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REALIZAÇÃO: Encontro de História e Filosofia da Biologia 2010 Instituto de Biociências, USP 11 a 13 de agosto de 2010 APOIO:

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REALIZAÇÃO: Encontro de História e Filosofia da Biologia

2010

Instituto de Biociências, USP

11 a 13 de agosto de 2010

APOIO:

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ENCONTRO DE HISTÓRIA EFILOSOFIA DA BIOLOGIA 2010

INSTITUTO DE BIOCIÊNCIASUNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP

11 A 13 DE AGOSTO DE 2010

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ENCONTRO DE HISTÓRIA EFILOSOFIA DA BIOLOGIA 2009

COMISSÃO ORGANIZADORA:Lilian Al-Chueyr Pereira Martins (Pontifícia Universidade Católica de

São Paulo)Maria Elice Brzezinski Prestes (Universidade de São Paulo)Roberto de Andrade Martins (Universidade Estadual de Campinas)

COMISSÃO CIENTÍFICA:Aldo Mellender de Araújo (Universidade Federal do Rio Grande do

Sul)Anna Carolina Krebs Pereira Regner (Universidade do Vale do Rio

dos Sinos – Unisinos)Charbel Niño El-Hani (Universidade Federal da Bahia)Gustavo Andrés Caponi (Universidade Federal de Santa Catarina)Nelio M. V. Bizzo (Universidade de São Paulo)Ricardo Waizbort (Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz)

ORGANIZAÇÃO:Associação Brasileira de Filosofia e História da Biologia (ABFHiB)http://www.abfhib.org

APOIO:Instituto de Biociências (IB) da Universidade de São Paulo (USP)LabLic, Laboratório de Licenciatura do IB/USPFundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)

COMISSÃO AUXILIAR LOCAL:Fabricio Barbosa BittencourtMarcel Valentino BozzoJoão Paulo Di Monaco DurbanoEduardo Crevelário de Carvalho

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ENCONTRO DE HISTÓRIA EFILOSOFIA DA BIOLOGIA 2010

Programa

11 DE AGOSTO DE 2010 – 4a FEIRA

8h30 – 9h00 – INSCRIÇÕES

9h00 – 9h30 – Abertura (Auditório) com a presença do Diretor do Institutode Biociências, Prof. Dr. Welington B. C. Delitti, da Chefe de Departamentode Genética e Biologia Evolutiva do IB/USP, Profa. Dra. Maria Rita S. Pas-sos Bueno, do Presidente da Comissão Organizadora do Curso de Licenciatu-ra, CoC/IB, Prof. Dr. Paulo Sano, da Presidente da ABFHiB, Profa. Dra.Maria Elice Brzezinski Prestes e demais membros da comissão organizadora,Profa. Dra. Lilian Al-Chueyr Pereira Martins e Prof. Dr. Roberto de AndradeMartins.

9h30 – 10h30 – Conferência (Auditório)

Coordenação: Lilian Al-Chueyr Pereira Martins• James R. Moore: “Darwin and the 'sin' of slavery”

10h30 – 11h00 – Coffee break

11h00 – 12h20 – Sessões Paralelas

Sala A Sala B Sala CCoordenação: Anna Caro-lina Regner

Coordenação: ElaineNicolini Nabuco de Araujo

Coordenação: GuillermoFolguera

Ricardo Waizbort: “Da-rwin e a seleção sexual”

André Luis Corrêa; ElaineNicolini Nabuco de Arau-jo; Fernanda AparecidaMeglhioratti; Ana MariaA. Caldeira : “História eFilosofia da Biologia comoferramenta no Ensino deEvolução na formaçãoinicial de professores deBiologia”

Guillermo Folguera;Federico di Pasquo: “La“caída ontológica de lavida” y los niveles en labiología contemporánea”

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Anna Carolina K. P.Regner: “Darwin e Walla-ce: amigos (discordantes)para sempre!”

Cecília Helena Vechiattodos Santos; Tânia Apare-cida Silva Klein: “Aborda-gem histórico-filosófica doconteúdo “A Origem daVida” aplicada no ensinomédio”

Jerzy A. Brzozowski:“Sobre a ostensibilidadedos táxons”

12h20 – 14h10 – ALMOÇO

14h10 – 15h30 – Sessões Paralelas

Sala A Sala B Sala CCoordenação: Maria EliceB. Prestes

Coordenação: Paulo JoséCarvalho da Silva

Coordenação: Roberto A.Martins

Valdir Lamim-Guedes;Yasmine Antonini: “AVila Rica do início doséculo XIX a partir dosrelatos de Auguste deSaint-Hilaire”

Paulo José Carvalho daSilva: “O problema daslágrimas na primeira mo-dernidade”

Victor Ximenes Marques:“O organismo como su-jeito e objeto da evolução -crítica do conceito deadaptação”

Andrea SiqueiraD’Alessandri Forti; Anto-nio Carlos Sequeira Fer-nandes: “As “Reflexõessobre a História Natural doBrazil” da “Instrucção” de1819 e as coleções geopa-leontológicas do MuseuNacional”

Rodrigo Otavio V. F.Rosa: “Mente como facerepresentacional do cére-bro”

Pablo Lorenzano: “Teo-rías, leyes, datos y prácti-cas científicas: el caso dela genética (clásica) depoblaciones”

15h30 – 16h00 – Coffee break

16h00 – 18h00 – Sessões Paralelas

Sala A Sala B Sala CCoordenação: Lilian A.-C.Pereira Martins

Coordenação: Fernanda daRocha Brando

Coordenação: AntonioCarlos Sequeira Fernandes

Andreza Polizello: “Odesenvolvimento dasideias de herança de Fran-cis Galton: 1865-1897”

Patrícia da Silva Nunes;Osmar Cavassan: “Asconcepções históricas desucessão ecológica noslivros didáticos atuais”

Arthur Henrique de Olivei-ra: “Alberto José de Sam-paio (1881-1946): Con-texto, vida e obra de umconservacionista brasilei-ro”

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Mônica de Toledo-PizaRagazzo: “Alfred RusselWallace e os Peixes do RioNegro”

Fernanda da Rocha Bran-do; Ana Maria de AndradeCaldeira: “Elaboração dediagramas sobre a ciênciaecológica: aspectos con-ceituais, didáticos e epis-temológicos”

Antonio Carlos SequeiraFernandes; Cecilia deOliveira Ewbank; MarinaJardim e Silva; Deise DiasRêgo Henriques: “Umalembrança de infância: os“fósseis colossais” e opapel de Frederico Leo-poldo César Burlamaquecomo primeiro paleontólo-go brasileiro”

Aldo Mellender de Araújo:“Muito antes dos genesHox e dos modelos mate-máticos: o diálogo entreDarwin e Fritz Müller”

Kauê Tortato Alves; KaySaalfeld: “Vieses, viradase omissões na história dasteorias da sucessão ecoló-gica.”

Karoline Carula: “Divul-gação pública de saberesbiológicos no Rio de Janei-ro de fins do século XIX”

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12 DE AGOSTO DE 2010 – 5a FEIRA

09h00 – 10h20 – Sessões Paralelas

Sala A Sala B Sala CCoordenação: Aldo Me-llender de Araújo

Coordenação: RicardoWaizbort

Coordenação: Ana Mariade Andrade Caldeira

Ana Paula Oliveira Pereirade Morais Brito: “Ascontribuições de LilianVaughan Morgan para ateoria cromossômica(1922-1931)”

Rui Sérgio Sereni Murrie-ta; Larissa de RezendeTanganelli: “Homens,Porcos e Quimeras: doconceito de adaptação naantropologia”

Ivan Ascêncio Dias; Anto-nio Carlos Marques; Ro-drigo Hirata Willemart: “Odeísmo na pós-graduaçãodo Instituto de Biociênciasda USP: grau de prevalên-cia de manifestações dedeísmo/religiosidade emdissertações de mestrado eteses de doutorado”

Lilian Al-Chueyr PereiraMartins: “Houve tentativasde conciliação por partedos envolvidos na contro-vérsia mendeliano-biometricista (1902-1906)?”

Paulo Jeferson PilarAraújo; Ivan Rocha :“Modelos biológicos emteorias lingüísticas”

Ana Maria de AndradeCaldeira: “Estudos sobreEpistemologia da Biologia:a possibilidade de articularas diferentes áreas doconhecimento biológico”

10h20 – 10h40 – Coffee break

10h40 – 12h00 – Mesa Redonda (Auditório)

“Afinal, o que é o whiggismo da História da Ciência?”Coordenação: Maria Elice Brzezinski Prestes• Maria Elice Brzezinski Prestes: “O whiggismo proposto por Herbert

Butterfield”• Nelio Bizzo: “Quatro whiggismos de Robert M. Young”• Anna Carolina K. P. Regner: “É o whiggismo evitável?”• Lilian Al-Chueyr Pereira Martins: “Do whiggismo ao prighismo”• Roberto de Andrade Martins: “Seria possível uma história da ciência

totalmente neutra, sem qualquer aspecto whig?”

12h00 – 14h00 – ALMOÇO

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14h00 – 15h00 – Conferência (Auditório)

Coordenação: Maria Elice Brzezinski Prestes• Charles Smith: “Final causes in evolution: a model”

15h00 – 15h30 – Coffee break

15h30 – 18h10 – Sessões Paralelas

Sala A Sala B Sala CCoordenação: Roberto AMartins

Coordenação: FredericoFelipe de Almeida Faria

Coordenação: Anna Caro-lina Regner

Fabiana Vieira Ariza;Lilian Al-Chueyr PereiraMartins: “A escala deperfeição dos animais deAristóteles a partir dotratado De generatione

animalium”

Nicolau Mottola; MárciaReami Pechula: “O con-ceito de evolução: algunsapontamentos históricos”

Hércules Menezes; Leo-nardo Davine Dantas: “Osentido metafórico daImunologia: uma procurapor suas origens”

Alcimar do Lago Carva-lho: “Borboletas entre océu e o inferno: traços dabiologia de duas espéciesde Nymphalidae (Lepi-doptera) em pinturas doséculo XV”

Natália Paganotti Anto-nucci; Gladys Flávia Al-buquerque Melo-de-Pinna:“Da anatomia vegetal àsíndrome Kranz: um mo-delo para o ensino sobre adinâmica da ciência noensino superior”

Alex Fabiano CorreiaJardim: “Gilbert Simon-don: sobre a critica à idéiade ontogênese na Filosofiada Natureza – pré-individual, individuação esingularidade”

Leonardo Davine Dantas;Hércules Menezes: “Paré euma contribuição à Histó-ria da Biologia”

Ana Tereza Pinto Filipe-cki; Carlos José SaldanhaMachado; Márcia de Oli-veira Teixeira: “O proces-so de avaliação dos proto-colos de pesquisa biomédi-ca pelas comissões de éticano uso de animais: parâ-metros legais ou princípioséticos?”

