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FACULDADE SÃO CAMILO ENFERMAGEM Angélica Nizama Sandra Regina William Couto Síndrome de Guillain-Barré: Um estudo de caso

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Page 1: Síndrome de Guillain-Barré completo

FACULDADE SÃO CAMILO

ENFERMAGEM

Angélica Nizama

Sandra Regina

William Couto

Síndrome de Guillain-Barré:

Um estudo de caso

Salvador

2010

Page 2: Síndrome de Guillain-Barré completo

Angélica Nizama

Sandra Regina

William Couto

Síndrome de Guillain-Barré:

Um estudo de caso

Trabalho Acadêmico apresentado à disciplina

Saúde da Criança do Curso de Enfermagem da

Faculdade São Camilo – Bahia

Orientadora: Profª. Simone Baptista

Salvador

2010

Page 3: Síndrome de Guillain-Barré completo

LISTA DE SIGLAS

ADH – Hormônio Anti-Diurético

BRNF – Bulhas Rítmicas Normofonéticas

DIH – Dia de Internação Hospitalar

DVA – Droga Vasoativa

EMG – Eletromielograma

GNA – Glomerulonefrite Aguda

HGC – Hospital Geral de Camaçari

HGESF – Hospital Geral Ernesto Simões Filho

IGG – Infecção Secundária ou Passada da Dengue

IRpA – Insuficiência Respiratória Aguda

IV – Intravenoso

IVIG – Imunoglobulina Humana Intravenosa

LCR – Líquido Céfalo-Raquidiano

MID – Membro Inferior Direito

MMII – Membros Inferiores

MV – Murmúrio Vesicular

NANDA – North American Nursing Diagnosis Association

NBZ – Nebulização

PCR – Parada Cárdio-Respiratória

PED – Pediátrica

SAE – Sistematização da Assistência de Enfermagem

SIC – Segundo Informações Colhidas

SNE – Sonda Naso-Enteral

SO2 – Saturação de Oxigênio

SSVV – Sinais Vitais

TVP – Trombose Venosa Profunda

USG – Ultrassonografia

UTI – Unidade de Terapia Intensiva

VCN – Velocidade de Condução Nervosa

VNI – Ventilação Não-Invasiva

VO – Via Oral

Page 4: Síndrome de Guillain-Barré completo

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................4

2 REVISÃO DE LITERATURA.............................................................................................4

2.1 AMIGDALITE.....................................................................................................................4

2.2 GLOMERULONEFRITE AGUDA PROGRESSIVA.........................................................5

2.3 INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA....................................................................5

2.4 TROMBOSE VENOSA PROFUNDA.................................................................................5

2.5 ANASARCA........................................................................................................................6

2.6 HIPERTENSÃO...................................................................................................................6

2.7 SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ................................................................................6

3 SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM.....................................7

3.1 HISTÓRICO E EXAME FÍSICO.........................................................................................7

3.2 SINAIS E SINTOMAS......................................................................................................10

3.3 DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM...........................................................................10

3.4 PRESCRIÇÃO DE ENFERMAGEM................................................................................10

3.5 EVOLUÇÃO......................................................................................................................12

3.5.1 Medicamentos em Uso...................................................................................................13

3.6 PLANEJAMENTO DE ALTA..........................................................................................13

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................14

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................15

Page 5: Síndrome de Guillain-Barré completo

1 INTRODUÇÃO

A Síndrome de Guillain-Barré (SGB) tem como principal comprometimento a

fraqueza muscular ascendente e progressiva que resulta na incapacidade de desenvolver as

habilidades funcionais, fazendo-se necessária a administração de tratamento e cuidados

intensivos de uma equipe multidisciplinar. O estudo de caso escolhido visa aprofundar os

estudos, analisar e compreender a patologia para desenvolver as capacidades e habilidades

necessárias para implementar a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) e

elaborar um plano de cuidados de enfermagem que levem à rápida e plena restauração dos

pacientes portadores da SGB.

