o salon de 1845 de charles baudelaire[

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    O SALON DE 1845 DE CHARLES BAUDELAIRE[i] Roberta Andrade do Nascimento (Doutoranda UFRJ)

    Revue du Salon de 1845 par M. Baudelaire-Dufays. (...) ce petit volume est une curiosit, une excentricit, une vrit. M. Baudelaire-Dufays est hardi comme Diderot, moins le paradoxe ; il a beaucoup dallures, de ressemblance avec Stendhal qui [sont] les hommes qui ont le mieux crit peinture. Cette brochure sera attaque et traite de folle, de furieuse, de jeune. Tant mieux. Ceci prouvera quelle est raisonnable, de sang-froid et mre. Les temps ne sont pas encore venus o lon puisse dire sa vritable opinion : M. Baudelaire-Dufays a eu ce courage. Bravo ! (APUD FERRAN, 1934, p. 134)

    No incio do sculo XIX, o Salon constitui-se ainda como uma instncia que legitima obras e artistas, ou seja, uma extenso do projeto instaurado pela Academia, no sculo XVII. As exposies reuniam pessoas importantes e, nessa ocasio, uma lista de todas as obras expostas era publicada em um livreto; essa prtica passou a ser adotada por alguns peridicos que se dedicavam arte e literatura no sculo XIX. Neles, crticos profissionais, escritores e pintores davam sua opinio sobre as obras apresentadas; esses comentrios orientavam o olhar do pblico, fornecendo ao espectador um julgamento. De incio, produto aristocrtico que tinha como objetivo maior, alm de legitimar obras e artistas, oferecer uma educao esttica ao homem[ii], o Salon transforma-se, mais tarde, em um gnero literrio calcado na descrio das obras e no seu julgamento. Nesse sentido, uma crtica de arte pragmtica constitua, assim como a instituio dos Salons de Beaux-Arts, forte tradio na Frana do sculo XIX. Com Charles Baudelaire, esse espao ser utilizado no para recomendar, mas para construir todo um pensamento sobre a arte, a partir de questionamentos a respeito da sociedade.

    Em seu primeiro trabalho como crtico de arte Salon de 1845 Baudelaire apresenta crtica e obra como instncias diferenciadas, a primeira corrigindo e validando a segunda por meio de relatos. Seguindo a estrutura da tradio da crtica de arte do sculo XVIII, baseada na hierarquia dos gneros pictricos estabelecidos pela Academia de Pintura no sculo XVII, os Salons tinham como objetivo tornar presente o que estava ausente, ou seja, os escritos deveriam transferir/traduzir em palavras a linguagem plstica utilizada pela pintura. Essa crtica de arte limitava-se descrio do contedo imediato da obra, sobretudo para distanciar-se de temas polmicos. Escrevendo para uma burguesia que se constitua como presente e futuro da sociedade, Baudelaire cede dimenso pedaggica desse dispositivo crtico e faz uso da conveno adotada pela crtica dos Salons, mantendo, sob certo aspecto, a tradio; demonstrando, dessa forma, a permanncia de critrios exteriores criados para reger o universo artstico.

    O perodo em que o autor escreve seu primeiro Salon no traz muitas novidades no que diz respeito pintura; a caracterstica marcante da arte nesse momento a repetio de temas, poucas so as obras capazes de retirar da inrcia o sentimento esttico. Inserido nessa atmosfera, o crtico comea seu ensaio garantindo imparcialidade: Nous serons donc bien cruels et bien insolents? non pas, au contraire, impartiaux (BAUDELAIRE, 1976, p. 11). Nessa afirmao est subentendido o princpio segundo o qual o julgamento de valor emitido a partir de normas previamente estabelecidas. Ser imparcial significa agir de forma a adequar as obras de arte a critrios determinados por um discurso que as caracteriza de acordo com a funo que possuem no mbito das diversas formas de representao institudas pelo poder; significa, alm disso, lanar um olhar que se concentra na superfcie material da obra, olhar que parte de seu exterior, de uma localizao acima do objeto e que no capaz de ultrapassar as formas concretizadas na tela, ou seja, o seu contedo imediato, eliminando do discurso o presente do crtico.

