a natureza da doutrina da eleição, cap. 6 de doutrina da eleição, por arthur walkignton pink

19

Upload: o-estandarte-de-cristo

Post on 07-Apr-2016

240 views

Category:

Documents


6 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

Traduzido do original em Inglês

The Doctrine of Election

By A. W. Pink

A presente tradução consiste somente no Capítulo 6, Its Nature, da obra supracitada

Via: PBMinistries.org

(Providence Baptist Ministries)

Tradução por Camila almeida

Revisão e Capa por William Teixeira

1ª Edição: Dezembro de 2014

Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida

Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

Traduzido e publicado em Português pelo website oEstandarteDeCristo.com, com a devida permissão

do ministério Providence Baptist Ministries, sob a licença Creative Commons Attribution-

NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International Public License.

Você está autorizado e incentivado a reproduzir e/ou distribuir este material em qualquer formato,

desde que informe o autor, as fontes originais e o tradutor, e que também não altere o seu conteúdo

nem o utilize para quaisquer fins comerciais.

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

A Natureza da Doutrina da Eleição Por Arthur Walkington Pink

[Capítulo 6 do livro The Doctrine of Election • Editado]

Foi bem dito que: “A razão por que qualquer um acredita na eleição é que ele a encontra

na Bíblia. Nenhum homem jamais poderia imaginar tal doutrina, pois ela é, em si mesma,

contrária ao pensamento e aos desejos do coração humano. Cada um, a princípio, se opõe

a esta doutrina, e é só depois de muitas lutas, sob a ação do Espírito de Deus, que somos

levados a recebê-la. A aquiescência perfeita a esta doutrina, descansar, maravilhar-se em

adoração, no estrado da soberania de Deus, é a última realização da alma santificada nesta

vida, como é o início do Céu. A razão pela qual qualquer um acredita na eleição é apenas

isso, e só isso: que Deus a tornou conhecida. Fosse a Bíblia uma falsificação ela nunca po-

deria ter contido a doutrina da eleição, pois os homens são muito avessos a tal pensamento

para dar-lhe expressão, e muito mais para dar-lhe destaque” (G. S. Bishop).

Até agora, em nossa exposição desta bendita verdade, nós mostramos que a fonte de elei-

ção é a vontade de Deus, pois nada existe ou pode existir fora disso. Em seguida, vimos,

que a grandiosa origem da eleição é o homem Cristo Jesus, que foi ordenado para a união

com a segunda pessoa na Divindade. Então, a fim de abrir o caminho para um exame mais

detalhado dessa verdade assim como ela é apresentada a nós, demonstramos a verdade

e, em seguida, a justiça dela, visando remover das mentes dos leitores Cristãos a profana-

ção e efeitos perturbadores da principal objeção que é feita contra a eleição Divina por seus

inimigos. E agora buscaremos apontar os principais elementos que adentram na eleição.

Em primeiro lugar, a eleição é um ato de Deus. É verdade que chega um dia em que cada

um dos eleitos escolhe a Deus como seu absoluto e sumo Bem, mas este é o efeito, e em

nenhum sentido a causa da escolha de Deus. Nossa escolha dEle é no tempo, mas Seu

escolher-nos foi antes dos tempos eternos; e certo é que a menos que Ele nos escolhesse

em primeiro lugar, nós jamais O escolheríamos de modo algum. Deus — que é um Ser

soberano, faz tudo o que Lhe agrada, tanto no céu e na terra —, tem um direito absoluto de

fazer o que quiser com Suas próprias criaturas e, portanto, Ele escolheu um certo número

de seres humanos para ser Seu povo, Seus filhos, Seu tesouro peculiar. Tendo feito isso,

este ato foi chamado de “eleição de Deus” (1 Tessalonicenses 1:4). Pois Ele é a causa efi-

caz dela; e as pessoas escolhidas são denominadas “seus escolhidos” (Lucas 18:7; cf.

Romanos 8:33).

Esta escolha de Deus é absoluta, sendo inteiramente gratuita, não dependendo de abso-

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

lutamente nada fora de Si mesmo. Deus elegeu aqueles que Ele quis, simplesmente por-

que Ele escolheu fazê-lo, não partir de alguma bondade, mérito ou atrativo na criatura, nem

a partir de qualquer mérito ou atrativo previsto na criatura. Deus é absolutamente autossufi-

ciente e, portanto, Ele nunca irá para fora de Si mesmo para encontrar uma razão para

qualquer coisa que Ele faz. Ele não pode ser influenciado pelas obras de Suas próprias

mãos. Não, Ele é Aquele que os move, da mesma forma que somente Ele é foi Aquele que

lhes deu existência. “Nele vivemos, e nos movemos, e existimos” [Atos 17:28]. Foi, então,

simplesmente a partir da espontânea bondade de Sua própria vontade que Deus destacou,

a partir da massa daqueles que Ele se propôs a criar, um povo que expressará os Seus

louvores por toda a eternidade, para a glória de Sua soberana graça para todo o sempre.

Esta escolha de Deus é uma questão imutável. Necessariamente assim, pois não é funda-

mentada sobre qualquer coisa na criatura, ou estabelecida sobre qualquer coisa fora de Si

mesmo. Ela é antes de tudo, antes mesmo de Sua “presciência”, porque embora Ele conhe-

ça de antemão, contudo, Ele conhece de antemão porque Ele infalível e irrevogavelmente

o fixou, caso contrário, Ele meramente a adivinharia. Mas visto que Ele a conhece de ante-

mão, então Ele não supõe, Ele assegura; e sendo a previsão dos acontecimentos futuros

algo seguro, então Ele deve tê-la fixado. A eleição, sendo o ato de Deus, é para sempre,

pois seja o que for que Ele faça em uma forma de graça especial, é irreversível e inalterável.

Os homens podem escolher alguns para serem seus favoritos e amigos por um tempo, e

depois mudam de ideia e escolhem outros em seu lugar. Mas Deus não age de tal maneira;

Ele é de uma mente, e ninguém pode mudá-lO; Seu propósito, segundo a eleição permane-

ce firme, seguro, inalterável (Romanos 9:11; 2 Timóteo 2:19).

