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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
HAVAIANAS: O RENASCIMENTO DE UMA MARCA
Por: Luiza Margem de Souza Ferreira
Orientador
Prof. Carlos Cereja
Rio de Janeiro
2010
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
HAVAIANAS: O RENASCIMENTO DE UMA MARCA
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Marketing.
Por: . Luiza Margem de Souza Ferreira
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a meus pais,
que sempre contribuíram para que
minha educação fosse sempre a
melhor possível, aos meus amigos,
presentes nos bons e maus momentos,
e à minha sócia, Beatriz, que me deu
força e cobriu meus horários na
empresa para que eu pudesse
participar das aulas da pós-graduação.
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RESUMO
Este trabalho aborda a relação do reposicionamento de imagem da
marca de sandálias de borracha Havaianas, da Alpargatas S.A., feito em 1994,
com o aumento nas vendas do produto a partir desta data. Fica evidenciado
que, após a criação de campanhas publicitárias que provocavam a
identificação do consumidor com o produto, o número de pares vendidos
aumentou significativamente, o que motivou a empresa a desenvolver mais
linhas e a conquistar assim, um público ainda maior. Também foi observado
que, o mix de marketing utilizado foi responsável pelo lançamento e
consolidação da imagem do produto no mercado internacional, onde faz
sucesso em grandes lojas e entre celebridades renomadas. Dentro do contexto
econômico atual, concluiu-se que as Havaianas são as sandálias de borracha
mais vendidas e seus modelos exclusivos, os mais cobiçados do mundo.
Palavras-chave: Havaianas. Reposicionamento. Imagem. Marketing.
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METODOLOGIA
No que se refere à metodologia, realizou-se uma pesquisa bibliográfica,
recorrendo-se a livros, artigos jornalísticos, publicações e sites via internet para
a busca de informações pertinentes ao tema do trabalho, ou seja, sobre o
reposicionamento de imagem das Havaianas e a composição do mix de
marketing utilizado para reestruturá-la.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I – Havaianas: desde o início 10
CAPÍTULO II – As campanhas e o retorno do público 18
CAPÍTULO III – O mercado internacional 26
CAPÍTULO IV – Marketing atual e criativo 32
CONCLUSÃO 38
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 40
WEBGRAFIA 42
ANEXOS 43
ÍNDICE 54
FOLHA DE AVALIAÇÃO 56
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INTRODUÇÃO
Atualmente, com mais de 100 sublinhas, elas são encontradas nas
melhores lojas de departamento do mundo e apresentam grande procura do
público a cada novo design lançado. De acordo com o jornal norte-americano
Wall Street Journal e a revista inglesa The Independent Review, são
equivalentes ao Fusca e ao Boeing, produtos que reinventaram suas
categorias. São consideradas um ícone da moda e já foram vistas em pés de
celebridades como a atriz Nicole Kidman, a princesa Stéphanie de Mônaco e a
top model Gisele Bundchen.
Durante quase três décadas, elas foram unanimidade em sua
categoria, as sandálias de borracha. Com uma estratégia de marketing simples
e sem concorrentes significativos, se mantiveram soberanas ao longo de anos
no mercado nacional. Somente no final dos anos 80, com o aparecimento de
outras marcas, as “legítimas” Havaianas tiveram sua hegemonia ameaçada.
Após uma grande queda no faturamento do produto, a Alpargatas S.A.,
empresa que até hoje a fabrica, resolveu investir na reestruturação da marca,
implementando um mix de marketing que, atuando de maneira interligada em
diversas frentes, reposicionaria o produto no mercado nacional.
A mudança na política de propaganda das Havaianas, resultado de uma
série de ações diferentes, com investimentos em TV, jornais e revistas, internet
e eventos com a presença da marca, acarretou o lançamento de novas linhas,
e, consequentemente, o aumento da produção e um maior investimento na
marca. Neste estudo, percebeu-se que o reposicionamento de imagem das
Havaianas foi o grande responsável pelo aumento de suas vendas, por ter
provocado uma identificação do público-alvo com seu produto através das
campanhas publicitárias desenvolvidas por sua agência, a Almap BBDO.
No trabalho apresentado a seguir, será mostrada a trajetória da
Alpargatas S.A., desde o lançamento do produto até os dias atuais,
defendendo que, após a reestruturação eficiente da marca, as Havaianas
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passaram a ocupar um espaço entre as etiquetas mais conhecidas no planeta,
e muitas vezes, entre as mais cobiçadas. O estudo verificou que a implantação
de um mix de marketing apropriado e de acordo com as campanhas
publicitárias da época, foi essencial para a reconquista do público que havia
abandonado a marca, além da conquista de uma nova parcela de
consumidores, aumentar sensivelmente o número de vendas e projetar a
marca Havaianas como um ícone da moda mundial, como acontece hoje em
dia.
O capítulo I, “Havaianas: desde o início” aborda o surgimento e
desenvolvimento da empresa Alpargatas S.A., que fabrica as sandálias até
hoje, a criação das Havaianas nos anos 60, as razões que provocaram o
declínio do produto e o plano concebido para a reestruturação da marca. No
capítulo II, “As campanhas e o retorno do público”, o projeto de
reposicionamento é exposto, detalhando as propagandas veiculadas nas mais
diversas mídias, relatando a resposta do público através do aumento de
vendas. Consolidação da marca, expansão de linhas, parcerias com outras
empresas e ações para divulgar o produto também são analisadas.
A inserção das Havaianas no mercado internacional é descrita no
capítulo III, “O mercado internacional”, citando ações como a divulgação feita
na festa do Oscar. No final da análise, expõe-se um panorama da situação
econômica atual de vendas no país, abordando a inauguração da primeira loja
oficial da marca. No capítulo IV, “Marketing atual e criativo”, são explicados os
princípios do marketing de guerrilha, que também foi utilizado pelas Havaianas,
em ações realizadas em diversos países e no Brasil, conquistando ainda mais
os que já eram fãs da marca, como também pessoas curiosas que tiveram o
interesse despertado pelas intervenções feitas pela empresa.
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CAPÍTULO I
HAVAIANAS: DESDE O INÍCIO
Para analisar o reposicionamento de marca das Havaianas,
marca pioneira e líder há décadas no cenário brasileiro de comércio de
sandálias de borracha, além de seu considerável aumento de vendas refletido
por essa mudança de estratégia de marketing, é necessário uma
contextualização da história da empresa, desde a inauguração da fábrica,
passando por todas as etapas de seu crescimento até a situação atual da
companhia.
Em 1907, recém-chegado da Argentina ao Brasil, o escocês Robert
Fraser se associou a um grupo inglês para construir a Fábrica Brasileira de
Alpargatas e Calçados, no bairro da Mooca, na capital paulista. Já no ano
seguinte, a empresa confeccionava as sapatilhas de corda e lona, nos modelos
Rodas, Lonas e Encerados, essas também batizadas alpargatas ou espadrilles,
que foram imediatamente adaptadas para o uso nas colheitas de café por não
agredirem os grãos nos terreiros de secagem.
A fábrica, que em 1909 teve seu nome modificado para São Paulo
Alpargatas Company S.A., cresceu em meio aos acontecimentos históricos
mundiais, como a Primeira Guerra Mundial, a quebra da bolsa de Nova York
em 1929 e o frenesi da borracha no Brasil. Em meio às crises financeiras,
contornou as adversidades, aumentou sua produção de tecidos mais
resistentes e, no final da Segunda Guerra Mundial, lançou o Brim Coringa,
matéria-prima para a primeira calça jeans do país, a Rodeio.
Em 1940, a firma passa a se chamar, definitivamente, São Paulo
Alpargatas S.A. Nesta época, a empresa já estava consolidada no cenário
brasileiro, com os jingles de seus produtos cantados por toda a parte e atuando
até como patrocinadora das transmissões dos jogos da Copa do Mundo de
11
1958 pela Rádio Bandeirantes. Entretanto, somente em 1962, houve o
lançamento do produto que iria mantê-la no mercado nacional até os dias de
hoje, seja calçando pessoas simples ou a mais alta celebridade internacional.
