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Introdução aos Salmos Comunidade Batista em Moema Verão de 2013

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Introdução aos Salmos

Comunidade Batista em Moema

Verão de 2013

Introdução aos Salmos

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Conteúdo

Introdução ______________________________ 3

I. O Título do Livro __________________________ 3

II. A Organização do Saltério _________________ 3 A. Cinco Livros em Um _________________________ 3 B. As explicações para o formato do livro dos Salmos _ 4 C. A História da Formação do Saltério _____________ 4 1. Primeiro Estágio: Poemas Isolados ______________ 4 2. Segundo Estágio: Coletâneas de Poemas __________ 4 3. Terceiro Estágio: Reunião das Diversas Coletâneas _ 5 4. Quarto Estágio: A Editoração Final ______________ 5

III. Aspectos Técnicos no Estudo dos Salmos __ 5 A. Os Títulos dos Salmos _______________________ 5 B. Termos Técnicos para Designar Tipos de Salmos. __ 5 C. Termos Musicais Mais Importantes. _____________ 5 D. Indicadores históricos da vida de Davi. __________ 6

IV. Métodos de Interpretação dos Salmos _______ 6

Paralelismo _____________________________ 7

I. Definição de Paralelismo ____________________ 7

II. Classificação e Exemplos ___________________ 7 A. Quanto à posição ____________________________ 7 B. Quanto ao sentido ___________________________ 7 C. Quanto à métrica ____________________________ 8

Figuras de Linguagem ____________________ 8

Introdução _________________________________ 8 I. Definição __________________________________ 9 II. Classificação das figuras de linguagem ___________ 9 A. Figuras de Comparação. ______________________ 9 B. Figuras de Substituição ______________________ 10

Apêndice Sobre Figuras de Linguagem ou de

Retórica ___________________________________ 13 Parábolas ___________________________________ 13 Princípios para interpretação de parábolas __________ 13 Alegorias ___________________________________ 13

Gattungen ou Os Vários Tipos de Salmos ______ 14 Introdução __________________________________ 14 I. Lamento do Indivíduo _______________________ 14 A. As partes do Lamento do Indivíduo ____________ 14 B. Exemplo de um lamento do indivíduo (Salmo 38) _ 15 II. Lamento da Nação _________________________ 15 A. Os elementos do Lamento da Nação ____________ 16 B. Exemplo de um Lamento da Nação: Salmo 74 ____ 16

III. Louvor Declarativo do Indivíduo __________ 16 A. Partes do Louvor Declarativo do Indivíduo. ______ 17 B. Exemplo de um Louvor Declarativo do Indivíduo. Salmo 30 ___________________________________ 17

IV. Louvor Declarativo da Nação _____________ 17 A. Partes do louvor Declarativo da Nação __________ 17 B. Exemplo de um Louvor Declarativo da Nação: Salmo 107 ________________________________________ 17

V. Salmos de Louvor Descritivo ______________ 18 A. Partes do Salmo de Louvor Descritivo ___________ 18 B. Exemplo de um Salmo de Louvor Descritivo: Salmo 113 ________________________________________ 18

VI. Salmos Didáticos. _______________________ 18 A. Salmos de Sabedoria ________________________ 19 B. Salmos da Lei ______________________________ 19 C. Exortações proféticas ________________________ 19 D. Liturgias __________________________________ 19

Método de Estudo para os Salmos ___________ 19

Apêndices _______________________________ 22

Classificação dos Salmos por Tipo ____________ 22

Autoria dos Salmos _________________________ 23

Cronologia dos Salmos ____________________ 23

Organização dos Salmos ___________________ 23

Cristo nos Salmos ________________________ 24

Salmos fora do Saltério ______________________ 25

Salmos nos apócrifos ________________________ 26 Eclesiástico 51.1-12 ___________________________ 26 Eclesiástico 42.15-43.33 ________________________ 26 Tobit 13 _____________________________________ 27

Bibliografia _____________________________ 29

Introdução aos Salmos

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Introdução

Este material foi adaptado da apostila de Salmos, produzida pelo Prof. Carlos Osvaldo Pinto, Deão do Seminário Bíblico Palavra da Vida

Nenhum outro livro do Bíblia apresenta a mesma variedade do livro de Salmos. Ele foi o de elaboração mais demorada, cobrindo um período de aproximadamente mil anos, desde o Êxodo até o cativeiro babilônico. Seus autores vão desde os grandes líderes da nação israelita, como Moisés, Davi e Salomão, a desconhecidos israelitas que através do cântico e da poesia expressaram sua fé em Yahweh, o Deus de Israel. Mais que qualquer outro livro da Bíblia os salmos apresentam a experiência humana em sua totalidade, das alturas da euforia aos abismos do desespero; neles se encontram mescladas a fé e a dúvida, o amor e o ódio, a piedade e o mal, a glória e a miséria do homem como indivíduo e comunidade. No prefácio de seu valioso comentário sobre os salmos (Psalms, EBC, vol. 1, Moody Press, p. 6) Robert Alden escreveu com muita propriedade:

Não é no Novo Testamento que se encontra a melhor literatura devocional, e sim no Antigo, no livro de Salmos. Pelo fato dos salmistas falarem em generalidades, os Salmos podem ser . . . aplicados largamente. Aqui, mais do que em qualquer outro lugar da Bíblia, pode-se ouvir bater o coração dos santos. Aqui encontramos as expressões mais exaltadas da grandeza de Deus; aqui encontramos os gemidos mais amargos dos pecadores e dos aflitos. Nos salmos encontramos algo para qualquer pessoa, seja qual for o seu estado de espírito.

É evidente que toda esta riqueza só pode ser devidamente assimilada mediante um estudo profundo da literatura hínica de Israel, tanto em seu todo como em cada uma de suas partes. Tal tarefa transcende em muito os objetivos e possibilidades deste curso; por isso, procuraremos limitar ao mínimo necessário as discussões técnicas, usando-as como simples ferramentas para uma melhor compreensão do texto. Possa o Espírito Santo, que guiou cada um dos muitos salmistas a registrar palavras inspiradas por Deus, também nos guiar à uma compreensão e aplicação correta destes poemas de devoção, contrição, esperança e vitória.

I. O Título do Livro

A. O Título Hebraico: O título definitivo dado pelos israelitas à antologia de hinos usados pela comunidade no Templo e por indivíduos em particular foi o termo hebraico tehillîm. Esta palavra vem de uma raiz hebraica que utilizamos na expressão Aleluia (Louvai a Yahweh), e poderia ser traduzida por "louvores".

É verdade que não há um único termo capaz de comunicar tudo o que está contido nos salmos, mas a escolha foi até certo ponto feliz, pois a maioria dos salmos contém elementos de louvor.

B. O Título Português: O título Salmos vem do manuscrito da Septuaginta conhecido como Codex Vaticanus (yalmov). A expressão O Livro dos Salmo vem da Vulgata (Liber Psalmorum) e a expressão saltério (usada para representar toda a coleção) se encontra no manuscrito da Septuaginta conhecido como Codex Alexandrinus. O termo grego denotava no grego clássico a música produzida por um instrumento de corda. “Devido à influência da Bíblia grega e ao avanço do Cristianismo, o termo grego para “Salmos” veio adquirir o sentido de “cântico de louvor”, e a idéia de que tais cânticos de louvor poderiam ter sido acompanhados por instrumentos de corda passou para um plano secundário ou foi completamente esquecida” (Cristoph F. Barth, Introduction to the Psalms, Scribners, 1966, p.1).

II. A Organização do Saltério

A. Cinco Livros em Um

Até o aparecimento da versão Revista e Atualizada da SBB, o estudante brasileiro ignorava, de modo geral, o fato de que o Livro dos Salmos é de fato uma coleção de cinco livros. Conforme pode ser verificado, estes livros são os seguintes:

Livro I Salmos 1 – 41

Livro II Salmos 42 – 72

Livro III Salmos 73 – 89

Livro IV Salmos 90 – 106

Livro V Salmos 107 – 150

Cada um destes livros se encerra com uma doxologia, sendo que, no caso do quinto livro, todo um salmo (150) cumpre esta função, formando um

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grand finale para toda a coleção. Esta divisão certamente já existia antes da formação da Septuaginta (c. 200 A.C.), pois esta já contém as doxologias ao final dos quatro primeiros livros.

B. As explicações para o formato do livro dos Salmos

A tradução judaica explica o formato do livro como um eco consciente do Pentateuco. Literatura judaica do período talmúdico (entre a.D. 200 e 500) afirma que “assim como Moisés deu a Israel os cinco livros da Lei, assim Davi deu cinco livros de salmos a Israel...” Embora alguns comentaristas concordem com a idéia que a estrutura do livro de Salmos é uma tentativa artificial de espelhar o Pentateuco, ninguém jamais conseguiu apontar quaisquer correspondências específicas dignas de nota entre os dez livros, respectivamente.

É bem mais natural e lógico considerar que o presente formato do livro não é um esforço de imitar o Pentateuco, mas o resultado de um processo gradativo de acréscimo, em que os livros foram sendo unidos aos anteriores até que a presente antologia fosse completada.

Uma evidência deste processo gradativo na formação do saltério se encontra nos livros I e II, comumente chamados de saltérios Yahwhístico e saltério Elohístico, respectivamente. Essa nomenclatura se deve ao fato de no Livro I o nome próprio Yahweh ser usado 272 vezes e o título genérico Elohim ocorrer apenas 15 vezes, ao passo que no Livro II Elohim ocorre 164 vezes e Yahweh 30. Além dessa diferença estatística, trechos paralelos no Livro II usam Elohim, enquanto o Livro I emprega Yahweh. Compare, por exemplo, os Salmos 14 e 53, e 40. 13 – 17 com o Salmo 70.

Embora a cronologia não seja a única razão para tais diferenças, ela teve seu papel, com a tendência mais recente de substituir o tetragramaton (YHWH) por outros termos.

