fernando horta biogeografia
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Captulo 1
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Introduo Geral
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1.1 BIOGEOGRAFIA
A biogeografia uma cincia que se dedica a documentar padres espaciais de
diversidade biolgica e compreender os processos geradores e mantenedores dos
mesmos. Padres so os aspectos que aparentemente organizam a vida, e processos, os
mecanismos que geraram tais padres (Eldredge e Cracraft 1980). Biogeografia uma
disciplina, eminentemente, de sntese, baseada fortemente em teoria e dados de
ecologia, biologia, sistemtica, evoluo e cincias da terra (Brown e Lomolino 1998).
Sua histria marcada por grandes mudanas de paradigma relacionadas a avanos em
outras reas da cincia.
O interesse pelas questes biogeogrficas, ainda que de forma no sistemtica, remonta
Grcia Antiga. Porm, o assunto passa a ser tratado sistematicamente com Carolus
Linnaeus, j na segunda metade do sculo XVIII. A partir desse perodo o conhecimento
a respeito da distribuio de formas vivas ganha enorme impulso com as viagens de
naturalistas por grande parte do mundo. Com a sistematizao das informaes passam
a ser descritos os padres de distribuio das diferentes formas de vida e, como um
desdobramento natural, a surgir explicaes sobre a origem dos mesmos. O mtodo
comparativo serviu de base, desde os primeiros naturalistas, e atravs de todo o sculo
XVIII, at os atuais biogegrafos. Muitos, seno todos os temas centrais da moderna
biogeografia tm suas origens no perodo pr-darwiniano (Lomolino et al. 2004).
Inmeros investigadores, entre eles, Comte de Buffon, Joseph Banks, Johann Reinhold
Forster, Karl Willdenow, Alexander von Humboldt e Augustin P. de Candolle contriburam,
entre o final do sculo XVIII e incio do XIX, de forma significativa para a identificao
dos problemas biogeogrficos, ainda que em meio a um tempo dominado pelo
pensamento criacionista. Mesmo algumas teorias que consideravam mudanas
ambientais e nas espcies j eram propostas na poca (Brown e Lomolino 1998).
Desde o incio do sculo XIX os primeiros trs temas da biogeografia j eram bem
estabelecidos. Biogegrafos estudavam: a) as diferenas entre as biotas regionais; b)
sua origem e expanso, e c) os fatores responsveis pelas diferenas em riqueza e
composio de espcies, nos nveis local e regional (Brown e Lomolino 1998).
Na primeira metade do sculo XIX Augustin de Candolle identifica dois ramos de estudo
na biogeografia, biogeografia ecolgica e histrica. Observando que ambientes com
caractersticas diferentes situados em uma mesma regio apresentam composies de
espcies animais muito distintas, assim como ambientes similares situados em diferentes
regies do planeta, identificou dois fatores determinantes da composio de uma
comunidade: os fatores ecolgicos e histricos, respectivamente. Essas linhas de estudos
de biogeografia so ainda reconhecidas. Teorias, hipteses e modelos tm sido
postulados em cada um dos campos de estudo, mas, desafortunadamente, com pouca
interao entre eles, apesar da bvia complementaridade (Crisci et al. 2003). Apresenta-
se, aqui, em funo da natureza da presente tese, principalmente as questes relativas
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ao campo da biogeografia histrica, sem que se perca de vista a importncia das
informaes pertinentes biogeografia ecolgica para a compreenso do problema
estudado.
A partir do final do sculo XIV com a aceitao da Teoria da Evoluo de Darwin e
Wallace inicia-se um novo perodo da biogeografia onde os padres de distribuio das
espcies passa a ser interpretado luz da evoluo (Briggs e Humphries 2004). Dentre
as figuras proeminentes do final sculo XIX, que mais contriburam para o avano da
biogeografia e da biologia evolutiva, destacam-se Charles Darwin, Joseph Dalton Hooker,
Philip Lutley Sclater e Alfred Russel Wallace. Dentre esses, Darwin e Wallace criaram as
bases do entendimento sobre a evoluo das espcies, as modificaes nas adaptaes e
distribuies dos organismos ao longo do tempo e do espao. No campo da biogeografia
Wallace merece destaque entre todos, e por isso considerado o pai dessa rea, por ter
desenvolvido muitos dos seus conceitos e princpios bsicos. Apesar de muitos dos
conceitos enunciados por Wallace terem sido introduzidos por seus antecessores, Wallace
transformou, documentou e interpretou-os a partir de uma perspectiva evolutiva (Brown
e Lomolino 1998). Uma de suas importantes contribuies se deu com a sistematizao
de um grande volume de informaes e a descrio e proposio das grandes regies
biogeogrficas do globo: Australiana, Oriental, Etipica, Palertica, Nertica e Neotropical
(Wallace 1876).
At meados do sculo XX, grandes avanos foram conquistados, como por exemplo, na
paleontologia, tendo extraordinrios efeitos sobre as pesquisas em biogeografia. Ainda
no incio do sculo XX, pesquisadores comearam a estudar os padres de variao
intraespecficos, explorando e revelando as relaes entre a variao geogrfica e
ecolgica dos ambientes e os padres de variao morfolgica. Subseqentemente, as
variaes gentica e fisiolgica comearam a ser descritas. No incio dos anos 40,
bilogos evolutivos comearam a investigar padres de variao geogrfica e a inferir os
mecanismos responsveis pela origem de novas espcies. Um grande nmero de
cientistas contribuiu para o nosso entendimento dos modelos de especiao. Ernest Mayr
foi, entre eles, o que mais contribuio deu nos campos de sistemtica, evoluo e
biogeografia histrica (Mayr 1942, 1963, 1977, entre outros). Os estudos de Mayr sobre
os padres de distribuio geogrfica das espcies e os mecanismos evolutivos
associados, agora conhecidos como especiao aloptrida capacitou uma importante
nova sntese na biologia evolutiva e na biogeografia. Dois outros nomes se destacam
neste perodo Philip J. Darlington e George Gaylord Simpson.
Este perodo da biogeografia compreendido entre o final do sculo XIX e meados do
sculo XX, que mais tarde convencionou-se a chamar de BIOGEOGRAFIA EVOLUTIVA, foi
marcado pela idia de que os padres atuais de distribuio das espcies seriam produto
exclusivamente do processo de disperso a partir de centros de origem (ex. Darlington
1965), dada a natureza fixa da geografia.
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Nesse mesmo perodo, muitas pesquisas contriburam de forma decisiva para uma
importante revitalizao da biogeografia, entre os quais destacam-se, no que diz respeito
biogeografia histrica: a aceitao da tectnica de placas (Wegener 1966) e o
desenvolvimento de novos mtodos filogenticos (Hennig 1966), dando origem a outras
fases da biogeografia histrica.
Durante a segunda metade do sculo XX assistiu-se tambm a um enorme avano dos
mtodos de anlise, o que deu significativo impulso pesquisa biogeogrfica, em seus
diversos nveis de abordagem. O entomollogo alemo Willi Hennig, em 1950, prope um
mtodo de classificao de txons em grupos discretos hierarquicamente organizados,
implementando os conceitos de Darwin de ancestralidade e descendncia. Estes
mtodos que vieram a ser amplamente difundidos em 1965 e 1966 receberam a
denominao de sistemtica filogentica e, posteriormente, cladstica. Sua idia sobre a
delimitao de grupos monofilticos (grupos que contm todos os descendentes de um
ancestral comum) usando apenas caracteres derivados (apomorfias) teve um profundo
efeito na sistemtica e histria biogeogrfica (Funk 2004).
Hennig (1966) props o primeiro mtodo combinando a filogenia de um grupo
monofiltico com a distribuio dos grupos terminais. A partir da associao dessas
informaes seria, ento, possvel determinar a origem e direo da disperso ao longo
da evoluo do grupo. Essa escola da biogeografia, que ficou conhecida como
BIOGEOGRAFIA FILOGENTICA, ainda baseava suas interpretaes nos conceitos de
centro de origem e disperso. Entretanto, diferente da Biogeografia Evolutiva, baseava-
se em um mtodo rigoroso para a construo dos cenrios biogeogrficos. Embora o
mtodo tenha sido inicialmente proposto por Hennig, foi Lars Brundin quem o
desenvolveu e difundiu.
De modo independente, Leon Croizat desenvolveu um mtodo baseado na descrio
exaustiva de padres de distribuio, denominado PANBIOGEOGRAFIA (Croizat 1958).
Seu mtodo baseava-se no mapeamento da distribuio de espcies de um dado grupo
(gnero ou famlia, por exemplo) e na conexo por uma linha dessas distribuies,
formando um track. A coincidncia geogrfica entre tracks daria origem a um track geral
e a partir da anlise das reas conectadas por estes tracks gerais poderia ser obtida uma
estimativa da distribuio da biota ancestral (Nelson 1973). Croizat acreditava que a
geografia e a vida evoluram juntas (Funk 2004). Diferentemente, das escolas da
Biogeografia Evolutiva e Filogentica, Croizat no atribua exclusivamente ao processo de
disperso a origem dos padres aturais de distribuio das espcies.