Roberto de Andrade Mar-tins: “Robert Hooke e apesquisa microscópica dosseres vivos”

André Luis de Lima Car-valho; Ricardo Waizbort:“O animal experimental éum animal sensível: umconflito ético do darwi-nismo na Inglaterra vitori-ana”

18h10 – 19h00 – Assembléia da ABFHiB

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13 DE AGOSTO DE 2010 – SEXTA-FEIRA

09h00 – 10h20 – Sessões Paralelas

Sala A Sala B Sala CCoordenação: Maria EliceB. Prestes

Coordenação: GustavoCaponi

Coordenação: MarcosRodrigues da Silva

Diego Demarco; YmaSouza de Abreu: “Aspec-tos relevantes do discursoAnatomes Plantarum Idea

de Marcelo Malpighi,proferido na Royal Societyem dezembro de 1671”

Juan Manuel Heredia: “Unproblema filosófico en elorigen de la biología: larelación entre los vivientesy su medio de existencia”

Leonardo Ferreira Almada:“A hipótese dos marcado-res somáticos e algumasobjeções possíveis: umaproposta”

Gerda Maisa Jensen; MariaElice Brzezinski Prestes:“Lazzaro Spallanzani e osestudos do século XVIIIsobre os peixes que cau-sam entorpecimento e dor”

Gustavo Caponi: “Asmassas lamarckianas

como classes naturais”

Marcos Rodrigues daSilva: “Maurice Wilkins ea polêmica acerca da parti-cipação de RosalindFranklin na construção domodelo da dupla hélice doDNA”

10h20 – 10h40 – Coffee break

10h40 – 12h00 – Sessões Paralelas

Sala A Sala B Sala CCoordenação: Nelio Bizzo Coordenação: Marisa

RussoCoordenação: LouiseBrandes Moura Ferreira

Maria Elice BrzezinskiPrestes; Frederico Felipede Almeida Faria: “Asexplicações de LazzaroSpallanzani sobre a origeme constituição dos fósseis –Parte II”

Francisco Rômulo; No-gueira, Maria Inêz: “Ateoria neuronal de SantiagoRamon y Cajal à luz daampliação do modelodedutivo”

Alfredo Pereira Júnior:“Sobre a evolução históri-ca da Biologia”

Nelio Bizzo: “Fósseis dedepósitos marinhos demontanha e a geologiamoderna: contribuiçõespara a laicização da visãoeuropéia de tempo profun-do”

Marisa Russo: “Reducio-nismo, emergência e com-plexidade - limites e possi-bilidades da explicação dosfenômenos mentais pelasneurociências”

Alexandre Torres Fonseca:“A História da Biologia deErnst Mayr e seus críticos:uma avaliação inicial”

12h00 – 14h00 – ALMOÇO

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14h00 – 15h00 – Conferência (Auditório)

Coordenação: Roberto de Andrade Martins• Douglas Allchin: “Socializing epistemics”

15h00 – 15h30 – Coffee break

15h30 – 17h30 – Sessões Paralelas

Sala A Sala B Sala CCoordenação: GilbertoOliveira Brandão

Coordenação: SandraCaponi

Coordenação: Aldo Me-llender de Araújo

Louise Brandes MouraFerreira; Gilberto OliveiraBrandão: “A linhagem deMendel em sala de aula:proposta de reconstruçãohistórica Deweyana dosmodelos experimentais decruzamentos híbridos noensino de Genética Clássi-ca”

Sabrina Páscoli Rodrigues;Lilian Al-Chueyr PereiraMartins: “Galtier e Pas-teur: o desenvolvimento davacina anti-rábica (1879-1885)”

Augusto de CarvalhoMendes: “A idéia de raça:sua história e suas implica-ções políticas segundo EricVoegelin”

Lourdes Aparecida DellaJustina; Fernanda Apareci-da Meglhioratti; AnaMaria de Andrade Caldei-ra: “Os conceitos de genó-tipo e fenótipo em umaperspectiva sistêmica”

Sandra Caponi: “A conso-lidação de um programa depesquisa: Magnan e aspatologias heredo-degenerativas”

Ediovani Antônio Gaboar-di: “As bases biológicas daliberdade humana deTheodosius Dobzhansky: oprojeto de uma fundaçãobiológica da ética”

Leyla Mariane Joaquim;Charbel Niño El-Hani: “Arealidade no mundo daGenética: sobre a naturezados genes”

Deisy Kawakami: “Ale-xander Fleming e o trata-mento sífilis (1909-1911)”

Carlos Alberto Dória: “Ametáfora da lei biogenéticana filosofia social brasilei-ra”

17h30 – ENCERRAMENTO DO ENCONTRO

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Resumos

Borboletas entre o céu e o inferno: traços da biologia de duas espécies deNymphalidae (lepidoptera) em pinturas do século XV

Alcimar do Lago CarvalhoDepartamento de Entomologia, Museu Nacional,

Universidade Federal do Rio de JaneiroE-mail: [email protected]

O principal objeto do presente estudo trata-se do tríptico intitulado “OJuízo Final” do pintor holandês Hans Memling (ca. 1430-1494), expostoatualmente no Muzeum Narodowe, Gdansk, Polônia. Nessa pintura, demôni-os foram pintados, de forma sui generis, com asas de borboletas com padrõesde coloração perfeitamente compatíveis com os dos ninfalídeos Aglais urti-cae e Vanessa atalanta, espécies de grande distribuição na Europa. Coinci-dentemente, as larvas de ambas alimentam-se exclusivamente de Urtica dioi-ca (urtiga), planta utilizada em práticas de flagelação de monges católicos naIdade Média. Tal característica relaciona essas borboletas com as chamas doinferno, área do quadro onde estão representados os demônios que as portam.A posição das asas de V. atalanta nas nádegas de um dos demônios, impar naiconografia do período, deve estar relacionada aos hábitos da espécie de sealimentar de excrementos. Tais conhecimentos biológicos advindos de obser-vação empírica foram, inegavelmente, considerados por Memling para aescolha dos modelos de borboletas, no sentido de se dar uma maior comple-xidade à sua pintura.

Muito antes dos genes Hox e dos modelos matemáticos:o diálogo entre Darwin e Fritz Müller

Aldo Mellender de AraújoUniversidade Federal do Rio Grande do Sul

E-mail: [email protected]

Nenhum naturalista vivendo na América do Sul por volta da metade doséculo XIX teve tanta repercussão junto a Darwin, como Fritz Müller (1822-1897). Embora com uma boa rede de correspondentes europeus, incluindo oirmão Hermann Müller (1829-1883), ele trabalhou isolado em Desterro (atualFlorianópolis), por cerca de 11 anos. Migrou para o Brasil em 1852, vivendoos primeiros quatro anos em Blumenau, como professor de matemática e

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ciências naturais; é em Blumenau que voltará a viver até o final da sua vida,após o período de Desterro. Fritz Müller produziu, dentre outras obras cientí-ficas, o livro Für Darwin (1864), traduzido para o inglês e publicado em1869, como Facts and Arguments for Darwin. Utilizando-se dos princípioscontidos na Origem das Espécies e aplicando-os aos crustáceos, ele mostrouque a teoria da transmissão e da seleção natural eram suficientes para explicardiferentes aspectos da morfologia, do desenvolvimento e das relações deparentesco entre os mesmos. Fritz Müller também elaborou um modelo ma-temático aplicado ao mimetismo entre insetos. De acordo com este modelo,publicado em 1879 (provavelmente o primeiro modelo matemático em biolo-gia evolutiva) dadas duas espécies igualmente impalatáveis, a de menor nú-mero de indivíduos teria uma proteção maior.

Gilbert Simondon: sobre a critica à idéia de ontogênese na Filosofia daNatureza – pré-individual, individuação e singularidade

Alex Fabiano Correia JardimUniversidade Estadual de Montes Claros, Minas Gerais

E-mail: [email protected]

A proposta do texto é pensar alguns conceitos em Gilbert Simondon esuas ressonâncias criticas numa filosofia da biologia e da natureza. SegundoSimondon, a esperança na idéia de existência de um ser pleno, absoluto eapodídico se transformam em miríades. Dissolve-se em favor das intensida-des dos modos ou da comunicação transversal que não respeitam as síntesesde nenhum principio fundante. Para Simondon precisamos falar na possibili-dade de discutir a ontogênese via movimento de individuação, distanciando-se das afirmações em impor um estatuto ontológico baseado num princípiounificador da vida. Um tipo de supremacia de um principio lógico no jogo daprodução de significados e sentidos. Através de Simondon, encontraremosdesde uma critica à idéia de consciência/sujeito até uma ruptura com as idéiasdo hilemorfismo. Estes princípios são duramente criticados por G. Simondonem função das noções de pré-individualidade, individuação e singularidade.

A história da biologia de Ernst Mayr e seus críticos:uma avaliação inicial

Alexandre Torres FonsecaUniversidade Federal de Alagoas

E-mail: [email protected]

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O objetivo deste trabalho é discutir a pertinência e as repercussões dascríticas que vem sendo feitas à história da biologia feita por Ernst Mayr. Porvolta de 1959, quando se comemorava o centenário da publicação de Origemdas espécies, alguns dos principais autores ligados à Síntese Moderna come-çaram a escrever uma história da biologia que se conformasse com as idéiasdefendidas pela própria Síntese. Ernst Mayr começou a escrever uma históriada biologia entre 1953 e 1968. Para isso, ele contou com a contribuição deArthur Cain e David Hull para caracterizar a história da ‘história natural’como a substituição do “essencialismo” pelo “pensamento populacional”.Esta história, que acabou se tornando a história oficial da biologia, começou aser questionada timidamente a partir do início dos anos 1990. Porém, nosúltimos anos este questionamento inicial se transformou em uma proposta derevisão da história da biologia.

Sobre a evolução histórica da Biologia

Alfredo Pereira JúniorInstituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista, Campus Botucatu

E-mail: [email protected]

Durante um certo tempo, pensou-se que o predomínio de trabalhos descri-tivos fosse sinal de uma falta de maturidade da Biologia, supondo-se que todapesquisa descritiva fosse mera preparação para uma pesquisa explicativa a serealizar em seguida. Em contrapartida, filósofos da biologia sugeriram que estaciência teria um estilo próprio que, eventualmente, poderia servir de modeloalternativo. Apresento três aspectos que, a meu ver, caracterizam tal estilo: a)Diversidade: existe uma diversidade de formas de vida, inclusive diferençasintra-específicas. Esta diversidade é relevante para se entender o própriofenômeno biológico; b) Interação: não só as partes de um organismo vivo sãoestreitamente relacionadas, como também existe interação entre os organismose seus ambientes; c) Acaso: existem dois tipos de acaso, que caracterizam osfenômenos biológicos: o acaso das mutações, e o acaso da recombinação gênicaem pequenas populações geograficamente isoladas. Os três aspectos acimainfluenciam decisivamente a metodologia da biologia. Os sistemas vivosderivam seu padrão de evolução organizacional de fatores intrínsecos e extrín-secos que se agruparam ao longo da história, única, de cada sistema. Portanto,as explicações propostas devem ser complementadas por descrições históricas,ou seja, das complexas condições iniciais e de contorno dos fenômenos bioló-gicos.

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Estudos sobre Epistemologia da Biologia: a possibilidade de articular asdiferentes áreas do conhecimento biológico

Ana Maria de Andrade CaldeiraUniversidade Estadual Paulista, Campus Bauru

E-mail: [email protected]

A Biologia Teórica vêm buscando estabelecer eixos estruturados sobre aorganização biológica. Entre os debates teóricos que procuram estruturar asCiências Biológicas, podemos citar, por exemplo, a evolução como linhaunificadora do conhecimento biológico e a ecologia com seus modelos com-plexos que procuram entender a interação entre múltiplas variáveis para sus-tentar estudos ambientais. Buscando atender a demanda de formação de pro-fessores e pesquisadores que articulem os conceitos biológicos de formaintegrada, é que foi pensado o Grupo de Estudos em Epistemologia da Biolo-gia (GEEB). O GEEB iniciou suas atividades em 2006, mantendo suas ativi-dades até o presente, integrando participantes de diferentes níveis de forma-ção. Estes integrantes são ao mesmo tempo sujeitos de pesquisa e pesquisa-dores. A partir das discussões teóricas desenvolvidas, os graduandos de umcurso de Licenciatura em Ciências Biológicas elaboram e desenvolvem sub-projetos de pesquisas relacionados à integração das áreas entre Epistemologiada Biologia e Ensino. A breve análise das investigações relacionadas ao Gru-po de Estudos em Epistemologia da Biologia, permite-nos afirmar que alémde gerar uma melhor compreensão do conhecimento biológico, observamostambém, como produto das pesquisas de implementação ou de novas formasde explicitar conceitos biológicos, que estamos também contribuindo para aconstrução de novos conhecimentos em Biologia Teórica.

As contribuições de Lilian Vaughan Morgan para ateoria cromossômica (1922-1931)

Ana Paula Oliveira Pereira de Morais BritoCatavento cultural e educacionalE-mail: [email protected]

O objetivo desta comunicação é discutir as contribuições de Lilian Vau-ghan Morgan (1870-1952), née Lilian Vaughan Sampson, para a teoria cro-mossômica da herança, no período compreendido entre 1922 e 1931, já queesta teoria foi estabelecida nas três primeiras décadas do século XX. Lilianiniciou sua carreira como zoóloga, tendo publicado vários trabalhos sobre

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reprodução em Anura, embriologia e regeneração durante a primeira décadado século XX. Depois interrompeu sua carreira, voltando ao laboratório em1921, quando se dedicou à investigação citológica em Drosophila. Este estu-do levou à conclusão de que ela deixou importantes contribuições no períodoconsiderado neste estudo, sendo talvez a mais relevante delas a descoberta dafêmea de Drosophila que, aparentemente, tinha dois cromossomos conecta-dos, herdando-os e transmitindo-os como uma unidade. Este achado, sobre oqual focalizaremos nossa análise, não apenas trouxe subsídios para a idéia deque os cromossomos constituíam a base física da herança, mas também para ateoria da determinação sexual através do balanceamento gênico, que admitiaque o sexo seria determinado pela razão entre os cromossomos sexuais e osautossomos, proposta por Calvin Blackman Bridges.

O processo de avaliação dos protocolos de pesquisa biomédicapelas comissões de ética no uso de animais:

parâmetros legais ou princípios éticos?

