuldades e problemas
em um meio neutro. O excesso ocorre quando o professor usufrui satisfação
primária à resposta afetiva do aluno para com ele. Gera-se um conflito entre o papel
de professor e de amigo.

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AVALIAÇÃO
1- Para dizer que vivemos numa sociedade totalmente institucionalizada, ou seja,
vivemos “imersos” em instituições sociais, portanto, somos continuamente
levados a realizar coisas que não escolhemos, e na maioria das vezes as
realizamos “naturalmente”, sem questionar de onde e de quem partiu aquela
ideia ou aquela ordem. Quais são as instituições sociais as quais fazemos
parte, exceto:
a) Família
b) Escola
c) Comunidade
d) Religião
2- É dentro da família que aprendemos os primeiros valores do grupo e da
sociedade a que pertencemos. Os pais (ou aqueles que cumprem este papel),
criam e provêm os filhos de condições para a subsistência e esperam desses
respeito e obediência. A sociedade espera que os pais trabalhem e tenham
uma vida honesta, às mães cabe o amor incondicional, capaz de fazê-las abrir
mão da própria vida para ver a felicidade de seus filhos. Isso pode parecer um
pouco exagerado, mas, às vezes, a caricatura de uma situação nos permite
enxergá-la melhor. Sobre esta, marque a alternativa incorreta:
a) A família é um lugar “sagrado”, que devemos respeitar nossos pais, que tanto
sacrifícios fizeram por nós.
b) É o bem mais importante de um homem, e quando finalmente crescemos,
“desejamos” formar outra família, porque é isto que esperam de nós.
c) É onde aprendermos os nossos primeiros valores.
d) Os filhos devem ensinar os pais o que é certo ou errado.

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3- Essa instituição ensina-nos novos padrões de comportamento, ou reforça
aqueles que já trazemos de nossa classe social e tenta nos fazer acreditar que
somos todos iguais. Estamos nos referindo a qual instituição social?
a) Família
b) Escola
c) Religião
d) Comunidade
4- Uma boa escola precisa de professores mediadores de processos de
aprendizagem. De professores menos “falantes”, mais orientadores; de menos
aulas informativas e mais atividades de pesquisa, experimentação, desafios
projetos. Estas aulas devem ter como características:
a) Ser aulas vivas
b) Ser aulas criativas
c) Ser aulas presenciais-virtuais
d) Todas as respostas estão corretas.
5- O paradigma da ______________________, inspirado originalmente no
trabalho de Paulo Freire nos anos 60, encontrava na conscientização sua
categoria fundamental. Complete a frase:
a) educação Popular
b) educação Internacionalizada
c) novas tecnologias
d) educação Tradicional
6- Sobre as novas tecnologias, podemos afirmar que:
a) São apenas os recursos tecnológicos, como televisão, telefone e computador.
b) São as ferramentas tecnológicas que completa a ação do gestor, sendo
principalmente o computador.
c) É uma ferramenta tecnológica na busca da qualidade do processo de ensino-
aprendizagem ou melhoria do trabalho.
d) São todas as ferramentas que envolvem o uso da informática.

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7- Para nos auxiliar na reflexão a respeito da função disciplinadora da escola,
podemos recorrer às ideias de um filósofo francês . Este pensador realizou
estudos comparativos entre algumas instituições como prisões, conventos,
quartéis e escolas, buscando desvelar suas semelhanças no que se refere aos
aspectos de organização e controle. Estamos nos referindo à:
a) Michel Foucault
b) Boudeiu
c) São Tomé
d) Todas as respostas estão erradas.
8- A escola existe somente para reproduzir a sociedade desigual que aí está,
então nada podemos fazer senão nos adequarmos a esta situação. Esta
atitude passiva em nada contribui para desenvolvermos as atitudes críticas e
criativas necessárias à criação de outro modelo de escola. Este é o
pensamento do tipo:
a) Generalista
b) Mobilista
c) Altruísta
d) Todas as alternativas estão erradas.

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GABARITO
NOME DO ALUNO:_____________________________
MATRÍCULA: _________________________________
CURSO:______________________________________
DATA DE ENVIO: _____/____/_________
Psicologia da Educação
1) 2) 3) 4) 5)
6) 7) 8)

59
BIBLIOGRAFIA
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