Em colaborao com Gareth Nelson, e Don Rosen, Croizat apresentou uma nova verso
do mtodo panbiogeogrfico onde o conceito de monofilia foi incorporado como critrio
para a seleo dos grupos estudados (Croizat et al. 1974), dando elementos para o incio
de uma nova fase da biogeografia, a BIOGEOGRAFIA CLADSTICA.
Combinando o mtodo de Croizat com o de Hennig e Brundin, sob a filosofia de
refutabilidade de Karl Popper, Nelson (1974) rompeu com a prtica biogeogrfica
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baseada na disperso e desenvolveu um novo mtodo para a biogeografia histrica, que
veio a ser conhecida como Biogeografia de Vicarincia (ou Biogeografia Cladstica), que
Platnick e Nelson (1978) detalharam. De acordo com Platnick e Nelson (1978) apenas
hipteses vicariantes poderiam ser testadas. Disperso, por no poder ser testada, no
poderia ser evocada como explicao de origem de padres. A Biogeografia Cladstica
difere do mtodo de Hennig e Brundin pois requer a repetio de padres conforme
Corizat, e, por outro lado, difere da Panbiogeografia por requerer filogenias e grupos
monofilticos (Funk 2004).
Enquanto os mtodos filogenticos eram desenvolvidos, outra revoluo estava a
caminho, na biologia molecular. Linn e Arber (1968) e Meselson e Yuan (1968)
revolucionaram a nascente Biologia Molecular com a descoberta das enzimas de restrio
que comearam a mostrar-se de extrema utilidade nos laboratrios de gentica,
especialmente para a produo de um tipo especfico de marcador de DNA, o RFLP (Arias
e Infante-Malachias 2001), e, posteriormente com o desenvolvimento da tcnica da
reao em cadeia da polimerase (PCR), por Kary Mullis em 1985, passou a ser possvel
encontrar e amplificar fragmentos especficos de DNA (Griffiths et al. 1999). Tais avanos
alimentaram a biologia comparada, nutrindo-a com acesso a novos acervos de caracteres
e novos mtodos capazes de interpret-los em uma perspectiva evolutiva.
Paralelamente, aumentava-se significativamente, o conhecimento acerca do genoma
nuclear e mitocondrial. Vrias descobertas a respeito do DNA mitocondrial (DNA mt)
fizeram dele alvo da grande maioria dos estudos de sistemtica molecular em
vertebrados. Vrios fatores contribuem para o interesse dedicado ao DNA mt, dentre eles
destacamos: a) facilidade relativa com que pode ser purificado e manipulado (Quinn
1997), b) o modo de herana materna (Lansman et al 1983), c) a ausncia (ou rara) de
recombinao (Clayton 1982; Ballard e Whitclock 2004), e d) a existncia de diferentes
taxas evolutivas entre suas regies (Avise 1994). Essa ltima caracterstica (existncia
de seqncias com diferentes taxas de evoluo) tornou o uso do DNA mt bastante
popular, pois passou a ser possvel investigar divergncias entre grupos em diferentes
nveis taxonmicos, desde nveis mais inclusivos como famlias at nveis intraespecficos.
A evoluo do conhecimento nessas diversas reas criou condies para um aumento
exponencial dos trabalhos de sistemtica baseados em comparaes diretas entre
seqncias de DNA, desdobrando-se em novos mtodos (Felsenstein 2004) e, inclusive,
peridicos especializados no assunto. Essas ferramentas tm influenciado
significativamente os diversos campos da biogeografia histrica (Crisci et al. 2003).
Por outro lado, a forma de enxergar e analisar os fenmenos genticos que ocorrem ao
nvel populacional, sob a influncia dos novos conhecimentos, passou por grande
modificao, principalmente nas duas ltimas dcadas (Fernandes-Matioli 2001). Apenas
a partir da dcada de 70 vislumbra-se a possibilidade de se desenvolver estudos de
genealogias de genes nas populaes. Avise et al. (1987) introduzem o conceito de
FILOGEOGRAFIA o qual define como o campo de estudo relativo aos princpios e
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processos que governam a distribuio geogrfica de linhagens genealgicas,
especialmente aquelas intraespecficas ou entre espcies prximas, aumentado de modo
significativo o instrumental da biogeografia histrica (Avise 2000).
1.2 BIOGEOGRAFIA DA REGIO NEOTROPICAL
A regio neotropical tem sido objeto de interesse desde os primrdios da biogeografia.
Em um primeiro momento como uma unidade que se diferenciava das demais regies do
globo e, posteriormente com o acmulo de informaes, como uma regio complexa e
extremamente diversa, a ser compreendida internamente. Foram percorridas diferentes
escalas de aproximao geogrfica, assim como diversos nveis taxonmicos, repetindo-
se os mesmos caminhos de construo do conhecimento biogeogrfico, ou seja: 1)
identificando padres, 2) buscando-se compreender os processos que os geraram, e 3)
buscando-se identificar os processos que os mantm.
A regio neotropical caracteriza-se por um mosaico formado por extensas reas de
florestas separadas por formaes abertas. A partir da anlise dos padres de
distribuio das espcies de aves na Amrica do Sul, Cracraft (1985) prope 33 reas de
endemismo. Tal proposta tem sido objeto de novas interpretaes e vrios outros
trabalhos vm buscando compreender a origem desses padres e a relaes histricas
entre essas reas.
Inmeras hipteses biogeogrficas, no excludentes, foram propostas na tentativa de
explicar os padres geogrficos nos quais se organiza a diversidade biolgica na regio
neotropical. Dentre elas destacamos: a) Hiptese dos Refgios (Haffer 1969, Vanzolini e
Williams 1970); b) Hiptese dos Rios (Wallace 1852, Sick 1967, Ayres e Clutton-Brock
1992); c) Hiptese de Gradientes Ecolgicos (Endler 1977, Smith et al. 1997); e d)
Hiptese distrbio-vicarincia (Colinvaux 1998); Hiptese dos Museus (Fjelds, 1999);
Hipteses Paleogeogrficas (onde Haffer e Prance 2001, renem Hiptese de "Ilhas",
Nores 1999; Hiptese Rios-Refgios, Ayres e Clutton-Brock 1992; Hiptese da Laguna,
Marroig e Cerqueira 1997 e; Hiptese dos Arcos, Patton et al. 2000).
A partir do acmulo de informaes, e com a disponibilizao de novos mtodos
analticos, comearam a ser desenvolvidos trabalhos voltados anlise das hipteses
biogeogrficas a partir da descrio de suas predies, seguida do teste dessas predies
(Moritz et al. 2000), relacionadas, principalmente, distribuio geogrfica, relaes
evolutivas, tempo de divergncia e histria demogrfica das linhagens.
Dentre os ecossistemas florestais da regio Neotropical, a Floresta Amaznica tm sido
alvo da grande maioria dos estudos de diversificao. Por outro lado, apesar de a Mata
Atlntica ser o segunda maior formao florestal da regio Neotropical, at recentemente
pouca ateno tinha sido dada sua histria biogeogrfica.
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A Floresta Atlntica abrange parte dos territrios do Brasil, Paraguai e Argentina
ocupando uma rea de cerca de 1.477.500 km2. Em funo do processo de acentuada
antropizao desencadeado com a colonizao europia e intensificado nos dois ltimos
sculos, a Mata Atlntica foi reduzida a uma rea de cerca de 121.600 km2, ou seja,
8,2% de sua cobertura original. Esse bioma, entretanto, destaca-se no apenas por sua
extenso, mas tambm por sua alta diversidade e endemismo. Dentre as 22 regies
biogeogrficas definidas para o Neotrpico, a Mata Atlntica uma das que apresenta
maior nvel de endemismo, sendo registrada a ocorrncia de 682 espcies de aves, das
quais 199 so endmicas (Stotz et al. 1996). Em razo dessas caractersticas e de seu
estado de conservao, considerada um dos cinco ecossistemas de maior prioridade
para conservao do planeta (Mittermeier et al. 2000).
A Mata Atlntica uma das regies biogeogrficas mais bem definidas da Amrica do
Sul, exibe uma biota nica, produto, em parte, de uma histria evolutiva independente.
De uma perspectiva continental, pode ser considerada uma ilha (Silva et al. 2004), pois
encontra-se completamente isolada das demais regies florestais da Amrica do Sul por
formaes vegetais predominantemente abertas, ou seja, Chaco, Cerrado e Caatinga,
que formam um grande corredor denominado "diagonal de formaes abertas"
(AbSaber, 1977). Tal diagonal constitui uma barreira intransponvel para grande parte
das espcies animais tpicas de ambientes florestais (Costa 2003).