C. A História da Formação do Saltério

Cristoph Barth comparou a formação do saltério à formação de um rio. Primeiro surgem as pequenas fontes que alimentam os regatos; estes por sua vez, formam os pequenos rios, que contribuem para os grandes afluentes, que por sua vez formam o grande e largo rio principal. Creio que a esta metáfora deve ser acrescentada, como sua razão e direção, a pessoa e a obra

inspiradora do Espírito Santo. Pressupondo a constante supervisão e controle do Espírito sobre autores e editores, ao longo dos séculos, oferece-se uma hipótese do desenvolvimento do saltério.

1. Primeiro Estágio: Poemas Isolados

Os Salmos devem ter começado com poemas escritos por indivíduos diversos surgiram assim uma oração de Moisés, uma canção de Davi, etc. Alguns desses poemas foram escolhidos para uso litúrgico, outros não (como por exemplo, Ex 15, Dt 32, Jz 5, 2 Sm 1). Nem todos os presentes na antologia utilizada liturgicamente foram escritos com esse fim (como por exemplo Sl 90, 2 Sm 22, 1 Cr 16.7ss). Além disso, é razoável afirmarmos que ao tempo de Davi já havia composição de salmos visando especificamente o uso no Tabernáculo (cf. 1 Cr 16.4).

2. Segundo Estágio: Coletâneas de Poemas

Aqueles poemas em que a comunidade religiosa de Israel reconhecia as marcas da inspiração e autoridades divinas começaram a ser preservados e colecionados. É claro que houve mais de uma coletânea, e mais de um processo de coleção. Uma prova clara deste fato se encontrará em Salmos 71.20, “Findam-se aqui as orações da Davi, filho de Jessé.” Esta frase não deve se referir aos primeiros 72 salmos, pois há entre eles vários que não foram escritos por Davi; além disso, há outros 17 salmos davídicos entre os salmos 73 e 150. Isto indica que aquele salmo (72) em algum ponto da história religiosa de Israel, foi o último de uma coleção de poemas davídicos.

2 Crônicas 29.30 nos sugere ainda que ao tempo de Ezequias já existiam duas coleções distintas de poesia religiosa, “as palavras de Davi” e “as palavras de Asafe.” Estas últimas se encontram, em sua maioria, no terceiro livro da versão canônica do livro de Salmos.

Outra evidência desse processo de coleção, são os chamados “cânticos de romagem” (120 – 134).

A grande atividade literária ao tempo de Ezequias (cf. 2Cr 29.30 e Pv 25.1) dá margem a uma conjectura de que foi a época em que o saltério começou a ganhar forma mais ou menos definitiva, embora o processo só viesse a alcançar seu fim após o exílio babilônico.

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3. Terceiro Estágio: Reunião das Diversas Coletâneas

Já sugerimos a época de Ezequias como provável data em que este processo se iniciou. Leupold nos diz que “Parece estar ficando evidente que diferentes coleções foram organizadas por pessoas diferentes em períodos sucessivos ao longo de um grande intervalo de tempo.”

4. Quarto Estágio: A Editoração Final

Delitzsch firmou que “a coleção mostra as marcas da mente que a organizou.” A coleção dos dois primeiros salmos e dos seis últimos sugere uma escolha inteligente e deliberada. Parece-nos impossível determinar um único argumento para todo o livro, mas há uma série de contrastes, temas comuns e refrões que apontam para o trabalho de um indivíduo, cuja identificação é presentemente impossível. A data é certamente anterior aos Manuscritos do Mar Morto, e me parece razoável situá-la ao tempo de Esdras, época em que também houve grande atividade literária em Israel.

III. Aspectos Técnicos no Estudo dos Salmos

A. Os Títulos dos Salmos

A maioria dos comentários crítico-exegéticos tem uma visão muito negativa dos títulos dos salmos, considerando-os historicamente inexatos e, portanto, sem valor para a determinação do autor e do Sitz im Leben(*) em que foram compostos. Esta posição pode ser refutada firmemente, nas seguintes bases:

1. eles formam parte da história da tradição judaica;

2. há evidência abundante, fora dos Salmos de que Davi foi escritor de poesia;

3. os salmos são introduzidos de modo característico, que indica autoria e não simples referência ou imitação de estilo;

4. os autores do Novo Testamento basearam argumentos teológicos nos títulos dos salmos, cf. At.2.29;

5. a descoberta de literatura poética anterior a ou contemporaneamente da literatura davídica indica a possibilidade dos salmos davídicos terem em seus títulos uma conotação histórica exata ao estudo dos

mesmos.

(*)Sitz im Leben (Alemão) "situação na vida” ou “contexto", usada na crítica da forma para referir-se ao contexto sociológico dos gêneros utilizados. Então a Sitz de um “salmo de súplica” seria um dia de jejum e súplica (ex: Juízes 20.26 ou 2Cr 20.3), enquanto o contexto histórico do Salmo 80 (uma súplica) seria o exílio.

B. Termos Técnicos para Designar Tipos de Salmos.

1. Salmo. Canção acompanhada pelo tangimento das cordas de um instrumento. 57 salmos têm esta designação.

2. Cânticos. Cântico ou canção. 12 salmos apresentam este título.

3. Masquil. A SBB traduz por “salmo didático” mas a idéia mais provável é a de “poema para meditação”. 13 salmos são assim designados.

4. Hino. A palavra hebraica é de origem muito obscura. A LXX e escritos hebraicos mais recentes indicam que se trata de um poema para ser inscrito ou gravado, uma epigrama. A tradução da SBB “hino” é uma mera conjectura. O termo é encontrado no título de seis salmos.

5. Oração. Encontrado em cinco salmos.

6. Louvor. Usado no Salmo 145.

C. Termos Musicais Mais Importantes.

1) Ao mestre de canto. Este título traduz uma expressão hebraica obscura, que parece ser derivada de um verbo que significa “ser preeminente”. Daí a idéia de serem os 57 salmos que contêm esta expressão dedicados ao chefe do coro de levitas que ministrava no santuário.

2) Salmo dos filhos de Coré. Este título quase certamente indica execução e não autoria, conforme se pode ver no Salmo 88.

3) Jedutum. Em 1Cr 16.41 encontramos um certo Jedutum, que era um dos principais cantores “encontrados” por Davi. Seu nome nos salmos pode indicar um grupo de cantores litúrgicos que tinha Jedutum por seu patrono.

4) Indicadores instrumentais

a) Sobre Meginote: “Com instrumento de corda”. Encontrado nos salmos 4, 5, 54, 55,

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67, 76, e 61 (no singular).

b) Sobre donzelas: indicando, portanto, “com instrumentos afinados à voz de soprano” ou “para vozes femininas”. Encontrado no Salmo 42.

c) Sobre Seminite: “Acompanhamento com alaúde de oito cordas.” Encontrado nos salmos 6 e 12.

d) “Selá”: Este termo, de origem e significado obscuros foi suprimido pela SBB, apesar de ser usado 71 vezes nos Salmos (e 3 vezes em Habacuque 3) A conjectura mais provável para seu significado é a que busca sua derivação em um verbo que significa “levantar”. Neste caso, significaria uma ocasião em que, na leitura pública do salmo, o(s) leitor(es) deveria(m) levantar a voz, ou levantar os olhos (i.e., para ler novamente o versículo). Este termo ocorre mais nos três primeiros livros, o que pode (mas não necessariamente) uma indicação de que é um termo de grande antiguidade; isto é sugerido pelo fato de que as versões antigas parecem também ignorar seu significado. Exemplos: Sl 39.5; 46.3,7,11.

5) Indicadores melódicos

a) Para Os lírios (Sls 45, 60, 69, 89)

b) Para A corça da manhã (Sl 22)

c) Segundo A pomba muda nos lugares distantes (Sl 56)

d) Não destruas (Sls 57, 58, 59, 75)

e) Segundo Morte de um filho (Sl 9)

Qualquer tentativa de identificar estes indicadores é simples tentativa. Até mesmo os títulos das melodias são de difícil tradução, como as versões antigas podem comprovar amplamente.

6) Indicadores litúrgicos

Os mais significativos são os chamados “cântico de subida”. A maioria dos eruditos prefere entendê-los como cânticos de peregrinação (Sls 120 a 134).

D. Indicadores históricos da vida de Davi.

Estes indicadores se encontram nos seguintes

salmos: 3, 7, 18, 34, 51, 52, 54, 56, 57, 59, 60, 63 e 142. Embora nem todos estes indicadores encontrem paralelo nas narrativas sobre a vida de Davi, sua fidedignidade não deve ser colocada em dúvida, pois há acordo nas passagens paralelas e o material de Samuel, 1 Reis e 1 Crônicas é obviamente seletivo.

IV. Métodos de Interpretação dos Salmos

A. Método histórico tradicional. Busca relacionar, sempre que possível, o salmo a um incidente histórico na vida do salmista. Mesmo quando não há indicador histórico, os que adotam este método procuram reconstituir a situação histórica.

B. Método literário-analítico. Com base em critérios analíticos, como linguagem, forma poética, conceitos teológicos e hipotéticos referências a incidentes históricos, os defensores deste método dataram a maioria dos salmos no período dos Macabeus. O saltério era o livro de cânticos do segundo templo. A arqueologia e o maior conhecimento das línguas e culturas do Oriente Próximo antigo demoliram os argumentos dos proponentes deste método.

C. O método da crítica da forma. Este método se desenvolveu principalmente no trabalho de Herman Gunkel, Einleitung in die Psalmen. Gunkel tinha a premissa básica de que todos os poemas sacros de Israel haviam sido escritos como acompanhamento de um ato ritual, ou seja, que os salmos surgiram das várias cerimônias do culto israelita. A estas ocasiões ele denominou Sitz im Leben. O outro ângulo da obra de Gunkel diz respeito aos tipos de salmo. Poemas com um mesmo Sitz im Leben se desenvolviam segundo uma forma comum. A esta forma ou tipo ele denominou Gattung(*). Cada Gattung exibe:

a) Uma ocasião comum

b) Um depósito comum de idéias e sentimentos

c) Formas comuns de expressões

d) Temas ou motivos comuns

(*) Gattung (Alemão) – Classe, tipo ou gênero.

