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Aspectos neurológicos da aprendizagem Neurologia e Desenvolvimento Infantil na Aprendizagem Dr. Clay Brites www.neurosaber.com.br

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Aspectos neurológicos da aprendizagem

Neurologia e DesenvolvimentoInfantil na Aprendizagem

Dr. Clay Brites

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Sobre os Autores

Dr Clay Brites é Pediatra e Neuropediatra formado pela Santa Casa

de São Paulo, Presidente da Abenepi Capítulo Paraná;

Pesquisador e Doutorando do Laboratório de Dificuldades e

Distúrbios da Aprendizagem e Transtornos da Atenção - Disapre

UNICAMP; docente do curso de Pós-Graduação de

Neuropsicologia aplicada à Neurologia Infantil na Unicamp e

membro do Departamento de Neurologia da Sociedade

Paranaense de Pediatria.

Luciana Brites é Pedagoga especializada em Educação Especial

na área de Deficiência Mental e Psicopedagogia Clínica e

Institucional pela Unifil Londrina e especialista em Psicomotricidade

pelo Instituto Superior de Educação Ispe - Gae São Paulo, além de

coordenadora do Núcleo Abenepi em Londrina

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Palavras–Chave : Aprendizagem. Desenvolvimento Infantil.

Neurologia. Neurociência. Aspectos Neurológicos na

Aprendizagem.

Resumo da Unidade: nesta unidade você vai ser levado a

compreender como a neurologia e o desenvolvimento Infantil

influenciam a aprendizagem normal e anormal da criança na

escola e como estes se relacionam com outros aspectos

relevantes para tal processo como comportamento, afeto e

funções cognitivas e intelectuais.

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1. Introdução

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Existem, na literatura internacional, várias

definições sobre aprendizagem. Mas, como temos em nossas

aulas um direcionamento para o biológico, a abordagem deste

assunto será na visão neurológica e devemos, assim, definir a

aprendizagem como tal. Portanto, a aprendizagem é um

processo complexo, dinâmico, bilateral, evolutivo e constante que

implica numa seqüência de modificações observáveis e reais no

comportamento do indivíduo de forma global – físico e biológico –

e no meio que o rodeia induzindo a uma nova postura

comprometida com novas formas de conhecimento (Ciasca,

2003). Esta definição parece auto-suficiente e muito ampla

quando a tomamos de forma generalizada. Mas,

em relação a aprendizagem escolar, algumas considerações

devem ser feitas.

Na escola, este processo exige postura, prontidão e

maturação para que o processo de aprendizagem se faça da

melhor forma possível. A presença dos pré-requisitos do

desenvolvimento infantil como pano de fundo para dar suporte

maturacional para a aquisição adequada dos conteúdos e a

necessidade de integridade dos sistemas sensoriais, perceptivos,

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atencionais e mnemônicos para absorção e reserva dos

conteúdos em seqüência são fundamentais (Ciasca, 2003). A

construção da aprendizagem escolar requer memorização

seqüencial, onde cada etapa à frente depende da adequada

absorção da etapa anterior e assim por diante. Sem a presença

íntegra destes fatores acima, este desencadeamento progressivo

se fará de forma incompleta e lacunar.

Sendo assim, muitos fatores se coadunam e

contribuem para que a aprendizagem escolar seja plena ou

prejudicada. Os fatores que podem influenciar a aprendizagem

escolar são os psicoemocionais, sócio-culturais e neurobiológicos

(Ciasca, 2003; Fonseca, 1995) . Os fatores psicoemocionais são

aqueles relacionados com institucionalização, depressão materna

pós-parto, má condução afetiva pelo cuidador, abandono, maus

tratos, etc. Os fatores sócio-culturais são aqueles relacionados com

baixa renda, baixo nível sócio-escolar da família, desinteresse

familiar pelos estudos, dificuldade com regras e rotinas, ambiente

desorganizado, valores culturais díspares da cultura intelectual,

etc. Tais fatores são externos ao indivíduo e o mesmo os encontra

durante seu desenvolvimento após o nascimento e em contato

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com as instabilidades do ambiente. Já os fatores neurobiológicos

podem ser oriundos de fatores tanto genéticos como ambientais e

podem começar a influenciar o desenvolvimento da criança

desde sua concepção na fecundação.