Apesar da denominao genrica de Mata Atlntica sugerir uma unidade homognea,
este bioma guarda grande heterogeneidade ao longo de sua distribuio geogrfica
podendo ser identificadas vrias sub-unidades com identidade prpria. A grande
heterogeneidade verificada ao longo da distribuio da Mata Atlntica pode ser explicada
por trs fatores fundamentais, ou seja, o seu histrico associado a grandes gradientes
latitudinal (de 5o S a 30o S) e altitudinal (do nvel do mar cerca de 1700 m).
Vrios fatores histricos e ecolgicos determinaram os padres atuais de distribuio e
de variao que as espcies animais, particularmente as aves, exibem ao longo da Mata
Atlntica. Esses padres sugerem uma histria biogeogrfica bastante complexa, que
envolve fluxos pretritos entre esta e outras regies florestais do Neotrpico e processos
de diferenciao ao longo da mesma. Dentre as aves tpicas de ambientes florestais
registradas para a Mata Atlntica podemos identificar trs grupos: os que apresentam
ampla distribuio por florestas tropicais midas da Amrica do Sul (Haffer 1974, 1985,
Sick 1997, Stotz et al. 1996); os que tambm ocorrem nas florestas andinas (Haffer
1974, Sick 1985); e, ainda, aqueles grupos endmicos da Mata Atlntica.
Apesar de a Mata Atlntica encontrar-se isolada das demais formaes florestais sul-
americanas, inmeras evidncias vm mostrando que, em diversos momentos no
passado, reas atualmente ocupadas por formaes vegetais abertas como o Cerrado, ou
mesmo por vegetao adaptada a condies semi-ridas, como a Caatinga, foram
cobertas por formaes florestais (Auler e Smart 2001, Auler et al. 2004, Bigarella et al.
1975, Ledru 1993, Ledru et al. 1996, Prado e Gibbs 1993). As evidncias sugerem que a
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Amaznia e a Mata Atlntica foram possivelmente ligadas no passado, vindo a se
isolarem com o aumento da aridez no Tercirio (Bigarella et al.1975). Entretanto, vrios
estudos vm mostrando que mesmo durante o Quaternrio mudanas ambientais,
induzidas por ciclos de alteraes climticas foram capazes de promover o contato entre
estes ecossistemas. O registro palinolgico do Quaternrio indica que mudanas
climticas tiveram um impacto considervel na cobertura vegetal da regio central do
Brasil. Entre 50.000 e 40.000 anos atrs, houve uma fase intensamente rida,
substituda entre 40.000 e 27.000 anos por um perodo de grande umidade, aumentada
gradualmente durante o final do Pleistoceno (Ledru et al. 1996). Ao longo deste perodo
o Brasil Central, atualmente ocupado pelo Cerrado, era mais mido e algumas regies
cobertas por floresta pluvial (Ledru 1993).
Complementarmente, estudos desenvolvidos na regio da Caatinga vm contribuindo
para a compreenso dos cenrios paleoambientais na regio compreendida entre as
maiores formaes florestais da Amrica do Sul. Vrios registros de aspectos
geomorfolgicos e paleobiticos no semi-rido brasileiro indicam grandes mudanas
paleoambientais durante perodos de aumento da pluviosidade ao longo de grande parte
do Pleistoceno (Auler et al. 2004). Padres atuais de distribuio de espcies de plantas e
animais apontam para a existncia no passado de extensivo fluxo entre a Mata Atlntica
e o leste da Amaznia, atravs da regio atualmente ocupada pela Caatinga (Vivo 1997,
Sick 1997). Formaes conhecidas como brejos de altitude", encraves de floresta mida
em meio caatinga, somam-se s evidncias a favor da existncia de conexes passadas
entre Mata Atlntica e Amaznia, uma vez que revelam importantes disjunes florsticas
entre estes biomas (Rizzini 1963; Bigarella et al. 1975).
Em funo da sobreposio de eventos de diversificao ao longo da Mata Atlntica e das
alternncias climticas que determinaram ciclos de isolamento e contato entre este e
outros biomas florestais, temos como resultado um padro complexo de relaes
filogenticas a ser desvendado. Vanzolini (1988), Bates et al. (1998) e Costa et al.
(2000), analisando rpteis, aves e mamferos, respectivamente, destacam a existncia
de uma quebra latitudinal na distribuio de vertebrados de Mata Atlntica. Apesar de
essas anlises apontarem para uma forte relao entre grupos irmos oriundos do norte
e sul da Mata Atlntica, Costa (2003) obteve resultado significativamente diferente, ou
seja, txons encontrados no norte e no sul da Mata Atlntica, freqentemente, no so
grupos irmos, o que aparentemente ocorre em diversos grupos de aves.
Os processos de transformao da paisagem, determinados fundamentalmente pelos
ciclos de mudanas climticas, atuaram de forma decisiva, no apenas determinando o
isolamento e a conexo entre a Mata Atlntica e os demais ecossistemas florestais da
Amrica do Sul, mas tambm nos processos de diversificao ao longo desse bioma,
criando cenrios para que diversos processos ocorressem, tais como, vicarincia e
disperso (ex. Moro et al. 2004 e Behling 1997).
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Muitos autores tm investigado as relaes histricas da Mata Atlntica com os outros
ecossistemas florestais da Amrica do Sul (Cracraft e Prum 1988, Bates et. al. 1998,
Costa et al. 2000). Apesar de esses estudos apontarem para a existncia de ao menos
duas reas de endemismos na Mata Atlntica, nenhum deles efetuou uma anlise mais
consistente dos padres de distribuio ao longo da mesma. Recentemente, em um
estudo detalhado da distribuio de aves ao longo deste bioma, Silva et al. (2004),
atravs de uma anlise de parcimnia de endemismo (PAE), identificou quatro reas de
endemismo para aves, evidenciando uma complexidade at ento negligenciada. Essas
reas de endemismo so consideradas produtos de eventos vicariantes que tiveram um
importante papel na gerao da alta diversidade de organismos na Mata Atlntica. A
existncia de padres congruentes entre mltiplos txons uma poderosa evidncia a
favor de uma histria comum de resposta a eventos vicariantes (Cracraft, 1985).
1.3 OS MODELOS
Entre os grupos de vertebrados terrestres as aves representam aquele de maior
diversidade. No apenas o nmero de espcies sensivelmente maior, mas tambm a
diversidade de hbitats que ocupam, comportamento, dieta alimentar e sensitividade
fisiolgica a alteraes microclimticas. Tais caractersticas oferecem grande
oportunidade para a seleo de modelos para estudos em diversas reas, inclusive
biogeografia.
A histria dos organismos associados a um determinado ambiente est diretamente
relacionada histria deste ambiente. Quanto mais intima for a relao entre um
organismo e um determinado ambiente mais robustas so as inferncia sobre a histria
deste ambiente a partir do conhecimento de aspectos de evoluo do organismo.
A seleo dos modelos de estudo para este trabalho seguiu os seguintes critrios: a)
apresentar fortes evidncias de que monofiltico; b) reunir txons estritamente
florestais, com alta sensibilidade a alteraes ambientias; c) compreender espcies
distribudas pelas principais formaes florestais da regio Neotropical, ou seja, pelas
florestas da Amrica Central, Amaznia, Andes e Floresta Atlntica; e d) apresentar, ao
menos, uma espcie endmica da Mata Atlntica.
Seguindo esses critrios foi selecionado como modelo de estudo o gnero Sclerurus, que
composto por seis espcies: Scleururs scansor (duas subespcies), S. mexicanus (sete
subespcies); S. guatemalensis (duas subespcies); S. caudacutus (seis subespcies); S.
rufigularis (quatro subespcies) e S. albigularis (seis subespcies) (Figura 1).
Adicionalmente, para os estudos relacionados, especificamente, histria biogeogrfica
da Floresta Atlntica, foi incorporado ao estudo Automolus leucophthalmus (Figura 2),
que assim como Sclerurus scansor , florestal, apresenta baixa capacidade de disperso
por ambientes abertos e endmico deste bioma.
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As espcies do gnero Sclerurus formam um grupo bastante homogneo, apresentando
pouca variao morfolgica, ecolgica e comportamental. So aves de difcil visualizao
em campo, sendo registradas principalmente por sua vocalizao bastante conspcua ou
atravs de captura em redes de neblina. So pouco abundantes, sendo consideradas
incomuns (Stotz et al. 1996). Tpicas do sub-bosque florestal, essas aves vivem prximas
ao solo, onde capturam, entre o folhio, grande parte do alimento (Ridgely e Tudor
1994).