Esta abordagem é muito útil, embora sua

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premissa básica limite muito o conceito bíblico da autoria dos salmos, que sugere muitas vezes a expressão espontânea e individual de devoção a Deus. Por isso, para efeitos deste curso, ampliaremos o sentido da expressão Sitz im Leben, de modo a significar aquela situação pacífica na vida do salmista, fosse ela parte de sua experiência ou não, em que se originou determinado poema.

Um outro defeito desta abordagem é a tendência de forçar os poemas em moldes pré-determinados. Embora os autores bíblicos seguissem certos padrões literários, não se deixavam dominar por eles e daí surgem variações compreensíveis e perfeitamente aceitáveis dentro de cada Gattung.

D. O método litúrgico. Este método constrói sobre o alicerce da crítica da forma, afirmando, entretanto, que os salmos devem ser interpretados à luz de sua função na liturgia israelita. Defensores desta abordagem postulam certos festivais (de base bíblica muito suspeita) que teriam dado ocasião a que a grande maioria dos salmos fosse escrita. Embora admitamos o uso litúrgico dos salmos, não parece haver base bíblica para fazer do culto israelita a única fonte de poesia sacra em Israel.

E. O método escatológico-messiânico. Defensores deste método procuram relacionar ao máximo os detalhes dos salmos à pessoa de Jesus e ao reino messiânico. Embora haja valor neste método, pois a Bíblia deve nos levar a uma contemplação, apreço e adoração da pessoa de Cristo, há perigos óbvios, como o de impor nosso panorama teológico a autores que tinham uma perspectiva teológica bem mais limitada, e ainda o de ignorar aspectos histórico-culturais importantes.

F. O método utilizado neste curso. Nosso método será eclético, procurando utilizar os pontos fortes dos métodos acima mencionados e rejeitando suas fraquezas. Creio que estes métodos não são mutuamente exclusivos; assim sendo procuramos entender o salmo à luz de seu contexto histórico, à luz de sua forma literária própria, buscando descobrir qual sua mensagem para a geração do autor, que relação possa haver com a pessoa e obra de Jesus Cristo e quais as aplicações válidas para o crente no dia de hoje.

Paralelismo

I. Definição de Paralelismo

Esta característica marcante da poesia hebraica pode ser definida simplesmente como a correspondência entre dois versos ou duas linhas.

Tal correspondência não implica exclusiva ou necessariamente em igualdade de idéias. As linhas podem ser relacionadas de diversas maneiras: equivalência, semelhança semântica, semelhança gramatical, semelhança métrica e iluminação de uma linha por outra são os relacionamentos mais importantes.

II. Classificação e Exemplos

Os paralelismos podem ser classificados de três maneiras básicas: quanto à posição, quanto ao sentido e quanto à métrica. As três classificações não são mutuamente exclusivas, antes pelo contrário.

A. Quanto à posição

� Direto – Quando a ordem de idéias é a mesma nas duas linhas. Quanto a mim, quase me resvalaram os pés, Pouco faltou para que se desviassem os meus passos. (Sl. 73.2)

� Quiástico – Quando a ordem das idéias é

invertida entre as suas linhas. Tu, ó Deus, bem conheces a minha estultícia e as minhas culpas não te são ocultas (Sl 69.5)

B. Quanto ao sentido

� Sinônimo – Quando há íntima

semelhança entre as duas linhas A sua malícia lhe recai sobre a cabeça E sobre a própria mioleira desce a sua violência. (Sl 7.17 (16))

� Climáctico – Quando a segunda linha

repete a primeira, à exceção do último elemento. Tributai ao Senhor, filhos de Deus Tributai ao Senhor glória e força. (Sl 29.1)

� Sintético – Quando a segunda linha retoma

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e expande o pensamento iniciado na primeira. Porque o Senhor é o Deus supremo E o grande rei acima de todos os deuses (Sl 95.3)

� Emblemático – Quando uma das linhas

apresenta a idéia central e outra e ilumina com uma imagem ou figura. Como suspira a corça pelas correntes de águas Assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. (Sl 42.1)

� Antitético – Quando há um contraste de

idéias entre as linhas. Pois o Senhor conhece o caminho dos justos Mas o caminho dos ímpios perecerá. (Sl 1.6)

C. Quanto à métrica

Neste caso, a relação entre as duas linhas é puramente métrica e não semântica ou proposicional. É praticamente impossível de observar no texto em português. Considera os meus inimigos, pois são muitos E me abominam com ódio cruel. (Sl 25.19) No texto hebraico cada destas linhas possui três sílabas tônicas.

Figuras de Linguagem

Introdução

Antes de podermos entender mais profundamente e perceber a riqueza da poesia hebraica, em suas expressões e imagem mais significativas, precisamos ter uma noção ainda que superficial da natureza e da dinâmica da poesia.

Aristóteles considerava como essência da poesia a imitação e a harmonia, relacionando a primeira à inteligência e a segunda à estética.

Séculos mais tarde, Wordsworth sugeria que expressão, em vez de imitação, era o que se deveria considerar a essência da poesia. Ele afirmou que “Poesia é o fluir espontâneo de sentimentos poderosos”. Outros sugerem que poesia é a arte de expressar a imaginação.

Uma definição de poesia que é bem abrangente me foi sugerida por Allen Ross. “Poesia é a expressão de uma paixão pela verdade, beleza e poder, incorporando e ilustrando suas concepções por meio de imaginação e fantasia, e modulando sua linguagem no princípio da variedade na uniformidade.”

É necessário reconhecer a maneira do poeta utilizar as palavras. Ele pode lançar mão de qualquer uma das duas faces que cada palavra tem (potencialmente). Estas faces são seus sentidos denotativos e conotativos. O primeiro é o sentido corriqueiro, não-emocional das palavras; o segundo é o sentido muitas vezes secundário, incomum, mas que é capaz de provocar emoções, ou imaginações, ou idéias que vão além do literal. É claro que este sentido conotativo depende fundamentalmente do contexto em que a palavra é usada. Observem-se os dois exemplos abaixo: Seu pai observava, enquanto ele lutava com os problemas de subtração.

Morrera-lhe quem mais amava, por vil subtração. O sentido denotativo do termo subtração está presente em ambas as frases. Na segunda, entretanto, há também o sentido conotativo, e a palavra adquire um forte conteúdo emocional, especialmente pela associação com a palavra vil e a idéia de morte. Assim, neste contexto, um termo aritmético, frio e neutro, ganha cores sombrias e trágicas.

Ao lermos poesia, devemos levar em conta quatro elementos que aumentam o potencial conotativo das palavras. São eles:

a) conotações emocionais

b) conotações intelectuais

c) efeitos alusivos

d) efeitos sonoros

Considere-se o exemplo abaixo:

Tudo era dourado, e era Adão e donzela...

A palavra donzela tem várias implicações:

a) emocional, já que a palavra sugere frescor, beleza e alegria

b) intelectual, já que a palavra implica inocência, inexperiência, pureza

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c) alusão, pois o nome Adão é parte do contexto e nos faz pensar em Eva, dando força à imagem do casal que se ama, mas acrescentando uma dimensão de tragédia em potencial

d) sonoridade, pois a seqüência de sons, dourado, Adão e donzela produz um efeito quase musical, dando maior efeito à poesia.

Cabe a nós, como estudantes sinceros do texto bíblico, especialmente da poesia bíblica colocar em prática a exortação feita por Carlos Drumond de Andrade, em seu poema A Procura da Poesia: Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra...

I. Definição

Quintiliano (c. 35 – 100 AD), famoso orador e escritor latino, definiu uma figura de linguagem como “qualquer desvio, seja em pensamento ou expressão, da maneira simples e ordinária de falar.”

As figuras de linguagem são também chamadas de tropos, que são definidas como “emprego de palavras em sentido diferente daquele que propriamente lhes corresponde, mas que tem com este qualquer relação de semelhança, de compreensão, de contrariedade ou de conexão” (Novo Dicionário Brasileiro Ilustrado, IV, p. 739).

Esta definição confirma a afirmação anterior, de que o poeta transfere palavras de um campo semântico para outro, em que ela não é comumente usada, fazendo uso de seu sentido denotativo e de seu sentido conotativo, buscando assim criar no leitor uma emoção ou um sentimento que ele mesmo possui.

Atenção, pois, para essas transferências de campos semânticos, pois são elas os primeiros indicadores de que se usou uma figura de linguagem.

Um outro alerta deve ser dado para a natureza elíptica das figuras de linguagem. Além disso, figuras de linguagem são evocativas, exigindo que o exegeta procure recriar as emoções e intenções do autor, buscando validá-las a partir do texto e do contexto histórico. Por isso, a exegese é uma mistura de ciência e arte.

II. Classificação das figuras de

linguagem

Para efeito de simplificação, dividimos todas as figuras de linguagem em duas classes maiores; figuras de comparação e de substituição.