O estudo relata o histórico da doença de um paciente de 02 anos de idade que

apresentou inicialmente um quadro de amigdalite, seguido de Glomerulonefrite Aguda (GNA)

Progressiva que culminou na SGB. O paciente foi atendido inicialmente no Hospital Geral de

Camaçari (HGC) e posteriormente transferido para o Hospital Geral Ernesto Simões Filho

(HGESF) localizado no bairro do Pau Miúdo na cidade de Salvador onde foi acompanhado

durante aproximadamente 30 dias, desde a admissão até o dia em que o paciente recebeu alta

hospitalar.

2 REVISÃO DE LITERATURA

A fim de definir as categorias necessárias ao aprofundamento e discussão do estudo de

caso, faz-se necessária uma breve revisão de literatura acerca das patologias que acometeram

o paciente durante o período em que esteve hospitalizado, tais como: amigdalite, GNA

progressiva, Insuficiência Respiratória Aguda (IRpA), Trombose Venosa Profunda (TVP),

anasarca, hipertensão e a SGB, destacando as características consideradas mais relevantes

para o caso e dando maior ênfase à última porque constitui o tema do trabalho.

2.1 AMIGDALITE

A amigdalite é uma doença que atinge com mais freqüência crianças e jovens em

idade escolar (2 a 15 anos). Trata-se de uma inflamação das amígdalas que se manifesta com

dor de garganta, dor para engolir e febre de intensidade variável.

A amigdalite aguda freqüentemente tem etiologia viral e na maioria das vezes ocorre

Page 6: Síndrome de Guillain-Barré completo

como parte de um resfriado e desaparece com o tempo. A amigdalite bacteriana, por sua vez,

é usualmente causada pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A, sendo a forma mais

grave da doença com tratamento à base de antibióticos.

2.2 GLOMERULONEFRITE AGUDA PROGRESSIVA

A glomerulonefrite é uma inflamação dos capilares glomerulares. A GNA acomete

com freqüência crianças com mais de dois anos de idade, porém pode ocorrer em quase todas

as idades.

Segundo Brunner & Suddarth, na maioria dos casos de GNA, uma infecção da faringe

por estreptococo beta-hemolítico do grupo A precede o início da glomerulonefrite em 2 a 3

semanas. Manifesta-se com hematúria (sangue na urina) micro ou macroscópica, oligúria e

insuficiência renal aguda, levando a edema e hipertensão arterial que resultam da retenção de

sódio e água pela diminuição súbita da taxa de filtração glomerular. A glomerulonefrite

rapidamente progressiva possui sinais e sintomas similares àqueles da GNA, mas a evolução

da doença é mais grave e rápida.

2.3 INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA

A insuficiência respiratória é uma deterioração súbita e com risco de vida da função da

troca gasosa do pulmão.

A IRpA é caracterizada pelos processos de hipoxemia (queda na pressão de oxigênio

arterial) e hipercapnia (elevação na pressão de dióxido de carbono). Dentre as causas mais

comuns da IRpA está o grupo de doenças ou distúrbios dos nervos, onde incluímos a

Síndrome de Guillain-Barré.

Os sinais precoces estão associados à oxigenação prejudicada e podem englobar a

inquietação, fadiga, cefaléia, dispnéia, fome de ar, taquicardia e pressão arterial aumentada.

2.4 TROMBOSE VENOSA PROFUNDA

A TVP é uma doença freqüente e grave, que ocorre principalmente como

conseqüência de outras afecções cirúrgicas ou clinicas, tendo como complicações mais graves

a embolia pulmonar em sua fase aguda e a síndrome pós-trombótica tardiamente.

A origem da TVP pode ser analisada com base na tríade de Virchow que descreve a

Page 7: Síndrome de Guillain-Barré completo

estase venosa, lesão endotelial (por exemplo, cateteres) e a hipercoagulabilidade como fatores

necessários, em conjunto ou isolados, para a ocorrência da trombose.

2.5 ANASARCA

É a acumulação de um líquido seroso sob a pele, causando inchaço generalizado.

2.6 HIPERTENSÃO

É uma das doenças com maior prevalência no mundo moderno e é caracterizada pelo

aumento da pressão arterial (maior que 140/90 mmHg).