Esse gnero tem sido tradicionalmente associado a Automolus e Lochmias. Hellmayr
(1925) props o agrupamento de Sclerurus e Lochmias na subfamlia Sclerurinae, o que
foi posteriormente apoiado por Vaurie (1980). Sibley e Ahlquist (1985, 1990) sugerem
uma posio basal do gnero Sclerurus em relao aos furnardeos, sendo este, grupo
irmo dos dendrocolaptdeos. A hiptese filogentica proposta por Irestedt et al. (2002),
baseada em DNA nuclear e mitocondrial, aponta para uma posio de Sclerurus
significativamente diferente daquela proposta pela taxonomia tradicional. Segundo
Irestedt et al. (2002) Sclerurus e o gnero irmo Geositta, ocupam uma posio basal
em relao aos clados representados pelas subfamlias Furnariinae e Dendrocolaptinae.
Em funo da posio da linhagem formada por Sclerurus e Geositta Irestedt et al.
(2002) propem a re-adoo da subfamlia Sclerurinae e recomendam a incluso dos
furnardeos e dendrocolaptdeos em uma nica famlia composta por trs sub-famlias:
Furnariinae, Dendrocolaptinae e Sclerurinae (para opinio divergente ver Marantz et al.
2003).
Em relao Automolus leucophthalmus, os estudos realizados por Ribas et al. (in prep)
apontam para a monofilia do grupo que tem como grupo irmo a linhagem de Automolus
infuscatus que se distribui na poro leste da regio amaznica, sendo A. infuscatus um
grupo artificial (no monofiltico).
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Figura 1: Espcies do gnero Sclerurus e reas de distribuio geogrfica (ilustrao das espcies adaptadas de del Hoyo et al.2003).
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Figura 1 : Espcies do gnero Sclerurus e reas de distribuio geogrfica (ilustrao das espcies adaptadas de del Hoyo et al.2003).
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Figura 1 : Automolus leucophthalmus e respectiva reas de distribuio geogrfica (ilustrao da espcie adaptada de del Hoyo et al.2003).
1.4 OS MTODOS ANALTICOS
Neste item apresentada uma breve considerao sobre os mtodos utilizados nos
captulos seguintes para inferncias de: relaes evolutivas; tempo de divergncia;
migrao; e histria demogrfica.
1.5.1 Relaes Evolutivas
As inferncias filogenticas tm sido utilizadas como uma poderosa ferramenta para uma
ampla variedade de questes biolgicas. Existem vrios mtodos para se obter uma
rvore a partir de uma conjunto de dados. Estes mtodos podem, a princpio, ser
divididos em dois grupos: mtodos de distncia e mtodos baseados em caracteres. Os
mtodos de distncia usam como referncia uma matriz de distncia enquanto os
mtodos baseados em caracteres fazem comparaes diretas entre os estados de cada
carter analisado (cada stio no caso de sequencias de DNA).
Neste item so apresentadas informaes apenas dos mtodos probabilsticos (Mxima
Verossimilhana e Anlise Bayesiana) utilizados nas anlises dos captulos 2, 3 e 4.
A) Mxima Verossimilhana
A aplicao do mtodo de Mxima Verossimilhana (MV) para inferncias filogenticas foi
inicialmente proposta por Edwards e Cavalli-Sforza (1964) para dados de freqncia
gnica. A primeira aplicao desses mtodos para seqncias moleculares foi realizada
por Neyman (1971). Porm a utilizao do mtodo para inferncias filogenticas baseado
em uma quantidade maior de seqncias s tornou-se vivel a partir de Felsenstein
(1981).
MV um mtodo probabilstico atravs do qual uma hiptese evolutiva julgada pela
probabilidade de ter dado origem aos dados observados. Para tanto precisamos obter a
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probabilidade dos dados dada uma rvore filogentica e um modelo evolutivo (Swofford
et al. 1996, Felsenstein 2004). Considerando o modelo evolutivo, cada hiptese (rvore)
avaliada pela multiplicao das probabilidades para cada carter, ou seja, cada posio
do alinhamento de seqncias de DNA.
A fragilidade dos mtodos de inferncia filogentica ( exceo da Anlise Bayesiana)
que eles produzem estimativas pontuais da filogenia. Como resultado destas anlises
temos uma filogenia, porm no temos informaes sobre o quo robustas so essas
estimativas. Para a obteno de informaes sobre o suporte das relaes inferidas so
aplicados alguns mtodos, entre os quais o bootstrap. O mtodo de bootstrap foi
proposto por Efron (1979) para obter estimativas de erros pela re-amostragem da matriz
de dados por vrias vezes de modo a produzir uma distribuio contra a qual uma
hiptese poderia ser testada (Soltis e Soltis 2003). Para cada pseudo-rplica obtida a
topologia de maior verossimilhana. A partir do conjunto de topologias obtidas gerada
uma topologia consenso. Nesta topologia consenso representado probabilisticamente o
nmero de vezes que cada clado resgatado. Segundo Sanderson (1989) um mtodo
sistemtico de acesso robustez do conjunto de dados perturbao. Com Felsenstein
(1985b) comeou a ser utilizado para inferncias filogenticas..
Idealmente, a busca pela rvore de maior verossimilhana deveria analisar todas as
rvores possveis para uma conjunto de dados, entretanto, isto s possvel para
matrizes pequenas. O tempo computacional demandado por uma anlise de MV
grande, tornando a busca exaustiva proibitiva quando a anlise envolve matrizes de
dados maiores. Em razo disso foram desenvolvidas mtodos alternativos de busca de
rvores possibilitando que a rvore de maior verossimilhana seja encontrada sem que
todo o espao de parmetros tenah que ser conhecido (Swofford et al. 1996 e
Felsenstein 2004).
Como objetivo de reduzir o tempo computacional das anlises filogenticas baseadas no
mtodo de Mxima Verossimilhana, Guindon e Gascuel (2003) desenvolveram um
algoritmo que ajusta a topologia e o comprimento dos ramos simultaneamente. Este
algoritmo parte de uma rvore inicial estimada por um mtodo baseado em distncia e
modifica a rvore, a parir de sucessivas interaes, para aumentar sua verossimilhana.
Devido ao ajuste simultneo da topologia e do comprimento dos ramos so necessrias
poucas interaes para alcanar os valores timos de verossimilhana.
B) Anlise Bayesiana
O mtodo Bayesiano de inferncia filogentica baseia-se na probabilidade posterior, ou
seja, na probabilidade de uma determinada filogenia representar a histria evolutiva de
um determinado grupo. O teorema de Bayes utilizado para combinar a probabilidade
priori de uma rvore (probabilidade associada informaes independentes dos dados
utilizados na anlise) com a verossimilhana (probabilidade de explicar a distribuio dos
estados de carter nos txons atuais com base no modelo evolutivo), para gerar uma
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15
distribuio de probabilidades posteriores das rvores (Huelsenbeck et al. 2001, Holder e
Lewis 2003). A rvore que apresenta maior probabilidade posterior interpretada como a
que melhor estima a filogenia (Hannala e Yang 1996).
A obteno dos valores de probabilidade posterior, a princpio, envolve a anlise de todas
as possveis rvores; e para cada rvore, todas as possveis combinaes de tamanhos
de ramo e parmetros do modelo evolutivo. Tal tarefa praticamente impossvel de se
realizar analiticamente. Para tornar as estimativas de probabilidade posterior tem sido
utilizado o mtodo de amostragem de genealogias baseado na Markov chain Monte Carlo
(MCMC). O algoritmo MCMC envolve, basicamente, dois passos: 1) a partir de uma dada
rvore proposta uma nova atravs de sua perturbao estocstica (ex tamanho de
ramo); e 2) essa nova rvore aceita ou rejeitada de acordo com o teste estatstico
proposto por Metropolis et al. (1953) e Hastings (1970). Se a nova rvore aceita ela
passa a ser objeto de novas perturbaes, dando continuidade cadeia (Huelsenbeck et
al. 2001). Nota-se, que durante o processo, algumas topologias com menor
probabilidade posterior so aceitas para dar seqncia cadeia, de modo a permitir que
outras regies do espao de parmetros sejam exploradas. Pela repetio desses ciclos
por milhes de vezes criada uma longa cadeia de posies no espao dos parmetros,
tendendo a permanecer nas regies de maior probabilidade posterior. A proporo de
vezes que uma dada rvore visitada considerada uma aproximao vlida da
probabilidade posterior desta rvore, e dos parmetros dos modelo evolutivo.
(Huelsenbeck et al. 2001).
Destaca-se dos demais mtodos de inferncia filogentica por fornecer estimativas, como
resultado das anlises primrias, tanto da rvore como medidas de incerteza em relao
aos agrupamentos (Holder e Lewis 2003).
1.5.2 Migrao e Divergncia
Os mtodos existentes para estimar fluxo gnico podem ser divididos em duas classes
(Beerli & Felsenstein 1999): a) aqueles que estimam taxa de migrao atual a partir da
observao direta, utilizando-se de marcao de indivduos e registro de seus
movimentos para extrapolar estimativas de taxas de migrao entre populaes; e b)
aqueles que estimam taxas mdias de migrao ao longo de um intervalo de tempo a
partir da amostragem de marcadores genticos e do clculo da taxa de migrao a partir
das freqncias allicas ou das diferenas entre seqncias. Os mtodos genticos
tendem a resultar em estimativas mais conservadoras do que aquelas produzidas atravs
de deslocamento de indivduos, pois baseiam-se, exclusivamente, naquelas mudanas
que se estabeleceram na populao.