Ana Tereza Pinto FilipeckiFundação Oswaldo Cruz

E-mail: [email protected] José Saldanha Machado

Fundação Oswaldo CruzE-mail: [email protected]árcia de Oliveira Teixeira

Fundação Oswaldo CruzE-mail: [email protected]

A Lei 11.794/2008, que regulamenta o uso científico de animais, obriga

as instituições de ensino e pesquisa a implantarem Comissões de Ética noUso de Animais (CEUAs). Segundo o Decreto 6.899/2009 (art.44, II), aCEUA deve “examinar previamente os protocolos experimentais ou pedagó-gicos aplicáveis aos procedimentos de ensino e projetos de pesquisa científicaa serem realizadas na instituição à qual esteja vinculada, para determinar suacompatibilidade com a legislação aplicável”. Tal dispositivo exige dos mem-bros da CEUA conhecimento do extenso, complexo e emaranhado arcabouçolegal que normatiza a experimentação animal. Este trabalho analisa a CEUAde uma instituição pública de pesquisa em saúde para identificar, caracterizare discutir os tipos de enquadramento praticados pelos membros da CEUApara a análise dos protocolos de pesquisa. Questiona, também, em que medi-da estes enquadramentos podem ser associados ao perfil do protocolo depesquisa. Uma conclusão parcial aponta para uma série de dificuldades en-

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frentadas pelos membros da CEUA. Um exemplo são as dificuldades deapreensão dos custos éticos dos projetos de pesquisas que envolvem, porexemplo, grandes capturas de mamíferos para estudo da biodiversidade. As-sociamos essas dificuldades às práticas acadêmico-profissionais diferenciadasde veterinários e biólogos, que geram conflitos de interesse e interpretaçõesdistintas do enquadramento ético-legal.

As “Reflexões sôbre a História Natural do Brazil” da “Instrucção” de

1819 e as coleções geopaleontológicas do Museu Nacional

Andrea Siqueira D’Alessandri FortiMuseu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro

E-mail: [email protected] Carlos Sequeira Fernandes

Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de JaneiroBolsista de Produtividade, CNPq

E-mail: [email protected]

O Museu Nacional, no início de seu funcionamento, era carente de “ob-jetos” naturais fazendo com que a aquisição de coleções se tornasse a princi-pal preocupação dos seus primeiros diretores. Em 1819, o governo publicou a“Instrucção para os viajantes e empregados nas colonias sôbre a maneira decolher, conservar e remetter os objectos de história natural. Museu de Histó-ria Natural de Paris, 1818”. A obra constava de duas partes: as “Reflexõessôbre a História Natural do Brazil, e sôbre o Estabelecimento do Museu eJardim Botânico em a Cidade do Rio de Janeiro” e, a “Instrucção” propria-mente dita, traduzida do francês. Na primeira, se encontravam as diretrizesutilizadas pelos três primeiros diretores, visando o aumento do acervo e amelhoria do Museu. Seus principais pontos destacavam a formação de mu-seus regionais, a duplicação das coleções para a remessa ao Museu, o inter-câmbio com instituições estrangeiras, a sugestão de empregar naturalistas nopaís e a remessa de produtos pelos naturalistas viajantes a instituição. A con-tribuição das “Reflexões” auxiliou no enriquecimento do acervo geopaleon-tológico do Museu Nacional, do qual muitos dos exemplares originais aindase encontram na instituição, possuindo assim grande valor para a reconstitui-ção da trajetória científica e histórica do Museu.

O Animal experimental é um animal sensível:um conflito ético do darwinismo na Inglaterra vitoriana

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André Luis de Lima CarvalhoDoutorando em História das Ciências e da Saúde,Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz

E-mail: [email protected] Waizbort

Instituto Oswaldo CruzE-mail: [email protected]

Com sua teoria da origem comum entre os seres vivos Darwin destronouo homem do seu lugar privilegiado no universo e o aproximou dos animais.Na segunda metade do século XIX floresciam na Inglaterra o culto dos cãescomo mascotes; o darwinismo e a fisiologia experimental – cuja técnica bási-ca era a vivissecção. Darwin e discípulos se aliaram aos fisiologistas britâni-cos pela legitimação dessa prática, entrando em confronto com antivivissec-cionistas como Frances Power Cobbe. Defendemos aqui que a teoria da ori-gem comum substanciava tanto a legitimação científica da vivissecção quantoa condenação moral dessa prática. Nossa análise se concentrará sobre: 1) ocão, o mais prestigiado dos animais vitorianos, e cujas faculdades mentaisforam enaltecidas em obras de Darwin ; 2) a noção de sistema nervoso. Aofundamentar as semelhanças entre as organizações nervosas de humanos eanimais, o darwinismo tanto endossava o emprego dos últimos como mode-los experimentais, como confirmava cientificamente que estes, possuindosensibilidade, eram suscetíveis ao sofrimento físico e emocional. Emboraconsiderado o mais sensível dos animais, o cão era o mais usado em experi-mentos. A recusa dos fisiologistas em abdicarem dos cães como sujeitosexperimentais foi em muito responsável pela indignação de Cobbe, paraquem o darwinismo traíra seus princípios, confirmando a sensibilidade caninae seu parentesco com os humanos para em seguida lançá-lo ao bisturi dofisiologista, transformando esses animais em “mártires de Bernard”.

História e Filosofia da Biologia como ferramenta no Ensino de Evoluçãona formação inicial de professores de Biologia

André Luis CorrêaMestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação para a Ciência,

Universidade Estadual Paulista, Campus BauruE-mail: [email protected]

Elaine S. Nicolini Nabuco de AraujoUniversidade Estadual Paulista, Campus Bauru

E-mail: [email protected] Aparecida Meglhioratti

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Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Estadual doOeste do Paraná, Cascavel

E-mail: [email protected] Maria de Andrade Caldeira

Universidade Estadual Paulista, Campus BauruE-mail: [email protected]

Ao estabelecer uma relação entre os diversos setores da Biologia, a teoriada evolução possibilita um ensino mais sistematizado e menos fragmentadodessa ciência. No entanto, os alunos parecem ter dificuldades de compreen-são do conceito de evolução biológica, em virtude, entre outras causas, dosequívocos conceituais e históricos presentes nos livros didáticos. Uma dessasdistorções refere-se ao embate entre as ideias de Lamarck e Darwin. Objeti-vou-se, neste trabalho, investigar qual o entendimento dos alunos de umcurso de Licenciatura em Ciências Biológicas acerca das teorias de Lamarcke Darwin em diferentes momentos da disciplina de Evolução. Para tanto,seguiram-se as seguintes etapas: 1) Verificação das concepções prévias; 2)Elaboração de um material pedagógico, contendo diversos textos históricosde fontes primárias e secundárias; 3) Discussões em dois módulos didáticos,utilizando o material pedagógico elaborado; 4) Análise das concepções cons-truídas pelos alunos, a partir da intervenção didática. Os resultados obtidosrevelam que as concepções prévias dos entrevistados, acerca das teorias deLamarck e Darwin, assemelham-se às explicações apresentadas nos livrosdidáticos, e que, a inserção de textos históricos nas aulas de Evolução podeser uma estratégia interessante para construção do conhecimento dessa temá-tica.

O desenvolvimento das idéias de herança de Francis Galton: 1865-1897

Andreza PolizelloMestre em História da Ciência pela Pontifícia Universidade Católica de São

PauloE-mail: [email protected]

Neste trabalho discutiremos acerca de alguns aspectos dos principais tra-balhos de Galton sobre hereditariedade que foram publicados no períodocompreendido entre 1865 e 1897. Nosso objetivo é acompanhar a evoluçãodas idéias que antecederam sua proposta da Lei da herança ancestral. Galtonpublicou seus trabalhos iniciais tratando da herança entre 1865 e 1869. Nes-

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ses trabalhos, o material que ele utilizou para seus estudos foi uma grandequantidade de biografias, a partir das quais ele elaborou genealogias. Nesseperíodo já aparecem suas idéias sobre eugenia que se traduzem na preocupa-ção em buscar o modo que pudesse propiciar a manutenção das característi-cas desejáveis. Na década de 1870, Galton publicou uma série de trabalhosonde apresentou os resultados de seus estudos com as genealogias. Atravésdo exame de um grande número de genealogias Galton constatou que muitasvezes os progenitores transmitiam para seus descendentes características queeles mesmos não possuíam. Outra preocupação de Galton nesse período foi aelucidação do que seria herdado pelo indivíduo e do que seria resultado dainfluência do meio (educação, alimentação, etc.) Durante a década de 1880continuou buscando as leis da herança desenvolvendo experimentos comsementes e analisando o fenômeno da regressão (atavismo). Galton propôsuma teoria estatística com modelos teóricos de herança. Para isso ele mantevesuas idéias iniciais de herança que defendiam a regressão das característicasherdadas (herança proveniente dos pais e dos ancestrais remotos). A versãofinal das idéias de Galton sobre hereditariedade e regressão se encontra emseu livro Natural inheritance (1889).

Darwin e Wallace: amigos (discordantes) para sempre!

Anna Carolina K. P. RegnerUniversidade do Vale do Rio dos Sinos

E-mail: [email protected]

Um dos episódios mais conhecidos da história das ciências é sem dúvidao da apresentação conjunta à Linnean Society, em 1858, dos papers deCharles Darwin, “On The Tendency of Species to Form Varieties; And onThe Perpetuation of Varieties And Species by Natural Selection” e de AlfredR. Wallace, “ On the tendency of varieties to depart indefinitely from theoriginal type”. Esse famoso paper de Wallace colocou um prazo para o tér-mino da exposição de Darwin de sua teoria acalentada desde 1837, e quedesde 1856 vinha sendo preparada para a publicação. Teria o paper deWallace roubado a Darwin a paternidade da teoria da seleção natural de Da-rwin? Algum tempo comentadores de um lado e de outro despenderam nadefesa de um ou de outro. Penso que essas já são águas bem passadas, masque nos deixaram com um episódio muito mais interessante a ser aqui exami-nado: a trajetória de uma amizade que nasce às sombras de estratégias maisou menos defensivas e que floresce em meio a autênticas e leais divergências,conferindo mútuo suporte aos dois amigos, cada qual em seu caminho e as-sim permanecendo pelo resto de suas vidas.

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Uma lembrança de infância: os “fósseis colossais” e o papel de FredericoLeopoldo César Burlamaque como primeiro paleontólogo brasileiro

Antonio Carlos Sequeira Fernandes;Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro;

Bolsista de Produtividade, CNPqE-mail: [email protected]

Cecilia de Oliveira EwbankMuseu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro

E-mail: [email protected] Jardim e Silva

Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de JaneiroE-mail: [email protected]

Deise Dias Rêgo HenriquesMuseu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro

E-mail: [email protected]

Pouquíssimas foram as observações sobre a presença de fósseis no Nord-este registradas no início do século XIX, apesar dos mesmos terem sido bemconhecidos pelas populações de determinadas localidades. Aos habitantescausava espanto as avantajadas dimensões que o material apresentava, frutodo gigantismo desenvolvido principalmente pela fauna de mamíferos pleisto-cênicos. Um dos raros registros deve-se à lembrança de infância relatada porFrederico Leopoldo César Burlamaque (1803-1866) quando, aos oito anos,numa viagem à Bahia, observou uma abundante ocorrência de ossadas fósseisnas margens do rio São Francisco. Restos gigantescos de um mundo antigo,segundo suas próprias palavras, os fósseis marcaram posteriormente sua vidaprofissional. Como diretor e responsável pela seção de geologia do MuseuNacional, no período de 1847 a 1866, deu grande incentivo, através das auto-ridades nordestinas, à coleta de novos fósseis, solicitando sua remessa aomuseu para estudo e incrementação de seu acervo paleontológico. Sua curio-sidade sobre a paleofauna levou-o a redigir o primeiro artigo sobre fósseisbrasileiros, historiando os primeiros achados e descrevendo sucintamentealgumas das ossadas adquiridas para a instituição. A atuação de Burlamaquee os estudos paleontológicos por ele realizados permitem qualificá-lo como oprimeiro paleontólogo brasileiro e do Museu Nacional.

