fazendo arte

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Vinícius Ferreira ESTAGIÁRIO "Ser artista plástico é muito mais do que uma formação aca- dêmica ou profissional. É uma questão vital. Eu só vivo se eu criar, se eu pintar, se eu colo- car para fora as idéias que estão aqui dentro". Rosane Dias é quem disse a frase acima, artista plástica que comemora o reconhecimento pela data especial para a classe. Para quem não sabe, 8 de maio é o dia do Artista Plástico, e o Jornal VALE DO AÇO entre- vistou Rosane, artista formada em artes plásticas com vários trabalhos premiados. Com des- ta que para o Pro je to Por tas Abertas, realizado pelas gale- rias Tho mas Cohn de SP e Kolams de BH, além de Men- ção Honrosa no 1º Salão USI- MINAS de Artes Visuais. Par- ti ci pou em 2001 das expo si - ções: 7 Artistas Premiados do Vale do Aço, da Mostra Coleti- va na Galeria Sandra Resende em Vitória/ES, da Mostra na Galeria de Arte da Telemar em BH e realizou ainda uma indivi- dual no Palácio das Artes. Em 2005 recebeu o Prêmio USIMI- NAS de Artes Visuais. Em 2008 recebeu o Prêmio de Ilustração de Literatura Infantil na Acade- mia Brasileira de Letras/RJ. Em 2009 expôs na Galeria do Teatro Zélia Olguin como artis- ta selecionada e acaba de parti- cipar do XIV Circuito Interna- cio nal de Arte Bra si lei ra no Museu Pablo Neruda em San- tiago/Chile. Rosane se formou em 1996, na Uni ver si da de Fede ral de Minas Gerais no curso de Belas Artes, mas desde muito antes disto ela já tinha uma certeza: sua vida estaria voltada para a pintura, só não sabia muito bem como fazer. Era algo que per- tencia a ela desde o nascimento. "A pessoa nasce artista. Não no sentido de berço, que herde isto de pai e mãe, mas na questão de nascer diferente, com uma observação diferente, mais agu- çada, uma sensibilidade maior. Desde criança eu sempre demon- strei isto, minhas brincadeiras eram mais inventivas, quase sempre diferentes, adorava colo- rir, pintar, desenhar. Adorava quando ganhava estojo de cane- ti nhas ao invés de bone cas e outros presentes, que são parte do gosto comum das crianças", conta Rosane. A artis ta foi mui tas vezes incompreendida em relação às suas "manias". "Juntava peque- nos pedaços de papéis, retalhos de panos, objetos e outras coi- sas que muitas vezes as pessoas vão jogar como lixo, algo sem importância. Artista pensa dife- rente, cada um destes pequenos detalhes tem um valor enorme, reple tos de infor ma ção. São coisinhas que as pessoas não interpretam como a gente, não conseguem entender da forma que a gente entende", afirma. QUEDA PARA AS ARTES E FACULDADE Rosane nasceu com uma queda para ser artista, mas por um bom tempo, até a adolescência, man- tinha seu talento restrito somente a parentes e amigos próximos. "Eu desenhava de forma tímida, criava minhas próprias roupas, sempre buscava ter algo diferen- te dos outros. Porém meus dese- nhos eu guardava pra mim. De vez em quando pintava algum painel, quase sempre para ani- versário de um primo ou sobri- nho, mas só os meus parentes tinham conhecimento deste meu talento", revela. Quando teve que decidir qual faculdade fazer, Rosane se viu em um dilema. Não conhecia um curso que se encaixava total- mente em rela ção ao que ela sonhava para futuro. O que mais se aproximava era arquitetura, mas ela teve uma surpresa ao chegar ao campus da Universi- dade Federal de Minas Gerais, antes de decidir qual curso ia fazer. "Saí de Ipa tin ga para fazer arquitetura em Belo Hori- zon te, na UFMG, em 1992, mas por acaso aca bei des co- brindo o curso de Belas Artes. Era o que eu queria fazer, mas não sabia que existia. Descobri quando cheguei ao campus, um jardim cheio de esculturas, várias pessoas desenhando, o ambien- te perfeito para criar. Então me inscrevi no vestibular de belas artes e passei", conta. PROCESSO DE CRIAÇÃO A artista, que já trabalhou com pinturas, colagens, e faz também ilustrações de livros, explica que, como é comum a todo artista plástico, o processo de criação é algo particular, diferente e totalmente relaciona- do com a forma que cada um compreende o mundo a sua volta. "A minha criação começa antes da tela. Começa no meu olhar, durante o meu dia a dia, no qual estou olhando coisas e acumu- lando informações. Seja um out- door publicitário na rua, ou as roupas das pessoas que passam por mim, as cores, enfim, meu olhar procura, quase que auto- maticamente, por coisas que me chamem a atenção, que fujam daquilo que eu acho que é comum", conta a artista. DIFERENÇA ENTRE ARTESÃO E ARTISTA PLÁSTICO Segundo Rosane, a diferença entre artesão e artista plástico não está na técnica que ele usa, e sim em algo mais profundo, o conhecimento que cada um agre- ga à peça. "O artesão foca mais o ato do fazer, a questão da mão, do moldar, muitas vezes produz seus objetos em série. Já o artis- ta plástico, além de focar na questão do manual, do moldar, tem que estar com o pensamen- to focado. A peça criada fala mais e representa mais do que aquele objeto ocupando aquele lugar no espaço. Isto não exclui pessoas não formadas. Não é necessário fazer faculdade para ser artista, mas é essencial o estudo, a busca pela informa- ção. Não basta pegar uma coisa, fazer um enfeite e colocar na parede. Isto não torna ninguém um artista plástico, a arte é uma coisa que vai muito além do objeto, que transcende. E a busca por conhecimento e informação é fundamental. Estudar outros artistas, como as cores são tra- balhadas e outros detalhes pri- mordiais", afirma Rosane. As obras de Rosane estão expostas em algumas galerias de Belo Horizonte, mas também podem ser vistas em sua loja, no bairro Cidade Nobre, ou pelo blog da artista www.rosanedia- sarte.blogspot.com. VITRINE VALE DO A ÇO SÁBADO, 8/MAIO/2010 E-mail: [email protected] Tele fo ne: (31) 2109.3550 C U L T U R A & V A R I E D A D E S 1-A Fazendo Arte EM HOMENAGEM AO DIA DO ARTISTA PLÁSTICO, ARTISTA DA REGIÃO REVELA DETALHES SOBRE SUA CARREIRA E HISTÓRIA ROSANE AFIRMA que artistas já nascem diferentes. "Tem um olhar diferente, uma sensibilidade diferente" EM SUA última exposição no Teatro Zélia Olguim, Rosane apresentou suas novas pinturas, que mostram, além de objetos reais que ela tem, como canecas, despertadores e a escrivaninha, acrescenta novos objetos, novas cores, novas formas FOTOS: VINÍCIUS FERREIRA

