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ISIDORO SEMEDO VIABILIDADE ECONÔMICA DO DENDÊ: UM ESTUDO DE CASO DA SUBSTITUIÇÃO DAS PLANTAÇÕES NATIVAS POR DENDEZEIROS GENETICAMENTE MELHORADOS SALVADOR 2002

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ISIDORO SEMEDO VIABILIDADE ECONÔMICA DO DENDÊ: UM ESTUDO DE CASO DA

SUBSTITUIÇÃO DAS PLANTAÇÕES NATIVAS POR DENDEZEIROS

GENETICAMENTE MELHORADOS

SALVADOR

2002

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ISIDORO SEMEDO

VIABILIDADE ECONÔMICA DO DENDÊ: UM ESTUDO DE CASO DA

SUBSTITUIÇÃO DAS PLANTAÇÕES NATIVAS POR DENDEZEIROS

GENETICAMENTE MELHORADOS

Monografia apresentada no curso de graduação de Ciências Econômica da Universidade Federal da Bahia como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Ciências Econômicas

Orientador: Prof. Dr. Vitor de Athayde Couto

SALVADOR

2002

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SUMÁRIO

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

08

1 INTRODUÇÃO

10

2 ASPECTOS GERAIS DA CULTURA

13

2.1 USOS DO DENDEZEIRO

17

2.2 BOTÂNICA/DESCRIÇÃO/VARIEDADE

18

2.3 NECESSIDADES DO DENDEZEIRO

20

2.4 FORMAÇÃO DE MUDAS

20

2.4.1 Plantio

22

2.4.2 Tratos Culturais

24

2.4.3 Pragas do Dendezeiro

25

2.4.4 Colheita/Produção

27

3 BENEFICIAMENTO DA PRODUÇÃO

29

3.1 PROCESSO DE RODÃO

29

3.2 PROCESSO INDUSTRIAL

31

3.3 COEFICIENTES TÉCNICOS

36

4 COMERCIALIZAÇÃO

37

5 METODOLOGIA DO SISTEMA AGRÁRIO

40

5.1 ÁREA A SER ESTUDADA

42

5.1.1 Taperoá – Resgate Histórico

42

5.2 MODELO VALOR AGREGADO

43

5.3 CARACTERÍSTICAS E VALORES ECONÔMICOS DAS VARIEDADES: PRODUÇÃO INDUSTRIAL

47

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5.3.1 Variedade Dura

48

5.3.2 Variedade Tenera

49

6 POSSIBILIDADES DA ELAEICULTURA NA GUINÉ-BISSAU

51

6.1 PALMAR NATURAL (SUBESPONTÂNEOS)

56

6.1.1 Em Óleo de Palma

56

6.1.2 Em Palmiste.

56

6.2 Palmar Plantado

56

6.2.1 Em Óleo de Palma

56

6.2.2 Em Palmiste

56

6.3 CONDIÇÕES ECOLÓGICAS

57

6.3.1 Altitude

57

6.3.2 Temperatura

57

6.3.3 Luz Solar

58

6.3.4 Pluviosidade

60

6.3.5 Solos

60

7 CONCLUSÃO

63

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 65

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Ao puro amor que invade meu peito

e torna-me capaz de coisas que próprio não sei:

À mulher que possuí: Teresa Mariama Sona Biai Semedo;

Aos meus pais: Fernanda Bela e José Semedo;

À minha filha: N’goyama Fernanda Semedo;

Aos meus irmãos: Osvaldo, Rita, Deolinda, Nelson, Mário João, Mariana, Lucinda, Lumumba,

Deoclaciana e Darci.

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RESUMO

As economias em vias de desenvolvimento, em geral, caracterizam-se por ter elevada taxa de

crescimento demográfico, permanecendo a agricultura não só como o setor principal da

economia, mas também o setor onde se encontra a maior parcela da produção e menor renda

per capita. Apesar disso, a agricultura exerce múltiplas funções no processo de

desenvolvimento econômico. Basicamente, o assunto do presente trabalho monográfico

abrange: aspectos gerais da cultura do dendê, particularizando-se, com base na metodologia

de sistemas agrários, a comparação entre as variedades Dura (nativa, de ocorrência

subespontânea) e Tenera (híbrida), sua industrialização e comercialização, e as

potencialidades econômicas da elaeicultura na Guiné-Bissau, procurando-se reunir

informações esparsas sobre o assunto.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Produção Mundial de Óleo de Palma 14

TABELA 2 – Produção de Óleo de Dendê na Bahia e no Brasil 15

TABELA 3 – Situação das Áreas de Dendê Cultivado na Bahia 16

TABELA 4 – Quantidade de Mistura/Muda 22

TABELA 5 – Adubação do Dendezeiro (Desenvolvimento e Produção) 25

TABELA 6–Rendimento Industrial do Dendê em Percentagem, Segundo as Variedades 36

TABELA 7 – Principais Municípios Fornecedores de Dendê (Bahia) 37

TABELA 8 – Preços dos Produtos Agrícolas 45

TABELA 9 – Rendimentos das Palmeiras dos Povoamentos Subespontâneos 54

TABELA 10 – Produção de Cachos por Árvore Adulta 54

TABELA 11 – Valores das Palmeiras Adulta 55

TABELA 12 – Dados Climáticos da Guiné-Bissau 58

TABELA 13 – Bolama - Valores Médios de (24) Anos de Observação 59

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TABELA 14 – Bissau – Valores Médios de 08 Anos de Observação 59

TABELA 15 – Elementos Relativos às % de Argila, Ph e % de Matéria Orgânica 60

LISTA DE FOTOS

FOTO 1 – Plantação de Dendezeiro Híbrido em Taperoá (BA) 22

FOTO 2 – Cacho de Dendê 28

FOTO 3 – Beneficiamento Artesanal (Rodão) do Dendê – Taperoá (BA) 30

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Diagrama de Fluxo Industrial de Cachos de Frutos Frescos de Dendê e

Extração de Óleo de Amêndoa 32

FIGURA 2 – Diagrama de Fluxo Industrial de Amêndoa de Palmiste 35

FIGURA 3 – As Etapas de uma Análise Diagnóstico dos Sistemas Agrários 41

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1 INTRODUÇÃO

O dendê ocupa uma posição de destaque na produção de Óleos e Gordura Vegetal durante a

Revolução Industrial, isto deveu se principalmente à aplicação na siderurgia, para a laminação

de chapas. Cresceram as exportações, pois o óleo de dendê encontrou pronto uso nas indústrias

de vela e sabão e, especialmente, como lubrificante nas estradas de ferro.

O objetivo geral desta monografia consiste em se avaliar a rentabilidade da substituição das

plantações nativas por dendezeiros geneticamente melhorados. Especificamente, pretende-se:

caracterizar a importância do cultivo do dendezeiro; estimar as receitas líquidas no período de

vida útil das plantações nativas para medir a sua rentabilidade; estimar as receitas líquidas no

período da vida útil para o dendezeiro híbrido (Tenera), comparando-os através do Valor

agregado (VA).

O diagnóstico é baseado na análise dos sistemas de produção. O estudo realizado em

propriedades de dendê (pequenas, médias e grandes) confirmou que, na média, as

propriedades estão operando com prejuízo, devido à baixa produtividade das plantações

nativas. Os modelos utilizados neste estudo, são duas funções de valor agregado, sendo uma

para determinar a variedade nativa e outra para a variedade tenera, determinada pela diferença

entre o valor do que se produziu e o valor do que se consumiu: VA=PB-CI-D

O segundo capítulo aborda os aspectos gerais da cultura do dendê, enfatizando as necessidades

do dendezeiro, seus usos, a botânica/descrição/variedade, passando pela formação de mudas.

O objetivo deste capítulo é mostrar que o bom desenvolvimento dessa cultura depende da

aptidão climática e das exigências ecológicas para plenitude da produção.

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O terceiro capítulo mostra o beneficiamento do dendê no baixo sul da Bahia que é feito pelo

processo artesanal denominado rodão e pelo processo industrial moderno para a extração de

óleo de palma ou azeite de dendê, extraído da polpa e o da amêndoa (óleo de palmiste).

O quarto capítulo trata da comercialização do dendê realizada basicamente através do produto

na região produtora onde participam no processo de comercialização duas grandes empresas

que praticamente dominam o mercado regional.

O quinto capítulo apresenta a metodologia do sistema agrário para a análise do valor agregado

para a substituição das plantas nativas pelas geneticamente melhoradas, mediante as diferentes

óticas de beneficiamento das variedades de dendê.

O sexto capítulo contém um estudo das possibilidades da elaeicultura na Guiné-Bissau. Neste

capítulo é apresentado um histórico da cultura do dendê com informações gerais, suas

características e condições ecológicas dentro dos parâmetros estabelecidos para o

desenvolvimento dessa cultura.

Como planta oleaginosa o dendezeiro apresenta as seguintes vantagens:

1. Sua produção de óleo supera as principais oleaginosas do mundo.

2. Preços estáveis no mercado internacional, com variação média de 10% em 30 anos.

3. Planta perene com ciclo de exploração em torno de 30 anos.

4. Baixo custo dos seus produtos e ampla margem de usos, permitindo liberar excedentes

de óleos mais caros para exportação.

5. Não concorre com outras atividades agrícolas, utilizando as terras atuais.

Na maioria dos países produtores, a dendeicultura é considerada como atividade econômica de

ponta e o grande desenvolvimento apresentado é diretamente proporcional à política adotada

por cada governo com relação ao apoio e incentivos à cultura do dendê, como também pela

receptividade da iniciativa privada.

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Uma das principais características do dendezeiro é permitir a utilização de áreas tropicais

consideradas marginais para exploração de outras oleaginosas, principalmente culturas de

subsistência.

Do ponto de vista social, a dendeicultura apresenta peculiaridade por ser uma atividade

agrícola apropriada para regiões com reduzida capacidade de absorção de mão-de-obra. A

distribuição da produção durante todo o ano e a possibilidade de emprego para toda a família

constituem fatores importantes para fixação do homem no campo e aumento de renda familiar.

Essas características ocupacionais se aplicam tanto na forma de exploração agrícola familiar,

empresarial, onde várias atividades podem ser empreitadas ao chefe de família e receber a

colaboração dos demais componentes em sua execução. Este é importante para a empresa, que

assim mantem a sua comunidade fornecedora de mão-de-obra, pela possibilidade de empregar

a quase totalidade de sua população ativa.

A implantação do dendê requer ainda o estabelecimento de colônias agrícolas bem

organizadas, conduzindo à realidade de investimentos em equipamentos que beneficiam a

população rural envolvida na atividade.

O período de utilização econômica de dendê estimado em 30 anos permite que os custos fixos

de sua implantação sejam rateados por inúmeras colheitas, favorecendo a obtenção de alto

retorno sobre o capital investido. Por outro lado, o cultivo de dendê propicia a intercalação e

seqüência de cultura de ciclo curto nos primeiros anos de formação bem como a criação de

bovinos na fase de exploração econômica. Isso representa um importante argumento

econômico para a participação de pequenos e médios produtores, na medida em que torna

possível a obtenção de um fluxo de renda no período anterior à fase produtiva do dendezeiro.

Dessa forma, a dendeicultura permite a utilização racional da terra não apenas por empresas,

mas também por sistema associativista de pequenos e médios produtores familiares.

Conclui-se que adoção de novas técnicas do cultivo do dendezeiro no que se refere à

introdução de material botânico selecionado, vez que as plantações geneticamente melhoradas,

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apresentam rendimentos, bastantes superiores aos dendezeiros nativos. As condições de clima

e solo são bastante favoráveis e permite possibilidades de expansão da cultura do dendê.

2 ASPECTOS GERAIS DA CULTURA DO DENDEZEIRO

O Dendezeiro (Elaeis guineensis) é uma palmeira de origem africana que se desenvolve normalmente no clima quente e úmido das regiões tropicais.

De seus frutos podem ser extraídas dois tipos de óleo: o óleo de polpa, chamado óleo de

palma, conhecido no Brasil como azeite de dendê e o óleo de amêndoa (caroço) chamado óleo

de palmiste, este muito parecido, na sua composição química, com os óleos de babaçu e do

coco. Dados atuais informam que se pode extrair até 22% de óleo de polpa e até 3,5% de óleo

da amêndoa ou caroço.

É a oleaginosa de maior produtividade conhecida em todo o mundo, podendo fornecer de 4 a 6

toneladas de óleo/ha, correspondendo de 20 a 30 toneladas cachos/ha. Sua superioridade em

rendimento é evidenciada pelo conforto com a produtividade média em óleo de outras

oleaginosas.

O dendê é uma cultura de caráter perene, com ciclo vital econômico de 25 a 30 anos, ao

contrário da soja, do amendoim e de outras culturas anuais, que exigem renovação constante.