Alberto José de Sampaio (1881-1946): contexto, vida e obra de um con-servacionista brasileiro

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Arthur Henrique de OliveiraMestre em História da Ciência, Pontifícia Universidade Católica de São

PauloPrefeitura Municipal de São PauloE-mail: [email protected]

No Brasil, a consciência crítica em relação à degradação ambiental costu-ma ser identificada como algo recente, uma problemática exógena importadados países desenvolvidos em decorrência da influência do movimento ambi-entalista internacional. No entanto, alguns pensadores e pesquisadores de áreasdiferentes do conhecimento parecem ter deixado contribuições relevantes paraa gênese do pensamento e da crítica ambiental no país, logo nas primeirasdécadas do século XX, muito antes, portanto, do que convencionalmente seimagina como sendo o momento de origem desse tipo de debate. As discussõesocorridas em torno das questões ambientais nas primeiras décadas do séculoXX culminariam mais tarde no estabelecimento de mecanismos legais deproteção à natureza e na realização da Primeira Conferência Brasileira deProteção à Natureza. A conferência contou com apoio e infra-estrutura doMuseu Nacional do Rio de Janeiro, sendo Alberto José de Sampaio, botânico eprofessor dessa instituição, o seu relator. A relevância das atividades de Al-berto Sampaio levou-nos a tomar o livro Biogeographia Dynamica: a naturezae o homem no Brasil (1935) como objeto central dos nossos estudos. Explo-rando os ideais conservacionistas de Alberto Sampaio procuramos evidenciarque as preocupações com a conservação e a preservação dos elementos natu-rais, no Brasil, não é algo tão recente como se supõe.

A idéia de Raça: sua história e suas implicações políticas segundo EricVoegelin

Augusto de Carvalho MendesMestrando em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de

Minas GeraisE-mail: [email protected]

Nosso trabalho procura apresentar o pensamento do filósofo e historiadorEric Voegelin acerca da formação da idéia de raça, conceito importante pormuitos anos tanto no pensamento biológico quanto no político, e sua aplica-ção na política alemã nazista. Concluímos, seguindo-o e a outros estudiosos,que a Biologia, assim como qualquer outra ciência natural, não é imune ainfluências de outros campos do saber como a Filosofia. Por fim, seguindo

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Voegelin e outros estudiosos, iremos avaliar a influência no pensamentobiológico na política nazista.

A metáfora da lei biogenética na filosofia social brasileira

Carlos Alberto DóriaInstituto de Filosofia e Ciências Humana, Universidade Estadual de

CampinasE-mail: [email protected]

A comunicação analisa o texto seminal de Silvio Romero, intitulado “Ohaeckelismo em sociologia”, onde o autor discute a aplicação mecânica da“lei biogenética”, conforme formulada por Ernst Haeckel, ao campo dosfenômenos sociais. Nesta crítica vislumbra-se o desejo e a possibilidade deformação da sociologia como ciência autônoma em relação ao modelo cientí-fico da biologia. O que se procura mostrar é como a idéia de “repetição abre-viada” opera como categoria negadora da história, sendo fundamental paraSilvio Romero indicar novos tratamentos dos fatos a partir de categoriastemporais – homocronia, heterocronia e proterocronia – como forma de com-patibilizar os ditames da “ciência universal” (a biologia) e a ciência da histó-ria (a sociologia).

Abordagem histórico-filosófica do conteúdo “A Origem da Vida” aplica-da no ensino médio

Cecília Helena Vechiatto dos SantosUniversidade Estadual de Londrina

E-mail: [email protected]ânia Aparecida Silva Klein

Universidade Estadual de LondrinaE-mail: [email protected]

Muitas das inquietações dos professores de Biologia estão relacionadasaos instrumentos utilizados em suas práticas pedagógicas. Na maioria dasvezes esses instrumentos encontram-se desinteressantes e distantes da reali-dade dos alunos. Os livros didáticos são importantes ferramentas acessíveis eúteis aos professores e alunos, portanto os textos apresentados nesses veícu-los educacionais devem ser escritos de forma instigante e compreensível,aproximando os conteúdos aos alunos, principalmente por meios dos aspectosHistóricos e Filosóficos da Ciência. Esse trabalho parte de um projeto maior

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na área de formação continuada de professores de biologia, apresenta umaprimeira análise da forma de abordagem histórico-epistemológica do episódioda biologia “A Origem da Vida”, nos livros didáticos disponíveis em escolasda rede pública de ensino. Foram analisados quatro livros didáticos de biolo-gia do ensino médio, escolhidos aleatoriamente. Os resultados mostram-sebastante similares. Há uma clara ênfase em uma transmissão histórica des-contextualizada, individualista e elitista, expressando a imagem de uma ciên-cia reservada à gênios. Vale ressaltar que nos quatro livros analisados a histó-ria da contribuição de Pouchet para a biogênese não aparece em nenhummomento.

Final causes in evolution: a model

Charles H. SmithWestern Kentucky University, Bowling Green, KY, USA

E-mail: [email protected]

The notion of “final causes” is usually associated with teleology, the ideathat nature changes according to some predestined goal or end. Other kindsof models invoking final causes can be envisioned, however; Alfred RusselWallace, for example, was a Spiritualist, and believed that human conscious-ness was being refined by communications received from a “spirit realm” thatextended beyond physical reality. In my presentation, I describe a modelposing that natural structure has certain limits linked to the way its systemsare broken down into subsystems. Thus, some subsystemizations are possi-ble and some are not, and evolution finds a way to identify only those thatare. This pattern can actually be observed in a number of real world systems,the best example being stream drainage basins, an analysis of which is de-scribed. Two additional applications are also described: to the pattern ofcolors on butterfly wings, and to medical imaging.

Alexander Fleming e o tratamento sífilis (1909-1911)

Deisy KawakamiMestre em História da Ciência pela Pontifícia Universidade Católica de

São PauloE-mail: [email protected]

O nome de Alexander Fleming (1881-1955) é geralmente relacionado àde à descoberta da penicilina. Entretanto, ele deixou outras contribuições

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importantes. O objetivo dessa comunicação é discutir suas contribuições parao tratamento da sífilis, no período compreendido entre 1909 a 1911. Na épocaconsiderada, diferentes métodos foram desenvolvidos para detectar anticor-pos no sangue durante as infecções. Um deles consistia na fixação de com-plemento. Este foi empregada por August P. Von Wassermann (1866-1925),para o diagnóstico da sífilis. O tratamento utilizado normalmente era à basede mercúrio. Em 1910, o bioquímico Paul Ehrlich (1854-1915), desenvolveuum medicamento a base de arsênico que possuía uma ação específica muitoforte sobre o agente da sífilis, mas de extrema toxidade, que recebeu o nomede Salvarsan 606. Fleming foi encarregado de viabilizar uma maneira deadministração intravenosa deste medicamento. Esta pesquisa levou a conclu-são de que Fleming aprimorou as técnicas existentes nos testes de Wasser-mann para detectar antígenos no sangue de indivíduos sifilíticos. Além disso,desenvolveu um aparato para a administração do Salvarsan por via intraveno-sa, no tratamento da sífilis em seres humanos, em substituição ao tratamentopor mercúrio.

Aspectos relevantes do discurso Anatomes Platarum Idea de MarceloMalpighi, proferido na Royal Society em dezembro de 1671

Diego DemarcoE-mail: [email protected]

Yma Souza de AbreuE-mail: [email protected]

Serão apresentados os aspectos relevantes do discurso feito em latim,traduzido para o português, de Marcello Malpighi. Este foi proferido naRoyal Society em dezembro de 1671. Trata-se de uma das primeiras observa-ções criteriosamente científicas realizadas com o auxílio do microscópio. Emum primeiro momento serão revelados: o contexto, suas idéias sobre ciência esua metodologia. Em um segundo momento sua contribuição científica para oprogresso botânica.

Socializing Epistemics

Douglas AllchinUniversity of Minnesota, USA

E-mail: [email protected]

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The adoption of chemiosmotic theory of cellular energy processing wasmarked by a Nobel Prize in 1978, after more than 15 years of heated contro-versy. Yet the theory was not accepted at the same time, nor for the samereasons by different scientists: why? I profile the researchers' divergentperspectives and discuss how, philosophically, such non-uniform response isnot a weakness, but a fruitful resource. My analysis contributes further to anemerging social epistemology.

As bases biológicas da liberdade humana de Theodosius Dobzhansky:o projeto de uma fundação biológica da ética

Ediovani Antônio GaboardiUniversidade Federal de Rondônia

E-mail: [email protected]

O objetivo do presente trabalho é caracterizar e discutir a proposta de Theo-dosius Dobzhansky de uma fundamentação biológica da liberdade humanaenquanto capacidade de decisão autônoma, abrindo espaço, no interior daciência, para a ética. Em especial, busca-se verificar em que medida sua in-terpretação da teoria sintética da evolução fornece bases suficientes para umanoção de liberdade que não precise encerra-lá numa dimensão à parte daquelaque é estudada pelas ciências. Na obra The biological basis of human free-dom, Dobzhansky defende uma concepção não determinista da hereditarieda-de biológica e da seleção natural. A partir disso, concebe a cultura como oespaço para novas formas de hereditariedade e de seleção. Especialmentepela linguagem, o indivíduo representa diante de si diversas possibilidades deação. Consequentemente, torna-se livre na medida em que pode escolherentre elas. Da mesma forma, torna-se ético porque não pode furtar-se à tarefade avaliar quais fins são os melhores. Assim, Dobzhansky propõe que a li-berdade e a ética são consequências da evolução biológica.

A escala de perfeição dos animais de Aristóteles a partir do tratado Degeneratione animalium

Fabiana Vieira ArizaMestranda do Curso de Pós-Graduação em História da Ciência,

Pontifícia Universidade Católica de São PauloE-mail: [email protected]

Lilian Al-Chueyr Pereira Martins

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Programa de Estudos Pós-Graduados em História da Ciência, Pontifícia Uni-versidade Católica de São Paulo; Grupo de Teoria e História da Ciência,

Universidade Estadual de CampinasE-mail: [email protected]

O objetivo desse trabalho é o de discutir a escala de perfeição dos ani-mais de Aristóteles (384-322 a.C.) a partir do tratado De generatione anima-lium. Nele, o filósofo elaborou uma escala decrescente de “perfeição” dosgrandes grupos de animais, segundo as variadas formas de geração dos fi-lhotes. Assim, os mais quentes e perfeitos dos animais correspondiam aosvivíparos, tal como o homem, por exemplo. Os mais frios e imperfeitos, cor-respondiam àqueles gerados espontaneamente, como as enguias e as espon-jas. Entre esses dois extremos, o filósofo incluiu outras possibilidades, taiscomo os animais ovíparos, como os pássaros e os peixes escamosos, além dosovovivíparos, como os peixes cartilaginosos e as víboras. Apesar de Aristó-teles não ter apresentado um esquema dessa organização, as informaçõescontidas em De generatione animalium permitem a reconstrução da sua es-cala de perfeição, de modo a entendê-la como uma intenção de classificar osgrandes grupos de animais. Ao considerarmos os registros de observações,descrições e discussões teóricas apresentados nessa obra, também nos foipossível identificar o calor vital como o principal critério de superioridade ede concluir que tal hierarquia não implica, neste caso, na crença em umaevolução orgânica por parte do autor.

Elaboração de diagramas sobre a ciência ecológica: aspectos conceituais,didáticos e epistemológicos

Fernanda da Rocha BrandoDoutora em Educação para a Ciência pela Universidade Estadual

Júlio de Mesquita Filho, Campus BauruE-mail: [email protected]

Ana Maria de Andrade CaldeiraUniversidade Estadual Júlio de Mesquita Filho, Campus Bauru

E-mail: [email protected]

A ciência ecológica busca elucidar a trama de relações existentes entre osorganismos e os fatores bióticos e abióticos do meio. Para facilitar a compre-ensão dos múltiplos aspectos fundamentais que constituem a Ecologia, apresente pesquisa, sobre epistemologia e ensino de Ecologia, ancorada noreferencial teórico da semiótica peirceana, subsidiou a elaboração de diagra-mas sobre estudos ecológicos. A proposição de diagramas ao longo do des-

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envolvimento da pesquisa proporcionou a articulação entre os campos con-ceituais, didáticos e epistemológicos da Ecologia que, discutidos no Grupo dePesquisas em Epistemologia da Biologia com alunos de Licenciatura emCiências Biológicas, proporcionou-lhes oportunidade de organizar seus co-nhecimentos além da forma disciplinar.

A teoria neuronal de Santiago Ramon y Cajal à luz da ampliação domodelo dedutivo

Francisco Rômulo M. FerreiraMestrando em Neurociências e Comportamento, Instituto de Psicologia,

Universidade de São PauloE-mail: [email protected]

Maria Inêz NogueiraInstituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo

E-mail: [email protected]

Este trabalho objetiva análisar o modelo implicacional da explicaçãoproposto por Morton Beckner no intuito de abranger o modelo dedutivo pro-posto por Carl Hempel e Paul Oppenheim nas explicações em Biologia econtribuir para a compreensão das evidências da teoria neuronal de SantiagoRamon y Cajal à luz do modelo proposto por Beckner.