Existem vrios mtodos genticos utilizados para se estimar fluxo gnico: mtodos
estatsticos sumrios, como o Fst (originalmente proposto por Wright 1951); baseados
em alelos raros (Slatkin 1985); baseados em mxima verossimilhana, utilizando-se de
freqncia gnica (Rannala & Hartigan 1996, Tufto et al 1996); e outros baseados em
-
16
teoria de coalescncia (Kingman 1982, Slatkin & Maddison 1989, Nath & Griffiths 1993,
Beerli & Felsenstein 1999, Bahlo & Griffiths 2000).
Medidas de subdiviso populacional, como o Fst, so utilizadas para obter estimativas de
taxa de migrao (Niegel 2002). Os modelos de estruturao populacional, entretanto,
assumem pressupostos extremos, ou seja: que as populaes vm trocando migrantes a
uma taxa constante, por um tempo infinitamente longo; ou que as populaes so
descendentes de uma populao ancestral comum em algum tempo no passado, a partir
do qual divergiram na ausncia de fluxo gnico (isolamento sem fluxo gnico). Quando
assume-se o equilbrio de migrao possvel obter a partir do Fst, estimativas de taxa
de migrao. Por outro lado, quando assume-se o isolamento sem fluxo gnico,
possvel transformar uma estimativa de Fst em uma estimativa de tempo de divergncia.
Entretanto, diferentes interaes entre migrao e divergncia podem produzir padres
de diversidade gentica similares, o que torna o uso de estatsticas sumrias, como o Fst,
ineficientes para distinguir entre histrias demogrficas mais complexas (Hey & Nielsen
2004).
A estimativa de fluxo gnico pode, portanto, ser consideravelmente influnciada pela
divergncia entre as populaes estudadas. Os mtodos citados, entretanto, no so
capazes de detectar essa influncia o que torna, muitas vezes, impraticvel a distino
entre cenrios demogrficos muito diferentes como, por exemplo, um cenrio de alta
taxa de migrao associada a uma divergncia profunda de outro de baixa taxa de
migrao associada a uma divergncia recente (Palsbll et al 2004). Com o objetivo de
resolver problemas como este, Nielsen & Wakeley (2001) propem um mtodo a partir
do qual possvel obter simultaneamente estimativas de migrao e de tempo de
divergncia, diminuindo o rudo de um na estimativa do outro.
Para obter estimativas dos efeitos relativos de migrao e isolamento em pares de
populaes, a partir de seqncias de DNA, Nielsen & Wakeley (2001) desenvolveram um
mtodo baseado em Markov chain Monte Carlo. Torna-se possvel obter uma superfcie
de verossimilhana combinando estimativas de migrao e de tempo de divergncia onde
so identificadas as regies em que a relao entre estimativas desses dois parmetros
maximiza a probabilidade de explicarem os dados.
1.5.3 Demografia Histrica
Os mtodos para investigar a histria demogrfica podem ser divididos em trs grupos
principais, ou seja, aqueles baseados: a) em estatstica sumria (ver Ramos-Onsins &
Rozas 2002); b) na distribuio de diferenas par-a-par (mismatch distribution -
Slatkin & Hudson 1991, Rogers & Harpending 1992 e Rogers 1995) e, finalmente; c) em
amostragem de genealogias (Griffiths & Tavar 1994 e Kuhner et al 1998).
Existem inmeros testes estatsticos sumrios para cenrios de expanso populacional.
Ramos-Onsins & Rozas (2002) avaliam a performance de 17 testes potencialmente
-
17
aplicveis para identificar esses cenrios demogrficos. Neste trabalho os autores testam
o poder de cada um dos mtodos em diferentes situaes de taxa expanso populacional,
tempo desde o incio da expanso, tamanho amostral e nmero de stios segregantes.
Entre os mtodos testados, o Fs de Fu (1997) e o R2 de Ramos-Onsins & Rozas (2002),
foram aqueles que mostraram os melhores resultados, em todos os diferentes cenrios
testados. Entretanto, temos que considerar que os diferentes mtodos, mesmo o Fs e o
R2, tm seu poder significativamente reduzido quando aumentado o tempo desde o
incio da expanso, reduzido o grau de expanso, reduzido o tamanho amostral, ou,
ainda, reduzido o nmero de stios segregantes. O Fs baseia-se nas informaes da
distribuio de hapltipos, enquanto o R2 foi desenvolvido com base na diferena entre o
nmero de singletos e o nmero mdio de diferenas de nucleotdeos. A performance dos
dois testes difere, fundamentalmente, em funo do tamanho da amostra. O R2 responde
relativamente melhor para amostras de tamanho pequeno, enquanto que o Fs tem um
desempenho melhor para grandes amostras.
O mtodo baseado em distribuies mismatch de nucleotdeos (Slatkin & Hudson 1991,
Rogers & Harpending 1992), parte do pressuposto de que a expanso ou declnio o
tamanho populacional deixam assinaturas caractersticas na distribuio de diferenas
par-a-par. Com a expanso populacional tende-se a acumular um nmero mdio de
diferenas par-a-par maior do que o esperado em uma situao de estabilidade no
tamanho populacional, o que leva produo de filogenias com formato de estrela, onde
os eventos de coalescncia acumulam-se na base da rvore (Slatkin & Hudson 1991).
Este mtodo, pode ser utilizado com o objetivo de testar o modelo de expanso explosiva
formulado por Rogers (1995). De acordo com este modelo, populaes que apresentam
uma distribuio unimodal de diferenas par-a-par de nucleotdeos, com uma varincia,
relativamente, pequena, experimentaram uma fase de expanso demogrfica recente,
enquanto populaes com alta varincia associada, muitas vezes exibindo distribuies
multimodais, so demograficamente estveis, tendo atingido h muito tempo um
equilbrio entre deriva gentica e mutao (Rogers & Harpending 1992). Embora os
princpios deste mtodo fundamentem-se na teroria de coalescncia, informaes
genealgicas no so consideradas em sua aplicao, o que leva alguns autores a julg-
lo menos eficiente dada a sub-utilizao das informaes disponveis nos dados
(Felsenstein 2004).
Outro grupo de mtodos voltados estimativas de expanso populacional foram
desenvolvidos, baseados na amostragem de genealogias (Griffiths & Tavar 1994 e
Kuhner et al 1998). O objetivo comum desses mtodos calcular a curva de
verossimilhana onde os valores de tamanho populacional e taxa de crescimento, que
maximizam a probabilidade de terem dado origem aos dados, podem ser obtidos. Para a
obteno da curva de verossimilhana necessrio utilizar estratgias de amostragem
uma vez que o universo de genealogias possveis infinitamente grande. A amostragem,
entretanto, deve ser baseada na importncia das genealogias, ou seja, deve concentra-
-
18
se nas regies de genealogias que mais contribuem para os eventuais valores de
verossimilhana. Esses dois mtodos, apresentados por Griffiths & Tavar (1994) e
Kuhner et al (1998), entretanto, diferem significativamente na forma em que propem a
amostragem de genealogias.
O mtodo de Griffiths & Tavar (1994) utiliza-se da topologia e da histria mutacional
para a amostragem das genealogias. Considerando que existe um vasto nmero de
possveis histrias mutacionais e que um grande nmero delas no contribui para os
valores de verossimilhana, desenvolveram um mtodo para concentrar a amostragem
nas histrias mutacionais de interesse. Utilizam a probabilidade de ocorrncia de eventos
mutacionais, em diferentes topologias, a cada intervalo entre eventos de coalescncia,
concentrando a amostragem proporcionalmente s probabilidades dessas genealogias em
relao aos dados.
Kuhner et al (1998) propem um mtodo para estimar a mxima verossimilhana da
taxa de crescimento populacional, tambm baseado na teoria de coalescncia. Se o
tamanho da populao muda ao longo do tempo, a distribuio dos tempos de
coalescncia ser diferente daquela esperada para uma populao de tamanho
constante. Se a populao passou por um crescimento, ento, os ramos prximos base
da genealogia sero relativamente mais curtos do que aqueles ramos mais prximos dos
terminais Kuhner et al (1998). O mtodo proposto baseia-se na amostragem de
genealogias em funo da topologia e dos tempos de coalescncia. A partir dos dados
proposta uma genealogia inicial. Essa genealogia inicial sofre rearranjos locais e a cada
novo arranjo calculada probabilidade da nova genealogia em funo dos valores iniciais
de , ou seja, o 0 (quatro vezes o tamanho populcaional N, multiplicado pela taxa
mutacional ) e da taxa de crescimento g0. Essas novas genealogias so, ento, aceitas
ou rejeitadas, baseada na probabilidade de terem produzido os dados observados. Esse
processo repetido, criando-se uma cadeia de Markov, de modo a produzir a curva de
verossimilhana para valores de e de g. Considerando que quanto mais prximo 0 do
real mais poderosa a estimativa, torna-se til repetir vrias vezes o processo
utilizando-se como novo valor de 0 e de g0 os valores estimados de e g na etapa
anterior e, assim, sucessivamente. No mtodo proposto por Kuhner (2006) podem ser
considerados no modelo outros parmetros como migrao e recombinao.