O dendezeiro começa a produzir aos 3º anos e atinge a plenitude da produção durante o 7º e 8º

ano. Produz durante o ano todo, não estando sujeito a épocas de safra e assim a mão-de-obra é

ocupada ininterruptamente.

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Após 30 anos, a colheita torna-se difícil por causa da altura da palmeira havendo então a

necessidade do replantio.

As características especiais desse produto conferem-lhe grande versatilidade o que possibilita

sua aceitação por indústrias mundiais diversas. A cultura do dendê é, provavelmente, a de

maior potencial de crescimento no mundo dentre as culturas de significado econômico. Sua

rentabilidade tem sido boa (apesar do investimento alto para a implantação) e os preços têm-se

mantido estáveis em torno de USS 450 / tonelada de óleo de palma devido ao aumento de

produção que tem acompanhado o crescimento do consumo.

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FONTE: AGRIANUAL, 2002

Países 1994/95 1995/96 1996/97 1997/98 1998/99 1999/00 2000/01 2001/02*PRODUÇÃO 14888 16207 17644 16973 19262 21765 23739 24707

Malásia 7771 8264 9005 8508 9758 10491 12100 12600Indonésia 4250 4850 5385 5000 5800 7200 7500 7800Nigéria 570 590 600 650 740 760 730 760Tailândia 300 370 400 470 400 707 720 720Colômbia 370 387 440 424 490 500 520 550Papua-Nova Guiné 223 236 248 280 300 320 340 360Equador 194 220 200 225 245 238 245 300Costa do Marfim 286 304 285 295 305 280 270 275Honduras 77 88 94 105 125 123 148 161Zaire 111 112 115 125 135 145 155 155Camarões 125 130 161 135 136 140 140 140Guatemala 23 31 36 60 84 108 124 124Outros 588 625 675 696 744 742 747 762

CONSUMO 14318 15434 16867 17025 18155 20524 23298 24595Índia 456 970 1315 1600 2310 3500 4450 4425Indonesa 2440 2745 3010 2660 2793 2940 3150 3250China 1437 1063 1250 1300 1275 1200 1800 2000Malásia 1170 1370 1458 1366 1459 1594 1590 1700Paquistão 1200 965 1060 1114 1051 1150 1245 1350Nigéria 700 770 750 750 880 930 980 1040Tailândia 300 371 415 475 490 580 645 665Reino Unido 447 478 479 448 437 520 605 635Egito 370 390 405 400 450 520 505 510Alemanha 377 386 415 422 392 455 441 470Colômbia 358 377 384 355 406 395 427 452Países Baixos 241 258 291 350 294 294 408 445Outros 4813 5291 5635 5785 5918 6521 7052 7653

IMPORTAÇÃO 10225 11680 11680 11790 13345 14456 16890 17929Índia 480 1300 1300 1530 2900 3300 4400 4350China 1667 1350 1350 1300 1275 1200 1800 2000Paquistão 1210 1070 1070 1124 981 1225 1240 1350Cingapura 975 975 975 975 1000 1120 1150 1200Países Baixos 443 649 649 704 712 573 685 720Reino Unido 462 516 516 461 463 552 635 665Outros 4988 5820 5820 5696 6014 6486 6980 7644

EXPORTAÇÃO 10689 12268 12268 11978 13625 15203 17460 18311Malásia 6634 7544 7544 7421 8100 8845 10750 11150Indonésia 1798 2427 2427 2358 3100 4000 4330 4600Cingapura 829 829 829 829 900 900 900 1050Países Baixos 198 359 359 345 418 286 275 275Papua-Nova Guiné 188 203 203 226 246 266 275 290Hong Kong 145 145 145 150 115 113 115 115Outros 907 761 761 649 746 793 815 831

TABELA 1 Produção Mundial de óleo de palmaMil Toneladas Métricas

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Brasil a área colhida (1995) de dendê foi de 68 mil hectares e a produção do óleo de

palma/ano está em torno de 80 mil toneladas: o país consome 280 mil toneladas de óleo de

dendê e derivados e importa em torno de 180 mil toneladas, mas tem mercado interno

potencial de 400 mil toneladas/ano de óleo de dendê e derivados. O Pará (70% da produção),

Bahia e Amapá são as unidades maiores produtoras de óleo do Brasil.

TABELA 2 Produção de óleo de dendê na Bahia e no Brasil ESTADO ÁREA (hectares) PRODUÇÃO (toneladas) 1997 1998 1999 2000 2001* 1997 1998 1999* 2000* 2001* PARÁ 25455 24983 28002 38611 47654 70654 74690 80513 131277 162829 AMAPÁ 3500 n.d. 2000 3500 3500 4960 2900 n.d. 11900 11900 BAHIA 2000 2700 5600 9572 10372 2673 7400 9834 32545 35265 AMAZONAS n.d. 1200 1200 1900 1900 n.d. 2200 2800 6460 6460 TOTAL BRASIL 30955 28883 36802 53583 63663 78287 87190 93147 182182 216454 Fonte: AGRIANUAL, 2002

O Estado da Bahia possui uma diversidade excepcional de solos e clima para a cultura do

dendezeiro; a área apta disponível é de 750 mil hectares de terras situadas em regiões

litorâneas que se estendem desde o Recôncavo até os Tabuleiros do Sul da Bahia. A maior

parte da produção (10 mil toneladas) de óleo de dendê é proveniente de dendezeiros

subespontâneos de baixa produtividade e que somam cerca de 19.650 hectares; a área de

dendezeiros cultivados é de 11.500 hectares (indústrias de extração e produtores

independentes) o que corresponde a 1,53% da área disponível total. Esses dendezeiros também

apresentam baixa produtividade notadamente por terem ultrapassado o período econômico de

produção (25 anos) bem como por apresentarem estado sanitário precário.

O governo do Estado empenha-se em revalorizar a dendeicultura; concebeu um projeto para

implantar e consolidar a exploração comercial da cultura de dendê, em terras de 29 municípios

baianos agrupados nos pólos de Nazaré/Santo Amaro, Valença/Itacaré, Ilhéus/Canavieiras e de

Belmonte/Prado.

A meta global é atingir a produção de 48 mil toneladas de óleo de palma num horizonte de 8

anos, com meta agrícola de plantio de 12 mil hectares em 3 anos. Em dezembro de 1999 o

governo da Bahia celebrou convênio com a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola

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(EBDA), Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC), Banco do Nordeste

do Brasil, e empresas Jaguaripe, Mutupiranga, OLDESA e OPALMA visando produzir

2.400.000 sementes pré-geminadas (via CEPLAC) e instalar viveiros para produzir 1.724.000

mudas de dendezeiro híbrido Tenera (via empresas de extração acima) em áreas de

abrangência do programa de Desenvolvimento da Dendeicultura Baiana (viveiros em Santo

Antônio/Muniz Ferreira, Nazaré, Taperoá e, possivelmente, em Igrapiuna).

Assim os agricultores de dendê bem como os donos de roldões terão acesso ao programa que

contempla a modernização dessas estruturas também.

As organizações interessadas no programa de dendê são:

a. Secretaria da Agricultura - DDA, em Salvador

b. CEPLAC - Itabuna

c. EBDA - Salvador e escritórios na área do programa

d Empresas de extração - Jaguaripe (Muniz Ferreira), Mutupiranga (Nilo Peçanha),

OLDESA (Nazaré/Valença) e OPALMA (Taperoá)

TABELA 3: Situação das áreas de dendê cultivado na Bahia

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2.1 USOS DO DENDEZEIRO

Do dendezeiro utiliza-se o fruto, cachos vazios dos frutos, cascas da amêndoa (caroço) e

tronco.

Fruto: principal produto do dendezeiro; da sua polpa (mesocarpo) extrai-se o óleo de palma

(óleo de dendê) e de sua amêndoa consegue-se o óleo de palmiste. Cada fruto produz nove

partes de óleo de dendê para 1 parte de óleo de palmiste.

Óleo de palma (palm oil):

O óleo de palma tem uso alimentício, medicinal, oleoquímico e industrial.

Área Planta Área Colhida Quantidade RendimentoMunicípios (ha) (ha) Produzida Médio

(ton) (kg/ha)Alcobaça 150 150 390 2600Aratuípe 1177 1177 5132 1360Belmonte 35 35 147 4200Cachoeira 782 782 3910 5000Cairu 4765 4765 13256 2781Camamu 4427 4427 12395 2800Caravelas 265 265 689 2600Igrapiúna 2682 2682 5906 2202Ituberá 2619 2619 16105 5003Jaguaripe 4513 4513 19677 4360Muniz Ferreira 770 770 3357 4359Nazaré 990 990 4316 4359Nilo Peçanha 2510 2510 8805 3507Presidente Tancredo Neves 78 78 232 2974Salinas da Margarida 50 50 218 4360Santo Amaro 362 362 1810 5000Saubara 320 320 1600 5000Taperoá 4865 4865 23946 4922Una 2700 2602 12620 4850Uruçuca 9 9 50 5555Valença 9956 9956 29868 3000Total do Estado 44025 43927 161430 3674FONTE: ANUÁRIO ESTATÍSTICO, 2001 SEI

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a. Uso alimentício: direta/indiretamente o óleo faz parte de margarinas, de gorduras (para

pães, biscoitos, massas, tortas) pó para sorvete, manteiga vegetal, óleo de cozinha, óleo

de salada, azeite de dendê, vanaspati, entre outros; ainda é substituto para a manteiga

de cacau e fornece vitamina E beta-caroteno (provitamina A).

b. Uso medicinal: algumas substâncias componentes do óleo têm propriedades

antioxidantes, podendo representar papel protetor para células humanas, prevenir

doenças cardíacas e câncer. Ademais dietas com óleo de dendê promovem a elevação

do índice de colesterol benéfico no sangue em detrimento do colesterol maléfico

(LDL).

c. Uso oleoquímico: o óleo de palma entra na composição de sabões, sabão em pó,

sabonete, condicionador para cabelos, shampoos, velas, tintas, detergentes, laminação

de aço (siderurgia), emulsificantes, entre outros.

d. Uso industrial: é matéria prima para obtenção da estearina, oleína, glicerina, ácido

láurico, acido oléico, ácidos graxos, ésteres, entre outros.

e. Substituto Energético: A todos estes usos cabe acrescentar, no presente, a utilização

energética, cuja oportunidade foi criada a partir da crise internacional gerada pela

elevação progressiva e constante dos preços do petróleo, gerando a conveniência do

aproveitamento de substitutivos. Nesta linha, o dendê se insere como alternativa ao

óleo diesel, permitindo uma mistura de até 30% independentemente de adaptação nos

motores.

Por outro lado, face á outras oleaginosas, o dendê oferece largas vantagens comparativas, por

apresentar poder calorífico mais próximo ao do diesel (9.230kcal contra 10.200kcal), por se

tratar de cultura permanente, não provocar distorções no mercado de abastecimento alimentar,

e, no caso específico do Brasil, possibilitar a incorporação de áreas agrícolas ainda pouco

utilizadas no momento, além de situadas em regiões subdesenvolvidas.

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Óleo de palmiste (palm kernel oil): De importância comercial, é disputado por indústrias

alimentícias, de sabão e oleoquímicas; também pode ser substituto da manteiga do cacau e

utilizado, também, na indústria de cosméticos.

Perda zero (zero waste): Os cachos (de frutos) vazios, os resíduos do processo de extração do

óleo - fibras e casca das amêndoas (endocarpo) podem ser utilizados como combustíveis nas

caldeiras (produzindo vapor para o processo de extração de óleos) bem como atuar usados

para geração de energia elétrica, cujo excedente pode ser direcionado para agrovilas, rede

pública, outros.

Outros usos: Fibras das folhas e cacho de frutos vazios podem ser processados para confecção

de materiais de média densidade para tampos de lareiras.

Os troncos derrubados, resultantes de replantios, podem ser transformados em móveis.

Da extração do óleo de palmiste resulta a torta de palmiste que contém 18% de proteína que

pode ser usada na alimentação de animais ou ser usada como adubo orgânico para plantas.

2.2 BOTÂNICA/DESCRIÇÃO/VARIEDADES

O dendezeiro é conhecido cientificamente por Elaeis guineensis, Jacq., Monocotiledônea,

Palmae. A planta também é conhecida como palma-de-guiné, dendê (Angola), palmeira

dendê, coqueiro-de-dendê. O fruto é conhecido como dendê.

O dendezeiro é uma palmeira com até 15m de altura, com raízes fasciculadas, estipe (tronco)

ereto, escuro, sem ramificações, anelado (devido a cicatrizes deixadas por folhas antigas). As

folhas, podem alcançar até um metro de comprimento, tem bases recobertas com espinhos. As

flores são creme amarelado e estão aglomeradas em cachos.