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2. Desenvolvimento cerebral infantil

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O cérebro é órgão central do processo de

informações e da aprendizagem infantil, sendo influenciado

desde sempre por inúmeros processos genéticos e ambientais na

sua caminhada meticulosa para a maturidade. Várias redes

funcionais e conexões vão se formando desde a concepção e,

dentre as situações normalmente esperadas, podem ocorrer

situações inusitadas no meio celular e no processo embrionário

que podem influenciar negativamente suas conexões (Riesgo,

2006). A gestação é o período em que a formação cerebral é a

mais delicada e a mais imbricada e onde o crescimento global e a

individualização das áreas e redes funcionais vão se

estabelecendo fisiologicamente (Fig 1).

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Os neurônios originalmente se localizam em áreas

profundas da massa cerebral e vão paulatinamente migrando

para a superfície a fim de formar o córtex cerebral. Este já é uma

estrutura em camadas e delicadamente dimensionada em redes

de neurônios com conexões verticais e horizontais (Fig 2 – vide

abaixo) . A utilização de substâncias tóxicas e não – indicadas

clinicamente (drogas, fumo, álcool, medicações contra-indicadas

Fig. 1 : Etapas de formação do sistema nervoso central e suas variadas modificações durante o período gestacional. Observe o crescimento do cérebro e suas subdivisões e reentrâncias com o passar do tempo, sugerindo um processo complexo e delicado mesmo em condições normais. ( Rotta, Ohlweiler e Riesgo, 2006)

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na gestação , etc.), exposição à radiação e intercorrências

patológicas no período gestacional (eclampsia, pré-eclâmpsia,

sangramentos diversos, infecções congênitas, etc.) podem induzir

a modificações na arquitetura neuronal e no tecido conectivo

(conexão entre as vias neuronais) , alterando a construção da

árvore neuroanatômica tanto nas áreas superficiais quanto

profundas do cérebro. Traumas relacionados ao parto e ao

período neonatal como instabilidade respiratória, infecções

sépticas , prematuridade , baixo peso ao nascer e insultos

hipóxico-isquêmicos são altamente nocivos e desencadeadores

de predisposição a atrasos de desenvolvimento e disfunções

cognitivo-comportamentais pelos mesmos motivos (Riesgo,2006).

Além disto, mesmo nascendo sem estas intercorrências

patológicas, o perfil do cuidador desta criança nos primeiros 3

anos de vida é fundamental, podendo determinar logo cedo se

sua forma de cuidar ajudará ou prejudicará uma criança no que

tange sua capacidade para lidar com conflitos, com

processamento de ações executivas em uma tarefa e com

relacionamentos afetivos (Posner, 2009).

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Fig 2 : Córtex cerebral. A figura mostra a região superficial do cérebro com a disposição dos neurônios em camada. Esta região se organiza e amadurece durante todo a gestação e nos primeiros meses de vida (Rotta, Ohlweiler e Riesgo, 2006)

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3. O cérebro e suas funções

na aprendizagem

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O cérebro, como um todo, divide-se em regiões onde

cada área tem uma função predominante mas interconectada e

integrada com outras áreas. Estas conexões se aprofundam e se

interligam formando unidades funcionais, as quais terão papel

preponderante na geração, coordenação e manutenção das

funções cerebrais em rede (Riesgo,2006). Estas, em conjunto com

outras áreas funcionais, coordenarão o processamento das mais

diversas informações no cérebro como ler, escrever, pensar,

perceber sons/estímulos visuais, entender símbolos, perceber a

face de seu semelhante e sentir algo resultante, etc.

