há vida no arquivo - público

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15/10/11 21:08 Há vida no arquivo - PÚBLICO Página 1 de 13 http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/ha-vida-no-arquivo-1710604# ISABEL LUCAS e PATRÍCIA MARTINS A colecção tem o tempo da vida de Pacheco Pereira. Política, sindicalismo, história, literatura, ciência, religião, cultura. Nada é rejeitado à partida naquele que é um dos mais completos e originais espólios sobre a História de Portugal nos últimos 200 anos. Diz ela: “Alfredo mandas-me dizer que daquim a pouco já sabes falar francez. Há vida no arquivo

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ISABEL LUCAS e PATRÍCIA MARTINS

A colecção tem o tempo da vida de Pacheco Pereira.

Política, sindicalismo, história, literatura, ciência,

religião, cultura. Nada é rejeitado à partida naquele

que é um dos mais completos e originais espólios

sobre a História de Portugal nos últimos 200 anos.

Diz ela: “Alfredo mandas-me dizer que daquim a pouco jásabes falar francez.

Há vida no arquivo

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Que rabiada tenho eu depois estares a falar, uma liguaque eu não compriendo, nam para traz nem para a frente,podes depois estares, a falar mal de mim que eu não tecomprienda fazes muito bem a aprenderes de tudo, se euestivesse no teu lugar também faria o mesmo no caso quepodesse. Mandas-me perguntar se eu já sei Bordar muitoagora tenho nove lições, a professora está muito contentecomigo, diz que não sou das piores que tem menosenteligencia, vamos a outro assunto.”

Diz ele: Desculpa eu ter demorado um pouco nas minhasnotícias. Tencionava escrever-te na 2 feira á noite quandoviesse da lição mas os meus colegas de pensão foram-meesperar para me convidarem para irmos ao cinema, eudisse-lhes que tinha que fazer, e então eles ficaramaborrecidos, mas para não lhes fazer a desfeita lá resolviir também, foram dois filmes muito bons ‘O pão nosso decada dia’ e ‘As mil mentiras’, também já havia alguns diasque não ia ao cinema.”

Ela está em Setúbal e ele, pela altura desses escritos, está

em Lisboa. Namoram por carta e ao longo dos anos,

mesmo já casados, continuam a relacionar-se muito

através de correspondência. Ela trata-o sobretudo por meu

“querido amorzinho”, ele quase sempre por “minha

querida Lurdinhas”. O humor do momento e a fase da

relação determinam o modo mais ou menos carinhoso dos

nomes que atribuem um ao outro nas cartas que se

escrevem entre 1934 e 1943. “São mais de 600 cartas que

foram encontradas num armazém. Seriam lixo se eu não as

tivesse recolhido”, diz Pacheco Pereira, que sublinha o

interesse daquela correspondência mantida entre um casal

para perceber muito do quotidiano do país. Foi feita uma

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para perceber muito do quotidiano do país. Foi feita uma

selecção, preservados os nomes verdadeiros de pessoas que

poderiam ser ainda reconhecíveis, mantido o tom e os

erros de português e publicadas num volume a que foi dado

o título Amorzinho. Sai em simultâneo com outro livro,

Autocolantes do PPD. Os dois marcam o arranque de uma

nova colecção da Tinta-da-China feita a partir do espólio de

Pacheco Pereira e baptizada “Ephemera”, o nome do

blogue que disponibiliza parte do arquivo do historiador,

ex-deputado, comentador da SIC, colunista do PÚBLICO e

da Sábado.