Lazzaro Spallanzani e os estudos do século XVIII sobre os peixes quecausam entorpecimento e dor

Gerda Maisa JensenMestre em História da Ciência pela Pontifícia Universidade Católica de

São Paulo;Escola Muncipal de Ensino Fundamental Brasil-Japão

E-mail: [email protected] Elice Brzezinski Prestes

Departamento de Genética e Biologia Evolutiva, Instituto de Bio-ciências,

Universidade de São PauloE-mail: [email protected]

O naturalista Lazzaro Spallanzani (1729-1779) dedicou-se ao estudo dediversos temas da História Natural, dentre os quais o fenômeno do entorpe-cimento causado em presas ou em seres humanos, por peixes chamados tor-

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pedos. Conhecido desde a Antiguidade, o fenômeno foi objeto de diversasinvestigações desde o final do século XVII até início do século XIX. Nestacomunicação, analisaremos as descrições morfológicas e anatômicas do pei-xe, além de pequenos experimentos realizados por Spallanzani com o intuitode encontrar as causas do fenômeno. O relato dessas observações e experiên-cias foi escrito pelo naturalista em forma de carta endereçada ao MarquêsGirolamo Lucchesini, datada de 23 de fevereiro de 1783, e publicada, nomesmo ano, em dois periódicos italianos de ciências. Além da carta, serãoreferenciados trechos dos diários de viagens naturalísticas em que Spallanza-ni teve oportunidade de observar e investigar torpedos in natura. As pondera-ções de Spallanzani serão analisadas no contexto da época, levando-se emconta as conclusões de diversos autores que estudaram o mesmo fenômenona época e divergiram em explicá-lo como um fenômeno mecânico (havendopelo menos três hipóteses diferentes: por movimento de corpúsculos, pelogolpe desferido pelo peixe, pela vibração muito rápida sofrida pelo peixe) ouelétrico. Será indicado de que modo Spallanzani utiliza de suas observações eexperimentos para posicionar-se em relação à controvérsia, defendendo que ofenômeno observado pelo peixe que examinava era elétrico.

La “caída ontológica de la vida”y los niveles en la biología contemporánea

Guillermo FolgueraGrupo de Historia de la Ciencia, Facultad de Filosofía y Letras,

Universidad de Buenos AiresE-mail: [email protected]

Federico di PasquoGrupo de Historia de la Ciencia, Facultad de Filosofía y Letras,

Universidad de Buenos Aires

El objetivo de este trabajo es mostrar la pertinencia (al menos parcial) dela crítica que realiza Hans Jonas en su libro El principio vida en relación conla pérdida ontológica de la vida en la biología contemporánea. En este senti-do, se rescata aquí la “dimensión negativa” de su argumentación, aún cuandono sean contemplados algunos aspectos positivos del análisis del filósofoalemán. Esta pérdida ontológica de la vida presenta, tal como se analizaráaquí, características particulares durante el siglo XX, dado el marco concep-tual aceptado en la biología en la época. En términos generales, el trabajoconcluye que, ciertamente, en ningún caso puede haber una solución definiti-va a la pérdida de la ontología de la vida dentro del mecanicismo que gobier-na al ámbito de la ciencia en general, y de la biología en particular. Sin em-

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bargo, aun cuando en sentido estricto la “caída ontológica de la vida” es irre-versible dentro del mecanicismo, es posible señalar algunas tendencias pre-sentes en la biología contemporánea que exacerban los problemas señaladospor Jonas, por lo que se plantea la necesidad de que las mismas sean recono-cidas y revisadas.

As massas lamarckianas como classes naturais

Gustavo Caponi Departamento de Filosofia, Universidade Federal de Santa Catarina

E-mail: [email protected]

Darwinianamente, todos os grupos taxonômicos são entendidos comoentidades históricas que surgem em um momento da evolução e que sempre,como qualquer outra entidade individual, podem correr a sorte de desapare-cer. Mas esses grupos também podem ser entendidos, e de fato foram assimentendidos por muitos naturalistas, como classes naturais; quer dizer: comotipos permanentes e a-históricos. Nesta comunicação, contrariando aquiloque alguma vez sugeriram David Hull e Ernst Mayr, sustentarei que esteúltimo também foi o caso de Lamarck. Na sua taxonomia, as grandes massas,as grandes categorias taxonômicas, são pensadas como níveis de uma tipolo-gia hierárquica. Tentarei mostrar, além disso, que esse pensamento tipológicotambém alcança ao modo no qual Lamarck entende as espécies.

O sentido metafórico da Imunologia: uma procura por suas origens

Hércules MenezesUniversidade Estadual Paulista, Rio Claro

E-mail: [email protected] Davine Dantas

Faculdades Integradas Maria Imaculada, Mogi Guaçu, São Paulo;Colégio e Curso Etapa, Valinhos

E-mail: [email protected]

A Imunologia se apresenta um discurso metafórico, onde os microorga-nismos são os inimigos, que empregam uma grande variedade de táticascomo camuflagem e, em contrapartida, o sistema imune ativa diferentes es-tratégias de defesa, utilizando diferentes populações de células “sentinels”,“front line defense” e “killer cells”. O objetivo de nossa pesquisa é o de pro-curar uma possível explicação para a atribuição da metáfora bélica ao Siste-

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ma Imune. Encontramos o termo immunis sendo inicialmente utilizado den-tro da literatura médica, na obra: Lexicon medicum graeco-latinum compen-diosiss, de Bartholomaeo Castelli, publicada em1628.

.O deísmo na pós-graduação do Instituto de Biociências da USP: grau deprevalência de manifestações de deísmo/religiosidade em dissertações de

mestrado e teses de doutorado

Ivan Ascêncio DiasPós-Graduando, Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo

E-mail: [email protected] Carlos Marques

Instituto de Biociências, Universidade de São PauloE-mail: [email protected]

Rodrigo Hirata WillemartEscola de Artes, Ciências e Humanidades, Universidade de São Paulo

E-mail: [email protected]

¼ da população brasileira não utiliza a Teoria da Evolução para explicar asorigens do ser humano, o que pode ser resultado de um ensino deficientedesde a pós-graduação até, em efeito-cascata, o fundamental. A oposiçãoentre ciência e religião tem predominado enquanto conflito epistemológico,embora se sugira que a tradicional dicotomia “evolucionismo vs. criacionis-mo” seja melhor representada por um contínuo. Diagnosticamos a expressãode deísmo/religiosidade em dissertações de mestrado (8,3%) e teses de douto-rado (7,5%), defendidas no IB-USP, contrastando-as com as da FMVZ-USP(grupo-controle). Testamos hipóteses de influências diversas sobre o sistemade crenças e a visão de mundo dos pós-graduados: programa de pós-graduação, área temática e sexo.

Darwin and the ‘sin’ of slavery

James R. MooreThe Open University

E-mail: [email protected]

Integral to Darwin’s vision of life’s history was the moral progress thatmust bring about the abolition of black chattel slavery. Yet the progress heexpected could not be easily reconciled with his sense of evolutionary con-tingency. A man who, in the name of suffering slaves, damned the white

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man’s ‘arrogance’ in believing himself the ‘godlike’ goal of creation, couldnot rest comfortably in believing that history must realize his own highestmoral goal, black emancipation. In the 1850s, Darwin’s dilemma becameincreasingly poignant as the conflict over slavery in the United States turnedinto a holocaust. He could still hope for abolition, but in a dark hour he had toadmit, ‘a man cannot hope by intention’. It was only after the emancipationof America’s slaves in the 1860s, when he turned at last to publish on humanorigins, that Darwin’s optimism revived. In the Descent of Man, ‘the great sinof slavery’ is among the evils to be abolished as ‘the civilised races of man… exterminate and replace’ races that were formerly enslaved. ‘At somefuture period’, not many centuries hence, Darwin prophesied, ‘virtue will betriumphant’.

Sobre a ostensibilidade dos táxons

Jerzy A. BrzozowskiDoutorando do Programa de Pós-Graduação em Filosofia,

Universidade Federal de Santa CatarinaE-mail: [email protected]

Desde que Michael Ghiselin e David Hull expuseram sua solução para oproblema das espécies, é praticamente um consenso entre os filósofos dabiologia que as espécies e outros táxons biológicos, do ponto de vista dabiologia evolutiva, devem ser consideradas indivíduos, e não classes naturais.Tratar as espécies como indivíduos teria desautorizado, segundo alguns auto-res (p. ex. Ernst Mayr), todo e qualquer tipo de raciocínio essencialista arespeito das espécies. Entretanto, defenderemos que mesmo a individualidadedas espécies pressupõe a existência de uma essência individual. A essênciaindividual de uma espécie é constituída pela origem dessa espécie. Aqui,argumentaremos em favor dessa posição ao questionar uma tese de Ghiselin,de que os nomes próprios dos táxons não podem receber definições intensio-nais, isto é, que apelem a propriedades necessárias e suficientes. Para Ghise-lin, a única definição possível que podemos dar para o nome de um táxon éostensiva (apontando para o próprio táxon). Questionaremos se é possívelapontar para um táxon, e concluiremos que uma resposta negativa nos leva aaceitar que os nomes próprios dos táxons podem e devem receber definiçõesintensionais.

Un problema filosófico en el origen de la biología: la relación entre losvivientes y su medio de existencia

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Juan Manuel HerediaLicenciado en Filosofía, Universidad de Buenos Aires

E-mail: [email protected]

Este trabajo – que es parte central de nuestra tesis de licenciatura en Filo-sofía – busca plantear una serie de respuestas histórico-epistemológicas alproblema filosófico-biológico de la relación entre vivientes y medio de exis-tencia. Nuestra tesis es que el problema planteado recibe, entre mediados delsiglo XVIII e inicios del XX, al menos cuatro tipo de respuestas: 1. Conside-rar al medio como conjunto de fuerzas físicas e indagar su modo de afectar alviviente (Buffon, Lamarck, Comte); 2. Considerar al medio como un con-junto de condiciones necesarias a priori (Cuvier, Comte); 3. Considerar almedio como el conjunto de los vivientes con los que se entra en relaciones decompetencia y lucha (Darwin); 4. Considerar al medio como el conjunto deseñales propias que inducen a ciertos comportamientos funcionales (VonUexküll). De este modo, mediante una genealogía histórico-epistemológicadel concepto de medio, buscamos dilucidar las diversas traducciones queasume el problema filosófico-biológico de la relación vivientes/medio (talescomo, viviente/fuerzas físicas; vivientes/condiciones de existencia; vivien-te/vivientes; viviente/signos propios).

Divulgação pública de saberes biológicos no Rio de Janeiro de fins doséculo XIX

Karoline CarulaDoutoranda em História Social pela Universidade de São Paulo

E-mail: [email protected]

Na década de 1870 foram realizadas, na cidade do Rio de Janeiro, asConferências Populares da Glória, que visavam levar um saber relacionado àsartes, literatura e ciências às camadas mais abastadas da sociedade. Das pre-leções sobre ciências, merecem destaque as relacionadas às ciências naturais,nas quais foram abordados assuntos que vieram a fazer parte do campo doconhecimento da biologia. O objetivo deste trabalho é expor e analisar algu-mas destas conferências. Para tal, inicialmente apresento esse espaço públicode divulgação da ciência e, então, exponho algumas das preleções que trata-ram desses temas; tendo como viés analítico principal a compreensão daimportância de se divulgar esses conhecimentos em fins dos oitocentos. Aanálise da repercussão que tais conferências tiveram na imprensa indica comoa temática era de interesse não só da comunidade científica, mas também da

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sociedade como um todo. Muitas se vinculavam a propostas de educação nasciências, pois uma sociedade conhecedora de tais saberes ajudaria a civilizaro Brasil, e estar no rol dos países civilizados era o que desejava extensa par-cela da elite brasileira.

Vieses, viradas e omissões na história das teorias da sucessão ecológica.

Kauê Tortato AlvesUniversidade Federal de Santa Catarina

E-mail: [email protected] Saalfeld

Universidade Federal de Santa CatarinaE-mail: [email protected]

Pretende-se neste trabalho narrar uma breve história pensamentos sobreas biodiversidade ao longo da sucessão como foram tradicionalmente desen-volvidos, ou seja, sob um programa de pesquisa adaptacionista-selecionista.Posteriormente, contrastamos tal construção com a história não menos antigadas teorias do programa nominalista. Buscamos traçar paralelos entre ashistórias da sucessão frente aos recentes desenvolvimentos teóricos do neu-tralismo na biologia molecular.