1.1 - O surgimento das Havaianas
As sandálias Havaianas, inspiradas no modelo de origem japonesa
Zori, que tem solado fino de palha de arroz ou madeira lascada e tiras de
couro, foram desenvolvidas pela Alpargatas S.A. e, a versão brasileira, toda em
borracha natural e sintética, material mais resistente e durável, tornou-se
sucesso imediato. Mesmo com a influência japonesa no design, o nome
escolhido remetia a um local paradisíaco de sol e mar, como o Havaí, que
despertava um interesse maior pelo produto em um cenário como o Brasil, um
país tropical, remetendo a férias e a relaxamento.
Criada com o foco na classe média, a aceitação do público aumentou
as vendas e, em menos de um ano, a fábrica já produzia mais de mil pares
diariamente. Isso acarretou o surgimento de cópias que inspiraram a agência
JW Thompson, que fazia o marketing da empresa na época, a criar o primeiro
slogan da marca, “Legítimas: Só Havaianas”. O primeiro “garoto-propaganda”
das sandálias foi o humorista Chico Anysio, que as apresentava com o texto
“Não deforma, não tem cheiro e não solta as tiras”. O artista permaneceu na
posição de 1967 até o final dos anos 80, mais precisamente em 1988, e sua
associação com o produto era tão forte que muitos pensavam que Chico
Anysio era dono da marca.
1.2 - O declínio do produto
Contudo, com o passar dos anos, a imensa massificação do produto no
mercado nacional provocou conseqüências negativas, chegando a marcar seus
menores níveis de rentabilidade no final dos anos 1980. A fabricação de um
modelo quase único, com apenas cinco variações na ordem das cores, não
despertava mais o interesse do público, já habituado ao design das sandálias
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existente há tantas décadas. “Foi uma marca lançada para a classe média que,
com o passar do tempo, todo mundo passou a usar e o resultado é que ela
acabou se popularizando demais”, conta Rui Porto, Diretor de Mídia e
Comunicação das Havaianas em entrevista ao Mundo do Marketing.
Após 32 anos presente no mercado sem inovar ou acrescentar
diferenciais em seu produto, em 1988, as Havaianas tiveram uma queda de
vendas de 88 milhões de pares para 65 milhões, provocada pelo impacto do
lançamento de novos produtos concorrentes, como as sandálias em PVC da
linha Rider, da Grendene, que se apresentavam com o slogan “Dê férias aos
seus pés”, em uma campanha publicitária agressiva e de grande impacto no
público jovem, que caiu no gosto do brasileiro e ganhou mercado.
Agravando ainda mais a situação, para melhorar a rentabilidade, a
empresa diminuiu drasticamente o custo do produto no mercado, tornando-o
mais acessível às classes de menor poder aquisitivo, e restringindo sua
entrada na classe média, antes maior foco de vendas da marca, que a
considerava uma marca confiável e de um produto confortável, mas pobre e
sem glamour. As Havaianas se tornavam assim, populares de uma forma
negativa, associadas a pessoas de baixo nível social e de renda menor.
1.3 – O plano de reestruturação
Observando um de seus melhores produtos “despencar” em
rentabilidade, já que as Havaianas perdiam cada vez mais espaço no gosto do
consumidor de classe média brasileiro, que optavam pelos concorrentes com
design mais moderno e competitivo, a Alpargatas S.A., também fabricante de
outras marcas como Topper, Mizuno, Rainha e Timberland, encomendou um
estudo, concluindo que era preciso adotar um novo posicionamento para a
marca, mudando sua imagem de produto ligado ao subdesenvolvimento e à
pobreza, e dessa forma, alavancando as vendas novamente.
Assim, colocou em prática a reestruturação do produto através da
elaboração de um novo mix de marketing.
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Na visão de Kotler, marketing é definido como:
“O processo de planejamento e execução desde a
consecução, apreçamento, promoção e distribuição de
ideias, mercadorias e serviços para criar trocas que
satisfaçam os objetivos individuais e organizacionais”
(1997, p. 34).
Na visão de Rocha, a propaganda, um dos itens de extrema
importância dentro do mix de marketing, mostra sua importância para a
formação da imagem de um produto para com o público:
“A propaganda pode ser definida como um conjunto de
atividades através dos quais determinadas mensagens
são transmitidas ao público-alvo, usando meio de
comunicação de massa pagos pelo anunciante, com o
propósito explícito de informar, motivar, persuadir os
membros do público-alvo a adotarem produtos, serviços
ou ideias, sob o patrocínio de determinada organização”
(1995, p. 199).
Na pesquisa, verificou-se que, além das classes D e E, de menor poder
aquisitivo e maiores compradores das sandálias na época, alguns formadores
de opinião também usavam as “legítimas”, e, pensando na influência que
poderiam exercer, a marca mudou seu foco, visando vender para classes mais
privilegiadas, e, dessa maneira, aumentar sua margem de lucro.
Em 1994, a estratégia se iniciou, com o lançamento de um novo
produto, com nova embalagem, nova campanha publicitária, além de alteração
no sistema de distribuição nos pontos de venda e nos preços das sandálias.
Ainda segundo Rui Porto, “foi fundamental que todas essas mudanças
ocorressem simultaneamente. A Alpargatas S.A. não alterou o produto e depois
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a embalagem, e meses depois criou uma nova estratégia de comunicação.
Tudo aconteceu ao mesmo tempo”.
O início da revitalização se deu com as Havaianas Top, modelo
monocromático inspirado em alguns consumidores das Havaianas Tradicionais
que viravam a sola da sandália para que ela ficasse somente de uma cor.
Houve também o aumento da espessura da sola em 30%, o que conferiu maior
conforto, e a marca “Havaianas” passou a vir gravada na tira lateral,
funcionando como uma assinatura personalizada.
Atualmente, após a reestruturação da marca, há mais de 100 modelos
diferentes de sandálias, confeccionadas em infinitas cores, pesquisadas em
sucessivos ciclos de inovação em estilos e cores, feitas com a ajuda de birôs
internacionais, mas todas sempre inspiradas na Top, a pioneira da
reformulação, respeitando os variados segmentos para atender a demanda dos
consumidores.
Entre as linhas mais populares estão: Brasil, introduzida em 1998, com a
bandeira do Brasil pesa nas tirinhas e listras das cores da bandeira em torno da
base; Baby, introduzida em 2005, para bebês, em tamanhos que vão do 17/18
ao 23/24, com feixe de elástico para prender no calcanhar; Cartunistas,
introduzida em 2005, para crianças, trazendo estampas de cartunistas
famosos; Estampadas, com estampas coloridas na base de flores e borboletas,
com variações Alamoana, Butterfly, Floral, Flowers, Hibisco e Sunny; Flash,
introduzida em 2003, com diferentes formas de tiras e estampas; High,
introduzida em 2003, modelos com saltos de até seis centímetros em diferentes
cores e estampas; Ipê, introduzida em 2006, com estampas de animais em
extinção feitas em parceria com o Instituto de Pesquisas Ecológicas, IPÊ, em
que 7% das vendas líquidas são destinadas ao instituto; Joy, introduzida em
2005, modelo feminino com salto pequeno de 3 centímetros, com flores
delicadas presas às tiras; Kids, modelos para crianças; Menina, introduzida em
2006, com modelos perfumados para meninas e estampas de corações, flores
e frutas; Menino, introduzida em 2006, com temas de esportes radicais e
aventura; Slim, introduzida em 2006, com tiras mais finas; Surf, modelos
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simples de tiras pretas com cores e estampas renovadas com desenhos de
manobras, paisagens, tribais e grafismos que refletem o espírito do surf; Trial,
introduzida em 2007, com tiras fixas e mais largas que contornam o calcanhar
garantindo estabilidade aos pés; e Wave, introduzida em 2007, com design
masculino, com tiras bicolores mais largas.