A escolha de dois títulos tão diferentes para iniciar esta

colecção pretende alertar para a diversidade do espólio de

que ela se irá alimentar. “Há aqui de tudo, as coisas

institucionais e aquilo que normalmente os arquivos

institucionais não querem. Recolho tudo o que tenha que

ver com a vida dos portugueses nos últimos 200 anos,

principalmente na sua vertente política, sindical, cultural,

religiosa. Há, por exemplo, coisas interessantes sobre as

primeiras peregrinações a Fátima. Não era suposto que

cartas como estas estivessem nesta colecção. Estão porque,

à partida, não rejeito nada”, refere Pacheco Pereira sobre o

seu modo de gerir um espólio que se tornou tão vasto

quanto imprevisível nos conteúdos e que cresce como um

organismo vivo pela casa da Marmeleira, uma aldeia no

concelho de Rio Maior, para onde se mudou há cerca de 15

anos. Foi ali que encontrou um espaço “a preço

comportável” para guardar uma colecção que começou

desde que se lembra “de existir”: “O meu pai já tinha um

número considerável de livros e publicações. Eu continuei.”

Há aqui de tudo, as coisas institucionais e

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Actualmente, e numa linha recta imaginária, são cinco

quilómetros de prateleira para guardar cerca de 200 mil

livros e o correspondente às cerca de 13 mil pastas

divididas em 8800 categorias que compõem o arquivo do

blogue Ephemera. É o núcleo, a que se acrescenta a parte

museológica composta por objectos relacionados com a

actividade política e sindical: cartazes, guarda-chuvas,

pins, esferográficas, chapéus, panfletos, isqueiros. Há

ainda uma colecção de música e de filmes. “É um arquivo

privado que depende muito de ofertas. Há entrada

contínua de materiais. Todas as semanas a estante cresce

um metro e meio”, continua Pacheco Pereira, 66 anos,

sobre o que chama “a minha vida”, que já ultrapassou em

muito a casa inicial e se alargou a um armazém, uma antiga

garagem e a um edifício que já foi escola, posto de GNR e

Junta de Freguesia logo a seguir ao 25 de Abril. É o mais

recente acrescento ao que começa a ser um intrincado

aquilo que normalmente os arquivos

institucionais não querem

(http://imagens3.publico.pt/imagens.aspx/988743?tp=UH&db=IMAGENS)

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recente acrescento ao que começa a ser um intrincado

encadear de pátios e corredores, escadas e pequenos

jardins que ligam salas repletas de livros, jornais, dossiers,

caixas e caixotes numa ordem controlada onde se notam as

chegadas mais recentes. “Isto é uma máquina de

produção”, refere sobre o sistema que montou e lhe facilita

o trabalho que gere em absoluto. “Não entra aqui nada que

não passe por mim. Tenho uma gestão autoritária deste

espaço”, ri , referindo, no entanto. uma espécie de rede de

voluntários, cerca de 150 em todo o país, que recolhem

material que ele trata, digitaliza e arruma.

Passa pouco das três da tarde. O sino da igreja é uma

marca temporal permanente. O céu está carregado, mas

avistam-se quilómetros a partir da espécie de promontório

em que está assente a casa, num dos pontos mais altos da

aldeia. “É uma terra com tradição republicana”, comenta,

enquanto faz o percurso entre o coreto, no largo principal,

e a porta de entrada para o lugar onde escolheu viver desde

que deixou o Porto.

É 5 de Outubro, seria um feriado celebrado por ali, mas é

também o dia seguinte às eleições legislativas. Vai chegar

novo material. “Hoje estamos a recolher o que as sedes de

campanha estão a deitar fora”, e o tempo destas frases é o

que demora a chegar a um núcleo de casas brancas com

portas e janelas vermelhas onde Pacheco Pereira passa

grande parte do seu tempo. Na sala principal da casa,

forrada com os livros que quer por perto — entre eles,

raridades como uma edição original de Descartes —, estão,

sobre uma mesa junto ao sofá, as mais recentes entradas.

“É a colheita do último mês e meio”, conta, “um grande e

importante arquivo, clássico, tradicional, da

correspondência do Henrique Galvão quando esteve na

Venezuela, toda a fase preparatória do assalto ao Santa

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Venezuela, toda a fase preparatória do assalto ao SantaMaria”.