A realidade no mundo da Genética: sobre a natureza dos genes

Leyla Mariane JoaquimDoutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino, Filosofia e

História das Ciências, Universidade Federal da Bahia-Universidade Estadualde Feira de Santana

E-mail: [email protected] Niño El-Hani

Departamento de Biologia Geral, Instituto de Biologia, Univer-sidade Federal da Bahia

E-mail: [email protected]

O termo “gene”, desde o início do século XX, se refere a um dos con-ceitos mais importantes da Biologia, embora nunca tenha existido na Genéti-ca uma única definição deste termo universalmente aceita. Os diversos signi-ficados do conceito de gene são produtos de debates e experimentos quetiveram espaço em contextos históricos específicos. Por trás das diferentesproposições teóricas a respeito do gene, encontram-se opiniões divergentes a

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respeito da realidade das entidades às quais este termo supostamente se refe-re. No presente trabalho, trataremos brevemente do debate entre visões rea-listas e anti-realistas, o qual gira em torno da discussão do modo mais ade-quado de interpretar teorias científicas que se referem às entidades inobser-váveis, como os genes. Com base neste debate, discutiremos a realidade dosgenes a partir de diversos episódios da história da Genética, nos quais asabordagens de importantes pesquisadores oscilavam entre visões mais incli-nadas para o realismo ou para o anti-realismo.

Paré e uma contribuição à história da Biologia

Leonardo Davine DantasFaculdades Integradas Maria Imaculada, Mogi Guaçu, São Paulo;

Colégio e Curso Etapa, ValinhosE-mail: [email protected]

Hércules MenezesUniversidade Estadual Paulista, Rio Claro, São Paulo

E-mail: [email protected]

Ambroise Paré (1502 -1590), cirurgião francês, tornou-se mais conheci-do por suas obras sobre tratamento de ferimentos produzidos por armas defogo. É inegável, entretanto, sua contribuição à História da Biologia, pois foium dos primeiros autores do século XVI a escrever sobre os seres das terrasrecém-descobertas, no tratado Des Monstres et Prodiges (1573). Com talobra, o “cirurgião que não sabia latim” abriu um vasto caminho para os estu-diosos da natureza que se lhe seguiram, pois a publicação de muitos tratadosde História Natural só se tornou possível graças a esse primeiro passo deParé, confirmando, assim, a importância deste autor para a História da Biolo-gia.

A hipótese dos marcadores somáticos e algumas objeções possíveis:uma proposta

Leonardo Ferreira AlmadaFaculdade de Filosofia da Universidade Federal de Goiás

E-mail: [email protected]

A pesquisa que tenho desenvolvido, e que proponho apresentar, consisteem mapear as principais objeções e alternativas à hipótese dos marcadoressomáticos de Damasio (1994) para que, subsequentemente, possa propor uma

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compreensão particular dos processos de decision-making no âmbito dasquatro principais posições que até agora consegui averiguar: (a) a cognição écerebral, e diz respeito às funções cerebrais superiores, tendo assim predomi-nância sobre os processos emocionais/afetivos, que estão relacionados a mar-cadores somáticos; (b) processos emocionais/afetivos tem bases neurais bemdefinidas (sistema límbico), e predominam sobre a cognição nos processos dedecision-making; (c) processos emocionais/afetivos são dependentes de fato-res somáticos, e não se relacionam com a cognição nos processos de decisi-on-making; (d) tanto os processos cognitivos quanto os processos emocio-nais/afetivos são eminentemente cerebrais, mas são os processos cognitivos,relacionados às funções corticais superiores, que predominam nos processosde tomada de decisão. No âmbito das objeções que pretendo levar em consi-deração, proponho defender que as fragilidades da hipótese dos marcadoressomáticos estão claramente associadas à capacidade humana para um usoefetivo da razão prática e para os propósitos de tomar decisões a partir dasbases confiáveis que temos para sentir emoções.

Houve tentativas de conciliação por parte dos envolvidos na controvérsiamendeliano-biometricista (1902-1906)?

Lilian Al-Chueyr Pereira MartinsPrograma de Estudos Pós-Graduados em História da Ciência, Pontifícia Uni-

versidade Católica de São Paulo; Grupo de Teoria e História da Ciência,Universidade Estadual de Campinas

E-mail: [email protected]

Entre 1902 e 1906 ocorreu na Grã-Bretanha a controvérsia que envolveupor um lado, os mendelianos liderados por William Bateson (1861-1926) epor outro, os biometricistas (ancestralistas) liderados por Walter Frank Ra-phael Weldon (1860-1906) e Karl Pearson (1857-1936). Essa controvérsiaincluiu vários episódios tais como a controvérsia da homotipose, a controvér-sia das cinerárias, dentre outros. Considerando a controvérsia como um todo,os principais pontos de discordância diziam respeito a aspectos relacionadosà hereditariedade e evolução envolvendo aspectos conceituais, diferençasmetodológicas, de terminologia etc. Embora tenha havido tentativas de con-ciliação durante o período como, por exemplo, a que foi feita em 1905 porArthur Dukinfield Darbishire (1879-1915), um aluno de Weldon, em relaçãoaos padrões de herança em camundongos, elas foram infrutíferas. Nesse sen-tido, alguns historiadores da ciência mencionam a existência de um manus-crito inédito de Weldon, que teria sido escrito em 1906, onde o autor apre-sentou uma teoria de hereditariedade que procurava conciliar os princípios de

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Mendel e biometria. Esse manuscrito não chegou a ser publicado já que Wel-don faleceu no mesmo ano. O objetivo desta comunicação é a partir da análi-se desse manuscrito e de outros materiais originais de Weldon, procurar ave-riguar se essa visão historiográfica é procedente. Caso seja, reforçará nossainterpretação de que um dos principais fatores que motivaram a controvérsiafoi a luta pela autoridade no campo da genética e evolução.

A linhagem de Mendel em sala de aula: uma proposta de reconstruçãohistórica Deweyana dos modelos experimentais de cruzamentos híbridos

no ensino de Genética Clássica

Louise Brandes Moura FerreiraUniversidade de Brasília, Faculdade UnB Planaltina

E-mail: [email protected] Oliveira Brandão

Faculdade Anhanguera de Brasília, Campus TaguatingaE-mail: [email protected]

John Dewey (1859-1952) faz a distinção entre dois tipos de ensino deCiências: um voltado para o ensino dos produtos da Ciência e outro voltadopara a inserção do aluno numa reconstrução do processo de investigaçãocientífica. O ensino de conceitos e modelos em Genética Clássica se encaixa-ria no ensino do primeiro tipo, centrado nos resultados dos experimentos deGregor Mendel (1822-1884), assim como no aparato conceitual desenvolvidopelos Mendelianos. Neste trabalho, nos apoiamos em algumas ideias centraisda teoria educacional de Dewey para propor uma reconstrução histórica daGenética Clássica nos moldes do segundo tipo de ensino de Ciências. Usandoa narrativa histórica, procuramos mostrar Mendel como um hibridizador doséculo XIX e levantamos, de forma explícita, quais eram os problemas e asperguntas de seus pares acerca dos cruzamentos entre plantas híbridas, osresultados e interpretações obtidos por eles e as contribuições da pesquisa deMendel. Destacamos que nossa proposta de reconstrução histórica buscacultivar no aluno o desenvolvimento de uma atitude científica frente à Gené-tica Clássica, o que Dewey chamaria de “pensamento experimental”.

Os conceitos de genótipo e fenótipo em uma perspectiva sistêmica

Lourdes Aparecida Della JustinaUniversidade Estadual do Oeste do Paraná, Cascavel, e Doutoranda

em Educação para a Ciência, Universidade Estadual Paulista, Campus Bauru

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E-mail: [email protected] Aparecida Meglhioratti

Universidade Estadual do Oeste do Paraná, CascavelE-mail: [email protected] Maria de Andrade Caldeira

Faculdade de Ciências/Universidade Estadual Paulista, CampusBauru

E-mail: [email protected]

Como conceitos científicos: genótipo, fenótipo e suas relações de trans-formação, tanto influenciam representações cientificas e o modo como sãocultural e socialmente apreendidas, como dimensionam a construção domodo como os seres humanos concebem o fenômeno da vida. Cada conceito,como uma rede flexível de conhecimento, tem a sua história: forma-se numadeterminada época e vai sendo retificado (e reificado) ao longo do tempo. Arepresentação conceitual do sistema genótipo-fenótipo foi proposta inicial-mente por Wilhelm Johannsen em sua teoria genotípica no início do séculoXX, promovendo uma tentativa de distinguir entre as características aparen-tes de um organismo e os elementos que são herdáveis na constituição domesmo. O conceito de genótipo desde essa época tem protagonizado umahistória de descontinuidade. Considerando, que privilegiar o estudo do con-ceito implica valorizar a ciência como processo, objetiva-se neste trabalhodiscutir elementos da epistemologia do conceito de genótipo e fenótipo, en-fatizando as discussões contemporâneas desses conceitos à luz da biologiasistêmica. Neste sentido, entende-se o genótipo como constituído por redesde interações moleculares que são herdáveis ao longo das gerações. E o fenó-tipo como a interação entre os processos moleculares que se expressam aolongo da vida de um determinado organismo e seu ambiente.

Maurice Wilkins e a polêmica acerca da participação de RosalindFranklin na construção do modelo da dupla hélice do DNA

Marcos Rodrigues da SilvaUniversidade Estadual de Londrina; Fundação Araucária

E-mail: [email protected]

Esta comunicação tem como objetivo apresentar o relato autobiográficode Maurice Wilkins, The Third Man of the Double Helix (2003), de sua parti-cipação na construção do modelo da dupla hélice do DNA, modelo este apre-sentado à comunidade em 1953 por James Watson e Francis Crick. O focodesta comunicação é a avaliação de Wilkins da participação de Rosalind

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Franklin na construção do modelo, sobretudo sua retomada da clássica argu-mentação de que Rosalind não teria proposto um modelo tendo em vista seuspreconceitos contra estruturas helicoidais. Aqui se discute se é realmenteapropriado historicamente atribuir a Rosalind a pretensão de construir ummodelo para o DNA. Utilizamos, como já o fizemos em outro artigo, a hipó-tese de Michel Morange de que Rosalind não compartilhava, com Crick eWatson, a noção da importância da estrutura do DNA.

As explicações de Lazzaro Spallanzani sobre a origeme constituição dos fósseis – Parte II

Maria Elice Brzezinski PrestesDepartamento de Genética e Biologia Evolutiva, Instituto de Biociências,

Universidade de São PauloFrederico Felipe de Almeida Faria

E-mail: [email protected] Fritz Muller-Desterro de Estudos em Filosofia e História da Biologia,

Universidade Federal de Santa CatarinaE-mail: [email protected]

O naturalista italiano Lazzaro Spallanzani (1729-1799) dedicou-se ao temada origem e constituição dos fósseis no início de sua carreira, em 1758, aoapresentar na Accademia degli Ipocondriaci di Reggio Emilia uma comuni-cação intitulada Dissertazione sopra i corpi marino-montani. Nessa ocasião,examinou e criticou duas explicações controversas da época e propôs ummodelo próprio para explicar a formação e distribuição de fósseis. Essa Dis-sertazione, bem como sua correlação com alguns autores que se debruçaramsobre o tema na segunda metade do século XVII e início do século XVIII,foram analisados na Parte I desta pesquisa, apresentada no Encontro de His-tória e Filosofia da Biologia 2009. Na presente comunicação, são analisadasoutras publicações do autor quando revisita o tema cerca de 30 anos maistarde, por ocasião de duas de suas viagens naturalísticas, “Osservazioni fisi-che istitutte nell’isola di Citera oggidi detta Cerigo” (1786) e “Viaggi alleDue Sicilie” (1792-1797). São cotejadas também as opiniões de Spallanzaniencontradas em cartas publicadas em periódicos da época e nos registros desuas aulas de História Natural na Universidade de Pavia. De modo geral,pode-se perceber que Spallanzani se manteve defensor de uma explicaçãonatural para a origem dos fósseis, com base na dinâmica das forças que mo-dificaram o estado da terra. Além disso, o naturalista anuncia pequenas des-cobertas, como a de conchas fósseis no interior de rochas vulcânicas e de

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ossadas petrificadas que considera de humanos, bem como reconhece a ex-tinção de certos fósseis de animais.

Reducionismo, emergência e complexidade - limites e possibilidades daexplicação dos fenômenos mentais pelas neurociências

Marisa RussoUniversidade Federal de São Paulo

E-mail: [email protected]

A enorme quantidade de trabalhos realizados em neurociência e ciênciascognitivas nos últimos anos, vem propondo inúmeras explicações para osfenômenos mentais, reativando um antigo debate da filosofia da ciência: oreducionismo na biologia. Um dos primeiros desafios desta discussão dizrespeito à necessidade de elaborar concepções que possam ser justificadaspela linha reducionista mais clássicas mas, ao mesmo tempo, permitamencontrar soluções para as funções mentais que parecem não serem idênticasaos processos aos quais foram reduzidas. O objetivo de nosso trabalho éanalisar como esta discussão se comporta na atualidade face aos recentesdados em neurociência cognitivas como os conceitos de emergência e com-plexidade participam nesta discussão.