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Matéria publicada no Jornal Vale do Aço em 08 de maio de 2010.

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Page 1: Fazendo Arte

Viní cius Fer rei ra

ESTA GIÁ RIO

"Ser artis ta plás ti co é muitomais do que uma for ma ção aca -dê mi ca ou pro fis sio nal. É umaques tão vital. Eu só vivo se eucriar, se eu pin tar, se eu colo -car para fora as idéias que estãoaqui den tro".

Rosa ne Dias é quem disse afrase acima, artis ta plás ti ca quecome mo ra o reco nhe ci men topela data espe cial para a clas se.Para quem não sabe, 8 de maioé o dia do Artis ta Plás ti co, e oJor nal VALE DO AÇO entre -vis tou Rosa ne, artis ta for ma daem artes plás ti cas com váriostra ba lhos pre mia dos. Com des -ta que para o Pro je to Por tasAber tas, rea li za do pelas gale -rias Tho mas Cohn de SP e Kolams de BH, além de Men -ção Hon ro sa no 1º Salão USI -MI NAS de Artes Visuais. Par -ti ci pou em 2001 das expo si -ções: 7 Artis tas Pre mia dos doVale do Aço, da Mos tra Cole ti -va na Gale ria San dra Resen deem Vitó ria/ES, da Mos tra naGale ria de Arte da Tele mar em

BH e rea li zou ainda uma indi vi -dual no Palá cio das Artes. Em2005 rece beu o Prê mio USI MI -NAS de Artes Visuais. Em 2008rece beu o Prê mio de Ilus tra çãode Lite ra tu ra Infan til na Aca de -mia Bra si lei ra de Letras/RJ.Em 2009 expôs na Gale ria doTea tro Zélia Olguin como artis -ta sele cio na da e acaba de par ti -ci par do XIV Cir cui to Inter na -cio nal de Arte Bra si lei ra noMuseu Pablo Neru da em San -tia go/Chile.

Rosa ne se for mou em 1996,na Uni ver si da de Fede ral deMinas Gerais no curso de BelasArtes, mas desde muito antesdisto ela já tinha uma cer te za:sua vida esta ria vol ta da para apin tu ra, só não sabia muito bemcomo fazer. Era algo que per -ten cia a ela desde o nas ci men to."A pes soa nasce artis ta. Não nosen ti do de berço, que herde istode pai e mãe, mas na ques tãode nas cer dife ren te, com umaobser va ção dife ren te, mais agu -ça da, uma sen si bi li da de maior.Desde crian ça eu sem pre demon-s trei isto, minhas brin ca dei raseram mais inven ti vas, quasesem pre dife ren tes, ado ra va colo -rir, pin tar, dese nhar. Ado ra vaquan do ganha va esto jo de cane -ti nhas ao invés de bone cas e outros pre sen tes, que são partedo gosto comum das crian ças",conta Rosa ne.