Em segundo lugar, o ato de eleição de Deus é feito em Cristo: “Como também nos elegeu

nele” (Efésios 1:4). A eleição não encontra homens em Cristo, mas os enxerta nEle. Ela

concede a eles o estar em Cristo e união com Ele, que é o fundamento de sua manifestação

como estando nEle por ocasião de conversão. Na mente infinita de Deus, Ele quis amar

uma companhia da posteridade de Adão com um amor imutável, e do amor com que Ele

os ama, Ele os escolheu em Cristo. Por meio deste ato de Sua mente infinita, Deus lhes

concedeu serem participantes da bem-aventurança em Cristo desde a eternidade. Todavia,

ao mesmo tempo, todos caíram em Adão, ainda assim, todos não caíram semelhantemente.

Os não-eleitos caíram, de modo a serem condenados, sendo eles deixados a perecer em

seus pecados, porque não tinham nenhuma relação com Cristo, Ele não relacionou-se com

eles como o Mediador da união com Deus.

Os não-eleitos tiveram seu tudo em Adão, sua cabeça natural. Mas os eleitos tiveram toda

sorte de bênçãos espirituais concedida a eles em Cristo, sua graciosa e gloriosa Cabeça

(Efésios 1:3). Eles não podiam perder estas, porque eles foram assegurados delas em

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

Cristo. Deus os havia escolhido como Seus próprios: Ele seria o seu Deus, eles o Seu povo;

Ele, seu Pai e eles, Seus filhos. Ele os deu a Cristo para serem Seus irmãos, Seus compa-

nheiros, Sua noiva, Seus consortes em toda a Sua graça comunicável e glória. Na previsão

da sua Queda em Adão, e quais seriam os seus efeitos, o Pai propôs erguê-los das ruínas

da Queda, mediante a consideração do compromisso de Seu Filho realizando toda a justiça

por eles, e como seu Fiador, suportando todos os seus pecados em Seu próprio corpo no

madeiro, oferecendo Sua alma como oferta pelo pecado. Para executar tudo isso, o amado

Filho encarnou.

Foi a isso que o Senhor Jesus se referiu em Sua oração sacerdotal, quando disse ao Pai:

“Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste; eram teus, e tu mos deste”

(João 17:6). Ele estava se referindo a todos os sujeitos da eleição da graça. Eles eram os

objetos de prazer do Pai: Suas joias, Sua porção; e aos olhos de Cristo eles eram o que o

Pai viu que eles seriam. Quão grandemente, então, o Pai estima o Mediador, ou Ele nunca

teria concedido Seus eleitos a Ele e os entregado todos ao Seu cuidado e governo! E quão

altamente Cristo valorizou esta dádiva de amor do Pai, ou Ele não teria realizado a salvação

deles em tal enorme custo para Si mesmo! Agora, a entrega dos eleitos a Cristo foi um ato

diferente, um ato distinto do ato da eleição deles. Os eleitos foram primeiramente do Pai

por meio da eleição, que escolheu as pessoas; e, em seguida, Ele as deu a Cristo, como o

Seu amor e dom: “eram teus [por eleição], e tu mos deste”, da mesma forma, esta graça é

dita ser dada a nós em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos (2 Timóteo 1:9).

Em terceiro lugar, este ato de Deus foi independentemente de e anterior a qualquer previ-

são da entrada do pecado. Antecipamos um pouco este ramo de nosso assunto, ainda

assim, como é um assunto sobre o qual pouquíssimos hoje são seguros, e algo que consi-

deramos de importância considerável, nos propomos conceder-lhes uma consideração

separada. O ponto específico que devemos ponderar agora é, quanto a saber se o Seu

povo era visto por Deus, em Seu ato de eleição, como caídos ou não-caídos; como na

massa corrupta através de sua deserção em Adão, ou na massa pura da criação, ainda

para ser criada. Aqueles que consideram o primeiro ponto de vista são conhecidos como

infralapsarianos; aqueles que tomaram o último são conhecidos como supralapsarianos, e

no passado esta questão foi debatida consideravelmente entre os altos e baixos Calvinistas.

Este escritor sem hesitação (após estudo prolongado) assume a posição supralapsariana,

embora ele saiba muito bem que poucos de fato estarão dispostos a segui-lo.

O pecado, tendo posto um véu sobre o maior de todos os Divinos mistérios da graça,

excetuado somente aquele da encarnação Divina, torna a nossa tarefa presente a mais

difícil. É muito mais fácil para nós aprendermos sobre a nossa miséria, e sobre a nossa

redenção dela — pela encarnação, obediência e sacrifício do Filho de Deus — do que é

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

para nós concebermos a original glória, excelência, pureza e dignidade da Igreja de Cristo,

como o eterno objeto dos pensamentos, conselhos e propósito de Deus. No entanto, se nos

apegarmos firmemente às Sagradas Escrituras, é evidente (ao escritor, pelo menos) que o

povo de Deus tinha uma criação de qualidade superior e união espiritual com Cristo antes

mesmo que eles tivessem uma criação e união natural com Adão; de forma que eles foram

abençoados com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo (Efésios

1:3), antes que eles caíssem em Adão e se tornassem sujeitos a todos os males da mal-

dição. Em primeiro lugar, vamos resumir as razões dadas por John Gill em apoio a isso.

O decreto eletivo de Deus deve ser dividido em duas partes ou níveis, ou seja, o Seu pro-

pósito a respeito da finalidade e Seu propósito sobre os meios. A primeira parte relaciona-

se com o propósito de Deus em Si mesmo, no qual Ele determinou ter um povo eleito e

isso, para Sua própria glória. A segunda parte tem relação com a execução real da primeira,

fixando os meios pelos quais a finalidade será realizada. Estas duas partes do decreto

Divino não devem ser nem separadas nem confundidas, mas consideradas distintamente.