2.7 SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ

A SGB é uma neuropatia periférica progressiva auto-imune, de etiologia

desconhecida, que envolve os nervos periféricos e cranianos, afetando os músculos do

organismo humano. Geralmente ocorre após uma doença infecciosa ou algum procedimento

cirúrgico. O principal aspecto patológico da SGB é a desmielinização segmentar rápida e

aguda dos nervos periféricos e craniais, o que impede a transmissão normal dos impulsos

elétricos, produzindo fraqueza ascendente com incapacidade de executar movimentos

voluntários (discinesia), hiporreflexia e dormência (parestesias).

A síndrome de Guillain-Barré é o resultado da agressão imune mediada por célula

sobre as proteínas de mielina do nervo periférico, cuja causa ainda não está totalmente

esclarecida, porém há fortes evidências de que a mesma esteja correlacionada à existência de

um processo infeccioso prévio, seja ele de ordem viral ou bacteriana. A teoria mais aceita é

que um organismo infeccioso contém um aminoácido que mimetiza a mielina do nervo

periférico. O sistema imune não consegue diferenciar entre as duas proteínas e ataca e destrói

a mielina do nervo periférico. Com a crise auto-imune, há um influxo de macrófagos e outros

agentes imunomediados que agridem a mielina, provocam inflamação e destruição e deixam o

axônio incapaz de suportar a condução nervosa.

A síndrome de Guillain-Barré clássica começa com fraqueza muscular e reflexos

diminuídos dos membros inferiores, sintomas estes que podem evoluir e resultar em um

quadro de quadriplegia. A desmielinização dos nervos periféricos resulta em insuficiência

respiratória neuromuscular, acrescida das parestesias das mãos e dos pés.

Page 8: Síndrome de Guillain-Barré completo

A desmielinização dos nervos cranianos pode gerar diversas manifestações clínicas

tais como: cegueira, incapacidade para deglutir ou depurar secreções, disfunção autonômica.

Em alguns casos ainda pode ocorrer taquicardia, bradicardia, hipertensão ou hipotensão

ortostática. Os sintomas da SGB não afetam a função cognitiva nem o nível de consciência.

As complicações potenciais que podem desenvolver-se incluem as seguintes:

insuficiência respiratória e disfunção autonômica.

Segundo Brunner e Studarth, a síndrome de Guillain-Barré é considerada uma

emergência médica, sendo o paciente tratado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A

avaliação cuidadosa das alterações na fraqueza motora e função respiratória alerta o médico

para as necessidades físicas e respiratórias do paciente.

A terapia respiratória ou a ventilação mecânica podem ser necessárias para suportar a

função pulmonar e a oxigenação adequada, embora ocorra variação no período de uso. Outras

intervenções são direcionadas para a prevenção das complicações da imobilidade, visando

evitar a trombose e a embolia pulmonar.

A plasmaférese e a Imunoglobulina Humana Intravenosa (IVIG) são empregadas para

afetar diretamente o nível de anticorpo para a mielina do nervo periférico. Estudos indicam

que ambas as técnicas são igualmente efetivas no tratamento da SGB (Bella & Chad, 1999;

Winer, 2002).

3 SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM

3.1 HISTÓRICO E EXAME FÍSICO

C. S. P., 2 anos de idade, sexo masculino, natural de Pojuca – BA, acompanhado da

genitora, procurou a emergência do Hospital Geral de Camaçari (HGC) em junho de 2010

com quadro de GNA progressiva secundária à amigdalite. Após um mês, procura novamente a

emergência do HGC com história de diminuição da força muscular ascendente e progressiva,

iniciada nos membros inferiores (MMII). Dois dias depois, segue para UTI PED do Hospital

Geral Ernesto Simões Filho (HGESF), localizado no bairro Pau Miúdo na cidade de Salvador,

por conta de insuficiência respiratória no dia 06/07.

A avaliação contínua para a progressão da doença é crítica. O paciente é monitorado

para as condições com risco de vida (insuficiência respiratória, arritmias cardíacas, tromboses

venosas profundas), de modo que possam ser iniciadas as intervenções apropriadas. Por causa

da ameaça para o paciente nessa doença súbita e com risco de vida potencial, a enfermeira

Page 9: Síndrome de Guillain-Barré completo

deve avaliar a capacidade do paciente e da família para o enfrentamento e uso das estratégias

de enfrentamento apropriadas por parte deles (BRUNNER & SUDDARTH, 2005).