Sobre a diversificação das linhas das sandálias derivadas da Havaianas
Top, podemos observar o que foi dito por Anderson, autor da Teoria da Cauda
Longa, em entrevista a Revista Época, que explica o processo de segmentação
dentro de um nicho de produto já segmentado:
“[...] A Teoria da Cauda Longa diz que nossa cultura e
economia estão mudando do foco de um relativo pequeno
número de “hits” (produtos que vendem muito no grande
mercado) no topo da curva de demanda, para um grande
número de nichos na cauda. Como o custo de produção e
distribuição caiu, especialmente nas transações online,
agora é menos necessário massificar produtos em um
único formato e tamanho para os consumidores. Em uma
era sem problemas de espaço nas prateleiras e sem
gargalos de distribuição, produtos e serviços
segmentados podem ser economicamente tão atrativos
quanto produtos de massa”.
A embalagem do produto também sofreu alteração, abandonando o
antigo saco plástico amarrado com barbante pelo cartucho retangular, sempre
colorido. Nos pontos de venda, a mudança foi significativa; as Havaianas
passaram a ser distribuídas em lojas especializadas em calçados e grandes
redes de varejo, ao invés de continuar com o método antigo, em que eram
comercializadas por atacadistas. “Sabíamos que a questão do PDV era muito
importante. Tivemos a coragem de dizer para os grandes atacadistas que esse
novo produto não era para eles ainda. Talvez um dia fosse como hoje é. Isso
foi acontecendo aos poucos”, segundo Rui Porto.
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Outra questão foi a introdução de displays personalizados, projetados
para expor o produto nos pontos de venda de forma destacada, por cores e
tamanhos. Com a marca renovada e despertando o interesse e o desejo do
público consumidor, o preço das sandálias não poderia continuar o mesmo de
antes, já que o objetivo era aumentar a percepção de valor do cliente. A
elevação no custo foi proporcional a da qualidade do produto, e fundamental
para alavancar as vendas. Hoje, o preço médio das Havaianas varia de R$
5,00 a R$ 35,00, dependendo do modelo.
Com produto, embalagem, pontos de venda e preço reformulados, as
Havaianas necessitavam de uma nova campanha publicitária para divulgar o
produto. Surge então a ideia de um novo discurso mercadológico, que
ressaltasse o desejo e estimulasse a compra, tornando as Havaianas Top um
objeto de consumo, e não apenas um par de sandálias. O produto deveria
despertar no consumidor a vontade de possuí-lo, e não apenas pela sua função
principal como calçado, mas também pelos benefícios agregados à marca e,
consequentemente, a quem a estivesse usando.
De acordo com Herrera, do site ABC do Marketing, valor agregado é:
“[...] a percepção que o cliente (consumidor) tem de um
bem (produto ou serviço) que atenda seu conjunto de
necessidades considerando o benefício X preço em
comparação com um bem disponível na concorrência. É
atributo de qualidade (não tangível) somado, adicionado,
enfim agregado a um bem (produto ou serviço), um
diferencial que na percepção do cliente justifica sua
escolha entre demais bens substitutos ofertados no
mercado”.
Para criar tal conceito, a agência Almap BBDO elaborou propagandas
eletrônicas que focavam mais em quem usava as sandálias do que nas
características delas como produto. Promovendo uma glamourização das
sandálias, celebridades de diversas áreas que usavam as Havaianas em seu
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dia-a-dia foram convidadas para gravar depoimentos falando sobre o produto,
mas sempre com um toque de humor, irreverência ou sensualidade. Nomes
como Luciano Huck, Reinaldo Gianechini, Malu Mader, Giovana Antonelli e
Murilo Benício ilustraram propagandas da marca que foram ao ar na TV,
provocando a identificação dos consumidores com os artistas, despertando
nesses a sensação de terem algo em comum com os astros da televisão, já
que todos usavam as mesmas sandálias. Os filmes das Havaianas
impulsionaram as vendas das sandálias por retratarem pessoas conhecidas do
público em cenas comuns, longe do ideal artístico imaginado das celebridades.
O plano de comunicação consistia também em uma retomada nos
anúncios impressos, inexistentes desde a década de 60, que voltaram a ser
veiculados em jornais e revistas, sempre muito coloridos e em formato de
catálogo, sem modelos usando as sandálias e com foco principal no produto.
Sempre apresentados em página dupla, as propagandas impressas
funcionavam como espaço para o lançamento de novos modelos e coleções.
Ainda de acordo com o novo posicionamento da marca, o apoio das
Havaianas em eventos de moda e que envolviam celebridades se tornou
indispensável para cultivar uma imagem ligada à modernidade e a algo
desejado, como um ícone fashion. As semanas de moda brasileiras, São Paulo
Fashion Week e Fashion Rio, são exemplos de acontecimentos que contam
com a presença da marca há anos.
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CAPÍTULO II
AS CAMPANHAS E O RETORNO DO PÚBLICO
Nos anos 70, as campanhas publicitárias da marca eram estreladas pelo
comediante Chico Anysio, que, como dito antes, foi o primeiro “garoto-
propaganda” das Havaianas, “as legítimas”, diferenciadas em meio ao grande
número de imitações “fajutas” vendidas. As primeiras campanhas publicitárias
da marca na nova fase, a partir de 1994, eram baseadas em depoimentos de
artistas famosos usando as Havaianas, o que proporcionou credibilidade ao
produto, recolocando as sandálias na corrida por um espaço no Mercado
competitivo. O slogan “Havaianas: todo mundo usa” aproximava a celebridade
do consumidor comum, conferia segurança e personalidade ao produto e
acrescentava valores a ele, aumentando a confiança de um público mais
exigente e com maior poder aquisitivo, a classe média.
2.1 – Propagandas com depoimentos
Um dos primeiros a participar da série de depoimentos, foi o próprio
Chico Anysio, que na década de 90, voltou a divulgar as sandálias em um dos
anúncios das Havaianas Top com o discurso: “Isso é amor antigo”, fazendo
uma alusão ao tempo em que anunciava o produto. Após o humorista, vieram
mulheres ícones da beleza nacional, como Thereza Collor, especialmente
escolhida devido sua influência no mercado nordestino, e a atriz Malu Mader,
essa flagrada em casa usando as sandálias. O sucesso das campanhas foi
grande, e a elas sucederam diversas outras comandadas pelo ator Luis
Fernando Guimarães, que “perseguia” personalidades pelas ruas e em suas
casas enquanto estavam usando as sandálias.
O reposicionamento de marca através das campanhas publicitárias na
TV fica explícito no texto de Rodrigues:
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“De 1994 em diante, a São Paulo Alpargatas resolveu
investir em estratégias de marketing, assessoria de
imprensa, pesquisa de relações públicas e nas
campanhas publicitárias bem-humoradas que,
frequentemente, utilizavam celebridades. A campanha
“Todo mundo usa” ficou marcada pelo sucesso! Em 1994,
um filme mostra a casa de Maurício Mattar sendo invadida
por Luís Fernando Guimarães que exibe o ator calçando
as “legítimas” Havaianas. O mesmo acontece com o
jogador Bebeto no jardim de sua residência. Em 1995, é a
vez de Malu Mader, vestida apenas com um roupão,
mostrar suas Havaianas: a atriz é surpreendida na porta
da sua residência por Luís Fernando e um cinegrafista
que insistem em ver os pés da celebridade. Em 1998,
Carolina Ferraz perde sua audiência ao tirar as Havaianas
dos pés. No mesmo ano, outro comercial mostra um
garoto beijando as sandálias de Rodrigo Santoro
pensando ser as de Luana Piovani. Em 1999, Déborah
Secco se sente ofendida com o pedido de um garoto para
usar suas Havaianas como traves de gol. Vera Ficher,
Tony Garrido, Cléo Pires, Marcelo Antony, Luciano Huck e
Popó também mostraram seus pezinhos calçando as
famosas sandálias brasileiras” (RODRIGUES, 2006,
p.10).