O propósito de Deus sobre a finalidade significa que Ele ordenou certas pessoas para

serem os destinatários de Seu favor especial, para a glorificação de Sua soberana bondade

e graça. Seu propósito sobre os meios significa que Ele determinou criar aquelas pessoas,

permitir-lhes cair e resgatá-las com base na redenção de Cristo e na santificação do

Espírito. Estes não devem ser considerados como decretos separados, mas como partes

componentes e níveis de um propósito. Há uma ordem nos conselhos Divinos, como reais

e definidos, como Gênesis 1 mostra que houve em conexão com a criação.

Na medida em que o propósito da primeira extremidade está em vista (em ordem de natu-

reza), antes da determinação dos meios, portanto, o que é o primeiro em intenção é último

em execução. Agora, como a glória de Deus é última em execução, segue-se necessaria-

mente que ela foi a primeira em intenção. Por isso os homens devem ser considerados no

propósito Divino, concernente à finalidade, nem como criados nem caídos, desde que

ambos, sua criação e permissão ao pecado, pertencem ao conselho de Deus sobre os

meios. Não é óbvio que, se Deus primeiro decretou criar homens e permitir-lhes cair, e, em

seguida, a partir da massa caída escolheu alguns para a graça e glória, que Ele se propôs

a criar os homens sem qualquer finalidade em vista? E não é esta a acusação de Deus, a

saber, eu Ele fez algo que nem mesmo um homem sábio jamais faria, pois quando o homem

determina fazer uma coisa, ele propõe uma finalidade (como a construção de uma casa) e

depois estabelece formas e meios para concluí-la. Pode ser pensado por um momento que

o Onisciente agiria de outra forma?

A distinção acima, entre o propósito Divino a respeito da finalidade e indicação de meios

para assegurar este propósito de Deus, é claramente confirmada pela Escritura. Por exem-

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

plo: “Porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo

existe, trazendo muitos filhos à glória, consagrasse pelas aflições o príncipe da salvação

deles” (Hebreus 2:10). Aqui há primeiro o decreto relacionado à finalidade: Deus ordenou

Seus muitos filhos “à glória”; em Seu propósito dos meios Deus ordenou que o príncipe da

salvação deles fosse consagrado “pelas aflições”. Da mesma forma foi em conexão com o

próprio Cristo. “Disse o SENHOR ao meu Senhor” (Salmos 110:1). Deus decretou que o

Mediador tivesse esta alta honra conferida a Ele, mas com este objetivo foi ordenado: que

“Beberá do ribeiro no caminho” (v. 7), Deus, então, decretou que o Redentor deve beber da

plenitude desses prazeres que estão em sua mão direita eternamente (Salmos 16:11),

contudo isto aconteceu antes que Ele devesse tomar o cálice amargo da angústia. Assim é

com o Seu povo: Canaã é a sua porção designada, mas o deserto é apontado como aquele

através do qual eles passarão a caminho da mesma.

O fato de Deus ter predestinado seu povo à santidade e glória, anteriormente à Sua pres-

ciência da Queda deles em Adão, se adequada muito melhor com os exemplos dados sobre

Jacó e Esaú em Romanos 9:11-12 do que faz o ponto de vista infralapsariano de que o

decreto Divino os contemplou como criaturas pecadoras. Ali, lemos: “Porque, não tendo

eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a

eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), foi-lhe dito a

ela: O maior servirá ao menor”. O apóstolo está mostrando que a preferência foi dada a

Jacó independente de toda o fundamento de mérito, porque foi feito antes de que as

crianças nascessem. Se for mantido em mente que o que Deus faz no tempo é apenas uma

manifestação do que Ele secretamente decretou na eternidade, o ponto que estamos aqui

defendendo será muitíssimo conclusivo. Os atos de Deus, tanto da eleição quanto da

preterição — escolha e rejeição — foram totalmente independentes de qualquer “bem ou

mal” previstos. Observe também que maneira como essa expressão é composta: “o pro-

pósito de Deus, segundo a eleição” apoia a tese da existência de duas partes para o decreto

de Deus.

Também deve ser salientado que a predestinação de Deus de Seu povo para a bem-aven-

turança eterna, antes que Ele os contemplasse como criaturas pecadoras concorda, muito

melhor do que a ideia infralapsariana, com o barro sem forma do Oleiro: “Ou não tem o olei-

ro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para de-

sonra?” (Romanos 9:21). Sobre isso, Beza (co-pastor com Calvino na igreja em Genebra)

observou que: “se o apóstolo tivesse considerado a humanidade como corrompida, ele não

teria dito que alguns vasos foram feitos para honra e alguns para desonra, mas antes, que

todos os vasos eram aptos para desonra, alguns sendo deixados para desonra, e outros

transportados da desonra para a honra”.

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

Mas deixando de inferências e deduções, voltemo-nos agora para algo mais evidente e

definitivo. Em Efésios 1:11 lemos: “havendo sido predestinados, conforme o propósito da-

quele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade”. Agora, um estudo cui-

dadoso do que precede revela uma clara distinção em “todas as coisas” que Deus opera

“segundo o conselho da sua vontade”, ou, para indicá-lo de outra maneira, as bênçãos

espirituais que Deus concede ao Seu povo são divididas em duas classes distintas, de

acordo como Ele os contemplou pela primeira vez em um estado não-caído e, em seguida,

em um estado caído. A primeira e mais elevada classe de bênçãos são enumerados nos

versículos 4 a 6 e relaciona-se com o decreto de Deus sobre a finalidade; a segunda e

subordinada classe de bênçãos são descritas nos versos 7 a 9 relaciona-se com o decreto

de Deus sobre os meios que Ele designou para a realização desse fim.

Estas duas partes do mistério da vontade de Deus para com o Seu povo desde a eternidade

são claramente marcadas pela mudança de tempo que é usada: o passado de “também

nos elegeu” (v. 4), “e nos predestinou para a adoção de filhos” (v. 5) e “nos fez agradáveis

a si no Amado” (v. 6), torna-se em tempo presente, no versículo 7: “em quem temos a

redenção pelo seu sangue”. Os benefícios mencionados nos versículos 4-6 não são, de

forma alguma, dependentes de uma consideração sobre a Queda, mas seguem o fato de

termos sido escolhidos em Cristo, sendo dados sobre fundamentos altos e distintos, a partir

de Seu ser o nosso Redentor. Deus nos escolhe em Cristo, nosso Cabeça, para que seja-

mos “santos”, porém isto se refere à santidade imperfeita que temos nesta vida, mas a uma

santidade perfeita e imutável, até mesmo como a que os anjos não tinham por natureza; e

a nossa predestinação para adoção denota uma comunhão imediata com o próprio Deus,

bênçãos que teriam sido nossas mesmo que o pecado jamais houvesse entrado no mundo.