Os frutos, nozes pequenas e duras, possuem polpa (mesocarpo) fibrosa que envolve o

endocarpo pétreo, nascem negros e quando estão maduros alcançam cor que varia do amarelo

forte ao vermelho rosado passando por matriz de cor alaranjada e ferrugem. Ovóides

(angulosos e alongados) nascem em cachos onde, por abundância, acabam se comprimindo e

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se deformando. A polpa produz o óleo de dendê (óleo de palma), de cor amarela ou

avermelhada (por presença de carotenóides), de sabor adocicado e cheiro sui-generis.

A semente ocupa totalmente a cavidade do fruto e contém o óleo de palmiste (palm kernel oil)

que é esbranquiçado e quase sem cheiro e sabor.

No gênero Elaeis existem duas espécies de interesse comercial:

Elaeis melanococca Gaertner: nativa da América Latina também é encontrada no Brasil e

conhecida como caiaué. Tem sido procurada para obtenção de híbridos com a Elaeis

guineensis.

Elaeis guineensis: segundo a espessura do endocarpo do fruto é classificado em (tipos):

a. Macrocaria: possui frutos com endocarpo com espessura acima de 6mm; sem

importância econômica.

b. Dura: fruto com endocarpo de espessura entre 2 a 6mm, com fibras dispersas na polpa.

Usado como planta feminina na produção de híbridos comerciais.

c. Psífera: frutos sem endocarpo separando polpa da amêndoa. Usada como fornecedora

de pólen na produção de híbridos comerciais.

d. Tenera: híbrido do cruzamento Psífera x Dura; tem endocarpo com espessura entre

0,5mm e 2,5mm e com anel de fibras ao redor do endocarpo. Suas sementes são

recomendadas para plantios comerciais. Tem vida econômica entre 20-30 anos, produz

10-12 cachos anualmente, que pesam entre 20 a 30 kg (cada), portando 1.000 a 3.000

frutos (cada cacho). É boa produtora de inflorescências femininas.

2.3 NECESSIDADES DO DENDEZEIRO

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Clima: A planta requer temperatura média entre 25 e 27ºC (limites 24 e 32ºC) sem ocorrência

de temperaturas mínimas abaixo de 19ºC por períodos prolongados; as chuvas devem

proporcionar precipitações mensais mínimas acima de 100mm (150mm ideais) e total anual

em 2.000mm ou mais. A luminosidade deve ser, pelo menos, 1.800 horas/luz/ano com mínimo

de 5 horas/luz solar/dia. A umidade relativa do ar em torno de 80% é ideal para a planta. A

temperatura tem efeito sobre o número de folhas emitidas, número de cachos produzidos e teor

de óleo nos frutos; a disponibilidade constante de água no solo (segundo quantidade e

distribuição das chuvas) determina produções elevadas de cachos de dendê. Plantios em

regiões com déficit hídrico prolongado devem ter suprimento com irrigação artificial.

Solos: Devem ser profundos (profundidade efetiva acima de 90cm), não compactados

permeáveis (boa aeração e boa circulação de água), bem drenados com boa retenção de água,

areno-argilosos a argilo-arenosos (25 a 30% de partículas finas) e não devem ser pedregosos.

Ainda os solos devem apresentar bom teor de matéria orgânica e bom equilíbrio de elementos

minerais.

O dendezeiro adapta-se bem a solos ácidos e desenvolve-se, normalmente, numa faixa de pH

entre 4 e 6. Os terrenos para plantio devem ser planos a ondulados (declividade máxima em

5%) e altitude até 600m.

2.4 FORMAÇÃO DE MUDAS

A origem da planta e o processo de formação das mudas determinam o êxito da plantação

comercial do dendezeiro. Na Bahia indica-se o uso de material reprodutivo da variedade

Tenera para formação de mudas comerciais. A CEPLAC produz sementes pré-geminadas de

Tenera. A formação de mudas passa pelas etapas de pré - viveiro e viveiro.

Pré - viveiro: ao receber as sementes pré - geminadas o produtor ou viveirista faz uma escolha

separando aquelas que possuam caulículo e radícula com tamanho entre 10 e 15 milímetro

para semeio imediato; as sementes restantes ficam por mais 4 a 8 dias na caixa de isopor que

as trouxe para alcançarem tamanho de utilização. Em sacos de polietileno escuro de 10cm x

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20cm x 5mm (espessura), cheios com terriço de mata onde a semente pré - geminada é

plantada; os sacos podem ser dispostos em canteiros com largura máxima de 1,2m e com

sombra inicial de 50% que vai sendo retirada à medida que a plantinha se desenvolve. Após 4

meses a muda deve apresentar 4 folhas lanceoladas estando apta para o viveiro.

Viveiro: é feito a céu aberto, localizado perto de fonte de água abundante, em terreno plano

com ligeira inclinação (p/drenagem). Os sacos de polietileno devem ter dimensões 40cm x

40cm x 20mm, de espessura contendo 28 furos no terço inferior e com capacidade para

receber 20-25 Kg de terriço; este deve ser retirado dos primeiros 10cm de altura no solo, ser

argilo-arenosos, rico em matéria orgânica. Passar o terriço através peneira (malha 2cm) para

eliminar torrões, madeira, pedra, outros; os sacos são cheios a terra comprimida por 3 ou 4

vezes no enchimento - e as mudas transplantadas com terriço. Os sacos são dispostos no

viveiro em forma de triângulo eqüilátero com pistas de acesso de 5m de largura. Se o tempo de

viveiro for de 7-8 meses o espaçamento de viveiro deve ser 60cm. (entrelinhas) x 70cm

(entresacos) com população de 19 mil mudas/hectare; se o tempo for de 8 a 10 meses o

espaçamento será de 50cm com população de 14 mil mudas/ha e a duração for de 10 a 12

meses o espaçamento deverá ser de 85cm x 100cm com população de 10 mil mudas/ha.

Após colocação do saco em posição definitiva e antes da repicagem verificar se a superfície do

terriço está 2-3cm abaixo da borda do saco. Os tratos indispensáveis ao viveiro são irrigação,

monda, adubação e controle de pragas.

Irrigação: o fornecimento de água deve ser elevado à medida que a muda cresce; para

irrigação por aspersão da planta de até 2 meses de viveiro necessita de 250ml/saco/dia (5mm);

entre 2 e 4 meses 300ml/saco/dia; e de 4 a 6 meses 350ml/saco/dia. A partir de 7 meses o

viveiro exige mínimo de 8mm/dia (80m3/ha/dia).

Monda: deve-se efetuar a eliminação de ervas daninhas (2 a 3 vezes/mês).

Adubação: deve-se preparar mistura contendo 3Kg de uréia, 4Kg de superfosfato triplo, um kg

de cloreto de potássio e 2Kg de sulfato de magnésio e aplicar no saco segundo tabela 4,

abaixo:

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TABELA 4: Quantidade de mistura / muda

Idade de repicagem grama de mistura / muda

1 a 3 meses 5

4 a 6 meses 10

7 a 9 meses 15

10 a 11 meses 20

Fonte: Manual, 1989

A muda estará apta para o plantio definitivo com cerca de 60cm de altura e 10 a 12 folhas

definitivas. Necessita-se de 234 sementes pré-geminadas para formação de 143 mudas para

plantio e mais 8-10 mudas para replantio.

2.4.1 Plantio

FOTO 1: Plantação de dendezeiro híbrido

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Fonte: Arquivo Pessoal do Autor, 2002. Fazenda Serra Grande/Taperoá (BA).

Escolha da área: deve ser plana preferencialmente, a ondulada (máximo 5% e aceitável até

8%) para facilitar as operações (preparo de área, tratos, colheita, transporte). Essa área deverá

estar próxima à usina de beneficiamento.

Preparo da área: pode ser manual (broca, derruba, abertura de linhas e pontos de plantio);

mecanizado (derruba, queima, enleiramento) ou misto (manual + mecanizado). Cada bloco ou

talhão deve ficar separado do adjacente por uma faixa de 13,5m de largura (para estradas para

tratos culturais e transporte).

Cobertura vegetal: após o preparo da área recomenda-se o plantio de uma cobertura verde que

se estabeleça rapidamente; indica-se o uso da leguminosa Puerária phaseoloides (protege o

solo, controla ervas daninhas e fixa ao solo nitrogênio atmosférico). A semeadura é feita em

toda a área utilizando-se 1 a 2Kg de sementes por hectare, que tiverem a dormência quebrada

por imersão em água quente (75ºC) de um dia para outro. Deve-se manter a leguminosa longe

do dendezeiro fazendo-se 9 coroamentos da planta por ano.

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Coveamento/espaçamento: piquetea-se a área adotando-se o espaçamento de 9m x 9m, na

forma de triângulo eqüilátero, que determina espaçamento de 7,8m entre as linhas de plantio e

população de 143 dendezeiros por hectare.

A cova, com dimensões de 40cm x 40cm pode ser feita manual ou mecanizada. Na abertura da

cova separa-se a terra dos primeiros 15cm, que vai ser misturada a adubos e colocada no fundo

da cova.

Plantio das mudas/consorciação: planta-se no início do período chuvoso; retira-se o saco

plástico sem desmanchar o torrão e coloca-se a muda na cova com o coleto ao nível da

superfície do solo. É necessário comprimir a terra em volta da muda e nivelar a área num raio

de 1,5m do pé do dendezeiro. O plantio do dendezeiro é feito em blocos ou talhões de 250 a

300m de largura (28 a 33 plantas/linha) por 500 a 1.000m de comprimento (63 a 127

plantas/linha de plantio).

A planta admite consorciação desde início do desenvolvimento até o início de produção - com

culturas anuais e hortaliças (milho, feijão, outras), desde que as linhas de cultura guardem

distância da linha de plantio do dendezeiro sem estabelecer concorrência.

2.4.2 Tratos Culturais

Coroamento: Para evitar concorrência de ervas, afastar roedores e facilitar a colheita, capina-

se em torno do dendezeiro ou pratica-se o "coroamento". Nos primeiros anos o raio do

coroamento deve ser de 1,5m em torno do dendezeiro o que pode ser aumentado para a

colheita. Cinco coroamentos na época chuvosa e três no período menos chuvoso podem ser

suficientes para proteger o dendezeiro.

Roçagem: A eliminação periódica da vegetação existente nas entrelinhas torna-se necessária

nos primeiros anos pós-plantio; isto facilita o estabelecimento, desenvolvimento da

leguminosa e favorece as operações de manutenção do dendezal.

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Adubação: Nos quatro primeiros anos pós-plantio a adubação do dendezal é feita em função

da fertilidade natural do solo e de experiências com plantios na região. Para desenvolvimento

e produção do dendezeiro e segundo resultados da análise de solo pode-se recomendar os

seguintes níveis de elementos para o dendezeiro, a saber:

TABELA 5 - Adubação do dendezeiro (desenvolvimento e produção)

NUTRIENTES MESES

(Resultados da Análise de Solos) 2 12 24 36(1)

N (kg/ha)

Mineral ou Nitrogênio Orgânico 13 26 40 52

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P2O5 (kg/ha)

Fósforo no Solo – ppmP (Mehlich)

Até 5 13 26 40 52

6 a 15 7 13 20 26

K2O (kg/ha)

Potássio no Solo-ppmK (Mehlich)

Até 45 28,5 57 85 114

46 a 100 14 28 42 57

Fonte: Manual... 1989

1. - Repetir essas doses a partir do 3º ano

OBS: Imprescindível o uso de cudzu tropical (Puerária); a adubação complementar nitrogenada poderá se repetir

a cada 6 meses. No 1º, 2º e 3º anos adicionar, à adubação, 60, 80 e 120Kg de sulfato de magnésio.

2.4.3 Pragas do Dendezeiro

Roedores: mamíferos que danificam o pecíolo das folhas podendo atingir o meristema central

causando morte da planta.

Bicudo do coqueiro: Rhyncophorus palmarum, Coleóptera - O adulto é besouro negro, com

46-50mm de comprimento; a fêmea deposita seus ovos nos cortes das folhas e cachos. Esses

ovos liberam lagartas esbranquiçadas sem patas, recurvadas que se alimentam do caule da

planta abrindo galerias o que provoca secamento progressivo do dendezeiro. O bicudo é o

principal transmissor do nematóide causador da doença anel vermelho.

O inseto é controlado com o auxilio de armadilhas feitas com pedaços de cana ou de tronco de

palmeiras nativas (bacaba). Os pedaços são pulverizados com calda de Furadan 350 SL

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(120ml para 20 litros de água). As armadilhas devem ser renovadas semanalmente e

queimadas após uso.

Broca-das-raízes: Sagalassa valida, Lepidoptera - Adulto é borboleta pequena, antenas cor

escura; forma jovem é lagarta branco-creme que ataca o sistema radicular do dendezeiro

destruindo-o totalmente.