    Nesse primeiro ensaio, o crtico declara a existncia de uma prtica que provoca nele um certo desconforto, o fato de que os escritos sobre a arte produzidos ocasio das exposies no so formas independentes; de certa maneira a afirmao de que la critique des journaux, tantt niaise, tantt furieuse, jamais indpendante, a, par ses mensonges et ses camaraderies effrontes, dgot le bourgeois de ces utiles guide-nes quon nomme comptes rendus de Salons (IDEM,IBIDEM),

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  • ratifica a idia de que os crticos trabalham em prol da reproduo de um discurso controlador no mbito das artes. Essa afirmao demonstra, de certa forma, uma preocupao que traz tona questionamentos sobre a autonomia da arte. Algumas de suas reclamaes ou aclamaes instauraro pontos de tenso em seu discurso, que poder ser classificado como ambguo num primeiro momento.

    Destacando a importncia da atividade do mecenato e a reduo do tempo de realizao das exposies de dois para um ano, Charles Baudelaire questiona, nesse momento, a necessidade da existncia de um jury[iii]. Esse grupo de jurados encarregado de examinar as produes dos artistas deveria trabalhar no sentido de encontrar uma lgica para a obra de arte, lgica essa que, no contexto em questo, no se encontrava no campo da arte, mas em esferas representativas do poder poltico da poca. A observao, procedimento importante da atividade crtica, corre o risco de ser apenas uma atividade mecnica que busca encontrar na obra elementos previamente institudos para sua composio, vinculando-os razo de estarem ali representados, uma vez que tout ce qui plat a une raison de plaire, et mpriser les attroupements de ceux qui sgarent nest pas le moyen de les ramener o ils devraient tre (IBIDEM, p. 12) e, seguindo uma conveno, o crtico estabelece une mthode de discours [qui] consistera simplement diviser [le] travail en tableaux dhistoire et portraits tableaux de genre et paysages sculpture gravures et dessins, et ranger les artistes suivant lordre et le grade que leur a assigns lestime publique (IBIDEM, p. 13). A opo por um mtodo poderia desestruturar de uma vez por todas o princpio bsico da observao, que consiste no conhecimento de si mesmo, no tornar-se a si mesmo, na descoberta de sua prpria teoria por meio de uma atividade reflexionante, para retomar um termo utilizado por Walter Benjamin.

    Neste momento, as contradies comeam a aparecer no interior de seu discurso, pois sua prtica comea a se distanciar de forma significativa do discurso constantemente reproduzido. Ao elaborar une mthode de discours o jovem que at ento compe versos impe-se como estudioso de princpios tcnicos das artes plsticas. A primeira seo do ensaio Quelques mots dintroductiontrai a esperada imaturidade de um desconhecido que inicia suas atividades como crtico de arte, atravs da explicao de princpios e mtodos que orientaro sua postura. De forma irnica, Baudelaire define sua prtica como um mtodo que se fundamenta na conscincia que a profisso lhe impe. Independncia e sinceridade so palavras de ordem em seu fazer crtico. Esses dois pressupostos trazem consigo a promessa de uma crtica imparcial. Mas como administrar independncia e imparcialidade ao mesmo tempo se a independncia modifica a maneira pela qual o indivduo se v e v o outro, permite a constatao da diferena e conduz ao distanciamento da reproduo de um modelo e a imparcialidade representa a impotncia do homem diante do objeto e de si mesmo? Com essa determinao, o crtico consegue ser fiel ao seu programa? Talvez consiga ser fiel, inicialmente, apenas ao ritmo montono imposto pelas diversas enumeraes dos artistas que apresentaram seus trabalhos na exposio.

    Percebe-se com essa movimentao que Baudelaire freqentemente trado por seu discurso, pois tentando manter-se distante de situaes problemticas por meio da obedincia a um mtodo, ele polemiza questes importantes. Um dos fatores que mais chamam a ateno na leitura desse Salon sua postura diante das obras e dos leitores. Com Baudelaire os objetos so metamorfoseados de forma consciente pela imaginao e as obras so transformadas em conhecimento.

    Em seu comentrio sobre a obra de William Haussoullier Fontaine de Jouvence possvel verificar como, aos poucos, o autor atrado pelas obras dos artistas que conseguiam transformar a imitao do real atravs da viso pessoal, do uso da imaginao, faculdade que serve como referncia ao crtico para distinguir os operrios dos gnios (BERTHET, 1995, p. 14) e que vai ser saudada no Salon de 1859 como a reine des facults.