No ano seguinte, o resultado da mudança de estratégia já era percebido.
As Havaianas Tradicionais recuperaram seu volume de vendas e a linha Top
recebeu uma resposta positiva do mercado, com exposição espontânea na
mídia e aceitação pelo público nas lojas especializadas. Otimista, a Alpargatas
continuou seu investimento, reaplicando em novas campanhas 100% do valor
obtido com o faturamento das sandálias Top.
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2.2 – A consolidação da marca
Na série de filmes publicitários mais recente, a presença de artistas
continuava, mantendo o conceito de proximidade com o público desenvolvido
através dos depoimentos, em que o consumidor comum se identificava com as
celebridades. Contudo, as declarações explícitas foram substituídas por
propagandas que contavam histórias do cotidiano, sempre descontraídas e
com doses de humor para manter a identificação com o público.
Os exemplos são diversos, já que, em mais de dez anos desde a
reestruturação da marca em 1994, várias personalidades ilustraram as
campanhas. Cristiana Oliveira aparece em uma farmácia e, enquanto se pesa,
tira as peças de sua indumentária para descobrir o responsável pelos
miligramas a mais, ficando apenas com as sandálias nos pés. Disfarçado,
Fábio Assunção é quase descoberto por uma fã na praia através de suas
sandálias.
Segundo o livro “Propaganda de A a Z”, de Sampaio:
“Trabalhar um ícone popular e uma das marcas mais
conhecidas do Brasil, como é o caso das Havaianas, não
é nada fácil apesar de seu grande potencial.[...] Como
todos sabemos, é muito delicado usar testemunhal de
artistas e gente famosa, pois as chances de se fazer uma
mensagem medíocre e falsa são enormes (como
podemos ver todos os dias na televisão em todo o
mundo). O caminho encontrado foi o do humor, com uma
dose sutil de autogozação, capaz de humanizar os
protagonistas, trazendo-os para a vida comum sem a
perda de sua magia natural, que resulta em aval de
reconhecimento social pelo uso do produto” (SAMPAIO,
2006, p.179).
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Em 1997, após a experiência bem sucedida com as Havaianas
Tradicionais, a Alpargatas S.A. decidiu ampliar também o valor das Havaianas
Top para a classe média, seu principal foco de vendas, realizando um novo
reposicionamento de marca para aumentar sua margem de lucro. A marca
passou a ter mais de 25 linhas, destinadas a diferentes segmentos de
mercado, com renda mais elevada e preço até seis vezes maior que o das
Havaianas Tradicionais. Houve mudança também na gama de cores, estampas
e até formatos, para agradar uma parcela maior de consumidores.
Uma reportagem da revista HSM Management explica bem os
processos pelos quais a empresa passou. No mesmo ano de 1997, as
Havaianas se tornaram uma unidade de negócios independente, com 3,2 mil
funcionários dos 11 mil das Alpargatas S.A.. Essa decisão alinhou estratégias
de marketing, vendas, desenvolvimento de produtos, comunicação e
movimentação na fábrica, agilizando os processos relacionados à marca.
Novos equipamentos para a fabricação de lotes menores foram
providenciados, assim como treinamentos para os funcionários se adaptarem à
nova realidade da empresa. O resultado foi o aumento de vendas de 111
milhões em 2003 para 130 milhões em 2004.
O papel fundamental da comunicação na reestruturação da marca pode
ser observado através de números: entre 1994 e 2003, a verba para
campanhas publicitárias cresceu de 4% para 12%, sendo que as vendas
cresceram ainda mais, e ao invés de limitar as propagandas por temporadas,
optou-se por anunciar o produto durante todo o ano através da mídia
eletrônica, seu maior sucesso.
Outro aspecto bem sucedido da mudança de abordagem foi a retomada
da mídia impressa no mix de marketing, apresentando novas linhas para o
público formador de opinão. Além disso, as áreas de assessoria de imprensa,
relações públicas e promoção de eventos também receberam investimentos.
Entre 2002 e 2003, os assessores das Havaianas sugeriram um editorial de
moda na revista Capricho, principal publicação adolescente nacional, que foi
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realizado com sucesso, posicionando as sandálias como um item de moda
desejado pelo público daquela faixa etária.
Enquanto isso, a equipe de relações públicas da empresa pesquisava
celebridades que poderiam ser associadas à imagem das Havaianas e que
estivessem em locais da moda, distribuindo pares das sandálias em áreas
VIP’s de camarotes de Carnaval em Salvador, na Bahia, e nos bastidores de
desfiles das Semanas de Moda Brasileiras, a São Paulo Fashion Week e o
Fashion Rio.
Completando os investimentos em comunicação que elevaram as
Havaianas à posição ocupada por elas atualmente, a divulgação pela internet
foi essencial. O site oficial da marca, em português, inglês e espanhol,
aproximou ainda mais seus consumidores, que poderiam verificar as coleções
disponíveis no mercado,os endereços das lojas mais próximas e ainda
saberem novidades sobre as sandálias. Há também uma série de páginas não-
oficiais, muitas de fãs, que propagam as Havaianas, consideradas há algum
tempo objetos de desejo para lançadores de tendência.
2.3 – Expansão de marca, parcerias e estratégias ousadas
Consolidada desde o seu lançamento como top of mind, uma marca que
é lembrada espontaneamente pela maior parte do público em seu segmento,
as Havaianas ampliaram suas estratégias de marketing. De acordo com
Domingues (apud PINHO, 1996), apesar da padronização e da massificação
dos produtos, mesmo com diversas sandálias no mesmo estilo que a das
Alpargatas S.A., ainda existem marcas que conseguem se firmar como top of
mind e conquistar a fidelização dos clientes, como é o caso do produto
estudado.
“[...] O conhecimento da marca pode ser definido como a
capacidade de o consumidor reconhecer ou lembrar que
uma marca pertence a certa categoria de produto. Essa
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capacidade pode oscilar desde um vago sentimento de
que a marca é conhecida até a crença de que ela é a
“única” em determinada classe de produto, o que pode ser
representado em três diferentes níveis de conhecimento:
o reconhecimento da marca, a lembrança da marca e o
top of mind”.
Ainda sobre a questão da fidelização do cliente, segundo Pinho, as
campanhas publicitárias das Havaianas tiveram grande papel na conquista e
manutenção de público.
“[...] A publicidade promove a fidelidade do consumidor ao
explorar corretamente em suas mensagens os valores e
sentimentos que permitam estabelecer um
relacionamento de longo prazo com os usuários de um
produto ou serviço [motivação]. Assim, pode ser criado
um forte vínculo emocional, que será determinante para o
estabelecimento da lealdade e do comprometimento do
consumidor [valor agregado]. A comunicação publicitária
ainda pode evidenciar os possíveis gastos existentes para
o consumidor no caso da troca por uma marca
concorrente, seja em termos de tempo, de dinheiro ou de
riscos na performance do produto” (PINHO, 1996, p.137).
Focada na conquista de novos consumidores e na manutenção dos já
existentes, a marca realizou lançamentos diferenciados em suas linhas e fez
parcerias lucrativas, algumas, até então improváveis.
Na visão de Kotler, o lançamento de novas linhas é essencial para a
continuidade do crescimento da marca.
“[...] os objetivos da empresa influenciam a extensão da
linha de produtos. As companhias que buscam grande
participação de mercado e seu rápido crescimento
24
preferirão linhas mais extensas. As linhas de produto
tendem a se expandir com o tempo. O excesso de
capacidade de fabricação pressiona o gerente da linha de
produtos a desenvolver novos itens. A força de vendas e
os canais de distribuição também pressionam a empresa
a adotar uma linha de produtos mais completa, a fim de
satisfazer seus clientes” (KOTLER, 1997, pg. 134).