Como Thomas Goodwin destacou em sua inigualável exposição de Efésios 1: “A primeira

fonte de bênçãos — santidade perfeita, adoção, e etc. — foram ordenadas a nós sem levar

em consideração a Queda, embora não antes da consideração da Queda; pois todas as

coisas que Deus decreta existem ao mesmo tempo em Sua mente; elas estavam todas,

tanto uma quanto a outra, ordenadas às nossas pessoas. Mas Deus, nos decretos sobre

esta primeira sorte de bênçãos nos viu como criaturas que Ele poderia e gostaria de fazer

assim gloriosos... entretanto a segunda sorte de bênçãos foi ordenada a nós apenas em

consideração à Queda, e às nossas pessoas consideradas como pecadoras e incrédulas.

A primeira sorte foi para “louvor da graça de Deus”, considerando a graça pela gratuidade

do amor; enquanto o segundo tipo é para “o louvor da glória da sua graça”, considerando a

graça da livre misericórdia”.

As primeiras e maiores bênçãos devem ter a sua plena realização no Céu, sendo adequa-

das para aquele estado em que estaremos estabelecidos, e como na principal intenção de

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

Deus, elas estão diante da outra e são ditas terem sido “antes da fundação do mundo” (Efé-

sios 1:4), então elas devem ser realizadas após este mundo estar terminado, a “adoção” a

que estamos predestinados (Efésios1:5) ainda esperamos (Romanos 8:23); enquanto que

as segundas são bênçãos derramadas sobre nós no mundo inferior, pois é aqui e agora

que recebemos a “remissão dos pecados” através do sangue de Cristo. Mais uma vez; as

primeiras bênçãos são fundadas unicamente sobre a nossa relação com a pessoa de

Cristo, como é evidente, “escolhidos nele... no Amado”; mas as bênçãos da segunda sorte

são baseadas em Sua obra, a redenção que advém do sacrifício de Cristo. Assim, as

últimas bênçãos são apenas a remoção daqueles obstáculos que por causa do pecado se

interpõem em nosso caminho de glória intencionada.

Mais uma vez; esta distinção das bênçãos que nós recebemos em Cristo, como criaturas,

e por meio de Cristo como pecadores, é confirmada pelo duplo ofício que Ele sustenta em

relação a nós. Isto é claramente expresso em: “Porque o marido é a cabeça da mulher, co-

mo também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo” (Efésios

5:23). Observe cuidadosamente a ordem desses títulos: Cristo é primeiramente o nosso

Cabeça e marido, o que estabelece as bases dessa relação com Deus na qualidade de

Seus filhos adotados, como pelo casamento com Seu Filho. Em segundo lugar, Ele é o

nosso “Salvador”, o que necessariamente relaciona-se ao pecado. Efésios 5:23 deve ser

comparado com Colossenses 1:18-20, onde a mesma ordem é estabelecida: nos versos 18

e 19 aprendemos que Cristo é absolutamente ordenado e Sua igreja com Ele, através do

que Ele é o fundador desse estado que nós entraremos após a ressurreição, e, em seguida,

no versículo 20 O vemos como redentor e reconciliador: primeiro a “Cabeça” da Sua Igreja,

e, em seguida, o seu “Salvador”! A partir desta dupla relação de Cristo com os eleitos surge

uma dupla glória para a qual Ele é ordenado: a intrínseca, devida a Ele por ser o Filho de

Deus que habita em natureza humana e sendo aí a cabeça de uma Igreja gloriosa (veja

João 17:5); e outra mais extrínseca, como adquirida pela Sua obra de redenção e comprada

com a agonia de Sua alma (veja Filipenses 2:8-10)!

Temos chamado a atenção para o fato de que a única razão para que qualquer alma te-

mente a Deus creia na doutrina da eleição é porque ela a encontra revelada em destaque

na Palavra de Deus e, portanto, segue-se que a nossa única fonte de informação sobre a

mesma é a Palavra em si. No entanto, o que acaba de ser dito é demasiado geral para ser

de ajuda específica para o investigador sério. Quando nos voltamos para as Escrituras por

luz sobre o mistério da eleição, é mui essencial que tenhamos em mente que Cristo é a

chave para todas as partes delas: “no rolo do livro de mim está escrito” [Salmos 40:7],

declara Ele, e, portanto, se tentarmos estudar este assunto à parte dEle, certamente

erraremos. Em capítulos anteriores nós evidenciamos que Cristo é a grandiosa origem da

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

eleição, e é a partir desse ponto de partida que devemos proceder, se quisermos fazer qual-

quer avanço correto.

O que acaba de ser sinalizado é válido não apenas no geral, mas em particular: por exem-

plo, em relação a esse ramo especial de nosso assunto que foi discutido, nós agora segui-

remos a partir deste ponto de vista particular. Se formos corretamente de volta para o início

propriamente dito, então, aparecerá que Deus Se agradou, e assim resolveu, vir à comu-

nhão com a criatura, o que significa que Ele determinou trazer à existência criaturas que

deveriam gozar de comunhão com Ele mesmo. Sua própria glória era unicamente o fim

supremo desta determinação, pois “o Senhor fez todas as coisas para atender aos seus

próprios desígnios” (Provérbios 16:4). Nós repetimos, que a Sua própria glória foi o motivo

único e suficiente que levou Deus a criar a todos: “Ou quem lhe deu primeiro a ele, para

que lhe seja recompensado? Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória,

pois, a ele eternamente. Amém” (Romanos 11:35-36).