    Cette oeuvre aura-t-elle un succs prompt ? Nous lignorons. (...) Si lon pouvait, diffrentes poques et diverses reprises, faire une exhibition de la mme oeuvre, nous pourrions garantir la justice du public envers cet artiste. Du reste, sa peinture est assez ose pour bien porter les affronts, et elle promet un homme qui sait assumer la responsabilit de ses oeuvres ; il na donc qu faire un nouveau tableau. (...) M. Haussoullier serait-il de ces hommes qui en savent trop long sur leur art ? Cest un flau bien dangereux, et qui comprime dans leur navet bien dexcellents mouvements.

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  • Quil se dfie de son rudition, quil se dfie mme de son got mais cest l un illustre dfaut, et ce tableau contient assez doriginalit pour promettre un heureux avenir. (BAUDELAIRE, 1976, p. 20)

    A partir da formulao sobre o efeito provocado pela obra de Haussoullier, Baudelaire interroga a percepo, fala da soma de idias que a obra traz ao seu esprito, pois il prfre parler au nom du sentiment, de la morale et du plaisir (IBIDEM, p. 239), e imprime em sua crtica reaes pessoais, seu temperamento, fazendo com que as obras ganhem vida atravs de uma tarefa intuitiva que mistura admiraes e desconfianas, observao consciente e emoo. Nesse sentido, pode-se pensar sua atividade como um trabalho que vai de encontro imobilidade, um trabalho que concebe o movimento como condio de vida.

    Diante dos Tableaux dhistoire o crtico-poeta afirma suas preferncias, as dimenses materiais no so para ele o item mais importante no conjunto de uma obra. Sem incomodar-se com as repercusses de seus comentrios, muitas vezes parece mesmo utilizar o espao da crtica de arte para fazer rplicas a seus opositores. Com destreza, escreve sobre o incmodo causado por Boulanger, que acredita que linspiration suffit et remplace le reste (IBIDEM, p. 26), e exalta a importncia do trabalho como elemento necessrio para sustentar a inspirao. Nesse sentido importante indagar o motivo pelo qual o autor escolhe Delacroix para abrir seu Salon.

    De acordo com Andr Ferran, em seu livro Le Salon de 1845 de Charles Baudelaire, a poca em que Baudelaire escreve seu primeiro artigo marcada por uma querela entre os partidrios de Ingres e os de Delacroix. Aproveitando o momento, o crtico busca explicar a seus leitores os elementos que animam a disputa entre coloristes e dessinateurs[iv]. Por isso, os trabalhos de Delacroix so um terreno frtil para retomar essa discusso.

    Dessa forma, o autor de Le Peintre de la vie moderne busca apresentar, por meio de uma prtica descritiva que engloba tambm a exposio das tcnicas empregadas pelo artista, uma obra que est ausente. A exposio precisa dessas tcnicas mais um elemento que destaca a importncia do trabalho unido inspirao do artista. No que diz respeito tcnica, preciso ver nela uma via de mo dupla; o excesso ou falta de seu emprego representam grande perigo, pois podem ser considerados como artifcios utilizados pelo artista para maquiar a insipidez de sua arte, aquele que faz uso da tcnica sem utilizar a imaginao apenas um operrio da arte.

    Ao perceber as particularidades de sua prpria poca e meditar sobre elas, ao realizar a unio do trabalho com a inspirao, o artista produz um conjunto harmnico; esse procedimento caracteriza tanto a individualidade do autor da obra de arte, quanto a do crtico e permite que a atividade crtica v alm do gosto e da prtica do momento, desvinculando-se de bases normativas. Sua reflexo sobre a obra Madeleine dans le dsert, de Delacroix, um misto representativo de toda essa tenso.

    Cest une tte de femme renverse dans un cadre trs troit. droite dans le haut, un petit bout de ciel ou de rocher quelque chose de bleu ; les yeux de la Madeleine sont ferms, la bouche est molle et languissante, les cheveux pars. Nul, moins de la voir, ne peut imaginer ce que lartiste a mis de posie intime, mystrieuse et romantique dans cette simple tte. Elle est peinte presque par hachures comme beaucoup de peintures de M. Delacroix ; les tons, loin dtre clatants ou intenses, sont trs doux et trs modrs ; laspect est presque gris, mais dune harmonie parfaite. (...). (BAUDELAIRE, 1976, p. 14. Grifo meu.)