Debaixo, retira uma pasta. “São os papéis de um dos

fundadores da Pide, um militar salazarista, e foram-me

oferecidos pelo neto. Junto, veio documentação muito

interessante sobre o momento inicial da Pide, sobre as

relações entre a polícia portuguesa e a polícia italiana e

polaca. Não esperava encontrar isso aqui, tem a ver com a

tal imprevisibilidade”, comenta. Sobre a mesa está ainda

um envelope com materiais da última campanha eleitoral e

uma T-shirt. Abre-a, nela pode ler-se Mostra de Edições

Subversivas. “É de um evento anarquista.”

O espaço museológico inclui objectos que não têm lugar em arquivos e bibliotecas tradicionais Mealheiro de recolha de fundos para o Estado de Israel

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A colecção de Pacheco Pereira é conhecida. Sobre ela muito

tem sido escrito. Sabe-se da riqueza e diversidade do

arquivo, há muitos investigadores que o procuram para

documentar investigação — de Portugal, mas também do

resto da Europa, Estados Unidos ou Brasil —, há milhares

de visitas diárias e regulares ao Ephemera. É o lado mais

visível do espólio que surpreende pelo que se poderia

chamar “faceta coca-bichinhos” e que irá reflectir-se nos

próximos livros a publicar na Tinta-da-China. “Ninguém

faz este tipo de recolha, pelo menos em Portugal não fazem

e, na Europa, acho que só o British Museum. Há muita

coisa que se perde para sempre. Está aqui material que

sobrou das últimas manifestações. Se quiser fazer uma

história da crise e das reacções à crise, não é difícil

perceber que só há coisas aqui. Outro exemplo: calculo que

nas últimas autárquicas tenham sido produzidos no país

mais de cem mil espécies diferentes de artefactos. Isto

contabiliza os panfletos das freguesias, os outdoors, os

cartazes, os brindes. Consegui com os voluntários recolher

quase 35 mil. Quando há eleições, há uma procura, as

pessoas vêm ver o que estava nesses programas.”

A biblioteca de Pacheco Pereira é apontada como de

referência em relação à história recente do país. “Sim, é um

arquivo diferente, colecciona objectos, mas contém

arquivos específicos que mudaram a história de Portugal”,

nota. Exemplos? “O de Sá Carneiro, que é um arquivo

grande, com documentação fundamental que muda muitos

aspectos da história portuguesa. O Sá Carneiro não o

guardou no partido, escondeu-o em casa da Conceição

Monteiro [secretária particular de Francisco Sá Carneiro] e

tem tudo o que ele considerava relevante na sua vida

política desde antes do 25 de Abril. Por aí pode-se saber

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que houve uma tentativa para que o Spínola concorresse à

Presidência da República antes do 25 de Abril; pode-se ver

como eram as relações com os EUA; decisões importantes

da AD, as cunhas para os deputados. Dá uma dimensão

muito importante sobre a origem do PPD, com a primeira

carta que alguém mandou de Trancoso… Permite fazer um

retrato social da génese de um partido novo. O mesmo tipo

de materiais existe em relação a muitas organizações de

extrema-esquerda. Praticamente todos os partidos

portugueses têm aqui grandes arquivos. Muitos são

oferecidos, como o do MES e o de Sá Carneiro.” Compra

ocasionalmente, em Portugal e fora, sobretudo para

completar colecções existentes, como a da extrema-direita.

“Pode encontrar aqui tanto o pin da Wolkswagen original,

como documentação sobre os fascistas condenados à morte

que fugiram da Roménia para Espanha. E há muito

material clandestino nos seus próprios países, como jornais

nazis da Alemanha. Há também uma colecção maçónica.

Essas colecções, de um modo geral, são mantidas

integralmente. No caso desta colecção da extrema-direita,

havia centenas de títulos de periódicos. Foram

digitalizados e entraram no arquivo geral de periódicos.