O inseto é controlado através de pulverizações no solo, num raio de 50cm ao redor do tronco,

com calda de Endosulfan (4g do princípio ativo por planta em um litro de água). Após 3

pulverizações anuais efetiva-se o controle.

Lagartas desfolhadoras: Sibine fusca - Brassolis sophorae, Lepidoptera.

Sibine: lagarta urticante, cor verde pálida a azul-clara, que vive em colônias de 10-60

indivíduos. Ataca, inicialmente, a parte inferior do folíolo e depois todo ele sobrando apenas a

nervura central. O controle, com pulverizações com Carbaryl 85 M (Carvin, Sevin) com dose

de 200g do produto/100 litros de água.

Brassolis: lagarta com cor marrom-avermelhada e estrias longitudinais marrom-claras. Vivem

em grupos, escondem-se durante o dia em ninhos formados por folíolos e teias.

O controle é feito pela destruição dos ninhos e pulverização com Dipel ou similar com calda

de 300g/litro de água.

Castnia: Castnia daedalus, Lepidoptera - O adulto deposita ovos nas axilas das folhas; deles

saem lagartas branco-creme que abrem galerias no pedúnculo do cacho (cabo), passam de

cacho a cacho e vão ao tronco.

Pulveriza-se o pedúnculo dos cachos com agroquímicos à base de triclorfom 50 (200-240g do

produto comercial em 100 litros de água).

Anel vermelho: enfermidade produzida pelo nematóide Bursaphelenchus cocophilus –

atacada, a planta reduz o crescimento das folhas centrais que permanecem juntas formando

coluna compacta e ereta; os folíolos podem mostrar-se enrugados, por vezes. As folhas em

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colunas começam a amarelecer e podem secar e apodrecer, as folhas intermediárias e baixas

tornam-se amarelo-bronzeadas, há secamento foliar e morte da planta. Plantas afetadas devem

ser destruídas.

Controle deve ser aplicado ao bicudo do coqueiro (principal transmissor do nematóide).

Fusariose: O agente causal é o fungo Fusaruim oxyspoorum f. sp elaedis; amarelecimento

pálido (verde-limão) que progride das folhas mais velhas para as medianas como sintoma

inicial. Com a evolução do amarelecimento o fungo provoca secamento rápido das folhas mais

velhas que se quebram, folhas novas são atacadas até a morte da planta. Não há tratamento

curativo. Indica-se uso de variedades resistentes ou tolerantes.

Amarelecimento fatal: moléstia causa amarelecimento dos folíolos basais das folhas centrais

(entre quarta e décima folha). Não há medidas de controle.

Machitez: doença causada pelo protozoário Phytomonas sp; há coloração amarronzada nas

extremidades do pecíolo das folhas mais velhas que progridem e causam secamento da folha.

Deve-se eliminar plantas doentes e queimá-las.

2.4.4 Colheita/Produção

A colheita é praticada ao longo do ano utilizando-se instrumentos variados (ferro de cova,

foice) para coleta dos cachos (segundo idade e altura das plantas).

Quando frutos (não mais que dez) são encontrados soltos caídos ao pé da planta identifica-se o

estágio ideal de maturação para fins de colheita. A maturação dos cachos ocorre ao longo de

todo o ano o que exige que os intervalos de colheita sejam de 10 a 15 dias. O transporte dos

cachos para o beneficiamento deve ser o mais rápido possível; das parcelas de plantio aos

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pontos à beira das estradas o transporte é feito por bois, burros, microtratores; da estrada para

as usinas o transporte é feito em caminhões ou carretas basculantes.

Um plantio bem conduzido inicia produção comercial ao final do terceiro ano pós-plantio com

produção de 6 a 8 toneladas de cachos/hectare. No oitavo ano a produção alcança de 20 a 30

toneladas de cachos e até 35t/cachos/hectare. Até o décimo sexto ano esse nível de produção

se mantém declinando, ligeiramente, até fim da vida útil produtiva do dendezeiro aos 25 anos.

O rendimento do óleo de dendê é de 22% do peso dos cachos e rendimento do óleo de

palmiste é de 3% do peso dos cachos.

FOTO 2: Cacho de dendê

Fonte: Arquivo Pessoal do Autor 2002. Parque Industrial de OPALMA/Taperoá.

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3 BENEFICIAMENTO DA PRODUÇÃO

As razões econômicas pelas quais devemos nos esforçar pela industrialização do dendê estão,

fundamentalmente, no fator comercial evidenciando na realidade de que os óleos (produto)

valem muito mais do que as sementes (matéria-prima).

A natureza e valor econômico, também, de seus subprodutos, participando dos pontos capitais

e secundários da indústria, representam um bom auxílio para o negócio, ou como matéria

alimentar dos animais, ou como fertilizantes, a exemplo da maioria das outras tortas e farelo.

O dendê é uma oleaginosa que produz dois óleos, o da polpa e o da amêndoa. São produtos de

estrutura física distinta e com processos específicos de extração.

Para extração do óleo de palma ou azeite de dendê utilizam-se duas modalidades: o processo

rudimentar do emprego do “Rodão”1 e o processo industrial.

3.1 PROCESSO DO “RODÃO”

Depois de colhidos, os cachos são transportados para os rodões através dos animais e

armazenados por um período de 4 a 5 dias, quando os frutos são cortados e separados da peça

para, em seguida, serem cozidos em um tacho com água a uma temperatura de 100º C durante

6 horas, aproximadamente.

Cozidos, os frutos são levados para o rodão, onde são esmagados até serem transformados em

massa de polpa e nozes. Esta massa é levada para um tanque de cimento com capacidade de 2

a 3 mil litros, contendo água fria. A massa é agitada manualmente até a separação do óleo

1 Roda de pedra de 150 kg movida por tração animal.

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bruto pela flutuação e decantação das nozes e fibras; o óleo bruto é transferido ao tacho para

ser purificado, o que é conseguido ao fogo brando, durante mais ou menos 6 horas.

O óleo é coletado cuidadosamente, para não revolver o material sedimentado e colocado em

lata de aproximadamente 18kg, já pronto para a venda.

As nozes retiradas do tanque de lavagem são espalhadas em área a céu abertas próxima ao

rodão, onde permanecem durante duas semanas. Após a perda da umidade, facilita sua quebra

para a extração do palmiste. Os palmistes são separados das cascas e depositados em sacos,

prontos para a comercialização.

O rendimento do rodão é, de 10% a 11% de óleo/quilo beneficiado da variedade “dura” e de

13% a 14% na variedade “tênera”. Em face do lento processo de fabricação e das impurezas a

que o óleo está sujeito, nesse método, o índice de acidez atinge entre 10% a 20%. Esta é a

razão porque se torna impróprio ao fabrico de margarina e laminação de folhas de flandres,

que exigem teores de acidez de 2% a 6%, no máximo.

FOTO 3: Beneficiamento artesanal (rodão) do dendê- Taperoá (BA)

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Fonte: Arquivo Pessoal do Autor, 2002. Fazenda Carapaça.

3.2 PROCESSO INDUSTRIAL

Esterilização/debulha do cacho: O cacho é submetido ao vapor da água a 130ºC e 2kg/cm2 de

pressão, por 60 minutos; isto evita desenvolvimento da acidez e facilita desprendimento do

fruto; em seguida, o cacho é levado ao debulhador para separar os frutos.

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Digestão da polpa/prensagem: Os frutos vão ao digestor para liberar o óleo das células

oleífera, e a massa que sai do digestor é prensada e o óleo de dendê é extraído. O que resta,

sementes + fibras (torta) passa pelo desfibrador para liberar a semente.

Descascação da semente / prensagem: Sementes são levadas ao polidor que retira restos de

fibra, depois ao secador, por fim à descascadora centrífuga onde são quebradas. Separadas das

cascas as amêndoas são trituradas e prensadas para liberar o óleo de palmiste e torta de

palmiste. O óleo é então depurado e armazenado em tanques apropriados.

Óleo de dendê proveniente da prensagem - óleo bruto passa por um clarificador (que elimina

mucilagens e impurezas) e pelo depurador (que elimina grande parte da umidade). Ainda após

passar por um secador é armazenado em tanques providos de aquecimento constante.

O diagrama de fluxo a seguir (Figura1) mostra o processo de industrialização de cachos de

frutos frescos de dendê.

FIGURA 1: Diagrama de fluxo industrialização de cachos de frutos frescos de dendê e

extração de óleo amêndoa

Cachos de Dendê

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Esterilização

Debulhamento Buchas Vazias

Frutos Incineração

Digestão

Prensagem Óleo Clarificação

Fibra/Nozes Lodo Óleo Bruto

Desfibrador Fibras Centrifugação Centrifugação

Nozes Lodo Oleoso

Secagem Caldeira Água Mineral Secagem

Queda

Separação de

Amêndoa/Cascas

Cascas

Amêndoas Secagem Amêndoas (Palmiste)

Fonte: DENPASA, 1981

Óleo

Óleo Bruto

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Extração de óleo de palmiste: Esta etapa pode ser considerada como uma pequena unidade

industrial separada, dado o conjunto de máquinas (quebradoras, separadoras e secadoras), que

visam a obter a amêndoa.

Da amêndoa é extraído um óleo palmiste. Tem cor branca ou ligeiramente amarelada e quase

não apresenta cheiro.

O óleo de amêndoa corresponde de 9 a 10% da produção oleífera de dendezeiro.

Quimicamente, o palmiste tem as seguintes características:

Ponto de fusão C – 26 – 29;

% de óleo – 46 – 53

Índice saponificação – 246 – 249

Índice de iodo – 14,5 – 19

As nozes no silo secador permanecem aquecidas por cerca de 16 horas o que permite reduzir o

teor de umidade, facilitando a quebra. As nozes secas são classificadas por peneiras especiais e

seguem para o quebrador. A mistura de cascas, nozes e amêndoas são levadas para o

hidrociclone que, por gravidade, separa as cascas das nozes não quebradas e amêndoas.

As amêndoas seguem para um silo secador, para evitar o aparecimento de fungos e

fermentação durante o armazenamento. Na saída do silo secador, as amêndoas são ensacadas

para serem comercializadas. As cascas são utilizadas na caldeira como combustível.

A principal vantagem do processo industrial sobre o beneficiamento do “rodão” é a obtenção

de um óleo isento de impurezas e com baixa acidez, o que o torna especialmente indicado

para a siderurgia e a indústria alimentar.

a) Pré-limpeza As amêndoas passam por um processo de limpeza em peneira vibratórias

e oscilantes, que separam cascas, resíduos, etc. Depois, elas são enviadas a um silo-

pulmão, com capacidade mínima de oito horas de trabalho contínuo na fábrica. Uma

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balança de fluxo controla a produção. Em seguida, as amêndoas seguem para o moinho

de martelo ou trituradores, que as quebram em seis a oito partes.

b) Laminação Já quebrada, as amêndoas passam por um laminador de cilindros de rolos

lisos, os quais iniciam o rompimento das células oleaginosas.

c) Cozimento As amêndoas laminadas são cozidas a umidade, vapor e temperatura

controlados adequadamente. Esse controle possibilita que, na etapa seguinte, suas

células se rompam, facilitando a extração do óleo.

d) Prensagem A massa cozida entra na prensa helicoidal contínua tipo Expelle, onde,

através de pressão mecânica, a maior parte do óleo é extraída pelo rompimento das

células. Da prensa, saem dois produtos: óleo bruto e resíduo (torta) contendo ainda

uma certa percentagem de óleo. Essa torta segue para um moinho de martelo, onde,

depois de moída, é ensacada e comercializada como ração ou adubo.

e) Filtragem do óleo bruto O óleo extraído nas prensas contínuas tem uma pequena

percentagem de impurezas (mucilagem ou farinetas), que devem ser eliminadas. Para

tanto, ele passa através de uma rosca helicoidal que alimenta uma paineira vibratória.

As impurezas retornam ao processo para recuperação do óleo. O óleo é, então,

armazenado em um tanque (com serpentina de vapor) e bombeado a um filtro-prensa.

O óleo bruto filtrado vem através de uma caneleta para um tanque (com serpentina de

vapor), onde é armazenado, e bombeado aos tanques externos para armazenamento.

Assim, temos o óleo limpo e pronto para a comercialização.

O diagrama de fluxo a seguir (Figura 2) mostra o processo de extração do óleo de

palmiste.

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FIGURA 2: Diagrama de fluxo industrialização de amêndoa de palmiste

Palmiste

Pré-

Limpeza

Impurezas

Moagem

Laminação

Cozimento

Prensagem

Moagem Torta

Torta

Moída

Extração

por Solvente

Óleo Bruto

Moagem Filtragem

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Farelo Óleo Filtrado

Fonte: DENPASA, 1981

3.3 COEFICIENTES TÉCNICOS

O aproveitamento industrial do dendê apresenta a composição percentual indicada no Tabela

06 para as variedades Tênera e Dura.