    Percebe-se, entre marcas caractersticas de uma crtica que ainda se atm a procedimentos normativos, j que o olhar do observador estaria, ainda, situado no exterior e acima do objeto artstico, o prenncio de mudana do paradigma da crtica e do papel do crtico, algo que ocorreria mais tarde. Nota-se tambm que o autor realiza de forma mais intensa suas formulaes, baseado em um sentimento de independncia que permeia seus julgamentos. Uma vez que a partir da proposionul, moins de la voir, ne peut imaginer ce que lartiste a mis de posie intime, mystrieuse et romantique dans cette simple tte, o pblico convocado a viver a experincia singular do olhar, a buscar a individualidade do artista e a singularidade do conjunto de sua obra. Essa postura problematiza a prpria importncia da descrio do crtico como possibilidade de restituio do quadro.

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  • Outra passagem interessante que serve para exemplificar a existncia de uma tenso subjacente a esse primeiro escrito sobre a arte de Charles Baudelaire a reflexo feita a respeito do significado de morceau fait e morceau fini, questo que remete idia de esboo e que ser mais tarde desenvolvida pelo crtico-poeta em alguns de seus ensaios, sobretudo em Le Peintre de la vie moderne.

    Braves gens ! qui ignorent dabord quune oeuvre de gnie ou si lon veut une oeuvre dme o tout est bien vu, bien observ, bien compris, bien imagin est toujours bien execute, quand elle lest suffisament Ensuite quil y a une grande diffrence entre un morceau fait et un morceau fini quen gnral ce qui est fait nest pas fini, et quune chose trs finie peut ntre pas faite du tout que la valeur dune touche spirituelle, importante et bien place est norme... (IBIDEM, p. 50)

    Nesse momento, o crtico abre mo de uma atividade marcada pela prtica de constituir o reflexo da obra para dar lugar reflexo sobre a arte. Num movimento de reivindicao do abandono das regras impostas pela Academia, Baudelaire busca a formulao de um novo estatuto para a arte, instituindo uma nova forma de dialogar com o aspecto inacabado da obra, com a maneira atravs da qual o artista trabalha, visando a complementao de seu objeto; seu mtodo dissertar sobre as obras, tendo como ponto de partida a atualidade artstica.

    Em seu comentrio sobre o trabalho de Joseph Fay, Baudelaire chama ateno para o fato de a busca da originalidade ser tratada como um princpio que aponta para a importncia de dominar o momento presente e para a necessidade de olhar para o futuro. Essa reflexo que condena a imitao do modelo e deseja a liberdade do artista que ainda no livre ser um primeiro passo em defesa do romantismo definido por Delacroix como aspirao em direo ao infinito. No seguinte excerto est contida a idia de reflexo, como uma marca no necessariamente consciente, e reflexo, como autoconscincia que conduz a uma avaliao minuciosa de seu prprio objeto a partir do que ele sugere.

    Ces dessins nous ont attir parce quils sont beaux, nous plaisent parce quils sont beaux ; mais au total, devant un si beau dploiement des forces de lesprit, nous regrettons toujours, et nous rclamons grands cris loriginalit. Nous voudrions voir dployer ce mme talent au profit dides plus modernes, disons mieux, au profit dune nouvelle manire de voir et dentendre les arts nous ne voulons pas parler ici du choix des sujets ; en ceci les artistes ne sont pas toujours libres, mais de la manire de les comprendre et drudition. (IBIDEM, p. 34. Grifo meu.)

    Convencional, se comparado aos seus ensaios futuros, o Salon de 1845 de Charles Baudelairepode ser considerado um morceau no fini, o esboo de um pensamento, de uma teoria que vai se expandir nos escritos seguintes atravs da busca incessante de sua completude. Essa ousadia se faz presente em vrios momentos: a seo intitulada Portraits composta por comentrios breves, mas de profunda riqueza e originalidade; j os pequenos comentrios relativos aos Tableaux de genre so uma crtica a tudo de convencional e montono que eles representam. A base do trabalho de Baudelaire o olhar que ele lana sur linconnu pour trouver du nouveau porque dune oeuvre laborieusement faite il reste toujours quelque chose; (IBIDEM, p. 35) a poca moderna se encontra marcada pela falta e pela busca, esses dois fatores instauram uma crise que impulsiona o homem para o exerccio de uma atividade que implica produtividade criadora; nesse contexto, as sugestes indicadas pelas prprias obras se transformam em pequenos ncleos temticos de reflexo.