Apesar de serem considerados mtodos mais robustos de inferncia de expanso
populacional, pois maximizam o uso das informaes contidas nos dados, h diferenas
entre os mtodos propostos Griffiths & Tavar (1994) e Kuhner, et al (1998) que
compartilham do mesmo objetivo e lgica matemtica (Falsenstein 2004). O mtodo de
Griffiths & Tavar (1994) muito mais prtico de ser empregado demandando um tempo
significativamente menor, entretanto, segundo Kuhner et al (1998) e Felsenstein (2004),
em funo deste mtodo no fazer a amostragem baseada na distribuio de
probabilidade posterior, gasta muito tempo com genealogias ruins, que pouco
contribuem para a estimativa dos parmetros de interesse.
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19
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26
Captulo 2
_____________________________________________
Filogenia do Gnero Sclerurus (Scleruridae: Aves): implicaes
para a Biogeografia Histrica das Florestas Neotropicais
Trabalho realizado em colaborao com Robb Brumfield e Andres Cuervo
-
27
2.1 INTRODUO
Entre todas as regies biogeogrficas do planeta a Neotropical a mais diversa para
todos os grupos de vertebrados terrestres, em particular para as aves. Das cerca de nove
mil espcies de aves descritas, mais de 3.700 ocorre no neotrpico, sendo cerca de 45%
endmicas desta regio (Stotz et al. 1996). A imensa diversidade biolgica e
endemismos observados para esta regio encontram-se associados, principalmente, s
formaes florestais como aquelas que cobrem parte da Amrica Central, a regio
Amaznica e costa atlntica. Entender a origem e a manuteno desses altos nveis de
diversidade e endemismo tem sido o grande desafio para bilogos evolutivos,
biogegrafos e conservacionistas.
A partir do acmulo de informaes sobre a distribuio animal passaram a ser evidentes
padres biogeogrficos, ou seja, a forma com que os organismos se distribuem no
espao. Wallace (1853), por exemplo, reconheceu trs regies zoogeogrficas para a
Amaznia. A primeira delimitada pela costa atlntica ao norte do Rio Amazonas at a
margem esquerda do Rio Negro. A segunda compreendendo toda a regio do Alto
Amazonas, a partir da margem direita do Rio Negro at a margem esquerda do Rio
Madeira. E, finalmente, a terceira reunindo toda a poro amaznica meridional a leste
do Rio Madeira. Diviso ainda vlida, principalmente para primatas (Rylands 1987).
Revises zoogeogrficas tm sido apresentadas para diferentes escalas geogrficas.
Stotz et al. (1996) por sua vez, baseado em padres de distribuio de aves identificou
22 regies zoogeogrficas para a Regio Neotropical, com vrias sub-regies associadas.
A identificao de padres biogeogrficos impulsionou a proposio de hipteses
dedicadas a explicar suas origens. Embora haja uma srie de hipteses biogeogrficas
para explicar a origem da expressiva diversidade biolgica da regio neotropical
(Hiptese dos Rios - Wallace 1852, Sick 1967, Ayres e Clutton-Brock 1992; Hiptese de
Gradientes Ecolgicos - Endler 1977, Smith et al. 1997; Hiptese distrbio-vicarincia -
Colinvaux 1998; Hiptese dos Museus - Fjelds, 1999, Hipteses Paleogeogrficas - onde
Haffer e Prance 2001, renem Hiptese de "Ilhas", Nores 1999; Hiptese Rios-Refgios,
Ayres e Clutton-Brock 1992; Hiptese da Laguna, Marroig e Cerqueira 1997 e; Hiptese
dos Arcos, Patton et al. 2000), a Hiptese dos Refgios (Haffer 1969 e Vanzolini e
Williams 1970) tem o mrito de ter sido pioneira em propor que essa diversidade
biolgica no seria resultado da estabilidade, mas sim da instabilidade, ou seja, das
grandes mudanas peridicas na vegetao predominante dessa regio.
Um conjunto crescente de estudos destinados a compreender os padres biogeogrficos
e suas origens vem sendo produzido, particularmente na ltima dcada (Bates et al.
1999, Marks et al. 2002, Aleixo 2004, Pereira e Baker 2004, Ribas e Myiaki 2004, Lovette
2004, Eberhard e Bermingham 2005, Ribas et al. 2005, Armenta et al. 2005,
Weckenstein 2005, Grau et al. 2005, Cheviron et al. 2005, Aleixo et al. 2006, Ribas et al.
2007). Esses estudos evidenciam as profundas diferenas nos padres biogeogrficos
-
28
resultantes da interao entre diferentes organismos com uma mesma histria de
evoluo das paisagens. Alm de fatores estocsticos, inmeros fatores, intrnsecos s
espcies, so determinantes dessas diferenas, entre os quais a capacidade de disperso,
o grau de dependncia de ambientes florestais e as caractersticas fisiolgicas.
No presente estudo de biogeografia histrica selecionamos como modelo as seis espcies
que compem o gnero Sclerurus, S. albigularis Sclater e Salvin 1898, S. s, cansor
(Mntris 1835), S. caudacutus (Vieillot 1816), S. guatemalensis (Hartlaub 1844), S.
rufigularis Pelzeln 1869, e S. mexicanus Sclater 1856. A escolha dessas aves para este
estudo foi feita por serem essencialmente florestais, sensveis a alteraes ambientais,
exibirem baixa capacidade de disperso e por serem ecologicamente muito similares.
O presente captulo tem por objetivos testar: 1) a monofilia das espcies do gnero
Sclerurus; 2) a hiptese de que os txons subespecficos representam linhagens
evolutivas; 3) a congruncia entre a distribuio das linhagens filogeogrficas
identificadas para as diferentes espcies e destas com as reas de endemismo descritas
para a regio neotropical; 4) a congruncia de relaes entre reas de distribuio das
linhages filogeogrficas; e 5) as principais hipteses biogeogrficas propostas para
explicar a origem dos padres de diversidade biolgica na regio Neotropical.
2.2 MATERIAL E MTODOS
Amostragem
O gnero Sclerurus composto por um total de seis espcies: S. scansor (duas
subespcies), S. albigularis (seis subespcies), S. caudacutus (seis subespcies), S.
guatemalensis (duas subespcies), S. mexicanus (sete subespcies) e S. rufigularis
(quatro subespcies). As distribuies geogrficas das espcies so apresentadas nos
resultados. Para a realizao deste estudo foram analisadas 102 amostras representando
23 dos 28 txons descritos para o gnero Sclerurus (Tabela 1). Foram utilizadas
amostras existentes no Laboratrio de Gentica e Evoluo de Aves da Universidade de
So Paulo (LGEMA-USP), Museu Paraense Emlio Goeldi (MPEG), Instituto de Pesquisas
Amaznicas (INPA), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Field Museum of
Natural History (FMNH), American Museum of Natual History (AMNH), Academy of
Natural Sciences of Philadelphia (ANSP), US National Museum of Natural History (USNM);
e Louisiana State University Museum of Zoology (LSUMZ). Assim como foram realizadas
coletas em campo.
Como grupo externo para as anlises filogenticas foram utilizadas amostras de Geositta
(G. poeliloptera e G. tenuirostris), gnero irmo de Sclerurus (Fjelds et al. 2005).
Adicionalmente foram includas na anlise sequencias de Sittasomus griseicapillus e
Lepidocolaptes angustirostris obtidas no Genbank (L. angustirostris - ND2 AY089838;
-
29
ND3 AY089881; citb AY089811 / S. griseicapillus ND2 AY089834; ND3 AY089894; citb
AY089796).
Foram utilizados como marcadores trs genes mitocondriais: citocromo b (cit b), NADH
desidrogenase subunidade 2 (ND2) e NADH desidrogenase subunidade 3 (ND3); e um
nuclear: ntron 7 do fibrinognio (Fib7), totalizando 2408 pb de genes mitocondriais
(1022 do cit b; 1041 do ND2; e 345 do ND3) e 914 pb do Fib7.
-
30
Tabela 1: Amostras de espcies do gnero Sclerurus analisadas, nmero de amostra por espcie entre parnteses, instituies onde se encontram depositadas, nmero de registro, localidade de coleta e marcadores seqenciados.