Vale ressaltar que os coeficientes são resultados de observação constante durante o

processamento e de melhoria genética introduzida nos cultivos próprios da OPALMA e dos

produtores individuais que recebem assistência técnica das indústrias.

TABELA 6: Rendimento industrial do dendê em percentagem, segundo as variedades.

Discriminação Tênera Dura

I. FRUTO 61,0 59,0

Pericarpo

- Óleo de Palma

- Água

- Sólidos (resíduos)

49,0

21,0

17,0

11,0

30,0

15,3

9,5

5,2

Nozes (coco)

- Casca

- Amêndoa

12,0

7,9

4,1

29,0

23,2

5,8

II. BUCHA 28,0 30,0

III. ÁGUA 10,0 11,0

Total 100,0 100,0

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Fonte: OPALMA, 1981

4 COMERCIALIZAÇÃO

A comercialização do dendê realiza-se basicamente através do produto “in natura”. Na região

produtora participam no processo de comercialização duas grandes empresas que praticamente

dominam todo o mercado regional (Tabela 7).

TABELA 7: Principais municípios fornecedores de dendê (Bahia)

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FONTE: ASSOCIAÇÃO .... 1995

A matéria-prima é recebida nas próprias unidades industriais ou nos postos de compra

disseminados por toda a zona produtora.

É por meio destes postos de compra que operam os elementos de ligação das unidades

industriais com os produtores, chamados de “agentes intermediários”.Esses agentes

conhecidos do mercado se remunera mediante taxas e comissões auferindo constantemente

sues ganhos, pela aquisição de maior quantidade de matéria-prima.

Indústria Localização Municípios For- Distância do Municí-necedores pio à indústria (km)

OPALMA-Óleo de Palma S/A Iguape (Município de Santo Amaro 11,0Santo Amaro) Cachoeira 38,6

Maragogipe 61,8São Felipe 91,4Salvador 71,2

OLDESA-Óleo de Dendê S/A Valença -Nilo Peçanha 27,5

Ituberá 46,2Cairu 45,5

Camamu 73,2Taperoá 20,4Maurú 216,8

Opalma- Óleo de Palma S/A Taperoá Taperoá -Valença 20,4Camamu 27,0

Cairú 25,1Ituberá 25,8

Nlio Peçanha 7,1Maraú 236,8

Oldesa- Óleo de Dendê S/A Nazaré Nazaré -Jaguaripe 26,0Itaparica 67,6Aratuípe 5,6

Muniz Ferreira 13,8Vera Cruz 61,6São Felipe 47,2

D.Macedo Costa 27,0Santo Antônio de Jesus 31,8

Pindorama- Agricultura Ilhéus Una 80,0Com. Ind. S/A

Valença

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Nesse circuito comercial são considerados o comerciante atacadista e o retalhista, como

elementos que dispõem de um maior grau de liberdade com relação às unidades industriais, e

conseguem garantir sua margem de lucro pela diferença entre o preço pago ao produtor e a

venda às unidades industriais.

As unidades industriais mantêm sempre um “fundo rotativo”, que funciona como capital de

giro, utilizado por seus agentes intermediários para aquisição da matéria-prima. Os recursos de

“fundo rotativo” como adiantamento das industrias aos agentes para movimentarem suas

próprias casas comerciais, inclusive adiantando mercadorias ou dinheiro aos pequenos

produtores, geram um mecanismo que agrava a situação de subordinação e aviltamento de

preço dos produtores.(SILVA, 1974).

A questão do peço pago aos produtores tem sido apontado como um dos principais pontos de

estrangulamento da economia do dendê. De início, as industrias que atuam na área e que hoje

monopolizam a compra de matéria-prima incentivaram os agricultores, dando-lhes assistência

técnica, proporcionando-lhes infra-estrutura econômica (construção e manutenção de estradas

vicinais), bem como pagando preços razoáveis aos produtores. Porém, como a política destas

empresas dirigiu-se para a auto-suficiência, pelo menos parcial, no que diz respeito à matéria-

prima, tendo em vista garantir seus compromissos com o mercado, como também a própria

estrutura monopsônica da comercialização, terminaram por conduzir os produtores de dendê a

uma situação caótica e de completo desestímulo, com o preço por kg da matéria-prima mal

chegando cobrir os custos de produção, mesmo adquirido na fazenda.

Esta situação tem levado os produtores de dendê a buscarem outras opções econômicas,

(economia de escopo) acelerando, desta forma, uma tendência para a diversificação das suas

atividades produtivas. Hoje encontra, e pleno desenvolvimento nas regiões de Valença e

Taperoá os cultivos de cacau, pimenta do reino, cravo-da-índia, guaraná, coco, piaçava,

seringa, além da pesca e de manifestações de um forte potencial turístico.

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Mas, a corrida para outras alternativas, por parte dos produtores de dendê, tem preocupado

menos as agroindústrias do que o fato de muito agricultor ter voltado a produzir o óleo de

dendê nas suas próprias fazendas, diretamente, através de “rodões” manuais e mecânicos.

Este fato vem ocorrendo a partir do congelamento dos preços pelas agroindústrias

compradores de matéria-prima. Segundo esses empresários, as pequenas unidades

processadoras do óleo de dendê (firmas marginais) vêm concorrendo na aquisição da matéria-

prima, criando dificuldades, desta forma, para que possam manter com segurança sua oferta de

óleo e outros subprodutos no mercado nacional.

Este problema, contudo, não parece ter caráter duradouro, posto que as pequenas unidades

industriais já enfrentam dificuldades em processarem o óleo de dendê para o mercado

alimentar, pois as grandes empresas também já entraram neste mercado, com preços bem

abaixo dos vigentes.

O transporte da matéria-prima é um dos pontos problemáticos na comercialização do dendê.

Geralmente o produto “in natura” é transportado das áreas de cultivo aos postos de compra; a

partir daí, as indústrias assumem a responsabilidade, inclusive dos custos do transporte até as

suas instalações. A pulverização das propriedades produtoras, bem como o precário sistema

viário na região, mormente o que diz respeito a estradas vicinais, têm dificultado bastante a

coleta do produto, comprometendo sua qualidade e causando elevadas perdas.

O sistema de armazenagem também é bastante precário, sendo suas unidades localizadas,

freqüentemente, em áreas de difícil acesso. Como o processamento da matéria-prima deve

realizar-se até 72 horas depois de colhido, o ideal seria o processamento no mesmo dia para

que o azeite apresentasse um baixo índice de acidez, esta situação tem causado sérios

problemas quanto à qualidade de óleo produzido pelas empresas. Como conseqüência, os

lucros são diminuídos em função da redução no preço do produto final, quando entregue ao

mercado consumidor.

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Este problema pode também ser indicado como uma das causas de política das empresas

visando a expansão de plantações próprias, de modo a garantir o suprimento da matéria-prima

nas condições desejadas.

5 METODOLOGIA DO SISTEMA AGRÁRIO

O método aplicado nesta análise da produção e do processo produtivo parte de um contexto

geral ao particular, analisando diversos fatos ocorridos, mediante o resgate histórico da região

e uma avaliação econômica dos diferentes sistemas de produção tanto do ponto de vista do

produtor quanto do ponto de vista da sociedade, como complemento de renda e das estratégias

de sobrevivências. Com o resgate histórico, pode-se analisar o passado, formulando-se

hipóteses.

Como as diversificações de produção são as estratégias de sobrevivências na economia do

pequeno produtor, necessariamente as realidades agrárias vêm sendo um conjunto homogêneo

e contrastado do zoneamento agroecológico, da tipologia ou estudo dos diferentes tipos de

produtores e da tipologia de sistema de produção.

A metodologia envolve a pesquisa de campo, a análise e a sistematização de informações das

áreas pesquisadas e a literatura do guia metodológico da Análise Diagnóstico de Sistema

Agrários.(Figura3)

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SIST

EM

A A

GR

ÁR

IO análise dos mapas e dos

estudos já existentes leitura de paisagem resgate da história

Zoneamento agroecológico história do sistema agrário

Tipologia dos produtores e tipologia dos sistemas de

produção

SIST

EM

A A

GR

ÁR

IO

SIST

EM

AS

DE

PRO

DU

ÇÃ

O

Caracterização dos sistemas de produção

Análise econômica

Estudo dos itinerários técnicos

Análise agronômica

“Modelização”

síntese final do DIAGNÓSTICO

elaboração de PROPOSTAS para o DESENVOLVIMENTO RURAL

eventualmente: AMOSTRA

REPRESENTA

eventualmente: quantificação dos diferentes tipos de sistemas de produção

AMOSTRA DIRIGIDA

revi

são

das c

oncl

usõe

s e d

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eses

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teri

ores

FIGURA 03: As etapas de

áli di ó i d

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5.1 ÁREA ESTUDADA

5.1.1 Taperoá Resgate Histórico

O Município de Taperoá originou-se de uma aldeia indígena denominada São Miguel de

Taperoá, fundada em 1561 pelos jesuítas.

Município criado com a transferência para a povoação de Taperoá, da sede do antigo

Município de Nova Boipeba, pela Revolução Provincial de 29.05.1847, recebendo a

denominação de Taperoá.

A sede, que, devido à transferência da inovação de Senhor do Bomfim de Nova Boipeba, esta

criada em 1838, para a capela de São Brás, por resolução Provincial, de 21.07.1849, ganhava

foros de freguesia, foi elevada à categoria de cidade, por força de Lei Estadual, de 18.04.1916.

Taperoá está localizada à margem do canal que se separa o continente do Arquipélago de

Tinharé, denominado de Salgado. Além de uma bela praça com prédios históricos, a cidade

tem uma fábrica de beneficiamento do Dendê e um lugar de atração no Canal de Taperoá,

denominado da Ponte Nova, onde no passado, partia o vapor para Salvador. Hoje tem

capacidade para receber escunas, saveiros e veleiros de calado de maior porte.

A Ponte Nova é hoje um ponto de apoio dos pescadores e dos barcos de pesca, além de servir

como porto de desembarque da produção agrícola das ilhas, principalmente dendê, piaçava e

coco.

O município possui grandes reservas florestais, onde predominam madeiras nobres como

maçaranduba, sucupira, vinhático, putumuju e louro.

Na língua tupi, Taperoá significa o habitante das terras ou ruínas.

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A igreja de São Brás (século XVII), fica no ponto mais alto da cidade. O acesso à igreja se faz

por uma longa escadaria do alto da igreja, descortina-se uma bela paisagem de toda a cidade e

do braço do mar (salgado) e, ao fundo, vê-se a ilha de Cairu. O casario, e edificações

geralmente térreas são do final do século XIX e início do século XX. Na zona rural, há

belíssimas casas, tais como as da fazenda Bela Vista, Jenipapos e Bom Rotiro. Sobre a

qualidade das águas dos balneários da região, é recomendável informar-se antes do banho.

A superfície total é de 444 km2. A população de 20 mil habitantes, sendo que (60%) dessa

população está localizada em áreas rurais contra (40%) em áreas urbanas. Na produção de

dendê (30%) das famílias da população localizada em áreas rurais.

A densidade demográfica está em torno de (45) habitantes por km2 e uma Taxa de

Urbanização de 40 habitantes.

5.2 MODELO VALOR AGREGADO

Para produzir, o agricultor consome alguns bens que são inteiramente transformados no

processo: adubos, óleo diesel, sementes, agrotóxicos, ração e medicamentos para os animais,

etc. Caso o produtor utilize equipamentos próprios, ele provavelmente também consumirá

peças de reposição, lubrificantes, pneus, etc. Esses bens são denominados de consumos

intermediários (CI).(ANÁLISE...,1985, p. 43-44).

O agricultor pode também ter custos de aluguel de equipamentos ou de contratação de

serviços. Esses custos correspondem, também, em grande parte, a bens transformados no

processo (consumos intermediários ou depreciação) e devem ser considerados na análise.

O agricultor utiliza, ainda, o capital fixo de que dispõe, em parte ou totalmente: máquinas,

implementos, meios de transporte, equipamentos para processamento de produtos (triturador,

debulhadeira, etc.), instalações (galpão, estábulo, cercas, reservas de água, açudes, etc.),

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equipamentos de irrigação, ordenhadeira, animais de tração, etc. Embora esses bens não sejam

inteiramente consumidos no processo, eles são parcialmente transformados, pois sofrem

desgaste e perdem valor anualmente. Então, a depreciação do capital fixo (D) deve ser

considerada.

Existem, evidentemente, outros custos de produção, tais como os impostos, os juros, os

salários e o arrendamento da terra. Nenhum desses itens corresponde a bens consumidos e

transformados no processo produtivo, por isso, eles serão considerados posteriormente.