A. Figuras de Comparação.

Consideraremos as três figuras de comparação mais importantes: símile, metáfora e hipocatástase. Nestas três, o autor justapõe campos semânticos, com o propósito de ilustrar seu pensamento e evocar no leitor um sentimento apropriado. As coisas comparadas são de natureza diferente, que no entanto, possuem algo em comum e podem, por isso, criar uma reação psicológica. O sujeito é real e aquilo a que é comparado existe na imaginação do autor. Esse elemento comum deve ser determinado pelo exegeta, utilizando seu bom senso e indicações contextuais. 1. Símile. A símile é uma comparação explícita entre dias coisas ou seres de natureza distinta que possuem algo em comum. Quase sempre a símile é denunciada pela presença da conjunção conformativa “como”. A símile é uma comparação por semelhança. Toda carne é como a erva (Is 40.6). Sujeito: carne Coisa comparada: erva Idéia comum: transitoriedade Sentimento: temor, reflexão Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas (Sl 1.3). Sujeito: aquele que estuda fielmente a Torah Coisa comparada: árvore à beira dos rios Idéia comum: saúde, vitalidade, força Sentimento: inveja, necessidade 2. Metáfora. Uma comparação afirmada entre duas coisas ou seres distintos em natureza, mas que possuem algo em comum. A metáfora é uma declaração de que uma coisa é ou representa outra; é uma comparação por representação. Na metáfora a conjunção “como” não está presente. O SENHOR Deus é sol e escudo (Sl 84.11). Sujeito: O SENHOR Deus Coisa comparada: sol e escudo Idéia comum: proteção Sentimento: segurança, confiança

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Toda a carne é erva (Is 40.6) Ver em símile a explicação 3. Hipocatástase. Uma declaração que implica numa comparação entre duas coisas ou seres de natureza distinta, mas que têm algo em comum. É uma comparação por implicação ou inferência, em que o sujeito precisa ser descoberto, ao passo que o ponto de comparação se torna mais explícito. Cães me cercaram (Sl 22.16). Sujeito: homens ímpios Coisa comparada: cães Idéia comum: ferocidade, crueldade Sentimento: medo, repulsa

Um leão subiu de sua ramada (Jr 4.7). Sujeito: o rei da Babilônia Coisa comparada: leão Idéia comum: ataque Sentimento: medo 4. Outras figuras de comparação

a. Antropomorfismo. Uma comparação explícita ou implícita de Deus a um aspecto corporal do homem, visando comunicar uma verdade a respeito de Deus. O autor escolherá a parte do corpo humano que melhor corresponde a determinada característica da pessoa de Deus. Exemplos clássicos são a face, os olhos, os ouvidos, as narinas e o coração.

b. Zoomorfismo. Uma comparação explícita ou implícita entre a pessoa de Deus e de outras entidades e certos animais ou partes de animais. Exemplos clássicos são as asas (cf. Sls. 63.8 e 139.9).

c. Parábola. É uma símile alongada. Exemplo: Mt 13. Ver folha anexa.

d. Alegoria. É uma metáfora ou hipocatástase alongada. Exemplos: Is. 5.1-7 e Ez. 16.

e. Símbolo. Uma hipocatástase constante através das Escrituras, em que a coisa comparada é constantemente empregada para indicar um único sujeito. Exemplo: circuncisão; dragão, mar; luz.

f. Personificação. É atribuição de características, emoções humanas a seres inanimados, abstrações ou animais. Aqui também as coisas comparadas são de natureza diferente, sendo que a coisa a que se compara é sempre a pessoa humana. É uma figura poderosa para evocar sentimentos e emoções.

“Como a árvore, cuja boca faminta se aperta contra o seio doce da terra”. Sujeito: árvore / terra Comparação humana: bebê / mãe Pensamento: dependência / sustento Sentimento: ternura, afeição, cuidado

“Embriagarei as minhas setas de sangue, a minha espada comerá carne” (Dt. 32.42). Sujeito: setas Comparação humana: bêbado Pensamento: encharcar Sentimento: temor (ver contexto)

B. Figuras de Substituição

Nosso maior interesse nesta área irá para as figuras chamadas metonímia e sinédoque, bastantes comuns no livro de Salmos.

Ao passo que nas figuras de comparação a ênfase caía na semelhança, nestas a ênfase cai na relação entre o sujeito e a palavra utilizada; nas figuras por comparação, a semelhança era imaginativa, ao passo que nas figuras por substituição o relacionamento é real. Assim, o autor alcança vividez com economia.

1. Metonímia: Esta palavra é derivada do grego, indicando mudança no nome ou substantivo. Metonímia é a substituição do que se quer indicar por uma outra palavra sugestiva ou atributiva a ele relacionada. Eis alguns exemplos:

“O Palácio do Planalto afirmou que...”, indicando o Presidente. “As jóias da coroa”, indicando as jóias da rainha. “Caia o seu sangue sobre nossas cabeças”, indicando culpa (ou castigo) e vida. “Minha casa servirá ao Senhor”, indicando família e servos. Para efeito deste curso, classificaremos as

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metonímias em quatro tipos: da causa, do efeito, do sujeito e do adjunto.

a. Metonímia da causa: Nesta figura, o

autor utiliza a causa para descrever o efeito.

“Pela boca de duas ou três testemunhas se estabelecerá o fato” (Dt 19.15) Causa apresentada: boca (muito freqüente a indicação do instrumento). Efeito desejado: depoimento oral, testemunho “Envias o Teu furor, que os consome como restolho” (EX 15.7) Causa apresentada: furor de Deus Efeito desejado: o castigo divino pela calamidade

b. Metonímia de efeito: Nesta figura o

autor utiliza o efeito para indicar a causa que o produz.

“Também te dei... para seres a minha salvação...” (Is 49.6) Efeito declarado: Salvação Causa da comunicar: Salvador “Desperta, ó minha glória...” (Sl 57.9 (8)). Efeito declarado: glória Causa a comunicar: SBB: – alma; COP – língua que dá glória a Deus

c. Metonímia do sujeito: Nesta figura, o

autor substitui o conteúdo ou os habitantes de um lugar pelo recipiente ou lugar. Nesta classe de metonímia, o autor tende a substituir o concreto pelo abstrato.

“Bendito o teu cesto e a tua amassadeira” (Dt 28.5) Sujeito (recipiente): cesto e amassadeira Objeto a comunicar: pão “A Etiópia corre a estender mãos cheias de Deus ( Sl 68.31) Sujeito (local): Etiópia Objeto a comunicar: os habitantes da Etiópia

d. Metonímia de adjunto: Nesta figura, o autor substitui aquilo a que quer se referir por uma circunstância ou qualidade a ele inerente (ou adjunta). Aqui o autor tende a substituir o abstrato pelo concreto.

“O cetro não se apartará de Judá...” (Gn 49.10) Adjunto declarado: cetro Sujeito pretendido: liderança, autoridade “Louvar-te-á, porventura, o pó? (Sl 30.10 (9)) Adjunto declarado: pó Sujeito pretendido: homem morto

2. Sinédoque: Também é derivada do grego,

algo que se recebe de alguém. Nesta figura, uma palavra recebe uma conotação de uma outra a que está relacionada, mas que não é mencionada. O relacionamento entre as duas, a explícita e a implícita, se baseia em pertencerem ambas ao mesmo gênero.

Tal como a metonímia, a figura chamada sinédoque se baseia em relação, ao invés de semelhança. Na metonímia o relacionamento expresso é entre coisas e seres de gêneros diferentes; na sinédoque, os gêneros são iguais. A sinédoque exige do intérprete bastante capacidade de fazer generalizações e particularizações. Às vezes é difícil distinguir entre a sinédoque e a metonímia e elas muitas vezes aparecem combinadas num só versículo.

Há quatro tipos de sinédoque: do gênero (em que a espécie é substituída pelo gênero – o mais amplo substitui o mais estreito); da espécie (em que o gênero é substituído pela espécie) – o mais estreito substitui o mais amplo; do todo pela parte, e da parte pelo todo. a. Sinédoque do gênero: Nesta figura, o autor substitui a espécie (uma categoria menor) pelo gênero (uma categoria mais ampla).

“A glória do Senhor será revelada e toda a carne a verá” (Is 40.5). Gênero: carne

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Espécie: homem “Por que não me construíste uma casa de cedros?” (2 Sm 7.7). Gênero: casa Espécie: templo b. Sinédoque de espécie: Nesta figura, o

autor substitui o gênero (mais amplo) pela espécie (mais estreita).

“O pão nosso de cada dia dá-nos hoje” (Mt 6.11) Espécie: pão Gênero: comida “Viverá, e se lhe dará do ouro de Sabá” (Sl 72.15). Espécie: ouro Gênero: riqueza

c. Sinédoque do todo pela parte: Nesta

figura, o autor substitui algo de natureza parcial por algo de natureza total. Esta figura é de identificação difícil e considerada inexistente por alguns.

“E tu, Belém, terra de Judá” (Mt 2.6) Todo: terra Parte: cidade “...se encheram da corrupção do Oriente” (Is 2.6) Todo: oriente Parte: países vizinhos a Judá (Amon, Moabe, Edom)

d. Sinédoque da parte pelo todo: Nesta

figura, o autor substitui algo de natureza total por algo de natureza parcial. Esta figura é difícil de distinguir da metonímia de causa e da metonímia do sujeito.

“Embosquemo-nos para sangue” (Pv 1.11) Parte: sangue Todo: a vítima da cilada “Tua semente possuirá a porta de seus inimigos” (Gn 4.60) Parte: porta Todo: cidade

3. Outras figuras de substituição

a. Merismo: O uso de extremos para indicar a totalidade.

Sabes quando me assento e quando me

levanto (Sl 139.2). b. Erotesis: O uso de uma pergunta para

indicar afirmação ou negação. Se olhares, Senhor, iniqüidades, quem

subsistirá? (Sl 130.3).

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Apêndice Sobre Figuras de Linguagem ou de Retórica

Vão aqui algumas sugestões de como distinguir as figuras, umas das outras (apenas algumas sugestões).

Parábolas

Parábolas são símiles prolongadas. Ao interpretá-las, devemos levar em conta as seguintes considerações: Símile Parábola

1. Um verbo principal

1. Pluralidade de verbos no passado

2. Comparação 2. Comparação formal 3. Uso literal das palavras

3. Uso literal das palavras

4. Um ponto central de comparação

5. Exemplo particular, ocorrência específica

6. Distinção entre a imagem e o sentido

7. Estória fiel aos fatos e experiência do cotidiano

8. Explicadas à luz da idéia central

Princípios para interpretação de parábolas

1. Procure entender os detalhes “mundanos” das parábolas tal como os que primeiramente a ouvirem.

2. Observe a condição e atitude espiritual dos ouvintes.

3. Observe, se possível, a razão que motivou Jesus a proferir a parábola.

4. Formule concisamente a idéia central da parábola. Valide sua idéia.

5. Procure relacionar a idéia central aos aspectos básicos do ensino de Jesus. Lembre-se sempre da centralidade do reino de Deus no ensino do Mestre.

6. Quando a maioria dos detalhes mundanos é apresentada (parábola dos solos) procure focalizar ainda mais sua atenção na descoberta da idéia central, para evitar alegorização.