Alfred Russel Wallace e os peixes do Rio Negro

Mônica de Toledo-Piza RagazzoDepartamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade de

São PauloE-mail: [email protected]

Entre 1850 e 1852, Alfred Russel Wallace, subiu Rios Negros e Uaupés,tendo coletado muitos animais, plantas e artefatos indígenas. Um incêndio nonavio que o levava de volta a Inglaterra destruiu todas as coleções que haviafeito. Entre os poucos itens que restaram do incêndio, estava um conjunto de212 ilustrações e anotações de peixes feitas pelo próprio Wallace durante osdois anos em que navegou por aqueles rios. Apesar de o naturalista ter ex-pressado em vida, o desejo de publicar um catálogo destas ilustrações elas sóforam reproduzidas pela primeira vez em sua totalidade no ano de 2002.Wallace ilustrou aproximadamente 180 espécies representantes de quasetodos os grandes grupos de peixes de água doce Neotropicais. Praticamenteum terço destas espécies era desconhecido da ciência na época em que

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Wallace as ilustrou, e destas, pelo menos oito ainda não haviam sido descritasno início do século XXI. Isso nos leva a pensar no quão diferente poderia tersido a história da sistemática de peixes de água doce da América do Sul, se osquase 450 exemplares coletados por Wallace representando mais de 90 espé-cies, tivessem chegado ao seu destino.

Da anatomia vegetal à síndrome Kranz: um modelo para o ensino sobrea dinâmica da ciência no ensino superior

Natália Paganotti AntonucciMestre em Botânica pelo Instituto de Biociências, Universidade de

São PauloE-mail: [email protected]

Gladys Flávia Albuquerque Melo-de-PinnaDepartamento de Botânica, Instituto de Biociências, Universidade de São

PauloE-mail: [email protected]

A anatomia Kranz é comumente sugerida como um típico exemplo emque a forma dos seres vivos está relacionada com sua função, nesse caso, coma fisiologia da fotossíntese C4. Entretanto, a anatomia Kranz esteve semprerelacionada com a fotossíntese C4? Como essa relação foi estabelecida? Esseparadigma que a fotossíntese C4 ocorre em plantas com anatomia Kranz per-siste atualmente? O histórico sobre os estudos da anatomia Kranz e da fotos-síntese C4 demonstra que essa relação não foi estabelecida tão prontamentecomo é mostrado em livros didáticos e é ensinado aos alunos de graduação.Ela foi estabelecida paulatinamente, ao longo de muitos anos e graças aotrabalho de vários pesquisadores que elucidaram pontos específicos sobre oassunto. Além disso, houve recentemente uma importante quebra de para-digma na relação entre fotossíntese C4 e anatomia Kranz, quando plantas querealizam todo o ciclo C4 em uma única célula foram descritas. O presentetrabalho propõe que o histórico sobre os estudos sobre a síndrome Kranz sejaensinado aos alunos de ensino superior como uma forma de ilustrar a dinâmi-ca da ciência, ou seja, como o conhecimento é construído e, em alguns casos,reconstruído, por meio de quebras de paradigmas.

Fósseis de depósitos marinhos de montanha e a geologia moderna: con-tribuições para a laicização da visão européia de tempo profundo

Nelio Bizzo

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Universidade de São PauloE-mail: [email protected]

A geologia nascente do século XVII-XVIII envolveu diferentes tendên-cias, que envolviam em graus diferentes a intervenção divina na modelagemdo relevo. Na Inglaterra, os sistemas científico-teológicos de Burnet, Whistone Woodward podem ser tomados como referências do que viria a ser a críticade Charles Lyell, ao tratar como verdadeira denúncia, o recurso a milagrespara explicar as lacunas de explicações falaciosas. Na França, Buffon foicensurado publicamente em 1751 pela publicação de idéias que contrariavama literalidade do relato bíblico da criação do mundo. Após sua viagem aocontinente e, em particular à Itália em 1828, Lyell reconheceu que a Geologiatinha avançado muito e que escritos mais que centenários deveriam ser recu-perados de maneira a resgatar os avanços da área. Esses avanços haviamocorrido sobretudo na Itália, onde se destacavam os trabalhos de Vallisneri(1727), Grezzana (1737), Moro (1740), Spallanzani (1758) e o debate epis-tolar de Alberto Fortis e Domenico Testa (1793), que chegou a ser traduzidopara o inglês e publicado na Royal Society inglesa à época. O presente tra-balho resgata fontes históricas pouco utilizadas no contexto educacional,destacando a importância do debate geológico para o estabelecimento de umavisão laica de tempo profundo.

O conceito de evolução: alguns apontamentos históricos

Nicolau MottolaMestrando em Educação, Instituto de Biociências de Rio Claro, Univer-

sidade Estadual PaulistaE-mail: [email protected]

Márcia Reami PechulaInstituto de Biociências de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista

E-mail: [email protected]

A teoria da evolução ainda hoje levanta controvérsias, inquietações e es-peculações, pois seus pressupostos se antagonizam com concepções religio-sas, filosóficas e éticas. Além disso, remonta aos antigos pensadores gregos.Além de pessoas não-especializadas nessa área de domínio científico pode-rem apresentar concepções distorcidas, o mesmo pode acontecer com osprofessores de biologia causando problemas no entendimento desse tema nosalunos. Filósofos pré-socráticos, como Anaximandro, já apresentavam algu-ma idéia a respeito de evolução, mas ainda não com o significado de trans-formação. Para que uma teoria com visão do mundo natural em constante

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movimento, e originando uma diversidade de seres vivos a partir da trans-formação de outros pré-existentes surgisse, seria necessário o homem enten-der que pode agir sobre a natureza e obter conhecimento. Buffon ao acreditarna ação do ambiente sobre os seres vivos e Erasmus Darwin ao admitir aherança dos caracteres adquiridos adiantam algumas idéias usadas por La-marck, o primeiro a elaborar uma teoria evolutiva. A divergência entre fixis-mo e transformismo não impede Charles Darwin de elaborar uma teoriamostrando os seres vivos se transformando por um processo mecânico. Con-sideramos importante entender como ocorreu a construção do evolucionismoe do conhecimento científico que possibilitará ao professor um melhor enten-dimento desse tema.

Teorías, leyes, datos y prácticas científicas: el caso de la genética (clásica)de poblaciones

Pablo LorenzanoUniversidad Nacional de Quilmes,

Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y TécnicasE-mail: [email protected]

El objetivo de esta comunicación es el de indicar una manera de analizarlas relaciones entre teorías, leyes, datos y prácticas científicas. Esto se hará enel marco de la versión más diferenciada de las llamadas “concepciones se-mánticas (o modelo-teóricas) de las teorías”, la metateoría estructuralista,continuando las líneas sugeridas por Patrick Suppes en su artículo clásico“Models of Data” (1962) y desarrolladas por Balzer (1982, 1997a, 1997b),Balzer, Lauth & Zoubek (1992), Gähde (2008) y Lorenzano (2009). El análi-sis propuesto será ejemplificado con el caso de la genética (clásica) de pobla-ciones (reconstruida en Lorenzano 2008), a partir de una discusión de lacaracterización que suele hacerse de dicha teoría, así como también del papelque juega en ella la llamada “ley de Hardy-Weinberg”, y de los que pudieranser considerados como “datos” para ella.

As concepções históricas de sucessão ecológica nos livros didáticos atuais

Patrícia da Silva NunesMestranda do Programa de Pós Graduação em Educação para a Ci-

ência, Faculdade de Ciências, Universidade Estadual Paulista, Campus BauruE-mail: [email protected]

Osmar Cavassan

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Universidade Estadual Paulista, Campus BauruE-mail: [email protected]

O conceito de sucessão ecológica possuidor de um potencial integradordentro do ensino de Ecologia, vêm passando por diversas transformaçõesdesde que foi desenvolvido. Mesmo diante de debates e mudanças de con-cepções, muitos livros didáticos atuais não estão buscando essas atualizaçõesconceituais, prendendo-se a teorias a muito ultrapassadas, que não levam emconsideração a complexidade do fenômeno, tratando-o de maneira simplista efragmentada, abordando exemplos onde a variável tempo, por ser amplademais, torna o processo de aprendizagem dos alunos dificultado. Além dis-so, fatores como competição, entrada de sementes e participação de animais emicroorganismos no processo ficam esquecidos. Assim, o objetivo dessetrabalho foi investigar quais as bases históricas desse conceito que ancoramas temáticas encontradas nos livros didáticos atuais, fazendo-se uma compa-ração entre os livros didáticos utilizados no Brasil na década de 1970 e osatuais.

Modelos biológicos em teorias lingüísticas

Paulo Jeferson Pilar AraújoDoutorando em Linguística, Universidade de São Paulo

E-mail: [email protected] Rocha

Mestrando em Linguística, Universidade de São PauloE-mail: [email protected]

O trabalho busca refletir sobre a utilização de modelos biológicos naformulação de teorias lingüísticas, notadamente de teorias lingüística sobre osurgimento de línguas crioulas e de fenômenos de mudança lingüística. Estetrabalho se mostra como uma primeira reflexão sobre fundamentos episte-mológicos no âmbito das duas disciplinas científicas aqui em questão. Aomesmo tempo em que se busca refletir sobre o uso de modelos biológicos nafundamentação de teorias lingüísticas, espera-se que tal reflexão sirva comoponto de diálogo entre as áreas de filosofia da biologia e filosofia da lingüís-tica, ponto de intersecção esse que infelizmente ainda não foi bem explorado.Como apresentação de resultados, ainda que preliminares, acredita-se que autilização de modelos biológicos em teorizações lingüísticas seja comumentemotivada por uma concepção de língua mais naturalista, em oposição a cor-rentes de pensamento lingüístico que encaram o fenômeno da linguagemhumana mais como um fato social ou cultural.

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O problema das lágrimas na primeira modernidade

Paulo José Carvalho da SilvaPontifícia Universidade Católica, São Paulo

E-mail: [email protected]

Na primeira modernidade, as lágrimas podiam ser consideradas uma se-creção da umidade do cérebro e, ao mesmo tempo, a manifestação primeirada miséria e da fragilidade humanas. Este trabalho examina algumas concep-ções de lágrimas em obras dos séculos XVI e XVII que tratam dos afetos,relacionando-as a referências fundamentais da época, como a teologia moral,a psicologia aristotélico-tomista e as ciências da vida. Conclui-se que as lá-grimas eram interpretadas, sobretudo, como resultante das relações entreafetos da alma e movimentos do corpo, mas esse líquido que escorre dosolhos também podia assumir aspectos espirituais, sociais e políticos.

Darwin e a seleção sexual

Ricardo WaizbortFundação Oswaldo Cruz

E-mail: [email protected]

Originalmente, a teoria da evolução por seleção natural, foi publicada em1858, pela leitura conjunta do manuscritos de Darwin e Wallace, na Socieda-de Lineana de Londres. Ela sugeria que na luta pela sobrevivência os indiví-duos que variavam ao acaso, nas direções favorecidas pelo ambiente, tendiama prosperar, enquanto aqueles com variações em outras direções tendiam aser eliminados. Ou seja, as variações que por acaso fossem úteis aos indiví-duos se espalhariam na população. Todavia, mesmo antes de Darwin, muitaspessoas ficavam intrigadas com estruturas que não eram imediatamente úteisna luta pela vida, como a cauda dos pavões, as exuberantes cores das penasde certas aves, os cantos de várias espécies de pássaros, o brilho dos besou-ros, o desenho nas asas das borboletas, o chifre de certos mamíferos, entreinúmeras outras caracterísiticas. A solução que Darwin deu a esses enigmasfoi a proposta de um novo processo de seleção: a seleção sexual. O objetivodo trabalho é apresentar a teoria da evolução por seleção sexual, de Darwin,partindo das próprias imagens que Darwin usou no livro A origem do homeme a seleção sexual, publicado em 1871. Apresentarei também brevementemomentos importantes da história da teoria da seleção sexual, focando prin-

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cipalmente no princípio do descontrole (runaway principle), proposto porRonald Fisher, na década de 1930, e no principio do desperdício (handicapprinciple), proposto por Amotz Zahavi na década de 1970. Pretendo concluiro trabalho discutindo como o mecanismo da seleção sexual pode iluminarimportantes áreas de conflito social, como a própria divisão de gêneros femi-nino e masculino, assim como apontar saídas para certos conflitos intergera-cionais.