Espcie Instituio No. Localidade Pas Marcadores
Sclerurus LGEMA 93 Aripuan, MT Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
albigularis LGEMA 970466 Gacha do Norte, MT Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
(12) MPEG 58881 ESEC Rio Acre, AC Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
FMNH 389834 Cachoeira Nazar, RO Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 38492 Chuchial, ca. 37 km SE Samaipata Bolvia ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 21203 Cordilheira a leste da confluncia dos Rios Tavaro-Guacamayo Peru ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 18322,18400 Velasco, PN Noel Kempf Mercado Bolvia ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 1974 Puellas, km 44 da estrada Villa Rica - Pto Bermudez Peru ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 5412 20 km de estrada a NE Tarapoto em dirao Yurimagu Peru ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 27738 ca. 77 km WNW Contamana Peru ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 40608 ca. 86 km SE Suanjui na margem leste do alto rio Pauya Peru ND2, ND3, citb, FIB7
Sclerurus FMNH 395418 Boraceia, SP Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
scansor LGEMA 2178 Colonia Cerrito, Arroio do Padre/Pelotas, RS Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
(13) LGEMA 2188 Rancho Queimado, SC Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
LGEMA A093 Urtigueira, PR Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
LGEMA 01 PE Vila Velha, PR Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
LGEMA 10460 Itatira, Serra do Machado, CE Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
LGEMA 926 Morro Grande, SP Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
LGEMA 162 Stio Sinimbu, Mulungu, Serra de Baturit, CE Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
LGEMA 1138 Juquitiba, SP Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
LGEMA 1577 Nucleo Curucutu, PE Serra do Mar, SP Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
LGEMA 38 EE Banana, SP Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
LGEMA 821 Morro Grande SP Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 25912 Cord. Caaguazu, 7.5 km leste de San Carlos Paraguai ND2, ND3, citb, FIB7
Sclerurus ANSP 2659 5 km SO de Taisha Equador ND2, ND3, citb
caudacutus MPEG 57610 Manicore, Rod Estanho km 126, AM Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
(24) MPEG 55401 Altamira, Ilha da Taboca, Rio Xingu, PA Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
MPEG 55661 Vitoria do Xingu, Marg Esquerda, Rio Xingu, PA Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
MPEG 20360 Igarape Mutum, Juruti, PA Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
FMNH 398007 Quebrada Aguas Calientes, 2.75 km a leste de Shintuya, Alto Madre de Dios Peru ND3, citb
FMNH 389835, 389836 Cachoeira Nazare, margem oeste do Rio Jiparana, RO Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
INPA A 189 ca 20 km N Abun, margem esquerda do Rio Madeira Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
FMNH 391349 Serra dos Carajas, PA Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
-
31
Tabela 1: Continuao.
Espcie Instituio No. Localidade Pas Marcadores
Sclerurus INPA A 210 RDS Aman, Comunidade Nova Cana Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
caudacutus INPA A 344 ca 45 km sudoeste de Porto Velho, margem esquerda do Rio Madeira Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
(24) INPA A 351 45 km sudoeste de Porto Velho, Margem esquerda do Rio Madeira Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
INPA A 539 Igarap Extremo, 135 km S Novo Aripuan , m. dir. Rio Aripuan, Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 4653 Rio Amazonas, ca 10 km SSW da foz do Rio Napo Peru ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 4744 Sul do Rio Amazonas, ca. 10 km SSW da foz do Rio Napo na margem leste Quebrada Vainilla Peru ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 7101 5 km N Amazonas, 85 km a nordeste de Iquitos Peru ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 10601 Margem oeste do Rio Shesha, ca. 65 km ENE Pucallpa, 300m Peru ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 11249 Encosta sudeste do Cerro Tahuayo, Pucallpa Peru ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 40207 ca. 86 km sudeste de Suanjui na margem leste do alto rio Pauya Peru ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 9654 Nicols Suarez, ca. 12 km pela estrada a sul de Cobija, ca. 8 km a oeste pela estrada de Mueden Bolvia ND2, ND3, citb, FIB7
LGEMA EE Mojica Nava, RO Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
USNM B11751 10 km SSE Gunns Landing Guiana ND2, ND3, citb, FIB7
USNM B06945 Altamira, 52 km SSW, margem leste do Rio Xingu Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
Sclerurus LSUMZ 26538 Altamira, 52 km SSW, margem leste do Rio Xingu Panam ND2, ND3, citb, FIB7
guatemalensis LSUMZ 1393 ca. 9 km NW Cana na encosta do Cerro Pirr Panam ND2, ND3, citb, FIB7
(7) LSUMZ 46563 Rancho Frio, ca. 10 km ao sul de El Real Panam ND2, ND3, citb, FIB7
USNM B00309 Isla San Cristobal, Bocatorito Panam ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 8771 Forestry Camp (Salamanca) Belize ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 18076 - Mxico ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 60659 - - ND2, ND3, citb, FIB7
Sclerurus MPEG A8398 Ourilandia do Norte, PA Brasil ND2, ND3, citb
mexicanus MPEG 55654 Senador Jose Porfirio, Marg Direita, Rio Xingu, PA Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
(22) MPEG 58883 ESEC Rio Acre, AC Brasil ND2, ND3, citb
FMNH 321714 Tono Peru ND2, ND3, citb, FIB7
FMNH 433369 Consuelo, 15.9 km sudoeste de Pilcopata Peru ND2, ND3, citb, FIB7
INPA A 339 ca 45 km sudoeste de Porto Velho, margem esquerda do Rio Madeira Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 20395 Manaus, km 34 ZF-3, Faz. Esteio Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
BARR 10648 - Guatemala ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 11813 El Placer Equador ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 12146 Mindo Equador ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 5452 20 km pela estrada a nordeste de Tarapoto na estrada para Yurimagu Peru ND2, ND3, citb, FIB7
-
32
Tabela 1: Continuao.
Espcie Instituio No. Localidade Pas Marcadores
Sclerurus LSUMZ 6765 27 km pela estrada a norte de Rio Quiquibey Bolvia ND2, ND3, citb, FIB7
mexicanus LSUMZ 6980 5 km ao norte do Amazonas, 85 km nordeste de Iquitos Peru ND2, ND3, citb, FIB7
(22) LSUMZ 9565 Nicolas Suarez, 12 km pela estrada ao sul de Cobija Bolvia ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 28035 ca 77 km WNW Contamana Peru ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 36721 Reserva Biologica Rio Ouro Preto Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 35770 11 km SW Pejibaye Costa Rica ND2, ND3, citb, FIB7
USNM B05363 Los Planes Panam ND2, ND3, citb, FIB7
USNM B05155 Rio Waruma Guiana ND2, ND3, citb, FIB7
AMNH ROP 108 Rio Carapo; Guaiquimi Venezuela ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 58406 - - ND2, ND3, citb, FIB7
USNM 5958 - - ND2, ND3, citb, FIB7
Sclerurus LGEMA 9920 Rio Quiuini, Barcelos, AM Brasil ND2, ND3, citb
rufigularis LGEMA 494 Aripuana, MT Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
(24) ANSP 5798 14 km N Tigre Playa Equador ND2, ND3
ANSP 5603 5 km a norte de Rockstone, Margem leste do Rio Essequibo Guiana ND2, ND3, citb
MPEG 57611 Manicore, Rod Estanho km 126, AM Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
MPEG 55658 Senador Jose Porfirio, Marg Direita, Rio Xingu, PA Brasil ND2, ND3, FIB7
MPEG 20312 Igarape Mutum, Juruti, PA Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
INPA A 261 ca 20 km N Abun, margem direita do Rio Madeira Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
INPA A 720 ESEC Juami-Japur; m dir do Rio Japur; mdio Rio Juami, ca 157 km W Japur Brasil ND2, ND3,citb
LSUMZ 2738 1 km a norte do Rio Napo, 157 km pelo rio a NNE de Iquitos Peru ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 4418 Regio do baixo Rio Napo, Margem leste do Rio Yanayacu Peru ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 7122 5 km a norte Amazonas, 85 km a NE de Iquitos Peru ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 65761 Distrikt Sipaliwini, Leli Gebergte Suriname ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 4595 Sul do Rio Amazonas, ca. 10 km SSW da foz do Rio Napo na margem leste Quebrada Vainilla Peru ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 12691 Velasco, Margem oeste do Rio Paucerna, 4 km a montante Bolvia ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 14896 Serrania de Huanchaca, 25 km a SE de Catarata Bolvia ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 42747 ca 54 km NNW da foz do rio Morona, margem oeste Peru ND2, ND3, citb, FIB7
USNM B05161 Essequibo Guiana ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 20396 Manaus, km 34 ZF-3, Faz. Esteio Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ B10830 Montanhas Acari, lado N Guiana ND2, ND3, citb, FIB7
INPA A 193 ca 20 km N Abun Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
AMNH ROP274 40 KM a leste de Tumarenco pela estrada Venezuela ND2, ND3, citb, FIB7
LSUMZ 31381 ca. 90 km leste de Vila Nova Brasil ND2, ND3, citb, FIB7
AMNH RWD17095 Rio Mawarinumo, Amazonas Venezuela ND2, ND3, citb, FIB7
-
33
Tabela 1: Continuao.