7. Relacione a idéia central aos seus prováveis ouvintes.

Alegorias

Alegorias dão metáforas ou hipocatástases prolongadas. Ao interpretá-las, devemos levar em conta as seguintes considerações:

“Alegoria não deve ser confundida com alegorização, que toma uma narrativa cujo propósito não era ensinar verdades por identificação. Utilizando comparação ponto por ponto, a alegorização faz com que a narrativa comunique idéias diferentes daquelas que o autor original tinha em mente.” (A. B. Mickelsen, Interpreting The Bible, p. 231.)

Metáforas ou Hipocatástase

Alegoria

1. Verbo principal 1. Vários verbos em vários tempos 2. Comparação direta ou implícita

2. Comparação direta ou implícita

3. Palavras usadas figurativamente

3. Palavras usadas figuradamente

4. Vários pontos de comparação 5. Ênfase em verdades gerais 6. Identificação entre imagem e

sentido 7. Estória combina realidade com

imaginação para ensinar verdades específicas

8. Explicadas à luz da razão por que a imagem é identificada com a realidade

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Gattungen ou Os Vários Tipos de Salmos

Introdução

Já indicamos na introdução geral do curso o grande valor do trabalho de Hermann Gunkel, na classificação dos salmos em diversos tipos, determinados por certas características comuns (ocasiões, idéias e sentimentos, temas e formas de expressão).

A própria Bíblia nos sugere que, ao tempo de Davi, já havia uma certa distinção entre as diversas modalidades poético-musicais empregadas na liturgia israelita. O versículo chave do livro de Salmos, que se encontra em 1 Crônicas 16.4, nos indica isso:

Designou dentre os levitas os que haviam de ministrar diante da arca do Senhor, e de celebrar, louvar e exaltar o Senhor, Deus de Israel. Com base nesse versículo, indicamos as primeiras categorias ou tipos de salmo

a) lamento do indivíduo

b) lamento da nação

c) salmos de louvor declarativo do indivíduo

d) salmos de louvor declarativo da nação

e) salmos de louvor descritivo (com várias sub-categorias).

Além destas, costuma-se acrescentar uma outra categoria, de origem mais “recente”, a dos salmos didáticos.

Vários livros e vários autores apresentam divisões e categorias diferentes. Da mesma forma, um salmo pode ser classificado por diferentes estudiosos e categorias diversas. Isto apenas ressalta que não havia uma rigidez total nos Gattung e que há forte elemento subjetivo no estudo dos salmos (como de toda a literatura). Além disso, há salmos que reúnem elementos de dois ou mais tipos, o que vem a demonstrar mais uma vez grande “flexibilidade” do Espírito Santo em Seu trabalho de orientar os autores bíblicos na produção do texto inspirado.

Cabe ainda na introdução uma palavra sobre os chamados salmos messiânicos. É evidente que alguns salmos contém elementos messiânicos e, por isso, alguns são tentados a criar uma categoria ou

tipo especial de salmos. Neste curso adotaremos a posição sugerida por Delitzsch quanto à natureza dos salmos que contêm elementos messiânicos, procurando encaixá-los nas categorias acima apresentadas e fazendo contrastes e comparações entre eles.

Assim, há cinco classes de salmos messiânicos:

a) tipicamente messiânicos

b) típico-profeticamente messiânico

c) indiretamente messiânicos

d) salmos do reino escatológico

e) puramente messiânico

Com estas considerações, passemos ao estudo dos diversos tipos (Gattungen)!

I. Lamento do Indivíduo

A. As partes do Lamento do Indivíduo

1. Apelo inicial. Esta parte se caracteriza por um grito inicial de ajuda e/ou de busca de Deus.

a. Uma expressão comum nos LI é Ó Senhor! A busca por socorro é imediata.

b. Freqüentemente os LI apresentam uma petição e um lamento introdutório, que não devem ser confundidos com a petição e o lamento propriamente ditos, os quais se encontram no meio e no fim dos salmos.

2. Lamento. Com extensão variada, ora breve, ora longa, o salmista faz uma descrição de seu estado infeliz, perigoso e às vezes mortal. Freqüentemente esta divisão apresenta três personagens: Tu, ó Deus; eu; meus inimigos.

3. Expressão de confiança. Embora na esteja presente em todos os LI, esta divisão às vezes se torna tão longa e predominante que alguns comentaristas rotulam tais salmos como “cânticos de confiança”. São de identificação fácil devido ao seu motif e á presença de conjunções adversativas.

4. Petição. Com freqüência há a petição e a apresentação de um motivo pelo qual ela deve ser atendida. As petições normalmente

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incluem:

a. Um pedido para que Deus se mostre favorável. (Olha! Inclina os ouvidos!)

b. Um pedido para que Deus intervenha (Salva-me! Livra-me!)

5. Voto de louvor ou Louvor declarativo.

a. Voto de louvor: a petição ainda está em aberto. O salmista não presume explicitamente que ela tenha sido respondida e promete louvar a Deus (ritualmente) em caso de reposta. Normalmente o conteúdo do voto de louvor é apresentado.

b. Louvor declarativo a Deus. Neste caso, há uma mudança abrupta na atmosfera do salmo. O salmista presume explicitamente a resposta divina e demonstra claramente sua absoluta confiança em seu livramento. Declaramos que irá louvar a Deus publicamente no templo quando sua certeza se materializa (cf. Hb 11.1). A fonte de tal confiança depende muito do Sitz im Leben atribuído ao Salmo. Partidários da crítica da forma e do método litúrgico buscam a razão num suposto diálogo entre o salmista e o sacerdote diante de quem ele se apresentava com sua petição. Disto há pelo menos um exemplo bíblico. Nossa posição quanto à origem dos salmos deixa em aberto a possibilidade do ministério do Espírito Santo na mente e alma do salmista, assegurando-o da intervenção divina, além de permitir um uso litúrgico semelhante ao do episódio de 1Sm 1.

* Cuidado! “Este é o esquema básico, mas ele nunca se torna estereotipado. As possibilidades de variação são incomumente numerosas” Claus Westermann, The Praises of God in the Psalms, p. 64

B. Exemplo de um lamento do indivíduo (Salmo 38)

Mensagem: A esperança do salmista em YHWH o leva a confessar seu pecado, lamentar seu sofrimento, e pedir que Deus o livre de seus

pecados e inimigos. Estrutura:

I. Petição introdutória: A profunda dor causada pela disciplina do Senhor leva o salmista a pedir que Deus suspenda o castigo (1,2)

II. Lamento: Os sofrimentos do salmista devido a seu pecado envolvem seu corpo, sua mente e sua social (3-12)

A. A descrição do sofrimento físico: O corpo do salmista sofre intensamente por causa de seu pecado (3 – 8)

B. O resultado do sofrimento físico: A mente do salmista está confusa, seus amigos o abandonam e seus inimigos o atacam violentamente (9 – 12)

III. Expressão de confiança: A esperança do salmista em YHWH o leva a ignorar os ataques externos e a reconhecer seu erro, na certeza da resposta de Deus (13-20)

A. O salmista na faz caso dos ataques externos (13 – 14)

B. O salmista expressa sua confiança em Deus (15 – 16)

C. O salmista expressa as razões de sua confiança (17 – 20)

o Ele não tem outra alternativa (17)

o Ele está arrependido (18)

o Seus adversários são fortes e o odeiam porque ele segue o bem (19 – 20)

IV. Petição final: O pedido do salmista é que Deus, seu Salvador, o atenda prontamente (21 – 22)

II. Lamento da Nação

Os lamentos da nação (LN) são menos numerosos do que os lamentos dão indivíduo (LI). Além disso, há pouca ou nenhuma diferença entre as estruturas do LN e dos LI.

O Sitz em Leben dos LN é uma situação crítica na vida da comunidade, seja por guerra, fome, seca ou doença. Tais situações normalmente exigem um dia especial de jejuns (cf. Jl 1.13ss.). É possível que também existissem dias especiais em que a

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memória de alguma crise era evocada (cf. Zc 7) e aí era de se esperar a leitura dos LN.

A. Os elementos do Lamento da Nação

1. Apelo e Petição Introdutória 2. Lamento

a. Os inimigos b. Nós c. Tu

3. Expressão de Confiança 4. Petição e motivação

a. Que Deus assim faça a nossos inimigos b. Que Deus assim nos faça

5. Voto de Louvor

B. Exemplo de um Lamento da Nação: Salmo 74

Mensagem: A afronta dos inimigos de Israel, destruindo o santuário, leva o salmista a lamentar o sofrimento da nação e suplicar a intervenção divina na preservação do povo escolhido. Estrutura:

I. Apelo e Petição Introdutória: A aparente rejeição de Israel por Deus é incoerente com sua redenção e portanto Deus deve intervir (vv. 1–3)

II. Lamento: A devastação causada pelos inimigos atingiu o coração de Israel, a sua vida religiosa (vv. 4–9)

A. O inimigo devastou o santuário (vv. 4–8)

B. A liderança espiritual foi dizimada (v. 9)

III. Pedido de ajuda: A memória da grande redenção efetuada no Êxodo leva o salmista a questionar a inatividade de Deus, indicando um pedido de socorro. (vv. 10–17)

A. A inatividade de Deus é incompatível com a blasfêmia dos inimigos (vv. 10–11)

B. A redenção passada é motivação para redenção presente, pois as circunstâncias são semelhantes (vv. 12–15)

C. A redenção presente é presente é possível em vista do grande poder de Deus (vv. 16–17)

IV. Petição e motivação: O compromisso de Deus com Israel pela aliança deve levá-lo à intervenção para proteger Seu nome e receber o louvor de Seu povo (vv. 18–23)

A. A intervenção é necessária por causa da blasfêmia do inimigo (v. 18)

B. A intervenção é necessária por causa da aparente quebra da aliança (vv. 19–21)

C. A intervenção é necessária para preservação da honra de Deus (vv. 22-23)

III. Louvor Declarativo do Indivíduo

Estes salmos também são conhecidos por Cânticos Individuais de Ação de Graças. O louvor declarativo do indivíduo (LDI) é a conseqüência natural do LI; o LDI pressupõe o LI, e se constitui na resposta do adorador à graciosa intervenção de Deus.