Robert Hooke e a pesquisa microscópica dos seres vivos

Roberto de Andrade MartinsGrupo de História e Teoria da Ciência, Unicamp

E-mail: [email protected]

O livro Micrographia, publicado em 1665 por Robert Hooke (1635-1703), foi uma das primeiras obras onde apareceu o uso do microscópio noestudo dos seres vivos. Os desenhos minuciosos desse livro são famosos,como o de uma pulga e o de um piolho. Não há dúvidas de que a microscopiaintroduziu um novo modo de ver o mundo; mas qual foi, exatamente, a con-tribuição desses estudos de Hooke? Por um lado, a Micrographia apresentadescrições detalhadas de seres vivos, acompanhadas de desenhos, permitindoconhecer melhor alguns aspectos microscópicos dos animais e das plantas.Porém, há muito mais do que isso, nessa obra. O trabalho de Hooke não foisimplesmente um conjunto de observações ao acaso. Ele era um pesquisadorexperiente, tendo trabalhado com o químico Robert Boyle durante muitosanos. Sabia fazer perguntas e respondê-las através da experimentação, e foiessa técnica experimental que ele trouxe para o estudo microscópico dosseres vivos. Hooke procurou utilizar o microscópio para responder a questõesbem definidas, como estas: Qual a característica física que permite que aspulgas pulem tanto? Como funciona o ferrão de uma abelha? Como os inse-tos sugam o sangue das pessoas? Como uma mosca consegue andar sobreuma superfície lisa como o vidro e até ficar de cabeça para baixo? Em muitoscasos, no entanto, seu objetivo era descrever aspectos microscópicos de ani-mais e plantas, que nunca haviam sido descritos antes – por exemplo, a es-trutura dos olhos das moscas e outros insetos. Este trabalho descreverá algunsdos aspectos da obra de Hooke, analisando sua importância para o estudosdos seres vivos, na época.

Mente como face representacional do cérebro

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Rodrigo Otavio V. F. RosaPós-Graduando no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais,

Universidade Federal do Rio de JaneiroE-mail: [email protected]

Discutiremos a idéia desenvolvida por Dretske na obra Naturalizing themind (1995) segundo a qual o conhecimento dos mecanismos pelos quais océrebro realiza seu trabalho é insuficiente para a compreensão do que é amente. À filosofia caberia, portanto, um papel privilegiado para responderquestões fundamentais sobre os problemas da existência da mente e de suafunção, além de questões relacionadas ao propósito e à natureza da consciên-cia. Segundo Dretske, a mente deve ser compreendida como a face represen-tacional do cérebro projetada através da seleção natural para resolver os maisvariados tipos de problemas enfrentados por nossos ancestrais evolutivos.Além disso, sua função básica é o uso e a manipulação de representações. Afim de compreendermos a natureza da representação mental, explicaremostambém as noções de “informação” e de “indicador de função”, os três tiposde sistemas representacionais (puramente convencional, derivado e original)e a distinção crucial entre “indicadores de função” sistêmicos e “indicadoresde função” adquiridos (Dretske, 1988; 1995), fundamentais para nosso obje-tivo. A contraposição elaborada por Ned Block (1995) entre a consciênciafenomenal (P-consciousness) e a consciência de acesso (A-consciousness)será também discutida para alertar as ciências cognitivas sobre as conseqüên-cias da imprecisão conceitual que caracterizam muitos dos resultados de suaspesquisas sobre a consciência.

Homens, porcos e quimeras:do conceito de adaptação na antropologia

Rui Sérgio Sereni MurrietaLaboratório de estudos evolutivos humanos, divisão: ecologia hu-

mana, Departamento de Genética e biologia evolutiva, Universidade de SãoPaulo

E-mail: [email protected] de Rezende Tanganelli

Graduanda de Ciências Biológicas, Universidade de São PauloE-mail: [email protected]

Este trabalho tem como objetivo fazer uma reflexão inicial uma reflexãohistórica e preliminar sobre o uso do conceito de adaptação na Antropolo-gia. Mesmo considerando-se que sua origem esteja diretamente atrelada às

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chamadas ciências da vida, a idéia de que forma, fisiologia e comportamentoteriam uma função adaptativa em sociedades humanas vem sendo parte dareflexão filosófica Ocidental desde a antiguidade. Apesar de uma série dedificuldades e da falta de coesão conceitual dos diversos pesquisadores noque se refere à aplicação do termo na Antropologia. Nos anos 40 e 50,sua aplicação nesta disciplina sofreu das mesmas falácias encontradas nasciências naturais, comprometendo sua aplicação. O raciocínio tautológico eteleológico que sempre impregnou seu uso, vem sendo substituído por umadimensão de natureza mais dialética. Com isso, concluímos que o concei-to pode voltar a ter um papel instrumental importante na formulação de mo-delos e teorias explanatórias do comportamento humano. Esta tendênciaparece estar se concretizando em abordagens teóricas experimentais como osestudos de heranças dual e evolução cultural, sistemas complexos e ecologiapolítica ecossistêmica.

Galtier e Pasteur: o desenvolvimento da vacina anti-rábica (1879-1885)

Sabrina Páscoli RodriguesMestranda no Programa de Estudos Pós-Graduados em História da Ciên-

cia, Pontifícia Universidade Católica de São PauloE-mail: [email protected] Al-Chueyr Pereira Martins

Programa de Estudos Pós-Graduados em História da Ciência,Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; Grupo de História e Teo-

ria da Ciência, Universidade Estadual de CampinasE-mail: [email protected]

Ainda hoje, de um modo geral, os créditos das pesquisas significativassobre a raiva e o desenvolvimento da vacina anti-rábica são dados a LouisPasteur (1822-1895). Como uma das funções do historiador da ciência é fazeruma revisão daquilo que já foi publicado na área, apresentaremos uma versãodiferente dos fatos. Iremos nos basear na análise dos trabalhos originais dePasteur e de seu principal colaborador, Émile Roux (1853-1933) bem comode outros cientistas da época sobre o assunto. O objetivo desta pesquisa éprocurar elucidar a existência de uma possível superioridade ou prioridadepor parte de Pasteur em relação a importantes contribuições relacionadas àraiva. Esta pesquisa mostrou que Pierre Victor Galtier (1846-1908), professorda Escola de Veterinária de Lyon e membro da Academia de Ciências deParis em uma de suas publicações datada de 1879 apresentou os primeirosresultados de seus experimentos sobre a raiva. Tais resultados serviram de

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base para as pesquisas posteriores de Pasteur e Roux, porém nenhum delesdeu o devido crédito a Galtier.

A consolidação de um programa de pesquisa: Magnan e as patologiasheredo-degenerativas

Sandra CaponiUniversidade Federal de Santa Catarina

E-mail: [email protected]

Nas últimas décadas do século XIX a psiquiatria estará fortemente influ-enciada por uma nova representação das patologias que fala das degeneraçõeshereditárias. Surge uma diversidade de estudos preocupados por esclarecer edescobrir novas síndromes e estigmas físicos e psíquicos. Analisamos a su-cessão de trabalhos publicados nos Anais de Higiene e Medicina Legal e nosAnais Medico-Psicológicos (1857-1900) para observar a relevância dessaproblemática para a medicina mental e legal. Tomamos como ponto de parti-da a afirmação de Foucault: “a degeneração é a peça teórica maior que per-mite a medicalização do anormal. O degenerado é o anormal miticamente -oucientificamente- medicalizado” (Foucault,1999:298). Considerando a recor-rência da temática da degeneração nas últimas décadas do século XIX naFrança, pode-se verificar o alcance desse programa de pesquisa. Um amploespectro de síndromes são incluídos nessa definição: a mania de perseguição,as aberrações sexuais, as anomalias de comportamento, uma imensa varieda-de de medos e temores, comportamentos bizarros como a onomatomania,vegetarianismo, compulsão ao roubo ou o alcoolismo. Conclui-se que a teoriada degeneração contribuiu a ampliar os limites de ingerência da psiquiatriasobre o “não patológico”, iniciada no século XIX.

A Vila Rica do início do século XIX a partir dos relatos de Auguste deSaint-Hilaire

Valdir Lamim-GuedesMestrando no Programa de Pós-Graduação em Ecologia de Biomas

Tropicais, Universidade Federal de Ouro Preto.E-mail: [email protected]

Yasmine AntoniniUniversidade Federal de Ouro Preto

E-mail: [email protected]

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Vários viajantes naturalistas passaram pelo Brasil, um dos mais conheci-dos foi o francês Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), que esteve no país de1816 a 1822. Em suas numerosas, extensas e demoradas viagens pelo nossopaís, fez preciosas coleções, especialmente de plantas e animais. Nesta apre-sentação, serão examinados os relatos de Auguste de Saint-Hilaire sobre assuas passagens por Ouro preto - a antiga Vila Rica, capital da capitania deMinas Gerais na época. Sobre esta cidade, ele deixou comentários sobre omeio ambiente e outros aspectos (história, economia, costumes da população,por exemplo), permitindo a construção de um cenário histórico-ambiental daregião. Quando Saint-Hilaire passou por Vila Rica, observou que o meioambiente tinha sido muito degradado por causa da extração aurífera, apesardisto, em alguns locais ainda era possível encontrar uma vegetação exube-rante, com espécies que chamaram muito a sua atenção como a Canela-de-Ema (Vellozia sp.). Será ressaltada a aplicação dos relatos deste naturalistano ensino.

O organismo como sujeito e objeto da evolução: crítica do conceitode adaptação

Victor Ximenes MarquesMestre em Filosofia pela Universidade Federal do Ceará

E-mail: [email protected]

Analisamos nesse trabalho a formulação tradicional do conceito deadaptação, expondo sua natureza problemática. A metáfora segundo a qual aseleção natural ajusta as populações a um ambiente externo determinadoindependentemente pressupõe uma alienação entre organismo e ambiente,que não é sustentável a luz dos atuais conhecimentos a respeito dos processosevolutivos. A concepção de que a seleção natural empurra as populações paraos picos de uma paisagem adaptativa estável, onde os caracteres da estruturaorgânica consistem em soluções otimizadas para problemas ambientais, não érealista. Organismos e ambiente se definem mutuamente. O ambiente partici-pa da constituição ontogenética dos fenótipos e vários fatores não genéticospodem ser herdados e assim participar da evolução por seleção natural. Asatividades das próprias populações modificam o ambiente com o qual intera-gem alterando o perfil de pressões evolutivas: os organismos selecionam emodificam aspectos de seus nichos. Não há problemas ambientais abstratos,que pré-existem à relação concreta entre organismos e ambiente. Metáforasfuncionalistas, inspiradas pelo mecanicismo e pré-formacionismo, fortalecemo pensamento anti-evolutivo, pois são historicamente derivadas da cosmovi-são criacionista. Já uma visão de mundo co-evolucionária que enfatiza a

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historicidade e a dinâmica dos processos torna o criacionismo impensável emprincípio.

Mesa-Redonda"Afinal, o que é o whiggismo da História da Ciência?"

• Maria Elice Brzezinski Prestes. "O whiggismo proposto por HerbertButterfield"

• Nelio Bizzo. "Quatro whiggismos de Robert M. Young"• Anna Carolina Regner. "É o whiggismo evitável?"• Lilian Al-Cueyr Pereira Martins. "Do whiggismo ao prighismo"• Roberto de A. Martins. "Seria possível uma história da ciência total-

mente neutra, sem qualquer aspecto whig?"

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Associação Brasileira de Filosofiae História da Biologia (ABFHiB)

A Associação Brasileira de Filosofia e História da Biolo-gia (ABFHiB), fundada em 2006, durante a realização do IVEncontro de Filosofia e História da Biologia, realizado na Uni-versidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, SP.

O objetivo da ABFHiB é promover e divulgar estudos so-bre a filosofia e a história da biologia, bem como de suas inter-faces epistêmicas, estabelecendo cooperação e comunicaçãoentre todos os pesquisadores que a integram.

DIRETORIA:Presidente: Maria Elice Brzezinski Prestes (Universidade de São

Paulo)Vice-Presidente:Lilian Al-Chueyr Pereira Martins (Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo)Secretário: Gustavo Andrés Caponi (Universidade Federal de

Santa Catarina)Tesoureiro: Roberto de Andrade Martins (Universidade Estadual

de Campinas)

CONSELHEIROS:Ana Maria de Andrade Caldeira (Universidade Estadual Paulista

Júlio de Mesquita Filho UNESP / Bauru)Anna Carolina Krebs Pereira Regner (Universidade do Vale do

Rio dos Sinos - Unisinos)Nélio M. V. Bizzo (Universidade de São Paulo)Ricardo Francisco Waizbort (Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz)

Associação Brasileira de Filosofia e História da Biologia

(ABFHiB)http://www.abfhib.org

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