Em 2005, foram lançadas as Havaianas Socks, uma meia que se
adaptava ao contorno do dedão do pé, permitindo que ele se encaixasse na
sandália. O produto, assim como as Havaianas Top, confeccionadas em
apenas uma cor devido aos consumidores que desejavam uma sandália
monocromática, também foi desenvolvido após a observação de consumidores
que não deixavam de usar suas Havaianas mesmo em dias frios, colocando
meias junto com as sandálias. O lançamento caracterizava a primeira iniciativa
da empresa para uma futura expansão da marca. O produto foi introduzido no
mercado com o slogan “Havaianas Socks, para quem é louco por Havaianas”.
Dando continuidade ao lançamento de outros produtos ligados à marca,
em 2008, as Havaianas apresentaram no mercado uma linha oficial de bolsas,
inicialmente com oito modelos em cores, tamanhos e formatos diferentes.
Produzidas em algodão, possuiam detalhes emborrachados e em metal e
vinham com um chaveiro em formato de uma sandália Havaiana miniatura. As
novas bolsas foram comercializadas, inicialmente, em 60 pontos de venda em
todo o país.
Dentro das parcerias realizadas pelas Havaianas, várias podem ser
citadas como exemplos. Em 2004, a marca lançou junto com o IPE - Instituto
de Pesquisas Ecológicas uma coleção de sandálias estampadas com animais
em extinção, as Havaianas-Ipê. Os modelos da coleção são comercializados
até hoje em vários países, em uma campanha inédita, que visa também
levantar fundos para ações de conservação da fauna brasileira.
25
O novo posicionamento também permitiu o desenvolvimento de
estratégias mais ousadas, como parcerias feitas com marcas luxuosas, como a
de cristais Swarovski, que foram aplicados nas tiras, e as de grandes nomes da
moda mundial, como Louis Vuitton, Mont Blanc e Celine. A gigante americana
do segmento de fast fashion, a GAP, e o famoso time de beisebol do Japão,
Tigers, também fizeram sucesso com suas parcerias com as Havaianas,
agregando valor ao produto.
Entretanto, o exemplo mais famoso foi a da parceria com a joalheria
nacional H.Stern para lançar seis pares de Havaianas de Ouro. Na realidade,
as sandálias eram de borracha como os modelos tradicionais, mas as tiras
tinham diversos pingentes de ouro e brilhantes presos, conferindo ao produto o
aspecto de jóia. Um deles chegou a ser vendido por R$ 58 mil, gerando uma
enorme exposição de mídia espontânea para a marca.
A reação da mídia também foi muito positiva, gerando grande
repercussão, quando a empresa colocou o logotipo de Miró nas sandálias que
foram distribuídas em uma festa no consulado espanhol, em 2004, e no
casamento dos apresentadores Luciano Huck e Angélica, em 2005, em que as
iniciais dos noivos foram impressas nas sandálias entregues como souvenir
aos convidados. A iniciativa foi tão bem sucedida que, atualmente, a própria
Alpargatas S.A. recebe encomendas de brindes para festas acima de 300
pares.
Ainda mencionando exemplos de parceria, desde 2009, as Havaianas
têm confeccionado, exclusivamente, para a grife carioca de roupas femininas
Farm, pares de sandálias com estampas coloridas, sempre remetendo aos
temas da coleção da marca. O sucesso é imenso desde a primeira edição, e,
normalmente, todos os modelos desaparecem das lojas no mesmo dia de seu
lançamento.
26
CAPÍTULO III
O MERCADO INTERNACIONAL
Devido ao grande sucesso acarretado pelo crescimento das vendas das
Havaianas após o lançamento da linha Top e de todas as outras sublinhas que
vieram em seguida, no ano 2000, com a criação do departamento de comércio
exterior da empresa, a marca sofreu mais uma revolução. Anteriormente, as
vendas para o exterior eram esparsas, feitas somente para alguns países da
América do Sul, e não havia um movimento articulado em direção a esse
mercado. A decisão de explorar a marca Havaianas no exterior deu-se pelo
fato de ser um produto tipicamente brasileiro, colorido, que remetia ao universo
de sol e calor tropicais, e sem concorrência interna ou externa, sinalizando que
poderia obter bons resultados em mercados internacionais.
De acordo com matéria do jornal DCI, publicada em julho de 2005:
“[...] A sandália havaiana é, sem dúvida, o produto típico
brasileiro em maior evidência no mercado internacional.
Cerca de 75 países importam as sandálias, 10% da
produção é exportada. Enquanto no Brasil o calçado
ainda carrega o conceito de um produto "descolado",
custando de R$ 5 a R$ 20, no exterior a sandália é enfeite
de vitrines caras de Londres, Nova York, Paris e Tóquio, e
cobiçada por pessoas famosas, podendo custar R$ 60
mil, como o par lançado pela joalheria H. Stern, decorado
com 1.636 peninhas de ouro sobre as tiras e pedras de
diamante. Também a música brasileira é moda,
principalmente na França e Alemanha”” (2005, matéria
online).
27
3.1 – Modelo tipo exportação
Além de já possuir uma imagem ligada à cultura brasileira, que remete à
praia e verão, alguns eventos contribuíram para o sucesso da marca no
exterior. Um deles foi a exposição sobre a América Latina no templo do
consumo francês, as Galeries Lafayette, em Paris, quando a marca
comemorava seu 40º aniversário, às vésperas do verão europeu. O produto foi
tão bem aceito que, quando as sandálias brasileiras chegaram ao mercado
francês, em julho de 2001, três mil pares foram instantâneamente vendidos.
Em 2003, os tradicionais chinelos de borracha desfilaram nos pés de
todas as modelos na passarela do estilista Jean-Paul Gaultier, consolidando,
definitivamente, a marca Havaianas como um ícone da moda. A distribuição,
feita exclusivamente para lojas e boutiques sofisticadas, diferentemente do
Brasil, onde são encontradas em supermercados e farmácias, auxiliou no
trabalho de conceito da marca. Com preços médios que variavam de 25 a 30
euros na Europa, e de US$ 10 a US$ 15 nos EUA, mais altos que os preços
brasileiros, a Alpargatas S.A. soube aproveitar um espaço vazio no mercado
mundial, o de sandálias de borracha que conjugassem o design prático e
fossem confortáveis como as Havaianas.
Além do desfile de Gaultier, em 2003, a empresa fez parceria com
grandes lojas de departamento, como as Galeries Lafayette, Le Printemps e o
Bon Marche, em Paris, a Saks Fifth Avenue e a Bloomingdales, em Nova York,
e a Selfridge’s, em Londres, e se tornou a maior aposta de moda para verão
em editoriais de publicações como a revista francesa Elle e a norte-americana
Cosmopolitan.
Segundo o Jornal Estadão:
“[...] com uma intensa campanha de marketing, incluindo
até cartazes no metrô, as sandálias Havaianas estão
sendo vendidas ao preço de até 100 libras (R$ 478) em
28
Londres, em versões assinadas por estilistas e decoradas
por pedras, cristais e miçangas. [...] O sucesso da
sandália chegou à imprensa internacional. Para o New
York Times, as Havaianas são a última palavra da moda
para os pés. Para o Le Monde, o “calçado das favelas”
conquistou o mundo fashion. O assunto chegou até ao
jornal de economia da Grã-Bretanha, o Financial Times,
que definiu a sandália como a própria de “quem tem muito
dinheiro e nada a provar”” (2003, matéria online).
Outra tática para conquistar os consumidores internacionais foi a
customização das sandálias, com a promessa de exclusividade para o cliente,
com designs personalizados, como os modelos com cristais Swarovski e com
miçangas, acessórios que conferiam às sandálias um visual mais étnico.
A imagem das Havaianas foi bem trabalhada fora do Brasil e sua rede
de distribuidores internacionais foi organizada em todo o mundo. Dessa forma,
hoje, é possível esbarrar com consumidores das sandálias em todo o mundo,
principalmente nos EUA, na França, na Austrália e na Espanha, seus maiores
compradores internacionais.