A principal glória que Deus projetou para Si mesmo na eleição foi a manifestação da glória

de Sua graça. Isto é irrefutavelmente estabelecido por: “E nos predestinou para filhos de

adoção por [através, no Grego] Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua

vontade, para louvor da glória de sua graça” (Efésios 1:5-6). A graça é uma daquelas per-

feições ilustres no caráter Divino, que é gloriosa em si mesma, e sempre teria permanecido

assim embora nenhuma criatura fosse formada; mas Deus mostrou este atributo na eleição

de tal forma que o Seu povo ainda a louvará e glorificará para todo o sempre. Deus mostrou

a Sua santidade ao entregar a Lei, o Seu poder na criação do mundo, a Sua justiça em lan-

çar os ímpios no inferno, mas a Sua graça resplandece especialmente na predestinação e

a que Seus eleitos são predestinados. Assim, também, quando se diz que Deus deu a “co-

nhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes pre-

parou” (Romanos 9:23), a primeira referência é à Sua graça, como Efésios 1:7 demonstra.

A segunda pessoa da Trindade foi predestinada para ser Deus-homem, sendo primeiro de-

cretado, pois somos “escolhidos nele” (Efésios 1:4), o que pressupõe que Ele seja escolhido

em primeiro lugar, como o fundamento em que nós somos estabelecidos. Somos predesti-

nados para a adoção de filhos, no entanto, é “por Jesus Cristo” (Efésios 1:5). Assim lemos:

“O qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo,

mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós” (1 Pedro 1:20); como veremos

mais tarde que a expressão “antes da fundação do mundo” não é apenas uma observação

de tempo, mas, principalmente, uma indicação de eminência ou preferência, que Deus tinha

de Cristo em Sua visão antes de Sua intenção de criar o mundo para Ele e Seu povo. Agora,

temos mostrado que Cristo foi ordenado para ser Deus-homem para fins muito mais

elevados do que a nossa salvação, a saber, para que o próprio Deus Se delei-tasse; para

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

contemplar a imagem perfeita de Si mesmo em uma criatura, e por essa união, comunicar-

Se com aquele homem de uma maneira e nível que não é possível a qualquer mera criatura

como tal.

Juntamente com o Filho sendo predestinado a ser Deus-homem, ali repousa a Sua gloriosa

pessoa, como Sua herança, para ser o fim soberano de todas as outras coisas que Deus

faria e a finalidade de quaisquer de suas criaturas racionais que Ele se agradaria em esco-

lher para a glória. Isso fica claro em: “por que tudo é vosso, e vós de Cristo, e Cristo de

Deus” (1 Coríntios 3:21-23), que é falado em referência à consumação. Como vocês, os

santos, são o fim para o qual todas as coisas foram ordenadas, assim Cristo é o fim de

vocês, e Cristo é o propósito de Deus ou o propósito em ação. Nós dizemos que Cristo é

“o fim soberano”, e não o fim supremo, pois o próprio Deus está acima e sobre tudo; mas

Cristo é o fim soberano de toda a criação, tendo co-autoridade com Deus, abaixo de Deus.

Assim, declara-se que “por ele” e “para ele” foram criadas todas as coisas (Colossenses

1:16), como se diz de Deus em Romanos 11:36. Assim, este fim soberano na criação repou-

sa nEle como a herança do Mediador: “O Pai ama o Filho, e todas as coisas entregou nas

suas mãos” (João 3:35).

Na predestinação do Filho do homem quanto à união com o Filho de Deus, e na constituição

dEle através dessa união para ser o nosso fim soberano e de todas as coisas, foi conferido

ao homem Cristo Jesus, assim, exaltado ao favor mais alto possível, incomensuravelmente

transcendendo toda a graça mostrada para os eleitos, de qualquer forma considerada, de

modo que se a nossa eleição é para o louvor da glória da graça de Deus, a Sua muito mais.

Mais honra foi conferida “ao santo ser” que nasceu da virgem do que a todos os membros

do Seu corpo místico juntos; e isso foi a graça pura e simples, graça soberana, que a

concedeu. O que havia em Sua humanidade, simplesmente considerada, o que lhe conce-

deu direito a tal exaltação? nem poderia haver qualquer mérito previsto que o exigia, por

isso deve ser dito sobre o homem Jesus Cristo, como sobre todas as outras criaturas: “Por-

que, quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido?” (1 Coríntios 4:7).

Que não seja esquecido que ao decretar a união do Filho do homem com a segunda pessoa

da Trindade, com toda a honra e glória envolvidas nisso, Deus era perfeitamente livre, como

em todo o restante, para tê-lO decretado ou não, como Ele quisesse; sim, tivesse Ele se

agradado, Ele poderia ter nomeado o arcanjo ao invés da semente da mulher, para tal

inestimável privilégio. Foi, portanto, a livre graça de Deus, que fez esse decreto, e quanto

mais elevada foi a dignidade conferida a Cristo acima de Seus companheiros, tanto maior

foi a graça. A predestinação do homem Jesus, então, é o maior exemplo de graça e,

portanto, o maior propósito de Deus na predestinação para manifestar a Sua graça (de onde

tem o seu título denominado “a eleição da graça” — Romanos 11:5) foi realizado nEle sobre

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

Seus irmãos, para que Ele seja para o louvor da glória da graça de Deus, muito acima do

que nós somos.

Desde que no caso de Cristo nós temos tanto o padrão quanto o exemplo da eleição, a

grandiosa origem, é bastante evidente que a graça não deve ser limitada ou entendida

apenas como o favor Divino em direção às criaturas que estão caídas e estão entregues à

ruína e miséria. A graça não necessariamente supõe pecado nos objetos em que é mostra-

da, pois a mais alta instância de todas, esta da graça concedida ao homem Cristo Jesus,

foi conferida Àquele que não teve pecado e era incapaz disso. Graça é favor mostrado a

quem não merece, pois a natureza humana no Deus-homem não mereceu a distinção que

lhe foi conferida. Quando estendida às criaturas caídas, é favor demonstrado a merecedo-

res do mal e merecedores do Inferno, mas isso não está implícito no termo em si, como

pode ainda ser visto no caso da graça Divina sendo estendida aos anjos não-caídos. Assim,

como Cristo é o padrão em quem Deus predestinou Seu povo para ser conforme, Sua

eleição deles para a glória eterna estava sob Sua visão deles como criaturas não-caídas e

não como criaturas corrompidas.