O enfermeiro deve focalizar as prioridades emergenciais do paciente que são a

permeabilidade das vias aéreas, a respiração, a circulação e os sinais vitais. A equipe de saúde

avalia a necessidade de dispositivos, tais como monitoração cardíaca e ventilação mecânica,

além de analisar a ingesta e excreta do paciente. O enfermeiro deve preencher a ficha de

admissão da unidade obtendo a história de saúde do paciente e informações do agravo à

saúde. Deve ser feita uma avaliação do estado psicológico, níveis de dor e comportamento,

além das potenciais complicações do paciente como a insuficiência respiratória.

O exame físico foi realizado em 09/09 (66º dia de internação hospitalar (DIH)) e o

paciente apresentou as seguintes características: lúcido, ativo, verbalizando com discurso

coerente, colaborativo, sorridente, eupnéico, afebril, normotenso, normocárdico, reflexos

presentes (tosse, bocejo, espirro e piscada de olhos), cabeça sem anormalidades e sem

sujidade, mucosas oculares normocrômicas, pupilas isocóricas e fotorreagentes, escleróticas

anictéricas, acuidade auditiva preservada, mucosa oral úmida, íntegra com presença de dentes

de leite incompletos, narinas íntegras sem desvio de septo, gânglios em cervical palpáveis

indolores, tórax tipo escavado, a ausculta pulmonar com murmúrio vesicular diminuído em

ápices, com roncos difusos em ápices, a ausculta cardíaca BRNF em 2t sem sopros, abdômen

globoso compatível com a idade, flácido e indolor à palpação e ausculta RHA (+),

extremidades perfundidas, acianótico, sem edemas.

Aparelho geniturinário sem alterações (SIC) genitora, diminuição da força motora em

MMII, eliminações presentes (SIC) genitora, apresentando tosse produtiva com secreção

amarela e fluida (SIC) genitora, em uso de curativo oclusivo em região traqueal, limpo e seco

externamente, porém soltando fixação, e fralda descartável.

Aferido SSVV: TA = 110x60 mmHg, T = 36,7ºC, P = 102 bat/min, R = 23 inc/min.

Realizado curativo em traqueostomia que se encontra em processo de fechamento de

forma secundária sem secreção. Procedimento realizado com êxito e sem intercorrências.

Para melhores resultados acerca da patologia, o diagnóstico deve ser feito através de

um exame neuromuscular realizado por um profissional especializado, em que será observada

a função tanto dos nervos quanto dos músculos do corpo. O exame neuromuscular evidencia

disfunção muscular (motora) e pode também evidenciar a disfunção das funções involuntárias

do corpo (autonômica).

Existe um teste chamado Velocidade de Condução Nervosa (VCN), que mostra se

existe desmielinização. O nervo é estimulado, normalmente por meio de eletrodos de

Page 10: Síndrome de Guillain-Barré completo

superfície que são colocados na pele sobre o nervo, em vários locais. Um eletrodo estimula o

nervo com um impulso elétrico muito leve. A atividade elétrica resultante é gravada pelos

outros eletrodos. A distância entre os eletrodos e o tempo que os impulsos elétricos levam

para ir de um eletrodo ao outro são utilizados para calcular a velocidade de condução do

nervo. Normalmente se faz uma eletromiografia concomitante ao VCN. Para realização do

exame é necessário que o paciente esteja com a temperatura corporal normal. Não há

desconforto: o estímulo elétrico é tão pequeno que geralmente não é percebido pela pessoa.

Existe outro teste, chamado eletromielograma (EMG), que mostra a atividade dos

nervos e músculos. Este exame auxilia o profissional a decidir se as alterações estão sendo

provocadas pela doença de Guillain-Barré, ou por outra patologia. O EMG é utilizado com

mais freqüência quando as pessoas apresentam sintomas de fraqueza e quando se evidencia a

falta de estimulação nervosa. Introduz-se uma agulha com um eletrodo através da pele até o

músculo. A atividade elétrica detectada pelo eletrodo é exibida em um osciloscópio. Pode ser

necessário colocar vários eletrodos em diferentes locais para se obter uma avaliação precisa.