3.2 – As Havaianas no Oscar
Uma iniciativa marcante para a política de marketing internacional das
Havaianas foi feita durante a entrega do Oscar, em 2003. Contando com a
influência dos distribuidores norte-americanos das sandálias, que tinham
acesso aos produtores de eventos de grande porte como os das premiações,
foi possível presentear as celebridades indicadas e que compareceram às
cerimônias com pares de Havaianas personalizadas.
Dois meses antes da cerimônia, a empresa desenvolveu um modelo
sofisticado, decorado com cristais Swarovski, e guardado em caixas especiais
com o nome dos atores imitando os símbolos estampados na calçada da fama
29
de Hollywood. Paralelamente, através da equipe de relações públicas, a fábrica
entrou em contato com os agentes das 61 celebridades indicadas ao prêmio -
entre elas, Jack Nicholson, Nicole Kidman e Renée Zellweger - para saber que
número calçavam. No dia seguinte à premiação, todos receberam suas
sandálias em casa.
Depois da estratégia bem sucedida, as Havaianas marcaram presença
fixa durante anos na Oscar Basket, cesta especialmente montada para os
indicados ao grande prêmio, como conferirmos na matéria do blog Negócios &
Propaganda, do Jornal do Brasil online:
“A festa de entrega do Oscar 2008 será no próximo dia 24
de fevereiro, mas pouco antes todos os indicados
receberão as Havaianas criadas especialmente para os
profissionais que concorrem à estatueta mais cobiçada do
cinema. Criado pela Almap BBDO, o modelo é dourado e
chegará às mãos dos atores e diretores em uma caixa
dourada com visor transparente, que permite ver as
sandálias apoiadas numa base, lembrando a estatueta.
Para identificar o presenteado, em cada caixa há uma
etiqueta na qual foi escrita à mão a frase “And the Oscar
goes to...”, com o nome do indicado. As Havaianas fazem
parte da Oscar Basket desde 2003. Nesta cesta, entregue
a cada indicado ao prêmio, são colocados presentes de
várias marcas escolhidos criteriosamente pela
organização do Oscar. Todos exclusivamente feitos para
a ocasião.” (2008, matéria online).
Iniciativas como essa ajudaram a Alpargatas S.A. a vender um milhão de
pares de Havaianas aos varejistas norte-americanos naquele ano.
30
3.3 – O cenário atual
A marca, que possui, atualmente, participação de 80% no mercado
brasileiro de chinelos de borracha, comercializa cerca de 145 milhões de
sandálias anualmente, dos quais 10% para mais de 80 países dos cinco
continentes, podendo ser encontrada em mais de 200 mil pontos de venda. As
exportações chegam a 22 milhões de pares, e, somente nos Estados Unidos,
está presente em 1.700 pontos de venda. As Havaianas mantém duas lojas
oficiais, ambas localizadas na cidade de São Paulo, além de possuir mais de
50 unidades franqueadas.
Em uma estratégia de marketing para promover uma maior aproximação
do público com a marca, a Alpargatas S.A. abriu a primeira loja-conceito,
também conhecida no universo da moda como flagship store, a Espaço
Havaianas em janeiro de 2009, na oitava rua mais luxuosa do mundo de
acordo com a Revista Elle, a movimentada Oscar Freire, em São Paulo. O local
tem 300m², foi assinado pelo arquiteto Isay Weinfeld, é decorado com mosaico
de clarabóias no teto e paisagismo lateral, passando a impressão de se estar
em uma praça com uma barraca de feira repleta de cestos cheios de sandálias,
remetendo à origem simples do chinelo.
Uma reportagem da Revista Veja São Paulo, feita na semana seguinte a
inauguração da loja, reitera a estratégia da marca:
“Na semana passada, as legítimas ganharam uma loja
para chamar de sua. Na verdade, uma megaloja de 300
metros quadrados no coração da Rua Oscar Freire.
Batizada de Espaço Havaianas, a butique é a única do
mundo que concentra todos os seus 350 modelos. O
objetivo da Alpargatas, que lançou o chinelo em 1962, é
estreitar laços junto a um público acostumado com
exclusividades. E, claro, ser um ponto turístico para os
31
que vêm visitar a via comercial mais elegante da cidade.”
(2009, matéria online).
Amplo e contemporâneo, o espaço reúne todas as linhas de frente da
marca em setores, com destaques para os modelos Tradicionais, que são
expostos na barraca de feira, e para a área de customização, que oferece
inúmeras possibilidades de combinações entre solas, tiras e pins. Além das
sandálias, o cliente também pode conferir a coleção de bolsas e também
toalhas, chaveiros, pins e meias.
O visitante poderá conhecer a história e a evolução da marca em um
cubo de vidro, em que fica o primeiro modelo da sandália criado em 1962, ou
nas paredes da loja, onde frases e informações explicam a trajetória e o
desenvolvimento da marca ao longo dos seus 47 anos de existência.
32
CAPÍTULO IV
MARKETING ATUAL E CRIATIVO
No início do século XX, o método para chamar a atenção do consumidor
era a propaganda didática, que mostrava qual era a função primordial do
produto. A publicidade tinha papel pedagógico, principalmente em relação à
divulgação de novos padrões de comportamento e à apresentação de
aparelhos e produtos. Anúncios de eletrodomésticos eram explicativos,
mostrando passo-a-passo o funcionamento dos aparelhos, em filmes de até
quarenta minutos. “A propaganda passou a ter um papel civilizatório”, diz
Roberto Duailibi, presidente da agência de publicidade DPZ, em matéria da
Revista Exame. De acordo com o professor da ESPM e organizador do livro “A
Propaganda no Brasil – Evolução Histórica”, Roberto Corrêa, essa era a fase
inicial da publicidade no Brasil: “É aquilo que em marketing chamamos de
demanda primária, ou seja, a etapa em que é necessário criar novos hábitos e
ensinar o consumidor a usar produtos que desconhece”.
Com o passar dos anos e o surgimento de variações de itens de marcas
diferentes, os anúncios mudaram de foco, visando criar um vínculo com o
consumidor, se aproximando dele e formando uma identificação, o que
provocava a escolha do público por determinado produto. Esta foi a estratégia
usada pelas Havaianas em sua reformulação de imagem, na década de 90.
Através dos anúncios das sandálias, que criavam situações de humor cotidiano
com celebridades, foi criado um elo com o consumidor, que se identificava,
escolhendo a marca.
Após sua internacionalização, feita na última década, as “legítimas” se
mantiveram atualizadas, lançando novas linhas de acordo com as tendências
mundiais, e assim, desenvolvendo novas campanhas de divulgação. De acordo
com Nizan Guanaes, presidente da agência África, em matéria da Revista
Exame: “A história da publicidade segue basicamente a história da tecnologia.
33
A cada novidade que surge, a propaganda se reinventa, como aconteceu com
a era do rádio, a era da televisão e agora a era da internet”.
4.1 – Marketing de Guerrilha
Acompanhando o crescimento da empresa, as estratégias de marketing
usadas na divulgação do produto também se modernizaram. Seguindo ações
realizadas por outras marcas, as Havaianas protagonizaram intervenções
urbanas nas maiores capitais mundiais, nem sempre diretamente assinadas
com a marca das sandálias criadas pelas Alpargatas S.A., mas que,
certamente, chamaram a atenção do público.
Recorrente desde a última década nos meios de comunicação mais
variados, o buzz marketing ou marketing de guerrilha é uma estratégia de
propaganda que utiliza recursos comuns do dia-a-dia das pessoas de forma
criativa, com ações de impacto em veículos de fácil acesso como TV, rádio e,
principalmente, comunidades virtuais e eventos realizados em espaços
externos.
Na definição de Levinson:
“Marketing de guerrilha é um método que utiliza as mais
recentes estratégias de guerrilha no campo do marketing,
para planejar, lançar e manter a maior ofensiva
mercadológica possível; seu objetivo é transformar
clientes potenciais em consumidores reais, e
investimentos de marketing em lucros.” (LEVIINSON,
1989, pg. 43).