A artis ta foi mui tas vezesincom preen di da em rela ção àssuas " manias". "Jun ta va peque -nos peda ços de papéis, reta lhosde panos, obje tos e outras coi -sas que mui tas vezes as pes soasvão jogar como lixo, algo semimpor tân cia. Artis ta pensa dife -ren te, cada um des tes peque nosdeta lhes tem um valor enor me,reple tos de infor ma ção. Sãocoi si nhas que as pes soas nãointer pre tam como a gente, nãocon se guem enten der da formaque a gente enten de", afir ma.

QUEDA PARA ASARTES E FACUL DA DE

Rosa ne nas ceu com uma quedapara ser artis ta, mas por um bomtempo, até a ado les cên cia, man -ti nha seu talen to res tri to somen tea paren tes e ami gos pró xi mos."Eu dese nha va de forma tími da,cria va minhas pró prias rou pas,sem pre bus ca va ter algo dife ren -te dos outros. Porém meus dese -nhos eu guar da va pra mim. Devez em quan do pin ta va algumpai nel, quase sem pre para ani -ver sá rio de um primo ou sobri -nho, mas só os meus paren tes tinham conhe ci men to deste meutalen to", reve la.

Quan do teve que deci dir qualfacul da de fazer, Rosa ne se viuem um dile ma. Não conhe ciaum curso que se encai xa va total -men te em rela ção ao que elasonha va para futu ro. O que maisse apro xi ma va era arqui te tu ra,mas ela teve uma sur pre sa ao

che gar ao cam pus da Uni ver si -da de Fede ral de Minas Gerais,antes de deci dir qual curso iafazer. "Saí de Ipa tin ga parafazer arqui te tu ra em Belo Hori -zon te, na UFMG, em 1992,mas por acaso aca bei des co -brin do o curso de Belas Artes.Era o que eu que ria fazer, masnão sabia que exis tia. Des co briquan do che guei ao cam pus, umjar dim cheio de escul tu ras, váriaspes soas dese nhan do, o ambien -te per fei to para criar. Então meins cre vi no ves ti bu lar de belasartes e pas sei", conta.

PRO CES SO DE CRIA ÇÃOA artis ta, que já tra ba lhou

com pin tu ras, cola gens, e faztam bém ilus tra ções de livros,expli ca que, como é comum atodo artis ta plás ti co, o pro ces sode cria ção é algo par ti cu lar,dife ren te e total men te rela cio na -do com a forma que cada umcom preen de o mundo a sua volta."A minha cria ção come ça antesda tela. Come ça no meu olhar,duran te o meu dia a dia, no qualestou olhan do coi sas e acu mu -lan do infor ma ções. Seja um out -door publi ci tá rio na rua, ou asrou pas das pes soas que pas sampor mim, as cores, enfim, meuolhar pro cu ra, quase que auto -ma ti ca men te, por coi sas que mecha mem a aten ção, que fujamdaqui lo que eu acho que écomum", conta a artis ta.

DIFE REN ÇA ENTRE ARTE SÃO EARTIS TA PLÁS TI CO

Segun do Rosa ne, a dife ren çaentre arte são e artis ta plás ti conão está na téc ni ca que ele usa,e sim em algo mais pro fun do, oconhe ci men to que cada um agre -ga à peça. "O arte são foca maiso ato do fazer, a ques tão da mão,do mol dar, mui tas vezes pro duzseus obje tos em série. Já o artis -ta plás ti co, além de focar naques tão do manual, do mol dar,tem que estar com o pen sa men -to foca do. A peça cria da falamais e repre sen ta mais do queaque le obje to ocu pan do aque lelugar no espa ço. Isto não excluipes soas não for ma das. Não éneces sá rio fazer facul da de paraser artis ta, mas é essen cial oestu do, a busca pela infor ma -ção. Não basta pegar uma coisa,fazer um enfei te e colo car napare de. Isto não torna nin guémum artis ta plás ti co, a arte é umacoisa que vai muito além doobje to, que trans cen de. E a buscapor conhe ci men to e infor ma çãoé fun da men tal. Estu dar outrosartis tas, como as cores são tra -ba lha das e outros deta lhes pri -mor diais", afir ma Rosa ne.

As obras de Rosa ne estãoexpos tas em algu mas gale rias deBelo Hori zon te, mas tam bémpodem ser vis tas em sua loja, nobair ro Cida de Nobre, ou peloblog da artis ta www.rosa ne dia -sar te.blogs pot.com.

VITR I NE1-A

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C U L T U R A & V A R I E D A D E S 1-A

Fazen do ArteEM HOME NA GEM AO DIA DO ARTIS TA PLÁS TI CO,

ARTIS TA DA REGIÃO REVE LA DETA LHES SOBRE SUA CAR REI RA E HIS TÓ RIA

ROSA NE AFIR MA que artis tas já nas cem dife ren tes. "Temum olhar dife ren te, uma sen si bi li da de dife ren te"

EM SUA últi ma expo si ção no Tea tro Zélia Olguim, Rosa neapre sen tou suas novas pin tu ras, que mos tram, além de obje tos

reais que ela tem, como cane cas, des per ta do res e a escri va ni nha,acres cen ta novos obje tos, novas cores, novas for mas

FOTOS: VINÍCIUS FERREIRA