O resultado da produção pode ser medido pelo produto bruto (PB), que corresponde ao valor

total do que é produzido, seja para a venda, seja para o consumo da família. O leque de itens

que deve ser levado em conta ao se medir o produto bruto pode ser extenso: produtos das

culturas, dos pomares, das hortas, das criações e do extrativismo, lenha, objetos de artesanato

produzidos no estabelecimento para o uso da família ou para a venda, etc. Quando a prestação

de serviços envolve os equipamentos utilizados no sistema de produção (máquinas e

implementos, tração animal, etc.), a receita daí obtida também deve ser incluída.

Quando o produtor acrescenta trabalho aos insumos e ao capital fixo de que dispõe, ele gera

novas riquezas, agregando valor a essas mercadorias. O valor agregado (VA) do sistema de

produção é igual ao valor do que se produziu menos o valor do que se consumiu:

VA = PB – CI – D

Do ponto de vista da sociedade, um valor agregado maior significa um melhor o

aproveitamento dos recursos disponíveis.

Considerando um produtor com uma unidade de beneficiamento artesanal rodão de óleo de

dendê cuja capacidade de 10t/cachos/semana e o custo de matéria-prima seja de R$120,00/ton

e a taxa de extração de 10%.

então:

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PB = 10 ton x 120,00 = R$1.200,00 (custo de produção ou produto bruto). Com a taxa de

extração de 10% , seria:

10 ton 10.000 kg x 0.1 = 1.000 kg de óleo bruto beneficiado.

Sendo o preço de comercialização (TABELA 8) de óleo beneficiado de R$ 20,00/17kg lata,

em compensação adquire R$ 1.176,5. Então, o valor agregado no óleo de palma ou dendê

passaria a ser:

VA = 1.200 – 1.176,5 = 23,5

Porém, no subproduto (nozes), aos 10 toneladas beneficiadas na extração de azeite rende 250

latas de nozes de 14 kg/lata, corresponde a 3,5 toneladas de coquinhos a preço de R$

80,00/ton, o produtor recebe R$ 280,00 na comercialização.Para calcular a renda familiar,

desse beneficiamento, consideram-se os insumos intermediários como, por exemplo, lenhas

cuja quantidade necessária para cozinhar essas dez toneladas são cinco metros equivalendo a

50 reais, e se o número de família fosse de cinco pessoas, a renda familiar ficaria assim:

RA = (PB- Cp)/Utf 1.450 -1.250 = 206,50/5=R$41,3

TABELA 8: Preços dos produtos agrícolas

FONTE: :Coleta de dados do Autor (Elaboração Própria) 2002

Produtos Agrícolas Unidade Preços(R$)Dendê Ton. 110 a120Guaraná kg 1,5Cacau Arroba 100 a 110Cravo - de - Índia kg 6 a 7Óleo de Dendê Lata de 17kg 20Óleo de Plamiste Ton. 2,3Piaçava Arroba 16 a 20Nozes Ton 100Pimenta do Reino Kg 3,3Banana de Terra Cento 5 a 10

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Para os pequenos produtores, o valor agregado no beneficiamento de óleo de dendê só dá para

pagar as despesas da produção ou do produto bruto. O ganho resulta da venda dos subprodutos

(nozes) para a indústria de óleo palmiste. Tais indústrias comercializam óleo de palmiste, as

cascas (utilizadas como carvão vegetal e ativado), e torta para ração animal.

Como maior complemento da renda familiar, existem outros subsistemas de cultivo ou cultura

de significância na região, o guaraná, o cravo-da-índia, a pimenta do reino, o cacaueiro, a

piaçava e a banana de terra. Outra fonte de renda baseia-se no sistema de criação, galinhas,

porcos, cabras, mulas, bois e cavalos.

A grande maioria dos pequenos produtores não planta hortas como alternativa por causa das

formigas cortadeiras ou saúva, preferindo melhor comprar esses produtos. Outro fator

influenciador é o clima úmido da região, impossibilitando assim a atividade de pecuária

extensiva, apesar de os gados serem mais be consorciados com a cultura de dendê.

Independentemente dos resultados de análise dos valores agregados da produção de duas

variedades de dendê, os rendimentos do produtor familiar são praticamente voltados a

subsistência, sem nenhuma perspectiva de desenvolvimento. A qualidade dos produtos não

acompanha as exigências sanitárias, seus mercados dos produtos passam a ser tomadoras de

preços, razões pelos quais os estrangulamentos na comercialização dos produtos é inevitável.

A viabilidade dessa cultura de caráter perene, com ciclo vital econômico de 30 anos, ao

contrário da soja, do amendoim e de outras culturas anuais que exigem renovação constante,

permite aos agricultores familiares a obtenção de rendas garantidas ou permanentes por

período de tempo longo porque produz durante todo o ano, embora as maiores produtividades

para cada cultura tenham sido obtidas nas monoculturas e nos tratamentos culturais.

O pequeno agricultor, quase nunca dispõe de capital para a utilização correta e oportuna da

tecnologia agrícola recomendada e, de modo geral, só se sente encorajado a cultivar plantas

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perenes mediante a utilização de culturas consorciadas ou intercaladas que lhes garantam

algum rendimento em curto prazo ou sua própria alimentação.

Todos os aspectos, tanto tecnológicos (qualidade do produto, tecnologia apropriada) assim

como infraestrutura, falta de assistência e recursos para reformas, e os aspectos sócio-

econômicos caracterizados pelo preço do produto, pela situação financeira e com alto custo de

insumo, limitam a produção familiar.

A rentabilidade da cultura do dendê depende de um complexo de fatores incluindo:

localização em áreas ecologicamente aptas, uso de sementes de alta produtividade, manejo

adequado das plantações, emprego de moderna tecnologia industrial e dimensões do

empreendimento que permitam economia de escala.

O tamanho ideal de uma plantação de dendê fica entre 5 a 10 mil hectares. Para plantações

maiores que 10 mil hectares, a economia de escala alcançada é negativamente afetada pelo

aumento das distâncias para o transporte da colheita. Quando razões econômicas, ligadas ao

escoamento do produto, indique a necessidade de uma área plantada superior a 10 mil

hectares, é aconselhável que o plantio seja executado em módulos máximos de hectares, cada.

Os níveis de produção se estabilizam a partir do 11o anos, correspondendo à idade de 8 anos

para os primeiros plantios.

A produção média, na idade adulta, é de 20 a 21 toneladas de cachos/ ha/ano proporcionando,

com uma extração de 22%, 4,4 toneladas de óleo/ha/ano.

Em condições ecológicas ótimas e com tratos culturais adequados, pode ser obtida produção

superior. Com o emprego de híbridos de alta produtividade, produção, aos 8 anos de idade de

planta, de 22 toneladas de cachos/ha/ano, equivalendo a 4,8 toneladas de óleo/ha/ano.

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5.3 CARACTERÍSTICAS E VALORES ECONÔMICOS DAS VARIEDADES

Produção industrial:

• Dura (subespontâneo): Rendimento 11 a 12% óleo de palma

2,2% óleo palmiste

3,5% torta de palmiste

25% nozes (coquinhos)

6,25% amêndoas

• Tenera 20 a 22% óleo de palma

1,5% óleo palmiste

2,8% torta de palmiste

18% nozes (coquinhos)

05% amêndoas

Na industrialização familiar (rodão mecânico ou tração animal), uma tonelada de dendê dura

(subespontâneo) rende 9 a 10% de óleo de palma integral e 25% de coquinhos (nozes).

A comercialização média da matéria-prima na região Costa do Dendê, Recôncavo Baiano,

Santo Amaro de Purificação a Una, tem-se firmado em R$ 60,00/ton/cachos.

Doravante as plantações atuais (nativo) serão denominadas variedade Dura, enquanto que a

substituição proposta (híbrido) de variedade Tenera.

5.3.1 Variedade Dura

Com o objetivo de calcular o Valor Agregado, estimam-se as funções de lucro líquido para as

duas variedades no período produtivo economicamente considerado.

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Inicialmente, determina-se a função de lucro para a variedade Dura, que forma linear e

algebricamente representada por:

VA = PB – CI - D

Onde:

• Lucro líquido no ano i em R$; =15,00/ha/ano =10%/ha/ano.

• Renda da venda do produto no ano i, em R$;=2,5ton/ha/ano x R$60,00= 150,00

R$/ha/ano.

• Mão-de-obra familiar no ano i, em h/d;= 60% sobre venda = 90,00R$/ton (2 h/d)

• Valor dos implementos usados no ano i, em R$; não existe.

• Valor da manutenção de veículos e animais no ano i em R$; incluso no custo de colher

mão-de-obra.

• Valor pago com fretes no ano i, em R$; não existe.

• Roçagem manual no ano i, em R$; = 30% sobre a venda = R$45,00 /ha/ano.

• Valor das despesas gerais no ano i, em R$. R$=130,00 /ha/ano.

Considerando um palmar, formado por 143 palmeiras (compasso ideal),12% da taxa de

extração de azeite e 25% de palmiste e o peso médio são de 25kg.

Então:

5.3.2. Variedade Tenera

Variedade Dura

Em óleo de palma143 palmeiras x 25 kg de cachos x 12% de óleo nos cachos =429 kg de óleo de palma

Em palmiste143 palmeiras x 25 kg de cachos x 25% de palmiste (nozes) =893,75 kg de palmiste

VA = PB - CI - DVA = 504,706 + 71,5 - (12,5+90+3,75+10,83)=459,126

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Dentro das mesmas características da anterior, a função de lucro líquido para a variedade

“tenera” é calculada por um palmar de 143 dendezeiros por hectare, com valores econômicos

de 22% de taxa de extração de óleo de polpa e 18% de palmistes cujo peso médio de cacho são

de 30kg representada por2:

VA = PB – CI – D

onde:

• Lucro líquido no ano i, em R$; = 310,00 R$/ha/ano = 30%/ha/ano.

• Renda da venda do produto no ano i, em R$; = 17 ton/ha/ano.

• Mão-de-obra familiar no ano i, em h/d; (empresa) = 203,00 R$/ha/ano.

• Mão-de-obra empreitada no ano i, em h/d; mão-de-obra formalizada com registro em

C.T.P.S. com meta de produtividade, h/d = 20 ha/h/d.

• Mão-de-obra diarista no ano i, em h/d; não adota esta opção.

• Valor dos implementos usados no ano i, em R$; = 150,00 R$/ha/ano.

• Valor da manutenção de animais no ano i, em R$; não existe.

• Valor da manutenção de máquinas e veículos no ano i, em R$; = 100,00 R$/ha/ano.

• Valor de juros pagos no ano i, em R$; não opta por financiamento.

• Valor de fretes pagos no ano i, em R$; não existe.

• Valor de fertilizantes usados no ano i, em R$; = 572kg/ha/ano x 0,45 =

275,00R$/ha/ano.

• Valor de defensivos usados no ano i, em R$; não existe.

• Valor das despesas gerais no ano i, em R$; = 710,00 R$/ha/ano.

• Valor de mudas no ano i em R$; só a partir do trigésimo ano. Custo de mudas nacional

por 300,00R$/ha.

• Custos por hectare na cultura do dendê Tenera, onde são utilizados animais para

transporte se produção. Despesas gerais = 913,00 R$/ha/ano.

2 Dados pesquisados na Fazenda Misericórdia da Oldesa com Topografia Plana, 100% mecanizável.

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• Custos operacionais de implantação e manutenção de um hectare de dendê até o início

da produção; = US$ 2.291,01 dólares por hectare.

As duas variedades mostram a substancial diferença de produtividade e características físicas

em óleo dos cachos produzidos por aquelas plantas.As plantações geneticamente melhoradas,

apresentam rendimentos bastante superiores aos dendezeiros nativos. Comparando-os, a

variedade tenera apresenta maior percentagem de óleo de polpa (22%) pericarpo (49%), nozes

(12%) e frutos (61%), bucha (28%) e água (10%) quando comparado com as variedades

nativas (12%) percentagem de óleo, fruto (59), pericarpo (30), nozes (29), bucha (30) e água

(11%) em relação aos frutos.As características são muito baixas, nos palmares nativas, dado

que seus frutos apresentam, com endocarpo de espessura delgada, com fibras dispersas na

polpa.

6 POSSIBILIDADES DA ELAEICULTURA NA GUINÉ-BISSAU

A estrutura econômica da Guiné baseasse atualmente na exportação e aproveitamento dos seus

recursos agro-silvícolas, em que é potencialmente rica esta nossa parcela do território

nacional.