Deus, tendo, assim, absolutamente escolhido o Filho do homem, com isso dotou-O de tal

realeza como a ser o fim soberano de todos a quem Ele criaria ou elegeria para a glória,

segue-se, portanto, que aqueles de nós que foram escolhidos, foram destinados pela pró-

pria ordenação de Deus em nossa escolha de existirmos para a glória de Cristo como a

finalidade de nossa eleição, bem como para a própria glória de Deus. Nós não fomos

absolutamente ordenados — como Cristo em Sua predestinação única foi no primeiro

propósito dEle — senão a partir do primeiro de nós, a intenção de Deus a nosso respeito é

que sejamos de Cristo e tenhamos a nossa glória a partir dAquele que é “o Senhor da glória”

(1 Coríntios 2:8). Aqui, como em toda parte, Cristo tem a preeminência, pois a pessoa de

Cristo, Deus-homem, foi predestinada para a dignidade de Si mesmo, mas nós para a glória

de Deus e de Cristo. Embora Deus o Pai, primeiro e unicamente, designou quem os favore-

cidos seriam, ainda assim, qualquer eleição que houve deveria ser por causa de Cristo,

bem como a Sua própria.

Em nossa eleição Deus tinha o Seu Filho em vista como Deus-homem, e em Seu propósito

sobre Ele como a nossa finalidade, Ele nos escolheu por amor dEle, para que fôssemos

Seus “companheiros” ou companhias (Salmos 45:7), assim como Ele era o deleite de Deus

(Isaías 42:1), de modo que nós pudéssemos ser o Seu deleite (Provérbios 8:31). Assim,

nós fomos dados a Cristo em primeiro lugar, não como pecadores a serem salvos por Ele,

mas como membros sem pecado a uma Cabeça sem pecado, como um dom soberano de

Sua pessoa, para Sua honra e deleite, e para participar da glória sobrenatural com Ele e

dEle. “‘E eu dei-lhes a glória que a mim [como Deus-homem] me deste’, em conformidade

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

com Tua eleição deles e Teu entregar-lhes a Mim para serem Meus. Tu os tens amado

como Tu Me tens amado a Mim [ou seja, com um amor eterno na eleição], sim, Tu lhes

deste a Mim, para a Minha glória como a finalidade deles, e pelo que, principalmente, Tu

lhes amaste” (João 17:22-23).

E o que se segue imediatamente em João 17? Isto: “Pai, aqueles que me deste quero que,

onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste;

porque tu me amaste antes da fundação do mundo” (v. 24). Cristo foi amado em Sua eleição

desde a eternidade, e a partir do amor de Deus por Ele, pessoas foram dadas a Ele — com

que propósito? Mesmo para contemplá-lO, admirá-lO e adorá-lO em Sua pessoa e glória,

como sendo a própria coisa a que eles foram ordenados, mais do que para a própria glória

deles, pois a glória deles surge a partir de contemplar a dEle (2 Coríntios 3:18). E o que é

esta glória a que Cristo foi ordenado? A glória de Sua pessoa primeiro absolutamente

decretada a Ele é a elevação de Sua glória no céu, onde somos ordenados a contemplá-

la. E observe como Ele aqui (João 17:24) revela o principal motivo de Deus nisso: “porque

tu me amaste”, Cristo sendo escolhido em primeiro lugar na designação de Deus, os mem-

bros foram escolhidos e dados a Ele para que eles redundassem em Sua glória.

Sendo nós escolhidos para a glória de Cristo como nossa finalidade, e por amor a Ele, bem

como para a glória da graça de Deus para conosco, Deus ordenou uma dupla relação de

Cristo para conosco para a Sua glória, adicional àquela glória absoluta de Sua pessoa.

Primeiro, a relação de uma “Cabeça”, onde nós fomos entregues a Ele como membros de

Seu corpo, e como uma esposa ao seu marido para ser seu cabeça. Em segundo lugar, a

relação de um “Salvador” e Redentor, que é, em adição à sua liderança; e ambos para adici-

onal glória de Cristo, e também para a manifestação da graça de Deus em relação a nós.

Estas duas relações são bastante distintas e não devem ser confundidas. “Porque o marido

é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o

salvador do corpo” (Efésios 5:23), cada um desses ofícios foi nomeado a Ele pelo bene-

plácito da vontade de Deus. Esta mesma dupla relação de Cristo em relação ao Seu povo

é apresentada novamente em Colossenses 1:18-20, esta honra oficial dupla conferida a Ele

está além e acima das realezas absolutas de Sua pessoa como Deus-homem.

Agora vimos que a dupla relação de Cristo quanto ao Seu povo tem, adequadamente, um

duplo e distinto aspecto e consideração quanto a nós e sobre nossa eleição por Deus, que

não foi absoluta como a de Cristo foi, mas em relação aos Seus dois ofícios principais. O

primeiro diz respeito às nossas pessoas, sem a consideração de nossa Queda em Adão,

pelo qual fomos contemplados na pura porção da criação como a ser criada, e nesta

consideração Deus nos ordenou para a glória final, sob relação com Cristo como “Cabeça”,

seja como membros de Seu corpo ou como Sua noiva, ou melhor, tanto como sendo Ele a

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

Cabeça da Igreja; como um ou como ambas, as nossas pessoas eram plenamente capazes

anteriormente ou sem qualquer consideração de nossa Queda. Em segundo lugar, as nos-

sas pessoas vistas como caídas, como corruptas e pecaminosas, e, portanto, como objetos

a serem salvos e redimidos da escravidão do mesmo, sob a nossa relação com Ele como

um “Salvador”.