Estas áreas podem ser macroscopicamente divididas

em : frontal, temporal, parietal e occipital. A área frontal é

responsável pelas funções executivas, onde se dá todos os

processos que ex igem planejamento, organização,

sequenciação, decisão, análise, síntese, atenção executiva

(seletiva e sustentada), coordenação de estratégias (eleição de

prioridades e ações secundárias), inibição comportamental,

memória de trabalho, flexibilidade de interesses, percepção de

erros e construção das correções. A área parietal se dedica a

sensibilidade geral (tátil, propriocepção, dor, etc.), coordenação

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espacial, integração senso-perceptiva e orientação atencional. A

área temporal é responsável pela percepção auditiva dos sons e

das diferentes estruturações de linguagem fonológica, sendo o

centro da toda a linguagem de nosso cérebro. A região occipital

responde por toda a habilidade visual sendo o centro das

percepções visuais para as tarefas do cotidiano (Riesgo, 2006).

Veja as áreas na figura 3.

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Fig. 3 : As áreas cerebrais e suas inter-relações (Ciasca, 2006)

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Observando atentamente as áreas e suas

funções principais é fácil entender como nosso cérebro é

um órgão complexo e integrado, onde uma região

depende da outra. Outrossim, os processos de leitura e

escrita e de matemática obviamente se fazem e

necessariamente se concluem em todas as suas áreas,

cada uma com uma função principal. Conclusão: para ler,

escrever e calcular dependemos de todas as redes

neuronais e suas conexões. Como participante importante

destes processos, além das regiões citadas, temos o

cerebelo e o tronco encefálico. O cerebelo tem o papel de

coordenação motora, equilíbrio e tônus muscular, mas

também essencial papel na automatização de seqüências

aprendidas e agilidade na programação motora e nos

processos que envolvem linguagem e atenção. O tronco

encefálico é responsável pelos processos de sono-vigília,

atenção automática, nível de vigilância durante as

atividades e via de entrada para quase todos os estímulos

sensitivos percebidos pelo nosso cérebro (Riesgo, 2006)

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A aprendizagem da leitura - escrita e

matemática dependem muito do nível de maturidade e

de integração de todas estas áreas e este processo, por sua

vez, depende de inúmeros fatores genéticos,

maturacionais e ambientais. O atraso ou disfunção de

quaisquer destas regiões ou redes conectivas podem

resultar em déficits qualitativos ou quantitativos no

processamento adequado destas informações (Casella,

2008). A leitura e a escrita dependem de várias funções

para se processarem adequadamente (Fig. 4). Quando se

fala deste tipo de aprendizagem, estamos falando na área

da neurociência em que as descobertas estão mais

avançadas e - não menos importante – com maiores

desfechos conclusivos. Os Transtornos de Aprendizagem

Verbal (Dislexia, Disortografia, Disgrafia e Discalculia) e

Não-Verbal (Percepção , Espacial e Executivo) são

exemplos destas descrições e são frequentemente

utilizados para descrever como se dá o processo cerebral

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da leitura e escrita. Além disto, sabe-se que a atenção –

fundamental para processos acadêmicos quaisquer - é

uma habilidade que depende de funções do tronco

encefálico, áreas límbicas e de córtex frontal integradas

(Riesgo, 2006).

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Fig. 4 : Passos fundamentais para a percepção e compreensão de leitura

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4. Pesquisas e evidências

neurocientíficas

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A inf luência de fatores genéticos e da

herdabilidade (história familiar) na formação cerebral é

comprovada atualmente e tem papel essencial e predominante

na formação das conexões e no perfil bioquímico do

funcionamento neuronal, desencadeando o aparecimento da

maioria dos transtornos de aprendizagem e de atenção e em

considerável número de transtornos neuropsiquiátricos. Da mesma

forma que herdamos de nossos pais nossas características físicas e

comportamentais, também herdamos, na mesma medida, o

padrão de funcionamento neuronal e suas redes em todo o

cérebro. As pesquisas em torno da genética molecular e das

variadas formas de herdabilidade de vários transtornos já estão

bem claras e com validação científica em nosso meio, como :

Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Dislexia,

Transtornos do Desenvolvimento da Coordenação, Autismo,

Deficiência Intelectual, Esquizofrenia e Transtornos de Humor

(Tannock, 2002)

Estas pesquisas – cerne e principal objetivo da

neurociência na Neurologia - tem se ampliado de forma

exponencial e gerado mais pesquisas com recursos tecnológicos

que procuram entender como o cérebro funciona, age, se

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comporta e sente por meio de imagens radiológicas