A Alpargatas S.A. investiu também neste tipo de divulgação diferenciada
para sua marca de sandálias, e criou uma série de interferências em ambientes
de grande convívio social, que geraram curiosidade no público em geral, tanto
no Brasil quanto em outros países como EUA, França, Inglaterra e Itália.
34
4.2 – Chamando a atenção fora de casa
Em janeiro de 2009, aproveitando o verão na Austrália, a Almap BBDO
realizou o “Havaianas Thong Challenge”, uma competição marítima em que
centenas de colchões-bóias infláveis em formato de um pé de sandália
Havaianas foram distribuídos a participantes que se inscreveram no evento,
que aconteceu em uma praia de Sidney e teve renda revertida para duas
instituições: Starlight Children’s Foundation e Surf Life Saving Clubs. A ação
beneficente teve ainda uma característica de marketing de guerrilha: o desafio
de quebrar o recorde mundial da “linha mais longa de bóias infláveis de
Havaianas no mar”, o que chamou atenção sobre a marca não somente para
os participantes da atividade, mas também para as diversas pessoas que não
estavam envolvidas e para as que souberam do feito através da divulgação
gerada pela mídia.
A intervenção das sandálias da Alpargatas S.A. em Sidney reitera o
conceito de marketing de guerrilha, de divulgar uma marca de maneira não-
convencional, conquistando o público e agregando atitude e modernidade à
imagem do produto. Entre as ferramentas do marketing de guerrilha está o
marketing de emboscada, que cria um contato do público e do ambiente com o
produto. Normalmente, essas ações ocorrem quando as pessoas estão
descontraídas, criando um clima agradável de associação com a marca. Além
disso, muitas vezes é uma estratégia utilizada para divulgar o produto em
algum evento sem que ele seja o principal patrocinador deste.
“Marketing de emboscada (ambush marketing) – ação que
busca criar vínculo e associação da marca em torno de
algum evento no qual a empresa não é patrocinadora
oficial” (SALEM, s/d).
Um outro exemplo desta técnica aconteceu nos EUA. Em meados de
2009, com a chegada da primavera, diversos murais medindo a altura de
prédios foram pintados nas laterais de edifícios em variados pontos da cidade
35
de Nova York. Multicoloridos, os painéis traziam desenhos que remetiam à
cultura brasileira e apresentavam gigantescas tiras de borracha e linhas
brancas que despontavam da figura, denunciando a sandália “escondida” que
estava ali. Complementando a ação, sandálias com as mesmas estampas
pintadas nos locais foram confeccionadas e vendidas nas lojas por tempo
limitado.
Para o público europeu, também aproveitando a chegada da primavera,
as Havaianas criaram intervenções próximas aos principais pontos turísticos de
alguns países. Em ação desenvolvida pela agência que administra o marketing
da Alpargatas S.A., a Almap BBDO, foram montados diversos jardins em
gramados perto do Coliseu, em Roma, da Torre Eiffel, em Paris, do Portal de
Alcalã, em Madri, e da Ponte da Torre, em Londres, contudo, ao invés de
flores, os espaços continham milhares de sandálias Havaianas coloridas, que
enfeitaram de maneira original os cartões-postais mais famosos do mundo,
gerando uma repercussão positiva quanto a ideia de divulgação.
4.3 – Causando polêmicas
Já aqui no Brasil, a Alpargatas S.A. manteve sua estratégia de buzz
marketing, mas a desenvolveu de outra maneira, dividindo as ações entre
internet e suas comunidades virtuais e intervenções em eventos e pontos
turísticos, como foi feito no exterior.
Com uma ação rápida e barata, as Havaianas marcaram a chegada do
verão em dezembro de 2009, na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro.
Planejada pela Almap BBDO, a estratégia consistiu em iniciar uma festa em
plena areia da praia, com um samba que começava a tocar repentinamente,
enquanto dezenas de pessoas se levantavam dançando e sambando com
pares de Havaianas nas mãos. Ao final da música, houve uma salva de palmas
feitas com as sandálias para comemorar o início do verão. Com a dose certa
de brasilidade, a agência chamou a atenção para o produto, uma das principais
referências do país em todo o mundo.
36
Um outro exemplo de buzz marketing, que causou grande repercussão
entre os brasileiros, dividindo o público entre prós e contras, inicialmente não
era uma ação de marketing de guerrilha. Uma propaganda de televisão em que
duas atrizes, interpretando avó e neta, conversavam em um restaurante
enquanto a avó sugeria que a neta fizesse sexo com o ator Cauã Reymond,
que entrava naquele momento no ambiente, gerou mal-estar no público e, após
uma série de reclamações de espectadores, foi retirada do ar.
A reportagem do site Eband, da TV Bandeirantes, conta sobre a
“suposta” censura:
“O comercial da Havaianas em que uma senhora sugere
que a neta faça sexo com Cauã Reymond foi retirado do
ar. A suposta ´censura´ aconteceu depois de várias
reclamações de telespectadores e da abertura de um
processo no Conar - conselho que regulamenta a
publicidade - contra a propaganda. Segundo o jornal
"Extra", a notícia foi uma surpresa para Lúcia Berta, que
ficou famosa com o comercial. "As pessoas estão
desatualizadas. Sexo está na boca de todo mundo, como
bala na boca de criança", diz a atriz de 84 anos”. (2009,
matéria online).
O comercial, que de início era uma campanha televisiva tradicional,
como as diversas outras feitas com artistas pelas Havaianas, se tornou uma
estratégia de marketing de guerrilha, já que, após sua retirada no ar, o anúncio
permaneceu acessível na internet. A proibição gerou polêmica e estimulou a
curiosidade do público, que visitou sites na rede a procura da peça publicitária.
A movimentação em torno da propaganda gerou um segundo anúncio,
em que a mesma atriz, que interpretava a avó, avisava aos telespectadores
que, quem tivesse interesse em assistir o comercial, poderia vê-lo na Internet.
37
A resposta das Alpargatas S.A. foi notícia na mídia, no site da TV
Bandeirantes:
“[...] Lúcia gravou outra propaganda, já no ar, explicando
que o anúncio pode ser visto agora só na internet. "O
slogan da marca é ´Todo mundo usa´. A propaganda tem
que atingir a todos. Muita gente elogiou, mas como teve
gente que não gostou, retiramos do ar", disse Marcello
Serpa, diretor geral de criação da agência AlmapBBDO”.
(2009, matéria online).
Um anúncio de televisão simples, com o tradicional toque de humor
irreverente já usual da marca Havaianas, se transformou em uma campanha de
marketing de guerrilha na Internet, promovendo ainda mais as sandálias entre
não somente o seu público-alvo, mas também entre uma série de curiosos que
assitiram à propaganda por causa da proibição.
38
CONCLUSÃO
A análise do reposicionamento de marca das sandálias Havaianas,
iniciado em 1994, apresenta a mudança no mix de marketing da empresa como
grande fator responsável pela reestruturação comercial da principal submarca
da Alpargatas S.A., até então vulnerável no mercado, com grandes quedas de
faturamento desde o final dos anos 80. Através principalmente de campanhas
de TV bem-humoradas, focadas em criar vínculo emocional e identificação
entre celebridades e o público comum, a equipe de comunicação criou um
catalizador para motivar o interesse das pessoas pelas “legítimas” novamente.
A estratégia dos depoimentos de famosos aliada a novos anúncios em revistas
e jornais, ações de assessoria de impresa e relações públicas e presença da
marca em eventos importantes socialmente, foram definitivas para o
crescimento das vendas e para lançar as Havaianas ao posto ocupado por elas
atualmente.
O marketing criado foi abrangente e visionário, projetando o produto
para o mercado internacional, onde, hoje em dia, é muito procurado como um
item sinônimo de “verão, férias e descontração brasileira”. Através de
campanhas que consistiam em presentear celebridades de Hollywood com
sandálias e, principalmente, em ações de marketing de guerrilha, a Alpargatas
S.A. se firmou em diversos países, consolidando um novo mercado de atuação
para as “brazilian flip-flops”, como são conhecidas no exterior.