Cada uma dessas relações foi para a glória da graça de Deus. Primeiro, em Seu desígnio

de favorecer-nos, considerados puramente como criaturas, para uma maior glória por Seu

Cristo do que era atingível pela lei da criação. Ordenar-nos a esta glória foi pura graça, não

menos do que redimir-nos do pecado e da miséria em que caímos; pois isso foi totalmente

independente das obras ou mérito, assim como a eleição de Cristo (que é o padrão da

nossa) se deu além da consideração de obras de qualquer tipo, como Ele declarou: “a mi-

nha bondade não chega à tua presença” (Salmo 16:2). “Embora o trabalho da vida e agonia

da morte do Filho refletiu um brilho incomparável sobre cada atributo de Deus, contudo, o

Deus mui bendito e infinitamente feliz não tinha nenhuma necessidade da obediência e da

morte de Seu Filho, foi por nossa causa que a obra da redenção foi empreendida” (C. H.

Spurgeon). É a esta graça original que 2 Timóteo 1:9 refere-se, foi a graça somente, que

levou Deus a nos resgatar e chamar, à parte das obras, mas “segundo” esta graça matriz

pela qual fomos ordenados para a glória desde o início.

Nessa graça original repousa o grandioso e último desígnio de Deus, pois ela terá sua

realização última em todos, e com a perfeição de todos. Deus poderia imediatamente, sobre

a nossa primeira criação, ter nos tomado nesta glória. Mas em segundo lugar, para adicional

magnificação de Cristo e demonstração mais ampla de Sua graça, para estendê-la ao seu

alcance máximo; como a palavra em Hebraico é: “Estende a tua benignidade” (Salmo 36:10).

Ele não quis conduzir-nos à plena posse da nossa herança em contemplar a glória pessoal

de Cristo, nossa cabeça; mas permissivamente ordenou que cairíamos em pecado, e,

portanto, decretou criar-nos em condições mutáveis (como a lei da criação requeria), o que

abriu caminho para a abundância de Sua graça (Romanos 5:15). Isto é confirmado por:

“Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia [um termo que denota nosso merecimento do

mal], pelo seu muito amor com que nos amou” (Efésios 2:4). Primeiro Deus nos amou,

vistos como criaturas sem pecado; e isso se tornou a base da “misericórdia” para conosco,

quando considerados como pecadores.

Foi sobre esta determinação Divina que os eleitos não entrariam imediatamente após a sua

criação na glória a que foram ordenados, antes primeiro seriam permitidos cair em pecado

e miséria e, em seguida, seriam libertos do mesmo, de forma que Cristo tivesse Sua gran-

diosa e maior glória do ofício de Redentor e Salvador acrescentada à Sua eleição de pree-

minência. É nosso ser pecador e miserável que ocupa a nossa preocupação presente e

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

imediata, como a que estamos mais solícitos quanto a deixar este mundo, e é por isso que

as Escrituras, principalmente, apresentam a Cristo como Redentor e Salvador. Dizemos

“principalmente” pois como vimos elas não são, de forma alguma, silenciosas sobre a maior

glória advinda do fato dEle ser o Cabeça da Igreja; sim, suficiente é dito nelas para atrair

os nossos pensamentos, afeições e esperanças para contemplá-lO em Sua grandiosa

glória.

Ao concluir este esboço sobre a ordem Divina da eleição de Cristo, e nossa, como é repre-

sentada nas Escrituras, que seja destacado que não supomos um intervalo de tempo entre

Deus predestinar a Cristo, como Cabeça e O predestinar como Salvador, pois tudo foi simul-

tâneo na mente de Deus; mas a distinção é da ordem de natureza, e para a nossa melhor

compreensão dos mesmos. Cristo não poderia ser o “Cabeça”, sem o correlato de Seu

“corpo” místico, como Ele não poderia ser o nosso “Salvador”, a menos que houvéssemos

caído. “Eis aqui o meu servo, a quem sustenho, o meu eleito, em quem se apraz a minha

alma” (Isaías 42:1), Cristo foi primeiramente o eleito e deleite de Deus, e depois Seu servo

— sustentado por Ele na obra da redenção. Absoluta e principalmente Cristo como Deus-

homem foi ordenado para Ele mesmo, para Sua própria glória; relativa e, secundariamente,

Ele foi escolhido para nós e para a nossa salvação.

A glória da pessoa do Deus-homem, absolutamente considerada, foi o desígnio primário de

Deus, a que Ele determinou em Seu coração; próximo a isso foi a Sua ordenação de Cristo

para ser um Cabeça para nós e de nós para sermos um corpo para Ele, isso por nossa

união com Ele como nossa Cabeça; Ele foi o autor suficiente e eficiente de tais bênçãos, à

medida que nos tornarmos imutavelmente santos; da filiação a partir de Sua Filiação; da

aceitação graciosa de nossas pessoas nEle como o principal Amado, e herdeiros de uma

mesma glória com Ele, todas estas benções nos capacitam a sermos considerados por

Deus como criaturas puras através da nossa união com Cristo, e não necessitados de Sua

morte para comprá-las para nós, sendo bastante distintas da bênção da redenção como

Efésios 1:7 (seguido dos versos 3-6) mostra com suficiente clareza. Como fazer de Cristo

a nossa cabeça foi o primeiro no plano de Deus, assim será o último a ser efetuado, sendo

esta a maior de todas as bênçãos da “salvação”, a coroa de tudo, quando nós estaremos

“para sempre com o Senhor”.

Descendo a um nível muito mais baixo, que seja sinalizado que certamente os santos anjos

não podiam ser considerados na massa corrupta quando eles foram escolhidos, uma vez

que nunca caíram; por isso, é mais razoável supor que eram considerados por Deus mesmo

quando estavam na mesma pura massa da criação, quando Ele os elegeu. Assim foi com

a natureza humana de Cristo, que é o objeto da eleição, pois nunca caiu em Adão, nem

nunca entrou em um estado corrupto, mas foi “escolhido dentre o povo” (Salmos 89:19), e,

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

consequentemente, as pessoas das quais Ele foi escolhido devem ser consideradas como

ainda não-caídas. Isso por si só concorda com o tipo de Eva (a Igreja) que está sendo dada

a Adão (Cristo) antes do pecado entrar no mundo. Assim, a dupla ordenação dos eleitos

para a glória e para a salvação (tendo em vista a Queda) de Deus concorda com a dupla

ordenação dos não-eleitos: preterição como criaturas e condenação como pecadores.