(neuroimagem) e testes neuropsicológicos cada vez mais

minuciosos nas várias etapas do desenvolvimento cerebral e no

cérebro adulto (Casella, 2008). A união destes dois recursos tem

produzido valioso instrumento de apoio para auxiliar a diagnosticar

crianças com dificuldades de aprendizagem. Estes transtornos não

tem marcador biológico específico e a busca por caminhos que

possam objetivamente identificá-los é um passo muito importante

(Tannock, 2002). Portanto, hoje, já dispomos de métodos e

modelos de avaliação e de análise específicos que permitem

entender como se processa a aprendizagem da leitura e da

escrita de uma criança normal e de uma criança com algum

transtorno no seu cérebro sem deixar de considerar seu contexto e

suas variáveis ambientais.

As pesquisas multicêntricas em muitos países –

especialmente Estados Unidos, França e Reino Unido - tem ditado

regras e direcionado o manejo destes países na forma de avaliar e

intervir em suas crianças durante todo o processo pedagógico,

especialmente nas fases mais precoces (pré-requisitos,

alfabetização e letramento). Esta abordagem tem resultado em

melhores índices nas provas internacionais e nas avaliações de

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competência de leitura, escrita e matemática comparado a

outros países que não adotam este modelo de planejamento de

políticas educacionais. Além disto, permite a criação de

estratégias de detecção e intervenção precoces em crianças que

já apresentam, em algum momento de sua vida, sinais de

deficiência ou atraso em áreas de funcionamento cerebral

consideradas essenciais para o desenvolvimento escolar futuro

(Capovilla, 2005).

A análise do desenvolvimento de uma criança é de

salutar importância e pode sinalizar como será, no futuro, sua

aprendizagem escolar. Crianças com atrasos no desenvolvimento

motor, na linguagem/fala, na capacidade sócio-pessoal (social) e

na habilidade adaptativa apresentam maiores riscos de ter

dificuldades em formar os pré-requisitos necessários para a

alfabetização e aprendizagem acadêmica já que se observa que

estas crianças terão problemas cognitivos mais pronunciados,

como déficits senso-perceptivos, atencionais, visuo-espaciais, de

função executiva, na estruturação de linguagem e na integração

destas funções cognitivas (Casella, 2008). Tais funções formam o

alicerce para o preparo acadêmico e para a aquisição

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adequada de toda a seqüência exigida para a aprendizagem

básica na escola e estabelecem o comportamento necessário

para o aluno ter sucesso. Muitos dos fatores que falei podem não

ter valor isoladamente quando ocorrem, mas somente em

associação com fatores ambientais. Por exemplo, existem

indivíduos que apresentam predisposição a transtornos de

atenção, mas que o mesmo só irá se manifestar se este se expuser

ao tabagismo materno durante a gestação ou se sofrer maus

tratos durante os primeiros anos de vida (Nigg, 2010).

A observação sistemática da criança nos primeiros

anos de vida, além de ser útil para analisar seu desenvolvimento,

auxilia-nos a detectar comportamentos de risco. Crianças que

apresentam dificuldades em lidar com frustrações, mudanças de

ambiente ou de estratégias, com a espera frente a uma

recompensa ou tem pouca habilidade em perceber como deve

agir de acordo com a tendência social mais aceita pela maioria e

realmente agir da forma que mais se acomoda a aceitação do

ambiente em que ela se depara (empatia) tem maior chance de -

futuramente - ter prejuízos acadêmicos, sociais e afetivos (Posner,

2009). Alguns autores consideram que este perfil é muito

compatível com uma maior exposição a desenvolver transtornos

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psiquiátricos e problemas de aprendizagem. Estes sinais já podem

ser observados em crianças dos 3 aos 7 anos e existem hoje formas

de avaliar e intervir precocemente. Cuidadores ou pedagogos

que trabalham em creches e professores de pré-escolas

frequentemente comentam que vêem crianças com este perfil na

escola e é evidente a diferença destas com crianças daquelas

sem os mesmos comportamentos peculiares.