Após a colocação do(s) eletrodo(s), poderá ser solicitado que se contraia o músculo (dobrando

o braço, por exemplo). A presença, tamanho e formato da forma de onda produzida no

osciloscópio fornecem informações sobre a habilidade que o músculo possui de responder ao

estímulo nervoso. Pode haver um pouco de desconforto durante a colocação dos eletrodos

(semelhante a uma injeção intramuscular). Após o exame, o músculo analisado pode ficar

sensível ou contundido por alguns dias.

O exame do Líquido Céfalo-Raquidiano (LCR) pode estar anormal, mostrando

aumento de proteínas sem aumentar a contagem de glóbulos brancos. O exame é geralmente

realizado em uma amostra de LCR obtida por punção lombar. O líquido cefalorraquidiano é

analisado em um laboratório. É necessário assinar um termo de consentimento e estar

preparado para permanecer no hospital, em decúbito horizontal, por 6 a 8 horas. A posição

durante a coleta pode ser desconfortável, mas é fundamental que a pessoa se mantenha

encurvada para evitar que a agulha se mova e lesione a medula espinal. A assepsia da pele

será sentida como algo frio e úmido e a anestesia local, logo no início, como uma picada ou

uma queimação. Quando a agulha de coleta for inserida, haverá uma sensação de pressão e,

quando ela atravessar as meninges, causará uma dor fugaz que durará apenas alguns

segundos. De modo geral, o desconforto é mínimo ou moderado. O procedimento geralmente

dura 30 minutos, mas poderá ser mais prolongado. A medida da pressão e a coleta do líquido

espinal dura apenas poucos minutos.

Page 11: Síndrome de Guillain-Barré completo

3.2 SINAIS E SINTOMAS

A época em que foi realizado o exame físico foi relativamente próxima a data em que

o paciente recebeu alta hospitalar, mas quando estava mais debilitado em função da síndrome

o paciente apresentava fraqueza simétrica, reflexos diminuídos e progressão ascendente da

fraqueza motora. Os níveis elevados de proteína foram detectados na avaliação do LCR, sem

aumento nas outras células.

3.3 DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM

Com base nos dados do histórico e guiado pelo NANDA, os principais diagnósticos de

enfermagem do paciente podem incluir os seguintes:

Padrão respiratório ineficaz e troca gasosa prejudicada relacionada com

fraqueza/paralisia dos músculos respiratórios e acometimento rapidamente

progressivo e insuficiência respiratória eminente.

Mobilidade física prejudicada relacionada com a paralisia.

Nutrição desequilibrada, menor que as exigências corporais, relacionada com a

incapacidade de deglutir, ligada à disfunção de nervo craniano.

Comunicação verbal prejudicada relacionada com a disfunção dos nervos

cranianos.

Medo relacionado com a perda do controle e paralisia.

Dor relacionada à patologia.

Ansiedade decorrente das dificuldades de comunicação e condição física em

deterioração.

Volume de líquidos deficientes.

3.4 PRESCRIÇÃO DE ENFERMAGEM

A tabela abaixo mostra um plano de cuidado relativo ao histórico de um paciente

acometido por SGB, levando em consideração suas queixas e complicações, sejam elas físicas

ou psicológicas.

Problemas Cuidados de Enfermagem

Insuficiência respiratória Espirometria de incentivo e fisioterapia torácica;

Page 12: Síndrome de Guillain-Barré completo

Verificar as alterações na capacidade vital e força inspiratória

negativa;

Manter o paciente e a família informados quanto à necessidade

potencial de ventilação mecânica;

Aspiração para manter as vias aéreas limpas;

Tentar identificar sinais de disfunção autônoma.

Paralisia dos músculos

Apoiar os membros paralisados nas posições funcionais;

Realizar exercícios de amplitude de movimentos passivos pelo

menos duas vezes ao dia;

Tentar diminuir o risco de TVP através de exercícios de

amplitude de movimento, mudança de posicionamento,

anticoagulação e o uso de botas ou meias de compressão;

Acolchoamento para cotovelos e tornozelos a fim de reduzir o

risco de úlceras de decúbito;

Nutrição inadequada

Administração de líquidos IV e nutrição parenteral;

Monitorar os ruídos intestinais (indicando fome);

No caso de dificuldade de deglutição pode-se inserir um tubo de

gastrostomia.