Nota: Por muito do que foi exposto acima, estamos em dívida com Thomas Goodwin. Em alguns

lugares temos sido propositadamente repetitivos neste capítulo, pois a maior parte do fundamento

examinado é inteiramente nova para a maioria dos nossos leitores.

Sola Scriptura!

Sola Gratia!

Sola Fide!

Solus Christus!

Soli Deo Gloria!

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

10 Sermões — R. M. M’Cheyne

Adoração — A. W. Pink

Agonia de Cristo — J. Edwards

Batismo, O — John Gill

Batismo de Crentes por Imersão, Um Distintivo

Neotestamentário e Batista — William R. Downing

Bênçãos do Pacto — C. H. Spurgeon

Biografia de A. W. Pink, Uma — Erroll Hulse

Carta de George Whitefield a John Wesley Sobre a

Doutrina da Eleição

Cessacionismo, Provando que os Dons Carismáticos

Cessaram — Peter Masters

Como Saber se Sou um Eleito? ou A Percepção da

Eleição — A. W. Pink

Como Ser uma Mulher de Deus? — Paul Washer

Como Toda a Doutrina da Predestinação é corrompida

pelos Arminianos — J. Owen

Confissão de Fé Batista de 1689

Conversão — John Gill

Cristo É Tudo Em Todos — Jeremiah Burroughs

Cristo, Totalmente Desejável — John Flavel

Defesa do Calvinismo, Uma — C. H. Spurgeon

Deus Salva Quem Ele Quer! — J. Edwards

Discipulado no T empo dos Puritanos, O — W. Bevins

Doutrina da Eleição, A — A. W. Pink

Eleição & Vocação — R. M. M’Cheyne

Eleição Particular — C. H. Spurgeon

Especial Origem da Instituição da Igreja Evangélica, A —

J. Owen

Evangelismo Moderno — A. W. Pink

Excelência de Cristo, A — J. Edwards

Gloriosa Predestinação, A — C. H. Spurgeon

Guia Para a Oração Fervorosa, Um — A. W. Pink

Igrejas do Novo Testamento — A. W. Pink

In Memoriam, a Canção dos Suspiros — Susannah

Spurgeon

Incomparável Excelência e Santidade de Deus, A —

Jeremiah Burroughs

Infinita Sabedoria de Deus Demonstrada na Salvação

dos Pecadores, A — A. W. Pink

Jesus! – C. H. Spurgeon

Justificação, Propiciação e Declaração — C. H. Spurgeon

Livre Graça, A — C. H. Spurgeon

Marcas de Uma Verdadeira Conversão — G. Whitefield

Mito do Livre-Arbítrio, O — Walter J. Chantry

Natureza da Igreja Evangélica, A — John Gill

OUTRAS LEITURAS QUE RECOMENDAMOS Baixe estes e outros e-books gratuitamente no site oEstandarteDeCristo.com.

— Sola Fide • Sola Scriptura • Sola Gratia • Solus Christus • Soli Deo Gloria —

Natureza e a Necessidade da Nova Criatura, Sobre a —

John Flavel

Necessário Vos é Nascer de Novo — Thomas Boston

Necessidade de Decidir-se Pela Verdade, A — C. H.

Spurgeon

Objeções à Soberania de Deus Respondidas — A. W.

Pink

Oração — Thomas Watson

Pacto da Graça, O — Mike Renihan

Paixão de Cristo, A — Thomas Adams

Pecadores nas Mãos de Um Deus Irado — J. Edwards

Pecaminosidade do Homem em Seu Estado Natural —

Thomas Boston

Plenitude do Mediador, A — John Gill

Porção do Ímpios, A — J. Edwards

Pregação Chocante — Paul Washer

Prerrogativa Real, A — C. H. Spurgeon

Queda, a Depravação Total do Homem em seu Estado

Natural..., A, Edição Comemorativa de Nº 200

Quem Deve Ser Batizado? — C. H. Spurgeon

Quem São Os Eleitos? — C. H. Spurgeon

Reformação Pessoal & na Oração Secreta — R. M.

M'Cheyne

Regeneração ou Decisionismo? — Paul Washer

Salvação Pertence Ao Senhor, A — C. H. Spurgeon

Sangue, O — C. H. Spurgeon

Semper Idem — Thomas Adams

Sermões de Páscoa — Adams, Pink, Spurgeon, Gill,

Owen e Charnock

Sermões Graciosos (15 Sermões sobre a Graça de

Deus) — C. H. Spurgeon

Soberania da Deus na Salvação dos Homens, A — J.

Edwards

Sobre a Nossa Conversão a Deus e Como Essa Doutrina

é Totalmente Corrompida Pelos Arminianos — J. Owen

Somente as Igrejas Congregacionais se Adequam aos

Propósitos de Cristo na Instituição de Sua Igreja — J.

Owen

Supremacia e o Poder de Deus, A — A. W. Pink

Teologia Pactual e Dispensacionalismo — William R.

Downing

Tratado Sobre a Oração, Um — John Bunyan

Tratado Sobre o Amor de Deus, Um — Bernardo de

Claraval

Um Cordão de Pérolas Soltas, Uma Jornada Teológica

no Batismo de Crentes — Fred Malone

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

2 Coríntios 4

1 Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;

2 Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem

falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem,

na presença de Deus, pela manifestação da verdade. 3 Mas, se ainda o nosso evangelho está

encoberto, para os que se perdem está encoberto. 4 Nos quais o deus deste século cegou os

entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória

de Cristo, que é a imagem de Deus. 5 Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo

Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. 6 Porque Deus,

que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações,

para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. 7 Temos, porém,

este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. 8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.

9 Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;

10 Trazendo sempre

por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus

se manifeste também nos nossos corpos; 11

E assim nós, que vivemos, estamos sempre

entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na

nossa carne mortal. 12

De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. 13

E temos

portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também,

por isso também falamos. 14

Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará

também por Jesus, e nos apresentará convosco. 15

Porque tudo isto é por amor de vós, para

que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de

Deus. 16

Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o

interior, contudo, se renova de dia em dia. 17

Porque a nossa leve e momentânea tribulação

produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; 18

Não atentando nós nas coisas

que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se

não veem são eternas.