A. A. Anderson afirma: Seu objetivo não é apenas oferecer agradecimento e louvor a Deus, mas servir também como testemunho da obra salvadora de Deus, declarada perante toda a congregação. Assim sendo, a ação de graças do indivíduo é também um ato congregacional de adoração (Psalms, NCB, 2 vols., 1:35).

Nestes salmos, como nos LI, o adorador se dirige diretamente a Deus, na segunda pessoa, embora em alguns deles haja referências a Deus na terceira pessoa, especialmente quando o adorador dirige seu testemunho à congregação.

A estrutura dos LDI consta de três partes gerais: introdução, seção principal e conclusão, sendo a introdução proclamativa, a seção principal declarativa, e a conclusão exortativa.

Os LDI são pouco comuns, quando comparados aos LI, mas isto não é um reflexo de ingratidão ou falta de espiritualidade. Anderson indica que os Salmos de Louvor Descritivo poderiam também ser usados liturgicamente em lugar do LDI e que, além disso, os próprios LI já continham forte elemento do louvor.

O Sitz im Leben dos LDI deve ter sido a oferta de gratidão (cf. Sl 66.13–19; 116.12). O cântico poderia ser declarado pelo próprio ofertante ou talvez até mesmo por um dos cantores do santuário. A ocasião exata em que o salmo era declarado não

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se pode precisar, havendo duas opções: a própria hora em que o sacrifício era oferecido ou a refeição sacrificial comunitária que se seguia.

A. Partes do Louvor Declarativo do Indivíduo.

1. Proclamação da intenção de louvar

a. Uma frase que indique a intenção (futuro)

b. O voto de louvor que pode ter sido particular tem que ser cumprido em público; a função da proclamação era atrair a atenção da comunidade para a descrição das misericórdias de Deus

2. Declaração introdutória da razão do louvor

3. Retrospecto da dificuldade e da libertação

a. Eu clamei ...

b. Ele me ouviu ...(ou Tu me ouviste ...)

c. Ele me livrou ...(ou Tu me livraste)

4. Renovação do voto de louvor. Aqui ocorre o louvor em si

5. Louvor descritivo e/ou instrução

a. O salmista medita no atributo de Deus manifesto em seu livramento

b. O salmista exorta a congregação a confiar no Senhor, ou a louvá-Lo com ele, oferecendo, ocasionalmente, razões para tanto

B. Exemplo de um Louvor Declarativo do Indivíduo. Salmo 30

Mensagem – A experiência da libertação da disciplina pelo orgulho motiva o salmista ao louvor pessoal e comunitário a Deus pela brevidade da sua ira e a perpetuidade da sua graça.

1. A libertação de Deus é reconhecida e declarada pelo salmista, que convoca a congregação a adorar ao Deus cuja ira dura um só instante, mas cujo favor dura uma vida inteira (vv. 1–5) a. Resolução

b. Reconhecimento

c. Convocação

2. O salmista recorda seu pedido de livramento das conseqüências do pecado da independência (vv. 6-10) a. Confissão de pecado

b. Contemplação da disciplina

c. Recordação da súplica

3. O salmista recorda o gracioso livramento oferecido por Deus (vv. 11-12) a. Libertação leva ao louvor

b. A disposição de louvar é reiterada

IV. Louvor Declarativo da Nação Este Gattung também é conhecido por Cântico Nacional de Ação de Graças. Este tipo de salmo pressupõe o lamento da nação. Os LDN são poucos em número, provavelmente pelas mesmas razões já expostas no caso dos LDI. O Sitz im Leben do LDN é algum livramento de caráter nacional, em que a congregação era convocada ao santuário para agradecer o louvar a Deus. Sua estrutura é basicamente semelhante à dos LDI, sendo menos comum a parte final de louvor descritivo e/ou instrução.

A. Partes do louvor Declarativo da Nação

1. Exortação e louvor (com menção freqüente a um atributo de Deus)

2. Retrospecto da necessidade ou calamidade enfrentada (muitas vezes apresentado em linguagem figurativa)

3. Descrição do livramento oferecido por Deus

4. Louvor descritivo e/ou exortação (mais raro nestes salmos do que no LDI)

B. Exemplo de um Louvor Declarativo da Nação: Salmo 107

Mensagem: As graciosas intervenções de Deus em favor de homens necessitados e as demonstrações de seu governo providencial servem como motivação para os redimidos louvarem a Deus.

1. Os remidos do Senhor são convocados ao louvor. (vv. 1–3)

2. As várias situações de perigo e dor são descritas. (vv. 4–9; 11-16; 17–22; 23–32)

3. O resumo das intervenções providenciais de Deus traz a exortação final ao louvor (vv.

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33–43)

V. Salmos de Louvor Descritivo Este Gattung foi rotulado por Gunkel como Hinos de Louvor, ou simplesmente Hinos. Nossa nomenclatura foi retirada do trabalho de Westermann (The Praises of God in the Psalms, pp. 25–35).

Estes salmos têm por finalidade anunciar a grandeza de Yahweh, manifesta tanto na natureza, em sua criação e preservação, e na história de Israel, especialmente nos grandes atos da redenção nacional.

O tema básico e dominante dos SLD é o louvor a Deus, que é o personagem central de todos eles, seja através de Sua ação como Criador ou Salvador. O salmista não fala a Deus, mas de Deus, em contraste com os LDI e LDN.

Dentro desta categoria, podemos destacar duas sub-categorias que têm características marcantes. A primeira engloba os chamados “salmos do reinado de Yahweh”, introduzidos pela frase “Reina o Senhor” (47, 93, 96–99); também já nos referimos a estes como “salmos do reino escatológico”. A segunda categoria engloba os chamados cânticos de Sião, em que os louvores de Deus são substituídos pelo louvor a Sião ou Jerusalém, o lugar onde a glória de Deus se manifestava. Por isso, eles são considerados louvores descritivos implícitos. O termo é tirado do Salmo 137.3.

A. Partes do Salmo de Louvor Descritivo

1. Prólogo

2. Invocação ao louvor. Esta invocação pode ser expandida por uma descrição dos adoradores ou dAquele que é louvado (cf. Sl 134 e Sl 150)

3. A Causa do louvor

a. Uma declaração resumo, normalmente introduzida com porque

b. Exaltação das virtudes de Deus

1) Sua grandeza e majestade como Senhor da Criação

2) Sua graça e misericórdia como Senhor da História

c. Ilustrações específicas. Normalmente com frases curtas que relembram atos, atributos e atribuições divinas

4. Conclusão. Esta pode conter uma nova invocação ao louvor, ou uma exortação ou até mesmo uma petição

5. Epílogo

B. Exemplo de um Salmo de Louvor Descritivo: Salmo 113

Mensagem: A condescendência do Senhor, o Deus incomparável, em socorrer e prestigiar os carentes leva o salmista a exortar os santos a um louvor constante e universal.

1. Prólogo. ALELUIA!!! 2. Invocação ao louvor - O louvor ofertado ao

Senhor pelos seus servos deve ser constante e universal (vv. 1–3)

3. Causa de louvor - A causa do louvor a Javé é sua condescendência em socorrer e prestigiar os carentes, apesar de Sua imensa grandeza (vv. 4–9b)

4. Epílogo. ALELUIA!!!

VI. Salmos Didáticos. Os Gattungen já apresentados são os de maior importância no que tange à forma. Há muitos outros salmos, entretanto, que devem ser considerados à parte, devido a uma ênfase especial em seu conteúdo. Entre estes devemos mencionar os chamados salmos reais e os salmos do reino escatológicos (ambos pertencem ao Gattung SLD) e os salmos didáticos.

Sabourin divide os salmos didáticos em quatro sub-classes: salmos de sabedoria, salmos históricos, exortações proféticas e liturgias.

Tal classificação, como boa parte deste aspecto do estudo dos Salmos, é subjetiva, não sendo portanto de aceitação obrigatória. Para efeitos deste curso, faremos a seguinte divisão dos salmos didáticos: salmos de sabedoria, salmos da lei, exortações proféticas e liturgias.

É-nos impossível estudar cada uma destas sub-classes por si. Por isso, segue-se uma tentativa pessoal (subjetiva!) de dividir os salmos didáticos como proposto acima, devendo o aluno levar em conta que não se trata aqui de um Gattung, mas de

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um agrupamento de poemas que possuem um interesse comum, o de ensinar numa variedade de formas.

A. Salmos de Sabedoria

Vários “sábios” em Israel utilizaram o gênero literário “salmo” como meio de expressar suas reflexões sobre a vida, seus problemas, sua finalidade, e de exortar à piedade e confiança na justiça divina.

Estes salmos têm como temas constantes a bênção desfrutada pelos justos e o inevitável (ainda que às vezes tardio) castigo dos ímpios.

Fazem parte desta sub-classe os salmos 1, 36?, 37, 49, 73, 78?, 91, 112, 127, 128, 133, 139.

B. Salmos da Lei

Estes são realmente poucos e de identificação variada pelos comentaristas. Exaltam a Lei pelo efeito que tem de transformar, moldar o caráter e consolar o fiel. Sabourin os classifica junto com os salmos de sabedoria (p. 371). Os salmos da Lei são os seguintes: 1, 19.7–14, 119.

C. Exortações proféticas

“Os salmos desta categoria ... têm em comum uma tonalidade e alguns elementos literários ‘proféticos’, como o oráculo e a exortação, que incluem promessas e ameaças” (Sabourin, p. 394). O elemento reflexivo também é marcante, pois o salmista observa as tendências da sociedade em que vive e as coloca em cheque, diante do caráter e das ações de Deus. Incluem-se nesta categoria os salmos 14, 50, 52, 53, 81.

D. Liturgias

Já indicamos que os salmos tiveram grande uso litúrgico e que alguns deles certamente tiveram origem litúrgica. Dois salmos, especificamente, parecem sugerir um uso litúrgico-didático, visando uma “preparação” para adoração no santuário, quais sejam, os salmos 15 e 24. Comparar estes poemas com Miquéias 6. 6–8 e Is 33. 14–16. Um outro salmo de uso litúrgico, se bem que não muito didático é o 134 (é mais razoável classificá-lo como um SLD).