Comunicação prejudicada Estabelecer meios de comunicação com cartões de figuras ou um

sistema de piscar de olhos.

Inquietação

Instruir familiares sobre o manuseio dos aparelhos de

monitoração para que sintam-se à vontade para participar do

cuidado físico;

Fornecer explicação simples e franca ao paciente e a família sobre

a SGB e o tratamento que foi realizado;

Ensinar exercícios de relaxamento e técnicas de distração para

que os pacientes não se sintam isolados;

Encorajar a visitação;

Providenciar tratamento rápido e confiável.

Dificuldade para urinar Realizar balanço hídrico rigoroso;

Implementar sonda vesical de demora;

Administrar líquidos com segurança, conforme prescrição

médica;

Page 13: Síndrome de Guillain-Barré completo

Atentar para a administração de medicamentos e seus efeitos;

Notificar ao médico sobre o débito urinário diminuído;

Compreender e aceitar as ansiedades básicas do paciente

agudamente traumatizado.

3.5 EVOLUÇÃO

O paciente foi recebido na UTI PED do HGESF em 06/07 hemodinamicamente

estável sem droga vasoativa (DVA). Cursando com desconforto respiratório moderado,

mantendo boa saturação de oxigênio (SO2) com uso de cateter de O2.

Quando ainda estava no HGC através da avaliação do líquido céfalo-raquidiano (LCR)

foi evidenciado o aumento isolado de proteínas. Foi providenciado o uso imediato de

imunoglobulina intravenosa (400 mg/Kg/dia) por 5 dias para tratar da suspeita da SGB.

O paciente foi mantido inicialmente em ventilação não-invasiva (VNI) evoluindo,

porém com falência respiratória sendo intubado em 07/07. Foi também iniciado o uso de

antibióticos. No dia 24/07 verificou-se a presença de trombose venosa profunda (TVP) na

veia ilíaca externa, além de anasarca e hipertensão. Já no dia 26/07 foi realizada a

ultrassonografia (USG) sem alterações e os testes de anticorpo anti-herpes 1 e 2 e de infecção

secundária (IGG) deram positivo. Houve 02 tentativas de extubação, porém sem sucesso,

sendo traqueostomizado em 30/07 com passagem de cânula de 4.5 mm, sendo rapidamente

retirada depois de estar com ventilação mecânica. Durante tal período foi mantida dieta

enteral e no dia 04/08 foi suspenso o uso de antibióticos e o paciente cursava afebril.

Desde o dia 17/07, o paciente cursou com febre durante 05 dias. Com a descoberta da

presença de Enterobacter amnigenus. Foi também retirado o cateter central em região

inguinal direita e encaminhado para cultura. Foi detectada a presença de TVP na veia ilíaca

(próxima à região inguinal) e demais veias apresentaram ausência de TVP (duplex scan

venoso profundo do membro inferior direito (MID)). Exames realizados no dia 22/08

mostraram ausência de crescimento bacteriano.

A sonda naso-enteral (SNE) foi retirada no dia 23/08 e no dia 26/08 foi realizada

consulta com angiologista onde dignosticou-se a TVP. Foi evidenciado edema em MMII e

hipertensão. A USG das vias urinárias foi realizada no dia 26/08 e não mostrou nenhuma

alteração.

Devido ao uso de anticoagulantes orais, o tempo de protrombina estava alterado

fazendo-se necessário o cálculo do RNI que no dia 29/08 estava em 1,84 e em 07/09 em 2,1,

Page 14: Síndrome de Guillain-Barré completo

valores considerados de alto risco e que indicam que deve ser realizado tratamento de

trombose venosa.

Em 09/09, o menor na fase toddler, encontrava-se com diagnóstico de Síndrome de

Guillain-Barré, GNA progressiva, IRpA, anasarca e hipertensão. Às 10h a traqueostomia foi

retirada. Ao exame físico:

No dia 11/09 foi realizada avaliação com ortopedista para tornozelo com edema

discreto (entorse do 1º grau).