Variedade Tenera

Em óleo de palma143 palmeiras x 30 kg de cachos x 22% de óleo nos cachos = 943,8 kg de óleo de palma

Em palmiste143 palmeiras x 30 kg de cachos x 18% de palmiste (nozes) = 772,2kg de palmiste

VA = PB - CI - D VA = 1110,35 + 61,776 - ( 16,916+12,5+8,333+22,916+59,166+300+76,083)=676,215

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Assim, a exportação do amendoim em casca ou descascado do palmiste e das madeiras, é

esteio da sua economia agrária de exportação.

Em relação a estes produtos, uma intensificação da produção unitária do amendoim, uma

melhor racionalização da exploração florestal tendo em vista a sua maior industrialização

local, e um incremento da exploração dos palmares subespontâneos, com o fim de um maior

aproveitamento do cocorote, muito podem vir a contribuir para uma melhoria da balança de

exportação. Seria também de aconselhar uma maior industrialização local do palmiste e

amendoim.

O arroz, de que esta província tem produção apreciável, uma vez que este produto tem maior

interesse para a economia interna da província do que para a exportação, dado que o que se

produz, é quase totalmente consumido internamente, e apenas, em certos anos se fazem

pequenas exportações. É o arroz uma cultura de largas possibilidades na Guiné, onde os seus

povos, especialmente os balantas3, o cultivam com uma técnica bastante aceitável e esmerada.

Outros produtos ligados ao agro, como milho, o sorgo, o gergelim, etc, têm também na Guiné

boas condições ecológicas do desenvolvimento, mas de momento, ainda estão na fase de

serem agricultados tendo apenas em vista o consumo local das populações. Sem esquecer

igualmente a larga possibilidade, especialmente no sul da província, da bananicultura e, em

quase todo o território, do abacaxi e dos cítricos.

Em considerações sobre o seu potencial e futuro agro-florestal, sobre as possibilidades de uma

cultura que pode constituir uma riqueza significativa desde que racionalmente orientada.

Trata-se da Elaeicultura, ou seja, a cultura da palmeira de dendê.

3 Balantas são as tribos da Guiné-Bissau.

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Enormes extensões ao longo do litoral, desde S. Domingos a Catió e ao longo das linhas de

água da Guiné, estão cobertas de palmeiras (Elaeis Guineensis) que em certos locais formam

povoamentos estremes e extensos.

A área ocupada pelo Elaeis Guineensis calcula se em cerca de 90 mil hectares.

De uma forma geral estes extensos palmares não são totalmente explorados, e que apenas 10%

a 15% da população são aproveitadas.

As populações rurais, duma forma geral rica e sem dificuldades de maior, apenas exploram

uma pequena percentagem destes palmares limitando em muitos casos, à apanha, do chão, dos

cachos que caem naturalmente das palmeiras, e das quais apenas aproveitam o palmiste.

Uma boa e bem orientada campanha de mentalização destas populações, e a instalação de

postos de descasque manuais ou maçaricos, muito poderá contribuir para o incremento da

exploração dos palmares subespontâneos, uma vez que o trabalho de quebre manual do

palmiste é medroso e de pequeno rendimento, e normalmente consiste empreitada das

mulheres e crianças.

Pode parecer, à primeira vista, um tanto descabido apresentar um trabalho sobre a

possibilidade da elaeicultura na Guiné-Bissau se afirma existirem grandes áreas de palmar e

que estes são pouco explorados.

Na verdade para quê falar em cultura de uma espécie vegetal que existe já em tão larga escala

e sob a forma natural?

Assim seria certamente, se não fosse o fato de as palmeiras da Guiné produzirem cachos cujos

frutos estão praticamente reduzidos ao palmiste com uma camada de polpa de escassos

milímetros de espessura e, portanto, produzindo uma quantidade de óleo muito pequena em

relação ao peso dos cachos.

Modernamente, e tendo em vista uma exploração econômica de um palmar, o produto

principal é o óleo de polpa, aparecendo o palmiste como secundário.

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Nos palmares subespontâneos da Guiné, dada a diminuta espessura da polpa nos frutos, dá-se

justamente o inverso, isto é, dado o pequeno que este se obtém, o palmiste tem de se

considerar como produto primário aparecendo o óleo como secundário, o que não pode tornar

esta exploração, ao nível empresarial, como econômica.

A confirmar esta idéia posso apontar todos os trabalhos de melhoramento da palmeira que se

faz na Nigéria, Costa do Marfim, Daomé, Angola, Brasil, Malaia, etc, em que aqueles são

orientados no sentido de se obterem cultivares altamente produtivo em óleo de palma, dados o

maior interesse econômico deste produto, e onde, as formações naturais de palmar, também

extensas, não diferem muito da Guiné.

Na Guiné há possibilidades, aliás, já demonstradas, de se lançar a “Elaeicultura” no sentido da

maior produção de óleo, atirando para segundo plano a produção do cocorote.

Os palmares emitentes no Posto Agrícola de Pessubé e em Catió pertencente aos Serviços

Oficiais, e, plantações existentes no Sul da Província de firmas locais, são a prova real do que

acabo de afirmar.

Para concretizar melhor esta idéia, seria de maior interesse transcrever alguns números e dados

resultantes de estudos feitos em relação a palmares subespontâneos e palmares plantados,

originários de sementes melhorados introduzidas já há alguns anos na Guiné-Bissau.

Os elementos seguintes, são os rendimentos das palmeiras dos povoamentos subespontâneos

na área da Administração de Cacheu (Carreira, 1952).

TABELA 9: Rendimentos das palmeiras dos povoamentos subespontâneos Peso médio dos Cachos Percentagem de Sementes Percentagem de óleo Precentagem de palmisteem (500unidades) kg debulhadas em relação aos puro extraído da polpa descascado ( e sem impureza)

cachos em relação ao peso das em relação ao peso bruto de sementes palmists (com casca)

Minimo Médio Máximo Mínimo Médio Máximo Mínimo Médio Máximo Mínimo Médio Máximo3,562 4,423 6,531 57,86 54,95 61,75 5,42 6,94 8,25 31,07 32,68 34,3

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FONTE: Boletim Cultural da Guiné-Bissau

Observam-se os dados obtidos nos palmares plantados no Posto Agrícola de Pessubé. As

palmeiras que constituem as plantações deste Posto Experimental são de tipo duro, e ao que

parece, toda a planta que as constituem são originárias de sementes colhidas numa plantação

de uma antiga firma, denominada Gambiel, situada perto de Bambadinca. Ao que consta,

aquela empresa importou as sementes que constituíram aquele palmar, diretamente de

Sumatra.

TABELA 10: Produção de cachos por árvore adulta

FONTE: CARREIRA, 1952

Estes palmares do Pessubé foram objetos de intenso estudo, tendo em vista a obtenção de

genearcas para programa de melhoramento da Elaeis guineensis, quer em curto prazo, sobre a

produtividade destas palmeiras e para o que se determinou, à sociedade, as características

físicas e riqueza em óleo dos cachos produzidos por aquelas plantas.

Na tabela a seguir, são os valores, pois muitos outros foram determinados, que têm interesse

comparar os obtidos por António Carreira, no seu valioso estudo sobre o potencial dos

palmares naturais. Valores para as palmeiras adultas, isto é, em plena produção.

TABELA 11: Valores das Palmeiras adultas em plena produção

Produção de Cacho por Árvore Adulta 03 a 05 com peso de 04 a 05 kgRendimento Médio em Frutos Média de 05 cachos a 5 kg = 25 kgRendimento Médio de cada Cacho 61,75 no máximoEm Palmiste (já descascado) 34,26 no máximo

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FONTE: CARREIRA, 1952

Uma rápida apreciação dos três quadros mostra-nos logo a substancial diferença entre os dois

tipos de palmar, isto é, o subespontâneo da Guiné e o originário de material selecionado

importado.

Assim, se o número de cachos produzido anualmente se assemelha bastante, o seu peso médio

apresenta diferenças apreciáveis, sendo de 4,4kg para o material subespontâneo e de 23,9kg

para o melhorado.Igualmente a percentagem de óleo no cacho (percentagem de óleo extraído

da polpa em relação ao peso da semente vai de 16,7% para o material melhorado para 6,9%

nos palmares naturais).

Esta diferença é, não só devido à maior percentagem de sementes debulhadas e relação dos

regimes do material melhorado (71,5%) quando comparado com a que se registra nos

palmares naturais (54,9%) mais também à maior percentagem de polpa em relação aos frutos

(58,0%) existentes nos palmares originários de Sumatra.

Dos palmares naturais da Guiné, esta característica é francamente baixa, dado que os seus

frutos apresentam, de uma forma geral, apenas uma delgada película de polpa em volta da

semente.

Considerando um palmar teórico, de um hectare, formado por 143 palmeiras (compasso ideal)

de origem local e de plantas idênticas às do Posto Agrícola do Pessubé, teríamos as seguintes

produções unitárias.

Especificações ValoresProdução Média Anual de Cachos 109, 3 kgPeso Médio dos Cachos 23,9 KgNúmero Médio dos Cachos 4 a 5Percentagem de Óleo nos Cachos 16,70%Percentagem de Palmiste nos Cachos 7,10%Percentagem de Frutos nos Cachos 71,50%

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6.1 PALMAR NATURAL (Subespontâneo)

6.1.1 Em óleo de palma

143 palmeiras x 25kg de regime x 6,9% de óleo nos cachos = 245,7kg de óleo.

6.1.2 Em palmiste

143 palmeiras x 25kg de cacho x 9,4% de palmiste = 336kg de palmiste.

6.2 PALMAR PLANTADO

6.2.1 Em óleo de Palma

143 palmeiras x 109,3kg x 16,7% de óleo no cacho= 2610,2kg de óleo de palma.

6.2.2 Em Palmiste

143 palmeiras x 109,3kg de cacho x 7,1% de palmiste nos cachos = 1109,8kg de palmiste.

Os resultados obtidos mostram-nos de uma forma indiscutível a melhor produtividade dum

palmar feito com material selecionado quando comparado com os povoamentos naturais.

Na verdade no que respeita o óleo de palma a diferença é praticamente 10 vezes maior para o

palmar originário de sementes selecionadas.

Chegados a este ponto, em que demonstra a nítida diferença, ponto de vista de produção, dos

palmares plantados no Posto Agrícola de Pessubé, poderá surgir a pergunta ou a dúvida, se as

altas produções ali verificadas se não devem a condições especiais, a um microclima, e se é

possível encontrar condições idênticas no território da Guiné, com vista à implantação

industrial, de palmares deste tipo.

Se bem que a resposta seja um tanto difícil, poder afirmar quase com certeza absoluta que, ao

longo do litoral guineense, nas suas ilhas e especialmente no sul da província não é difícil

encontrar largas manchas de terreno que apresentam condições idênticas às do Pessubé. Em

Catió, o palmar ali feito pelos Serviços Oficiais e que tão boas perspectivas apresentava, foi

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implantado em terrenos de tipo muito freqüente na Guiné, e dos quais é possível encontrar

largas centenas ou mesmo milhares de hectares. É de interesse fazer uma breve análise às

condições ecológicas julgadas ideais para a elaeicultura e também àquelas que existem na

Guiné.

6.3 CONDIÇÕES ECOLÓGICAS

6.3.1 Altitude

É dada como fator limitante desta cultura a altitude de cerca de 700 metros. Ora o ponto mais

elevado da Guiné-Bissau está muito, mas mesmo muito, abaixo da cota de 700 metros e,

portanto, no que diz respeito a este fator, a Guiné encontra-se em condições ótimas.

6.3.2 Temperatura

O valor ótimo da temperatura média situa-se entre 24º e 26º centígrados e com pequenas

oscilações ao longo dos meses. As temperaturas mínimas só excepcionalmente devem ser

inferiores a 14º centígrados.

Às temperaturas são muito poucos; no entanto os que existem em relação às regiões de Catió,

Caió, Farim, Bissau, Bolama e Bubaque podem dar elementos valiosos quanto às regiões onde

as viabilidades da “elaeicultura” ou seja, nas ilhas, Sul da Província e ao longo das linhas de

água. As diferenças médias mensais, ao longo do ano, são igualmente muito pequenas.

Temos, pois mais um elemento favorável a elaeicultura na Guiné, que é a temperatura e, os

limites estão dentro das condições térmicas.

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TABELA 12: Dados climáticos da Guiné-Bissau

FONTE: GUIMARÃES, 1960

6.3.3 Luz Solar

Sabemos que a palmeira do azeite é uma planta de luz, e daí o resultado de nos povoamentos

subespontâneos, vermos palmeiras esgalgadas, às vezes com mais de 15 metros de altura, que

fogem dos maciços à procura do sol, enquanto que nos povoamentos tratados, limpos e

desbastados a sua altura anda a volta dos 10 metros.