    Com isso, o crtico prope refletir mais que descrever, apreender a estrutura objetiva da arte a idia, de acordo com a concepo de Walter Benjamin. Para realizar essa tarefa, Baudelaire se apoiar mais sobre a imagem que se inscreve em sua memria do que na imagem plstica. Sua crtica supe sempre uma pergunta, caracteriza-se pela singularidade instituda pela memria, fundamentando-se a partir da experincia da subjetividade, uma vez que a crtica passa a ser definida como objeto autnomo que se afirma no mais como legitimador de obras, mas como exerccio terico. Nesse sentido, ele interrogar tambm a percepo, por meio da anlise das impresses e sentimentos suscitados no espectador. As discusses em torno desses pequenos ncleos atualizam a obra e

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  • produzem outras tantas obras que se constituem como reflexes tericas que se instauram a partir do dilogo entre a obra incompleta esquisse e sua recepo. Baudelaire instaura desde o incio uma frmula original da crtica de arte que comea a se configurar, por possuir caractersticas de um texto aberto, como obra.Transformando um procedimento discursivo em linguagem esttica e fazendo com que a atividade crtica deixe de ser apenas o reflexo de um objeto para ser reflexo no sentido benjaminiano sobre ele, o autor instaura em seu procedimento um ponto de tenso, pois reflexo e reflexo so dois crculos que precisam se interpenetrar de forma a produzir uma unidade significativa, unidade essa que se constituir tambm como obra.

    uma obra est formada quando est, em toda parte, nitidamente delimitada, mas , dentro dos limites, ilimitada e inesgotvel; quando de todo fiel, em toda parte igual a si mesma e, no entanto, sublime acima de si mesma. Nela, o mais elevado e ltimo , como na educao de um jovem ingls, le grand tour. Tem de ter percorrido todos os trs ou quatro cantos csmicos da humanidade, no para aplainar seus extremos, mas para ampliar a viso e dar mais liberdade e pluralidade interna e, com isso, mais autonomia e auto-satisfao a seu esprito. (SCHLEGEL, 1997, p. 100)

    Nesse sentido, a produo crtica tambm um espao de elaborao de idias estticas, de teorias em devir; assim sendo, possvel pensar que as fronteiras que deveriam existir entre crtica e obra se estreitam ou mesmo desaparecem, pois ambas se confundem por sua dimenso de incompletude.

    Referncias Bibliogrficas:

    BAUDELAIRE, Charles. Salon de 1845 . Em : BAUDELAIRE, Charles. Critique dart suivi de critique musicale. Paris : Gallimard, 1976. BENJAMIN, Walter. O conceito de crtica de arte no romantismo alemo. Traduo de Mrcio Seligmann-Silva. So Paulo: Iluminuras, s/d. SCHLEGEL, Friedrich. Fragmento n 297 da revista Athenum. Em: SCHLEGEL, Friedrich. O dialeto dos fragmentos. Traduo de Mrcio Suzuki. So Paulo: Iluminuras, 1997. JIMENEZ, Marc. La question de la couleur. Em: JIMENEZ, Marc. Quest-ce que lesthtique ?. Paris : Gallimard, 1997. BERTHET, Dominique. Critique et modernit. Em: Recherches en esthtique. Revue du C.E.R.E.A.P. Fort de France : CEREAP, 1995. N 1/Juin 1995. FERRAN, Andr. Le Salon de 1845 de Charles Baudelaire. Toulouse : Aux ditions de lArcher, 1933. SCHILLER, Friedrich. A educao esttica do homem. Numa srie de cartas. Traduo de Robert Schwarz e Mrcio Suzuki. So Paulo: Iluminuras, 2002.

    [i] Referncia ao livro de mesmo nome de FERRAN, Andr. Le Salon de 1845 de Charles Baudelaire. Toulouse : Aux

    ditions de lArcher, 1933. [ii]Cf. SCHILLER, Friedrich. A educao esttica do homem. Numa srie de cartas. Traduo de Robert Schwarz e Mrcio Suzuki. So Paulo: Iluminuras, 2002. [iii]

    Cf.: Salon de 1845: 12: Cest avec le mme mpris de toute opposition et de toutes criailleries systmatiques, opposition et criailleries devenues banales et communes (...) que nous repoussons loin de cette brochure toute discussion, et sur les jurys en gnral, et sur le jury de peinture en particulier (...) [iv]Cf.: La question de la couleur. Em: JIMENEZ, Marc. Quest-ce que lesthtique ?. Paris : Gallimard, 1997.

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