Por outro lado, esta observação nos auxilia a

pontuar, de forma mais objetiva, momentos na idade da criança

em que determinados pré-requisitos cognitivos já devem estar

consolidados, como a aquisição da habilidade fonológica e a

articulação grafo-fonêmica. Por exemplo, uma criança deve

identificar as letras e os sons correspondentes de seu alfabeto aos 5

anos e isto já é reconhecido pelas instituições políticas de muitos

países, como se vê no relatório final do Ministério da Educação e

Emprego do Reino Unido (Government´s Department of Education

and Employment, Standards and Effectiveness Unit, 1997). Este

relatório consistente se baseia em neurociência e nas suas

evidências sólidas para se identificar precocemente crianças que

porventura não tenham atingido esta etapa com a idade de

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referência e coloca para a Educação do país a tarefa de priorizar

o ensino da língua no sentido de elevar o desempenho dos alunos

(Capovilla, 2005).

Entendendo as dificuldades de aprendizagem e os Distúrbios de

Aprendizagem

Vimos que a aprendizagem escolar é um processo

que depende de varios aspectos, e que por ser algo complexo

exige que várias areas cognitivas estejam sendo organizadas e

estimuladas para a que ela aconteça de modo efetivo por meio e

uma interação biológica-ambiental, assim qualquer coisa que

influencie essa dinâmica pode ocasionar prejuízo no

desenvolvimento escolar das crianças.

Podemos entender as d i f icu ldades de

aprendizagem como um sintoma, e se compararmos a uma febre

isso fica mais fácil de entender. A febre pode ser sintoma de uma

série de doenças desde uma virose até uma Meningite bacteriana,

a Dificuldade de Aprendizagem também. Essa criança pode não

estar aprendendo porque tem problemas emocionais, por estar

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com fome, por não estar enxergando, por ser exposta a uma

prática pedagógica ruim, isto é professores inadequados,

métodos ruins de aprendizagem, por transtornos psiquiátricos

(depressão, autismo, TDAH, ansiedade) ou por um Transtorno de

Aprendizagem. Mas o que seria um Transtorno de Aprendizagem?

O Transtorno de Aprendizagem pode ser

caracterizado como uma Disfunção Neurológica, no Brasil, foi (

Lefèvre:1975) que introduziu o termo distúrbio de aprendizagem

como sendo:

“síndrome que se refere à criança de inteligência próxima à

média, média ou superior à média, com problemas de

aprendizagem e/ou certos distúrbios do comportamento de

grau leve a severo, associados a discretos desvios de

funcionamento do Sistema Nervoso Central (SNC), que

podem ser caracterizados por várias combinações de déficit

na percepção, conceituação, linguagem, memória,

atenção e na função motora”.

Podemos entender que são crianças que

apresentam dificuldades de aquisição de matéria teórica,

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embora apresentem inteligência normal, e não demonstrem

desfavorecimento físico, emocional ou social.

Segundo essa definição, as crianças portadoras de

distúrbio de aprendizagem não são incapazes de aprender, pois os

distúrbios não são uma deficiência irreversível, mas uma forma de

imaturidade que requer atenção e métodos de ensino

apropriados. Os distúrbios de aprendizagem não devem ser

confundidos com deficiência mental.

Considera-se que uma criança tenha distúrbio de aprendizagem

quando:

a) Não apresenta um desempenho compatível

com sua idade quando lhe são fornecidas experiências de

aprendizagem apropriadas;

b) Apresenta discrepância entre seu desempenho e

sua habilidade intelectual em uma ou mais das seguintes áreas;

expressão oral e escrita, compreensão de ordens orais, habilidades

de leitura e compreensão e cálculo e raciocínio matemático.

Podemos entender então que esses sujeitos são

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pessoas inteligentes com bom potencial cognitivo, mas que na

hora de desempenhar suas funções acadêmicas (leitura, escrita e

cálculo) falham, isso porque as áreas cerebrais que deveriam

funcionar para nestas habilidades apresentam problemas de

conectividade. O que isto significa? Significa que as sinapse

(transmissão de estímulos feitas por neurônios no cérebro) das

áreas recrutadas para estas funções não conseguem realizar de

maneira otimizada e de forma adequada. Assim quando uma

pessoa com Distúrbio de aprendizagem de leitura tenta ler, ela terá

muito mais dificuldade pois seu esforço vai muito além, tendo que

então recrutar outras áreas do cérebro (que não tem

especificidade para leitura) para auxiliar a realizar esta tarefa,

cansando-se assim muito mais.