Podem ser consulados no blogue por ordem alfabética.”

Garante que não se perde no que pode parecer uma

vertigem de informação quando tratada por uma única

pessoa. “Sei de cor onde está cada livro”, diz enquanto

atravessa um corredor estreito, preenchido de um lado e do

outro com lombadas até ao tecto. Passa pela sala de

ciências, com uma colecção de Química que iniciou quando

foi aluno de ciências, mais especificamente de Astrofísica.

Está lá, por exemplo, o primeiro estudo sobre

radioactividade, de Ernest Rutherford, de 1913. Folheia-o.

Chega-se a uma a mesa onde falta continuar a dividir

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Chega-se a uma a mesa onde falta continuar a dividir

documentação. Fecha-se a porta, percorre-se mais um

pátio. Outra sala. “Aqui estão 25 mil entradas”, diz numa

sala em penumbra, temperatura e humidade controladas

com a ajuda de um desumidificador. “Na organização do

arquivo, copio o modelo indicado no jornal O Jornal, pela

Maria João Múrias. Foi aí que vi pela primeira vez esta

forma de organização e é o exemplo dela que eu sigo.

Quando leio um artigo, marco uma palavra-chave, é metido

numa pasta e colocado aqui por ordem alfabética.”

Consegue ler-se “KJB”, “Eleições”, “Júdice”…

É um método que o próprio testa enquanto investigador e

consumidor das bases de dados que ele mesmo gere. A

gestão de todo o arquivo começou com fichas, substituiu-as

pela informática pela facilidade com que se estrutura a

informação. “A Pide usava um método arcaico de

investigação. Mandava um agente — mão-de-obra barata —

copiar 50 processos. Depois de copiados, havia uma nota

anexada. Mais nada. Eu, usando materiais da Pide,

tratando-os em computador, descobri imensas coisas que

eles poderiam ter descoberto se tratassem a informação. O

computador é um grande agregador e muito útil com a

utilização de bases de dados modernas, relacionais. Eu não

conseguia fazer a biografia do Cunhal se não fosse isso. Em

cada volume lido com milhares de dados diferentes, muitos

de fontes directas, uso intensivamente bases de dados que

construo há muitos anos. A partir de certa altura, deixo de

saber o que lá está, mas ao trabalhar com elas descubro o

que não sabia que estava.”

Terminou agora o quarto volume da biografia de Álvaro

Cunhal, que está a publicar com a Temas & Debates.

Deverá sair antes do Natal e refere-se aos oito anos entre a

fuga de Peniche até à queda de Salazar. “Termina em Paris

1 371!"

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fuga de Peniche até à queda de Salazar. “Termina em Paris

quando Jorge Sampaio sai de uma reunião com o Cunhal e

com outras pessoas. Sampaio não sabia onde estava. O PC

transportou-o em carros com janelas fechadas. Quando sai

do carro, compra o Le Monde e vê a notícia: Salazar tinha

caído da cadeira.” Pacheco Pereira faz a síntese. “É

interessante, porque o Cunhal nessa reunião já devia saber

da notícia. Depois é o momento dramático que se sabe, o

início do Marcelismo, que é uma diferença muito

substancial do ponto de vista histórico.”

No grosso desses anos, entre 1960 e 68, Cunhal está fora de

Portugal. “É um retrato do Cunhal como dirigente

comunista internacional.” Na construção do livro, conta

Pode encontrar aqui tanto o pin da

Wolkswagen original, como documentação

sobre os fascistas condenados à morte que

fugiram da Roménia para Espanha

(http://imagens5.publico.pt/imagens.aspx/988745?tp=UH&db=IMAGENS)

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comunista internacional.” Na construção do livro, conta

que as fontes foram um problema. “No PCP, permanecem

fechadas. É possível reconstituir os factos porque os outros

partidos comunistas com que ele tinha relações estão

abertos. A data de saída dele de Portugal é sempre omissa

nos papéis. Sabe-se que em Setembro está em Moscovo.