Localidades Precipitação Precipitação Número de Temperatura Número de ObservaçãoAnual Média Máxima em Dia de Chu- Média Anual Anos de Ob-Anual (mm) 24 Horas va Máx. x Mín. servação

Média AnualCatió 2568,9 114,9 112 26,75 13 Estação de 2ª ClasseBedanda 2359,4 107,4 129,3 26,75 4 Posto UdométricoCacine 2524 152,3 133,8 26,75 4 Posto UdométricoBuba 2350,3 111,2 146,8 26,75 4 Posto UdométricoPorto Gole 1766,5 103,6 115,3 26,75 3 Posto UdométricoFulacunda 2628,1 156,6 112,5 26,75 4 Posto UdométricoXitole 2157,2 100,9 192,5 26,75 4 Posto UdométricoBafatá 1831,4 112,4 141,8 27,09 5 Estação de 2ª ClasseCaió 1975,6 134,5 110,8 25,79 5 Estação de 1ª ClasseBula 1671,2 118,1 86 25,79 5 Posto UdométricoCanchungo 2102,9 146,1 103,4 25,79 5 Posto UdométricoCachéu 1737,3 129,3 95 25,79 5 Posto UdométricoFarim 1569,5 92,2 92 26,33 7 Estação de 2ª ClasseMansabá 1699,2 103,8 119 26,33 5 Posto UdométricoBissorã 1762,1 101,1 115 26,33 3 Posto UdométricoBissau 2040 132,2 131,1 26,29 17 Estação CentralBolama 2191,8 137,4 129,7 26,7 35 Estação de 1ª ClasseBubaque 2141,6 147,8 108,9 26,14 19 Estação de 2ª Classe

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TABELA 13: Bolama - valores médios de (24) anos de observação

FONTE : GUIMARÃES, 1960

Mesmo considerando que o Sul da Província, parte continental tem menor insolação do que

Bolama, que é uma ilha, a diferença não deve ser muito grande, e comparando os dados de

Yangambi (1972 horas de insolação por ano, ou seja, uma percentagem de 45%) “onde

existem famosos palmares”, com aos de Bolama, parece não ser muito arriscado supor que do

ponto de vista da luminosidade, o sul da Guiné possui boas condições para a cultura da Elaeis

Guineensis.

TABELA 14: Bissau - valores médios de 08 anos de observação

M E S E S T O T A L (h ) P E R C E N T A G E MJ a n e i ro 2 4 9 ,6 6 6 ,9F e v e r e i ro 2 5 6 7 7M a r ç o 3 1 6 ,1 8 4 ,7A b r i l 3 1 1 ,8 8 4M a io 2 8 6 ,8 7 3 ,1J u n h o 2 0 3 ,4 5 3J u lh o 1 4 6 ,4 2 9 ,5A g o s to 1 2 3 ,8 3 1 ,8S e te m b ro 1 7 2 ,7 4 7O u tu b r o 2 1 9 ,3 4 9 ,6N o v e m b ro 2 3 4 ,6 6 7 ,6D e z e m b ro 2 3 3 ,3 6 5 ,9T o ta l 2 7 5 3 ,8 6 0 ,8

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FONTE: GUIMARÃES, 1960

Os dados de Bissau, que, como se vê, são ainda bastante bons para aquela cultura, parecem

igualmente confirmar as boas condições para a palmeira nas regiões que tem vindo a

considerar.

6.3.4 Pluviosidade

É considerada como ótima para a palmeira do azeite uma precipitação anual, à volta dos 1700

milímetros, sem uma estação seca bem marcada.

Analisando a (TABELA 12), verifica-se que todas as regiões da Guiné apresentam uma

pluviosidade média anual superior àqueles 1700 milímetros, exceto na região de Bula, Farim e

Mansabá, zona onde nunca pensaria em fazer palmeira do azeite, pois são zonas típicas da

cultura do amendoim, como ainda nas assinaladas do Mapa IV de Bafatá (1831,4mm) e

Bissorã (1762,1mm).

Em contrapartida, as regiões mais viáveis fazer a palmeira do azeite, e que podem ser

caracterizadas pelos dados relativos a Catió (2658,9mm), Fulacunda (2628,1mm), Xitoli

(2157,2mm), Bolama (2192,8mm) e Bubaque (2141,6mm), etc, apresentam uma precipitação

anual média bastante favorável para a palmeira do azeite.

M E S E S T O T A L (h ) P E R C E N T A G E MJ a n e iro 2 5 6 ,8 7 1 ,5F e v e re iro 2 4 9 ,9 7 5 ,2M a rç o 3 1 6 ,6 8 4 ,8A b r i l 3 1 3 ,1 8 4 ,2M a io 2 9 5 ,1 7 5J u n h o 2 0 7 5 2 ,8J u lh o 1 5 2 ,2 3 8 ,4A g o s to 1 1 0 ,8 2 7 ,5S e te m b ro 1 6 3 4 4 ,5O u tu b ro 2 1 7 ,7 5 9 ,3N o v e m b ro 2 1 3 ,4 6 6 ,5D e z e m b ro 2 5 5 ,2 6 3 ,5T o ta l 2 7 3 8 ,7 5 4 ,9

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Mas, se por um lado o total da chuva que cai anualmente na Guiné é ótima para a cultura da

palmeira do azeite, por outro lado a sua distribuição ao longo do ano, está muito longe de ser

boa.

Parece, pois que a má distribuição das chuvas na Guiné não deve ser considerada como

inibitória da “elaeicultura”.

6.3.5 Solos

Não parece que os solos da Guiné sejam muitos inferiores aos de certas regiões da África onde

existem palmares de alta produtividade.

A palmeira do azeite necessita dum terreno plano ou levemente ondulado, profundo,

permeável, tão rico quanto possível em matérias orgânicas e minerais, com PH variando entre

4 e 5. Os melhores resultados, do ponto de vista produtividade, foram assinalados em solos

florestais com teor de argila entre 30 e 40% a 50cm de profundidade, dando como valor

mínimo para esta profundidade uma percentagem de 25% em argila.

Ao Sul da Província esta cultura tem maior viabilidade.

No que respeita a horizontalidade e pouco ondulamento dos terrenos é fácil encontrar na

Guiné estas condições.

TABELA 15: Elementos relativos às % de argila, Ph e % de matéria orgânica

a) Análise de um Solo Vermelho P30

P r o f u n d id a d e ( m ) A r g i la % P H M a t é r ia O r g â n ic a

0 ,0 0 - 0 ,1 0 6 ,1 5 ,8 0 ,60 ,1 0 - 0 ,4 0 1 3 ,7 5 0 ,50 ,4 0 - 0 ,8 0 3 3 ,8 5 0 ,40 ,8 0 - 1 ,4 0 2 9 ,4 5 ,1 0 ,2

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Fonte: TEIXEIRA, 1952

b) Análise de um Solo Vermelho P196

Fonte: TEIXEIRA, 1952

c) Análise de um Solo Alaranjado Pálido P27

Fonte: TEIXEIRA, 1952

d) Análise de um Solo Alaranjado Pálido P392

Fonte: TEIXEIRA, 1952

P r o f u n d i d a d e ( m ) A r g i l a % P H M a t é r i a O r g â n i c a

0 , 0 0 - 0 , 1 0 1 3 , 2 5 , 1 1 , 20 , 1 0 - 0 , 4 0 2 2 , 6 5 0 , 50 , 4 0 - 1 , 0 0 3 7 , 9 4 , 9 0 , 41 , 0 0 - 1 , 6 0 3 6 , 3 4 , 9 0 , 3

P ro fu n d id a d e (m ) A rg i la % P H M a té r ia O rg â n ic a

0 ,0 0 - 0 ,2 0 6 ,2 4 ,7 0 ,7

0 ,2 0 - ,0 5 0 1 7 ,6 4 ,5 0 ,40 ,5 0 - 1 ,6 0 2 2 ,6 4 ,4 0 ,2

P ro fu n d id a d e (m ) A rg i la % P H M a té r ia O rg â n ic a

0 ,0 0 - 0 ,1 0 7 8 6 0 ,80 ,1 0 - 0 ,2 0 1 2 ,6 5 ,2 0 ,50 ,2 0 - 0 ,8 5 4 3 ,8 4 ,8 0 ,40 ,8 5 - 1 ,3 5 4 3 ,1 5 ,1 0 ,3

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e) Análise de um Solo Pardo sob Laterite P216

Fonte: TEIXEIRA, 1952

f) Análise de um Solo Pardo P72

Fonte: TEIXEIRA, 1952

Do atrás exposto parece que de um modo geral os solos, no Sul da Província, satisfazem no

que diz respeito à percentagem da argila, por volta dos 50 cm de profundidade, e ainda no que

diz respeito ao PH. Já o mesmo não poderei dizer da percentagem de matéria orgânica que é

bastante fraca.

É certo que ao longo da linha de água e na parte insular da Província não deve ser difícil de

encontrar solos com características igualmente boas para a palmeira.

P r o f u n d i d a d e ( m ) A r g i l a % P H M a t é r i a O r g â n i c a

0 , 0 0 - 0 , 1 2 9 , 8 5 , 4 1 , 40 , 1 2 - 0 , 2 5 2 1 , 9 4 , 8 0 , 70 , 2 5 - 0 , 5 5 2 9 , 8 4 , 7 0 , 50 , 5 5 - 1 , 0 0 3 0 , 5 4 , 7 0 , 51 , 0 0 - 1 , 2 0 3 1 , 4 4 , 8 0 , 5

P ro fu n d id a d e (m ) A rg ila % P H M a té ria O rg â n ic a

0 ,0 0 - 0 ,1 0 1 1 ,3 5 1 ,80 ,1 0 - 0 ,3 0 3 3 ,9 4 ,5 0 ,80 ,3 0 - 0 ,6 5 5 5 4 ,6 0 ,70 ,6 5 - 1 ,4 0 4 9 ,7 4 ,9 0 ,7

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7 CONCLUSÃO

Conclui-se que é viável a substituição do dendezeiro nativo pelo dendezeiro geneticamente

melhorado (tenera). Os resultados obtidos através do método de valor agregado mostram

diferenças de ponto de vista de produção e das características físicas, os rendimentos são

bastante superiores Os resultados obtidos quando comparados mostram que a melhor

produtividade é dos palmares plantados.

Sabe-se também que as plantações atuais estão em média com 30 anos de idade e que poderão

ser exploradas economicamente até os 60 anos de idade. Já o tipo Tenera pode ser explorado

economicamente, por 30 anos e que aos 13 anos atinge o ponto de nivelamento enquanto que o

tipo Duro só atinge o ponto de nivelamento aos 18 anos

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Para ambas as variedades os períodos 13º e 18º anos a cultura possui renda negativa, ou seja,

para o tipo Duro até o oitavo ano só existem despesas. Do oitavo ao décimo oitavo apesar de

existir receita, esta é menor que a despesa. A partir do décimo oitavo a receita torna-se maior

que os custos até aos sessenta anos quando a exploração torna-se antieconômica.

Já para o tipo Tenera a partir do décimo terceiro ano passa a existir renda líquida. No

trigésimo ano a exploração desta variedade, torna-se antieconômica.

Socialmente, a introdução da variedade Tenera, traz os seguintes benefícios:

a) Aumento na renda dos produtores que obviamente implicará em melhores condições

de vida;

b) Aumento considerável no número de empregos podendo absorver toda mão-de-obra

desempregada da região;

c) Necessidade da criação de mais usinas de beneficiamento para absorver o excedente de

produção;

d) Aumento considerável na arrecadação de I.C.M. e I.P.I, para as tesourarias estaduais e

municipais (em termos industriais);

e) O mesmo ocorrerá a nível comercial, em virtude das vendas de insumos modernos

necessários à cultura bem como de maquinarias e veículos;

f) Abertura de novas estradas e melhoramento nas atuais a fim de permitir o escoamento

do produto.

Como benefício econômico mais importante, o país deixará de importar o óleo de dendê (fato

que ocorre atualmente) passando a exportar do produto do excedente bem como de outros

óleos liberados.

Um persistente trabalho de melhoramento, a partir do material local ou daquilo já ali radicado

e adaptado, permitirá o fornecimento ao agricultor de sementes híbridas e selecionadas que lhe

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garantirão que as suas plantações serão constituídas por plantas altamente produtoras de óleo

de palma, o que certamente o compensará das suas canseiras e capitais investidos.

Dentro das culturas de alto rendimento, pelo menos de momento, outra que possa ser

fomentada e incrementada com mais rentável aproveitamento do seu potencial agrícola.

A finalidade deste trabalho não foi outra que a de chamar atenção para uma cultura que,

poderá vir a ter um futuro prometedor naquele país, desde que racionalmente orientada e

estabelecida a partir de material selecionado, pelo menos idêntico ao do Posto Agrícola de

Pessubé. Nestas bases a “elaeicultura” pode ser um valioso contributo para o desenvolvimento

econômico da Guiné-Bissau.

.

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