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O Diagnóstico dos Transtornos de Aprendizagem não é algo fácil,

muito menos simples, é necessário que uma equipe multidisciplinar

(Neuropediatra, Psicólogo, Fonoaudiólogo, Psicopedagogo,

Terapeutas Ocupacionais) realize uma série de testes e avaliações,

tentando analisar como aquele sujeito aprende e tentando traçar

assim um Perfil Cognitivo. É importante salientar que o Diagnóstico

é Clínico, isto é, exames como Ressonância Magnética,

eletroencefalograma, tomografia podem vir com resultado

NORMAL, mas mesmo assim a pessoa pode ter um Distúrbio de

Aprendizagem. Torna-se fundamental também um bom relato

dos professores e da família.

Os tipos mais comuns de Distúrbios de Aprendizagem são:

Dislexia: segundo a AID em 2004 (Dyslexic International Association)

a Dislexia é uma dificuldade de aprendizagem de origem

neurológica. É caracterizada pela dificuldade com a fluência

correta na leitura e por dificuldade na habilidade de

decodificação e soletração. Essas dificuldades resultam

tipicamente do déficit no componente fonológico da linguagem

que é inesperado em relação a outras habilidades cognitivas

consideradas na faixa etária . É um distúrbio que acomete três

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vezes mais meninos que meninas, tem influencia genética, isto

significa que pode ser herdado genéticamente e pode acometer

de 4% a 6% da população

Alguns Sinais de Dislexia

- Leitura silabada, lenta, com troca

- Alfabetização difícil

- Escrita com trocas e omissões de letras.

- Dificuldade em escrever com linha e margem

- Pula linha, confunde palavras

Disgrafia - Habilidade de escrita abaixo do nível esperado para

idade cronológica, inteligência e escolaridade com

comprometimento da caligrafia, da capacidade de realizar cópia

e de realizar seqüência de letras em palavras comuns, pode atingir

3% da população geral, alguns sinais:

Dificuldades para escrever

Mistura de letras maiúsculas e minúsculas na palavra ou uso de

letras de forma e cursiva

Tração de letra ininteligível ou incompleta

Dificuldade para cópia

Falta de respeito a margem

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Discalculia: Capacidade abaixo da média para operações

aritméticas, no relacionamento de habilidade matemáticas com o

mundo, na compreensão do enunciado do problema, e na

execução da estratégia para sua resolução. Atinge cerca de 3%

da população Geral (EUA, 2001) sinais de alerta: Dificuldade na

automatização da contagem e correspondencia um a um

Dificuldades com leitura e compreensão de organizaçoes

numericas e posicionamento dos numeros

Dificuldades em entender conceitos matematicos e simbolos

dificuldade na sequencia de numeros e fatos numericos

fraca orientacao espacial, dificuldades em percepçao visual

As contribuições da Neurologia e da pesquisa dos aspectos

desenvolvimentais do cérebro são cruciais para nosso

entendimento de como a criança aprende e fixa conhecimentos.

Seu estudo permitiu entender a aprendizagem normal e a

patológica. Nestes tempos atuais de inclusão e da busca por

métodos didáticos que respeitem as diferenças o uso dos

instrumentos neurocientíficos torna-se imprescindível. Por exemplo,

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compreender como uma criança com Distúrbios de

Aprendizagem absorve e memoriza os conteúdos escolares era

antes um desafio. Hoje, sabe-se como alguém nesta condição

aprende e, assim, permite que se desenvolva programas

estruturados para seu adequado aprendizado nos mais diferentes

ambientes permitindo que todas as crianças tenham

oportunidade de sucesso no desafiador ambiente acadêmico.

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BIBLIOGRAFIA

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Ciências;

Ciasca S M (2003). Distúrbios de Aprendizagem: Proposta de

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Capovilla FC(2005). Os Novos Caminhos da Alfabetização Infantil.

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