Pude datar porque escreve de Paris uma carta ao Partido

Comunista Francês queixando-se de que não tinha sido

recebido pelo Maurice Thorez [secretário-geral do PCF até

1964] e pelo Jacques Duclos [que organizou a resistência

do PCF ao nazismo durante a II Guerra Mundial]. É tudo

feito de fragmentos que estão nas bases de dados que vou

construindo à medida que os documentos vão entrando.

Isto é uma espécie de sistema Taylor, é uma cadeia de

produção.”

Parte do que começa a ser agora publicado vem desta

máquina. As cartas de amor que compõem o volume

Amorzinho tinham um valor por si mesmas, para entender

costumes, relações sociais e pessoais. Os autocolantes do

PSD pretendem ser uma obra de referência. “O objectivo é

usar alguns destes fundos que podem ser publicados em

livro e ser estudados pela sua qualidade gráfica, por serem

uma raridade ou mesmo únicos”, salienta Pacheco Pereira.

“É o primeiro catálogo de autocolantes que existe em

Portugal e a ideia era que fosse feito como um catálogo de

selos. Isso significa numerá-los, o que vai permitir aos

coleccionadores perceber o que falta. Permite estudar o

grafismo ou o significado político das palavras de ordem”,

adianta, referindo que o seu espólio deve conter cerca de

20 mil autocolantes diferentes.

Ainda este ano haverá um terceiro título: “Uma colecção de

fotografias estenopeicas feitas pelo António Campos Leal

que captam o efeito da luz a passar sobre os livros e foram

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pensadas para este Ano Internacional da Luz.” Para 2016,

planeia publicar um catálogo com a propaganda anti-

Frelimo nos últimos anos da guerra colonial. “Tem não só

cartazes como panfletos em várias línguas, inclusive

árabe”, salienta, numa pausa que pretende ser capaz de

traduzir as possibilidades deste arquivo.

Também no próximo ano, pode haver novidades em

relação ao arquivo de Vítor Crespo, o ex-presidente da

Assembleia da República e ex-ministro da Educação. Todo

o espólio, incluindo mobília, está na Marmeleira. Há ainda

a ideia de fazer uma história oral do mais recente edifício

que foi comprado por Pacheco Pereira para a biblioteca e

que acabou este ano de ser recuperado. Pode haver mais

correspondência amorosa. Há mais duas colecções por

tratar. E está previsto um volume que pode surpreender,

“uma série de fotografias tiradas por uma espécie de

mestre-de-cerimónias do S. Carlos, que recebia os artistas,

ia buscá-los ao avião, levava-os a visitar Lisboa e

fotografava-os. Há fotos desde o Stravinsky à Maria Callas,

de toda uma elite que visitou o S. Carlos nos anos 50 e 60.

Este volume combina o legado de outra pessoa, um

melómano, também fiel ao S. Carlos, que tomava notas

durante os espectáculos. ‘Dizia coisas como: houve uma

fífia da cantora não sei quantas no terceiro acorde; as

pessoas tossiram muito.’ Quando se juntam as duas coisas,

temos um livro muito interessante sobre o ambiente

musical nesses anos.”

A conversa acaba como começou, com Maria de Lurdes e

Alfredo. “Só a partir dali é possível partir para um retrato

muito abrangente do Portugal de Salazar. Basta querer

seguir as pistas.” É o coleccionador que fala. Poderia

começar uma colecção por aí, seguir para a política, os

movimentos clandestinos, Cunhal… Ter tudo outra vez. “Já

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movimentos clandestinos, Cunhal… Ter tudo outra vez. “Já

viu, teria ido para o lixo!”

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COMENTÁRIOS

16:09

Mortiço

Fantástico! Fugimos do tempo, mas ele nos apanha sempre.Mais vale ficar em bons temos com ele! Acessóriamente:corrigir Volkswagen, e não Wolks...

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