Método de Estudo para os Salmos Se podemos dizer que a Bíblia fala ao homem, então é Deus falando ao homem. Os salmos falam pelo homem, então os salmos são o homem falando com Deus. Eles ensinam a Verdade nos termos na experiência humana, não de forma abstrata, porque verdade experimentada é verdade profundamente aprendida.

Ao estudar os Salmos devemos ter em mente que eles são a expressão do homem temente a Deus dirigindo-se ao próprio Deus Todo-Poderoso e também Todo-Amoroso. Eles são a manifestação aceitável de nossos sentimentos mais íntimos e profundos. Todo tipo de emoção e sentimento é expresso nos Salmos, por pessoas nas mais diversas situações.

Ore e peça a iluminação do Espírito Santo de Deus para compreender e aprender os ensinos valiosos contidos nos Salmos.

Use o formulário anexo “Guia de Estudo para os Salmos” para registrar seus estudos e as verdades aprendidas.

Quando estudar um salmo, procure identificar:

o Título � Há um título para o salmo? � Que título você daria?

Introdução aos Salmos

Introdução aos Salmos 20

o Ocasião � Em que circunstâncias foi

escrito?

o Divisões � Quais as divisões principais do

salmo? A seguir, faça uma análise do salmo, para compreender sua estrutura.

o Identificação das divisões � Anote os versículos que

identificam as divisões

o Palavras e frases chave no texto � Anote as palavras chave

o Grupos de idéias e itens

o Verdades enfatizadas e verdades relacionadas � Identifique sublinhando

o Esboço do estudo � Sub-títulos

o Título e pontos principais a ele relacionados

o Aplicação espiritual

o Comentários � Anote as fontes de referência

Depois, elabore um esboço, que sirva como guia visual para o estudo do salmo e suas futuras referências a ele.

o Esboço geral � Apresentação gráfica do esboço

o Comentários � Anote seus comentários pessoais

o Uma lição prática � Anote o que você aprendeu com

o texto Para obter uma ferramenta que o auxilie na representação gráfica dos seus estudos, vá até www.thebrain.com ou www.inxight.com e baixe as versões de uso pessoal (sem custo) das ferramentas Personal Brain e Star Tree Studio, respectivamente.

Introdução aos Salmos

Introdução aos Salmos 21

Exemplo de diagrama com Star Tree Studio

Exemplo de diagrama com Personal Brain

Introdução aos Salmos

Introdução aos Salmos 22

Apêndices

Classificação dos Salmos por Tipo Dennis Bratcher

Salmos de Lamento

Lamentos Comunitários 12, 44, 58, 60, 74, 79, 80, 83, 85, 89*, 90, 94, 123, 126, 129

Lamentos Individuais 3, 4, 5, 7, 9-10, 13, 14, 17, 22, 25, 26, 27*, 28, 31, 36*, 39, 40:12-17, 41, 42-43, 52*, 53, 54, 55, 56, 57, 59, 61, 64, 70, 71, 77, 86, 89*, 120, 139, 141, 142

Salmos de Lamentos Especializados

Penitenciais 6, 38, 51, 102, 130, 143

Imprecatórios 35, 69, 83, 88, 109, 137, 140

Salmos de Gratidão

Gratidão Comunitária 65*, 67*, 75, 107, 124, 136*

Gratidão Individual 18, 21, 30, 32*, 34, 40:1-11, 66:13-20, 92, 108*, 116, 118, 138

Salmos de Gratidão Especializados

História da Salvação 8*, 105-106, 135, 136

Canções de Confiança 11, 16, 23, 27*, 62, 63, 91, 121, 125, 131

Hinos

Hinos e Doxologia 8*, 19:1-6, 33, 66:1-12, 67*, 95, 100, 103, 104, 111, 113, 114, 117, 145, 146, 147, 148, 149, 150

Salmos Litúrgicos

Canções da Aliança 50, 78, 81, 89*, 132

Reais/Entronizar 2, 18, 20, 21, 29, 45, 47, 72, 93, 95, 96, 97, 98, 99, 101, 110, 144

Canções de Sião 46, 48, 76, 84, 87, 122

Liturgias do Templo 15, 24, 68*, 82, 115, 134

Tipos Especiais

Salmos de Sabedoria 1*, 36*, 37, 49, 73, 112, 127, 128, 133

Poemas do Torah 1*, 19:7-14, 119

Introdução aos Salmos

Introdução aos Salmos 23

Autoria dos Salmos

Autor Qtd Salmos

Davi 73 3-9, 11-32, 34-41, 51-65, 68-70, 86, 101, 103, 108-110, 122, 124, 131, 133, 138-145

Filhos de Corá 10 42, 44-49, 84-85, 87

Asafe 12 50, 73-83

Salomão 2 72, 127

Etã 1 89

Hemã 1 88

Moisés 1 90

Anônimos 50 Todos os demais

Cronologia dos Salmos

Ano (a.C.)

Período Salmos

1400 Moisés 90 + ...

1000 Davi A maioria dos salmos foi escrita neste período

971 Salomão

931 Reino dividido

722 Exílio 137 + ...

500 Restauração 126 + ...

Organização dos Salmos

Livro I 41 salmos 1-41

Livro II 31 salmos 42-72

Livro III 17 salmos 73-89

Livro IV 17 salmos 90-106

Livro V 44 salmos 107-150

Doxologia 41.13 72.18-19 89.52 106.48 150.6

Conteúdo básico

Cânticos de adoração

Hinos de interesse nacional Hinos de louvor

Semelhança com o Pentateuco

Gênesis -homem e criação-

Êxodo -libertação e redenção-

Levítico -adoração e santuário-

Números -deserto e peregrinação-

Deuteronômio -escrituras e louvor-

Autores principais

Davi Davi e filhos de Corá

Asafe Anônimos Davi e anônimos

Compilados por

Davi 1020-970 AC

Ezequias e Josias 970-610 AC

Esdras e Neemias até 430 AC

Introdução aos Salmos

Introdução aos Salmos 24

Cristo nos Salmos

Salmo Profecia Cumprimento

2.7 Deus irá declará-lo seu Filho Mt 3.17

8.6 Todas as coisas serão colocadas a seus pés Hb 2.8

16.10 Ele ressuscitará mortos Mc 16.6-7

22.1 Deus o abandonará na hora da necessidade Mt 27.46

22.7-8 Ele será escarnecido e desprezado Lc 23.35

22.16 Suas mão e pés serão amarrados Jo 20.25,27

22.18 Pessoas lançarão sortes sobre suas roupas Mt 27.35-36

34.20 Nenhum de seus ossos será quebrado Jo 19.32-33, 36

35.11 Ele será acusado por falsas testemunhas Mc 14.57

35.19 Será odiado sem razão Jo 15.25

40.7-8 Ele virá para fazer a vontade de Deus Hb 10.7

41.9 Ele será traído por um amigo Lc 22.47

45.6 Seu trono será eterno Hb 1.8

68.18 Ele se assentará à direita de Deus Mc 16.19

69.9 O zelo pela casa de Deus irá consumi-lo Jo 2.7

69.21 Ele receberá fel e vinagre para beber Mt 27.34

109.4 Ele orará por seus inimigos Lc 23.24

109.8 Outros assumirão seu lugar At 1.20

110.1 Seus inimigos ficarão sujeitos a ele Mt 22.44

110.4 Ele será sacerdote como Melquisedeque Hb 5.6

118.22 Será a principal pedra angular Mt 21.42

118.26 Ele virá em nome do Senhor Mt 21.9

Introdução aos Salmos

Introdução aos Salmos 25

Salmos fora do Saltério

o Cântico do Mar � Ex 15.1-18

o Cântico de Moisés � Dt 32.1-43

o Cântico de Débora � Ju 5.1-31

o Cântico de Ana � 1Sm 2.1-10

o Cântico de Libertação de Davi (cf. Sl 18) � 2Sm 22.2-51

o Um cântico de gratidão � Is 12.4-6

o Cântico do Rei Ezequias � Is 38.9-20

o A oração de Habacuque � Ha 3.2-19

o A oração de Jonas dentro do peixe � Jn 2.2-9

o Hinos na profecia de Isaías � Is 42.10-12, 52.9-10

o Hinos no livro de Jó � 5.8-16, 9.4-10, 12.7-10, 12.13-

25 o Lamentos no livro de Jó

� 3.3-12, 13-19, 20-26, 7.1-10, 12-21, 9.25-31, 10.1-22

o Lamentos em Jeremias � 15.15-18, 17.14-18, 18.19-23

o Lamentações � Capítulos 3 e 5

Introdução aos Salmos

Introdução aos Salmos 26

Salmos nos apócrifos

Eclesiástico 51.1-12

Oração de Jesus filho de Sirac 1. Eu te glorificarei, ó Senhor, ó Rei, e te

louvarei, ó Deus meu salvador. Glorificarei o teu Nome.

2. Pois tens sido para mim abrigo e socorro livrando meu corpo da perdição, do laço da língua caluniadora, e dos lábios que produzem a mentira. Na presença de meus adversários

3. tu foste meu amparo, e me livraste, segundo a grandeza da tua misericórdia e do teu Nome. Das mordidas dos que estavam prestes a devorar-me, da mão dos que procuravam tirar-me a vida me libertaste, e das muitas tribulações que sofri:

4. da fogueira sufocante que me cercava, do meio do fogo que não acendi,

5. da profundeza das entranhas do Hades, da língua impura e da palavra mentirosa,

6. dos dardos de uma língua injusta. Minha alma esteve próxima da morte e minha vida chegou perto da profundeza do Hades.

7. Cercavam-me por toda parte e não havia quem me socorresse; olhava, buscando amparo dos homens, e não o encontrava.

8. Lembrei-me, então, de tua misericórdia, Senhor, e de teus benefícios, desde sempre. Pois livras os que perseveram confiando em ti e os salvas da mão dos malvados.

9. Da terra fiz subir minha oração e te roguei que me preservasses da morte.

10. Invoquei o Senhor, pai de meu Senhor, para não me abandonar nos dias da tribulação, no tempo do desamparo causado pelos soberbos.