Em 13/09 o hemograma apresentou-se normal.

No dia 14/09 o paciente recebeu alta hospitalar.

3.5.1 Medicamentos em Uso

Durante o período em que esteve internado na UTI PED do HGESF o paciente teve

várias complicações e com isso foi necessária a administração de vários medicamentos.

Foram os seguintes:

Diazepam 10mg, 1comp diluído em 5ml e oferecer 4ml(8mg)vo de 8/8h

Marevan 2,5mg VO 1x ao dia

Clexane 20mg SC 12/12h

Ranitidina 1mg/15ml- 2ml VO 12/12h

Prednisolana 1mg/ml- 5ml VO 12/12h

Luftal 10 gotas VO 8/8h

Dipirona 15 gotas VO 6/6h

Óxido de zinco+dexametasona pomada em genitália a cada troca de fralda

NBZ 5ml de S.F 0,9%+5 gotas de Berotec (em virtude de broncoespamo)

No dia 08/09 foi suspenso o uso de clexane.

3.6 PLANEJAMENTO DE ALTA

Devido ao alto custo das internações para as instituições de saúde, o período de

hospitalização do paciente tem sido abreviado, mas para que a continuidade do cuidado seja

realizada de forma efetiva na casa do paciente é necessário que a alta hospitalar seja planejada

e sistematizada desde a data de admissão do paciente no hospital.

Caso este processo seja efetuado apenas no momento da saída do paciente, devido ao

Page 15: Síndrome de Guillain-Barré completo

volume de informações, o paciente acaba não compreendendo corretamente e propicia a

ocorrência de erros no cuidado domiciliar.

Portanto, durante o tratamento é importante que a equipe de enfermagem e os outros

profissionais que atendem o paciente expliquem a importância de fazer o uso correto das

medicações, de continuar a fisioterapia e de constantemente fazer consultas para verificar sua

evolução.

O paciente em questão saiu de alta hospitalar consciente, verbalizado, deambulando,

porém precisando de ajuda e acompanhado de genitora. Entre resultados de exames e receitas,

foram novamente feitas orientações quanto ao uso de medicações, fisioterapia respiratória,

fisioterapia motora e acompanhamento com neuropediatra. Foi realizado curativo em sítio de

inserção de traqueostomia e a mãe foi orientada a continuar fazendo o curativo no posto.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo de caso nos possibilitou uma maior compreensão acerca da Síndrome de

Guillain-Barré que merece esta atenção por ser um caso de emergência médica.

Foi verificado que juntamente com a doença existem muitas complicações e que por

isso, faz-se necessária a presença de uma equipe multidisciplinar composta por médicos,

enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas, entre outros, para que todos

participem do processo de cuidados do paciente, culminando assim numa recuperação rápida,

objetivando minimizar e diminuir o tempo de permanência em uma UTI.

Desde a admissão hospitalar este paciente merece atenção, mesmo que o diagnóstico

seja apenas uma suspeita. Cabe ao profissional de enfermagem acompanhar a evolução desses

pacientes através do monitoramento de todos os seus sinais vitais, pois trata-se de uma doença

rapidamente progressiva.

Page 16: Síndrome de Guillain-Barré completo

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE. PORTARIA Nº 496, DE 11 DE SETEMBRO DE 2007. PROTOCOLO CLÍNICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS –SÍNDROME DE GUILLAN-BARRÉ.

BRUNNER e SUDDARTH. Tratado de enfermagem médico cirúrgica. Rio Janeiro: Guanabara Koogan, v. 1-4, 2005.

CECATTO, Suzana B. et al. Síndrome de Guillain-Barré como complicação de amigdalite

aguda. Revista Brasileira de Otorrinolaringolista. São Paulo, vol. 69, n. 4, jul/ago 2003.

Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-

72992003000400020&script=sci_arttext>. Acesso em: 20 set 2010.

Diagnósticos de NANDA: Definições e classificações 2005-2006 / North American Nursing Diagnosis Association ; tradução Cristina Correa. – Porto Alegre: Artmed; 2006.

Goldman B. Tratado de Medicina Interna, 21 ed, v 2, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2001.