Espcie Instituio No. Localidade Pas Marcadores
Geositta USNM B13975 - - ND2, ND3, citb, FIB7
poeciloptera
Geositta USNM B103927 - - ND2, ND3, citb
tenuirostris Legenda: LGEMA - Laboratrio de Gentica e Evoluo de Aves da Universidade de So Paulo; MPEG - Museu Paraense Emlio Goeldi; INPA - Instituto de Pesquisas Amaznicas; UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais; FMNH - Field Museum of Natural History; AMNH - American Museum of Natual History; ANSP - Academy of Natural Sciences of Philadelphia; USNM - US National Museum of Natural History; e LSUMZ - Louisiana State University Museum of Zoology.
-
34
Extrao, Purificao e Sequenciamento do DNA
A extrao de DNA das amostras de tecido foi realizada utilizando-se proteinase K e
fenol-clorofrmio de acordo com o protocolo de Bruford et al. (1992). O cit b, o ND2, o
ND3 e o Fib7 foram amplificados por PCR utilizando primers (Tabela 2). As amplificaes
foram realizadas em reaes de 10 l contendo: 4,9 l de H2O; 1,0 l de tampo 10x; 1
l de dNTP 8mM; 1 l de cada primer 10M; 0,1 l de Taq polimerase; e 1 l de DNA
(aprox. 40 ng/ l). Essa soluo foi, ento, levada ao termociclador e submetida a 40
ciclos constitudos pelas seguintes etapas: desnaturao a 95 oC por 1 minuto; hibridao
a 54 oC (Fib7), 56 oC (ND2 e ND3) ou 58 oC (cit b) por 30 segundos; e extenso a 72 oC
por 40 segundos.
Tabela 2: Primers utilizados para amplificao e sequenciamento.
Gene Primer Seqncia (5 3) Referncia ND2 L5215 TATCGGGCCCATACCCCGAAAAT Hackett 1996 H6313 CTCTTATTTAAGGCTTTGAAGGC Johnson e Sorensen 1998 ND3 ND3L GACTTCCAATCTTTAAAATCTGG Chesser 1999
ND3H GATTTGTTGAGCCGAAATCAAC Chesser 1999 Citb L14841 GCTTCCATCCAACATCTCAGCATGATG Kocher et al 1989 H16065 AACTGCAGTCATCTCCGGTTTACAAGAC Lougheed et al. 2000
Fib7 U GGAGAAAACAGGACAATGACAATTCAC Prychitko and Moore 1997 Fib7 Fib7 L TCCCCAGTAGTATCTGCCATTAGGGTT Prychitko and Moore 1997
Os produtos da PCR foram verificados por eletroforese em gel de agarose e purificados. A
etapa de purificao seguiu os seguintes passos: 8 l do produto da PCR foram
misturados com 8 l de PEG (20%); a mistura foi incubada a 37oC por 15 minutos, sendo
ento, centrifugada a 12.000 rpm por 15 minutos; foi retirado o sobrenadante e
adicionado 125 l de etanol 80% (gelado); a nova mistura foi centrifugada a 12.000 rpm
por 2 minutos; foi retirado o sobrenadante; foram repetidos os ltimos passos,
adicionando-se 125 l de etanol 80% (gelado), centrifugando a mistura a 12.000 rpm
por 2 minutos e retirou-se o sobrenadante. A amostra foi secada na centrfuga a vcuo
sendo, ento, adicionados 10 l de gua Milli-Q. Para a reao de sequenciamento foi
utilizado o kit de sequenciamento Big Dye Terminator Cycle Sequencing Kit (Applied
Biosystems) seguindo as recomendaes do fabricante. Os mesmos primers utilizados
para a amplificao foram utilizados na reao de sequenciamento. As seqncias foram
obtidas no seqenciador automtico ABI 377.
Alinhamento e Anlises Filogenticas
Para as inferncias filogenticas foram utilizadas seqncias dos genes mitocondriais
ND2, ND3 e citb, assim como o Fib7. As seqncias das cadeias leve e pesada foram
comparadas e editadas utilizando o programa CodonCode Aligner (CodonCode
Corporation). As seqncias foram alinhadas utilizando o programa Clustal X (Thompson
et al. 1997) e o alinhamento produzido foi checado manualmente.
As inferncias filogenticas foram feitas utilizando dois mtodos: Mxima
Verossimilhana (MV) e Anlise Bayesiana (AB). Para a seleo do modelo mais simples
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de evoluo molecular com maior verossimilhana para os dados foi realizado o
likelihood-ratio test (LRT) implementado pelo programa Modeltest (Posada e Crandall,
1998). Os parmetros do modelo selecionado foram utilizados para as anlises de MV
que foram realizadas utilizando o programa PHYML 2.4.4 (Gudon e Gascuel, 2003). Para
determinar o suporte relativo de cada grupo monofiltico inferido nas anlises de MV
foram utilizadas 500 rplicas de bootstrap.
A AB, com amostragem por Cadeia de Markov Monte Carlo foi realizada no programa
MrBayes 3.1 (Ronquist e Huselsenbeck, 2003) considerando as parties (genes) do
conjunto de dados utilizando o mtodo partitioned likelihood (uma partio por gene). Os
parmetros foram estimados independentemente para cada partio de dados (nst=6;
rates=invgamma). Foram realizadas duas anlises independentes, cada uma com 106
geraes, sendo amostrada a cada 1000 geraes e com um tempo de burn-in
determinado pelo tempo de convergncia dos valores de verossimilhana. Os valores de
probabilidade posterior de cada n foram calculados combinando todas as rvores
amostradas, desconsideradas aquelas da etapa de burn-in.
Estimativas de Tempo
As estimativas de tempo de divergncia entre linhagens foram obtidas utilizando o
mtodo penalized likelihood que permite diferentes taxas de evoluo ao longo da
filogenia, implementado pelo programa r8s 1.7 (Sanderson 2003). Foram utilizadas as
topologias e comprimentos de ramos obtidos nas anlises de Mxima Verossimilhana.
Para calibrar a rvore o n entre S. albigularis e S. scansor foi fixado utilizando a
estimativa pontual obtida nas anlises realizadas com o programa IM (Hey e Nielsen,
2004), conforme descrito no captulo 3.
Para amostrar o erro das estimativas foram construdas 100 matrizes bootstrapped
usando o programa CodonBootstrap 3.0b4 (J. P. Bolback, Codon Bootstrap v3.0b4
distribudo pelo autor. Department of Biology, University of Rochester, Rochester, NY.
2001). O tamanho de ramo foi estimado no PAUP v4.0b10 a partir de cada conjunto de
dados bootstrapped na topologia de Mxima Verossimilhana usando os parmentros
de verossimilhana estimados para as matrizes originais. As rvores com comprimento
de ramos obtidas foram analisadas no r8s 1.7 e o desvio padro para cada n foi
determinado utilizando o comando profile.
Demografia Histrica
As linhagens filogeogrficas identificadas com mais de cinco indivduos tiveram suas
histrias demogrficas analisadas. Com este objetivo foram utilizados dois grupos de
mtodos distintos: testes baseados em estatstica sumria e mtodo de coalescncia,
baseado na amostragem de genealogias.
Os testes estatsticos sumrios D de Tajima (Tajima 1989), Fs (Fu 1997) e R2 (Ramos-
Onsins e Rosas 2002) foram aplicados para os genes mitocondriais concatenados (citb,
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ND2 e ND3) e para o Fib7. A significncia dos valores obtidos foi determinada com base
em 10.000 simulaes de coalescncia. Essas anlises foram realizadas utilizando o
programa DnaSP 4.10 (Rozas et al. 2003).
Para as anlises de coalescncia foram utilizadas as seqncias dos genes ND2, ND3, citb
e Fib7. Foram obtidas estimativas de nveis de diversidade gentica ( - theta) e taxa de
crescimento populacional exponencial (g) utilizando o programa Lamarc 2.0.2 (Kuhner,
2006) para cada linhagem foram realizadas trs corridas independentes utilizando o
mtodo de mxima verossimilhana. Para cada corrida foram realizadas cinco rplicas de
anlises com 10 cadeias pequenas (500 genealogias amostradas a cada 20 interaes e
um burn-in de 1000 genealogias) e duas cadeias longas (20000 genealogias amostradas
a cada 20 interaes e um burn-in de 1000 genealogias). Nas anlises realizadas no foi
considerado o efeito de migrao. Da mesma forma, o parmentro r tambm no foi
considerado pois o resultado do teste phi no rejeitou a hiptese nula de no-
recombinao.
2.3 RESULTADOS
Foram obtidas sequncias de parte do citb (1022 pb) para 100 indivduos, de todo o ND2