11. Mas louvarei teu Nome, sem cessar, e cantarei hinos em ação de graças, pois minha prece foi atendida:

12. tu me salvaste da perdição e me livraste do tempo mau. Por isso te glorificarei e louvarei, bendizendo o nome do Senhor!

Eclesiástico 42.15-43.33 O sol V. A GLÓRIA DE DEUS NA CRIAÇÃO E NA HISTÓRIA DE ISRAEL A. NAS OBRAS DA NATUREZA A sabedoria do Criador Cap. 42 15. Vou agora recordar as obras do Senhor e

narrar aquilo que vi. Pelas palavras do Senhor foram feitas suas obras, e segundo seu beneplácito realizou-se o seu decreto.

16. O sol brilhante contempla todas as coisas, e a obra do Senhor está cheia de sua glória.

17. Aos santos do Senhor não foi dado contar todas as suas maravilhas, aquelas que o Senhor Todo-poderoso estabeleceu para tudo se consolidar em sua glória.

18. Ele sonda o abismo e o coração e penetra em todas as suas astúcias; pois o Altíssimo possui toda a ciência e fixa o olhar nos sinais do tempo,

19. manifestando o passado e o futuro e revelando os vestígios das coisas ocultas.

20. Nenhum pensamento lhe escapa e nenhuma palavra lhe fica escondida.

21. Dispôs em ordem as maravilhas de sua sabedoria pois só ele existe antes dos séculos e para sempre. Nada lhe foi acrescentado, nada lhe foi tirado, e ele não precisa de conselheiro algum.

22. Quão desejáveis são todas as suas obras, mesmo se conseguíssemos observar apenas uma centelha!

23. Tudo isto vive e permanece para sempre, para todas as necessidades, e tudo lhe obedece.

24. Todas as coisas existem aos pares, uma diante da outra, e ele nada fez de incompleto:

25. uma coisa completa a bondade da outra. Quem, pois, se fartará de contemplar sua glória?

Cap. 43 1. Orgulho das alturas, firmamento de pureza,

eis o aspecto do céu numa visão de glória! 2. O sol que aparece proclama, ao sair, que

coisa maravilhosa é a obra do Altíssimo. 3. Ao meio-dia resseca a terra: quem poderá

resistir ao seu calor? 4. Se alguém acende a fornalha para os

trabalhos a fogo, o sol esquenta as montanhas três vezes mais: exala vapores ardentes e, dardejando seus raios, ofusca os

Introdução aos Salmos

Introdução aos Salmos 27

olhos. 5. É grande o Senhor que o fez e que, com

suas palavras, lhe acelera o curso. A lua

6. Também a lua, sempre pontual em suas fases, indica as épocas e é um sinal do tempo.

7. É a lua que assinala as festas, diminuindo a claridade até desaparecer.

8. É dela que o mês recebe o seu nome, enquanto cresce maravilhosamente em suas mudanças. Ela é o farol dos exércitos do alto, rebrilhando no firmamento do céu. As estrelas

9. Beleza do céu é o brilho das estrelas, ornamento que resplende nas alturas do Senhor.

10. Às ordens do Santo ficarão, segundo o seu decreto, sem jamais abandonarem seus postos de vigia. O arco -íris

11. Olha o arco-íris e bendize quem o fez, magnificamente belo em seu esplendor:

12. cinge o céu com um círculo de glória, pelas mãos do Altíssimo estendido. Outras maravilhas

13. Por sua ordem faz cair a neve e lança os relâmpagos de seu julgamento.

14. Por causa disso é que se abrem seus tesouros e as nuvens esvoaçam como pássaros.

15. Em sua grandeza condensa as nuvens e as pedras de granizo se fragmentam.

17a A voz do seu trovão aterroriza a terra 16. e ante a sua visão as montanhas se abalam.

Por sua vontade sopra o vento do sul, 17b assim como o furacão do norte e os

ciclones. Espalha a neve como pássaros que descem, e ela cai como gafanhotos que pousam.

18. A beleza de sua alvura arrebata o olhar, e o coração se sente extasiado ao vê-la cair.

19. Despeja sobre a terra a geada, como sal, e ela enrijece como pontas de espinhos.

20. O vento frio do norte põe-se a soprar, fazendo condensar-se o gelo sobre a água; e sobre toda a massa líquida se estende, como de uma couraça revestindo a água.

21. Esse vento devora as montanhas e abrasa o deserto, e consome o verdor das plantas como fogo.

22. A névoa úmida é pronto remédio para tudo isso; e o orvalho, que chega após o verão, traz alegria. O mar

23. O Senhor, com seu desígnio, aplacou o oceano e nele plantou as ilhas.

24. Os que navegam sobre o mar descrevem seus perigos, e ficamos admirados com o que ouvimos a respeito:

25. há nele coisas estranhas e maravilhosas, animais de toda espécie e monstros marinhos.

26. Para o Senhor, porém, seu mensageiro chega à meta e por sua palavra tudo se coaduna. A glória de Deus

27. Poderíamos dizer muitas coisas e não chegaríamos ao fim. Eis o resumo das palavras: "Ele é tudo".

28. Onde acharíamos força para glorificá-lo? Ele é o Grande, acima de todas as suas obras.

29. O Senhor é terrível e soberanamente grande, e admirável é seu poder.

30. Glorificando o Senhor, exaltai-o quanto puderdes, pois estará sempre ainda mais acima. Para exaltá-lo redobrai as forças, e não vos canseis, pois não chegareis ao fim.

31. Quem o viu para podê-lo descrever? Quem o louvará assim como ele é?

32. Há muitos mistérios, maiores ainda, porque vemos poucas dentre as suas obras.

33. Pois o Senhor criou todas as coisas e aos piedosos concedeu a sabedoria.

Tobit 13

Cântico de Tobit. 1. Tobit disse: 2. "Bendito seja Deus, que vive para sempre;

e bendito seu reino, que dura pelos séculos! Pois ele castiga e usa de misericórdia: faz descer até o Hades, no mais profundo da terra, e ele mesmo retira da grande ruína. Nada existe que possa fugir de sua mão.

3. Rendei-lhe graças, israelitas, diante das nações, pois ele vos dispersou entre elas

4. e aí vos mostrou sua grandeza. Exaltai-o diante de todos os viventes, pois é nosso Senhor, é nosso Deus, é nosso Pai, ele é Deus por todos os séculos!

5. Se vos castiga por vossas injustiças, também terá misericórdia de todos vós, e vos reunirá de todas as nações onde agora estais dispersos.

6. Se vos voltardes para ele de todo o vosso coração e com toda a vossa alma, e em sua presença praticardes a verdade, ele também se voltará para vós e não mais vos ocultará sua face.

7. Considerai, agora, o que fez em vosso favor e rendei-lhe graças em alta voz. Bendizei o Senhor da justiça e exaltai o Rei dos séculos.

Introdução aos Salmos

Introdução aos Salmos 28

8. Quanto a mim, rendo-lhe graças na terra do meu exílio, e mostrarei sua força e sua grandeza a uma nação de pecadores. Convertei-vos, pecadores, e praticai a justiça diante dele: quem sabe vos será favorável, e terá misericórdia de vós!

9. Exaltarei a meu Deus; minha alma louvará o Rei do céu e se rejubilará com sua grandeza.

10. Que todos o proclamem e lhe rendam graças em Jerusalém. Jerusalém, cidade santa, Deus te castigou por causa das obras de teus filhos, mas terá outra vez misericórdia dos filhos dos justos.

11. Agradece dignamente ao Senhor e bendize o Rei do séculos, para que, em ti, a sua Tenda seja reconstruída na alegria.

12. Em ti, dê alegria aos deportados e mostre seu amor aos infelizes, por todas as gerações, através dos séculos.

13. Uma luz resplandecente brilhará sobre todas as regiões da terra. A ti virão de longe numerosas nações: e os habitantes de todas as extremidades da terra acorrerão ao teu santo Nome, trazendo em suas mãos as oferendas para o Rei do céu. Gerações de gerações se alegrarão em ti e o nome da cidade eleita permanecerá, através das gerações, pelos séculos.

14. Malditos, todos os que te falarem duramente! Malditos, todos os que te destruírem, e puserem abaixo tuas muralhas; todos os que derrubarem tuas torres e incendiarem tuas casas! Pelo contrário, bendito para sempre, todos aqueles que te construírem!

15. Levanta-te, pois, e rejubila-te por causa dos filhos dos justos, porque todos tornarão a reunir-se e bendirão o Senhor da eternidade. Bem-aventurados os que te amam e bem-aventurados os que se alegram por tua paz!

16. Bem-aventurados todos os homens que te lamentarem por causa de todos os teus castigos, pois em ti se alegrarão e verão toda a tua alegria para sempre. Minha alma, bendize ao Senhor, o grande Rei,

17. porque Jerusalém será reconstruída, e na cidade, sua Casa, por todos os séculos! Serei feliz, se for dado, a alguém de minha descendência, ver tua glória e agradecer ao Rei do céu. As portas de Jerusalém serão reconstruídas com safira e esmeralda; com pedras preciosas, todas as tuas muralhas. As torres de Jerusalém serão reconstruídas com ouro e seus baluartes, com ouro puro. As ruas de Jerusalém serão calçadas com rubis e pedras de Ofir.

18. Então, as portas de Jerusalém entoarão cânticos de alegria. E todas as suas casas cantarão: ‘Aleluia, bendito seja o Deus de Israel!’ E os que forem por ele abençoados bendirão seu santo Nome pelos séculos sem fim".

Introdução aos Salmos

Introdução aos Salmos 29

Bibliografia Out of the Depths – The Psalms Speak for Us Today Bernhard W. Anderson, 1983, The Westminster Press Psalms – A Self-Study Guide Irving L. Jensen, 1968, Moody Press What Works when Life Doesn’t Stuart Briscoe, 1981, Victor Books Favourite Psalms John Stott, 1988, Moody Press Apostila de Salmos Carlos Osvaldo Pinto, PhD Seminário Bíblico Palavra da Vida Plágio Criativo Gabriel Perissé Doutor em Educação pela FEUSP