A reestruturação da marca Havaianas gerou um novo fôlego para a
empresa, aumentando sua receita no Brasil e no mercado mundial. Atualmente,
o produto é exportado para 80 países, com 2,5 milhões de pares vendidos por
ano somente para os EUA, representando 15% de suas vendas para o exterior.
Na Itália, há cerca de 1.400 pontos de venda, sendo que 10% destas lojas
revendem também grandes marcas, como Prada e Gucci. No balneário francês
de Saint-Tropez, foram vendidos 10 mil pares em 2006, durante a primeira
investida da marca no local.
39
Nos últimos anos, a receita gerada pela exportação do produto
praticamente quadruplicou em 63 países, provocando filas de espera pelas
edições customizadas, que chegam a custar oito vezes mais que um modelo
comum. Em 2009, o volume de vendas de sandálias comercializadas nos EUA
e na Europa aumentou 21,5%, representando um crescimento de 131,7%
sobre o último trimestre de 2008, reflexo do sucesso das campanhas de
comunicação, do aumento do conhecimento da marca pelos consumidores e
da expansão dos pontos de venda. Visando ampliar ainda mais este número, a
empresa continuará investindo em divulgação internacional. Serão quase 20%
dos 160 milhões de reais que a Alpargatas S.A. gasta por ano no Brasil para
divulgar todos os seus produtos somente para o público norte-americano.
Hoje em dia, a cada três brasileiros, dois em média consomem um par
de Havaianas por ano. No Brasil, no ano de 2009, houve um aumento de
53,1% no volume de vendas, resultado do sucesso das novas linhas que
chegaram às lojas em julho deste ano, totalizando mais de 145 milhões de
pares vendidos. O maior volume de sandálias comercializadas combinado com
o aumento dos preços do produto ocasionaram o crescimento da receita da
Alpargatas S.A., que chegou a R$ 424,4 milhões, sendo 62% deste valor
exclusivo do comércio de Havaianas.
Concluindo, de acordo com Michael Porter em “Estratégia Competitiva”,
“uma vez definida, a estratégia precisa ser estável para ter efeito” (1991).
Usando a mesma linha de estratégia de marketing desde 1994, ano da
mudança da marca, as Havaianas se mantiveram como líder no comércio de
sandálias de borracha no mercado nacional e se lançaram como marca forte no
cenário mundial. Para isso, montaram uma estrutura de mix de marketing que
consistia na divulgação criativa e de identificação com o público, através de
diversas frentes, da televisão à internet, que foi de absoluta importância para o
resurgimento da marca e para a consolidação de sua nova imagem. Sempre se
adaptando e desenvolvendo ações apropriadas para o cenário econômico
mundial, as “legítimas” prometem conquistar ainda mais consumidores e fãs do
estilo de vida propagado por elas.
40
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SAMPAIO, Rafael. Propaganda de A a Z. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora
Campus, 1999.
42
WEBGRAFIA
www.abcdomarketing.com.br Blog ABC do Marketing. Acessado em 25 de
janeiro de 2010.
www.aletp.com Blog Aletp.com - Havaianas – História da Marca. Acessado
em 20 de dezembro de 2009.
www.alpargatas.com.br Alpargatas S.A. Acessado em 20 de dezembro de
2009.
www.band.com.br TV Bandeirantes – Propaganda da Havaianas com vovó e
Cauã Reymond é retirada da TV. Acessado em 21 de janeiro de 2010.
www.estadao.com.br Jornal Estadão - Havaianas viram artigo de luxo na
Europa. Acessado em 27 de dezembro de 2009.
www.infoescola.com Revista Infoescola - Sandálias Havaianas. Acessado em
21 de dezembro de 2009.
www.mundomarketing.com.br Blog Mundo Marketing - Havaianas – O chinelo
que virou artigo de moda. Acessado em 22 de dezembro de 2009.
www.vejasp.abril.com.br Revista Veja São Paulo – Havaianas inaugura loja de
10 milhões de reais na Oscar Freire. Acessado em 28 de janeiro de 2009.
43
ANEXOS
Índice de anexos
Anexo 1 Modelo de sandália Havaianas Tradicional, criada no lançamento
da marca, em 1962.
Anexo 2 Outdoor com anúncio das Havaianas com o “garoto-propaganda”,
o humorista Chico Anysio, na década de 70.
Anexo 3 Modelo de sandália Havaianas Top, primeira versão
monocromática, de 1994.
Anexo 4 Anúncio atual das Havaianas impresso em revistas de grande
circulação.
Anexo 5 Anúncio atual das Havaianas impresso em revistas de grande
circulação.
Anexo 6 Anúncio atual das Havaianas impresso em revistas de grande
circulação.
Anexo 7 Anúncio atual das Havaianas impresso em revistas de grande
circulação.
Anexo 8 Anúncio atual das Havaianas televisivo com a atriz e apresentadora
Fernanda Lima, posando com a linha de bolsas da marca.
Anexo 9 Anúncio das Havainas de ouro, feita com aplicação de pingentes
em ouro e diamantes, em parceira com a joalheria H. Stern.
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Anexo 10 Anúncio atual das Havaianas televisivo com o ator Cauã
Reymond, posando com a linha de sandálias da marca
Anexo 11 Par de Havaianas embaladas em caixa especial imitando a
calçada da fama de Hollywood, desenvolvida para integrar a Oscar Basket,
cesta entregue aos indicados ao Oscar, em 2003.
Anexo 12 Embalagem de Havaianas imitando a estatueta do Oscar,
desenvolvida para intergrar a Oscar Basket, cesta entregue aos indicados ao
Oscar, em 2008.
Anexo 13 Flagship Store das Havaianas, na Rua Oscar Freire, em São
Paulo.
Anexo 14 Ação de marketing de guerrilha realizada em uma praia de
Sidney, Austrália, com conchões-bóias em formato de sandálias Havaianas.
Anexo 15 Ação de marketing de guerrilha realizada em Nova York,
EUA, com um painel pintado na lateral de um prédio, contendo uma sandália
Havaianas “escondida”.
Anexo 16 Ação de marketing de guerrilha realizada em Roma, Itália,
com um jardim de Havaianas em frente ao Coliseu.
Anexo 17 Ação de marketing de guerrilha realizada em Paris, França,
com um jardim de Havaianas em frente à Torre Eiffel.
Anexo 18 Ação de marketing de guerrilha realizada em Madri, Espanha,
com um jardim de Havaianas em frente ao Portal de Alcalã.
Anexo 19 Ação de marketing de guerrilha realizada em Londres,
Inglaterra, com um jardim de Havaianas em frente à Ponte da Torre.
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Anexo 20 Ação de marketing de guerrilha realizada na Praia de
Copacabana, no Rio de Janeiro, com uma salva de palmas, feitas com
Havaianas, pela chegada do verão.
Anexo 21 Segunda propaganda televisiva das Havaianas informando
que, o anúncio que foi retirado do ar pelo Conar, está disponível para acesso
na internet.
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3 DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
Havaianas: desde o início 10
1.1 – O surgimento das Havaianas 11
1.2 – O declínio do produto 11
1.3 – O plano de reestruturação 12
CAPÍTULO II
As campanhas e o retorno do público 18
2.1 – Propagandas com depoimentos 18
2.2 – A consolidação da marca 20
2.3 – Exp. de marca, parcerias e estratégias ousadas 22
CAPÍTULO III
O mercado internacional 26
3.1 – Modelo tipo exportação 27
3.2 – As Havaianas no Oscar 28
3.3 – O cenário atual 30
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CAPÍTULO IV
Marketing atual e criativo 32
4.1 – Marketing de guerrilha 33
4.2 – Chamando atenção fora de casa 34
4.3 – Causando polêmica 35
CONCLUSÃO 38
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 40
WEBGRAFIA 42
ANEXOS 43
ÍNDICE 54
FOLHA DE AVALIAÇÃO 56